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MARTINS, Calos Benedito. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2006.

A sociologia é uma manifestação moderna, surgida no contexto das transformações sociais


que marcaram a passagem da sociedade feudal para a capitalista, tendo como plano de fundo
a chamada revolução científica, que desde o século XVII prepara o caminho para a nova
ciência, e é propiciada pela dupla revolução do século XVIII – industrial e francesa.

As mudanças econômicas, políticas e culturais que se processaram na sociedade pré-capitalista


possibilitaram o surgimento da sociologia como uma forma de refletir/intervir a nova
sociedade, apesar de a palavra sociologia ter surgido apenas por volta de 1830.

A consolidação da revolução significou a desintegração dos costumes e instituições e a


introdução progressiva de novas formas de organizar a vida social. Martins (2006) destaca a
que a industrialização e urbanização crescentes implicaram a reordenação do espaço rural, a
destruição da servidão, o desmantelamento da família patriarcal, a transformação da atividade
artesanal em manufatureira e, por último, em atividade fabril, desencadeando uma maciça
migração do campo para a cidade e engajando mulheres e crianças em jornadas de trabalho de
pelo menos 12 horas.

As conseqüências da rápida urbanização e industrialização foram catastróficas: aumento


assustador da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade da
violência, de surtos de epidemia de tifo e cólera.

“A profundidade das transformações em curso colocava a sociedade num plano de análise, ou


seja, esta passava a constituir-se em ‘problema’, em ‘objeto’ que deveria ser investigado” (p.
17). E é dessa forma que a sociologia representa uma resposta intelectual às novas condições
sociais geradas pela sociedade capitalistas, como a situação da classe trabalhadora, o
surgimento da cidade industrial, as transformações tecnológicas, a organização do trabalho.

O surgimento da sociologia acontece como uma resposta aos abalos provocados pela
revolução industrial, mas é resultado também das transformações na forma de pensamento. A
busca por uma explicação racional dos acontecimentos, com o uso da observação e
experimentação, se fazem presentes nas ciências naturais desde o século XVII. O pensamento
social vislumbra suas primeiras formulações teóricas no século XVIII, tendo como modelo as
ciências naturais.

Entre as formas de pensar que se destacam estão a busca por uma racionalidade histórica, já
que é o homem, e não uma força divina, o produtor do processo histórico. É desse período
também o interesse de compreender a sociedade a partir do estudo dos grupos e não dos
indivíduos isolados. As contribuições de Bacon em relação ao método indutivo como forma de
buscar o conhecimento científico também são aproveitadas pelos primeiros estudiosos sociais.

A corrente teórica que mais influenciou a sociologia foi o Iluminismo. Essa corrente de
pensamento criticava duramente a sociedade medieval e a sua estrutura de conhecimento. Os
Iluministas basearam-se nos modelos quantitativos de Newton, e na dedução de Descartes.
“A jovem ciência assumia como tarefa intelectual repensar o problema da ordem social,
enfatizando a importância de instituições como autoridade, a família, a hierarquia social,
destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade” p.33

Ley Play afirmou que a família e não o indivíduo isolado era o principal meio de compreensão
da sociedade. O autor identificou a fragilidade da família do trabalhador, propondo o retorno
da autoridade do pai como “chefe de família”, delimitando os papéis da mulher como mãe,
esposa e filha.

Conte busca compreender as “leis imutáveis” da sociedade, eliminando qualquer intervenção


subjetiva e crítica do cientista. O autor conceitua a chamada por ele “física social” como “a
ciência que tem por objeto próprio o estudo dos fenômenos sociais, segundo o mesmo espírito
com que são considerados os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos [...] p.
34. Conte busca com essa concepção separar a sociologia da economia política e da filosofia

Os “profetas do passado” foram um grupo de sociólogo que, comprometidos com a ordenação


da sociedade, buscaram na estabilidade e acentuada hierarquia social do período medieval, os
remédios para sociedade capitalista. Traçaram duras críticas aos Iluministas.

“As idéias dos conservadores constituíam um ponto de referência para os pioneiros da


sociologia [especialmente saint-Simon, Auguste Comte, Emile Durkheim], interessados na
preservação da ordem econômica e política”.

MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1994.


