Este capítulo discute a abordagem interpretativa da cultura defendida pelo autor, onde a cultura é vista como sistemas entrelaçados de significados. O objetivo da etnografia é fornecer "descrições densas" que expliquem esses sistemas de significado e como eles são produzidos e interpretados. As descrições etnográficas são interpretações, não relatos objetivos, e buscam preservar e tornar acessíveis os significados culturais.
Descrição original:
Fichamento do Cap.1 de A Interpretação das culturas.
Título original
Fichamento de Geertz_A interpretação das culturas
Este capítulo discute a abordagem interpretativa da cultura defendida pelo autor, onde a cultura é vista como sistemas entrelaçados de significados. O objetivo da etnografia é fornecer "descrições densas" que expliquem esses sistemas de significado e como eles são produzidos e interpretados. As descrições etnográficas são interpretações, não relatos objetivos, e buscam preservar e tornar acessíveis os significados culturais.
Este capítulo discute a abordagem interpretativa da cultura defendida pelo autor, onde a cultura é vista como sistemas entrelaçados de significados. O objetivo da etnografia é fornecer "descrições densas" que expliquem esses sistemas de significado e como eles são produzidos e interpretados. As descrições etnográficas são interpretações, não relatos objetivos, e buscam preservar e tornar acessíveis os significados culturais.
GEERTZ, Clifford. A interpretao das Culturas. I e II Partes.
Captulo 1 - Uma Descrio Densa: por uma teoria
interpretative da cultura p.15 O conceito de cultura que eu defendo essencialmente semitico. Acreditando, como Max Weber, que o homem um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua anlise; portanto, no como uma cincia experimental em busca de leis, mas como uma cincia interpretativa, procura do significado. Segundo a opinio dos livros textos, praticar a etnografia estabelecer relaes, selecionar informantes, transcrever textos, levanter genealogias, mapear campos, manter um dirio, e assim por diante. Mas no so essas coisas, as tcnicas e os processos determinados, que definem o empreendimento. O que o define o tipo de esforo intelectual que ele representa: um risco elaborado para uma descrio densa, tomando emprestada uma noo de Gilbert Ryle. p. 17 Entre o que Ryle chama de descrio superficial do que o ensaiador () est fazendo () e a descrio densa do que ele est fazendo () est o objetio da etnografia: uma hierarquia estratificada de estruturas significantes em termos dos quais os tiques nervosos, as piscadelas, as falsas piscadelas, as imitaes, os ensaios das imitaes so produzidos, percebidos e interpretados, e sem as quais eles de fato no existiriam. p.19 Nos escritos etnogrficos acabados (), esse fato de que o que chamamos de nossos dados so realmente nossa prpria construo das construes de outras pessoas, do que elas e seus compatriotas se propem est obscurecido, pois a maior parte do que precisamos para compreender um acontecimento particular, um ritual, um costume, uma idia, ou o que quer que seja est insinuado como informao de fundo antes da coisa em si mesma ser examinada diretamente. () Isso leva viso da pesquisa antropolgica como uma atividade mais observadora e menos interpretative do que ela realmente . Bem no fundo da base fatual, a rocha dura, se que existe uma, de todo o empreendimento, ns j estamos explicando e, o que pior, explicando explicaes.
