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Manoella Evelyn | Hab.

Clinicas V – aula 9 1

 INTENSIDADE: branda, indicativo de isquemia


mesentérica não oclusiva, ou intensa, indicativo de
êmbolos ou trombos.

 LOCALIZAÇÃO: localizada ou difusa.

• Epigástrica ou mesogástrica: território da AMS

• Quadrantes inferiores, região retal ou sacral:


território da AMI.
Síndrome clínica caracterizada por dor abdominal, não
traumática, de início súbito ou intermitente, de • Isquemia colônica: geralmente no lado
intensidade variável, representado pela isquemia esquerdo.
mesentérica ou intestinal resultante de um fornecimento
inadequado de oxigênio para o intestino, que necessita de Como diferenciar isquemia aguda mesentérica da
intervenção médica imediata por ser potencialmente isquemia colônica?
fatal.

Patologia mais comum em idosos, associado a


aterosclerose. A isquemia mesentérica crônica é mais
comum em mulheres. A rapidez do diagnóstico está
intrinsecamente ligada ao sucesso do tratamento e
prognóstico. A taxa de mortalidade é elevada, com cerca
de 30% nos casos de trombose e 75-80% nos casos de
obstrução arterial atribuído ao diagnóstico tardio.  Inicialmente o abdome pode estar normal, com dor
leve a moderada.

 Peristalse normal ou aumentada inicialmente - a


As formas de apresentação e gravidade dependem do primeira reação à hipóxia é o peristaltismo.
leito acometido (arterial ou venoso), grau de obstrução,
duração, presença de colaterais e a extensão de vísceras  Com a progressão da isquemia, temos:
acometidas. Pode variar desde um quadro súbito
• Distensão abdominal
(infartos) a quadros de angina abdominal crônica.
Náuseas, vômitos, diarreia e constipação são sintomas • Timpanismo aumentado
variáveis. Sangramentos podem ocorrem na isquemia
mesentérica crônica e na isquemia colônica. • Diminuição dos ruídos hidroaéreos

Principal característica: dor abdominal referida é  Fezes sanguinolentas se necrose


desproporcional ao exame físico.
Sinais de choque e peritonite generalizada são achados
A tríade da isquemia mesentérica crônica consiste em: tardios e indicam mau prognóstico.

Qualquer paciente com dor abdominal aguda e acidose


A dor abdominal é bastante variável: metabólica tem isquemia intestinal até que se prove o
contrário!
 INÍCIO: súbito, indicativo de êmbolos ou trombos em
território arterial, ou insidioso nos casos de trombose da O diagnóstico precoce depende de: reconhecer população
VMS. de risco + alto índice de suspeita clínica.
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Os exames laboratoriais são inespecíficos, podendo ✓ “Sinal do menisco”: oclusão abrupta da AMS,
apresentar leucocitose em 75% dos casos, visto na oclusão por êmbolos.
hemoconcentração, acidose metabólica, elevação do
lactato, fosfato (80% dos casos) e amilase sérica (50% dos ✓ Estreitamento na origem dos vasos
casos e não é tão elevado quanto na pancreatite). mesentéricos

→ Se houver necrose: ↑ LDH, CPK, Fosfatase Alcalina ✓ Irregularidades nos ramos intestinais
(fração intestinal).
✓ Espasmos das arcadas arteriais
EXAMES DE IMAGEM Outros exames disponíveis são:
Devem ser solicitados nos casos de pacientes estáveis. O
exame de primeira escolha pelo Colégio Americano de USG COM DOPPLER: também pode ser feito como exame
Radiologia na emergência é a TOMOGRAFIA inicial nos casos de isquemia mesentérica crônica. Possui
COMPUTADORIZADA COM CONTRASTE DE ABDOME, pois um valor preditivo negativo acima de 90%.
identifica aterosclerose e exclui outras causas de dor • Menos utilizado que a TC como exame inicial
abdominal aguda. Podemos observar nos casos de devido as suas desvantagens (examinador-
obstrução arterial: dependente, interposição gasosa, cirurgia
abdominal prévia).
✓ Espessamento da parede intestinal e dilatação
da víscera • Síndrome da compressão do tronco celíaco:
pode ser avaliada na inspiração, que verticaliza
✓ Pneumatose intestinal ou portomesentérica –
e move o tronco celíaco para baixo,
indica perfuração
descomprimindo-o, observando-se o aumento da
✓ Infarto de órgãos sólidos velocidade do fluxo.

✓ Falha de enchimento arterial COLONOSCOPIA: pode ser solicitada nos casos de


isquemia colônica para confirmação diagnóstica. Deve
✓ Oclusão e trombos. ser feito com insuflação mínima para evitar distensão
excessiva e somente nos casos estáveis, sem sinais de
Nos casos de trombose da VMS, podemos ver: peritonite ou evidência de isquemia irreversível.
Podemos visualizar:
✓ Estenose ou oclusão de dois ou mais vasos
mesentéricos • Edema, eritema, mucosa friável, nódulos
hemorrágicos, úlcera linear única no eixo
✓ Presença de vasos colaterais dilatados
longitudinal (sugestivo de isquemia).
✓ Espessamento e realce da parede intestinal

✓ Ingurgitamento da VMS Nos pacientes instáveis, o tratamento não deve ser


postergado visando confirmação diagnóstica com
✓ Trombo na VMS
exames de imagem.
A ANGIOGRAFIA é o exame padrão ouro na isquemia
mesentérica aguda e crônica, porém muitas vezes não é TRATAMENTO CLÍNICO
necessária devido o diagnóstico pela TC. A vantagem da O manejo inicial inclui monitorização cardíaca e dos
angiografia é que pode ser usada de forma terapêutica, parâmetros ventilatórios, acesso venoso com reposição
por exemplo em uma abordagem endovascular ou injeção volêmica individualizada, correção de distúrbios
direta de papaverina como vasodilatador. Deve ser hidroeletrolíticos, analgesia e antibiótico venoso de
realizado nos casos suspeitados em outros exames de amplo espectro.
imagem. Além dos achados vasculares já descritos,
podemos encontrar:
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• Antibiótico venoso: protege contra translocação • Reestenose: ocorre em 5-15% dos casos, sendo
bacteriana e reduz inflamação intestinal por reduzir a mais comum na revascularização endovascular,
flora intestinal. a qual é manejada com angioplastias de
repetição.
• Anticoagulantes: nos casos de oclusão arterial ou
venosa e em alguns casos de isquemia mesentérica não
oclusiva para evitar a formação de trombos e sua
propagação, exceto nos casos de sangramento ativo.
DEFINIÇÃO
• A papaverina pode ser utilizada nos casos de A isquemia mesentérica é causada pela diminuição do
vasoconstricção, colocado diretamente na AMS. fluxo sanguíneo intestinal devido a trombose, embolia ou
vasoconstrição. Ela pode ser classificada em isquemia
Deve haver suspensão de drogas vasoconstrictoras de mesentérica aguda ou crônica de acordo com a
uso prévio. velocidade de instalação e o grau de comprometimento
do fluxo. A causa da isquemia mesentérica pode ser
TRATAMENTO CIRÚRGICO venosa ou arterial, envolvendo intestino delgado, colo ou
O tratamento definitivo é cirúrgico e pode ser necessário ambos.
ressecção das alças isquemiadas. A exploração cirúrgica
está indicada nos casos de: EPIDEMIOLOGIA

