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@EIPROFA.

DEYSE 2021

MANUAL DE
ESCRITA ACADÊMICA
Orientações fundamentais para a
produção de texto científico

Apresentação
Olá!

Se você está aqui deve ser porque, de alguma forma, esbarrou com o meu
perfil profissional, o @eiprofa.deyse!

Lá, eu divido com vocês a minha jornada de professora e estudante. Depois


de me formar em Letras e em Direito e advogar por cinco anos, decidi mudar
minha vida profissional e seguir o caminho que sempre desejei: a carreira
acadêmica. Assim, comecei o Mestrado em Letras, e desde então tento
compartilhar a minha rotina de estudos e de trabalhos na pós-graduação.

Meu primeiro contato com escrita acadêmica foi em 2008, quando eu


comecei o curso de Letras. De lá para cá, já foram dois TCC's de graduação,
três TCC's de especialização (dois em Direito e um em Letras), um projeto de
pesquisa de mestrado e, por fim, estou no processo de escrita da minha
dissertação. Escrevi também alguns artigos científicos, resumos, ensaios,
resenhas, além de ter concluído cursos específicos sobre escrita científica.
Enfim, já explorei muito do universo textual acadêmico – e ainda tenho muito
a explorar, claro!

O "Manual da Escrita Acadêmica: orientações fundamentais para a


produção de textos acadêmicos" tem o objetivo de sanar as principais
dúvidas e dificuldades que a maior parte dos estudantes têm quando se
deparam com a produção textual científica. Aqui, eu reuni as informações
mais essenciais sobre o assunto, um conhecimento que adquiri com base em
tudo estudei e pratiquei ao longo da minha jornada acadêmica.

Torço para que esse material te ajude a ter mais segurança enquanto escritor
e te permita lidar com a escrita acadêmica de forma mais prática e
tranquila.

Com carinho,
Deyse Marques
@EIPROFA.DEYSE 2021

O princípio
Quando falamos sobre escrita acadêmica, costumamos ouvir frases como:

Não consigo terminar nenhum texto que começo.


Não sei como conciliar um texto autoral com o uso de referências.
Não tenho talento para escrever.
Não consigo transformar minhas ideias em um texto.
Não sei como sair da página em branco.

Percebem que é uma série de pensamentos cheios de "não"? Infelizmente,


desconstruir todas essas visões negativas a respeito da escrita acadêmica não
é uma tarefa que pode ser concluída da noite para o dia.

Escrever academicamente é uma tarefa que requer prática, persistência,


organização, calma e outras tantas características que não costumamos
cultivar e que exigem muito de nós, físico e mentalmente.

Mesmo que você tenha todas essas as qualidades, nem sempre a escrita irá se
desenvolver da forma e na velocidade desejadas. Isso não significa, porém,
que todo seu esforço e tentativas estão sendo em vão.

Eu entendo que exista certo desânimo e


muita insegurança, afinal, uma boa
redação não encobre um estudo ruim e
uma redação malfeita é capaz de
desacreditar até mesmo a melhor das
pesquisas.

Por isso, meu principal pedido para você


é: faça o que estiver ao seu alcance.

Como quase tudo na vida, o ritmo de


escrita é variável e impreciso: um dia
tudo flui com naturalidade, no dia
seguinte você não consegue escrever
uma linha sequer. Isso acontece com todo
mundo, não é um problema apenas seu,
assim como não é um defeito ou uma
inabilidade.

Com o tempo, uma rotina de escrita pode


ser estabelecida e, com isso, aos poucos,
você perceberá que escrever seus textos
será muito menos penoso – e, quem sabe,
até prazeroso!
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O básico que funciona


A maior parte das pessoas busca soluções específicas para cada um dos seus
problemas com escrita acadêmica. Por óbvio, todas as questões devem ser
investigadas, mas cá entre nós... Você está fazendo ao menos o básico para
que a sua escrita científica possa fluir de forma eficiente?

E quando eu falo de um mínimo necessário, falo de:

Ter um objetivo claro.

Não ser perfeccionista.

Planejar o texto.

Eliminar distrações.

Usar as leituras teóricas a seu favor.

Sem cumprir essas cinco tarefas, vai ser bem difícil aumentar o seu rendimento
de escrita e, consequentemente, a qualidade do seu texto – que é o que
buscamos, muito mais do que quantidade. Afinal, do que serve escrever cinco
laudas todos os dias se delas mal se aproveitam cinco linhas?

Afinal, não é apenas escrever por escrever. O texto científico, por excelência,
deve conter evidências de conhecimento, o que só é possível se o autor
conseguir atingir uma escrita acadêmica fundamentada, que evidencie que o
seu desenvolvido foi apoiado em argumentos de autoridades.
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Um texto precisa reflet i r o seu autor

Claro que o seu texto precisa de fundamentação de teorias cunhadas por


outros autores, pois é importante que você se posicione não enquanto leigo,
mas como cientista. Porém, concomitantemente, você, enquanto pesquisador,
precisa aparecer no texto – algo que não ocorre apenas quando você escreve
em primeira pessoa, principalmente na escrita científica.

Muito se fala sobre deixar uma sua marca autoral na escrita, para que o texto
não se torne apenas um compilado de pensamentos e citações alheias. Essa
pode ser uma dificuldade do pesquisador que se depara com a tarefa de
escrever, pois, de fato, existe um equilíbrio sensível e tênue entre trazer essa
escrita autoral em meio ao embasamento teórico, mas sem cair em achismos ou
excesso de citações.

Para cumprir essa tarefa e atingir uma escrita que seja particularmente sua, o
primeiro passo é desenvolver a sua criticidade leitora. Isso significa adota uma
postura analítica, segundo a qual não serão aceitas de forma passiva
quaisquer opiniões sobre os temas que você estudar.

Lembre-se que a noção de "verdade" no meio acadêmico é muito transitória,


quando não inexistente. Portanto, não existe razão para que você sempre
aceite de modo totalmente passivo aquilo que autoridades e tradições teóricas
estabeleceram, pois mesmo essas referências podem ser, se não questionadas,
ao menos criticadas.

O importante é que, ao criticar (ou mesmo ao concordar), você consiga incluir


o seu pensamento lógico e racional. É isso que irá diferenciar os seus
apontamentos do mero achismo ou pensamento subjetivo: as justificativas que
você apresentar devem ser específicas, precisas e coerentes. Elas devem vir de
um lugar de objetividade, não de um pensamento particular e individual.
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Aceitar ou refutar uma tese de modo crítico implica ter que demonstrar que
você conseguiu compreender e avaliar as razões pelas quais ela foi legitimada.
Ao contrariar, você deve demonstrar argumentos que se contrapõem à
concepção teórica em questão, de modo a esclarecer e deixar visíveis as
razões pelas quais você vai na contramão daquele pensamento.

