Você está na página 1de 3

Sociologia do trabalho

15 de dezembro de 2006 às 20:51


A-A+
COMO SURGIU A SOCIOLOGIA? A sociologia, ciência que tenta explicar a vida social nasceu
de uma mudança radical da sociedade, resultando no surgimento do capitalismo. O século XVIII foi marcado por
transformações, fazendo o homem analisar a sociedade, um novo "objeto" de estudo. Essa situação foi gerada pelas
revoluções industrial e francesa, que mudaram completamente o curso que a sociedade estava tomando na época. A
Revolução Industrial, por exemplo, representou a consolidação do capitalismo, uma nova forma de viver, a destruição de
costumes e instituições, a automação, o aumento de suicídios, prostituição e violência, a formação do proletariado, etc.
Essas novas existências vão, paulatinamente, modificando o pensamento moderno, que vai se tornando racional e
científico, substituindo as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum. Nessa época, assistia-se ao triunfo dos
métodos das ciências naturais, concretizadas nas radicais transformações da vida material do homem; operadas pela
Revolução Industrial, e alguns pensadores que procuravam conhecer cientificamente os fatos humanos passaram a abordá-
los segundo as coordenadas das ciências naturais. Outros, ao contrário, afirmando a peculiaridade do fato humano e a
conseqüente necessidade de uma metodologia própria. Na Revolução Francesa, encontram-se filósofos a fim de
transformar a sociedade, os iluministas, que também objetivavam demonstrar a irracionalidade e as injustiças de algumas
instituições, pregando a liberdade e a igualdade dos indivíduos que, na verdade, descobriu-se mais tarde que esses eram
falsos dogmas. Essa metodologia deveria levar em consideração o fato de que o conhecimento dos fenômenos naturais e
um conhecimento de algo externo ao próprio homem, enquanto nas ciências sociais o que se procura conhecer é a própria
experiência humana. De acordo com a distinção entre experiência externa e experiência interna, poder-se-ia distinguir
uma série de contrastes metodológicos entre os dois grupos de ciências. As ciências exatas partiriam da observação
sensível e seriam experimentais, procurando obter dados mensuráveis e regularidades estatísticas que conduzissem à
formulação de leis de caráter matemático. As ciências humanas, ao contrário, dizendo respeito à própria experiência
humana, seriam introspectivas, utilizando a intuição direta dos fatos, e procurariam atingir não generalidades de caráter
matemático, mas descrições qualitativas de tipos e formas fundamentais da vida do espírito. Esse cenário leva à
constituição de um estudo científico da sociedade. Os positivistas (como eram chamados os teóricos da identidade
fundamental entre as ciências exatas e as ciências humanas) tentam reorganizar a sociedade, estabelecendo ordem,
conhecendo as leis que regem os fatos sociais. Era o positivismo surgindo e, com ele, a instituição da ciência da
sociedade. Tal movimento revalorizou certas instituições que a revolução francesa tentou destruir e criou uma "física
social", criada por Comte, "pai da sociologia". Outro pensador positivista, Durkheim, tornou-se um grande teórico desta
nova ciência, se esforçando para emancipá-la como disciplina científica. Foi dentro desse contexto que surgiu a
sociologia, ciência que, mesmo antes de ser considerada como tal, estimulou a reflexão da sociedade moderna colocando
como "objeto de estudo" a própria sociedade, tendo como principais articuladores Auguste Conte e Émile Durkheim. O
modo explicativo característico das ciências naturais procura o relacionamento causal entre os fenômenos. A compreensão
seria o modo típico de proceder das ciências humanas, que não estudam fatos que possam ser explicados propriamente,
mas visam aos processos permanentemente vivos da experiência humana e procuram extrair deles seu sentido (Sinn). Os
sentidos (ou significados) são dados, segundo Dilthey, na própria experiência do investigador, e poderiam ser
empaticamente apreendidos na experiência dos outros. O método compreensivo no estudo de fatos humanos particulares,
na sociologia, tem como representante a Max Weber. AUGUSTO COMTE (1798-1857) A obra de Comte guarda estreitas
relações com os acontecimentos de sua vida. Dois encontros capitais presidem as duas grandes etapas desta obra. Em
1817, ele conhece H. de Saint-Simon: O Organizador, o Sistema Industrial, e concebe, a partir daí, a criação de uma
ciência social e de uma política científica. Já de posse, desde 1826, das grandes linhas de seu sistema, Comte abre em sua
