Você está na página 1de 35

lOMoARcPSD|14870440

Português 12º - resumos importantes para o exame

Português (Best notes for high school - PT)

A Studocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade


Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)
lOMoARcPSD|14870440

“ Olá ! Espe
ro que este resumo vos seja útil !
Este resumo aborda uma pequena parte da matéria dada no 12º ano.
Quando aparece a referência ao manual, o manual em questão é o: “Outras expressões 12”
da Porto Editora.
Se encontrarem algum erro ou tiverem alguma dúvida, sinalizem através dos comentários .
Boa sorte para os exames <3 ”

Português 12º
1. Fernando Pessoa:
a. Dados Biográficos (com base no doc.1):
Fernando Pessoa viveu nos séculos XIX e XX (tendo nascido em 1888 e falecido
em 1935).
Viveu maioritariamente em Lisboa, contudo, em 1896 foi para a África do Sul
devido ao 2º casamento da mãe, tendo vivido em Durban e na Cidade do Cabo,
voltando 9 anos depois para Lisboa.
Apesar de ter tido um ínicio de infância feliz, esta é marcada por
acontecimentos trágicos: a morte do pai devido à tuberculose, a convivência
com uma avó doente mental e a morte do seu irmão.
O seu aproveitamento escolar foi brilhante enquanto criança e adolescente,
tendo sido um aluno com ótimas notas e recebido vários prémios. Contudo, o
seu percurso universitário foi curto, tenho perdido o interesse no curso de
Letras e desistido do mesmo no 1º ano.
Devido à sua infância trágica, as suas características temperamentais são:
isolado, com ataques de depressão, triste, insatisfeito, instável, imaginativo,
tendo um desencanto pela vida.
A sua atividade profissional baseia-se nas traduções ligadas ao comércio de
inglês e francês, mais tarde também participou em várias revistas.
Já a sua atividade literária é muito extensa, tendo deixado milhares de textos,
desde a poesia à prosa, e participou, inclusive, em revistas literárias. Foi um
escritor compulsivo. A grande parte das suas obras não foram publicadas
quando se encontrava vivo, à exceção de “Mensagem”, publicado em 1934, um
ano antes da sua morte.
A originalidade de Fernando Pessoa, enquanto escritor, reside na criação de
heterônimos com personalidades e obras próprias.
A sua vida sentimental não foi extensa, sendo conhecida a sua relação com
Ofélia Queirós, alimentada através de cartas e bilhetes (uma relação à antiga)
durante 10 anos, até que rompeu com Ofélia sem explicação.

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

A forma como Portugal reagiu à sua morte tem dois momentos distintos. O
primeiro, quando após a sua morte apenas 50 pessoas se apresentaram no
funeral e a notícia foi pouco divulgada, mostrando a falta de valorização do
poeta na época. O segundo, 50 anos depois do seu falecimento, quando
transladaram o seu corpo para perto de Vasco da Gama e Camões e foi lhe
dado o devido reconhecimento, tendo sido feitas várias homenagens: “o maior
poeta do século XX”.

b. Contexto em que surge a obra de Fernando Pessoa


(pág. 25 e 26 do manual):
- Contexto sociopolítico (ínicio do séc. XX, anos 20 e 30):
Foi um período conturbado de guerras (1ª guerra mundial e
preparação da 2º), de conflitos armados e em que surgiram vários
regimes autoritários → linhas 54 a 56.

- Contexto cultural - modernismo:


À uma rutura com as correntes estéticas (para além da literatura) anteriores e a criação de
uma arte inovadora e diferente, que procura criar novos valores artísticos.
A esse conjunto de diferentes manifestações artísticas, cada
uma delas com características próprias, e chamou-se MODERNISMO
(tentativa inovadora e experimental, conj. exagerado de correntes
literárias) → linhas 20 a 33.

- Modernismo Português:
Está ligado à literatura e às artes plásticas.
É representado, entre outros, por Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Amadeo de Souza-
Cardoso e Mário Sá Carneiro.
Este movimento deu-se a conhecer através de revistas literárias, entre elas, a revista Orpheu
, que teve dois únicos números, publicados em 1915 → linhas 9-19.
O modernismo Português procurou, assim, agitar e transformar o ambiente cultural
estagnado que existia no nosso país.

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

c. Temas a estudar - ortónimo - Ver sínt. na pág.50:


i. A nostalgia da infância:
- A nostalgia da infância é um dos temas fundamentais da obra de Fernando Pessoa
Ortónimo.
- Em muitos poemas, a memória da infância é suscitada por um estímulo exterior, um
som (“Pobre velha música” , “Ó sino da minha aldeia”) ou uma imagem (“Quando as crianças
brincam”)
- Em pessoa, a passagem da infância à idade adulta, não é um processo natural e
tranquilo, havendo uma rutura entre estas duas fases da vida.
- A infância é o passado irremediável perdido, o tempo em que, supostamente, o poeta era
feliz e em que não sofria. Como não tinha iniciado a procura de si mesmo, não se sentia
fragmentado e vivia numa alegria inconsciente.
- A idade adulta é o presente, caracterizado pelo sofrimento, pela saudade do passado,
pelo desconhecimento de si mesmo e pela dor de pensar.

Quando as crianças brincam Pobre velha música!


Quando as crianças brincam Observa as crianças Pobre velha música! Já ouviu no
E eu as oiço brincar, → estímulo exterior Não sei porque agrado, passado
Qualquer coisa em minha → recorda a Enche-se de lágrimas → de alegria Estímulo: Música
alma infância Meu olhar parado. Indiferença /
Começa a se alegrar. Estava triste, tristeza
começou a ficar Recordo outro ouvir-te. inicial →
E toda aquela infância alegre → gradação Não sei se te ouvi estava
Que não tive me vem, crescente (recurso Nessa minha infância desligado da
Numa onda de alegria expressivo) Que me lembra em ti. vida;
Que não foi de ninguém. transformação
Metáfora → mostra a
Com que ânsia tão raiva em lágrimas
alteração dos seus
Se quem fui é enigma, Quero aquele outrora! de alegria
sentimentos e que
E quem serei visão, E eu era feliz? Não sei: Incerteza da
esta grande alegria
felicidade da
Quem sou ao menos sinta é sentida Fui-o outrora agora.
infância
Isto no coração. intensamente
Fui-o →
3 momentos da sua vida
passado //
No presente quer Agora →
imaginar e sentir que
Quando
teve uma infância alegre,
que não teve. recorda a
Manifesta o desejo de infância é

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

sentir a alegria daquelas feliz, no


crianças, ser feliz pelo momento
menos naquele
apenas,
momento.
alegria
temporária.

Ó sino da minha aldeia → documento 2. O menino da sua mãe → documento 2

ii. A dor de pensar:

A dor de pensar está sempre presente na poesia de Fernando Pessoa.


Na verdade, a intelectualização do sentir, a obsessão da análise, a excessiva
lucidez, a constante reflexão fazem com que o poeta se sinta permanentemente. O
poeta gostaria de ser como um animal irracional, que vive de instintos e sensações
(“Gato que brincas na rua”), ou como uma pessoa simples e de ambições que é
inconscientemente feliz (“ Ela canta pobre Ceifeira”)
Assim, como não consegue libertar-se da reflexão, como não lhe é possível ser
inconsciente, vive atormentado pela dor de pensar

Caracterização da Desejo do sujeito Metáfora Comparação


ceifeira poético → ser como a Adjetivação Apóstrofes → ligadas
ceifeira ao meio que rodeiam a
ceifeira
Ela canta, pobre ceifeira, Ah, canta, canta Porque ela não tem razões para
sem razão!
cantar
Julgando-se feliz talvez; O que em mim
sente está pensando.
Tem a consciência de que não se
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia Derrama no meu
coração consegue libertar do pensamento
De alegre e anónima viuvez, → antítese A tua incerta voz
Traços caracterizadores da ceifeira:
ondeando!
- voz bonita/suave
- trabalha no campo
a voz da Ondula como um canto de ave Ah, poder ser tu,
- vive no campo
sendo eu!→inf. pessoal - considera-se/ aparenta estar feliz
ceifeira No ar limpo como um limiar, Ter a tua alegre (2,4,9,12, vv)
inconsciência,

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

E há curvas no enredo suave E a consciência Apreciação subjetiva do sujeito


disso! Ó céu! poético:
Do som que ela tem a cantar. Ó campo! Ó
-acha que ela não é feliz, não tendo
canção! A ciência
motivos para cantar.
Ouvi-la alegra e entristece, → antítese Pesa tanto e a -a ceifeira é inconsciente, julga-se
vida é tão breve! feliz, mas não tem motivos para isso.
Na sua voz há o campo e a lida, Entrai por mim -tem uma vida dura e não há razões
dentro! Tornai
para cantar
E canta como se tivesse Minha alma a
vossa sombra leve! -ela só é feliz porque não pensa
Mais razões para cantar que a vida. Depois, levando- -o adj. anteposto “pobre ceifeira”
me, passai!

_________________________________________________________________________
Efeito do canto da ceifeira/ Desejo do suj. poético:
- estado de alma contraditório
- a reflexão sobre a sua incapacidade de não pensar
- quer ser como ela, mas quer ser ele. Não quer deixar de ser ele. Não
se quer libertar completamente do pensamento.
- desejo de ter consciência da sua inconsciência (“sendo eu”,
“consciência disso”
- Desejo de se deixar invadir pelas suas ações despertadas pela
natureza (“céu”, “campo”) e pelo canto da ceifeira (“canção”)

Tema: A dor que sente por ser consciente e constata que o conhecimento e a reflexão têm um peso mt
grande na sua vida.

