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RESUMOS DE SOCIOLOGIA

FRANKLEUDO LUAN DE LIMA SILVA


FORMAÇÃO DA CIÊNCIA SOCIOLÓGICA

As transformações econômicas, políticas e culturais ocorridas no século XVIII, como as


revoluções industrial e francesa, colocaram em destaque mudanças significativas da vida em
sociedade com relação a suas formas passadas, baseadas principalmente nas tradições. A sociologia
surge no século XIX como forma de entender essas mudanças e explicá-las.
Esta disciplina marca uma mudança na maneira de se pensar a realidade social,
desvinculando-se das preocupações especulativas e metafísicas e diferenciando-se progressivamente
enquanto forma racional e sistemática de compreensão dessa realidade. Assim é que a Revolução
Industrial significou, para o pensamento social, algo mais do que a introdução da máquina a vapor. Ela
representou a racionalização da produção da materialidade da vida social.
O surgimento da sociologia prende-se em parte aos desenvolvimentos oriundos da revolução
industrial, pelas novas condições de existência por ela criada. Mas uma outra circunstância concorreria
também para a sua formação. Trata-se das modificações que vinham ocorrendo nas formas de
pensamento, originadas pelo Iluminismo.

AUGUSTE COMTE: FUNDADOR DA SOCIOLOGIA E DO POSITIVISMO

POSITIVISMO
 Auguste Comte foi um filósofo francês, um dos precursores da
Sociologia e do Positivismo, que trabalhou intensamente na
criação de uma filosofia positiva em uma tentativa de remediar o
mal-estar (desordem) social da Revolução Francesa, o que
exigia uma nova doutrina social baseada nas ciências.
 Comte considerava a estrutura social do momento em que vivia
marcada pela desordem, sendo necessário estudar essa nova
sociedade a partir de um modelo racional (a filosofia positiva)
para colaborar com a mudança no pensamento social e para o
reestabelecimento da ordem social pós-Revolução.
 O conhecimento racional positivista procura conhecer a realidade social para, com isso,
prever acontecimentos gerados a partir da ação social do homem e, então, apresentar
possíveis soluções racionais. O espírito positivo, segundo Comte, tem a ciência como
investigação do real.

SOCIOLOGIA

 Comte criou o termo “sociologia”.


 Seu conceito de sociologia e evolucionismo social deu o tom para os primeiros teóricos
sociais e antropólogos, como Harriet Martineau e Herbert Spencer, evoluindo para a moderna
sociologia acadêmica apresentada por Émile Durkheim como pesquisa social prática e
objetiva.
 Em Comte, seu esquema sociológico era tipicamente positivista. Acreditava que as sociedades
apresentam as mesmas fases históricas e que, se pudermos compreender este progresso,
poderíamos prescrever os “remédios” para os problemas de ordem social.
 De acordo com Comte, o progresso está sempre subordinado à ordem, ou seja: para que exista
progresso é preciso existir a ordem.
 O lema “Ordem e Progresso”, na bandeira do Brasil, é inspirado no lema do positivismo de
Comte: “Amor como princípio e ordem como base; Progresso como meta”. Vários dos
envolvidos no golpe militar que depuseram o Império do Brasil e proclamaram o país como
uma república foram seguidores das ideias de Comte.

LEI OU TEORIA DOS TRÊS ESTADOS DE COMTE

Com base nas ideias positivistas, Comte criou e fundamentou as três Leis dos estados. O autor
afirma que a história do pensamento humano evoluiria em três estágios sociais progressivos, com
algumas características fortes e dominantes.
Os três estados são: o teológico, o metafísico e o positivo.

Estado teológico
Os fenômenos sociais são explicados baseados na fé, através de ações divinas. Predomina a
imaginação. O estado teológico subdivide-se em três fases:
 Animismo ou fetichismo: dar a seres naturais as mesmas características humanas;
 Politeísmo: a vontade de vários deuses determina o acontecimento de todas as coisas no mundo;
 Monoteísmo: a vontade de apenas um deus determina e controla todos os acontecimentos.

Estado metafísico ou abstrato


Os acontecimentos são explicados a partir de abstrações teóricas. O conhecimento não se dá
de forma empírica. O estado metafísico é o intermediário entre o pensamento teológico e o pensamento
positivista.

Estado Positivo
Estado científico, em que as explicações e pensamentos são elaborados com base na razão
(no método empírico, científico). Neste estado, a ciência assumiria o lugar dos pensamentos teológico
e metafísico e se colocaria com a solução para os problemas que a modernidade trouxe.

A partir do desenvolvimento da teoria dos três estados, Comte eleva a sociologia à categoria de
evolução máxima entre as ciências, pois a considera a ciência do todo sobre os elementos e, portanto,
a mais evoluída porque tem como objeto o homem e as relações que este estabelece.

CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS

A classificação atende a alguns critérios: objetividade (o que pretende), formalidade (como


pretende), materialidade (através do que se dá) e funcionalidade (eficiência).

Para Comte, a Física social (a sociologia) está no topo das ciências, pois é a que atinge o mais
alto grau de positividade. Em 1852, Comte instituiu uma sétima ciência, a Moral, cujo âmbito de
pesquisa é a constituição psicológica do indivíduo e suas interações sociais.
CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA

ÉMILE DURKHEIM
(1858-1917)

MORFOLOGIA SOCIAL: AS ESPÉCIES SOCIAIS

Durkheim considerava que todas as sociedades haviam evoluído seguindo um continuum


evolutivo. Para ele, a sociedade africana estaria em um dos primeiros estágios da evolução, enquanto a
Europa estaria muito à frente nesse continuum. Logo, a África representaria o passado da Europa, e a
Europa, o futuro de todas as sociedades “menos evoluídas” (visão positivista e etnocêntrica)

FATO SOCIAL

Durkheim definiu com clareza o objeto fundamental do estudo da sociologia: os fatos sociais.
Os fatos sociais possuem três características básicas:
 Coerção social: os fatos exercem força sobre os indivíduos, levando-os a conformarem-se
às regras da sociedade em que vivem, independentemente de sua vontade e escolha. O ser
humano experimenta a força da sociedade sobre si.
 Exteriores aos indivíduos: atuam e existem sobre os indivíduos independentemente de sua
vontade ou de sua adesão consciente. Ao nascermos já encontramos regras sociais, costumes
e leis que somos coagidos a aceitar por meio de mecanismos de coerção social, como a
constituição familiar. Por isso, os fatos sociais são ao mesmo tempo “coercitivos” e dotados de
existência exterior às consciências individuais.
 Possuem generalidade: é social todo fato que é geral, que se repete em todos os indivíduos
ou, pelo menos, na maioria deles; que ocorre em distintas sociedades, em um determinado
momento ou ao longo do tempo.

MÉTODO SOCIOLÓGICO
 O fato social deve ser analisado como coisa:
- A análise deve ser desprovida de valores subjetivos: o fato social não deve ser explicado
de maneira psicológica ou individual. Não há compreensão individual dos problemas
sociológicos.
 Conhecimento sociológico: é externo ao observador (o saber sociológico não depende de
opiniões).
 Sociólogo: deve analisar o fato social com objetividade (neutralidade axiológica).
 Sociedade: não é a simples soma dos indivíduos que a compõe.
 Instituições sociais: constituem o tipo principal de fato social: são coercitivas, coletivas,
conservadores e impositivas.

A CONSCIÊNCIA COLETIVA

Toda a teoria sociológica de Durkheim pretende demonstrar que os fatos sociais têm existência
própria e independem daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular. Embora todos possuam
sua “consciência individual”, podem-se notar, no interior de qualquer grupo ou sociedade, formas
padronizadas de conduta e pensamento. Essa constatação está na base do que Durkheim chamou de
“consciência coletiva”. Consciência coletiva, para Durkheim, é o conjunto de crenças e sentimentos
comuns à média dos membros de uma mesma sociedade que forma um sistema determinado com
vida própria. A consciência coletiva é, em certo sentido, a forma moral vigente na sociedade e define
o que, em uma sociedade, é considerado “imoral”, “reprovável” ou “criminoso”.
 Elemento de ligação entre os indivíduos em uma sociedade
 É o fundamento da solidariedade social.

DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO

Segundo Durkheim, para se garantir a organização industrial de uma sociedade, há a


necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgânica entre os membros da sociedade. A
solução estaria em, seguindo o exemplo de um organismo biológico, onde cada órgão tem uma função
e depende dos outros para sobreviver, se cada membro da sociedade exercer uma função na divisão
do trabalho, ele será obrigado através de um sistema de direitos e deveres, e também sentirá a
necessidade de se manter coeso e solidário aos outros. O importante para ele é que o indivíduo
realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgânica, interiorizada
e não meramente mecânica.

