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L C

LINGUAGENS
E CÓDIGOS

U.T.I.nica de Imersão
Unidade Téc
1
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino. São Paulo, 2018
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Autores
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Eder Carlos Bastos de Lima
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Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

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CARO ALUNO

Você está recebendo o primeiro caderno da U.T.I. (Unidade Técnica de Imersão) do Hexag Vestibulares. Este material
tem o objetivo de verificar se você aprendeu os conteúdos estudados nos livros 1 e 2, oferecendo-lhe uma seleção
de questões dissertativas ideais para exercitar suas memória e escrita, já que é fundamental estar sempre pronto a
realizar as provas de 2ª fase dos vestibulares.
Além disso, este material também traz sínteses do que você observou em sala de aula, ajudando-lhe ainda
mais a compreender os itens que, eventualmente, não tenham ficado claros e a relembrar os pontos que foram
esquecidos.
Aproveite para aprimorar seus conhecimentos.

Bons estudos!

Herlan Fellini
ÍNDICE
GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO 5
LITERATURA 25
OBRAS LITERÁRIAS 47
INGLÊS 63
REDAÇÃO 71
U.T.I. 1

Gramática e
interpretação de texto
Funções da linguagem
Toda comunicação apresenta uma variedade de funções, sendo uma dominante, de acordo com o enfoque que
o destinador/emissor quer dar ou do efeito que quer causar no destinatário/receptor. Cada uma das funções da
linguagem estará mais centrada em um desses elementos:
1. Emissor – emite a mensagem, codificando-a em palavras.
2. Receptor – recebe a mensagem e a decodifica, ou seja, apreende a ideia.
3. Referente – aquilo que é comunicado, o conteúdo da comunicação.
4. Código – sistema linguístico escolhido para a transmissão e recepção da mensagem.
5. Mensagem – contexto em que se encontram o emissor e o receptor.
6. Canal – meio pelo qual a mensagem é transmitida.
As funções da linguagem são as seguintes:
§§ Emotiva ou expressiva – centralizada no emissor, ressalta sua opinião, trata das emoções; prevalece a 1a
pessoa do singular (eu), interjeições e exclamações; é a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas
e cartas de amor.
§§ Referencial – centralizada no referente, pois o emissor oferece informações da realidade; objetiva, direta,
denotativa, prevalecendo a 3a pessoa do singular (ele/ela); é a linguagem usada nos textos científicos, arte
realista, notícias de jornal.
§§ Conativa ou apelativa – centralizada no receptor; o emissor procura influenciar o comportamento do
receptor; como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso da 2a pessoa do singular (tu), do pronome
de tratamento você ou do nome do próprio receptor, além de vocativos e imperativos; usada nos discursos,
sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor.
§§ Fática – utilizada para testar o canal, para manter o contato físico ou psicológico com o interlocutor.
§§ Metalinguística – é a linguagem utilizada para falar da própria linguagem; a linguagem como fazer ar-
tístico; põe em evidência a forma da mensagem, ou seja, preocupa-se mais em “como dizer” do que com
“o que dizer”.
§§ Poética – usada para diferenciar o texto pela forma. Há certa dificuldade de se chegar ao conteúdo. A
poesia, por definição, é considerada uma função poética.

Variação linguística
Variações linguísticas são as peculiaridades que a língua adquire com o tempo em função do seu uso por comuni-
dades específicas.

Tipos de variação
Variação por contexto de conversação

Conforme a situação em que nos encontramos ao falar ou escrever, mudamos o nosso trato com a linguagem. A
cada instante, utilizamos a língua de uma maneira particular, uma vez que nos adaptamos ao contexto em que
estamos. Isso significa que precisamos dominar várias modalidades do português.

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Variação por origem geográfica do falante

Pelo fato de ser falada em várias regiões, a língua portuguesa apresenta grandes variações regionais que modifi-
cam o vocabulário utilizado, na forma como as palavras são pronunciadas e até na ordem em que elas aparecem
em uma oração. Por exemplo, a leguminosa conhecida por muitos como aipim recebe o nome de mandioca ou
macaxeira em muitas outras regiões do Brasil.

Variação por idade do falante

A idade do falante é também um aspecto importante nos estudos de variação linguística, que está relacionado ao
fato de as línguas variarem de acordo com o passar do tempo. O português nem sempre foi como é atualmente,
portanto, pessoas de idades diferentes aprenderam a falar em épocas diferentes e apresentam um modo de falar
que reflete essa variação.

Variação por aspectos sociais

A classe social à qual pertence o falante é um aspecto que pode estar intimamente interligado ao seu grau de
escolaridade, ou seja, determinada situação social pode influenciar a variação linguística dos falantes.

Linguagem formal versus linguagem informal


§§ Norma culta/padrão: é a denominação dada à variedade linguística dos membros da classe social de maior
prestígio dentro da classe literária. Não se trata da única forma correta.
§§ Linguagem informal/popular: é a denominação dada à variedade linguística utilizada no cotidiano, e que
não exige a observância total da gramática.

Língua falada versus língua escrita


§§ Língua falada/oral: dispõe de um número incontável de recursos rítmicos e melódicos – entonação, pau-
sas, ritmo, fluência, gestos – porque, claro, o emissor (pessoa que fala ou transmite uma mensagem numa
dada linguagem) está presente fisicamente.
§§ Língua escrita: recorre a sinais de pontuação e de acentuação para exprimir os recursos rítmicos e meló-
dicos da oralidade.

Semântica: elementos de análise


Sinonímia
§§ Ocorre sinonímia quando temos palavras com significados idênticos ou muito semelhantes a outras.
Exemplos: cão = cachorro; jerimum = abóbora.
§§ A sinonímia tem forte relação com a paráfrase (possibilidades de se reconstruir uma frase ou texto com
outras palavras similares) e ajuda nos processos de coesão textual (por meio de sinônimos, evitamos a
repetição de termos em um texto).

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Antonímia
§§ Ocorre antonímia quando temos palavras com significados contrários a outras.
Exemplos: bonito ≠ feio; alto ≠ baixo.

Homonímia
Ocorre homonímia quando temos palavras de grafias iguais ou pronuncias iguais, mas com significados diferentes.
Isso nos dá três tipos de homônimos:

1. Homônimo homófono heterógrafo (pronúncia igual – escrita diferente).


Exemplo: acento (marca gráfica de tonalidade); assento (local para se sentar).
2. Homônimo homógrafo heterófono (escrita igual – pronúncia diferente).
Exemplo: jogo (substantivo); jogo (verbo).
3. Homônimo homófono homógrafo (pronúncia igual – escrita igual).
Exemplo: rio (substantivo); (eu) rio (verbo).

Paronímia
Temos parônimos quando as palavras são muito parecidas, mas o sentido geral é diferente.
Exemplo: comprimento (largura) × cumprimento (saudação)
Exemplo: discriminar (separar) × descriminar (absolver)

Polissemia
Temos polissemia em palavras que preservam sua classe gramatical, mas que possuem significados múltiplos.
Exemplo: natureza (meio ambiente) × natureza (essência de algo)
Exemplo: banco (local onde se senta) × banco (instituição financeira)

Hiperonímia e hiponímia
São fenômenos que operam relações de abrangência entre palavras (que englobam outras ou que são englobadas).
As palavras que englobam são conhecidas como hiperônimos; as englobadas, como hipônimos.
Exemplo: “Comprei um bacalhau para preparar na Semana Santa. Esse peixe é bastante salgado.” (Peixe
é uma palavra mais abrangente, que dá conta de bacalhau e de outros diversos peixes, portanto, podemos
afirmar que peixe e hiperônimo de bacalhau, e bacalhau é hipônimo de peixe.)

Denotação e conotação
É dentro do campo da semântica que verificamos também os processos de denotação e conotação, fenômenos
linguísticos que nos permitem entender a amplitude de significação existente em nossa língua ou, em termos mais
claros, é o estudo da denotação e da conotação que nos permite perceber o quanto os significados podem variar
por conta do interesse dos interlocutores.

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Vejamos alguns exemplos:
§§ Filho, você tem que comer todo seu jantar, ou não terá sobremesa.
§§ O piloto fez o adversário comer poeira.
É possível perceber nas frases apresentadas que o verbo “comer” foi usado com dois sentidos diferentes.
Na primeira, temos comer sendo usado na sua acepção mais comum, que é alimentar-se. Já no segundo caso,
temos o verbo comer sendo usado para “figurar” a ideia de alguém comendo poeira, mas não porque isso esteja
ocorrendo de verdade, e sim porque se tenta passar a ideia de que o piloto passou tão rápido pelo adversário, que
levantou poeira, e quem está atrás a teria “comido”.
No primeiro caso, a palavra comer foi usada em seu sentido dito literal, ou o sentido padrão (primeiro)
dessa palavra. Quando isso ocorre, temos uma palavra em sentido denotativo. Já no segundo exemplo, o verbo
comer foi usado em sentido figurado, tentando figurar/representar uma situação (alguém comendo poeira). Quan-
do isso ocorre, temos uma palavra em sentido conotativo.

Os sons da fala e a acentuação


Regras de acentuação
Monossílabas – levam acento agudo ou circunflexo as palavras monossílabas terminadas em:
§§ a(s) – já; lá; vás
§§ e(s) – fé; lê; pés
§§ o(s) – pó, dó; pós

Oxítonas – são as palavras que possuem a última sílaba tônica. Levam acento agudo ou circunflexo as palavras
oxítonas terminadas em:
§§ a(s) – vatapá; carajás; cajás
§§ e(s) – você; café; cafunés
§§ o(s) – jiló; avô; carijós
§§ em/ens – também; ninguém; armazéns
Obs.: leva acento agudo ou circunflexo a forma verbal terminada em “a”, “e” e “o” tônicos, seguidas de
“la(s)” e “lo(s)”. Exemplos: movê-lo; fá-los; sabê-lo-emos.

Paroxítonas – são as palavras que possuem a penúltima sílaba tônica. Levam acento agudo ou circunflexo as
palavras paroxítonas terminadas em:
§§ i(s) – júri; lápis; tênis
§§ us – vênus; vírus; ônus
§§ r – caráter; revólver; mártir
§§ l – útil; amável; têxtil
§§ x – tórax; fênix; ônix
§§ n – éden; hífen; líquen
§§ um/uns – álbum; álbuns; médium
§§ ão(s) – órgão; órgãos; órfão
§§ ã(s) – órfã; ímã; irmãs
§§ ps – bíceps; fórceps
§§ on(s) – rádon; rádons

Proparoxítonas – são as palavras que possuem a antepenúltima sílaba tônica. Todas as palavras proparoxítonas
levam acento agudo ou circunflexo.

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Regras especiais
1. Ditongos abertos: são sempre acentuadas as palavras oxítonas e monossílabas com os ditongos abertos
grafados “éis”, “éu(s)” ou “ói(s)”. Exemplos: anéis; herói; chapéu.
Obs: não são acentuadas as palavras paroxítonas com os ditongos abertos “ei” e “oi”, uma vez que existe
oscilação em muitos casos entre a pronúncia aberta e fechada e foram alteradas pelo acordo ortográfico.
Exemplos: assembleia; proteico; alcaloide.

2. Regra dos hiatos: levam acento agudo o “i” e “u”, quando:


§§ s ão tônicos
§§ formam hiato com vogal anterior;
§§ estão sozinhos ou acompanhados de “s”;
§§ não estão seguidos de “nh”.
Exemplos: viúva; raízes (raiz); faísca.
Obs.: as regras dos hiatos antecedem as outras regras.

3. Acento diferencial de algumas palavras


A 3a pessoa de alguns verbos se grafa da seguinte maneira:
§§ quando termina em “em” (monossílabas).
Exemplos: tem/têm; vem/vêm.
§§ quando termina em “ém”.
Exemplos: contém/contêm; convém/convêm.
Obs.: algumas palavras são acentuadas não em razão de sua tonicidade, mas sim pela necessidade de
diferenciarmos seu significado.
Exemplo: Este é o garoto de que lhe falei. QUE > pronome relativo
Exemplo: Aquela menina tem um quê de mistério. QUÊ > substantivo

Formação de palavras
Basicamente, as palavras da língua portuguesa são formadas pelos processos de composição e derivação, mas
também por onomatopeia, neologismo e hibridismo.

Formação por composição


Nos processos de formação de palavras por composição ocorre a junção de dois ou mais radicais. Palavras com
significados distintos formam uma nova palavra com um novo significado.
Exemplo: guarda (flexão do verbo guardar; sentinela) + roupa (vestuário) = guarda-roupa (mobiliário).
São dois os processos de formação por composição:

§§ C omposição por justaposição: quando não ocorre a alteração fonética das palavras. A justaposição
também pode ocorrer por hifenização.
Exemplos: girassol (gira + sol); guarda-chuva (guarda + chuva).
§§ Composição por aglutinação: quando ocorre alteração fonética, em decorrência da perda de elementos
das palavras.
Exemplos: aguardente (água + ardente); embora (em + boa + hora).

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Formação por derivação
No processo de formação por derivação, a palavra primitiva (primeiro radical) sofre acréscimo de afixos. São cinco
os tipos de formação por derivação:
§§ D
erivação prefixal: acréscimo de prefixo à palavra primitiva.
Exemplo: in-capaz

§§ D
erivação sufixal: acréscimo de sufixo à palavra primitiva.
Exemplo: papel-aria

§§ Derivação parassintética: acréscimo simultâneo de prefixo e sufixo à palavra primitiva.


Exemplo: en-triste-cer

§§ D
erivação regressiva: ocorre redução da palavra primitiva. Nesse processo, formam-se substantivos abs-
tratos por derivação regressiva de formas verbais. São também conhecidos como substantivos deverbais.
Exemplo: ajuda (substantivo abstrato da derivação regressiva do verbo ajudar)

§§ D
erivação imprópria: ocorre a alteração da classe gramatical da palavra primitiva.
Exemplos: (o) jantar – de verbo para substantivo; (um) Judas – de substantivo próprio para comum

Neologismo é o nome dado ao processo de criação de novas palavras ou palavras da própria língua por-
tuguesa que adquirem um novo significado.
Exemplos: Originalmente, a palavra bonde significava certo veículo utilizado como meio de transporte.
Hoje, na variedade linguística utilizada por falantes inseridos no estilo do funk carioca, foi dado um novo significa-
do para a palavra bonde: turma, galera. É comum formar verbos a partir de palavras do meio da informática, como
googlar (procurar no Google), twittar (escrever no Twitter) ou resetar (de reset).
O grande escritor brasileiro João Guimarães Rosa, em sua literatura, criou tantos neologismos, que existe um
dicionário para todas as palavras inventadas por ele, o Dicionário Rosiano.

Artigo, substantivo e adjetivo


Artigo
O artigo é a palavra que se antepõe a um substantivo (é um marcador pré-nominal), com a função inicial de
determiná-lo ou indeterminá-lo. São classificados em dois grupos: definidos e indefinidos.

§§ Artigos definidos: determinam o substantivo de maneira precisa. São eles: o(s), a(s).
Exemplo: Preciso que você me traga a cadeira branca.
(O artigo definido marca a necessidade de se pegar uma cadeira determinada.)

§§ Artigos indefinidos: determinam o substantivo de maneira vaga/imprecisa. São eles: um(uns), uma(s).
Exemplo: Preciso que você me traga uma cadeira branca.
(O artigo indefinido marca a necessidade de se pegar uma cadeira qualquer, indeterminada.)

Substantivo
É a classe de palavras variável que dá nome aos seres, objetos e coisas em geral.

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Adjetivo
É a palavra que acompanha e modifica o substantivo, podendo caracterizá-lo ou qualificá-lo.

Nomes substantivos e nomes adjetivos


No contexto de uma frase, é possível identificar palavras de outras classes, dentre elas os adjetivos, que se trans-
formam em nomes (substantivos) desde que precedidas de um artigo.
Exemplo: o jovem desempregado > um desempregado jovem

Verbos
Formas nominais do verbo
O infinitivo, o particípio (regular e irregular) e o gerúndio são chamados formas nominais do verbo porque podem
funcionar como nomes – substantivo, adjetivo.
§§ Infinitivo
O comer demais faz mal. (substantivo); O viver é bom. (substantivo)
§§ Gerúndio
Ela bebeu chá fervendo. (advérbio); Fervendo, desligue. (advérbio)
§§ Particípio
Problema resolvido. (adjetivo); A feira foi inaugurada. (adjetivo)

Modos verbais
Os modos verbais traduzem a intencionalidade com que se emprega a forma verbal. São classificados em indicativo
(fato), subjuntivo (desejo, hipótese) e imperativo (ordem, apelo).
§§ Indicativo: apresenta o fato real, positivo, de maneira convicta.
Exemplo: Elas gostam de correr.
§§ Subjuntivo: apresenta um fato provável, desejável ou duvidoso.
Exemplo: Quando for o momento, talvez eu jogue.
§§ Imperativo: manifesta uma ordem, conselho, súplica, exortação do emissor. Pode ser afirmativo ou negativo.
Exemplo: Se beber, não dirija!

Tempos verbais
Tempos do modo indicativo
1. Presente
§§ Indica processo no momento da fala: Faço minhas escolhas. (atualmente, agora)
§§ Indica processo habitual, constante, fato real, verdade: Ela cumpre seus acordos. (ação habitual)
§§ Indica processo ocorrido até o momento da declaração: Moro com meus colegas.
§§ Em narrativas históricas (presente histórico), em lugar do pretérito perfeito: Colombo chega à América
e, em 1492, conquista o Novo Mundo.
§§ Em acontecimento próximo no lugar do futuro: Não posso almoçar contigo amanhã.
§§ Em expressões condicionais (se...), em lugar do subjuntivo: Se tudo corre bem, podemos viajar.
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2. Pretérito perfeito
§§ Indica um processo, algo já realizado, concluído, terminado, sem necessidade de referência a outra ação
anterior nem contemporânea: João saiu ontem. / Fiz as compras. / Cheguei.
§§ Indica processo ocorrido antes da declaração expressa pelo verbo: Em 1939, Hitler invadiu a Polônia.
§§ É frequente o emprego do pretérito perfeito composto (presente do indicativo do verbo auxiliar ter ou
haver + particípio do verbo principal): Eu tenho lido bastante.

3. Pretérito imperfeito
§§ Indica um processo ocorrido anteriormente ao momento da declaração, mas contemporâneo a outro fato
passado: Eu ouvia samba, quando se deu o estouro./ Ele comia, quando da sua chegada.
§§ É empregado para indicar processo em desenvolvimento: Eu dançava, quando ele entrou.
§§ Indica processo em continuidade, habitual, constante, frequente: Eu residia nesta casa.
§§ Indica processo idealizado, não realizado: Pretendíamos ir à Bahia, mas o frio repentino não permitiu.
§§ Como manifestação de cortesia, de polidez em lugar do presente do indicativo ou do imperativo: Queria
só um abraço.
§§ Em lugar do futuro do pretérito do indicativo: Se ele pagasse, já estávamos (em vez de estaríamos) na França.

4. Pretérito mais-que-perfeito
§§ Indica uma ação passada, um fato concluído que aconteceu antes de outro fato (ambos no passado): O
trem partira quando ele enfim chegou.
§§ Em construções exclamativas: Quem lhe dera tê-la nos braços naquela tarde!
§§ Em lugar do pretérito imperfeito do subjuntivo: Nadou como se estivera (estivesse) à beira da morte.

5. Futuro do pretérito
§§ Exprime ação futura em relação ao passado, ação que teria ocorrido em relação a um fato já ocorrido no
passado: Eu iria, se você chegasse a tempo.
§§ Designa ações posteriores à época em que se fala: Ainda ficaria. Esperaria a noite. (Marques Rabelo)
§§ Designa incerteza, probabilidade, dúvida, suposição sobre fatos passados: Seriam mais ou menos dez
horas quando chegaram. (Lobato)
§§ Forma polida de presente para denotar um desejo: Eu precisaria namorar aquela moça.

6. Futuro (do presente)


§§ Indica a ação ainda não ocorrida, mas já declarada pelo verbo: Ora (direis) ouvir estrelas!/ E eu vos direi:
amai para entendê-las! (Olavo Bilac)
§§ Indica certeza de uma ação futura: Se não voltarmos em algumas horas, teremos perdido a oportunidade.
§§ Empregado para indicar um fato aproximado ou para enfatizar uma expressão: Na África, quantos não
estarão mortos de fome!
§§ É frequente o emprego do futuro do presente composto (futuro do presente do verbo auxiliar ter ou
haver + particípio do verbo principal): Quando você chegar, eu já terei ido.
§§ Indica ação futura a ser consumada antes de outra: Quando o guarda chegar, já teremos fugido.
§§ Indica possibilidade de um fato passado: Terá passado o fura dentro de oito dias cão? (Ciro dos Anjos)

Tempos do modo subjuntivo

1. Presente
Expressa hipótese, desejo, suposição, dúvida: Tomara que você tenha boas festas! / Bons ventos o levem!
2. Pretérito imperfeito
É empregado nas orações subordinadas da oração principal, em que o verbo esteja no pretérito imperfeito
do indicativo: Ela desejava que todos morressem. / Esperei que eles fizessem os trabalhos direito. / Aprecia-
ria que você me beijasse.

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3. Pretérito mais-que-perfeito (composto)
Verbo auxiliar ter ou haver no pretérito imperfeito do subjuntivo, seguido do particípio do verbo principal:
Imaginei que ele tivesse trazido a grana (fato anterior a outro, ambos no passado).
4. Futuro simples
Designa fato provável, eventualidade futura: Quando ela vier, encontrará uma bagunça.

5. Futuro composto
Verbo auxiliar ter ou haver no futuro do subjuntivo, seguido do particípio do verbo principal. Designa fato
futuro como encerrado em relação a outro também no futuro: Só deixarei esta casa, quando ele tiver trazido
todos os meus pertences. / Quando eu tiver encontrado o vestido, avisarei a você.

Vozes verbais
O fato expresso pelo verbo pode ser representado em três formas, em três vozes.

§§ As crianças beijam os pais. Fato (beijam) praticado pelo sujeito (crianças) = verbo na voz ativa.
§§ Os pais são beijados pelas crianças. = verbo na voz passiva.
§§ João cortou-se com o machado. O sujeito (João) é alvo, sofre sua própria ação (cortou-se) = verbo na voz
reflexiva.

Voz passiva analítica


A voz passiva analítica sempre é formada por tempos compostos – ser + verbo principal transitivo direto –, bem
como com os verbos auxiliares ter e haver.
§§ Têm sido (foram) alugadas muitas mansões em Brasília.

Voz passiva sintética


Formada com o verbo principal transitivo direto na voz ativa, na terceira pessoa do singular ou do plural, acompa-
nhado da partícula apassivadora se.
§§ Aluga-se casa / Alugam-se casas; Compra-se apartamento / Compram-se apartamentos; Persuadem-se alu-
nos com muito empenho.

