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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE- FURG

PEDAGOGIA LICENCIATURA A DISTÂNCIA


ELEMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO
POLO UNIVERSITÁRIO DE SAPIRANGA

RESUMO CAP. 2 E 3

PATRICIA RAMOS DA ROSA

CAMPO BOM
2023
SEGUNDO CAPÍTULO
A FORMAÇÃO

O autor inicia abordando a visão crítica sobre a sociologia, destacando a


diversidade de métodos e a presença significativa da disciplina na sociedade
contemporânea. Ele menciona a opinião do matemático Henri Poincaré, que chamou
a sociologia de "ciência de muitos métodos e poucos resultados", mas observa que,
atualmente, a sociologia é amplamente reconhecida e aplicada em diversas áreas. No
entanto, o texto destaca as controvérsias internas dentro da sociologia, atribuindo isso
à falta de um entendimento comum entre os sociólogos sobre o objeto de estudo e os
métodos de pesquisa. Ele argumenta que essa falta de consenso tem raízes na
sociedade capitalista, marcada por antagonismos de classe e ainda sugere que a
existência de interesses opostos influenciou as perspectivas dos sociólogos pioneiros,
criando diferentes tradições sociológicas ou abordagens.
O livro também aborda a influência do contexto histórico na formação da
sociologia, especialmente durante o auge do capitalismo. Alguns sociólogos, otimistas
em relação à sociedade capitalista emergente, identificavam os valores da classe
dominante como representativos de toda a sociedade, buscando o pleno
funcionamento das instituições econômicas e políticas. Por outro lado, destaca-se
uma tradição sociológica mais conservadora, que encontrou inspiração no
pensamento conservador para explicar a realidade e defender a ordem estabelecida
pelo capitalismo.
A perspectiva dos conservadores, denominados "profetas do passado", que se
opunham aos ideais iluministas e criticavam a sociedade emergente após a Revolução
Francesa. Eles buscavam inspiração na estabilidade e hierarquia da sociedade feudal,
rejeitando as transformações do capitalismo industrial e teve como ponto de partida a
Revolução Francesa, que viam como um castigo divino, responsabilizavam os
iluministas e defendiam fervorosamente instituições tradicionais como religião,
monarquia e aristocracia, em declínio na época.
Pensadores como Edmund Burke, Louis de Bonald e Joseph de Maistre
criticaram os ideais iluministas, considerando a sociedade moderna em declínio
devido a fatores como urbanismo, indústria e igualitarismo e lamentavam a perda de
valores tradicionais e culpavam a Revolução Francesa por problemas sociais. Os
conservadores desenvolveram uma teoria social focada em instituições como família
e religião, enfatizando autoridade, hierarquia, tradição e valores morais para preservar
a ordem social. Eles viam a modernidade marcada por caos social e desorganização,
e a Revolução Francesa como o último elo de uma série de eventos prejudiciais,
incluindo o Renascimento e a Reforma Protestante.
O autor destaca a influência das ideias conservadoras nos pioneiros da
sociologia do final do século passado, interessados na preservação da nova ordem
econômica e política nas sociedades europeias. Embora os sociólogos modificassem
algumas concepções dos conservadores para se adaptarem às novas circunstâncias
históricas, eles reconheciam a devoção dos conservadores à manutenção da ordem.
No contexto dos positivistas, como Saint-Simon, Auguste Comte e Emile Durkheim,
as ideias conservadoras exerciam uma grande influência. Alguns positivistas
consideravam a "escola retrógrada" dos conservadores digna de admiração e
gratidão.
