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ARTIGO TEMÁTICO

ENSINO E PESQUISA
DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
NO BRASIL

Wenceslau Gonçalves Neto1

Resumo: O texto promove reflexão em torno das relações entre a pesquisa


e o ensino na História da Educação brasileira. Tomou-se por referência a
coleção Horizontes da Pesquisa em História da Educação no Brasil, publi-
cada pela Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE), analisan-
do-se indicadores como composição temática, forma de seleção e origem
estadual, regional e institucional dos autores. Observou-se o potencial do
campo para a geração de novos conhecimentos histórico-educacionais,
congregando 147 pesquisadores e 126 capítulos, em 10 volumes; a impor-
tância da coleção para o ensino e a pesquisa; e a concentração espacial/
regional dos trabalhos publicados.

Palavras-chave: Pesquisa – Ensino – História da Educação – Brasil

A  temática aqui trabalhada tem se mantido central e atual


para a área da Educação, bem como pertinente para a ne-
cessária e constante reflexão em torno do nosso fazer investi-
gativo e do como transmitimos o conhecimento que geramos.
Essas duas questões, a meu ver, resumem nosso papel na aca-

1 Doutor em História pela Universidade de São Paulo. Professor dos Programas de


Pós-Graduação em Educação da Universidade de Uberaba (UNIUBE) e da Univer-
sidade Federal de Uberlândia (UFU). Bolsista Produtividade em Pesquisa (CNPq)
e do Programa Pesquisador Mineiro (FAPEMIG). Ex-Presidente da SBHE – Socie-
dade Brasileira de História da Educação (2009-2013). Email: wenceslau@ufu.br.

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demia e dão significado à nossa profissão. O homem foi movido
desde o início dos tempos pela busca da superação da ignorân-
cia, o que o levou aos procedimentos metodizados e à responsa-
bilidade na transmissão do que ia sendo alcançado, para garantir
às sucessivas gerações melhores condições de vida, de conforto e
de enfrentamento das novas indagações que se apresentam após
o vislumbre de cada resposta. A procura pelo conhecimento é
um esforço sem fim. Talvez um trabalho de Sísifo, mas que em
vez se repetir-se indefinidamente coloca, ao final de cada dia,
balizas orientadoras para o reinício na manhã seguinte. A isso,
modernamente, chamamos de investigação científica – teorias,
métodos e procedimentos que auxiliam o homem no incessante
processo de enfrentamento e domínio da natureza. E de estabe-
lecimento de bases seguras e éticas para as relações estabeleci-
das no interior da sociedade em que vive.
Para a História da Educação, este mote, envolvendo a ge-
ração e a transmissão do saber, é ainda mais significativo, pois é
um campo que se formou em torno de uma disciplina e do traba-
lho investigativo daqueles que com ela lidavam ou a municiavam
com novas interpretações. A disciplina, obrigação curricular mais
comum nos cursos de pedagogia – presente também nos antigos
cursos de formação de “professores primários” e em muitas li-
cenciaturas –, foi, por muitos anos, laboratório para se pensar
e repensar a educação numa perspectiva histórica, de longa ou
média duração. Tanto como processo geral, presente em todas
as sociedades humanas, ou numa análise específica de como o
mesmo se deu no Brasil.
Em torno dessa disciplina foram formulados os primeiros
manuais de história da educação e, consequentemente, muitos
dos questionamentos que nortearam os interessados em com-
preender as mudanças e permanências, ou como a educação
avançara – ou estagnara – em nosso país ao longo do tempo. O
trabalho de campo configurou-se como decorrência quase natu-
ral, uma vez que, para responder às perguntas de forma cientifi-

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camente adequada, foi necessário o envolvimento com as fontes,
a busca de metodologias apropriadas, de perspectivas teóricas
que iluminassem e guiassem o labor analítico e interpretativo.
Dessa forma, a constituição do espaço da pesquisa nunca esteve
separada da sala de aula, embora muitos de nossos colegas não
percebam a importância dessa relação, fundamental tanto para
a solidez na formação dos estudantes como para realimentar as
investigações por meio do sempre rico e estimulante debate en-
tre alunos e professores.
Esse envolvimento nas duas frentes é fundamental para
que desempenhemos adequadamente nossa condição híbrida,
de professor e pesquisador. Nos meus quase 40 anos de ativi-
dades acadêmico-científicas, nunca consegui me apresentar
isoladamente em apenas um desses predicados. Meus alunos
sempre me “acompanharam” no trabalho investigativo, muitas
vezes presencialmente, como monitores ou bolsistas de inicia-
ção científica e nunca pude me desvencilhar das minhas fontes
e da minha experiência de pesquisador na sala de aula. O co-
nhecimento é gerado mirando-se a sua transmissão e o exercício
dessa segunda etapa resulta em novos questionamentos para a
pesquisa – um círculo virtuoso. A respeito desse envolvimento
constante e de sua importância, Clarice Nunes (2003, p. 116-118)
nos apresenta algumas interessantes reflexões:

O ensino, como qualquer outra atividade considerada profis-


sional, depende das pessoas nele envolvidas e da situação em
que se inserem. (...) O que faz um professor quando ensina?
Convida alguém a aprender algo sobre alguma coisa a partir
do repertório que ele mesmo forjou de conteúdos, aborda-
gens, ferramentas, materiais, técnicas, enfim de tudo que faz
parte da sua cultura profissional, dos seus modos de fazer.
(...) Nesse nível, o professor está ajudando os estudantes a
internalizarem algumas funções que ele mesmo aprendeu e
desempenha para que seus alunos se tornem, eles próprios,

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professores de si mesmos. (...) Como a pintura a que se de-
dica o artista, o ensino do professor em sala de aula, embora
previsível, contém algo impalpável, mas efetivo: o gesto de
ensinar. Esse gesto fluido, mas decisivo, é aquele momento
em que se opera o encontro do estudante e do professor com
o conhecimento produzido e com um modo de aprendê-lo.

