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A Sociologia Clássica

Durkheim, Marx e Weber

A importância dos fundadores das ciências sociais para a constituição


deste campo científico justifica a necessidade de uma aula introdutória sobre
estes clássicos.

Primeira Corrente de Pensamento Sociológico – POSITIVISMO

Cientificismo e organicismo

A primeira corrente teórica sistematizada de pensamento sociológico


tem como seu primeiro representante foi Auguste Comte. Tinha a crença no
poder exclusivo e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e
traduzi-la sob forma de leis naturais. Seu conhecimento pretendia substituir as
explicações teológicas, filosóficas e de senso comum por meio das quais – até
então – o homem explicava a realidade, pela cientificidade..
Essa tentativa de derivar as ciências sociais das ciências físicas é
patente nas obras dos primeiros estudiosos da realidade social. O próprio
Comte deu inicialmente o nome de “física social” às suas análises da
sociedade, antes de criar o termo Sociologia.
Neste sentido, a sociedade foi concebida como um organismo
constituído de partes integradas e coesas que funcionavam, harmonicamente,
segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo também foi
chamado de organicismo.
Defendia o ponto de vista de somente serem válidas as análises das
sociedades quando feitas com verdadeiro espírito científico. O positivismo
exaltava a coesão social e a harmonia dos indivíduos em sociedade.
O positivismo é a busca de leis invariantes do mundo natural, bem como
do social. Estas leis invariantes obtêm-se a partir da investigação sobre o
mundo social e da teoriza sobre esse mundo. O positivismo é uma forma de
analisar a realidade. Os positivistas dizem que há que aplicar a metodologia
das ciências naturais às ciências sociais.
É uma união conservadora no sentido de que não pretende transformar
a sociedade já que consideram que o sistema industrial estabelecido cria uma
ordem dada.
Consideram que os encarregados de elaborar estas novas crenças seriam os
cientistas positivos, os industriais e os representantes da ordem econômica
burguês. Consideravam que para estudar a realidade social tinha que se situar
fora dela (para que tenha uma neutralidade científica).
O positivismo é evolucionista: a realidade social está controlada por leis
inexoráveis que se vão dar de todas as formas. Não se vão mudar, não pode
ser intervindo, só pode ser atrasado ou adiantar. Nesta sociedade de partes
relacionadas como um todo se estabelece um organicismo (como no corpo
humano) o que ocorra em um órgão afeta a tudo.
Desenvolveu uma hierarquia das ciências positivas: matemáticas,
astronomia, física, biologia (fisiologia), química, e , na cúspide, a sociologia. E
desenvolveu a lei dos três estádios: dá-se nas sociedades e nos seres
humanos todos passamos nesta vida por uma série de fases até chegar à de
máximo desenvolvimento (de progresso) e todas as sociedades passarão por
eles.
1 estágio: teológico: ante os acontecimentos, a explicação que se dá é indo a
elementos sobrenaturais. A sociedade é militar, a instituição básica deste
estágio é a família e os chefes políticos têm poderes no âmbito religioso e
militar. Neste estádio a economia baseia-se fundamentalmente na agricultura.
É o ponto de partida dos outros dois estágios. A mente humana busca a
natureza essencial das coisas, particularmente sua origem. Isto desemboca na
busca do conhecimento absoluto.
2º estágio: metafísico: o transitório entre os outros dois, para que a mudança
não seja tão brusca. Uma grande entidade (natureza) é a causa de tudo. Os
acontecimentos explicam-se indo a ideias abstratas. É um tipo de
sociedade legalista. Separam-se os âmbitos religioso do civil. A instituição
básica é o Estado. Faz-se uma crítica ao estádio anterior.
3º estágio: positivo: o mais importante. As pessoas abandonam sua infrutuosa
busca da causa original e as ideias não científicas. Centram-se na busca de
leis invariáveis que governam todos os fenômenos. A busca destas leis supõe
praticar investigação empírica e a teoria. Comte distinguia entre leis concretas
e abstratas. Concretas: descobrem-se indutivamente mediante
investigação empírica e as abstratas mediante a teoria. Sua meta última é a de
enunciar uma quantidade cada vez maior de leis gerais abstratas. Implanta-se
a ciência para explicar a realidade social. Fase final: impõe-se a razão.
Sociedade industrial: divisão do trabalho, importância das cidades. No poder:
emprega-se de duas formas:
 Coactiva: repressão aos indivíduos para que atuem de uma maneira
determinada.
 Espiritual: cuja finalidade é o governo da opinião. Sobretudo exerce-se através
da educação.
 Ao analisar a mudança social estuda as leis de sucessão das mudanças
sociais. As sociedades estão sempre em um processo de mudança
social cujo destino final é chegar ao estádio positivo (progresso).
 Os indivíduos não podem intervir nesta mudança nem na origem da
natureza senão na intensidade (seja mais rápido ou mais lento). Vai
acontecer queiram os indivíduos ou não (a direção em mudança lha
encomenda aos industriais e intelectuais: contradição).
 Realiza uma análise histórica da evolução das sociedades. Critica ao
protestantismo (criou confusão pela livre interpretação), aos ilustrados
(fomentar às massas em vez da as elites)... só quando cheguem os
cientistas chegará a ordem, a sociedade perfeita. É uma espécie de
religião secularizada.
 Máxima positivista: “amor, ordem e progresso”.
 Atribuiu aos sentimentos o mesmo status que o pensamento e a
ação: “a felicidade individual e o bem-estar público dependem mais do
coração que do intelecto”.
 Mais tarde atravessou um longo período de doença mental que lhe
levaria à morte. Em seu desvario criou uma sociedade positivista
absurda na que sua doutrina era como uma religião.
 a) O estado teológico ou "fictício" explica os fatos por meio de vontades
análogas à nossa (a tempestade, por exemplo, será explicada por um
capricho do deus dos ventos, Eolo). Este estado evolui do fetichismo ao
politeísmo e ao monoteísmo.
 b) O estado metafísico substitui os deuses por princípios abstratos como
"o horror ao vazio", por longo tempo atribuído à natureza. A tempestade,
por exemplo, será explicada pela "virtude dinâmica"do ar
 c) O estado positivo é aquele em que o espírito renuncia a procurar os
fins últimos e a responder aos últimos "por quês".
 O Positivismo fez grande sucesso na segunda metade do século XIX,
mas, a partir da ação de grupos contrários, perdeu influência no século
XX. Todavia, desde fins do século XX ele tem sido redescoberto como
uma forma de perceber o homem e o mundo, a ciência e as relações
sociais.
 O positivismo teve fortes influências no Brasil, tendo como sua
representação máxima, o emprego da frase positivista "Ordem e
Progresso", extraída da fórmula máxima do Positivismo: "O amor por
princípio, a ordem por base, o progresso por fim", em plena bandeira
brasileira. A frase tenta passar a imagem de que cada coisa em seu
devido lugar conduziria para a perfeita orientação ética da vida social.

