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Comte, Marx, Durkheim e Weber

**Texto e atividade extraída no blog Sociologia aplicada ao aluno


MESTRES DAS CIÊNCIAS SOCIAIS

A Sociologia e as demais ciências sociais têm sido consideradas produtos da Revolução Industrial e da
Revolução Intelectual. O progresso industrial capitalista demandou um notável desenvolvimento da
ciência e da técnica. Inúmeras pessoas dedicaram longos anos a estudar a vida em sociedade,
procurando descobrir seus segredos e tornar mais claras as relações que existem entre os homens.

Segue a baixo uma apresentação das principais ideias e biografia de Comte, Marx, Weber e Durkheim:
Auguste Comte (1798-1857) : Isidore Auguste Marie François Xavier Comte, filósofo e matemático
francês, foi o fundador do Positivismo e pai da Sociologia, criou uma nova ciência para estudar a
humanidade, chamou-a de física social, em 1828. Em 1839, mudou o termo para Sociologia.

Em 1826, começou a elaborar as lições do Curso de Filosofia Positiva.

Em 1842, publicou sua grande obra: Curso de Filosofia Positiva, constituída de seis volumes. A partir
de 1846, toda sua obra passou a ter um sentido religioso, deixou de ser católico e fundou a Religião da
Humanidade, mudando as teorias reacionárias da Igreja da época.

Para Comte, a Sociologia procura estudar e compreender a sociedade, para organizá-la e reformá-la
depois. Os estudos da sociedade deveriam ser feitos com espírito científico e objetividade.

Positivismo é a doutrina criada por Augusto Comte que sugere a observação científica da realidade,
cujo conhecimento viabilizaria o estabelecimento de leis universais para o progresso da sociedade e
dos indivíduos. Comte acreditava ser possível observar a vida social por meio de um modelo científico,
interpretando a história da humanidade, e a partir dessa análise, criar um processo permanente de
melhoria e evolução. Para Comte o homem passa por três estágios na vida: estado teológico, estado
metafísico e estado positivo – a lei dos três estados.
No estado teológico ou fictício a explicação dos fatos decorre de vontades análogas à nossa (a
tempestade, por exemplo, será explicada por um capricho da natureza do dos ventos). Este estado
evolui do fetichismo ao politeísmo e posteriormente ao monoteísmo.

No estado metafísico o homem projeta espontaneamente sua própria psicologia sobre a natureza.
Já no estado positivo, contenta-se em descrever fatos, não procurando muitas explicações. Baseia-se
nas leis positivas da natureza que nos permite, quando um fenômeno é dado, prever o próximo
fenômeno e eventualmente agindo sobre o primeiro transformar o segundo.

Para Comte, a lei dos três estados não é somente verdadeira para a história da nossa espécie, ela é
também para o desenvolvimento de cada indivíduo: A criança dá explicações teológicas ao mundo, o
adolescente é metafísico, ao passo que o adulto chega a uma concepção positivista das coisas.

O lema da Bandeira Nacional “Ordem e Progresso”, criado por Benjamin Constant, é de inspiração
comtista.

Karl Marx (1818-1883) : Filósofo e economista alemão, estudou na Universidade de Berlim,


interessando-se pelas ideias do filósofo Hegel. Em 1842 assumiu o cargo de redator-chefe do jornal
alemão Gazeta Renana, onde tinha uma postura política de um liberal radical. Em Paris conheceu
Friedrich Engels, com quem escreveria vários ensaios e livros.

Em 1847, redigiu com Engels o Manifesto Comunista, primeiro esboço da teoria revolucionária, que
mais tarde seria chamado marxismo. No Manifesto, Marx convoca o proletariado à luta pelo socialismo.

Os primeiros socialistas foram chamados por Marx de utópicos porque, apesar de criticarem o
capitalismo e promoverem vários modelos de socialismo comunitário, não indicaram com clareza o
caminho para a sociedade como um todo. Karl Marx, ao contrário, procurou interpretar o movimento
geral da sociedade através do materialismo histórico ou dialético, e realizou a mais profunda análise do
capitalismo feita até hoje, sem deixar de indicar caminhos para a ação política.

Fundou em 1864, a Associação Internacional dos Trabalhadores, chamada depois de Primeira


Internacional dos Trabalhadores com objetivo de organizar a conquista do poder pelo proletariado em
todo o mundo. Em 1867, publicou o primeiro volume de sua obra mais importante, O Capital, em que
faz uma crítica ao capitalismo e à sociedade burguesa.