Chamo a atenção para estes aspectos para que a sequên-


cia desta apresentação, que se voltará mais detidamente para
a questão da investigação histórico-educacional, não seja per-
cebida como uma fuga ou descaso para com parte da temática
proposta inicialmente. Como já expus, essas duas questões estão
intimamente interligadas e, quando nos referimos à produção
do conhecimento, necessariamente pensamos sobre a sua trans-
missão e discussão com nossos pares, com nossos alunos, pois
essa ausência levaria à perda de sentido de nossa atividade. E ao
analisar-se a prática investigativa, nossa perspectiva não perde
de vista o ambiente privilegiado do debate acadêmico, que é a
sala de aula. Não podemos produzir apenas para os pares ou para
os recantos empoeirados das estantes das bibliotecas. O conhe-
cimento histórico é uma interpretação, um discurso, uma fala
que clama por diálogo, por crítica, por enfrentamento, sem o que
perde sua função e seu poder de contribuição para compreensão
da jornada humana.

A PRÁTICA INVESTIGATIVA

Todo conhecimento tem história. Por isso, o que é gerado


no campo da Educação precisa ser contextualizado e explicita-
dos os objetivos que nortearam os investigadores pelos mean-
dros da produção do saber. A História da Educação se ocupa tan-
to da interpretação do fenômeno educativo ao longo do tempo
como da elucidação das motivações e dos processos que levaram
a propostas de intervenção na realidade de territórios educativos

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determinados, por meio de procedimentos técnicos, metodolo-
gias, análise de períodos ou temáticas específicas etc. Portanto,
os pesquisadores que se debruçam sobre a realidade histórico-e-
ducacional brasileira envolvem-se com seus objetos de estudo e
com as investigações que são implementadas por profissionais
das mais diferentes vertentes no interior da Educação.
A história da trajetória humana se confunde com a história
da experimentação, o que pode ser visto desde as primeiras ob-
servações assistemáticas até os modernos procedimentos labo-
ratoriais a que estamos acostumados no presente:

“o espírito da curiosidade, motor de todas as investigações, já


se encontrava presente desde a aurora do pensamento, pois
a dúvida e a busca de resposta fazem parte do instrumental
da inteligência humana e, por mais que às vezes o resultado
nos decepcione, não conseguimos viver sem pensar, questio-
nar, buscar alternativas, etc. (...) foi por esse caminho que a
humanidade conseguiu sair das cavernas e construir as socie-
dades complexas em que vivemos. Não fossem as tentativas e
erros, que estão na base de toda pesquisa, praticadas desde os
tempos mais remotos, ainda estaríamos em patamares próxi-
mos da barbárie e não numa posição privilegiada no universo,
como nos encontramos. E isso tanto para o bem como para o
mal. O que nos é demonstrado, por um lado, pela visão das
possibilidades abertas pelas conquistas espaciais e por outro
pelos danos que já fizemos neste mundo que habitamos. E
tanto para a continuidade da aventura humana como para a
superação dos estragos continuamos contando com o poten-
cial da inteligência e sua mais importante manifestação para
o desenvolvimento: a investigação científica” (GONÇALVES
NETO, 2012, p. 21).

Esse movimento de busca e domínio do conhecimento


veio crescentemente tomando forma, levando o homem a criar

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os mais diversos mecanismos e instituições de pesquisa, notada-
mente a partir do período iluminista, com a afirmação das aca-
demias científicas, por exemplo, quando se passou a considerar
que a curiosidade despertada e estimulada pelo espírito da liber-
dade, refletindo sobre os problemas que o homem vive a cada
tempo, seria “fundamentalmente um problema de associações
organizadas e não organizadas” (HOF, 1995, p. 99). Desde então,
o fazer investigativo tem se localizado em institutos de ensino
e/ou pesquisa, organizado de forma coletiva e dependendo de
recursos financeiros vultosos, na maior parte das vezes propicia-
dos por agências estatais de fomento. São os novos caminhos da
produção do conhecimento, aliando razão e método e criando as
condições não apenas para a geração, mas também para armaze-
namento e disseminação dos resultados. No princípio, tivemos
os registros de escrita, os livros e as bibliotecas. Hoje, ampliamos
para os bancos virtuais de dados e a internet e para perspectivas
outras que só a ficção científica conseguiria descrever.
Essa crença no poder da inteligência para deslindar os
mistérios do mundo, prenunciava a vitória da ciência, iniciada
nos campos da astronomia, da matemática e da física e que foi
se espraiando pelas mais diferentes áreas, chegando ao campo
das humanidades. As pontes colocadas pelos pensadores do pe-
ríodo iluminista permitiram que outros ramos do conhecimento
fossem gradativamente ocupados pela perspectiva cientificista,
abrindo caminho para a institucionalização de espaços de estu-
dos que vinham se afirmando, como a História, e para o surgi-
mento de novas ciências que se voltavam para uma compreensão
mais especializada da sociedade, como a Sociologia, a Geografia,
a Antropologia, etc. É a essa tradição que procuramos dar conti-
nuidade.
Esse processo aportará também no Brasil, apesar de um
certo atraso. Apenas no século XIX e mais especificamente após
a independência, surgirão iniciativas mais efetivas para o desen-
volvimento da ciência:

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Com a proclamação da Independência em 1822 o cenário
pouco se modifica, mas pelo menos foram quebradas as peias
e todo o instrumental de dominação português. No entanto,
não estabelecemos universidades e nem centros de desen-
volvimento científico. Apenas haviam sido criadas algumas
faculdades de direito, de medicina, escolas militares, etc, in-
suficientes para a institucionalização da mentalidade ou da
prática científicas. Em 1838, com o aval do Imperador, será
criado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, numa
tentativa de se definir uma identidade nacional, um perfil
para a nova nação que pudesse ser transmitido nas escolas e
que servisse à formação do cidadão brasileiro (GONÇALVES
NETO, 2012, p. 24)

Deve-se destacar que, na segunda metade do século XIX,


o País sofreu a influência de diversas correntes de pensamen-
to que por aqui chegaram, como o cientificismo, o positivismo,
etc, configurando-se um novo ambiente no século XX, marcado
pela urbanização e mais propício às transformações na estrutura
educacional, nas bases econômicas e no espectro político, o que
permitiu o avanço no debate sobre a criação das universidades,
a importância da pesquisa, a criação de sociedades científicas li-
gadas ao campo da educação e, finalmente, o Ministério da Edu-
cação em 1930.
Aos poucos uma nova realidade vai se configurando, esta-
belecendo-se a necessidade de um projeto de educação nacional,
da geração das bases científico-tecnológicas para o desenvolvi-
mento econômico-social, da definição de políticas de incentivo
para esses setores, inclusive, com a criação de agências específi-
cas para a promoção da ciência e da pesquisa. Será no bojo des-
sas mudanças que serão criadas duas instituições basilares para
a ciência brasileira, ambas em 1951: O CNPq (Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a CAPES (Coor-
denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

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Compreendendo os novos tempos, no interior do Estado
brasileiro os gastos com a ciência e com a preparação de pro-
fissionais de alto nível passaram a ser considerados como in-
vestimento. Foram dadas, a partir desse momento, as condições
estruturais para o avanço científico nacional, tornando-se essas
duas instituições como que eixos em torno dos quais a ciência
passou a girar, induzindo nas décadas seguintes tanto o desen-
volvimento dos projetos de pesquisa como a pós-graduação, que
se tornará no grande celeiro do conhecimento no País.
A sistematização da pesquisa no campo da História da
Educação irá se configurar de forma mais efetiva na década de
1980, principalmente ligada aos Programas de Pós-Graduação
em Educação. Nessa década foram estruturadas as duas grandes
matrizes de debates e produção do conhecimento: O GT (Grupo
de Trabalho) História da Educação da ANPED (Associação Na-
cional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), criado em
1984 e o HISTEDBR (Grupo de Estudos e Pesquisas História, So-
ciedade e Educação no Brasil), surgido em 1986. A ação desses
grupos, somada ao intercâmbio estabelecido com pesquisadores
brasileiros e estrangeiros no interior de congressos nacionais e
internacionais, sinalizava para a necessidade de organização da
produção do conhecimento histórico-educacional no País, pas-
sando pela discussão das linhas teóricas, dos métodos, da defini-
ção de categorias de análise, etc. Esse movimento evidenciava a
necessidade de uma entidade que pudesse catalisar as demandas
da área e propiciar o espaço e as condições para a continuidade
e enriquecimento do debate. Foi nesse ambiente que, em 1999,
foi constituída a Sociedade Brasileira de História da Educação
(SBHE), possibilitando uma “viragem”, uma mudança nos rumos
desse campo, que vinha se configurando há tempos:

“A partir de meados da década de 1980, começa a ganhar visi-


bilidade um movimento de discussão e revisão historiográfi-
ca que põe em questão os padrões então dominantes na pro-

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dução sobre História da Educação brasileira. Há indícios de
que esse movimento esteja em curso desde a segunda metade
dos anos de 1970 como tendência, que vai se avolumar e se
adensar dez anos depois” (SAVIANI et al, 2011, p. 15).