• Sinais de irritação peritoneal A isquemia mesentérica é uma emergência vascular


potencialmente fatal, com mortalidade em 60 a 80% dos
• Sinais de infarto intestinal em imagem casos, e sua incidência vem aumentando. A doença
ocorre principalmente em idosos, associada a doenças
• Dúvida diagnóstica
cardíacas e vasculares.
Pode ser necessário uma segunda reabordagem (“second
look”) em 24-48h para reavaliar a persistência da ANATOMIA
isquemia. O suprimento vascular do trato gastrintestinal é
realizado pelo tronco celíaco, pela artéria mesentérica
Nos casos de oclusão arterial mesentérica:
superior e pela artéria mesentérica inferior.
• Com êmbolos: Laparotomia com embolectomia
O tronco celíaco origina três grandes ramos, que suprem
• Com trombos: revascularização aberta ou estômago, duodeno, pâncreas e fígado. A artéria
angioplastias com trombólise endovascular (in mesentérica superior irriga o intestino delgado, o colo
situ) ascendente e o colo transverso, sendo que a artéria
mesentérica inferior é a responsável pelo suprimento de
• Revascularização: pode ser tentada em alguns colo esquerdo e reto. Essas artérias estão interligadas
casos – utiliza-se a veia safena. por uma rede de vasos colaterais capazes de manter o
fluxo adequado durante uma obstrução que se instala de
Na isquemia mesentérica crônica geralmente o
forma gradual. A drenagem venosa é feita pela veia
tratamento é conservador visando a prevenção da
mesentérica superior, que se une à veia porta.
progressão da aterosclerose com terapia antiplaquetária
e anticoagulação nos casos de trombos. Porém a
SINAIS E SINTOMAS
revascularização está indicada nos sintomáticos com
estenose importante com o objetivo de prevenir infarto Os pacientes com isquemia apresentam dor abdominal de
intestinal. forte intensidade, persistente, difusa e constante, pouco
responsiva a analgésicos. Na doença embólica, o início é
• Opções: revascularização endovascular ou súbito, sem alterações significativas no exame físico.
cirurgia aberta, sendo a abordagem Existindo um componente trombótico, é relatada dor
endovascular preferível, com colocação de stent abdominal crônica pós-prandial antecedendo a dor
ou não. súbita. Um início mais indolente é característico de
trombose venosa mesentérica. A tríade clássica de
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sintomas consiste em dor abdominal, febre e sangue nas localizada 1 a 2 cm da origem da artéria mesentérica
fezes, mas afeta apenas um terço dos pacientes no superior, ocasionando áreas maiores de isquemia
momento da apresentação. Náuseas e vômitos estão intestinal.
presentes em 75% dos casos. Distensão abdominal e
sangramento gastrintestinal são os sintomas iniciais em A isquemia mesentérica não oclusiva corresponde a 20 a
mais de 25% dos pacientes. Na isquemia mesentérica não 30% dos casos de isquemia mesentérica aguda e ocorre
oclusiva, não há dor em até 25% dos casos. Achados no devido à vasoconstrição mesentérica em resposta a
exame físico podem incluir hipotensão, taquicardia, substâncias vasoativas liberadas em situações de baixo
distensão abdominal, aumento inicial dos ruídos débito. Ela pode surgir como consequência de infarto
intestinais com posterior diminuição e tensão abdominal. agudo do miocárdio, ICC, arritmia, choque, cirrose e
Deve haver suspeita de isquemia mesentérica em insuficiência renal crônica (IRC). O quadro clínico é
pacientes com mais de 50 anos de idade, história de semelhante aos de oclusão embólica ou trombótica,
arritmia cardíaca, infarto do miocárdio recente, desenvolvendo-se com sintomas inespecíficos, como
insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e hipotensão. distensão abdominal, náuseas, febre e pressão sistólica
baixa ou limítrofe.
A isquemia mesentérica aguda pode ser classificada em
quatro tipos específicos de acordo com a etiologia: A trombose venosa mesentérica é uma doença oclusiva
da circulação venosa que envolve a veia mesentérica
superior e manifesta-se de forma aguda ou crônica. Essa
doença é a causa menos comum de isquemia
mesentérica aguda, representando apenas 10% dos
casos. O acometimento é normalmente segmentar,
ocasionando edema e hemorragia da parede intestinal. A
trombose está associada a estados de
hipercoagulabilidade, hipertensão portal, infecções ou
inflamações intra-abdominais, neoplasias, vasculites e
trauma. O quadro clínico assemelha-se ao das oclusões
arteriais.