casa, um Curso de filosofia positiva - interrompido por uma depressão nervosa retoma o ensino em 1829. Entre 1851 e
1854 aparecem os enormes volumes do Sistema de política positiva ou Tratado de sociologia que intitui a religião da
humanidade. O último volume sobre o Futuro humano prevê uma reformulação total da obra sob o título de Síntese
Subjetiva. Desde 1847, Comte proclamou-se grande sacerdote da Religião da Humanidade. Institui o "Calendário
positivista" (cujos santos são os grandes pensadores da história), forja divisas "Ordem e Progresso", "Viver para o
próximo"; "O amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim", funda numerosas igrejas positivistas (ainda
existem algumas como exemplo no Brasil). Ele morre em 1857 após ter anunciado que "antes do ano de 1860" pregaria "o
positivismo em Notre-Dame como a única religião real e completa". Comte, já antes do Curso de filosofia positiva (e
principalmente em seu "opúsculo fundamental" de 1822), sempre pensou que a filosofia positivista deveria terminar
finalmente em aplicações políticas e nas fundação de uma nova religião. Littré podia sem dúvida, em nome de suas
próprias concepções, "separar Comte dele mesmo". Mas o historiador, que não deve considerar a obra com um julgamento
pessoal, pode considerar-se autorizado a afirmar a unidade essencial e profunda da doutrina de Comte. ÉMILE
DURKEIM (1858-1917) No pensamento durkeiniano a sociedade prevalece sobre o indivíduo, pois quando este nasce tem
de se adaptar às normas já criadas, como leis, costumes, línguas, etc. O indivíduo, por exemplo, obedece a uma série de
leis impostas pela sociedade e não tem o direito de modificá-las. Para Durkeim o objeto de estudo da Sociologia são os
fatos sociais. Esses fatos sociais são as regras impostas pela sociedade (as leis, costumes, etc. que são passados de geração
a geração). É a sociedade, como coletividade, que organiza, condiciona e controla as ações individuais. O indivíduo
aprende a seguir normas e regras que não foram criadas por ele, essas regras limitam sua ação e prescrevem punições para
quem não obedecer aos limites sociais. Durkeim propôs um método para a Sociologia que consiste no conjunto de regras
que o pesquisador deve seguir para realizar, de maneira correta, suas pesquisas. Este método enfatiza a posição de
neutralidade e objetividade que o pesquisador deve ter em relação à sociedade: ele deve descrever a realidade social, sem
deixar que suas idéias e opiniões interfiram na observação dos fatos sociais. MAX WEBER (1864-1920) Para Weber a
sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais. Estas, são todo tipo de ação que o indivíduo
faz, orientando-se pela ação de outros. Só existe ação social, quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de
comunicação, a partir de suas ações com os demais. Weber estabeleceu quatro tipos de ação social. Estes são conceitos
que explicam a realidade social, mas não é a realidade social: 1 – Ação tradicional: aquela determinada por um costume
ou um hábito arraigado; 2 – Ação afetiva: aquela determinada por afetos ou estados sentimentais; 3 – Ação racional com
relação a valores: determinada pela crença consciente num valor considerado importante, independentemente do êxito
desse valor na realidade; 4 – Ação racional com relação a fins: determinada pelo cálculo racional que coloca fins e
organiza os meios necessários. Nos conceitos de ação social e definição de seus diferentes tipos, Weber não analisa as
regras e normas sociais como exteriores aos indivíduos. Para ele as normas e regras sociais são o resultado do conjunto de
ações individuais. Na sua concepção o método deve enfatizar o papel ativo do pesquisador em face da sociedade. KARL
MARX (1818-1883) Os antipositivistas, adeptos da distinção entre ciências humanas e ciências naturais, foram
principalmente os alemães, vinculados ao idealismo dos filósofos da época do Romantismo, principalmente Hegel (1770-
1831) e Schleiermacher (1768-1834). A obra crítica de Marx tem inicio ao contrapor seu pensamento ao pensamento de
Hegel. Para Hegel, a realidade tinha de ser entendida a partir de um espírito absoluto, em oposição, Marx coloca que a
realidade deste mundo não deve ser explicada com base em uma realidade divina, pelo contrário, o ponto de partida do
pensamento tem que ser a realidade concreta. A realidade factual mostra-se contraditória, imprevisível e, portanto não
conciliada com a razão, a realidade concreta é a realidade do homem. Marx denomina sua filosofia de "humanismo real".
