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A SOCIOLOGIA DE MARX, WEBER E DURKHEIN


CAPÍTULO 4:
A SOCIOLOGIA DE MARX,
WEBER E DURKHEIN

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A SOCIOLOGIA DE MARX, WEBER E DURKHEIN


4.1 A sociologia de Marx

4.1.1 O que é a sociologia para Karl Marx?


Karl Marx foi um filósofo, sociólogo, economista, jornalis-
ta e teórico político alemão. Suas contribuições para a Sociolo-
gia Contemporânea incluem, além da análise social e econômi-
ca, um novo conceito de dialética, baseado na produção material
da humanidade.
A Sociologia marxista refere-se à conduta da sociologia atra-
vés de uma perspectiva marxista. O próprio marxismo pode ser re-
conhecido como uma filosofia política e uma sociologia, especial-
mente na medida em que tenta manter-se científica, sistemática e
objetiva em vez de puramente normativa e prescritiva.

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4.1.2 O que Karl Marx pensava sobre a sociedade?
As classes sociais, para Marx, surgem
a partir da divisão social do trabalho. Em
razão dela, a sociedade se divide em possui-
dores e não detentores dos meios de produ-
ção. Em razão da divisão social do trabalho
e dos meios, a sociedade se extrema entre
possuidores e os não detentores dos meios
de produção.
As classes sociais, para Marx, surgem
a partir da divisão social do trabalho. Em
razão dela, a sociedade se divide em traba-
lhadores e patrões.
As relações de produção regulam tanto a distribuição dos
meios de produção e dos produtos quanto a apropriação dessa dis-
tribuição do trabalho. Elas expressam as formas sociais de orga-
nização voltadas para a produção. Os fatores decorrentes dessas
relações resultam em uma divisão no interior das sociedades.
Por ter uma finalidade em si mesmo, o processo produtivo
aliena o trabalhador, já que é somente para produzir que ele existe.
Em razão da divisão social do trabalho e dos meios, a sociedade se
extrema entre possuidores e os não detentores dos meios de pro-
dução. Surgem, então, a classe dominante e a classe dominada (ou
seja, a dos trabalhadores). O Estado aparece para represen-
tar os interesses da classe dominante e cria, para isso, inúmeros
aparatos para manter a estrutura da produção. Esses aparatos são
nomeados por Marx de infraestrutura e condicionam o desenvol-
vimento de ideologias e normas reguladoras, sejam elas políticas,
religiosas, culturais ou econômicas, para assegurar os interesses
dos proprietários dos meios de produção.

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Percebendo que mesmo a revolução burguesa não conse-
guiu abolir as contradições entre as classes, Marx observou que ao
substituir as antigas condições de exploração do trabalhador por
novas, o sistema capitalista de produção em seu desenvolvimento
ainda guarda contradições internas que permitem criar condições
objetivas para a transformação social. Contudo, cabe somente ao
proletariado, na tomada de consciência de classe, sair do papel de
mero determinismo histórico e passar a ser agente dessa transfor-
mação social.
As contradições são expressas no aumento da massa de des-
possuídos, que sofrem com os males da humanidade, tais como a
pobreza, doenças, fome e desnutrição, e o atraso tecnológico em
contraste com o grande acúmulo de bens e riquezas em grandes
centros financeiros e industriais. É só por meio de um processo
revolucionário que os proletários de todo o mundo, segundo Marx,
poderiam eliminar as condições de apropriação e concentração
dos meios de produção existentes. Acabando a propriedade desses
meios, desapareceria a burguesia e instalar-se-ia, transitoriamen-
te, uma ditadura do proletariado até que se realizem as condições
de uma forma de organização social comunista.
Sabemos que esse ideal inspirou a Revolução Russa de 1917,
com a criação da URSS (União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas), que foi a primeira tentativa de um governo dos tra-
balhadores tendo em vista a construção da sociedade comunista.
No entanto, os fracassos dessa experiência ainda nos permitem
pensar no papel da propriedade privada no interior da sociedade.
Se ela provoca as desigualdades, mas também a sua forma de uso
coletivo não se mostrou adequada. Como pensar, nos dias de hoje,
a relação entre política e economia? Ainda que não haja respos-
tas contundentes sobre esse assunto, parece ser o desafio do nos-
so tempo enxergar as contradições do sistema e buscar, de modo
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adequado, tomar consciência de que a transformação exige a par-
ticipação de todos.
Assim, parece inquestionável o papel de Marx para os pen-
sadores de nossos dias. Ainda que a solução encontrada por esse
autor tenha ganhado concretude (fiel ou não a ele), é importante
retomar sua crítica ao sistema visando sanar as contradições que
estão evidenciadas em nosso cotidiano

