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GUSTAVO HENRIQUE SANTOS SERPA

OS CAMINHOS DA SOCIOLOGIA: DO SURGIMENTO ATÉ 1980.

Trabalho apresentado como


requisito de avaliação da disciplina
de Sociologia III do Curso de Ciências
Sociais, ministrada pela professora
Maria da Luz Alves Ferreira, 3° período
Matutino.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS


MAIO DE 2023
CAPÍTULO I
SOCIOLOGIA: ORIGENS E ABORDAGENS

1. ORIGEM DA SOCIOLOGIA

A sociologia surge na primeira metade do século XIX como nova forma de


pensamento científico. De certa forma, é importante ressaltar que, a sociologia, assim
como qualquer outra área do conhecimento surgiu de uma necessidade a partir de um
contexto social. E analisar suas causas históricas e sociais é fundamental para entender
suas características atuais.

Levando em consideração os aspectos históricos-sociais, diversos fatores


poderiam ser apontados como colaborativo para a criação dessa ciência. Porém, quatro
acontecimentos foram primordiais para este processo, pois afetaram diretamente o
“pilar” estrutural da convivência humana.

1.1 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

O primeiro acontecimento é de ordem econômica. Uma das profundas


transformações sociais que a história presenciou foi a Revolução Industrial. Acarretou
em um grande período de desenvolvimento tecnológico que teve seu ápice na Inglaterra
a partir da segunda metade do século XVIII e que rapidamente se espalhou pelo resto
do mundo, fornecendo grandes transformações e inovações para o surgimento da
indústria e consolidou o processo de formação do capitalismo.

Com o nascimento das indústrias, houve grandes transformações na economia


mundial, tal qual o estilo de vida da população. A aceleração da produção de
mercadorias e a grande exploração dos recursos da natureza foram responsáveis por
grandes transformações no processo produtivo e nas relações de trabalho vigentes na
época, impactos esses que são notórios até os dias atuais.

Com o sistema de maquinário aplicado nas fábricas, as formas de interação


humana foram alteradas drasticamente, pois aumentou a produtividade em níveis
altíssimos e instaurou novas classes sociais: a burguesia e o proletariado, fomentando
em novas formas de pobreza e uma série de acontecimentos sociais que será explicado
mais a frente por Karl Marx (1818 – 1883).
1.2 REVOLUÇÃO FRANCESA

Anteriormente a Revolução Industrial, a Europa havia passado por


grandes mudanças que abalaram a estrutura social da época. A ordem política
seria atingida no século XVIII com a Revolução Francesa, que foi um evento de
maior escala. Tal revolução se deu a partir de revoltas sociais e, principalmente,
politicas que ocorriam na França. Rodeada de grandes crises econômicas e alto
custo de vida e privilégios da corte, a burguesia que vivia em situação de
desprezo começaram a discordar do modelo político estabelecido no país.

A Revolução Francesa implantaria novos ideais políticos e inauguraria


novas formas de organização do poder, com a queda da monarquia e a
instauração do sufrágio eleitoral democrático, os direitos do homem e as noções
de liberdade, fraternidade e igualdade, que puderam mudar a ordem política da
época.

A questão religiosa foi fortemente contestada pelos revolucionários, já que


para eles, um princípio maior deveria dominar a vida política. Para eles, o
exercício do poder era o fruto de um pacto racional entre os homens (teoria do
Contrato Social de Jean-Jacques Rousseau), onde ele institui um pacto
convencional, de forma que os cidadãos, em condições justas, abririam mão de
seus direitos individuais e consentem com o poder de uma autoridade na qual
depositariam sua confiança, sendo assim, o estado teria o dever de proteger os
cidadãos.

1.3 ILUMINISMO

Caminhando junto com a Revolução Francesa, se consolidaria uma nova


forma de entender e pensar filosófico do mundo: o Iluminismo, que tinha como
movimento intelectual o objetivo de entender e organizar o mundo a partir da
razão. Para alguns autores como Rousseau, a razão seria a luz que sepultaria
as trevas, representadas na forma de monarquia e religião.