SOLIDARIEDADE SOCIAL MECÂNICA E ORGÂNICA

Para Durkheim, a passagem da solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica constitui o


motor de transformação de toda e qualquer sociedade.
 Solidariedade social mecânica era aquela que predominava nas sociedades pré-capitalistas,
onde os indivíduos se identificavam por meio da família, da religião, da tradição e dos
costumes, permanecendo em geral independentes e autônomos em relação à divisão social
do trabalho.

 Solidariedade social orgânica é aquela típica das sociedades capitalistas, em que, pela
acelerada divisão social do trabalho, os indivíduos se tornam interdependentes. Essa
interdependência garante a união social em lugar dos costumes, das tradições ou das relações
sociais estreitas, como ocorre nas sociedades contemporâneas.

SOBRE O SUICÍDIO
Definição: “Suicídio é todo caso de morte provocada direta ou indiretamente por um ato positivo ou
negativo realizado pela própria vítima, que sabia que devia provocar esse resultado”.
 Hipótese de Durkheim: o suicídio (ápice do individualismo) é determinado pela sociedade.
 Estuda as taxas globais. Não estuda casos isolados
 As causas psicológicas são irrelevantes para o estudo sociológico
 Durkheim diferencia o suicídio do fenômeno da imitação social
 O suicídio não é um ato compulsório e irrefletido.
 Fatores protetivos da vida: filhos, casamentos, atividades sociais (igreja, trabalho)
 Tipologia: três correntes suicidógenas
 Suicídio egoísta (pessoas que se isolam do convívio social. Ex.: depressivos)
 Suicídio altruísta (em nome de uma causa/missão. Ex.: bombeiros, terroristas)
 Suicídio anômico (ocorrem abruptamente em momentos de crises sociais)

MAX WEBER
(1864-1920)

Nasceu na cidade de Erfurt, Alemanha,


Suas principais obras foram: Economia e Sociedade e A ética protestante e o espírito do
capitalismo.

OBJETIVO DA SOCIOLOGIA

 Compreender a ação social


 Detectar o sentido dado pelo ator social à sua conduta

ANÁLISE HISTÓRICA E MÉTODO COMPREENSIVO

 Weber mostrou a fecundidade da análise histórica e da compreensão qualitativa dos processos


históricos e sociais. Seus trabalhos destacaram do papel da subjetividade na ação e na pesquisa
social.
 Propôs o método compreensivo, isto é, um esforço interpretativo do passado e de sua
repercussão nas características peculiares das sociedades contemporâneas. Essa atitude de
compreensão é que permite ao cientista atribuir aos fatos esparsos um sentido social e histórico.
A tarefa do cientista
 Weber rejeita a maioria das proposições positivistas: o evolucionismo, a exterioridade do
cientista social em relação ao objeto de estudo e a recusa em aceitar a importância dos indivíduos
e dos diferentes momentos históricos na análise da sociedade.
 Para ele, o cientista, como todo indivíduo em ação, também age guiado por seus motivos, sua
cultura e suas tradições, sendo impossível descartar-se de suas noções, como propunha
Durkheim.
 Os fatos sociais não são coisas, mas acontecimentos que o cientista percebe e cujas causas
procura desvendar (o fato social é feixe inesgotável de possibilidades de análises). A
neutralidade durkheimiana se torna impossível nessa visão.
 Para Weber, a meta do cientista social é compreender, buscar os nexos causais que deem o
sentido da ação social.
 O que garante a cientificidade de uma explicação é o método de reflexão, não a objetividade
pura dos fatos. Embora os acontecimentos sociais possam ser quantificáveis, a análise do social
envolve sempre uma questão de qualidade, interpretação, subjetividade e compreensão.

A AÇÃO SOCIAL: UMA AÇÃO COM SENTIDO

 O ponto de partida da sociologia de Weber não estava nas entidades coletivas, grupos ou
instituições. Seu objetivo de investigação é a ação social, a conduta humana dotada de
sentido, isto é, de uma justificativa subjetivamente elaborada. Exemplos de ações sociais:
estudar, trabalhar, casar, consumir, escrever, agredir, rezar etc.
 É o agente social que dá sentido à sua ação: ele estabelece a conexão entre o motivo da ação,
a ação propriamente dita e seus efeitos.
 Para a sociologia positivista, a ordem social submete os indivíduos como força exterior a eles.
Para Weber, não existe oposição entre indivíduo e sociedade: as normas sociais só se tornam
concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação.
 Cada sujeito age levado por um motivo que é dado pela tradição, por interesses racionais
ou pela emotividade. O motivo que transparece na ação social permite desvendar o seu
sentido, que é social na medida em que cada indivíduo age levando em conta a resposta ou a
reação de outros indivíduos.
 A análise sociológica não deve ser confundida com a análise psicológica. Por mais individual
que seja o sentido da minha ação, o fato de agir levando em consideração o outro, dá um
caráter social à toda ação humana.

O TIPO IDEAL DE ANÁLISE

Para atingir a explicação dos fatos sociais, Weber propôs um instrumento de análise que
chamou de “tipo ideal”.
 Trata-se se uma construção teórica abstrata a partir dos casos particulares analisados. O
cientista, pelo estudo sistemático das diversas manifestações particulares, constrói um modelo
(uma tipologia) que permite conceituar fenômenos e formações sociais particulares e
identificar na realidade observada suas manifestações. (Por exemplo: tipos de violência:
física, moral, psicológica, sexual etc)
 O tipo ideal não é um modelo perfeito a ser buscado. É um instrumento de investigação da
realidade social.
 É preciso deixar claro que o tipo ideal nada tem a ver com as espécies sociais de Durkheim,
que pretendiam ser exemplos de sociedades observadas em diferentes graus de complexidade
num continuum evolutivo.

TIPOS DE AÇÕES SOCIAIS

Considerando-se as categorias tipológicas (tipos ideais), Weber descreveu quatro tipos de ações
sociais, motivadas por interesses racionais, pelos afetos e pelas tradições.
Ações sociais racionais
 Ação social racional com relação a fins (caráter extrínseco): aqui o que importa é o alcance
dos objetivos e/ou resultados atingidos por seu agente. Ou seja, esse tipo de ação social visa
obter, de modo racional, um fim. Ex.: fazer um planejamento de estudo
 Ação social racional com relação a valores (caráter intrínseco): está relacionada com os
princípios de seu agente, ou seja, está orientada por valores/honra específicos (norma moral).
Exs.: não roubar; capitão que decide afundar com o navio.
Ações sociais irracionais
 Ação social afetiva: também chamada de “ação social emocional”, nesse caso, ela é motivada e
gerada pelos sentimentos de seu agente em relação aos outros. Ex.: explosões afetivas /
momentos de descontrole, para o bem ou para o mal
 Ação social tradicional: definida por hábitos, crenças e costumes compartilhados por uma
sociedade. Obedece a reflexos enraizados por longa prática. Exs.: comportamentos
preconceituosos e/ou dogmáticos; comemorar o dia dos namorados.

O SENTIDO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO

 A racionalização é a atual significação cultural.


 O excesso de racionalidade (existente desde antes do industruialismo) leva ao
desencantamento do mundo (afastamento das crenças tradicionais, mitos, fábulas)
 A racionalização se aplica à/ao:
 Cálculo capitalista: previsão/riscos/juros/investimentos.
 Revolução científica: desencantamento do mundo.
 Estado: burocracia
Todos demandam ações plenamente racionais.

TIPOS DE DOMINAÇÃO

Em sua obra “Economia e Sociedade”, Weber classifica a autoridade em três tipos, dependendo
principalmente das bases da sociedade em questão, ou seja, das bases de sua legitimidade. Os
subordinados aceitam uma dominação desde que esse poder seja justificado.
Dominação racional-legal: dominação burocrática.
Características:
 Normas criadas e modificadas por estatuto sancionado.
 Hierarquia funcional.
 Administração baseada em documentos.
 Demanda pela aprendizagem profissional.
 Exigência de rendimento.
 Estabilidade: racionalidade e legitimidade da competência.
Dominação tradicional: poder da tradição.
Características:
 Autoridade: fidelidade tradicional.
 Normas: fundadas na tradição.
 Estabilidade pela tradição e consciência coletiva.
Dominação carismática: admiração pela personalidade do dominador (líder, herói, demagogo)
Características:
 Autoridade: ligada à devoção afetiva e às qualidades pessoais.
 Normas: arbitrárias e subjetivas (dependem do líder).
 Instabilidade (arbitrariedade do “chefe”).

