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Teoria Sociológica I - resumos, comentários e anotações de aula

Profª Jacqueline Sinhoretto

Aula 10 - Interacionismo simbólico (Herbert Blumer, Erving Goffman e Howard Becker);

Texto 1: Herbert Blumer - A sociedade como interação simbólica


Sociedade humana como interação simbólica, campo da sociologia, Cooley, Thomas, Park,
Burgess, Znaniecki, Faris, Williams, fora da sociologia, James, Dewey, Mead; premissas
fundamentais dessa abordagem, apresentar as premissas básicas desse ponto de vista e
desenvolver suas consequências metodológicas (desenvolvimento de métodos qualitativos
adequados ao estudo das interações) para o estudo da vida grupal humana; “interação
simbólica”, interação tal como ela ocorre entre seres humanos, a interação humana é
mediada pelo uso de símbolos, pela interpretação ou atribuição de significado às ações uns
dos outros, Mead, refletir sobre o que o ato de interpretação implica para o entendimento do
ser humano, da ação e associação humanas; O elemento-chave da análise de Mead é que
o ser humano possui um self, o ser humano pode ser objeto de suas próprias ações; Ele
pode agir tanto em relação a si mesmo como em relação a outros; mecanismo central com o
qual o ser humano encara o seu mundo e lida com ele (formação psicossocial da dimensão
relacional); Qualquer coisa de que o ser humano está consciente é algo que ele está
indicando a si mesmo; A vida consciente do ser humano, é um fluxo contínuo de
autoindicações, ser humano como organismo que confronta o seu mundo com um
mecanismo para fazer indicações a si mesmo, indicar algo é libertar este algo de seu
cenário, separá-lo, atribuir-lhe significado torná-lo um objeto; O objeto é produto da
disposição individual de agir, o indivíduo constrói seus objetos com base em sua atividade
em curso, atribuindo-lhes significado, julgando a sua adequação para sua ação e tomando
decisões com base nesse julgamento, sua ação é construída ou montada, ao invés de ser
um mero extravasamento, o indivíduo humano compõe e guia a sua ação levando em
consideração diferentes coisas, e interpretando-lhes os significados para sua ação
prospectiva; A autoindicação é um processo comunicativo dinâmico no qual o indivíduo nota
coisas, avalia-as, dá-lhes um significado e decide agir com base nesse significado, forças
exteriores ou interiores, desejos, atitudes, sentimentos, ideias, o indivíduo posiciona a si
mesmo frente a essas forças e está apto a retroagir frente a elas, aceitando-as, rejeitando-
as ou transformando-as; O comportamento do indivíduo é resultado de como ele interpreta e
lida com essas coisas na ação que está construindo, o comportamento e a ação são
resultado da interpretação, a formação da ação pelo indivíduo por meio de um processo de
autoindicações sempre se dá num contexto social, ajuste mútuo de linhas individuais de
ação, cada indivíduo alinha a sua ação à ação de outros, captando o significado de seus
atos, “assumindo o papel” de outros (“outro generalizado” de Mead), análise de Mead acerca
das bases da interação simbólica, a sociedade humana é composta por indivíduos que
possuem selves, a ação individual é uma construção, a ação grupal ou coletiva consiste no
alinhamento de ações individuais, tais premissas podem com facilidade ser verificadas
empiricamente, visões sociológicas da sociedade humana são, em geral, marcadamente
divergentes em relação às premissas subjacentes à interação simbólica, determinismo
sociológico, o pensamento sociológico raramente reconhece ou trata sociedades humanas
como compostas por indivíduos que possuem selves, como nos casos do “sistema social”,
da “estrutura social”, da “cultura”, da “posição de status”, do “papel social”, do “costume”, da
“instituição”, da “representação coletiva”, da “situação social”, da “norma social” e dos
“valores”; Os indivíduos que compõem uma sociedade humana são tratados como meios
através dos quais tais fatores operam; Essa abordagem ou ponto de vista nega, ou pelo
menos ignora, que seres humanos possuem selves, agem fazendo indicações a si mesmos,