Por Cesar Augusto Sadalla Pinto
O autor conceitua a sociologia como o “conjunto de conceitos, de técnicas e de
métodos de investigação produzidos para explicar a vida social” (p. 3). Partindo do
princípio que essa área do conhecimento é fruto da busca em compreender a sociedade
capitalista em suas diferentes fases, e agir sobre a realidade social no sentido de
melhorá-la.
A obra está dividida em três capítulos: o surgimento, a formação e o
desenvolvimento. Ao tratar do surgimento da sociologia, o autor recorta o século XVIII
como momento propício para esse acontecimento, já que a Europa passava por um
contexto de profundas transformações econômicas, políticas e culturas. Ressalta ainda
que a ciência da sociedade “não é obra de um único filósofo ou cientista, mas representa
o resultado da elaboração de um conjunto de pensadores que se empenharam em
compreender as novas situações de existência que estavam em curso” (p. 5).
A dupla revolução por que passou a Europa no século XVIII (industrial e
francesa), tornou possível o surgimento da sociologia em um contexto catastrófico de
industrialização e urbanização, as quais tiveram como conseqüência o “aumento
assustador da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade,
da violência, de surtos de epidemia de tifo e cólera que dizimaram parte da população
etc” (p. 6).
O surgimento da sociologia deve-se a nova conjuntura social criada após as
revoluções burguesas, mas recebe contribuições também da chamada revolução
científica iniciada no século XVI e do movimento conhecido como Iluminismo.
As contradições da sociedade capitalista fizeram surgir diferentes concepções no
estudo da sociedade. O autor evidencia uma corrente conservadora, marcada pela crítica
as ideias iluministas e pelo saudosismo em relação à estabilidade vivenciada no período
medieval. A corrente conservadora era formada por um grupo de estudiosos que ficaram
conhecidos como “profetas do passado” e influenciaram os pioneiros da sociologia, com
destaque para Saint-Simon, Augusto Conte e Emile Durkkheim.
Saint-Simon é considerado por Durkkheim como o fundador do positivismo e o
verdadeiro pai da sociologia, em vez de Conte. Diante do caos enfrentado pela França
pós-revolucionária, defendia a restauração da ordem por meio do industrialismo, único
capaz de satisfazer as necessidades humanas e trazer riqueza e prosperidade para a
sociedade. Admitia a existência de tensões sociais entre as classes, mas acreditava que a
burguesia era capaz de atenuar os conflitos por meio da repressão ou de leis, e caberia a
sociologia orientar o desenvolvimento da indústria e a produção.
Assim como Saint-Simon, as ideias de Conte buscavam formas eficientes de
estabelecer a coesão social no caos pós-revolução. Buscou uma nova forma de conhecer
a realidade, diferente da filosofia iluminista, na convicção de reorganizar a sociedade.
Propõe uma ciência “positiva”, que ao contrário da forma de pensar anterior, não
pretendia apenas criticar a sociedade (negação), mas estava preocupada em organizar a
sociedade com vistas ao progresso. No contexto positivo, a sociologia surge como uma
área do saber necessária, e que deveria utilizar os mesmos métodos das ciências
naturais. Para conte a “ordem” e o “progresso” são necessários a construção da
sociedade.
Em Durkheim a ordem social também era uma preocupação constante, além da
busca em estruturar epistemologicamente a recém nascida área da ciência. O teórico
viu-se em um momento histórico de contradição, com a classe trabalhadora lutando por
melhores condições de trabalho, ao mesmo tempo em que a sociedade vislumbrava
grandes progressos tecnológicos. Discordava das concepções socialistas, atribuindo os
problemas sociais a fragilidade moral da sociedade, que era incapaz de normatizar o
comportamento dos indivíduos.
O autor trata sobre a contribuição de Marx e Engels para o desenvolvimento de
uma crítica a sociedade capitalista. Max Weber busca ratificar o estatuto científico da
sociologia, enfatizando a neutralidade do pesquisado diante dos fatos sociais estudados.
Negou a propensão positivista de transferir para as ciências sociais os métodos usados
nas ciências naturais.
O desenvolvimento da sociologia como ciência foi marcado pela tentativa da
burguesia de manter-se na direção da sociedade, usando todos os instrumentos
repressivos e ideológicos disponíveis. A luta ideológica entre capitalismo e socialismo
repercutiu no movimento sociológico contemporâneo, sendo utilizado para produzir
conhecimentos úteis à classe no poder.

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