Marx é o principal idealizador do socialismo e do comunismo revolucionário. O marxismo, conjunto de


ideias político-filosóficas, propunha a derrubada da classe dominante, através de uma revolução do
proletariado, criticava o capitalismo e seu sistema de livre empresa. Propunha uma sociedade na quais
os meios de produção fossem de toda a coletividade.

Èmile Durkheim (1858-1917) : Sociólogo francês, lecionou Sociologia e Pedagogia na Sorbonne de


Paris. É considerado o fundador da sociologia moderna, foi um dos primeiros a estudar mais
profundamente o suicídio, que, segundo ele, é praticado na maioria das vezes em virtude de desilusão
do indivíduo com relação ao seu meio social.

Para Durkheim, o objeto da sociologia são os fatos sociais, os quais devem ser estudados como
coisas. Os fatos sociais consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo.

A sociedade não é simples soma de indivíduos, e sim sistema formado pela associação, que
representa uma realidade específica com seus caracteres próprios. Nada se pode conduzir de coletivo
se consciências particulares não existirem, é necessário que as consciências estejam associadas,
combinadas de determinada maneira.

O sistema sociológico de Durkheim baseia-se em quatro princípios :

1. A Sociologia é uma ciência independente das demais Ciências Sociais e da Filosofia.

2. A realidade social é formada pelos fenômenos coletivos.

3. A causa de cada fato social deve ser procurada entre os fenômenos sociais que o antecedem.

4. Todos os fatos sociais são exteriores ao indivíduo, formando uma realidade específica.

Segundo Durkheim, o homem é um animal que só se humaniza pela socialização.


Suas principais obras: A divisão do trabalho social (1893), As regras do método sociológico (1894), O
suicídio (1897).

Max Weber (1864-1920) : Sociólogo alemão, foi professor de economia e participou da comissão que
redigiu a Constituição da República de Weimar. Weber é considerado um dos mais importantes
pensadores modernos, fundou a disciplina chamada Sociologia da Religião.

Para Weber, o objeto da Sociologia é o sentido da ação humana individual que deve ser buscado pelo
método de compreensão, baseado no estudo da mente humana. Max Weber concebeu a pessoa
humana como um ser capaz de agir e que não é passivo frente às forças da natureza. A sociedade
para Weber, constitui um sistema de poder, pois as relações cotidianas, de classes, empresarial, por
exemplo, se deparam com o fato de que o indivíduo tem condição de impor sua vontade a outros.
Weber elabora os fundamentos de uma sociologia compreensiva ou interpretativa.

Ao contrário de Durkheim, Weber não pensa que a ordem social tenha que se opor e se distinguir dos
indivíduos como uma realidade exterior a eles, mas que as normas sociais se concretizam exatamente
quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação. E Weber distingue quatro tipos de
ação social que orientam o sujeito:

a ação racional com relação a um objetivo, como, por exemplo, a de um engenheiro que constrói uma
estrada, onde a racionalidade é medida pelos conhecimentos técnicos do indivíduo visando alcançar
uma meta.
a ação racional com relação a um valor, como um indivíduo que prefere morrer a abandonar
determinada atitude, onde o que se busca não é um resultado externo ao sujeito mas a fidelidade a
uma convicção.
a ação afetiva, que é aquela definida pela reação emocional do sujeito quando submetido a
determinadas circunstâncias.
a ação tradicional que é motivada pelos costumes, tradições, hábitos, crenças, quando o indivíduo age
movido pela obediência a hábitos fortemente enraizados em sua vida.

Weber vê como objetivo primordial da sociologia a captação da relação de sentido da ação humana, ou
seja, chegamos a conhecer um fenômeno social quando o compreendemos como fato carregado de
sentido que aponta para outros fatos significativos. O sentido, quando se manifesta, dá à ação concreta
o seu caráter, quer seja ele político, econômico ou religioso. O objetivo do sociólogo é compreender
este processo, desvendando os nexos causais que dão sentido à ação social em determinado
contexto.
Principais obras: A ética e o espírito do capitalismo (1905), Economia e sociedade (1922) publicada
após sua morte.

Atividades:
O que é sociedade para Comte?
O que é a doutrina positivista?
Quais são as leis dos três estados para Comte? Explique cada um deles.
O que se entende por Marxismo?
Qual a função do Manifesto escrito por Marx e Engels?
Por que os socialistas foram chamados de utópicos por Marx?
O que é materialismo histórico ou dialético?
Qual a principal crítica feita pelo Capital?
O que são os fatos sociais?
O que tratava o principal estudo feito por Durkheim?
Como é a sociedade para Durkheim?
Quais os quatro princípios sociológicos para Durkheim?
O que é objeto da sociologia para Weber?
O que é Ação Social?
Quais os quatro tipos de Ação Social para Weber?
Como é definida a sociedade Weberiana?
Michel Foucault
Michel Foucault foi um dos principais filósofos do século XX, sendo responsável por uma
extensa obra e por uma reorganização do método na filosofia.