fatores psicológicos, autoindicação, fatores sociais, ações sociais dos indivíduos na
sociedade humana como sendo construídas por eles por meio de um processo de
interpretação de objetos, situações ou ações de outros, linha de diferença entre visões
sociológicas em geral e a posição da interação simbólica; Na perspectiva da interação
simbólica, a ação social é alojada em indivíduos atuantes que ajustam suas respectivas
linhas de ação umas às outras por meio de um processo de interpretação; geralmente
alojam a ação social na ação da sociedade, os esforços das pessoas para desenvolver atos
coletivos a fim de enfrentarem as situações de suas vidas acabam por ser subsumidos no
jogo de forças alojadas na sociedade; como a sociedade humana aparece nos termos da
interação simbólica, implicações metodológicas; A sociedade humana deve ser vista como
consistindo de pessoas atuantes, e a vida da sociedade deve ser vista como consistindo de
suas ações; As unidades atuantes podem ser indivíduos separados, coletividades ou
organizações, atividade humana concreta ou empírica, reconhecimento empírico de que
uma sociedade humana consiste de unidades atuantes, qualquer ação particular é formada
à luz da situação em que ocorre, a ação é formada ou construída pela interpretação da
situação; A vida grupal consiste em unidades atuantes, desenvolvendo atos para enfrentar
as situações nas quais elas se encontram alocadas, interação prévia, compreensões ou
definições comuns, comportamento repetitivo; Uma vez que estão à disposição definições
pré-fabricadas e comumente aceitas, pouca pressão é colocada sobre as pessoas na
orientação e organização de seus atos. Contudo, muitas outras situações podem não ser
identificadas de modo unívoco pelos participantes, situações “indefinidas” (fronteiras
culturais, morais, políticas - pautas de legalização e criminalização, projetos de futuro),
processo de interpretação através do qual as unidades atuantes constroem suas ações,
assumir o papel da unidade atuante cujo comportamento está estudando, o processo tem de
ser visto do ponto de vista da unidade atuante, apreender o processo tal como este ocorre
na experiência da unidade atuante que o utiliza (sobre consequências metodológicas),
sociólogos não estudam a sociedade humana em termos de suas unidades atuantes, ação
social como uma expressão de tal estrutura ou organização; Essas várias linhas de
perspectiva e interesse sociológicos, passam por cima das unidades atuantes de uma
sociedade e desviam-se do processo interpretativo, diferença essencial entre visões
convencionais da sociedade humana e a visão implícita na interação simbólica; Do ponto de
vista da interação simbólica, a organização social é uma moldura dentro da qual as
unidades atuantes desenvolvem as suas ações; elementos estruturais estabelecem
condições para a ação de tais unidades, mas não as determinam; A organização social
molda as situações em que as pessoas agem, conjuntos fixos de símbolos, sociedade
moderna, situações em que as ações dos participantes não estão previamente regularizadas
e padronizadas, a ação social pode ir além ou se afastar da organização existente em
qualquer uma de suas dimensões estruturais, procedimento convencional dos sociólogos,
identificar a sociedade humana, identificar algum fator ou condição de mudança, identificar a
nova forma assumida pela sociedade, formular proposições, tais proposições ou ignoram o
papel do comportamento interpretativo, qualquer linha de mudança social, na ação humana,
é necessariamente mediada pela interpretação das pessoas atingidas pela mudança;
Variações na interpretação, diferentes unidades atuantes, pesos diferentes aos objetos;
Estudantes de sociedades humanas, conciliar preocupações com as categorias de estrutura
e organização com a compreensão dos processos interpretativos (problema metodológico
de conectar o indivíduo à sociedade), discrepância entre essas duas linhas, reconhecer os
seres humanos como pessoas que constroem a ação individual e coletiva através de uma
interpretação das situações que as confrontam;

