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ISBN 978-85-387-6577-6
IESDE BRASIL
2020
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Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: ESB Professional/ NarongchaiHlaw/Shutterstock
3 O ensino da leitura 33
3.1 Formação do leitor 33
3.2 Leitura na escola 41
3.3 Leitura em diferentes suportes 46
Código
Canal
Mensagem
Rawpixel.com/Shutterstock
Receptor
Emissor
Segundo os PCNs,
Todo texto se organiza dentro de determinado gênero em fun-
ção das intenções comunicativas, como parte das condições
de produção dos discursos, as quais geram usos sociais que os
determinam. Os gêneros são, portanto, determinados historica-
Atenção mente, constituindo formas relativamente estáveis de enuncia-
Os gêneros textuais são as dos, disponíveis na cultura. (BRASIL, 1998, p. 21)
formas relativamente estáveis
que materializam nossos Assim, cada atividade ou prática social tem seus gêneros, que as
enunciados nas mais diversas ordenam. Por exemplo, para nos comunicarmos rapidamente por meio
situações que vivenciamos em
nosso dia a dia. São fenômenos do celular, enviamos uma mensagem instantânea; para aprendermos
linguísticos e históricos pro- a preparar um prato, procuramos uma receita culinária; para nos infor-
fundamente vinculados à rea-
marmos sobre os acontecimentos no mundo, usamos as notícias.
lidade cultural e social de uma
comunidade, que contribuem A mensagem instantânea, a receita e a notícia são exemplos de gê-
para organizar e estabilizar as
neros textuais que fazem parte de um rol interminável de gêneros que
atividades cotidianas.
circulam em uma sociedade que se comunica por meio de enunciados
da escrita, que se expandiram ainda mais com o surgimento da cultura SANTOS, C. F. et al. (orgs.). Belo
Horizonte: Autêntica, 2007.
impressa, no século XV. Atualmente, na era da cultura eletrônica, há
um número praticamente infinito de gêneros e diferentes formas de
comunicação, formatadas pelas mídias digitais.
Expositivo
Descritivo:
(ou explicativo):
Injuntivo
(prescritivo):
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n25/n25a01.pdf/
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da linguagem o ser humano se constitui como ser social. É
a partir de suas interações, de suas trocas com o outro, que o indivíduo
aprende, ensina e se reconhece. O processo de ensino e aprendizagem da
língua não pode desprezar o papel da interação verbal e das práticas sociais
no estudo da língua. Somente por meio de práticas pedagógicas situadas
sobre um entendimento dialógico é que os alunos poderão ser efetivamen-
te letrados para atuar efetiva, consciente e criticamente na sociedade.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M.; VOLOCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais
do método sociológico na ciência da linguagem. 8. ed. São Paulo: HUCITEC, 1997.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro
e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/portugues.pdf. Acesso em: 17
dez. 2019.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: Ensino médio. 2000. Disponível em: http://
portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14_24.pdf. Acesso em: 17 dez. 2019.
KOCH, I. G. V. Desvendando os Segredos do Texto. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
SOARES, M. B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998, v. 1.
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e
2º graus. São Paulo: Cortez, 1997.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A língua que deve ser estudada na escola é a que será usada pelo
aluno, aquela que ele precisará empregar em suas mais diversas práticas
sociais durante a vida, e isso inclui, logicamente, a modalidade oral. Com
a concepção sociointeracionista, veio o entendimento de que a língua não
é apenas a norma, mas sim o uso, é o texto criado a partir da interação.
Com isso, a oralidade passou, finalmente, a ser reconhecida como moda-
lidade da língua de interesse escolar.
Trabalhar a oralidade em sala de aula, entretanto, não diz respeito à
leitura em voz alta de textos escritos ou a conversas esparsas sobre as-
suntos aleatórios. As atividades de prática oral devem acontecer por meio
de gêneros textuais orais, em contextos significativos e orientadas para a
análise dos elementos de produção de sentidos do texto. A sala de aula
deve ser um ambiente de interação, de situações reais de linguagem e de
construção de conhecimentos.
REFERÊNCIAS
BAGNO, M. Preconceito Linguístico: o que e como se faz? 49. ed. São Paulo: Editora Loyola,
1999.
BORTONI-RICARDO, S. M. Nós cheguemu na escola, e agora?: sociolinguística & educação.
São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
BRAIT, B. O processo interacional. In: Preti, D. (org.). Análise de textos orais. São Paulo:
Humanitas, 2003.
POSSENTI, S. Existe a leitura errada? Presença Pedagógica, Belo Horizonte, v. 7, n. 40,
p. 5-18, jul./ago. 2001.
RODRIGUES, A. C. S. Língua falada e língua escrita. In: Preti, D. (org.). Análise de textos orais.
São Paulo: Humanitas, 1993.
ROJO, R. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola, 2009.
GABARITO
1. A concepção sociointeracionista entende a língua como interação, resultado da troca
e da cooperação entre os falantes. Desse modo, as práticas orais também são objeto
de estudo, diferentemente do que acontecia quando outras concepções embasavam
as atividades pedagógicas e direcionavam o estudo da língua para o domínio da
norma padrão.
2. Não. A oralidade e a escrita são duas formas de expressão da língua e ambas devem ser
objeto de estudo e análise da escola, pois o estudo da língua deve priorizar a formação
do aluno para atuar nas mais diversas instâncias comunicativas, o que inclui também
as práticas orais.
O ensino da leitura 33
Ao entrarmos em um lugar pela primeira vez, costumamos dizer
que precisamos “fazer a leitura do lugar”. Ou, em uma situação de con-
versa, é possível até que façamos uma “leitura das entrelinhas”, que
significa conseguir entender aquilo que o outro não está dizendo com
suas palavras. Em todo caso, “a leitura do mundo precede a leitura da
palavra” (FEIRE, 1989, p. 9).
Porém, até mesmo algo que damos por lido e fechado pode tomar
diferentes sentidos ao longo da vida. Tome como exemplo o telefo-
ne comum, com fio, daqueles que você girava o teclado para fazer a
ligação. Quando aprendemos a usá-lo, ele era um instrumento de co-
municação. Hoje podemos encontrar modelos repaginados desses
aparelhos, alguns que até servem como decoração ou uma forma de
lembrança. Ou seja, cada pessoa dá a eles uma nova leitura.