Os positivistas, notadamente Saint-Simon, iniciaram o trabalho de revisão das
ideias conservadoras para defendê-las sob uma nova perspectiva, visando proteger
os interesses dominantes da sociedade capitalista e, este é mencionado como um dos
primeiros pensadores socialistas, mas também é reconhecido como um dos
fundadores do positivismo. Ele é descrito como um entusiasta da sociedade industrial,
considerando a sociedade pós-revolucionária francesa como perturbada por
desordem e anarquia. Sua preocupação central era a restauração da ordem em meio
às instabilidades das relações sociais e percebia as novas forças na sociedade
durante a era industrial, acreditando que o progresso econômico resolveria conflitos
sociais. Ele propunha a união de industriais e cientistas como elite, dirigindo a
sociedade e substituindo antigas camadas sociais.
Saint-Simon identificou uma lacuna no conhecimento científico: a falta de uma ciência
da sociedade. Ele defendia que essa ciência deveria usar métodos das ciências
naturais para descobrir leis do progresso social. Apesar de sua visão otimista,
reconhecia conflitos entre possuidores e não possuidores, sugerindo a ciência social
para guiar a classe trabalhadora e evitar revoltas. Auguste Comte, influenciado por
Saint-Simon, compartilhava a visão de uma sociedade em anarquia e desordem e
fazia críticas a ideias religiosas e iluministas, considerando-as prejudiciais. Comte
propôs que a filosofia se tornasse submissa à ciência, defendendo a criação de um
conjunto de crenças comuns para restaurar a ordem social. Ambos os pensadores
enfatizavam a importância da ciência na reorganização da sociedade, mas enquanto
Saint-Simon mantinha uma faceta progressista e socialista, Comte era um
conservador, defendendo a necessidade de crenças comuns para alcançar uma
harmonia social.
Comte defendia uma filosofia "positiva" como reação às tendências negativas
dos iluministas e via o positivismo como uma abordagem construtiva e organizadora
da realidade, diferenciando-se da crítica iluminista. Para ele a sociologia era o ápice
da evolução do conhecimento científico, propondo a criação de uma "física social" que
utilizasse métodos semelhantes às ciências naturais. O positivismo orientava a
sociologia a buscar eventos constantes e repetitivos na natureza social que buscava
reconciliar "ordem" e "progresso", considerando a ordem existente como ponto de
partida para a construção da nova sociedade.
Durkheim, por sua vez, preocupava-se com a questão da ordem social de forma
sistemática. Ele estabeleceu o objeto de estudo da sociologia e indicou seu método
de investigação e contribuiu para a entrada da sociologia nas universidades,
conferindo-lhe reconhecimento acadêmico. Durante um período marcado por crises
econômicas, desemprego e lutas de classes, Durkheim observou o aguçamento dos
conflitos sociais, incluindo o uso de greves pelos trabalhadores. No entanto, o início
do século XX também foi caracterizado por progressos tecnológicos, como a utilização
do petróleo e da eletricidade, criando um clima de otimismo em relação ao progresso
econômico. Ambos os pensadores, cada um à sua maneira, abordaram questões
relacionadas à ordem social e ao papel da sociologia nesse contexto.
Segundo Durkheim, a divisão do trabalho deveria gerar cooperação e solidariedade,
mas nas sociedades europeias em rápida transformação, a falta de um novo conjunto
eficiente de ideias morais levava à anomia, uma ausência de regras claramente
estabelecidas. Durkheim via a anomia como sinal de doença social, destacando o
aumento de suicídios como indicativo da sociedade incapaz de controlar o
comportamento dos indivíduos.
Ao estabelecer a sociologia como disciplina independente, Durkheim focava
nos fatos sociais externos e coercitivos, que moldam as maneiras de comportamento,
sentimentos e apreciação da vida. Ele destacava a imposição das regras socialmente
aprovadas, menosprezando a criatividade individual no processo histórico. O
positivismo durkheimiano propunha que a sociedade fosse analisada como
fenômenos naturais, defendendo que o sociólogo usasse métodos das ciências
naturais, com o objetivo de restaurar a "saúde" da sociedade, argumentando que seria
necessário criar hábitos e comportamentos para o "bom funcionamento" social. Ele
enfatizava a moderação dos interesses econômicos, a disciplina, o dever e a
promoção do culto à sociedade, suas leis e hierarquia como fundamentais para
alcançar esse objetivo.
