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Sociologia Jurídica

A sociologia do Direito surge no final do século XIX e início do século XX. O Direito é,
essencialmente, um sistema de normas assim a Sociologia do Direito deve estudar os fatos
relacionados com essas normas.

Adaptava-se e aplicava-se os métodos da sociologia geral ao campo jurídico, fato esse que
criou obstáculos para que a sociologia jurídica se integrasse no seio das disciplinas jurídicas, e
faltava encontrar um instrumental de análise específico, que contribuísse para uma
abordagem sociológica do Direito.

Émile Durkheim
Contribuiu com a criação de conceitos utilizados com frequência nas pesquisas
sociológico-jurídicas, como: Coação Social, Consciência Coletiva, Anomia.

A contribuição mais importante de Durkheim está no livro “As Regras do Método


Sociológico”; onde o autor estabelece a regra da objetividade nos seguintes termos:
“Devemos, portanto, considerar os fenômenos sociais em si mesmos, desligados dos sujeitos
conscientes que, eventualmente, possam ter as suas representações; é preciso estudá-los de
fora, como coisas exteriores, porquanto é nesta qualidade que eles se nos apresentam.” E
completa: “Esta é uma regra que se aplica a toda realidade social e não admite quaisquer
exceções”

COESÃO SOCIAL: Está relacionado a uma espécie de estado pelo qual os indivíduos se mantem
unidos, integrados em um grupo social, é definida como o grau de consenso dos membros do
grupo social sobre a percepção de pertencer a um projeto ou situação em comum.

CONSCIENCIA COLETIVA: é o conjunto de características e conhecimentos comuns de uma


sociedade, que faz com que os indivíduos pensem e ajam de forma semelhante.

ANOMIA: Forma na qual a sociedade cria momentos de interrupção das regras que regem os
indivíduos.

A ideia de tratar os fenômenos sociais como coisas e, consequentemente, também o


Direito, foi essencial para a Sociologia Jurídica.

Em seu trabalho “A Divisão Social do Trabalho”, Durkheim trata do tema do Direito em


relação com as formas de coesão social; ele identifica as formas de solidariedade social no
direito vinculadas à pena repressiva (formas de solidariedade mecânica) associadas ao direito
penal e características das sociedades primitivas, E a pena restitutiva (formas de solidariedade
orgânica) associadas ao direito civil e típicas da sociedade moderna.

Max Weber
Atribui-se a Weber e a seus trabalhos de caráter metodológicos sobre a ciência
sociológica-jurídica, a delimitação de maneira definitiva do método, objeto e função da
Sociologia Jurídica, já em “Economia e sociedade”, aborda alguns critérios que contribuem
para estabelecer o objeto da disciplina.

Além disso, afirma que boa parte das condutas humanas tem como marco normas
jurídicas que têm como referência um determinado valor. Daí pode se perguntar: Que valores
uma sociedade busca preservar quando tenta sancionar determinada norma? O não
cumprimento de uma determinada norma implica em ignorar qual valor?

Os valores jurídicos geralmente apresentam valores éticos ou morais, de modo que


quando se remete a eles se transita no campo jurídico e ético; Por outro lado, o costume foi a
primeira fonte do Direito e estava fortemente condicionado pelas crenças morais da
sociedade;

-- Método Dogmático Jurídico e Método Sociológico Empírico

 Em primeiro lugar, em sentido dogmático-jurídico, ou seja, como uma análise de conteúdo


objetivo logicamente correto de cada um dos preceitos jurídicos separadamente;

Em segundo lugar, em seu sentido sociológico-empírico, ou seja, uma análise causal que
procure analisar as causas e os efeitos da existência de fatos de ordem jurídica, seus
condicionantes causais (fatores econômicos, políticos, sociais, religiosos etc.), bem como seus
efeitos.

Eugen Ehrlich
A primeira e mais importante tarefa da Sociologia do Direito é: “estabelecer uma distinção
entre os componentes do Direito que regulam, ordenam e determinam a sociedade,
demonstrando sua natureza organizatória, e aquelas que são puras normas de decisão.”; 

Para o autor o Direito é: “a ordem da vida estatal, social, espiritual e econômica, mas não é sua
ordem exclusiva; além do Direito há outras ordens de importância equivalente e
possivelmente mais eficientes”;

Considera como principal questão da Sociologia do Direito conhecer com que fenômenos o
sociólogo deve preocupar-se e de que modo ele deve coletar os fatos para conhecê-los e
interpretá-los;  A Sociologia do Direito deve buscar seu material na história social e
econômica  Direito Vigente X Direito Vivo.

Direito Vivo: É aquele que mesmo não regulado por normas jurídicas domina a vida, é de uso
continuo da sociedade.

Direito Vigente:

Marx e Engels
Superestrutura X Infraestrutura – o Direito faz parte da Superestrutura, seria assim, mais um
mecanismo de dominação de classe;  No discurso marxista o Estado e o Direito nas
sociedades capitalistas são considerados formas ideológicas que reproduzem as condições
sociais de dominação da burguesia;

Marx foi um crítico do Direito burguês, entretanto não pensou uma alternativa a ele;  Criticou
o formalismo jurídico, considerando que o escamoteamento verbal da realidade não
corresponde a uma solução técnica ingênua, mas que estaria determinado por mediações reais
e interesses de classe;

Os Funcionalistas

Seus maiores expoentes são: Talcott Parsons e Robert Merton;  Discutem as funções do
Direito na sociedade e sua importância para a manutenção da ordem social;  Para essa
corrente, o Direito é um dos sistemas de controle da sociedade;  Como complexo
disciplinador de interações sociais que é, surge em resposta a determinadas necessidades
sociais, como uma finalidade de integração e de apaziguamento social;

Porém, tal integração não é tarefa privativa do Direito. Ela é promovida também pelas normas
de conduta sociais não jurídicas, como: as normas morais, religiosas e de convivência social;
Processo que se dá na socialização e o Direito se destaca por ter a finalidade de assegurar a
prevenção e a resolução de conflitos, através da imposição de sanções organizadas por
competência de autoridades constituídas;

O Direito torna-se mais necessário quanto maior for a dificuldade de internalização dos valores
normativos nas consciências individuais;  O Direito tem a função de regular as condutas no
processo de interação que torna previsível – até um determinado ponto -, o comportamento
humano;

LIVRO – VIGIAR E PUNIR


“Objetivo deste livro: uma história correlativa da alma moderna e de um novo poder de julgar;
uma genealogia do atual complexo científico judiciário onde o poder de punir se apoia, recebe
suas justificações e suas regras, estende seus efeitos e mascara sua exorbitante singularidade”

O pensador Michel Foucault se dedicou a estudar como foi se desenvolvendo os mecanismos


de controle social ao longo do tempo. • A partir do século XVII, com o enfraquecimento do
poder monárquico e do Estado absolutista ocorreram transformações substanciais na forma de
controlar a sociedade.

