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Ciências Sociais (Sociologia e Antropologia) - Joana Prado Medeiros - Pedro Rauber - UNIGRAN

Aula 06

A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

PROBLEMATIZAÇÃO

• Como surgiu a Sociologia? Quais foram seus fundadores? Quais foram as primeiras
ideias formuladas por esses pensadores? Como os primeiros sociólogos explicavam a realidade
social que se trnsformava profundamente com as mudanças provocadas pela Revolução
industrial?
• Para Karl Marx, “Os homens fazem a História, mas o fazem em condições
determinadas”.
• Como herdamos uma realidade social que não foi escolhida por nós, Marx também
afirmou: “Os homens fazem a História, mas não sabem que a fazem”.
• Quais as principais diferenças entre o pensamento Positivista e o Pensamento
sociológico crítico?
• Em que base conceitual cada corrente sustenta a compreensão de sociedade?

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Acessado em 07/06/2009 às 9h03

• O que então distingue o homem dos outros animais? Seria a capacidades de produzir
cultura? Como ele transmite esses conhecimentos às novas gerações?
• Como o homem consegue transformar sua experiência em discurso, com significado,
e transmiti-la aos demais seres de sua espécie e a seus descendentes através dos símbolos?
• Usando a sua capacidade de imaginar ações e reações sob forma simbólica, o
homem seria capaz de reviver as situações que o estimulam e desafiam para a reconstrução
da realidade?
• Além disso, você concorda que ele é o único a diferenciar as experiências no tempo
e, em consequência, a projetar ações futuras?
• A tudo isso poderíamos denominar CULTURA? OU TRABALHO? O que é
CULTURA E O QUE É TRABALHO?

VEJA MAIS!

• À medida que os homens se deparavam com novos problemas, surgiam novas


elaborações tidas como mais adequadas e mais úteis às dificuldades enfrentadas. Essas
abstrações a que chamamos de conhecimento, criam soluções para necessidades concretas de
vida e de sobrevivência. A isso denominamos CULTURA. Assim surge uma nova maneira
de pensar o “porquê” e o “para quê” das coisas.
• Durante a Idade Média, com o grande poder da Igreja Católica, novamente imperou
o saber ligado à religião.
• No renascimento, o homem volta aos textos antigos e redescobre o prazer de
investigar o mundo, descobrir as leis de sua organização como atividade e com valor em si
mesmo, independentemente de suas implicações religiosas.
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• CIÊNCIA: destinada à descoberta das relações entre as coisas, das leis que regem o
mundo natural, através dela se aprimoram as técnicas e os utensílios de medição, a imprensa,
etc.
O termo Sociologie foi criado por Auguste Comte, que esperava unificar todos os
estudos relativos ao homem — inclusive a História, a Psicologia e a Economia. Seu esquema
sociológico era tipicamente positivista, (corrente que teve grande força no século XIX). Ele
acreditava que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas fases históricas distintas e
que, se a pessoa pudesse compreender esse progresso, poderia prescrever os remédios para
os problemas de ordem social.
As transformações econômicas, políticas e culturais ocorridas no século XVIII com
as Revoluções Industrial e Francesa, trouxeram muitos problemas. A Sociologia surge no
século XIX como forma de entender esses problemas e explicá-los. No entanto, é necessário
frisar, de forma muito clara, que a Sociologia é datada historicamente e seu surgimento está
vinculado à consolidação do capitalismo moderno.
A Revolução Industrial significou algo mais do que a introdução da máquina a vapor.
Ela representou o triunfo da indústria capitalista, capitaneada pelo empresário capitalista, que
foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob o seu controle,
convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos. Nesse
momento, instala-se a sociedade capitalista, que dividia a sociedade em: Burgueses – os
donos dos meios de produção – e Proletariados – os possuidores apenas de sua força de
trabalho.
O surgimento da Sociologia prende-se em parte aos desenvolvimentos oriundos da
Revolução Industrial, pelas novas condições de existência por ela criada. Mas uma outra
circunstância concorreria também para a sua formação.
Trata-se das modificações que vinham ocorrendo nas formas de pensamento,
originada pelo Iluminismo. As transformações econômicas, que se achavam em curso no
ocidente europeu desde o século XVI, não poderiam deixar de provocar modificações na
forma de conhecer a natureza e a cultura.
Porém, a Sociologia não é uma ciência de apenas uma orientação teórico-
metodológica dominante. Ela traz diferentes estudos e diferentes caminhos para a explicação
da realidade social. Assim, pode-se claramente observar que a Sociologia tem ao menos
três linhas mestras explicativas, fundadas pelos seus autores clássicos, das quais podemos
citar, não necessariamente em ordem de importância: (1) a Positivista-Funcionalista, tento
como fundador Auguste Comte e seu principal expoente clássico em Émile Durkheim, de
fundamentação analítica; (2) a sociologia compreensiva iniciada por Max Weber, de matriz
teórico-metodológica hermenêutico-compreensiva; e (3) a linha de explicação sociológica
dialética, iniciada por Karl Marx, que mesmo não sendo um sociológo e sequer se pretendendo
a tal, deu início a uma profícua linha de explicação sociológica.
A Sociologia, assim, se debruçará sobre todos os aspectos da vida social. Desde o
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funcionamento de estruturas macro-sociológicas como o Estado, a classe social ou longos