Formação do imperativo
Imperativo afirmativo Afirmativo Negativo Presente do subjuntivo
EU – – – –
TU comes comes! não comas (ainda que) comas
ELES come coma! não coma! (ainda que) coma
NÓS comemos comamos! não comamos! (ainda que) comamos
VÓS comeis comeis! não comais! (ainda que) comeis
ELES comem que vós ameis! não comam! (ainda que) comam

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Pronomes
Pronome é um tipo de palavra variável (modifica-se em gênero e número) que exerce funções variadas: pode
substituir um nome, pode fazer referência a esse nome ou, ainda, pode acompanhá-lo num processo qualificativo.
a) Pronomes pessoais
Os pronomes pessoais são aqueles que substituem os substantivos. Nesse movimento eles acabam por
evidenciar as pessoas do discurso. Quando temos de designar a pessoa que fala (1ª pessoa), usamos os
pronomes eu e nós. Para marcar as pessoas a quem nos dirigimos (2ª pessoa), usamos tu, vós e você(s).
Já para apontar para pessoas de quem se fala (3ª pessoa), utilizamos ele(s) e ela(s).
De acordo com o posicionamento nos processos sintáticos, os pronomes pessoais podem funcionar como:
§§ Caso reto: são pronomes pessoais que, em uma construção sintática, ocuparão a posição de sujeito
ou de predicativo do sujeito.
Exemplo: Eu fiquei bastante chateado.
§§ Caso oblíquo: são pronomes pessoais que, em uma construção sintática, ocuparão a posição de com-
plemento verbal (objeto direto ou indireto) ou complemento nominal.
Exemplo: Compraram-nos alguns presentes. (O pronome é complemento do verbo comprar.)
b) Pronomes possessivos
São pronomes que transmitem à pessoa gramatical a ideia de posse de alguma coisa.
Exemplo: Este dinheiro é meu.
Exemplo: Olha aí! É o meu guri. (Chico Buarque)
c) Pronomes demonstrativos
São utilizados para evidenciar o posicionamento de uma palavra em relação a outras palavras, ou em rela-
ção a um contexto. Esses eventos se dão em relações espaciais e temporais (as relações discursivas ficarão
reservadas para as aulas de sintaxe de pronomes).
Os pronomes demonstrativos dividem-se em dois grupos: os variáveis e os invariáveis.
§§ Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aquela(s).
§§ Invariáveis: isto, isso, aquilo.
§§ Relações espaciais
Exemplos:
§§ Pegarei esta caneta (aqui). (O pronome esta indica que, espacialmente, a caneta está perto de quem
fala.)
§§ Pegue essa caneta (aí). (O pronome essa indica que, espacialmente, a caneta está perto de quem ouve.)
§§ Pegue aquela caneta (ali/lá). (O pronome aquela indica que, espacialmente, a caneta está afastada dos
interlocutores.)
§§ Relações temporais
Exemplos:
§§ Este é um ano em que a crise apertou bastante. (O pronome este indica, temporalmente, um tempo
bastante próximo, no caso, o ano presente.)
§§ Esse ano que passou deixou boas lembranças. (O pronome esse indica, temporalmente, um tempo
de curta distância, mas não tão próximo como o exemplo anterior.)
§§ Aquele ano foi bastante próspero. (O pronome aquele indica, temporalmente, um tempo localizado
em um passado distante.)
Observação: também podem funcionar como pronomes demonstrativos, eventualmente, os prono-
mes o(s) e a(s), quando estiverem posicionados antes de um “que”, e puderem ser substituídos
por aquele(s), aquela(s) e aquilo.
Exemplo: Não vi o que aconteceu. = Não vi aquilo que aconteceu.

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d) Pronomes indefinidos
São palavras que fazem referência à terceira pessoa do discurso, dando-lhe caráter indeterminado, vago ou
impreciso.
Exemplo: Alguém quebrou os copos da minha cristaleira.
Percebe-se que o termo “alguém” refere-se a uma terceira pessoa (pessoa de quem se fala), mas não
somos capazes de lhe atribuir identidade (a informação é vaga, imprecisa).
e) Pronomes relativos
São aqueles que recuperam nomes anteriormente mencionados, estabelecendo com estes relação.
Exemplo: A escola tem um calendário que possui muitos feriados.
No exemplo apresentado, o pronome “que” recupera o substantivo calendário (o antecedente).

Observação: os pronomes “que”, “o qual”, “os quais”, “a qual” e “as quais” são equivalentes, com o
detalhe de que o “que” é invariável, cabendo em qualquer circunstância, e os demais necessitarão de um
substantivo já determinado.
Exemplo: Esta é a garota com a qual conversei.

Observação: para evitar ambiguidades e outros problemas de sentido, o pronome relativo “onde” deve
ser utilizado para recuperar lugares físicos/localidades (regiões, cidades, ambientes etc.).
Exemplo: Este é o armazém onde estocamos os produtos.

Observação: o pronome relativo “cujo” não realiza a recuperação de um antecedente, mas aponta para
uma relação de posse com o consequente.
Exemplo: Este é o livro cuja página meu filho rasgou.

Observação: o pronome “quem” faz referência a pessoas e vem sempre precedido de preposição.
Exemplo: Aquele é o sujeito a quem devo muito dinheiro.

f) Pronomes interrogativos
São pronomes utilizados nas formulações de perguntas diretas ou indiretas. Fazem referência direta aos
pronomes de 3ª pessoa. Os principais pronomes interrogativos são “que”, “quem”, “qual” e “quanto”
(e suas variações). Entende-se como pergunta direta aquela em que o pronome interrogativo é colocado
no início do questionamento (temos sinal de interrogação ao final da pergunta). Já a pergunta indireta é
aquela em que o pronome interrogativo aparece em outra posição na frase, que não o começo (não há sinal
de interrogação).
Exemplos.: Quanto custou a reforma da casa? Gostaria de saber quanto custou a reforma da casa.

g) Pronomes substantivos × pronomes adjetivos


§§ Entende-se por pronome substantivo aquele que substitui o substantivo ao qual faz referência.
Exemplo: Aquilo o deixou constrangido. = A situação o deixou constrangido.
§§ Entende-se por pronome adjetivo aquele que acompanha um substantivo, atribuindo-lhe caracterís-
ticas.
Exemplo: Este carro é bastante potente.
Observação: a classificação dos pronomes em substantivos ou adjetivos não exclui as classificações de
origem desses elementos.

17
U.T.I. - Sala
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Casamento

Há mulheres que dizem:


Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como ‘este foi difícil’
‘prateou no ar dando rabanadas’
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
(PRADO, Adélia. Casamento. In: MORICONI, Ítalo. Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.)

1. (G1 - cp2 2010) Considere o verso a seguir.


“ele fala coisas como ‘este foi difícil’” (v. 8)
A que se refere o pronome “este”?

2. (Unicamp) Acaba de chegar ao Brasil um medicamento contra rinite. O anti-inflamatório em spray


Nasonex diminui sintomas como nariz tampado e coriza. Diferente de outros medicamentos, é
aplicado uma vez por dia, e em doses pequenas. Estudos realizados pela Schering-Plough, laborató-
rio responsável pelo remédio, mostram que ele não apresenta efeitos colaterais, comuns em outros
medicamentos, como o sangramento nasal. "O produto é indicado para adultos e crianças maiores
de 12 anos, mas estuda-se a possibilidade de ele ser usado em crianças pequenas", diz o alergista
Wilson Aun, de São Paulo.
(ISTO É, 04/11/98)

a) Segundo o texto, quais seriam as vantagens do uso de Nasonex em relação a produtos congêneres?
b) O objeto de que trata este texto é chamado, sucessivamente, de "medicamento", "anti-inflamatório",
"remédio" e "produto". Qual desses termos é o que tem o sentido mais geral, e qual o mais específico?
c) Duas das palavras indicadas em (b) podem ser consideradas sinônimas. Quais são elas?

3. (Fuvest) Leia o seguinte texto, para atender ao que se pede:

CONVERSA DE ABRIL
É abril, me perdoareis. Estou completamente cansado. Retorno à aldeia depois de três dias de galo-
pe de jipe pelas estradas confusas de caminhões e poeira e explosões. Tenho no bolso um caderno
de notas. Quereis que vos descreva essas montanhas e vales, e o que fazem os seres humanos neste
tempo de primavera? Deixai-me estirar o corpo na cama; depois tiro as botas. Ouvi-me. As monta-
nhas, já vos descreverei as montanhas.
Rubem Braga*

*Rubem Braga foi correspondente de guerra junto à FEB, Força Expedicionária Brasileira, durante
a Segunda Guerra Mundial.
O fragmento acima pertence a uma de suas crônicas desse período.
a) Reescreva o seguinte trecho, dando-lhe características narrativas e empregando a terceira pessoa do
plural, em lugar da segunda:
“Tenho no bolso um caderno de notas. Quereis que vos descreva essas montanhas e vales, e o que
fazem os seres humanos neste tempo de primavera?”
b) Tendo em vista as informações contidas no excerto, o início do texto – “É abril” – é coerente com o
emprego do pronome este, em “neste tempo de primavera”? Explique.

18
4.

Jogos de imagens e palavras são característicos da linguagem de história em quadrinhos. Alguns


desses jogos podem remeter a domínios específicos da linguagem a que temos acesso em nosso
cotidiano, tais como a linguagem dos médicos, a linguagem dos economistas, a linguagem dos
locutores de futebol, a linguagem dos surfistas, dentre outras. É o que ocorre na tira de Laerte,
acima apresentada.

a) Transcreva as passagens da tira que remetem a domínios específicos e explicite que domínios são esses.
b) Levando em consideração as relações entre imagens e palavras, identifique um momento de humor na
tira e explique como é produzido.

5. Leia o texto e responda às questões

Ator do filme 'Pantera Negra' vai ao cinema ver as reações da plateia

O ator Michael B. Jordan entrou escondido em uma sessão para entender como o público está re-
agindo ao filme.

O filme Pantera Negra (2018) está fazendo o maior sucesso mundo a fora. Então, o ator Michael B.
Jordan, que interpreta o vilão Erik Killmonger, para entender como o público estava reagindo ao
longa-metragem, foi escondido a uma sessão de estreia(1) num cinema americano e conferiu se o
novo sucesso estava agradando a todos.

O ator confessou ao portal americano ET que curtiu bastante a experiência. “Honestamente, to-
dos estavam rindo, gritando com a tela, entende? Os suspiros, as frases de efeito, tudo estava
funcionando então foi maravilhoso ver ao lado da audiência – não era uma première, não era
uma junket. Eles estavam engajados e interagindo com o filme, então foi legal de ver”, disse em
entrevista ao site.

Sucesso no Brasil

No Brasil, o filme Pantera Negra estreou na semana passada e já levou mais de 1,6 milhão de pes-
soas às salas de cinema(2) de todo o país(3). Com isso, conseguiu arrecadar mais R$ 30 milhões em
apenas uma semana.

Pantera Negra foi bastante elogiado porque foge dos estereótipos ao ter o primeiro herói(4) negro
da Marvel. O longa, também faz críticas ao racismo e até ao presidente americano Donald Trump.
Além disso, retrata o continente africano como um lugar de muita riqueza e avanço tecnológico(5).
(http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2018/02/21/
interna_diversao_arte,661109/ator-de-pantera-negra-vai-ao-cinema.shtml)

a) Descreva, de forma sucinta, as regras de acentuação que envolvem as seguintes palavras em destaque
no texto: estreia (ref.1), país (ref.3) e herói (ref.4).
b) De acordo com a gramática normativa, pode se dizer que os elementos em destaque nas expressões
“salas de cinema (ref.2)” e “avanço tecnológico (ref.5)” exercem função morfológica similar. Identifi-
que que função serie essa e justifique a informação.

19
U.T.I. - E.O. fora assassinado e outra pessoa o substituí-
ra, que os trinta figos originais tinham sido
substituídos por outros figos, que a cesta
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: foi levada a um destinatário diferente, que
o novo destinatário não sabia de nenhum
No começo de seu Mercury; ou: O Mensageiro amigo ansioso por lhe mandar figos. Mesmo
Secreto e Rápido (1641), John Wilkins conta assim seria possível concluir o que a carta
a seguinte história: estava dizendo? Entretanto, temos o direi-
to de supor que a reação do novo destinatá-
O quanto 1essa arte de escrever pareceu es-
rio seria algo do tipo: “Alguém, e Deus sabe
tranha quando da sua invenção primeira é
quem, mandou-me uma quantidade de figos
algo que podemos imaginar pelos america-
menor do que o número mencionado na car-
nos recém-descobertos, que ficaram espanta-
ta que os acompanha.” Vamos supor agora
dos ao ver homens conversarem com livros,
que não apenas o mensageiro tivesse sido
e não conseguiam acreditar que um papel morto, como também que seus assassinos
pudesse falar... tivessem comido todos os figos, destruído a
Há um relato excelente a esse propósito, re- cesta, colocado a carta numa garrafa e a ti-
ferente a um escravo índio; que, ao ser man- vessem jogado no oceano, de modo que fosse
dado por seu Senhor com uma cesta de figos encontrada setenta anos depois por Robin-
e uma carta, comeu durante o percurso uma son Crusoé. Não havia cesta, nem escravo,
grande parte de seu carregamento, entre- nem figos, só uma carta. Apesar disso, apos-
gando o restante à pessoa a quem se desti- to que a primeira reação de Robinson Crusoé
nava; que, ao ler a carta e não encontrando teria sido: “Onde estão os figos?”
a quantidade de figos correspondente ao que [Adaptado de ECO, Umberto. Interpretação e
se tinha dito, acusa o escravo de comê-los, superinterpretação.
dizendo que a carta afirmava aquilo contra São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 47-49]
ele. Mas o índio (apesar dessa Prova) negou
o fato, acusando o papel de ser uma teste- 1. (PUC-RJ)
munha falsa e mentirosa. a) Explique o mal-entendido que levou o escra-
Depois disso, sendo mandado de novo com vo a supor que o papel poderia “ver” os seus
um carregamento semelhante e uma carta atos.
expressando o número exato de figos que b) O parágrafo final do constrói-se principal-
deviam ser entregues, ele, mais uma vez, mente com hipóteses e suposições. Explique
de acordo com sua prática anterior, devorou como isso se reflete na escolha de tempos e
uma grande parte deles durante o percurso; modos verbais ali presentes.
mas, antes de comer o primeiro (para evi-
tar as acusações que se seguiriam), pegou a TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
carta e a escondeu sob uma grande pedra,
assegurando-se de que, se ela não o visse co- Estamos comemorando a entrega de mais de
mer os figos, nunca poderia acusá-lo; mas, mil imóveis. São mais de 1000 sonhos rea-
sendo agora acusado com muito mais rigor lizados. Mais de oito imóveis são entregues
do que antes, confessou a falta, admirando a todo dia. Quer ser o próximo? Então vem
divindade do papel e, para o futuro, prome- para a X Consórcios. Entre você também para
te realmente toda a sua fidelidade em cada o consórcio que o Brasil inteiro confia.
(Texto de anúncio publicitário, editado.)
tarefa.
Poder-se-ia dizer que um texto, depois de
separado de seu autor (assim como da inten- 2. (Fgv) Há quebra da uniformidade de tra-
ção do autor) e das circunstâncias concretas tamento no emprego das formas verbais
de sua criação (e, consequentemente de seu "quer" e "vem".
referente intencionado), flutua (por assim a) Em qual pessoa verbal essas formas estão
dizer) no vácuo de um leque potencialmente conjugadas?
infinito de interpretações possíveis. Wilkins b) Reescreva o trecho - Quer ser o próximo? En-
poderia ter objetado que, no seu relato, o se- tão vem para a X Consórcios - compatibilizan-
nhor tinha certeza de que a cesta menciona- do o tratamento com a sequência do texto.
da na carta era a mesma levada pelo escravo,
que o escravo que a levara era exatamente o 3. (UFRJ) TERRA EM CHAMAS
mesmo a quem seu amigo dera a cesta, e que Com seu privilégio territorial, o Brasil ja-
havia uma relação entre a expressão “30” es- mais deveria ter o campo conflagrado. Exis-
crita na carta e o número de figos contidos tem 371 milhões de hectares prontos para
na cesta. Naturalmente, bastaria imaginar a agricultura no país, uma área enorme,
que, ao longo do caminho, o escravo original que equivale aos territórios de Argentina,

20
França, Alemanha e Uruguai somados. Mas TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
apenas 14% dessa terra, igual à Alemanha,
tem algum tipo de plantação. Outros 48%, Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu
área quase igual à do México, destinam-se à pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito
criação de gado. O que sobra, uma África do depois da Vereda-do-Frango-d’Água e de ou-
Sul inteira, é o que os especialistas chamam tras veredas sem nome ou pouco conhecidas,
de terra ociosa. Nela não se produz 1 litro de em ponto remoto, no Mutum. No meio dos
leite, uma saca de soja, 1 quilo de batata ou Campos Gerais, mas num 1covoão em trecho
um cacho de uva. Por trás de tanta terra à- de matas, terra preta, pé de serra.
-toa esconde-se outro problema agrário bra- Miguilim tinha oito anos. Quando completa-
sileiro. Quase metade da terra cultivável está ra sete, havia saído dali, pela primeira vez:
nas mãos de 1 % dos fazendeiros, enquanto
o Tio Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela,
uma parcela ínfima, menos de 3%, pertence
a 3,1 milhões de produtores rurais. É como para ser crismado no Sucuriju, por onde o
se a população da cidade de Resende, no bispo passava. Da viagem, que durou dias,
interior do Estado do Rio de Janeiro, fosse ele guardara aturdidas lembranças, emba-
dona de três Franças, enquanto a população raçadas em sua cabecinha. De uma, nunca
da Nova Zelândia tivesse apenas um Estado pôde se esquecer: alguém, que já estivera
de Santa Catarina. no Mutum, tinha dito: – “É um lugar bonito,
(...) entre morro e morro, com muita pedreira e
(...) Juntando tanta terra na mão de pou- muito mato, distante de qualquer parte; e lá
cos e vastas extensões improdutivas, o Brasil chove sempre...”
montou o cenário próprio para atear fogo ao Mas sua mãe, que era linda e com cabelos
campo. É aí que nascem os conflitos, que nos pretos e compridos, se doía de tristeza de ter
últimos quinze anos, só em chacinas, fize- de viver ali.
ram 115 mortos. Daí surge a massa de sem- Queixava-se, principalmente nos demorados
-terra, formada tanto por quem perdeu seu meses chuvosos, quando carregava o tem-
pedaço para plantar como pela multidão de po, tudo tão sozinho, tão escuro, o ar ali
excluídos, desempregados ou biscateiros da era mais escuro; ou, mesmo na estiagem,
periferia das grandes cidades, que são, de qualquer dia, de tardinha, na hora do sol
uma forma ou de outra, gente também liga- entrar. – “Oê, ah, o triste recanto...” – ela
da à questão da terra - porque perdeu a pro- exclamava. Mesmo assim, enquanto esteve
priedade, porque não choveu, porque o pai fora, só com o Tio Terêz, Miguilim padeceu
vendeu a fazenda, porque ela foi inundada tanta saudade, de todos e de tudo, que às ve-
por uma represa. zes nem conseguia chorar, e ficava sufocado.
(VEJA. "Sangue em Eldorado". SP Editora Abril, E foi descobrir, por si, que, umedecendo as
Edição 1441/Ano29/ N0. 17.24/04/96. p.40.) ventas com um tico de cuspe, aquela aflição
um pouco aliviava. Daí, pedia ao Tio Terêz
Atenção – vocabulário: que molhasse para ele o lenço; e Tio Terêz,
conflagrado (1º. período) – em agitação, em quando davam com um riacho, um 2mina-
convulsão douro ou um poço de grota, sem se apear do
cavalo abaixava o copo de chifre, na ponta
Um dos aspectos do problema tematizado em de uma correntinha, e subia um punhado
"Terra em chamas" está discutido no seguin- d’água. Mas quase sempre eram secos os ca-
te trecho: minhos, nas chapadas, então Tio Terêz tinha
"O que sobra, uma África do Sul inteira, é o uma cabacinha que vinha cheia, essa dava
que os especialistas chamam de TERRA OCIO- para quatro sedes; uma cabacinha entrelaça-
SA. Nela não se produz 1 litro de leite, uma da com cipós, que era tão formosa. – “É para
saca de soja, 1 quilo de batata ou um cacho beber, Miguilim...” – Tio Terêz dizia, caçoan-
de uva. Por trás de tanta TERRA À-TOA es- do. Mas Miguilim ria também e preferia não
conde-se outro problema agrário brasileiro." beber a sua parte, deixava-a para empapar o
a) Aponte a diferença de sentido entre "terra lenço e refrescar o nariz, na hora do arrocho.
OCIOSA" e "terra À-TOA", no trecho destaca- Gostava do Tio Terêz, irmão de seu pai.
do. Quando voltou para casa, seu maior pensa-
b) O emprego da expressão "terra À-TOA", em mento era que tinha a boa notícia para dar
confronto com a expressão "terra ociosa", à mãe: o que o homem tinha falado – que o
manifesta a função emotiva (ou expressiva) Mutum era lugar bonito... A mãe, quando ou-
da linguagem. visse essa certeza, havia de se alegrar, ficava
Explique por quê. consolada. Era um presente; e a ideia de po-
der trazê-lo desse jeito de cor, como uma sal-
vação, deixava-o febril até nas pernas. Tão
grave, grande, que nem o quis dizer à mãe na

21
presença dos outros, mas INSOFRIA por ter se achar tão sujo e doente, com o envelheci-
de esperar; e, assim que pôde estar com ela do olhar numa espécie de súplica.
só, abraçou-se a seu pescoço e contou-lhe, 03 Até o fim da vida guardarei seu olhar
estremecido, aquela revelação. no meu coração. Até o fim da vida sentirei
GUIMARÃES ROSA esta humana infelicidade de nem sempre
Manuelzão e Miguilim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. poder socorrer, neste complexo mundo dos
homens.
Vocabulário: 04 Então, o triste cãozinho reuniu todas as
ref. 1: covoão – baixada estreita e profunda suas forças, atravessou o patamar, sem ne-
ref. 2: minadouro – olho d’água, quase sem- nhuma dúvida sobre o caminho, como se fos-
pre nascente de um córrego ou de um ribei- se um visitante habitual, e começou a descer
rão as escadas e as suas rampas, com as plantas
em flor de cada lado, as borboletas incertas,
4. (UERJ) Guimarães Rosa se caracteriza pela lin- salpicos de luz no granito, até o limiar da
guagem instigante que encanta e desconcerta, entrada. Passou por entre as grades do por-
permitindo ao leitor familiarizar-se com o po- tão, prosseguiu para o lado esquerdo, desa-
tencial criativo da Língua Portuguesa. pareceu.
05 Ele ia descendo como um velhinho an-
Observe o fragmento do texto:
drajoso, esfarrapado, de cabeça baixa, sem
“Tão grave, grande, que nem o quis dizer à
firmeza e sem destino. Era, no entanto, uma
mãe na presença dos outros, mas INSOFRIA
forma de vida. Uma criatura deste mundo
por ter de esperar;”
de criaturas inumeráveis. Esteve ao meu al-
Aponte o significado do prefixo da palavra cance; talvez tivesse fome e sede; e eu nada
destacada e explicite, em uma frase comple- fiz por ele; amei-o, apenas, com uma carida-
ta, o sentido dessa palavra. de inútil, sem qualquer expressão concreta.
Deixei-o partir, assim humilhado, e tão dig-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: no, no entanto, como alguém que respeito-
samente pede desculpas de ter ocupado um
UM CÃO, APENAS lugar que não era seu.
06 Depois pensei que nós todos somos, um
01 Subidos, de ânimo leve e descansado dia, esse cãozinho triste, à sombra de uma
passo, os quarenta degraus do jardim – plan- porta. E há o dono da casa, e a escada que
tas em flor de cada lado; borboletas incer- descemos, e a dignidade final da solidão.
tas; salpicos de luz no granito –, eis-me no (MEIRELES, Cecília. ILUSÕES DO MUNDO: CRÔNICAS.
patamar. E a meus pés, no áspero capacho Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 16-17)
de coco, à frescura da cal do pórtico, um
cãozinho triste interrompe o seu sono, le- 5. (UFC) Cecília Meireles escreveu: "Eu não lhe
vanta a cabeça e fita-me. É um triste cãozi- DIGO nada..." (parágrafo 01)
nho doente, com todo o corpo ferido; gastas, a) Acrescentando apenas um prefixo ao verbo
as mechas brancas do pelo; o olhar dorido em maiúsculo na frase anterior, forme ou-
e profundo, com esse lustro de lágrima que tros cinco verbos que lhe sejam cognatos.
há nos olhos das pessoas muito idosas. Com b) Escolha QUATRO destes verbos e escreva uma
um grande esforço acaba de levantar-se. Eu frase com cada um dos escolhidos, observan-
não lhe DIGO nada; não faço nenhum gesto. do a conjugação adequada.
Envergonha-me haver interrompido o seu
sono. Se ele estava feliz ali, eu não devia ter 6. (PUC-RJ) TEXTO 1
chegado. Já que lhe faltavam tantas coisas, Várias situações que presenciei ao longo des-
que ao menos dormisse: também os animais ses anos me fizeram refletir bastante sobre
devem esquecer, enquanto dormem... o melhor modo de analisar a racionalidade
02 Ele, porém, levantava-se e olhava-me. de uma cultura diferente da nossa – no meu
Levantava-se com a dificuldade dos enfer- caso, de algumas nações indígenas brasilei-
mos graves: acomodando as patas da frente, ras.(...)
o resto do corpo, sempre com os olhos em Minha primeira investida na busca da ra-
mim, como à espera de uma palavra ou de cionalidade waimiri-atroari foi com os silo-
um gesto. Mas eu não o queria vexar nem gismos. Iniciei explicando "como o branco
oprimir. Gostaria de ocupar-me dele: chamar pensa" (para eles os não índios são denomi-
alguém, pedir-lhe que o examinasse, que nados brancos, independente da raça), mos-
receitasse, encaminhá-lo para um tratamen- trando alguns silogismos clássicos e outros
to... Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é tão do cotidiano deles, como por exemplo: "Todo
longe. E era preciso passar. E ele estava na índio waimiri-atroari caça com arco e flecha,
minha frente inábil, como envergonhado de Marcelo é um waimiri-atroari, logo Marcelo

