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Dom Juan

Duologia Irmãos D’Laurentes


Livro 1

Está é uma obra de ficção. Qualquer semelhança é mera coincidência.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são obra da
imaginação da autora. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou
reproduzida sob quaisquer meios existentes, sem a autorização por escrito do
autor.
Capa por Angel Design
Revisão por Tay Stowe

Para meu bebê que não chegou a nascer, mas que eu tanto amei durante
cada segundo que esteve dentro de mim e, continuarei amando até o meu fim.

Jéssica Luiz
Sinopse
Com seus 29 anos, Juan D'Laurentes, decide estabelecer prioridades em sua
vida. Mas precisamente uma prioridade, isso incluía não se envolver com
ninguém. Ate conhecer Helena Junks, uma mulher autêntica e engraçada, mas
que guarda mágoas de sua infância.
Um homem em busca de redenção.
Uma mulher em busca de um sentido pra viver.
Seria o amor o melhor remédio para os dois?
"Ele era o dono do jogo, mas foi ela quem fez as regras."

Sumário
Prólogo
1| Helena
2| Juan
3| Helena
4| Juan
5| Helena
6| Juan
7| Helena
8| Helena
9| Helena
10| Juan
11| Helena
12| Helena
13| Juan
14| Helena
15| Juan
16| Helena
17| Juan
18| Helena
19| Helena
20| Juan
21| Helena
22| Juan
23| Helena
24| Juan
25| Helena
26| Juan
27| Helena
28| Juan
29| Helena
30| Juan
Epilogo
Nota da Autora
Prólogo Maria Clara
Prólogo
Certo.
Cer-to.
C-E-R-T-O!
ERRADO!
Hoje definitivamente não é meu dia de sorte!
Depois de um fim de semana daqueles, SIM, daqueles onde eu encontrei o
que facilmente eu chamaria de O Cara! Tipo aquela cena clichê, onde eu
tropeço, ele me ajuda, nossos olhos se encontram e a magia acontece. Algo
nos atraí, como se existisse uma corrente elétrica que nos unisse, então aquela
tensão sexual toma tudo a nossa volta e é como se somente nós dois
existíssemos. Nossos lábios se encontram e aquelas famosas borboletas que
as mocinhas dos livros descrevem me tomam por completo, típico de um
livro de romance perfeito onde tudo dá certo no final, entende? E talvez seja!
Ok, realmente é.
Talvez, só talvez, eu tenha "mergulhado" no mundo literário durante o fim de
semana inteiro e tenha perdido a noção do tempo. Mas em minha defesa, era
um livro bom, muito bom. Acabei me envolvendo a ponto de esquecer meus
"compromissos" de finais de semana, que envolviam lavar a roupa, limpar o
apartamento, fazer a minha comida da semana seguinte a qual divido em
marmitas, e o ultimo e não menos importante "socializar" que inclui levar o
Jorginho para passear e sair com meus amigos.
Definitivamente sou uma péssima mãe e uma amiga horrível!
Antonella com certeza, deve estar um pouco, ou muito chateada comigo, por
eu ter, acidentalmente, esquecido que iriamos na inauguração de um pub que
segundo ela e Renan, iria servir para me mostrar que a realidade é mais
interessante que o mundo imaginário em que eu vivo.
Mas o destino resolveu me cobrar por ser uma mãe relapsa e uma amiga
ausente. Com certeza, o universo me cobrara pelas 17 ligações perdidas em
meu celular e as 128 notificações não visualizadas onde com certeza vaca
seria um elogio perto de tudo que Antonella e Renan devem ter me chamado.
Mas eu lidaria com isso depois.
Agora nesse momento tinha preocupações maiores, como por a culpa no fato
de que ter dormido apenas seis horas de sono durante o fim de semana inteiro
tenha feito eu cochilar durante um xixi que era para ser relaxante, se não
fosse pelo incidente que ocorreu com o "despertar" do meu cochilo. Eu bati
com a testa na merda da porta do armário aéreo do banheiro que nem se quer
me lembro de ter aberto. O que era um galo ENORME na testa em plena
segunda feira, onde eu teria que acompanhar o Dr. Afonso em uma reunião
com 12 executivos nada simpáticos e super evasivos? Ou o que era o fato de
minhas melhores roupas estarem sujas? Isso realmente não era nada, NADA!
Levando em consideração de ter pisado em um presentinho nem um pouco
agradável e estar atrasada o suficiente para não poder limpar minha sandália e
meu pé.
—Ah Jorginho, menino mal!
Grito ao sentir o cocô do meu pinscher na minha sandália e nos meus dedos.
SIM! Nos meus dedos!
—Você me paga por isso! Para que servem os tapetes higiênicos?
Exclamo ao mesmo tempo em que Jorginho me olha com aquele olhar
de "você merecia isso por ser uma péssima mãe."
Bufo, fechando a porta de forma desajeitada enquanto tiro algumas toalhas de
papel da minha bolsa, até que enfim a maldita renite serviu de algo. Aperto o
botão do elevador, e enquanto o aguardo "limpo" o desastre em meu pé da
melhor forma que consigo. Aliso minha saia lápis e ajeito minha blusa branca
que infelizmente não está tão impecável assim, já que por causa do meu
agitado fim de semana, eu não tive tempo de lavar nem passar minhas roupas.
Mas fala sério! Quem nunca usou uma roupa "suja" na falta de uma limpa?
Observo o painel do elevador e percebo que o botão de chamada não está
acesso, aperto mais algumas vezes e me dou conta que o bendito deve estar
em manutenção. De novo!
—Tá de brincadeira com a minha cara né?
Falo olhando para o "céu" como se alguma intervenção divina fizesse o
elevador funcionar em um passe de mágica. O que obviamente não acontece.
—Vamos lá Helena, descer as escadas não pode ser tão ruim assim.
Argumento comigo mesma, anulando o fato de terem 9 andares pela frente e
estar usando um salto de 12 centímetros.
Ao chegar ao térreo suada do meu quase exercício, eu vou em direção à rua,
onde minha carochinha fica estacionada, já que meu amado prédio não possui
estacionamento próprio. Sento no volante e como mantra digo a mim mesma.
—Helena você é uma secretária executiva inteligente e dedicada, você tem
um emprego dos sonhos, um início de manhã ruim não quer dizer o que o dia
inteiro será ruim. O universo já cobrou por todos os seus erros. Vá e seja a
melhor versão de você mesma como faz todos os dias.
Eu não poderia estar mais enganada.

Capítulo 1

Helena
Estaciono meu carro, que carinhosamente Renan apelidou como carochinha,
desde a vez em que precisou assumir a direção, já que após algumas doses de
tequila, eu não estava apta para dirigir. Pego minha bolsa, conferindo meu
celular e quase pulo do carro ao ver a hora, eu estava dezoito minutos
atrasada! Ainda que Dr. Afonso seja um ótimo chefe, eu como secretária da
presidência tenho que me portar como tal e ser exemplo para o restante dos
funcionários e isso inclui pontualidade, o que nesse momento, eu realmente
não estava cumprindo.
Corro da melhor forma que consigo até o elevador, aperto o botão de
chamada agradecendo mentalmente por estar sozinha, quão vergonhoso seria
entrar nessa caixa metálica quando literalmente estou fedendo a merda?
“Obrigada senhor por ter minha sorte de volta”. Entro no elevador planejando
minhas próximas tarefas, tenho em média de dois minutos para lavar meu pé
e limpar minha sandália no lavabo da sala de reuniões e no máximo dez
minutos para deixar a sala pronta até a chegada dos tubarões. Certo! Eu
conseguiria, mantendo a calma, sem entrar em pânico.
Escuto ao longe, uma voz grossa dizendo "segura!", como não sou obrigada
me fiz de surda e me mantive concentrada para conseguir realizar as futuras
tarefas que precisava em menor tempo possível. Pânico, sim! Esse foi o
sentimento, que tomou conta de mim no instante que uma mão, e que mão!
Invadiu o espaço das portas do elevador que estavam quase fechadas.
Rapidamente começo uma prece interior, pedindo aos céus para seja um dos
tubarões velho, feio e barrigudo.
DROGA!
NÃO ERA.
Como em um pesadelo ou um sonho erótico, entra um Semideus. Imagine
Apolo, versão atualizada é claro, com um terno preto, com certeza feito sob
medida, a típica camisa branca sem gravata o que tornava tudo "pior" ainda,
um Rolex de pulso, óculos de sol que rapidamente me fez imaginar, qual
seria a cor desses olhos? E uma maleta em mãos completando todo o visual
de um cara que com certeza exala poder pelos poros. A personificação do
pecado em pessoa. Ele entra, as portas se fecham, acena como sinal de
educação. Nesse momento me obrigo a sair do meu até então, estado de
inércia.
—Bom dia.
Pronuncio, bancando a egípcia, ainda fingindo que não o ouvi pedindo para
segurar o elevador. Ele não responde, grosso!
Olho para o painel e só o décimo quinto andar que está com luzinha acessa,
andar que eu mesma acionei, será ele um dos executivos da reunião? Não me
surpreenderia, já que o cara parece literalmente o todo poderoso.
Disfarçadamente olho em sua direção e o vejo torcer o nariz, em seguida ele
olha para os próprios pés, será que ele tem algum tique nervoso? Quando o
vejo levantar a cabeça rapidamente desvio meus olhos. Pelo reflexo do
elevador vejo se olhar em mim.
-Você está sentindo esse cheiro?
Fala com sua voz incrivelmente grossa, começo a imaginar quais outros
lugares também seriam robustos naquele corpo incrível.
—Não, que cheiro?
MERDA! Literalmente merda.
No instante em que me lembro do acontecido de hoje cedo e percebo que o
tal cheiro vem dos meus pés, mais precisamente de um pé, sinto todo o
sangue do meu corpo indo para meu rosto.
Ele dá uma risadinha, ELE DÁ UMA RISADINHA! Mas que...
—Fique tranqüila querida, eu entendo que deve estar em um dia ruim levando
em conta o estado de sua blusa, mas certifique-se que dá próxima vez esse
"escape" seja fora do elevador.
Dito isso se vira de frente para as portas do elevador.
Querida? Estado da minha blusa? Escape? Como assim...? Ah não! Ele acha
que eu peidei? NÃO! Sim! Esse pedaço de pecado, lindo do tipo Deus grego,
acha que eu peidei, no elevador. Isso não pode estar acontecendo. Mas está.
Rapidamente olho para o painel e estamos no nono andar, aperto no décimo,
na esperança de sair o mais rápido possível dessa situação constrangedora,
ciente de que assim que passar por ele uma maré desse maldito cheiro ficará
no espaço. As portas se abrem, saio sem olhar para os lados e muito menos
para trás.
Avisto Dona Arminda com seu carrinho de limpeza de frente para o elevador
de serviço e com isso minha salvação.
—Dona Arminda a senhora é um anjo!
Mal acabo de falar e ela já me olha com aquele sorriso, que no momento é a
luz da minha vida.
—Bom dia menina Helena!
—Na verdade para ficar bom, eu preciso da sua ajuda, a senhora me empresta
um desses panos com um desinfetante bem forte? Pisei no cocô de Jorginho,
estou atrasadíssima, mas não posso chegar com esse cheiro na sala de
reuniões.
Digo em um fôlego só.
-Respira menina! Venha faça isso no elevador eu já estava indo limpar a copa
da presidência mesmo.
Com um suspiro, entro elevador e começo a limpar meu pé, enquanto dona
Arminda gentilmente se dispõe esfregar minha sandália. Primeira parte dos
meus problemas resolvidos, amém irmãos! Despeço-me de Dona Arminda
agradecendo por salvar parte do meu "dia", chegando na recepção da
presidência, vejo um moreno claro lindo que para minha tristeza e de toda
população feminina é gay, mas como Deus é justo também, é um dos meus
melhores amigos, que no momento está com a cara emburrada para mim.
—Bom dia meu lindo!
Renan bufa ao me olhar.
—Não me venha com elogios Helena Junks! Você é uma vaca sem coração,
que prefere ficar com a cara enfiada nos livros do que passar o fim de semana
com seus amigos.
Quando abri a boca para responder, ele me corta.
-Sorte a sua que meu humor melhorou uns 60% com um pedaço de mal
caminho que passou por aqui!
Rio, com certeza o Semideus do elevador.
—Posso imaginar, mas em minha defesa...
—Guarde suas defesas para o Dr. Afonso que já percebeu seu atraso.
E tudo só piora.
-Ah meu Deus! Preciso arrumar a sala de reuniões.
-Eu já arrumei mini cruela, mesmo você não merecendo.
-Eu te amo Renan!
-Não me ame, pague meu almoço.
Rindo, beijo sua bochecha enquanto corro em direção a minha mesa na
versão de Flash que usa saltos, guardo minha bolsa e disco o ramal do Dr.
Afonso.
—Afonso.
—Boom dia Dr. Afonso, peço desculpa pelo atraso aconteceram uns
contratempos. Posso ser útil em algo?
—Helena, desse jeito você me enfarta menina! Achei que logo hoje você
faltaria!
Logo hoje? Nem tenho tempo de prosseguir meu pensamento.
—Me aguarde na sala de reuniões.
Nem espera eu responder e já desliga. Estranho. Ele parecia eufórico e até...
Feliz? Dr. Afonso D' Laurentes é dono desse império, mas nesses 3 anos que
venho trabalhando como sua assistente vulgo secretária, nunca me faltou com
respeito, muito pelo contrário sempre me tratou como um Pai, não que eu
realmente saiba o que é um.
Sua esposa Judith é um amor, doce, meiga, mas sem papas na língua o que
faz ainda maior meu carinho por ela, por me lembrar da minha mãe. Já fui em
muitas festas em sua casa, se bem que o que eles têm se remete mais a uma
mansão. Mas o que me encanta é que tão grande quanto suas contas
bancárias, eram são seus corações.
Chegando na sala de reunião, encontro quase todos os tubarões sentados.
Bendito seja Renan, com seu senso de organização impecável e sua
habilidade em salvar minha pele.
—Bom dia!
Digo dando meu melhor sorriso e segurando a vontade de vomitar devido de
alguns olhares de malícia que recebo.
—Bom dia Helena!
Diz Maria Clara, filha do Dr. Afonso, ao me abraçar apertado.
—Bom dia Clarinha!
Respondo e dessa vez com um sorriso sincero.
—Estou muito feliz Helena, meu...
—Bom dia Senhores, senhoras.
Escuto a voz de Dr. Afonso enquanto nos sentamos e já rapidamente procuro
a função bloco de notas em meu tablet para anotar tudo o que for necessário.
-Hoje é um dia muito especial para mim, por vários motivos, mas o principal
é que meu filho está de volta! Apresento a vocês Juan, meu primogênito.
Posso sentir o orgulho em sua voz ao citar Juan, o filho. Mas não me atento a
isso, pois minha mente está mais ocupada me "assombrando"... o cara do
elevador, o tal semideus, aquele que presenciou um dos momentos mais
constrangedores da minha vida e que por fim iria descer no mesmo andar que
eu, não está entre os tubarões... "pelo menos não entre esses” minha
consciência acusa. Com uma coragem que eu não tenho, começo a levantar o
rosto de meu tablet, rezando de forma constante "não seja ele, Deus! Por
favor não seja ele."
E outra vez o destino brincou comigo essa manhã.
Capítulo 2
Juan
Desço do avião e já sinto aquele clima tropical que só o Brasil tem. Que
saudades desse lugar! Seria loucura dizer que até o ambiente tem um cheiro
diferente? Aqui tem cheiro de lar, meu lar. Lembro da minha mãe nostálgica
cantando Zezé de Camargo e Luciano, quando estava prestes a ir para Nova
York.
Quando fui aceito em Yale, ficamos tão felizes que meu pai fez questão de
dar uma festa para comemorar, mas também foi motivo de tristeza já que
éramos tão próximos e nunca tínhamos nos separado. Minha mãe se dividia
entre planejar tudo que eu levaria, chorar escondida achando que não
conseguia perceber seus olhos inchados e seu sorriso forçado. Nesse tempo
no exterior nos encontramos algumas vezes em finais de ano, mas tão rápido
quanto eles chegavam, tinham que voltar já que meu pai e minha irmã não
podiam se ausentar por muito tempo da empresa.
Deixá-los e viver em um país diferente, com uma língua e cultura
desconhecida não foi fácil, mas era necessário. Eu precisava de um novo
começo e só conseguiria isso longe daqui. Eu tinha que "crescer"! Ser
independente e me virar sozinho, tinha suas vantagens, mas, em alguns dias,
a saudade de casa e a culpa tiravam a minha paz. Esses anos não foram de um
todo ruins, com certeza não. Posso dizer que os gringos, também saber fazer
festas, e bom! As festas de fraternidades eram realmente e literalmente boas.
Mas minha partida tinha um propósito muito maior que cursar em Yale.
Mudança de hábitos destrutivos, era o maior deles. E acima de tudo me
refazer, ainda que isso pareça bem egoísta da minha parte. Eu precisava me
tornar bom o suficiente.
Hoje, quase quatro anos depois, quero reescrever minha história, quero
mostrar aos meus pais que mereço continuar com os negócios por
competência e não por ser o "herdeiro". Quero estar na empresa por mérito,
junto a meu pai e minha irmã. Formada em Marketing, minha irmã é
sensacional, com o seu "radar" para publicidade, ela nos leva a outro patamar
usando o Inbound Marketing, como estratégia.
Pego minha mala na esteira e vou em direção a saída, a procura de um taxi.
Antecipei minha viagem, viria só amanhã, mas como é segunda e meu pai já
marcou uma reunião para me apresentar aos acionistas, teria que sair do avião
e ir direto para empresa. Eu realmente não vejo a hora de ver minha família e
talvez tenha evitado de minha mãe me tratar como um garoto de treze anos
perante os acionistas da D'Laurentes, por que não, ela não agüentaria até o
horário de almoço para me ver.
—Bom dia, para Copacabana, Condomínio Residencial Monferrato, por
favor.
Falo ao motorista quando entro no carro.
—Bom dia, certo senhor.
Mas vejo em sua fisionomia um "ta playboy, vou te levar a sua mansão, para
sua vidinha perfeita", respiro fundo, eu gosto de ser rico, não vou fingir o
contrário, assim como não vou deixar de usufruir disso por julgamentos dos
menos favorecidos.
Não sou uma pessoa esnobe, talvez, um pouco. Meus pais têm raízes
humildes, meu pai lutou muito para chegar onde está. Abrindo mão de noites
de sono para ser o empresário que é hoje, acredito que não só eu, mas minha
mãe e irmã, também são muito gratas a ele. Então esses julgamentos, não me
incomodam, Dr. Afonso sempre me falou, "as pessoas sempre vão querer
privilégios, mas poucas terão. Pois poucas estão dispostas a pagar o preço.
Então me orgulhe e faça a diferença." E foi por isso que eu voltei para
mostrar para eles e para ela, que mudei.
Ao entrar no condomínio e sermos liberados pelos seguranças, o nervosismo
e o medo de falhar novamente despertam em mim "você mudou Juan”.
—É aquela casa toda branca.
Digo ao motorista, quando vejo a casa dos meus pais, a nossa casa. O
motorista nem se dá o trabalho de me responder, para o táxi, desce já me
entregando minha bagagem, eu o pago e digo para ficar com o troco, o cara
não responde, na verdade mal olha na minha cara, voltando para dentro do
veículo e já arrancando o carro em direção a saída, com certeza sai me
xingando mentalmente por ter "sorte" e ter grana. Foda-se! Idiota de merda
sem educação.
Chego na frente da porta e respiro fundo, sinto minhas mãos geladas e suando
frio, quase quatro anos se passaram, mas as lembranças de tudo que vivi aqui
estão na minha mente como se tivessem acontecido ontem. Balanço a cabeça,
na esperança que isso me ajude a organizar meus pensamentos. Em um
momento de coragem aperto a campainha.
—Mas vocês não têm mãos? Pelo amor de Deus! A campainha tocando e
vocês fingindo que não escutam!
Ouço minha mãe dizer de dentro de casa. Logo abre a porta, paralisa ao me
ver, mas seu "choque" não dura muito.
—FILHO!
Grita ao me abraçar.
—Filho, que saudades meu amor! Isso está mesmo acontecendo? Você voltou
para nós?
Diz emocionada, me abraça ao mesmo tempo em que me olha e toca meu
rosto como se estivesse conferindo que isso é real.
—Não exagera mãe, de qualquer forma eu viria amanhã.
Ela me olha como se falasse "igual das outras vezes ao longo do último ano,
quando você disse que viria e não veio." Mas rapidamente se recupera, me
puxando para dentro e fechando a porta, como se eu fosse fugir a qualquer
momento.
—Afonso, levante essa bunda do sofá e venha ver quem chegou!
Chama meu pai e ele como não é bobo de contrariar, logo aparece no hall de
entrada de casa.
—Juan? Venha moleque, dê um abrace em seu pai!
E me abraça, retribuo o abraço na mesma intensidade.
—Pai...
—Mano? Manooooo...!
Clarinha, já vem me puxando e logo se jogando em meu colo.
—Calma aí pirralha! Ainda que a altura não tenha mudado muito, com
certeza o seu peso aumentou.
Digo rindo e já levando um "tapão" no braço.
—Cala a boca garoto! Eu estou gostosa pra caramba pelo menos é o que
dizem.
Fala, piscando para min.
—Desnecessário Maria Clara.
Então ela aparece. Deus, como ela cresceu. Minha mãe se abaixa ao seu lado.
—Vitória, esse é o Juan, você lembra-se dele?
Com certeza ela não se lembra de mim. E isso me mata por dentro. Era muito
pequena para lembrar, em seu primeiro ano de vida eu era um irresponsável e
nunca estava em casa. As poucas vezes que a vi durante os últimos anos e as
quase inexistentes conversas por Skype não fariam com que ela lembrasse.
Ando devagar até ela e me abaixo em sua frente.
—Oi meu Anjo.
"Sério Juan? Cinco anos e o que você tem para dizer é oi?"
—Oi.
Ela diz e sorri, esse sorriso ilumina o meu o mundo e aquece meu coração.
—Posso abraçar você, Anjo?
—Eu não sou anjo, sou a Vintoriá.
Rio de sua pronuncia e quando ela me abraça, meu universo para, me sinto
um filho da puta por ter perdido os primeiros anos da vida dela.
—Eu tenho uma casa da Barbie, sabia?
Me conta, como se fosse algo muito importante e é, tudo relacionado a ela é.
—Eu não sabia, mas vou ficar feliz se você me mostrar.
Falo sorrindo e como se fosse possível, ela sorri de forma ainda mais linda
que a instante atrás.
—Vem!
Ela fala animada, me puxando de forma desajeita em direção as escadas,
arrisco olhar para trás e como imaginei, vejo meus pais e minha irmã
chorando, eu mesmo seguro o "bolo" que insiste em tentar sair de minha
garganta.
—É aqui!
Fala apontando para o quarto e quando entramos, é como se estivéssemos em
mundo paralelo. Móveis tipo provinciais, combinados a decoração
aconchegante e infantil, transforma o ambiente em um castelo. Muito rosa,
branco e alguns detalhes em amarelo, fazem com que o espaço se torne ainda
mais real. Vitória começa a me mostrar bonecas que nunca vi na vida e os
nomes de cada uma delas, sigo assentindo como se realmente prestasse
atenção em suas palavras, mas a verdade está distante disso.
Não consigo tirar os olhos de como ela se parece comigo, cabelos longos
levemente ondulados em um tom castanho escuro, olhos azuis, pele clara,
boquinha rosada...
—Pega, essa é sua filhinha, você tem que cuidar dela.
Vitória diz quando põe uma boneca em meus braços, ela nem imagina o
impacto que essa frase teve em mim.
E nesse momento meu mundo parece sair de órbita, tomo a decisão que
deveria ter tomado a cinco anos atrás quando fui covarde e deixei que meus
pais assumissem algo que era minha responsabilidade. Olho para esses olhos
azuis que mais parecem um espelho dos meus, sinto culpa e remorso, por
tudo que perdi. Como não percebi antes o quanto a amo?
Ela é minha filha, e eu farei o possível e o impossível para ser o pai que ela
merece ter.

Capítulo 3

Helena
Sabe aquela magia que só os elevadores possuem? Tipo em 50 Tons de
Cinza? Quando o gostosão do Grey olha para a Anastácia e ela morde o lábio
inferior de forma inconsciente, fazendo com que ele diga "foda-se as regras!"
Dito isso ele prensa ela na parede do elevador e a beija enlouquecidamente?
ISSO NÃO ACONTECEU, NÃO COMIGO!
MALDITA E SORTUDA ANASTÁCIA STEELE!
Merda. MERDA! Sim! Essa maldita palavra que vem arruinando meu dia. No
instante em que caguei o pé, eu deveria ter levado isso como uma premonição
do mal e inventado uma desculpa mirabolante para Dr. Afonso ficando em
casa. Assim não estaria vivendo um pesadelo real agora. Nem em meus
piores momentos de pessimismo eu imaginaria passar por isso. Exagero?
Não! Levando em conta que o filho do meu chefe, automaticamente também
meu chefe, acha que peidei no elevador, na sua frente.
Senhor! Logo hoje eu tinha que encontrar com um Semideus?
Senhor! Logo hoje eu tinha que pisar na merda e levar fama de peidona?
Céus! Eu sou uma secretária executiva bilíngue, tenho uma reputação a zelar!
E não, isso não envolve merda e elevador juntos!
—Tudo bem Helena?
Maria Clara pergunta baixinho, devo estar parecendo um buldogue francês
com "cara" de espanto.
—Sim.
Respondo, tentando recuperar minha postura e resgatar minha dignidade.
—... Decidimos que precisamos de férias. Estou com 62 anos e preciso de um
tempo junto à minha esposa e minha caçula.
Nesse instante Juan para de sorrir e desvia o foco, que até o momento estava
nos acionistas, para seu pai. Oin ficou sentido, cretino? Até fiquei com uma
peninha dele. Só que não!
—... ao conversar com Maria Clara, decidimos que o melhor seria que Juan
ficasse em meu lugar...
Não.
NÃO!
N-Ã-O!
Eu joguei pedra na Cruz! Talvez até tenha sido chiclete.
Eu sou uma pessoa boa senhor! Meu maior pecado é preferir à imaginação a
realidade, tenha misericórdia!
— ...é a melhor forma de se colocar a par de todas as situações da empresa.
Confio totalmente em Juan, que até então estava em Yale, umas das
faculdades mais requisitadas no mundo, lugar onde inclusive cinco
presidentes estudaram. Não tenho dúvidas de que Juan, junto a minha
assistente Helena, fará um bom trabalho.
Todos me olham, fazendo com que o Cretino também olhe se dando conta de
que eu sou a Helena. Um sorrisinho arrogante e lindo surge em seu rosto,
reconhecendo que também sou a mulher do episódio do elevador.
Que vontade de dar um soco nessa boca perfeita!
—Dr. Afonso o senhor está certo dessa decisão? O garoto, acabou de chegar
de outro país, precisa se inteirar... —Diz o nojento do Rodolfo, mas nem
consegue concluir sua linha de raciocínio.
—Qual a sua porcentagem de participação? —Diz o todo poderoso, deixando
Rodolfo surpreso e logo conclui —Pequena, muito pequena. Não está sendo
pedida autorização, vocês apenas estão sendo informados de uma decisão que
foi tomada e não será revogada. Dito isso, como CEO interino encerro essa
reunião.
Uau! Tipo Gideon Cross! Seguro, confiante e sexy. Muito sexy! Gostei!
Rapidamente todos levantam com o "rabinho" entre as pernas, enquanto o
“menino prodígio” se mantém sério atento a saída de todos. Também me
levanto, com meu tablete em mãos, esperando algum pedido de Dr. Afonso
ou Dr. Juan? Doutor Juan, sério como vou conseguir trabalhar com essa
figura de beleza divina?
—Isso foi foda, Mano! O que foi aquilo? Caralho, as coisas vão ficar
interessantes. —Espero uma reação do Dr. Juan ao comentário de Maria
Clara, mas não acontece pelo contrário.
—Pai, precisamos conversar. —Ele diz sério, será que não gostou de ser
colocado em frente aos negócios da família? Ah não! Será que vai exigir
outra assistente? Não posso perder esse emprego, o salário é realmente bom.
—Filho, fique tranquilo, você é um ótimo administrador...
—Sei que sou. —Corta Dr. Afonso. —Quero falar sobre a viagem, a Vitória
não vai.
Diz afirmando que a caçulinha não vai viajar, isso foi no mínimo estranho.
Qual problema em a menina viajar com os pais? Vitória é a filha mais nova
de Dona Judith e Dr. Afonso, a menina é um doce! Tão linda quanto uma
boneca, da vontade de morder. Ouço Dr. Afonso suspirar e percebo Maria
Clara ficar estranha, ok! Eu me rendo, estou sobrando nessa "treta" familiar.
—Dr. Afonso vou para minha mesa, fico à disposição do senhor.
—Quero que faça um relatório financeiro do último ano, especificando o
movimento mensal de entrada e saída dos 12 últimos meses. Quero isso para
quando eu voltar do almoço, pode se retirar. —Diz o Dr. Juan, ignorando o
fato de que eu tenha me referido a seu pai.
—Ok, Dr. Juan.
Saio da sala parecendo um touro daqueles desenhos animados, por que tenho
certeza que estou a ponto de explodir de raiva! GROSSO! O que foi isso?
Marcação de território? Tipo "eu sou o chefe me sirva e foda-se." Você
adoraria o servir... e foder também. Dou uma tampa em minha própria
cabeça, afastando o último pensamento indecente.
Sento em minha mesa me sentindo exausta, olho o relógio e vejo que ainda
não são nem nove e meia da manhã. Que dia. Abro o sistema usando meu
login já dando início aos relatórios, vou entregar tudo antes do horário
determinado e esfregar na cara desse cretino a minha competência.
Algum tempo depois, pai e filho voltam da "treta" familiar juntos e ambos
não parecem de bom humor, graças ao bom Deus passam direto por minha
mesa e entra na sala do Dr. Afonso, ou do cretino, que seja! Enfim com os
relatórios em mãos, olho no visor do notebook "11:45 PM", chupa esse aí,
chefinho.
Levanto, ajeito minha saia e me sinto Julia Roberts em uma Linda Mulher,
mas me lembro que não tenho um Richard Gere, então a aura de segurança se
desfaz. Bato na porta.
—Entre.
Escuto Dr. Afonso dizer.
—Licença. —Entro na sala e vejo o cretino já sentado no trono, atento a tela
do computador e Dr. Afonso sentado à sua frente.
—Vim trazer os relatórios que o senhor solicito Dr. Juan. —Ele levanta o
olhar para mim, olhando diretamente em meus olhos, como se soubesse que o
motivo de ter corrido contra o tempo tenha sido desafiá-lo. Droga, talvez ele
saiba. Ponho os relatórios sobre a mesa, ainda sob seu olhar. Fico esperando
alguma resposta, mas a única coisa que recebo é um arquear de sobrancelha
novamente me perguntando de forma silenciosa "por que ainda não se
retirou?" Olho na direção do Dr. Afonso e o vejo segurar o riso fingindo estar
alheio a nossa "troca de farpas" silenciosa. Certo, talvez seja a hora de eu
sair.
—Com licença senhores. —Digo me retirando.
—Senhora Junks?
—É senhorita senhor. —Aprenda a segurar sua língua Helena.
—Que seja. Me chame de Dr. D'Laurentes.
—Sim senhor, deseja mais alguma coisa?
—Sim, se retire.
Com um sorriso amarelo saio da sala, "me chama de Dr, D' Lareuntes", ah
vá! Me seguro mordendo a boca, para não falar todos os xingamentos
existentes e inexistentes, prevendo que dias difíceis estão por vir.

Capítulo 4
Juan
Desvio os olhos da tela do computador, massageando minhas têmporas, tudo
que eu não precisava era de uma enxaqueca, mas hoje o universo
definitivamente não está em meu favor. Depois de uma “reunião” com os
acionistas, onde um filho da puta teve a ousadia de questionar minhas
habilidades, logo após meu pai ter informado que iria viajar e levar a Vitória
junto. De verdade, após ele dizer que levaria minha filha na tal viagem, todo
o resto que ele falou me passou como um borrão. Eu perdi o controle.
Assumir a D'Laurentes me deixa muito feliz, eu estudei muito para isso, fiz
estágios em empresas renomadas e absorvi todo o conhecimento possível.
Ainda que tenha passado por uma fase de rebeldia, eu fui treinado e não tinha
dúvidas de que conseguiria, eu era um cara profissionalmente realizado. Mas
na vida pessoal as coisas eram diferentes, bem diferentes.
Minha vida pessoal no momento tinha um foco, Vitória, minha filha. Depois
de um ano ignorando a paternidade e de quatro anos longe, eu tinha perdido
os seus cinco primeiros anos de vida. Quando cheguei ontem ao Brasil, eu
não sabia como seria, já que até então ela era minha irmã. Desde pequena ela
sabia que tinha dois pais e duas mães, minhas esperanças estavam em cima
disso e que, em algum lugar do seu subconsciente, ela lembre disso. Tenho
consciência que não posso chegar impondo minha presença como pai e exigir
seu amor, ainda que isso seja o que eu mais quero na vida, eu quero ser para
ela o que meu pai é para mim.
Ontem desde que cheguei, minha atenção foi só para ela. Brinquei de boneca,
tomei chá imaginário, vi o mesmo filme tantas vezes, que me peguei
cantando "livre estou, livre estou" de uma princesa de azul que solta neve
pelas mãos, chato para caralho! Mas ver Vitória sorrir e cantar vale todo o
esforço. E em razão, disso acabei com a reunião na primeira oportunidade,
para avisar meu pai que Vitória não viajaria. Sei que não é justo da minha
parte, eles cuidam dela desde o nascimento, mas pelos menos um dos pais,
precisam fazer por merecer o nome dado em sua certidão de nascimento e eu
farei isso.
Mas tenho que admitir que a reação do meu pai me surpreendeu. Ele disse
que Vitória viajaria com ou sem meu consentimento, exatamente como vem
sendo nos últimos cinco anos, que eu precisava ir com calma.
Como calma? Eu perdi cinco anos! Cinco malditos anos!
Respiro fundo, eu vou conversar com Dona Judith hoje e fazer com que ela
me entenda, não só por mim, mas por Vitória também.
Levanto e fecho as cortinas do escritório, apagando também as luzes na
esperança de suavizar o incomodo em minha cabeça, mas então o telefone
toca e o barulho irritante piora ainda mais, tiro o interruptor da tomada e não
atendo deve ser a pimentinha, minha assistente.
Helena Junks, nome forte sobrenome bonito, combina com ela literalmente.
Assim que a vi no elevador não puder deixar de notar é uma mulher linda.
Cabelos pretos, pele branca, olhos azuis, bochecha rosada, corpo curvilíneo,
peitos fartos, e porra! Uma puta bunda! Quando gritei pedindo para
segurarem o elevador não entendi o porquê de não terem feito, mas quando
entrei assim que as portas se fecharam, entendi o motivo. A garota tinha
soltado um, no elevador, me segurei para não cair na gargalhada, quem em sã
consciência faz isso em uma empresa como a do nosso porte, ainda pior a
própria secretária do CEO? Essa garota é corajosa e ousada. Entregou os
relatórios com uma hora de antecedência, fiquei surpreso e satisfeito, mas
nunca vou admitir isso. Sento no sofá, deitando a cabeça no encosto, quando
batem na porta, não respondo e como imaginei a porta se abre.
—Dr. D' Laurentes? —Posso imaginar várias cenas com ela me chamando
dessa forma. —Ué o cretino saio? —Cretino? Interessante.
—Quem é o Cretino Senhorita Junks? —Falo a surpreendendo.
—Ah Merda! —Põe a mão no coração de forma dramática. —Que susto. —
Diz já indo acender o interruptor da luz.
—Não acenda!
A sala não estava na penumbra ainda era dia e mesmo que as cortinas tenham
black out, meu computador ainda está acesso.
—Hum... é... —Se atrapalha ao falar. —Eu queria perguntar se posso marcar
para amanhã as nove horas uma reunião com o jurídico. —Fala totalmente
sem jeito não sei se pelo cretino ou por estar no escuro comigo.
—Quem é cretino? —Digo ignorando sua pergunta.
—Cretino? Não entendi Doutor. —Se faz de desentendida e exagera no
doutor, garota não me tente.
—Eu poderia imaginar todos possíveis apelidos, mas cretino me surpreendeu.
—Ela engole em seco, mas como imaginei se faz de tonta, como no elevador.
—Doutor, o senhor entendeu errado. —Diz de forma firme.
—Está me chamando de burro? —Pergunto vamos ver se você sabe jogar,
pimentinha.
—Claro! Quer dizer não... Claro que não. Então, é... a reunião posso marcar?
—Sim, marque para as nove. —Afirmo ainda a encarando.
—Certo, vou marcar com a secretária do Senhor Rodolfo.
—Rodolfo? —Questiono o babaca da reunião.
—Sim. —Afirma, tentando não entrar no assunto. Ela está totalmente
desconfortável aqui comigo no escuro.
—Ótimo.
—Com licença senhor. —Diz, mas antes de chegar à porta se vira. —Doutor
é... o senhor precisa de algo? Bom... as luzes apagadas...
—Um remédio para enxaqueca. —Com certeza se sente intimidada com a
minha presença, levando em consideração sua gagueira.
—O senhor comeu? —Não, mas posso comer você.
—Não, assim que a dor passar vou almoçar, ou melhor, peça...
—Almoçar? São quase cinco da tarde! Vou buscar um remédio e algo para o
senhor comer também.
E saí antes que eu possa responder. Cinco da tarde? O tempo passou e não me
dei conta, deito novamente minha cabeça no sofá, com certeza a pimentinha
vai demorar. Algum tempo depois ouço a porta ser aberta, ela nem tentou
bater na porta.
—Doutor, eu imagino que esse não seja exatamente o seu paladar, mas foi o
que eu consegui em menor tempo. Também trouxe um comprimido para
enxaqueca, ainda que acredite que sua dor é fome.
Dito isso chega perto e me estende a bandeja, quando eu a pego ela se vira
vai em direção a janela e abre apenas uma fresta, uma pimenta doce então.
Vai até o frigobar e quando se abaixa, porra! Que bunda é essa? Me ajeito no
sofá tentando controlar o incomodo que começa a crescer entre as minhas
pernas.
Ela descarta a tampa do copo de água mineral que pegou no frigobar e me
estende. Abro a embalagem e vejo que ela me trouxe um sanduíche, é sério
ela quis dizer que eu não como sanduíches? Conseguiu acabar com nosso
momento de trégua. Ela conviveu com meu pai bastante tempo, deve saber
que apesar de nossa posição social, somos "simples", mas mesmo assim fez
questão de me rotular como mimadinho. Ótimo!
—Pode se retirar Helena. —Ela me olha quase que surpresa, talvez por eu ter
a chamado de Helena, mas eu sou o chefe, certo?
—Com licença.
Respiro fundo, agora sozinho na sala, essa garota é perigosa, além de
inteligente e perceptiva, e muito gostosa. Não aprovo relações entre chefe e
funcionária, o que obviamente se acontecesse seria só uma foda casual, mas
não! Não vai acontecer.
Termino o lanche, e tomo o comprimido. Ainda hoje preciso conversar com
minha mãe sobre a viagem, com esse pensamento olho o relógio e decido
encerrar o expediente.
Desligo o computador, pego minhas coisas e saio da minha sala. Helena está
concentrada na tela do computador enquanto morde a ponta de uma
caneta. Assim fica difícil Helena. Ela escuta meus passos.
—Boa noite Doutor.
Certo pedir para ela me chamar de doutor não foi uma boa ideia, como essa
garota consegue ser tão sexy apenas falando Doutor?
Apenas aceno, entro no elevador já contando os minutos para chegar em casa
e ver minha menina.

Ao chegar em casa encontro meu anjo está deitada no sofá ainda de uniforme
da escolinha, dou um beijo em seu rosto e sigo o aroma de bolo. Conheceria
de longe esse cheiro, bolo de cenoura com chocolate. Entro devagar na
cozinha e Dona Judith não percebe minha presença dou um beijo estralado
em seu rosto.
—Ah Juan! Quase me mata do coração moleque! —Diz batendo com a toalha
em mim.
—Que nada, a senhora é uma coroa enxuta. —Digo, a fazendo sorrir.
—Eu sei meu filho, seu pai que o diga. Acredita que mesmo na casa dos
sessenta, ele não me dá descanso? Meu Afonso é um touro.
Olho para ela petrificado, tudo que eu não preciso é saber da relação sexual
dos meus pais.
—Que isso Juan, pare de me olhar com essa cara de 'cão chupando manga',
ou vai dizer que você acha que seus pais não transam?
—Mãe pelo amor de Deus! —Falo sentindo meu estomago revirar.
—Mas você devia ficar feliz, se foi beneficiado com a gene de seu pai, vai
dar no 'coro', por muito tempo.
Lembrete mental, nunca entrar em assuntos de cunho sexual com minha mãe.
—A Vitória costuma dormir esse horário? —Falo desviando de assunto.
—Ah não filho, é só um cochilo deve ter brincado muito na escola.
—Mãe falando nela... —Penso como devo falar sem parecer um egoísta, mas
não acho outra forma. —Eu não quero que ela vá viajar com você e papai.
Ela termina de colocar um pedaço de bolo no prato, me dá e me olha
pensativa como se estivesse elaborando o que me responder ou como me
responder, resolvo continuar.
—Eu acabei de voltar mãe, preciso desse tempo com ela. Quero conhecer sua
rotina, seus gostos, sua personalidade. Ontem mal dormi pensando em como
poderia recuperar o tempo perdido. Sou grato a vocês por tudo que fizeram
por ela e vou ser pelo resto da vida. Mas ela é minha filha e, eu quero ser o
pai dela.
—Juan. —Dona Judith respira fundo. —Nós nunca tomamos o seu lugar,
Vitória sabe que somos seus avós, mas ela nos vê como figuras paternas. Ela
nos chama, de "papai e mamãe" por que vê que os coleguinhas têm pai e mãe.
Vamos com calma não confunda a cabeça da criança.
—Essa não é minha intenção e esse é um dos motivos de eu começar a
mostrar para ela quem eu sou. Não vou continuar sendo o "irmão", mãe.
Falo decidido enquanto minha mãe abaixa a cabeça, chego perto dela e
seguro suas mãos.
—Mãe no momento em que eu coloquei os olhos na Vitória ontem, ela
passou a ser minha luz, por favor não tire isso de mim.
—Ela tem uma rotina Juan. —Diz e pela entonação de sua voz, começando a
ceder.
—Eu posso lidar com isso. —Afirmo.
—Ela tem escolinha, natação e balé... ela precisa cumprir...
-Mãe, eu vou fazer o que tiver que ser feito, sei que não mereço, mas por
favor, tenha um pouco de fé em mim.
Ela me abraça e logo põe as duas mãos em meu rosto.
-Filho, eu tenho fé em você e sei que você vai ser um ótimo pai. Você não
sabe o quanto rezei pedindo para que esse momento chegasse. Vou falar com
seu pai, já está na hora daquele velho pauzudo me dar uma segunda lua mel.
Então mamãe sorri e olha além de mim, me viro e vejo Vitória de pé coçando
os olhinhos, vou em sua direção e me abaixo em sua frente.
—Oi meu anjo, eu estava esperando você acordar.
Ela se joga em meus braços e nesse momento já sou uma marica em suas
mãos.
—Tô, com fome.
Diz com o rostinho deitado em meu ombro. De repente levanta o rosto e me
pergunta.
—Você vai ficar morando aqui pa sempre?
Olho no fundo dos seus olhos crendo que ainda que tenha cinco anos, entenda
a intensidade da minha promessa.
—Se eu vou morar aqui para sempre eu não sei, o que eu sei é que vou estar
com você para sempre, aonde quer que esteja.
Ela me olha, sorri e me abraça. Vejo meu pai encostado no batente da porta e
nesse momento sinto que também tenho sua aprovação para tomar o meu
lugar. Sim! Nunca estive tão certo que aqui é exatamente onde eu deveria
estar.

Capítulo 5
Helena
Fico olhando enquanto Dr. Juan entrar no elevador, que homem! Sim, eu sei!
Ficar tarando o meu chefe não é uma atitude correta, mas sério! Eu tenho
escolha? O cara é como um ator de Hollywood! Penso quem é mais gato, ele
ou Jamie Dornan? Difícil, bem difícil. Vale ressaltar que ver o cara no escuro
quase deitado no sofá colaborou com a minha imaginação fértil. Fico
imaginando-o com uma roupa casual... Será que ele malha? Não, se o fizesse
com certeza já teria infartado algumas coitadas, como eu.
—Helena! —chama Renan, me fazendo acordar do meu transe.
—Você estava secando nosso novo chefe! —Afirma, batendo palminhas.
—Não viaja Renan. —Digo alto demais.
—Ah estava sim, cachorra! Mas não te julgo amiga, o cara é um colírio para
qualquer pessoa que tenha olhos! —Diz de forma dramática com as mãos no
coração.
—Falou com Antonella hoje? Mandei mensagem, mas ela me não responde.
—Falo tentando mudar de assunto, ainda que realmente queira saber da
minha amiga.
—Ela está magoada Helena! Você vive furando com agente garota, só estou
falando com você por que sou doce.
É talvez ele tenha razão, eu preciso sair ver pessoas, conhecer pessoas.
—Aquele pub... Vamos na sexta? —Falo enquanto Renan já estava saindo.
Ele estreita os olhos pra min.
—Vai precisar agir ao invés de falar, estamos cansados de levar o bolo. —
Diz, e dessa vez sério. —Você precisa viver Helena.
—Eu sei Renan, mas é complicado pra mim... —Digo, deixando o restante
que não consigo falar em voz alta no ar.
—Você só vai superar o que aconteceu, quando voltar a viver, paixão. —Se
aproxima de minha mesa e me abraça.
—Certo! Vou ligar para Antonella, por favor, peça para ela me atender. —
Peço, unindo as mãos em sinal de súplica.
—Claro vou interceder por você, gata! —Diz piscando e já saindo da minha
linha de visão.
Talvez ele tenha razão.
Venho de uma família pequena do interior de São Paulo, Botocatu, fica a
mais ou menos 200 km da Capital. É uma cidade linda, o nome Botocatu que
em tupi significa bons ares, não poderia traduzir de melhor forma a região.
Lugar muito procurado para escaladas e trilhas, tendo como ambiente popular
entre turistas a Cuesta de Botocatu, que costumava ser meu refúgio.
Morávamos em uma fazenda, perto das montanhas, meus pais tinham uma
condição financeira estável, éramos a "família perfeita". Um homem bem-
sucedido financeiramente, uma mãe exemplar e uma dona de casa
comprometida com seu lar, um casal que se amava tendo como fruto uma
filha estudiosa que viria a seguir seus passos, se formar em agronomia e
administrar a fazenda da família. Meu pai em toda a sua glória, já tinha
definido o meu futuro aos meus dez anos de idade.
Irônico. A teoria não poderia ser mais diferente da prática. Todos os dias
quando o sol começava a se pôr, eu lembrava que meus pesadelos
começariam novamente e o mais triste é que eram pesadelos reais.
Infelizmente eu não tinha a opção de acordar e pensar "foi só um sonho
ruim".
Afasto meus pensamentos dessa época que prefiro apagar da minha memória
e foco no hoje, no agora. Desligo o computador, pego minha bolsa, já
pensando em todas as tarefas que preciso realizar em função do meu fim de
semana nada produtivo.