A isquemia mesentérica crônica afeta menos de 5% dos


pacientes com isquemia mesentérica, sendo a
aterosclerose a etiologia principal. Essa doença
A embolia arterial corresponde a 40 a 50% dos casos de caracteriza-se por dor abdominal generalizada pós-
isquemia mesentérica aguda, na maior parte das vezes prandial, que persiste por cerca de 3 horas, tornando-se
relacionada a êmbolos provenientes do átrio ou do mais significativa com o passar das semanas e associa-
ventrículo esquerdo. A causa mais comum é a fibrilação se a perda de peso, náuseas e alterações do hábito
atrial. Nesses casos, muitas vezes o paciente já intestinal. Os achados apresentados no exame físico são
apresenta história prévia de embolismo em outra limitados, mas, em caso de doença avançada, ocorre
localização. A dor abdominal inicia subitamente e com desnutrição. A maioria dos pacientes é fumante com
forte intensidade, associada à diarreia. Os êmbolos sinais de aterosclerose.
podem determinar uma embolia maior, quando se
localizam acima da bifurcação da artéria ileocólica, ou
DIAGNÓSTICO
uma embolia menor, quando localizados abaixo da
bifurcação ou em qualquer dos ramos distais. Não existe marcador sorológico sensível ou específico
para descartar ou definir diagnóstico de isquemia
A trombose arterial ocorre em 10 a 20% dos casos de mesentérica. Alguns marcadores que sugerem infarto
isquemia mesentérica aguda, sendo a artéria intestinal manifestam-se apenas após estabelecimento
mesentérica superior a mais acometida, principalmente de infarto transmural. Qualquer exame de marcador
em indivíduos idosos com aterosclerose significativa. A sorológico deve ser realizado de forma rápida, sem
isquemia aguda pode ser precedida de história de dor atrasar outros exames de imagem ou tratamento em
abdominal pós-prandial e perda de peso no decorrer de caso de suspeita clínica.
várias semanas a meses. Geralmente, a oclusão está
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Na admissão hospitalar, 75% dos pacientes apresentam além de se ter observado uma redução na extensão e na
leucocitose acima de 15.000, e, em mais de 50% dos gravidade da isquemia intestinal em estudos
casos, há acidose metabólica. Esses pacientes também experimentais. O antimicrobiano deve ser efetivo contra
podem evidenciar elevação de fosfato, lactato, amilase e microrganismos anaeróbios e gram-negativos. O
outras enzimas. tratamento cirúrgico depende do diagnóstico etiológico,
sendo necessária a realização de angiografia pré-
Alterações na radiografia simples de abdome, como íleo, operatória. Quando não for possível realizar a angiografia
gás na parede intestinal, distensão e edema de alças, são e o diagnóstico for baseado na suspeita clínica, deve-se
encontradas apenas em uma fase tardia da evolução, realizar laparotomia precoce.
sendo geralmente inespecíficas. O raio X de abdome, em
um paciente com suspeita de infarto intestinal, tem papel Em caso de isquemia mesentérica crônica, a
principal na exclusão de outras causas de dor abdominal. revascularização cirúrgica é a opção terapêutica,
incluindo revascularização anterógrada ou retrógrada,
A ultrassonografia com Doppler é um exame bastante reimplantação da artéria mesentérica superior na aorta
específico, mas pouco sensível no estudo da isquemia e endarterectomia mesentérica transarterial. Como
mesentérica, quando comparado à angiografia, não terapia alternativa, há a angioplastia transluminal
detectando êmbolos além das artérias proximais e não mesentérica com ou sem inserção de stent. Avalia-se a
podendo ser utilizado no diagnóstico de isquemia melhor opção de tratamento considerando-se alívio dos
mesentérica não oclusiva. Além disso, a presença de sintomas, taxas de sobrevida e período de tempo sem
distensão abdominal limita a sua realização. recorrência do quadro. Estudos recentes têm apontado
Na tomografia computadorizada, os achados são uma taxa de mortalidade menor do que 10%, com sucesso
inespecíficos, sendo constatados em uma fase tardia da em mais de 90% dos casos.
doença. Assim como o raio X de abdome, ela é utilizada
para descartar outras causas de dor abdominal. Por meio
desse exame, pode-se evidenciar pneumatose intestinal Inúmeras são as causas de hemorragia intra-abdominal.
e gás na veia porta. Apenas nos casos de trombose Possui etiologias variadas abrangendo desde
venosa mesentérica, ela é considerada padrão para o traumatismo abdominal, ruptura de aneurismas da aorta
diagnóstico. ou de alguma artéria visceral, neoplasias malignas até
processos inflamatórios erosivos.
Considera-se a angiografia o exame padrão-ouro para o
diagnóstico de isquemia mesentérica aguda, não apenas
o confirmando, mas também estabelecendo a sua
etiologia. Além disso, também permite a infusão de A dor deve ser analisada de acordo com sua qualidade,
drogas vasodilatadoras ou agentes trombolíticos quando quantidade, local e irradiação, início, duração e
forem indicados. A laparotomia de urgência é indicada deslocamento, fatores de melhora e piora de sintomas e
para pacientes com risco de isquemia mesentérica aguda sinais associados.
quando a angiografia não estiver disponível para
É importante perguntar se já houve episódios
realização de forma rápida ou na presença de sinais de
semelhantes; antecedentes cirúrgicos; comorbidades;
irritação peritoneal.
uso de medicações (opióides, AINES, anticoagulantes,
imunossupressores, ACOH); náusea ou vômito; diurese e
TRATAMENTO
evacuação; menstruação/contracepção e consumo de
Para tratamento inicial da isquemia mesentérica aguda, álcool e/ou drogas ilícitas.
deve-se realizar estabilização hemodinâmica, com
reposição hidreletrolítica e correção dos distúrbios
acidobásicos. É de extrema importância a normalização
da volemia e da pressão arterial, pois o baixo débito TRAUMÁTICO
cardíaco ocasiona piora da vasoconstrição.
 O + frequente é a presença de choque hemorrágico
A administração de antibióticos de amplo espectro é sem causa aparente.
obrigatório devido a alta incidência de hemoculturas
positivas em pacientes com isquemia mesentérica aguda,
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 O uso de drogas opióides deve ser evitado em Os sinais físicos podem ser reduzidos em idosos,
pacientes com hipovolemia, trauma cranioencefálico ou grosseiramente obesos, gravemente doentes e pacientes
trauma abdominal ⟶ pois podem agravar a hipotensão, em terapia com corticosteróides.
levara depressão respiratória e impedir a valorização
clínica dos achados. TRAUMÁTICO