Mudanças sociais ocorridas a partir do do século XVII e intensificadas no século XVIII e XIX
levaram a alterações do jogo do poder, que foi sendo gradativamente substituído pelo que
Foucault denomina de sociedades disciplinares, as quais atingiram o seu apogeu no séc. XX. •
Ocorreu quando a economia do poder percebeu ser mais eficaz e rentável “vigiar” doque
“punir”.

Sistema penal “correcional” baseado no suplício vigorou no sistema punitivo até o final do
século XIX e consistia em julgamento e sentença.  O castigo era aplicado em praça pública.
Era a vingança do Estado sobre o corpo enfraquecido do condenado.  O suplício corporal
consistia em submeter o condenado a dor, ao flagelo, a humilhação e exposição.

 Aos poucos os suplícios foram sendo substituídos por novos métodos de punição.  Esboço
do sistema prisional que conhecemos hoje e que prima por disciplina, trabalho e educação. 
O sistema prisional de acordo com o artigo 1° da LEP de 1984 tem por objetivo a oferta de
condições que propiciem harmônica integração social do condenado ou internado.  Assim, se
cumprida integralmente, grande parcelada população penitenciária atual alcançaria êxito em
sua reeducação e ressocialização.
Num extremo, a punição da instituição fechada, toda voltada para funções agressivas,
violentas, para servir de modelo aos outros. • No outro extremo temos a disciplina: um
dispositivo funcional que deve melhorar o exercício do poder tornando-o mais rápido, mais
leve, mais eficaz, um desenho das coerções sutis para uma sociedade que está por vir. • O
movimento que vai de um projeto ao outro, de um esquema da punição ao de uma vigilância
generalizada, repousa sobre uma transformação histórica: a extensão progressiva dos
dispositivos de disciplina ao longo dos séculos XVII e XVIII até os dias atuais, sua multiplicação
através de todo o corpo social, a formação do que se poderia chamar grosso modo a sociedade
disciplinar.

Em Vigiar e Punir, Foucault trata com muita propriedade do tema da “Sociedade Disciplinar”,
implantada a partir dos séculos XVII e XVIII, consistindo basicamente num sistema de controle
social através da conjugação de várias técnicas de classificação, de seleção, de vigilância, de
controle, que se ramificam pelas sociedades a partir de uma cadeia hierárquica vindo do poder
central e se multiplicando numa rede de poderes interligados. • O filósofo aponta que a
motivação de toda esta rede de controle se justifica pela necessidade que a burguesia teve de
efetivar um controle mais determinado sobre as massas, que poderiam representar um perigo
explosivo, se fossem levados a sério os ideais da Revolução Francesa e do Iluminismo.

Para explicar a sociedade de controle, Foucault cita tenebrosos trechos de sentenças comuns
aplicadas a criminosos nos séculos XVII e XVIII. Trata-se de decepamentos, perfurações,
esquartejamentos e outros mecanismos de punição que buscavam dar o exemplo para a
população e mostrando que qualquer crime atingia, em última instância, à figura do soberano.
Logicamente, qualquer ataque à figura real deveria ser neutralizado com a máxima
brutalidade, de forma a manter inabalada sua onipotência. • Ao longo do tempo, a dinâmica
punitiva se altera com base no esfacelamento do poder absolutista.

Paulatinamente, o crime passa a ser punido com a simples retribuição do ato cometido. Como
exemplo, alguém que tivesse esfaqueado um indivíduo deveria ser esfaqueado de forma
semelhante pelo carrasco, que não tinha mais o direito de fazer o criminoso sofrer além do
que havia sido determinado pelaslicenças. • Mesmo essa forma atenuada mas ainda brutal
depunição foi somente uma transição para o surgimentoda punição através do
encarceramento, que a partirde meados do século XVIII veio substituir toda agama de penas
aplicadas anteriormente. O AFROUXAMENTO O afrouxamento da severidade penal é
conhecido pelos historiadores do Direito;  Entretanto, foi visto durante muito tempo como
quantitativo: menos sofrimento – mais suavidade – mais respeito e humanidade. Questão:
Redução da intensidade? Talvez Mudança de objetivo? Certamente  “Pois não é mais o
corpo, é a alma” p. 9  “Que o castigo, se assim posso exprimir, firamais a alma do que o
corpo.” Mably.  O aparato da justiça punitiva tem que se ateragora à realidade incorpórea.
MUDANÇA NO STATUS DE CRIME  Nos últimos duzentos anos o que configuraum crime
passou por mudanças.  Crimes que antes estavam ligada à autoridade(como a religiosa)
deixou de sê-lo. Porexemplo: a blasfêmia deixou de constituir emcrime. REALIDADE OPOSTA 
A realidade difere muito dos preceitos idealistada legislação vigente.  De acordo com estudo
realizado pelo CNJ apopulação carcerária no Brasil é de 711,463presos.

AS PRISÕES DA MISÉRIA – LOIC WACQUANT


• Apresenta um panorama político tenso onde a miséria é ao mesmo tempo criada e
instrumentalizada pelo Estado;

• Miséria existente nos países desenvolvidos e que ganha destaca em contextos de crise
do capitalismo;

• Essa crise é disparada sobre um público previamente determinado que vai sofrer com
prisões, expulsões, remoções e outras violências;

• Recorte de classe, raça e gênero.

PARTE 1 – COMO O BOM SENSO PENAL CHEGA AOS EUROPEUS

• Há alguns anos a Europa vem sofrendo a escalada de um desses pânicos morais


capazes, de mudar profundamente os rumos das políticas estatais e redesenhar as
sociedades por ele atingidas;

• Seu objeto aparente é “a delinquência juvenil” e “a violência urbana”;

• Seu centro de irradiação seria os “bairros sensíveis” e as “incivilidades”;

• As vítimas e os culpados – seus cidadãos;

• Assim estão caracterizados, por toda a parte, por isso os naturalizamos;

• Estão nos discursos político e midiático.

• Essas noções não brotaram espontaneamente;

• Elas inscrevem-se nas vastas constelações discursivas de termos e teses vindos dos
Estados Unidos sobre: CRIME, VIOLÊNCIA, JUSTIÇA, DESIGUALDADE,
RESPONSABILIDADE;

• Do indivíduo, da comunidade, da coletividade nacional que pouco a pouco se


insinuaram no debate público europeu.

O NOVO SENSO COMUM PENAL

• Visa criminalizar a miséria e, por esse viés, normatizar o trabalho assalariado precário
concebido nos Estados Unidos;

• Vai se internalizando sob formas mais ou menos modificadas e irreconhecíveis.


Exemplo: ideologia social fundada no individualismo e na mercantilização;

• O Estado americano encarregou-se de promover o “rigor penal”, quadruplicando a


população penitenciária nas últimas duas décadas;

• A política policial e judiciária de Nova York, através de sua doutrina “tolerância zero”,
avaliza a perseguição à pequena delinquência e a repressão aos mendigos e aos sem-
teto nos bairros deserdados.