A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO

 Na obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber investiga a relação existente


entre certa forma de conduta econômica e suas raízes religiosas.
 Ao estudar a ética protestante, Weber buscou identificar os sentidos (religiosos,
econômicos, políticos) das ações dos protestantes e de que forma tais sentidos os levavam
a trabalhar mais, a lucrar, a poupar, a acumular, a reinvestir e, consequentemente, a
desenvolver-se economicamente. Foi a ação social dos protestantes que, segundo Weber,
deu condições para que países protestantes desenvolvessem mais o espírito capitalista.

KARL MARX
(1818-1883)

 Simultaneamente a Durkheim e Weber, Marx desenvolveu seu pensamento, expresso pelo


materialismo histórico. Porém, ao contrário desses intelectuais, Marx originou uma corrente
de pensamento revolucionário tanto do ponto de vista teórico como da prática social.
 Contribuiu não para o desenvolvimento da ciência, mas propôs uma ampla transformação
política, econômica e social. Marx escreveu para todos os indivíduos que quisessem assumir
sua vocação revolucionária. Esse é um aspecto singular da teoria marxista.

A ORIGEM HISTÓRICA DO CAPITALISMO

 Marx se vale da análise crítica do momento que vive e de uma sólida visão histórica com os quais
procura explicar a origem das classes sociais e do capitalismo. É assim que ele atribui a origem
das desigualdades sociais a uma enorme quantidade de riquezas que se concentram na
Europa, no século XIII até meados do século XVIII, nas mãos de uns poucos indivíduos, que
têm o objetivo e as possibilidades de acumular bens e obter lucros cada vez maiores.
 No início, essa acumulação de riquezas se fez por meio da pirataria, do roubo, dos monopólios
e do controle de preços praticados pelos Estados absolutistas. A comercialização,
principalmente com as colônias, era a grande fonte de rendimentos para os Estados e a
nascente burguesia.
 A partir do século XVI, o artesão e as corporações de ofício foram, aos poucos, substituídos
pelo trabalhador “livre” assalariado – o operário – e pela indústria.
 Na produção artesanal europeia da Idade Média e do Renascimento (Idade Moderna), o
trabalhador mantinha em sua casa os instrumentos de produção. Aos poucos, porém,
surgiram oficinas organizadas por comerciantes enriquecidos que produziam mais e a baixo
custo. A generalização desses galpões originou, em meados do século XVIII, na Inglaterra,
a Revolução Industrial. Esta possibilitou a mecanização ampla e sistemática da produção de
mercadorias, acelerando o processo de separação entre o trabalhador e os instrumentos de
produção e levando à falência os artesãos individuais.
 As máquinas e tudo o mais necessário ao processo produtivo – força motriz, instalações,
matérias primas – ficaram acessíveis somente aos empresários capitalistas com os quais os
artesãos, isolados, não podiam competir. Multiplicou-se, então, o número de operários, isto é,
trabalhadores “livres” expropriados, artesãos que não conseguiam competir com o sistema
industrial e desistiam da produção individual, empregando-se nas indústrias, constituindo
uma nova classe social.
Classes Sociais
 Um conceito básico do marxismo é o de classes sociais, que Marx desenvolve na busca por
denunciar as desigualdades sociais contra a falsa ideia de igualdade política e jurídica
proclamada pelos liberais.
 Para Marx, os inalienáveis direitos de liberdade e justiça, considerados naturais pelo
liberalismo, não resistem às evidências das desigualdades sociais promovidas pelas relações
de produção, que dividem os indivíduos em proprietários e não-proprietários dos meios de
produção.
 Dessa divisão se originam as classes sociais: os proletários – trabalhadores despossuídos dos
meios de produção, que vendem sua força de trabalho em troca de salário; e os capitalistas, que,
possuindo meios de produção sob a forma legal da propriedade privada, apropriam-se do produto
do trabalho de seus operários em troca do salário do qual eles dependem para sobreviver.
 As classes sociais formadas no capitalismo – burgueses e proletários – estabelecem
intransponíveis desigualdades entre os seres humanos e relações que são, antes de tudo, de
antagonismo e exploração. A oposição e o antagonismo derivam dos interesses inconciliáveis
entre as classes.
 O capitalista deseja preservar seu direito à propriedade dos meios de produção e dos
produtos e à máxima exploração do trabalho do operário, pagando baixos salários ou
aumentando a jornada de trabalho.
 O trabalhador, por sua vez, luta contra a exploração, reivindicando menor jornada de
trabalho, melhores salários e participação nos lucros que se acumulam com a venda daquilo que
ele produziu.
 Por outro lado, apesar das oposições, as classes sociais são também complementares e
interdependentes, pois uma só existe em função da outra.
 Para Marx, a história humana é a história da luta de classes, da disputa constante por
interesses que se opõem, embora essa oposição nem sempre se manifeste socialmente sob a
forma de conflito ou guerra declarada.
MATERIALISMO HISTÓRICO

 Marx parte do princípio de que a estrutura de uma sociedade qualquer reflete a forma como
os indivíduos se organizam para a produção social de bens, que engloba dois fatores
fundamentais: as forças produtivas e as relações de produção.
 Os meios de produção são o somatório da matéria-prima e dos instrumentos de produção.
No entanto, apenas os meios de produção não são o suficiente para produzir algo, faz-se
necessário o elo entre a matéria-prima e os instrumentos. Este elo é a força de trabalho. A união
entre os meios de produção e a força de trabalho, são as forças produtivas.
 A cada forma de organização das forças produtivas corresponde uma determinada forma
de relação de produção. As relações de produção são as formas pelas quais os indivíduos se
organizam para executar a atividade produtiva. Elas se referem às diversas maneiras pelas
quais são apropriados e distribuídos os elementos envolvidos no processo de trabalho: as
matérias primas, os instrumentos e a técnica, os próprios trabalhadores e o produto final.
 Assim, as relações de produção podem ser, num determinado momento, cooperativistas (como
em um mutirão), escravistas (como na Antiguidade), servis (como na Europa Feudal), ou
capitalistas (como na indústria moderna)
 Para Marx, o estudo do modo de produção é fundamental para compreender como se
organiza e funciona a sociedade. Os modelos de família, as leis, a religião, as ideias políticas,
os valores sociais são aspectos cuja explicação depende, em princípio, do estudo do
desenvolvimento e do colapso de diferentes modos de produção.
 Analisando a história, Marx identificou vários modos de produção específicos. Em cada modo
de produção, a desigualdade de propriedade, como fundamentos das relações de produção, cria
contradições básicas com o desenvolvimento das forças produtivas. Essas contradições se
acirram até provocar um processo revolucionário, com a derrocada do modo de produção
vigente e a ascensão de outro.

O SALÁRIO

 O operário é o indivíduo que, nada possuindo, é obrigado a sobreviver da sua força de


trabalho. No capitalismo, ele se torna uma mercadoria, algo útil que se pode comprar e vender.
Por meio de um contrato estabelecido entre operário e capitalista, fica permitido a este “alugar
por um certo tempo” a força de trabalho do proletário em troca de uma quantia em
dinheiro, o salário. O salário é, assim, o valor da força de trabalho, considerada como
mercadoria.
 Como a força de trabalho não é uma “coisa”, mas uma capacidade, inseparável do corpo do
operário, o salário deve corresponder à quantia que permita à/ao proletário alimentar-se,
vestir-se, cuidar dos filhos, recuperar as energias e, assim, estar de volta ao serviço no dia
seguinte.

TRABALHO E VALOR

 O capitalismo vê a força de trabalho como mercadoria, mas é claro que não se trata de uma
mercadoria qualquer. Ela é a única capaz de criar valor. Os economistas clássicos ingleses já
haviam percebido isso ao reconhecerem no trabalho a verdadeira fonte de riqueza das sociedades.

 Marx foi além. Para ele, o trabalho, ao se exercer sobre determinados objetos, provoca nesses
uma espécie de “ressurreição”. Tudo o que é criado pelo indivíduo, diz Marx, contém em
si um trabalho passado, “morto”, que só pode ser reanimado por outro trabalho. Assim,
por exemplo, um pedaço de couro animal curtido, uma agulha de aço e fios de linha são, todos,
produtos do trabalho humano. Deixados em si mesmos, são coisas mortas; utilizados para
produzir um par de sapatos, renascem como meios de produção e se incorporam num novo
produto, uma nova mercadoria, um novo valor.
 Valor: conceito que se relaciona ao tempo, qualidade e quantidade de força de trabalho
empregada na elaboração de uma tarefa.