Entro em meu apartamento e Jorginho logo pula em cima de mim,


balançando o rabo inexistente com uma energia incomparável que só um
pinscher tem.
—Oi meu menino mal. Você nem sabe o dia, que tive. —Conto, fazendo um
cafuné enquanto ele tenta lamber meu rosto.
Deixo meu pequeno furacão no chão e procuro meu celular na bolsa, chegou
o momento de "encarar" Antonella. A mulher é como um vulcão em erupção
vai da calmaria a euforia em segundos. Deve ter alguns neurônios a menos
que as pessoas consideradas normais, mas é uma das pessoas com o melhor
coração que conheço. Disco seu número, já me preparando para sua reação
que bom, nunca se sabe qual será. Mas de forma surpreendente como sempre
atende no segundo toque.
—Saiba que estou atendendo essa ligação por que, nosso gostoso
inalcançável me implorou para te dar novamente o benefício da dúvida. —
Nem respira e já continua. —Mas tenho três condições para aceitar seu
pedido de perdão.
Ok, medo me define.
—Quais? —Pergunto já querendo fugir para as colinas.
—Já começou mal, deixe de ser uma péssima amiga e diga "Feito" e depois
me pergunte quais. —Sem muitas opções disponíveis e tendo certeza que o
arrependimento será instantâneo concordo.
—Feito! Quais? —Posso "ver" ela sorrir do outro lado à linha.
—Eu escolho sua roupa, faço sua maquiagem e defino a hora que viremos
embora.
Quão longe as colinas são mesmo?
Totalmente contragosto eu respondo.
—Certo Antonella... —Mas não tenho a opção de continuar.
—Ah sua piranha! Senti falta de você, mas está perdoada até então, vou
esperar ansiosamente por sexta! Renan e eu vamos para seu apê e nos
arrumamos todos aí. Agora tenho que ir, eu tenho um compromisso com meu
vibrador. —E então se despedi mandando beijo e eu fico com cara de tacho,
mais vermelha que meu esmalte pelo excesso de informações.
Olho a minha volta para o que eu chamo de lar, que hoje está mais para zona.
E decido acionar a marinete dentro de mim. E minha prioridade são minhas
roupas, quero deixar o todo poderoso babando com a minha elegância.
Algumas horas mais tarde depois de minha casa voltar a seu meu lar como de
costume e já com algumas roupas secas graças a minha doméstica preferida
denominada como secadora de roupas, tomo meu banho e deito em minha
cama. Amanhã vou contradizer um velho ditado, mostrando que a primeira
impressão não é a que fica, vou esfregar na cara do cretino, que além de
inteligente e competente, sou elegante e suficiente para o cargo que ocupo.

Acordo mais cedo que de costume, comprometida comigo mesma em ficar


vestida para matar, com essa vibe decido escutar música, acesso meu
aplicativo do youtube, digitando funk e já ouvindo o primeiro que aparece.
“Hoje eu vou parar na gaiola
Senta pro chefinho do jeitinho que ele gosta
Vai ficar chapada e vai voltar depois das horas
Toma, toma, toma, toma, toma sua gostosa”
"Senta pro chefinho?" Melhor não. Talvez o fato de viver no "imaginário" por
muito tempo tenha me alienado do mundo. Fico chocada com a letra e
rapidamente paro a música. Tinha que ter chefinho na letra? Desistindo de
uma trilha sonora, por hora... Mas faço uma nota mental de me atualizar mais
tarde sobre o que me aguarda no tal pub. Pub toca funk? Bom vou pesquisar
isso também.
De frente ao meu "mini closet" escolho meus saltos vermelhos, olho para o
vestido branco, será? Tiro ele do cabide e coloco indo em direção ao espelho,
justo até os joelhos, decote canoa. Tirando o fato de ser justo, não é vulgar,
sem dar espaço para pensar muito já começo a fazer uma maquiagem básica
com um batom vermelho, como meus saltos e unhas. Deixo meus cabelos que
vão até os ombros soltos, pronto, gostei do resultado. E de repente invejo a
garota do espelho, me dando conta de que nunca me permiti viver, o medo de
ser notada me tornou alguém que apenas existi. Suspiro, e afasto essa maré de
nostalgia.
—Chega de se esconder Helena! —Falo olhando minha nova versão refletida
a minha frente.
Faço um carinho em Jorginho conferindo seus potinhos de água e comida.
Abro a porta, ao mesmo tempo em que meu vizinho da frente. Loiro e lindo,
mas não igual ao me chefe.
Comparação desnecessária Helena.
—Bom dia. —Diz meu vizinho, com um sorriso lindo.
—Bom dia. —Respondo retribuindo o sorriso.
—É Helena, certo?
—Sim, e o seu é? —Pergunto, já começando mal, quem esqueceria o nome
de um cara desses?
—Hector, agora você acabou com meu ego, vizinha, moramos no mesmo
edifício há quase um ano.
Droga!
—Minha memória é péssima, desculpa. —Mentirosa! Minha consciência
acusa.
E com o elevador ainda em manutenção descemos juntos conversando
amenidades do dia a dia. Ele vai comigo até meu carro, me dá um beijo no
rosto mais demorado que o normal, fazendo que eu sinta seu perfume
amadeirado. E quando se afasta pergunta olhando nos meus olhos.
—Janta comigo no sábado? —Direto.
—Eu... —Me atrapalho afinal isso foi inesperado. —Claro!
CLARO? Ah não!
—Ótimo! Eu bato em sua porta ás oito. —Dito isso, pisca e sai sorrindo.
Fico com cara de besta ao lado da minha carochinha. Por que eu disse claro?
Tudo bem que disse que mudaria e coisa e tal, mas eu estava preparada para
esse próximo passo? Quer dizer... Em encontros de adultos acontecessem
muitas "coisas" não? Outra nota mental de me preocupar com isso depois.
Entro no carro dando partida em seguida, eu preciso focar no meu objetivo de
hoje. Vou mostrar para meu chefe cretino, que sou muito mais que uma blusa
amassada. Estaciono o carro e como ainda tenho algum tempo sobrando
decido bater uma foto e colocar nas minhas redes sociais, mais um passo em
direção ao meu novo eu.
Sentindo-me um pouco mais segura, eu saio do carro. A caminho da
presidência sinto que estou chamando mais atenção do que planejado.
Quando Renan me vê vem até mim, mantendo a postura profissional, me dá
um beijo no rosto e fala em meu ouvido.
—Sua safada, tá querendo dar para o chefe é?
Sério, qual problema das pessoas a minha volta?
—Renan! —O repreendo sem sucesso claro.
—Se eu gostasse da fruta, te pegaria fácil gata. —Diz, enrolando uma mecha
do meu cabelo.
Nesse momento as portas do elevador se abrem e o todo poderoso aparece.
Quando nos vê, olha para as mãos de Renan ainda no meu cabelo, que se toca
e disfarça começando a manter uma distância "segura" para dois colegas de
trabalho. Nosso chefe me olha, sem disfarçar, se demorando em meu busto e
pernas. Então levanta novamente seu olhar e vem em nossa direção.
—Bom dia Helena. —Então se vira para Renan e me pergunta o fulminando
com os olhos. —Atrapalho alguma coisa?
Ele insinuou que Renan estava flertando comigo? A se ele soubesse. A nova
versão Helena do mal resolve brincar um pouquinho. Coloco uma mão no
peito de Renan e digo.
—Nos falamos depois. —Completo com piscadela. Renan abre a boca,
atônito, quando percebe o que fiz. Enquanto Juan me olha de uma forma
indecifrável. E que olhar.
—Na minha sala Helena. —Diz enquanto vai rumo a sua sala. Merda! Não
era a reação que eu queria. Eu queria que reação mesmo?
—Que lance é esse de "nos falamos depois?". O cara estava soltando fogo
pelos olhos e você não ajudou jogando gasolina! —OK! Eu não sei por que
fiz isso.
—Desculpa, eu...
—Certo Helena, vá para a sala dele como pediu, antes que ele me demita por
"assediar" sua assistente. —Diz e logo volta para sua mesa.
Respiro fundo indo em direção a minha mesa, deixo minha bolsa e antes de
entrar na sala do cretino, dou duas batidinhas na porta.
—Entre. —Diz firme. Ele tinha que ter a voz de um cantor de rock sexy?
Quando entro, ele me indica a cadeira a sua frente, me sento não deixando
transparecer o quanto esse cara me intimida.
—O garoto é seu namorado? —Pergunta sem rodeios.
Garoto? O Renan é nitidamente um homão da porra pra quem não sabe da
sua opção sexual.
—Não Doutor. —Mas e se fosse o que você teria a ver com isso?
—Ótimo! —Diz me encarando.
Oi? Como assim, ótimo? Com uma coragem até então desconhecida o encaro
no fundo dos seus olhos e completo.
—Mas se fosse o senhor não teria nada a ver com isso, Doutor. —Toma essa,
cretino!
Em seus olhos posso ver surpresa seguida de... Admiração?
—Gosto da sua ousadia Helena. —Fala encostando-se à cadeira, com um ar
de superioridade que me irrita.
—Você tem que gostar apenas do meu trabalho, Dr. D'Laurentes. Minha vida
pessoal é problema meu. —Falo com uma vontade de tirar meu salto quinze e
enfiar em seu rosto perfeito.
Lentamente vejo aparecer um sorriso de lado em seu rosto. A expressão
"sorriso de molhar calcinhas" começa a fazer sentido agora.
—Ah! Não? —Pergunta com um sorriso sarcástico.
—Não. —Afirmo sem tanta certeza assim.
Como em câmera lenta e de uma forma muito sensual para o juízo de uma
mera mortal como eu, ele se levanta apoiando seus braços, que agora ganham
evidência no terno feito sob medida, se inclinam em minha frente. Na minha
direção, só a mesa nos separando. Posso sentir seu perfume e não consigo
distinguir a fragrância é um aroma único e é bom, muito bom! Com a
respiração acelerada o encaro como se não estivesse notando a tensão sexual
que se instalou a nossa volta.
—Você não deveria me desafiar Helena. —Diz mirando minha boca.
Graças a Deus estou sentada, pois posso perceber o quanto minhas pernas
estão tremulas e o quanto estou... Excitada? Não! Isso não está acontecendo.
Quando o cretino percebe que não vou responder ele sorri satisfeito e diz.
—Não jogue comigo Helena, eu sempre ganho. —Ah! Mas se ele pensa que
vai sair dessa fácil assim está enganado.
—Dois podem jogar o mesmo jogo, Juan. —Ah merda! Eu não só o
provoquei, como o chamei pelo nome. Levanto-me.
Ele me olha de cima a baixo de uma forma intensa, alargando ainda mais o
sorriso e diz.
—Que comecem os jogos, Helena. Só não diga que eu não avisei. —Diz
mirando meus olhos e voltando a se sentar.
—Estou pagando para ver, Doutor. —Digo saindo antes que eu desmaie em
sua frente.
Corro em direção ao banheiro. O que acabou de acontecer? Molho meus
pulsos na esperança de fazer minhas pulsações voltarem ao normal. Ok,
Helena, se entrou nessa loucura, que você mesma criou, você vai ganhar!
Afirmo pra mim mesma me olhando no espelho.
"Afinal ele até pode ser o dono do jogo, mas isso não quer dizer que fará as
regras", sorrio com essa constatação, endireitando minha coluna e
recuperando minha autoconfiança, isso vai ser divertido.

Capítulo 6
Juan
Fico olhando para porta logo após Helena sair quase correndo de minha sala.
Tenho que confessar que hoje no momento em que as portas do elevador se
abriram eu entrei em choque. Ela estava linda e porra! Muito gostosa.
Cabelos soltos escuros batendo um pouco acima do ombro, rosto levemente
maquiado destacando apenas a boca, e que boca! Em um tom de vermelho
sangue combinando com seus sapatos. E o vestido... era branco! Caralho! Era
branco!
Mas meu momento de deslumbre se desfez no momento em que vi o
recepcionista mexendo na bochecha dela, ou seria no cabelo? Era muita cara
de pau! Isso aqui é uma empresa e não a porra de uma boate onde as pessoas
ficam flertando sem se preocupar. Não gostei e isso me intrigou. Mas depois
de alguns minutos na minha sala tentando controlar a tensão, percebi que me
senti daquela forma por ela ser minha assistente, por ser o CEO e querer que
essa empresa seja um local de respeito. Apenas por isso.
Decidi por limites nas "paqueras de Helena", se ela quiser sair com o cara no
mínimo que não seja aqui dentro. E que porra foi aquela de “nos falamos
depois Renan”? Eu fiquei puto! Ela me deve respeito, esse tipo de
comportamento é inaceitável aqui.
Mas as coisas sempre podem mudar.
Quando a confrontei ela fez questão de deixar claro que eu não tinha nada a
ver com sua vida pessoal. Ela mexeu com o neandertal dentro de mim e ela
não devia ter feito isso. Ver a pequena pimenta toda autoconfiante me deixou
com um tesão do caralho. Aquela pose de dona do mundo me atraiu e ainda
que eu não queira envolvimento com ninguém agora, foi impossível não
ceder aos meus instintos.
Eu disse pra não me desafiar, eu disse que eu era o dono do jogo e ela me
surpreendeu dizendo que dois podem jogar. Eu não tive saída, a mulher é
linda, que outro homem não cederia a tentação de seduzir essa garota? Por
que obviamente ainda que linda, posso ver claramente o quanto é
inexperiente. Será que ela é virgem? Porra! Tento bloquear esse pensamento,
enquanto meu amigo ali em baixo já está a ponto de bala.
Eu realmente não podia. Meu tempo fora da empresa é todo de Vitória, mas
aqui na empresa posso me divertir com a minha assistente gostosa que, tenho
certeza, em menos de uma semana vai estar aos meus pés pedindo para ser
fodida na minha mesa de escritório. Um caso. Sem compromisso, sem
amarras, a não ser que ela curta esse lance de algemas, algo casual. Sim, sexo
casual me parece uma boa ideia. Já consigo fantasiar várias cenas a minha
frente. Sou tirado de meus pensamentos indecentes com o telefone tocando,
com certeza é ela, hora de dar o play querida.
—Sim?
—Doutor, o senhor Rodolfo já está aqui, posso mandar entrar?
—Não amor, eu não vou receber esse embuste na minha sala, o mande para
sala de reuniões. —Percebo que ela perde a voz por um momento tentando
digerir o fato de ser chamada de amor, sorrio pra mim mesmo efeito
esperado.
—Claro Doutor, eu vou acompanhá-lo até a sala de reuniões. —Ela volta a
exagerar no doutor, como se isso colocasse algum tipo de distância entre nós
dois. Oh Helena meu amor, se você soubesse o efeito que causa me
chamando-me doutor.
Vou ao banheiro, lavo meu rosto e respiro fundo vestindo minha face de CEO
impassível, preciso mostrar para esse projeto de advogado que não admito ser
contrariado e que recebo opiniões somente quando as solicito.
Saio da minha sala, esbarrando com uma senhora que quase tem uma crise de
nervos ao me ver.
—Tudo bem... —Olho seu nome em seu crachá. —Dona Arminda? —
Pergunto vendo seu rosto perder a cor.
—Desculpe senhor! Eu não vi o senhor, eu quase derrubei a bandeja, isso não
costuma acontecer. —Se atrapalha em suas palavras.
Seguro em seus ombros a fazendo olhar para mim.
—Dona Arminda, não há mal algum em esbarra em mim, por favor, não se
desculpe dessa forma. —Falo olhando em seus olhos, enquanto vejo os seus
suavizarem.
—Você é como seu pai. Obrigada pela gentileza Doutor. —Diz já sorrindo.
—Juan, apenas Juan. —Digo sorrindo. —Com licença tenho uma reunião. —
Digo e dou um beijo em sua face deixando a senhorinha corada e acabando
com qualquer tipo de receio que tenha de mim.
Avisto a sala de reuniões com a porta aberta e posso ouvir a conversa vinda
de lá.
—Você não precisa de produção por que é naturalmente linda, mas hoje você
está deslumbrante querida.
Bufo ao ouvir o embuste defecando pela boca ao elogiar Helena, certo, você
conseguiu-o me irritar mais que ontem Rodolfo.
—Saia de perto dela Rodolfo. —Digo ao entrar na sala e percebo Helena
totalmente desconfortável com Rodolfo quase debruçado em cima dela que
está sentada. Filho da puta!
Ao me ouvir Rodolfo sorri e levanta as mãos em sinal de rendição. Quem
esse cara pensa que é? Percebi sua secretária também visivelmente
desconfortável e com vergonha pela atitude nojenta do chefe. Isso não vai
ficar assim.
Sento-me ao lado de Helena que se surpreende com meu ato, já que tinha
posicionado os relatórios no lugar a ponta da mesa. Assim, o embuste se vê
forçado a mudar de lugar e se sentar à minha frente. Helena pega os
relatórios, e os estende em minha direção, dou uma rápida olhada nos
mesmos, afinal já vim preparado para essa reunião.
—Rodolfo eu serei direto. —Digo olhando em seus olhos. —Não estou
satisfeito com o seu trabalho já que vocês perderam as últimas cinco causas,
o que me leva a ficar intrigado com essa situação.
O embuste se mantém firme, mas não perdi o momento que seus olhos
mostraram surpresa pela minha abordagem.
—Senhor Juan... —Começa me deixando ainda mais puto.
—Se refira a mim como Doutor D'Laurentes, Rodolfo. —Digo o cortando
imediatamente.
—Doutor D'Laurentes. —Diz respirando fundo. —Eram causas ganhas para
os inquilinos, recorremos algumas vezes em cada um dos processos, mas o
juiz foi irredutível.
—Rodolfo, você acha mesmo que eu sou burro? —Digo já perdendo o que
ainda tinha de paciência para lidar com esse irresponsável. —As causas que
você perdeu, nos fez perder uma quantia equivalente ao valor da compra de
um terreno bem localizado para construção de outro condomínio. E não, você
não recorreu o suficiente, em alguns desses processos nem levou testemunhas
ao nosso favor. Como eu disse antes não estou satisfeito com sua equipe e
isso me fez olhar a formação de seus advogados e seus antecedentes, e
adivinhe? Eles são ótimos. — O vejo perder um pouco da "pose". —O que
me leva a crer que o problema não é sua equipe, mas o líder dela. Passe no
setor de recursos humanos, estou dispensando os seus serviços.
Vejo o momento em que seus olhos ficam arregalados em minha direção.
—Você só pode estar brincando! Eu estou nessa empresa há 8 anos! Eu fiz
por merecer meu cargo e além do mais, tenho ações! —Diz indignado. Sua
reação não me surpreende.
—Você tem 3% de ações, nesse momento todos os acionistas já receberam os
relatórios detalhados no prejuízo que você nos deu e também foram
comunicados da minha decisão. Você tem a opção de continuar com os 3%,
ou os colocar à venda, isso fica a seu critério. Helena pode por favor vir a
minha sala? E Cristine, coloque o Dr. Adilson a parte de todos os assuntos do
jurídico e assim que isso estiver feito, peça a Helena um horário em minha
agenda para uma nova reunião.
Saio da sala satisfeito de me livrar desse embuste. Assim que tomei pose
ontem, percebi uma perda significativa de dinheiro em uma de nossas contas
da empresa, isso me intrigou e fui mais a fundo pra saber os motivos. Percebi
que tínhamos perdido uma boa quantia em causas na justiça e levando em
consideração que contamos com uma equipe de advogados renomados não
demorei a perceber que tinha algo a mais por trás disso. Dificilmente me
engano com as pessoas e com esse tal de Rodolfo não seria diferente.
A D'Laurentes é uma empresa administradora de condomínios de luxo, mas
não como as outras. Nós compramos o terreno terceirizamos a construção e
então vendemos ou locamos os imóveis e continuamos com a administração.
Mas como em todos os segmentos existem os riscos e no nosso eram a
quantidade de moradores que de alguma forma queriam ter lucro em cima de
problemas que poderiam facilmente ser resolvidos com dialogo. No caso
desses cinco processos que perdemos não poderia ser diferente, há algo
errado nessa história e eu vou descobrir o que é.
Sento em minha mesa, quando ouço batidas na porta e logo a vejo sendo
aberta.
—Com licença. —Diz Helena ainda sem jeito pela nossa conversa de algum
tempo atrás.
Recosto-me na cadeira e volto à encarar essa mulher quem em menos de
quarenta e oito horas vem tirando minha paz e me fazendo quebrar promessas
que tinham sido feitas a mim mesmo. Ouço um pigarro vindo de uma Helena
muito corada pela intensidade do meu olhar.
—Chame o Guilherme, quero saber como estão os prazos do Condomínio
Bella Vista. —Sorrio ao continuar. —E amor seu batom, unhas e sapatos, em
contraste com esse vestido, serão motivos para minha imaginação durante o
dia inteiro.
Helena pisca atordoada abre a boca, fecha... abre de novo e nada sai. Sorrio,
se não sabe jogar não desse do play querida. Ela acena com a cabeça e
novamente quase sai correndo porta fora.
Graças a Deus ela não sabe o poder que possui, se fizesse um pouco de
esforço que fosse eu estaria perdido. Helena é meiga e por vezes até ingênua,
mas exala sensualidade sem nem perceber.
Durante o restante do dia me concentrei no trabalho, fazendo uma pausa
rápida apenas para comer o almoço que minha assistente trouxe e não pude
perder a oportunidade de provocá-la a deixando tão vermelha quanto seus
sapatos. O dia foi corrido e não tive tempo de ligar para casa e saber de
Vitória, teria que me planejar para conseguir lidar com a sua agenda sem que
isso se tornasse um risco os meus compromissos na empresa.
Com esse pensamento resolvo ligar para casa. Chama duas vezes.
—Aiô? —É impossível que eu impeça o sorriso que se abre meu rosto.
—Oi meu anjo, a sua avó sabe que você atendeu ao telefone? —Ouço a
risadinha mais linda do mundo do outro lado da linha.
—A vovó, tá fazeno um lanche. —Ouço minha perguntar quem é ao fundo.
—É o Juan, vovó.
Ontem depois da nossa conversa sobre a viagem começamos de forma natural
a fazer referências a ela de meus pais como seus avôs e eu seu pai, mas
parece que ela precisa de tempo para se acostumar com a realidade de que
sou seu pai.
—O papai está saindo da empresa já, vou ajudar você a comer todo esse
lanche minha pequena.
Nesse momento a porta se abre, revelando a pimentinha que deve ter batido,
mas como estava entretido na conversa acabei não ouvindo. Aceno para ela
entrar.
—Nois vamo binca igual ontem? —Pergunta tímida.
—Claro meu anjo, nós vamos brincar a noite toda, de tudo que você quiser.
—Vejo Helena estreitar os olhos e ficar com uma expressão nada agradável.
Deve estar achando que estou no falando com alguma mulher, mais
precisamente com uma foda em potencial. Prove do seu próprio veneno
pimentinha.
—Ebâ! Vo desniga, assim você chega mais rápido.
Dito isso desliga a ligação sem nem se despedir, sorrio da sua ingenuidade.
—Desculpa atrapalhar o seu momento Doutor, só vim perguntar se precisava
de algo e avisar que já estou de saída. —Diz de forma rude! E merda! Ela
fica ainda mais linda com ciúmes.
—Não preciso de nada amor, boa noite. —Digo, mas a vejo me fuzilar com
os olhos.
—Não me chame de amor Doutor, respeite seu anjo. —Diz se referindo ao
jeito que chamei Vitória. —Eu te desejaria boa noite, mas acredito que já terá
uma.
Esse jeito de dona mundo novamente acaba comigo e de forma instintiva me
levando indo em sua direção. De início ela não percebe minha intenção, mas
quando invado seu espaço pessoal, ela começa a dar passos para trás
encostando suas costas na parede. Chego bem perto, grudando meu corpo no
dela e já deixando claro o que ela faz comigo, a vejo engolir com dificuldade.
Apoio um braço na parede, deixando o outro ao lado meu corpo, abaixo o
rosto de forma que minha boca chegue em seus ouvidos.
—Não precisa ficar nervosa meu amor, hoje enquanto eu estiver no banho
você será a única dona das minhas fantasias, serão as suas lindas pernas que
estarão em volta minha cintura, será a sua voz que estará gemendo meu
nome, enquanto eu me toco. —Ela respira fundo, se controlando para não
emitir nenhum som. —Será em você que estarei pensando enquanto gozar, só
você.
Mordo de leve sua orelha e me afasto o suficiente para que nossos corpos não
estejam mais encostados um no outro, antes que eu perca o resto de sanidade
que ainda tenho e a jogue em minha mesa a fodendo como se não houvesse
amanhã. Olho seu rosto e vejo o quanto está corada respirando em pequenas
lufadas de ar com dificuldade, ainda em estado de choque pela minha
ousadia.
—Até amanhã Helena. —Vejo o momento em que ela parece "acordar",
empinando o rosto fingindo que nada aconteceu.
Esse vai ser o seu jogo então garota, me ignorar?
—Boa noite Doutor. —Diz baixo, se vira e sai.
Ajeito minha calça, minha mão vai ter um trabalho duro hoje.
Capítulo 7

Helena
Sinto minhas pernas tremerem, minha respiração está descompassada e eu
estou... Suando? Nossa! Eu realmente estou excitada? Como hoje de manhã,
corro para o banheiro na esperança de que lavando os pulsos eu consiga
aplacar esse turbilhão de sensações que sinto em cada célula do meu corpo.
Que homem é esse?
O cara chegou há dois dias e ainda sim está ferrando com meu bom senso. A
sinceridade das palavras dele, junto com sua respiração em meu pescoço e
então aquela mordidinha que até doeu, mas a pequena dorzinha não foi maior
que o desejo que pulsava entre as minhas pernas.
Céus eu achei que iria gozar sem ele encostar em mim!
No momento em que abri a porta nem achei que fosse meu chefe ali sentado
conversando no celular. Suas feições estavam tranqüilas, soa voz estava
amorosa, ele parecia naturalmente feliz. Isso me incomodou. Talvez pelo fato
de ele vir me chamando de amor desde que deu início a esse jogo ridículo que
não faço a mínima idéia de como parar. Naquele momento ficou claro que ele
está brincando comigo e sim eu fiquei realmente chateada, ele não chamaria
de "meu anjo" alguém que não tivesse intimidade.
Será uma namorada? Ou uma ex querendo ser atual?
Isso não é da minha conta!
O que realmente me preocupa foi que depois de ter ouvido ele totalmente à
vontade com a pessoa do outro lado da linha, ainda assim fui da irritação á
excitação em segundos. Isso deve ser normal. Totalmente normal, levando
em consideração que o cretino realmente sabe como jogar.
Eu estava fodida! FODIDA!
Eu teria que dar um jeito de acabar com essa merda de jogo, antes que ele me
desse o cheque mate.
Respiro fundo uma, duas, três vezes para me recuperar. O mais sensato a
fazer é continuar ignorando o todo poderoso ou não, já que o meu corpo
perde a linha de raciocínio quando ele começa a falar ou se aproximar.
O cara, parece o rei da selva, ele é todo poder e sedução.
De repente o funk que escutei hoje de manhã começa a fazer sentido, já que
eu realmente adoraria sentar no chefinho do jeitinho que ele gosta. Ou não!
Se ele parece o rei da selva com certeza deve ter uma anaconda no meio das
pernas! E pelo que pude sentir uma "baita" de uma anaconda. Aquilo não
caberia em mim.
De repente, o medo de ser literalmente arrombada pela anaconda do cretino
me faz acordar do meu momento de reflexão.
Olho meu relógio de pulso e percebo que já se passaram 15 minutos que
estou aqui dentro. Ótimo, ele deve ter ido embora. Pego minha bolsa em
minha mesa e sigo para o elevador, mas escuto o barulho de porta.
Ah não, senhor! Tenha dó de sua pobre filha! Sou apenas uma mera mortal,
tendo que lidar com um homem indecente, tenha piedade de mim!
—Achei que você já tivesse saído amor. —Diz baixinho perto do meu
ouvido, enquanto aciono o botão de chamada do elevador.
De novo não, por favor, de novo não.
Faço-me de tonta, ultimamente tenho feito muito isso.
O elevador chega entramos e o engraçadinho do meu lado da uma risadinha.
—Algum problema Doutor? —Digo incomodada por que, de alguma forma,
sei que sou o motivo de sua risada.
—Você me desafia Helena, mas foge de mim como o diabo foge da cruz. —
Ele fala ainda rindo.
—É por que então talvez você seja o próprio diabo. —Falo ainda brava, mais
não posso segurar o sorriso quando vejo Juan gargalhar alto.
—Helena, Helena... Se você soubesse o quanto é atraente, a população
masculina estaria ferrada nas suas garras. —Diz parando de sorrir e me
olhando com aquela intensidade que me faz sentir pulsações na vagina.
Pulsações na vagina? Sério que eu pensei isso mesmo?
—Vai continuar ignorando tudo que digo? —Pergunta sem tirar os olhos dos
meus.
Dessa vez eu dou um passo em sua direção, encurtando a distância entre nós
dois, seguro o colarinho de sua camisa e digo.
—Quando eu parar de ignorar suas investidas e começar a agir, você vai ser o
primeiro a saber sobre as regras Doutor. —Mordo meu lábio inferior, como já
li que as meninas dos livros fazem, atraindo o olhar de Juan diretamente pra
eles.
O elevador abre, eu saio, pisco na direção de Juan.
—Até amanhã.
Saio concentrada em conseguir andar sob esses saltos sem levar um tombo e
quebrar uma perna já que estou tremendo mais que vara verde, como se diz
em minha cidade.
Entro em meu carro decidida a chamar Antonella e Renan, eu preciso da
ajuda dos dois, antes que a anaconda me dê o bote.

Existem algumas coisas na vida que nos causam arrependimentos e o meu


nesse momento é ter contado sobre meu chefe para meus dois amigos.
—Caralho Renan! Essa rapariga tem o cu virado pra lua, esse cara é lindo. —
Antonella fala para Renan, enquanto está estalkeando o Instagram de Juan.
Como não tive essa idéia antes?
Abro meu aplicativo e começo a olhar suas fotos, ele é lindo. Merda!
—Ah meu Deus! Olha essa sem camisa! Como eu adoraria lavar roupa nesse
tanquinho! —Tenho que rir pra não chorar da constatação de Renan.
—Me dê seu celular, Helena! —Mas antes que eu pense em responder ela o
pega de minha mão.
Entro em pânico.
—O que você vai fazer Antonella? —Pergunto enquanto vejo-a mexer em
algo no mesmo.
—O que eu já fiz gata! Vamos mostrar para esse Deus grego os seus
encantos. —Pisco sem entender nada do que ela quis dizer.
—Ela é lerda Antonella, explique. —Afirma Renan impaciente enquanto
mando um olhar interrogativo pra ele.
—Ok. Eu adicionei o tesão do seu chefe. Isso vai mostrar que você tem
atitude... —Para de falar enquanto volta a olhar para o celular. —Ele te
seguiu de volta, porra! Eu sou demais cara! Sério! Eu deveria ser uma
consultora sexual, vamos dar o próximo passo...
Ela seguiu, quer dizer eu o segui, ele me seguiu de volta. Eu vou morrer!
—Levando em consideração, que ele tem quase quatro mil seguidores e
segue apena trezentos e oitenta e dois e mesmo assim te seguiu, Sim! Ele
quer te comer amiga.
Olho chocada entre Antonella e Renan que começam a falar de fotos, taça de
vinho, sexy, não consigo assimilar nada, enquanto ela enche minha taça de
vinho e ele apaga as luzes deixando acessa somente a luminária de mesa ao
meu lado.
Antonella solta meus cabelos, os jogando mais para um lado. Coloca a taça
de vinho em minha mão e se posiciona em minha frente. Mas o quê...?
—Sorria gata! —Ah não pode ser verdade.
—Que ridículo isso! Para! Eu não quero bater foto! —Digo já irritada com
toda essa encenação.
—Deixa de ser uma vaca puritana! —Estreito os olhos em sua direção e
começo a abrir a boca, quando Renan simula um boquete.
Os dois começam a rir, feito duas hienas enquanto eu ainda estou de boca
aberta com tanta depravação. Tudo bem, eu sei que os dois estão longe de
serem santos, mas hoje realmente eles estão demais.
—Olha Renan! Ele curtiu, foi o primeiro a curtir!
Corro e tiro o celular de sua mão.
Ela realmente bateu uma foto minha, não fico vulgar mais meus peitos
deixaram pouco para imaginação. Fecho os olhos e gemo, Eu quero morrer.
O barulho de notificação vindo do meu celular me chama atenção. Uma
mensagem no direct, dele.
Confesso que essa foto mexeu com meus países baixos amor, sabe o que
isso significa? Mais material para meu banho.
AH. MEU. DEUS.
Jogo o celular no sofá, enquanto ando de um lado para o outro com as mãos
na cabeça pensando em o que eu devo responder como vou explicar que
chamei meus amigos para contar sobre esse jogo sinistro, mas ao invés de me
ajudarem a sair dessa, pegaram meu celular e começaram a conspirar contra
mim. Meu celular! Levanto os olhos e meu coração quase para quando vejo
Antonella digitando e Renan olhando o "conteúdo" sorrindo.
Corro na direção dela, mas Renan, me segura pela cintura.
—Me solta Renan! —Me debato inutilmente em seu colo com as pernas
balançando, purpurina dos infernos.
—Uau! Esse cara é quente! —Diz enquanto se abana e me estende o celular
fazendo assim, Renan me colocar no chão.
Sério, tipo baixa resistência? Um peixe pequeno, esperava mais de você.
Peixe pequeno?
Espere o tubarão te pegar amor e então você me diz se aguenta ou pede
pra sair.
O vinho com certeza está começando a fazer efeito por que o ambiente se
tonou excessivamente quente!
—Um brinde! —Antonella chama minha atenção, enquanto Renan devolve
minha taça. —A sortuda da Helena e seus futuros orgasmos múltiplos.
Solto um riso nervoso em pensar em orgasmos múltiplos e na
anaconda. Enquanto isso Renan e Antonella bebem e se balançam ao ritmo
de Lady Gaga, sorrio ao pensar a sorte que tenho em ter eles comigo e me
arrependo das várias vezes que deixei de viver, me conformando em apenas
existir, Renan rebola a bunda como se ela tivesse vida própria, é... a noite
será longa.
Capítulo 8

Helena
O despertador toca e a sensação que tenho é que não dormi nada, e bom
talvez eu não tenha mesmo. Quase expulsei os malucos, quando Renan
começou a passar mal pelo excesso de vinho e Antonella com suas infinitas
crises de riso, o que fez o sindico me ligar quatro vezes e quando percebeu
que não teria sucesso em suas reclamações bateu em minha porta ameaçando
chamar a polícia pelo transtorno que estávamos causando.
Juntei as coisas dos meus amigos e chamei um Uber já que nenhum dos dois
tinha condições de dirigir. Quando sento na cama sinto minha cabeça latejar e
até me sinto tonta, olho novamente no relógio na esperança que ele tenha
falhado e eu ainda tenha algumas horas de sono. Só que não. São seis e sete
da manhã e se não me apressar corro rico de me atrasar e não tenho boas
experiências com atraso.
Chego no banheiro e ao me olhar no espelho, tenho vontade de gritar pelo
reflexo que vejo nele.
Eu estou horrível!
Resolvo tomar um banho gelado, sempre ouvi dizer eu isso cura ressaca.
—Ah socorro! —Grito quando água gelada encosta-se a mim.
Forço-me a agüentar o máximo possível em baixo do chuveiro com água
gelada, saio e começo a me enxugar enquanto lembro-me dos conselhos dos
meus amigos anormais.
"Dá uma chave de coxa nele garota!"
"Mostra seu poder de sedução!"
"Solte a franga que existe dentro de você!"
Eu achei um máximo esses conselhos durante a madrugada quando
estava alta, mas agora relembrando tudo que eles me falaram, já não fazem
mais tanto sentido assim. A não ser alguns do tipo...
"Seja ousada Helena."
"Pare de agir como uma criança acuada."
"Pare de pensar e comece agir."
"Se você quer, por que não?"
Sim, eu sou uma mulher independente, formada, dona de mim mesma, não
devo nada para ninguém então, por que não?
Por que o cara é o sex appeal em pessoa Helena.
Olho-me no espelho e vejo que minha situação não melhorou muito. Estou
pálida, muito mais que o normal, minha cabeça dói, meu estomago está
embrulhado e me sinto meio trêmula.
Não sou acostumada a beber como bebi ontem e as poucas horas de sono
contribuem para meu estado decadente, decido optar por um vestido preto
com uma gola v comportada e o comprimento até altura dos joelhos. Escolho
scarpins também pretos, um colar de pérolas pretas. Tudo preto, para
combinar com meu humor que hoje não está dos melhores.
Faço uma maquiagem que não ajuda a melhorar meu estado. Olho para
Jorginho que está capotado no sofá, com a agitação de ontem até o bichinho
dormiu pouco. Pego minhas coisas e sigo em rumo a empresa, quarta-feira
geralmente é um dos meus dias preferidos da semana, pois é o dia em que a
semana já está ganha, mas não hoje.

Estaciono meu carro e não demoro para descer, preciso ligar para a farmácia
me mandar um kit pré ressaca antes que Juan chegue. Ainda que tenha "algo
no ar" entre nós dois, não quero que ele me veja de ressaca, eu gosto desse
emprego, da minha posição e de toda seriedade que isso exerce. E acima de
tudo, de ser vista como boa profissional.
Olho para recepção e Renan como sempre parece que saiu de uma revista de
modelos masculinos, ninguém diria que bebeu todas e estava vomitando até o
cérebro, as três da manhã.
—Bom dia gata!
—Bom dia só se for pra você garoto. —Digo mal-humorada passando direto
por ele, enquanto o cara de pau tem a coragem de rir na minha cara.
Ligo para a farmácia e peço de tudo um pouco, estava precisando mesmo
renovar minha caixinha de remédios. Pedi com urgência e o entregador não
demoro a chegar, graças a Deus. Levanto-me e vou até o purificador de água
que fica ao lado da minha mesa.
—Bom dia Helena. —Olho para meu chefe e lhe ofereço um sorriso sem
dentes e um aceno de cabeça.
—Bom dia Doutor. —Digo sem um pingo de vontade de entrar em algum
joguinho de sedução, não nesse momento.
Vejo Juan franzindo a testa e me olhando desconfiado.
—Está doente Helena? —E agora digo "isso é ressaca das brabas doutor."
—O vinho me fez mal, também dormi pouco.
Vejo o momento que ele levanta uma sobrancelha e continua com olhos me
analisando, até que acena com a cabeça em concordância. Ela passa por mim
e meche na minha sacola da farmácia.
—Nada disso vai adiantar, venha comigo.
Respiro fundo sem vontade alguma de discutir, o seguindo até sua sala
—Fecha a porta. —Diz enquanto procura algo nas gavetas. Pega um vidro e
uma cartela e vai até o frigobar em enche um copo de água até a metade e
então segue com tudo em direção ao banheiro. —Vem Helena. —OI? Ele
realmente está me chamando pra ir ao banheiro com ele? —Posso ver suas
engrenagens funcionando, mas acredite amor, nesse momento não há
segundas intenções. —Ok. Vou em sua direção ainda se entender qual a
lógica disso.
Ele sai e entra na minha frente, fico com receio ainda de entrar.
—Não fique nervosa amor, não vou agarrar você... não agora. —Diz
tentando descontrair sorrindo.
Destaca o comprido o pondo em minha mão e então pega o copo.
—Acredite isso vai funcionar isso é um comprido pós drinque. —Diz
apontando para o comprimido em minha mão. —E isso é Olina com água,
não é bom, é bem amargo. —Diz sincero e já me arrancando uma careta. —
Tome e se concentre em não vomitar e então daqui uns quarenta minutos
estará bem.
Respiro fundo e tento me concentrar, ele me trouxe até o banheiro para
garantir que se eu precisasse chama o hugo, tivesse uma privada por perto.
Ponho o comprimido na boca e em seguida bebo o liquido do copo e posso
sentir momento em que a bebida segue rasgando por minha garganta e sinto a
ânsia também chegar respiro fundo me segurando no batente da pia e sinto
Juan passar a mão em meu ombro como se me passasse força.
Talvez o cretino não seja de todo mal.
Quando sinto que não corro risco de colocar o remédio para fora abro os
olhos e vejo Juan me olhando pelo espelho. Ele fica um pouco sem jeito por
nossa proximidade tirando a mão de meu ombro e desviando o olhar, me
fazendo perceber que o poder dele se limita a sedução, é um cara avesso a
intimidades que não são de cunho sexual.
Me viro para ele.
—Obrigada Doutor. Isso não costuma acontecer meus amigos estiveram em
minha casa ontem e acredite eles não tem limites...
—Qual a sua idade Helena? —Ele tem um grande problema em não deixar as
pessoas concluírem o que estão falando.
—Tenho vinte e quatro anos Doutor. —Ele dá uma risada amarga como se
minha idade fosse algum tipo de problema.
—Com essa idade fiz tanta merda que não gosto de lembrar. Mas também,
tive um motivo para seguir e é por esse motivo que vivo hoje. Você estará
bem logo Helena, se quiser ir para casa descansar fique à vontade. —Diz
desviando o assunto.
—Não, ficarei bem logo. –Repito sua fala e sorrio. —Obrigada de novo.
Aceno e saio de sua sala. Ainda que já tenhamos tido momentos de tensão
sexual, esse foi o que mais mexeu comigo, ele estava apenas sendo ele. Sem
o peso de ser o CEO, sem joguinhos ou pegadinhas para me deixar sem fala,
sem interpretar nenhum papel, apenas ele e eu gostei dessa versão.
Ele estava certo. Quase uma hora depois de tomar aquela dose horrível com
aquele comprimido me sentia renovada ou quase, já que o fato de ter dormido
pouco cobrava seu preço. A manhã passou rápido, não voltei a ver Juan que
não saio da sala a manhã inteira e nem me solicitou nada. Ele era um bom
chefe com seu pai, me delegava algumas funções no início da manhã e
deixava que eu fizesse meu trabalho no fim das contas estávamos formando
uma boa equipe.
—Não corra Vitória! —Olho em direção a voz e vejo Dona Judith saindo do
elevador com uma expressão cansada. Sigo seu olhar e vejo o aparente
motivo de seu cansaço.
Como essa menina pode ser tão linda?
—Oi. —Diz sorrindo em minha direção, sorrio de volta incapaz de para de
olhar para sua beleza. Usando uma saia e blusinha que parecem ser o
uniforme de escola, com um tênis e meia calça branca, com estilo maria-
chiquinha no cabelo.
—Bom dia querida. —Diz dona Judith para mim. —Juan está ocupado?
—O meu papai ta ali dento?
Papai? Eu ouvi certo? Olho para dona Judith e a vejo com lágrimas nos olhos.
Me abaixo em sua frente.
—Oi Vitória, você quer falar com o Juan? —Pergunto, a ela que sorri ao
ouvir o nome de Juan.
—SIM! Vovó ela vai chamar meu papai! —Ela diz gritando empolgada.
Quando eu vou respondê-la, a porta se abre, revelando Juan, que ao ver
Vitória sorri já abrindo os braços. Ela corre em direção a ele.
—PAPAI! —Percebo que Juan fica surpreso e emocionado? Acho que a
bebida ainda não saio do meu organismo. Me levanto ainda observando os
irmãos em um momento de afeto. Por que eles são irmãos, ou não?
—Meu anjo, que surpresa boa. —Diz fazendo carinho no rosto de Vitória e
então franze a testa. —Mas não era para você estar na escolinha princesa?
Para tudo! Ela é o "meu anjo" da ligação de ontem?
—A diretora da escola, me chamou dizendo que Vitória estava com dor na
"barriguinha", mas assim que entramos no carro, a dor passou e ela fez um
escândalo querendo ver o papai, por que o papai disse para ela, que ela iria
começar a vir trabalhar com ele. —Diz olhando para Juan com uma
expressão de repreensão.
Papai... ou a bebida ainda está em meu organismo e continua comprometendo
minha lucidez, ou alguma coisa errada, não está certa aqui.
Juan olha para Vitória, se segurando para não rir e tentando de forma
fracassada parecer bravo.
—Filha. —Ele a chamou de filha? —Você não pode mentir é muito feio.
—Mas você disse que eu posso fazer o que eu quisé, e ser o que eu quisé.
Ele suspira, olha na direção de sua mãe, olha novamente para Vitória e não
fala nada. Certo, o CEO fodão que terminou uma reunião que tinha começado
em menos de dez minutos, mal se importando com o que a bancada de
acionistas iria pensar, simplesmente perdeu a fala diante de uma menina de
cinco anos?
Isso é surpreendente e fofo.
—É... Vamos almoçar? O Papai está com fome. —Diz olhando para a irmã
ou filha.
—Juan! Pelo amor de Deus moleque! Você dê um jeito em sua filha, ou vou
te dar umas chineladas para apreender a ser macho. —Dona Judith diz e não
consigo não rir, ao a ver chamar atenção de seu filho de quase trinta anos.
Ele se levanta com Vitória nos braços, indo até sua sala e voltando em menos
de um minuto, colocando a carteira e o celular no bolso. Volto para minha
mesa, me sentindo desconfortável por presenciar esse momento familiar
deles.
—Venha almoçar conosco querida. —Dona Judith convida e rapidamente
nego.
—Agradeço o convite, mas vou ficar por aqui mesmo.
—Venha Helena, assim você põe algo no estomago duvido que tenha comido
hoje. —Diz Juan olhando para mim e chamando atenção de Dona Judith.
—Você está doente querida? Você está meio murchinha hoje. —Quando
penso em responder o cretino volta a entrar em ação.
—Ressaca mãe, mal se agüentava em pé hoje de manhã. —Sério que ele
precisava dizer isso?
—Ah querida isso faz parte, saiu com alguém? Ah me diga que é gostoso!
Melhor me mostre foto. —Fico sem saber o que dizer.
—Mãe, ela bebeu em casa! —Juan diz, então para e me olha e pergunta. —
Acompanhada? —Não tenho tempo de responder.
—Ah Juan me poupe garoto! Você é chefe dela, não dono. —Olha para mim.
—Eu na sua idade já estava com Afonso querida, mais Deus foi gentil
comigo por que ele tem um pauzão e nós trepávamos em todos os cantos. —
Meu choque só piora quando ela chega mais perto e fala baixo. —Trepamos
até hoje.
Percebo que Juan também olha para sua mãe, tão chocado quanto eu.
—Pegue sua bolsa, querida vamos almoçar.
Dito isso dá um tapa em minha mão, sem escolha, eu pego minha bolsa indo
almoçar com eles e olhando Juan e Vitória juntos, é impossível não perceber
a semelhança, realmente eles parecem pai e filha.