Por muito tempo a leitura foi entendida como uma atividade ligada
apenas à escola. Isso quando não era utilizada como punição por mau
comportamento. Logo, é preciso repensar a leitura enquanto prática
social, na qual a escola está inserida, e não somente como prática esco-
lar, ligada à carga horária das aulas de Língua Portuguesa e dependen-
te apenas da alfabetização.
Nível sensorial
É a leitura que se utiliza dos sentidos para gerar engajamento do
leitor. Tato, visão, audição, olfato e paladar à disposição da leitura. “A
leitura sensorial vai, portanto, dando a conhecer ao leitor o que ele
gosta ou não, mesmo inconscientemente, sem a necessidade de racio-
nalizações, justificativas” (MARTINS, 1994, p. 42).
O
jantar correu animadíssimo. Dona Benta reclinava-se no seu coxim, colocado entre o da
dona da casa e o de Sócrates. Do outro lado da mesa, muito mais baixa que as modernas,
reclinava-se Narizinho, entre Fídias à direita e Herodoto à esquerda. Uma coroa de rosas
cingia a testa de todos os comensais. A conversa girou sobre vários assuntos e por fim
caiu sobre a arte culinária. — Pois é — disse Dona Benta — a razão da nossa viagem a estes
séculos foi uma razão ao mesmo tempo sentimental e culinária: a procura de tia Nastácia, que é
nossa amiga e nossa cozinheira. E que cozinheira! Como sabe manejar o violino do “gostoso” e tirar
dele mil harmonias! O mais simples guizado, um picadinho com batatas, um virado de feijão com
torresmos, um vatapá, tudo enfim que sai de suas panelas está para o que chamamos comida,
como os mármores ali dos Senhores Fídias e Policleto estão para as esculturas comuns. Perfeitas
obras-primas.
— E os bolinhos, vovó? — lembrou a menina, do outro
lado da mesa. — Os bolinhos de tia Nastácia já estão fa-
mosos no Brasil inteiro. Quantas cartas a senhora não recebe
das crianças, pedindo a receita dos bolinhos de tia Nastácia?
O ensino da leitura 35
Nessa obra, Tia Nastácia é raptada pelo Minotauro e sobrevive ao
fritar seus famosos bolinhos, deixando o animal paralisado de tanto
comê-los. Para trabalhar esse livro, o professor pode ligar a mitologia
com a culinária. Na continuação do trecho, há diversas outras receitas
que são citadas e podem servir de inspiração para uma leitura sensorial.
Nível emocional
É o nível em que temos a maior satisfação do ato de ler. É o momen-
to no qual somos transportados para outros mundos, sejam eles reais
ou fictícios. O nível emocional gera grande identificação do leitor com
a narrativa, além de empatia com os personagens. Segundo Martins
(1994, p. 61), “importa […] frisar o quanto em geral reprimimos a leitura
emocional, muito em função de uma pretensa atitude intelectual”, isto é,
damos muito valor ao conteúdo intelectual de uma obra e descartamos
a leitura emocional, como se ela fosse atividade de menor importância.
Na sala de aula
Assim, o nível racional é aquele em que visamos o diálogo com o Saiba mais
próprio texto a fim de compreendê-lo e decifrá-lo. É uma leitura que Você já ouviu falar em Escape
requer a análise dos aspectos da narrativa, isto é, do que o autor nos Classroom? É uma atividade
derivada do Escape box, locais
conta e de que modo ele faz isso, além dos sentidos do texto e da in- em que as pessoas vão para
tenção do autor ao utilizar certos indícios. Veja, a seguir, as principais se divertir e escapar de salas
descobrindo pistas para poder
categorias de análise de narrativas em um nível racional de leitura, de
encontrar uma forma de sair. O
acordo com Martins (1994). Escape Classroom nada mais é do
que uma forma de fazer os alunos
Principais aspectos para análise de narrativa
decifrarem enigmas relacionados
em nível racional de leitura
a um conteúdo para poderem
achar a saída. É uma atividade
bastante difundida em outros paí-
ses, mas ainda pouco explorada
no Brasil. O legal aqui é utilizar
diversos espaços escolares e fazer
Aspectos Indícios dados ao Intenção do autor ao com que os alunos percebam
da narrativa longo do texto utilizar indícios que estudar também pode ser
muito divertido. Para saber um
pouco mais como funciona essa
Descrição de atividade, leia a matéria da revista
Os indícios criam
personagens, Mundo Estranho, acessando o
O que conta? determinadas
fatos, situações, seguinte QR Code.
De que forma expectativas de
ambientes.
conta? acordo com a
Construção dos
intenção do autor.
sentidos do texto.
O ensino da leitura 37
Livro Em primeiro lugar, precisamos lembrar que a leitura é uma invenção
O livro Sapiens: uma breve muito recente, se comparada ao surgimento da linguagem falada, e por
história da humanidade
é uma leitura esclare- isso mesmo ela não é tão natural para nós quanto a fala. Quando pe-
cedora do advento da quenos, aprendemos a falar por observação, tentativa e aproximação.
linguagem humana e de
sua evolução. Nele, o his- A leitura do mundo acontece da mesma forma. Porém, a leitura das
toriador israelense, Yuval letras precisa de uma sistematização mínima, que depende, na maior
Harari, tenta buscar as
origens dos humanos ao parte das vezes, da mediação de alguém que já conhece o código.
longo de todo o processo
evolutivo.
A leitura, portanto, depende de dois módulos em nosso cérebro,
Módulo visual
Na sala de aula
on
lyg
Jo
em qualquer idade.
Vimos tudo isso apenas como um esboço para termos noção de Disponível em: http://www.dislexia.
org.br/. Acesso em: 14 fev. 2020.
como se processa a leitura em nosso cérebro. É preciso, porém, ter em
O ensino da leitura 39
mente que muitas outras estruturas cerebrais podem estar envolvidas
Livro nesse processo, afinal, temos memórias do que já sabemos, de sím-
O livro Os neurônios da bolos diversos que conhecemos, de outras sensações, como o tato e o
leitura: como a ciência
explica nossa capacidade olfato (também ligados ao prazer de pegar e cheirar um livro novo, por
de ler esclarece de que exemplo), além das emoções que são ativadas por meio de uma leitura.
modo os processos cere-
brais estão relacionados Assim, é interessante pensar que o desenvolvimento da leitura é de
à nossa capacidade de fato muito mais complexo do que pensamos e muito bonito por toda
leitura, além de decifrar
os processos envolvidos a sua maestria.
na dislexia.
