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Universidade Federal de Pernambuco

Serviço Social
Brenda Cailane de Moura Paschoal

Sociologia: as perspectivas teóricas

Recife
2021
INTRODUÇÃO

A sociologia surgiu a partir da necessidade de se entender as mudanças sociais que estavam a


ocorrer em que foram impulsionadas pelas Revolução Industrial e Revolução Francesa, afetando de
forma substancial a economia e a política da época, gerando uma terrível crise que provocou uma
total desordem na sociedade. Para melhor compreensão desses fenômenos sociais houve a
necessidade de se de ter uma ciência que estudasse a sociedade e suas transformações, considerando
aspectos históricos, geográficos, econômicos, políticos e contextuais que servissem de instrumentos
de estudo para melhor entendimento dos fatos sociológicos. Quatro teóricos foram de grande
importância para a sociologia, embora tivessem perspectivas diferentes de olhar a sociedade, de
entender as mudanças sociais, esses teóricos foram fundamentais para Sociologia como Ciência
Humana: August Comte, Emilí Durkheim, Karl Marx e Marx Weber.

Este artigo tem como objetivo mostrar as diferentes perspectivas da sociedade e da sua
transformação a partir da visão dos quatro teóricos, que são: August Comte, Emilí Durkheim, Karl
Marx e Marx Weber. Comte vai partir da visão Positivista diante da sua vontade de uma ordem
social, Durkheim parte da perspectiva funcionalista onde a sociedade é tida como corpo humano em
contrapartida será mostrado a visão de Marx com sua perspectiva de conflito, o conflito entre as
classes e por fim Weber com sua sociologia compreensiva onde se tinha a perspectiva da ação
social.

ORDEM DE COMTE

O teórico August Comte (1798-1857) desde sempre teve uma preocupação de fazer uma reforma.
De acordo com Costa “A principal preocupação de Augusto Comte, desde os seus primeiros
trabalhos, foi a de realizar uma reforma espiritual tão profunda que pudesse conduzir a uma
verdadeira reorganização social e política” (Costa, 1950, p.363) ele tinha um forte desejo de obter a
ordem na sociedade, a partir desse desejo de atingir uma ordem social e superar a crise que se deu
com o capitalismo e a Revolução Industrial na sociedade, ele viu a necessidade de uma ciência que
estudasse os fenômenos sociais com o mesmo rigor científico que as demais ciências naturais, essa
ciência seria a sociologia, sendo assim pra ele os fenômenos sociais deveriam ser estudados de
forma positivista, seria estudando de forma científica e objetiva que se conseguiria a reorganização.
O positivismo é a ideia na qual só se adquiri o verdadeiro conhecimento por meio de teorias e
observações empíricas, se afastando totalmente de toda crítica e negatividade, essa é a perspectiva
de Comte. A partir da visão positivista ele criou a “lei dos três estados” onde toda concepção do ser
humano passa por esses três estados: teológico, metafisico e positivo.

Estado teológico: nesse estado os fenômenos eram explicados pelas entidades sobrenaturais
Estado metafisico: As forças abstratas substituem as entidades sobrenaturais na explicação.

Estado positivo: esse último estado não se procura as causas e essências das coisas, mas as leis que
a reagem, esse seria o estado ciência sociológica.

Obtendo o estado positivo, o homem obteria a ordem e consequentemente o progresso e se tudo


estivesse em seu devido lugar a sociedade viveria bem.

FUNCIONALISMO DE DURKHEIM

Emilí Durkheim (1858-1917) diferentemente de Comte estabeleceu um objeto de estudo para a


sociologia, foi Durkheim quem estabeleceu o objeto de estudo, como sendo o fato social, assim ele
acaba por consolidar a sociologia como uma ciência. Durkheim parte de uma visão funcionalista, na
perspectiva de Durkheim a sociedade é superior ao indivíduo, ele acaba por ter uma visão geral da
sociedade. Segundo Carlos Eduardo Sell, Durkheim afirmava que a “explicação da vida social tem
seu fundamento na sociedade e não no indivíduo” (Sell, 2019, p.29), uma vez que o indivíduo cria
as estruturas socias ela vai passar a existir independente dele condicionando suas ações. Diante
desse olhar que ele tem no qual a sociedade condiciona o indivíduo, Durkheim define o objeto de
estudo como fato social que “é toda maneira de agir fixa ou não capaz de exercer sobre o indivíduo
uma coerção exterior ou ainda que é geral no conjunto de dada sociedade tendo ao mesmo tempo
uma existência própria independente de suas manifestações individuas” (1978, p.93) Para ser um
fato social é necessário apresentar três características:

Generalidade: o fato social é universal, atinge toda a sociedade

Exterioridade: o fato social é externo ao indivíduo, vai existir independente da vontade do


indivíduo.