Herbert Spencer (1820-1903) – Evolucionismo e Organicismo


 Spencer, um dos pioneiros da sociologia, influi profundamente no
desenvolvimento da sociologia, não só na Inglaterra, como também, na
França e nos EUA. Defende o evolucionismo. Para sustentá-lo,
empregou um método comparativo, do qual foi um dos pioneiros, bem
como usou dados etnológicos. Utilizou dados da historia, da psicologia e
da biologia. Desta ultima se serviu para desenvolver a sua teoria
organicista.
 Estava convencido de que a sociologia deve proceder comparando
grupos sociais históricos, de modo a descobrir o que tem em comum.
Faz questão de salientar que a evolução social não depende da vontade
humana. Tanto a evolução social, como o progresso, são necessários,
não dependendo do homem.
 Como Comte, Spencer acreditava que os agrupamentos humanos
podiam ser estudados cientificamente, e em seu notável trabalho "Os
Princípios da Sociologia" (1874-1896), ele desenvolveu uma teoria de
organização social do homem, apresentando uma vasta série de dados
históricos e etnográficos para fundamentá-la. Para Spencer, todos os
domínios do universo – físico, biológico e social - desenvolvem-se
segundo princípios semelhantes. E a tarefa da sociologia é aplicar esses
princípios ao que ele denominou de campo superorgânico, ou o estudo
dos padrões de relações dentre os organismos.
 Spencer retorna a questão de Comte: o que mantém unida a sociedade
quando esta se torna maior, mais heterogênea, mais complexa e mais
diferenciada? A resposta de Spencer em termos gerais , foi muito
simples: sociedades grandes complexas, desenvolvem: 1)
interdependências dentre seus componentes especializados; e 2)
concentrações de poder para controlar e coordenar atividades dentre
unidades interdependentes. Para Spencer a evolução da sociedade
engloba o crescimento e a complexidade que é gerenciada pela
interdependência e pelo poder. Se os padrões da interdependência e
concentrações de poder falham ao surgir na sociedade, ou são
inadequados à tarefa , ocorre a dissolução, e a sociedade se
desmorona.
 Ao desenvolver resposta à questão básica de Comte, Spencer fez uma
analogia aos corpos orgânicos, argumentando que as sociedades, como
organismos biológicos, devem desempenhar certas funções-chave se
elas quiserem sobreviver. As sociedades devem reproduzir-se; devem
produzir bens e produtos para sustentar os membros ; devem prover a
distribuição desses produtos aos membros da sociedade; e elas devem
coordenar e regular as atividades dos membros. Quando as sociedades
crescem e se tornam mais complexas, revelando muitas divisões e
padrões de especialização , estas funções –chave tornam-se distintas
ao longo de três linhas: 1) a operacional (reprodução e produção ), 2) a
distribuidora (o fluxo de materiais e informação), 3) a reguladora (a
concentração de poder para controlar e coordenar).
 Spencer é mais bem lembrado por instituir uma teoria na sociologia
conhecida como funcionalismo. Essa teoria expressa a idéia de que tudo
o que existe em uma sociedade contribui para seu funcionamento
equilibrado; de que tudo o que nela existe tem um sentido, um
significado.