4.2 A sociologia de DURKHEIN


Durkheim é considerado
o fundador da Sociologia como
ciência estruturada
Émile Durkheim foi um
psicólogo e sociólogo francês,
considerado o fundador da so-
ciologia, pelo fato de ter sido
o primeiro a criar um método
sociológico que distinguiu a
sociologia das demais ciências
humanas. O seu método está
baseado no reconhecimento e
estudo do que ele chamou de fa-
tos sociais. O pensador também
ocupa, junto a Karl Marx e Max
Weber, a tríade da sociologia clássica. O seu método está baseado
no reconhecimento e estudo dos fatos sociais.
Nascido em 15 de abril de 1858, em Épinal, cidade da re-
gião da Alsácia que correspondia ao território francês, David
Émile Durkheim era membro de uma família judaica tradicional.

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Completou seus estudos básicos no tradicional Liceu Louis-Le-
-Grand e cursou direito e economia na Escola Normal Superior
de Paris.
Segundo o sociólogo, as universidades e a educação básica
francesas precisavam de uma nova estrutura, pois elas estavam
amplamente embasadas na literatura e na filosofia, mas pouco
importavam-se com a ciência. Essa ideia de valorização científica
esteve com ele em sua trajetória acadêmica pela sociologia, pois o
teórico visava, ao criar o método sociológico, a uma ciência huma-
na que, de fato, tivesse o mesmo rigor das ciências da natureza.
No início de sua trajetória acadêmica, o pensador foi in-
fluenciado, além do direito da economia, pela filosofia (foi pro-
fessor de filosofia na educação básica francesa), pelo psi-
cólogo alemão Wilhelm Wundt, que criou um centro de pesquisa
psicológica chamado de Laboratório de Psicologia Experimental.
Durkheim também foi influenciado pela antropologia, que surgiu
na Europa no século XIX por meio das teorias do biólogo inglês
Herbert Spencer.
Em 1887, Durkheim entra para a Universidade de Bordéus
como encarregado de cursos. Foi nessa instituição que ele criou
a primeira cadeira de sociologia no ensino superior. A disciplina
era ensinada, inicialmente, como parte do currículo estruturante
dos cursos de direito, economia, psicologia e pedagogia. Durkheim
produziu toda a sua obra sociológica entre 1887 e 1917.
Em novembro de 1917, o sociólogo morreu na cidade de Pa-
ris, vítima de um acidente vascular cerebral.

