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INTRODUÇÃO A TEOLOGIA

1. TEOLOGIA
1.1. NATUREZA DA TEOLOGIA
1.2. NESCESSIDADE DA TEOLOGIA
2. AS DIVISÕES DA TEOLOGIA
2.1. TEOLOGIA EXEGETICA
2.2. TEOLOGIA HISTÓRICA
2.3. TEOLOGIA PRÁTICA
2.4. TEOLOGIA NATURAL
2.5. TEOLOGIA REVELADA
2.6. TEOLOGIA SISTEMATICA
3. O OBJETIVO DA TEOLOGIA SISTEMÁTICA

4. FONTES DA TEOLOGIA SITEMÁTICA


4.1. AS ESCRITURAS
4.2. A RAZÃO
4.3. A TRADIÇÃO
4.4. A MÍSTICA

5. PRINCIPAIS RAMOS DO CONHECIMENTO HUMANO QUE AUXILIAM NO ESTUDO


DA TEOLOGIA.
5.1. A HISTÓRIA HUNIVERSAL
5.2. A ARQUELOGIA
5.3. A ETNOLOGIA
5.4. A FILOSOFIA COMPARATIVA
5.5. A CIENCIA DA RELIGIÃO (RELIGIÕES COMPARADAS)
5.6. A FILOSOFIA
5.7. APSICOLOGIA
5.8. A ESTETICA
5.9. AS CIENCIAS FISICAS
5.10. A ESTATISTICA
6. A HISTÓRIA DA TEOLOGIA
6.1. COMO DE DESENVOLVEU A TEOLOGIA CRISTÃ
6.2. OS PAIS APOSTOLICOS
6.3. OS PAIS APOLOGISTAS
6.4. OS PAIS POLEMISTAS
6.5. A FALTA DO CANOM DO NOVO TESTAMENTO
A. PERSONAGENS E ESCRITOS IMPORTANTES
1. CLEMENTE DE ROMA
2. POLICARPO
3. EPISTÓLA DE BARNABE
4. O PASTO DE HERMAS
COMCLUSAÕ

UMA PALAVRA AOS ALUNOS


Caros(as) alunos(as),

É com grande alegria e gratidão que dou as boas-vindas a todos vocês ao INTEB - Instituto de
Teologia Bíblica. Sejam bem-vindos a esta jornada de aprendizado e crescimento espiritual.
Neste lugar de estudo e reflexão teológica, estamos unidos pela busca do conhecimento das
Escrituras Sagradas, pela compreensão mais profunda da palavra de Deus e pelo aprofundamento na
fé. Aqui, a teologia se torna não apenas uma disciplina acadêmica, mas uma ferramenta para
fortalecer nossa relação com o divino.

Em nossos estudos, exploraremos os ensinamentos da Bíblia, mergulhando nas Escrituras para


compreender a vontade de Deus para nossas vidas. Lembrem-se de que a teologia não é apenas sobre
o que sabemos, mas como isso transforma nossas vidas e nos capacita a servir a Deus e aos outros.

Nossa jornada será desafiadora, mas também recompensadora. A cada passo, vocês estarão
mais próximos de compreender a sabedoria divina. Este instituto é um ambiente de comunhão e
apoio mútuo, onde podemos crescer juntos na fé.

Portanto, convido cada um de vocês a se dedicar com paixão e diligência aos estudos, a se
envolver nas discussões teológicas e a buscar uma relação mais profunda com Deus.

Que este tempo no INTEB seja abençoado e que, ao final de sua jornada, vocês saiam daqui
não apenas com um diploma, mas com um coração transformado e um chamado divino mais claro.

Bem-vindos, queridos alunos, ao INTEB - onde a teologia se torna vida.

Que Deus os abençoe ricamente em sua jornada acadêmica e espiritual.