• Uma outra implementação americana é a “teoria da vidraça quebrada”, que


estabelece que é lutando contra os pequenos distúrbios cotidianos, através dessa
política, os nova iorquinos acreditam que seria restaurada a ordem e se faria recuar as
grandes patologias criminais, o crime. Essa teoria, porém, jamais foi comprovada
empiricamente;
• Houve uma expansão dos recursos que Nova York destina à manutenção da ordem:
em cinco anos a cidade aumentou seu orçamento em 40%. Inversamente, nesse
mesmo período, os serviços sociais da cidade viram suas verbas cortadas em um terço.
(RELAÇÃO COM DIAS – POLÍTICAS DE SEGURANÇA PÚBLICAS ALIADAS À POLÍTICAS
SOCIAIS).

A GLOBALIZAÇÃO DA TOTELRANCIA ZERO

• A política da “tolerância zero”, implementada por Nova York, propagou-se pelo


mundo todo rapidamente. O tratamento policial da miséria de rua fascina um leque de
eleitos, tanto de direita como de esquerda. Porém, os incidentes com a polícia se
multiplicaram desde a implantação da política de “qualidade de vida”. Fazia-se
necessário um forte ajuste de estratégia, para que a política da “tolerância zero” não
se tornasse um modelo para um Estado policialesco e para a tirania;

• Uma outra consequência da política implementada é a sobrecarga dos tribunais.


Enquanto cai a criminalidade, o nº de pessoas detidas e julgadas não para de
aumentar. Essa sobrecarga dos tribunais só encontra similar nas casas de detenção,
uma vez que aumentou, em muito, o fluxo dos ingressos nas prisões;

• Constata-se que os membros das classes populares são o principal alvo da “tolerância
zero”.

LONDRES, SUCURSAL E POUSO DE ACLIMATAÇÃO

• Em solo britânico houve uma combinação das concepções neoliberais em matéria


econômica e social e das teses punitivas elaboradas nos Estados Unidos. O governo
inglês conclamava os britânicos a comprimir severamente seu Estado-providência a
fim de estancar o surgimento de uma underclass de “pobres alienados, dissolutos e
perigosos”, ou seja, uma verdadeira “guerra à pobreza”.

• Loic Wacquant (2001) nos coloca:

“Acreditava-se aqui que os “maus pobres” devem ser capturados pela mão (de ferro) do
Estado e seus comportamentos, corrigidos pela reprovação pública e pela intensificação das
coerções administrativas e das sanções penais ” (Loic Wacquant, 2001, p.40);

Foi justificado perante a sociedade inglesa que o Estado deve evitar ajudar materialmente os
pobres, mas ajudá-los moralmente, obrigando-os a trabalhar; deve haver a mutação do
“welfare state” em “workfare state”.

A MISSÃO DO ‘’ESTADO PATERNALISTA’’: IMPOR TRABALHO ASSALARIADO DE MISÉRIA

• Segundo teóricos americanos, o Estado-providência americano dos 70-80 fracassou


em reabsorver a pobreza não porque seus programas de ajuda eram muito generosos,
mas porque eram permissivos e não impunham obrigação estrita de comportamento a
seus beneficiários.

Nas palavras de Loic Wacquant (2001)

“O desemprego deve-se menos às condições econômicas do que aos problemas de


funcionamento pessoal dos desempregados, de modo que o emprego, ao menos no que diz
respeito a empregos “sujos” e mal pagos, não pode mais ser deixado à boa vontade e à
iniciativa dos que trabalham: ele deve ser tornado obrigatório, a exemplo do serviço militar,
que tem permissão para recrutar no Exército. O Estado, portanto não deve tornar o
comportamento desejado mais atraente e sim punir os que não o adotam: o não-trabalho é
um ato político que demonstra a necessidade do recurso à autoridade.” (Loic Wacquant,
2001, p.44).

• Ou seja, o trabalho assalariado passa ser um dever cívico;

• Percebe-se a substituição de um Estado-providência materialista por um Estado


punitivo paternalista, como forma de impor o trabalho assalariado dessocializado
como norma societal e base da nova ordem polarizada de classes.

A MELHOR RESPOSTA À POBREZA É DIRIGIR A VIDA DOS POBRES

• A visão liberal é a de que o Estado deve ser paternal, na medida em que, ao mesmo
tempo em que deve fazer respeitar civilidades elementares deve impor o trabalho
assalariado desqualificado e mal remunerado àqueles que não o desejem;

• Acredita-se que a melhor resposta à pobreza é dirigir a vida das pessoas;

• O Estado paternalista também deve ser um Estado punitivo: acredita-se que as


despesas penitenciárias são um investimento rentável para a sociedade. O Ministério
da justiça Federal dos Estados Unidos lançou a ideia de que “na ausência da pena de
morte, a reclusão é de longe o meio mais eficaz de impedir os criminosos
comprovados e notórios de matar, estuprar, roubar e furtar.”

• O Estado não deve se preocupar com as causas da criminalidade das classes pobres,
mas apenas com suas consequências, que ele deve punir com eficácia e intransigência.

IMPORTADORES E COLABORADORES

• A exportação dos temas e das teses de segurança incubados nos Estados Unidos
encontrou o interesse e a anuência das autoridades dos diversos países destinatários.
Essa anuência assume formas variadas, de acordo com cada país.

A INATINGÍVEL “EXPLOSÃO” DA “VIOLÊNCIA URBANA” POR PARTE DOS MENORES

• Pode-se acreditar que prender algumas centenas de jovens a mais (ou a menos)
mudará o que quer que seja no problema que insistem até mesmo em se recusar a
nomear: o aprofundamento das desigualdades e a generalização da precariedade
salarial e social sob o efeito das políticas de desregulamentação e da deserção
econômica e urbana do Estado?

• A pretensa escalada inexorável da violência urbana é antes de tudo uma temática


político-midiática que visa facilitar a redefinição dos problemas sociais em termos de
segurança;
• Há a ratificação de deserção do Estado social e legitimação do Estado penal nos
bairros, encarregado de conter as desordens causadas pela generalização do
desemprego, do subemprego e do trabalho precário.

VIOLÊNCIA URBANA” E “VIOLÊNCIA CARCERÁRIA

• Segundo Loic Wacquant (2001)

• Os habitantes das cidades em decadência serão beneficiados com um esforço


suplementar de encarceramento por parte do Estado: uma política de “ação
afirmativa” a respeito da prisão que, se não se aproxima pela amplitude, não é muito
diferente em seu princípio e suas modalidades daquela que atinge os negros do gueto
dos Estados Unidos;

• “À “terrível miséria” dos bairros deserdados, o Estado responderá não com um


fortalecimento de seu compromisso social, mas com um endurecimento de sua
intervenção penal. À violência da exclusão econômica, ele oporá a violência da
exclusão carcerária (Loic Wacquant, 2001, p.74)”;

• O tratamento punitivo da insegurança e da marginalidade sociais são as consequências


lógicas de políticas econômicas neoliberais.