O positivismo causou forte repercussão; traços positivistas são facilmente


percebidos em diferentes atividades da vida humana, principalmente na
sociedade ocidental, especialmente aqui no Brasil.

O pensamento positivista chegou ao Brasil por volta de 1850, e foi trazido


por brasileiros que estudaram na França; alguns foram até alunos de Comte. A
partir deste ano, torna-se mais evidente na Escola Militar, depois no Colégio
Pedro II, na Escola da Marinha, na Escola de Medicina e na Escola
Politécnica, no Rio de Janeiro. Já o positivismo como forma de religião se
destaca no Apostolado Positivista, a partir de 1881, criado por Miguel Lemos e
Raimundo Teixeira.
FIGURA 1 – FACHADA DA IGREJA POSITIVISTA NO RIO DE JANEIRO

FONTE: Disponível em: <http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/ ordem_e_


progresso_9.html>. Acesso em: 24 maio 2010.

Durante um bom tempo o positivismo atuou como uma reação filosófica


contra a doutrina confessional católica, que era, até então, a única no país.
Nesta luta de ideias, surge em 1876 a fundação da Sociedade Positivista
Brasileira no Rio de Janeiro. Entretanto, o núcleo central do positivismo foi
transferido para Recife, por iniciativa de Tobias Barreto, Sílvio Romero e Clóvis
Bevilácqua.

A doutrina positivista acabou moldando-se ao país, sendo aceita por um


grupo reduzido de estudiosos. Teve destaque a atuação doutrinária de
Benjamin Constant Botelho de Magalhães (1833-1891), professor da Escola
Militar e defensor do princípio positivista de valorização do ensino para que
fosse alcançado um estado democrático. Entretanto, se, para Comte, o ensino
na Europa deveria se destinar às camadas pobres, no Brasil acontece o
contrário: os ensinamentos positivistas se restringiram aos poucos que
estudavam nas escolas militares.

A filosofia positivista tornou-se fundamental no debate político brasileiro


no século XIX, porque o regime republicano foi instalado sob sua base teórica.
Podemos considerar o dia 15 de novembro como o apogeu do pensamento
positivista no Brasil, devido ao enorme número de adeptos de Comte que
assumiram cargos importantes no governo de Benjamin Constant.
FIGURA 2 – BANDEIRA DO BRASIL

FONTE: Disponível em: <http://maniadehistoria.files.wordpress.


com/2009/10/bandeira-do-brasil1.jpg>. Acesso em: 24 maio 2010.

Dentre as numerosas influências do positivismo no Brasil podemos


destacar: o lema Ordem e Progresso da bandeira; a separação da Igreja e do
Estado; o decreto dos feriados; o estabelecimento do casamento civil e o
exercício da liberdade religiosa e profissional; o fim do anonimato da imprensa;
a revogação das medidas anticlericais e a reforma educacional. É indiscutível a
influência do Positivismo na Proclamação da República e na formação
intelectual dos militares. Também esteve presente na organização estatal
elaborada por Vargas e no seu projeto burguês de desenvolvimento para o
país, e na tomada de poder pelos militares em 1964. Além disso, podemos
destacar que, de forma direta ou indireta, as matizes do Positivismo tiveram
influência na forma de pensar a educação no Brasil
A Bandeira do Brasil foi adotada pelo Decreto n o 4, de 19 de novembro de
1889. Este decreto foi preparado por Benjamin Constant, membro do
Governo Provisório. A ideia da nova bandeira do Brasil deve-se ao
professor Raimundo Teixeira Mendes, presidente do Apostolado Positivista
do Brasil. Com ele colaboraram o Dr. Miguel Lemos e o professor Manuel
Pereira Reis, catedrático de astronomia da Escola Politécnica. O desenho
foi executado pelo pintor Décio Vilares.