CAPÍTULO 9
Helena
O motorista de Dona Judith nos aguardava em frente ao prédio, uma singela
Limusine. Branca. Nada chamativa. E eu achando que isso só existia em
filme. Fico olhando embasbacada, por que uma pessoa tem um carro desse
tamanho? Pra mim parece mais um ônibus, só que baixo e com menos
utilidade.
—Você gostou querida? —Diz Dona Judith entrando no carro.
—É... Grande. —Digo sem conseguir dizer que achei um exagero.
—Eu amo! Sempre via nos filmes e achava um máximo, então Afonso me
deu uma! Eu me sinto uma atriz de cinema. —Diz, animada.
Sorrio, por que Dona Judith é aquele tipo de pessoa que traz luz para todos
que estão a sua volta. Já Juan bufa a minha frente.
—Acho que essa "canoa" não tem segurança alguma. —Diz Juan rolando os
olhos.
—Pois trate de cuidar dos seus carros e deixe a minha branquinha em paz. E
não role os olhos pra mim garoto! —Seguro o riso, que insiste em sair dos
meus lábios.
Juan percebe e estreita os olhos em minha direção e então vai lentamente
baixando seu olhar, se demorando em meu decote e em minhas pernas.
Voltando seu olhar aos meus olhos, enquanto sorri de lado.
Essa limusine não tem ar condicionado?
—Juan, para de constranger a garota. Seja discreto, tenho que te ensinar
tudo? —Diz Dona Judith, enquanto eu quero enfiar minha cara em baixo do
banco.
Rapidamente olho na direção de Vitória que está alheia a tudo, vendo algum
desenho no celular do irmão ou pai.
—Eu sei das coisas mãe. —Diz e pisca para ela. Cretino!
—Vamos o deixar achar que sabe Dona Judith. —Digo séria encarando Juan.
—Não vamos mexer em seu grande ego. —Sua mãe da uma risadinha
abafada. Agora sei de quem ele herdou a risadinhas.
—Não é só o meu ego que é grande, mas você já sabe disso. —Sinto todo o
sangue existente em meu corpo subir para minha cabeça. Dona Judith
gargalha.
—Você é rápido ein! —Comenta ainda rindo. —Falei para seu pai que você
iria cair matando em cima da menina. —Então olha para mim. —Não facilite
Helena, Juan não é conhecido por relacionamentos duradouros.
—Obrigada pela parceria mãe. —Ele a responde inconformado. Mas se esse
pedaço de mau caminho acha que vai ser fácil assim está muito enganado.
—Eu conheço esse tipo Dona Judith e agradeço a sinceridade, mas eu já
imaginava. —Respiro e continuo. —Além do mais, estou conhecendo
alguém, tenho um encontro no sábado.
Merda! Qual o nome mesmo do meu vizinho?
Dona Judith pisca para mim, entendendo meu jogo. Mal sabe ela que o
encontro é real.
—Encontro é? —Juan me pergunta. Apenas aceno em concordância. Ele não
fala mais nada e volta sua atenção para Vitória. Não era essa a reação que eu
esperava.
Não demorou muito para chegarmos ao restaurante, foi um almoço agradável,
porém Juan me ignorou o tempo todo. Logo após acabar a sobremesa Vitória
correu para o play ground e Juan foi atrás. Olho de longe como os dois são
lindos junto.
—Ele vai dar um jeito, Helena. —Olho para Dona Judith que ainda observa
os filhos.
—Não entendi. —Ela volta seus olhos para mim.
—Conheço minha cria e você mexeu com ele, noto no olhar dele. E Você
querida corresponde a esse sentimento seja ele qual for. —Fico sem saber o
que dizer. Ela acaricia minha mão e continua, porém volta seu olhar aos
filhos.
—Juan passou por tempos sombrios, amizades ruins, escolhas erradas. Mas
ele deu um jeito, ele sempre dá. —Ela suspira. —Ele é pai biológico da
Vitória, o restante convém a ele contar, ou não.
CHOCADA. E ela continua...
—Eu e Afonso vamos viajar no domingo durante quarenta e cinco dias.
Levaríamos Vitória, mas Juan está tomando seu lugar de pai, ela tem uma
rotina e sei que não vai ser fácil. Por favor Helena me prometa que vai ter
paciência e vai ajudar caso necessário. —Diz agora olhando em meus olhos.
Olho para pai e filha, é lindo vê-los junto, e ainda que eu tenha vários
questionamentos, eles não me dizem respeito, nem são da minha conta.
—Tem a minha palavra Dona Judith. —Digo olhando em seus olhos, ela me
abraça em um agradecimento silencioso.
Pra quebrar o clima nostalgia comento que já passamos da hora almoço,
Dona Judith chama o filho e a neta, para irmos. Tento pagar minha parte, mas
sou ignorada por Juan, é sério que agora vai ser assim? Infantilidade é pouco
perto dessa atitude dele. Vitória chora por não poder ficar no escritório e após
ver a filha chorar o humor de Juan piorou em vários decibéis.
Continuo sendo ignorada o restante da tarde e quando ele saiu de sua sala e
foi embora nem olho em direção a minha mesa. Decido que não vou me
deixar abalar com essa atitude. Quando vou embora passo no mercado,
compro alguns mantimentos e, tudo que precisava.

Já em casa arrumo a bagunça de ontem, guardo as compras, tomo um banho


demorado e até tento ler um livro, mas não consigo me concentrar, então
decido que o melhor é deitar e dormir e compensar o sono da noite passada.
Poderia dizer que depois de uma noite de sono bem dormido, estou ótima e
revigorada. Mas isso é mentira! Estou de péssimo humor, o cretino ligou
perto das nove, solicitando uns relatórios para serem entregues em no
máximo uma hora, sendo que um ser humano normal jamais faria em menos
de duas. Entreguei em uma hora e quarenta e escutei um "Você não foi
pontual Helena", e logo após desligou.
Depois ligou para recepção, sim ele não pediu para transferirem para o meu
ramal. O cretino simplesmente ligou para recepção e solicitou que eu,
deixasse tudo pronto para as três horas da tarde, um coffee break para duas
pessoas em sua sala.
E agora? São quase quatro da tarde e com certeza os acompanhamentos do
café estão frios por que o todo poderoso resolveu me fazer de trocha!
Ligo para o ramal de Dona Arminda e peço que ela mande alguém, que possa
esquentar outra vez, os acompanhamentos, já que não posso sair da minha
mesa, pois a pessoa da tal reunião precisa ser recepcionada por alguém. Mas
quando desligo o telefone e ouço risadas próximas, quero pegar meu salto e
enfiar goela abaixo do cretino.
Ele está em todo o seu poder, de terno cinza metálico, com um corte perfeito
que certamente é sob medida, com aquele sorriso de molhar calcinhas para a
acompanhante. A loira está de vestido azul bebê, não é uma cor digna de um
vestido social, mas nela está lindo, por que merda! Ela é linda!
E tem os olhos verdes, muito verdes. E os cabelos são loiros e para minha
desgraça com certeza são naturais. Nem de loira oxigenada posso chamar ela.
Juan continua sorrindo como se fosse o coringa, enquanto está com suas
mãos nas costas dela a guiando em direção a sua sala.
Eles passam por mim, como se eu não existisse.
Eu não deveria ficar braba, mas eu estou.
Eu não deveria sentir ciúmes, mas eu senti.
Eu não deveria ficar magoada, mas eu fiquei.
Por sorte a menina da copa logo chega, pede licença, esquenta e reorganiza
tudo para o casal.
A reunião continua. Por muito tempo.
São quase seis da tarde quando a porta se abre e os dois saem juntos. Ela sorri
para mim, que o máximo que consigo fazer acenar com a cabeça. Não olho
na direção de Juan. Mas posso sentir seus olhos em mim.
Idiota!
Algumas pessoas só funcionam com algum choque de realidade e
infelizmente ou felizmente nesse caso, eu sou uma dessas.
Vou embora, me sentindo traída, eu sei! Nós nem tínhamos nada, fala sério
conheço o cara há quatro dias! Mas dessa vez as coisas serão diferentes, por
que eu vou agir diferente.
O cara não me quer? TEM QUEM QUEIRA!
Ele que vá chupar um trem! Cretino dos infernos!
Sento no sofá abrindo o aplicativo do Instagram e como obra maligna do
destino, a primeira atualização vejo é uma foto em que Juan foi marcado. A
tal loira está de short e regata mostrando a língua e ao lado Juan sem camisa
segurando Vitória que também mostra a língua, enquanto ele sorri.
Eles parecem uma família, tipo comercial de margarina... três belezas raras!
POIS QUE CASE COM ESSA VACA E SEJA FELIZ!
Mando mensagem para Antonella.
Qual pub vamos amanhã?
Algum tempo depois, mês responde.
Eu quero mesmo é ir pra balada encher a cara e dançar até amanhecer,
será que você consegue lidar com isso, puritana?
Eu conheço isso, isso que se chama manipulação, ela desafia e eu enfrento.
Sim. Até amanhecer.
Vejo o som de notificação.
Isso mesmo garota se prepare para rebolar muita essa raba.
Ok. Posso lidar com esse vocabulário. Respondo com um emoji de beijinho.
Vou me divertir dançar, curtir e isso não inclui nenhuma sessão de "dor de
corno" por causa daquele cretino gostoso! Existem muitos gostosos por aí...
E amanhã à noite promete, a se promete!

Capítulo 10
Juan
—Papai sabia que a pincesa Elza tem uma...
PAPAI
Desde ontem minha filha vem me chamando assim, é algo natural e
espontâneo para ela, mas para mim é como se cada vez que ela fala, seja a
primeira. Ontem na empresa quando ela disse, eu me forcei a ser forte, pois
não queria assustá-la, então tentei ao máximo agir naturalmente e não como
um bobo idiota que eu geralmente sou perto dela.
Dona Judith chorou e pude ver Helena claramente confusa com a situação.
Helena.
Outra que vinha me tirando a paz e o sono. Conheço a garota a poucos dias,
mas fico assustado com os sentimentos que ela desperta em mim. É como se
eu fosse o fogo e ela a gasolina. Ela é incrível, então não é uma novidade,
estar interessado nela. Posso falar várias qualidades físicas e também alguns
distúrbios psicológicos. Ela não parece ser normal, é tímida e ao mesmo
tempo ousada, é naturalmente engraçada, divertida e gostosa. Muito gostosa.
—PAPAI! —Vitória grita chamando minha atenção.
—Meu amor, você também é uma princesa e também tem seu castelo. —Falo
passando os dedos em seus fios escuros. —Vamos fazer assim, nas férias
prometo te levar para conhecer todas princesas.
—Você vai me levar pa conhecer todas? —Fala com seus olhos idênticos aos
meus, brilhando.
—Sim, vamos a Disney lá você vai conhecer todas as princesas. —Ela dá um
gritinho animado e me abraça ainda mais.
Venho me esforçando ao máximo para estar presente de todas as formas. E
graças a Deus, Vitória parece gostar de me ter por perto. Ela vive pendurada
em mim e prefere a minha companhia ou meu colo ao de qualquer outro, isso
me deixa feliz como não estive em muito tempo.
Rebeca se joga ao nosso lado no sofá.
—Vocês são tão fofinhos juntos! —Diz apertando o nariz de Vitória e
arrancando um risinho da mesma. —Vem vamos bater uma foto.
Diz já ativando a câmera frontal e botando a língua para fora fazendo com
que Vitória a imite, enquanto eu sorrio.
Rebeca sempre foi muito próxima a mim, mas desde que se mudou para a
Inglaterra, nosso contato diminuiu. Ela e minha irmã sempre foram aquelas
chatas, pé no saco que queriam se meter nas brincadeiras dos meninos e
quando adolescentes, as pirralhas queimavam nosso filme com as outras
meninas.
Eu e Guilherme vivíamos arrumando alguma forma de esquivar das duas, o
que não era fácil e continua não sendo.
Formamos uma escadinha, Guilherme com 30, eu com 29, Rebeca 28 e Maria
Clara 27. Isso foi motivo de muita confusão na escola, Guilherme morria de
ciúmes de Rebeca e Maria Clara. Uma época até cheguei a desconfiar que
com Maria Clara era mais que super proteção, mas com o tempo percebi que
era apenas amor de primos. Pelo menos eu contava e continuo contando com
isso.
—O Gui chega amanhã e nós vamos para balada Juan! —Me fala enquanto
mexo nos cabelos de Vitória que está quase dormindo em meu colo.
—Boa festa! Aproveitem e levem Maria Clara, ela anda insuportável deve
estar na falta. —Minha irmã me olha do outro lado da sala e faz um gesto
bem infantil para sua idade.
—Boa festa para nós Juan! Já que você também vai e isso não está em
discussão. —Me olha irritada e continua. —Precisamos de alguém que
distraia Guilherme, ele parece um homem das cavernas e afasta todos os
caras e no meu caso mulheres que tentam se aproximar, isso é patético!
Levanto ajeitando meu bebê em meus braços, sem que a acorde.
—Eu não vou Rebeca. Dê seus pulos para driblar o Gui. —Pisco enquanto ela
me mostra o dedo do meio.
Subo as escadas em direção ao quarto de Vitória, que noite passada fugiu
para meu quarto, ao invés de ir para o quarto dos meus pais. Ela realmente
me tomou como figura paterna e eu não podia estar mais feliz com isso.
Arrumo seu corpinho em meio ao seu castelo, a cubro e deixo um beijo em
sua testa.
Tomo um banho demorado e de forma involuntária começo a lembrar de
Helena. Cabelos curtos escuros, olhos azuis, aquela boca linda... Sou incapaz
de conter minha imaginação, onde a boca de Helena está em volta do meu
pau subindo e descendo de forma lenta, quando chega na cabeça, lambe toda
extensão da glande me fazendo gemer. Me curvo me segurando no batente do
box, enquanto me masturbo com a outra mão, imagino minhas mãos
segurando firme em seus cabelos, alguns fios rebeldes caem sobre seu rosto
corado pelo tesão, enquanto seus peitos balançam pelos seus movimentos de
vai e vem... e sem me conter gozo rápido como um adolescente.
Eu realmente acabei de gozar imaginando minha assistente pagando um
boquete para mim?
SIM.
Será que ela se toca pensando em mim?
Porra! Meu amigo volta se animar com essa possibilidade.
Sou tirado do meu momento com batidas na porta do banheiro.
—Mano saia já desse banho preciso te mostrar algo. —Diz Maria Clara,
escuto minha mãe e Rebeca rindo.
Péssimo momento.
—Saia do meu quarto pirralha! —Grito. —Saiam vocês todas.
—Ah Claro!Você não quer saber o que sua secretária comentou na foto que
Rebeca postou de vocês né...
—Cala a boa e espera. —Ouço risos e sim, o do meu pai está no meio deles.
Rapidamente termino meu banho, me enxugo e coloco uma calça de
moletom. Saio do banheiro, vendo meus pais, sentados em minha cama,
enquanto minha prima e minha irmã mexem no celular.
Os quatro percebem minha presença e me olham com malícia. Maria Clara
estende o celular em minha direção.
Vejo a foto que Rebeca bateu comigo e com Vitoria. Desço a página e vejo
um comentário que me faz sorrir.
Família Linda, sejam felizes.
Helena. Ela ficou com ciúmes.
Ignorando a platéia pego o meu aparelho de celular e vou no direct, ela está
online, ótimo.
Acabei de sair do banho e não podia ir dormir sem antes dizer boa noite
para a protagonista do meu orgasmo.
Ela visualiza a mensagem e posso ver que já está digitando.
Seu cretino dos infernos me respeite e guarde sua porra para sua
mulher.
Gargalho com sua resposta.
Fique tranqüila amor, minha porra é toda sua. E guarde seus ciúmes,
Rebeca é minha prima, quase uma irmã.
Ela visualiza a mensagem e não responde. Será que não acreditou em mim?
Claro! Eu realmente fui um cretino ignorando-a durante dois dias.
Olho para frente e vejo a minha família ainda me olhando.
—Vocês podem me dar licença?
—Ah já estão nessa fase? —Olho para minha mãe sem entender sua
referência de fase. —Você sabe meu filho, mandar nudes, sexo por telefone...
eu e seu pai fazemos muito isso, é excitante demais.
Minha mãe perdeu totalmente o filtro.
—Mãe! Eu vou ter pesadelos, fala sério! —Diz Maria Clara fazendo cara de
nojo, sendo acompanhada por Rebeca, que parece chocada.
—Vamos para o quarto Afonso, quero mergulhar no tubarão. —Dona Judith
diz já puxando meu pai pela mão que parece bem animadinho.
—Eles são nojentos. —Diz Rebeca saindo também do quarto, seguida de
Maria Clara.
Fecho a porta e volto minha atenção para o celular. Ela não respondeu.
Decido insistir.
Pimentinha? Vamos lá amor, deixe de ser ciumenta.
Ela visualiza e nada.
Cinco minutos passaram e nada.
Vou à frente ao espelho e bato uma foto sem camisa.
Sou seu amor, só seu.
Nada.
Ela ficou off-line e me deixou no vácuo. E agora eu estou puto, custava
responder, porra?
Deixo o celular em cima do criado mudo, apago as luzes e me deito
ignorando a minha vontade de voltar a exercitar minha mão pensando em
Helena.

Acordo mal-humorado, tive uma péssima noite com sonhos quentes que me
deixaram frustrado por serem apenas sonhos, me arrumo rápido e dirijo ainda
mais rápido para empresa. Vou mostrar para aquela pimentinha que o dono
do jogo sou eu.
Só que ao chegar ao andar da presidência quase infarto.
Vejo a diaba, vestida com um vestido acima dos joelhos, com um decote
ousado demais para meu gosto e vermelho exatamente a cor que enfeitava
seus lábios. Os saltos eram nudes deixando suas pernas ainda mais longas.
Eu estava parado. Petrificado.
Ela me olha e sorrindo vem em minha direção.
—Bom dia Doutor. —Diz parando em minha frente, perto demais. —O
senhor está bem? Precisa de algo?
Foi proposital! Ela veio vestida dessa forma para acabar com meu juízo.
Respiro fundo, forçando meus neurônios a para de pensar com a cabeça
debaixo.
—Bom dia, não obrigado.
Como um furacão chega a minha sala e puta que pariu! Meu pau chega a doer
de tão duro! Vou ser obrigado a me "aliviar" por que...
—Doutor —Diz a diaba abrindo a porta. —Me desculpe bati várias vezes e o
senhor não respondeu. O Dr. Guilherme ligou avisando que o espera para o
almoço e posso passar o restante da sua agenda? —Diz a atrevida já sentando
na cadeira a frente da minha mesa, fazendo que seu vestido suba. Belas
pernas.
Como você mesma disse, dois podem jogar esse jogo querida. Ando até seu
lado e me encosto-me à mesa deixando bem evidente a animação do meu
amigo. Vejo o exato momento em que seu olhar cai para meu corpo,
chegando em pau e meu cacete responde pulsando dentro da cueca, sou
obrigado a me concentrar para não gemer.
Ela cora.
Ela morde os lábios
E o telefone toca. A porra do telefone toca!
Ela se sobressalta e o atende, até esquecendo que não está em sua mesa e sim
em minha sala, então como se saísse de um transe arregala os olhos e estende
o telefone em minha direção. Quando vou responder percebo ela já saindo.
Não tão fácil Helena. Devolvo o telefone ao gancho pouco me importando
com quem estava do outro lado da linha e me certifico de tirar o cabo para
não ser interrompido de novo. Alcanço sua mão que estava chegando ao
batente da porta e dou uma encoxada por traz.
—Com pressa amor? —Posso sentir seu corpo esquentando com a minha
proximidade.
Ela faz menção de responder, espero, mas não fala nada.
—Fiquei magoado em ser ignorado ontem amor. —Digo em seu ouvido a
empurrando contra parede ainda de costas para mim.
Ela respira fundo e diz.
—Você provou do seu próprio veneno Doutor. —Como imaginei ela quis me
dar o troco.
—Me desculpe, mas você disse que tinha um encontro e eu sou muito
ciumento. —Seguro firme em sua cintura e mordo seu pescoço, ela geme e eu
quase gozo nas calças. —Responda Helena, você ainda tem um encontro?
Pergunto, enquanto beijo seu pescoço e me esfrego nela deixando claro o
meu estado.
—Sim. —Ela responde baixo, quase como um sussurro.
Viro-a de frente para mim e posso ver o quanto também está excitada.
—Vou te dar uma amostra do que pode ser seu Helena e você não vai querer
outro homem depois disso.
A prenso ainda mais contra parede e a beijo, sua boca é quente, seus lábios
são macios e quando ela corresponde ao beijo colocando sua língua na minha,
gemo. Intensifico o beijo enquanto uma mão está em seu cabelo guiando
nossas bocas e a outra está em sua cintura. Levo minha mão até seu seio por
cima do vestido e aperto, ela geme em minha boca me deixando ainda mais
louco. Pressiono meu pau contra sua barriga, puxo suas pernas as fazendo
circular minha cintura, seu vestido sobe com o movimento e aproveito para
ajeitar sua buceta em cima do meu pau ainda que por cima das roupas para
que ela sinta o tamanho do meu desejo. Ela para o beijo e encosta a cabeça no
batente da porta,enquanto geme de olhos fechados, ataco seu pescoço e
começo a fazer movimentos de estocada a deixando louca.
Ela segura meus cabelos e volta a me beijar, se esfregando em mim sem
pudor algum, ela aumenta a pressão das pernas a minha volta, sarrando no
meu pau. Seguro firme em cada lado da sua bunda fincando meus dedos em
seu vestido, tentando de alguma forma trazê-la para mais perto. Grudamos
nossas testas com as respirações aceleradas, compartilhando do mesmo ar
enquanto gememos juntos. Ela geme mais alto, mordendo o lábio, esfregando
a buceta ainda mais rápido em mim.
Vê-la gozar será meu fim.
Seguro suas coxas, estocando sua buceta ainda por cima da roupa como se
estivesse a penetrando. Helena começa a arfar puxando meus cabelos, mordo
seu pescoço e sinto seu corpo vibrar, rapidamente afasto o rosto e sou
presenteado em ver Helena gozando. Gemendo meu nome, enquanto morde o
lábio e finca as unhas em meus ombros por cima do terno.
Sinto os tremores atingindo meu corpo e fecho os olhos não conseguindo
conter orgasmo que toma conta de mim.
Eu gozei na calça.
No escritório.
Com minha assistente.
Abro os olhos e vejo Helena mordendo os lábios, ela também ficou me
olhando. O cheiro de excitação toma todo o ambiente. Isso foi intenso, e
pessoal.
Preciso ter essa mulher em minha cama. Com calma. Hoje.
Mordo o lábio inferior dela.
—Esqueça o tal encontro Helena, eu não compartilho o que é meu.
Capítulo 11

Helena
Nunca senti algo assim.
Foi forte, intenso e real.
Meu corpo inteiro parece gelatina, minha sorte é Juan que me segura pelas
coxas enquanto respira fundo provavelmente recuperando as forças após ter
gozado, o que por sinal foi sexy e lindo.
Pergunto-me como seria estivéssemos sem roupa e o ato de fato fosse
consumado?
Não sou virgem. Eu namorei uns sete meses com um cara na faculdade e
tínhamos relação, mas mesmo que com penetração e umas preliminares, eu
nunca me senti como agora e vale ressaltar que ainda estou vestida.
Juan abre seus lindos olhos e me encara de uma forma, que me faz me sentir
nua.
—Esqueça o tal encontro Helena, eu não compartilho o que é meu. —Diz
olhando dentro dos meus olhos como se estivesse vendo minha alma.
Sorrio e decido provocar mais um pouquinho.
—Está se sentindo possessivo Doutor? —Falo enquanto acaricio seus
cabelos.
—Eu sou ciumento lembra amor? —Me responde com outra pergunta.
Descruzo as pernas de sua cintura, me apoiando em seus braços, enquanto ele
me ajuda a ficar de pé. Assim que saio do seu colo, vejo uma mancha bem
considerável em sua calça.
Céus como ele vai trabalhar assim?
—Precisamos dar um jeito nisso. —Vou em direção ao banheiro e sinto sua
presença atrás de mim. Pego algumas toalhas e as molho, mas quando me
viro quase caio para traz.
Ele está sem o paletó e a camisa. Mostrando aquele peitoral, que parece bem
mais lindo que o da foto que me mandou ontem.
Ele está tirando a calça.
Vejo a mancha em sua cueca Calvin Klein e então ele tira a cueca...
ELE TIROU A CUECA!
Senhor isso só pode ser fruto da minha imaginação!
Não consigo tirar os olhos do todo poderoso Junior! É grosso, grande e ainda
que na 'meia fase" posso perceber...
—Amor, se você continuar me olhando como se quisesse me comer, juro que
vou sentar você nessa bancada e fazer sua vontade. —Diz Juan com uma
expressão risonha.
Desvio os olhos alcançando as toalhas em sua mão.
—É... Como vamos fazer com suas calças? Não existi a menor possibilidade
de usar essa. —Digo apontando para a calça dele que está em cima da tampa
da privada. Ele se aproxima de mim ainda com umas das toalhas em mãos.
—Abra as pernas. —Mas nem pensar que ele vai fazer o que acho que vai.
—Nada disso Doutor. —Digo pegando a toalha de sua mão. —Deixe isso
comigo, se preocupe com o fato de ter uma cueca e uma calça limpa para
usar.
Ele abre aquele sorriso lindo de cretino que só ele tem.
—Se você soubesse o tesão que sinto quando ouço você me chamar de
Doutor. —Me dá um selinho e se afasta, aproveito o momento que ele está de
costas mexendo na bolsa da calça para me limpar e jogar a toalha fora. Passo
uma água em meu rosto e agradeço aos céus por só ter passado batom hoje,
batom esse que não existe mais em mim.
—Mana você tem algum terno dos modelos que você usa para publicidade?
—Ouço Juan falando com Maria Clara. —É... Eu tive um imprevisto com o
meu terno. Na verdade, vou precisar de uma cueca também. —Ele ri de algo
que Maria Clara diz e me estende o telefone. Sinalizo que não com a cabeça e
empurro sua mão com o celular para longe. Ele põe no viva voz.
—Pirralha, ela está tímida no momento, mas coloquei no viva-voz.—Que
cretino!
—Helena? —Quero morrer! Como diabos ela sabe que sou eu aqui? Fecho
olhos.
—Sim? —Digo baixo, bem baixo.
—Você pode vir aqui buscar o terno para meu irmão? Com certeza não vou
entrar no escritório dele agora por que deve estar cheirando a sexo.
Eu quero morrer!
—Claro! Sim... —Me atropelo nas palavras enquanto Juan segura o riso, dou
um belo de um tapa em seu braço.
—Vou esperar você cunhadinha. —Diz e desliga.
—Sério Juan, que merda foi essa? —Digo dando outro tapa. —Tem noção da
vergonha que me fez passar? —Ele ri se esquivando de meus tapas. Saio do
banheiro de cabeça baixa arrumando meus cabelos.
—Vou buscar as roupas para você, ponha essa calça e a cueca em uma sacola
e eu levo para casa e lavo, sua mãe não tem que lavar suas roupas gozadas.
Quando levanto os olhos dou de cara com Doutor Guilherme, sentado na
cadeira da frente da mesa de Juan. Dou um grito com o susto.
—Jesus! —Ponho a mão no coração. Olho para trás e vejo Juan só de camisa
e meias. Arregalo os olhos! Senhor o Dr. Guilherme ouviu o que eu falei!
SIM! Eu vou morrer!
—Devo dizer que na próxima vez que 'brincarem' no escritório devem trancar
a porta, isso foi um descuido enorme irmão. —Diz sorrindo olhando de mim
para Juan. —Não acredito que você o preferiu a mim, Helena. —Diz em tom
de brincadeira.
—Cala a boca Guilherme!Da próxima vez bata na porta, porra! —Diz Juan,
mas ele não parece bravo.
—Eu bati cara e agora sei o motivo de não ser atendido. —Ok, isso é bem
constrangedor.
Respiro fundo e olho para Juan murmurando um já volto e recebendo uma
piscadela de volta. Passo em direção a recepção dando graças a Deus por
Renan estar distraído falando ao telefone com alguém. Entro no elevador e
desço dois andares em direção ao setor de Marketing e publicidade.
Eu sou uma mulher adulta não devo ficar com vergonha de falar com a irmã
do cara que acabei de fazer gozar nas calças, certo? Eu não sei como, na vida,
eu não estou surtando com vergonha do que acabou de acontecer. Eu
simplesmente fiquei tão à vontade com ele que não pensei em mais nada.
—Bom dia, Maria Clara está me esperando. —Digo a secretária de Clarinha.
—Só um minuto. —Vai até a porta de Maria Clara e me manda entrar.
—Bom dia. —Falo totalmente sem jeito.
—Bom dia Cu! —Oi? —Separei esse terno cinza, era o único que tinha na
numeração de Juan. —Me estende o terno. —É de corte italiano, vai ficar
perfeito nele. Então trate de ameaçar suas bolas, por que as meninas já o
acham lindo, com esse terno vão cair matando.
Mas que merda é essa?
—Acham é? —Questiono tipo assim... Como quem não quer nada.
—Sim! Acredita que o apelidarão de Dom Juan? E fizeram uma aposta para
ver quem o pegava primeiro, tadinhas! Todas perderam. —Bando de vacas.
—É sim! Perderam. —Digo, com plena certeza de que aquele pauzão agora
vai ser meu, essas vacas que procurem outro mato para pastar. —Obrigada
pelo terno Clarinha e desculpa a situação.
—Que isso, quero mais é que meu irmão seja feliz! Mas você sabe junto com
ele vem Vitória e uma responsabilidade imensa... Ela precisa de uma mãe,
Helena. —Diz agora séria, como nunca vi antes.
Aceno em sinal afirmativo por que realmente não pensei em Vitória, na
verdade não pensei em nada. E bem... Na verdade, nós flertamos, a coisa toda
aconteceu. Mas não é como se tivéssemos namorando. Oh gente!Para de pôr
a carroça na frente dos bois.
—Tenho que ir, Dr. Guilherme está lá aguardando Juan, que bem... Precisa
das roupas. —Vejo o rosto de Clarinha se iluminar com a menção de
Guilherme, claro, eles são primos.
—Gui já chegou? —Pergunta e emenda. —Ele está sozinho? —E logo se
corrigi. —Digo, ele veio com alguma assistente?—Certo isso foi estranho.
—Ele está sozinho.
—Ah sim, ótimo! Quer dizer legal. —Ok. Bem estranho.
—Obrigada de novo Clarinha. —Digo enquanto saio de sua sala.
Entro no elevador com outras duas meninas. Elas me olham e logo
perguntam.
—Você é assistente do novo CEO, né? —Diz uma empolgada.
—Menina você tem sorte trabalhar com aquele homem, deve ser como estar
na Grécia antiga em meio aos deuses. —Respiro fundo, forço um sorriso sem
dentes, louca para dizer que ele está sem cueca e calças, por que EU fiz ele
gozar nelas.
Elas percebem minha falta de receptividade ao assunto e ficam
quietas. Ótimo!
Desço no andar da presidência, dessa vez Renan me vê e me manda um beijo,
eu faço um sinal de que depois conversamos e ele acena em positivo, sigo
para sala do meu chefe bato na porta e escuto um entre, que pela voz veio de
Dr. Guilherme.
—Com licença. —Digo entrando.
—Não seja modesta boneca, você é mais bem-vinda aqui que eu. —Diz Dr.
Guilherme com um sorriso zombeteiro.
—Para de encher o saco Gui! —Então suaviza a voz. —Estou aqui amor. —
Diz me chamando do banheiro.
—Oun que fofo já está falando todo fresco, que marrica! —O primo de Juan
diz alto o suficiente para que ele possa ouvir.
Chego ao banheiro e coloco as roupas em cima da bancada de mármore. Ele
me puxa pela mão e me abraça ainda pelado.
Tende piedade de mim, senhor!
—Já desmarcou o encontro?—Pergunta cheirando meu pescoço.
—Claro que não! —Ele me encara. —Eu não tive tempo para isso. —Seu
olhar suaviza.
—Então o faça amor, mas não precisa ligar, só mande uma mensagem
mesmo. —Diz firme, porém sereno, seguro o riso.
—Eu não tenho o número dele, ele é meu vizinho, desmarco hoje quando
chegar em casa.—Juan franze a testa não gostando da informação e só então
me dou conta, ele está tentando me controlar? —Além do mais, nos
beijamos a menos de meia hora e você já está tentando marcar território?
Ele segura os dois lados do meu rosto olhando em meus olhos.
—Não tenho mais 18 anos Helena e não sou um moleque. Não só te beijei,
como te fiz gozar e também gozei sem nos tocarmos de verdade. Então sim,
eu estou marcando território. Trate de desmarcar esse encontro ou eu
desmarco. —Olho para ele chocada, porém afetada com a intensidade de suas
palavras.
—Você não sabe o meu endereço! E você não faria isso!
—Consigo seu endereço em menos de dez minutos e sim, eu faria amor. Vai
pagar para ver? —Me desafia e bom, não parece estar brincando.
Desvio o assunto por que não faço a mínima idéia de como desmarcar com
meu vizinho já que não lembro nem o nome.
—Coloque seu terno Doutor. —Digo já saindo de seus braços. —Tem um
engenheiro na sua mesa a sua espera.
Juan me chama, eu corro para fora do banheiro e de sua sala.
A manhã mal começou e os acontecimentos já foram muitos. Começo a
trabalhar e em um intervalo, abro o grupo que tenho com Antonella e Renan e
os dois já estão a todo vapor com planos para a balada. Merda esqueci a
balada. Não posso furar com eles de novo. Confirmo que vou esperar eles as
oito horas em minha casa para nos arrumarmos todos juntos.
Os doutores saem da sala rindo um com o outro.
—Até boneca! —Diz piscando para mim.
—Pisque de novo e furo seu olho, seu babaca! —Juan fala. Ele tem sérios
problemas com sentimento de posse.
—Amor, vou almoçar com o Gui e fazer algumas visitas de campo, não devo
voltar antes que você saia. Mande-me seu endereço por mensagem e
combinamos um horário para eu ir te buscar. —Me buscar? Nem marcamos
nada.
—É que hoje não posso. —Dr. Guilherme percebe o olhar matador de Juan
para mim e se afasta discretamente. —Eu já tinha combinado de sair com
meus amigos, nós vamos a uma balada, eu não posso furar com eles de novo.
Juan me encara.
—Amigos? Homens? —Pergunta ainda me encarando.
—Não! Quer dizer um é, mas acredite, é mais fácil ele se interessar por você
do que por mim e a outra é Antonella, mulher. —Sua expressão suaviza, bem
pouco.
—Me passe os nomes deles que arrumo suas entradas. —Diz me deixando
sem saída. —Clara, Gui, e Becca também irão, então não vejo problema
algum de seus amigos também irem conosco.
Becca. Ainda não gosto da tal prima.
—Certo. Me passe a localização e nos encontramos lá. —Ele me corta.
—Vou buscar vocês Helena, nem fodendo você vai chegar sozinha em uma
balada no meio de um monte de caras prontos para a caça. Mande-me seu
endereço e combinamos o horário. Até logo amor.
Dito isso se retira, sem nem me dar tempo de responder. Ele simplesmente
decidiu como tudo iria ser e agiu como meu dono. Está certo que eu queria
mesmo ser dele e ter todo seu pauzão para mim. Ok, eu fiquei fascinada com
o pauzão, mas isso não vem ao caso agora. Vou ter que dar um jeito de
domar esse boy, e farei isso hoje à noite.

Capítulo 12

Helena
“Mete com força e com talento
Estou ofegante e você percebendo
Bate e maltrata essa puta safada
Quero jatada de leite na cara
Mas calma aí não goza agora
“Quero você socando minha xota.”
...
C H O C A D A.
Sentada em minha cama de hobby e com o rosto parcialmente maquiado,
enquanto Renan rebola a bunda que novamente parece ter vida própria e
Antonella fazendo uns movimentos bem inadequados ainda segurando o
pincel e a paleta de sombras. A letra de um funk animado e bem ousado toma
conta do ambiente, eu me controlo mentalmente para não desligar o som e
pedir por um momento de paz.
Antonella vai até a minha cômoda que no momento está servindo como mesa
para a tequila que Renan trouxe os limões e o sal que peguei em minha
cozinha. Ela serve três copinhos que por sinal são bem maiores que os usados
para tequila.
—Vamos brindar! —Diz já nos forçando a pegarmos nossos copos e o sal. —
A Helena que parcialmente tirou as teias de aranha da sua aranha.
Dito isso os dois se matam de tanto rir, eu até tento não rir e fazer um cu doce
por ser a piada da vez, mas acabei rindo junto.
—A Helena e, o pau de ouro do nosso chefe! —Quase cuspo com a fala de
Renan. Brindamos e viramos mais três doses consecutivas.
Antonella me fez por um fio dental bem indecente e não pude deixar de
pensar o que Juan acharia da peça. Olho-me no espelho e me sinto atraente
como a muito tempo não sentia. Com um vestido cor de vinho, com um
decote generoso, costas nuas e um comprimento razoável. Era um vestido
revelador, mas devo admitir que Antonella fez uma ótima escolha. Me sinto
poderosa e sinceramente era assim que queria me sentir ao lado de Juan.
Ele é o tipo de cara que "controla" o mundo e isso me dá medo, lembro de
uma parte de minha infância que me machuca e ainda que a razão grite para
eu ficar longe, meu corpo quer ele por perto. E eu torço para que seja só meu
corpo que o queira por perto e não meu coração.
As risadas de meus amigos me chamam atenção, eles realmente sabem se
divertir. Ainda que estejamos só nós três aqui na minha sala, eles bebem e
dançam como se isso realmente fosse uma festa. Renan me puxa e rindo tento
acompanhá-los dançando agora uma música em inglês. Antonella pega seu
celular e bate uma foto nossa na frente do espelho que tenho ao lado do
painel da televisão, posta a foto, enquanto Renan nos serve mais tequila.
—Ainda temos uma hora, até o Dom Juan chegar, vamos aproveitar
meninas. —Diz ele enquanto viramos outra dose de tequila.
Dançamos, bebemos e me amaldiçoou novamente por não ter feito isso antes.
Vejo meu celular tocar, olho no visor e sorrio.
—Oi cretino.—Juan ri do outro lado da linha.
—Oi amor, em quinze minutos passo para pegar vocês, certo?
—Claro já estamos prontos e eu estou ansiosa para dançar até amanhecer.
—Eu tenho idéias melhores para fazermos até o amanhecer.
—Tem é? —Digo me sentindo bem felizinha.
—Você bebeu Helena?
—Ah, só um pouquinho...
—Sei... —Ele diz e percebo o desconforto por perceber que eu bebi.
—Fico te esperando.
—Até.
E desliga. Assim... Do nada.
Desligo o som chamo meus amigos para irmos descendo e graças a Deus o
elevador já está arrumado. Descemos e ficamos conversando com o porteiro
quando sinto uma mão em minha cintura.
—Helena que surpresa! —Diz meu vizinho, merda! Eu ainda não lembro o
nome dele. —Você está linda!
—Obrigada! —Digo sem jeito e vejo pela minha visão periférica uma
camionete preta que não faço a mínima idéia do modelo, estacionar bem em
frente a portaria. Começo a orar mentalmente para que não seja o Juan, não
agora.
—Pela hora, posso imaginar que estão saindo para dançar e estou tentado a
me convidar para ir junto. —E então vejo Renan, arregalar os olhos e me
sinalizar para algo atrás de mim.
Viro o rosto e vejo Juan vindo em nossa direção.
PUTA QUE PARIU!
Ele está de calça jeans e camiseta preta. Posso ver suas pernas bem
delineadas e imediatamente penso em como a bunda dele está perfeita nessa
calça, subo meu olhar para seu peitoral... Seus braços e juro, tive que segurar
um gemido.
Que homem é esse?
Parecendo uma versão de um agente do filme MIB Homens de Preto ou algo
assim, só que no estilo casual. Existem agentes de estilo casual? Não sei, mas
se existisse Juan seria o modelo ideal. Vejo quando seus olhos caem em umas
das mãos de meu vizinho que ainda está em minha cintura, até me
preocuparia com esse fato, mas não consigo esboçar nenhuma reação que não
seja admirar sua beleza divina. Ele para a minha frente ignorando todo o
restante, olha novamente para minha cintura e, dessa vez, dou discretamente
um passo para o lado desfazendo o contato com o homem ao meu lado.
—Não vai nos apresentar Helena? —Pergunta Juan me olhando bem sério.
—É... —Por extinto, eu coloco a mão no ombro de Juan para apresentá-lo aos
demais, ele aproveita esse gesto me puxando pela cintura, me apertando
como se incentivando a continuar.
—Bom! É... O Renan você já conhece, essa é Antonella e esse... —Eu não
lembro o nome do cara! —É... Meu vizinho.
Meu vizinho olha entre mim e Juan e também o modo como o cretino me
abraça pela cintura. Os dois se encaram e nenhum deles diz nada. Juan quebra
o contato visual com ele me olhando.
—Não vai me apresentar, amor? —Ele estava marcando território, mas que
se foda! Gostoso do jeito que está hoje eu nem ligo, na verdade esse tom
dominante até me... Excita?
—Claro esse é Juan. —Nesse momento ele sorri em direção a meu vizinho e
estende a mão que a recebe devolvendo o comprimento. Juan volta a olhar
para mim, pisca, desce os lábios e beija meu pescoço.
—Tem cinco segundos para desmarcar o encontro ou eu faço isso. —Fico
sem reação, sem saber como agir ou o que falar já que meu corpo está bem
mais interessado nos arrepios que está sentindo com sua boca em mim.
—Helena estará ocupada amanhã e todos os outros dias, estamos juntos. Mas
eu não precisava te dizer isso né, cara? Ela não lembra nem seu nome. —Ok,
isso foi cruel.
Espera... Ele disse juntos? Tipo de juntos mesmo?
—Juan! —O repreendo.
—Boa festa para vocês. —Diz meu vizinho e entra no elevador, que graças
aos céus estava no térreo.
—Vamos? —O cretino fala como se nada tivesse acontecido, olho para
Antonella e Renan em um pedido silencioso para nos deixarem sozinhos.
—Abra o carro bonitão, não queremos presenciar a DR a seguir. —Diz
Antonella.
Juan mexe no controle, os dois logo entram no carro e surpreendentemente
uma música começa a tocar no carro. Juan me puxa em direção a camionete
que parece ainda maior de perto, se encosta, enlaça minha cintura me olhando
e esperando que eu fale.
—Aquilo não foi legal! Você humilhou o cara na nossa frente. —Digo
olhando em seus olhos.
Ele desgruda o seu corpo do meu, suspira e levanta o olhar.
—Você está linda Helena e, se é que é possível ainda mais gostosa. Não foi
difícil deduzir que o cara do encontro era aquele, ele estava com a mão em
sua cintura. —Volta a me puxar para perto. —Quando cheguei, ele percebeu
que não somos só amigos e ainda assim continuo, eu conheço esse tipo por
que já fui um.
—Que seja. —Digo tentando me afastar, mas ele é mais rápido.
Me puxa e me beija...
Do que estávamos falando mesmo?
Me segura firme com uma mão em minha cintura e com a outra a minha
nuca, e todo o restante desaparece. Ele se afasta o mínimo possível para me
olhar nos olhos.
—Podemos ir agora? —Morde meu lábio. —Ou ainda não terminamos nossa
primeira DR?
—Dizem que o sexo de reconciliação é o mais gostoso de todos. —Ele fica
momentaneamente atordoado e quando faz menção de dizer algo um carro
branco e comprido para ao nosso lado e Maria Clara só falta pular da janela.
—Não tenho calças extras aqui mano, então se controle!
—Cara! Eu achei que vocês iriam se comer aqui na rua! —Diz a tal prima,
me fazendo automaticamente apertar Juan ainda mais contra mim. Ainda não
gosto dela.
—Sério cara, deixe para dar uns amassos em sua garota na Fantasy. —Diz
Guilherme. —Estamos indo.
E arranca o carro tirando gritinhos das meninas. Juan me puxa em direção a
porta do carro, abre, quando vou entrar segura meu braço e coloca a minha
mão sobre o seu pauzão, de forma que Renan e Antonella não vejam. Então
se aproxima do meu rosto e olha em meus olhos.
—Eu fiquei duro no momento em que vi você nesse vestido, tenho certeza
que se eu colocar a mão em sua boceta vou encontra-la encharcada. Então se
comporte e não me provoque ou vou achar uma forma de foder você no meio
da boate, por que acredite Helena, eu darei um jeito.
Então tira minha mão do seu pau, abre a porta por inteira e me incentiva a
sentar no banco do carro. Dá a volta e senta no banco do motorista, liga o
carro, me dá um sorriso safado quando percebe que ainda estou atônita com
suas palavras. Antonella e Renan cantam animados do jeito que acham ser
certa uma música em inglês, os vejo animados e me lembro do ponto alto que
deve ser essa noite. Divertir-me. Dizem que quem brinca com fogo sai
queimado, pois hoje minha intenção é realmente se queimar!
Vou provocar Juan e pagar para ver até onde suas promessas são verdadeiras.
E nesse clima de descontração, ponho a mão em sua coxa, ele respira fundo,
subo minha mão um pouco mais. Olho discretamente para trás e meus amigos
nem percebem o que estou fazendo, subo ainda mais minha mão e quando
chego no todo poderoso Junior eu aperto, Juan segura o volante com mais
força e controla a respiração, vira o olhar para mim e estreita os olhos, mas
logo volta a atenção a estrada. Começo a cantar com Antonella, e Renan.
Algum tempo depois chegamos a Fantasy e Antonella fica eufórica.
—Puta Merda! A entrada desse lugar deve custar mais que meu salário!
Juan mexe no console do carro e pega duas pulseiras, se vira para meus
amigos.
—Coloque a pulseira,mostrem aos seguranças e eles indicarão o camarote,
todo o consumo está incluso. —Ele destrava o carro. —Podem ir, vou
estacionar o carro e já encontramos vocês lá dentro.
Um arrepio percorre minha espinha, não sei se de nervoso ou de ansiedade.
Eles saem e Juan me olha.
—Eu avisei para não me provocar Helena.
Pronto. Depois dessa frase era uma vez minha calcinha...