DESVIO SOCIAL

 Como vimos anteriormente, a ordem social prevalece na medida em que existe uma
certa previsibilidade das ações das pessoas.

 A partir daí cada sociedade vai definir o que serão as condutas aprovadas e
reprovadas.

O desvio social reprovado merece atenção pelo seu poder de desestruturação da ordem,
questionamento das regras estabelecidas e que colocam em risco a convivência social
harmônica.

 Há muitos fatores que podem dar origem ao desvio social: desde psicológicos à fatores
culturais.

 Embora o desvio se apresente como negativo e exista todo um sistema para combatê-
lo tem a seu favor contribuir para o processo de mudança social.

DESVIO COMO FORMA DE MUDANÇA

 Exemplos: abolicionistas no Brasil

feministas no século XX

CONDUTA COLETIVA

É preciso compreender que apesar das pessoas reagirem de modo semelhante quando estão
em determinados grupos sociais elas apresentam em qualquer circunstância, um caráter único.

 Atuação coletiva não deve ser entendida como a soma de condutas individuais.

 Quando as pessoas interagem elas vinculam seu modo de agir às outras estabelecendo
correlação e interdependência.
 Embora se constate a existência de um padrão coletivo de conduta, não é possível
explicar a existência desse padrão sem recorrer ao indivíduo.

 “Em última instância, um modo coletivo se origina de condutas individuais que chegam
a converter-se em coletivas ao vincular-se e se unirem, formando uma estrutura social,
que por sua vez influirá, pressionará as pessoas que a originaram” p.154.

 Qualquer fenômeno social envolve conduta humana.

 O indivíduo atua e vive de acordo com ele mesmo, porém não pode se despregar do
momento histórico em que vive.

 E quando faz isso, o faz não como um indivíduo isolado, mas como parte de uma
comunidade na qual está condicionado.

 Quando se utilizam expressões como consciência coletiva (Durkheim) busca-se dar


significado ao fato de que numa coletividade há certa semelhança na forma de atuar
dos indivíduos que integram o grupo submetidos a determinados fatores sociais, mas
deve-se ter sempre em mente que é o indivíduo que atua, sente e pensa.

DESVIO SOCIAL

 O indivíduo é integrado à estruturas sociais como forma de incorporar os códigos e as


normas.

 Entretanto, o processo contínuo de integração e mobilidade entre diversos grupos e


estruturas sociais, pode fazer com que o indivíduo assimile normas que conflitam com
outras.

Exemplo: as normas do seu código religioso podem conflitar com as existentes no seu
ambiente de trabalho.

 Definição: “um comportamento de não observância que o grupo desaprova e que vai
desde o desrespeito a certas regras da boa educação e de etiqueta até as ações
criminosas que colocam em risco a própria sobrevivência do grupo”p. 155.

TENDENCIAS DO DESVIO – PARSON

 É o afastamento da conformidade aos padrões normativos que vieram a ser


estabelecidos como cultura comum.

 O desvio social é ao mesmo tempo uma ameaça social e uma forma de proteção.

 O desvio social pode ser o começo de uma nova norma.

 Quando aumenta o número de pessoas com o comportamento “desviante” e os


grupos organizados começam a promovê-lo e justificá-lo, deixa de ser um desvio e se
estabelece como uma nova norma.

 EXEMPLOS

 Revolução Industrial no século XVIII – mudança na estrutura familiar e transformação


do papel da mulher.

 Uma sociedade em processo de mudança sempre terá que ter comportamentos


desviantes.
 No entanto, nem todo o desvio social será incorporado na sociedade.

 Há desvios sociais que são altamente destrutivos como por exemplo: o


comportamento do alcoólatra, do assassino, do drogado, do pedófilo, do delinquente
entre outros.

 O desafio que se coloca para a sociedade é saber identificar os desvios sociais que são
verdadeiramente úteis.

PRINCIPAIS CARACTERISTICAS DO DESVIO SOCIAL

 Nenhum ato é um comportamento desviante por si mesmo. Ele se torna um desvio


social quando é definido como tal. É a violação das regras de um grupo. Depende da
realidade que está inserido para se considerado desviante.

 Nem todo desvio social é reprovado.

 Nas sociedades modernas, nem todas as pessoas, durante todo o tempo, são
completamente conformistas em relação às normas.

COMPORTAMENTO DESVIANTE E ORDEM SOCIAL

 A maioria da sociedade aceitará parte dos modelos das condutas definidas como
aceitáveis.

 E a minoria atuará de forma ilícita.

 Condutas esperadas X condutas desviantes

 Conduta ilícita – plano jurídico

 A quantidade de pessoas que adotam um comportamento desviante irá variar de


acordo com épocas e lugares.

 Na maioria das sociedades, são encontradas pessoas que podem ser alocadas nos dois
grupos.

É importante destacar que o desvio social não se esgota no plano do Direito, pois pode ser
encontrado em outras normas normativas, como a Moral, de trato social ou religiosa.

DESVIO SOCIAL E O DIREITO: O ATO LÍCITO E O ILÍCITO

 Primeiro é importante observar que para Sociologia o delito constitui um tipo de ação
social e não possui uma propriedade universal que lhe é inerente.

 Um ato só é ilícito porque é assim qualificado por uma norma jurídica.

 Não há delito sem uma norma jurídica que determine esse delito.

 “ uma conduta é lícita se corresponde a uma norma jurídica; é ilícita se a contradiz”


Kelsen.

 O âmbito ilícito está determinado por normas jurídicas, criadas pelo legislador, pelo
juiz ou pela sociedade através dos usos e costumes.
 A conduta ilícita criminosa (prevista e reprimida por lei penal) existe devido à ordem
legal, que é uma expressão da vontade legislativa.

 Logo não existe conduta naturalmente ilícita, cada sociedade é que define essa
condição.

EXEMPLOS

 Poligamia

 Adultério

 Assim o delito constitui uma categoria social. A única característica comum que há em
todos os delitos é que todos violam as leis. Nesse sentido, a única causa do delito é a
lei que o definiu.

A SANÇÃO

 Pode ter dois aspectos:

• Repara o dano causado

• Castigar o autor

Proposito social – efeito demonstração

 Nas sociedades complexas encontram-se grupos humanos que o Direito reconhece


como detentores de personalidade jurídica (associações, empresas, etc.).

 A atividade de seus membros é regulada por um sistema de controle social.

 Uma postura desviante numa empresa não constitui, necessariamente, em um delito


civil ou penal. Esses casos podem ser punidos por regulamento internos.