Gato que O gato:


brincas na - é livre, não tem preocupações sociais, por isso age da mesma forma na sua
rua intimidade e em contacto com os outros
Como se - age por instintos, de acordo com as suas necessidades básicas
fosse na - é feliz → por ser irracional, por ser dono da sua vida, por não
cama,
pensar
Invejo a
sorte que é Sujeito poético:
tua
- Sente inveja dele → o gato não pensa, vive só de sensações,
Porque
nem sorte por ser feliz
se chama. - O suj. poético pensa, autoanalisa-se, e não se reconhece, sente-se
fragmentado
- é infeliz → por isso sofre
Bom servo
das leis
fatais Apóstrofe → aproxima-se do gato
Que regem Comparação → mostrar que atua de igual forma
pedras e
gentes,
Que tens
instintos
gerais
E sentes
só o que
sentes.

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

És feliz
porque és
assim,
Todo o
nada que
és é teu.
Eu vejo-
me e estou
sem mim,
Conheço-
me e não
sou eu.

iii. sonho e realidade:


A dor provocada pela reflexão de que não consegue libertar-se leva ao sujeito
poético a refugiar-se no sonho, como fuga à realidade que o faz sofrer.
É em paisagens sonhadas que o poeta procura viver plenamente os seus
sentimentos, libertando-se dos pensamentos que o aprisiona e conseguindo, assim,
alcançar a felicidade.

Não sei se é sonho, se realidade


Caracterização da ilha 1ª Estrofe: - é ao mesmo tempo verdadeira e imaginada
Não sei se é sonho, se realidade, - é extrema → longínqua
- local agradável, calmo
Se uma mistura de
sonho e vida, - lugar desejado pelas suas qualidades → lá existe o amor
Aquela terra de 2ª Estrofe: Desejo de atingir a ilha, apesar da consciência de
suavidade que é uma fantasia
Que na ilha Este local, embora ilusório, reconforta-o, tranquiliza-o
extrema do sul se e dá-lhe “sombra e sossego” e talvez lhe traga a felicidade que ele
olvida. procura.
É a que ansiamos.
Ali, ali 3º Estrofe: - A ilusão termina (valor da conj. adversativa)
- O pensamento destrói o sonho, faz com que a ilusão
A vida é jovem e o se desfaça
amor sorri. - A ilha perde as suas qualidades paradisíacas e
torna-se um local de sofrimento, pois também aí, é
Talvez palmares impossível de viver sem pensar.
inexistentes,
4ª Estrofe: Conclusão = A felicidade deve ser procurada dentro de
Áleas longínquas
cada 1 de nós, e não através de algo exterior e distante
sem poder ser,
Sombra ou Simbologia da Ilha: A ilha simboliza a felicidade conseguida
sossego dêem aos através da vivência dos sentimentos, e sem a interferência do
crentes pensamento
De que essa terra
se pode ter
Felizes, nós? Ali,
talvez, talvez,
Naquela terra,

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

daquela vez.

Fim do sonho
Mas já sonhada se
desvirtua,
Só de pensá-la
cansou pensar;
Sob os palmares, à
luz da lua,
Sente-se o frio de
haver luar
Ah, nesta terra
também, também
O mal não cessa,
não dura o bem.

Conclusão
Não é com ilhas do
fim do mundo,
Nem com
palmares de sonho
ou não,
Que cura a alma
seu mal profundo,
Que o bem nos
entra no coração.
É em nós que é
tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem
e o amor sorri.

Bem sei que há ilha ao sul de tudo → doc. do caderno→ exame 2019/1ª fase

iv. o fingimento artístico:


- “Aprendizagem de não sentir senão literariamente as ‘cousas’”, ou seja em fingir sentimentos
→ não se sente verdadeiramente → há a sobreposição do conhecimento racional ao afetivo. → o
poema torna-se uma construção de sentido e não uma construção sentida → “intelectualização da
sensibilidade” . O poeta finge sentimentos, emoções, não deixando de haver verdade, sendo
artisticamente trabalhada.
- Fernando Pessoa assume-se como um poeta fingidor que procura escrever
distanciado dos seus sentimentos. Assim, ele não vai referir espontaneamente e com
sinceridade as suas emoções. Vai partir delas para as transformar racionalmente. O
coração sente, mas é o pensamento que intelectualiza o que é sentido.
- A imaginação sobrepõe-se sempre ao coração e, por este motivo, é a “dor
fingida” e não a “dor sentida” que surge nos seus poemas.

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

AUTOPSICO Título: auto = reflexão do poeta


GRAFIA psico = interferência dos aspectos psicológicos
O poeta é um grafia = escrita
fingidor
Carácter Universal → 3ª pessoa
Finge tão
completament 1ª Estrofe: Tese→ o poeta é um fingidor
e Argumentos → vv. 2,3,4
Que chega a
fingir que é 2ª Estrofe:
dor - interpretação do tema pelos leitores
A dor que - cada leitor sente aquilo que desperta nele, aquilo que a sua
deveras sente. interpretação do poema determina
- Nota: a obra poética é autónoma, tendo diferentes leituras e
diferentes interpretações (causando diferentes emoções)
E os que lêem
o que escreve, 3ª Estrofe: Conclusão:
Na dor lida - O coração comparado a um comboio de corda (através da
sentem bem, emetáfora), fornece à razão a matéria prima necessária à
Não as duas criação do poema, isto é, as emoções vão ser trabalhadas
que ele teve, poeticamente
- O movimento circular do comboio sugere a relação entre a razão
Mas só a que
e o pensamento
eles não têm.

E assim nas
calhas de roda
Gira, a
entreter a
razão,
Esse comboio
de corda
Que se chama
coração.

Dor fingida →
vv 2,3
Dor real → vv 4
Dor lida → vv
6,7,8

ISTO Título: O poema é uma resposta aos leitores de “Autopsicografia”


Dizem Por que o acusaram de fingir/mentir nos seus poemas. O poeta
que finjo isso pretende agora dizer, q a sua teoria é simples e que é apenas “isto”.
ou minto escre
vo 1ª Estrofe: - a oposição convicta aos que criticaram a teoria do
Tudo que sujeito artístico.
escrevo. em
meio - apresenta de novo a sua teoria mostrando q é uma coisa
Não. natural, em q se valoriza a imaginação e em 2º plano as emoções.

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

Eu Do 2ª Estrofe: As emoções são a passagem/ ponto de partida


simplesm que (comparação terraço) para uma coisa mais bonita: a criação
ente sinto não poética, a arte, a realidade imaginada
Com a está
imaginaç ao 3ª Estrofe: → Conclusão: o poeta tenta libertar-se da sua realidade e
ão. pé,
das suas emoções e remete os sentimentos para os leitores.
Não uso o Livre
coração. do
meu
enlei
Tudo o o,
que
Sério
sonho ou
do
passo,
que
O que me não
falha ou é.
finda,
Senti
É como r?
que um Sinta
terraço que
Sobre m lê!
outra
coisa
ainda.
Essa
coisa é
que é
linda.
v. Ligação com o Heterónimo
1ª Estrofe:
Não sei quantas almas tenho.
- Fragmentação /multiplicidade do eu
- causa da fragmentação: está sempre
Não sei quantas almas tenho. Por isso, a mudar , mudança permanente.
alheio, vou lendo - estranheza, desconhecimento de si
Cada momento mudei. Como mesmo
páginas, meu ser - pensamento, autoanálise constante
- sofrimento, dor provocada pelo
Continuamente me estranho. O que segue pensamento constante
não prevendo,
2ª e 3ª Estrofe:
Nunca me vi nem achei. O que passou
- o poeta assiste à sua fragmentação
a esquecer. como um espectador distanciado que
De tanto ser, só tenho alma. Noto à vê os outros que vão nascendo dentro
margem do que li de si, e que se tornam autónomos
- é como se observasse uma paisagem
Quem tem alma não tem calma. O que julguei (estrofe 2) ou como se lesse um livro
que senti. da sua vida (estrofe 3)
Quem vê é só o que vê, Releio e digo: - nestas 2 estrofes estão presentes:
«Fui eu?» + sentimentos de despersonalização/
fragmentação
Quem sente não é quem é. Deus sabe, + papel de espectador/leitor
porque o escreveu. + a constante solidão e inadaptação
+ Incapacidade de prever o futuro e desejo de
esquecer o passado

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

Atento ao que sou e vejo, Mudança do “eu” para o “quem” → ele


Torno-me eles e não eu. tem vários, alargamento a outras
Cada meu sonho ou desejo pessoas
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem, → metáfora
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