Os Iluministas defendiam ideais como liberdade e constitucionalismo,


eram fortes defensores da separação entre Igreja e Estado e, além disso, eram
opositores da monarquia absolutista e defendiam os métodos científicos. Assim,
a Revolução Francesa teve como um dos principais nortes as ideias iluministas.
Visto pelos intelectuais como um movimento que iluminava a capacidade
humana de criticar e almejar um mundo melhor, transformou o século XVII no
Século das Luzes.

Os iluministas relativizavam uma teoria em que o mundo seria melhor com


a explicação racional para os acontecimentos sociais. Em suas teorias alguns
pensadores preocupavam-se com as questões políticas, sociais e religiosas,
enquanto outros, procuravam uma maneira de aumentar as riquezas das
nações. Mas que de modo geral, defendiam a liberdade, a justiça, a igualdade
social e o Estado com divisão de poderes e governos representativos.

Os pensadores que defendiam esses ideais acreditavam que o


pensamento racional deveria ser levado adiante, substituindo as crenças
religiosas e o misticismo, que, segundo eles bloqueavam a capacidade evolutiva
do homem. O homem deveria ser o centro e passar a buscar suas respostas
para as questões que, até então, eram justificadas somente pela fé.

Segundo os iluministas, cada pessoa deveria pensar por si própria, e não


se deixar levar por outras ideologias impostas, que eram forçadas a seguir.
Pregavam uma sociedade “livre”, com possibilidades de transição de classes e
mais oportunidades iguais para todos. Economicamente, achavam que era da
terra e da natureza que deveriam ser extraídas as riquezas dos países. Segundo
Adam Smith, cada indivíduo deveria procurar lucro próprio sem escrúpulos, o
que, em sua visão, geraria um bem-estar-geral na civilização.

A primeira é a análise dos fenômenos econômicos como


manifestações de uma ordem natural a eles subjacente,
governada por leis objetivas e inteligíveis através de um sistema
coordenado de relações causais. (...) A segunda é a doutrina
segundo a qual essa ordem natural requer para operação
eficiente a maior liberdade individual possível na esfera das
relações econômicas, doutrina cujos fundamentos racionais são
derivados de seu sistema teórico, já que o interesse individual é
visto por ele como motivação fundamental da divisão social do
trabalho e da acumulação de capital, causas últimas do
crescimento do bem estar coletivo. (SMITH, Adam p. 15)
1.4 RENASCIMENTO

O Renascimento foi um período histórico marcado por um intenso


interesse pelo conhecimento e uma busca pela renovação cultural, artística e
científica. Durante esse período, ocorreram várias reivindicações em relação à
ciência. Entre elas, podemos citar o humanismo e a valorização da razão. Os
humanistas valorizavam a razão humana como meio de compreender o mundo,
em contraposição à visão teocêntrica predominante na Idade Média. A ciência e
a observação empírica passaram a ser consideradas fontes legítimas de
conhecimento.

Durante o Renascimento, houve uma maior ênfase na observação direta


da natureza e na experimentação como métodos para adquirir conhecimento. Os
cientistas começaram a questionar as autoridades tradicionais e a buscar
respostas através da experimentação controlada. Isso levou ao desenvolvimento
de novos campos científicos, como a astronomia, a anatomia e a física.

Essas reivindicações da ciência durante o Renascimento abriram caminho


para a consolidação de uma abordagem científica mais sistemática e baseada
na observação empírica, que se desenvolveu ainda mais nos séculos seguintes.

CAPÍTULO II
ESCOLAS DO PENSAMENTO CLÁSSICO

Dentre as escolas do pensamento clássico, o positivismo teve grande


relevância, e três importantes sociólogos associados a essa corrente são Saint-
Simon, Auguste Comte e Émile Durkheim. O positivismo propunha uma
abordagem científica para o estudo da sociedade, enfatizando a observação
empírica e a busca por leis e regularidades sociais. O reestabelecimento da
ordem social era um dos fundamentos da sociologia positivista.

