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SUMÁRIO

1. O QUE É TEOLOGIA

2. O OBJETIVO DA TEOLOGIA

3. DIVISÃO CLÁSSICA DA TEOLOGIA

3.1 Teologia Exegética


3.2 Teologia Histórica
3.3 Teologia Dogmática
3.4 Teologia Bíblica
3.5 Teologia Sistemática

4. TEOLOGIA PENTECOSTAL

5. A NECESSIDADE DE “FAZER” TEOLOGIA

5.1 A teologia nas funções da igreja

6. FONTES DA TEOLOGIA

7. O TEÓLOGO

8. DOUTRINA E RELIGIÃO

9. FUNDAMENTALISMO TEOLÓGICO E FÉ
1. O QUE É TEOLOGIA

Diversos são os conceitos e entendimentos sobre a “teologia”. É


imprescindível o entendimento do termo para evitar equívocos sobre seu real
significado. De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe, é difícil encontrar uma
boa e abrangente definição para a teologia, pois praticamente todas elas são, ou
simples demais, ou tendem a dar mais importância a uma das fontes de uma
teologia totalmente desenvolvida, excluindo outras.1 A teologia sofreu
preconceito em todas as eras da história e por diversas ocasiões recebeu o
tratamento de mitologia pagã. Orígenes foi o primeiro a empregá-lo no contexto
cristão como “a sublimidade e a majestade da teologia”. A partir de Eusébio de
Cesaréia, a palavra popularizou-se no cristianismo.2
A teologia não foi criada por si mesma, no sentido que a revelação e a fé
tenham-na criado ou construído. As duas palavras gregas que formam o termo
indicam o seu objetivo. “O termo teologia vem do grego theôs, "deus", e Iogos,
"estudo", "discurso", "raciocínio". Assim, essa palavra indica o estudo das coisas
relativas a Deus, à sua natureza, obras e relações com os homens, etc. Uma
definição léxica diz: um corpo de doutrinas acerca de Deus, incluindo seus
atributos e relações como homem; especialmente aquele corpo de doutrinas
estabelecido por alguma igreja ou grupo religioso em particular". Essa é uma
definição restrita. Mas esse vocábulo também é usado em um sentido mais geral:
"O estudo da religião, que culmina em uma síntese ou filosofia da religião; além
disso, uma pesquisa crítica da religião, especialmente da religião cristã". 3
Charles Ryrie destaca que existem pelo menos três elementos incluídos
no conceito geral de teologia:

[1] Teologia é inteligível. Ela pode ser compreendida pela mente humana de
maneira ordenada e racional. [2] Teologia requer explicação. Isso, por sua vez,
envolve a exegese (análise dos textos no original) e a sistematização de ideias.
[3] a fé cristã tem sua base na Bíblia, por isso a teologia cristã é um estudo

1
PFEIFFER, Charles F. et. al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p.1910.
2
SOARES, Esequias et. al. Teologia Sistemática, Rio de Janeiro: CPAD, 2011. p.51.
3
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.1. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.396.
baseado na Bíblia. Logo, teologia é a descoberta, a sistematização e a
apresentação das verdades a respeito de Deus.4

Para Geisler a teologia é o estudo daquilo que é referente a Deus, seja a


sua natureza, as suas obras, bem como a sua relação com a sua criação (o
homem). É um discurso racional a respeito de Deus.5 Berkhof diz em sua
sistemática que a Teologia é o conhecimento sistematizado de Deus de quem,
por meio de quem, e para quem são todas as coisas.6 Para Rahner, teologia é a
explanação e explicação consciente e metodológica da revelação divina
recebida e apreendida na fé (…) A tarefa da teologia é articular os elementos
conceituais implícitos na fé cristã.7
Na construção de um bom conceito para a teologia, Medrado faz uma
observação: De que se trata a teologia? De Deus e tudo o que se refere a ele,
isto é, o mundo universo: a criação, a Salvação e tudo o mais. E isso está já na
palavra mesma de “teologia” estudo de Deus. Mas como Deus é o determinante
de tudo, então, qualquer coisa pode ser objeto de consideração do teólogo.
Deus, com efeito, pode ser definido como a realidade que determina todas as
realidades.8
No contexto da religião cristã, Myatt afirma que “a teologia não é o estudo
de Deus como algo abstrato, mas é o estudo do Deus pessoal revelado na Bíblia.
Necessariamente isso inclui tudo o que é revelado sobre Ele e as suas obras e
relações com as criaturas”.9 Para Strong a “teologia é a ciência de Deus e das
relações entre Deus e o universo”. De acordo com Gruden, “teologia é o estudo
de Deus e de todas as suas obras”. Para Hodge “teologia não é somente ‘a
ciência de Deus’ nem mesmo ‘a ciência de Deus e do homem’, ela também dá
conta das relações entre Deus e o universo”. Um bom conceito para a teologia

4
RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004.
p.15.
5
GEISLER, N. Teologia Sistemática: Introdução à teologia. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
p.11.
6
BERKHOF, Louis.
7
RAHNER, apud RAUSCH, T. P. Introdução à Teologia. São Paulo: Paulus, 2004. p.15.
8
MEDRADO, Eudaldo Freitas. Introdução à Teologia. Disponível em
http://www.famedrado.kit.net/
Canal%2004/01.htm. Acesso: 19.11.2015.
9
MYATT, Allan e FERREIRA, Franklin. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Faculdade
Teológica Batista de São Paulo, 2002. p.12.
deve considerá-la como o estudo das relações do Criador (Deus) com a criatura
(homens).
Conceituar a teologia simplesmente como o estudo de Deus seria muita
presunção para o ser humano, uma vez que, Deus, transcende o entendimento
humano. Em outras palavras, a mente humana é incapaz de estudar, ou
conhecer a Deus na sua plenitude. Deus se revela ao homem, e este, é capaz
de conhecê-lo. O conhecimento produz um relacionamento, que não
necessariamente, permita um conhecimento pleno da “mente” de Deus. O
relacionamento produzido por um relacionamento íntimo com Deus permite ao
homem viver na plenitude daquilo que Deus projetou para ele. Deus é conhecido
através das suas obras e das suas atividades. Por isso a teologia dá conta destas
atividades na medida que elas acompanham o nosso conhecimento.
Deus pode ser conhecido e é possível ao homem conhecer a Deus. Isso
torna a teologia plenamente possível. De acordo com Strong existem ao menos
três possibilidades para a teologia: [a] Deus é um ser real que se relaciona com
o universo; [b] A mente humana é capaz de conhecer a Deus e perceber sua
relação com o universo; e [c] Deus provê sua revelação (João 17.3: E a vida
eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviaste. Efésios 1.17: Para que o Deus de nosso Senhor Jesus
Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de
revelação).
Hordern destaca que a teologia é um tratado ou desenvolvimento bem
ordenado do pensamento que se possa obter a respeito de Deus. De acordo
com este autor “a palavra ‘Deus’ não pode ser definida de forma exaustiva, mas
é normalmente empregada para representar o que quer que se creia como sendo
o fato ‘último’, a fonte da qual tudo o mais teria provindo, o valor supremo ou a
origem de todos os valores da existência. Deus vem a ser o ente admitido como
sendo digno de constituir-se no alvo e no propósito da vida. A luz de tais
considerações, torna-se evidente que ninguém poderá passar sua existência
sem a adoção de alguma forma de teologia”.10
De acordo com o Dicionário Bíblico Wycliffe o termo “teologia” pode ser
usado tanto para abranger um estudo dogmático de uma parte das Escrituras,

10
HORDERN, William E. Teologia Contemporânea. São Paulo: Hagnos, 2004. p.5.
como do todo. Dessa forma, é correto falar da teologia do Antigo Testamento ou
da teologia do Novo Testamento. O termo “teologia”, segundo este dicionário,
assume um sentido mais amplo, ou seja, tem a finalidade de cobrir todo o
conteúdo do ensino das Escrituras que o homem pode vir a conhecer em relação
à Deus, e também o relacionamento de Deus com tudo o que Ele criou.11
A teologia cristã estruturou-se na história relacionando-se com a filosofia.
Sobre esta relação e sobre a história da teologia cristã Domingos destaca que:

Um fato importante da História da Teologia cristã, é que ela exige,


inevitavelmente, certa consideração sobre a filosofia e as influências filosóficas.
A partir do século II, quando começa a nossa história, a filosofia torna-se a
principal interlocutora da teologia, e mesmo com a oposição de alguns pais da
Igreja, como por exemplo, o teólogo cristão norte-africano Tertuliano, quando
perguntou retoricamente: "O que Atenas tem que ver com Jerusalém? E o que
a Academia tem que ver com a igreja?", querendo protestar contra o uso
crescente da filosofia grega (Atenas/academia) pelos pensadores cristãos que
deveriam ter se fundamentado exclusivamente nas escrituras e em fontes cristãs
(Jerusalém/igreja). O Pai da igreja e apologista, Justino Mártir referiu-se ao
cristianismo como a "Filosofia verdadeira", ao passo que o mestre cristão do
século III, Clemente de Alexandria, identificou o pensador grego Sócrates como
um "cristão antes de Cristo", já tempos mais tarde, no século XIII, o pensador
Blaise Pascal, asseverou que o "deus dos filósofos não é o Deus de Abraão,
Isaque e Jacó!" O relacionamento entre a reflexão cristã e a filosofia constitui
uma parte muito importante da história da teologia cristã, e fornece algumas das
tensões mais emocionantes dessa história. E para seu melhor estudo, a teologia
cristã foi dividida em períodos, os quais são: [a] O período Patrístico, c. 100 -
451; [b] A idade Média e o Renascimento, c. 1050 - c.1500; [c] Os períodos das
Reformas e da pós-Reforma, c. 1500 - c. 1750; [d] O período Moderno e o pós-
Moderno, c. 1750 - até os dias atuais. Fica evidente a dificuldade de traçar linhas
divisórias nítidas entre muitos desses períodos, por exemplo, as relações entre
a idade média, o renascimento e a reforma são controvertidos, e alguns
acadêmicos entendem que os dois últimos períodos são uma continuação do
primeiro, embora outros os vejam como períodos totalmente distintos um do
outro. O que podemos afirmar é que a história da Teologia Cristã começa no
século II, cerca de cem anos depois da morte e ressurreição de Cristo, com o
início da confusão entre os cristãos no Império Romano, tanto dentro quanto fora
da Igreja. Os desafios internos principais eram semelhantes a cacofonia de

11
PFEIFFER, Charles F. et. al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p.1910.
vozes que muitos cristãos em nossos dias chamariam de "seitas", ao passo que
os desafios externos eram semelhantes as vozes que muitos hoje chamariam
"céticos". É dessas vozes desafiadoras que surgiu a necessidade e os
primórdios da ortodoxia - uma declaração definitiva daquilo que é teologicamente
correto.12

EXPLORANDO O TEMA NA WEB

Um bom texto sobre o conceito de teologia pode ser verificado em


http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/teologia-o-que-e.

QUESTÕES PROPOSTAS

1. A teologia é plenamente possível, ou seja, sua ação é prática. Justifique com


suas palavras essa afirmação.

2. Qual a relação do texto de Jo 17.3 e Ef 1.17 com a construção de um conceito


para a teologia?

3. Crie um conceito sobre a teologia com suas palavras.

12
OLSON, Roger E. História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São Paulo:
Editora Vida, 2001. p. 668.
2. O OBJETIVO DA TEOLOGIA

O alvo da teologia é permitir que o homem se relacione com seu criador


e compreenda a manifestação deste no desenvolvimento da história. O alvo da
teologia está centrado em Deus, em especial, no seu plano de salvação para o
homem por intermédio de Cristo.

A Teologia se distingue da Teodicéia, que é o conjunto de conhecimentos que o


homem pode chegar a ter de Deus sem ajuda da Revelação sobrenatural e se
limita a estudar a existência, o ser e os atributos divinos. A ciência teológica
estuda o ser de Deus, na medida em que pode ser alcançado. Não se esquece
nunca que Deus é um mistério, não é um objeto do qual se possa dar informação
como dos outros seres. Que a Teologia é a ciência de Deus significa que tudo
se trata nela principalmente desde o ponto de vista divino. A distinção tradicional
é a seguinte: [1] Objeto material – é a realidade da que propriamente se ocupa
a Teologia. O objeto é Deus e todas as realidades por Ele criadas e governadas
por seu desígnio salvador. O objeto material primário ou principal é Deus e o
objeto secundário são todas as coisas criadas enquanto ordenadas a Deus. [2]
Objeto formal, indica o ponto de vista. Um é o objeto formal “quod”: o que é
próprio de Deus. “Deus sub ratione Deitatis” e o objeto formal “quo” designa a
luz intelectual sob a que o objeto é considerado. Neste caso, a razão iluminada
ou guiada pela fé.13

A teologia deve promover a fé, deve incentivar o homem a viver de forma


justa por intermédio do desenvolvimento de uma vida de fé. Rm 1.16,17 diz:
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus
para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.
Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas
o justo viverá pela fé”. Para Buckland a simples fé implica uma disposição de
alma para confiar noutra pessoa. Difere de credulidade, porque aquilo em que
a fé tem confiança é verdadeiro de fato, e, ainda que muitas vezes transcenda a
nossa razão, não lhe é contrário. A credulidade, porém, alimenta-se de coisas
imaginárias, e é cultivada pela simples imaginação. A fé difere da crença porque
é uma confiança do coração e não apenas uma aquiescência intelectual. A fé é

13
FRISOTTI, Heitor. Teologias Especializadas. Disponível em
www.itsimonton.tripod.com/apostila_
teologias_especializadas.doc. Acesso: 28.12.2015.
uma atitude, e deve ser um impulso. A fé cristã é uma completa confiança em
Cristo, pela qual se realiza a união com o Seu Espírito, havendo a vontade de
viver a vida que Ele aprovaria.14
Para Frisotti a teologia pode ser compreendida com sendo uma ciência
em que a razão do crente, guiada pela fé teologal, se esforça para compreender
melhor os mistérios revelados em si mesmos e em suas consequências para a
existência humana.15 Sobre fé e teologia Frisotti destacou que:

A fé é assentir a uma verdade enquanto digna de ser crida. O próprio da Teologia


é analisá-la. O motivo formal da fé é a autoridade de Deus que se revela; o da
Teologia é a percepção da razão da inteligibilidade do crido. A fé é sempre
pressuposto absoluto da Teologia. De modo que a Teologia deve ser feita desde
dentro e a partir da fé, e é assim algo mais que uma simples reflexão racional
sobre os dados da revelação. Por isso afirma Agostinho: “intelligere ut credas,
credere ut intelligas” (deves entender para crer e deves crer para entender).
Anselmo de Canterbury entendia a Teologia como “fides quarens intellectum”; a
fé que busca entender, não por curiosidade, mas por amor e veneração ao
mistério. O crente não discute a fé, mas mantendo-la firme busca dar razões do
por que da fé. Portanto, a Teologia é desenvolvimento da dimensão intelectual
do ato de fé. É uma fé reflexiva, fé que pensa, compreende, pergunta e busca.
Trata de elevar, dentro do possível credere ao nível do intelligere. O Teólogo se
apóia no conhecimento de Deus pela fé, na razão humana e nas suas
descobertas certas. Então, com tudo isto, o Teólogo tenta ordenar e interpretar
os dados que são objeto de fé, de modo que se veja sua unidade tal como Deus
o dispôs.16

Em seu estudo sobre a natureza da teologia, Frisotti, tem um olhar


interessante sobre ela ao observar que ela possui objetivo positivo e
especulativo. O texto abaixo é um resumo do pensamento de Frisotti.
A Teologia positiva é a ciência do conteúdo integral da Revelação, que
tenta determinar e traçar toda a história documental do objeto crido em sua
revelação, sua transmissão e sua proposição. Deseja conhecer o corpo ou a
forma externa do dado revelado, com o estilo metódico e exaustivo que é próprio

14
BUCKLAND, A.R. “Fé”. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Editora Vida, 2007.
15
FRISOTTI, Heitor. Teologias Especializadas. Disponível em
www.itsimonton.tripod.com/apostila_
teologias_especializadas.doc. Acesso: 28.12.2015.
16
Ibidem.
das ciências positivas. Faz isso para chegar a uma inteligência mais profunda
da Palavra de Deus.
Trata de responder à seguinte pergunta, qual é exatamente a verdade
revelada por Deus? Procura determinar e estabelecer o que Deus revelou e
como o revelou, se o fez diretamente o indiretamente, de modo explícito o
implícito, com expressões obscuras ou claras. E porque as doutrinas reveladas
não se encontram sempre com a mesma nitidez, costuma ser necessário um
trabalho de interpretação de termos e expressões.
Teologia especulativa: aprofunda nas verdades reveladas, mostra sua
inteligibilidade, a conexão e harmonia que reina entre elas, servindo-se da ajuda
das ciências humanas. Leva a uma compreensão mais funda do dado revelado.
Mas não deve ser confundida com uma simples especulação; não é a aplicação
de uma filosofia técnica à compreensão da doutrina revelada mas a Teologia
especulativa cai sob o controle e ob a luz do mistério de salvação. Não é uma
super-estructura da Teologia positiva, senão o pensamento especulativo se
encontra englobado na Teologia positiva. O dado de fé não é unicamente o ponto
de partida; é o princípio vital que a anima ao longo de todo seu recorrido de
reflexão crente.
A possibilidade da Teologia especulativa se fundamenta numa
epistemologia realista: a doutrina revelada pressupõe que a mente humana se
ordena à verdade e é capaz de conhecer a Deus de maneira limitada e certa.
Para isso, tem grande importância o tema da analogia. Permite-nos falar de Deus
de modo que nosso linguagem tenha sentido. Algo podemos dizer de Deus ainda
que Ele não pode ser explicado univocamente.
A Teologia especulativa possui duas grandes tarefas: compreender e
organizar o dado revelado. 1. Compreende o melhor possível o dado revelado.
Não quer dizer que os mistérios possam ser demonstrados o assimilados como
si fossem dados totalmente evidentes. Mas que é a busca do sentido preciso que
se encerra na fé e a relação dos mistérios entre si. 2. Trabalho sistemático: a
Teologia procura expor com rigor os preâmbulos da fé (mostrar que a fé, ainda
que não seja evidente, não é absurda). Apresentar una síntese dos mistérios da
fé (de modo que se mostre o melhor possível a unidade e a coerência da doutrina
revelada). E relacionar seus dados e conclusões com o mundo da ciência e da
cultura.17

EXPLORANDO O TEMA NA WEB

Você pode ler um bom texto sobre o objeto da teologia em


http://www.webartigos.com/artigos/um-ensaio-sobre-o-objeto-de-estudo-da-
teologia/54465/

QUESTÕES PROPOSTAS

1. Qual a diferença entre Teologia e Teodiceia?

2. Explique a diferença entre fé e credulidade.

3. Qual a diferença entre teologia positiva e teologia especulativa?

17
FRISOTTI, Heitor. Teologias Especializadas. Disponível em
www.itsimonton.tripod.com/apostila_
teologias_especializadas.doc. Acesso: 28.12.2015.
3. DIVISÃO CLÁSSICA DA TEOLOGIA

Antes de tratar diretamente sobre a divisão da teologia, é importante


destacar que a mesma pode ser catalogada de diversas maneiras. Charles
Ryrie aponta três tipos de teologia: [a] Por época – por exemplo, teologia
patrística, teologia medieval, teologia reformada e teologia contemporânea; [b]
Por ponto de vista – por exemplo, teologia arminiana (defendida por Armínio),
teologia calvinista (defendida por João Calvino), teologia barthiana (defendida
por Karl Barth), teologia da libertação, etc.; e [c] Por ênfase – por exemplo,
teologia histórica, teologia bíblica, teologia sistemática, teologia apologética,
teologia exegética, etc.18
A divisão clássica da teologia geralmente tem como base o tipo de
teologia por ênfase, objetivando organizar os assuntos para facilitar seu estudo
e sua compreensão. Basicamente, numa perspectiva clássica, a teologia divide-
se em cinco partes: teologia exegética, teologia histórica, teologia dogmática,
teologia bíblica e teologia sistemática. É possível encontrar em outros autores
diferentes divisões, fato que não invalida o posicionamento clássico, apenas
divide a teologia nas diversas perspectivas que ela pode ser observada. Myer
Pearlman, observa do ponto de vista clássico, a teologia classificada da
seguinte maneira:

[1] A teologia exegética (exegética vem da palavra grega que significa "sacar"ou
"extrair" a verdade) procura descobrir o verdadeiro significado das Escrituras.
Um conhecimento das línguas originais nas quais foram escritas as Escrituras
pertence a este departamento da teologia. [2] A teologia histórica traça a história
do desenvolvimento da interpretação doutrinária, e envolve o estudo da história
da igreja. [3] A teologia dogmática é o estudo das verdades fundamentais da fé
como se nos apresentam nos credos da igreja. [4] A teologia bíblica traça o
progresso da verdade através dos diversos livros da Bíblia, e descreve a maneira
de cada escritor apresentar as doutrinas importantes. Por exemplo: segundo
este método ao estudar a doutrina da expiação estudar-se-ia a maneira como
determinado assunto foi tratado nas diversas seções da Bíblia — no livro de Atos,
nas Epístolas, e no Apocalipse. Ou verificar-se-ia o que Cristo, Paulo, Pedro ou
João disseram acerca do assunto. Ou descobrir-se-ia o que cada livro ou seção
das Escrituras ensinou concernente às doutrinas de Deus, de Cristo, da

18
RYRIE, Charles C. Teologia Básica ao alcance de todos. São Paulo: Mundo Cristão, 2004.
p.15-16.
expiação, da salvação e de outras. [5] A teologia sistemática. Neste ramo de
estudo os ensinos bíblicos concernentes a Deus e ao homem são agrupados em
tópicos, de acordo com um sistema definido; por exemplo, as Escrituras
relacionadas à natureza e à obra de Cristo são classificadas sob o título:
"Doutrina de Cristo".19

3.1 Teologia Exegética

A teologia exegética busca o verdadeiro significado das Escrituras. Esse


termo vem do grego, “ex” (fora) e “agein” (guiar), ou seja, “liderar” ou “explicar".
Champlin destaca que a palavra portuguesa exegese é usada para indicar
“narrativa”, “tradução” ou “interpretação”. Dentro do contexto teológico, a ênfase
recai sobre a interpretação de modos formais de explicação que podem ser
aplicados a algum texto, a fim de se compreender o seu sentido. Na linguagem
técnica, a exegese aponta para a interpretação de alguma passagem literária
específica, ao mesmo tempo em que os princípios gerais aplicados em tais
interpretações são chamados hermenêutica.20
O contrário da exegese é a eisegese. Sobre a eisegese Champlin diz que
este termo significa ler no texto aquilo que alguém quer encontrar ali, mas que,
na realidade, não se encontra no mesmo, ou então significa distorcer um texto
para adaptá-lo às próprias ideias do intérprete. Portanto, o quanto a exegese é
séria, a eisegese não passa de uma burla. A maioria das pessoas que se envolve
na exegese também pratica alguma eisegese.21
De acordo com Arantes a interpretação não é uma atividade tão
complexa: “A maior parte da Escritura é, na verdade, de fácil entendimento.
Ninguém precisa ser versado nos originais para compreender o seu propósito
salvífico. Sua mensagem é basicamente simples. Todo aquele que dela se
aproxima pode ser educado na justiça. Contudo, existem certas partes que não
são de tão fácil compreensão, sendo de suma importância que o intérprete-leitor,
tenha algumas qualificações.”22

19
Ibidem. p.10-11.
20
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.2. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.617.
21
Ibidem.
22
ARANTES, Fernando. A Bíblia, seu intérprete e sua interpretação. Disponível em
http://www.ipjg.org.br/ed/VisaoBiblica/Textos/2007/A-Biblia-seu-Interprete-e-sua-Interpretacao-
a.doc. Acesso: 23/04/2009.
Milton S. Terry afirmou que as qualificações de um intérprete competente
podem ser ditas como: Intelectual, educacional e espiritual. Para ele o intelecto
entra justamente na percepção clara do significado do texto. A argumentação
lógica do autor sacro pode ser percebida por alguém que esteja atento
intelectualmente. Um exemplo é a clara divisão que o apóstolo Paulo faz da carta
aos Efésios, colocando nos capítulos 1-3 um bloco eminentemente doutrinário e
de 4-6 outro bloco eminentemente prático. Uma mente analítica, que saiba
discernir o que um texto está ensinando é muito importante para o intérprete.
A imaginação, segundo Terry precisa ser controlada. Algumas pessoas
têm uma mente fértil demais e isto pode prejudicar a boa interpretação do texto.
O intérprete deve usar sua mente para analisar, comparar e examinar a
Escritura. A razão deve ser aplicada em cada parte da Escritura. A Bíblia foi
escrita em linguagem humana, apela a nossa razão, convida a investigação e
pesquisa, condena a crença cega. A maior tarefa de um intérprete é ensinar o
que aprendeu, e ensinar outros extraírem o aprendizado da Escritura. Sem isso
em mente a interpretação não terá tanto valor. O apóstolo recomenda a Timóteo:
“Ora, é necessário que o servo do Senhor seja... apto a instruir...” (2 Tm 2:24)23
Para Terry a qualificação educacional compreende os fatos acerca dos
quais o intérprete deve estar inteirado, fatos que são aprendidos com estudo e
pesquisa. A geografia da Palestina e regiões vizinhas que influenciaram nos
escritos bíblicos. As histórias gerais e bíblicas são também importantes no que
tange a confirmação e complementação da revelação que nos é trazida na
Escritura – complementação histórica. A cronologia, o discernimento de tempos
e épocas é também de especial valor na interpretação. Os sistemas políticos que
envolveram a revelação bíblica esclarecem também a compreensão do que foi
revelado. O modo de produção, o sistema escravista, o comércio, as guerras,
tudo isto pode ser adquirido com pesquisa e estudo. Mais uma vez temos a
exortação do apóstolo que diz a Timóteo: “Até a minha chegada aplica-te à
leitura, à exortação ao ensino. Não te faças negligentes para com o dom que há
em ti...” (1Tm. 4:13, 14).24
A qualificação espiritual é, também, fundamental à interpretação bíblica,
Intelecto e estudo são importantes, mas sem contato com o Espírito Santo que

23
TERRY, Milton S., Biblical Hermeneutics. Grand Rapids, MI: Zondervan 1977. Pp.151-158.
24
Ibidem.
é o autor da Bíblia tudo é incompleto, afirma Terry. Portanto como ensina o Dr.
Loyd Jones “é imprescindível que haja uma aproximação espiritual no texto. O
pecado pode vendar nossos olhos a ponto de não enxergarmos com clareza a
vontade de Deus revelada em um texto estudado mesmo com empenho. O maior
objetivo do intérprete deve ser o de alcançar a verdade, preceito ou doutrina do
texto estudado. Não podemos permitir que o texto fale o que queremos ouvir,
mas lutar para ouvir o que o texto tem a nos dizer. O apóstolo Paulo nos exorta
dizendo: “Por isso o pendor da carne é inimizado contra Deus, pois não está
sujeita à lei de Deus, nem mesmo pode estar” (Rm 8.7).25

3.2 Teologia Histórica

A teologia histórica traça a história do desenvolvimento da interpretação


doutrinária, e envolve o estudo da história da igreja. Segundo Matos, a teologia
histórica também conhecida como história da teologia ou história da doutrina,
tem estreita conexão com duas áreas muito importantes: a história da Igreja e a
teologia cristã. Sobre isto Matos diz:

Levanta-se então a seguinte pergunta: A teologia histórica é primordialmente


história ou teologia? Qual das duas ênfases é predominante? Variam as
posições dos autores sobre essa questão, mas não seria incorreto dizer que ela
tem estreita e igual conexão com essas duas áreas correlatas. Inicialmente, é
necessário considerar como a teologia histórica se encaixa nas subdivisões dos
estudos históricos do cristianismo. A história da Igreja é a mais ampla das
disciplinas que tratam do passado cristão. É o estudo da caminhada e do
desenvolvimento da Igreja através dos séculos, em muitas áreas diferentes:
missões e expansão geográfica; culto, liturgia e sacramentos; espiritualidade e
vida cristã prática; organização, estrutura e forma de governo; pregação,
arquitetura e arte sacra; relacionamento com a sociedade, a cultura e o Estado.
Enfim, pode-se afirmar que a história da Igreja ou do cristianismo inclui tudo o
que a Igreja faz no mundo, sendo essencialmente um estudo e uma narrativa de
eventos, personagens e movimentos. Inclui o que hoje se denomina história
institucional e história social. Todavia, a história da Igreja, além de analisar a
prática da Igreja, também aborda seu pensamento, aquilo que ela ensina. Isto
se relaciona mais concretamente com a teologia histórica. Os tópicos acima
podem ser considerados com base em duas perspectivas. Por exemplo: a prática

25
Ibidem.
da Igreja na área de missões (história da Igreja) e a reflexão que ela faz sobre
sua missão (história da teologia), ou a evolução de suas práticas litúrgicas
(história da Igreja) e a reflexão sobre o significado do culto e da liturgia (teologia
histórica). Esse estudo do pensamento e do ensino da Igreja pode ter várias
abordagens. A história do dogma é a análise de certos temas doutrinários
particulares que receberam uma definição oficial e normativa da Igreja. Alguns
historiadores entendem que apenas três áreas de doutrina se inserem na história
do dogma: a doutrina da Trindade (definida nos Concílios de Nicéia e de
Constantinopla), a doutrina da pessoa divino-humana de Cristo (Concílio de
Calcedônia) e a doutrina da graça ou, mais especificamente, a relação entre a
graça divina e a vontade humana no que se refere à salvação. No outro extremo
está a história do pensamento cristão, que identifica um vasto campo de
investigação, incluindo tópicos que estão além dos limites da teologia clássica,
como certas questões filosóficas, éticas, políticas e sociais. Os estudiosos
também empregam os termos “história das ideias” e “história intelectual” para se
referir a esse contexto mais amplo dentro do qual se insere a teologia histórica.
A história da teologia não tem um campo tão limitado como a história do dogma,
nem tão amplo como a história do pensamento cristão, mas usa ambas as áreas
em sua elaboração. Seu objetivo é considerar o corpo de doutrinas existente na
vida da Igreja em cada período da história. 26

Para Alister McGrath, a teologia histórica “é o ramo da investigação


teológica que objetiva explorar o desenvolvimento histórico das doutrinas cristãs
e identificar os fatores que influenciaram sua formulação”. Em outras palavras, a
história da teologia documenta as respostas às grandes questões do
pensamento cristão e ao mesmo tempo procura explicar os fatores que
contribuíram para a elaboração dessas respostas.27 A história da teologia é uma
ferramenta pedagógica tendo em vista que oferece informações sobre o
desenvolvimento dos grandes temas teológicos, os pontos fortes e fracos das
diferentes abordagens e os marcos mais notáveis do pensamento cristão, em
termos de autores e documentos. É também uma ferramenta crítica, pois permite
ver as falhas, as limitações e os condicionamentos de certas formulações
doutrinárias, o que possibilita seu contínuo aperfeiçoamento.28

26
MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da Teologia Histórica. São Paulo: Mundo Cristão,
2007. p.15-16.
27
McGRATH, Alister apud MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da Teologia Histórica. São
Paulo: Mundo Cristão, 2007. p.17.
28
Ibidem. p.18.
3.3 Teologia Dogmática

Estuda as verdades fundamentais da fé de acordo com os credos e


confissões de fé da igreja. Preocupa-se também em estabelecer declarações
que darão norte para a igreja e sentido para uma prática religiosa. O pastor
Esequias Soares conceitua o credo como sendo uma interpretação precisa e
autorizada das Escrituras. São documentos que têm por objetivo sintetizar as
doutrinas essenciais do cristianismo para facilitar as confissões públicas e
defender das heresias o pensamento cristão.29
Mark Noll destacou que a construção de um credo, ou de uma declaração
de fé, deve obedecer pelo menos três funções: [a] Servir de declarações
autorizadas da fé cristã que entesouravam as novas ideias dos reformadores,
sem abandonar formas que também pudessem fornecer instrução regular para
os fiéis mais humildes; [b] Erguer um estandarte em redor do qual uma
comunidade local podia cerrar fileiras, tornando claras as diferenças com os
oponentes; e [c] Tornar possível uma reunificação da fé e da prática, visando a
unidade e, ao mesmo tempo, estabelecer uma norma para disciplinar os
desregrados.
Edson Douglas de Oliveira destacou que é comum considerar a teologia
dogmática com teologia sistemática. Sobre isso ele afirma:

A Dogmática pode ser definida como um discurso da Igreja acerca da sua fé. É
uma reflexão teológica feita a partir da Igreja sobre questões às quais ela crê e
que precisa fundamentar de forma inteligível e ordenada para que expresse o
ponto de vista da igreja como uma entidade orgânica da sociedade, mas também
da comunidade cristã como um todo diante do mundo, dos incrédulos aos grupos
participantes de outros credos ou religiões. É, em suma, um discurso racional
sobre a fé que a comunidade vivencia na prática litúrgica e nas doutrinas que ela
crê e pratica. No meio fundamentalista, especialmente no norte-americano, é
comum confundir dogmática com teologia sistemática, confusão essa ainda mais
acentuada por obras como as de Stanley Horton que se apresentam como
teologia sistemática, mas que na verdade são tratados dogmáticos no seu

SOARES, Esequias. Credos e Confissões de Fé – Breve guia histórico do cristianismo. Recife:


29

Bereia, 2013. p.31.


sentido formal. Das diversas diferenças entre ambas talvez a que soi mais
importante é o fato de que a teologia sistemática é feita a partir da reflexão
teológica em diálogo com outros ramos do conhecimento, especialmente a
filosofia, buscando reler a fé a partir das realidades sociais, culturais e
econômicas de cada tempo e de que modo, nesse contexto, pode ser pregada a
palavra de Cristo, enquanto a dogmática estuda as doutrinas da igreja, seu
desenvolvimento e sua pregação no mundo moderno, pormenor esse que até
pode proporcionar alguma discussão de natureza filosófica ou sociológica, mas
que aí já não se insere no terreno da dogmática, embora o dogmático, pelo seu
próprio papel na formulação do pensamento da igreja, termine por trazer o
pensamento cristão para o mundo moderno, como lembra Brunner: a dogmática
não é a palavra de Deus. Deus pode fazer sua Palavra triunfar sem a tologia.
Mas numa época quando o pensamento humano está muitas vezes tão confuso
e pervertido pelas idéias e teorias extraordinárias, entretecidas pela própria
mente dos homens, é evidente que é quase impossível preservar a Palavra
divina sem o esforço intelectual apaixonado para repensar seu sentido e seu
conteúdo (BRUNNER Emil. Dogmática, I, p.7).30

3.4 Teologia Bíblica

Traça o progresso da verdade através dos diversos livros da Bíblia.


Champlin destaca que a expressão teologia bíblica é usada de várias maneiras,
a saber:

[a] Uma atividade cuja finalidade é esclarecer os temas e as ideias da Bíblia sem
os pressupostos que inevitavelmente dão um certo colorido às interpretações
particulares. Em outras palavras, trata-se da tentativa de determinar o que a
Bíblia realmente ensina, mesmo que os resultados sejam embaraçosos para o
estudioso e sua denominação. Essa atividade, na verdade, embaraça a todas as
denominações, cuja própria existência depende da distorção de certos ensinos
da Bíblia. [b] A tentativa para articular a significação teológica da Bíblia como um
todo. Isso é uma tarefa quase impossível, porque a Bíblia não é um livro
homogêneo, conforme as pessoas gostam de acreditar. Não obstante, a
tentativa resulta em pontos positivos, a despeito de seu inevitável fracasso. [c] A
tentativa de construir um completo sistema teológico, mediante o uso da Bíblia
como única fonte informativa. Isso tem sido tentado por muitos evangélicos
fundamentalistas e conservadores. Também foi tentado por Karl Barth e sua neo-

30
OLIVEIRA, Edson Douglas de. Dicionário Teológico: Dogmática. Disponível em
http://comunidadewesleyana.blogspot.com.br/2009/10/dicionario-teologico_8820.html. Acesso:
27.12.2015.
ortodoxia, ou pelos grupos protestantes que aprovam a rejeição das tradições
eclesiásticas, dos pais da Igreja e dos concilias, como autoridade, conforme fez
Lutero. [d] O pressuposto é que todos os autores da Bíblia concordam em seus
pontos de vista fundamentais, e juntamente com exposições de ideias
pretendem descobrir exatamente quais eram os pontos de vista daqueles
autores sagrados.31

De acordo com Tenney “Teologia Bíblica é aquele exercício no qual se


faz uma tentativa de se determinar as afirmações de fé da Bíblia de forma
sistemática. Esta definição reconhece a Bíblia como um livro de fé, quer dizer,
ela registra o significado redentor do encontro de Deus com o homem”.32 Este
autor observa também que o termo “sistemática” de forma alguma sugere que
as categorias da Teologia Sistemática devem dirigir este exercício. Ele afirma,
que, pelo contrário, indica que a tarefa da Teologia Bíblica é expressar as
afirmações de fé dos escritores bíblicos individual e coletivamente, de acordo
com os padrões de expressão discerníveis na própria Bíblia. Além disso, afirma
Tenney, é feito um esforço para apresentar não somente uma declaração
ordenada, mas espera-se também uma descrição unificada da fé da Bíblia.33
Para Tenney é importante também observar que a teologia bíblica
estrutura-se numa metodologia:

[a] Unidade da Bíblia. Qualquer tentativa de sistematização do pensamento


bíblico suscita o problema da unidade. Imediatamente nos confrontamos com a
imensa variedade de material literário tanto do Antigo como do Novo
Testamentos. Existem histórias (1 e 2 Rs, At); hinos (Sl); escritos proféticos e
apocalípticos (Is, Dn e Ap); cartas (de Paulo, Pedro etc); evangelhos (Mt, Mc,
etc.) e escritos de sabedoria (Pv, Tg). Além disso, o período histórico durante o
qual essas literaturas foram compostas abrange 150 anos. Essa diversidade
levanta a questão da norma para estes livros. Devemos seguir a opinião liberal
do AT e supor que os profetas representam a religião hebraica normativa? Com
relação ao NT, devemos buscar a norma nos sinóticos, em Paulo ou em João?
Parece razoável afirmar que a diversidade deve ser admitida, mas vista como
caindo sob um testemunho comum da atividade redentora de Deus em

31
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.6. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.361-362.
32
TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Volume 5. São Paulo: Cultura Cristã,
2008. p.840.
33
Ibidem.
benefício da humanidade pecadora. Além do mais, esta unidade deve fazer um
elo entre os dois testamentos, pelo menos para os cristãos, que afirmam que
Jesus, como o Cristo ressurreto, era o Messias anunciado no AT. O AT
apresenta a promessa e o NT, seu cumprimento; esta ideia é apoiada pelas
palavras de Jesus (Mt 5.17;Jo 5.39; cp. também G1 4.4). Assim, a teoria bíblica
deve dar atenção ao que liga o livro como uma unidade em termos históricos e
teológicos. [b] História da salvação. Stendahl está correto quando afirma que
na Teologia Bíblica, “a história se apresenta como o tear do tecido teológico”. A
unicidade da fé bíblica baseia-se na revelação de Deus por meio dos eventos
da história. A fé judaica-cristã mantém- se separada de todas as religiões da
humanidade exatamente porque não foi fundamentada em mitologias ou ciclos
da natureza. Nem procede de exploração filosófica ou de experiências místicas.
Eldon Ladd comenta: “Ela surgiu das experiências históricas de Israel, antigas
e novas, nas quais Deus se deu a conhecer” (“The Saving Acts of God”, ChT,
III [1961], 18). O Deus de Israel era o Deus da história, o Geschichtsgott, como
os alemães dizem. Uma olhada superficial na Bíblia comprova este fato, pois
nos leva por um caminho histórico — uma série de eventos — desde a Criação,
o chamado de Abraão, o Êxodo, a entrada do povo em Canaâ, o
estabelecimento e a conduta dos reinos, o exílio, o retomo à Palestina, a vida
de Cristo e o estabelecimento da igreja. Estes eventos não são ocorrências
acidentais na história; são atos do Deus vivo, o qual possui um interesse
redentor em seu povo. Assim, esta história é Die heilsgeschichte, "história da
salvação”, e nela Deus mostra sua natureza redentora e a traz à existência e
sustenta seu povo redimido. Von Hofinann. von Rad, G. E. Wright, O. Cullmann,
J. Danielou, E. Rust e muitos outros teólogos do Antigo e do Novo Testamentos
têm enfatizado a centralidade da história na fé judaica-cristã. Sendo isto
verdade, para ser válida em sua metodologia, a Teologia Bíblica deve mostrar
essa história da salvação, porque a revelação de Deus de si mesmo na história
é um dos pontos fundamentais do pensamento bíblico. [c] Cristo, a chave das
Escrituras. Para os cristãos, como Rust destaca, Cristo é o “Senhor das
Escrituras, assim como é Senhor da história e da vida”. Sem o NT, o AT
apresenta um quadro inacabado da redenção de Deus. É uma promessa sem
cumprimento. Significativamente, a igreja primitiva não repudiou as antigas
Escrituras, não somente porque o Mestre não repudiou, mas também porque o
AT proporcionava a única base para o entendimento e a comprovação da sua
existência na história sagrada de Israel. A chave para essa interpretação
necessária era o advento de Cristo. Três eventos em especial, registrados na
história de Lucas-Atos, intensificam este fato. (1) O caminho de Emaús (Lc
24.13-35). Concernente à conversa do Mestre, Lucas registra: “Começando por
Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito
constava em todas as Escrituras” (Lc 24.27). (2) A defesa de Estêvão (At 7).
Obviamente, se Estêvão tivesse a chance de tenninar seu discurso, teria
demonstrado o papel de Cristo na história. De fato, Cristo era não somente a
chave, mas também o clímax redentor. (3) Filipe e o eunuco etíope (At 8.26-39).
Surpreendentemente, o eunuco estava lendo Isaías 53. Quando admitiu que
não compreendia o que estava lendo, “Filipe explicou; e, começando por esta
passagem da Escritura anunciou-lhe a Jesus” (v. 35). Cristo é o cumprimento
das promessas feitas ao povo de Israel e este fato governa o NT. É fácil afirmar
que Cristo é a chave das Escrituras; entretanto, ao se comprovar isso, levanta-
se a questão hermenêutica: como Cristo se relaciona ao AT? Devemos procurar
figuras? Existe uma tipologia histórica que reconheça legitimamente a unicidade
da fé dos santos do AT, mantendo ao mesmo tempo a equação promessa-
cumprimen- to? A tarefa da Teologia Bíblica é muito exata neste ponto. [d]
Confessional e Kerigmático. A Bíblia tem uma dimensão de testemunho. Não
se trata apenas do registro de tantos eventos e fatos relacionados a um antigo
povo, mas é também uma profunda declaração de sua fé num Deus que agiu
em prol de sua salvação. Judeus e cristãos “confessam” Deus como Salvador
e pregam, por meio das Escrituras, que ele é o Salvador da humanidade e, em
particular, por meio de Jesus Cristo na fé do Novo Testamento. Para a Teologia
Bíblica, em termos de metodologia, isso significa que: (1) algumas declarações
bíblicas não devem ser tomadas primariamente como declarações teológicas,
com um apoio lógico e racional por trás delas. Elas de fato têm significado
teológico, mas em primeiro lugar são declarações de fé. Em certos casos, isso
as coloca acima da análise plena e explícita. (2) Até onde é possível, os
elementos confessionais e kerigmáticos devem ser evidentes na sistematização
do pensamento da Bíblia. Alguém pode não ir tão longe quanto G. E. Wright,
dizendo que a “Teologia Bíblica é o ensaio confessional da história, com suas
inferências”. Entretanto, a natureza confessional do material bíblico deve ser
demonstrada para que a Teologia Bíblica seja realmente bíblica. Basear-se em
abstrações filosóficas e teológicas é apresentar uma concepção truncada da fé,
e de fato perder de vista sua natureza vibrante. (3) Ao se praticar a Teologia
Bíblica é importante também “ler nas entrelinhas”. Por exemplo, enquanto a
maioria das cartas de Paulo foi escrita para tratar de problemas locais de um
tipo ou de outro e não possui o caráter altamente racional dos tratados
teológicos, implícita e, às vezes, até explicitamente, expressa uma posição
teológica geral de sua parte. Portanto, o teólogo do NT terá de extrair algumas
inferências das declarações de Paulo e então relacioná-las ao conjunto do
material paulino e ao NT como um todo. Reiterando, a Teologia Bíblica é um
estudo definitivo da Bíblia, auxiliado por todas as outras disciplinas bíblicas, na
qual é feita uma tentativa de demonstrar, por meio de alguns sistemas sugeridos
biblicamente, a revelação de Deus por meio de Cristo, expressando seu
propósito de redimir a humanidade pecadora. 34

3.5 Teologia Sistemática

“A teologia sistemática não examina cada livro da Bíblia separadamente,


mas procura juntar em um todo coerente o que toda a Escritura afirma sobre
dado tópico”.35 “Teologia sistemática é uma disciplina que tenta dar uma
exposição coerente das doutrinas da fé cristã, baseada principalmente nas
Escrituras, falando às perguntas e questões da cultura e época em que ela
existe, com aplicação à vida pessoal do teólogo e outros”.36 De acordo com Alln
Myatt e Frank Ferreira, ao menos três aspectos são importantes na verificação
do conceito da teologia sistemática:

[a] A Teologia Sistemática deve dar uma exposição coerente: A tarefa da


Teologia
Sistemática é fazer um sistema. A Teologia Sistemática trata das doutrinas da
Bíblia através do exame do que a Bíblia inteira diz sobre aquela doutrina e a
comunicação de suas conclusões. Também, a Teologia Sistemática mostra
como as doutrinas da Bíblia se relacionam logicamente. Então, a partir de dados
da Bíblia uma cosmovisão é construída. Esta cosmovisão abrange todas as
áreas da vida que são tocadas pela própria Bíblia. Neste sentido, Teologia
Sistemática é uma teologia compreensiva. [b] Baseada nas Escrituras: A
Teologia Sistemática tenta ser compreensiva mas não vai além do que está dito
na Bíblia. A Teologia Sistemática tenta evitar a especulação, a não ser que o
teólogo admita que ele está fazendo especulação. O teólogo precisa evitar a
tentação de dar às suas próprias especulações a autoridade da Bíblia. [c] A
Teologia Sistemática sempre tem um alvo prático: É preciso tratar com questões
abstratas e complicadas, mas o teólogo deve sempre mostrar a diferença que as
suas conclusões fazem na vida cotidiana. Uma vez alguém perguntou a Francis
Schaefer o que ele faria se, de repente, surgisse evidência conclusiva que a fé
cristã é falsa. Ele respondeu que ele ainda seria teólogo, porque é o melhor jogo
que há. Muitas pessoas tratam a teologia como esta fosse um jogo, mas essa
atitude é uma perversão do propósito de teologia. Teologia não é jogo. Ela existe
para que possamos melhor conhecer, obedecer, e amor a Deus. Aquele que

34
Ibidem. p.845-847.
35
ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1992. p.16.
36
HAMMETT, John apud MYATT, Allan e FERREIRA, Frank. Teologia Sistemática. Rio de
Janeiro: Faculdade Teológica Batista de São Paulo, 2002. p.13.
acha que pode ser um teólogo teórico, fazendo uma “teologia pura” se engana.
Quem não faz a teologia com as necessidades do povo nos bancos da igreja em
mente não é teólogo de verdade. É um fato que quase todos os teólogos de
maior influência através dos séculos eram pastores também. 37

Basicamente a teologia sistemática divide-se da seguinte maneira:


a) Teologia própria: O estudo de Deus – João 7.16,17: “Jesus lhes
respondeu, e disse: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.
Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela
é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo”.
b) Hamartiologia: O estudo do pecado – Romanos 3.23: “Porque todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus”.
c) Soteriologia: O estudo salvação – Romanos 3.24: “Sendo justificados
gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”.
d) Paracletologia: O estudo do Espírito Santo – Romanos 8.11: “E, se o
Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele
que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos
mortais, pelo seu Espírito que em vós habita”.
e) Escatologia: O estudo das últimas coisas – Mateus 4.23: “E, estando
assentado no Monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os seus discípulos em
particular, dizendo: Dize-nos, quando serão essas coisas, e que sinal haverá da
tua vinda e do fim do mundo?”
f) Angelologia: O estudo dos anjos – Hebreus 1.13-14: “E a qual dos anjos
disse jamais: Assenta-te à minha destra, até que ponha a teus inimigos por
escabelo de teus pés? Não são porventura todos eles espíritos ministradores,
enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?”
g) Antropologia: O estudo dos homens – Mateus 19.4: “Ele, porém,
respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio
macho e fêmea os fez”.
h) Cristologia: O estudo de Jesus Cristo – Mateus 1.18: “Ora, o
nascimento de Jesus Cristo foi assim: Que estando Maria, sua mãe, desposada
com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo”.

37
MYATT, Allan e FERREIRA, Frank. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Faculdade Teológica
Batista de São Paulo, 2002. p.13-14.
i) Bibliologia: O estudo da Bíblia – 2Tm 3.16: “Toda a Escritura é
divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir,
para instruir em justiça”.

EXPLORANDO O TEMA NA WEB

Você encontra um bom texto sobre as definições de teologia e suas divisões em


http://theologiaevida.blogspot.com.br/2012/03/definicoes-da-teologia.html

QUESTÕES PROPOSTAS

1. De acordo com Charles Ryrie a teologia pode ser catalogada de diversas


maneiras. Explique.

2. Como Myer Pearlman divide a teologia.

3. O que é teologia sistemática e como ela se divide?


4. TEOLOGIA PENTECOSTAL

Isael de Araújo destaca que a diversidade mundial do pentecostalismo


torna quase impossível falar de “uma” teologia pentecostal.38 Na ótica de Isael a
própria teologia pentecostal clássica encontra dificuldade em estabelecer-se. Ele
observa, porém, que existem correntes teológicas pentecostais que são dignas
de reconhecimento.
A história da teologia pentecostal requer uma visita na história da igreja e
na história da teologia, em especial, no período da Reforma Protestante. A
Reforma Protestante foi um movimento iniciado no século XVI, que tinha o
objetivo de provocar uma profunda mudança no catolicismo. Antes do
movimento reformista, surgiram as primeiras discussões da necessidade de uma
mudança na vida religiosa cristã, dando início assim ao lançamento dos
fundamentos ideológicos da reforma. A origem destas discussões foi verificada
pelos valdenses39, ou seja, aqueles que seguiam Pedro Valdo, conhecido
comerciante de Lyon. Pedro Valdo destacou-se na história de seu povo por ter
conseguido traduzir a Bíblia para a linguagem popular. Além disso, Pedro Valdo
começou a pregá-la publicamente, mesmo não sendo sacerdote. Este
movimento recebeu o nome de Pré-Reforma.

Durante toda a Idade Média, numerosos grupos de irmãos se separaram da


Cristandade oficial para procurar uma forma de cristianismo mais puro e
apegado à simplicidade evangélica. O caminho da fé foi regado com o sangue
do seu martírio. Na Europa ocidental, cátaros e albigenses cresciam,
especialmente na França e Espanha. E nos vales alpinos do norte da Itália e no
sul da Suíça, prosperaram por vários séculos um grupo de irmãos de
características singularmente especiais a quem a história designou com o nome
de Valdenses. Embora estreitamente aparentados com os albigenses, a sua

38
ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. p.557.
39
ABARCA, Rodrigo. A parte da história da igreja que não foi devidamente contada. Os
Valdenses - O Israel dos Alpes. Revista Águas Vivas. Ano 8, no. 45, maio-junho de 2007.
origem parece remontar-se a uma época anterior. A antigüidade dos Valdenses
é testemunhada por várias fontes, tanto internas como externas ao movimento,
e também por algumas características muito particulares de sua fé e práticas. O
inquisidor Rainero, que morreu em 1259, escreveu: "Entre todas estas seitas...
a dos leonistas (leia-se Valdenses).. foi a que por mais tempo tem existido,
porque alguns dizem que tem perdurado desde os tempos de Silvestre (Papa
em 314-335 DC), outros, do tempo dos apóstolos". Marco Aurelio Rorenco,
pároco de São Roque em Turin, em seu reconto e história dos mesmos, escreveu
que os Valdenses são tão antigos que não se pode precisar o tempo de origem.
Além disso, os próprios Valdenses se consideravam muito antigos e originavam
a sua fé dos tempos apostólicos. Na verdade, embora seja impossível precisar
o seu início, é provável que fossem em seu núcleo essencial um remanescente
que se separou da cristandade oficial rejeitando a união da igreja e o estado,
depois da ascensão de Constantino em 311 DC (por ex: os novacianos). Alguns
deles puderam ter emigrado para os remotos e isolados vales alpinos, onde
conservaram intactas por muitos séculos a sua fé e pureza evangélicas, alheios
a todas as controvérsias e lutas posteriores. Embora mais adiante tivesse
estreita comunhão com outros grupos de irmãos perseguidos.
Os Valdenses reconheciam na Escritura a única autoridade final e definitiva para
sua fé e práticas. Criam na justificação pela fé e rejeitavam as obras meritórias
como fonte de salvação. Além da Escritura não sustentavam nenhum credo ou
confissão de fé particular. Apesar disso, conseguiram conservar quase intactas
a sua fé e as suas práticas ao longo de vários séculos; o qual prova de passagem
que o melhor remédio contra a heresia e o engano é a espiritualidade apoiada
em uma profunda fidelidade e apego à Escritura. 40

Neste período, diversos nomes se destacaram na defesa desses


ideais de mudança que a igreja precisava experimentar. John Wycliffe, teólogo
inglês, Jerônimo Savonarola e John Huss, foram responsáveis em divulgar à
rejeição as diversas doutrinas católicas praticadas nesta época. Com o advento
da Reforma Protestante no século XVI, Martinho Lutero e João Calvino
despontaram como os grandes pensadores da teologia, dando à partir de então,
as “coordenadas” para um novo tempo na interpretação das Sagradas
Escrituras. O movimento da Reforma Protestante produziu cinco princípios
fundamentais que se opunham aos ensinos da Igreja Católica Apostólica
Romana. Estes princípios ficaram conhecidos como “solas”, ou seja, uma

40
Ibidem.
palavra latina que traduzida para o português significa “somente”. Estes
princípios serviram de base, ou pilar, para a prática de uma vida religiosa cristã.
Os cinco solas são: [a] Sola Scriptura: Somente a Escritura é nossa regra de fé
e prática; [b] Sola Fide: a salvação é pela Fé Somente; [c] Sola Gratia: a
salvação se dá pela Graça Somente; [d] Solus Christus: Cristo Somente é
suficiente para nos salvar; e [e] Soli Deo Gloria: Somente a Deus devemos dar
a Glória.

Com a chegada do reavivamento no fim do século XVII é início do século XVIII


na Europa e na América do Norte, os pregadores calvinistas, luteranos e
arminianos passarem a enfatizar o arrependimento e a piedade na vida cristã.
Qualquer estudo do Pentecostalismo tem de se a ter aos eventos desse período,
especialmente à doutrina da perfeição cristã ensinada por João Weley o pai do
Metodismo e pelo seu assistente João Fletcher. A publicação por Wesley de A
Short Account of Chistian Perfection (1760) conclama seus seguiores a
buscarem uma nova dimensão espirtual. Essa Segunda obra da graça,
posterior à conversão libertaria os crentes de sua natureza moral imperfeita, que
os tem induzido ao comportamento pecaminoso. 41

Os ensinamentos de Wesley alcançaram os Estados Unidos da América


e influenciaram os cristãos, em especial, na busca por um comportamento santo.
Este movimento expandiu-se e ficou conhecido como “Movimento de Santidade”.

Embora a teologia reformada haja identificado o batismo no Espírito com a


conversão, alguns reavivalistas, dentro dessa tradição, aceitavam o conceito de
uma segunda obra da graça para revestir de poder, acreditavam no conceito de
uma segunda obra da graça para revestir os cristãos no poder do alto. Entre eles
se encontrava Dwight L. Moody e R.A Torrey. Apesar desse revestimento de
poder acreditavam na santificação, mantinha-se em sua obra progressivo outro
personagem chave e o presbiteriano, A B. Simpsom, fundador da Aliança Cristã
e Missionária, cuja forma de pensar teve grande impacto na formação
doutrinarias das Assembleias de Deus, enfatizava nitidamente o batismo no
Espírito Santo.42

41
SCHELLING, Sergyo A. A história do pentecostalismo no Brasil através da Assembleia de
Deus. Disponível em http://ministeriorazaoefe.webnode.com.br/products/a-historia-do-
pentecostalismo-no-brasil-atraves-da-assembleia-de-deus/. Acesso: 30.12.2015.
42
Ibidem.
A mensagem do batismo no Espírito Santo influenciou os Estados Unidos
e deu origem a diversas denominações evangélicas pentecostais. Schellling
destaca que um dos primeiros movimentos pentecostais, fruto do reavivamento
norte-americano, teve destaque em Ricgard G. Sperling, pastor batista
licenciado, que promoveu reuniões na Carolina do Norte, marcada por intensa
glossolalia (falar em línguas estranhas). Mas foi Charles Fox Parham,
“evangelista metodista dos movimentos de santidade”, quem realmente
aprofundou a discussão em torno do batismo do Espírito Santo. “Convencido
pelos seus próprios estudos de Atos dos Apóstolos e influenciado por Irwin
Sandford, testemunhou Parham um reavivamento notável na escola Bethel, em
Topeka, Kansas, em janeiro de 1901.43

Em 1905 Parham criou a escola bíblica de Houston no estado do Texas. Dentre


seus alunos estava W.J. Seymour que era um pregador negro procedente de
Holiness. Convencido de que a glossolalia sinalizava o batismo do Espírito
Santo, Seymor passou a destacar esta experiência em suas pregações. Quando
foi para Los Angeles, falou em uma igreja dos nazarenos, mas acabou proibido
de continuar suas exposições, mas devido a insistência com que tratava a nova
doutrina e o escândalo aos olhos dos protestantes conversadores. Seymour
passou a realizar as reuniões em uma casa, no dia 06 de abril de 1906 oito
pessoas entre elas uns meninos foram batizada com o Espírito Santo e falaram
novas línguas. Seymour se se transferiu para um velho templo metodista na rua
Azuza, onde por três anos sucederam reuniões dia e noite.44

O adepto do pentecostalismo crê no poder do Espírito Santo através da


contemporaneidade dos dons espirituais. Os integrantes do movimento
pentecostal crêem que o Espírito Santo continua a se manifestar nos dias de
hoje, da mesma forma que em Pentecostes, descrita no Novo Testamento (Atos
2). Nessa passagem, o Espírito Santo manifestou-se aos apóstolos por meio de
línguas de fogo e fez com que eles pudessem falar em outros idiomas para
serem entendidos pela multidão heterogênea que os ouvia. Para eles,

43
Ibidem.
44
Ibidem.
sobressaem os dons da glossolalia (o de falar línguas desconhecidas), da cura
e da profecia.45

São legitimamente pentecostais os que, em primeiro lugar: [a] Aceitam a


soberania da Bíblia Sagrada, como a inspirada e inerrante Palavra de
Deus, elegendo-a como infalível regra de avaliação de toda e qualquer
manifestação espiritual (2Tm 3.16); [b] Mantém a pureza da sã doutrina,
conforme a encontramos na Bíblia Sagrada (At 2.42; 1Tm 4.16); [c]
Acreditam na atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons
espirituais (At 2.39); [d] Cumprem integralmente as demandas da Grande
Comissão que nos deixou o Senhor Jesus (Mc 16.15-20); [e] Têm
compromisso com a santidade, defendem o aperfeiçoamento da vida cristã
através da leitura da Bíblia, da oração e do exercício da piedade na
consolação do Espírito Santo (Gl 5.22; 1Ts 5.17-23; 1Tm 4.8).46

Os primeiros pentecostais foram os discípulos de Jesus, como resultado


da promessa do Senhor (Lc 24.49; Mc 16.17; Jo 14.16; At 1.8). Tal promessa se
concretizou por ocasião da festa de comemoração do Pentecostes, no ano 33
d.C. (At 2).
No período da Reforma Protestante, no século XVI, Deus levantou
homens como Martinho Lutero, João Calvino e John Knox. No século XVIII,
ocorreu o Avivamento Morávio com o Conde Zinzendorf, o Grande
Reavivamento na Inglaterra com John Wesley, Charles Wesley e George
Whitefield e o Reavivamento Americano com Jonathan Edwards. Nenhum
destes avivamentos foi conhecido como pentecostal, pois o termo é do início do
século XX, quando houve o derramamento do Espírito Santo nos Estados Unidos
da América, semelhante à manifestação de Atos 2.
No fim do século XIX houve alguns ensinamentos bastante equivocados
à respeito das escrituras sagradas. Estes ensinos produziram, entre outros, o
fortalecimento da teologia cessacionista. Quanto ao Cessacionismo, é de bom
alvitre, citar as palavras extraídas do texto “Dons Espirituais: Reflexões pastorais
sobre a interpretação e uso dos dons”, de Gordon Chown:

45
Disponível em http://www.portalbrasil.net/religiao_pentecostalismo.htm. Acesso: 23.12.2015.
46
CABRAL, Elienai. Lições Bíblicas de Jovens e Adultos: Movimento Pentecostal – As doutrinas
da nossa fé. 2º. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
O Cessacionismo é a teoria de que muitos milagres, bem como dons espirituais,
existiam em função da formação do cânon do Novo Testamento – quer dizer que
houve um poderoso derramamento de milagres na vida de Jesus, e dos
apóstolos, mas que cessou depois de encerrado o cânon do Novo Testamento.
A ideia é que os milagres confirmaram a divindade de Cristo (fato este que está
fora de dúvida) e, semelhantemente, confirmaram a origem divina da atuação e
doutrina dos apóstolos (outro fato inabalável). Tudo isso concorreu para os
registros em todos os livros do Novo Testamento serem reconhecidos como obra
legítima e permanente de Deus, parte integrante das Escrituras Sagradas. E isso
também é certo. Quando me converti a Cristo, a conversão envolveu a aceitação
da inspiração plenária, inerrância e infalibilidade da Bíblia. Inclusive entendo que
qualquer conceito da Bíblia que não a reconhece assim, está fora do arraial do
cristianismo”.

O teólogo pentecostal Stanley Horton destaca que a Teologia


Pentecostal tem seu fundamento nas Sagradas Escrituras e historicamente
mantém o pensamento teológico dos reformadores quanto às doutrinas
cardeais da fé cristã. De acordo com ele o estabelecimento da teologia
pentecostal impediu o avanço das ideias liberais, dando atenção especial à
manifestação dos dons espirituais, ensino este que havia sido esquecido nas
discussões e textos teológicos. Uma das provas que a teologia pentecostal
considera os fundamentos da teologia reformada é verificada, por exemplo, na
concordância existente entre ambas nos seguintes aspectos:

[1] As Escrituras Sagradas, compostas do Antigo e Novo Testamento, são


inteiramente inspiradas por Deus, infalíveis na sua composição original e
completamente dignas de confiança em quaisquer áreas que venham a se
expressar, sendo também a autoridade final e suprema de fé e conduta; II Tm
3:14-17. [2] Há um só Deus eterno, poderoso e perfeito, distinto em sua Trindade:
Pai, Filho e Espírito Santo; Dt 6:4; Mt 28:19. [3] Jesus Cristo nasceu do Espírito
Santo e da virgem Maria, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, e o único
mediador entre Deus e o homem. Somente Ele foi perfeito em natureza, ensino
e obediência; Is 7:14; Rm 8:34; At 1:9; 1 Tm 2.4. [4] O Espírito Santo é o
regenerador e santificador dos remidos, o doador dos frutos e dons espirituais,
o Consolador permanente e Mestre da Igreja. Ele habita nos redimidos, que
devem buscar se encher de Sua presença; Hb 9:14; I Pe 1:15-16; Lc 3:16; At
1:5; I Co 12:1-12. [5] Em Adão a humanidade foi criada à imagem e semelhança
de Deus. Devido à queda de Adão, a humanidade tornou-se radicalmente
corrupta e distanciada de Deus. O essencial para o homem é a restauração de
sua comunhão com Deus, a qual o homem é incapaz de operar por si mesmo;
Rm 3.23; At 3.19. [6] A salvação eterna, dom de Deus, tem sido providenciada
para o homem unicamente pela graça do SENHOR e pela morte vicária de Jesus
Cristo. Fé é o meio pelo qual o crente se apropria dos benefícios da graça e
nasce de novo; Rm 3.23; At 3.19; Jo 3:3-8; At 10:43; Rm 10:13; 3:24-26; Hb 7:25;
5:9; II Co 5:10. [7] Jesus Cristo ressuscitou fisicamente dentre os mortos,
ascendeu aos céus e voltará na consumação dos séculos para julgar os homens;
Is 7:14; Rm 8:34; At 1:9; I Ts 4:16-17; I Co 15:51-54. [8] A punição eterna,
incluindo a separação e perda da comunhão com Deus, é o destino final do
homem não regenerado e de Satanás com todos os seus anjos caídos. Ap 20:11-
15; Mt 25:46. [9] A Igreja Cristã, o corpo e a noiva de Cristo são consagrados à
adoração a ao serviço de Deus através da proclamação fiel da Palavra, a prática
de boas obras e a observância do Batismo e da Ceia do Senhor. Mt 28:19; Rm
6:1-6; Cl 2:12. [10] A tarefa da Igreja é ensinar a todas as nações, fazendo com
que o Evangelho produza frutos em cada aspecto da vida e do pensamento. A
missão suprema da Igreja é a salvação das almas. Deus transforma a natureza
humana, tornando-se isto, o meio para a redenção da sociedade. Mt 28:19-20. 47

O pastor Claudionor de Andrade destacou em seu artigo intitulado “a


excelência teológica dos pentecostais” que este movimento não se fundamenta
apenas em experiências particulares, mas tem um sólido fundamento na
reflexão bíblica. Sobre esta verdade, ele afirmou o seguinte:

Antes de mais nada, porque o Movimento Pentecostal não é somente


experiência, mas o resultado de uma profunda e bem amadurecida reflexão
bíblica. Aliás, entre os primeiros crentes a receberem o batismo com o Espírito
Santo, não havia só gente simples e leiga; havia também excelentes teólogos.
Haja vista o pastor sueco Lewi Pethrus (1884-1974). Entre os pioneiros, veio
ele a sobressair-se como poeta, jornalista e expositor bíblico. Seja-me permitido
citar outro literato que, ao lado de Lewi Pethrus, emprestou às igrejas
pentecostais um sólido alicerce teológico e cultural. Refiro-me ao romancista
Sven Lidman (1882-1960). Também sueco de nascimento, teve ele, em 1917,
um encontro marcante com Deus que, de maneira piedosa e grácil, eterniza
num de seus romances. Quatro anos depois, juntava-se Lidman ao nascente
avivamento, pontificando-se, a partir daí, não apenas como pregador e teólogo,
mas ainda como editor da revista Evangelii Harold. Sven é um dos nomes mais
respeitados da literatura sueca. Tivesse eu espaço, citaria outros teólogos que,
desde o início do Avivamento Pentecostal, vêm fundamentando bíblica e

47
ICP – Instituto Cristão de Pesquisas.
teologicamente a nossa fé. Como esquecer, porém, Stanley Horton, Wayne
Gruden, J. Rodman Williams e Gordon Fee? No Brasil, lembro o pastor Antonio
Gilberto que, além de teólogo, abriu-nos um espaçoso caminho no árduo e
incompreendido solo da Educação Cristã. 48

O Pastor Antônio Gilberto destacou que a igreja da atualidade precisa


mais e mais conhecer, buscar, receber e exercitar a provisão divina imensurável
que há nos dons espirituais, para o seu contínuo avanço, edificação,
consolidação e vitória contra as hostes infernais, e, ao mesmo tempo, glorificar
muito mais a Cristo.49 Myer Pearlman destaca que a doutrina do Espírito Santo,
a julgar pelo lugar que ocupa nas Escrituras, está em primeiro lugar entre as
verdades redentoras. Diz ele:

Com exceção das Epístolas 2 e 3 de João, todos os livros do Novo Testamento


contêm referências à obra do Espírito; todos os Evangelhos começam com uma
promessa do derramamento do Espírito Santo. No entanto, é reconhecida como
a doutrina mais negligenciada. O formalismo e um medo indevido do fanatismo
têm produzido uma reação contra a ênfase na obra do Espírito na experiência
pessoal.
Naturalmente, este fato resultou em decadência espiritual, pois não pode haver
um Cristianismo vivo sem o Espírito. Somente ele pode fazer real o que a obra
de Cristo possibilitou. Inácio, grande pastor da igreja primitiva, disse: A graça
do Espírito põe a maquinaria da redenção em conexão vital com a alma. Parte
do Espírito, a cruz permanece inerte, uma imensa máquina parada, e em volta
dela permanecem imóveis as pedras do edifício. Somente quando se colocar a
"corda" é que se poderá proceder à obra de elevar a vida do indivíduo, pela fé,
e pelo amor, para alcançar o lugar preparado para ela na igreja de Deus. 50

EXPLORANDO O TEMA NA WEB

Você pode ler um bom texto sobre o desenvolvimento da teologia em


http://gutierresfernandes.com/2014/12/21/o-desenvolvimento-da-teologia-
pentecostal/

48
ANDRADE, Claudionor de. A excelência teológica dos Pentecostais. Disponível em
http://www.cpadnews.com.br/blog/claudionorandrade/posts/29/a-excelencia-teologica-dos-
pentecostais.html. Acesso: 15.12.2015.
49
GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008. p.195.
50
PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2004. p.225.
QUESTÕES PROPOSTAS

1. O que foram as “cinco solas”?

2. O que significa ser pentecostal e quais características são observadas na


confirmação da identidade pentecostal?

3. De acordo com Stanley Horton qual foi a contribuição do estabelecimento da


teologia pentecostal para o mundo cristão?
5. A NECESSIDADE DE “FAZER” TEOLOGIA

Santos observa que “é comum ouvirmos que a teologia mata a religião ou


que a Igreja não precisa de teologia e, sim, de vida. Ele admite que há muita
coisa por aí levando o nome de “teologia” que não passa de especulação
humana, por não se basear em pressupostos de uma hermenêutica bíblica. E
até a ‘boa teologia’, quando se torna um fim em si mesma, pode não ter qualquer
uso prático e reduzir-se a mero academicismo”.51 Sobre esta realidade este autor
diz:

Como podemos conhecer a Deus sem estudar a revelação que Ele faz de Si
mesmo? Como saber quem Ele é e o que Ele tem feito e faz, quem somos nós
em relação a Ele, o que Ele requer de nós,etc., se não investigarmos o que Ele
deixou revelado para nosso conhecimento? Pois esse é o trabalho da Teologia.
Esse trabalho parte de três pressupostos: O primeiro é o de que Deus existe; o
segundo, de que Ele pode ser conhecido, embora não de modo exaustivo e
completo; e o terceiro, de que Ele tem Se revelado tanto por meio de Suas obras
(criação e providência - Revelação Geral - Sl19.1,2; At 14.17), como,
principalmente, nas Santas Escrituras (Revelação Especial - Hb1.1,2; 1 Pd
1.20,21). É porque Deus Se revelou que podemos conhece-Lo. Nosso
conhecimento de Deus não é intuitivo, nem natural, mas comunicado por Ele
mesmo através dos meios que soberanamente escolheu. “Fazer teologia”,
portanto, não é inventar teorias a respeito de Deus e de Suas obras, nem mesmo
“descobrir” a Deus, mas conhecer e compreender a revelação que Ele próprio
deu de Si. Por isso, qualquer estudo de Deus que não tiver a Sua revelação
como base, meio e princípio regulador não é “teologia”, devidamente
entendida.52

Hordern também preocupou-se em defender a teologia. Disse ele:

Com frequência, alguém diz assim: “Por que preocupar-se com assuntos de
teologia? Os teólogos passam o tempo inutilmente discutindo questões sem
qualquer importância ...” Passemos a um exame dessa maneira de pensar. Por
que será que os problemas citados são considerados sem importância? É claro

51
SANTOS, João Alves dos. A igreja precisa de teologia? Disponível em
http://www.soluschristus.com.br/2010/06/igreja-precisa-de-teologia.html. Acesso: 23.12.2015.
52
Ibidem.
que quem faz semelhante objeção tem em mente algum conceito do que se deva
admitir como sendo de mais alto valor, em comparação com o que ele se acha
na condição de asseverar que os argumentos dos teólogos lhe parecem
destituídos de importância. Isso quer dizer que tal pessoa se encontra em
determinada posição teológica, tem uma opinião com referência à natureza de
Deus, conceitos, portanto, que o levam a proclamar como sem importância os
argumentos enunciados pelos teólogos. De modo que, mesmo um ataque assim,
endereçado contra a teologia, não passa de uma investida de natureza teológica.
Frequentemente ouvimos pessoas dizendo que não é o que alguém crê e, sim,
o que faz que tem importância. Trata-se de meia verdade, que, como acontece
com as verdades apresentadas pela metade, chega a ser perigosa. E meia
verdade porque, do ponto de vista cristão, o pensamento teológico não é
nenhum fim em si mesmo. O cristianismo é doutrina que se propõe a ser vivida.
Visa a resultar em ações. De forma que, se permanecer sempre como
pensamento, torna-se algo até mesmo destituído de verdadeiro cristianismo e,
portanto, fútil.53

Geraldo Campos citou algumas razões para se “fazer” teologia, sendo


elas:

[1] Nossa mente necessita de organização. Precisamos dar ordem aos


conhecimentos adquiridos. Necessitamos harmonizar, unificar, para refletir
sobre os conhecimentos. Daí surgir, por necessidade, a teologia, em atenção a
nossa mente refletidora. [2] Para desenvolvimento do caráter. Todo
conhecimento de Deus influi na vida do conhecedor. Como estudantes de
teologia devemos saber que nosso caráter deve desenvolver-se na razão direta
do nosso conhecimento. Não deve acontecer que alguém que estude teologia
cristã seja mentiroso, velhaco, fofoqueiro, malandro, ditador, imoral, mau
cônjuge, mau filho ou má filha ou que quer que seja de mau. Quem conhece a
Deus desvia-se do que é maligno. [3] Para capacitar intelectualmente a quem
serve a Deus. Quem serve a Deus deve procurar conhecer a Deus mais e mais.
Deve saber manejar “a espada do Espírito” (Ef 6.17). A igreja não espera que
sejamos bons conhecedores das ciências mundanas, mas aguarda que sejamos
teólogos autênticos, conhecedores de Deus e praticantes dos ensinos da
Palavra. Precisamos apreender e transmitir fielmente toda a verdade acerca de
Deus. [4] Para dar firmeza e ousadia à igreja no estabelecer o Reino de
Deus. A igreja em geral, e os guias espirituais em particular devem saber
interpretar a Palavra de Deus de modo correto. A maneira correta de interpretar,

53
HORDERN, William E. Teologia Contemporânea. São Paulo: Hagnos, 2004. p.5.
provoca na igreja uma maneira correta de viver, poder, firmeza e ousadia. [5]
Para dar cumprimento às ordens ou sugestões das Escrituras que
encorajam o exame das Escrituras (Jo 5.39); que ordenam a pregação “a tempo
e fora de tempo” (2Tm 4.2); que afirmam que o bispo “seja apto para ensinar”
(1Tm 3.2); que ordenam o bom manejo da “palavra da verdade” (2Tm 2.15). A
teologia é necessária, pois enseja o exame, a pregação, o ensino, a eficiência
do conhecimento da Palavra. 54

A teologia deve ser “feita” por todos. É um equívoco pensar que a teologia
deve ser feita apenas por pessoas que aspiram o ministério formal de uma
determinada denominação religiosa, ou por um grupo selecionado de pessoas.
De acordo com Solano Portela, “estudar (fazer) teologia não é uma área
segregada à academia teológica; não pertence à esfera de intelectuais maçantes
que se preocupam em descobrir e firmar termos técnicos incompreensíveis aos
demais mortais; não é monopólio daqueles que escrevem livros meramente para
adquirir a respeitabilidade e admiração de seus colegas docentes; nem pertence
a mosteiros anacrônicos, que procuram se aproximar de Deus distanciando-se
do mundo que Ele criou. Mas é tarefa de todas as pessoas”.55
Compreender as Escrituras, e, sobretudo, colocar em prática e
compartilhar seus ensinamentos, é “fazer” teologia. Em Mt 22.29 Jesus adveritu
os homens sobre a necessidade de conhecer as Escrituras: “Jesus, porém,
respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de
Deus”. Em Mc 12.24 Jesus chama à atenção sobre o cuidado do conhecimento
das Sagradas Escrituras: “E Jesus, respondendo, disse-lhes: Porventura não
errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus?”
Vincent Cheung afirma que uma das maiores razões para se estudar
teologia é o valor intrínseco do conhecimento sobre Deus. Cada outra categoria
de conhecimento é um meio para um fim, mas o conhecimento de Deus é um
fim digno em si mesmo. E, visto que Deus Se revelou através da Escritura,
conhecer a Escritura é conhecê-lo, e isto significa estudar teologia.56 Este autor

54
CAMPOS, Geraldo Magela. Teologia em Perguntas e Respostas. Disponível em
http://pt.scribd.com/doc/139935737/Teologia-em-Perguntas-e-Respostas-Geraldo-Magela-
Campos-pdf#scribd. Acesso: 28.12.2015.
55
PORTELA, Solano. Disponível em http://www.teologiaevida.com.br/2012/08/porque-devo-
estudar-teologia.html. Acesso: 29.12.2015.
56
CHEUNG, Vincent. Teologia Sistemática. Disponível em: http://monergismo.com/?p=789.
Acesso: 29.12.2015.
afirma também que um repúdio à teologia é também uma recusa de conhecer a
Deus por meio do modo por ele prescrito. O conhecimento da Escritura —
conhecer sobre Deus ou estudar teologia — deve estar cima de tudo da vida e
pensamento humano. A teologia define e dá significado a tudo que alguém possa
pensar ou fazer. Ela está cima de todas as outras necessidades (Lucas 10.42);
nenhuma outra tarefa ou disciplina se aproxima dela em significância. Portanto,
o estudo da teologia é a atividade humana mais importante.57

5.1 A teologia nas funções da igreja

O pesquisador Rubens Muzzio usou quatro palavras gregas para definir


as funções principais da igreja no mundo: koinonia, kerigma, diakonia e marturia.
Estas palavras refletem a atuação da igreja no mundo bem como o cumprimento
do seu propósito orientado pelas Sagradas Escrituras.
[a] Koinonia – Esta palavra expressa a comunhão que deve existir entre
os membros da igreja. O salmo 133 é um bom exemplo disso quando diz: “Oh!
quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso
sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla
das suas vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os
montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre”.
Fazer teologia é compreender as bases desta união e seus propósitos. Para
John Stott, "Koinonia” fala de nossa herança comum (do que compartilhamos
aqui dentro), de nosso serviço cooperativo (do que compartilhamos lá fora) e de
nossa responsabilidade recíproca (do que compartilhamos uns com os outros)”.

As significativas palavras koinõma e metochê estão entre os mais fortes


conceitos nas Escrituras judaico-cristã. Antes demais nada, elas se aplicam à
participação em um projeto e um espírito “comum”. Os cristãos participam da
“natureza divina” (2Pe 1.4). A comunhão na família de Deus vem após o novo
nascimento (2Co 5.17; lJo 3.9). Os cristãos participam de Cristo (Hb 3.14) e do
Espírito Santo (6.4). A verdadeira comunhão resulta em um amor mútuo (Jo
13.34). Uma “salvação comum” (Jd 3) e uma “fé comum” (Tt 1.4) caracterizam
os verdadeiros cristãos. A tradução significativa “fazer participante” toca a
essência do espírito cristão (G1 6.6). Aquele que é ensinado na Palavra é

57
Ibidem.
advertido a “comunicar”. Comunhão existe quando há “associação”. Essa era a
força essencial dos cristãos primitivos. Embora um movimento minoritário, eles
compartilhavam a força de pertencer um ao outro e a Deus.58

[b] Kerigma - Refere-se à proclamação do evangelho a todos os homens


em todas as partes do mundo. Trata da missão principal da igreja, expressa em
Mc 16.15 que nos diz: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho
a toda criatura”. A teologia, por exemplo, por intermédio da hermenêutica, da
exegese e da própria homilética, fornecem ferramentas para os membros da
igreja compartilharem com eficiência as verdades do evangelho.

No grego, essa palavra significa “a coisa pregada”, o que alude ao evangelho de


Cristo. Está em foco a proclamação do evangelho. A palavra aparece por oito
vezes no Novo Testamento, duas delas acerca da pregação de Jonas (Mt 12.41
e Lc 11.32). As outras seis ocorrências envolvem a proclamação do evangelho
(Rm 16.25; 1Co 1.21; 2.4; 15:14; 2Tm 4.17 e Tt 1.3), onde são enfatizadas a
morte e a ressurreição de Cristo, com todas as suas implicações teológicas.59

[c] Diakonia – É o comportamento generoso em relação ao próximo.


Edelberto Behs, tratando da necessidade da compreensão ampla do termo
“diaconial” observou que “os efeitos da globalização econômica, que erodiu a
base da vida em muitas comunidades, e a necessidade de prestar contas da fé
cristã frente ao secularismo e ao neoliberalismo, trazem novos desafios às
igrejas”.60 Fazer teologia é colocar em prática o conteúdo de nossa fé. Behs
afirmou também que:

A compreensão de diaconia vincula o serviço da igreja à crítica profética sobre


as estruturas econômicas, políticas e culturais vigentes no mundo, que
produzem e perpetuam sofrimento e violência, ao mesmo tempo em que advoga
condições sociais para uma vida digna, de respeito e justiça. Tradicionalmente,
a compreensão de pregar e ensinar o evangelho e de administrar os
sacramentos, responsabilidade da Igreja, estava restrita ao ministério pastoral,

58
TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Volume 3. São Paulo: Cultura Cristã,
2008. p.838-839.
59
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.3. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.699.
60
BEHS, Edelberto. Ação diaconal é uma exigência num mundo excludente, globalizado e
violento. Disponível em http://www.ieclb.org.br/noticia.php?id=7877. Acesso: 17.11.2014.
segundo a Confissão de Augsburgo. Entende-se que a pregação do Evangelho
também acontece através da ação diaconal (compreendida como o serviço ao
próximo). Diferentes modelos diaconais vêm sendo praticados em diferentes
igrejas, de acordo com a história, sociedade e o contexto em que se encontram. 61

[d] Marturia – Trata-se do testemunho compartilhado pela igreja. At 1.8


diz: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-
me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e
até aos confins da terra”. Fazer teologia é testemunhar, movido pelo Espírito
Santo, aquilo que experimentamos e entendemos em Cristo Jesus.

Com uma variedade de significado na Escritura, testemunho, dependendo do


contexto, indica (a) testemunho, (b) evidência que testemunha de ou a favor de
alguma coisa, (c) as tábuas de pedra nas quais a lei de Deus foi escrita, (d) a
Arca, (e) todo o livro, da lei, (f) a Palavra de Deus dada a um profeta, (g) o
evangelho, ou (h) toda a Escritura. [1] 0 primeiro destes contextos é visto em 2
Timóteo 1.8, onde Paulo exorta Timóteo a não ficar envergonhado de seu
testemunho de Cristo. [2] Um exemplo do segundo sentido no qual a palavra é
usada encontra-se em Atos 14.3, onde a BJ e ARC interpretam que Deus “dava
testemunho à palavra da sua graça”, a ARA contém “confirmava a palavra da
sua graça” e a NVI traduz “confirmava a mensagem da sua graça”. [3] Em vários
exemplos no AT “o testemunho” refere-se ao Decálogo como uma declaração
da vontade de Deus (e. g., Êx 25.16,21) do qual vem a expressão “tábuas do
testemunho” (Êx 31.18; 32.15; 34.29). [4] No mesmo contexto lê-se “a arca do
testemunho” (Êx 25.22; 26.33s.; 30.6; 31.7, et al.), ou simplesmente “o
testemunho”, onde se tem em vista a Arca (Êx 16.34; 27.21; Lv 16.13). [5] A
expressão “testemunho” foi então estendida para abranger todo o livro da lei de
Deus (SI 19.8; 78.5; 81.5; 119.88; 122.4). [6] Em alguns casos, testemunho
significa a Palavra de Deus dada a um profeta (Is 8.16,20). [7] Em Apocalipse
1.2,9; 12.17 et al., o uso de marturia é o do evangelho. Em 12.17a palavra é
usada para o Evangelho no sentido de um testemunho de Cristo. [8] Toda a
revelação de Deus ao homem é, às vezes, mencionad quando “testemunhos” é
usado (SI 119.22) contendo vários exemplos. 62

EXPLORANDO O TEMA NA WEB

61
Ibidem.
62
TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Volume 5. São Paulo: Cultura Cristã,
2008. p.899-900.
Você pode ler um bom texto sobre a importância do estudo da teologia em
http://esdrascabral.blogspot.com.br/2012/06/necessidade-do-estudo-
teologico.html

QUESTÕES PROPOSTAS

1. Compreender as Escrituras, e, sobretudo, colocar em prática e compartilhar


seus ensinamentos, é “fazer” teologia. Explique com suas palavras a relação dos
textos de Mt 22.29 e Mc 12.24 com esta afirmação.

2. Quais as razões, segundo Gerlado Campos, para se “fazer teologia”?

3. Como a teologia pode ser desenvolvida no contexto das funções essenciais


da igreja?
6. FONTES DA TEOLOGIA

A teologia possui uma fonte, ou seja, um ponto de partida de onde flui a


teologia. Basicamente estas fontes são:
[a] Bíblia Sagrada – A fonte fundamental da teologia cristã é a Bíblia
Sagrada. Bíblia e Escrituras são palavras sinônimas para os propósitos da
teologia. O cristianismo possui como ponto central, a fé, e, a pessoa de Cristo,
ou seja, não possui fé num livro, portanto, a fé e Cristo encontram-se
intimamente relacionadas.

A palavra portuguesa Bíblia vem do grego, biblia, que é o plural de blblion, “livro”.
Portanto, significa “Iivros”. Essa palavra deriva-se originalmente da cidade
fenícia de Biblos (no Antigo Testamento, Gebal), que era um dos antigos e
importantes centros produtores de papiro, o papel antigo. Com o tempo, esse
vocábulo terminou sendo usado para designar as Sagradas Escrituras. A palavra
grega biblos significa um livro, um escrito qualquer, tendo mesmo servido para
indicar o livro da vida, como se vê em Ap 3.5, isto é, um livro sagrado.
Estritamente falando, biblos era um livro, e biblion era um livrinho. A palavra
Bíblia, mediante um desenvolvimento histórico divinamente dirigido, segundo
cremos, veio a designar o Livro dos livros, as Escrituras Sagradas, compostas
do Antigo e do Novo Testamento, a principal fonte de ensinamentos religiosos e
éticos de nossa civilização. Por volta do século II d.C., os cristãos gregos já
chamavam suas Escrituras Sagradas de Bíblia, ou seja, “os livros”. Quando esse
título foi então transferido para a versão latina, foi traduzido no singular, dando a
entender que “o Livro” é a Bíblia. [...] No Novo Testamento encontramos o
vocábulo “Escrituras”, empregado para indicar o Antigo Testamento (Mt. 21.42;
Mc 14.49; Rm 15.4), ou Sagradas Escrituras (Rm 1.2), ou, a “lei e os profetas”
(Mt 5.17), ou “lei” (Jo 10.34), ou “os oráculos de Deus” (Rm 3.2).63

A teologia cristã reconhece a Bíblia Sagrada como sua autoridade


máxima. É a regra de conduta do verdadeiro cristão, a constituição da religião
cristã. “O que torna a autoridade das Escrituras de indescritível importância para
os cristãos é o fato de elas revelarem Deus ao mundo, sua natureza trinitária
(Pai, Filho e Espírito Santo), seu plano de salvação para a humanidade e sua

63
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.1. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.527.
vontade. As Escrituras, conforme as temos, são suficientes para tal finalidade”.64
A Bíblia é a mais rica fonte de informações sobre Cristo, em especial, quando
trata de sua messianidade. Outras fontes sobre Cristo, tendem enfatizar seu
aspecto histórico, pouco ou nada falando sobre seu poder divino de perdoar
pecados. Paulo Anglada destaca que o reconhecimento das Sagradas Escrituras
como autoridade suprema é tanto inferencial como direta:

Base Inferencial - É inferencial, porque decorre do ensino bíblico a respeito da


inspiração divina das Escrituras. Visto que as Escrituras não são produto da
mera inquirição espiritual dos seus autores (cf. 2Pe 1.20), mas da ação
sobrenatural do Espírito Santo (cf. 2Tm 3.16 e 2Pe 1.21), infere-se que são
autoritativas. Na linguagem da Confissão de Fé, a autoridade das Escrituras
procede da sua autoria divina: "porque é a Palavra de Deus." Isto não significa
que cada palavra foi ditada pelo Espírito Santo, de modo a anular a mente e a
personalidade daqueles que a escreveram. Os autores bíblicos não escreveram
mecanicamente. As Escrituras não foram psicografadas, ou melhor,
"pneumografadas." Os diversos livros que compõem o cânon revelam
claramente as características culturais, intelectuais, estilísticas e circunstanciais
dos diversos autores. Paulo não escreve como João ou Pedro. Lucas fez uso de
pesquisas para escrever o seu Evangelho e o livro de Atos. Cada autor escreveu
na sua própria língua: hebraico, aramaico e grego. Os autores bíblicos, embora
secundários, não foram instrumentos passivos nas mãos de Deus. A
superintendência do Espírito não eliminou de modo algum as suas
características e peculiaridades individuais. Por outro lado, a agência humana
também em nada prejudicou a revelação divina. Seus autores humanos foram
de tal modo dirigidos e supervisionados pelo Espírito Santo que tudo o que foi
registrado por eles nas Escrituras constitui-se em revelação infalível, inerrante e
autoritativa de Deus. Não somente as idéias gerais ou fatos revelados foram
registrados, mas as próprias palavras empregadas foram escolhidas pelo
Espírito Santo, pela livre instrumentalidade dos escritores.4 O fato é que, por
procederem de Deus, as Escrituras reivindicam atributos divinos: são perfeitas,
fiéis, retas, puras, duram para sempre, verdadeiras, justas (Sl 19.7-9) e santas
(2 Tm 3.15).

Base Direta - Mas a doutrina reformada da autoridade das Escrituras não se


fundamenta apenas em inferências. Diversos textos bíblicos reivindicam
autoridade suprema. Os profetas do Antigo Testamento reivindicam falar

64
Fontes da Teologia. Disponível em http://blogdoseino.blogspot.com.br/2011/12/fontes-da-
teologia.html. Acesso: 29.12.2015.
palavras de Deus, introduzindo suas profecias com as assim chamadas fórmulas
proféticas, dizendo: "assim diz o Senhor," "ouvi a palavra do Senhor," ou "palavra
que veio da parte do Senhor." No Novo Testamento, vários textos do Antigo
Testamento são citados, sendo atribuídos a Deus ou ao Espírito Santo. Por
exemplo: "Assim diz o Espírito Santo..." (Hb 3:7ss). A autoridade apostólica
também evidencia a autoridade suprema das Escrituras. O Apóstolo Paulo dava
graças a Deus pelo fato de os tessalonicenses terem recebido as suas palavras
"não como palavra de homens, e, sim, como em verdade é, a palavra de Deus,
a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes" (1Ts
2:13). Que autoridade teria Paulo para exortar aos gálatas no sentido de
rejeitarem qualquer evangelho que fosse além do evangelho que ele lhes havia
anunciado, ainda que viesse a ser pregado por anjos? Só há uma resposta
razoável: ele sabia que o evangelho por ele anunciado não era segundo o
homem; porque não o havia aprendido de homem algum, mas mediante
revelação de Jesus Cristo (Gl 1:8-12). Jesus também atesta a autoridade
suprema das Escrituras: pelo modo como a usa, para estabelecer qualquer
controvérsia: "está escrito" (exemplos: Mt 4:4,6,7,10; etc.), e ao afirmar
explicitamente a autoridade das mesmas, dizendo em João 10:35 que "a
Escritura não pode falhar”. 65

[b] Tradição – “A leitura das Escrituras nunca é neutra; sempre está filiada
a alguma tradição interpretativa, e mesmo sem perceber, geralmente lemos a
Bíblia com a ótica da tradição a qual pertencemos”.66

E indiscutível que todas as denominações cristãs têm suas próprias tradições,


que lhes servem de autoridade, em complemento ou acréscimo às Escrituras,
embora algumas dessas denominações prefiram não reconhecer esse fato. A
tradição faz parte integrante da Autoridade. [1] As próprias Escrituras Sagradas
preservam várias tradições judaicas, sem falarmos em algumas tradições
próprias da filosofia helênica, como é o caso da doutrina do Logos, ou do mundo
platônico em dois níveis, conforme se vê na epístola aos Hebreus. Assim sendo,
as tradições começam nas próprias Escrituras. [2] Terminado o período do Novo
Testamento, surgiram as declarações dos chamados pais da Igreja, bem como
o desenvolvimento dos mais antigos credos. Esses credos serviram para limitar
e sistematizar as Escrituras. Na verdade, esses credos foram teologias
sistemáticas incipientes, sobre as quais as denominações cristãs atualmente

65
AGLADA, Paulo. A Doutrina Reformada da Autoridade Suprema das Escrituras. Disponível em
http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/autoridade_anglada.htm. Acesso: 29.12.2015.
66
Fontes da Teologia. Disponível em http://blogdoseino.blogspot.com.br/2011/12/fontes-da-
teologia.html. Acesso: 29.12.2015.
repousam. [3] Os concílios eclesiásticos manipularam esses credos e lhes
fizeram adições, apresentando interpretações das Escrituras, de onde se
originaram tradições. [4] Regras de fé, interpretações bíblicas, raciocínios e
apareceram nos escritos dos pais da Igreja. Irineu, Clemente de Alexandria,
Tertuliano, Hipólito, Orígenes e Novaciano referira-se às suas regras de fé, que
faziam parte de credos existentes ou não. [5] O sincretismo. A medida que o
cristianismo foi sendo difundido por diferentes áreas geográficas e culturas,
foram sendo incorporados elementos de crenças e práticas locais, e isso
também veio a constituir um elemento nas tradições emergentes, geralmente de
natureza negativa. [6] As tradições católicas romanas são o supremo exemplo
do entronizamento das tradições, às vezes prejudicando as Sagradas Escrituras,
pois a essas tradições também se confere ali a aura de autoridade. É verdade
que boa parte dessas tradições católicas romanas tem um fundo bíblico; mas
outra boa parte não passa de sincretismo. [7] A Reforma Protestante
presumivelmente fez a Igreja cristã retornar às "Escrituras somente". Mas, na
verdade, grande parte das tradições ocidentais teve continuidade nos vários
grupos protestantes que surgiram em cena. Mas então novas tradições foram
criadas, mediante credos rígidos, que eram interpretações específicas das
Escrituras. Todos esses credos deixam de lado certos ensinos bíblicos, além de
torcerem outros ensinos bíblicos. [8] Desenvolvimento doutrinário. Muitos
teólogos modernos insistem na tese que a doutrina deve evoluir, a fim de que a
verdade possa ser obtida em qualquer sentido ou grau significativo. Assim, as
tradições sempre haveriam de emergir, somente para serem substituídas por
outras, mais evoluídas. [9] A revolta contra a ortodoxia: as tradições liberais.
Começando no século XVIII, mas florescendo nos séculos XIX e XX, os eruditos
liberais e os críticos desenvolveram uma tradição toda própria que produziu
efeitos que minimizaram a fé nas tradições mais antigas, e rejeitaram de forma
total o autoritarismo e seus diversos conceitos de infalibilidade, sem importar-se
das próprias Escrituras. [10] Os credos modernos. Esses credos funcionam de
quatro maneiras diversas: a. Declarações. Coisas que figuram claramente nas
Escrituras são meramente declaradas e descritas. b. Interpretações. Coisas que
não são necessariamente claras, e, em certos casos, coisas que são repelentes
para certas mentes, recebem interpretações apropriadas de indivíduos ou
denominações que as provêem. c. Distorções. É patente que todas as
denominações cristãs distorcem certos trechos bíblicos, para que se adaptem
ao seu esquema das coisas. d. Omissões. Certas passagens ou versículos são
simplesmente omitidos, conforme fazem os hiper dispensacionalistas que
declaram que a maior parte do Novo Testamento não pertence à Igreja cristã,
não servindo de autoridade quanto à doutrina cristã. Não há que duvidar que as
tradições tem seu uso. Algumas vezes as tradições ultrapassam, legitimamente,
as Escrituras, mas nem por isso deixam de ser verdadeiras. Por outro lado, com
frequência, essas tradições laboram em erro, adicionando elementos prejudiciais
à fé e à prática. Essas são as tradições que devemos repelir.67

[c] Cultura - Quando alguém faz teologia, precisa levar em consideração


tanto o seu contexto cultural como o do texto bíblico que está analisando, para
aplicá-lo adequadamente em seu tempo. O estudo da cultura é importante
inclusive, por exemplo, para saber se determinados textos das Escrituras eram
aplicáveis à determinado momento histórico, ou se são validos perpetuamente.68
Costumes culturais influenciam na interpretação de um texto bíblico. Sobre isso,
Alexandre Milhoranza disse:

As pessoas que interpretam a Bíblia sem levar em consideração o contexto de


uma passagem e sem conhecer, ou considerar o período histórico do texto
escrito, podem cometer um sério erro de interpretação e acabarem criando uma
heresia. Lembre-se que os reformadores ressaltaram e retornaram ao método
de interpretação histórico-gramatical das Escrituras. Ou seja, devemos levar em
conta o período histórico de quando a passagem foi escrita e levar em
consideração as palavras e frases da passagem em seu sentido normal e claro
(literal). [...] Certos princípios ou mandamentos são contínuos ou irrevogáveis, e
tratam de temas morais e/ou teológicos, são repetidos em outras partes da
Bíblia, sendo, portanto, aplicáveis a nós hoje. Precisamos perguntar se a Bíblia
dá ao mandamento um caráter normativo. Quando a Bíblia dá uma ordem
explícita e não a anula depois, devemos entender como sendo a vontade
expressa de Deus para nossas vidas, em nosso tempo também, independente
da cultura. [...] Certos princípios ou mandamentos dizem respeito às
circunstâncias específicas de um indivíduo, não sendo temas que possuem
caráter moral ou teológico, não são aplicáveis aos nossos dias. [...] 2.3 Certos
princípios ou mandamentos dizem respeito a contextos culturais que se parecem
com os nossos nos quais apenas o princípio deve ser aplicado. [...] Certos
princípios ou mandamentos dizem respeito a contextos culturais totalmente
diferentes, mas cujos princípios se aplicam. Quando Moisés esteve na presença
de Deus, ele tirou seus sapatos, pois era terra santa. Será que devemos hoje em

67
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.6. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.466-467.
68
Fontes da Teologia. Disponível em http://blogdoseino.blogspot.com.br/2011/12/fontes-da-
teologia.html. Acesso: 29.12.2015.
dia tirar nossos sapatos ao vir para o templo? Aqui, o princípio de reverência e
temor a Deus devem ainda nos dirigir. 69

[d] Razão - O teólogo não pode evitar o uso da razão em seu labor
teológico. Por exemplo, somente o fato de ler as Sagradas Escrituras, interpretá-
las, já envolve o uso da razão, seja para ser alfabetizado, ou conhecer os idiomas
originais das Escrituras, utilizar os meios básicos de interpretação de um texto,
etc.70
De acordo com Paul Tillich, teólogo alemão, a razão é uma condição
necessária para a fé, eliminando assim a ideia de uma irracionalidade no
exercício da fé. Para Tillich “somente um ser dotado de razão pode ser possuído
por algo incondicional e distinguir preocupações últimas das provisórias [...]
Assim a razão é uma condição necessária para a fé, e fé é o ato em que a razão
irrompe extaticamente para além de si [...] entre a natureza verdadeira da fé e a
natureza verdadeira da razão não há contradição”71. Champlin observa que a
razão entra perfeitamente em harmonia com a fé religiosa, além de servir para
expressá-la. “A razão exibe logicamente aquilo que a religião sente e põe em
prática. A razão é compatível com a fé religiosa, tendo a função de expressá-la
e defendê-la. Mas a fé cristã, com base na revelação bíblica transcende à razão,
conferindo-nos algumas doutrinas que são inatingíveis para a razão”.72

[e] Experiência - Determinado fato ou ocorrência que acabará por


influenciar no labor teológico da igreja.

Para Schillebeeckx, experiência humana e fé cristã são as duas fontes da


teologia: devem ser pensadas em correlação. Sem a pergunta de sentido que
brota da experiência humana, as respostas do teólogo cairiam no vazio. Agora,
se a resposta cristã oferece uma "superabundância de sentido", esse sentido
deve se inserir em uma experiência humana em que o homem já está em busca
de sentido.