Pr. Madson Cabral


Diretor Acadêmico

1. TEOLOGIA
1.1. NATUREZA DA TEOLOGIA
O termo "teologia" é usado hoje em um sentido restrito e também em um amplo. É derivado
de duas palavras gregas, theos e logos, sendo que a primeira significa "Deus" e a segunda "palavra",
"discurso" e "doutrina".
No sentido mais restrito, portanto, teologia pode ser definida como sendo a doutrina de Deus.
Mas no sentido mais amplo e mais comum, o termo vem a significar todas as doutrinas
cristãs, não apenas a doutrina específica de Deus, mas também as doutrinas que se referem às
relações que Deus mantém com o universo.
Neste sentido amplo, podemos, portanto, definir teologia como a ciência de Deus e Suas
relações para com o universo. Para melhor esclarecer essa idéia, precisamos indicar a seguir as
diferenças entre teologia e ética, teologia e religião, e teologia e filosofia.
1. Teologia e Ética. Psicologia lida com comportamento; ética, com conduta. E isto é
verdadeiro tanto na ética filosófica quando da cristã. A psicologia indaga o como e o porque do com
portamente; a ética, a respeito da qualidade moral da conduta.
A ética pode ser descritiva ou prática. A ética descritiva examina a conduta humana à luz de
um padrão do que é certo ou errado; a ética prática se alicerça na ética descritiva, mas mais
particularmente enfatiza as razões para se tentar viver de acordo com tal padrão. Mas, como é
patente, de qualquer maneira a ética filosófica se desenvolve em uma base puramente naturalista e
não possui doutrina de pecado, de um Salvador, de redenção, regeneração, e habitação e poder
divinos para se alcançar suas metas.
A ética cristã difere bastante da ética filosófica. É mais completa pois, enquanto que a ética
filosófica se restringe aos deveres entre homem e homem, a ética cristã também inclui os deveres
para com Deus.
Além disso, é diferente em sua motivação. Na ética filosófica, o motivo é ou hedonista,
utilitarista, perfeicionista, ou uma combinação de todos estes, como no humanismo; mas na ética
cristã, o motivo é a afeição e submissão voluntária a Deus. Mesmo assim, a teologia contém muito
mais do que aquilo que pertence à ética cristã'. Inclui também as doutrinas da trindade, criação,
providência, a queda, a encarnação, redenção e escatologia. Nenhuma dessas pertence propriamente à
ética.
2. Teologia e Religião. A relação entre teologia e religião é a de efeitos, em esferas diferentes,
produzidas pelas mesmas causas.
No campo do pensamento sistemático, os fatos que se referem a Deus e Suas relações com o
universo levam à teologia; na esfera da vida individual e coletiva, eles levam à religião.
Em outras palavras, na teologia um homem organiza seus pensamentos com referência a Deus
e ao universo, e na religião ele expressa, em atitudes e ações, os efeitos que esses pensamentos -
produziram nele.
3. Teologia e Filosofia. Teologia e filosofia têm praticamente os mesmos objetivos, mas
diferem bastante no enfoque que dão e no método que usam para atingir esses objetivos. Ambas
buscam uma visão completa do mundo e da vida.
Entretanto, enquanto que a teologia parte da crença na existência de Deus e da idéia de que
Ele é a causa de todas as coisas, com exceção do pecado, a filosofia parte de uma outra coisa dada e
com a idéia de que é suficiente para explicar a existência de todas as outras coisas.
Para os filósofos gregos, esta coisa dada era ou a água, ou o ar, ou o fogo, ou átomos em
movimento, ou nous, ou idéias; para os modernos, é a natureza ou a mente, ou a personalidade, ou a
vida, ou alguma outra coisa.
A teologia não apenas parte da crença na existência de Deus, mas também afirma que Ele
graciosamente Se revelou. A filosofia nega essas duas idéias.
Baseado na idéia de Deus e no estudo da revelação divina, o teólogo desenvolve suas idéias a
respeito do mundo e da vida; baseado na coisa dada e nos supostos poderes a ela inerentes, o filósofo
desenvolve suas idéias a respeito do mundo e da vida.
É claro, portanto, que a teologia se alicerça sobre uma base sólida e objetiva, enquanto que a
filosofia se alicerça apenas nas suposições - e especulações do filósofo.
No entanto, a filosofia é definitivamente importante para o teólogo.
Em primeiro lugar, oferece a ele certo apoio para a posição cristã. Kant, na base da
consciência, defendeu a existência de Deus, liberdade e imortalidade. Henri Bergson defende a idéia
de que os homens adquirem conhecimento através da intuição tanto como através da razão. Vários
filósofos têm defendido a independência da mente e do cérebro e têm procurado estabelecer as
relações entre eles. O teólogo pode usar tais conclusões filosóficas para reforçar a posição bíblica.
Em segundo lugar, revela a ele a incapacidade da razão para resolver os problemas básicos
da existência. Enquanto que o teólogo aprecia toda a ajuda real que recebe da filosofia, ele logo
percebe que a filosofia não tem uma teoria real das origens e nenhuma doutrina de providência,
pecado, salvação, e uma consumação final. Como todos esses conceitos são muito vitais para uma
idéia adequada do mundo e da vida, o teólogo é irresistivelmente conduzido a Deus e à revelação que
ele fez de Si mesmo para tratar dessas doutrinas.
E, em terceiro lugar, dá-lhe a conhecer as idéias do descrente culto. A filosofia é para o
descrente o que a fé cristã é para o crente; e ele se apega a ela com a mesma tenacidade com a qual o
crente se apega à sua fé. Conhecer a filosofia de alguém é, portanto, ficar de posse da chave
necessária para compreendê-lo e também para lidar com ele. O crente pode não conseguir ir muito
longe com o filósofo teórico, mas poderá ajudar aquele que ainda não estiver totalmente dominado
pelas teorias da especulação.
1.2. NESCESSIDADE DA TEOLOGIA
Aqueles que se recusam a formular suas crenças teológicas possuem idéias bem definidas com
relação aos principais assuntos da teologia; isto é, algum tipo de crença teológica é necessário. Isto se
deve à natureza do intelecto humano e as preocupações práticas da vida. Vamos, portanto, considerar
brevemente o porquê desta necessidade, pensando particularmente de sua necessidade para o cristão.
1. O Instinto Organizador do Intelecto. O intelecto humano não se contenta com uma simples
acumulação de fatos: invariavelmente busca uma unificação e sistematização de seu conhecimento. A
mente não se satisfaz apenas em descobrir certos fatos a respeito de Deus, do homem, e do universo:
ela deseja conhecer as relações entre essas pessoas e coisas e organizar suas descobertas em forma de
um sistema.
Orr diz, falando da mente: "Ela não se contenta com conhecimento fragmentado, mas tem
constantes a tendência de passar dos fatos para leis, de leis para leis mais elevadas, e destas para as
generalizações mais elevadas possíveis". James Orr, The Christian View ofGod and the World (O
Conceito Cristão de Deus e do Mundo) (Wm. B. Eerdmans Publ. co., 1948) pág. 6.
E Strong diz: "É apenas na proporção dos dons e cultura que o impulso de sistematizar e formular
aumenta". Op. cit., pág. 16.
2. A Natureza Difundida da Descrença de Nossos Dias. Os perigos que ameaçam a igreja vêem,
não da ciência, mas sim da filosofia. Nossas universidades, faculdades e seminários estão, na maioria,
saturados de ateísmo, agnosticismo, e panteísmo. Alguns deles são unitarianos.
Através daqueles que se formam nessas instituições, as escolas públicas, os jornais, revistas,
rádios e as muitas organizações sociais, comerciais, políticas e fraternais, esses ensinamentos são
infundidos em todos os níveis da vida social.
Os mais bem instruídos destes têm um conjunto de idéias relativamente completo com relação às
coisas que os interessam mais de perto. Ora, não é bastante citar versículos isolados para homens que
defendem as falsas idéias dos dias presentes: precisamos mostrar a eles que a Bíblia é urna solução
melhor para seus problemas do que aquela que eles adotaram; que Ela tem a resposta para muitos
problemas que suas filosofias nem tentam responder; e que as Escrituras possuem uma visão plena e
consistente do mundo e da vida.
O homem que não possui um sistema organizado de pensamento está à mercê daquele que o tem.
Em outras palavras, temos a obrigação de ajuntar todos os fatos revelados sobre um dado assunto ou
organizá-los sob a forma de um sistema harmonioso se quisermos enfrentar aqueles que estão
profundamente arraigados em algum sistema filosófico de pensamento.
3. A Natureza das Escrituras. A Biblia é para o teólogo o que a natureza é para o cientista, um