A anlise , portanto, escolher entre as estruturas de significao e
determinar sua base social e sua importncia. p.20 O que o etnogrfo enfrenta, de fato, uma multiplicidade de estruturas conceptuais complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas umas s outras, que so simultaneamente estranhas, irregulares e inexplcitas, e que ele tem que, de alguma forma, primeiro apreender e depois apresentar. A cultura, esse documento de atuao, portanto pblica. () O problema se a cultura uma conduta padronizada ou um estado da mente ou mesmo as duas coisas juntas, de alguma forma perde o sentido. O que se deve perguntar a respeito de uma piscadela burlesca ou de uma incurso fracassada aos carneiros no qual o seu status ontolgico. () O que devemos indagar qual a sua importncia: o que est sendo transmitido com a sua ocorrncia e atravs da sua agncia. p. 21 Isso pode parecer uma verdade bvia, mas h inmeras formas de obscurec-la. Uma delas imaginar que a cultura uma realidade superorgnica autocontida, com foras e propsitos em si mesma, isto , reific-la. Outra alegar que ela consiste no padro bruto de acontecimentos comportamentais que de fato observamos ocorrer em uma ou outra comunidade identificvel isso significa reduzi-la. () a fonte principal de desordem terica na antropologia contempornea uma opinio que se desenvolveu em reao a elas e que hoje largamente difundida a saber, a cultura (est localizada) na mente e no corao dos homens. Chamada diversamente de etnocincia, anlise componencial ou antropologia cognitive (), essa escola de pensamento afirma que a cultura composta de estruturas psicolgicas por meio das quais os indivduos ou grupos de indivduos guiam seu comportamento. () A partir dessa visao do que a cultura, segue-se outra visao, igualmente segura, do que seja descrev-la a elaborao de regras sistemticas, um algoritmo etnogrfico que, se sguido, tornaria possvel oper-lo dessa maneira, passar por um nativo (deixando de lado a aparncia fsica). Desta forma, um subjetivismo extremo casado a um formalismo extremo, com o resultado j esperado: uma exploso de debates sobre se as anlises particulares () refeltem o que os nativos pensam realmente ou se so apenas simulaes inteligentes, equivalentes lgicos, mas substancialmente diferentes do que eles pensam. p.23 Situar-nos, um negcio enervante que s bem-sucedido parcialmente, eis no que consiste a pesquisa etnogrfica como
experincia pessoal. () No estamos procurando tornar-nos
nativos () ou copi-los. O que procuramos, no sentido mais amplo do termo, que compreende muito mais do que simplesmente falar, conversar com eles. p. 24 Visto sob esse ngulo, o objetivo da antropologia o alargamento do universo do discurso humano. () esse um objetivo ao qual o conceito de cultura semitico se adapta especialmente bem. Como sistemas entrelaados de signos interpretveis (), a cultura no um poder, algo ao qual podem ser atribudos casualmente os acontecimentos sociais, os comportamentos, as instituies ou os processos; ela um contexto, algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligvel isto , descritos com densidade. Nada mais necessrio para compreender o que a interpretao antropolgica, e em que grau ela uma interpretao, do que a compreenso exata do que ela se prope dizer ou no se prope de que nossas formulaes dos sistemas simblicos de outros povos devem ser orientados pelos atos. p.25 Normalmente, no necessrio ressaltar de forma to laboriosa que o objeto de estudo uma coisa e o estudo outra coisa. () Todavia, como no estudo da cultura a anlise penetra no prprio corpo do objeto (), a linha entre cultura (marroquina) como um fato cultural e cultura (marroquina) como entidade terica tende a ser obscurecida. Resumindo, os textos antropolgicos so eles mesmos interpretaes e, na verdade, de segunda e terceira mo. (Por definio, somente um nativo faz a interpretao em primeira mo: a sua cultura). Trata-se, portanto, de fices; fices no sentido de que so algo construdo, algo modelado(), no que sejam falsas, no-fatuais ou apenas experimentos do pensamento. p.27 Deve atentar-se para o comportamento, e com exatido, pois atravs do fluxo do comportamento ou, mais precisamente, da ao social que as formas culturais encontram articulao. Elas encontram-na tambm, certamente, em vrias espcies de artefatos e vrios estados de conscincia. Todavia, nestes casos o significado emerge do papel que desempenham ( Wittgenstein diria seu uso) no padro de vida decorrente, no de quaisquer relaces intrnsecas que mantenham umas com as outras. p.28 Quaisquer que sejam, ou onde quer que estejam esses sistemas de
smbolos em seus prprios termos, ganhamos acesso emprico a
