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Fichamento O pensamento selvagem

Claude Lévi-Strauss
Acadêmica: Maria Cecilia de Faria Avelino
Período: 3°

Capítulo 1 - A ciência do concreto

No início do capítulo intitulado "A Ciência do Concreto", Lévi-Strauss busca desacreditar a


ideia de que a falta de termos em algumas línguas para expressar certas palavras, como
"árvore" ou "animal", por exemplo, seja motivo para considerar os povos indígenas que usam
essas línguas como intelectualmente inferiores à nossa civilização. Para refutar esse ponto de
vista, ele argumenta que aqueles que o defendem negligenciam outros exemplos que
evidenciam a riqueza dessas línguas. Além disso, Lévi-Strauss afirma enfaticamente: "Em
todas as línguas, o discurso e a sintaxe fornecem os recursos necessários para suprir as
lacunas no vocabulário".
Para reforçar ainda mais sua argumentação, Lévi-Strauss cita alguns autores que
compartilham dessa mesma visão abstrata. Esses autores citados fortalecem a ideia de que o
indígena nomeia e conceitua apenas com base em suas necessidades. Contrariando essa
opinião, Lévi-Strauss nos afirma que "a delimitação conceitual varia de língua para língua e,
(...) o uso de termos mais ou menos abstratos não é determinado pelas capacidades
intelectuais, mas sim pelos interesses desiguais e detalhados de cada sociedade específica
dentro da sociedade nacional".

Aprouve-nos, durante muito tempo, mencionar línguas a que faltam termos para
exprimir conceitos, tais como os de árvore ou animal, se bem que elas possuam
todas as palavras necessárias a um inventário minucioso de espécies e de
variedades. (p. 15)

No capítulo em questão, Lévi-Strauss destaca um exemplo significativo que reitera


seu argumento contra o pensamento abstrato mencionado anteriormente. Trata-se do
extenso conhecimento zoológico e botânico possuído pelas comunidades indígenas.
Esse conhecimento vai além da mera utilidade que animais e plantas possam ter
para eles. Segundo o autor: "Um conhecimento desenvolvido de maneira tão
sistemática não pode ser atribuído apenas à sua utilidade prática". Portanto,
conclui-se que "as espécies animais e vegetais não são conhecidas apenas por sua
utilidade; elas são classificadas como úteis ou interessantes porque são
primeiramente conhecidas".
"Dentre as plantas e os animais, o índio só dá nome às espécies úteis ou nocivas; as
outras são classificadas, indistintamente, como ave, erva daninha, etc." (Krause, p.
104.). (p. 16)

E quando sua colaboradora indígena acentua que no Havaí "cada forma botânica,
zoológica ou inorgânica que se sabia ter sido denominada (e personalizada) era...
uma coisa utilizada", (...) "de uma forma ou de outra" e precisa que se "uma
variedade ilimitada de seres viventes do mar e da floresta (...) ", termos não
equivalentes, visto como um se situa no plano prático e o outro no plano teórico. ( p.
16)

Em seu trabalho, Lévi-Strauss analisa a relação entre magia e ciência, sugerindo que, em vez
de considerá-las opostas, seria mais benéfico abordá-las em paralelo, como duas formas de
conhecimento que diferem principalmente em seus resultados teóricos e práticos. Ele
argumenta que, embora existam diferenças nos tipos de fenômenos aos quais se aplicam,
ambas envolvem operações mentais semelhantes em sua natureza.
Tanto a magia quanto a ciência destacam a questão da causalidade, embora utilizem
abordagens distintas para compreendê-la, resultando em diferentes resultados práticos.
Lévi-Strauss também observa que tanto os povos primitivos quanto os cientistas lidam com a
dúvida, mas não com a desordem. Assim, a necessidade de categorizar e agrupar as coisas,
como um inventário, surge como uma necessidade intelectual decorrente do desejo de impor
princípios de ordem no universo. Dessa forma, fica evidente que essa busca pela ordem está
enraizada em todo pensamento, incluindo o pensamento primitivo.