conjunto de fatos desorganizados ou apenas parcialmente organizados. Deus não achou necessário
escrever a Biblia na forma de Teologia Sistemática; é nossa tarefa, portanto, ajuntar os fatos dispersos
e colocá-los sob a forma de um sistema lógico.
Há certamente algumas doutrinas que são tratadas com relativa extensão em um único contexto;
mas não há nenhuma que seja ali tratada exaustivamente. Veja como exemplo de uma doutrina ou
tema tratados extensivamente em uma passagem,
2. significado da morte de Cristo nas cinco ofertas de Lv. 1-7;
3. as qualidades da Palavra de Deus nos Sl. 19, 119;
4. os ensinamentos da onipresença e onisciência de Deus no Sl. 139;
5. os sofrimentos, morte, e exaltação do Servo de Jeová em Is. 53;
6. a restauração a Israel de sua adoração no templo, e sua terra, em Ez. 4048;
7. as predições referentes aos tempos dos gentios em Dn. 2 e 7;
8. a volta de Cristo a este mundo e os acontecimentos imediatamente ligados a ele em Zc. 14;
Ap. 19: 11 - 22: 6;
9. a Carta Magna do reino em Mt. 5-7;
10. o desenvolvimento do cristianismo em Mt. 13;
11. a doutrina da pessoa de Cristo em João 1: 1-18, Fl. 2: 5-11, Cl. 1: 15-19; Hb. 1: 1-4;
12. os ensinamentos de Jesus referentes ao Espírito Santo em João 14-16;
13. o status dos cristãos gentios com referência à lei de Moisés em Atos 15: 1-29; Gl. 2: 1-10;
14. a doutrina da justificação pela fé em Rm. 1 : 17 - 5: 21;
15. o status presente e futuro de Israel como nação em Rm.9-11;
16. a questão dos dons do Espírito em I Co.12, 14;
17. a caracterização do amor em I Co. 13;
18. a doutrina da ressurreição em I Co. 15;
19. a natureza da igreja em Ef. 2, 3;
20. as conquistas da fé em-Hb. 11;
21. e o problema do sofrimento no livro de Jó e em I Pedro:
Apesar de ser grande a extensão do tratamento dado ao tema nessas mensagens, em nenhuma
delas é o tema tratado plenamente. É necessário, portanto, se quisermos conhecer todos os fatos a
respeito de qualquer assunto, ajuntar os ensinamentos dispersos e colocá-los em um sistema lógico e
harmonioso.
4. O Desenvolvimento de um Caráter Cristão Inteligente. Há duas opiniões errôneas a respeito
deste assunto:
1) Há pouca ou nenhuma relação entre a crença de um homem e seu caráter e
2) a teologia tem um efeito entorpecedor sobre a vida espiritual.
O modernista às vezes acusa o crente ortodoxo do absurdo de defender as crenças tradicionais da
igreja quando ele vive como um pagão. Seu credo, insiste aquele, não afeta seu caráter e conduta, O
modernista, pelo contrário, se dispõe a produzir uma vida boa sem o credo ortodoxo. Como podemos
responder a essa acusação?
Replicamos que a mera aceitação intelectual de um conjunto de doutrinas é insuficiente para
produzir resultados espirituais, e infelizmente muitas pessoas chamadas ortodoxas possuem nada
mais que uma lealdade intelectual para com a verdade. Insistimos, além disso, que a verdadeira
crença, envolvendo o intelecto, as sensibilidades e a vontade, não possui um efeito sobre o caráter e a
conduta.
Os homens agem de acordo com aquilo em que realmente crêem e não de acordo com aquilo em
que eles simplesmente dizem crer.
Dizer que a teologia tem um efeito entorpecedor sobre a vida espiritual pode ser verdade apenas
se o assunto for tratado como mera teoria. Se for tratado em relação à vida, se ficar claro que cada um
dos atributos de Deus, por exemplo, tem uma influência prática na conduta; a teologia não terá um
efeito entorpecedor sobre a vida espiritual; ao invés disso, servirá de guia para o pensamento
inteligente a respeito de problemas religiosos e um estímulo à uma vida santa.
Como poderiam idéias plenas e corretas a respeito de Deus, do homem, do pecado, de Cristo, da
Bíblia, etc., levar a outra coisa? A teologia não apenas nos ensina que tipo de vida deveríamos viver,
mas nos inspira a viver dessa maneira. Em outras palavras, a teologia não apenas indica as normas de
conduta, mas também nos fornece os motivos para tentarmos viver de acordo com essas normas.
5. As Condições para o Serviço Cristão Eficaz. Há em muitas igrejas hoje em dia uma aversão a
pregações doutrinárias. O pastor sente que as pessoas exigem algo que seja oratório, que suscite
emoções que levem a ação imediata, e que não requeira concentração de pensamento.
Infelizmente, algumas congregações são assim, mas Cristo e os apóstolos pregavam doutrina
(Marcos 4: 2; Atos 2:42; II Timóteo 3: 10), e somos exortados a pregar doutrina (II Timóteo 4: 2; Tito
1: 9). Pregação oratória, textual ou atual pode prender a congregação ao pregador, mas quando o
pregador for embora, o povo vai também.
7. AS DIVISÕES DA TEOLOGIA
Os modernistas não escrevem obras sobre Teologia, especialmente sobre a Teologia Sistemática,
por crerem que não podemos nunca chegar a qualquer alto grau de certeza nesses assuntos. Temos,
entretanto, em oposição a esta opinião, mantido a opinião de que a Teologia, mesmo a Teologia
Sistemática, é não apenas possível mas muito necessária.
Apresentaremos agora a prova em favor da possibilidade da teologia e então indicaremos as
divisões comuns da Teologia.
A possibilidade da Teologia advém de duas coisas: A revelação de Deus e os dons do homem.
A revelação de Deus se faz de duas formas:
1. geral e
2. especial;
Os dons do homem são de dois tipos:
1. mentais e
2. espirituais.
Vamos estudá-los com algum cuidado.
a. A Revelação de Deus
Pascal falou de Deus como um Deus Absconditus (um Deus escondido); mas afirmou que este
Deus escondido se revelou e, portanto, pode ser conhecido. Isto é verdade.
Certamente, nunca poderíamos conhecer a Deus se Ele não Se tivesse revelado a nós. Mas o que
queremos dizer com "revelação"? Para nós, é o ato de Deus pelo qual Ele Se mostra ou comunica
verdade à mente; pelo qual Ele torna manifesto às Suas criaturas aquilo que não pode ser conhecido
de nenhuma outra maneira.
A revelação pode ocorrer através de um ato único, instantâneo ou pode se estender por um longo
período; e esta comunicação de Si Próprio e de Sua verdade pode ser percebida pela mente humana
em vários graus de plenitude.
Falando de maneira geral, há duas espécies de revelação: Geral e Especial
1. A Revelação Geral de Deus. Ela é encontrada na natureza, na história e na consciência. É
comunicada por meio de fenômenos naturais que ocorrem na natureza ou no decorrer da
história; é endereçada a todas as criaturas inteligentes de modo geral e é acessível a todas;
tem por objetivo suprir a necessidade natural do homem e a persuasão da alma para
buscar o Deus verdadeiro.
 A Revelação de Deus na Natureza. Todos os naturalistas que rejeitam a própria
idéia de Deus e afirmam que a natureza é autosuficiente e autoexplicativa não
vêem, é claro, revelação alguma de Deus na natureza. Tampouco os panteístas
realmente vêem qualquer revelação de Deus na natureza. Alguns deles identificam
Deus com o "Todo", o "Universum", e "Natureza"; outros falam dEle como o
Eterno Poder de Energia que produz todas as mudanças no mundo dos fenômenos,
e ainda outros, como a Razão que se externa a si própria no universo. Já que todos
eles possuem uma visão necessitária do mundo, não encontram revelação alguma
de um Deus extra-terrestre no universo.
Mas os homens em gerai sempre viam na natureza uma revelação de Deus. Os
mais bem dotados muitas vezes expressaram suas convicções em linguagem
semelhante a dos salmistas, dos profetas e dos apóstolos (SL 8: 1, 3; 19: 1, 2; Is.
40: 12-14, 26; Atos 14: 15-17; Rm. 1: 19, 20).
 A Revelação de Deus na História. O salmista faz a arrojada asserção de que os
destinos dos reis e impérios estão nas mãos de Deus. "Porque não é do Oriente,
não é do Ocidente, nem do deserto que vem o auxílio. Deus é o juiz; a um abate, a
outro exalta". (Sl. 75: 6, 7; Rm. 13: 1). E Paulo declara que Deus "de um só fez
toda raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os
tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a
Deus se, porventura, tateando o possam achar" (Atos 17: 26, 27). Concordando
com isto, o sistema cristão encontra na história U1lla revelação do poder e da pro-
vidência de Deus.
A Bíblia fala igualmente de como Deus lidou com o Egito (Ex. 9: 13-17; Rm. 9:
17; Jr. 46: 14-26), Assíria (Is. 10: 12-19; Ez. 31: 1-14; Naum 3: 1-7), Babilônia
(Jr. 50: 1-16; 51: 1-4), Medo-Pérsia (Is.44:24 - 45:7), Medo-Pérsia e Grécia juntas
(Dn. 8: 1-8, 15-21), os quatro reinos que vieram depois da queda do império de
Alexandre (Dn. 8: 9-14, 22-25; 11: 5-35), o império romano (Dn. 7: 7, 23). Toda