A Mais-Valia
 Diferença entre o valor final da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de
produção e do valor do trabalho. A mais-valia que é a base do lucro no sistema capitalista.

INFRAESTRUTURA E SUPERESTRUTURA

 De acordo com o materialismo histórico, a partir das condições materiais de uma sociedade
(infraestrutura), pode-se entender sua religião, filosofia, moral, política, em suma, suas formas
ideológicas/mentalidades (superestrutura).
 Um dos postulados básicos do materialismo histórico é o de que a superestrutura afeta, ou
“age retroativamente” sobre ela, a infraestrutura. Assim como a base material afeta a
superestrutura, a superestrutura, dialeticamente, também pode afetar a base (materialismo
histórico dialético).

SOCIÓLOGOS MODERNOS E CONTEMPORÂNEOS

GEORG SIMMEL
(1858-1918)

 Simmel procura mostrar que a modernidade se caracteriza por traços intrinsecamente ligados à
vida monetária, como a aceleração do tempo, a monetarização das relações sociais,
ampliação dos mercados, racionalização e quantificação da vida.
 O dinheiro é o deus da vida moderna, afirma Simmel, mostrando como na modernidade tudo
gira ao redor do dinheiro e, ao mesmo tempo, o dinheiro faz tudo girar. A vida monetária é
percebida com uma manifestação e encarnação de traços que caracterizam os traços sociais de
nossa época. É neste sentido que a obra de Simmel é uma das grandes interpretações
sociológicas do mundo moderno.
 Outro destacado tema da sociologia simmeliana foi sua análise da vida urbana. Na obra A
metrópole e a vida espiritual, considerado um dos textos fundadores da chamada sociologia
urbana, Simmel argumenta que, como o dinheiro, a vida nas grandes aglomerações urbanas
é outro traço fundamental dos tempos modernos.
 Analisando seu impacto sobre a sociabilidade e a individualidade, Simmel destacou o fenômeno
do embotamento dos sentidos – atitude blasé ou atitude de reserva. A imensidade de estímulos
gerados pelas intensas atividades urbanas (intensificação da vida nervosa) tem seu reflexo na
personalidade do indivíduo, gerando sujeitos que vão perdendo sua capacidade de relação
com seu meio circundante (individualização), tornando-se objetivos, impessoais, atomizados,
fechados, indiferentes, distantes e calculistas (“espécie de medida de autoconservação).
 O ponto central é a intensificação dos estímulos urbanos e o anonimato, que geram,
contraditória e ambiguamente, por um lado, uma ampliação da liberdade (sem amarras) e
da racionalidade e calculabilidade da vida (intelectualização pela técnica e divisão do
trabalho) e, por outro, a atitude blasé, como forma de proteção emocional.
 Nas grandes cidades (locais de cosmopolitismo, de estrangeiros), tudo, ou quase tudo, é
mercantilizável (economia monetária).
 Em comparação com a pequena cidade provinciana, a cidade grande se caracteriza por uma
aceleração generalizada do ritmo da vida, que é acompanhada de uma intensificação do comércio
e das trocas, o que implica uma multiplicação dos contratos superficiais entre estrangeiros.
 Para Simmel, existem duas realidades essencialmente díspares: a vida na cidade pequena e a vida
nas grandes cidades

Vida nas cidades pequenas Vida nos grandes centros urbanos


Ritmo lento de vida: as imagens mentais Intensificação dos estímulos nervosos: somos
fluem de maneira vagarosa bombardeados por imagens novas, díspares e
rápidas
Constante uniformidade dos acontecimentos As transformações acontecem muito
rapidamente
Formação de hábitos e de relacionamentos Não há tempo para aprofundamentos das
profundos relações entre os estrangeiros (cidadãos)
O órgão próprio da pequena cidade é o O órgão próprio da cidade grande é a cabeça
coração, representando a alma e a (intelectualização), protegendo esses
profundidade desses relacionamentos indivíduos da sensação de desenraizamento.

NOBERT ELIAS
(1897-1990)
De acordo com Elias, a principal tarefa da sociologia é “(...) alargar nossa compreensão dos
processos humanos e sociais e adquirir uma base crescente de conhecimento mais sólido acerca
desses processos”.

TEIAS DE INTERDEPENDÊNCIA

 Os indivíduos constroem teias de interdependência que dão origem a configurações de


muitos tipos: família, aldeia, cidade, estado, nações. Para explicar essa relação de
interdependência entre indivíduo e sociedade, o sociólogo utiliza o conceito de configuração.
 O conceito de configuração pode ser aplicado onde quer que se formem conexões e teias de
interdependência humana, isto é, em grupos relativamente pequenos ou em agrupamentos
maiores
 Segundo Elias, o estudo sociológico das teias de interdependência indica que as coerções ou
forças sociais têm origem na própria teia de interdependência formada pelos indivíduos. O
estudioso refuta, assim, qualquer concepção de que tais forças coercitivas têm caráter
objetivo acima e para além dos próprios indivíduos (crítica a Durkheim).
 A relação entre o indivíduo e as estruturas sociais deve ser analisada e concebida como um
processo. Ou seja, “estruturas sociais” e “indivíduo” são aspectos diferentes, mas
inseparáveis, cuja análise deve recair sobre as teias de interdependência humanas que formam
as configurações sociais.
Processo de individualização
 Para Elias, socialização e individualização de um ser humano são nomes diferentes para o
mesmo processo. Uma análise do indivíduo e da sociedade na longa cadeia de interdependência
entrelaça, necessariamente, estrutura social e estrutura psíquica. Nenhum ser humano chega
civilizado ao mundo, o individual é obrigatoriamente social e vice-versa.
 Processo de individualização: é um processo contínuo e não planejado, construído nos avanços
e recuos do processo civilizador individual, no qual todos os indivíduos, como fruto de um
processo civilizador social em construção a longo tempo, são automaticamente ingressos desde
a mais tenra infância, em maior ou menor grau e sucesso.
 Nunca é possível considerar as pessoas como sujeitos isolados, mas sempre inseridos em
configurações, de “eu” e “tu”, de “nós” e “eles”, que são interdependentes.

FORMAÇÃO DA CIVILIZAÇÃO NA SOCIEDADE MODERNA OCIDENTAL

 Em sua obra mais conhecida, O processo civilizador, Elias mostra como lentamente os
costumes vão moldando as condutas, os corpos e os sentimentos dos indivíduos e dos grupos
sociais ao longo dos séculos.
 O homem ocidental nem sempre se comportou da maneira que estamos acostumados a
considerar como típica ou como sinal característico do homem “civilizado”. Se um homem
da atual sociedade civilizada ocidental fosse, de repente, transportado para uma época remota de
sua própria sociedade, tal como o período medievo-feudal, descobriria nele muito do que julga
“incivilizado” em outras sociedades modernas.
 Dependendo de sua situação e de suas inclinações, sentir-se-ia atraído pela vida mais
desregrada, mais descontraída e aventurosa das classes superiores dessa sociedade ou repelido
pelos costumes “bárbaros”, pela pobreza e rudeza que nele encontraria.
 Em que pese o fato de que o processo civilizador não ser um fenômeno linear, ele comporta
evoluções, como, por exemplo, no que se refere às maneiras de gerenciar as funções
corporais (comportar-se à mesa; assoar o nariz; cuspir; urinar e defecar; lavar-se; copular etc).
 De acordo com Elias, as emoções, ou sensibilidades, são também moldadas socialmente.
Sentimentos como vergonha, constrangimento e pudor têm características próprias e dependem
de cada sociedade e cultura e apresentam, inclusive, diferenciações entre as classes sociais. Essas
variações produzem estranhamentos, e não empatias, entre esses grupos.
 O processo civilizador é um fenômeno de longa duração.

PIERRE BOURDIEU
(1930-2002)

 Crítico dos mecanismos de reprodução das desigualdades sociais, Pierre Bourdieu destaca em
sua obra os condicionamentos materiais e simbólicos que agem sobre nós (sociedade e
indivíduos) numa complexa relação de interdependência.
 Ou seja, a posição social ou o poder que detemos na sociedade não dependem apenas do
volume de dinheiro que acumulamos ou de uma situação de prestígio que desfrutamos por
possuir escolaridade ou qualquer outra particularidade de destaque, mas está na
articulação de sentidos que esses aspectos podem assumir em cada momento histórico.