O objetivo do texto acadêmico não é meramente informativo, mas também


argumentativo. Assim, o seu foco deve sempre ser o de é estabelecer diálogo
com outros pesquisadores, com a comunidade acadêmica, com os seus
professores e colegas, com determinada revista ou site etc.

Esse tipo de movimento sempre precisa ser feito quando você entra em contato
com um texto teórico, já que produzir conhecimento exige uma orientação
crítica do ato de pensar.

Por isso, a boa escrita exige uma boa leitura e interpretação dos textos
selecionados para a pesquisa. O leitor nunca deve ser conformar em apenas
receber informações prontas, assim como não pode, enquanto escritor,
entregar esse tipo de conteúdo.

Ah!, é importante lembrar que os autores e autoras que você utilizar como
referências teóricas devem dialogar não só com você, mas também entre si.
Então, ao escolher suas fontes, certifique-se que elas não possuem teorias e
pensamentos divergentes, a menos que você vá de fato se engajar em uma
análise que foque nessa oposição.

Caso contrário, todo o seu texto pode cair em um poço de contradições.


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Gêneros textuais acadêmicos


Primeiro, um aviso: em um material tão breve como este, é impossível falar de
forma completa e profunda sobre todos os gêneros acadêmicos que existem –
nem mesmo sobre os principais, na verdade.

Porém, podemos (e devemos) ter ao menos uma noção básica das


características que definem cada um desse gêneros, pois conhecer a espécie
de texto que você irá construir é um dos princípios básicos de pré-escrita.

Vamos falar um pouco, então, sobre alguns gêneros acadêmicos:

RESUMO:

Tem como finalidade condensar uma ideia.


O resumo acadêmico precisa indicar as etapas percorridas pelo texto
completo para que o leitor possa decidir se tem interesse ou não em conhecer
a íntegra da pesquisa. Um resumo adequado deve ser composto pelos
seguintes elementos: objetivo do texto, material de análise, metodologia,
perspectiva teórica (referências bibliográficas basilares) e resultados, se
houver.

RESENHA:

Pode ser entendida como uma análise crítica, mas não necessariamente
negativa. Ela se assemelha ao resumo no sentido de que pretende reunir as
ideias gerais de um texto. Exige, portanto, uma leitura detalhada e profunda do
material a ser resenhado.

No caso de resenha de gêneros argumentativos (como artigos acadêmicos,


ensaios, dissertações e teses), o resenhista precisa pensar nas seguintes
questões:

Qual o tema discutido?


Qual a posição que o autor rejeita e qual a tese que ele sustenta?
Que argumentos sustentam as duas posições?
Quais as considerações finais?
O que o pensamento do autor demonstra e como pode ser relacionado a
outras produções acadêmica, da mesma área ou de área diversa?

O resenhista deve expor de forma clara e objetiva o seu posicionamento.


Portanto, por mais que comporte características do resumo, a resenha se
diferencia por possuir uma apreciação crítica autoral. Ademias, ao escrever a
resenha, o autor ou autora pode explorar outras formas de conhecimentos e
enriquecer o próprio texto com comentários que remetam a outras leituras,
estudos ou experiências.
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ARTIGO:

É uma produção textual mais breve e objetiva e que traz os principais


resultados de uma pesquisa acadêmica.

O artigo científico em uma estrutura reduzida, pois comporta, em média, até 20


laudas. Todavia, é um texto que deve ter sua estrutura e formatação ajustados
ao que cada veículo de publicação (em geral, revistas científicas ou anais de
eventos) exigir.

Porém, não é porque o artigo é um texto reduzido que ele pode ser superficial;
ao contrário: o artigo comporta elementos básicos de qualquer texto
acadêmico, como introdução, metodologia, objetivos, análise teórica e
referências bibliográficas.

PROJETO DE PESQUISA:

Nada mais é que o planejamento da sua pesquisa.

A partir de um projeto de pesquisa é que serão desenvolvidos outros gêneros


acadêmicos, como dissertação de mestrado e tese de doutorado.

Ferrarezi Junior (2020, p. 29) estipula a concepção de um projeto de pesquisa


a partir das seguintes perguntas:

O que vai fazer: apresentação do tema e do problema.


Por que vai fazer: justificativa.
O que alcançar com esse fazer: objetivos.
Com que conhecimento vai fazer: referencial teórico.
Como vai fazer: metodologia.
Quando e onde vai fazer: cronograma e localização de ações.
Quanto custa esse fazer: custeio.
Alguém já fez isso ou algo parecido com isso antes ou existe algum registro
disse que ajude nesse fazer: referências bibliográficas.

Um bom projeto, portanto, parte de uma boa ideia e é construído através de


um texto claro (frases curtas, palavras simples, termos teóricos somente quando
necessário), conciso (texto enxuto, sem informações soltas) e objetivo (o texto
vai diretamente ao assunto).

No projeto de pesquisa, a objetividade deve aparecer inclusive nas referências


bibliográficas, porque a sua extensão não significa que o autor é qualificado
ou que "leu muito". Portanto, no seu projeto, selecione obras por sua relevância,
não para "fazer volume".
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Características da escrita acadêmica


A escrita acadêmica deve respeitar as características da linguagem científica,
que são:

Explicação e argumentação: informar e demonstrar as informações e teses


que o leitor precisa conhecer.
Clareza: um escritor nunca perde de vista o sentido das palavras que usa e
das frases que compõe.
Inteireza da informação: o tratamento dos assuntos deve ser feito de forma
completa, sem omitir detalhes específicos na medida em que forem
necessários à compreensão do tema do texto.
Imparcialidade: a escrita acadêmica precisa desviar de quaisquer
preconceitos, ideias preconcebidas e pensamentos e opiniões estritamente
particulares.
Ordenação lógica: no texto científico, devem ser utilizados argumentos
lógicos e que possam ser comprovados.
Acuidade: deve existir um cuidado especial em verificar atentamente as
informações e resultados que forem apresentados no texto.
Objetividade: evitar excesso de palavras e ideias circulares – o texto não
pode ser repetitivo, pois, para apresentar uma arguição convincente, ele
precisa de progressão de argumentos.
Simplicidade: a linguagem não precisa ser prolixa e cheia de jargões.

Um texto acadêmico adequado deve adotar uma postura impessoal, ou seja, o


autor deve tratar o assunto de modo neutro e distanciado. Assim, a respeito da
impessoalidade, é necessário que você escreva sempre de acordo com as
normas e padrões necessários para o trabalho – considerando, portanto, a sua
finalidade, contexto e público-leitor. Por isso, esteja atenta ao vocabulário da
sua área e dê preferência às expressões mais atualizadas.
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Você pode tornar um texto impessoal através de:

Verbos e pronomes devem permanecer na terceira pessoa, pois esse


afastamento confere maior credibilidade aos argumentos que serão
explorados.
Indeterminação do sujeito (expressões como: convém observar, é
indispensável que, é importante que, é preciso considerar, não se pode
esquecer – ao mesmo tempo, conferem distanciamento e exprimem uma
marca autoral e crítica ao texto).