69
MILHORANZA, Alexandre. As diferenças culturais na interpretação da Bíblia. Disponível em
http://www.milhoranza.com/2009/09/08/hermeneutica-diferencas-culturais/#axzz3vlmaGdmu.
Acesso: 30.12.2015.
70
Fontes da Teologia. Disponível em http://blogdoseino.blogspot.com.br/2011/12/fontes-da-
teologia.html. Acesso: 29.12.2015.
71
TILLICH, Paul apud Dicionário Brasileiro de Teologia. São Paulo: ASTE, 2008. p.442-444.
72
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.5. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.558-559.
A resposta hesitante do homem à sua própria pergunta é identificada, valorizada
na fé cristã. À luz da revelação, manifesta-se a superabundância de sentido,
contida no sentido que o homem mesmo descobriu no mundo. 73

EXPLORANDO O TEMA NA WEB

Você pode ler um bom texto sobre fontes do conhecimento religioso em


http://arturfelix.blogspot.com.br/2014/10/as-fontes-do-conhecimento-religioso-
em_14.html

QUESTÕES PROPOSTAS

1. Qual a relação da Bíblia com a Teologia?

2. Basicamente, quais são as fontes da teologia?

3. A experiência é uma das fontes da teologia. Qual a relação entre a experiência


e a fé cristã?

73
SCHILLEBEECKX, Edward. Experiência humana e fé cristã: as duas fontes da teologia.
Disponível em http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/28686-experiencia-
humana-e-fe-crista-as-duas-fontes-da-teologia. Acesso: 30.12.2015.
7. O TEÓLOGO

O tradicional Guia do Estudante conceitua o Teólogo como sendo o


“indivíduo que se dedica ao estudo das religiões e sua influência sobre a
sociedade. Ele pesquisa a história, os fenômenos e as tradições religiosas,
interpreta textos sagrados, doutrinas e dogmas religiosos. Associa essas
informações com outras ciências humanas e sociais, como antropologia e
sociologia, e identifica as relações entre a religião e diferentes culturas e grupos
sociais. Pode trabalhar como pesquisador ou assessor de grupos religiosos.
Como licenciado, leciona religião e ética em escolas de ensinos fundamental e
médio e também em ONGs, centros culturais e religiosos”.74
Quem produz teologia é o teólogo. Erickson destaca que o teólogo é o
operador da teologia, ou seja, aquele que busca entender as bases doutrinais
de uma religião, normalmente a religião a que pertence. Ele afirma também que
o teólogo profissional é uma pessoa com instrução avançada e que geralmente
atua como professor e escritor.75 Este conceito não exclui a possibilidade de a
teologia ser examinada por leigos, ou seja, qualquer pessoa que busque o
conhecimento de Deus está operando, ou fazendo, teologia.
Rm 1.19-20 descreve a possibilidade de Deus ser conhecido pelo homem,
quando afirma: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta,
porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação
do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e
claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem
inescusáveis”. Este texto não fala em conhecimento pleno de Deus, mas de um
conhecimento que permite ao homem relacionar-se com Deus. Isto permite que
um ser finito como o homem possa conhecer (em partes) a infinitude de Deus.
De acordo com Vincent Cheung o conhecimento de Deus é também possível
somente porque ele fez o homem à sua própria imagem, de forma que há um
ponto de contato entre os dois, a despeito da transcendência de Deus.76

74
Guia do Estudante da Editora Abril. Disponível em http://guiadoestudante.abril.com/profissoes/
ciencias-humanas-sociais/teologia-687903.shtml. Acesso: 29.12.2015.
75
ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997. p.162.
76
CHEUNG, Vincent. Teologia Sistemática. Disponível em: http://monergismo.com/?p=789.
Acesso: 29.12.2015.
Sobre o teólogo, a revista Ultimato publicou algo interessante sobre seu
perfil:

Antes de conhecer Deus academicamente, o teólogo precisa conhecê-lo


pessoalmente. Antes de descrever Deus, o teólogo precisa ter comunhão com
ele. Antes de descrever o amor de Deus, o teólogo precisa sentir-se amado por
ele.
Antes de descrever a autoridade de Deus, o teólogo precisa submeter-se a ela.
Antes de descrever a santidade absoluta de Deus, o teólogo precisa descrever
a sua absoluta pecaminosidade. Antes de mencionar a sabedoria de Deus, o
teólogo precisa confessar a sua ignorância. Antes de se enveredar pelo
problema filosófico e teológico do sofrimento, o teólogo precisa aprender a
chorar com os que choram e a alegrar-se com os que se alegram. Antes de tentar
explicar as coisas mais profundas e misteriosas da teologia, o teólogo precisa
ser honesto consigo mesmo e com os outros e admitir que nas cartas de Paulo
e em outras passagens da Bíblia há coisas realmente difíceis de entender. Antes
de ensinar e escrever teologia, o teólogo precisa entender que sua
responsabilidade é enorme, porque, exatamente por ser reconhecido como
teólogo, ele será ouvido, lido, consultado, citado. O teólogo não pode inventar
suas teologias, assim como o profeta não podia inventar suas visões nem
declarar “assim diz o Senhor”, se o Senhor nada lhe dissera. O teólogo não pode
ser nem frio nem seco. Ele tem de declarar com toda empolgação que Deus é
amantíssimo, graciosíssimo, justíssimo, misericordiosíssimo, puríssimo,
santíssimo, sapientíssimo e terribilíssimo. O teólogo precisa de humildade para
explicar as coisas já reveladas e calar-se diante das coisas ainda ocultas. O
teólogo precisa caminhar lado a lado com a fé e com a razão e, se em algum
momento tiver de abrir mão de uma delas, deve ficar com a fé. O teólogo deve
construir e, em nenhum momento, destruir. O teólogo obriga-se a separar o trigo
do joio, a verdade do mito, a revelação da tradição, a visão verdadeira da falsa
visão, o bem do mal, a luz das trevas, o doce do amargo, a vontade de Deus da
vontade própria. O teólogo tem o compromisso de insistir na unicidade de Deus
e condenar a pluralidade de deuses, tanto os de ontem como os de hoje. O
teólogo tem a obrigação de equilibrar a bondade e a severidade de Deus, o
perdão e a punição, a vida eterna e a morte eterna, a graça e a lei. O teólogo é
um fracasso quando não menciona que Deus amou tanto o mundo que deu seu
único Filho por uma só razão: para que ninguém fosse condenado, mas tivesse,
pela fé em Jesus, plena e eterna salvação! 77

77
O teólogo a serviço de Deus e não da teologia. Disponível em
http://www.ultimato.com.br/revista/
artigos/338/o-teologo-a-servico-de-deus-e-nao-da-teologia. Acesso: 29.12.2015.
Quando falamos na operação propriamente dita da teologia, o Guia do
Estudante informa que a área de atuação do teólogo pode ser verificada em
várias frentes, entre elas: [a] Consultoria – Assessorar pessoas e organizações
públicas ou privadas que utilizem a religião no desenvolvimento de seu trabalho;
[b] Ensino - Dar aulas em escolas de ensinos fundamental e médio sobre religião
e ética; [c] ONGs - Orientar grupos religiosos e atender a instituições que
realizam trabalhos sociais voltados para a religião; [d] Pesquisa - Estudar o
fenômeno religioso e sua relação com a atividade humana; e [e] Sacerdócio –
Atuar no ministério formal da igreja.

EXPLORANDO O TEMA NA WEB

Você pode ler um bom texto sobre a importância do teólogo em


http://www.ftsa.edu.br/site/index.php/publicacoes-da-ftsa/artigos-da-ftsa/119-
artigos-da-ftsa/241-dia-do-teologo

QUESTÕES PROPOSTAS

1. Explique com suas palavras o que você entende por teólogo.

2. Qual o campo de atuação do teólogo?

3. Qual o limite do conhecimento de Deus que o teólogo pode ter?


8. DOUTRINA E RELIGIÃO

O estudo da doutrina também é conhecido como teologia. Doutrina diz


respeito à um conceito que é ensinado, compartilhado, com alguém. Por
intermédio da doutrina um indivíduo recebe instrução para trilhar sua jornada. Ao
descrever a origem e o significado do termo “doutrina”, Champlin diz:

Essa palavra significa “ensino”... Vem do latim, doctrina, cuja forma verbal ~
docere, "ensinar", O termo tem um sentido geral, podendo referir-se a qualquer
tipo de ensino, como também pode indicar algum ensino especifico, como a
doutrina da salvaçiio. Também pode envolver as ideias de crença, dogma,
conceito ou princípio fundamental ou normativo por detrás de certos atos. Esse
vocábulo traz imediatamente às nossas mentes ideias e ensinamentos
religiosos, porque usualmente é assim que o ouvimos ser dito. A expressão “a
doutrina” pode aludir aos ensinamentos de Cristo, ou ao sistema de ensinos
cristãos. Porém, o propósito da doutrina cristã é a mudança da vida dos cristãos,
pelo que o termo não deve subentender meros conceitos intelectuais e
religiosos, que compõem algum sistema. Essa palavra dá a entender aqueles
ensinos usados pelo Espirito a fim de transformar almas humanas, tornando-as
semelhantes ao seu Mestre. As doutrinas formalizadas na forma de credos
tendem a estagnar a viva energia dos ensinamentos de Cristo. Seus ensinos
apontam para categorias do ser que não podem ser expressas distintamente
como conceitos verbais. Quando Jesus convidou: “...aprendei de mim...” (Mt
11.29), certamente ele não estava pensando em alguma sistematização de
ideias a seu respeito, e, sim, na capacidade transformadora de sua doutrina e
Espírito, capaz de transformar seus discípulos (aprendizes).78

O termo “instrução” está sempre associado à “doutrina”. Michaelis79 define


instrução como a ação de instruir, de ensinar, de explicar ou esclarecer, de
educar intelectualmente. “A palavra ‘teologia’ não ocorre na Bíblia e o termo que
lhe é equivalente, no N.T., é ‘doutrina’ (“didache” ou “didaskalia”, no grego), que
vem de uma raiz que significa ‘ensinar’ e pode se referir tanto ao ato de ensinar,
propriamente, como ao conteúdo do que é ensinado (Rm 6.17;1Tm 6.3-4; 2Tim

78
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.2. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.228-229.
79
Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Melhoramentos: 2009.
4:3-4; Tito 1.2,9, etc.). Podemos dizer, de modo mais completo agora, que
Teologia é o conjunto de verdades extraídas dos ensinos bíblicos a respeito de
Deus e de Sua obra, e que são apresentadas de modo sistemático, na forma de
um corpo de doutrinas. A essa forma ordenada de doutrinas, dá-se inclusive, o
nome de ‘Teologia Sistemática’. O adjetivo aqui, não altera o conceito de
teologia”.80
Alguns aspectos interessantes contribuem para o entendimento da
aplicação do termo “doutrina” em sua aplicação bíblica. Deusimar Barbosa, em
Manancial das Doutrinas bíblicas, observa alguns destes aspectos:

[1] A palavra doutrina vem do hebraico “legach” que significa “ensino, instrução”. É
traduzida por ensino em outras versões bíblicas (TB, NTLH,NVI). [2] Do grego é
“didaché” significa” ensinamento”, aquilo que é ensinado. (Mt 7.28; Tt 1.9; Ap
2.14,15,24), o ato de ensino, instrução (Mc. 4-2; Rm. 16-17). “Didaskalia” significa “aquilo
que é ensinado”, “doutrina, ensino, instrução”(Mt 15.9; Mc 7.7; Ef 4.14; Cl 2.22; 1Tm
1.10; 4.1,6; 6.1,3; Tt 1.9; 2.1,10; Rm 12.7; 15.4; 1Tm 4.13,16; 5.17; 2Tm 3.10,16; Tt 2.7).
O termo didaché é usado apenas duas vezes nas epistolas pastorais (2Tm 4.2; Tt 1.9),
enquanto o termo didaskalia é empregado 15 vezes. Os dois termos são usados nos
sentidos ativos e passivos, ou seja, o ato de ensinar e o que é ensinado. A voz passiva
é predominante em didaché, e a voz ativa, em didaskalia. O primeiro coloca em relevo a
autoridade, o ultimo, o ato. A parte do apostolo Paulo, os outros escritores só usam o
termo didaché, exceto em Mt 15.9 e Mc 7.7, que usa didaskalia. [3] Do latim é “doctrina”,
do verbo “docio”, que significa “ensinar, instruir, educar”. Portanto a palavra doutrina é o
“conjunto coerente de idéias fundamentais a serem transmitidas, ensinadas”. Ressalto
que doutrina do latim doctrina, significa “ensino, instrução dada ou recebida, arte, ciência,
doutrina, teoria, método.” [4] Quando falamos de doutrina bíblica estamos falando do
ensino das Sagradas Escrituras. A Bíblia Sagrada é a palavra de Deus e, portanto, o
ensino das Sagradas Letras, nada mais é que o puro ensino da Bíblia, o ensino da
palavra de Deus, o ensino de Deus ao homem, acerca da salvação do homem, de Jesus
Cristo, o Senhor e Salvador, do Espírito Santo, o consolador, da Criação dos céus e da
terra, do pecado, da origem, queda, restauração e destino final do homem, missão e
destino da Igreja e do porvir. Portanto, doutrina é o ensino que Deus concede ao homem
a partir da sua poderosíssima palavra da revelação de Deus à humanidade caída em
pecado, que está inserida nas Sagradas Escrituras. [5] É um conjunto de princípios que,

80
SANTOS, João Alves dos. A igreja precisa de teologia? Disponível em
http://www.soluschristus.com.br/2010/06/igreja-precisa-de-teologia.html. Acesso: 23.12.2015.
tendo como base as Sagradas Escrituras, orienta o nosso relacionamento com Deus,
com a Igreja e com os nossos semelhantes. 81

Diversos textos bíblicos revelam a importância da doutrina para a vida do


ser humano, como Atos 2.42: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na
comunhão, e no partir do pão, e nas orações.”, Mateus 7.24-27: “Todo aquele,
pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem
prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E desceu a chuva, e correram
rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava
edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras e as não
cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a
areia. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram
aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda”, e, Efésios 2.20: “edificados sobre
o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal
pedra da esquina”.
A religião tem sido um termo interpretado de forma equivocada por
algumas pessoas. Expressões como “mais Deus e menos religião” tem
embalado muitos discursos, inclusive religiosos. Uma rápida passagem no
conceito deste termo nos mostra sua importância e relevância. A palavra
portuguesa “religião” vem do latim religare, que significa “atar", “religar” ou “ligar
de novo”. Basicamente o pecado interferiu no relacionamento entre Deus e os
homens, tendo em Cristo a possibilidade de reestabelecer essa comunhão que
havia sido perdida.
Pearlman observa que a teologia possui uma conexão também com a
religião. “Religião vem da palavra latina "ligare" que significa "ligar"; religião
representa as atividades que "ligam" o homem a Deus numa determinada
relação. A teologia é o conhecimento acerca de Deus. Assim a religião é a
prática, enquanto a teologia é o conhecimento. A religião e a teologia devem
coexistir na verdadeira experiência cristã; porém, na prática, às vezes, se acham
distanciadas, de tal maneira que é possível ser teólogo sem ser verdadeiramente

81
BARBOSA, Deusimar. Manancial das Doutrinas Bíblicas - Fortalecendo e edificando a nossa
fé sobre o fundamento dos apóstolos e de Cristo. Disponível em:
http://profdeusimarbarbosa.blogspot
.com/2009/07/deusimar-barbosa-manancial-das.html. Acesso em 19 de dezembro de 2015.
religioso, e por outro lado a pessoa pode ser verdadeiramente religiosa sem
possuir um conhecimento sistemático doutrinário”.82

EXPLORANDO O TEMA NA WEB

Você pode ler um bom texto sobre a importância da doutrina em


http://palavradenovavida.blogspot.com.br/2013/01/a-importancia-da-doutrina-
biblica-na.html

QUESTÕES PROPOSTAS

1. Qual a diferença entre doutrina e religião?

2. Qual a conexão entre religião e teologia?

3. O que você entende como sendo doutrina?

82
PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2004. p.5.
9. FUNDAMENTALISMO TEOLÓGICO E FÉ

Os constantes debates religiosos, trazem, de tempos em tempos,


assuntos que ocupam destaque na agenda das pessoas, norteando dessa
maneira os temas que devem ser debatidos no dia-a-dia de suas vidas. Neste
sentido, o Brasil apresenta na agenda de suas discussões o assunto
“fundamentalismo”, sobretudo pelo fato do amplo debate que se faz sobre
questões éticas e morais como, aborto, homossexualidade e religiosidade. Nesta
discussão, conceitos fundamentais e tradicionais são colocados à prova, através
de questionamentos e reflexões mais profundas. A defesa dos princípios
absolutos e imutáveis, amparados pela mensagem bíblica, enfrenta resistências
severas diante de um mundo cada vez mais plural e relativista. Defender a fé
tornou-se um grande desafio para aqueles que optaram em viver a vida seguindo
princípios e valores estabelecidos na Palavra de Deus.
A vida é vivida a partir de escolhas, e estas, manifestam-se no
comportamento dos indivíduos no seu dia-a-dia. Estas escolhas recebem o
nome de cosmovisões, ou seja, tratam-se de “um conjunto de conceitos, crenças
e valores de que uma pessoa se utiliza para compreender e formar sua opinião
particular a respeito de si, dos outros, e do mundo”83. Uma vez definida a “lente”
de visualização do mundo, este indivíduo desenvolve sua fé naquilo em que
acredita ser o correto. O mundo pós-moderno considera a defesa desta fé
baseada no absoluto algo questionável, uma vez que a vida não pode ser vivida
sem se levar em conta as constantes mudanças que o relativismo lhe apresenta.
Assim sendo, o conceito de fé precisa ser detalhadamente conhecido para
diferenciá-lo de outros conceitos, e, para delimitar até onde esta convicção pode
ser considerada fundamentalismo no sentido original deste termo. A pós-
modernidade que se apresenta de forma simpática às diferentes manifestações
religiosas, mostra-se implacável e intolerante quando o assunto trata da fé
religiosa num Deus único e imutável, buscando rotular seus adeptos de
“fundamentalistas” no sentido negativo de sua interpretação.

83
COUTO, Geremias. E agora, como viveremos? A Igreja ante os desafios dos últimos dias.
Lições Bíblicas – Jovens e Adultos. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. p.7-8.
A fé diz respeito à “palavra bíblica que se refere tanto à crença intelectual
quanto à confiança ou ao compromisso em um relacionamento”84. Num sentido
amplo é uma ação de demonstração de confiança sobretudo na figura de uma
outra pessoa. Para Grenz, “os autores bíblicos geralmente não fazem distinção
entre fé como crença e fé como confiança, mas tendem a considerar que a
verdadeira fé consiste tanto no que se crê (e.g., que Deus existe, que Jesus é o
Filho de Deus) quanto no compromisso para com uma pessoa digna de
confiança e capaz de salvar (i.e., confiança na pessoa de Cristo como meio de
salvação)”85. Assim, cosmovisão imprime no indivíduo uma fé, que no caso
religioso, manifesta-se na confiança em Deus.
Numa análise bíblica clássica, o termo “fé” tem origem na palavra hebraica
heemim, no grego pisteuô e no latim fidem. O texto bíblico de Hebreus 11.1
define a “fé” como sendo o firme fundamento das coisas que se esperam, e a
prova das coisas que se não veem. Andrade destaca que a “fé” é “a confiança
que depositamos em todas as providências de Deus. É a crença de que Ele está
no comando de tudo, e que é capaz de manter as leis que estabeleceu. É a
convicção de que a sua Palavra é a Verdade. Enfim, é a tranquilidade que
depositamos no plano de salvação por Deus estabelecido, e executado por seu
Filho, no Calvário”86.
Vine, na observação etimológica’ do termo “fé, destaca que:

Fé pistis, primariamente, “persuasão firme", trata-se de convicção fundamentada


no ouvir (cognato de peithõ, “persuadir”), e sempre é usado no Novo Testamento
acerca da “fé em Deus ou em Jesus, ou às coisas espirituais”. A palavra é usada
com referência: (a) à confiança (Rm 3.25 ; 1Co 2.5; 15.14.17; 2Co 1.24; Gl 3.23;
Fp 1.25: 2.17: 1Ts 3.2; 2Ts 1.3; 3.2); (b) à fidedignidade, fidelidade, lealdade (Mt
23.23: Rm 3.3: Gl 5.22; Tt 2.10); (c) por metonímia, ao que é crido. O conteúdo
da crença, a "fé" (At 6.7: 14.22: Gl 1.23; 3.25; Gl 6.10; Fp 1.27; 1Ts 3.10: Jd 3.20
[e talvez 2Ts 3.2]); (d) à base para a “fé”, a garantia, a certeza (At 17.31); e a um
penhor de fidelidade, fé empenhada (1Tm5.12). 87

84
GRENZ, Stanley J. et al. Dicionário de Teologia. São Paulo: Vida, 1999. p.57.
85
Ibidem.
86
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. Rio de Janeiro: CPAD, 1999. p.156.
87
VINE, W.E. et. al. Dicionário Vine - Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo
Testamento e do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2002. p.648.
Vine destaca que os principais elementos da “fé" em sua relação com o
Deus invisível, em distinção da “fé” no homem, são ressaltados sobretudo no uso
deste substantivo e do verbo correspondente, pisteuõ. Diz ele:

Tais elementos são: (1) uma firme convicção, produzindo um pleno


reconhecimento da revelação ou da verdade de Deus (por exemplo, 2Ts
2.11,12); (2) uma entrega pessoal a Ele (Jo 1.12); (3) uma conduta inspirada por
tal entrega (2Co 5.7). Proeminência é dada a um ou outro destes elementos dc
acordo com o contexto. Tudo isso é posto em contraste com a convicção em seu
exercício puramente natural. que consiste numa opinião mantida em boa “fé”
sem a necessária referência à sua prova. O objeto da "fé" de Abraão não era a
promessa de Deus (esta era a ocasião do seu exercício); a sua “fé” descansava
no próprio Deus (Rm 4.17.20.21). 88

Em linhas gerais, a cosmovisão de cada indivíduo se constrói a partir de


sua herança cultural, religiosa e social, por isso, há necessidade de distinguir a
fé da simples crença. Buckland destaca que a “simples fé implica uma disposição
de alma para confiar noutra pessoa. Difere de credulidade, porque aquilo em que
a fé tem confiança é verdadeiro de fato, e, ainda que muitas vezes transcenda a
nossa razão, não lhe é contrário”89.

A credulidade, porém, alimenta-se de coisas imaginárias, e é cultivada pela


simples imaginação. A fé difere da crença porque é uma confiança do coração e
não apenas uma aquiescência intelectual. A fé religiosa é uma confiança tão
forte em determinada pessoa ou princípio estabelecido, que produz influência na
atividade mental e espiritual dos homens, devendo, normalmente, dirigir a sua
vida. A fé é uma atitude, e deve ser um impulso. A fé cristã é uma completa
confiança em Cristo, pela qual se realiza a união com o Seu Espírito, havendo a
vontade de viver a vida que Ele aprovaria. Não é uma aceitação cega e
desarrazoada, mas um sentimento baseado nos fatos da Sua vida, da Sua obra,
do Seu Poder e da Sua Palavra. A revelação é necessariamente uma
antecipação da fé. A fé é descrita como "uma simples mas profunda confiança
Naquele que de tal modo falou e viveu na luz, que instintivamente os Seus
verdadeiros adoradores obedecem à Sua vontade, estando mesmo às escuras".
A mais simples definição de fé é uma confiança que nasce do coração. 90

88
Ibidem.
89
BUCKLAND, A.R. “Fé”. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Vida, 2007. p.874.
90
Ibidem.
Na análise de Buckland é possível verificar que a fé não se trata de uma
atitude irracional, pelo contrário, ela é fruto de uma revelação que permite ao
indivíduo experimentar um relacionamento com o seu Deus. Geralmente, a
liquidez do mundo atual, que não encaixa-se de forma equilibrada em valores e
princípios, julga ser esta confiança uma experiência ilusória, sem comprovação
crível, atribuindo à ela um conceito de limitação frente à uma infinidade de
caminhos. Esta visão que despreza a experiência da fé, pouco tem contribuído
para a formação de um indivíduo saudável e relevante para o mundo em que
vive.
Esses termos descrevem a relação que existe entre o homem e Deus. A
fidelidade é resultado da confiança depositada no próprio Deus, e esta relação é
pouco compreendida pelo homem que não vive esta experiência. Tenney
destaca que a fé e a fidelidade “são, em alguns aspectos, correlativos, pois a fé
do homem é aquilo que responde a e é sustentada pela fidelidade de Deus. Em
outros aspectos pode ser um desenvolvimento de pensamento, pois a fé por
parte do homem deveria levá-lo à fidelidade”91.

Novamente, a ideia de fé pode mover-se da atitude subjetiva de confiança para


“a fé” — a qual Deus revelou objetivamente através de ação. palavra e sinais a
fim de que fosse crido. Intimamente associado aos dois substantivos encontra-
se o adjetivo ''fiel" e o verbo “ter fé em”, “confiar”, "acreditar”. Em algumas partes
da Bíblia, o verbo é mais proeminente que o substantivo. Como sempre, nas
Escrituras, a iniciativa divina é enfatizada ou admitida, e o fato de que o Deus
vivo está desejoso de entrar em um relacionamento com os homens e tem
mostrado a eles que é digno de sua confiança, é o que dá à fé bíblica seu caráter
distinto. Fé como é demonstrado no AT é uma necessidade, mas
preliminarmente incompleta para sua plena possibilidade através de Cristo no
NT.92

Quando o homem questiona a existência de Deus ele não consegue


entender a dimensão da fidelidade e da própria fé. Por não entender esta relação
ele considera este comportamento como sendo equivocado e cego, geralmente

91
TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Vol. 2. São Paulo: Cultura Cristã,
2008. p. 776-777.
92
Ibidem.
como sendo fruto de uma ignorância cultural e científica. Viver na sociedade que
despreza o absoluta e rechaça a fé, é um desafio que exige convicções cada vez
mais profundas.

Fé tem a ver com sentido último, com valores sobre os quais se funda a
existência humana. Este sentido e estes valores, necessariamente, se
expressarão concretamente numa “ideologia”, que para Segundo é todo o
sistema de meios racionais para concretizar e expressar estes valores. Enquanto
a fé tem a ver com sentido, a ideologia tem a ver com eficácia. Importante é que
se trata de “dimensões humanas diferentes e complementares” (Segundo, p.33).
Nesta perspectiva, Segundo resguarda a dimensão da fé como insubstituível e
ao mesmo tempo libera o ser humano para, com sua racionalidade, lutar por
justiça e libertação, dentro de suas coordenadas sociopolíticas concretas. 93

Na análise acima é possível verificar que a fé relaciona-se com valores,


que por sua vez, definem uma cosmovisão. A simples defesa destes valores,
constitui-se para alguns, manifestação de alienação, capacidade limitada de
enxergar o mundo e intolerância religiosa. O relativismo filosófico não consegue
aceitar a ideia do valor imutável, e por isso, milita contra os que assim acreditam.
Na impossibilidade de compactuar valores e princípios, na prática de vida
individual, a firme posição de pensamento passa a ser rotulada de fanatismo, ou,
fundamentalismo, numa aplicação equivocada e distorcida do termo no seu
significado original.

O termo ‘fundamentalismo’ é visto, de forma geral, como “a atitude de um


grupo de pessoas dentro de uma religião ou de um movimento político que dizem
basear-se num conjunto próprio de diretrizes tradicionais (fundamentos),
defendendo-as de forma absoluta”94. Neste aspecto é importante definir a
intensidade e influência em que a defesa é exercida. Lieth destaca que “um
fundamento radical e totalitário, por exemplo, terá consequências
correspondentes”95. Ser considerado fundamentalista na atualidade significa ser

93
SEGUNDO, Juan Luis apud Dicionário Brasileiro de Teologia. São Paulo: ASTE, 2008. p.442-
444.
94
LIETH, Thomas e LIETH, Norbert. O que é realmente o fundamentalismo. Disponível em
http://www.chamada.com.br/mensagens/fundamentalismo.html. Acesso: 17.02.2014.
95
Ibidem.
um indivíduo intransigente, exclusivista e incapaz de viver na plenitude da vida
com a sociedade, em contraste com a história antiga, que considerava o
fundamentalista alguém digno de louvor pela bravura da defesa de seus ideais.
Todas as formas de conservadorismo passaram a ser caracterizadas de
fundamentalismo, afirma Lieth: “A pessoa que defende sua posição com
entusiasmo e veemência é ‘fundamentalista’. A conjuntura, na qual, o tema
fundamentalismo aparece, está ligada aos contornos nada precisos do conceito
e da questão fundamentalismo. Quanto mais imprecisos são os contornos, tanto
mais facilmente se pode caracterizar algo ou alguém de fundamentalismo ou de
fundamentalista”96. Do ponto de vista histórico, o conceito de “fundamentalismo”
teve sua origem no mundo ocidental cristão, sobretudo para manifestar oposição
aos valores defendidos pelo liberalismo no século XIX:

Grupos de cristãos protestantes conservadores deram a si mesmos tal


designação no início do século XX, nos Estados Unidos da América do Norte.
Entre 1909 e 1915, foi publicada nos Estados Unidos uma série de textos, com
edição superior a três milhões de exemplares, com o título The Fundamentals –
a Testimonium to the Truth (Os Fundamentais – um testemunho em favor da
Verdade). Do título dessa série saiu o nome de um movimento, formado no último
terço do século XIX por grupos de cristãos conservadores evangelicais. Temos,
aqui, o nascimento do fundamentalismo protestante que determinará os Estados
Unidos da América do Norte e que, em pouco tempo, começará a ser exportado
por outros continentes e países. 97

Na história, o fundamentalismo foi observado como contrastante com o


liberalismo. Champlin destaca que o fundamentalismo foi um movimento
protestante e teológico:

O termo fundamentalismo é sinônimo de conservatismo estrito. Nesse sentido,


algumas vezes é usado não somente para fazer oposição ao liberalismo, mas
também a formas do evangelicalismo, que interpreta menos rigidamente, mais
livremente. Homens como B.B. Warfield, James Orr, H.C.O. Moule e G.
Campbell Morgan, em The Fundamentals, deram o nome a uma estrita
interpretação literalista da Bíblia. Quando eu era estudante de certa escola

96
Ibidem.
97
Dicionário Brasileiro de Teologia. São Paulo: ASTE, 2008. p.452-456.
teológica, tivemos um curso intitulado «História do Fundamentalismo», que
acompanhava as raízes do fundamentalismo por todas as Escrituras Sagradas,
com o intuito de mostrar que, sem importar o título usado, as figuras da Bíblia
foram todas fundamentalistas, e que assim deveriam ser todos os crentes na
Bíblia. Quanto ao tipo, o fundamentalismo é aparentado da teologia evangélica
da época anterior à Iluminação, embora defira da mesma por rejeitar,
deliberadamente, os métodos e conclusões da crítica bíblica histórica do penado
posterior à Iluminação. Os teólogos mais antigos não haviam tratado mais
extensivamente as questões envolvidas naquele desenvolvimento, porquanto
foram produto de eruditos dos séculos XIX e XX. 98

Em aspectos gerais, Galindo destaca que “como fenômeno geral o


fundamentalismo é hoje uma tendência dentro das tradições judia, cristã e
muçulmana, que costuma surgir como reação mais ou menos violenta contra
toda mudança cultural”.99 Para ele, o fundamentalismo serve, em algumas
circunstâncias, como base para ideais radicais e extremistas:

Estudos psicológicos descrevem seus adeptos mais zelosos como “pessoas


autoritárias”, ou seja, como indivíduos que se sentem ameaçados em um mundo
dominado por poderes malignos em atitude permanente de conspiração que
pensam em termos simplistas e de acordo com esquemas invariáveis, e que
frente a seus problemas se sentem atraídos pelas respostas autoritárias e
moralizantes. Quando as mudanças culturais alcançam certo grau crítico, esses
indivíduos tendem a se reunir em movimentos radicais dentro de suas
respectivas religiões.100

Embora seja um movimento marcado por uma defesa extrema de ideais,


o movimento fundamentalista contribui de muitas formas para o desenvolvimento
do pensamento e discussão da teologia. Champlin observa que “além de alertar
as pessoas sobre inúmeros erros que haviam entrado na cena religiosa, o
movimento fundamentalista tem-se mostrado radicalmente anticomunista,
exibindo a incompatibilidade básica entre aquele sistema político e os ideais e

98
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.5. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.829.
99
GALINDO, Florencio. O fenômeno das seitas fundamentalistas. Petrópolis: Vozes, 1995.
p.167.
100
Ibidem.
crenças cristãos”.101 O fundamentalismo contribui também para a evangelização
e para o zelo da fidelidade à Palavra de Deus. Em linhas gerais, o
fundamentalismo é uma ação, que em sua essência, se contrapõe aos valores
antibíblicos e anticristãos, que se levantam em todos os períodos da história.

EXPLORANDO O TEMA NA WEB

Você pode ler um bom texto sobre a importância da doutrina em


http://solascriptura-
tt.org/SeparacaoEclesiastFundament/PorQueSouFundamenta
lista-LAFerraz.htm

QUESTÕES PROPOSTAS

1. O que significa ser fundamentalista?

2. Qual a contribuição do fundamentalismo?

3. O termo “fundamentalismo” é visto de forma deturpada, por que?

101
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol.5. 11.ed. São
Paulo: Hagnos, 2013. p.829.
REFERÊNCIAS

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VINE, W.E. et. al. Dicionário Vine - Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo
Testamento e do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.
1
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1- Introdução à Bíblia

CAPÍTULO 2- Línguas Originais da Bíblia

CAPÍTULO 3- Inspiração da Bíblia

CAPÍTULO 4- Teorias da Inspiração da Bíblia

CAPÍTULO 5- Autenticidade da Bíblia

CAPÍTULO 6- Os Livros Apócrifos

CAPÍTULO 7- As Traduções da Bíblia

CONSIDERAÇÕES FINAIS

BIBLIOGRAFIA

2
INTRODUÇÃO

Não podemos nos esquecer jamais, de que a bíblia é o Livro dos livros. A verdade de Deus
escrita. O mapa do cristão, rumo aos céus. O maior tesouro de conhecimentos do mundo.

E o principal:

“A Bíblia não contém a palavra de Deus, ela é a Palavra de Deus!”

Jesus disse em Mateus 24:35: “Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras não
hão de passar”.

O pastor Claudionor de Andrade citando o grande teólogo Wayne Gruden, define a


importância das escrituras assim:

A bíblia contém todas as palavras divinas que Deus quis dar ao seu povo em cada
estágio da história da redenção e que hoje contém todas as palavras de Deus que
precisamos para a salvação, para que, de maneira perfeita, nele possamos confiar
e a ele obedecer.
(Andrade, Claudionor de. Teologia Sistemática Pentecostal, página 44, Rio de
Janeiro, CPAD).

E de maneira brilhante o saudoso teólogo brasileiro Raimundo de Oliveira diz:


A existência das escrituras é a prova mais do que plausível dos esforços de Deus
no sentido de aproximar o homem de seu meigo coração. O testemunho milenar
das escrituras é que “Deus de dá a conhecer”.
A nossa crença na bondade de Deus há de nos conduzir, necessariamente, à
compreensão de que através da sua palavra, Ele se revela pessoalmente àqueles
que Ele criou.
Deus fez o homem capaz e desejoso de conhecer a realidade das coisas. Será
que Ele ocultaria uma revelação que satisfizesse esse anelo? Pelo contrário. Diz o
profeta de Deus: “conheçamos, prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva
será a sua saída; e ele nos virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a
terra”. A revelação de Deus é possível, é progressiva, é certa.
(Oliveira, Raimundo de. As Grandes Doutrinas da Bíblia, página 16, Rio de janeiro,
CPAD).
Deus se revela a nós por intermédio de sua santíssima Palavra, a Bíblia, tendo em vista nossa
salvação por meio da fé nela como a Palavra de Deus. Por essa razão todo ser humano nasce
com o grande anseio de conhecer, e cada um busca esse conhecimento de uma maneira.
Nós, servos e servas de Deus, buscamos na Bíblia sagrada.
Nesta apostila, iremos estudar a história da Bíblia, sua formação, sua inspiração, suas línguas
originais, o cânon e suas respectivas traduções, baseados principalmente nas obras de dois
dos autores que mais admiro, um brasileiro, o pastor Antonio Gilberto, e outro americano, o
doutor Norman Geisler, as quais eu recomendo que todos adquiram.

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Convido-te então, para mergulhar nesse oceano de conhecimentos, para glória de Deus.
Vamos?!

Capitulo 1- INTRODUÇÃO À BÍBLIA

Etimologia do termo “Bíblia”

Bem, em primeiro lugar é necessário analisarmos a origem desse nome tão conhecido e
utilizado por todos nós diariamente, então vejamos:

A etimologia da palavra bíblia é muito interessante, por nos remeter a Fenícia, tendo em vista
que uma de suas cidades mais importantes era chamada exatamente de “biblos” (atual Gebal,
cerca de quarenta quilômetros ao norte de Beirute). Biblos foi uma cidade muito conhecida
na época por ser uma cidade comercial, onde se vendia de tudo um pouco, madeiras,
perfumes, tecidos, couros e papiro. E é pelo fato de o papiro ser um dos produtos mais
procurados no comércio, que aos poucos foi sendo chamada de biblos, em homenagem e
referência a cidade com o mesmo nome.
Um rolo de papiro de tamanho pequeno era chamado "biblion" e vários destes eram uma
"bíblia". Portanto, literalmente, a palavra bíblia quer dizer "coleção de livros pequenos". Com
a invenção do papel, desapareceram os rolos, e a palavra biblos deu origem a "livro", como
se vê em biblioteca, bibliografia, bibliófilo, etc.

Aproximadamente no ano 400 é que os escritores cristãos gregos começaram a chamar a


Bíblia de “Os livros”, no plural indicando uma série de escritos da revelação divina. Mais
tarde, no século XIII, o plural foi mudado para o singular, concordando com a concepção de
que a Bíblia é uma expressão vocal de Deus.

A Bíblia também é conhecida por Escrituras, que é um termo usado no N.T. para os
livros sagrados do A.T., que eram considerados inspirados por Deus. (2ª Tm. 3.16; Rm. 3.2).
Este termo também é usado no N.T. com referência a outras porções do N.T. (2ª Pe. 3.16). A
Bíblia também é conhecida por Palavra de Deus, este termo é usado em relação a ambos
os testamentos em sua forma escrita (Mt 15.6; Jo. 10.35; Hb. 4.12).

Ora, se a Bíblia é a palavra de Deus escrita, então é de extrema importância para nós
o estudo e o exame de todos os escritos que nela estão contidos.

Nas palavras do teólogo Antonio Gilberto no livro “A Bíblia através dos Séculos”, pág.9:

“A necessidade desse estudo é que, sendo a Bíblia um livro divino, veio a


nós por canais humanos, tornando-se, assim, divino-humana, como também o é a
Palavra Viva - Cristo -, que se tornou também divino-humano (Jo 1.1; Ap 19.13)”.
Pela Bíblia, Deus fala em linguagem humana, para que o homem possa entendê-
lo. Por essa razão, a Bíblia faz alusão a tudo que é terreno e humano. Ela
menciona países, montanhas, rios, desertos, mares, climas, solos, estradas,
plantas, produtos, minérios, comércio, dinheiro, línguas, raças, usos, costumes,
culturas, etc. Isto é, Deus, para fazer-se compreender, vestiu a Bíblia da nossa
linguagem, bem como do nosso modo de pensar. Se Deus usasse sua linguagem,
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ninguém o entenderia. Ele, para revelar-se ao homem, adaptou a Bíblia ao modo
humano de perceber as coisas. Destarte, o autor da Bíblia é Deus, mas os
escritores foram homens. Na linguagem figurada dos Salmos e das diversas outras
partes da Bíblia, Deus mesmo é descrito e age como se fosse homem. A Bíblia
chega a esse ponto para que o homem compreenda melhor o que Deus lhe quer
dizer. Isto também explica muitas dificuldades e aparentes contradições do texto
bíblico.
Inúmeros fatores fazem da Bíblia um livro fantástico e maravilhoso. Sua formação é
um destes fatores, cerca de 40 escritores em aproximadamente 1500 anos escreveram sob
orientação do próprio Deus.

A Bíblia divide-se em duas partes principais: ANTIGO e NOVO TESTAMENTO,


tendo ao todo 66 livros: sendo 39 no AT e 27 no NT. Estes 66 livros foram escritos num
período de 15 séculos e tiveram cerca de 40 escritores. Aqui está um dos milagres da Bíblia.

Esses escritores pertenceram às mais variadas profissões e atividades, viveram e


escreveram em países, regiões e continentes distantes uns dos outros, em épocas e
condições diversas, entretanto, seus escritos formam uma harmonia perfeita. Isto prova que
um só os dirigia no registro da revelação divina: Deus.

A divisão dos testamentos

A palavra testamento vem do termo grego "diatheke", e significa: a) Aliança ou


concerto, e b) Testamento, isto é, um documento contendo a última vontade de alguém
quanto à distribuição de seus bens, após sua morte. Esta é a palavra empregada no Novo
Testamento, como por exemplo em Lucas 22.20. No Antigo Testamento, a palavra usada
é "berith" que significa apenas concerto. O duplo sentido do termo grego nos mostra que a
morte do testador (Cristo) ratificou ou selou a Nova Aliança, garantindo-nos toda a herança
com Cristo (Rm 8.17; Hb 9.15-17).

O Antigo Testamento

Tem 39 livros, e foi escrito originalmente em hebraico, com exceção de pequenos


trechos que o foram em aramaico. O aramaico foi a língua que Israel trouxe do seu exílio
babilônico. Há também algumas palavras persas. Seus 39 livros estão classificados em 4
grupos, conforme os assuntos a que pertencem: LEI, HISTÓRIA, POESIA, PROFECIA. O
grupo ou classe poesia também é conhecido por devocional.

Os livros por cada grupo.

a. LEI. São 5 livros: Gênesis a Deuteronômio.

b. HISTÓRIA. São 12 livros: de Josué a Ester.

c. POESIA. São 5 livros: de Jó a Cantares de Salomão

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d. PROFECIA. São 17 livros: de Isaías a Malaquias. Estão subdivididos em:

• Profetas Maiores: Isaías a Daniel (5 livros).

• Profetas Menores: Oséias a Malaquias (12 livros).

A lei (Pentateuco) – 5 livros Poesia – 5 livros


1. Gênesis 1. Jó
2. Êxodo 2. Salmos
3. Levítico 3. Provérbios
4. Números 4. Eclesiastes
5. Deuteronômio 5. O Cântico dos Cânticos

História – 12 livros Profetas – 17 livros


1. Josué A. Maiores B. Menores
2. Juízes
3. Rute 1. Isaías 1.
Oséias
4. 1Samuel 2. Jeremias 2.
Joel
5. 2Samuel 3. Lamentações 3. Amós
6. 1Reis 4. Ezequiel 4.
Obadias
7. 2Reis 5. Daniel 5.
Jonas
8. 1Crônicas 6.
Miquéias
9. 2Crônicas 7.
Naum
10. Esdras 8.
Habacuque
11. Neemias 9.
Sofonias
12. Ester 10. Ageu
11. Zacarias
12. Malaquias

A classificação dos livros do AT, por assunto, vem da versão Septuaginta, através
da Vulgata, e não leva em conta a ordem cronológica dos livros, o que, para o leitor menos
avisado, dá lugar a não pouca confusão, quando procura agrupar os assuntos
cronologicamente. Na Bíblia hebraica (que é o nosso AT), a divisão dos livros é bem
diferente.

Nas Bíblias de edição católico-romana, os livros de 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis são


chamados 1,2,3 e 4 Reis, respectivamente. 1 e 2 Crônicas são chamados 1 e 2
Paralipômenos. Esdras e Neemias são chamados 1 e 2 Esdras. Também, nas edições
católicas de Matos Soares e Figueiredo, o Salmo 9 corresponde em Almeida aos Salmos
9 e 10. O de número 10 é o nosso 11. Isso vai assim até os Salmos 146 a 147, que nas
nossas Bíblias são o de número 147. Deste modo, os três salmos finais são idênticos em
qualquer das versões acima mencionadas. Essas diferenças de numeração em nada
afetam o texto em si, e não poderia ser doutra forma, sendo a Bíblia o Livro do Senhor!

O Novo Testamento

Tem 27 livros. Foi escrito em grego; não no grego clássico dos eruditos, mas no do povo
comum, chamado Koiné. Seus 27 livros também estão classificados em 4 grupos, conforme

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o assunto a que pertencem: BIOGRAFIA, HISTÓRIA, EPÍSTOLAS, PROFECIA. O terceiro
grupo é também chamado DOUTRINA.

a. BIOGRAFIA. São os 4 Evangelhos.

b. HISTÓRIA. É o livro de Atos dos Apóstolos.

c. EPÍSTOLAS. São 21 as epístolas ou cartas. Vão de Romanos a Judas.

• 9 são dirigidas a igrejas (Romanos a 2 tessalonicenses)

• 4 são dirigidas a indivíduos (1 Timóteo a Filemom)

• 1 é dirigida aos hebreus cristãos

• 7 são dirigidas a todos os cristãos, indistintamente (Tiago a Judas)

As últimas sete são também chamadas universais, católicas ou gerais, apesar de duas delas
(2 e 3 João) serem dirigidas a pessoas.

d. PROFECIA. É o livro de Apocalipse ou Revelação.

LIVROS DO NOVO TESTAMENTO


Evangelhos História
1. Mateus 1. Atos dos Apóstolos
2.
Marcos
3.
Lucas
4.
João

Epístolas
1.
Romanos 12. Tito
2.
1Coríntios 13. Filemom
3.
2Coríntios 14. Hebreus
4.
Gálatas 15. Tiago
5.
Efésios 16. 1Pedro
6.
Filipenses 17. 2Pedro
7.
Colossenses 18. 1João
8.
1Tessalonicenses 19. 2João
9.
2Tessalonicenses 20. 3João
10. 1Timóteo
21. Judas
11. 2Timóteo

Profecia
1. Apocalipse

Os livros do Novo Testamento também não estão situados em ordem cronológica, pelas
mesmas razões expostas ao tratarmos do Antigo Testamento.

(Gilberto, Antonio, páginas 9, 18-23, A Bíblia através dos séculos Rio de Janeiro, CPAD).

A importância da escrita

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Várias alternativas estavam abertas diante de Deus, quando decidiu escolher um meio de
transmitir sua verdade aos homens (Hb 1,1). Ele poderia ter usado um ou mais dos veículos
empregados em várias ocasiões, ao longo dos tempos bíblicos. Por exemplo, Deus usou
anjos nos tempos da Bíblia (v. Gn 18,19; Ap 22.8-21). O lançar sorte, além do Urim e do
Tumim, também foi empregado, a fim de procurar saber a vontade de Deus (Êx 28.30; Pv
16.33), da mesma forma que se ouvia a voz da consciência (Rm 2.15) e da criação (SI 19.1-
6). Além disso, Deus usou vozes audíveis (1Sm 3) e milagres diretos (Jz 6.36-40).

Todos esses veículos sofriam algum tipo de limitação ou deficiência. Enviar um anjo para que
entregasse cada mensagem de Deus, a cada ser humano, em cada situação, ou empregar
vozes audíveis e milagres diretos, tudo isso seria difícil de administrar e repetitivo. Lançar
sorte ou a simples resposta positiva ou negativa advinda do Urim e do Tumim eram limitados
demais, em comparação com outros veículos de comunicação de massa com maior amplitude
e melhores recursos, sendo capazes de prover descrições minuciosas. Outros meios de
comunicação, como visões, sonhos e as vozes da consciência ou da criação, em certas
ocasiões sofriam a influência do subjetivismo, da distorção cultural e até da corrupção. Era o
que se verificava sobretudo ao compará-los com alguns meios mais objetivos de
comunicação, os quais faziam uso da linguagem escrita.

As vantagens da mensagem escrita

Seria incorreto dizer que todos aqueles meios de comunicação, sem exceção, não eram bons,
uma vez que de fato foram meios que Deus usou para comunicar-se com os profetas. No
entanto, havia um "caminho mais excelente", mediante o qual o Senhor se comunicaria com
os seres humanos de todas as eras por meio dos profetas. Deus decidiu fazer que sua
mensagem se tornasse algo permanente e se imortalizasse por meio de um registro escrito
entregue aos homens. Tal registro seria mais preciso, mais permanente, mais objetivo e mais
facilmente disseminável do que qualquer outro meio.

Precisão

Uma das vantagens da linguagem escrita sobre os demais veículos de comunicação é a


precisão. Para que um pensamento seja captado e expresso por escrito, é preciso que tenha
sido claramente entendido pelo autor. O leitor, por sua vez, pode entender com mais precisão
um pensamento que lhe tenha sido comunicado mediante a palavra escrita. Visto que os
conhecimentos entesourados pelo ser humano, até o presente, têm sido preservados na
forma de registros escritos e de livros, pode-se compreender por que Deus escolheu esse
processo a fim de comunicar-nos sua verdade.

Permanência

Outra vantagem da linguagem escrita é sua permanência. Constitui meio pelo qual se pode
preservar o pensamento ou a expressão, sem que os percamos por lapso da memória, por
vacilação mental ou por intrusão em outras áreas. Além disso, o registro escrito estimula a
memória do leitor e instiga sua imaginação, de modo que passa a incluir inúmeras implicações
latentes nas palavras e nos símbolos do registro. As palavras são maleáveis e permitem o
enriquecimento pessoal do leitor.

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Objetividade

A transmissão de uma mensagem por escrito também tende a torná-la mais objetiva. A
expressão escrita carrega consigo uma marca de irrevocabilidade extrínseca a outras formas
de comunicação. Esse caráter definitivo transcende a subjetividade de cada leitor, o que
complementa a precisão e a permanência da mensagem transmitida. E mais: a palavra escrita
combate a má interpretação e a má transmissão da mensagem.

Disseminação

Outra vantagem da linguagem escrita sobre os demais meios de comunicação é sua


capacidade de propagação, ou disseminado. Independentemente do cuidado com que se
processa uma comunicação oral, sempre existe uma probabilidade maior de corrupção e de
alteração das palavras utilizadas em relação à comunicação escrita. Em resumo, a tradição
oral tende a sofrer corrupção, em vez de preservar uma mensagem. Na disseminação de sua
revelação à humanidade, de modo especial às gerações futuras, Deus escolheu um modo
exato de transmitir sua Palavra.

(Geisler e Nix, Introdução Bíblica, páginas 123-125, São Paulo, Vida Acadêmica).

Capitulo 2- LÍNGUAS ORIGINAIS DA BÍBLIA

O hebraico e o aramaico para o Antigo Testamento, e o grego para o Novo Testamento, são
as línguas originais da Bíblia.

a. O hebraico.

Todo o Antigo Testamento foi escrito em hebraico, o idioma oficial da nação israelita,
exceto algumas passagens de Esdras, Jeremias e Daniel, que foram escritas em aramaico.
A mais extensa é em Daniel, que vai de 2.4 a 7.28.

O hebraico faz parte das línguas semíticas, que eram faladas na Ásia (mediterrânea), exceto
em bem poucas regiões. As línguas semíticas formavam um ramo dividido em grupos, sendo
o hebraico integrante do grupo cananeu. Este compreendia o litoral oriental do Mediterrâneo,
incluindo a Síria, a Palestina e o território que constitui hoje a Jordânia. Integrava também o
grupo cananeu de línguas, o ugarítico, o fenício e o moabítico. O fenício tem muita
semelhança com o hebraico. O primitivo alfabeto hebraico é oriundo do fenício, segundo a
opinião dos versados na matéria. Tudo leva a crer que Abraão encontrou este idioma em
Canaã, ao chegar ali, em vez de trazê-lo da Caldéia. Em Gênesis 31.47, vê-se que Labão, o
sobrinho de Abraão, vivendo em sua terra, a Caldéia, falava aramaico; ao passo que Jacó,
recém-chegado de Canaã, falava o hebraico.

A língua hebraica é chamada no AT "Língua de Canaã" (Is 19.18) e "língua judaica" ou


"judaico" (2 Rs 18.26,28; Is 36.13). Como a maior parte das línguas do ramo semítico, o
hebraico lê-se da direita para a esquerda. O alfabeto compõe-se de 22 letras, todas
consoantes. Há sinais vocálicos, sim, mas não podemos chamá-los de letras.
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Sabe-se agora que a forma primitiva dos caracteres hebraicos estava em uso na Palestina
1.800 anos antes de Cristo. Exemplos mais recentes das letras hebraicas há no Calendário
de Gézer (950-920 a.C), na Pedra Moabita (850 a.C); na inscrição de Siloé (702 a.C); nas
moedas do tempo dos irmãos Macabeus (175-100 a.C), e nalguns fragmentos dos escritos
achados junto ao mar Morto, a partir de 1947. Esta forma primitiva do hebraico passou por
modificações com o correr do tempo. Após o exílio, teve início a chamada "escrita quadrada",
que, por fim, foi pelos massoretas convertida na atual forma do alfabeto hebraico - uma forma
quadrada modificada.

A escrita hebraica dos tempos antigos só empregava consoantes sem qualquer sinal de
vocalização. Os sons vocálicos eram supridos pelo leitor durante a leitura, o que dava origem
a constantes enganos, uma vez que havia palavras com as mesmas consoantes, mas com
acepções diferentes. Quer dizer, a pronúncia exata dependia da habilidade do leitor, levando
em conta o contexto e a tradição. É por causa disso que se perdeu a pronúncia de muitas
palavras bíblicas.

Após o século VI, os eruditos judeus residentes em Tiberíades, passaram a colocar na escrita
sinais vocálicos, perpetuando, assim, a pronúncia tradicional. Esses sinais são pontos
colocados em cima, em baixo e dentro das consoantes. Os autores desse sistema de
vocalização chamavam-se massoretas - palavra derivada de "Massorah", que quer dizer
tradição, isto porque os massoretas, por meio desse sistema, fixaram a pronúncia tradicional
do hebraico. Qualquer texto bíblico posterior ao século VI é chamado "Massorético", porque
contém sinais vocálicos. Os mais famosos eruditos massoretas foram os judeus Moses ben
Asher; e seus filhos Arão e Naftali, que viveram e trabalharam em Tiberíades, na Galiléia.

Além do texto Massorético, há outro texto hebraico das Escrituras, o do Pentateuco


Samaritano, que emprega, os antigos caracteres hebraicos. É do tempo pré-cristão. São,
portanto, dois tipos de textos que temos em hebraico: o Massorético e o Pentateuco
Samaritano.

b. O Aramaico.

É um idioma semítico falado desde 2.000 a.C, em Arã ou Síria, que é a mesma região. (Arã
é hebreu; Síria é grego.) Nas Escrituras, o território da Síria não é o mesmo de hoje, o que
acontece também com outras terras bíblicas. O primitivo território estendia-se das montanhas
do Líbano até além do Eufrates, incluindo Babilônia, Mesopotâmia Superior (conhecida na
Bíblia por Arã-Naaraim; e Padã-Arã - Gn 25.20), e outros distritos. Era ainda falado numa
grande área da Arábia Pétrea.

Os trechos escritos em aramaico são:

O Esdras 4.8 a 6.18; 7.12-26.

O Daniel 2.4 a 7.28.

O Jeremias 10.11.

A influência do aramaico foi profunda sobre o hebraico, começando no cativeiro do reino de


Israel, em 722 a.C. na Assíria, e continuando através do cativeiro do reino de Judá, em 587,
10
em Babilônia. Em 536, quando Israel começou a regressar do exílio, falava o aramaico como
língua vernácula. É por essa razão que, no tempo de Esdras, as Escrituras, ao serem lidas
em hebraico, em público, era preciso interpretá-las, para compreenderem o seu significado
(Ne 8.5,8).

No tempo de Cristo, o aramaico tornara-se a língua popular dos judeus e nações vizinhas;
estas foram influenciadas pelo aramaico devido às transações comerciais dos arameus na
Ásia Menor e litoral do Mediterrâneo. Em 1.000 a.C, o aramaico já era língua internacional do
comércio nas regiões situadas ao longo das rotas comerciais do Oriente. O aramaico é
também chamado "siríaco", no Norte (2 Rs 18.26; Ed 4.7; Dn 2.4 ARC), e também "caldaico",
no Sul (Dn 1.4). Tinha o mesmo alfabeto que o hebraico, diferia nos sons e na estrutura de
certas partes gramaticais. Do mesmo modo que o hebraico, não tinha vogais; a partir de 800
d.C, é que os sinais vocálicos lhe foram introduzidos. É muito parecido com o hebraico.

O aramaico foi a língua do Senhor Jesus, seus discípulos e da igreja primitiva, em Jerusalém.
Em Mateus 5.18, quando Jesus diz que a menor letra é o jota (aramaico iode), Ele tinha em
mente o alfabeto aramaico, pois somente neste é que se verifica isto. (A letra iode originou o
nosso i). Nos dias de Jesus, o aramaico já se modificara um pouco na Palestina, resultando
no "aramaico palestinense", como o chamam os eruditos. Também em Marcos 14.36, o uso
da palavra aramaica "abba", por Jesus, é outra evidência de que Ele falava aquela língua.
Que Ele também falava o hebraico é evidente em Lucas 4.16-20, uma vez que os rolos
sagrados eram escritos em hebraico.

O hebraico foi de fato absorvido pelo aramaico, mas continuou sendo a língua oficial do culto
divino no templo e nas sinagogas, dos rolos sagrados, e dos rabinos e eruditos.

Havia escolas de rabinos, inicialmente em Jerusalém, e, depois da queda da cidade, em


Tiberíades. Havia escolas semelhantes noutros centros judaicos. As conquistas árabes e a
propagação do islamismo em largas áreas da Ásia, África e Europa, reduziu e por fim destruiu
a influência do aramaico. Por sua vez, o hebraico, sendo língua morta, começou a ressurgir.
Para que se cumprissem as profecias referentes a Israel, era necessário que a língua
revivesse e assumisse a posição que hoje desfruta na família das nações modernas.

Devido aos hebreus terem adotado o aramaico como uma língua, este passou a chamar-se
hebraico, conforme se vê em Lucas 23.38; João 5.2; 19.13,17,20; Atos 21.40; 26.14; 72
Apocalipse 9.11. Portanto, quando o N.T., menciona o hebraico, trata-se, na realidade, do
aramaico. Marcos, escrevendo para os romanos, põe em aramaico 5.41 e 15.34 do seu livro;
já Mateus, que escreveu para os judeus, escreve a mesma passagem em hebraico (Mt 27.46).

c. O Grego.

Esta é a língua em que foi originalmente escrito o Novo Testamento. A única dúvida paira
sobre o livro de Mateus, que muitos eruditos afirmam ter sido escrito em aramaico. O grego
faz parte do grupo das línguas arianas. Vem da fusão dos dialetos dórico e ático. Os dóricos
e os áticos foram duas das principais tribos que povoaram a Grécia. É língua de expressão
muito precisa, e, das línguas bíblicas, é a que mais se conhece, devido a ser mais próxima
da nossa.

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O grego do Novo Testamento não é o grego clássico dos filósofos, mas o dialeto popular do
homem da rua, dos comerciantes, dos estudantes, que todos podiam entender: era o "Koiné".
Este dialeto formou-se a partir das conquistas de Alexandre, em 336 a.C. Nesse ano,
Alexandre subiu ao trono e, no curto espaço de 13 anos, alterou o curso da história do mundo.
A Grécia tornou-se um império mundial, e toda a terra conhecida recebeu influência da língua
grega. Deus preparou, deste modo, um veículo lingüístico para disseminar as novas do
Evangelho até os confins do mundo, no tempo oportuno.

Até no Egito o grego se impôs, pois aí foi a Bíblia traduzida do hebraico para o grego - a
chamada Septuaginta, cerca de 285 a.C. Nos dias de Jesus, os judeus entendiam quase tão
bem o grego como o aramaico, haja vista que a Septuaginta em grego era popular entre os
judeus. Nos primórdios do cristianismo, o Evangelho pregado ou escrito em grego podia ser
compreendido pelo mundo todo. Só Deus podia fazer isso! Ele não enviaria o seu Filho ao
mundo enquanto este não estivesse preparado, e esse preparo incluía uma língua conhecida
por todos. (Ver Marcos 1.15 e Gálatas 4.4.)

A língua grega tem 24 letras; a primeira é alfa e a última ômega. Quando, em Apocalipse 1.8,
Jesus diz que é o Alfa e o ômega, está afirmando que é o primeiro e o último. Os gregos
receberam seu alfabeto através dos fenícios, conforme mostram estudos a respeito.

Ninguém vá supor que por não conhecer essas línguas originais das Escrituras, não
compreenderá a revelação divina. Sim, o conhecimento e a compreensão dos originais
auxiliará muito, mas não é o essencial. Na Bíblia, como já dissemos, vêem-se duas coisas
principais: o texto e a mensagem. O principal é a mensagem contida no texto. É
especialmente a mensagem que o Espírito Santo vitaliza, revela e maneja como sua espada
(Ef 6.17).

(Gilberto, Antonio, páginas 69-74, A Bíblia através dos séculos Rio de Janeiro, CPAD).

Os materiais de escrita

Os autores das Escrituras empregaram os mesmos materiais em uso no mundo antigo. Por
exemplo, as tabuinhas de barro eram usados não só na antiga Suméria, já em 3500 a.C,
como também por Jeremias (17.13) e por Ezequiel (4.1). As pedras também eram usadas
para fazer inscrições na Mesopotâmia, no Egito e na Palestina, para gravação, por exemplo,
do Código de Hamurábi, dos textos da pedra de Roseta e da pedra moabita. Foram
empregadas também na região do rio do Cão, no Líbano, e em Behistun, na Pérsia (Irã), como
também por escritores bíblicos (v. Êx 24.12; 32.15,16; Dt 27.2,3; Js 8.31,32).

O papiro foi usado na antiga Gebal (Biblos) e no Egito por volta de 2100 a.C. Eram folhas de
uma planta, que se prensavam e colavam para formar um rolo. Foi o material que o apóstolo
João usou para escrever o Apocalipse (5.1) e suas cartas (2Jo 12). Velino, pergaminho e
couro são palavras que designam os vários estágios de produção de um material de escrita
feito de peles de animais. O velino era desconhecido até 200 a.C, pelo que Jeremias teria
tido (36.23) em mente o couro. Paulo se refere a pergaminhos em 2Timóteo 4.13. Outros
materiais para escrita eram o metal (Êx 28,36; Jó 19.24; Mt 22.19,20), a cera (Is 8.1; 30.8;

12
Hb 2,2; Lc 1.63), as pedras preciosas (Êx 39.6-14) e os cacos de louça (óstracos), como
mostra Jó 2.8. O Linho era usado no Egito, na Grécia e na Itália, embora não tenhamos
indícios de que tenha sido usado no registro da Bíblia.

Os instrumentos utilizados

Vários instrumentos básicos foram empregados para que se produzissem os registros


escritos nos materiais mencionados acima. Dentre eles estava o estilete, instrumento em
formato de pontalete triangular com cabeçote chanfrado, com que se escrevia. Era usado de
modo especial para fazer entalhes em tabuinhas de barro ou de cera, sendo às vezes
denominado pena pelos escritores bíblicos (v. Jr 17.1). O cinzel era usado para fazer
inscrições em pedra, como em Josué 8.31,32. Jó refere-se ao cinzel denominando-o "pena
de ferro" (19.24), com a qual se poderiam fazer gravações na rocha. A pena era usada para
escrever em papiro, em couro, em velino e em pergaminho (3Jo 13).

Outros instrumentos eram usados pelo escriba para desempenhar as tarefas escriturárias.
Jeremias refere-se a um canivete que alguém usou a fim de destruir um rolo (Jr 36.23). Seu
uso mostra que o rolo teria sido feito de um material mais forte que o papiro, que podia ser
rasgado. O canivete também era usado quando o escritor desejava afiar a pena, quando esta
começasse a ficar rombuda ou gasta pelo uso. A tinta era o material que acompanhava a
pena e ficava no tinteiro. A tinta era usada para escrever em papiro, em couro, em
pergaminho ou em velino. Vê-se, desse modo, que todos os materiais e instrumentos
disponíveis aos escritores no mundo antigo também estavam à disposição dos escritores da
Bíblia. (Geisler e Nix, páginas 128,129).

Os Autógrafos e os Manuscritos

A história da Bíblia e como chegou até nós, é encontrada em seus manuscritos. Manuscritos
são rolos ou livros da antiga literatura, escritos à mão. O texto da Bíblia foi preservado e
transmitido mediante os seus manuscritos. Nos tratados sobre a Bíblia, a palavra
manuscritos é sempre indicada pela abreviatura MS, no plural MSS ou MSs.

Os originais saídos das mãos dos escritores (autógrafos), não há nenhum conhecido. É
provável que se houvesse algum, os homens o adorassem mais do que ao seu divino Autor.
Lembremos a adoração da serpente de metal pelos israelitas (2 Rs 18.4) e da cruz de Cristo
e da virgem Maria, pelos católico-romanos; e o caso de João querer adorar o mensageiro
celestial (Ap 22.8,9).

Razões para a ausência de MSS originais:

1) O costume dos judeus de enterrar todos os MSS estragados pelo uso ou qualquer outra
coisa; isto para evitar mutilação ou interpolação espúria.

2) Os reis idolatras e ímpios de Israel podem ter destruído muitos, ou contribuído para isso.
(Veja o episódio de Jeremias 36.20-26.)

3) O monstro Antíoco Epifânio, rei da Síria (175-164 a.C), dominou sobre a Palestina durante
seu reinado. Foi extremamente cruel, sádico; tinha prazer em aplicar torturas. Decidiu

13
exterminar a religião judaica. Assolou Jerusalém em 168, profanou o templo e destruiu todas
as cópias que achou das Sagradas Escrituras.

4) Nos dias do feroz imperador Diocleciano (284-305 d.C), os perseguidores dos cristãos
destruíram quantas cópias acharam das Escrituras. Durante dez anos, Diocleciano mandou
vasculhar o Império para destruir todos os escritos sagrados. Ele chegou a julgar que tivesse
destruído tudo, pois mandou cunhar uma moeda comemorando tal "vitória".

A literatura judaica diz que a missão da Grande Sinagoga, presidida por Esdras, foi reunir e
preservar os MSS originais do AT, e que os MSS de que se serviram os setenta, foram esses
preservados pela Grande Sinagoga, que encerrou o cânon do AT.

(Gilberto, Antonio, página 76).

Os mais importantes manuscritos da Bíblia

Os escritos clássicos da Grécia e de Roma ilustram de modo extraordinário o caráter da


preservação dos manuscritos bíblicos. Em contraposição ao número total de mais de 5 mil
manuscritos, do Novo Testamento conhecidos hoje, outros livros históricos e religiosos do
mundo antigo praticamente desaparecem. Só 643 exemplares da Ilíada de Homero
sobreviveram em forma de manuscrito. Da História de Roma, de Tito Lívio, restaram apenas
20 exemplares, e a obra Guerras gálicas, de César, só se conhece mediante 9 ou 10
manuscritos. Da obra de Tucídides, Guerra do Peloponeso, dispomos em apenas 8
manuscritos; as Obras de Tácito só podem ser encontradas em 2 manuscritos. Uma pesquisa
das evidências em manuscritos do Antigo Testamento, embora não sejam tão numerosas
como as do Novo, revela a natureza e a comprovação documentária dos textos originais da
Bíblia hebraica.

Os manuscritos do Antigo Testamento

Em comparação com o Novo Testamento, há relativamente poucos manuscritos antigos do


texto do Antigo Testamento. Era o que se verificava, sobretudo antes da descoberta, em 1947,
dos rolos do mar Morto. Mas esse acontecimento proporcionou ensejo para nosso estudo das
tradições do Texto massorético e dos rolos do mar Morto.

O Texto Massorético

O número relativamente reduzido de antigos manuscritos do Antigo Testamento, com


exceção do Cairo Geneza, pode ser atribuído a vários fatores. O primeiro e mais óbvio é a
própria antigüidade dos manuscritos, combinada com sua inerente destrutibilidade; esses
dois fatores concorrem para o desaparecimento dos manuscritos. Outro fator que militou
contra a sobrevivência dos manuscritos foi a deportação dos israelitas à Babilônia e ao
domínio estrangeiro após o retorno à Palestina. Jerusalém foi conquistada 47 vezes, em sua
história, só no período de 1800 a 1948 d.C. Isso também explica por que os textos
massoréticos foram descobertos fora da Palestina. Outro fator que influi na escassez de
manuscritos do Antigo Testamento diz respeito às leis sagradas dos escribas, que exigiam
que os manuscritos gastos pelo uso ou com erros fossem enterrados. Segundo uma tradição
14
talmúdica, todo manuscrito que contivesse erro ou falha e todo aquele que estivesse
demasiado gasto pelo uso eram sistemática e religiosamente destruídos. Tais práticas sem
dúvida alguma fizeram diminuir o número de manuscritos que se poderiam encontrar algures.
Por fim, durante os séculos V e VI d.C, quando os massoretas (escribas judeus) padronizaram
o texto hebraico, acredita-se que de modo sistemático e completo destruíram todos os
manuscritos que discordassem do sistema de vocalização (adição de letras vocálicas) e de
padronização do texto das Escrituras. Muitas evidências arqueológicas e a ausência de
manuscritos mais antigos tendem a dar apoio a esse julgamento. O resultado é que o texto
massorético impresso do Antigo Testamento, como o temos hoje, baseia-se nuns poucos
manuscritos, nenhum dos quais com origem anterior ao século X d.C.

Ainda que haja relativamente poucos manuscritos massoréticos primitivos, a qualidade dos
manuscritos disponíveis é muito boa. Isso também se deve atribuir a vários fatores. Em
primeiro lugar, há pouquíssimas variantes nos textos disponíveis, visto serem todos
descendentes de um tipo de texto estabelecido por volta de 100 d.C. Diferentemente do Novo
Testamento, que baseia sua fidelidade textual na multiplicidade de cópias de manuscritos, o
texto do Antigo Testamento deve sua exatidão à habilidade e à confiabilidade dos escribas
que o transmitiram. Com todo o respeito às Escrituras judaicas, só a exatidão dos escribas,
no entanto, não basta para garantir o produto genuíno. Antes, a reverência quase
supersticiosa que dedicavam às Escrituras é de primordial importância. Segundo o Talmude,
só determinados tipos de peles podiam ser utilizados, o tamanho das colunas era
controlado por regras rigorosas, o mesmo acontecendo com respeito ao ritual que o
escriba deveria seguir ao copiar um manuscrito. Se se descobrisse que determinado
manuscrito continha um único erro, a peça era descartada e destruída. Tão severo
formalismo dos escribas foi responsável, pelo menos em parte, pelo extremo cuidado
aplicado no processo de copiar as Escrituras Sagradas.

Outra categoria de evidências quanto à integridade do texto massorético encontra-se na


comparação de passagens duplas do próprio texto massorético do Antigo Testamento. O
salmo 14, por exemplo, reaparece de novo como salmo 53; grande parte de Isaías 36— 39
reaparece em 2Reis 18.20; Isaías 2.2-4 corresponde a Miquéias 4.1-3, e grande parte de
Crônicas se encontra de novo em Samuel e em Reis. Um exame dessas passagens, bem
como de outras, revela não só substancial acordo textual, mas também, em certos casos,
igualdade quase absoluta, palavra por palavra. Resulta disso a conclusão de que os textos
do Antigo Testamento não sofreram revisões radicais, ainda que as passagens paralelas
tenham origem em fontes idênticas.

Os rolos do mar Morto

Essa grande descoberta ocorreu em março de 1947, quando um jovenzinho árabe


(Muhammad adh-Dhib) estava perseguindo uma cabra perdida nas grutas, a doze
quilômetros ao sul de Jerico e um e meio quilômetro a oeste do mar Morto. Numa das grutas
ele descobriu umas jarras que continham vários rolos de couro. Entre esse dia e fevereiro de
1956, onze grutas que continham rolos e fragmentos de rolos foram escavadas próximo a
Qumran. Nessas grutas, os essênios, seita religiosa judaica que existiu por volta da época de

15
Cristo, haviam guardado sua biblioteca. Somando tudo, os milhares de fragmentos de
manuscritos constituíam os restos de seiscentos manuscritos.

Estimulados por essas descobertas originais, os beduínos insistiram nas buscas e


descobriram outras grutas a sudoeste de Belém. Aqui, em Murabba'at, descobriram alguns
manuscritos que traziam a data e alguns documentos da segunda revolta judaica (132-135
d.C). Esses documentos ajudaram a confirmar a antigüidade dos rolos do mar Morto.
Descobriu-se também outro rolo dos profetas menores (de Joel a Ageu), cujo texto se
aproxima muito do texto massorético. Além disso, descobriu-se ali um palimpsesto, o papiro
semítico (o primeiro texto havia sido raspado) mais antigo de que se tem notícia. O segundo
texto nele gravado era em hebraico antigo, dos séculos VII e VIII a.C.

Vários tipos de evidências tendem a dar apoio às datas dos rolos do mar Morto. Em primeiro
lugar está o processo do carbono 14, que dá a esses documentos a idade de 1917 anos, com
margem de variação de 200 anos (10%). Isso significa que tais documentos datam de 168
a.C. a 233 d.C. A paleografia (estudo da escrita antiga e de seus materiais) e a ortografia
(redação correta das palavras) marcam a data de alguns desses manuscritos anterior a 100
a.C. A arqueologia trouxe mais algumas evidências paralelas, mediante o estudo da cerâmica
encontrada nas grutas: descobriu-se que era da baixa Era Helenística (150-163 a.C.) e da
alta Era Romana (63 a.C-100 d.C). For fim, as descobertas de Murabba'at corroboraram as
descobertas de Qumran.

Manuscritos do Novo Testamento

A integridade do Antigo Testamento foi confirmada em primeiro lugar pela fidelidade do


processo de transmissão, posteriormente confirmada pelos rolos do mar Morto. Por outro
lado, a fidelidade do texto do Novo Testamento baseia-se na multiplicidade de manuscritos
existentes. É fato que do Antigo Testamento restaram apenas alguns manuscritos completos,
todos muito bons; mas do Novo possuímos muito mais cópias, em geral de qualidade mais
precária. Chama-se manuscrito um documento escrito a mão, em contraste com uma cópia
ou exemplar impresso. Como dissemos no capítulo anterior, o Novo Testamento foi escrito
em letras de imprensa, conhecidas pelo nome de unciais (ou maiúsculas). A partir do século
vi esse estilo caiu em desuso, sendo gradualmente substituído pelos manuscritos chamados
minúsculos. Estes predominaram no período que vai do século IX ao XV.

Outros testemunhos sobre a fidelidade do texto do Novo Testamento procedem de outras


fontes básicas: manuscritos gregos, antigas versões e citações patrísticas. Os manuscritos
gregos são a fonte mais importante, e podem ser divididos em três categorias. Essas
categorias de manuscritos comumente recebem o nome de papiros, unciais e minúsculos, em
vista de suas características diferenciadas.

Os Papiros

Os Unciais

O Códice Vaticano (B

O Códice sinaítico (a, Álefe)

16
O Códice alexandrino (A)

O Códice efraimita (c)

O Códice Beza (D

O Códice claromontano (d2 ou dp2

O Códice washingtoniano(w)

Os minúsculos

As datas dos manuscritos minúsculos (do século IX ao XV) mostram que em geral são de
qualidade inferior, se comparados aos manuscritos em papiros ou unciais. A importância
desses manuscritos está no relevo dispensado às famílias textuais e não à sua quantidade.
Somam 4 643, dos quais 2 646 são manuscritos e 1 997, lecionários (livros antigos que a
igreja usava no culto). Alguns desses manuscritos minúsculos mais importantes estão
identificados abaixo.

Os minúsculos da família alexandrina são representados pelo ms. 33, "rei dos cursivos",
datado do século IX ou X. Contém todo o Novo Testamento, menos o Apocalipse. É
propriedade da Biblioteca Nacional de Paris.

O texto cesareense emprega um tipo que sobreviveu na Família 1, dentre os manuscritos


minúsculos. Essa família contém os manuscritos 1, 118,131 e 209, e todos datam do século
XII até o XIV.

A subfamília italiana do tipo cesareense é representada por cerca de doze manuscritos


conhecidos por Família 13. Tais manuscritos haviam sido copiados entre os séculos XI e XV.
Incluem os manuscritos 13,69,124, 230, 346, 543, 788, 826, 828, 983, 1689 e 1709. Julgava-
se de início que alguns desses manuscritos tinham texto de tipo sírio.

Muitos dos demais manuscritos minúsculos podem ser colocados em uma ou outra das várias
famílias textuais, mas sustentam-se por seus próprios méritos e não por pertencerem a uma
das famílias de manuscritos mencionadas acima. Entretanto, no todo, foram copiados de
manuscritos minúsculos ou manuscritos unciais primitivos, e poucas evidências novas
acrescentam ao Novo Testamento. Proporcionam uma linha contínua de transmissão do texto
bíblico, enquanto os manuscritos de outras obras clássicas apresentam brechas de
novecentos a mil anos entre os autógrafos e suas cópias manuscritas, como se pode ver nos
exemplos das Guerras gálicas, de César, e das Obras, de Tácito. (Geisler e Nix, pags. 135-
145).

17
Capitulo 3- INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA

Definições:

“É A operação divina que influenciou os escritores bíblicos, capacitando-os a


receberem mensagem divina, e que os moveu a transcrevê-la com exatidão, impedindo-os
de cometerem erros e omissões, de modo que ela recebeu autoridade divina e infalível,
garantindo a exata transferência da verdade revelada de Deus para a linguagem humana
inteligível (1° Co. 10:13; 2ª Tm. 3:16: 2ª Pe. 1:20, 21)”.

“Inspiração é o ato de inspirar. A palavra é derivada de duas latinas “in”, e “spiro” que
significam inspirar. Nós encontramos esta palavra em Jó. 32:8 e 2ª Tm. 3:16. A palavra
significa uma influência de fora produzindo ações que estão além de forças naturais. É Deus
respirando. Portanto a palavra é“ Espírito e Vida ”(Jo 6:63, Hb. 4:12)”.

Para nós Inspiração Divina é a influência sobrenatural do Espírito Santo que vinha
como um sopro, sobre os escritores da Bíblia, capacitando-os a receber e transmitir a
mensagem divina sem nenhuma margem de erro.

Todo estudioso da Bíblia sabe que ela reivindica para si a inspiração de Deus, pois, em suas
páginas temos repetidas vezes à expressão “Assim diz o Senhor”. Como um selo da
autenticidade divina, esta frase ocorre mais de 2600 vezes ao longo de seus 66 livros, além
de outras expressões similares. Não há duvidas de que foi o Espírito de Deus quem falou
através dos escritores da Bíblia. (Ez. 11:5, 2° Cr. 20:14, 24-20).

O termo Inspiração se estende a toda a Escritura, e podemos dividir este assunto em classes:
revelação e fatos conhecidos.

Por Revelação se entende a obra de Deus pela qual Ele transmite fatos e verdades
desconhecidos. Os primeiros capítulos de Gênesis são exemplos de história dada por
revelação. Não se pode precisar quanto da Bíblia chegou até nós por revelação de Deus.
(Gn. 40:8, 41:16, Dn. 2:28,Gl. l: 11; Ef. 3:35; 1° Co. 2:10; Ap. 1:1).

Já os Fatos conhecidos podem vir através de observação pessoal; documentos existentes.


Um bom exemplo disto é Lucas, ele foi inspirado a registrar o que presenciou no Livro de
Atos. Veja At. 20:6 e At 27, diversos versículos o emprego de “nós”, isto é, ele estava
presente. Mas no Evangelho que escreveu, ele o fez examinando trabalhos já conhecidos Lc.
1:1-4.

Ao estudarmos a Bíblia devemos ter uma coisa em mente, nem toda a Bíblia foi revelada por
Deus aos escritores, mas, isto não quer dizer que a Bíblia toda não seja inspirada por Deus,

18
pois, toda a Escritura é inspirada por Deus como nos diz o apóstolo Pedro (2° Pe 1:20, 21).
A Bíblia contém revelação de Deus, e ao mesmo tempo ela é inspirada por Deus.

Por Profecia, entendemos que a mesma é a mensagem de Deus através de um profeta. Um


profeta por sua vez era uma pessoa que recebia uma mensagem de Deus e a transmitia ao
povo. Ele tinha uma inspiração vinda direta do próprio Deus, sua palavra quanto profecia, era
infalível, e objetivava instruir o povo de Deus quanto à Sua vontade.

Exigia-se do profeta que o mesmo falasse a mensagem de Deus fielmente,


independentemente das consequências, ou de para quem fosse destinada a profecia (Jr.
1:17, 23:28; Ez. 2:7 Jn. 3:2), quando isto não acontecia, ele pagava o preço pela
desobediência (Is. 6:5).

Quando estudamos a Palavra de Deus com oração e temor, recebemos a Iluminação


Espiritual do texto em que estamos lendo. Isto não tem a ver com inspiração. Iluminação
Espiritual é o discernimento da Palavra de Deus que cada crente pode ter do Espírito Santo.

Autoria Dual:

Com este termo indicamos dois fatos: Autoria Divina e Autoria Humana. Vejamos, portanto:

Do lado divino as Escrituras são a Palavra de Deus no sentido de que se originaram nEle e
são as expressões de Sua mente. Paulo faz menção a esta realidade em 2ª Tm. 3:16, onde
encontramos a referência a Deus: “Toda Escritura é divinamente inspirada”(o termo grego
theopneustos - soprada ou expirada por Deus, a referência aqui é ao escrito).

Do lado humano certo homens foram escolhidos por Deus para a responsabilidade de receber
a Palavra e passá-la para a forma escrita. Já, Pedro em 2ª Pe. 1:21, faz referência aos
homens: “Homens santos de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo”(o termo grego pherô
- movidos ou conduzidos- é uma referência ao escritor).

O Termo “Logos”

Cerca de 200 vezes este termo grego foi utilizado no N.T. referindo-se a Palavra de Deus
Escrita, e as outras 7 vezes referindo-se ao Filho de Deus (Jo 1:1-14; 1ª Jo 1:1; 5:7; Ap 19:13).
Eles são para Deus o que a expressão é para o pensamento, e o que a fala é para a razão,
portanto o Logos de Deus é a expressão de Deus, quer seja na forma escrita ou viva
(Compare Jo. 14:6 com Jo. 17:17). Cristo é a Palavra Viva, é o Logos, ou seja, a fala, a
expressão de Deus.

A Bíblia é a Palavra Escrita, mas também é o Logos de Deus, e da mesma forma como em
Cristo há duas naturezas (divina e humana), da mesma forma na Palavra de Deus estes dois
elementos aparecem unidos sobrenaturalmente.

Provas da Inspiração Divina da Bíblia

Os críticos da inspiração da Bíblia nos acusam de tentar provar a inspiração pela Bíblia e de
provar a verdade da Bíblia pela inspiração, e, assim, de argumentar num círculo interminável
e vazio. Mas em uma coisa todos concordam, o processo parte com base na evidência. Esta,

19
por sua vez, primeiro prova a veracidade ou credibilidade da testemunha, e então aceita o
seu testemunho.

A veracidade das Escrituras é estabelecida de vários modos, e, tendo constatado a sua


veracidade, ou a validade do seu testemunho, bem podemos aceitar o que elas dizem de si
mesmas. As Escrituras afirmam que são inspiradas, ou aceitamos os seus testemunho neste
particular ou rejeitamos em sua totalidade.

A Bíblia Afirma sua Inspiração:

Como veremos a seguir, a Bíblia afirma sua inspiração:

O A.T. afirma sua Inspiração:

(Dt. 4:2,5; 2° Sm. 23:2; Is. 1:10; Jr. 1;2, 9; Ez. 3:1,4; Os. 1:1; Jl.l:1; Am. 1:3;3:1; Ob. l:1; Mq.
1:1).

O N.T. afirma sua Inspiração:

(Mt. 10:19; Jo. 14:26; 15:26,27; Jo. 16:13; At. 2:33; 15:28; lª Ts. 1:5; l° Co. 2:13; 2° Co. 13:3;
2ª Pe. 3:16; lª Ts. 2:13; l° Co. 14:37);

O N.T. afirma a Inspiração do A. T.

(Lc. 1:70; At. 4:25; Hb. 1:1, 2ª Tm. 3:16; 1ª Pe. 1:11; 2ª Pe.1:21).

A Bíblia faz declarações científicas, que foram descobertas posteriormente:

(Jo. 26:7; Sl. 135:7; Ec. 1:7; Is. 40:22).

A Aprovação da Bíblia por Jesus:

a) Jesus leu a Bíblia (Lc 4:16-20);

b) Jesus ensinou a Bíblia (Lc. 24:27);

c) Jesus chamou-a de “A Palavra de Deus”(Mc 7:13);

d) Jesus afirmou que elas eram a verdade (Jo 1 7:1 7);

e) Jesus viveu e procedeu de acordo com ela (Lc 18:31);

f) Jesus declarou que o escritor Davi falou pelo Espírito Santo (Mc 12:35, 36);

g) Jesus derrotou Satanás usando a Bíblia (Dt. 8:3; 6:13, 16);

h) Jesus cumpriu a Bíblia (Lc. 24:44).

O Senhor Jesus aprovou todas as Escrituras do Antigo Testamento, ao referir-se a elas como
“Leis, Salmos e Profetas” que eram as três divisões da Bíblia em sua época.
20
O Testemunho do Espírito Santo dentro do Crente

O papel do Espírito Santo é o de colocar dentro do homem no momento de sua conversão, a


certeza quanto a autoria da Bíblia. É uma coisa automática. Não é preciso ninguém ensinar
isso. É impossível alguém crer em Cristo sem crer em sua Palavra. Quando uma pessoa
aceita a Jesus de fato, aceita também a Bíblia como a Palavra de Deus, sem reservas.

Jesus nos ensina em Jo7:17, como podemos ter dentro de nós o testemunho do Espírito
Santo quanto à autoria divina da Bíblia. Da mesma forma que o Espírito Santo testifica com
o nosso espírito que somos filhos de Deus, também testifica que a Bíblia é a mensagem de
Deus para nós.

O Fiel Cumprimento das Profecias da Bíblia.

Por exemplo:

Sobre Ciro o Persa – Is 44:28; 45:1

Profecias Messiânicas – Gn. 49:10, Is. 7:14; 53; Dn. 9:24-26; Mq. 5:2; Zc. 9:9; Sl. 22.

Profecias sobre Israel – Lv. 26:14, 32,33; Dt. 4:25-27; 28:15, 64; Is. 66:8: Jr. 23:3, 30:3; Ez.
11:17; 36; 37; Is. 60:9, 61:6.

Os quatro últimos impérios mundiais – Dn. Capítulos: 2 e 7.

21
O que Deus disse sucederá – Jr. 1:12 - Glória a Deus.

A Influência da Bíblia nas Pessoas e Nações.

Ao olharmos para a história da humanidade, com seus êxitos e fracassos, e se formos


sinceros, reconheceremos o papel fundamental da Bíblia em cada época, quer na formação
do caráter, quer no cuidado com a saúde, tanto física como espiritual, das pessoas que se
deixaram influenciar por ela. Nenhum outro livro tem poder de influenciar e transformar
beneficamente não só os indivíduos, mas nações inteiras, conduzindo-os a Deus. E não há
um argumento mais convincente a favor da Bíblia do que o caráter que ela forma.

A Bíblia Muda por Completo nosso Modo de Viver.

Se não fosse pela influência da Bíblia em nós, seríamos iguais aos incrédulos. Não há
filosofia, legislação ou sistema educacional que possa mudar o interior do homem. Somente
a Bíblia tem este poder. Apesar de seus ensinamentos serem tão simples, eles têm uma
profundidade tão imensurável que guia homens e nações a uma vida feliz, produtivas e a
certeza de salvação por Cristo.

A Bíblia é Sempre Atual e Inesgotável.

Nenhum outro livro subsistiu a tantas tentativas de destruição. Há mais de dois mil anos, o
ódio do homem pela Bíblia tem sido persistente, determinado, incansável e assassino. Mas
nada, nem ninguém poderá afetar a Bíblia. Ela é o livro mais antigo do mundo e ao mesmo
tempo o mais moderno. A Bíblia é mais atual que o jornal que sairá nas bancas amanhã.
Durante um período de mais de 20 séculos o homem vem tentando em vão, melhorar a Bíblia,
e toda a tentativa tem se mostrado frustrada.

O segredo para tal insucesso está na origem da Bíblia. Sua origem é divina e não humana,
pois, se fosse o contrário ela já estaria desatualizada. A Bíblia jamais se tornará um livro
antigo, apesar de estar cheia de antiguidades. Outro fator que faz da Bíblia um livro fantástico
é a diversidade de sua mensagem, pois, a mesma satisfaz à criança, ao jovem e ao velho.
Pode-se lê-la vezes sem conta, sem nunca perder o interesse e sem nunca sondar suas
profundezas.

A Bíblia se Aplica a cada Povo ou Indivíduo em qualquer Lugar e Tempo.

Todos os livros escritos até aqui, mesmo quando traduzidos para outros idiomas, sempre
estão ligados ao país ou região em que foram escritos, mas isto não acontece com a Bíblia.
Nenhum crente considera a Bíblia um livro estrangeiro, como acontece com os demais livros
traduzidos. O alcance universal da Bíblia é impar, isto se deve ao Fato de que este livro
nasceu do coração de Deus, não para o judeu, mas para cada homem de toda raça, nação e
língua.

A Superioridade da Bíblia em Relação aos demais Livros quanto ao Seu Conteúdo.

Comparando-se a Bíblia com os ensinos do Alcorão, Livro dos Mórmons, os Clássicos de


Confúcio, os escritos de Sócrates, Marco Aurélio dentre outros escritos pagãos, o ensino da
22
Bíblia sobrepuja o desses escritos em todos os pontos imagináveis. A Bíblia contém mais
verdade do que todos eles juntos, e acima de tudo, a Bíblia contém só a verdade.

A Bíblia é Imparcial.

A imparcialidade da Bíblia está intimamente ligada a sua origem. Se ela fosse originada no
homem, ela não poria a descoberto as faltas e falhas dele. Outra questão digna de nota é
que, os homens jamais produziriam um livro como a Bíblia, que dá toda a glória a Deus, ao
mesmo tempo em que mostra a fraqueza do homem (Jó 27; Sl. 50:21, 22; 51:5; 1° Co. 1:19-
25; Jó. 17:1; 14).

A Bíblia tanto fala que Davi era um homem segundo o coração de Deus, como revela seus
pecados de assassinato, adultério, má criação dos filhos. E também o caso da embriaguez
de Noé, da dissimulação de Abraão, o caso de Ló, a idolatria e luxúria de Salomão. Isto tudo
está escrito para que não cobicemos as coisas más e para demonstrar a imparcialidade da
Bíblia.

Capitulo 4- TEORIAS DA INSPIRAÇÃO

Podemos ter revelação sem inspiração (Ap. 10:3, 4), e podemos ter inspiração sem revelação,
como quando os escritores registram o que viram com seus próprios olhos e descobriram
pela pesquisa (1ª Jo. 1:1 -4; Lc. 1:1-4). Aqui nós temos a forma e o resultado da inspiração.

A forma é o método que Deus empregou na inspiração, enquanto que o resultado indica a
conseqüência da inspiração. Portanto, as chamadas teorias da intuição, da iluminação, a
dinâmica e a do ditado, todas descrevem a forma de inspiração, enquanto que a teoria verbal
plenária indica o resultado. Vejamos cada uma destas teorias separadamente:

Falsas Teorias:

1-Teoria da Inspiração Dinâmica

A base desta teoria consiste em afirmar que:

“Deus forneceu a capacidade necessária para a confiável transmissão da verdade que os


escritores das Escrituras receberam ordem de comunicar. Isto os tornou infalíveis em
questões de fé e prática, mas não nas coisas que não são de natureza imediatamente
religiosa, isto é, a inspiração atinge apenas os ensinamentos e preceitos doutrinários, as
verdades desconhecidas dos autores humanos. Esta teoria tem muitas falhas: Elas não
explicam como os escritores bíblicos poderiam mesclar seus conhecimentos sobrenaturais
ao registrarem uma sentença, e serem rebaixados a um nível inferior ao relatarem um fato de
modo natural. Ela não fornece a psicologia daquele estado de espírito que deveria envolver
os escritores bíblicos ao se pronunciarem infalivelmente sobre matérias de doutrina, enquanto
se desviam a respeito dos fatos mais simples da história. Ela não analisa a relação existente
entre as mentes divina e humana, que produz tais resultados. Ela não distingue entre coisas

23
que são essenciais à fé e à prática e aquelas que não são. Erasmo, Grotius, Baxter, Palev,
Doellinger e Strong compartilham desta teoria”.

2- Teoria do Ditado ou Mecânica:

Esta teoria afirma que:

“Os escritores bíblicos foram meros instrumentos (amanuenses), não seres cujas
personalidades foram preservadas. Se Deus tivesse ditado as Escrituras, o seu estilo seria
uniforme. Teria a dicção e o vocabulário do divino Autor, livre das idiossincrasias dos homens
(Rm. 9:1-3; 2ª Pe. 3:15, 16). Na verdade o autor humano recebeu plena liberdade de ação
para a sua autoria, escrevendo com seus próprios sentimentos, estilo e vocabulário, mas
garantiu a exatidão da mensagem suprema com tanta perfeição como se ela tivesse sido
ditada por Deus. Não há nenhuma insinuação de que Deus tenha ditado qualquer mensagem
a um homem além daquela que Moisés transcreveu no monte santo, pois Deus usa e não
anula as suas vontades. Esta teoria, portanto, enfatiza sobremaneira a autoria divina a ponto
de excluir a autoria humana”.

3- Teoria da Inspiração Natural ou Intuição:

A teoria da Inspiração Natural ou Intuição tem como tese a seguinte afirmação: “a inspiração
é simplesmente um discernimento superior das verdades moral e religiosa por parte do
homem natural. Assim como tem havido artistas, músicos e poetas excepcionais, que
produziram obras de arte que nunca foram superadas, também em relação às Escrituras
houve homens excepcionais, com visão espiritual que, por causa de seus dons naturais,
foram capazes de escrever as Escrituras. Esta é a noção mais baixa de inspiração, pois
enfatiza a autoria humana a ponto de excluir a autoria divina. Esta teoria foi defendida pelos
pelagianos eunitarianos”.

4- Teoria da Inspiração Mística ou Iluminação:

Esta teoria afirma que: “inspiração é simplesmente uma intensificação e elevação das
percepções religiosas do crente. Cada crente tem sua iluminação até certo ponto, mas alguns
têm mais do que outros. Se esta teoria fosse verdadeira, qualquer cristão em qualquer tempo,
através da energia divina especial, poderia escrever as Escrituras”. Schleiermacher foi quem
disseminou esta teoria. Para ele inspiração é “um despertamento e excitamento da
consciência religiosa, diferente em grau e não em espécie da inspiração piedosa ou
sentimentos intuitivos dos homens santos”. Lutero, Neander, Tholuck, Cremer, F.W.
Robertson, J.F. Clarke e G.T. Ladd defendiam esta teoria, segundo Strong.

5- Inspiração dos Conceitos e não das Palavras:

Esta teoria pressupõe: “pensamentos à parte das palavras, através da qual Deus teria
transmitido idéias, mas deixou o autor humano livre para expressá-las em sua própria
linguagem. Mas ideias não são transferíveis por nenhum outro modo além das palavras. Esta
teoria ignora a importância das palavras em qualquer mensagem. Muitas passagens bíblicas
dependem de uma das palavras usadas para a sua força e valor. O estudo exegético das
Escrituras nas línguas originais é um estudo de palavras, para que o conceito possa ser
alcançado através das palavras, e não para que palavras sem importância representem um
24
conceito. A Bíblia sempre enfatiza suas palavras e não um simples conceito (I° Co. 2:13: Jo
6:63; 17:8; Ex. 20:1; G1. 3:16)”.

6- Graus de Inspiração:

E por últimos os que defendem a teoria de que há graus de Inspiração, afirmam que: “há
inspiração em três graus. Sugestão, direção, elevação, superintendência, orientação e
revelação direta, são palavras usadas para classificar estes graus. Esta teoria alega que
algumas partes da Bíblia são mais inspiradas do que outras. Embora ela reconheça as ditas
autorias, dá margem à especulação fantasiosa”.

A Verdadeira Doutrina da Inspiração

Inspiração Verbal Plenária:

A teoria correta da inspiração da Bíblia é chamada Teoria da Inspiração Plenária ou Verbal.


Ela ensina que todas as partes da Bíblia são igualmente inspiradas; que os escritores não
funcionaram como máquinas inconscientes, que houve cooperação contínua entre eles e o
Espírito Santo que os capacitava. Afirma que homens santos escreveram a Bíblia com
palavras dos seus vocabulários, porém sob uma influencia tão poderosa do Espírito Santo,
que o que eles escreveram foi a Palavra de Deus. Ela é o poder inexplicado do Espírito Santo
agindo sobre os escritores das Sagradas Escrituras, para orientá-los (conduzi-los) na
transcrição do registro bíblico, quer seja através de observações pessoais, fontes orais ou
verbais, ou através de revelação divina direta, preservando-os de erros e omissões,
abrangendo as palavras em gênero, número, tempo, modo e voz, preservando, desse modo,
a inerrância das Escrituras, e dando a ela autoridade divina. Jesus Cristo reconheceu a
inspiração verbal plenária quando declarou que nem um til (a menor letra do alfabeto
hebraico) seria omitido da lei (Mt. 5:18 e Lc. 16:17).

Tentar explicar como Deus agiu no homem, não é uma tarefa fácil. Explicar como funciona
no ser humanos os entrosamentos do espírito com o corpo é um mistério de difícil explicação
até para os mais sábios, pensemos como seria explicar o entrosamento do Espírito de Deus
com o espírito do homem.

A única coisa da qual sabemos é, que quando aceitamos a Jesus como Salvador, aceitamos
também a Palavra Escrita como a revelação de Deus. Aceitam-se a Ele, aceitamos também
a sua Palavra. A inspiração plenária cessou ao ser escrito o último livro do Novo Testamento.
Depois disto, nem os mesmos escritores, nem qualquer outro servo de Deus pode ser
chamado inspirado no mesmo sentido.

Capitulo 5 – AUTENTICIDADE DA BÍBLIA

Autoridade, Credibilidade, Infalibilidade, Genuinidade, Animação e Preservação da


Bíblia.

25
Autoridade da Bíblia

A autoridade da bíblia está intimamente ligada à capacidade de influenciar, o prestígio e acima


de tudo sua credibilidade. Isto confere a Bíblia um poder sobrenatural. Esta autoridade está
vinculada a sua inspiração, canonicidade e credibilidade, sem as quais a autoridade da Bíblia
não se estabeleceria. Sendo assim, por ser inspirado, determinado trecho bíblico possui
autoridade; por ser canônico, determinado livro bíblico possui autoridade, e por ter
credibilidade, determinadas informações bíblicas possuem autoridade, sejam históricas,
geográficas ou científicas.

É digno de nota que, nem tudo aquilo que é inspirado é autorizado, pois a autoridade de um
livro trata de sua procedência, de sua autoria, e, portanto, de sua veracidade. Deus é o Autor
da Bíblia, e como tal ela possui autoridade, mas nem tudo que está registrado na Bíblia
procedeu da boca de Deus: o que Satanás disse para Eva foi registrado por inspiração, mas
não é a verdade (Gn. 3:4, 5); o conselho que Pedro deu a Cristo (Mt. 16:22); as acusações
que Elifaz fez contra Jó (Jó 22:5-11), etc.

Nenhuma dessas declarações representam o pensamento de Deus ou procedem dEle


(procedem apenas por inspiração), e por isso não têm autoridade. Outra forma de um texto
perder sua autoridade é quando o retiramos de seu contexto, e lhe atribuímos um significado
totalmente diferente daquele que tem quando inserido no contexto. As palavras continuam
sendo inspiradas, porém o novo significado não tem autoridade.

Credibilidade/Veracidade

A credibilidade de um livro está em relatar veridicamente os assuntos como aconteceram ou


como eles são: e na concordância de seu texto atual com o escrito original. Assim sendo,
credibilidade inclui tanto as idéias de veracidade de registro como a pureza do texto. Está
relacionada tanto ao conteúdo do livro (original), como com a pureza do texto atual (cópia ou
tradução).

Credibilidade do A.T.

A credibilidade do A.T. é estabelecida por vários fatores:

Autenticado por Jesus Cristo: A forma como Cristo recebeu o A.T. é a principal prova de
sua autenticidade. Cristo o recebeu como relato verídico. Ele ratificou grande número de
ensinamentos do A.T., como, por exemplo:

A criação do universo por Deus (Mc. 3:19), a criação do homem (Mt. 19:4, 5), a existência de
Satanás (Jo. 8:44), o dilúvio (Lc. 17:26, 27), a destruição de Sodoma e Gomorra (Lc. 17:28-
30) a revelação de Deus a Moisés na sarça (Mc. 12:26), a dádiva do maná (Jo. 6-32), a
experiência de Jonas dentro do grande peixe (Mt. 12:39, 40).