A sociologia, na perspectiva funcionalista derivada do pensamento de Émile
Durkheim, tem como função detectar e propor soluções para os problemas sociais,
visando restaurar a normalidade social e servir como técnica de controle social e
manutenção do poder vigente. Essa visão influenciou significativamente a sociologia
contemporânea, especialmente em relação à preocupação com a manutenção da
ordem social. Durkheim exerceu grande influência na França e, posteriormente, em
outros países, como Inglaterra e Estados Unidos. Os antropólogos Malinowski e
Radcliffe-Brown, assim como sociólogos americanos como Merton e Parsons,
contribuíram para o desenvolvimento do funcionalismo moderno, integrando as ideias
de Durkheim ao pensamento sociológico.
No entanto, enquanto o positivismo e o funcionalismo se preocupam com a
manutenção da ordem capitalista, o pensamento socialista realiza uma crítica radical
à sociedade capitalista, destacando seus antagonismos e contradições. Essa crítica
tem sua base teórica mais expressiva em Marx e Engels, cujas obras abordam a
sociedade como um todo, conectando antropologia, ciência política, economia e
sociologia para oferecer uma explicação global. O socialismo marxista assimila
criticamente as correntes do pensamento europeu do século XIX, incluindo o
socialismo utópico, que reagia às relações de exploração do capitalismo, buscando a
igualdade política e social. Marx e Engels criticam o socialismo pré-marxista,
reconhecendo suas ideias geniais, mas apontando suas limitações, argumentando
que as lacunas estavam relacionadas ao estágio de desenvolvimento do capitalismo
na época e discordavam dos socialistas utópicos por elaborarem críticas à sociedade
burguesa sem apresentar meios eficazes para promover transformações radicais.
Essa deficiência era atribuída ao caráter profundamente apolítico do socialismo
utópico, que, na visão de Marx e Engels, não reconhecia nenhuma classe social como
o instrumento para concretizar suas ideias.
Ao estudarem a filosofia alemã da época, Marx e Engels se depararam com a
dialética hegeliana, que ressaltava o caráter revolucionário devido às contradições
inerentes a tudo o que existe. No entanto, criticaram o idealismo de Hegel, que
postulava que o pensamento criava a realidade. Para corrigir essa abordagem,
recorreram ao materialismo filosófico de seu tempo, contestando tanto o idealismo de
Hegel quanto o materialismo mecanicista existente.
Marx e Engels concluíram que era crucial estudar a sociedade a partir de sua
base material, considerando a estrutura econômica como a verdadeira base da
história humana. Dessa forma, a análise da base econômica da sociedade deveria ser
orientada pela economia política. Ao criticarem os economistas clássicos, como Adam
Smith e Ricardo, Marx e Engels destacaram a inadequação da suposição de que a
produção de bens materiais era realizada por homens isolados que perseguiam
egoisticamente seus interesses particulares. Eles argumentaram que o homem é
essencialmente social e que a produção na sociedade capitalista não ocorria por
indivíduos isolados, mas sim por meio de relações sociais mais complexas,
contradizendo a visão individualista da escola clássica.
Essa crítica à visão individualista foi fundamental para fundamentar o entendimento
de Marx e Engels sobre a sociedade e a economia, preparando o terreno para a
elaboração do materialismo histórico. Eles ressaltaram a importância das relações
sociais, a natureza social do ser humano e a necessidade de analisar a base
econômica para compreender a dinâmica da sociedade.
A teoria social inspirada no marxismo não se limitou a conectar política, filosofia
e economia; ela também estabeleceu uma ligação entre teoria e prática, ciência e
interesses de classe. Para os pensadores marxistas, o problema da verdade não era
apenas uma questão teórica distante da realidade, pois a verdade da teoria deveria
ser demonstrada no terreno da prática. O conhecimento da realidade social deveria
se converter em um instrumento político capaz de orientar grupos e classes sociais
para a transformação da sociedade.