Embora Saint-Simon (1760 – 1825) seja considerado um precursor da


sociologia e não um sociólogo clássico, suas ideias influenciaram o
desenvolvimento do positivismo. Ele argumentava que a sociedade deveria ser
reorganizada com base na ciência e na tecnologia para superar os conflitos e
desigualdades sociais. Saint-Simon defendia uma ordem social baseada na
cooperação entre os diferentes grupos e na valorização dos especialistas e
cientistas como guias da sociedade.

A defesa da neutralidade científica, a apologia aos cientistas e a crítica


aos políticos são marcas da obra de Saint-Simon. Este pensador francês
preconizava, sobretudo, a supremacia de um determinado Conselho de Newton,
que deveria ser presidido pelo matemático que obtivesse mais votos da
comunidade. O progresso, em sua concepção, encontrava-se condicionado ao
desenvolvimento da ciência, das artes e dos ofícios. Em sua “Parábola”, escrita
em 1810, criticando a sociedade francesa de sua época, afirmara que são os
homens menos capazes, como os príncipes e outros governantes, que dirigiam
as pessoas capazes cujas atividades são de utilidade positiva para a sociedade,
como os sábios, os artistas e os artesãos; situação esta que deveria ser
transformada. (Saint-Simon, 1810/2002b)

Auguste Comte (1798-1857) é amplamente reconhecido como o fundador


da sociologia e como um dos principais expoentes do positivismo. Ele acreditava
que a sociedade estava passando por uma transição do estágio teológico para
o estágio metafísico e, finalmente, para o estágio positivo. No estágio positivo, o
conhecimento seria baseado na observação científica e a sociologia
desempenharia um papel fundamental na reorganização da sociedade de forma
racional e harmoniosa. Comte via a ordem social como uma condição necessária
para o progresso e desenvolvimento da humanidade. Para Comte, a sociedade
de sua época estava passando por um período de caos, de desorganização, de
imoralidade, problemas esses causados pela disputa das filosofias.

(...) a desordem atual das inteligências vincula-se, em última


análise, ao emprego simultâneo de três filosofias radicalmente
incompatíveis: a filosofia teológica, a filosofia metafísica e a
filosofia positiva.” E somente “(...) a filosofia positiva pode ser
considerada a única base sólida da reorganização social, que
deve terminar o estado de crise no qual se encontram, há tanto
tempo, as nações mais civilizadas. (COMTE, Auguste. p. 65-67)

Émile Durkheim (1858-1917) foi um dos sociólogos mais influentes do


positivismo e se destacou por sua ênfase no estudo dos fatos sociais. Ele
considerava a sociedade como um organismo complexo, onde os indivíduos
eram influenciados por forças sociais externas e compartilhavam valores e
normas coletivas. Durkheim argumentava que a manutenção da ordem social
era um dos principais objetivos da sociologia, e a solidariedade social era
fundamental para alcançar essa ordem. Ele via a educação, a moralidade e as
instituições sociais como elementos-chave para fortalecer a coesão social.

Mas, para que haja fato social, é preciso que vários indivíduos,
pelo menos, tenham juntado sua ação e que essa combinação
tenha produzido algo novo. E, como essa síntese ocorre fora de
cada um de nós (já que envolve uma pluralidade de
consciências), ela necessariamente tem por efeito fixar, instituir
fora de nós certas maneiras de agir e certos julgamentos que
não dependem de cada vontade particular isoladamente.
(DURKHEIM, E. 1987, p.29)

A escola crítica de Karl Marx e Friedrich Engels, conhecida como


marxismo, é uma corrente de pensamento que se dedica a analisar e criticar o
capitalismo, além de oferecer uma retrospectiva dos modos de produção ao
longo da história. Marx e Engels desenvolveram suas ideias em várias obras,
como "O Manifesto Comunista" e "O Capital". Marx e Engels deixam registrado
suas concepções das transformações sociais já nas primeiras páginas do
Manifesto Comunista: "A história de todas as sociedades que existiram até
nossos dias tem sido a história das lutas de classes.”