processos históricos de transformação social. Atualmente, ela estuda organizações humanas,
instituições sociais e suas interações sociais, aplicando mormente o método comparativo.
Essa disciplina tem se concentrado particularmente em organizações complexas de sociedades
industriais e as transformações que nelas se processam e que têm reflexos sobre a vida
social.

1. POSISITIVISMO: UMA PRIMEIRA FORMA DE PENSAMENTO SOCIAL

A primeira corrente de pensamento sociológico propriamente dita foi o positivismo,


a primeira teoria a organizar alguns princípios a respeito do homem e da sociedade, tentando
explicá-lo cientificamente.
O Positivismo derivou do “cientificismo”, isto é, da crença no poder exclusivo e
absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis naturais.
Influenciado decisivamente pelo pensamento evolucionista de Charles Darwin,
essas leis seriam a base da regulamentação da vida do homem, da natureza como um todo e
do próprio universo. Seu conhecimento viria substituir as explicações teológicas até então
aceitas.
Augusto Comte (1798-1857) é tradicionalmente considerado o pai da Sociologia. Foi
ele quem, pela primeira vez, usou essa palavra, em 1839, no seu Curso de Filosofia Positiva.
Mas foi com Emile Durkheim (1858-1917) que a Sociologia passou a ser considerada uma
ciência e, como tal, se desenvolveu.
Durkheim formulou as primeiras orientações para a Sociologia e demonstrou que os
fatos sociais têm características próprias que os distinguem dos que são estudados pelas
outras ciências. Para ele, a Sociologia é o estudo dos fatos sociais.

PRINCIPAIS IDEIAS DO PENSAMENTO POSITIVISTA:

• Os pensadores positivistas atribuíam os princípios reguladores do mundo


físico e do mundo social a uma “origem natural” das coisas e dos fatos.
• Na análise da sociedade, fizeram surgir o “darwinismo social”, isto é, a
crença de que as sociedades mudariam e evoluiriam num mesmo sentido e que tais
transformações representariam sempre a passagem de um estágio inferior para outro
superior, em que o organismo social se mostraria mais evoluído, mais adaptado e mais
complexo. Esse tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos organismos – sociedades
e indivíduos – mais fortes e mais evoluídos.
• Tal pensamento glorificou a sociedade europeia do século XIX em franca
expansão. Buscava justificar através do método científico adequado, os padrões
burgueses e industriais do organismo social. Procurava resolver os conflitos sociais
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por meio da exaltação à coesão, harmonia natural entre os indivíduos e bem-estar do


todo social.