Ela mostra que "a justiça exalta as nações, mas o pecado é opróbrio dos povos"
(Pv. 14: 34). Mostra também que apesar de Deus poder, para Seus próprios sábios
e santos propósitos, permitir que uma nação mais ímpia triunfe sobre uma menos
ímpia, Ele no fim tratará a mais ímpia com maior severidade, do que a menos
ímpia (Hc. 1: 1 - 2: 20).
 A Revelação de Deus na Consciência. Com base na consciência Kant cria em
Deus, na liberdade e na imortalidade. Muitos dos moralistas ingleses eram da
mesma opinião. Este é o chamado Argumento Moral em favor da existência de
Deus. A consciência não é inventiva, mas sim discriminativa e impulsiva. Ela
julga se um curso de ação proposto em uma atitude está ou não em harmonia com
nossos padrões morais e insta conosco para fazermos aquilo que estiver em
harmonia com eles e nos abstermos de particular aquilo que for de encontro a eles.
É a presença no homem desta ciência do que é certo e errado, deste algo discrimi-
nativo e impulsivo que constitui a revelação de Deus. Não é autoimposta, como
fica evidenciado pelo fato de que o homem frequentemente se livraria de suas
opiniões se pudesse; é o reflexo de Deus na alma. Da mesma maneira que o
espelho e a superfície tranquila do lago refletem o sol e revelam não apenas a sua
existência, mas também até certo ponto sua natureza, assim a consciência no
homem revela a existência de Deus e, até certo ponto, a natureza de Deus. Isto é,
nos revela apenas o que Ele é, mas também que Ele faz uma distinção clara entre
o certo e o errado (Rm. 2:14-16).
2. A Revelação Especial de Deus. Com revelação especial queremos dizer aqueles atos de
Deus pelos quais Ele dá a conhecer a Si próprio e a Sua verdade em momentos especiais
e a povos específicos. Apesar de dada em momentos especiais e a povos específicos, a
revelação não fica necessariamente circunscrita apenas àquele momento e povo. Na
verdade, os homens são conclamados a proclamar os atos e obras maravilhosas de Deus
entre todos os povos da terra (Sl 105: 1, 2).
A revelação especial é como se fosse um tesouro a ser partilhado com o mundo inteiro
(Lucas 2: 10; Mt 28: 19, 20; Atos 1: 8). É dada ao homem de várias maneiras: na forma
de milagres e profecia, na pessoa e trabalho de Jesus Cristo, nas Escrituras e na
experiência pessoal.
 A Revelação de Deus em Milagres. Um milagre genuíno é um acontecimento fora
do comum, que realiza uma obra útil e revela a presença e o poder de Deus (Ex.
4:2-5; 1Reis 18:24; João 5:36; 20:30,31; Ato:.2:22); um falso milagre se não for
um simples engano, é um capricho de poder, arquitetado para exibição e
ostentação, e inferior ao verdadeiro milagre (Ex. 7: 11, 12, 22; Atos 8: 9-11 ; 13:
6-8; Mt. 24: 24; II Ts. 2: 9; Ap. 13: 13). Um milagre verdadeiro é um
acontecimento fora do comum por não ser o mero produto das chamadas lei
naturais.
Em relação à natureza, os milagres se dividem em dois tipos: aqueles nos quais as
leis naturais são intensificadas ou aumentadas, como no dilúvio, em algumas
pragas do Egito, na força de Sansão, etc.; e aqueles nos quais toda participação da
natureza fica excluída, como no florescimento da vara de Arão, a obtenção de
água da rocha, a multiplicação dos pães e dos peixes, a cura dos doentes, a
ressurreição dos mortos.
 A Revelação de Deus na Profecia: Usamos profecia aqui para indicar a predição
de acontecimentos, não por virtude de mera percepção ou presciência humana,
mas através de uma comunicação direta de Deus. Mas por não podermos saber se
uma declaração foi assim comunicada a um homem enquanto não chega a hora de
ser cumprida ou quando ficar evidente que não será cumprida, o valor imediato da
profecia como prova da presença e da sabedoria de Deus fica dependendo da
questão de se aquele que o pronuncia está vivendo em contato com Deus. Só
podemos determinar isso com base em seus outros ensinamentos e vida santa.
 A Revelação de Deus em Jesus Cristo. A revelação geral de Deus não levou
mundo gentio a uma apreensão clara da existência de Deus, da natureza de Deus
ou da vontade de Deus. Paulo reclama disto em uma passagem clássica (Rm 1:20-
23). Mesmo a filosofia não deu aos homens uma concepção verdadeira de Deus.
Paulo assim fala da sabedoria do mundo: "Na sabedoria de Deus o mundo não O
conheceu por sua própria sabedoria" (I Co. 1: 21), e declara que a verdadeira
sabedoria "nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem
conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da Glória;' (I Co. 2: 8). Apesar de
revelação geral de Deus na natureza, na história, na consciência, o mundo gentio
voltou-se para a mitologia, o politeísmo e a idolatria. Uma revelação mais plena
se fazia grandemente necessária.
Tão pouco as outras revelações especiais de Deus nos milagres, profecia e
teofania levaram Israel a um conhecimento real da natureza e da vontade de Deus.
Israel cria na existência do Deus vivo e verdadeiro, mas possuía noções muito
imperfeitas e até pervertidas a respeito dEle. Considerava-o principalmente o
Grande Legislador e Juiz que insistia no cumprimento escrupuloso da letra da lei,
mas que pouco se preocupava com a condição interior do coração e a prática da
justiça, misericórdia e fé (Mt 23: 23-28); como Aquele que tinha que ser aplacado
com sacrifícios e persuadido com holocaustos, mas que não precisava de um
sacrifício infinito e não aborrecia verdadeiramente o pecado (Is. 1: 11-15; Mt. 9:
13; 12: 7; 15: 7-9; 23: 32-36); como Aquele que fez da descendência de Abraão a
única condição para o Seu favor e bênção e que considerava os gentios inferiores
a eles (Mt. 3: 8-12; 12: 17-21; Marcos 11: 17). Israel também necessitava de uma
revelação mais plena de Deus. E a temos na Pessoa e Missão de Jesus Cristo.
Cristo é o centro da história e da revelação. O escritor dos Hebreus diz:
"Havendo Deus, autrora, falado muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais
pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho (Hb 1: 1, 2); e diz que Ele
é "o resplendor da glória e a expressão exata do Seu ser ( v. 3). Paulo diz que Ele
é "a imagem do Deus invisível (Cl. 1: 15), e diz que "nEle habita corporalmente
toda a plenitude da Divindade" (CI. 2: 9). João diz: "Ninguém jamais viu a Deus:
o Deus unigênito, que está no seio do Pai é quem O revelou" (João 1: 18). E o
Próprio Jesus disse: "Ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o
Pai senão o Filho, e aquele a quem Filho quiser revelar" (Mt. 11: 27); ainda mais:
"Quem me vê a mim vê o Pai" (João 14: 9). Consequentemente, a igreja tem,
desde o princípio, visto em Cristo a Suprema revelação do Pai.
 A Revelação de Deus nas Escrituras. Tem sido sempre afirmado pelo crente
verdadeiro que temos na Bíblia uma revelação de Deus, certamente a revelação
mais clara e a única que é infalível. A Bíblia não deveria, entretanto, ser
considerada como uma revelação que é coordenada com aquelas previamente
mencionadas, mas sim como uma incorporação delas. Ela registra, por exemplo, o
conhecimento de Deus e de Seu relacionamento com a criatura a que os antigos
chegaram através da natureza, da história e da consciência, e também dos
milagres, profecias, do Senhor Jesus Cristo, da experiência íntima e da instrução
divina. O cristão, portanto, volta-se para as Escrituras como a única fonte suprema
e infalível para a construção da sua teologia.
 A Revelação de Deus na Experiência Pessoal. Homens de todas as idades têm
professado ter comunhão direta com Deus. Declaram que o conheceram, não
simplesmente através da natureza, história e consciência, não apenas por meio dos
milagres e profecias mas também por experiência pessoal direta. Foi assim nos
tempos do Velho Testamento. Enoque e Noé andaram com Deus (Gn. 5: 21-24; 6:
9); Deus falou a Noé (Gn. 6: 13; 7:1; 9:1); a Abraão(Gn.12:1-3); a
Isaque(Gn.26:24);a Jacó (Gn. 28: 13; 35: 1); a José (Gn. 37: 5-11); a Moisés (Êx.
3: 3-10; 12: 1); a Josué (Josué 1: l); a Gideão (Juízes 6: 25); a Samuel (I Sm. 3: 2-
4); a Davi (I Sm. 23: 9-12); a Elias (I Reis 17: 2-4); a Isaías (Is. 6: 8), etc. Da
mesma maneira, no Novo Testamento Deus falou a Jesus (Mt. 3: 16, 17; João 12:
27, 28); a Pedro, Tiago e João (Marcos 9: 7); a Felipe (Atos 8: 29); a Paulo (Atos
9: 4-6; 18: 9); e a Ananias (Atos 9: 10).
Esta experiência de comunhão com Deus tinha um poder transformador nas vidas
daqueles que passavam por ela (Sl. 34: 5; cf. :Êx. 34: 29-35). Eles se tornaram
cada vez mais parecidos com o Senhor com Quem tinham comunhão (Atos 6: 15,
cf. II Co. 3: 18).