Até agora sabemos como a leitura ocorre no cérebro e que ela vai
DEHAENE, S. Porto Alegre: muito além do simples ato de ler letras. Mas e quanto ao uso da leitura?
Penso, 2012.
Deve haver uma função para ela? Segundo Freire (1989), ler é em si um
ato político, pois permite ao leitor que tenha acesso ao mundo simbóli-
co do sistema em que vive. Porém é preciso ter em mente que essa lei-
tura a que ele se refere é a leitura crítica, não apenas o ato de decifrar
palavras no papel. Para ele, ler, seja as letras ou o mundo, depende de
tudo o que já foi aprendido ao longo da história pessoal de cada um.
Desse modo, a leitura crítica e reflexiva seria então a finalidade a ser Atividade 1
perseguida com o processo tanto de alfabetização quanto de letramen- Vimos aqui que a leitura não é
apenas ato de decodificação da
to, para que os alunos sejam leitores fluentes, mas também políticos,
linguagem, mas é também uma
no sentido de cidadão que age sobre a sua condição conscientemente, prática social. O você entende por
buscando o melhor para o seu grupo. leitor-político?
Na sala de aula
O ensino da leitura 41
professor, que tem papel de mediação do processo de leitura. O docen-
te precisa motivar os alunos por meio de atividades e estratégias que
gerem interesse na leitura, despertando o prazer pelas letras. É preciso
conquistar o leitor e demonstrar que ler é uma atividade tão gostosa
quanto as brincadeiras e os videogames.
Dica
Boa parte dos livros didáticos, hoje, já trabalha com a leitura como
Se o docente tiver acesso a livros
didáticos de outras disciplinas, habilidade a ser explorada por todas as disciplinas, em um processo de
uma boa solução é conhecê-los compreensão de que todos os professores são também professores de
e trabalhar em conjunto com leitura em certo nível, e não apenas o docente de Língua Portuguesa.
outros professores de diferentes
áreas para melhorar a leitura Provavelmente o professor de leitura não utiliza apenas o livro didá-
dos alunos.
tico, afinal, a leitura está muito além da sala de aula. Ela está no jornal
assistido, no videogame jogado, nas mensagens trocadas, na HQ lida,
na petição on-line assinada, entre tantos outros textos por aí. Então
nada mais eficaz que trazer todos esses gêneros também para a aula.
Mas, e a literatura? Aquela leitura por prazer? Essa também deve ter
um foco especial, pois é nesse caminho que construiremos o interesse
e o prazer de ler. Porém, não basta que utilizemos livros literários como
forma de se trabalhar temas transversais (embora eles sejam inega-
velmente uma “mão na roda”), precisamos trabalhar a literatura para
além do utilitário, mobilizando todos os níveis de leitura (o sensorial, o
emocional, o racional e o da prática social).
Regem o
funcionamento
automático e
Estudos voltados para
inconsciente do
Estratégias Cognitivas a área de aquisição de
processo de leitura.
São os circuitos linguagem.
cerebrais que ativam a
capacidade de ler.
Regulam as estratégias
conscientes de Estudos sobre o
Estratégias compreensão dos
Metacognitivas trabalho com textos
textos, tanto da
estrutura quanto de em sala de aula.
seus sentidos.
Atividade 2
Vamos nos deter um pouco mais nas estratégias metacognitivas, as
Na sua concepção, com base no
quais, segundo Kato (1990), são aquelas em que o leitor estabelece os
que estudamos aqui, por que é
objetivos para a leitura e o monitoramento da sua compreensão. preciso desenvolver estratégias
de leitura?
As estratégias metacognitivas são responsáveis, portanto, pelo maior
ou menor grau de compreensão que o leitor tem do texto e se referem
ao nosso comportamento leitor. Enquanto lemos, essas estratégias nos
promovem questionamentos como: Será que consigo prestar atenção
e absorver de fato as informações que leio? Preciso retomar pois deixei
passar alguns significados? De que maneira eu retomo essa leitura?
O ensino da leitura 43
que outras” (1990, p. 111). Isso significa que, ao mostrarmos ao aluno
que há informações que guardamos e outras não, começamos a traba-
lhar estratégias metacognitivas de reconhecimento dos níveis de rele-
Livro
vância das informações no texto.
1 2 3
de aula. Veja, a seguir, um resumo delas (1998, p. 73-75):
Observar quais
Levantar
informações de fato
conhecimentos prévios
Questionar e são relevantes no
acerca do tema, do
compreender o porquê texto, tendo em vista
autor, do gênero,
de ler o texto; o objetivo inicial do
do tipo textual e do
motivo que levou à
contexto da obra;
leitura do texto;
4 5 6
Monitorar se a
Relacionar seus compreensão precisa
Inferir interpretações e
conhecimentos prévios de recapitulação, com
hipóteses ao longo do
com a consistência questionamentos como:
texto.
interna do texto; “Compreendi de fato?”
“Isto faz sentido?”;
Antes da leitura
O primeiro passo é motivar os alunos para a leitura, encantá-los Livro
para a atividade.
•• Se a leitura for literária, pode-se criar um cenário, iniciando com
uma música que lembre a trama ou até mesmo um filme breve
que lembre a história que será trabalhada.
•• Outro ponto a ser explorado na pré-leitura são os conhecimen-
tos prévios dos alunos em relação ao gênero e ao assunto.
•• Nesse momento, deve-se trabalhar o propósito da leitura, para
que o aluno possa acessar as estratégias metacognitivas enquan-
O livro Estratégias de
to lê. De acordo com Solé (1998), alguns dos objetivos podem leitura pode lhe ajudar
a conhecer técnicas de
ser: obter determinada informação; seguir instruções; aprender
ensino que promovem a
conceitos novos; obter prazer e diversão; comunicar algo para al- formação de leitores. Ele
guém; e verificar o que se entendeu. traz elucidações sobre
o ensino de leitura, bem
•• O professor também precisa ajudar os alunos a formularem per- como detalha várias das
estratégias resumidas aqui
guntas iniciais que serão respondidas com a leitura, estabelecen-
nesta obra.
do previsões sobre o texto.