Como Jesus era Deus manifesto em carne, Ele conhecia os fatos, e não podia se acomodar
a idéias errôneas, e, ao mesmo tempo ser honesto. Seu testemunho deve, portanto, ser aceito
como verdadeiro ou Ele deve ser rejeitado como Mestre religioso.

Prova Histórica, Arqueológica e de Integridade:

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a- Histórica: A exatidão das descrições Bíblicas como as temos, são endossadas pelas
provas fornecidas pela história. Sabe-se que Salmanezer IV sitiou a cidade de Samaria, mas
o rei da Assíria, que sabemos ter sido Sargom II, carregou o povo para a Assíria (2° Rs. 17:3-
6). A história mostra que ele reinou de 722-705 a.C. Ele é mencionado pelo nome apenas
uma vez na Bíblia (Is. 20:1).

b- Arqueológica: Assim como as provas históricas são de suma importância para provar a
credibilidade do Antigo Testamento, as provas arqueológicas não são menos importante.

“Através da arqueologia, a batalha dos reis registrada em Gn. 14, não pode mais ser posta
em dúvida, já que as inscrições no Vale do Eufrates mostram indiscutivelmente que os quatro
reis mencionados na Bíblia como tendo participado desta expedição não são, como era dito
displicentemente, ‘invenções etnológicas’, mas sim personagens históricos reais. Anrafel é
identificado como o Hamurábi cujo maravilhoso código de leis foi tão recentemente
descoberto por De Morgan em Susa”. (Geo. F. Wright, O Testemunho dos Monumentos a
Verdade das Escrituras).

“As tábuas Nuzi esclarecem a ação de Sara e Raquel ao darem suas servas aos seus
maridos” (Jack Finegan, Ligth from the Ancient Past - Luz de um Passado Antigo).

“Os hieróglifos egípcios indicam que a escrita já era conhecida mais de 1.000 anos antes de
Abraão” (James Orr, The Problem of the Old Testament - O Problema do Velho Testamento).

“A arqueologia também confirma o fato de Israel ter vivido no Egito, como escravo, e ter sido
liberto” (Melvin G. Kyle, The Deciding Voice ofthe Monuments - A Voz Decisória dos
Monumentos).

“A data bíblica para o êxodo foi confirmada recentemente pelas pesquisas de John Garstang.
Ele dá a data como 1447 a.C.” “Jonh Garstang (Os Fundamentos da História Bíblica: Josué
e Juízes)”.

Poderíamos citar muitas outras provas da veracidade dos relatos das Escrituras, mas cremos
que os acima citados são suficientes para despertar aos desavisados e descrentes. Quanto
àquelas que não temos ainda confirmação, cremos que tela-e-mos a qualquer momento.

c- Prova da Integridade das Escrituras.

Podemos dividir em cinco as provas da Integridade das Escrituras, como se segue:

Integridade Topográfica e Geográfica;

Integridade Etnológica ou Racial;

Integridade Cronológica;

Integridade Histórica;

Integridade Canônica.

Integridade Topográfica e Geográfica:

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As descobertas arqueológicas provam que os Povos, línguas, lugares e os eventos
mencionados nas Escrituras são encontrados justamente onde as Escrituras os localizam, no
local exato e sob as circunstâncias geográficas exatas descritas na Bíblia.

Integridade Etnológica ou Racial:

Todas as afirmações bíblicas sobre raças têm sido demonstradas como corretas com os fatos
etnológicos revelados pela arqueologia.

Integridade Cronológica:

A identificação bíblica de povos, lugares e acontecimentos com o período de sua ocorrência


é corroborada pela cronologia Síria e pelos fatos revelados pela arqueologia.

Integridade Histórica:

O registro dos nomes e títulos das leis está em harmonia perfeita com os registros seculares,
conforme demonstrado por descobertas arqueológicas.

Integridade Canônica:

A aceitação pela igreja em toda a era cristã dos livros incluídos nas Escrituras que hoje
possuímos representa o endosso de sua integridade.

Credibilidade do N.T.

A credibilidade do N.T. é estabelecida por quatro fatos:

Competência de seus escritores;

Honestidade de seus escritores;

Harmonia dos escritos;

Concordância com a História e Arqueologia.

Competência de seus Escritores:

Eram possuidores das qualificações necessárias para dar testemunho e ensinar as verdades
divinas, isto, através do poder do Espírito Santo. Escreveram não somente guiados pela
memória, apresentações de testemunho oral e escrito e discernimento espiritual, mas como
escritores qualificados pelo Espírito Santo.

Honestidade de seus Escritores:

“O tom moral de seus escritos, sua preocupação com a verdade, e a circunstância de seus
registros indicam que não eram enganadores intencionais, mais sim homens honestos”.O
testemunho destes homens colocou em risco seus interesses materiais, posição social, além
é claro de suas próprias vidas. Porque razões inventariam uma estória que condena a
hipocrisia e é contrária a suas crenças herdadas, pagando com suas próprias vidas? A única

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resposta possível a esta pergunta é que eles eram pessoas comprometidas com a moral e a
honestidade de seus escritos, pois, uma testemunha falsa jamais agiria assim em defesa de
seus ensinamentos.

Harmonia dos Escritos:

Uma prova da harmonia do Novo Testamento são os Evangelhos sinóticos, eles não se
contradizem, mas suplementam um ao Outro. Os detalhes a mais do Evangelho de João
encaixam nos primeiros em um todo harmonioso. Dez das epístolas de Paulo encontram seus
antecedentes históricos no 1ivro de Atos. De maneira que, os vinte e sete livros do N.T.
apresentam um quadro harmonioso de Jesus Cristo e Sua obra.

Concordância com a História e Arqueologia

a- Histórica:“Há muitas referências à história contemporânea do N. T. tais como:


recenseamento quando Quirino era Governador da Síria (Lc. 2:2), os atos de Herodes o
Grande (Mt. 2:16-18), de Herodes Antipas (Mt. 14:1-12), de Agripa 1 (At. 12:1), de Gálio (At.
18:12-17), de Agripa II (At. 25.13-26-32) etc; mas até agora ninguém conseguiu mostrar que
o relato Bíblico é contradito por um único fato derivado de outras fontes dignas de confiança”.

b- Arqueológica: Quanto às descobertas arqueológicas, as mesmas confirmam a veracidade


do N.T. “Quirino (Lc. 2:2) foi Governador da Síria duas vezes (16-12 e 6-4 a.C.), sendo que
Lucas se refere ao segundo período. Lisânias, o Tetrarca é mencionado em uma inscrição no
local de Abilene na época a que Lucas se refere. Uma inscrição em Listra registra a dedicação
da estátua Zeus (Júpiter) e Hermes (Mercúrio), o que mostra que esses deuses eram
colocados no mesmo nível, no culto local, conforme descrito em At. 14:12. Uma inscrição de
Pafos faz referência ao Procônsul Paulo, identificado como Sérgio Paulo (At. 13:7)”.

Infalibilidade/Inerrância das Escrituras

Por infalibilidade entendemos que a verdade é transmitida em palavras que, entendidas no


sentido em que foram empregadas, ou seja, no sentido que realmente se destinavam a ter,
não expressam erro algum. A garantia da inerrância da Bíblia é a sua inspiração. Inerrância
não significa necessariamente que os escritores eram semideuses, que não tinham faltas em
suas vidas, mas que os mesmos foram preservados de erros nos seus ensinos. É
perfeitamente aceitável que eles pudessem ter concepções errôneas acerca de muitas
coisas, mas não as ensinaram, por exemplo: quanto a terra, as estrelas, as leis naturais, a
geografia, a vida política e social etc.

A infalibilidade não nega a flexibilidade da linguagem enquanto veículo de comunicação. É


muitas vezes difícil transmitir com exatidão um pensamento por causa desta flexibilidade de
linguagem ou por causa de possível variação no sentido das palavras. Deus é a fonte de onde
emanou a Bíblia. Sendo assim, Ele jamais nos daria um livro de instrução religiosa repleto de
erros.

É difícil pensar que um Deus Santo adicionaria o seu nome a algo que não fosse a expressão
exata da verdade

Autenticidade/Genuinidade das Escrituras


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Dizemos que um livro é genuíno ou autêntico quando ele é escrito pela pessoa ou pessoas
cujo nome ele leva, ou, se anônimo, pela pessoa ou pessoas a quem a tradição antiga o
atribui, ou, se não for atribuído a algum autor ou autores específicos, à época que a tradição
lhe atribui.

“As Homilias de Clementinas são atribuídas a Clemente de Roma, mas a crítica é


praticamente unânime em afirmar que não foram escritas por Clemente. A Revelação de
Paulo é inscrita ao “Santo Apóstolo Paulo”, mas sabemos que é espúria ou forjada. O
Evangelho de Tomé diz ter sido de autoria do Apóstolo Tomé, mas não é genuína. O Credo
Apostólico não é genuíno porque não foi composto pelos apóstolos. As Viagens de Gulliver é
genuíno, tendo sido escrito por Dean Swift, embora seus relatos sejam fictícios. Atos de Paulo
não é genuíno, pois foi escrito por um sacerdote contemporâneo de Tertuliano. Desse modo
a autenticidade relaciona-se ao autor e a época do livro, e todos os livros da Bíblia possuem
autenticidade comprovada pela tradição histórica e pela arqueologia (Gl. 6:11; Cl. 4:18)”.

a- Genuinidade dos Livros do A.T.

As descobertas arqueológicas, a tradição judaica, o Novo Testamento e acima de tudo o


testemunho do próprio Jesus são provas contundentes da genuinidade dos livros do A.T.

b- Genuinidade dos Livros do N.T.

A história, a arqueologia, a tradição oral, o testemunho dos pais da igreja, e sua harmonia
com os escritos do Antigo Testamento, provam a genuinidade dos escritos do N.T.

Cânon e Canonicidade

Canonicidade é a regra pela qual cada livro deve ser provado antes de ser admitido como
uma parte das Escrituras Sagradas. Quando falamos de canonicidade das Escrituras, nos
referimos aos “padrões” determinados e fixos, nos quais os livros incluídos são considerados
partes integrantes de uma revelação completa e divina, a qual, portanto, é autorizada e
obrigatória em relação a fé e a prática.

O Cânon Sagrado é o nome dado aqueles livros, genuínos, autênticos e inspirados que
tomados juntos formam as Escrituras Sagradas.

Significado do nome:

A palavra kanon vem do grego, e deriva da palavra em hebraico kaneh cujo significado é
junco ou vara de medir (Ap. 21:15); daí tomou o sentido de norma, padrão ou regra (Gl. 6:16;
Fp 3:16), significando uma decisão autorizada de um concílio da Igreja.

Seu significado em relação às Escrituras, são aqueles livros que foram medidos, e foram
declarados satisfatórios e aprovados como sendo inspirados por Deus, sendo admitido como
uma parte das Escrituras Sagradas.

Provas da canonicidade:

Quatro provas eram aplicadas para provar se um livro era canônico ou não, são elas:
Autoria Divina; Autoria Humana; Genuinidade e Veracidade.

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a- Autoria Divina:

Sua fonte de inspiração veio de Deus? Veio do homem ou de Deus através do Espírito Santo?

b- Autoria Humana:

Seu escritor era um profeta ou um arauto de Deus? Foi editado ou endossado por um porta-
voz de Deus?

c- Genuinidade:

É autêntico? Há prova histórica quanto à autoria, origem e data? Ou se o escritor não pode
ser nomeado positivamente, pode-o mostrar que contém o mesmo assunto, como continha
quando foi escrito?

d- Veracidade.

É verídico? Registra fatos reais?

A Necessidade do Cânon das Escrituras.

O cânon das Escrituras é necessário para que o povo tenha uma revelação completa de Deus,
para que hoje tivéssemos a Palavra de Deus escrita, para que os manuscritos possam ser
preservados da destruição e corrupção e para que possamos saber quais livros são realmente
inspirados.

A Formação do Cânon do Antigo Testamento.

A forma do cânon do Antigo Testamento deu-se num espaço de cerca de 1046 anos. Teve
início com Moisés por volta do ano 1451 a.C. (Nm. 33:2, Jo. 5:46-47). Outros escritores
sequenciaram a escrita da Bíblia: Josué em 1445 a.C. escreveu uma obra e a colocou perante
o Senhor (Js. 24:26); Samuel (1095 a.C.) escreveu colocando seus escritos perante o Senhor
(1º Sm. 10:25), isto é, na arca do concerto com os demais livros sagrados (Ex. 25; 21; Hb.
9:4); Isaías (770 a.C.) fala do Livro do Senhor (Is. 34:16) e “Palavras do livro” (Is. 29:18); Em
726 a.C. os salmos já eram cantados (2º Cr. 29:30); Jeremias, chamado para o ministério em
626 a.C. registrou a revelação divina num livro que foi queimado em 607 a.C. Deus o mandou
preparar um novo rolo, o que foi feito (Jr. 36:1, 2, 28, 32; 45:1). No tempo do rei Josias (621
a.C.) Hilquias achou o “Livro da Lei” (2º Rs. 22:8-10); Daniel (553 a.C.) refere-se aos livros
(Dn 9:2); Zacarias declara que os profetas que o antecederam falaram da parte do Espírito
Santo (Zc. 7:12); Neemias (445 a.C.) achou os livros das genealogias dos judeus que haviam
voltado do exílio (Ne. 7:5).

Certamente havia outros livros; Nos dias de Ester, o Livro estava sendo escrito (Et. 9:32);
Esdras, foi hábil escriba e leu o livro do Senhor para os judeus já estabelecidos na Palestina,
de regresso do cativeiro babilônico (Ne. 8:1-5). Sob a presidência de Esdras, a Grande
Sinagoga selecionou e preservou os rolos sagrados, determinando desta maneira o cânon
das Escrituras do Antigo Testamento; Encontramos profeta citando profeta donde se infere
31
haver mensagem escrita, por exemplo, Mq. 4:1-3 com Is. 2:2-4. N. Filo, escritor de Alexandria
(30 a.C. a 50 d.C.) possuía todo o cânon do Antigo Testamento. Em seus escritos ele cita
quase todo o Antigo Testamento. O Josefo, o historiador judeu (37-100 d.C.), da mesma
época de Paulo, fala em seus escritos a respeito dos livros aceitos como divinos, relatando
que desde os dias de Artaxerxes ninguém se aventurou a acrescentar, tirar ou alterar uma
única sílaba; Os escritores do Novo Testamento reconhecem como canônicos os livros do
Antigo Testamento, pois este é citado cerca de 300 vezes direta ou indiretamente. O Novo
Testamento refere-se ao Antigo Testamento como sendo oráculos divinos (Rm. 3:2; Hb 5:12;
2ª Tm. 3:16); Em 90 d.C. em Jâmnia, perto da moderna Jafa, na Palestina, os rabinos num
concílio sob a presidência de Johanan Ben Kazai, reconheceram e fixaram o cânon do Antigo
Testamento, ratificando aquilo que já era aceito por todos os judeus através dos séculos.

Existem outros livros mencionados na Bíblia, que se julga que estejam desaparecidos, são
eles: Livro das Guerras do Senhor (Nm. 21:14), Livro dos Justos (Is. 10:13 com 2º Sm. 1:18);
Livro da história de Salomão (lº Rs. 11:4); história do rei Davi (1º Cr. 27:24); Crônicas de
Samuel, Natã e Gade (lº Cr. 29:29); Livros, profecias de Natã, Aías e Ido (2º Cr. 9:29); Livro
de Semaías e registro das genealogias (2º Cr. 12:15, ver também 13:22, 26:22, 33:19).

A formação do Cânon do Novo Testamento:

A formação do cânon do N. T. levou apenas 100 anos, e parece ter sido formado sozinho.
Nenhum concílio discutiu este assunto, e não houve interferência da autoridade da igreja na
sua constituição. O fato da não interferência é notável, pois é uma forte evidência da sua
genuinidade. Não dependeram de qualquer autoridade adventícia, mas sim de seu próprio
peso, que foi mais que suficiente para colocar por terra todos os seus opositores. Pedro
chama as cartas de Paulo de “Escrituras” 2ª Pe. 3:15, 16. Em 1ª Tm. 5:18 Paulo cita Mt. 10:10
e Lc. 10:7 (ver também 1º Co 9:14). Paulo chama os evangelhos de Escritura.

Os livros do Novo Testamento só foram reconhecidos e aceitos como canônicos no III Concílio
de Cartago, no ano 397 d.C. Há muitas evidências históricas da veracidade dos livros do Novo
Testamento. Os manuscritos e referências a eles chegam a centenas oriundos do primeiro
século, conservados em museus.

Como o A.T., o N.T., também faz referência a outros livros que não constam de seu cânon.
Com base nas passagens seguintes, inferimos que haja outros livros: 1º Co. 5:9; Cl. 4:16; At.
20:35.

Provas do Cânon do Novo Testamento:

A Canonização de um livro da Bíblia não significa que a nação judaica ou a igreja tenha dado
a esse livro a sua autoridade canônica; antes significa que sua autoridade, já tendo sido
estabelecida em outras bases suficientes, foi consequentemente reconhecida como
pertencente ao cânon e assim declarado pela nação judaica e pela igreja cristã. Pelo menos
por cinco provas um livro tinha que passar parar constar no cânon do Novo Testamento:
Apostolicidade; Universalidade; Conteúdo; Inspiração e Leitura em Público

a- Apostolicidade:

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Foi o livro escrito por um dos apóstolos ou, senão, tinha o autor do livro um relacionamento
tal com um apóstolo de modo a elevar seu livro ao nível dos livros apostólicos? (imprimatur
apostólico).

b- Universalidade:

Se a autenticidade apostólica era difícil de demonstrar, o critério de uso e circulação do livro


na comunidade cristã universal era considerado para sua aferição canônica. A pergunta era:
era o livro recebido universalmente na igreja? O livro deveria ser aceito universalmente pela
igreja para dela receber o seu imprimatur. Este teste foi o que mais ajudou a eliminar os livros
apócrifos e pseudoepigráficos.

c- Conteúdo do Livro:

Era o conteúdo de um determinado livro de tal natureza espiritual que lhe fosse conferido o
direito a esta categoria? O livro deveria possuir qualidades espirituais, e qualquer ficção que
nele fosse encontrada tornava o escrito inaceitável.

d- Leitura em Público:

O livro possui características para ser lido em público? Nenhum livro seria admitido para
leitura pública na igreja se não possuísse características próprias. Muitos livros eram bons e
agradáveis para leitura particular, mas não podiam ser lidos e comentados publicamente,
como se fazia com a lei e os profetas na sinagoga. É a esta leitura que Paulo exorta Timóteo
a praticar (1ª Tm. 4:13).

e- Inspiração:

Mostrava o livro evidência de ter sido divinamente inspirado? Este era o teste final. Tudo tinha
que cair diante dele. O livro deveria possuir evidências de inspiração.

Sobre a questão da canonicidade dos livros do N.T., é digno de nota que, já no final do
segundo século, todos os livros, com exceção de sete (Hebreus, 2ª e 3ª João, 2ª Pedro,
Judas, Tiago e Apocalipse) os chamados “antilegomena”, eram reconhecidos como
apostólicos, e no final do quarto século, todos os vinte sete livros de nosso cânon atual haviam
sido reconhecidos por todas as igrejas do ocidente, e no oriente a partir do ano 500 d.C.,
apesar de ainda hoje haver indivíduos ou grupos menores que tem questionado o direito de
alguns livros estarem incluídos no cânon do Novo Testamento.

Animação

Quando falamos de animação nos referimos ao poder inerente da Palavra de Deus para
transmitir vitalidade ou vida ao ser humano. Poder este, que não se encontra em nenhum
outro livro. Estes atributos no A.T. encontram-se representados em dois Salmos: Salmo 19,
onde lemos no verso 7: “a lei do Senhor é perfeita, e restaura a alma...” e no versículo 8 diz
que “os preceitos do Senhor são retos, e alegram o coração...” E no Salmo 119, encontramos
outros sete, são eles: verdadeira (v 86); iluminada (v 96); reta (v 128); admirável (v 129);
puríssima (v 140); eterna (v 160); e justa (v 172). Já no N. T., a Palavra de Deus é apresentada
como: a verdade (Jo. 17. 17); útil (2ª Tm. 3:16); viva e eficaz (Hb. 4.12).

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A Palavra de Deus é o agente pelo qual a fé é gerada. Só algo que tem vida pode transmitir
vida, e isto faz da Bíblia um livro diferente dos demais, pois Ela sendo a Palavra de Deus é
viva: “A Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que espada alguma de dois
gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito e das juntas e medulas, e é apta para
discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12).

a- A Palavra de Deus é Viva:

Isto é evidenciado no poder que somente a Palavra de Deus tem de influenciar tanto os salvos
como os não salvos. E o elemento da vida aqui declarado é muito mais do que aquilo que
agora tem autoridade, em contraste com o que já se tornou letra morta; é mais do que alguma
coisa que fornece nutrição. “Mas as Escrituras são vivas porque é o hálito (espírito) do Deus
Vivo (Jo. 6:63: Jó. 33:4). Assim tanto a Palavra Escrita (Logos) como a Palavra Falada (rêma)
são possuidoras de vida. Não há diferença essencial entre elas, pois são apenas duas formas
diferentes dela existir”.A mesma ideia do escritor aos Hebreus, encontramos em 1ª Pedro,
onde lemos que a Palavra de Deus vive e permanece para sempre (1ª Pe. 1.23).

b- A Palavra de Deus é Eficaz:

A palavra grega usada neste trecho é energês de onde temos a palavra energia. Trata-se da
energia que a vida fornece. Por isso a Palavra de Deus e comparada a uma poderosa espada
de dois gumes com poder para cortar, penetrar e discernir. Quando o Espírito Santo empunha
a Sua espada (Ef. 6:17) uma energia é liberada dela para animar e realizar o seu propósito
(Is. 55:10, 11). E com este poder inerente a Palavra de Deus que o Espírito Santo convence
os contradizentes (Jo. 16:8; 1º Co. 2:4) porque a Palavra de Deus é como uma dinamite com
poder (dínamos, Rm. 1:16) para salvar e destruir (2º Co. 10:4, 5; 2º Co. 2:14, 17; 1ª Jo. 2:14;
Jr. 23:24).

Quando falamos da eficácia da Palavra de Deus nos referimos ao seu poder regenerador,
santificador e edificante, sendo assim a Palavra de Deus: é eficaz na regeneração: (Jo. 3:5;
Ef. 5:26; 1ª Pe. 1:23; Tt. 3:5; Jo.15:3; Ez. 36:25-27; Jo.6:63; Tg. 1:18, 21; 1º Co. 4:15; Rm.
1:16); é eficaz na santificação: (Jo. 17:17; Ef. 5:26; Ez 36:25, 27; 2ª Pe. 1:4; Sl. 37:31; 119:11;
At. 15:9 e 26:18; Rm. 10:17); e é eficaz na edificação: (1ª Pe. 2:2; At. 20:32; 2ª Pe. 3:18).

Preservação

Com base na Aliança de Deus, de que a sua Palavra permanecerá para sempre, temos a
garantia da permanência da Palavra Escrita (Sl. 119:89, 152; Mt. 24:35; 1ª Pe. 1:23; Jo.
10:35). Jesus disse que: “Os céus e a terra passarão(Hb. 12:26, 27; 2ª Pe. 3:10),mas a
Palavra de Deus permanecerá(Mt. 24:35; Hb. 12:28; Is. 40:8; 2ª Pe. 1:19)”.

A preservação das Escrituras, como o cuidado divino para a sua criação e formação do cânon,
não foi acidental, nem incidental, mas sim o cumprimento de uma promessa divina. A Bíblia
é eterna, ela permanece porque nenhuma Palavra que Jeová tenha dito pode ser removida
ou abalada; nem uma vírgula ou um ponto do testemunho divino pode passar até que seja
cumprido. “Quando pensamos no fato da Bíblia ter sido objeto especial de infindável
perseguição, a maravilha da sua sobrevivência se transforma em milagre... Por dois mil anos,
o ódio do homem pela Bíblia tem sido persistentes, determinados, incansáveis e assassinos.

34
Todo esforço possível tem sido frito para corroer em fé na inspiração e autoridade da Bíblia,
e inúmeras operações têm sido levadas a efeito para fazê-las desaparecer”.

Decretos imperiais têm sido passados ordenando que todas as cópias existentes da Bíblia
fossem destruídas, e quando essa medida não conseguiu exterminar e aniquilar a Palavra de
Deus, ordens foram dadas para que qualquer pessoa que fosse encontrada com uma cópia
das Escrituras fosse morta

Foi predito que a Bíblia permanecerá para sempre, e se ela permanece até hoje é porque o
próprio Deus tem se empenhado em preservá-la. O compromisso de Deus em preservar sua
Palavra se refere somente a sua Palavra inspirada, ou seja, aquilo que deve ser considerado
como revelação de Deus (1º Cr. 29:29; 2º Cr. 9:29; 12:15; l3: 22; 20:34; 2º Cr. 24:27; 26:22;
33:19). A Bíblia é eterna pelos seus próprios méritos. Nenhuma vírgula ou um ponto do
testemunho divino pode passar até que seja cumprido. Aleluia!

Capitulo 6- OS LIVROS APÓCRIFOS

O Termo “apócrifos”

Na realidade, os sentidos da palavra ‘apocrypha’ refletem o problema que se manifesta nas


duas concepções de sua canonicidade. No grego clássico, a palavra apocrypha significava
“oculto” ou “difícil de entender”. Posteriormente, tomou o sentido de “esotérico” ou algo que
só os iniciados podem entender; não os de fora. Na época de Irineu e de Jerônimo (séculos
III e IV), o termo apocrypha veio a ser aplicado aos livros não-canônicos do Antigo
Testamento, mesmo aos que foram classificados previamente como “pseudepígrafos”. Desde
a era da Reforma, essa palavra tem sido usada para denotar os escritos judaicos não-
canônicos originários do período intertestamentário. A questão diante de nós é a seguinte:
verificar se os livros eram escondidos a fim de serem preservados, porque sua mensagem
era profunda e espiritual ou porque eram espúrios e de confiabilidade duvidosa.

Natureza e Número dos Apócrifos do Antigo Testamento

O significado figurado é regra ou critérios que comprovam a autenticidade e inspiração dos


livros bíblicos; lista dos Escritos Sagrados; sinônimo de Escrituras como regra de fé e ação
investida de autoridade divina.

Outros significados: credo formulado (a doutrina da Igreja em Geral); regras eclesiásticas


(lista ou série de procedimentos).

Canônico– Aquilo que está de acordo com o cânon.

Pseudepígrafho – Literalmente significa “escritos falsos”. Os apócrifos não são


necessariamente escritos falsos, mas sim não canônicos, embora também contenham
ensinos errados ou hereges.

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Diferenças básicas entre as bíblias Hebraica, Protestante e Católica

1. Bíblia Hebraica

a) Contém somente os 39 livros do Antigo Testamento.

b) Rejeita os 27 livros do N. T. como inspirados, assim como rejeitou a Cristo.

c) Não aceita os livros apócrifos incluídos na Vulgata (versão Católico-Romana).

2. Bíblia Protestante

a) Aceita os 39 livros do A.T. e também os 27 do N.T.

b) Rejeita os livros apócrifos incluídos na Vulgata, considerados não canônicos.

3. Bíblia Católica

a) Contém os 39 livros do A.T. e os 27 do N.T.

b) Inclui na versão Vulgata os livros apócrifos, ou não canônicos, que são: 3Esdras, 4Esdras,
Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1º e 2º de Macabeus, seis capítulos e dez
versículos acrescentados no livro de Ester e dois capítulos em Daniel. A seguir a lista dos
livros apócrifos que se encontravam na Septuaginta:

3Esdras (O livro canônico Esdras aparece como 1Esdras; Neemias aparece como 2Esdras)

4Esdras

Tobias

Judite

Adições a Ester (10:4 a 16:22)

Sabedoria de Salomão

Eclesiástico

Baruque (contém a Carta de Jeremias)

Acréscimos a Daniel (Oração de Azarias; Canto das Três Jovens; Susana; Bel e o Dragão

Oração de Manassés, II Cr 33:11-13

1Macabeus

2Macabeus

Como os apócrifos foram aprovados

A Igreja Romana aprovou os apócrifos em 8 de Abril de 1546, como meio de combater a


Reforma Protestante. Nessa época os protestantes combatiam violentamente as doutrinas

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romanistas do purgatório, oração pelos mortos, salvação pelas obras, etc. Os romanistas viam
nos apócrifos base para tais doutrinas, e apelaram, para eles aprovando-os como canônicos.

Houve prós e contras dentro da própria igreja católica, durante o concílio e também depois.
Nesse tempo os jesuítas exerciam muita influência no clero. Os debates sobre os apócrifos
motivaram ataques dos dominicanos contra os franciscanos. O biblista católico John L.
Mackenzie em seu “Dicionário Bíblico”, sob o verbete cânone, comenta que no Concílio de
Trento houve várias “controvérsias notadamente candentes” sobre a aprovação dos
apócrifos.

Mas o cardeal Pallavacini, em sua “História Eclesiástica”, declara mais nitidamente que, em
pleno Concílio, 40 bispos dos 49 presentes travaram luta corporal, agarrado às barbas e
batinas uns dos outros. Foi nesse ambiente “ESPIRITUAL” que os apócrifos foram aprovados.
A primeira edição da Bíblia católico-romana com os apócrifos deu-se em 1592, com
autorização do papa Clemente VIII.

Os reformadores protestantes publicaram a Bíblia com os apócrifos, colocando-os entre o


Antigo e Novo Testamentos, não como livros inspirados, mas bons para a leitura e de valor
literário histórico. Isto continuou até 1629. A famosa versão inglesa King James (Versão do
Rei Tiago) de 1611 ainda os trouxe. Porém, após 1629, as igrejas reformadas excluíram
totalmente os apócrifos das suas edições da Bíblia, e “induziram a Sociedade Bíblica Britânica
e Estrangeira, sob pressão do puritanismo escocês, a declarar que não editaria Bíblias que
tivessem os apócrifos, e de não colaborar com outras sociedades que incluíssem esses livros
em suas edições.” Melhor assim, tendo em vista, evitar confusão entre o povo simples, que
nem sempre sabe discernir entre um livro canônico e um apócrifo e também pelo fato do que
aconteceu com a Vulgata! “Melhor editá-los separadamente”.

Razões porque os protestantes rejeitam os Apócrifos

Há várias razões porque os protestantes rejeitam os Apócrifos. Eis algumas delas:

1. Porque com o livro de Malaquias o Cânon bíblico havia sido encerrado.

Depois de aproximadamente 435 a.C. não houve mais acréscimos ao cânon do Antigo
Testamento. A história do povo judeu foi registrada em outros escritos, tais como os livros dos
Macabeus, mas eles não foram considerados dignos de inclusão na coleção das palavras de
Deus que vinham dos anos anteriores.

Quando nos voltamos para a literatura judaica, fora do Antigo Testamento, percebemos que
a crença de que haviam cessado as palavras divinamente autorizadas da parte de Deus é
atestada de modo claro em várias vertentes da literatura extrabíblica.

• 1º Macabeus (cerca de 100 a.C.): O autor escreve sobre o altar: “Demoliram-no, pois, e
depuseram as pedras sobre o monte da Morada conveniente, à espera de que viesse algum
profeta e se pronunciasse a respeito” (1Mac. 4.45-46).

Aparentemente, eles não conheciam ninguém que poderia falar com a autoridade de Deus
como os profetas do Antigo Testamento haviam feito. A lembrança de um profeta credenciado
no meio do povo pertencia ao passado distante, pois o autor podia falar de um grande
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sofrimento “qual não tinha havido desde o dia em que não mais aparecera um profeta no meio
deles” (1Mac. 9.27; 14.41).

• Josefo explicou: “Desde Artaxerxes até os nossos dias foi escrita uma história completa,
mas não foi julgada digna de crédito igual ao dos registros mais antigos, devido à falta de
sucessão exata dos profetas” (Contra Apião 1:41). Essa declaração do maior historiador judeu
do primeiro século cristão mostra que os escritos que agora fazem parte dos “apócrifos”, mas
que ele (e muitos dos seus contemporâneos) não os consideravam “digno de créditos igual”
ao das obras agora conhecidas por nós como Escrituras do Antigo Testamento. Segundo o
ponto de vista de Josefo, nenhuma “palavra de Deus” foi acrescentada às Escrituras após
cerca de 435 a.C.

• A literatura rabínica reflete convicção semelhante em sua frequente declaração de que o


Espírito Santo (em sua função de inspirador de profecias) havia se afastado de Israel: “Após
a morte dos últimos profetas, Ageu, Zacarias e Malaquias, o Espírito Santo afastou-se de
Israel, mas eles ainda se beneficiavam do bath qôl” (Talmude Babilônico, Yomah 9b repetido
em Sota 48b, Sanhedrín 11 a, e Midrash Rabbah sobre o Cântico dos Cânticos, 8.9.3).

• A Comunidade de Qumran (seita judaica que nos legou os Manuscritos do Mar Morto)
também esperava um profeta cujas palavras teriam autoridade para substituir qualquer
regulamento existente e outras declarações semelhantes são encontradas em outros trechos
da literatura judaica antiga (veja 2Baruc 85.3, Oração de Azarias 15). Assim, escritos
posteriores a cerca de 435 a.C. em geral não eram aceitos pelo povo judeu como obras
dotadas de autoridade igual a do restante das Escrituras.

• O Novo Testamento: não temos nenhum registro de alguma controvérsia entre Jesus e os
judeus sobre a extensão do cânon. Ao que parece, Jesus e seus discípulos de um lado, e os
lideres judeus ou o povo judeu de outro, estavam plenamente de acordo em que acréscimos
ao cânon do Antigo Testamento tinham cessado após os dias de Esdras, Neemias, Ester,
Ageu, Zacarias e Malaquias. Esse fato é confirmado pelas citações do Antigo Testamento
feitas por Jesus e pelos autores do Novo Testamento.

Segundo uma contagem, Jesus e os autores do Novo Testamento citam mais de 295 vezes
várias partes das Escrituras do Antigo Testamento como palavras autorizadas por Deus, mas
nem uma vez sequer citam alguma declaração extraída dos livros apócrifos ou qualquer outro
escrito como se tivessem autoridade divina. A ausência completa de referência à outra
literatura como palavra autorizada por Deus e as referências muito frequentes a centenas de
passagens no Antigo Testamento, como dotadas de autoridade divina, confirmam com grande
força o hiato de que os autores do Novo Testamento concordavam em que o cânon
estabelecido do Antigo Testamento, nada mais nada menos, devia ser aceito como a
verdadeira palavra de Deus.

2. Porque a inclusão dos apócrifos foi acidental.

Esta tradução, que se conhece com o nome de Septuaginta ou Versão dos Setenta (por terem
sido 70, em número redondo, seus tradutores), foi aceita pelo Sinédrio judaico de Alexandria;
mas, não havendo tanto zelo ali como na Palestina, e devido às tendências helenistas
contemporâneas, os tradutores alexandrinos fizeram adições e alterações e, finalmente, sete
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dos Livros Apócrifos foram acrescentados ao texto grego, como Apêndice do Velho
Testamento. Os estudiosos acham que foram unidos à Bíblia por serem guardados
juntamente com os rolos de livros canônicos, e quando foram iniciados os Códices, isto é, a
escrituração da Bíblia inteira em um só volume, alguns escribas copiaram certos rolos
apócrifos juntamente com os rolos canônicos.

Todos estes livros, com exceção de Judite, Eclesiástico, Baruque e 1Macabeus estavam
escritos em grego, e a maioria deles foi escrita muitíssimos anos depois do profeta Malaquias,
o último dos profetas da dispensação antiga, escrever o livro que leva o seu nome. O que se
pode concluir daí é que, quando a Septuaginta era copiada, alguns livros não canônicos para
os judeus eram também copiados. Isso também poderia ter ocorrido por ignorância quanto
aos livros verdadeiramente canônicos. Pessoas não afeiçoadas ao judaísmo ou mesmo
desinteressadas em distinguir livros canônicos dos não canônicos tinham por igual valor todos
os livros, fossem eles originalmente recebidos como sagrados pelos judeus ou não. Mesmo
aqueles que não tinham os demais livros judaicos como canônicos certamente também
copiavam estes livros, não por considerá-los sagrados, mas apenas para serem lidos. Por
que não copiar livros tão antigos e interessantes? Estes livros, entretanto, têm a importância
de refletir o estado do povo judeu e o caráter de sua vida intelectual e religiosa durante as
várias épocas que representam, particularmente, a do período chamado intertestamentário
(entre Malaquias e João Batista, de 400 anos); é, talvez, por estas razões, que os tradutores
os juntaram ao texto grego da Bíblia, mas os judeus da Palestina nunca os aceitaram no
cânon de seus livros sagrados.

3. Temos testemunhas contra os apócrifos.

Traremos agora o depoimento de várias personagens históricas que depõe contra a lista
canônica “Alexandrina”, como consta na Septuaginta, na Vulgata e em todas as versões das
Bíblias católicas existentes. Pelo peso de autoridade que representam esses vultos, são
provas mais do que suficientes e esmagadoras contra a inclusão dos Apócrifos no cânon
bíblico. Vejamos:

Josefo: A referência mais antiga ao cânon hebraico é do historiador judeu Josefo (37-95
a.C.). Em Contra Apion ele escreve: “Não temos dezenas de milhares de livros, em
desarmonia e conflitos, mas só vinte e dois, contendo o registro de toda a história, os quais,
conforme se crê, com justiça, são divinos”. Depois de referir-se aos cinco livros de Moisés,
aos treze livros dos profetas, e aos demais escritos (os quais “incluem hinos a Deus e
conselhos pelos quais os homens podem pautar suas vidas”), ele continua afirmando: “Desde
Artaxerxes (sucessor de Xerxes) até nossos dias, tudo tem sido registrado, mas não tem sido
considerado digno de tanto crédito quanto aquilo que precedeu a esta época, visto que a
sucessão dos profetas cessou. Mas a fé que depositamos em nossos próprios escritos é
percebida através de nossa conduta; pois, apesar de ter-se passado tanto tempo, ninguém
jamais ousou acrescentar coisa alguma a eles, nem tirar deles coisa alguma, nem alterar
neles qualquer coisa que seja”.

Josefo é suficientemente claro. Como historiador judeu, ele é fonte fidedigna. Eram apenas
vinte e dois os livros do cânon hebraico agrupados nas três divisões do cânon massorético.
E desde a época de Malaquias (Artaxerxes, 464-424) até a sua época nada se lhe havia sido

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acrescentado. Outros livros foram escritos, mas não eram considerados canônicos, com a
autoridade divina dos vinte e dois livros mencionados.

Orígenes: No terceiro século d.C., Orígenes (que morreu em 254) deixou um catálogo de
vinte e dois livros do Antigo Testamento que foi preservado na História Eclesiástica de
Eusébio, VI: 25. Inclui a mesma lista do cânone de vinte e dois livros de Josefo (e do Texto
Massorético) inclusive Ester, mas nenhum dos apócrifos é declarado canônico, e se diz
explicitamente que os livros de Macabeus estão “fora desses [livros canônicos]”.

Tertuliano: Aproximadamente contemporâneo de Orígenes era Tertuliano. (160-250) o


primeiro dos País Latinos cujas obras ainda existem. Declara que os livros canônicos são
vinte e quatro.

Hilário: Hilário de Poitiers (305-366) os menciona como sendo vinte e dois.

Atanásio: De modo semelhante, em 367 d.C, o grande líder da igreja, Atanásio, bispo de
Alexandria, escreveu sua Carta Pascal e listou todos os livros do nosso atual cânon do Novo
Testamento e do Antigo Testamento, exceto Ester. Mencionou também alguns livros dos
apócrifos, tais como a Sabedoria de Salomão, a Sabedoria de Sirac, Judite e Tobias, e disse
que esses “não são na realidade incluídos no cânon, mas indicados pelos Pais para serem
lidos por aqueles que recentemente se uniram a nós e que desejam instrução na palavra de
bondade”.

Jerônimo: (340-420) propugnou, no Prologus Galeatus. A citação pertinente de Prologus


Galeatus é a seguinte: “Este prólogo, como vanguarda (principium) com capacete das
Escrituras, pode ser aplicado a todos os Livros que traduzimos do Hebraico para o Latim, de
tal maneira que possamos saber que tudo quanto é separado destes deve ser colocado entre
os Apócrifos. Portanto, a sabedoria comumente chamada de Salomão, o livro de Jesus, filho
de Siraque, e Judite e Tobias e o Pastor (supõe-se que seja o Pastor de Hermas), não fazem
parte do cânon. Descobri o Primeiro Livro de Macabeus em Hebraico; o Segundo foi escrito
em Grego, conforme testifica sua própria linguagem”.

Jerônimo, no seu prefácio aos Livros de Salomão, menciona ter descoberto Eclesiástico em
Hebraico, mas declara em sua convicção que a Sabedoria de Salomão teria sido
originalmente composta em Grego e não em Hebraico, por demonstrar uma eloquência
tipicamente helenística.

Melito: A mais antiga lista cristã dos livros do Antigo Testamento que existe hoje é a de Melito,
bispo de Sardes, que escreveu em cerca de 170 d.C. “Quando cheguei ao Oriente e encontrei-
me no lugar em que essas coisas foram proclamadas e feitas, e conheci com precisão os
livros do Antigo Testamento, avaliei os fatos e os enviei a ti. São estes os seus nomes: cinco
livros de Moisés, Gênesis, Êxodo, Números, Levítico, Deuteronômio; Josué, filho de Num;
Juízes; Rute; quatro livros dos Reis; os dois livros de Crônicas; os Salmos de Davi; os
Provérbios de Salomão e sua Sabedoria; Eclesiastes; o Cântico dos Cânticos; Jó, os profetas
Isaías e Jeremias; os Doze num único livro; Daniel; Ezequiel; Esdras”.

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É digno de nota que Melito não menciona aqui nenhum livro dos apócrifos, mas inclui todos
os nossos atuais livros do Antigo Testamento, exceto Ester. Mas as autoridades católicas
passam por cima de todos esses testemunhos para manter, em sua teimosia, os Apócrifos!

4- Porque os apócrifos contêm várias heresias

Uma das grandes razões, talvez a principal delas, porque nós evangélicos rejeitamos os
Apócrifos, é devido à grande quantidade de heresias que tais livros apresentam. Fora isso,
existem também lendas absurdas e fictícias e graves erros históricos e geográficos, o que
fazem os Apócrifos serem desqualificados como palavra de Deus. A seguir daremos um
resumo de cada livro e logo a seguir mostraremos seus graves erros.

TOBIAS (200 a.C.) – É uma história novelística sobre a bondade de Tobiel (pai de Tobias) e
alguns milagres preparados pelo anjo Rafael. Apresenta:

• justificação pelas obras – 4:7-11; 12:8;

• mediação dos Santos -12:12;

• superstições – 6:5,7-9,19;

• um anjo engana Tobias e o ensina a mentir 5:16 a 19.

JUDITE (150 a.C.) - E a história de uma heroína viúva e formosa que salva sua cidade
enganando um general inimigo e decapitando-o. Grande heresia é a própria história onde os
fins justificam os meios.

BARUQUE (100 a.D.) – Apresenta-se como sendo escrito por Baruque, o cronista do profeta
Jeremias, numa exortação aos judeus quando da destruição de Jerusalém. Porém, é de data
muito posterior, quando da segunda destruição de Jerusalém, no pós-Cristo. Traz, entre
outras coisas, a intercessão pelos mortos em 3:4.

ECLESIÁSTICO (180 a.C.) – É muito semelhante ao livro de Provérbios, não fossem as


tantas heresias:

• justificação pelas obras – 3:33,34;

• trato cruel aos escravos – 33:26 e 30; 42:1 e 5;

• incentiva o ódio aos Samaritanos – 50:27 e 28.

SABEDORIA DE SALOMÃO (40 a.D.) – Livro escrito com finalidade exclusiva de lutar contra
a incredulidade e idolatria do epicurismo (filosofia grega na era Cristã). Apresenta:

• o corpo como prisão da alma – 9:15;

• doutrina estranha sobre a origem e o destino da alma 8:19 e 20;

• salvação pela sabedoria – 9:19.

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1MACABEUS (100 a.C.) – Descreve a história de três irmãos da família “Macabeus”, que no
chamado período interbíblico (400 a.C. 3 a.D) lutam contra inimigos dos judeus visando a
preservação do seu povo e terra.

2MACABEUS (100 a.C.) – Não é a continuação do 1Macabeus, mas um relato paralelo, cheio
de lendas e prodígios de Judas Macabeu. Apresenta:

• a oração pelos mortos – 12:44 – 46;

• culto e missa pelos mortos -12:43;

• o próprio autor não se julga inspirado -15:38-40; 2:25-27;

• intercessão pelos Santos – 7:28 e 15:14.

ADIÇÕES A DANIEL:

Capítulo 13 “A História de Suzana” – segundo esta lenda Daniel salva Suzana num
julgamento fictício baseado em falsos testemunhos.

Capítulo 14 – Bel e o Dragão – Contém histórias sobre a necessidade da idolatria.

Capítulo 3:24-90 – o cântico dos três jovens na fornalha.

Lendas, erros e heresias

1. Histórias fictícias, lendárias e absurdas:

Tobias 6.1-4 – “Partiu, pois, Tobias, e o cão o seguiu, e parou na primeira pousada junto ao
rio Tigre. E saiu a lavar os pés, e eis que saiu da água um peixe monstruoso para o devorar.
A sua vista, Tobias, espavorido, clamou em alta voz, dizendo: Senhor, ele lançou-se a mim.
E o anjo disse disse-lhe: Pega-lhe pelas guelras, e puxa-o para ti. Tendo assim feito, puxou-
o para terra, e o começou a palpitar a seus pés”.

2. Erros Históricos e Geográficos:

Os Apócrifos solapam a doutrina da inerrância das Escrituras, porque esses livros incluem
erros históricos e de outra natureza. Assim, se os Apócrifos são considerados parte das
Escrituras, isso identifica erros na Palavra de Deus. Esses livros contêm erros históricos,
geográficos e cronológicos, além de doutrinas obviamente heréticas; eles até aconselham
atos imorais (Judite 9.10,13). Os erros dos Apócrifos são frequentemente apontados em obras
de autoridade reconhecida.

Por exemplo: O erudito bíblico D.L. René Paehe comenta: “Exceto no caso de determinada
informação histórica interessante (especialmente em 1Macabeus) e alguns belos
pensamentos morais (por exemplo Sabedoria de Salomão), Tobias contém certos erros
históricos e geográficos, tais como a suposição de que Senaqueribe era filho de Salmaneser
(1.15) em vez de Sargão II, e que Nínive foi tomada por Nabucodonosor e por Assuero (14.15)
em vez de Nabopolassar e por Ciaxares. Judite não pode ser histórico, porque contém erros
evidentes. Em 2Macabeus há também numerosas desordens e discrepâncias em assuntos
cronológicos, históricos e numéricos, os quais refletem ignorância ou confusão”.
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3. Ensinam Artes Mágicas ou de Feitiçaria como método de exorcismo

a) Tobias 6.5-9 – “Então disse o anjo: Tira as entranhas a esse peixe, e guarda, porque estas
coisas te serão úteis. Feito isto, assou Tobias parte de sua carne, e levaram-na consigo para
o caminho; salgaram o resto, para que lhes bastassem até chegassem a Ragés, cidade dos
Medos. Então Tobias perguntou ao anjo e disse-lhe: Irmão Azarias, suplico-lhe que me digas
de que remédio servirão estas partes do peixe, que tu me mandaste guardar: E o anjo,
respondendo, disse-lhe: Se tu puseres um pedacinho do seu coração sobre brasas acesas ,
o seu fumo afugenta toda a casta de demônios, tanto do homem como da mulher, de sorte
que não tornam mais a chegar a eles. E o fel é bom para untar os olhos que têm algumas
névoas, e sararão”.

b) Este ensino que o coração de um peixe tem o poder para expulsar toda espécie de
demônios contradiz tudo o que a Bíblia diz sobre como enfrentar o demônio.

c) Deus jamais iria mandar um anjo seu, ensinar a como usar os métodos da macumba e da
bruxaria para expulsar demônios.

d) Satanás não pode ser expelido pelos métodos enganosos da feitiçaria e bruxaria, e de fato
ele não tem interesse nenhum em expelir demônios (Mt. 12.26).

e) Um dos sinais apostólicos era a expulsão de demônios, e a únicas coisas que tiveram de
usar foi o nome de Jesus (Mc. 16.17; At. 16.18).

4. Ensinam que Esmolas e Boas Obras limpam os pecados e salvam a alma.

a) Tobias 12.8, 9 – “É boa a oração acompanhada do jejum, dar esmola vale mais do que
juntar tesouros de ouro; porque a esmola livra da morte (eterna), e é a que apaga os pecados,
e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna”.

b) Eclesiástico 3.33 – “A água apaga o fogo ardente, e a esmola resiste aos pecados”.

c) Este é o primeiro ensino de Satanás, o mais terrível, e se encontrar basicamente em todas


as seitas heréticas.

d) A salvação pelas obras destrói todo o valor da obra vicária de Cristo em favor do pecador.
Se caridade e boas obras limpam nossos pecados, nós não precisamos do sangue de Cristo.

Porém, a Bíblia não deixa dúvidas quanto o valor exclusivo do Seu sangue como um único
meio de remissão e perdão de pecados:

• Hb. 9.11,12,22 – “Mas Cristo… por seu próprio sangue, entrou uma vez por todas no santo
lugar, havendo obtido uma eterna redenção …sem derramamento de sangue não há
remissão”.

• 1Pe. 1.18,19 – “sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes
resgatados da vossa vã maneira de viver, que por tradição recebestes dos vossos pais, mas
com precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo”.

e) Contradiz Bíblia toda. Ela declara que somente pela graça de Deus e o sangue de Cristo o
homem pode alcançar justificação e completa redenção:
43
• Romanos 3.20, 24 e 29 – “Ninguém será justificado diante dele pelas obras da lei, sendo
justificados gratuitamente por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus. A
quem Deus propôs no seu sangue... Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé,
independentemente das obras da lei”.

5. Ensinam o Perdão dos pecados através das orações

a) Eclesiástico 3.4 – “O que ama a Deus implorará o perdão dos seus pecados, e se absterá
de tornar a cair neles, e será ouvido na sua oração de todos os dias”.

b) O perdão dos pecados não está baseado na oração que se faz pedindo o perdão, não é fé
na oração, e sim fé naquele que perdoa o pecado, a oração por si só, é uma boa obra que a
ninguém pode salvar. Somente a oração de confissão e arrependimento baseadas na fé e no
sacrifício vicário de Cristo traz o perdão (Pv. 28.13; IJo. 1.9; IJo. 2.1,2).

6. Ensinam a Oração Pelos Mortos

a) 2Macabeus 12:43-46 – “e tendo feito uma coleta, mandou 12 mil dracmas de prata a
Jerusalém, para serem oferecidas em sacrifícios pelos pecados dos mortos, sentindo bem e
religiosamente a ressurreição (porque, se ele não esperasse que os que tinham sido mortos,
haviam um dia de ressuscitar, teria por uma coisa supérflua e vã orar pelos defuntos); e
porque ele considerava que aos que tinham falecido na piedade estava reservada uma
grandíssima misericórdia. É, pois, um santo e salutar pensamento orar pelos mortos, para
que sejam livres dos seus pecados”. É neste texto falso, de um livro não canônico, que
contradiz toda a Bíblia, que a Igreja Católica Romana baseia sua falta e herege doutrina do
purgatório.

b) Este é novamente um ensino satânico para desviar o homem da redenção exclusiva pelo
sangue de Cristo, e não por orações que livram as almas do fogo de um lugar inventado pela
mente doentia e apóstata dos teólogos católicos romanos.

c) Após a morte o destino de todos os homens é selado, uns para perdição eterna e outros
para a Salvação eterna – não existe meio de mudar o destinos de alguém após a sua morte.
Veja Mt. 7:13,13; Lc. 16.26.

7. Ensinam a Existência de um Lugar Chamado PURGATÓRIO

a) Este é o ensino herético e satânico inventado pela Igreja Católica Romana, de que o
homem, mesmo morrendo perdido, pode ter uma segunda chance de Salvação: Sabedoria
3.1-4 “As almas dos justos estão na mão de Deus, e não os tocará o tormento da morte.
Pareceu aos olhos dos insensatos que morriam; e a sua saída deste mundo foi considerada
como uma aflição, e a sua separação de nós como um extermínio; mas eles estão em paz
(no céu). E, se eles sofreram tormentos diante dos homens, a sua esperança está cheia de
imortalidade”.

b) A Igreja Católica baseia a doutrina do purgatório na ultima parte deste texto, onde diz: “E,
se eles sofreram tormentos diante dos homens, a sua esperança está cheia de imortalidade”.
Eles ensinam que o tormento, em que o justo está, é o purgatório que o purifica para entrar
na imortalidade. Isto é uma deturpação do próprio texto do livro apócrifo. De modo que a igreja
44
Católica é capaz de qualquer desonestidade textual, para manter suas heresias, até porque,
ganha muito dinheiro com as indulgências e missas rezadas pelos mortos.

c) Leia atentamente os seguinte textos das Escrituras, que mostram a impossibilidade do


purgatório: IJo. 1.7; Hb. 9.22; Lc. 23.40-43; 16.19-31; ICo. 15.55-58; ITs. 4.12-17; Ap. 14.13;
Ec. 12.7; Fp. 1.23; SI. 49.7-8; 2Tm. 2.11-13; At. 10.43.

8. Nos Livros Apócrifos Os Anjos Mentem

a) Tobias 5.15-19 – “E o anjo disse-lhe: Eu o conduzirei e to reconduzirei. Tobias respondeu:


Peço-te que me digas de que família e de tribo és tu? O anjo Rafael disse-lhe: Procuras saber
a família do mercenário, ou o mesmo mercenário que vá com teu filho? Mas para que te não
ponhas em cuidados, eu sou Azarias, filho do grande Ananias. E Tobias respondeu-lhe: Tu
és de uma ilustre família. Mas peço-te que te não ofendas por eu desejar conhecer a tua
geração.

b) Um anjo de Deus não poderia mentir sobre a sua identidade, sem violar a própria lei santa
de Deus. Todos os anjos de Deus foram verdadeiros quando lhes foi perguntado a sua
identidade. Veja Lc. 1.19.

9. Mulher que Jejuava Todos os Dias de Sua Vida

a) Judite 8:5,6 – “e no andar superior de sua casa tinha feito para si um quarto retirado, no
qual se conservava recolhida com as suas criadas, e, trazendo um cilício sobre os seus rins,
jejuava todos os dias de sua vida, exceto nos sábados, e nas neomênias, e nas festas da
casa de Israel”. Este texto legendário tem sido usado pelos católicos romanos relacionado
com a canonização dos “santos” de idolatria. Em nenhuma parte da Bíblia jejuar todos os dias
da vida é sinal de santidade. Cristo jejuou 40 dias e 40 noites e depois não jejuou mais.

b) O livro de Judite é claramente uma produção humana, uma lenda inspirada pelo Diabo,
para escravizar os homens aos ensinos da igreja Católica Romana.

10. Ensinam Atitudes Anticristãs, como Vingança, Crueldade e Egoísmo

a) Vingança – Judite 9:2. Contraria Rm. 12.17-19.

b) Crueldade e Egoísmo – Eclesiástico 12:6. Contraria Pv. 25.21,22; Mt. 6.44-48; Jo 6.5 e
Rm. 12.20.

c) A igreja Católica tenta defender a IMACULADA CONCEIÇÃO baseando em uma


deturpação dos apócrifos (Sabedoria 8.9,20) que contradiz SI. 51.5; Lc. 1.30-35; Rm. 3.23.

Diante de tudo isso, perguntamos: Merecem confiança os livros Apócrifos? A resposta obvia
é NÃO. (informações do site CACP- Centro Apologético Cristão de Pesquisas).

45
Capítulo 8- TRADUÇÕES DA BÍBLIA

Era preciso a tradução da Bíblia para dar cumprimento às palavras do Senhor Jesus após
ressuscitar: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" (Mc 16.15). Ora, o
mundo está dividido em nações, tribos e povos, cada qual com suas línguas. Hoje, quando
vemos as Escrituras traduzidas em centenas de línguas, sabemos que aquele que
comissionou os discípulos para tão grande obra, proveria também os meios para a sua
realização.

a. Versões semíticas.

1) O Pentateuco Samaritano.

2) Os Targuns.

b. Versões gregas.

1) A Septuaginta.

1ª O texto hebraico

2ª O texto grego traduzido do hebraico

3ª A versão de Áquila

4ª A versão de Símaco

5ª A Septuaginta

6ª A versão de Teodocião

c. Versões siríacas.

1) A Peshita.

2) A versão Filoxênia.

d. Versões latinas.

1) A Antiga Versão Latina.

2) A ítala.

3) A Revisão de Jerônimo

4) A Vulgata.

e. Outras versões orientais. Entre estas podemos mencionar:

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1) As versões egípcias ou cópticas. São 3 as de primeira ordem. Foram feitas até o ano
500 d.C.

2) A Etíope, feita em 330, abrangendo ambos os Testamentos, com base na LXX.

3) A Gótica, feita em 350, de ambos os Testamentos também, com base na LXX.

4) A Armênia, feita no Século V. Base: os LXX.

5) A Georgina, feita no Século V. Preparada por meio de cópias da versão Armênia.

6) A Eslavônica, feita no Século IX. Base: os LXX. É ainda hoje usada pelos eslavos orientais
e meridionais. Ambos os Testamentos. Foi preparada por dois irmãos missionários
tessalonicenses à Bulgária e Morávia: Cirilo e Metódio.

Além destas versões orientais, há ainda as versões árabes, mas, de pouca importância para
a crítica textual.

f. Versões européias.

Das versões européias, vamos destacar apenas três, devido à sua importância, que
são:

1) Versões inglesas

As quatro principais versões recentes inglesas são:

a) A Versão Autorizada ou Versão do Rei Tiago

b) A Versão Revisada.

c) A Versão Revisada Americana (American Standard Version).

d) A Versão Padrão Revisada (Revised Standard Version).

2) Versão alemã.

3) Versões em português.

Agora vejamos as traduções completas.

a) A Versão de Almeida.

João Ferreira d'Almeida foi ministro do Evangelho da Igreja Reformada Holandesa, em


Batávia, então capital da ilha de Java, na Oceania. (Batávia é agora a moderna Djakarta,
capital da Indonésia) Java era então domínio holandês, conquistada aos portugueses.
Almeida traduziu primeiro o Novo Testamento, terminando-o em 1670; em 1681 foi ele
impresso em Amsterdam, Holanda, isto é, 100 anos antes da primeira edição católica da
Bíblia - a de Figueiredo, 1781! Almeida traduziu o Antigo Testamento até Ezequiel 48.21,
quando então faleceu em 1691. Missionários seus amigos completaram a
tradução,especialmente Jacob Opden Akker. Almeida fez sua tradução do grego e hebraico,
línguas que estudou após abraçar o Evangelho. Utilizou também as versões holandesa (de

47
1637) e a espanhola (de Valera, 1602). Seu Antigo Testamento foi publicado em 1753, em
Amsterdam. A Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira começou a publicar o texto de
Almeida em 1809, publicando a Bíblia completa pela primeira vez, em 1819. O texto de
Almeida não era muito bom por ele ter deixado Portugal muito cedo e não ter cultura profunda.

O texto de Almeida foi revisado em 1894 e 1925. Em 1951, a Imprensa Bíblica Brasileira
(organização batista independente) publicou a "Edição Revista e Corrigida", abreviadamente
ARC.

Uma comissão de especialistas brasileiros trabalhando de 1945 a 1955 apresentou a "Edição


Revista e Atualizada" de Almeida (ARA). É uma obra magnífica com linguagem qualificada e
de melhor tradução. O NT foi publicado em 1951 e o AT em 1958. A publicação é da
Sociedade Bíblica do Brasil. A comissão revisora compôs-se de 30 elementos dos mais
abalizados de várias denominações. Foram membros, figuras como Sinésio Lira, A.C.
Gonçalves, Crabtree, R.G. Bratcher, W. C. Taylor. Foi usado o texto grego de Nestle para o
NT, e o hebraico de Letteris, para o AT. Fez-se o melhor possível. Há uma comissão
permanente de revisão acompanhando os progressos da crítica textual.

Alguns dados pessoais de Almeida. Nasceu em Torre de Tavares, em Portugal, em

1628. Emigrou para a Holanda, e daí seguiu para Java, achando-se aí em 1641. Converteu-
se na Igreja Reformada Holandesa em 1642 por meio de um folheto que tratava sobre a
“Diferença da Cristandade entre a Igreja Reformada e a Igreja Romana". Casou-se em 1651
com a filha de um pastor. Foi ordenado ao santo ministério em 16 de outubro de 1656.
Aprendeu grego e hebraico e começou a traduzir o Novo Testamento, tendo como base o
"Textus Receptus" dos irmãos Elzevirs, segunda edição de 1633. Faleceu em 6 de agosto de
1691. A Igreja Católica, através do tribunal da Inquisição, queimou-o em estátua, em Gôa,
antiga possessão portuguesa na índia. A Igreja Romana, nem mesmo agora, no chamado
Ecumenismo, se desculpou de tais coisas...

b) A Versão de Figueiredo.

c) A Tradução Brasileira.

d) A Versão de Rhoden.

e) A Versão de Matos Soares.

Alguns outros informes sobre a Bíblia em português.

• A Bíblia foi impressa a primeira vez no Brasil, em 1944, pela Imprensa Bíblica Brasileira.

• Entre as Bíblias mais populares do mundo está a em português. As outras são: a Vulgata,
a de Lutero, e a Versão Autorizada (inglesa).

• Há no Brasil três entidades evangélicas publicadoras e distribuidoras de Bíblias. A primeira


é a Imprensa Bíblica Brasileira fundada em 1940. A segunda é a Sociedade Bíblica do Brasil
fundada em 10-06-1948, resultante da fusão das agências da SBA e SBBE que funcionavam
no Brasil. A terceira é a Sociedade Bíblica Trinitariana, com sede em São Paulo.

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• A primeira agência distribuidora de Bíblias no Brasil foi a da SBBE, em 1856; a segunda foi
a da SBA, em 1876, ambas na cidade do Rio de Janeiro. Antes disso, vinham Bíblias para o
Brasil através de comandantes de navios, que as entregavam a casas comerciais para
revenda. A mais antiga Sociedade Bíblica do mundo é a SBBE fundada em 1804; a segunda
é a SBA, fundada em 1816.

• Na distribuição de Bíblias em todo o mundo, o Brasil ocupa o segundo lugar!

Algumas peculiaridades das traduções:

1) As palavras em itálico. Não constam do original. Foram introduzidas na tradução para


completar o sentido do texto. Em português, a única versão protestante com itálicos é a ARC.

2) O uso da margem. Muitas Bíblias tem na sua margem em determinados trechos, a


tradução literal do hebraico ou do grego. Às vezes, tem uma tradução diferente quando o caso
é duvidoso. São muito úteis essas notas marginais.

3) Datas impressas no texto. Muitas Bíblias antigas, em português, bem como noutras
línguas, trazem datas impressas no texto. São datas da chamada "Cronologia Aceita"
elaborada pelo arcebispo Ussher (anglicano) e inseridas pela primeira vez no texto bíblico em
1701. Depois de Ussher, surgiram outras cronologias como a de Calmet, Hales, etc. As
investigações modernas e descobertas arqueológicas têm alterado em muitos pontos a
cronologia tradicional. A cronologia é terreno movediço, especialmente quanto aos primeiros
milênios da História.

4) O sumário dos capítulos. São preparados pelos editores, e nada tem com a inspiração e
o texto original. As exceções são algumas frases introdutórias de certos salmos, como o 4, 5,
6, 7, 8, 9, 22, 32, 45, 46, 53, 56, 69, 75, etc. Tais sumários nem sempre correspondem aos
capítulos aos quais se referem. Há casos até negativos, como a parábola dos "Dez
Talentos", quando não são dez; a "Parábola do Rico e Lázaro", quando não se trata de
parábola, e assim por diante.

5) A divisão do texto bíblico em capítulos e versículos. Não vem do original. A primeira


Bíblia que trouxe essa divisão foi a Vulgata, em 1555. Em muitos casos, a divisão tanto em
capítulos como em versículos, quebra o sentido, biparte o texto e altera toda a linha do
pensamento. Exemplo de capítulos: Isaías 53, que devia começar em 52.13; João capítulo 8,
devia começar em 7.53; 2 Rs 7 devia começar em 2 Rs 6.24; o capítulo 3 de Colossenses
devia terminar 4.1; o capítulo 10 de Mateus devia começar em 9.35; Atos 5 devia começarem
4.36, etc.

Com a divisão em versículos, acontece a mesma coisa, por exemplo: Efésios 1.5 devia
começar com as duas últimas palavras de 1.4; 1 Coríntios 2.9,10 devia ser um só versículo;
o mesmo devia ocorrer com Jo 5.39,40. Na Epístola aos Romanos, bem como em Efésios,
há diversos casos desses. Também a divisão em versículos não é a mesma em todas as
versões; por exemplo Daniel 3.24-30 da ARC, corresponde a 3.91-97 em Matos Soares;
Lucas 20.30 na ARC, corresponde a Lucas 20.30,31 na "Tradução Brasileira". Marcos 9.49
deve ficar ligado ao versículo 48, e não como está na ARA, tendo a epígrafe entre os dois
versículos. (Gilberto, Antonio, paginas 83-95).

49
Considerações finais

O significado da Bíblia deve-se a sua importância. Ela fala a todas as gerações e


esta verdade só é possível pelo fato de ela ser a Palavra de Deus, eterna e imutável.

A bíblia é um livro singular em todos os aspectos. É o único livro do mundo que


sempre é lido na presença de Seu Autor. É o Livro dos livros. A revelação maior. O guia do
cristão. É a Palavra de Deus, viva e eficaz. Portanto, sigamos o conselho de Deus para Josué:
“Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas
cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o
teu caminho, e serás bem-sucedido.” (Js 1:8).

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Bibliografia Consultada e Citada

Geisler, Norman & Nix, Wilhiam. Introdução bíblica; como a Bíblia chegou até
nós. São Paulo: Vida, 1997.

Miller, Stephen M. & Huber, Robert V. A Bíblia e sua história; o surgimento e o


impacto da Bíblia. Sociedade Bíblica do Brasil, 2006.

Gilberto, Antonio. A Bíblia através dos séculos; A história e formação do Livro


dos livros. Rio de Janeiro: CPAD, 1992.

________. A Bíblia; o livro, a história, a mensagem. Rio de Janeiro: CPAD,


1982.

Thiessen, Henry Clarence. Palestras Introdutórias à Teologia Sistemática. São


Paulo: Batista Regular, 2014.

Strong, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática, 2 vols. São Paulo: Hagnos,


2003.

Grudem, Wayne. Teologia Sistemática; Atual e Exaustiva. São Paulo: Vida


Nova, 1999.

Oliveira, Raimundo de. As Grandes Doutrinas da Bíblia. Rio de janeiro: CPAD,


2013.

Sites consultados

http://www.cacp.org.br/

http://www.sbb.org.br/

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LIVROS HISTÓRICOS

INTRODUÇÃO

Na continuação do Pentateuco encontram-se os livros históricos.

No cânon da Bíblia Hebraica, os seis livros de Josué, Juízes, 1Samuel, 2Samuel, 1Reis e
2Reis formam um conjunto que é denominado genericamente de Profetas anteriores.

Esse título vem de uma antiga tradição, segundo a qual esses livros foram compostos por
alguns dos profetas de Israel. Quanto ao qualificativo "anteriores", parece deverem-se ao
lugar que lhes foi reservado no cânon hebraico, para diferenciá-los dos "Profetas
posteriores": Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze Profetas Menores.

A fé do povo israelita descobriu nesses livros os vínculos estreitos que existem entre a
história narrada e a mensagem profética que nela se proclama. Personagens como Josué,
Samuel, Débora, Gideão, Saul, Davi e Salomão, principais protagonistas dos fatos
registrados nesses livros, fazem parte do plano de salvação disposto por Deus em favor do
ser humano. Todos eles, homens e mulheres pertencentes a diferentes etapas da vida de
Israel, foram contemplados no Judaísmo desde a dupla perspectiva da sua realidade
histórica e do fato de terem sido escolhidos como instrumentos para cumprir um desígnio
divino de salvação. Nessa dupla perspectiva se estriba a consideração deles como profetas.
Por isso, junto com eles enquanto pessoas, os textos a eles atribuídos foram reconhecidos
também como de caráter profético.

Atualmente, se costuma chamar o conjunto dos Profetas anteriores de História


Deuteronomista. Essa denominação se deve à influência exercida sobre a interpretação da
história pela teologia do Deuteronômio, influência que é perceptível de modo especial na
avaliação dos comportamentos humanos, considerados tanto no âmbito individual como no
coletivo (cf., p. ex., Dt 12.2-3 2Rs 17.10-12).
O LIVRO DE JOSUÉ

TEMA: Risco e Vitória da Fé em Israel

TÍTULO
O nome “Josué”, que se deve à principal figura do livro, significa “salvação do Senhor”. Os
gregos traduziram-no para “Iesous” ou Jesus, como está na Vulgata Latina.

AUTOR
1. O livro é anônimo e a sua autoria tem sido debatida com veemência, principalmente por
aqueles que aplicam a teoria documentária ao Pentateuco. A maior parte dele pode ter sido
escrita pelo próprio Josué, que conhecia os fatos em primeira mão e era também um escritor
(24:26). Obviamente, um colaborador acrescentou mais tarde os últimos cinco versículos
sobre a morte de Josué e de Eleazar. Esse colaborador pode ter sido Finéias ou um dos
anciãos.

2. O fato de esse livro ser o primeiro dos “Primeiros Profetas” sugere, como seu autor,
alguém com dom ou cargo profético. Isto, é claro, indica Josué como o mais provável autor.

3. O conteúdo do livro, que se limita à liderança de Josué, reforça a opinião de que tenha
sido escrito pelo sucessor de Moisés e no seu próprio tempo, mais do que por qualquer
outra pessoa em época posterior, que poderia ter continuado a história de fé até a época
de Otniel, em Juizes.

4. Josué talvez tenha sido o descendente mais ilustre de José. Era da tribo especialmente
abençoada por Jacó (Gênesis 48:19). Do mesmo modo que José foi o “salvador” dos seus
irmãos no Egito, Josué conduziu o povo para o livramento e descanso em Canaã.

CENÁRIO H ISTÓRICO
D A T A — 1405-1375 a.C.
1. Admitindo que Josué tivesse a mesma idade de Calebe (tinha este quarenta anos quando
espiaram Canaã, Josué 14:7), é plausível supor que Josué tenha começado a comandar a
Israel com a idade de setenta e nove anos. Visto ter morrido com 110, a sua liderança durou
trinta e um anos (24:29). Sabemos também a conquista inicial durou sete anos (14:7, 10).

2. A data pode ser calculada como sendo de 1405 a 1375 (adicionando-se os 480 anos de
1 Reis 6:1 ao ano de 965, começo da construção do templo, e subtraindo-se os 40 anos de
peregrinação). As escavações arqueológicas de John Garstang determinaram que a queda
de Jericó ocorreu por volta de 1400 a.C. Documentos descobertos em Tel-el-Amarna, no
Egito, e em Ugarite, na Síria Ocidental, parecem confirmar a data de 1400 nas
correspondências reais daquele período, as quais se referem ao “Habiru” em Canaã.

ESTADO EM QUE SE ACHAVA A NAÇÃO


1. A liderança da nação tinha sido transferida a Josué por ocasião da morte de Moisés trinta
Dias antes, 1 de março de 1405 a.C. A travessia do Jordão teve lugar um pouco antes da
Páscoa, época em que o Jordão inundou as margens.

2. Toda a população (cerca de dois milhões e meio) estava decidida a invadir Canaã depois
da bem-sucedida conquista da Transjordânia. Apesar de duas tribos e meia terem
negociado com Moisés a permanência na Transjordânia, elas mandaram 40.000 homens
para participar da conquista de Canaã.
CONDIÇÃO DE CANAÃ
1. Geograficamente, a terra de “Canaã” compunha-se de toda a faixa ocidental desde
Sidom, ao norte, até Gaza e Sodoma, no sul (Gênesis 10:19). O nome “Canaã”
denominava, em geral, toda a área em que se estabeleceram os filhos de Canaã. Foi, mais
tarde, chamada de “Palestina” pelos romanos (segundo Heródoto), nome esse que é a
forma grega de “Philistia” (Palaistine). Os nativos eram chamados de “Filisteus”.

2. Quanto à raça, a terra era ocupada por um grupo misto que parecia serem descendentes
de Canaã, filho de Cão, filho de Noé (Gênesis 10:15-20). Há na Bíblia várias listas desses
grupos (Gênesis 10; Deuteronômio 7:1; Josué 3:10). Além disso, podem ser identificados
pelas suas localidades:
a. Heteus — dos filhos de Hete, que se estabeleceram na Ásia Menor.
b. Girgaseus — da região ocidental do mar da Galileia.
c. Amorreus — povo montanhês dos planaltos ao oeste e leste do mar Morto.
d. Cananeus — tecnicamente, da parte norte.
e. Ferezeus — associados com os cananeus no norte.
f. Heveus — os pacíficos gibeonitas perto de Jerusalém.
g. Jebuseus — tribo guerreira estabelecida em torno de Jerusalém.

3. Politicamente, Canaã tinha sido dominada desde 1468 a.C. pelo Egito, que estabeleceu
postos militares e cidades reais por toda a terra, bem como príncipes nativos, educados no
Egito, para governar como monarcas títeres. Em 1400, entretanto, o poder estrangeiro
egípcio se deteriorou, tornando a terra propícia à invasão. Mas as cidades de Canaã
estavam bem fortificadas. Jericó, por exemplo, edificada sobre um outeiro, estava rodeada
por dois muros de tijolos, um de 3,6 metros de largura e o outro de quase dois.

4. Religiosa e moralmente, a terra vivia infestada de idolatria, completamente degradada:


a. E l era o deus supremo. Poemas ugaríticos descrevem-no como um tirano cruel e
sanguinário, de sensualidade incontrolável.

b. Baal era filho de El e o seu sucessor. Dominava o grupo cananeu e era


considerado o “Senhor do céu”. Era o deus da chuva e da vegetação.

c. A nate era irmã de Baal e uma das três deusas protetoras do sexo e da guerra.
Concomitante com o culto da prostituição sagrada, havia o morticínio infantil.

d. Asterote (Astarte) e A será eram esposas de Baal e também deusas do sexo e da guerra.

e. Moloque e Milcom, de origem amonita, eram deuses da orgia, do mesmo modo


que Camos era a divindade nacional dos moabitas. Esses deuses de violência e perversão
sexual refletem a crueldade e a corrupção do povo, que fez deuses parecidos com eles
(Salmos 115:8).

ANÁLISE MORAL DA CONQUISTA DE CANAÃ POR JOSUÉ


O livro salienta uma questão ética crucial: como se justificaria que um povo escolhido por
Deus se apossasse de Canaã, massacrando a população, tomando a sua terra e riquezas?
Defrontamo-nos com esse problema moral em outros livros, como Números e 1 e 2 Samuel,
onde Israel impõe armas contra os pagãos em vez de pregar a Palavra. Por que não foram
enviados a Canaã como evangelistas em vez de carrascos? Diversas razões importantes
devem ser observadas a partir do cenário histórico:

1. Devido à Degradante Religião de Canaã.


A religião de Canaã tinha-se tornado tremendamente abominável aos olhos de Deus e da
própria moralidade. Escavações ugaríticas mostraram a extrema obscenidade da religião
que tinha um panteão de deuses: El, o deus principal, é orgulhosamente apresentado como
sendo inteiramente sensual, sórdido e sanguinário até consigo mesmo; as três deusas
cananeias, enroladas em serpentes, são apresentadas em posturas vis e sensuais. O
sistema prestava homenagem a serpentes, era totalmente depravado e estava fadado à
destruição.

2. Devido à Sua Cultura Corrompida.


A adoração ao sexo demoníaco e aos ídolos de guerra refletiam uma sociedade permeada
da mais grosseira imoralidade e violência. Escavações arqueológicas revelam que os seus
templos eram centros de vício com sacerdotes sodomitas e sacerdotisas prostitutas.
Queimar crianças vivas nos altares se tinha tornado ritual comum. A baixeza da idolatria de
Canaã formava contraste com a idolatria do Egito e da Mesopotâmia, cuja moralidade não
tinha caído em tão profunda vulgaridade e brutalidade. A cultura estava fadada à destruição
(Levítico 18:25).

3. Devido às Admoestações e Paciência de Deus.


O texto declara muitas vezes que o Senhor era o verdadeiro dono da terra de Canaã e
podia dá-la ou negá-la a quem quisesse, por razões nem sempre evidentes aos homens. O
seu plano de cessão e período de experiência é observado diversas vezes muito antes de
Moisés e Josué:
a. Através de Noé, Deus profetizou julgamento para os cananeus pela sua
obscenidade (Gênesis 9:22-27).

b. Para Abraão e os seus descendentes o Senhor prometeu a terra de Canaã, a qual


eles receberiam depois de cheia a medida da iniquidade dos amorreus (Gênesis 15:13-16).

c. Justamente como aconteceu com os habitantes de Sodoma antes da sua


destruição, o Senhor deu aos cananeus muitas oportunidades de arrependimento (Gênesis
18:25; Romanos 1:18- 22). Deus esperou 400 anos.

4. Devido à Comissão Divina de Israel.


Israel não foi designado para ser apenas uma organização religiosa, mas um governo civil
com obrigações da aliança perante o Senhor. Como tal, sua primeira comissão era executar
o julgamento de uma sociedade corrupta e violenta de acordo com a aliança noéica
(Gênesis 9:6). A pesar de sempre reticente na execução daquele sórdido dever, Israel
estava sob o comando específico do Senhor para tomar a terra, destruir os cananeus e
receber a sua riqueza (Números 31:7; Deuteronômio 9:3; 7:15; Josué 1:1-7). Na realidade,
os ataques de Israel eram quase sempre respostas aos ataques iniciais dos cananeus
(Números 21:1; 23-24, 33; Josué 9:1-2; 10:1-4; 11:1-5).

5. Devido às Promessas da A liança F eitas por Deus.


Conforme o Senhor declarou a Abraão e a Israel, a ocupação final da Palestina por Israel
estender-se-á desde o Egito até o Eufrates (Gênesis 15:8; Deuteronômio 1:7-8; 30:5). Antes
daquela futura ocupação final, entretanto, o Senhor novamente limpará a terra da vil
idolatria e brutalidade introduzida por um sistema religioso inspirado por Satanás
(Apocalipse 14:16 e ss.; 19:15).

Cristo Revelado
Cristo é revelado no Livro de Josué de três maneiras; por revelação direta, por modelos e
por aspectos iluminantes de sua natureza.
Em 5.13-15, o Deus Trino apareceu a Josué como o “príncipe do exército do SENHOR”.
Através de sua aparição, Josué teve certeza de que o próprio Deus era o responsável. Era
tarefa de Josué, bem como nossa, seguir os planos do príncipe, além de conhecer o
príncipe.
Um modelo é um símbolo, uma lição objetiva. Podem-se encontrar tipos em uma pessoa,
em um ritual religioso e mesmo em um acontecimento histórico. O próprio Josué era um
modelo de Cristo. Se nome, que significa “Jeová é Salvação”, é um equivalente hebraico
do Grego “Jesus”. Josué guiou os israelitas até a possessão de sua herança prometida,
bem como cristo nos leva à possessão da vida eterna.

O cordão de fio de escarlata na janela de Raabe (2.18,21) ilustra a obra de redenção de


Cristo na cruz. O Pano cor de sangue pendurado na janela salvou Raabe e sua família da
morte. Assim, Cristo também derramou seu sangue e foi pendurado na cruz para nos salvar
da morte.
Um dos aspectos da natureza de Cristo revelada em Josué é o da promessa cumprida. No
final de sua vida, Josué testemunhou: “nem uma só promessa caiu de todas as boas
palavras que falou de vós o SENHOR, vosso Deus” (23.14). Deus, em sua graça e
fidelidade, sustentou e preservou seu povo tirando-os do deserto e levando-o à Terra
Prometida. Ele fará o mesmo por nós através de Cristo, que é a Promessa.

O Espírito Santo em Ação


Uma tendência constante da obra do ES flui através do Livro de Josué. Inicialmente, sua
presença surge em 1.5, quando Deus conhecendo a esmagadora tarefa de comandar a
nação de Israel, forneceu a Josué a promessa de seu Espírito sempre presente.

O trabalho do Espírito Santo era o mesmo antes de agora: ele atrai as pessoas a um
relacionamento de salvação com Cristo e realiza os propósitos do Pai. Seu objetivo em
Josué, bem como no AT, era a salvação de Israel, pois, foi através dessa nação que Deus
escolheu salvar o mundo (Is 63.7-9)

Várias características sobre a maneira como o Espírito opera podem ser vistas em Josué.
A obra do Espírito Santo é contínua: “Não te deixarei nem te desampararei” (1.5). O Espírito
Santo está comprometido a realizar a tarefa, independentemente de quanto tempo demore.
Sua presença contínua é necessária para o sucesso do plano de Deus na vida dos homens.
A obra do Espírito Santo é mútua: “Tão somente sê forte e mui corajoso para teres cuidado
de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem
para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que
andares” (1.7). Foi dito: “Sem ele, não podemos; sem nos ele não quer”. A cooperação com
o Espírito Santo é essencial à vitória. Ele nos habilita a cumprir nosso chamado e a
completar a tarefa ao nosso alcance. A obra do Espírito Santo é sobrenatural. A queda de
Jericó foi obtida mediante a destruição milagrosa de seus muros (6.20). A vitória foi
alcançada em Gibeão, quando o Espírito deteve o sol (10.12,13). Nenhuma obra de Deus,
seja a libertação da servidão ou possessão da bênção, é realizada sem ajuda do Espírito.
O LIVRO DE JUÍZES

TEMA: Ciclos de Fracasso e Apostasia Sem um Líder Nacional

TÍTULO
O título “Juízes” (Shophetim) é devido aos líderes levantados intermitentemente por Deus,
para que houvesse liderança em épocas de emergência durante o período que vai de Josué
até o reinado de Saul. O nome “Juízes” descreve duas funções desses líderes:
a. Livrar o povo dos seus opressores, na função de líder militar.
b. Resolver disputas e defender a justiça, na função de líder civil.

AUTOR
O livro é anônimo, mas a tradição judaica o atribui a Samuel por diversas razões. Ele era
escritor e educador (1 Samuel 10:25). A ênfase dada à tribo de Benjamim sugere a época
do rei Saul, quando Samuel ainda julgava, antes de o nome da cidade de Jebus ter sido
mudado para “Jerusalém” (Juízes 1:21; 19:10).

CENÁRIO H ISTÓRICO
DATA — 1375-1075 a.C.
1. O livro de Juízes é o único que registra um longo período da Vustóvia de Israel. Descreve
três guerras civis, sete opressões de cinco inimigos, sete guerras de libertação, um número
de magistraturas judiciais pacíficas e, finalmente, uma magistratura malsucedida de
Sansão, a qual quase terminou com os filisteus assumindo o controle.

2. Apesar de o período total de trégua e opressão chegar a 410 anos, o tempo envolvido foi
de aproximadamente 300 anos até a morte de Sansão. O confronto entre as magistraturas
provinciais e as relatadas em Juízes justificam essa diferença.

ESTADO DA NAÇÃO
1. Após a morte de Josué, Israel ficou sem um líder nacional por mais de 300 anos. As tribos
mostravam-se independentes e cada indivíduo era uma lei perante si próprio. Durante esse
tempo o Senhor levantou juízes principalmente nas emergências para livrá-los dos inimigos
invasores e defender a justiça civil.

2. Esse foi um período em que o Senhor testou a nação para ver como ela guardaria a sua
aliança num ambiente pagão e idólatra (3.1-5). Os israelitas caíram em uma condição
crônica de apostasia. Aceitavam entusiasticamente os livramentos do Senhor, mas quando
lhes faltava uma forte liderança, retornavam rapidamente às práticas pagãs que os
rodeavam.

3. O estado espiritual da nação contrasta vivamente com o da época de Josué. Seu livro
apresenta uma história de obediência, fé e vitória sob a liderança teocrática desse grande
homem de Deus. Juízes, porém, é um livro que apresenta uma história de contínuo
fracasso: “cada qual fazia o que parecia direito aos seus olhos” (17:6). Se não fosse pelas
misericordiosas operações de livramento do Senhor durante esse período, a nação teria
afundado numa idolatria pagã irrecuperável.

OBJETIVO DO LIVRO DE JUÍZES


O objetivo principal de Juízes é preservar um registro do caráter de Israel durante o tempo
em que este não tinha um líder nacional, e enfatizar sua necessidade de um rei teocrático.
Os muitos ciclos de fracasso e castigo salientam repetidamente a verdade deuteronômica
de que o abandono da fé no Senhor traz inevitavelmente o castigo da servidão e o caos.
O Espírito Santo em Ação
A atividade do Espírito Santo do Senhor no Livro de Juízes é claramente retratada na
liderança carismática daquele período. Os seguintes atos heroicos de Otniel, Gideão, Jefté
e Sansão são atribuídos ao Espírito do Senhor:

O Espírito do Senhor veio sobre Otniel (3.10) e o capacitou a libertar os israelitas das mãos
de Cusã-Risataim, rei da Síria.

Através da presença pessoal do Espírito do Senhor, Gideão (6.34) libertou o povo de Deus
das mãos dos midianitas. Literalmente, o Espírito do Senhor se revestiu de Gideão. O
Espírito do Senhor capacitou este líder escolhido por Deus e agiu através dele para
implementar o ato salvífico do Senhor em benefício do seu povo.

O Espírito do Senhor equipou Jefté (11.29) com habilidades de liderança no seu


empreendimento militar contra os Amonitas. A vitória de Jefté sobre os Amonitas foi o ato
de libertação do Senhor em benefício de Israel.

O Espírito do Senhor capacitou Sansão e executar atos extraordinários. Ele começou a


impelir Sansão para sua carreira (13.25). O Espírito veio poderosamente sobre ele em
várias ocasiões. Sansão despedaçou um leão apenas com as mãos (14.6). Certa vez matou
trinta filisteus (14.19) e, em outra ocasião, livrou-se das cordas que amarravam as suas
mãos e matou mil filisteus com uma queixada de jumento (15.14,15).

O mesmo Espírito Santo que deu condições a esses libertadores para que fizesse façanhas
e cumprissem os planos e propósitos do Senhor continuam operantes ainda hoje.
O LIVRO DE RUTE

TEMA: A mor de Rute por Noemi e Sua Inclusão na Linhagem Davídica

TÍTULO
O nome “Rute” significa “amizade”, uma característica verdadeira daquela que deu nome
ao livro. É um dos seis livros históricos que levam o nome das principais figuras de ação e
vida descritas neles (Josué, Rute, Samuel, Esdras, Neemias e Ester). É um dos dois livros
bíblicos que levam o nome de uma mulher:

1) Rute, a gentia que se casou com um rico judeu de linhagem real da promessa.

2) Ester, a judia que se casou com um rei gentio.

AUTOR
Samuel, provável autor de Juízes, pode também ter escrito Rute. Muitos classificam esse
livro como um terceiro apêndice a Juízes 1-16, que proporciona um agradável lenitivo de fé
e amor numa época de infidelidade, idolatria e violência. Como a genealogia do capítulo 4
vai até Davi, mas não até Salomão, o livro foi provavelmente escrito depois de Davi ser
ungido rei, mas antes de ele subir ao trono, ou antes de Salomão. Samuel ainda vivia, e é
ele o escritor mais provável do livro, na época em que os pais de Davi encontravam-se em
Moabe.

CENÁRIO H ISTÓRICO

DATA DOS ACONTECIMENTOS — 1340 a.C.


Embora os acontecimentos do livro de Rute sejam frequentemente datados de 1100 a.C.,
aproximadamente, colocando assim Boaz na condição de bisavô de Davi, a seguinte
informação sugere uma data anterior:

1. São apresentadas cinco gerações de Salmom a Davi (1405-1040). Todas as


genealogias bíblicas fazem o mesmo registro (Rute 4:21-22; 1 Crônicas 2:11-15; Mateus
1:5-6; e Lucas 3:32). Todavia, quatro nascimentos em 365 anos sugerem a possibilidade
de uma lacuna.

2. A única possibilidade de haver uma lacuna parece ser entre Obede e Jessé:
a. Não pode haver lacuna entre Salmom e Boaz (Mateus 1:5).
b. Nem entre Boaz e Obede (Rute 4:17).
c. Ou entre Jessé e Davi (1 Samuel 16:1 e ss.).

3. Desde que há lacunas óbvias na genealogia de Mateus (Mateus 1.:8, 11), é


possível que elas tenham ocorrido por não ter sido mencionada a idade do pai na época
em que o filho nasceu.

4. Supondo que Boaz, filho de Salmom e Raabe, tenha nascido em 1390 a.C.
aproximadamente, a última data provável do nascimento de Obede, filho de Rute e Boaz,
seria em 1340 a.C.

CIRCUNSTÂNCIA
1. O livro começa com a circunstância não muito comum de que havia fome em Belém (cujo
nome significa “casa de pão”). Assim como aconteceu com José no Egito, o Senhor usou a
fome para trazer salvação e bênção espiritual através dos fiéis.
2. A história apresenta a característica irônica de uma mulher virtuosa, que veio de um povo
nascido de incesto (Ló e sua filha). Os moabitas, ancestrais de Rute, tinham atraído Israel
para a idolatria e a imoralidade (Gênesis 19:37; Números 25:1 e ss.), mas agora ela estava
influenciando Israel com o seu amor e virtude.

O BJETIVO DO LIVRO D E RUTE


O objetivo desse livro parece ser duplo:

1) Retratar o ânimo religioso e o amor de duas mulheres de países diferentes numa época
de rivalidade inter-racial, violência e idolatria.

2) Lembrar a relação genealógica de Davi com Moabe, talvez durante a estada do salmista
com os seus pais moabitas. Incidentalmente mostra a linhagem marcadamente gentia na
linha genealógica do Messias, vindo através de Raabe, a cananéia, e Rute, a moabita, pelo
lado materno.

Cristo Revelado
Boas representa uma das mais dramáticas figuras do AT que antecipa a obra redentora de
Jesus. A função de “parente remidor” cumprida de forma tão elegante nas ações que
promoveram a restauração pessoal de Rute, dá testemunho eloqüente a respeito disso. As
ações de Boaz efetuam a participação de Rute nas bênçãos de Israel e a incluem na
linhagem familiar do Messias (Ef 2.19). Eis aqui uma magnífica silhueta do Mestre,
antecipando em muitos séculos a sua graça redentora. Como nosso “parente chegado”, ele
se torna carne—vindo como um ser humano (Jo 1.14; Fp 2.5-8)
OS LIVROS DE SAMUEL

I SAMUEL
TEMA: Estabelecimento de Israel como Reino Teocrático

II SAMUEL
TEMA: Estabelecimento de Davi como Rei Teocrático

TÍTULO
Estes livros tomaram esse nome devido à primeira figura humana de destaque neles,
Samuel, palavra que significa “nome de Deus” ou possivelmente uma abreviatura de
“pedido a Deus”. Originalmente, no cânon hebraico, os dois livros formavam um só volume,
“O Livro de Samuel”, mas foram divididos em dois pelos tradutores gregos (Septuaginta)
que os chamaram de “1 e 2 Reis”. Os livros que chamamos de 1 e 2 Reis tinham o nome
de 3 e 4 Reis.

AUTOR
Estes livros, como a maioria dos livros históricos, são anônimos. O profeta Samuel é
geralmente considerado o autor de 1 Samuel 1-24, e Natã e Gade os autores da parte
restante. As descrições detalhadas e a minúcia sugerem que os autores foram testemunhas
oculares dos acontecimentos. Segundo observação do próprio Talmude Hebraico, a
declaração de 1 Crônicas 29:29 fornece provavelmente os melhores indícios de autoria
desses livros: são “o livro de Samuel, o vidente”, “o livro de Natã, o profeta”, e “o livro de
Gade, o vidente”.

CENÁRIO H ISTÓRICO

DATAS ENVOLVIDAS — 1100 a 970 a.C., aproximadamente.

1 Os acontecimentos relatados nos dois livros cobrem o período do nascimento de Samuel


até o fim do reinado de Davi. Supondo que Samuel tivesse 30 anos aproximadamente
quando começou a sua liderança em 1070 (cinco anos após a morte de Eli), ele deve ter
nascido em 1100 a.C., aproximadamente. Visto que o reinado de Davi estendeu-se de 1010
a 970, o período de tempo para os livros de Samuel é de cerca de 130 anos.

2. Antes da magistratura de Samuel, diversos juizes governaram Israel. Sansão a sudoeste


governou Judá e Dã; Jefté governou Manassés e Efraim oriental; Ibsão, Elom e Abdom
julgaram outras partes de Israel, enquanto Samuel crescia em Silo.

3. Diversos períodos sobrepostos estão envolvidos na história:


40 anos — opressão dos filisteus — 1095-1055 (Juízes 13:1)
40 anos — magistratura de Eli, o sacerdote — 1115-1075 (1 Samuel 4:18)
75 anos — arca em Quiriate-Jearim — 1075-1000 (1 Samuel 7:2; 1 Crônicas 15:25)
40 anos — magistratura de Samuel — 1055-1015 (1 Samuel 7:14 – Samuel 16)
40 anos — reinado de Saul — 1050-1010 (Atos 13:21)
40 anos — reinado de Davi — 1010-970 (2 Samuel 5:4)

ESTADO RELIGIOSO EM QUE SE ACHAVA A NAÇÃO


1. O período começou com a idolatria e a imoralidade ainda predominando em Israel (1
Samuel 7:3). Embora Eli fosse fiel como sacerdote, ele deixou de honrar a Deus por não
disciplinar os seus filhos (1 Samuel 2:29) que serviam no tabernáculo de Silo com flagrante
imoralidade e cobiça. Por esse motivo o Senhor proferiu julgamento contra a casa de Eli,
dizendo que seria afastada do sacerdócio (1 Samuel 2:33). Esse estado de religião
superficial e de práticas imorais era evidentemente comum em todo Israel e fez com que o
Senhor, para disciplinar o seu povo, permitisse a invasão dos filisteus.

2. O tabernáculo e a arca tinham estado em Silo (14 km ao norte de Betei) desde os tempos
de Josué até os de Eli. Quando na ocasião da morte de Eli a arca foi roubada, esses dois
itens principais do sistema religioso de Israel ficaram separados e assim permaneceram
durante 75 anos até que Davi fez com que a arca voltasse em 1000 a.C. Observe os vários
locais em que estiveram o tabernáculo e a arca desde a época de Josué:

ESTADO POLÍTICO DA UNIÃO


1. Divisões internas. No começo do século 11 a.C. o fraco estado espiritual de Israel
combinava com o seu fraco estado político. Foi uma época de lideranças divididas e
anarquia geral. Desde a morte de Josué, a nação vinha sem liderança central, mas nas
emergências as tribos eram julgadas por juizes indicados por Deus e, às vezes, por
governantes sacerdotes (Finéias e Eli).

2. Opressões externas. Os filisteus do sudoeste fizeram nessa época a maior oposição


externa a Israel, embora Israel fosse também atacado esporadicamente pelos seus vizinhos
consanguíneos que lhe ficavam a leste, e pela Síria ao norte. Os filisteus tomaram-lhe não
somente a arca; toda a Jordânia ocidental foi várias vezes quase tomada por eles. Muitas
campanhas de guerra foram empreendidas contra os filisteus no século onze (V. Esboço
de 1 Samuel).

3. Sob o reinado de Davi, os problemas de anarquia interna e opressão externa foram


resolvidos aos poucos. A partir de um grupo de tribos rivais, a nação tornou-se uma força
política unida e respeitada por todas as nações da região. Sob a liderança do salmista os
filisteus foram expulsos; Edom, Moabe, Amom e Síria tornaram-se vassalos de Israel, e
concluiu-se um tratado de paz com a Fenícia.

O BJETIVO DOS LIVROS DE SAMUEL


O objetivo dos livros de Samuel é apresentar a história do desenvolvimento de Israel desde
um estado de anarquia até um estado de monarquia teocrática. Dá uma descrição religiosa
do crescimento da nação, mostrando a futilidade da tentativa de unificação e crescimento
nacional por esforço e liderança humanos, bem como o grande poder e prestígio de uma
nação fundada em princípios teocráticos sob um rei indicado por Deus. O motivo dominante
é a glória e o poder de uma nação que corresponde ao Senhor soberano.

I SAMUEL

Cristo Revelado
As semelhanças entre Jesus e o pequeno Samuel são surpreendentes. Ambos são filhos
de promessa. Ambos foram dedicados a Deus antes do nascimento. Ambas as forma
pontes de transição de um estágio da história da nação para outro. Samuel acumulou os
ofícios de profeta e sacerdote; Cristo é profeta, sacerdote e rei.

O fim trágico de Saul ilustra o destino final dos reinos terrenos. A única esperança é um
Reino de Deus na terra, cujo soberano seja o próprio Deus. Em Davi começa a linhagem
terrena do Rei de Deus. Em Cristo, Deus vem como Rei e virá novamente como Rei dos
reis.
Davi, o pequeno e humilde pastor, prefigura a Cristo, o bom pastor. Jesus torna-se o Rei-
pastor definitivo.

O Espírito Santo em Ação


1Sm contém notáveis exemplos da vinda do Espírito Santo sobre os profetas, bem como
sobre Saul e seus servos. Em 10.6, o Espírito Santo vem sobre Saul, que profetiza e “se
transforma em outro homem”, isto é, é equipado pelo Espírito para cumprir o chamado de
Deus.

Depois de ser ungido por Samuel, “desde aquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se
apoderou de Davi” (16.13). O fenômeno do Espírito inspirando a adoração ocorre no cap.
10 e em 19.20. Esse fenômeno não é como o frenesi impregnado de emotividade dos
pagãos, mas verdadeira adoração e louvor a Deus pela inspiração do Espírito, em
semelhança ao ocorrido no dia de Pentecostes (At 2)
Mesmo nos múltiplos usos do éfode, Urim e Tumim, esperamos ansiosamente pelo
momento em que o “Espírito da Verdade” nos irá guiar em “toda a verdade”, nos falará
sobre “o que há de vir” e “há de receber do que é meu (de Jesus)” e no-lo “há de anunciar”
(Jo 16.13,14)

II SAMUEL

Cristo Revelado
Davi e seu reino esperavam a vinda do Messias. O cap. 7, em especial, antecipa o futuro
Rei. Deus interrompe os planos de Davi de construir uma casa para a arca e explica que
enquanto Davi não pode construir uma casa para Deus, Deus está construindo uma casa
para Davi, ou seja, uma linhagem que dure para sempre.

Pela sua vitória sobre todos os inimigos de Israel, pela sua humildade e compromisso com
o Senhor, pelo seu zelo a favor da casa de Deus e pela associação dos ofícios de profeta,
sacerdote e rei na sua pessoa, Davi é um precursor da Raiz de Jessé, Jesus Cristo.

O Espírito Santo em Ação


Jesus explicou a obra do Espírito em Jo 16.8: E, quando ele vier convencerá o mundo do
pecado, e da justiça, e do juízo.” Nós vemos claramente a ação do Espírito Santo através
desses dois modos em 2 Sm. Ele atuava com mais frequência através do sacerdócio. Sua
atuação como conselheiro pode ser apreciada nas muitas ocasiões em que Davi “consultou
o Senhor” através do sacerdote e do éfode.

A obra de convencer e de condenar do Espírito é claramente percebida quando o profeta


Natã enfrenta Davi por causa do seu pecado com Bate-Seba e Urias. O pecado de Davi é
desnudado, a justiça é feita, e o julgamento é anunciado. Isso, no quadro microcósmico de
2 Sm, ilustra o amplo ministério do Espírito Santo no mundo através da igreja investida do
poder do Espírito.
OS LIVROS DE REIS

I REIS
TEMA: Glória do Reino de Salomão e Grande Desafio da Idolatria

II REIS
TEMA: Grande Julgamento do Senhor sobre Israel e Judá devido à Idolatria

T ÍT U L O
Esse nome foi dado a esses livros devido às primeiras palavras com que o primeiro deles
se inicia, “Wehammelek” em hebraico (“Sendo o rei”), nome que se adapta perfeitamente
ao assunto, pois os livros tratam do domínio dos reis dos dois reinos, o de Israel e o de
Judá. Os hebreus considerava-os como um livro único, pelo fato de constituírem uma
história ininterrupta. Os tradutores gregos dividiram-no em dois, chamando-os de 3 e 4 Reis,
talvez em virtude de a tradução grega (idioma que tem mais letras) necessitar de dois rolos
(o mesmo aconteceu com 1 e 2 Samuel).

