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Teorias sociológicas da formação do capitalismo e da

sociedade industrial: Augusto Comte e Durkheim


As origens da sociologia no século XIX.
- A imaginação sociológica é o termo cunhado por Wright
Mills ( 1916- 1962) -tem origem no século XIX e deriva a
partir de três revoluções modernas que levaram os
sociológos a refletir sobre a sociedade de maneira
diferente.

1. Revolução Científica.

2. Revoluções Democráticas (ou burguesas).

3. Revolução Industrial

1959
Revolução Científica: a partir do século XVI e XVII, com Copérnico, Galileu, Descartes e Newton.
Estabelece a autonomia do intelecto humano como fonte de interpretação do universo. As
explicações divinas ou meramente naturalistas presentes na Escolástica (a ciência medieval da
Igreja) são substituídas por medidas humanas alcançadas a partir de métodos científicos e
experimentais.

Revolução Democrática: entre os séculos XVII (Revolução Gloriosa) e XVIII (Revoluções


Americana e Francesa); tornou evidente a noção de que os modelos políticos, os governantes e
as posições sociais não são determinadas por Deus (como pensavam os medievais) ou pela
natureza (como queriam os antigos, é o caso de Aristóteles). Os modelos políticos, as leis e as
constituições têm origem na humanidade.

Revolução Industrial: sobretudo a partir do século XIX com as transformações decorrentes da


urbanização e industrialização (novas tecnologias como máquinas a vapor e ferrovias; multidões
nas grande cidades; telégrafo, fotografia, cinema; novos materiais de construção – aço, ferro,
vidro; enriquecimento de alguns e empobrecimento de outros com novas relações de trabalho)
surgiu a noção de que a humanidade dá origem ao mundo em que vive. A industrialização não é
natural e muito menos divina, é fruto dos artifícios humanos. 3
As especificidades da sociologia.

FILOSOFIA
(tendências de explicações naturais e
análise do ser)

SOCIOLOGIA
(análise de regras sociais,
comportamentos coletivos que são
amplamente difundidos no interior
de grupos sociais ou de uma
sociedade como um todo; observa
HISTÓRIA
(tendência no estudo de um
que a origem desses
momento específico da história
comportamentos derivam da própria
humana e suas características)
sociedade e não de elementos
divinos ou naturais; busca
compreender a morfologia social, ou
seja, o processo de transformação ou
desenvolvimento das sociedades)
PSICOLOGIA
(foco em casos patológicos
individuais)
Quem é o pai da sociologia?

Augusto Comte (1798-1857), Émile Durkheim (1858-1917) foi Karl Marx (1818-1883) embora
fundador do “positivismo” e influenciado pelo “positivismo” de não tenha empregado o termo
inventor do termo sociologia. Afirma Comte e criou a primeira cátedra “sociologia” procurou fazer o
a necessidade de uma nova ciência universitária intitulada Sociologia em estudo da morfologia social;
que fosse responsável por estudar a Bordeaux. O pensador julgava ser o analisou a passagem do feudalismo
morfologia social, ou seja, o primeiro cientista a desenvolver um em direção ao capitalismo antes
processo de transformação das método sociológico, negando o mesmo de Durkheim.  
sociedades pensamento marxista.
O positivismo de Comte.

1830-1842 1852 1978


Características do positivismo.
• Confiança na Razão, Ciência e industrialização.

• Tendência experimental de sua ciência

• Defesa do evolucionismo social e do progresso da


humanidade

• Rejeição do pensamento mítico


Augusto Comte (1798-1857)
- Comte foi influenciado pela filosofia de Descartes (a ideia de que a razão e a ciência
dominam a natureza e produzem bem estar) e pela ciência experimental.

- Comte também foi influenciado pelos filósofos alemães do século XIX Kant e Hegel.

- Kant afirma que após a Revoluções Científica e Francesa a humanidade alcançaria a


“Paz Perpétua” e teria abandonado a menoridade da história da humanidade.

- Hegel considera que a Revolução Francesa e a ascensão do conhecimento científico


conduziriam a nossa espécie ao “Fim da história”.

- -Comte relaciona a ideia de “ordem e progresso” à “paz perpétua” e ao “fim da


história.
A lei dos três estados.

estado positivo ou científico

estado metafísico

estado teológico ou fictício


• Para Comte a humanidade passa por três estágios na vida: estado teológico,
estado metafísico e estado positivo – a lei dos três estados.