22
caça com arco e flecha". Isto era mais que TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
natural para eles, pois Marcelo é um profes-
INSTRUÇÃO: A questão a seguir toma por
sor waimiri-atroari e todos sabiam que ele
base as primeiras quatro estrofes da Canção
caçava com arco e flecha.
do Tamoio, do poeta romântico Antônio Gon-
Quando solicitei que construíssem silogis- çalves Dias (1823-1864) e o Hino do Depu-
mos, obtive frases do tipo: "Todo waimiri- tado, do poeta modernista Murilo Monteiro
-atroari pesca pirarucu, Pedrinho caça, logo Mendes (1901-1975).
Davi é casado". Todas as afirmações são
verdadeiras, mas não seguem um caminho CANÇÃO DO TAMOIO
lógico para o silogismo. Acredito que o que
significou para eles um silogismo eram ver- I
dades que conhecem. Foram incapazes de Não chores, meu filho;
construir silogismos descontextualizados de Não chores, que a vida
suas realidades. É luta renhida:
FERREIRA, Eduardo Sebastiani. "Racionalidade Viver é lutar.
dos índios brasileiros". In: "Scientific American A vida é combate,
Brasil". Etnomatemática, n0. 11, pp. 90-93. Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos,
TEXTO 2
Só pode exaltar.
Ao estudar a língua dos Hopi, no que hoje é
o Arizona, Whorf observou que ela era pri- II
vada de estruturas temporais. Os verbos, por Um dia vivemos!
exemplo, não tinham formas para designar O homem que é forte
eventos no passado. Mesmo as metáforas Não teme da morte;
linguísticas que criassem uma conexão entre Só teme fugir;
espaço e tempo – como "a certo ponto" ou No arco que entesa
"um longo período de tempo" – inexistiam. Tem certa uma presa,
Essa característica exercia efeitos decisivos Quer seja tapuia,
sobre o pensamento dos índios: seria res- Condor ou tapir.
ponsável por uma visão de mundo "atempo-
ral". III
Essa tese da atemporalidade, porém, foi re- O forte, o cobarde
futada. O linguista Ekkehart Malotki descre- Seus feitos inveja
veu em "Hopi time" as nuanças com que a De o ver na peleja
língua consegue descrever o tempo. Há mais Garboso e feroz;
de 200 expressões hopi para o tempo – (...) E os tímidos velhos
como ontem, hoje, cedo ou tarde, passando Nos graves concelhos,
por períodos do dia, meses e estações do ano Curvadas as frontes,
até um diferenciado sistema de suplementos Escutam-lhe a voz!
verbais que permitem a descrição precisa de
um curso de eventos. Porém, com sua visão IV
errônea da língua Hopi, Whorf ironicamen- Domina, se vive;
te proveu a melhor prova para a hipótese da Se morre, descansa
Dos seus na lembrança,
relatividade linguística. Provavelmente ele
Na voz do porvir.
não descobriu as diversas definições de tem-
Não cures da vida!
po porque procedeu sua análise a partir da
Sê bravo, sê forte!
visão de mundo e com as expectativas de um
Não fujas da morte,
falante europeu.
Que a morte há de vir!
JAGER, Ludwig. "A palavra cria o mundo". In: "Viver. (GONÇALVES DIAS, Antônio. Obras Poéticas. Tomo II. São
Mente e Cérebro", Agosto, 2005, ano XIII, n0. 151, p. 51. Paulo: Companhia Editora Nacional, 1944, p. 42-43.)

a) De acordo com a leitura dos textos 1 e 2,


qual é o "melhor modo de analisar a raciona- HINO DO DEPUTADO
lidade de uma cultura diferente da nossa"? Chora, meu filho, chora.
b) Na língua portuguesa, as formas verbais Ai, quem não chora não mama,
expressam, entre outras coisas, o "curso de
eventos" no tempo. No primeiro parágrafo Quem não mama fica fraco,
do texto 2, o futuro do pretérito tem outro Fica sem força pra vida,
emprego. Transcreva essa forma verbal, indi- A vida é luta renhida,
cando seu emprego. Não é sopa, é um buraco.

23
Se eu não tivesse chorado a) Explique o título do curta-metragem.
Nunca teria mamado, b) Identifique pelo menos duas possibilidades
Não estava agora cantando, de leitura de "SUA obra" e justifique cada
Não teria um automóvel, uma delas.
Estaria caceteado,
Assinando promissória,
Quem sabe vendendo imóvel 9. (Unicamp) Em 28/11/2003, quando muito
A prestação ou sem ela, se noticiava sobre a reforma ministerial, a
Ou esperando algum tigre
Que talvez desse amanhã, "Folha de S. Paulo" publicou uma matéria
Ou dando um tiro no ouvido, intitulada "Lula sugere que Walfrido e Ag-
Ou sem olho, sem ouvido, nelo ficam".
Sem perna, braço, nariz.
Considerando as relações entre as palavras
Chora, meu filho, chora, que compõem o título da matéria, justifique
Anteontem, ontem, hoje, o uso do verbo "ficar" no presente do indi-
Depois de amanhã, amanhã. cativo.
Não dorme, filho, não dorme,
Se você toca a dormir 1
0. (Unicamp) Millôr Fernandes, considerado
um dos maiores humoristas brasileiros, es-
Outro passa na tua frente,
creveu o texto "Leite, quéqué isso?" em sua
Carrega com a mamadeira.
coluna no Caderno 2, no jornal O ESTADO DE
Abre o olho bem aberto,
S. PAULO de 22/08/99. A seguir, está um ex-
Abre a boca bem aberta,
certo desse texto. Leia-o com atenção e res-
Chore até não poder mais.
(MENDES, Murilo. "História do Brasil, XLIII". ponda:
In: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro:
Editora Nova Aguilar, 1994, p. 177-178.) Vocês, que têm mais de 15 anos, se lembram
quando a gente comprava leite em garrafa,
7. (Unesp) A palavra em estado de dicionário na leiteria da esquina? Lembram mais lon-
representa apenas um conjunto de possibi- ge, quando a vaca-leiteira, que não era vaca
lidades de significação, que se atualizam ou coisa nenhuma, era uma caminhonete-de-
não conforme os contextos em que é empre- pósito, vinha vender leite na porta de casa?
gada pelo falante ou pelo escritor. Ciente Lembram mais longe ainda, quando a gente
deste fato: ia comprar leite no estábulo e tinha aquele
a) explique a diferença de sentido que há entre cheiro forte de bicho, de bosta e de mijo,
o emprego do verbo "chorar" na "Canção do que a gente achava nojento e só foi achar
Tamoio" (versos 1 e 2) e no "Hino do Depu- genial quando aprendeu que aquilo tudo era
tado" (versos 1, 2, 20 e 29);
ecológico? Lembram bem mais longe ainda,
b) sem deixar de levar em consideração o con-
quando a gente mesmo criava a vaca e pe-
texto do poema de Murilo Mendes, interpre-
gava nos peitinhos dela pra tirar o leite dos
te o verso "Carrega com a mamadeira".
filhos dela, com muito jeito pra ela não nos
dar uma cipoada?
8. (Unicamp) Em sua coluna na "Folha Ilustra-
Mas vocês não lembram de nada, pô! Vai ver
da", Mônica Bergamo comenta sobre o curta-
nem sabem o que é vaca. Nem o que é lei-
-metragem previsto para ser lançado em no-
te. Estou falando isso porque agora mesmo
vembro de 2003 – "Um Caffé com o Miécio".
peguei um pacote de leite – leite em paco-
Transcrevemos parte da coluna a seguir:
te, imagina, Tereza! – na porta dos fundos
Quando ouvia a trilha sonora do curta "Um e estava escrito que é pausterizado, ou pas-
Caffé com o Miécio", que Carlos Adriano fi- teurizado, sei lá, tem vitamina, é garantido
naliza sobre o caricaturista, colecionador pela embromatologia, foi enriquecido e o
de discos e estudioso Miécio Caffé (1920- escambau.
-2003), Caetano Veloso se encantou por uma a) A palavra "embromatologia" soa como um
música específica. Era a desconhecida mar- termo técnico, mas não é. Diga por que pa-
chinha "A Voz do Povo", de Malfitano e Fra- rece e por que não é.
zão, que Orlando Silva gravou em 1940, cuja b) O texto mostra que a moda pode afetar nos-
letra diz "QUE raiva danada que eu tenho do sos gostos. Em que passagem isso aparece?
povo, que não me deixa ser original". "É um c) As informações técnicas que acompanham
manifesto, como SUA obra", disse o músico muitos produtos não necessariamente escla-
baiano ao cineasta paulistano. recem o consumidor, mas o impressionam.
(Adaptado de Mônica Bergamo, "Folha Transcreva a passagem do texto em que o
de S. Paulo", 11/10/2003, p. E2). autor alude a esse problema.

24
U.T.I. 1

Literatura
Preliminares: antiguidade clássica
Grécia e Roma
§§ Sociedade materialista;
§§ Mitologia voltada para o entendimento do ser humano;
§§ Ser humano, como centro das atenções;
§§ Arte é a forma de explicar o mundo, exaltando o ser humano;
§§ Gregos valorizavam o SER e Romanos, o EXISTIR.

Trovadorismo
Contexto histórico
§§ Idade Média (século XII–XIV);
§§ Formação dos países europeus e de suas línguas;
§§ Reconhecimento do reino de Portugal, no ano de 1179;
§§ Feudalismo;
§§ Teocentrismo (Deus como centro do Universo / motivo de tudo);
§§ Sociedade com estamentos estáticos: o clero (os padres = homens de oração), a nobreza e a cavalaria (po-
der mundano e defesa militar) e os servos (o povo = trabalhadores).

Produções
A maioria das manifestações artísticas medievais tem como objetivo convencer as pessoas do temor a Deus e
submetê-las à soberania da Igreja. Teatro, pintura, escultura e literatura, enfim, a arte servia para ensinar religião
e comportamento.
§§ Trovador – do francês trouver (encontrar) – quem compõe a cantiga, isto é, encontra a música que se
encaixa no poema.
§§ Cantigas – poemas escritos em redondilhas (versos de cinco ou sete sílabas poéticas) acompanhados de
música. Eram escritas por homens, pois as mulheres não tinham esse direito.
A cantiga mais antiga de que se tem notícia é a “Cantiga da Ribeirinha”, escrita por Paio Soares de Taveirós
em 1189 ou 1198.
Dividem-se em dois grupos:
a) Poesia lírica: a que fala de sentimentos; relaciona-se à LIRA, instrumento utilizado desde a Antiguidade.
cantigas de amor cantigas de amigo
eu-lírico masculino, pobre eu-lírico feminino, pobre
amor impossível saudade
poucos refrãos muitos refrãos
ausência de paralelismo paralelismo
linguagem refinada (amor cortês) linguagem popular
submissão à dama grau de igualdade
“mulher idealizada” (vassalagem amorosa) “mulher atrevida”
coita d’amor amor correspondido
origem em Provença, sul da França península Ibérica (galega)

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b) Poesia satírica: sátira e crítica a pessoas ou instituições sociais, censura dos males da sociedade ou
dos indivíduos, quase tudo com tom humorístico.
Cantigas de escárnio Cantigas de maldizer
Crítica sutil Crítica direta
Linguagem ambígua e velada Linguagem direta e clara
Vocabulário comedido Vocabulário agressivo

Os cancioneiros – livros, coletâneas de cantigas com características variadas e escritas por diversos autores.
Os mais importantes são: Cancioneiro da Ajuda, Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa e Cancioneiro da
Vaticana.

Textos
Cantiga de amor

No mundo nom me sei parelha,


mentre me for como me vay,
ca ja moiro por vós - e ay!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraya
quando vos eu vi en saya!
Mau dia me levantey
que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, des aquel di’, ay!
me foi a mi mui mal,
e vós, filha de don Paay
Moniz, e ben vos semelha
d’haver eu por vós guarvaya,
pois eu, mia senhor, d’alfaya
nunca de vós houve nem ey
valia d’ua correa.

Cantiga de amigo

- Ai flores, ai flores do verde piño,


se sabedes novas do meu amigo?
Ai, Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,


se sabedes novas do meu amado?
Ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,


aquel que mentiu do que pôs comigo?
Ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,


aquel que mentiu do que mi á jurado?
Ai, Deus, e u é?

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- Vós me perguntades pelo voss’amigo?
E eu ben vos digo que é san’e vivo
Ai, Deus, e u é?

Vós me perguntades pelo voss’amado?


E eu ben vos digo que é viv’ e sano:
Ai, Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é san’e vivo,


e será vosc’ant’o prazo saído.
Ai, Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv’e sano,


e será vosc’ant’o prazo passado.
Ai, Deus, e u é?
DOM DINIS (1261-1325)
Conhecido também como o rei trovador,
D. Dinis escreveu 138 cantigas
(de amigo / de amor / de escárnio / de maldizer).

Cantiga de maldizer

Abadessa oí dizer
Que érades mui sabedor
De todo bem; e, por amor
De Deus, queredes-vos doer
De min, que ogano casei,
Que bem que vos juro que non sei
Mais que un asno de foder
.................................................................
E per i podedes gaar,
Mia senhor, o reino de Deus:
Per ensinar os pobres seus
Mais ca por outro jajuar,
E per ensinar a molher
Coitada, que a vós veer,
Senhor, que non souber ambrar.
Afonso Eanes do Coton

Cantiga de escárnio

Por que no mundo mengou a verdade,


punhei un dia de a ir buscar;
e, u por ela fui preguntar
disseron todos: “alhur lá buscade,
ca de tal guisa se foi a perder
que non podemos en novas haver
nen já non anda na irmandade.”

Nos mosteiros dos frades regrados


a demandei e disseron-m’assi:
“non busquedes vós a verdad’ aqui,

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ca muitos anos havemos passados
que non morou nosco, per boa fé,
nen sabemos ond’ela agora esté
e d’al havemos maiores cuidados.”
E en Cistel, u verdade soía
sempre morar, disseron-me que non
morava i, havia gran sazon,
nen frade d’i já a non conhocia,
nen o abade outro si estar
sol non queria que fôss’i pousar,
e anda já fora da abadia.

En Santiago seend’albergado,
en mia pousada chegaron romeus
preguntei-os e disseron: “par Deus,
muito levade-lo caminh’errado,
ca, se verdade quiserdes achar,
outro caminho conven a buscar,
ca non saben aqui d’ela mandado.
Airas Nunes, clérigo compostelano

Humanismo
Contexto histórico
§§ Século XV – fim da Idade Média;
§§ Grandes navegações;
§§ Desenvolvimento das cidades e do comércio;
§§ Burguesia;
§§ Período de transição dos valores medievais para os valores do Renascimento, isto é, do teocentrismo para
o antropocentrismo;
§§ Valorização da cultura.

Produções
§§ Crônicas – histórias curtas sobre o cotidiano dos nobres que queriam registrar seus grandes feitos.
O mais famoso cronista de Portugal foi Fernão Lopes, nomeado cronista-mor da Torre do Tombo, por
D. Duarte.
§§ Poesia palaciana – poemas compostos em redondilhas, sem o acompanhamento musical e, agora,
impressos, feitos para declamação dentro dos palácios além de tratar da vida da corte, retomavam os temas
das cantigas trovadorescas, porém, agora, com preocupação técnica e novas formas poemáticas, como é o
caso do Vilancete, da Trova e da Esparsa.
Toda a produção de poesia Palaciana foi reunida num volume chamado Cancioneiro geral, organizado
por Garcia de Resende.
§§ Teatro – voltado para temas religiosos e didáticos, isto é, feito para ensinar religião. Representava cenas bí-
blicas, vidas dos santos e mártires da Igreja. O teatro propriamente dito, com texto elaborado, inaugurou-se

30
em Portugal com a obra de Gil Vicente, que mostrou peças cheias de sátira à sociedade, com temas tanto
profanos, nas farsas, como religiosos, nos autos. Seu teatro desenvolveu essencialmente “tipos sociais”, isto
é, personagens que representavam figuras que desenvolviam papéis específicos na sociedade e apontavam
os defeitos da personalidade humana. A sua crítica alcançou desde os mais pobres aos mais ricos ou mais
graduados clérigos. Sua obra aponta o equilíbrio entre a razão e a emoção, que norteou a arte do século XV,
considerando que ele passou para o século XVI e viveu o início e o auge do Renascimento. Por isso, notamos
nele valores teocêntricos e antropocêntricos.

Textos
Auto da barca do inferno

Vem o FIDALGO e, chegando ao batel infernal, diz:


Fidalgo: Esta barca onde vai ora,
que assi’stá apercebida?
Diabo: Vai para a ilha perdida
e há-de partir logo ess’ora.
Fidalgo: Para lá vai a senhora?
Diabo: Senhor, a vosso serviço
Fidalgo: Parece-me isso um cortiço...
Diabo: Porque a vedes lá de fora.
Fidalgo: Porém, a que terra passais?
Diabo: Para o inferno, senhor.
Fidalgo: Terra é bem sem-sabor.
Diabo: Quê? E também cá zombais?
Fidalgo: E passageiros achais
Para tal habitação?
Diabo: Vejo-vos eu em feição
para ir ao nosso cais.
Fidalgo: Parece-te a ti assi...
Diabo: Em que esperas ter guarida?
Fidalgo: Que deixo na outra vida
quem reze sempre por mi.
Diabo: Quem reze sempre por ti!...
Hi! Hi! Hi! Hi! Hi! Hi! Hi!...
E tu viveste a teu prazer
cuidando cá guarecer
porque rezem lá por ti?!
Gil Vicente

Cantiga sua partindo-se

Senhora, partem tão tristes


Meus olhos por vós, meu bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,


Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,

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Da morte mais desesojos
Cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,


Tão fora d’esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.
João Ruiz Castelo Branco

Classicismo
§§ Renascimento – século XVI – resgate da antiguidade clássica;
§§ Descobrimentos;
§§ Antropocentrismo (homem como centro das preocupações).

Modelos
Os modelos eram os da cultura greco-latina, porque representavam a perfeição e o equilíbrio que o homem do
século XVI buscava.

Características
§§ Racionalismo – o equilíbrio entre a razão e a emoção era indispensável para que o homem renascentista
entendesse a harmonia do universo e as noções de “beleza, bem e verdade”.

§§ Universalismo – procura de uma impressão impessoal, que buscasse o homem universal. O mundo e o
homem em geral, e não o indivíduo, são assuntos da literatura renascentista.

§§ Perfeição formal – o cuidado com a forma deverá conduzir à ordenação lógica do pensamento e à ado-
ção de novas formas de composição (soneto);

§§ Mitologia – seres mitológicos, criados na antiguidade clássica e compreendidos em qualquer cultura, es-
tão presentes em alguns textos para simbolizar as emoções, sentimentos e atitudes humanas.

§§ Humanismo – interesse pelo homem e pela valorização deste como um ser capaz de raciocinar, de realizar
grandes façanhas, independente de Deus.

Produção artística
1527 – Sá de Miranda, retornando da Itália, introduziu, em Portugal, a medida nova (versos decassílabos nos
sonetos). Mas foi Luís Vaz de Camões quem se destacou na Literatura desse período.

§§ Obra lírica – Rimas – cantigas, sonetos e outros gêneros – retrata os sentimentos contraditórios do amor,
as angústias e desconcertos do mundo no quinhentismo.
§§ Obra épica – Os Lusíadas – homenagem à bravura do povo português, conta as aventuras vividas por
Vasco da Gama e seus marinheiros na viagem para as Calicute (Índias) a mando de Dom Manuel.

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Textos
Camões, mesmo sendo um mestre nos sonetos, não deixou de compor textos em medida velha (redondilha):

Cantiga alheia

Na fonte está Lianor


Lavando a talha e chorando,
Às amigas perguntando:
- Vistes lá o meu amor?
Voltas

Posto o pensamento nele,


Porque a tudo o amor obriga,
Cantava, mas a cantiga
Eram suspiros por ele.
Nisto estava Lianor
O seu desejo enganado,
Às amigas perguntando:
- Vistes lá o meu amor?

O rosto sobre uma mão,


Os olhos no chão pregados,
Que, de chorar já cansados,
Algum descanso lhe dão.
Desta sorte Lianor
Suspende de quando em quando
Sua dor; e, em se tornando,
Mais pesada sente a dor.
Não deita dos olhos água,
que não quer que a dor se abrande
Amor, porque, em mágoa grande,
Seca as lágrimas a mágoa.
Depois que de seu amor
Soube novas perguntando,
De improviso a vi chorando.
Olhai que extremos de dor!

Acompanhe, agora, um exemplo do soneto camoniano:

Eu cantarei de amor tão docemente,

Por uns termos em si tão concertados,


Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,


Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

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Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, para cantar de vosso gesto


A composição alta a milagrosa,
Aqui fala saber, engenho e arte.

Acompanhe um exemplo da obra épica do escritor Luíz Vaz de Camões:

Os Lusíadas
(fragmentos)

As armas e os Barões assinalados


Que da Ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram;
(...)
Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza

Os Lusíadas foi composto em 8816 versos decassílabos, separados em 1102 estrofes de oitava rima (abababcc),
que, por sua vez, dividem-se em 10 cantos e 5 (cinco) partes:
§§ Proposição: é a apresentação do poema, o momento em que Camões nos diz quem é o povo português e
o que tem feito de grandioso (estrofes 1, 2 e 3 do canto I ).
§§ Invocação: pedido de inspiração às ninfas do rio Tejo: as tágides. O poeta pede que lhe deem um “enge-
nho ardente” e um “som alto e sublimado” (estrofes 4 e 5 do canto I).
§§ Dedicatória: a epopeia é dedicada a D. Sebastião, rei de Portugal (estrofe 6 a 18 do canto I).
§§ Narração: é a parte longa do poema, na qual o poeta nos conta os episódios da viagem de Vasco da Gama
e a história de Portugal (estrofe 19 do canto I até a estrofe 144 do canto X).
§§ Epílogo: o final, em que o poeta demonstra sua tristeza e desilusão com os governantes de Portugal por
sua ambição desmedida.

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Quinhentismo
Contexto histórico
§§ Século XVI;
§§ Início da colonização do Brasil.

Produções artísticas
§§ Literatura de Informação – servia para mandar a Portugal notícias da terra descoberta.
§§ Literatura Jesuítica – servia para a catequese dos índios e dos colonos.

Textos
Fragmentos da Carta de Pero Vaz de Caminha para el rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil.

Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do acha-
mento desta vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei também de dar disso minha conta. (...)
E assim seguimos nosso caminho por este mar, de longo, até terça-feira d’oitavas de Páscoa, que foram
21 dias d’Abril, que topamos alguns sinais de terra. (...) E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que
chamam fura-buxos. E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande
monte, mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual
monte alto o capitão pôs o nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz. (...)
E dali houvemos vista d’homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram,
por chegarem primeiro. (...) A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes,
bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas.
E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. (...)
O capitão, quando eles vieram, estava assentado em uma cadeira e uma alcatifa aos pés por estrado, e bem
vestido, com um colar d’ouro mui grande ao pescoço. Acenderam tochas e entraram e não fizeram nenhuma men-
ção de cortesia nem de falar ao capitão nem a ninguém. Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou
d’acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro. E também viu
um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e então para o castiçal, como que havia também prata.
(...)
E dessa maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi.(...)
Deste Porto Seguro, de Vossa ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500.

Acompanhe um trecho da literatura jesuítica de formação e catequese dos nativos:

Ao Santíssimo Sacramento
Oh! Entranhas piedosas
De vosso divino amor!
Ó meu Deus e meu senhor
Humanado,
Quem vos fez tão namorado
De quem tanto vos ofende?
Quem vos ata, quem vos prende
Como tais nós?
(...)
José de Anchieta

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Barroco
Contexto histórico
§§ Séculos XVI e XVII;
§§ Reforma protestante;
§§ Contrarreforma;
§§ Desaparecimento de D. Sebastião (1578);
§§ União Ibérica (1580).