A SBHE se encarregou, a partir de então, da organização


dos Congressos Brasileiros de História da Educação, cuja oita-
va edição ocorreu em 2015, em Maringá-PR. Foi também criada
a Revista Brasileira de História da Educação, que conta com 14
anos de funcionamento ininterrupto. Além disso, a SBHE passou
a publicar a coleção “Documentos da Educação Brasileira”, im-
portante mecanismo divulgador e instrumento para a continui-
dade das pesquisas. Os anais dos congressos, bem como os livros
da coleção “Documentos” podem ser encontrados na página web
da SBHE (www.sbhe.org.br) e permitem ao leitor compreender
como tem se desenvolvido a História da Educação nos últimos
anos, visualizando os principais eixos em que se tem enquadrado
a produção, a inserção de novos temas, o crescimento da comuni-
dade de pesquisadores, etc. Enfim, com a SBHE, os pesquisadores
desse campo conseguiram uma identidade, ganharam visibilida-
de e passaram a ter representação junto às entidades científicas
de maior abrangência, nacionais e internacionais.

A COLEÇÃO HORIZONTES DA PESQUISA EM HISTÓRIA


DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

Mas, para o propósito deste texto, importa destacar uma


iniciativa da SBHE, levada a efeito a partir de 2009 e completada
em 2011, como comemoração dos dez anos de fundação da Socie-
dade, de publicar 10 volumes numa coleção intitulada Horizon-
tes da Pesquisa em História da Educação no Brasil. Esses livros,
no todo ou em parte, tornaram-se referências nos programas de
pós-graduação e no universo da pesquisa histórico educacional,
o que nos levou a toma-los para estudo neste momento, tentan-

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do compreender um pouco mais do seu processo de produção e
significado no cenário nacional.
O esforço em torno da coleção foi conduzido pela diretoria
da SBHE, que trabalhou com especialistas-organizadores para os
diferentes temas tratados em cada volume, estabelecidos a par-
tir dos eixos temáticas presentes nas cinco primeiras edições do
Congresso Brasileiro de História da Educação (CBHE). Os orga-
nizadores fizeram os convites aos autores seguindo os critérios
colocados pela SBHE: temáticas versando sobre a realidade bra-
sileira; trabalhos originados de pesquisa e inéditos; uma única
participação por autor; respeito à diversidade (teórico-metodo-
lógica, gênero, regional, institucional, etc), entre outros.
Esperava-se, com isso, possibilitar a presença do maior nú-
mero possível de pesquisadores da área, bem como assegurar a
participação das diferentes regiões do país na coleção, tornando-a
realmente representativa do que se produzia e como se produzia a
História da Educação no Brasil. Ao final, 147 autores, com 126 textos,
se fizeram presentes, garantindo o sucesso do empreendimento, não
somente por esses dados quantitativos mas, principalmente, pela
qualidade do conhecimento que foi ali acumulado e disponibilizado.
No entanto, como mostraremos à frente, apesar das dire-
trizes estabelecidas pela SBHE, a coleção não resultou num re-
trato da comunidade de historiadores da educação como se es-
perava no início, ocorrendo concentrações regionais, estaduais
e mesmo institucionais. De qualquer forma, essa foi uma grande
realização alcançada pela SBHE para a produção e dissemina-
ção do conhecimento histórico-educacional brasileiro. Deve-se
acrescentar que, posteriormente, a SBHE publicou mais 2 vo-
lumes nessa coleção, em 2013 e 2015, contendo os textos das
conferências proferidas nos CBHE de 2011 (Vitória-ES) e 2013
(Cuiabá-MT). Contudo, como o processo de seleção dos pales-
trantes desses eventos segue uma dinâmica bem diferente da
que foi definida para os autores dos dez volumes iniciais da cole-
ção, preferimos não inseri-los nesta análise.

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Para este momento, buscamos fazer uma avaliação envol-
vendo indicadores como número de autores e de textos, as di-
ferenciações por sexo, estado, região e instituições e o caráter
público ou privado das instituições dos autores. Estes elementos
foram definidos buscando-se avaliar algumas características da
produção brasileira de História da Educação e também compre-
ender melhor a muitas vezes citada, mas pouco evidenciada em
números, concentração espacial ou institucional dessa produção.

Quadro 1: Título, organizadores, autores e número de textos dos volu-


mes da coleção Horizontes da Pesquisa em História da Educação no Brasil

Volume Título Organizadores Autores Textos


Diana Gonçalves
História das culturas
1 Vidal e Cleonara Maria 15 14
escolares no Brasil
Schwartz
Estado e políticas edu-
2 cacionais na História da Dermeval Saviani 12 11
Educação brasileira
Educação e instrução
nas Províncias e na José Gonçalves Gondra
3 23 15
Corte Imperial (Brasil, e Omar Schneider
1822-1889)
Práticas escolares e
Wenceslau Gonçalves
processos educativos:
Neto, Maria Elisabeth
4 currículo, disciplinas e 18 15
Blanck Miguel e Amarí-
instituições escolares
lio Ferreira Neto
(séculos XIX e XX)
História da Educação no
Brasil: matrizes inter- Libânia Xavier, Elomar
pretativas, abordagens Tambara e Antonio
5 14 14
e fontes predominantes Carlos Ferreira Pinhei-
na primeira década do ro
século XXI
Marta Maria Chagas de
O ensino de História da
6 Carvalho e Décio Gatti 14 12
Educação
Júnior

