Você está na página 1de 3

COLÉGIO ESTADUAL DULCINA CRUZ LIMA

Disciplina: Filosofia Turma: 2º ano Turno: Matutino


Prof.ª: Josineide Medeiros Aluno(a): __________________________________________________________

Atividade: A CIÊNCIA E A ARTE

1. Leia o texto a seguir:

A formação do espírito científico

A ideia de partir de zero para fundamentar e aumentar o próprio acervo só pode vingar em culturas de
simples justaposição, em que um fato conhecido é imediatamente uma riqueza. Mas, diante do mistério do real, a
alma não pode, por decreto, tornar-se ingênua. É impossível anular, de um só golpe, todos os conhecimentos
habituais. Diante do real, aquilo que cremos saber com clareza ofusca o que deveríamos saber. Quando o espírito se
apresenta à cultura científica, nunca é jovem. Aliás, é bem velho, porque tem a idade de seus preconceitos. Aceder à
ciência é rejuvenescer espiritualmente, é aceitar uma brusca mutação que contradiz o passado.

A ciência, tanto por sua necessidade de coroamento como por princípio, opõe-se absolutamente à opinião.
Se, em determinada questão, ela legitima a opinião, é por motivos diversos daqueles que dão origem à opinião; de
modo que a opinião está, de direito, sempre errada. A opinião pensa mal; não pensa: traduz necessidades em
conhecimentos. Ao designar os objetos pela utilidade, ela se impede de conhecê-los. Não se pode basear nada na
opinião: antes de tudo, é preciso destruí-la. Ela é primeiro obstáculo a ser superado. Não basta, por exemplo, corrigi-
la em determinados pontos, mantendo, como uma espécie de moral provisória, um conhecimento vulgar provisório.
O espírito científico proíbe que tenhamos uma opinião sobre questões que não compreendemos, sobre questões que
não sabemos formular com clareza. Em primeiro lugar, é preciso saber formular problemas. E, digam o que disserem,
na vida científica os problemas não se formulam de modo espontâneo. É justamente esse sentido do problema que
caracteriza o verdadeiro espírito científico. Para o espírito científico, todo conhecimento é resposta a uma pergunta.
Se não há pergunta, não pode haver conhecimento científico. Nada é evidente. Nada é gratuito. Tudo é construído.
BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. p. 17-18.

a. O que quer dizer a seguinte afirmação de Bachelard: “Aceder à ciência é rejuvenescer


espiritualmente [...]”?
b. Por que, segundo o texto, a formulação do problema caracteriza o espírito científico?

2. Para Nietzsche, apenas quando usamos o “chapéu de bobo” a vida é suportável. Segundo esse filósofo, a
arte nos ajuda a deixar de ser “pesados e sérios” e experimentar o pensamento livre.

A gaia ciência – aforismo

Nossa derradeira gratidão para com a arte. – Se não tivéssemos aprovado as artes e inventado essa espécie
de culto do não verdadeiro, a percepção de inverdade e mendacidade geral, que até agora nos é dada pela ciência –
da ilusão e do erro como condições de existência cognoscente e sensível –, seria intolerável para nós. A retidão teria
por consequência a náusea e o suicídio. Mas agora a nossa retidão tem uma força contrária, que nos ajuda a evitar
consequências tais: a arte como a boa vontade da aparência. Não proibimos sempre que os olhos arredondem,
terminem o poema, por assim dizer: e então não é mais a eterna imperfeição, que carregamos pelo rio do vir a ser –
então cremos carregar uma deusa e ficamos orgulhosos e infantis com tal serviço.

Como fenômeno estético a existência ainda nos é suportável, e por meio da arte nos são dados olhos e mãos
e, sobretudo, boa consciência para poder fazer de nós mesmos um tal fenômeno. Ocasionalmente precisamos
descansar de nós mesmos, olhando-nos de cima e de longe e, de uma artística distância, rindo de nós ou chorando
por nós; precisamos descobrir o herói e também o tolo que há em nossa paixão do conhecimento, precisamos nos
alegrar com nossa estupidez de vez em quando, para poder continuar nos alegrando com a nossa sabedoria! E
justamente por sermos, no fundo, homens pesados e sérios, e antes pesos do que homens, nada nos faz tanto bem
como o chapéu do bobo: necessitamos dele diante de nós mesmos – necessitamos de toda arte exuberante,
flutuante, dançante, zombeteira, infantil e venturosa, para não perdermos a liberdade de pairar acima das coisas,
que o nosso ideal exige de nós. Seria para nós um retrocesso cair totalmente na moral, justamente com a nossa
suscetível retidão, e, por causa das severas exigências que aí fazemos a nós mesmos, tornamo-nos virtuosos
monstros e espantalhos. Devemos também poder ficar acima da moral: e não só ficar em pé, com a angustiada
rigidez de quem receia escorregar e cair a todo instante, mas também flutuar e brincar acima dela! Como
poderíamos então nos privar da arte, assim como do tolo? – E, enquanto vocês tiverem alguma vergonha de si
mesmos, não serão ainda um de nós!
NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 132-133.

a. Segundo Nietzsche, na arte as pessoas podem “descansar de si mesmas”. O que ele quis dizer com
isso?
b. O aforismo citado fala sobre um “espírito livre”. De acordo com sua leitura do texto e a relação entre
filosofia e arte, responda: qual é o significado dessa expressão?

