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Os seres humanos são criaturas sociais, tendemos a viver e a trabalhar em grupos sociais.
Nossa inclinação a viver e trabalhar juntos nos levou a formar sociedades civis, que têm
sido moldadas pelo crescimento de nosso conhecimento e pela sofisticação de nossa
tecnologia. Por outro lado, os tipos de sociedade em que vivemos influenciam nosso
comportamento social. A Sociologia é uma disciplina moderna, apesar de filósofos da China
e da Grécia antigas reconhecerem a existência da sociedade civil, suas preocupações eram
mais sobre como a sociedade deveria ser organizada e governada em vez de um estudo da
própria sociedade.
O parto desse novo mundo não é indolor: como inúmeros observadores de sua época, ele
diagnostica uma crise profunda da sociedade ocidental. A fim de remediar essa crise, ele
deseja consagrar-se a uma tarefa de reflexão e de reformador científico, e imitando Hobbes,
do qual toma de empréstimo a expressão “física social”, Comte se entrega a uma
empreitada fundadora para as ciências sociais: aquela que consiste em elevar a política ao
nível de ciência.
No intuito de resolver a crise social, com base não em “crenças teológicas”, mas no acervo
de conhecimentos da filosofia positiva. Esse positivismo é declinado em duas regras
elementares: observar os fatos sem emitir qualquer juízo de valor e enunciar leis. É nas leis
dos fenômenos que consiste realmente a ciência. “Saber para prever e prever para poder
agir” - eis a fórmula que melhor resume o espírito da filosofia positivista.
Auguste Comte (1798 - 1857), foi assistente do banqueiro e político, Casimir Pèrier, e
depois do Conde de Saint-Simon, expoente do socialismo utópico, Comte leva, à margem
das instituições, uma vida de intelectual solitário. Cabe a Comte o mérito de ter criado o
termo “sociologia”, palavra que vai substituir a expressão “física social”. Comte inventa a
“sociologia” (do latim socius que significa “sócio, associado”, e do grego logía, no sentido de
“discurso científico”).
Comte está convicto de que, combinando ordem e progresso, o positivismo vai superar a
teologia e a revolução. Acha-se assim definida a missão da sociologia, disciplina que toma
de empréstimo o acervo de conhecimentos do método científico para se aplicar à
observação e ao enunciado de leis relativas aos fenômenos sociais. Comte compara o
objeto da sociologia - a sociedade - a um corpo onde os esforços são coordenados a fim de
realizar um único objetivo. O todo prevalece, portanto, sobra a parte. A sociedade vem
necessariamente em primeiro lugar; ela é o alfa e o ômega do social.
“A sociedade se compõe de famílias e não de indivíduos. (...) Uma sociedade não se pode
então decompor em indivíduos, do mesmo modo que uma superfície geométrica não se
decompõe em linhas tampouco uma linha em pontos”. (Sistema de política positiva ou
tratado de sociologia que institui a religião da humanidade, 1851-1853)
O grande feito de Comte consiste em operar uma reconciliação entre duas tradições
diametralmente opostas: de um lado, os saudosistas da comunidade perdida e, de outro, os
adeptos da ideia de razão e de progresso. O estudo do progresso da mente e das
sociedades é precisamente o objeto da dinâmica social. Comte postulava que o
desenvolvimento da mente passa por três estados. Do mesmo modo que os estados da
sociedade limitam-se a refletir o estado das ideias, assim também a história dos seres
humanos é medida.
O segundo estado é o estado metafísico ou abstrato; na mente que atingiu este estado, “os
agentes sobrenaturais da sociedade teológica dão o lugar a forças abstratas”, tais como a
natureza. Aplicada à sociedade, esta fase de adolescência, transitória e desordenada,
corresponde a um estado militar.
Pioneiro da sociologia inglesa, Herbert Spencer (1820 - 1903) marca fortemente a análise
social do fim do século XIX. Esse engenheiro, que depois adere à filosofia e, por um
período, ao jornalismo, é um liberal hostil a toda forma de intervenção do Estado.