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Volume Título Organizadores Autores Textos
Regina Helena Silva
Simões, Rosa Lydia
História da profissão
7 Teixeira Correa e Ana 13 11
docente no Brasil
Waleska Pollo Campos
Mendonça
História da infância e Luciano Mendes de
8 da assistência à infân- Faria Filho e Vania Car- 10 8
cia no Brasil valho de Araújo
Gênero, etnia e mo- Sebastião Pimentel
9 vimentos sociais na Franco e Nicanor Pa- 13 11
Historia da Educação lhares Sá
Intelectuais e História
Juçara Luzia Leite e
10 da Educação no Brasil: 15 15
Claudia Alves
poder, cultura e políticas
TOTAL 147 126

O Quadro 1 apresenta os títulos de cada volume, seus or-


ganizadores, número de autores e de textos. Os temas, como já
salientado, foram definidos a partir dos eixos temáticos contem-
plados nos 5 primeiros CBHE, com alguns ajustes. Essa opção
foi tomada pela diretoria da SBHE por conta da dificuldade que
haveria, naquele momento, para a definição de temas novos sem
um debate com a comunidade acadêmica, o que retardaria a im-
plementação da coleção, e também por compreender que esses
eixos foram discutidos em assembleia antes da edição de cada
congresso representando, portanto, os interesses efetivos do
campo. Para a organização foram indicados todos os membros
das diretorias da SBHE, desde 1999, sendo completada com al-
guns professores convidados tendo em vista suas especialidades
ou por serem professores da Universidade Federal do Espírito
Santo, cuja editora (EDUFES) se dispôs a financiar a publicação
da coleção. A presença desses professores facilitaria o processo
de acompanhamento da edição junto à EDUFES.
Além disso, destaca-se no Quadro 1 o grau de abrangência
conseguido pela coleção, com 147 pesquisadores e 126 capítulos,

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o que demonstra o acerto da orientação inicial de não se permi-
tir mais de uma participação por autor. Outro elemento que se
destaca é a diferença entre o número de autores e de textos, o
que é justificado tanto pela característica da área na produção
compartilhada do conhecimento, como pelo estímulo feito por
alguns organizadores para a publicação em regime de coautoria.

Quadro 2: Sexo dos autores dos volumes da coleção Horizontes da Pes-


quisa em História da Educação no Brasil.

Título da Coletânea Autores Sexo Masculino Sexo Feminino

N° % N° %
História das culturas escolares
15 4 26,7 11 73,3
no Brasil
Estado e políticas educacionais
na História da Educação brasi- 12 8 66,7 4 33,3
leira
Educação e instrução nas
Províncias e na Corte Imperial 23 5 21,7 18 78,3
(Brasil, 1822-1889)
Práticas escolares e processos
educativos: currículo, disci-
18 7 38,9 11 61,1
plinas e instituições escolares
(séculos XIX e XX)
História da Educação no Brasil:
matrizes interpretativas, aborda-
14 7 50,0 7 50,0
gens e fontes predominantes na
primeira década do século XXI
O ensino de História da Educa-
14 8 57,1 6 42,9
ção
História da profissão docente no
13 2 15,4 11 84,6
Brasil
História da infância e da assis-
10 3 30,0 7 70,0
tência à infância no Brasil
Gênero, etnia e movimentos
13 5 38,5 8 61,5
sociais na Historia da Educação

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Título da Coletânea Autores Sexo Masculino Sexo Feminino

Intelectuais e História da Edu-


cação no Brasil: poder, cultura 15 6 40,0 9 60,0
e políticas
TOTAL 147 55 37,4 92 62,6

Um aspecto muito comentado no campo da Educação e da


História da Educação em particular é a feminização do quadro de
pesquisadores. É difícil estabelecer parâmetros percentuais que
correspondam a essa divisão na área, mas alguns indicadores po-
dem nos auxiliar para esse fim. Um estudo que tomou por base
o Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil, do CNPq, mostrou
que:

“Entre os 106 líderes dos grupos de pesquisa 69 (65,1%) são


mulheres e 37 (35,9%) homens, indicando que a presen-
ça feminina na área de Educação é superior. Estes achados
se aproximam daqueles mencionados por Hayashi e outros
(2008), que indicaram ser de 60,2% a presença feminina na
distribuição dos pesquisadores por sexo, segundo a grande
área de Ciências Humanas predominante de atuação dos líde-
res de grupos de pesquisa – na qual a subárea Educação está
alocada -, presentes no Diretório na base censitária de 2004”
(HAYASHI e FERREIRA JUNIOR, 2010, p. 175).

O resultado obtido no Quadro 2, na discriminação por sexo,


indica na coleção Horizontes da Pesquisa em História da Edu-
cação no Brasil, uma predominância das mulheres, com 62,6%
do total, contra 37,4% dos homens. Como esses números estão
próximos dos encontrados no estudo citado acima, e corrobo-
ram a preponderância feminina na área, cremos poder dizer que
a coleção alcançou seu objetivo no que concerne ao respeito à
diversidade de gênero e ainda reforçar um percentual indicativo
do predomínio feminino.