"Michel Foucault foi filósofo, professor, psicólogo e escritor francês. Dono de um estilo literário único,
Foucault revolucionou as estruturas filosóficas do século XX ao analisá-las por meio de uma nova ótica.
Profundamente influenciado por Nietzsche, Marx e Freud, o filósofo contemporâneo também recebeu
influências do filósofo e amigo Gilles Deleuze, da medicina e da psiquiatria.

Podemos dividir o trabalho de Foucault em três partes distintas: uma produção que perdurou até a
década de 1960, em que ele faz o que chamou de "arqueologia" das ciências humanas, da literatura,
da escrita e do pensamento em geral; uma segunda fase, já nos anos 70, na qual o pensador
preocupou-se com as formas de subjetivação e poder, tecendo análises filosóficas mediante o método
genealógico; por último, a fase em que escreveu O cuidado de si, como o terceiro volume publicado da
coletânea História da Sexualidade."

"Paul-Michel Foucault nasceu no dia 15 de outubro de 1926, em Poitiers, na França. Seus pais
chamavam-se Paul Foucault e Anna Malapert. O pai de Foucault era cirurgião e professor de anatomia,
e os seus avôs (tanto o paterno quando o materno) também eram cirurgiões, o que mostra que a
medicina sempre esteve presente na sua educação e formação. Porém, o jovem passou a interessar-
se por história, o que decidiu o restante de sua carreira.

O interesse pela filosofia apareceu ainda na juventude de Foucault, o que o levou a uma busca precoce
por leituras na área. Apesar dos anseios paternos para que o filho se tornasse médico, o jovem decidiu,
a contragosto do pai, estudar Filosofia, posição apoiada por sua mãe, pessoa com quem o filósofo
nutria uma relação muito afetuosa. Com seu pai, ao contrário, Foucault não se dava muito bem.

Foucault mudou-se para Paris, em 1945, e iniciou os seus preparos para ingressar no ensino superior.
Nessa época, conheceu o filósofo e professor Jean Hyppolite, que apresentou ao novo aluno o
pensamento de Hegel. Ingressou na École Normale da rue d'Ulm para estudar Filosofia no ano de
1946. Sua personalidade introspectiva foi acentuando-se ao longo do tempo no centro de estudos, pois
o filósofo recusava cada vez mais o contato com os colegas, por conta do clima de disputa do local."
"le tentou suicídio pela primeira vez em 1948 e passou a ser acompanhado por avaliações psiquiátricas
constantes. Uma das causas que levaram ao problema psiquiátrico do filósofo foi a sua
homossexualidade, ainda em fase de descoberta e em dificuldade de aceitação de si mesmo.

No ano de 1948, o filósofo licenciou-se em Filosofia e, no ano seguinte, em Psicologia. Tornou-se


assistente de ensino na Universidade de Lille e terminou seu curso de Psicologia Patológica, em 1952.
O filósofo lecionou e proferiu conferências e palestras em diversas universidades na França,
Alemanha, Estados Unidos e Suíça, estando, inclusive, na Universidade de São Paulo (USP), em 1965
e 1975.

Foucault também trabalhou como psicólogo patologista em diversos hospitais psiquiátricos e presídios,
o que forneceu elementos empíricos para a constituição de algumas de suas obras, como Vigiar e punir
e História da loucura.

A publicação de As palavras e as coisas, em 1966, abriu portas para que o jovem professor de Filosofia
e Psicologia se tornasse conhecido no cenário intelectual mundial. Ele ministrou cursos, palestras e
conferências, participou de debates e desenvolveu uma vasta obra filosófica. Em 1968, Foucault, assim
como Deleuze, Marcuse, Sartre e tantos outros professores universitários ilustres, envolveu-se com a
luta estudantil deflagrada no mês de maio daquele ano na França, a qual atingiu setores educacionais
no mundo todo. Na época, Foucault lecionava na Tunísia.

Logo após, em 1969, o pensador publicou A arqueologia do saber, livro que restaurou e encerrou a sua
primeira fase de pensamento. Já em 1970, Foucault foi aceito em processo seletivo para ocupar a
cátedra de Jean Hyppolite, no Collège de France, com a aula inaugural A ordem do discurso, publicada
no mesmo ano.