Para analisar o social, Spencer vai buscar inspiração em domínios que lhe são estranhos:
mecânica e fisiologia. Quando transpõe para o campo da história, Spencer infere a partir daí
que as sociedades evoluem do homogêneo para o heterogêneo, do simples para o
complexo. Assumindo uma posição totalmente comtiana, Spencer inscreve este movimento
de conjunto na lógica que conduz as sociedades do tipo “militar” para o tipo “industrial”. De
um lado, sociedades homogêneas com um forte grau de coerção, dirigidas por castas
militares e , do outro, sociedades fundadas sobre a divisão do trabalho, que respeitam a
liberdade individual e não recorrem à intervenção do Estado.
No terreno concorrencial das nascentes ciências sociais francesas, Émile Durkheim e sua
escola acabarão ganhando primazia. Mas à semelhança das outras, a sociologia
durkheimiana não escapa à sua época. O conteúdo da obra de Émile Durkheim é
inseparável do quadro sócio-histórico que ele viu surgir: o de uma III República (1871 -
1940) que procura não apenas superar as suas incertezas políticas, mas também resolver a
“questão social” pela via pacífica e do direito. Como é comprovado por seus numerosos
estudos, é o problema da integração do indivíduo à sociedade que ganha então
definitivamente o lugar principal na ordem de suas preocupações.
O projeto sociológico
Nascido em uma família judia, filho de um rabino que pertencia a uma longa linhagem de
rabinos, Durkheim sofre a influência da doutrina judaica que ele recebe na infância. Embora
ele depois se afaste do caminho religioso, sua análise será sempre influenciada pelo
respeito à lei e pela importância atribuída à força da comunidade.
No ano de 1896, Durkheim fundara a revista Année Sociologique, cujo primeiro número é
publicado em 1898; ela congrega jovens colaboradores que irão constituir, sob a sua
direção, a École française de sociologie. De seus estudos conserva sempre as lições e o
rigor metodológico. Durkheim falece em novembro de 1917.
Ao objeto da sociologia
Pode-se então definir a sociologia como a ciência dos fatos sociais. Para Durkheim, os
fatos sociais são maneiras de agir, de pensar e de sentir, fixas ou não, que exercem sobre
o indivíduo uma coercitividade exterior. Há um verdadeiro sistema de regras menos visíveis
que guiam também as mais diversas de nossas práticas: maneiras de vestir-se, de
consumir, de pensar, de cometer suicídio.
O que é um fato social?
Eis, portanto, uma ordem de fatos que apresentam características muito especiais:
consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo, e que são
dotadas de um poder de coerção em virtude do qual esses fatos se impõem a ele. Por
conseguinte, eles não poderiam ser confundidos com fenômenos orgânicos por consistirem
em representações e ações; Esses fatos constituem, portanto, uma espécie nova e é a eles
que se deve dar e reservar a qualificação de sociais. Essa qualificação lhes convém, pois
está claro que, não tendo o indivíduo como substrato, eles não podem ter outro a não ser a
sociedade.
Circunscrever um objeto de estudo particular não basta para fundar uma ciência. É
necessário ainda que se tenha um método rigoroso de análise e de explicação. Para
respeitar os cânones da cientificidade, deve-se em primeiro lugar “tratar os fatos sociais
como coisas”, não significa que os fatos sociais sejam redutíveis a fatos naturais. Durkheim
quer simplesmente dizer que, assim como o físico e o biólogo observam “de fora” os seus
objetos de estudo, o sociólogo deve saber situar-se à distância dos fatos sociais que ele
analise.
Da mesma forma, é certamente verdade que a sociedade não compreende outras forças
atuantes senão as dos indivíduos; somente os indivíduos, unindo-se, formam um ser
psíquico de espécie nova que, por conseguinte, tem sua maneira própria de pensar e de
sentir. Quando consciências, em vez de ficarem isoladas umas das outras, agrupam-se e se
combinam, algo se modifica no mundo. Na sequência , é natural que essas mudanças
venham a produzir outras alterações, que essa novidade gere outras novidades, que surjam
fenômenos cujas propriedades características não se encontrem nos elementos de que são
compostos.
É “o conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma
mesma sociedade e que formam um sistema determinado (de similitudes) que tem sua vida
própria”, A consciência coletiva significa bem o que é social. Prova de que o todo não é
simplesmente a soma das partes, é que o grupo social pensa, sente, age de modo diferente
daquele que teria sido manifestado por seus membros isolados.