Embora o Manifesto seja nossa produção conjunta, considero-


me obrigado a declarar que a proposição fundamental que forma
o seu núcleo pertence a Marx. Essa proposição é: que, em
qualquer época histórica, o modo predominante da produção
económica e da troca, e a organização social que dele
necessariamente decorre, formam a base sobre a qual se
constrói, e só a partir da qual pode ser explicada, a história
intelectual e política dessa época; que, consequentemente, toda
a história da humanidade (desde a dissolução da sociedade
tribal primitiva, detendo a terra em posse comum) tem sido uma
história de lutas de classes, de conflitos entre classes
exploradoras e exploradas, entre classes dominantes e
oprimidas; que a história destas lutas de classes forma uma série
de evoluções na qual se alcançou hoje um estádio em que a
classe oprimida e explorada — o proletariado — não pode atingir
a sua emancipação do jugo da classe dominante e exploradora
— a burguesia — sem emancipar, ao mesmo tempo e de uma
vez por todas, toda a sociedade de qualquer exploração e
opressão, de quaisquer distinções de classes e lutas de classes.
(Marx. Karl e ENGELS, F. 1848 p.15)

A crítica marxista ao capitalismo baseia-se na compreensão de que a


sociedade é moldada pelas relações de produção. Segundo Marx e Engels, no
capitalismo, os meios de produção estão nas mãos de uma classe dominante, a
burguesia, que detém o capital e os recursos necessários para produzir bens e
serviços. A classe trabalhadora, o proletariado, é obrigada a vender sua força de
trabalho em troca de salário para sobreviver.

Uma das principais críticas marxistas ao capitalismo é a exploração. Marx


argumenta que a burguesia obtém lucros ao extrair mais valor do trabalho dos
trabalhadores do que o salário que lhes paga. Essa exploração é possível devido
à existência de uma mais-valia, ou seja, a diferença entre o valor criado pelo
trabalho do proletariado e o valor que eles recebem em salários. Além disso,
Marx e Engels argumentam que o capitalismo é um sistema instável e sujeito a
crises. Eles enfatizam as contradições inerentes ao capitalismo, como a busca
incessante por lucros, a competição entre as empresas e a tendência à
concentração do capital nas mãos de poucos. Esses fatores, segundo eles,
levam a crises econômicas recorrentes e à desigualdade social.

Outra crítica fundamental é a alienação. Marx e Engels argumentam que,


no capitalismo, os trabalhadores se tornam alienados de seu próprio trabalho e
daquilo que produzem. Devido à natureza da produção capitalista, em que os
trabalhadores são meros executores de tarefas repetitivas e fragmentadas, eles
perdem a conexão com o produto final e são tratados apenas como uma parte
do processo de produção. Isso leva a uma sensação de desumanização e falta
de realização pessoal.

Em relação à retrospectiva dos modos de produção, Marx e Engels


elaboraram a teoria materialista da história, conhecido como materialismo
histórico. Eles argumentaram que a evolução histórica está fundamentada nas
mudanças nos modos de produção, que são as formas pelas quais a sociedade
organiza a produção e a distribuição de bens e serviços. Esses modos de
produção incluem o tribalismo primitivo, o escravismo, o feudalismo e o
capitalismo.

Marx e Engels argumentaram que o modo de produção capitalista,


embora tenha desempenhado um papel progressivo na história, criou suas
próprias contradições internas que inevitavelmente levariam ao seu colapso,
assim como as anteriores. Eles previram que o capitalismo seria substituído por
um sistema socialista, no qual os meios de produção seriam de propriedade
coletiva e a classe trabalhadora teria o controle sobre eles. Essa transição para
o socialismo abriria caminho para uma sociedade comunista, livre de classes e
caracterizada pela igualdade e pelo desenvolvimento pleno do indivíduo.