Aula em vídeo:
Experiências sociais em contexto de campo, compreensão da sociedade como um processo
de interação, Anselm Strauss entraria na segunda geração do interacionismo simbólico,
teoria da interação simbólica e sua transformação através da teoria da rotulação com Becker
e Goffman, relações com a reflexão inicial de Strauss, os atributos que as interações sociais
atribuem aos objetos mudam a qualidade dos mesmos e nossa percepção sobre os
mesmos; as descrições sobre um objeto ou uma pessoa mudam a avaliação dos
participantes da interação, definição de interação de Blumer; reformulação da primeira fase
da Escola de Chicago (até 1950), ideia de assimilação; desenvolvimento da
microssociologia, ideia de desorganização, assimilação, discussão sobre diferenças não
assimiláveis, estudos sobre os estigmatizados, rotulados e deteriorados, tal abordagem
sempre fez parte da Escola de Chicago, com Park e Thompson, pesquisas com gangs
jovens, comunidades negras, prostitutas, comunidades imigrantes; concepção filosófica da
assimilação progressiva sendo revista como ideal político, sociologicamente percebeu-se
que certos grupos permanecem com um estigma permanente; a segunda geração de
Chicago implica uma ruptura interna, que desloca os estudos sobre estigmatizados e
outsiders para a observação não dos atributos intrinsecos desses individuos, mas do
processo social de rotulação, demarcação da diferença, acusação social, deterioração da
imagem dos individuos, passagem pelo texto do Blumer e seu conceito de interação social,
para então desaguar em Goffman e Becker; Blumer e a necessidade de qualificar melhor o
conceito de interação simbólica, busca de bases no Georg H. Mead - a sociedade humana é
baseada em indivíduos que constituem self (conceito sociológico), separação em relação à
definição psicológica clássica ou psicanalítica, distanciamento de uma visão funcionalista de
que várias faces da psique são funções diferenciadas, bem como uma visão estruturalista
igualmente redutora da subjetividade; ideia de self como interface entre a microssociologia e
a psicologia social; self como porção da vida mental que está no indivíduo mas também é
uma construção derivada da capacidade de observar a realidade e indicar a nós mesmos
determinados aspectos da realidade que destacamos e interpretamos, dando uma
importância simbólica específica; a construção da apreensão da realidade pelo self não é
um extravasamento, é uma derivação da percepção e da interpretação individual por parte
do self; ação grupal ou coletiva como alinhamento de ações individuais, por levarem em
conta as ações uns dos outros; unidades funcionais de ação articuladas pelos indivíduos, o
processo de interpretação ocorre através do indivíduo, as ações individuais estão sempre
relacionadas umas às outras; nega-se a perspectiva organizacional, mas é possível estudar
as organizações do ponto de vista do interacionismo simbólico (é o que Goffman e Becker
fazem considerando a análise de instituições ou agrupamentos sociais mais amplos); livro
Asylum, de Goffman (manicômios, conventos e prisões); teoria da instituição total e sua
relação com Foucault; uma teoria interacionista sobre o ajustamento do self nas instituições
(em que as atividades cotidianas se desenvolvem nos mesmos locais, pelos mesmos
agentes, sendo atravessados por hierarquias); livro Representação do Eu na vida cotidiana,
acúmulo e deslocamento entre papéis sociais articulados pelos indivíduos em suas vidas
sociais; o self tem modos de desempenho em cada um dos papéis, os mesmos constituem o
self, de acordo com o deslocamento através de espaços sociais; fora das instituições totais
podemos desempenhar os papéis que nos são designados ao nosso modo; possibilidades
de identidade e autoimagem são reguladas pelo self a depender das formas de regulação
social, condução da auto-imagem através das condições simbólicas da interação; na
instituição total é impossível separar ou transitar entre os diferentes papéis da vida social,
certos papéis sociais são indispensáveis na perspectiva da instituição total (impossibilidade
de transitar entre diferentes papéis sociais); os atributos do indivíduo na instituição total se
tornam fixos, a passagem prolongada por essas instituições modifica o self de forma
duradoura, crítica da vida nas prisões e nos manicômios, reincidência, ideia de que não há
ressocialização nessas instituições; a cura ou a transformação é um objetivo inalcançável no
interior dessas instituições, só se aprende a conviver de acordo com determinadas regras, a
luta antimanicomial ganha espaço social a partir dos trabalhos de Goffman, mas também de
Foucault, experimentos radicais de destruição do self, de desempenho da autoridade e da
hierarquia, elementos que alteram as interações sociais, o self, as identidades; segundo
Blumer só podemos estudar as interpretações dos indivíduos sobre a experiência