Coercitividade: a sociedade impõe ao indivíduo ele se vê obrigado a seguir o comportamento


estabelecido se não será punido, ela vai se firmar mais toda vez que se tentar resistir.

A partir dessas características é que podemos tratar o fato social como coisa, se afastando de
todas pré-noções só assim poderemos estudar ele e entender a função que ele exerce na sociedade.
Do mesmo jeito que as “coisas’ da natureza funcionam independente da ação humana as “coisas” da
sociedade também.

Os fatos sociais estão nos costumes e nas leis dessa forma ele regula o comportamento do
indivíduo, esses fatos sociais vêm antes do indivíduo, ou seja, a gente nasce em uma sociedade
organizada que já tem presente suas regras e seus valores. O homem no momento que se permite
viver em sociedade dá origem as instituições cada uma dessas instituições acaba por cumprir uma
função para o bom funcionamento dessa sociedade, isto é, cada órgão cumpre uma função, com o
passar do tempo essas instituições conquistam uma autonomia e acaba por forma a consciência
coletiva, o indivíduo que tentar fugir dessa consciência coletiva, será punido, é por esse motivo que
o indivíduo respeita as normas da sociedade, apenas por exercer coesão.

Durkheim assim como outros teóricos estava preocupado com as mudanças que transformava a
sociedade, mais precisamente a evolução da sociedade de solidariedade mecânica para sociedade de
solidariedade orgânica, o que diferencia esses dois são a consciência coletiva e a divisão do
trabalho. Na solidariedade mecânica os indivíduos vivem em igual já que compartilham da
consciência coletiva, nessas sociedades, os membros viveriam de maneira semelhante e,
geralmente, ligados por crenças e sentimentos comuns, eles compartilham de uma cultura comum
que os faz viver em coletividade, nessa solidariedade se tem o direito repreensivo é o que mantem
coesão social. A sociedade passa por um processo de evolução que tem presente a diferenciação
social o que acarreta um novo tipo de vida social, onde vai ter a divisão social do trabalho. A partir
dessa divisão social do trabalho se vem a solidariedade orgânica, nessa solidariedade os indivíduos
estão apenas integrados porque cada um passa a depender do outro, além da mudança de integração
social também ocorre a mudança da relação da sociedade com o indivíduo, com a divisão social do
trabalho a consciência coletiva perde o seu papel de integração social, porém diante essa mudança o
indivíduo acaba por ter uma autonomia ao se ter essa queda da consciência coletiva o indivíduo vai
ter uma necessidade por mais liberdade e acaba por ter o excesso de egoísmo onde os indivíduos
irão ficar uns contra os outros, prejudicando o bom funcionamento da sociedade, assim se dá
anomia

Um dos estudos de Durkheim foi o suicídio, ele tenta mostrar que o ato de se suicidar tem causas
sociais, posto isto o suicídio é um fato social, o suicídio é “todo o caso de morte que resulta, direta
ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que ela sabia
que deveria produzir esse resultado”(Sell, 2019, p.36) ao analisar registro oficiais da França,
Durkheim descobriu que tem pessoas com mais chance ao suicídio que outras, e nessa analise ele
classificou quatro tipos de suicídio:

Suicídio anômico: ocorre em situação de anomia social, ou seja, as normas estão ausentes ou
perderam sentido na sociedade.

Suicídio egoísta: quando o indivíduo está isolado da sociedade. Está afastado das instituições que
impõe ordem a si, os indivíduos acabam por ter desejo que não tem como satisfazer.

Suicídio altruísta: é um caso de excesso de laços sociais, o indivíduo se identifica tanto com a
coletividade que é capaz de tirar sua vida por ela. Os homens bombas são exemplos desse suicídio.
Suicídio fatalista: esse caso não teve tanta importância pra Durkheim. Esse suicídio acontece
quando o indivíduo é regulado demais pela sociedade, ele acaba por receber uma pressão e a única
saída para ele é se matar.