AUTOR
1. A pesar de os livros serem anônimos, são tradicionalmente considerados como tendo
sido escritos por Jeremias, auxiliado pelo seu secretário, Baruque (Jeremias 45). E evidente
que o autor era pelo menos contemporâneo de Jeremias, e a ênfase dos livros sugere o
ponto de vista dos profetas. Assim, Jeremias, o profeta que viveu na época do exílio
(descrito nos capítulos finais) pode muito bem ter sido o autor.

2. Certamente o autor fez uso de registros históricos da época, referindo-se muitas vezes
a dez ou mais desses documentos nos dois livros. Evidentemente ele teve acesso à
seguinte documentação:
a. Livro dos Justos (2 Samuel 1:18);
b. Livro dos Sucessos de Salomão (1 Reis 11:41);
c. Livro das Crônicas dos Reis de Israel (1 Reis 14:19, mencionado dezoito vezes
nos dois livros);
d. Livro das Crônicas dos Reis de Judá (1 Reis 14:29, mencionado quinze vezes nos
dois livros);
e. Livro de Isaías (2 Reis 18-20 refere-se a Isaías 36-39);
f. Livro das Crônicas do Rei Davi (1 Crônicas 27:24);
g. Livro das Crônicas de Samuel, o vidente (1 Crônicas 29:29);
h. Livro das Crônicas de Natã, o profeta (1 Crônicas 29:29);
i. Livro das Crônicas de Gade, o vidente (1 Crônicas 29:29);
j. Livro da Profecia de Aias, o silonita (2 Crônicas 9:29);
l. Livro das Visões de Ido, o vidente (2 Crônicas 9:29).

CENÁRIO HISTÓRICO
D A T A — 970-560 a.C.
1. Os acontecimentos de 1 e 2 Reis estendem-se desde a morte do rei Davi, o primeiro rei
da aliança, até o cativeiro de Zedequias, último rei de Judá. No último capítulo há ainda
uma referência
à libertação de Joaquim, no ano 560 a.C., quando Evil-Merodaque começou a reinar na
Babilônia.

2. O período de Salomão a Zedequias é conhecido como a Era do Templo de Salomão,


estendendo-se desde a construção do templo por Salomão até sua destruição por
Nabucodonosor.
CENÁRIO POLÍTICO
1. Nacionalmente, os livros cobrem o período da maior influência política de Israel, na época
de Salomão, até o completo eclipse político, quando o reinado do sul foi destruído e o povo
restante foi exilado para a Babilônia. As sementes da queda foram plantadas muito antes,
na severa política doméstica de Salomão, política esta responsável pela inquietação
nacional. Depois da queda do reino do norte em 722, o reino do sul teve apenas períodos
esporádicos de grandeza política antes da destruição, semelhante à do norte, em 586 a.C.

2. Internacionalmente, não havia grande império mundial exercendo muita influência ou


mostrando proeminência no cenário mundial no começo do período. Todavia, em conexão
com o estado espiritual de Israel, os impérios começaram a demonstrar poder e
proeminência quando a condição espiritual de Israel começou a deteriorar. O novo Império
Assírio, por exemplo, obteve o domínio mundial um pouco antes do cativeiro do reino do
norte. Um século mais tarde ergueu-se o novo Império Babilônico, justamente um pouco
antes de Deus fazer o julgamento do reino do sul. Esse ponto de vista profético da sorte de
Israel está difundido nos dois livros.

CENÁRIO RELIGIOSO
1. A construção do templo de Salomão no começo do período constitui o ponto máximo da
história religiosa de Israel. Salomão também instituiu um sistema de adoração altamente
organizado e, no começo, inspirou forte sentimento religioso pela alocução e pela cerimônia
da inauguração. Entretanto, o bom começo não durou muito e a idolatria inundou
novamente a nação, levada pelas práticas conciliatórias de Salomão, que construiu altares
para as suas esposas pagãs. Logo após a divisão do reino, Jeroboão introduziu a adoração
ao bezerro no reino do norte, nos dois altares de Betei e Dã. E ainda foi acrescentado o
culto a Baal dos cananeus por Acabe e Jezabel, no reino do norte, e por sua filha, Atalia,
no reino do sul. A pesar do expurgo de Baal por Jeú em 841 a.C., a idolatria continuou em
ambos os reinos até a sua destruição em 722 e 586 a.C.

2. A índole religiosa do período pode ser vista no caráter dos diversos reis de cada reino.
Depois de Salomão, Judá teve dezenove reis e uma rainha, dos quais somente oito foram
justos de acordo com o padrão divino. O reino de Israel, do norte, teve dezenove reis, mas
todos eles fizeram o que era “mau” perante o Senhor. Dessa maneira, a herança religiosa
de Abraão, Moisés e Davi foi com frequência mais aparente do que real em Israel.

O BJETIVOS DOS LIVROS DOS REIS


Os livros têm dois objetivos claros, um literário e outro religioso.

A. O objetivo literário do autor era completar a história do reinado de Davi, o qual principia
nos livros de Samuel escritos 400 anos antes, aproximadamente. Como o segundo livro de
Samuel terminou com Davi comprando o local do templo, 1 Reis principiou com Salomão
preparando a construção do templo, e 2 Reis continua a história até a destruição do templo,
terminando assim o período.

B. O objetivo religioso é relacionar a história à observância da aliança. O autor procura


enfatizar para a nação, que marchava para o cativeiro em 586, a conexão inseparável entre
obediência e bênção, e entre desobediência e maldição. Em contraste com os livros de
Crônicas, que tiveram por finalidade encorajar os humildes, os livros de Reis dão forte
ênfase à necessidade de arrependimento e resposta ao Deus da aliança, de modo que a
restauração pudesse ser efetuada e cumpridos os objetivos da aliança.
I REIS

O Espírito Santo em Ação


1 Rs 18.12 contém a única referência direta ao Espírito Santo, onde é chamado de “Espírito
do Senhor”. As palavras de Obadias lá indicam que o ES algumas vezes transportou Elias
de um lugar para outro (ver também 2Rs 2.16) Percebe-se uma relação com At 8.39-40,
em que se descreve Felipe como tendo uma experiência similar.

Há uma alusão, em 18.48 (“a mão do SENHOR”), à ação do Espírito Santo em capacitar
Elias para operar milagres, A fórmula “mão do SENHOR” é uma referência à inspiração dos
profetas pelo Espírito de Deus (ver 2Rs 3.15 e Ez 1.3; comparar com 1Sm 10.6,10 e
19.20,23). Aqui “a mão do SENHOR” se refere ao ES que dotou Elias com poderes
sobrenaturais para realizar uma façanha surpreendente.
Além dessas passagens, 1Rs 22.24 pode ser outra referência ao ES. Esse versículo se
refere a um “espírito do SENHOR” e pode indicar que os profetas compreendiam que o seu
dom de profecia vinha do Espírito de Deus (ver 1Sm 10.6,10; 19.20,23). Se esta
interpretação é aceita, então estaria em paralelo com 1Co 12.7-11, que confirma que a
habilidade pra profetizar é realmente uma manifestação do ES.

II REIS

Cristo Revelado
O fracasso dos profetas, sacerdotes, e reis do povo de Deus aponta para a necessidade do
advento de Cristo. Cristo é a combinação ideal desses três ofícios. Como profeta, a palavra
de Cristo ultrapassa largamente à dos ofícios. Como profeta, a palavra de Cristo ultrapassa
largamente à do grande profeta Elias (Mt 17.1-5), Muitos dos milagres de Jesus são
reminiscências das maravilhas que Deus fez através de Elias e Eliseu em Reis. Além disso,
Cristo é um sacerdote superior a qualquer daqueles registrados em Reis (Hb 7.22-27). 1Rs
ilustra vivamente a necessidade de Cristo como o nosso Rei em exercício de suas funções.
Quando perguntado se era rei dos judeus, Jesus afirmou que era (Mt 27.11). No entanto,
Jesus é um Rei maior do que o maior dos seus reis (Mt 12.42). O reinado de cada um
desses 26 governantes já terminou, mas Cristo reinará sobre o trono de Davi pra sempre
(1Cr 17.14; Is 9.6), pois ele é “REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap 19.16).

O Espírito Santo em Ação


1 Rs 18.12 contém a única referência direta ao Espírito Santo, onde é chamado de “Espírito
do Senhor”. Às vezes transportava Elias de um lugar para outro (ver também 2Rs 18.12)
Percebe-se uma relação com At 8.39-40, em que se descreve Felipe como tendo uma
experiência similar.

Há uma referência indireta ao ES na frase “Espírito de Elias” em 1.9,15. Aqui Eliseu tenta
receber o mesmo poder de Elias para levar adiante o ministério profético do seu antecessor.
O espírito enérgico ou o poder que capacitava Elias a profetizar era o Espírito de Deus. 2Rs
2.9,16 fornece um paralelo interessante entre o AT e At 1.4-9 e 2.1-4. Elias foi elevado ao
céu, Eliseu procurou a promessa de que receberia poder para levar adiante o ministério do
seu mestre, e a promessa foi cumprida. Da mesma maneira, Jesus ascendeu, os discípulos
aguardaram o cumprimento da promessa, e o ES desceu para capacitá-los a levar adiante
a obra que seu mestre começou.
Uma alusão final ao ES aparece em 2Rs 3.15. Aqui a “mão do Senhor” veio sobre Eliseu,
capacitando-o a profetizar ao rei Josafá. A fórmula “a mão do SENHOR” se refere à
inspiração divina dos profetas.
OS LIVROS DAS CRÔNICAS

I CRÔNICAS
TEMA: A Soberania de Deus ao Estabelecer o Trono de Davi

II CRÔNICAS
TEMA: A Fidelidade de Deus para Disciplinar a Dinastia de Davi

TÍTULO
1 “Crônicas” é um nome cristão dado a estes livros por Jerônimo no quarto século da era
cristã. É um título bem escolhido, pois sugere o propósito de fazer um registro cronológico
da história sagrada.

2. Os dois livros, que formam um só volume no cânon hebraico, têm o nome de “Atos dos
Dias” ou “Atos dos Tempos”. Foram colocados no final do cânon, como uma retrospectiva
analítica da conduta divina para com a nação israelita.

3. Os tradutores gregos denominaram-nos “Paraleipomena” (coisas esquecidas),


considerando-os um suplemento aos livros de Samuel e Reis.

AUTOR
1. Embora anônimos, esses livros são evidentemente obra de Esdras, o sacerdote, de
acordo com a tradição hebraica. O estilo literário, o ponto de vista sacerdotal e o objetivo
claro são coerentes com outras obras de Esdras. Note-se que os últimos versículos de
Crônicas são os primeiros versículos do livro que leva o nome desse profeta, o que sugere
uma continuação.

2. O autor é antes um compilador. Além de usar o Pentateuco, os livros de Samuel e Reis,


faz referência a aproximadamente doze outros documentos existentes naquela época (1
Crônicas 9:1; 29:29; 2 Crônicas 9:29; 12:15; 13:22; 20:34; 26:22; 27:7; 32:32; e 33:19).

CENÁRIO HISTÓRICO
PERÍODO DE TEMPO.
Da criação de Adão até Ciro, da Pérsia (538 a.C.)

1. O livro foi escrito evidentemente logo após a volta do exílio, a fim de proporcionar um
fundo teocrático para as exortações de Esdras e Neemias. O ano de 430 a.C.,
aproximadamente, seria uma data provável do livro.

2. Os acontecimentos ou cronologias dos livros, entretanto, abrangem toda a história do


Antigo Testamento, desde Adão até os netos de Zorobabel, Pelatias e Jesaías em 1
Crônicas 1-3, que foram contemporâneos de Esdras (Keil). O seu alcance cronológico é,
portanto, maior do que qualquer outro livro da Bíblia, desde Gênesis até Malaquias.

CENÁRIO POLÍTICO
1. Quando os livros de Crônicas foram compilados, Judá já não era uma monarquia, e sim
apenas um pequeno grupo de exilados que tinham voltado da Babilônia sob vassalagem
do império persa. Os “tempos dos gentios” (Lucas 21:24) principiaram em 606 a.C., ocasião
em que Israel começou a ser governado por nações gentias.

2. Mas os judeus não deixaram de exercer influência sobre o império nessa época. Daniel
chegara à posição de primeiro-ministro, tanto no Império Babilônico de Nabucodonosor
como no Império Persa de Ciro (Daniel 2:6). Ester e Mordecai chegaram a ser,
respectivamente, rainha e primeiro-ministro do império persa na época de Assuero, pai de
Artaxerxes I Longímano, que reinou na época de Esdras. Eles exerceram grande influência
no império a favor dos judeus.

CENÁRIO RELIGIOSO
1. Apesar de os acontecimentos de 2 Crônicas referirem-se à Era do Templo Salomônico,
foram escritos na Era do Templo de Zorobabel (536-?). Esse novo templo tinha sido
concluído mais ou menos oitenta e cinco anos antes, e o muro da cidade reconstruído
recentemente. Porém, nada mais de relevante havia acontecido. A prometida era
messiânica não se tinha materializado e se estabelecia a estagnação religiosa. A volta às
áridas colinas lembrava aos judeus a sua insignificância na grande área do império persa.
A tendência era pôr de lado as promessas da aliança de um grande reino davídico na
Palestina, como se tudo não passasse de mera fantasia religiosa de uma época já
ultrapassada.

2. A estagnação religiosa é evidente em todos os seis livros pós-exílio (Esdras, Neemias,


Ester, Ageu, Zacarias e Malaquias). Eles estavam provavelmente esperando que o Senhor
instituísse rapidamente o reino messiânico logo após o retorno deles à pátria. Porém,
parecia que o Senhor os tinha desapontado. Com a falta de perseverança e letargia
espiritual, o povo precisava ser lembrado do programa e dos objetivos para Israel do ponto
de vista divino, e de como Deus era soberano e fiel em toda a sua conduta. Esdras então
compilou os livros de Crônicas com a finalidade de realçar a soberania de Deus sobre a
nação e o interesse do Senhor na adoração adequada e na obediência, para que as
bênçãos da aliança fossem recebidas (2 Crônicas 7:14).

O BJETIVO DOS LIVRO DAS CRÔNICAS


Pode-se discernir um objetivo duplo nesse estudo do período do Antigo Testamento feito
por Esdras:

A. O objetivo histórico dos livros não era continuar a história de Israel a partir do final de
2 Reis, mas apresentar de maneira sucinta toda a história sob a perspectiva divina. Em vez
de começar com Samuel ou Abraão, ele o faz com Adão. Nessa retomada da história, o
cronista omite dos livros de Samuel e Reis muito do conteúdo referente a guerras, política
e até mesmo aos pecados do povo. A ênfase é concentrada mais nos levitas, na adoração
dentro do templo, nas bênçãos do arrependimento, na soberania de Deus para restaurar o
povo e cumprir as suas promessas se esse povo correspondesse.

B. O fato de estarem colocados no final do cânon hebraico sugere um objetivo canônico.


Esdras (a quem se atribui a ordem dada ao cânon hebraico) não os colocou no fim por mera
modéstia, mas para dar-lhes uma importância especial. Constituem o único tipo de
repetição no Antigo Testamento, e sintetiza toda a história sagrada para lembrar às
gerações futuras que Deus é a figura central do seu povo. Embora grande parte de Israel
estivesse disperso, o programa divino para o povo permanece intato.

Mesmo tendo levantado impérios para disciplinar o seu povo, o Senhor cumprirá com
soberania todas as promessas da sua aliança. Parece que Esdras queria fechar o Antigo
Testamento com essa ideia.

I CRÔNICAS

O Espírito Santo em Ação


Há duas referências claras ao ES em 1Cr. A primeira está em 12.18, em que o “Espírito”
entrou em Amasai e o capacitou a fazer uma declaração inspirada. E a segunda em 28.12,
a qual explica que por meio do ministério do Espírito (ânimo) os planos do templo foram
revelados a Davi.

II CRÔNICAS

O Espírito Santo em Ação


Há três referências claras ao ES em 2Cr. É identificado como o “Espírito de Deus” (15.1;
24.20) e como o “Espírito do SENHOR” (20.14). Nessas referências, o ES inspirou
ativamente Azarias (15.1), Jaaziel (20.14) e Zacarias (24.20) para que falassem da parte
de Deus. Além dessas referências, muitos veem a presença do Espírito Santo na dedicação
do templo (5.13,14).
OS LIVROS DE ESDRAS E NEEMIAS

ESDRAS
TEMA: Volta de Israel do Exílio a fim de Reconstruir o Templo para Adoração

ESDRAS
TEMA: Reconstrução do Muro e Renovação da Aliança

TÍTULO
1 Os livros de Esdras e de Neemias eram considerados um só livro nos tempos antigos,
conforme registro do Talmude, de Josefo e de Jerônimo. Este fato facilitou a limitação do
número de livros canônicos para o número de letras do alfabeto hebraico.

2. A Septuaginta também os considerava um livro único, i.e., “Esdras B”, que seguia o livro
apócrifo “Esdras A”, o qual reproduzia 2 Crônicas 35-36, Esdras e Neemias 7:38-8:12 como
um resumo do período.

3. A Vulgata Latina dividiu-os em dois livros, denominando Esdras “Esdras A”, e Neemias
“Esdras B”.

4. A Bíblia evangélica e a hebraica moderna dividem-nos em dois, denominando-os Esdras


e Neemias em homenagem às suas figuras humanas principais.

AUTOR OU COMPILADOR
1. Esdras, o sacerdote, é geralmente considerado o autor ou compilador dos quatro livros
históricos desse período: 1 e 2 Crônicas, Esdras e Neemias. Quanto a Neemias, é provável
que Esdras usasse as memórias de Neemias, porquanto Neemias fala na primeira pessoa
de vez em quando.

2. Supondo que Esdras seja o autor compilador, o seguinte material foi usado:
a. As Memórias de Esdras (evidência baseada no fato de serem usadas tanto a
primeira quanto a terceira pessoa).
b. As Memórias de Neemias (pelo fato de ser usada a primeira pessoa).
c. Foram também utilizados outros documentos e catálogos oficiais, como se torna
evidente nas seções Esdras 4:7-6:18
e 7:12-26, escritas em aramaico, a língua oficial na época para a correspondência
internacional.

3. Esdras era filho de Seraías, o sumo sacerdote assassinado por Nabucodonosor em 586
a.C. (Esdras 7:1, 2 Reis 25:18-22), e irmão de Jeozadaque, o sumo sacerdote levado cativo
(1 Crônicas 6:15). Sua importância como professor da Lei que concluiu o Antigo Testamento
é com frequência comparada com a de Moisés, o legislador, que começou a escrever o
Antigo Testamento. Ambos eram levitas. Moisés escreveu os primeiros cinco livros, Esdras
escreveu ou compilou os quatro últimos.

4. As obrigações de Esdras para com os hebreus que voltaram do exílio incluíam diversas
tarefas grandiosas:
a. Reinstituir o devido culto no templo reconstruído em 457 a.C.
b. Escrever ou compilar 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias e Salmo 119.
c. Presidir a “Grande Sinagoga” que presumivelmente determinou e organizou o
cânon hebraico das Escrituras.
d. Instituir sinagogas locais em Judá para o estudo da Tora, semelhantes àquelas
fundadas na Babilônia (as quais se tornaram um lugar de reunião regular dos judeus
dispersos, conforme Ezequiel 20).

CENÁRIO H ISTÓRICO
DATA — 430-425 a.C., aproximadamente.
Como os ministérios de Esdras e de Neemias tiveram lugar durante o reinado de Artaxerxes
I (465-424 a.C.), é provável que os livros tivessem sido completados perto do fim do
período, depois de Malaquias, último profeta, ter pronunciado a sentença do Senhor e feito
o devido registro.

PERÍODO DE TEMPO ENVOLVIDO EM ESDRAS E EM NEEMIAS 538-430 a.C.


Essa história cobre um período de mais de 100 anos, desde a volta de Zorobabel, construtor
do templo (537), até o último retorno de Neemias, construtor dos muros (depois de 432).
Na realidade, foram quatro turmas que voltaram do cativeiro: a de Zorobabel em 537, a de
Esdras em 457, a de Neemias em 444, e a outra de Neemias em 432.

CENÁRIO POLÍTICO
1 Estes livros introduzem um novo período da história de Israel tanto no âmbito nacional
quanto no internacional. No âmbito nacional, foi o princípio da era pós-exílio com a volta de
Israel à sua terra. Os setenta anos de exílio tinham terminado. No âmbito internacional, foi
o princípio da era do império persa com o seu grande número de novas manobras políticas,
que afetaram Israel e o mundo.

2. Para Israel o efeito mais importante dessa política era a nova prática persa da volta do
exílio. Em vez de deportar e transportar o povo cativo, como faziam a Assíria e a Babilônia,
os mandaram de volta para o solo nativo a fim de ajudarem a promover relações pacíficas
com o império. Não somente os libertavam, como também com frequência subsidiavam a
volta para ajudá-los a se fixar e reinstituir o sistema religioso no torrão natal.

3. Ao examinar a política da época, não se deve esquecer que diversos judeus tinham
alcançado altos postos no governo persa e, com toda a certeza, exerciam grande influência
na corte. Daniel, Ester e Mordecai ocuparam lugares de suprema importância e de
influência política durante os períodos babilônico e persa.

CENÁRIO RELIGIOSO
1. Internacionalmente, um novo clima religioso foi introduzido pelos persas. Os decretos de
Ciro e Dario surgiram parcial; mente inspirados por sua fé religiosa. Esta não passava de
uma mistura da visão tradicional de um panteão de deuses, e do zoroastrismo desenvolvido
recentemente, com suas duas hierarquias: do bem e do mal. Como resultado dessa visão,
eles fizeram o povo voltar à sua terra natal a fim de aplacar os deuses locais e promover a
paz no império. Tal política resultou na volta de Israel à Palestina com os vasos do templo,
e na reativação de seu sistema religioso.

2. Para muitos em Israel, o exílio na Babilônia produziu uma grande revolução espiritual.
Embora houvesse uma deserção quase total na época do cativeiro, conforme registro de
Jeremias e Ezequiel, o grupo que retornou à pátria em 537 era composto, em sua maioria,
de piedosos judeus ansiosos por retornar à terra da aliança. Embora muitos tivessem
preferido permanecer no fértil vale da Babilônia, um contingente de aproximadamente
50.000 homens (além de mulheres e crianças) aceitou o convite para enfrentar os reveses
da volta a Judá, às cidades destruídas e colinas cobertas de vegetação. O estudo da Tora
e dos profetas, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, feito nas sinagogas, exerceu sem
dúvida uma grande influência na inspiração dessa fé religiosa.
3. Foi esse um período de muito pensamento e convulsão religiosa e filosófica no mundo,
o que pode ser comprovado pelos notáveis pensadores e pelos movimentos daquela época:

a. Sócrates (469, aproximadamente), Platão (427) e Aristóteles (384) muito


contribuíram para o desenvolvimento do pensamento grego ou helenista, grande
influenciador do mundo.

b. Zoroastro (Zaratustra, 628-551), cujas ideias se espalharam rapidamente pelo


mundo persa.

c. Buda (Gautama, 563-486) desenvolveu as “quatro nobres vontades” do budismo,


rejeitando o antigo hinduísmo com as suas “castas”, ideia que se espalhou pela índia.

d. Confúcio (Kung Fu-tze, 551-479, aproximadamente) ensinou na China durante


uma época de grande luta interna e rejeição de tradições religiosas. Essas atividades
religiosas e o desassossego mundial enfatizam a importância da obra de Esdras para
preservar a religião verdadeira dos patriarcas e profetas.

O BJETIVO DOS LIVROS DE ESDRAS E DE NEEM IAS


A . Objetivo unificado de Esdras e de Neemias. Historicamente, foram escritos para
completar a história de Israel, registrada em Crônicas desde o começo até o cativeiro de
586. A história da volta de Israel do exílio era necessária para demonstrar ao povo que a
aliança estava sendo mantida pelo Senhor ao cumprir-se a promessa da volta.

B. Objetivo de Esdras.
O objetivo específico desse livro era documentar a volta do povo que vinha reconstruir o
templo na ocasião certa em que o Senhor, por intermédio de Jeremias, havia dito que
aconteceria (Jeremias 29:10 e ss.; Esdras 1:1). Como os últimos dois versículos de
Crônicas aludiram ao cumprimento dessa promessa, Esdras voltou à mesma afirmação e
deu os detalhes da construção do templo e da restauração do culto.

C. Objetivo de Neemias.
Esdras usou os registros pessoais de Neemias (Neemias 1:1-7:73) para documentar a
reconstrução do muro de Jerusalém, incluindo a data exata do decreto do rei: “no mês de
nisã, no ano vigésimo do rei Artaxerxes.” O livro mostra como Deus usou uma pessoa leiga,
mas interessada, para assentar os blocos do muro de Jerusalém a fim de que houvesse
proteção aos restantes e ao templo reconstruído, bem como defesa contra as incursões do
comercialismo e da cultura pagã, que tinha a tendência de enfraquecer a pureza divina. A
data do decreto para a reconstrução do muro também forneceu a data exata em que
deveriam começar as “setenta semanas” (grupos de sete) de Daniel.

Dessa maneira, as datas desses dois livros dão encorajamento quanto à profecia passada
(cumprimento dos setenta anos de Jeremias) e quanto ao início da profecia futura
(cumprimento das
“setenta semanas” de Daniel).

ESDRAS
O Espírito Santo em Ação
A obra do ES em Esdras pode ser vista claramente na ação providencial de Deus em
cumprir as suas promessas. Isto é indicada pela frase “a mão do Senhor”, que aparece seis
vezes.
Foi pelo Espírito que “despertou o Senhor o espírito de Ciro” (1.1) e “tinha mudado o
coração do rei da Assíria” (6.22). Teria sido também pelo ES que “Ageu, profeta e Zacarias...
Profetizaram aos Judeus” (5.1).

A obra do ES é vista na vida pessoal de Esdras, tanto no sentido de obrar nele (“Esdras
tinha preparado o seu coração para buscar a Lei do Senhor”, 7.10), como no sentido de
atuar em seu favor (“o rei lhe deu tudo quanto lhe pedira” - 7.6).

NEEMIAS
O Espírito Santo em Ação
Desde a criação, o ES tem sido o braço executivo de Deus na terra. Eliú falou a verdade
quando disse a Jó: “O Espírito de Deus na terra me fez” (Jó 33.4). Aqui aparece um padrão
constante: é o Espírito de Deus que age para fazer de nos o que Deus quer que sejamos.
Ne 2.18 diz: “Então, lhes declarei como a mão do meu Deus me fora favorável.” A mão de
Deus, seu modo de agir sobre a terra, é o Espírito Santo.

Neemias, cujo nome significa “Jeová conforta”, foi claramente um instrumento do ES. Sob
o poder do ES, certamente se tornou modelo da forma de atuar do ES e foi uma dos
primeiros cumprimentos dessa memorável profecia.
O LIVRO DE ESTER

TEMA: A Contínua Solicitude do Senhor por Israel Mesmo na Dispersão

TÍTULO
1. O título é devido à figura central do livro. “Ester” (“estrela”) era o seu nome persa, e
“Hadassah” (“murta”) era o seu nome judeu.

2. Este é um dos dois livros do Antigo Testamento que levam o nome de uma mulher:

a. Rute, gentia, que se casou com um rico judeu de linhagem real da promessa, Boaz.
b. Ester, judia que se casou com um rico gentio da realeza, Assuero.

AUTOR
1. Desde os tempos antigos, Mordecai tem sido considerado o autor provável; entretanto,
Esdras e Neemias também têm sido sugeridos como possíveis autores. O último capítulo
parece desqualificar Mordecai, embora pudesse ter sido escrito por um redator, como
Esdras. Todavia, o estilo com que o livro foi escrito não parece ser de Esdras ou de
Neemias.

2. Embora o autor seja desconhecido, é evidente que ele, ou ela, conhecia bem os
costumes e a corte da Pérsia e tinha talento dramático. O Talmude atribui a autoria de
“Ester” à “Grande Sinagoga”, cujo provável presidente, Esdras, poderia ter colaborado no
livro.

CENÁRIO HISTÓRICO
D A T A — 460 a.C., aproximadamente.
1. Deve ter sido escrito logo após a morte de Assuero (Xerxes) (465), quando os seus
relatórios foram completados no livro da história dos reis (Ester 10:2). 2. Foi escrito para
encorajar os judeus dispersos no império e àqueles que regressariam em 457 e 444.

PERÍODO DE TEMPO ENVOLVID O - 483-473 a.C.


1. Em 483, a rainha Vasti foi deposta (terceiro ano de Assuero).
2. Em 479, a rainha Ester foi coroada (sétimo ano de Assuero).
3. Em 473, houve o livramento dos judeus do Purim (décimo terceiro ano de
Assuero).
4. Os acontecimentos deste livro encaixam-se cronologicamente entre os capítulos
6 e 7 de Esdras.

CENÁRIO POLÍTICO
1. Governador persa.
Sob o reinado de Assuero, o império persa chegou ao auge do poder. Esse rei foi o
governador persa que promoveu uma expedição gigantesca contra a Grécia em 480,
tentando realizar o que seu pai Dario não conseguira em 490, isto é, conquistar e anexar a
península grega ao império persa.

Embora tenha capturado Atenas (saqueando a cidade e destruindo a Acrópole), a sua


esquadra foi derrotada perto da ilha de Salamina e voltou à Pérsia. Essa derrota ocorreu
entre Ester 1 e 2.

2. Capitais.
Susã (grego “Susã” lírios) era uma das três capitais mantidas pela Pérsia. As outras eram
Babilônia, na Mesopotâmia, e Persépolis, na parte sudeste da Pérsia. Susã era considerada
residência real de verão e estava localizada no planalto de Elão, a cerca de 400 quilômetros
da Babilônia. Daniel também ali morou na época do reinado de Belsazar (Daniel 8:2).

3. Judeus do império.
Embora um grande contingente de judeus tivesse regressado à Palestina mais ou menos
sessenta anos antes, com Sesbazar (e Zorobabel), muitos ainda estavam dispersos por
todo o império. Sob o domínio persa, receberam bom tratamento, aprenderam aramaico e
economia, e sofreram poucas restrições. O antissemitismo observado em Ester não foi
persa, mas agagita.

4. Mudanças persas no império.


Várias mudanças ocorrerem entre os persas, durante a transição do governo babilônico
para o persa:

a. Houve uma atitude mais compassiva para com os povos conquistados. É


interessante notar que nessa época foi iniciado entre os persas um período de paz relativa
que durou aproximadamente 20 anos.

b. O império tornou-se muito maior, estendendo-se desde a índia até a Europa.

c. Um ariano (caucásio) passou a governar o mundo. Foi o primeiro império desse


tipo, pois os persas eram de estirpe europeia.

d. Os persas escolheram o aramaico como o idioma oficial do império para o


comércio e a política, pois já se tinha tornado a língua franca.

e. Antigas fronteiras foram modificadas e houve nova divisão de satrapias ou


províncias a fim de dissolver velhas alianças e permitir um governo local, embora sob
supervisão persa.

5. Desafio grego.
As tentativas persas, tanto de Dario como de Xerxes, de invadir a Europa por meio de um
ataque à Grécia em 490 e 480 tornaram-se um ponto de referência na procura oriental do
domínio do mundo. Sua grande derrota em Salamina e Plateia infligida pelos espartanos,
depois de ter Xerxes atravessado o Helesponto e destruído a Acrópole de Atenas, mudou
o rumo dos impérios. Os gregos jamais esqueceram a pilhagem de Atenas feita pelos
persas. Alexandre vingou aquela atrocidade saqueando e queimando Persépolis em 331, a
capital política de Dario e de Xerxes. As cidades da Grécia e do Egeu fortificaram-se durante
150 anos para depois impelir o Paladino Alexandre pelo Helesponto a fim de reivindicar não
só o império persa, mas as regiões mais importantes daquele tempo.

CENÁRIO RELIGIOSO

1. Religião de Israel.
Quanto à situação religiosa de Israel no período pós-exílio, basta ler a Introdução dos livros
de Esdras e de Neemias. Foi uma época de pequeno progresso espiritual, de forte
tendência de amálgama com a cultura circundante e de indiferença generalizada, embora
estivessem curados da idolatria dos deuses de pedra e madeira.

2. Religião dos judeus dispersos.


Zoroastrismo era a religião incentivada pelos governadores persas, nome derivado de
Zoroastro (“treinador de camelos”) que a introduziu e à qual parece ter convertido
Histaspes, pai de Dario I. Era uma religião aparentemente dualista, tolerante para com os
deuses “beneficentes e verdadeiros”, mas não para com os “maldosos e falsos”. Portanto,
embora expressassem grande consideração e bondade para com os adoradores dos bons
deuses, podiam tornar-se muito perversos para com os outros. Como os judeus do império
eram considerados adoradores de bons espíritos, foram não apenas tolerados como
auxiliados e subsidiados na reconstrução da sua instituição religiosa.

OBJETIVO DO LIVRO DE ESTER

A. O objetivo histórico deste livro foi evidentemente encorajar os judeus dispersos por
todo o império com a história do contínuo interesse e presença do Senhor, mesmo que ele
não fosse visto
e os judeus estivessem longe do templo de Deus em Jerusalém. Apesar de o nome do
Senhor não ser mencionado, sua divina direção faz-se presente em todo o livro.

B. Houve também o objetivo religioso de dar uma explicação autêntica da origem da festa
judaica do Purim, uma festa especialmente cara aos judeus da dispersão.

O Espírito Santo em Ação


Embora não se mencione diretamente o Espírito Santo, sua ação produziu em Ester e
Mardoqueu profunda humildade, conduzindo-os ao amor mútuo e à lealdade (Rm 5.5). O
Espírito Santo também dirigiu e fortaleceu Ester para jejuar pelo seu povo e pedir que este
fizesse o mesmo. (Rm 8.26, 27).
1. Introdução

2. O que é poesia

3. Os livros poéticos

4. A Poesia Hebraica

5. O Livro de Jó: o propósito do sofrimento


5.1. Autoria
5.2. Datação
5.3. Historicidade
5.4. Informações adicionais
5.5. Esboço do livro
5.6. A teologia do livro de Jó
5.7. A cristologia em Jó
5.8. Considerações finais

6. Livro dos Salmos: espiritualidade e melodia


6.1. Sobre o título
6.2. Autoria
6.3. Datação
6.4. Especificações técnicas
6.5. Categorização
6.6. Salmos no Novo Testamento
6.7. Estrutura do livro

7. Livro de Provérbios: a beleza da sabedoria


7.1. Sobre o título
7.2. Autoria
7.3. Datação
7.4. Objetivos do livro
7.5. Estrutura literária
7.6. Breve esboço
7.7. A sabedoria de Provérbios
7.8. A terminologia de Provérbios
7.9. A relação entre Provérbios e Salmos
7.10. Considerações finais

8. Eclesiastes: poesia e filosofia de um pregador


8.1. Autoria
8.2. Datação
8.3. Conteúdo
8.4. A teologia em Eclesiastes

9. Cântico dos cânticos: a expressão pura do amor conjugal


9.1. Título
9.2. Autoria
9.3. Datação
9.4. Conteúdo
9.5. Interpretação
9.6. Contribuições singulares
9.7. Breve esboço
9.8. Relações intertextuais

10. Livros Poéticos hoje: poesia numa época carente de beleza


10.1. Refrigério para a alma
10.2. A família nos livros poéticos
10.3. Lições dos livros poéticos
INTRODUÇÃO

A leitura dos livros poéticos do Antigo Testamento é uma experiência


extraordinariamente gratificante. É a partir dela que somos elevados ao âmago do coração
humano e, ajoelhados diante do Divino aos pés da cruz, temos a possibilidade de contemplar
a totalidade da máxima “conhece-te a ti mesmo”.
Na condição de livros inspirados, os textos poéticos não são relatos fantasiosos ou
conjecturas vazias, mas sim tratados filosóficos repletos das mais profundas verdades acerca
da vida humana. São alimento de altíssima qualidade tanto para a alma quanto para o
intelecto.

O QUE É POESIA?

“Tarde vos amei, ó Beleza tão antiga e tão


nova, tarde vos amei! Eis que habitáveis
dentro de mim, e eu lá fora a procurar-vos!
Disforme, lançava-me sobre estas
formosuras que criastes. Estáveis comigo,
e eu não estava convosco!”
(Agostinho de Hipona)

Muito mais que mera composição métrica de versos melodiosos, a poesia é aquilo
que permite ao homem transcender a mediocridade para deparar-se frente a frente com a
Beleza Universal. É a mais pura expressão da alma, uma leitura espiritual da vida e, como
diria C. S. Lewis, “uma pequena encarnação que dá corpo ao que outrora foi invisível e
inaudível.".

OS LIVROS POÉTICOS

Sendo a Bíblia uma coletânea de diversas obras, é comum que haja elementos
poéticos distribuídos por toda a sua extensão. Apesar desse fator, entretanto, os hebreus
distinguiam três livros como predominantemente poéticos: Jó, Salmos e Provérbios. Mais
tarde, no séc. IV, a Vulgata de São Jerónimo incluiria nesse hall os livros didáticos -
Eclesiastes e Cantares - de forma que o conjunto de livros poéticos hoje pode ser dividido em
duas subcategorias:

● Livros de Sabedoria: Jó, Provérbios e Eclesiastes

● Livros Hínicos: Salmos e Cantares

Seu conteúdo abarca temas profundos, revelando os mais íntimos sentimentos dos
autores, bem como suas maiores obras de contemplação. Sendo a poesia a própria
expressão da alma, as passagens poéticas são ferramentas poderosas para a meditação e
comunhão com Deus, e estudá-las é atentar-se à revelação cósmica presente na criação,
retratada no texto das seguintes maneiras:
● A poesia como expressão do cotidiano: é um erro imaginar que o transcendente é
necessariamente excepcional. O texto bíblico nos mostra a sabedoria e a beleza que
nascem de aspectos simples da realidade, ensinando-nos a espelhar no comum a
Graça Divina.

● A poesia como expressão profética: na condição de obras inspiradas, os livros


poéticos apresentam também um caráter profético. Muito mais que um adivinhador, o
profeta veicula o sentimento Divino, de forma que em toda a extensão dos textos
pode-se perceber a mensagem messiânica apontando para a Cruz.

● A poesia como expressão de espiritualidade: há uma espiritualidade intrínseca à


poesia judaica que se manifesta nesses textos, de forma que o olhar para dentro de
si revela sinais do Criador, e a autoanálise submete o homem a Deus.

● A poesia como expressão teológica: levando em conta os pontos apresentados


anteriormente, é inevitável a conclusão de que os textos poéticos são materiais
abundantes para teologia. E como poderia ser diferente? Há como não enxergar o
Divino na história de Jó? Pode-se desviar os olhos de Deus ao ler a sabedoria de
Eclesiastes ou a beleza dos Salmos? Esses livros nos ensinam, por meio da Graça,
a educar a alma para que aprofundemos cada vez mais nosso relacionamento com
Deus.
A POESIA HEBRAICA

“Grande parte da nossa poesia moderna


apoia-se na rima ou paralelismo sonoro.
Além disso, existe um ritmo ou
paralelismo de tempo. Na rima atingimos
o prazer da concordância fonética. No
ritmo atingimos o prazer da concordância
métrica. [...] Na poesia hebraica, porém,
não existe nem o paralelismo sonoro da
rima nem o do ritmo, mas existe um
paralelismo de ideias.”
(J. Sidlow-Baxter)

Diferentemente de sua contraparte ocidental, a poesia oriental preocupa-se muito


menos com a técnica estética do texto, e isso não é exceção na poesia hebraica. Nota-se
claramente o foco num paralelismo, uma correspondência no emprego dos termos de cada
período. Há diversas formas de uso desse método, entre as quais:

Paralelismo Sinônimo:
Acontece quando o poeta repete uma ideia já apresentada no texto com alteração no
emprego das palavras.
Ex: Então Israel entrou no Egito, e Jacó peregrinou na terra de Cão. (Salmos 105:23)

Paralelismo Antitético:
Caracterizado por uma oposição de uma ideia previamente apresentada.
Ex: Porque o Senhor conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.
(Salmos 1:6)

Paralelismo Sintético:
Caracterizado por uma progressão de continuidade do texto.
Ex: A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel, e dá
sabedoria aos símplices. (Salmos 19:7)

Paralelismos Escalonado ou Climático:


Acontece quando há uma evolução gradual onde um pensamento se repete e, a partir dele,
surge um novo ciclo até sua conclusão plena.
Ex: Dai ao SENHOR, ó filhos dos poderosos, dai ao SENHOR glória e força. (Salmos 29:1)

Paralelismo emblemático:
Fazendo uso de uma linguagem figurada seguida de uma explicação literal do objeto descrito
(ou vice-versa), o texto trabalha com a ilustração mútua das palavras do autor.
Ex: Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. (Salmos
42:1)

Paralelismo analítico:
Nada mais que a análise racional das premissas estabelecidas no texto, o paralelismo
analítico faz uso de princípios lógicos para chegar a uma conclusão.
Ex: O SENHOR reina; tremam os povos. Ele está assentado entre os querubins; comova-se
a terra. (Salmos 99:1)

Paralelismo de quiástico:
Acontece quando a segunda parte do texto repete a primeira, mas há aí uma inversão da
ordem dos termos.
Ex: Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as
minhas transgressões. (Salmos 51:1)

Além dos paralelismos, há outros aspectos da poesia hebraica que devem ser
observados. Uma técnica amplamente empregada é o uso dos chamados Acrósticos, textos
onde toda a poesia constrói-se a partir da utilização das letras do alfabeto hebraico.

Há também outras classes de literatura hebraica. Esse grupo de escritos é


denominado de Literatura Criativa dos Hebreus e se divide nas seguintes subcategorias:

● Drama poético: série de cenas em forma de versos

● Versos líricos poéticos: versos para cantar ou salmodiar

● Didática poética: versos para o ensino, divididos em didática prática (Provérbios) e


filosófica (Eclesiastes)
● Idílios poéticos: exaltação da beleza estética da natureza em forma de versos
(Cantares)

● Elegias poéticas: versos lamuriosos (Lamentações de Jeremias)

Apesar da multiplicidade de tipos literários, entretanto, a poesia hebraica mantém uma


forte unidade centrada no temor ao Senhor.
O LIVRO DE JÓ:
O PROPÓSITO DO SOFRIMENTO

“Certa vez, um grupo de literatos reuniu-se


em Londres para discutir o Livro de Jó.
Dentre as perguntas por eles suscitadas,
esta certamente ficou sem resposta:
‘Quem era aquele Shakespeare da
antiguidade que, num único poema, logrou
fazer a mais profunda e sublime
abordagem teológica, filosófica e
psicológica acerca do sofrimento humano?
’ Apesar de não haverem identificado o
autor de Jó, viram-se todos constrangidos
a concluir que, tal façanha, jamais fora
sequer igualada.”
(Claudionor de Andrade)

Autoria:

Há várias teorias acerca da identidade do autor do Livro de Jó. Muitos acreditam ser
o próprio Jó, outros creditam o livro a Moisés. Há ainda quem defenda que o texto foi escrito
por outras pessoas, como Salomão, Jeremias, Eliú, amigo de Jó, ou até mesmo um
anônimo.

Datação:

O livro de Jó é amplamente considerado o mais antigo de toda a Bíblia, datando do


séc. 14 a.C. por uma série de fatores, dentre os quais:

● Não há no texto menção alguma da nação de Israel, indicando que a história narrada
precede sua fundação.

● Jó é descrito fazendo sacrifícios. A partir disso, deduz-se a ausência de uma


instituição sacerdotal encarregada.

● O livro faz uso constante do termo Shaday, amplamente empregado na era dos
patriarcas.

Historicidade:

A historicidade do relato de Jó pode ser defendida se levarmos em conta os


seguintes pontos:

● A terra habitada por Jó, Uz, é uma região histórica.


● O profeta Ezequiel cita o livro de Jó de maneira histórica.

● Tiago refere-se ao livro de Jó como um relato concreto, não uma invenção fantasiosa.

● O modelo sociocultural descrito no livro de Jó compatível com a realidade histórica

● A idade de Jó é verossímil com a dos patriarcas.

● O apóstolo Paulo também faz referência ao livro de Jó.

Informações adicionais:

O livro de Jó possui 42 capítulos encerrando 1.070 versículos e mais de 10.000


palavras. Dos 1.070 versículos, 1066 são históricos e quatro de profecia, sendo uma cumprida
e três ainda por se cumprir. No livro são explicitados 13 mandamentos, feitas 329 perguntas
e, interessantemente, nenhuma respostas é apresentada no livro.
Quanto à riqueza literária do texto, tamanha é a grandeza dos temas abordados que
há hermeneutas que propõe a tese de que o autor teve de criar vocábulos para retratar os
sentimentos do patriarca.

Esboço do livro:

1. O propósito cósmico divino do sofrimento


a. A boa reputação de Jó, atestada por Deus
b. Os diálogos entre Deus e Satanás
c. Amigos de Jó tentam consolá-lo, porém possuem uma teologia ruim
d. Os lamentos de Jó: nos quais ele não se torna pecador

2. Discursos sobre o sofrimento


a. Discursos sobre Deus
b. Discursos sobre o homem (e a má teologia dos amigos de Jó)
c. Discursos de Eliú
d. Discurso de Deus – a soberania de Deus

3. Epílogo:
a. Auto realização de Jó
b. Oração de Jó pelos amigos
c. Restauração de Jó

A teologia do livro de Jó:


William Albright deduz em seu livro The Archeology of Palestine que o significado mais
profundo nome de Jó seja “Onde está o Pai? Porque é para ele que devo voltar”. De fato, a
fidelidade de Jó é demonstrada pela sua submissão a Deus.

O Livro de Jó é um tratado poético-filosófico da mais alta qualidade. Nele encontram-


se em debate temas extraordinariamente complexos e profundos como, por exemplo, a
questão do sofrimento humano em vista da justiça - e bondade - Divina.

Pode-se também encontrar em Jó a chamada Teologia da Crise, que demonstra que a dor e
o sofrimento possuem não apenas um propósito didático para o ser humano (como a imagem
do Pai que corrige o filho), mas também um significado cósmico Divino.

Na história de Jó é evidenciada uma forte dissonância entre a teologia legalista e


retributiva dos amigos de Jó e a verdade da integridade de Jó, testemunhada e atestada pelo
próprio Deus.

O ponto central do livro é o amor a Deus pelo simples fato de Deus ser Deus, e não
por quaisquer benefícios que Ele possa conceder a seus servos. Fica evidente em todo o
texto que Deus não é um meio para um fim, mas o próprio fim em si mesmo. Ora, uma vez
que o amor do homem a Deus não deve estar condicionado a bênçãos, as adversidades da
vida, sejam elas quais forem, não carregam motivos para abalar a nem nossa fé, nem nosso
relacionamento com Deus.

A condição de Jó também nos ensina que não é próprio do homem viver sem
sofrimentos. Mesmo na condição de servo justo e fiel, Jó é vítima de catástrofes das mais
variadas. De fato, a Bíblia nos mostra que o lamento de Jó não lhe é imputado como pecado,
visto que o choro é parte da dor. Nossa esperança não está numa promessa de que jamais
passaremos por dificuldades, mas sim na certeza de que resistiremos a elas.

Até mesmo quando Jó anseia pela morte, ele ainda coloca Deus acima de si, considerando
Sua mão esmagadora uma bênção protetora. “Se tão somente fosse atendido o meu pedido,
se Deus me concedesse o meu desejo, se Deus se dispusesse a esmagar-me, a soltar a mão
protetora e eliminar-me!” (Jó 6:8,9)

Mas quem é Deus para que exija a submissão dos homens? Jó responde a isso
também. Vide, por exemplo, o discurso Divino que se estende do capítulo 39 ao 40. Nele,
Deus estabelece sua autoridade apelando para o fato de que Ele, ele apenas Ele, é o Criador
soberano.

Jó também deixa clara a questão da pessoalidade de Deus. No texto, Ele se apresenta como
alguém que se envolve com o homem e não uma força imóvel.

A cristologia em Jó:

Outro ponto maravilhoso do relato de Jó são as frequentes referências a Cristo.


Observe o lamento de Jó pela ausência de um mediador:

“Ainda que me lave com água de neve e


purifique as mãos com cáustico, mesmo
assim me submergirás no lodo, e as
minhas próprias vestes me abominarão.
Porque ele não é homem, como eu, a
quem eu responda, vindo juntamente a
juízo. Não há entre nós árbitro que ponha
a mão sobre nós ambos”
(Jó 9:30-33)

Jó sente-se desolado, mas jamais renega a Deus. Assim, sem ter a quem recorrer,
ele clama pelo mediador e, portanto, aponta messianicamente para a vinda de Cristo. Vide
1Tm 2:5: Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus.
De fato, de uma forma figurada e, é claro, guardadas as devidas proporções, Jó é uma
espécie de Cristo no Velho Testamento. Ambos foram declarados justos pelo Pai, sofreram
ataques do diabo, foram acusados injustamente por aqueles ao seu redor e julgados como
indivíduos reprováveis.

Considerações finais:

Søren Kierkegaard vai dizer que o segredo do livro de Jó, a força vital, o ponto central,
a ideia é que apesar de tudo, Jó está certo. No fim das contas, a mensagem central do texto
é a mesma de toda a Bíblia: Deus. É o foco na esperança que há em Deus que dá forças ao
homem, de forma que nem mesmo o diabo pode atentar contra a salvação dos fiéis. É como
dizia Lutero: o diabo é um cão selvagem na coleira de Deus.
LIVRO DOS SALMOS:
ESPIRITUALIDADE E MELODIA

Sobre o título:

O título original do Livro de Salmos é Sefer Tehilim. Tehilim (‫ ְּת ִה ִלים‬ou ‫ )תהילי‬é um
termo do hebraico que significa Louvores. Salmos vem de Psalmoi (ψαλμοί), verbo grego
utilizado na Septuaginta que significa “tocar instrumentos de corda”. No Novo Testamento,
esse verbo é utilizado quatro vezes: Romanos 15:9, 1Coríntios 14:15, Efésios 5:19 e Tiago
5:13.
É importante notar que os “cânticos” dos Salmos não são apenas músicas ou cantigas,
mas sim orações e profundas expressões de louvor da alma.

Autoria:

Apesar do nome Salmos de Davi, há vários outros autores que contribuíram para a
coletânea de textos que forma esse livro da Bíblia. Abaixo uma lista dos autores conhecidos:

● Davi: há 73 salmos intitulados como salmos de Davi e, posteriormente, no novo


testamento, outros dois (2 e 95) foram identificados como sendo de sua autoria.

● Moisés: escreveu o salmo de número 90 e, segundo grande parte dos teólogos, o


salmo 91 também é de sua autoria.

● Salomão: escreveu os salmos de número 72 e 127. Algo interessante a se notar é que


há poucos salmos de sua autoria, apesar de seu conhecimento e sabedoria.

● Asafe: autor de 12 salmos (Sl 50 e Sl 73-89), Asafe trata bastante sobre a soberania
de Deus e também sobre a prosperidade dos ímpios em relação ao justo.

● Filhos de Coré: autores de dez salmos (Sl 42, 44, 45, 47, 49, 84, 85, 87 e 88).

● Etã: autor do salmo 89.

● Ezequias: autor de 15 salmos, há vários estudiosos que atribuem os Cânticos de


Romagem (Sl 120-134) a Ezequias.

● Jeremias: há estudiosos que atribuem o salmo de número 137 a Jeremias.

● Ageu: autor do salmo 146.

● Zacarias: autor do salmo 147.

● Esdras: o salmo de número 119 é comumente atribuído a Esdras.


Além dos textos onde o autor é identificado, há uma série de salmos considerados
“órfãos” pela ausência de atribuição a um escritor.

Datação:

Os salmos foram produzidos durante cerca de 1000 anos, desde os tempos de Moisés
até o período pós-exílio. A Enciclopédia Judaica data o primeiro texto de Moisés em aprox.
1430 a.C. Várias datas já foram sugeridas para os Salmos, entre elas: o período dos
Macabeus (depois descartada), a época de Davi (1020-970 a.C.), a época de Salomão (970-
921 a.C.), a época dos filhos de Asafe e Coré (anterior ao exílio) e o época dos homens de
Ezequias (700 a.C.).
É interessante notar que uma quantidade tão ampla de autores vindos dos mais
variados períodos e contextos gerar um texto não uníssono é por si só atestado da veracidade
do relato bíblico. Em cada um dos autores a mensagem doca na mesma pessoa: o messias.

Especificações técnicas:

Muitos Salmos possuem títulos individuais (134 deles no hebraico, 148 no grego).
Ainda que não façam parte do texto original, eles têm sua origem datada na antiguidade. Além
disso, há títulos que servem de indicativo sobre o modo como deveriam ser cantados. Segue
abaixo uma explicação dos termos mais utilizados:

● Mizmor (‫)מזְּ מור‬:


ִ vem do termo Zamar (‫ )ז ַָמר‬que significa cantar. No livro, 57 salmos
recebem esse título.

● Shir (‫)שיר‬:
ִ significa cântico ou, mais especificamente, ode. 30 salmos carregam esse
título. Shir pode aparecer em combinação com Mizmor (Sl 46) ou Maaloh (degraus)
nos Cânticos de Romagem (Sl 120-134).

● Maschil: um tema de significado incerto. Pode significar um poema contemplativo,


talvez de meditação. Há também a possibilidade de possuir um significado didático,
instrutivo. Há ocorrência desse termo em 13 salmos, apresenta ensinamentos de
forma melódica.

● Miktam (‫)מכְּ ָתם‬


ִ : também de significado incerto, pode indicar algo áureo ou dourado,
também pode indicar mistério, profundo, um poema escrito ou a ideia de expiatório,
lamentação pessoal. Aparece em cerca de seis salmos.

● Tephillah (‫)ת ִפלָ ה‬:


ְּ significa “oração”, mas indica algo mais complexo que uma simples
reza. O termo implica uma oração poética, racional e profunda e aparece em cinco
salmos (Sl 17, 86, 90, 102, 142).

● Tehillah (‫)ת ִהלָ ה‬:


ְּ singular de Tehilim, o termo significa “louvor” e há apenas uma
ocorrência dessa epígrafe em todo o Livro dos Salmos (Sl 145).
● Shiggayon (‫)שגָיֹון‬:
ִ também de significado incerto, pode significar “hino” ou “salmo
penitencial”. O mesmo termo aparece em Habacuque (Hc 3:1) e ocorre apenas uma
vez (Sl 7).

Tais epígrafes eram tanto direcionadas ao público geral (direcionando e identificando


o contexto do texto) quanto aos responsáveis por sua execução. Os usos dos títulos são os
seguintes:

● Descreviam o caráter do salmo

● Forneciam instruções ao mestre da música

● Indicam o uso litúrgico

● Apontam a autoria

● Contextualizam descrevendo o cenário original

Há também no texto algumas palavras técnicas para as quais alguma atenção se faz
necessária:

● Alamot: plural da palavra hebraica Almar (‫ )אלמר‬que significa virgem, o que indica
um coral feminino ou vozes de soprano. (Sl 41:6).

● Al tashet: um termo de difícil tradução, seu significado mais próximo é “não destruas”
ou “não desperdices”. Indica ser um cântico típico da época de colheitas. Aqui,
colheita também pode ter um significado alegórico. (Sl 57, 59 e 75).

● Jitit: acredita-se que o termo faça referência a “alguém natural de Gate” ou, talvez,
aos instrumentos típicos da região ou seu estilo musical. (Sl 81, 84 e 88).

● Higgayon (‫)הגָיֹון‬:
ִ possui significado de meditação, um convite à reflexão. Implica
reflexão e racionalidade. (Sl 9, 16, 14 e 19).

● Nejnot: literalmente “instrumentos de corda”. Funciona como uma especificação do


modo como o salmo deveria ser tocado. (Sl 4, 6, 56, 60 e 66).

● Nehiloth: literalmente “instrumentos de sopro”. Semelhantemente ao exemplo


anterior, indica que o salmo deveria ser tocado com instrumentos de sopro. (Sl 5).

● Jonath-elem-rehokim: “pomba silenciosa entre os estrangeiros” ou “pomba


estrangeira nos carvalhos distantes”, esses salmos retratam um momento
complicado da vida de Davi em Gate. (Sl 56).

● Aijeleth ha-Shahar: significa “socorro da manhã”. Um grito de desespero daqueles


que clamam a Deus por socorro na hora da angústia. (Sl 22).
● Selah (‫)סֶ לָ ה‬: expressão que indica o fechamento do texto. Possivelmente o termo
possa sinalizar uma pausa na música. Aparece cerca de 70 vezes nos salmos.

● Sheminith: expressão que designa “1/8”. Provavelmente faz referência a um


instrumento específico da época que possuía oito cordas. (Sl 6 e 12)

● Shoshannim: plural de Shushan, palavra hebraica que significa lírios do campo. (Sl
45 e 69).

Cada uma dessas especificações técnicas serve para nos dar uma noção mais
ampla e completa do contexto original no qual os salmos foram apresentados.

Categorização:

● Salmos didáticos ou literatura sapiencial:


São salmos que servem para o ensinamento. São, essencialmente, balizadores para
a vida piedosa.

● Salmos devocionais ou penitenciais:


Salmos que apresentam um sentimento de profundo arrependimento. É interessante
notar que o sentimento de tristeza e desalento do salmista aponta para o respeito e
temor que ele nutre para com o Senhor. Salmos como esses nos fazem dobrar o
joelho em busca de misericórdia na segurança de que Deus há de nos perdoar. Em
bases tão sólidas como essas, todo sofrimento acaba se revertendo em graça.

● Salmos históricos
Relatam eventos que transpareceram na história. Salmos como esses servem de
celebração da memória de um povo e das misericórdias de Deus ao longo do tempo.
Uma visão ampla da ação de Deus revela Sua integridade no cuidado de Seu povo.

● Salmos proféticos
Salmos proféticos evidenciam acontecimentos futuros.

● Salmos messiânicos
Salmos messiânicos apontam, como o nome sugere, para o messias até então ainda
vindouro. Nesses textos podemos encontrar descrições do ministério de Cristo
enquanto rei, sacerdote e justo sofredor.

● Salmos imprecatórios:
Salmos que evidenciam a ira justa contra o mal. O termo significa “maldizer”, o que
revela certo grau de imaturidade teológica por Jesus no Novo Testamento. Salmos
desse tipo são a expressão de indignação de homens e mulheres levada a Deus,
posta sobre o altar para que haja a possibilidade de perdão.
Salmos no novo testamento:

O Livro de Salmos e o Livro de Isaías são os dois textos do Antigo Testamento mais
citados no Novo. De fato, Isaías é comumente conhecido como o “quinto evangelho”. No caso
dos Salmos, os trechos messiânicos projetam a imagem daquilo que viria se concretizar com
a vinda de Cristo. Dessa forma, cada explicação neotestamentária serve como uma
ampliação do significado original do texto.

Estrutura do livro:

Esdras reuniu os Salmos e ordenou-os em 450 a.C. Os Salmos são divididos em cinco
livros:

● Livro I: contém os Salmos de número 1 a 41. Seu texto apresenta o tetragrama judaico
YHWH (que aparece cerca de 270 vezes) para fazer referência a Deus.

● Livro II: contém os Salmos de número 42 a 72. Seu texto apresenta o termo Elohim
(que aparece cerca de 164 vezes) para fazer referência a Deus. Essa diferença de
termos denota uma diferença no período e na concepção teológica dos escritores.

● Livro III: contém os Salmos de número 73 a 89. Tanto o tetragrama YHWH (44 vezes)
quanto o nome Elohim (57 vezes) aparecem com mais ou menos a mesma frequência.

● Livro IV: contém os Salmos de número 90 a 106. Aqui o tetragrama YHWH (103 vezes)
é novamente predominante ao termo Elohim (19 vezes).

● Livro V: contém os Salmos de número 107 a 150. Novamente, YHWH (190 vezes)
aparece mais presente que Elohim (27 vezes).

Tamanha densidade de termos de referência a Deus não podem significar outra coisa
que não seu papel de centralidade no Livro dos Salmos. Todo salmo aponta pra Deus.

LIVRO DE PROVÉRBIOS:
A BELEZA DA SABEDORIA

“Conhecei, pois, soberbo, que


paradoxo sois para vós mesmos.
Humilhai-vos, razão impotente! Calai-
vos, natureza imbecil; aprendei que o
homem ultrapassa infinitamente o
homem e ouvi de vosso Mestre vossa
condição verdadeira que ignorais.
Escutai a voz de Deus.”
(Blaise Pascal)

Sobre o título:

Provérbios de Salomão vêm do hebraico Mishlei (que significa exemplo, parábola)


Shlomoh. No grego, recebe o título de Paroimiai ( Παροιμίαι). Há alguns hebraístas que
atribuem ao termo mshal um significado de governo ou princípio regulador.

O texto de Provérbios foi amplamente discutido durante o Sínodo de Jâmnia. Muitos


rabinos desejavam excluí-lo das leituras públicas na sinagoga por causa de uma aparente
contradição em Pv 26:4-5 “Não respondas ao insensato segundo a sua estultícia, para que
não te faças semelhante a ele. Ao insensato responde segundo a sua estultícia, para que não
seja ele sábio aos seus próprios olhos.” .

Autoria:

Salomão é certamente o autor mais influente, tendo sido ele o compilador dos
capítulos 1 a 24 e autor dos capítulos 24 a 29. Há discussões se foi ele quem de fato escreveu
esses últimos capítulos, mas sua história, bem como seu contexto, nos fornece uma boa
margem para atribuir-lhe a autoria. Além dele há Agu, autor do capítulo 30, e o rei Lemuel
(que alguns acreditam ser um pseudônimo de Salomão).
É dito que Salomão escreveu cerca de 3000 provérbios, mas apenas os que estão na
Bíblia chegaram até nós. Certamente isso serve para nos mostrar que não é o acúmulo de
conhecimentos que nos torna sábios.

Datação:

Acredita-se que o Livro dos Provérbios tenha sido escrito num longo intervalo de
tempo, desde 950 a.C. a cerca de 725 a.C.

Objetivos do livro:
1. Ensinar a sabedoria às novas gerações. O texto é uma enorme aula onde o sábio
passa à frente seus conhecimentos sobre a natureza, o homem e Deus.

2. Advertir os homens acerca dos riscos de se orientar a vida de acordo com os impulsos
e desejos carnais da natureza caída do ser humano.

Estrutura literária:

O texto de Provérbios faz uso de diversos mecanismos literários para apresentar


suas ideias ao leitor. Eis abaixo alguns deles:

● Disposição em pares:
Há um pareamento de ideias onde a primeira expressa um pensamento e a segunda
suplementa, completa e amplia-o. A disposição em pares é em muito semelhante ao
princípio de Paralelismo da poesia hebraica.
Ex: “O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas é sábio” (Pv 11:30)

● Disposição em grupos:
Acontece quando o texto tece uma série de ideias acerca do mesmo tema, formando
pequenos grupos referentes ao mesmo assunto.
Ex: Pv 25:2-7 (a Glória de Deus), Pv 26:1-12 (o insensato), Pv 26:13-16 (o
preguiçoso), Pv 31 (a mulher extraordinária).

● Epigrama:
Epigrama é um provérbio ampliado com o âmago em duas linhas com pensamento
aforístico, onde o restante do texto é suplementar.
Ex: “Filho meu, ouve o ensino de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe.
Porque serão diadema de graça para a tua cabeça.” (Pv 1:8,9)

● Soneto:
Uma composição poética de 14 versos (o número em si pode variar). Começa com
um dístico expressando o tema do texto e formando dois pensamentos que serão
desenvolvidos alternadamente. Sonetos funcionam ao propósito de uma educação
bela, com princípios artísticos e poéticos.

● Monólogo dramático:
Acontece quando o autor personifica objetos ou ideias abstratas e faz deles o
narrador do texto.
Ex. “Grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a voz; do alto dos muros clama, à
entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras: Até quando, ó néscios,
amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos,
aborrecereis o conhecimento?” (Pv 1:20-22)

● Acróstico:
Textos acrósticos têm sua centralidade no alfabeto hebraico. Aqui, a construção de
significado do texto parte dos caracteres da língua. Essa técnica demonstra a
importância do alfabeto de do conhecimento gramatical na cultura hebraica.
Ex: O trecho da Mulher Virtuosa (Pv 31:10-31)

Breve esboço:

1. Primeira parte:
a. O texto trabalha com o louvor e a exaltação à Sabedoria, e o reconhecimento
de seu lugar na história e na cultura (Pv 1:1-9, 18)
b. Há a apresentação da autoria por meio dos títulos do escritor, bem como a
explicitação de seus objetivos (Pv 1:1-7)
c. O texto apresenta uma forte exortação para a juventude, evidenciando seu
caráter didático.
d. O autor também discorre sobre os benefícios da sabedoria apresentando
avisos contra o comportamento imprudente e contrastando a sabedoria com a
insensatez.

2. Segunda parte:
a. Aqui há, no texto, a coleção de provérbios de Salomão
b. Essa sequência de provérbios caracteriza-se pelo emprego de antíteses e
paralelismos, ressaltando o contraste entre tipos de comportamento.

3. Terceira parte:
a. A apresentação palavra dos sábios

4. Quarta parte:
a. Provérbios de Salomão pelos escribas
b. Apêndices finais: as palavras de Agu, o rei Lemuel e o acróstico da mulher
ideal

A sabedoria em Provérbios:

É importante ressaltar que a sabedoria descrita no Livro de Provérbios não um mero


conjunto de adágios populares, mas sim um modo de viver. Na condição de sabedoria, o texto
não é algo esotérico ou confuso, mas sim um saber que consegue ser simples apesar de sua
profundidade (ou por causa dela).

Provérbios é um manual prático, um tutorial que aborda temas morais e filosóficos que
regem a vida cristã. Deve-se ler Provérbios da mesma forma como se ouve atentamente a
uma aula. Além disso, o livro também é poesia. É arte e beleza que atingem a todos, inclusive
o preguiçoso e o insensato.

Quanto mais buscamos o conhecimento de Deus, mais nos aperfeiçoamos na


caminhada da fé. Aperfeiçoamento é o termo principal. Aperfeiçoar invoca a ideia de
santificar-se. O termo é o mesmo empregado em Efésios como objetivo dos dons ministeriais.
A terminologia de Provérbios:

Provérbios utiliza-se de diversos termos para retratar tanto a sabedoria quanto à tolice.
Especificações terminológicas nos ajudam a compreender mais precisamente qual era a ideia
original do autor. Há três termos utilizados pelo autor para designar a sabedoria:

● Chokmah (‫)חוכמה‬: esse termo é utilizado 47 vezes no texto e carrega um significado


de discernimento moral ou prudência secular nos negócios. Faz contraponto à noção
de malandragem e sagacidade pecaminosa. Essencialmente, o termo designa é uma
Santa Lucidez do homem sábio.

● Gnah: possui significado de entendimento. É utilizado 53 vezes no texto e aponta uma


habilidade intelectual de discernir entre a verdade e o erro, a realidade e ficção.
Também pode indicar prudência, uma percepção dos valores de longo alcance em
contraponto ao que é momentâneo e pueril.

● Shiah: o terceiro termo utilizado em Provérbios, significa a verdadeira sabedoria e


discernimento espiritual divino da verdade. O texto deixa claro que essa habilidade é
fruto do Espírito Santo, e implica ordenar a vida e regê-la pelos princípios da Glória.

É interessante perceber que essas palavras retiram da sabedoria o manto de


“intelectualismo” e a coloca como submissão a Deus. Além das palavras utilizadas para
descrever o homem sábio, o autor de Provérbios faz uso de muitas outras para identificar
aquele que desconhece a sabedoria:

● O insensato: o termo aqui não trata de uma vítima ingênua que acaba caindo na falta
de conhecimento, mas sim de uma escolha racional e deliberada de se tornar um
princípio de desunião entre as pessoas.

● O simples ou néscio (thet): o termo carrega um significado de alguém simples,


inocente, que carece de entendimento e serve de alvo fácil para pilantras mal-
intencionados. O texto também evidencia a tristeza da vida do néscio que fecha o
coração à Deus.

● O louco (quesil): termo que designa aqueles que odeiam o conhecimento e desprezam
a sabedoria. O tolo de Provérbios encontra seu prazer na maldade, e o sofrimento
alheio lhe é razão de divertimento. O texto trata o louco como um covarde que foge
da verdade.

● Escarnecedor (lits): termo atribuído ao desordeiro, alguém que zomba – ou escarnece


-da correção.

A relação entre Provérbios e Salmos:


Há vários pontos interessantes da relação entre o Livro dos Salmos e Provérbios
que valem a pena ser destacados:

● Ambos fazem parte do conjunto de livros poéticos: fica evidente na leitura dos dois
textos a beleza artística e poética da qual os autores fazem uso para transmitir seus
ensinamentos.

● Ambos necessitam de sabedoria: na condição de livros de sabedoria, é


indispensável ao leitor que busque compreender o texto da maneira mais profunda
possível. Não há leitura superficial proveitosa nesses textos.

● Salmos versa sobre o relacionamento do homem com Deus, isto é, algo orientado
na verticalidade. Já Provérbios trata sobre as relações dos homens com os homens,
num plano horizontal. Provérbios nos mostra que o cristão não pode cometer o erro
de tentar se isolar, uma vez que o cristianismo é uma fé comunicativa.

● O Livro de Salmos é escrito para ser dirigido a Deus, já Provérbios é primariamente


focado nos filhos dos homens. Nesse sentido, ambos funcionam numa espécie de
complementarismo, onde Salmos eleva o homem e Provérbios compartilha a
sabedoria resultante com os outros.

Considerações finais:

A mensagem do livro é, portanto, a seguinte: o controle da vida dos homens está


com Deus, e é Ele o significado de nossa existência. Portanto devemos conhecer o Senhor.
É como disse o profeta Oséias: “Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao
Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva
serôdia que rega a terra.” (Oséias 6:3).
ECLESIASTES:
POESIA E FILOSOFIA DE UM PREGADOR

Quia fecisti nos ad te et inquietum est


cor nostrum, donec requiescat in te.

[Porque tu nos fizestes para ti, e o nosso


coração permanecerá inquieto enquanto
não repousar em ti]

(Agostinho de Hipona)

Título:

Terceiro livro do Ketuvim, o nome Eclesiastes vem do hebraico Qōheleṯ (‫ )קֹ ֶהלֶ ת‬e do
grego Ekklēsiastēs (Ἐκκλησιαστής), significa reunir em assembleia, aquele que reúne ou,
como é tradicionalmente traduzido, o pregador (termo este que aparece sete vezes no livro).

Autoria:

Em seu tempo, o povo de Israel foi liderado por três tipos de líderes espirituais: os
sacerdotes, os profetas e os sábios, dentre os quais havia Salomão. A época de Salomão é
conhecida como o início do período áureo da literatura de sabedoria hebraica.

O autor se apresenta como filho de Davi, Rei em Jerusalém, o que aponta para
Salomão. O Talmud atribui o livro aos sábios do Rei Ezequias.

O livro de Eclesiastes é, entretanto, marcado por certas controvérsias acerca de sua


autoria: havia divergências entre as escolas rabínicas de Hillel e Shammai sobre a inspiração
do livro. Essa discussão arrastou-se por muito tempo, e esteve presente inclusive no Sínodo
de Jâmnia.

Datação:

Na condição de obra de Salomão, o texto data de aprox. 935 a.C. Há quem diga,
entretanto, que o contexto apresentado no livro não condiz com o vivido por Salomão, e que
portanto a autoria não seria dele. Outros pontos dessa tese são: o nome de Salomão não
aparece no livro, ao contrário do que acontece em Cantares e Provérbios; Há expressões
linguísticas específicas do período do pós-exílio no texto, e ainda vestígios de uma influência
fenícia. Posicionando o texto muito mais à frente.

Conteúdo:

Eclesiastes é um texto que trabalha muito bem a ideia do absurdo. O pregador tece
uma série de conclusões a partir de uma observação precisa da vida como ela é, sem que o
olhar esteja acorrentado por pressupostos vazios de um otimismo tolo. De fato, este não é
um livro para covardes.

O livro retrata de uma forma poética e sublime a guerra das emoções e, ao pesar a
felicidade na balança, destrói o idealismo da vida ao dizer:

“Melhor é ir à casa onde há luto do que ir a


casa onde há banquete; porque naquela se
vê o fim de todos os homens, e os vivos o
aplicam ao seu coração.
Melhor é a mágoa do que o riso, porque a
tristeza do rosto torna melhor o coração.
O coração dos sábios está na casa do luto,
mas o coração dos tolos na casa da
alegria.”
(Eclesiastes 7:2-4)

Eclesiastes percebe a verdade de um mundo enlouquecido pelo pecado. Nesse lugar


chamado “debaixo do Sol”, tudo é vaidade de vaidades (termo este utilizado cerca de 35
vezes no texto).

O Livro de Eclesiastes é a filosofia poética e o conjunto de percepções sobre o mundo


de um velho sábio que, analisando minuciosamente a vida, chega à conclusão que tudo é
vaidade de vaidades. O pregador nos ensina a enxergar a vida de maneira correta, limpando
as lentes inebriadas do secularismo.

O autor versa sobre tudo o que encontre debaixo do Sol, e admite em toda a sabedoria
e humildade que a vida não tem sentido fora de Deus. Não faz sentido viver a vida por si
mesma, é apenas vaidade, é correr atrás do vento. Viver só pode fazer sentido quando se
vive em Cristo. Novamente, Ele é a solução para o problema.

A Teologia em Eclesiastes:

Eclesiastes retrata muito bem a supremacia de Deus e o abismo imensurável que há


entre Sua sabedoria e a nosso. A sabedoria humana gera a vaidade, já a sabedoria divina
vai transpassa todos os limites e estende-se para além de nossos conhecimentos.

O livro trabalha principalmente através de contrastes entre a vida vazia do homem tolo
(carente de significado) e a alegria e propósito da vida em Deus. A vida em Deus é repleta
de sentido, todo o resto é vaidade de vaidades, é como correr atrás do vento.

O pregador é enfático ao tratar de temas como a eternidade e o julgamento:


Eclesiastes trata a eternidade como uma certeza teológica, não mera suposição: “e o pó volte
à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (Ec 12:7).

Eclesiastes também evidencia o caráter criador de Deus: o texto faz referência a


Gênesis quando diz: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham
os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: não tenho neles prazer;” (Ec 12:1).
CÂNTICO DOS CÂNTICOS:
A EXPRESSÃO PURA DO AMOR CONJUGAL

“Este livro é um cântico de louvor em que


Salomão louva a Deus pela obediência,
tida como uma dádiva de Deus. Pois
onde Deus não cuida da casa e não
governa por sua própria conta, não
existe, em nenhum estamento, nem
obediência nem paz. Onde, porém, há
obediência, ou um bom regimento, lá
habita Deus, que beija e abraça sua noiva
amada com sua Palavra, isto é, com o
ósculo de sua boca.”
(Martinho Lutero)

Título:

Cântico dos Cânticos do hebraico Šīr HašŠīrīm (‫;)שיר ַה ִש ִיר)ם‬ִ do grego Âisma
Aismátōn (ᾎσμα ᾈσμάτων); na Vulgata, recebe o nome de Canticum Canticorum.
O quarto livro dos Ketuvim e o primeiro livro dos cinco rolos dos Megillot , Cantares
foi um dos últimos textos a serem introduzidos no Cânon devido à ausência do nome de Deus
e por seu conteúdo. O livro acabou por ser incluído ser considerado uma alegoria sobre a
relação de Deus com seu povo e pelo nome de Salomão estar vinculado à obra.

Autoria:

O autor mais provável para o livro de Cantares é o rei Salomão. Há quem diga que o
texto foi escrito acerca de Salomão, e não sobre ele, uma vez que o escritor emprega termos
estrangeiros em sua obra.
A teoria, entretanto, não se sustenta. Salomão tinha bastante conhecimento de
línguas estrangeiras, uma vez que ele casou-se com diversas mulheres estrangeiras. Seus
muitos casamentos também conferem-no propriedade para tratar de assuntos referentes ao
amor conjugal.
Além disso, o primeiro versículo do livro atribui a autoria a Salomão, e seu nome é
referenciado 5 vezes no texto, sendo que a última citação dirige-se diretamente ao rei. “A
vinha que me pertence está ao meu dispor; tu, ó Salomão, terás os mil siclos, e os guardam
o fruto dela, duzentos.” (Cantares 8:12).
Há ainda outros pontos que implicam a autoria de Salomão: 1 Reis 4:32 nos mostra
que ele compôs mil e cinco cânticos. O autor também demonstra conhecimento sobre
diversos tipos de plantas, animais e saberes geográficos apontam para um autor versado em
questões intelectuais. A tradição judaica também considera Salomão como o autor, e seu
estilo literário remete assemelha-se muito ao de Eclesiastes e Provérbios.
Datação:

Cantares data de aproximadamente 900 a.C.

Conteúdo:

“Eu sou do meu amado, e o meu amado


é meu”
(Cânticos 6:3)

Cantares enaltece de forma bela e poética o amor conjugal íntimo e puro. Há a


celebração do sexo em seu lugar legítimo, o casamento, e a espiritualidade existente na
intimidade. No fundo, o Cântico dos Cânticos é um protesto contra a banalização do sexo
Cantares é um texto que versa sobre o amor e revela a maneira correta de relacionar-
se com a amada, exaltando a pureza e beleza de uma relação centrada em Deus. O amor
nesse texto é poético, belo e, acima de tudo, dirigido a uma só mulher.
O livro possui um texto rico, descrevendo texturas, cheiros, sentimentos… Uma
miríade de detalhes que serve para ilustrar a diversidade de minúcias envolvidas no amor. O
elogio ao amor conjugal desfaz a noção de um sexo banal, onde o corriqueiro e o carnal
ocupam a centralidade.
Cantares também apresenta uma poesia do cotidiano, observando a beleza que há
em cada aspecto da vivência. A descrição das carícias entre os amados demonstra o
constante deslumbramento do outro na relação de pertencimento mútuo que há entre os
cônjuges.
Na condição de livro profético, o texto também serve de ilustração da relação de Cristo
com a Igreja.

Interpretação:

Há duas possíveis interpretações para o livro de Cantares:

1. Hipótese do pastor: trata o texto como uma espécie de drama que retrata Sulamita,
uma camponesa apaixonada por seu noivo, resistindo às investidas amorosas de
Salomão e permanecendo fiel a seu esposo.

2. Hipótese de romance e casamento com Sulamita: nesse caso, a interpretação


enxerga Salomão como o esposo do texto. Assim, o rei apaixona-se por Sulamita e
busca cortejá-la, primeiro como pastor, depois como rei que vem coroar sua amada.
Tanto pela mentalidade hebraica quanto pelo estilo literário apresentado no texto,
essa hipótese certamente é a mais provável.

Contribuições singulares:
No texto de Cantares podemos encontrar uma série de pontos interessantes:

● A exaltação do amor: o texto de Cantares demonstra a beleza e pureza da união


conjugal entre um homem e uma mulher.

● Uma mensagem para a juventude: o livro também carrega uma mensagem de


educação sexual. Há uma didática poética na maneira como o autor trata a virgindade.
Cantares ensina um amor pleno e puro. A linguagem empregada por Salomão é
poética e bela, não suja.

Breve esboço:

1. Eventos anteriores ao casamento:


Essa parte do livro contextualiza a história. Este é um momento poético e belo, que
constrói a expectativa para o prosseguir da narrativa.

2. Dia do casamento:
Há um aumento gradativo na narrativa, que culmina na noite de núpcias: o momento
que representa o clímax da relação, uma entrega mútua e total de um para o outro
onde ambos se tornam um.

3. Eventos posteriores:
Acontece o sonho de Sulamita a canção sobre seu amado.

Relações intertextuais:

Cantares é um texto que conversa muito com os outros livros da Bíblia, e podemos
achar uma correlações entre eles:

● O Livro de Jó: a história de Jó é repleta de tristezas, perdas e crises, mas mesmo


assim ele permanece firme em seu casamento. É interessante notar que, no fim do
relato, quando Jó é restituído, sua esposa permanece a mesma.

● O Livro de Salmos: Salmos versa muito sobre a beleza poética da prosperidade na


família e sobre as bênçãos do casamento.

● O Livro de Provérbios: o autor de Provérbios enfoca bastante a ideia de escolher uma


mulher sábia, evitando as emboscadas da mulher não virtuosa.

● O Livro de Eclesiastes: Eclesiastes ensina é tolice e estultícia viver uma vida


desesperada em busca de coisas que jamais serão encontradas, e que o certo é
aproveitar a vida e deleitar-se na mulher amada.
● O Livro de Gênesis: aqui encontramos a introdução do casamento à humanidade.
Deus cria adão e percebe que “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2:18),
fazendo-o (e a partir dele) uma companheira e ajudadora.

● O Livro de Malaquias: o último versículo do último capítulo do Velho Testamento


também faz referência ao casamento quando diz: “E ele converterá o coração dos
pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a
terra com maldição.” (Mq 4:6)

● O Livro de Mateus: o Novo Testamento, iniciado em Mateus, começa com a


genealogia de Jesus, passando por inúmeros casamentos que se estendem até a
época de Abraão.

● O Livro de Apocalipse: passando para o livro final da Bíblia Sagrada, podemos ver o
amor e o casamento retratados em Apocalipse na união cósmica do Cordeiro e Sua
Noiva, a Igreja.
LIVROS POÉTICOS HOJE:
POESIA NUMA ÉPOCA CARENTE DE BELEZA

“Meu caro”, eu disse, “Embora alheado,


o Homem não é perdido nem mudado.
Sem graça sim, porém não sem seu trono,
tem restos do poder de que foi dono;
Subcriador, o que a Luz desata
e de um só Branco cores mil refrata
que se combinam, variações viventes;
e formas que se movem entre as mentes.
Se deste mundo as frestas ocupamos
com Elfos e Duendes, se criamos
Deuses, seus lares, treva e luz do dia,
Dragões plantamos – nossa é a regalia
(boa ou má). Não morre esse direito:
Eu faço pela lei na qual sou feito.”
(J.R.R. Tolkien)

Refrigério para a alma:

Os Livros Poéticos são um oásis de poesia numa época carente de beleza, onde a
banalidade e a praticidade existencialista reduziram tudo a um absurdo sem sentido. A poesia
eleva o homem, e serve para desvencilhar-lo das amarras do cotidiano.
O mundo está cego, não há mais o senso de maravilha presente no coração dos
poetas. Não havendo o balizador moral do que é belo, tudo pende para os extremos. A arte
é o descanso do caos da vida moderna, é equilíbrio. Nisso, ela é como a fé cristã. A Bíblia
nos ensina que há tempo para tudo, de forma que a vida deve ser temperada tanto por
alegrias quanto por tristezas.
Em suma, esses livros são a junção harmoniosa da beleza, inspiração e
espiritualidade. É fundamental conhecê-los para que possamos nos aperfeiçoar a partir das
experiências de vida dos autores. A beleza do texto nos liberta da banalidade da vida comum.
A espiritualidade e devoção cristãs estão enraizada nos Livros Poéticos.

A família nos livros poéticos:

A família é um tema central nessa coleção de livros. Jó é próspero ter uma restituição
familiar; Salmos honra a família, para a cultura judaica, prosperidade significa viver para ver
os filhos dos filhos; Provérbios ensina a sabedoria para reger o filho no caminho em que deve
andar; Eclesiastes ordena que vivamos e amemos intensamente a esposa; Cantares é um
enorme poema sobre amor.

Lições dos Livros Poéticos:


● A Lição de Jó: Jó nos ensina que jamais estamos distantes do olhar de Deus. Este é
um livro que nos trás conforto e esperança. Nele percebemos que o próprio Deus é
testemunha de nossas vidas, que e é Ele quem está no controle. Com Deus no centro
de nossas vidas, a existência humana não é um constante desespero. A segurança
de se estar sob cuidado divino possibilita que resistamos a qualquer tipo de crise que
possa se levantar. Ao olhar do Senhor, nossas vidas são como poesias que cantam
Sua glória.

● A Lição dos Salmos: não há espaço na vida do homem para uma espiritualidade
desassociada da vida. O Livro dos Salmos nos mostra a mais pura e genuína
manifestação de um espírito de adoração a Deus. A adoração nos Salmos não é mero
ritualismo litúrgico ou retribuição por bênçãos e circunstâncias favoráveis. Tanto na
crise quanto na felicidade é possível – melhor: necessário – cantar ao Senhor.
Devemos cantar em todos os lugares e a todo o tempo uma canção salvífica e
vivificadora.

● A Lição de Provérbios: não é necessário um suicídio intelectual para que abracemos


a fé. Todo o livro de Provérbios é um convite ao raciocínio. Não é preciso temer os
mistérios. Provérbios também nos ensina que devemos ser exemplos. Nossas vidas
devem gerar fome e sede da Palavra entre aqueles que nos cercam. Que sejamos
como o Cristo que ensina.

● A Lição de Eclesiastes: lembra-te do teu Criador. Eclesiastes nos ensina a não passar
pela vida de olhos fechados. O texto estuda a vida em seus mais diversos aspectos e
chega a uma única conclusão: tudo é vaidade. Então tudo o que nos resta é olhar para
Deus, e percebe que Ele governa sobre tudo. A vida não faz sentido fora de Deus, e
é apenas Nele que podemos descansar o descanso do sábio.

● A Lição de Cantares: não é digno ao homem viver sem amor. O Cântico dos Cânticos
de Salomão transpira amor em cada página. Figurada ou literalmente, o texto versa
sobre a mais pura e bela expressão de amor e afeto.

Bibliografia

Halley, H. Henry. Manual Bíblico. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1987.
Berezin, Rifka. Dicionário hebraico-português. Edusp, São Paulo, SP, 1995.
Falcão, Silas Alves. Panorama do Antigo Testamento. Casa Publicadora Batista, Rio de
Janeiro, RJ, 1964.
Archer Jr. Gleason L. Merece confiança o Antigo Testamento? Vida Nova, São Paulo, SP,
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Soares, Esequias. Visão panorâmica do Antigo Testamento. CPAD, Rio de Janeiro, RJ,
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Fábio, Caio. Sem barganhas com Deus. Fonte Editorial, São Paulo, SP, 2005.
Yancey, Philip. O Jesus que eu nunca conheci. Editora Vida, São Paulo, SP, 2004.
___________ A Bíblia que Jesus lia. Editora Vida, São Paulo, SP, 2003.
Champlin, R N e Bentes, J M. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. Vol. 2 e 3, Editora
Candeia, 4 edição, São Paulo, SP, 1997.
Revista Ultimato. “Salomão, o incrível”. Número 258, Maio/Junho 1999. Editora Ultimato,
Viçosa, MG, 1999.
Site: www.monergismo.com
Introducão:
Sabendo primeiramente isto: que
nenhuma profecia da Escritura é de
particular interpretação.
Porque a profecia nunca foi produzida
por vontade de homem algum, mas os
homens santos de Deus falaram
inspirados pelo Espírito Santo.
(2 Pedro 1:20,21)

É importante saber que a Bíblia jamais admite interpretação pessoal. Isso significa
dizer que não se pode ignorar as especificidades das profecias para compreendê-las ao seu
próprio modo. Toda profecia bíblica possui uma mensagem central. Para compreendê-la, é
necessário o conhecimento de algumas informações:

Quem profetizou:

Conhecer a identidade do profeta é fundamental para a interpretação da


profecia. A vida e as experiências dos profetas influenciaram a forma como eles
expressaram suas mensagens. Se observarmos o livro do profeta Isaías, por exemplo,
perceberemos que suas alegorias, metáforas e figuras de linguagem espelham seu
caráter contemplativo da natureza, de forma que ele conseguia tornar sua mensagem
de forma simples e inteligível para o povo.

Quem era o alvo da profecia:

Nem todas as profecias são direcionadas à Israel. Primeiramente, é


necessário fazer a diferenciação entre Israel e Judá, que já haviam se tornado reinos
distintos no tempo dos profetas maiores. Além disso, algumas das profecias têm como
alvo nações vizinhas desses dois povos descendentes de Abraão. É possível
encontrar profecias para a Síria, Tiro, Etiópia, Egito e ainda outras nações do mundo
antigo.

Qual era o propósito da profecia:

Em Isaías 5, por exemplo, o profeta faz uma descrição da realidade sócio-


econômica das mulheres de Jerusalém antes do cativeiro e, portanto, retrata as
vestimentas daquelas mulheres. Por falta de conhecimento do contexto histórico,
muitos já fizeram uso daquele texto para defender falar de usos e costumes
específicos.

Em que contexto a profecia foi lançada:

Só quando entendemos o contexto da profecia conseguimos aplicá-la aos dias


de hoje. Ao estudarmos a ação profética no Antigo Testamento, precisamos ainda
compreender a relação do profeta com o povo e com Deus. Era comum usar-se
termos específicos para se referir ao profeta entre eles: Vidente, atalaia, pastor,
homem de Deus.

Historicidade da profecia no Antigo Testamento


A mensagem dos profetas na Bíblia sempre esteve relacionada com a sua vida. O
que significa afirmar que muitas vezes além de anunciar a mensagem, o profeta “se tornava“
a mensagem. Podemos aplicar isso para nossas vidas: Nós somos a mensagem que estamos
pregando, se a mensagem que pregamos não for testemunhada pela nossa experiência
pessoal, o mensageiro fica sem condições de expressar a mensagem que ele mesmo
comunica.

A profecia no contexto bíblico tem pontos intrigantes. É importante destacar que nossa
dificuldade de compreender as profecias bíblicas se dá porque nós estamos a uma distância
temporal muito grande do contexto original e, com isso, acaba ocorrendo uma perda no
processo da comunicação, o que requer de nós um pouco mais de cuidado na pesquisa e de
análise naquilo que estamos comunicando.

Breve histórico do profetismo biblico

A ação dos profetas abrange um longo período da história bíblica, que vai do ano 760
a.C até 453 a.C, quando há um período em que Deus silencia-se para com o povo de Israel.
O nosso estudo vai girar em torno de um contexto histórico de aproximadamente 300 anos,
quando os profetas estão atuando em Judá e Israel, chamando o povo ao arrependimento.

O profetismo foi inserido em Israel com o objetivo de salvá-la da influência das nações
pagãs que estavam ao redor. O objetivo da profecia no Antigo Testamento era preservar viva
a consciência do povo acerca da aliança abraâmica. Daí vem a afirmação do escritor:
“Onde não há profecia, o povo se
corrompe; mas o que guarda a lei esse é
bem-aventurado.”
(Provérbios 29:18)

A missão do profeta era contestar toda a ação que fugia daquilo que o Espírito Santo
estava revelando como sendo a vontade de Deus para aquele povo. Precisamente por esse
motivo encontramos profetas no Antigo Testamento tendo conflitos e confrontos com
autoridades civis e religiosas.

A ação dos profetas maiores foi durante o período da monarquia e, posteriormente,


no cativeiro e pós-cativeiro. Em seu ofício, atuavam confrontando ou encorajando tanto reis
como sacerdotes e levitas, e o povo em geral. Portanto, seu ministério era exercido nos
palácios, no Templo, nas ruas, nas praças e nas casas.

Ezequiel, por exemplo, profetizava tanto para a corte como para os sacerdotes, levitas
e o povo em geral. O capítulo 22 é um exemplo rico para ser analisado, porque além de ser
uma profecia que envolvia classes distintas, retrata muito bem a forma de comunicar do
profeta.

Percebe-se que, nesta passagem, o texto retrata o cenário dizendo que o Senhor
olhou para a corte e viu que estavam com as mãos manchadas de sangue; olhou para o clero
e viu que ofereciam sacrifícios que não seriam aceitos; olhou para os profetas e viu que
profetizavam falsamente; então o próprio Deus começa a caminhar por Jerusalém –
figuradamente, é claro – para averiguar a situação do povo.

Outros profetas que confrontaram reis podem ser citados: Agade e Natã contestaram
os pecados de Davi e Salomão. O profeta Micaías enfrentou o pecado de Acabe. O profeta
Aías confrontou o pecado de Roboão e de Jeroboão. A atuação destes profetas pode ser
encontrada em I e II Samuel, I e II Reis e I e II Crônicas.
Parte-se de um princípio que quando o pecado da nação começava a partir dos
lideres, toda a nação era contaminada pela transgressão, então Deus começa repreendendo
a liderança de Israel e Judá para então atingir todo o povo.

Existem dois tipos de profetas no tempo bíblico:

● Profetas escritores: aqueles que além de revelar sua mensagem,


escreveram-na.

● Profetas não escritores: são aqueles que antecederam os profetas


escritores, mas cuja a mensagem não foi registrada por escrito, salvo
episódios específicos relatados por historiadores ou algum escritor sagrado
que fez menção do ministério daquele profeta, a exemplo de Eliseu, Elias,
Micaias Aias, Natã, Gade.

É importante destacar que Elias e Eliseu, embora não estejam no agrupamento dos
chamados profetas escritores, atuaram confrontando a monarquia (nos dias de Acabe e
Jezabel), a religião (que havia abandonado ao Senhor para seguir Baal e Azera) e o povo.

O profeta atuava de fato participando da vida pública e da história de sua nação,


sempre com o propósito de trazer todos os termos da nação para debaixo da orientação e
comando de Deus porque eles compreendiam que só assim a nação seria próspera e
honorária à aliança que tinha com o Senhor. Portanto, o profeta não vivia isolado do seu
mundo, ao contrário, ele estava tão inserido no contexto da sua convivência que ele participa
da vida pública e política da sua nação.

A importância do profeta na monarquia de Israel era enorme: Natã participou do


processo de transição do reinado de Davi para Salomão, Eliseu tinha uma influência tão
grande que, quando estava enfermo, o próprio rei veio visitá-lo e seu clamor era “meu pai,
meu pai, tu és como um exército aparelhado para a Guerra”.

A partir do século VIII a.C., o profetismo é demarcado por uma ação mais específica
do profeta, quando de maneira mais enfática adota o uso da expressão “Assim diz o Senhor”.
Essa expressão começa a ser usada pelo profeta no contexto de Israel e Judá quando a
nação sofre a influência das religiões cananitas e o politeísmo e idolatria foram se inserindo
no contexto de Israel. Então o profeta, para deixar claro quem estava falando com a nação,
enfatiza “assim diz o Senhor”.

O profeta reivindicava para si e para sua mensagem a autoridade profética e a


obrigação de seus ouvintes de se submeterem à mensagem porque quem estava falando era
o Senhor. É possível compreender também, sobretudo nas profecias de Isaías e Jeremias,
que surgiram profetas que falavam em nome de Deus, porém sem ter sido por Ele enviados.

Alguns reis de Israel aderiram à prática pagã de contratar profetas com finalidades
políticas. Esses profetas eram mantidos pela corte com conforto e luxo para profetizarem
sempre a favor do rei e levar o povo a segui-lo:
E o rei disse ao homem de Deus: Vem
comigo para casa, e conforta-te; e dar-te-
ei um presente.

Porém o homem de Deus disse ao rei:


Ainda que me desses metade da tua
casa, não iria contigo, nem comeria pão
nem beberia água neste lugar.
Porque assim me ordenou o Senhor pela
sua palavra, dizendo: Não comerás pão
nem beberás água; e não voltarás pelo
caminho por onde vieste.

Assim foi por outro caminho; e não voltou


pelo caminho, por onde viera a Betel.
(1 Reis 13:7-10)

Outro exemplo pode ser visto na situação da Guerra que levou à morte de Acabe (I
Re 22:1-28). Esses exemplos mostram que era comum os reis de Israel copiarem a prática
pagã de ter profetas contratados.

O Profeta

O Ministério dos profetas não era resultante de vontade própria, mas de um chamado
divino. Ele era o instrumento de Deus para confrontar ou trazer ao povo uma mensagem. O
profeta era o porta-voz de Deus. Esses indivíduos possuíam características distintas do resto
da população, vivendo uma vida reta em santidade. O profeta não vivia exclusivamente da
profecia, entretanto, também desempenhando atividades do povo.

O profeta não vivia em “transe ou êxtase” mas tinha uma vida normal, e como já foi
mencionado anteriormente, se envolvia inclusive com a vida política de seu povo. Um
exemplo de como o profeta poderia falar por si mesmo acontece quando Natã respondeu a
Davi conforme o que lhe parecia bem, porém esta não era a vontade do Senhor:

Então Natã disse a Davi: Tudo quanto


tens no teu coração faze, porque Deus é
contigo.
Mas sucedeu, na mesma noite, que a
palavra de Deus veio a Natã, dizendo:
Vai, e dize a Davi meu servo: Assim diz o
Senhor: Tu não me edificarás uma casa
para eu morar;
(1 Crônicas 17:2-4).

Designações que descrevem o profeta

Há vários termos que definem o ofício de profeta. Essas palavras revelam um pouco
sobre suas funções:

● Prophētēs (πρoφήτης):

Esse termo designa aquele que fala em nome de um deus e interpreta a sua
vontade. No contexto que estamos estudando, prophetes refere-se àquele profeta que
falava para Israel em nome do Senhor Jeová e que era o interprete ou comunicador
da vontade de Deus.

O termo é formado a partir da junção de duas palavras: “Pro” que significa


“diante” e “phētēs”, que significa “aquele que fala”. Ou seja, profeta se traduz
literalmente como “falar por alguém” ou, em uma palavra mais moderna, “porta-voz”.
O profeta é, portanto, aquele que falava do presente ou do futuro em nome do Senhor.
Cabe observarmos que, no contexto greco-romano, os oradores que falavam
em nome de uma autoridade jamais utilizavam-se da primeira pessoa do singular. Isso
acontecia porque não estavam comunicando uma palavra sua, mas serviam apenas
de interlocutor.

Sempre que um orador nessa situação comunicava uma mensagem, ou usava


o pronome “nohs” em referência à autoridade que ele representava, ou usava a
terceira pessoa do singular, isto é, “ele”, referindo-se diretamente a quem o enviara.

O profeta, portanto, quando no exercício da profecia ou do ministério profético,


não utilizava-se de pronomes pessoais ou possessivos em primeira pessoa, porque
não estava falando uma vontade sua, mas uma mensagem que tinha origem em Deus
da qual ele era meramente um comunicador.

● Nabi (‫) ְננ ִִאים‬:

O termo que define a função do profeta. NABI ocorre mais de 300 vezes no
Antigo Testamento. Pode ser traduzido como “chamar” ou “chamado”. Os estudiosos
revelam que todos os fenômenos proféticos do Antigo Testamento estão relacionados
com a palavra ‫( ְננ ִִאים‬nābîʾ) que é derivada do verbo acadiano nabū (“chamar”).

Enquanto prophētēs caracteriza aquele que “sofre uma vocação”, NABI


qualifica aquele que era provocado por uma revelação imediata e deliberada da
soberania divina. O prophētēs era aquele indivíduo que sentia a chamada para o
ministério profético e essa chamada era desenvolvida no decorrer do tempo. Para
esses havia uma preparação, uma escola de profetas. O NABI era aquele que não
tinha chamada para o ministério e não estava se preparando, mas Deus falava com
essa pessoa e a tornava seu mensageiro. Isso foi, por exemplo, o que aconteceu com
Jeremias:

“Assim veio a mim a palavra do Senhor,


dizendo: Antes que te formasse no ventre te
conheci, e antes que saísses da madre, te
santifiquei; às nações te dei por profeta. Então
disse eu: Ah, Senhor DEUS! Eis que não sei
falar; porque ainda sou um menino. Mas o
Senhor me disse: Não digas: Eu sou um
menino; porque a todos a quem eu te enviar,
irás; e tudo quanto te mandar, falarás. Não
temas diante deles; porque estou contigo para
te livrar, diz o Senhor. E estendeu o Senhor a
sua mão, e tocou-me na boca; e disse-me o
Senhor: Eis que ponho as minhas palavras na
tua boca; Olha, ponho-te neste dia sobre as
nações, e sobre os reinos, para arrancares, e
para derrubares, e para destruíres, e para
arruinares; e também para edificares e para
plantares.”
(Jeremias 1:4-10)

Nabi aparece pela primeira vez no contexto hebraico em Gênesis 20:7, quando
o próprio Deus chama Abraão de profeta, caracterizando-o como tal.

● Vidente:

“(Antigamente em Israel, indo alguém


consultar a Deus, dizia assim: Vinde, e
vamos ao vidente; porque ao profeta de
hoje, antigamente se chamava vidente),”
(1 Samuel 9:9)

Estudiosos sugerem que sua raiz esteja na palavra hebraica cḥōzeh (‫)חֹ זֶה‬.
Possui o significado de “olhar”, “contemplar”, “profetizar” e “prover”. Vidente aparece
mais de 50 vezes no Antigo Testamento.

Um termo similar a este é “roeh” que designa uma espécie de vidente


específico, que recebia mensagens particulares a um indivíduo. O texto de I Samuel
9 utiliza a expressão roeh, por exemplo.

Nas passagens de II Sm 24:11; I Cr 21:9; 2 Cr 9:29, 29:25 e Am 7:12 o termo


vidente revela um ofício ministerial comum no Antigo Testamento. Nessa época, era
comum a prática de consultar o profeta. O termo provavelmente antecede
cronologicamente a NABI.

Seja qual for o caso, o Vidente era o homem responsável por comunicar às
pessoas a vontade de Deus.