D. Heterónimo:

i. Carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro-Lisboa,


13/01/1935:
“ Meu prezado Camarada:
Muito agradeço a sua carta, a que vou responder imediata e integralmente. Antes de,
propriamente, começar, quero pedir-lhe desculpa de lhe escrever neste papel de cópia. (...)
Passo agora a responder à sua pergunta sobre a génese dos meus heterónimos. Vou ver se
consigo responder-lhe completamente.
Começo pela parte psiquiátrica. A origem dos meus heterónimos é o fundo traço de histeria
que existe em mim. Não sei se sou simplesmente histérico, se sou, mais propriamente, um
histero-neurasténico. Tendo para esta segunda hipótese, porque há em mim fenómenos de
abulia que a histeria, propriamente dita, não enquadra no registo dos seus sintomas. Seja como
for, a origem mental dos meus heterónimos está na minha tendência orgânica e constante para
a despersonalização e para a simulação. Estes fenómenos — felizmente para mim e para os
outros — mentalizaram-se em mim; quero dizer, não se manifestam na minha vida prática,
exterior e de contacto com outros; fazem explosão para dentro e vivo — os eu a sós comigo. Se
eu fosse mulher — na mulher os fenómenos histéricos rompem em ataques e coisas parecidas —
cada poema de Álvaro de Campos (o mais histericamente histérico de mim) seria um alarme
para a vizinhança. Mas sou homem — e nos homens a histeria assume principalmente aspectos
mentais; assim tudo acaba em silêncio e poesia...
Isto explica, tant bien que mal, a origem orgânica do meu heteronimismo. Vou agora fazer-
lhe a história directa dos meus heterónimos. (...)
Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de
amigos e conhecidos que nunca existiram. (...)
Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia escrever uns poemas de
índole pagã. (...)
Ano e meio, ou dois anos depois, lembrei-me um dia de fazer uma partida ao Sá-Carneiro —
de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já me não lembro
como, em qualquer espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui.
Num dia em que finalmente desistira — foi em 8 de Março de 1914 — acerquei-me de uma
cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso.
E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei
definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei
desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o
meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive. (...)
Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir — instintiva e subconscientemente —
uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e
ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de
Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jacto, e à máquina de
escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos — a Ode
com esse nome e o homem com o nome que tem. (...)
Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro,
Ricardo Reis e Alvaro de Campos. Construi-lhes as idades e as vidas. Ricardo Reis nasceu em
1887 (não me lembro do dia e mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está
presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa,
mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma.
Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1.30 da tarde, diz-me o
Ferreira Gomes; e é verdade, pois, feito o horóscopo para essa hora, está certo). Este, como
sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro
era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil
como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. Álvaro
de Campos é alto (1,75 m de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-
se. Cara rapada todos — o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de um vago moreno mate;
Campos entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e
normalmente apartado ao lado, monóculo. Caeiro, como disse, não teve mais educação que
quase nenhuma — só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em
casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Ricardo Reis,
educado num colégio de jesuítas, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se
expatriou espontaneamente por ser monárquico. É um latinista por educação alheia, e um semi-
helenista por educação própria. Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi
mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias
fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era
padre.
Como escrevo em nome desses três?... Caeiro por pura e inesperada inspiração, sem saber
ou sequer calcular que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que
subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e
não sei o quê. (O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas coisas se parece
com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um
pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante
devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente
da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afetividade. A prosa,
salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual;
ao passo que Caeiro escrevia mal o português, Campos razoavelmente mas com lapsos como
dizer «eu próprio» em vez de «eu mesmo», etc., Reis melhor do que eu, mas com um purismo
que considero exagerado. O difícil para mim é escrever a prosa de Reis — ainda inédita — ou de
Campos. A simulação é mais fácil, até porque é mais espontânea, em verso).
Nesta altura estará o Casais Monteiro pensando que má sorte o fez cair, por leitura, em
meio de um manicómio. (...)
Creio assim, meu querido camarada, ter respondido, ainda com certas incoerências, às suas
perguntas. (...)
Abraça-o o camarada que muito o estima e admira.
Fernando Pessoa”

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

->Ideias fundamentais:
1ª e 2ª parágrafos: introdução; agradecimento a Adolfo CM pela carta recebida e indicação do
objetivo desta carta: responder a uma pergunta sobre a origem dos heterónimos
3º,4º e 5º Parágrafos: Fundamentação da heteronimia → tendência para a desporsinalização e para a
simulação, aspetos que sente desde a infância.
6º e 7º Parágrafos: Criação de Alberto Caeiro, um poeta bucólico (fala da natureza), que escreveu “O
guardador de Rebanhos” e que Fernando Pessoa considerou o seu mestre.
8º Parágrafo: Aparecimento de Ricardo Reis e de Àlvaro de Campos
9º Parágrafo: Caracterização e biografia dos diferentes heterónimos (ver doc. 4)
10º Parágrafo: Classificação de Bernardo Soares como semi-heterónimo e sua justificação
11º, 12º e 13º Parágrafos: Conclusões e despedida

ii. Alberto Caeiro:


- O fingimento artístico e o poeta bucólico
- Reflexão existencial, a importância das sensações
IX - Sou um guardador de rebanhos. Poesia: sensacionista; deambulatória (o pastor anda de um lado para o outro)
Sou um guardador de e bucólica (concentrada na natureza).
rebanhos.
3 metáforas: 1ª Metáfora: identifica-se com um pastor // 2ª Metáfora:
O rebanho é os meus compara o rebanho a pensamentos // 3ª Metáfora: compara os pensamentos a
pensamentos sensações → só conhece a realidade com as sensações
E os meus pensamentos
são todos sensações. Começa por referir os sentidos + importantes para o conhecimento do mundo →
Penso com os olhos e com são hierarquicamente apresentadas
os ouvidos
E com as mãos e os pés Pensa com os diferentes sentidos (não reflete) → enumeração dos vários órgãos
E com o nariz e a boca. (valorizar os 5 sentidos) associada à repetição anafórica, ligada a uma escrita
simples. → reforçam a valorização das sensações como fonte de saber
Pensar uma flor é vê-la e Utiliza exemplos da natureza, de forma a mostrar que usa os sentidos, ou seja,
cheirá-la conhece a flor, o fruto e a erva, através apenas dos sentidos.
E comer um fruto é saber-
lhe o sentido. Está a ter consciência de que está contente, então fica triste porque não quer
pensar.
Por isso quando num dia Quer uma integração total na Natureza, através das sensações táteis → Há a
de calor afirmação do sensacionismo como única forma de conhecimento autêntico e
Me sinto triste de gozá-lo como fonte de felicidade. É através do corpo e do seu contacto direto com a
tanto, realidade q pudemos aceder à verdade, sem qlqr interferência do pensamento.
E me deito ao comprido
na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo
deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
→ não pensado mas sentindo

II-O meu olhar é nítido como um girassol. Sugere que vê tudo com grande
claridade → noção sensacionista

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

O meu olhar é nítido como um girassol. Amar é a eterna Só quando os sentidos não
inocência, funcionam é que somos obrigados a
Tenho o costume de andar pelas estradas E a única pensar
inocência é não pensar...
Caracteristicas formais:
Olhando para a direita e para a esquerda, +Linguagem simples e objetiva
E de vez em quando olhando para trás... +Liberdade estrófica e métrica
E o que vejo a cada momento +Versos brancos/soltos = sem rima
É aquilo que nunca antes eu tinha visto, +Comparações para concretrizar
ideias abstratas
E eu sei dar por isso muito bem... +Predomínio da coordenação
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer, Caracteristicas presentes:
Reparasse que nascera deveras... → poesia sensacionista/poeta
Sinto-me nascido a cada momento observador:
-olha para todas as direções, em
Para a eterna novidade do Mundo...
todos os momentos
-campo lexical relacionado com a
Creio no Mundo como num malmequer, visão = do olhar = olhando,vejo
Porque o vejo. Mas não penso nele → acredita no mundo → Poeta deambulante
Porque pensar é não compreender... → Poeta da Natureza: descobre
O Mundo não se fez para pensarmos nele sempre as coisas novas e diferentes
que provocam a sua admiração →
(Pensar é estar doente dos olhos)
Poeta Bucólico
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…
→ Poeta anti-metafísico = recusa o
pensamento porque trata a
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... realidade através dos sentidos.
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, Um dia deu-me o sono como a qualquer
criança.
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha
biografia, Fechei os olhos e dormi.
Não há nada mais simples. Além disso, fui o único
Tem só duas datas—a da minha nascença e a da minha poeta da Natureza.
morte.
O resto foi tudo simples, logo é como se fosse
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.
dono da sua vida

Sou fácil de definir. → Características que considera essenciais → Toda a vida esteve permanentemente a ver
conselhos que dá: →
Vi como um danado. Sem criar afetividade, sem pensar nelas
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma. Logo foi sempre feliz
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque
nunca ceguei. A importância das sensações e a sua felicidade
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um
O poeta que recusa o pensamento - poeta
acompanhamento de ver. Antimetafísico //O pensamento deturpa a realidade
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes
umas das outras;

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

Compreendi isto com os olhos, nunca com o


pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las
todas iguais.

iii. Ricardo Reis:


Poeta clássico (fingimento artístico) e na sua poesia estão subjacentes duas doutrinas filosóficas
da antiguidade:
- Epicurismo = considera que a felicidade se obtém gozando o momento presente,
evitando paixões intensas e procurando aproveitar os pequenos prazeres da vida (relação
com o “carpe diem”)
- Estoicismo = considera que a felicidade se obtem aceitando a condição humana e a
passagem do tempo, conformando-se com a ordem natural das coisas. Assim, o homem
deve ser passivo, mostrar-se indiferente a tudo e aceitar resignadamente aquilo que o
destino lhe traz.
Reflexão Existencial: a consciência da morte

Mestre, são plácidas O Oferece o poema a A.Caeiro = dedicatória =


A Alberto Caeiro tem conisdera que Caeiro é o sue mestre
po
Mestre, pass 1ªEstrofe:
são a, - dedicatória e vocativo
plácidas - objetivo: explicar a sua teoria/atitude de vida face à
Não
Todas as nos sua existência → aceitação serena, calma, da passagem
horas diz do tempo
Que nós nad - utiliza a adjetivação
perdemos. a.
Se no Env As flores também vão murchando, morrendo, por
perdê-las, elhe isso, também devemos aceitar o envelhecer como
Qual numa cem algo natural como as flores.
jarra, → os.
A arte de viver sem envolvimento emocional forte
comparaç Saib
amo Ensinamentos: Não viver de forma intensa, seguir
ão
s, o exemplo dascrianças, e é na Natureza que
Nós pomos quas encontramos os pequenos prazeres da vida.
flores. e
Mali
Deixar o tempo passar sem sofrimento,. aceitar a
Não há cios efemeriodade da vida, aceitar a passagem do
tristezas os, → tempo e os seus efeitos.
nteli
Nem
gente
alegrias Devemos viver de forma passiva, não devemos ter
mente
Na nossa um papel muito ativo ou intenso
Sent
vida.
ir- Motivo da sua teoria de vida
Assim nos
saibamos, ir. Seremos como o girassol
Sábios
incautos,
Não Referência à morte = aceitar a morte porque não
Não a vale se viveu intensamente
viver, a
pena
Mas Faze

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

decorrê-la, r um
Tranquilos gest
, plácidos, o.
Tendo as Não
crianças se
resis
Por nossas
te
mestras,
Ao
E os olhos
deus
cheios
atro
De z
Natureza…
Que
os
A beira- próp
rio, rios
A beira- filho
estrada, s
Conforme Dev
calha,→ ora
elementos da sem
Natureza pre.
Sempre no
mesmo
Colh
Leve amo
descanso s
De estar flore
vivendo. s.
Mol
hem
os
leve
s
As
noss
as
mão
s
Nos
rios
calm
os,
Para
apre
nder
mos
Cal
ma
tam
bém
.