O real primeiro e originário para o homem é o próprio homem. É dele, portanto, que o novo pensar também tem de partir.
Mas o que é o homem? Marx ressalta com toda clareza: "O indivíduo é o ser social." Assim deve-se entender a muito
discutida frase: "Não é a consciência do homem que determina seu ser, mas é seu ser social que determina sua
consciência." É da essência da práxis humana que ele se realize na relação com o outro. Mas por que meio se constitui a
sociedade humana? Marx responde: basicamente, não por meio da consciência comum, mas por meio do trabalho comum.
Pois o homem é um ser econômico. As relações econômicas e particularmente as forças produtivas a elas subjacentes são
a base (ou a "infra-estrutura") de sua existência. Na medida em que essas relações econômicas se modificam também se
modifica a consciência, a "superestrutura ideológica". Desta superestrutura fazem parte o Estado, as leis, as idéias, a
moral, a arte, a religião e similares. Na base econômica reencontram-se também aquelas leis do desenvolvimento
histórico. As relações econômicas desdobram-se de modo dialético, mais precisamente, no conflito de classes. Por isso,
para Marx, a história é principalmente a história das lutas de classes. Por que, o que Marx diz é tão instigante? Porque ele
não se detém no âmbito do pensamento puro, se propõe a trabalhar decisivamente na transformação da realidade. Nessa
intenção, Marx empreende uma crítica de seu tempo. Observa que em seus dias a verdadeira essência do homem, sua
liberdade e independência, "a atividade livre e consciente", não se pode fazer valer, o homem perdeu as autênticas
possibilidades humanas de existência. Esse é o sentido daquilo que Marx chama de "auto-alienação" do homem. Ela
significa uma permanente "depreciação do mundo do homem". Também aqui Marx recorre às relações econômicas. A
auto-alienação do homem tem sua raiz na alienação do trabalhador do produto de seu trabalho: este não lhe pertence para
seu usufruto, pertence ao empregador. O produto do trabalho torna-se uma "mercadoria", isto é, uma coisa estranha ou
alheia ao trabalhador, que o coloca em posição de dependência, porque ele precisa compará-la para poder subsistir. "O
produto do seu trabalho, apresenta-se a ele como uma essência estranha, como um poder independente do produtor", o
trabalho se torna "trabalho alienado", "trabalho forçado". Essa característica atinge seu auge no sistema capitalista, no qual
o capital assume a função de um poder separado dos homens. A alienação do produto do trabalho conduz também a uma
"alienação do homem". Isso não vale apenas para a "luta de inimigos entre capitalista e trabalhador". As relações
interpessoais em geral são mediadas pelas mercadorias e pelo dinheiro, os próprios proletários assumem caráter de
mercadoria; sua força de trabalho é comercializada no mercado de trabalho, no qual se encontra à mercê do arbítrio dos
compradores. Seu "mundo interior" torna-se "cada vez mais pobre"; sua "destinação humana e sua dignidade" perdem-se
cada vez mais. O trabalhador é "o homem extraviado de si mesmo"; sua existência é "a perda total do homem"; sua
essência é uma "essência desumanizada". No ápice do desenvolvimento desse pensamento, Marx crê poder demonstrar ser
possível que o proletariado se conscientize de sua alienação, e que, consciente de sua própria desumanização a supere.
Segundo os prognósticos de Marx, chega-se a uma concentração do capital nas mãos de poucos, a um crescente
desemprego e empobrecimento das massas. Com isso, porém, o capital torna-se seu próprio coveiro, pois a essa
concentração de capital devem seguir-se, a subversão e a revolução. A missão dessa revolução é "transformar o homem
em homem", trata-se de "derrubar todas as relações em que o homem é um ser degradado, escravizado, abandonado e
desprezado". Importa desenfronhar o homem em "toda a riqueza de sua essência" e, com isso, superar definitivamente a
alienação. Marx considera tudo isso tarefa do movimento comunista. Comunismo como superação positiva da propriedade
privada enquanto auto-alienação do homem, resgatando o homem para si mesmo enquanto homem social, ou seja,
humano. Nesse sentido, o comunismo é a verdadeira dissolução do antagonismo entre o homem e a natureza e entre o
homem e o homem, é a solução do conflito entre liberdade e necessidade, é a verdadeira realização da essência do
homem, é sinônimo de uma sociedade "realmente humana".

Você também pode gostar