3. Podemos falar em “ciência” na Antiguidade? Cite exemplos da produção de um conhecimento sistematizado


naquela época.

4. Quais são os dois componentes básicos da ciência moderna?

5. De acordo com o que foi visto neste capítulo, explique por que a arte é importante para a vida humana.

6. Explique o conceito de “indústria cultural” e seu impacto na produção artística contemporânea.

7. Reflita sobre a letra da música “A ciência em si” e escreva um pequeno texto, relacionando-a às noções de
mito e ciência.

A ciência em si

Se toda coincidência A ciência em si


Tende a que se entenda Se o que se pode ver, ouvir, pegar, medir, pesar
E toda lenda Do avião a jato ao jaboti
Quer chegar aqui Desperta o que ainda não, não se pôde pensar
A ciência não se aprende Do sono do eterno ao eterno devir
A ciência apreende Como a órbita da terra abraça o vácuo devagar
A ciência em si Para alcançar o que já estava aqui
Se toda estrela cadente Se a crença quer se materializar
Cai pra fazer sentido Tanto quanto a experiência quer se abstrair
E todo mito A ciência não avança
Quer ter carne aqui A ciência alcança
A ciência não se ensina A ciência em si
A ciência insemina
ANTUNES, Arnaldo; GIL, Gilberto. A ciência em si. In: Gilberto GIL: Quanta (CD), Warner Music, 1997. Letra disponível em:
<www.gilbertogil.com.br/sec_disco_interno.php?id=34>. Acesso em: 30 jan. 2016.

8. Com base no texto de Jean-Pierre Vernant, abaixo, indique os “vínculos demasiado estreitos” entre o
advento da pólis e o nascimento da filosofia.

Advento da pólis, nascimento da filosofia: entre as duas ordens de fenômenos, os vínculos são demasiado
estreitos para que o pensamento racional não apareça, em suas origens, solidário das estruturas sociais e mentais
próprias da cidade grega. [...] De fato, é no plano político que a Razão, na Grécia, primeiramente se exprimiu,
constituiu-se e formou-se. A experiência social pôde tornar-se entre os gregos objeto de uma reflexão positiva,
porque se prestava, na cidade, a um debate público de argumentos. [...] A razão grega é a que de maneira positiva,
refletida, metódica, permite agir sobre os homens, não transformar a natureza. Dentro de seus limites, como em
suas inovações, ela é filha da cidade.
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. São Paulo: Difel, 1986. p. 141-143.

9. Considerando a concepção racional de destino, que se refletiu na vida política ateniense por meio da
democracia, de que modo ela se diferencia da concepção de destino derivada da religião, do mito e do senso
comum?

10. Embora muitos considerem que vivemos, hoje, em uma sociedade democrática e que a filosofia, a ciência e a
arte estão muito desenvolvidas, é comum encontrarmos conflitos entre alguma das formas de potência do
pensamento e a mitologia, a religião ou o senso comum, o que prova que essas três formas de pensamento
ainda vigoram entre nós. Identifique um desses conflitos no mundo atual. Qual é a sua posição a respeito
dele?

11. (Enem 2014)

A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o
universo), que não se pode compreender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com os quais está
escrito. Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras
geométricas, sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras; sem eles, vagamos perdidos dentro
de um obscuro labirinto.
GALILEI, G. O ensaiador. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978. No contexto da Revolução Científica do século XVII,
assumir a posição de Galileu significava defender a

a. continuidade do vínculo entre ciência e fé dominante na Idade Média.


b. necessidade de o estudo linguístico ser acompanhado do exame matemático.
c. oposição da nova física quantitativa aos pressupostos da filosofia escolástica.
d. importância da independência da investigação científica pretendida pela Igreja.
e. inadequação da matemática para elaborar uma explicação racional da natureza.

12. (Enem 2015)

A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de
todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar,
porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e
fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está contido o
pensamento: Tudo é um.
NIETZSCHE, F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1999. O que, de acordo com Nietzsche,
caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos?

a. O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em verdades racionais.


b. O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas.
c. A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes.
d. A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas.
e. A tentativa de justificar, a partir de elementos empíricos, o que existe no real.

Você também pode gostar