Você está na página 1de 5

Cauã da Luz Marcondes

Emanuely Gonçalves

ÉMILE DURKHEIM, KARLS MARX E O DIREITO

Francisco Beltrão
2023
INTRODUÇÃO
Na história da sociologia clássica, o Direito tornou-se um dos objetos de
estudo dos sociólogos, que buscaram explicar como o direito interage dentro da
sociedade e qual o seu papel na nova ordem social que surgiu após as
revoluções francesa e industrial. Cada estudioso clássico buscou analisar a
sociedade segundo sua própria perspectiva, o que resultou em respostas
diferentes sobre um mesmo assunto. Neste texto, explicaremos as conclusões
as quais os sociólogos Émile Durkheim e Karl Marx chegaram ao estudar sobre
o Direito.

ÉMILE DURKHEIM E O DIREITO


Durkheim nasceu em 1858, na França, em uma região de Fronteira com
a Alemanha, na cidade de Épinal, onde durante toda sua infância e adolescência
vivenciou muita desordem e caos social por conta dos conflitos que existiam no
local em que morava. Isso acabou o levando, em sua formação de psicólogo,
filósofo e sociólogo, a procura formular as regras do método sociológico a fim de
compreender os conflitos sociais, para o entendimento da sociedade em geral.
É visto que ele tinha grande preocupação com a ordem social, com o bom
funcionamento da sociedade e com a moral.
Durkheim era um adepto do sistema funcionalista, que traz a perspectiva
de que é importante perceber como as coisas funcionam, ou seja, saber quais
são suas regras e suas leis. Ele defende a neutralidade e a objetividade absoluta
extrema. Nessa perspectiva o sociólogo precisa se distanciar do seu objeto de
pesquisa, que deve ser visto como um (negócio; coisa) separada da realidade
do pesquisador. O fato social, que seria esse (negócio; coisa), deve ser tratado
de forma distante, ou seja, não deve fazer nenhuma forma de juízos de valor
sobre esses fatos sociais. O sociólogo via então o Direito como um fato social,
e passou a estuda-lo.
Para Durkheim, o direito é um reflexo da consciência coletiva da
sociedade, ou seja, ele reflete as crenças e valores compartilhados por seus
membros. Ele argumentava que o direito é um mecanismo importante para
manter a coesão social e a solidariedade dentro de uma sociedade. Dessa forma,
o direito é uma instituição social que tem uma função importante na manutenção
da ordem e da estabilidade na sociedade. Durkheim via o direito como uma forma
de regulamentação social que funciona como uma barreira contra o caos e a
anomia. Ele argumentava que o direito tem o poder de fazer com que as pessoas
ajam de acordo com as normas sociais e, assim, promover a estabilidade e o
bem-estar geral da sociedade.
Baseado nisso e em suas teorias sobre solidariedade, o sociólogo criou
duas “definições” para explicar as sociedades pré-capitalistas e as sociedades
capitalistas: solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. Na primeira ele
diz que há uma ligação do indivíduo diretamente com a sociedade, já na orgânica
a sociedade vai depender das partes e dos indivíduos que compõe para ter um
bom funcionamento.
A solidariedade mecânica consiste em sociedades pré-capitalistas um
pouco mais primitivas, menos avançadas, que funcionavam como um tipo de
engrenagem simples, por isso o nome. Nessa mesma sociedade o direito entra
como mais primitivo e punitivo, por que quando uma pessoa age contra o grupo,
entende-se que ele está agindo por interesse próprio, prejudicando aquela
comunidade e deve ser punida por isso, inclusive essa punição serve também
para educar a população para que ela não siga o mesmo exemplo da pessoa
que errou.
Depois da revolução industrial a sociedade passou a ser muito mais
complexa, porque as pessoas já não faziam tudo que era da demanda delas,
elas precisavam comprar muitas coisas, por isso, a sociedade orgânica,
pensando nela funcionando como um corpo humano, se você tirar um órgão e
deixar ele de fora, esse órgão não vai sobreviver e o corpo humano também não.
Com essa divisão do trabalho, surge uma nova maneira de se fazer o