4.2.1 Influências de Émile Durkheim


Durkheim foi influenciado por pensadores de sua época, do
mesmo modo que influenciou pensadores do círculo intelectual
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europeu do século XIX e de tempos posteriores. Entre as suas in-
fluências, podemos citar o biólogo, teórico liberal e pai da antropo-
logia Herbert Spencer. Também podemos incluir na lista o filósofo
liberal positivista Alfred Espinas.
Além de Spencer e Espinas, Durkheim foi influenciado di-
retamente pelo filósofo francês considerado o “pai” da sociologia,
Auguste Comte. De Comte, Durkheim colheu a ideia da criação de
uma ciência capaz de estudar a sociedade e reconhecer as suas es-
pecificidades. Porém, Durkheim foi além ao produzir uma crítica
à teoria de Comte que consolidaria a sociologia como uma ciência
bem fundamentada.
Segundo Durkheim, o que Comte fez não fundou a sociologia
como uma ciência bem definida e nem ultrapassou a filosofia, pois
continuou formulando teorias no campo do ideal metafísico, que
eram impossíveis de serem praticadas. Dessa maneira, Durkheim
buscou fundar um método baseado no reconhecimento dos fatos
sociais para inaugurar uma sociologia bem estruturada.
Durkheim criticou algumas ideias de Comte relacionadas à
sociologia, o que demonstra as influências sofridas pelo pensador
considerado o criador do método sociológico por aquele que é con-
siderado o “pai” da sociologia (Comte). Para Durkheim, apesar
da pretensão oposta, o modelo sociológico comtiano é demasiada-
mente filosófico, pois a base do positivismo e da sociologia é a Lei
dos Três Estados, que não recorre a um método preciso de obser-
vação e estudo rigoroso de uma sociedade, mas de uma abstração.
Ao contrário disso, Durkheim desenvolveu o conceito de
fatos sociais, que são estruturas que tendem a se repetir em di-
ferentes sociedades, mostrando-se elementos rígidos que podem
garantir certo rigor científico ao trabalho sociológico, uma vez que
podem ser analisados empiricamente.

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4.2.2 Regras do método sociológico de Émile Durkheim

A sociologia deve prezar pelo rigor para consolidar-se en-


quanto ciência. Assim sendo, é necessário desfazer-se do conhe-
cimento de senso comum e da tradição para poder entender cien-
tificamente as estruturas sociais que ordenam o mundo humano.
Segundo Durkheim “se existe uma ciência das sociedades, é de
desejar que ela não consista simplesmente numa paráfrase dos
preconceitos tradicionais, mas nos faça ver as coisas de maneira
diferente da sua aparência vulgar; de fato, o objeto de qualquer
ciência é fazer descobertas, e toda descoberta desconcerta mais
ou menos as opiniões herdadas”.
Dessa maneira, o método científico e o afastamento do senso
comum, da opinião e da tradição que são essenciais para a conso-
lidação da sociologia. Para que tal distanciamento seja possível, o
sociólogo deve afastar-se o tanto quanto puder da sociedade em
que ele está estabelecendo o seu estudo de campo. Somente assim

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é possível que o conhecimento obtido pelo sociólogo seja cientifi-
camente comprovável e confiável.
Afastando-se do seu campo de análise por questões metodo-
lógicas, o cientista social deve-se colocar a observar os fatos sociais
que moldam uma sociedade. Os fatos sociais são maiores que os in-
divíduos, que as consciências individuais e que as ações humanas.
Eles são exteriores aos indivíduos, coercitivos, porque moldam as
ações individuais e independentes. Também tendem a repetir-se
mesmo quando comparamos sociedades diferentes.
Um fato social que Durkheim toma como exemplo é a coe-
são social, que mesmo de forma diferente, repete-se em diferen-
tes sociedades. Temos, com isso, formas de coesão que formam
diferentes tipos de solidariedade em sociedades pré-capitalistas e
pós-capitalistas.
As sociedades pré-capitalistas são menores e de maior facili-
dade de controle. Há também um maior contato entre os membros
desse tipo sociedade, o que leva ao desenvolvimento de uma forma
de solidariedade mecânica, que junta as pessoas em prol de um
objetivo comum, pois a noção de comunidade garante uma maior
união dos indivíduos.
As sociedades capitalistas da era pós-industrial tendem a
comportarem-se como organismos, já que a população não é coesa
por inteiro, mas é formada por vários núcleos de indivíduos que
estabelecem vínculos solidários entre si. É como se a sociedade ca-
pitalista mais complexa fosse composta de diversos mecanismos
internos. O conjunto desses mecanismos coesos constitui a chama-
da solidariedade orgânica.

