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Prof.

Teófilo
Beviláqua

É com o entusiasmo dos que creem no amanhã e a alegria dos que amanhecem para conhecer que iniciamos mais uma jornada redacional, mais
um grande percurso rumo ao êxito da construção de um texto que espelhe suas capacidades, seus empenhos e seus sonhos. Isso não significa que quem
não obteve sucesso, no último Exame Nacional do Ensino Médio, seja incapaz, não tenha se empenhado ou não seja movido por sonhos. 2018 agora é só
um número mínimo nos calendários das suas vidas. Perdoem-se de si mesmos.
Escrever um texto dissertativo-argumentativo é fácil? Não. Também não é impossível. Não se trata de medir a facilidade ou a dificuldade, mas de
reconhecer, em si, que, em elas existindo, é preciso superá-las, encará-las, não como inimigas, mas como as pedras sobre as quais a suas dedicações,
suas disciplinas, suas leituras, suas reflexões e suas práticas redatoras passarão por cima!
Começa agora o nosso primeiro encontro.
Vamos juntos!

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Embora guarde semelhanças com as provas de uma
escola comum, o contexto redacional do Enem é bem
diferente daqueles com os quais vocês já tiveram (ou têm) mais
contato no cotidiano. A própria natureza do momento da prova
requer atenção: resolução de outras provas, tempo delimitado,
tema inédito, estrutura obrigatória. Além disso, as pressões de
ordem subjetiva, que levam muitos ao nervosismo, ao famoso
“branco”, etc.
Mas, calma! Essas problemáticas resolvem-se,
quando, desde já, vocês estabelecem uma tese para este ano:
“Eu consigo chegar à nota 1000!”. Como estudaremos, uma tese
é apenas uma declaração argumentativa, que precisa receber
uma argumentação, um desenvolvimento. Neste caso, para
que sua tese tenha validade e seja uma verdade absoluta para
vocês mesmos, os argumentos mais fortes a serem utilizados
são: disciplina, leitura, reflexão crítica e prática de escrita e de
reescrita. Se, porém, no percurso, houver alguns entraves que
d i fi cu l te m o p ro ce ss o, p r o p o n h a m i n t e r v e n ç õ e s
sociais/pessoais e percebam o que é possível fazer para
superá-los.
Esqueçam os mitos e fantasmas do passado! Mãos à
obra! O dia da prova será “o” seu dia!

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Já pararam para pensar sobre o que é, de fato, a redação do
Enem, esse tal dissertativo-argumentativo?
Galera, simplificando é um texto escrito em prosa (parágrafos) o
qual, a partir de um tema inédito (de ordem social, científica, cultural ou
política), sobre o qual vocês apresentarão uma ideia argumentativa
específica (a famosa tese) que passará por um processo de explicação,
discussão, problematização e prova (uma argumentação). Por fim,
baseando-se no foco problemático discutido, proporão uma ideia que dê
conta de atuar sobre o(s) problema(s) apresentado(s). Dessa maneira,
podemos dizer que esta redação divide-se em três importantes momentos:

INTRODUÇÃO > DESENVOLVIMENTO > INTERVENÇÃO SOCIAL

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1.Fugir ao tema – leia o tema e os textos motivadores com calma, reflita criticamente.
2.Desobedecer a estrutura obrigatória – você deve apresentar tese, argumentos e uma intervenção social,
de maneira coerente e coesa, dentro da estrutura introdução, desenvolvimento e intervenção social.
3.Escrever apenas 7 linhas – O número mínimo de linhas: 8 (oito); o número máximo 30 (trinta).
4.Transcrever partes dos textos motivadores da redação ou do caderno de questões – textos
motivadores servem para despertar ideias.
5.Escrever impropérios (palavrões), números, sinais gráficos (sem relação com o texto), desenhar,
ou qualquer outra “molecagem” com intuito de fazer gracinha – a redação é coisa séria!
6.Escrever algo “nada a ver com o tema” – sem nenhuma relação com a discussão apresentada, como
receita de macarrão, hino do seu time de futebol, etc.
7.Assinar, escrever o próprio apelido ou uma rubrica – existe um local específico para sua identificação.
8.Escrever o texto em outra língua que não a portuguesa – viva a última Flor do Lácio...
9.Folha OFICIAL em branco – não adianta o rascunho; o que conta é a folha oficial e definitiva.

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Muitos estudantes afirmam não saberem escrever o texto dissertativo-
argumentativo. Geralmente, esta afirmação associa-se à declarações genéricas
como “Tenho ideias, mas não sei colocar no papel”, “Não tenho ideia nenhuma
sobre o tema”, “O texto é muito difícil”, etc. O primeiro passo é ressignificar a
própria capacidade. Sim, todos são capazes de escreverem este texto e obterem
sucesso em suas notas. A questão é que, para isso, paga-se um preço, diretamente
ligado à conscientização da funcionalidade do texto dissertativo-
argumentativo e à mudança de hábitos.
Se este texto exige um posicionamento crítico, este só existe a partir de uma
personalidade crítica aliada a conhecimentos culturais sobre os temas e a
conhecimentos linguísticos e textuais. Não é afirmando para si mesmo o mantra
negativo “Eu não consigo” todos os dias que se aprenderá ou se aprimorará a
escrita. É preciso ler para refletir, refletir para praticar e praticar para vencer.