Capítulo 13
Juan
Gostosa. Puta merda!
Com um vestido cor de vinho de veludo curto, um decote generoso e as
costas parcialmente nuas, Helena estava ainda mais linda que o habitual. Mas
quando percebi que o Thor versão genérica estava com a mão na cintura dela,
fiquei puto. Caralho! O que essa garota fez comigo?
Meus planos eram sexo casual e não um caso... até eu ver aquele filho da puta
encostando nela. Eu tenho plena consciência que estou entrando em um
terreno perigoso, por que minha vida tem uma prioridade chamada Vitória.
Quando eu entrar em um relacionamento vai ser com a pessoa certa para
casar e a parceira vai ter que aceitar que o centro da minha vida é a minha
filha, meu anjo precisa de mim e eu ainda mais dela.
Mas Helena vem me fazendo quebrar algumas promessas e isso me assusta
para caralho. Ela é engraçada, porra! A garota é hilária, e naturalmente sexy,
meu pau reage a um simples olhar dela. E a forma como ela me olha? É algo
surreal, me faz sentir poderoso. Eu não sou modesto, sei que agrado
visualmente a população feminina, mas a forma como Helena me olha, me
faz me sentir seguro.
A pequena pimentinha teve a ousadia de botar a mão no meu pau com os
amigos no banco de trás! E depois o descaramento de apertar, tirar a mão e
começar a cantar com os amigos como se nada tivesse acontecido. E eu?
Fiquei com um caso sério de bolas azuis. O álcool de certeza ajudou nesse
momento de coragem dela, já que hoje após gozarmos como loucos sem nem
nos tocarmos, fui ajudá-la a se limpar e maluca só faltou me empurrar
banheiro a fora. Mas sou um cara paciente. Ou não.
Pela forma como a coisa toda rolou hoje de manhã, percebi que ela se entrega
totalmente no momento em que está excitada, mas também notei que ela
espera comandos. Então de duas uma, ou os caras com quem ela esteve eram
ruins de cama, ou ela gosta de ser submissa nas relações sexuais, por que no
restante, pude perceber que não é submissa em nada. Nunca fui o tipo
dominador, mas com ela foi quase natural e puta merda! Só de pensar isso já
fico duro.
Olho para o lado e ela canta com os amigos, totalmente desafinada e
desengonçada, a gostosinha é engraça demais e esse jeito autêntico dela me
encanta. E não, eu não deveria estar encantado. Ela rebola sentada no banco
do caroneiro e por pouco não perco o foco na estrada. Ela realmente quer me
tirar do sério e isso me faz ter uma ideia.
Você está muito ferrada comigo Helena!
Explico para seus amigos o que fazer ao entrar na Fantasy e a loira louca
pareceu bem feliz com a escolha da boate e com o fato de a consumação ser
livre. E quanto a Renan, fiquei contente em saber que ele era o amigo gay,
ótimo! Afinal não vou precisar arrumar um motivo para uma demissão.
Talvez eu seja um pouco possessivo, só um pouco.
Percebo Helena ansiosa e não perco a oportunidade.
—Eu avisei para não me provocar amor. —Ela me olha e dá um riso nervoso.
—Você vai estacionar muito longe Juan, meu salto é enorme.
—Levo você no colo gatinha, antes disso teremos uma conversa e eu vou te
mostrar o que realmente é enorme. —Digo estacionando o carro.
Estaciono na última vaga, ainda que a película impossibilite que alguém de
fora veja o interno do carro prefiro garantir. Jogo meu banco para trás, tendo
assim mais espaço entre eu e o volante. Dou uma tapinha em minhas pernas.
—Sente aqui Helena.—Ela olha para minhas pernas, olha para fora do carro e
me olha de novo, então bem devagar, ela senta em minhas pernas e posso até
arriscar a dizer que talvez com certa timidez.
Toco seus braços, subo uma mão até seus cabelos, enfio meus dedos entre
seus fios lisos e seguro com firmeza puxando levemente até que minha boca
tenha acesso ao seu pescoço. Com a outra mão seguro em sua bunda puxando
contra mim para que sinta minha ereção.
—Você foi uma menina má gatinha. —Digo chupando o lóbulo de sua
orelha. —E algo me diz que foi intencional, para ver até onde eu iria. —
Mordo seu pescoço e ela geme alto. —Eu sempre vou longe Helena, então
nunca me teste.
Beijo seu pescoço, desço a mão que estava em seus cabelos, aperto seu seio
circulando o bico ainda por cima do vestido e quase engasgo com a saliva ao
perceber que está sem sutiã.
—Você merece uma punição dupla amor, sair sem sutiã está fora de
cogitação. —Dou uma lambida em seu pescoço. —Eu sou ciumento.
De forma inconsciente Helena rebola em minha ereção totalmente entregue e
não tenho dúvidas que gozaria facilmente só com a fricção que causava cada
vez que rebolava. Mas eu não facilitaria sua vida, não dessa vez.
Começo a subir minha mão que estava em sua coxa em direção a sua boceta
sem tirar olhar de Helena, que tenta me beijar.
—Sem beijos agora, apenas me olhe. —Ela morde o lábio e volta a me
encarar.
Passo dois dedos sobre a bocetinha dela e ainda que por cima da calcinha
posso senti-la babando por mim. Helena joga a cabeça para trás com meu
toque. Afasto a mão.
—Olhe para mim Helena, se você desviar os olhos, não vai me sentir. —Ela
me olha e, como imaginei, fica ainda mais excitada com meu comando.
Ela curte mesmo essa coisa de ser dominada durante o ato sexual.
Afasto sua calcinha para o lado, enfio um dedo e gememos juntos. Quente,
macia e molhada. Começo a investir com mais força e ela fica enlouquecida,
mas continua me olhando, em um rompante de prazer ela fecha os olhos e
nesse momento tiro meus dedos só para aumentar a tortura, ela sente falta do
contato e abre os olhos no exato momento que estou lambendo meu dedo
provando do seu gosto agridoce. Ela morde os lábios e geme puta merda!
Volto minha mão para sua boceta e dessa vez eu invisto dois dedos,
circulando o polegar em seus clitóris, com a outra mão seguro em seu queixo.
—Goza para mim gostosa! Quero vê-la engolir meus dedos enquanto geme
meu nome.
Ela começa a rebolar com urgência, enquanto meto fundo meus dedos nela,
sinto-a se contrair, até que os espasmos chegam e ela goza mordendo os
lábios, segurando em seus cabelos, me fornecendo material o suficiente para
minhas próximas punhetas. Caralho!
Sua respiração vai voltando ao normal, ela levanta o olhar e encontra o meu,
sorrindo, corada e linda. Eu realmente venho notando todos os detalhes nessa
garota.
—Uau! Isso foi... —Ela para pesando em uma palavra. —Nossa!
Sem conseguir controlar, acabo rindo da sua definição. Ajeito sua calcinha e
a coloco no banco do caroneiro já arrumando meu banco. Quando ligo o
carro ela pergunta.
—Estamos indo embora?
—Claro que não. Vou estacionar em uma vaga melhor, afinal você está de
salto, né? —Pisco para ela que sorri encantada.
—Aquele bando de vacas tem razão, você é mesmo um Dom Juan. —Franzo
a testa.
—Como assim?
—Esquece. —Abana a mão no ar. —Você não...é...
—Eu não gozei. —Concluo seu pensamento. —Vou cobrar isso amor, mas
não agora.
Coloco sua pulseira em seu pulso e ela me ajuda a colocar a minha, descemos
do carro e ao entrar na boate já sinto a atmosfera diferente. Aquele cheiro de
bebida e cigarros no ar, misturado com o odor dos corpos dançantes da pista.
—Olha ali. —Diz Helena me mostrando Becca, Renan e a loira louca se
acabando na pista de dança.
Subimos o camarote, posso ouvir Maria Clara e Guilherme discutindo.
Nenhuma novidade.
—Seu idiota!—Diz Clarinha quase enfiando dedo na cara de Guilherme. —
Me deixa em paz! Vá pra puta que pariu!
—Me respeite Maria Clara! —Diz Guilherme nervoso passando a mãos pelos
cabelos. —Eu te fiz um favor, o cara passou a mão na sua bunda, porra!
—Pois eu queria que ele passasse a mão em outros lugares, Guilherme
Francisco D'Laurentes! —Clarinha continua indignada. —Eu queria que
comesse, por que sou adulta, solteira e livre, merda!
Guilherme se irrita pega minha irmã e a joga nas costas como se a coitada
fosse um saco de batatas.
—Gui solte-a cara! —Tento apaziguar a situação.
—Não se meta Juan! Enquanto você fodia no carro, sua irmã dava um show e
tanto para um filho da puta tarado. —Responde se nem me olhar descendo as
escadas e não me surpreenderia se estivesse levando ela embora.
—Os dois se pegam? —Helena chama minha atenção.
—Não! Claro que não. —Afirmo.
—Estranho, dá pra sentir a tensão sexual de longe entre eles.
Eu sempre achei estranha algumas atitudes entre os dois e isso vinha
piorando com o tempo. Várias vezes percebi troca de olhares, ciúmes
exagerados, mas sempre preferi ignorar, afinal os dois eram primos.
—Quer beber algo? —Pergunto mudando de assunto.
—Sim! —Diz a pimentinha já alegrinha demais.
E assim foi o resto da noite, os amigos malucos de Helena e Becca voltaram
para o camarote e dançaram, beberam, até que Helena tirou as sandálias e
começou a simular um strip-tease me deixando bem puto, a bichinha bebeu
demais, percebi que era hora de dar um basta antes que ela ficasse mais
ousada e eu fosse preso por assassinato em função dos olhares que ela vinha
recebendo.
Assim que a levei ao carro ela adormeceu e sem coragem de deixá-la sozinha
em casa a levei para a minha casa. Vitória nessa altura da noite já dormia no
quarto dos avós então não corria o risco de ela ir até meu quarto, além disso
acordaria mais cedo para ir a piscina brincar com ela como havia prometido.
Tiro a pimentinha do carro ainda adormecida, subo as escadas com cuidando
para não acordar ninguém da casa. Entro em meu quarto, antes de qualquer
coisa fecho a porta e passo a chave.Deito Helena na cama tirando seu vestido
e quando livre da peça, posso ver seus seios!Puta merda! Redondinhos, e
rosados! Tento não descer o olhar, mas é mais forte do que eu vejo um
triangulo coberto por uma calcinha rendada preta bem transparente só de
olhar minha boca saliva. E quando tento me concentrar em coisas brochantes,
ela se vira me presenteando com a visão perfeita da sua bunda em fio dental
enfiado até o talo! Caralho! Do um tampa em meu rosto na esperança que
isso me traga um pouco de razão. Não funciona. Corro para o banheiro, quem
sabe um banho gelado e umas duas punhetas melhorem um pouco o meu
estado.
Depois de um banho demorado volto para o quarto ainda me enxugando e
vejo a pimentinha na mesma posição de quando saí. Sento na poltrona de
frente para cama secando meu cabelo com a toalha e pensando no quanto
estou envolvido. Porra! Eu trouxe a garota para dentro da minha casa! O que
a Vitória acharia dessa situação? Não que eu vá apresentar Helena como
minha namorada até por que essa não é nossa realidade, não ainda. Levanto-
me e deito ao seu lado, tomando o cuidado e me certificando de que meu
celular desperte para eu ir até minha filha, de jeito nenhum a quero batendo
em minha porta e vendo uma mulher seminua na minha cama. Helena se
aconchega em mim e ainda que cheirando a álcool, ela consegue aquecer meu
coração.

Entro na cozinha e sou presenteado com aquele cheirinho maravilhoso de


bolinho de chuva e café passado. Meu anjo me vê e vem correndo até mim.
Eu tenho a filha mais linda do mundo!
—Papai! —Se joga em mim.
—Bom dia meu anjo.
—Eu io no seu quarto, mas vovó falo que vuxe tava mulhando o biscoito.
Olho horrorizado para minha mãe.
Espera... Como ela sabe que Helena passou a noite aqui?
—Você esqueceu a sandália de Helena na entrada. —Franzo a testa, não
lembrando disso. —Eu sei que é a Helena por que tenho certeza que você
jamais traria qualquer uma aqui.
Bom ponto.
—Ela não estava bem. —Mudo de assunto. —Fui até o quarto de Clarinha
pegar uma roupa emprestada para Helena e o quarto estava arrumado, as
meninas já acordaram?
—Guilherme disse que Clarinha estava na casa dele. —Puta merda! Eu teria
uma conversa de perto com meu primo, antes que essa situação entre os dois
saia de controle. —Não falou nada sobre Becca, mas também deve ter
dormido lá.
—Ah, sim. —Falo sem saber exatamente oque dizer.
—Bom dia família. —Entra meu pai vestindo calção de banho com um
refratário em mãos já pegando as carnes que estavam sobre a bancada da
cozinha. Churrasco! Como eu estava com saudades disso.
—A partir de sábado que vem o posto de churrasqueiro está por sua conta
Juan, sua filha ama churrasco. Espero vocês, não demorem.
—Papai eu quero i na minha flaminga.
—Flaminga? —Pergunto olhando para minha mãe.
—Sim filho, é uma boia de um bicho pescoçudo rosa, está na edícula, você
vai saber quando ver... é enorme.
—Ok. —Pego Vitória no colo. —Vamos para a piscina boneca do papai. —
Aperto a ponta de seu nariz e escuto seu risinho lindo.
Olho em direção ao céu e agradeço a Deus por ter me feito perceber a tempo
tudo que estava perdendo.

Capítulo 14
Helena
Acordo e sinto um peso em minha cabeça, lentamente abro meus olhos e sou
atingida por fisgada, gemo seguro o travesseiro em meus olhos como se isso
pudesse me trazer algum tipo de conforto. Como não funciona, tiro o
travesseiro aos poucos tentando me acostumar com a claridade e quando abro
os olhos por completo dou um gritinho de susto.
Mas que merda é essa?
Olho em volta e com certeza se trata de um quarto masculino, móveis em
tons de cinza e preto, uma poltrona em frente a cama ao lado de uma mesa de
estudos, um painel grande de televisão com um espelho que vai do chão ao
teto. Juan. Não poderia ser de outra pessoa. No criado mudo ao meu lado uma
foto de Juan com a família e no criado mudo do outro lado da cama uma foto
sozinha de Vitória.
Volto minha atenção para o criado mudo ao meu lado e vejo uma folha de
papel.
Bom dia amor,
No balcão do banheiro têm analgésicos, tome. Também peguei um biquíni,
um short e uma blusa de Maria Clara, tome um banho você está fedendo a
bebida, gatinha. Depois desça,estarei na piscina com Vitória. Amei o fio
dental gostosa, pena que você hibernou antes de poder arrancá-lo com os
dentes.
Juan.
Fedendo a bebida.
Na casa do meu chefe.
E para minha tristeza a primeira vez que me viu quase nua eu estava apagada,
azar é meu sobrenome! Vou até o banheiro e fico passada com tamanha
beleza, parece um banheiro de filme! Não faço a mínima ideia do nome dessa
pedra, mas é tudo em pedra preta com detalhes em branco e inox. O chuveiro
é ENORME, sério! Fico encarando o chuveiro que mais parece uma mini
cachoeira e sim para aumentar meu deslumbre tem uma banheira! Mas não
uma banheira como a minha, parece mais uma caixa d'água daquelas que eu
tomava banho nos tempos da fazenda, só que claro uma caixa moderna. Fico
até com medo de ligar o chuveiro e ele falar comigo, por que com o azar que
tenho tudo é possível.
Tomo um banho rápido, mas com tempo o suficiente para conseguir me
livrar, do cheiro de balada. Escovo meus dentes com a única escova que tinha
ali, Juan se importaria? Problema dele, nem vai saber mesmo. Pego o biquíni
azul claro em cima da bancada e o visto. Merda! Maria Clara é bem mais alta
que eu, então não me surpreende ter ficado pequeno, graças a deus a
depilação está em dia. Amém. Coloco o short que também fica justo e curto,
a blusa que ao contrário do restante, fica soltinha. Pego a caixa de analgésicos
e sou obrigada a fazer uma concha com as mãos e tomar o remédio, que
chega a entalar na garganta pela pouca água.
É inacreditável como o CEO fodão é desorganizado dessa forma. As roupas
que ele usou ontem estão espalhadas pelo banheiro, meu vestido em cima de
uma cômoda, umas toalhas de banho em cima de uma poltrona que deve
custar uns três meses do meu salário, cheguei mais perto da poltrona por que
algo me chama atenção ao lado dela. Um frigobar! Caramba! O cara tem um
frigobar no quarto! Abro e acho até fofo nada de bebida alcoólica, água, suco
e até iogurte. Arrumo a cama, coloco as roupas e toalhas no cesto
chiquérrimo em inox que tem no banheiro e dobro meu vestido e calcinha e
deixo em um cantinho escondido depois acharia uma bolsinha e guardaria
para levar embora. Respiro fundo e saio do quarto, já estive várias vesses
aqui, mas nunca nessa situação. Na verdade, não faço a mínima ideia de que
situação é essa, tudo aconteceu rápido e de forma tão intensa. Gosto muito do
Juan, mas eu o mataria mais tarde por me trazer para casa de seus pais.
A família D' Laurentes mora em um condomínio fechado nobre em
Copacabana, o é lugar lindo, tranqüilo e grande. Os móveis só completam o
ar sofisticado da casa, o designer fez um bom trabalho por aqui. Chego a
cozinha e encontro Dona Judith de biquíni com um avental por cima, a beleza
é de família por que é impossível dizer que ela tem quase 60 anos, está
fazendo uma farofa caseira que pelo cheiro deve estar deliciosa.
—Bom dia. —Digo meio incerta de como agir.
—Bom dia querida! —Limpa as mãos em seu avental e me abraça. —Coma
algo, o café ainda está na mesa, geralmente a carne demora um pouquinho, as
crianças estão na piscina esperando por você.
—Obrigada.
As crianças a quem se refere deve ser os filhos, sobrinhos e a neta. Ainda é
estranho para mim saber que Vitória é filha de Juan e não de Dr. Afonso e
sua esposa. Não tenho dúvidas de que existe algo por trás dessa história, mas
se for da vontade de Juan, ele me contará em seu tempo. Corto um pedaço de
um bolo que parece ser de cenoura com calda de chocolate e me sirvo de um
copo de suco, café não me cairia bem em um dia de ressaca.
—Estou feliz que você e Juan estejam juntos querida.
Oi? Juntos?
—Juan nunca trouxe namoradas a não ser a vaca que pariu Vitória e para ele
te trazer é por que gosta de você.
Devo admitir que ouvir sobre a mãe de Vitória desperta minha curiosidade,
quem mãe deixaria sua filha aos cuidados dos avós paternos? Será que existe
algum vínculo?
—Não sei o que temos Dona Judith, tudo aconteceu rápido e está muito
recente. —Tira o avental e põe no encosto da cadeira, a mulher realmente
está em forma.
—Entendo, mas sei reconhecer um casal quando vejo um. Vamos a piscina?
Levanto-me engolindo o último pedaço de bolo. E já ao longe posso ver Juan
sentado em um flamingo gigante, ah eu amo flamingo! Vitória está em seu
colo, com uma boia enfiada em cada braço, os dois sorriem um para o outro,
a bolha de amor deles é tão grande que diminuo a velocidade dos meus
passos com medo de atrapalhar o momento. Vitória me vê e chama atenção
de Juan que olha em minha direção, sorri e me chama com a mão. Chego
perto da piscina.
—Bom dia. Oi princesa amei seu maiô. —Elogio seu maiô da Frozen, cheio
de babadinhos.
—Oi. Eu ganhei do meu titio. —Oun que vontade de morder!
—Você tá bem? Alguma dor? —Pergunta Juan com um sorriso debochado
em função da bebedeira, eu realmente daria um tempo de bebidas.
—Sim, nenhum efeito colateral.
—Vuxê não vai toma banho com agente? —Olho para Juan e ele sorri como
um idiota olhando para a filha.
—Claro que vou! —Começo a tirar a blusa quando Dr. Afonso chega com
petisco de churrasco.
—Bom dia Helena, ficou muito feliz em te ver aqui menina! —Diz me
oferecendo salame que aceito de bom grado.
—Obrigada Doutor...
—Nada de Dr. me chame só de Afonso, vê se pode minha nora me chamando
de Dr.—Acho que nesse momento minha pele deve estar na coloração
vermelha mais forte que existe. Ele se afasta e Juan continua me olhando
como se estivesse me analisando. Tiro o short e ele me seca de uma forma
nada discreta, por inteira.
—Princesa, o que você acha de Helena ficar conosco aqui?
—Sim! —A pequena se anima com a idéia.
Juan se aproxima da borda da piscina.
—Sente-se de frente para mim Amor.
—Ela também é o seu amor papai? —Pergunta a menina para Juan. Ele fica
sem saber o que dizer.
—Sou um dos amores dele princesa, mas o principal é você. —Pisco para
menina, que me dá um sorriso lindo e idêntico ao do pai.
Juan me olha de uma forma que nem consigo decifrar, mas posso ver emoção
em seus olhos.
—Segure no pescoço do papai, filha.
A menina faz o que ele pede, me apoio na borda da piscina e passo minhas
pernas por cima da dele ficando de frente. Vitória solta do seu pescoço e para
nossa surpresa, ela se vira para mim e me abraça pelo pescoço.
—Vuxê pode ser o meu amor também?
Pergunta-me com aqueles olhinhos de gato de botas. Quem seria capaz de
dizer não para essa criança? Eu não sou.
—Claro princesa. —Faço cócegas e ela dá as risadinhas mais lindas que já
ouvi.
Juan nos olha encantado. Olho para o lado e vejo Dr. Afonso e Dona Judith
nos olhando de uma forma diferente. Posso ver esperança nos olhos deles e
luto contra as batidas desenfreadas do meu coração. Sinto falta de Clarinha e
os primos, mas não comento com Juan. É nítido que existe algo entre ela e
Guilherme, mas quando toquei no assunto percebi Juan totalmente
desconfortável, acho que ele também percebe, mas prefere fingir que não vê.
E assim foi nosso dia, saímos da piscina para almoçar e passar protetor solar
voltamos a piscina e brincamos até cinco da tarde quando a pequena lutava
contra o sono em meu colo, me ofereci para dar banho nela e até deitei com
ela até que adormecesse, não sem antes ela me fazer prometer que iria com
ela e Juan no cinema ver Aladdin e como sempre não consegui dizer não a
menina.
Quando saí do quarto, vi Maria Clara chegando, parecia emocionalmente
exausta, não respondeu nenhuma pergunta alegando estar cansada, subiu para
o quarto e permanece lá desde então. Tentei de todas as formas ir embora
pois precisava de uma roupa para ir ao cinema, mas Juan insistiu em me fazer
esperar Vitória acordar que, segundo ele, não dorme mais que uma hora
como de costume e então os dois iriam já arrumados comigo até minha casa
para que pudesse trocar de roupa.
Dona Judith cozinha muito bem, eu comi tanto que sentia que poderia
explodir a qualquer momento igual a dona redonda de uma novela que vi.
Quanto a Juan, devo admitir que ele é demais. O cara é um paizão, totalmente
disposto a deixar a filha feliz a cada minuto e até em momentos que precisa
repreendê-la o faz de uma suave que me fez se encantar ainda mais. Droga,
eu realmente estou encantada. Além de lindo, gostoso, sexy, é uma figura
paterna exemplar. Durante todo o dia ele foi prestativo e carinhoso, se
preocupando com meu bem estar e ainda que em momento algum tenha me
beijado na boca, me abraçava, mexia em meu cabelo, beijava meu rosto,
minha testa e o que me fez perder a cabeça ainda mais por ele.
Em certo momento tive uma invejinha do amor que essa família tinha um
pelo outro, eu não tive nada disso cresci vendo meu pai ser um fazendeiro
exemplar que administrava como ninguém as suas posses, mas que ao
anoitecer bebia e abusava de minha mãe, às vezes batendo tanto que ela
chegava a perder a consciência e assim também acontecia com algumas
empregadas que durante o dia eram ludibriadas pela beleza e charme de João,
a noite descobriam o monstro que era. E a noite passava, o dia chegava e
todos fingiam nada ter acontecido, ninguém ousaria denunciar ou enfrentar
o senhor feudal.
—Tudo bem amor? —Pergunta Juan mexendo em meu cabelo.
—Sim... —Toco em seu rosto.
—Vitória gostou muito de você. —Afirma, me olhando e sondando.
—Eu gostei muito dela. Ela é encantadora, impossível não amar a menina,
que mais parece uma boneca de porcelana. —Faço uma expressão pensativa.
—De quem será que ela puxou a beleza?
Juan gargalha.
—Ela é toda o pai, gatinha.
—Você terá trabalho, já posso imaginar a fila de garotos atrás dela.
—Que Deus me projeta!
E que Deus me proteja também, mais especificamente meu coração.
Capítulo 15

Juan
Sabe aquela sensação de plenitude? Hoje eu soube exatamente o que isso
significa.
Hoje cedo ao deixar Helena ainda dormindo na cama esparramada daquele
jeito desengonçado que só ela tem, toda linda com os cabelos escuros curtos
sobre o rosto, tive que me segurar para não a acordar de uma forma bem
peculiar. Como pode ser tão linda e sexy ainda dormindo? Deixei-a contra a
minha vontade, por que com certeza a garota acordaria com uma ressaca
daquelas.
Eu conversaria com ela sobre essas bebedeiras constantes, ainda que tenha
me dito que isso não era costumeiro, suas atitudes vinham contradizendo suas
palavras. Ela não me deve nenhum tipo de explicação, não posso negar que
existe algo entre nós dois, mas nesse caso não é esse o motivo que me faz
questionar seus atos, ou talvez não só esse.
A questão é que Vitória irá passar muito tempo na D' Laurentes e
conseqüentemente vai conviver diariamente com Helena. Não quero que
minha filha veja minha assistente chegando de ressaca da balada, ou seja, do
que for. Não depois de tudo que passou ainda na barriga de Gabriela. Meu
anjo é um milagre. Ela realmente faz jus ao seu nome, não haveria melhor
forma de descrevê-la que como Vitória. Minha Vitória, e também minha
redenção.
Minha menina é muito parecida comigo fisicamente, até posso ver alguns
traços de sua progenitora, traços esses que passam despercebidos, graças a
Deus! Me pego pensando como vai ser quando precisar conversar com ela
sobre a mulher que a botou no mundo. Terei que contar sobre a época em que
eu preferia ficar chapado e bêbado, enquanto deveria estar trabalhando e
estudando. E também que fui indiferente ao seu nascimento, que fui para
outro país para tentar fugir dos meus demônios, a deixando sobre os cuidados
dos avôs, como um covarde de merda perdendo cinco anos de sua vida.
Eu fui um filho da puta! E rezo aos céus para que minha filha não me odeie
quando souber disso.
Infelizmente não posso voltar no tempo, mas farei o possível e o impossível
para compensar o tempo perdido.
E então me lembro de Helena chegando linda com as roupas que peguei de
Maria Clara e quando ela a tira ficando apenas de biquíni me xinguei
mentalmente por ter pensamentos impróprios com minha filha presente. No
momento em que a chamei de amor fiquei sem saber o que dizer diante do
questionamento de Vitória, Helena percebeu meu momento de embaraço e
tomou a frente explicando a minha menina a situação. Ela se colocou em
segundo plano e puta merda! Ela pareceu tão sincera e genuína em suas
palavras que precisei refrear para que minha admiração não virasse um
sentimento mais forte.
Eu preciso controlar meus sentimentos, antes que eles se tornem algo maior.
Só que para piorar minha situação, minha filha ficou muito confortável em
sua presença. Ainda que tenha visto Helena em várias ocasiões não foi
suficiente para ter algum tipo de afinidade e minha menina precisa se sentir
segura para se soltar na presença de alguém. Isso aconteceu em dois dias
comigo e meus pais chamaram essa atitude dela comigo de uma 'obra divina',
parece que essa tal obra se repete agora com Helena.
Vitória não desgrudou da pimentinha em nenhum momento. Eu a perdi no
momento em que Helena sentou conosco no bicho rosa, tomando toda
atenção da minha pequena. Assim também foi na hora do almoço, nas vezes
que precisou ir ao banheiro, durante o banho e na hora do cochilo. Quando vi
Helena deitada no castelo com a pequena princesa, precisei me encostar no
batente da porta por que minhas pernas ficaram fracas. De perfil, a
semelhança entre as duas era gritante. Cabelos escuros, pele branca, olhos
azuis e aquela coloração rosada nas bochechas. Passariam por mãe e filha
brincando.
Enquanto Helena fazia um carinho em seus cabelos, Vitória repousava a mão
em seu rosto. Eu tentava bloquear a sensação de conforto que meu coração
teimava em criar ao ver essa cena. Esse envolvimento está indo além do
carnal, do sexual e porra!Eu poderia dar um basta, mas não é isso que eu
quero. Eu não sei em que pé as coisas estão entre nós dois, mas estou
disposto a tentar, sem rótulos, mas é claro que a palavra casual passa a ser
descartada, dando lugar a exclusividade. Nem fodendo dividiria minha
pimentinha com alguém.
E é por isso que a mantenho em meus braços, enquanto minha filha dorme,
ainda que Helena insista em ir embora para nos esperar arrumada para irmos
ao cinema.
Meu ovo que vou deixá-la ir sozinha para seu apartamento com o Thor
genérico rondando o terreno.
Cara mais metido! Todo posudo encostando-se à minha garota!
Meu plano é aparecer com ela sempre que possível e marcar o terreno sim.
Estou pouco me importando se pareço um cachorro mijando em seu
território. Quero mais é mostrar para o loiro sem sal que o martelo que essa
garota tem é o meu e só o meu. Acabo de me dar conta que não gosto mais do
Thor, é uma pena, era um bom personagem, mas eu encontraria outro herói
da Marvel para tomar seu lugar.
—Juan, já faz quase uma hora que Vitória está dormindo, eu acho melhor eu
ir para casa me arrumar, corremos o risco de perder a seção.
—Nem pensar amor. Iremos juntos. —Helena bufa.
—Odeio quando você age como se mandasse em mim. —Olho para meus
pais e os vejo distraídos rindo de algo que passa na televisão. Chego perto de
seu ouvido para que só Helena me ouça.
—Engraçado gatinha, na cama você parece adorar minhas ordens. —Ela cora,
mas como a pimentinha que é, não deixa por isso.
—Que eu saiba, ainda nem fomos para a cama querido. —Rio da sua ousadia.
—Não vai demorar a acontecer e se prepare por que vai precisar de pomada
para assadura no outro dia. —Ela arregala os olhos e olha na direção dos
meus pais, se certificando de que estão alheios a nossa conversa.
—Eu já vi seu pau, concordo que é um belo material. Mas não é como se
você fosse o kid bengala.
—Kid bengala? —Pergunto sem saber quem é esse.
—Ah! Fala sério! Você nunca assistiu filme pornô? —Ela via filme pornô
com algum ex namorado? Esse pensamento não me agradou nenhum pouco.
—Você vê filmes quentes gatinha? —Pergunto sondando na esperança que
ela me conte quando e com quem ela os assistiu.
—Já vi algumas vesses. —Resposta vaga... Que se foda a discrição.
—Acompanhada ou sozinha? —Pergunto já temendo a resposta.
—Quer mesmo saber sobre meus antigos relacionamentos?
—Sim. —Ou não.
—Meu ex namorado curtia ver filmes, então às vezes agente via para
apimentar as coisas. —Puta merda! Vou dar logo meu jeito de apagar essas
memórias e criar novas.
—Meu amor. —Beijo seu pescoço e falo em seu ouvido. —Você vai ver um
filme comigo só para se certificar de que a atriz em cena, não vai gemer nem
metade dos seus gemidos e não vai sentir algo nem parecido com o seu o que
você irá sentir. Por que a única pimenta em nossa relação será você mesma.
Ela cora, ofega e aperta uma coxa na outra.
Excitada! Como essa mulher é linda!
E então dá um riso nervoso, aperta a ponta do meu nariz e eu seguro o riso
diante desse gesto, por que se fosse qualquer outra mulher seria broxante,
mas vindo de Helena nada é.
—Papai? —Ouvimos Vitória chamar através da babá eletrônica. Helena dá
um pulo, se desequilibra batendo com a canela na mesa de centro.
—Merda! —Diz alisando o local.
—Machucou querida? —Minha mãe pergunta. Enquanto eu e me meu pai no
seguramos para não rir.
—Não Dona Judith, foi só uma batidinha de leve. —Diz saindo em direção a
escada, meio mancando, meio pulando.
Quando some no corredor de cima, meu pai ri recebendo uma tapa da esposa.
—O que foi mulher? Trabalhei três anos com Helena, a garota é desprovida
de coordenação motora.
—Você seja discreto homem! É nossa chance de desencalhar esse moleque!
—Mãe pelo amor de Deus! Eu não estou encalhado. —Respondo
inconformado.
Quando ela vai me responder ouvimos a babá eletrônica que Helena não se
preocupou ou não sabe que precisa ser desativada.
—Oi princesa. —Todos ficaram quietos ouvindo a conversa entre as duas.
—Oi, vuxê não foi embora! —Diz a minha bebê animada. Ouvimos uns
movimentos e posso imaginar que seja Helena esteja pegando Vitória no
colo.
—Claro que não fui! Nós vamos ao cinema, esqueceu?
—Posso ir de vestido de pincesa?
—Você pode ir do que você quiser, mas eu vou de calça por que é mais
confortável.
—Então eu também quero i igual à vuxê.
—Ótimo! O que você acha de um banho?
—Vuxê vai me ajuda?
—Claro. —Responde animada, mas logo se corrigi. —Quer dizer preciso
perguntar pro seu pai se posso te ajudar.
Desligo o comando de voz da babá eletrônica, indo em direção as escadas
encontrar as minhas meninas. Quando estou no início das escadas, meu pai
me chama.
—Filho. —Viro olhando em sua direção. —Aproveite as chances que a vida
está te dando.
Aceno em sinal de afirmativo sem saber o que dizer e sem saber o que
pensar. Quando estou chegando ao último degrau vejo Helena vindo com
Vitória no colo.
—Estávamos indo buscar você. —Diz a pimentinha.
—Papai ela pode me dar banho? —Sorrio com a interação natural entre as
duas.
—Pode sim meu anjo. —As duas voltam para o quarto seguidas por mim.
Helena percebe minha presença.
—Juan, vá se arrumar enquanto isso, eu cuido de tudo por aqui.
Eu cuido de tudo por aqui.
Cuida da minha filha.
—Certo. —Saio para meu quarto com minhas emoções a mil.
É inacreditável como em uma semana minha vida mudou. Desde meu jeito de
pensar, quanto as minhas prioridades. A minha forma de ver a vida então nem
se fala. Estar com minha família e assumir Vitória, faz me sentir um homem
honrado. E juntando Helena a esse montante me sinto completo. Isso me
assusta pra caralho.
Nunca idealizei um casamento, filhos... Tudo aconteceu de forma destorcida.
E ainda que eu não me orgulhe de como as coisas chegaram até a concepção
de Vitória, não mudaria meu passado, pois isso alteraria os fatos e eu não a
teria como filha. Nunca fui um cara religioso, ainda que meus pais tenham
me ensinado a ser, mas creio que Deus teve piedade do meu futuro e como
um gesto de misericórdia resolveu mandar um anjo para me fazer ser alguém
melhor. Cara sábio aquele lá de cima.
Tomo um banho rápido, escovo os dentes, escolho a primeira roupa que vejo
e passo perfume. Pego meu celular, a carteira e as chaves do carro e volto
para o quarto da minha filha. Encosto-me no batente da porta ao ver Helena
penteando os cabelos da minha pequena.
—O papai fez a trança da pincesa Elza em mim, mas fico tão feio quanto a de
uma bruxa! A vovó fez tudo de novo depois que ele foi pro trabalho. —Mas
como? Se eu fiz igual vi no youtube? Helena ri da confidencia de minha filha.
—Mas a trança que eu vou fazer em você vai ficar ainda mais linda que a
dessa princesa.
—Ela joga gelo pelas mãos, eu já tentei mais não consigo. —Helena levanta
o rostinho do meu bebê.
-Ela pode até jogar gelo pelas mãos, mas você tem um poder muito maior que
o dela sabia?
—Eu tenho? —Os olhinhos de Vitória brilham, até eu fiquei curioso agora.
—Você tem o poder do amor e você nem precisa jogá-lo pelas mãos como
essa princesa faz você joga amor com o seu olhar. E o amor é o único capaz
de derreter o gelo.
Precisei me segurar na parede, por que posso jurar que ao ouvir a Helena
dizer isso, minhas pernas amoleceram.
Acho que acabei de me apaixonar por essa garota.
Sinto minha garganta apertar, minhas mãos tremerem. E quando Vitória se
joga nos braços de Helena para um abraço sou obrigado, a entrar no quarto e
me sentar no castelo que minha filha chama de cama. Helena me vê e sorri,
alheia do fato que ouvi toda sua conversa com Vitória. Sem nenhuma noção
que nesse instante, me tem em suas mãos como uma marionete.
Linda.
Inteligente.
Gostosa.
Divertida.
E boa para minha filha, o que mais eu iria querer?
Certo, ainda não fizemos sexo, mas a tirar pelas preliminares, eu posso
imaginar que quando acontecer vou estar ainda mais em suas mãos.
E se a diaba cozinhar bem? Fodeu de vez.
A garota jogou um feitiço em mim! Porra!Não tem outra explicação!
—PAPAI! —Grita minha filha, olho para ela ainda em choque como um
banana. O motivo dos meus devaneios vem até mim e segura meu rosto.
—Juan você está bem? Céus você está branco.
—Estou ótimo. Vamos?
—Papai eu to bonita? —A imagino me perguntando isso daqui a uns dez anos
e tomo uma decisão, preciso tirar porte de arma. Ninguém chegaria perto da
filha de alguém que sabe atirar.
Será que o pai de Helena sabe?
Isso me faz lembrar que ela nunca fala da família. Eu daria meu jeito de saber
sobre isso.
—Você é linda meu bebê.
—Eu não sou um bebê papai! —Ah você é! E aí de quem me contrariar seja
hoje, ou daqui a alguns anos.
—Ela é uma mocinha Juan. —OK. Talvez alguém possa sim me contrariar.
As duas sorriem uma para a outra e imagino-as fazendo isso quando Vitória
estiver querendo sair e eu não querendo deixar, então Helena intercede e eu
como uma marica acabo cedendo.
Elas serão minha ruína.
E eu posso estar ficando louco por pensar essas coisas.
—Pois bem mocinhas vamos por que ainda precisamos passar em seu
apartamento Helena.
Pego Vitória no colo e somos seguidos pela pimentinha que segura um
casaco para minha filha. Despedimos-nos dos meus pais, que convidam
Helena para passar a noite novamente aqui pois amanhã pela tarde viajariam
e queriam se despedir dela.
Helena aceita o convite de almoçar aqui amanhã, porém diz que preferi
dormir em casa, o que não me agrada nenhum pouco. Daria meu jeito de
fazer ela mudar de idéia, nem que para isso tivesse que jogar sujo.
—Esqueci meu celular no seu quarto...
—Pode ir buscar enquanto arrumo Vitória na cadeirinha.
—Certo é rapidinho... —E corre de volta para dentro de casa. E rezo
mentalmente, que não torça o pé ou quebre a perna nessa "corridinha",
levando em consideração sua coordenação.
Coloco Vitória na cadeirinha aproveitando nosso momento a sós.
—Filha você quer que Helena fique aqui em casa quando voltarmos do
cinema?
—SIM! —Ela grita entusiasmada.
—Shiii... —Digo com dedo na boca pedindo silencio. —Então teremos que
convencer ela a ficar, ok? Posso contar com você para me ajudar?
—Simmm. —Ela fala baixinho como se fosse um segredo e de fato é.
—Esse é nosso segredo pequena. —Pisco para ela, quando uma Helena
bem esbaforida chega ao carro.
—Jesus! Preciso voltar a fazer exercícios, quase botei os bofes pra fora só
nessa corridinha. —Diz entrando no carro, também entro e coloco o cinto de
segurança.
—Exercícios? Vou me lembrar disso mais tarde. —Ela sorri, e faz sinal de
negação com a cabeça.
Amor, se você soubesse que a única coisa que penso no momento são teorias
para nunca mais te deixar ir...
Capítulo 16

Helena
Juan estaciona em frente ao meu prédio a alguns carros de distância de minha
carochinha e agradeço aos céus pela vaga disponível. O todo poderoso em
modo pai, pega a boneca da cadeirinha e eu me sinto em um universo
paralelo onde só existem seres extremamente bonitos e perfeitos. O cara é um
gato, puta merda! E a menina? Bom ela vai dar um trabalho daqueles. É a
cópia feminina de Juan, se existem traços da mãe presentes são
insignificantes ao ponto de passarem despercebidos.
Quem será a mãe? Ou a mulher cuja menina carrega o mesmo DNA. Não sou
de tipo que julga ok! Talvez eu seja. Que tipo de pessoa deixa a filha assim?
Trabalho há três anos e meio na D'Laurentes e desde então via a pequena
como filha do Dr. Afonso e Dona Judith, o que de forma óbvia me leva a crer
que a progenitora não participa da vida da menina. Não posso deixar passar,
que Juan também foi um pai negligente. Sejam quais foram seus motivos e
ainda que seja um Deus Nórdico, o cara foi um bundão indo para o outro lado
do mundo e deixando a filha aos cuidados dos avós. Mas ele está se
redimindo.
E aí eu me pergunto... Onde eu entro nisso?
Tudo começou com o elevador e o 'episódio' da merda, episódio esse que
tenho que deixar claro para o Juan antes que na primeira oportunidade o
engraçadinho jogue alguma piadinha me chamando de peidona. Não que eu
não peide, mas não foi o caso naquele momento e além do mais fala
sério!Todo mundo tem cu, quanto drama em volta de um cheirinho de merda.
Depois entramos em um jogo maluco, que envolveu uma sarrada daquelas e
outro orgasmo no carro.Jesus! Esse cara deve ser uma coisa de outro mundo
na cama! Certo. Eu me tornei uma pervertida! Mas como resistir a essa
beldade em pessoa? Suspiro, percebendo que estou bem ferrada na mão
desses dois. Sim! Dos dois, por que é impossível não se apaixonar pela filha
também. Tento bloquear os pensamentos de que quando isso acabar a única
que vai sofrer sou eu. Afinal além de um coração partido, vou estar
desempregada.
—Amô? —Diz Vitória chamando minha atenção. Esse pedaço de gente me
chamando de amor faz meu coração virar gelatina.
—Eu estava pensando o que eu, uma mera mortal faço ao lado de dois seres
místicos da beleza. —Aperto o nariz de Vitória que deixa o pai e se joga em
meu colo. Ando com ela até o elevador.
—Eu te elogiaria agora, mas alguns desses elogios são impróprios para
menores. —Diz e pisca. Só sorrio como a idiota que sou.
Chegamos em meu apartamento e antes que possa pegar minha bolsa, Juan
pede licença, a abre na minha frente e procura as chaves. Oi? Concordo que
pediu licença e tal, mas poxa!Ele mexeu na minha bolsa! Esse 'jeito' dele me
incomoda. Não tenho boas lembranças disso, o último homem que se achava
o dono do mundo matou minha mãe. Por que bater em uma mulher, ela não
se recuperar e morrer em função dos machucados, também é considerado
assassinato certo? Que seja, pra mim é.
Deixo passar, por enquanto. Eu teria uma conversa com ele sobre isso, nem
pensar que vai controlar minhas atitudes, seja da forma que for. Sou dona do
meu nariz há algum tempo e me orgulho disso. Ele abre a porta e me indica
para ir à frente e somos recepcionados por Jorginho, que está latindo
descontroladamente como só um pinscher consegue fazer. Vitória se debate
para sair do colo animada com o cachorrinho.
Desço ela ao chão que imediatamente tenta pegar ele no colo, que há vê como
uma ameaça e saí correndo, Vitória corre atrás. Tadinho!Vai virar urso de
pelúcia nas mãos da pequena.
—Seu apartamento é muito bonito amor.
—É aconchegante. —Lembro de quando o corretor imóveis me mostrou. —
Quando o vi pela primeira vez me senti em casa. O prédio ainda está em
reforma, moro a quase quatro anos aqui e as garagens ainda não estão
prontas, mas nem isso me fez perder o encanto pelo lugar.
—Você sabe dirigir? —Pergunta com certo horror estampado no rosto?
—Claro. —Ele fica branco. —O que foi Juan?
—É... Só é estranho alguém com o senso de coordenação distorcido dirigir.
—Estreito os olhos em sua direção, talvez eu seja um pouco barbeira, mas ele
não precisa saber disso.
—Vou tomar banho.
—Eu me ofereceria, mas preciso me certificar que minha bebê não esteja
fazendo do seu monstrinho uma boneca.
—Chame meu bichinho de monstro de novo e te dou umas cintadas!
—Ok, Dome! —Diz levantando as mãos.
—Dome? —Ele ri, passa por mim e beija minha testa.
—Esquece gatinha. Filha? —Saí chamando a Vitória em uma altura que com
certeza o vizinho também escutou.
Tomo um banho rápido, escovo os dentes e visto minha lingerie. Enrolo-me
na toalha e quando vou sair do banheiro escuto risos de Juan e Vitória no
outro lado. Eles estão no meu quarto? Chego mais perto da porta pra escutar
melhor por que sou dessas. Sim, estão em meu quarto. E eu só de lingerie e
toalha, como vou sair do banheiro? Começo a pesar mentalmente os prós e
contras que isso implica. A menina vai achar que estou com algo tipo biquíni,
certo? E o Juan? Bem ele, já tinha me visto dormindo só de calcinha...então
eu saio agindo normalmente como se fosse acostumada com isso, pego
minhas roupas e corro para o banheiro. Ta, talvez eu não venha correndo,
mas sim disfarçando bancando a moderninha, ok! Posso fazer isso.
Respiro fundo e abro a porta do banheiro, Juan, Vitória e Jorginho estão na
minha cama e é tão lindo que parece filme, até eu dar um passo em falso,
quase cair e pisar na toalha me deixando de calcinha e sutiã. Eles me olham e
começam a rir. E Vitória dá aquelas risadinhas de porco, que às vezes dou
também, mas até isso nela a deixa fofinha.
Desisto da toalha e sigo até o closet, pego uma calça, uma blusinha, visto as
roupas e calço meu all star rosa que amo. Eu uso salto a semana inteira, então
sim! Dou-me a luxo de usar nada mais que sapatos confortáveis no fim de
semana. Passo um rímel e um gloss, sem muito frufru, por que pretendo
comer um hambúrguer enorme e não quero batom atrapalhando o processo.
—Vamos? —Convido quando volto para perto da cama.
—Ainda temos uns quarenta minutos até o início da sessão. —Diz Juan.
—Amô, vuxe vai dormi lá na nossa casa, né? —A pequena pergunta e Juan a
olha com o olhar cúmplice. Sinto cheiro de armação.
—Não boneca, mas amanhã vou almoçar lá. —Eu não sei se teria coragem de
ir, mas joguei essa no ar.
—Ah mais vuxe podia ver a pincesa Elza. —Juan arregala os olhos para a
filha.
—Bebê podemos comprar outro filme, de outra princesa, o que acha?
—Eu quero a Elza! —Juan suspira e deixa a animação se esvair.
—Ok, meu anjo, veremos Elza então. De novo.
—Certo seus lindos, agora vamos que eu quero ver Aladdin.