 INSPEÇÃO: abdome ser completamente inspecionado


NÃO TRAUMÁTICO nas suas faces anterior e posterior como também as
A apresentação clínica varia de intensidade e localização nádegas e a região perineal. A presença de escoriações,
de acordo com a causa da hemorragia. contusões, hematomas localizados e ferimentos abertos
são sugestivos de trauma e devem ser bem
 Quando a perda sanguínea é lenta e inferior a 15% de caracterizados.
volemia ⟶ pele pálida e fria, lentificação do enchimento
capilar, pulso fino e aumento da frequência respiratória  AUSCULTA: permite confirmar a presença ou ausência
de ruídos hidroaéreos. A presença de sangue ou conteúdo
 Com a piora do quadro ⟶ taquicardia, hipotensão, gastrintestinal pode produzir íleo, resultando em
taquipneia, redução do débito urinário e agitação. diminuição dos ruídos hidroaéreos.
- No Geral ⟶ Dor abdominal difusa, intensa, associada a  PERCUSSÃO: pode demonstrar som timpânico devido a
comprometimento hemodinâmico (palidez intensa, dilatação gástrica no quadrantes superior esquerdo ou
hipovolemia acentuada, hipotensão) e massa abdominal macicez difusa quando hemoperitônio tá ausente.
pulsátil (este último em caso de ruptura de aneurisma da
aorta abdominal).  O TOQUE RETAL deve ser parte obrigatória do exame
físico do paciente politraumatizado, dando informações
- Antes da ruptura ⟶ o aneurisma passa por um como a presença de sangue na luz retal, fragmentos de
processo de distensão aguda (expansão) o que leva ao ossos pélvicos que penetram o reto, a crepitação da
estiramento do plexo nervoso perivascular ⟶ gerando parede posterior do reto (retropneumoperitôneo), a
dor ntensa nos flancos ou dorso. atonia esfincteriana (lesão medular) e a posição alta da
próstata (lesão uretral).
- Deve-se buscar sinais de irritação peritoneal,
vísceromegalias, massas palpáveis pulsáteis ou não e de - Nos pacientes com ferimento abdominal penetrante por
sopros no abdome. arma branca ou de fogo, a identificação da presença de
sangue no toque retal mostra que houve perfuração
SINAL DE CULLEN: presença de equimoses na cicatriz
intestinal, cujo tratamento é cirúrgico, sem a necessidade
umbilical e sugere hemorragia intraperitoneal
de outras investigações especifícas.
SINAL DE GRAY-TURNEY: equimoses são visualizadas na
 O EXAME VAGINAL na mulher pode caracterizar sinais
região dos flancos e sugere hemorragia retroperitoneal.
de violência sexual, sangramentos e a presença de
espículas ósseas decorrentes de fraturas pélvicas.

 O EXAME DO PERÍNEO E DO PÊNIS pode demonstrar


A agilidade e objetividade do exame físico dependem do
uretrorragia e hematoma de bolsa escrotal, sugerindo
estado geral do paciente. Em pacientes instáveis fazemos
uma avaliação rápida e monitorização cardíaca, fortemente a presença de lesão uretral, o que contra-
oximetria de pulso e acesso periférico, a coleta e a indica a sondagem vesical.
realização de exames complementares não deve atrasar
as medidas para estabilização nem a avaliação por
cirurgião. Em pacientes estáveis podemos fazer uma
avaliação mais completa, que inclui, principalmente, o ABDOME AGUDO HEMORRÁ GICO VASCULAR
exame completo de abdome, que inclui a inspeção,  RUPTURA DE ANEURISMA DE AORTA ABDOMINAL:
ausculta, palpação e percussão.
O aneurisma da aorta abdominal (AAA) está presente em
5-7% dos indivíduos acima dos 60 anos de idade,
predominando mais no sexo masculino tendo como
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principais fatores de risco para essa categoria a idade >65 de artérias viscerais. Tem como fatores de risco para
anos, hipertensão arterial (HAS), tabagismo, doença ruptura desse aneurisma a hipertensão venosa portal,
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), aterosclerose, fibrodisplasia arterial e gravidez.
síndrome de Marfan, a síndrome de Ehlers-Danlos e
antecedente familiar da doença. O tratamento do paciente que é admitido no hospital com
choque hipovolêmico em decorrência de sangramento
Muitos pacientes com AAA são assintomáticos e o por ruptura do aneurisma é a laparotomia exploradora
diagnóstico é suspeitado no exame físico pela palpação imediata associada à reposição agressiva da volemia
de massa pulsátil, distensão abdominal e dor à palpação. com soluções cristalóides e, quando necessário, com
Nesses pacientes, o ultrasom ou a tomografia hemoderivados.
computadorizada confirma o diagnóstico.
Quando o aneurisma se situa distalmente, nas
Em metade dos paciente com AAA, a manifestação clínica proximidades do baço, o tratamento consiste na ligadura
inicial é apenas referida como desconforto ou dor proximal da artéria, seguida de esplenectomia.
abdominal mal caracterizada, podendo apresentar
também dor na região dorsal. Os sintomas associados à 2. Aneurisma da artéria hepática:
dor são vários, predominando náuseas e vômitos. Poucos É predominante em homens acima de 60 anos de idade e
pacientes, cerca de 12%, com ruptura de aneurisma corresponde ao segundo aneurisma de arterinal visceral
sabem ser portadores de AAA. Quando ocorre ruptura, a mais comum.
hipotensão arterial está presente em 25% dos casos no
atendimento inicial. Atualmente, cerca de 38% ocorrem em decorrência de
arteriosclerose, 21%, de degeneração da camada média,
O tratamento inicial é direcionado para estabilização 18%, de traumatismo e apenas 16% são de origem
hemodinâmica do paciente, sendo o grau desse micótica.
acometimento definidor da urgência necessária na
avaliação radiológica e na indicação cirúrgica. Nos Habitualmente é assintomático. Ao romper-se, manifesta
doentes instáveis hemodinamicamente, o diagnóstico da dor no quadrante superior direito ou no epigástrio e
ruptura do AAA pode ser confirmado pelo ultrassom na mimetiza a colecistite e a pancreatite agudas.
sala de emergência, exame que detecta tanto a presença Dependendo da localização, o sangramento pode
do AAA como de líquido livre na cavidade peritoneal. exteriorizar-se por hematêmese ou melena, por erosão
dos ductos biliares ou do tubo digestivo.

A ressecção, ou a obliteração, dos aneurismas da artéria


hepática está indicada em todos os pacientes.

3. Aneurisma da artéria mesentérica superior:

É o terceiro mais comum. Ocorre em indivíduos abaixo de


50 anos e distribui-se igualmente entre os homens e as
mulheres.

Os fatores de risco são a endocardite, os traumatismos e


a arteriosclerose. A maioria dos aneurismas da artéria
mesentérica superior ocorrem em consequência de
endocardite bacteriana.
 RUPTURA DE ANEURISMA DAS ARTÉRIAS VISCERAIS Os sintomas variam muito. Quando o aneurisma
ABDOMINAIS: compromete a irrigação das alças intestinais, podem
ocorrer cólicas abdominais após as refeições, sugestivas
1. Aneurisma da artéria esplênica:
de claudicação intestinal. Quando há ruptura, a dor é
É mais comum no sexo feminino e é o aneurisma mais intensa, dinfundida para todo o abdome e os sinais de
comum entre os vasos viscerais abdominais, choque tornam-se mais evidentes. Pode ser
correspondendo a cerca de 60% de todos os aneurismas acompanhada de náuseas.
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O tratamento dessas lesões é muito variável, dependendo atingida. É conduta alternativa reservada a paciente em
da localização do aneurisma, da condição de irrigação e boas condições, que deseja filhos e que possui a outra
de vitalidade das alças intestinais e da condição clínica trompa comprometida.
do doente.