Esse é um tipo de controle social formal

 Nos grupos primários, como panelinhas e turmas, existem controles informais


praticados pelo grupo sobre aqueles que se desviam da conduta.

CONCEITO DE ANOMIA

 Émile Durkheim – ineficácia do poder regulador da sociedade nos momentos de


transição social.

 Durkheim considera a anomia uma condição endêmica das sociedades modernas:


valores morais e ética X enriquecimento capitalista.

 O conceito de anomia remete à ineficácia do poder regulador da sociedade nos


momentos de transição social.

 Robert Merton – estabelece uma diferença entre estrutura social e estrutura cultural.

 Estrutura social mantém a ordem social. E a estrutura cultural a cultura.

 Quando ambas se confrontam surgem situações de falta de normas.

 Para Merton a anomia deve ser concebida como quebra da estrutura cultural.
ANOMIA SIMPLES X AGUDA

 Anomia simples – estado de confusão em um grupo ou sociedade submetida ao


antagonismo entre sistema de valores – justiça com as próprias mãos.

 Anomia aguda – deterioração e/ou desintegração dos sistemas de valores.

O ESTADO E A POLITICA NO COMBATE AO CRIME

 Embora possam se identificados vários graus de comportamentos desviantes, a forma


de desvio mais perigosa é representada pela delinquência ou desvio criminalizado.

 As reações aos desvios podem ser formais ou informais.

 A reação social diante de uma desvio implica num juízo moral. É aceita ou não?

Exemplo: corrupção. Constitui-se num desvio social, no entanto a falta de punição revela
tolerância.

 Diante do desvio social criminalizado, o Estado necessita estabelecer as formas e os


métodos que adotará para enfrentá-lo. Evitando assim uma reação social espontânea
e anárquica.

 Uma política de combate ao crime só é eficaz se houver uma existência prévia de


implementação de política social

SOCIOLOGIA DO DESVIO

 Surge no século XIX e tem como representantes estudiosos anglo-saxões. Objetivo era
estudar os tratados de criminalidade que relacionavam o crime à conduta desviante e
ao pecado.

 Ganha maior destaque com a escola de Chicago.

 Teoria da “Rotulação” Becker e Goffman – Por que algumas pessoas não são vistas
como desviantes e outras sim?

Abordagem sociojurídica dos direitos humanos

 Para a Sociologia Jurídica, os direitos humanos constituem um tema do ponto de vista


das normas jurídicas, que devem ser observado em duas perspectivas:

1. Uma quantidade significativa de normas jurídicas são produzidas para a defesa desses
direitos.

2. Deve-se considerar que o autoritarismo dos funcionários públicos, particularmente do


poder executivo, produz eventualmente inúmeras normas que violentam os direitos
humanos.

3. A convicção de que os direitos humanos devem ser defendidos é causa de inúmeras


normas jurídicas.

4. Por outro lado, o discurso dos direitos humanos também é utilizado pelo poder
político para a produção de normas que serão ineficazes, ou que tem o objetivo de
reforçar a ideologia do Estado protetor e ligado aos interesses da maioria.
5. É particularmente relevante para a Sociologia Jurídica a constatação, com certa
facilidade, que em geral, as vítimas de violação desses direitos são pessoas com
determinadas características sociais: pobres, negros, pardos, indígenas, mulheres,
minorias étnicas etc.

6. Mesmo diante do comprometimento (jurídico) do Estado de reconhecer e garantir os


direitos humanos a todas as pessoas sob a sua jurisdição.

OS DIREITOS HUMANOS

• Constituem um conjunto de normas e princípios reconhecidos pelo Direito


Internacional como pelos diferentes ordenamentos jurídicos nacionais, têm validade
universal e são inerentes ao ser humano, sendo considerados tanto no que diz
respeito ao indivíduo por si só, como de um sujeito que integra uma coletividade” P.
228 e 229.

• As primeiras ideais de direitos humanos visavam estabelecer limites à maneira como


determinadas pessoas (particularmente, aquelas que detêm algum poder) tratam as
outras.

• Maurice Cranston estudando o assunto, estabeleceu critérios para seu


reconhecimento:

“Um direito humano por definição é um direito moral universal, algo do qual todos os homens
em toda a parte, em todos os tempos, devem ter, algo do qual ninguém pode ser privado sem
uma grave ofensa à justiça, algo que é devido a todo ser humano simplesmente porque é um
ser humano.”

• Ainda hoje existem controvérsias sobre a natureza dos Direitos Humanos. Alguns
dizem que são direitos naturais e inatos, outros que são positivos e históricos, ou que
derivam de determinado sistema moral. De qualquer forma, como afirma Noberto
Bobbio, o problema não é conceitua-los e sim protege-los.

CONTEXTUALIZAÇÃO

• A expressão Direitos Humanos começou a ser utilizada de modo geral, após a Segunda
Guerra Mundial e da fundação das Nações Unidas e substituiu outros termos como o
dos direitos naturais, ligado à tradição jusnaturalista.

• Ao longo do século XX outra série de direitos foi agregada aos liberais tradicionais,
como os sociais e econômicos que exigem uma intervenção ativa do Estado.

• Do ponto de vista internacional diversos Estados têm como referência a Carta das
Nações Unidas e a Declaração Universal de Direitos Humanos.

• No âmbito interno dos Estados, a maioria das constituições, incluindo a brasileira,


contém e reforça essas referências, constituindo-se num elemento fundamental de
legitimação do Estado perante seus cidadãos e a Sociedade Internacional Global.

• O artigo 2° da Declaração Universal dos Direitos Humanos, exige que os Estados


reconheçam e garantam os direitos de todos IGUALMENTE.
• Do ponto de vista sociológico, a efetividade jurídica dos Direitos Humanos deve ser
entendida como a probabilidade de que o conteúdo da norma seja respeitado e
cumprido pelos destinatários.

• O PROBLEMA: o Estado discrimina efetivamente determinados grupos sociais


utilizando o discurso dos Direitos Humanos de acordo com determinadas
conveniências. Exemplo: serão tratados de maneira diferente comunidades de alta e
baixa renda afetadas pela poluição de uma determinada fábrica.

CONCEPÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS

• Direitos Humanos vistos como uma construção histórica feita pelos povos e não
necessariamente um universo de Declarações e Leis. Entendendo que as Declarações e
Leis são importantíssimas.

• 1ª Parte: Pré-História/ Grécia Clássica/ Idade Medieval

 A primeira manifestação histórica dos DH se vincula às celebrações e ritos dos povos:


comemoração do nascimento – nomeação e despedida dos mortos

 Grécia – arte grega (teatro) – Antígona debate com o rei (Estado) – reivindica o direito
de enterrar seu irmão. Reivindicação negada. Antígona exerce o direito de chorar e
pleitear seus mortos.

NOSSAS ANTÍGONAS AINDAM REIVINDICAM O DIREITO DE ENTERRAR SEUS MORTOS. O


ESTADO AINDA RECUSA DEVOLVÊ-LOS.