Em seu estudo Da divisão social do trabalho, a grande tese defendida por Durkheim é que a
divisão do trabalho tem, antes de mais nada, por função, produzir solidariedade social. Mas
isto significa igualmente contrapor-se às teses que reduzem a divisão do trabalho a uma
fonte de progresso econômico ou ainda àquelas que analisam essa divisão como um
simples meio para que os homens possam viver sem coerção da sociedade.
Para Durkheim, o progresso da indústria, das artes, das ciências, assim como os serviços
econômicos que a divisão do trabalho pode prestar, são poucas coisas quando comparados
com o efeito moral que esta última produz. A divisão do trabalho gera uma integração do
corpo social, permite atender às necessidades de ordem e harmonia. Ela é, de fato, um
fator primário de coesão e de solidariedade.
Há em cada uma de nossas consciências, como já disse, duas consciências: uma, que
temos em comum com todo o nosso grupo e que, por conseguinte, não é nós mesmos, mas
a sociedade que vive e age em nós; A solidariedade que deriva das semelhanças está em
seu maximum quando a consciência coletiva cobre exatamente a nossa consciência total.
As moléculas sociais que só seriam coerentes dessa maneira não poderiam, portanto,
mover-se em conjunto a não ser na medida em que não possuem movimentos próprios,
como fazem as moléculas dos corpos inorgânicos. E é por isso que propomos que se dê o
nome de mecânica a essa espécie de solidariedade. Esta palavra não significa que seja
produzida por meios mecânicos e artificiais.
Bem diferente é aquilo que se passa com a solidariedade produzida pela divisão do
trabalho. Enquanto a precedente implica que os indivíduos sejam semelhantes, esta supõe
que sejam diferentes uns dos outros. A primeira só é possível na medida em que a
personalidade individual é absorvida na personalidade coletiva; a segunda só é possível
quando cada um tem uma esfera de ação própria. É, portanto, necessário que a consciência
coletiva deixe descoberta uma parte da consciência individual.
Aqui, portanto, a individualidade do todo aumenta na mesma medida em que cresce a das
partes; a sociedade se torna cada vez mais capaz de mover-se como um conjunto, ao
mesmo tempo em que cada um dos seus elementos dispõe de um maior número de
movimentos próprios. Cada órgão, com efeito, tem aí a sua fisionomia especial, sua
autonomia e, no entanto, a unidade do organismo é tanto maior quanto mais acentuada for
essa individuação das partes. Em razão dessa analogia, propomos que a solidariedade
devida à divisão do trabalho seja denominada orgânica.
Da divisão do trabalho
Para Durkheim existe uma espécie de lei da gravidade do mundo social que leva a
solidariedade mecânica a se rarefazer em proveito de uma solidariedade orgânica sempre
crescente. O crescimento demográfico, a coexistência de indivíduos cada vez mais
numerosos em uma mesma superfície geográfica e a multiplicação das comunicações
sociais têm como consequência uma luta pela vida. Para sobreviver, os seres humanos
devem também criar uma nova forma de solidariedade pela multiplicação dos papéis a
desempenhar.
Para explicar seus resultados, Durkheim distingue três formas principais de suicídio:
egoísta. anômico e altruísta. Em uma nota de rodapé, ele chega até a introduzir uma quarta
forma, pouco importante a seu ver: o suicídio fatalista.
O suicídio altruísta, em primeiro lugar, é característico de indivíduos tão fortemente
inseridos com o seu grupo de pertença, que são incapazes de resistir a um golpe da sorte
que enfraquece o agrupamento com o qual eles se confundem.
Integração religiosa
Deste modo, encontra-se explicada a situação do judaísmo. Com efeito, a reprovação com
que o cristianismo os perseguiu, durante muitos séculos, criou entre os judeus sentimentos
de solidariedade de particular energia. A necessidade de lutar contra uma animosidade
geral, obrigaram-os a se manter estritamente unidos entre si, cada comunidade tornou-se
uma pequena sociedade, compacta e coerente. Todo mundo pensava e vivia da mesma
maneira; as divergências individuais tornavam-se aí quase impossíveis por causa da
comunidade da existência e da estrita e incessante vigilância exercida por todos sobre cada
um.