Em 1975, ele publicou Vigiar e Punir - a história da violência nas prisões. No ano seguinte, publicou o
primeiro volume da coletânea História da Sexualidade, intitulado A vontade de saber. Em 1984,
publicou os dois últimos volumes da série, que deveria conter seis volumes, intitulados O uso dos
Prazeres e Cuidado de Si. O motivo da interrupção do trabalho foi a morte do pensador aos 57 anos de
idade. A sua morte decorreu de complicações causadas pela aids.

Amado por uns e odiado por outros, por conta de seus escritos, de sua visibilidade nos anos 70 e de
sua atuação política, sempre voltada para a esquerda (mas sempre recebendo, também, duras críticas
de pensadores e ativistas da esquerda), Foucault foi um dos filósofos mais aclamados do século XX.

Influenciado, principalmente, por filósofos e escritores como Marx, Freud, Bachelard, Lacan, Heidegger,
Nietzsche, Blanchot, Sade, Kafka, entre outros, o seu tipo de escrita e de método filosófico, junto ao de
pensadores como Nietzsche, Deleuze e Derrida, começou a ser chamado, por detratores, de pós-
moderno."
"No âmbito acadêmico, alguns classificaram Foucault como pós-estruturalista, título que ele mesmo
recusava. É fato que sua obra, assim como a de tantos outros, como a de seu amigo Deleuze, de
Sartre, de Beauvoir e, como início de tudo, a de Nietzsche, rompeu com as estruturas tradicionais da
Filosofia feita até o século XIX, essencial e dogmaticamente voltada para a análise estruturada da
racionalidade e de suas formas."
"Principais ideias
Como foi dito, a obra foucaultiana pode ser dividida em três períodos: o Foucault arqueológico, o
Foucault genealógico e o último Foucault. Os períodos apresentam ideias e temas diferentes sobre os
quais o filósofo debruçou-se.

Período arqueológico
Ficou marcado por uma busca de estabelecer um estudo utilizando o que ele chamou de método
"arqueológico" das estruturas das ciências humanas, em especial da História e das Ciências Sociais.
Também foram examinadas à exaustão, nesse período, a Filosofia, a Linguística e a Literatura. As
principais obras do período arqueológico são As palavras e as coisas e Arqueologia do saber.

Período genealógico
Esse período foi marcado, essencialmente, pela publicação das obras A verdade e as formas jurídicas,
Vigiar e punir e Vontade de saber (esse último como o primeiro volume de História da Sexualidade).
Nesse momento, o filósofo francês passou a se preocupar com as formas de poder e subjetivação na
sociedade.

Profundamente influenciado por seus anos de clínica psicológica em manicômios e prisões e pelo
método genealógico de Nietzsche (ferramenta intelectual adaptada e aprimorada por Foucault para o
seu trabalho), o filósofo passou a tentar estudar, por meio de uma complexa reconstrução histórica e
cultural de cenários complexos, a formação do que ele denominou de sociedade disciplinar.

Segundo o filósofo, a humanidade seria organizada em formas diferentes e em momentos diferentes


mediante o modo que ela lida politicamente com elementos relacionados à vida (biopolítica). Entre
esses modos de organização, o filósofo encontrou, entre as sociedades modernas e a sociedade
contemporânea, uma diferença crucial, em especial o modo de domínio político nas antigas
monarquias e nos sistemas políticos recentes. O pensador caracterizou essas diferenças como
relações microfísicas e macrofísicas, descritas a seguir:

Macrofísica do poder: o poder existia e era exercido em grande escala (macro) por meio do monarca,
que era o único responsável por aplicar, pelo medo, a atividade necessária para controlar as vontades
díspares mediante sua própria vontade.
Microfísica do poder: relacionada ao poder exercido pelo que ele chamou de sociedade disciplinar, era
uma rede de poderes pequenos, exercidos em pequenos núcleos sociais por meio da aplicação de
técnicas disciplinares que docilizariam os corpos das pessoas, treinando-os para as atividades
diversas. A escola, a igreja, o quartel, a fábrica, a cadeia e o hospital seriam instituições disciplinares
que aplicam a disciplinarização dos corpos, enquanto os líderes de pequenos núcleos de poder, como
os pais na família patriarcal, exercem algum tipo de poder microfísico em cima das pessoas
subjugadas a ele.

Período final ou o último Foucault


Nietzsche aparece mais uma vez na teoria foucaultiana, dessa vez com mais força. O filósofo francês
utilizou as teorias de seu influenciador alemão, sobretudo nas análises dele sobre os gregos antigos,
para imergir na cultura grega em O uso dos prazeres e desvendar o modo como a sociedade grega
encarava a sexualidade.