● Atalaia (ou pastor):

Outros termos que designam o ministério profético eram Atalaia e pastor,


porque eles deveriam dirigir, orientar e encaminhar o povo a Deus. Outra autoridade
religiosa chamada de pastor era o Sacerdote. Isso significa que tanto o profeta quanto
o sacerdote tinham a missão de conduzir o povo a Deus.
Há, entretanto, uma diferença entre eles: enquanto o sacerdote tinha a missão
de representar o povo diante de Deus, o profeta representava-O diante do povo. Era
usado ainda o termo “Vigia”, pois ele tinha a função de atentar para a maneira como
o povo estava se conduzindo e alertá-lo quanto às consequências de suas ações.

● Servo do Senhor:

“Certamente o Senhor DEUS não fará


coisa alguma, sem ter revelado o seu
segredo aos seus servos, os profetas.”
(Amós 3:7)

Outro termo utilizado para designar o profeta é “Servo do Senhor”, “Homem do


Espírito” e “Santo Homem de Deus”. Isso se dá porque o profeta era alguém sensível à ação
do Espírito de Deus. Ele precisava manter contínua comunhão com o Senhor para que, no
momento que o Senhor quisesse trazer a revelação, ele estivesse pronto para recebê-la.

Definição de profecia

Ao definir profecia no contexto do Antigo Testamento, precisamos entender que esta


era a mensagem transmitida da parte de Deus, através de seu mensageiro, para levar a
nação a entender a vontade do Senhor.

Observe que, embora grupo de profetas das nações pagãs estivessem acostumados
a profetizar em estado de “êxtase” ou “transe”, os profetas do Senhor comunicavam sua
mensagem de outras formas, em perfeito estado de lucidez. A consciência do profeta
continua ativa no processo da visão e o profeta tinha absoluta compreensão do que lhe estava
acontecendo. Esta prática de “transe” foi, entretanto, transportada posteriormente para Israel
pelos profetas de Baal e Azera.
O recebimento da profecia

A fonte da atividade profética era o contato com Deus. Por meio do contato com Deus,
o profeta vivia uma experiência pelo meio da qual era recebida a mensagem para transmiti -
la ao povo. O objetivo da profecia era provocar no povo uma mudança para haver uma
adaptação àquilo que Deus queria.
“A palavra anunciada por muitas vezes
está centrada no anúncio de falhas
humanas ou da sociedade daquele
período. Assim, o profeta trazia a palavra
com a intenção de animar o indivíduo ou
a população a buscar mudança. Por
vezes ela serviu de consolo para pessoas
e povos sem esperança”

A palavra profética era recebida por palavras audíveis, face a face - Deus falava
com o profeta (Êx. 33:11). Existem, porém, outras formas de recebimento da mensagem
profética: Visões e sonhos (Jó 33:14-15).

As visões eram recebidas pelos profetas de forma sensitiva, imaginativa e intelectiva.


A visão sensitiva leva este nome porque o profeta a sentia de forma tão realista que tinha a
sensação de que o fato estava ocorrendo no exato momento da visão. A Visão imaginativa
era apenas percebida com os sentidos internos. A visão seria intelectiva quando, por meio
dos olhos, o profeta contemplava um acontecimento diante de si, como Ezequiel na visão do
Rio Quebar.

Vale ressaltar que o profeta recebia a mensagem de forma clara, ou seja, ele entendia
exatamente o que o Senhor queria revelá-lo. Naturalmente, em relação às visões futurísticas
o profeta não tinha total compreensão do seu significado. Hoje, porém, quando analisamos a
profecia, temos um espaço temporal, geográfico e linguístico muito grande entre nós e o
profeta, o que pode trazer-nos alguma dificuldade na compreensão do significado da profecia.

Por isso, é preciso pesquisar, analisar e conhecer o contexto político, social, cultural
e militar da época em que a profecia foi transmitida. Só assim pode-se compreender o que o
profeta estava querendo transmitir para o povo de seus dias e então aplicá-la para nós. Em
Hb 1:1 o autor menciona que no contexto do Antigo Testamento Deus falava pelos profetas.
Isso revela que os Escritores Sacros da dispensação da graça reconhecem a autoridade do
ministério profético.

A prática profética.

“Havendo Deus antigamente falado


muitas vezes, e de muitas maneiras, aos
pais, pelos profetas, a nós falou-nos
nestes últimos dias pelo Filho,”
(Hebreus 1:1)

A primeira forma da prática profética é por palavras: os profetas transmitiram de forma


humana a revelação que receberam do Senhor. O profeta precisava transmitir em palavras
aquilo que Deus lhe estava mostrando por visão. Esta retransmissão da mensagem levava o
profeta a apelar para comparações das mais variadas para levar o povo a entender o que
Deus estava dizendo. Por esta razão, o profeta se utiliza de simbolismos (Deus é
representado como noivo ou marido e Israel, como noiva e esposa infiel) e também de
antropomorfismos (atribuir a Deus forma humana - mãos, pés, ouvidos) e antropopatismos
(atribuir a Deus sentimentos humanos).

A profecia dentro e fora de Israel

A profecia não era uma exclusividade de Israel. A prática comum do profeta em israel
era, entretanto, diferente das outras, uma vez que não apresentava o caráter extático
presente em tantas outras culturas. O próprio profeta Jeremias 29:7,8 faz uma menção da
possibilidade de manifestações proféticas nas nações vizinhas:
“E procurai a paz da cidade, para onde
vos fiz transportar em cativeiro, e orai por
ela ao Senhor; porque na sua paz vós
tereis paz.
Porque assim diz o Senhor dos Exércitos,
o Deus de Israel: Não vos enganem os
vossos profetas que estão no meio de
vós, nem os vossos adivinhos, nem deis
ouvidos aos vossos sonhos, que sonhais;
Porque eles vos profetizam falsamente
em meu nome; não os enviei, diz o
Senhor.”
(Jeremias 29:7-9)

Para compreender o contexto de Israel, devemos analisar também o estado das


nações vizinhas. Apesar da semelhança, o profetismo de Israel foi um fenômeno ímpar, ao
menos no fator ético-religioso (isso fica especialmente claro no caso dos profeta literários,
pois os escritores nos deixaram documentos que facilitam a compreensão de seus objetivos,
seu estilo e seu contexto). Seguem abaixo alguns exemplos de ocorrências de profetismo em
nações vizinhas:

● Egito:

greisemen e lincovsky fazem uma correlação entre as experiências do


fenômeno profético com as experiências "extática" do Egito. Há, entretanto,
pesquisadores como Selim e Rolshed que rejeitam essa comparação, uma vez
que há casos de profecia extática no Antigo Testamento: a expressão
empregada para descrever o transe de Eldade e Medade, por exemplo, é a de
uma profecia extática, e é por isso que o evento incomoda Josué. Em 1
Samuel, Saul também profetiza entre os filhos de Israel. Aqui, a expressão
original indica alguém em transe, fora de controle, e era esse tipo de
comportamento que havia nas profecias egípcias.

● Sumérios:

Há pelo menos um acontecimento entre os sumérios. A história nos conta de


um homem intitulado “lunanabatu” ou "aquele que entra no céu".
● Mesopotâmia:

A literatura acadiana apresenta casos de profetismo. Há, inclusive, quem


acredite que Nabi venha do termo “Nabu”. A palavra utilizada para designar
um profeta extáticos é "baru", a mesma expressão empregada para descrever
Balaão, contratado por Baraque para profetizar contra os filhos de Israel.

● Canaã:

Também há ocorrências do profetismo na terra de Canaã. Vide, por exemplo,


a rivalidade existente entre o baalismo e os profetas de Azera contra o culto
monoteísta de Israel.

● Outros:

Há ainda outros casos de culturas que manifestaram instâncias de profetismo


como, por exemplo, a Assíria e a Arábia. Dentre esses, um merece destaque
especial: mm povo mesopotâmico chamado mari manifestou revelações de
caráter profético semelhantes aos de Israel nos seguintes aspectos:

a. Os profetas eram homens, não vivendo exclusivamente de suas


profecias e possuindo atividades entre o povo.
b. A condição de um profeta era aquela de um mensageiro, alguém que
foi enviado para repassar uma mensagem.
c. Os profetas possuíam autoridade divina e podiam comunicar sua
mensagem oral diretamente ao rei.
d. As mensagens do profeta eram normalmente transmitidas em tempo
de crise.
e. Havia uma hierarquia sacerdotal, dividindo-os em funções
específicas.

● Apesar disso, há também importantes distinções que devem ser observadas:

a. Na condição de servos do Senhor, o apelo ético dos profetas de Israel


é incomparável.
b. As mensagens passadas através dos profetas de Israel costumam
envolver todo o povo, não apenas a aristocracia ou o rei.
c. O profetismo bíblico permaneceu por longos séculos na história de
Israel, não sendo apenas um movimento efêmero e temporário.
Em nenhuma outra cultura o fenômeno do profetismo teve tão grande influência como
em Israel, e apenas em Israel houve profetas independentes e livres para transmitir a
mensagem a quem quer que fosse. Vide os exemplos abaixo:

● O profeta Natã confronta o rei Davi

● O profeta Samuel confronta o rei Saul

● O profeta Elias confronta o rei Acabe e o povo

● O profeta Eliseu exerce grande influência em Israel, Judá e até mesmo na Síria

PROFECIA CLÁSSICA EM ISRAEL

Origens:

No início da história do povo hebreu, eles viviam sob um regime de patriarcalismo


nômade. Nessa época, a organização econômica-social se dá por clãs de laços sanguíneos.
A partir da ocupação da terra prometida, há a introdução dos Juízes e a divisão da terra nas
doze tribos e o desenvolvimento da agricultura, agora possibilitada pela ausência do
nomadismo.

A diferença entre a descendência de abraão é o politeísmo e as tribos só respondem


uma pela outra quando inimigos cercavam Israel. A bíblia nos mostra que quando Israel
pecava inimigos cresciam diante deles, quando se arrependiam Deus mandava juízes. O que
distingue é o monoteísmo,

O fim do período dos juízes dá origem à monarquia. Samuel unge a Saul, que se torna
rei em 1020 a.C.. Cerca de 20 anos depois, o governo de Saul não foi exatamente bem
sucedido. Davi sucede Saul em aproximadamente 1000 a.C.. Davi reina por
aproximadamente 40 anos, lutando em guerras para preservar a soberania da nação e
conseguindo entregar a seu filho, Salomão, uma nação segura e bem-estabelecida.

O culto em Israel está estabelecido, a nação se vê forte, o reino, consolidado, e a paz


na região permite a prosperidade. Nessa época há um deslocamento demográfico do campo
para a cidade, de forma que estas se tornam o centro de poder. Em seu reinado, Salomão
promove uma expansão de Jerusalém. O fortalecimento de Israel permite que diversas
alianças sejam consolidadas com as nações vizinhas. Vide, por exemplo, as muitas mulheres
que Salomão tinha como esposas.

Tal grau de avanços, entretanto, demanda dinheiro, de forma que há um aumento de


impostos e burocracia sobre a população. Com a morte de Salomão, o trono passa a Roboão
que, ignorando os anseios da população pela diminuição das cargas tributárias, aumenta
drasticamente os impostos, causando uma divisão no reino.

Depois disso, ambos os reinos sofrem com a decadência. O reino do norte abandona
a religiosidade judaica, adotando para si uma fé sincretista. Judá também vive ciclos de
decadência e restauração, alternando entre monarcas tementes e não tementes ao Senhor.
A violência e idolatria crescem, gerando ainda mais corrupção. Nessa situação de crise, os
profetas de Jeová surgem para alertar as pessoas contra a fuga da observância da Lei.

O profetismo ocorre em momentos de crise acentuada, de forma que Deus manda um


mensageira para fazer sua vontade conhecida. Os profetas vêm respaldados pela Torá, os
livros da lei, para dar validade à sua, mensagem. Amparados pela Lei e orientados por Deus,
eles convocam o povo ao arrependimento.

É também nesse contexto de crise que há o surgimento das escolas de profetas,


que treinavam os vocacionadas para o ministério de profecia.

O primeiro período de profecia demonstra sinais prodigiosos numa época em que a


terra era repleta de paganismo. O ministério de Elias foi uma grande confrontação à idolatria
pagã. Elias atuou no período dos reis Acabe e Acazias, sendo depois sucedido por Eliseu. O
profeta Eliseu estende seu ministério para além das fronteiras de Israel, alcançando também
Judá e a Síria. O projeto desses profetas era fazer ressurgir no povo a fé e a disposição de
adorar a Deus.
Época da profecia clássica em Israel

A época da profecia clássica em Israel começa aproximadamente no século 8 a.C.,


abrangendo a época invasão da Síria às 10 tribos do norte (em 722 a.C.) e o cerco de
Nabucodonosor a Jerusalém (em 586 a.C.):

● Período pré-exílico (750 a.C. a 586 a.C.): é marcado principalmente por um profundo
desvio moral. Amós e Oséias repreendem e alertam o povo de Israel no norte. No sul,
Isaías, Miquéias, Naum, Sofonias, Habacuque e Jeremias buscam levar o povo ao
arrependimento.

● Período exílico (586 a.C. a 538 a.C.): Judá é aprisionada em cativeiro na Babilônia. É
durante o cativeiro que Ezequiel exercerá seus ministério às margens do Rio Quebar,
convidando o povo ao arrependimento

● Período pós-exílico (538 a.C. a 460 a.C.): há o retorno de Judá à sua terra. Ageu,
Zacarias e Malaquias atuam pela restauração do templo, do culto, e o
restabelecimento da nação.

Principais temas da profecia clássica:

● A reafirmação do monoteísmo em frente às religiões pagãs que tentavam se instaurar


no meio do povo.

● A declaração da universalidade de Deus, bem como Sua natureza transcendente e


imanente.

● A santidade de Deus e, portanto, a necessidade do povo pela busca do


arrependimento e perdão.

● Julgamento, isto é, a chegada dia do Senhor.


● Apelo à justiça por parte dos governantes e do povo.

● A restauração dos descendentes de Abraão como nação.

PROFETA ISAÍAS
“JEOVÁ É SALVAÇÃO”

“Mas ele foi ferido por causa das nossas


transgressões, e moído por causa das
nossas iniqüidades; o castigo que nos
traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53:5)

Introdução:

O ministério do profeta Isaías surge num período crítico para Israel. Seu livro abre a
sessão de profetas clássicos: Depois da morte do rei Salomão, a nação entra num período
de decadência: lugares de culto pagão haviam se tornado comuns, muitos sacerdotes e
profetas eram corruptos, não condenando pecados e aceitando sacrifícios que Deus não
aceitava. Nesse cenário, Deus questiona a legitimidade do culto em Israel.

Aqui vale um adendo: há vezes em que o termo “Israel” é utilizado para fazer
referência a apenas os Reinos do Norte, noutras, entretanto, ele é empregado para ambos.

Isaías surge, então, voltando-se principalmente para Judá. Sua mensagem era uma
de clamor ao povo, convidando-os ao arrependimento. A mensagem de Isaías aponta para o
futuro cativeiro babilônico e, depois, seu livramento e restauração:

O livro de Isaías também é considerado uma Mini Bíblia. Isso de dá por causa das
várias semelhanças que ele possui com o Livro Sagrado:

● Isaías possui 66 capítulos, a Bíblia, 66 livros

● Dos 66 capítulos, 39 tratam da lei, juízo e castigo, sendo primariamente


direcionados aos judeus.

● Os 27 capítulos restantes tratam de temas que atingem amplamente os gentios,


como a vinda do messias, por exemplo.

Autoria:

A tradição nos revela que o autor do livro é o próprio profeta Isaías. Há teólogos do
ramo liberal que questionam essa posição. Segundo eles, Isaías escreveu apenas do capítulo
um ao 39, e o restante do texto foi completado por outra pessoa (ou outras pessoas). Tal
ceticismo é reprovado pela teologia pentecostal.

Temas principais:

a. Santidade: o texto possui um grande enfoque em santidade. Ele se apresenta de duas


formas: na exaltação da santidade de Deus e na convocação ao povo para o
arrependimento e santificação.

b. Punição: o livro é repleto de mensagens condenatórias contra o pecado tanto de Israel


quanto das nações vizinhas.

c. Salvação: aqui apresentada na forma de livramento do cativeiro babilônico e


apresentação profética do ministério do messias.

d. O messias: Isaías tratou amplamente de temas messiânicos, e em seu texto podemos


encontrar diversos detalhes sobre a vinda de Cristo.

e. Esperança: a restauração do reino de Judá.


Sobre o profeta:

Sugere-se que o profeta Isaías tenha sido criado num lar aristocrático. Foi
contemporâneo dos profetas Oséias, Amós e Miquéias e profetizou nos reinados de Uzias,
Jotão, Acaz e Ezequias.

Estima-se que o profeta Isaías atuou entre os anos 740 e 680 a.C. Seu chamado para
o ministério profético se dá no ano da morte do rei Uzias e há relatos no texto da morte de
Senaqueribe (mencionada em Is 37:37,38), que morreu em 680 a.C.

A tradição judaica nos diz que Isaías morreu no tempo de Manassés, serrado ao
meio a mando do rei. Talvez seja a esse acontecimento que o autor de Hebreus faz
referência quando escreve sobre o “hall dos heróis da fé”.

Sabe-se ainda que Isaías escreveu outro livro além, descrito em 2 Crônicas:

“Quanto ao mais dos atos de Uzias, tanto


os primeiros como os últimos, o profeta
Isaías, filho de Amós, o escreveu.”
(2 Crônicas 26:22)

Alguns pontos acerca de Isaías:

1. Isaías é considerado o maior profeta de todo o Antigo Testamento

2. É comumente intitulado de “O Profeta Messiânico” devido à quantidade de referências


a Cristo em seus textos. De fato, tamanha é a concentração de referências a Jesus
que Isaías é considerado o Quinto Evangelho.

3. É mencionado pelo menos 50 vezes no Novo Testamento.

4. Foi consistente e perseverante no desempenho de seu ministério, apesar da


relutância com que seus ouvintes receberam as palavras duras de suas profecias. Por
três anos e meio, Isaías andou nu para evidenciar a vergonha do cativeiro que cairia
sobre o povo.

5. Devido ao fato de suas profecias estarem bastante deslocadas no futuro, Isaías


morreu desacreditado.

Esboço:

1. Capítulo 1:1 a 6:3 - uma mensagem de juízo e esperança. Os primeiros cinco capítulos
são os chamados “ditos proféticos” que iniciam-se com um “Ai”.
2. Capítulo 6:1 - aqui ocorre a mensagem específica de Isaías para o ministério profético
e sua consagração.

3. Capítulo 7:1 a 12:6 - profecias de libertação e salvação.

4. Capítulo 4, 9 e 11 - o advento e poder do messias.

5. Capítulo 13:1 a 24 - o juízo de Deus sobre as nações. Aqui há profecias contra os


povos vizinhos de Israel.

6. Capítulo 25: juízos e promessas para o futuro de Judá.

7. Os “Ais” de julgamento dos Ditos proféticos.

8. O Dia do Senhor: o dia da manifestação do julgamento do Senhor.

9. Capítulo 36:1 a 39:8 - o reinado do rei Ezequias e o livramento concedido a ele.

10. A mensagem de libertação do cativeiro para uma nação que ainda não se encontra
dominada por estrangeiros. Essa é uma das razões pelas quais a mensagem de
Isaías é odiada pelo povo.

11. Capítulo 40:1 a 48:22 - o Senhor traz para Judá uma mensagem de consolo: a
Babilônia cairá e seus ídolos serão destruídos.

12. Capítulo 49:1 a 57:21 - aqui há uma profecia especificamente messiânica. Esses
capítulos tratam do nascimento de Cristo e os sofrimentos pelos quais passaria.

13. Capítulo 61 - há aqui a proclamação da Salvação anunciada desde o capítulo 58:1.

14. Capítulo 66:24 - a mensagem de consolo e a paz para o futuro povo de Judá.
PROFETA JEREMIAS
“JEOVÁ ESTABELECE”

“Palavras de Jeremias, filho de Hilquias, um


dos sacerdotes que estavam em Anatote, na
terra de Benjamim; Ao qual veio a palavra do
Senhor, nos dias de Josias, filho de Amom, rei
de Judá, no décimo terceiro ano do seu
reinado. [...] Assim veio a mim a palavra do
Senhor, dizendo: Antes que te formasse no
ventre te conheci, e antes que saísses da
madre, te santifiquei; às nações te dei por
profeta.”
(Jeremias 1:1-2,4-5)

O profeta:

Contemporâneo de Sofonias, Naum e Habacuque, Jeremias é conhecido como “o


Profeta das Lágrimas”. Nasceu em Anatote, um pequeno vilarejo a três quilômetros de
Jerusalém por volta de 650 a.c. no período final do reinado de Manassés.

Jeremias foi um homem materialmente pobre. Nasceu numa família carente e recebeu
uma ordem de Deus para que jamais se casasse. Por cerca de 40 anos ele exerce seu
ministério como porta-voz de Deus.

Seu ministério inicia-se no período do reinado de Josias, um monarca temente ao


Senhor. Foi este rei que reabre o templo e restaura o sacerdócio. O ministério do profeta
estende-se para além deste rei, entretanto, também atuando no reinado de Jeoiaquim,
Jeborias e Zedequias. Seu ministério até mesmo estende-se para depois da queda de
Jerusalém.

Sua mensagem era dura, de forma que o consideravam um trazedor de más notícias
e conclui seus dias de profeta em descrédito. Suas palavras contrariavam o povo, a até
mesmo o rei Jeoiaquim manda jogá-o no calabouço porque Jeremias estimulava a rendição
à Babilônia.

Jeremias tinha um ajudante escriba chamado Baruque. É creditada a Baruque a


organização das profecias de Jeremias. De fato, a competência de seu trabalho preservou os
escritos até os dias de Daniel.

Datação:

O livro foi escrito entre 626 e 586 a.C.

Contexto político:

Josias é rei na terra de Judá, que encontra-se em território disputado pelas duas
potências que a circundavam: a Babilônia e o Egito. O rei Josias é morto numa batalha contra
o rei do Egito, passando o trono para Jeoiaquim. Jeremias traz uma mensagem contra a
decadência moral e insensatez política do governo.

Esboço:

1. Introdução: relato da vocação e o chamado para o ministério.

2. Capítulo 2 a 25 - profecias contra Judá e seus líderes, tanto civis quanto religiosos.

3. Capítulo 1:4 a 20:18 - coleção de oráculos de Jeremias organizados por Baruque, o


escriba.

4. Capítulo 25:15 a 51 - Jeremias profetizando juízo contra as nações vizinhas por causa
do ataque contra Jerusalém.

5. Capítulo 25 - trata do cativeiro babilônico.

6. Capítulo 26 a 45 - uma série de episódios importantes da vida de Jeremias e a maneira


como esses episódios se relacionam com Judá. Jeremias estimula a rendição do povo
e revela a razão do castigo de cativeiro.
7. Capítulo 46 a 51: aqui Jeremias profetiza a queda de Babilônia como punição de Deus
pelo escravizamento de Judá.

8. Capítulo 52: Jeremias relata a queda de Jerusalém e o cativeiro babilônico. Entre suas
profecias há uma mensagem de esperança que aponta para a nova aliança.

Os sofrimentos de Jeremias:

O profeta Jeremias viveu como um homem pobre, sofrendo severas privações por
causa de suas profecias. Além de não possuir muitos bens materiais e não formar família, é
aprisionado por Zedequias em decorrência de sua mensagem dura. Foi também castigado
de outras maneiras: é lançado numa cisterna no capítulo 38, no capítulo 11 é perseguido e
rejeitado. Também é rejeitado pelos vizinhos, amigos e família, sendo expulso de sua
cidade porque planejavam matá-lo. Até mesmo o rei levantou-se contra o profeta:

“E sucedeu que, tendo Jeudi lido três ou quatro folhas, cortou-as com um canivete de escrivão, e
lançou-as no fogo que havia no braseiro, até que todo o rolo se consumiu no fogo que estava sobre o
braseiro. E não temeram, nem rasgaram as suas vestes, nem o rei, nem nenhum dos seus servos que
ouviram todas aquelas palavras. E, posto que Elnatã, e Delaías, e Gemarias tivessem rogado ao rei
que não queimasse o rolo, ele não lhes deu ouvidos. Antes deu ordem o rei a Jerameel, filho de
Hamaleque, e a Seraías, filho de Azriel, e a Selemias, filho de Abdeel, que prendessem a Baruque, o
escrivão, e a Jeremias, o profeta; mas o Senhor os escondera.”
(Jeremias 36:23-26)

Lugares-chave:

● Anatote

● Jerusalém

● Ramá

● Egito

Pontos de destaque:

● Jeremias foi o autor de dois dos cinco livros da sessão de Profetas Maiores do
Antigo Testamento.

● Seu ministério profético aconteceu durante o reinado dos cinco últimos reis de Judá.

● Foi incentivador da grande reforma espiritual ocorrida nos dias do rei Josias.

● Agiu como fiel mensageiro de Deus apesar de todas as circunstâncias.

● Sua tristeza pela queda de Judá rendeu-lhe o título de Profeta Lamentador.


● Mesmo apesar de suas fortes orações, Deus ainda castigou a nação de Judá com o
cativeiro babilônico.

LAMENTAÇÕES
DE JEREMIAS

As misericórdias do Senhor são a causa


de não sermos consumidos, porque as
suas misericórdias não têm fim;
Novas são cada manhã; grande é a tua
fidelidade.
(Lamentações 3:22,23)
Sobre o livro:

As lamentações de Jeremias são consideradas um salmo de lamento pela queda de


Judá. Estudiosos judaicos mencionam que este livro está entre os mais importantes para o
povo judeu, de forma que ainda hoje é lido entre eles ao menos uma vez por ano. A tradição
nos diz que o livro foi escrito no Gólgota, o mesmo monte onde depois Jesus seria crucificado.

O livro possui forte caráter poético, de forma que, no hebraico, os capítulos um, dois
e quatro possuem, cada um, 22 versículos, tal qual as 22 letras do alfabeto hebraico. O
capítulo três possui 66 versículos cuja letra inicial se repete a cada três, formando três
conjuntos de 22. Com exceção do quarto, todos os capítulos terminam com uma oração.
Cada divisão do livro representa uma fase do cerco a Jerusalém.

Esboço:

● Capítulo 1 - é uma oração pelo sofrimento de Jerusalém. Aqui há tristeza e choro


pelos mortos e pela destruição do templo.

● Capítulo 2 - a Tristeza de Sião. Esta é a reação do profeta em prantos diante da


destruição testemunhada e a consciência de Jeremias de que isto é obra do Senhor.

● Capítulo 3 - retrata tanto a severidade quanto a misericórdia de Deus para com seu
povo.
● Capítulo 4 - relata a desobediência do povo e as calamidades resultantes disso.

● Capítulo 5 - aqui Jeremias conclui o livro orando por Jerusalém e clamando por
conversão e arrependimento.

EZEQUIEL
“DEUS FORTALECE”

“No quinto dia do mês, no quinto ano do


cativeiro do rei Jeoiaquim,
Veio expressamente a palavra do Senhor
a Ezequiel, filho de Buzi, o sacerdote, na
terra dos caldeus, junto ao rio Quebar, e
ali esteve sobre ele a mão do Senhor.”
(Ezequiel 1:2-3)

O profeta:

Ezequiel era judeu e filho de Buzi, um sacerdote. Segue para o cativeiro na


Babilônia com aproximadamente 30 anos de idade. Seu livro é datado entre os anos 593 e
573 a.C.
O profeta Ezequiel começa seu ministério no quinto ano de cativeiro, estabelecendo-
se em Tel-Abibe junto ao rio Quebar e transmitindo a Judá o porquê do cativeiro, bem como
anunciando sua salvação. Sua mensagem era transmitida não apenas por suas palavras,
uma vez que vivia na prática aquilo que pregava:

“E veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:


Filho do homem, eis que, de um golpe tirarei
de ti o desejo dos teus olhos, mas não
lamentarás, nem chorarás, nem te correrão as
lágrimas.
Geme em silêncio, não faças luto por mortos;
ata o teu turbante, e põe nos pés os teus
sapatos, e não cubras os teus lábios, e não
comas o pão dos homens. E falei ao povo pela
manhã, e à tarde morreu minha mulher; e fiz
pela manhã como me foi mandado.”
(Ezequiel 24:15-18)

Além da perda de sua mulher, há ainda outros casos em que Ezequiel carrega sua
mensagem na prática. O texto do capítulo 4 Deus ordena que o profeta deite-se, durante 390
dias, sempre do lado esquerdo “e põe a iniquidade da casa de Israel sobre ele” (Ez 4:4) e
comendo alimentos cozidos sobre esterco de animais “dei-te esterco de vacas, em lugar de
esterco de homem; e sobre ele prepararás o teu pão.” (Ez 4:15).

Esboço:

· Capítulos 1 a 3 – estando Ezequiel entre os cativos na Babilônia, recebe


visões impactantes que revelam a grandeza e importância de seu
ministério e, em seguida, uma chamada à vida de profeta.

· Capítulo 3:22 a 24:27 – aqui há a destruição de Jerusalém, juntamente


com uma série de oráculos proféticos de julgamento e queda de nações
poderosas ao seu redor. Ao descrever a lista de pecados de Israel,
Ezequiel demonstra que o cativeiro babilônico é justo castigo da parte de
Deus.

· Capítulo 25 a 32 – uma série de profecias contra as nações gentílicas em


torno de Judá e Israel. Aqui há profecias contra Amon, Moabe, Edom, os
Filisteus, Tiro, lamentação contra Sidom, o Egito, Faraó e assim por diante.

· Capítulo 33 a 48 - Aqui Ezequiel traz profecias de restauração para o povo


de Judá. As profecias de Ezequiel são extremamente detalhistas, de forma
que a restauração aqui descrita é trabalhada no texto até os mínimos
detalhes, descrevendo, por exemplo, cada pedaço do Templo a ser
restabelecido.

Pessoas chave:

● Sua esposa

● Os líderes de Israel

● Nabucodonosor

Lugares chave:

● Jerusalém

● Babilônia

● Egito
DANIEL
“DEUS É O MEU JUIZ”

O profeta:

Quarto e último dos Profetas Maiores, Daniel era um jovem de família real que foi
levado à Babilônia em cativeiro com aproximadamente 16 anos de idade (606 a.C.), no fim
do terceiro ano do reinado de Jeoiaquim. Seu livro é considerado o Apocalipse do Antigo
Testamento.

O momento exato do chamado de Daniel para o ministério profético não é explicitado


no texto. Um ponto interessante sobre as visões de Daniel é que elas lhe são passadas
exclusivamente por sonhos ou “visões noturnas”.

Sabe-se que Daniel viveu na terra para onde fora levado até os 90 anos, tornando-se
um membro de alto escalão na corte de Nabudonosor. Tamanhas era a confiança que o rei
tinha para com Daniel que Nabucodonosor agraciou-o com as mais altas posições de governo
em seu reinado. Daniel também serviu aos reis posteriores a Nabucodonosor: Belsazar, Evil-
Merodaque, Nabonido, Dario e Ciro.

A fidelidade de Daniel a Deus faz dele uma referência para os cativos. Desde o
começo, decide não se contaminar pelos pecados abundantes na Babilônia, jamais
afastando-se do Senhor.

Pessoas chave:

• Daniel

• Seus três amigos: Hananias, Misael e Azarias

• Rei Nabucodonosor

• Rei Dario

• Rei Ciro
Esboço:

• Capítulo 1:1-21 – A fidelidade a Deus na vida de Daniel ao decidir não se


contaminar com os banquetes do rei.

• Capítulo 2:1-49 – No capítulo segundo, Nabucodonosor manda que os sábios


interpretem o sonho que teve, mas que não se lembra de seu conteúdo. El fica
irado diante da incapacidade dos sábios de fazê-lo e manda matá-los. É aí que
surge Daniel, que pede dois dias para o rei e retira-se para orar com seus
companheiros. O Senhor traz tanto o conteúdo quanto a interpretação dos sonhos
do rei em visão durante o sono de Daniel.

• Capítulo 3 – o evento da estátua de ouro que lança Sadraque, Mesaque e Abede-


Nego na fornalha de fogo ardente. Presume-se que Daniel não esteja presente
nesse momento por estar viajando a mando do rei.

• Capítulo 4 – um novo sonho de Nabucodonosor: a árvore cuja copa alcançava o


céu. Este sonho também é interpretado por Daniel.

• Capítulo 5 – Nabucodonozor não mais governa sobre a Babilônia, sendo sucedido


por Belsazar. Há aqui o evento da mão misteriosa durante o banquete do rei.

• Capítulo 6 – sob o reinado de Dario, Daniel é lançado na cova dos leões por causa
do decreto do rei.

• Capítulo 7 – aqui acontece a primeira visão dita apocalíptica de Daniel: os quatro


animais simbólicos e a representação do império do anti-Cristo.

• Capítulo 8 – a segunda visão, esta com dois animais: o bode e o carneiro.

• Capítulo 9 – aqui ocorre visão de Daniel acerca das 70 semanas. Daniel ora, a
partir do segundo versículo, pela libertação do povo do cativeiro:
“No primeiro ano do seu reinado, eu,
Daniel, compreendi pelas Escrituras,
conforme a palavra do Senhor dada ao
profeta Jeremias, que a desolação de
Jerusalém iria durar setenta anos. [...]
Senhor, ouve! Senhor, perdoa! Senhor,
vê e age! Por amor de ti, meu Deus, não
te demores, pois a tua cidade e o teu
povo levam o teu nome.”
(Daniel 9:2,19)

• Capítulo 10 – estando Daniel num período de jejum e oração, aparece-lhe a visão do


homem às margens do rio Tigre.
• Capítulo 11 - Daniel retrata o surgimento do império medo-persa e sua queda, o
surgimento do império grego e sua divisão e os conflitos entre o reino do norte e do
sul.

• Capítulo 12 – Conclusão do livro.


ÍNDICE
1. PROFETA NAUM
1.1. Introdução
1.2. Naum e Jonas
1.3. O tema do livro
1.4. Sobre Nínive
1.5. A onipotência e o caráter justo de Deus
1.6. Um Deus zeloso e vingador
1.7. Um Deus bondoso
1.8. O juízo divino sobre a Assíria
1.9. Quando Deus julga
1.10. Deus e a lei da semeadura
1.11. A queda de Nínive
1.12. O fim de Nínive
2. PROFETA HABACUQUE
2.1. Particularidades de Habacuque
2.2. A condição espiritual do povo eleito
2.3. As nações como instrumentos de Deus
2.4. As ações de Deus expressas de duas formas
2.5. Deus está pronto para responder o clamor do seu povo
2.6. Homens que não souberam usar o poder e o domínio que Deus lhes
outorgara
2.7. A fé triunfa sobre as adversidades
3. PROFETA AGEU
3.1. Particularidades
3.2. Datação
3.3. Contexto histórico
3.4. Os destinatários da profecia
3.5. Esboço do livro de Ageu
3.6. O modelo social e político proposto por Ageu
3.7. O mutirão da reconstrução
3.8. Obra do homem
3.9. A obra de Deus
3.10. Os três motivos do atraso da reconstrução segundo Esdras
3.11. O conteúdo do livro de Ageu
3.12. O que Ageu tem a nos dizer hoje
3.13. A mensagem de Ageu
4. PROFETA JONAS
4.1. Similaridades
4.2. Particularidades
4.3. O egoísmo de Jonas
4.4. Jonas: mais preocupado com a reputação do que a missão
4.5. A soberania sobre a fragilidade humana
4.6. O amor de Deus é superior a compreensão humana
5. PROFETA MIQUÉIAS
5.1. Particularidades de Miquéias
5.2. O estilo de Miquéias
5.3. Semelhanças entre Miquéias e Isaías
5.4. Contexto
5.5. Deus, o justo juiz
5.6. O declínio moral de duas capitais
5.7. Uma visão de esperança
6. PROFETA OBADIAS
6.1. Particularidades
6.2. Sobre o profeta
6.3. Os edomitas eram terríveis inimigos de Israel
6.4. A estratégia divina para castigar os edomitas
6.5. Deus abate o soberbo e exalta o humilde
6.6. Obadias anuncia que o dia do Senhor está perto
7. PROFETA MALAQUIAS
7.1. Particularidades do livro de Malaquias
7.2. O significado real de cultuar a Deus
7.3. O que Deus é para nós?
7.4. O que Deus é para nós?
7.5. O que estamos oferecendo a Deus?
7.6. Anúncios de chegada dos juízos divinos
7.7. A fidelidade dos juízos divinos
7.8. No dia do julgamento de Deus
7.9. Dízimos e ofertas: um dever para com Deus e Sua obra
8. PROFETA AMÓS
8.1. Particularidades
8.2. A quebra da aliança com Deus e suas consequências
8.3. A voz de Deus anuncia o juízo
8.4. O teor do julgamento
8.5. Os pecados de Israel
9. PROFETA SOFONIAS
9.1. Particularidades de Sofonias
9.2. Contexto
9.3. O perfeito julgamento de Deus
9.4. O alvo do julgamento
9.5. Deus convida todos ao arrependimento
9.6. O julgamento das nações
9.7. Deus julga objetivamente
9.8. A amplitude do julgamento
9.9. Deus suscita um remanescente fiel
10. PROFETA JOEL
10.1. Particularidades
10.2. Contexto
10.3. A situação da Judá pós exílica
10.4. A função de Joel
10.5. Joel anuncia o grande juízo de Deus
10.6. Joel conclama todos ao arrependimento
10.7. Os resultados do arrependimento
10.8. A promessa do derramamento do Espírito Santo
10.9. O grande dia do Senhor certamente virá
10.10. As fases de Joel
11. PROFETA OSÉIAS
11.1. Sobre o profeta
11.2. Observações iniciais
11.3. O tempo do profeta Oséias
11.4. As origens de Oséias
11.5. Os Filhos de Oséias
11.6. O exemplo de reconciliação
11.7. O exemplo de amor verdadeiro
11.8. A misericórdia de Deus demonstrada através de Oséias
11.9. Conclusão
12. PROFETA ZACARIAS
12.1. Sobre o profeta
12.2. Contexto
12.3. A mensagem da profecia
12.4. As visões do livro
PROFETA NAUM

Introdução

Não há muitas informações acerca deste profeta nos textos da Bíblia Sagrada. Seus oráculos
não são amplamente utilizados em nossos cultos e muitos pregadores evitam sequer
mencioná-los. Acontece, entretanto, que, apesar de esparsas, estão nos textos bíblicos, e
seu estudo é indispensável, a começar pelo seu local de origem:

“Peso de Nínive. Livro da visão de Naum, o elcosita.”


Naum 1:1

Naum era um homem originário de uma aldeia próxima a Judá chamada Elcos. É interessante
que esse livro não pode, de maneira nenhuma, ser estudado sem o conhecimento dos
escritos do profeta Jonas.

É bastante provável que Naum tenha vivido parte de sua vida em Judá, sob o reino de
Manassés. Este foi um tempo sombrio, e, estando inserido nessa situação, o profeta deve ter
presenciado a perversa política pró Assíria que seu governo havia adotado.

Manassés é conhecido com um rei mal, e suas políticas não seguiam o caminho ditado por
Deus. Ele foi um rei que fomentou a idolatria, fez passar seu filho ao fogo, praticou ritos
mágicos estranhos e submeteu-se à cultura e política assírias.

A Assíria, cuja capital é Nínive, era a maior potência opressora e assassina da época. É com
esse pano de fundo que Naum se levanta para proclamar a queda da cidade. Ele pode ser
considerado o profeta que ensina o povo a enxergar.

Naum não é apenas profeta, mas também poeta. Pode-se afirmar que ele faz poesia por meio
da profecia, de forma que seus versos impressionam pela beleza e força de linguagem.

Além de Manassés, o profeta também atuou sob o reinado de Ezequias, apesar de este ter
um foco reduzido. De fato, o livro vai atentar-se primariamente às atitudes do rei mal. Aqui
cabe uma observação acerca de Manassés: ele faz parte da linhagem de Cristo.

Uzias gerou Jotão; Jotão gerou Acaz; Acaz gerou Ezequias; Ezequias gerou Manassés; Manassés gerou Amom;
Amom gerou Josias;e Josias gerou Jeconias e seus irmãos, no tempo do exílio na Babilônia.
Mateus 1:9-11

Sem dúvidas isso serve para mostrar-nos que o Calvário foi suficiente para anular todo o peso
do pecado.
Naum e Jonas

Assim como Jonas, Naum também vai atuar seu ministério em Nínive. Só para que possamos
compreender melhor, o ministério do elcosita surge 150 anos após a ida do profeta Jonas à
cidade de Nínive.

Apesar de ambos atuarem sobre a mesma região, a recepção de seus ministérios foi
bastante diferente. No tempo de Jonas, os habitantes da cidade ouviram sua mensagem e
arrependeram-se, jejuando e clamando por misericórdia de Deus. Com o passar dos anos,
entretanto, a geração arrependida passou, e seus descendentes retomaram as práticas
aberrantes de paganismo.

O tema do livro

Para uma melhor compreensão do tema, precisamos explicar o tempo em que Naum aparece,
situando-o em seu contexto. Estima-se que Naum tenha exercido seu ministério por volta do
ano 668 a.C. devido à menção à cidade egípcia de Tebas feita no terceiro capítulo:

“Acaso és melhor do que Tebas, situada junto ao Nilo, rodeada de águas? O rio era a sua defesa; as águas, o seu
muro. A Etiópia e o Egito eram a sua força ilimitada; Fute e a Líbia estavam entre os seus aliados. Apesar disso,
ela foi deportada, levada para o exílio. Em cada esquina as suas crianças foram massacradas. Tiraram sortes
para decidir o destino dos seus nobres; todos os poderosos foram acorrentados.”
Naum 3:8-10

Este foi um tempo de muitas dificuldades, quando a matança, idolatria, feitiçaria, morte,
guerras e calamidades eram abundantes pela terra. Ao diagnosticar essa situação, Naum fala
da destruição e da justa ira de Deus.

O profeta Naum tem em sua profecia uma unidade de propósito: inspirar seus compatriotas
a confiar em Deus ainda que fosse alarmante o quadro em que viviam, com ataques dos
poderosos assírios que já subjugavam as dez tribos do norte.

Sobre Nínive

● Nínive era a capital do império assírio

● Foi ostensivamente a casa do rei Senaqueribe, rei da Assíria durante o reinado


do rei Ezequias e durante o ministério de isaías

A onipotência e o caráter justo de Deus

É notória a presença e o senhorio de Deus quando o profeta Naum aponta os fenômenos da


natureza física esboçando um quadro de tempestade, redemoinho, seca, terremoto e fogo.
Estes por sua vez, esclarecem a majestade e o poder de Deus que faz os homens mais
ousados e arrogantes se tornarem conscientes da sua pequenez. Não obstante, Naum
estabelece as dimensões morais do poder divino tanto para o seu povo como para os ímpios.

Um Deus zeloso e vingador

Em razão de Deus ter um caráter justo e poderoso, ele dá aviso prévio a fim de que eles
abandonem seus pecados e não incorram no Seu juízo. O castigo que o Senhor lhes imporá
será completo e final:

“O SENHOR acabará com tudo o que vocês planejarem contra ele; a tribulação não precisará vir uma segunda
vez.”
Naum 1:9

“Por isso porei fogo ao muro de Tiro, e ele consumirá os seus palácios. Assim diz o Senhor: Por três transgressões
de Edom, e por quatro, não retirarei o castigo, porque perseguiu a seu irmão à espada, e aniquilou as suas
misericórdias; e a sua ira despedaçou eternamente, e conservou a sua indignação para sempre.”
Amós 1:10,11

Um Deus bondoso

Demonstrando ser um forte escudo e abrigo seguro para quem o procura, Deus livra Seus
fiéis e envia o profeta para consolar o povo:

“O Senhor é bom, ele serve de fortaleza no dia da angústia, e conhece os que confiam nele.“
Naum 1:7

● Deus livrou Ezequias:

“Portanto, assim diz o Senhor acerca do rei da Assíria: Não entrará nesta cidade, nem lançará nela flecha
alguma; tampouco virá perante ela com escudo, nem levantará contra ela trincheira alguma. Pelo
caminho por onde vier, por ele voltará; porém nesta cidade não entrará, diz o Senhor.”
2 Reis 19:32,33

● Ele nos livrou das garras de satanás:

“O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor;”
Colossenses 1:13

● Ele nos livrou do domínio do pecado:

“porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do pecado e da morte.”
Romanos 8:2

● E nos colocou para viver nos lugares celestiais com ele:

E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, E nos ressuscitou juntamente com ele e nos
fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; Efésios 2:1-6
O juízo divino sobre a Assíria

A aplicação do juízo evidenciada no segundo capítulo do livro do profeta Naum apresenta o


mesmo tom de zombaria presente nas palavras do profeta Elias contra os falsos profetas de
Baal:

O destruidor subiu contra ti. Guarda tu a fortaleza, vigia o caminho, fortalece os lombos, reforça muito o teu poder.
Naum 2:1

E sucedeu que ao meio-dia Elias zombava deles e dizia: Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser
que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer, ou que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo,
e despertará.
1 Reis 18:27

É notável a clareza e os detalhes com que o profeta expressa a destruição de Nínive:

1. O Cerco:

“O destruidor avança contra você, Nínive! Guarde a fortaleza! Vigie a estrada! Prepare a resistência!
Reúna todas as suas forças! O SENHOR restaurará o esplendor de Jacó; restaurará o esplendor de
Israel, embora os saqueadores tenham devastado e destruído as suas videiras. Os escudos e os
uniformes dos soldados inimigos são vermelhos. Os seus carros de guerra reluzem quando se alinham
para a batalha; agitam-se as lanças de pinho. Os carros de guerra percorrem loucamente as ruas e se
cruzam velozmente pelos quarteirões. Parecem tochas de fogo e arremessam-se como relâmpagos.
Convocam-se as suas tropas de elite, mas elas vêm tropeçando; correm para a muralha da cidade para
formar a linha de proteção. As comportas dos canais são abertas, e o palácio desaba.”
Naum 2:1-6

1. O Despojo:

“Está decretado: a cidade irá para o exílio, será deportada. As jovens tomadas como escravas batem no
peito; seu gemer é como o arrulhar das pombas. Nínive é como um açude antigo cujas águas estão
vazando. “Parem, parem”, eles gritam, mas ninguém sequer olha para trás. Saqueiem a prata! Saqueiem
o ouro! Sua riqueza não tem fim; está repleta de objetos de valor! Ah! Devastação! Destruição! Desolação!
Os corações se derretem, os joelhos vacilam, todos os corpos tremem e o rosto de todos empalidece!”
Naum 2:7-10

1. A Queda:

“Onde está agora a toca dos leões? Onde o lugar em que alimentavam seus filhotes, para onde iam o
leão, a leoa e os leõezinhos, sem nada temer? Onde está o leão que caçava o bastante para os seus
filhotes e estrangulava animais para as suas leoas, e que enchia as suas covas de presas e suas tocas
de vítimas? “Estou contra você”, declara o SENHOR dos Exércitos, “queimarei no fogo os seus carros de
guerra, e a espada matará os seus leões. Eliminarei da terra a sua caça, e a voz dos seus mensageiros
jamais será ouvida”.”
Naum 2:11-13

Quando Deus julga

No que tange o pecado, todos somos iguais perante Deus:


A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A
justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele.
Ezequiel 18:20

O poderoso leão, símbolo do Império Assírio, estava agora diante de um maior dominador: O
próprio Deus através dos seus desígnios.

“Onde está agora o covil dos leões, e as pastagens dos leõezinhos, onde passeava o leão velho, e o filhote do
leão, sem haver ninguém que os espantasse? O leão arrebatava o que bastava para os seus filhotes, e
estrangulava a presa para as suas leoas, e enchia de presas as suas cavernas, e os seus covis de rapina.”
Naum 2:11,12

Quando Deus usa o profeta Naum para questionar onde está o leão e a leoa que passeavam,
o termo empregado aqui significa “que tinha acesso”, “governo”, “liderança”. Isso significa que
Nínive governava os fracos e subjugava as cidades. O uso poético do leão retrata a perda de
força do império perante o verdadeiro dominador: o Leão de Judá.

“O Senhor desfaz o conselho dos gentios, quebranta os intentos dos povos. O conselho do Senhor permanece
para sempre; os intentos do seu coração de geração em geração.”
Salmos 33:10,11

Eis que eu estou contra ti, diz o Senhor dos Exércitos, e queimarei na fumaça os teus carros, e a espada devorará
os teus leõezinhos, e arrancarei da terra a tua presa, e não se ouvirá mais a voz dos teus mensageiros.
Naum 2:13

“Eis que estou contra Ti” são palavras terríveis quando proferidas por Deus contra os que
incorrem em sua justa indignação. Estas são palavras que evocam humildade e alertam
contra a soberba e a exaltação. A causa que leva o mais poderoso império vir a cair, é estar
em oposição a Deus, o que faz decretar a própria ruína.

Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo
faz-se inimigo de Deus.
Tiago 4:4

Deus e a lei da semeadura

O que Nínive semeou teve de colher. A cidade colocava sua confiança em seu poderio:
confiava-se em seu muro alto de trinta metros, com uma circunferência de 140 km, e em
muitos recursos bélicos e arquitetônicos.

Mas de nada adiantaram seus muros. Tijolos e a argamassas nada representam diante do
poderio divino. O poderoso império de Salmaneser, Sargão e Senaqueribe foi destruído em
um só golpe de Deus.

Ele se lembrará dos seus valentes; eles, porém, tropeçarão na sua marcha; apressar-se-ão para chegar ao seu
muro, quando o amparo for preparado. As portas dos rios se abrirão, e o palácio será dissolvido.
Naum 2:5,6
A queda de Nínive

Nínive foi destruída por causa de suas transgressões:

“Ai da cidade ensangüentada! Ela está toda cheia de mentiras e de rapina; não se aparta dela o roubo. Estrépito
de açoite há, e o barulho do ruído das rodas; e os cavalos atropelam, e carros vão saltando. O cavaleiro levanta
a espada flamejante, como a lança relampejante, e ali haverá uma multidão de mortos, e abundância de
cadáveres, e não terão fim os defuntos; tropeçarão nos seus corpos; Por causa da multidão dos pecados da
meretriz mui graciosa, da mestra das feitiçarias, que vendeu as nações com as suas fornicações, e as famílias
pelas suas feitiçarias. Eis que eu estou contra ti, diz o Senhor dos Exércitos; e levantarei a tua saia sobre a tua
face, e às nações mostrarei a tua nudez, e aos reinos a tua vergonha. E lançarei sobre ti coisas abomináveis, e
envergonhar-te-ei, e pôr-te-ei como espetáculo. E há de ser que, todos os que te virem, fugirão de ti, e dirão:
Nínive está destruída, quem terá compaixão dela? Donde te buscarei consoladores?”
Naum 3:1-7

Sua imensa riqueza e força não bastaram para salvá-la:

“És tu melhor do que Nô-Amom, que está assentada entre os canais do Nilo, cercada de águas, tendo por
esplanada o mar, e ainda o mar por muralha? Etiópia e Egito eram a sua força, e não tinha fim; Pute e Líbia foram
o seu socorro. Todavia foi levada cativa para o desterro; também os seus filhos foram despedaçados nas entradas
de todas as ruas, e sobre os seus nobres lançaram sortes, e todos os seus grandes foram presos com grilhões.
Tu também serás embriagada, e te esconderás; também buscarás força por causa do inimigo. Todas as tuas
fortalezas serão como figueiras com figos temporãos; se os sacodem, caem na boca do que os há de comer. Eis
que o teu povo no meio de ti são como mulheres; as portas da tua terra estarão de todo abertas aos teus inimigos;
o fogo consumirá os teus ferrolhos. Tira águas para o cerco, reforça as tuas fortalezas; entra no lodo, e pisa o
barro, pega a forma para os tijolos. O fogo ali te consumirá, a espada te exterminará; consumir-te-á, como a
locusta. Multiplica-te como a locusta, multiplica-te como os gafanhotos. Multiplicaste os teus negociantes mais do
que as estrelas do céu; a locusta se espalhará e voará. Os teus príncipes são como os gafanhotos, e os teus
capitães como os gafanhotos grandes, que se acampam nas sebes nos dias de frio; em subindo o sol voam, de
sorte que não se sabe mais o lugar onde estão. Os teus pastores dormirão, ó rei da Assíria, os teus ilustres
repousarão, o teu povo se espalhará pelos montes, sem que haja quem o ajunte. Não há cura para a tua ferida, a
tua chaga é dolorosa. Todos os que ouvirem a tua fama baterão as palmas sobre ti; porque, sobre quem não
passou continuamente a tua malícia?”
Naum 3:8-19

Há três pontos importantes a serem ressaltados na destruição de Nínive que o profeta


ressalta:

● Água:

Os rios que cercavam Nínive sempre deram cômoda proteção aos ninivitas, e isso
intimidava seus inimigos. Deus, porém, usaria este elemento para fazer justiça,
inundando com enchente a formosa cidade:

“Abaixa, ó Senhor, os teus céus, e desce; toca os montes, e fumegarão. Vibra os teus raios e dissipa-os;
envia as tuas flechas, e desbarata-os.”
Salmos 144:5,6

● Fogo:

“O fogo ali te consumirá, a espada te exterminará; consumir-te-á, como a locusta. Multiplica-te como a
locusta, multiplica-te como os gafanhotos.”
Naum 3:15
O fogo é o segundo elemento usado para o castigo divino no livro de Naum. É
constantemente empregado na Bíblia como símbolo de purificação. Desse modo,
Deus estava purificando a terra das idolatrias e feitiçarias da Assíria.

“Portanto assim diz o Senhor dos Exércitos: Eis que eu os fundirei e os provarei; pois, de que outra
maneira procederia com a filha do meu povo?”
Jeremias 9:7

“Por causa da multidão dos pecados da meretriz mui graciosa, da mestra das feitiçarias, que vendeu as
nações com as suas fornicações, e as famílias pelas suas feitiçarias.”
Naum 3:4

● A espada:

A espada representa o poder humano de subjugar seus semelhantes. Foi através da


brutalidade e da matança que Nínive obteve controle e poder, subjugando os demais.
Assim sendo, Deus utiliza-se da espada para derrubar a cidade.

O fim de Nínive

A mensagem profética de Naum encerra-se com a destruição da ímpia Nínive e tragicamente


com a triste notícia de que o povo está disperso sobre os cumes e outeiros, como ovelhas
que não têm pastor. É interessante notar que esta expressão foi a mesma utilizada no
evangelho segundo Mateus para descrever o estado de Israel nos tempos de Jesus Cristo:

“Ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem pastor.”
Mateus 9:36
PROFETA HABACUQUE

Particularidades de Habacuque

Seu nome vem do grego “Hambakoum”, e pode estar ligado a raiz hebraica que significa
“abraço” ou “abraçar”. Alguns teólogos afirmam que este é o abraço carinhoso que uma
mãe dá ao filho, outros, que é um abraço de alguém que abraça uma causa, uma situação,
uma guerra.

O livro não começa com o clássico “e veio a mim a palavra do senhor”, rompendo com a
tradicionalidade:

O peso que viu o profeta Habacuque.


Habacuque 1:1

O Profeta Habacuque viveu durante o período de reinado do rei Joaquim (608-598 a.C.) em
um período de crise, sobretudo espiritual, onde a identidade do povo escolhido estava
submergida. Podemos aprender como ele mudou, através da oração, a profunda aflição em
esperança. Este é o livro da fé, do emuná. Deus estabelece o peso sobre Habacuque, e
Habacuque clama em voz alta, gritando, orando em busca de Deus.

Ele foi chamado já em idade avançada, de 50 a 60 anos e também era músico e salmista.
Alguns eruditos chegam a dizer que era sacerdote da tribo de levi, um filósofo e poeta. Um
dos profetas mais intelectualizados do AT.

A condição espiritual do povo eleito

É importante estudar o contexto do profeta: O declínio da moralidade e da justiça; o aumento


da iniquidade e violência, e o distanciamento dos verdadeiros padrões éticos e sociais que
ocorrem corriqueiramente em nossos dias, bem como nos dias de Habacuque, nos leva a
refletir e indagar:

O peso que viu o profeta Habacuque. Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei:
Violência! e não salvarás? Por que razão me mostras a iniqüidade, e me fazes ver a opressão? Pois que a
destruição e a violência estão diante de mim, havendo também quem suscite a contenda e o litígio.
Habacuque 1:1-3

A passividade de Deus com a situação do seu povo angustiava o profeta. Porém, Habacuque
cria em Deus como solução. Quando deus levanta o profeta Habacuque para profetizar, o
reino do norte já não existia há mais de 10 anos, mas Judá não parece aprender a lição.

As nações como instrumentos de Deus

Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, e a justiça se
manifesta distorcida. Vede entre os gentios e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos; porque realizarei em vossos
dias uma obra que vós não crereis, quando for contada. Porque eis que suscito os caldeus, nação amarga e
impetuosa, que marcha sobre a largura da terra, para apoderar-se de moradas que não são suas. Horrível e
terrível é; dela mesma sairá o seu juízo e a sua dignidade.
Habacuque 1:4-7

A vontade de Deus é soberana na vida do homem seja como indivíduo ou nação. Todos
estão debaixo dos seus propósitos e todas as coisas cooperam juntamente para o bem
daqueles que O amam. Nada escapa do seu controle. A vontade de Deus é soberana, de
forma que aos justos cabe apenas confiar nEle::

Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem;
Salmos 24:1

E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que
são chamados segundo o seu propósito.
Romanos 8:28

E como um manto os enrolarás, e serão mudados. Mas tu és o mesmo, E os teus anos não acabarão. E a qual
dos anjos disse jamais: Assenta-te à minha destra, Até que ponha a teus inimigos por escabelo de teus pés?
Hebreus 1:12,13

As ações de Deus expressas de duas formas

1. A vontade diretiva, que é sua plena vontade, seus propósitos, o que Ele quer.

1. A vontade permissiva, aquilo Deus permite que aconteça.

Exemplo:

● Deus não quer que o homem peque (vontade diretiva), mas permitiu dando-lhe o
livre arbítrio (vontade permissiva).

● Deus quer que todos se salvem através de Jesus Cristo (vontade diretiva),
entretanto muitos perecerão por não crerem no unigênito filho de Deus (vontade
permissiva).

Deus está pronto a responder o clamor do seu povo

● Deus não fará coisa alguma sem antes avisar seus profetas:

Certamente o Senhor DEUS não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os
profetas.
Amós 3:7

● O profeta se posicionou diante de Deus:

Sobre a minha guarda estarei, e sobre a fortaleza me apresentarei e vigiarei, para ver o que falará a mim,
e o que eu responderei quando eu for argüido.
Habacuque 2:1
● Mas o Senhor é a força do justo:

O Senhor dará força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com paz.
Salmos 29:11

● A glória do ímpio está nas posses terrenas:

Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom, senão um, que é Deus. Sabes os
mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai
e a tua mãe. E disse ele: Todas essas coisas tenho observado desde a minha mocidade. E quando Jesus
ouviu isto, disse-lhe: Ainda te falta uma coisa; vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás
um tesouro no céu; vem, e segue-me. Mas, ouvindo ele isto, ficou muito triste, porque era muito rico. E,
vendo Jesus que ele ficara muito triste, disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm
riquezas! Porque é mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino
de Deus.
Lucas 18:19-25

● Porém o justo tem a vida eterna:

Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, Escolhendo antes ser
maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; Tendo por maiores
riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa. Pela fé
deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível.
Hebreus 11:24-27

● O ímpio não conhece o amanhã, mas o justo vive pela fé:

Porque a visão é ainda para o tempo determinado, mas se apressa para o fim, e não enganará; se tardar,
espera-o, porque certamente virá, não tardará. Eis que a sua alma está orgulhosa, não é reta nele; mas
o justo pela sua fé viverá. Tanto mais que, por ser dado ao vinho é desleal; homem soberbo que não
permanecerá; que alarga como o inferno a sua alma; e é como a morte que não se farta, e ajunta a si
todas as nações, e congrega a si todos os povos.
Habacuque 2:3-5

● Habacuque informa ao povo que haverá um tempo certo:

Não levantarão, pois, todos estes contra ele uma parábola e um provérbio sarcástico contra ele? E se
dirá: Ai daquele que multiplica o que não é seu! (até quando? ) e daquele que carrega sobre si dívidas!
Porventura não se levantarão de repente os teus extorquiadores, e não despertarão os que te farão
tremer, e não lhes servirás tu de despojo? Porquanto despojaste a muitas nações, todos os demais povos
te despojarão a ti, por causa do sangue dos homens, e da violência feita à terra, à cidade, e a todos os
que nela habitam. Ai daquele que, para a sua casa, ajunta cobiçosamente bens mal adquiridos, para pôr
o seu ninho no alto, a fim de se livrar do poder do mal! Vergonha maquinaste para a tua casa; destruindo
tu a muitos povos, pecaste contra a tua alma. Porque a pedra clamará da parede, e a trave lhe responderá
do madeiramento. Ai daquele que edifica a cidade com sangue, e que funda a cidade com iniqüidade!
Porventura não vem do Senhor dos Exércitos que os povos trabalhem pelo fogo e os homens se cansem
em vão? Porque a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.
Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro! Ai de ti, que adicionas à bebida o teu furor, e o
embebedas para ver a sua nudez! Serás farto de ignomínia em lugar de honra; bebe tu também, e sê
como um incircunciso; o cálice da mão direita do Senhor voltará a ti, e ignomínia cairá sobre a tua glória.
Porque a violência cometida contra o Líbano te cobrirá, e a destruição das feras te amedrontará, por
causa do sangue dos homens, e da violência feita à terra, à cidade, e a todos os que nela habitam. Que
aproveita a imagem de escultura, depois que a esculpiu o seu artífice? Ela é imagem de fundição que
ensina mentira, para que quem a formou confie na sua obra, fazendo ídolos mudos? Ai daquele que diz
ao pau: Acorda! e à pedra muda: Desperta! Pode isso ensinar? Eis que está coberta de ouro e de prata,
mas dentro dela não há espírito algum. Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda
a terra.
Habacuque 2:6-20

Homens que não souberam usar o poder e o domínio que Deus lhes outorgara

● Saul

O Senhor disse a Samuel: "Até quando você irá se entristecer por causa de Saul? Eu o rejeitei como rei
de Israel. Encha um chifre com óleo e vá a Belém; eu o enviarei a Jessé. Escolhi um de seus filhos para
ser rei".
1 Samuel 16:1

● Jeú

Porém não se apartou Jeú de seguir os pecados de Jeroboão, filho de Nebate, com que fez pecar a
Israel, a saber: dos bezerros de ouro, que estavam em Betel e em Dã. Por isso disse o Senhor a Jeú:
Porquanto bem agiste em fazer o que é reto aos meus olhos e, conforme tudo quanto eu tinha no meu
coração, fizeste à casa de Acabe, teus filhos, até à quarta geração, se assentarão no trono de Israel.
2 Reis 10:29,30

● Nabucodonosor

Ao fim de doze meses, quando passeava no palácio real de babilônia, Falou o rei, dizendo: Não é esta a
grande babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder, e para glória da minha
magnificência? Ainda estava a palavra na boca do rei, quando caiu uma voz do céu: A ti se diz, ó rei
Nabucodonosor: Passou de ti o reino. E serás tirado dentre os homens, e a tua morada será com os
animais do campo; far-te-ão comer erva como os bois, e passar-se-ão sete tempos sobre ti, até que
conheças que o Altíssimo domina sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer. Na mesma hora se
cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor, e foi tirado dentre os homens, e comia erva como os bois, e o
seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceu pêlo, como as penas da águia, e as suas
unhas como as das aves. Mas ao fim daqueles dias eu, Nabucodonosor, levantei os meus olhos ao céu,
e tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altíssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para
sempre, cujo domínio é um domínio sempiterno, e cujo reino é de geração em geração. E todos os
moradores da terra são reputados em nada, e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e
os moradores da terra; não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes? No mesmo tempo
tornou a mim o meu entendimento, e para a dignidade do meu reino tornou-me a vir a minha majestade
e o meu resplendor; e buscaram-me os meus conselheiros e os meus senhores; e fui restabelecido no
meu reino, e a minha glória foi aumentada. Agora, pois, eu, Nabucodonosor, louvo, exalço e glorifico ao
Rei do céu; porque todas as suas obras são verdade, e os seus caminhos juízo, e pode humilhar aos que
andam na soberba.
Daniel 4:29-37

A fé triunfa sobre as adversidades

Este trecho é chamado de o “salto” do livro. Desde os primeiros capítulos, o profeta


Habacuque adota uma postura “para baixo, mas agiganta-se no terceiro capítulo por meio da
oração.

O capítulo três de Habacuque é um louvor, no qual o profeta canta os grandes feitos do


Senhor para com o seu povo e expressa a profunda esperança daqueles que confiam em
Deus (Sl 125.1). A figueira, a videira, o gado no curral seria levado, a terra seria devastada
(3.17), no entanto, a fé do profeta era inabalável no Deus da sua salvação (II Co 5.1).

Quando as barreiras não são empecilhos à fé: “A agonia do tempo presente não pode ser
comparada a glória que há de vir”:

Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que
em nós há de ser revelada.
Romanos 8:18

Deus tem uma aliança conosco e o propósito dele para com o seu povo permanece
inabalável. Faça como o profeta, levante seus olhos e ver num futuro bem próximo a nossa
vitória:

“Porque eis que aquele dia vem ardendo como fornalha; todos os soberbos, e todos os que cometem impiedade,
serão como a palha; e o dia que está para vir os abrasará, diz o SENHOR dos Exércitos, de sorte que lhes não
deixará nem raiz nem ramo. Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, e cura trará nas
suas asas; e saireis e saltareis como bezerros da estrebaria. E pisareis os ímpios, porque se farão cinza debaixo
das plantas de vossos pés, naquele dia que estou preparando, diz o Senhor dos Exércitos.”
Malaquias 4:1-3
PROFETA AGEU

Particularidades

● O nome Ageu significa “festivo”, derivado que é de hâg, que quer dizer “festa”,
palavra usualmente associada às três festas de peregrinação. Presume-se,
portanto, que o profeta tenha nascido durante uma destas três festividades ou que
seu nome faça referência a elas.

● Ageu só é citado fora do seu livro em Esdras:

“E os profetas Ageu e Zacarias, filho de Ido, profetizaram aos judeus que estavam em
Judá, e em Jerusalém; em nome do Deus de Israel lhes profetizaram.”
Esdras 5:1

“E os anciãos dos judeus iam edificando e prosperando pela profecia do profeta Ageu,
e de Zacarias, filho de Ido. E edificaram e terminaram a obra conforme ao mandado
do Deus de Israel, e conforme ao decreto de Ciro e Dario, e de Artaxerxes, rei da
Pérsia.”
Esdras 6:14

Alguns eruditos o consideram-no membro da classe sacerdotal. O livro de Esdras


possui várias semelhanças com os escritos do profeta Ageu, principalmente devido
ao contexto de retorno à casa compartilhado por ambos os livros.

● Ageu viveu a maior parte de sua vida na Babilônia. Ele é, inclusive, o primeiro
profeta do grupo dos pós exílicos, isto é, os que exerceram seu ministério após o
cativeiro babilônico.

Datação

O ministério de Ageu cobriu um período de pouco menos de quatro meses, durante o


reinado de Dario, que governou a Pérsia de 522 a 486 a.C. Com bases nessas informações,
podemos localizar historicamente Ageu no ano de 520 a.C.

Contexto histórico

A situação de Ageu se deu no momento preciso do ano 520 a.C, isto é, 18 anos depois que
Ciro permitiu aos judeus regressarem à sua pátria e reconstruírem o templo. A maioria dos
exilados, temendo as dificuldades da longa viagem de volta e gozando de uma situação
econômica estável, preferiu permanecer na Babilônia. Deus já havia dito por meio de
Jeremias que o cativeiro babilônico duraria apenas 70 anos:

Assim diz o Senhor: "Quando se completarem os setenta anos da Babilônia, eu cumprirei a minha promessa em
favor de vocês, de trazê-los de volta para este lugar. Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês",
diz o Senhor, "planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro.
Então vocês clamarão a mim, virão orar a mim, e eu os ouvirei. Vocês me procurarão e me acharão quando me
procurarem de todo o coração. Eu me deixarei ser encontrado por vocês", declara o Senhor, "e os trarei de volta
do cativeiro. Eu os reunirei de todas as nações e de todos os lugares para onde eu os dispersei, e os trarei de
volta para o lugar de onde os deportei", diz o Senhor.
Jeremias 29:10-14

Assim sendo, o povo cativo deveria buscar a paz na cidade e multiplicar-se ali. Deus assegura
que o cativeiro babilônico não é a destruição de Seu povo, principalmente pelo fato de, mesmo
sob o poderio de uma nação estrangeira, o povo hebreu ainda pode ser abençoado.

Neste período, o Império Persa começou a enfrentar uma série de rebeliões e problemas
internos. O sucessor de Ciro, Cambises, governou como um tirano, agindo cruelmente e
levando muitas nações a se revoltarem contra o seu governo.

O seu sucessor foi Dario I, que levou cerca de dois anos para conseguir normalizar a situação
legada de seu antecessor (de 522 a 520 a.C). Muito embora os judeus não tenham participado
diretamente desses acontecimentos, a mudança nesse cenário mundial contribuiu para avivar
as esperanças do povo.

Os destinatários da profecia

O regime de Deus na monarquia era teocrático. Anterior a este temos o período tribal,
chamado de período dos juízes, que durou 340 anos.

Eventualmente, a nação de Israel pede por um rei, e Deus dá-lhes Saul, que reina por 40
anos, que é substituído por Davi, que reina por mais 40 anos, E Salomão, mais 40. Ao fim do
reinado de Salomão, Roboão assumiu e houve a divisão entre o norte e o sul. No norte ocorre
o cativeiro assírio, no sul, o babilônico por 70 anos.
Depois do cativeiro babilônico, Israel nunca mais recuperou seu regime de monarquia, de
forma que não mais houve um rei em Jerusalém, mas Deus levanta outras lideranças:

1. Zorobabel, um líder religioso: Zorobabel era da família de Salatiel:

“E os filhos de Jeconias: Assir, e seu filho Sealtiel. Os filhos deste foram: Malquirão, Pedaías, Senazar,
Jecamias, Hosama, e Nedabias. E os filhos de Pedaías: Zorobabel e Simei; e os filhos de Zorobabel:
Mesulão, Hananias, e Selomite, sua irmã,”
1 Crônicas 3:17-19

E havia sido levado juntamente com sua família para a Babilônia:

“Então saiu Joaquim, rei de Judá, ao rei de babilônia, ele, sua mãe, seus servos, seus príncipes e seus
oficiais; e o rei de babilônia o tomou preso, no ano oitavo do seu reinado. E tirou dali todos os tesouros
da casa do Senhor e os tesouros da casa do rei; e partiu todos os vasos de ouro, que fizera Salomão, rei
de Israel, no templo do Senhor, como o Senhor tinha falado. E transportou a toda a Jerusalém como
também a todos os príncipes, e a todos os homens valorosos, dez mil presos, e a todos os artífices e
ferreiros; ninguém ficou senão o povo pobre da terra.”
2 Reis 24:12-14
1. Josué, um líder político: De acordo com 1Cr 6.12-15, Josué era o neto de Saraías, o
último sumo sacerdote pré exílico de Jerusalém.

“E Aitube gerou a Zadoque, e Zadoque gerou a Salum, E Salum gerou a Hilquias, e Hilquias gerou a
Azarias, E Azarias gerou a Seraías, e Seraías gerou a Jeozadaque, E Jeozadaque foi levado cativo
quando o Senhor levou presos a Judá e a Jerusalém pela mão de Nabucodonosor.”
1 Crônicas 6:12-15

Esboço do livro de Ageu

1. A primeira mensagem:
1. Exortação à reedificação do Templo (Ag 1: 1-15);
2. A indiferença e a pobreza do povo (Ag 1:1-11);
3. A resposta do povo: arrependimento (Ag 1:12-15).
2. A segunda mensagem:
1. O Templo Maior de Deus e suas bênçãos –(Ag 2:1-9);
2. Encorajamento pela presença de Deus (Ag 2:1-5);
3. Encorajamento pela promessa da bênção de Deus (Ag 2:6-9).
3. A terceira mensagem:
1. A Benção de Deus para um povo corrompido (Ag 2: 10-19).
2. A causa de sua corrupção (Ag 2:10-14).
3. Os resultados de sua corrupção: maldições segundo a aliança (Ag 2:15-17).
4. A determinação de Deus de abençoar o seu povo (Ag 2:18-19).
4. A quarta mensagem:
1. A vitória de Deus para o seu povo (Ag 2:2023).
2. Deus destrona as nações (Ag 2:20-22);
3. A entronização do governante de Deus (Ag 2:23).

O modelo social e político proposto por Ageu

No cenário da reconstrução do templo, Ageu faz interferir três personagens. O único papel do
profeta é interpretá-los:

Ora, pois, esforça-te, Zorobabel, diz o Senhor, e esforça-te, Josué, filho de Jozadaque, sumo sacerdote, e esforça-
te, todo o povo da terra, diz o Senhor, e trabalhai; porque eu sou convosco, diz o Senhor dos Exércitos.
Ageu 2:4

Para que a reconstrução acontecesse, é necessária a junção destas três pessoas. Seu
modelo é um de unidade, que reúne a política, religião e o povo: a unidade de objetivos era
indispensável.
O resultado é um modelo social interessantíssimo: Zorobabel é a figura do Governo civil, e
Josué a do poder religioso. Mas até aqui falta o autor principal: o povo. Pouco antes no seu
livro, Ageu utiliza inclusive a expressão “o resto do povo” (1.14), talvez com o significado
teológico que tomara no século precedente, particularmente na pregação do profeta Sofonias:
era no pequeno “resto” do povo que doravante deveria se concentrar toda a esperança de
Israel.

Ele não deixa ninguém de fora, pois todos tem sua função. Como tal estrutura social, baseada
sobre a colaboração do povo e dos chefes pôde concretamente se realizar no tempo de
Ageu? O fato se explica por três fatores:

1) Antes de tudo, havia um alvo comum, bem preciso, a ser alcançada em curto
prazo a reconstrução material de um “centro” nacional.

“Assim fala o Senhor dos Exércitos, dizendo: Este povo diz: Não veio ainda o tempo, o tempo em que a
casa do Senhor deve ser edificada.”
Ageu 1:2

2) Outro fator decisivo foi a palavra convincente do profeta que se apresentou como
porta-voz de Deus, intérprete da vontade dele.

“No segundo ano do rei Dario, no sexto mês, no primeiro dia do mês, veio a palavra do SENHOR, por
intermédio do profeta Ageu, a Zorobabel, filho de Sealtiel, governador de Judá, e a Josué, filho de
Jozadaque, o sumo sacerdote, dizendo:”
Ageu 1:1

3) Mas somos de opinião que tal colaboração voluntária nem teria sido possível sob
um poder israelita forte, tanto político como religioso. Em outras palavras, a
solidariedade de Zorobabel e de Josué “com o povo da terra”.

Porventura é para vós tempo de habitardes nas vossas casas forradas, enquanto esta casa fica deserta?
Ageu 1:4

O mutirão da reconstrução

Esse livro vai tratar do processo de restauração do Templo de Salomão, destruído pelos
caldeus, que depende tanto da parte de Deus quando dos homens. O autor ensina que Deus
é fiel e cumprirá com sua parte. Vejamos um pouco deste processo e, ao mesmo tempo, a
obra do homem e a Obra de Deus:

Obra do homem

A nível histórico, o acontecimento da reconstrução do templo em 520 a.C, nos fornece o


modelo de compromisso comunitário, ainda válido para hoje. O êxito da reconstrução não
acontece, ou seja, os problemas não podem ser resolvidos sem que se façam amplos
consensos sobre uma base de colaboração voluntária.
O consenso é que o povo deve estar reunido para reconstruir: o lado humano é o mais difícil.
Isso parece ser o recado principal de Ageu. Lembremo-nos de que o profeta conseguiu juntar
o povo e os chefes ao redor de um mesmo escopo. O motivo condutor: “coragem”. E uma
palavra de ordem: “Trabalhem”!

a) A dimensão espiritual:

No livro de Ageu, este é o resultado exclusivo da função sagrada do templo e da providência


divina da ordem da reconstrução. “Assim diz o Senhor dos exércitos”... Subam à montanha
para cortar madeira e construir o templo” (Ag 1.8)”.

Evidentemente, a exortação só tinha um alcance funcional e prático. Porém, na história das


religiões o cume da montanha geralmente simbolizava o meio caminho entre o céu e a Terra:
o homem sobe, com esforço e cansaço, e Deus desce, para encontrá-lo. No tempo de Ageu,
havia o consenso de que a montanha era o meio termo. Deus honra o esforço do homem e
desce.

A sugestão é pertinente, pois, em 520 a.C., como já sabemos, a planície produzia pouco, só
a montanha era rica em matéria prima. Quem sobe à montanha – espiritualmente falando –
acha sempre o necessário para reconstruir! Ageu sabe que as planície não tem recursos,
mas a montanha é abundante.

b) Dimensão de pobreza:

Quem há entre vós que, tendo ficado, viu esta casa na sua primeira glória? E como a vedes agora? Não é esta
como nada diante dos vossos olhos, comparada com aquela?
Ageu 2:3

A obra de Deus

Mesmo contando com o compromisso dos homens, Deus é sempre o grande mestre-de-obras
de todos os nossos canteiros de obras de reconstrução.

Os três motivos do atraso da reconstrução segundo Esdras

Aqui reitera-se a importância do profeta Esdras para o livro de Ageu:

● Social: O projeto da reconstrução provocou um conflito de interesses entre os


judeus repatriados e o povo que permanecera no país durante o exílio (Ed 4.1-24).
É interessante que os samaritanos tentaram se envolver, mas Zorobabel negou, o
que levantou a fúria dos samaritanos.

● Econômico: De fato, faltava dinheiro. O “povo da terra” estava disperso, bastante


desanimado e em geral pobre, exceto alguns proprietários que só pensavam em
se estabelecer de novo (Ed 1.3-11).
● Político: A reorganização da administração pública depois do exílio era ainda
instável e frágil. Faltavam todos os sinais de unidade, tão importante para o bem
estar político e espiritual de uma coletividade (Ed 6.1-12).

O conteúdo do livro de Ageu

O livro de Ageu trata de três problemas comuns a todos os povos em todos os tempos:

1. O desinteresse:

No segundo ano do rei Dario, no sexto mês, no primeiro dia do mês, veio a palavra do SENHOR, por
intermédio do profeta Ageu, a Zorobabel, filho de Sealtiel, governador de Judá, e a Josué, filho de
Jozadaque, o sumo sacerdote, dizendo: Assim fala o Senhor dos Exércitos, dizendo: Este povo diz: Não
veio ainda o tempo, o tempo em que a casa do Senhor deve ser edificada. Veio, pois, a palavra do
Senhor, por intermédio do profeta Ageu, dizendo: Porventura é para vós tempo de habitardes nas vossas
casas forradas, enquanto esta casa fica deserta? Ora, pois, assim diz o Senhor dos Exércitos: Considerai
os vossos caminhos. Semeais muito, e recolheis pouco; comeis, porém não vos fartais; bebeis, porém
não vos saciais; vestis-vos, porém ninguém se aquece; e o que recebe salário, recebe-o num saco furado.
Assim diz o Senhor dos Exércitos: Considerai os vossos caminhos. Subi ao monte, e trazei madeira, e
edificai a casa; e dela me agradarei, e serei glorificado, diz o Senhor. Esperastes o muito, mas eis que
veio a ser pouco; e esse pouco, quando o trouxestes para casa, eu dissipei com um sopro. Por que
causa? disse o Senhor dos Exércitos. Por causa da minha casa, que está deserta, enquanto cada um de
vós corre à sua própria casa. Por isso retém os céus sobre vós o orvalho, e a terra detém os seus frutos.
E mandei vir a seca sobre a terra, e sobre os montes, e sobre o trigo, e sobre o mosto, e sobre o azeite,
e sobre o que a terra produz; como também sobre os homens, e sobre o gado, e sobre todo o trabalho
das mãos. Então Zorobabel, filho de Sealtiel, e Josué, filho de Jozadaque, sumo sacerdote, e todo o
restante do povo obedeceram à voz do Senhor seu Deus, e às palavras do profeta Ageu, assim como o
Senhor seu Deus o enviara; e temeu o povo diante do Senhor. Então Ageu, o mensageiro do Senhor,
falou ao povo conforme a mensagem do Senhor, dizendo: Eu sou convosco, diz o Senhor. E o Senhor
suscitou o espírito de Zorobabel, filho de Sealtiel, governador de Judá, e o espírito de Josué, filho de
Jozadaque, sumo sacerdote, e o espírito de todo o restante do povo, e eles vieram, e fizeram a obra na
casa do Senhor dos Exércitos, seu Deus, Ao vigésimo quarto dia do sexto mês, no segundo ano do rei
Dario.
Ageu 1:1-15

Para despertá-los da sua atitude de indiferença, Deus fala duas vezes ao povo:

1.1. Eles precisavam perceber que são infrutíferos (Ag 1.5-6).

1.2. Tinha abandonado a casa de Deus e ido para a sua própria


casa (Ag 1.7-9).

1. O desencorajamento:

No sétimo mês, ao vigésimo primeiro dia do mês, veio a palavra do SENHOR por intermédio do profeta
Ageu, dizendo: Fala agora a Zorobabel, filho de Sealtiel, governador de Judá, e a Josué, filho de
Jozadaque, sumo sacerdote, e ao restante do povo, dizendo: Quem há entre vós que, tendo ficado, viu
esta casa na sua primeira glória? E como a vedes agora? Não é esta como nada diante dos vossos olhos,
comparada com aquela? Ora, pois, esforça-te, Zorobabel, diz o Senhor, e esforça-te, Josué, filho de
Jozadaque, sumo sacerdote, e esforça-te, todo o povo da terra, diz o Senhor, e trabalhai; porque eu sou
convosco, diz o Senhor dos Exércitos. Segundo a palavra da aliança que fiz convosco, quando saístes
do Egito, o meu Espírito permanece no meio de vós; não temais. Porque assim diz o Senhor dos
Exércitos: Ainda uma vez, daqui a pouco, farei tremer os céus e a terra, o mar e a terra seca; E farei
tremer todas as nações, e virão coisas preciosas de todas as nações, e encherei esta casa de glória, diz
o Senhor dos Exércitos. Minha é a prata, e meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos. A glória desta
última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos Exércitos, e neste lugar darei a paz, diz o
Senhor dos Exércitos.
Ageu 2:1-9

Ageu leva uma mensagem destinada a tratar decisivamente do desencorajamento. A


solução tem duas partes:

2.1. Uma trata do problema urgente.

2.2. E a outra trata da solução a longo alcance. Por hora, basta


o povo esforçar-se e trabalhar. A chave principal para combater
o desencorajamento é os construtores saberem que estão
construindo uma casa para Deus.

1. A insatisfação:

Ao vigésimo quarto dia do mês nono, no segundo ano de Dario, veio a palavra do Senhor por intermédio
do profeta Ageu, dizendo: Assim diz o Senhor dos Exércitos: Pergunta agora aos sacerdotes, acerca da
lei, dizendo: Se alguém leva carne santa na orla das suas vestes, e com ela tocar no pão, ou no guisado,
ou no vinho, ou no azeite, ou em outro qualquer mantimento, porventura ficará isto santificado? E os
sacerdotes responderam: Não. E disse Ageu: Se alguém que for contaminado pelo contato com o corpo
morto, tocar nalguma destas coisas, ficará ela imunda? E os sacerdotes responderam, dizendo: Ficará
imunda. Então respondeu Ageu, dizendo: Assim é este povo, e assim é esta nação diante de mim, diz o
Senhor; e assim é toda a obra das suas mãos; e tudo o que ali oferecem imundo é. Agora, pois, eu vos
rogo, considerai isto, desde este dia em diante, antes que se lançasse pedra sobre pedra no templo do
Senhor, Antes que sucedessem estas coisas, vinha alguém a um montão de grão, de vinte medidas, e
havia somente dez; quando vinha ao lagar para tirar cinqüenta, havia somente vinte. Feri-vos com
queimadura, e com ferrugem, e com saraiva, em toda a obra das vossas mãos, e não houve entre vós
quem voltasse para mim, diz o Senhor. Considerai, pois, vos rogo, desde este dia em diante; desde o
vigésimo quarto dia do mês nono, desde o dia em que se fundou o templo do Senhor, considerai essas
coisas. Porventura há ainda semente no celeiro? Além disso a videira, a figueira, a romeira, a oliveira,
não têm dado os seus frutos; mas desde este dia vos abençoarei. E veio a palavra do Senhor segunda
vez a Ageu, aos vinte e quatro dias do mês, dizendo: Fala a Zorobabel, governador de Judá, dizendo:
Farei tremer os céus e a terra; E transtornarei o trono dos reinos, e destruirei a força dos reinos dos
gentios; e transtornarei os carros e os que neles andam; e os cavalos e os seus cavaleiros cairão, cada
um pela espada do seu irmão. Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, tomar-te-ei, ó Zorobabel, servo
meu, filho de Sealtiel, diz o Senhor, e far-te-ei como um anel de selar; porque te escolhi, diz o Senhor
dos Exércitos.
Ageu 2:10-23

Agora que o povo está trabalhando, eles esperam uma inversão imediata de todos os
anos de inatividade, então, o profeta vai com uma pergunta aos sacerdotes. Acerca
das coisas lindas e imundas e da influência dele sobre a outra. A Resposta dos
sacerdotes é que: a imundícia é infecciosa, enquanto a santidade não é!

O que Ageu tem a nos dizer hoje

● Ageu dá provas de que o povo tem a capacidade de realizar um projeto coletivo.

● Ageu serve para estimular a nossa esperança, mesmo que tudo esteja em
pedaços a reconstrução é sempre possível.
● O profeta propõe um modelo social e político inteiramente fundado sobre a
colaboração.

● Por último, Ageu pode nos ajudar muito, a retomar a consciência da verdadeira
escala de valores.

A mensagem de Ageu

A profecia de Ageu consiste em quatro mensagens proferidas no decorrer de 112 dias, seu
estilo é simples e direto e sua ênfase ao nome de Deus é especialmente digna de nota. Em
seus 30 versículos, ele menciona o nome de Deus 35 vezes, 14 vezes na expressão “Senhor
dos exércitos”. Não deixa dúvida de que sua mensagem procede de Deus, Ageu o
mensageiro do Senhor, prosseguiu dizendo ao povo de acordo com a comissão de
mensageiro da parte de Deus, dizendo “Eu estou convosco”!
PROFETA JONAS

Similaridades

O profeta Jonas possui muitas semelhanças com Naum, uma vez que ambos foram
levantados para profetizar a palavra de Deus aos ninivitas. De fato, pode-se considerar que
o livro do profeta Naum é um complemento aos escritos de Jonas: apesar da distância
temporal entre os livros, estão ambos muito próximos em sua mensagem.

Particularidades

● O livro de Jonas possui quatro capítulos, localizando-se logo após Obadias;


● É interessante notar que o sermão de Jonas no hebraico possui apenas 5 palavras,
mas mesmo assim é extremamente impactante;
● O grande nome da história de Jonas não é o profeta ou o peixe, mas Deus;
● O livro é mais um relato histórico que uma profecia;
● Jonas é o único profeta comissionado exclusivamente para não judeus.
● Jonas profetizou a Israel apenas uma vez (2 Reis 14:25) sobre o restabelecimento
das fronteiras. A paz gerada por essa conquista só poderia ser perturbada por Nínive,
eis aí a relutância de Jonas
● A concretização do desejo de Jonas pela destruição de Nínive só acontece 150 anos
depois dos eventos narrados no livro.
● Jonas 1:1 apresenta uma referência ao pai de Jonas. Geralmente, a Bíblia não traz
muitas informações acerca da família dos profetas. O significado do nome de seu pai
é “verdade”
● Jonas foi contemporâneo de Amós e Oséias
● Jonas é considerado o primeiro profeta transcultural da história
● Jonas foi o primeiro profeta a desobedecer às ordens expressas de Deus
● Jonas foi o primeiro profeta a presenciar a realização de sua obra
● Nínive era uma das cidades mais importantes da época (Jn3.2). Situada entre às
margens do Rio tigre e edificada por Ninrode (Gn 10.11). Capital do Império Assírio
por ordem de Senaqueribe em 681a.C.
● Em Jonas 1:3, o profeta foge para Tassis, ao sul da Espanha. Esse destino em
particular apresenta algumas razões:

E porei entre eles um sinal, e os que deles escaparem enviarei às nações, a Társis, Pul, e Lude,
flecheiros, a Tubal e Javã, até às ilhas de mais longe, que não ouviram a minha fama, nem viram
a minha glória; e anunciarão a minha glória entre os gentios.
Isaías 66:19
1. Tássis é um lugar longínquo, onde Deus não poderia encontrá-lo.
2. Lá, ele não seria reconhecido como um profeta do Senhor.
3. Jeremias 10:9 revela que esta era uma cidade próspera e rica, onde Jonas
poderia encontrar trabalho

O egoísmo de Jonas

O nome Jonas, do hebraico “YHONĀH”, quer dizer “POMBO”. É interessante comparar essa
informação a outros instantes em que o termo “pombo” é citado no Antigo Testamento:

O meu coração está dolorido dentro de mim, e terrores da morte caíram sobre mim. Temor e tremor vieram sobre
mim; e o horror me cobriu. Assim eu disse: Oh! quem me dera asas como de pomba! Então voaria, e estaria em
descanso. Eis que fugiria para longe, e pernoitaria no deserto. (Selá.) Apressar-me-ia a escapar da fúria do vento
e da tempestade.
Salmos 55:4-8

Todos nós urramos como ursos; gememos como pombas. Procuramos justiça, e nada! Buscamos livramento, mas
está longe!
Isaías 59:11

O salmista descreve a pomba como um animal que foge em busca de descanso, e Isaías
apresenta-a como um animal que chora e geme.

Deus enviou um representante para reatar a comunhão com a sua criatura. Esta, sem dúvida,
foi a maior prova de amor que se viu. Jonas não aceitava a ideia de que Deus pudesse amar
uma nação comprovadamente idólatra e má como a nação de Nínive.

Jonas: mais preocupado com a reputação do que a missão

O profeta Jonas havia profetizado a restauração das fronteiras durante o reinado de Jeroboão
II, o que lhe rendeu uma reputação positiva. Devido a isso, ele teme pela repercussão de sua
pregação em Nínive, inimiga e maior ameaça ao seu povo e suas conquistas.

A soberania divina sobre a fragilidade humana

A fragilidade humana nunca impedirá a concretização da vontade e dos planos de Deus. Ao


perceber sua situação miserável, Jonas arrepende-se, e o propósito de deus é segue seu
rumo: “Pode a criatura perguntar ao criador o que fazes?”

● Na minha angústia clamei ao Senhor (Jn2.2).


● O que votei pagarei (Jn2.9).
O amor de Deus é superior à compreensão humana

· “E desgostou-se Jonas extremamente disto (Jn 4.1).


· “Pois sabia que és piedoso (Jn 4.2).
· “Tens compaixão de planta (Jn 4.10).
· “Não hei eu de ter compaixão? (Jn 4.11).
PROFETA MIQUÉIAS

Particularidades de Miquéias

Palavra do SENHOR, que veio a Miquéias, morastita, nos dias de Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá, a qual
ele viu sobre Samaria e Jerusalém.
Miquéias 1:1

“Miquéias” era um nome muito comum em Israel, de forma que, no Antigo Testamento, há
aproximadamente 12 indivíduos citados com este nome. Para identificarmos estes nomes,
precisamos nos atentar à procedência geográfica e o contexto.

O profeta Miquéias era um morastita. Ele vem de uma pequena vila a 32 quilômetros a
sudoeste de Jerusalém. Desta região, Miquéias provavelmente observava a invasão de
inimigos contra Israel.

Miquéias foi contemporâneo de Isaías, Oséias e Amós:

Visão de Isaías, filho de Amós, que ele teve a respeito de Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, e
Ezequias, reis de Judá.
Isaías 1:1

As palavras de Amós, que estava entre os pastores de Tecoa, as quais viu a respeito de Israel, nos dias de Uzias,
rei de Judá, e nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel, dois anos antes do terremoto.
Amós 1:1

O estilo de Miquéias

Mas eu estou cheio do poder do Espírito do Senhor, e de juízo e de força, para anunciar a Jacó a sua transgressão
e a Israel o seu pecado.
Miquéias 3:8

A missão de Miquéias é anunciar a Jacó a sua traição. Para tal, ele conta com uma
personalidade forte, a evidência da convicção de seu chamado. Miquéias entende que Deus
está com ele, e se entrega totalmente à Sua mensagem. Miquéias atuou tanto no reino do
norte quanto no reino do sul, transitando livremente entre os dois.

Semelhanças entre Miquéias e Isaías

● Ambos profetizaram a invasão da Assíria em Judá (Is 10:1-4 e Mq 5:5);


● Ambos profetizaram o livramento de Judá (Is 37:33-35 e Mq 5:5-6);
● Ambos enfatizaram a futilidade de uma religião meramente ritualística, mostrando o
tipo de conduta que Deus espera de seu povo (Is 1:11-18 e Mq 3:9);
● Ambos profetizaram a vinda do Messias: Isaías fala de Seu nascimento virginal ( Is
7:14), Miquéias, Seu local de nascimento (Mq 5:2);
● Ambos profetizaram o livramento final da nação precedido pelo arrependimento
(alguns estudiosos afirmam que a profecia de Isaías é uma expansão da de Miquéias);
● Há, também, algumas diferenças entre os dois: Isaías é um profeta palaciano, que dá
conselhos aos nobres e se preocupa com matérias concernentes ao rei e ao renio.
Miquéias vem do campo, convivia com camponeses pobres e simples. e profetiza com
um estilo diferente do de Isaías.

Contexto

Miquéias profetizou no período do declínio do Reino do Norte e das questões políticas do


reino do sul Era um tempo de rápidas transformações, principalmente pela criação de uma
classe de novos ricos. A população migra para Jerusalém em busca de estabilidade, mas
acabam sendo explorados nas cidades.

Momento político: a Assíria estava se tornando a grande potência mundial, e o reino do norte
entrou e aliança com ela para invadir o reino do sul. Em aproximadamente 701 a.C., o
poderoso exército assírio havia tomado Judá, avançando para as portas de Jerusalém.

Momento econômico: a primeira metade do século 8 a.C. foi de grande prosperidade: a


Assíria experienciava problemas internos enquanto Israel e Judá viviam uma época de
tréguas. A era dourada, entretanto, estava no passado: a riqueza vinha acompanhada de
corrupções e opressão aos mais pobres.

Contexto moral: a corrupção acobertada pelos políticos e líderes religiosos mergulhou a


cidade num estado de confusão moral, onde os valores estavam invertidos: os tribunais
estavam comprados e repletos de subornos, os profetas calavam-se e os sacerdotes
prostituiam seu ministério.

Contexto religioso: a questão da idolatria no reino do norte foi de mal a pior, até que o cálice
da ira de Deus se encheu, e o reino foi invadido pela Assíria. O reino do sul não consegue
concretizar uma reforma espiritual, de forma que vida e fé estavam separadas.

Deus, o justo juiz

“Ouvi todos os povos...” (1.2). Com estas palavras Deus chama atenção de todos os povos,
evidenciando o exemplo de como o Senhor julgará o seu povo (Hb 12.6). Ainda que a
disciplina seja para o povo eleito (ISRAEL), o cenário deve ser visto de forma universal. A
citação: “os povos” é um exemplo a todos que estão de fora (Am 1,3), porque se Deus pune
o seu próprio povo, quanto mais os gentios incrédulos (Jr 25.29).
O declínio moral de duas capitais

O Profeta usa as capitais Samaria e Jerusalém representando todos os reinos da Terra (1.5).
A presença de tanto Samaria quanto Jerusalém demonstra o acesso do profeta a ambos os
reinos.

Samaria cria o seu próprio deus: um bezerro de ouro (1Rs12.27-28). A nação foi levada cativa
no ano 722 a.C.

Jerusalém era o lugar dos “altos” de Judá. Lá eram cultuados os deuses da terra (Dt
12.12,13). Acusação principal vai contra os segmentos da sociedade que ferem a justiça:

● Ai daqueles que no seu leito maquinam iniquidade (2.1).


● No primeiro capítulo, o pecado do povo eleito refere-se ao povo de Samaria que se
alastrou até Jerusalém(1.9).
● Caminho para agirem com soberba (Pv 14.34).
● A inversão dos valores (3.1): “Ó cabeças de Jacó, não é a vós outros que pertence
saber o juízo”
● “A verdade e o juízo devem ser o compromisso de cada cristão, principalmente dos
que exercem autoridade”. (Jó 29. 14,17)

Uma visão de esperança

● O Cativeiro Babilônico (4.9,10)


● A Batalha do Armagedon (4.11,13)
● O Nascimento do Messias (5.2)
● A Igreja (5.3).
PROFETA OBADIAS

Particularidades

Para compreendermos este livro, é necessário um conhecimento prévio sobre o reino de


Edom. O livro trata da inimizade entre dois irmãos: Esaú e Jacó, filhos de Abraão. Muitos
anos após o nascimento dos gêmeos, o profeta Obadias vai profetizar contra Edom (cujo
significado é vermelho, uma referência a Esaú), que se alegra com a chegada do cativeiro
babilônico de Jacó, seu irmão.

Sobre o profeta

● A tradução de seu nome é “adorador de Jeová/servo de Jeová”;


● É um profeta pré-exílico;
● Além de ser o menor livro do Antigo Testamento, também é o de mais difícil
compreensão devido a sua cronologia;
● A mensagem de Obadias é o Grande Juízo de Deus sobre os edomitas;
● Podemos dividir o livro em duas partes:
○ Primeiro oráculo: anuncia o castigo de Edom, justificado pelo seu orgulho e
sua violência criminosa contra os judeus, esta é a tônica do livro de Obadias.
○ Segundo oráculo: o Dia do Senhor, um oráculo universal.

Os edomitas eram terríveis inimigos de Israel

O livro de Obadias contém uma história repleta de rivalidade e ódio entre dois povos. O povo
de Israel sempre foi desprezado pelos edomitas que também tinham grande rancor por este
povo, uma rivalidade que parte mais dos edomitas que de Israel (Am 1.11). Os edomitas
foram os primeiros a colaborarem com os babilônios e se alegrarem com a derrota de Judá.

Edom havia sido injusto e mal para com seu irmão Israel, e através de Obadias, Deus revelara
a sua justiça sobre o ódio e a maldade, trazendo uma mensagem de juízo a uma contenda
de secular entre esses povos (Gn 27.40).

Edom evidencia três inimigos do povo de Deus: Satanás, o Mundo e a Carne.

A estratégia divina para castigar os edomitas

a. Levantai e levantemo-nos contra Edom para a guerra. Eis o tempo do castigo de Edom.
Deus tem tempo para cada coisa: por serem os edomitas descendentes do irmão de Jacó,
Deus tem paciência com eles (Dt 23:7,8), de forma que eles possuíam privilégios que outras
nações não tinham.

b. Fim do privilégio para adentrar na Assembleia do Senhor por apresentarem ódio contra
Israel (Nm 20.14,21).

c. “Como tu fizestes assim se fará contigo”: essa profecia se cumpriu em parte quando, no
reinado de Dario (521-485), os árabes nabateus já haviam expulsado os edomitas de seu
território. Sua derrota continuou com os macabeus e culminou com os romanos, que os
destruíram completamente, assim, Deus usou os próprios aliados os edomitas para derrotá
los.