 RUPTURA DE GRAVIDEZ ECTÓPICA: EXAMES LABORATORIAIS

Os exames laboratoriais podem ser importantes para


A gravidez ectópica (GE) ocorre entre 1-2% das gestações
quantificar o sangramento e suas repercussões
e corresponde a 10-15% das mortes maternas no 1º
fisiológicas. Na maioria das vezes, auxiliam no
trimestre. Tem como principais fatores de risco cirurgias
reconhecimento de alguma condição predisponente ao
tubárias, gravidez ectópica prévia, uso de Dispositivo
sangramento. Poucos são os que permitem definir sua
Intrauterino (DIU), tabagismo ≥ 20 cigarros por dia;
causa.
técnicas de reprodução assistida e endometriose.
Se a hemorragia for em quantidade considerável e se
Quando forma da cavidade endoetrial, o lugar mais
houver tempo suficiente para que se instalem os
frequente são as trompas, representando cerca de 95%
mecanismos compensatórios desencadeados pela
dos casos. Contudo, também pode ocorrer nos ovários e
hipovolemia, os valores da hemoglobina e a do
na cavidade abdominal.
hematócrito estarão reduzidos. A leucocitose é usual e
Os sintomas de uma GE rota pode se apresentar como decorre da irritação peritoneal provocada pela
atraso menstrual, geralmente o útero é menor do que o hemoglobina e da própria resposta homeostática à
esperado, além de dor abdominal intensa, súbita, hipovolemia. O número de leucócitos pode variar,
inicialmente em baixo ventre, que pode irradiar para dependendo do tempo de instalação do hemoperitônio. A
ombro (Sinal de Lafond). Instabilidade hemodinâmica, contagem do número de plaquetas é obrigatória. O estudo
hipotensão, taquicardia e choque hipovolêmico. Durante global da coagulação é útil para o diagnóstico e orienta o
o exame físico há presença de dor à palpação abdominal, tratamento. A atividade da protrombina, a tromboplastina
dor aguda ao toque do fundo de saco de Douglas. parcial ativada e a trombina são os mais utilizados. O
teste de gravidez é realizado quando a suspeita for
Sinal de Lafond: dor referida no ombro por sangue prenhez ectópica rota.
acumulado em região subdiafragmática devido irritação
do nervo frênico. OUTROS MÉTODOS DIAGNÓSTICOS

A ultrasonografia, a tomografia computadorizada e a


Além disso, pode apresentar sinal de Cullen. Os sintomas
ressonância magnética, tem permitido o diagnóstico na
da gravidez inicial normal também estão presentes:
maioria dos casos, com a vantagem de não serem
aumento da sensibilidade mamária, náuseas e polaciúria.
invasivos. A videolaparoscopia encontra sua indicação
O tratamento da GE rota consiste em avaliação da nos doentes com dor abdominal aguda cuja indicação
volemia materna, bem como reposição volêmica e cirúrgica é duvidosa e nas afecções cuja correção
tratamento do choque hipovolêmico. A abordagem cirúrgica é viável por esse método de acesso. Na dúvida
cirúrgica de urgência, sendo realizado muitas vezes diagnóstica, a videolaparoscopia pode reduzir a
laparotomia exploratória com salpingectomia. Em casos realização de laparotomia desne- cessária de 19% para
eventuais admite-se a salpingostomia com 0%.
microcuretagem tubária e reconstituição da trompa
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Nas doenças ginecológicas agudas, a videolaparoscopia Dor abdominal, sangramento vaginal e atraso ou
é capaz de confirmar o diagnóstico em 82% dos casos irregularidade menstrual são considerados a tríade
com cisto de ovário e em 80% das doentes com clássica de sinais e sintomas que compõem o quadro
hemorragia do corpo lúteo. As contraindicações do clínico da gravidez ectópica. Apesar de se apresentarem
videolaparoscopia são insuficiência respiratória grave, simultaneamente em 50 a 60% dos casos, pelo menos um
choque hipovolêmico, obesidade mórbida, múltiplas deles está presente em quase todas as ocorrências.
intervenções abdominais prévias e coagulopatias.

O tratamento inicial será pela identificação do grau de


choque seguida da reposição volêmica de acordo com o
grau encontrado. Os graus do choque hemorrágico:

O quadro agudo representa 30% dos casos e está


relacionado com com os casos em que há rotura tubária.
Pode ocorrer em qualquer localização da tuba uterina,
porém, as roturas estão mais relacionadas com
gestações ístmicas.
Após a estabilização do paciente com a reposição
volêmica, ele poderá realizar ultrassom e/ou tomografia A rotura pode ser espontânea ou ocorrer após algum
para elucidar a causa e então, realizar o tratamento trauma relacionado a coito ou exame bimanual. A rotura
adequado. está fortemente associada a hemorragias
intraperitoneais, dor aguda e intensa na fossa ilíaca ou
hipogástrio e choque. O sangramento vaginal está
presente na maioria dos casos e é, em geral, escasso e
Denomina-se gravidez ectópica toda gestação cuja
escurecido, podendo ser contínuo ou intermitente. A
implantação e desenvolvimento do ovo ocorra fora da
paciente pode apresentar náuseas, vômitos e sinais de
superfície endometrial da cavidade uterina.
descompensação hemodinâmica.

A hemorragia da rotura tubária costuma fica concentrada


na cavidade, dessa forma, ocorre pouca exteriorização do
sangramento. Por isso, o médico deve estar sempre
atento a quadros sugestivos de choque hemorrágicos,
sem sinais de sangramentos externos ou com
sangramentos de baixa intensidade!