PRINCIPAIS PENSADORES: Augusto Comte, Saint Simon, Pierre Le Pley, e


outros.

1. SAINT SIMON – Pensador e economista francês (17/10/1760-19/5/1825). É


considerado, um dos precursores do socialismo utópico.
Filho de família nobre, nasceu em Paris e entrou para o Exército aos 17 anos, onde
luta como voluntário na Guerra de Independência dos Estados Unidos. De volta à França,
abandona o título de nobreza e adere à Revolução Francesa. Aos 40 anos, resolve retomar
os estudos. Escreveu vários livros, e suas ideias conquistam um grupo de adeptos formado
por políticos, banqueiros e engenheiros. Projeta-se como teórico do socialismo com o livro
Cartas de um Habitante de Genebra a Seus Contemporâneos (1802), mas é na sua segunda
obra, Introdução aos Trabalhos Científicos do Século XIX (1807), que identifica o germe do
positivismo.
Para ele, o avanço da ciência determinava a mudança
político-social, além da moral e da religião. É considerado o
precursor do Socialismo, pois, no futuro, a sociedade seria
basicamente formada por cientistas e industriais. O pensamento
Saint-simoniano pode ser visto nas suas obras com o lema: “a
cada um segundo sua capacidade, a cada capacidade segundo
seu trabalho”.
Ao falar sobre a “Nova Sociedade”, imaginou uma
imensa fábrica, na qual substituiria a exploração do homem
pelo homem para uma administração coletiva. Assim, a
propriedade privada não caberia mais nesse novo sistema industrial. Vale notar que existiria
uma pequena desigualdade e a sociedade seria perfeita depois de reformar o Cristianismo.
Ainda disse que o homem não é apenas algo passivo na história, pois sempre procura alterar
o meio social no qual está inserido.
A maioria dos primeiros pensadores sociais positivistas permanece, pois, presa a uma
reflexão de natureza filosófica sobre a história e a ação humana. Procedimentos de natureza
cientifica, análises sociológicas baseadas em fatos observados com maior critério só serão
introduzidos por Émile Durkheim e seu grupo, de quem falaremos a seguir.

2. AUGUSTO COMTE - (Montpellier, 1798-1857) - Filosofo francês, propositor da


Sociologia e fundador do Positivismo.
Isidore Auguste Marie François Xavier Comte. Desde cedo revelou uma grande
capacidade intelectual e uma prodigiosa memória. Seu interesse pelas ciências naturais era
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conjugado pelas questões históricas e sociais e, com 16 anos, foi


secretário do conde Henri de Saint-Simon (1760-1825), expoente
do socialismo utópico; todavia, como Saint-Simon apropriava-se
dos escritos de seus discípulos para si e como dava ênfase apenas
à economia na interpretação dos problemas sociais, Comte rompeu
com ele, passando a desenvolver autonomamente suas reflexões.
São dessa época algumas fórmulas fundamentais: “Tudo
é relativo, eis o único princípio absoluto” e “Todas as concepções
humanas passam por três estádios sucessivos - teológico, metafísico
e positivo. Comte trabalhava intensamente na criação de uma
filosofia positiva.
Segundo sua filosofia política existia na história três estados: um teológico, outro
metafísico e finalmente o POSITIVO. Este último representava o coroamento do progresso
da humanidade. Sobre as ciências, distinguia as abstratas das concretas, sendo que a ciência
mais complexa e profunda seria a Sociologia, ciência que batizou a sua obra Curso de Filosofia
Positiva, em seis volumes, publicada entre 1830 e 1842.
Defendia o ponto de vista de somente serem válidas as análises das so¬ciedades
quando feitas com verdadeiro espírito científico, com objetividade e com ausência de metas
preconcebidas, próprios das ciências em geral. Os es¬tudos das relações humanas, assim,
deveriam constituir uma nova ciência, a que se deu o nome de “Sociologia”. Esta não deveria
limitar-se apenas à análise, mas propor normas de comportamento, seguindo a orientação
resumida na famosa fórmula positivista: “saber para prever, a fim de prover”.