Diferentemente do positivismo, que buscava uma ciência social "neutra" e
"imparcial", Marx e seus seguidores destacaram a relação íntima entre o
conhecimento que produziam e os interesses da classe revolucionária na sociedade
capitalista: o proletariado. Enquanto os positivistas se concentravam na estabilidade
social e na manutenção da ordem existente, os marxistas direcionavam sua atenção
para as contradições inerentes ao capitalismo, destacando a luta de classes como a
realidade concreta.
Marx e Engels argumentavam que as contradições do capitalismo derivavam
do antagonismo entre o proletariado e a burguesia. Os trabalhadores, expropriados
dos meios de produção pelos capitalistas, enfrentavam dominação econômica, política
e cultural. A sociologia marxista rejeitava a visão positivista da crescente divisão do
trabalho como fonte de solidariedade, interpretando-a como uma das formas de realização
das relações de exploração, antagonismo e alienação.
A sociologia marxista não buscava apenas solucionar "problemas sociais" para
restabelecer a ordem existente, mas sim contribuir para mudanças radicais na
sociedade. Marx e Engels foram os representantes da classe operária, reconhecendo
a conexão entre conhecimento e interesses de classe. Seu legado influenciou temas
como a análise da ideologia, relações de classe, natureza do Estado e alienação,
proporcionando à sociologia uma orientação crítica e militante.
No entanto, Max Weber representou um marco na busca por uma neutralidade
científica na sociologia. Ele estabeleceu uma distinção rígida entre o conhecimento
científico e os julgamentos de valor sobre a realidade, buscando manter a neutralidade
da sociologia como profissão. Essa posição isolou a sociologia dos movimentos
revolucionários, contribuindo para a profissionalização da disciplina. Weber defendeu
que cientistas sociais deveriam oferecer análises claras e isentas, deixando as
preferências políticas e ideológicas para o âmbito pessoal. Essa visão influenciou a
sociologia como uma disciplina neutra e objetiva, pronta para ser aplicada em
diferentes contextos.
A sociologia de Max Weber foi fortemente influenciada pelo contexto intelectual
alemão da sua época, marcado por desafios políticos e econômicos significativos.
Weber observou a debilidade da burguesia alemã em controlar o poder político, o que
abriu espaço para a burocracia assumir o controle do Estado. Esse fenômeno,
conhecido como "ditadura do funcionário", preocupava Weber mais do que a
possibilidade de uma "ditadura do proletariado". A sua análise estava enraizada na
impotência política da burguesia alemã, apesar de dominar a vida econômica.
O surto de crescimento econômico na sociedade alemã dessa época teve
repercussões na vida acadêmica, enriquecendo as universidades. Weber incorporou
ideias de Kant, Nietzsche e Sombart em seus trabalhos. Ele se interessou pela origem
do capitalismo e, em sua obra "A ética protestante e o espírito do capitalismo",
explorou a relação entre a ética protestante, especialmente a calvinista, e o
desenvolvimento do capitalismo moderno. Ele reconheceu que o capitalismo se devia
à acumulação de capital, mas argumentou que a ética de certas seitas protestantes,
com sua ênfase na acumulação e reinvestimento, também desempenhou um papel
crucial.
A metodologia de pesquisa de Weber enfatizava a compreensão das intenções
e motivações individuais, rejeitando a proposta positivista de aplicar métodos das
ciências naturais à sociologia. Ele via o sociólogo como um agente ativo na produção
do conhecimento, em contraste com o positivismo, que muitas vezes reduzia o
pesquisador a um mero registrador de fatos. A obra de Weber contribuiu
significativamente para a pesquisa sociológica, abordando uma variedade de temas,
desde direito e economia até religião e política.