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Quadro 3: Diversidade de estados da Federação e de instituições dos
autores dos volumes da coleção Horizontes da Pesquisa em História da
Educação no Brasil.
Estados Instituições
Título Autores
N° % N°
História das culturas escolares no Brasil 15 11 41,0 13
Estado e políticas educacionais na His-
12 6 22,0 10
tória da Educação brasileira
Educação e instrução nas Províncias e
23 18 66,7 22
na Corte Imperial (Brasil, 1822-1889)
Práticas escolares e processos educativos:
currículo, disciplinas e instituições esco- 18 9 33,3 16
lares (séculos XIX e XX)
História da Educação no Brasil: matrizes
interpretativas, abordagens e fontes
14 6 22,2 12
predominantes na primeira década do
século XXI
O ensino de História da Educação 14 6 22,2 11
História da profissão docente no Brasil 13 7 25,9 11
História da infância e da assistência à in-
10 6 22,2 7
fância no Brasil
Gênero, etnia e movimentos sociais na
13 8 29,6 10
Historia da Educação
Intelectuais e História da Educação no
15 10 37,0 11
Brasil: poder, cultura e políticas
TOTAL 147 – 81,5 –

O Quadro 3 nos permite ver até que ponto os organizado-


res dos diferentes volumes conseguiram cumprir o objetivo de
buscar a inclusão de pesquisadores de diferentes estados brasi-
leiros entre os seus convidados. Os números parecem animado-
res, mas expõem as limitações do campo, não cobrindo todos os
estados da federação, atingindo apenas um percentual de 81,5%
do total. Além de notarmos que cerca de 20% dos estados ficaram
fora, observa-se também que o volume que mais incluiu repre-

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sentantes de estados atingiu 41%. Deve-se lembrar, no entanto,
que dificilmente algum dos volumes conseguiria cobrir todo o
território brasileiro, por limitação de espaço, já que fora estabe-
lecido um número padrão de páginas por volume, possibilitando
no máximo 15 trabalhos, o que acabou resultando numa média
de 12,6. Precisamos anotar ainda que, dada a mobilidade carac-
terística dos pesquisadores do campo, esses percentuais podem
ter sido alterados posteriormente, mas essa identificação foge ao
nosso controle e talvez nem seja significativa.

Quadro 4: Origem, por estados da Federação, dos autores dos volumes


da coleção Horizontes da Pesquisa em História da Educação no Brasil.
Estados/Países Autores %

São Paulo 33 22,4


Rio de Janeiro 17 11,6
Minas Gerais 22 15,0
Espírito Santo 10 6,8
Paraná 9 6,1
Santa Catarina 4 2,7
Rio Grande do Sul 13 8,8
Goiás 2 1,4
Distrito Federal 1 0,7
Mato Grosso 5 3,4
Mato Grosso do Sul 2 1,4
Bahia 4 2,7
Sergipe 4 2,7
Alagoas 1 0,7
Ceará 2 1,4
Rio Grande do Norte 4 2,7
Paraíba 4 2,7
Pernambuco 2 1,4
Piauí 2 1,4

educativa, Goiânia, v. 17, n. 2, p. 372-395, jul./dez. 2015 387


Estados/Países Autores %

Maranhão 1 0,7
Pará 2 1,4
Amazonas 1 0,7
EUA 1 0,7
Portugal 1 0,7
TOTAL 147 100,2

O Quadro 4 nos mostra tanto os estados representados na


coleção, como os números e percentuais de cada um. Inclusive,
indica a presença de 2 pesquisadores estrangeiros, o que era per-
mitido pelas normas, que estabeleciam apenas que os temas tra-
tados deveriam versar sobre a realidade brasileira. De qualquer
forma, os dados reiteram o predomínio de alguns estados da fede-
ração – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul,
Espírito Santo e Paraná (70,7% do total). Por outro lado, vários es-
tados não tiveram representantes, casos de Acre, Rondônia, Ama-
pá, Roraima e Tocantins, enquanto outros tiveram participações
solitárias, como Distrito Federal, Alagoas, Maranhão e Amazonas.

Quadro 5: Origem, por região do Brasil, dos autores dos volumes da


coleção Horizontes da Pesquisa em História da Educação no Brasil.
Regiões Autores %
Norte 3 2,1
Nordeste 24 16,6
Centro-Oeste 10 6,9
Sul 26 17,9
Sudeste 82 56,6
TOTAL 145 100,1

O Quadro 5 é um complemento do anterior e demonstra a


concentração regional da produção histórico-educacional brasi-

388 educativa, Goiânia, v. 17, n. 2, p. 372-395, jul./dez. 2015


leira. Esses dados acompanham também os conseguidos na pes-
quisa com o Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil (CNPq), já
aventados acima:

“As regiões Sul e Sudeste apresentam a maior concentração


dos grupos de pesquisa em “História da Educação”, com 58 e
20 grupos respectivamente, totalizando 72,2%. Os 30 demais
grupos de pesquisa (27,8%) estão distribuídos nas regiões
Nordeste, Centro-Oeste e Norte e parecem coincidir com a
distribuição dos 83 Programas de Pós-Graduação em Educa-
ção existentes no país, dos quais 62 (74,6%) localizam-se na
região Sul e Sudeste, enquanto que os outros 21 (25,4%) pro-
gramas estão situados nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e
Norte. Estes dados confirmam que a atividade de pesquisa no
país está fortemente vinculada à pós-graduação” (HAYASHI e
FERREIRA JUNIOR, 2010, p. 175).