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não é decorar dados estatísticos ou frases de sociólogos famosos! Aliás, não se restringe
apenas a textos verbais. É um processo mais amplo, porque além de notícias, reportagens,
matérias, livros, revistas, enciclopédias, também lemos filmes, séries, documentários,
novelas, programas de Tv; tirinhas, charges, cartuns; e a própria vida. A leitura, sem dúvida,
aumenta o vocabulário, melhora a percepção sintática das orações e períodos, faz perceber
estratégias argumentativas e aguça a criticidade sobre temas brasileiros.

é a ação de pensar as questões lidas, vivenciadas. A reflexão garante autonomia sobre o lido,
concordando ou discordando com ideias, parcial ou totalmente. É importante, sobre isso,
esclarecer que a criticidade, sempre ligada à ideia de “falar mal”, deve ser compreendida
como sinônimo de “análise”. Por exemplo, quando se defende um posicionamento em que se
ressalta o que há de positivo sobre a internet, o que se está fazendo é apresentando uma
visão crítica (analítica) sobre ela; assim como, apresentar um lado negativo, explicando-o,
problematizando-o, também se está apresentando um posicionamento crítico. Refletir,
portanto, é garantir que sua visão de mundo justifique-se pela autoria (mesmo que
Se vocês estarão diante da necessidade influenciada) de suas ideias. Um texto dissertativo-argumentativo que apenas informa algo
de escrever sobre um tema inédito, é sobre um dado fato da realidade demonstra conhecimento, mas não o que se espera
necessário agir! também dele, uma análise crítica, que revela o posicionamento de seu autor.
A ação dos redatores começa bem antes
do dia da prova, quando a leitura, a reflexão
e a prática escrita compõem a dinâmica do
processo de conscientização do texto e da a escrita é um processo de ida e vindas, de reelaborações, de testagem de estratégias, de
mudança de hábitos. Os textos que obtém nota aprofundamento da própria consciência da função social do texto dissertativo-
1000 revelam exatamente que seus autores argumentativo. É por meio da prática que se tem noção do nível em que se está, do que é
leem constantemente, têm uma visão crítica da necessário para melhorar, enfim, do autoconhecimento sobre as próprias condições
realidade e sabem adequar seus redatoras. Escrever, reescrever, distanciar-se do texto (para que se possa ter um olhar crítico
conhecimentos à defesa de uma tese. Desta sobre o próprio texto) é parte do processo, alimentado, é claro, pela leitura e pela reflexão
forma, é importante destacarmos que: crítica.

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Você, para escrever este texto, precisa
estar ciente da funcionalidade dele, isto é,
sobre o objetivo de sua execução. Para isso, é
fundamental que se compreenda o porquê se
chama dissertativo-argumentativo. Primeiro, é
preciso considerar seu caráter dissertativo –
que corresponde à estrutura apresentada e
obrigatória (introdução, desenvolvimento e
intervenção social), mas também a sua
capacidade de apresentar conhecimentos (a
você demonstrar que tem conhecimentos,
informações e que os sabe organizar em torno
do desejo de argumentar). Segundo, seu
caráter argumentativo – muitos estudantes
falham ao apenas “escrever sobre” o tema,
esquecendo-se de que, sim, é necessário
escrever sobre e, muito além disso, “defender
uma ideia sobre” o tema. Seu texto deve ser,
exatamente, o encontro desses dois caráteres.

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KUCZYNSKIEGO, P. Ilustração, 2008. Disponível em: http://capu.pl. Acesso em 3 ago. 2012. (Foto: Reprodução)

I – O que a ilustração apresenta superficialmente?


II – Ela se sugere alguma condição social presente no Brasil?
III – Ela faz lembrar algo (de um livro, de um filme, de uma notícia, de uma lei, da História, etc)?
IV – Que situação-problema ela sugere? O que a motiva? De que maneira repercute em sociedade?

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A neuroplasticidade é a capacidade de o sistema nervoso se adaptar a A plena formação acadêmica dos deficientes auditivos, uma parcela das
diferentes estímulos. Esta vem sendo muito pesquisada atualmente. A chamadas Pessoas com Deficiência (PCD), é um direito assegurado no recém-
capacidade de mudanças anatômicas e/ou funcionais no sistema responsável aprovado Estatuto da Pessoa com Deficiência, de 2015, também conhecido como
pelas informações auditivas é denominada plasticidade auditiva. Sabe-se que a Lei da Acessibilidade. Além de um direito legalmente garantido, a educação para
deficiência auditiva diminui a capacidade de perceber os sons, ocasionando esse grupo social é sociologicamente analisada como essencial para uma
muitas limitações, tanto no desenvolvimento do indivíduo como nos aspectos sociedade tolerante e inclusiva. Entretanto, observa-se o desrespeito a essa
sociais e emocionais. O sistema sensorial auditivo tem sido analisado em garantia devido ao preconceito, muitas vezes manifestado pela violência
diversos estudos acerca da capacidade de desenvolver respostas plásticas a simbólica, e à insuficiência estrutural educacional brasileira.
distintos tipos de lesão.
KAPPEL, V; MORENO, A.C.P; BUSS; CERES, H. HASPARYK, U.G.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1808-86942011000500022&script=sci_arttext&tlng=pt. Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2018/manual_de_redacao_do_enem_2018.pdf.
Acesso em 19 abril 2019 Acesso em 19 abril 2019