SOLÉ, I. Porto Alegre: Penso, 1998.
Durante a leitura
Utilizar leitura em voz alta, revezando os alunos, é interessante, po-
rém não para toda leitura. Quando lemos um texto longo demais em
voz alta, muitos alunos ficam perdidos pelo caminho, ou por não conse-
guirem prestar atenção no colega, ou por já estarem muito adiantados
no texto, e a leitura mais lenta desestimula a continuidade da tarefa.
•• Na leitura compartilhada, é interessante trabalhar a compreen-
são geral de cada segmento importante do texto, bem como pa-
lavras e expressões desconhecidas.
•• Também se pode pedir aos alunos resumos dos segmentos para
verificar se todos estão acompanhando e compreendendo.
•• Nas pausas, também podem ser respondidas às perguntas iniciais
e formuladas novas hipóteses para o prosseguimento do texto.
•• A leitura individual silenciosa é outro ponto importante, e os alu-
nos podem utilizar as estratégias anteriores.
O ensino da leitura 45
Após a leitura
Livro Em todos os momentos, devemos dar voz ao aluno, mas nessa eta-
pa, em especial, precisamos incentivá-lo a construir seus significados
do texto, regulando o que for necessário, mas nunca trabalhando ape-
nas um significado verdadeiro. Esse é um momento para:
•• corroborar ou refutar as hipóteses formuladas anteriormente;
•• solicitar resumo geral da leitura;
•• trabalhar a compreensão da estrutura e sua ligação com os signi-
ficados levantados;
O livro Dinâmicas e jogos •• relacionar a leitura com o contexto social atual e histórico;
para aulas de Língua
Portuguesa apresenta •• recapitular quais partes de fato foram importantes para a
atividades lúdicas para o
compreensão.
trabalho nessa disciplina
e ligadas à leitura em sala
de aula. As propostas en-
Essas são algumas possibilidades para se trabalhar o texto na es-
globam todos os níveis de cola, independente da série e do gênero dos alunos. Com uma pitada
ensino e trazem soluções
simples e práticas para
de criatividade, podemos levar muita motivação para a leitura em sala
auxiliar nas aulas. de aula. Porém, uma coisa é certa, o professor é o primeiro a dar o
SILVA, S.; COSTA, S. Petrópolis: exemplo da leitura. Então, na hora de ler em sala de aula, ele deve
Vozes, 2017.
participar da leitura, “mergulhar de cabeça”, mostrando aos estudan-
tes que vale a pena ler!
Seja como for, não podemos negar que a invenção da imprensa re-
volucionou a forma de ler, passando de uma leitura coletiva para uma
individual e silenciosa. Porém, na era digital, vemos transformação ain-
da maior: ler adquiriu novos sentidos. Isso porque a leitura passou a
ter múltiplos significados construídos por todos os que navegam nes-
sa nova era. Veja, como exemplo, a fanfic, que é um gênero com o qual
pessoas de todo o mundo reconstroem suas narrativas preferidas,
sejam elas impressas ou cinematográficas, em conjunto e em tempo
real. Não há como entender o livro apenas como algo escrito por um
autor para um leitor.
O ensino da leitura 47
Da mesma forma, o livro literário, que passa, ainda, pelo crivo edi-
torial, no qual pode sofrer alterações que melhor indiquem a visão da
editora, na internet tem livre circulação, com sites para publicação gra-
tuita dos chamados e-books.
Em todo caso, o livro impresso traz um rota fixa a ser traçada por
quem lê. Rota escolhida pelo autor e pela editora. Já a leitura em meio
digital permite ao leitor que encontre os caminhos que mais o interes-
sam, sejam eles em código escrito, áudio, vídeo ou imagens. A leitura se
torna, então, hipertextual, permeada pelos hiperlinks, ou links. Ela não
é mais linear, e sim realizada em uma rede de conexões que o leitor
vai construindo ao clicar em outros textos (imagens, vídeos etc.) que
aparecem dentro do texto original.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ler deve ser também um prazer. O mais necessário para se ensinar
leitura é a sensibilidade leitora própria do professor. Ao nos tornarmos
leitores ávidos por novidades e por boas obras, com certeza, atingiremos
outras pessoas.
O ensino da leitura, de fato, dependerá do processo de decodificação,
mas, além disso, deve partir dele para construir sentidos que ampliem
a visão da realidade e instiguem a querer mudá-la, colocando a leitura
enquanto uma atividade também política, permeada por compreensões e
transformações de contexto sócio-histórico.
Além disso, a leitura deve ser pensada como prática social, englobando
o suporte digital e repensando seu uso de maneira crítica para aquisição
do conhecimento e de novas formas de comunicação. Professores preci-
sam criar uma sede de conhecimento em seus alunos, que seja saciada
pela leitura crítica do mundo e das letras.
REFERÊNCIAS
FINKENAUER, L.; SILVA, M. C. Metodologia do ensino da linguagem. Porto Alegre: SAGAH, 2017.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez,
1989.
KATO, M. O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
LOBATO, M. O Minotauro. São Paulo: Brasiliense, 1996.
MARTINS, M. H. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Revista de
Ciências da Educação, v. 23, n. 81. p.143-160, dez, 2002.
SOLÉ, I. Estratégias de leitura. Trad. de Claudia Schilling. 6. ed. Porto Alegre: Penso, 1998.
O ensino da leitura 49
GABARITO
1. Leitor-político é aquele que tem a competência reflexiva e crítica para entender que
as informações acessadas na leitura podem dar novos sentidos à sua forma de olhar
o mundo e a realidade. O leitor-político utiliza essas informações para agir no mundo,
sendo um agente de transformação de seu contexto.
3. Pessoal. Alguns dos perigos podem ser a disseminação de notícias falsas, que prejudi-
cam pessoas, como denúncias sem checar a veracidade do fato, e os alardes da popu-
lação, gerando pânico, seja em caso de violência ou em situações de saúde pública. Há
outros tantos perigos que podemos citar aqui, mas o que precisamos ter em mente
é que informações falsas irão impactar alguém de maneira negativa, mesmo que não
seja o próprio leitor.