• No estado teológico ou fictício a explicação dos fatos decorre de vontades


análogas à nossa (a tempestade, por exemplo, será explicada por um capricho
da natureza do dos ventos). Este estado evolui do fetichismo ao politeísmo e
posteriormente ao monoteísmo.

• No estado metafísico o homem projeta espontaneamente sua própria


psicologia sobre a natureza (é o caso de explicações teológicas e filosóficas
sobre a origem de um Deus único e do mundo que percorreram o
pensamento antigo, medieval e moderno até Kant).
• O estado positivo contenta-se em descrever fatos, não procurando muitas
explicações subjetivas. Baseia-se nas leis positivas da natureza que nos
permite, quando um fenômeno é dado, prever o próximo fenômeno e
eventualmente agindo sobre o primeiro transformar o segundo (influência
de Kant – maturidade do conhecimento). Está relacionado ao processo de
industrialização, fortalecimento da ciências moderna e dos modelos
políticos republicanos.

• Para Comte, a lei dos três estados não é somente verdadeira para a história
da nossa espécie, ela é também para o desenvolvimento de cada indivíduo:
A criança dá explicações teológicas-fictícias ao mundo, o juvenil é
metafísico, ao passo que o adulto chega a uma concepção positivista das
coisas.
• As ideias são baseadas na observação, exatidão, deixando de lado teorias e especulações
da Teologia e Metafísica. Segundo Comte, as ciências que são positivistas são a
matemática, biologia Astronomia, física, química e a recém criada sociologia, que se
baseia em dados estatísticos.

• Os positivistas acreditam que a ciência é cumulativa (progresso), transcultural (não


interessa em qual cultura surgiu, serve para toda a humanidade) – influenciou as
correntes que defendiam o darwinismo social

• A frase na bandeira brasileira é baseada no lema de Comte sobre o positivismo. Ele dizia
“amor como princípio e ordem como base; progresso como objetivo”, e o criador de
nossa bandeira simplificou para “Ordem e Progresso”. Isto aconteceu no período quando
a monarquia foi derrubada, e instalou-se uma república pelas pessoas que seguiam os
pensamentos de Auguste Comte.
• Comte propôs uma nova religião à humanidade em seu “Catecismo
Positivista”. A ideia era substituir os santos e os templos religiosos cristãos por
filósofos, cientistas e templos da racionalidade.

• O positivismo foi empregado como álibi pelos europeus durante o século XIX e
XX para exercer o Imperialismo e Neocolonialismo na Ásia, África e Américas
do Sul e Central.

• A ideia era levar ordem e progresso às sociedades ditas primitivas, pois estas
se encontravam no estágio fictício e são atrasadas.

• O positivismo é visto hoje como uma teoria eurocêntrica que flerta com o
racismo.
A Sociologia de Durkheim.

1893 1895 1897


• Durkheim filia-se ao positivismo de Comte e terá uma visão otimista do capitalismo e da sociedade
industrial. Por isso, opõe-se ao pensamento de Marx.

• Sua teoria também denominada como funcionalismo. Autores funcionalistas trabalham com
determinismos sociais.

• A principal preocupação de Comte é responder: a) como surgiu o capitalismo? e b) como ele funciona?

• Por ser funcionalista, dirá que o capitalismo surgiu em função do progresso técnico, científico e
industrial, dando origem a uma sociedade pacífica, harmônica e solidária.

• A sociologia de Durkheim procurou dar explicações deterministas sociais. Diferenciou-se no


darwinismo social do século XIX que procura por interpretações deterministas naturais (clima,
geografia e biologia)

• Durkheim é acusado de observar o capitalismo segundo o ponto de vista dos dominadores, ou seja, da
burguesia e será criticado pelos pensadores marxistas.
TEORIA FUNCIONALISTA TEORIA DO CONFLITO OU
(Durkheim e os positivistas) DIALÉTICA
(Marxismo)

A história da A história da
humanidade está humanidade está
fundada na fundada na luta de
solidariedade. classes.
• Segundo Durkheim, o pensamento de Marx não é uma ciência e muito menos sociologia. Trata-se de uma
Anomia (patologia) social.

• Na obra “As regras do método sociológico” (menção explícita ao “Discurso do Método” de Descartes),
Durkheim define qual é exatamente o objeto de estudo da sociologia. Afirma que este objeto ou fenômeno
social deve ser estudado como “coisa” e, enquanto tal, permite a definição do que designa como FATO SOCIAL.