Características
§§ Linguagem rebuscada, cheia de figuras que nos revelam a angústia, o dilema em que vivia o homem dessa
época;
§§ Contradições geradas pelo espírito cristão (teocêntrico) e pelo espírito renascentista (racionalista) que ten-
tam se conciliar místico e sensual, religioso e erótico, espiritual e carnal;
Portugal – 1580 – União Ibérica / morte de Camões.
Brasil – 1601– Prosopopeia, de Bento Teixeira.
O Barroco apresenta duas tendências literárias importantes:
§§ Cultismo (jogo de palavras): preocupação com a forma, com o arranjo do texto, que é feito para agradar
esteticamente.
§§ Conceptismo (jogo de ideias, conceitos): preocupação com os argumentos que devem convencer.

Autores
§§ Gregório de Matos, poeta baiano que viveu muitos anos em Portugal e desenvolveu alguns tipos de poemas
religiosos, líricos, filosóficos e satíricos, sendo que, por esse último, ganhou o apelido de “O Boca do
Inferno”.
§§ Padre Antônio Vieira, português, jesuíta, autor de vários sermões em que apontou aspectos da sociedade
do século XVII, tanto no Brasil como em Portugal.

Textos
Poesia lírica

À instabilidade das cousas do mundo


Nasce o Sol, e não dura mais que dia,
Depois da Luz se segue a noite escura.
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas, a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?


Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto, de pena assim se fia?

36
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância.
E na alegria, sinta-se tristeza.
Começa o Mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
Gregório de Matos

Poesia religiosa
A Jesus Cristo Nosso Senhor
Pequei, Senhor: mas não porque hei pecado,
da vossa Alta Piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinqüido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,


a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido,
vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma Ovelha perdida, já cobrada,
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História:

Eu sou, Senhor, Ovelha desgarrada;


cobrai-a e não queirais, Pastor Divino
perder na vossa Ovelha a vossa glória.
Gregório de Matos

Poesia satírica
Juízo anatômico dos achaques que padecia o corpo da República em todos os membros, e
inteira definição do que em todos os tempos é a Bahia
Que falta nesta cidade?… Verdade.
Que mais por sua desonra?… Honra.
Falta mais que se lhe ponha?… Vergonha.

O demo a viver se exponha,


Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade onde falta
Verdade, honra, vergonha.

Quem a pôs neste rocrócio?… Negócio.


Quem causa tal perdição?… Ambição.
E no meio desta loucura?… Usura.

Notável desaventura
De um povo néscio e sandeu,

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Que não sabe que perdeu
Negócio, ambição, usura.
Quais são seus doces objetos?… Pretos.
Tem outros bens mais maciços?… Mestiços.
Quais destes lhe são mais gratos?… Mulatos.

Dou ao Demo os insensatos,


Dou ao Demo o povo asnal,
Que estima por cabedal,
Pretos, mestiços, mulatos.
E que justiça a resguarda?… Bastarda.
É grátis distribuída?… Vendida.
Que tem, que a todos assusta?… Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa


O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta.

Que vai pela clerezia?… Simonia.


E pelos membros da Igreja?… Inveja.
Cuidei que mais se lhe punha?… Unha

Sazonada caramunha,
Enfim, que na Santa Sé
O que mais se pratica é
Simonia, inveja e unha.

E nos frades há manqueiras?… Freiras.


Em que ocupam os serões?… Sermões.
Não se ocupam em disputas?… Putas.

Com palavras dissolutas


Me concluo na verdade,
Que as lidas todas de um frade
São freiras, sermões e putas.

A uma freira que, satirizando a delgada fisionomia do poeta, chamou-lhe de “Pica-Flor”

“Se Pica-flor me chamais,


Pica-flor aceito ser,
mas resta agora saber,
se no nome que me dais,
meteis a flor, que guardais
no passarinho melhor!
Se me dais este favor,
sendo só de mim o Pica,
e o mais vosso, claro fica,
que fico então Pica-flor.”
Gregório de Matos

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Trechos do Sermão da Sexagésima

Ora, suposto que a conversão das almas por meio da pregação depende desses três recursos: Deus, o pre-
gador e o ouvinte. Por qual deles devemos entender a falta? (...)
Primeiramente por parte de Deus, não falta nem pode faltar. Essa proposição é de fé, definida no Concílio
Trentino e no nosso Evangelho há tempos (...)
Se fora por parte dos ouvintes não fizera a Palavra de Deus muito grande fruto, mas não fazer nenhum fruto
e nenhum efeito. Não é por parte dos ouvintes. Provo. (...)
Sabeis, cristãos, por que não faz fruto a Palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, por
que não faz fruto a Palavra de Deus? Por culpa nossa.
Padre Antônio Vieira

Trecho do Sermão do Bom Ladrão

Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse trazido à
sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar
em tão mau ofício; porém ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: “Basta, senhor, que eu,
porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?” Assim é.
O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com
muito, os Alexandres.(...) O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno; os que não só vão, mas
levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo
nome e do mesmo predicamento distingue muito bem São Basílio Magno. Não só são ladrões, diz o santo, os
que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e
dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo
das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força roubam e despojam os
povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo do seu
risco, estes sem temor nem perigo; os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.
Padre Antônio Vieira

Arcadismo
Contexto histórico
Europa
§§ Iluminismo – século XVIII (o século das Luzes);
§§ Retomada da cultura clássica;
§§ Linguagem simples.

Brasil
§§ Inconfidência (Conjuração) Mineira.

Características
§§ Perfeição;
§§ Referência à Mitologia;
§§ Racionalismo;
§§ Pastoralismo;

39
§§ Bucolismo: proposta de uma vida no campo como uma opção para a agitação das cidades, as normas so-
ciais e religiosas;
§§ Negação destas regras por meio da cultura antiga (greco-latina);
§§ Eu lírico = pastor;
§§ Uso de pseudônimos.

Autores
Em Portugal, Manuel Maria Barbosa Du Bocage, que já prenuncia o Romantismo.
No Brasil, Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto, Santa Rita
Durão e Basílio da Gama.
Tais poetas, na verdade, refletiam a maneira de pensar dos europeus, porque estudaram na Europa, apesar
de o País ainda ser colônia.
Para recuperar a perfeição e o equilíbrio dos clássicos e do Renascimento, era comum entre os autores o uso
de clichês árcades ditos sempre em latim:
§§ carpe diem (aproveitar o instante que passa);
§§ fugere urbem (fugir da cidade para o campo);
§§ locus amoenus (lugar tranquilo);
§§ aurea mediocritas (equilíbrio de ouro, desprezo aos bens materiais);
§§ inutilia truncat (cortar o inútil).

Texto
Olha, Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre flores?

Vê como ali beijando-se os Amores


Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores.

Naquele arbusto o rouxinol suspira,


Ora nas folgas a abelhinha pára,
Ora nos ares sussurrando gira:

Que alegre campo! Que amanhã tão clara!


Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Mais tristeza que a morte me causara.

Ó retrato da morte, ó Noite amiga


Por cuja escuridão suspirou há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!

40
Pois manda Amor, que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel, que a delirar me obriga:
E vós, ó cortesão da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!
Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.
Bocage

41
U.T.I. - Sala
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES:

À SUA MULHER ANTES DE CASAR

Discreta, e formosíssima Maria,


Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:

Enquanto com gentil descortesia


O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:

“Goza, goza da flor da mocidade,


Que o tempo trata a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada,

Oh não aguardes, que a madura idade,


Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada”.
Gregório de Matos

1. A preocupação com a brevidade da vida induz o poeta barroco a assumir uma atitude que revela
qual aspecto do Barroco?

2. Determine a estrutura formal do poema em seus vários aspectos.

3. Leia o poema a seguir e determine de qual fase da poesia do escritor Bocage ela se enquadra. Jus-
tifique sua resposta.

Ó retrato da morte, ó Noite amiga

Por cuja escuridão suspirou há tanto!


Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!

Pois manda Amor, que a ti somente os diga,


Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel, que a delirar me obriga:

E vós, ó cortesão da escuridade,


Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!

Em bandos acudi aos meus clamores;


Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.

4. Leia o trecho a seguir de Luiz Vaz de Camões e determine de qual obra ele foi retirado. Em seguida,
justifique do ponto de vista temático e formal sua resposta.

As armas e os Barões assinalados


Que da Ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,

42
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram;
(...)
Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza

5. Durante o século XIV, a poesia trovadoresca entra em decadência, surgindo uma nova forma de
poesia, totalmente distanciada da música, apresentando amadurecimento técnico, com novos re-
cursos estilísticos e novas formas poemáticas. Qual é o nome deste momento literário e qual a
determinação dada para a poesia da época?

43
UTI – E.O. 6. De que obra de Luis Vaz de Camões o trecho
apresentado foi retirado?

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS TRÊS QUESTÕES: 7. Qual o ano da publicação da obra em que o
trecho se enquadra?
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo! 8. O texto faz menção a uma passagem impor-
E ai Deus, se verrá1 cedo! tante da obra que se enquadra. Qual é esta
passagem e qual o seu significado no todo da
Ondas do mar levado2, obra?
se vistes meu amado!
E ai Deus, se verrá cedo! TEXTO PARA AS PRÓXIMAS TRÊS QUESTÕES:
Martim Codax
1. verrá = virá\ 2. levado = agitado
Eu cantarei de amor tão Docemente,
1. Segundo a tradição da poesia medieval, Por uns termos em si tão concertados,
como pode-se classificar a cantiga de Martim Que dois mil acidentes namorados
Codax? Faça sentir ao peito que não sente.

2. Determine as características que justificam Farei que amor a todos avivente,


sua classificação. Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
3. A estrutura paralelística é, neste poema, Temerosa ousadia e pena ausente.
particularmente expressiva, pois revela uma
relação importante com o aspecto da temáti- Também, Senhora, do desprezo honesto
ca. Determine qual é esta relação. De vossa vista branda e rigorosa
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES:
Porém, para cantar de vosso gesto
Mote: A composição alta a milagrosa,
Perdigão perdeu a pena, Aqui fala saber, engenho e arte.
Não há mal que lhe não venha.
9. De que fase da obra de Luis Vaz de Camões o
Volta: trecho a cima foi retirado?
Perdigão que o pensamento
Subiu a um alto lugar,
1
0. Camões possui temas fundamentais em sua
Perde a pena do voar,
poesia. Determine qual a temática predomi-
Ganha a pena do tormento.
nante no texto “Eu cantarei de amor tão do-
Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha: cemente”?
Não há mal que lhe não venha.
Camões 1
1. Do ponto de vista formal, como se pode clas-
sificar o poema acima? Justifique com pelo
4. De que fase da poesia de camões este poema menos um aspecto.
se enquadra?
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES:
5. Do ponto de vista formal, como pode se clas-
sificar o poema classicista de Luís Vaz de Ca- Não só são ladrões, diz o santo, os que cor-
mões? tam bolsas, ou espreitam os que se vão ba-
nhar para lhes colher a roupa; os ladrões que
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS TRÊS QUESTÕES: mais própria e dignamente merecem este tí-
tulo são aqueles a quem os reis encomendam
Passada esta tão próspera vitória, os exércitos e legiões ou o governo das pro-
Tornado Afonso à Lusitana terra, víncias, ou a administração das cidades, os
A se lograr da paz com tanta glória quais já com manha, já com força roubam e
Quanta soube ganhar na dura guerra, despojam os povos. Os outros ladrões roubam
O caso triste, e dino da memória um homem, estes roubam cidades e reinos;
Que do sepulcro os homens desenterra, os outros furtam debaixo do seu risco, estes
Aconteceu da mísera e mesquinha sem temor nem perigo; os outros se furtam,
Que despois de ser morta foi Rainha. são enforcados, estes furtam e enforcam.
Luis Vaz de Camões Padre Antônio Vieira – “Sermão do bom ladrão”

44
1
2. O jesuíta Padre Antônio Vieira ficou famo-
so por seu poder de argumentação em fun-
ção do projeto de colonização catequética
de Portugal. Um de seus instrumentos era o
“silogismo aristotélico”. Determine suas pre-
missas e conclusão no trecho do “Sermão do
bom ladrão”.

1
3. Padre Antônio Vieira escrevia seus sermões
antes de proferi-los em sua missa. Além dis-
so, ele organizava seus escritos com uma es-
trutura específica que muito se parece com a
estrutura da epopeia. Determine o nome e a
ordem de cada uma destas partes que com-
põe esta estrutura.

1
4. Qual é o documento que na história da Lite-
ratura pode ser considerado a “Certidão de
nascimento da Literatura Brasileira”? De-
termine também quem foi o responsável por
sua autoria e a data de sua publicação.

1
5. Uma das marcas da escola literária do Barro-
co é a contradição. Do ponto de vista técnico,
pode-se afirmar que existem duas modalida-
des específicas de escrita que simbolizam
essa dualidade seiscentista. Quais são elas e
quais suas características?

45
U.T.I. 1

Obras literárias
Iracema – José de Alencar
José de Alencar e o romance indianista
José de Alencar (1829-1877) foi o principal romancista brasileiro da fase romântica. Cearense, cursou Direito em
São Paulo e viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Dedicou-se à carreira de advogado e atuou também
como jornalista. Na política, foi eleito, várias vezes, deputado e chegou a ocupar o cargo de ministro da justiça, que
exerceu de 1868 a 1870.
Na literatura, escreveu romances indianistas, históricos, urbanos e regionalistas. Foi também autor de crôni-
ca, críticas e várias peças teatrais, como Mãe e O jesuíta, encenada na época. A produção diversificada de Alencar
estava voltada ao projeto de construção da cultura brasileira, no qual o romance indianista, buscando um tema
nacional e uma língua mais brasileira, ganhou papel de destaque.

A obra
O começo da história se dá com o guerreiro branco Martim Soares Moreno, amigo dos índios pitiguaras, que habi-
tavam o litoral, perdendo-se nas matas. Martim foi encontrado por Iracema (anagrama de América), a deslumbran-
te virgem, filha do pajé Araquém, da tribo dos tabajaras, habitantes do interior da região. Iracema acolheu o jovem
branco e levou-o para sua tribo, onde ele foi recebido como hóspede e amigo. Ao inteirar-se da celebração que
os tabajaras faziam a seu grande chefe Irapuã, que vai comandá-los num combate aos pitiguaras, Martim resolve
fugir, naquela mesma noite. Iracema o impede, pedindo-lhe que aguarde a volta de seu irmão Caubi, que poderia
guiá-lo pelas matas.

Personagens
§§ Iracema: índia da tribo dos tabajaras, filha do velho pajé.
§§ Martim: guerreiro branco (deus romano da guerra e da destruição – Marte).
§§ Moacir (filho da dor e do sofrimento): filho de Iracema e de Martim.
§§ Araquém: o pajé, pai de Iracema.
§§ Caubi: irmão de Iracema.
§§ Irapuã: inimigo dos portugueses e seus aliados, apaixonado por Iracema.
§§ Poti: amigo de Martim, guerreiro pitiguara.

O narrador e o foco narrativo


O romance é narrado na terceira pessoa, mas o narrador, que não é neutro, é também onisciente. Em alguns momen-
tos, o narrador chega a revelar-se na primeira pessoa. O narrador se apresenta também em forma de flash-back.

Tempo
O tempo é psicológico, não é possível precisá-lo. Século XVII – fundação e colonização da cidade do Ceará.

Espaço
No capítulo XXXIII, consta que o fato se deu no Nordeste do Brasil. O subtítulo informa que é uma lenda do Ceará.

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Linguagem
A força emocional proposta por José de Alencar dá às suas personagens uma intensa pesquisa de linguagem. O
tom poético do livro é uma constante; comparações metafóricas valorizam uma natureza vibrante. José de Alencar
pesquisou termos indígenas e nomes de locais geográficos, com a intenção didática de resgatar tais termos e
explicá-los para o seu leitor contemporâneo.

Memórias póstumas de Brás Cubas –


Machado de Assis
O vestibulando pergunta ao professor do cursinho
“Qual o autor que mais aparece no vestibular?”; e não é nenhum dom divino ou uma premonição quando os
professores dão o veredito: Machado de Assis. Criador da Academia Brasileira de Letras, o carioca Machado de
Assis é o maior escritor brasileiro e reconhecido mundialmente por suas qualidades, figurando, recorrentemente, os
principais vestibulares do país. Para ter uma ideia, a lista unificada da Fuvest–Unicamp de 2010 a 2012 elencava
Dom Casmurro, e a lista de 2013 a 2015 optou por Memórias póstumas de Brás Cubas, ambas obras magnas do
autor. Sem dúvida, suas obras são as representantes máximas do Realismo, inclusive o início desta escola literária
no Brasil se dá com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, em 1881, remodelando a literatura e
trazendo conceitos que negaram a prática romântica em voga até então.
É por isso que o “Bruxo do Cosme Velho”, como é conhecido Machado, é grande, e entender suas inova-
ções é a grande chave para se dar bem no vestibular. Não podemos esquecer que ele começou escrevendo sobre o
molde alencariano, com romances românticos como Ressurreição, A mão e a luva, Helena e Iaiá Garcia, mas, sem
dúvida, seu reconhecimento se dá pelas obras realistas.
O diálogo com o leitor, a digressão, a metalinguagem e um mergulho na psicologia do homem montam esse
conjunto de genialidade temperada por uma ironia refinada que desnuda as aparências da sociedade burguesa
com um cinismo elegante que fazem de Machado de Assis um dos maiores nomes da literatura mundial.

Seja no plano da forma, através das interrupções,


seja no plano do conteúdo, através de anedotas e
apólogos sobre a vaidade humana, a experiência vi-
sada não muda, (...) Machado carrega a tinta com
maestria – são formas fechadas em si mesmo, e nes-
te sentido, matéria romanesca de segunda classe,
estranha ao movimento global própria ao grande
romance oitocentista.
R, SCHWARZ. Um mestre na periferia do capitalismo. p. 51.

Uma escrita renovadora


A posição de Machado de Assis na literatura brasileira é a de renovador – um abridor de caminhos –, pois revo-
lucionou a narrativa, atribuindo-lhe um tom de maior verossimilhança e menor superficialidade, e foi além de seu
tempo, imprimindo à literatura um senso psicológico notável. O caráter inovador de Memórias póstumas de Brás
Cubas não está na história propriamente dita ou na sequência cronológica dos fatos. A melhor chave para compre-
ender a obra são as reflexões do personagem, pois com elas se encadeiam e se misturam os eventos que ele vive.

50
Ao vencedor as batatas –
uma crítica aos “ismos” do final do XIX

A frase significa que os vencedores podem desfrutar das batatas nos campos de guerra, onde na luta pela sobrevivên-
cia, vence quem é mais forte. A teoria do humanitismo é pessimista e aponta para o absurdo da existência, opondo-se
à filosofia do humanismo, que valoriza o homem.“Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas”.

Estrutura da obra
O ritmo calculado e, muitas vezes, lento é imposto pelo narrador de Memória póstumas de Brás Cubas, que usa
e abusa da digressão, interrompendo a narração para tecer comentários, juízos de valor ou filosofar sobre suas
observações.

Foco narrativo
O narrador, Brás Cubas, já morto, resolve contar o vazio de sua existência e aproveita para criticar também as
pessoas de seu convívio, desnudando seus defeitos. Porém, não deixa de revelar seus próprios defeitos, já que, na
condição de morto, torna-se isento das consequências da verdade. Mesmo narrando em primeira pessoa, o nar-
rador mostra algum distanciamento, provavelmente por estar morto, o que lhe permite um ponto de vista irônico
sobre o mundo do qual não faz mais parte.
Esse narrador possui ainda onisciência relativa, já que, em certos momentos, seu poder de registrar os
acontecimentos vai além daquilo que vivenciou, porém, enquanto morto, permeia profundamente a descrição e
comportamento dos outros personagens.

Tempo
O tempo é cronológico, vai de 1805 a 1896, do nascimento à morte de Brás Cubas, porém, a genialidade da narra-
ção se dá no aspecto não linear da maneira como conduz a narrativa, ou seja, brincando com o tempo cronológico,
já que é entrecortada por múltiplas digressões. Vale lembrar que o tempo da narração (enunciação) é diferente do
tempo da narrativa (enunciado). A história é contada num presente atemporal, enquanto a história se passa num
tempo pretérito e determinado.

Espaço
O espaço é o Rio de Janeiro, sendo apresentado seus bairros e ruas. Já a Europa é mencionada apenas de passa-
gem, especialmente na ida de Brás para Coimbra. Vale lembrar que Machado de Assis nunca saiu do Rio de Janeiro
e não se arrisca a descrever espaços que não conhece.

Personagens
§§ Brás Cubas: é o narrador do livro que vai contar suas memórias escritas após a morte. É o responsável
pela descrição e apresentação de todos os outros personagens. Na condição de “defunto autor”, descreve,
analisa e avalia com ceticismo e pessimismo o homem e sua existência.
§§ Virgília: por ser sobrinha de ministro, o pai de Brás Cubas a via como possibilidade de acesso do filho ao
mundo da política. Casa-se com o político Lobo Neves e é amante de Brás Cubas. Ela pode ser considerada
o grande amor de Brás e sustenta o caso adúltero para manter as aparências matrimoniais.

51
§§ Lobo Neves: casa-se com Virgília e tem carreira política sólida, mas sofre o adultério da esposa com o
protagonista.
§§ Dona Plácida: é a “alcoviteira”, uma senhora representante da classe média, tem uma vida de muito
trabalho e sofrimento e promove os encontros adúlteros de Brás e Virgília, sua antiga ama, em sua casa.
§§ Marcela: é uma prostituta que desperta um grande amor na adolescência de Brás Cubas.
§§ Quincas Borba: amigo de infância do narrador, é o criador da teoria do humanitismo, doutrina à qual Brás
Cubas adere. Ele morre louco.
§§ Eugênia: conhecida pela alcunha de “flor da moita”, nas palavras de Brás Cubas, já que era fruto de um
relacionamento que se deu atrás de uma moita e que ele, quando criança, havia flagrado. Em determinado
momento, o protagonista se interessa por ela e a beija, porém, não leva o romance adiante, pois ela é
“coxa”, ou seja, manca.
§§ Cotrim: é cunhado de Brás Cubas em função do casamento com sua irmã Sabina. É um homem de hábitos
rudes, especialmente no trato com escravos.
§§ Nhá Loló: é parente de Cotrim e apresentada por Sabina para o irmão como última possibilidade de
casamento. A mocinha morre de febre amarela aos 19 anos.
§§ Prudêncio: escravo que servia de “brinquedo” na infância de Brás Cubas. Futuramente, ganha sua alforria.