Nesse último período, uma nova maneira ética também apareceu e deu nome, “Cuidado de si”, ao seu
último escrito publicado. Os dois últimos volumes de História da Sexualidade, além de artigos
acadêmicos, compõem a totalidade da obra publicada no último Foucault.

Leia também: Byung-Chul Han - filósofo contemporâneo que teve sua obra influenciada por Foucault

Obras de Michel Foucault


História da loucura: utilizando-se do método arqueológico, o filósofo buscou a compreensão de como
se chegou a tratar e a entender a loucura como fizeram os psiquiatras e manicômios até o século XX.
O livro levantou um debate, há muito tempo necessário, sobre a crueldade dos manicômios e a
necessidade do entendimento mais profundo das desordens psiquiátricas como, muitas vezes,
desordens sociais.

As palavras e as coisas: Foucault entende que o que dissemos ser "o homem" surgiu recentemente no
âmbito do saber. Nesse livro, ele analisa o modo como as ciências, sobretudo as humanidades,
constituem-se e modificam-se, tornando-se outras ciências ou outros modos de pensar, entre os
séculos XVI e XVIII, partindo, inicialmente, da linguagem.

A Arqueologia do saber: livro que trata de uma resposta às críticas do livro anterior e explica, de
maneira mais detalhada, o chamado método arqueológico de entendimento das ciências humanas.
Vigiar e punir: livro sobre a história das instituições disciplinares, da punição, do poder disciplinar do
corpo e das cadeias como formas de aplicação da disciplina por excelência. É nessa obra que o
filósofo apresenta o pan-óptico, proposto por Jehremy Bentham no século XVIII, relacionando-o à
vigilância constante de nossa sociedade, e faz uma comparação entre a cadeia e as demais
instituições disciplinares, como a escola, a fábrica e o hospital.

História da sexualidade: a série de livros, quando anunciada, prometia um total de seis publicações. No
entanto, a interrupção da coletânea ocorreu quando ela estava pela metade em decorrência da morte
precoce de Foucault. Os volumes dessa obra atestam a mudança de foco do filósofo, de um método
genealógico no entendimento das formas de poder a um pensamento voltado para entender as
questões biopolíticas relacionadas ao corpo e da relação das pessoas com as subjetividades mediante
a questão corpórea."

Pierre Bourdieu
Pierre Bourdieu foi um dos intelectuais mais influentes do século XX, filósofo, etnólogo e
sociólogo. Sua obra repercutiu mundialmente e foi um marco para as ciências humanas.

"Pierre Bourdieu foi um dos maiores pensadores das ciências humanas do século XX. Filósofo por
formação, desenvolveu importantes trabalhos de etnologia, no campo da antropologia, e conceitos de
profunda relevância no campo da sociologia, como habitus, campo e capital social. Sua obra é extensa
e abrangente, com contribuição para diversas áreas do conhecimento, especialmente na educação e
cultura."
"Biografia de Pierre Bourdieu
Pierre Félix Bourdieu nasceu em 1º de agosto de 1930, em Béarn, no sudoeste da França. Bourdieu
era de família humilde. Filho de um funcionário dos correios, cursou o ensino básico em sua cidade,
com filhos de pequenos comerciantes, camponeses e operários. Já no ensino médio, estudou em Pau,
cidade vizinha, onde se destacou nos estudos e no esporte, jogava rúgbi e pelota basca. Na juventude
mudou-se para Paris para cursar Filosofia na École Normale Supérieure. Concluiu sua graduação em
1954.

Em 1955 foi lecionar filosofia numa cidade francesa da região central, porém foi convocado pelo
exército para servir em Versalhes. Teve um comportamento rebelde e foi punido com a convocação
para ir à Argélia, até então colônia francesa, participar do serviço militar de pacificação num contexto
de lutas por libertação nacional.

Nesse período foi professor-assistente na Universidade de Argel, entre 1958 e 1960, e aproximou-se
da antropologia ao interessar-se em estudar a sociedade argelina, mais especificamente o choque
entre o capitalismo colonial e o desejo de independência. Em 1960 teve de ir embora às pressas
porque o grupo argelino havia tomado o poder e os franceses considerados liberais estavam sob
ameaça de morte.

Quando retornou a Paris, Bourdieu trabalhou na Universidade de Lille. Em Sorbonne, passou a ler
sistematicamente e preparar seminários sobre os autores da sociologia clássica, Durkheim, Marx e
Weber. Em 1962, fundou o Centro Europeu de Sociologia e tornou-se diretor de estudos da Escola de
Estudos Superiores em Ciências Sociais. Sua intensa produção intelectual e suas pesquisas de
etnologia desenvolvidas nas décadas de 1960 e 1970 tiveram profundo impacto na sociologia.

