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“HISTÓRIA DE VIDA E MÉTODO BIOGRÁFICO” (Jacques Marre):

MARRE, Jacques L. História de vida e método biográfico. Cadernos de


Sociologia, v. 3, n. 3, p.89-141, 1991.
CAP I:

O método biográfico discutido busca contribuir para auxiliar a reconstruir o


conteúdo da memória coletiva.
Sistematização de ideias, história de vida, relatos orais, autobiografias escritas,
longas entrevistas abertas, outros documentos orais ou testemunhos escritos.
O método biográfico em via de elaboração permite reconstruir, em cada história
de vida, a presença de relações básicas complexas, que dizem respeito às
categorias sociedade, grupo e indivíduo, expressas no relato oral.
Relações ligadas à estrutura social e grupal e, ainda à ideia de rearranjo e
reapropriação do social, que o individuo faz como unidade singular em seu
relato.
A reconstrução das histórias de vida leva em conta a descontinuidade e as
rupturas ocorridas tanto ao nível de vida individual como coletiva.
Descontinuidade.
Dois períodos:
1) 20’-30’ (Individuo)
2) 70’.
Escola de Chicago: investigações realistas.
Documentos biográficos como material sociológico.
É possível ler e interpretar uma sociedade, ou itinerário de um grupo social
investigado? Como proceder cientificamente? “Como mostrar que se podia
usar os dados provenientes de várias histórias de vida para reconstruir a
trajetória de uma sociedade ou de um grupo social?
A subjetividade pela qual se reconstrói, de modo seletivo a experiencia
humana.
Quando o individuo relata suas experiencias, ele não relata todos os fatos ou
todos os eventos cronológicos. Pelo contrário, ele escolhe, ele faz uma
seleção.
Ler cada história individual sob o ângulo da descontinuidade.
Articulação entre as histórias individuais e a história mais geral e contextual.
Epistemologia que embasasse as articulações entre as várias histórias e a
sociedade histórica, inclusive seu movimento de estruturação e
desestruturação descontinua.
Oscar Lewis, usando técnica do gravador.
Thomas e Znaniecki diziam que não se podia compreender a vida dos
indivíduos sem referencias às estruturas sociais, no meio das quais essas
vidas ocorriam.
Na opinião de Thomas, o impacto da mudança social e da organização podia
ser entendido na medida que era relacionado com a vida dos indivíduos.
Não havia um método biográfico definido para estabelecer uma relação entre
as autobiografias coletivas, a teoria e a história.
CAP II:

Iniciar a construção do objeto científico desde o momento da investigação de


campo e coleta de dados.
Realidade imediata.
Método biográfico, unidade social de pesquisa.
Não é um método neutro
La possibilidade de uma leitura social, através de múltiplas histórias de vida,
sua interpretação social multidimensional.
Polos individual e sintético.
Histórias devida tem uma relação fundamental com uma epistemologia que
valoriza a história oral e popular
Uso da história de vida como técnica de investigação social
Reconstruir a trajetória sociológica e histórico-estrutural de um determinado
grupo social.
Ferraroti propõe uma mudança na unidade de pesquisa, conjunto de sujeitos.
Sui Generis, Durkheim
Trama de relações, experiencias e juízos que dizem respeito a um determinado
momento das histórias e a um determinado grupo.
Critérios capazes de guiar a seleção do grupo social a ser
pesquisado:
1) a efervescência.
2) a descontinuidade.
Não basta um número de indivíduos, é preciso que este número expresse de
maneira diversa, mas inter-relacionada, a trajetória socioeconômica do grupo
social pesquisado, enquanto grupo diferente de um outro ou escolhido como
exemplar.
Critérios qualitativos:
1) diversificação da amostra
2) saturação.

Pesquisa participação.
Capacidade de reconstituir, respeito ao direito à palavra, micro relação
estabelecida entre pesquisador e pesquisado é de igualdade substancial
(ninguém deseja subordinar o outro a seu próprio discurso), relevância a
empatia). = nesse método de colocar histórias de vida, o básico não é a
neutralidade, mas a cooperação empática, a igualdade substancial frente à
verdade e o risco corrido pelo pesquisador.

Avaliação de múltiplas histórias cruzando-as. Conforme as possibilidades do


investigador e a própria natureza da trajetória do grupo social a ser
reconstruída. A avaliação feita em grupos deve dar uma conotação mais
intensa à relação que une a história individual ao grupo e, através deste, à
sociedade.