2.OS CLÀSSICOS DA SOCIOLOGIA

ÈMILE DURKHEIM

Émile Durkheim nasceu em 15 de abril de 1858, Epinal na França, e


morreu em 1917. O princípio sociológico de Durkheim está fundado no
social. Para ele, o que não advém do social não tem importância para a
sociologia que ele pretende fazer.
Para o Sociólogo francês na vida em sociedade o homem se defronta
com regras de conduta que não foram diretamente criadas por ele, mas que
existem e são aceitas na vida em sociedade, devendo ser seguidas por todos -

Seguindo essas ideias, Durkheim afirma que os fatos sociais, ou seja, o


objeto de estudo da Sociologia, são justamente essas regras e normas
coletivas que orientam a vida dos indivíduos em sociedade. Esses fatos sociais
têm duas características básicas que permitirão sua identificação na realidade:
são exteriores e coercitivos.
EXTERIORES, porque consistem em ideias, normas ou regras de
conduta, foram criadas pela sociedade e já existem fora dos indivíduos quando
eles nascem.
COERCITIVOS, porque essas ideias, normas e regras devem ser
seguidas pelos membros da sociedade. Se alguém desobedece a elas, é
punido pelo resto do grupo.
Outro conceito importante para Émile Durkheim é o de instituição. Para
ele, uma instituição é um conjunto de normas e regras de vida que se
consolidam fora dos indivíduos e que as gerações transmitem umas as outras.
Ex.: a Igreja, o Exército, a família, etc. As instituições socializam os indivíduos,
fazem com que eles assimilem as regras e normas necessárias à vida em
comum.

REPRESENTAÇÕES COLETIVAS

O social cria representações coletivas, que são atitudes comuns de uma


determinada coletividade em uma determinada época. Esta representação
coletiva independe dos indivíduos, pois o indivíduo não tem poder criativo. Em
Durkheim, o social que determina o indivíduo. É como se cada indivíduo
trouxesse em si a marca do social, e esta marca determinasse suas ações.

SOLIDARIEDADE
A comunhão dessas representações coletivas é por ele chamado de
solidariedade. Não se trata de um sentimento de bondade, mas de uma
comunhão de ideias. A solidariedade é o partilhar de um mesmo conjunto de
regras.

Há dois tipos de solidariedades, a mecânica ou por similitudes e a


orgânica ou devida à divisão do trabalho. A evolução de uma sociedade faz
com que ela passe da solidariedade mecânica, em que o partilhar das regras é
feita de maneira coerciva, para a solidariedade orgânica, em que o partilhar das
regras sociais é feita a partir da diferenciação feita pela divisão do trabalho
social.Mas até em sociedades mais complexas ainda há espaço para a
solidariedade mecânica. É o caso do direito penal: o direito penal é um resíduo
de solidariedade mecânica ainda existente nas sociedades complexas.

DIVISÃO DO TRABALHO E FUNCIONALISMO

A divisão do trabalho, para ele, pode ser: normal ou geral e anômica ou


patológica. Normal é o que se repete de maneira igual, o que funciona
espontaneamente, gerando a solidariedade necessária à evolução do social. O
patológico é aquilo que difere do normal. Durkheim acha que as coisas tendem
à normalidade: até o patológico caminha para a normalidade.

Durkheim compara a sociedade a um corpo humano, onde o Estado é o


cérebro, elaborando representações coletivas que aperfeiçoem a
solidariedade. Para ele, todas as partes do corpo tem uma função, não
havendo hierarquias entre as diferentes partes. É uma sociedade harmônica.

Até o crime é considerado normal porque não há sociedade onde não


haja crime e também tem uma função social, a função de manter e gerar uma
coesão social. Quando acontece um crime, a consciência coletiva é atingida: o
social é agredido pelo indivíduo. Um ato não ofende a consciência coletiva
porque seja criminoso, mas é criminoso porque ofende a consciência
coletiva. No entanto, o Estado pode fortalecer a consciência coletiva através da
punição do criminoso. É através da punição do criminoso que a consciência
coletiva mantém a sua vitalidade. A pena impede um crescimento exagerado
do crime, não permitindo que ele se torne patológico.