Todos os diversos meios gerais de exploração racional, aplicáveis às investigações políticas,


concorreram espontaneamente para estabelecer, de uma maneira igualmente decisiva,
a inevitável tendência primitiva da humanidade a uma vida principalmente militar e seu
destino final não menos irresistível a uma existência essencialmente industrial. (Apud
AYALA, Francisco. Historia de la Sociología. P. 77)

3. ÉMILE DURKHEIM E OS FATOS SOCIAIS - Émile


Durkheim (1858 – 1917), era francês, considerado de “boa família”,
formado em Direito e Economia, embora sua obra inteira seja dedicada
à Sociologia. Seu trabalho principia na reflexão e no reconhecimento da
existência de uma “Consciência Coletiva”. Numa rápida tradução, seria
possível dizer que ele parte do princípio de que o homem seria apenas
um animal selvagem e que só se tornou Humano porque se tornou
sociável, ou seja, foi capaz de aprender hábitos e costumes característicos de seu grupo social
para poder conviver no meio deste.
Dürkheim procurava com seus métodos de análise e objeto de estudo, explicações
para as modificações estruturais ocorridas com o advento da sociedade moderna. O tempo
todo ele considera que a sociedade precisaria ser estudada como um fenômeno ímpar; como
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uma unidade ou sistema organizado de relações permanentes e mais ou menos definido, com
leis naturais de desenvolvimento que são baseadas na articulação de suas partes. É por isso
que para Dürkheim, a sociedade é semelhante a um corpo vivo, em que cada órgão cumpre
uma função, ou seja, as partes (os fatos sociais) existem em função do todo (a sociedade)
A sociedade prevalece sobre o indivíduo. A sociedade é um conjunto de normas
de ação, pensamento e sentimento que não existem apenas nas consciências dos indivíduos,
mas que são construídas exteriormente, isto é, fora das consciências individuais. Na vida em
sociedade o homem se defronta com regras de conduta que não foram diretamente criadas
por ele, mas que existem e são aceitas na vida em sociedade e são seguidas por todos, pois
exercem uma ação coercitiva. Ex.: as leis.

Fatos sociais:

São regras e normas coletivas que orientam a vida dos indivíduos em sociedade –
têm sua origem na sociedade e não na natureza (como nas ciências naturais) ou no indivíduo
(como na psicologia).

Características:
• São exteriores: consistem em ideias, normas ou regras de conduta que não são
criadas isoladamente pelos indivíduos, mas que foram criadas pela coletividade e já existem
fora de nós quando nascemos.
• São coercitivos: As ideias, normas ou regras devem ser seguidas pelos membros da
sociedade. Se isso não acontece, se alguém desobedece a elas é punido, de alguma maneira,
pelo resto do grupo.
• São gerais: Repetem-se em todos os indivíduos, ou pelo menos, na maioria deles.
As formas de habitação, os sentimentos, a linguagem e a moral.

Como ocorrem?
Nas instituições que socializam os indivíduos e fazem com que eles assimilem as
regras e normas necessárias à vida em comum.
Consciência coletiva: O espírito da sociedade (sentimentos, ideias, crenças, tradições)
compartilhado pela média dos membros de uma sociedade, conjunto de semelhanças sociais,
o que os homens tem de igual. Ela exerce pressão direta sobre o indivíduo e não precisa estar
institucionalizada. Age-se por semelhança.
A Consciência coletiva é: Exterior; coercitiva e generalizada (não é de uma só
pessoa ou grupo, pois está “espalhada” em toda a sociedade).
• Dado ao caráter exterior e coercitivo dos fatos sociais, a regra básica para o
pesquisador é analisar os fatos sociais como coisas, isto é, como se fossem objetos que
existem independentemente de nossas ideias e vontades.
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• Assim, há ênfase na posição de neutralidade e objetividade que o pesquisador deve


ter em relação à sociedade: ele deve descrever a realidade social, sem deixar que suas ideias
e opiniões interfiram na observação dos fatos sociais.
• Partindo de uma analogia entre sociedade e ser vivo, a normalidade dos fatos sociais
é definida pela sua generalidade na “espécie” social a que pertencem.