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4.2.3 O suicídio
Assim como as formas de coesão e solidariedade, o suicídio,
para Durkheim, também é um fato social. Segundo o sociólogo, o
suicídio repete-se em todas as sociedades, sendo modificadas ape-
nas as motivações e os seus índices de uma sociedade para a outra.
Para o sociólogo francês, existem três tipos fundamentais de
suicídio e eles estão apresentados nos tópicos a seguir:
Suicídio egoísta: acontece quando o ego pessoal se sobrepõe
ao ego social, e o indivíduo passa a sofrer por não ver mais sentido
em sua própria vida. Essa falta de sentido faz com que o ego indi-
vidual seja visto como maior que o ego social, de modo que não há
sentido em continuar sofrendo por uma sociedade que não o com-
preende como indivíduo.
Suicídio altruísta: nesse caso, acontece o inverso do caso
apresentado anteriormente, pois o ego social e coletivo é encarado
como maior que o ego individual, de modo que a pessoa se encon-
tra disposta a tirar a sua própria vida em nome de um objetivo que,
em seu julgamento, será bom para a coletividade. Podemos citar o
exemplo dos pilotos kamikaze japoneses que, na Segunda Guerra
Mundial, com a falta de projéteis, lançavam seus próprios aviões
nos alvos, causando suas próprias mortes.
Suicídio anômico: comum em períodos de crise financeira,
política e de valores, esse tipo de suicídio é provocado por uma
desordem social que leva a uma desordem psíquica no indivíduo.
Esse que, muitas vezes, era detentor de muitos bens e de uma es-
trutura de vida estável até perder toda a ordem financeira e/ou psi-
cológica que possuía. No momento da perda e sem saber lidar com
a nova situação, o indivíduo provoca a sua própria morte.

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4.2.4 Obras de Émile Durkheim
A seguir, listamos os livros de sociologia escritos por
Durkheim. Eles compreendem grande parte do trabalho
teórico que compõe a sociologia clássica:

● Elementos de Sociologia (1889)


● A Divisão do Trabalho Social (1893)
● As Regras do Método Sociológico (1895)
● O Suicídio (1897)
● As Formas Elementares da Vida Religiosa (1912)
● Educação e Sociologia (1922 – publicação póstuma)
● Sociologia e Filosofia (1924 – publicação póstuma)
● A Educação Moral (1925 – publicação póstuma)
● O Socialismo (1928 – publicação póstuma)

4.2.5 Frases de Émile Durkheim


● “É fato social toda maneira de agir, fixa ou não, susce-
tível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior;
ou então ainda, que é geral na extensão de uma socieda-
de dada, apresentando existência própria, independente
das manifestações individuais que possa ter.”
● “A sociedade e cada meio social particular determinam o
ideal que a educação realiza.”
● “Se todos os corações vibram em uníssono, não é por
causa de uma concordância espontânea e preestabeleci-
da; é que uma mesma força os move no mesmo sentido.
Cada um é arrastado por todos.”
● “A religião não é somente um sistema de ideias, ela é an-
tes de tudo um sistema de forças.”

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4.3 A sociologia de Weber
Karl Emil Maximilian
Weber (1864 – 1920) foi
um sociólogo, jurista e eco-
nomista alemão. Nascido em
uma família de posses lidera-
da por um advogado, Weber
foi educado com a rigidez da
religião protestante e com o
despertar do gosto pelo estu-
do e pelo trabalho. Max We-
ber era membro da tríade da
sociologia clássica.
A sociologia é conce-
bida por Max Weber como a
ciência que tem como objeto
a realidade infinita, na qual
existem tipos ideais que servem como modelos para a interpreta-
ção dos acontecimentos sociais que serão analisados.
O sociólogo alemão Max Weber é um dos principais teóricos
da sociologia e ocupa, junto a Émile Durkheim e Karl Marx, uma
das bases da chamada tríade da sociologia clássica. Weber fundou
um método de estudo sociológico baseado no que ele chamou de
ação social e produziu estudos profícuos para a compreensão da
formação do capitalismo. O livro mais difundido de Weber é A
ética protestante e o espírito do capitalismo, em que ele analisa
a proximidade da formação do capitalismo com a disseminação
do protestantismo.