 Idade Média – (grande concentração da terra) – Direito à Rebelião contra a


injustiça/desigualdade.

Primeria situação do Mundo Moderno – guerras de independência constituídas na América.


Busca de liberdade e rompimento com o sistema colonial

Declaração dos Direitos do Cidadão de Virgínia (EUA) dá uma dimensão de luta pela liberdade
da nação.

 Mundo Moderno – muito poder concentrado em poucas mãos. Muita riqueza


concentrada. Na França pré-revolucionária 5% da população detinha em suas mãos
mais de 70% da renda do Estado.

 Epidemias de fome e falta de liberdade. A população percebe que precisa lutar por
seus direitos.

 Pela primeira vez os direitos são proclamados. Baseados em três princípios


fundamentais: liberdade, igualdade e fraternidade.

 Declaração Universal dos Direitos do Homem e Declaração dos Direitos do Cidadão de


Virgínia são as primeiras proclamações dos Direitos Humanos.

 Anteriormente, havia uma na Inglaterra, mas que não tinha exatamente a participação
popular, uma vez que era restrita a aristocracia, ao clero e a um setor da burguesia
comercial.

 As declarações surgem no movimento da sociedade em reação às injustiças e ao poder


autoritário.
 No século XIX – a igualdade não se concretiza. Especialmente em cidades pós-
industriais, onde se recupera o princípio das lutas pela igualdade. Esse princípio
recuperado vai assumir clareza em outro ator social – Movimento Social – que diz ao
mundo: a igualdade é um direito inalienável do ser humano, por isso deve ser exigida.

 Século XX – espaços de debate se transformam em espaço de guerra – humanidade se


depara com um guerra que ela ainda não tinham vivenciado. Tecnologia - 1ª Guerra –
trincheiras e 2ª Guerra – máquina de morte e de discriminação.

 Campos de Concentração – Auschwitz

 Final da 2ª Guerra – tempos novos – a humanidade percebe-se capaz de destruir a si e


o planeta todo – Hiroshima e Nagasaki – a partir daí o medo passa a acompanhar a
humanidade.

 De lá para cá não passamos um ano sequer sem uma guerra declarada e sem uma
guerra social não declarada no planeta.

 Como a humanidade reage ao terror da 2ª Guerra?

R.: Declaração Universal dos Direitos Humanos – Direitos Humanos como possibilidade para
além do terror.

 Um sonho que recupera a dimensão da igualdade e da liberdade e que retoma o


pressuposto da fraternidade (expressa em 1789)

 Pouco conhecida pela humanidade. Quando chega nas escolas brasileiras, por
exemplo, chega na contracapa de cadernos ou embutidas nos livros de História.

 Direitos Humanos não podem ser tratados como uma declaração – precisa ser
entendido como uma construção cultural, na qual as diferenças sejam respeitadas.

 A igualdade acompanha como pressuposto a diferença e juntos os iguais e diferentes


vão disputar seus espaços de liberdade.

 Respondendo aos problemas de cada época não resolvemos todos eles. Ainda hoje
vivemos epidemias de fome que somam-se a novos problemas (ambientais).

 Direitos humanos está manifesto em proclamações e em declarações. Está expresso


como direitos econômicos e sociais, mas principalmente são construções que a
humanidade vai fazendo ao longo de sua história na luta para se tornar livre, igual
fraterna.

DIREITOS HUMANOS NA AMÉRICA LATINA E NO BRASIL – SOLON VIOLA

• Chegada tardia na América Latina – sem usar o nome de Direitos Humanos – na


medida que a América Latina se constrói para os outros;

• Aristocracia que não precisa de Direitos. Que possui privilégios. Os que não são
aristocratas quase nem humanos são (escravos);

• A maneira pela qual os DHs chegam no Brasil não se vincula a expressão DH, e sim, a
negativa do privilégio do outro;
• Através das rebeliões dos escravos, da fuga dos povos indígenas para o interior para
fugir do homem branco;

• Permanece nas lutas coloniais – lutas feitas pelas elites em busca de controle político
(a população não é chamada a participar). Quando é chamada é para lutar em nome
dos outros;

• As rebeliões coloniais se fazem em nome da liberdade mas não da liberdade que livra
os escravos, por exemplo;

• No caso do Brasil, mesmo na República, a população não é chamada à cidadania


republicana – 3% da população tinha direito ao voto;

• Canudos – (Mucas no Rio Grande do Sul) – em busca de um lugar para viver

• Contestado – (Santa Catarina)

• Nas cidades – reivindicações não recebiam o nome de DH – lutas por salários justos,
descanso semanal etc.

• O Estado tratava esses movimento como armações, bandidagem, anarquia etc;

• Pós 2ª Guerra - Primeira experiência mais forte de Democracia (1945 a 1964) –


governo brasileiro assina a DDH e incorpora alguns princípios dessa Declaração à
Constituição;

• Por exemplo, não incorporamos a liberdade de organização partidária (uma séria de


partidos com posturas ideológicas não podiam compor o jogo político nesse
momento).

• 1964 – interrupção brutal – tempo de negação absoluta das conquistas da sociedade.

• Estado que tortura, assassina, que prende sem mandato, que exila, que censura, que
persegue e que caça estudantes;

• Algumas cidades organizam pequenos grupos – normalmente ligados as igrejas cristãs;

• Constituem comissões de justiça e paz, ancoradas diplomaticamente no Vaticano (um


Estado Independente Soberano).;

• Reúnem-se estudantes, intelectuais, professores universitários e começam a contar o


que acontece nos porões e nas delegacias de polícia;

• Denunciam os crimes contra a humanidade;

RECONSTRUINDO A SOCIEDADE E OS DIREITOS HUMANOS

Primeira luta – pela liberdade – direitos civis e políticos;

Segunda luta – por condições dignas de vida – direitos sociais e econômicos

 Além disso, direito de um mundo sem censura, direito de manifestar o pensamento e


luta pela anistia (ampla, gradual e irrestrita). Uma recomposição do tecido político.
 Luta por uma Constituição soberana e eleições diretas. Essas lutas que ocorreram
entre 70 e 80 constituem os Direitos Humanos no Brasil. É aí segundo o professor
Dalmo Dalari que “Os Direitos Humanos nascem para o Brasil”.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

 Criação em 1945.

 Após a assinatura em 1948, todos os países se comprometem com o que aconteça no


restante dos países envolvidos nessa temática.

 A Declaração e posteriormente os Tratado Internacionais se converteram em


instrumentos jurídicos de referência a tudo que diz respeito aos Direitos Humanos.

 Assim as garantias fundamentais se internalizaram e o homem passa a ser reconhecido


como sujeito de direito internacional.