CAPITAL CULTURAL ACUMULADO

 A estrutura social é apresentada por Bourdieu como um sistema hierarquizado de poder e


privilégio, determinado tanto pelas relações materiais e/ou econômicas (salário, renda) como
pelas relações simbólicas (status) e/ou culturais (escolarização) entre os indivíduos. Dessa forma,
a diferente localização dos grupos nessa estrutura social deriva da desigual distribuição de
recursos e poderes de cada um de nós.
 Para Pierre Bourdieu, sociólogo francês, os seres humanos possuem quatro tipos de capitais,
recursos ou poderes, são eles:
- Capital econômico (renda, salários, imóveis);
- Capital social (redes de amizade e convívio, relações que podem ser capitalizadas);
- Capital cultural (saberes e conhecimentos reconhecidos por diplomas e títulos; artes);
- Capital simbólico, que está ao prestígio, ao reconhecimento e à honra. É através desse
último capital que determinadas diferenças de poder são definidas socialmente. Por
meio do capital simbólico, é que instituições e indivíduos podem tentar persuadir outros com
suas ideias.
 O conjunto desses capitais seria compreendido a partir de um sistema de disposições de cultura
(nas suas dimensões material, simbólica e cultural, entre outras), denominado por ele habitus.

HABITUS
 “Concebo o conceito de habitus como um instrumento conceptual que me auxilia pensar a
relação, a mediação entre os condicionamentos sociais exteriores e a subjetividade dos
sujeitos. Trata-se de um conceito que, embora seja visto como um sistema engendrado no
passado e orientando para uma ação no presente, ainda é um sistema em constante
reformulação. Habitus não é destino. Habitus é uma noção que me auxilia a pensar as
características de uma identidade social, de uma experiência biográfica, um sistema de
orientação ora consciente ora inconsciente”.
 Segundo Pierre Bourdieu, habitus é definido como o sistema de disposições, modos de
perceber, de sentir, de fazer, de pensar, que nos levam a agir e a pensar de determinada
forma, em dada circunstância. É uma matriz cultural que predispõe os indivíduos a fazerem
suas escolhas.
 Na medida em que se trata de princípios geradores de práticas distintas e distintivas entre
as classes sociais, o habitus está expresso, por exemplo, no que se come e na maneira de comer,
bem como no esporte que se pratica e na forma de praticá-lo.
 O habitus é estruturado por meio das instituições de socialização dos agentes, que impõem
aos indivíduos certos princípios classificatórios, de visão de mundo e divisão de gostos
(esquemas de ação e de pensamento).
 A partir do habitus, estabelece-se o que é bom e o que é mau, o que é distinto e o que é vulgar,
o que é valorizado e o que é desvalorizado em dado segmento social.

O DESCOMPASSO EDUCACIONAL

 Bourdieu sempre manteve uma concepção pessimista em relação à escola e ao sistema


educacional.
 Ele entendia como uma grande ilusão afirmar que o sistema escolar é um facilitador da
mobilidade social. Na verdade, a escola, ao não atenuar as diferenças de classes (capitais
culturais), coopera com a conservação social. São essas noções que posteriormente
fundamentam afirmações sobre a legitimidade das desigualdades sociais e meritocracia.
 Para Bourdieu, o sistema escolar, em vez de oferecer acesso democrático de uma competência
cultural específica para todos, tende a reforçar as distinções de capital cultural de seu público.
 O sistema escolar limita o acesso e o pleno aproveitamento dos indivíduos pertencentes às
famílias menos escolarizadas, pois cobra deles os que eles não têm, ou seja, um conhecimento
cultural anterior, aquele necessário para se realizar a contento o processo de transmissão de uma
cultura culta.
 Essa cobrança escolar foi denominada por ele como uma violência simbólica, pois impõe o
reconhecimento e a legitimidade de uma única forma de cultura, desconsiderando e
inferiorizando a cultura dos segmentos populares.

VIOLÊNCIA SIMBÓLICA

 Bourdieu defende que é pela cultura que os dominantes simbolicamente garantem o controle
ideológico, por meio da violência simbólica: formas de coerção que se baseiam em acordos
não conscientes entre as estruturas objetivas e as estruturas mentais.
 A violência simbólica se dá justamente pela falta de equivalência do capital cultural entre
as pessoas ou instituições.
 O conceito foi definido por Bourdieu como uma violência que é cometida com a cumplicidade
entre quem sofre e quem a pratica, sem que, frequentemente, os envolvidos tenham
consciência do que estão sofrendo ou exercendo.
 Para Bourdieu (1930-2002), as diversas formas de dominação supõem uma dimensão
simbólica. A violência simbólica:
 Expressa-se na imposição legítima da cultura dominante: o dominado não se opõe ao seu
opressor, pois não se percebe vítima desse processo, considerando a situação natural.
 Pode ser exercida por diferentes instituições da sociedade: Estado, escola, igreja, grupos e
classes sociais.
 O sistema escolar e o Estado são os maiores produtores de violência simbólica.

GUY DEBORD
(1931-1994)

 Guy Debord, o criador do conceito de “sociedade do espetáculo”, definiu o espetáculo como o


conjunto das relações sociais mediadas pelas imagens (sombras do que efetivamente existe).
 O espetáculo – diz Debord – consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente
através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e
hábitos de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades,
atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias – tudo transmite uma
sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia.
 O espetáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e
dividida. É a forma mais elaborada de uma sociedade que desenvolveu ao extremo o
‘fetichismo da mercadoria’ (felicidade identifica-se a consumo).
 Os meios de comunicação de massa são apenas ‘a manifestação superficial mais
esmagadora da sociedade do espetáculo, que faz do indivíduo um ser infeliz, anônimo e
solitário em meio à massa de consumidores.
 Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia
como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se afastou
numa representação.
 Na sociedade do espetáculo, das relações interpessoais à política, passando pelas manifestações
religiosas, tudo está mercantilizado e envolvido por imagens. Assim como o conceito de
“indústria cultural”, o conceito de “sociedade do espetáculo” faz parte de uma postura crítica
com relação à sociedade capitalista. São conceitos que procuram apontar aquilo que se
constitui em entraves para a emancipação humana
 A transformação da cultura em mercadoria é uma característica fundamental da sociedade
capitalista
 Pela mediação das imagens e mensagens dos meios de comunicação de massa, os indivíduos
em sociedade abdicam da dura realidade dos acontecimentos da vida, e passam a viver num
mundo movido pelas aparências e consumo permanente de fatos, notícias, produtos e
mercadorias.
 Segundo Debord, a produção de imagens, a valorização da dimensão visual da comunicação,
como instrumento de exercício do poder, de dominação social, existe em todas as sociedades
onde há classes sociais, isto é, onde a desigualdade social está presente.
 Desta maneira, as relações entre as pessoas são mediadas pelas imagens, pelo poder de consumo
e se transformam em espetáculo. O consumo e a imagem ocupam o lugar que antes era do
diálogo pessoal através da TV e os outros meios de comunicação de massa, publicidades de
automóveis, marcas etc. e produz o isolamento e a separação social entre os seres humanos.
Por exemplo, a questão da droga será tratada na TV (algumas telenovelas brasileiras mais
recentes abordaram tal assunto), e não no seio familiar. Ocorre aí uma devastadora inversão
da noção de valores. O espetáculo se constitui a realidade e a realidade o espetáculo. Já não se
tem um limite definido para as coisas.

ZIGMUNT BAUMAN
(1925-2017)

 Bauman utilizou o conceito de “modernidade líquida” (ou “pós-modernidade”) como forma de


explicar como se processam as relações sociais na atualidade.
 Para o sociólogo, a modernidade “sólida”, forjada entre os séculos XIV e XV e cujo apogeu se
deu nos séculos XIX e XX, teve como traço básico a ideia de que o homem seria capaz de
criar um novo futuro para a sociedade, que cresceria em paralelo a uma vida enraizada em
instituições fortes e presentes, como o Estado e a família. A confiança no homem e em sua
capacidade de moldar o próprio futuro seria o principal traço desse período.
 Segundo Bauman, a partir das últimas décadas, sobretudo após a queda do Muro de Berlim,
em 1989, essa modernidade “sólida” estaria em desintegração e seria gradualmente
substituída por uma modernidade “líquida”.
 A palavra liquidez remete à fluidez, ausência de forma definida, velocidade, mobilidade e
inconsistência. Esses seriam, para ele, justamente, os traços essenciais das relações sociais na
atualidade.
 A sociedade líquida, pouco apegada aos seus antecedentes, é obcecada pela novidade: a nova
notícia, a nova promoção, o novo carro, a nova rede social. Os produtos se renovam diariamente,
e os empresários não temem anunciar que os próprios objetos produzidos já estão “atrasados”.
 Da mesma forma, os trabalhadores do século XXI vivem numa constante liquidez, numa
permanente incerteza e medo de ser “descartados”, posto que a mobilidade e a flexibilidade
das empresas são tamanhas que, a qualquer momento, cortes inesperados e mudanças de planos
podem acontecer.
 A solidez das convicções, assim, foi substituída pela liquidez do instante.
 Nos laços amorosos, observa-se a mesma tendência: relacionamentos fluidos, inconstantes e
momentâneos caracterizam nossa época, que consagrou o conceito de “ficar”, expressão da
liquidez do amor.
NOAM CHOMSKY
(1928-)

