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Claude Lévi-Strauss
Acadêmica: Maria Cecilia de Faria Avelino
Período: 3°
Aprouve-nos, durante muito tempo, mencionar línguas a que faltam termos para
exprimir conceitos, tais como os de árvore ou animal, se bem que elas possuam
todas as palavras necessárias a um inventário minucioso de espécies e de
variedades. (p. 15)
E quando sua colaboradora indígena acentua que no Havaí "cada forma botânica,
zoológica ou inorgânica que se sabia ter sido denominada (e personalizada) era...
uma coisa utilizada", (...) "de uma forma ou de outra" e precisa que se "uma
variedade ilimitada de seres viventes do mar e da floresta (...) ", termos não
equivalentes, visto como um se situa no plano prático e o outro no plano teórico. ( p.
16)
Em seu trabalho, Lévi-Strauss analisa a relação entre magia e ciência, sugerindo que, em vez
de considerá-las opostas, seria mais benéfico abordá-las em paralelo, como duas formas de
conhecimento que diferem principalmente em seus resultados teóricos e práticos. Ele
argumenta que, embora existam diferenças nos tipos de fenômenos aos quais se aplicam,
ambas envolvem operações mentais semelhantes em sua natureza.
Tanto a magia quanto a ciência destacam a questão da causalidade, embora utilizem
abordagens distintas para compreendê-la, resultando em diferentes resultados práticos.
Lévi-Strauss também observa que tanto os povos primitivos quanto os cientistas lidam com a
dúvida, mas não com a desordem. Assim, a necessidade de categorizar e agrupar as coisas,
como um inventário, surge como uma necessidade intelectual decorrente do desejo de impor
princípios de ordem no universo. Dessa forma, fica evidente que essa busca pela ordem está
enraizada em todo pensamento, incluindo o pensamento primitivo.
Entre magia e ciência, a diferença primordial seria, pois, deste ponto de vista, que
uma postula um determinismo global e integral, enquanto que a outra opera
distinguindo níveis, dos quais apenas alguns admitem formas de determinismo tidas
como inaplicáveis a outros níveis. Mas não se poderia mais longe e considerar o
rigor e a precisão, que testemunham o pensamento mágico e as práticas rituais,
como traduzindo uma apreensão inconsciente da verdade do determinismo como
modo de existência dos fenômenos científicos (..) Os ritos e as crenças mágicas
apareceriam, então, como outras tantas expressões de um ato de fé numa ciência
ainda por nascer. ( p. 25)
Mais adiante, Lévi-Strauss utiliza uma analogia para descrever o pensamento selvagem,
também conhecido como a ciência do concreto, comparando-o a uma forma de bricolagem
intelectual. A bricolagem é essencialmente um trabalho realizado com materiais diversos,
sem um plano prévio avançado e seguindo restrições que diferem significativamente dos
processos técnicos convencionais.
Essa atividade de bricolagem é vista como uma analogia ao pensamento selvagem, pois este
não lida com conceitos, mas sim com signos. Os signos possuem uma capacidade limitada,
enquanto os conceitos abarcam uma capacidade ilimitada. A ciência, portanto, é associada
aos processos técnicos, que buscam constantemente ultrapassar o que já existe, enquanto o
pensamento mítico é comparado à bricolagem, uma atividade prática com procedimentos
distintos, que permanece estagnada.
Em suma, Lévi-Strauss destaca a diferença entre a busca incessante da ciência por avanço e
inovação, e a abordagem prática e restrita do pensamento selvagem, que se baseia em signos
e não em conceitos.
Subsiste entre nós uma forma de atividade que, no plano técnico, permite muito
bem conceber o que, no plano da especulação, pôde ter sido uma ciência, que
preferimos chamar "primeira" ao invés de primitiva; é a comumente designada pelo
termo bricolage*. ( p. 37)
No seu sentido antigo, o verbo bricoler se aplica ao jogo de péla e de bilhar, à caça e
à equitação, mas sempre para evocar um movimento incidental: o da péla que salta,
o do cão que erra ao acaso, o do cavalo que se afasta da linha reta para evitar um
obstáculo E em nossos dias, o bricoleur é o que trabalha com as mãos, usando meios
indiretos se comparados com os do artista. Ora, o próprio pensamento mítico é
exprimir-se com o auxílio de um repertório cuja composição é heteróclita e que,
apesar de extenso, permanece não obstante limitado; é preciso, todavia que dele se
sirva, qualquer que seja a tarefa que se proponha. (p. 37)