Sua observação e análise dos hábitos culturais, especialmente dos franceses, conduziram-no à
conclusão de que os gostos e estilos de vida eram condicionados pela experiência social de cada
grupo: classe operária, classe média e burguesia. Sua obra mais importante é A distinção: crítica social
do julgamento, lançada em 1979.

Pierre Bourdieu deixou um legado intelectual que alcança diversas áreas do conhecimento humano.
Em 1981, quando já caminhava para o reconhecimento internacional, assumiu a cátedra de Sociologia
no Collège de France. Lecionou, também, em renomadas universidades ao redor do mundo, como
Instituto Max Planck, na Alemanha, e universidades de Harvard e Chicago, nos EUA. Recebeu o título
de Doutor Honoris Causa da Universidade Livre de Berlim (1989), da Universidade Johann Wolfgang-
Goethe de Frankfurt (1996) e da Universidade de Atenas (1996).

Foi um dos mais importantes intelectuais do século XX, sua obra tornou-se referência na antropologia e
na sociologia e abarcou uma ampla gama de temas, tais como educação, comunicação, política,
cultura, linguística, artes, literatura, entre outros.

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Bourdieu teve como marca intelectual a defesa da interdisciplinaridade nas ciências humanas e sociais
e a constante busca por independência intelectual. Lia autores de diferentes correntes teóricas para
formar seu pensamento. Destacou-se por fortalecer editorialmente escritores jovens e por apoiar
greves de trabalhadores, chegando a ser apelidado de “sociólogo do povo”. Faleceu em Paris, em 23
de janeiro de 2002, vítima de câncer.

Veja também: Zygmunt Bauman – sociólogo que estudou a liquidez das relações humanas

Teoria de Pierre Bourdieu


Para Bourdieu, a estrutura social é um sistema hierárquico em que os diversos arranjos
interdependentes de poder material e simbólico determinam a posição social ocupada por cada grupo.
O poder tem múltiplas fontes, por isso, a influência que um determinado grupo exerce sobre os demais
é fruto da articulação entre elas:

poder financeiro
poder cultural
poder social
poder simbólico
A cada um desses, Bourdieu chama de capital, pois representam a capitalização de um ativo
importante para ter-se uma posição de destaque em determinada sociedade e contexto histórico. A
distribuição desigual desses poderes, que também podemos chamar de recursos, consolida e reproduz
a hierarquia social ao longo do tempo.

Bourdieu divide os poderes em quatro tipos de capital:

Capital econômico: abrange os recursos materiais, renda e posses.


Capital cultural: aglutina o conhecimento formal, isto é, o saber socialmente reconhecido por meio de
diplomas.
Capital social: refere-se às relações sociais que podem ser capitalizadas, ou seja, à rede de relações
que propicia algum tipo de ganho, que pode ser prestígio, um bom emprego, aumento de salário,
influência política, espaço no mundo cultural; enfim, representa benefícios em qualquer das outras
modalidades de poder.
Capital simbólico: é o que confere status, honra e prestígio, tratamento diferenciado, privilégios sociais.
A soma ou a ausência desses recursos de poder, herdados ou adquiridos, determinará o lugar ocupado
por grupos e indivíduos na hierárquica estrutura das sociedades e condicionará seu estilo de vida e
suas oportunidades de ascensão.
Ao pesquisar as práticas de lazer e consumo cultural da sociedade francesa, Bourdieu chegou à
conclusão de que a variedade de gostos e de hábitos era profundamente marcada pela trajetória social
dos indivíduos, isto é, pela experiência de socialização em que foram integrados, pela educação que
receberam. O gosto por determinado tipo de manifestação artística não é inato ou fruto exclusivo de
sensibilidade individual, e sim consequência de um processo educativo encabeçado pela família e pela
escola.

Bourdieu questionou a ideia de que o gosto cultural e os hábitos de vida são inclinações pessoais e
íntimas. Esse brilhante sociólogo mostrou que, pelo contrário, o repertório de gostos e competências
culturais é resultado de relações de força entre os capitais mencionados operadas nas instituições
responsáveis pela transmissão cultural na sociedade capitalista moderna, a saber, a família e a escola.
Conceitos de Pierre Bourdieu
A obra de Pierre Bourdieu é extremamente densa e sua leitura é de difícil compreensão. Ao contrário
do que se pensa, o autor teve uma educação simples e provinciana nos primeiros anos de vida, e, ao
ingressar na Escola Superior para cursar Filosofia em sua juventude, teve dificuldades em face da
linguagem fluida e rebuscada dos jovens burgueses provenientes das melhores escolas de Paris. Essa
dificuldade de produzir uma linguagem fácil acompanhou-o durante a vida, tanto na obra escrita quanto
nas conferências e palestras que realizava.