Um dia, Marcela combinou de sair com duas amigas que moravam no seu prédio,
mas em andares diferentes. Ao descer e esperá-las no hall por algum tempo, re-
solveu enviar uma mensagem de texto perguntando onde elas estavam. Uma das
amigas, então, respondeu “já descemos”, e a Marcela voltou a perguntar “Cadê vo-
cês? Não estou vendo...”. Quando, finalmente, as amigas se encontraram, passaram
a discutir a informação passada e Marcela descobriu que a intenção de sua amiga
era dizer “já vamos descer” ou “já desceremos”, porém devido a uma conjugação
errada do verbo houve certo transtorno e estranhamento, pois Marcela ficou recla-
mando de ter ficado procurando-as por todo o hall e sua amiga reclamou que ela
não a havia compreendido.
Quadro 1
Planejamentos de escrita
Quadro 2
Modelo de planejamento de escrita
Comédia
Terror
Romance
Campanhas culturais
https://oficinadeescrita.com.br/planejamento-de-escrita/
portamento escritor, o qual envolve a responsabilidade pela comunica- Há uma diferença notável
no significado de redação e
ção daquilo que se quer deixar registrado, além de ser uma simulação produção de texto. A primeira
para a produção de textos, que será usada durante a vida. Cada vez mais, está muito mais voltada àquela
é urgente diminuir a distância entre o que é ensinado e o que é vivido. atividade em que o único
destinatário é o professor, sem
Para isso, é importante considerar o texto como uma unidade de sen- preparação antes da escrita
propriamente dita e que não
tido, ou seja, ideias articuladas entre si, e não aleatórias, a fim de garantir
leva em consideração as
uma mensagem possível de ser entendida pelos interlocutores. Nessa condições de uso da linguagem.
perspectiva, portanto, o texto acaba por revelar a linha e a clareza de Já a segunda requer a presença
de interlocutores determina-
raciocínio de seus alunos, além do domínio de elementos linguísticos.
dos, preza por uma leitura ou
Segundo Bunzen, para que o aluno possa se assumir como locu- discussão prévia para garantir o
conteúdo a ser escrito e envolve
tor, produtor de textos, ele precisa desenvolver cinco competên- práticas de letramento.
cias. São elas:
•• Ter o que dizer.
•• Ter razões para dizer o que tem a dizer.
•• Ter para quem dizer o que tem a dizer.
•• Assumir-se como sujeito que diz o que diz e para quem diz.
•• Escolher estratégias para dizer (BUNZEN, 2006, p. 149)
A – Portal G1
JORNAL
Manchas de óleo no litoral atingem mais de
500 locais no Nordeste e Sudeste.
Balanço do Ibama divulgado nesta quarta-feira (13) mostra que 527 locais em
111 municípios já foram afetados. Quase 70% das cidades do litoral nordesti-
no foram atingidas. Mais de 130 animais foram contaminados.
JORNAL
Da lama ao óleo
Praia que já tinha recebido rejeitos de Mariana (MG) é afetada por
manchas de óleo
Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 13 nov. 2019. Disponível em: https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1650105981850800-da-lama-
ao-oleo. Acesso em: 09 jan. 2020.
Por esse motivo, é importante que o professor leve essa ideia aos
alunos em aulas que tenham como objetivo a produção de textos, pois,
assim como um livro deve passar pelo momento de edição, as produ-
ções textuais também exigem um processo de reescrita, menos formal
que a de livros, mas tão importante quanto.
Conteúdo Forma
do texto do texto
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos, neste capítulo, que produzir textos exige do professor ativida-
des em que os alunos planejem e criem propósitos comunicativos e re-
visem a produção. Qualquer pessoa é capaz de desenvolver o dom de
escrita. Escrever se aprende escrevendo, testando, errando, se colocando
tanto no papel de autor quanto de leitor.
Assim, planejar aulas de produção de textos envolve levar os alunos a
definirem o que, para que e para quem se destina o texto, a fim de pro-
mover uma genuína interação linguística, o que implica não separar as au-
las de práticas de produção textual de situações autênticas de atividades
sociais, as quais os alunos, enquanto cidadãos, enfrentam em grupos de
amigos, família, entre vizinhos ou até mesmo em associações comunitá-
rias ou grupos semelhantes.
É nessa perspectiva que se constrói um percurso de aprendizagem,
em que se desenvolve o conhecimento linguístico do indivíduo, a fim de
se inserir a percepção de diferentes propósitos comunicativos, conforme
o gênero, o público-alvo ou o padrão de determinados grupos sociais.
Saber utilizar a linguagem de acordo com os objetivos de comunicação
postos em determinada situação é o mínimo que um aluno, enquanto pro-
dutor de textos, deve considerar para atingir suas finalidades de escrita.
Outra ação para se incentivar a escrita é utilizar o processo de rees-
crita, o qual significa ir além de simplesmente corrigir um texto, haja vista
que apenas corrigir supõe, de modo geral, compreender o que houve e
quais as razões estabelecidas frente a determinado erro e, a partir dele,
estabelecer critérios para facilitar a passagem de uma etapa à outra. Re-
visar, para poder reescrever, vai além desse processo, porque pode signi-
ficar, também, alterar o texto em aspectos que não estão “errados”, mas,
sim, adequados ou inadequados aos propósitos comunicativos.
REFERÊNCIAS
ANTUNES, I. Aula de português: encontro & interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
BUNZEN, C.; MENDONÇA, M. (orgs.). Português no Ensino Médio e formação do professor.
São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
HEISLER, D. O escritor calmamente espalha... In: MIRANDA, S. Escrever é divertido. Campinas:
Papirus, 2001, p. 1.
GABARITO
1. Pessoal. Espera-se que você volte aos exemplos de planejamento de e-mail e de piada,
na seção Planejamento de escrita, e, com base neles, estabeleça uma aula de planeja-
mento de escrita que considere interlocutor, finalidade, conteúdo e estratégia.
2. Pessoal. Espera-se que você, à luz da análise das manchetes 1 e 2, da seção Construção
do propósito comunicativo, observe a combinação de expressões e escolhas de palavras
para alcançar uma consideração a respeito de quem escreveu aquele texto escolhido
e planeje uma aula que promova esse tipo de busca do aluno frente a um texto.
