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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Curso de Enfermagem – Campus Macaé Professor Aloísio Teixeira


MCE 411 – Cuidados de Enfermagem IV: Adulto e idoso hospitalizado e família

Abdome Agudo

ALLAN PEIXOTO DE ASSIS


Abdome Agudo
Abdome agudo é uma condição clínica que tem como principal sintoma a dor abdominal aguda,
necessitando de avaliação e tratamento rápidos;

Refere-se a sintomas e sinais de uma doença intra-abdominal, cujo melhor tratamento em geral é o
cirúrgico;

O tratamento do paciente com Abdome Agudo exige decisões em tempo hábil quanto à necessidade de
intervenção cirúrgica. Esta avaliação deve seguir de anamnese, exame físico, dados laboratoriais e exames
de imagem;

A primeira avaliação é a mais importante, porque a analgesia subsequente pode alterar o exame físico.
Fisiopatologia da dor abdominal
◦ Dor somática ou parietal: tem origem no peritôneo parietal, é constante, precisa quanto ao local e se
acentua com os movimentos, o paciente fica imóvel (peritonite);

◦ Dor visceral: provocada por distensão ou contração de vísceras ocas, de localização imprecisa, que faz
o paciente se movimentar constantemente (dor tipo cólica);

◦ Dor referida ou irradiada: dor de origem intra-abdominal que se manifesta em área anatomicamente
distante, por compartilhar os mesmos circuitos neurais centrais (dor no ombro direito por irritação do
diafragma, escápula direita, dorso, região inguinal ou perineal);

◦ Dor migratória: Migra da região epigástrica para a fossa ilíaca direita (Apendicite e Úlcera perfurada).
Avaliação da Dor
As 10 dimensões da DOR:

❖Tipo
❖Duração
❖Evolução
❖Localização
❖Intensidade
❖Irradiação
❖Relação com funções orgânicas
❖Fatores desencadeantes/agravantes
❖Fatores que aliviam
❖Manifestações associadas e cronologia: náuseas, vômitos, constipação, diarréia, febre, melena,
hematúria, disúria, colúria, tontura, sudorese, anorexia
Exame Físico Abdominal
Postura do paciente – Pacientes imóveis com piora da dor à movimentação provavelmente apresentam grave
doença intra-abdominal;
Sinais Vitais – A febre de eventos abdominais (apendicite, diverticulite e colecistite) é normalmente baixa;
Taquicardia e hipotensão – Sugere avanço da doença abdominal para peritonite (efusão de plasma do LEC para a
cavidade peritoneal em resposta à agressão);
Inspeção do abdome: Identifica abdome escafóide, globoso ou distendido (obstrução intestinal, íleo paralítico ou
presença de líquido como ascite), cicatrizes, hérnias, equimoses;
Palpação: Dor no local da palpação, defesas, dor à descompressão dolorosa (peritonite). Sinal de Blumberg, Sinal
de Rovsing e Sinal de Murphy;
Ausculta: Ruídos ausentes, normais ou acelerados;
Percussão: Dor à percussão (peritonite), hipertimpanismo (gás em alça ou estômago), percussão timpânica na área
hepática sugere gás intra-abdominal livre (Sinal de Jobert)
Laboratório
Hemograma Completo – Hematimetria (pode estar alterada nos quadros
hemorrágicos), leucometria (alguns casos está normal), desvio para esquerda (mais
significativo que leucocitose elevada) e elevada VHS;
Bioquímica – Na+, K+, U, Cr, G, Cl-, PCR
Amilase e Lipase – Se elevadas auxiliam no diagnóstico de Pancreatite;
Bilirrubina, Fosfatase Alcalina e Transaminases (TGO, TGP) – Insuficiência hepática e
icterícia obstrutiva;
EAS – ITU, hematúria, proteinúria.
B-HCG – Para mulheres em idade fértil.
Imagens
Raio X de abdome total e tórax – Pneumoperitônio, níveis hidroaéreos
Ultrassonografia
Tomografia Computadorizada – Presença de líquido na cavidade abdominal,
tromboses, abscessos, edema
Decisão cirúrgica
A decisão cirúrgica é realizada pelo médico cirurgião e deverá estar baseada nos sinais clínicos
disponíveis. É sempre importante lembrar que a Laparotomia Exploratória (LE) está indicada para
todos os casos clássicos de Abdome Agudo;
Sinais definitivos de peritonite como dor, defesa e irritação peritoneal, reforçam a indicação
operatória, assim como dores subitamente graves ou progressivas com sinais de infecção;
A maioria dos pacientes com ar livre na cavidade peritoneal deve ser submetida à LE após
estabilização clínica e preparo adequados;
Pacientes obesos devem realizar TC devido a dificuldade do exame físico e submetidos à LE na TC
anormal;
Pacientes com dor abdominal e achados duvidosos para abdome agudo devem ser submetidos a
exames de imagem iniciados pelo USG abdominal.
Preparo Pré-operatório
Colocação de uma sonda nasogástrica
Estabelecimento de acesso venoso
Cateterismo Vesical de Demora
Administração de analgésico forte e antibióticos
Estabilização hemodinâmica para pacientes instáveis
Atenção ao paciente que usa esteroides
Atenção ao paciente com DM
Tipos de Abdome Agudo
Inflamatório: apendicite, colecistite aguda, pancreatite aguda, diverticulite, doença
inflamatória pélvica, abscessos intra-abdominais, peritonites primárias e secundárias…
Perfurativo: úlcera péptica perfurada, neoplasia gastro-intestinal perfurada, divertículos do
colon perfurado, perfuração iatrogênica de alças intestinais ou útero…
Obstrutivo: aderências intestinais, hérnia estrangulada, fecaloma, obstrução pilórica, volvo,
intussuscepção, corpo estranho, bolo de áscaris…
Vascular: isquemia intestinal, trombose mesentérica, torção do omento, torção de pedículo de
cisto ovariano, infarto esplênico…
Hemorrágico: gravidez ectópica rota, ruptura do baço, ruptura de aneurisma de aorta
abdominal, cisto ovariano hemorrágico, necrose tumoral, endometriose…
Algumas doenças
comuns no Abdome
Agudo
Úlcera Péptica Perfurada
Perfuração de úlcera péptica gástrica ou duodenal causando dor abdominal súbita,
intensa, inicialmente epigástrica, posteriormente irradiando para FID e por último
de comportamento difuso (peritonite química e purulenta)
Tratamento cirúrgico: Fechamento cirúrgico da perfuração ou fechamento cirúrgico
da perfuração associado a um procedimento operatório para redução da secreção
ácida.
Vagotomia troncular com piloroplastia
Vagotomia troncular com antrectomia
Vagotomia troncular com hemigastrectomia
(antrectomia com duodenostomia – Billroth I - ou antrectomia com jejunostomia –
Billroth II)

A perfuração pode ainda ser tamponada pelo omento ou rede de fibrina local.
Complicações e cuidados
Anemia perniciosa - Reposição de Vitamina B12
Síndrome de Dumping – Fracionamento da dieta
Atonia gástrica pós-vagotomia (gastroparesia) – Administração de procinéticos
Infecção de incisão – Cuidados com ferida operatória
Atelectasia – Exercícios de inspiração profunda, deambulação precoce, Fowler
Apendicite
É a inflamação do apêndice vermiforme, que é uma víscera oca localizada na base do ceco;
A apendicite ocorre por obstrução, impedimento de drenagem de muco para o ceco, congestão venosa e
linfática de sua mucosa e finalmente, inflamação. Divida em três fases:

❖Fase inflamatória: Hiperemia do apêndice por congestão venosa e linfática gerando dor vaga na região
epigástrica;
❖Fase supurativa: A inflamação atinge a serosa e produz fibrina seguida de pus gerando dor na fossa ilíaca
direita;
❖Fase isquêmica: Compressão arteriolar da mucosa por congestão, necrose de ponta e perfuração do
apêndice, gerando a fase perfurativa que leva a dor difusa por peritonite.