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4.3.1 Teoria, pensamentos e principais ideias de Max Weber
Os principais objetos de estudo de Weber na sociologia fo-
ram o capitalismo e o protestantismo, levando o sociólogo a
desenvolver uma sociologia da teologia. A visão weberiana do ca-
pitalismo era diferente da visão marxista. Enquanto Marx via no
capitalismo a exploração do proletariado pela burguesia, Weber
encara-o como o fruto de um ideal, o ideal do capitalismo. Como
um ideal, o capitalismo promovia uma espécie de racionalização
do trabalho e do dinheiro, sendo sustentado pela prosperidade e
pela capacidade cada vez maior de gerar dinheiro.
Max Weber foi profundamente influenciado pela filosofia
de Immanuel Kant sustentada pelo idealismo. Para Kant, o plano
das ideias e conceitos deveria pautar todo o trabalho filosófico, que
partiria da prática para chegar aos conceitos mais puros e a priori
(anteriores a qualquer vivência material). Weber acreditava
que o capitalismo se originava com um ideal, com um espírito, e a
partir disso, esse sistema ia sendo construído na prática. Com base
nesse ideal, surgiu a noção de administração como ciência
capaz de promover o crescimento do capital.
Para escrever A ética protestante e o espírito do capitalismo,
Weber leu o texto Conselho a um jovem comerciante, de Benjamin
Franklin. Com base nesse texto, que expressa a noção que ficou
conhecida como um bordão de Franklin, time is money (tempo
é dinheiro), e da observação de nações europeias e dos Estados
Unidos, Weber elaborou a teoria que dizia que o capitalismo teria
sido aprimorado com o protestantismo, em especial o calvinista
(em nações como a Inglaterra e os Estados Unidos). Para
Franklin, o dinheiro deveria ser movimentado e ampliado, e essa
ampliação dava-se como ensinava a tradição calvinista, por meio
do trabalho.

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Para os calvinistas, havia uma noção de predestinação (tra-
balhada por Weber como hipótese a ser considerada) que
dizia que o homem já nascia predestinado ao paraíso ou ao inferno.
A maneira de saber se determinada pessoa iria para o céu era me-
dir o seu sucesso no trabalho e a sua resistência ao pecado. Como
pecado, os calvinistas incluíam as diversões fúteis, como festas e
luxo, além do ócio e da preguiça.
O homem de valor para os calvinistas era aquele que traba-
lhava muito, o máximo que o seu corpo aguentasse, e não se en-
tregava aos prazeres da vida, acumulando assim cada vez mais
dinheiro. Para as outras vertentes protestantes, há uma ideia ge-
ral bem semelhante a essa de valorização do trabalho e de fuga
dos prazeres.
Isso fez com que Weber enxergasse a diferença de desenvol-
vimento econômico entre nações predominantemente protestantes
que se tornaram as maiores potências econômicas (Alemanha,
Inglaterra e Estados Unidos) e nações predominantemente
católicas que não tiveram tanto crescimento econômico, como Es-
panha, Portugal e Itália.
A ideia do teórico político e estadista estadunidense Benja-
min Franklin estava sustentada no ideal calvinista, e o aumento
do dinheiro por meio do trabalho e da fuga do ócio e dos prazeres
parecia ser uma hipótese bem plausível para Weber, no sentido de
medir o sucesso de uma pessoa. Era esperado de alguém que con-
seguisse ganhar dinheiro multiplicá-lo para mostrar o seu valor
pessoal e moral.
A ética, nesse sentido, era uma prática voltada para um modo
de agir que fugisse de qualquer distração e de qualquer pecado e
que procurasse no trabalho o maior meio de chegar-se a Deus. Por
isso Weber ficou tão frustrado durante um tempo de sua vida em

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que não conseguia obter sua sustentação financeira e sentiu vergo-
nha do tempo em que foi acometido pela depressão e não conse-
guiu trabalhar.