b. Os Dons do Homem
Assumindo então que Deus Se revelou, perguntamos a seguir como o homem entra de posse
dessa revelação? A isto respondemos que nem o mundo exterior nem o inferior revelariam qualquer
coisa a respeito de Deus sem os dons singulares do homem. Concordamos com Shedd quando ele diz:
As Escrituras ... relacionam todas as operações da razão ao Autor do intelecto humano. Nada no
consciente humano é independente de Deus, isolado. Deus é o 'Pai das Luzes' de todo Tipo (Tiago 1: 17).
Deus 'mostra' o que quer que seja conhecido através da constituição humana. Até a razão humana, que na in-
tuição da matemática e nas leis da lógica parece ser uma faculdade autossuficiente, é apresentada na
Escritura como dependente. O homem consegue perceber intuitivamente simplesmente porque a Suprema
Razão o ilumina". Wm. G.T. Shedd, Op. cit., I, 64.

São de dois tipos os dons do homem: mentais e espirituais.


1. Seus Dons Mentais. O homem que rejeita a idéia de uma revelação de Deus ou por parte dEle
se volta para a razão para a solução de todos os seus problemas. Durante o decorrer da
história apareceram três tipos de Racionalismo:
 Ateísta,
 Panteísta e
 Teísta.
Racionalismo ateísta apareceu primeiro entre os grandes antigos filósofos gregos: Tales,
Anaximandre, Anaximanes, Empedocles, Heráclito, Lucipo e Demócrito; Racionalismo panteísta, em
Anaxagoras e os Estoicos; e o Racionalismo teísta apareceu primeiro sob a forma de Deísmo inglês e
alemão no século dezoito. Mas enquanto que todas as formas de Racionalista dão autoridade indevida
â razão nos assuntos de religião, o crente verdadeiro tem a tendência de dar-lhe um lugar muito
exíguo.
Com razão aqui queremos dizer não simplesmente os poderes da lógica do homem ou sua
capacidade de raciocinar, mas seus poderes cognitivos, - sua capacidade de perceber, comparar, julgar
e organizar. Deus dotou o homem com a razão e o que é errado não é o uso dela, mas sim o abuso.
Quatro usos apropriados da razão com a qual Deus nos dotou no estudo da teologia:
1.1. A razão é o órgão ou capacidade de conhecer a verdade. A razão intuitiva nos fornece
as idéias básicas de espaço, tempo, causa, substância, desígnio, direito, e Deus, que
são as condições para todo conhecimento subseqüente. A razão apreensiva recebe os
fatos a ela apresentados para cognição. Entretanto, deve ser lembrado que há uma
diferença entre conhecer e compreender uma coisa. Sabemos que uma planta cresce,
que a vontade controla os músculos voluntários, que Jesus Cristo é o Deus-homem,
mas não compreendemos muito bem como tudo isso possa ser.
1.2. A razão deve julgar a credibilidade de uma apresentação. Com "crível" queremos
dizer verossímil. Há coisas que são claramente incríveis, como a vaca que pulou sobre
a lua, e as estórias da carochinha em Alice no País das Maravilhas; e é a tarefa da
razão declarar se uma apresentação é digna de crédito. Nada é incrível com exceção do
impossível. Uma coisa pode ser estranha, inexplicável, ininteligente, e mesmo assim
perfeitamente crível. A menos que estejamos dispostos a crer no incompreensível, não
podemos crer em nada. O impossível é aquilo que envolve uma contradição; que é
inconsistente com o caráter conhecido de Deus; que contradiz as leis da crença com a
qual Ele nos dotou; e que contradiz alguma outra verdade bem autenticada.
1.3. A razão deve julgar a evidência de uma apresentação. Como a fé envolve aceitação, e
aceitação é convicção produzida por evidência, segue-se que fé sem evidência é
irracional ou impossível. Assim, a razão deve examinar as credenciais das
comunicações que professam ser, e de documentos que professam registrar, tal
revelação. Ela deve perguntar: Os registros são genuínos ou espúrios, são puros ou
mistos? Esta evidência deve ser apropriada à natureza da verdade sendo considerada.
Verdade histórica exige evidência histórica; verdade empírica, o testemunho da
experiência, verdade matemática, evidência matemática; verdade moral, evidência
moral; e "as coisas do Espírito", a demonstração do Espírito. Em muitos casos, tipos
diferentes de evidência cooperam na corroboração da mesma verdade, como a crença
na divindade de Cristo. Além disso, a evidência deve não apenas ser apropriada, mas
também adequada, isto é, de tal modo que possa ser aceita por toda mente bem cons-
tituída à qual for apresentada.
1.4. A razão deve também organizar os fatos apresentados em um sistema. Do mesmo
modo que uma pilha de tijolos não constitui uma casa, também os simples fatos da
revelação não constituem um sistema útil. A razão deve descobrir o fator integrante e
reunir todos os fatos relevantes em torno dele, determinando para cada parte seu lugar
apropriado em um sistema coordenado e subordinado. Esta é a capacidade
sistematizadora da razão, que é seu impulso instintivo. Assim sendo, fica claro que a
razão ocupa um lugar muito importante na teologia.
2. Seus Dons Espirituais. Rejeitamos a opinião do místico filósofo que afirma que todos os
homens podem através de disciplina e contemplação rigorosas, chegar a um contato direto
com a realidade suprema, que é o nome que dão a Deus, sem arrependimento e fé em Jesus
Cristo. Esta é uma crença pagã e uma parte de uma visão panteísta extrema do mundo.
Qualquer que seja a experiência "religiosa" que esse místico possa ter, podemos ter a certeza
de que não é uma experiência cristã de comunhão com o Deus verdadeiro, através da
mediação de Jesus Cristo e do Espírito Santo.
o homem tem um conhecimento intuitivo de Deus. As Escrituras ensinam que "porquanto o
que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os
atributos invisíveis de Deus, assim o Seu eterno poder como também a Sua Própria
divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por
meio das coisas que foram criadas. Tais homens são portanto indesculpáveis" (Rm. 1: 19,
20). Há um dom Bíblico para o crente por meio do qual ele entra em uma comunhão com
Deus muito real e muito preciosa (I João 1: 3; I Co. 1: 9; Rm. 8: 15, 16; Gl. 4: 6). Há um
misticismo cristão, uma comunhão direta da alma com Deus que ninguém que tenha tido uma
experiência vital cristã pode negar ou ignorar. Mas há, além disso, a iluminação do Espírito
Santo que é concedido a todo crente. Jesus disse: "Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós
não o podeis suportar agora; quando vier porém o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda
verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido" (João 16: 12,
13). E Paulo diz: "Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem
de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente" (I Co. 2: 12). Isto
é, o Espírito nos levará à compreensão da revelação que Deus já fez de Si mesmo,
especialmente a revelação dEle nas Escrituras. Há então para aquele que busca conhecer a
verdade, não apenas a sua própria razão, mas também o auxílio do Espírito Santo. Este
último, é claro, está à disposição apenas dos verdadeiros filhos de Deus.
AS DIVIÕES PROPOSTA DA TEOLOGIA
7.1. TEOLOGIA EXEGETICA.
Se ocupa diretamente do estudo do Texto Sagrado e assuntos relacionados, tais como auxílio
na restauração, orientação, ilustração e interpretação daquele texto. Inclui ela o estudo das
línguas da Bíblia, da Arqueologia Bíblica, Introdução Bíblica (Geral e Especial), Hermenêutica
Bíblica e Teologia Bíblica.

7.2. TEOLOGIA HISTÓRICA


Traça a história do povo de Deus através da Bíblia e da igreja desde a época de Cristo. Ela
trata da origem, desenvolvimento e dispersão da verdadeira religião e também de suas doutrinas,
organizações e práticas. Ela abrange História Bíblica, História da Igreja, História das Missões,
História da Doutrina e a História dos Credos e Confissões.

7.3. TEOLOGIA PRÁTICA


Trata da aplicação da teologia na regeneração, santificação, edificação, educação e serviço dos
homens. Ela busca aplicar ã vida prática aquilo que os outros três departamentos da teologia
contribuíram. A Teologia Prática abrange os cursos de Homilética, Organização e Administração
da Igreja, Liturgia ou o Programa do Culto, Educação Cristã e Missões.
7.4. TEOLOGIA NATURAL
A Teologia Natural decorre da revelação natural que todo ser humano tem acerca de Deus por
intermédio da criação, dando, ao homem, a noção de que há um Deus relacionado a todas as
coisas criadas. Isso exige que cada um tenha a consciência de um compromisso moral com Ele
(Rm 1.18ss).

7.5. TEOLOGIA REVELADA


A Teologia Revelada debruça-se sobre a revelação específica de Deus por meio das Escrituras
Sagradas, as quais fornecem todo o material necessário para satisfazer as indagações humanas e
para orientar o homem seguramente no caminho que o levará a Deus, em conformidade com a
Sua vontade.
7.6. TEOLOGIA SISTEMATICA
Toma o material fornecido pela Teologia Exegética e Histórica e o arranja em ordem
lógica sob os grandes títulos do estudo teológico. Mas temos que fazer cuidadosa distinção·
entre as contribuições da Teologia Exegética e da Histórica. A primeira é a única fonte real e
infalível da ciência; mas a última, em sua exibição da apreensão progressiva das grandes
doutrinas da fé por parte da igreja, frequentemente contribui para uma compreensão da
revelação Bíblica. A Teologia Dogmática é, estritamente falando, a sistematização e defesa
das doutrinas expressas nos símbolos da igreja.

8. O OBJETIVO DA TEOLOGIA SISTEMÁTICA


Pretendemos, no estudo de teologia sistemática, selecionar fatos que nos façam conhecer
melhor a pessoa de Deus, as Suas relações com o universo, e organizá-los num sistema racional.
Não se encontra na Bíblia uma teologia sistemática já feita e ordenada, mas encontram-se os fatos
com os quais podemos organizá-la, dar-lhe forma, sistematizá-la.
O fim, portanto, da teologia sistemática não é criar fatos, mas descobri-los e organizá-los
num sistema.
Queremos, estudando a teologia, apreender os pensamentos de Deus, aprender das
experiências espirituais dos melhores homens que sempre existiram. Neste e tudo somos como
arquitetos ocupados na construção dum grande edifício. Mas, ao invés de trabalharmos com pedra,
cal e tijolos, utilizamo-nos de tudo quanto Deus tem revelado, e de tudo quanto o homem tem
experimentado das coisas divinas e celestiais. Que belo edifício não nos é dado construir!
Devemos exortar-nos a nós próprios com as palavras de Paulo a Timóteo:
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se
envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (II Timóteo 2:15).