Uma advertência: a palavra do Senhor contra Israel, por meio de Malaquias. "Eu sempre os amei", diz o Senhor.
"Mas vocês perguntam: ‘De que maneira nos amaste? ’ "Não era Esaú irmão de Jacó? ", declara o Senhor.
"Todavia eu amei Jacó, mas rejeitei Esaú. Transformei suas montanhas em terra devastada e as terras de sua
herança em morada de chacais do deserto." Embora Edom afirme: "Fomos esmagados, mas reconstruiremos as
ruínas", assim diz o Senhor dos Exércitos: "Podem construir, mas eu demolirei. Eles serão chamados Terra
Perversa, povo contra quem o Senhor está irado para sempre. Vocês verão isso com os próprios olhos e
exclamarão: Grande é o Senhor, até mesmo além das fronteiras de Israel!
Malaquias 1:1-5

Porque o dia do Senhor está perto, sobre todos os gentios; como tu fizeste, assim se fará contigo; a tua
recompensa voltará sobre a tua cabeça.
Obadias 1:15

Deus abate o soberbo e exalta o humilde

A soberba do teu coração te enganou, como o que habita nas fendas das rochas, na sua alta morada, que diz no
seu coração: Quem me derrubará em terra?
Obadias 1:3

a. A soberba dos edomitas era que se julgavam inacessíveis e inexpugnáveis. Com suas
palavras, vemos que consideravam-se auto suficientes e imbatívei. Comportamentos desse
tipo estão presentes em todo o relato bíblico:

"Filho do homem, diga ao governante de Tiro: ‘Assim diz o Soberano Senhor: " ‘No orgulho do seu coração você
diz: "Sou um deus; sento-me no trono de um deus no coração dos mares". Mas você é um homem, e não um
deus, embora se ache tão sábio quanto um deus. Você é mais sábio que Daniel? Não haverá segredo que lhe
seja oculto? Mediante a sua sabedoria e o seu entendimento, você granjeou riquezas e acumulou ouro e prata em
seus tesouros. Pela sua grande habilidade comercial você aumentou as suas riquezas, e, por causa das suas
riquezas, o seu coração ficou cada vez mais orgulhoso. " ‘Por isso, assim diz o Soberano Senhor: " ‘Porque você
pensa que é sábio, tão sábio quanto um deus, trarei estrangeiros contra você, das mais impiedosas nações; eles
empunharão suas espadas contra a sua beleza e a sua sabedoria e traspassarão o seu esplendor fulgurante. Eles
o farão descer à cova, e você terá morte violenta no coração dos mares. Será que então você dirá: "Eu sou um
deus" na presença daqueles que o matarem? Você será tão-somente um homem, e não um deus, nas mãos
daqueles que o abaterem. Você terá a morte dos incircuncisos nas mãos de estrangeiros. Eu falei; palavra do
Soberano Senhor’ ".
Ezequiel 28:2-10

E num dia designado, vestindo Herodes as vestes reais, estava assentado no tribunal e lhes fez uma prática. E o
povo exclamava: Voz de Deus, e não de homem. E no mesmo instante feriu-o o anjo do Senhor, porque não deu
glória a Deus e, comido de bichos, expirou.
Atos 12:21-23

“Doze meses depois, quando o rei estava andando no terraço do palácio real da Babilônia, disse: "Acaso não é
esta a grande Babilônia que eu construí como capital do meu reino, com o meu enorme poder e para a glória da
minha majestade? " As palavras ainda estavam nos seus lábios quando veio do céu uma voz que disse: "É isto
que está decretado quanto a você, rei Nabucodonosor: Sua autoridade real lhe foi tirada. Você será expulso do
meio dos homens, viverá com os animais selvagens e comerá capim como os bois. Passarão sete tempos até que
admita que o Altíssimo domina sobre os reinos dos homens e os dá a quem quer". A sentença sobre
Nabucodonosor cumpriu-se imediatamente. Ele foi expulso do meio dos homens e passou a comer capim como
os bois. Seu corpo molhou-se com o orvalho do céu, até que os seus cabelos e pêlos cresceram como as penas
de uma águia, e as suas unhas como as garras de uma ave.”
Daniel 4:29-33

b. Farei parecer o sábio e o entendido. Deus nos exorta a buscarmos conhecimento (Pv
18.15).

c. Os teus valentes ó Temã, estarão atemorizados. O homem deve lembrar que é apenas
pó e barro nas mãos do Criador (Gn 2.7)

Obadias anuncia que o dia do Senhor está perto

● Uma profecia claramente messiânica, em paralelo, naquele dia haverá uma


destruição total de todas as nações:

Porque o dia do Senhor está perto, sobre todos os gentios; como tu fizeste, assim se fará contigo; a tua
recompensa voltará sobre a tua cabeça.
Obadias 1:15

● Livramento do seu povo:

Mas no monte Sião haverá livramento, e ele será santo; e os da casa de Jacó possuirão as suas
herdades.
Obadias 1:17

● Nossas lutas internas e externas só cessarão quando nosso corpo for


transformado em um corpo glorioso:

Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados; não porque queremos
ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida.
2 Coríntios 5:4
PROFETA MALAQUIAS

A tônica do livro de Malaquias é que Deus rejeita o culto falso, vazio de significado, o culto
artificial. Sua profecia vem ao povo após a reconstrução do templo, o que o coloca na
condição de pós exílico.

Malaquias chama o povo ao culto verdadeiro a Deus. Seu nome significa “mensageiro de
Jeová”. Mais que um nome, isso indica sua função de manter o povo unido e verdadeiro no
serviço a Deus e na esperança da purificação do templo de Jerusalém pela fiel observância
da lei de Moisés.

Esse livro encerra a coleção de livros proféticos. Ele não traz datas nem informações diretas
sobre seu autor, mas a partir do do texto podemos deduzir que é fruto da realidade de uma
Judeia dominada pela Pérsia, depois da reconstrução do templo e antes da proibição oficial
dos casamentos mistos no tempo de Neemias e Esdras.

Segundo o texto, o templo está funcionando, mas o entusiasmo dos primeiros tempos de sua
inauguração já passou. A questão dos casamentos mistos constituía um problema, mas ainda
não há legislação nesse período. O autor não conhece a distinção clara entre sacerdotes
oficiais e levitas, e esta é a tônica do livro.

Malaquias vem após o cativeiro babilônico. Terminado o exílio, os judeus repatriados


sofreram muitas dificuldades: Esperavam uma terra que emanava leite e mel, mas
encontraram uma terra que devorava seus próprios habitantes repleta de vizinhos hostis que
buscavam destruir a comunidade judaica.

Particularidades do livro de Malaquias

Este livro aborda a denúncia contra a formalidade religiosa: prática generalizada entre
fariseus e escribas. Os problemas tratados em sua época, quer teóricos ou práticos, são os
mesmos com os quais estamos convivendo. Ou seja, no que somos para Ele, no que Ele é
para nós, e acima de tudo, aquilo que ofertamos para ele.

O significado real de cultuar a Deus

Muitos podem taxar de legalista e extremista aquele que preza pelos valores do culto.
Malaquias fala de uma profanação abominável do culto, e fala aos sacerdotes, a origem da
perversão, pois o que começa no altar atinge os membros.

O culto a Deus é a consequência de dois aspectos importantíssimos, os quais são a vida do


próprio culto:

1. O que somos para Deus;


"Eu sempre os amei", diz o Senhor. "Mas vocês perguntam: ‘De que maneira nos amaste? ’ "Não era
Esaú irmão de Jacó? ", declara o Senhor. "Todavia eu amei Jacó,mas rejeitei Esaú. Transformei suas
montanhas em terra devastada e as terras de sua herança em morada de chacais do deserto. "
Malaquias 1:2,3

1. Deus permanece fiel se formos infiéis, ainda que pequemos, e lhe viremos as
costas, ou o rejeitamos:

Ainda que me abandonem pai e mãe, o Senhor me acolherá.


Salmos 27:10

Quem é Deus semelhante a ti, que perdoa a iniqüidade, e que passa por cima da rebelião do restante da
sua herança? Ele não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na sua benignidade. Tornará a
apiedar-se de nós; sujeitará as nossas iniqüidades, e tu lançarás todos os seus pecados nas profundezas
do mar.
Miquéias 7:18,19

E, engordando-se Jesurum, deu coices (engordaste-te, engrossaste-te, e de gordura te cobriste) e deixou


a Deus, que o fez, e desprezou a Rocha da sua salvação.
Deuteronômio 32:15

E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti,
antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles.
1 Samuel 8:7

1. Ele nos aceita de volta como um pai amoroso:

A seguir, levantou-se e foi para seu pai. "Estando ainda longe, seu pai o viu e, cheio de compaixão, correu
para seu filho, e o abraçou e beijou.
Lucas 15:20

O que Deus é para nós?

O primeiro sinal de que o culto está incorreto é que os que gerem o culto não são fiéis a
Deus. Estes homens não tinham comunhão com Deus e as falsas doutrinas surgiam com a
distorção da Palavra.

Agora, ó sacerdotes, este mandamento é para vós. Se não ouvirdes e se não propuserdes, no vosso coração, dar
honra ao meu nome, diz o Senhor dos Exércitos, enviarei a maldição contra vós, e amaldiçoarei as vossas
bênçãos; e também já as tenho amaldiçoado, porque não aplicais a isso o coração. Eis que reprovarei a vossa
semente, e espalharei esterco sobre os vossos rostos, o esterco das vossas festas solenes; e para junto deste
sereis levados. Então sabereis que eu vos enviei este mandamento, para que a minha aliança fosse com Levi, diz
o Senhor dos Exércitos. Minha aliança com ele foi de vida e de paz, e eu lhas dei para que temesse; então temeu-
me, e assombrou-se por causa do meu nome.
Malaquias 2:1-5

O segundo sinal: quando os que lideram são maldição em vez de bênção, Deus não aceita o
culto. A liderança jamais pode ser neutra, ela é ou bênção, ou maldição. Quando a liderança
é positiva, o povo segue seus passos. Líderes apáticos geram crentes mundanos.

A lei da verdade esteve na sua boca, e a iniqüidade não se achou nos seus lábios; andou comigo em paz e em
retidão, e da iniqüidade converteu a muitos. Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da
sua boca devem os homens buscar a lei porque ele é o mensageiro do Senhor dos Exércitos. Mas vós vos
desviastes do caminho; a muitos fizestes tropeçar na lei; corrompestes a aliança de Levi, diz o Senhor dos
Exércitos. Por isso também eu vos fiz desprezíveis, e indignos diante de todo o povo, visto que não guardastes
os meus caminhos, mas fizestes acepção de pessoas na lei.
Malaquias 2:6-9

A vida do adorador deve vir antes de sua oferta, e tudo parte dela. Se Deus aceita a vida do
adorador, aceitará também sua oferta. Malaquias evidencia que é mais fácil reconstruir a
casa de Deus que viver fielmente nela, permanecendo firme no culto correto ao Senhor

Porque, quando ofereceis animal cego para o sacrifício, isso não é mau? E quando ofereceis o coxo ou enfermo,
isso não é mau? Ora apresenta-o ao teu governador; porventura terá ele agrado em ti? ou aceitará ele a tua
pessoa? diz o Senhor dos Exércitos. Agora, pois, eu suplico, pedi a Deus, que ele seja misericordioso conosco;
isto veio das vossas mãos; aceitará ele a vossa pessoa? diz o Senhor dos Exércitos.
Malaquias 1:8,9

O culto precisa ser puro e verdadeiro. Malaquias é enfático ao afirmar que Deus não aceita
nada além do melhor! Muitos teólogos dizem que é melhor não oferecer sacrifícios que
oferecê-los em vão.

O que Deus é para nós?

● Ninguém pode adorar a Deus, se não ver Nele motivo para tal.
● Chama Deus de pai, sem lhe dar as devidas honras (1.6).
● Clamam “Senhor, Senhor”, sem contudo lhe prestar obediência (1.6).

O que estamos oferecendo a Deus?

● A soma destes dois conceitos, culmina com aquilo que oferecemos para Deus.
Portanto, é necessário conhecermos melhor a Deus (Os 6.3).
● É necessário ter experiências com Ele (Jr 33.3).
● Os profetas não ensinavam a palavra com clareza, logo, havia indiferença para com
Deus e sua obra (2.8).
● Tornaram-se uma pedra de tropeço e causa de escândalos (2.8-9).
● O povo misturou-se com os idólatras (2.11).
● Fechar as portas do Templo (1.10).

Anúncios de chegada dos juízos divinos

● Prática de cristianismo descompromissado com os padrões divinos, desafiam o juízo


de Deus (2.17).
● A vida do anjo do Senhor (Ml 3.1).
● O Senhor não retornou para Sião (Zc 8.3).
● Os judeus achavam que Deus havia deixado de cumprir sua promessa (Ag 2.9)
● Esta demora era usada como “desculpa” para o ateísmo: Onde está o deus do
juízo? (2.17).

A fidelidade dos juízos divinos

A prosperidade dos maus contrastada nos salmos com escândalos (Sl 30.6/ 73.3) provocava
em muitos um ceticismo que os levava ao relaxamento na obediência. Para quê servir a Deus,
se o favorecido é o infiel? (2.17; 3.14). Malaquias apoia-se na espera profética do julgamento,
para anunciar o dia no qual a justiça de Deus haveria de se manifestar (3.18).

No dia do julgamento de Deus

● Todos os infiéis seriam julgados (3.5)


● O próprio Deus, purificará os “filhos de Levi” (3.3-4)
● Os fiéis formariam então o novo povo eleito (3.17)
● Os fiéis seriam curados e abençoados com alegria (3.20/Lc 1.77,79)
● O Senhor é imutável (3.6)
● E verão a diferença entre o justo e o ímpio (3.18)
● Os soberbos e iníquos seriam como palhas (4.1)
● Nasceria o Sol da Justiça para aqueles quem temessem ao Senhor (4.2)

Dízimos e ofertas: um dever para com Deus e Sua obra

Dízimo significa décimo. A prática de dar dez por cento de posses a alguém superior é remota.

● Abraão deu um décimo das presas de guerras a Melquesedeque (Gn 14.20).


● Jacó fez seu voto em Betel (Gn 28.22).
● A lei dada a Moisés (Lv 27.30).
● Os levitas dariam o décimo para o sacerdote (Nm 18.28).

Deus não pode abençoar pessoas, igrejas ou nações que não lhes dedicam nada. Deus se
identifica com seus servos que reconhecem que deixar de dar para Ele é roubar dEle.

Ser fiel a Deus em tudo, nos dias em que vivemos, é um grande desafio.A fidelidade tem um
preço alto a ser pago, e este não se restringe à entrega sistemática de dízimos e ofertas. É
um compromisso de vida, sabendo que somos dEle e tudo que temos pertence a Ele. Que
Deus nos ajude a sermos fiéis!!!
PROFETA AMÓS

Particularidades

● Amós é o profeta que inaugura o período clássico da profecia;


● Não se sabe muito de Amós além do que seu livro revela:
○ Era pastor, boiadeiro e cultivador de sicômoros;
○ Chamado profeta das três profissões, dizem que era tão pobre que fazia bicos,
alternando dentre as profissões;
○ O Senhor o chama enquanto trabalhava;
○ Amós exerceu seu ministério tanto durante o reinado de Josias quanto de
Jeroboão I;
○ Há quem afirme que era contemporâneo do profeta Isaías;
○ Seu nome significa “um homem de carga”, uma menção à sua origem humilde
e trabalhadora;
● O livro é uma proclamação do julgamento de Deus, conclamando o povo ao
arrependimento e à volta do cumprimento com a aliança com Deus.

A quebra da aliança com Deus e suas consequências

Os aspectos predominantes da sociedade na qual Amós foi enviado eram prosperidade,


exploração e lucro. A tranquilidade bélica de Israel permitiu um progresso em vários aspectos:
desde a recuperação dos territórios até o desenvolvimento agrícola.Os edifícios eram
luxuosos, florescia a indústria têxtil e de tinturas.

Essa prosperidade, entretanto, escondia uma decomposição social tremenda, constatada


pela corrupção dos ricos, juízes e mercadores: um sistema injusto. A aliança com Deus era
um rótulo de um formalismo morto que tinha apenas rituais sem vida. Em decorrência disso,
Deus envia a Amós para intervir nessa situação.

● O Reino de Israel encontrava-se no seu apogeu;


● Um tempo de grande prosperidade com edifícios esplêndidos e luxuosos;
● Recuperação dos territórios e desenvolvimento agrícola-industrial;
● Recursos econômicos e agrícolas acrescidos;
● Crescimento de indústria têxtil e de tinturaria;

Entretanto:

● Esta prosperidade e bem-estar ocultavam uma decomposição social;


● Era contrastada pela corrupção dos ricos, injustiça dos juízes e fraudes do
comerciantes;
● Os pobres eram desavergonhadamente explorados;
● Aliança com Deus era apenas o rótulo de um formalismo morto que tinha em seus
cultos, meros rituais, sem nenhuma vida;

Por isso Amós gritava:

Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso.


Amós 5:24

A voz de Deus anuncia o juízo

Observa-se uma visão bem clara de todo o julgamento no capítulo 1,2 de Amós. “O Senhor
rugirá de Sião e de Jerusalém se ouvirá a sua voz” o versículo dois nos dá uma visão bem
clara da visão do julgamento do senhor: o Senhor ruge.

Quem ruge?

O Senhor está rugindo. Podemos ver o peso desta expressão no original da palavra do
Senhor (Hb) IAVÉ, este é o nome mais sagrado para os judeus, que transmite a ideia perfeita
da santidade de Deus. Um Deus santo é quem está rugindo.

O rugir:

O rugido do leão era algo com que Amós estava familiarizado como pastor de ovelhas, e ele
sabia que isto significava um perigo presente e quase inevitável.

De onde ruge?

● De Sião, Jerusalém o lugar certo da morada de IAVÉ, do altar santificado em


oposição a Gilgal, Betel e Berseba:

Assim não fareis ao Senhor vosso Deus; Mas o lugar que o Senhor vosso Deus escolher de todas as
vossas tribos, para ali pôr o seu nome, buscareis, para sua habitação, e ali vireis. E ali trareis os vossos
holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e os vossos
votos, e as vossas ofertas voluntárias, e os primogênitos das vossas vacas e das vossas ovelhas. E ali
comereis perante o Senhor vosso Deus, e vos alegrareis em tudo em que puserdes a vossa mão, vós e
as vossas casas, no que abençoar o Senhor vosso Deus. Não fareis conforme a tudo o que hoje fazemos
aqui, cada qual tudo o que bem parece aos seus olhos. Porque até agora não entrastes no descanso e
na herança que vos dá o Senhor vosso Deus. Mas passareis o Jordão, e habitareis na terra que vos fará
herdar o Senhor vosso Deus; e vos dará repouso de todos os vossos inimigos em redor, e morareis
seguros. Então haverá um lugar que escolherá o Senhor vosso Deus para ali fazer habitar o seu nome;
ali trareis tudo o que vos ordeno; os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e
a oferta alçada da vossa mão, e toda a escolha dos vossos votos que fizerdes ao Senhor. E vos alegrareis
perante o Senhor vosso Deus, vós, e vossos filhos, e vossas filhas, e os vossos servos, e as vossas
servas, e o levita que está dentro das vossas portas; pois convosco não tem parte nem herança. Guarda-
te, que não ofereças os teus holocaustos em todo o lugar que vires; Mas no lugar que o Senhor escolher
numa das tuas tribos ali oferecerás os teus holocaustos, e ali farás tudo o que te ordeno. Deuteronômio
12:4-14
● Tudo isto visava o despertamento da nação com a volta ao Senhor da aliança.

O teor do julgamento

● A causa do julgamento de Israel era o pecado. Deus mostrava que este julgamento
era em tempo oportuno e não sem justiça.

● Amós apresenta os hediondos pecados de Israel, mostrando que o seu julgamento


decorre dos seus pecados indesculpáveis.

Assim diz o Senhor: Por três transgressões de Israel, e por quatro, não retirarei o castigo, porque vendem
o justo por dinheiro, e o necessitado por um par de sapatos, Suspirando pelo pó da terra, sobre a cabeça
dos pobres, pervertem o caminho dos mansos; e um homem e seu pai entram à mesma moça, para
profanarem o meu santo nome. E se deitam junto a qualquer altar sobre roupas empenhadas, e na casa
dos seus deuses bebem o vinho dos que tinham multado.
Amós 2:6-8

A causa do julgamento de Israel era o pecado. Deus demonstra que esse julgamento era em
tempo oportuno e não sem justiça, e Amós apresenta os hediondos pecados de Israel,
mostrando que seu julgamento era em decorrência de seus pecados indesculpáveis.

Os pecados de Israel

O pecado contra a Revelação:

O privilégio de Israel ser a nação eleita de Deus não a fazia mais importante que as demais
nações a ponto de poder pecar livremente. Antes de tudo, esse título acarretava o dever de
ser luz para as nações. O profeta busca mostrar que Israel é eleita e que Ele permanecerá
firme na aliança e não a abandonará. Apesar disso, eles rejeitaram essa posição, e Deus
perde um acerto de contas

O pecado contra a Graça:

Mesmo Deus concedendo seu favor, libertando um povo fraco das mãos de um opressor
poderoso, a nação rejeita os projetos de Deus, tornando seu castigo inevitável:

“Prepara-te ó Israel para te encontrares com o teu Deus”; As palavras de Amós soam, em
nossos dias, como um aviso de Deus à nossa situação, conclamando-nos ao arrependimento.
O alerta de Amós é diretamente contra a religiosidade.

“Buscai-me e vivei”. Uma loucura dos homens é buscar a vida eterna e paz nas formas e
rituais de seus deuses, esquecendo-se do Deus da vida eterna. somente buscando
verdadeiramente a Deus podemos ter vida espiritual eternamente.
PROFETA SOFONIAS

Particularidades de Sofonias

● Sofonias exerceu o seu ministério “nos dias de Josias, filho de Amom, rei de Judá”
(v.1). Josias reinou entre 640 e 609 a.C.;
● Sofonias é tataraneto de Ezequias. Este é o único caso de genealogia profética que
remonta à terceira geração;
● Seu nome significa “Deus esconde” ou “Deus protege”;
● Foi contemporâneo de Jeremias e da profetisa Uda;

Contexto

Situando a atividade de Sofonias durante a menoridade do rei Josias, podemos compreender


melhor o conteúdo de seus oráculos.

Judá havia permanecido séculos sob o domínio da Assíria, desde os dias do rei Acás. Pouco
a pouco, o povo aderiu aos costumes estrangeiros e às práticas pagãs. O rei Manassés
contribuiu muito para difundir a corrupção religiosa (2 Reis 21:3-9): foi ele quem reconstruiu
os santuários nos lugares altos, erigiu altares ao deus Baal e introduziu cultos estrangeiros,
ritos de fertilidade, prostituição sagrada, cultos astrais, adivinhação, magia, modas
estrangeiras e até sacrifícios humanos.

Manassés foi sucedido por seu filho Amom que, embora tivesse reinado apenas dois anos,
continuou com as mesmas políticas do pai, e logo foi assassinado por membros da corte de
tendência anti-assírica e substituído agora por Josias, que tinha aproximadamente apenas
oito anos de idade.

Durante o tempo de minoridade de Josias existiam dois grupos que lutavam pelo poder: o
primeiro, o povo da terra, camponeses e proprietários que haviam colocado Josias no trono,
e um outro formado de nobres e príncipes que queriam manter a situação social e religiosa
nos moldes anteriores e preservar uma política interna que lhes assegurasse o poder.

É nesse contexto de guerra política que devemos considerar a atividade profética de


Sofonias. Ele claramente coloca-se como porta voz do povo da terra, denunciando toda a
corrupção política, social e religiosa, e mostrando a necessidade de profundas reformas.
Podemos até dizer que foi ele quem inspirou a grande reforma iniciada por Josias em 622
a.C..
O perfeito julgamento de Deus

Deus enviou um profeta a conclamar o povo a um arrependimento, porque o dia do Senhor


estava perto:

O grande dia do Senhor está perto, sim, está perto, e se apressa muito; amarga é a voz do dia do Senhor; clamará
ali o poderoso.
Sofonias 1:14

A grande misericórdia de Deus que suportou tanto tempo a maldade e impiedade desse povo,
agora era expressa em um juízo iminente e total:

Hei de consumir por completo tudo de sobre a terra, diz o Senhor.


Sofonias 1:2

O julgamento de Deus era inevitável e passaria fatalmente pelo seu povo:

Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim
daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?
1 Pedro 4:17

A ira de Deus não envolve apenas o aspecto sentimental, mas também o judicial.

O alvo do julgamento

A universalidade do julgamento de Deus é expressa quando Ele diz: “toda a terra” (1.2). Essa
abordagem caracteriza a amplitude de quem Ele deseja alcançar, julgando a cada um
segundo o que lhe foi revelado ou confiado (Lc 12.48).

O profeta inicia seu julgamento pelas nações pagãs e termina com o povo escolhido. “Não
ficarão sem julgamento os príncipes, os juízes, profetas e sacerdotes (3.3-4), e todos que
deixem de andar perante o Senhor, não buscando e nem perguntando por ele (1.6)”

As palavras “andar, buscar e perguntar” falam de compromisso e fidelidade a Deus. Aqueles


que não fazem essas coisas, praticam uma fé sem senhorio (Tg 4.7)

Deus convida todos ao arrependimento

Deus se apresenta como fonte de esperança, um abrigo seguro (2.3) para aqueles que o
buscarem e praticarem a justiça.

Deus exige exclusividade (Tt 2.14). Israel não poderia ter se corrompido diante dos seus
deuses estranhos (1.5) por isso se tornou renegado aos olhos de Deus e digno de juízo. Juízo
este que viria sem clemência (1.7) A disciplina visa levá-lo a uma tomada de posição para
com a vontade de Deus (Hb 12.5).
O julgamento das nações

No capítulo primeiro de Sofonias, ele parte do geral “toda a terra” para o particular “Judá” e
no segundo capítulo ele amplia os horizontes do julgamento, partindo de “Jerusalém” para as
outras nações.

● A raiz profunda da inimizade no culto a Baal ou no desprezo à Israel (Ne 13.1-2).


● O centro do julgamento recairia sobre Jerusalém.
● Julgamento dos Etíopes por terem escravizado a Israel (2.12).

Sofonias retorna à Jerusalém, a capital rebelde, contaminada e opressora (3.1). Portanto,


Jerusalém merecia castigo, pois ouvia a voz do que a instruía, mas não dava atenção e nem
aprendia com os outros exemplos (3.2)

Deus julga objetivamente

A Indignação de Deus para com o povo:

I. Os chefes oprimem com uma violência monstruosa (leões).


II. Os juízes devoram o povo com sua cobiça, semelhante a lobos vorazes (Mt 7.15).
III. Os profetas apropriaram-se da palavra para fraudar e desorientar (Mq 3.5).

Os sacerdotes tinham função de distinguir o sagrado do profano, levando o povo a encontrar-


se com Deus e tinham responsabilidade de aplicar a lei, interpretando-a. No entanto,
distorciam-na muitas vezes para seu próprio benefício (Is 56.10-11).

O profeta Sofonias não critica o povo indiscriminadamente, mas tem como alvo os
responsáveis pela vida e direção da população, e apresenta a esses a indignação de Deus
para com eles.

Em vez de defender o povo, os chefes ensinaram a viver segundo a justiça e o direito,


oprimindo com uma violência monstruosa aqueles abaixo de si. Os juízes, em vez de
administrarem a justiça, devoraram o povo com sua cobiça, semelhantes a lobos vorazes. Os
profetas, em vez de proclamarem a palavra de Deus para orientar o povo, optaram pr fraudar
e desorientar.

Os sacerdotes tinham a função de distinguir entre o sagrado e o profano, mostrando as


condições do povo e levando-os ao arrependimento. Também tinham a responsabilidade de
aplicar a lei, interpretando-a, mas estes distorceram-na muitas vezes para o seu proveito
próprio.

Um contraste muito grande com estes líderes está na figura do rei Josias que, ao perceber a
situação pecaminosa de seu povo, promoveu um grande avivamento na nação.

A primeira corrupção do povo era a idolatria. A nação havia deixado de adorar ao Deus
verdadeiro para prestar culto a Baal, Astros e Melkon, também chamado de Moloch, a quem
eram oferecidos sacrifícios humanos.
“E estenderei a minha mão contra Judá, e contra todos os habitantes de Jerusalém, e exterminarei deste lugar o
restante de Baal, e o nome dos sacerdotes dos ídolos, juntamente com os sacerdotes; E os que sobre os telhados
adoram o exército do céu; e os que se inclinam jurando ao Senhor, e juram por Milcom; E os que deixam de andar
em seguimento do Senhor, e os que não buscam ao Senhor, nem perguntam por ele.”
Sofonias 1:4-6

A segunda corrupção era por parte dos poderosos. O profeta impõe silêncio diante da
gravidade do que vai ser anunciado. Sofonias explica que as vítimas do sacrifício no dia do
julgamento serão as classes da elite desviada, bem como as autoridades corrompidas.

Cala-te diante do Senhor DEUS, porque o dia do SENHOR está perto; porque o SENHOR preparou o sacrifício,
e santificou os seus convidados. Acontecerá que, no dia do sacrifício do Senhor, castigarei os príncipes, e os filhos
do rei, e todos os que se vestem de trajes estrangeiros. Castigarei naquele dia todo aquele que salta sobre o
limiar, que enche de violência e engano a casa dos seus senhores.
Sofonias 1:7-9

A amplitude do julgamento

Porque Gaza será desamparada, e Ascalom assolada; Asdode ao meio-dia será expelida, e Ecrom será
desarraigada. Ai dos habitantes da costa do mar, a nação dos quereteus! A palavra do Senhor será contra vós, ó
Canaã, terra dos filisteus; e eu vos destruirei, até que não haja morador. E a costa do mar será de pastos e
cabanas para os pastores, e currais para os rebanhos. E será a costa para o restante da casa de Judá; ali
apascentarão os seus rebanhos; de tarde se deitarão nas casas de Ascalom; porque o Senhor seu Deus os
visitará, e os fará tornar do seu cativeiro. Eu ouvi o escárnio de Moabe, e as injuriosas palavras dos filhos de
Amom, com que escarneceram do meu povo, e se engrandeceram contra o seu termo. Portanto, tão certo como
eu vivo, diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, Moabe será como Sodoma, e os filhos de Amom como
Gomorra, campo de urtigas e poços de sal, e desolação perpétua; o restante do meu povo os saqueará, e o
restante do meu povo os possuirá. Isso terão em recompensa da sua soberba, porque escarneceram, e se
engrandeceram contra o povo do Senhor dos Exércitos. O Senhor será terrível para eles, porque emagrecerá
todos os deuses da terra; e todos virão adorá-lo, cada um desde o seu lugar, de todas as ilhas dos gentios.
Também vós, ó etíopes, sereis mortos com a minha espada. Estenderá também a sua mão contra o norte, e
destruirá a Assíria; e fará de Nínive uma desolação, terra seca como o deserto.
Sofonias 2:4-13

Aqui temos a amplitude do julgamento de Deus, não apenas sobre seu povo, mas também
sobre diversas nações:

Assíria (2:13-15): por muito tempo, esta nação dominou todo o Oriente Médio. Na primeira
fase do rei Josias, ainda era considerada uma potência ameaçadora. Nínive, sua capital, era
um modelo de imperialismo agressor. A ameaça de Sofonias antecipa os acontecimentos de
620 a.C., quando a Assíria foi totalmente dominada pelo império babilônico.

Os Filisteus (2:4-7): originários da ilha de Creta, sua antiga pátria, os filisteus se fixaram a
oeste de Judá e sempre foram seus tradicionais inimigos e opressores

Moabe e Amom (2:8-11): embora parentes de Israel, eram considerados inimigos implacáveis
do povo de Deus.

Egito (2:12): uma menção rápida, mas que traz a certeza do juízo.
Ai da rebelde e contaminada, da cidade opressora! Não obedeceu à sua voz, não aceitou o castigo; não confiou
no Senhor; nem se aproximou do seu Deus. Os seus príncipes são leões rugidores no meio dela; os seus juízes
são lobos da tarde, que não deixam os ossos para a manhã. Os seus profetas são levianos, homens aleivosos;
os seus sacerdotes profanaram o santuário, e fizeram violência à lei.
Sofonias 3:1-4

Deus suscita um remanescente fiel

● Povo rebelde e obstinado (Hb 4.11).


● Mesmo com toda destruição das nações, o povo não tomava consciência disto (3.6,7).
● Tempo futuro, quando Deus purificaria por meio do fogo o seu povo (3.8).
● Idolatria e injustiça instaladas na cidade santa (1.4,6/3.18).
● O Senhor é justo e não comete injustiça (3.5).
● O Senhor eliminaria a opressão (3.14,18).
● O Senhor afastou o inimigo (3.5).
● O orgulho deveria ser eliminado do povo (3.11).
● Restou um remanescente, povo humilde e pobre (3.12).

Logo, Sofonias instrui que o povo da aliança deve confessar seus pecados, abdicando das
práticas pecaminosas que aborrecem a Deus. Em síntese, isto representa uma rejeição
praticada em relação a pessoa de Deus e seu projeto de vida para seu povo escolhido, seja
de maneira direta apostasia, ou de maneira indireta indiferença (Tg 4.17).

Assim não devemos confundir o conceito e a veracidade de sermos eleitos filhos de Deus,
com a responsabilidade de nossos atos para com Ele (Ap 3.11). Contudo, o pacto continua
incondicional para todas as gerações e cada um dará conta de si mesmo: “Não erreis:Deus
não se deixa escarnecer, porque tudo que o homem semear, isto também ceifará” (Gl 6.7).
PROFETA JOEL

Particularidades

● Na série dos 12 profetas, Joel ocupa o segundo lugar após Oséias e antes de Amós;
● Joel não menciona um rei, mas o texto faz referência aos sacerdotes e anciãos, e o
povo;
● No texto, não ouvimos falar dos tradicionais inimigos de Israel. Em cena, estão
apenas os povos que mantiveram relações com Israel no pós exílio;
● O ministério do profeta Joel está direcionado para o reino do sul, mais
exclusivamente para os habitantes de Judá e Jerusalém;
● O nome Joel significa “Javé é Deus”;
● Em Joel, pode-se verificar a abundância de passagens paralelas de livros proféticos
e outras passagens do Antigo Testamento. Isso, entretanto, apresenta uma
dificuldade: não há acordo entre os estudiosos acerca de como isso se deu, isto é, se
Joel depende dos textos ou se os outros autores se inspiraram nele. A tendência atual
é para a dependência literária do profeta em relação aos que o antecederam.

Contexto

Joel, conhecido como “profeta pentecostal”, por fazer menção ao derramamento do Espírito
Santo (Jl 2.28,32) e cujo significado é “Jeová meu Deus”, foi enviado como profeta ao reino
do Sul, viveu em Jerusalém e tinha amplo conhecimento do templo e dos cultos.

Joel aparece num período terrível da história. Seus escritos acontecem após a grande
devastação da terra pela praga de gafanhotos. Joel situa-se no começo do século 4 a.C.,
significando que ele faz parte período compreendido como pós exílico.

Há um fato que norteará os acontecimentos na vida do povo de Deus: a história de Ciro, o


persa, que entra triunfantemente na Babilônia, e lá encontra uma comunidade que descendia
dos cativos trazidos por Nabucodonosor. Logo em seu primeiro período de governo, Ciro
resolve atender a um pedido da comunidade de exilados e promulga um edito devolvendo o
povo os utensílios do templo que haviam sido roubados.

Joel é um profeta em um tempos difíceis. Conhecer o conteúdo deste livro é estar preparado
na hora da crise. Podemos deduzir que o profeta tenha vivido em Jerusalém ou próximo,
devido a seu interesse para com o templo, o culto e o tom com que se dirige aos habitantes
da cidade.

A situação da Judá pós exílica

● Judá não mais era um reino independente;


● Depois da queda do rei de Israel, a Samaria foi transformada em província da Assíria.
Os reis neobabilônicos não mudaram essa posição, e Judá, por sua vez, não recebeu
status especial tal como a província.
● jerusalém faziA parte da província de Samaria, e era dependente administrativamente
das satrapias, isto é, governos locais. O povo de Deus se descobre como uma
pequena etnia perdida nas imensidões de um império multi racial e é obrigado a se
submeter a um rei estrangeiro que ditará normas e leis;

A função de Joel

Antes de mais nada, é preciso conhecer a situação a que se refere o livro do profeta Joel. Ela
é apresentada já no primeiro capítulo: uma praga aniquiladora de gafanhotos assolava a terra
de Judá.

A terra que estava agora sendo devastada era um dos mais fortes laços entre Deus e seu
povo: todos os dias o povo oferecia o produto da terra no templo do Senhor e, por causa da
praga, o povo não tinha mais condições de fazer isso.

Joel anuncia o grande juízo de Deus

A praga de gafanhotos era relativamente comum no Oriente (Dt 298.38,42), muito embora a
que sobreveio sobre Israel não tivesse precedentes. Tudo foi atingido: o campo, o cereal, a
vide, a oliveira e o trigo.

Essa calamidade era apenas mostrar à casa de Israel as miséria de um povo escolhido por
Deus, mas que se afastou dele. Toda essa catástrofe representava a triste realidade do
pecado. Vivemos dias de materialismo que tirou da igreja atual a força da oração e do jejum.
O homem confia mais em seus talentos, conhecimentos e técnicas para realizar a obra de
Deus, do que no poder do jejum e da oração.

Joel conclama todos ao arrependimento

a) Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes (Jl 2.13).


b) Vós velhos e todos os habitantes da terra (Jl 1.2).
c) Ebrios (Jl 1.5).
d) Lavradores (Jl 1.11). Na seriedade da situação, o profeta convida o povo a considerar o
desastre e exorta-os ao arrependimento, com o propósito de não sofrer maiores
consequências (Jl 2.2-17).
a) Reflexão: nos dias de hoje, se faz necessário jejuarmos? Não há dúvidas quanto à
resposta: Sim! É imprescindível, é urgente!
b) Ponto importante: Muitas bênçãos advém da prática do jejum, nos fortalece espiritualmente
e deve estar atrelada às nossas orações (At 14.23). O jejum deve ser uma prática salutar na
vida espiritual do crente.
Os resultados do arrependimento

a) Reconciliação com Deus – reconhecendo um Deus zeloso e compassivo que aceitou o


arrependimento.
b) O Senhor ordena que a terra se regozije e se alegre (Jl 2.21).
c) Transformando o grande mal em grande alegria das chuvas serôdias (Jl 2.23).
d) Produto do pecado – Sempre que desagradamos somos atingidos pelas consequências
de nosso feito (Gl 6.7).

Ponto importante: Somente seremos sarados, se nos submetermos com humildade ao


Senhor, reconhecendo nossos pecados, confessando-os a Deus com sincero
arrependimento, pois ele é misericordioso.

A promessa do derramamento do Espírito Santo

a) O dia de Pentecostes – Cumprimento da profecia, os discípulos foram cheios do Espírito


Santo (At 2.4).

b) Promessa válida nos dias de hoje É extensiva à todos (At 2.39).

c) “Derramarei do meu Espírito” – o verbo derramar indica abundância da manifestação, em


outras palavras, Deus deixa fluir livremente seu Espírito sobre nós.

d) “Toda a carne” – a terrível graça de Deus alcança a todos, sem distinção.

O grande dia do Senhor certamente virá

O capítulo três de Joel retrata profundamente partes da profecia e evidencia o escatológico


conflito dos últimos dias. O povo judeu tem sido massacrado através dos séculos, humilhado
e deportado para várias nações.

a) A paciência saturada de Deus - O Senhor se levantará para julgar, os pecados das nações
estão maduros para colheita e Deus emite a ordem para lançar a foice.

b) A grande malícia das nações (Jl 3.13).

Ponto importante: O dia do juízo é um tema de profundas raízes bíblicas e variados aspectos.
As pragas que vieram sobre Israel foram apenas amostras do terrível julgamento que o
Senhor trará às nações que o rejeitarem.

As fases de Joel

O livro do profeta Joel pode ser dividido em três fases:


Primeira: Destruição

O que ficou da lagarta, o gafanhoto o comeu, e o que ficou do gafanhoto, a locusta o comeu, e o que ficou da
locusta, o pulgão o comeu. Despertai-vos, bêbados, e chorai; gemei, todos os que bebeis vinho, por causa do
mosto, porque tirado é da vossa boca.
Joel 1:4,5

A função de cada gafanhoto:

A vide se secou, a figueira se murchou, a romeira também, e a palmeira e a macieira; todas as árvores do campo
se secaram, e já não há alegria entre os filhos dos homens.
Joel 1:12

O cortador: um gafanhoto muito pequeno que não tem muita força e não atinge os galhos e
troncos da árvore. Sua função é comer as folhas, porque, como ele é pequeno, atinge as
folhas, uma das partes mais frágeis. O gafanhoto come nossas folhas para que não
recebamos as bênçãos de Deus:

O migrador: é um gafanhoto um pouco maior que come as pontas dos galhos. Sempre que o
galho começa a gerar uma folha, ele come, cortando a possibilidade de crescimento.

O devorador: é mais forte de todos, possuindo a força para devorar os galhos. Ele retira o
aspecto e a beleza da árvore.

O destruidor: este rói a casca da árvore, exaurindo a clorofila das árvores e deixando-as nuas
de destruídas.

Segunda: Restituição

O resultado da primeira fase é uma desolação terrível, um verdadeiro deserto. Em


consequência disso, o povo dobra-se em oração, e o Senhor ouve seu clamor. Aqui há a
presença de duas chuvas: a temporã, que começa em outubro e prepara a terra, e a serôdia,
que inicia-se em abril para fortalecer a plantação.

E vós, filhos de Sião, regozijai-vos e alegrai-vos no Senhor vosso Deus, porque ele vos dará em justa medida a
chuva temporã; fará descer a chuva no primeiro mês, a temporã e a serôdia.
Joel 2:23

Terceira: Renovação

E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão,
os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões.
Joel 2:28
O cuidado de Deus é tão grande que não se preocupa apenas em encher o eirado e o lagar,
mas também cuida do espírito e da mente, da visão e dos lábios.
PROFETA OSÉIAS

O livro de Oséias nos põe em contato com os excluídos do sistema sociopolítico de Israel. O
profeta chega a dizer que o país se prostituiu:

O princípio da palavra do Senhor por meio de Oséias. Disse, pois, o Senhor a Oséias: Vai, toma uma mulher de
prostituições, e filhos de prostituição; porque a terra certamente se prostitui, desviando-se do Senhor.
Oséias 1:2

Essa situação de prostituição atingiu o cotidiano do povo, destruindo a convivência na casa.


No meio de tanta dor, Oséias e seu grupo de compeonses experimentou o Deus do êxodo,
que testemunha a dor do povo e desce para libertá-los. Essa experiência os fez descobrir a
palavra de esperança que Deus queria transmitir ao povo naquele momento.

Sobre o profeta

Palavra do SENHOR, que foi dirigida a Oséias, filho de Beeri, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias, reis de
Judá, e nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel.
Oséias 1:1

O nome Oséias significa “Deus salva”. O profeta exerceu seu ministério no reino do norte:
Israel, poeticamente chamado de Efraim, durante os últimos anos de sua independência.
Podemos situá-lo no final do reinado de Jeroboão II, pouco depois de Amós e um pouco antes
da tomada de Samaria pelos assírios.

Esse foi um período de muitos conflitos, tanto internos quanto externos. Ao mesmo tempo
que a profecia cresceu com a voz dos espoliados, a juventude de Oséias coincidiu com um
dos poucos momentos de prosperidade de Israel com Jeroboão II, mas as situação mudou
depois da morte do monarca. Oséias foi contemporâneo de Isaías, Miquéias e Amós.

O livro de Oséias é composto por uma seleção de sermões proferidos durante 25 anos,
aproximadamente. Seu sermão é baseado em sua própria vida. A situação de sua esposa
infiel é uma ilustração para o relacionamento entre Deus e o povo, que havia abandonado a
adoração ao Deus verdadeiro:

O meu povo consulta a sua madeira, e a sua vara lhe responde, porque o espírito da luxúria os engana, e
prostituem-se, apartando-se da sujeição do seu Deus.
Oséias 4:12

Os dias de Oséias foram de grande prosperidade material. No entanto, a prosperidade veio


acompanhada de um declínio moral e espiritual. O livro aborda um veemente apelo ao povo
corrompido para que abandone o caminho da perdição pelo bem da nação (Os 5.15).
Observações iniciais

Casa e família eram termos muito importantes no tempo do profeta. A casa era a unidade
formada pela terra, família e laços de consanguinidade, solidariedade e proteção jurídica. As
relações dentro da casa deveriam servir de modelo para as demais organizações sociais, a
começar pela família em si.

No povo de Israel, a casa era o símbolo da vida, e funcionava como organização básica da
sociedade israelita. As terras que pertenciam à tribo eram ocupadas pelas famílias ampliadas
das tribos, de forma que a terra não podia ser vendida, sendo herança de Deus para o povo.

Com a entrada do sistema monárquico em Israel, as práticas e os costumes instituídos pelos


reis penetraram nas casas e aldeias, destruindo as relações de outrora.

O tempo do profeta Oséias

Para compreendermos melhor o profeta Oséias, vamos voltar um pouco ao passado: o reino
de Israel estruturou-se da maneira como estava sob o rei Omri e seu filho Acabe. Essa era
uma estrutura estatal voltada para os interesses das elites: houve uma urbanização e
militarização do país.

Um dos pontos centrais de sua política foi a construção da cidade de Samaria, uma fortaleza
voltada para o mar Mediterrâneo de onde era possível controlar rotas comerciais importantes.
Além disso, houve a formação de uma aliança comercial e militar com a cidade de Tiro, na
Fenícia, um importante escoadouro para a produção da região.

Israel exportava cereais e óleo, e importava produtos sofisticados de metais, cedros, e artigos
de luxo como ouro, perfume, cerâmica e tecidos. Os produtos importados eram muito mais
caros que os produtos que Israel podia oferecer no mercado internacional, isto fazia com que
o comércio de Israel fosse frágil e dependente da rede de mercadores fenícios.

Nessa conjuntura, os dirigentes de Israel necessitavam sempre mais de soldados e


armamentos para extorquir produtos agrícolas dos camponeses, garantir as rotas comerciais
e manter as fronteiras em expansão.

Contudo, a militarização é uma espada de dois gumes: se por um lado ser de serventia para
a proteção externa, por outro lado sucinta tensão interna e disputa pelo poder. Se a
legitimação de quem governa vem pela força militar, manda quem tem mais força.

Esse militarismo sangrento marcou o estado de Israel especificamente nos últimos trinta anos
de independência, período em que Oséias atuou como profeta. Seis dos reis de Israel
ocuparam o trono por meio de um golpe de estado, e quatro deles foram vítimas dessa luta
pelo poder. Essa situação de fogo cruzado tem por trás a Assíria e o Egito, reinos aliados das
elites.

Em contrapartida, o profeta resgata a imagem do Deus da vida, presente no meio do povo:


um Deus que caminha com os fracos. Oséias, sentindo na pele o drama de uma nação
prostituída pela opressão da elite assíria, assume o sofrimento dos camponeses e faz uma
nova experiência de Deus, a partir da qual denuncia o sistema opressor e anuncia o projeto
de reconstrução da casa, da vida, do povo, das famílias e das aldeias destruídas pelos
desmandos da nação.

Podemos dividir o livro de Oséias em duas partes:

Primeira parte: há aqui uma descrição do tempo em que viveu Oséias e da situação do povo
neste período: foi um tempo turbulento sob a pressão do império assírio, o problema das
guerras internas e a violência institucionalizada:

Só permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um ato sanguinário segue
imediatamente a outro.
Oséias 4:2

Segunda parte: a mensagem do profeta. Deus quer misericórdia, não sacrifício. As palavras
de Oséias são uma denuncia contra as elites que exploravam o povo e sua fé em Deus. Ele
mesmo faz parte de um grupo de camponeses que resistem como o servo sofredor, lutando
pela sobrevivência e refazendo a experiência do Deus que sofre.

Nos dias de Oséias também houve grande prosperidade material. Durante o reino de
Jeroboão II, houve uma ampliação das terras, um período próspero somente comparável ao
reinado de Salomão, mas que acompanhou um declínio moral e espiritual.

As origens de Oséias

1. Oséias, o autor:

O nome de Oséias vem do hebraico “Hôshea”, cujo significado é “salvação”. Filho de


Beeri foi profeta no reino do norte com intuito de convencer seus compatriotas a
voltarem-se para Deus. Contemporâneo de Isaías, Miquéias e Amós, Oseias teve um
ministério que perdurou aproximadamente 25 anos.

1. Oséias, o livro:

Baseado na vida do autor, o livro é composto por uma seleção de sermões proferidos durante
25 anos.

Quando o Senhor começou a falar por meio de Oséias, o Senhor lhe disse: "Vá, tome uma mulher adúltera e filhos
da infidelidade, porque a nação é culpada do mais vergonhoso adultério por afastar-se do Senhor".
Oséias 1:2

Ele evidencia a infidelidade conjugal de sua esposa Gômer, com o objetivo de exemplificar o
“infinito amor de Deus”. Pode-se perceber claramente a analogia entre a situação da esposa
infiel, e a relação entre Jeová e Israel naqueles dias.

"Quando Israel era menino, eu o amei, e do Egito chamei o meu filho. Mas, quanto mais eu o chamava, mais eles
se afastavam de mim. Eles ofereceram sacrifícios aos baalins e queimaram incenso os ídolos esculpidos. Mas fui
eu quem ensinou Efraim a andar, tomando-o nos braços; mas eles não perceberam que fui eu quem os curou. Eu
os conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-los.
Oséias 11:1-4

Em busca de uma boa colheita, o povo hebreu voltou-se para uma adoração à Baal, adoração
essa que consistia em festas onde a prostituição era praticada em grande escala. Não
obstante, essa atitude ilustrava copiosamente a traição ao Deus verdadeiro

Os Filhos de Oséias

Por ordem do Senhor, Oséias casou-se com uma prostituta por nome Gômer que dera à luz
aos seus três filhos, ambos traziam através de seu nascimento e nome uma mensagem, a
saber;

1. Jezreel

O primeiro filho, que tem como significado “Deus semeia”. O Senhor julgaria a casa
de Israel.

1. Lo-ruama

A segunda filha, que tem como significado “desfavorecida”. Israel, o Reino do Norte,
agora seria desfavorecido e não mais recebia o favor de Deus.

Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu
povo; e andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem.
Jeremias 7:23

Em outras palavras, haviam perdido o favor de Deus:

Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou
lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou.
Hebreus 12:17

1. Lo-ami

O terceiro filho, trouxe como significado “não meu povo”. Nasceu com ele a intriga.
Assim como Oséias proferia que Lo-ruama e Lo-ami não eram seus filhos legítimos,
Deus expressamente diz ao povo: “Eu não sou vosso Deus”. Contudo, o amor de Deus
não se baseia em nossa fidelidade:

Saberás, pois, que o Senhor teu Deus, ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até
mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos.
Deuteronômio 7:9

Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo.


2 Timóteo 2:13
O exemplo de reconciliação

Este livro é um perfeito exemplo de perdão e reconciliação. Como não se pode afirmar se a
esposa de Oseias já era prostituta, ou tornou-se após o casamento, Gômer envolveu-se
inteiramente com o adultério, tornando-se assim uma prostituta escrava:

O Senhor me disse: "Vá, trate novamente com amor sua mulher, apesar de ela ser amada por outro e ser adúltera.
Ame-a como o Senhor ama os israelitas, apesar de eles se voltarem para outros deuses e de amarem os bolos
sagrados de uvas passas". Por isso eu a comprei por cento e oitenta gramas de prata e um barril e meio de
cevada.
Oséias 3:1,2

1. A prostituição de Gômer – Simbolizava a prostituição de Israel.


2. Atualmente – amor ao sacrifício (Os 6.6;8.12), procura por seitas que suavizem seus
pecados, o que os fazem pecar ainda mais contra Deus (I Co 2.14).
3. A compra da escrava – A fim de tirá-la da prostituição, Oséias compra Gômer por
quinze peças de prata (metade do valor de um escravo) e um ômer e meio de cevada
(aproximadamente 540 litros).
4. O amor e sublime graça – esta atitude demonstrava aos judeus, que Deus poderia
conceder-lhes irrestrito perdão através do amor e da graça.
5. Redimidos e separados – Deus nos redimiu e nos separou por um alto preço (I Pe
1.18,19) (Ef 1.13,14).

O exemplo de amor verdadeiro

Mesmo diante de tamanha infidelidade, sem desejo de mágoa ou vingança, Oseias comprou
a liberdade de Gômer e deu-lhe de volta o lugar em sua casa. O amor não é vingativo, tudo
sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. Gômer não compreendia o amor sincero e puro
de Oséias, pois era difícil para ela acreditar que mesmo depois de tanta ingratidão ele ainda
pudesse amá-la.

“O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura
seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra
com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca perece; mas as profecias
desaparecerão, as línguas cessarão, o conhecimento passará.”
1 Coríntios 13:4-8

1. O Livre Arbítrio: o Senhor nos deseja voluntários, a ponto de pagar o preço máximo:

“Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã
maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o precioso sangue de Cristo,
como de um cordeiro imaculado e incontaminado,”
1 Pedro 1:18,19

1. A ira anulada: Deus em Cristo nos oferece reconciliação, perdão e amor contra
nossos pecados:

“Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e
pôs em nós a palavra da reconciliação.”
2 Coríntios 5:19
A misericórdia de Deus demonstrada através de Oséias

1. O apelo para que a nação tomasse uma atitude

"Chamem a seus irmãos ‘meu povo’, e a suas irmãs ‘minhas amadas’. "Repreendam sua mãe,
repreendam-na, pois ela não é minha mulher, e eu não sou seu marido. Retire ela do rosto a aparência
adúltera e do meio dos seios a infidelidade. Do contrário, eu a deixarei nua, como no dia em que nasceu;
eu farei dela um deserto, eu a transformarei em terra ressequida, e a matarei de sede.”
Oséias 2:1-3

1. O verdadeiro arrependimento

“Israel era como videira viçosa; cobria-se de frutos. Quanto mais produzia, mais altares construía; Quanto
mais sua terra prosperava, mais enfeitava suas colunas sagradas. O coração deles é enganoso, e agora
devem carregar sua culpa. O Senhor demolirá os seus altares e destruirá suas colunas sagradas. Então
eles dirão: "Não temos nenhum rei porque não reverenciamos o Senhor. Mas, mesmo que tivéssemos
um rei, o que ele poderia fazer por nós? " Eles fazem muitas promessas, fazem juramentos e acordos
falsos; por isso brotam processos judiciais como ervas venenosas num campo arado.”
Oséias 10:1-4

1. O castigo irremediável

“Eu a castigarei pelos dias em que ela queimou incenso aos baalins; ela se enfeitou com anéis e jóias, e foi atrás
dos seus amantes, mas de mim, ela se esqueceu", declara o Senhor.”
Oséias 2:13

Conclusão

A ideia central do livro de Oséias descreve os sinceros, retos e amorosos caminhos de Deus,
apesar da ignorância e perversidade dos homens vimos que Deus ainda procurou atraí-los
para si, com:

1. Promessas

“Não executarei a minha ira impetuosa, não tornarei a destruir Efraim. Pois sou Deus, e não homem, o
Santo no meio de vocês. Não virei com ira. Eles seguirão o Senhor; ele rugirá como leão. Quando ele
rugir, os seus filhos virão tremendo desde o Ocidente. Virão voando do Egito como aves, da Assíria como
pombas. Eu os estabelecerei em seus lares"; palavra do Senhor.”
Oséias 11:9-11

1. Amando

"Eu curarei a infidelidade deles e os amarei de todo o meu coração, pois a minha ira desviou-se deles.
Oséias 14:4

1. Renovando

Os que habitavam à sua sombra voltarão. Reviverão como o trigo. Florescerão como a videira, e a fama
de Israel será como o do vinho do Líbano.Oséias 14:7
1. Dando glórias

seus brotos crescerão. Seu esplendor será como o da oliveira, sua fragrância como a do cedro do Líbano.
Oséias 14:6

Logo, aprendemos com este sábio profeta que a misericórdia de Deus é infinita e
incompreensível ao raciocínio humano.
PROFETA ZACARIAS

Sobre o profeta

No oitavo mês do segundo ano de Dario veio a palavra do SENHOR ao profeta Zacarias, filho de Baraquias, filho
de Ido, dizendo: O Senhor se irou fortemente contra vossos pais.
Zacarias 1:1,2

Seu nome significa “Lembrado por Deus”. Há 28 Zacarias na Bíblia, o mais conhecido sendo
o profeta Zacarias, mencionado tanto em Ageu quanto no livro de Esdras:

E os profetas Ageu e Zacarias, filho de Ido, profetizaram aos judeus que estavam em Judá, e em Jerusalém; em
nome do Deus de Israel lhes profetizaram.
Esdras 5:1

O relato de Esdras provavelmente chama-o de filho de Ido porque seu pai havia morrido
quando ainda era uma criança, o que explica o motivo de retornar, ainda jovem, para
Jerusalém. Zacarias é um profeta pós exílico, porém é impossível determinar por quanto
tempo durou seu ministério. Sabe-se, entretanto, que seus últimos oráculo distanciam-se
bastante do primeiro, e que morreu em avançada idade.

Contexto

No oitavo mês do segundo ano de Dario veio a palavra do SENHOR ao profeta Zacarias, filho de Baraquias, filho
de Ido, dizendo:
Zacarias 1:1

Zacarias é chamado de o profeta da restauração ou da reconstrução, e seu ministério iniciou-


se aproximadamente no ano 520 a.C., cerca de dois meses depois da primeira profecia de
Ageu, durante a reconstrução do templo.

No segundo ano do rei Dario, no sexto mês, no primeiro dia do mês, veio a palavra do SENHOR, por intermédio
do profeta Ageu, a Zorobabel, filho de Sealtiel, governador de Judá, e a Josué, filho de Jozadaque, o sumo
sacerdote, dizendo:
Ageu 1:1

Do mesmo modo que Ageu encorajou os chefes e o povo de Judá a prosseguirem com vigor
na reconstrução do templo, assim o profeta Zacarias começa seu ministério profético com a
admoestação de retorno sincero a Deus.

"O Senhor muito se irou contra os seus antepassados. Por isso diga ao povo: Assim diz o Senhor dos Exércitos:
‘Voltem para mim, e eu me voltarei para vocês’, diz o Senhor dos Exércitos. Não sejam como os seus
antepassados aos quais os antigos profetas proclamaram: Assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Deixem os seus
caminhos e as suas más obras. Mas eles não me ouviram nem me deram atenção’, declara o Senhor. Onde estão
agora os seus antepassados? E os profetas, acaso vivem eles para sempre? Mas as minhas palavras e os meus
decretos, que ordenei aos meus servos, os profetas, alcançaram os seus antepassados e os levaram a converter-
se e a dizer: ‘O Senhor dos Exércitos fez conosco o que os nossos caminhos e práticas mereciam, conforme
prometeu’ ". No dia vigésimo quarto do décimo primeiro mês, o mês de sebate, no segundo ano do reinado de
Dario, a palavra do Senhor veio ao profeta Zacarias, filho de Berequias e neto de Ido: Durante a noite tive uma
visão; apareceu na minha frente um homem montado num cavalo vermelho. Ele estava parado entre as murtas
num desfiladeiro. Atrás dele havia cavalos vermelhos, marrons e brancos. Então perguntei: Quem são estes, meu
senhor? O anjo que estava falando comigo respondeu: "Eu lhe mostrarei quem são". Então o homem que estava
entre as murtas explicou: "São aqueles que o Senhor enviou por toda a terra". E eles relataram ao anjo do Senhor
que estava entre as murtas: "Percorremos toda a terra e a encontramos em paz e tranqüila". Então o anjo do
Senhor respondeu: "Senhor dos Exércitos, até quando deixarás de ter misericórdia de Jerusalém e das cidades
de Judá, com as quais estás indignado há setenta anos? " Então o Senhor respondeu palavras boas e
confortadoras ao anjo que falava comigo. E o anjo me disse: "Proclame: Assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Eu
tenho sido muito zeloso com Jerusalém e Sião, mas estou muito irado contra as nações que se sentem seguras.
Porque eu estava apenas um pouco irado com meu povo, mas elas aumentaram a dor que ele sofria! ’
Zacarias 1:2-15

A declaração do versículo dois esclarece a razão da intimação ao povo para se voltarem ao


Senhor dos exércitos. Por essa razão a intimação é colocada antes da intimidação, o Senhor
esteve muito irado contra os pais, e aqueles que estão vivos agora devem arrepender-se.

O verbo “irar” que aparece no versículo dois é bastante enfático no hebraico. Esse é o motivo
de ele ser traduzido pela expressão “se irou fortemente” ou “ao extremo”. A nação sofreu essa
ira de Deus na destruição do reino de Judá, 70 anos antes. A ira do Senhor declarada no
versículo 15 não é da mesma espécie daquela ira. Isso não se refere à sua intensidade, mas
à sua duração.

A motivação ao arrependimento segue como consequência necessária do que foi declarado


nos versículos anteriores, não fazendo referência aos “pais”, mas sim aos contemporâneos
do profeta. Isso não implica uma apostasia geral do povo, mas sim que sua volta não era
completa de coração.

Aos contemporâneos do profeta, poderia parecer que a morte de seus pais a tanto tempo
implicava que os eventos do passado nada tinham a ver com a presente geração. Zacarias
contradiz essa objeção argumentando “Onde estão agora os seus antepassados? E os
profetas, acaso vivem eles para sempre? Mas as minhas palavras e os meus decretos, que
ordenei aos meus servos, os profetas, alcançaram os seus antepassados e os levaram a
converter-se e a dizer: ‘O Senhor dos Exércitos fez conosco o que os nossos caminhos e
práticas mereciam, conforme prometeu’ ". (Zacarias 1:5,6).

A mensagem da profecia

O tema do livro de Zacarias é o Reino de Deus, apresentado com variações entrelaçadas


com outros temas. A relação de Jerusalém com o Reino é a linha de pensamento que percorre
todo o livro.

A reconstrução do templo representa claramente a intenção de Deus habitar naquela cidade


que Ele escolheu e que será a peça decorativa dos acontecimentos daquele dia. Quando
Jerusalém será exaltada e confirmada, Sião será exaltado e triunfará sobre o mundo dos
gentios.

As visões do livro

O livro apresenta aproximadamente oito visões.


A primeira visão (1:7-17):

O abalo dos reinos do mundo previsto por Ageu iria ocorrer em breve, não obstante o fato de
que toda a terra estava em repouso e tranquila naquele tempo. Contudo, Sião será redimida
da sua opressão e serão ricamente abençoados. A visão do profeta do versículo 7, embora
tenha ocorrido durante a noite, não foi em sonho: ele estava acordado, em estado de êxtase:

“No dia vigésimo quarto do décimo primeiro mês, o mês de sebate, no segundo ano do reinado de Dario, a palavra
do Senhor veio ao profeta Zacarias, filho de Berequias e neto de Ido:Durante a noite tive uma visão; apareceu na
minha frente um homem montado num cavalo vermelho. Ele estava parado entre as murtas num desfiladeiro.
Atrás dele havia cavalos vermelhos, marrons e brancos. Então perguntei: Quem são estes, meu senhor? O anjo
que estava falando comigo respondeu: "Eu lhe mostrarei quem são". Então o homem que estava entre as murtas
explicou: "São aqueles que o Senhor enviou por toda a terra". E eles relataram ao anjo do Senhor que estava
entre as murtas: "Percorremos toda a terra e a encontramos em paz e tranqüila". Então o anjo do Senhor
respondeu: "Senhor dos Exércitos, até quando deixarás de ter misericórdia de Jerusalém e das cidades de Judá,
com as quais estás indignado há setenta anos? " Então o Senhor respondeu palavras boas e confortadoras ao
anjo que falava comigo. E o anjo me disse: "Proclame: Assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Eu tenho sido muito
zeloso com Jerusalém e Sião, mas estou muito irado contra as nações que se sentem seguras. Porque eu estava
apenas um pouco irado com meu povo, mas elas aumentaram a dor que ele sofria! ’ "Por isso, assim diz o Senhor:
‘Estou voltando-me para Jerusalém com misericórdia, e ali o meu templo será reconstruído. A corda de medir será
esticada sobre Jerusalém’, declara o Senhor dos Exércitos. "Diga mais: Assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘As
minhas cidades transbordarão de prosperidade novamente, e o Senhor consolará novamente a Sião e escolherá
Jerusalém’ "”
Zacarias 1:7-17

Segunda visão (1:18-21)

Depois eu olhei para o alto, e vi quatro chifres. Então perguntei ao anjo que falava comigo: "O que são estes? "
Ele me respondeu: "Estes são os chifres que dispersaram Judá, Israel e Jerusalém". Depois o Senhor mostrou-
me quatro artesãos. Eu perguntei: "O que eles vêm fazer? " Ele respondeu: "Estes são os chifres que dispersaram
Judá a ponto de ninguém sequer conseguir levantar a cabeça, mas os artesãos vieram aterrorizar e quebrar esses
chifres das nações que se levantaram contra o povo de Judá para dispersá-lo".
Zacarias 1:18-21

Enquanto a primeira visão fala de zelo, graça e consolo, a segunda visão trata da ira de Deus
contra as nações rebeldes, anunciando julgamento contra aqueles que serviram de
julgamento anteriormente para derramar sua ira.

Terceira visão (2:1-13)

Olhei em seguida, e vi um homem segurando uma corda de medir. Eu lhe perguntei: "Aonde você vai? " Ele me
respondeu: "Vou medir Jerusalém para saber o seu comprimento e a sua largura". Então o anjo que falava comigo
retirou-se, e outro anjo foi ao seu encontro e lhe disse: "Corra e diga àquele jovem: ‘Jerusalém será habitada como
uma cidade sem muros por causa dos seus muitos habitantes e rebanhos. E eu mesmo serei para ela um muro
de fogo ao seu redor’, declara o Senhor, ‘e dentro dela serei a sua glória’. "Atenção! Atenção! Fujam da terra do
norte", declara o Senhor, "porque eu os espalhei aos quatro ventos da terra", diz o Senhor. "Atenção, ó Sião!
Escapem, vocês que vivem na cidade da Babilônia! orque assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Ele me enviou para
buscar a sua glória entre as nações que saquearam vocês, porque todo o que neles tocar, toca na pupila dos
olhos dele’. Certamente levantarei a minha mão contra elas de forma que serão um espólio para os seus servos.
Então vocês saberão que foi o Senhor dos Exércitos que me enviou. "Cante e alegre-se, ó cidade de Sião! Porque
venho fazer de você a minha habitação", declara o Senhor. "Muitas nações se unirão ao Senhor naquele dia e se
tornarão meu povo. Então você será a minha habitação e você reconhecerá que o Senhor dos Exércitos me enviou
a você. O Senhor herdará Judá como sua propriedade na terra santa e escolherá de novo Jerusalém. Aquietem-
se todos perante o Senhor, porque ele se levantou de sua santa habitação".”
Zacarias 2:1-13

Esta visão mostra que Deus repovoará e protegerá Jerusalém, e habitará nela assim que o
templo estiver reconstruído. A cidade se expandirá além de seus limites, e não terá muralhas
porque o Senhor mesmo será o muro de fogo ao seu redor, e será glória para ela.

Esta visão está relacionada à profecia de 2 Samuel 7:2-13:

Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a
tua descendência, o qual sairá das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu
nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre.
2 Samuel 7:12,13

Essa visão só será compreendida se entendermos que as figuras de expansão do reino e


habitação de Deus entre o povo fazem referência ao Reino de Deus a partir do sacrifício
expiatório de Cristo.

Quarta visão (3:1-10)

Depois disso ele me mostrou o sumo sacerdote Josué diante do anjo do Senhor, e Satanás, à sua direita, para
acusá-lo. O anjo do Senhor disse a Satanás: "O Senhor o repreenda, Satanás! O Senhor que escolheu Jerusalém
o repreenda! Este homem não parece um tição tirado do fogo? " Ora, Josué, vestido de roupas impuras, estava
de pé diante do anjo. O anjo disse aos que estavam diante dele: "Tirem as roupas impuras dele". Depois disse a
Josué: "Veja, eu tirei de você o seu pecado, e coloquei vestes nobres sobre você". Disse também: "Coloquem um
turbante limpo em sua cabeça". Colocaram o turbante nele e o vestiram, enquanto o anjo do Senhor observava.
O anjo do Senhor exortou a Josué, dizendo: "Assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘Se você andar nos meus
caminhos e obedecer aos meus preceitos, você governará a minha casa e também estará encarregado das minhas
cortes, e eu lhe darei um lugar entre estes que estão aqui." ‘Ouçam bem, sumo sacerdote Josué e seus
companheiros sentados diante de você, homens que prefiguram coisas que virão: Vou trazer o meu servo, o
Renovo. Vejam a pedra que coloquei na frente de Josué! Ela tem sete pares de olhos, e eu gravarei nela uma
inscrição’, declara o Senhor dos Exércitos, ‘e removerei o pecado desta terra num único dia. " ‘Naquele dia’,
declara o Senhor dos Exércitos, ‘cada um de vocês convidará seu próximo para assentar-se debaixo da sua videira
e debaixo da sua figueira’ ".
Zacarias 3:1-10

O sujeito do verbo “mostrar” não é bem definido no texto original em hebraico. Aqui, o termo
poderia fazer referência tanto a Deus quanto ao Anjo do Senhor, apesar de que muitos
afirmam que é realmente Deus.

O anjo do Senhor, uma teofania, faz o papel de sacerdote no julgamento do templo. Josué
não é acusado de um pecado pessoal, mas de negligência na reconstrução do templo. Josué
representava o sacerdócio e também o povo, seu veredito misericordioso reflete a
misericórdia de Deus para com seu povo.

Quinta visão (4:1-14)

E o anjo que falava comigo voltou, e despertou-me, como a um homem que é despertado do seu sono, E disse-
me: Que vês? E eu disse: Olho, e eis que vejo um castiçal todo de ouro, e um vaso de azeite no seu topo, com as
suas sete lâmpadas; e sete canudos, um para cada uma das lâmpadas que estão no seu topo. E, por cima dele,
duas oliveiras, uma à direita do vaso de azeite, e outra à sua esquerda. E respondi, dizendo ao anjo que falava
comigo: Senhor meu, que é isto? Então respondeu o anjo que falava comigo, dizendo-me: Não sabes tu o que é
isto? E eu disse: Não, senhor meu. E respondeu-me, dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo:
Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos. Quem és tu, ó grande
monte? Diante de Zorobabel tornar-te-ás uma campina; porque ele trará a pedra angular com aclamações: Graça,
graça a ela. E a palavra do Senhor veio novamente a mim, dizendo: As mãos de Zorobabel têm lançado os
alicerces desta casa; também as suas mãos a acabarão, para que saibais que o Senhor dos Exércitos me enviou
a vós. Porque, quem despreza o dia das coisas pequenas? Pois esses se alegrarão, vendo o prumo na mão de
Zorobabel; esses são os sete olhos do Senhor, que percorrem por toda a terra. Respondi mais, dizendo-lhe: Que
são as duas oliveiras à direita e à esquerda do castiçal? E, respondendo-lhe outra vez, disse: Que são aqueles
dois ramos de oliveira, que estão junto aos dois tubos de ouro, e que vertem de si azeite dourado? E ele me falou,
dizendo: Não sabes tu o que é isto? E eu disse: Não, senhor meu. Então ele disse: Estes são os dois ungidos,
que estão diante do Senhor de toda a terra.
Zacarias 4:1-14

Esta visão revela que a restauração do templo e dos ofícios sacerdotais seria algo
extraordinário, de forma que não faltaria ali o azeite. A visão aqui envolve Zorobabel, e tem o
significado e alcance para todos que habitam na obra de Deus, demonstrando que o trabalho
não depende de força, poder ou habilidades humanas, mas de Seu Espírito.

Sexta visão (5:1-4)

E outra vez levantei os meus olhos, e vi, e eis um rolo volante. E disse-me o anjo: Que vês? E eu disse: Vejo um
rolo volante, que tem vinte côvados de comprido e dez côvados de largo. Então disse-me: Esta é a maldição que
sairá pela face de toda a terra; porque qualquer que furtar será desarraigado, conforme está estabelecido de um
lado do rolo; como também qualquer que jurar falsamente, será desarraigado, conforme está estabelecido do outro
lado do rolo. Eu a farei sair, disse o Senhor dos Exércitos, e ela entrará na casa do ladrão, e na casa do que jurar
falsamente pelo meu nome; e permanecerá no meio da sua casa, e a consumirá juntamente com a sua madeira
e com as suas pedras.
Zacarias 5:1-4

A descrição do rolo, bem como suas medidas, enfatizam tanto a atualidade quanto a origem
divina da mensagem apresentada a Zacarias. O oráculo faz uma pesada advertência contra
as iniquidades, revelando um grande julgamento ao qual o povo estaria sujeito.

Sétima visão (5:5-11)

E saiu o anjo, que falava comigo, e disse-me: Levanta agora os teus olhos, e vê que é isto que sai. E eu disse:
Que é isto? E ele disse: Isto é um efa que sai. Disse ainda: Este é o aspecto deles em toda a terra. E eis que foi
levantado um talento de chumbo, e uma mulher estava assentada no meio do efa. E ele disse: Esta é a impiedade.
E a lançou dentro do efa; e lançou sobre a boca deste o peso de chumbo. E levantei os meus olhos, e vi, e eis
que saíram duas mulheres; e traziam vento nas suas asas, pois tinham asas como as da cegonha; e levantaram
o efa entre a terra e o céu. Então eu disse ao anjo que falava comigo: Para onde levam elas o efa? E ele me disse:
Para lhe edificarem uma casa na terra de Sinar; e, estando ela acabada, ele será posto ali na sua base.
Zacarias 5:5-11

Aqui, a visão do profeta complementa, segundo alguns teólogos, o oráculo anterior: o efa
contendo a impiedade dentro de si seria a figura dos furtam e dos que juram falsamente.

Oitava visão (6:1-8)

E outra vez levantei os meus olhos, e vi, e eis que quatro carros saiam dentre dois montes, e estes montes eram
montes de bronze. No primeiro carro eram cavalos vermelhos, e no segundo carro, cavalos pretos, E no terceiro
carro, cavalos brancos, e no quarto carro, cavalos malhados, todos eram fortes. E respondi, dizendo ao anjo que
falava comigo: Que é isto, senhor meu? E o anjo respondeu, dizendo-me: Estes são os quatro espíritos dos céus,
saindo donde estavam perante o Senhor de toda a terra. O carro em que estão os cavalos pretos, sai para a terra
do norte, e os brancos saem atrás deles, e os malhados saem para a terra do sul. E os cavalos fortes saíam, e
procuravam ir por diante, para percorrerem a terra. E ele disse: Ide, percorrei a terra. E percorreram a terra. E
chamou-me, e falou-me, dizendo: Eis que aqueles que saíram para a terra do norte fizeram repousar o meu
Espírito na terra do norte.
Zacarias 6:1-8

Em resposta à pergunta do profeta, o anjo explica que os cavalos “são os quatro espíritos dos
céus, saindo donde estavam perante o Senhor de toda a terra.”. Nota-se que os carros saem
dentre os dois montes, Sião e o Monte das Oliveiras, entre os quais fica o vale de Josafá:
aqui fica claro qual será o tipo de julgamento empregado por Deus.
ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO

1.1. Considerações iniciais

1.2. Introdução ao Novo Testamento

1.3. Quanto à divisão do Novo Testamento

1.4. O porquê dos evangelhos

1.5. Fontes e autenticidade

2. CONTEXTO HISTÓRICO

2.1. Panorama histórico do nascimento de Cristo

2.2. A configuração geo-política da Palestina

2.3. Partidos e grupos de interesse

3. O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS

3.1. Abreviatura

3.2. Datação

3.3. Autoria

3.4. Conteúdo

3.5. Esboço para estudo

3.6. O encontro do leproso com Jesus

4. O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS

4.1. Abreviatura

4.2. Datação

4.3. Autoria

4.4. Conteúdo

4.5. As cinco divisões do Evangelho de Marcos

4.6. Informações adicionais


5. O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS

5.1. Abreviatura

5.2. Datação

5.3. Autoria

5.4. Conteúdo

5.5. A face revelada de Cristo

6. O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO

6.1. Abreviatura

6.2. Datação

6.3. Autoria

6.4. Conteúdo

6.5. Sobre o evangelho de João

7. RELAÇÕES ENTRE OS EVANGELHOS

7.1. Gráfico ilustrativo

7.2. Paralelismos

7.3. Síntese dos evangelhos


INTRODUÇÃO

Considerações iniciais:
Havia um homem chamado Lázaro. Ele
era de Betânia, do povoado de Maria e de
sua irmã Marta. E aconteceu que Lázaro
ficou doente.
Maria, sua irmã, era a mesma que
derramara perfume sobre o Senhor e lhe
enxugara os pés com os cabelos.
João 11:1,2

A Bíblia Sagrada é a memória de Deus manifestada em forma de texto. Ela é


o relato das obras do Senhor na história do mundo. Assim como o resto das Sagradas
Escrituras, os Evangelhos são textos divinamente inspirados e, portanto, inerrantes
em suas verdades.

Conforme Deus assim o quis, os autores foram dotados da sabedoria


proveniente do Espírito Santo para relatar aquilo que havia transparecido entre eles.
Apesar disso, entretanto, é importante notar que há diferenças entre os relatos:
Marcos, Marcos e Lucas não escrevem acerca da ressurreição de Lázaro, mas,
curiosamente, esse dever é dado a João.

O evangelho de João distingue-se de todos os outros: não possui genealogias,


começo ou fim. Antes que João pudesse relatar a ressurreição de Lázaro, entretanto,
seu texto teve de mencionar o nome da mulher pecadora que enxuga os pés de Cristo
com seus cabelos. Por vezes, aquilo que nos parece irrelevante é de alta importância
para Deus.

Introdução ao Novo Testamento:

Os evangelhos estão cheios de revelações acerca da pessoa de Jesus Cristo,


seus ensinamentos e também seus princípios. São, ao todo, quatro: Mateus, Marcos,
Lucas e João.

Em seus primórdios, o cristianismo considerou que o Antigo Testamento seria


a única fonte de informação revelada a respeito de Deus. Na medida que os
evangelhos vão surgindo, trazendo o relato da chegada do Messias anunciado desde
o Éden, aquela escritura recebe a manifestação revelada do novo de Deus.

É interessante notar que não é por acaso que o Antigo Testamente recebe
esse título. No A.T., é evidente a ação de Deus contra o homem caído. Em Gênesis,
o homem decide negar o governo de Deus, vivendo de acordo com sua vontade. Por
causa disso, o Antigo Testamento é repleto de guerras e sangue: em suma, um
mundo entregue ao pecado.

Porque todos pecaram e destituídos


estão da glória de Deus;

Romanos 3:23

O Novo Testamento, entretanto, faz tudo novo por meio do retorno à Palavra.
O Evangelho de João, intitulado o “Gênesis do Novo Testamento”, inicia seu relato
por meio do Verbo encarnado.

No princípio era o Verbo, e o Verbo


estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e
sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos
homens.
E a luz resplandece nas trevas, e as
trevas não a compreenderam.

João 1:1-5

Os evangelhos contam a história da trajetória do estabelecimento deste Novo


de Deus por meio de Jesus Cristo, o Messias. Com o passar do tempo, a igreja
entende que, em Cristo, tudo se faz novo, de forma que Sua mensagem torna-se a
Boa Nova a ser espalhada por todo o mundo.

Com o passar do tempo, a Igreja, tendo entendido que em Cristo “as coisas
antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17), produziu muitos escritos
acerca da vida e da obra do Senhor, estabeleceu e transmitiu a sua doutrina e
estendeu a mensagem evangélica a regiões cada vez mais distantes da Palestina.
Dentre esses escritos foi-se destacando aos poucos um grupo de vinte e sete, que
pelos fins do séc. II começou a ser conhecido como Novo Testamento. Eram textos
redigidos na língua grega, desiguais tanto em extensão como em natureza e gênero
literário. Todos, porém, foram considerados com especial reverência como
procedentes dos apóstolos de Jesus ou de pessoas muito próximas a eles.

Os evangelhos trazem a obra, o ministério e a ação do Espírito Santo através


de Jesus Cristo. Bem aventurados são aqueles que ouvem as Boas Novas do Messias
e põe em prática o evangelho.

Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são conhecidos como Evangelhos


Sinóticos devido a conterem uma grande quantidade de histórias em comum, na
mesma sequência, e algumas vezes, utilizando exatamente a mesma estrutura e
utilizando até as mesmas palavras.

Quanto à divisão do Novo Testamento

É realmente extraordinário o número de manuscritos do Novo Testamento que


chegou a nós depois de tantos séculos desde que foram escritos. Ao todo, são mais
de 5.000. Alguns são apenas pequenos fragmentos, tão deteriorados pelo tempo e
pelas más condições ambientais, que a sua utilidade é praticamente nula. Mas são
muito mais numerosos os manuscritos que,no todo ou em parte, se conservaram num
estado suficientemente satisfatório para transmitir até o presente a sua mensagem e
testificar assim a fidelidade dos cristãos que os escreveram.

Desde o século 5d.C., o índice de livros do Novo Testamento agrupa os


seguintes títulos:

● Livros biográficos:

Relatam a biografia de Jesus Cristo. Mateus, Marcos e Lucas (chamados de


“os evangelhos sinópticos” por conta de sua afinidade e paralelismo) e o
Evangelho segundo João entram nessa categoria. São considerados
biográficos por sua visão precisa e panorâmica da vida, obra, doutrina, paixão,
morte e ressurreição de Jesus.

● Livros históricos:

Aqui encaixa-se o livro de Atos dos Apóstolos, também conhecido como Atos
do Espírito Santo, que tece um relato histórico da igreja primitiva durante o
primeiro século.

● Epístolas Paulinas:

Os títulos dessa sessão são: Romanos, primeira e segunda aos Coríntios,


Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, primeira e segunda aos
Tessalonicenses, primeira e segunda a Timóteo, Tito e Filemon.

● Epístolas Gerais ou Universais:

Aqui entram o livro de Hebreus, Tiago, primeira e segunda de Pedro, primeira,


segunda e terceira de João e Judas.

● Livros Proféticos:
O livro do Apocalipse de João.

É importante perceber que essa organização não corresponde


necessariamente à ordem cronológica de escrita ou publicação dos livros, mas sim a
um agrupamento temático acerca de seu conteúdo.

O porquê dos evangelhos:

Os evangelhos são textos maravilhosos que foram introduzidos no Novo


Testamento por motivos claros:

● São um retrato poderoso da manifestação de Cristo como Senhor e Salvador


da humanidade. Enquanto toda a Bíblia foi inspirada por Deus, há, nos
evangelhos, o caso de pessoas comuns sendo usadas para narrar os fatos
acerca da obra de Jesus, o Messias. Cada um dos autor es é diferente,
recebendo de Deus propósitos distintos para manifestar as verdades do Cristo,
enfatizando a pessoa e o ministério de Jesus.

● Para que pudéssemos ter a capacidade objetiva de verificar a veracidade do


relato da vida e obra de Jesus Cristo. Essa certeza nos capacita a compreender
melhor Aquele que será nosso advogado de defesa perante o Senhor.

● Para recompensar os investigadores diligentes. Deus permitiu que o conteúdo


de sua mensagem pudesse ser identificado rapidamente e com facilidade
através da leitura dos evangelhos. Deus recompensa o esforço dos
investigadores.

Fontes e autenticidade:

Apesar de serem bastante semelhantes em diversos aspectos, os evangelhos


possuem especificidades características de textos verossímeis. Há, no relato dos
evangelhos, uma poderosa história contada a partir de diversos pontos de vista, sinais
de autenticidade literária.

● A teoria das duas fontes

Essa é uma teoria que busca explicar a relação entre os livros sinóticos. Essa teoria
se baseia em dois pontos principais:

1. O livro de Marcos é o texto base para a escrita dos evangelhos de Mateus e


Lucas.
2. Os evangelhos de Mateus e Lucas fizeram uso de ainda mais um texto, o
documento dos discursos de Jesus, chamado de “a Fonte Q”.

A Fonte Q: é um termo criado a partir da abreviatura da palavra latim Quell, que


significa “fonte” ou “de onde se origina”. Provavelmente, tratava-se de um compilado
de falas de Cristo. Acredita-se que muitos dos textos sinóticos não presentes em
Marcos são oriundos dessa fonte. Sua existência, entretanto, não está comprovada.

Essa hipótese, entretanto, apresenta alguns pontos fracos: o grau de concordância


entre os textos de Mateus e Lucas varia bastante em certas passagens. Devido a
isso, há quem acredite que esses evangelistas retiraram suas informações de fontes
diferentes, porém semelhantes.

Há também dúvidas sobre a existência da “Fonte Q”, uma vez que ninguém tem
acesso a ele. Há também quem acredita que Lucas utilizou-se grandemente de
Mateus, o que justificaria as semelhanças. O fato indiscutível é este: o texto é a fonte
da Palavra de Deus.

● Em favor de Marcos como texto primitivo, existem os seguintes argumentos:

Marcos é o mais curto dos evangelhos sinóticos: por causa do enorme respeito
que a comunidade primitiva nutria pelo evangelista, é mais provável que viesse a ter
uma expansão de seu texto que um resumo. Por isso, é seguro presumir que o texto
mais curto é o mais antigo.

Os evangelhos de Mateus e Lucas só se assemelham na estrutura, conteúdo,


sequência e formulação do texto em algumas passagens básicas que fazem paralelo
com o evangelho de Marcos.

O evangelho de Marcos apresenta pouco material individual enquanto o texto


exclusivo de Mateus e Lucas estende-se por vários capítulos. Além disso, há um
estudo minucioso que aponta que, em comparação com Marcos, os evangelhos de
Mateus e Lucas possuem correções linguísticas de conteúdo, às vezes concordando,
às vezes não.

CONTEXTO HISTÓRICO

E aconteceu naqueles dias que saiu um


decreto da parte de César Augusto, para
que todo o mundo se alistasse (Este
primeiro alistamento foi feito sendo Quirino
presidente da Síria). E todos iam alistar-se,
cada um à sua própria cidade. E subiu
também José da Galiléia, da cidade de
Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi,
chamada Belém (porque era da casa e
família de Davi), A fim de alistar-se com
Maria, sua esposa, que estava grávida.

Lucas 2:1-5

Panorama histórico do nascimento de Cristo

Jesus nasce num cenário político bastante complicado. O povo judeu estava
sob o jugo do império Romano, Anás e Caifás se usurparam-se do espaço de sumo
sacerdote, há um aumento do desejo de sangue pelas ruas de Jerusalém e Deus
manifesta Seu próprio Filho por meio de uma palavra de salvação.

Jesus nasceu em fins do reinado de Herodes, o Grande (47 a 4 a.C.). Homem


cruel (cf. Mt 2.1-16) e, sem dúvida, inteligente, distinguiu-se pela grande quantidade
de terras e cidades que conquistou e pelas numerosas e colossais construções com
que as dotou. Entre estas, o templo de Jerusalém, do qual apenas se conservaram
uns poucos restos pertencentes à muralha ocidental (o Muro das Lamentações).

Após a morte de Herodes, o reino foi completamente dividido. Seus filhos,


Arquelau, Herodes Antipas e Filipe, assumem as principais províncias. Arquelau, que
ficou conhecido como o Etnarca da Judéia em Samaria, foi deposto pelo imperador
Augusto no ano 6 d.C., a partir de então, o governo da região esteve nas mãos de
procuradores romanos, dentre os quais estava Pôncio Pilatos, que manteve o cargo
desde 26 d.C. até 36 d.C.. No ano 37 d.C., o imperador Calígula nomeou o rei Herodes
Agripa e o colocou sobre a tetrarquia de Filipe, à qual logo acrescentou a de Herodes
Antipas.

Com a morte de Calígula seu sucessor, o imperador Cláudio, ampliou ainda


mais os territórios de Agripa com a anexação da Judeia e Samaria. É interessante
notar que foi Antipas quem mandou matar João Batista e Agripa foi quem perseguiu
a igreja em Jerusalém, que culminou na morte de Tiago e na prisão de Pedro.

O Novo Testamento fala também de outro Herodes Agripa, filho do anterior,


que, acompanhado de sua irmã e sua mulher, Berenice, escutou o discurso de Paulo
em Cesaréia e teve um encontro sobrenatural com o Evangelho. Por trás de todos
esses personagens políticos, Roma permanecia vigilante.

Durante a vida de Jesus até a o momento da destruição de Jerusalém no ano


70, sucederam-se em Roma pelo menos 7 imperadores, a chamada era dos Césares.
Três deles são mencionados no texto bíblico: Augusto, Tibério e Cláudio. Há ainda
um quarto, Nero, que não é mencionado propriamente, mas é feita referência a ele.
A região da Palestina fazia parte do Império Romano desde o ano 63 a.C.,
significando que não havia independência nacional, mas sim um tipo de escravidão
dos povos a Roma. Dois longos séculos de agitação política se passaram, e toda a
nação ficou exposta a uma prostração moral de vergonha. Nesse meio tempo, o
avivamento de Deus está chegando, e Cristo vem para trazer vida, paz e esperança.

A configuração geo-política da Palestina:

O Jordão é o rio da Palestina. Nasce no monte Hermom e percorre o país de


norte a sul, dividindo-o em dois: a Cisjordânia, ou o lado ocidental, e a Transjordânia,
ou lado oriental. Depois de atravessar o mar da Galiléia, corre serpenteante ao longo
de uma depressão geológica cada vez mais profunda, até desembocar no mar Morto,
a uns 110 km do lugar do seu nascimento e a quase 400 m abaixo do nível do
Mediterrâneo.

Os relatos dos evangelistas oferecem uma espécie de retrato da forma de vida


dos judeus de então. As parábolas de Jesus e as ocorrências nos percursos que fez
pela Palestina destacam a importância que, naquela sociedade, representavam os
trabalhos do campo. A semeadura e a colheita de cereais, o plantio de vinhas e a
colheita de uvas, a produção hortícola e as referências à oliveira, à figueira e a outras
árvores são dados reveladores de uma cultura basicamente agrária, completada com
a criação de rebanhos de ovelhas e cordeiros, de animais de carga e, inclusive, de
manadas de porcos. Por outro lado, a pesca ocupava um lugar importante na
atividade dos moradores que viviam nas aldeias costeiras do mar da Galiléia.

A religião e a política caminham juntas no mundo judaico. Eram dois


componentes de uma só realidade, expressa no sentimento nacionalista que brotava
da mesa fonte, a fé no Deus de Abraão, Isaque e Jacó. A história do povo de Israel é
a história de sua fé em Deus; e a sua fé é a fé e, que Deus governa toda a sua história.

O sumo sacerdote em exercício no dia de Jesus era quem presidia o sinédrio,


o órgão jurídico administrativo máximo da nação. O sinédrio era um conselho de
formado por 71 membros que representavam três grupos político-religiosos. Esse
conselho gozava de todas as competências de um governo autônomo, salvo as que
eram exclusivamente exercidas por Roma.

Partidos e grupos de interesse

● Fariseus:

Eram os representantes mais rigorosos da espiritualidade judaica. Com sua


insistência na observação estrita da lei mosaica e da tradição dos
antepassados, exerciam uma forte influência sobre o povo. Jesus
veementemente reprova o zelo farisaico ao ritual religioso em seus aspectos
mais insignificantes, esquecendo-se dos valores espirituais que deram origem
a esse ritual em primeiro lugar.

● Saduceus:

Representavam a aristocracia nos dias de Israel. Esse partido mais reduzido


era formado em grande parte pelas poderosas famílias dos sumo sacerdotes.
Na sua doutrina, em contraste com os fariseus, mantinham a crença de não
haver ressurreição, nem anjo, nem espírito, nem nada.

● Zelotes:

Eram um grupo judaico nacionalista que se rebelou contra Roma e queriam


revolução armada a qualquer custo. Os zelotes também eram conhecidos
como cananitas, e desempenharam um papel muito ativo na rebelião entre os
anos 66 e 70 d.C..

● Herodianos:

Não se sabe exatamente a quem o texto se referia ao citar os herodianos;


Provavelmente se tratavam de pessoas a serviço de herodes, ou partidários
de sua dinastia.

● Escribas e mestres da lei ou Rabinos:

Um grupo profissional encarregado de instruir o povo nas matérias da religião.


Não pertenciam, em geral, à classe sacerdotal, mas eram muito influentes
como intérpretes das escrituras e dirigentes do povo.

O EVANGELHO SEGUNDO
MATEUS

Depois que Jesus nasceu em Belém da


Judéia, nos dias do rei Herodes, magos
vindos do Oriente chegaram a Jerusalém e
perguntaram: "Onde está o recém-nascido rei
dos judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e
viemos adorá-lo". Quando o rei Herodes ouviu
isso, ficou perturbado, e com ele toda a
Jerusalém. Tendo reunido todos os chefes
dos sacerdotes do povo e os mestres da lei,
perguntou-lhes onde deveria nascer o Cristo.
E eles responderam: "Em Belém da Judéia;
pois assim escreveu o profeta: ‘Mas tu, Belém,
da terra de Judá, de forma alguma és a menor
entre as principais cidades de Judá; pois de ti
virá o líder que, como pastor, conduzirá Israel,
o meu povo’ ".

Mateus 2:1-6
Abreviatura: Mt

Datação:

Provavelmente entre 50 e 75 d.C.

Autoria:

Embora este evangelho não identifique seu autor, a antiga tradição da Igreja o
atribui a Mateus, o apóstolo e antigo cobrador de impostos. Pouco se sabe
sobre ele, além de seu nome e ocupação. A tradição diz que, nos quinze anos
após a ressurreição de Jesus, ele pregou na Palestina e depois conduziu
campanhas missionárias em outras nações.

Conteúdo:

Mateus escreve seu evangelho para os judeus, mostrando Jesus como o


Messias prometido desde a antiguidade.

A ação sobrenatural do Espírito Santo ganha um destaque particular no


evangelho segundo Mateus, aparecendo amplamente em cada fase do
ministério de Jesus Cristo.

Quando se utiliza do termo filho de Deus, o evangelho de Mateus confere a


Jesus uma relação direta de mediador. Jesus é representado como Senhor da
igreja, a nova comunidade separada para viver a ética do reino dos céus.
Foi por intermédio dEle que Jesus foi concebido no ventre de Maria. Foi
também por meio dEle que o Messias foi levado ao deserto para ser tentado
anteriormente ao início de seu ministério. Seu poder preparou-o para curar e
expulsar demônios.

Esboço para estudo:

Capítulo 1:1-17 - A genealogia de Jesus

Capítulo 1:18-25 - O nascimento de Jesus

Capítulo 2:1-12 - A visitação ao menino Jesus

Capítulo 2:13-16 - A fuga para o Egito

Capítulo 2:17-18 - A matança dos inocentes

Capítulo 2:19-23 - A volta do Egito

Capítulo 3:1-10 - O batismo

Capítulo 3:11-12 - O testemunho de João

Capítulo 3:13-17 - O batismo efetivamente de Jesus

Capítulo 4 - a tentação de Jesus no deserto. Aqui é interessante perceber os


motivos que levaram o autor a relatar esse acontecimento:

● Demonstrar a conduta exemplar de um líder que sabe o que tem e para onde
vai. Jesus resistiu ao mal, permanecendo puro mesmo em meio à tentação.
Um líder pode ter cicatrizes, mas nunca feridas abertas.

● As provações são um padrão de Deus. Ela sempre vem após um período de


exaltação e tem um propósito na vida do cristão. Há três coisas que precisamos
aprender sobre as provações:

1) O diabo pode não te destruir, mas vai fazer de tudo para te deixar
mais lento e te distrair. Ele é paciente e não tem pressa, e
devemos romper com nossa vontade imediatista para podermos
resistir às suas investidas.

2) A provação destrói nosso sentimento de auto-privilégio,


ensinando-nos a tão necessária humildade.
3) A provação também fortifica a fé dos cristãos, servindo como fogo
que tempera o metal.

Capítulo 5,6 e 7 - O Sermão do Monte

Capítulo 12:22 - a cura do endemoniado cego e mudo

Capítulo 28:16 a 20 - A Grande Comissão

O encontro do leproso com Jesus

Um texto maravilhoso do evangelho de Mateus encontra-se no capítulo ed


número oito: o encontro entre Jesus e o homem leproso. O evento acontece após o
Sermão da Montanha, onde Cristo apresenta um contraste entre viver no mundo e
viver em Deus. Jesus usa, no discurso das bem aventuranças, palavras que soam
como fraqueza para os ouvidos dos ímpios, demonstrando que as verdades de sua
mensagem transcendem este mundo.

Ignorando a ordem e a lei sob a qual estava sujeito, o homem leproso


aproxima-se de Jesus que, olha para o homem prostrado em humildade, não o
apedreja, mas tem misericórdia, purificando-o.

Aqui cabe um maravilhoso paralelo com os textos de Êxodo capítulo 20, 21 e


22. Essa passagem do Antigo Testamento fala de um altar de terra onde deveria ser
depositado um sacrifício para que Deus, ouvindo o clamor do povo por sua
incapacidade de cumprir a Lei, liberasse perdão. Podemos perceber que o homem
leproso prostrado é, em si, o altar de terra sendo construído, e a adoração sincera
funciona como o sacrifício ao Senhor.

Após curar o homem, Jesus não propõe uma separação da comunidade, mas
diz ao leproso que retorne à sua congregação. O texto nos ensina que a lepra não
nos impede de adorar, isto é, de prestar culto. Porém revela-nos que adorar limpo do
pecado e da amargura é muito melhor..

O EVANGELHO SEGUNDO
MARCOS

Princípio do evangelho de Jesus Cristo, o


Filho de Deus.
Conforme está escrito no profeta Isaías:
"Enviarei à tua frente o meu mensageiro;
ele preparará o teu caminho"—
"voz do que clama no deserto: ‘Preparem
o caminho para o Senhor, façam veredas
retas para ele’ ".

Marcos 1:1-3

Abreviatura: Mc

Datação:

Cerca de 65-70 d.C. Evidências externas à Bíblia como, por exemplo, a


literatura cristã dos primeiros séculos, testemunham desde cedo a existência
do evangelho de Marcos e seu uso pelas igrejas primitivas. Marcos é
comumente considerado o primeiro evangelho a ser escrito.

Chamado evangelho de Pedro devido ao companheirismo de Marcos com o


apóstolo, a tradição revela-nos uma data mais específica para a escrita do livro:
cerca de 67 d.C., pouco após a morte de Pedro pelas mãos do imperador Nero.

Autoria:

Mesmo que o Evangelho de Marcos seja anônimo, a antiga tradição é unânime


em dizer que o autor foi João Marcos, seguidor próximo de Pedro (1Pe 5.13) e
companheiro de Paulo e Barnabé em sua primeira viagem missionária. O mais
antigo testemunho da autoria de Mc tem origem em Papias, bispo da igreja em
Hierápolis (cerca de 135-140 dC), testemunho que é preservado na História
Eclesiástica de Eusébio. Papias descreve Marcos como “intérprete de Pedro”.
Embora a igreja antiga tenha tomado cuidado em manter a autoria apostólica
direta dos Evangelhos, os pais da igreja atribuíram coerentemente este
Evangelho a Marcos, que não era um apóstolo

Marcos possuía um parentesco próximo com Barnabé. Ao contrário de Lucas,


também autor de um evangelho, foi uma testemunha ocular dos eventos da
vida de Cristo. Além disso, Marcos foi amigo pessoal do apóstolo Pedro.

Marcos escreveu seu evangelho para uma audiência pagã. Isso é demonstrado
pelo fato de o autor não incluir em seu relato informações importantes aos
judeus, como a genealogia de Jesus Cristo, Seus debates com os líderes
religiosos judeus e as referências ao Antigo Testamento. Além disso, o texto
de Marcos enfatiza um Cristo como servo sofredor, expiador dos pecados do
mundo.

Conteúdo:
O evangelho de Marcos tem como objetivo evidenciar os ensinos de Jesus. O
livro é dividido em cinco partes, estrutura comum no judaísmo, que servem
para mostrar Jesus como justo cumpridor da lei.

Marcos escreve para os romanos, mostrando Jesus como um homem


poderoso, de ação, atitude e posicionamento. É interessante notar dois
aspectos sobre o relato de Marcos: 1) sempre vamos encontrar um prólogo
relacionando as obras de Cristo às promessas feitas a Abraão e Davi 2) Seu
nascimento ressalta o cumprimento da promessa, assinalando a realeza de
Jesus e destacando sua importância para os gentios.

As cinco divisões do Evangelho de Marcos

Primeira parte:

Compreendida entre os capítulos três e sete, a primeira parte versa


sobre os ensinamentos públicos de Jesus, bem como o Sermão do
Monte.

Segunda parte:

Estendendo-se do capítulo oito ao capítulo 11, esse trecho abarca as


instruções de Jesus Cristo reproduzidas aos discípulos, bem como seu
envolvimento na obra missionária;

Terceira parte:

A terceira parte vai do capítulo 11 ao capítulo 13 e registra momentos


considerados “controversos” envolvendo Jesus, onde Ele declara Sua
natureza como Filho de Deus. Além disso, há parábolas no texto sobre
o Reino de Deus.

Quarta parte:

Inicia-se no capítulo de número 13 e termina no 18. O principal discurso


desse texto é sobre a conduta correta dos homens e mulheres que
decidem seguir a Cristo.

Quinta parte:
Esse trecho narra a viagem final até o ápice da história, detalhando os
acontecimentos que levam à crucificação e o chamado para o continuar
da missão evangelística.

Informações adicionais:

● Marcos é o menor dos quatro evangelhos, limitando-se a apenas 16 capítulos.

● Marcos não traz em seu texto genealogias ou informações acerca dos


acontecimentos que desdobravam-se “atrás das cortinas”

● É considerado o evangelho da vivacidade por sua natureza sucinta e objetiva

● Marcos não é uma biografia propriamente dita como os demais sinóticos, mas
sim uma história concisa e prática da redenção mediante o trabalho expiatório
de Cristo.

● O texto de Marcos trata Jesus como Filho do Homem, revelando seu caráter
messiânico

● Seu evangelho encoraja-nos a ter um caráter discipular frente à cruz

● Marcos traz a mensagem da esperança no sofrimento, encorajando-nos a


carregar nossa cruz.
E chamando a si a multidão, com os seus
discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser
vir após mim, negue-se a si mesmo, e
tome a sua cruz, e siga-me.
Porque qualquer que quiser salvar a sua
vida, perdê-la-á, mas, qualquer que
perder a sua vida por amor de mim e do
evangelho, esse a salvará.