Nem tudo saiu como esperado, o filme Aladdin não era recomendado para
menores de 10 anos. Acabamos não assistindo, fazendo Vitória chorar o que
me fez ter vontade de subornar o cara da bilheteria e o segurança da porta. Na
minha ignorância, Aladdin era um desenho e não um musical inspirado no
filme Mil e uma noites. Para acalmar a menina brincamos em um play ground
durante quase duas horas, eu muito mais que Juan, já que ele não podia entrar
devido a sua altura na maioria dos brinquedos.
Na hora de comer, matei minha vontade e comi o maior hambúrguer que
consegui com a maior quantidade de cheddar existente. Vitória quis igual,
porém não comeu nem um terço do lanche, fazendo a alegria de Juan que
parecia estar furado de tanto que comeu. E eu me perguntava, pra onde vai a
gordura que esse homem come? Continuo sem resposta. Como se ingerir uma
boa quantia de gordura não fosse suficiente, compramos dois milk shakes
tamanho G, uma bomba de açúcar...que com certeza é o motivo por Vitória
continuar elétrica enquanto eu e Juan estamos acabados.
Depois de várias tentativas frustradas de fazer a menina dormir, acabamos
trazendo-a conosco para o quarto de Juan. Eu não tive outra opção a não ser
aceitar passarmos em meu apartamento e pegar roupas para dormir aqui, a
menina insistiu muito e Juan estava muito feliz em ver o empenho da filha
em me convencer, deixando claro para mim que a pequena fora influenciada
por ele. E como eu já disse antes, é impossível dizer não pra essa criança que
mais parece uma boneca em função da sua beleza.
Fui fraca não posso negar. Fui convencida a trazer roupas para o trabalho
sendo que Juan quase implorou para dormir aqui também na noite de
domingo, pois, segundo ele, não sabia nem por onde começar, para arrumar a
menina para escola, seus materiais de aula e do balé. Se eu sei? Não. Mas eu
daria um jeito, afinal prometi a Dona Judith que ajudaria o filho com sua neta
e não deixaria a menina aos cuidados de um cara que, pelo visto, mal sabe
pentear o cabelo da filha.
E a minha consciência me acusa de que novamente “as coisas” estão indo
rápidas demais e eu não estou fazendo nada para diminuir o ritmo. E bom...
eu realmente não estou! Acho que o tempo que vivo "sozinha", veio a cobrar
seu preço agora. Essa semana foi literalmente intensa, em sentimentos e
atitudes. Eu passei por uma constante de mudanças nos últimos anos. Mas
nada se compara ao que eu vivi essa semana. Se alguém me perguntasse há
uns dias atrás qual a probabilidade de uma pessoa se envolver e se apaixonar
por alguém em menos de 1 um mês, com certeza responderia que tal
probabilidade era zero. Eu morderia a língua e aquele velho ditado que diz
que o feitiço vira contra o feiticeiro, se voltaria contra mim.
Tenho que ser realista ao ponto de admitir que esteja caidinha por esse
cretino. Por todas as versões dele. E sinceramente são tantas 'faces' bonitas
que não sei qual prefiro. Assusta-me o fato de que não sei nada da vida dele,
mas se isso que está acontecendo entre nós continuar, eu realmente vou
querer saber mais sobre a vida dele, sobre o que passou, sobre o que o levou a
ter a Vitória.
—Juan, você pode dormir, eu estou aqui. —Falo quando o vejo lutar contra o
sono. Ele suspira e olha para a filha deitada em nosso meio com o celular
dele em mãos vendo um vídeo de uma porquinha rosa.
—Filha vamos largar o celular agora? Está na hora de dormir bebê.
—Mas ainda não acabou papai. —Diz com aqueles olhinhos do gato de
botas, e sem dúvidas, ganha mais uns minutos com o aparelho.
Estendo meu braço para que consiga alcançar os cabelos de Juan e fazer
cafuné. Ele me olha e sorri.
—Desse jeito você só vai ajudar o sono a me vencer amor.
—Eu já disse que estou aqui, pode dormir.
Logo após Juan dormir, foi a vez de Vitória lutar contra o sono querendo ver
o desenho da porquinha até o final, ela não terminou de assistir. Pego o
celular de suas mãos vendo os dois dormindo e se possível ficaram ainda
mais parecidos assim, a filha herdou a beleza do pai e só consigo ter pena dos
futuros corações que serão arrebatados por essa menina.
Saio do aplicativo do youtube do celular de Juan e, sem querer, vejo algumas
notificações de mensagens. TODAS, de mulheres. Olhando por cima posso
ver, Suelen, Renata, Jamile e Gabriela. Dessa tal de Gabriela tem oito
mensagens, oito! Respiro, inspiro. Eu não estou com ciúmes, eu não sou
ciumenta. Isso é só o meu ego ferido vendo outras mulheres procurando por
ele. Ok!Talvez a ideia de termos um rótulo não seja tão ruim assim. Afinal se
existisse um rótulo para isso que estamos vivendo esse bando de piriguetes
não estariam o procurando certo?
Ainda que a curiosidade seja imensa, eu não abro as conversas, não tenho
esse direito, ainda.
Desligo a luz do abajur do criado mudo ao meu lado e me aconchego a lado
de Vitória, que ao sentir meu movimento, se chega como um gatinho,
repousando a pequena mãozinha no vão entre meu pescoço e travesseiro.
Passo meus dedos entre seus cabelos e volto a pensar como a mãe dessa
menina a deixou assim? Ou será que aconteceu alguma tragédia e a mulher
está morta? Por que não consigo achar outra explicação.
Eu sei que podem haver mil motivos, cada um vive a vida do jeito que quer e
coisa e tal. Mas quem não se renderia aos encantos dessa fofura?
Deixo todos esses pensamentos de lado e resolvo fechar os olhos e tentar
dormir, sorrio com os olhos fechados ao lembrar que levando em conta as
insinuações de Juan, esse não era o fim de noite que esperávamos. E ainda
que eu queira ter todos os tipos de experiências sexuais com o cretino
pauzudo, não posso imaginar uma noite de sábado melhor que essa. E depois
de muitos anos, eu me sinto bem, feliz...me sinto em paz. E esse sentimento
não tem preço algum que pague.

Acordo com uma mãozinha em meu rosto abro os olhos e vejo a bonequinha
me olhando com uma carinha de sono, tenho vontade de morde-la.
—Bom dia bebê.
—Oi. —AH! Já disse que tenho vontade de morder ela?
—Está acordada faz tempo? —Pergunto já puxando a pequena belezura para
perto de mim.
—O papai disse pra eu ficar quietinha, que ele vai trazer um café de surpresa.
—Que acabou de deixar de ser surpresa né, filha? —Diz Juan entrando no
quarto equilibrando uma mesa daquelas pequenas com pães, frios e frutas, e
segurando uma garrafa de café pela alça.
—Uau! Café na cama? Posso me acostumar com isso. —Juan me olha
diretamente em meus olhos.
—Essa é a intenção amor, deixar você apaixonada por mim e por Vitória ao
ponto de não querer mais ir embora.
PUTA MERDA!
Isso foi intenso!
Meu coração parece sair pela boca e ainda que eu queira dizer algo lindo ou
fofo a sua altura, nada sai.
—Não se preocupe em responder Helena, a intensão é realmente te deixar
sem palavras. —Dito isso ele pisca e eu fico ainda mais encantada.
Ele tentando me fazer nunca mais ir embora e eu querendo nunca mais ter
que ir.
Capítulo 17
Juan
Acordo de manhã e sou agraciado com uma das visões mais linda que já vi.
Helena e Vitória dormindo. Vitória com a mãozinha em Helena e os pés em
mim. Devagar, tiro seus pesinhos para que eu possa me levantar e trazer café
na cama. Depois de ontem farei tudo que estiver ao me alcance para Helena
ficar em nossas vidas, não posso e não vou perder essa garota.
Vitória percebe minha movimentação e abre parcialmente os olhinhos, chego
perto de seu rosto e peço para que volte a dormir pois trarei café na cama, ela
tenta um sorriso, mas o sono ainda é mais forte. Vou até o banheiro escovo
meus dentes, dou uma mijada e desço para a cozinha.
—Por favor, ainda é cedo parem de se agarrar! —Falo vendo meu pai apertar
descaradamente a bunda da minha mãe, ainda vou ficar traumatizado com
isso.
—Cala a boca, moleque! —Meu pai diz, dá um tapa na bunda de minha mãe
que ri e me dá bom dia.
—Vocês terão dias de férias, vão pode brincar à vontade então por favor,
poupem meus olhos. —Digo enquanto separo os pães e frutas para o café.
—Vai levar café na cama para Vitória, é? —Minha mãe pergunta de forma
irônica.
—Meu bebê merece café na cama, mas nesse caso é para duas. —Digo
orando pra que eles deixem passar. Só que não.
—A Helena dormiu aí de novo? —Pergunta meu pai, como quem não quer
nada.
—Sim, vocês mesmo convidaram, lembram? —Também posso bancar o
louco já que ultimamente todo mundo faz isso comigo.
—Afonso, esse garoto não dá ponto sem nó! Posso garantir que ele não só
convenceu a garota como também influenciou a filha a ajudar. —Olho para
minha mãe perplexo com seu sexto sentido aguçado.
—Você literalmente saiu de mim Juan, não me olhe como se eu fosse um ET,
conheço minha cria.
—Ok, não vamos entrar em detalhes.
—Filho eu e sua mãe fizemos um cronograma detalhado da rotina diária da
Vitória. —Doutor Afonso muda o rumo da conversa, me estendendo uma
folha.
Leio atentamente e sorrio, eles realmente pensaram em tudo, essa bendita
folha vai facilitar minha vida e muito. Levanto os olhos e os vejo com um
misto de preocupação e angustia. Eu entendo. Mas não vou voltar atrás na
minha decisão, eu sou o pai de Vitória, vou cuidar dela.
—Fiquem tranqüilos, eu vou dar conta, eu darei um jeito.
—Eu sei que vai filho. —Diz meu pai, dando um tapa de leve em meu
ombro. —Tenho orgulho do profissional que se tornou e do pai que está se
tornando.
—Agora crie juízo e segure esse pinto no meio de suas pernas, ou se case de
uma vez e construa uma família. Fica molhando o biscoito aqui e ali daqui a
pouco pega uma doença. —Corro até a porta da cozinha que dá para sala para
me certificar que Helena não acordou e não escuto minha mãe soltando suas
pérolas.
—Mãe, pelo amor de Deus!
—Ficou com medo de perder a vida é garoto? Ótimo! Isso é um bom sinal.
Termino de arrumar tudo para o café na cama de minhas meninas, escutando
minha mãe soltar suas frases que com o tempo vinham ficando ainda mais
absurdas. Seria normal a idade “ativar” algum tipo de sinceridade oculta nas
pessoas? Tudo bem que ela nunca foi normal, mas as coisas realmente
pioraram com o tempo.
Subo as escadas, com cuidado pra não deixar a mesa de apoio que seguro
virar e quando chego na porta do quarto escuto minha pequena falando.
—O papai disse pra eu ficar quietinha, que ele vai trazer um café de surpresa.
—Que acabou de deixar de ser surpresa né, filha? —Digo entrando no quarto.
—Uau! Café na cama? Posso me acostumar com isso. —Diz Helena se
sentando e levando junto Vitória abraçada a ela.
—Essa é a intenção amor, deixar você apaixonada por mim e por Vitória ao
ponto de não querer mais ir embora. —Ela fica de boca aberta e nem disfarça,
eu seguro o riso por que ainda que linda, ela é engraçada demais.
Percebo que se eu não intervir ela vai ficar ali de boca aberta até amanhã.
—Não se preocupe em responder Helena, a intenção é realmente te deixar
sem palavras. —Pisco e ela suspira, ponto pra mim.
Arrumo a mesa de apoio em cima da cama, vou até o frigobar, pego o suco e
iogurte, ter uma filha pequena e a cozinha ser no primeiro andar me fez tomar
algumas precauções, ainda que a pequena tome um gole do iogurte e o resto
vá fora.
Subo com os joelhos na cama e vou me aproximando delas, Helena olha
descaradamente para meu peito nu, enquanto Vitória conta alguma história
sobre a maldita princesa do gelo.
—Tudo bem amor? —Chamo atenção da pimentinha para o meu rosto.
—Claro ué, por que a pergunta? —Essa garota é a pior mentirosa que existe.
—Não me subestime amor, minhas qualidades vão além da estética. Eu
passei em Yale lembra? —Ela levanta uma sobrancelha, ficando ainda mais
engraçada, começo a rir por que não sou de ferro.
—Deixa de ser convencido! Eu fui escolhida entre vinte candidatas para ser a
secretária de um dos CEO's mais respeitados no mercado imobiliário e
detalhe eu só tinha um estágio em uma gráfica.
Prefiro ocultar a parte de que ela foi escolhida por minha mãe achando ela
inocente o suficiente para não tentar abaixar as calças do meu velho. Dona
Judith tem essa obsessão de que todas as mulheres “arrastariam as assas” para
meu pai. Não posso negar que o coroa está em forma e eu fui agraciado com
sua genética.
Helena serve meu anjo antes que começar a comer de uma forma tão natural,
que se alguém presenciasse a cena pensaria que são mãe e filha. E no que
depender de mim, serão. Além da semelhança física em função da cor dos
olhos, pele e cabelo, a forma como se tratam deixa tudo ainda mais verídico.
Ninguém desconfiaria que as duas só tiveram um contato maior de ontem
para hoje.
—Você já comeu cre... Juan? —Estreito os olhos em sua direção.
—Cre? —Ela segura o riso e morde o lábio. —Mas tarde você me diz o
restante da palavra.
—Que palavra papai? —Meu bebê pergunta em toda sua inocência.
—Pergunte a Helena bebê. —Vitória olha na direção da pimentinha que
quase engasga com o suco.
—O que acha de terminarmos o café e ir brincar com a flaminga de novo?
—SIM. —Ela engole o pedaço de pão que tinha na mão quase inteiro. —Eu
vou pega meu maiô. —Respiro fundo me sentindo um frouxo por buscar
coragem para repreender minha filha.
—Termine seu café, filha. —Digo olhando sério em seus olhos, já
arrependido e com vontade de pegar ela no colo dar um abraço. Ela me olha,
acena com a cabecinha e volta a comer. Helena sorri pra mim, enquanto
Vitória volta a falar da princesa maldita, eu odeio essa princesa!
Depois do café minhas meninas, colocaram suas roupas de banho e todos
curtiram a piscina. Como meus pais viajariam no início da noite, ficamos
todos juntos fingindo que o clima de nostalgia não estava no ar. Mas estava.
Minha mãe olhava nossos rostos como se estivesse nos memorizando, em
determinado momento até perguntei se ela estava bem, ela sorriu e disse que
era grata a Deus por tudo que adquiriram na vida, mas que a maior riqueza
era a família senti Helena desconfortável, minha mãe como é a mulher mais
incrível do mundo percebeu e abraçou a pequena pimentinha dizendo que
agora ela fazia parte disso.
E então meu pai disse que ia servir a carne para quebrar o clima. Comemos
carne, pão e maionese, chega a ser engraçado morar em um condomínio
nobre como o nosso, com gostos tão diferentes dos demais vizinhos. Sinto
minha irmã retraída, ainda que esteja conosco sorrindo e brincando, é nítido
que tem algo errado. Maria Clara é como minha mãe, sem filtro e sem
medidas, perguntarei a ela mais tarde o que aconteceu.
E em meio as pessoas mais importantes da minha vida eu percebo que
dinheiro ajuda e muito, mas nenhum restaurante cinco estrelas, com o melhor
chef do mundo é capaz de proporcionar a sensação que é estar em meio as
pessoas que você ama.

A tarde passou rápido, rápido demais por sinal. Voltei há pouco mais de uma
semana para casa e já me acostumei com as pérolas de Dona Judith, com o
jeito pacifico do meu pai de agradar a todos por igual, então vê-los subindo
para se arrumarem para as férias não foi bom. Claro que eu quero que
aproveitem e desfrutem um pouco da grana que com tanto 'suor' foi
adquirida, mas não ajuda em nada o fato de que voltei a pouco tempo e por
vários dias vou ficar sem eles novamente.
Vitória dormio tem uns vinte minutos, novamente preferiu o colo de Helena
ao meu. Eu deveria-me sentir incomodado, mas só consigo me sentir feliz ao
vê-las juntas. Olho Helena fervendo água para o café, enquanto arrumo a
mesa com os bolos de chocolate e a pizza de sardinha que minha mãe fez.
Até disso sentirei falta, se tem uma coisa que Dona Judith sabe fazer além de
espalhar amor, é comida e porra!Que comida.
Será que Helena cozinha bem?
—Amor? —Pergunto enquanto ela joga água quente no coador de pano que
minha mãe insiste em usar.
—Hum. —Minha vontade é de replicar e dizer 'dois', mas me contenho.
—Você cozinha? —Diga que sim, pimentinha.
—Eu me viro. —Helena e sua mania de dar respostas vagas.
—Você se vira bem? —Ela me olha com uma expressão avaliativa.
—Está querendo saber se eu cozinho bem, Juan?
—Sim. —Rapidamente me corrijo. —Quer dizer, você mora sozinha então
posso imaginar que não coma só comida enlatada.
—Claro! É coincidência o fato de sua mãe que cozinha maravilhosamente
bem, estar prestes a viajar, né?—Estreita os olhos em minha direção. —Você
está querendo me fazer de cozinheira, cretino? Pois tire seu pônei da chuva!
—Eu não tenho um pônei amor, mas posso ser como um cavalo. —Ela cora e
arregala os olhos.
—Como assim um cavalo? —Pergunta me sondando.
—Atributos querida, atributos semelhantes.
—Misericórdia! Você não sabe conversar sem dar entonação sexual a tudo?
—Com você eu quero que seja tudo sexual do início ao fim.—Vejo ela
reprimir um sorriso.
—Atrapalho alguma coisa? —Diz Maria Clara, eu chamaria de empata foda,
mas não agora.
—Queria falar com você. —Minha irmã me olha e logo desvia o olhar,
mudando a fisionomia. Certo! Ela está escondendo algo.
—Quer me repreender por ter chegado tarde ontem? Fala sério Juan, não
venha bancar o irmão controlador que chuto seu saco.
Helena gargalha, mas logo se contém e pede desculpa.
—Não se desculpe cunhada, Juan nunca foi empata foda. E para facilitar
minha vida vivia rodeado de amigos gatos... —Olha ao fundo como se
lembrasse de algo. —Puta que pariu! Lembra do Vicente? —Nem tenho
tempo de responder. —O cara era muito gostoso! Ele beijava muito bem, sem
contar a pegada...
—Chega Maria Clara, me poupe de saber de suas ficadas por aí. —Limites.
Palavra inexistente nas mulheres dessa família.
—Eu diria fincadas.
—O que? —Pergunto sem ter certeza se quero que responda.
—Esquece. —Melhor assim.
—Você falou com o Guilherme ou Becca?
—Não.
—Não? Assim, sem nada a completar? —Se tem uma coisa que minha irmã
não é, é uma mulher de poucas palavras.
—Não de “não sou babá de Becca” e “o Guilherme que vá chupar um trem”.
Quando vou responder, meus pais entram na cozinha.
Minha mãe veste um chapéu de palha com um laço vermelho enorme, um
vestido com muita estampa para apenas uma peça e um tamanco no mesmo
tom do laço do chapéu. Exagerada e linda. Combina exatamente com sua
personalidade, uma mulher de excessos. Meu pai veste uma bermuda branca,
e uma camisa azul turquesa. E assim como minha mãe sua roupa diz muito de
sua personalidade. Eu passei os últimos anos tentando mudar para ser o pai
que minha filha merece e um homem integro conforme fui criado, mas agora
percebo que passamos muito tempo almejando ser algo, esquecendo de
agradecer e viver o agora. Viro meus olhos em direção a baixinha em frente
ao balcão da cozinha e decido que o agora é fundamental para meu futuro.
Eu sei que o meu hoje é ela, e farei o inesperado para que também seja o
meu amanhã.
Capítulo 18

Helena
—Cuide do Juan e de minha neta, por favor, querida. —Dona Judith diz
enquanto me abraça.
—Vou fazer o que estiver ao meu alcance senhora. —Ela segura meu rosto.
—Está tudo ao seu alcance querida, não se perde algumas oportunidades, elas
são únicas.
Beija minha testa e todos mais uma vez. Sempre fui fã dessa mulher, da força
dela, do carisma e da forma que luta pelo que acredita. Eles viajaram
deixando e o clima ficou pesado. Maria Clara subiu pro quarto e está lá até
então, Vitória pegou rápido no sono devido ao cansaço do dia.
Enquanto lavo a louça do jantar, paro para analisar a bagunça que minha vida
virou em uma semana. Na verdade, eu voltei a viver. Juan chegou como um
tsunami, levando tudo consigo e eu simplesmente me deixei levar. Além de
ser lindo e atraente como o pecado, carinhoso, atencioso e extremamente
sexy. Me vejo perdida quando ele começa a me provocar e até sinto que ele
se segura. Então me pergunto o que realmente vai acontecer quando ele se
soltar?
Como o cretino que é me abraça por trás e beija meu pescoço, ok. Posso lidar
com isso, posso continuar lavando a louça normalmente.
—Eu já te disse o quanto você é gostosa? —Me prensa de encontro ao balcão
da pia. —Essa bunda perfeita me deixa louco. —Fala quase em um sussurro
em meu ouvido, mordendo meu pescoço e beijando em cima.
Talvez a louça possa fica pra amanhã certo?
Fala sério a dona da casa nem está de fato em casa.
Dizem que quando os gatos saem os ratos fazem a festa, não é?
Então é totalmente aceitável que façamos a festa e que, de preferência, eu
seja o play ground.
Ele segura minha cintura com uma mão e a outra entra por baixo da minha
blusa explorando minha barriga e subindo para meu seio direito, quando
enfim chegaria a meu seio, tira a mão e morde meu ombro.
—Vou esperar você no quarto, Helena. —E saí.
Saiu.
Tipo saiu mesmo.
Subiu.
Foi para o quarto.
O filho da puta me encoxou, me deixou... Tipo, animada. E saiu.
ELE SAIU!
Respiro fundo. Recupero o controle. Termino a louça na velocidade da luz
determinada a subir para o quarto e mostrar para ele com quantos paus se faz
uma canoa! Subo as escadas me sentindo em um tapete vermelho como a
vencedora de um Oscar em busca do seu troféu. Chego a frente a porta do
quarto ainda fechada, arrumo meus peitos no sutiã de forma que fiquem mais
empinados e abro a porta. Estaco com a porta aberta.
Talvez isso não seja a premiação de um Oscar.
E bom... Com quantos paus se faz uma canoa mesmo?
Fico parada, literalmente abobalhada e boca aberta com a visão de Juan,
ainda de costas e que costas. Secando os cabelos com uma toalha branca. E a
bunda? Que bunda! Ele se vira.
ELE SE VIRA.
Engulo a saliva inexistente na minha boca.
Meus olhos caem para o V perfeito descoberto em seu abdômen, sigo com os
olhos aquele caminho perfeito me levando a um paraíso grande. Bem grande.
Cheio de saliências, mais conhecidas como veias.
—Helena? —Posso ouvir o divertimento em sua voz.
Continuo parada. Ele solta a toalha sobre a cômoda e me olha sério.
—Entre e feche a porta. —Fala com o tom de voz duro dessa vez.
Tudo parece estar duro.
Algo se acende em mim e de forma automática respondo aos seus comandos,
agradecendo aos céus por ter tomado banho antes do jantar, já que com
certeza a sobremesa serei eu agora.

Juan
Ela fecha a porta atrás de si, se vira novamente pra mim suspirando.
—Tire a blusa e o short. —Digo enquanto deslizo uma de minhas mãos sobre
meu pau já duro, por imaginar o que virá a seguir. Seus olhos se fixam em
meus movimentos, ficando atentos em mim enquanto me masturbo.
Ela tira a blusa e já posso ver seus seios ainda tampados pelo sutiã. Ela
respira fundo e tira o short, me prestigiando com a uma visão tentadora
daquele triangulo perfeito que pretendo explorar de todas as formas possíveis.
Caminho em passos lentos em sua direção, sob seu olhar.
Chego em sua frente passo meus lábios rapidamente por cima dos seus, desço
em direção seu pescoço aspiro seu cheiro, chego colo e deposito alguns beijos
em meio a chupões. Ela suspira. Desço ainda mais, contemplando suas
curvas, beijando e analisando cada pedacinho. Me ajoelho e fico na altura de
sua boceta coberta pela calcinha. Respiro fundo tentando manter o controle.
—Se vire Helena. —Ela hesita, mas se vira.
E agora tenho sua bunda gostosa da altura dos meus olhos, coloco minhas
mãos sobre cada uma sobre dessas polpas deliciosas e aperto, massageando, a
ouvindo gemer baixinho. Trago ela para mais perto e não me contenho ao
lamber exatamente entre as duas polpas, fazendo-a se desequilibrar um
pouco. Levanto-me e tomo distância.
—Se vire de novo Helena. Tire o sutiã e a calcinha.
Ela se vira e já envolvida no clima, não pensa duas vezes ao tirar o sutiã, me
fazendo salivar com vontade de ter eles inteiros em minha boca. Ela tira a
calcinha e sinto meu corpo tremer de vontade de senti seu gosto.
—Sente-se na poltrona e apoie as pernas nas laterais de apoio.
Ela faz o que peço e quando apóia as pernas, deixando as abertas com a
boceta exposta para mim, me seguro para não gozar apenas coma visão. Vejo
seu peito subir e descer, contagiada pelo tesão que nos domina e o erotismo
que essa brincadeira nos passa.
—Se toque gostosa. Mostra para mim que está molhadinha.
Ela morde o lábio e leva seus dedos até sua entrada e quando os meche posso
ver o brilho da sua excitação posso ver o clitóris inchado implorando por
atenção. Ela geme baixinho jogando a cabeça para trás e rapidamente sinto
ciúmes dos seus próprios dedos.
Aproximo-me novamente me ajoelhando em sua frente.
—Olhe para mim. —Ela abre os olhos.
—Eu quero ver você lamber seus dedos e provar do seu gosto.
Ela faz o que peço e eu gemo alto. Nunca vi algo tão erótico como essa cena.
Me aproximo sentindo o cheiro de sua excitação e lambo toda extensão de
sua boceta. Fazendo-a gemer e isso tem resposta direta ao meu pau.
Passo a me dedicar com extrema dedicação a essa iguaria diante de mim. Dou
lambidas em cada um dos lábios, hora passando a língua em sua entrada, hora
em seu clitóris que pulsa sobre minha língua. Com um dedo passo a
massagear seu clitóris, enquanto passo a meter a língua em sua entrada o
mais fundo que posso fazendo-a se contorcer.
—Rebola na minha boca gostosa, quero que você se esfregue na minha cara
enquanto geme.
E então começo a escutar os seus gemidos que até então estavam contidos,
agora mais altos. Ela castiga meus cabelos e faz movimentos de vai e vem
imitando penetração. Quando sinto que está perto me afasto sob seus
protestos, levando-a comigo até cama.
—Fique de quatro. Empina esse rabo gostoso pra mim. —Digo dando um
tapa em sua bunda e recebendo mais um gemido em recompensa.
Massageio suas polpas deixando-a relaxada, abro bem sua bunda gostosa e
posso a ver piscando para mim. Lambo cada polpa alternando com chupões
como fiz em sua boceta, desço minha língua para seu orifício.
Helena geme alto.
Continuo com minha língua deixando ela louca e falando coisas desconexas.
Tiro minha língua e faço círculos com o dedo em volta. Percebo que ela está
perto e me deito colocando-a de quatro sobre mim.
—Senta com essa bucetinha na minha cara.
Entorpecida de prazer, ela senta e se esfrega, em busca da própria libertação.
Pego em sua bunda com as minhas mãos e toco no outro ponto que pede por
atenção. Helena enlouquece com as sensações inclinando a cabeça para trás
segurando os próprios seios, gemendo alto enquanto goza. Ela mal se
recupera se joga se deitando e abrindo as pernas.
—Me come!
E dessa vez quem obedece sou eu, estocando firme e forte, enquanto
massageio seu clitóris usando sua própria excitação como lubrificante. Não
demora muito e ela goza novamente, ainda sensível e basta sua expressão de
prazer para me entregar ao orgasmo mais intenso que já tive na vida.
Fico parcialmente em cima dela, tentando controlar minha respiração.
Que sexo foi esse?
Já fiz isso antes, várias vezes, aliás, porém nunca senti essa intensidade.
Eu estou muito fudido.
Agora sem dúvida alguma, esse um metro e meio me arrebatou.
Mas como com Helena nunca nada é normal, a louca me empurra me fazendo
perder o equilíbrio e cair da cama.
—Porra! —Reclamo ao bater o braço no criado mudo na queda.
—Juan! Você não usou camisinha! —E sai correndo para o banheiro como
louca.
Eu realmente esqueci, mas o drama foi desnecessário, uma garota na idade
dela usa pílula.
Ou não usa?
Levanto do chão indo ao banheiro atrás de Helena. Encontro ela tomando
banho, com a ducha pequena e lavando o meu parquinho, mas esfregando e
lavando muito.
—O que aconteceu? Eu te machuquei? —Pergunto preocupado vendo a
urgência com que se lava.
—Claro que não! Estou tentando garantir de tirar tudo que talvez você tenha
colocado em mim! —Começo a rir da sua ingenuidade, afinal gozei dentro
dela...e se foi, já está lá.
—Você não toma pílula?
—Não.
Porra!
—Sério? —Pergunto com a voz falhando.
Claro que pretendo ficar com ela, mas já tenho uma filha, não que eu não
queira mais filhos, mas no momento preciso consolidar nossa relação.
—Ok. É... Existe um tipo de pílula do dia seguinte compro amanhã de manhã
e você toma.
—Mas nem pensar Juan! Você vai agora até a farmácia e vai trazer esse
remédio pra mim! —Diz enquanto seca seu corpo rapidamente.
—Helena pelo amor de Deus, são quase meia noite, não tem problema algum
de deixar para amanhã.
—Você escolhe Juan, ou você vai agora, ou eu vou e durmo em meu
apartamento.
Ok, jogo baixo.
—Eu vou Helena. —Ela sorri. Diaba! —Mas seria tão ruim ter um filho meu?
Pelo menos foi bom para você? Já que me empurrou como uma doida e saiu
correndo pro banho.
Ela termina de vestir uma camiseta minha por cima tendo por baixo apenas
sua calcinha, que por incrível que pareça, não é um fio. Qualquer mulher ao
dormir com um cara botaria uma calcinha ousada, mas ela disse que prefere
dormir com algo confortável e sinceramente não vejo mal algum nisso. Ela
vem em minha direção e põe as mãos em meu rosto.
—Foi ótimo Juan, nunca me senti assim, você é ótimo! Eu não sou
acostumada com demonstrações de afeto você terá que ter paciência comigo.
—Não tenho tempo de responder.
—Papai. —Ouvimos Vitória chamar pela babá eletrônica.
—Pode ir tomar banho, eu vou lá com ela. —Beija meu rosto e vai em
direção ao quarto do meu bebê.
Tomo um banho rápido, me enxugo e enrolo a toalha em minha cintura, por
que a probabilidade de Vitória estar no quarto é grande. Saio do banheiro e
vejo Helena sentada na cama com Vitória no colo agarrada em seu pescoço.
Essas cenas me deixam suspirando como um maricão. Sorrio para Helena que
me sorri de volta enquanto passa os dedos entre os fios do cabelo de Vitória.
Me visto, pego a carteira, a chave do carro e meu celular. Beijo Helena e
aviso que qualquer coisa me ligue.
Saio quarto do satisfeito, feliz. Essa felicidade vinha se tornando constante e
o medo de algo acontecer e acabar com isso era grande.

Capítulo 19

Helena
—Tem certeza que está tudo bem? -Pergunto pela terceira vez nessa manhã
para Juan.
—Tudo ótimo! —Dá um sorriso forçado. —Pode entrar em contato com o
Guilherme e pedir para ele vir aqui?
—Claro. —Fecho a porta de sua sala, com a certeza de que tem algo errado.
Tivemos um fim de semana maravilhoso, pude ver o que é uma família de
verdade. Sorrio ao lembrar de que como fazem todas as refeições juntos, o
jeito leve que interagem entre si, o modo como se tratam quando conversam,
tocando um ao outro e a forma como me receberam e acolheram aos seus
“potinhos” de amor. Eu não saberia descrever o amor, então potinho me
parece uma boa palavra.
Fui criada em sistema “feudal”, baseado em um regime de servidão, onde
tudo e todos deveriam se prostrar diante do seu rei. Meu pai, ou o doador de
esperma, como prefiro chamar.
O cara era um tirano que se achava o dono do mundo e de fato era. Ninguém
ousava desafia-lo e se o fizessem a 'chibata' pegava, de formas variadas,
como por exemplo: ficar sem emprego e automaticamente sem comida.
Como era o fazendeiro mais poderoso da 'cidade', conseguia controlar tudo
que estava ao seu redor e isso era assustador. Ele tinha o controle de tudo,
desde as ofertas da paróquia que faziam o Padre Toninho fechar os olhos para
tudo, até a propina que pagava a prefeitura.
Lembro de uma vez que voltamos da igreja em um fim da tarde de domingo,
meu pai bebeu, abusou de minha mãe e bateu tanto nela que precisou ficar
dois na cama. Todos sabiam o que tinha acontecido, mas foi mais fácil fechar
os olhos e seguir o fluxo, que dizia que ela tinha caído da escada. Como se
cair de uma escada deixasse marcas de socos e cintadas pelo corpo.
Perdi a conta de quantas empregadas meu pai abusou, de quantas vezes ele
bateu em uma mulher, porque sim, ele fazia isso com todas. O casamento era
uma fachada, a família perfeita precisava existir para maquiar toda a merda
que acontecia por trás dos bastidores.
Eu amava minha mãe, mas a submissão dela ao esposo fez com que fosse
negligente comigo. Mas o lado bom disso tudo é Rubens, meu irmão. O filho
que meu pai teve com uma das cozinheiras, que tratou como um empregado
qualquer, até cair doente e, por ironia da vida, ficar dependente dele. Esse foi
o momento que eu encontrei para sumir de todo aquele caos e ser a mulher
que sou hoje. A merda de tudo isso, é que eu me tornei insegura e essa
mudança repentina do Juan não colabora em nada.
Depois de ter o melhor sexo da vida... ok! Talvez a parte final onde me
apavorei e sem querer empurrei ele, não foi legal. Mas quem não entraria em
surto com a possibilidade de engravidar na primeira transa? Eu o conhecia a
uma semana!
Mas lembrando da transa, o que foi aquilo que ele fez mexendo no lugar
proibido? Foi tipo "Deus me livre, mas quem me dera".
Me sinto uma pecadora devassa! Porque uma mulher direita jamais deixaria
que isso acontecesse, né? Mas que mané direita? Eu quero é ser da esquerda!
—Helena! —Renan me chama mais alto que o normal. —Te chamei três
vezes! Antonella mandou mensagem, vamos almoçar juntos? Sim né, passe
na recepção ao meio dia.
Renan sendo Renan, o tipo que pergunta e se auto responde.
Ligo diversas vezes para o escritório de Guilherme e sua secretária diz que
ele ainda não chegou, levando em consideração ser quase onze da manhã,
isso me parece bem estranho, já que é conhecido por não tolerar atrasos e
ainda que muito educado, é temido por todo o setor de engenharia por não
admitir erros.
Devo pedir seu celular ao Juan? Não, melhor não.
Talvez ele não esteja em um bom dia, melhor dar tempo a ele.
Mas eu poderia pedir a Clarinha, com certeza ela tem o número do primo.
—Helena. Vou precisar sair mais cedo, irei almoçar com o Guilherme. —
Olho para Juan que parece desconfortável e até preocupado.
—Certo. —Tenho que parar de agir igual uma banana perto dele. —
Ok. —Certo? Ok? Sério, Helena?
Ele sorri, pela primeira vez no dia, ele sorri de verdade.
—Volto logo, amor. —Se inclina na minha direção deixando um selinho em
meus lábios. Sorri ainda com a boca na minha e logo saí com aquele bumbum
perfeito muito bem desenhado em seu terno sob medida. Que homem!
É... onde estávamos mesmo? Dou um tapa em minha testa para acordar do
feitiço que o todo poderoso jogou em mim e volto minha atenção ao relatório
que preciso entregar hoje à tarde. Não posso deixar que esse envolvimento
que estamos tendo influencie em minha vida profissional.

—Vocês transaram! —Arregalo os olhos em sua direção, ela se levanta. —


Garçom, traga um champanhe. Minha amiga tirou as teias de sua aranha e
isso merece uma comemoração!
Tranco a respiração e lentamente olho para os lados, confirmando o que eu
temia.
Todos. Eu disse todos, a nossa volta estão nos olhando. Rogo a qualquer ser
celestial que um buraco se abra e me engula. Não acontece.
—Não podemos beber, gata! Vamos trabalhar depois. —Renan fala com uma
naturalidade inexistente em mim e sem um pingo de vergonha do show que
ela acabou de dar.
—Merda. Traga suco de laranja para nosso bando então, lindinho. —Diz ao
garçom dando uma jogadinha de lado no cabelo e piscando para o cara. Não
preciso nem olhar para saber que o tal garçom era bonito e que esse flerte
acabaria em sexo casual.
O modo despojado de como Antonella levava sua vida me deixava abismada.
Ela simplesmente não se apegava, não criava raízes. E isso se estendia para a
quantidade de apartamentos em que já morou, o que resultava as mudanças
eram casos com vizinhos, brigas com o sindico por não cumprir as regras e
até uma panelada que deu em uma moradora por chama-la de indecente pelos
shorts que costumava usar.
—Me conte os detalhes! —Recomeça ainda mais animada do que quando
soube. —Ele é potente? Do tipo "vou te comer de quatro" ou "mamãe e
papai"?
—Pelo amor de Deus, Antonella. Fale baixo! —Peço implorando por bom
senso, em vão é claro.
—Puta que pariu! Com aquele estilo bad boy perigoso, posso imaginar que o
cara é quente. —Diz olhando para o nada e eu temo em dizer que imaginava
Juan sem roupas.
—Você precisa vê-lo hoje! —Renan comenta. —Está vestindo um Armani
azul marinho com uma camisa branca sem gravata!
—Você não bateu foto, Re? —Ele nega. —Ah, pelo amor! —Joga as mãos ao
alto. —Você já foi mais esperto! —Oi? Foto?
—Helena chegou junto com ele! —Ah não!
—Você chegou com ele, sua vadia!? —Ela fala alto, o suficiente para sermos
o centro das atenções novamente.
—Por favor, Antonella. Fala baixo! Tá todo mundo olhando. —Quase
sussurro em sua direção.
—Tudo mau comido, amiga! Dá bola não. Pode ver que se fazem um papai e
mamãe uma vez por mês é muito. —Ponho as mãos no rosto em sinal de
frustação.
O garçom chega e deixa nossos pratos, enquanto Antonella dá em cima do
cara sem um pingo de pudor. O coitado até fica sem jeito.
—Você é bem direta. O cara estava envergonhado. —Comento quando ele
sai.
—Sou dona do meu nariz, ele é gato e gostoso, então por que não? Além do
mais, meu corpo, minhas regras.
Enquanto comemos conto por cima o fim de semana, ocultando muitos
detalhes, inclusive do sexo e quando falo sobre os limites até então proibidos,
quase me afogo com o pedaço de bife.
—Você deu o cu? —Me engasgo com o maldito pedaço de carne, enquanto
Renan dá pequenos tapinhas em minhas costas. —Garota, essa carinha de
Madre Teresa engana, hein!
Por que merda sou amiga dela mesmo?
—Chega desse assunto.
—Helena...
—Me deixe falar! Chega de você ficar jogando aos quatro ventos detalhes da
minha vida sexual...
—Helena...
—Eu ainda não terminei... —Renan dá um chute no meu pé, chamando
minha atenção. Quando então olho para o mezanino e vejo Juan, Guilherme e
uma morena, muito bonita por sinal. Juan está passando o cartão na maquina,
enquanto a tal morena sorri feito o coringa para ele.
Respiro, inspiro. Respiro, inspiro.
—Ela tá com as mãos no seu homem! Que bela vaca! —A senhorinha que
está na mesa ao lado nos olha feio.
—Se você não abaixar o volume da voz, vamos ser expulsos daqui. —Renan
pela primeira vez fala algo que preste.
Eu não consigo tirar os olhos do mezanino, onde Juan já está levantado
olhando o celular, a morena que de pé consegue ser ainda mais bonita e
Guilherme com o semblante sério. Os três caminham para as escadas que dão
para o primeiro andar do restaurante.
—Helena, deixa de ser boca aberta. Faça alguma coisa. —Antonella diz
puxando minha mão por cima da mesa.
—Não. Nós estamos saindo, mas não é como se ele me devesse satisfação. —
Essas são as palavras que saem da minha boca enquanto por dentro minha
vontade é de gritar.
O filho da puta ontem estava com o pau dentro de mim, de repente ficou
estranho me evitando e agora está aqui almoçando com o priminho e com o
projeto de miss todo alegrinho, mas que merda é essa?
—Pois se você não faz, eu faço! —Nem tenho tempo de falar nada e a louca
começa a rir alto, bem alto. Chamando atenção novamente de todos para
nossa mesa, inclusive do trio.
—Ah Helena! Você é muito engraçada. —De forma nada discreta, ela diz
meu nome. Não que fosse preciso pois a risada do tipo hiena já tinha feito
com que Juan nos visse. Pela minha visão periférica vejo ele se aproximando,
com o projeto de miss e Guilherme.
Calma, muita calma. Sem bancar a boba e nem a louca.
—Helena, você não disse que vinha almoçar fora. —Ele diz quando chega
em nossa mesa. O projeto de miss me olha com desdém e logo volta a focar
em Juan. Meu sangue ferve.
—Também sou humana, Dr., além do mais, estou em horário de almoço. —
Ele estranha minha atitude e posso ver o vinco de confusão que se formou em
sua testa, até mudar o semblante e dar um sorriso de lado.
—Desculpe, amor. A partir de amanhã aproveitaremos juntos seu horário de
almoço.
—Amor? —Pergunta a morena sem noção.
—Helena é minha namorada. —Responde a ela e me olha com um sorriso de
canto.
—Sim, eu sou. —Finjo naturalidade por que sou dessas, mas por dentro...
EU SOU! TÁ VENDO ESSE CRETINO GOSTOSO? É MEU!
TIRA A PATINHA DAÍ ESTRELA, JÁ!
Tirando a parte da estrela, claro. A égua do meu irmão não merecia ser
comparada a essa siliconada de meia tigela, tadinha da bichinha!
—Você já almoçou? —Me pergunta.
—Sim, só vou pagar a conta...
—Eu pago...
—Eu posso e vou pagar meu almoço, Juan. —E como uma criança da idade
de sua filha, ele revira os olhos e dá de ombros.
Pago minha conta, me despeço dos meus amigos e acabo retornando com
Juan que volta a ficar pensativo enquanto dirige. Vou dar um jeito de
descobrir o motivo de suas oscilações de humor ainda hoje.

Capítulo 20
Juan
—Juan? —Olho para trás ainda com a carteira em mãos.
—Gabriela.
—É a melhor coincidência que poderia ter me acontecido hoje. —Fala
enquanto pega em meu braço e eu discretamente me afasto.
Volto minha atenção para a caixa da farmácia, deixando Gabriela no vácuo.
O Rio de Janeiro tem aproximadamente 6,32 milhões de pessoas, por que
porra eu tinha que encontrar logo ela?
—Eu te liguei Juan, na verdade muitas vezes. —Retiro meu cartão da
máquina, pego a sacola com a pílula do dia seguinte para Helena e agradeço a
atendente de caixa.
—Não retornei por que não temos nada para conversar, Gabriela. —Falo
demonstrando uma calma que na verdade nem existe nesse momento.
—Juan por favor, eu sei que você sente falta do que éramos. Quatro anos se
passaram e você não trocou seu número, vamos conversar. —Respiro fundo
tentando manter o controle, puxando meu braço onde sua mão insiste em
tocar.
—Não troquei por que minha vida não gira em torno da sua! Tenho seu
número por questão de segurança, por que um dia posso precisar de você, é
pela minha filha. Só por ela. —A loira vacila, mas mantém a pose.
—Eu te liguei por que quero ver Vitória. —Olho para ela sem acreditar no
que ouvi.
—Não estou pedindo a guarda da garota, Juan. Quero conhece-la.
—Você quer dinheiro Gabriela? Por que isso não foi problema quando meus
pais pagaram para você não abortar ou quando pagaram a você para que a
guarda fosse minha.
—Ah pelo amor de Deus Juan! —Joga as mãos para cima. —Não venha
bancar o santo agora! Você não queria essa criança tanto quanto eu! Eu
estava começando a minha carreira, nós nos amávamos, Juan. —Tenta
novamente se aproximar.
—Nunca amei você. —Ela arqueia as sobrancelhas e ri em deboche. —Nós
amávamos a farra, a bebedeira e as drogas.
—Juan se aquela prisão não tivesse acontecido...
—Chega porra! Chega! —Grito perdendo a paciência, lembrando da
expressão decepcionada do meu pai na delegacia. —Não chegue perto da
minha filha, esse foi o combinado caralho!
Entro no carro escutando Gabriela gritar.
—Isso não acaba assim Juan! Quero e vou conhecer a menina!

Dizer que eu dormi seria uma bela mentira. Quando cheguei da farmácia, vi
Helena dormindo com Vitória agarrada em seu pescoço, a visão era tão linda
que me sentei na poltrona, fiquei admirando e temendo perder tudo que
estávamos construindo.
Gabriela era mãe biológica de Vitória, nunca se importou com a criança e
agora de repente quer conhecer ela?
Minha consciência me acusa que também não fui o pai que Vitória precisava,
então Gabriela também poderia se redimir como eu estou fazendo. Mas não
consigo imaginar motivo sem ser dinheiro para tal aproximação. Namoramos
por quatro anos, Gabriela sempre foi linda, estava começando a carreira de
modelo e me encantei por ela. Assim que ficamos juntos comecei a perceber
que a fisionomia de anjo não condizia em nada com suas atitudes, mas eu
estava obcecado por ela.
Fiz coisas por ela que até Deus dúvida, me sujeitei a situações como
compartilha-la na cama com outras mulheres e homens. Não que eu tenha
algo contra, as pessoas são livres para explorarem suas vidas sexuais da
forma que quiserem, mas eu não queria. Fiz de tudo para que ela ficasse feliz
e se sentisse satisfeita comigo.
Me deixei levar por amizades, comecei a gostar da vida fácil, da farra e no
fim das contas, mesmo sem precisar, estava repassando drogas, mais
conhecidas como balas e doces. Comecei a curtir a adrenalina e o perigo que
estar com ela me proporcionava. Me afastei das pessoas que sempre
estiveram comigo e que por sinal foram as que me apoiaram quando mais
precisei.
Hoje quando deixamos Vitória na escolinha, meu subconsciente criou várias
teorias que não me parecem tão descabidas assim passarem por minha
cabeça.
E se Gabriela fosse lá?
E se chegasse à Vitória e falasse que era mãe dela?
Será que o pessoal da escola liberaria minha filha por ela ser a mãe na
certidão de nascimento?
Em função de tudo isso combinei de almoçar com Guilherme, eu estava
algum tempo fora do Brasil, mas precisava de um advogado de confiança que
não tivesse vínculo com a D'Laurentes e com certeza ele deveria conhecer
algum.
Antes de ir ao restaurante o encontrar, resolvi passar na escola. Não foram
boas as notícias pois como "mãe" Gabriela tinha sim direito de ver minha
filha, porém como a guarda é minha precisava de uma autorização para levar
a menina embora. Consegui convencer a diretora de entrar em contato
comigo se houvesse qualquer tipo de tentativa de aproximação de Gabriela e
assim também fiz na academia de artes onde Vitória fazia balé e natação.
Chego no restaurante e encontro com Guilherme no mezanino, a cara dele,
sempre o lugar mais discreto e afastado do restante das pessoas.
—Achei que estava vindo de ré, está 28 minutos atrasado. —Diz com uma
expressão entediada.
—Dormiu com o ovo virado, é? —Ele só suspira e passa as mãos no rosto.
—Já pedi nosso almoço, o básico, não tenho a tarde inteira.
—Faz tempo que você não transa? —Ele levanta os olhos e fica branco.
—O que? —Solta em um fio de voz.
—Esse jeito estressado cara, deve ser porra acumulada. —Digo tentando
aliviar a tensão e parece funcionar por que ele volta a respirar.
—Claro que não. Digo, sempre tem alguém.
—Falando em alguém... sabe se aconteceu algo na sexta antes de chegarmos
na boate? —Ele me olha, e acena em negação. —Maria Clara estava
visivelmente chateada o fim de semana inteiro. —Ele não responde. —Gui o
que aconteceu?
—Ela deve estar chateada comigo.
—Não é pra menos, aquilo era forma de você sair com ela da Fantasy?
—É. —Ele concorda e fica pensativo, eles se entenderiam logo. Sempre
brigavam feito cão e gato e tudo voltava ao normal.
—Eu te chamei aqui por que encontrei Gabriela ontem. —Instantaneamente
tenho sua atenção.
—Tá de brincadeira, cara? Tu és muito burro mesmo, puta que pariu! —
Exclama indignado.
—Me escuta porra.
Conto toda a situação e ele me indica um advogado que por sinal é um dos
que vou entrevistar para ocupar o lugar do embuste do Rodolfo. Fico aliviado
por ter achado alguém de confiança para conversar sobre a Vitória e quem
sabe ocupar um lugar de extrema importância para a empresa. Quando
terminamos o almoço e já estou pagando a conta, temos companhia.
—Guilherme, Juan. Que coincidência deliciosa! —Não me parece estranha,
mas também não lembro do nome.
—Laura, tudo bem? —Guilherme a cumprimenta, enquanto pago a conta do
almoço, sem dar muita importância a recém-chegada.
—Tudo ótimo. —O responde mantendo sua atenção em mim. —Que bom
que você voltou querido. —Diz enquanto alisa meu braço.
Dou um sorriso amarelo e discretamente me esquivo de suas investidas, me
apressando na frente de Guilherme e a tal moça que já esqueci o nome de
novo.
Uma risada me chama atenção, estreito os olhos na direção e vejo Helena,
Renan e a loira louca. Mudo a direção indo até eles, a amiga diz que Helena é
engraçada, com certeza sinalizando a mesma que alguém está chegando, pois
vejo Helena tentando ser discreta me olhando de 'rabo de olho'.
Chego até eles e sinto Helena insegura, trato de deixar bem claro que estou
com ela e que não precisa se preocupar por que realmente não quero mais
ninguém além dela. Esse meio metro realmente não sabe o tamanho do poder
que tem sobre mim.