4.3.2 Ação social de Max Weber


Para a metodologia so-
ciológica, Weber contribuiu
formulando a sua teoria da
ação social. Segundo o soció-
logo, era necessário que o pes-
quisador fosse dotado de uma
neutralidade axiológica, ou
seja, de uma neutralidade em
relação ao seu objeto de estu-
do. Com base em uma análise
neutra e imparcial, o sociólo-
go deveria identificar as ações
sociais dos sujeitos e classifi-
cá-las. Nisso, Weber discorda
do método de Durkheim, que
visa buscar fatos sociais que se repetem em todas as sociedades e
são invariáveis.
Para Weber, as ações individuais é que forneciam o
material necessário para chegar-se a um estudo válido.
No entanto, por serem as ações sociais tão vastas e diver-
sas, o sociólogo deveria buscar um padrão de correção
para que o seu trabalho tivesse uma validade científica e
um respaldo metodológico.
Esse padrão de correção estava localizado no que Weber cha-
mou de tipos ideais, que eram balizas para estabelecer-se qualquer

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comportamento padrão. Como ideais, esses tipos são perfeitos e
imutáveis, não existindo na prática. Nessa se encontram as ações
que poderiam afastar-se ou aproximar-se dos tipos ideais.
Weber separa e classifica as ações sociais em quatro tipos.
São eles:

1. Ação social racional com relação a fins: é um tipo


de ação pensada e calculada para atingir alguma finalida-
de. Por exemplo, casar-se para constituir uma família. A
ação social é o matrimônio e a finalidade dessa ação é a
constituição da família.
2. Ação social racional com relação a valores: é um
tipo de ação social pensada e calculada para atingir al-
gum tipo de valor moral, ou visando como fundo a mora-
lidade. Por exemplo, fazer o que a moral considera certo,
como não roubar.
3. Ação social tradicional: não é racional e nem calcula-
da. Consiste numa forma de agir de acordo com a tradi-
ção, respeitando o que a sociedade considera como o que
deve ser feito. Retomando o exemplo do matrimônio, se-
ria casar-se porque a sociedade impõe o casamento como
uma tradição que deve ser seguida.
4. Ação social afetiva: não é racional. Ela segue os afetos
e as paixões, os sentimentos e as afecções. É o tipo de ação
motivada por sentimentos, como amor, paixão, medo.

No campo da teoria da sociologia política, Weber contribuiu


com uma teoria da dominação, que fala dos modos de poder existen-
tes. Para o pensador, existem três tipos de poder ou domi-
nação exercidos que lhes conferem alguma legitimidade:

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1. A dominação legal: ocorre por meio das leis. É o poder
exercido por aqueles que a lei permitiu exercê-lo, como
os representantes dos poderes Legislativo, Judiciário e
Executivo, no caso de nossa República.
2. A dominação tradicional: justifica-se pela tradição.
Por exemplo, em uma sociedade patriarcal, o pai exerce o
poder autoritário dentro da família e respalda-se na tra-
dição para exercitá-lo.
3. A dominação carismática: é exercida por lideranças
carismáticas, que têm o dom de atrair o apoio das massas
com seus discursos, como de maneira mágica. Temos vá-
rios exemplos desse tipo de liderança na história mundial,
como Hitler, Mussolini, Getúlio Vargas e Fidel Castro.

4.3.3 Influências de Max Weber


Vários são os pensadores que influenciaram a sociologia de
Max Weber. Por ser um grande estudioso, dedicado à leitura e à
pesquisa, Weber pegou de empréstimo várias ideias para seus tra-
balhos. Podemos destacar como centrais para sua obra os seguin-
tes pensadores: Friedrich Nietzsche. Immanuel Kant. John Stuart
Mill, Alexis de Tocqueville.
Um aspecto relevante disso e da própria sociologia é que
muitas correntes lidam com ideias opostas, o que permitiu uma
grande riqueza histórica quando se trata do confronto de pensa-
mentos e ideias.
As teorias sociais partem de um elemento fundamental: o
homem. A maioria dos autores que impuseram seus pensamentos
sociais ao conhecimento coletivo o fez com base em sua própria
concepção do homem com base em seu ambiente.

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A partir disso, eles constroem qual seria a ordem social e a
sociedade em que esse homem se desenvolveria.
As teorias sociais, em si mesmas e como parte da sociologia,
apresentam uma concepção ideal da sociedade que não se reflete
necessariamente na realidade.
A sociologia, uma vez inserida no campo científico mundial,
começou a levar em conta os aspectos contextuais de cada momen-
to histórico, a fim de estabelecer suas próprias posições.

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