A relíquia – Eça de Queiroz


O enredo
A relíquia tem seu início com a apresentação do narrador e protagonista da história, a personagem Teodorico Ra-
poso, o qual tenta explicar ao leitor o que o motivou a escrever suas memórias. Ele revela ao leitor que a principal
motivação reside no fato de que tanto ele como seu cunhado (Crispim) acreditam que aquelas memórias contêm
“uma lição lúcida e forte” da vida, sendo merecedoras da imortalidade que só “a literatura propicia”. Boa parte da
narrativa se concentra na viagem feita por Teodorico à Terra Santa (passando por Egito e Palestina), logo após uma
recente decepção amorosa. Um dos principais motivos de sua viagem era conseguir angariar alguma recordação
religiosa (a tal “relíquia”) para sua velha tia; o que faria com que Teodorico fosse digno de receber uma significativa
herança.
Teodorico também nos revela que sua narrativa possui um outro objetivo, além dos citados: realizar uma
correção em um livro escrito por um outro amigo, participante da mesma viagem à Terra Santa, no qual mencionava
que o nosso protagonista levava em dois embrulhos de papel os “restos de seus antepassados”. Essa afirmação
preocupava Teodorico no que diz respeito a sua imagem diante da burguesia local, já que isso poderia acarretar
problemas para o seu futuro (nas sociedades capitalistas é muito comum que homens pobres, para poderem sobre-
viver, tornem-se aliados das classes burguesas, e caso houvesse a exposição do escândalo em que Teodorico havia
se envolvido na viagem à Terra Santa, ficaria difícil conseguir suporte das classes mais abastadas). Nesse sentido,
Teodorico desejava então explicar a natureza e o verdadeiro conteúdo dos pacotes que havia trazido do Egito e de
Jerusalém, e que eram comentados no livro de seu amigo.
Teodorico nos conta, então, não somente o que lhe aconteceu na malfadada viagem, mas também vários
aspectos de sua vida pregressa, como a história do encontro e morte de seus pais (que fez com, aos sete anos, fosse
obrigado a morar com sua tia rica, a Dona Patrocínio), ou ainda, os momentos posteriores à viagem, quando decidiu
que deveria escrever suas experiências de vida. É por meio desses relatos que sabemos que nosso personagem prin-
cipal é um sujeito que, tendo se tornado órfão muito cedo, é obrigado a morar com uma tia que lhe impunha uma

52
rigidez moral bastante incisiva, especialmente no contato com as mulheres. Com isso, cria-se um indivíduo que, para
conseguir mais espaços, age de maneira hipócrita e cínica. Diante de sua tia – uma senhora beata e conservadora –,
finge ser um sujeito de visão religiosa (por puro interesse em uma possível herança), mas, na verdade, se envolvia com
diversas mulheres, em busca de prazeres sexuais.
A certa altura do romance, Teodorico resolve pedir a sua tia que lhe financie uma viagem a Paris, na França.
No entanto, sendo D. Patrocínio uma mulher extremamente religiosa, ela lhe nega o pedido, alegando que Paris era
a cidade do vício e da perdição. Sabendo que precisava impressionar sua tia para poder colocar as mãos na cobi-
çada herança, sugere então que ela lhe custeie uma peregrinação à Terra Santa (passando por Egito e Palestina),
prometendo à velha tia que lhe traria uma recordação quando retornasse de sua excursão religiosa. Na verdade, em
sua estadia na Terra Santa, Teodorico simplesmente foge de todas as obrigações religiosas, aproveitando o fato de
estar afastado de sua tia para viver intensamente os atos profanos que já praticava em menor escala em Portugal.
Um dos episódios definitivos do enredo ocorre quando, durante a viagem, Teodorico se envolve sexual-
mente com uma inglesa chamada Miss Mary (uma espécie de dama de companhia). Ao final da intensa relação,
a moça presenteia nosso protagonista com sua camisola de rendas, na qual estava pregado um bilhete que fazia
referência à relação que tiveram. Perto do fim de sua estadia, Teodorico se recorda de que precisava providenciar
uma lembrança religiosa para sua tia. Então resolve forjar uma falsa coroa de Cristo com algumas ramagens de
arbustos. Portando, então, dois pacotes, um com a camisola de Miss Mary, e outro com a falsa coroa de Cristo,
nosso protagonista retorna a Portugal.
Chegando a Lisboa, Teodorico relata hipocritamente à tia todas as penitências e jejuns que teria feito durante a
peregrinação e lhe informa que havia trazido a coroa de espinhos usada por Cristo, deixando sua tia orgulhosa e em-
polgada. D. Patrocínio resolve, então, organizar um encontro em sua casa para que o embrulho fosse aberto diante de
algumas autoridades religiosas da região.
A abertura da suposta relíquia é feita perante uma imensa audiência de sacerdotes e beatas, num ambiente
de grande ansiedade. O primeiro pacote a ser aberto é o de Dona Patrocínio, mas qual foi o espanto de todos quan-
do, em vez do objeto sagrado, surge a camisola de Miss Mary com o bilhete que confirmava as relações lascivas
que havia estabelecido com Teodorico. Confuso, este então se lembra de que, durante a viagem de retorno a Lisboa,
havia encontrado uma pobre mendiga que lhe pediu alguma esmola. Não tendo dinheiro, deu à pobre moça o que
acreditava ser o embrulho com a camisola; mas, na verdade, havia trocado os pacotes.
Este episódio faz com que Teodorico seja expulso da casa da tia e perca a fortuna que ambicionava. Para
poder sobreviver, passa, então, a vender algumas relíquias da Terra Santa que havia trazido consigo, além de outras
falsas, que ele mesmo fabricava em grandes quantidades (o que, posteriormente, acabou por arruinar o negócio). A
partir desses episódios, compreende a inutilidade da falsidade e da mentira, e resolve mudar seu comportamento.
Arranja um emprego, graças a um amigo do colégio, e casa com a irmã deste. Quando finalmente parecia regenera-
do da hipocrisia que o caracterizava, fica sabendo que o padre Negrão – um dos clérigos que costumava frequentar
a casa de sua tia – havia herdado desta toda a herança, inclusive a Quinta onde ele nascera, e que, ainda, este
padre era amante de Amélia, uma mulher com quem Teodorico havia se relacionado em momento anterior, e que
o havia traído.
Após tomar consciência de tudo o que havia perdido (e que ainda havia perdido tudo para alguém do Cle-
ro), Teodorico chega à conclusão de que não deveria ter se regenerado, mas sim que deveria ter sido ainda mais
hipócrita e cínico, como era o padre Negrão. Também se lembra de que, se no dia da abertura do fatídico embrulho,
tivesse tido a coragem de declarar que aquela camisa pertencia a Santa Maria Madalena, teria ficado bem visto
entre os presentes e herdado a fortuna.

53
Análise
O romance oitocentista, na vertente europeia, é extremamente interessante para compreendermos a funcionali-
dade histórica do século XIX. Tanto na França como em Portugal – ainda que de maneiras diferentes –, o romance
tomou um espaço na sociedade burguesa e fez com que todos os olhos ficassem voltados para ele.
Do ponto de vista estrutural, a obra que analisaremos está dividida em cinco grandes capítulos, sem nomea-
ção. O romance é narrado em terceira pessoa, com narrador onisciente (aquele que sabe de todos os detalhes sobre
a história, inclusive a respeito dos sentimentos das personagens), bastante descritivista, que nos fornece grandes
detalhes de cenário, objetos e vestuário, nos transmitindo a sensação de realidade que envolve a estética realista.
Não podemos nos esquecer de que esse descritivismo minucioso é uma das características marcantes do estilo de
Eça de Queiroz.
O espaço em que se situa a obra é a Lisboa de finais do século XIX, contando também com as incursões na
Terra Santa, financiadas pela personagem D. Patrocínio. A narrativa segue uma ordem linear e cronológica, a qual nos
faz saber de elementos da vida de Teodorico Raposo que envolviam família, relações amorosas, passando pela convi-
vência com a tia beata, a excursão na Terra Santa, até seu retorno e desfecho desastroso.
Em A relíquia, de Eça de Queiroz, 1887, temos a tentativa de um sujeito de possuir algo, cuja realidade não
lhe é adequada. Teodorico Raposo é um sujeito pobre que, devido ao falecimento do pai, vai viver com uma tia seve-
ramente beata e rica, a Dona Patrocínio. Esta, de modo algum, permite em seu redor qualquer tipo de relaxações, ou
seja, ela não aprova que Teodorico, vivendo junto dela, aproxime-se de mulheres ou lhes faça gracejos. O sobrinho
então, pelas costas de sua rica tia, envolve-se com meretrizes e goza de todos os prazeres da carne. E, ao final das
tardes, às escondidas, retorna à mansão onde vive para fazer as orações religiosas, conforme as coordenadas rigorosas
de Dona Patrocínio.
Eis então o avesso desse personagem: a duplicidade de Teodorico é responsável pelos delitos que este assim
comete. A realidade do sobrinho se configura na sua origem e em seus valores, isto é, todos os dogmas cristãos
impostos a ele por sua tia não foram suficientes para a conversão do garoto à religião de Jesus Cristo. Tudo não
passava do interesse em ascender financeiramente, e isso justificava cada segundo de sua devoção.
Esse falseamento de castidade é o principal delito de Teodorico. É uma clara amostra de como o romance re-
alista oitocentista trabalha com a questão de ascensão social, como define o estudioso de literatura Erich Auerbach:

“A mistura de estilos, na arte romântica, permitiu que personagens de qualquer classe social, com todos os seus
entrelaçamentos vitais prático-cotidianos, se tornassem objetos da representação literária séria.”
AUERBACH, Erich. Mimesis. Pag. 286.

Isso significa que essa mistura estilística, no romance, como vemos em A relíquia, que mistura dados do Re-
alismo e do Naturalismo, proporciona um espaço para que um personagem como Teodorico tome algumas atitudes
a fim de ascender financeiramente. E ele vai longe. O sobrinho desafia a própria sorte cobrindo-se com as vestes
que a sociedade almeja vê-lo.
É justamente por conta desse ambiente, que Teodorico não encontra solução, a não ser mentir. No romance,
o protagonista se adapta às normas culturais sufocando seus impulsos antissociais, e se torna, ao mesmo tempo,
mais profundo e complexo, cada vez mais atormentado por conflitos internos. E é a partir do conflito interno ,
aflorado em Teodorico, que nasce a reflexão sobre seu verdadeiro “erro de conduta”. Há um momento marcante
do romance no qual o personagem sonha que encontra Jesus Cristo, e no qual percebemos certa avaliação de
consciência da personagem. Vejamos o trecho dessa avaliação de consciência, quando a imagem de Jesus Cristo
lhe aparece na Travessa da Palha:

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– O deus a que te prostravas era o dinheiro de G.
Godinho; e o céu para que teus braços trementes se
erguiam – o testamento da Titi... Para lograres nele
o lugar melhor, fingiste-te devoto, sendo incrédulo;
casto, sendo devasso; caridoso, sendo mesquinho;
e simulaste a ternura de filho, tendo só a rapacida-
de de herdeiro... Tu foste ilimitadamente hipócrita!
(...) Mentiste sempre; e só era verdadeiro para o céu,
verdadeiro para o mundo, quando rogavas a Jesus e
à Virgem que rebentassem depressa a Titi.

Por meio dessas considerações, é possível observar como Teodorico tenta subverter a realidade da sua
existência, ou seja, a sociedade em que vive, a fim de atingir o desejo de mudança. O personagem almeja destruir
a verdade que o concebeu para viver num ambiente mais tranquilo e agradável às suas respectivas ambições. Por
isso, tantos fingimentos.
E esse movimento de busca de felicidade é que representa o maior delito dos nossos personagens, pois foi
por esse deslocamento de papéis que Teodorico Raposo perde tudo aquilo que almejava. Após ter se afundado
na miséria em que sua tia o abandonou, consegue um emprego e uma família, e finda diante de uma vida pacata
que – não sendo ruim – nunca fora seu verdadeiro objeto de realização.
Essas reflexões nos trazem adiante uma característica indispensável a qualquer análise de romances re-
alistas do século XIX. Neles, como na maior parte dos romances datados da época, há a representação de um
sujeito reflexivo que deseja ser responsável pelo próprio destino. E esse sujeito precisa necessariamente comportar
ou variar entre duas esferas – a interna e a do mundo que lhe é exterior – , conforme afirmação do estudioso do
século XIX, Ian Watt:

Contudo, embora o dualismo enfatize a oposição en-


tre diferentes modos de encarar a realidade, não leva
à completa rejeição da realidade do ego ou do mun-
do exterior. Da mesma forma, diferentes romancistas
atribuíram diferentes graus de importância aos obje-
tos exteriores e interiores da consciência, mas nunca
rejeitaram inteiramente uns aos outros.
WATT, Ian. A ascensão do romance. P. 158.

É nessa dicotomia de passagem do interior ao exterior, e vice-versa, que é criada a personagem Teodorico, de
A relíquia. O sujeito reflexivo alimenta sua própria armadilha. A herança de sua tia o obriga a prestar vários serviços religiosos
– e que até o fizeram penetrar na Terra Santa. Mas foi justamente essa herança que o atirou na miséria.
Há ainda que ressaltar o conjunto de críticas que Eça de Queiroz realiza em A relíquia. Temos ataques em
direção ao clero, expondo para o leitor um padre que estabelece várias ordens de relações promíscuas. Ora se en-
volvendo com pessoas por dinheiro, ora se envolvendo por motivos carnais. Também, na figura de Dona Patrocínio,
Eça estabelece uma crítica ao conservadorismo burguês, que cerceia os modos de comportamento dos indivíduos
na sociedade, como a educação sexual que se transforma em aversão ao sexo. Por fim, há ainda uma crítica geral
que aponta para o processo de formação nacional português, que faz com que indivíduos pobres, como Teodorico
(lembremos que ficou órfão cedo, atirado à própria sorte), tenham de ficar à mercê de relações de favor e apadri-
nhamento de indivíduos com maior poder aquisitivo.

55
Principais personagens
§§ Teodorico Raposo: personagem principal do romance, é um jovem que, devido às restrições que lhe foram
impostas desde a infância pela tia, torna-se um rapaz inescrupuloso e interesseiro. Finge ser beato para en-
ganar sua tia e tentar obter sua fortuna em testamento, mas não consegue abrir mão de se envolver com as
mulheres da região. Durante sua viagem à Terra Santa (financiada por Dona Patrocínio), irá se envolver com
uma mulher que dará início à peripécia que é base da história.
§§ Dona Maria do Patrocínio (Titi): tia de Teodorico, é detentora de uma grande fortuna, e usava isto como
motivo para controlar as ações da personagem principal. Extremamente beata, irá financiar uma viagem à Terra
Santa para seu sobrinho, sob a condição de que ele lhe traga uma relíquia da região, relíquia essa que será o
estopim de toda a confusão que ocorre no romance.
§§ Crispim: filho do dono da firma Teles, Crispim & Cia. Ele é chamado ironicamente de “a firma”. Tinha cabelos
compridos e louros e um comportamento homossexual durante a vida no internato. Acaba tornando-se patrão
e cunhado de Teodorico.
§§ Pinheiro: padre interesseiro, que não deixa de frequentar os jantares oferecidos por Dona Patrocínio. Tem
mania de doença e fica a todo momento examinando sua língua no espelho.
§§ Casimiro: padre e procurador de Dona Patrocínio. Costuma jantar com frequência com sua cliente.
§§ Dr. Margaride: juiz aposentado, foi amigo do pai de Teodorico, na cidade de Viana. Deu início a sua aposen-
tadoria após receber uma grande herança de seu irmão Abel. Tinha uma mania curiosa de contar de forma
exagerada as desgraças alheias.
§§ Adélia: é a amante de Teodorico (durante o período em que a história focaliza Portugal). Trata-se de uma
jovem interesseira, que irá desprezar o protagonista por conta da sua submissão aos desmandos da tia (Dona
Patrocínio estipulava horários rígidos para que Teodorico voltasse para casa) e também por não conseguir
vislumbrar possibilidades de ascensão financeira nessa relação. Ao final da história, acaba tornando-se amante
do padre Negrão (personagem que angaria boa parte da herança de Dona Patrocínio).
§§ Dr. Topsius: é um arqueólogo alemão, formado pela Universidade de Bonn, e sócio do Instituto Imperial de
Escavações Históricas. Descrito como um sujeito “muito magro e pernudo” e também muito nacionalista, será
o companheiro de viagens de Teodorico durante sua expedição à Terra Santa. Seu objetivo era passar pelas
regiões da Galileia e da Judeia, a fim de coletar informações para a para produção de um livro.
§§ Mary: moça de origem inglesa com quem Teodorico irá se envolver durante sua viagem à Terra Santa. A ela
pertencem a camisola e o bilhete que causarão o grande escândalo que fará com que a tia de Teodorico acabe
por deserdá-lo.

O cortiço – Aluísio Azevedo

Estilos de época e individual


O Naturalismo marca uma oposição ao mundo idealizado do Romantismo, dando prosseguimento enquanto ten-
dência ao Realismo. O trabalho se incumbe do materialismo e do cientificismo que analisa as minúcias da natureza
humana e da sociedade, o determinismo do meio social, da raça e do momento histórico. Um dos princípios norte-
adores do trabalho de H. Taine.

56
Estrutura da obra
Separado em 23 capítulos, O cortiço é um romance de narrativa quase linear com um enredo simples e orgânico.
No plano da ação, os conflitos entre personagens se constroem pela lógica da oposição, seja no plano da persona-
lidade, do aspecto físico ou econômico.

Foco narrativo
O foco narrativo é em terceira pessoa, com narrador onisciente que faz pequenas interferências sem, necessaria-
mente, criar uma intenção de moralização ou juízo drástico de valor.

Espaço
O espaço é, sem dúvida, algo que necessita de uma atenção especial na análise desta obra, uma vez que a tese do ro-
mance é comprovar que ele determina o comportamento das pessoas. Basicamente, a obra se passa no Rio de Janeiro,
especialmente no bairro de Botafogo, onde se localizava o cortiço de João Romão. Conhecido como romance de espaço,
é possível analisar o espaço sobre três ópticas:
1. O próprio cortiço, em sua condição física, que abriga pessoas pobres e os trabalhadores da pedreira.
2. A quitanda de João Romão, que é considerada como um espaço intermediário, já que ela media as relações de
transformação social de 1 para 3, ou seja, da situação social de pobreza de João Romão, para a condição riqueza.
3. O sobrado (palacete) onde mora Miranda, representando o poder socioeconômico mais elevado e almejado por
João Romão, que está no espaço intermediário e deseja atingir o sobrado, espaço mais alto; para isso, dirige todas
as suas ambições.

Tempo
Não há uma determinação exata de tempo no que diz respeito à especificidade de datas, porém, é possível situar
a narrativa nos anos que antecedem a Abolição da Escravatura (1888).

Personagens
Em O cortiço, Aluísio Azevedo opta por construir personagens que configuram tipos sociais, ou seja, que em suas
características individuais vão projetar a classe e/ou o coletivo do qual fazem. Outro aspecto que deve ser analisado
são as relações de oposição entre as personagens que vão sustentar os conflitos pelo aspecto dialógico e antitético.
Por exemplo: João Romão × Miranda; Jerônimo × Firmino; Piedade × Rita Baiana; Bertoleza × Léonie.
§§ João Romão: chegou como um imigrante português pobre no Brasil, mas acaba se tornando um homem
rico, o dono do cortiço. Seu poder vai se constituir a partir do mal caráter e de sua falta de escrúpulos. Foi
empregado de outro português na venda que o enriqueceu. Tornou-se dono de cortiço e de uma pedreira
nas proximidades. Ele sonhava em ter um sobrado como o de seu vizinho Miranda. É, sem dúvida, um vilão
da história.
§§ Miranda: a exemplo de João Romão, Miranda é imigrante português e enriqueceu graças ao dote da es-
posa Estela com o comércio de tecidos. Ele é socialmente respeitado, e com o objetivo de afastar a mulher
dos caixeiros, comprou um sobrado vizinho do cortiço de João Romão, que inclusive queria comprar um
pedaço de terra nos fundos de sua propriedade para aumentar o quintal. É proporcionalmente inverso à
constituição de João Romão, especialmente no início do romance, já que tem título de fidalguia e comenda.
Socialmente respeitado.

57
§§ Bertoleza: escrava de um velho cego a quem pagava mensalmente para trabalhar numa quitanda como se
livre fosse. Depois da morte do homem de quem ela era escrava, passou a viver como mulher de João Romão
e também como sua empregada, ajudando na construção de riqueza, em quem confiava cegamente, tanto
que confiou ao amante suas economias.
§§ Estela: “Senhora pretensiosa e com fumaças de nobreza”. Estela é a mulher de Miranda e vive com ele
um romance de aparências. Ela tem origem rica, é adúltera e mantém “relacionamento amoroso” com os
empregados do marido no armarinho.
§§ Rita Baiana: Se recusa ao casamento por se considerar uma mulher livre; ela simboliza a sensualidade e
o sexualismo da mulher brasileira. O seu rebolar e sua dança cativam e, em alguma dimensão, excitam os
homens do cortiço, inclusive sendo atribuídas características zoomórficas aos seus comportamentos e des-
crição física. Ela era amante de Firmo, mas se entrega ao português Jerônimo. Em função disso, Jerônimo e
Firmo acabam brigando, num jogo de vinganças que culminará com a morte de Firmo depois de uma tocaia.
§§ Jerônimo: É mais um personagem português da história e se enquadra na obra como um trabalhador da
pedreira. Ele possui por volta de 35/40 anos, é alto, barbas ásperas, cabelos pretos e maltratados, pescoço
de touro e cara de Hércules, olhos de boi de canga. Veio para o Brasil com o objetivo de cuidar da pedrei-
ra de João Romão. Inicialmente, João era um homem bom e honesto, mas que se deixou levar pela forte
atração exercida sobre ele por Rita Baiana. Em função disso, ele vai abandonando a mulher e a filha para
dedicar-se a uma vida desregrada ao lado de Rita Baiana.
§§ Pombinha: É a típica personagem influenciada negativamente pelo materialismo histórico e, principal-
mente, pelo meio. Inicialmente, a jovem simboliza a pureza, a virgindade, mas, depois do casamento, acaba
tornando-se amante da madrinha, Léonie, e prostituta.
§§ Piedade: é a esposa de Jerônimo, uma portuguesa ignorante e mal vestida. “Teria trinta anos, boa estatura,
carne ampla e rija, cabelos fortes de um castanho fulvo, dentes pouco alvos, mas sólidos e perfeitos, cara cheia,
fisionomia aberta; um todo de bonomia toleirona (...) expressão de honestidade simples e natural”.
§§ Léonie: era prostituta e usava roupas exageradas e barulhentas de “cocote à francesa”, saltos altos, luvas
de vinte botões que cobriam todo o braço, sombrinha vermelha com rendas cor-de-rosa, chapéu de imensas
abas forradas de veludo, lábios pintados de vermelho, pálpebras tingidas de violeta, cabelo artificialmente
pintado de loiro. Cuidava muito bem da afilhada Juju.
§§ Zulmirinha: filha do Miranda e de Estela, Zulmira é frágil e pálida, sempre triste. Existe uma dúvida quanto
à sua paternidade e, por isso, foi desprezada pelo pai por não ter certeza de que é sua filha, e pela mãe por
achar que é filha do Miranda mesmo. Termina casando-se com João Romão.
§§ Firmo: Representa o típico malandro carioca, um mulato jogador de capoeira. Sempre quis arranjar um em-
prego em repartições públicas e era uma espécie de faz-tudo: “delgado de corpo e ágil como um cabrito”.
§§ Botelho: É um velho que vegeta à sombra do Miranda e sofre de hemorroida, dizia conhecer todo o Rio e
as fofocas e os podres de todas as pessoas.
§§ Outras personagens: Henrique; Alexandre e Augusta (pais de Juju, afilhada de Léonie); Marciana (mãe de
Florinda); Florinda (que engravidou de Domingos, caixeiro de João Romão).

58
U.T.I. - Sala
1. (Fuvest) CAPÍTULO LXVIII / O VERGALHO
Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar a
casa. Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro não
se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: – “Não, perdão, meu senhor; meu senhor,
perdão!” Mas o primeiro não fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada nova.
— Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado!
— Meu senhor! gemia o outro.
— Cala a boca, besta! replicava o vergalho.
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada menos que o meu moleque Pru-
dêncio, – o que meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a
bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.
— É, sim, nhonhô.
— Fez-te alguma cousa?
— É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá
embaixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber.
— Está bom, perdoa-lhe, disse eu.
— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbado!
Machado de Assis, “Memórias póstumas de Brás Cubas”.

a) Este trecho remete a episódio anterior, da mesma obra, no qual interagem Brás Cubas e Prudêncio,
então crianças. Compare sucintamente os papéis que as personagens desempenham nesses episódios.
b) Neste trecho, a variedade linguística utilizada pelas personagens contribui para caracterizá-las? Expli-
que brevemente.

2. (Fuvest) O pajé falou grave e lento:


— Se a virgem abandonou ao guerreiro branco a flor de seu corpo, ela morrerá; mas o hóspede de
Tupã é sagrado; ninguém o ofenderá; Araquém o protege.
José de Alencar, “Iracema”.

a) Tendo em vista, no contexto da obra, a lógica que rege o comportamento do pajé, explique por que,
para ele, “a virgem” (Iracema) deverá morrer e o “guerreiro branco” (Martim) deverá ser poupado, caso
estes tenham mantido relações sexuais.
b) Considerando, no contexto da obra, a caracterização da personagem Martim, explique por que foi
apenas quando estava sob o efeito do “vinho de Tupã” que ele manteve, pela primeira vez, relações
sexuais com Iracema.