Um texto imparcial não é um texto no qual o autor não emite os seus


pensamentos e opiniões. A escrita científica demanda o posicionamento
autoral diante do tema que está sendo apresentado; porém, isso deve ser feito
de forma objetiva e atenta apenas ao conteúdo teórico, não aos sentimentos
particulares do pesquisador.

Quanto a escrever de forma clara, você precisa:

Estabelecer uma sequência lógica para os argumentos, para que o texto


fique mais fluido e coerente.
Escrever frases em ordem direta (sujeito – verbo – complemento), evitando
parágrafos longos ou excessivamente curtos.
Siglas e abreviaturas devem ter o seu significado explicado na primeira vez
que aparecerem no texto, para que depois possam ser utilizados livremente.
Definir quais termos técnicos serão categorias-chave para a construção do
seu discurso. Estes conceitos, portanto, devem estar claramente definidos
desde o princípio do texto.
Manter uma uniformidade em relação ao tempo verbal. Na introdução, em
geral, usa-se mais verbos no presente, enquanto na metodologia é mais
comum o uso de verbos no passado. Não existe uma regra única; portanto,
use o tempo verbal que achar melhor, desde que ele seja coerente com o
momento da pesquisa que descreve.
Evitar palavras vagas e utilizar sempre a terminologia consagrada na sua
área de estudo.
Evitar o uso exagerado de advérbios e adjetivos quando tiverem apenas a
função de estender o texto, pois esse recurso pode cansar o leitor ao
acrescentar informações desnecessárias.
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Um bom texto acadêmico também precisa ter uma ordenação lógica. Para
isso, você pode utilizar algumas estratégias de apresentação e organização
do seu texto:

Monte uma estrutura textual clara e que facilite o entendimento do leitor.


Mesmo quando o texto não possui sumário, é importante que exista um ao
menos para o seu próprio uso, para que você consiga seguir uma evolução
clara e lógica de ideias e argumentos, conectados e coerentes entre si.
Utilize subtítulos na medida que for possível e não escreva tópicos muito
longos e com tamanhos desproporcionais entre si (exceto introdução e
considerações finais, que tendem a ser mais breves).
Ao início de cada seção do texto, faça ao menos um parágrafo de
introdução para contextualizar o assunto que será abordado.
Quanto à estrutura do parágrafo: devem começar com um tópico frasal,
que representa o pensamento nuclear de cada parágrafo.
Construa parágrafos com frequência e sempre que um nosso assunto for
abordado.

Além disso, Eco (2019, p. 167) nos alerta a respeito de algumas armadilhas nas
quais podemos cair durante a escrita acadêmica. Assim, adverte:

Você não precisa acrescentar fontes ou referências para informações que


são de conhecimento geral.
Não atribua a um autor uma ideia que ele apresentou como referência.
Sempre dê informações precisas sobre as referências, inclusive se é uma
edição crítica, organizada, revisada ou similares.
Alguns comuns precisam ser evitados, como é o caso de aliteração, emenda
de vogais, cacofonia, rima, repetição de palavras e excesso de "que".
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Outras orientações fundamentais:

Em termos gramaticais, evite o uso de reticências, pontos de exclamação,


ironias (se utilizar, não as explique).
Elimine o excesso de pronomes e orações subordinadas e não comece
períodos ou parágrafos seguidos com a mesma palavra.
Para uma boa coesão textual, faça bom uso de pronomes em geral, de
advérbios, de locuções adverbiais e de conectivos vocabulares e
oracionais.
Na medida em que for editando e revisando o texto, crie um arquivo no qual
você irá depositar parágrafos e trechos que seriam apagados – você pode
precisar retomá-los e reutilizá-los em algum momento.
Crie um arquivo apenas para depositar as referências que utilizar no texto e
faça isso desde o início.
Confie no seu trabalho! Se você não acreditar no texto que está
construindo, quem o fará?

ATENÇÃO!

A ética é uma característica que deve permear todos os campos do nosso


fazer, inclusive a produção científica. Para isso, existem diretrizes de
integridade e boas práticas da pesquisa, como aquelas determinadas pelo
CNPQ.

Eis algumas práticas reprováveis: autoria indevida (nada de colocar no texto


acadêmico o nome de quem não contribuiu com uma linha sequer), plágio e
autoplágio, publicação duplicada ou fracionada (publicar o mesmo tempo em
vários veículos ou dividir propositalmente a pesquisa em vários textos para
multiplicar o número de publicações) e fabricação, falsificação e ocultação de
dados.

Por fim, é importante lembrar: não existe jeito certo de escrever!

Logo, não adianta usar modelos prontos ou, tendo o seu próprio texto,
colocá-lo em comparação ao de outra pessoa. Você nunca vai escrever igual
a Fulano porque você nunca será Fulano. Isso não significa que você não será
tão bom quanto.

Aceitar o seu próprio estilo não significa dizer que você não precisa seguir
orientações e normas acadêmicas. Procure sempre escrever dentro dos
princípios de impessoalidade, objetividade, clareza, precisão, coerência,
concisão, simplicidade, harmonia... Mas, mais importante: escreve sempre da
forma que for capaz.
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Escrevendo academicamente: algumas questões


O texto acadêmico deve sempre obedecer a certas orientações fundamentais.
Com base em Eco (2019), eis algumas das máximas a serem seguidas:

Não imite Proust: "nada de períodos longos. Se ocorrerem, registre-os, mas


depois desmembre-os. Não receie repetir duas vezes o sujeito. Elimine
excesso de pronomes e subordinadas".
Abra parágrafos com frequências para arejar o texto.
Escreva o que lhe vier à cabeça, mas apenas em rascunho. Posteriormente,
você poderá perceber em que momento se aproximou ou se afastou do
tema e eliminar as partes problemáticas e as divagações. Alguns dos
trechos excedentes podem ser colocadas em notas ou apêndices.
"A finalidade da tese é demonstrar uma hipótese que se elaborou
inicialmente, e não provar que se sabe tudo".

Outros pontos que merecem ser mencionados:

Construção científica é também um ato coletivo. Use, em especial, o


orientador como cobaia: faça-o ler capítulos com boa antecedência ou
recorra a um amigo, ou qualquer pessoa que pode entender o que você
escreveu.
Defina um termo ao introduzi-lo pela primeira vez e faça o mesmo com
siglas – se não sabe definir, evite o uso daquela palavra ou abreviatura.
Se o seu estudo acadêmico tem como objetivo a análise de determinado
objeto, você não pode reservar essa investigação apenas para os
momentos finais do trabalho. Se você, por exemplo, pesquisa uma obra
literária no seu TCC, os aspectos desse livro, ainda que de forma
introdutória, devem aparecer desde os primeiros capítulos do seu trabalho,
não apenas em um tópico final. Quando esse diálogo é estabelecido ao
longo de toda a escrita, você atinge, como resultado, um texto em que de
fato será possível testemunhar a aplicação da teoria sob o seu objeto.
É o objeto que você estuda na sua pesquisa que exige determinada teoria,
não o contrário. Por isso, priorize sempre a escuta do que o seu objeto de
análise exige, ao invés de tentar impor determinada perspectiva teórica.
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Quando e como citar


Se o seu objetivo de estudo for a análise interpretativa de um texto (literário
ou não), ele deve ser citado com razoável frequência e amplitude.