Sinal de Blumberg e Rovsing


Tratamento: Apendicectomia com incisões laterais (diagnóstico precoce) e medianas (peritonite difusa) +
antibioticoprofilaxia ou antibioticoterapia
Colecistite

Colecistite aguda x Colelitíase (Dor em hipocôndrio D + Náuseas e vômitos) – AINe e ATB


Cirurgia: Colecistectomia total + Drenagem biliar (Colangite ou colecistite complicada – gás na parede, irritação peritoneal,
leucocitose) Sinal de Murphy
Obstrução Intestinal
Parada da propulsão do conteúdo intestinal. Pode ser obstrução alta ou baixa tendo como ponto de divisão a válvula íleo-
cecal ou a transição jejuno-ileal.

Obstrução alta – Vômitos precoces e parada de evacuação e gases mais tardio


Obstrução baixa – Vômitos tardios e parada de evacuação e gases mais precoces com distensão abdominal (pode haver
obstrução em alça fechada)

Obstrução pode ser complicada se acompanhada de isquemia, necrose e perfuração da parede intestinal com evolução para
peritonite.
Dor tipo cólica com náuseas e vômitos, parada de evacuação de fezes e flatos, distensão abdominal. RHA aumentados no
início do quadro e ausentes ao final.
As principais causas são bridas (aderências) ou neoplasias de intestino.
Tratamento cirúrgico – Ressecção da obstrução com anastomose primária ou colostomia
Tratamento não operatório – SNG, hidratação e administração de procinéticos
Pancreatite
Inflamação do pâncreas causada na maioria das vezes por pequenos cálculos da vesícula biliar que migram para
o ducto pancreático e o inflama juntamente com papilite de vater. Outras causas são por etilismo, trauma,
hipetrigliceridemia, medicamentosas, autoimunes e idiopáticas.

Diagnóstico: Dor andar superior do abdome em faixa associada a náuseas e vômitos + Enzimas pancreáticas
aumentadas (amilase e lipase) + TC abdome (opcional) mostrando área de edema

Pancreatite leve – pancreatite isolada


Pancreatite grave – insuficiência orgânica associada ou com complicações locais (necrose do parênquima
pancreático)
Pancreatite
Tratamento é clínico:
❖Jejum (48h), após, tentar dieta hipolipídica de acordo com aceitação
❖Se não aceitar dieta, passar SNE posicionada após segunda porção do duodeno
(nutrição dos enterócitos e evita translocação bacteriana)
❖Hidratação adequada, reposição eletrolítica, analgesia (evitar morfina – espasmo
Oddi)
❖Antibiótico profilático se necrose extensa (>30%) no pâncreas pela TC
❖Necrosectomia (se gás na TC) (Única abordagem cirúrgica).
Hemorragia Digestiva

Hemorragia Digestiva Alta - Acima do ângulo de Treitz: Varicosas e Não-varicosas

Hemorragia Digestiva Baixa - Abaixo do ângulo de Treitz


HDA varicosas (Varizes esofágicas)
Varizes esofágicas - HDA
(Sonda Sengstaken Blackmore)
HDA não varicosas
Úlcera péptica gastroduodenal
Lesão aguda de mucosa gastroduodenal
Laceração aguda da transição esôfago-gástrica (Mallory-Weiss)
Ca gástrico
Esofagites
Tratamento HDA
Avaliar fatores precipitantes: medicamentoso, estresse, H. Pilory, encefalopatia hepática
Puncionar 02 acessos venosos periféricos
Reposição volêmica
Considerar aminas vasoativas
Passar cateter nasogástrica e administrar SF - 150 a 500mL
Monitorizar estado hemodinâmico
Monitorizar estado hidroeletrolítico
Solicitar presença de endoscopia
HDB - Hematoquezia e Enterorragia
FIM

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