Exemplo:
Numa instituição, uma prática costumeira, uma regra moral, serão consideradas
normais ou patológicas conforme se aproximem ou afastem, respectivamente, do tipo médio
da sociedade.

4. Max Weber: (1864-1920) vida e obra - Max Weber viveu


no período em que as primeiras disputas sobre a metodologia das
ciências sociais começavam a surgir na Europa, sobretudo em seu país,
a Alemanha. O método compreensivo, defendido por Weber, consiste
em entender o sentido que as ações de um indivíduo contêm, e não
apenas o aspecto exterior dessas mesmas ações. Segundo Weber, a
captação desses sentidos contidos nas ações humanas não poderia ser
realizada por meio, exclusivamente, dos procedimentos metodológicos
das ciências naturais, embora a rigorosa observação dos fatos (como nas ciências naturais)
seja essencial para o cientista social.
A análise da sociedade de Weber está centrada nos atores e em suas ações. A sociedade
pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais reciprocamente referidas.
O objeto da sociologia é a ação social (qualquer ação que o indivíduo faz orientando-se pela
ação dos outros). Toda vez que se estabelecer uma relação significativa, isto é, algum tipo
de sentido entre várias ações sociais, teremos então relações sociais. Só existe ação social
quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações, com
os demais.

Exemplo:
02 ciclistas que andam na mesma rodovia em sentidos opostos. O simples choque não
é uma ação social, mas a tentativa de se desviarem um do outro é uma ação (intencionalidade
na ação).

OS QUATRO TIPOS DE AÇÃO SOCIAL


1. Ação tradicional: aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado.
2. Ação afetiva: aquela determinada por afetos ou estados sentimentais.
3. Racional com relação a valores: determinada pela crença consciente num valor
considerado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade.
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4. Racional com relação a fins: determinada pelo cálculo racional que coloca fins e
organiza os meios necessários.

Exemplo:
A compra de um tênis por um consumidor – o ato de comprar é significativo, portanto,
é uma ação social.
Como ele orienta sua ação?
-Se escolher o modelo que mais gosta (ação afetiva).
-Se escolher o que tradicionalmente compra, assim como sua família é acostumada
a comprar (ação tradicional).
-Se comprar pelo valor que atribui a determinada marca de tênis (ação racional com
relação a valores).
-Se comprar o tênis que estiver mais de acordo com o fim proposto, como para jogar
vôlei, por exemplo, (ação racional com relação a fins).
Os positivistas (como eram chamados os teóricos da identidade fundamental
entre as ciências exatas e as ciências humanas) tinham suas origens, sobretudo na tradição
empirista inglesa, que remonta a Francis Bacon (1561-1626) e encontrou expressão em David
Hume (1711-1776), nos utilitaristas do século XIX e outros. Nessa linha metodológica de
abordagem dos fatos humanos se colocariam Augusto Comte (1798-1857) e Émile Durkheim
(1858-1917), este considerado por muitos como o fundador da sociologia como disciplina
científica.

5. Karl Marx e a HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO DO


HOMEM - Karl Heinrich Marx - (Trier, 1818 - Londres, 1883). Filósofo
político, cientista social, historiador e economista alemão. Fundador do
comunismo. Autor de A Ideologia Alemã, com Friedrich Engels (1846),
Manifesto do Partido Comunista, com Engels (1848), Salário, Preço e
Lucro (1865) e O Capital (1867/93).

VEJA MAIS

Para explicar as condições materiais de uma sociedade, Marx as denominou modos de


produção. A História é a mudança, passagem ou transformação de um modo de produção para outro.
Essas mudanças não se realizam por acaso nem por vontade livre dos seres humanos, mas acontecem
de acordo com condições econômicas, sociais e culturais já estabelecidas, que podem ser alteradas de
uma maneira também determinada, graças à práxis1 humana diante de tais condições dadas.