—Ele é tão fofinho amô. —Vitória diz a Helena, sem soltar por um só
segundo o coitado do pinscher que se debate para sair de seu colo.
—Filha o bicho precisa respirar. —Falo tentado pega o cão que rosna para
mim com um pitbull. —Cachorro ingrato. —Helena gargalha.
—Ele não está acostumado com homens.
Informação interessante.
—Então vai precisar se acostumar.
Helena dá banho em Vitória enquanto faço um arroz com bife e uma
saladinha de tomate, modéstia parte meu bife é bom. Fui obrigado a aprender
a me virar no tempo em que estive fora, era isso, ou viver a base de enlatados
e Fast Food. Em um clima agradável jantamos, Vitória estava cansada da aula
de natação e não demorou a dormir. Coloquei-a na cama de Helena já que o
apartamento só tinha um quarto, então ela dormiria conosco.
Helena se negou a ficar em minha casa, então me convidei para vir dormir no
apartamento dela, mas sou obrigado a concordar que não deveria estar tirando
meu anjo de sua rotina. É mais saudável para o seu desenvolvimento ser
independente desde já e ter seu espaço. Não sei como, mas daria um jeito de
trazer Helena conosco e em um caso extremo alugo um apartamento.
Volto para o sofá onde Helena está sentada com a TV ligada e mesmo
olhando para o seriado que passa, sinto ela distante. Sento ao seu lado, a
abraço e dou um beijo em seu pescoço, ela sorri, mas seu sorriso não chega
aos olhos.
—Tudo bem amor? —Pergunto e posso ver suas “engrenagens funcionando”.
—Na verdade, eu queria saber se com você está tudo bem. —Escuto sua
pergunta, que mais pareceu uma afirmação. —Você estava distante o dia
todo, eu fiz alguma coisa?
—Você não fez nada. —Respondo sem saber o que dizer.
—O que é isso Juan? —Faz um gesto com as mãos indicando nós dois. —Sua
filha está dormindo na minha cama. Ela é uma criança, eu não quero que ela
sofra e também não quero sofrer.
—Helena, eu estive preocupado com algumas coisas, não vamos entrar nesse
assunto agora. —Passo a mão no cabelo sem saber se fiz certo em não contar
a verdade a ela. —Também não quero que ninguém sofra, eu entendo que se
sinta insegura. Tudo aconteceu de repente e isso tudo também é novidade
para mim.
Ela suspira e abaixa o rosto olhando para as mãos sobre as pernas cruzadas
no sofá.
—Eu gosto muito de você, quero ficar com você. Vamos rotular isso como
um namoro, e vamos viver um dia de cada vez. —Mal sabe ela que não tem
mais como fugir de mim. —Falando em namoro queria conhecer seus pais,
você nunca fala sobre eles. —Sinto seu corpo tensionar com a minha
pergunta.
—Minha mãe morreu quando tinha 15 anos.
—Sinto muito amor, deve ter sido difícil. —Penso que minha filha também
não tem mãe, não uma que ligue para sua existência pelo menos.
—Foi... eu tive o apoio do meu irmão, ele me ajudou muito.
—E seu pai? —Ela me olha e a frieza ao mencionar o homem é nítida em sua
voz.
—Tem Alzheimer.
—Meu Deus Helena, sinto muito, podem...
—Não sinta. —Dito isso, ela se senta no meu colo, com uma perna de cada
lado, animando minha cabeça de baixo. —Me promete que vai ser
transparente comigo, vamos ser sinceros um com o outro.
Só assinto com a cabeça e a vejo sorrir em resposta, me sentindo um filho da
puta por já começar errando.
—Agora quero tentar algo. —Me dá um selinho e sai do meu colo se
ajoelhando no chão no meio das minhas pernas.
Ela não vai fazer o que eu acho que vai.
Ela puxa minha bermuda com cueca junto e sem cerimônia cai de boca no
meu pau.
Puta que pariu!
PUTA QUE PARIU!
Ela engole meu pau com vontade, enquanto massageia meu saco com uma
das mãos. Essas sensações misturadas com a visão de sobe e desce de sua
boca sobre meu pau me deixam louco. Como se isso não fosse o suficiente,
ela tira tudo da boca, deixa lambidas da base até em cima e chupa a ponta
sugando a cabeça.
Caralho!
Faço um rabo em seu cabelo com a minha mão e a ajudo nos movimentos de
vai e vem. Começo a sentir que estou perto e inclino meus quadris em sua
direção intensificando as sensações, solto seu cabelo.
—Deixa eu gozar nos seus seios amor. —Sem para de me chupar, ela faz
sinal de negativo.
O fato de saber que ela quer engolir minha porra, é minha perdição! Gozo
gostoso em sua boca, ela engole tudo e até acho engraçado o fato de fechar os
olhos como se estivesse se concentrando para não sentir o gosto.
—Papai? —Helena, pensa rápido. Pega minha bermuda e cueca e as joga em
meu colo.
—Eu vou lá, se recomponha. —Levanta em direção ao quarto, não sem antes
pegar a copo estilo abacaxi com canudo, que estava cheio de refrigerante em
cima da bancada.
Visto minha as peças de roupas, vou ao banheiro e me limpo o mais rápido
possível para estar junto das mulheres da minha vida.

Capítulo 21
Helena
—Eu sinto saudades dos nossos velhos, mas quando você queima a carne
dessa forma é que a falta do papai vem como um tapa em mim. —Clarinha
reclama para Juan.
—Não está queimada pirralha! —Ele corta a carne com certa dificuldade, por
ter passado do ponto e provavelmente estar dura, como das outras vezes.
Juan é um ótimo cozinheiro, mas quando o assunto é carne na brasa o cenário
muda totalmente de figura.
—Amor? —Me oferece os pedaços de carvão que tem dentro do prato.
Sorrio, pego por educação e por que não negaria nada a esse homem o vendo
assim, só de sunga.
Eu nunca vou me acostumar com essa visão.
Estamos juntos a um mês e meio, mas preciso admitir que parece muito mais.
Desde que Dona Judith e Dr. Afonso saíram de viajem, nós não nos
desgrudamos mais. Dormimos uma noite em meu apartamento, depois fiquei
uma noite aqui na casa deles e quando iria tentar dormir no meu apê, Juan
apareceu buscando a mim e a Jorginho pois Vitória estava com febre. A febre
era emocional e a pediatra afirmou que era falta dos avós, pois afinal de
contas até então eram seus pais.
Vitória precisou ficar de atestado da escolinha e de suas atividades, tivemos
que nos virar para conseguirmos dar conta do trabalho e da menina. Fiquei
dois dias com ela em casa, nos aproximamos muito e com a maior facilidade
do mundo, eu a amei. Mas não é simplesmente um “amor”, é um sentimento
que chega a doer. E Juan? O cara é o cretino mais fofo que poderia existir.
Sou apaixonada por ele e pelo sexo! Ele é um especialista no assunto. As
vezes transamos comigo de quatro e ele faz uma coisa lá dos deuses! Na
primeira vez achei que iria morrer, mas depois ele me explicou que essa
posição facilitava chegar ao ponto G e com os estímulos certos leva a
orgasmos múltiplos.
BENDITO SEJA O PONTO G.
Mas como nem tudo são flores, não conseguíamos fazer um “completão”
mais que duas vezes por semana. Vitória vinha dormindo muito conosco e
ainda que eu saiba que seria mais saudável ela dormir em seu quarto, era
incapaz de dizer não, a menina realmente tinha me fisgado, tanto quanto o
pai.
Na empresa tudo fluía como o esperado por Dr. Afonso. Eu e Juan realmente
fazíamos uma boa dupla e as rapidinhas em horários inusitados vinham a
calhar.
—Querem maionese? —Pergunta Clara, exibindo seu biquíni azul turquesa.
—Você quer, boneca? —Pergunto a Vitória que usa uma boia em cada braço
evitando assim de afundar, mas como não confio nesses trecos de ar me
mantenho por perto.
—Quero no pão.
—Certo princesa, vamos sair da piscina então, comemos lá fora e depois
voltamos.
Meio a contragosto ela vem comigo.
—Falta quanto pra vovó e o vovô chegarem? —Pergunta já comendo o pão
com maionese.
—Faltam duas semanas meu bem. Está com saudades? —Juan responde.
—To. —Fala com uma expressão triste.
—Não fique triste filha duas semanas passam rápido. —Juan consola a
menina.
—Eu não quero que passe rápido. —Estranho sua resposta e Juan também.
—Por que não quer que passe rápido bebê? Até ontem você estava com
saudades deles. —Pergunto limpando com o dedo seu rosto já coberto de
maionese.
—Por que quando a vovó chegar, você vai embora.
Merda!
Eu não estava pronta para ouvir isso.
Eu iria mesmo embora? Claro!
Era o que eu queria? Não, com certeza não.
Depois dessa pergunta fiquei sem saber o que dizer, mas Juan soube
contornar a situação e alegrar a menina, porém foi nítido sua mudança de
humor, Vitória com sua ingenuidade de criança sabia como afetar a todos,
atingindo diretamente ao alvo.
A noite chegou e subimos para tomar banho, enquanto Juan pedia uma pizza.
Vitória parecia ter esquecido minha futura partida e já estava animada
planejando que filme ver enquanto comíamos, logico que ela queria ver a
princesa Elza, mas consegui convencer a ver Alice no país das maravilhas,
Juan ficaria orgulhoso de mim. Vestimos um conjunto de Baby Doll, que ele
tinha comprado. Eles eram iguais, ela aceitou usar por eu ter um igual e assim
parou de dormir com o vestido azul de princesa que quase estava ganhando
vida e gritando “ME LAVE”.
Quando saímos do quarto encontramos, Maria Clara com um pote de Nutella,
e uma colher que quase não entrava no mesmo de tão grande.
—Vamos descer? Juan pediu pizza.
—Ah não cunhada, eu to de boa! Tava com vontade de comer um docinho.
—Nos oferece e negamos. —Mas a verdade é que estou morrendo de sono.
—De novo? Você dormiu a tarde inteira.
—Pra você ver, o gostosão ali em baixo tira meu coro naquela empresa, é
foda ser o auge do marketing bebê. —Rio da sua forma de falar, Maria Clara
é muito parecida com Dona Judith, elas têm um jeito peculiar de ser.
Ela joga um beijinho e entra no quarto dando uma batida na porta, que chega
a assustar Vitória. Eu até concordo que sou desastrada, mas Clarinha é
espalhafatosa e esse é seu estado normal. Descemos as escadas e quase caio
no último degrau quando vejo Juan vindo da porta só de calça de moletom
com uma pizza em mãos.
Impossível não imaginar aquelas cenas de filmes pornô barato onde o
entregador chega todo sexy com uma pizza, mas o que acaba de fato sendo o
prato principal é a sortuda que fez o pedido. No caso, ou melhor nesse caso,
sou eu. Será que um dia vou me acostumar com a beleza desse cara?
—Tudo bem, amor? —O cretino pergunta notando que fiquei o tarando.
—Estou com fome. —Ele ri, ri mesmo, ok! Ao invés de eu bancar a moça
sexy, sempre dou umas respostas idiotas e sou alvo das suas risadas.
Paciência, quer ficar comigo, vai ter que gostar de mim do jeito que eu sou.
Distribuo os pratos e talheres na mesa enquanto Juan e Vitória se fazem
cócegas rindo. Lindos, meu coração se derrete.
—Chega crianças, vamos comer. —Juan beija meu pescoço ainda rindo e
senta no outro lado mesa deixando Vitória na ponta.
—Você quer qual sabor bebê? Tem de frango, calabresa...
—Quero de calabresa mamãe!
Estaco.
Mamãe?
Mamãe.
MAMÃE!
Vitória falou com tanta naturalidade, que nem percebeu e está alheia ao meu
estado de choque. Juan pega o cortador de pizza da minha mão, põe o pedaço
de calabresa no prato da menina. Eu me sento ainda em um estado meio
transe.
—Você quer de frango primeiro né, amor? —Aceno em positivo sem tirar os
olhos da menina que roubou meu coração.
—Você ta chorando? —Devo ter encarado tanto a criança que atraí sua
atenção, mas o detalhe de estar chorando só percebo ao ouvir isso. Limpo o
rosto com as costas da mão.
—É de felicidade bebê. —Faço carinho em seu cabelo.
—Tá feliz por que nós vamu cume um monti, né? —Rio da sua inocência.
Comemos em meio a risadas, por que o Juan sabia ser palhaço quando queria.
E várias vezes me peguei pensando, no quanto seria bom se de fato fossemos
uma família. Me peguei querendo fazer parte de verdade disso tudo, de
assumir Vitória como filha e ser de Juan de papel passado.

Hoje era um daqueles dias que o cansaço vencia Vitória e toda resistência
contra o sono. Ela dormia a uns vinte minutos na cama de Juan, enquanto ele
tinha descido para pegar água e ainda não tinha voltado. Liguei a babá
eletrônica e fui em seu encontro.
Desço as escadas devagar e o vejo de pé de frente para janela, com o olhar
longe. Dou uma bela olhada naquelas costas largas antes de me aproximar,
afinal não sou de ferro. O abraço por trás chamando sua atenção, ele sorri
contido e me puxa. Ele me abraça e suspira, depois de um tempo se afasta e
segura meu rosto, olhando fixo para mim.
—Eu amo você. —Nesse momento eu juro meu coração errou as batidas. —
Por isso preciso ser franco.
Eu tentei abrir a boca e falar algo útil, mas meu cérebro não entendeu meu
comando.
—Helena, a minha filha sempre será o centro de tudo. Não sou apenas eu,
somos nós. Hoje ela te chamou de mãe e isso é uma responsabilidade imensa,
então eu vou entender...
—Cala a boca Juan. —Me imponho e corto sua fala. Toma essa cretino,
sempre faz isso comigo. Ele fica surpreso, sem ação, ponto pra mim. Ponho
minhas mãos em cima das suas.
—Você e a Vitória me trouxeram de volta a vida. Pela primeira vez, me sinto
em casa e não estou falando dessa mansão, estou falando de vocês, me sinto
em casa com vocês.
—Helena você vai poder terminar comigo se não me quiser mais, porém não
existe ex filho. Se você aceitar essa posição ela será sua para o resto da vida.
—Se você não trair minha confiança também será para o resto da vida. —Ele
ri, acaricia meu rosto e me beija.
E que beijo!
—Vamos subir e eu vou te mostrar como será tratada para sempre. —Diz
mordendo o lóbulo da minha orelha.
—Para sempre é? —Pergunto zonza sem condições de formular uma frase.
—Vou te lembrar sempre do quanto é bom ser bem comida.
É... era uma vez minha calcinha.
—Era pequeno! Mas grosso, muito grosso, não paguei boquete não, aquilo
doeria minha boca...
—Antonella por favor você já estourou minha cota de vergonhas por hoje. —
Falo quando o coitado do vendedor de churros nos olha chocado.
—Não ligue não tiozinho, essa aí tem fogo no rabo. —Renan diz e aponta
para Antonella. —Já a outra ali se faz de santa, mas adora sentar no chefe.
A meu Deus!
Disfarçadamente me afasto deles comendo meu churros e indo até o banco
mais próximo ao carinho em que ainda estão esperando suas bombas de
açúcar. Gargalho vendo de longe a cara de apavorado do vendedor de
churros, se atrapalhando todo ao rechear o doce, na esperança de se livrar
mais rápido dos dois malucos que os aguardam. Pego meu celular que não
para de vibrar, Juan.
—Oi. —Digo sorrindo como se ele pudesse me ver.
—Onde você está? —Sinto uma certa apreensão em sua voz.
—Estou a umas duas ruas da empresa, aconteceu algo?
—Não! Claro que não! O que você acha ir ver Vitória no balé? Ela adora
quando você vai olhar a aula... e bom, depois vocês podiam dar uma volta no
shopping e levar algo para jantarmos. —Se atropela em meio a palavras e
acho essa atitude bem estranha.
—Comida para jantarmos? Juan não são nem uma e meia da tarde!
—O balé não acaba as quatro? Então passem no shopping vejam um filme e
comprem hambúrguer ou Sushi.
—Já comemos pizza ontem Vitória precisa se alimentar direito.
—Hoje é uma exceção, Helena. —Suspira. —Te amo amor, vocês duas são
tudo pra mim.
—Juan. Vou perguntar mais uma vez, aconteceu algo?
—Não. Nos falamos a noite.
Tiro o celular do ouvido, olhando para a tela tentando entender sua reação.
—Tudo bem gata? —Olho para Antonella.
—Não sei, Juan ligou me pedindo para ir ver a aula de balé da Vitória e
depois levá-la ao shopping.
—Garota, tens o cu virado pra lua mesmo. —Dá um tapa na barriga de
Renan. —Sortuda da porra, né?
Nós três rimos, mas fico cismada com a atitude de Juan.

—Você é mãe da Vitória? Sempre conversávamos com sua sogra, ela é uma
comédia. —Sorrio para uma mulher loira baixinha que deve ser mãe de
alguma das colegas de balé de Vitória.
—Dona Judith é mesmo muito divertida. —Oculto a parte de não ser a mãe
da menina, pois esse "não" me incomoda. Ela é como uma filha e desde
ontem no jantar vem me chamando de mãe, sem ser cobrada, de forma
espontânea.
A aula acaba e eu me junto ao restante das mulheres, em uma salva de palmas
a essas pequenas artistas, mas com certeza Vitória é de longe a melhor.
—Mamãe! —Ela corre e me abraça e meu coração volta a errar as batidas.
—Oi meu amor! —Beijo seu rostinho lindo. —Hoje vamos ao shopping,
vamos ter uma tarde de meninas, o que acha?
—A gente pode brincar de dirigir?
—Claro princesa. Vamos trocar de roupa agora.
—Mas eu queria tanto ir assim. —Olho sua roupinha linda de bailarina e não
vejo mal algum.
—Sim pode ir, porém vamos botar outro calçado.
Pego as bolsas de Vitória, calço sua botinha e vamos até o motorista que nos
aguarda em frente a Academy in Rose. É estranho ter alguém a sua disposição
para dirigir, ainda não me acostumei com essas regalias, pois ainda que
morem em uma mansão e tenham um padrão de vida diferenciado, o jeito
como agem é comum. Já no carro me dou conta que esqueci meu casaco na
empresa e levando em conta a temperatura do ar condicionado dentro do
cinema sei que se não ir buscar vou ter que compra um, a menos que queira
congelar.
—Seu Jorge, o senhor pode passar na D'Laurentes antes de irmos ao cinema?
Preciso pegar meu casaco. —Era bem estranho conhecer um Jorge humano.
—Claro senhora.
Um tempo depois chegamos à empresa e Vitória faz questão de descer
comigo para se exibir em sua roupa de bailarina. Somos alvos de vários
olhares, o povo fofoqueiro já notou que Juan e eu estamos juntos e as teorias
foram muitas, apenas ignorei a tudo, como faço agora com os olhares. Já
Vitória, acena pra todo mundo e sorri como a princesa que é.
Chegamos na recepção e quando Renan me vê fica visivelmente nervoso,
então seu olhar desce para Vitória, ele levanta e a pega no colo girando no ar,
arrancando risadas da pequena.
—Onde você vai, Helena?
—Vou pegar meu casaco. —Ele respira fundo e desvia os olhos para Vitória
em seu colo.
—Vamos ver a belinha no aquário?
—Vamos! —Ele dá um beijo em meu rosto e saí com Vitória em direção ao
aquário para mostrar a tartaruga que Dona Arminda batizou de belinha.
Chego em minha mesa e ouço vozes vindas da sala de Juan. Chego mais
perto.
—Querido não se faça de sonso! Eu vi como você me olhou aquela noite, eu
sei que você sente minha falta.
— Gabriela, esse é meu local de trabalho, já conversamos o que tínhamos pra
conversar, então por favor se retire. —Já vi esse nome, acho que em ligações
no celular dele.
—Você sente saudades do que éramos, eu sei que sente.
Ele não responde e eu congelo, mas meu estado de inércia dura pouco quando
me dou conta do que pode estar acontecendo dentro dessa sala.
Abro a porta e não gosto nada da cena que vejo! Raiva e decepção tomam
conta de mim.
—Helena, pelo amor de Deus, não pense besteira.
Tarde demais para explicações.

Capítulo 22

Juan
—Entra. —Digo ao ouvir batidas na porta e mesmo sem entrar já sei quem é.
Helena, ela vem sendo um dos motivos dos meus sorrisos. Já conheço seu
modo de se vestir, se portar, seus tiques nervosos, suas manias e até a forma
como bate na porta antes de entrar. Desde que meus pais partiram em viagem
eu a roubei pra mim. Ainda que a menos de dois meses juntos construímos
um relacionamento sólido.
Eu a amo, amo muito.
Não posso dizer que foi amor à primeira vista, até por que quando nos vimos
pela primeira vez ela teve a audácia de não segurar o elevador e de peidar
nele. Até me contou uma história de ter pisado na merda do Jorginho, a qual
não acreditei claro! E cada vez que esse assunto surgia, ela ficava furiosa
dizendo que era azarada. Ela realmente tinha sua parcela de azar, como no dia
em que foi encher a banheira e não tinha conseguido fechar o registro,
quando subi com a garrafa de vinho e as taças já tinha água até no quarto. Ela
se desculpou inúmeras vezes e eu tive que rir de toda situação.
—Só vim para avisar que vou almoçar com Antonella e Renan. —Afasto
minha cadeira e dou duas batidinhas na minha perna.
—A não Juan, agora não. —Rio da sua mente pervertida.
—Senta aqui amor e não se preocupe vou continuar vestido. —Ela morde a
parte interna da bochecha e vem em minha direção sentando em meu colo.
—Já disse que você está linda hoje? —Digo beijando seu ombro nu.
—Já. —Controlo a vontade de rir por que qualquer mulher flertaria de volta,
mas minha Helena não é qualquer uma.
—Faz bem em ir almoçar com seus amigos, porém quero um beijo antes. —
Ela volta a morder a parte interna na bochecha e me dá um selinho, sorrio
com seus lábios nos meus e quando ela vai se afastar seguro em sua cintura
tomando seus lábios.
Subo uma das minhas mão até seus cabelos aprofundando o beijo, Helena
geme e me puxa pela lapela do terno como se isso nos aproximasse ainda
mais, desço minha mão que até então estava em sua cintura para a parte
interna de sua coxa, tem sorte de não estar de vestido pois eu invadiria sua
boceta que tenho certeza que está pronta para mim, sem pudor algum.
Acaricio meu play ground de leve por cima da calça, mordo seu lábio e
quebro o beijo.
—Isso é um beijo de verdade amor. —Ela suspira e logo se recupera pulando
do meu colo de forma desajeitada.
—Ok. Volto logo. —Sai alisando a blusa.
Rindo, volto a revisar o relatório que irei apresentar na reunião da tarde com
os fornecedores. Uns quarenta minutos mais tarde meu celular toca,
Guilherme. Com certeza perdeu a hora de almoçar e quer que eu saia para
comer algo com ele o que não me parece uma má ideia, já que minha reunião
começa apenas as três horas.
—Oi cara, já imagino o motivo da ligação.
—Então ela te ligou? —Estranho seu tom de voz.
—Ela quem Guilherme? —Pergunto já temendo na resposta.
—Gabriela. Ela disse que tenta falar com você há dias e está indo para a
empresa Juan. —Fecho os olhos buscando calma. —Te aconselho a chamar
Dr. Jardas, não atenda ela sem ele estar junto com você.
—Vou chamar, ele começo no jurídico essa semana e vai participar de uma
reunião comigo a tarde então deve estar por aqui.
—Eu estou no interior fazendo visita a uma obra, se precisar me ligue.
—Obrigada cara. —Desligo o celular e me levanto pensando rápido.
Olho o relógio e são uma e meia, Helena deve estar voltando do almoço, mas
eu realmente não quero que ela encontre Gabriela. A atitude mais inteligente
a tomar é pedir para ficar com Vitória e com calma contar toda situação para
ela a noite em casa. Ligo para ela no modo automático e não sei se o fato de
estar omitindo algo dela me deixou cismado, mas posso jurar que ficou
desconfiada com minha ligação. Ligo para o ramal de Jardas e peço para que
venha para minha sala, não quero ficar um minuto sozinho com Gabriela, a
mulher é louca e sabe lá o que é capaz de fazer.
Meia hora depois, Jardas já está comigo em minha sala. Foi uma ótima
escolha contratá-lo, ele é um cara centrado, sério e extremamente inteligente.
—Pois eu entro quando eu quiser! —Ouvimos os gritos e logo Gabriela surge
na porta a abrindo de forma abrupta. —Oi querido, seu subalterno queria me
anunciar, mas eu disse que não era preciso.
Vejo Renan engolir vários xingamentos que seriam muito bem-vindos a ela e
ao mesmo tempo lembro que é um dos amigos de Helena e que esse olhar
mortal não é só para a garota, mas para mim também.
—Renan é um ótimo colaborador Gabriela, todos devem ser anunciados, a
não ser que sejam íntimos meus, o que não é seu caso. —Não sei pra quem
digo essa frase, se mais para a pilantra em minha frente, ou para o amigo de
minha namorada. —Obrigado Renan, por favor não deixe que ninguém entre.
—Certo Doutor. —Fala com uma sobrancelha arqueada, eu não sei ao certo o
que isso significa, mas com certeza é algo com 'você está fodido', merda!
A loira olha para Jardas e ri irônica.
—Seu primo é rápido, ele conseguiu em meia hora o que venho tentando há
dias, falar com você. —Fala se sentando na poltrona como se fosse a Rainha
da Inglaterra.
—Esse é Jardas, meu advogado. O que você quer Gabriela?
—Quero conhecer a menina, eu tenho curiosidade de saber como ela é, a
criança saio de mim Juan!
—Pelo amor Deus Gabriela! Você fala de Vitória como se ela fosse um lugar
que você tem “curiosidade de conhecer”. —Respiro fundo. —Esse é o
momento, o que exatamente você quer? —Ela estreita os olhos.
—Quero conhecer a criança. Não estou pedindo para ser apresentada como
mãe, mas quero conhecer a menina, deixamos o resto por conta do tempo.
—Por conta do tempo? Mas que porra é essa? —Perco a paciência.
—Dr. Juan, por favor não se altere. —Jardas se pronuncia com uma calma
inescapável. —Gabriela, se você quer conhecer a criança podemos fazer um
acordo...
—Não tem porra nenhuma de acordo, caralho! —Levanto descontente com o
rumo da conversa.
—Não queremos que isso se torne litigioso certo? —Jardas tenta recuperar
meu juízo, desvia os olhos para Gabriela —Dê um tempo para conversarmos
e então entraremos em contato para acertar como faremos, Dr. Juan precisa
de tempo, afinal estamos falando de uma criança.
—Certo. Pode nos dar licença agora? Preciso conversar com Juan em
particular. —Jardas olha para mim e apenas aceno em concordância, se isso
vai fazer com que vá embora logo, que seja.
Jardas se retira e eu volto a me sentar cansado e frustrado com toda conversa.
—Gabriela por favor, seja rápida.
—Tenho saudades de nós dois juntos. —Ah puta merda!
—Se dê ao respeito e vá embora.
—Querido não se faça de sonso! Eu vi como você me olhou aquela noite, eu
sei que você sente minha falta.
—Gabriela, esse é meu local de trabalho, já conversamos o que tínhamos pra
conversar, então por favor se retire. —Peço exausto de toda essa conversa,
me apoio na mesa segurando meu rosto entre minhas mãos sentindo uma
latejar de dor por conta de toda a tensão.
—Você sente saudades do que éramos... —Vejo um movimento e quando
levanto o rosto vejo a maluca debruçada sobre a mesa a centímetros de mim.
Quando vou tomar uma atitude a porta se abre e Helena olha a cena em
choque.
Eu não nasci, fui cagado, por que não tem outra explicação.
Quando na vida, essa porra de coincidência aconteceria?
Me levanto na velocidade da luz, tomando uma distância segura da maluca
loira.
—Helena, pelo amor de Deus não pense besteira. —Ela continua sem falar
nada olhando de mim para Gabriela.
Gabriela sagaz como ninguém percebe a tensão no ar.
Ela chega perto de Helena, que a olha sem expressão de raiva, na verdade
nem para mim olhou com raiva e isso me faz temer sua reação.
—Prazer, Gabriela, o primeiro amor de Juan.
Helena franze a testa, arregala os olhos e começa a analisar as feições de
Gabriela, nem tenho tempo de terminar de falar nada.
—Mamãe! —Sou obrigado a me apoiar na mesa, por que quando o destino
decide aprontar, ele não fode com nossa vida, ele “arromba” de uma vez.
Vitória põe as mãozinhas nas pernas de Helena. Vejo Renan perto de minha
filha, respirando com dificuldade certamente por ter corrido atrás da pequena.
—Eu posso levar a belinha pra casa? —Helena olha de Vitória para Gabriela,
como se esperasse alguma confirmação por parte da mulher, que acontece.
—Ela é a sua cara Juan. —Continuo tonto com toda situação, sem saber o
que fazer. —Oi Vitória, você é a cara do seu pai. —Gabriela diz se abaixando
em frente a menina e Helena vira um touro bravo na hora pegando Vitória no
colo.
—Conversamos sobre a belinha depois, tudo bem bebê? —Diz segurando
firme Vitória em seus braços.
—Você faz balé criança? O dom artístico está no sangue. —Diz a maluca a
minha filha, que não responde e se agarra ao pescoço de Helena. Obrigada
por essa, meu anjo. Ela cochicha algo no ouvido de Helena, que ri do que
ouve.
—Dê tchau ao seu pai, amor. —Minha namorada diz para minha filha sem
me olhar.
—Vuxê não vai com a zente, papai? —Diz tirando o rostinho do vão do
pescoço de Helena para me olhar. Helena nem me deixa responder.
—Ele não vai. —Vitória me manda um beijo e elas somem de minhas vistas.
Fico olhando para a porta tentando medir as consequências do que aconteceu
aqui.
Renan pigarreia e então me dou conta de que a maluca ainda está aqui e ele
também.
—O que ainda faz aqui Gabriela? —Pergunto indignado.
—Sua namorada parece uma boa mãe.
—No que depender de mim, será esposa em pouco tempo. —Ela arqueia a
sobrancelha e ri sarcástica. Mas que se foda. —Renan chame a segurança do
prédio, já me cansei de toda essa porra, se ela não vai sair por bem, sairá por
mal.
—Não ouse Juan! Vou sair por que já conversamos o que precisava ser dito,
até logo. —Pisca e saí rebolando, contente por ter acabado de foder com a
minha vida.
—Você tem uma reunião em 17 minutos, Doutor. —Ele fala me queimando
com os olhos.
—Ela foi apenas quem gerou Vitória, eu amo a Helena. Ela é a mulher que eu
escolhi pra mim e é a mãe que minha filha escolheu pra ela.
—Pois, eu espero que Helena te faça latir atrás dela, seu cachorro! Que ela
fique sem sentar em você por pelo menos um mês e que suas bolas fiquem
roxas! —Ele tosse e volta a postura profissional. —Com licença, Doutor.
Certo, rastejar me parece uma boa ideia.

Capítulo 23

Helena
—Mamãe, eu to com fome.
—Nós já vamos comer, amor. —Respondo controlando minha vontade de
chorar. —Vamos passar em casa e pegar umas roupas, por que hoje vamos
dormir no meu apartamento tudo bem?
—O papai também vai? —Engulo o bolo que insiste em querer sair de minha
garganta.
—Ele tem uma reunião importante, não vai conseguir chegar cedo, tá bebê?
—Beijo sua testa e ela volta a abraçar meu pescoço. E quando a porta do
elevador abre no térreo da empresa, voltamos a ser alvo dos olhares da
“Rádio D'Laurentes”.
Entro no carro, ajeito a pequena na cadeirinha, me acomodo em seu lado.
—Podemos ir no condomínio, Seu Jorge?
—Claro. —Ele me olha de esguelho e percebe algo. —Tudo bem Senhora?
—Sim. —Forço um sorriso. —Preciso pegar umas roupas, vamos dormir em
meu apartamento hoje. —Ele olha rapidamente para Vitória e não diz nada.
—Fique tranquilo Seu Jorge, eu mesma vou avisar o Dr. Juan.
O carro mal começa a andar e Vitória cochila, aproveito esse momento e
pego meu celular.
Ontem na hora que estávamos falando de amor, família, união, eu realmente
pensei que era real, que era sincero. Me tirar da empresa pra encontrar a ex
no escritório? Isso foi baixo Juan, a verdade é que não estou com raiva de
você, mas não podia estar mais decepcionada. Estou indo em sua casa pegar
roupas para Vitória e vou dormir hoje e amanhã em meu apartamento, não
se atreva a aparecer lá, ok? E mais uma, já que me deu folga hoje, estenda
ela até amanhã e se esses dias forem descontados em meu pagamento, vou
dar na sua cara!
Envio a mensagem e guardo o celular na bolsa. Pegaria as roupas de Vitória e
passaria no mercado, quase dois meses fora de casa significa geladeira vazia.

Depois de muito brincar, comer umas besteirinhas e ver desenhos, Vitória em


fim dormiu. Coisa rara de acontecer ainda mais se levarmos em consideração
que ainda não são nem dez da noite. Agradeço mentalmente ao ser superior
pois precisava de um tempo sozinha. Não consigo descrever o que eu senti ao
ver Juan e aquela mulher quase se beijando. Primeiro o choque, talvez seja
muita ingenuidade da minha parte, mas não esperava esse tipo de atitude
dele.
Um dia antes disse que me amava e no outro, mente para poder ficar com
outra no local de trabalho?
Outra. A mãe de Vitória.
Céus “poderia” ser com qualquer outra, mas não ela.
Não que eu fosse perdoar, eu realmente não perdoaria.
Tudo começa a ficar claro, ele nunca falou sobre o assunto me contando
detalhes. Me pego pensando em qual dia que ele a ficou olhando com desejo,
ele vive comigo, não consigo entender.
Depois que o choque passou veio a surpresa. Algo tipo "isso realmente está
acontecendo?"
Sim. Estava.
E logo em seguida a decepção de estar sendo traída.
Por que, no mundo, eu acreditei que isso nunca aconteceria? Logo eu, que fui
criada vendo meu pai trair minha mãe a torto e direito. Claro nem é justo
comparar o meu progenitor ao Juan. Juan é um ótimo pai e não é uma pessoa
violenta. Mas é um traidor.
Seria carma de família?
No calor do momento trouxe Vitória pra cá, eu amo a menina, mas com que
autoridade fiz isso? Ele vai me separar da criança e só de pensar isso, sinto
um aperto tão forte no peito que excede uma dor física.
Levanto do sofá e paro em frente a porta do quarto vendo a pequena
dormindo enroladinha em um canto da cama, tão frágil e indefesa. Como
pode uma mãe não conhecer a filha? Por que pelo jeito que a tal Gabriela
falou da semelhança entre a menina e Juan, ficou claro que não conhecia.
A tal Gabriela.
É linda. Linda mesmo. Tipo de tudo.
Como quem fica com uma mulher daquela, tem coragem de ficar comigo?
Ela parece ter saído de um desfile de Miss Brasil.
Eles fariam uma família linda, os três perfeitos e intocados, zero defeitos,
com a genética perfeita estilo os Cullen de Crepúsculo.
Imaginar isso só me faz chorar ainda mais.
Desolada, deprimida e acabada, decido voltar para o sofá e ligar para
Antonella. Muitas ligações perdidas em sua maioria de Juan, 28 notificações
do mesmo, 12 de Maria Clara, algumas no privado de Antonella e Renan e
326 em nosso grupo.
Como sou uma idiota abro as de Juan primeiro.
Deixa eu te explicar, foi um mal-entendido.
Eu errei, mas eu não te traí Helena pelo amor de Deus!
Eu te amo!
Não me deixa longe de vocês, por favor.
Porra Helena!
...
Leio todas e não respondo. Abro as mensagens de Maria Clara e respondo o
básico, dizendo que Vitória está bem e anexo uma foto dela dormindo.
Começo a conversar por mensagens com meus amigos querendo me matar
pelo “sumiço”, quando o interfone toca. Corro para atender antes que o
barulho acorde Vitória.
—Oi. —Digo já imaginado quem o porteiro deve ter barrado.
—Senhorita Junks, seu namorado está aqui.
—Peça para ele ir embora e se ele insistir, chame a policia.
Como assim a policia Helena? Minha própria consciência me acusa.
Desligo, mando um áudio avisando aos meus amigos que vou dormir. Me
deito ao lado da minha menina e seu cheirinho de criança me acalma, assim
que percebe minha presença se aninha em mim, com a mãozinha em minha
orelha, ela tem essa mania de ficar mexendo. Mas dessa vez só repousa ali
parada por conta do sono. Não existe calmante melhor do que o carinho e o
amor.
No horário combinado Seu Jorge estava aqui para buscar Vitória para ir à
escola mesmo contra sua vontade, aproveito a manhã para limpar a casa.
Coloco um sonzinho legal e mantenho minha mente ocupada. Perto das onze,
começo o almoço, coloco frango pra assar juntos com batatas. Faço um arroz,
e uma saladinha simples. Espremo umas laranjas e faço um suco natural para
minha menina.
Pego o celular para conferir a hora e vejo mais notificações de Juan.
Precisamos conversar Helena e pouco me importa se vai chamar a policia,
mas essa conversa vai acontecer. Então trate de avisar o porteiro que irei
hoje a noite em seu apartamento.
Respondo um ok, até por que se chamar a policia, eu é quem iria presa, por
que pegar a filha de alguém deve ser enquadrado como sequestro, não?
Aproveito meu tempo livre até a chegada de Vitória procurando no Google
sobre Gabriela, que já foi estalkeada por Renan e Antonella. Me disseram que
o sobrenome era Diniz, mas logo fui dormir e hoje não me atrevi a ler todas
as mensagens já que haviam quase oitocentas. Mas eu deveria ter aberto.
Gabriela Diniz, 26 anos, modelo internacional.
"Considerada um ícone da beleza feminina"
"Disputada entre várias marcas de grife."
"Gabriela Diniz fala com venceu o vicio."
Vicio? As batidas na porta me tiraram do meu momento FBI. Mas eu
descobriria o tal vício, ou melhor Antonella descobriria para mim, mais tarde.
—Oi amor. —Digo com Vitória em meus braços.
Agradeço a Seu Jorge que insiste em ficar por perto para o caso de
precisarmos de algo, com certeza o coitado vai ficar com a bunda quadrada
de ficar sentado no carro o dia todo, afinal tenho para nossos planos uma
tarde de meninas. Vitória e eu tomamos banho e almoçamos já arrumadas
para sair. Ela fica empolgada quando descobre que iremos em um salão e até
me conta de algumas vezes em que foi com Dona Judith.

Como eu imaginei nossa tarde foi ótima. Vitória já chegou conquistando a


todos do salão, que fizeram de tudo e mais um pouco por ela. Aparei as
pontas do cabelo, hidratei e fiz acetinagem. Já Vitória teve as unhas pintadas
em um leve tom de rosa.
Saímos do salão cheias de fome, passamos por um chuflê e comemos um mix
de churros deliciosos, com café e chantili. Um bomba de açúcar, eu
provavelmente deveria começar academia ou estaria rolando em alguns
meses.
Vitória estava bem sonolenta quando saímos do quiosque, peguei ela no colo
me equilibrando ao atravessar a rua com a bichinha no colo, levando em
consideração minha altura e falta de coordenação, era aceitável os tropeções
que tive no caminho.
—Boa tarde. —Digo ao porteiro. —O senhor pode abrir pra mim, estou meio
atrapalhada aqui. —-Mas não é ele quem responde.
—Eu abro. —Procuro o dono daquela voz sem acreditar.
—Rubens! —Sorrio para meu irmão que encara Vitória e me abraça como
consegue deixando um beijo em minha testa.
—Estava com saudade, Tisco. Desculpe não ter avisado, mas precisamos
conversar.
—Claro, vamos entrar.
Rubens me ajuda com a bolsa e ajeito Vitória em meus braços, que acorda.
—Mamãe, eu quero fazer xixi. —Beijo seus olhinhos semiabertos.
—Já estamos chegando, bebê. —Rubens estreita os olhos.
—Mamãe. —Ele afirma.
—Sim, te explico tudo depois.
Entramos no apartamento e levo Vitória ao banheiro, meio sonolenta coloco
ela na cama e ligo Frozen para que ela assista, ainda que eu saiba que em
menos de cinco minutos vai estar dormindo de novo.
Volto pra sala e sirvo um café para Rubens.
—Então a menina? —Ele quebra o silêncio.
—Filha do meu namorado. —Ele volta a estreitar os olhos. —Eu não te
contei por que aconteceu tudo muito rápido. Estamos juntos a dois meses,
Vitória é filha dele... ela me chama de mãe e sinto como se realmente fosse
minha. —Respiro fundo criando coragem para perguntar, já temendo a
resposta. —É ótimo ter você aqui, mas eu sei que não sairia da fazenda se não
fosse importante. Então qual o real motivo da visita?
—Não vou fazer rodeios, Helena. Nosso pai está em fase terminal, a doença
avançou muito. Ele quer falar com você.
Nem penso antes de responder.
—Não vai acontecer Rubens. —Levanto indo até a geladeira para pegar um
suco.
—Ei. —Rubens segura meu braço. —Você precisa se libertar, essa conversa
é essencial para que você ponha uma pedra sobre o passado, Helena.
Ninguém vive o novo, se não deixar o velho para trás.
Abraço meu irmão deixando o peso da minha infância e das últimas vinte e
quatro horas desabar, me sentindo acolhida e até segura em seus braços.
—Mas que porra é essa, Helena? —Saio dos braços de Rubens atordoada,
claro Juan tinha uma chave, com duas sacolas em mãos e uma expressão que
nunca tinha visto.
—Olha o jeito que você fala com ela, play boy! —Rubens entra em modo
irmão mais velho e me vejo em meio a cova dos leões.
—Tire as mãos de cima dela, seu filho da puta!
E então a confusão começou.
Capítulo 24

Juan
Uma merda. Essa era a forma que define como me sinto.
A reunião foi boa, graças a Jarbas que ministrou com maestria uma
negociação que deveria ter sida feita por mim, mas eu estava muito ocupado
pensando em tudo que tinha acontecido. O fato de eu ser um idiota e esconder
da Helena sobre a aproximação de Gabriela chega a ser ridículo. Quem em sã
consciência ocultava verdades achando que isso era a melhor solução? Com
certeza o babaca aqui.
Quando perdi as duas de visão, meu mundo saiu de orbita e desde então sou
uma repetição de movimentos incoerentes e atitudes impensadas. Vir pra
casa, entrar no quarto e não ter as risadas de Vitória, as ações sem
coordenação de Helena me deixaram sem chão. É como se um buraco negro
se abrisse diante de mim e não me engolisse, me torturando por ser um burro.
No calor do momento, fui até o prédio de Helena, mesmo ela pedindo espaço
também não foi uma boa ideia. Quando o porteiro disse que se insistisse em
tentar entrar, chamaria a polícia com a autorização de Helena, me senti um
moleque como a quase cinco anos atrás. E pensando na empresa, no cargo
que tenho e a posição social que exerço na empresa, botei o rabo entre as
pernas e vim embora.
Ao chegar em casa me sentindo um bosta, precisei enfrentar o passado e por
consequência a abstinência. Ainda que limpo, a vontade de jogar tudo pro
alto e me entregar ao desejo de dar um tapa foi absurda.
Quem sabe uma taça de vinho?
Uma dose whisky seria bem vinda.
Lembro de todas as vezes que as pessoas bebiam a minha volta e do quanto
isso era desconfortável no inicio. De como apreendi a controlar meus
impulsos, de como foi difícil retomar o controle das coisas. Da forma que o
álcool deixou de ser um escape para as frustrações do dia a dia.
Respiro fundo.
Uma, duas, três vezes.
Mando mensagem pra Helena.
Ela não visualiza.
5 minutos depois e nada.
Minha ansiedade aumenta.
Eu bebo casualmente, aprendi a não usar a bebida como consolo, não uso
mais drogas.
Então, por que não?
Não uso drogas a muito tempo.
Estou limpo.
Começo a suar sentindo o nervosismo e o desespero me invadir.
O desconforto em minha garganta indica a ânsia de vômito chegando.
Sinto meu coração acelerado e os tremores começam a tomar conta de mim.
Ela me deixou e levou minha filha junto.
Perco a força nas pernas me ajoelhando no chão.
Seguro minha cabeça tentando evitar que a tontura me vença.
Falta de ar.
—Juan? —Escuto ao longe. —JUAN! CARALHO JUAN, OLHA PRA
MIM.
Maria Clara se ajoelha diante de mim, tira minhas mãos de meu rosto
substituindo pelas suas.
—Olha para mim, mano.
Meu coração dá pulos e sinto um aperto tão forte, como se o próprio quisesse
sair de dentro de mim. Ela pega minhas mãos e põe em meu peito.
—Inspire mano, inspire comigo.
Sigo suas intrusões com a visão embaçada pela tontura.
—Solte Juan.
Vou seguindo suas instruções e aos poucos a realidade vem voltando.
Meu corpo volta a reagir aos meus comandos e a sensação de morte eminente
já não me consome. Minha irmã sorri para mim e ao ver suas lagrimas,
percebo que também estou chorando.
—Desculpa. —Peço com a voz rouca em função da crise.
—Ta tudo bem mano.
Ela me abraça forte.
—Já passou está tudo bem. —Ela me ajuda a sentar e só então percebo o
quanto estou sem forças.
—Você já comeu?
—Não...
—Consegue ficar uns minutinhos sozinho?
Aceno em afirmativo, ela vai até a cozinha e uns minutos depois volta com
dois sanduíches, uma jarra de suco e dois copos. Me dá um sanduíche e senta
ao meu lado comendo o outro. Olho para o sanduíche em minhas mãos.
—Coma Juan, isso não é um pedido. —Olho para sua feição de leoa, muito
parecida com a de minha mãe e começo a comer.
Ficamos em silencio por um tempo, até Maria Clara decidir quebrá-lo.
—Você usou drogas? —Pergunta quase em um sussurro.
—Não. Mas eu quis.
—Certo. —Ela suspira e olha para as próprias mãos. —Foi uma crise de
ansiedade. —Ela afirma para si mesma, levanta os olhos até mim. —O que
aconteceu?
—Gabriela vem me cercando. —Encosto a cabeça nas costas do sofá. —Eu
não contei a Helena, ela nos pegou em uma situação que parecia
comprometedora. Foi embora. Vitória foi com ela.
—Vocês terminaram?
—Eu espero que não Clarinha, eu realmente espero que não. —Fecho os
olhos respirando fundo.
—Ela não foi embora Juan, só está magoada, tudo vai se ajeitar. —Ela me
abraça de lado. —O que acha de fazermos uma pizza como quando éramos
pequenos?
—Não to afim Clarinha...
—Ah por favor! Há quanto tempo não fazemos nada sozinhos? —Faz aquela
cara de gato de botas e me vence.
—Ponha mais força nesse braço, garoto! —Minha mãe retruca através da tela
do computador.
Maria Clara teve a brilhante ideia de ligar para nossos pais e termos uma
noite em família, via skype, quando digo que minha família não regula bem,
algumas pessoas ainda duvidam. Algum tempo depois comemos a pizza
daqui e eles comem uma também de lá e me orgulho em dizer que a nossa
parece muita mais gostosa.
—Pois quando eu voltar, vou dar é umas tamancadas naquela loira aguada!
Vai aprender a ser mulher de verdade e honrar a pomba que tem! —Dona
Judith diz.
—Mas esse é um ditado que se diz “honrar o que tem no meio das pernas” e
se usa para homens, não é? —Meu pai comete o erro de tentar corrigir ela.
—E eu lá sou mulher de ditados, Afonso? Sou mulher de fatos! E o fato é que
essa filha de uma égua não me desce!
—Mãe, vamos ser racionais... —Levo um peteleco na cabeça.
—Pois, eu ajudo a senhora, mãe! Vamos mostrar a essa garota a força do
nosso punho!
—Ta assistindo muito Os Vingadores, pirralha. —Gargalho e papai me
acompanha.
O resto do "jantar" ocorre em nosso "normal".
Helena responde a uma das mensagens de Maria Clara e envia uma foto de
Vitória dormindo, o pensamento de que ainda que longe de mim, estão
seguras faz com que eu também consiga dormir.
Passo em Sushi, compro o macarrão yakisoba que Vitória adora e sushis, os
preferidos de Helena. Além de deixar elas felizes com a comida, o fato de ter
o que segurar me deixa tranquilo, as sacolas são minha muleta. Caso
contrário estaria gelado e suando. Na verdade isso já estou.
Como uma mulher de um metro e meio consegue deixar um cara de quase
um metro e noventa nervoso dessa forma? Não sei, só Deus sabe.
Os instantes seguintes são uma sucessão de fatos.
Um homem abraçando Helena.
Um empurrão.
Um soco.
Sushi e Yakisoba pelo chão.
Helena gritando.
Vitória chorando.
Vitória chorando.
Desvio minha atenção do cara em cima de mim e vejo Helena amparando
minha filha nos braços que chora desesperada por ver a briga.
—Ta tudo bem bebê, tudo bem.
—Limpem tudo agora —Olho vencedor para o desgraçado em cima de mim.
—Limpem tudo agora, vocês dois! —Volto a olhar Helena chocado, mas ao
ver suas pupilas dilatadas e seu nariz inflamando, lembrando de um touro
brabo fico quieto.
Antes de entrar no quarto, ela olha para trás.
—Aproveitem para se conhecer. Juan, ele é o Rubens meu irmão.
Irmão.
IRMÃO!
—Rubens esse é Juan, meu namorado.
Olho para meu então cunhado pensando na má impressão que causei, volto
meus olhos ao quarto e vejo a porta fechada.
Fiz minha filha chorar.
Essa constatação é o suficiente pra acabar com o pouco de confiança que
tinha em mim mesmo.

