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Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Tenho uma rotina diária estruturada. Acordo por volta das sete horas. Saio cedo
para trabalhar dois dias da semana. Leciono e passo o resto da manhã na biblioteca
lendo ou preparando aulas. Faço uma caminhada de uma ou duas horas nos outros
dias. Vou para a biblioteca depois disso ou então fico em casa quando estou escre-
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual
Eu produzo melhor pela manhã e à noite. Meu cérebro funciona a pleno vapor
entre oito horas da noite às três da manhã. Bem, eu só começo a escrever depois de
ter elaborado toda a argumentação do texto mentalmente. Passo horas e horas cami-
nhando e formulando o texto na minha cabeça. Quase fui atropelado por estar inteira-
mente imerso nos meus pensamentos. Meus textos são “escritos” durante as minhas
tópicos que serão tratados nas partes ou capítulos. Eu preciso estar em um local silen-
cioso. Tomo um copo de água, tiro os sapatos, pego a minha coleção de 47 lapiseiras
e começo a trabalhar.
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Isso depende do momento de elaboração do texto. Tem dias que não escrevo
que eu pretendo escrever. Passo o dia inteiro escrevendo quando tudo isso já foi feito.
Preparo as minhas aulas durante a semana pela manhã e escrevo à noite e nos finais
sobre outros assuntos, mas a maior parte do meu tempo é dedicada à leitura de obras
relativas ao que estou escrevendo. Estabeleço alguns objetivos que poderão ser alcan-
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas sufi-
quema detalhado de todos os tópicos que serão tratados em cada uma das partes do
do artigo ou livro. Não tenho problemas com a escrita. Na verdade, ela é bem rápida.
longas discussões com colegas sobre o assunto. Os fichamentos dos livros e deci-
sões judiciais não são a fonte principal da minha escrita; ao contrário de muitos auto-
res brasileiros, meus textos não são meras paráfrases dos textos de outros autores.
Sempre quero estar certo que sou eu, Adilson, que está falando. Eu estabeleço con-
gos?
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A procrastinação acontece quando os argumentos ainda não estão suficiente-
mente claros na minha mente. Tenho colhido material para um pequeno livro sobre ra-
cismo recreativo ao longo dos últimos três anos. Já escrevi dois livros nesse período,
mas só agora consegui terminar esse projeto porque a argumentação ainda não estava
clara na minha cabeça. Aliás, não é uma “falta de clareza”, mas sim uma demora em
livro sobre racismo recreativo toca temas jurídicos, sociológicos, filosóficos, psicanalí-
ticos. Há toda uma filosofia do humor com a qual eu não estava familiarizado.
de grande tranquilidade.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão pron-
tos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Creio que todos os textos passam por um processo de gestação. Estou traba-
lhando em dois artigos no momento. Um faz uma crítica racial do debate sobre uniões
entre pessoas do mesmo sexo e o outro uma crítica sexual da discussão sobre ações
pei no início do ano passado. Anotei as sugestões feitas pelos outros membros da
mesa e pela audiência presente. Escrevi grande parte dele e os deixei de lado. Li mais
artigos e livros sobre o assunto e voltei a trabalhar neles recentemente. Sinto que estão
Tenho longas conversas sobre meus trabalhos com meus colegas e alunos. Co-
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Também coordeno um grupo de estudos. Esse diálogo é muito importante. As pessoas
no Brasil sofrem com a escrita porque não compartilham seus trabalhos, porque não
discutem suas ideias. Eu as discuto com pessoas que são especialistas e também com
aquelas que não têm conhecimento sobre o assunto sobre o qual estou escrevendo. A
pretendo desenvolver com um número significativo de colegas. Não produzo nada so-
uma coisa boa que aprendi com os norte-americanos: a escrita é um projeto coletivo.
Observo uma grande mediocridade na produção jurídica do país e isso se deve ao fato
de que as pessoas não têm e não procuram interlocutores. Bem, isso não é culpa de-
las. Não somos educados dessa forma. Isso não faz parte de nossa cultura acadêmica.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascu-
Escrevo tudo à mão. Leio o que escrevi e depois passo para o computador, o
que é um momento de revisão do texto. Fico mais concentrado quando estou escre-
vendo à mão, meus textos escritos dessa forma são sempre muito melhores.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para
se manter criativo?
Bem, sou um jurista e escrevo sobre temas referentes à realidade social do nos-
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do de tempo. Sou especialista em direito de minorias e procuro abordar uma dimensão
dos problemas enfrentados por esses grupos em cada um dos meus trabalhos. Consi-
dero que não tenho mais contribuições significativas a dar para o debate sobre os di-
Aliás, acabo de terminar um artigo sobre criminologia. Esse será o tema da minha pro-
O jurista não trabalha com inspirações no sentido comum do termo. Nossa pro-
dução não é movida pela atuação das musas, embora alguns juristas escrevam com a
mesma elegância que muitos poetas. Não tenho o mesmo espaço para criatividade
que um poeta ou um prosador tem. De qualquer forma, sempre procuro utilizar meto-
como um negro”.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos
anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
como escrevo. Meus textos são bem mais objetivos e rigorosos. Escrevo para o públi-
co em geral e não apenas para o meio jurídico. Sigo à risca o modelo norte-americano
e creio que isso fez com que meu trabalho se tornasse muito melhor do que antes. O
que eu diria para mim mesmo se pudesse voltar à escrita da minha tese? Planejamen-
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro
Bem, ainda quero escrever um livro sobre meu bisavô João Pereira da Gama.
Ele era um homem negro que lutou na Guerra do Paraguai. Seria ótimo escrever uma
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obra que faça uma relação direta entre a história da minha família e um dos episódios
mais trágicos da história do Brasil. Quero ler um livro sobre o envolvimento das mulhe-
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