3. (Unicamp) Leia o seguinte comentário a respeito de O cortiço, de Aluísio Azevedo:

Com efeito, o que há n’O cortiço são formas primitivas de amealhamento, a partir de muito pouco
ou quase nada, exigindo uma espécie de rigoroso ascetismo inicial e a aceitação de modalidades
diretas e brutais de exploração, incluindo o furto (...) como forma de ganho e a transformação da
mulher escrava em companheira máquina.
(...) Aluísio foi, salvo erro meu, o primeiro dos nossos romancistas a descrever minuciosamente
o mecanismo de formação da riqueza individual. (...) N’O cortiço [o dinheiro] se torna implici-
tamente objeto central da narrativa, cujo ritmo acaba se ajustando ao ritmo da sua acumulação,
tomada pela primeira vez no Brasil como eixo da composição ficcional.
(Antonio Candido, De cortiço a cortiço. In: O discurso e a cidade.
São Paulo: Duas Cidades, 1993, p. 129-3.)

*amealhar: acumular (riqueza), juntar (dinheiro) aos poucos

a) Explique a que se referem o rigoroso ascetismo inicial da personagem em questão e as modalidades


diretas e brutais de exploração que ela emprega.
b) Identifique a “mulher escrava” e o modo como se dá sua transformação “em companheira máquina”.

59
4. Leia o trecho abaixo e responda:
Raposo, o herói e narrador, se vê envolvido. Dentre elas, podemos citar Mary, Adélia, Titi, Jesuína,
Cíbele.
a) Uma dessas personagens é importantíssima para a trama do romance A relíquia, já que acompanha o
narrador desde a infância, e deve-se a ela a origem de todos os seus infortúnios posteriores. Quem é e
o que fez ela para que o plano de Raposo não desse certo?
b) A qual delas Raposo se refere como “Tinha trinta e dois anos e era zarolha”? Que relações tem essa
personagem com Crispim, a quem o narrador denomina como “a firma”?

60
U.T.I. - E.O. a) Explique resumidamente o que era o “em-
plasto” e por que deveria ter trazido celebri-
dade a Brás Cubas.
1. (UFV) Observe como o narrador inicia o pri- b) Relacionando-a sucintamente ao contexto
meiro capítulo de “Memórias póstumas de sócio-histórico em que se desenvolve o enre-
Brás Cubas”: do do romance, explique a frase “coube-me
a boa fortuna de não comprar o pão com o
Algum tempo hesitei se devia abrir estas
memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, suor do meu rosto”.
se poria em primeiro lugar o meu nascimen-
to ou a minha morte. Suposto o uso vulgar 4. (Unifesp) Leia o texto.
seja começar pelo nascimento, duas consi-
derações me levaram a adotar diferente mé- Além, muito além daquela serra, que ainda
todo: a primeira é que eu não sou propria- azula no horizonte, nasceu Iracema.
mente um autor defunto, mas um defunto Iracema, a virgem dos lábios de mel, que
autor, para quem a campa foi outro berço; tinha os cabelos mais negros que a asa da
a segunda é que escrito ficaria assim mais graúna, e mais longos que seu talhe de pal-
galante e mais novo. meira.
(ASSIS, Machado de. “Obra completa.” In: COUTINHO,
O favo da jati não era doce como seu sorri-
Afrânio, org. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. p. 513. v. I)
so; nem a baunilha recendia no bosque como
Escreva, de forma concisa, sobre o narrador- seu hálito perfumado.
-personagem, Brás Cubas, apontando ele- Mais rápida que a ema selvagem, a mo-
mentos que justifiquem a postura revolucio- rena virgem corria o sertão e as matas do
nária de Machado de Assis, como iniciador Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da
do movimento literário realista: grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal
roçando, alisava apenas a verde pelúcia que
2. (Unicamp) Leia a seguir o capítulo CX, de vestia a terra com as primeiras águas.
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Ma- (José de Alencar, “Iracema”.)
chado de Assis, e que significativamente tem
o título de “31”. a) Explique a construção da personagem em
conformidade com os preceitos da literatura
Uma semana depois, Lobo Neves foi nomea- romântica.
do presidente de província. Agarrei-me à es- b) Identifique e exemplifique o recurso linguís-
perança da recusa, se o decreto viesse outra tico-textual recorrente para a construção da
vez datado de 13; trouxe, porém, a data de personagem.
31, e esta simples transposição de algaris-
mos eliminou deles a substância diabólica. 5. (Unicamp) O trecho a seguir foi extraído de
Que profundas que são as molas da vida! “Iracema”. Ele reproduz a reação e as últimas
palavras de Batuiretê antes de morrer:
a) O narrador refere-se aí a um episódio de bas-
tante importância para o prosseguimento de “O velho soabriu as pesadas pálpebras, e pas-
sua vida amorosa. Quais as relações entre o sou do neto ao estrangeiro um olhar baço.
narrador e a personagem Lobo Neves aí citada? Depois o peito arquejou e os lábios murmu-
b) Que episódio anterior deve ser levado em raram:
conta para se entender o trecho “Agarrei-me — Tupã quis que estes olhos vissem antes de
à esperança da recusa, se o decreto viesse se apagarem, o gavião branco junto da nar-
outra vez datado de 13”? ceja.
c) A frase “Que profundas que são as molas da O abaeté derrubou a fronte aos peitos, e não
vida!” pode ser interpretada como irônica no falou mais, nem mais se moveu.”
contexto do romance. Por quê? (José de Alencar, “Iracema: lenda do Ceará”. Rio
de Janeiro: MEC/INL, 1965, p. 171-172.)
3. (Fuvest) Este último capítulo é todo de ne-
gativas. Não alcancei a celebridade do em- a) Quem é Batuiretê?
plasto, não fui ministro, não fui califa, não b) Identifique os personagens a quem ele se di-
conheci o casamento. Verdade é que, ao lado rige e indique os papéis que desempenham
dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não no romance.
comprar o pão com o suor do meu rosto. c) Explique o sentido da metáfora empregada
(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas) por Batuiretê em sua fala.

61
6. (UFV) Leia atentamente o fragmento de Aluísio de Azevedo pertence ao Naturalismo.
“O cortiço”, que se refere à personagem a) Cite duas características desse estilo de época.
Pombinha: b) Exemplifique, no texto, essas duas caracte-
rísticas.
E na sua alma enfermiça e aleijada, no seu
espírito rebelde de flor mimosa e peregri- 8. (Fuvest) Considere o seguinte excerto de
na criada num monturo, violeta infeliz, que O cortiço, de Aluísio Azevedo, e responda ao
um estrume forte demais para ela atrofia- que se pede.
ra, a moça pressentiu bem claro que nunca
daria de si ao marido que ia ter uma com- (...) desde que Jerônimo propendeu para ela,
panheira amiga, leal e dedicada; pressentiu fascinando-a com a sua tranquila seriedade
que nunca o respeitaria sinceramente como de animal bom e forte, o sangue da mestiça
a um ser superior por quem damos a vida; reclamou os seus direitos de apuração, e Rita
que nunca lhe votaria entusiasmo, e por con- preferiu no europeu o macho de raça supe-
seguinte nunca lhe teria amor; desse de que rior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo
ela se sentia capaz de amar alguém, se na às imposições mesológicas, enfarava a espo-
terra houvera homens dignos disso. Ah! Não sa, sua congênere, e queria a mulata, porque
o amaria decerto, porque o Costa era como a mulata era o prazer, a volúpia, era o fruto
os outros, passivo e resignado, aceitando a dourado e acre destes sertões americanos,
existência que lhe impunham as circunstân- onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias
cias, sem ideais próprios, sem temeridades de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro
de revolta, sem atrevimentos de ambição, sensual dos bodes.
sem vícios trágicos, sem capacidade para
grandes crimes; era mais um animal que Tendo em vista as orientações doutrinárias
viera ao mundo para propagar a espécie; um que predominam na composição de O corti-
pobre-diabo enfim que já a adorava cega- ço, identifique e explique aquela que se ma-
mente e que mais tarde, com ou sem razão, nifesta no trecho (e a que se manifesta no
derramaria aquelas mesmas lágrimas, ridí- trecho b), a seguir:
culas e vergonhosas, que ela vira decorrendo a) “o sangue da mestiça reclamou os seus direi-
em quentes camarinhas pelas ásperas e mal- tos de apuração”.
tratadas barbas do marido de Leocádia. b) “cedendo às imposições mesológicas”.
AZEVEDO, Aluísio. “O cortiço”. 15ª ed.
São Paulo: Ática, 1984. p. 101.
9. Publicado em 1887, o volume A relíquia de
O autor do romance naturalista, sob a influ- Eça de Queirós substitui a literatura predomi-
ência das teorias cientificistas, apresenta o nantemente de observação de Eça de Queirós
homem como um “caso” a ser analisado, dei- para dar vazão a um veio irônico e cômico que
xando em segundo plano seu lado espiritual. já aparecera na novela O mandarim.
No texto mencionado, a personagem Pom- Trata-se de um volume de crítica social contra
binha reflete a influência do determinismo a beatice e a hipocrisia. Pode ser visto dividi-
ambiental? Justifique sua resposta. do em três partes. Determine e descreva cada
uma delas.
7. (UFSCar) Eram cinco horas da manhã e o cor-
10. No excerto abaixo, o romance Irace-
tiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a
ma é aproximado da narrativa bíblica:
sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Em Iracema, (…) a paisagem do Ceará for-
[...]
nece o cenário edênico para uma adaptação
Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum
do mito da Gênese. Alencar aproveitou até o
crescente; uma aglomeração tumultuosa de
máximo as similaridades entre as tradições
machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a
indígenas e a mitologia bíblica (…). Seu ro-
cara, incomodamente, debaixo do fio de água
mance indianista (…) resumia a narrativa
que escorria da altura de uns cinco palmos.
do casamento inter-racial, porém (…) den-
O chão inundava-se. As mulheres precisavam
já prender as saias entre as coxas para não tro de um quadro estrutural pseudo-histó-
as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos rico mais sofisticado, derivado de todo um
braços e do pescoço, que elas despiam, sus- complexo de mitos bíblicos, desde a Queda
pendendo o cabelo todo para o alto do casco; Edênica ao nascimento de um novo redentor.
os homens, esses não se preocupavam em não (David Treece, Exilados, aliados, rebeldes: o movimento
indianista, a política indigenista e o Estado-Nação imperial.
molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça São Paulo: Nankin/Edusp, 2008: p. 226, 258-259.)
bem debaixo da água e esfregavam com força
as ventas e as barbas, fossando e fungando Que associação se pode estabelecer entre os
contra as palmas da mão. protagonistas do romance e o mito da Queda
(Aluísio Azevedo. O cortiço.) com a consequente expulsão do Paraíso?

62
U.T.I. 1

Inglês
U.T.I. - Sala
How political correctness is taking over America
December 13, 2012 by Michael Snyder

The thought police __1___ watching you. Back in the 1990s, lots of jokes were made about
“political correctness”, and almost everybody thought they were really funny. Unfortunately, very
few people are laughing now because political correctness has become a way of life in America.
If you say the “wrong thing” you could lose your job or you could rapidly end up in court. Every
single day, the mainstream media bombards us with subtle messages that make it clear what is
“appropriate” and what is “inappropriate”, and most Americans quietly fall in line with this
unwritten speech code. But just because it is not written down somewhere it does not mean
that it isn’t real. In fact, this speech code becomes more restrictive and more suffocating with
each passing year. The goal of the “thought Nazis” is to control what people say to one another,
because eventually that will shape what most people think and what most people believe. If you
don’t think this is true, just try the following experiment some time. Go to a public place where
a lot of people are gathered and yell out something horribly politically incorrect such as “I love
Jesus” and watch people visibly cringe. The name of “Jesus” has become a curse word in our
politically correct society, and we have been trained to have a negative reaction to it in public
places. After that, yell out something politically correct such as “I support gay marriage” and
watch what happens. You will probably get a bunch of smiles and quite ____2___ people may
even approach you to express their appreciation for what you just said. Of course this is going to
vary depending on what area of the country you live in, but hopefully you get the idea. Billions
of dollars of media “programming” has changed the definitions of what people consider to be
“acceptable” and what people consider to be “not acceptable”. Political correctness shapes the way
that we all communicate with each other every single day, and it is only going to get worse in the
years ahead. Sadly, most people simply have no idea what is happening to them.

1. The author points out that:


a) what is acceptable to speak about does not depend on politically correct.
b) nobody cares about political correctness.
c) political correctness will happen if we like it or not.
d) political correctness will change the way we communicate.

2. The expression “thought Nazis” refers to:


a) people who are radically in favor of political correctness.
b) nazis infiltrated in the American media.
c) people who accept passively the impositions of political correctness.
d) people who focus on controlling the minds in a Nazist way.

3. In gap 1, “The thought police __1___ watching you”, could be correctly filled with:
a) is
b) are
c) can
d) was

4. In gap 2, “You will probably get a bunch of smiles and quite ____2___ people”, we could properly
use:
a) a few
b) little
c) less
d) much

65
U.T.I. - E.O.
1. Brazil offers new handout to the poor: culture
By Andrew Downie
February 5, 2014

SAO PAULO, Brazil – Like millions of other residents of Sao Paulo, Telma Rodrigues spends a large
part of her waking hours going to and from work. She hates the commute, and not just because
public transportation is packed, slow and inefficient. She finds it boring.
Now there’s light at the end of the tunnel, and it has nothing to do with new bus lanes or subway
lines. As of last weekend, the government will give people such as Rodrigues a new “cultural
coupon” worth $20 a month – enough, the 26-year-old said, to buy a book to enliven her daily
ride. The money, loaded on a magnetic card, is designated only for purposes broadly termed
cultural – although that category could include dance lessons and visits to the circus in addition
to books and movie tickets.
In a country battling poverty on an epic scale, the initiative has won widespread praise as a
worthy and yet relatively cheap project. But it has provoked questions. Is it the state’s job to fund
culture? How will poor Brazilians use the money? How do you, or even should you, convince people
that their money will be better spent on Jules Verne rather than Justin Bieber?
“What we’d really like is that they try new things,” Culture Minister Marta Suplicy said in a
telephone interview. “We want people to go to the theater they wanted to go to, to the museum
they wanted to go to, to buy the book they wanted to read”.
Although it has made significant advances in recent years, the South American nation is still
relatively isolated and many of the poorest Brazilians are unsophisticated in their tastes. They
pick up an average of four books a year, including textbooks, and finish only two of them, a study
published last year by the Sao Paulo state government showed.
Almost all of Brazil’s 5,570 municipalities have a local library, but only one in four has a bookshop,
theater or museum, and only one in nine boasts a cinema, according to the government’s statistics
bureau. When asked what they most like to do in their spare time, 85 percent of Brazilians
answered “watch television”.
(www.washingtonpost.com. Adaptado.)

Quais são os espaços culturais mais são comuns e quais os mais raros nos municípios brasileiros?

2.

a) O que o primeiro cartaz anuncia?


b) O que o segundo cartaz indica?

66
3. Brazil to abolish taxes on food staples

Feb 5, 2013

Brazilian President Dilma Rousseff’s government plans to eliminate all federal taxes on staple foods,
the latest in a series of tax cuts aimed at curbing inflation. Rousseff said on a radio talk show on
Tuesday that federal taxes have already been scrapped for rice and beans, the Brazilian worker’s
staple meal, but other basic foodstuffs will also be exempted from taxation. “These taxes must be
removed, especially on the basic food basket,” Rousseff said on a local radio station in Parana state.
Tax cuts and exemptions have been a prime tool used by Rousseff’s economic team to revive stagnant
economic growth and control inflation. Economists say inflation is speeding up after ending 2012
at 5.8 percent.
The government will update the list of 13 products in the basket of goods deemed essential for a
Brazilian family to live for a month, which has not changed for years, she said. Besides rice and
beans, it includes bread, butter, meat, milk, coffee, sugar, oil, potatoes, tomatoes, bananas and
manioc flower. “Since the basic basket law is so old, we are updating the list of products so that we
can eliminate all federal taxes on them,” Rousseff said.
(www.reuters.com. Adaptado.)

Que resultados o governo federal espera obter ao cortar impostos?

4.

Com base na leitura da charge, explique, em português, qual é o ponto de humor apresentado.

5.

Indique o tempo verbal mais usado na história escrita por Calvin. Em seguida, retire, em inglês,
dois verbos regulares conjugados nesse tempo.

67
6.

a) A figura [1] refere-se a uma campanha. Qual é o objetivo dessa campanha?


b) Por que o cachorro que aparece na figura [2] não consegue abrir a porta? Justifique sua resposta.

7.

a) Cite os conselhos irônicos que o primeiro poster dá aos adolescentes que se sentem incomodados pelos pais.
b) Explique as duas leituras possíveis do segundo poster.

8.

a) O texto acima corresponde ao modelo de um documento. De que documento se trata? Qual seria a cor
dos olhos da sua pretensa portadora?
b) Em que mês a pretensa portadora do documento teria nascido e a que se refere a data expressa pela
sequência numérica ”09-30-08”?

68
9. Lolita a) Que hábito a campanha descrita no texto
pretende incentivar?
b) Segundo o texto, em quanto esse hábito
pode reduzir as taxas de mortalidade?

By Vladmir Nabokov

First published in France by a pornographic


press, this 1955 novel explores the mind of a
self-loathing and highly intelligent pedophile
named Humbert Humbert, who narrates his
life and the obsession that consumes it: his
lust for “nymphets” like 12-year-old Dolores
Haze. French officials banned it for being
“obscene,” as 1did England, Argentina, New
Zealand and South Africa. Today, the term
“lolita” has come to imply an oversexed
teenage siren, although Nabokov, for his part,
never intended to create such associations.
In fact, he nearly burned the manuscript in
disgust, and fought with his publishers over
whether an image of a girl should be included
on the book’s cover.
Transcreva do trecho sobre o livro “Lolita”, o
que é solicitado:
a) o vocábulo substituído por did (ref.1);
b) um conectivo que estabelece uma relação de
oposição de ideias;
c) um conectivo que introduz uma exemplifica-
ção;
d) as palavras que expressam o mesmo sentido
de because it was.

1
0. Global Handwashing Day
October 15, 2009

Although people around the world wash


their hands with water, very few wash their
hands with soap at critical moments. Global
Handwashing Day will be the centerpiece
of a week of activities that will mobilize
millions of people across five continents to
turn handwashing with soap before eating
and after using the toilet into an ingrained
habit. This could save more lives than any
single vaccine or medical intervention, cut-
ting deaths from diarrhea by almost half
and deaths from acute respiratory infections
by about a quart.
(Adaptado de http://www.globalhandwashingday.
org/Global_Handwashing_Day_2nd_Edition.
pdf. Acessado em 16/07/2009.)

69
U.T.I. 1

Redação
Dissertação argumentativa
Tese
É formulação da ideia principal a ser defendida no texto. Dito de outro modo, trata-se do julgamento do autor a
respeito do tema abordado. Geralmente apresentada no primeiro parágrafo, ela deve ser clara e muito objetiva,
pois será o fio condutor de todo o desenvolvimento da redação. Exemplo:
Uma boa dica para garantir a objetividade na formulação de tese, é redigi-la no presente do indicativo e na
voz ativa, pois assim demonstra-se mais segurança em relação ao posicionamento adotado.

Argumento
São elementos que servem para comprovar e sustentar a tese ou o desdobramento de tese e que devem ser
reconhecidos como verdadeiros na discussão do tema. Caso os argumentos sejam falsos ou pouco prováveis, o
desenvolvimento da argumentação estará comprometido.

Reflexão crítica
A construção da redação exige um momento de reflexão especial do candidato. Na maioria das vezes, é mais pro-
dutivo dedicar um tempo maior para a análise do tema e para a seleção dos argumentos que para a própria escrita,
já que a construção de um ponto de vista claro e objetivo é a principal finalidade do texto.
Uma das formas de refletir criticamente sobre um assunto é separar o “joio do trigo”. No caso das disser-
tações, a reflexão pode ser iniciada separando o senso comum do senso crítico. Enquanto este se encarrega de
analisar a fundo as problemáticas discutidas, observando seu surgimento, suas causas e seus principais agentes;
aquele apenas reflete uma opinião superficial baseada em hábitos, crenças e preconceitos.

Linguagem
A linguagem empregada na redação deve respeitar a norma padrão da língua portuguesa e deve prezar pela
clareza e pela objetividade. Os termos que atribuem incerteza e imprecisão às afirmações devem ser deixados de
lado. Além disso, é importante evitar palavras pouco usadas na língua e com nível muito alto de erudição. Às vezes,
empregar uma palavra rebuscada para “impressionar” o corretor pode ser um grande equívoco.
Do mesmo modo, é importante lembrar que a linguagem do texto dissertativo-argumentativo é basicamen-
te denotativa, e portanto, não pode estar recheada de clichês, ironias, frases de efeito ou recursos de estilo. De
modo geral, as figuras de linguagem são ferramentas para explorar os sentidos das palavras em textos literários,
quadrinhos, ou canções e, consequentemente, atrapalham a objetividade da redação. A criatividade é bem-vinda
quando está no título do texto ou na apresentação de alguma ideia, mas para empregá-la, é preciso ter um domínio
considerável dos elementos básicos do texto dissertativo.

Aspectos esperados na dissertação (principais critérios)


1. Adequação entre o tema proposto e o texto do candidato;
2. Adequação ao tipo de texto solicitado (dissertação, carta, artigo de opinião);
3. Coesão textual – emprego correto de conjunções, pronomes e preposições entre os períodos;
4. Coerência dos argumentos;
5. Correção gramatical e seleção vocabular adequada.

73
Aspectos INDESEJADOS na dissertação
1. Emprego de vocabulário rebuscado ou excessivamente expressivo.
2. Composição de parágrafos isolados.
3. Ausência de posicionamento crítico diante do tema proposto.
4. Desconexão entre exemplos, citações e análises críticas.
5. Repetição meramente descritiva das problemáticas apresentadas na coletânea (paráfrase)
6. Conclusão contraditória em relação aos argumentos e posicionamentos apresentados.

Planejamento do texto
O projeto de um texto é uma espécie de esquema conceitual no qual o aluno deve inserir os principais pontos a
serem desenvolvidos no texto. Ele tem função primordial de organizar as ideias e determinar a ordem de apareci-
mento dos argumentos, obedecendo sempre a uma sequência lógica de exposição.
Nessa aula, apresentaremos alguns passos importantes para a construção de um projeto de texto bom e
completo. Um planejamento bem feito contribui para a clareza das ideias e fornece segurança ao aluno no momen-
to da escrita. Sendo assim, vale a pena dedicar um tempo maior para tal elaboração.

1. Leitura da coletânea
A primeira leitura da coletânea tem como objetivo compreender mais atentamente o tema abordado no exame. É
por meio dessa primeira leitura que o aluno começa a definir seu posicionamento a respeito do tema e o que pode
vir a ser a sua tese principal. Nesse momento, cabe fazer uma leitura atenta, destacando as informações principais
e a analisando a fonte de cada um dos excertos.
Após a primeira impressão do assunto, é fundamental que o aluno relacione as informações lidas com a
oração-tema orientadora do exame, habitualmente apresentada na maior parte dos vestibulares do país. Caso
essa oração seja uma pergunta – como a FUVEST e a UNESP têm adotado nos últimos exames –, é imprescindível
que a redação forneça uma resposta.

2. Braimstorm
O segundo passo da elaboração consiste na realização de um Braimstorm, isto é, uma tempestade de ideias acerca
do tema, que pode ser feita após ou durante uma segunda leitura da coletânea. Nesse momento, é preciso anotar
tudo aquilo que vier na cabeça: exemplos, analogias, comparações, citações, definições, ilustrações, etc. Essas ideias
embaralhadas podem ser organizadas em pequenas orações que ajudarão o aluno a ter uma visão mais clara do
conjunto.
Tomando como base o tema exigido pela ENEM no exame de 2014, segue um exemplo da organização das
ideias surgidas ao longo do processo:
§§ Tema: Publicidade infantil em questão no Brasil
§§ Objetivo/possível posicionamento: Discutir como a publicidade deve poupar a infância
§§ Ideias: Crianças não tem maturidade para compreender o funcionamento da publicidade/ Os meios de
comunicação têm poder maior para convencê-las/ A publicidade atribui um juízo de felicidade para a criança
portadora do produto, e consequentemente, excluí aqueles que não podem tê-lo./ Alguns países, como a
Inglaterra e a Noruega, já criaram regras para regular e até mesmo coibir a publicidade infantil/As escolas
podem criar projetos para a valorização da diversão desconectada da ideia de consumo, como oficinas de
confecção de brinquedos.