Marcos 8:34,35

O EVANGELHO SEGUNDO
LUCAS
Muitos já se dedicaram a elaborar um
relato dos fatos que se cumpriram entre
nós, conforme nos foram transmitidos por
aqueles que desde o início foram
testemunhas oculares e servos da
palavra. Eu mesmo investiguei tudo
cuidadosamente, desde o começo, e
decidi escrever-te um relato ordenado, ó
excelentíssimo Teófilo, para que tenhas a
certeza das coisas que te foram
ensinadas.

Lucas 1:1-4

Abreviatura: Lc

Datação: cerca de 59-75 d.C.

Autor:

Tanto o estilo quanto a linguagem oferecem evidências convincentes de que a


mesma pessoa escreveu Lucas e Atos. “O primeiro tratado” At1.1 é, então
provavelmente, uma referência ao terceiro evangelho, como o primeira de uma
série de dois volumes. E o fato de o escrito dedicar ambos os livros a Teófilo
também demonstra solidamente uma autoria comum. Visto que a tradição de
igreja atribui com unanimidade essas duas obras de Lucas, o médico, um
companheiro próximo de Paulo (Cl 4.14; Fm 24; 2Tm 4.11), e, como as
evidências internas sustentam esse ponto de vista, não há motivos para
contestar a autoria de Lucas.

Lucas escreve seu evangelho tendo como público alvo os gregos e gentios.
Para tal, mostra Jesus Cristo como um homem perfeito, ideal, imaculado e com
propósito.

A história diz que Paulo, ferido e maltratado, sendo acolhido na causa de


Priscila e Áquila, é tratado por Lucas, médico recém chegado da faculdade,
que acaba por tornar-se auxiliador do apóstolo em suas viagens.

Lucas torna-se, então, uma espécie de jornalista investigativo que, no período


do cárcere de Paulo, pesquisa a história de Jesus, escrevendo seu Evangelho.

Conteúdo:
O evangelho de Lucas dá bastante ênfase na universalidade da mensagem
cristã. Seu relato omite muito do material estritamente judaico, isentando-se
desse tipo de discussão para focar na abrangência de Cristo.

É interessante notar que Lucas relata o nascimento de Jesus a partir do


contexto romano:
Naqueles dias César Augusto publicou
um decreto ordenando o recenseamento
de todo o império romano. Este foi o
primeiro recenseamento feito quando
Quirino era governador da Síria. E todos
iam para a sua cidade natal, a fim de
alistar-se.

Lucas 2:1-2

No décimo quinto ano do reinado de


Tibério César, quando Pôncio Pilatos era
governador da Judéia; Herodes, tetrarca
da Galiléia; seu irmão Filipe, tetrarca da
Ituréia e Traconites; e Lisânias, tetrarca
de Abilene;

Lucas 3:1

O evangelho de Lucas traz a mensagem da manifestação do Cristo revelado


entre nós: Jesus Cristo é a postura do homem ideal e há um destaque poderoso
de que Ele é o messias, o Senhor Exaltado.

Lucas frisa bastante a ação do Espírito Santo: há pelo menos 16 referências


ao Espírito Santo, desde o nascimento de Cristo, passando pelo seu confronto
com Satanás no deserto até sua morte na cruz.

Lucas também apresenta trechos chamados Pérolas do Evangelho de Lucas,


uma série de cânticos entoados por personagens da narrativa evangélica:

A canção de Maria:

Disse então Maria: A minha alma engrandece ao Senhor,


E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador;
Porque atentou na baixeza de sua serva; Pois eis que desde agora todas as
gerações me chamarão bem-aventurada,
Porque me fez grandes coisas o Poderoso; E santo é seu nome.
E a sua misericórdia é de geração em geração Sobre os que o temem.
Com o seu braço agiu valorosamente; Dissipou os soberbos no pensamento
de seus corações.
Depôs dos tronos os poderosos, E elevou os humildes.
Encheu de bens os famintos, E despediu vazios os ricos.
Auxiliou a Israel seu servo, Recordando-se da sua misericórdia;
Como falou a nossos pais, Para com Abraão e a sua posteridade, para sempre.
(Lucas 1:46-55)

A profecia de Zacarias:

Bendito o Senhor Deus de Israel, Porque visitou e remiu o seu povo,


E nos levantou uma salvação poderosa Na casa de Davi seu servo.
Como falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio do mundo;
Para nos livrar dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos odeiam;
Para manifestar misericórdia a nossos pais, E lembrar-se da sua santa aliança,
E do juramento que jurou a Abraão nosso pai,
De conceder-nos que, Libertados da mão de nossos inimigos, o serviríamos
sem temor,
Em santidade e justiça perante ele, todos os dias da nossa vida.
E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, Porque hás de ir ante a
face do Senhor, a preparar os seus caminhos;
Para dar ao seu povo conhecimento da salvação, Na remissão dos seus
pecados;
Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, Com que o oriente do alto nos
visitou;
Para iluminar aos que estão assentados em trevas e na sombra da morte; A
fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.
(Lucas 1:68-79)

A canção de Simeão:

Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, Segundo a tua palavra;


Pois já os meus olhos viram a tua salvação,
A qual tu preparaste perante a face de todos os povos;
Luz para iluminar as nações, E para glória de teu povo Israel.
(Lucas 2:29-32)

A face revelada de Cristo

Os quatro evangelhos manifestam a face revelada de Cristo segundo a visão


de Ezequiel. O evangelho de Lucas, entretanto, vai trazer a coordenação exegética
dos fatos necessária para atingirmos uma explicação mais detalhada sobre o tema.

E tinham mãos de homem debaixo das suas


asas, aos quatro lados; e assim todos quatro
tinham seus rostos e suas asas.
Uniam-se as suas asas uma à outra; não se
viravam quando andavam, e cada qual andava
continuamente em frente.
E a semelhança dos seus rostos era como o
rosto de homem; e do lado direito todos os
quatro tinham rosto de leão, e do lado
esquerdo todos os quatro tinham rosto de boi;
e também tinham rosto de águia todos os
quatro.

Ezequiel 1:8-10

● O evangelho segundo Mateus:

No evangelho de Mateus, Jesus Cristo é apresentado como rei, isto é, como o Leão.
Jesus é Aquele que reina e governa, fazendo-o por direito. Há a manifestação do rei
como a raiz de Davi e Jessé, filho de Abraão.

● O evangelho segundo Marcos:

Marcos apresenta Jesus como o Servo Sofredor, isto é, o boi que conduz a carga.
Por essa razão, Marcos não possui uma genealogia. Seu foco é ressaltar a servitude
e a alegria no sofrimento do empenho realizado em prol da salvação.

● O evangelho segundo Lucas:

Lucas apresenta Jesus como o Filho do Homem, isto é, a face do homem. Nesse
texto[ há o foco na universalidade do evangelho para tanto judeus como gentios. A
humanidade de Jesus é apresentada de forma que tudo gira em torno da semente da
mulher. A genealogia de Lucas é diferente da de Mateus, apresentando Jesus como
humano, não como rei.

● O evangelho segundo João:

João retrata o Filho de Deus, o Verbo manifestado: a face da Águia. A águia simboliza
a grandeza e majestade, além de também representar o processo de renovação.
Assim como Marcos, João não relata a genealogia de Cristo, focando em sua
eternidade.

O EVANGELHO SEGUNDO
JOÃO
No princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e
sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos
homens.
E a luz resplandece nas trevas, e as
trevas não a compreenderam.

João 1:1-5
Abreviação: Jo

Datação: cerca de 85 d.C.

Autoria:

O apóstolo João. O Evangelho Segundo João não pode ser contado entre os
sinópticos, porque João quis mostrar Jesus de outro ângulo. Ele fala de Deus,
Criador do mundo, que se fez carne e habitou entre nós. Fala dos milagres e
dos ensinos de Jesus, mas para provar que Jesus é Deus.

Amplamente conhecido como o Gênesis do Novo Testamento, João escreve


para a igreja, com o foco único de prevenir o povo de Cristo contra as heresias.
Seu texto mostra Jesus como o Deus que Se fez homem.

Uma grande diferença entre este e os sinópticos é que eles possuem uma
mensagem evangelística, isto é, para homens não espirituais. Já João traz uma
mensagem espiritual para a igreja de Cristo.

Conteúdo:
Jesus, pois, operou também em
presença de seus discípulos muitos
outros sinais, que não estão escritos
neste livro.
Estes, porém, foram escritos para que
creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de
Deus, e para que, crendo, tenhais vida
em seu nome.

João 20:30,31
O evangelho de João apresenta um conteúdo muito mais teológico sobre o
significado das verdades de Cristo. O autor foca nas atividades do Filho de Deus
manifesto, o Verbo, enfatizando a divindade de Jesus ao descrevê-lo como Senhor e
Deus. João também enfatiza a humanidade de Jesus, desmentindo a crença gnóstica
de que Cristo era apenas espírito, sem ter se manifestado em carne.

É interessante notar a diferença entre o relato de milagres nos evangelhos


sinóticos e no texto de João. Os sinóticos sintetizam o relato dos milagres, de forma
que o ato sucinto seja suficiente. João, ao contrário, dedica um amplo espaço aos
acontecimentos, não relatando-os de forma rápida, mas gravitando em torno do
milagre, mostrando a importância da manifestação do Verbo encarnado.

Em João, tuto serve como base de doutrina, sempre exaltando Jesus. Assim
sendo, a cura do cego de nascença ocupa todo o capítulo nove, a ressurreição de
Lázaro, todo o capítulo 11. A primeira multiplicação tem continuidade do sermão de
Jesus onde se apresenta como pão descido do céu.

A última semana de Jesus também é relatada de maneira diferente entre João


e os sinóticos:

● Mateus, Marcos e Lucas utilizam-se de cerca de ⅓ de seu relato para tratar da


última semana de Jesus
● Já João dedicou ½ do evangelho, 7 capítulos, para relatar cada pedaço desse
acontecimento.

É bastante provável que o autor tenha conhecido os textos sinóticos, optando


por não seguir seu padrão. Algumas das diferenças entre João e os outros
evangelhos se dá no relato das parábolas: em vez de parábolas familiares, João tem
discursos mais intensos. Em vez de vários milagres e curas, ele faz uso de sete
milagres cuidadosamente escolhidos para apresentá-los como sinais.

João foca muito na divindade de Deus. De fato, a expressão “Eu Sou” usada
para fazer referência a Cristo encontra-se apenas nesse evangelho. Há também uma
forte presença do Espírito Santo, atuando desde o nascimento de Jesus e que
continuará a fazê-lo até o fim dos tempos.

RELAÇÕES ENTRE
OS EVANGELHOS

Gráfico ilustrativo:
Paralelismos:

Os materiais de Mateus, Marcos e Lucas compartilham muitas características em


comum, ao ponto que alguns estudiosos acreditam que Mateus inspirou-se nos
escritos de Marcos, isto é, em seu evangelho, e Lucas fez uso dos dois em seu relato.

Tripla tradição: parte presente em quase todos os evangelhos, algumas vezes com
pequenas variações de narrativa.
Mateus e Lucas: maior parte do Sermão da Montanha e a maioria das parábolas.
Marcos e Mateus: a morte de João Batista, diversos milagres e também a narração
da morte de Jesus.
Marcos e Lucas:A expulsão do espírito imundo em Cafarnaum..
Apenas Marcos: a Parábola da Semente, a cura do surdo-mudo em Decápolis e a
cura do cego de Betsaida e alguns outros versos.
Apenas Mateus: adições ao Sermão da Montanha, a parábola do Credor
Incompassivo, a parábola das Ervas Daninhas, a parábola dos Trabalhadores da
Vinha, a profecia do julgamento final e o suicídio de Judas Iscariotes. Mateus também
relata que o túmulo de Jesus foi guardado por soldados e que o Cristo entrou em
Jerusalém com dois animais.
Apenas Lucas: o relato do ladrão crucificado que, arrependido, recebe a promessa de
entrar no Paraíso. Lucas também apresenta a parábola do Bom Samaritano.
O evangelho de João também possui relatos específicos: as Bodas de Caná na
Galileia, a experiência de Nicodemus com Jesus Cristo, a manifestação de Cristo
como o pão da vida, a ressurreição de Lázaro entre outros.

Síntese dos evangelhos:

Mateus: tradicionalmente reconhecido como o primeiro evangelho a ser escrito, focou


na manifestação de Cristo aos judeus. Nesse texto prevalece o aspecto doutrinal,
sempre destacando as palavras de Jesus

Marcos: o evangelho mais curto, mais prático e com foco nos fatos “brutos”. Aqui
Jesus é chamado de Filho do Homem, ressaltando sua condição de Servo sofredor.

Lucas: destinado àqueles que não eram judeus, esse evangelho é uma obra
pesquisadora e investigativa. Aqui, Lucas destaca Jesus como Senhor justo e
bondoso. O autor também sublinha o destaque de Maria, ao ponto que Lucas é
chamado de evangelho das mulheres pela ênfase nas figuras femininas. Também é
conhecido como “evangelho da alegria” e “evangelho da bondade”.

João: escrito por volta de 70 a.C., o texto de João é independente dos outros três,
manifestando a divindade de Jesus acima de tudo. Esse evangelho complementa os
outros oferecendo uma visão de expansão. Contém apenas sete milagres, mas esses
são comentados à exaustão. João chama-os de sinais, atos que manifestam a glória,
sempre atentando-se aos significados da ação e a boa nova da pessoa de Jesus.
ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO

1.1. Autoria

1.2. Datação

1.3. O propósito de Atos

1.4. A mensagem de pentecostes

1.5. A cronologia de Atos dos Apóstolos

1.6. O exemplo dos cristãos primitivos

1.7. A expansão da Igreja aos gentios

1.8. A conversão de Paulo

2. AS VIAGENS MISSIONÁRIAS DO
APÓSTOLO PAULO

2.1. A primeira viagem missionária de Paulo

2.2. A segunda viagem missionária de Paulo

2.3. A terceira viagem missionária de Paulo

3. ESBOÇO PARA O
ESTUDO DO LIVRO

3.1. Em Jerusalém

3.2. Samaria e até os confins da Terra

3.3. A primeira viagem missionária

3.4. A segunda viagem missionária

3.5. Considerações finais


INTRODUÇÃO

“Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que


há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas,
tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria, e até aos confins da terra.”
(Atos 1:8)

Também conhecido como Atos do Espírito Santo, Atos é um livro repleto de


manifestações sobrenaturais para o estabelecimento da Igreja de Deus nos primeiros tempos
do Cristianismo.
Há quem considere Atos como uma continuação direta do Evangelho de Lucas. Sendo
ele o autor, dedicou-se a continuar suas investigações para seu investidor, Teófilo.

Autoria:

“Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo


que Jesus começou, não só a fazer, mas a
ensinar, Até ao dia em que foi recebido em cima,
depois de ter dado mandamentos, pelo Espírito
Santo, aos apóstolos que escolhera;”
(Atos 1:1,2)

A história conta-nos que Lucas, recém chegado da universidade de medicina, acaba


por ter uma experiência com o apóstolo Paulo: por causa da intensa perseguição, Paulo é
acolhido por uma família que solicita o auxílio de Lucas (talvez por suas habilidades médicas).
Paulo imprime em Lucas o caráter de Cristo, e tornando-o seu parceiro nas viagens
missionárias.

Quando Paulo é preso em Antônia por cerca de 2 anos, Lucas parte para investigar a
história de Cristo, escrevendo o evangelho que leva seu nome. Acredita-se que tenha gerado
duas cópias: uma para Teófilo, seu patrocinador, e outra para Paulo.

A história paralela revela-nos que, por vezes, o apóstolo Paulo fazia uso dos estudos
de medicina de Lucas para conseguir locomover-se em suas viagens, trocando serviços
médicos por passagem nos barcos.

A narrativa textual faz menção do autor tanto na primeira pessoa quanto na terceira,
e há indivíduos vivenciando a história juntamente com o autor cujos nomes são
desconhecidos. Se levarmos em conta a autoria de Lucas, a identidade de um desses
companheiros de viagem provavelmente é a do apóstolo Paulo.

Os pronomes pessoais constantemente empregados pelo autor indicam que os


receptores do texto sabiam quem escrevia, bem como denotam uma participação ativa do
escritor na história.

A tradição também corrobora a autoria de Lucas: a partir do segundo século, o texto


de Atos foi creditado como obra sua.
Aprendemos que Lucas é natural de Antioquia, mas alguns escritores sugerem que
possa ser original de Filipos. Foi um homem erudito, versado em hebraico e grego. Sua
presença entre os pregadores se dá na forma de um investigador e historiador, relatando o
que vê em suas jornadas.

Quanto a Teófilo, escritores acreditam que tenha sido um homem que, ao se


converter, decide buscar mais a fundo as verdades do Evangelho. Teófilo é um termo
interessante: pode significar amigo de Deus ou, de certa forma, filho de Deus. Presume-se
que Teófilo tenha sido um funcionário público grego de alta patente, um homem culto e
inteligente.

Datação:
“Mas, passados dois anos, Félix teve por
sucessor a Pórcio Festo; e, querendo Félix
comprazer aos judeus, deixou a Paulo preso.”
(Atos 24:27)

Acredita-se que o livro tenha sido escrito em aproximadamente 63 d.C.. Muito


provavelmente, a escrita da carta tenha ocorrido durante o período em que Paulo
encontrava-se em prisão.

O propósito de Atos:

“Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que


há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas,
tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria, e até aos confins da terra.”
(Atos 1:8)

O início de Atos dos Apóstolos destaca fortemente o derramar do Espírito Santo sobre
os apóstolos em Jerusalém. É da boca do próprio Cristo que eles ouvem que não devem
tomar decisão alguma sem, antes, possuírem a presença do Espírito Santo.

Havia uma palavra de Jesus sobre eles. Uma imposição para que, uma vez sob o
Espírito Santo, façam milagres e maravilhas, espalhando a palavra de Deus, mas que
permanecessem em Jerusalém até que esse momento chegasse.

Após a subida do Messias aos céus, os apóstolos reúnem-se em oração juntamente


com as mulheres. Aqui cabe uma análise do restante do capítulo a partir do versículo 15:

“Naqueles dias Pedro levantou-se entre os irmãos, um grupo de cerca de cento e vinte pessoas, e disse: "Irmãos,
era necessário que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse por boca de Davi, a respeito de Judas,
que serviu de guia aos que prenderam Jesus. Ele foi contado como um dos nossos e teve participação neste
ministério". "Porque", prosseguiu Pedro, "está escrito no Livro de Salmos: ‘Fique deserto o seu lugar, e não haja
ninguém que nele habite’; e ainda: ‘Que outro ocupe o seu lugar’. Portanto, é necessário que escolhamos um dos
homens que estiveram conosco durante todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, desde o batismo
de João até o dia em que Jesus foi elevado dentre nós às alturas. É preciso que um deles seja conosco testemunha
de sua ressurreição". Então indicaram dois nomes: José, chamado Barsabás, também conhecido como Justo, e
Matias. Depois oraram: "Senhor, tu conheces o coração de todos. Mostra-nos qual destes dois tens escolhido para
assumir este ministério apostólico que Judas abandonou, indo para o lugar que lhe era devido". Então tiraram
sortes, e a sorte caiu sobre Matias; assim, ele foi acrescentado aos onze apóstolos.”
(Atos 1:15-17,20-26)

O fato de Pedro interromper o período da oração pra falar de Judas Iscariotes e sugerir
uma substituição é algo interessante. Pedro cria um sistema de crivo para decidir quem
deverá assumir o manto de apóstolo:
“Portanto, é necessário que escolhamos um
dos homens que estiveram conosco durante
todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu
entre nós, desde o batismo de João até o dia
em que Jesus foi elevado dentre nós às
alturas. É preciso que um deles seja conosco
testemunha de sua ressurreição”
(Atos 1:21-22)

O leitor perceberá que Paulo, depois tornado apóstolo, não se encaixa nas demandas
da lista de Pedro. Aqui fica claro que nem todas as ideias proferidas em nome de Deus são
necessariamente originárias dEle. Isso também serve para nos mostrar que a Igreja é
propriedade de Jesus, não de homem algum.

A mensagem de pentecostes:

“Os que aceitaram a mensagem foram batizados,


e naquele dia houve um acréscimo de cerca de
três mil pessoas. Eles se dedicavam ao ensino
dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e
às orações. Todos estavam cheios de temor, e
muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos
apóstolos. Todos os que criam mantinham-se
unidos e tinham tudo em comum.”
(Atos 2:41-44)

Com a descida do Espírito Santo e Seu derramamento sobre os homens, houve o


cumprimento da profecia do profeta Joel. O Espírito Santo vem para capacitar a Igreja na sua
atitude de testificar do Evangelho. Ser cheio do Espírito não é apenas manifestar
externamente dons, como que numa barulhenta competição de poderes, mas possuir em si
algo que capacita o testemunho.

Pedro, agora cheio do Espírito Santo, começa, a partir de At 2:29, a discursar , dando
testemunho de Cristo para todos os que ouviam. Vale a pena notar que, findada a pregação,
o primeiro sentimento manifestado na audiência foi aflição, algo como que uma queimação
no estômago. Em outras palavras: a necessidade de arrependimento.

Podemos tirar uma valiosíssima lição da mensagem de Pedro: a pregação deve,


necessariamente, levar ao arrependimento. Uma palavra que não aponto o homem na direção
do arrependimento não é cheia do Espírito. Desta forma, a pregação jamais deve se tornar
uma sessão de autoajuda, sendo sempre confrontadora.
A cronologia de Atos dos Apóstolos:

Não há uma precisão cronológica exata sobre o livro de Atos, pois a totalidade de
dados existentes não são o suficiente para dar exatidão cronológica ao livro. Apesar disso,
as informações que temos aliadas a algumas datas constatadas e apresentadas no texto
tornam a margem de erro expressivamente menor.

● A fundação da Igreja em Jerusalém. (30 ou 33 d.C.)

● O apedrejamento de Estêvão e a dispersão da Igreja (31 ou 33 d.C.)

● A conversão de Saulo (32 ou 35 d.C.)

● A primeira visita de Paulo a Jerusalém depois da conversão (34 ou 35 d.C.)

● A conversão de Cornélio, entre (35 a 40 d.C.)

● A fundação da Igreja gentílica em Antioquia (43 d.C.)

● A segunda visita de Paulo a Jerusalém (44 d.C.)

● O concílio de Jerusalém (48 ou 50 d.C.)

● A segunda viagem missionária de Paulo: Grécia. (48 a 51 ou 50 a 53 d.C.)

● A terceira viagem missionária de Paulo: Éfeso. (53 ou 54-57 d.C.)

● Paulo chega a Éfeso (54 d.C.)

● Paulo deixa Éfeso, junho (54 d.C.)

“Mas permanecerei em Éfeso até o Pentecoste,”


(1 Coríntios 16:8)

● Paulo na Macedônia. verão e outono (57 d.C.)

“Depois de passar pela Macedônia irei visitá-los,


já que passarei por lá. Talvez eu permaneça com
vocês durante algum tempo, ou até mesmo passe
o inverno com vocês, para que me ajudem na
viagem, aonde quer que eu vá. Desta vez não
quero apenas vê-los e fazer uma visita de
passagem; espero ficar algum tempo com vocês,
se o Senhor permitir.”
(1 Coríntios 16:5-7)

● Paulo em Corinto, três meses, inverno (57 a 58 d.C.)

“Viajou por aquela região, encorajando os irmãos


com muitas palavras e, por fim, chegou à Grécia,
onde ficou três meses. Quando estava a ponto de
embarcar para a Síria, os judeus fizeram uma
conspiração contra ele; por isso decidiu voltar
pela Macedônia,”
(Atos 20:2,3)

● Paulo deixa Filipos, abril (58 d.C.)

“Navegamos de Filipos, após a festa dos pães


sem fermento, e cinco dias depois nos reunimos
com os outros em Trôade, onde ficamos sete
dias.”
(Atos 20:6)

● Paulo chega em Jerusalém. junho. (58 ou 59 d.C.)

“Paulo tinha decidido não aportar em Éfeso, para


não se demorar na província da Ásia, pois estava
com pressa de chegar a Jerusalém, se possível
antes do dia de Pentecoste.“
(Atos 20:16)

● Paulo chega à Cesaréia. verão. (58-59 d.C.) ao outono (60 ou 61 d.C.)

● Viagem de Paulo a Roma. Inverno (60-61 ou 61-62 d.C.)

● Paulo em Roma (61-63 ou 62-64 d.C.)

O exemplo dos cristãos primitivos:

“Da multidão dos que creram, uma era a


mente e um o coração. Ninguém considerava
unicamente sua coisa alguma que possuísse,
mas compartilhavam tudo o que tinham. Com
grande poder os apóstolos continuavam a
testemunhar da ressurreição do Senhor
Jesus, e grandiosa graça estava sobre todos
eles. Não havia pessoas necessitadas entre
eles, pois os que possuíam terras ou casas as
vendiam, traziam o dinheiro da venda
e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o
distribuíam segundo a necessidade de cada
um.”
(Atos 4:32-35)

Dentro de pouco tempo, a Igreja ganha expressão, crescendo apesar da perseguição.


É importante notar o ar de generosidade e caridade que abundava entre os membros, de
forma que, por sua própria vontade, repartiam seus bens mutuamente, impedindo que
houvesse miséria em seu meio.

De fato, isso nos serve como um grande exemplo acerca de como devemos nos
relacionar com o dinheiro e os bens materiais. De nada adianta juntar para si montes de
riquezas se falta ao homem amor ao próximo. O exemplo dos primeiros cristãos nos mostra
que a riqueza deve ser vista como a oportunidade de melhorar as vidas dos irmãos.
A expansão da Igreja aos gentios:

Viu o céu aberto e algo semelhante a um


grande lençol que descia à terra, preso pelas
quatro pontas, contendo toda espécie de
quadrúpedes, bem como de répteis da terra e
aves do céu. Então uma voz lhe disse:
"Levante-se, Pedro; mate e coma". Mas Pedro
respondeu: "De modo nenhum, Senhor!
Jamais comi algo impuro ou imundo! " A voz
lhe falou segunda vez: "Não chame impuro ao
que Deus purificou".
(Atos 10:11-15)

A mensagem de Deus a Cornélio descrita no capítulo 10 mostra a Pedro a dimensão


da Igreja, que, na condição de propriedade de Deus, está muito além da sua compreensão.
Ao chegar na casa de Cornélio e ver a família e os amigos íntimos do centurião ávidos por
conhecimento, Pedro percebe que a Igreja é de Cristo, e que o Espírito Santo seria derramado
até mesmo sobre os gentios.

A conversão de Paulo

“Então Ananias foi, entrou na casa, impôs as


mãos sobre Saulo e disse: "Irmão Saulo, o
Senhor Jesus, que lhe apareceu no caminho
por onde você vinha, enviou-me para que
você volte a ver e seja cheio do Espírito
Santo". Imediatamente, algo como escamas
caiu dos olhos de Saulo e ele passou a ver
novamente. Levantando-se, foi batizado e,
depois de comer, recuperou as forças. Saulo
passou vários dias com os discípulos em
Damasco. Logo começou a pregar nas
sinagogas que Jesus é o Filho de Deus.”
(Atos 9:17-20)

A conversão de Paulo, agora ainda Saulo, é um evento maravilhoso do relato de Atos.


Vale a pena lembrar que o “crivo denominacional” criado por Pedro durante o período de
orações excluiria Paulo do apostolado, negando-lhe as credenciais necessárias para o
ministério. A experiência sobrenatural experimentada pelo ex-perseguidor de cristãos está
acima de ideias humanas, de forma que ela mesma o credencia como apóstolo, mesmo que
um “nascido fora do tempo”. De fato, é importante notar que Matias, o escolhido no crivo de
Pedro, torna-se um “obreiro da sorte”, mas Paulo, o do trabalho.
AS VIAGENS MISSIONÁRIAS
DO APÓSTOLO PAULO

"Então o Senhor me disse: ‘Vá, eu o enviarei


para longe, aos gentios’ ".
(Atos 22:21)

A primeira viagem missionária de Paulo:


Na igreja de Antioquia havia profetas e
mestres: Barnabé, Simeão, chamado Níger,
Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado
com Herodes, o tetrarca, e Saulo. Enquanto
adoravam ao Senhor e jejuavam, disse o
Espírito Santo: "Separem-me Barnabé e
Saulo para a obra a que os tenho chamado".
Assim, depois de jejuar e orar, impuseram-
lhes as mãos e os enviaram. (Atos 13:1-3)
● Roteiro:

Tendo como companheiro de viagem Barnabé, Paulo passa por uma série de cidades,
espalhando o Evangelho e performando maravilhas. Seu trajeto é: Chipre, Pafos,
Atália, Perge, Selêucia, Antioquia, Salamina, Antioquia, Icônio, Listra e Derbe.
● Chipre

“Enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre. Chegando em
Salamina, proclamaram a palavra de Deus nas sinagogas judaicas. João estava com eles como auxiliar.
Viajaram por toda a ilha, até que chegaram a Pafos. Ali encontraram um judeu, chamado Barjesus, que
praticava magia e era falso profeta. Ele era assessor do procônsul Sérgio Paulo. O procônsul, sendo
homem culto, mandou chamar Barnabé e Saulo, porque queria ouvir a palavra de Deus. Mas Elimas, o
mágico ( esse é o significado do seu nome ) opôs-se a eles e tentava desviar da fé o procônsul. Então
Saulo, também chamado Paulo, cheio do Espírito Santo, olhou firmemente para Elimas e disse: "Filho do
diabo e inimigo de tudo o que é justo! Você está cheio de toda espécie de engano e maldade. Quando é
que vai parar de perverter os retos caminhos do Senhor? Saiba agora que a mão do Senhor está contra
você, e você ficará cego e incapaz de ver a luz do sol durante algum tempo". Imediatamente vieram sobre
ele névoa e escuridão, e ele, tateando, procurava quem o guiasse pela mão. O procônsul, vendo o que
havia acontecido, creu, profundamente impressionado com o ensino do Senhor.” (Atos 13:4-12)

● Icônio

“Em Icônio, Paulo e Barnabé, como de costume, foram à sinagoga judaica. Ali falaram de tal modo que
veio a crer grande multidão de judeus e gentios. Mas os judeus que se tinham recusado a crer incitaram
os gentios e irritaram-lhes os ânimos contra os irmãos. Paulo e Barnabé passaram bastante tempo ali,
falando corajosamente do Senhor, que confirmava a mensagem de sua graça realizando sinais e
maravilhas pelas mãos deles. O povo da cidade ficou dividido: alguns estavam a favor dos judeus, outros
a favor dos apóstolos. Formou-se uma conspiração de gentios e judeus, juntamente com os seus líderes,
para maltratá-los e apedrejá-los. Quando eles souberam disso, fugiram para as cidades licaônicas de
Listra e Derbe, e seus arredores, onde continuaram a pregar as boas novas.” (Atos 14:1-7)

● Listra
“Em Listra havia um homem paralítico dos pés, aleijado desde o nascimento, que vivia ali sentado e
nunca tinha andado. Ele ouvira Paulo falar. Quando Paulo olhou diretamente para ele e viu que o homem
tinha fé para ser curado, disse em alta voz: "Levante-se! Fique de pé! " Com isso, o homem deu um salto
e começou a andar. Ao ver o que Paulo fizera, a multidão começou a gritar em língua licaônica: "Os
deuses desceram até nós em forma humana! " A Barnabé chamavam Zeus e a Paulo Hermes, porque
era ele quem trazia a palavra. O sacerdote de Zeus, cujo templo ficava diante da cidade, trouxe bois e
coroas de flores à porta da cidade, porque ele e a multidão queriam oferecer-lhes sacrifícios. Ouvindo
isso, os apóstolos Barnabé e Paulo rasgaram as roupas e correram para o meio da multidão, gritando:
"Homens, por que vocês estão fazendo isso? Nós também somos humanos como vocês. Estamos
trazendo boas novas para vocês, dizendo-lhes que se afastem dessas coisas vãs e se voltem para o
Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há. No passado ele permitiu que todas as
nações seguissem os seus próprios caminhos. Contudo, não ficou sem testemunho: mostrou sua
bondade, dando-lhes chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo-lhes sustento com fartura e
enchendo de alegria os seus corações". Apesar dessas palavras, eles tiveram dificuldade para impedir
que a multidão lhes oferecesse sacrifícios. Então alguns judeus chegaram de Antioquia e de Icônio e
mudaram o ânimo das multidões. Apedrejaram Paulo e o arrastaram para fora da cidade, pensando que
estivesse morto.” (Atos 14:8-19)

● Derbe:

“Mas quando os discípulos se ajuntaram em volta de Paulo, ele se levantou e voltou à cidade. No dia
seguinte, ele e Barnabé partiram para Derbe. Eles pregaram as boas novas naquela cidade e fizeram
muitos discípulos. Então voltaram para Listra, Icônio e Antioquia, fortalecendo os discípulos e
encorajando-os a permanecer na fé, dizendo: "É necessário que passemos por muitas tribulações para
entrarmos no Reino de Deus". Paulo e Barnabé designaram-lhes presbíteros em cada igreja; tendo orado
e jejuado, eles os encomendaram ao Senhor, em quem haviam confiado.” (Atos 14:20-23)

A segunda viagem missionária de Paulo:


“Algum tempo depois, Paulo disse a Barnabé:
"Voltemos para visitar os irmãos em todas as
cidades onde pregamos a palavra do Senhor,
para ver como estão indo".mas Paulo
escolheu Silas e partiu, encomendado pelos
irmãos à graça do Senhor.”
(Atos 15:36,40)

● Roteiro:

Acompanhado desta vez de Silas, Paulo parte novamente em viagem. Seu objetivo
principal agora é fortalecer as comunidades que haviam surgido como resultado de
sua primeira empreitada. Seu trajeto é: Samaria, Jerusalém, Antioquia, Derbe, Listra,
Icônio, Trôade, Filipos, Tessalônica, Beréia, Atenas, Corinto, Éfeso, Mileto, Pátara,
Pafos e retorna à Cesareia.
● Listra:

Chegou a Derbe e depois a Listra, onde vivia um discípulo chamado Timóteo. Sua mãe era uma judia
convertida e seu pai era grego. Os irmãos de Listra e Icônio davam bom testemunho dele. Paulo,
querendo levá-lo na viagem, circuncidou-o por causa dos judeus que viviam naquela região, pois todos
sabiam que seu pai era grego. Nas cidades por onde passavam, transmitiam as decisões tomadas pelos
apóstolos e presbíteros em Jerusalém, para que fossem obedecidas. Assim as igrejas eram fortalecidas
na fé e cresciam em número cada dia. Paulo e seus companheiros viajaram pela região da Frígia e da
Galácia, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na província da Ásia.
(Atos 16:1-6)

● Trôade:

“Então, contornaram a Mísia e desceram a Trôade. Durante a noite Paulo teve uma visão, na qual um
homem da Macedônia estava em pé e lhe suplicava: "Passe à Macedônia e ajude-nos". Depois que Paulo
teve essa visão, preparamo-nos imediatamente para partir para a Macedônia, concluindo que Deus nos
tinha chamado para lhes pregar o evangelho.” (Atos 16:8-10)

Aqui cabe uma nota interessante: O leitor há de perceber que o narrador da história,
Lucas, altera a maneira de descrever os acontecimentos, empregando o termo
“preparamo-nos” em vez de “prepararam-se”. Por esse motivo, acredita-se que este
seja o momento em que ele passa a acompanhar Paulo em sua viagem.

● Filipos:

“Partindo de Trôade, navegamos diretamente para Samotrácia e, no dia seguinte, para Neápolis. Dali
partimos para Filipos, na Macedônia, que é colônia romana e a principal cidade daquele distrito. Ali
ficamos vários dias. No sábado saímos da cidade e fomos para a beira do rio, onde esperávamos
encontrar um lugar de oração. Sentamo-nos e começamos a conversar com as mulheres que se haviam
reunido ali. Uma das que ouviam era uma mulher temente a Deus chamada Lídia, vendedora de tecido
de púrpura, da cidade de Tiatira. O Senhor abriu seu coração para atender à mensagem de Paulo. Tendo
sido batizada, bem como os de sua casa, ela nos convidou, dizendo: "Se os senhores me consideram
uma crente no Senhor, venham ficar em minha casa". E nos convenceu. Certo dia, indo nós para o lugar
de oração, encontramos uma escrava que tinha um espírito pelo qual predizia o futuro. Ela ganhava muito
dinheiro para os seus senhores com adivinhações. Essa moça seguia a Paulo e a nós, gritando: "Estes
homens são servos do Deus Altíssimo e lhes anunciam o caminho da salvação". Ela continuou fazendo
isso por muitos dias. Finalmente, Paulo ficou indignado, voltou-se e disse ao espírito: "Em nome de Jesus
Cristo eu lhe ordeno que saia dela! " No mesmo instante o espírito a deixou. Percebendo que a sua
esperança de lucro tinha se acabado, os donos da escrava agarraram Paulo e Silas e os arrastaram para
a praça principal, diante das autoridades. E, levando-os aos magistrados, disseram: "Estes homens são
judeus e estão perturbando a nossa cidade, propagando costumes que a nós, romanos, não é permitido
aceitar nem praticar". A multidão ajuntou-se contra Paulo e Silas, e os magistrados ordenaram que se
lhes tirassem as roupas e fossem açoitados. Depois de serem severamente açoitados, foram lançados
na prisão. O carcereiro recebeu instrução para vigiá-los com cuidado. Tendo recebido tais ordens, ele os
lançou no cárcere interior e lhes prendeu os pés no tronco. Por volta da meia-noite, Paulo e Silas estavam
orando e cantando hinos a Deus; os outros presos os ouviam. De repente, houve um terremoto tão
violento que os alicerces da prisão foram abalados. Imediatamente todas as portas se abriram, e as
correntes de todos se soltaram. O carcereiro acordou e, vendo abertas as portas da prisão,
desembainhou sua espada para se matar, porque pensava que os presos tivessem fugido. Mas Paulo
gritou: "Não faça isso! Estamos todos aqui! " O carcereiro pediu luz, entrou correndo e, trêmulo, prostrou-
se diante de Paulo e Silas. Então levou-os para fora e perguntou: "Senhores, que devo fazer para ser
salvo? " Eles responderam: "Creia no Senhor Jesus, e serão salvos, você e os de sua casa". E pregaram
a palavra de Deus, a ele e a todos os de sua casa. Naquela mesma hora da noite o carcereiro lavou as
feridas deles; em seguida, ele e todos os seus foram batizados. Então os levou para a sua casa, serviu-
lhes uma refeição e com todos os de sua casa alegrou-se muito por haver crido em Deus. Quando
amanheceu, os magistrados mandaram os seus soldados ao carcereiro com esta ordem: "Solte estes
homens". O carcereiro disse a Paulo: "Os magistrados deram ordens para que você e Silas sejam
libertados. Agora podem sair. Vão em paz". Mas Paulo disse aos soldados: "Sendo nós cidadãos
romanos, eles nos açoitaram publicamente sem processo formal e nos lançaram na prisão. E agora
querem livrar-se de nós secretamente? Não! Venham eles mesmos e nos libertem". Os soldados
relataram isso aos magistrados, os quais, ouvindo que Paulo e Silas eram romanos, ficaram
atemorizados. Vieram para se desculpar diante deles e, conduzindo-os para fora da prisão, pediram-lhes
que saíssem da cidade. Depois de saírem da prisão, Paulo e Silas foram à casa de Lídia, onde se
encontraram com os irmãos e os encorajaram. E então partiram.” (Atos 16:11-40)

● Tessalônica

“Tendo passado por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga judaica.
Segundo o seu costume, Paulo foi à sinagoga e por três sábados discutiu com eles com base nas
Escrituras, explicando e provando que o Cristo deveria sofrer e ressuscitar dentre os mortos. E dizia:
"Este Jesus que lhes proclamo é o Cristo". Alguns dos judeus foram persuadidos e se uniram a Paulo e
Silas, bem como muitos gregos tementes a Deus, e não poucas mulheres de alta posição. Mas os judeus
ficaram com inveja. Reuniram alguns homens perversos dentre os desocupados e, com a multidão,
iniciaram um tumulto na cidade. Invadiram a casa de Jasom, em busca de Paulo e Silas, a fim de trazê-
los para o meio da multidão. Contudo, não os achando, arrastaram Jasom e alguns outros irmãos para
diante dos oficiais da cidade, gritando: "Esses homens que têm causado alvoroço por todo o mundo,
agora chegaram aqui, e Jasom os recebeu em sua casa. Todos eles estão agindo contra os decretos de
César, dizendo que existe um outro rei, chamado Jesus". Ouvindo isso, a multidão e os oficiais da cidade
ficaram agitados. Então receberam de Jasom e dos outros a fiança estipulada e os soltaram.” (Atos 17:1-
9)

É interessante como os inimigos de Paulo e Silas buscam difamá-los, colocando sobre


eles o título de “transtornadores do mundo”. Ora, transtornar o mundo é justamente a
missão de Paulo, uma vez que o Evangelho causa esse este efeito quando pregado.
No fim das contas, o que os oponentes do apóstolo Paulo conseguiram foi elogiá-lo.

● Beréia:

“Logo que anoiteceu, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Beréia. Chegando ali, eles foram à sinagoga
judaica. Os bereanos eram mais nobres do que os tessalonicenses, pois receberam a mensagem com
grande interesse, examinando todos os dias as Escrituras, para ver se tudo era assim mesmo. E creram
muitos dentre os judeus, bem como dentre os gregos, um bom número de mulheres de elevada posição
e não poucos homens. Quando os judeus de Tessalônica ficaram sabendo que Paulo estava pregando
a palavra de Deus em Beréia, dirigiram-se também para lá, agitando e alvoroçando as multidões.
Imediatamente os irmãos enviaram Paulo para o litoral, mas Silas e Timóteo permaneceram em Beréia.”
(Atos 17:10-14)

● Atenas:

“Os homens que foram com Paulo o levaram até Atenas, partindo depois com instruções para que Silas
e Timóteo se juntassem a ele, tão logo fosse possível. Enquanto esperava por eles em Atenas, Paulo
ficou profundamente indignado ao ver que a cidade estava cheia de ídolos. Por isso, discutia na sinagoga
com judeus e com gregos tementes a Deus, bem como na praça principal, todos os dias, com aqueles
que por ali se encontravam. Alguns filósofos epicureus e estóicos começaram a discutir com ele. Alguns
perguntavam: "O que está tentando dizer esse tagarela? " Outros diziam: "Parece que ele está
anunciando deuses estrangeiros", pois Paulo estava pregando as boas novas a respeito de Jesus e da
ressurreição. Então o levaram a uma reunião do Areópago, onde lhe perguntaram: "Podemos saber que
novo ensino é esse que você está anunciando? Você está nos apresentando algumas idéias estranhas,
e queremos saber o que elas significam". Todos os atenienses e estrangeiros que ali viviam não cuidavam
de outra coisa senão falar ou ouvir as últimas novidades. Então Paulo levantou-se na reunião do
Areópago e disse: "Atenienses! Vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos, pois, andando
pela cidade, observei cuidadosamente seus objetos de culto e encontrei até um altar com esta inscrição:
AO DEUS DESCONHECIDO. Ora, o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu lhes anuncio.
"O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor do céu e da terra, e não habita em santuários
feitos por mãos humanas. Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque
ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas. De um só fez ele todos os povos, para que
povoassem toda a terra, tendo determinado os tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos
em que deveriam habitar. Deus fez isso para que os homens o buscassem e talvez, tateando, pudessem
encontrá-lo, embora não esteja longe de cada um de nós. ‘Pois nele vivemos, nos movemos e existimos’,
como disseram alguns dos poetas de vocês: ‘Também somos descendência dele’. "Assim, visto que
somos descendência de Deus, não devemos pensar que a Divindade é semelhante a uma escultura de
ouro, prata ou pedra, feita pela arte e imaginação do homem. No passado Deus não levou em conta essa
ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em
que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos,
ressuscitando-o dentre os mortos". Quando ouviram sobre a ressurreição dos mortos, alguns deles
zombaram, e outros disseram: "A esse respeito nós o ouviremos outra vez". Com isso, Paulo retirou-se
do meio deles. Alguns homens juntaram-se a ele e creram. Entre eles estava Dionísio, membro do
Areópago, e também uma mulher chamada Dâmaris, e outros com eles.” (Atos 17:15-34)

● Corinto:

Depois disso Paulo saiu de Atenas e foi para Corinto. Ali, encontrou um judeu chamado Áqüila, natural
do Ponto, que havia chegado recentemente da Itália com Priscila, sua mulher, pois Cláudio havia
ordenado que todos os judeus saíssem de Roma. Paulo foi vê-los e, uma vez que tinham a mesma
profissão, ficou morando e trabalhando com eles, pois eram fabricantes de tendas. Todos os sábados
ele debatia na sinagoga, e convencia judeus e gregos. Depois que Silas e Timóteo chegaram da
Macedônia, Paulo se dedicou exclusivamente à pregação, testemunhando aos judeus que Jesus era o
Cristo. Opondo-se eles e lançando maldições, Paulo sacudiu a roupa e lhes disse: "Caia sobre a cabeça
de vocês o seu próprio sangue! Estou livre da minha responsabilidade. De agora em diante irei para os
gentios". Então Paulo saiu da sinagoga e foi para a casa de Tício Justo, que era temente a Deus e que
morava ao lado da sinagoga. Crispo, chefe da sinagoga, creu no Senhor, ele e toda a sua casa; e dos
coríntios que o ouviam, muitos criam e eram batizados. Certa noite o Senhor falou a Paulo em visão:
"Não tenha medo, continue falando e não fique calado, pois estou com você, e ninguém vai lhe fazer mal
ou feri-lo, porque tenho muita gente nesta cidade". Assim, Paulo ficou ali durante um ano e meio,
ensinando-lhes a palavra de Deus. Sendo Gálio procônsul da Acaia, os judeus fizeram em conjunto um
levante contra Paulo e o levaram ao tribunal, fazendo a seguinte acusação: "Este homem está
persuadindo o povo a adorar a Deus de maneira contrária à lei". Quando Paulo ia começar a falar, Gálio
disse aos judeus: "Se vocês, judeus, estivessem apresentando queixa de algum delito ou crime grave,
seria razoável que eu os ouvisse. Mas, visto que se trata de uma questão de palavras e nomes de sua
própria lei, resolvam o problema vocês mesmos. Não serei juiz dessas coisas". E mandou expulsá-los do
tribunal. Então todos se voltaram contra Sóstenes, o chefe da sinagoga, e o espancaram diante do
tribunal. Mas Gálio não demonstrava nenhuma preocupação com isso. Paulo permaneceu em Corinto
por algum tempo. Depois despediu-se dos irmãos e navegou para a Síria, acompanhado de Priscila e
Áqüila. Antes de embarcar, rapou a cabeça em Cencréia, devido a um voto que havia feito. (Atos 18:1-
18)

A terceira viagem missionária de Paulo:

● Roteiro:

É durante a terceira viagem missionária que Paulo finalmente consegue chegar a


Éfeso. É notável a expansão da caminhada. Apesar disso, entretanto, fica evidente
que Paulo não abre mão de passar pelas igrejas que já implantou.

Sua viagem passa pela Antioquia, Tarso, Derbe, Listra, Icônio, Antioquia da Pisídia,
Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Trôade, Neápolis, Filipos, Anfípolis, Beréia, Tessalônica,
Acaia, Corinto, Assos, Mitilene, Mileto, Rodes, Pátaca, Tiro, Ptolemaida, Cesaréia e
Jerusalém.
É durante sua terceira viagem missionária que o apóstolo Paulo finalmente consegue
chegar a Éfeso, o que era seu desejo há já bastante tempo. Ao chegar, encontra uma terra
entregue ao culto pagão a Diana.

Diz-se que o culto a Diana era extremamente sujo e pervertido, repleto de prostituição
e orgias. Diante disso, Paulo prega com muita ousadia, espalhando o Evangelho e fazendo
com que uma multidão de adoradores de Diana rendam-se a Jesus.

Seu ministério dá frutos, e Paulo fundou muitas Igrejas em Éfeso e ao seu redor. Éfeso
é uma cidade que torna-se muito presente na narrativa bíblica. Foi ali que João viveu em sua
velhice, escrevendo as três epístolas que carregam seu nome. É também dito que o livro de
Coríntios, ambos os de Timóteo e o Apocalipse também foram registrado aqui, além de
provavelmente os textos de Pedro e Judas.

Em seus três meses de estadia, Paulo fez o suficiente para causar um enorme rebuliço
na região. Paulo passa dois anos na escola de Tirano, ensinando diariamente a todos os
judeus e gregos que vinham ouvi-lo. Tamanha era a maneira em que Paulo era usado que
até mesmo suas vestes eram utilizadas para a cura de enfermos e vítimas de espíritos
malignos. Foi em éfeso que a multidão de magos se arrepende, queimando seus livros de
feitiçaria e ocultismo.
ESBOÇO PARA O
ESTUDO DO LIVRO

Em Jerusalém:

● Capítulo 1:1-26 - a espera pelo poder. Essa parte do livro é caracterizada pelo aguardo
do cumprimento da promessa de Cristo de que o Espírito Santo desceria sobre os
apóstolos.

● Capítulo 2:1-47 - com o cumprimento da promessa e a descida do Espírito Santo, os


apóstolos são capacitados ao ministério. Pedro se levanta para discursar, explicando
o evento para os observadores.

● Capítulo 3:1-26, 12:25 e 7:60 - a manifestação e expansão da Igreja. O fatídico


acontecimento da cura do aleijado por Pedro e João trazem grande visibilidade à fé
cristã e sua comunidade ainda em formação.

● Capítulo 4:1-22 - Pedro e João no sinédrio. Devido à sua mensagem, os apóstolos


são ameaçados e desencorajados de continuar seu ministério, o que não os impede
de continuar pregando.

● Capítulo 4:23-37 - aqui começa a geração de discípulos que passam a ser movidos
pela mesma ousadia dos apóstolos que os instruíram. Além disso, a perseguição
contra a Igreja acaba fortalecendo os laços entre os membros, fazendo crescer a
afinidade entre os irmãos.

● Capítulo 5:1-16 - a experiência da mentira de Ananias e Safira.

● Capítulo 5:17-42 - há a manifestação de reações adversas provocadas pelo avanço


da Igreja. A liderança religiosa da época, horrorizada pela nova doutrina, atenta contra
a liberdade dos apóstolos, que são presos mas miraculosamente libertados.

● Capítulo 6:1-7 - onde antes havia um espírito de tribulação e murmuração, agora,


conforme a Igreja cresce e a caridade abunda, surge a disposição à assistência e a
necessidade de dar atenção e atendimento. Para tal, acontece a Instituição dos
diáconos, servidores para o povo.

● Capítulo 6:8-15 - aqui ocorre a manifestação do Evangelho em Pedro através da


Graça. O texto também relata alguns acontecimentos da vida de Estêvão, seu
discurso, testemunho, agonia final e vislumbre de Cristo sentado à destra de Deus.

Samaria e até os confins da Terra:


● Capítulo 8:1-25 - aqui acontece o evento chamado de pentecoste de Samaria. Surge
a figura de Felipe, que foi usado através de muitos sinais e maravilhas. Muitos
discípulos fogem da perseguição, espalhando-se movidos pela propagação do
evangelho. Há a conversão de Simão, o Mago, e seu desejo de comprar o poder
manifestado pelos apóstolos. Vendo que o povo recebia a palavra com alegria, os
discípulos impunham as mãos e abençoavam com o Espírito.

● Capítulo 8:26-40 - retrata a submissão de Felipe ao Espírito Santo. Ele deixa-se ser
usado da maneira que seja necessária.

● Capítulo 9:1-10 - O capítulo nove de Atos relata a poderosa história da conversão de


Saulo, um perseguidor da Igreja de Cristo, para Paulo, pregador da mensagem de
Cristo, quando é surpreendido no caminho de Damasco. A partir desse momento, sua
vida nunca mais será a mesma.

● Capítulo 9:11-23 - ainda no contexto da conversão de Paulo, o texto aqui é revela a


força da propagação do Evangelho.

● Capítulo 9:32-43 - o trecho final do capítulo nove relata a maneira como a Igreja rompe
os limites de Jerusalém.

● Capítulo 10 - a experiência de Paulo com o centurião Cornélio e toda a sua casa.


Pedro está sendo confrontado em sua noção de Igreja e mudado como foi Paulo.
Pedro ajusta-se à verdade de que a Igreja é de Deus.

● Capítulo 11:19 - ocorre a fundação da Igreja na Antioquia sob severa perseguição,


temendo a morte. É aqui onde os seguidores de Cristo primeiro foram chamados de
cristãos.

● Capítulo 12 - a grande perseguição de Herodes sobre a Igreja. Acontece a dispersão


da Igreja em Jerusalém. A perseguição acaba por ceifar a vida de Tiago. Pedro é
preso, sendo libertado sobrenaturalmente depois.

A primeira viagem missionária:

● Capítulo 13:1-12 - aqui o texto relata o início da primeira viagem missionária de Paulo,
acompanhado de seu irmão Barnabé.

● Capítulo 13:13-52 - Paulo está em viagem missionária. É interessante notar o poder


da mensagem de Paulo. Sua palavra possui tanta sabedoria e autoridade que seus
ouvintes são impactados de forma magnífica. Justamente por isso, o apóstolo sofre
com a constante e crescente perseguição religiosa.

● Capítulo 14:1-7 - a viagem continua. Em Icônio, Paulo e Barnabé pregam na sinagoga,


de forma que muitos judeus e gentios crêem. Há, entretanto, judeus que não aceitam
a mensagem do apóstolo, incitando o povo da cidade contra os pregadores.
● Capítulo 14:8-28 - os pregadores permanecem ainda em viagem. É nessa passagem
que ocorre o milagre da cura do paralítico que faz com que os homens confundam
Paulo e Barnabé por deuses. A chegada de alguns judeus na cidade faz com que o
povo se volte contra Paulo, que é apedrejado e tomado por morto, arrastado para fora
da cidade.

Os viajantes continuam sua jornada missionária até Derbe, de onde partem de volta
fortalecendo as igrejas no caminho.

● Capítulo 15 - aqui há o concílio de Jerusalém para tratar dos ensinamentos de alguns


pregadores que diziam “Se vocês não forem circuncidados conforme o costume
ensinado por Moisés, não poderão ser salvos". (Atos 15:1). A resposta de Paulo aos
radicais judaizantes que exigiam dos gentios a circuncisão é relatada nos versículo
sete a 11:

Depois de muita discussão, Pedro levantou-


se e dirigiu-se a eles: "Irmãos, vocês sabem
que há muito tempo Deus me escolheu dentre
vocês para que os gentios ouvissem de meus
lábios a mensagem do evangelho e cressem.
Deus, que conhece os corações, demonstrou
que os aceitou, dando-lhes o Espírito Santo,
como antes nos tinha concedido. Ele não fez
distinção alguma entre nós e eles, visto que
purificou os seus corações pela fé. Então, por
que agora vocês estão querendo tentar a
Deus, impondo sobre os discípulos um jugo
que nem nós nem nossos antepassados
conseguimos suportar? De modo nenhum!
Cremos que somos salvos pela graça de
nosso Senhor Jesus, assim como eles
também".
(Atos 15:7-11.)

Os argumentos de Pedro deixam claro que as especificidades comportamentais e o


“religiosismo” dos judaizantes. Sob a condição de que não comessem dos alimentos
impuros oferecidos aos deuses pagãos e não participassem em seus hábitos de
imoralidade sexual.

A segunda viagem missionária:

● Capítulo 15:36 a partir daí começa a segunda viagem missionária do apóstolo Paulo.
Parte a Antioquia rumo a Trode. Dessa vez Paulo leva Silas como companheiro, e,
depois, recebe Timóteo na comitiva. O apóstolo visitou muitas cidades, e é aqui que
ocorre a visão do homem que clama por seu auxílio na Macedônia. Onde quer que
seja que o apóstolo vai, ele segue sempre pregando o evangelho e espalhando a
mensagem do Cristo ressurreto.

● Capítulo 16:11-40 - essa parte relata o caminho do apóstolo até a cidade de Atenas.
Paulo consegue levantar uma multidão de convertidos nas cidades que atravessa,
mas tamanho rebuliço geralmente é seguido de reações contrárias à mensagem
apostólica. Paulo é preso novamente, desta vez juntamente com Silas. Isso se deu
por que os companheiros viajantes expulsaram um espírito de adivinhação.

É interessante notar que por onde a igreja passa há libertação de espíritos malignos
e enganosos. É aqui que ocorrem os eventos que levam à conversão do carcereiro.

● Capítulo 16:24-40 - cabe aqui um ponto interessante sobre o período em que Paulo e
Silas permaneceram presos. Eles poderiam se frustrar, abandonando o ministério por
causa das diversas dificuldades que encontravam no caminho, mas optaram por
reconhecer que seu sofrimento nada mais era que uma medalha, um reconhecimento
de que a obra estava dando certo.

Perceba que a libertação não veio apenas para Paulo e Silas, mas para todos os que
ouviram louvor e estavam no cárcere. E além de tudo, o resultado final mostra que
aquilo que deveria ser desgraça tornou-se em bênção, resultando na conversão do
carcereiro e toda a sua casa. Há ainda outro ponto a ser observado: o fato de Paulo
ser romano mostra a providência de Deus, e seu controle sobre a história.

● Capítulo 17:15 - em Atenas Paulo faz sua famosa pregação contra a idolatria em
Atenas, apontando para a verdadeira identidade do DEUS DESCONHECIDO.

● Capítulo 18:1 - partindo para Corinto depois de pregar em Atenas, Paulo acaba por
encontrar-se com Áquila e Priscila, judeus expulsos de Roma, e passou a morar e
trabalhar com eles, pois também compartilhavam de sua profissão de fabricante de
tendas. Retornando de Corinto, parte para a terceira viagem.

A terceira viagem missionária:

● Capítulo 19 - aqui inicia-se a terceira viagem missionária do apóstolo Paulo.


Finalmente chegado a Éfeso, Paulo prega sua mensage, orando e ministrando põe as
mãos sobre os irmãos que vão sendo cheios do Espírito Santo e ensina na escola de
Tirano por dois anos. Há resistência contra Paulo e sua pregação contra a idolatria a
Diana.

● Capítulo 20 - despedindo-se dos discípulos, Paulo parte para a Macedônia passando


pela Acaia, se organizando para o retorno. Aqui há ainda mais pregações e a
manifestação de maravilhas e prodígios, como o caso do jovem Êutico. No caminho
de volta, o apóstolo vai fortalecendo os irmãos e mantendo-os vivos para que a obra
possa continuar avançando.

● Capítulo 21 - Paulo chega a Jerusalém trazendo testemunho de tudo quanto estava


sendo feito entre os gentios. Apesar de diversas súplicas para que não se dirigisse
para aquela cidade, o apóstolo adentra Jerusalém. Ali há resistência a Paulo, uma vez
que a mentalidade do judaísmo não conseguia compreender a mensagem da Graça
sobre os gentios. Paulo dá prova de sua submissão à mensagem que carrega:
Ouvindo isso, eles louvaram a Deus e disseram a Paulo: "Veja, irmão, quantos milhares de judeus creram,
e todos eles são zelosos da lei. Eles foram informados de que você ensina todos os judeus que vivem
entre os gentios a se afastarem de Moisés, dizendo-lhes que não circuncidem seus filhos nem vivam de
acordo com os nossos costumes. Que faremos? Certamente eles saberão que você chegou;
portanto, faça o que lhe dizemos. Estão conosco quatro homens que fizeram um voto. Participe com
esses homens dos rituais de purificação e pague as despesas deles, para que rapem a cabeça. Então
todos saberão que não é verdade o que falam de você, mas que você continua vivendo em obediência à
lei. Quanto aos gentios convertidos, já lhes escrevemos a nossa decisão de que eles devem abster-se
de comida sacrificada aos ídolos, do sangue, da carne de animais estrangulados e da imoralidade
sexual". No dia seguinte Paulo tomou aqueles homens e purificou-se juntamente com eles. Depois foi ao
templo para declarar o prazo do cumprimento dos dias da purificação e da oferta que seria feita
individualmente em favor deles. (Atos 21:20-26)

A partir do versículo 17 em diante podemos perceber a brutalidade com que os judeus


negavam a mensagem do evangelho de Graça sobre os gentios, ao ponto de
expulsarem Paulo do templo e tentando matá-lo.

● Capítulo 24 - Em passagem pela Cesareia, Paulo é levado perante o governador Félix.


Não consegue apoio, mas sua pena é aliviada, possuindo muito mais liberdades que
teria numa cela. Dois anos depois, Félix é sucedido por Pórcio Festo.

● Capítulo 25 - Passando por Festo, Paulo apela à corte de César. Fica evidente pelo
bom andamento da história que tudo conspira para o bem da obra de Deus. A
passagem do rei Agripa e o testemunho de Paulo ao monarca revelam o quanto Paulo
está se tornando parecido com Cristo.

● Capítulo 26 - Há aqui a continuação do evento do relato do apóstolo Paulo à


assembleia que Festo havia convocado. Suas palavras ao rei Agripa demonstram sua
fidelidade para com o dever de anunciar as palavras de Cristo.

● Capítulo 27 - Paulo se prepara para viajar à Itália. Para isso, é entregue à guarda de
Júlio, um centurião do Regimento Imperial. Durante a viagem acontece o naufrágio do
navio:

‘Paulo, não tenha medo. É preciso que você


compareça perante César; Deus, por sua
graça, deu-lhe as vidas de todos os que estão
navegando com você’.
Atos 27:24

Aqui podemos ver claramente o propósito de Deus para a vida de Paulo.


● Capítulo 28 - Uma vez estando Paulo em Roma, o propósito de Deus é finalizado em
sua vida. Nos dois anos em que permanece na capital do império, continua seu
trabalho missionário. É aqui que escreve a carta aos efésios, aos filipenses, aos
colossenses e a Filemon, há quem diga que foi Paulo quem escreveu o livro de
Hebreus nesse mesmo período.

Por dois anos inteiros Paulo permaneceu na


casa que havia alugado, e recebia a todos os
que iam vê-lo.
Pregava o Reino de Deus e ensinava a
respeito do Senhor Jesus Cristo, abertamente
e sem impedimento algum.
(Atos 28:30,31)

Considerações finais:

● A cidadania romana de Paulo:

Estudiosos afirmam que a cidadania romana do apóstolo foi conferida a ele por causa
de seu pai, que deve tê-la recebido por causa de serviços prestados ao império.

É interessante perceber que sua cidadania ajudou-o, mas não impediu sua morte.
Nisso percebemos que a história segue o rumo dado por Deus, pois sua morte
agigantou o esforço missionário por meio de seus “filhos espirituais”.

Paulo sofreu muito, enfrentou tudo e, em Roma, consegue desenvolver seu ministério
de missão aos gentios. Roma ficou marcada pela força do evangelho.

● O exemplo em Tito 3:12:

É interessante associarmos as palavras do apóstolo Paulo em sua carta a Tito ao


contexto missiológico de Atos:

Quando eu lhe enviar Ártemas ou Tíquico,


faça o possível para vir ao meu encontro em
Nicópolis, pois decidi passar o inverno ali.
(Tito 3:12)

É importante atentarmos-nos ao fato de Paulo citar tanto Ártemas quanto Tíquico. Isso
demonstra que ambos estavam igualmente prontos para ir e qualificados para
trabalhar quando fossem. Podemos tirar disso a lição de que devemos estar sempre
preparados para a missão.

● O capítulo 29 de Atos dos Apóstolos:

Um ponto interessante a ser feito é que o livro de atos possui um capítulo a mais: o
do tempo presente. Nós somos a continuação da mensagem, e é nosso dever
permanecer propagando a palavra do Cristo ressurreto para os quatro cantos da
Terra.
ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO
1.1. Objetivos da disciplina
1.2. Introdução
1.3. Características literárias
2. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
2.1. O estudo sistemático da Bíblia Sagrada
2.2. Sobre as Epístolas Gerais
2.3. Livros que compõem as Epístolas Gerais
2.4. Características de uma carta
2.5. O contexto das Epístolas Gerais
2.6. A canonicidade das Epístolas Gerais
2.7. Características dos Livros Canônicos
2.8. Testes para a canonicidade
2.9. Panorama geral das Epístolas Gerais
3. EPÍSTOLA AOS HEBREUS
3.1. Um livro diferenciado
3.2. Autoria
3.3. Datação
3.4. Local de escrita
3.5. Destinatários
3.6. A motivação do escritor
3.7. Propósitos da carta
3.8. Tema central
3.9. Teologia
3.10. Princípios de interpretação
3.11. Esboço geral
4. EPÍSTOLA DE TIAGO
4.1. Autoria
4.2. Informações do autor
4.3. Datação
4.4. Local da escrita
4.5. Público alvo
4.6. Propósito da carta
4.7. Estrutura literária
4.8. A ligação entre Tiago e os evangelhos
4.9. Tema da carta
4.10. A teologia de Tiago
4.11. Esboço geral do livro
5. PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PEDRO
5.1. Autoria
5.2. Datação
5.3. Local de escrita e público alvo
5.4. Perspectiva teológica
5.5. Esboço
6. SEGUNDA EPÍSTOLA DE PEDRO
6.1. Autoria
6.2. Local de escrita
6.3. Destinatários
6.4. A motivação de Pedro
6.5. O propósito de Pedro
6.6. Fundamentos teológicos
6.7. Tema da carta
7. PRIMEIRA EPÍSTOLA DE JOÃO
7.1. Autoria
7.2. Datação
7.3. Local de escrita
7.4. Destinatários
7.5. Gênero literário
7.6. Estilo do autor
7.7. Objetivos do autor
7.8. Perspectivas teológicas
7.9. Tema
7.10. Esboço
8. SEGUNDA EPÍSTOLA DE JOÃO
8.1. Autoria
8.2. Datação
8.3. Local de escrita
8.4. Destinatários
8.5. Aspecto teológico
8.6. Tema
8.7. Esboço
9. TERCEIRA EPÍSTOLA DE JOÃO
9.1. Autoria
9.2. Datação
9.3. Local de escrita
9.4. Destinatário
9.5. A teologia da epístola
9.6. Tema
9.7. Esboço
10. EPÍSTOLA DE JUDAS
10.1. Autoria
10.2. Datação
10.3. Local de escrita
10.4. Destinatários
10.5. Tema
10.6. Teologia
10.7. Esboço
INTRODUÇÃO

Objetivos da disciplina

O primeiro grande objetivo do estudo desta disciplina é nos certificarmos de


quais são as cartas que compõem e compreendem as Epístolas Gerais. Isso é
fundamental para aqueles que buscam estudar a Palavra do Senhor com afinco, uma
vez que a própria Bíblia Sagrada possui diversas divisões que, quando identificadas,
facilitam a compreensão do texto.

A. Antigo Testamento

a. Pentateuco

b. Livros Históricos

c. Livros Poéticos

d. Livros Proféticos

i. Profetas Maiores

ii. Profetas Menores

B. Novo Testamento

a. Evangelhos

b. Cartas Paulinas

c. Epístolas Gerais

d. Histórico

e. Profético

O segundo grande objetivo é compreender o porquê do título “Epístolas


Gerais”. Tal esforço permite ao estudante ter uma compreensão mais profunda dos
livros como um todo. A bíblia precisa ser observada em seu propósito maior, isto é,
desde o macro (o livro) até o micro (os capítulos e versículos) para uma interpretação
correta, ampla e profunda.

O terceiro grande objetivo é conhecer os aspectos gerais de cada uma das


epístolas e suas implicações para a vida dos cristãos. Isso é essencial para que haja
uma interpretação ampla e correta das escrituras fundamentada nas verdades
doutrinárias e espirituais da Palavra do Senhor.
O quarto grande objetivo do estudo desta disciplina é aplicar corretamente os
ensinos das Epístolas Gerais à realidade atual. Para o cristão, não basta apenas
conhecer as escrituras no campo da intelectualidade, mas sim colocá-los em prática.

Introdução

A maior parte do Novo Testamento é composta por cartas. Por esse motivo,
torna-se importante ao estudante de teologia compreender tanto as característica
quanto a aplicabilidade deste método literário.

Características literárias

O texto das Epístolas Gerais pertence ao gênero literário de Carta. Algumas


características desse estilo são importantes de serem notadas:

É um método extremamente eficaz: de fato, as cartas são tão úteis que ainda
hoje são amplamente utilizadas. Seu emprego pelos apóstolos se deu por duas
razões: a distância entre o remetente e os destinatários e as limitações de
comunicação da época.

De fato, a utilização das cartas foi tão eficaz que, mesmo depois do período
apostólico, os pais da igreja continuaram fazendo uso desse método. Um bom
exemplo ilustrativo é o de Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna e Clemente de
Roma.

A maioria dessas cartas é chamada de “circunstanciais” uma vez que eram


escritas visando a resolução de problemas específicos, a exemplo das epístolas
Paulinas. Após plantar uma igreja, o apóstolo Paulo estabelecia e colegiado de
obreiros e seguia sua viagem missionária. Assim sendo, a única maneira que possuía
para resolver problemas que surgisse nas comunidades era por meio de cartas.

Há duas divisões das epístolas do Novo Testamento:

● Cartas Paulinas: são primariamente epístolas pastorais onde o apóstolo Paulo


trata de assuntos ministeriais.

● Epístolas Gerais: foram escritos por meio dos quais os apóstolos se


comunicaram com as igrejas.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O estudo sistemático da Bíblia Sagrada

Existem pontos fundamentais cuja observação se torna essencial durante a


elaboração de qualquer estudo sistemático da Bíblia Sagrada. Assim sendo, antes de
dar início ao estudo das cartas específicas estaremos dando uma olhada nas
seguintes questões:

O que significa o termo “Epístolas Gerais”? Quem primeiro utilizou o termo?


Em que situação? Qual era o período histórico?

A primeira pessoa a fazer uso do termo Epístolas Gerais para fazer referência
a esse grupo de cartas do Novo Testamento foi o grande historiador Eusébio de
Cesaréia (265-340), que ficou conhecido como o maior historiador eclesiástico
durante os primeiros séculos do cristianismo.

Sobre as Epístolas Gerais

Também chamadas de “Epístolas Católicas” ou “Epístolas Universais”, esse


conjunto de cartas possui uma característica interessante: são destinadas a todos os
cristãos.

Primeira e Segunda aos Coríntios apresenta problemas pontuais e culturais,


específicos da realidade daquele povo em especial. No caso das Epístolas Gerais,
isso não acontece. Nelas os assuntos tratados são mais abrangentes, buscando
alcançar todos os cristãos. Ainda que alguns textos tratem de grupos específicos, a
carta em si é endereçada à igreja como um todo.

Livros que compõem as Epístolas Gerais

● Epístola de Hebreus

● Epístola de Tiago

● Primeira epístola de Pedro

● Segunda epístola de Pedro

● Primeira epístola de João


● Segunda epístola de João

● Terceira epístola de João

● Epístola de Judas

Característica de uma carta

As Epístolas Gerais apresentam as seguintes características:

● Possuem um autor;

● Possuem um destinatário;

● Possuem uma saudação;

● Possuem um conteúdo;

● Possuem uma despedida;

Isso aponta para uma grande verdade: relacionamento. Esse ponto é


fundamental, pois não podemos enxergar essas cartas apenas como um tratado
teológico. É, sim, um tratado, mas não se pode perder de vista o lado afetivo do texto.
As epístolas são escritos relacionais, isto é, demonstram a preocupação de uma
pessoa em corrigir falhas e fortalecer a fé de um irmão.

Ao estudar o conteúdo das cartas, devemos nos atentar a três pontos:

● Considerar seu gênero literário;

● Considerar seu contexto histórico;

● Considerar seu contexto teológico;

Devemos considerar que três coisas influenciaram os autores das epístolas


gerais:

1. A Tradição Judaica: não há como dissociar os escritos do Novo Testamento


da tradição e da cultura judaica.

2. A Literatura Apocalíptica: este tema diz respeito às expectativas escatológicas,


isto é, o desejo da vinda de Cristo.

3. A Filosofia Popular Helenística: o pregar do Novo Testamento exige certo


conhecimento de filosofia, porque havia influências da filosofia helenística na
mentalidade dos autores.
O contexto das Epístolas Gerais

Ao buscar compreender o contexto em que as Epístolas Gerais foram escritas,


deve-se atentar a dois pontos:

1. O contexto político: inicialmente, o governo do período em questão mostrava-


se tolerante e, em alguns aspectos, até mesmo simpático ao cristianismo. Isso
acabou por permitir a atitude de submissão da igreja em relação às autoridades
que permitiu que o cristianismo fosse colocado no mesmo nível que o
judaísmo.

Nos final dos anos 60 d.C., entretanto, a situação mudou drasticamente por
causa da diferença de fé entre os cristãos e judeus. Há, então, uma má
compreensão da igreja por causa de algumas doutrinas do cristianismo (o
Deus invisível, o Cristo ressurreto, o julgamento divino).

O ponto alto da perseguição que começou entre os judeus acontece durante o


período do reinado de Nero, que intensifica a opressão sobre os cristãos.

2. O contexto eclesiástico: além da influência externa da política, a igreja também


possui seus dramas internos relacionados à doutrina, manutenção da
disciplina, santidade e fervor.

A natureza do problema externo é a maneira como os cristãos se relacionam


com as pessoas fora da fé, a do problema interno, a preservação da fé e a
resolução dos conflitos originários do crescimento da igreja para além dos
limites geográficos de Jerusalém. Nesse contexto, surgem as seguintes
perguntas:

1. O gentio é salvo somente pela fé ou é necessário observar a lei?

2. O gentio deve circuncidar-se para ser salvo?

3. Qual a relação entre salvação pela fé e o comportamento ético-moral se


o gentio não precisa observar a lei?

4. Qual a relação entre fé e obras?

5. Como tratamos as heresias que estão entrando nas igrejas?


A canonicidade das Epístolas Gerais

Antes de qualquer coisa, deve-se compreender o que significa afirmar que algo
é ou não é canônico. Cânon é uma palavra de origem grega que significa literalmente
uma vara, isto é, um instrumento de medida.

O Cânon é, portanto, um meio pelo qual se avalia a autoridade e validade de


alguma coisa. Trata-se da regra de fé, isto é, são os livros inspirados pelo Espírito
Santo. É por esse motivo que esses escritos possuem autoridade normativa para os
cristãos.

A canonicidade também significa a garantia do cumprimento do que está


escrito. Na condição de palavra de Deus, o texto revela a própria natureza de Deus,
e um de Seus aspectos é a imutabilidade, a perfeição e a fidelidade para cumprir com
o que foi prometido.

Vale ressaltar que, por “inspirados”, compreendemos que o livro possui o sopro
do Espírito Santo, que confere direção quanto à sua escrita. Assim sendo, as
Epístolas Gerais são cartas orientadoras que conduzem a igreja no caminho que
Deus deseja que ela siga.

Características dos Livros Canônicos

1. São normativos para a igreja, isto é, estabelecem normas para os cristãos,


determinando a direção que deve ser seguida.

2. Os livros que compõem a Bíblia Sagrada são possuidores de uma autoridade


única, inspirada por Deus.

3. São destinados a todos os cristãos. “Toda a Escritura é divinamente inspirada,


e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça;
Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda
a boa obra.” (2 Timóteo 3:16,17)

Testes para a canonicidade

1. Apostolicidade: o livro deve, necessariamente, ter sido escrito por um apóstolo


ou alguém diretamente ligado a um no trabalho e na comunhão;

2. Universalidade: deveria gozar de ampla aceitação em todas as igrejas da


época;

3. Conteúdo: o teor doutrinário deveria concordar com a totalidade da escritura e


os outros ensinos previamente apresentados.
4. Inspiração: deveria demonstrar nítidas evidências de influência do Espírito
Santo sobre o autor;

Panorama geral das Epístolas Gerais

Hebreus A Superioridade de Cristo

Tiago A Fé e as Obras

I Pedro Como Vencer no meio do Sofrimento

II Pedro Crescendo em Cristo até Sua Volta

I João A Comunhão e a Confiança dos Filhos


de Deus

II João Os Falsos Mestres

III João Exortações e Elogios

Judas A Apostasia
EPÍSTOLA AOS
HEBREUS

Um livro diferenciado

A carta aos Hebreus é bastante singular, diferenciando-se de todos os outros


livros que compõem o Novo Testamento pelos seguintes motivos:

1. Começa como um tratado, isto é, um estudo formal, acadêmico e criterioso.


Nesse caso, Hebreus começa como um tratado teológico.

2. Continua como sermão, apresentando um discurso com características


práticas a respeito de verdades com base no Antigo Testamento, mas com
uma visão superior.

3. Conclui-se como uma carta, apresentando um alto grau de relacionamento


para com o leitor.

Autoria

Este é, sem dúvidas, o tema mais debatido do livro de Hebreus: a carta trata-
se de um texto anônimo. Há várias suposições acerca de sua autoria, mas ninguém
sabe ao certo a identidade do escritor.

Hebreus difere-se das demais cartas por não revelar quem de fato foi
responsável por sua escrita ou para quem ela é endereçada. A principal dificuldade
de se resolver a questão se dá por causa da falta de uma saudação inicial.

Por causa disso, diversas figuras na história do cristianismo já surgiram com


hipóteses para responder a pergunta da autoria: Clemente de Alexandria sugeriu
Lucas, Orígenes sugeriu Clemente de Roma, Tertuliano atribui-a a Barnabé, Calvino
aponta para Lucas ou Clemente de Roma, Lutero, para Apolo, Jerônimo e Agostinho
creditam a escrita a Paulo e outros supõe que o autor tenha sido Silvano ou Silas.

Datação

● Primeira sugestão: entre 50 e 60 d.C. Essa visão defende que o público alvo
da carta é a segunda geração de cristãos. No texto, é possível perceber certo
nível de esfriamento espiritual no meio da igreja, o que aponta para uma
geração de cristãos mais distante do período apostólico.
● Segunda sugestão: escrito em 64 d.C. Essa visão aponta pros sinais de
perseguição presentes na carta para defender que tenha sido escrita durante
o domínio de Nero. Nessa hipótese, a carta seria destinada aos cristãos
italianos espalhados pelo império.

● Terceira sugestão: antes de 70 d.C. Essa posição defende que o fato de o


autor combater os rituais do templo implica um período anterior à destruição
de Jerusalém.

● Quarta sugestão: escrito em 96 d.C. Essa posição, entretanto, apresenta


algumas falhas: a epístola foi aproveitada na carta do bispo Clemente de
Roma, deste ano, significando que não poderia datar desse mesmo ano.

Hebreus supõe um período avançado do cristianismo (Hb 9:9; 13:10), porém o


Templo ainda estava de pé durante a escrita da carta. O trecho do capítulo
13:7 mostra-nos que os “antigos mestres” já haviam morrido, indicando uma
geração mais avançada de cristãos.

Enfim, o autor combate um esfriamento espiritual, deixando claro que as


perseguições já estão ocorrendo (Hb 10:25-27). Ficamos, portanto, com a suposição
mais provável: entre 64 e 67 d.C., o período em que começa a guerra na Judéia que
antecede a destruição do Templo.

Local de escrita

“Saudai a todos os vossos chefes e a


todos os santos. Os da Itália vos
saúdam.”

(Hebreus 13:24)

O trecho destacado do livro de Hebreus pode apresentar dois significados


dependendo da maneira como se encara o texto:

1. “Os da Itália” são pessoas que saíram da Itália e, por meio da carta, saúdam
seus conterrâneos.

2. “Os da Itália” são moradores da Itália que saúdam os destinatários da carta.

A resposta mais provável é a segunda opção, significando que o autor da carta


encontrava-se em Roma durante a escrita do texto.
Destinatários

Existem algumas divergências nas opiniões acerca do público alvo de


Hebreus, mas não podemos duvidar de que a carta foi escrita para cristãos judeus. A
hipótese mais antiga e bem aceita aponta que os destinatários seriam judeus
palestinos, em especial a igreja de Jerusalém:

1. Em toda a carta não se percebem alusões ao paganismo. Há, entretanto, um


forte combate à supervalorização dos costumes judaicos.

2. Temos que considerar que havia milhares de cristãos judeus que criam na Lei
e eram zelosos por ela.

3. Quando se lê Hebreus, percebe-se no tom da fala uma clara preocupação do


autor para com a possibilidade desses irmãos voltarem a se submeter aos
rituais do Templo.

4. Jerusalém se tratava de um ponto estratégico. Sendo lida em Jerusalém, a


carta poderia ser enviada às demais comunidades cristãs.

5. Existem aqueles que combatem esse ponto de vista com base em Hb 6:10.
Essa visão acredita que esse texto está reconhecendo as doações do público-
alvo aos irmãos espalhados pelo mundo. Uma vez que a igreja de Jerusalém
era uma comunidade pobre, seria pouco provável que ela tivesse condições
de fazer doações às outras igrejas. Essa teoria, entretanto, não se sustenta
porque a pobreza não é prova de ausência de caridade.

A motivação do escritor

Percebemos no texto uma espécie de urgência emergencial por parte do autor,


um ar de que algo muito sério está para acontecer. Há também um tom de advertência
para o povo contra o “pecado que tão de perto nos rodeia”.

Percebe-se por meio das admoestações do autor que os destinatários estão


sob o risco de se tornarem vacilantes na fé, uma vez que o entusiasmo do primeiro
momento do cristianismo parecia haver passado.

Propósito da carta

O principal propósito da carta é firmar os cristãos judeus em sua fé em Cristo,


protegendo-os da apostasia e do retorno ao judaísmo. O autor percebe a necessidade
e expor a real natureza do cristianismo como a religião final e perfeita, apresentando
a majestade de Cristo e colocando-O na posição de superior a tudo.
Ele estimula os cristãos a permanecerem firmes em sua confissão de fé,
instigando-os a resistir aos incentivos à apostasia. O autor apresenta um Cristo
Supremo. São três propósitos principais:

1. Demonstrar a superioridade de Cristo

2. Estimular a perseverança dos fiéis

3. Advertir contra a apostasia

Tema central

A superioridade de Cristo. O autor demonstra que Cristo é superior a Moisés,


Josué, Arão e Melquisedeque. Cristo é Filho de Deus, Ele é superior aos homens que
vieram antes dEle e aos anjos, Suas criaturas.

Teologia

Quando observamos a teologia de Hebreus, podemos dizer que do capítulo


1:1 ao 10:18 temos a exposição da superioridade do Novo Testamento em relação ao
Antigo.

Cristo é também apresentado como Criador de todas as coisas. Por meio dEle
tudo que se fez foi feito. O Cristo criador aparece em Hebreus para mostrar sua
superioridade perante as criaturas (Hb 1:1-14).

O autor também apresenta Cristo como Filho de Deus e, portanto, superior a


Moisés (Hb 3:1-19; 4:14), Arão (Hb 7:1-21), Melquisedeque (Hb 5:4; 7:11). Além
disso, o sacrifício de Cristo é mais precioso que todos os sacrifícios do Antigo
Testamento.

A carta possui também uma recomendação à perseveração (Hb 10:32 a 12:13)


e previne os leitores contra a apostasia (Hb 13:9-17).

Princípios de interpretação

Para uma melhor interpretação do livro, deve-se atentar a três pontos:

1. Deve-se considerar seu objetivo primordial: levar os homens à presença de


Deus. Este é o alvo principal do autor: fazer com que os homens reconheçam
Cristo como soberano de tudo e todos;
2. Para permanecer na presença de Deus, os homens devem ser santos, isto é,
devem ser santificados pelo Espírito Santo (Hb 12:14);

3. O povo de Israel é considerado o símbolo da obra de Cristo sobre a Nova


Aliança;

Esboço geral

DIVISÃO DOUTRINA ADVERTÊNCIA ESTÍMULO

Caps. 1 e 2 Comparação com Não negligenciar a Somos parte da


os anjos (1) salvação (2:1-4) família de Deus
(2:5-19)

Caps. 3 a 4:13 Comparação com Não rejeitar o A palavra e Deus é


Moisés (3:1-6) repouso que Cristo viva e eficaz
oferece (3:7-19) (4:12,13)

Caps. 4:14 a 7:28 Comparação com Crescei no Tende confiança


o sacerdócio de conhecimento da nas promessas
Arão (4:11 - 5:11) palavra de Deus divinas (6:9-20)
(5:12 - 6:8)

Caps. 8:1 a 10:18 Comparação com Não rejeite o Chegue-se a Deus


o antigo concerto sacrifício de Cristo com confiança
(8:1 - 10:18) (10:26-31) (10:19-25)

Caps. 10:32 a O caminho da fé Não rejeite o Somos filhos de


13:25 (10:32-39; 11) caminho da fé Deus (12:1-11)
(12:12-19)

Exortações Gerais Maneira de viver -


doutrina certa
(13:1-25)
EPÍSTOLA DE
TIAGO

A Epístola de Tiago é o livro mais prático do Novo Testamento, apontando


enfaticamente para o comportamento correto de um cristão frente aos desafios de
sua vida em todas as esferas.

Isso não significa que não devemos dar o devido valor que ela merece. Toda
teologia tem que desembocar na prática da vida cristã. Esta carta funciona, portanto,
como um manual do cristão.

Autoria

“Tiago, servo de Deus, e do Senhor


Jesus Cristo, às doze tribos que andam
dispersas, saúde.”

(Tiago 1:1)

Há quatro Tiagos descritos no Novo Testamento:

1. Tiago, o Maior: também conhecido como filho de Zebedeu e Boanerges, isto


é, filho do trovão. Era irmão do apóstolo João e participou do grupo dos três
discípulos mais íntimos de Jesus

2. Tiago, o Menor: filho da outra Maria, não há muitas informações disponíveis


acerca deste Tiago.

3. Tiago, filho de Alfeu: um dos 12 apóstolos de Jesus. Citado em: Mateus 10;
Marcos 3; Lucas 6 e Atos 1.

4. Tiago, irmão do Senhor: responsável por dirigir a Igreja nascente em


Jerusalém. Acredita-se que este seja o irmão de Jesus atos 15:12; 21:18;
gálatas 2:9,12. Este seria o autor da carta de Tiago.

Informações do autor

Inicialmente, Tiago não foi crente em Jesus durante Seu ministério público.
Podemos observar, entretanto, que, em 1Co 15:7, Paulo vai dar testemunho de que
Tiago testemunhou a ressurreição de Cristo. Atos 1:14 apresenta-nos Tiago
convertido. Atos 21:17-26 descreve-o como zeloso para com a Lei e, no concílio em
Jerusalém, Tiago defende Paulo (Atos 15:12-21).
Datação

Percebe-se claramente no texto um tom de preocupação com o esfriamento


da fé. O fervor parecia ter passado, portanto a escrita se dá numa fase pós-apostólica.

Presume-se que a carta tenha sido escrita em 62 d.C., ano de seu martírio.
Existem, entretanto, estudiosos que recuam esta data, colocando-a entre 45 e 50 d.C.
com base nos seguintes pontos:

1. A ausência da controvérsia judaizante;

2. A presença de um tom mais judaico, prova implícita de sua escrita anterior ao


avanço do cristianismo;

Local da escrita

Uma vez que afirmamos que a epístola foi escrita por Tiago, meio irmão de
Jesus e líder da igreja em Jerusalém, presume-se que ela tenha sido escrita em
Jerusalém e, a partir daí, tenha sido espalhada.

Público alvo

“Tiago, servo de Deus, e do Senhor


Jesus Cristo, às doze tribos que andam
dispersas, saúde.”

(Tiago 1:1)

Em linhas gerais, Tiago destina sua carta às 12 tribos de Israel que estavam
dispersas. Claro que há aqui um ponto de discussão: seria essa uma linguagem
metafórica para se referir à igreja do Senhor?

“Porque, se no vosso ajuntamento entrar


algum homem com anel de ouro no dedo,
com trajes preciosos, e entrar também
algum pobre com sórdido traje,”

(Tiago 2:2)

A expressão “ajuntamento” pode ser traduzida também como “sinagoga”. É


possível, portanto, que o texto esteja se referindo a um local judaico. Há também a
possibilidade de o termo fazer referência a uma assembléia de culto ao Senhor.
Tiago também faz uso da expressão Senhor dos exércitos (Tiago 5:4), um
termo tipicamente judaico. É claro, entretanto, que é possível que este seja um uso
mais amplo, sem uma relação tão forte com a terminologia judaica.

Há também, nos textos de Hb 2:8-13 e Hb 4:11-12, referências que dão ênfase


ao Antigo Testamento. Hb 2:19 também enfatiza a monoteísmo, algo que, segundo
os defensores dessa visão, é tipicamente judaico.

A expressão “12 tribos de Israel” empregada por Tiago pode ter sido figurada
tendo em vista as passagens de 1 Pedro 1:1, 2:11; Hebreus 11:13, 13:14 e Filipenses
3:20.

Além de tudo, o texto de Tiago omite dois assuntos importantes: a escravatura


e a idolatria, dois temas que não existiam entre os judeus, portanto ficamos com a
sugestão de que a epístola tinha judeus cristãos em mente.

Propósito da carta

A Epístola apresenta pelo menos três grandes propósitos:

1. A necessidade de animar e confortar os cristãos que estão atravessando


grandes perseguições e terríveis tentações;

2. O desejo de instruir as assembleias cristãs, pois elas estavam sofrendo em


relação à ordem. O livro combate o mal do tratamento diferenciado para
membros por causa de nível monetário ou status social;

3. Combater a tendência do divórcio entre fé e obras, uma vez que as evidências


da fé são as obras. Fomos chamados para as boas obras, que são nossos
frutos dignos de arrependimento;

Estrutura literária

Em primeiro lugar, é interessante observarmos que, na carta, não há um


diálogo entre o autor e o destinatário. A carta utiliza-se de um estilo proverbial judaico:
há grande semelhança entre Tiago e provérbios.

Aparentemente, Tiago não cita o evangelho diretamente, porém há uma


semelhança muito forte entre a epístola e os evangelhos. Além disso, a epístola
apresenta alto grau de combate aos males que afrontam os cristãos.
O nome de Jesus é mencionado no capítulo 1:1 a 2:1, embora os evangelhos
em si não sejam citados. Por repetidas vezes, o autor faz uso da expressão Senhor
para se referir a Cristo, colocando-o na posição de soberano.

A ligação entre Tiago e os evangelhos

O evangelho está entranhado em toda a carta que Tiago escreve. Alguns


paralelos que podemos destacar são os seguintes:

Tiago 1:22 Mateus 7:24, 27

Tiago 3:18 Mateus 5:9

Tiago 4:11 Mateus 7:1

Tiago 5:2 Mateus 6:19

Tiago 5:12 Mateus 5:24-47

Tiago 2:8 Mateus 22:36

Tema da carta

O tema da carta de Tiago gira em torno da conduta cristã na vida diária,


demonstrando as verdades da religião pura, afastada de todo tipo de imundícia. Tiago
nos diz que é o dever do cristão assistir órfãos e viúvas, isto é, os necessitados.

É nosso dever reproduzir a natureza de Cristo, uma vez que somos Seus
seguidores e Sua Vida está em nós por causa do Novo Nascimento. A verdadeira
religião é, portanto, amar a Deus acima de todas as coisas.

A teologia de Tiago

Tiago reúne a ética do Antigo Testamento com a ética cristã do Novo


Testamento. É nessa união que se manifesta historicamente a origem do cristianismo,
que tem inicia-se no judaísmo.

Tiago vai fundir a Lei e Cristo, deixando claro que, em israel, como na igreja, a
moral se baseia nos ensinamentos de Jesus. Cristo é o cumprimento da Lei, a igreja
deve manifestar esses princípios na vida prática, uma moral fundamentada no amor
ao próximo.
A aparente contradição entre Tiago e Paulo é resolvida da seguinte maneira:
Tiago fala de uma Fé que é acompanhada de obras. Não há contradição, uma vez
que uma visão complementa a outra. Paulo combate o fato de que as pessoas
supervalorizam a Lei, Tiago, o oposto: o não demonstrar das evidências da
conversão.

Esboço geral do livro

Alegria nas Tribulações 1:2-4

Oração Pedindo Sabedoria 1:5-8

Distinção entre Provas e Tentações 1:911

A Obediência à Palavra 1:19-27

Amar sem ser Parcial para com os 2:1-13


Ricos

As Obras como Prova de Fé 2:14-26

A Sabedoria 3:1-4.10

Evitando a Calúnia 4:11

A Confiança sem Base 4:13-17

A Paciência 5:1-11

A Honestidade 512

A Atitude de Coletividade, Incluindo a 5:13-18


Oração pelos Doentes e a Mútua
Confissão de Pecados

Recuperação de Crentes que Errarem 5:19,20


PRIMEIRA EPÍSTOLA
DE PEDRO

Autoria

“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos


estrangeiros dispersos no Ponto,
Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia;”

(1 Pedro 1:1)

“Por Silvano, vosso fiel irmão, como


cuido, escrevi brevemente, exortando e
testificando que esta é a verdadeira graça
de Deus, na qual estais firmes. A vossa
co-eleita em babilônia vos saúda, e meu
filho Marcos. Saudai-vos uns aos outros
com ósculo de amor. Paz seja com todos
vós que estais em Cristo Jesus. Amém.”

(1 Pedro 5:12-14)

Alguns estudiosos acreditam que a primeira carta de Pedro não tenha sido
escrita como uma carta, mas sim como um sermão ou liturgia batismal que, depois,
tornou-se epístola.

O problema é que essa tese isso nega que a carta tenha sido escrita pelo
apóstolo Pedro enquanto repetidas expressões dentro do texto afirmam a autoria de
Pedro. Além do mais, a verdade da autoria de Pedro é respaldada pela tradição da
igreja.

Datação

A data mais sugerida é de 63 d.C., pouco antes do martírio de Pedro em Roma.


O tema leva a crer que a escrita se localiza nesse período, retratando tanto a situação
de perseguição quanto a necessidade de se manter a fé.

Local de escrita e público alvo

“A vossa co-eleita em babilônia vos


saúda”

(1 Pedro 5:13)
Acredita-se que o termo “babilônia” faça referência à degeneração moral de
Roma, uma vez que não há relatos de que Pedro esteve na Babilônia geográfica.
Além disso, Pedro destina a carta a forasteiros (1:1) entre os gentios (2:12), tratando
do problema da idolatria (4:3). Além do mais, o texto fala da ignorância religiosa (1:14),
a vida frívola herdada pelos pais (1:18) e características de um povo pagão e gentio
(2:1). Todos esses fatos apontam para um público de gentios convertidos.

Perspectiva teológica

Do ponto de vista teológico, Pedro vai tratar do batismo com uma ênfase
bastante acentuada e direta, e com razão: o batismo é uma forma de demonstrar o
renascimento do cristão, é um presente de Deus e um dever do justo. Um privilégio
divino do batismo é, para nós, uma responsabilidade.

● 1 Pedro 1:3 - 2:3 - Trata de forma direta o batismo;

● 1 Pedro 2:4-10 - Apresenta a igreja como casa e como povo de Deus;

● 1 Pedro 2:18-25 - Trata sobre a maneira correta de se tratar os servos;

● 1 Pedro 4:12-5:11 - Reanima os irmãos frente às perseguições;

● 1 Pedro 1:3 - 23 - Apresenta a igreja como uma comunidade unida por meio
do batismo;

● 1 Pedro 3:1 - Disserta sobre a obediência à Palavra;

● 1 Pedro 1:19-21, 2:2-25, 3:18-22 - Apresenta trechos que formam uma tríade
de hinos cristocêntricos;

● 1 Pedro 2;5-10 - Apresenta a igreja como sacerdócio real, responsável por


levar pessoas a Cristo;

● 1 Pedro 2:21 - Trata sobre a natureza do que significa ser cristão, isto é, ser a
continuidade do ministério de Jesus Cristo na Terra;

● 1 Pedro 3:7 - Versa sobre a vida matrimonial;

● 1 Pedro 3:21-25 - Ensina que o cristão deve se importar com o sofrimento dos
escravos;

● 1 Pedro 1:1, 2:11 - Ensina-nos que a igreja vive como minoria neste mundo,
mas que logo ela será retirada dele;

● 1 Pedro 2:13-17 - Apresenta o cristão como alguém que deve fazer o bem até
mesmo a pessoas hostis;
● 1 Pedro 3;8 - O cristão é chamado a herdar bênçãos;

● 1 Pedro 1:7; 2:11 - Os sofrimentos e o cristão como peregrino na Terra;

● 1 Pedro 1:7; 5:10 - A consumação escatológica e a igreja;

Esboço

Saudação 1:1-2

Louvor pela Herança Celeste dos 1:3-12


Crentes Perseguidos

Exortação sobre a Santidade 1:13-21

Exortação quanto ao Amor Mútuo 1:22-25

Exortação ao Avanço quanto à 2:1-10


Salvação

Exortação quanto à conduta cristã numa 2:11 - 4:19


sociedade não cristã

Exortação à Humildade no seio da 5:1-11


Igreja e à Resistência diante da
Perseguição

Conclusão Silvano tinha a função de, como


amanuense, saudações e bênção final
(3:12-14)
SEGUNDA EPÍSTOLA
DE PEDRO

Autoria

“Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus


Cristo, aos que conosco alcançaram fé
igualmente preciosa pela justiça do nosso
Deus e Salvador Jesus Cristo:”

(2 Pedro 1:1)

Pedro se apresenta com seu nome, especificando-se como servo e apóstolo.


O trecho de 2 Pedro 1:16 fortalece ainda mais essa certeza. Já tendo escrito a
primeira carta, essa é datada de pouco tempo depois, entre 63 e 64 d.C..

2 Pedro 3:15-16 demonstra-nos que Pedro escreve num período em que Paulo
se torna conhecido entre os irmãos. Além disso, Pedro busca preparar a igreja contra
os falsos mestres que se instaurariam em seu meio.

Pedro deixa um pouco o tema de perseguição para focar objetivamente no


perigo das heresias, pois o período herético estava se aproximando.

Local de escrita

Não é revelado, ao contrário da primeira carta. Tudo isso nos leva a crer,
entretanto, que o autor permanecia em Roma.

Destinatários

A expressão utilizada no capítulo 1:1 traz à tona uma ideia de mesma honra,
mesma graça, referindo-se a um povo que era considerado de segunda classe, isto
é, os gentios. O autor enfatiza que, em Cristo, não há mais diferença entre as
pessoas. São todos servos do mesmo Cristo, detentores da mesma fé.

O trecho de 2 Pedro 3:1 indica que a carta tenha sido escrita aos mesmos
destinatários da primeira, recobrando seu ânimo.
A motivação de Pedro

Esta carta está fortemente associada à primeira. Durante o intervalo entre uma
e outra, parece ter havido uma mudança circunstancial nas pessoas. A primeira carta
preparava os cristãos para a perseguição, a segunda combate o surgimento dos
falsos profetas. Houve uma mudança, mas uma carta complementa a outra pois
tratam de aspectos comuns da igreja da época.

Pedro também adverte que a motivação de que o alvo dos falsos mestres eram
os novos convertidos, pois eram estrategistas que se programavam para perverter os
recém-chegados. Pedro quer se dirigir a esse grupo, isto é, aos novos convertidos,
para encorajá-los a permanecer firme na verdadeira fé.

A motivação de Pedro é mostrar a urgência deste assunto, porque ele tem


ciência de que vai morrer logo e crê que Jesus está voltando, assim como ainda está.
Ele pode vir a qualquer momento.

O propósito de Pedro

Pedro reconhece, identifica e percebe a chegada de mestres heréticos que


buscam corromper a verdadeira doutrina. Além de desonrarem a Deus, essas
heresias afrouxam a moralidade da comunidade fiel.

Quando Cristo é tirado do centro, logo segue o afrouxamento moral. Por meio
da verdadeira doutrina, somos fortalecidos e só por Ele podemos nos livrar da
influência maligna da natureza pecaminosa.

Outro propósito é estabelecer uma polêmica contra esses falsos mestres, isto
é, um trabalho de prevenção, pois ele sabe que não estará vivo quando eles
chegarem. Ele avisa e previne o povo contra os falsos mestres. Aí encontramos o
propósito maior de Pedro: fortalecer o conhecimento da verdadeira fé cristã contra as
falsas doutrinas que logo surgirão no meio da igreja.

Fundamentos teológicos

● 2 Pedro 1:1-2 - a justiça de Deus como base para se obter a fé;

● 2 Pedro 1:4 - a depravação da raça humana caída;

● 2 Pedro 1:4,5 - a libertação dos eleitos da queda e os efeitos da libertação por


meio do conhecimento de Deus pela fé;
● 2 Pedro 1:5-11 - a libertação da queda é preservada pela fé e resulta no estilo
de vida cristão;

● 2 Pedro 2:4-9 - a condenação dos que procedem impiedosamente;

● 2 Pedro 3:10-13 - a volta de Jesus;

● 2 Pedro 1:19-21 - a profecia é vontade divina, não humana;

● 2 Pedro 3:8-9 - a demora da vinda de Cristo, mas isso é a oportunidade ao


homem de buscar salvação;

● 2 Pedro 1:3-4 - a santidade;

● 2 Pedro 2:10-18 - o combate aos falsos mestres;

● 2 Pedro 1:4 - o conhecimento de Deus para produzir a santificação;

● 2 Pedro 1:8-11 - a busca constante da disciplina cristã;

● 2 Pedro 1:20-21 - o Espírito Santo;

● 2 Pedro 3:14 - devemos estar alicerçados no Senhor;

Tema da carta

O verdadeiro conhecimento da fé cristã contra os falsos mestres e a sua


negação da parousia, isto é, a manifestação de Deus por meio de Jesus Cristo.