ELEMENTOS QUE FAZEM A DIFERENÇA

• A titularidade exclusiva da pessoa física;

• Universalidade;

• Igualdade;

• Sugestão de ordem pública que adquire a Carta em razão de sua supremacia sobre
qualquer outro Tratado.

• A expressão direitos humanos, a partir da Declaração Universal de 1948 apresenta três


elementos fundamentais de aceitação universal:

 A aceitação universal do valor que a pessoa humana tem em si mesma, isto é, a


validação da noção de indivíduo, contribuição fundamental da cultura ocidental;

 A aceitação universal da participação dos indivíduos em liberdade dentro de suas


comunidades políticas, isto é, a aceitação da democracia como forma desejável de
governo;

 A aceitação universal da participação de que as pessoas têm direito a um mínimo de


bem-estar, isto é, que é desejável que os seres humanos tenham direitos sociais e
direitos ao desenvolvimento sustentável, à paz, a um meio ambiente sadio, à
preservação de suas culturas.

 Baseado na crença de que todo ser humano tem o direito de desfrutar dos seus
direitos, sem discriminação, e podem ser definidos como atributos inerentes a todo o
ser humano.

TRÊS PERSPECTIVAS

1. Como tendo uma pretensão moral justificada – enraizada nas ideias de liberdade e
igualdade, com matizes que incorporam conceitos como solidariedade e segurança
jurídica.

2. Construindo um subsistema dentro do sistema jurídico – como um direito dos direitos


fundamentais, o que supõe que a pretensão moral justificada seja tecnicamente
incorporável a uma norma.
3. Como sendo uma realidade social – atuante na vida social, e, portanto, condicionados
em sua existência por fatores extrajurídicos de caráter econômico ou cultural.

 Além disso, os direitos humanos devem apresentar três qualidades:

1. Devem ser naturais – inerentes ao seres humanos.

2. Iguais – os mesmos para todos.

3. Universais – válidos em toda parte.

 Nenhuma dessas qualidades é suficiente se não adquirem conteúdo político. Não são
os direitos dos seres humanos na natureza e sim os direitos dos seres humanos na
sociedade.

 Historicamente apesar de sua existência ser independente do Estado, sua proteção só


é efetiva dada circunstâncias propiciadas por ele.

 A eficácia do Estado pode se dá na:

 Vertical – relação indivíduo-Estado

 Horizontal – relação entre os próprios indivíduos (agressões de outros agentes sociais,


empresas etc.)

PRINCIPAIS CARACTERISTICAS

• Universais – pelo fato de pertencer ao gênero humano, todo indivíduo que o integra os
possuí.

• Inatos – os Estados devem reconhecer esses direitos, pois o indivíduo os traz consigo
desde o seu nascimento.

• Irrenunciáveis – nenhum indivíduo da espécie humana pode renunciar a possuí-los. A


pessoa os tem por toda a sua vida.

• Obrigatórios – mesmo que não exista lei que preveja condenação em caso de violação,
toda pessoa e inclusive o Estado deve respeitá-los.

• Inalienáveis – seu próprio caráter de ser irrenunciáveis os torna também


intransmissíveis a outra pessoa por venda, nem são susceptíveis de apropriação por
parte do Estado. Exemplo: escravidão.

• Imprescritíveis – não se adquirem ou se perdem ao longo do tempo. Exemplo: se


alguém não exercita o direito de aprender, não se pode negá-lo no futuro.

• Indivisíveis – são interdependentes e complementares. O não reconhecimento de um


deles coloca em risco os demais. Exemplo: ao se negar o direito de aprender a uma
pessoa, nega-se também acesso aos direitos econômicos, políticos e sociais.

• Não podem ser desconhecido por quem tem a obrigação de respeitá-los.

• Progressivos – há direitos que antigamente não se reconheciam e passam a integrá-


los. Exemplo: direitos da terceira geração.

• Limitados – porque em seu exercício somente se pode chegar até onde começa o
direito dos outros, aos interesses da comunidade.
DIREITOS HUMANOS E NORMAS JURIDICAS

• No âmbito dos direitos humanos podem ser considerados dois tipos: os direitos legais
e os direitos morais.

• Os direitos legais são aqueles consagrados na lei e podem se tornar eficazes através
dos tribunais.

• Os direitos de âmbito moral não apresentam substância jurídica, existindo somente


como pretensões morais. Exemplo: reivindicação do chefe de casa para saber o que
acontece.

DIFERENÇA

• Um direito legal (positivo) é, necessariamente, executável. Se ele não for impositivo,


não pode ser um direito positivo.

• Já o direito moral não é, necessariamente, impositivo. Alguns podem ser, outros não.
Exemplo: a afirmação de que tenho o direito de receber um salário justo não quer
dizer que eu o receba realmente.

• A intenção da Declaração Universal dos Direitos Humanos foi o de especificar alguma


coisa que todos deveriam ter ou seja, eram direitos morais.

• “Onde os direitos humanos são amparados pela lei positiva – onde as pessoas tem o
que deveriam ter – os direitos humanos são tantos direitos morais como direitos
positivos”.

• Exemplo: artigo 13 da Declaração que afirma: “todos têm o direito de deixar qualquer
país, incluindo o seu próprio, e voltar ao seu país”. Em muitos países as pessoas são
livres para deixar seu território, a não ser que sejam impedidas por um tribunal. Os
governos podem apreender os passaportes de seus cidadãos sob várias justificativas.
Assim, o direito de deixar o território, não é positivo e sim moral.

• A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) constitui fonte de vários


convênios:

 Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos de 1966.

 Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação


Racial (1963).

 Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes


( 1984)

 Convenção sobre os Direitos da Criança (1989).

DEVER DO ESTADO EM RELAÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS

• Obrigações de respeitar – é necessário que se abstenha de qualquer medida que possa


privar as pessoas do gozo dos seus direitos.

• Obrigações de proteger – proteger os indivíduos das violações dos direitos humanos


praticadas por terceiros.

• Obrigações a cumprir – compromisso de pensar medidas para assegurar os direitos.


A RESPONSABILIDADE DO ESTADO E A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

• Estudo de caso: Maria da Penha Maia Fernandes – (1983) teve sua integridade física e
mental violada por seu marido.

• Após várias agressões e duas tentativas de assassinato, Maria da Penha tentou sem
sucesso recorrer ao Estado brasileiro. Sem sucesso, recorreu à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos.

• 7 de Agosto de 2006 foi sancionada a Lei n° 11.340 – “Lei Maria da Penha”.