KARL MARX E PERSPECTIVA DO CONFLITO

Karl Marx (1818-1883) assim como Durkheim estava interessado na estrutura na sociedade, para
Marx a mudança da sociedade estava ligada ao capitalismo, a visão que ele tinha é de que a
sociedade é composta por relações sociais, é constituída por classes sociais, duas classes
antagônicas (burguesia e proletariado), diante disso a sociedade estaria sempre em convulsão pelas
lutas de classes, toda a história pode ser contada pela perspectiva da luta de classes, tanto ele quanto
Durkheim acabam por ter uma visão geral, eles acreditam que as estruturas existiam externas
independente dos indivíduos. Pra forma o seu pensamento Marx se contrapôs a ideia de Hegel, a da
dialética idealista na qual se fala que a teoria em que o mundo material, só pode ser compreendido a
partir de sua verdade espiritual, Marx não acredita nesse pensamento de Hegel pra ele não seriam a
cultura ou os pensamentos humanos os responsáveis por criar condições suficientes para uma
transformação nas condições materiais de uma determinada sociedade, na visão dele são as
influencias econômicas motivador da mudança social, são as relações socias e as condições matérias
que são responsáveis por um avanço na história.

Marx chama as relações materiais de uma sociedade de infraestrutura e superestrutura, a


infraestrutura que é a base fundamental de todas as ideias, são as relações sociais de produção, já a
superestrutura é o reflexo da infraestrutura, ou seja, é a expressão cultural, das formas e relações de
produção, toda a infraestrutura de uma sociedade é formada pela classe dominante, sendo assim a
classe burguesa possuidora de capital, é essa classe que afirma o pensamento dominante da
sociedade. Marx percebe uma relação de dialética presente, desta maneira, uma relação de
influência mútua, entre infraestrutura e superestrutura. É graças à percepção desta relação que Marx
inaugura uma nova concepção filosófica de mundo: o materialismo dialético que ao usar na análise
histórica se torna materialismo histórico.
Ao analisar os sistemas econômicos Marx enxerga uma desigualdade presente, percebe que
desde sempre o trabalho e os frutos do trabalho nunca foram dividido de forma igualitária,
encontramos em praticamente toda parte da história, uma complexa divisão da sociedade em classes
diferentes, isso não mudou na sociedade burguesa, o antagonismo de classe vai continuar presente,
dessa forma as classe dominante era a classe burguesa, enquanto a classe dominada era a classe
trabalhadora, sendo assim, a classe trabalhadora seriam os proletários, são eles que vende a força de
trabalho para sobreviver e que transforma o capital em lucro, enquanto a classe burguesa é quem
possui os meios de produção, compra a força de trabalho e lucra em cima do proletariado, essas
duas classes são antagônicas e sempre vão estar em conflito e vai ser esse conflito que faz ocorrer
as transformações socias, como já foi dito.
Diante da maneira desigual que existe nessa relação de produção capitalista, Marx percebe uma
grande consequência, essa seria alienação do trabalhador, dessa forma ele fala que o trabalhador no
modo de produção capitalista não trabalha pra si e sim para os capitalistas que possui os meios de
produção dessa forma o trabalho se torna externo ao trabalhador, uma vez que o trabalhador está
alienado ele não percebe que é a peça principal da produção capitalista, sem ter essa noção ele
acaba por ser explorado e passa por um processo de coisificação, a exploração na qual o trabalhador
sofre é chamada de mais valia por Marx, essa mais valia é à diferença entre o valor final da
mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de produção e do valor do trabalho.
Como já foi dito antes, na visão de Marx são os conflitos de classe que são o motor da história,
ele olha a história mundial como a história da luta de classes, deste modo Karl Marx é visto como
um teórico práxis e é isso que diferencia ele dos outros teóricos, ele acreditava que a ciência tinha
poder de transformação enquanto para Durkheim ela só estava ali pra ser analisada, ele era
conservador. É por conta desse pensamento de transformação que Marx acreditava em uma
revolução dos proletariados que poderia derrubar o sistema capitalista e com isso colocando uma
sociedade sem classes ao destruir o sistema econômico atual, eliminaria a propriedade privada dos
meios de produção e colocaria as empresas uma propriedade comum, de onde todos seriam
operários, mas de onde todos também seriam donos, assim seria o comunismo.