De sua ampla e imponente produção intelectual, são três os seus principais conceitos: campo, habitus
e capital, desenvolvidos em suas pesquisas durante as décadas de 1960 e 1970 sobre a vida cultural
da sociedade francesa. Esses três conceitos, conforme enfatizado pelo próprio autor, devem ser
estudados em sua conexão e interdependência, e não como ideias separadas. O conceito de capital foi
abordado no tópico anterior; aqui trabalharemos com os conceitos de habitus e campo.

Habitus
O habitus é um sistema de repertórios de modos de pensar, gostos, comportamentos, estilos de vida,
herdado da família e reforçado na escola. É a articulação dos capitais econômico, cultural, social e
simbólico que confere a determinados grupos alta posição na hierarquia social.

O habitus é simultaneamente individual e social. Bourdieu considerou-o como um mecanismo de


mediação entre sociedade e indivíduo. O habitus pertence ao domínio coletivo de um grupo ou classe,
mas também é internalizado subjetivamente pelos indivíduos que compõem essa classe e dá a eles
uma gama de ações entre as quais eles escolherão e exercerão as que considerarem mais adequadas
em suas relações sociais.

O habitus é um capital incorporado, um conhecimento adquirido que se alia à capacidade criativa e


volitiva do agente social. Aí vemos que Bourdieu não mais se inclinava à rigidez do estruturalismo
preponderante sobre a ação individual, tampouco se inclinava a uma filosofia individualista que
delegasse exclusivamente ao indivíduo o monopólio da ação.

Há uma dinâmica entre a estrutura social objetiva e o agente social, cujo percurso de ações individuais
baseia-se nessas condições estruturadas, mas é capaz de modificá-las. Bourdieu definiu o habitus
como um “sistema de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionarem como
estruturas estruturantes”|1|.

Campo
O campo, por sua vez, é o espaço comum de concorrência entre os agentes sociais que possuem
interesses diferentes. Eles estão situados em lugares pré-fixados em função da hierárquica e desigual
distribuição dos recursos, que gera diferentes posições na estrutura social. O conceito de campo
refere-se a todos os espaços onde se desenvolvem relações de poder. É aplicável a todos os domínios
da vida social:

político
econômico
literário
jurídico
científico etc.
Cada campo configura-se por meio da distribuição desigual do poder naquele nicho de interesse,
portanto, é constituído pelas hierarquias resultantes dessa disputa em que os que possuem maior
soma de capital social naquele nicho alcançam as melhores posições. O campo estrutura-se, reproduz-
se ou modifica-se conforme modela-se o confronto entre dominantes e dominados.

O polo dominante pretende manter a configuração do campo como está, portanto, tem ação
conservadora e ortodoxa, já o polo dominado, que pretende mudar de posição na correlação de forças,
tem comportamento reformista ou revolucionário e heterodoxo, tendendo a desacreditar a legitimidade
dos atuais detentores do capital social daquele campo.

Acesse também: Classe social – divisão socioeconômica do mundo em um sistema capitalista

Pierre Bourdieu e a educação


Pierre Bourdieu aponta que as duas principais instituições socializadoras são a família e a escola. Para
esse autor, as relações educativas nas sociedades capitalistas são essencialmente relações de
comunicação. Isso significa que a compreensão do que é comunicado depende de um repertório prévio
de conhecimentos, o que podemos constatar, por exemplo, na apreciação das artes eruditas.

A hierarquização da sociedade e a desigualdade na distribuição de recursos materiais e simbólicos


fazem com que algumas famílias possuam bagagem cultural para identificar e assimilar os códigos de
ensinamento escolares, e que outras não. Assim sendo, estudantes oriundos de famílias abastadas já
iniciam sua trajetória escolar em condição de vantagem com relação aos estudantes oriundos de
famílias pobres, posto que já receberam em casa elementos que os auxiliarão a decodificar os
conteúdos apresentados na escola.
A cultura escolar, para Bourdieu, é similar à cultura dos grupos sociais detentores dos quatro tipos de
capitais, que são hegemônicos e dominantes sobre os demais. Esses grupos do topo da hierarquia
social acumulam, por gerações, o conhecimento ensinado nas escolas, e estas, por sua vez, legitimam
a predominância cultural deles.