Numa visão durkheimiana, a impunidade, não-punição do crime pelo


Estado, enfraquece a consciência coletiva, os laços de solidariedade, gerando
um estado de anomia. Quando o patológico prevalece sobre o normal, há uma
desestruturação social. O estado de anomia é uma situação limite e sem
função na sociedade.

KARL MARX

Karl Marx (1818-1883) talvez seja o mais conhecido cientista social, é


difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar de Marx, mas também é
difícil encontrar pessoas que conheçam bem as ideias deste autor. Talvez
porque o pensamento de Marx seja muito aberto, o que possibilita leituras
diferenciadas. Mas o pensamento de Marx é mais bem aproveitado pelos
economistas que pelos cientistas sociais, porque para Marx, a mercadoria é a
base de todas as relações sociais.
Marx deu muita importância à economia em função das mudanças
sociais provocadas pela Revolução Industrial, principalmente nas relações de
trabalho. A partir da centralidade da mercadoria no pensamento de Marx,
podemos entender alguns de seus conceitos mais importantes. Como

DIVISÃO DO TRABALHO :A divisão do trabalho é a segunda maneira de


construir relações sociais de produção, que são formas como as sociedades se
organizam para suprir suas necessidades. A primeira é a cooperação. Falar em
divisão do trabalho em Marx é falar em formas de propriedade. Isso porque a
divisão do trabalho se dá entre quem concede e quem executa o trabalho,
entre os donos dos meios de produção e os donos da força de trabalho.

CLASSES SOCIAIS: Da divisão do trabalho surgem as classes. Para Marx, as


classes não são constituídas de agregados de indivíduos, mas são definidas
estruturalmente: as classes são efeito da estrutura. No modo de produção
antigo as classes eram a dos patrícios e dos escravos; no modo de produção
feudal, havia senhores e servos; no modo de produção capitalista, burgueses
e proletariado. Há sempre uma relação de oposição entre duas classes, de
modo que uma não existe sem a outra. Esta oposição ele chamou de luta de
classes.

LUTA DE CLASSES :A luta de classes, assim como as classes decorrem da


divisão do trabalho. Nas sociedades modernas a luta de classes se dá entre
capitalistas ou burgueses (donos dos meios de produção) e trabalhadores ou
proletariado (donos da força de trabalho). O trabalho nas sociedades modernas
é denunciado por Marx pelo seu caráter exploratório do trabalhador. No
entanto, Marx vê uma solução para esta relação exploratória: a revolução que
seria feita pelo proletariado. No entanto, a revolução do proletariado contra o
modo de produção capitalista só não acontece, segundo Marx, devido à
alienação.
ALIENAÇÃO: A alienação faz com que o trabalhador não se reconheça no
produto O seu trabalho, não percebendo a sua condição de explorado. A
solução para o problema da alienação passa por uma luta política do próprio
proletariado e não pela educação.

FETICHISMO : A separação da mercadoria produzida pelo trabalhador dele


mesmo esconde o caráter social do trabalho. O fetichismo se dá quando a
relação entre os valores aparece como algo natural, independente dos homens
que os criaram. A criatura se desgarra do criador. O fetichismo incapacita o
homem de enxergar o que há por trás das relações sociais. E o maior exemplo
de fetichismo da mercadoria é a mais-valia.

MAIS-VALIA :A mais-valia é o excedente de trabalho não pago, não incluído


no salário do trabalhador. É a mais-valia que forma o lucro que será investido
para aumentar o capital.

IDEOLOGIA: Como dissemos, as classes dominantes controlam os meios de


produção. A infraestrutura (conhecimentos, fábricas, sementes, tecnologia
etc.), que está nas mãos da classe dominante, determina a superestrutura
(Estado, Direito, Religião, Cultura etc.). A superestrutura é uma construção
ideológica que serve para garantir o poder da classe dominante, mantendo a
classe trabalhadora alienada.

PRINCIPAIS CRÍTICAS SOCIOLÓGICAS A MARX: Marx não reconhece


outros fatores de formação social além dos econômicos. Para ele, a economia
determina todas as relações sociais, o que foi amplamente apropriado pelos
economistas. Existem critérios não econômicos que as ideias de Marx não dão
conta na hora de analisar sociologicamente uma sociedade. Por exemplo, Marx
desconsidera a divisão técnica do trabalho. Para ele, a divisão do trabalho
obedece apenas fatores econômicos.