1
O conceito de práxis é a atividade por meio da qual a teoria se integra à prática, “mordendo-a”, e a prática “educa” e “reeduca” a teoria,
abre caminho para que seja repensada a relação teoria/prática. E a teoria só pode corresponder plenamente a essa demanda se integrar à
prática que a solicitou, participando dela. A práxis é a atividade por meio da qual a teoria se integra à prática, “mordendo-a”, e a prática
“educa” e “reeduca” a teoria.
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O método positivista, apesar das limitações já assinaladas, expôs ao pensamento


humano a ideia de que uma sociedade é mais do que a soma de indivíduos, que há normas,
instituições e valores estabelecidos que constituem o social.
Weber, por sua vez, reorganizou os fatos sociais “à luz” da história e da subjetividade
do agente social.
Marx, e seu materialismo histórico, representa a corrente mais revolucionária do
pensamento social nas consequências teóricas e na prática social que propõe.
Ao analisar a gênese do lucro capitalista, Marx toma como ponto de partida as
categorias da Escola Clássica Inglesa. Já Adam Smith2 havia observado que o trabalho
incorporado em uma mercadoria (o seu custo de produção em termos de salários), era inferior
ao “trabalho comandado” (aquilo que a mercadoria podia, uma vez vendida, “comprar” em
termos de horas de trabalho).
Para Smith, a discrepância entre custo de produção e salário é que explicava a
existência do lucro, mas não suas causas. Smith considerava que o lucro estava associado
à propriedade privada do Capital, na medida em que a renda de um empresário dependia
menos do seu trabalho como gerente do que do volume dos seus investimentos, mas tal não
explicava a existência do lucro como um overhead sobre os custos de produção em termos
de salários.
Para David Ricardo3 tal se dava devido ao fato de o salário gravitar sempre em torno
dos seus níveis “naturais” - isto é, de um mínimo de subsistência fisiológica. Caso, em função
de uma escassez de mão-de-obra, o salário subisse além do nível natural, os operários se
reproduziriam de tal forma que a oferta excessiva de trabalho deprimiria de novo os salários
ao mesmo nível natural. Para Ricardo, o lucro acabava sendo simplesmente um “resíduo” -
aquilo que sobrava como renda do empresário depois de pagos os salários de subsistência e
as rendas da terra ou dos equipamentos.
Marx adotou tal teoria ricardiana nas suas obras de juventude, como o Manifesto
Comunista; mais tarde, no entanto, verificou que os valores dos salários, variando de uma
sociedade a outra, não se reduziam ao elemento biológico, mas pelo contrário, incorporavam
elementos sociais e culturais (“como poderia um operário francês subsistir sem seu vinho?”
2
Economista escocês (6/1723-17/7/1790). Um dos teóricos mais influentes da economia moderna, responsável pela Teoria do Liberalismo
Econômico. Nasceu em Kirkcaldy, fez seus estudos em Glasgow e em Oxford, na Inglaterra. Foi um estudioso em muitos ramos do
conhecimento, entre os quais filosofia, história e ciências exatas, publica um importante tratado sobre moral, Teoria dos Sentimentos
Morais (1759). Cultiva amizade com filósofos, como David Hume, e inventores, como James Watt. Sua principal obra, Investigação sobre
a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações. Nela, define os pré-requisitos para o liberalismo econômico e a prosperidade das nações,
como o combate aos monopólios, públicos ou privados; a não intervenção do Estado na economia e sua limitação às funções públicas de
manutenção da ordem, da propriedade privada e da justiça; a liberdade na negociação do contrato de trabalho entre patrões e empregados;
e o livre comércio entre os povos.
3
Economista inglês (4/1772-11/9/1823). Autor da teoria do trabalho como valor, é um dos fundadores da ciência econômica. Nasceu em
Londres, filho de judeus holandeses. Deixou a escola aos 14 anos para trabalhar com o pai como corretor na bolsa de valores, atividade que
lhe rendeu prestígio profissional. Aos 21 anos, converte-se ao protestantismo e rompe com a família para casar-se com uma jovem quacker.
Trabalha por conta na bolsa de valores e fica rico, o que lhe permite dedicar-se à leitura, principalmente de textos sobre matemática, química
e geologia. Influenciado pelas ideias do economista inglês Adam Smith, aprofunda o estudo das questões monetárias. Em Princípios
de Economia Política e Tributação (1817), expõe suas principais teses. Defende a livre competição no comércio internacional, com a
especialização dos países na produção de determinados bens, o que beneficiaria compradores e vendedores. Sua teoria do trabalho, pela qual
o valor de um bem é determinado de acordo com o trabalho necessário a sua produção, é considerada a contribuição mais importante para
a ciência que criou. Elege-se em 1819 para o parlamento, no qual defende projetos liberais e reformistas.
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diz ele em O Capital). Ele também reparou que o lucro dependia, pelo menos em parte, da
produtividade física do capital, o que fez com que buscasse sair das constatações simples
de seus predecessores para elaborar uma teoria mais aprofundada das causas efetivamente
sociais do lucro capitalista.