Os textos teóricos e de literatura crítica só devem ser citados quando forem


usar a sua autoridade para corroborar ou confirmar algo que você está
dizendo.

A citação pressupõe a ideia de que o autor do texto concorda com a


posição do citado, a menos que o trecho seja seguido por observações
críticas.

Todas as citações devem ver acompanhadas de referências reconhecíveis


de autor e fonte.

As citações devem, preferencialmente, ser colhidas da fonte direta e mais


conceituada – o famoso evitar a todo custo o apud e buscar boas
traduções ou o original.

Se você estuda uma obra literária estrangeira, o seu trabalho fica mais rico
com citações feitas na língua original do livro.

As remissões ao autor e à obra devem ser claras, de modo que nunca fique
dúvidas sobre quem proferiu a citação.

As citações devem ser fiéis, o que significa que as palavras precisam ser
transcritas exatamente como estão no original – omissões e eliminações de
partes devem ser sinalizadas e qualquer intervenção nossa no trecho deve
ser assinalada.

"Citar é como testemunhar num processo": a referência precisa ser exata e


precisa para que, sempre que necessário, seja possível retornar a ela e
demonstrar que é fidedigna.
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Primeiros passos da escrita


Pensemos no seguinte: todas as nossas tarefas e atividades, se quisermos que
sejam bem-feitas, precisam de uma motivação. E quando eu digo “motivação”,
não me refiro a sempre estar muito bem-disposta e alegre para cumprir suas
obrigações...

Falo de um motivo. Uma razão. Um porquê.

Com a escrita acadêmica não é diferente: por que escrever um artigo? Por que
escrever uma dissertação? Antes de abrir a página em branco, tente responder
a essas perguntas sobre o texto que você pretende minutar, pois um fazer tão
intenso precisa ter em sentido muito claro para acontecer.

Além disso, por questões práticas, é importante definir uma motivação para a
escrita, pois é essa finalidade que irá guiar o tom do seu texto, a profundidade
de conteúdo e a estrutura do seu texto.

Ademais, escrita acadêmica precisa fazer sentido em um contexto


determinado.

Por tais razões, todo texto tem:

Um leitor em potencial.
Um contexto em que foi escrito.
Um autor, que tem um objetivo ao
escrever.
Um veículo em vista para ser
publicado.

Antes de a escrita se concretizar, é


preciso de haja o pensamento sobre o
quê escrever.

E cá entre nós: o pensamento científico


é algo que requer treino, tempo e
amadurecimento.

A escritora que eu sou hoje com certeza


é melhor que a de ontem, mas inferior à
de amanhã. Por isso, seja gentil com
você e tente não exigir o que muitas
vezes é impossível.
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Toda escrita acadêmica, para Vieira e Faraco (2019, p. 116), nasce a partir de
escolhas prévias do escritor. Isso significa que, antes de formar o texto em si,
você, enquanto escritor, precisa:

Recortar o assunto: sobre o quê?

Definir o leitor presumido: para quem?

Determinar os objetivos: para quê?

Selecionar o gênero textual: qual?

Listar informações e organizar a sequência de sua apresentação: quais


informações e em qual sequência?

Selecionar o registro linguístico adequado ao gênero textual e ao contexto:


qual grau de formalidade?

Essas são algumas das questões que irão te guiar ao longo de um texto bem
construído, linguístico e teoricamente.

Mas, afinal, por onde começar?

A partir de uma motivação, você precisa de um assunto sobre o qual escrever.

Nesse momento, sempre surge uma pergunta: sobre o que escrever? Como
definir um tema ou assunto de pesquisa e produção de texto científico?
@EIPROFA.DEYSE 2021

A escolha de um tema de pesquisa é um momento de grande dificuldade para


muitos pesquisadores.

De logo, já aviso: tão importante quanto pensar nesse assunto, é se questionar


a partir de qual perspectiva você está observando determinado fenômeno.

Para a ciência, é necessário fazer esse recorte.

Muitas vezes, o tema escolhido pode não ser nada inovador, mas isso não
necessariamente o torna irrelevante. Você, que é de Letras, pode muito bem
escolher trabalhar com Dom Casmurro, de Machado de Assis, por exemplo.

O que vai evitar que o seu tema seja ou não clichê, muito mais do que o seu
objeto de análise, é o ponto de vista através do qual você irá enxergá-lo. A
sua perspectiva teórica tem a capacidade de trazer inovação, pertinência e
valor científico ao seu tema.

Por isso, um tema nunca é apenas um objeto: ele é, antes de tudo, um objeto
visto a partir de determinado olhar.

Para amadurecer um tema de pesquisa,


você deve:

Identificar um assunto geral que seja


do seu interesse.
Dentro desse tema mais amplo,
construir uma coletânea de materiais
de consulta.
Após ler bastante sobre o assunto,
elencar até dois pontos mais
específicos que tenham relevância
teórica.

Para isso, divida o tema em subtemas e,


dentro destes, identifique uma temática
ainda mais específica, dentro da qual
você deve propor a investigação de um
problema.

Ex.:

Tema: Teoria Literária.


Subtema: Literatura e subjetividade.
Temáticas específicas: narrativas
contemporâneas e escritas de si.

Utilize ao menos tuas temáticas


específicas como base para um tema.
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Formas práticas para escolher um tema de pesquisa:

A relevância de um tema é determinada pela importância que ele tem para


o mundo acadêmico. Por isso, concentre-se em assuntos sobre os quais
quase ninguém discute ou aponte uma visão diferente sobre aquilo que todo
mundo sempre vê da mesma maneira.
Não subestime a sugestão de escolher um tema com o qual você tenha
afinidade! A pesquisa acadêmica é um percurso cheio de altos e baixos,
portanto, ter que lidar com uma temática que te agrade vai ajudar mundo a
manter alguma estabilidade. É esse interesse particular que irá te incentivar
a persistir mesmo quando o processo estiver difícil e cansativo.
Para descobrir como aliar o gosto pessoal e a relevância científica, nada
melhor que uma pesquisa completa sobre a temática. Não copie os temas
de outros pesquisadores; de outro modo: procure brechas em trabalhos
anteriores (especialmente na parte de conclusões) para o desenvolvimento
de novas temáticas, teorias e métodos. A partir de um tema já estudado por
até mesmo surgir uma inovação. Ao fazer essas leituras, questione ao texto:
esse conceito poderia ser aplicado de outra forma? Existe outra
possibilidade de enxergar esse tema? Essa informação seria válida na
análise de outro problema ou objeto? Qual foi o ponto dentro dessa
pesquisa que ainda não foi investigado o suficiente e merece
aprofundamento?
Após elencar as temáticas específicas, faça uma pesquisa bibliográfica
ainda mais restrita, para que você possa encontrar um problema preciso e
delimitado.
Apresente o seu tema a outras pessoas da área e pergunte o que elas
acham a respeito. Eu sei, pode ser uma situação constrangedora, mas a vida
acadêmica não tem muito espaço para vergonha. É preciso se arriscar!
Além disso, sempre existe alguém disposto a contribuir com a sua pesquisa,
nem que seja através de críticas – que, vai por mim, são tão ou mais
preciosas que elogios.
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Uma diferença importante a ser estabelecida é aquela entre tema e


problema.