Os números obtidos entre os autores da coleção Horizon-


tes da Pesquisa em História da Educação no Brasil mostram que
o percentual de concentração referente às regiões Sudeste e Sul
corresponde a 73,2%, o que reforça a constatação citada acima.
Apesar de não ter sido feita a análise com relação aos programas
de pós-graduação, é bem provável que as interpretações incor-
poradas à coleção tenham sido fruto de muitos trabalhos inves-
tigativos desenvolvidos nesse âmbito, que tem se tornado um
espaço fundamental para o avanço do conhecimento no Brasil,
tanto na Educação como em outras áreas.

educativa, Goiânia, v. 17, n. 2, p. 372-395, jul./dez. 2015 389


Quadro 6: Origem, por instituição de origem, dos autores dos volumes
da coleção Horizontes da Pesquisa em História da Educação no Brasil.
Instituições Autores %
USP 12 8,7
UFES 10 7,2
UFMG 8 5,8
UFU 8 5,8
UNICAMP 5 3,6
UERJ 5 3;6
UFF 5 3,6
UFMT 5 3,6
UFPB 4 2,9
UNESP 4 2,9
UFRJ 4 2,9
UFRN 4 2,9
UFPR 3 2,2
UFPEL 3 2,2
UFS 3 2,2
UNISINOS 3 2,2
UEM 3 2,2
UFSCAR 3 2,2
UFPI 2 1,4
UDESC 2 1,4
UFOP 2 1,4
PUC-RS 2 1,4
PUC-PR 2 1,4
UFSM 2 1,4
UCS 2 1,4
UNEB 2 1,4
Outras* 34 24,6
TOTAL 138 102,5
* PUC-SP, UFV, UNIMEP, UESB, CEFET-MG, UFAM, PUC-MG, UFPA, UFMA,

390 educativa, Goiânia, v. 17, n. 2, p. 372-395, jul./dez. 2015


UECE, UFAL, UEFS, UEG, UNISUL, USC (EUA), TUIUTI, UNINOVE, UNIDERP,
UEPA, UNIT, IMES-SM (SP), URCA, UL (PORTUGAL), UNISANTOS, Rede
Municipal-SP, CEFET-RJ, PUC-RJ, UFMG, UNB, UNISO, UCP, UFJF, PUC-GO,
UFCG.

Com relação às instituições de origem, Quadro 6, pode-se


observar uma certa dispersão, apesar do destaque conseguido pela
USP. Mesmo com a maior parte das instituições concentrando-se
nas regiões Sul e Sudeste, pelo menos no tocante à diversidade
institucional, os dados parecem corroborar o esforço dos orga-
nizadores dos volumes para alcançar maior representatividade.
Também deve-se observar que boa parte dessas instituições, além
de terem programas de pós-graduação, contam com linhas de pes-
quisa específicas no campo da História da Educação e talvez esteja
aí um dos fatores que ajudam a compreender parte do processo de
concentração da produção em alguns estados e regiões.
Deve-se observar que não foi possível aferir a origem insti-
tucional de alguns autores, por falta dessa informação nos dados
biográficos dos pesquisadores. Por essa razão, o total de autores
apresentados foi de apenas 138.

Quadro 7: Tipo de instituição dos autores dos volumes da coleção Ho-


rizontes da Pesquisa em História da Educação no Brasil.

Instituições Públicas 119 86,2


Instituições Privadas 19 13,8
TOTAL 138 100

Por último, apresentamos os dados do Quadro 7, referentes


ao caráter público ou privado das instituições de origem dos au-
tores. E aqui se torna interessante novamente compara-los com
os indicadores conseguidos na pesquisa com o Diretório de Gru-
pos de Pesquisa no Brasil (CNPq):

educativa, Goiânia, v. 17, n. 2, p. 372-395, jul./dez. 2015 391


“Foram identificadas 63 instituições de vinculação dos grupos
de pesquisa. A distribuição institucional dos grupos de pesqui-
sa segue o mesmo padrão da distribuição dos grupos por re-
gião. O perfil destas 63 instituições aos quais os grupos de pes-
quisa estão vinculados aponta que 30 (47,6%) são instituições
federais de ensino superior, 11 (17,5%) instituições estaduais
de ensino superior, 12 (19,0%) instituições de ensino superior
particulares, 9 (14,3%) instituições de ensino confessionais e
apenas uma (1,6%) caracteriza-se como um centro de estudos
e pesquisas. Estes resultados permitem inferir que as institui-
ções de ensino superior públicas concentram o maior número
(65,1%) de grupos de pesquisa em “História da Educação”, o
que não se constitui em fato novo haja vista o próprio perfil
destas instituições em que o componente “pesquisa” tradicio-
nalmente encontra-se atrelado à pós-graduação” (HAYASHI e
FERREIRA JUNIOR, 2010, p. 175).