Embora reconhecesse o capitalismo como a expressão da modernização e
uma forma eloquente de racionalização do homem ocidental, Max Weber não
manifestava grande entusiasmo pelas realizações da civilização ocidental. Para
Weber, a crescente racionalização da vida no Ocidente, abrangendo campos como
música, direito e economia, tinha um alto custo para o homem moderno. Ele via a
escalada da razão e sua utilização abusiva como levando a uma excessiva
especialização, resultando em um mundo cada vez mais intelectualizado e artificial,
que abandonara os aspectos mágicos e intuitivos do pensamento e da existência.
Suas análises o levaram a concluir que esse processo de racionalização era inevitável.
Contrariamente ao movimento socialista, Weber não via atrativos nele. Ele chegou até
mesmo a considerar que um Estado socialista acentuaria os aspectos negativos da
racionalização e burocratização da vida contemporânea. Sua visão sociológica dos
tempos modernos desembocava em uma apreciação melancólica e pessimista,
capitulando de forma resignada diante da realidade social.
A obra de Weber, assim como a de outros pensadores clássicos da sociologia,
incluindo Marx, Durkheim, Comte, Tocqueville, Le Play, Toennies e Spencer, foi
decisiva na formação da sociologia. Esse período, que se estende de 1830 às
primeiras décadas do século XX, testemunhou a formação dos principais métodos e
conceitos de investigação sociológica. Os clássicos da sociologia, independentemente
de suas filiações ideológicas, buscaram explicar as grandes transformações pela
formação e desenvolvimento do capitalismo na sociedade europeia. Seus trabalhos
forneceram informações valiosas sobre as condições de vida humana, equilíbrio e
mudança social, mecanismos de dominação, burocratização e alienação na época
moderna. Geralmente, esses estudos clássicos, ao examinarem os problemas
históricos de seu tempo, proporcionaram uma imagem abrangente da sociedade da
época e estabeleceram uma rica relação entre as situações históricas e os indivíduos
que as vivenciavam, contribuindo significativamente para a compreensão da
vinculação entre a biografia dos homens e os processos históricos.

CAPÍTULO TERCEIRO
O DESENVOLVIMENTO

Este capítulo discute a evolução da sociologia em meio às transformações do


contexto histórico, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento do
capitalismo. Enquanto os primeiros sociólogos expressavam otimismo em relação à
civilização capitalista, eventos históricos subsequentes, como o surgimento de
grandes empresas, guerras entre potências mundiais, a organização do movimento
operário e revoluções socialistas, levaram a uma visão mais crítica. A crise profunda
enfrentada pela civilização capitalista no século XX teve repercussões no pensamento
sociológico contemporâneo. O desmoronamento da civilização capitalista, devido a
movimentos revolucionários e à ascensão do socialismo, levou a que o conhecimento
científico fosse subjugado aos interesses da ordem estabelecida. As ciências sociais,
incluindo a sociologia, passaram a ser utilizadas para legitimar e sustentar a
dominação existente.
O sociólogo moderno, muitas vezes vinculado a organizações privadas ou
estatais, viu-se envolvido nas estruturas que financiam suas atividades, tornando
difícil a produção de um conhecimento autônomo e crítico. A absorção do sociólogo
na manutenção das relações de dominação resultou em uma burocratização e
domesticação de seu trabalho. O autor destaca que, após a Segunda Guerra Mundial,
houve uma mudança significativa, com sociólogos modernos envolvendo-se mais
diretamente na luta pela manutenção das relações de dominação. A burocratização
do trabalho intelectual tornou-se uma realidade que limitava a autonomia crítica e a
criatividade intelectual dos sociólogos. No entanto, ele reconhece que nas décadas
iniciais do século XX, apesar da faceta conservadora da burguesia, os sociólogos
conseguiam, em certa medida, desenvolver conhecimento que não se alinhava
prontamente às exigências práticas de conservação da dominação burguesa. O
período era rico em pesquisa da sociologia, especialmente com o estabelecimento da
pesquisa de campo. Os pesquisadores exploraram temas que preocupavam os
estudiosos clássicos, como a formação histórica do capitalismo, a divisão do trabalho
e os mecanismos sociais que sustentam a ordem social. Na França, os seguidores de
Durkheim realizaram análises ricas sobre vários aspectos da vida social, abordando
temas como a troca de presentes em sociedades primitivas e a importância dos
contextos sociais para os indivíduos.