Capítulo 25

Helena
—Ta tudo bem, bebê. —Beijo testa de Vitória que soluça por presenciar o pai
apanhar.
Se fosse em outro momento, a cena seria engraçada, já que Rubens é um
homem xucro da fazenda estilo macho alfa, é claro que Juan levaria a pior.
Afasto os cabelos de sua testa suada por conta do sono ela soluça, mas sem
chorar.
—Tudo bem? Mais calminha? —Ela acena em sinal afirmativo.
—Vamos tomar água? —Abro a porta com a pequena ainda no colo.
Vejo Juan jogando os restos de sushi no lixo e Rubens passando um pano,
que por sinal nem era de chão.
—Só achei esse pano Tisco. —Faz uma cara de culpado.
—Tudo bem, nada que um alvejante não limpe.
—Filha? —Juan chega perto devagar com receio. Vitória se joga no colo
dele. —Tudo bem, minha princesa? —Ele diz beijando e a apertando como se
não visse a menina há anos e eu sinto uma leve culpa por tê-los separado na
noite passada.
Percebo um corte em cima da sua sobrancelha.
—Vou pegar a malinha de remédios, você tá com um corte feio.
Vou ao banheiro e quando volto vejo Rubens encostado na marquise da
janela olhando a forma que Juan trata a filha, eu sabia o tamanho da vontade
de Rubens ser pai, ainda que o nosso tenha sido um merda.
—Bebê, posso fazer o curativo no papai? —Ela faz uma carinha manhosa de
quem não quer sair do colo.
—Vitória, né? —Rubens diz ao se aproximar. —Vamos ver o que a Helena
tem de bom na geladeira? —Olho para Juan que estreita os olhos para meu
irmão, mas ao perceber que eu o observo fingi estar tudo bem.
Toma essa cretino, sambe conforme minha música agora!
—Princesa, o titio Rubens pode fazer uns sanduíches, mas você precisa
ensinar ele. —Ela sorri como a mini cretina que é, falou em brincadeiras que
ela possa mandar, a bichinha já se anima.
Ele estende uma mão em sua direção, mas a espertinha joga os dois bracinhos
em sua direção mostrando querer ir no colo, ele sorri e a pega, indo em
direção a cozinha. Volto a olhar pra Juan que tem uma cara de cachorro que
caiu da mudança, trato de botar a expressão mais séria que eu tenho no rosto
mostrando que ainda não o perdoei. Chego perto ficando de pé em sua frente,
entre suas pernas, ele logo trata de pôr a mão atrás das minhas coxas e dou
um tapa bem dado em sua mão.
—Nós estamos bem? —Perguntou o filho da mãe tentando me seduzir com
esses lindos olhos azuis.
—Levando em consideração que você mentiu para mim para ver aquele
projeto de girafa, até que estamos bem. —Ele ri e eu aperto a gaze no corte.
—Ai! Caralho, Helena. —Diz tentando afastar o rosto. Abaixo o meu de
forma que nossos olhos fiquem na mesma altura.
—Cale a boca Juan, por que eu estou uma pilha de nervos, posso não ter
força o suficiente para quebrar sua cara, mas para chutar seu saco eu tenho
força sim!
Ele respira fundo e fica quieto, mas o silêncio dura pouco. Ainda de olhos
fechados volta a falar.
—Na noite em que fui comprar pílula para você na farmácia, encontrei com
Gabriela... —Solto de supetão seu rosto e dou um passo para trás. —Calma
Helena, encontrei por acaso, porra! —Muito a contragosto, volto a passar o
anticéptico em seu corte. Mas continuo muda. —Ela começou a mandar
mensagens quando soube que voltei para o Brasil, eu não respondi. Nos
encontramos na farmácia e ela queria ver a Vitória. —Ele segura minhas
mãos e abre os olhos. —Eu procurei um advogado, o Dr. Jardas, queria
tempo para pensar em algo... ela continuo me cercando até que ligou para
Guilherme dizendo que iria na empresa, fiquei com receio de ver vocês juntas
e acabei dando um jeito de te tirar de lá. Essa não é a melhor forma de te
contar amor, mas estou sendo sincero. Não existe nada entre eu e Gabriela.
Vejo sinceridade em suas palavras mas continuo bancando a difícil.
—Eu amo você Helena, em futuro próximo quero que case comigo, que
sejamos uma família de papel passado.
Continuo firme, enquanto meu interior dá cambalhotas no ar.
—O que essa mulher quer? A guarda de Vitória? —Pergunto com medo da
resposta.
—Eu não sei, Gabriela nunca teve extinto materno, só não abortou a filha por
que meus pais pagaram para não fazer isso.
—Quero saber tudo sobre a história de vocês Juan, hoje.
—Isso significa que estamos bem? —Pergunta esperançoso.
—Isso significa que vamos conversar. —Ele sorri e eu me afasto desviando o
olhar dessa tentação ambulante.
Caminho até a cozinha vendo Vitória dar gargalhadas com Rubens, Juan vem
atrás.
—Seu irmão não precisa de cuidados também?
—Eu estou ótimo play boy, aqui é macho cara, você nem me acertou.
—Claro que eu acertei. —Juan olha para mim e seguro o riso.
—Acredite cara, não acertou. —Vejo Juan arrumar a postura, tipo galinho de
briga.
—Helena essa geladeira ta fraquinha, hein? O povo da cidade não com bem
não. Eu vou é matar um boi para que tu traga carne fresca da fazenda pra
comer. —Ele abre a geladeira. —E esses ovos? Menina, a galinha que botou
esses ovos tava é desnutrida. —Fala fazendo careta para os ovos.
—Como assim vai trazer carne da fazenda, Helena? —Juan pergunta.
—Qual é burguesinho? Ela tem compromisso na fazenda, você não se meta
não.
—Chega. Ta ficando cansativo isso, parem os dois. —Me meto desviando o
foco do assunto. Não funciona.
—Helena, você só precisa falar com o velho, do resto eu cuido, do jeito que
venho fazendo desde que você saiu para fazer faculdade e não voltou mais.
—Rubens me olha e me sinto culpada por sobrecarregá-lo. —Há não ser que
você queira voltar, aquilo tudo é nosso Helena, não meu.
De canto de olho vejo a expressão de Juan.
—Aquilo tudo o que? —Juan pergunta dessa vez diretamente para Rubens.
—A fazenda?
—As fazendas, as terras, as plantações. —Rubens me olha. —Ele não sabe,
não é?
—Não sei o que, cara? —Ele pergunta pra Rubens, mas volta a me olhar. —
O que eu não sei, Helena?
—A Helena é herdeira de um império cara, o nosso pai...
—Deu Rubens. —Solto o ar que nem percebi que estava preso. —Eu não
tenho dois quartos aqui, mas você pode dormir no sofá.
—Helena vamos para minha casa, nós precisamos conversar, lá tem o quarto
da Vitória e tem quartos sobrando para o seu irmão ficar. —Juan diz e talvez
tenha razão.
Olho para Rubens e o mesmo só dá de ombros e eu sei que ele está dizendo
que concorda com a decisão que eu tomar.
—Ok. Mas isso não significa que sua barra está limpa Juan. —Digo indo até
o quarto pegar minha bolsa e nem me incomodo em pegar roupas, pois boa
parte delas estão lá, posso ouvir meu irmão tirando saro de Juan.
Ele assovia.
—Desista cara, ela vai dormir de calça jeans hoje. —Rio baixinho e não
consigo ouvir a resposta de Juan, se é que teve uma.

—Você tem grana mesmo, hein play boy! —Diz Rubens ao entrarmos na
casa de Juan, que ri e não diz nada. —Tisco esse povo da cidade adora
esfregar o dinheiro na cara dos outros, mas na hora da comida servem uma
miséria, pelo amor do meu santo, eu to com fome de sustância, você não me
deixa passar fome não.
Gargalho e Juan me acompanha, até Vitória ri sem nem saber o por que.
—Mas que porra Juan! Te liguei várias vezes seu arrombado! Por que... —
Ela para no meio da escada e dá uma olhada de cima a baixo em Rubens,
então joga o cabelo de lado e vem caminhando como uma miss em seu
conjuntinho minúsculo de dormir. —Oi, prazer, sou Maria Clara irmã de
Juan.
Meu irmão coça ao queixo.
—Sou Rubens, irmão da Helena. —Ela aperta a mão dele e o puxa deixando
um beijo em sua bochecha.
—Cunhada você não me disse que era irmã de um cavalão desses. —Ah meu
Deus.
—Então, chega, vai por uma roupa descente Maria Clara. —Juan diz
puxando a irmã que puxa seu braço de volta.
—Pois cuide da sua namorada e não me acompanhe por que não sou novela!
—Pisca para meu irmão indo em direção a cozinha perguntando o que
pretendemos comer.
Já disse que sou fã dessa garota?
Depois do jantar Vitória literalmente apagou e todos se acomodaram em seus
quartos, tomei banho e quando voltei, Juan estava deitado na cama mexendo
no celular, ele me vê e volta a olhar para o celular.
—Propriedades Xavier, então? É o nome do seu pai?
—Não é nome do meu avô, ele era espanhol.
—Você sabe que tem muito dinheiro investido nesse monte de terra, né? —
Juan pergunta e como estamos juntos, eu quero que seja honesto comigo nada
mais justo que eu também ser.
—Sim eu sei. Eu nunca disse que era pobre.
—Mas também nunca contou que tem o futuro garantido de pelo menos duas
gerações além da sua.
—Nunca ninguém me perguntou. —Ele arqueia a sobrancelha. —Se tem uma
coisa nessa vida em que meu progenitor foi bom, foi em fazer dinheiro.
—Rubens disse que ele tem Alzheimer e que está com o pé na cova. —Diz
me sondando.
—Ele foi o cara que deu esperma para minha mãe, o cara que botou comida
na mesa, me manteve até eu aproveitar sua falta de memória e me mandar de
lá, enfim fazer uma faculdade e ser livre. —Suspiro, revivendo o que passei
naquela casa. —Ele batia na minha mãe, as vezes ela ficava dias sem
caminhar por conta das lesões. Abusava de todas as funcionárias, Rubens é
filho de Dona Clarisse, ela era cozinheira.
Ele pega minha mão entrelaçando nossos dedos.
—Ele bebia muito e até acho que usava drogas, tenho repulsa a esses vícios.
Juan fica imediatamente tenso e eu sinto o ar pesar, mas aproveito o
momento de silêncio.
—Eu li que Gabriela superou o vicio, que vicio era esse? —Ele se endireita
na cama soltando minha mão e as passando por seus cabelos.
—Cocaína. —Eu fico em choque, por que eu realmente imaginava que era
algo como distúrbios alimentares devido a sua profissão.
—Ela foi internada ou algo do tipo? —Ele se vira de lado, também me viro,
pois, tenho a impressão de que ele quer me olhar nos olhos.
—Helena, preciso que saiba separar o que eu sou de quem eu era. Consegue
fazer isso? —Aceno em afirmativo sem saber se fui sincera.
—Eu e Gabriela tivemos um relacionamento longo, no início, ela
era diferente, era um anjo. —Prendo a respiração odiando ouvir o meu
homem falar de outra mulher. —Mas então comecei a conhecer seus amigos,
ver a vida que levavam e a me envolver em tudo. Gabriela tinha um apetite
sexual... Diferenciado. Freqüentávamos casas de swing e ela gostava de ser
compartilhada. Eu não me sentia à vontade, mas fazia de tudo para que ela
não me deixasse. Então comecei a usar drogas, por que dessa forma tudo
parecia aceitável, as coisas saíram de controle e eu comecei a realmente
gostar da adrenalina que aquele estilo de vida me proporcionava. —Nem me
mexo, acho que meus nervos se resetaram ao ouvir essa história, que mais
parece um filme do que vida real. —Eu comecei a traficar balas, doces,
drogas caras em festas da alta sociedade. Gabriela começava a ser inclusa no
mundo da moda, mas então engravidou e se afundou ainda mais nas drogas
tentando obter um aborto espontâneo.
Tenho ânsia de vômito ao imaginar aquela mulher tentando abortar minha
menina.
—Eu não liguei quando soube que ela estava grávida, não fazia sentido e eu
realmente temia que a criança não fosse minha. Meus pagaram para que
Gabriela mantivesse a gravidez, Vitória nasceu e era a minha cara, mas eu
não cuidei dela por que estava mais ocupado em viver na farra. —Ele ri,
debochando de sua própria fala. —Eu fui preso em uma balada por tráfico, na
revista do meu carro acharam muita droga e duas armas ilegais. Eu não sabia
que as armas estavam lá, eram de Gabriela.
—Ela não assumiu a culpa? —Pergunto já imaginando a resposta.
—Ela fugiu no momento em que os policiais chegaram perto de mim. Liguei
pro meu pai e quando ele chegou na delegacia pude ver decepção e magoa
em seus olhos. Ele pagou uma fiança de valor absurdo, quando entramos no
carro, ele virou para mim e me perguntou onde tinha errado. Naquele
momento eu percebi que o problema era eu e o quanto todos a minha volta
sofriam.
Seguro sua mão imaginando o quanto foi difícil.
—Mudei de país, fiz uma especialização em Yale e recomecei. Vitória
merecia um pai, como o pai que eu tive. —Ele respirou fundo segurou
apertou minhas mãos e olhou em meus olhos. —Eu sou dependente
químico, Helena e estou limpo a quatro anos e dois meses. Eu vou entender
se você quiser terminar tudo, mas eu te peço uma chance de te mostrar até o
fim dos nossos dias que eu mudei.
Lembranças do meu pai vêm em minha mente e tudo que a minha mãe
passou em suas mãos em função de seu vício, são como um tapa em minha
cara.

Capítulo 26

Juan
Helena me olha e não esboça reação alguma. É como se estivesse em outra
dimensão e realmente está. Posso entender o pavor que tem do próprio pai,
lidar com uma pessoa viciada e violenta não deve ser fácil, pior ainda crescer
em um ambiente assim deve deixar traumas. A forma como ela contou a
situação me machucou. Precisei de reabilitação, freqüentei grupos de apoio
durante todo o tempo em que morei fora do país. Então me magoa a forma
como ela generalizou, mas também entendo seu lado e realmente não quero
nem pensar no fato de ela terminar comigo em função do meu passado.
—Helena, diz alguma coisa, por favor. —Seguro seu rosto trazendo seu olhar
para mim. Ela me olha, morde os lábios, segura meus ombros, sobe em meu
colo e me beija. A forma como sua língua se move com a minha transmite o
tamanho do seu amor. O jeito como se agarra em meus cabelos me mostra a
magnitude de sua angustia. E ainda que em um beijo de amor, posso sentir o
peso de uma despedida com palavras não ditas, sentimento esse que prefiro
ignorar, pelo menos agora. Pelo menos por hoje.
Deixo que ela continue no controle, com medo que caso eu faça o contrário,
ela se sinta desconfortável ou tenha medo de mim. Ela põe suas mãos em
baixo da minha camisa aranhando meu peito e logo se livrando tecido, se
afasta o suficiente pra que possa tirar a camisola ficando só de calcinha ainda
sentada em meu colo, olho para ela e contemplo o tamanho de sua beleza.
Linda.
Como pode ser tão linda?
Ela continua séria, em seu olhar vejo um misto de sentimentos. Ela empurra
minhas costas de forma que toquem o colchão e logo em seguida puxa minha
bermuda junto com a cueca. Se levanta tira a calcinha e volta para cima de
mim me beijando com sofreguidão, algo muito maior que prazer carnal. Ela
se ajeita em cima de mim e aos poucos vai me engolindo sem barreiras
alguma por conta de sua excitação.
Sempre pronta para mim.
Começa movimentos de vai e vem sem desfazer nosso contato visual. É tudo
tão intenso que sinto que não vou durar muito, mas quero ela goze comigo,
levo meu polegar até sua boceta e massageio seu clitóris, em pouco tempo a
vontade de chegar ao ápice toma conta de Helena, as reboladas se tornam
mais intensas, ela se inclina para frente apoiando seus braços sobre a cama.
Agora com movimentos rápidos, uso sua própria lubrificação para estimular
seus clitóris, Helena geme alucinada gozando e me levando junto.
Ela cai deitada em cima de mim e fico acariciando suas costas. Algum tempo
depois se ajeita ao meu lado me abraçando. Posso sentir o clima pesado, mas
não quero que esse momento dure para sempre então me calo, contemplando
a plenitude de estar dormindo com a mulher da minha vida.

Acordo com batidas na porta, abro os olhos e não vejo Helena no quarto.
Pulo da cama enrolando o lençol na cintura.
—Helena? —Pergunto.
—Claro que não, cara. —Ouço a voz de Rubens. —Acha mesmo que sua
namorada bateria na porta? Ela pediu pra te chamar para o café.
—Em cinco minutos eu desço. —Respondo mas acredito que ele já tenha
saído.
Tomo um banho rápido, escovo os dentes, me visto, quando estava saindo do
quarto meu celular toca, toco na tela, uma notificação de Gabriela.
Sinto sua falta, me ligue por favor.
Digito uma resposta pedindo a Deus que essa mulher me esqueça.
Me esquece, eu amo a Helena.
Bloqueio seu contato, se quiser algo de mim, que procure meu advogado.
Desço as escadas e quando chego perto da cozinha ouço a risada da minha
bebê, entro na cozinha e Rubens faz avião com a colher de cereal antes de dar
na boca de Vitória. Enquanto isso minha irmã baba descaradamente no meu
cunhado.
—Bom dia. —Digo chamando a atenção de todos para mim.
Deixo um beijo na testa de minha filha e do um selinho em Helena que
parece pensativa.
Por que porra eu não nasci vidente?
—Tudo bem, amor? —Pergunto falando em seu ouvido para que só ela ouça.
—Sim. —Ela sorri fraco e isso já acaba com meu dia.
Por que caralho fui me apaixonar?
Tomamos café, levamos Vitória para escola, onde Helena abraçou minha
filha muito mais que os outros dias, arrisco dizer que vi lagrimas em seus
olhos. Eu estava realmente apavorado, mas a situação piorou muito quando
deixamos Rubens em casa e ele disse que o voo deles sairia as seis da tarde.
Eu estava muito puto.
Ela viajaria sem nem me contar?
E se fosse o contrário, ela se sentiria como?
Descemos no estacionamento ainda calados, já que após o irmão falar sobre a
viagem ela não abriu a boca, o que me fez ficar ainda mais transtornado.
Porra, queria que rastejasse igual um cachorrinho?
Entramos na D'Laurentes e como sempre todo mundo nos olha, isso é bem
cansativo.
—Bom dia Juan. —Uma das meninas que aguarda o elevador me
comprimento mordendo o lábio.
—Você trabalha em que setor? —Ouço Helena respirar fundo com ciúmes.
—Recursos Humanos. —A moça diz com olhares cheios de promessas para
mim.
—Então deveria saber se portar como uma profissional, sou seu chefe me
respeite e respeite minha namorada também. —Aceno com a cabeça na
direção de Helena. —E a partir de hoje é Dr. D'Laurentes, estamos
entendidos?
—Sim senhor. —Ela fala quase em um sussurro. E o que disse fica como um
aviso silencioso para as outras presentes.
O elevador abre e eu entro ao lado de Helena. A porta se fecha e elas não
entram conosco, ótimo entenderam a mensagem, não é por que me envolvi
com alguém daqui que isso vai virar zorra. Chegamos no nosso andar e não
comprimento ninguém, tenho total consciência da minha cara azeda.
Entro na minha sala e Helena entra junto.
—Podemos conversar? —Ela pergunta na maior cara de pau.
—Ah, claro! Você vai me informar sobre sua partida? Lembrou que tem
alguém a quem deve satisfações?
—Satisfações? —Ela ri em descaso. —Se está falando na condição de
namorado, não! Eu não devo satisfações e nem sou um poste que você
precisa ficar fazendo xixi em cima para marcar território.
Arqueio a sobrancelha sem saber o que a fez ficar tão irritada.
—E se está falando na condição de chefe, saiba que estou aqui a três anos!
Então sim tenho direito de me ausentar por alguns dias. —Ela respira fundo.
–Juan, isso de você sempre tirar conclusões precipitadas e agir como um
idiota está me deixando cansada. E outra! Não fale comigo como se fosse
meu dono!
Talvez eu tenha pego pesado.
Ela continua...
—Queria que eu contasse na frente da Vitória? —Fala com a boca tremendo
e os olhos já vermelhos angustiados. —Você imagina como está minha
cabeça sabendo que vou ter que olhar de novo para a cara do homem que
matou minha mãe?
E desaba a chorar, merda!
Chego devagar perto dela com intenção de abraçá-la. Ela me olha.
—Cretino. —Mas ela mesmo me abraça, chorando ainda mais e fazendo do
meu coração pedacinhos.
—Vai dar tudo certo amor. —Digo enquanto mecho em seus fios escuros. —
Eu e Vitória podemos ir passar o fim de semana lá, o que acha?
—Não! Não quero Vitória naquele lugar. —Ela diz me olhando sério,
tentando passar a mensagem “não ouse fazer o contrário Juan”.
—Quanto tempo? —Pergunto com medo da resposta.
—Domingo eu volto, Rubens vai comprar a passagem para mim.
—Certo. —Respiro fundo sabendo que vou entrar em um campo minado. —
Sobre as coisas que te contei ontem...
—Juan. —Ela segura meu rosto. —Quando eu voltar conversamos sobre
isso.
Sem escolhas, apenas assinto a sua afirmação.
—Vou deixar tudo encaminhado com Renan, vou pedir para que te auxilie no
que for preciso. Levando em consideração que hoje é quarta feira, bom...
você vai sobreviver sem mim.
Aperto sua cintura a puxando ainda mais para mim.
—Algumas horas sem você são um castigo amor, então esses dias serão
minha penitencia pode ter certeza disso.
Ela sorri, ficando vermelha e ajeitando o cabelo que já estava impecável.
Então seu olhar muda e posso ver a onda de insegurança mista com vários
outros sentimentos.
—Eu amo você. —Ela diz e meu coração erra as batidas.
—Eu amo você, Helena e estarei te esperando. Almoçamos juntos antes de ir
para casa? —Pergunto na esperança de ter mais umas horas com ela.
—Você tem uma reunião com os acionistas, sabe que vai passar do horário e
eu preciso arrumar minhas coisas.
—Certo... passe aqui para me dar um beijo antes de ir, por favor.
Ela passou e quando se foi me senti incompleto.
Na hora de reunião fui obrigado a tentar esquecer os últimos acontecimentos
e impor respeito perante os acionistas, eles precisavam conhecer minha forma
de líderar, entender que pretendo inovar e expandir os negócios, o mercado
imobiliário era muito lucrativo, pretendo continuar o que meu pai começou.
Mas o ramo de embarcações me fascina, então assim que assumi a
presidência da empresa, busquei contatos que pudessem me ajudar a
concretizar minha ideia.
A cidade escolhida foi Balneário Camboriú, uma praia linda em Santa
Catarina, com uma economia estável, frequentada por toda alta sociedade do
Brasil incluindo grandes empresários e celebridades, o lugar perfeito para
abrirmos nosso próprio porto. O único que tem minha confiança para liderar
esse novo empreendimento é Guilherme, ele ainda não sabe, mas se mudará
em breve.
Assim que Jorge trouxe Vitória da aula de balé, a menina mal entrou em
minha sala e já perguntou pela “mamãe”. Cada vez que chama Helena assim
eu sinto um orgulho do caralho por ter escolhido a mulher certa, ainda que eu
não saiba se ela também me escolheu. Eu sou um cara inteligente, sei que ela
me ama. O que me resta saber é se vai conseguir viver com o beneficio da
dúvida, levando em conta tudo que passou que com certeza não deve ter sido
pouco.
Maria Clara e Vitória dormem nos vinte primeiros minutos do filme. Sim, no
inicio do filme, passei um trabalho enorme pra descer dois colchoes tamanho
king pelas escadas para as duas bonitas não aguentarem nem chegar a metade
do filme. Desligo a TV e vejo as duas dormindo. Dizem que Maria Clara é a
minha versão de saia, até concordo com a semelhança em nossa aparência.
Mas ela é toda nossa mãe, a garota tem resposta pra tudo, é obstinada e isso
me faz ter um puta orgulho dela. O celular vibra e corro para ver quem é, não
é Helena, mas sorrio ao ver o nome do meu pai.
—Boa noite Doutor. —Meu pai ri do outro lado da linha.
—Me respeite, moleque. —Fala bem-humorado. --Como estão as coisas
filho? Segunda estamos de volta, mas já me adianto em dizer quero férias
permanentes.
—A reunião foi um sucesso, fechamos a compra do terreno. Pretendo estar
com o porto pronto em no máximo oito meses.
—Isso é ótimo Juan. —Não posso ver, mas sei que está sorrindo. —Eu estou
orgulhoso, eu sabia que seria um grande empreendedor.
—Eu mudei pai, vou honrar a todos vocês. Isso é uma promessa.
—Nuca tive dúvidas disso Juan. —Ouço minha mãe falar. —Sua mãe quer o
celular.
—Imagino pai, nos falamos.
—Juan? —Ele chama. —Eu te amo filho.
Respiro fundo, eu sou um sortudo mesmo.
—Também te amo pai.
—Garoto que saudades que estou! —Mamãe diz e já emenda sem me dar
oportunidade de resposta. —Como estão Clarinha e Vitória? Helena já está
grávida?
—Grávida? Como assim? —Pergunto arregalando os olhos.
—Duvido que não estejam trepando como coelhos, se você for como se pai...
—MÃE! Pelo amor de Deus, tudo que eu menos quero na vida é saber sobre
a vida sexual de vocês. Clarinha e Vitória estão ótimas.
—Que bom garoto, segunda estaremos de volta, vamos fazer um bom
churrasco na brasa!
—Vamos sim, mãe. —Rio da euforia de Dona Judith. —Contei tudo a
Helena, sobre o passado e sobre Gabriela.
—Aham. —Diz com certeza já maquinando várias teorias em sua cabeça
maluca. —Como foi?
—Ela escutou, não disse nada. Parece que o pai dela tinha problemas também
e ela sofreu poucas e boas. Ela foi para a fazenda hoje, espero que a situação
se resolva e quando voltar não me de um pé na bunda.
—E você vai ficar parado como um bunda mole? —Minha mãe pergunta. —
Ache um jeito de ir até sua mulher, assuma um compromisso e mostre para
ela que não é mais um moleque.
Rio de nervoso, minha mãe tem o dom de dar as soluções mais inusitadas,
porém que sempre dão certo.
—Obrigada mãe, amo a senhora.
—Também te amo filho, esqueça o que passou e seja feliz Juan. Não quero
mais ouvir você lembrar do passado e usar isso como desculpa por ter medo
de algo. Você é mais que isso, ok?
—Ok, mãe.
—Agora vou desligar, preciso tomar mais uma margarida antes de dormir.
Boa noite filho.
—Boa noite, mãe. —Desligo rindo de sua pronuncia errada quanto ao nome
da bebida.
Sento na cadeira do escritório do Dr. Afonso pensando no que Dona Judith
falou, ela estava certa, como sempre.

Capítulo 27

Helena
—Obrigada. —Agradeço ao senhor que humildemente me cedeu seu lugar ao
lado de Rubens.
É inacreditável, como meu irmão ficou bonito, uma cópia fiel ao nosso pai,
graças a Deus só no físico mesmo. Sua mãe é negra, nosso pai branco,
Rubens é uma mistura das duas cores, já seus traços são todos do pai. Eu não
tenho nada parecido com meu progenitor sou toda a minha mãe e sou grata
por isso. Ele pega na minha mão.
—Eu sei que você está desconfortável com essa situação Tisco, mas ele tem
pouco tempo. Quero que você se resolva consigo mesma e quebre as
correntes que tem com o passado.
—Como você consegue Rubens? —Me endireito de modo que fique de lado
na poltrona do avião. —Como consegue fingir que não viu tudo que viu, que
não sofreu com tudo que ele te fez passar, sendo tratado como um qualquer?
—Como posso passar o resto da minha odiando-o, se toda vez que me olho
no espelho o vejo em mim? —Suspiro, faz sentindo.
—Entendo. —É o que respondo por que sinceramente não sei o que falar.
—Helena, não temos culpa dos erros dele. Você já imaginou o peso que
carrega nas costas? Isso até pode não fazer bem pra ele, mas para você é
muito pior.
—Eu não consigo Rubens! —Me altero, então volto a abaixar a voz. —Ele
matou minha mãe.
—O que ele fez levou a sua mãe a morte, mas se permita viver livre disso. —
Sorrio e aperto a mão de Rubens sobre a minha.
—Eu tenho sorte de ter você. —Sorrio. —Pretende continuar com a fazenda?
—Sim, mas quero investir em algo a mais. —Ele olha para a frente e o vejo
longe. —Uma pousada, um hotel... um ambiente familiar, onde as pessoas
possam sentir o ar puro do campo, possam andar a cavalo, visitar plantações,
tomar banho de rio. —Volta a me olhar. —Eu não posso apagar o que
passamos Helena, mas posso construir novas lembranças.
Fico olhando admirada, a mulher que conseguir fisgar essa fazendeiro
será uma garota de sorte.
A aeromoça começa a passar os procedimentos padrões do voo. E logo já
estamos entre as nuvens, aproveito o tempo de viagem para dormir, os
últimos dias foram tensos e o corpo cobra seu preço.

Desembarcamos em São Paulo, mas para chegarmos em Botocatu tem mais


uma viagem de carro. Faz anos que não volto para a fazenda e de acordo com
o caminho que percorremos o meu nervosismo aumenta, minhas mãos suam,
me sinto nostálgica e triste. Fecho meus olhos e lembro de Juan, de Vitória,
das nossas noites juntos com Vitória em nosso meio. Lembro dos nossos
momentos íntimos e por fim de tudo que me falou quando abriu o "jogo".
Eu amo o Juan. Muito.
Mas eu conseguiria viver conhecendo o fato de uma recaída?
Também me pergunto, eu conseguiria viver sem ele?
Vitória já é minha filha, ela está enraizada em meu coração e não há a menor
possibilidade de nos separarmos. Juan é o homem que eu amo e essa
insegurança do futuro me deixa frustrada. Ligo o celular e primeira coisa que
vejo são suas notificações.
Sinto sua falta.
Eu te amo.
Vitória está com saudades.
Volte logo para casa amor.
Sorrio com o drama, mas me sinto feliz por também estarem sentindo minha
falta.
—Mais vinte minutos no máximo e chegaremos. —Rubens chama minha
atenção. —Você quer dormir na minha casa?
—Você não mora na casa grande? —Era assim que a casa onde fui criada era
chamada, em função da diferença de tamanho entre as outras casas.
—Não Tisco, moro na cabana, lá tem dois quartos... presumo que não queria
ficar perto dele.
—Vai ser ótimo ficar na sua casa. —Sorrio para meu irmão. —Quem cuida
dele?
—Quatro enfermeiros, em turnos de doze horas. —Enrugo a testa. —Eles
trabalham doze horas e folgam trinta e seis. Já foi diferente, mas ninguém
parava, tive que quase dobrar os salários e mudar os horários.
—Imagino que ninguém pare. —Falo baixo.
—Helena, você tem que ter consciência que na maior parte do tempo ele não
sabe nem mesmo quem ele é. São poucos os momentos de lapsos de
memória, a doença está avançada.
Continuo quieta.
—Ele pediu pra te ver em um momento de lucidez, mas talvez ele não te
reconheça.
—Isso não vai ser um problema pra mim Rubens. —Ele só concorda e
encerra o assunto, melhor assim.
Algum tempo depois passamos pela pequena cidadezinha, a igrejinha, as
mercearias, tudo continua igual. Uma pequena praça com um balanço
surrado, e um escorrega desbotado. Lembranças minhas e de Rubens
brincando e correndo pela praça me vêm em mente. Então adentramos a rua
que dá acesso para fazenda, árvores e mais árvores enfeitam um cenário que
quase parece um filme.
Propiedade Xavier
Uma nova placa substitui à antiga. Rubens para em frente a porteira, logo
vejo um homem vindo com espingarda, ele cumprimenta Rubens e assim que
passamos ele a fecha.
—Continuamos com “capatazes” então? —Rubens sorri.
—Claro que sim menina da cidade. —Posso ver em seu semblante o quanto
gosta desse lugar.
—Você é o senhor feudal agora? —Pergunto.
—Eu sou o feitor, já saímos da idade média faz tampo maninha.
Gargalho com sua analogia, quem pensa que povo do campo é burro está
redondamente enganado.
De onde estamos já posso ver a grande casa toda pintada em branco, janelas
estilo capela com floreiras embutidas. Tudo extremamente conservado.
Rubens era mesmo bom no que fazia. O jardim da casa, com árvores
pequenas que não faço a mínima ideia do nome. Tudo lindo, porém triste. Ela
passa direto pela casa branca, não avançando mais que cinquenta metros até
chegarmos uma cabana de madeira sem pintura.
Desço do carro enquanto meu irmão abre o porta malas, tiramos nossas coisas
e vamos até a cabana. Meu irmão abre a porta, passo os olhos pela pequena
moradia. Tudo limpo, organizado, móveis rústicos e robustos, a cara de
Rubens.
—Sua casa é linda.
—Eu construí. —Ele sorri orgulhoso. —Os quartos são lá em cima, o seu é
bem pequeno não costumo receber visitas, desculpe.
—Não costuma receber visitas no quarto extra né? — Alfineto ele.
—Não sou assim Tisco, você sabe disso.
Olho chocada para meu irmão.
—Você continua com aquela ideia de casar virgem?
—Claro que não, Helena. —Pisca nervoso. —Só não gosto de ficar trazendo
mulheres para a minha casa, isso não é cabaré. Falando nisso, me tranquei no
quarto noite passada, sua cunhada é louca.
Gargalho alto.
—O que ela fez? —Pergunto achando graça.
—Ela ficou me encarando na mesa enquanto comíamos, quando entrei no
quarto logo tranquei a porta, assim que deitei mais tarde, vi alguém mexer na
maçaneta e me chamar baixinho.
Volto a gargalhar, Clarinha é mesmo louca.
—Então cheguei a duas conclusões ou a casa é mal-assombrada ou aquela
mulher queria me assediar. —Ele conclui sério.
—Mano você é lindo, é natural que tenha chamado atenção dela.
—Ela não me chamou atenção, não gosto desse tipo de mulher. Fala muito
palavrão, não mede nada do que diz, se insinua sem pudor... não obrigada!
Ela não faz meu tipo.
—Que pré-histórico, Rubens!
—Que seja. —Ele diz e dá de ombros.
Abri a porta do pequeno quarto, com uma cama, um “armário” com três
prateleiras e um pequeno espelho. Me acomodo, desço para o banho e em
seguida comemos uns bifes que Rubens preparou com “pirão d'água”
escaldado. Bem comida de ”vó”, comi tanto que precisei dar um tempinho
antes de ir dormir.
Antes de cair no sono mandei uma mensagem para o play boy que entrou em
minha vida para não mais sair.
Saudades, eu amo vocês.

Adoraria dizer que acordei com o som dos pássaros, com os raios de sol
invadindo as frestas da janela, mais não foi assim. Rubens deus uns três socos
na porta me fazendo quase enfartar com o barulho, aquele jeito de ogro da
fazenda, até reclamei com ele que disse que só deu umas pequenas batidinhas
e que a vida na cidade tinha me tornado fresca.
Comemos uma boa farofa de ovo feita por meu irmão, que parece se virar
muito bem na cozinha. Eu comi apenas o suficiente, não sou boba de perder a
oportunidade de pedir para a mãe de Rubens, que ainda trabalha como
cozinheira na casa grande, para fazer uma carne de panela que só ela sabe
fazer, então me contive deixando meu estomago livre para o almoço.
Já meu irmão, não sei se pela altura, ou por ser homem deve ter comido uns
seis ovos misturados a farinha e quando levantou indo para o Haras pegou
uma maçã na fruteira. Tiro a mesa, lavo as louças sujas do jantar de ontem e
do café de hoje, escovo meus dentes e decido ir falar com Dona Joaquina.
Dona Joaquina foi quase uma mãe logo após a minha morrer, eu realmente
não sei o que seria de mim se não tivesse recebido o amor que ela me deu.
Ela era luz. Uma mulher iluminada, que sempre foi apaixonada por meu pai,
mas serviu minha mãe como uma rainha a vida toda. A história é bem
complicada, eu mesma procurei não me aprofundar em tudo, só sei que
mesmo tendo seu filho rotulado como bastardo, ela me tratou como uma
princesa.
Paro na varanda da cabana e olho a casa grande a minha frente. Lembro da
minha mãe, Dona Cláudia era o troféu do meu pai. Sempre foi a esposa
perfeita para a sociedade, ainda que na maioria das noites apanhasse do
marido bêbado.
—Sua desgraçada! —Ele a acusa.
—João por favor a Helena ouviu tudo, todas as noites, não seja bom por
mim. Mas por favor seja por ela. —Minha mãe implora.
—É bom que ela apreenda desde pequena quem manda! Você é minha
propriedade, deve me servir! Tire a roupa. —Ele ordena.
—Só fique calma João, por favor...
—Você não me ouviu? —Um tapa. —Você não serve para nada seu pedaço
de merda! —Barulho de algo se chocando e em seguida quebrando.
Tampo meus ouvidos e peço a Deus que isso passe logo.
"Senhor me ajude a dormir por favor."
Minha mãe chorando.
Minha mãe gritando.
Minha mãe pedindo ajuda.
Sinto as lágrimas descerem sobre meu rosto, o gosto amargo em minha boca,
enquanto tento abafar os soluços do meu choro para que ele não ouça.
"Nunca deixe ele te ver fraca filha."
"Nunca se meta filha isso é um problema de casal."
Gritos.
Gritos.
Um tiro.
Levanto e abro a porta do meu quarto, seguindo adiante no corredor, a porta
do quarto dos meus pais aberta...
Minha mãe deitada ao lado da cômoda desmaiada, sangue, muito sangue...
Meu pai gemendo sentado na cama segurando uma das pernas que não
parava de sangrar...
Rubens em meio a eles apavorado e a sua frente uma arma no chão.
Grito chamando sua atenção, ele me olha e logo desperta do transe, me
carrega no colo contra minha vontade, me deixa com sua mãe, que me
afirma que tudo ficara bem, enquanto ele sai à procura de ajuda.
Me sento na poltrona da varanda sentindo o impacto das lembranças que
nunca saíram da minha mente.
Ele matou minha mãe.
Alguns dias depois chegou a notícia que de ela não resistiu aos ferimentos da
surra que levou do meu pai.
Ela tinha morrido.
E eu tive que enterrar minha mãe enquanto todos fingiam que ela tinha
levado um tombo que a levou ao óbito.
Levanto novamente meus olhos para a casa grande, enxugo meu rosto com o
dorso da mão respiro fundo, repetindo a mim mesma que eu sou forte. Desço
os degraus da varanda indo em direção a porta dos fundos, que dava na
cozinha. Ao longe, já posso sentir o cheirinho de tempero da Dona Joaquina.
Paro na porta olhando toda a cozinha, nada mudou. Dona Joaquina se
encontra de costas mexendo no fogão a lenha, ela percebe que está sendo
observada e olha para trás.
—Menina! —Seus olhos se enchem de lágrimas. —Rubens disse que você
estava a mesma coisa, mas olha para você, consegue estar ainda mais linda.
Vou até ela e a abraço. Eu senti falta desse abraço.
Conversamos sobre muitas coisas, contei sobre Juan, sobre Vitória, quando
comecei a contar tudo que Juan me disse sobre seu passado Rubens chegou,
acabamos almoçando e deixando o assunto morrer. Se Rubens soubesse do
passado de Juan, me trancaria na fazenda sem dúvida alguma.
—Helena, podemos ir vê-lo? —Rubens me pergunta. —Bom, se você não
estiver pronta deixamos para amanhã.
—Vamos agora. —Me levanto decidida a não deixar mais nada para amanhã.
—Filha. —Dona Joaquina pega minhas mãos. —Tenha em mente de que
talvez ele não te conheça.
—Tudo bem, talvez até seja melhor que não conheça mesmo.
Os dois se entreolharam, Rubens se levantou e caminhamos em direção ao
corredor que dava ao quarto, passamos por os vários quartos que a casa tinha,
chegamos em frente ao meu e eu parei na porta constatando que tudo
continuava igual, inclusive a roupa de cama.
—A mãe limpa pessoalmente toda semana seu quarto, ela diz que se você
resolvesse vir aqui tudo devia estar no lugar.
—Claro! A princesa do Senhor Feudal precisa de cuidados especiais. —Digo
sarcástica. Olho para Rubens que permanece calado e vejo que se magoou
com o que disse. —Desculpa, eu amo você e sua mãe, sei que realmente
gostam de mim, não sei por que disse isso... desculpa.
—Tudo bem, vamos? —Aceno em positivo.
O próximo quarto seria o que era de meus pais, mas para minha surpresa
Rubens passa direto indo em direção ao cômodo que era usado como
escritório. Ele para na porta e me olha.
—Ele passa bastante tempo aqui, ele costuma ficar mais calmo quando está
aqui. —Claro no trono do rei... eu penso, mas me calo. —Helena se não se
sentir confortável, saímos na mesma hora.
Ele abre a porta e entra, entro atrás dele sentindo minhas mãos suarem e até
tremerem. Paro no meio da sala sem acreditar no que vejo. Sentado em sua
habitual cadeira vulgo trono, meu pai extremamente magro, trêmulo, com os
olhos distantes. Em sua frente, um homem de branco que acredito ser o
enfermeiro amarra seu calçado. Fico chocada com a situação, o homem que
costumava ser intocável, nessa posição é algo realmente inédito para mim.
Ele se vira e seus olhos repousam sobre mim, ele sorri fraco.
—Claudia. —Tranco a respiração quando sou confundida com minha mãe.
—Vamos nos casar em três semanas, trate de terminar seu romance com o
seminarista.
Olho para Rubens que parece totalmente sem jeito.
—Seminarista?
—Onde está o meu charuto? —Ele muda o assunto, como se nem lembrasse
o que acabou de dizer.
—Pai. —Rubens chega perto dele. -Você me disse que queria falar com
Helena, eu a trouxe até você.
—Deixe ela brincando de casinha, assim aprende a cuidar da casa. —Aponta
o dedo para meu irmão. —Agora você vá ajudar a cuidar dos cavalos, precisa
aprender a ser homem. — Ele conhece Rubens mas de repente para e
pergunta para Rubens. —Onde está o meu charuto?
Ele acabou de perguntar isso.
—Rubens, eu vou sair.
—Onde vai Claudia? —Meu pai me pergunta, talvez seja a semelhança que
tenho com minha mãe. Então seu olhar muda. —Onde está o meu charuto?
E então me dou conta, de que o cara ali sentado doente é meu pai. E eu não
consigo mais sentir magoa, por que tudo vira um único sentimento, pena. O
destino foi cruel com ele e enfim a frase "aqui se faz, aqui se paga" começa a
fazer sentindo para mim.
—Preciso de ar. —Digo para Rubens.
E saio em direção a porta, igual quando era pequena eu corro, o mais rápido
que posso, com a esperança de que o cansaço seja maior que a dor em meu
peito.

Capítulo 28

JUAN
—Maria Clara tranque a porta do quarto, por que talvez quando ela acordar
vai me procurar. —Digo me referindo a Vitória que vai dormir no quarto de
Clarinha. —E como você vai voltar a dormir e tem o sono pesado, não vai ver
a menina saindo.
—Por favor Juan quanto drama! —Ela bufa. —Você explicou para a menina
que iria buscar Helena, até parece que a criança é burra ou tem amnésia.
Olho para minha irmã, imagino seus futuros filhos e chego a uma conclusão.
Essa mulher como mãe será uma confusão. Beijo sua testa e vou até meu
carro, comprimento o casal de senhores sentados na varanda casa da frente.
—Juan! —Minha irmã grita. —Vá atrás da sua mulher e traga ela de volta. —
Olho para o casal de velhinhos e eles fazem umas expressões de piedade e
gestos de positivo com a mão.
Volto a olhar pra Maria Clara que pisca para mim deixando claro que a
intenção foi me fazer passar vergonha, mas como sempre ela completa.
—Mande um beijo para o seu cunhado gostosão! —Finjo que não escuto e
entro no carro dando partida.