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Em primeiro lugar, cabe pontuar que as instituições de ensino apresentam, em sua maioria, um sistema pouco inclusivo. Embora a Lei Brasileira de Inclusão
(LBI) atenda a Convenção do Direito da Pessoa com Deficiência, realizada em 2006 pela ONU, sua finalidade encontra obstáculos, seja na estrutura escolar vigente,
seja na falta de preparo do corpo docente. Prova disso são as escolas regulares e as universidades que não se adequaram à comunicação em Libras, bem como
exames avaliatórios que não garantem tal acessibilidade. Nesse sentido, os surdos recebem uma educação frágil, desigual e excludente.
Além disso, a ineficiente integração no âmbito escolar/acadêmico resulta em efeitos fora dele. Conforme afirmou Aristóteles, é preciso tratar igualmente os
iguais e desigualmente os desiguais, na medida exata de suas desigualdades. Contudo, a instrução de aristotélica não é vista na prática, uma vez que o mercado de
trabalho oferece poucas oportunidades, ainda que o deficiente auditivo tenha concluído o ensino superior. Paralelamente a isso, o comportamento
contemporâneo, o qual prioriza o individualismo e a competição, intensifica a exclusão visto que a deficiência em questão é alvo de uma visão equivocada de
incapacidade funcional. Desse modo, as implicações de uma educação que não se adapta à s diferenças são visíveis.
HASPARYK, U.G.
Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2018/manual_de_redacao_do_enem_2018.pdf.
Acesso em 19 abril 2019.

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A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto
dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema BRASIL: PRECONCEITO LINGUÍSTICO E SEUS
EFEITOS SOCIAIS apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma
coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Na obra “Preconceito Linguístico: o que é, como se faz” (1999), dividida em quatro Mito n° 6 “O certo é falar assim porque se escreve assim”: aqui o autor apresenta
capítulos, o professor, linguista e filólogo Marcos Bagno aborda sobre os diversos aspectos da diferenças entre as diversas variantes no Brasil e a utilização da linguagem formal (culta) e
língua bem como o preconceito linguístico e suas implicações sociais. informal (coloquial).
Segundo ele não existe uma forma “certa” ou “errada” dos usos da língua e que o Mito n° 7 “É preciso saber gramática para falar e escrever bem”: aborda sobre o
preconceito linguístico, gerado pela ideia de que existe uma única língua correta (baseada na fenômeno da variação linguística e a subordinação da língua a norma culta. Para ele, a
gramática normativa), colabora com a prática da exclusão social. gramática normativa passou a ser um instrumento de poder e de controle.
No entanto, devemos lembrar que a língua é mutável e vai se adaptando ao longo do Mito n° 8 “O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social”: decorrente
tempo de acordo com ações dos falantes. das desigualdades sociais e das diferenças das variações em determinadas classes sociais.
Além disso, as regras da língua, determinada pela gramática normativa, não inclui Assim, as variedades linguísticas que não são padrão da língua são consideradas inferiores.
expressões populares e variações linguísticas, por exemplo as gírias, regionalismos, dialetos, Disponível em: https://www.todamateria.com.br/preconceito-linguistico/ (fragmento) Acesso em 02 mar 2017
dentre outros.
De maneira elucidativa, no primeiro capítulo do livro, “A mitologia do preconceito
linguístico” ele analisa oito mitos muito pertinentes sobre o preconceito linguístico, a saber:
Mito n° 1 “A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”: o
autor aborda sobre a unidade linguística e as variações que existem dentro do território
brasileiro.
Mito n° 2 “Brasileiro não sabe português” / “Só em Portugal se fala bem português”:
apresenta as diferenças entre o português falado no Brasil e em Portugal, este último
considerado superior e mais “correto”.
Mito n° 3 “Português é muito difícil”: baseado em argumentos sobre a gramática
normativa da língua portuguesa ensinada em Portugal, e suas diferenças entre falar e escrever
dos brasileiros.
Mito n° 4 “As pessoas sem instrução falam tudo errado”: preconceito gerado por pessoas
que têm um baixo nível de escolaridade. Bagno defende essas variantes da língua e analisa o
preconceito linguístico e social gerado pela diferença da lingua falada e da norma padrão. Disponível em: http://conexaolinguistica.blogspot.com.br/p/humor-linguistico.html
Mito n° 5 “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”: mito criado em
torna desse estado, o qual é considerado por muitos o português mais correto, melhor e mais
bonito, posto que está intimamente relacionado com o português de Portugal e o uso do pronome
"tu" com a conjugação correta do verbo: tu vais, tu queres, etc.
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