O tema é o assunto da sua pesquisa expresso em forma de frase afirmativa.

O problema de pesquisa tem o mesmo conteúdo que o tema, mas é


formulado como uma pergunta, sendo, portanto, expresso por uma frase
interrogativa.

Se você já possui um tema, recolheu referencial teórico, definiu seus objetivos e


está pronta para escrever, então agora deve começar de fato a produzir
fisicamente o seu texto.

As etapas de construção de um trabalho científico podem ser divididas em


quatro grandes blocos:

Recupere as leituras e os fichamentos do referencial teórico e selecione o


que vai usar na escrita e em que momento cada referência será aplicada.

Crie de uma estrutura interna para trabalho, com as indicações das


referências escolhidas nas partes em que elas se encaixam melhor.

Estabeleça uma rotina e um planejamento de escrita, respeitando os prazos


estipulados, mas sempre considerando como se fossem encerrar antes do
que é na realidade – assim, você terá um tempo extra caso surja qualquer
obstáculo que possa atrapalhar o seu processo.

Quanto ao momento propriamente de escrita, comece por onde se sentir


mais confiante, desde que já tenha posto em ordem a estrutura de todo o
texto.
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Elementos de um texto científico


O texto acadêmico deve ser construído por partes que formam um todo coeso
e coerente; por isso, esteja atento a aspectos estética, formatação,
organização e apresentação final do texto.

Os tópicos internos que compõem um texto acadêmico podem variar de


acordo com o tipo de texto. Aqui, vamos partir de uma organização basilar
que, em certa medida, toda escrita contém.

TÍTULO:

Precisa ser informativo, pertinente, conciso e atrativo e deve transmitir o


conteúdo do texto acadêmico. Títulos curtos são mais atraentes que os longos.

Evite palavras em excesso (se não muda o significado, retire) e informações


expressas em forma de abreviada.

O título é a primeira impressão que o seu trabalho passará, pois é a primeira


parte dele a ser lida. Portanto, formule um título que consiga transmitir de forma
adequada, comunicativa e simplificada o conteúdo do seu trabalho. Ademais,
evite títulos com ambiguidades e que passem uma ideia errada da abordagem
da sua pesquisa.

PALAVRAS-CHAVE:

Sempre apresente o máximo permitido, pois isso aumenta a possibilidade do


seu trabalho ser facilmente identificado. Não subestime a importância das
palavras-chave: escolha com antecedência para escolher bem. Eleja palavras
representativas de vários momentos do seu texto e evite ambiguidades e siglas.

RESUMO:

A qualidade do resumo pode interferir muito na divulgação da obra, por ser


esse primeiro contato que o leitor terá com o conteúdo do seu trabalho. Um
bom resumo precisa condensar todos os elementos do texto: introdução,
objetivos, referencial teórico, metodologia, principais resultados.

O resumo deve ser composto por frases concisas e afirmativas, sem siglas ou
abreviações, exceto se for absolutamente necessário. O texto deve ser
discursivo, não em formato de tópicos, e, embora tenha comentários sobre o
trabalho a ser apresentado, não pode ser detalhista. Por isso, cuidado: o
resumo não é uma introdução do texto, mas sim uma síntese da sua totalidade.

Para fazer um resumo, você precisa: identificar sobre o quê o texto trata, qual
o seu tema; destacar todas as informações mais importantes; conclusão;
sintetizar com as próprias palavras essas informações em um texto de
parágrafo único.
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Em se tratando de artigos, título, resumo e palavras-chave são dados de


indexação e, portanto, de recuperação desse texto científico. Assim, pense
nesses elementos de maneira estratégica.

Se você coloca nas palavras-chave um termo que já usou no título, você queima
a possibilidade de alguém chegar no seu artigo, porque ambos servem de
elementos indexadores.

Não perca de vista o fato de que título, resumo e palavras-chave são as


primeiras informações às quais o leitor tem acesso, então precisam ser
pensadas sob o ponto de vista informativo. Devem, portanto, atrair o leitor por
intermédio de informação que o faça perceber que vale a pena continuar a
leitura.

INTRODUÇÃO:

Esse tópico deve fornecer ao leitor do seu texto uma visão geral do tema que
você irá abordar. Assim, você deverá expor os elementos adequados a cada
tipo de texto, que, de modo geral, abrangem itens como finalidade do
trabalho, objetivos e metodologia.

A introdução pode ser a primeira parte do trabalho a ser redigida; nesse caso,
você poderá usá-la para se guiar durante a escrita, pois deve seguir aqueles
passos que indicou na introdução. Todavia, recomenda-se que a introdução
seja redigida após finalizar o trabalho, para que seja, de fato, uma
apresentação de tudo aquilo que a pesquisa terá.

Esta parte do texto precisa ser breve, pois deve apresentar somente as
informações suficientes para que o leitor entenda o que ainda será tratado no
decorrer do trabalho. Você deve partir de informações gerais sobre o tema,
fixando-se no problema específico; nesse sentido, deve apresentar a
justificativa, o problema de pesquisa e os objetivos são os últimos elementos da
introdução. Tem, metaforicamente, uma imagem de funil – vai da apresentação
mais ampla do tema, indica a lacuna e daí indica o que se vai fazer em
relação a esse assunto (os objetivos dos trabalhos) – em geral, a introdução
termina com os objetivos, podendo até ter um parágrafo depois por questão
de continuidade e encerramento.

DESENVOLVIMENTO:

Você, enquanto autor, deve criar títulos para nomear os itens desenvolvimento,
pois o desenvolvimento costuma ser dividido em tópicos de assuntos. Nessa
parte, deve-se incluir, na medida em que couber: revisão da literatura,
metodologia, discussão e análise de resultados.