Num contexto de rígida hierarquia e desigualdade entre grupos, o tratamento igualitário no ambiente
escolar acaba por incorrer em distorções e injustiças, na visão de Bourdieu. Quando a escola cobra de
todos a familiaridade com a alta cultura que só uns poucos possuem, sem levar em conta as diferenças
de origem social e suas implicações na socialização do conhecimento, ela reforça desigualdades
preexistentes.

Bourdieu detectou um descompasso entre as competências culturais exigidas pela escola e as


competências culturais desenvolvidas nas famílias da base da pirâmide social. Para ele, o sistema
escolar furta-se ao seu papel de oferecer o acesso democrático do conhecimento a todos quando elege
como superior uma competência cultural identificada com o pequeno grupo detentor do capital cultural
necessário para praticá-la, o que reforça as distinções entre os grupos, relegando os segmentos
populares à inadequação ou ao estigma da incompetência.

Essa restrição do acesso ao conhecimento não é prejudicial somente aos estudantes, representa
também o desperdício de talentos. A esse processo da exigência escolar de um conhecimento cultural
anterior para receber a transmissão do ensino, que implica a negação de outras formas de cultura que
não fosse a erudita, Bourdieu denominou violência simbólica.

Bourdieu foi um grande sociólogo do século XX. Sua contribuição abarca a sociologia e o próprio fazer
sociológico.[1]
Obras de Pierre Bourdieu
Pierre Bourdieu tem uma vasta obra. Entre seus livros mais importantes, estão:

A distinção
O poder simbólico
A dominação masculina
Razões práticas sobre a teoria da ação
A profissão de sociólogo
Destacaremos aqui suas obras que foram publicadas no Brasil:
Campo econômico
Contrafogos: táticas para enfrentar a invasão neoliberal
Contrafogos 2: por um movimento social europeu
Convite à sociologia reflexiva
O desencantamento do mundo
A dominação masculina
Economia das trocas linguísticas
A economia das trocas simbólicas
Escritos de educação
Coisas ditas
Liber 1
Lições da aula
Livre-troca: diálogos entre ciência e arte
Meditações pascalianas
A miséria do mundo
Ontologia política de Martin Heidegger
Pierre Bourdieu
O poder simbólico
A profissão de sociólogo
Questões de sociologia
Razões práticas sobre a teoria da ação
As regras da arte
A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino
Sobre a televisão
O amor pela arte: os museus de arte na Europa e seu público
As estruturas sociais da economia
Senso prático
Os herdeiros: os estudantes e a cultura
Leia também: Jürgen Habermas – sociólogo que desenvolveu a teoria da ação comunicativa
Frases de Pierre Bourdieu
“Não há democracia efetiva sem um verdadeiro crítico.”

“Além de permitir à elite se justificar de ser o que é, a ideologia do dom, chave do sistema escolar e do
sistema social, contribui para encerrar os membros das classes desfavorecidas no destino que a
sociedade lhes assinala, levando-os a perceberem como inaptidões naturais o que não é senão efeito
de uma condição inferior, e persuadindo-os de que eles devem o seu destino social (cada vez mais
ligado ao seu destino escolar) à sua natureza individual e à sua falta de dom.”

“Com efeito, para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais desfavorecidos,
é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, dos
métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as
crianças das diferentes classes sociais. Em outras palavras, tratando todos os educandos, por mais
desiguais que sejam eles de fato, como iguais em direitos e deveres, o sistema escolar é levado a dar
a sua sanção às desigualdades iniciais diante da cultura.”

“O trabalho dos dominadores é dividir os dominados.”

“O ressentimento ligado ao fracasso só torna quem o experimenta mais lúcido em relação ao mundo
social, cegando-o ao mesmo tempo em relação ao próprio princípio dessa lucidez.”

“O campo artístico é lugar de revoluções parciais que alteram a estrutura do campo sem porem em
questão o campo enquanto tal e o jogo que nele se joga.”

“As pessoas que se querem à margem, fora do espaço social, se situam no mundo social, como toda a
gente.”

“Ethos de classe (para não dizer ‘ética de classe’), quer dizer um sistema de valores implícitos que as
pessoas interiorizaram desde a infância e a partir do qual engendram respostas a problemas
extremamente diferentes.”

“Toda ordem estabelecida tende a produzir (em graus muito diferentes, com diferentes meios) a
naturalização de sua própria arbitrariedade.”

“Nada é mais adequado que o exame para inspirar o reconhecimento dos veredictos escolares e das
hierarquias sociais que eles legitimam.”"

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