Entre magia e ciência, a diferença primordial seria, pois, deste ponto de vista, que
uma postula um determinismo global e integral, enquanto que a outra opera
distinguindo níveis, dos quais apenas alguns admitem formas de determinismo tidas
como inaplicáveis a outros níveis. Mas não se poderia mais longe e considerar o
rigor e a precisão, que testemunham o pensamento mágico e as práticas rituais,
como traduzindo uma apreensão inconsciente da verdade do determinismo como
modo de existência dos fenômenos científicos (..) Os ritos e as crenças mágicas
apareceriam, então, como outras tantas expressões de um ato de fé numa ciência
ainda por nascer. ( p. 25)

Mais adiante, Lévi-Strauss utiliza uma analogia para descrever o pensamento selvagem,
também conhecido como a ciência do concreto, comparando-o a uma forma de bricolagem
intelectual. A bricolagem é essencialmente um trabalho realizado com materiais diversos,
sem um plano prévio avançado e seguindo restrições que diferem significativamente dos
processos técnicos convencionais.
Essa atividade de bricolagem é vista como uma analogia ao pensamento selvagem, pois este
não lida com conceitos, mas sim com signos. Os signos possuem uma capacidade limitada,
enquanto os conceitos abarcam uma capacidade ilimitada. A ciência, portanto, é associada
aos processos técnicos, que buscam constantemente ultrapassar o que já existe, enquanto o
pensamento mítico é comparado à bricolagem, uma atividade prática com procedimentos
distintos, que permanece estagnada.
Em suma, Lévi-Strauss destaca a diferença entre a busca incessante da ciência por avanço e
inovação, e a abordagem prática e restrita do pensamento selvagem, que se baseia em signos
e não em conceitos.

Subsiste entre nós uma forma de atividade que, no plano técnico, permite muito
bem conceber o que, no plano da especulação, pôde ter sido uma ciência, que
preferimos chamar "primeira" ao invés de primitiva; é a comumente designada pelo
termo bricolage*. ( p. 37)

No seu sentido antigo, o verbo bricoler se aplica ao jogo de péla e de bilhar, à caça e
à equitação, mas sempre para evocar um movimento incidental: o da péla que salta,
o do cão que erra ao acaso, o do cavalo que se afasta da linha reta para evitar um
obstáculo E em nossos dias, o bricoleur é o que trabalha com as mãos, usando meios
indiretos se comparados com os do artista. Ora, o próprio pensamento mítico é
exprimir-se com o auxílio de um repertório cuja composição é heteróclita e que,
apesar de extenso, permanece não obstante limitado; é preciso, todavia que dele se
sirva, qualquer que seja a tarefa que se proponha. (p. 37)

Na conclusão do capítulo, Lévi-Strauss se empenha em demonstrar que a lógica do


pensamento selvagem é semelhante à do pensamento moderno, contrapondo-se assim à ideia
de que os povos indígenas se interessam pela natureza apenas em termos de sua utilidade. Ele
argumenta que, na verdade, o conhecimento precede a utilidade, uma vez que os indígenas
consideram úteis e interessantes apenas aquilo que conhecem.
Dessa forma, Lévi-Strauss destaca que a suposta inferioridade intelectual atribuída aos povos
indígenas não tem fundamento, pois eles simplesmente expressam diferentes manifestações
concretas dos mesmos potenciais humanos. Ele enfatiza que o pensamento selvagem não é
inferior ou menos desenvolvido, mas sim uma forma diferente de compreender e se relacionar
com o mundo.
Assim, Lévi-Strauss busca desconstruir estereótipos e preconceitos em relação aos povos
indígenas, ressaltando a validade e a riqueza de suas formas de conhecimento e suas
contribuições para a compreensão da realidade.

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