Após a fertilização do ovo, do ponto de vista Alguns sinais clínicos (sugestivos de irritação peritoneal)
anatomopatológico, a gravidez ectópica pode ser do tipo estão presentes no quadro agudo, são eles:
primitiva quando a nidação ocorre e se estabelece em um
• Sinal de Laffon: dor referida na escápula, em
único local ou pode ser secundária quando após a
decorrência da irritação do nervo frênico.
implantação do ovo fertilizado, o mesmo se desprende e
continua seu desenvolvimento em outro local dentro ou • Sinal de Cullen: equimoses em região
até mesmo fora do aparelho genital. No caso da gravidez periumbilical devido a hemorragia
tubária, o ovo fertilizado pode se alocar em qualquer retroperitoneal
posição da tuba uterina, sendo a ampola o local mais
frequente. • Sinal de Blumberg: dor à descompressão súbita
na palpação abdominal.
QUADRO CLÍNICO
Manoella Evelyn | Hab. Clinicas V – aula 9 10

• Sinal de Proust: fundo de saco abaulado (devido lúteo e se modifica muito pouco durante o 1º trimestre de
ao acúmulo de sangue) e doloroso ao toque gestação. Valores inferiores a 10ng/ml estão associados
vaginal. a gestação não evolutiva. Porém, como não existe um
valor de referência desse hormônio indicativo de
O quadro subagudo costuma ocorrer em 70% dos casos e gravidez ectópica, sua dosagem fica reservada apenas
costuma ser decorrente de um comprometimento para casos que a suspeita diagnóstica se manteve
ampular. Nestes casos, não há a rotura da tuba uterina e mesmo após a dosagem seriada de β-HCG e USGTV.
os sinais e sintomas da tríade clássica costumam ser de
menor intensidade. Em geral, estes casos evoluem para
TRATAMENTO
abortamento tubário.
A realização mais precoce do diagnóstico de gravidez
ectópica permitiu a ampliação das opções terapêuticas
de modo que atualmente o tratamento pode ser realizado
de 3 formas a depender da história clínica da paciente:
expectante, medicamentoso e cirúrgico.

A conduta expectante ainda não está bem estabelecida


no manejo da gravidez ectópica, porém, pode ser
realizada nas gestações com beta-HCG < 2000 mUI/mL e
decrescente. Realizar dosagem semanal de beta-HCG até
zerar.

O tratamento medicamento, por sua vez, já é bem


estabelecido com metotrexato (MTX), antagonista do
DIAGNÓSTICO ácido fólico que atua nas células trofoblásticas de divisão
rápida, impedindo sua multiplicação. Existem alguns
Além do quadro clínico sugestivo, o diagnóstico de
critérios para indicar seu uso:
gravidez ectópica deve ser complementado com exames
complementares como a ultrassonografia transvaginal • Saco gestacional < 3,5cm;
(USTV) e com a dosagem do β-HCG.
• Beta-hCG < 5.000 mUI/mL;
A USGTV é indicada quando o β-HCG for positivo para
analisar a cavidade uterina. Caso não seja visualizado o • Ausência de batimentos cardíacos fetais;
saco gestacional ou restos ovulares na região
• Funções renais e hepáticas normais
endometrial, suspeita-se de gravidez ectópica. Além
disso, o exame analisa se há presença de corpo lúteo no • Ausência de imunodeficiências e discrasias
ovário, assim como busca analisar e caracterizar a sanguíneas
presença de qualquer massa anexial. Este exame permite
visualizar o saco gestacional a partir de 5 semanas de Gestações que não se enquadrem nos critérios acima
atraso menstrual. referidos não são contraindicadas à terapia com MTX, no
entanto, terão menores chances de sucesso. Quanto
Quando não é possível visualizar o saco gestacional na maiores os valores de beta-hCG e da massa anexial,
USGTV e a dosagem de β-HCG é positiva, suspeita-se maiores as taxas de fracasso da terapia medicamentosa.
fortemente de gravidez ectópica e torna- se necessária a
dosagem quantitativa de β-HCG. Os valores de β-HCG O protocolo principal do MTX é realizado em dose única
dobrar a cada 48 horas em uma gestação tópica viável. 50mg/m2, via intramuscular. O acompanhamento é
Dessa forma, pacientes que apresentarem valores de β- realizado pela dosagem do beta-hCG no 4º e 7º dia após
HCG < 2.000mUI/mL, recomenda-se a avaliação seriada a administração do medicamento. Havendo queda no
da mesma para investigação de gravidez ectópica. beta-hCG >15% entre os 4º e 7º dias, a paciente pode ser
acompanhada semanalmente quanto aos títulos de beta-
A dosagem sérica da progesterona é de grande valia para hCG até que sejam atendidos os níveis pré-gravídicos.
os casos em que há dúvidas diagnósticas. A concentração
sérica desse hormônio reflete sua produção pelo corpo
Manoella Evelyn | Hab. Clinicas V – aula 9 11

Caso a redução do beta seja <15%, recomenda-se nova


administração do MTX seguindo a mesma sistematização
acima. Em caso de a redução não ser >15% novamente,
indica-se procedimento cirúrgico.

Este protocolo de dose única é mais simples e


acarretando menos efeitos colaterais para a paciente,
porém, outros protocolos de múltiplas doses existem e
podem ser seguidos diante de casos específicos. Além
disso, o MTX pode ser aplicado diretamente no saco
gestacional, guiado por USTV, na dose de 1mg/kg. No
entanto, o tratamento sistêmico é mais prático e fácil de
administrar.

Em relação ao tratamento cirúrgico, atualmente é


possível realizar manejo cirúrgico conservador
conhecido por salpingostomia por via laparoscópica,
indicado para pacientes que desejam ter filhos
futuramente, que possuem tuba uterina contralateral
doente e na ectopia de pequenas dimensões e íntegra na
região ampolar.

Um dos riscos da abordagem conservadora é a


persistência do tecido trofoblástico em 3-20% dos casos,
de modo que, é importante avaliar os títulos de beta-hCG
no pós-operatório.

Outra técnica cirúrgica é a salpingectomia, uma


abordagem radical, que pode ser realizada tanto por via
laparoscópica ou por laparotomia. Este tratamento é
necessário em mulheres com sangramento incontrolável,
gravidez ectópica recorrente na mesma tuba, tuba
uterina muito lesada ou saco gestacional > 5cm. O diâmetro aórtico abdominal de ≥ 3 cm tipicamente
constitui um aneurisma da aorta abdominal. A causa é
Nos casos em que há quadro clínico agudo com multifatorial, mas aterosclerose está frequentemente
hemoperitônio e hemodinâmica instável, além de dar o envolvida. A maioria dos aneurismas cresce lentamente
suporte hemodinâmico, está indicada a cirurgia tubária (~10%/ano) sem causar sintomas, e a maioria é
radical com conservação da porção intersticial da tuba. encontrada incidentalmente. O risco de ruptura é
proporcional ao tamanho do aneurisma. O diagnóstico é
por ultrassonografia ou TC. O tratamento consiste em
cirurgia ou enxerto de stent intravascular.