 Além de seu premiadíssimo trabalho acadêmico, tanto como professor quando pesquisador em
linguística, Chomsky tornou-se muito conhecido pela defesa de suas posições políticas de
esquerda, bem como por seu corrosivo posicionamento de crítico contumaz tanto da política
norte-americana quanto de seu uso da comunicação de massa para manipular a opinião
pública.
 Em uma de suas frases de efeito, Chomsky afirma que “a propaganda representa para a
democracia aquilo que o cacetete (ou repressão da polícia política) significa para o estado
totalitário”.
 Os meios de comunicação de massa não são imparciais nem democráticos.
 Chomsky afirma que um viés social pode ser definido como inclinação ou tendência de uma
pessoa ou de um grupo de pessoas que infere julgamento e políticas parciais e, portanto,
injustas para uma sociedade tida como um sistema social integral.
 A abordagem de Chomsky explicita esse viés sistêmico dos meios de comunicação, focado em
causas econômicas e estruturais, e não como fruto de uma eventual conspiração criada por
algumas pessoas ou grupos de pessoas contra a sociedade.
 Chomsky denuncia a existência de cinco filtros, gerados por esse viés sistêmico, a que todas
as notícias são submetidas antes da publicação. Filtros que, combinados, distorcem e
deturpam as notícias para o atendimento de seus fins essenciais.
Filtro 1: Propriedade. A maioria dos principais meios de comunicação de massa
pertence às grandes empresas.
Filtro 2: Financiamento. Os principais meios de comunicação obtêm a maior parte de
sua renda, não de seus leitores, mas sim de publicidade (que, claro, é paga pelas grandes
empresas). Como os meios de comunicação são, na verdade, empresas orientadas para
lucro, é de se esperar a publicação apenas de notícias que reflitam os desejos, as
expectativas e os valores dessas empresas que os financiam.
Filtro 3: Fonte. As principais informações são geradas por grandes empresas e
instituições. Consequentemente os meios de comunicação dependem fortemente dessas
entidades como fonte de informações para a maior parte das notícias. Isto também cria
um viés sistêmico contra a sociedade.
Filtro 4: Pressão. A crítica realizada por vários grupos de pressão que procuram as
empresas dos meios de comunicação, atua como uma espécie de chantagem velada, para
que os grandes meios de comunicação de massa jamais saiam de uma linha editorial
consoante com seus interesses, muitas vezes à revelia dos interesses de toda a sociedade.
Filtro 5: Normativo. As normas da profissão de jornalista calcadas nos conceitos
comuns comungados por seus pares, muitas vezes, estabelecem como prioritário a
atenção ao prestígio da carreira do profissional (proporcionalmente ao salário).
 A análise de Chomsky descreve os meios de comunicação como um sistema de propaganda
descentralizado e não conspiratório, mas mesmo assim extremamente poderoso. O sistema de
propaganda não é conspiratório porque as pessoas que dele fazem parte não se juntam
expressamente com o objetivo de lesar a sociedade, mas, no entanto, é isso mesmo que
acabam fazendo, infelizmente.

JUDITH BUTLER
(1956-)

 O trabalho de Butler sobre gênero, sexo, sexualidade, teoria queer, feminismo, corpos, discurso
político e ética mudou a forma como estudiosos de todo o mundo pensam, falam e escrevem
sobre identidade, subjetividade, poder e política.
 Também mudou a vida de inúmeras pessoas cujos corpos, gêneros, sexualidades e desejos
os tornaram sujeitos à violência, exclusão e opressão.
TEORIA QUEER
 A teoria queer sustenta que a orientação sexual e a identidade sexual ou de gênero dos
indivíduos resultam de um constructo social e, portanto, não existem papéis sexuais essencial
ou biologicamente inscritos na natureza humana.
 Essa teoria recusa a classificação dos indivíduos em categorias universais, como
“homossexual” ou “heterossexual”, “homem” ou “mulher”, argumentando que estas
acomodam um número enorme de variações culturais, nenhuma das quais seria mais
“fundamental” ou “natural” do que as outras.
 Contra o conceito clássico de gênero, que distingue o “heterossexual” socialmente aceito
(em inglês straight) do “anômalo” (queer), a teoria queer afirma que todas as identidades
sociais são igualmente anômalas.

CONCEITOS IMPORTANTES

Sujeito: Para Butler, o sujeito não é preexistente; ele é sujeito-em-processo. Este sujeito,
portanto, se constrói e destrói o tempo todo. É, assim, instável e poroso, sem lugar fixo no
mundo. Isto significa dizer que o sujeito é um construto performativo.
Identidade de gênero: Se o sujeito não é estável ou fixo, a única coisa que se pode dizer é que
o próprio gênero é construído na linguagem e pela linguagem, pelo discurso.
Performatividade: O gênero não é algo que se é, mas algo que se faz. O que tomamos como
“identidade de gênero” é, então, uma “sequência de atos”, uma performance.
Heteronormatividade: Relaciona-se com o conceito de heterossexualidade compulsória de
Adrienne Rich, que aponta para o fato de que mulheres e homens “se veem solicitados ou
forçados a ser heterossexuais”. A heteronormatividade é a eleição arbitrária da
heterossexualidade como norma de conduta/desejo/afeto.
Corpo: Não existe, para Butler, um corpo natural, pré-existente, pois todo corpo está inscrito
na cultura e é, portanto, significado pela linguagem e pelas práticas. Todos os corpos são,
então, generificados. O corpo é, dessa forma, produzido pelos discursos.
Sexo: Butler desconstrói o binarismo gênero/sexo, segundo o qual afirmamos que o gênero
é social enquanto o sexo é natural. O sexo, tanto quanto o gênero, é discursivamente
produzido e inscrito num conjunto de práticas, moralidades e significados. Em Butler, a
separação entre sexo e gênero é abandonada e dá lugar a uma noção de sexo/gênero inscritos
materialmente no corpo, enquanto construções discursivas em relação com os movimentos
do poder.

A SOCIOLOGIA NO BRASIL
Os principais estudos do início do fazer sociológico no Brasil começam a ser produzidos na
década de 30 do século XX, com o objetivo de entender as novas transformações pelas quais passavam
o Brasil, já que houve um rompimento com as oligarquias da “República Velha”. Perguntas como:
“Como superar o passado escravocrata?” e “Como se desenvolver e se modernizar?”, eram uma
das principais indagações.
Neste período, sugiram as seguintes obras: Casa Grande e Senzala (1933), de Gilberto Freyre,
Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda e Formação Social do Brasil Contemporâneo
(1942), de Caio Prado Júnior.

Gilberto Freyre (1900-1987). Na obra citada acima, Freyre inova no fazer das ciências
sociais, utilizando fontes até então deixadas de lado, como receitas culinárias e cantigas, além de usar
uma narrativa mais fluida, acessível ao público não acadêmico. Defende que no Brasil havia uma
harmonização das 3 raças (branco, índio e negro), portanto, suavizava os conflitos sociais existentes
em nosso passado colonial e via na herança portuguesa algo positivo, criador da identidade
brasileira. Assim, criticava a política de branqueamento, que via na mistura da raça e do nosso passado
colonial a justificativa dos atrasos sociais e econômicos. Suas ideias originaram o “mito” da
democracia racial, isto é, a concepção de que no Brasil as raças e as classes sociais vivem sem conflitos,
de forma harmônica.

Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982): entendia que os atrasos do Brasil se


relacionava com a herança portuguesa, ou seja, criticava a visão de Freyre. A herança portuguesa
da instituição da escravidão e a maneira personalista de tratar as relações sociais, fizeram com que o
Estado brasileiro não avançasse, tendo como modelo racional de Estado os E.U.A.

Caio Prado Júnior (1907-1990): faz um balanço negativo da colonização, que, para ele,
foi de exploração econômica, do espaço e do povo. Fornecíamos produtos agrícolas (açúcar, tabaco e
posteriormente o café) e recursos naturais (ouro, algodão e diamantes) que enriqueceram os países
europeus, que se industrializaram, deixando no Brasil um legado de desigualdades sociais e
exploração de suas riquezas.