Fundamentar algo significa que você é capaz de manter um diálogo


acadêmico e se fundamentar em algo sugere não apenas a perspectiva em
referência, mas também o seu ponto de vista de ideias, que pode ser a
fundamentação ou não.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Essa nomenclatura soa mais agradável que "conclusão", pois nem sempre uma
pesquisa chega, de fato, a uma resposta conclusiva. Neste tópico, deverão ser
apresentados os apontamentos finais em relação aos objetivos e hipóteses do
trabalho. Uma retomada do que já foi dito pode ser feita, mas de forma muito
sucinta, pois não é papel das considerações finais apresentar uma
retrospectiva do que foi abordado nos tópicos anteriores.

APRESENTAÇÃO FINAL DO TEXTO:

Essa etapa é definida por uma estratégia indispensável: a revisão.

Após deixar o seu texto descansar por algumas horas (ou, melhor, por ao menos
um dia), conseguimos ter mais clareza do desenvolvimento textual. Assim, com o
intuito de fugir de uma escrita viciada, é importante:

Ler o texto em voz alta, para facilitar o entendimento das informações e


identificar trechos que não ficaram muito claros.

Assinalar e corrigir erros de gramática, ortografia, pontuação, estrutura,


formatação e outros.

Buscar reestruturar ideias e reorganizar as partes necessárias – para isso,


tente montar uma cronologia de ideias e argumentos que foram escritas e
identifique se esses elementos estão postos na ordem adequada no seu
texto.

Solicitar, sempre que possível, uma leitura externa, de colegas ou


professores que possam contribuir com o seu texto.

NOTAS DE RODAPÉ:

Sobre esse elemento, que muitas vezes é bastante controverso, ECO (2019, p.
158) aponta alguns momentos em que a utilização é cabível:

Indicar fontes de citação.


Acrescentar ao assunto discutido no texto outras indicações bibliográficas
de reforço; remissões internas e externas.
Introduzir uma citação de reforço.
Ampliar as afirmações que se fez no texto.
Corrigir as afirmações do texto.
Traduzir uma citação que era essencial fornecer em língua estrangeira ou a
versão original de uma citação traduzida.
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REFERÊNCIAS:

Usar boas referências enriquece a qualidade do seu trabalho acadêmico. O


referencial teórico deve ser utilizado para desenvolver a análise pretendida
pela sua proposta de texto. Trata-se, portanto, de um momento de diálogo
científico. Essa é a parte de fundamentação do seu texto, seja ele apenas um
projeto ou já um artigo ou tese.

Essa etapa deve ser construída em forma de redação dissertativa, na qual você
irá utilizar argumentos próprios e citações diretas e indiretas que irão
demonstrar o seu ponto de partida teórico para a execução do seu trabalho.

A depender da complexidade da sua pesquisa, o referencial pode ser mais ou


menos extenso. O número de citações tende a aumentar nessa parte do texto,
pois teorias e ideias de autores devem ser levadas em conta; no entanto, você
precisa demonstrar que é capaz de articular suas próprias ideias e os seus
objetivos já consolidados por outros pesquisadores.

Assim, para construir um bom referencial teórico, pesquise os principais e os


mais atuais pensadores sobre o assunto e identifique qual o fluxo de cada
pesquisa e teoria apontada como embasamento para o seu próprio trabalho e
deixe claro onde ele se encaixa.

Para fazer a seleção da literatura de referência, defina o ponto de vista


teórico que será adotado no seu trabalho. Ademais, use os seguintes critérios:

Qualidade da fonte dos textos escolhidos: opte por artigos publicados em


revistas bem avaliadas (no Brasil, pelo Qualis-CAPES) e com indexação.

Importância dos autores com publicações de referência sobre o tema.

A recência dos trabalhos, buscando também por referências produzidas nos


últimos cinco anos.

Encontrando referênci as
Pesquise em sites como Portal da Capes, Scielo, OasisBr, Google
Acadêmico e Open Library. Ao pesquisar, utilize o termo "pdf" para
encontrar documentos nesse formato – que, em geral, são fontes mais
confiáveis.

Busque livros, dissertações e teses nos sites dos Programas de Pós-


Graduação das Universidades. Também é possível encontrar as ementas de
disciplinas e propostas de projeto de pesquisa, que sempre trazem
bibliografias completas sobre os assuntos.

Analise também o referencial teórico de trabalhos com temas semelhantes


ao que você quer tratar, pois, assim, você encontrará leituras que te levarão
a outras leituras e assim sucessivamente, até que se abra um amplo leque
teórico.
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Sobre estrutura de um projeto de pesquisa, eis algumas particularidades:

O projeto de pesquisa precisa de justificativa, que deve ser clara, direta e


convincente, para que os avaliadores do seu projeto se sintam tentados a
concordar com a realização da sua proposta.

Porém, atenção: "não há qualquer necessidade de recorrer a recursos


impressivos, como adjetivos em excesso, frases de efeito, clichês ou ditos
populares para produzir uma imagem positiva do seu trabalho".

Além disso, cuidado para não expor uma visão meramente utilitarista. Por mais
que a sua pesquisa deva apresentar uma justificativa, o "para que serve" deve
ser entendido de forma ampla, não apenas prática e mecânica.

Os objetivos de um projeto de pesquisa devem ser escritos com os verbos no


infinitivo impessoal, que irão definir o que você pretende alcançar com o
seu trabalho.

Assim, você terá o objetivo geral, que é o objetivo do seu projeto como um
todo, e os objetivos específicos, que refletem cada passo do projeto que irão
permitir que o objetivo geral seja alcançado.

As referências bibliográficas do projeto vão indicar apenas o ponto de


partida teórico, pois a preocupação deve ser de apenas embasar os passos
iniciais da pesquisa.

Essa etapa deve trazer, portanto, os aspectos teóricos e as obras mais


relevantes para que o trabalho de pesquisa possa ser efetivamente
desenvolvido. Qualquer referência mais específica deve ser destinada apenas
ao trabalho final.
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Rotina e planejamento de escrita

A escrita exige um planejamento minimamente possível de ser posto em


prática. Sem essa organização, você não saberá por onde começar a escrever
e muito menos em que momento deverá findar o texto, afinal, a escrita não
pode ser uma tarefa infinita: ela é uma promessa que precisa se cumprir.

Para isso, utilize algumas estratégias:

Estabeleça um cronograma de escrita, com dias destinados a construir


cada parte específica do seu texto. Para isso, observe a sua produtividade
e tente encaixar os momentos de escrita nos horários que você sente que
rende mais e que está com amente mais ativa. Estabeleça pequenas metas
diárias e metas semanais mais amplas, tanto de leitura como de escrita.

Reserve espaços de tempo nos quais você irá se afastar do seu texto – só
não esqueça de retornar à escrita!

Avalie a sua situação e identifique o que mais te atrapalha. É importe ter


consciência exatamente do que está atrapalhando a sua escrita:
problemas pessoais, problemas com o desenvolvimento da pesquisa,
dificuldades de conciliar as atividades acadêmicas com um emprego, falta
de comunicação com o orientador. Você precisa tomar uma atitude ou
encontrar uma nova postura para cada questão que esteja prejudicando a
evolução do seu texto.