Gira
ssóis
sem

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

pre
Fita
ndo
o
Sol,
Da
vida
irem
os
Tran
quil
os,
tend
o
Nem
o
rem
orso
De
ter
vivid
o.
Conclusões apartir do poema:
- Tanto Ricardo Reis como Alberto Caeiro, amam a Natureza e inspiram-se nela
para construir a sua filosofia de vida:
+ Alberto Caeiro vive no campo procurando captar essa realidade
através dos sentidos
+ Ricardo Reis defende uma vida simples apenas com os
pequenos prazeres proporcionados pela Natureza
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira Convite; Vocativo; Aproveitar os pequenos prazeres
do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e Intencionalmente → Metáfora: o rio simboliza a vida que vai
aprendamos em direção à morte (o mar)
Que a vida passa, e não estamos de mãos
enlaçadas. Porque se tiverem de mãos dadas correm o risco de se
(Enlacemos as mãos). apaixonarem \\Comparação

Algo voluntário, sem obrigação \\ Aproveitar os pequenos


Depois pensemos, crianças adultas, que a prazeres da vida\\despreocupados, inconscient
vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca Eufemismo = Morte + Perífrase = podia dizer: se tu
regressa, morresses primeiro
Vai para um mar muito longe, para ao pé
do Fado, 2 condições: ele morrer primeiro ou ela morrer primeiro →
Mais longe que os deuses. aceitas as mortes com naturalidade porque não houve
sentimento
Desenlacemos as mãos, porque não vale a
pena cansarmo-nos. Assunto: O sujeito poético dirige-se à sua amada: Lídia
(nome clássico), e convida-a a sentar-se à beira o rio onde
Quer gozemos, quer não gozemos, vão pensar\refletir sobre a vida
passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente Estrutura do Texto:
E sem desassossegos grandes. Estrofe 1 e 2: A efemeridade da vida:
- o convite a Lídia através da apóstrofe e verbos no

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

Exemplos dos grandes desassossegos: imperativo e no conjuntivo com valor imperativo


Sem amores, nem ódios, nem paixões que - desejo de aproveitar com calma a vida que passa (uso
levantam a voz, expressivo do advérbio)
- reflexão sobre a efemeridade/transitoriedade da vida (uso
Nem invejas que dão movimento demais da metáforas, palavras de caráter negativo)
aos olhos, Estrofe 3 e 4: Inutilidade de qualquer
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio compromisso:
sempre correria, - A ideia de recusa de qualquer ligação (quando desenlaçam
E sempre iria ter ao mar. as mãos - simbolizada)
- Aceitação passiva da morte (v.10,15 e 16) dada através de
metáforas e comparação
Amemo-nos tranquilamente, pensando
- Ausência de ambições/atitude passiva perante a vida dada
que podíamos, através da enumeração, repetição anafórica de palavras de
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e caráter negativo e o uso expressivo do advérbio
carícias, silenciosamente.
Mas que mais vale estarmos sentados ao Estrofes 5 e 6: A procura de serenidade:
pé um do outro - a recusa do amor intenso, do envolvimento físico através
Ouvindo correr o rio e vendo-o. da enumeração (polissíndeto)
- opção por um amor tranquilo e por uma vida calma e
silenciosa, aproveitando apenas os pequenos prazeres da
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as natureza
No colo, e que o seu perfume suavize o - aceitação com naturalidade da morte e dos efeitos da
momento — passagem do tempo (efeitos nocivos|) → devemos ser inocentes
Este momento em que sossegadamente da decadência
não cremos em nada, Estrofes 7 e 8: A aceitação da morte:
Pagãos inocentes da decadência. - a morte como o fim natural da vida
- a morte que não provoca dor porque nunca se viveu
Ao menos, se for sombra antes, lembrar- intensamente, há algumas recordações de momentos
te-ás de mim depois agradáveis
Sem que a minha lembrança te arda ou te - perífrases, eufemismos, a enumeração, as anáforas, verbos
no futuro
fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem
nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao


barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de
ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te
assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

iv. Álvaro de Campos:


➢ “Tudo é diferente de nós e, por isso, existe” Aspetos a analisar em cada
➢ Dados Biográficos: estrofe:
○ Curso de engenharia naval na Escócia Espaço envolvente
○ Viajou para o oriente Forma como o
○ Regresso por Marselha, Lisboa e Ribatejo onde sujeito poético
conhecem Alberto Caeiro e Ricardo Reis perceciona o espaço
➢ Temperamento / Caracterização:
○ Muito sensível, inteligente, sensacionista (influência de Caeiro)
➢ Produção/Literária:
○ Antes de conhecer Caeiro: estava “sem amparo” e escreveu poucos poemas

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

○ Depois de conhecer Caeiro: escreveu a “Ode Triunfal” e encontrou-se como poeta


➢ As diferentes fases da sua obra:
○ 1ª Fase → Decadentista: Nesta fase, os poemas de Álvaro de Campos refletem o cansaço, a falta de sentido
da vida, a necessidade de evasão e a procura de novas sensações. Ex.: “Opiário”
○ 2ª Fase → Futurismo/Sensacionismo:
■ Nesta fase, a sua poesia está ligada a 2 correntes: o futurismo e o sensacionismo
■ Segundo o futurismo, a arte devia romper com o passado e exaltar tudo o que é
moderno, todas as vitórias do homem na ciência e na técnica. Campos vai cantar as
máquinas, os motores, a velocidade e outros símbolos da civilização industrial
■ Ligado ao futurismo, está o sensacionismo: o poeta deveria “sentir tudo, de todas as
maneiras”, revelar os progressos da civilização tecnológica através de sensações.
■ Ex.: “Ode Triunfal” e “Ode Marítima”
○ 3ª Fase → Fases Intimista, abúlica e pessimista:
■ O poeta sente uma grande tristeza perante o absurdo da vida. É o poeta cético, que
se auto analisa, que experimenta a dor de pensar, que sente nostalgia da infância e que se
sente fragmentado, é o regresso de Álvaro de Campos ao ortónimo, é o alter ego de
Fernando Pessoa.
■ Ex.: “Aniversário”
Ode Triunfal
À dolorosa luz das grandes lâmpadas “Ode” = cantar\elogiar (as máquinas)
eléctricas da fábrica “Ode Triunfal” = canto de louvor/elogio ao triunfo da
Tenho febre e escrevo. civilização industrial
Escrevo rangendo os dentes, fera para a
beleza disto, Estrofe 1:
Para a beleza disto totalmente - Espaço Envolvente: a fábrica
desconhecida dos antigos. - Perceção do Suj. poético: percepciona a
realidade através das sensações visuais
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r - Relação do Eu com a realidade ext.:
eterno! Por um lado elogia e por outro lado há um
Forte espasmo retido dos maquinismos sofrimento, o ambiente é agressivo, que magoa. O
em fúria! espaço moderno, percecionado através de
Em fúria fora e dentro de mim, sensações e tem uma relação ambígua: atração e
Por todos os meus nervos dissecados sofrimento.
fora,
Estrofe 2:
Por todas as papilas fora de tudo com que
- Espaço Envolvente: fábrica, através dos
eu sinto!
elementos
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos
- Perceção do Suj. poético:
modernos,
+Através de sensações: auditiva, visual (máq, a
De vos ouvir demasiadamente de perto,
trabalhar - o movimento é sugerido), táteis,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar
gustativas
com um excesso +Admite a sua perceção da realidade pelas
De expressão de todas as minhas sensações
sensações, - Relação do Eu com a realidade ext.:
Com um excesso contemporâneo de vós, ó
+Agressividade e violência → v.8 = frase própria do
máquinas!
futurismo = nova construção frásica
Em febre e olhando os motores como a +Fusão entre ele e o ambiente exterior, integra-se
uma Natureza tropical — naquele ambiente
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo
e força — Estrofe 3:
Canto, e canto o presente, e também o - Espaço Envolvente: fábrica
- Perceção do Suj. poético: Capta através das
passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo sensações visuais (* → sensação de movimento),
o futuro auditivas e táteis
E há Platão e Virgílio dentro das - Relação do Eu com a realidade ext.: Relaçao
máquinas e das luzes eléctricas entre os 3 tempos = Ideia do futuro, exalta o
futuro e o momento presente que reflete o

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

Só porque houve outrora e foram passado (referência dos heróis passados da


humanos Virgílio e Platão, Antiguidade), foi o passado que permitiu as
E pedaços do Alexandre Magno do século novas descobertas.
talvez cinquenta, (Futurismo => Ferreando)
Átomos que hão-de ir ter febre para o
cérebro do Ésquilo do século cem, Estrofe 4:
Andam por estas correias de transmissão - comparação
e por estes êmbolos e por estes volantes,* - Simbiose/fusão completa entre ele e a
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, máquina
ferreando, - Recursos: comparação, frases exclamativas,
Fazendo-me um acesso de carícias ao adjetivação expressiva, metáfora (compara
corpo numa só carícia à alma. todos os elemento à flora)