Simples Composta
Complexa Textual
DISCURSO
Para refletir
Você já pensou sobre o fato de
COGNIÇÃO
que a maioria das pessoas repete
frases já conhecidas em deter-
SOCIEDADE minadas situações? Por exemplo,
quando um casal se casa, a
pergunta que frequentemente
Isso significa que a sociedade se relaciona com determinados discur- escuta é: “E agora, quando terão
sos somente por intermédio da cognição, que permite que diferentes pes- um filho?”. Quando está choven-
do, ouvimos: “Chuva é boa para
soas utilizem um mesmo discurso ao enfrentarem situações semelhantes. ficar em casa”. Você já fez algum
Biderman (2001) afirma que a língua é como se fosse um código. comentário assim? Saiba que, na
maioria das vezes, o discurso que
Desse modo, traduz o mundo e a realidade social de um grupo ou uma falamos ou escrevemos não é de
sociedade, podendo, assim, ser expressa de diferentes maneiras, porém produção original nossa, mas,
sim, uma reprodução de algum
seguindo sua própria gramática e léxico, os quais são dispostos em di-
discurso que vivenciamos durante
ferentes categorias. Tal disposição promove a organização desse códi- nossa vida e que ficou guardado
go, que permite às pessoas que, independentemente do grupo ao qual em nossa memória episódica,
o que faz com que, diante das
pertençam, se expressem no dia a dia. Assim, não é possível pensarmos mais diferentes situações em que
que alguém consiga se socializar ou viver nas mais variadas interações temos de agir, acabamos por lem-
ou instituições sociais sem validar a linguagem daquele lugar ou grupo. brar de algum episódio e reprodu-
zimos algo que foi incorporado
Nessa perspectiva, considera-se, por analogia, que as escolhas le- por meio da cognição.
xicais também se ajustam à realidade na medida em que são recursos
específicos para a linguagem, o que acaba por evidenciar que a eleição
Com que roupa... eu vou? Analisando a escolha lexical feita por Noel Rosa,
Pro samba que você me convidou temos: “esta vida não está sopa” (lexia complexa);
“com que roupa eu vou?” (lexia textual); “paletó”,
[...]
“estopa” (lexias simples); “nem sei mais” (lexia com-
Meu paletó virou estopa
plexa). A música evidencia uma dificuldade com o
Eu nem sei mais com que roupa trecho “pois esta vida não está sopa”, ou seja, a vida
Com que roupa que eu vou... (ROSA) não está fácil e, por isso, seu “paletó virou estopa”,
isto é, está muito desgastado.
Podemos perceber, com isso, que Noel Rosa transmite uma men-
sagem a seus ouvintes, que, por terem conhecimento ou, até mesmo,
estarem passando pelas mesmas dificuldades, sentem-se parte, pron-
tamente, do assunto tratado na música e, consequentemente, repro-
duzirão esse discurso.
Atividade 2
Ensinar a produzir um texto, portanto, significa ensinar o aluno a
Escolha um trecho de uma
música de sua preferência e falar a um determinado público, que pode ser mais ou menos exigente,
tente reconhecer os tipos de mais ou menos formal, haja vista que, de qualquer maneira, teremos
lexia utilizados nela e os efeitos
de sentido. incorporadas à linguagem marcas ideológicas determinadas pela esco-
lha e/ou seleção lexical por um processo de natureza cognitiva.
Para o professor, que deve orientar o aluno para uma melhor utili-
zação da linguagem, fica o desafio de por onde começar e como fazer
para que ele entenda determinados aspectos linguísticos, a fim de evi-
tar que ele apresente os mesmos erros de escrita e aproveite a tecno-
logia sem se prejudicar por práticas ilícitas.
Porém, para que essa etapa possa ser efetivada, é fundamental que
o professor aja como um mediador, elaborando atividades de reflexão
linguística voltadas ao uso da gramática e à análise lexical. É preciso to-
mar cuidado para que o texto seja o principal alvo das mais diferentes
•• Ortografia: é outro item que deve ser revisado, pois um erro de Atividade 3
grafia pode causar uma má impressão, dependendo do contexto
Suponha que você é professor(a)
da comunicação, ou deixar o processo comunicativo falho. de uma turma do ensino médio
e percebeu que um de seus
•• Uso de maiúsculas e minúsculas: é importante se atentar a
alunos não conseguiu, ainda,
esse aspecto, pois, na língua portuguesa, letras maiúsculas ser- dominar o uso de maiúsculas e
vem para marcar substantivos próprios, assim como o início de minúsculas. Como você o corri-
parágrafos, entre outras coisas. O mal-uso desse elemento pode giria? O que é mais importante
nesse contexto, a aplicação de
ocasionar quebra de credibilidade e, até mesmo, desrespeito. regras ou a contextualização
•• Apresentação: é o item que ajuda a identificar o gênero textual. delas na correção do texto?
Por exemplo, ao escrevermos um poema, devemos apresentar
o texto em forma de versos e estrofes. Já ao escrever um conto,
temos que apresentá-lo em forma de prosa.
•• Unidade temática: é o principal item a ser revisado. Deve ser ga-
rantida a partir da compreensão de uma sequência lógica interna
REFERÊNCIAS
ANTUNES, I. Aula de Português: encontro & interação. São Paulo: Parábola editorial, 2003.
BIDERMAN, M. T. C. Teoria linguística: teoria lexical e linguística computacional. 2. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
LAUTENSCHLAGER, L. A cidade maravilhosa além da paisagem. São Paulo: Editora Biblioteca
24 Horas, 2016.
NUNES, J. H. Lexicologia e lexicografia. In: GUIMARÃES, E.; FONTANA, M. (orgs.). A palavra e
a frase. Campinas: Pontes Editores, 2006.
POSSENTI, S. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: ALB/ Mercado de Letras,
1997.
ROCHA, L. C. A. Gramática: nunca mais – O ensino da língua padrão sem o estudo da
gramática. 2. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2007.
GABARITO
1. Saber português significa saber transitar entre os diferentes modos de se comunicar
com alguém; saber gramática significa conhecer as normas que compõem uma língua.
Assim, o ideal é que os alunos saibam português antes de ter domínio da gramática.
A BNCC (BRASIL, 2018) defende essa ideia quando determina que to-
dos os alunos, independente da região brasileira que ocupem, devem ter
direito a produzir conhecimentos, saberes e valores, visando uma socie-
dade mais justa, democrática e inclusiva. E, assim como esse documento
nasceu a partir de várias discussões, reuniões, fóruns, ou seja, várias in-
terações por diferentes regiões brasileiras, a produção de novos conhe-
cimentos em sala de aula deve se dar de modo parecido, no sentido de
que os alunos possam conversar, defender ou refutar ideias e opiniões,
até alcançarem um conceito ou uma perspectiva viável.