• Para ser considerado um FATO SOCIAL, o objeto de pesquisa dever ser:

1 – Geral – pois é recorrente, amplamente realizado por um grupo ou sociedade, é uma regra ou norma social.

2 – Exterior – o meio social é superior ao indivíduo e o obriga a pensar, agir e a se comportar segundo regras
sociais exteriores, de modo que ele é determinado pela sociedade e não exerce influência sobre ela (afirmação
do funcionalismo e negação da dialética).

3 – Coercitivo – o fato social é punitivo, de modo que o indivíduo que não segue as regras sociais e não obedece
as pressões exercidas pela sociedade passa por alguma forma de sanção.
• Para Durkheim, as lutas de classes anunciadas por Marx não são fatos sociais,
pois não “gerais” ou recorrentes (e sim exceções na história da humanidade).

• As lutas de classes são patologias (Anomias sociais), isto é, doenças sociais, não
são regras ou normas, senão desvios que prejudicam o progresso da humanidade.

• Caso as lutas de classes fossem rotineiras não haveria possibilidade de


organização social estável e duradoura.

• Na visão de Durkheim, o que rege as sociedade não são as lutas de classes, mas
sim relações de solidariedade e harmonia.

• Para dar um aspecto mais científico à sociologia, Durkheim utilizou termos


oriundos da biologia (embora não compactuasse com o determinismo biológico).
SOLIDARIEDADE MECÂNICA SOLIDARIEDADE ORGÂNICA

Ocorre em sociedades com alto nível de


Ocorre em sociedades com baixo ou
desenvolvimento industrial, tecnológico e
nenhum nível de industrialização e
científico, como as sociedades modernas. Exige
desenvolvimento científico. São sociedades
dos indivíduos alto nível de divisão social do
pequenas ou “primitivas” e com nível
trabalho (ou seja, a especializações). Recebe
pequeno de divisão social do trabalho. Há
este nome porque sociedades complexas
alto nível de compartilhamento de valores
funcionam como um organismo vivo e estão
(a consciência coletiva), de modo que os
repletas de múltiplas funções ou sistemas
indivíduos mecanicamente compartilham
interdependentes que precisam um do outro
sentimentos e comportamentos sociais.
para promover saúde e estabilidade.
Em Durkheim a divisão social do trabalho Em Marx a divisão social do trabalho (ou o
(ou o trabalho especializado) é reflexo de trabalho especializado) produz a alienação
uma sociedade harmônica e solidária. do proletariado, ou seja, a perda da
Quanto mais um indivíduo for especializado consciência de que o trabalhador é força
numa única função, mais ele contribuirá produtiva e, além disso, o torna em merca
com o funcionamento do sistema industrial. mercadoria descartável.
O suicídio é um Fato Social?
• Segundo Durkheim, o suicídio é um fato social pois é geral, exterior e coercitivo, ou seja,
a sociedade exerce pressões sobre os indivíduos que os conduzem ao ato. Munido de
padrões e recorrências estatísticas de diferentes cidades europeias do final do século
XIX, Durkheim tipifica 4 modelos:

a) Suicídio altruísta – ocorre quando o indivíduo tem fortes vínculos com o meio social
em que vive e introjeta a moralidade desse grupo. O indivíduo é tomado por uma
força coercitiva que o impele a realizar de forma obediente os anseios do grupo.
Temos como exemplos os “Kamikazes” ou mesmo terroristas fundamentalistas.

b) Suicídio egoísta – ocorre quando o indivíduo possui baixa integração social com o
grupo social ou a sociedade, não se sente pertencente ao meio social (Durkheim
chega a se referir a solteiros, viúvos, divorciados). A falta dessa integração exerce
coerção sobre o sujeito. É típico de sociedades modernas e é fruto do isolamento
social.
c) Suicídio Fatalista - ocorre devido à extrema regulação e coerção da
sociedade para com o indivíduo. Exemplos: escravos que se suicidam por não
verem possibilidade de liberdade; atualmente há casos vinculados aos baixos
desempenhos escolares, profissionais ou mesmo quando gêneros não
correspondem aos padrões sexuais determinados por um grupo religioso.

d) Suicídio Anômico – ocorre diante de mudanças drásticas na sociedade como,


por exemplo, crises econômicas, catástrofes e mudanças culturais caracterizadas
por um vertiginoso crescimento do número de suicídios. Alguns intérpretes de
Durkheim procuram interpretar esse tipo de suicídio, em alguns casos, como
uma forma particular, patológica ou exceção individual.

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