PRINCIPAIS CRÍTICAS SOCIOLÓGICAS A DURKHEIM

Durkheim dá excessiva ênfase ao social, o que acaba retirando a


responsabilidade do indivíduo em suas ações. Há pouco espaço para o
indivíduo decidir, escolher, no pensamento durkheimiano. Até a idéia de
indivíduo, segundo ele, é construída pelo social.

Suas teorias sofrem muita influencia do positivismo e do evolucionismo social.

MAX WEBER

Max Weber nasceu em Erfurt, em 21 de abril de 1864, e faleceu em


junho de 1920. Weber vive numa época em que as idéias de Freud
impactavam as ciências sociais e em que os valores do individualismo moderno
começavam a se consolidar. A grande inovação que Weber trouxe para a
sociologia foi o individualismo metodológico. Para ele, o indivíduo escolhe ser o
que é, embora as escolhas sejam limitadas pelo grau de conhecimento do
indivíduo e pelas oportunidades oferecidas pela sociedade. O indivíduo é
levado a escolher em todo instante, o que faz da vida uma constante
possibilidade de mudança. O indivíduo escolhe em meio aos embates da vida
social. Essa idéia faz com que o sentido da vida, da história, seja dado pelo
próprio indivíduo. Os processos não têm sentido neles mesmos, mas são os
indivíduos que dão sentido aos processos.

AÇÃO SOCIAL

A sociedade em Weber é vista como um conjunto de esferas autônomas


que dão sentido às ações individuais. Mas só o indivíduo é capaz de realizar
ações sociais. A ação social é uma ação cujo sentido é orientado para o
outro. Um conjunto de ações não é necessariamente ação social. Para que
haja uma ação social, o sentido da ação deve ser orientada para o outro. Seja
esta ação para o ‘bem’ ou o ‘mal’ do outro. A ação social não implica uma
reciprocidade de sentidos: o outro pode até não saber da intenção do agente.
Para Weber há quatro tipos de ação social: ação social tradicional, ação
social afetiva, ação social racional quanto aos valores, ação social racional
quanto aos fins.

Ação social tradicional é aquela que o indivíduo toma de maneira automática,


sem pensar para realiza-la.

Ação social afetiva implica uma maior participação do agente, mas são
respostas mais emocionais que racionais. Ex.: relações familiares. Segundo
Weber, estas duas primeiras ações sociais não interessam à sociologia.

Ação racional com relação a valores é aquela em que o sociólogo consegue


construir uma racionalidade a partir dos valores presentes na sociedade. Esta
ação social requer uma ética da convicção, um senso de missão que o
indivíduo precisa cumprir em função dos valores que ele preza.

Ação racional com relação aos fins é aquela em que o indivíduo escolhe
levando em consideração os fins que ele pretende atingir e os meios
disponíveis para isso. A pessoa avalia se a ação que ela quer realizar vale a
pena, tendo em vista as dificuldades que ele precisará enfrentar em
decorrência de sua ação. Requer uma ética de responsabilidade do indivíduo
por seus atos.

RELAÇÃO SOCIAL

Até agora falamos de ação social em Weber, que em diferente de


relação social. Enquanto o conhecimento do outro das intenções do agente não
importa para a caracterização da ação social, a relação social é o sentido
compartilhado da ação. Relação social não é o encontro de pessoas, mas a
consciência de ambas do sentido da ação. A relação social é sempre
probabilística, porque ela se fundamenta na probabilidade de ocorrer
determinado evento, o que inclui oportunidade e risco. A vida social é
totalmente instável: a única coisa estável da vida social é a possibilidade (e
necessidade) de escolha. Não há determinismos sobre a o que será a
sociedade. Por isso, as análises sociológicas são baseadas em probabilidades
e não em verdades.
DOMINAÇÃO

Como já dissemos a vida social para Weber é uma luta constante. Por
conta disso, ele não vê possibilidade de relação social sem dominação. Todas
as esferas da ação humana estão marcadas por algum tipo de dominação. Não
existe e nem vai existir sociedade sem dominação, porque a dominação é
condição de ser da sociedade. A dominação faz com que o indivíduo obedeça
a uma ordem acreditando que está realizando sua própria vontade. O indivíduo
conforma-se a um padrão por sua própria escolha e acha que está tomando
uma decisão própria.
Existem pelo menos três tipos de dominação legítima: legitimação
tradicional, legitimação carismática e legitimação racional. Para Weber a
burocracia é a mais bem acabada forma de dominação legítima e racional. A
burocracia baseia-se na crença na legalidade ou racionalidade de uma
ordem. A burocracia mais eficaz de exercer a dominação. E é uma
conseqüência do processo de racionalização da vida social moderna, sendo
responsável pelo gerenciamento concentrado dos meios de administração da
sociedade. A burocracia é uma forma de organizar o trabalho, é um padrão de
regras para organizar o trabalho em sociedades complexas. A modernização
para ele é o processo de passagem de uma perspectiva mais tradicional do
mundo (em que as coisas são dadas) para uma perspectiva mais organizada
(onde as coisas são elaboradas, construídas). Mas para Weber, só o herói
individual (o líder carismático) pode alterar o rumo da história. Mesmo que
imediatamente, uma vez que para Weber toda legitimação carismática tende a
tornar-se legitimação tradicional.