Basicamente o sociólogo deve estar interessado em reconstruir a densidade


interativa e estrutural do movimento histórico vivido pelo grupo social
investigado, seus ritmos diferenciados, superficiais ou profundos, seus
conflitos, e mudanças tanto de valores quanto de enunciados, gerando práticas
novas e estratégias diversas. A questão central do cientista é como ordenar a
totalidade do material linguístico coletado, não somente em cada história de
vida, mas na sua relação com a totalidade das outras.

Popper, Bachelard e Kuhn. O ofício do sociólogo, Bourdieu.

TABELA I: Classificação dos fatos históricos: 1) Cronologia/hierarquização,


ritmo rápido/lento

TABELA II: Classificação dos sujeitos autores de uma verbalização: Primeiro,


ao nível dos sujeitos que falam. Segundo, ao nível dos sujeitos enquanto são
ligados a determinados espaços sociais; finalmente, ao nível das instancias em
que determinados sujeitos falam.

Tabela do Eventos + Tabela das instâncias reconstruídas -> através dos


sujeitos que verbalizam algo no conteúdo de cada história de vida, tem-se já
uma primeira rede de relações.

Sempre ter-se-á em mente a totalidade do discurso recolhido através das


histórias de vida coletadas.

Em suma, a história de vida abre perspectivas imensas e profundas de


compreensão para a análise daquilo que, recentemente, era considerado como
“subjetivo” e que, na realidade, teria ou poderia ter um fundo extremamente
objetivo. Basta que haja técnicas operacionais que possibilitem alcançar esses
níveis de análise.

Tempo pensado e Tempo vivido.

Basta observar, nos relatos orais coletados, os momentos em que se começa a


pensar certas ideias (tempo pensado), as que, mais tarde, transforma-se em
estratégias, práticas (tempo vivido).

Ideias como embriões em via de desenvolvimento, com escolhas técnicas


sérias.
A reconstrução de uma trajetória, a análise desce ao nível de múltiplas micro-
praticas que, antes de serem concretizadas, são primeiro pensadas ou
envolvem o pensamento de determinadas instancias que se situam na
perspectiva ou nas posições sugeridas por esses enunciados.

Processo de interpretação e nível de reconstrução.

O corpo que se expressa. Bilateralismos.

Diversidade de história de vidas singulares, singularidades:


1) O processo de criação deve levar em conta a dupla dimensão do
elemento comum e do elemento singular. Totalidade sintética.
2) Grande atenção ao caráter sintético da reconstrução de todos os
elementos singulares, de maneira que eles possam concorrer para
formar essa totalidade sintética.
3) Reflexão retrospectivas relativa ao conteúdo classificado das histórias
de vida, diz respeito à identificação da interação e a apropriação que
individuo realiza.

Classificação do material contido nas histórias de vida que respeite os


processos singularizados: cada elemento constitutivo do grupo interage e se
apropria pessoalmente de um modo singular a experiencias comum vivida.

A leitura descontinua do social que se obtém através das histórias de vida.

É preciso que haja uma ruptura entre aquilo que é dito por cada uma das
histórias de vida e a totalidade delas, uma ruptura, diga-se, entre um
significado imediato e um significado reconstruído.

A história de vida permitiu dar de volta a palavra a quem, durante anos, não
tinha ou tinha poucos canais de comunicação para expressar a própria
experiência humana.

Conclusão

Para que haja tal metodologia de tipo biográfico, é preciso que haja não mais
indivíduos escolhidos, mas grupos. Aspectos importantes em relação ao uso
metodológico da história de vida, rupturas:
1) passar de indivíduos para grupos, considerar a análise sociológica não
pode ter como fundamento suficiente o indivíduo.
2) Reconstrução compreensiva da história do grupo. Totalidades sintéticas
singularizadas. Leitura de histórias singulares descontinuas.
3) Interdisciplinaridade, supõe que a metodologia das histórias de via seja
vista bem mais do ponto de vista interdisciplinar do que do ponto de
vista da metodologia restrita à sociologia.

Totalidade da experiencias multidimensional da experiencia humana.


Importante para o cientista viver não só na ruptura, mas se estabelecer nela.
Tentativa de tentar entender de maneira operacional como as histórias de vidas
podem nos auxiliar, com outras técnicas concatenadas e interdisciplinares
hierarquizadas.

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