E CULTURA
Introdução
Antropologia pode ser melhor compreendida enquanto disciplina cien-
tífica a partir do seu desenvolvimento ao longo do tempo. Desde os
primeiros viajantes que entraram em contato com outros povos até o
intenso contato cultural permitido pela globalização, está em questão o
modo como olhamos aqueles que são diferentes de nós. Assim, refletindo
sobre esse olhar podemos conhecer e aprofundar a compreensão e o
entendimento dos povos existentes.
Neste capítulo, você aprofundará o seu conhecimento sobre a constru-
ção do pensamento antropológico, além de conhecer suas ramificações
e atribuições existentes. Com isso, perceberá quais são as possibilidades
de aplicações conceituais em nosso cotidiano.
A língua que usam, por toda costa [...] Carece de três letras convém a saber,
não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim
não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e essa maneira vivem desordenadamente,
sem terem além disto conta, nem peso, nem medida.
O livro do viajante de Hans Staden, Viagem ao Brasil, conta sobre o encontro com os
indígenas na América do Sul, as relações entre esses povos com os portugueses e como
se dava os ritos e cerimônias dos ditos “selvagens”. Em um dos trechos, ele apresenta
a antropofagia presente nesses povos:
Evolucionismo Social
A partir de 1830, influenciada pelas ideias evolucionistas da Biologia, surge
o embrião de uma antropologia evolucionista, na Inglaterra. O filósofo inglês
Herbert Spencer foi um dos maiores influenciadores, pois apostava na escala
4 O que é antropologia: ramificações e atribuições
Para conhecer mais sobre o pensamento do Evolucionismo cultural e suas ideias bases,
você pode ler o livro Evolucionismo cultural de Castro, 2005.
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Funcionalismo
Considerado o pai da Antropologia Britânica, Bronislaw Malinowski (1984) desen-
volveu uma análise por meio do funcionalismo e afirmava que todas as partes de
uma cultura local desempenham um papel de funcionamento. Logo, o pesquisador
teria que fazer um trabalho de campo intensivo para apreender todos os detalhes
culturais. No início, esses detalhes pareceriam arbitrários e sem sentido – tanto
nas práticas da população local, quanto no modo das pessoas sobreviverem no
ambiente local – mas, com a acumulação de dados anotados durante o tempo
em que o pesquisador permanece em campo, alguns núcleos de sentido viriam
à tona, e o antropólogo seria o mediador dos significados da sociedade do outro.
Entre 1914 e 1918, ele foi autorizado a realizar trabalho de campo na Nova
Guiné, entre os trobriandeses, aprendendo o uso da língua nativa, por meio
da observação participante entre os nativos, o que possibilitou, em 1992, a
publicação do livro Argonautas do Pacífico Ocidental.
6 O que é antropologia: ramificações e atribuições
Culturalismo norte-americano
Franz Boas se opôs aos métodos dedutivistas das análises comparativas e
defendeu o método da indução empírica, a fim de não enquadrar os fenômenos
em um conceito que não lhe cabia. Assim, ele analisou os costumes semelhantes
entre tribos vizinhas, para traçar paralelos considerando o contexto social na
perspectiva histórica e geográfica. Logo, Boas preferiu elucidar o conceito de
cultura de modo plural, holístico, integrado, de acordo com regiões culturais
determinadas, para só então estabelecer leis gerais e generalizações teóricas.
Ruth Benedict e Margereth Mead são discípulas de Boas e dão continuidade
aos estudos de culturas particulares, a partir dos anos 20 nos Estados Unidos.
Esses estudos levam em consideração a noção de cultura como transmissão
geracional e a formação da personalidade na relação entre o indivíduo e o
grupo. Em 1934, Benedict publica seu livro Padrões de cultura. Nele, aborda
as configurações das feições culturais para compreender o papel da cultura na
definição da personalidade. Mais tarde, Mead publica Sexo e Temperamento,
em 1935, e apresenta a relação entre o temperamento e os diferentes papéis
sexuais em termos de um padrão dominante.
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Estruturalismo
Em 1908, Claude Lévi-Strauss nasce em Bruxelas, mas é em Paris que ele será
reconhecido como antropólogo renomado. Seus estudos buscavam a análise das
estruturas da mente humana, a fim de evidenciar as estruturas das sociedades
como relações constantes, apesar da diversidade e das diferenças entre elas.
Assim, por meio das estruturas do inconsciente, estudadas nos fenômenos
conscientes, Lévi-Strauss (1973) acessaria as leis gerais do pensamento humano
e, nessa estrutura rígida e imutável, desvendada no plano lógico, estariam
articuladas simbolismos e ação social.
Um de seus estudos, As estruturas elementares do parentesco, de 1947,
investigou as classificações definidas pelos membros de um grupo em
relação ao sistema de parentesco e a aliança das sociedades, permeando
questões que perpassariam das sociedades primitivas até as sociedades
ditas contemporâneas.
A proibição do incesto é explicada sociologicamente como um tabu que
impediria os grupos de se fecharem entre si, de modo que a aliança entre os
grupos proporia relações de consanguinidade. Ao mesmo tempo, a circulação
de mulheres asseguraria a troca entre os indivíduos e os grupos.
Leituras recomendadas
BARTH, F. One discipline, four ways: british, german, french, and american anthropology.
Chicago: The University of Chicago Press, 2005.
CASTRO, C. (Org.). Evolucionismo cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
FREEMAN, D. Margaret Mead and Samoa: the making and unmaking of an anthropo-
logical myth. New York: Penguin Books, 1985.
OLIVEIRA, R. C. de. Evolucionismo cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.