Ah, poder exprimir-me todo como um Estrofe 9: começa com a recordação da infância no
motor se exprime! meio rural; relação amor-ódio
Ser completo como uma máquina!
Futurismo:“Árvo fábrica”
Poder ir na vida triunfante como um
automóvel último-modelo!
-A sua fusão com as máquinas
Poder ao menos penetrar-me fisicamente
-Já se identifica com as máquinas
de tudo isto,
-Quer se fundir completamente com a realidade
Rasgar-me todo, abrir-me
completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e
carvões Resumo:
Desta flora estupenda, negra, artificial e -Espaço envolvente: espaço moderno, dominado
insaciável! pela evolução industrial (fábrica, lâmpadas
(...) elétricas, motores, engrenagens,...)
-Relação entre o sujeito poético e o espaço
Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó envolvente:
últimos figurinos! ● o espaço é captado através de sensações
Ó artigos inúteis que toda a gente quer ● Há uma relação ambigua (o sujeito poético
comprar! sente paizxão pela realidade envolvente, mas
Olá grandes armazéns com várias secções! também se sente febril, havendo assim, uma
(...) relação conlituosa)
● Há um fusão, uma simbiose, entre o sujeito
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera. poético e as máquinas, ele sente-se como
uma parte integrante da socieadade
Amo-vos carnivoramente.
tecnológica que apresenta.
Pervertidamente e enroscando a minha
● O momento presente, as máquinas, e a vida
vista
moderna são transformados em matéria
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis,
épica que vai ser enaltecida / elogiada
inúteis,
● Há a exaltação do momento presente, onde
Ó coisas todas modernas, se reflete o passado e que se projetará no
Ó minhas contemporâneas, forma actual e futuro
próxima - Estilo excessivo/torrencial, com muitos recursos
Do sistema imediato do Universo! expressivos
Nova Revelação metálica e dinâmica de
Deus!
(...)
O Momento estridentemente ruidoso e
Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas! mecânico,
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios! O Momento dinâmico passagem de todas
Eh-lá-hô recomposições ministeriais! as bacantes
Parlamentos, políticas, relatores de Do ferro e do bronze e da bebedeira dos
orçamentos, metais.
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à
árvore
hora do jantar,
E um parlamento tão belo como uma
Eia aparelhos de todas as espécies,
borboleta).
férreos, brutos, mínimos,
(...)

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

Instrumentos de precisão, aparelhos de


Eu podia morrer triturado por um motor triturar, de cavar,
Com o sentimento de deliciosa entrega Engenhos brocas, máquinas rotativas!
duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas! Eia! eia! eia!
Metam-me debaixo dos comboios! Eia electricidade, nervos doentes da
Espanquem-me a bordo de navios! Matéria!
Masoquismo através de maquinismos! Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica
Sadismo de não sei quê moderno e eu e do Inconsciente!
barulho! Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel,
(...) Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
(Na nora do quintal da minha casa Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
O burro anda à roda, anda à roda, Eia! eia! eia!
E o mistério do mundo é do tamanho Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica
disto. cosmopolita!
Limpa o suor com o braço, trabalhador
descontente. Içam-me em todos os cais.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas Giro dentro das hélices de todos os
E havemos todos de morrer, navios.
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo, Eia! eia-hô! eia!
Pinheirais onde a minha infância era Eia! sou o calor mecânico e a
outra coisa electricidade!
Do que eu sou hoje...) Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!
Mas, ah outra vez a raiva mecânica Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
constante!
(...) Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!

Eh-lá grandes desastres de comboios!


Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes
transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras,
tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para
breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos
pela Europa,
E outro Sol no novo Horizonte!

Que importa tudo isto, mas que importa


tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de
hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como
um fogueiro,
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro,
rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo,
máquinas a trabalhar, eia!
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-
lá!
ANIVERSÁRIO

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Estrofe 1 e 2: Caracterização o passado:
Eu era feliz e ninguém estava morto. - pretérito- imperfeito (na infância,
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, repetiram no tempo)
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião - a infância → era feliz
qualquer.
visto que estava rodeado
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, da família, vivia na casa
De ser inteligente para entre a família, cheia de pessoas nde todos
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. se reuniam, era poiado e
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. não estava sozinho
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Estrofe 3: pretérito-perfeito - fim das
Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
infância, só agora é que tem a noção de
O que fui de coração e parentesco,
que era feliz
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino.
Estrofe 4: contraste entre o passado e o
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
presente há uma comparação entre a
A que distância!...
(Nem o acho...) destruição, solidão, ausência de laços
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos! familiares e a inutilidade da sua vida.

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da Estrofe 5:


casa, - não se contenta com a sua
Pondo grelado nas paredes... lembrança do passado
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através - o “eu” ficava no presente e o
das minhas lágrimas), “mim” no passado
O que eu sou hoje é terem vendido a casa. - volta ao passado com a
É terem morrido todos, mesma velocidade com que
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio… comeria um pão (com a
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos... mesma avidez) → deseja
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo! voltar ao passado
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez, rapidamente - intensamente
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim... Estrofe 6: a importância que tinha e que
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga agora já não tem, infância protegida e
nos dentes! sem solidão

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há Estrofe 7:
aqui... - Recorda; pensa; sofre
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na - Para não sofrer tem de deixar de
loiça, com mais copos, pensar; “duro” ele já não vive,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na apenas sobrevive, vai vivendo, aó
sombra debaixo do alçado, lhe resta envelhecer
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos… Passado:
- infância feliz, com família (partilhada),
Pára, meu coração! vive com proteção, tempo da inocência
Não penses! Deixa o pensar na cabeça! em que não pensa
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus! Presente:
Hoje já não faço anos.
- tristeza, angustia, solidão,
Duro.
sofrimento, tempo de perda
Somam-se-me dias.
(família e a casa), tempo de
Serei velho quando o for.
degradação = envelhecimento
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

LISBON REVISITED (1923)

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

Não: não quero nada FASE INTIMISTA


Já disse que não quero nada.
Titulo → ele vai voltar a Lisboa, onde já esteve
Não me venham com conclusões! → inglês = esteve no estrangeiro
A única conclusão é morrer.
2 tempos presentes:
Não me tragam estéticas! - Presente: Adulto; em quase
Não me falem em moral! todas as estrofes; raiva,
Tirem-me daqui a metafísica! angústia, sofrimento
Não me apregoem sistemas completos, não me - Passado: Infância; recordação
enfileirem conquistas da infância e de Lisboa numa
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) época anterior
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Presente:
Que mal fiz eu aos deuses todos? - Sentimentos:
quer se afastar da ciência e da civilização
Se têm a verdade, guardem-na! moderna → quer se afastar da sua fase futurista
→ negação da ciência, da técnica e da
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da
civilização moderna.
técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. atitude de desistência = desiste
Com todo o direito a sê-lo, ouviram? de tudo, de qualquer ambinção,
qualquer projeto de vida
Não me macem, por amor de Deus! atitude de recusa:
➢ recusa aqualquer relfexão de
carater filosofico
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
➢ recusa a rotina d avida
Queriam-me o contrário disto, o contrário de
quotidiana convencionalmente
qualquer coisa?
aceite
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a
➢ recusa qualquer companhia,
vontade. qualquer relacionamento
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
- Tem o desejo de isolamento e de
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
solidão
Para que havemos de ir juntos?
- Tem magoa → a única solução é morrer →
Não me peguem no braço! cansado da vida e desejo de morrer
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser
sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de
companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância -


Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me
sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...


E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar
sozinho!

➢ Aspetos Comuns à fase intimistas de Álvaro de Campos e a Fernando Pessoa-

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

ortónimo:
○ a nostalgia de infância ( o paraíso perdido)
○ no presente sente-se desencantado, triste, só
○ a dor de pensar
○ fragmentação do eu
➢ Aspetos Comuns a Álvaro de Campos e Ricardo Reis:
○ R. Reis aprendeu a aceitar a ideia de morte porque aceita a passagem do tempo e tem
uma atitude de apatia perante a vida (estoicismo) → Ataraxia
○ A. Campos quando refere a morte é um resultado do SEU
sofrimento e da sua desistência de viver

v. Bernardo Soares: Livro do Desassossego:


- obra com natureza fragmentária
- obra com uma escrita diarística (registo diário não de factos mas de
reflexões, sensações, pensamentos)
- obra que reflete o “desassossego” de Pessoa, a sua incapacidade de
encontrar a paz e de se sentir integrado
- obra que é um testemunho da genialidade de Fernando Pessoa.

Pelas tardes demoradas de Verão, Espaço: cidade de Lisboa→ épalage: transfere-


se para o espaço o que as pessoas que lá
vivem sentem
Amo, pelas tardes demoradas de Verão, o sossego da cidade
baixa, e sobretudo aquele sossego que o contraste acentua na parte Depois de descrever o ambiente, compara-
que o dia mergulha em mais bulício. A Rua do Arsenal, a Rua da se com Cesário Verde, sente-se próximo de
Alfândega, o prolongamento das ruas tristes que se alastram para Cesário porque os seus versos têm o
mesmo que os de Cesário, sentindo o
leste desde que a da Alfândega cessa, toda a linha separada dos cais mesmo por Lisboa (melancolia, espirito de
quedos - tudo isso me conforta de tristeza, se me insiro, por essas nulidade e péssimismo)
tardes, na solidão do seu conjunto. Vivo uma era anterior àquela
em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em Friza-se outra vez o estado de espírito =
vazio, amargura
mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos
versos que foram dele. Por ali arrasto, até haver noite, uma Os sonhos procuram-se tornar reais → através da
sensação de vida parecida com a dessas ruas. De dia elas são cheias realidade, realidade que ele não quer.
de um bulício que não quer dizer nada; de noite são cheias de uma
falta de bulício que não quer dizer nada. Eu de dia sou nulo, e de Aspetos do texto:
noite sou eu. Não há diferença entre mim e as ruas para o lado da - Espaço pelo qual deambula o narrador:
+ a zona da baixa de Lisboa, que o narrador
Alfândega, salvo elas serem ruas e eu ser alma, o que pode ser que
precorre não para apresentar um quadro
nada valha, ante o que é a essência das coisas. Há um destino igual,
objetivo, mas para mostrar a sua imagem da
porque é abstracto, para os homens e para as coisas — uma
cidade → uma cidade triste e sossegada (calma,
designação igualmente indiferente na álgebra do mistério.
melancólica) - Épalages
Mas há mais alguma coisa... Nessas horas lentas e vazias, sobe- - Estado de espírito do narrador:
me da alma à mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo + o estado de espírito do narrador
ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa externa, que coincide com as características do
não está em meu poder alterar. Ah, quantas vezes os meus próprios espaço
+ sente-se: triste, solitário, melancólico,
sonhos se me erguem em coisas, não para me substituirem a
consciente da sua nulidade,
realidade, mas para se me confessarem seus pares em eu os não pessimista
querer, em me surgirem de fora, como o eléctrico que dá a volta na - Relação com a poesia de Cesário Verde:

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

curva extrema da rua, ou a voz do apregoador nocturno, de não sei + deambulação na baixa de Lisboa
que coisa, que se destaca, toada árabe, como um repuxo súbito, da + Observação e captação de
impressões subjetivas da sociedade
monotonia do entardecer!
+ sente um grande desconforto
Passam casais futuros, passam os pares das costureiras,
passam rapazes com pressa de prazer, fumam no seu passeio de
sempre os reformados de tudo, a uma ou outra porta reparam em
pouco os vadios parados que são donos das lojas. Lentos, fortes e
fracos, os recrutas sonambulizam em molhos ora muito ruidosos
ora mais que ruidosos. Gente normal surge de vez em quando. Os
automóveis ali a esta hora não são muito frequentes; esses são
musicais. No meu coração há uma paz de angústia, e o meu
sossego é feito de resignação.
Passa tudo isso, e nada de tudo isso me diz nada, tudo é alheio
ao meu sentir, indiferente, até, ao destino próprio,- inconsciência,
carambas ao despropósito quando o acaso deita pedras, ecos de
vozes incógnitas — salada colectiva da vida.

Tudo é absurdo. O imaginário urbano (parte do que vê para


imaginar)
Tudo é absurdo. Este empenha a vida em ganhar dinheiro que
guarda, e nem tem filhos a quem o deixe nem esperança que um
1º Parágrafo: → a vida está cheia de coisas
céu lhe reserve uma transcendência desse dinheiro. Aquele
empenha o esforço em ganhar fama, para depois de morto, e não absurdas - argumento.
crê naquela sobrevivência que lhe dê o conhecimento da fama. - apresenta exemplos de quem vive em
situações absurdas
Esse outro gasta-se na procura de coisas de que realmente não
- Casos de quem tem uma vida absurda:
gosta. Mais adiante, há um que ().
+ empenha toda a sua vida a guardar
Um lê para saber, inutilmente. Outro goza para viver, €, mas não tem filhos a quem deixar
inutilmente. + quem se preocupa em ganahr fama
Vou num carro eléctrico, e estou reparando lentamente, depois de morrer mas não acredita
conforme é meu costume, em todos os pormenores das pessoas na vida depois da morte, ou seja,
que vão adiante de mim. Para mim os pormenores são coisas, nunca será famoso.
vozes, letras. Neste vestido da rapariga que vai em minha frente + quem procura de coisas de que não
decomponho o vestido em o estofo de que se compõe, o trabalho se interessa
com que o fizeram - pois que o vejo vestido e não estofo - e o + linha 8
bordado leve que orla a parte que contorna o pescoço separa-se-
me em retrós de seda, com que se o bordou, e o trabalho que 2º Parágrafo:
houve de o bordar. E imediatamente, como num livro primário de - Situar o narrador: está no carro
economia política, desdobram-se diante de mim as fábricas e os elétrico (em Lisboa) e vai
trabalhos - a fábrica onde se fez o tecido: a fábrica onde se fez o observando o que se encontra à sua
retrós, de um tom mais escuro, com que se orla de coisinhas volta olhando os promenores
retorcidas o seu lugar junto do pescoço; e vejo as secções das - Ele vê uma rapariga e observa o vestido da
fábricas, as máquinas, os operários, as costureiras, meus olhos rapariga, que vai à sua frente → olha para o
virados para dentro penetram nos escritórios, vejo os gerentes tecido e depois observa o bordado
procurar estar sossegados, sigo, nos livros, a contabilidade de que contorna o pescoço
tudo; mas não é só isto: vejo, para além, as vidas domésticas dos - Deixa de ver aquela rapariga e aquele vestido
que vivem a sua vida social nessas fábricas e nesses escritórios... e começa a pensar nas fábricas, os trabalhos,
Todo o mundo se me desenrola aos olhos só porque tenho diante
máquinas, os operários, as costureiras →
de mim, abaixo de um pescoço moreno, que de outro lado tem não
sei que cara, um orlar irregular regular verde-escuro sobre um Estava primeiro com os olhos para fora a
observar e depois com os olhos virados para

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

verde-claro de vestido. dentro e começa a refletir


Toda a vida social jaz a meus olhos. - Começa imaginar as pessoas, as
Para além disto pressinto os amores, as secrecias, a alma, de suas vidas quotidianas e sociais, os
todos quantos trabalharam para que esta mulher que está diante seus amores, segredos,...
de mim no eléctrico use, em torno do seu pescoço mortal, a - Depois de tanto refletir sente-se
banalidade sinuosa de um retrós de seda verde-escura fazenda cansado
verde menos escura.
3 partes:
Entonteço. Os bancos do eléctrico, de um entretecido de 1. Parte = até à linha 10 = o narrador
palha forte e pequena, levam-me a regiões distantes, multiplicam- reflete sobre aspetos absurdos da
se-me em indústrias, operários, casas de operários, vidas, vida, apresentando alguns exemplos
realidades, tudo. 2. Parte = linha 10-42 = o narrador, que
Saio do carro exausto e sonâmbulo. Vivi a vida inteira. está no carro elétrico, partindo de
certos objetos e da observação dos
seus pormenores, desenvolve a sua
reflexão
3. Parte = linha 43 = o narrador refere o
seu estado físico e psicológico ao
sair do elétrico

O único viajante com verdadeira alma que conheci era um garoto de escritório que havia numa outra casa,
onde em tempos fui empregado. Este rapazito coleccionava folhetos de propaganda de cidades, países e
companhias de transportes; tinha mapas — uns arrancados de periódicos, outros que pedia aqui e ali —; tinha,
recortadas de jornais e revistas, ilustrações de paisagens, gravuras de costumes exóticos, retratos de barcos e
navios. Ia às agências de turismo, em nome de um escritório hipotético, ou talvez em nome de qualquer escritório
existente, possivelmente o próprio onde estava, e pedia folhetos sobre viagens para a Itália, folhetos de viagens
para a Índia, folhetos dando as ligações entre Portugal e a Austrália.
Não só era o maior viajante, porque o mais verdadeiro, que tenho conhecido: era também uma das pessoas mais
felizes que me tem sido dado encontrar. Tenho pena de não saber o que é feito dele, ou, na verdade, suponho
somente que deveria ter pena; na realidade não a tenho, pois hoje, que passaram dez anos, ou mais, sobre o breve
tempo em que o conheci, deve ser homem, estúpido, cumpridor dos seus deveres, casado talvez, sustentáculo
social de qualquer — morto, enfim, em sua mesma vida. É até capaz de ter viajado com o corpo, ele que tão bem
viajava com a alma.
Recordo-me de repente: ele sabia exactamente por que vias férreas se ia de Paris a Bucareste, por que vias
férreas se percorria a Inglaterra, e, através das pronúncias erradas dos nomes estranhos, havia a certeza aureolada
da sua grandeza de alma. Hoje, sim, deve ter existido para morto, mas talvez um dia, em velho, se lembre, como é
não só melhor, senão mais verdadeiro, o sonhar com Bordéus do que desembarcar em Bordéus.
E, daí, talvez isto tudo tivesse outra explicação qualquer, e ele estivesse somente imitando alguém. Ou... Sim,
julgo às vezes, considerando a diferença hedionda entre a inteligência das crianças e a estupidez dos adultos, que
somos acompanhados na infância por um espírito da guarda, que nos empresta a própria inteligência astral, e que
depois, talvez com pena, mas por uma lei alta, nos abandona, como as mães animais às crias crescidas, ao cevado
que é o nosso destino.

1. Indica e justifica a perspetiva que o narrador apresenta relativamente ao “viajante” no

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

primeiro parágrafo.
Demonstra admiração pelo viajante quando era criança porque ele era capaz de se entregar ao
sonho de viajar, viajava através da imaginação recorrendo a materiais sobre os locais em que
sonhava ir.
1.1. Explica o valor expressivo das enumerações aí presentes.
Dos objetos alusivos às viagens para poder conhecer bem os locais que em sonhos visitava.
2. Tendo em conta as linhas 14-17 e o parágrafo final, comenta a opinião do narrador
sobre o efeito da passagem do tempo na vida humana.
O tempo e a entrada na vida adulta fazem perder o desejo, de sonhar, por isso as pessoas tornam-se
“estúpidas”, compridoras dos seus deveres e incapazes de conhecer algumas coisa através da
imaginação.
3. Mostra de que forma o imaginário urbano e o quotidiano surgem concretizados neste
excerto.
No texto está presente a cidade de Lisboa e a vida da cidade, os seus espaços (os escritórios, as
agências de turismo) e as pessoas (o empregado de escritório) e aspetos da vida social (jornais e
revistas - imprensa quotidiana)
4. Explica o modo como se interligam o mundo exterior e as divagações subjetivas do
narrador.
Ele parte da observação de um rapaz e da sua rotina diária utilizando este estímulo de vida
quotidiana, para fazer considerações pessoais sobre a importância do sonho e sobre a falta de
sentido da vida de muitas pessoas adultas que perderam a capacidade de imaginação.
5. Indica dois traços do perfil de Bernardo Soares, exemplificando a tua resposta.
Atitude reflexiva e crítica → observações que faz ao valorizar a importância do sonho e a tristeza e a desilusão com a falta da
capacidade de sonhar dos adultos.