9. FONTES DA TEOLOGIA SITEMÁTICA


A teologia cristã é o conjunto de doutrinas que compõem as crenças comuns aos seguidores de
Cristo. Tais doutrinas emanam das Escrituras Sagradas em conjunto com a razão, a tradição e a
mística (experiência).
9.1. AS ESCRITURAS
Não se pode fazer teologia senão com base nas Escrituras Sagradas. Essa é a posição
da Igreja cristã a partir da Reforma Protestante. Lutero defendia a tese de Sola Escriptura
(a Bíblia é a única regra de fé e conduta para o cristão). Ao longo da história, a Igreja
Católica Romana criou dogmas (crenças tidas como certas e absolutas), abandonando
gradualmente a utilização das Escrituras Sagradas; isso a distanciou das verdades
fundamentais ensinadas pelos apóstolos de Jesus.
Qualquer assunto de ordem doutrinária que não leva em consideração as declarações
bíblicas deve ser tachado como herético, pois parte de fonte humana e ninguém tem
autoridade para isso. As Escrituras (e somente elas) têm autoridade para fornecer as
informações necessárias sobre os temas da doutrina cristã.
9.2. A RAZÃO
Deus nos fez seres racionais, e esse é um dos aspectos que nos torna semelhantes a Ele
(Gn 1.26). Então, é natural que o homem absorva o conhecimento das questões
doutrinárias por meio da razão. Apesar disso, muitos buscam, na fé, algo que os faça
sentir, mas não se mostram interessados em compreender.
É verdade que a fé inclui também as emoções, mas não se estriba nelas. “Enganoso é o
coração, mais do que todas as coisas” (Jr 17.9). Por outro lado, somos exortados a usar a
razão para darmos explicação da nossa fé: “antes, santificai a Cristo, como Senhor, em
vosso coração; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a
qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3.15).
9.3. A TRADIÇÃO
Os judeus dão grande importância à tradição, e isso decorre de uma orientação divina:
“para que temas ao Senhor, teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos,
que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida; e que teus
dias sejam prolongados” (Dt 6.2). Tanto as Escrituras como os costumes que incluem
alimentação, vestimentas, comemorações e símbolos sagrados, desde tempos remotos até
hoje, são transmitidos de pai para filho entre os judeus. Por causa disso, eles conseguem
manter sua unidade religiosa, política e social, mesmo depois de muitos momentos de
dispersão.
Do mesmo modo, nós, cristãos, trazemos conosco uma tradição doutrinária do
aprendizado recebido dos nossos pais, dos cultos, das pregações, da Escola Bíblica
Dominical, dos livros, dos periódicos evangélicos e da comunhão com os irmãos. Mesmo
sem ter conhecimento profundo das Escrituras e sem saber como achar textos específicos
para explicar determinados temas, um cristão evangélico sabe identificar um assunto que
não é compatível com a fé cristã, sendo capaz de reagir na mesma hora. Todavia, os
autores partem de um conhecimento prévio da doutrina e, à medida que vão elaborando
sistematicamente tais conhecimentos, estes vão ganhando corpo e consistência.
9.4. A MÍSTICA
Quando um indivíduo está estimulado por um interesse, sua mente trabalha
surpreendentemente. As faculdades mentais são despertadas e a vontade encontra mais
disposição. Em momentos como esses, surgem os grandes gênios: pessoas se dizem
inspiradas a realizar, criar ou inventar. Muitos atribuem esse estado a uma ação divina,
mas isso pode acontecer até com pessoas que se opõem a Deus. Já entre os crentes, tais
momentos tendem, às vezes, a ganhar um viés espiritual, no qual os sentimentos ocupam
o lugar da Revelação bíblica. Os entusiastas que ignoram a orientação das Escrituras em
busca de sentimentos são chamados, na Teologia, de místicos. Os místicos alegam
conhecer o que está oculto a outras pessoas. Para a Filosofia, o misticismo é a intuição
que acredita em que Deus pode ser conhecido face a face pelo homem, sem qualquer
intermediação.
No Cristianismo, há uma crença comum de que o Espírito Santo atua intimamente na
vida de cada crente, capacitando-o a acessar o conhecimento de Deus.
De fato, entre os crentes, há manifestações sobrenaturais, principalmente entre os
grupos pentecostais; a Bíblia não apenas confirma tais ocorrências entre os crentes do
passado como também incentiva a busca dos dons espirituais (1 Co 12.4-16,31).
A mística pode ter a sua importância, porém seu caráter é particular, podendo ser
compartilhada com um grupo para a edificação deste; mas ela não deve, em hipótese
alguma, substituir a revelação, antes deve ser conferida por esta. A mística também
compreende a experiência espiritual do indivíduo.
10. A HISTÓRIA DA TEOLOGIA
10.1. COMO DE DESENVOLVEU A TEOLOGIA CRISTÃ
A teologia cristã não nasceu nos seminários teológicos. Ela não é fruto de uma iniciativa que
demandava a criação de uma grade curricular em que as disciplinas eram dispostas por uma didática
selecionada de matérias como se vê hoje nos seminários teológicos. A evolução do pensamento
teológico foi marcada por lutas, tribunais, perseguições e mortes.
Muito sangue foi derramado na construção da teologia cristã. A opinião de uns e a obstinação
de outros, somadas à intransigência dos que defendiam interesses institucionais, levaram líderes e
nações a guerrearem uns contra os outros.
O espírito de amor e de paz tão defendido pelos apóstolos de Jesus Cristo não demorou a
desaparecer após a morte daqueles baluartes da fé. O apóstolo Paulo estava certo do que aconteceria
após sua morte: “Porque eu sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de vós lobos
cruéis, que não perdoarão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão
coisas perversas, para atraírem os discípulos após si” (At 20.29,30).
Já nos dias apostólicos, era forte a presença de algumas heresias no seio da Igreja. Por um
lado, Paulo debateu com os judaizantes que queriam manter os crentes presos às regras e às tradições
judaicas, privando-os de desfrutarem da liberdade que há em Cristo. De outro lado, também debateu
com os gnósticos, os quais misturavam filosofia com a doutrina cristã, confundindo os crentes com
suas heresias absurdas.
Muitas outras questões alheias ao pensamento cristão ainda seriam plantadas pelo diabo para
desviar do seu propósito inicial não apenas algumas pessoas, mas toda a Igreja de Jesus,
transformando-a em uma grande e prostituída instituição. Os líderes dela já eram chamados de Pais
no segundo século. Do segundo ao quarto séculos, a Igreja foi dando sinais de adoecimento com a
semeadura de grandes heresias.
10.2. OS PAIS APOSTOLICOS
Entre o final do primeiro século e o início do segundo, alguns escritores cristãos se
destacaram e os seus escritos foram preservados, chegando até nós hoje. Tais escritos dão testemunho
do Novo Testamento em relação à autoria e ao conteúdo, bem como relatam as crenças e o modo de
vida da Igreja primitiva.
Os escritores e os escritos que mais se destacaram foram Clemente de Roma, Policarpo,
Inácio de Antióquia, Barnabé, o Pastor de Hermas, Papias e o Didaché.
A Patrística é classificada em dois grupos étnicos:
1. dos Pais gregos
2. e dos Pais latinos.
Os que foram instruídos pelo pensamento helénico e os que foram influenciados pelo
pensamento romano são chamados de Pais Apostólicos. Eles caminharam paralelamente no tempo,
reivindicando para si mesmos a hegemonia da Igreja: uns pendendo para Constantinopla e outros,
para Roma.
No decorrer desta seção em que trataremos exclusivamente dos Pais da Igreja, constataremos
o quanto eles oscilaram na teologia cristã, variando em relação aos escritos apostólicos a ponto de
cometerem verdadeiras heresias, as quais se perpetuaram ao longo da história, sobretudo aquelas que
foram abraçadas pela Igreja Católica Romana, a qual considera os Pais da Igreja como os Santos
Pais.
Os Pais Apostólicos foram aqueles que tiveram uma relação razoavelmente próxima dos
apóstolos e, assim como estes, também prestaram sua contribuição para a Igreja, deixando um grande
acervo literário como legado, são eles: Clemente de Roma, Policarpo, Papias e Inácio. Eles viveram
entre o final do primeiro século e parte do segundo. Cronologicamente, estavam mais próximos dos
apóstolos. Seus escritos são intitulados escritos apostólicos.
10.3. OS PAIS APOLOGISTAS
Os Pais Apologistas se ocuparam em defender a Igreja contra as perseguições do Estado,
deixando também um grande legado literário. Eles se situam no segundo século; os mais
proeminentes foram Tertuliano, Justino, o mártir, Teófilo e Aristides.
10.4. OS PAIS POLEMISTAS
Os Pais desse grupo não mediram esforços para defender a fé cristã contra falsas doutrinas surgidas
fora e dentro da Igreja. Geralmente, eles estão situados no terceiro século. Os mais destacados foram:
Irineu, Tertuliano, Cipriano e Orígenes.
10.5. A FALTA DO CANOM DO NOVO TESTAMENTO
A Igreja primitiva não possuía uma literatura própria completa ainda. Até que o cânon do
Novo Testamento fosse formado, o único texto de que se dispunha era o Antigo Testamento traduzido
para o grego (LXX). É certo pensar que o interpretavam sob a ótica de Jesus, pois entendiam que a
função do Antigo Testamento era revelar o Cristo. A teologia cristã, é bom que se esclareça,
desenvolveu-se no mundo grego nos quatro primeiros séculos. Irineu encontra a base da pregação dos
apóstolos nos escritos do Antigo Testamento. Em uma paráfrase da parábola do tesouro escondido
contada por Jesus, Irineu diz que o tesouro escondido nas Escrituras do Antigo Testamento é Cristo.
Com a formação do cânon do Novo Testamento, criou-se um movimento pela eliminação do
Antigo Testamento; afinal, se já dispunham de um texto eminentemente cristão, o qual explicitava a
pessoa e a doutrina de Jesus, por que conservar um texto ultrapassado que dizia respeito
especificamente ao povo de Israel, e não à Igreja? Quem deu origem a essa campanha foram os
gnósticos e os marcionitas.
Apesar disso, os Pais da Igreja impediram que o Antigo Testamento fosse posto de lado.
Assim, a Igreja preservou as duas porções em conjunto. Orígenes denominava-as como dimensão
histórica (quando se referia ao Antigo Testamento - de a letra) e dimensão cristológica ou dimensão
espiritual e eclesial (quando se referia ao Novo Testamento).
Outra grande contribuição dos Pais da Igreja é o fato de que o entendimento das Escrituras
não se reduz à pesquisa intelectual, mas é um mistério, e, portanto, há uma dependência da graça
divina para isso. Gregório Taumaturgo dizia que, para entender uma profecia, é preciso estar imbuído
do Espírito da profecia; assim, tanto o que profere como o que escuta precisam de uma graça. O
Logos divino é quem abre e quem fecha esse entendimento que vem pelo Espírito.
10.6. PERSONAGENS E ESCRITOS IMPORTANTES
1. CLEMENTE DE ROMA
Foram vários os personagens, na história do cristianismo, chamados de Clemente. Há um
Clemente mencionado por Paulo (Fp 4.3); há o Clemente de Alexandria (150 d.C.—215 d.C.) e o