TEXTO INFORMATIVO

É importante lembrar que, segundo Marx, o valor do trabalho não é uma grandeza
concreta: o operário não vende sua “força” (caso contrário um operário fisiculturista deveria
ser mais bem remunerado que um outro de físico normal que realizasse o mesmo trabalho)
ou sua “habilidade”.
Para Marx, o juro é apenas e tão somente uma forma pela qual a Mais Valia Social
Geral- a soma das várias mais-valias particulares - circula ao nível microeconômico e é
redistribuída entre os vários capitalistas - fundamentalmente, daqueles que realizam a produção
industrial para os portadores do Capital Financeiro. Ao analisar o Juro como uma variável
autônoma, Marx de certa forma antecipa a teoria monetária de Keynes, que considerava que
a igualdade entre poupança e investimento, longe de representar um equilíbrio entre oferta e
procura de capitais, seria uma simples identidade contábil.
Existe aí, portanto, entre o Marxismo e a Economia Neoclássica, uma base conceitual
não facilmente resolvível - especialmente quando se trata de autores da Escola Austríaca, que,
seguindo os princípios estritos dos fundadores da escola neoclássica, tentam explicar todos
os fenômenos econômicos com base na ideia de utilidade marginal e não dão nenhum papel
à quantidade de mão de obra na determinação do valor, contrariamente à Escola neoclássica
inglesa de Alfred Marshall, que busca uma síntese entre a Economia Clássica Inglesa (ou
Escola Ricardiana), e o Neoclassicismo Jevoniano.
Para Marx,

Uma elevação geral do nível dos salários originaria uma queda geral da taxa dos lucros,
mas não afetaria, de um modo geral, os preços das mercadorias. [...] A tendência geral da
produção capitalista não consiste em elevar o nível do salário, mas em o reduzir. [...] Os
‘Sindicatos’ atuam com utilidade como centros de resistência às usurpações do capital.
Deixam, em parte, de atingir o seu objetivo quando utilizam a sua força de forma pouco
inteligente. No entanto, deixam inteiramente de o atingir, quando se limitam a uma guerra
de escaramuças, contra os efeitos do regime existente, em vez de trabalharem, ao mesmo
tempo, para a sua transformação e servirem–se da sua força organizada como de uma
alavanca para a emancipação definitiva da classe trabalhadora, isto é, para a abolição do
sistema de trabalho assalariado. (MARX, K. Salário, Preço e Lucro).