Florestan Fernandes (1920-1995): a interpretação do Brasil formulada por Florestan


Fernandes revela a formação, os desenvolvimentos, as lutas e as perspectivas do povo brasileiro.
Um povo formado por populações indígenas, conquistadores portugueses, africanos trazidos como
escravos, imigrantes europeus, árabes e asiáticos incorporados como trabalhadores livres. Essa é uma
história baseada no escambo e escravidão, no colonialismo e imperialismo, na urbanização e
industrialização, por meio da qual se dá, inicialmente, a formação da sociedade de castas, e,
posteriormente, da sociedade de classes. Florestan Fernandes se preocupou, em sua obra, com o
problema do negro e da escravidão e com a passagem traumatizante do ex-escravo para a condição de
homem livre e de cidadão. Para Florestan, a escravidão continua presente em nossa sociedade.

Darcy Ribeiro (1922-1997): ao publicar a sua obra prima “O Povo Brasileiro - a formação e
o sentido do Brasil”, Darcy aborda sobre a formação étnica do povo brasileiro. Ele categorizou essas
matrizes formativas em 5 tipos: Brasil sertanejo, Brasil crioulo, Brasil caboclo, Brasil caipira e Brasil
sulino (hibridismo do povo brasileiro).
“Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós
brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais
atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e
brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos
da malignidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida
para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças
convertidas em pasto de nossa fúria. A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco
a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista”

TEMAS EM SOCIOLOGIA
MOVIMENTOS SOCIAIS

Conceito: ação coletiva de um grupo organizado que tem como objetivo alcançar mudanças sociais
e culturais por meio do embate político e de ações contínuas e sistemáticas, dentro de uma
determinada sociedade e de um contexto específico. Os movimentos sociais fortalecem o Estado
Democrático e favorecem as minorias.

Algumas teorias sobre o tema apontam que as características principais dos movimentos sociais
são:
 Possuir identidade;
 Ter algum opositor;
 Articular-se em um projeto de vida e de sociedade;
 Contribuir para organizar e conscientizar a população;
 Apresentar suas demandas a partir de práticas de mobilização;
 e por fim, ter certa continuidade ou permanência.

Para a sociologia, a análise dos movimentos sociais oferece uma importante chave teórica
para entender a ação coletiva e as transformações sociais. Os movimentos sociais exploram novas
alternativas, mudam a linguagem de uma época e são um sinal de transformação na cultura
política das sociedades.
Fazem parte dos movimentos sociais, os movimentos populares, sindicais e a organizações
não governamentais (ONGs).
No Brasil, os movimentos sociais brasileiros ganharam mais importância a partir da década de
1960, quando surgiram os primeiros movimentos de luta contra a política vigente, ou seja, a população
insatisfeita com as transformações ocorridas tanto no campo econômico e social. Mas, antes, na década
de 1950, os movimentos nos espaços rural e urbano adquiriram visibilidade.
As ações coletivas mais conhecidas no Brasil são o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
(MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MSTS) e os movimentos em defesa dos índios,
negros, das mulheres e da comunidade LGBT.

Os novos movimentos sociais na era da globalização (a partir da década de 1990)

Na década de 1990, assistimos à intensificação do processo conhecido como globalização, que


acarretou profundas transformações econômicas, culturais, políticas e sociais no mundo, e ao início do
processo de democratização do acesso à internet
Os novos movimentos sociais responderam a essas transformações globais. A partir da década
de 1990, passaram a se organizar através de redes virtuais e internacionais para fazer frente à
globalização, a regimes políticos ditatoriais, à depredação ambiental, à discriminação, à xenofobia, à
violação de direitos humanos e civis etc.
 Primavera árabe: onda de protestos, revoltas e revoluções populares contra governos do
mundo árabe que eclodiu em 2011. A raiz dos protestos é o agravamento da situação dos países,
provocado pela crise econômica e pela falta de democracia.
 Protestos junho de 2013: movimentos de contestação política. Organizados através da internet.
Manifestações massivas tomaram as ruas de centenas de cidades brasileiras em junho de 2013.

INDÚSTRIA CULTURAL

Adorno e Horkheimer, dois grandes expoentes da Escola de Frankfurt, cunharam o termo


“indústria cultural”, que remete a uma forma de fazer arte em escala industrial.
 A indústria cultural trata os espectadores como massa, anulando a sua individualidade. Ela
supõe que todos são iguais e querem a mesma coisa.
 Economia, política e estratégias governamentais fundem-se em uma produção artística
inautêntica, utilizando-se também da razão instrumental, pois esta cria a tecnologia que
permite a disseminação de informação. Informação e satisfação dos desejos mais básicos
tomam forma em fazeres artísticos de baixa qualidade, que adentram os lares da massa da
população, mantendo todos conformados.

A produção cinematográfica foi e é a responsável pela criação de um modelo de roteiros


que agradam o maior número de espectadores, o padrão ainda se repete em boa parte dos filmes: a
luta dicotômica entre vilão e mocinho, o casal apaixonado que fica junto apenas no final, a mocinha ou
mocinho que sofre com as maldades do vilão ou o soldado herói que livra a pátria e os cidadãos dos
perigos das nações inimigas.
A indústria cultural é também responsável pela padronização do modelo de vida que deveria
ser seguido e copiado pelos espectadores. Modelo de vida baseado na realidade das classes
dominantes. O estilo de vida e valores explorados no cinema ajudaram a construir o modelo de
padrão social ideal e aumentar a venda dos produtos anunciados.

Características da indústria cultural

 Criação de conceitos e produtos capazes de influenciar o modo de vida dos consumidores da


arte;
 Propaganda e venda de produtos através da associação entre marcas e produtores de filmes,
novelas de rádio ou outras formas artísticas;
 Conteúdo feito para consumo rápido;
 Processo de produção que busca o lucro no grande consumo das massas;
 Avanços tecnológicos que garantiram a produção e disseminação rápida das obras produzidas;
 Democratização e maior acesso aos conteúdos produzidos;
 Retrato do sistema burguês de produção e consequente uso para dominação de outras classes.
 Ainda é base da indústria de entretenimento do século XXI.

RELAÇÕES DE TRABALHO E A SOCIEDADE

O trabalho é a atividade por meio da qual o ser humano produz sua própria existência. A ideia
não é que o ser humano exista em função do trabalho, mas é por meio dele que produz os meios
para manter-se vivo. Dito isso, o impacto do trabalho e do seu contexto exercem grande influência
na construção do sujeito e da organização da sociedade.
Não seria difícil, então, de se imaginar que, quando as relações de trabalho se alteram no
fluxo de nossa história, as nossas estruturas sociais também são alteradas, principalmente a forma
como se estruturavam nossas relações, posições na hierarquia social, formas de segregação e, em
grande parte, aspectos culturais erguidos em torno das relações de trabalho.
Tomando-se como exemplo o rápido processo de mudança que atingiu os países europeus no
início do século XVIII, o qual hoje chamamos de Primeira Revolução Industrial. As relações de
trabalho, anteriormente, eram fortemente agrárias, constituídas dentro do âmbito familiar. O ofício
dos pais era geralmente passado aos filhos, o que garantia a construção de uma forte identidade
ligada ao labor a que o sujeito se dedicava. O indivíduo estava ligado à terra, de onde tirava seu
sustento e o de sua família. A economia baseava-se na troca de serviços ou de produtos concretos, e não
no valor fictício agregado a uma moeda. Da mesma forma, o trabalho também estava agregado à
obtenção direta de bens de consumo, e não a um valor variável de um salário pago com uma moeda
de valor igualmente variável. A estrutura social era rígida, com pouca ou nenhuma mobilidade para
os sujeitos, ou seja, um camponês nascia e morria camponês da mesma forma que um nobre nascia e
morria nobre.
As mudanças trazidas pelo surgimento da indústria alteraram profundamente o sentido
estabelecido para o trabalho e para a relação do sujeito com ele. A impessoalidade nas linhas de
montagem que a adoção do Fordismo trouxe, em que milhares de pessoas amontoavam-se diante de
uma atividade repetitiva em uma linha de montagem, sem muitas vezes nem ver o resultado final de seu
esforço, passou a ser a principal característica do trabalho industrial.
As transformações de nossas relações de trabalho não pararam na Revolução Industrial, pois
ainda hoje o caráter de nossas atividades modifica-se. Contudo, as forças que motivam essas mudanças
são outras. A globalização é um dos fenômenos mais significativos da história humana e, da mesma
forma que modificou nossas relações sociais mais íntimas, modificou também nossas relações de
trabalho. A possibilidade de estarmos interconectados a todo momento encurtou distâncias e alongou
nosso período de trabalho. O trabalho formal remunerado, que antes estava recluso entre as paredes
das fábricas e escritórios, hoje nos persegue até em casa e demanda parte de nosso tempo livre, haja
vista a crescente competitividade inerente ao mercado de trabalho.
A grande flexibilidade e a exigência por uma mão de obra cada vez mais especializada fazem
com que o trabalhador dedique cada vez mais tempo de sua vida para o aperfeiçoamento profissional.
Essa é uma das origens das grandes desigualdades sociais da sociedade contemporânea, uma vez
que apenas aqueles que dispõem de tempo e dinheiro para dedicar-se ao processo de formação
profissional, caro e exigente, conseguem subir na hierarquia social e econômica.
A introdução da automação na produção de bens de consumo tornou, em grande parte, a
mão de obra humana obsoleta, aumentando o tamanho do exército de trabalhadores e diminuindo
o valor da força de trabalho nos países que dispõem de grande população, mas com baixa
especialização. Como resultado, a situação do trabalho só piora, pois se preocupar com o bem-estar do
empregado é algo caro e, na concepção que prioriza o lucro monetário, não é um investimento que
garanta renda imediata.