E. A Mensagem:
I. Aspetos temáticos a abordar:
A. o imaginário épico
B. a exaltação patriótica
C. a natureza épico-lírica da obra
D. a dimensão simbólica do herói
E. a estrutura da obra
F. o Sebasteanismo
II. O Imaginário épico e a natureza épico-lírica:
“Mensagem” tem características épicas porque apresenta heróis da nossa
história e os seus feitos grandiosos.
No entanto, esta obra tem uma natureza épico-lírica. Os fatos históricos são
interiorizados pelo sujeito poético e são apresentados de forma subjetiva,
recorrendo a imagens simbólicas.
Mais importantes do que os fatos históricos, são a alma de Portugal e a
missão que o pais tem de cumprir (o 5º império)
III. A Estrutura da Obra → A obra “Mensagem” tem três Partes:
A. Brasão:
Contêm 19 poemas que evocam os construtores do império, os que
fizeram com que Portugal se ergue-se como nação independente. (Exemplos: “Dom Dinis”
e “Dom Sebastião, Rei de Portugal”)
Poemas dados:
- Os Campos → “O dos Castelos”

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

- Os castelos → “Ulisses”:
O mito é o nada que é tudo. Assim 1ª Estrofe → o mito não existe; o mito conta
a lenda se escorre uma história que explica a realidade.
O mesmo sol que abre os céus A
entrar na realidade,
2ª Estrofe → exemplo que comprova a
É um mito brilhante e mudo — Ea
fecundá-la decorre. tese:
O corpo morto de Deus, Em - o sujeito poético está em Portugal
baixo, a vida, metade - Ulisse é um mito, MAS torna-se realidade
Vivo e desnudo. De - Ulisses em Lisboa
nada, morre.
3ª Estrofe → conclusão: a vida é
Este, que aqui aportou,
incompleta, a vida morre, logo o que a
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou. torna mais perfeita é a lenda, que vem
Por não ter vindo foi vindo de um plano superior. Ou seja, os mitos
E nos criou. tornam a vida mais perfeita e mais
completa.

Questões:
1. Identifica a tese com que se inicia o poema e explica o paradoxo que contém:
A tese é “o mito é o nada que é tudo”.
Nesta tese, há um paradoxo, uma vez que, por um lado, sr afirma que o mito é “nada” (não tem uma existência
real) mas, por outro lado, diz-se que é tudo: ele é muito importante porque permite explicar a realidade e é
como uma luz que clarifica (“O sol que abre os céus”, “mito brilhante”).
2. Mostra que a segunda estrofe evidencia a origem mítica de Portugal.
Nesta estrofe refere-se o mito de Ulisses. Este, apesar de não ter uma existência real, apesar de ser lendário
(“Não ser”, “Sem existir” e “Não ter vindo”) estará na origem da cidade de Lisboa (“nos criou”).
Segundo a lenda, Ulisses, quando regressava a Ítaca depois da vitória na guerra de Tróia, perdeu-se no
Mediterrâneo e, após uma viagem cheia de atribulações no mar, chegou aos estuário do Tejo, onde fundou
Lisboa.
Assim se explica a vocação marítima dos portugueses, isto é, Ulisses, com o seu exemplo de navegador, terá
inspirado o povo português a explorar os mares.
3. Explica a utilização do presente e do pretérito perfeito do indicativo.
O presente demonstra a permanência do mito e explica as suas características.
O pretérito perfeito refere-se à história de Ulisses num passado distante.
4. Com base na última estrofe, comenta a relação que se estabelece entre mito e realidade.

- Brasão: “D. Dinis” e “D. Sebastião, Rei de Portugal”


Na noite escreve um 1ªEstrofe
seu Cantar de Amigo -Foi poeta → escreveu antigas de amigo → Trovador
O plantador de naus a -Noite=momento propício à inspiração
haver,
E ouve um silêncio -Plantou pinhais (Pinhal de Leiria) → metáfora das
múrmuro consigo: naus que existirão no futuro, quando os pinhais derem
É o rumor dos pinhais a madeira
que, como um trigo
-Ligado ao Mar → é um visionário porque nos pinhais
De Império, ondulam
sem se poder ver. ouve o mar e as naus → futuro de Portugal
-Comparação = as naus estão na origem dos descobrimentos que
Arroio, esse cantar, levaram à expansão do império (as naus são o trigo do império)
jovem e puro,
Busca o oceano por

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

achar;
E a fala dos pinhais,
marulho obscuro,
É o som presente desse
mar futuro,
É a voz da terra
ansiando pelo mar.

2ª Estrofe:
- o inicio da literatura em Portugal = o Rei Inovador
- a literatura vai-se desenvolvendo, ou seja, vai ao encontro do ocêano → depois vêm os temas ligados ao mar, aos
descobrimentos
- volta-se a falar do barulhos dos pinhais (que já tinham aparecido na 1ª estrofe) -> a fala dos pinheiros lembra
o mar
- no presente a economia é baseada na Terra
- no futuro o ciclo da Terra mudará para o ciclo do Mar → D. Dinis como profeta

Resumindo → Facetas dos Rei evidenciadas neste poema:


● poeta: escreve de noite os seus cantares de amigo (v1) e é o iniciador da poesia e da literatura portuguesa (v.6)
● “plantador de naus” (v2): D.Dinis é apresentado como um visionário , um profeta, um homem que consegue
perceber o que os outro não conseguem. ele foi escolhido para cumprir uma missão - plantar os pinheiros cuja
madeira serviria par afazer as naus dos descobrimentos que possibilitaram a criação do Império Português
● Rei que iinicia um novo ciclo na nossa história: o ciclo do mar deverá substituir o ciclo da terra (v.9 e 10)

D. Sebastião, Rei de Está na 1ª pessoa → o suj. poético pensa o mesmo que


Portugal D. Sebastião, sendo que quem fala e diz o que sente
Louco, sim, louco, é D. Sebastião
porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá. - Começa por auto caracterizar-se → é louco porque é
Não coube em mim ambicioso, a sorte não lhe dá grandeza → é Rei de um
minha certeza; país pequenino, então queria um país maior
Por isso onde o areal está - Consequências da sua loucura e ambição exagerada =
Ficou meu ser que
houve, não o que há. vai morrer no areal de África → pretérito perfeito
- MAS não morreu o sonho que tinha → o que há são os
Minha loucura, outros seus sonhos que se mantêm
que me a tomem - Faz um pedido: que os outros tomem a sua loucura, ou seja, que
Com o que nela ia. ponham em prática os seus sonhos.
Sem a loucura que é o - O suj. poético quer que o leitor faça uma reflexão, entãousa a
homem pergunta retórica de forma a evidenciar a importância da loucura
Mais que a besta sadia, e dos sonhos = a nossa vida não tem sentido sem a loucura /
Cadáver adiado que sonhos / ambições, não somos mais do que um animal que
procria? procria.

Resumindo:
● Na primeira estrofe, temos a autocaracterização do sujeito poético (D. Sebastião) que se apresenta como
um louco. Essa loucura é motivada pela insatisfação com que o destino lhe reserva e pelo desejo de
grandeza (versos 1-3). A morte e a destruição física no areal de Alcácer Quibir são a consequência do
espírito sonhador de D. Sebastião (versos 4 e 5).
● Na segunda estrofe, temos o elogio da loucura e o apelo a que outros tomem os seus ideais, uma vez que
eles não morrem (conjuntivo com valor de imperativo - versos 6 e 7). O poema termina com uma reflexão
(pergunta retórica) onde há uma crítica à passividade dos homens, a uma vida sem sonhos, tão

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

semelhante à dos animais.


● Articulação entre o presente e o passado:
○ O pretérito perfeito (“quis”, “coube”, “ficou” e “houve”) ou o pretérito imperfeito (“ía”) mostram a
dimensão real e histórica do Rei que morrem em Alcácer Quibir.
○ O presente do indicativo (“há”, “dá” e “é”) mostra a dimensão mítica do Rei, a permanência dos
seus sonhos e a reflexão intemporal sobre a “loucura” humana.

B. Mar Português:
Contém 12 poemas inspirados pelo desejo da descoberta do
desconhecido e do esforço da conquista do mar.
O poeta recorda o sonho dos descobrimentos e as tormentas e
glórias a eles associados. (Exemplo: “o Infante”, “o Mostrengo” e
“Mar Português”)
O INFANTE Justificação da sua posição na obra: é o 1º da segunda parte, porque
Deus quer, o homem fala sobre o Infante D. Henrique que foi o primeiro impulsionador dos
sonha, a obra nasce. Descobrimentos.
Deus quis que a terra
fosse toda uma, 1ª Estrofe
Que o mar unisse, já - tripartido: com relação de causalidade
não separasse. 1. um desejo de Deus
Sagrou-te, e foste
2. o sonho do Homem
desvendando a
3. concretização (o nascimento da obra)
espuma.
- Explicita-se o Desejo de Deus: a unificação da Terra através da
E a orla branca foi de conquista do Mar.
ilha em continente, - O Infante tem um carater mítico e sagrado, sendo o
Clareou, correndo, até homem escolhido por Deus para descobrir/desvendar os
ao fim do mundo,
mares → nascimento da obra
E viu-se a terra inteira,
de repente, - Há uma proximidade com o Infante do tratamento por tu
Surgir, redonda, do
azul profundo.

Quem te sagrou criou-


te português.
Do mar e nós em ti nos
deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o
Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-
se Portugal!