Assim, a produção consome a força de trabalho e sustenta o consumo, pois cada


mercadoria consumida representa uma mercadoria a ser produzida. Por conseguinte, ao se
consumir de um produto que não é por si produzido, se fecha o ciclo de alienação. Pois, quando
um produto é comprado estará alimentando pessoas por um lado e, por outro, colaborando
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com sua alienação e suas respectivas explorações. Onde quer que o capital imponha relações
entre mercadorias, a alienação se manifesta; é a relação social engendrada pelo capital, seu
jeito de ser humano.
Para melhor compreender o problema da alienação é importante observar sua dupla
contradição. Por um lado, há a ruptura do indivíduo com o seu próprio destino e há uma
síntese de ruptura anterior, que apresenta novas possibilidades de romper à mesma alienação.
O outro lado se apresenta como uma contradição externa, sendo o capital tentando a tirar
suas características como humano, que leva o homem a lutar pela reapropriação de seus
propósitos.
A alienação somente constrói uma consciência fragmentada, que vem a ser algumas
visões que as pessoas têm de um determinado assunto, algumas alienadas sem saber e outras
que não esboçam nenhum posicionamento.

A IDEIA DE ALIENAÇÃO

Economicamente, o capitalismo alienou, isto é, separou o trabalho dos meios de


produção – as ferramentas, as matérias-primas, a terra e as máquinas – que se tornaram
propriedade privada do capitalista. O trabalhador, no sistema capitalista de produção,
perdeu ainda o controle do produto de seu trabalho, também apropriado pelo capitalista. A
industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separaram o trabalhador dos meios
de produção e do fruto de seu trabalho. Essa é a base da alienação econômica do homem sob
o capital.
Politicamente, também o homem se tornou alienado, pois o princípio da
representatividade, base do liberalismo, criou a ideia de Estado como um órgão político
imparcial, capaz de representar toda a sociedade e dirigi-la através do poder delegado pelos
indivíduos. Marx mostrou, entretanto, que na sociedade burguesa esse Estado representa
apenas a classe dominante e age conforme o interesse dela.
A filosofia, por sua vez, também passou a criar representações do homem e da
sociedade. Diz Marx que a divisão social do trabalho fez com que a filosofia se tornasse a
atividade de um determinado grupo. Ela é, portanto, parcial e reflete o pensamento desse
grupo. Essa parcialidade e o fato de que o Estado se torna legítimo a partir dessas reflexões
parciais – como, por exemplo, o liberalismo – transformaram a filosofia em “filosofia do
Estado”. Esse comportamento do filósofo e do cientista em face do poder resultou também
na alienação do homem.
Assim, alienado, separado e mutilado, o homem só pode recuperar sua condição
humana através da crítica radical ao sistema econômico, à política e à filosofia que o excluíram
da participação efetiva na vida social. Essa crítica radical só se efetiva na práxis, isto é, a ação
política consciente e transformadora.
É exatamente por esse princípio que os marxistas vinculam a crítica da sociedade à
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ação política. Marx propôs não apenas um novo método de pensar, mas também um projeto
para a ação.

AS CLASSES SOCIAIS

As ideias liberais surgidas com a ilustração consideravam os homens, por natureza,


IGUAIS POLÍTICA E JURIDICAMENTE. Liberdade e justiça eram direitos inalienáveis de
todo cidadão. Marx, por sua vez, proclama a inexistência de tal igualdade natural e observa
que o liberalismo vê os homens como átomos, como se estivessem livres das evidentes
desigualdades estabelecidas pela sociedade. As desigualdades sociais são provocadas pelas
relações de produção do sistema capitalista, as quais dividem os homens em PROPRIETÁRIOS
E NÃO-PROPRIETÁRIOS dos meios de produção. As desigualdades são a base da formação
das CLASSES SOCIAIS.
As relações entre os homens resultam das relações de oposição, antagonismo,
exploração e complementaridade entre as classes sociais.

ATIVIDADES
As atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta
“Atividades”. Após respondê-las, envie-nas por meio do Portfólio- ferramenta do
ambiente de aprendizagem UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas, utilize as ferramentas
apropriadas para se comunicar com o professor.

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