Elimine distrações e pendências da sua rotina. Para isso, organize tudo


aquilo que está pendente em relação à sua pesquisa, vida pessoal e
profissional e busque eliminar essas tarefas atrasadas o quanto antes.
Quanto às distrações, tenha disciplina para se afastar delas.

Cultive a sua responsabilidade. Muitas vezes, a situação vai parecer dura e


alguns sacrifícios serão necessários. Estimule a sua resiliência em relação a
isso na medida em que não prejudicar a sua saúde mental. Você não
precisa chegar ao extremo de prejudicar a sua estabilidade emocional,
mas, por outro lado, entenda que as tarefas acadêmicas irão, sim, exigir
sacrifício, esforço extremo e muita dedicação.

Monte um esqueleto do texto. Se você construir um roteiro de escrita, o seu


desempenho na hora da produção tende a ser bem melhor, pois ela seguirá
uma lógica de desenvolvimento do texto. Esse projeto de texto envolve
planejar a escrita do mais geral até o mais específico, de modo a construir
um sumário. Para isso, os tópicos principais do seu texto precisam ser
definidos – faça a leitura de outros trabalhos, analisando o passo a passo
que seguiram para construir a escrita.
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Erros comuns na escrita acadêmica


Se a escrita acadêmica é feita de várias regras e orientações sobre como
deve ser estruturada, também é composta de várias estratégias que devem ser
evitadas.

Eis alguns dos erros que você pode estar cometendo na produção do seu texto:

Uso em excesso de citações diretas longas. Por mais que a escrita


acadêmica deva ser pautada em referências teóricas, as citações diretas
curtas ou indiretas são muito mais indicadas para um autor que pretende
estabelecer um diálogo com os teóricos que menciona, ao invés de
simplesmente deixá-los falar em seu nome. Além de deixar a sua escrita
impessoal e mecânica, trechos longos ou muitas citações seguidas poluem a
estética do seu texto.

Frases e parágrafos muito longos. Em geral, esse tipo de construção


ininterrupta dificulta o entendimento do leitor e prejudica a estrutura
textual. A leitura se torna cansativa e há maior chance de o autor se perder
na construção de argumentos, pois a sequência textual pode se tornar
confusa e imprecisa.

Querer ler todos os livros e trabalhos já publicados antes de começar a


escrever. Você precisa aceitar: dá para ler tudo. Em algum momento, você
precisa ter consciência disso e simplesmente parar de fazer pesquisas e
leituras, se satisfazer com aquilo que já recolheu e começar a trabalhar.

Uso de achismos, algo que pode ser bastante evitado se você renunciar à
linguagem imprecisa e cheia de clichês. Evite termos genéricos e, ao expor
um argumento que é seu, traga algum teórico para contribuir com esse
pensamento e reforçá-lo.

Excesso e falta, respectivamente, de perfeccionismo e de planejamento.

Eco (2019, p. 18) diz ainda que, se você não consegue terminar de escrever um
texto, pode ter acontecido que:

Você escolheu um tema que estava além do que poderia ser executado
naquele momento.

Você não consegue terminar porque nunca está contente com a pesquisa,
quer sempre dizer tudo o que existe para ser dito e continuar
desenvolvendo o tema por muito tempo. Porém, como já foi dito, um
estudioso hábil deve ser capaz de se contentar com a produção da
pesquisa que pode ser feita até um determinado limite e, ainda, ser capaz
de produzir algo bom dentro dessas fronteiras.

"Neurose da tese": o autor abandona e retoma a escrita diversas vezes, não


se sente realizado com o texto, entra em um estado de descontentamento e
adia infinitamente a formação
@EIPROFA.DEYSE 2021

Como destravar a escrita?


Uma coisa é certa: haverá dias de total inspiração para escrever, dias em que,
mesmo sem muita vontade, você produzirá alguns parágrafos, e dias em que
você não irá conseguir completar uma frase sequer.

Arrisco dizer que, na maior parte do tempo, vivendo nessa situação


intermediária de escrita quase compulsória. Essa é uma verdade incontornável:
não dá para esperar a inspiração, porque ela só nos leva a procrastinar o
nosso trabalho.

Precisamos nos preocupar em melhorar nossa escrita, apesar de qualquer


inspiração. Isso vale também para os bloqueios de escrita: nesses momentos,
devemos usar um número maior de estratégias para desenvolver a escrita.

Alguns exercícios para os momentos em que a inspiração não quiser ajudar:

Reveja o seu projeto de pesquisa, em especial os seus objetivos, e tente


identificar questões e construir raciocínios a partir deles, sem se prender ao
texto que já foi escrito.

A partir da releitura do projeto, elabore uma lista inédita de todas as ideias


e argumentos que você possui a respeito do tema.

Releia trabalhos com mesma temática e gênero que o seu. Mas cuidado: a
ideia aqui não é estabelecer comparações que façam você se sentir
inferior, mas sim analisar a forma de abordagem do texto e a estrutura
adotada por outro pesquisador.

Após rever rascunhos, projeto e fundamentação teórica, retorne ao seu


texto não com o intuito de escrever, mas de avaliar e perceber se a
condução argumentativa está adequada.
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Uma coisa muito importante: não tenha medo de escrever.

Estar no mundo acadêmico e produzir pesquisa é estar constantemente exposto


não apenas a acerto, mas também a erros. Por isso:

Não tenha vergonha de escrever. Acha que o texto não vai ficar bom? Tudo
bem, todo grande pesquisador por aí já escreveu alguma coisa que
merecia ir direto para o lixo. Se você não se expor à prática, sua
metodologia nunca será aprimorada. Não se apegue à primeira tentativa
(segunda, terceira...) de escrever algo. Da forma que for, apenas escreva.
Um tempo depois, releia, revise, reorganize e reescreva até que o texto
fique ao menos razoável. Se você simplesmente abandonar todo texto que
começar mal, simplesmente nunca vai aprender como melhorar.

E eis um fato: você vai escrever muito texto ruim, do tipo que faz você
querer apagar da memória. Aceite isso. Aceite também que produzir um
texto que é completamente escrito por um espírito inspirado e que fica bom
já na primeira versão é muito, muito raro. Então, sim, haverá momentos em
que tudo que você vai conseguir escrever é pura encheção de linguiça, mas
eis a boa notícia: você também vai escrever muita coisa sensacional. Só que
esse processo não será traçado por uma linha reta e inabalável: um dia
você se sairá bem, outro dia se sairá péssimo. Lidar com esses extremos fica
mais leve quando a gente entende e aceita que os textos ruins são tão
importantes quanto os bons.