significativa destacada das interações simbólicas, a realidade social observável é construída
pelas interpretações dos indivíduos, a partir das mesmas, sendo afetados, os indivíduos
agem, lendo a reação alheia e interpretando as ações consequentes; interações simbólicas
como leitura de interpretações e desempenho de papéis - Goffman, sociologia dramatúrgica,
ideia da sociedade como teatro, há script, cenários, selves, etc.; o movimento de repetição
das instituições cria expectativas cristalizadas historicamente, que surgem como “textos” de
referência para o desempenho de papéis atrelados a determinada instituição; duplo sentido
de interpretação: como compreensão e como reprodução de um papel (teatral), relações
com a compreensão performática da identidade em Butler; acontecimentos derivam da
interpretação dos selves sobre o desempenho social dos papéis atribuídos a determinada
interação simbólica; a representação do eu tem efeito de reprodução da identidade;
produção da identidade pelo sujeito e para si mesmo, a interpretação do papel é manipulada
pelo indivíduo de acordo a transmitir confiabilidade, credibilidade, não só para os outros,
para si mesmos; iniciantes em quaisquer categorias agem para se provarem capazes
(posicionamento na construção de carreira); a carreira não é só profissional, há históricos de
doença mental, de crime, etc.; processos rituais interativos e simbólicos inserem um
indivíduo em diferentes redes de interação, que o posicionam em uma trajetória
reconhecível; o pertencimento a determinados grupos exige formas de iniciação ou
certificações informais; teorias sobre como as regras são formadas e como são
desempenhadas; facilidade metodológica de observar o comportamento dos indivíduos
frente às regras, aos poucos os limites coercitivos são modelados a depender do
desempenho individual das regras (ou ruptura); todo sistema de papéis sociais implica o
controle social, de modo que o mal desempenho atrai coerção, e o bom desempenho atrai
estímulos (no interior de uma instituição); os tipos de punição variam no plano
microssociológico, ajustamento social do indivíduo aos papéis designados pelas instituições,
as regras mais difíceis de violar são aquelas envolvidas por camadas de afetividade
(julgamentos pessoais por parte de pessoas próximas), as regras microssociais são mais
importantes para a manutenção dos papéis sociais do que as regras macrossociais;
Goffman caracteriza diferentes grupos (primário, secundário, terciário), e Berger e
Luckmann complexificam essa discussão com a metáfora da cebola (camadas de
imbricamento do sistema de controle social); pode-se dizer que o fazer sociológico e a
observação das interações simbólicas só ocorre no âmbito da vida cotidiana; no espectro
das instituições totais os grupos dirigidos sempre procuram readequar suas identidades para
demonstrar uma reconfiguração que viabilize sua saída; Estigma - notas sobre a
manipulação da identidade deteriorada, devido aos indivíduos serem portadores de uma
marca de distinção que deteriora as avaliações dos outros indivíduos e a identidade do
estigmatizado; distinção entre identidade deteriorada e identidade deteriorável (prenúncio da
sociologia das diferenças, estudos sobre interseccionalidade e articulação); todos
apresentam atributos em suas identidades que podem ser estigmatizadas, questões raciais,
de sexo, de gênero, de religião, etc.; toda identidade é deteriorável; há estigma de corpo,
estigmas de caráter e estigmas de marca de origem (étnicas, religiosas, etc.), livro de 1963,
contemporâneo das lutas por direitos civis nos Estados Unidos, Goffman começa a observar
as relações étnico-raciais; nas instituições totais é difícil manejar sua própria identidade, no
caso do estigma o mesmo, em termos da fixação do estigma; Revolta de Stonewall, protesto
gay em Nova Iorque, a polícia realizava extorsões em vista da repressão moral da
homossexualidade; abandono de uma linguagem do estigma, surgimento da palavra “gay”
como símbolo de ressignificação de discursos morais; situação de preconceito social sobre
os portadores de identidades deterioradas; relação entre deterioração e contaminação da
identidade; surgimento de expectativas negativas; conflitos da ideologia capacitista;
capacitismo e atribuição de desvantagens (rotulação)&; tratamentos infantilizantes, ou
baseados em estigmas; modos de tratamento derivados do estigma, ênfase nas situações
de interação entre os ditos normais e os estigmatizados, questão de como se forma a
normalidade, a identidade de alguém que se acredita normal ou superior aos outros; todos
apresentam atributos em suas identidades que podem ser estigmatizadas, questões raciais,
de sexo, de gênero, de religião, etc.; há diferentes graus de estigmatização, mas é um
processo generalizável na população global; todos os indivíduos próximos das práticas tidas
como deterioradas ou deteriorantes estão passíveis de terem sua própria identidade