direito, que passa a ser restritivo e readaptativo. Pois quando alguém age contra
a sociedade por interesse particular, ele vai terá seus direitos restringidos e
passará por uma espécie de reeducação. Então essa sociedade, que é a que
nós vivemos hoje, está numa solidariedade orgânica. Ela é totalmente, apesar
de individualista, interdependente. O trabalho de um depende do trabalho de
outros.
KARLS MARX E O DIREITO
Por ter crescido no período da revolução Industrial, Karls Marx vivenciou
uma realidade de grandes mudanças. Com o surgimento da classe burguesa e
do proletariado instaurou-se uma nova realidade de desigualdade e submissão,
o que levou o sociólogo a estudar essa nova sociedade e fundamentar suas
críticas ao novo sistema.
Ao contrário de Hegel, o qual Karl Marx teve como inspiração, propunha
uma análise da sua realidade ao invés de fundamentações teóricas da
sociedade, o que o levou a desenvolver teorias que pudessem ser colocadas em
prática para mudar a nova ordem social que havia surgido após a revolução
industrial.
Para Marx, o Direito é um instrumento de dominação utilizado pelas
classes dominantes contra as classes menos privilegiadas para se manter no
poder. Em outras palavras, quem possuía poder econômico o suficiente poderia
ditar as regras nas quais o novo sistema capitalista era pautado. O sociólogo
também coloca em pauta o detrimento da lei comum em relação ao aumento do
número de contratos civis realizados pela classe burguesa.
Portanto, Marx critica as decisões tomadas pelo Estado, que cria leis que
ao invés de trazerem benefícios ao povo, apenas serviam para manter quem
estava no poder no poder, através da censura, repressão, regulamentações e
privatizações. Para ele, as leis criadas representariam apenas os interesses das
classes mais altas, pois o poder legislativo seria formado por deputados
majoritariamente ricos, eleitos apenas pelo critério econômico.
Em seu livro “Os Descontruídos”, o sociólogo afirma que as privatizações,
oriundas do processo de industrialização, ao atribuir donos a bens até então
comunais, como propriedades e matéria prima, feririam os direitos das classes
mais baixas pois estas perderiam o acesso a coisas essenciais como a educação
e a comida, por não terem recursos financeiros para compra-los de quem os
detém.
CONCLUSÃO
Ambos os sociólogos apresentaram propostas diferentes ao explicar
sobre o papel do Direito na sociedade baseadas em suas próprias vivências e
como enxergavam o novo sistema. Enquanto Durkheim tinha uma visão mais
voltada a sociedade conflituosa da época, e estudava o direito como um fato
social pertinente a relações sociais e morais, Marx conectava o direito ao Estado
e seu poder coercitivo sobre a sociedade capitalista, e sua relação com o poderio
econômico da classe burguesa que emergia na época.
Para Durkheim, o Direito servia para manutenção da sociedade e relações
individuais, pautados na moral. Já para Marx, que possuía mais enfoque no
estudo geral da economia, o Direito serviria apenas para o interesse dos ricos
que tanto indiretamente quanto indiretamente eram quem decidiam as normas
que seriam aplicadas no país.

REFERÊNCIAS

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. Martins fontes. 2007.

DURKHEIM, Émile. O que é um fato social? In: DURKHEIM, Émile. As regras do


método sociológico. São Paulo: Perspectiva, 1974. p. 147-158.

DURKHEIM, Émile. Da divisão social do trabalho, 1893. Capítulos 1 e 2.

BRUNELLI, Cíntia. Qual é o conceito de Direito para Karl Marx? Direito e


Marxismo | Escola MARXISTA do Direito. Youtube, 20 de agosto de 2020.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cVPGnRgCQwQ. Acesso em
7 de fevereiro de 2023.

Canal “No Direito”. Karl Marx - Marx e o Direito - Marxismo Jurídico - Direito
Segundo Marx, 1 de maio de 2019. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=ZVGBnFFN81w. Acesso em 7 de fevereiro
de 2023.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Os despossuídos, 2017. Capítulo 1.

Você também pode gostar