Os AAA respondem por três quartos dos aneurismas


aórticos e comprometem 0,5 a 3,2% da população. A
prevalência é 3 vezes maior em homens. Tipicamente,
AAAs começam abaixo das artérias renais (infrarrenais),
mas podem envolver os óstios da artéria renal e cerca de
50% envolvem as artérias ilíacas. Geralmente, o diâmetro
aórtico ≥ 3 cm constitui um AAA. A maioria dos AAAs é
fusiforme. Muitos são revestidos por trombos laminares.

ETIOLOGIA
Manoella Evelyn | Hab. Clinicas V – aula 9 12

A etiologia dos aneurismas aórticos abdominais é COMPLICAÇÕES


multifatorial, mas comumente envolve enfraquecimento
As principais complicações dos aneurismas aórticos
da parede arterial, geralmente por aterosclerose . Outras
abdominais incluem:
causas incluem: trauma, vasculite, necrose cística da
média e ruptura de anastomose cirúrgica. • Ruptura

Raramente, sífilis e infecções localizadas bacterianas ou • Embolização distal


fúngicas, classicamente decorrentes de sepse ou
endocardite infecciosa , enfraquecem a parede arterial e • Coagulação intravascular disseminada
acarretam aneurismas infectados (micóticos). Infecção (incomum)
por salmonela é a principal causa dos aneurismas
É mais provável ocorrer ruptura na parede posterolateral
micóticos.
esquerda 2 a 4 cm abaixo das artérias renais. Se um AAA
romper-se, a maioria dos pacientes morre antes de
FATORES DE RISCO
chegar a um centro médico. Pacientes que não morrem
• Tabagismo (o fator de risco mais forte) imediatamente desenvolvem classicamente dor
abdominal ou lombar, hipotensão e taquicardia. Podem
• Hipertensão
referir antecedente de trauma recente do abdome
• Idade mais avançada (pico de incidência aos 70 a 80 superior, muitas vezes mínimo, ou esforço isométrico (p.
anos de idade) ex., levantar um objeto pesado). Mesmo os pacientes que
chegam ao hospital vivos têm cerca de 50% de
• História familiar (em 15 a 25%) mortalidade.

• Etnia (mais comum em brancos do que em negros) Embolização distal do trombo ou material ateromatoso
pode desalojar-se e bloquear as artérias dos membros
• Sexo masculino inferiores, rins e intestinos. Os pacientes costumam
apresentar dor súbita unilateral nas extremidades e
SINAIS E SINTOMAS frequentemente palidez e perda de pulsos (ver também
A maioria dos aneurismas aórticos abdominais é Oclusão arterial periférica aguda ).
assintomática. Sinais e sintomas, quando ocorrem,
Raramente, um AAA de grandes dimensões
podem ser inespecíficos, mas geralmente resultam de
desencadeiam CID , talvez porque grandes áreas de
compressão das estruturas adjacentes. À medida que os
superfície endotelial anormal deflagrem rapidamente
AAAs se expandem, eles podem causar dor, que é
tromboses e consumo dos fatores de coagulação.
constante, profunda, irritante, visceral e sentida de
maneira mais proeminente na região lombossacral. Os
DIAGNÓSTICO
pacientes podem perceber uma pulsação abdominal
anormal proeminente. Embora a maioria dos aneurismas • Muitas vezes, acidental
cresça lentamente sem sintomas, aneurismas com
• Confirmação por ultrassonografia ou TC
alargamento rápido que estão prestes a se romper
abdominal
podem ser sensíveis.
• Às vezes, a angiografia por TC ou ARM
O aneurisma pode ou não ser palpável como uma massa
pulsátil, dependendo do tamanho e do tipo morfológico do A maioria dos AAAs é diagnosticada por acaso durante o
paciente. A probabilidade de um paciente com massa exame físico ou por ultrassonografia, TC ou RM
palpável pulsátil ter um aneurisma > 3 cm é de cerca de abdominal, realizadas por outras razões. Deve-se
40% (valor preditivo positivo). É possível auscultar sopro considerar o diagnóstico de AAA em pacientes idosos que
sistólico sobre o aneurisma. referem dor abdominal ou lombar aguda, com ou sem
Pacientes com AAA oculto, às vezes, desenvolvem palpação de massa pulsátil.
sintomas das complicações ou da causa (p. ex., febre, Quando os sintomas e o exame físico sugerem AAA,
mal-estar ou perda ponderal decorrente de infecção ou ultrassonografia ou TC abdominal são, em geral, o exame
vasculite). de escolha. Os pacientes sintomáticos devem ser
Manoella Evelyn | Hab. Clinicas V – aula 9 13