eles inspecionando os acontecimentos e no arrumando entidades abstratas em padres unificados. Como em qualquer discurso, o cdigo no determina a conduta, e o que foi ditto no precisava s-lo, na verdade. p.29 Em que consiste um tipo de interpretao antropolgica: traar a curva de um discurso social; fix-lo numa forma inspecionvel. O etngrafo inscreve o discurso social: ele o anota. Ao faze-lo, ele o transforma de acontecimento passado () em um relato, que existe em sua inscrio e que pode ser consultado novamente. No o acontecimento de falar, mas o que foi ditto, onde compreendemos, pelo que foi dittono falar, essa exteriorizao intencional constitutive do objetivo do discurso graas ao qual o sagen o dito torna-se Aus-sage a enunciao, o enunciado. Resumindo, o que escrevemos o noema (pensamento, contedo, substncia) do falar. o significado so acontecimento de falar, no o acontecimento como acontecimento. p.31 Assim, h trs caractersticas da descrio etnogrfica: ela interpretativa; o que ela interpreta o fluxo do discurso social; e a interpretao envolvida consiste em tentar salvar o dito" num tal discurso da sua possibilidade de extinguir-se e fix-lo em formas pesquisveis. H ainda, em aditamento, uma quarta caracterstica de tal descrio, pelo menos como eu a pratico: ela microscpica. O antroplogo aborda caracteristicamente tais interpretaes mais amplas e anlises mais abstratas a partir de um conhecimento muito extensivo de assuntos extremamente pequenos. O problema de como retirar de uma coleo de miniaturas etnogrficas a respeito da nossa estria de carneiros uma ampla paisagem cultural da nao, da poca, do continente ou da civilizao, no se faz facilmente passando por cima com vagas aluses s virtudes doconcreto e da mente comum. p.32 A noo de que se pode encontrar a essncia de sociedades nacionais, civilizaes, grandes religies ou o que quer que seja. Resumida e simplificada nas assim chamadas pequenas cidades e
aldeias tpicas um absurdo visvel. O que se encontra em
pequenas cidades e vilas , por sinal, a vida de pequenas cidades e vilas. O locus do estudo no o objeto do estudo. Os antroplogos no estudas as aldeias (...), eles estudam nas aldeias. p.33 A grande variao natural de formas culturais , sem dvida, no apenas o grande (e desperdiado) recurso da antropologia, mas o terreno do seu mais profudo dilema terico: de que maneira tal variao pode enquadrar-se como unidade biolgica da espcie humana? O que importante nos achados do antroplogo sua especificidade complexa, sua circunstancialidade. justamente com essa espcie de material produzido por um trabalho de campo quase obsessivo de peneiramenteo, a longo prazo, principalmente (...) qualitativo, altamente participante e realizado em contextos confinados, que os megaconceitos com os quais se aflige a cincia social contempornea legitimamente, modernizao, integrao, conflito, carisma, estrutura... significado podem adquirir toda a espcie de atualidade sensvel que possibilita pensar no apenas realista e concretamente sobre eles, mas, o que mais importante, criativa e imaginativamente com eles. p. 34 O problema metodolgico que a natureza microscpica da etnografia apresenta tanto real como crtico. (...) Dever ser solucionado (...) atravs da compreenso de que as aes sociais so comentrios a respeito de mais do que elas mesmas; de que, de onde vem uma interpretao no determina para onde ela poder ser impelida a ir. Fatos pequenos podem relacionar-se a grandes temas, aspiscadelas epistemologia, ou incurses aos carneiros revoluo, por que eles so levados a isso. O pecado obstruidor das abordagens interpretativas de qualquer coisa (...) que elas tendem a resistir, ou lhes permitido resistir, articulao conceptual e, assim, escapar a modos de avaliao sistemticos. No h qualquer razo para que seja menos formidvel a estrutura conceptual de uma interpretao cultural (...), exceto que os termos nos quais tais formulaes podem ser apresentadas so, se no totalmente inexistentes, muito prximos disso. p.35 O ponto global da aobrdafgem semitica da cultura , como j disse, auxiliarnos a ganhar acesso ao mundo conceptual no qual vivem os
nossos sujeitos, de forma a podermos, num sentido um tanto mais
amplo, concersar com eles. A tenso entre o obstculo dessa necessidade de penetrar num universo no-familiar de ao simblica e as exigncias do avano tcnico na teoria da cultura, entre a necessidade de apreender e a necessidade de analisar, , em consequncia, tanto necessariamente grande como basicamente irremovvel. (...) Como no se pode desligar das imediaes que a descrio minuciosa apresenta, sua liberdade de modelar-se em termos de uma lgica interna muito limitada. As principais contribuies tericas no esto apenas nos estudos especficos (...), mas muito difcil abstra-las desses estudos e integr-las em qualquer coisa que se poderia chamar teoria cultural como tal. p.36 no se pode escrever uma Teoria Geral de Interpretao Cultural (...), pois aqui a tarefa essencial da construo terica no codificar regularidades abstratas, mas tornar possveis descries minuciosas; no generalizar atravs dos casos, mas generalizar dentro deles. Generalizar dentro dos casos chamado habitualmente (...) uma inferncia clnica. Em vez de comear com um conjunto de observaes e tntar subordin-lasa uma lei ordenadora, essa inferncia comea com um conjunto de significantes (presumveis) e tenta enquadr-los de forma inteligvel.