deteriorada; todos tem uma identidade deteriorável; desenvolvimento dos estudos de
sociologia da deficiência física, tensões sobre a perspectiva de Goffman, ainda sim, Estigma
tem uma importância seminal, na visualização da coerção social, e na forma de estudo das
instituições, visão da coerção como um processo dinâmico*, que se dá a cada momento, um
processo cumulativo e sistemático nas interações microssociais; novas leituras sobre a
violência das instituições totais; Becker - salto em relação à obra de Goffman; teoria da
rotulação revisitada (uma teoria dos processos de acusação), empreendedorismo social,
impacto das instituições sobre a ação; espaços intersubjetivos*; conexão sofisticada entre a
microssociologia (plano das interações e do julgamento) e a macrossociologia (plano das
estruturas morais), Becker como autor-limite que denuncia os limites da microssociologia,
Becker permite uma transição dinâmica entre o micro e o macro*; como Foucault
(microfísica do poder e macrofísica do poder); discussão do uso da maconha como
processo de aprendizado social, algo que nunca se faz sozinho, adquirir o hábito de fumar
maconha é um processo coletivo; uso criativo e recreativo de maconha pelos músicos de
jazz, encaixe do uso de maconha com a possibilidade de trabalho dos músicos; paralelo
entre as rodas de samba e as bandas de jazz (racialização das técnicas de controle sobre
uso de maconha), diferenças entre um saber prático e um saber mais rebuscado, músicos
que são outsiders, marginais, etc.; músicos são vistos como economicamente marginais,
como outsiders, ademais o uso de maconha implica a deterioração moral das identidades;
Becker, pela perspectiva interna da comunidade de outsiders, percebe a existência de um
sistema sofisticado de regras; os outros (de fora do meu grupo) é que são outsiders - lógica
de diferenciação da identidade; criação de padrões de normalidade a partir da
individualidade, choque entre diferentes comunidades; livro Outsiders - típico estudo de
comunidades, decifrar códigos de organização, processos de aprendizagem, usos próprios e
regras cotidianas; o contexto do macartismo modifica a visão sobre o uso de maconha
(empreendedorismo moral); elementos comuns com o bolsonarismo: criminalização da arte,
deterioração da imagem das universidades, etc.; Becker observa que a maconha vai de um
uso restrito e excêntrico (popularizado nas comunidades negras) para um uso mais
generalizado; problemática social da guerra às drogas; entrada da cocaína nas
comunidades negras (Michele Alexander, James Foreman Jr.); o mercado da maconha
gerava menos violência do que o mercado da cocaína; a maconha era vista como
substância decadente, e passou a ser moralizada a partir do discurso da criminalização,
associação com outras drogas, como cocaína e drogas químicas e sintéticas; deslocamento
da imagem social da maconha, sobretudo no âmbito das disputas políticas na universidade;
a posição da maconha vai de “excêntrica” a “porta de entrada” para outras drogas;
construção da maconha como um perigo, discussão sobre a balbúrdia das universidades;
cria-se uma verdade em torno da maconha que não existia antes, empreendimento moral;
empresa como um processo interativo, formulação, teste, interação entre indivíduos que se
associam, definem situações, criam parâmetros, escândalos, etc.; construção do pânico
moral através de vários níveis de interação, dos pequenos grupos de usuários de maconha,
às instituições que lidam com os usuários; processos de seletividade, há uma rotulação, a
questão da desvio não está no desviante, ruptura na sociologia do desvio e na criminologia
tradicional, deixa-se de buscar no sujeito a causa do fenômeno - o empreendedorismo moral
demonstra que devemos deslocar o olhar para quem acusa; o fato da acusação é que
introduz algo novo, estudo da deterioração das identidades partindo dos empreendedores
morais; a ação em questão depende mais da acusação do que das características do
agente acusado; alguém pode ser desviante e ninguém ficar sabendo, aplicação da noção
de pessoas extraordinárias em Crime e Castigo, de Dostoievski; busca-se uma subversão
da norma nas interações microssociais; agir fora das expectativas do grupo de interação é o
fator que leva à deterioração da identidade; produção moral do desvio, construção social de
uma ação como desviante, relevância de estudos sobre os agentes de controle mais do que
dos indivíduos desviantes atualmente; arbitrariedade com que a maconha é usada como
instrumento racializado de controle, diferenças de tratamento; degradação pública da
imagem pessoal; das microcomunidades de usuários, às instituições de rotulação, olhar
analítico que cresce em abstração (Becker em Outsiders); criadores de regras, aplicadores
de regras, receptores de regras; sociologia do desvio como necessariamente crítica,
implicações éticas de uma sociologia dos empreendimentos morais, desmascarar os
interesses por trás desse tipo de empreendimento.