AÇÃO SOCIAL DE WEBER

O último clássico a ser falado é Marx Weber (1864-1920), esse teórico se contrapõe totalmente da
visão social de Durkheim e Marx, enquanto esses dois teóricos acreditam que as estruturas da
sociedade existem independente do indivíduo, Weber não vai acreditar nisso pra ele a estruturas
socias só eram formadas pelas ações dos indivíduo, é com essa visão que ele sai das questões mais
geral e vai analisar o particular, para ele o foco da sociologia não é o fato social e nem a luta de
classes, como é para os outros dois teóricos, e sim as ação social, os indivíduos tem a liberdade de
agir e moldar a sociedade, assim as motivações, as ideias humanas é o protagonista da mudança. A
ação social é dotada de sentido, sendo assim tudo que fazemos tem sentido, dessa forma a ação
social é aquela que se realiza em um sentido pensado pelos indivíduos e que se refere à conduta de
outros, é necessário compreender essas ações cheias de sentidos.
Pra compreender, interpretar e explicar de melhor forma o mundo ele parte do modelo do tipo
ideal, que é um modelo conceitual que ajuda a compreender o mundo esse modelo não existe de
fato, quando weber promoveu esse tipo ideal não era sobre um objeto perfeito. Segundo Giddens,
“Weber não queria dizer que tal concepção fosse um objeto perfeito ou desejável. Ao contrário
significa uma forma pura de um certo fenômeno” (Giddens,2005, p.34) diante disso esse tipo ideal
ajuda de referência a pesquisa, foram esses tipos ideias que ajudaram a conceituar quatro tipo ideais
de ação social, que são essas abaixo:
Ação social afetiva: essas ações são determinadas pelos sentimentos; irracionais
Ação social tradicional: marcadas por costumes que se reproduzem irracionalmente
Ação racional em referentes a valores: essa ação está marcada por um valor e se realiza por isso
independente do resultado
Ação racional em referentes a fins: essa ação é marcada por expectativas que funcionam como
condições para alcançar fins próprios.
Quando o sentido da ação é compartilhado por vários indivíduos se dá uma relação social, ou
seja, quando um grupo de pessoas agem da mesma forma dividindo valores e desejos se tem a
relação social. A partir da relação social dos indivíduos é que se compreende a existência de um
todo.
O papel da sociologia na visão de Weber é a de compreender essas ações sociais, já que todos os
nossos atos são compostos de sentido. É dessa maneira que podemos ver de forma mais clara a
diferença dele com Marx e Durkheim, esses dois teóricos tinham a visão que a sociologia deveria
olhar as forças externas as quais influenciam o comportamento do indivíduo, desta maneira eles
acabam por ter uma visão geral da sociedade, enquanto Weber tem uma visão particular, se
concentrando nos indivíduos e nas suas ações compostas de sentido, assim sendo os indivíduos
como modelador da sociedade.

CONCLUSÃO

Diante de tudo que foi mostrado, pode-se perceber que cada um desses teóricos que foram
mencionados nesse artigo, tinham perspectivas diferentes de olhar a sociedade, de olhar as
mudanças que ocorriam nela, cada um desses teóricos contribuíram de forma singular para a
sociologia, Comte estabeleceu dentro de uma visão positivista o desejo de uma ordem e percebeu a
lei dos três estados, Durkheim consolidando o desejo de Comte de uma ciência da sociedade, foi o
responsável para sociologia ser vista como ciência, e com ele veio o objeto de estudo, o fato social,
Durkheim tinha uma visão funcionalista onde a sociedade é vista como corpo humano, as
instituições seriam os órgãos e eles que dariam o bom funcionamento da sociedade, Marx por sua
vez veio com suas ideias que estão presentes até hoje, ele parte da visão da luta de classe como
motor da história e o motivo que o faz estar presente até hoje é a sua ideia de revolução dos
proletários, que daria uma sociedade sem classe e por fim Weber com sua sociologia compreensiva,
apresenta o entendimento da sociologia a partir do olhar individual do homem, já que seria suas
ações que fariam a mudança na sociedade, com essas perspectivas diferentes diante da sociedade
esses quatros teóricos foram de suma importância para a sociologia.
BIBLIOGRAFIA

GIDDENS, Anthony. O que é sociologia? In: GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4a. edição. Porto
Alegre: Artmed, 2005.

COSTA, Cruz J. Augusto Comte e as origens do Positivismo. Revista de História da USP, São
Paulo, Vol. 1 no3, 1950.

MANDEL, Ernest. O lugar do marxismo na história. 2a ed. São Paulo: Xamã, 2001. p. 09-46.

MARX, Karl. Trabalho estranhado e propriedade privada. In: MARX, Karl. Manuscritos
econômico-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004. p. 79-90.

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 9a. Edição. Lisboa: Editorial Presença,
2004 (Capítulo1 – O que é um fato social?).

SELL, Carlos Eduardo. Sociologia clássica: Durkheim, Weber e Marx.

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