Nas redes sociais encontramos cada vez mais textos com caracte-
rísticas digitais e audiovisuais, com os quais as pessoas se conectam
a todo momento, seja pelo celular, tablet ou notebook, em qualquer
lugar. As pessoas interagem várias vezes ao dia, com diversos tipos
de mídia. Portanto, saber interpretar desde um livro impresso até um
vídeo com som, imagem e legenda é o desafio que se coloca para o
ensino de Língua Portuguesa que pretenda ser atual e contribuir para
que o aluno esteja preparado para lidar com qualquer tipo de infor-
mação e interprete, adequadamente, diferentes mensagens.
Para tanto, ressaltamos que a BNCC não só traz a ideia de letra- Atividade 1
mento e multiletramento voltada ao ensino de Língua Portuguesa, mas
Diferencie letramento de multi-
também aborda o letramento matemático, científico, entre outros, o letramento e justifique por que
que nos faz crer que o letramento e o multiletramento são responsabi- é importante viabilizá-los aos
alunos, dentro da sala de aula.
lidade do processo educativo como um todo, e não só da Língua Portu-
guesa, como poderíamos pensar em um primeiro momento ou como
se acreditou durante tantos anos.
Observa-se nesses exemplos que essa divisão não pretende dar aos
mais diferentes gêneros literários uma classificação rígida e estanque,
mas sim oferecer uma função didática que facilite, entre outras coisas,
a percepção de que gêneros textuais podem ser dinâmicos e transitar
entre campos de âmbito pessoal, profissional, artístico ou científico.
Atividade 2
A BNCC (BRASIL, 2018) não incentiva esse tipo de agrupamento
Comente os quatro campos de como um modelo obrigatório a ser seguido pelos currículos ou pro-
atuação apresentados na BNCC
e por meio de que objeto eles gramas educacionais, já que o mais importante é determinar no plane-
podem ser ensinados aos alunos. jamento escolar ou do professor como será viabilizado o processo de
Em seguida, exemplifique.
análise, reflexão, síntese, problematização e pesquisa frente às habili-
dades a serem desenvolvidas no ensino da Língua Portuguesa.
Artigo
https://porvir.org/5-estrategias-para-melhorar-o-trabalho-em-grupo-na-sua-sala-de-aula/
1 6
Construção e utilização Relação do trabalho com
de conhecimentos projeto de vida
2 7
Pensamento científico, Capacidade de
crítico e criativo argumentação
3 8
Práticas culturais Competências Capacidade em lidar com as
diversificadas emoções e cuidar do físico
4 9
Uso de diferentes linguagens Empatia e cooperação
como forma de comunicação
5 10
Cultura digital Responsabilidade e cidadania
Do mesmo jeito que nas outras etapas, essas ações podem ser fa-
cilitadas pelo uso das tecnologias, as quais, no ensino médio, também
devem ser aprofundadas no domínio, cada vez mais por parte dos alu-
nos e dos professores, afinal é fundamental que os professores saibam
transitar por entre as mais diferentes tecnologias digitais, na mesma
proporção do aluno ou até mais, para que possam fazer mediações
efetivas e garantir o avanço deles.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Base Nacional Comum Curricular é um documento que apresenta
um conjunto de conhecimentos e habilidades, que giram em torno de dez
competências gerais e estimulam a prática interdisciplinar. Ela considera
a Língua Portuguesa como um componente curricular essencial para o
ensino de diferentes linguagens e objetiva que os alunos identifiquem a
dinamicidade e a transformação delas ao longo do tempo, por meio de
práticas de análise linguística.
Em qualquer que seja a prática de ensino e aprendizagem viabilizada
na escola, o uso de tecnologias da informação e comunicação é sempre
bem-vindo, desde que de maneira ética e reflexiva. Isso significa que se
deve evitar o uso de tecnologias como um meio de substituição de práti-
cas antigas do ensino da linguagem, pois deve ser adotado como meio de
reflexão e inovação.
Assim sendo, ensinar gramática não deve ser um mero exercício
de decorar conceitos linguísticos, mas de análise de contextos e de
uso de elementos que ajudem no processo de comunicação e, nesse
sentido, as tecnologias passam a ser uma ferramenta de auxílio, na
medida em que editores de texto, por exemplo, ajudam a identificar
erros de grafia e concordância.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
versaofinal_site.pdf. Acesso em: 14 fev. 2020.
JOLIBERT, J.; SRAÏKI, C. Caminhos para aprender a ler e a escrever. São Paulo: Contexto, 2008.
LEVENTHAL, L. I. Inglês é teen. Barueri: DISAL, 2009.
NO BRASIL, mais da metade da população adulta não tem ensino médio. Gazeta do Povo,
Curitiba, 19 jun. 2019. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/no-brasil-
mais-da-metade-da-populacao-adulta-nao-tem-ensino-medio/. Acesso em: 14 fev. 2020.
NOGUEIRA, F. Defasagem do Ensino Médio vem do Ensino Fundamental 2. Nova Escola, São
Paulo, 25 set. 2019. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/18388/defasagem-
do-ensino-medio-vem-do-fundamental-2. Acesso em: 14 fev. 2020.
OLIVEIRA, Z. R. et al. Planejar práticas pedagógicas: princípios e critérios. In: OLIVEIRA, Z.R
(org). O trabalho do professor na educação infantil. São Paulo: Editora Biruta, 2012.
SILVA, Maurício. Um gramático na berlinda: as polêmicas em torno de Júlio Ribeiro e seus
estudos sobre a linguagem. Conhecimento Prático Língua Portuguesa, v. 01, p. 42-47, 2015.
GABARITO
1. Letramento diz respeito à prática da compreensão tanto daquilo que se faz quanto
daquilo que se está aprendendo. Já o multiletramento significa a presença de dife-
rentes vozes nos textos utilizados para compartilhar informações. Propiciar o desen-
volvimento dessas práticas na sala de aula contribui para que os alunos desenvolvam
criticidade, argumentação e compreensão de diferentes gêneros textuais.