Segunda condio da teoria cultural: ela no , pelo menos no
sentido estrito do termo, proftica. (...) Mas essa limitao, que bem real, tem sido habitualmente mal compreendida, (...) uma vez que foi assumida como significando que a interpretao cultural apenas post facto. p.37 Todavia, isso no significa que a teoria tenha apenas que se ajustar a realidades passadas (...); ela tem que sobreviver (...) s realidades que esto por vir. As idias tericas no aparecem inteiramente novas a cada estudo; como j disse, elas so adotadas de outros estudos relacionados e, refinadas durante o processo, aplicadas a novos problemas interpretativos. Se deixarem de ser teis com referncia a tais problemas, deixam tambm de ser usadas e so mais ou menos abandonadas. Tal viso de como a teoria funciona numa cincia interpretativa sugere que a diferena, relativa em qualquer caso, que surge nas
cincias experimentais ou observacionais entre descrio e
explicao aqui aparece como sendo, de forma ainda mais relativa, entre inscrio (descrio densa) e especificao (diagnose) - entre anotar o significado que as aes sociais particulares tm para os atores cujas aes elas so e afirmar, to explicitamente quanto nos for possvel, o que o conhecimento assim atingido demonstra sobre a sociedade na qual encontrado e, alm disso, sobre a vida social como tal. Nossa dupla tarefa descobrir as estruturas conceptuais que informam os atos dos nossos sujeitos, o dito no discurso social, e construir um sistema de anlise em cujos termos o que genrico a essas estruturas, o que pertemce a elas porque so o que so, se destacam contra outros determinantes do comportamento humano. p.38 Um repertrio de conceitos muito gerais, feitos-na-academia e sistemas de conceitos - integrao, racionalizao, smbolo, ideologia, ethos, revoluo, identidade, metfora, estrutura, ritual, viso do mundo, ator, funo, sagrado e, naturalmente, a prpria cultura - se entrelaam no corpo da etnografia de descrio minuciosa na esperana de tornar cientificamente eloquentes as simples ocorrncias. O objetivo tirar grandes concluses a partir de fatos pequenos, mas densamente entrelaados; apoiar amplas afirmativas sobre o papel da cultura na construo da vida coletiva empenhando-as exatamente em especificaes complexas. p.39 A anlise cultural intrinsecamente incompleta e, o que pior, quanto mais profunda, menos completa. H uma srie de caminhos para fugir a isso transformar a cultura em folclore e colecion-lo, transform-la em traos e cont-los, transform-la em instituies e classific-las, tranform-la em estruturas e brincar com elas. Todavia, isso so fugas. O fato que omprometer-se com um conceito semitico de cultura e uma abordagem interpretativa do seu estudo comprometer-se com uma viso da afirmativa etnogrfica como essencialmente contestvel.
Captulo 2 O impacto do conceito de cultura sobre o
conceito de homem
Leitura dos sistemas simblicosa partir dos atos. Descries, fico