OS DIREITOS HUMANOS NA ZONA DE CONTATO ENTRE GLOBALIZAÇÕES RIVAIS

 Objetivo: Analisar os Direitos Humanos nas zonas de contato entre as globalizações:

 Globalização hegemônica neoliberal;

 Globalização contra-hegemônica;

 Globalização da religião política;

 A confluência e o confronto nas três zonas de contato criam quatro dimensões de


turbulência:

 Entre princípios e práticas;

 Entre princípios rivais;

 Entre raízes e opções;

 Entre o sagrado e o profano;

 Não é fácil teorizar sobre os Direitos Humanos nos tempos atuais;

 Os Direitos Humanos pretendem ser uma resposta forte para os problemas do mundo;

 Isso se reflete em sua pretensa universal;

 Entretanto, está cada vez mais claro que nossos tempos são tempos de perguntas
fortes e de respostas fracas;

 Então, cabe perguntar: seriam os Direitos Humanos uma resposta fraca para alguma
interrogação forte?

 As perguntas fortes são as que se dirigem não apenas às nossas opções de vida
individual e coletiva;

 Mas, sobretudo às raízes, aos fundamentos que criaram o horizonte das possibilidades
entre que é possível optar. São as que causam perplexidade social;

 As respostas fracas são as que não conseguem reduzir essa perplexidade, e pode às
vezes aumenta-las;

 As perguntas e respostas variam de cultura para cultura;

 Mas a discrepância entre a força das perguntas e a fraqueza das respostas parecem ser
comuns;
1. Se a humanidade é só uma, porque que é que há tantos princípios diferentes sobre a
dignidade humana, todos pretensamente únicos, e, por vezes, contraditórios entre si?

 A resposta dos Direitos Humanos a essa interrogação é fraca porque se refugia na


universalidade abstrata e não explica porque tantos movimentos sociais contra a
injusta e a opressão não formulam suas lutas em termos de Direitos Humanos e as
vezes, formulam princípios que são contraditórios.

2. Qual é o grau de coerência exigível entre os princípios, quaisquer que eles sejam, e as
práticas que têm lugar em nome deles?

 Também aqui a resposta é fraca. Limita-se em aceitar como natural ou inevitável que a
reiterada afirmação dos princípios não perca a credibilidade com a cada vez mais
sistemática e gritante violação dos Direitos Humanos por parte tanto dos atores
estatais, como não estatais.

 Boaventura pretende identificar as dimensões dos Direitos Humanos como resposta


fraca e definir os critérios que poderiam transformá-los em resposta forte;

 Transformando-os em resposta forte, os Direitos Humanos deixarão de ser os Direitos


Humanos tal como os conhecemos;

 A zona de contato é hoje a zona de enfrentamento entre as três globalizações;

 Globalização da religião política:

 Segundo o autor, esse fato acontece em várias religiões, porém ele irá analisar o Islão
político contemporâneo. Trata-se de um movimento, relativamente recente que usa o
Islão como uma ideologia capaz de permear toda sociedade e a vida pessoal dos
crentes.

 Enquanto as tendências mais extremistas se centram na violência contra o que


consideram serem interesses ocidentais, as tendências mais moderadas desdobram-se
em trabalhos voluntários de prestação de serviços na área da educação, da saúde e da
assistência social, configurando algo como um projeto islâmico de modernização.

 Estamos diante de uma nova forma de globalização?

 O nacionalismo islâmico, foi de fato, um conjunto de projetos políticos nacionais que


emergiram da luta contra o colonialismo.

 Vários Estados autoritários foram constituídos, uns revolucionários e outros


tradicionalistas, mas todos procurando instrumentalizar politicamente o Islão.

 Faz uma crítica radical ao Estado, a quem culpa de cumplicidade ou submissão ao


imperialismo ocidental;

 É uma globalização que se opõem tanto ou mais radical à globalização


hegemônica/liberal;

 E pouco tem a ver com a globalização contra-hegemônica;

Essa última acolhe e celebra a diversidade cultural e política, é laica, ainda que inclua
movimento de inspiração religiosa
DIREITOS HUMANOS NA ZONA DE CONTATO

 A confluência e o confronto nas zonas de contato entre três globalizações criam uma
turbulência política, cultural e ideológica que repercute de modo particular nos
Direitos Humanos:

 Turbulência entre princípios e práticas: decorre de um inconformismo novo ante a


discrepância entre a proclamação dos princípios e a violação destes na prática.

 Turbulência entre princípios rivais: Ocidente global X Oriente Global. Discrepância


entre os princípios dos Direitos Humanos e outros princípios da dignidade humana.

MONOCULTURAS

 Monocultura do conhecimento;

 Monocultura do universalismo;

 Monocultura do tempo linear;

 Monocultura das hierarquias naturais; sexuais e raciais

 Monocultura do trabalho e da natureza como recursos produtivos; todas as formas de


trabalho incongruente com essa monocultura foram classificadas como estéreis,
improdutivas e descartáveis.

 Essas cinco monoculturas produziram um vasto conjunto de populações, formas de ser


e de viver desclassificados. O ponto não é a existência de tais classificações, mas sim a
maneira como foram impostas de modo autoritário, quase sempre a serviço de um
projeto de dominação econômica, política e cultural.

 Dos povos e culturas que sofreram essa imposição, os islâmicos são os que mais
claramente definiram como derrota histórica a submissão a esse projeto.

 O Dilema:

 Imitar a modernidade ocidental (perder a identidade, rejeitar o passado glorioso e


tornar-se alienado) X Rejeitar radicalmente a modernidade (arcar com os custos)

 A primeira opção pareceu dominar o período do nacionalismo árabe (modernizar o


Islão);

 A segundo opção parece dominar hoje, no seio da globalização islamita (islamizar a


modernidade);

 É por essa razão que, na zona de contato entre globalizações contraditórias, é ela
quem mais contribui hoje para criar a turbulência entre princípios rivais.

 Turbulência entre raízes e opções: atravessa todas as zonas produzidas pelo confronto
das três globalizações, afeta tanto a clivagem do Norte Global e do Sul Global. Como a
clivagem entre Ocidente Global e Oriente Global.

 De um lado pensamento de raízes de outro pensamento de opção;

 Pensamento de raízes é tudo aquilo que é profundo, único e singular. Que dá


segurança e consistência;
 Pensamento de opção é tudo aquilo que é variável, efêmero, substituível. Possível e
indeterminado a partir das raízes; Pensamento do passado contraposto ao
pensamento do futuro. É necessário equilíbrio!

 Exemplo: sociedade medieval vista pela modernidade com o total predomínio das
raízes (religião, teologia ou tradição). Modernidade predomínio da opção (vontade
geral, contrato social).

 Quaisquer que tenham sidos as suas experiências anteriores, as culturas que entraram
em contato com a zona da modernidade ocidental foram obrigadas a definir-se em
termos de equação entre raízes e opções;

 Do lado da modernidade ocidental, está em curso a radicalização das opções mediante


a perda das raízes (populações descartáveis, sem direito mínimo à cidadania) –
Fascismo Social (novo estado de natureza);

 Do outro lado, as sociedade e culturas dominas pela modernidade ocidental, está em


curso um processo aparentemente inverso. O de radicalização das raízes. A busca
originária de um passado glorioso, capaz de fundar um futuro alternativo;

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