3. Pessoal. A partir do exemplo oferecido sobre o texto dos animais, o professor pode
fazer a mesma atividade com o uso de outros temas que estão acontecendo na
atualidade, por exemplo, epidemias, depressão nos jovens brasileiros etc. A partir
do tema determinado, o professor pode pedir aos alunos que façam uma pesquisa
sobre o assunto e produzam um podcast (uma espécie de programa de rádio grava-
do), simulando uma entrevista entre um entrevistador e um biólogo ou um médico
psiquiatra, por exemplo.
Sabemos que apesar de durante anos essa ter sido a ideia defendida
de uma boa atividade de Língua Portuguesa, hoje tal método de ensino
não funciona mais. Os alunos da atualidade não têm mais paciência para
“seguir modelos” preestabelecidos pelo professor nem repetir conjuga-
ção de verbos, muito menos copiar textos da lousa.
Iesde
Figura 1
Charge: País (pais) sem Menina, me dá
controle. esse controle aqui!
Logo, a crítica nesse texto é formada pelo humor que pretende de-
nunciar um fato econômico de que recursos básicos sobem de preço
demasiadamente, sem pensar em pessoas que não têm condições sufi-
cientes para mantê-los. Assim, essa alta de preços “foge do controle” do
consumidor. Além disso, mesmo aquele cidadão que tem suas contas
Observe que essa charge ainda faz alusão a três fatos que são bas-
tante corriqueiros dentro de uma casa: a perda de um controle re-
moto, seja ele de uma televisão, de um aparelho de DVD ou de outro
equipamento qualquer; a falta de controle dos pais sobre seus filhos,
o que também acaba sendo um problema social; e o descontamento
de uma população, frente aos problemas enfrentados pela sociedade.
Diante disso, fazemos, na charge, a leitura da perda do controle físico,
do controle dos pais sobre as crianças e do controle do país, pelos
fatos noticiados na TV.
Leitura A terceira parte dessa atividade pode ser planejada com o objetivo
A dissertação A charge – de o aluno analisar a relação entre textos, prática esta que exige um
funcionamento e efeitos
de sentido em atividades
conhecimento maior de mundo, além de facilitar a análise de contex-
escolares: leitura, pesquisa tos de produção de discursos, o que significa buscar pistas acerca dos
e produção textual pode
lhe ajudar a saber mais
motivos que levaram àquela produção, os quais podem ser de cunho
sobre como analisar efeitos político, esportivo, educacional, familiar etc. Enfim, há uma gama de
de sentido em charges, a
forma de funcionamento
situações que podem levar um colunista ou um autor a reproduzir de-
delas e como propiciar terminados tipos de conteúdo.
reflexões por parte dos alu-
nos frente às características Existe uma foto que, aproximadamente entre os anos de 2017 e 2019,
desse gênero textual.
viralizou nas redes sociais, intitulada “a melhor selfie do mundo”, e con-
DAGOSTIM, C. G. Tubarão, 2009. 113f.
siste em duas crianças pequenas, com roupas “surradas”, uma descalça
Dissertação (Mestrado em Ciências
da Linguagem) - Universidade do e a outra com um chinelo simples, fazendo de conta que estão tirando
Sul de Santa Catarina. Disponível em:
uma selfie. O problema é que ao invés de estar segurando um celular ou
http://www.dominiopublico.gov.
br/download/texto/cp127191.pdf. qualquer outro dispositivo digital, uma das crianças está segurando um
Acesso em: 14 jan. 2020.
chinelo com a sola voltada para si.
Contrariando o que foi considerado como fato por muito tempo, Atividade 3
aparelhos tecnológicos devem fazer parte da sala de aula, visto que, Descreva três benefícios que o
uso da tecnologia pode trazer às
atualmente, é evidente o quanto eles podem auxiliar no processo de
aulas de Língua Portuguesa.
ensino e aprendizagem dos alunos, estes que estão cada vez mais
conectados à internet, obtendo informações e testando a praticidade
em ações de pesquisa, busca de informações, aquisição de novos co-
nhecimentos e aprendizado de novas linguagens, como a tecnológica
e a computacional.
Perceba que uma atividade como essa não precisaria nada mais do
que um celular ou um tablet, que são instrumentos, quase sempre, viáveis
na sala de aula. Assim, já não podemos mais estar alheios a esse tipo de
ensino nem impedir que a tecnologia ultrapasse os muros da escola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É por meio da consideração de concepções pedagógicas, que qualifi-
quem o aluno como um ser ativo e interativo, e do uso de novas tecnologias
que podemos planejar uma atividade de linguagem e de avaliação, a fim
de desenvolver nos estudantes diferentes capacidades de análise de uso
de linguagens multissemióticas, com base na mobilização de modelos dis-
cursivos, com intenção de desenvolver as habilidades descritas na BNCC
(que objetivam o desenvolvimento de capacidades linguístico-discursivas).
Assim, considerando que o ensino de Língua Portuguesa deve corro-
borar para a formação de um sujeito que tenha à disposição mecanis-
mos cognitivos e linguísticos suficientes para a resolução de problemas
novos, o professor deve possibilitar ou avaliar livros didáticos com base
na apresentação de propostas que garantam o vínculo desse tipo de co-
nhecimento com situações cotidianas que conduzam a reflexões acerca
da estrutura linguística.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2017.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_
versaofinal_site.pdf. Acesso em: 14 fev. 2020.
HARGROVE, R. Colaboração Criativa. São Paulo: Cultrix, 2006.
MATTAR, J. Metodologias ativas: para a educação presencial, blended e a distância. São
Paulo: Artesanato Educacional, 2017.
POSSENTI, S. Os humores da língua: análises linguísticas de piadas. Campinas: Mercado de
Letras, 1998.
SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. Os gêneros escolares: das práticas de linguagem aos objetos
de ensino. Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade de Genebra, jan.
1999. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/237513754_Os_generos_
escolares_Das_praticas_de_linguagem_aos_objetos_de_ensino. Acesso em: 14 fev. 2020.
GABARITO
1. Avaliar, no ensino de Língua Portuguesa, significa ser capaz de interpretar e relacionar
textos formando juízos de valor sobre determinado tema de maneira crítica e cons-
ciente. Dois aspectos que não podem faltar no processo de avaliação são a busca pelo
contexto de produção e a análise da intertextualidade, pelo fato de que ajudam a ver
um mesmo assunto por diferentes pontos de vista.