Clemente, bispo de Roma. Do século 11 ao 18, houve 14 papas com o título de Clemente. No final do
primeiro século, houve um Clemente, em Roma, que se notabilizou por escrever uma epístola à igreja
de Corinto, que ficou conhecida como Primeira epístola de Clemente, e, depois, por volta de 95 d.C.,
escreveu uma segunda carta denominada Segunda epístola de Clemente. É possível que esse
Clemente tenha conhecido o apóstolo Paulo.
Em sua primeira carta, Clemente exorta os crentes de Corinto acerca de algumas questões que
Paulo já havia tratado, concentrando-se mais na questão de respeito à liderança, principalmente dos
jovens que pareciam não estar se submetendo ao bispo8 de Corinto. Outro assunto, do qual o
apóstolo Paulo já havia tratado, foi sobre a ressurreição. Os crentes daquela cidade não se mostravam
muito convencidos dessa doutrina ainda. Para levá-los a entender e a aceitar, Clemente usa um
expediente um tanto estranho: apela para o mito da fênix, dando a entender que acreditava na
ressurreição daquela ave, por isso, usava-a para falar da ressurreição futura dos crentes.
2. INÁCIO DE ANTIOQUIA
Inácio foi bispo em Antioquia, o primeiro quartel-general missionário da Igreja, pois foi dali
que Paulo partiu para as suas viagens missionárias (At 13.1). Antioquia era uma cidade importante na
Síria. Ali, os crentes em Jesus receberam o nome de cristãos (At 11.26). Esse terceiro pai apostólico
escreveu sete cartas aos crentes de Éfeso, Magnésia, Trália, Roma, Filadélfia e Esmirna, além de uma
carta a Policarpo. Essas cartas, ele escreveu enquanto viajava de Antioquia para Roma, escoltado por
uma guarda, a caminho da sua execução. Alguns eruditos o têm como o primeiro teólogo do
cristianismo, embora ele não considerasse que estivesse no mesmo nível dos apóstolos. Inácio,
intérprete dos escritos apostólicos, esmerava-se em colocá-los em prática na comunidade dos salvos.
Inácio condenou veementemente o gnosticismo doceta que punha ênfase na humanidade de
Cristo. No final do primeiro século, muitos cristãos já estavam contaminados pela heresia gnóstica e
muitos já não acreditavam na divindade de Jesus. Inácio também valorizou demasiadamente a
celebração da Ceia do Senhor, chamando-a de eucaristia (termo grego para agradecimento),
entendendo que se tratava de um pacto importante no processo de salvação. Ele tratou a eucaristia
como sacramento.10 Esses posicionamentos de Inácio acerca da autoridade do bispo e da Ceia do
Senhor, como sacramento, favoreceram as crenças e as práticas da Igreja Católica Romana; mas não
se pode negar que a contribuição de Inácio na cristologia favoreceu a formação do dogma da
Trindade
3. POLICARPO
Policarpo (69 d.C.—159 d.C.) foi discípulo de João e pastoreou a igreja de Esmirna por 50
anos. O que se sabe sobre ele vem da pena de Eusébio, em sua História Eclesiástica. Embora fosse
pastor de uma igreja local, mostrava-se preocupado com algumas igrejas. Policarpo escreveu uma
carta aos Filipenses por volta de 110 d.C., no mesmo ano em que Inácio de Antioquia foi martirizado
em Roma. Sua carta faz muitas citações do Novo Testamento.13 Ele também utiliza Hebreus e 1
Pedro e faz 13 alusões às epístolas pastorais de Paulo.
Martirizado por sua fé, teve a oportunidade de retratação oferecida pelo imperador.
Inicialmente, ele seria entregue às feras; depois, decidiram que ele seria queimado. Tudo o que ele
precisaria fazer para se livrar do martírio era amaldiçoar a Cristo, ao que ele respondeu: “Por 86 anos
tenho sido servo de Cristo, e Ele nunca me fez mal algum. Como posso blasfemar de meu Rei, que
me salvou?”
4. EPISTÓLA DE BARNABE
Além dos nomes dos Pais Apostólicos citados, há também algumas literaturas que gozaram de
respeito e de acatamento por um tempo, isto é, as epístolas de Barnabé e do Pastor de Hermas. A
epístola de Barnabé foi escrita por alguém que se quis passar por ele, o companheiro de Paulo na
primeira viagem missionária. Essa epístola fora escrita em Alexandria entre os anos 70 d.C. e 135
d.C. Seu autor é desconhecido; mas, pelo escrito, devia conhecer alguns apóstolos como Apoio, o
companheiro de Paulo na segunda viagem missionária.
A exemplo do comportamento gnós- tico em relação ao Antigo Testamento, seguido por
Clemente de Alexandria e Orígenes, essa literatura oferece uma interpretação alegórica para o Antigo
Testamento.15 Ele esforçou-se também para demonstrar que a Igreja de Cristo substituiu o povo
judeu. Esse equívoco é sustentado até hoje por grande parte da cristandade, especialmente pelos pós-
tribulacionistas, os quais se baseiam em Gálatas 6.16, onde Paulo chama a Igreja de “Israel de Deus”.
Ora, essa é uma expressão figurada e tem um sentido meramente espiritual. O Israel étnico
permanece.
Quando Israel voltou a ser um Estado reconhecido pela ONU, aquela nação deu cumprimento
a profecias bíblicas (Dt 30.1-10; 1 Rs 8.46-52; Is 43.5,6; Jr 16.14-16; 29.12- 14). Há um divino plano
escatológico em andamento e será cumprido com Israel (Rm 9—11).
O equívoco da epístola de Barnabé não pode ser aceito como dogma. Israel é Israel, e Igreja é
Igreja! A epístola de Barnabé é bastante legalista, rigorosa e procura levar os crentes a entenderem
que a salvação requer um elevado padrão de vida moral.
5. O PASTO DE HERMAS
Outra literatura que ganhou destaque foi o documento chamado O Pastor de Hermas. Seu
autor pode ter sido Pio, bispo de Roma entre 140 d.C. e 145 d.C. Esse manuscrito narra uma série de
visões de um anjo que se denomina pastor e dá, a Hermas, o significado de cada uma delas. De difícil
compreensão, subentende-se dessa escritura que as revelações são preventivas, pois dizem respeito a
algumas perseguições, e que as forças das trevas estariam movendo-se contra os cristãos. Assim
como a epístola de Barnabé, o Pastor de Hermas é também uma literatura moralista.
Embora admita o perdão de Deus, essa carta é bastante assustadora e anda na contramão da
doutrina da graça pregada pelos apóstolos de Jesus. A misericórdia de Deus não é abundante, e há
somente uma chance de perdão para os pecados: o batismo; esse perdão é garantido enquanto a
pessoa andar no caminho da retidão. Tal posicionamento legalista desestimulava os novos crentes a
desejarem o batismo. Eles adiavam-no enquanto podiam, afinal, temiam “queimar o cartucho” diante
de Deus.
Mesmo com todo o rigor ético, a carta mostra fraqueza doutrinária na sua cris- tologia. Jesus é
a encarnação do Espírito Santo, o que ficou conhecido historicamente como “cristologia do Espírito”.
Essa epístola chegou a fazer parte do cânon do Novo Testamento por algum tempo. Alguns Pais da
Igreja, como Irineu de Lião, Clemente de Alexandria, Orígenes e Atanásio aceitaram-na como
Escritura; mas ela não pôde permanecer entre os livros inspirados. Atanásio acabou rejeitando-a
como livro canônico posteriormente. O fechamento do cânon do Novo Testamento deu-se em 367
d.c. com a lista dos 27 livros de Atanásio, conforme temos hoje.
10.7. AS GRANDES HERESIAS
O que motivou os Pais da Igreja a produzirem literatura foi o surgimento de heresias no seio
da cristandade. Já no tempo dos apóstolos, elas estavam presentes. O que parecia um fogo que se
apagaria sozinho, no início, transformou-se em um grande incêndio. O gnosticismo, por exemplo,
perdurou por cerca de 150 anos como filosofia cristã, confundindo a cabeça dos crentes. Essa
corrente causou divisão no Corpo de Cristo e favoreceu o surgimento de algumas seitas, dentre elas:
o marcionismo, que rejeitava completamente o Antigo Testamento e o Deus dos hebreus, alegando
que o Deus do Novo Testamento, o Pai de Jesus, era outro Deus. Infelizmente, também cometeram
grandes heresias aqueles que se preocuparam em proteger a Igreja com seus próprios escritos, dando
origem a muitas crenças praticadas ainda hoje pelo catolicismo romano.
1. O gnosticismo.
O gnosticismo foi uma corrente filosófica que se acomodou no seio da Igreja primitiva e
tentou misturar seus ideais filosóficos às doutrinas cristãs, aliando, a elas, algumas práticas pagãs das
religiões de mistério; por isso, também era considerado esotérico, adotando a mística babilónica,
egípcia, hinduísta e ariana. Os gnósticos se ufanavam da sua sabedoria.
O gnosticismo surgiu em meados do primeiro século e perdurou por 150 anos no meio da
Igreja. Esse movimento fracionou-se em vários modelos, tais como: os ofitas de Celso; os nicolaítas
(mencionados em Apocalipse 2.15); os arcôntici; os setitas; os carpocratianos; os naaseni; os
simoniani; os barbelognósticos; os bardesanesianos; os marcionitas; os cerintos; os valentinianos;
os ebionitas e os elquesaítas.
a. Doutrinas gnósticas
1. Conceito de Salvação. O gnosticismo é um movimento que acredita na obtenção da
salvação por meio do conhecimento. O termo vem do grego gnósis, que significa
“conhecimento”. Os gnósticos colocavam-se como mestres absolutos da verdade e
detentores do conhecimento filosófico capaz de conferir salvação aos que eram aptos para
aprender. Essa doutrina primava pela libertação da alma (que é espiritual) e do corpo
físico (que é material), pois todo mal está contido na matéria. O conflito existente entre o
material e o imaterial foi tratado de duas formas diferentes pelos gnósticos.
Em sua primeira fase, eles praticavam o asceticismo, negando ao corpo material a
satisfação de alguns prazeres, incluindo a supressão de algumas necessidades como comer
ou beber; afinal, o alimento é matéria e quanto mais matéria fosse ingerida pelo corpo,
mais este ficaria preso a ela. Essa corrente também chegou a proibir o casamento. Paulo
escreve contra as suas práticas, exemplificando-as como parte dos ensinos de demônios:
“Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé,
dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de
homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência, proibindo o
casamento e ordenando a abstinência dos manjares que Deus criou para os fiéis e para os
que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças” (1 Tm 4.1-3). Os
sacrifícios do corpo visavam à purificação e ao fortalecimento do espírito, pois esse era o
que realmente importava. O corpo aguardava a morte para ser destruído e, assim, liberar o
lado imaterial do homem.
Na sua segunda fase, o gnosticismo inverteu a prática do asceticismo pela
licenciosidade. Ora, se o que valia mesmo era o espiritual, por que se preocupavam tanto
com o material? Nessa nova fase, os gnósticos caíram no antinomismo (gr. anti, que
significa sem, contrário a; gr. nomos, que significa lei, regra), ou seja, eles adotaram uma
vida sem regra, sem lei. O apóstolo João rebateu os ensinamentos dos gnósticos. Quanto à
licenciosidade, a palavra grega adikia, pecado como ato de injustiça, o Novo Testamento
recomenda uma vida de santidade e de justiça: “Se sabeis que ele é justo, sabeis que todo
aquele que pratica a justiça é nascido dele” (1 Jo 2.29). O Novo Testamento apresenta
uma mensagem completamente oposta à posição gnóstica.