Anotações: duas pessoas não percebem a mesma coisa (eraclitismo sociológico); definição
de situação e autoindicação; construção do aparato mental a partir da sociabilidade e da
educação, de símbolos (sujeito do construtivismo); o simbólico não vem depois, é a forma
pela qual pensamos; a autoindicação é uma leitura recortada da realidade social, que
seleciona elementos de acordo com afinidades de experiência com o que seja significativo
para o indivíduo; a autoindicação remete à percepção do indivíduo, está relacionada à
definição de situação como processo sociológico; os interacionistas criticam a visão
naturalista das propriedades da mente, sua visão é construtivista; importância do conceito
de gafe no interacionismo simbólico, sobre a imprecisão da percepção das indicações
sociais em pessoas novatas em determinado campo; da autoindicação à definição de
situação, e da definição de situação ao alinhamento ou conflito interpessoal de ações*;
interacionismo como desenvolvimento do weberianismo (apenas Marx tinha influência
fraca); a noção de sujeito em Weber era mais essencialista, inserção do construtivismo,
cujos germes estão em Durkheim (As formas elementares da vida religiosa); mistura da
questão da ação (Weber) com a questão da socialização (Durkheim) no interacionismo
simbólico; nossas categorias de percepção são relativas (exemplo do estudo de Evans-
Pritchard sobre os Neuer, categorias de espaço e tempo e sua construção cultural
relativista); ponto de contato com o interacionismo: o racionalismo do mundo social não é
abstrato, nem para Weber nem para Durkheim, substratos irracionais da racionalidade;
individualismo epistemológico no sentido de que a mente é vista como origem dos
processos de pensamento (apropriação de Weber na Escola de Chicago); Durkheim aos
poucos se aproxima da questão do indivíduo (o tema da integração é fundamental para a
primeira geração da Escola de Chicago); a Escola de Chicago traz a ideia de self como
sujeito histórico; diferenças do interacionismo: teoria do self (interface com a psicologia) e
microssociologia (espaços intersubjetivos); nosso aparato cognitivo é formado no curso de
nossas ações (ideia do interacionismo que já estava em Durkheim, nas formas
elementares); teoria da organização e desorganização social (aproximação de Chicago com
perspectivas funcionalistas); a Escola de Chicago se divide entre perspectivas mais
interacionistas e estudos voltados à integração (teoria das janelas quebradas); Goffman e
Becker introduzem a questão do poder no interacionismo; autores que tentam concectar o
micro e o macro explicitamente: Weber, Foucault e Becker (seguindo a linha de raciocínio de
Colin Gordon); Goffman não separa sujeito e instituição, os papéis derivam do poder
institucional; crítica da racionalidade abstrata (na prática não funciona - racionalidades
imbricadas); novas formas de engajamento definidos por Becker e Goffman - lutas por
integração e por reconhecimento ao mesmo tempo; pesquisas que nascem distantes da
política, e posteriormente são incorporadas na agenda política; o que define a instituição
total é o processo totalizante, de fixidez do self (Goffman)*; a noção de carreira moral (a
instituição não sai do sujeito quando ele sai da instituição) diz respeito à forma particular
desse processo de fixação do self, mas precisamos adicionar também a discussão sobre o
empreendedorismo moral (diferente da rotulação que é trazida pelo outro para o self, a
carreira moral diz respeito ao empreendimento de si na direção de um objetivo); de acordo
com Becker a maconha e suas formas de abertura de percepção favorecem a performance
artística; os interacionistas valorizam tanto a percepção na compreensão da ação que vão
estudar o efeito de entorpecentes sobre a mente humana*; o empreendimento moral pode
derivar de ideologias progressivas, depois de se tornar empreendimento todos funcionam do
mesmo modo; “to be metooed” (ser aprisionado no rótulo, por um processo de acusação que
mobiliza redes de poder); conceito de cancelamento como unidimensionalização da
identidade; relevância dos trabalhos de Betty Goffman (sobrinha de Erving);