Na Alemanha, destacam-se os estudos de Max Weber, que, assim como vimos
no capítulo anterior, continua sua investigação sobre a origem e natureza do
capitalismo moderno. Além de Weber, outros importantes estudiosos alemães, como
Sombart, Marc Bloch e Henri Pirenne, contribuíram para a exposição sistemática do
capitalismo moderno. Max Scheller e Karl Mannhein também se destacaram,
trabalhando no desenvolvimento do que chamavam de "sociologia do saber".
Mannheim, em sua obra "Ideologia e Utopia," buscou estabelecer relações entre
diferentes ideologias e contextos sócio-históricos, transformando a sociologia em uma
técnica de controle social. Houve também esforços para classificar diferentes tipos de
relações sociais em todas as sociedades.
Nos Estados Unidos, a Universidade de Chicago desempenhou um papel
significativo no avanço da sociologia, especialmente por meio de estudos de campo.
Pesquisadores, incluindo William Thomas, coautor de "The Polish Peasant in Europe
and América," e Robert Park, concentraram-se na rápida urbanização e nas mudanças
nos estilos de vida resultantes. A pesquisa de campo, empregando novos métodos
como coleta de biografias e correspondência, permitiu uma compreensão mais
profunda das transformações sociais nas grandes cidades.
Apesar do progresso, o texto aponta algumas limitações nos estudos da época.
As pesquisas durkheimianas, ricas em material prático, relegaram as classes sociais
a um plano secundário como explicação para fenômenos sociais. Na Alemanha,
tentativas de minimizar a influência do marxismo visavam neutralizar sua presença no
meio acadêmico. Estudos sobre a classificação de diferentes tipos de relações sociais
frequentemente desvinculavam essas relações de sua realidade histórica. O
florescimento dos estudos experimentais nem sempre estava vinculado à reflexão
teórica, e alguns estudos eram considerados pouco reveladores em termos
explicativos. Além disso, o autor destaca que alguns estudos possuíam implicações
ideológicas, aceitando a realidade social tal como era apresentada. Mudanças sociais
eram estudadas por teóricos com ligações claras ou tênues com o pensamento
socialista, como as análises de Lênin e Rosa Luxemburgo sobre o imperialismo.
O desenvolvimento da sociologia na segunda metade do século XX,
especialmente nos Estados Unidos, destaca as influências das guerras mundiais e o
impacto da Grande Depressão. Durante esse período, ocorreram transformações
significativas que moldaram o curso da sociologia. O surgimento das duas guerras
mundiais interrompeu drasticamente o intercâmbio de conhecimentos entre as
nações, e a implantação de regimes totalitários em alguns países europeus resultou
na perseguição de intelectuais e cientistas. Muitos pesquisadores emigraram para a
Inglaterra e os Estados Unidos, afetando a consolidação da sociologia em alguns
países europeus. O fortalecimento econômico e militar dos Estados Unidos durante
esse período permitiu o surgimento de centros de pesquisa norte-americanos
apoiados institucional e financeiramente, assumindo a liderança nos estudos
sociológicos.
A sociologia norte-americana, a partir da segunda metade do século,
caracterizou-se por um acentuado reformismo, abordando temas relacionados à
"desorganização social", questões urbanas e integração de minorias étnicas e
religiosas. O desenvolvimento da sociologia nos Estados Unidos foi fortemente
influenciado pelo "Estado-do-Bem-Estar-Social", que utilizava conhecimentos
sociológicos para implementar políticas de conservação da ordem existente.