Quanto mais você escreve, melhor fica. Por isso é tão importante não
desistir, nem mesmo e principalmente quando estiver difícil. Só a prática
poderá te levar à perfeição – ao, ao menos, próximo dela. Será o
treinamento persistente que te trará habilidades, amadurecimento e
experiência – afinal, a única diferença entre você e o autor teórico que
você mais admira é que ele provavelmente escreve há bem mais tempo que
você. E nem ele consegue escrever bem todos os dias, assim como seu
orientador, seu colega que mais se destaca na turma e assim vai. A prática
não vai impedir que esses momentos mais difíceis aconteçam, mas vai te
ensinar a lidar de forma muito mais tranquila com eles.
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Não tenha medo das correções, afinal, você não pode querer ser um
grande gênio solitário. Eu sei que é uma avaliação negativa pode ser um
grande golpe na já frágil autoestima de um pesquisador, mas, se o seu
orientador te envia um texto cheio de marcações, mas não há alternativa
além de refazer. São as correções, por mais duras que sejam, que irão
aprimorar o seu texto. Tente enxergar o lado positivo dessa situação, mesmo
quando é difícil encontrar algum, porque essa é a única forma de, um dia,
você não ser aquele que é corrigido, mas sim o corretor.

Você vai se sentir um impostor. Isso vai acontecer quando você tiver
problemas em desenvolver um bom trabalho e quando você finalmente
conseguir construir um bom texto. Faz parte do processo de escrita achar
que você nunca vai ser tão bom quanto Fulano ou mesmo achar que o seu
texto, que todo mundo diz que está bom, na verdade não ficou tão bom
assim. Por isso, tente ao máximo não se comparar com ninguém,
especialmente com quem escreve há mais tempo que você. E não se
compare quando você for elogiado, porque mesmo o seu melhor texto vai
ser diferente do melhor texto bom de outra pessoa, e é importante saber
aceitar que ser igualmente talentoso e competente é diferente de ser
simplesmente igual.

Outras ações que podem ajudar a destravar a escrita:

Refaça leituras teóricas e de outros trabalhos científicos. Se o seu objeto de


pesquisa for um livro literário, releia-o também – isso pode parecer um
enorme trabalho, mas, muitas vezes, você terá insights e novas ideias muito
antes de concluir essa leitura.

Mantenha um arquivo ou caderno de rascunho, que vai funcionar como uma


caixa de entrada de pensamentos. Nele, escreva, com frequência, tudo que
passar pela sua cabeça. Esse documento será um diário de pesquisa, no
qual você irá escrever apontamentos e observações durante o seu processo
de produção de texto: indique assuntos sobre os quais quer escrever,
tópicos e temas que precisa desenvolver melhor ou que não pode esquecer
de mencionar, sugestões e encaminhamentos que o seu orientador te passar
ao longo das reuniões etc.
@EIPROFA.DEYSE 2021

Para refletir
Nem sempre percebemos, mas a verdade é que começamos a escrever
academicamente quando entramos na universidade, ainda na graduação.
Desde o seu primeiro período você já pode começar a construir a sua escrita
acadêmica e o que você produzir ao longo dos anos não pode ser descartado,
por mais inicial que seja o texto.
Por isso, é muito comum e até
recomendável que você produza textos
a partir de trabalhos anteriores. Você
apenas deve se atentar para os
recortes, ajustes de texto, formatação
do arquivo, atualização da literatura,
restauração de seções e demais
estruturas etc. Um novo objetivo precisa
estar bem definido, portanto, o que não
significa que o trabalho que você já
teve não pode ser aproveitado.

Não sabe por onde começar a


escrever um artigo, por exemplo? Dê
uma olhada nos trabalhos das
disciplinas da graduação, resultados
de experimentos que você possa ter
feito, projetos de grupos de pesquisa
que participou e por aí vai.

Se você concluiu o TCC da graduação,


pode produzir vários artigos a partir
dele ou mesmo um projeto de pesquisa
para o mestrado.

O mesmo ocorre com os trabalhos e a


dissertação do mestrado e por aí vai...
As possibilidades são infinitas, desde
que você abre possibilidades e valorize
cada uma das suas produções textuais
acadêmicas.
@EIPROFA.DEYSE 2021

O fim
Escrever academicamente é um processo intenso e cheio de regras e normas
técnicas, mas também é uma ótima forma de desenvolver o nosso
autoconhecimento. Por isso, para que nós tenhamos uma boa relação com os
nossos textos, precisamos ter uma relação honesta e estável conosco.

Muitas das maiores dificuldades com a escrita acadêmica vêm de um lugar que
pode ser resolvido se nós formos um pouco menos autocríticos e um pouco mais
conscientes das mudanças e variações que a nossa escrita pode sofrer. Não
busque a perfeição, porque ela não existe. Busque apenas ser melhor do que
você foi ontem – e, se isso não for possível hoje, o amanhã está aí para isso.

A produção científica é uma jornada longa e difícil. Porém, é um caminho que


nos oferece um aprendizado profundo não apenas sobre as coisas e o mundo,
mas sobre nós mesmos.

Abrace esse processo com carinho, respeito, dedicação e disciplina, e eu tenho


certeza de que você irá evoluir a sua escrita para o nível mais desejado, que é
aquele em que a gente olha para o que escreveu e pensa, com orgulho e
carinho:

Ficou ótimo. Eu consegui.

Notas mentais:
Não meça o seu progresso
com a régua de outra pessoa

Assim como os dias bons passam,


os dias ruins também vão embora.

Respeite o seu processo e não se


exija mais que um passo de cada
vez.

Você não conseguirá escrever uma


linha sequer se não respeitar a sua
saúde física e mental.

Nada do que você fizer será


unanimidade. Sempre haverá quem
critique, mas também sempre
haverá quem elogie.
@EIPROFA.DEYSE 2021

Referências bibliográfi c as
DURÃO, F. A. Metodologia de pesquisa em
Literatura. São Paulo: Parábola Editorial,
2020.

ECO, U. Como se faz uma tese. 27 ed. rev. e


aumentada. São Paulo: Editora Perspectiva,
2019.

FERRAREZI JUNIOR, C. Guia do Trabalho


Científico: do projeto à redação final. São
Paulo: Contexto, 2020.

MACHADO, A. R.; LOUSADA, E. G.; ABREU-


TARDELLI, L S. Planejar gêneros
acadêmicos. São Paulo: Parábola Editorial,
2005.

MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. H.


Produção textual na universidade. São
Paulo: Parábola Editorial, 2010.

OLIVEIRA, J. L. Texto acadêmico: técnicas


de redação e de pesquisa científica. 10 ed.
Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2018.

VIEIRA, F. E.; FARACO, C. A. Escrever na


universidade: fundamentos. São Paulo:
Parábola Editorial, 2019.

VIEIRA, F. E.; FARACO, C. A. Escrever na


universidade: texto e discurso. São Paulo:
Parábola Editorial, 2019.
Ficou com alguma dúvida ou
tem alguma sugestão?

Você pode falar comigo em:

@eiprofa.deyse

deyse_fb@hotmail.com

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