ESFERAS SOCIAIS

A dominação pode ser exercida em diferentes esferas da vida social. As


“esferas” são mais analítico-teóricas que reais, e são criadas pela divisão social
do trabalho. Uma esfera não determina uma outra esfera, mas elas trocam
influências entre si. As esferas são autônomas, mas não independentes. A
esfera é o lugar de luta por um tipo de sentido para as relações
sociais. Classes, estamentos e partidos são fenômenos da disputa de poder
nas esferas econômica, social e política, respectivamente.

CLASSE E ESTAMENTO

Vamos falar um pouco mais de classe e estamento em Weber, até para


diferencia-lo de Marx. Classe para Weber é o conjunto de pessoas que tem a
mesma posição diante do mercado. Há dois tipos básicos de classe, as que
têm algum tipo de bem e as que não tem algum tipo de bem. Mas as classes
também se diferenciam pela qualidade dos bens possuídos. As classes, como
já dissemos estão ligadas à esfera econômica da vida social. Para Weber, a
esfera econômica não tem capacidade de produzir um sentimento de
pertencimento que seja capaz de gerar uma comunidade.

Estamento está ligado à esfera social, que é capaz de gerar


comunidade. Estamento é um grupo social cuja característica principal é a
consciência do sentido de pertencimento ao grupo. A luta por uma identidade
social é o que caracteriza um estamento. A luta na esfera social é para saber
qual estamento vai dominar. As profissões podem ser analisadas como
estamentos.

PRINCIPAIS CRÍTICAS SOCIOLÓGICAS A WEBER

Weber supervaloriza o indivíduo, tornando demasiada a cobrança sobre suas


escolhas e conformidades. Talvez nem tudo seja escolhido individualmente.

Ele ao mesmo tempo em que vê na burocracia forma mais acabada de


dominação legítima, acha que a burocracia fortalece a democracia por causa
de sua impessoalidade. Talvez ele não tenha tido tempo para perceber que a
burocracia tem a possibilidade de ser um instrumento de democratização, mas
que frequentemente funciona de maneira contrária, servindo apenas como
instrumento de dominação.

RELEVÂNCIA ATUAL DE MARX, DURKHEIM E WEBER PARA A


SOCIOLOGIA

A principal importância de Marx para hoje é que podemos dizer que ele ao
enunciar que tudo vira mercadoria, acertou (ou contribuiu para isso). A
prevalência da economia hoje em dia, representada pela força dos próprios
economistas na sociedade (funcionando como gurus), dá uma idéia da
importância de Marx para as ciências sociais. Outro aspecto importante é que o
uso da teoria marxista hoje não precisa se preocupar com a análise da
realidade política, uma vez que o socialismo real chegou ao fim.
A importância de Durkheim é que não se pode fazer sociologia da
educação sem Durkheim, principalmente na análise de processos de
socialização a partir da escola. Durkheim fornece instrumentos para entender
os processos. O conceito de anomia, por exemplo, é básico para entender
mudanças que impliquem alterações nas relações sociais, tais como
modernização da sociedade, urbanização, industrialização, padrões morais e
construção/alteração de identidades coletivas.
Weber talvez seja o mais atual dos autores clássicos da sociologia com
importantes contribuições para a teoria antropológica, devido ao seu
individualismo metodológico, para a sociologia das profissões, para a análise
das relações de dominação e dos processos de racionalização das
sociedades. Mas sem dúvida a grande contribuição de Weber foi a
necessidade de pesquisas empíricas para afirmar alguma coisa científica. Isso
porque sua teoria não aceita determinismos.

