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HENRIQUE CRISTIANO JOSÉ MATOS

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'. · Iniciação à Teologia


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O que é teologia?

1.1 Conceito

Quando perguntamos a católicos comuns o que entendem por


teologia, receben1os as respostas mais variadas.
Uma doméstica disse: "Não sei, acho que é o estudo dos pa-
dres". Uma colega dela se expressou assim: "Sempre ouvi falar que
é o que os padres faze,n, 1nas nunca perguntei o que é" . Um jovem
do ensino 1n édio respondeu: "N ão tenho a mínima ideia". Outro
aluno da 1nesma escola pública comentou: "Deve ser alguma coi-
sa da H istória, quando se colocou a Terra no centro do universo
[sicJ': Um membro de uma Comunidade eclesial da periferia, recen-
temente investido como Ministro da Palavra, argumentou: "Penso que
é o estudo das coisas de D eus, da Bíblia Sagrada". E assim poderíamos
continuar a lista.. .
Para muitos cristãos teologia é algo misterioso, inacessível ao
homem comum, formando um conjunto de palavras e afirmações
sobre a religião que soa estranho e complicado.
O vocábulo T EOLOGIA compõe-se de dois termos: "Theós" e
"logia" = uma "palavra sobre D eus", tendo originalmente o senti-
do de invocação e/ou anúncio.
Na exp ressão acertad a d e Karl Rahner (1904-1984) - um dos
maiores teólogos católicos d o século XX - teologia é "a explanação
e explicação consciente e metodológica da Revelação divina, rece-
bida e aprendida na fé" . Nesta fonnulação estão presentes os ele-
mentos identificadores de uma autêntica teologia cristã. Trata-se
)

de fato, de "ciência da fé", entendida como esforço humano para


compreender e interpretar a experiência de fé de uma comunidade
e comunicá-la em linguagem e símbolos.
Podemos dizer igualmente que teologia é "a fé de olhos aber-
tos", uma fé lúcida, inteligente e crítica (1,27). Deus é seu objeto
primeiro, um Deus que "se revela" e se faz conhecer na História.
Assim, a teologia inclui um encontro entre Deus que vem a nós e
o ser humano que se abre à sua manifestação.

1.2 A fé que procura entender-se

A teologia nasce da fé; é seu desdobramento teórico ou inte-


lectual. A experiência da fé constitui sua condição interna, essencial
e vital (1 , 119). Com a razão o cristão procura aprofundar, justifi-
car e esclarecer seu ato de fé em D eus (4,67). U m fiel consciente
deseja, quase instintivamente, "compreender o que crê" ou captar
pela razão aquilo de que já está convencido pela fé.
Santo Anselmo (t 1109) fala, com propriedade, da "fé que ama
saber". Sim, verdadeiro amor "nasce da fé" e deseja saber as razões
"por que ama". Em outras palavras: a fé busca sua intelecção. Bela
é a seguinte prece de Anselmo que expressa sua incessante procura,
tanto na contemplação como no saber:
"Não pretendo, Senhor, penetrar a tua profundidade,
porque de forma alguma a minha razão é comparável
a ela. Desejo entender de certo modo a rua verdade,
que o meu coração crê e ama. Não busco, com efeito,
entender para crer, mas creio para entender."

A teologia como "inteligência da fé" vai ao encalço do sentido


derradeiro da vida, de sua "razão de ser". É algo próprio do ser

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racional. O ser hu1nan o, de fato , não se conten ta com expli cações
parciais. Sempre está à procur a de um se ntido plenifi cante de sua
existên cia. O fiel encont ra es ta "razão última' ' em Deus, "Aquele
que é", o Ser verdadeiran1e nte "subsis tente", o ''Ser-em -si", que
lhe é revelado na Histór ia e, de forma cabal e definitiva, na pessoa
de Jesus. Em Cristo, ele tem "acesso, em toda sua riqueza, à ple-
nitude do entend imento , do conhec imento do mistéri o de Deus,
pois nele estão escond idos todos os tesouro s da sabedo ria e da
ciência" (Cl 2,2-3).

A teologia é totalizante porque abarca o inteiro horizo nte de


compre ensão da vida e do significado da realidade (1,43). Levant a
a pergun ta maior sobre o sentido radical da existên cia e, por isso,
conserva uma perene atualid ade.

1.3 A eclesialidade da teologia

Teologia se faz dentro da Comun idade eclesial e como serviço


ao Povo de Deus. Com efeito , trata-se de "teologia da fé" e fé é "fé
da Igreja". É na Comu nidade eclesial que essa fé nasce, cresce e se
mantém . Assim, teologi a não é uma ativida de privada , mas essen-
cialme nte eclesial. A Igreja é seu sujeito primár io e o seu espaço
vital. A razão é óbvia: o obj eto da teologia é a "fé revelada", uma
realidade confiad a a todo o Povo de D eus, que, por este motivo ,
constit ui seu med ianeiro indispensável (1 ,462) . Cabe à teologi a
repensa r e "reinve ntar" a fé cristã em contin uidade com a tradição
viva da Igreja, mas igualm ente atenta às necessidades e urgênc ias
do homem de hoje.
Na Comu n idade eclesial a fé é testem unhada primei rament e
no querigma (anúncio) e só depois transm itida na didaska lia (ensino ).
A teologia não reflete, em prim eiro lugar, uma doutrin a, mas a
própria Revelação , en tendid a como "verdad e-event o": o aco nte-
cimento da Ve rdade salvífic a na Histór ia, aco lh ida na fé (1 ,11 5) .

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1.4 Teol ogia com o ciênc ia
A teologia é ciência pelo fato de ser conh ecim ento críti
.
Cü , Sis-
temá tico e auto ampl ifica nte. Trata -se de uma ciênc ia sui
g
enerzs.
difer ente de outra s áreas do sabe r hum ano~ Não se aprox
ima d~
seu "obJ. eto" com o algo exter ior ou alheio. E uma "sabedorià
' ) ou
"con hecim ento", ligad a a uma expe riênc ia praze rosa e aman
te que
ilum ina o senti do da exist ência (3 ,195 ).
A teolo gia é efeti vame nte uma ciência fundamental e nesta
cond ição uma refer ência indis pens ável para as outra s ciênc
ias. Re-
mete ao fim derra deiro da vida e ao significado radical da
existên-
cia. As ciências, de fato, se ocup am com as "cau sas" do mund
o;
a filosofia com sua "essê ncià ', mas a teolo gia ating e seu "sent
ido
últim o" (1 ,365 ). Tem os aqui o sabe r m ais elevado, a ciência
abso-
luta, cujo obj eto é Deus, visto com o sen tido supremo de
tudo e
fonte da felici dade plen ifi cante .
A teolo gia, cujo esco po é preci same nte desvelar o sentid
o
fund ante e trans cend ente da existência, man tém com as
demais
ciências uma relação dialogal, respe itand o sua auto nom ia
e con-
tribu ição específica na busc a da verd ade. Há um vínc ulo dialé
tico
entre a teolo gia e os outro s conh ecim ento s siste mati zados. Estes
- e
parti cular men te a filosofia - pode m aj u dá-la a purificar sua
repre-
sentação, a apro fund ar sua verd ade e a prov ocar a descober
ta de
dime nsões relig iosas esqu ecidas ou negl igen ciada s (1 ,370)
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