Questões

Passagem de Blumer a Becker (anos 50-60): Blumer destaca a questão metodológica de


conectar o indivíduo à sociedade (relação entre categorias de estrutura e processos
interpretativos); Becker dá um salto qualitativo; teoria da rotulação revisitada, processos de
acusação, empreendedorismo social; conexão sofisticada entre a microssociologia e a
macrossociologia; desfecho construtivista para uma das questões da disciplina: categorias
materiais e simbólicas são reunidas na produção das interações sociais;
A transformação da teoria pela discussão sobre diferenças não assimiláveis tem relação
com o movimento dos direitos civis;
Surge a distinção entre identidade deteriorada e identidade deteriorável (prenúncio da
sociologia das diferenças, estudos sobre interseccionalidade e articulação);

Passagem de Blumer a Becker (anos 50-60): Blumer destaca a questão metodológica de


conectar o indivíduo à sociedade (relação entre categorias de estrutura e processos
interpretativos); Becker dá um salto qualitativo; teoria da rotulação revisitada, processos de
acusação, empreendedorismo social, espaços intersubjetivos; conexão sofisticada entre a
microssociologia (plano das interações e do julgamento) e a macrossociologia (plano das
estruturas morais), autor-limite que denuncia os limites da microssociologia; desfecho
construtivista para uma das questões da disciplina: categorias materiais e simbólicas são
reunidas na produção das interações sociais; a transformação da teoria pela discussão
sobre diferenças não assimiláveis tem relação com o movimento dos direitos civis; surge a
distinção entre identidade deteriorada e identidade deteriorável (prenúncio da sociologia das
diferenças, estudos sobre interseccionalidade e articulação)