RESUMINDO

Karl Marx (1818-1883) foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da


doutrina comunista moderna, atuou como economista, filósofo, historiador,
teórico político e jornalista e foi o mais revolucionário pensador sociológico.
Marx concebe a sociedade dividida em duas classes: a dos capitalistas que
detêm a posse dos meios de produção e o proletariado (ou operariado), cuja
única posse é sua força de trabalho a qual vendem ao capital.
Para Marx, os interesses entre o capital e o trabalho são irreconciliáveis,
sendo este debate a essência do seu pensamento, resultando na concepção
de uma sociedade dividida em classes. Assim, os meios de produção resultam
nas relações de produção, formas como os homens se organizam para
executar a atividade produtiva. Tudo isso acarreta desigualdades, dando
origem à luta de classes.
Marx foi um defensor do comunismo, pois essa seria a fase final da
sociedade humana, alcançada somente a partir de uma revolução proletária,
acreditando assim na ideia utópica de uma sociedade igualitária ou socialista.

Émile Durkheim (1858-1917) foi o fundador da escola francesa de Sociologia,


ao combinar a pesquisa empírica com a teoria sociológica. Ainda sob influência
positivista, lutou para fazer das Ciências Sociais uma disciplina rigorosamente
científica. Durkheim entendia que a sociedade era um organismo que
funcionava como um corpo, onde cada órgão tem uma função e depende dos
outros para sobreviver. Ao seu olhar, o que importa é o indivíduo se sentir parte
do todo, pois caso contrário ocorrerá anomalias sociais, deteriorando o tecido
social.
A diferença entre Comte e Durkheim é que o primeiro crê que se tudo
estiver em ordem, isto é, organizado, a sociedade viverá bem, enquanto
Durkheim entende que não se pode receitar os mesmos “remédios” que serviu
a uma sociedade para resolver os “males” sociais de outras sociedades.
Para Durkheim, a Sociologia deve estudar os fatos sociais, os quais
possuem três características: 1) coerção social; 2) exterioridade; 3) poder de
generalização. Os fatos sociais apresentam vida própria, sendo exteriores aos
indivíduos e introjetados neles a ponto de virarem hábitos.
Pela sua perspectiva, o cientista social deve estudar a sociedade a partir de um
distanciamento dela, sendo neutro, não se deixando influenciar por seus
próprios preconceitos, valores, sentimentos etc.
A diferença básica entre Marx, Comte e Durkheim consiste basicamente
em que os dois últimos entendem a sociedade como um organismo
funcionando, suas partes se completando. Por outro lado, Marx afirma que a
ordem constituída só é possível porque a classe dos trabalhadores é dominada
pela classe dos capitalistas e propõe que a classe proletária (trabalhadores)
deve se organizar, unir-se e inverter a ordem, ou seja, passar de dominada a
dominante, e assim superar a exploração e as desigualdades sociais.
Max Weber (1864-1920) foi um intelectual alemão, jurista, economista e
considerado um dos fundadores da Sociologia e é o pensador mais recente
dentre os três, conhecedor tanto do pensamento de Comte e Durkheim quanto
de Marx. Assim, ele entende que a sociedade não funciona de forma tão
simples e nem pode ser harmoniosa como pensam Comte e Durkheim, mas
também não propõe uma revolução como faz Marx, mas afirma que o papel da
Sociologia é observar e analisar os fenômenos que ocorrem na sociedade,
buscando extrair desses fenômenos os ensinamentos e sistematizá-los para
uma melhor compreensão, é por isso que sua Sociologia recebe o nome de
compreensiva.
Weber valorizava as particularidades, ou seja, a formação específica da
sociedade; entende a sociedade sob uma perspectiva histórica, diferente dos
positivistas.
Um dos conceitos chaves da obra e da teoria sociológica de Weber é
a ação social. A ação é um comportamento humano no qual os indivíduos se
relacionam de maneira subjetiva, cujo sentido é determinado pelo
comportamento alheio. Esse comportamento só é ação social quando o ator
atribui à sua conduta um significado ou sentido próprio, e esse sentido se
relaciona com o comportamento de outras pessoas.
Weber também se preocupou com certos instrumentos metodológicos que
possibilitassem ao cientista uma investigação dos fenômenos particulares sem
se perder na infinidade disforme dos seus aspectos concretos, sendo que o
principal instrumento é o tipo ideal, o qual cumpre duas funções principais:
primeiro a de selecionar explicitamente a dimensão do objeto a ser analisado e,
posteriormente, apresentar essa dimensão de uma maneira pura, sem suas
sutilezas concretas.
Em suma: a Sociologia de Comte e Durkheim são positivistas; a de Marx
é revolucionária e a de Max Weber é compreensiva. E nisto talvez esteja a
principal diferença entre esses quatro grandes pensadores da Sociologia.

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