Deve-se anotar, no entanto, que neste caso os dados da co-


leção Horizontes da Pesquisa em História da Educação no Brasil
divergem um pouco, demonstrando uma concentração maior da
produção nas instituições públicas, que chegou a 86,2%, contra
apenas 13,8% das instituições privadas. Esses números parecem
demonstrar, mais uma vez, que a produção está diretamente co-
nectada à presença das linhas de pesquisa em História da Edu-
cação, existentes em sua grande maioria nos programas de pós-
-graduação das instituições públicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi refletir sobre as relações


entre a pesquisa e o ensino de História da Educação no Brasil,
elementos inseparáveis para todos os que se debruçam sobre a
questão da Educação tentando compreendê-la como um proces-
so onde interagem continuamente o passado e o presente. Gera-

392 educativa, Goiânia, v. 17, n. 2, p. 372-395, jul./dez. 2015


mos conhecimento para compreender e transmiti-lo aos pares e
às novas gerações. E ensinamos o que foi produzido na prática
científica. Quem não sabe ensinar terá dificuldades em saber o
quê e o como produzir. Da mesma forma, aquele que não conhece
os meandros da pesquisa terá dificuldades para explicar o co-
nhecimento ou a forma como foi gerado.
Ao fazermos a opção pela análise de alguns indicadores de
uma coleção específica, patrocinada pela Sociedade Brasileira de
História da Educação, pretendíamos fazer um exercício de “des-
monte” dos processos de organização, produção e publicização
de um conjunto abrangente de interpretações. Conteúdo que foi
definido dentro de um leque de escolhas, da mesma forma que
os organizadores, os autores, o sexo, a origem regional e institu-
cional desses pesquisadores, entre outros aspectos. O perfil da
coleção não foi obra do acaso, mas seguiu um planejamento que,
mal ou bem, retratou o estado geral e as perspectivas da História
da Educação nacional naquele momento.
Os resultados, para além da importância do conhecimento
disponibilizado – qualidade aqui reconhecida, embora não anali-
sada –, expõem virtudes e mazelas da pesquisa histórico-educa-
cional brasileira. Por um lado, a grande capacidade de resposta:
foi possível arregimentar 147 autores, gerar 10 volumes, com 126
trabalhos inéditos, em pouco mais de 12 meses. Por outro, apesar
do esforço dos organizadores e das orientações da SBHE, os tex-
tos reforçaram e demonstraram a grande concentração existente
no campo da ciência e no da História da Educação em particular,
nas regiões Sul e Sudeste do País.
Cabe, finalmente, destacar o grande potencial que a Histó-
ria da Educação tem demonstrado nas últimas décadas, abrindo
espaços por meio de publicações de periódicos, de organização
de congressos, de consolidação de linhas de pesquisa no interior
dos programas de pós-graduação, ampliação da participação no
volume de projetos e de recursos junto às agências de fomento,
etc. Inclusive, com capacidade para gerar uma coleção como a

educativa, Goiânia, v. 17, n. 2, p. 372-395, jul./dez. 2015 393


Horizontes da Pesquisa em História da Educação no Brasil e ou-
tras obras marcantes, que têm se notabilizado no universo aca-
dêmico.
Muito se tem para caminhar. Mas o percurso vem sendo
bem delimitado por meio da pesquisa e o ensino assegurará a
continuidade, renovando e despertando o interesse por esse
campo extremamente estimulante, que é a História da Educação.

TEACHING AND RESEARCH OF HISTORY OF EDUCATION


IN BRAZIL

Abstract: The text brings up a reflection about the relationship between


research and teaching of the history of Brazilian education. It is taken by
reference the collection Horizons of Research in History of Education in
Brazil, published by the Brazilian Society of History of Education (SBHE).
Some indicators were analyzed as thematic composition, method of selec-
tion and the state, region and institution of origin of authors. It showed
the field potential for generating new historical-educational knowledge,
bringing together 147 researchers and 126 chapters in 10 volumes; the
importance of the collection for teaching and research; and the spatial/
regional concentration of published works.

Keywords: Research – Teaching –History of Education – Brazil

REFERÊNCIAS

GONÇALVES NETO, Wenceslau. “Os grupos de pesquisa e a produção do co-


nhecimento histórico-educacional no Brasil”. In: SÁ, Elizabeth Figueiredo;
SIQUEIRA, Elizabeth Madureira (org.). Fontes, pesquisa e escrita da história da
educação no Centro-Oeste. Cuiabá: EdUFMT, 2012, p. 21-32.
HAYASHI, Carlos Roberto Massao; FERREIRA JUNIOR, Amarílio. O campo da
história da educação no Brasil: um estudo baseado nos grupos de pesquisa.
Avaliação, v. 15, n. 3, p. 167-184, nov. 2010.
HOF, Ulrich Im. A Europa no século das Luzes. Lisboa: Editorial Presença, 1995.
NUNES, Clarice. O ensino da história da educação e a produção de sentidos na

394 educativa, Goiânia, v. 17, n. 2, p. 372-395, jul./dez. 2015


sala de aula. Revista Brasileira de História da Educação, v. 3, n. 2 (6), p. 115-158,
jul./dez. 2003.
SAVIANI, Dermeval; CARVALHO, Marta Maria Chagas de; VIDAL, Diana; AL-
VES, Claudia; GONÇALVES NETO, Wenceslau. Sociedade Brasileira de História
da Educação: constituição, organização e realizações. Revista Brasileira de His-
tória da Educação, v. 11, n. 3 (27), p. 13-45, set./dez. 2011.

educativa, Goiânia, v. 17, n. 2, p. 372-395, jul./dez. 2015 395

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