testados imediatamente para fazer o diagnóstico antes inferior ao risco de ruptura estimado, a cirurgia está
da ruptura catastrófica. Em pacientes instáveis do ponto indicada. Deve-se discutir abertamente com o paciente o
de vista hemodinâmico e presunção de ruptura, a risco de ruptura versus aquele das complicações
ultrassonografia produz resultados mais rapidamente à perioperatórias.
beira do leito, porém a distensão e os gases intestinais
podem limitar sua exatidão. A necessidade de intervenção cirúrgica está relacionada
com o tamanho, que é proporcional ao risco de ruptura
Fazer exames laboratoriais, como hemograma completo (ver tabela Tamanho do aneurisma da aorta abdominal e
(HC), eletrólitos, nitrogênio da ureia sanguínea, risco de ruptura). Deve-se considerar reparo eletivo para
creatinina, tempo de protrombina (TP), tempo de aneurismas > 5,0 a 5,5 cm.
tromboplastina parcial (PTT), tipagem sanguínea e reação
cruzada, como preparo para possível cirurgia. Aneurismas aórticos abdominais rotos exigem cirurgia
imediata ou endoenxerto intravascular. Sem tratamento,
Se não houver suspeita de ruptura, a angiografia a taxa de mortalidade aproxima-se de 100%. Com
associada à TC ou a angiografia por ressonância tratamento, a taxa de mortalidade é cerca de 50%. A
magnética (ARM) pode caracterizar de maneira mais mortalidade com enxerto de stent intravascular é
precisa a anatomia e o tamanho do aneurisma. Se a geralmente mais baixa (20 a 30%). A mortalidade
parede do aneurisma estiver revestida por trombos, a continua alta porque muitos pacientes têm aterosclerose
angiografia convencional pode subestimar o tamanho coronariana, cerebrovascular e periférica concomitante.
verdadeiro; TC pode fornecer uma estimativa mais
precisa. Aortografia é às vezes necessária se houver Pacientes que desenvolvem choque hemorrágico
suspeita de doença aortoilíaca ou da artéria renal ou caso requerem reanimação hídrica e transfusões sanguíneas,
se considere endopróteses intravasculares mas a pressão arterial média não deve ser elevada para
(endoenxertos). > 70 a 80 mmHg (hipotensão permissiva) porque o
sangramento pode aumentar. É importante controlar e
Radiografias abdominais simples não são sensíveis nem evitar no pré-operatório a hipertensão.
específicas; porém, se realizadas por outros motivos, as
radiografias podem mostrar calcificação aórtica Recomenda-se o reparo cirúrgico eletivo para:
delineando a parede do aneurisma. • Aneurismas > 5 cm nas mulheres e > 5,5 cm nos
Se houver suspeita de aneurisma micótico, devem-se homens (quando o risco de ruptura aumenta para
obter hemoculturas bacterianas e fúngicas. > 5 a 10% ao ano), exceto em caso de doenças
concomitantes que contraindiquem a cirurgia.
TRATAMENTO Indicações adicionais para cirurgia eletiva incluem:
• Tratamento médico, particularmente controle
• Aumento do tamanho do aneurisma por > 0,5
da pressão arterial e cessação de tabagismo
cm em 6 meses, independentemente do tamanho
• Cirurgia ou enxerto de stent intravascular
• Dor abdominal crônica
Alguns aneurismas aórticos abdominais aumentam a
• Complicações tromboembólicas
uma taxa de 10%/ano. O aumento geralmente ocorre em
um padrão gradual com períodos sem crescimento • Aneurisma da artéria ilíaca ou femoral que
observado. Outros aneurismas se expandem causa isquemia do membro inferior
exponencialmente e, por motivos desconhecidos, cerca
de 20% permanecem do mesmo tamanho Antes do reparo eletivo, muitas vezes é necessário fazer
indefinidamente. a avaliação clínica de doença coronariana que pode ou
não exigir avaliação adicional (ver tabela Exames para a
É importante o controle dos fatores de risco avaliação da anatomia e da função cardíaca ) porque
ateroscleróticos, especialmente a interrupção do alguns pacientes com aneurisma da aorta abdominal têm
tabagismo e o uso apropriado de hipotensores. Se um risco significativo de eventos cardiovasculares.
aneurisma de tamanho pequeno a moderado aumentar > Tratamento médico agressivo e controle dos fatores de
5,0 a 5,5 cm e o risco de complicações perioperatórias for risco são essenciais. A rotina pré-operatória de cirurgia
Manoella Evelyn | Hab. Clinicas V – aula 9 14

de angioplastia ou de revascularização não tem se Esses aneurismas devem ser monitorados com
mostrado necessária na maioria dos pacientes que ultrassonografia ou TC abdominal a cada 6 a 12 meses
podem ser preparados com bom tratamento médico para constatação de expansão que justifique tratamento.
antes de correção de aneurisma; deve-se considerar
revascularização coronariana somente em pacientes O tratamento do aneurisma micótico consiste em
com doença coronariana instável. terapêutica antimicrobiana vigorosa direcionada ao
patógeno, seguida de excisão do aneurisma. Diagnóstico
A reparação cirúrgica consiste na substituição da porção e tratamento precoces melhoram a evolução.
aneurismática da aorta abdominal por enxerto sintético.
Se as artérias ilíacas estiverem envolvidas, o enxerto
deve ser estendido para incluí-las. Se for feito um reparo
aortobifemoral, é importante garantir o fluxo para pelo
menos uma artéria ilíaca interna (artéria hipogástrica) TRAUMÁTICAS
para evitar disfunção erétil vasculogênica e isquemia
 O quadro clínico mais frequente é a presença de
pélvica. Se o aneurisma estender-se acima das artérias
choque hemorrágico sem causa aparente.
renais, essas artérias devem ser reimplantadas no
enxerto ou devem-se criar enxertos de desvio.  A ausculta do abdome permite confirmar a presença
ou ausência de ruídos hidroaéreos.
A implantação de enxerto de stent intravascular dentro
do lúmen aneurismático via a artéria femoral é uma  A percussão do abdome pode demonstrar som
alternativa menos invasiva e mostrou reduzir mais a timpânico devido à dilatação gástrica no QSE.
mortalidade e morbidade agudas do que o reparo aberto.
Esse procedimento exclui o aneurisma do fluxo  Normalmente por arma de fogo, arma branca.
sanguíneo sistêmico e reduz o risco de ruptura. O
aneurisma eventualmente desenvolve trombose e em NÃO TRAUMÁTICAS
50% deles ocorre diminuição do diâmetro. Os resultados  Clínica:
a curto prazo são bons e aqueles a longo prazo são
favoráveis. As complicações envolvem angulação, torção, • Dor abdominal é o principal sintoma.
trombose, migração do enxerto de stent e
• Os sinais e sintomas variam conforme o volume perdido
extravasamento interno (fluxo persistente de sangue
para o saco aneurismático após a colocação do enxerto e a velocidade da perda sanguínea e as condições físicas
de stent). Dessa forma, consultas de acompanhamento do paciente.
devem ser mais frequentes após o implante de  Exame físico:
endoenxerto do que após a reparação tradicional. Se não
ocorrerem complicações, recomendam-se métodos de • Deve-se buscar sinais de irritação peritoneal, assim
imagem em 1, 6 e 12 meses e, em seguida, a cada ano. A como a presença de visceromegalias, de massas
anatomia complexa (p. ex., aneurisma com pedículo curto palpáveis pulsáteis.
abaixo das artérias renais e tortuosidade arterial grave)
dificulta o implante de rotina de enxerto de stent em 30 a • Sinal de cullen e de Grey-turner.
40% dos pacientes; mas foram desenvolvidos dispositivos
mais recentes para superar essas questões. Em geral,
para um reparo intravascular bem sucedido, os
cirurgiões devem escolher um dispositivo específico
apropriado para as características anatômicas do
paciente.

Na maioria dos casos, o reparo de aneurismas com < 5 cm


não parece aumentar a taxa de sobrevida. Como o
tamanho dos pacientes varia, é mais preciso oferecer
reparo quando o aneurisma é maior que o dobro do
diâmetro de uma área normal da aorta desse paciente.

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