2ª Estrofe
- Os descobrimentos foram graduais:
1. verbos no gerundio
2. ir em vários tempos diferentes (verbo de movimento)
3. gradação (começa por conhecer pouco e acaba a conhecer tudo)
- sensações visuais ( cor, movimento e a forma da Terra) → contribuem para se conhecer as
descoberta do Mar
- A concretização da obra → a descoberta dos Mares:
● descoberta gradual (gradação)
● verbos nos gerundio
● verbos de movimento

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

● as sensações visuais
● expressões adverbiais (de repente)

3º Estrofe: Há tempos distintos:


- passado distante
- passado recente /presente
- futuro → apelo a Deus para que se repita o mesmo ciclo
Mar Português
Ó mar salgado, quanto 1ª Parte → 1ª Estrofe:
do teu sal - Sofrimento, os sacrifícios do povo português para conquistar o mar.
São lágrimas de - Realidade épica - Recursos:
Portugal!
Por te cruzarmos, ● Apóstrofe → da mesma maneira que começa também
quantas mães acaba
choraram, ● Frases exclamativa
Quantos filhos em vão ● Metáfora e Hipérbole → Para reforçar o sofrimento
rezaram!
Quantas noivas ficaram
dos portugueses, tomando a sua dor mítica devido ao
por casar sal do mar ter origem nas lágrimas dos portugueses
Para que fosses nosso, ó ● Paralelismo Anafórico e Enumeração → para
mar! evidenciar o sofrimento familiar, a destruição de
Valeu a pena? Tudo famílias provocado pelos descobrimentos
vale a pena - Ideia de causa no inicio e de objetivo no v.6
Se a alma não é
pequena.
Quem quer passar além
do Bojador
Tem que passar além da
dor.
Deus ao mar o perigo e
o abismo deu,
Mas nele é que
espelhou o céu.

- Carater lírico:
● discurso de 1ª pessoa
● frases exclamativas
● demonstra os sentimentos do sujeito épico → ele também sente a dor dos descobrimentos

2ª Parte: 2ª estrofe→ Reflexão:


- começa por uma pergunta retórica
- responde 3x à mesma pergunta:
1. Resposta → quando há sonhos a determinação é necessária
2. Resposta → ultrapassar um obstaculo necessita de sofrimento
3. Resposta → a recompensa/a glória que se atinge à custa dos perigos e abismos
que se vencem

C. O Encoberto:
Contém 13 poemas e tem como figura referencial Dom Sebastião. O Sebastianismo
perdurou ao longo dos séculos da nossa história. a nação, quando o pessimismo se

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

instala, anseia por uma espécie de messias que venha reconstruir o sonho Português.
Há poemas que retratam o estado de decadência em que Portugal se encontra
(“Noite” e “Tormenta”) e outros que apontam para a necessidade urgente de um futuro
melhor e do Renascimento de Portugal (“Nevoeiro” e “Quinto império”).
Quinto Império 1 estrofe:
Triste de quem - Antítese → contentes com o conforto do seu lar, mas o
vive em casa, sujeito poético acha-as tristes
Contente com o - O sujeito poético explica o porquê de não serem assim
seu lar,
Sem que um tão felizes →nao sonham → faria as pessoas voar, mudar
sonho, no erguer e a brasa teria mais brilho
de asa, - As pessoas deviam abandonar esse conforto da casa e partir nas
Faça até mais asas do sonho
rubra a brasa
Da lareira a 2 estrofe:
abandonar! - Mesma perspetiva da estrofe anterior = são tristes porque a
“vida dura”, a vida continua sem sonhos e sem ambições
Triste de quem é
→ ideia de passividade em relação à vida
feliz!
Vive porque a vida - A vida é comparada à morte
dura. - Crítica ao conformismo
Nada na alma lhe
diz 3 estrofe:
Mais que a lição da - passagem do tempo, vão se somando gerações → os sonhos
raiz — continuam nas gerações
Ter por vida a - Se o mundo avança é porque as pessoas têm sonhos, há
sepultura. insatisfação e ambições → e por isso há mais gerações
- Desejo\Esperanca de que acabe a passividade e o conformismo que
Eras sobre eras se
deve ser domado pelos sonhos.
somem
No tempo que em 4 estrofe: conclusão
eras vem.
- Depois de todos os impérios que houve
Ser descontente é
- Um passado e um presente correspondem à noite metaforicamente,
ser homem.
MAS dessa noite surge futuro como um dia:
Que as forças
cegas se domem - Passado e presente = Crise →pais as escura, noite
Pela visão que a - Futuro = época melhor, espera-se que venha algo
alma tem! de positivo da noite escura → dia que será claro,
época mais feliz.
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que
sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que
no atro
Da erma noite
começou.

Grécia, Roma,
Cristandade,
Europa — os
quatro se vão
Para onde vai toda

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

idade.
Quem vem viver a
verdade
Que morreu D.
Sebastião?

5ª Estrofe:
- 4 impérios importantes, materialistas e que já acabaram
- o novo império será espiritual e ligado à cultura → baseado em valores morais, sonhos
e na verdade
- os valores morais ficam mas a riqueza não
- D.Sebastião andava à procura da verdade, portanto foi a verdade que matou D. Sebastião
→ verdade = sonho

2. Miguel torga
a. Majestade
Passa um rei — é o Poeta. --> metáfora Capacidade criativa
Não pela força de mandar,
Mas pela graça mágica e secreta homenagem a quem é exigido um esforço contínuo e um trabalho paciente
De imaginar.
Escreve sobre vários temas
O ceptro, a pena — a lançadeira cega
Ser predestinado = nasceu poeta porque assim foi decidido
Do seu tear de versos.
O manto,a pele—arminho onde se pega 1. Tendo em conta as duas primeiras estrofes
A lama dos caminhos mais diversos. a. justifica o uso repetido do travessão.
Introduz orações com caracter explicativo, realçando o papel do rei/poeta,
Um grande soberano que exerce o ser poder através da pena e da pele.
No seu triste destino → é infeliz b. estabelece uma relação de sentido entre o conteúdo e o
De ser um monstro humano título do poema
Por direito divino. O titulo remete para a ideia da grandeza do rei mas, ao longo do poema,
percebe-se que esse rei é o poeta e que o seu poder está associado a
outros símbolos.

2. Sintetiza os traços caracterizadores do poeta, tal como é apresentado na composição.


Capacidade de criar, de imaginar e também através da sua sensibilidade.

3. Refere o recurso expressivo que, na última estrofe, contribui para essa caracterização
Na última estrofe há uma antítese que evidencia o poder do poeta e a sua grandiosidade (v. 9 e 12) que contrasta
com o facto de ele estar destinado a ser infeliz (v. 10 e 11).

4. Mostra que neste texto está presente a temática: “figurações do poeta”


Este tema está aqui presente porque o poeta é caracterizado como um ser dotado da capacidade de imaginar e de
um espírito sensível para mostrar os diferentes aspetos da realidade.

b. Canção do Semeador

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

Na terra negra da vida


Pousio do desespero,
É que o Poeta semeia
Poemas de confiança.
O Poeta é uma criança
Que devaneia.

Mas todo o semeador


Semeia contra o presente.
Semeia como vidente
A seara do futuro,
Sem saber se o chão é duro
E lhe recebe a semente.

c. Orfeu Rebelde

Orfeu rebelde, canto como sou:


Canto como um possesso 1. Compara a rebeldia de Orfeu com a
Que na casca do tempo, a canivete, rebeldia do suj. poético
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.
2. Mostra como se concretiza, a nível
Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
vocabular, a ideia de rebeldia anunciada no
Eu ergo a voz assim, num desafio:
título do poema.
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura, 3. Explica em que medida o “Eu” (v.8) se
Saibam que há gritos como há nortadas, diferencia dos “outros” (v.7) poetas.
Violências famintas de ternura.
4. Justifica a tua respostas à 3.
Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.

d. Cantiga de Maldizer:
Esta menina que eu sei Fica assustada se alguém a quer namorar
É como a rosa dos ventos: →
Fica zangada pelo pai a querer fechar num convento.
comparação
Ora grita aqui-del-Rei, A menina é indecisa e inconstante. Assim, ela pede ajuda quando alguém
Se alguém a vem namorar, procura namorá-la, mas também não aceita ser fechada num convento,
Ora maldiz os conventos tal como o pai pretende. Esta ideia de indecisão é também concretizada
Onde o pai a quer guardar. pela indefinição do fruto maduro que tem medo de ser comido mas
É um riso agradecido também receia ficar na árvore.
E um pranto de se acabar.
- Justifica o título do poema:
Parece um fruto maduro, → Sátira feita à menina, remetendo para a crítica presente nas cantigas de

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)


lOMoARcPSD|14870440

comparação Maldizer medievais.


Do outro lado do muro,
Com medo de ser comido
E medo de ali ficar.

Relaciona a métrica utilizada com a tradição literária portuguesa. → é a medida


tradicional na poesia medieval e na poesia popular.

Relaciona este poema com as seguintes linhas temáticas. → o poeta capta da realidade uma
figura do quotidiano (uma rapariga indecisa) e procura retratá-la.

3. Características do texto de memórias:


i. Natureza biográfica → o autor fala de uma determinada altura da sua vida
ii. Temas variados ligados às lembranças do passado (distante ou mais recente) →
com informações do passado
iii. Marcas textuais:
1. discurso na 1ª pessoas → pronomes e verbos
2. Tempos verbais:
a. tempo invocado = pretérito perfeito e imperfeito
b. tempo da escrita = presente
3. Expressões temporais → Antigamente, naquele tempo,...
4. Verbos associados à Memória ou à ideia de
lembrança (Lembro-me, recordo-me,...)

Descarregado por Joana Filipa Pacheco Miranda (joanamiranda.14494@ddinis.net)

Você também pode gostar