DIREITOS HUMANOS

Formulada pela primeira vez no contexto das guerras religiosas do século XVII, a noção de
direitos humanos tornou-se um paradigma para a atuação do Estado moderna. Dito de modo
simples, acreditar em direitos humanos significa acreditar que todo ser humano, simplesmente
pelo fato de ser uma pessoa, possui certos direitos, certas prerrogativas básicas que não lhe podem
ser negadas de modo nenhum, independentemente de sua cor, raça, cultura, posição social, religião,
visão de mundo, orientação sexual ou qualquer outra condição específica.

DIREITOS CIVIS, POLÍTICOS E SOCIAIS

Como se vê, o conceito de direitos humanos é bastante amplo e, à primeira vista, vago. Tendo
isso em vista, tradicionalmente dividem-se os direitos humanos em três grandes tipos. Os direitos
civis são aqueles que visam preservar a integridade do indivíduo diante dos outros, garantindo a
sua autonomia e imunidade de qualquer coação externa – é o caso dos direitos à vida, à
propriedade privada e à liberdade de expressão. Os direitos políticos são aqueles que visam
permitir a participação política do indivíduo, seu poder de tomar parte na administração pública
– como os direitos ao voto e à ocupação de cargos públicos. Por fim, os direitos sociais são aqueles
que visam garantir a posse, por parte dos indivíduos, de certos bens considerados essenciais para
sua qualidade de vida – por exemplo, os direitos à saúde, à educação e ao trabalho.

CIDADANIA

Cidadania é um dos conceitos mais fundamentais quanto se trata de política. Diferente do


simples habitante, que é apenas o sujeito parte da população de um país, o cidadão é aquele que é parte
de uma comunidade política, ou seja, que possui direitos políticos, que tem capacidade de
influenciar nos rumos do Estado. Nesse sentido, no Brasil atual, uma criança é apenas uma habitante,
mas não uma cidadã. Ela mora no Brasil, mas não tem qualquer possibilidade de influenciar o Estado
brasileiro, já que nem direito ao voto tem.
DEMOCRACIA

Quanto mais uma palavra é usada, mais ela corre o risco de ter seu significado esvaziado e acabar
não dizendo coisa alguma. Foi mais ou menos o que aconteceu com a palavra democracia. Do ponto de
vista sociológico, no entanto, seu significado é bem preciso: democracia é aquele regime político no
qual o Estado é administrado pelo conjunto de todos os cidadãos, diferente da monarquia (na qual
a administração cabe a um só) e da aristocracia (na qual a administração cabe a uma elite).

DEMOCRACIA DIRETA

Para compreender a democracia, é preciso saber que ela teve diversos modelos ao longo da
história. Hoje, nós vivemos uma democracia representativa ou indireta, um modelo no qual os
cidadãos não determinam diretamente, por si mesmos, os rumos do Estado, mas sim através da
eleição de representantes, como deputados ou senadores. O modelo de democracia onde o povo
escolhe por si mesmo, sem intermediários é chamado de democracia direta ou participativa. Este
modelo vigorou na Grécia Antiga e muitos defendem-no na atualidade.

CULTURA

Muitas palavras variam de significado de acordo com o contexto em que são usadas. É o caso da
palavra “cultura”. Em nosso dia a dia, usamos esse termo para classificar as diferentes atividades
humanas em superiores ou inferiores. Assim, dizemos que certa pessoa tem muita cultura ou que tal
gênero de música não é cultura. Quando falamos sobre cultura em Sociologia não funciona assim.
Do ponto de vista sociológico, cultura é o conjunto de todos os elementos da vida humana que não
são naturais. É simples: se não é algo espontâneo, natural para o homem (como respirar ou se
alimentar), então é cultural.

CULTURA MATERIAL E IMATERIAL

Dentre os elementos que compõem a cultura é necessário distinguir dois tipos: a cultura
material e a cultura imaterial. A cultura material é composta por elementos culturais que são
palpáveis, tais como objetos de decoração, móveis, templos, construções, vestes, etc. Por sua vez, a
cultura imaterial é composta por elementos culturais não palpáveis, tais como a língua, a fé
religiosa, a dança folclórica, a música típica, etc.

DIVERSIDADE CULTURAL

Se compreendemos o conceito de cultural tal como ele é visto pela sociologia,


automaticamente percebemos que existem inúmeras culturas. De fato, há os mais diferentes modos
humanos de crer, de dançar, de se divertir, de organizar as relações sociais, de prestar culto, de falar, de
escrever, etc. O fato, porém, é que não há apenas diversas culturas espalhadas pelo mundo.
Frequentemente há também uma grande variedade de culturas habitando conjuntamente o
mesmo território. Esta coexistência de diferentes modelos culturais em uma mesma área é
chamada de diversidade cultural.

ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

Toda sociedade humana é um organismo complexo. A vida social não se trata de uma simples
junção de indivíduos mais ou menos idênticos, mas sim das mais diferentes pessoas ocupando os
mais diferentes papéis e posições sociais. Essa hierarquia social, essa divisão da sociedade em
estratos – ou seja, em grupos sociais com status diferenciado – é chamada de estratificação social.
Naturalmente, há diversos modelos de estratificação, nas mais diferentes sociedades.

MINORIAS

A divisão da sociedade em camadas, a estratificação social, naturalmente leva a grupos


sociais historicamente marginalizados, que ocupam uma posição de inferioridade social. Em
Sociologia, esses grupos são chamados de minorias. Perceba-se, porém, que, nesse contexto, minoria
não é um conceito quantitativo. Não se trata de grupos sociais com poucas pessoas, mas sim de
grupos sociais com menor status na sociedade. Nesse sentido, por exemplo, as mulheres são
consideradas uma minoria na sociedade brasileira. Isso não faria sentido em termos quantitativos, já que
há mais brasileiras do que brasileiros, mas faz sentido em virtude da posição de inferioridade que as
mulheres historicamente assumiram no Brasil.

O PODER SEGUNDO FOUCAULT

Para Michel Foucault, o poder não é apenas um aspecto da vida do homem, mas a base inevitável
de todas as relações humanas. Todas as relações humanas são relações de poder, pois todas as
relações humanas envolvem elementos de domínio e disputa. Por isso, é tolice imaginar que o poder
se concentra apenas em grandes instituições, como o Estado e a Igreja. Além disso, é necessário
lembrar que, diante de qualquer exercício de poder, forma-se automaticamente um contra-poder,
uma resistência.

O AGIR COMUNICATIVO SEGUNDO HABERMAS

Nenhuma afirmação é mais comum do que a definição de que o homem é um ser racional. Mas
o que isso significa efetivamente? Para o filósofo Jürgen Habermas, há duas formas básicas de
racionalidade. De um lado, a racionalidade instrumental é aquela que consiste em calcular custos e
benefícios. É baseado nisso que chamamos uma pessoa econômica ou organizada de racional. Por outro
lado, a racionalidade comunicativa, ou agir comunicativo, é aquele que consiste na capacidade de
deliberar em conjunto com os outros, mediante a troca de argumentos e de razões. Segundo
Habermas, essa segunda forma de racionalidade tem sido excessivamente desvalorizada, quando,
na verdade, ela é essencial tanto para a vida ética quanto para a sustentação da democracia.

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