2. Distinção de classes. Os homens estavam divididos em três diferentes grupos:


 hílicos (os materialistas);
 os psíquicos (os meios-espirituais)
 e os pneumáticos (os espirituais).
Nos extremos, entre os hílicos e os pneumáticos, faziam uma grande distinção. Os
espirituais eram os homens dotados de grande conhecimento, por isso alcançavam
revelação. Esses formavam uma elite, escol. Os materialistas, incapazes de alcançarem a
revelação porque lhes faltava conhecimento, não poderiam jamais alimentar qualquer
esperança de salvação. Esses eram denominados vulgos.
De certa forma, essas polaridades se parecem com a distinção feita na igreja entre os
espirituais e os carnais; mas, para os gnósticos, essa distinção era levada ainda mais a sério
quanto aos que podiam ou não alcançar a revelação.
3. Conceito de Deus. Diferentemente da visão teísta do Deus do Novo Testamento, o
gnosticismo é deísta. O deísmo acredita que um deus criou todas as coisas, estabeleceu
leis para o funcionamento autônomo do mundo e desapareceu. O deus da corrente deísta
não se importa com a sua criação.
A transcendentalidade deste não permitiria que ele se relacionasse com seres tão
ínfimos. No máximo, ele poderia estabelecer um contato à distância por meio de seres
intermediários chamados aeons: emanações celestiais, isto é, anjos, os quais eles
adoravam na tentativa de se aproximarem daquele deus.
Havia 30 emanações (como se fossem camadas) entrepostas na relação homem-deus.
O apóstolo Paulo condena a adoração aos anjos, conforme a prática de alguns membros
(gnósticos) da igreja de Colossos: “Ninguém vos domine a seu bel-prazer, com pretexto de
humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado
na sua carnal compreensão” (Cl 2.18).
Os deístas acreditavam em um demiurgo, um ser inferior ao próprio Deus, o qual fora
usado por este para criar o mundo material, pois, sendo Espírito, Deus não poderia
contaminar-se com a matéria.

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