Teoria da instituição total de Goffman: uma teoria interacionista sobre o ajustamento do self
nas instituições (atividades cotidianas nos mesmos locais e pelos mesmos agentes,
hierarquias); sociologia dramatúrgica; na instituição total é impossível transitar entre
diferentes papéis sociais, os atributos do indivíduo se tornam fixos; a luta antimanicomial
ganha espaço social a partir dos trabalhos de Goffman e de Foucault; noção de carreira
moral (a instituição não sai do paciente quando ele sai da instituição; falta de separação
entre sujeito e instituição); Basaglia como mediador da reforma psiquiátrica, inclusive no
Brasil, desinstitucionalização do modelo manicomial, surgimento de um sistema de
assistência comunitária territorializado (SUS);

Texto da Raewyn Collins - sociologia como instrumento colonial, relação entre ferramentas
teóricas e movimentos sociais, até o estudo das diferenças, de grupos minoritários gerar
mudanças através de politicas públicas, fica a impressão de uso distanciado da experiência
do outro, de contribuição na produção de estereótipos - exemplo das letras de Rap
(Eduardo, Criolo) falando sobre a presença ambígua dos antropólogos nas favelas;

“Outsiders” de Howard Becker: típico estudo de comunidades, decifrar códigos de


organização a partir das interações cotidianas; ruptura pela sociologia do desvio, a causa do
fenômeno passa a ser buscada no processo de rotulação das diferenças - a análise do
empreendedorismo moral demonstra que a questão do desvio não está no desviante, que
devemos deslocar o olhar para quem acusa; paralelo entre as rodas de samba e as bandas
de jazz (racialização das técnicas de controle sobre uso de maconha no Brasil), papel dos
processos de seletividade no deslocamento da imagem social da maconha, criação de
verdades através do empreendimento moral (contexto do getulismo);

Teoria das janelas quebradas de George Kelling e James Wilson - estudo sobre
desagregação e desestabilização social, análise do interacionismo simbólico aplicado aos
sistemas institucionais (influência de Foucault); Escola de Chicago (1980 - não pode ser
vista como 3ª geração - pois se aproxima de Parsons, sendo pouco crítica - distanciamento
da discussão sobre o processo de acusação que forma os rótulos, direção de Chicago à
direita, para a ontologia do sujeito), criação de mecanismos de controle para manutenção da
coerção social;

Pontos centrais da aula: a interação humana é mediada pelo uso de símbolos, o self permite
que o ser humano seja objeto de suas próprias ações; autoindicação como processo de
percepção, interpretação e ação (Blumer); transformação da teoria da interação simbólica
através da teoria da rotulação com Becker e Goffman, estudos sobre diferenças não
assimiláveis; a segunda geração implica uma ruptura, direcionamento para a observação do
processo social de rotulação, de demarcação das diferenças (como se forma a
normalidade?), visualização da coerção social como um processo dinâmico a partir do
estudo das instituições;

Partindo da discussão de Blumer sobre as consequências metodológicas do interacionismo


simbólico (desenvolvimento de métodos qualitativos adequados), comentário de Becker
sobre Goffman em “Falando da Sociedade” - preocupação adicional com a apreensão de
dados microssociais, categorização sofisticada, instituições lidas a partir das pessoas
(microssociologia), classe geral de “estabelecimentos sociais” (classificação desapaixonada,
evitação de juízos); assumir o papel da unidade atuante (estabilização temporária),
apreender o processo tal como ocorre na experiência da unidade atuante;

Questão conceitual - a definição de situação leva ao surgimento das unidades atuantes?

Duplo sentido de interpretação: como compreensão e como reprodução de um papel


(teatral), relações com a compreensão performática das identidades em Butler;

Distinção entre identidade deteriorada e identidade deteriorável (prenúncio da sociologia das


diferenças, estudos sobre interseccionalidade e articulação); todos apresentam atributos em
suas identidades que podem ser estigmatizadas, questões raciais, de sexualidade, de
gênero, de religião, etc.; toda identidade é deteriorável;

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