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CARACTERÍSTICAS

ESSENCIAIS DO KULA

MALINOWSKI, Bronislaw. “Características essenciais do Kula”. In Os


Argonautas do Pacífico Ocidental. Coleção Os Pensadores. São Paulo:
Abril. 1976.
I – Uma definição concisa do Kula.
• Kula: forma de troca
• caráter intertribal
• Praticado por comunidades localizadas num extenso círculo de ilhas
que formam um circuito fechado
• Soulava (colares) e mwali (braceletes)
• Cada movimento, cada detalhe das transações do Kula: fixado e
regulado por uma série de regras e convenções tradicionais.
• Ninguém conserva um artigo consigo por muito tempo.
• Regra: “uma vez no Kula, sempre no Kula”.
• Parceria entre 2 indivíduos no Kula: para sempre.
I
• Troca cerimonial dos dois artigos um pelo outro: aspecto fundamental
• Paralelo à troca ritual: comércio comum, negociando de uma ilha para
outra bens não fabricados pelo distrito que os importa, mas são
indispensáveis à sua economia.
• Construção de canoas.
• Kula: instituição enorme e complexa
• Múltiplos objetivos
• Instituição bem organizada
• Nativos: cientes de seus próprios motivos
I
• Nativo: não tem visão do todo: faz parte do todo e não consegue vê-
lo de fora
• Tarefa do etnólogo: integração de todos os detalhes observados, e
síntese sociológica dos diversos indícios importantes.
• Descobrir as leis e regras de todas as transações
II – Seu caráter econômico
• Kula: instituição econômica
• Kula: enraizado em mitos, sustentado pelas leis da tradição e cingido
por rituais mágicos.
• Transações: públicas e cerimoniais.
• Parceria: une milhares de indivíduos.
• Alto grau de confiança mútua e honra comercial.
• Objetivo principal: permuta de artigos que não têm nenhuma
utilidade pública
• Ou seja: não é baseado na razão utilitária.
• Instituição intertribal associada a inúmeras outras atividades.
III – Os artigos trocados; a concepção de
vaygu’a.
• Mwali e soulava: enfeites: usados em grandes ocasiões festivas
• Pequenos ou grandes demais para serem usados
• Vaygu’a (objetos de valor): possuídos pela posse em si.
• Posse aliada à glória e ao renome: principal fonte de valor.
• Sentimentalismo histórico
• Forças psicológicas: mesmas na Europa (coroa dos reis) e nas ilhas
Trobriand.
IV – As regras e aspectos principais do Kula: o
aspecto sociológico (parceria); direção do
movimento; natureza da posse dos objetos do
kula; o efeito diferencial e integral dessas regras.
• Troca: braceletes por colares: principal ato : sujeito a rigorosos limites
e regras.
• Sociologia da troca: limitado número de pessoas com quem se pode
negociar.
• Número de parceiros de um indivíduo: varia com a posição social e
importância.
• Troca: objetos do Kula e outros presentes: deveres e obrigações
mútuas entre parceiros.
• Parceria: laço que une dois indivíduos: relação de troca de presentes
e mútua prestação de serviços
IV
• Além da cultura material: costumes, canções, temas artísticos e
influências culturais gerais: viajam ao longo das rotas do Kula.
• Cada pessoa: obedece leis específicas quanto ao sentido geográfico
das transações.
• Censura à mesquinhez: não pode manter artigos por mais de um ou
dois anos.
• Glórias e façanhas de chefes e plebeus no Kula: sempre presentes em
suas conversas.
IV
• Êxito no Kula: atribuídos a poderes individuais especiais
• Obtidos principalmente através de magia, dos quais os nativos se
orgulham muito.
• Aldeia inteira: orgulhosa: quando um de seus membros obtém no
Kula um troféu especialmente valioso.
V – O ato da troca; seus regulamentos; o que isso
revela sobre as tendências aquisitivas e
“comunistas” dos nativos; seus princípios gerais
concretos; os presentes de solicitação.
• Kula: consiste na doação de um presente cerimonial em troca do qual,
após certo lapso de tempo, deve ser recebido um presente
equivalente.
• Troca: jamais pode ser efetuada diretamente
• A equivalência entre os presentes não deve nunca ser discutida
publicamente ou pechinchada.
• Erro: falsa noção através da qual se atribui ao selvagem uma natureza
puramente econômica.
• Código social das leis que regulam o dar e receber suplanta sua
tendência aquisitiva natural.
V
• Código social: longe de atenuar o desejo natural pela posse.
• Nativos do Kula: possuir é dar.
• Pressuposto: qualquer pessoa deve naturalmente partilhar seus bens
e deles ser o depositário e distribuidor.
• Chefe: tem de dividir com os outros nativos seu estoque particular de
tabaco ou nozes de bétel.
• Riqueza: principal indício de poder.
• Generosidade: essência da bondade.
V
• Outra ideia errônea: comunismo primitivo dos selvagens
• Também errônea: fixação diametralmente oposta do nativo insaciável e
desumanamente tenaz.
• Princípio moral: faz com que o indivíduo contribua nas transações do Kula:
e quanto mais importante ele for, mais deseja sobressair-se por sua
generosidade.
• Indivíduo que recebe menos do que dá: aborrecimento que não esconde,
mas gaba-se de sua própria generosidade
• e contrasta com a avareza do seu parceiro: briga está pronta para começar
• Por motivos diferentes: doador e receptor concordam que o presente deva
ser generoso.
• Indivíduo que é justo e generoso no Kula: atrai para si maior fluxo de
transações que o indivíduo mesquinho.
V
• Dois princípios mais importantes [que o Kula é um presente
retribuído por meio de um contrapresente; e que cabe ao doador
estabelecer a equivalência do contrapresente]: fundamentam toda a
transação.
VI – Atividades associadas e aspectos secundários do
Kula: construção de canoas; comércio subsidiário – sua
verdadeira relação com o Kula; os tabus e as
distribuições mortuárias e sua relação com o Kula.
• Muitos preparativos são necessários para que uma expedição possa se
realizar.
• Construção de canoas, preparação de equipamento, aprovisionamento da
expedição, estabelecimento das datas e a organização social do
empreendimento.
• Comércio secundário: navegadores do Kula retornam de cada expedição
fartamente carregados com os legados de seu empreendimento.
• Descrição: puramente etnográfica: possibilita entender o Kula como
grande instituição.
VI
• Kula: o objetivo principal
• Datas, expedições, organização social: em função do Kula, não do
comércio.
• Magia: um dos principais elementos desse processo.
• Kula: instituição enorme e complicada.
• Representa um dos interesses mais vitais da existência dos nativos.
• Por isso: caráter cerimonial marcado pela magia.
VI
• Magia: sobre as canoas
• # para que sejam velozes, estáveis e seguras;
• # para lhes dar sorte
• # para afastar os perigos da navegação.
• Mwasila: magia: age diretamente sobre a mente (nanola) do parceiro,
para que se torte afável, de mente estável e ansioso para dar
presentes kula.
• Lendas: legado de conhecimento de magia.
VI
• Objetos do comércio subsidiário: utilizados e consumidos, mas os
vaygu’a – braceletes e colares – movendo-se constantemente no
circuito.

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