A sociologia, a partir dos anos cinquenta, tornou-se envolvida na luta contra a
expansão do socialismo, na neutralização de movimentos de libertação de nações
subjugadas e na manutenção da dependência econômica e financeira desses países
em relação aos centros metropolitanos. Antes desse período, durante a Grande
Depressão, a sociologia americana buscou fundamentar teoricamente uma posição
antimarxista, estabelecendo contato com a sociologia acadêmica europeia. Um grupo
de professores e pesquisadores de Harvard estudou a obra de Pareto com o objetivo
de enfrentar teoricamente o marxismo. Isso contribuiu para a consolidação de uma
postura conservadora na sociologia americana.
O desenvolvimento experimental da sociologia nos Estados Unidos,
especialmente os trabalhos da "Escola de Chicago", levou a um intenso foco na
criação de novos métodos e técnicas de pesquisa. Esse desenvolvimento
metodológico, embora tenha contribuído para a pesquisa sociológica, também
resultou em uma ênfase excessiva nos aspectos metodológicos em detrimento das
questões teóricas. Os estudos de campo realizados sob a orientação empirista,
embora fornecessem uma grande quantidade de dados, muitas vezes careciam de
uma visão histórica integrada.
O autor nos traz, como encerramento, a evolução da sociologia, destacando as
diferentes correntes de pensamento e abordagens que moldaram a disciplina:
Críticas ao Empirismo e Positivismo: Critica a prevalência do empirismo na
sociologia contemporânea, argumentando que os estudos empíricos contribuíram
para desmembrar os fenômenos investigados do conjunto da vida social. A visão
positivista, que defende a neutralidade e objetividade na pesquisa sociológica, é
mencionada como uma influência, destacando figuras como George Lundberg.
Conservadorismo na Sociologia: A sociologia, em sua evolução, adotou posturas
conservadoras, afastando-se das preocupações dos pensadores clássicos como
Weber, Marx e Durkheim, que buscavam entender questões históricas e a totalidade
da vida social.
Profissionalização e Relação com o Poder: A profissionalização da sociologia é
abordada como uma mudança que a tornou uma ferramenta de correção da ordem,
contribuindo para a ascensão social da classe média intelectualizada. A sociologia,
nesse contexto, passou a servir aos interesses dominantes, colaborando com o
Estado, empresas privadas e organizações internacionais.
Funcionalismo e Conservadorismo: Destaca o funcionalismo como uma
abordagem que dominou a sociologia, com uma preocupação central em entender
como a ordem social é possível. Apesar de algumas críticas, o funcionalismo é
associado à preservação da ordem estabelecida.
Sociologia Crítica: Em contraste, há menção à sociologia orientada por uma
perspectiva crítica, que permite a compreensão da sociedade capitalista, das políticas
de dominação e dos processos históricos que buscam alterar a ordem existente.
Autores associados a essa perspectiva incluem Wright Mills, Alvin Gouldner, Lucien
Goldman e Martin Nicolaus.
Contribuições do Pensamento Socialista: A importância do pensamento socialista,
representado por autores como Marx, Lukács e membros da Escola de Frankfurt. Eles
ofereceram uma visão crítica da sociologia e da sociedade capitalista, buscando a
transformação social.
Sociologia na Periferia do Sistema Capitalista: Nas sociedades periféricas do
sistema capitalista, sociólogos têm produzido trabalhos questionadores da ordem,
especialmente em relação à dominação imperialista.
Desafios e Compromissos do Sociólogo Contemporâneo: A necessidade de os
sociólogos contemporâneos estabelecerem uma relação crítica com as forças e
movimentos sociais que buscam a mudança, quebrando o isolamento e
transformando a sociologia em um instrumento de transformação social. A importância
de alinhar a sociologia com os interesses dos expropriados materiais e culturalmente
é destacada como uma forma de construir uma sociedade mais justa e igualitária.

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