A Escola Compreensiva, também conhecida como Escola de


Interpretação ou Escola Hermenêutica, é uma abordagem sociológica
desenvolvida por Max Weber, um renomado sociólogo alemão do século XIX e
início do século XX. Essa abordagem busca compreender a ação social e as
motivações culturais dos indivíduos.

De acordo com Weber, a ação social é o comportamento humano


orientado pelo significado subjetivo que os indivíduos atribuem a ele. Para
compreender as ações e motivações dos indivíduos, é necessário considerar o
contexto cultural e social no qual eles estão inseridos. Nesse sentido, a Escola
Compreensiva enfatiza a importância da interpretação e compreensão das ações
sociais a partir da perspectiva dos próprios atores sociais.

Sociologia (na acepção, aqui aceite, desta palavra empregue


com tão diversos significados) designará: uma ciência que visa
compreender, interpretando-a, a acção social e, deste modo,
explicá-la causalmente no seu decurso e nos seus efeitos. Por
“acção” entender-se-á um comportamento humano (consista ele
num fazer externo ou interno, num omitir ou permitir), sempre
que o agente ou os agentes lhe associem um sentido subjectivo.
Mas designar-se-á como acção “social” aquela em que o sentido
intentado pelo agente ou pelos agentes está referido ao
comportamento de outros e por ele se orienta no seu curso.
(WEBER, Max. 1997, p.7)

Weber argumentava que os indivíduos são influenciados por sua cultura,


valores, crenças e experiências, e esses elementos desempenham um papel
fundamental na maneira como eles agem e tomam decisões. Portanto, para
entender as motivações dos indivíduos, é necessário analisar os significados
subjetivos que eles atribuem às suas ações, levando em consideração o contexto
cultural em que estão inseridos.
A Escola Compreensiva também destaca a importância da empatia e de
se colocar no lugar do outro para compreender as motivações dos indivíduos.
Os sociólogos que seguem essa abordagem buscam interpretar as ações sociais
dos indivíduos por meio de entrevistas, observação participante e análise de
documentos, com o objetivo de capturar os significados subjetivos e os contextos
culturais nos quais essas ações estão inseridas.

A consideração científica constitutiva de tipos indaga e expõe,


muito de relance, todas as conexões significativas irracionais,
afectivamente condicionadas, do comportamento que
influenciam o agir enquanto “desvios” de um seu decurso
construído como puramente racional e teleológico. (WEBER,
Max. 1997, p.11)

Max Weber categorizou as ações sociais em quatro tipos principais com


base em sua natureza e motivação social, e nesse viés ideológico temos:

Ação Social com Significado Tradicional (ação afetiva): Nesse tipo de


ação, os indivíduos se comportam de acordo com costumes, tradições e valores
estabelecidos ao longo do tempo. As motivações para essa ação são baseadas
em sentimentos, emoções e apego emocional a essas tradições. Por exemplo,
seguir rituais religiosos ou práticas culturais transmitidas de geração em
geração.
Ação Social com Significado Afetivo (ação emocional): Nesse tipo de
ação, os indivíduos agem com base em suas emoções e sentimentos imediatos.
Suas motivações estão relacionadas às emoções experimentadas no momento.
Por exemplo, agir impulsivamente devido à raiva, medo ou paixão.
Ação Social com Significado Racional (ação racional com relação a
valores): Nesse tipo de ação, os indivíduos agem com base em valores, crenças
e princípios pessoais. Eles buscam alcançar metas ou objetivos que consideram
importantes e justificam suas ações com base nesses valores. Por exemplo,
tomar decisões com base em considerações éticas ou morais.
Ação Social com Significado Racional (ação racional com relação a fins):
Nesse tipo de ação, os indivíduos agem de forma calculada para alcançar um
objetivo específico. Suas ações são orientadas por uma análise lógica e
calculada dos meios e fins. Essa abordagem é baseada na racionalidade
instrumental, na qual os meios são escolhidos com base em sua eficácia para
atingir um fim desejado. Por exemplo, planejar uma carreira profissional com o
objetivo de obter sucesso financeiro.
Em resumo, a Escola Compreensiva de Max Weber enfatiza a importância
de compreender as motivações culturais dos indivíduos para entender a ação
social. Ela busca interpretar e compreender as ações sociais a partir da
perspectiva dos próprios atores sociais, levando em consideração o contexto
cultural no qual eles estão imersos.