Chego no estacionamento do aeroporto onde deixo minha camionete, me


arrependendo de não ter vindo de Uber. Faço o check-in, despacho minhas
malas e me sento esperando o horário do avião. Pela minha visão periférica
vejo uma mulher se sentando em meu lado, sendo que todas as outras
cadeiras estão vazias. Ela se ajeita no assento dobrando a perna e fazendo a
saia ou vestido subir. Muito. Fico imediatamente desconfortável olhando
discretamente para os lados como se em busca de algum conhecido que visse
a cena por outros olhos e contasse para Helena.
É assim que os homens apaixonados se sentem?
Ótimo, sou refém de uma mulher de um metro e meio. Um metro e
meio bem distribuídos vale ressaltar.
—Licença. —A garota põe a mão na minha coxa, bem pra cima do joelho.
Porra!
Alerta vermelho, Juan!
Me endireito na cadeira me afastando discretamente do seu toque. Olho para
a garota e dou um sorriso contido, com certeza parecendo aqueles memes de
chihuahua.
—Você vai para São Paulo?
Ah caralho ela tinha que ir logo para São Paulo?
—Sim. —Respondo me sentindo um babaca e voltando a olhar para os lados
com medo de Helena ver isso.
Porra! Porra!
—Qual o número do seu assento? —Volta a pôr a mão na minha coxa.
Merda! —Seria bem mais divertido se sentássemos juntos, não acha?
Em outra época, eu teria a levado até o banheiro do aeroporto e com certeza a
comeria por ali mesmo.
Não hoje.
Não agora.
Não estando com Helena.
O amor da minha vida.
Tiro sua mão da minha coxa, me afasto dois assentos e com uma distância
segura a respondo.
—Desculpe, sou casado. —Ela estreita os olhos.
—Casado sem aliança é? —Pergunta com um sorrisinho. —Claro, é gay.
Olho para ela chocado.
—Eu não sou gay, eu vou casar com uma mulher. —Digo rápido. Que se
foda também não devo satisfações da minha vida. —Mas você não tem nada
haver com isso.
Meu celular toca.
Sumiu hoje, devo me preocupar? Como está nossa filha?
NOSSA filha.
Nossa, de tipo...Minha e dela.
Juntos.
Sorrio com um idiota enquanto respondo.
Não tem com o que se preocupar, sou seu. Vitória está dormindo.
Vejo que ela já esta digitando.
Sei... E por que você também não está dormindo?
Tenho certeza que meu sorriso deve estar competindo com o do coringa nesse
momento.
Estava tomando banho gatinha, mas fui distraído por uma calcinha sua
no banheiro e precisei de mais alguns minutos no chuveiro, entende?
Ela digita, apaga e então digita de novo.
Cretino!
Respondo de imediato.
Só com você, amor.
Nos despedimos com boa noite, olho discretamente para o lado e a morena
me ignora totalmente. Ótimo! Não quero ter que pedir ajuda para o segurança
por ser assediado aos 29 anos.

Quando pedi a localização da fazenda para Rubens e ele me disse que


mandaria uns dos seus vir me buscar no aeroporto, aceitei na hora. Eu não
conhecia nada e pelo que Helena me contou por alto, a fazenda ficava em
uma cidade pequena bem afastada da sociedade e bom... eu me virava muito
bem até fora do país. Não no campo. Não na fazenda, com vários animais
perigosos à solta.
Será que fazenda tinha tigre, leão, essas “coisas”?
Se tivesse, Helena veria o belo cagão de merda que eu sou.
Ótimo!
Na minha total inocência, eu imaginava que um velho barrigudo e feio viria
me buscar, eu já disse que imaginava isso na minha total inocência?
Por isso quando vi o homem uns cinco centímetros maior que eu, com mais
massa muscular, bem vestido, fiquei é… perdido.
E só piora.
Por que caralho não vim junto com Helena desde o inicio?
O homem era... razoável.
Com certeza eu era muito melhor. Mas levando em conta a minha bagagem
de vida, Helena deveria preferir ele do que a mim.
O metidinho a Rei do Gado, teve a audácia de se oferecer para levar a minha
mala como se eu mesmo não fosse capaz de carregá-la. E desde então, a mais
ou menos uma meia hora estávamos mudos no carro indo para a fazenda.
Carro que na verdade, era uma camionete mais potente e mais cara que a
minha.
Helena era rica. Mas preferia viver em um apartamento simples e
aconchegante, sem costumes exorbitantes, vivendo um padrão de vida
normal. Isso só me encantava ainda mais.
—Você é natural do Rio de Janeiro? —Ele decide quebrar o silêncio.
-Sim. —Respondo. Mas logo me vem algo em mente. —Você sempre morou
na fazenda?
—Me criei lá, junto com o Rubens e Leninha.
Leninha?
—Você tem sorte cara, Leninha é uma ótima garota além de linda. —Ele diz.
Na minha cara. —Foi minha primeira namorada. —Ele fala e me olha
querendo claramente me provocar.
—Para o carro. —Ele volta e me olhar, agora confuso. —Eu disse para você
parar o carro.
Ele encosta, deixando o pisca ligado. Desço do carro, ele logo vem atrás.
—Vamos deixar umas coisas claras aqui. —Chego perto dele o olhando nos
olhos. —Helena é linda, gostosa e tem várias outras qualidades que eu
passaria o dia aqui numerando. Ela está comigo e seja qual for a porra que
tiveram acabou. Entendido? —Ele continua me fitando sério. —Ela será
minha esposa, é mãe da minha filha, é a mulher da minha vida e eu, sou o
cara mais sortudo da terra sim. Apreenda a viver com isso. Pare com as
provocações e indiretas por que sou homem, não moleque e você não quer
arrumar problemas comigo. Certo?
—Certo. —Ele responde. —Play boy. —Fala baixo, mas não nego o sangue
que carrego e escuto.
—Sim cara, mas nesse caso ela quis o play boy. —Entro no carro e dessa vez
me sento atrás, deixando que ele banque o motorista, por que eu sou bom
sendo bom, mas sou melhor ainda sendo ruim.

Chegamos na fazenda perto das dez da manhã, Helena e Rubens não estavam
na cabana que o embuste me deixou.
—Juan. —Diz Rubens uns cinco minutos depois eu mandar mensagem
avisando que havia chegado. —Fez boa viagem?
—Mandou um ex da Helena me buscar? Estava tentando me intimidar de
alguma forma, Rubens? Por que se foi esqueça cara, vou levar sua irmã de
volta comigo, você querendo ou não.
Ele me olha juntando as sobrancelhas e logo começa a rir.
—Você é muito cismado, cara. Juliano foi um namoradinho do Tisco,
paquerinha rápida e eu nem lembrava disso. —Diz rindo.
—Pois ele lembrava. Tem costume de deixar seus funcionários falando da
sua irmã do jeito que ele falou? Por que se tiver, eu te garanto que para você
vê-la terá que ir no Rio.
—Cala boca, Juan. —Seu semblante muda. —Vou conversar com Juliano e
isso não vai se repetir. —Ele olha para minha mala. —Você vai ficar quantos
dias?
—Eu não tinha uma menor.—dou de ombros.
—Helena está na casa grande, na cozinha com minha mãe. —Me entrega as
chaves. —Tranque a porta quando sair.
Troco de roupa, uso o banheiro e saio da cabana indo em direção a casa
branca com varias floreiras embutidas junto as janelas. É uma pena que
Helena não tenha boas lembranças desse lugar, por que é um ambiente que
facilmente traria ela e Vitória para passar as férias. Chego a porta dos fundos
da casa e ainda que aberta penso em bater, até vê-la.
De avental e um coque no cabelo, com alguns fios soltos.
Linda.
Caralho, ela é linda.
A senhora é a primeira a me ver, ela me avalia e sorri.
—Agora entendo por que já está sentindo falta da cidade, eu também sentiria
filha. —Ela toca o braço de Helena e aponta com a cabeça em minha direção.
Helena que parece estar cortando temperos, olha, me vê e dá um sorriso
enorme.
Ela ficou feliz.
Amém senhor!
Obrigada Pai!
Ela larga o tempero verde que estava cortando, vem até onde estou e me
abraça. Ela me aperta em seus braços e suspira. Uma onda de alivio toma
conta de mim, a insegurança e o medo de tomar um pé na bunda diminuem.
Graças a Deus.

Capítulo 29

HELENA
Ele veio.
Lindo como um semideus e gostoso como o cretino que é.
Meu cretino.
Senhor em que momento eu virei uma pervertida?
Vou a sua direção e o abraço demonstrando toda a saudade que esses poucos
dias me fizeram sentir, sendo retribuída com a mesma intensidade. Juan
aperta minha cintura, com a face no vão do meu pescoço, ele suspira e a
impressão que tenho é que fica aliviado com a minha recepção.
Tudo bem. Eu disse que não queria ele e Vitória aqui, que precisava por um
ponto final nessa história. Mas nem sempre a boca fala do que está cheio o
coração. A verdade é que no momento em que botei meus pés no aeroporto a
sensação de vazio já tomava conta de mim. Me senti culpada por não agir de
forma diferente quando Juan se abriu comigo e contou todo seu passado. Ele
dividiu comigo suas dores, frustrações, suas inseguranças. E o que eu fiz?
Sexo.
Pode parecer uma atitude fria, ou relapsa, mas eu nunca fui boa com palavras
então preferi agir. E através de um ato carnal, da minha forma, consegui
mostrar para Juan o que sinto por ele.
Grande ironia é o amor.
O destino me trouxe o amor e com ele todos os meus medos.
Vícios. Sentimento de pose. Ciúmes. Família.
Tudo que um dia me causou dor, agora me foi dado em forma de amor.
Esses sentimentos não são de um todo bons, mas eu acredito que o amor faça
total diferença aqui. Refleti muito e cheguei à conclusão que não é por que
meus pais não foram felizes que eu também não serei. Cada um tem a sua
história e chegou a hora de me permitir escrever a minha.
Afinal eu fui agraciada pela vida. Por que ter um homem que superou as
próprias vontades, está disposto há vencer um dia após o outro e ganhar uma
princesa como filha é ser agraciada pela vida, não?
Durante muito tempo eu achei que O Criador tinha esquecido de mim, ou que
vivíamos fardos que nos eram dados, e nunca seriam tirados.
Grande ilusão, graças a Deus!
Mas então... tudo mudou.
O que começo em provocações se tornando um jogo terminou em afeto. E o
mais engraçado é que essa “partida” não gerou um perdedor, por que eu sei
que nós empatamos. Ninguém ganhou, nem irá ganhar. Seremos uma balança
com dias bons e ruins, um equilibrando o outro, deixando de ser dois e
passando a ser um. Me afasto um pouco de seus braços, juntando nossos
rostos. Mergulho no mar azul dos seus olhos, sendo tragada por uma
imensidão de emoções.
—Casa comigo? —Digo em um rompante de coragem.
Ele para de sorrir e me encara, de repente começa a rir.
Não... não rir de 'sorrir', rir de gargalhar.
Ele ri tanto que se afasta e chega "segurar" a barriga.
Me sinto magoada ao extremo e até seguro as lagrimas.
Olho para Dona Joaquina que parece tão chocada quanto eu. Rubens chega na
porta, fica olhando Juan e ri junto com ele sem nem saber o motivo.
—Por que ele está rindo dessa forma? —Me pergunta.
—Por que eu o pedi em casamento. —Respondo, atraindo o olhar de Juan
para mim.
—Helena. —Ele tenta falar entre riso descontrolado. —Eu não estou rindo de
você. Eu... —E volta a rir.
Virei palhaça agora?
—O garoto está nervoso Tisco. —Rubens fala e me abraça. —Você o pegou
de surpresa. —Beija minha testa.
Juan chega perto, limpando as lágrimas que saíram após enxurrada de risadas.
—Helena. —Ele segura minhas mãos. —Eu te amo e bom, você estragou
toda surpresa. —Tira do bolso uma caixinha preta.
—Eu não vou me ajoelhar, eu não sou um príncipe. Eu sou um homem que já
errou muito, o que eu posso te garantir é que vou lutar até meu ultimo dia
para nunca mais voltar ao erro. Também não sei como serão todos os nossos
dias, mas eu farei o possível para serem os melhores. E porra! Quando os
piores vierem, vamos ter que dar um jeito de superar juntos, por que eu não
vou deixar você sair de nossas vidas nunca. —E colocou o anel em meu dedo
e em seguida ele mesmo colocou o outro em seu próprio.
Agora quem ri sou eu, nosso início foi um tanto... inusitado. E nosso “sim”,
não poderia ser diferente. Em meio a histórias, gargalhadas e algumas
lágrimas foi o nosso almoço. Como eu imaginava, Juan também conquistou
Dona Joaquina, que disse que ele é parecido com o Superman e o cretino é
realmente parecido com o tal do Henry Cavill. Juan também ficou fascinado
com a comida da senhora, que se sentio um máximo ao saber que ainda que o
paladar de meu noivo já tivesse experimentado muitos restaurantes cinco
estrelas, a comida dela era melhor.
Meu noivo.
Meu homem.
Isso me fez lembrar de um assunto pendente que resolveria assim que
chegássemos em solo carioca. O dia passou rápido e o horário de nosso voo
estava cada vez mais próximo. Já com as malas todas na camionete de
Rubens me despeço de Dona Joaquina e quase me desmancho em lágrimas
por anteceder a saudade que sei que sentirei dela.
—Preciso de um minuto. —Digo para Rubens que já está dentro do carro, me
viro para Juan. —Eu já volto.
—Helena, aonde você vai?
—Juan me espere aqui. —Ele olha de uma forma desesperada na direção de
Juliano, que está mais a frente cortando a grama.
Seguro seu rosto e beijo sua boca.
—Deixa de ser bobo, moleque. —Ele ri ao ser chamado como sua mãe o
chama. —Até o fim. —Digo mostrando minha aliança.
Volto para a casa grande, seguindo em direção ao escritório onde João
costuma ficar. Bato na porta e abro devagar, o enfermeiro sorri e acena para
mim entrar. Chego perto do meu pai e do enfermeiro sentado em sua frente.
—Você pode se afastar um pouco? —Peço tocando o ombro do moço de
branco, vejo seu semblante de preocupação quando volta a olhar para meu
pai.
—Às vezes ele fica nervoso...
—Tudo bem. Só preciso de uns minutos, você pode ficar aqui dentro, mas
preciso de um tempo com ele. —Ele concorda e fica perto da janela no outro
lado do cômodo.
Sento em sua frente, ele olhando um jornal, se sente observado e volta sua
atenção para mim.
—Cláudia. —Ele volta a me chamar pelo nome de minha mãe.
—Pai. Eu sou, Helena, sua filha. —Vejo em seus olhos que não me
reconhece, ele parece distante. —Eu só estou aqui para dizer que eu não
entendo os motivos das coisas serem como foram, mas eu preciso me libertar
disso, sabe? —Sinto as lágrimas caírem. —Eu tenho uma filha. Ela é linda e
surpreendentemente dizem que é parecida comigo. —Rio entre as lágrimas.
— Eu vou me casar com um homem bom, que me ama e eu sei que faremos o
possível para sermos felizes. —Respiro fundo. —Eu lamento você ter sido
infeliz pai, mas a vida de você e da minha mãe não podem definir como será
a minha... então eu te libero, eu nos libero.
Olho em seus olhos e eles continuam navegando em uma imensidão bem
longe do agora. Seguro suas mãos, atraindo seus olhar para elas.
—Olhe para mim. —Peço baixinho, ele levanta os olhos. —Eu te perdoo pai.
—Helena. —Eu choro, por ver em seus olhos o reconhecimento.
Reconhecimento esse que não duro mais que alguns poucos segundos, mas
foram o suficiente para quebrar as correntes de um passado de dor. —Onde
está o meu charuto?
—Eu vou buscar para você. —Respondo me levantando.
E saio do escritório, me sentindo leve, sem amarras.
O que aconteceu não vai ser mudado, muito menos esquecido. O perdão é
uma decisão e talvez ele nunca se consolide a um sentimento. O importante é
que eu decidi seguir em frente e viver o novo.

Entramos no avião e quase tive um infarto quando Juan ameaçou o


adolescente que se sentaria ao meu lado para trocar de poltrona. O menino
que não deve ter mais de 16 anos, achou até engraçada a situação e depois de
uma DR por sua atitude nos beijávamos. Juan não disfarçava sua animação,
com muitas mãos bobas para todos os lados, me convidando de forma
insistente pra irmos até ao banheiro, neguei por que eu costumava perder o
juízo e não queria ninguém me ouvindo gemer como uma descontrolada.
Quando chegamos em casa, Vitória nos esperava acordada lutando contra o
sono, mas assim que chegamos recebi o abraço mais gostoso de toda minha
vida. Como a menina tinha ganhado novo fôlego e não parecia nem perto de
dormir, enxotei Juan para a cama já que tinha reunião durante o café da
manhã bem cedinho e não poderia se atrasar. Já na manhã seguinte, ele
precisou sair antes de casa, o que colaborou com meus planos.
Eu resolveria isso hoje!
—Espere Seu Jorge, ainda não vamos para a empresa. —Digo assim que
deixo Vitória na creche, discando o número de Clarinha que atende no
segundo toque.
—Cu, eu sei que sou gata, mas você está com meu irmão e não gosto da fruta,
entendeu? —Faz um som de drama.
—É sério Clara, eu preciso de sua ajuda. —Vejo quando Seu Jorge larga o
celular e se mantem atento a conversa.
—O que aconteceu Helena? Nós tomamos café juntas e você parecia normal.
—Eu não podia falar perto de Vitória. Preciso saber onde encontro Gabriela.
Silêncio.
—Você vai dar uns tapas na vaca e não vai me chamar? Mas que filha da
puta, Helena! Nem pensar que vou perder toda a diversão!
—Para Clara, ninguém vai bater em ninguém. —Digo torcendo para que não
chegue a esse nível, levando em conta que a tal deve ser uns vinte
centímetros mais alta que eu. —Preciso resolver isso sozinha, nem preciso
pedir para que não conte ao Juan, né? —Nesse momento Seu Jorge olha para
trás com os olhos arregalados e eu respondo estreitando os meus.
—Ok, qualquer coisa me ligue, certo? Caralho! Juan vai me matar quando
souber, vou mandar o endereço da agência por WhatsApp.
—Obrigada cunhada. —Agradeço rindo, ainda não sei como essa família tem
o dom de falar tanto palavrão.
Ela se despede e desliga. Vejo Seu Jorge mexer no painel do carro e escuto
um telefone chamando, me atento ao visor e constato que liga para dona
Judith.
—Sério isso Seu Jorge? —Digo com vontade o chamar de fofoqueiro e paga
pau.
Ele dá de ombros e dona Judith atende a chamada.
—Bom dia Jorge, é bom que seja urgente pois estamos indo embora e queria
aproveitar meus últimos minutos de diva esfregando meu coroa sarado na
frente dessas velhas de nariz empinado.
Gargalho com dona Judith, eu era muito fã dessa mulher.
—Helena? Querida que saudades de você. E então? Juan te pegou no meio do
mato? Não no sentindo pegar, mas no sentindo pegar de pegar, entendeu? —
Rio mais ainda.
—Entendi dona Judith, voltamos ontem, estamos noivos. —Conto
empolgada.
—-Ah, mas meu garoto é macho! Até que enfim deixou de ser frouxo. —Ela
suspira. —Estou muito feliz querida, muito mesmo. AFONSO. —Ela grita.
— JUAN VAI CASAR!
—Dona Judith. —Seu Jorge chama ela tentando focar no objetivo da ligação.
Me dedurar. —Helena vai atrás de Gabriela.
Silêncio.
—Querida chegamos hoje, desembarcamos as seis da tarde... não quer me
esperar para irmos juntas? —Ela me sonda.
-Não dona Judith, isso é entre mim e ela. Vou resolver todas as pontas soltas
dessa história, por favor tenham mais fé em mim.
—Bom, vá lá e ponha aquela vacaranha no lugar dela! E Jorge se mantenha
calado tanto para Juan como para Afonso, certo?
—Ok senhora. —Ele diz visivelmente contrariado. —Mas vou entrar com
Helena e ficar por perto.
—Deixe as duas sozinhas, só se meta se ouvir berros. —Certo, ela não regula
bem. —Helena querida, não vão tarde para casa hoje vamos fazer um
churrasco, já comemoramos o noivado. Tenho que desligar Afonso está
dando um show e tanto sem camisa e preciso estar por perto para que vejam
quem é a dona do pedaço bem conservado sou eu! —E desliga, por que se
fosse normal não seria dona Judith.

Durante o caminho retoquei a maquiagem que ainda estava intacta, penteei os


cabelos, conferi meus saltos. Quem confere os saltos? Eu. Por que são meros
15 centímetros e preciso ter certeza de que não estão tortos, Deus me livre
cair perto da vacaranha. No elevador me olho outra vez no espelho, me
sentindo poderosa com o look de hoje. Não sou uma loira de um metro e
oitenta, mas hoje eu to podendo.
O elevador abre e entro na recepção que exala glamour com Seu Jorge em
meu encalço e me sinto o auge com um segurança particular.
—Oi querida. —Digo simpática para a recepcionista, que sorri de volta. —
Gabriela está? —Vejo o sorriso sumir quando falo de Gabriela, é pelo jeito
não sou a única que não simpatiza com ela.
—Sim. Ela deve estar no camarim 2 esperando o maquiador. —Diz forçando
um sorriso.
Chego perto dela.
—Não me anuncie e segure o maquiador aqui. —Ela faz expressão de
confusa. —Preciso de uns minutos com ela sozinha. Diga que menti ser sua
prima, ou o que for. Por favor.
—Estou em aviso, você tem quanto tempo quiser. —Ela fala dando de
ombros.
Indica-me o lugar do camarim e seguimos até lá.
—Me espere aqui. —Digo a Seu Jorge que acena em concordância.
Entro sem bater. Gabriela vira com uma expressão de tédio, mas quando me
vê logo exibi seu sorriso cínico e minha raiva triplica.
—Guarde esse sorriso de hiena para outra Gabriela. —Digo firme. —Vou ser
direta. Que tipo de convívio você quer ter com minha filha? Quer se redimir
com ela e tentar compensar o tempo perdido?
Observo sua expressão e citar Vitória, não traz nada a sua fisionomia, nada.
Nem uma emoção, nenhum sentimento. Ela não quer conhecer de fato
Vitória, o que é ótimo por que ela já tem uma mãe. Ela quer sexo com o meu
homem, o que também não vai ter.
—Quero conhecer a menina. —Responde por fim.
—Eu não poderia proibir você de ter uma relação com a criança que você
gerou. Mas está nítido que você não se importa nenhum pouco com ela.
Então vou te explicar como as coisas vão funcionar. —Ela arqueia a
sobrancelha como afronta. —Você vai abrir mão do seu nome no registro,
vamos fazer toda a documentação legal perante a justiça. Você não vai mais
procurar meu noivo e vai parar de forçar algo que não vai acontecer. Por que
caso o contrário, vou expor que rejeitou sua filha no nascimento para a
imprensa e isso vai te custar a desistência de muitos contratos. A partir de
agora você só vai ter contato com nosso advogado. Ficou claro?
Recebo de resposta um encarada nada receptiva as minhas palavras.
—Vou perguntar de novo. Ficou claro para você, Gabriela?
—Sim. —Ela responde. —Cuide bem da garota, a maternidade não é para
mulheres como eu, mas isso não significa que quero o mal dela.
—Já cuido. —Respondo sem olhar para trás saindo do camarim.
Mas um ponto final dado. Meu coração tomado de alívio e a felicidade enfim
parecia completa. Eu só não imaginava que essa calmaria duraria tão pouco.
Capítulo 30

JUAN
—Você foi ótimo cara! —Gui me parabeniza pelo sucesso da reunião.
—Somos uma equipe.
Mas por dentro me sinto o fodão da porra toda! Afinal, é a primeira reunião
que consigo ministrar de verdade. Pela primeira vez, consegui mostrar meu
ponto de vista sem precisar impor ao conselho que o comando está comigo.
Por isso mesmo me sinto extremamente feliz por ser visto por meu potencial
e não por apenas ser o herdeiro e ocupar uma cadeira. As coisas finalmente
começavam a se encaixar. Chegamos na mesa de Helena e estranho não a ver
ali. Olho seu computador e está desligado.
—Parece que ela ainda não chegou. —Digo para meu primo. Olho no relógio
e são quase nove da manhã, ela já deve ter deixado Vitória na creche há uma
hora.
Ligo para Helena… nada.
Ligo para Seu Jorge… nada.
Será que aconteceu alguma coisa?
Guilherme diz que vai para sua sala terminar um projeto e eu sigo para a
minha ainda cismado com o sumiço de Helena.
Ligo para Maria Clara… nada.
Ligo para minha mãe… nada.
Mas por que caralho que ninguém me atende?
Deve ser coincidência, besteira da minha cabeça.
Começo a revisar o projeto de embarcação do porto que em poucos dias sairá
do papel, ainda preocupado. Alguns tempo depois, duas batidas leves, como
sempre, sorrio sabendo de quem se trata. Helena abre a porta e puta que
pariu! Ela consegue estar ainda mais linda que todos os dias.
Eu sou mesmo um bobo apaixonado.
—Você está gostosa demais. —Digo.
—Nossa que príncipe, poderia te dito “você está linda”. —Ela chega perto de
mim e afasto a cadeira a sentando meu colo.
—Eu já disse, não sou um príncipe, amor. —Beijo seu ombro nu, bendito
vestido de uma manga só.
—Você é lindo. —Ela diz segurando meu rosto e em seguida me dando um
selinho.
—Disso eu sei. —Pisco e ela revira os olhos. —O que eu não sei é por que
nem você nem ninguém me atendeu e por que a senhora está chegando quase
dez da manhã?
E quando penso que vem uma desculpa ou meias verdades ela solta na lata.
—Fui ver Gabriela. —Olho para minha noiva ainda assimilando o que disse.
—Nós tivemos uma conversa, ela não é mais um problema. Se quando
Vitória crescer quiser conhecer quem a gerou vou apoia-la, mas a mãe dela
sou eu. E assim será no papel também. Peça para seu advogado entrar em
contato com ela.
Olho deslumbrado para minha pequena grande mulher.
—Simples assim? —Pergunto.
—Sim. —Ela responde e não diz mais nada, decido fazer o que pediu sem
mais perguntas demostrando que confio em suas decisões.
—Ok então gostosa... o que acha de namorarmos um pouquinho antes de
você começar a trabalhar? —A pequena pimentinha pula do meu colo.
—Acho que você pode esperar até a noite. —Diz enquanto pisca e sai
rebolando me deixando com uma ereção daquelas entre as pernas.

O restante do dia passa rápido, almoço com Doutor Jarbas, colocamos alguns
assuntos em dia e não deixo de pedir para que procure Gabriela. Minha porta
se abre chamando minha atenção.
Helena.
—Amor? —Olho para o relógio do notebook que marca seis e cinquenta
quatro, quase sete da noite. Volto a olhar para ela e vejo sua fisionomia de
dor. —Tudo bem, Helena? —Me levanto indo para perto dela. —Era para
você estar em casa a pelo menos uma hora. Tudo bem com Vitória?
—Sim. Vitória está com Renan. —Ela fecha os olhos e quando os abre vejo
as lagrimas escorrerem. —Ele e Antonella irão cuidar dela.
—Eu entendo que queira que ela conheça seus amigos Helena,mas você
chegou ontem ela quer ficar com você, meus pais já devem estar em casa.
Eles vão ficar bem putos quando souberem que na sua chegada você deixou a
menina com os amigos.
—Juan é sobre isso que precisamos conversar. —Ela limpa o rosto.
—Você se arrependeu Helena? Não quer casar comigo? Olha amor...
—Para Juan! Me escuta. —Fico quieto sentindo minha espinha gelar. —Seus
pais desceram do avião... Seu Jorge buscou eles, eles estavam indo ao
mercado de acordo com a rota...
Estavam.
Meu coração bate descompassado.
—.... Um caminhão cortou a frente... acidente...
Acidente.
—Eles capotaram, Seu Jorge faleceu...
Faleceu.
Seu Jorge, que trabalha conosco desde sempre faleceu.
—A dona Judith está sendo encaminhada ao hospital o estado dela é...
complicado.
Complicado.
Sinto meu corpo formigar.
—Meu pai?
Ela me olha e chora.
—Ele também não resistiu Juan. —Ela soluça. —Amor, eu sinto muito, não
tem forma boa de te contar isso.
Meu pai não resistiu.
Morto.
Meu pai morto.
Coloco as duas mãos em minha cabeça sentido tudo girar.
—Maria Clara?
—Ela ainda não sabe...
—Eu vou contar para ela. —Digo enquanto saio de minha sala.
—Juan. —Helena segura meu braço. —Você está bem?
Não respondo.
—Chame o Guilherme, vou precisar da ajuda dele.
Entro no elevador, as portas se fecham. Ele desce um andar e para no
seguinte, um rapaz faz menção de entrar e aceno com a cabeça que não entre.
Quando se fecham novamente aciono a chave interna fazendo com que o
elevador pare.
Seu Jorge Morto.
Meu pai.
O meu pai morto.
Minha mãe em estado... complicado.
Do um soco no elevador com esperança de que a dor em minha mão seja
maior que a mistura de sensações que o meu corpo está sentindo.
Meu peito dói.
É como se alguém enfiasse uma faca e girasse ela em meu coração.
Uma sensação de falta de ar, um mal-estar eminente... como um enfarto?
O bolo em minha garganta ameaça vir. Respiro fundo me controlo, preciso
apoiar Maria Clara, não posso desabar. Destravo a chave de segurança em
direção ao andar de minha irmã.

Dizer que estávamos bem seria a porra de uma mentira.


Nada estava bem. Nada.
Meu pai estava morto! Morto! Caralho, ele estava morto!
Maria Clara estava arrasada, todos estávamos. Mas a falta de vida nos olhos,
a falta de palavras e postura triste, faziam com que todos notassem o quanto
minha irmã estava abalada. A situação de minha mãe não era boa, na verdade
só por um milagre. Ela tinha seu pulmão perfurado e seria operada com
urgência, pois a cada momento o risco de uma infecção pleural aumentava.
Durante os segundos que conseguimos ter com ela, nos disse que metade dela
tinha ido com nosso pai e que duas almas gêmeas não poderiam viver
separadas. Com um anjo ela sorriu, falou algumas palavras para minha irmã e
outras para mim.
"Continue sendo quem você é, lute por o que acredita, seja todos os dias uma
versão melhor você mesmo."
Essa frase seguido por um “eu te amo”, foram as últimas palavras que ouvi de
minha mãe.
Quarenta minutos depois a notícia, ela também se foi.
Eles estavam mortos e não tinha volta. A morte não tem volta.
—Juan, é sua vez. —Helena sussurra me indicando o pequeno púlpito em
frente aos dois caixões de meus pais.
Posiciono-me ali, olhando todos os presentes, muitas pessoas. Desde família,
amigos, funcionários. Todos compartilhando da mesma dor.
—Eu não imaginei que isso aconteceria tão cedo. —Começo a falar. —Na
verdade nunca imaginei o velório dos meus pais, muito menos juntos… mas
nada na nossa família foi normal. —Sorrio. —Meus pais eram a
personificação do casal perfeito. Minha mãe era fogo e bom, eu poderia até
dizer que meu pai era o vento que acalmava a sua brasa, mas isso seria uma
bela mentira. Meu pai era sua lenha, que mantinha seu fogo acesso e nunca o
deixava se apagar. Eles foram um exemplo bem sucedido, no profissional e
no pessoal, coisa rara de se ver hoje em dia. Eles trasbordavam amor, eu me
sinto um sortudo por ter a honra de ser filho deles. Vai doer muito sim, vão
deixar muitas saudades sim. Mas tristeza não. Eles foram alegria e é assim
que vamos lembrar-nos dos dois, por que em todos os lugares que passaram
eles foram luz.
E assim eles se foram, deixando suas marcas, deixando um legado.

Duas semanas se passaram.


Não foi fácil, não está sendo fácil. Explicamos para Vitória que seus avós
estavam no céu. Muitas vezes ela chorou e ainda chora querendo ir no céu vê-
los. Como explicar para uma criança a morte? A morte não tem explicação.
Para uns é o fim, mas eu prefiro acreditar que seja o começo. Helena vem
sendo meu porto seguro, sim deveria ser o contrário, mas nada entre nós foi
conforme os padrões desde o início então, por que seria agora?
Ela é uma ótima mãe e a melhor mulher que já conheci. Sigo achando que
não a mereço, mas graças aos céus, O Cara lá de cima foi muito bom comigo.
—Oi amor. —Atendo o telefone, sei que é ela pois nunca passa nenhuma
ligação sem me avisar. Eficiente, em tudo.
—Cretino. —Posso sentir ela sorrindo.
—Estava pensando com que calcinha você está hoje, eu venho estando meio
impotente nos últimos dias, mas acho que chupar você seria o melhor
remédio. —Ela ri.
—Clarinha está aqui. —Me arrumo na cadeira. Clara vinha sendo uma das
minhas maiores preocupações.
Ela não saía do quarto, mal comia, só dormia, dormia muito.
—Mande-a entrar por favor amor.
—Ok. —Minha pimentinha me responde.
—Amor? —Chamo antes que desligue. —Eu e você para vida toda?! —
Pergunto, já afirmando.
—Pode contar com isso, Doutor.
A como eu amo essa mulher.
Minha porta ser abre, revelando minha irmã.
—Oi Dom Juan. —Rio da sua referência ao apelido nem tão ridículo assim
que me foi dado. A diferença é que hoje meu coração tem um lar e meus
encantos apenas uma dona.
Continua em Maria Clara.

Epílogo

Helena
—Mamãe será que um bicho não pegou o papai? —Olho para minha menina
que acabou de completar seis anos.
O último ano não foi fácil, meus sogros fizeram muita falta, Dona Judith era
a tempestade e Dr. Afonso a calmaria. E sem isso tudo ficou desequilibrado.
A mudança de Clarinha terminou de acabar com nossas emoções, no
momento em que precisávamos ficar juntos ela decidiu que preferia voar e só
nos restou aceitar e respeitar sua decisão.
Vitória passou por vários episódios de febres emocionais, não queria brincar,
perdeu o apetite. Juan também teve dias ruins, acho que se culpava por sua
ausência durante o tempo em que esteve fora. Eu mesma sentia meu coração
apertar cada vez que via a piscina com a imensa churrasqueira, um lugar que
era tão feliz e de repente tão sem vida.
Decidi procurar ajuda médica, então com a ajuda de um profissional
conseguimos aos poucos superar o que aconteceu e focar nas lembranças
boas que tínhamos. Todos fazíamos terapias individuais e em grupo. Vitória
desenvolveu até a fala.
Estávamos em nossa primeira viagem juntos, em uma praia pequena e
isolada, em três dias iriamos a Botucatu. Meu pai havia falecido há três
meses, fui somente para o enterro. Foi tudo frio, mecânico e rápido. A
herança foi divida entre eu e Rubens, abri mão de minha parte. Mas como
meu irmão também era persistente, ele colocou boa parte do que seria meu
em nome de Vitória.
A idéia de fazer um hotel ou pousada não sei bem ao certo, começava a sair
do papel. E como Antonella vinha reclamando e se dizendo cansada da
atuação nos tribunais, perguntei se não gostaria de exercer seu curso técnico
de Design de Interiores no empreendimento do meu irmão. Ela ficou animada
pois voltaria a área que tanto amava e só deixou por insistência de sua família
que era inteira de advogados. Ainda não sei se seria uma boa idéia ela e
Rubens trabalhando juntos, talvez só dessa vez, água e óleo se misturassem.
—Mamãe. —Vitória me chama.
—Perdão filha, nenhum bicho pegou seu pai não, ele já deve estar voltando.
Algum tempo depois Juan volta.
—Meu Deus! Juan, você demorou! —Repreendo.
—É que realmente não tinha nenhum quiosque aqui perto. —Dá de ombros.
—Você foi no hotel então? —Pergunto.
—Claro que não amor, eu estava com dor de barriga não chegaria até lá.
—Você queria fazer cocô papai? —Vitória pergunta dando sua risadinha
maravilhosa.
—O papai queria e fez bebê.
Estreito os olhos na direção dele.
—Você fez? —Pergunto. Ele acena em positivo. —Aonde?
—Lá nas dunas, ué. —Fala como se fosse lógico.
Olho para os lados me certificando não ter ninguém por perto.
—Juan, que horror! —Rio de nervoso.
—Relaxa gatinha, daqui a pouco seca.
Oi?
—Como assim seca? —Pergunto com medo da resposta.
—Vai secar, nunca viu merda de cachorro? Ela seca quando fica no sol.
—Juan volte lá e tampe!
—Como assim tampar, Helena?
—Sei lá jogue areia em cima. —Vitória põe a mão na boca segurando riso.
Bem a contragosto ele volta e tampa o seu “serviço”. Mas onde já se viu
isso?

—Do que está rindo, amor? —Juan pergunta se deitando ao meu lado no
gramado da fazenda.
—Estou rindo do seu episódio na praia.
—Você peidou no elevador e ainda invento uma história sobre ter pisado na
merda do Jorginho, nem por isso fico rindo de você. —Fala por que sabe que
esse assunto me irrita.
—Mas foi verdade, seu cretino! Sério, não vou explicar de novo a história. —
Digo emburrada.
Ele fica de lado e me puxa para perto.
—Ficou bravinha é pimentinha? —Beija meu pescoço. —Que tal voltamos
para o quarto e eu tirar todo o seu nervosismo com a minha boca?
—Não sei se você é capaz, Doutor...
—Você acabou de pagar para ver gatinha. —Me pega no colo me levando em
direção a cabana que estamos ficando.
Dizem quem finais felizes existem, já eu prefiro que o final nunca chegue.

Nota da Autora
Não consigo explicar o misto entre alegria por concluir a obra e, tristeza
por dar adeus aos personagens. Sinto-me presenteada por minha
imaginação por ter Juan e Helena durante esse período em que escrevi
que sempre terão um lugarzinho especial em meu coração. Só Deus sabe
como foi difícil o último um ano e meio, as perdas e reviravoltas
emocionais que passei. Dom Juan foi com uma luz, uma válvula de
escape, um refugio. Acredito que Deus esteve comigo me guiando e me
sustentando. Meu esposo abriu mão de vários momentos comigo por que
entendeu a importância que esse livro tem para mim, obrigada amor.
Ariane que foi minha primeira leitora e mesmo sem eu ter seguidores me
incentivou a postar no Wattpad, vocês tem minha gratidão eterna.
Agradeço a Amanda que me fez sair do “anonimato” e que me incentiva
todos os dias a buscar novos leitores e a divulgar meu trabalho. E por
fim e não menos importantes, pelo contrário, essenciais leitores da
plataforma Wattpad. Muito obrigada por entre milhares de obras e
ótimos autores, vocês ainda assim tirarem um tempinho para Dom Juan.
Criar é uma necessidade da minha alma e através das palavras mostro
mundos paralelos que a minha imaginação insiste em tornar real de
alguma forma.
Gratidão, Jéssica Luiz.
Vocês me encontram em

Maria Clara
Duologia Irmãos D’Laurentes
Livro 1

Prólogo (Degustação)
Passo as mãos pelo meu corpo sentindo a batida da música, abro os olhos e
vejo Guilherme me olhando sério, em um mix de desejo e ciúmes. Volto a
fechar os olhos e sinto a energia que a música passa.
You've been saying all the right things all night long
But I can't seem to get you over here to help take this off
Baby, can't you see? (see)
How these clothes are fitting on me (me)
And the heat coming from this beat (beat)
I'm about to blow
I don't think you know
Sinto uma aproximação, o aroma do perfume amadeirado denuncia não ser
quem eu queria que fosse, abro os olhos e vejo um homem loiro bem bonito.
Por que não?
Encaro no fundo de seus olhos tão azuis quanto os meus e imagino as duas
jabuticabas pretas pelas quais sou apaixonada. Passo os braços em volta de
seu pescoço, dando passagem para que suas mãos rodeiem minha cintura. O
cara gato me aperta em seus braços, e posso sentir sua animação através do
volume entre suas pernas.
O atrito entre nossos sexos aumenta, e me sinto excitada, com a certeza de
que a quantidade de álcool ingerida contribui para esse meu interesse no
desconhecido. Ele desce a mão de minha cintura até minha bunda e aperta riu
da sua ousadia.
Sinto um puxão em meu corpo.
— Some antes que eu quebre a tua cara seu filho da puta! — Guilherme grita
com o carinha que estava me apalpando.
A forma como ele me segura pela cintura, me deixa momentaneamente tonta.
Mas quando me solta, à realidade bate como um tapa em minha cara.
Quem ele pensa que é para empatar uma foda minha?
— Você não tinha o direito de espantar o cara!
— Para de agir como uma qualquer, se dê ao respeito! — Ele diz olhando em
volta, preocupado de alguém estar vendo meu showzinho.
Que se foda!
Faço show mesmo por que sou dessas!
— Seu idiota! — Digo quase enfiando o dedo na cara de Guilherme. — Me
deixa em paz! Vá pra puta que pariu!
— Me respeite Maria Clara! — Diz nervoso passando a mão pelos cabelos.
— Eu te fiz um favor, o cara passou a mão na sua bunda, porra!
— Pois eu queria que ele passasse a mão em outros lugares Guilherme
Francisco D'Laurentes! — Continuo indignada. — Eu queria que me
comesse, por que sou adulta, solteira, e livre, merda!
Guilherme se irrita me pega no colo e me joga nas costas como se eu fosse
um saco de batatas.
Neandertal de merda!
— Gui solta ela cara! — Meu irmão surge não sei de onde tentando apaziguar
a situação.
— Não se meta Juan! Enquanto você fodia no carro, sua irmã dava um show
e tanto pra um filho da puta tarado. — Responde a meu irmão e começa a
descer as escadas do camarote.
Ele caminha todo seguro de si até a saída como se eu não tivesse peso algum.
O fato de ter bebido bastante não contribuí em nada a minha posição.
— Me solta seu arrombado, eu vou te matar! — Digo dando tapas em sua
bunda.
Caralho, que bunda!
— Fique quieta Maria Clara. — Pelo seu timbre de voz devo estar muito
encrencada.
Senhor que meu castigo seja ele me foder até que eu perca a força nas
pernas.
— Se queria me pegar no colo era só falar priminho, eu deixava de boa. —
Mecho com a onça, querendo mesmo é cutucada com vara longa.
— Cala a boca. — Diz e da um tapa estralado em minha bunda.
A merda eu gozaria fácil com mais alguns tapas desse.
Chegamos perto do carro e Guilherme me põe no chão, quando meus pés
tocam o chão a bile sobe e eu vomito, por pouco não jogo os jatos em cima
dele.
Ele segura meu cabelo fazendo um coque com maestria no mesmo.
Com quantas outras coisas essas mãos seriam habilidosas?
Sento no banco do carona, tonta e logo durmo com o balanço do carro.

— Acorde Clara, nós chegamos. — Abro os olhos e vejo que estamos na casa
de Guilherme.
Foram poucas as vezes que nós ficamos sozinhos, já que ele foge de mim
como o diabo da cruz. Então trato de ficar quieta e usar essa oportunidade a
meu favor.
— Beca está usando o outro quarto, pode tomar banho na minha suíte.
Dito isso vai em direção a cozinha, eu subo as escadas até seu quarto. Tiro
minhas roupas, ligo o chuveiro me encostando à parede e pensando que estou
tomando banho no quarto do cara que sou apaixonada desde que me vejo por
gente. E chego à conclusão que o destino está a meu favor. Termino o banho,
me enxugo e me olho no espelho.
— Você é Maria Clara D'Laurentes, gostosa para caralho e hoje você vai
trepar com o cara que faz você babar desde que se vê por gente.
Abro a porta do banheiro, e o barulho faz Guilherme se vire e me veja. Ao
perceber que estou de toalha ele fica branco e rapidamente olha para os
próprios pés.
— Pode pegar uma roupa da Beca.
— Não vou pegar roupa de ninguém. — Ele volta me olhar com a expressão
confusa. Solto o nó da toalha.
Ele arregala os olhos, vejo passar diferentes emoções em suas feições e tenho
certeza que tesão é uma delas. Vou chegando perto dele, que fica parado, sem
esboçar reação alguma. Chego perto dele, que tem os olhos fixos em meus
seios, aproveito essa deixa, pego suas mãos e as coloco em meus meu peitos,
gemo com o contato.
— Maria Clara isso não é certo. — Diz de olhos fechados.
— Eu quero mais que se exploda o certo e o errado. Hoje você vai me comer
Guilherme, e vai fazer gostoso. Deixa o amanhã para amanhã.
Vejo que ele fica excitando e decido ser mais ousada. Pego sua mão e coloco
entre minhas pernas para que sinta minha umidade, ele respira fundo e abre
os olhos.
Funcionou! Vejo fogo em seus olhos, ele afunda dois dedos em mim, gemo
em surpresa. Com a mão livre ele segura meu cabelo firme, com força. Gemo
de novo.
— Você queria uma foda Maria Clara, você terá.
Ele me empurra até a parede, metendo os dedos em mim. Caralho! Sinto a
parede em minhas costas no exato momento em que sua boca abocanha um
seio meu, chupando e mordendo. Mano! Vou Morrer! Eu me seguro em seus
ombros, mas ele me vira de costa, e volta a me penetrar com os dois dedos.
Sinto-me gostosamente invadida por mais dedos.
— Preciso de você bem dilatadinha pra mim, não sou pequeno.
— Mete de uma vez Guilherme.
Sinto um tapa forte em minha bunda. Ele me vira de frente de novo me
soltando e sou obrigada a me segura na cômoda, pois minhas pernas
fraquejam, enquanto ele tira a roupa diz.
— Aprenda uma coisa Maria Clara. — Ele tira tudo e quando vejo seu pau,
chego a babar. — Eu sou macho, gosto de sexo forte e duro, ninguém me
domina. Eu domino.
Ah merda, quase gozo com suas palavras e a visão de Guilherme se
masturbando pra mim.
Ele chega perto e me faz cruzar a pernas em suas costas, me penetrando de
uma vez só. Grito, me sentindo completa. Ele começa a meter com força, e só
posso escutar meus gritos, me sentindo a porra de uma devassa sortuda. Ele
segura meu pescoço em um estilo bem dark com uma cara de mal gostosa
demais. Ah senhoooor!
— Vou gozar. — Digo como posso. Em uma velocidade inacreditável ele sai
de dentro de mim, me joga na cama e cai de boca.
— Aaahhh.— Grito, gemo, sei lá o que eu faço! Só sei que a língua desse
cara faz maravilhas em mim!
— Não para! — Ele sente que vou gozar e volta a meter em mim. — Não vou
agüentar muito tempo!
Ele me olha, nos encaramos, gemendo deliciados. Vejo um lampejo de
sentimento em seus olhos, como se também me amasse tanto quanto o amo.
Seguro seu rosto e o beijo tentando demonstrar tudo o que sinto, choro por
estar com o cara que eu amo, grudamos nossas testas e gozamos. Foi intenso.
Foi real.
De repente ele me olha, sentindo o peso da realidade se retira de mim.
— Isso não aconteceu Maria Clara, foi um erro que não vai se repetir. — E
saí do quarto, posso ouvir segundos depois a porta da casa se abrindo e
fechando e o barulho de seu carro saindo.
Naquele momento chorei sentindo a dor da rejeição, mas não esperava que
essa noite, esse "erro" cobraria seu preço, e ainda assim se tornaria o
propósito de minha vida.

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