74
3. Pergunta-catapulta
Algumas vezes, o aluno apresenta muita dificuldade para realizar uma tempestade de ideias acerca de determinado
tema. Seja porque não há intimidade com o assunto, seja porque há um nível de abstração diferente do que ele
está habituado, torna-se difícil sair do lugar.
Para isso, apresentamos abaixo um conjunto de perguntas que podem auxiliar o estudante a refletir critica-
mente sobre e o assunto, e desse modo, alcançar um nível mais elevado de profundidade em sua discussão. Tendo
em vista que as propostas de redação sempre apresentam alguma questão ou algum problema a ser debatido,
esses elementos podem ser explorados a partir das perguntas abaixo:
a) Qual é essa questão?
b) Em que espaços essa questão é observada?
c) Como essa questão está presente na sociedade? Há exemplos dela?
d) Qual é o senso comum a respeito dessa questão?
e) Há razões históricas para o surgimento dessa questão?
f) Essa questão é discutida em algum livro/filme/canção?
g) Como essa questão aparece na mídia? Essa abordagem condiz com a realidade?
h) Quais as principais causas dessa questão? E as principais consequências?
i) Há um grupo social beneficiado por essa questão? Há algum grupo prejudicado por ela?
i) De que maneira essa questão pode ser resolvida? (ENEM)

4. Seleção
Realizadas as etapas acima, o aluno já dispõe de muitos elementos para determinar seu projeto. Agora, a tarefa
é aparar as arestas, isto é, selecionar apenas aquilo que entrará no corpo do texto e organizá-lo em parágrafos. O
critério de seleção também é simples: fica o que estiver mais bem sustentado pelos argumentos e/ou o que for mais
fácil e mais seguro de redigir. Caso o aluno não tenha certeza de algum exemplo ou citação, e não esteja confiante
em relação a uma das ideias desenvolvidas, é melhor não arriscar: esses elementos podem tranquilamente ficar de
fora da redação.

Introdução
De modo geral, o primeiro parágrafo da redação possui uma tarefa importante: situar o leitor a respeito do assunto
a ser tratado e anunciar o percurso analítico escolhido para a abordagem do tema. Geralmente, a tese do autor
também vem expressa nesse momento.
No entanto, a introdução também é responsável por atrair os olhos do leitor por meio da empatia. Embora
não seja uma exigência específica dos critérios de correção, um parágrafo introdutório mais sedutor ou até mesmo
criativo influencia positivamente a leitura do restante da redação, e ainda, em alguns casos, demonstra personali-
dade do autor.

75
Parágrafo padrão e tópico frasal
Na dissertação argumentativa, parágrafo padrão é a unidade composta por vários períodos na qual se de-
senvolve uma ideia central. Ele deve conter apenas um assunto, pois é justamente a centralidade da ideia que
garante sua unidade. A maior parte dos parágrafos confusos são aqueles que se propõem a discutir – num mesmo
espaço – dois ou três assuntos diferentes, prejudicando compreensão geral do texto.
Além disso, vale ressaltar que um parágrafo bem escrito deve rigorosamente obedecer a uma lógica sequen-
cial, isto é, as informações precisam estar apresentadas de acordo com o raciocínio que o autor deseja mostrar.
Muitas vezes, seja pelo nervosismo ou pela falta de experiência com a escrita, muitos alunos acumulam informa-
ções no parágrafo, tornando-o incoerente e até mesmo incompreensível. Nesses casos, uma boa dica é escrever
períodos curtos e realizar uma leitura atenta do parágrafo após terminar de redigi-lo.
A forma mais segura para a construção do parágrafo padrão chama-se tópico frasal. Ela é utilizada com
frequência por garantir organização e unidade na redação. No entanto, ela não é a única forma de estruturá-lo:
alguns temas mais filosóficos ou sociológicos, como os da FUVEST, podem ser estruturados de outro modo.

Tópico frasal
Chama-se tópico frasal o período-síntese que anuncia a ideia a ser desenvolvida no parágrafo. Ele deve ser curto
e conciso, e deve sempre pressupor explicações. Outro detalhe importante: em boa parte dos empregos eles estão
acompanhados de conjunções que fazem a conexão com o parágrafo anterior.

Estratégias argumentativas:
Causa e efeito / Exemplificação/
Dados estatísticos / Narração / Oposição
O objetivo principal deste e do próximo capítulo é oferecer um conjunto organizado de estratégias e técnicas que
facilitem a composição de um parágrafo de argumentação, levando em conta a existência de um tópico frasal. É
importante lembrarmos que, como foi dito na aula anterior, o tópico frasal não é a único modelo de introdução de
parágrafos, mas ainda assim é um modelo cujos recursos precisam ser praticados para que, em momento posterior,
o estudante possa fazer uso de técnicas mais elaboradas.

1. Causa e efeito
A estratégia argumentativa de causa e efeito consiste em duas etapas sequenciais. A primeira vale-se do tópico
frasal para fazer uma declaração (em geral, trata-se de uma consequência de uma ação realizada no mundo). Em
seguida, durante o desenvolvimento, é necessário complementar a informação, explicando o motivo dos fatos
anteriormente apresentados.

76
2. Exemplificação
Outra estratégia interessante de desenvolvimento do tópico frasal é a exemplificação. O movimento consiste em
apresentar uma afirmação geral mais simples para, na sequência, realizar uma prova dessa afirmação por meio de
exemplos que sustentem o tópico.

3. Dados estatísticos / científicos


O desenvolvimento do tópico frasal também pode ser realizado por meio de dados estatísticos / científicos. Essa
estratégia requer um pouco de cautela, pois não se recomenda que o estudante forneça dados estatísticos de sua
memória, principalmente se não há certeza sobre as fontes de obtenção. A principal recomendação é que o texto
replique dados fornecidos pela própria coletânea de textos que acompanha a proposta de redação.

4. Narração
Os processos argumentativos também podem ser encadeados por meio da construção de uma narrativa. Em termos
mais claros, ocorre quando recuperamos uma história / um caso, com seus personagens, localidades e vínculos tem-
porais. Para que não haja confusões entre o entendimento do que é uma narração e, por exemplo, uma descrição
ou exemplificação, é necessário lembrar desses três pontos:

I. O processo narrativo configura um conjunto de alterações de situações referentes a personagens determina-


das. Essas personagens podem ser unitárias ou coletivas (podemos ter um indivíduo sobre o qual se conta
algo, como o prefeito de São Paulo, ou podemos ter uma personagem coletiva, como a sociedade ou
os jovens da geração 2000).
II. Não podemos nos esquecer de que a história dessa(s) personagem(ns) precisa(m) estar vinculada(s) a uma
temporalidade precisa, e a também a um espaço bem configurado. A narrativa é um texto figurativo que irá
compor um argumento concreto de seu texto.
III. Toda história possui uma progressão temporal (temos eventos anteriores, concomitantes e posteriores).
Aqui, é essencial saber manipular os elementos verbais, inclusive para que possamos organizar a disposição
desses eventos em ordens variadas, de acordo com a necessidade imposta pelo tema.

5. Oposição
A argumentação por oposição envolve, naturalmente, a apresentação de dois objetos, dois fatos, ou duas pessoas
que possam ser contrapostos durante a exposição das ideias. É um recuso simples de ser usado, mas que deve estar
vinculado a temas em que realmente existam contraposições a serem discutidas.

77
Para cada tipo de prova,
um modelo de dissertação diferente

No primeiro Entre Frases, você viu alguns dos temas que já apareceram no ENEM e em grandes vestibulares dos
últimos anos, além de alguns inéditos, elaborados pela Equipe de Redação do Hexag. A maioria deles teve foco no
eixo temático das intolerâncias sociais. Nesta U.T.I., revisaremos o mais complexo e polêmico deles: a questão do
sistema carcerário brasileiro e as diversas crises que dele eclodiram. Atenção a esse assunto! Ele vai aparecer com
diversas roupagens ao longo dos vestibulares públicos e privados de 2017.
Além dos temas, você aprendeu também que há dois tipos básicos de estrutura de Redação. A mais comum,
que segue a tradição escolar do ENEM; e a mais moderna, que aparece nas provas feitas pelas Fundações Vunesp
e Fuvest, contempla provas como da UERJ e as propostas de dissertação argumentativa da PUC.
Na aula de hoje, o tema foi pensado para que você possa escolher qualquer um dos modelos para escrever,
usando a mesma coletânea. E você pode produzir os dois. Isso é muito útil para tirar suas dúvidas sobre as princi-
pais diferenças entre eles. A dica é começar por aquele que você acha mais simples e entregá-lo para correção; e,
depois, no plantão, assistido por alguém da Equipe de Redação, reescrevê-lo no outro modelo, observando como
é a lógica de cada um.

Acervo
“Odair José Borges está preso há oito anos. Pelas suas contas, deixará o presídio de Curitibanos, localizado na
cidade catarinense de São Cristóvão do Sul, em 2017, por conta da remissão da pena obtida com seu trabalho
de atividades gerais na administração da unidade prisional. Terá 35 anos. O tempo na prisão não foi, porém,
totalmente desperdiçado. ‘Hoje estudo matemática, física e história. E estou no ensino médio’, diz, orgulhoso.
‘Pretendo sair e fazer um curso profissionalizante. Eu ainda não sei exatamente o quê, só sei que quero tocar
minha vida para a frente.’
A penitenciária de Curitibanos, na qual Borges cumpre pena, é uma exceção no medieval sistema carcerá-
rio do Brasil. Na unidade todos trabalham e têm oportunidade de estudar. Nascido em família pobre, um de oito
irmãos, o detento mal completou a quarta série do ensino fundamental. Culpa da distância entre sua casa e a
escola e da necessidade de trabalhar para complementar a renda da família.
Chegou a atuar como ajudante de produção em uma fábrica da Perdigão, antes de, segundo ele, ‘cometer
um erro’. Seu maior receio é não ser aceito no mercado de trabalho quando deixar a cadeia. ‘Sempre dá aquele
medo da rejeição, mas estou me preparando para reconstruir minha vida.’”
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/uma-saida-para-o-caos-carcerario-6455.html

78
Medidas socioeducativas
promovem reinserção de presos
Chance de aprender um ofício reduz risco de egressos do
sistema penitenciário voltarem a praticar delitos

Os programas de reinserção dão uma nova chance aos egressos do sistema penitenciário e reduzem o risco de
que voltem a praticar delitos. Instituído pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Começar de Novo, criado em
2009, é um dos principais projetos do Brasil para reintegração de ex-detentos.
Os ex-presos têm acesso às vagas por meio dos tribunais locais ou pelo Portal de Oportunidades, ferra-
menta do site do CNJ. Mais de 300 empresas parceiras cadastradas disponibilizam trabalho para quem já deixou
a prisão ou está no regime semiaberto.
Os empregadores encontram dificuldade para preencher muitas das vagas, por causa da baixa qualifi-
cação dos candidatos. Cerca de 70% não têm o ensino fundamental concluído. Por esse motivo, as empresas
também estão investindo em cursos de capacitação para os ex-detentos.
Parcerias com empresas do chamado Sistema S, como Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Se-
nai) e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), estão ajudando a acelerar a qualificação profissional,
ensinando aos ex-presos ofícios como padeiro e eletricista.
Segundo o juiz auxiliar da presidência do CNJ Luciano Losekann, que coordena o Departamento de Mo-
nitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e de Medidas Socioeducativas, a oferta de trabalho ajuda a
quebrar o ciclo de criminalidade. “Ao dar uma chance de trabalho, o risco de retornar à vida do crime é menor”,
explica.
O CNJ também realiza o cadastramento de parentes de pessoas presas. Muitas vezes, a família fica de-
sestruturada quando o pai ou mãe vai para a prisão. Com o levantamento, os familiares são encaminhados para
receber benefícios e para concorrer a vagas de trabalho. O sistema já está funcionando no Maranhão e em Minas
Gerais.
Instituída há mais de 30 anos, a Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel (Funap), vinculada à Secretaria
da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, tem uma série de programas sociais para reintegrar os
ex-detentos à sociedade, nas áreas de assistência jurídica, educação, cultura, capacitação profissional e trabalho.
Os presos carentes contam com assistência jurídica integral prestada por 271 advogados. Quem quer estu-
dar tem acesso à alfabetização e pode cursar o ensino fundamental e médio. Há ainda salas de leitura, palestras
e oficinas. A Funap também oferece cursos profissionalizantes com certificação.
A oportunidade de aprender um oficío ainda no regime fechado é importante para que o detento já ganhe
a liberdade em condições de assumir uma nova profissão.
A ONG Bem Querer oferece cursos na área da construção civil para internos da Fundação Casa, de São
Paulo. Além de capacitar os jovens com aulas técnicas, o programa Construtores do Amanhã tem palestras e de-
bates sobre cidadania, comportamento e voluntariado visando a formação global do aluno. Com a qualificação,
aumentam as chances de obter um emprego ao deixar a instituição.
A Pastoral Carcerária também tem papel importante na defesa dos direitos dos presos. Em 1986, surgiu
como serviço organizado da CNBB e passou a ter uma coordenação nacional em 1988. Entre suas atividades estão
visitas, apoio jurídico, assistência às famílias e acompanhamento de denúncias de violação dos direitos humanos.
http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2012/04/medidas-socioeducativas-promovem-reinsercao-de-presos

79
Nos dias atuais, busca-se incessantemente o reconhecimento desses direitos fundamentais, mas a crise
vivenciada pelo Estado não o permite cumprir com os objetivos esculpidos na Constituição Cidadã de 1988. Isso
se reflete em todas as áreas sociais, e com grande ênfase no âmbito do Direito Penal, pois o poder estatal passou
a utilizar da pena e das prisões como principal forma de controle e manutenção da ordem, esquecendo-se que seu
objeto e limite de atuação estão estabelecidos e vinculados aos direitos fundamentais.
Partindo-se do pressuposto de que o tratamento desumano foi abolido pela Lei Fundamental, questiona-se:
isso acontece na prática? O processo penal, por si só, já não é uma tortura psicológica para o réu, o qual se vê
julgado não apenas por um juiz, que se pretende imparcial, mas por toda uma sociedade que ainda tem anseios
por justiça a qualquer custo?
Para as pessoas mais desavisadas, infelizmente ainda a grande maioria da população, o preso deixa de ser
um indivíduo dotado de direitos, e passa a ser tratado como coisa, que vive em um mundo à parte da realidade,
onde a força bruta do Estado anula o ser dotado de razão à medida que passa a intimidá-lo com o pretexto de
manter a ordem e a segurança social.
Isso ocorre porque, muitas vezes, o preso deixa
de ser visto como cidadão que tem assegurado todas Na concepção de Ingo Wolfgang Sarlet, a
as garantias constitucionais, pelo simples fato de estar dignidade humana constitui-se em "qualidade
privado de sua liberdade, o que não pode mais ser to- intrínseca e distintiva de cada ser humano que o
lerado. O cidadão preso precisa ser reconhecido como faz merecedor do mesmo respeito e consideração
ser dotado de dignidade, entendendo-se esta como por parte do Estado e da comunidade, implicando,
qualidade inerente à essência do ser humano, bem neste sentido, um complexo de direitos e deveres
fundamentais que assegurem a pessoa tanto con-
jurídico absoluto, portanto, inalienável, irrenunciável e
tra todo e qualquer ato de cunho degradante e de-
intangível.
sumano, como venham a lhe garantir as condições
Esqueceu-se que a liberdade também se trata
existenciais mínimas para uma vida saudável, além
de um dos mais importantes direitos do homem, que
de propiciar e promover sua participação ativa e
acaba sendo suprimido de forma arbitrária quando corresponsável nos destinos da própria existência
confrontado com o direito de punir. Há dificuldade de e da vida em comunhão com os demais seres hu-
compreensão de que o Estado somente existe em fun- manos".
ção da pessoa humana. Jamais poderá se olvidar que o Do ponto de vista de Luís Roberto Barroso, a
"homem constitui a finalidade precípua, e não meio de dignidade humana representa superar a intolerân-
atividade estatal". cia, a discriminação, a exclusão social, a violência,
A partir dessa realidade, outro questionamento a incapacidade de aceitar o diferente. Tem relação
é necessário: como garantir a integridade física e moral com a liberdade e valores do espírito e com as con-
do cidadão preso, se o presídio abriga mais do dobro dições materiais de subsistência da pessoa.
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e
de sua capacidade e, a pretexto de manter a segurança, Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988.
esquece-se dos direitos mais básicos do ser humano? 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 62.
BARROSO, Luís Roberto. Fundamentos Teóricos e
Que necessidade há em submeter o cidadão preso a Filosóficos do Novo Direito Constitucional Brasileiro
(Pós-modernidade, teoria crítica e pós-positivismo).
esse tipo de desumanidade? Que controle mantém o In: Barroso, Luís Roberto (org.). A Nova Interpretação
poder militar que, para manter a segurança, precisa re- Constitucional: ponderação, direitos fundamentais e
relações privadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 38
tirar do indivíduo o que lhe é mais salutar – a própria
dignidade?

80
O que se constata é que, na prática, o cidadão-
-preso perde muito mais do que sua liberdade. Perde Presídio Central de Porto Alegre, 20 de maio
sua dignidade. Está submetido à humilhação e acaba de 2005: alguns dos direitos fundamentais do ci-
dadão preso não estavam presentes naquele lugar.
se sentindo um nada. E é nesse contexto que, depois
Pelas informações recebidas da direção da-
de cumprida a sua passagem pela casa prisional, vol-
quela casa prisional, 3.667 cidadãos-presos encon-
tará ao convívio social. Estigmatizado. Rotulado. Sem travam-se recolhidos. Destes, cerca de 800 a 900 já
possibilidade de adaptação. Invariavelmente retornará tinham condenação, e os demais estavam aguar-
à criminalidade. dando julgamento. A grande maioria dos delitos
A prisão, ao invés de frear a delinquência, pa- dizia respeito a tráfico de entorpecentes e crime
rece estimulá-la, convertendo-se em instrumento que contra o patrimônio. Em torno de 10% da massa
carcerária eram de homicidas. O maior número de
oportuniza toda espécie de desumanidade, até porque
presos tem entre 18 a 25 anos e a maioria perten-
não traz nenhum benefício ao apenado; ao contrário,
cente às camadas mais baixas da população, pois
possibilita toda sorte de vícios e degradações. sequer haviam completado o ensino fundamental.
Em outras palavras, as normas penais não têm Em pouco mais de três anos, esta situação se
evitado o surgimento de novos delitos ou o nascimento agravou, tanto que o presídio foi, na época, consi-
de conflitos. Pelo contrário, está evidenciado que isso derado o pior do Brasil no relatório da CPI do Siste-
não tem relação com a aplicação da pena e tampouco ma Carcerário da Câmara dos Deputados, aprovado
em 8 de julho de 2008, diante de suas péssimas
com a intensidade das sanções.
condições.
DEMARCHI, Lizandra Pereira. Os direitos fundamentais do ci-
dadão preso: uma questão de dignidade e de responsabilidade Relatório da CPI do Sistema Carcerário da Câmara dos
social. Disponível em http://www.lfg.com.br 9 setembro. 2008. Deputados.

Especificidades FUVEST e VUNESP


Especificidades FUVEST
De acordo com último manual do candidato da FUVEST, a prova de redação exigia “uma dissertação de caráter
argumentativo, na qual se espera que o candidato, visando sustentar um ponto de vista sobre o tema, demonstre
capacidade de mobilizar conhecimentos e opiniões; argumentar de forma coerente e pertinente; de articular
eficientemente as partes do texto e expressar-se de modo claro, correto e adequado.”
Como essas exigências são comuns a qualquer vestibular cuja proposta seja a composição de um texto
dissertativo-argumentativo, nenhuma dessas características é novidade. De modo geral, a ideia de refletir sobre
dados e conceitos, tecer um ponto de vista e defendê-lo a partir de argumentos convincentes segue a mesma base
dos elementos vistos nas aulas anteriores.
A grande diferença entre outras provas e a FUVEST está no modo como parte dessas competências são cobradas.
No esquema abaixo, você encontrará algumas das especificidades e suas formas de avaliação na proposta da FUVEST.

O conceito de autoria
A FUVEST, assim como o ENEM, valoriza a elaboração de textos em que a noção de autoria possa ser reconhecida.
Isto é, o aluno deve fugir de estruturas pré-fabricadas e deve mostrar que possui competência para elaborar um
texto argumentativo a partir de suas próprias reflexões e dos textos abordados na coletânea. Nesse sentido, é im-
portante descartar fórmulas prontas para construir as partes do texto, como: “Desde a antiguidade, o homem...”,
“Atualmente, todos sabem que...,”, “Podemos concluir que...” Tais artimanhas são contraproducentes, porque
podem ser utilizadas em quaisquer contextos, e também porque são repetidas todos os anos no vestibular, fatores
que influenciam negativamente na correção.

81
Além disso, o conceito de autoria também se estende à noção de “repertório”. A FUVEST determina que
o candidato não se prenda apenas aos textos da coletânea, mas que consiga articular o texto com um repertório
pessoal de exemplos e de reflexões. Nesse ponto, não é exigida uma total erudição dos conceitos abordados –
nenhum vestibular obriga o candidato a citar exclusivamente Aristóteles, Platão, Rousseau ou Foucault – mas sim
a capacidade de relacionar o tema abordado com elementos mais abstratos, sejam eles um filme hollywoodiano
ou mesmo uma letra de rap. A única recomendação é que eles sejam pertinentes ao assunto e que a reflexão seja
bem construída.

Especificidades VUNESP
A fundação VUNESP é a responsável por elaborar a prova de diferentes vestibulares de medicina. Entre as univer-
sidades públicas estão: UNESP, UNIFESP, FAMERP FAMEMA, SANTA CASA, UEA e UFTM. Na rede privada, a funda-
ção cuida dos ingressos nas instituições ANHEMBI MORUMBI, BARRETOS, UNICID, FAM, FAMECA, SÃO CAETANO,
JUNDIAÍ, SÃO CAMILO, UNINOVE, UNIFAE, FACEF. Desse modo, é importante conhecer de perto como funciona a
prova de redação, já que sua forma de aplicação e avaliação é – em geral – a mesma em todas essas universidades.
As diferenças ficam por conta da pontuação atribuída à redação na nota final.
A redação da VUNESP, de acordo com o Manual do candidato UNESP 2018, exige “dissertação em prosa
na norma-padrão da língua portuguesa, a partir da leitura de textos auxiliares, que servem como um referencial
para ampliar os argumentos produzidos pelo próprio candidato. Ele deverá demonstrar domínio dos mecanismos
de coesão e coerência textual, considerando a importância de apresentar um texto bem articulado.” Novamente,
vemos a solicitação de um texto dissertativo-argumentativo que exige reflexão, repertório e boa articulação na
escrita. Nesse sentido, é interessante conhecer, a partir de agora, quais são as particularidades que esse tipo de
proposta requer.

Estratégias argumentativas:
argumento de autoridade /referência /
alusão histórica / comparação / definição
Dando continuidade a algo que foi iniciado no livro anterior, iremos conhecer nesse capítulo mais alguns modos
de se constituir estratégias argumentativas para a composição dos parágrafos centrais de uma redação. Não custa
lembrar que, aqui, ainda estamos conduzindo a construção de parágrafos argumentativos a partir da estratégia de
criação de um tópico frasal. E como também foi dito na aula anterior, o tópico frasal não é o único modelo de
introdução de parágrafos existente, mas ainda assim é um modelo cujos recursos precisam ser pra-
ticados para que, em momento posterior, o estudante possa fazer uso de técnicas mais elaboradas.

1. Argumento de autoridade
Em uma redação, o argumento de autoridade é um recurso de composição que consiste em sustentar a opinião a
respeito de um assunto evidenciando também conhecimentos expressos por alguém que possui domínio técnico
sobre o tema apresentado (algum especialista em determinada área). É um tipo de estratégia argumentativa cujo
uso deve ser feito com cuidado, pois é necessário que sempre verifiquemos a origem das fontes de informação que
será usadas, e seu nível de parcialidade.