CAPÍTULO III
Análise da sociedade moderna

A sociedade moderna, caracterizada pelo sistema capitalista, tem sido


objeto de análise de diversos teóricos sociais, entre eles Karl Marx, Émile
Durkheim e Max Weber. Esses autores apresentam perspectivas distintas sobre
a sociedade e suas estruturas, com ênfase especial na divisão do trabalho.
Karl Marx, em sua obra seminal "O Capital", concentrou-se na crítica ao
modo de produção capitalista. Para ele, a divisão do trabalho é uma
característica fundamental desse sistema, mas, ao invés de exaltar seus
benefícios, Marx se preocupou com suas consequências alienantes. Ele
argumentou que, sob o capitalismo, os trabalhadores são privados do controle
sobre os meios de produção e se tornam meros instrumentos de trabalho. Essa
alienação leva à exploração, desumanização e à formação de classes sociais
distintas, com a burguesia detendo o poder e acumulando riqueza às custas dos
trabalhadores proletários.
Por outro lado, Émile Durkheim, em sua obra "Da divisão do trabalho
social", analisou a divisão do trabalho como um elemento unificador da
sociedade moderna. Durkheim argumentava que a especialização das tarefas
era necessária para o funcionamento harmonioso da sociedade. A divisão do
trabalho cria interdependência e solidariedade entre os indivíduos, pois cada um
contribui com suas habilidades específicas para o bem-estar coletivo. No
entanto, Durkheim alertou para os riscos do aumento excessivo da divisão do
trabalho, que poderia levar à anomia social, uma vez que os indivíduos se
sentiriam desconectados e desorientados em relação aos valores e normas da
sociedade.
Já Max Weber, em sua obra "A ética protestante e o espírito do
capitalismo", analisou a relação entre a religião e o desenvolvimento do
capitalismo. Weber argumentou que certos valores e crenças, especialmente os
do protestantismo ascético, influenciaram o surgimento do capitalismo moderno.
Para ele, a divisão do trabalho era uma característica do capitalismo, mas seu
foco principal estava nas consequências desse sistema para a esfera da ação
social. Weber destacou a racionalização da sociedade moderna, na qual os
indivíduos se engajam em atividades econômicas orientadas para metas
específicas, buscando a eficiência e a maximização dos lucros. A burocracia e a
dominação legal-racional também foram temas centrais em sua análise.
Assim, enquanto Marx criticava a divisão do trabalho capitalista como
alienante e exploradora, Durkheim destacava sua importância para a coesão
social, desde que fosse equilibrada. Weber, por sua vez, analisava a
racionalidade e a influência dos valores religiosos na formação do capitalismo.
Esses três autores fornecem abordagens complementares que ajudam a
entender a complexidade da sociedade moderna, suas estruturas e dinâmicas,
especialmente no que se refere à divisão do trabalho e suas implicações para a
vida em sociedade.

CAPÍTULO IV
Mudanças da sociedade moderna

As mudanças na sociedade moderna têm sido amplamente discutidas por


diversos teóricos ao longo do tempo. Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber
são três dos principais sociólogos clássicos que contribuíram para a
compreensão dessas mudanças em diferentes aspectos: econômico, moral e
cultural, respectivamente. Cada um desses pensadores ofereceu uma
perspectiva única sobre a transformação da sociedade moderna e suas
implicações.

Marx enfocou principalmente as mudanças econômicas da sociedade


moderna. Segundo ele, o modo de produção capitalista foi responsável por uma
série de transformações sociais e econômicas significativas. Marx argumentava
que a sociedade moderna era caracterizada por uma divisão de classes entre a
burguesia capitalista, que possuía os meios de produção, e o proletariado, a
classe trabalhadora que vendia sua força de trabalho. Ele via o capitalismo como
um sistema baseado na exploração da classe trabalhadora, onde o valor gerado
pelo trabalho era apropriado pelos capitalistas.

Para Marx, a industrialização e a expansão do capitalismo levaram a uma


crescente alienação dos trabalhadores, que se tornaram cada vez mais
dependentes do sistema e distantes dos produtos de seu próprio trabalho. Além
disso, Marx destacou as contradições inerentes ao sistema capitalista, como as
crises econômicas, a desigualdade social e a luta de classes. Ele acreditava que
a sociedade moderna caminhava em direção a uma revolução proletária, na qual
o proletariado se uniria para superar o sistema capitalista e estabelecer uma
sociedade sem classes.

Por sua vez, Durkheim concentrou-se nas mudanças morais que


ocorreram na sociedade moderna. Ele argumentava que a solidariedade social
passou de uma forma tradicional baseada na semelhança e na proximidade
(solidariedade mecânica) para uma forma baseada na interdependência e na
divisão do trabalho (solidariedade orgânica). A sociedade moderna, segundo
Durkheim, tornou-se mais complexa e fragmentada, com a especialização
ocupacional e a divisão do trabalho desempenhando um papel central.

Durkheim estava preocupado com os efeitos negativos da anomia, um


estado de desintegração social e falta de normas sociais claras, que poderia
surgir devido à rápida transformação da sociedade. Ele argumentava que,
embora a solidariedade orgânica proporcionasse uma maior liberdade individual,
também aumentava a necessidade de regras sociais e instituições capazes de
manter a coesão social. Portanto, Durkheim via a moral como um elemento
crucial para lidar com as mudanças da sociedade moderna e enfatizava a
importância de instituições sociais, como a educação e a religião, na criação de
uma consciência coletiva.

Por fim, Weber analisou as mudanças culturais na sociedade moderna.


Ele se interessou pela racionalização do mundo, argumentando que a crescente
influência do pensamento racional e burocrático moldava a sociedade de
maneiras profundas. Weber destacou a ascensão do capitalismo como resultado
da ética protestante, que enfatizava a disciplina, o trabalho árduo e a busca do
sucesso material. Ele argumentou que a racionalidade instrumental, baseada na
eficiência e na busca de objetivos específicos, permeava cada vez mais todas
as esferas da vida social, incluindo a política, a economia e a organização
burocrática.

Weber também explorou o conceito de desencantamento do mundo,


afirmando que a modernidade estava caracterizada por uma perda gradual do
sentido místico e da magia na vida cotidiana. Ele via a crescente racionalidade
como um fator que levava à desvalorização do mundo e à fragmentação do
sentido, uma vez que as instituições burocráticas e os princípios racionais se
tornavam dominantes.

Em resumo, Marx, Durkheim e Weber ofereceram perspectivas distintas


sobre as mudanças da sociedade moderna. Marx enfocou a dimensão
econômica e a luta de classes, Durkheim enfocou a dimensão moral e a
solidariedade social, enquanto Weber enfocou a dimensão cultural e a
racionalização do mundo. Esses sociólogos clássicos nos ajudaram a
compreender as complexidades e as transformações da sociedade moderna em
diferentes aspectos, oferecendo contribuições fundamentais para a sociologia e
para o pensamento social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COMTE, Auguste. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. 13.ed. São Paulo: Nacional, 1987.

K. MARX e F. ENGELS. Manifesto do Partido Comunista, ed. cit. 1848.

SAINT-SIMON. Um sonho. In: TEIXEIRA, A. (org.). Utópicos, heréticos e


malditos: os precursores do pensamento social de nossa época. Rio de
Janeiro: Record, 2002.

SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas
causas. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

WEBER, Max. Conceitos básicos de Sociologia. 4 ed. São Paulo: Centauro Editora,
2005.

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