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Em geral, recomenda-se que o argumento de autoridade seja retirado de textos presentes na própria cole-
tânea que acompanha a proposta de redação. Quando isso não for possível (pensando, por exemplo, em alguns
temas da FUVEST, que fornecem ao candidato somente uma imagem como elemento motivador da redação) é
necessário que tenhamos o bom senso (e a consciência) de entender que uma opinião apresentada aleatoriamente
em uma rede social, por exemplo, não possui a mesma força argumentativa que a opinião constituída por um
especialista (opinião essa, muitas vezes fundamentada a partir de longas pesquisas bibliográficas e exaustivos
trabalhos de campo).

2. Referência
A argumentação por referência tem como característica a movimentação de repertório de cultural, em campo
simbólico. Em termos mais práticos, é quando nos valemos de referências ou citações que encontramos em obras
literárias, cinematográficas, teatrais, entre outras (obras que se ligam a um campo mais ficcional, embora essa
fronteira possa ser problematizada pelo fato de existirem obras literárias enquadradas no gênero diário). Trata-se
de um recurso que deve ser usado com parcimônia, vinculando adequadamente um dado que encontramos, por
exemplo, em um texto literário, a um fato de nossa realidade material. Quando bem usado, o recurso da referência
evidencia a capacidade que o candidato possui de relacionar um elemento artístico a sua experiência de mundo.

3. Alusão histórica
O recurso da alusão histórica consiste, como o próprio nome indica, em fornecer algum dado/registro histórico que
auxilie na composição de um argumento. A informação incorporada ao texto deve contribuir para a criação de uma
linha lógica (e cronológica) entre o fato pregresso apresentado e o contemporâneo que se deseja discutir. Trata-se
de uma estratégia que pode valorizar o texto do candidato, desde que se observem alguns fatores:
Cuidado com “saltos” históricos muito amplos: ao fazer uma alusão histórica, deve-se tomar cui-
dado em não vincular o tema que se discute a um fato histórico muito distante, sem que se estabeleçam adequa-
damente as informações que permitiriam ao leitor estabelecer uma linha coerente entre os eventos. Não se trata
aqui de dizer que é “impossível” estabelecer ligações entre um evento ocorrido, por exemplo, na Idade Média e
algo de nossa vivência mais atual; mas nesse caso faz-se necessário explicitar maior número de fatos que deixem
mais clara a conexão.
Cuidado com a apresentação de fatos históricos esvaziados de sentido: evite fazer referências
históricas evasivas, em que não são explicitados os dados que farão conexão com o momento presente. Citações
como “Desde a era paleolítica”, “Desde os tempos mais remotos” ou “Desde os primórdios”, além de abarcarem
períodos históricos muito extensos (ou não definidos), não permitem ao leitor encontrar referências claras para as
conexões com o momento presente.

4. Comparação
O recurso da comparação é bem simples, e consiste em estabelecer semelhanças e diferenças entre fatos / elemen-
tos e, a partir disso, chegar a uma conclusão. A comparação é marcada por um processo de intencionalidade, em
que se deseja evidenciar pontos comuns ou distorções, a fim de embasar um argumento.

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5. Definição
A ideia de definição consiste em explicar um conceito a respeito de um assunto sem que essa explicação envolva
necessariamente uma ideia que foi desenvolvida por um especialista em alguma área (o que seria caracterizado
como argumento de autoridade). Está mais próximo de uma definição geral, mais ampla, a respeito de um tema.
Por exemplo, quando nos propomos a explicar o que é democracia ou política em algum parágrafo para que con-
sigamos justificar os argumentos que será apresentados.

Parágrafo de conclusão
Embora seja comum a ideia de que conclusão representa apenas a finalização das ideias já trabalhadas durante o
texto, ela possui uma função muito mais relevante: precisa amarrar o raciocínio desenvolvido ao longo dos
parágrafos e precisa explicitar a abordagem feita na introdução.
Em outras palavras, a conclusão deve retomar a tese anunciada pelo autor no início do texto, mostrando
ao leitor que aquela redação apresenta circularidade, isto é, uma organização coerente de todo o raciocínio de-
senvolvido, com começo, meio e fim. Nesse sentido, é fundamental fugir das “frases prontas”, como “é possível
concluir que”, “dado o exposto”, “com base nas análises realizadas” pois para cada tese, haverá uma construção
ideal de conclusão.
Outro detalhe importante que pode render uma avaliação melhor da conclusão do texto dissertativo é a
elaboração de um período final capaz de surpreender os olhos do leitor. Uma espécie de “fechamento
especial” que pode ser uma reflexão, uma ressalva, e até mesmo um questionamento que possam levar a discussão
para um outro nível, ou para outro caminho.

Retomada da tese
A ação de retomar tese na conclusão é uma das formas de garantir que o texto tenha unidade. É a maneira de
assegurar ao leitor que a redação foi planejada, organizada e realizada. Portanto, ao recuperar a ideia proposta, a
circularidade se fecha e o texto se torna redondo, coeso e coerente.
Essa retomada não deve ser construída com as mesmas palavras expostas na tese. Tal estratégia demonstra
despreparo e até mesmo falta de repertório vocabular. Uma possibilidade é tentar explicitar a tese com outras pa-
lavras, realizando uma paráfrase, e até mesmo desenvolvendo um pouco mais o raciocínio dado pela tese.
No caso do ENEM, a conclusão apresenta a proposta de intervenção, isto é, uma solução para um problema
discutido ao longo do texto.

Modelos de conclusão
Conclusão por solução

No caso do ENEM, como vimos, a conclusão por meio de uma “solução” é obrigatória, uma vez que integra a
competência “proposta de intervenção”. No entanto, a ideia de propor soluções para problemas abordados não
se restringe ao exame nacional: ela pode ser utilizada também em vestibulares como Fuvest, UERJ e UNESP, desde
que a proposta assim o permita.

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Conclusão por reflexão

A conclusão por reflexão é um dos modelos mais usados nos textos que não necessitem de intervenção. Na reto-
mada por reflexão, o autor apresenta uma ponderação sua a partir de todas as ideias apresentadas. Uma espécie
de síntese reflexiva diante dos dados analisados.

Conclusão por remissão a textos

A conclusão por remissão a textos também pode ser uma ferramenta interessante para finalizar a dissertação.
Trata-se de citar um texto ou um autor para endossar a síntese desenvolvida. Tal recurso demonstra erudição e
elegância na finalização das ideias.

Período final - Elemento especial

No final do texto, um detalhe bem construído pode fazer a diferença na atribuição da nota. Trata-se da criação de
um período não muito longo capaz de elaborar uma síntese, reflexão, sugestão ou ressalva em relação ao
que já foi dito. Não há uma regra fixa: tais construções dependem da criatividade e de capacidade de analogia
de cada aluno.

Coesão textual
Coesão textual é a conexão estabelecida entre orações, períodos e parágrafos que possibilita a amarração das
ideias dentro de um texto. Em outras palavras, ela é a responsável por “costurar” as reflexões de modo a não as
deixar soltas ou desconexas de outras ideias.
A coesão textual também é responsável por garantir que o raciocínio do autor do texto seja transmitido
ao leitor de modo claro e lógico, obedecendo a um encadeamento sequencial de reflexões. Elas são divididas em
coesão sequencial e coesão referencial.

Coesão sequencial
Coesão sequencial é aquela que cria – dentro do texto – condições para que a leitura possa avançar ou progredir.
São responsáveis por esse tipo de coesão as flexões verbais (tempo e modo) e as conjunções, também chamadas de
conectivos. Estes são os principais responsáveis por articular a coesão no interior da dissertação argumentativa.

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Acervo
TEXTO I

“O jovem é especialmente suscetível aos apelos do consumismo”


Especialista fala sobre as relações entre juventude e consumo desenfreado

Carta Educação: Em que contexto histórico a sociedade começou a ganhar ares consumistas?

Maria Helena Martins: O consumo sempre existiu: consumimos alimentos, oxigênio, água, etc. Isso é essencial
para a manutenção da vida. O consumismo é um fenômeno econômico e social que apareceu com maior ênfase
após os anos 1960. É definido como sendo uma ideologia que encoraja a compra de produtos e serviços em quan-
tidade sempre maior. Para manter esse nível de consumo, a indústria instituiu o que chamamos de “obsolescência
programada”, ou seja, a introdução planejada de aperfeiçoamentos nos produtos para que sejam substituídos
pelos modelos mais novos. Com isso, o consumidor descarta o produto que já tem, e que ainda funciona para os
fins para os quais foi criado, e deseja o produto mais aperfeiçoado. O ciclo do desejo e a vontade de comprar são
mantidos ativos dessa forma.

CE: Como a juventude se relaciona com esse contexto? Quais são os principais fatores que levam o jovem a
querer comprar cada vez mais?

MHM: O jovem é especialmente suscetível aos apelos do consumismo. As mídias, tanto as mais antigas, como
revistas, jornais, televisão, quanto as novas, difundidas pela internet, incluindo as mídias sociais, mostram propa-
gandas de todos os tipos de produtos. Além disso, os blogs apresentam modos de vida considerados “desejáveis”
pelos seus desenvolvedores, que ganham para mostrar certos produtos. O aval desses formadores de opinião
tornou-se extremamente importante para os jovens que querem projetar uma determinada imagem. Por isso,
tanto a moda adotada pelo grupo ao qual deseja pertencer, quanto o grupo em si, são importantes na formação
desses valores consumistas.

CE: Muitas manifestações culturais como o funk fazem ode à ostentação. Isso é reflexo de uma sociedade que
valoriza a posse?

MHM: Não podemos nos esquecer das origens do funk carioca: as favelas do Rio de Janeiro. O funk ostentação,
criado em São Paulo por volta de 2008, enfatiza, em suas letras, o consumismo, a conquista de bens materiais e
a ambição de sair das favelas e conquistar seus objetivos de riqueza. Para essa parcela da população, em geral
invisível, a única maneira de ser é por meio dos bens materiais. As ideias difundidas pelo funk ostentação foram
abraçadas pela “nova classe média”, que ascendeu economicamente a partir de 2005 e mudou significativamen-
te seu padrão de consumo.
http://www.cartaeducacao.com.br/entrevistas/o-jovem-e-especialmente-suscetivel-aos-apelos-do-consumismo/

TEXTO II

Marketing do amor: periferias globais, mimeses e desigualdade

A devoção ao consumo de marcas caras e/ou de luxo entre grupos das camadas mais baixas não é um fenômeno
novo, tampouco restrito ao Brasil. Com nuanças locais e nacionais, trata-se de um fato estrutural à condição pe-
riférica na modernidade. Para Newell (2012), que analisou o consumo de marcas ocidentais entre jovens pobres
da periferia de Côte d’Ivoire, os integrantes desses rituais de consumo estão resistindo ao abandono que circunda
a suas vidas.

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Segundo Lemos (2009), as periferias vêm se apropriando cada vez mais do “chic” e que isso se potencializa e
torna-se mais visível graças à internet. O fenômeno está em vários lugares do mundo, como na Inglaterra, onde
existe a turma dos “chavs”, também conhecidos como grupos da periferia de Londres, que adotaram a caríssima
marca Burberry como sua preferida. Ficou comum ver “chavs”, muitos deles desempregados, andando pelas
ruas de Londres com blusões da Burberry. No Brasil, algo parecido acontece na rua e na internet. A Lacoste, por
exemplo, que tem uma campanha claramente direcionada para um público de elite, tornou-se uma das marcas
favoritas das periferias. Segundo a letra de um funk do Bonde da Lacoste: “desde que eu me conheço como gen-
te/ que a Lacoste é o símbolo da gente”.
Existem diversos outros exemplos desse tipo de fenômeno que ocorre
nas periferias dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Ainda que manifestações sejam muito diversas,
respondendo a contextos plurais, é possível pensar para além da esfera local e nacional. Em comum, encontra-se
o fato de que grupos das camadas menos privilegiadas se apropriam dos símbolos de poder e riqueza do capita-
lismo global. Destaca-se igualmente uma hegemonia masculina na presença nos rituais públicos. E as marcas são
símbolos dessa desigualdade.

TEXTO III

Opções (Mc Dee)

Variações
Uma pá de coisa
Escolha o que você quer
Moto do ano
Carro de luxo
Ouro, jóia e fama
Castelo mulher

Leve o que quiser
Quanto cê aguentar

Só não vai cai
Que tudo é ilusão
Vaidade extrema
Diz Quanto que se que
Enquanto vira
Pro seu problema soluciona
Pra adrenalina extravasa
Diz quanto que é
Se sustenta o peso
Isso é só o começo
Tudo tem um preço
Cuidado com alma
Ganância eleva te mata te cega
Cuidado amigo
O mundo é uma guerra
Não perca batalha
Muitos nem vê o corte da navalha
A rua estrala

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Alguns meios justificam os fins
Tudo tem um inicio
Enfim
Nada muda amigo
Atenção!
Retalhação!
Pra se injuria e a mente
Vira
Impulsiona sua a disposição
Conclusão
Vida num engana vida num engana
Ela é uma só então cuidado cusão
Se Tudo tem um preço então
A mente destrava
Versos rajada
As onça e as carpa
Problema solução
Escolha o destino poder em suas mãos
Aperto o Gatilho toma decisão
Vai na confiança pra ter a mudança

TEXTO IV

Ostentação vulgar e desmedida dos novos-ricos ganha exposição em NY

Mulheres com bolsas Versace, em uma inauguração exclusiva de uma loja Versace, em Beverly Hills (Califórnia).

"Sou um luxo." A frase estampa o suéter que Ilona, uma top model russa casada com um bilionário do ramo de
transporte de cargas, escolheu para vestir num retrato ao lado de sua filha, uma loirinha impaciente, montada
em seu pônei de pelúcia.

"Quando você ganha muito dinheiro, você precisa ter uma casa grande, uma bela mulher com diamantes enormes
e uma bolsa Birkin de pele de crocodilo, carros caros, um jatinho, um iate. É isso que mostra que você é bem-
-sucedido", afirma a modelo.

Lauren Greenfield, a fotógrafa do outro lado da lente, passou as últimas duas décadas dissecando a dor e a delícia
–e verdades e mentiras– dessa receita de sucesso.

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Suas fotografias juntas agora no International Center of Photography, em Nova York, constroem um panorama
vertiginoso de joias lustrosas, plásticas assustadoras, injeções de botox e dólares chovendo sobre strippers.

É um dos mais potentes ensaios visuais sobre a chamada era do "bling", a ostentação vulgar e desmedida que
varreu o mundo numa bolha de especulação financeira.

Foram anos de bonança que forjaram uma classe de novos-ricos e terminaram com uma crise sem precedentes
em Wall Street e a ascensão do populismo de Trump.

"Não é só sobre os ricos, é sobre nossa crescente aspiração à riqueza, que se torna cada vez mais uma meta
irreal", afirma Greenfield, sobre o seu trabalho.

"O sonho americano significava que cada um de nós teria uma oportunidade igual para se sair bem. Agora aquele
sonho virou uma fantasia inatingível."

Ou pesadelo. Uma ala da mostra escancara os excessos –meninas que querem parecer princesas da Disney, um
empresário que não sai de casa sem quilos de joias sobre o corpo, um rapper com adornos de diamante nos
dentes, uma motorista de ônibus que torrou as economias de toda a vida em cirurgias plásticas para reinventar
o seu corpo.

Outra ala se refestela sem dó no desespero do fracasso financeiro. Uma mulher é retratada à beira da piscina da
mansão que perdeu para o banco e casas novinhas apodrecem em Dubai depois da fuga em massa de devedores.
Entre tudo e nada, numa ilustração tocante de como o dinheiro pode escravizar, uma dançarina de boate aparece
pelada, no fim do dia, engatinhando no chão para recolher todos os dólares arremessados por seus clientes.
http://m.folha.uol.com.br/mercado/2017/10/1931205-ostentacao-vulgar-e-desmedida-dos-novos-ricos-ganha-exposicao-em-
-ny.shtml?mobile

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Proposta 1
TEXTO I

ATÉ QUANDO O BRASILEIRO IRÁ SE FANTASIAR DE RICO?

Na teledramaturgia brasileira, nenhuma história é tão poderosa quanto a do pobre que faz de tudo
para ficar rico. Da novela Vale Tudo, quando Maria de Fátima (Glória Pires) vendeu a casa da famí-
lia, largou a mãe (Regina Duarte) no meio da rua e se mudou para o Hotel Copacabana Palace até
a nossa saudosa Carminha (Adriana Esteves), que foi literalmente do lixo ao luxo, tornando-se a
Sra.Tufão. O grande sonho do brasileiro é fazer a transição de classes e subir na vida. Ostentação
e golpe são intrínsecos à nossa cultura.
Na moda, você não precisa realmente ser rico para parecer rico; isso é um trunfo na manga dos que
almejam a escalada social. A moda ostentação é o estilo das pessoas que exibem peçaschave que
têm um valor alto para pertencerem a uma camada especial da sociedade. Em pesquisa recente da
USP com jovens da periferia, 97% dos entrevistados afirmou que se tivessem R$ 500,00 gastariam
tudo com roupas de grifes.
Uma bolsa Louis Vuitton ou um cinto da Hermès dão a falsa impressão a pessoas com poucos
recursos de que elas são ricas. Muitas vezes essas pessoas vivem em condições precárias, não têm
seguro de saúde ou acabamento nas paredes da sala, mas o símbolo de status traz um conforto
social que acaba sendo mais importante que o conforto físico. É o ter versus o ser. No Brasil, o ter
(infelizmente) ainda é mais importante.
Nesse contexto, marcas de luxo continuam seus planos de expansão no Brasil. Veja só: já existe
loja da Prada no Recife. Pois é, o mundo globalizado tem dessas coisas. Mas qual é o propósito de
comprar uma bolsa da Prada no Recife ou uma bolsa da Louis Vuitton em Curitiba?
A funkeira MC Pocahontas, autora do hit "Mulher no Poder", conta como já "torrou" mais de
R$10.000,00 com vaidades na letra da sua música, incluindo bolsa da Louis Vuitton (sonho-de-
-cadamulher). Convidada do programa Na Moral, de Pedro Bial, na Rede Globo, MC Pocahontas
contou para o apresentador que havia recentemente comprado duas bolsas da grife francesa em
Shopping de Curitiba. Acrescentou que foi esnobada pela vendedora e por isso decidiu pagar à
vista. Ostentação com uma dose de esnobação.
Rewind para 1837. Um garoto de 16 anos chegou a Paris - a pé - e começou a desenvolver baús
e caixas de viagem sob medida. Os produtos eram resistentes, pois naquela época se viajava de
carruagem, barco ou trem. Com foco em qualidade de materiais e durabilidade, esse garoto criou o
maior império de luxo do mundo. Ele se chamava Louis Vuitton. A Louis Vuitton não foi feita para
ostentar e, sim, para atender demandas de um público consumidor que exigia e merecia qualidade.
Os franceses são conhecidos pela sua elegância e tradição e a LV sempre entregou isso.
Voltando para o Brasil, a moda ostentação é uma cópia atrasada do movimento Bling Bling, que
iniciou há 12 anos nos Estados Unidos. Com a ascensão do Hip Hop, os então novos astros, que pela
primeira vez começaram a lidar com muitas cifras, passaram a usar de diamante, ouro e logos como
símbolos da nova ascensão social. Qualquer velho rico ou novo rico sabe que o dinheiro mudou de
mãos.
Aqui no Brasil, o interessante é que na maioria das vezes não tem dinheiro de verdade. As pesso-
as querem mesmo é ostentar e parecer o que não são. Inclusive os ricos ostentam. Se você for ao
bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, e ver grupos de garotas de classe média alta, vai notar as bolsas
Goyard e Louis Vuitton repetidamente em mesas, como se essas bolsas fossem um vale aceitação
para elas se sentirem adequadas nesses ambientes. Essas bolsas, pasmem, não têm nem zíperes ou
fecho algum. E estamos falando de São Paulo, uma das cidades mais violentas do mundo.
Nos EUA, os artistas de hip hop hoje são finos de verdade. Pense em Pharrell Williams ou Kanye
West. Eles representam já o old money do hip hop e não precisam mais de logos e grifes para pro-
varem algo.
A moda está mudando. Mesmo a Louis Vuitton, Prada e Saint Laurent já desenvolvem coleções
comerciais com roupas funcionais, atemporais e extremamente elegantes. Essas peças não se dife-
renciam muito do que podemos encontrar nas redes de fast fashion por fora, mas, por dentro, os
acabamentos, materiais e estruturas têm infinitamente mais qualidade. O brasileiro deve começar
a se dar conta de que vestir-se de rico não acontece de fora pra dentro e sim de dentro pra fora.
Fonte: http://vida-estilo.estadao.com.br/noticias/moda,moda-ostentacao,1551567

90
TEXTO II

Contando os plaque de 100, dentro de um Citroën,


Ai nois convida, porque sabe que elas vêm.
De transporte nois tá bem, de Hornet ou 1100,
Kawasaki,tem Bandit, Rr tem também. (2x)

A noite chegou, e nois partiu pro Baile funk,


E como de costume, toca a nave no rasante
De Sonata, de Azera, as mais gata sempre pira
Com os brilho das jóias no corpo de longe elas mira,
Da até piripaque do Chaves onde nois por perto passa,
Onde tem fervo tem nois, onde tem fogo há fumaça.

É desse "jeitim" que é, seleciona as mais top,


Tem 3 porta, 3 lugares pra 3 minas no Veloster
Se quiser se envolver, chega junto vamo além
Nois é os pica de verdade, hoje não tem pra ninguém.

Contando os plaquê de 100, dentro de um Citroën,


Ai nois convida, porque sabe que elas vêm.
De transporte nois tá bem, de Hornet ou 1100,
Kawasaky, tem Bandit, Rr tem também.

Nois mantem a humildade,


Mas nois sempre para tudo
E os zé povinho que olha, de longe diz que absurdo.
Os invejoso se pergunta, tão maluco o que que é isso,
Mas se perguntar pra nóis, nóis vai responder churisso,

Só comentam e critica, fala mal da picadilha


Não sabe que somos sonho de consumo da tua filha.
Então não se assuste não, quando a notícia vier a tona,
Ou se trombar ela na sua casa,
Em cima do meu colo, na sua poltrona.

TEXTO III

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TEXTO IV

O funk ostentação revela a ânsia da classe trabalhadora de se sentir próxima, ainda que simbolica-
mente, do estilo de vida que sempre lhe foi vendido como ideal, mas que sempre lhe foi negado.
Não restam dúvidas de que essa exaltação do consumo contribui para a fetichização da mercadoria
e, como consequência disso, para a reprodução da lógica de funcionamento do sistema em que vi-
vemos hoje. Mas não podemos ignorar que a exaltação do aumento do poder de consumo de quem,
até pouco tempo, mal conseguia garantir o mínimo necessário a sua sobrevivência, também é uma
forma encontrada pela classe trabalhadora de produzir juízos sobre seu lugar na sociedade. É claro
que eu gostaria de ouvir letras de funk que falassem sobre a exploração de classe e que denun-
ciassem as condições precárias em que vivem a maioria dos trabalhadores brasileiros, mas creio
que seja contraditório exigir desses artistas um grau de conscientização social pré-determinado,
sem que lhes seja oferecida a possibilidade dessa conscientização. Os preconceitos, as contradições
sociais e as várias formas de opressão que aparecem no funk – de todas as tendências – refletem,
apenas, aquilo que já está presente em todas as relações sociais do nosso cotidiano. Ignorar o funk
não vai resolver. Não quero dizer, com isso, que devemos aceitar como natural a reprodução da
ideologia dominante em suas letras. Mas acredito que a luta contra a hegemonia dominante não
deve desprezar nenhuma via que ainda esteja em disputa e nem deve reproduzir a mesma opressão
que está sendo combatida.
https://capitalismoemdesencanto.wordpress.com/2014/02/20/o-funk-ostentacao-a-nova-classe-media-e-a-luta-de-classes-no-brasil/

TEXTO V

O cidadão é o consumidor, e o consumo se coloca no lugar de interesse político. Só estão inseridos


no novo contexto mundial em evidência os que podem consumir, porque os produtos e a sua con-
sequente ostentação incluem o indivíduo na arena de visibilidade e importância social.
A cidadania desafiada: o direito a consumir consumiu o cidadão. Dissertação de mestrado de Mara Leal, defendida no
Programa de Pós-Graduação em Direito da UFSC. http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/91738

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação,
empregando a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: Os impactos da relação entre
consumismo e ostentação na sociedade brasileira

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