Introdução/Saudação 1:1,2

O verdadeiro conhecimento da fé cristã 1:3-21

Mestres falsos 2:1-22

A parousia e a dissolução final 3:1-18

Conclusão/Doxologia 3:18
PRIMEIRA EPÍSTOLA
DE JOÃO

Autoria

A partir do século XVI, a influência da teologia liberal tem duvidado da autoria


de João. Ainda assim, não há motivos para creditar a carta a alguém além do próprio
apóstolo João.

Datação

Uma vez que João é o autor, sua primeira carta deve ter sido escrita na mesma
época que seu relato do evangelho, muito provavelmente por volta de 95 d.C.

Local de escrita

Afirma-se que o local de escrita da carta tenha sido nas imediações da Ásia
Menor, mais precisamente em Éfeso.

Destinatários

João escreve para os membros da comunidade cristã de Éfeso, buscando


espalhar a carta para os cristãos da Ásia Menor sob seu cuidado. O autor trata os
leitores de maneira íntima, o que corrobora com o fato de que João era responsável
pela igreja de Éfeso..

Gênero literário

O escrito não possui a forma externa de carta: o autor não nomeia a si mesmo.
não apresenta o destinatário e nem conclui com uma saudação. Porém, o grau de
pessoalidade do texto e o fato de João ser pastor da igreja de Éfeso dispensa a
necessidade desses fatores.
Estilo do autor

João tem um pensamento importante para desenvolver, apresentando-o por


meio de tese e antítese e enfatizando o lado dogmático e moral de sua mensagem.
Ele ainda enfatiza a verdade de Deus por meio da luz e do amor.

O autor também destaca Cristo como a manifestação do amor de Deus através


do qual o pecador pode se reconciliar com Deus João também afirma que os filhos
de Deus devem submeter-se uns aos outros e a Deus.

Além disso, ele Intercala as mensagens com avisos prevenindo a igreja contra
os hereges, seu ponto principal da epístola.

Objetivos do autor

João vai tratar principalmente de advertir a igreja contra as heresias. Ele


próprio está sendo alvo destes ataques, portanto enfrenta as heresias
veementemente.

A principal heresia presente na comunidade da época é o gnosticismo, que


pregava um conhecimento secreto de Deus. Os gnósticos acreditavam que a matéria
é inerentemente má. Além disso, diziam que Cristo não era o mesmo que o Jesus
humano, habitando o corpo do Jesus homem apenas a partir do batismo até o período
da crucificação.

Perspectivas teológicas

Esta epístola de João serviu muito como base para os debates teológicos que
seguiram os primeiros séculos do cristianismo, pois o gnosticismo continuou forte no
seio da igreja.

O texto faz distinção entre o verdadeiro e falso conhecimentos, afirmando que


o conhecimento de Deus que podemos ter é dom dEle, de forma que não devemos
nos gloriar.

Mais importante que o conhecimento é a fé que vence o mundo. A prática do


amor entre os irmãos é a prova do verdadeiro conhecimento de Deus, e isso faltava
aos gnósticos.

João também enfatiza a unidade da pessoa de Cristo e a verdade da


encarnação. Os gnósticos fundamentavam seu conhecimento na mitologia, mas as
verdades da Bíblia baseiam-se na experiência e no testemunho dos apóstolos.
Tema

A verdadeira fé cristã em contraste com a heresia do gnosticismo.

Esboço

Prólogo 1:1-4

A conduta reta 1:5 - 2:6

O amor cristão 2:7-17

O Cristo manifestado em carne 2:18-28

O critério da conduta reta novamente 2:19 - 3:10

O amor mútuo cristão 3:10-24

O cristo manifestado em carne 3:24-4:6

O mútuo amor cristão 4:7-5:3

O critério da conduta reta 5:4-21


SEGUNDA EPÍSTOLA
DE JOÃO

Autoria

O autor apresenta-se como presbítero, isto é, ancião, uma pessoa digna e


honrada. O apóstolo João desfrutava de grande respeito, principalmente na
comunidade de Éfeso. Conclui-se, portanto, que João seja esse presbítero.

Datação

Provavelmente a carta data do final do primeiro século.

Local de escrita

O apóstolo João continuava seu trabalho em Éfeso durante a escrita desta


epístola.

Destinatários

“O ancião à senhora eleita, e a seus


filhos, aos quais amo na verdade, e não
somente eu, mas também todos os que
têm conhecido a verdade,”

(2 João 1:1)

Esta carta tem sido motivo de algumas discussões e debates pela forma como
João dirige-se aos destinatários. O mais provável é que, por senhora eleita, ele esteja
se referindo à igreja de forma ampla.

Aspecto teológico

Esta carta é bastante semelhante à primeira, parecendo uma confirmação


dos ensinamentos de sua predecessora. João traz a exortação à caridade fraterna e
mais uma vez alerta a igreja contra as heresias, condenando os falsos mestres
como inimigos da fé.

Tema

A epístola vai tratar do amor cristão e a verdadeira doutrina em face das


heresias.

Esboço

Introdução/Saudação 1-3

Exortação ao amor cristão 3-6

Advertência contra as doutrinas falsas e 7-11


contra o acolhimento dado a falsos
mestres

Conclusão / esperança de uma futura 12 e 13


visita, e outra saudação
TERCEIRA EPÍSTOLA
DE JOÃO

Autoria

A autoria desta carta também é creditada ao apóstolo João.

Datação

Provavelmente o final do primeiro século.

Local de escrita

Éfeso.

Destinatário

Aqui, João dirige-se a um homem chamado Gaio, dando a entender que tinha
certo grau de relacionamento com essa pessoa e exercia autoridade ministerial sobre
ela. Gaio era, provavelmente, líder de alguma comunidade cristã.

A teologia da epístola

A epístola apresenta três pontos fundamentais:

1. Vai ponderar os leitores sobre a hospitalidade de mestres estranhos;

2. Quer impedir a influência de falsos mestres;

3. Busca a fidelidade frente aos desafios das heresias;

Tema

A carta trata de uma disputa eclesiástica: uma guerra para proteger a igreja
dos falsos mestres.
Esboço

Introdução / Saudação 1

Elogio a Gaio por sua hospitalidade 2a8


para com pregadores cristãos
itinerantes

Condenação de rebeldia de Diótrefes 9 a 11


contra a autoridade apostólica de João
e se recusa de acolher pregadores
cristãos itinerantes

Elogio a Demétrius, provável portador 12


da epístola e enviado de João

Conclusão / expectativa de uma vida 13 a 15


futura e saudações finais
EPÍSTOLA DE
JUDAS

Autoria
“Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de
Tiago, aos chamados, santificados em
Deus Pai, e conservados por Jesus
Cristo:”

(Judas 1:1)
Podemos destacar alguns pontos:

O autor se apresenta como Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago.


Devemos considerar que o autor faz questão de apresentar-se como irmão de Tiago,
utilizando-se dessa figura para fortalecer o que será dito na carta. Isso nos leva a crer
que esse Tiago era alguém conhecido, provavelmente o mesmo autor da Epístola de
Tiago.
“Não é este o carpinteiro, filho de Maria,
e irmão de Tiago, e de José, e de Judas
e de Simão? e não estão aqui conosco
suas irmãs? E escandalizavam-se nele.”

(Marcos 6:3)

“Não temos nós direito de levar conosco


uma esposa crente, como também os
demais apóstolos, e os irmãos do
Senhor, e Cefas?”

(1 Coríntios 9:5)

Datação

Eusébio de Cesareia relata que dois netos de Judas foram convocados pelo
imperador Domiciano, que reinou entre 81 e 92 d.C., para serem questionados acerca
de sua descendência davídica. Podemos presumir a partir disso que Judas já estava
morto, portanto podemos supor que a escrita esteja entre 65 e 80 d.C.

Local de escrita
Eusébio sugere que a carta tenha sido escrita num espaço judaico. Alguns
outros eruditos, entretanto, têm sugerido que a escrita da carta pode ter se dada
durante uma viagem missionária.

Destinatários

Alguns estudiosos entendem que a carta foi escrita para uma comunidade
especial de cristãos gentios. Há, entretanto, quem acredite que as referências ao
Antigo Testamento e o fato de o texto incluir destaques apocalípticos judaicos
evidenciam que a carta tenha sido escrita para judeus cristãos.

A segunda opção é mais provável, mas com um adendo: a carta não é


direcionada a um grupo específico, mas a judeus cristãos de todos os lugares, por
isso a carta fica entre as epístolas gerais.

Tema

A advertência sobre os falsos mestres na igreja.

Teologia

1. Vai combater de forma veemente as heresias;

2. Vai deixar claro que a carta visa deixar clara a direção que a igreja deve tomar;

3. Vai admoestar os cristãos a manter-se na tradição apostólica;

4. Apresenta um conteúdo extremamente cristocêntrico;

5. Há a exaltação do monoteísmo e da trindade;

6. Apresenta Cristo como criador e redentor; legislador e juiz;

7. Apresenta Cristo como Deus da graça e da glória; Deus da misericórdia e Deus


da majestade; Deus do amor e do julgamento; Deus da paz e do poder; Deus
da salvação e da destruição; Deus do tempo e da eternidade;

8. Judas prega uma vida devota e piedosa, colocando Deus em primeiro lugar;

9. Não basta crer, pois a fé saudável é acompanhada de boas obras;

10. Vai abordar um aspecto escatológico;


Esboço

Introdução/Saudação 1-2

Penetração de falsos mestres 3,4

Caráter ímpio e julgamento futuro 5-16


dos falsos mestres

Resistência contra os falsos mestres 17-23

Conclusão/Bênção final 14,15


Sumário

Aula 1: Visão panorâmica


Aula 2: Paulo e o exercício da escrita
Aula 3: Aos Romanos: o legado teológico de Paulo
Aula 4: A Primeira Carta aos Coríntios: problemas de uma igreja local
Aula 5: A segunda Carta aos Coríntios: o coração do pastor
Aula 6: Aos Gálatas: o evangelho acima do legalismo
Aula 7: Aos Efésios: o cativo que edificava os livres
Aula 8: Aos Filipenses: a carta da alegria
Aula 9: Aos Colossenses: combatendo os falsos ensinos
Aula 10: A primeira Carta aos Tessalonicenses: edificando a esperança da
igreja
Aula 11: A segunda Carta aos Tessalonicenses: fortalecendo e animando os
irmãos
Aula 12: A primeira Carta a Timóteo: ensinamentos para o líder
Aula 13: A segunda Carta a Timóteo: lições que marcam a história
Aula 14: Epístola a Tito: a família, a igreja e o mundo
Aula 15: Carta a Filemom: a prática do verdadeiro amor
Aula 16: As cartas de Paulo e o mundo digital

Conclusão
Referências

2
Aula 1

Visão panorâmica

Introdução

O Novo Testamento contém treze epístolas cuja autoria pertence ao


apóstolo Paulo. O conjunto de cartas de Paulo é conhecido como Corpus
Paulinum. Essas cartas foram escritas para as comunidades que o apóstolo
visitou, pregou e ensinou as bases fundamentais da teologia cristã.
As epístolas de Paulo foram escritas num espaço de menos de vinte
anos. A missão de Paulo concentrou-se especificamente nos gentios, que ele
antes rejeitava. Três viagens missionárias o levaram pelas províncias romanas
da Galácia, Ásia, Acaia e Macedônia, dessas localidades ele escreveu suas
epístolas.

As cartas relacionadas a seguir são aquelas tradicionalmente atribuídas


a Paulo:

1. Romanos
2. I Coríntios
3. II Coríntios
4. Gálatas
5. Efésios
6. Filipenses
7. Colossenses
8. I Tessalonicenses
9. II Tessalonicenses
10. I Timóteo
11. II Timóteo
12. Tito
13. Filemon

O conjunto dessas treze cartas fazem do apóstolo Paulo o maior escritor


do Novo Testamento. Cabe salientar que durante muito tempo Paulo também
foi considerado o escritor da Carta aos Hebreus. Algumas traduções antigas do
texto bíblico trazem a designação “Carta de Paulo aos Hebreus”. Entretanto,

3
pela falta de fundamentos consistentes, e à luz das análises mais cuidadosas do
texto de Hebreus, tem sido amplamente aceito que o autor da epístola não é o
apóstolo Paulo. O mais provável é que o escritor tenha sido um líder cristão
desconhecido que provavelmente foi discipulado por algum apóstolo.
Esse conjunto de cartas, ao longo dos tempos, foi sendo dividido em
diversas categorias, a divisão mais difundida era a que trabalhava o estudo
dessas cartas em quatro categorias:

• As primeiras epístolas escritas: 1 e 2 Tessalonicenses;


• As grandes epístolas: Gálatas (que na opinião de alguns comentaristas
foi a primeira carta escrita); Romanos; 1 e 2 Coríntios;
• As epístolas da prisão: Filipenses, Efésios, Colossenses e Filemom;
• As epístolas pastorais: 1 e 2 Timóteo e Tito.

No último século, contudo, a abordagem tradicional às epístolas tem


sido alvo de muitos questionamentos por parte dos estudiosos. Alguns
teólogos menos conservadores atribuem a Paulo a autoria de apenas sete cartas:
Gálatas, Romanos, 1 e 2 Coríntios, 1 Tessalonicenses, Filipenses e Filemom. Eles
defendem a ideia de que as demais cartas foram escritas por discípulos de
Paulo depois da morte do apóstolo, por volta do ano 64 d.C. Apesar dessas
divergências, muitos dos grandes teólogos e estudiosos das cartas paulinas
defendem a autoria de Paulo combatendo os argumentos dos que duvidam
dessa autoria.

A amplitude de temas

As epístolas paulinas são parte do cuidado pastoral e teológico de Paulo,


falando sobre questões centrais da fé cristã. Divinamente inspiradas pelo
Espírito Santo, as epístolas trazem instruções teológicas indispensáveis à
doutrina da fé.

As cartas de Paulo são recheadas de instruções sobre diversos assuntos:

• A natureza de Deus;
• O significado do ministério e obra de Cristo;
• O ministério do Espírito Santo na Igreja;
• A doutrina da salvação;

4
• A doutrina dos acontecimentos que se darão no final dos tempos;
• O caráter cristão e a aplicação da vontade de Deus na vida prática dos
crentes;
• A ordem no culto;
• O governo da Igreja; etc.

Muitos estudiosos classificam as cartas de Paulo em quatro categorias


com base no conteúdo das cartas ou na ocasião em que foram escritas.

São elas:

• Cartas escatológicas: 1 e 2 Tessalonicenses.


• Cartas soteriológicas: Romanos, 1 e 2 Coríntios e Gálatas.
• Cartas da prisão: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom.
• Cartas pastorais: 1 e 2 Timóteo e Tito (embora a carta de 2 Timóteo
também tenha sido escrita enquanto Paulo estava preso).

Ambiente histórico

No tempo de Paulo, as igrejas não tinham edifícios próprios e, em geral,


reuniam-se nas casas dos membros abastados. Algumas dessas casas tinahm
lugar (em pé) para congregações de cem a duzentas pessoas na sala principal
(atrium) ou em um jardim com colunatas (peristylium) nos fundos da casa.
Essas igrejas domésticas estão provavelmente em vista nas referências a
“casas” ou “famílias” (I Tm. 3:15; II Tm. 1:16; 4:19; Tt. 1:11; I Tm. 5:13).
As cartas paulinas mais primitivas mostram que já nos anos 50 havia
pelo menos duas igrejas domésticas em Colossos (Fm. 2; Cl. 4.15), duas em
Éfeso (I Co. 16:19; II Tm. 1:16; 4:19) e provavelmente quatro em Corinto (Rm.
16:23; I Co. 1.11; 16:15-16; At. 18:7-8). Havia pelo menos quatro ou cinco em
Roma (Rm. 16:5, 10-11, 14-15; Fp. 4:22).
Quando uma igreja doméstica é especificada, subentende-se no mínimo
uma outra. Enquanto muitas igrejas tinham dezenas de membros, é provável
que algumas tivessem congregações de 100 a 150 membros e incluíssem até os
servos da casa.
É certo que as cartas de Paulo eram valorizadas e preservadas pelas
igrejas às quais foram enviadas. Clemente, Bispo de Roma, parece ter tido
conhecimento de diversas cartas de Paulo, citando-as em sua “Carta da Igreja

5
de Roma para a Igreja de Corinto” (1 Clemente), onde refletiu um vasto
conhecimento não só da carta paulina aos romanos, mas também de 1
Coríntios. Isso mostra que Clemente teve acesso a I Coríntios, ou em uma visita
que possa ter feito a Corinto, ou porque essa carta aos coríntios e outras foram
parar em Roma.
Paulo tinha milhares de motivos para escrever tão vasta produção,
inclusive motivos dolorosos, como a chamada “carta pesarosa” escrita a
Corinto (II Co. 2:4). Sabemos que há várias outras cartas, além das canônicas,
como uma terceira epístola aos Coríntios, a carta aos laodicenos (Cl. 4:16),
dentre outras das quais não há registros.
É legítimo supor que as cartas de Paulo que eram lidas e relidas nas
igrejas fossem gradativamente parar em outras congregações, graças ao seu
significado prático. Muitos estudiosos sugerem que, após a morte de Paulo,
muitos dos seus colaboradores e discípulos estudaram a fundo a teologia de
suas cartas num esforço para compreender seu ensino para a fé cristã.

Colaboradores

Os colaboradores de Paulo incluem os que são mencionados em Atos


(Trófimo) e em cartas anteriores: Apolo, Demas, Erasto, Lucas, Marcos, Priscila
e Áquila, Timóteo, Tito, Tíquico. Outros aparecem só em Tito (Ártemas, Zenas)
ou em II Timóteo (Cláudia, Crescente, Êubulo, Lino, Onesíforo, Pudente,
Carpo).
Uma figura que sempre aparece como colaborador no processo da
escrita das cartas é o secretário. Na Antiguidade, o secretário era uma
necessidade prática para todas as cartas, exceto as brevíssimas, pois a má
qualidade das canetas, da tinta e do papel tornava a redação lenta e trabalhosa,
exigindo mais de uma hora para redigir uma página pequena.
Geralmente, o secretário registrava primeiro em uma tabuinha de cera
ou madeira, em taquigrafia, que era usada na escrita grega e latina do século I,
e depois transcrevia por extenso em papiro. Esse auxiliar é mencionado
explicitamente em Romanos 16:22, e está subentendido onde Paulo, de acordo
com o costume, acrescenta uma nota marginal (Fm. 19; I Co. 16:21; Gl. 6:11; Cl.
4:18; II Ts. 3:17).
O trabalho do secretário variava de tomar ditado a ser um co-autor. Nas
pastorais, o secretário parece ter tido maior atuação que em algumas outras
cartas paulinas. Muito estudiosos (como Strobel, Moule, C. Spicq, Knight,

6
Metzger, dentre outros) sugerem que Lucas tenha sido o principal secretário de
Paulo nas redações das cartas pastorais, sobretudo por numerosas
peculiaridades verbais e estilísticas.

Tradições

Foram reconhecidas diversas tradições nos textos paulinos, tais como a


confissão em I Timóteo 3:16 e as cinco passagens com a frase “digna de
confiança é esta palavra” (pistos ho logos).

As tradições aparecem sob diversos assuntos e formas literárias, entre


eles estão:

• Doxologia (I Tm. 1:17; 6:15-16);


• Lista de vícios e virtudes (I Tm. 1:9-10; Rm. 1:29-31; I Co. 5:9-11; Rm.
13:12-14; Gl. 5:19-23; Ef. 4:25-32; Fp. 4:8-9; Cl. 3:5. 8-12; Tt. 2:3-10).
• Regulamentos da congregação para a conduta das mulheres casadas (I
Tm. 2:9-15);
• Qualificações para ministérios (I Tm. 3:1-13);
• Profecias (I Tm. 4:1-5; II Tm. 3:1-5);
• Confissões que às vezes são hínicas (I Tm. 2:5-6; 3:16; II Tm. 1:9-10; Tt.
3:3-7);
• Outro hinos (I Tm. 6:15-16; II Tm. 2:11-13; Tt. 2:11-14)
• Midrash implícito ou explícito, isto é, comentário dos textos do Antigo
Testamento (I Tm. 5:17-18; II Tm. 2:19-21; Tt. 3:3-7, combinando midrash
com forma hínica).

Algumas tradições também podem ser identificadas e classificadas em


relação a três fórmulas que as introduzem ou concluem:

• “Digna de confiança é esta palavra” (pistos ho logos): Introduz (I Tm. 1:15;


4:9-19; II Tm. 2:11-13) ou conclui (I Tm. 3:1; Tt. 3:8). A fórmula está
ausente das cartas paulinas mais primitivas e, aparentemente, tem
origem entre profetas apocalípticos judaicos ou em Qumran (1Q27 1,8).
Também foi empregada em Ap. 22:6 (João).
• “Bem sabendo” (touto ginoskein/iden hoti): Esta frase e outras semelhantes
nem sempre têm importância formular (I Ts. 1:4-5), porém são usadas

7
em outras passagens como fórmulas para introduzir uma citação bíblica
e outras tradições citadas (Rm. 6:6; Ef. 5:5; I Co. 6:9-10). Nas epístolas
pastorais, essa fórmula é usada para introduzir uma lista de vícios que
parafraseia os mandamentos do quinto ao nono (I Tm. 1:8-10) e uma
profecia (II Tm. 3:1-5).
• “Tudo isso” (tauta): Encontra-se na conclusão de material citado e
introduz sua aplicação à situação atual (I Tm. 4:6-11; II Tm. 2:14).
Também aparece no final das regras para congregações domésticas (I
Tm. 3:14; Tt. 1:7-9).

A palavra grega epsitolê (epístola, carta), originalmente referia-se a uma


comunicação oral enviada por mensageiro. O termo cartas era uma designação
ampla para diversos tipos de documentos no mundo antigo, incluindo grande
variedade de documentos comerciais, governamentais e legais, bem como
relatórios políticos e militares, junto com outras espécies de correspondência,
em especial, do tipo pessoal.
O apóstolo Paulo adaptou os modelos epistolares greco-romanos com
propósitos cristão para o ensino e a doutrina. Suas cartas eram elaboradas ao
longo de linhas similares às das cartas helenísticas, contudo, Paulo exercia
grande liberdade literária, de modo que não ficava preso a modelos fixos,
combinando com frequência costumes helênicos não-judaicos com costumes
judaicos helenísticos. O modelo geral da carta helenística incluía uma
introdução, um contexto e um encerramento. A forma básica da carta paulina
tinha uma progressão normal em vez de uma estrutura estereotipada e
mecânica.

A carta paulina, geralmente, continha os seguintes elementos:

• Introdução: contendo saudação, identificação do autor (incluindo


alguma citação do colaborador), identificação dos destinatários. A
costumeira saudação helenística Chairein (saudação) é substituída por
charis kai eirene (graça e paz).
• Ação de graças ou bênção introdutória: A ação de graças e a súplica
incluídas comprovam a profunda preocupação pastoral e apostólica de
Paulo.
• Contexto: Trata-se das verdades discutidas no corpo do texto,
juntamente com outro aspecto típico do contexto das cartas: a “parousia

8
apostólica”, onde Paulo fala dos seus planos e intenção de estar com
seus leitores, lembrando contatos passados e ansiando por encontros
futuros. Como Paulo não podia estar sempre com seus leitores, as cartas
eram substitutas diretas de sua presença.
• Encerramento: Saudações, manifestações de seu desejo de estar com os
leitores, uma bênção ou doxologia. Uma prática comum de
encerramento em Paulo era seu costume de escrever uma ou duas frases
de próprio punho (I Co. 16:21; Gl. 6:11; Cl. 4:18; II Ts. 3:17).

As epístolas paulinas não só apresentam ampla variação estilística,


como também empregam uma variedade de outras tradições literárias, até
mesmo as formas e os modos retóricos contemporâneos de persuasão,
estruturas quiásticas, estilo de diatribe, métodos exegéticos à maneira do
midrash, onde é feito um apelo à autoridade do Antigo Testamento, bem como
material hínico tradicional primitivo e fórmulas confessionais. Paulo parece
não ter se apegado a nenhuma outra convenção estilística, quer epistolar,
sermonária ou oratória.
A forma epistolar que se desenvolveu nas cartas paulinas era mais rica
que as breves cartas particulares e também que os ensaios mais desenvolvidos
do helenismo.

9
Aula 2

Paulo e o exercício da escrita

Introdução

Leander Keck, em sua obra Paul and his letters, diz que “é difícil separar
o homem de sua mensagem”. Os eventos da vida do apóstolo Paulo são de
grande importância no entendimento de sua escrita. Paulo escreve com a vida.
Paulo era um hebreu, da tribo de Benjamin, cujos anos de infância e,
talvez o início da juventude, foram vividos na cidade de Tarso da Cilícia (At.
22:3). O famoso teólogo Alan Coates Bouquet, escreveu que na época de Paulo
a cidade de Tarso tinha um sistema bem desenvolvido de educação dos jovens,
sendo considerada como cidade univesitária.
Muitos estudiosos, dentre eles, W.W. Gasque, F. F. Bruce, T. Paige,
O’Connor e outros, dizem que a cidade de Tarso tinha um ambiente adequado
para o desenvolvimento de uma educação de qualidade. Os estudiosos dizem
também que era comum, depois de algum tempo, muitos desses jovens
estudantes, deixarem Tarso a caminho de outras cidades e até mesmo do
exterior, a fim de aprofundarem seus estudos.
Paulo foi um desses exemplos: saiu de Tarso e foi para Jerusalém,
provavelmente buscando aprofundar seus estudos na religião, teologia e
espiritualidades judaicas. Em Jerusalém, Paulo esteve sob a influência de um
importante fariseu, conforme a informação registrada em Atos 22:3: “fui
instruído aos pés de Gamaliel”, que é reconhecidamente o rabi mais
reverenciado daquele tempo e, de acordo com Johm MacArthur, “um dos
maiores da Antiguidade”.
Paulo sabia muito bem coordenar as estratégias do seu trabalho
apostólico. Sua agenda missionária é um belo exemplo da capacidade
estartégica dele. Em sua primeira viagem missionária, concentrou-se
exclusivamente em Chipre e na Galácia; na segunda viagem missionária,
dedicou-se à evangelização das províncias da Macedônia e Acaia. Na terceira
viagem concentrou-se em Éfeso, na província da Ásia Menor. Em todas elas,
Paulo incluiu a capital em seu trajeto: Tessalônica, a capita da Macedônia;
Corinto, a capital da Acaia, e Éfeso, a capital da Ásia. Além disso, Paulo
escreveu a cada uma dessas igrejas: duas cartas aos tessalonicenses, várias
cartas aos coríntios e uma carta aos efésios.

10
Paulo por Paulo

J. B. Polhill, lendo a declaração de Paulo em Filipenses 3:5, “segundo a


lei, fariseu”, identifica essa fala do apóstolo como sendo “a mais compreensível
das declarações autobiográficas de Paulo”. É Paulo revelando Paulo. Na visão
de C. Marvin Pate, Paulo foi produto de três mundos: o greco-romano, o
judaico e o cristão. Cada um exerceu impacto crescente sobre ele, como círculos
concêntricos.

James Dunn, em sua obra A Nova Perspectiva sobre Paulo, apresenta e


comenta sete traços esclaracedores dessa autobiografia de Paulo em Fp. 3:5-6:

1. “Circuncidado no oitavo dia”: o orgulho de sua identidade étnica;


2. “Da descedência de Israel”: ênfase na linhagem; não é um prosélito;
3. “Da tribo de Benjamin”: etnia judaica como valor de nascimento;
4. “Hebreu de hebreus”: reforço da identidade linguístca;
5. “Quanto à lei, fariseu”: radicalismo ortodoxo, devoto e exagerado;
6. “Quanto ao zelo, um perseguidor da igreja”: intolerância religiosa,
fanatismo;
7. “Quanto à justiça que está na lei, irrepreensível”: produto dos anos de
estudo radicalista em Jerusalém.

Paulo expõe o próprio Paulo, mostrando traços de radicalismo e de


leituras extremistas de sua religiosidade. A honestidade intelectual e a
humildade cristã aparecem nesses relatos tão íntimos, de reconstrução de
memórias.

Helem Elson, apresenta uma definição do que significava uma carta e


sua função no mundo greco-romano:

A carta era um dos tipos mais comuns de escrita no período romano. Era
o meio pelo qual monarcas e imperadores administravam seus
domínios, e pelo qual as autoridades judaicas em Jerusalém mantinham
integrados o culto e a comunidade do povo judeu até a destruição do
Templo. Ela também fornecia uma estrutura literária útil para o ensino
filosófico, na medida em que a ficção da carta sugere que o professor

11
ausente está falando para cada leitor individualmente e, desse modo,
proporcionando cuidadosa orientação pessoal do escritor sobre o modo
de viver. Porque ela pode “criar” a presença pessoal do escritor real ou
presumido, a carta também fornecia um veículo útil para a biografia e a
autobiografia na Antiguidade.

Quando o imperador mandava uma carta oficial para alguma cidade, na


saudação eram incluídos todos os títulos e credenciais para mostrar a sua
autoridade. Essa é a razão pela qual encontramos tantas vezes Paulo iniciando
suas cartas com a apresentação das suas credenciais apostólicas, muitas vezes
colocadas em cheque por seus adversários (Rm. 1:1; 11:13; I Co. 1:1; II Co. 1:1;
Gl. 1:1).

Cartas

O conjunto de cartas escritas por Paulo é rico em todos os aspectos,


servindo inclusive como base sólida para definirmos sua personalidade e a
profundidade de sua mensagem. Édouard Cothenet diz que “nossa melhor
fonte de informações sobre Paulo é ele mesmo em suas epístolas”. O
entusiasmo e a coragem para abordar temas profundos e complexos é uma
característica acentuada em Paulo.

Jerome Murphy O’Connor, em sua obra Paulo de Tarso: história de um


apóstolo, sintetiza um pouco a personalidade de Paulo em suas cartas:

Paulo tinha as emoções à flor da pele. É fora do comum a rapidez com


que muda de humor no capítulo 4 de 1 Coríntios. Uma razoável
moderação (vv. 1-6) cede lugar a uma dura ironia (vv. 7-10), logo
substituída por ousada autocomiseração (vv. 11-13), que se transforma
em afeição ansiosa (vv. 14-17) e deflagra, por fim, acaloradas
advertências (vv. 18-21). Há muitas pistas que dão a conhecer os
sentimentos de Paulo, mas nunca exploradas sistematicamente.
Podemos conhecer o caráter de Paulo e descobrir o que o deixava feliz
ou triste, interessado ou indiferente, despreocupado ou temeroso. Sua
personalidade se expressava na contínua interação entre suas emoções
e seus pensamentos.

12
Nas cartas, Paulo entrega tudo: sua ternura e suas inquietações. Até
mesmo explosões de ira. Ele ensina, encoraja, exorta, transmite ideias e
diretivas, ordens e alguns conselhos. Celebra e lamenta. Paulo escreve movido
por um misto de sensibilidade, abertura e potencial criativo. Ele é movido por
certezas, convicções construídas e fortalecidas à luz da experiência diária com
Cristo.

Paulo expõe em suas cartas não somente ideias e teologia, mas também
deixa transparecer sua personalidade em diversos aspectos. F. F. Bruce,
comentando sobre a impetuosidade de Paulo, diz:

A impetuosidade transparece no seu estilo de escrever cartas. [...] Vez o


outra, Paulo começa uma frase que não chega a um término gramatical,
pois antes de conduzir esse pensamento outro o atinge e ele se volta para
tratar deste. Quando volta à trilha principal, o começo original da frase
jea foi esquecido.

Paulo também demonstra grande esforço em valorizar e construir


relacionamentos. Suas cartas são repletas de nomes, saudações, sentimentos,
memórias e afetos. Priscila, Áquila, Epafrodito e Timóteo são exemplos de
pessoas que, de uma forma ou de outra, arriscaram suas vidas para ajudá-lo
em alguma necessidade.
Seu interesse e zelo pelas comunidades eclesiais eram o alicerce de sua
atuação como escritor. Paulo compreendia muito bem a dinâmica característica
da igreja como um dado histórico social, feita de gente. Ele sabia enxergar a
igreja como sendo divinamente instituída, porém humanamente constituída,
vivendo sob o paradoxo de lidar com verdades eternas em mentes temporais.
Suas cartas eram esforços relacionais, recheadas de cuidado, carinho e
desejo de que a fé fosse legítima e bem fundamentada, digna de imitação.

13
Aula 3

Aos Romanos: o legado teológico de Paulo

Introdução

A epístola aos Romanos é a obra magna do apóstolo Paulo. Grandes


nomes da fé cristã ao longo dos séculos debruçaram-se no estudo profundo e
admirado dessa carta magistral: o apóstolo Pedro (II Pe. 3:15-16), Agostinho,
Crisóstomo, Clemente, William Tyndale, Martinho Lutero, John Wesley, Karl
Barth, John Stott, Martin Lloyd-Jones, e muitos outros. A epístola aos Romanos
é considerada a explicação teológica mais sistematizada do Evangelho de Jesus
Cristo no Novo Testamento. Alguns comentaristas descrevem-na como a
“Suma Teológica” paulina.
Romanos foi escrita por Paulo com a ajuda do seu colaborador
profissional, Tércio (Rm. 16:22). Entre os materiais de escrita daquele período
estavam o estilo (objeto utilizado para escrever sobre tábuas de cera), a pena e
a tinta, usadas para escrever em papiro, pergaminho, velino, tábuas ou
cerâmica.
Os temas predominantes na epístola aos Romanos são a justiça e a
soberania de Deus, a justifucação pela fé (que teve forte apelo na teologia de
Lutero e consequente impacto na Reforma Protestante), o sacrifício de Cristo e
a universalidade do pecado. Martinho Lutero fez uma classificação dessa
epístola com forte apelo aos cristãos: “A Carta aos Romanos é a mais
importante peça do Novo Testamento. É o mais puro Evangelho. Vale a pena
para um cristão não somente memorizar palavra por palavra, mas também
ocupar-se com ela diarimente, como pão diário da alma”.
Romanos e Colossenses são as únicas das treze cartas paulinas escritas a
comunidades que o apóstolo não conhecia pessoalmente. Isso pode explicar o
tom mais formal da carta e o extenso tratado teológico nela inserido, o que não
era comum nas cartas relativamente pessoais.
Karl Barth, no prefácio que fez à primeira edição de sua famosa obra
Carta aos Romanos (1918), chama à responsabilidade e ao desafio de buscarmos
um encontro com o verdadeiro Paulo. Esse encontro, Barth chama de
“fidelidade suprema” a Paulo: deixar que o apóstolo diga o que ele de fato diz
e não o forçar a dizer aquilo que nós gostaríamos que ele dissesse. Barth
também acreditava que Paulo, mesmo sendo um filho de sua época, tendo,

14
portanto, algo a dizer aos seus contemporâneos, fala também a todas as pessoas
de todas as épocas.
Para John Stott, a epístola aos Romanos é uma espécie de manifesto
cristão. Um manifesto eterno, um manifesto de liberdade por meio de Cristo.
Stott, em seu comentário sobre Romanos, diz algo magistral: “Sua mensagem
não é que ‘o homem nasceu livre, mas em todo e qualquer lugar encontra-se
escravizado’, como diz Rousseau no início do seu Contrato Social (1762); pelo
contrário, é a mensagem de que os seres humanos nascem em pecado e
escravidão, mas que Jesus Cristo veio para libertá-los”.
William Tyndale, o pai dos tradutores da Bíblia na língua inglesa, no
Prólogo que escreveu ao livro de Romanos, descreve-o como “a principal e
mais excelente parte do Novo Testamento, o Evangelho – isto é, a boa nova –
em sua essência mais pura... E também uma luz e um caminho para se penetrar
em toda a Escritura”.
Em nosso tempo, o Dr. Martin Lloyd-Jones, fez uma cuidadosa,
aclamada e ampla exposição da Carta aos Romanos, todas as sextas-feiras à
noite, na Capela de Westminster, em Londres, desde 1955 até 1968.
Posteriormente, foram lançados em livro, o que resultou em uma monumental
obra composta por 14 volumes.
É impossível ficar indiferente ao que Romanos tem a dizer.

Informações

A carta aos Romanos não tem qualquer problema quanto à autoria de


Paulo, logo, devemos concentrar nossos esforços em outras informações, como
os motivos de sua escrita, por exemplo. Segundo o Dr. Alexander Wedderburn,
em sua monografia "As Razões para Escrever Romanos" (The Reasons for
Romans), insiste que precisamos ter em mente três pares de fatores: tanto a
estrutura epistolar de Romanos (seu começo e fim) como a substância do seu
conteúdo teológico; tanto a situação de Paulo como a da igreja de Roma; e os
dois segmentos da igreja de Roma — gentios e judeus — com seus problemas
específicos.
Também é muito importante levar em conta quais eram as
circunstâncias do próprio Paulo. Quando relacionamos Romanos 15:25 com
Atos 20:3, vemos três meses passados na Grécia, no início da última visita a
Jerusalém. Isso sugere Corinto, o principal centro das atividades paulinas na
Grécia, e combina com as informações dadas pelo capítulo 16 de Romanos:

15
Febe veio de Cencréia, um dos portos coríntios (Rm. 16:1-2); e é provável que
Gaio e Erasto (Rm. 16:23) morassem em Corinto (I Co. 1:14). Um período de três
meses concentrado em um lugar com tanta acessibilidade como Corinto, daria
a Paulo tempo para refletir, compor e ditar aquela que é, certamente, sua carta
mais cuidadosamente idealizada e planejada.
Paulo menciona três lugares que planejava visitar. O primeiro é
Jerusalém, e pretendia levar consigo o dinheiro com que as igrejas gregas
contribuíram para ajudar os cristãos empobrecidos da Judéia (Rm. 15:25-27). O
segundo é a própria Roma. Já que as suas tentativas anteriores de visitar os
cristãos de Roma foram frustradas, ele está confiante de que desta vez vai dar
certo (Rm. 15:23). Em terceiro lugar, ele pretende visitar a Espanha, a fim de
dar continuidade ao seu trabalho missionário "onde Cristo ainda não fosse
conhecido" (Rm. 15:20, 24, 28). Seus propósitos mais óbvios ao escrever tinham
relação com esses três destinos.

Data

O período exato da escrita não é citado no próprio livro, contudo não


chega a ser um problema. As informações sobre a coleta de recursos para a
igreja de Jerusalém (Rm. 15:25-28), aponta para algo entre 55-57, data defendida
pela maioria dos comentaristas. Alguns estudiosos propõem o início de 58, e
outros defendem uma data entre 51-52.

Público

É evidente que a carta foi escrita para um público-alvo específico: os


cristãos de Roma. Esses cristãos eram notados em todo o império por sua fé
(Rm. 1:8). É provável que tivessem alguma experiência como seguidores de
Jesus, inclusive maturidade suficiente até mesmo para instruírem uns aos
outros (Rm. 15:14). Não temos fontes legítimas sobre quem eram os fundadores
originais dessa comunidade cristã em Roma, há relatos de que teria nascido do
trabalho evangelístico de judeus que estavam em Jerusalém no dia de
Pentecostes (At. 2), e que se converteram ali, voltando para Roma e
estabelecendo a igreja. Segundo Luiz Sayão, há um testemunho do quarto
século (supostamente de Ambrósio de Milão) afirmando que a igreja de Roma
não foi iniciada por algum apóstolo.

16
James Dunn diz que o cristianismo criou raízes em Roma primeiro entre
as muitas sinagogas judaicas que ali haviam. Isso explica, na visão de Dunn,
como é plausível considerar Pedro o fundador da igreja em Roma e, mais
relevante, por que a carta paulina é dominada pelo tema “para o judeu primeiro
e também para o gentio” (Rm. 1:16; 2:9-10; 3:9. 29; 9:24; 10:12).

Propósitos

Paulo escreve tendo em vista não apenas um, mas diversos propósitos.
Sua carta tem grande abrangência e aplicabilidade. Sua mente estava imersa
nos problemas resultantes dos conflitos com os judaizantes, o que o levou
imediatamente a tratar com profundidade sobre questões teológicas básicas,
mediante uma apresentação mais ampla do problema do pecado e do plano de
Deus para todos os homens.

Três propósitos principais ficam claros nessa epístola:

• Propósito missionário: Paulo escreveu a Roma com a intenção de obter


das igrejas dali uma base de apoio para a sua planejada missão à
Espanha. Ele diz isso explicitamente (Rm. 15:24-28). A perspectiva
missionária de Paulo inclui Roma como ponto de apoio e base entre
Jerusalém e a Espanha.
• Propósito apologético: Paulo sentia que ele próprio e o Evangelho
estavam sob ataque (Rm. 1:16; 3:8; 9:1-2). O apóstolo defende as bases
teológicas do Evangelho e aprofunda os conceitos centrais do pecado,
da ira de Deus, da graça e da universalidade da fé.
• Propósito pastoral: Paulo buscava enfrentar os problemas de
relacionamento entre judeus e gentios nas igrejas de Roma (Rm. 14-15).
O apóstolo tinha laços com muitos dos irmãos daquelas igrejas (Rm. 16),
seu amor e zelo por eles demonstra claramente sua dimensão pastoral e
cuidadora.

No decorrer de toda a Epístola aos Romanos percebem-se grandes


controvérsias, tanto em suas implicações teológicas como práticas. Paulo é
visto, do início ao fim, como um autêntico pacificador, ansioso por preservar a
verdade e a paz sem sacrificar uma em detrimento da outra. O apóstolo era a
pessoa perfeita para essa finalidade, visto que pertencia aos dosi lados da

17
moeda: de um lado era um judeu patriota ("Pois eu até desejaria ser
amaldiçoado e separado de Cristo por amor de meus irmãos ... o povo de
Israel", Rm. 9:3). Por outro lado, fora comissionado especialmente para ser o
apóstolo dos gentios ("Estou falando a vocês, gentios. Visto que sou apóstolo
para os gentios ...", Rm. 11:13; cf. 1:5; 15:15s.). Sua situação, portanto, era única
— ninguém melhor do que ele para ser agente de reconciliação. Estava
determinado a anunciar o Evangelho apostólico através de uma declaração
plena e renovada, que, sem comprometer nenhuma das suas verdades
reveladas, ao mesmo tempo resolvesse o conflito entre judeus e gentios acerca
da aliança e da lei, promovendo assim a unidade da igreja.
Nesse ministério da reconciliação, portanto, Paulo desenvolve dois
temas de suprema importância, entretecendo-os de maneira belíssima. O
primeiro é a justificação do pecador culpado, somente pela graça de Deus,
somente em Cristo, somente através da fé, independentemente de status ou de
obras. Dentre as verdades e as experiências cristãs, esta é a mais humilhante e
a mais niveladora, sendo, portanto, a base fundamental da uni- dade cristã.
O segundo tema explorado por Paulo é a consequente redefinição do
que é "povo de Deus" — não mais de acordo com descendência, circuncisão ou
cultura, mas segundo a fé em Jesus, de forma que todos os crentes são
verdadeiros filhos de Abraão, independentemente de sua origem étnica ou
prática religiosa. Portanto, agora "não há distinção" entre judeus e gentios, seja
no que concerne ao seu pecado ou culpa, seja quanto à oferta e dádiva da
salvação através de Cristo (Rm. 3:21ss., 27s.; 4.9ss.). Não por acaso, o mais
importante de todos os temas de Romanos é o da igualdade entre judeus e
gentios.
O apóstolo Paulo mostra-nos a permanente validade, tanto da aliança de
Deus (que agora abrange os gentios e demonstra sua fidelidade) como da lei
divina (de maneira que, embora "libertados" de tê-la como caminho de
salvação, ainda assim nós, através do Espírito, a "cumprimos" por ser a
revelação da santa vontade de Deus).

Breve esboço

Introdução 1.1-15
O tema 1.16-17
A manifestação da ira de Deus 1.18-32
Todos serão julgados 2.1-16

18
Os judeus são culpados 2.17-19
O julgamento é justo 3.1-20
Justificados pela fé 3.21-31
A fé sempre foi o meio 4.1-25
A graça prevalece 5.1-21
A vida nova em Cristo 6.1-14
Escravos da justiça 6.15-23
A contradição humana 7.1-13
A luta do cristão 7.14-25
Não há condenação 8.1-17
O sofrimento que redime 8.18-27
Mais que vencedores 8.28-39
O lugar de Israel 9.1-5
Deus é fiel 9.6-13
Deus escolheu Israel 9.14-33
Crer e confessar 10.1-21
O chamado à humildade 11.1-24
Israel no plano de Deus 11.25-36
Transformai-vos 12.1-2
Os dons espirituais 12.3-21
Os cristãos e os governos 13.1-14
O relacionamento entre os crentes 14.1-23
Agradar uns aos outros 15.1-13
Conclusão 15.14—16.27

Grandes temas

Os dois temas principais de Paulo — a integridade do evangelho que lhe


foi confiado e a solidariedade dos judeus e gentios na comunidade messiânica
— já ficam evidentes na primeira parte do primeiro capítulo da carta. Paulo
chama a boa nova de "o evangelho de Deus" (v. 1) por ser Deus o seu autor, e
de "o evangelho de seu Filho" (v. 9) por ser Jesus a sua essência.
Nos versículos 1 a 5 ele enfoca a pessoa de Jesus Cristo, filho de Davi
por descendência e poderosamente declarado Filho de Deus por meio da
ressurreição. No versículo 16 concentra-se na obra desse Jesus, uma vez que o

19
evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, "primeiro
do judeu, depois do grego".
Entre estas sucintas declarações acerca do evangelho, Paulo tenta
estabelecer uma relação pessoal com os seus leitores. Ele escreve para "todos
que em Roma são amados de Deus e chamados para serem santos" (v. 7),
independente da etnia, embora saiba que a maioria deles é constituída de
gentios (v. 13). Agradece a Deus por todos eles, ora por eles constantemente,
anseia vê-los, já tentou visitá-los muitas vezes (até aqui, sem sucesso, v. 8- 13).
Sente-se na obrigação de anunciar o evangelho na capital do mundo da época.
De fato, está ansioso por fazê-lo, uma vez que no evangelho está revelada a
maneira como Deus, em sua justiça, "justifica" o injusto (v. 14-17).

A ira de Deus (1.18—3.20)

A revelação da justiça de Deus no evangelho é necessária em virtude da


revelação de sua ira contra toda injustiça (v. 18). A ira de Deus, seu puro e
perfeito antagonismo com o mal, volta-se contra todos aqueles que
deliberadamente suprimem aquilo que sabem ser a verdade e o certo, a fim de
seguirem os seus próprios caminhos. Pois todo mundo tem algum
conhecimento de Deus e de sua bondade, seja por meio das coisas criadas (v.
19s.), ou através da consciência (v. 32), ou porque as exigências da lei estão
gravadas no coração humano (Rm. 2:12ss.), ou através da lei de Moisés que foi
confiada aos judeus (2:17ss.).

Paulo divide a raça humana em três grupos distintos:

• A sociedade gentílica depravada (1.18-32);


• Os críticos moralistas, sejam judeus ou gentios (2.1-16);
• Os judeus instruídos e autoconfiantes (2.17—3.8).

E então conclui acusando toda a raça humana (3:9-20). Em cada caso o


seu argumento é o mesmo: que ninguém vive à altura do conhecimento que
tem. Nem mesmo os privilégios especiais dos judeus os isentam do juízo
divino. "Tanto judeus quanto gentios estão debaixo do pecado" (3:9), "Pois em
Deus não há parcialidade" (2:11). Todos os seres humanos são pecadores,
culpados e indesculpáveis diante de Deus. O quadro que ele apresenta é de
completa escuridão.

20
A graça de Deus (3.21—8.39)

O "mas agora" de Romanos 3:21 é um dos maiores adversativos


encontrados na Bíblia, pois denota que em meio à treva universal do pecado e
da culpabilidade humana brilhou a luz do evangelho. Uma vez mais Paulo a
chama de "a justiça de [ou, que provém de] Deus" (como em 1:17), ou seja, sua
justa justificação do injusto. Isso só é possível por meio da cruz, na qual Deus
demonstrou sua justiça (3:25s.), como também seu amor (5:8), e que está à
disposição de "todos os que crêem" (3:22), sejam eles judeus ou gentios.
Ao explanar sobre a cruz, Paulo recorre a palavras-chaves como
"propiciação", "redenção" e "justificação". E então, em resposta às objeções dos
judeus (3:27-31), ele argumenta que, já que a justificação só é possível através
da fé, ninguém pode se vangloriar diante de Deus; de igual forma, não pode
haver qualquer discriminação entre judeus e gentios e a lei não pode ser
negligenciada.
Romanos 4 é um brilhante ensaio no qual Paulo prova que o próprio
Abraão, o pai fundador de Israel, foi justificado, não por suas obras (4-8), nem
pela sua circuncisão (9-12), nem pela lei (13-15), mas pela fé. Em consequência,
Abraão é agora "o pai de todos os que creem", sejam eles judeus ou gentios (11,
16-25). A imparcialidade divina é evidente.
Depois de mostrar que até os ímpios Deus justifica pela fé (4.5), Paulo
afirma as grandes bênçãos desfrutadas pelos que são justificados (5.1-11).
Tendo sido, pois, justificados pela fé, começa ele, nós temos paz com Deus,
estamos firmes em sua graça e nos regozijamos na perspectiva de ver e
compartilhar da sua glória. Nem o sofrimento pode abalar a nossa confiança,
por causa do amor de Deus que ele derramou em nossos corações através de
seu Espírito (5) e que foi provado na cruz por intermédio de seu Filho (8). Em
virtude do que Deus já fez por nós, ousamos dizer que "seremos salvos" no dia
do juízo final (9-10).
Duas comunidades humanas são retratadas aqui, uma caracterizada
pelo pecado e pela culpa e a outra pela graça e pela fé. O cabeça da velha
comunidade é Adão e o cabeça da nova comunidade é Cristo. E assim, com
uma precisão quase matemática, Paulo compara e contrasta as duas (5.12-21).
A comparação é simples. Em ambos os casos, o que um único homem fez afetou
um enorme número de pessoas. O contraste, no entanto, é muito mais
significativo. Enquanto a desobediência de Adão trouxe condenação e morte, a

21
obediência de Cristo trouxe justificação e vida. Na verdade, a obra salvadora
de Cristo acabará sendo muito mais bem-sucedida do que a obra destruidora
de Adão.
No meio dessa antítese entre Adão e Cristo, Paulo introduz Moisés: "A
lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada. Mas onde
aumentou o pecado, transbordou a graça" (20). Ambas as declarações devem
ter tido o efeito de uma bomba nos ouvidos dos judeus, pois para eles elas
devem ter soado como uma antinomia. A primeira parecia lançar a culpa na lei;
já a segunda minimiza o pecado ao magnificar a graça. Será que o evangelho
de Paulo menosprezava a lei e, ao mesmo tempo, estimulava o pecado? Paulo
responde a segunda acusação em Romanos 6 e a primeira em Romanos 7.
Duas vezes em Romanos 6 (versículos 1 e 15) ouvimos os críticos de
Paulo insinuando que ele estaria dizendo que nós podemos continuar pecando
para que a graça de Deus continue perdoando. Ambas as vezes Paulo responde
com um furioso "De maneira nenhuma!". Se um cristão chega ao ponto de fazer
tal pergunta, é porque nunca entendeu o significado do seu batismo (1-14), nem
o da sua conversão (15-23). Será que eles não sabiam que o seu batismo
significou união com Cristo em sua morte e que a morte de Cristo foi uma
"morte para o pecado" (ir ao encontro de suas demandas, pagando a sua
penalidade) e que eles haviam participado também em sua ressurreição?
Pela união com Cristo eles mesmos estavam "mortos para o pecado e
vivos para Deus". Como, então, podiam continuar vivendo naquilo para o qual
já haviam morrido? Com a conversão ocorria a mesma coisa. Eles já não haviam
tomado o passo decisivo de oferecer-se a Deus como seus escravos? Então,
como podiam sequer considerar a possibilidade de voltarem a sujeitar-se ao
pecado? Tanto nosso batismo como nossa conversão fecharam a porta para a
velha vida e abriram caminho para uma vida nova. Não que nos seja impossível
voltar; só que isto seria inconcebível. A graça, longe de incentivar o pecado,
proíbe a sua prática.

Outra preocupação dos críticos de Paulo era quanto ao que ele ensinava
com referência à lei. E é isso que ele esclarece no capítulo 7 de Romanos,
apresentando três argumentos:

• Primeiro (1-6), os cristãos "morreram para a lei" em Cristo, da mesma


forma que "morreram para o pecado". Consequentemente, foram

22
"libertados" da lei, isto é, da sua condenação, e agora estão livres — não
para pecar, mas para servir no "novo modo do Espírito" (7-13).
• Segundo (7-13), Paulo argumenta que, embora a lei revele, provoque e
condene o pecado, ela não é responsável pelo pecado ou pela morte. Pelo
contrário, a lei é santa. Paulo exonera a lei.
• Terceiro (14-25) o apóstolo descreve em termos muito vividos uma
penosa e constante luta moral interior. Se o "miserável homem" que
clama por libertação é um cristão regenerado ou um não-regenerado e
se trata do próprio Paulo ou de alguém que ele está personificando, isso
não importa; o seu propósito nesta passagem é demonstrar a fragilidade
da lei. Sua derrota deve-se, não à lei (que é santa), nem mesmo ao seu
próprio eu, mas sim ao "pecado que habita em mim" (17, 20); e isto a lei
não tem poder algum de controlar.

Mas agora (8.1-4) Deus fez através do seu Filho e do Espírito aquilo que
a lei, enfraquecida pela nossa natureza pecaminosa, fora incapaz de fazer. E a
solução para o pecado que habita em nós é o Espírito vir habitar em nós (8.9);
esse Espírito não tinha sido mencionado no capítulo 7, à exceção do versículo
6. Assim, para alcançarmos tanto a justificação como a santificação, nós "não
estamos sob o domínio da lei, mas debaixo da graça".
Assim como a lei perpassa todo o capítulo 7 de Romanos, o capítulo 8
está cheio de referências ao Espírito. Durante a primeira parte do capítulo
Paulo descreve alguns dos diversos ministérios do Espírito Santo — livrar-nos,
habitar em nós, dar-nos vida, proporcionar-nos domínio próprio, testemunhar
com o nosso espírito que nós somos filhos de Deus, e interceder por nós.
O fato de nós sermos filhos de Deus leva Paulo a lembrar que somos,
em consequência, também herdeiros de Deus, e que o sofrimento é o único
caminho para a glória. Então ele traça um paralelo entre os sofrimentos e a
glória da criação de Deus e os sofrimentos e a glória dos filhos de Deus. Até
aqui a criação tem sido submetida à frustração e à futilidade, escreve. Mas um
dia ela será libertada dessa escravidão. Entrementes, a criação geme como se
tivesse dores de parto, e nós gememos com ela. Nós, da mesma forma,
aguardamos com ansiedade, mas também com paciente expectativa, a
redenção final do universo, inclusive dos nossos corpos.
Nos últimos doze versículos de Romanos 8 o apóstolo atinge as sublimes
alturas da confiança cristã. Ele expressa cinco convicções acerca de como Deus
age para o nosso bem, isto é, para a nossa salvação final (28). Esboça cinco

23
estágios do propósito de Deus, desde uma eternidade passada até uma
eternidade futura (29-30). E lança, em forma de desafio, cinco perguntas para
as quais não existe resposta. E assim nos fortalece com quinze certezas
referentes ao inabalável amor de Deus, do qual nada jamais conseguirá nos
separar.

O plano de Deus (9-11)

Durante a primeira parte de sua carta Paulo não esqueceu, nem a


mistura étnica da igreja romana, nem as tensões que sempre vinham à tona
entre a minoria, composta de cristãos judeus, e a maioria, composta de gentios.
Agora chegou a hora de ele encarar o problema teológico que subjaz a questão.
Como é que o povo judeu, como um todo, havia rejeitado o seu Messias? Como
conciliar a incredulidade deles com a aliança e as promessas de Deus? O
impressionante é que cada um destes três capítulos começa com uma
emocionante declaração de amor de Paulo por Israel — sua angústia por causa
da alienação deles (9.lss.), seu anseio por sua salvação (10.1) e o fato de ele
mesmo continuar sendo judeu (11.1).
No capítulo 9 Paulo defende a fidelidade da aliança de Deus. Ele
fundamenta sua defesa dizendo que as promessas de Deus não se destinavam
a todos os descendentes de Jacó, mas sim a "um Israel dentro de Israel", um
remanescente, uma vez que ele sempre agiu em conformidade com o seu
"propósito conforme a eleição" (11). Isto se pode ver não apenas no fato de Deus
haver escolhido Isaque ao invés de Ismael, e Jacó em vez de Esaú, mas também
no fato de ele ter tido misericórdia de Moisés e, ao mesmo tempo, endurecido
o coração de Faraó (14-18) — se bem que isso foi um castigo decorrente do
endurecimento propositado de seu próprio coração.
Se essa questão da eleição ainda nos traz problemas, é bom lembrarmos
que o ser humano nunca deveria questionar a Deus (19-21), que a Deus cabe o
direito de ser Deus em sua decisão de tornar conhecido seu po- der e
misericórdia (22-23) e que a própria Escritura profetizou o chamado, tanto dos
gentios como dos judeus, para serem povo de Deus (24-29).
Desde o final do capítulo 9 e no decorrer do capítulo 10, porém, ficou
evidente que a incredulidade de Israel não pode ser explicada simplesmente
pelo propósito de Deus conforme a eleição. Pois Paulo passa a afirmar que
Israel "tropeçou na pedra de tropeço", a saber, Cristo e sua cruz. Com isso ele
está acusando Israel de recusar orgulhosamente submeter-se ao caminho de

24
salvação proposto por Deus, bem como de um zelo religioso que não era
baseado no conhecimento (9.30—10.4).
Paulo passa a contrastar "a justiça que é pela lei" com "a justiça que é
pela fé", e enfatiza, valendo-se com muita habilidade de Deuteronômio 30, o
acesso imediato a Cristo que temos por meio da fé. Ninguém precisa sair por
aí à procura de Cristo, uma vez que ele já veio, morreu e ressurgiu e está perto
de qualquer vim que invoque o seu nome (5-11).
Além disso, neste particular não há qualquer diferença entre judeus e
gentios, já que o mesmo Senhor é o Senhor de todos e abençoa ricamente todos
aqueles que o invocam (12-13). Para isso, no entanto, é necessário evangelizar
(14-15). Mas então, por que Israel não aceitou a boa nova? Não foi por não ter
ouvido ou entendido. Mas então, por quê? É que Deus ficou o tempo todo de
mãos estendidas para recebê-los, mas eles foram "desobedientes e obstinados"
(16-21). Portanto, a incredulidade de Israel, que em Romanos 9 se atribui ao
propósito de Deus conforme a eleição, em Romanos 10 é atribuída ao orgulho
de Israel, bem como a sua ignorância e obstinação. A tensão entre a soberania
divina e a responsabilidade humana constitui-se em uma antinomia que a
mente finita não consegue compreender.
A partir do capítulo 11 Paulo volta-se para o futuro. Ele declara que o
fracasso de Israel não é total (já que existe um remanescente fiel, 1-10) nem final
(uma vez que Deus não rejeitou o seu povo e este há de se recobrar, v. 11). Se
por meio da transgressão de Israel veio a salvação para os gentios, agora,
através da salvação dos gentios, Israel será movido pelo ciúme (12). Na
verdade, o ministério de evangelização de Paulo consiste em despertar ciúmes
em seu próprio povo, a fim de salvar alguns deles (13-14). E então a "plenitude"
de Israel haverá de trazer "riquezas muito maiores" para o mundo.
Paulo prossegue apresentando a sua alegoria da oliveira, a partir da qual
ensina duas lições. A primeira é uma advertência para que os gentios (o ramo
de oliveira brava que foi enxertado na oliveira) não se tornem presunçosos ou
arrogantes (17-22). E a segunda é uma promessa a Israel (os ramos naturais) de
que, se eles não persistirem na incredulidade, serão novamente enxertados na
oliveira (23-24).
A visão de Paulo para o futuro, que ele chama de "mistério" ou
"revelação", é que quando vier a plenitude dos gentios, também "todo o Israel
será salvo" (25-27). E o que Fundamenta essa certeza é o fato de que "os dons e
o chamado de Deus são irrevogáveis" (29). Assim nós podemos aguardar com
toda confiança que venha a "plenitude", tanto para os judeus como para os

25
gentios (12, 25). Com efeito, Deus terá "misericórdia para com todos" (32), o que
significa judeus e gentios sem distinção. Não é de estranhar, portanto, que essa
expectativa leve Paulo a corromper numa doxologia em que ele exalta a Deus
pela profundidade das suas riquezas e da sua sabedoria (33-36).

A vontade de Deus (12.1—15.13)

Chamando os cristãos de Roma de "irmãos" (uma vez que as antigas


distinções étnicas já foram abolidas), agora Paulo lhes dirige um eloquente
apelo, baseado nas "misericórdias de Deus" que ele vem expondo. Depois
convoca-os à consagração dos seus corpos e à renovação de suas mentes. Ele
coloca diante deles uma dura alternativa, com a qual o povo de Deus se
confronta em todo tempo e em todo lugar: ou eles se amoldam aos padrões
deste mundo, ou se deixam transformar por mentes renovadas que saibam
discernir a "boa, perfeita e agradável vontade de Deus". É uma escolha entre os
padrões do mundo e a vontade de Deus.
Nos capítulos seguintes o autor deixa claro que a boa vontade de Deus
tem implicações em nossos relacionamentos, que são radicalmente
transformados pelo evangelho. Paulo aborda oito deles: a nossa relação com
Deus, com nós mesmos, uns com os outros, com os inimigos, com o Estado,
com a lei, com o dia do juízo final e com os "fracos". Além disso, nossa mente
renovada, que agora busca a vontade de Deus (1-2), leva-nos a um novo padrão
de avaliação; nosso conceito de nós mesmos e dos nossos dons trará a marca da
moderação, do equilíbrio, não alimentando sobre a nossa pessoa uma opinião
elevada demais, nem inferior ao que ela de fato é (3-8).
Nossa relação uns com os outros será uma consequência natural do
exercício dos ministérios mútuos que os nossos dons possibilitam. O amor que
une os membros da família cristã há de incluir sinceridade, afeição, honra,
paciência, hospitalidade, simpatia, harmonia e humildade (9-16).
A seguir vem o nosso relacionamento com os nossos inimigos ou com os
malfeitores (17-21). Fazendo eco aos ensinos de Jesus, Paulo escreve que nós
não devemos retaliar ou vingar-nos; já que punir o mal é prerrogativa de Deus,
deixemos que ele o faça; devemos procurar a paz, servir aos nossos inimigos e
vencer o mal com o bem.
É possível que a questão da nossa relação com as autoridades
governamentais (13.1-7) tenha vindo à mente de Paulo por causa de sua
referência à ira de Deus (12.19). Se a punição do mal é uma prerrogativa de

26
Deus, uma das maneiras pelas quais ele o faz é através da administração da
justiça pelo Estado, já que o magistrado é "ministro" de Deus para punir o
malfeitor. O Estado tem também um papel positivo de promover e
recompensar o bem na comunidade.
Os versículos 8-10 voltam-se para o amor e ensinam que amar o nosso
próximo é, ao mesmo tempo, uma dívida não paga e o cumprimento da lei.
Pois, embora não estejamos "debaixo da lei", no sentido de que dependemos de
Cristo para sermos justificados e do Espírito Santo para sermos santificados,
ainda assim somos chamados a "cumprir a lei", obedecendo dia a dia aos
mandamentos de Deus. Neste sentido não podemos contrapor o Espírito e a lei,
uma vez que é o Espírito Santo que escreve a lei em nossos corações. E esta
primazia do amor torna-se ainda mais urgente na medida em que se aproxima
o dia da volta de Cristo. Nós temos de acordar, levantar-nos, vestir-nos e viver
como quem faz parte desse dia (11-14).
Nosso relacionamento com os "fracos" é a parte que mais atenção recebe
da parte de Paulo (14.1—15.13). Estes são, evidentemente, fracos na fé ou na
convicção, e não fracos de vontade ou de caráter. O mais provável é que se trate
de cristãos judeus que acreditavam que ainda tinham de continuar observando
as leis, tanto as referentes à comida (o que é puro, o que é impuro) como as
festas e jejuns que faziam parte do calendário judaico.
O próprio Paulo identifica-se como um dos "fortes". Sua consciência
educada lhe diz que alimentos e dias são coisas secundárias. Recusa-se, porém,
a atropelar a consciência sensível daquele que é fraco. Sua exortação para a
igreja em geral é que os irmãos "aceitem" os fracos assim como Deus os aceitou
(14.1, 3) e que "aceitem-se uns aos outros" assim como Cristo o fez (15.7). Se eles
aceitarem os fracos em seus corações e em sua comunhão, não irão desprezá-
los nem prejudicá-los, forçando-os a irem de encontro a suas consciências.
A característica mais marcante dessas instruções práticas é que Paulo as
fundamenta em sua cristologia, e em particular na morte, ressurreição e volta
de Jesus. Os fracos são irmãos e irmãs por quem Cristo morreu. Cristo
ressuscitou para ser seu Senhor e nós não temos o mínimo direito de interferir
na vida dos servos de Jesus. De semelhante modo, ele virá para nos julgar;
portanto, não devemos arvorar-nos juízes dos outros.
Além do mais, temos de seguir o exemplo de Cristo, que não agradou a
si mesmo mas tornou-se servo — e que, aliás, serviu tanto a judeus como a
gentios. Assim Paulo deixa aos seus leitores essa belíssima visão quanto aos
fracos e os fortes, quanto a crentes judeus e crentes gentios, que estão unidos

27
uns aos outros por um "espírito de unidade" tão forte que "com um só coração
e uma só boca" podem glorificar a Deus juntos (15.5-6).
Para concluir, Paulo descreve o seu ministério de "apóstolo dos gentios",
juntamente com sua política de pregar o evangelho apenas onde Cristo ainda
não for conhecido (15.14-22); compartilha com eles os seus planos de viagem,
que incluem visitá-los quando de passagem para a Espanha, mas só depois de
ter levado para Jerusalém a coleta como símbolo da solidariedade entre judeus
e gentios (15.23-29); e solicita as orações deles (15.30-33).
E então recomenda-lhes Febe, que é presumivelmente a portadora da
carta que ele envia a Roma (16.1-2); envia saudações a vinte e seis pessoas,
citando-as uma por uma pelo nome (16.3-16) — homens e mulheres, escravos
e livres, judeus e gentios, o que nos dá uma ideia da extraordinária "unidade
na diversidade" desfrutada pela igreja de Roma; adverte-os contra os falsos
mestres (16.17-20); envia recados de oito pessoas que se encontram com ele em
Corinto (16.21-24); e depois expressa a sua doxologia final.
Embora a sintaxe da doxologia seja um pouco complexa, seu conteúdo
é maravilhoso. Ele capacita o apóstolo a terminar lá onde começou (1.1-5), uma
vez que tanto a introdução da carta como a sua conclusão faz referência ao
evangelho de Cristo, à vocação de Deus, ao alcance de todas as nações e à
convocação à obediência pela fé.
A Epístola aos Romanos sempre será um maravilhoso desafio e convite
à profundidade.

28
Aula 4

A Primeira Carta aos Coríntios: problemas de uma igreja local

Introdução

Corinto era uma cidade portuária de grande relevância comercial. Foi


residência do apóstolo Paulo por dezoito meses, quando fundou aquela
comunidade (At 18). Era a sede da província da Acaia, centro comercial entre
Ásia e Roma. A cidade ficava no istmo que liga o Peloponeso ao resto da Grécia
e tinha dois portos: Cencreia (no Golfo de Sarônica), 11 Km a leste, e Liqueu
(no Golfo de Corinto), 2,5 Km ao norte. Além de controlar o comércio norte-sul,
era um elo indispensável entre Roma e o Oriente, repleta de estrangeiros por
toda a parte.
A vida econômica da cidade era determinada pelo comércio, negócios
financeiros e produção artesanal. Sua população era diversificada, com forte
presença romana e diversidade religiosa. A cidade era famosa também por sua
depravação moral, a ponto de o comediante Aristófanes cunhar o termo
korinthiazomai, “agir como coríntio”, que era sinônimo de praticar imoralidade.
O famoso Templo de Afrodite, que ficava no Acrocorinto, uma montanha de
mais de 575 metros de altura, tinha mil sacerdotisas – as prostitutas cultuais –
que costumavam descer à cidade ao cair da tarde para oferecer seus serviços
pelas ruas.
Ao pé do Acrocorinto realizava-se o culto a Melicertes, deus patrono da
navegação – o mesmo que Melcarte, o deus principal, ou “Baal” da cidade de
Tiro (cujo culto também foi introduzido em Israel no século nono a.C., quando
Acabe casou-se com Jezabel, filha do rei de Tiro e Sidom). Assim, Astarte e
Melcarte, a deusa e o deus de Corinto, eram resultado direto da influência
oriental. Além disso, havia dentro da cidade o Templo de Apolo, o deus da
música, do canto e da poesia, símbolo também da beleza masculina.
Homero, na Ilíada, falava sobre a “rica Corinto”, assim como Tucídides,
falando sobre o controle exercido por Corinto sobre os portos de Liqueu e
Cencreia, ressaltava a importância militar da cidade. Os Jogos Ístimicos, que só
perdiam em importância para os Jogos Olímpicos, eram realizados em Corinto.
Grande parte da comunidade pertencia às classes sociais menos
abastadas e, em menor número, havia pessoas integrantes da classe alta, que
punham suas residências à disposição para as celebrações e ceia do Senhor.

29
Após um período ausente, Paulo soube que a comunidade sofria com divisões
internas. Em vez de ser um corpo em Cristo, a comunidade estava dividida em
seitas e partidos, os quais se identificavam com determinados líderes e mestres.
O apóstolo escreve dentro desse contexto.
A igreja em Corinto estava com uma série de problemas teológicos e de
convivência, que acabaram por criar partidos que ameaçavam a unidade e a
convivência. Paulo escreve a carta com o objetivo de tratar essas questões,
conclamando os irmãos e as irmãs para a concórdia e a união. Paulo exorta a
comunidade a lembrar-se de sua fundação, para que se lembre de ser uma
comunidade e evite as divisões que poderiam levá-la à situação anterior. Ele
lembra que Paulo e Apolo são apenas cuidadores da comunidade. A
comunidade é templo de Deus, e seu fundamento deve estar apenas em Cristo.
Nessa carta, Paulo evita impor ou decretar. Pela via da argumentação, o
apóstolo procura convencer e conseguir adesão à sua visão. Não usa sua
autoridade como forma de coação, mas a partir de Cristo procura mostrar o
caminho. Sua ênfase está em ser um mensageiro chamado e autorizado por
Cristo e não um simples empregado da comunidade destinatária da carta.
Paulo quer o bem de sua comunidade e através da perspectiva da cruz e do
amor procura solucionar os conflitos. Ele não argumenta com base em leis
eclesiais ou imbuído do espírito humano de justiça, mas com base no amor e
na graça. É interessante ressaltar que Paulo não se dirige simplesmente às
lideranças, mas a todas as pessoas que integram a igreja de Deus que se reúne
em Corinto.

Informações

As cartas de 1 e 2 Coríntios são duas das quatro ou mais cartas que o


apóstolo escreveu para a igreja em Corinto, juntamente com as igrejas da região
da Acaia (I Co. 1:2; II Co. 1:1; Rm. 16:1). Essas cartas têm todos os indícios
históricos e literários da autoria paulina.
De acordo com S. J. Hafemann, a autoria paulina de 1 Coríntios nunca
foi contestada e a carta já é atestada nos anos 90 por Clemente de Roma ( 1
Clem. 37:5; 47:1-3; 49:5). Inácio, na primeira década do século II, também atesta
a autoria paulina. Os estudiosos modernos mais críticos aceitam essas cartas
como genuínas, com exceção de 1 Coríntios 1:2b e 14:34b-35. Apesar dessas
ressalvas, os indícios para eliminar esses textos não convencem a maioria dos

30
biblistas, pois nenhuma tradição manuscrita jamais omitiu esses versículos e os
dois textos são considerados bem ajustados ao fluxo de pensamento paulino.
Através de uma interpretação que se faz do verso 9 do capítulo 5 da
epístola e de 2 Coríntios 2:3-4, supõe-se que esta teria sido a segunda carta. E,
por sua vez, a segunda epístola do Novo Testamento, poderia ter sido a quarta.

Lugar e data

O próprio apóstolo, em I Co. 16.8, indica com clareza Éfeso como o lugar
mais provável para a composição da carta. A maioria dos estudiosos trabalha
com a data sendo o ano de 55, na ocasião da terceira viagem missionária, no
final da estada de três anos em Éfeso (At. 19), antes do Pentecostes.

Breve esboço

Introdução 1.1-9
Sobre divisões 1.10-17
Crianças em Cristo 1.18—3.4
Parceiros na obra de Deus 3.5-9
Cristo, o alicerce 3.10-23
Os líderes cristãos 4.1-21
Sobre a imoralidade 5.1-13
O templo do Espírito 6.1-20
Sobre o casamento 7.1-40
Sobre alimentos oferecidos aos ídolos 8.1-13
A disciplina cristã 9.1-27
Uma saída 10.1-13
A liberdade cristã 10.14—11.1
A ordem no culto 11.2-34
Jesus é Senhor 12.1-3
Os dons do Espírito 12.4-31a
A graça do amor celestial 12.31b—13.13
O caminho do amor 14.1-25
Fortalecimento da igreja 14.26-40
A ressurreição 15.1-19
A ressurreição dos crentes 15.20-34

31
O corpo da ressurreição 15.35-58
Últimas observações 16.1-24

Principais temas

É nesta carta que encontramos a famosa passagem sobre a importância


do amor genuíno, no capítulo 13, o que leva muitos teólogos a considerarem
esta como sendo a epístola mais poética do corpus paulino. Também é na
primeira epístola que Paulo aprofunda o tema dos dons espirituais, no capítulo
12.
As exortações que Paulo faz na primeira epístola concentram-se em
algum aspecto da unidade da igreja (I Co. 1:10; 3:1-3; 4:14, 16; 5:4-8; 6:1-4; 7:18-
20; 8:9. 13; 10:14; 11:33-34; 12:14).

Um dos temas mais importantes desta epístola é a eclesiologia, pois


vemos o apóstolo Paulo extremamente preocupado com a natureza e a vida da
igreja. Suas colocações sempre se pautam por esse propósito:

• “Igreja de Deus” (I Co. 1:2);


• “Templo de Deus”, por terem recebido o Espírito Santo (I Co. 3:16-17;
14:24-25);
• “Corpo de Cristo”, devido a sua submissão à autoridade de Cristo (I Co.
6:17; 10:17; 11:29; 12:12-16.27).

A estrutura escatológica da teologia paulina também se destaca nesta


epístola. O esforço de Paulo, do início ao fim da carta, é para deixar claro que,
embora já tenha despontado, como comprovam o poder da ressurreição de
Cristo e o derramamento do Espírito na vida dos coríntios, o reino de Deus
ainda não está aqui em toda a sua plenitude (I Co. 4:20). Paulo quer deixar claro
aos coríntios que, embora o reino de Deus ainda não esteja presente em toda a
sua plenitude, a vida ética do seguidor de Cristo deve, mesmo assim, ser
controlada pela realidade manifesta do tempo que há de vir (I Co. 5:7-8; 6:1-6;
7:29-31; 10:11, etc). É a tensão entre o “já” e o “ainda não”.
A insistência paulina no elo entre a fé e a obediência está estruturada
teologicamente pela cruz (I Co. 1:10 – 4:21) e pela ressurreição de Cristo (I Co.
15). Portanto, a primeira epístola demonstra a base da eclesiologia e da

32
escatologia paulinas, em seu entendimento de Cristo “segundo as Escrituras”
(I Co. 15:3-5).

Problemas

A igreja de Corinto é reconhecidamente abundante quando o assunto é


problema. Paulo enfrentou diversas questões teológicas sérias, bem como
adversários. Tradicionalmente, as passagens principais para identificar a
oposição a Paulo em Corinto são I Coríntios 1:12; 3:22; 9:2-5; II Co. 3:1-18; 11:4
e 11:22-23. Esses textos deixam bem claro que os principais adversários de
Paulo eram judeus familiarizados com o mundo helenístico que, por um lado,
adotavam valores e técnicas retóricas sofistas e, por outro, confiavam em sua
herança espiritual como judeus.

Alguns dos principais problemas enfrentados na igreja de Corinto


foram:

• Os problemas do partidarismo (1:10-17);


• A disputa entre sabedoria do mundo x sabedoria de Deus (1:18 – 2:16);
• Imoralidade sexual (5:1-13; 6:9-20);
• Casamento e celibato (7:1-40);
• Questões relacionadas à liberdade (8:1-13; 9:1-27; 10:1 – 11:1);
• O culto cristão (11:2-34);
• Dons espirituais (12:1-31);
• O verdadeiro amor (13:1-13);
• Profecias e línguas (14:1-40);
• Ressurreição: passado, presente e futuro (15:1-58)

A unidade da igreja despontou como um grande desafio para Paulo no


trato com uma igreja cheia de carismas, mas com dificuldades de caráter. O
apóstolo decidiu redigir uma carta de aconselhamento, didática e amorosa. A
carta termina com uma série final de recomendações e saudações de Paulo e
dos que estão com ele na Acaia (I Co. 16:13-24).
Se Paulo fosse escrever uma epístola a uma igreja comum de hoje,
provavelmente repetiria muito do que está em 1 Coríntios. O mundo daquela
época era muito parecido com o nosso, a igreja de Corinto também era parecida
com as nossas: extremamente orgulhosa, opulenta, ansiosa por ser aceita pelo

33
mundo. A epístola nos proporciona duas valiosas contribuições: as explanações
doutrinárias e pastorais dos temas discutidos e a posição de Paulo em relação
aos problemas.

34
Aula 5

A segunda Carta aos Coríntios: o coração do pastor

Introdução

A saudação de II Coríntios 1:1-2 segue o mesmo padrão de I Coríntios


1:1-3, embora, em comparação, a identificação do remetente e dos destinatários
esteja agora resumida. A identidade apostólica de Paulo pela vontade de Deus
é mais uma vez expressa, com Timóteo identificado como co-remetente da
carta. Os destinatários da carta continuam a ser as igrejas domésticas em
Corinto e os fiéis espalhados em pequenos grupos ao redor desse centro.
Diferente da situação que enfrentou em I Coríntios, agora Paulo se vê
em outra situação polêmica, na qual sua legitimidade como apóstolo foi
seriamente colocada em dúvida em Corinto, por uma minoria significativa
dentro da igreja. Essa situação polêmica e o tom apologético que caracteriza
grande parte da segunda carta são evidentes desde o começo da epístola.
A segunda carta aos Coríntios é considerada a carta mais pessoal escrita
por Paulo. O autorretrato de Paulo é um dos aspectos mais fascinantes da
epístola. A segunda carta aos Coríntios contém informações autobiográficas
valiosas. Essa carta possui forte tom emocional, sobretudo pela necessidade de
Paulo de defender-se de várias acusações, incluindo a falta de integridade e
espiritualidade. Apesar disso, é nesta carta que encontramos a descrição do
ministério da nova aliança (II Co. 2:14 – 6:13). Também vemos o esforço na
contribuição financeira aos pobres da Judeia (II Co. 8:1 – 9:15), numa bela
expressão da verdadeira teologia prática.
Muitos estudiosos trabalham com a ideia de que a segunda epístola aos
Coríntios, juntamente com as cartas a Timóteo e Tito, deve ser considerada uma
carta pastoral. Nela, Paulo defende, com coração pastoral, temas muito
importantes, como: integridade, humildade e dependência de Deus como base
fundamental do líder cristão e da comunidade. Paulo condena a arrogância, o
triunfalismo e a exploração financeira. O apóstolo nos ensina que o poder de
Deus se aperfeiçoa em nossa fraqueza, e que a graça de Deus nos basta (II Co.
12:9-10).
Paulo combate os falsos apóstolos que se infiltraram na igreja (II Co. 11:4
– 13:5), provavelmente de origem judaica (11:22), juntamente com os

35
judaizantes, que ensinavam que os cristãos deveriam guardar a lei de Moisés
(3:1-18). O perfil desses falsos mestres era de arrogância e orgulho de sua
espiritualidade (11:30 – 12:10). Eles utilizavam cartas de recomendação,
provavelmente de Jerusalém (3:1), para comprovarem sua autoridade, em
detrimento da autoridade de Paulo. A luta de Paulo nesta carta é para não
permitir que a sedução dos falsos mestres prevaleça sobre a igreja.

Informações

Entre as duas cartas alguns acontecimentos são de grande importância.


A reconstrução desses acontecimentos é útil para a compreensão dos assuntos
tratados na segunda epístola:

• Os coríntios provavelmente corrigiram a maioria das situações tratadas


em 1 Coríntios;
• Por causa da chegada de opositores de Paulo, a condição da igreja
deteriorara, tornando necessária uma visita dolorosa de Paulo;
• Tito foi enviado de Éfeso para Corinto com uma “carta severa”, em que
Paulo exigia que o transgressor fosse disciplinado;
• Paulo saiu de Éfeso; depois atravessou a Macedônia;
• Tito chegou à Macedônia com o relatório da resposta dos coríntios à
carta severa;
• Na Macedônia Paulo, ao saber dos novos problemas em Corinto, Paulo
escreveu 2Coríntios;
• Paulo passou vários meses em Corinto. Nessa época escreveu Romanos.

Paulo escreveu sua segunda carta aos Coríntios enquanto esteve na


Macedônia, norte da Grécia. Ao longo da carta, relata sua chegada a Trôade
(2:12-13; Atos 20:1), alegra-se com a chegada de Tito à Macedônia com boas
notícias de Corinto (7:5) e incentiva os coríntios a colaborarem a exemplo dos
macedônios que estão com ele (9:2).

Data

Quando Paulo iniciou a igreja de Corinto, o procônsul da Acaia era Gálio


(At. 18:12), com base numa inscrição com seu nome, ele assumiu o cargo de
procônsul no ano 51 d.C. A primeira epístola aos Coríntios tem como data entre

36
53 e 55 d.C. A maioria dos estudiosos acredita que a segunda epístola tenha
sido escrita um ano depois da primeira, logo, teríamos como data o ano de 56
d.C.

Breve esboço

Introdução 1.1-2
A experiência apostólica 1.3-11
A explanação apostólica 1.12—2.11

O MINISTÉRIO APOSTÓLICO 2.12—7.16


O triunfo do ministério 2.12-17
O testamento do ministério 3.1-18
O testemunho do ministério 4.1—5.10
O serviço do ministério 5.11—6.13
A separação do ministro 6.14—7.1
A última explanação 7.2-16
A comunhão apostólica 8.1—9.15

A DEFESA DO APOSTOLADO 10.1—13.14


As acusações contra Paulo 10.1-11
A recomendação de Deus 10.12-18
As credenciais de autenticidade 11.1-33
Agonia e êxtase 12.1-10
A preocupação com os coríntios 12.11-21
Conclusão 13.1-14

Esta epístola nos ensina lições grandiosas, dentre elas:

• A importância de restaurar os relacionamentos no ministério;


• A necessidade de contribuir de modo sacrificial e espontâneo;
• O significado da obra de reconciliação de Cristo que restaura nosso
relacionamento rompido com Deus.

Propósitos

37
São vários os motivos que levaram Paulo a escrever esta segunda
epístola. Os principais são:

• Defender sua integridade: alguns acusavam Paulo de ter “duas


palavras”, pois a princípio, Paulo prometeu visitá-los pessoalmente,
mas, em vez disso, enviou uma carta (1:1 – 2:13);
• Defender o ministério da Nova Aliança: provavelmente das críticas dos
judaizantes (2:14 – 6:13);
• Instrução sobre relacionamentos: necessidade da separação de
relacionamentos com incrédulos que os induzisse a pecar (6:14 – 7:4);
• Demonstrar alegria pelo fato de terem acolhido sua “carta severa” (7:5-
6);
• Orientação e encorajamento quanto às ofertas aos cristãos da Judeia (8:1
– 9:15);
• Preparar os coríntios para a sua futura (e provavelmente última) visita,
bem como denunciar os falsos apóstolos que haviam se infiltrado na
igreja (10:1 – 13:14).

C. K. Barrett faz uma discussão completa dos detalhes complexos que


permeiam a correspondência mantida entre Paulo e a igreja de Corinto. Quem
nos brinda com o guia mais seguro no meio de tantas dificuldades é William
Barclay, em seu famoso comentário sobre as cartas de Paulo. O fato básico a ser
lembrado é que as duas cartas aos Coríntios, como nós as temos atualmente,
não compõem (segundo elas mesmas testificam) toda a correspondência entre
Paulo e aquela comunidade.
Temos uma menção de uma carta anterior a 1 Coríntios. No final de 2
Coríntios, Paulo fala em fazer uma terceira visita aos coríntios. A primeira é
aquela descrita por Lucas em Atos 18, mas a segunda é desconhecida. Em 2
Coríntios 7:8, Paulo fala de outra carta tão severa que quase desejaria nunca tê-
la enviado. Essa não poderia ser 1 Coríntios, e os primeiros nove capítulos de 2
Coríntios certamente não são severos: na verdade, talvez sejam os capítulos
mais carinhosos, cordiais e pacíficos de toda a sua correspondência. Resta 2
Coríntios 10–13 que, segundo o próprio Pauloa admite, contém material muito
traumático, podendo muito bem ser a carta que ele desejaria nunca ter
despachado.

38
William Barclay fez uma possível sequência dos acontecimentos em
torno da correspondência de Paulo com Corinto:

• A “Carta Prévia”, que pode estar contida em 2 Coríntios 6:14 – 7:1),


Barclay nota que a transição de 6:13 para 7:2 é muito natural;
• Os “da casa de Cloe” (I Co. 1:11) vão a Éfeso, levando para Paulo as
notícias da divisão em Corinto;
• 1 Coríntios, capítulos 1–4, é escrita em resposta, e Timóteo deve ser o
portador dessa carta (1 Co. 4:17);
• Três homens (Estéfanas, Fortunato e Acaico: I Co. 16:17) chegam com
mais notícias e uma carta de Corinto: Paulo imediatamente escreve os
capítulos 5 e 6 e, em resposta a essa carta, redige os capítulos 7 a 16.
Timóteo leva toda a carta de I Coríntios aos destinatários;
• A situação piora e Paulo faz uma desastrosa visita a Corinto, depois da
qual as coisas ficam ainda mais dolorosas para ele (II Co. 2:1);
• Então, ele envia a “Carta Severa” (II Co. 10–13) através de Tito (II Co.
2:13; 7:13);
• Paulo fica tão preocupado que não consegue esperar a volta de Tito;
parte para encontrá-lo na Macedônia (II Co. 7:5–13), e então, escreve II
Coríntios 1–9, a “Carta de Reconciliação”.

Paulo faz uma defesa direta de sua autoridade apostólica, conclama a


ajuda aos irmãos carentes da Judeia e termina a carta chamando a igreja à
consciência, a sanarem suas rivalidades e viverem em concordância e paz uns
com os outros.
Paulo, com o coração pastoral e amoroso, baseia seu apelo final na
certeza de que, se fizerem assim, “o Deus de amor e paz” estaria com eles.

39
Aula 6

Aos Gálatas: o evangelho acima do legalismo

Introdução

Muitos estudiosos acreditam que a Carta aos Gálatas foi a primeira


escrita pelo apóstolo Paulo. Liberdade e unidade em Cristo são os temas
centrais desta carta, tornando-a um dos mais importantes textos bíblicos. Nesta
carta, Paulo trata de assuntos fundamentais da fé cristã: a natureza do
evangelho, a suficiência plena de Cristo para a salvação pela fé, a liberdade
cristã acima do legalismo.
O que motivou Paulo a escrever, no entanto, não foi o desejo de fazer
uma exposição sistemática desses assuntos. Havia problemas sérios ocorrendo
nas igrejas da Galácia. Com a passagem da fé cristã do mundo judaico para o
mundo gentio, havia quem defendesse que os cristãos deveriam continuar
seguindo as tradições e costumes vindos do Antigo Testamento. O ponto-chave
era a prática da circuncisão. Alguns atacavam o apóstolo dizendo que ele não
tinha autoridade para ensinar o que estava ensinando. Diziam que Paulo, na
verdade, nem era um apóstolo.
Escrever uma carta nessas condições não era fácil. Mas Paulo não foge
da responsabilidade. Ele trata os temas com sinceridade e, por vezes, até com
palavras duras. Escrever uma carta com elogios pode ser fácil. Mas essa não era
uma carta fácil. E o conteúdo mostra isso. Nos primeiros versículos da carta, o
apóstolo Paulo vai direto ao assunto. Depois da introdução (v. 1 a 5), enfrenta
o problema que está ocorrendo: as pessoas estão oferecendo (e os membros das
igrejas da Galácia estão aceitando) um outro evangelho. E outro evangelho não
existe além daquele que o apóstolo tinha anunciado.
Paulo escreve aos cristãos cuja preocupação em manter a lei dividia suas
igrejas conforme a raça, separando judeus de gentios. Tais divisões eram
intoleráveis na concepção paulina, porque “não há judeu nem grego; não há
escravo nem livre, não há homem nem mulher, porque todos vós sois um em
Cristo Jesus” (Gl. 3:28). Essa nova unidade que transcende todas as barreiras
raciais, sociais e sexuais baseia-se na “verdade do evangelho” (Gl. 2:5): Cristo
foi crucificado para nos libertar da maldição da lei, para que recebêssemos seu
Espírito (Gl. 3:13-14). É o Espírito Santo, não a lei, que nos dá nossa identidade
como filhos de Deus (Gl. 4:6).

40
Na mentalidade paulina do evangelho, os cristãos precisam proteger sua
liberdade contra a escravidão à lei (Gl. 5:1) e, contudo, usar sua liberdade para
cumprir a lei, servindo uns aos outros em amor (Gl. 5:13-14). Paulo enfatiza que
já não estamos sob a lei que nos divide, mas sim, conduzidos pelo Espírito que
nos une.

Paulo faz um reforço básico dos conceitos fundamentais da fé cristã:

• Um relato do seu chamado para evangelizar os gentios (Gl. 1:13-16);


• Um registro de sua lealdade à evangelização dos gentios em seus
relacionamentos com os outros apóstolos (Gl. 1:17 – 2:21);
• Uma explicação da justificação pela fé, não pelas obras da lei (Gl. 2:16;
3:6-12);
• Uma exposição de textos do Antigo Testamento sobre a promessa
abraâmica e da lei mosaica no contexto da história da salvação (Gl. 3:6-
25; 4:21-31);
• Uma definição da ética cristã em termos da carne e do Espírito (Gl. 5:13
– 6:10).

De acordo com G. W. Hansen, o significado desses temas fundamentais


em Gálatas dá a esta carta lugar preponderante em qualquer estudo da
cronologia e da teologia paulinas. A carta tem exercido profundo impacto no
pensamento e no movimento cristãos em toda a história da igreja.
Em resumo, A Carta aos Gálatas está marcada pelo conflito do
cristianismo judaico, estabelecido na Judeia, com o cristianismo gentílico da
bacia do Mediterrâneo. Isso colocava em choque dois diferentes sistemas de
convicções. O primeiro sistema era o do cristianismo judaico, que entendia o
cristianismo como uma renovação do judaísmo. A conversão ao cristianismo
significava uma conversão ao judaísmo cristão. Com isso, as práticas legais, em
especial a circuncisão, seriam mandamentos a serem assumidos pelos novos
cristãos. O segundo sistema era o do cristianismo que se espalhou pela bacia
do Mediterrâneo, o cristianismo espalhado pelos itinerantes, entre eles, Paulo.
Nesse sistema, o cristianismo era entendido como a aceitação da fé em Cristo
sem a necessidade de vinculação à lei, desobrigando os novos cristãos de se
tornarem judeus. Os gálatas, convertidos ao cristianismo nas ações
missionárias de Paulo, não recebem a imposição da lei. Porém, em um segundo
momento, uma provável missão provinda do cristianismo judaico palestinense

41
impõe sobre eles a aceitação da lei. Esse grupo, marcado pela nova convicção –
a fé cristã – para manter a novidade da fé em Cristo acaba aceitando a
imposição das práticas legais. Paulo toma conhecimento disso e escreve
a carta.

Informações

A Anatólia Central de Galácia pertence hoje à Turquia. Tornou-se


província romana em 25 a.C. Desde então as terras passaram para as mãos dos
romanos ou diretamente para as mãos do imperador. Isso significava que a
Galácia era também ponto de parada das tropas militares romanas. Os gálatas
tinham de atender as necessidades do exército durante a sua permanência em
seu território. Por ser lugar de parada, o exército deixava ali os seus
prisioneiros. Talvez por isso, a Galácia ficou conhecida como um importante
mercado de escravos. Hans-Dieter Betz chega a afirmar que a liberdade em
Cristo não tinha apenas um valor religioso para os gálatas, mas denunciava
também uma situação político-social.
A comunidade dos gálatas constituía-se, de acordo com alguns estudos,
de gente com certa educação e com alguns recursos financeiros. Eles chegaram
à fé cristã convertidos de crenças cósmicas da religião helenista, com uma visão
escravagista do ser humano e da sociedade (Gl 4:3). Para essas crenças, o
destino das pessoas e da sociedade estava pré-determinado pelos poderes e leis
cósmicas, e não havia possibilidade de mudança ou transformação. Paulo
anuncia que a libertação desse mundo peverso se dá em Cristo (Gl 6:14), que se
entregou pelos nossos pecados (Gl l :4). Ou seja, Cristo pode perdoar, e onde
há possibilidade de perdão também há possibilidade de mudança. Essa foi a
mensagem entregue aos gálatas no passado.

Local e data

Paulo escreve aos gálatas desde Éfeso, provavelmente na primeira parte


do período em que esteve na cidade. Alguns teólogos trabalham com a ideia de
que ele tenha ficado dois anos e meio em Éfeso. Outros acreditam que ele tenha
escrito Gálatas pouco depois, em sua segunda viagem a Corinto.
É claro na própria epístola que a autoria é paulina. O apóstolo se
apresenta no primeiro versículo como “Paulo, apóstolo” (Gl. 1:1). Sua autoria é
aceita por todos, com poucas exceções entre teólogos mais radicais.

42
Paulo endereçou a carta “às igrejas da Galácia” (Gl. 1:2). Os biblistas
dividem-se quanto à localização geográfica dessas igrejas, alguns defendem
que se trata das igrejas do norte e outros, das igrejas do sul. John Stott, e muitos
outros estudiosos, defendem a localização geográfica ao sul, sendo as quatro
cidades da Pisídia: Antioquia, Icônio, Listra e Derbe, que Paulo evangelizou
durante a sua primeira viagem missionária, narrada nos capítulos 13 e 14 de
Atos.
Paulo costumava classificar as igrejas que fundava conforme as
províncias: “Igrejas da Ásia” (I Co. 16:19); “Igrejas da Macedônia” (II Co. 8:1);
“Acaia” (II Co. 9:2). Por isso, seria natural para Paulo referir-se às igrejas em
Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra e Derbe (todas cidades dentro da província
romana da Galácia) como “Igrejas da Galácia” e aos irmãos e irmãs como
“gálatas”.
A data é controversa. Se os destinatários da carta eram as igrejas do sul
da Galácia, a epístola teria sido escrita não muito depois da viagem de Paulo
pela Galácia e a Frígia (At. 18:23), provavelmente por volta de 49 d.C., antes do
Concílio de Jerusalém (que ocorreu em 50 d.C.). Se foi escrita às igrejas
fundadas durante sua segunda viagem missionária ao norte da Galácia, então
uma data entre 55 e 57 d.C. é a mais provável. Muitos teólogos consideram o
relato de Atos 13-14 como uma espécie de registro da fundação na Galácia das
igrejas às quais a carta de Paulo aos Gálatas se dirige.
O termo “gálata” é uma corruptela de kelt, galli ou gaul, como eram
chamados os celtas pelos gregos (ghali, em grego; donde Ghallia, nome da
França até hoje naquela língua) e pelos romanos (galli, em latim). O termo ainda
tem presença atuante em Istanbul, no nome da Torre Gálata e do bairro de
Galatasaray ("Jardim dos Gálatas", em turco), bem como do time de futebol de
mesmo nome (Galatasaray SK).

Principais temas

A carta aos Gálatas é extraordinária em sua variedade de temas: o


apostolado de Paulo (defendendo-se dos ataques dos judaizantes); a natureza
do evangelho; a suficiência plena de Cristo para a salvação pela fé; exortações
morais; as obras da carne e o Fruto do Espírito; a liberdade cristã, dentre outros.
A justificação pela fé e graça de Deus é a linguagem teológica de Paulo.
Essa é a forma de Paulo entender o evangelho (1.11; l Co 15.1-11). Ele leva esse
evangelho até os gentios. A perspectiva da inclusão dos gentios ao povo de

43
Deus é a valiosa contribuição de Paulo à história da Igreja cristã. A doutrina da
justificação pela fé é o respaldo teológico, elaborado por Paulo, para defender
os direitos dos gentios convertidos de serem também herdeiros das promessas
de Deus. Com a justificação pela fé, Paulo defende que a fé em Cristo traz a
libertação de toda submissão à lei e aos poderes cósmicos. Passa-se da categoria
de escravos, de crianças, que precisam de um tutor, para a categoria de
filhos/filhas, livres e sem distinção, nem marginalização ou opressão de
qualquer tipo (3.8).
Com a fé em Cristo se começa uma nova etapa de vida. A exclusão por
não ter privilégios chega ao fim em Cristo. Ter nascido judeu já não é mais
nenhum privilégio diante de Deus. Agora, se é justo por ter fé e não por ter a
lei. O novo povo de Deus não é fruto da lei, mas da fé em Jesus Cristo (Gl 4.18).
Paulo abre, assim, a possibilidade de salvação para outros povos.
A promessa de que em Abraão serão benditas todas as nações (3.8) se
cumpre em Cristo. A justificação pela fé abre a homens e mulheres a
oportunidade de integrarem a família de Deus, na qual já não pode haver mais
exclusão, discriminação ou marginalização (3.28-29). Para Paulo, ser justificado
por graça implica que Cristo abre para todas as pessoas a possibilidade de
viverem de forma justa. Isso é vivificar. Viver de forma justa. A fé vivifica, por
isso o justo viverá pela fé (3.11).

Paulo tinha em mente três propósitos bem relacionados e definidos ao


escrever aos gálatas:

1. Defender sua autoridade como apóstolo contra as declarações de seus


opositores;
2. Definir, explicar e comprovar a mensagem do evangelho;
3. Aplicar a mensagem do evangelho à vida cristã diária, pelo poder do
Espírito Santo.

A teologia básica de Gálatas tem relação com a verdade do evangelho e


suas implicações.

44
Breve esboço

Saudação e projeção dos temas 1.1-5


O motivo: condenação de erros 1.6-9
Defesa da autoridade apostólica e da mensagem do evangelho 1.10—2.14
A mensagem do evangelho 2.15-21
A base escriturística da mensagem do evangelho 3.1—4.31
A vida cristã 5.1—6.10
Conclusão 6.11-18

A Carta aos Gálatas é importante pela clareza de sua argumentação:


salvação é obra de Deus; acontece somente pela graça de Deus, sendo aceita
pelo ser humano em fé e confiança. As obras não são para ganhar a salvação,
mas são frutos do amor já recebido. A igreja não é um movimento cultural,
moral ou um legalismo positivado.
A Carta aos Gálatas, com o desenvolvimento de sua controvérsia,
fundamenta-se como um bonito e comovente testemunho de que, como povo
de Deus composto por judeus e não-judeus, a igreja não se resume a uma
cultura, mas ela ensina e vive a palavra do seu Senhor junto a todas as
diferentes criaturas.

45
Aula 7

Aos Efésios: o cativo que edificava os livres

Introdução

Eugene Peterson, em sua nota introdutória sobre Efésios inserida na


Bíblia A Mensagem, diz:

A carta aos Efésios reúne o que sobrou do nosso mundo devastado pelo
pecado. Paulo começa com uma brilhante exposição acerca do que os
cristãos creem com relação a Deus e, como um cirurgião trabalhando
habilidosamente numa fratura exposta, “insere” em nosso
comportamento os pinos da crença em Deus, de modo que os ossos –
crença e comportamento – se unam e sejam curados.

No início dos anos 60 d.C. a cidade de Éfeso era um ótimo exemplo do


que se conhecia como a Pax Romana. O império estabelecia a prosperidade
comercial, militar e turística. Seda da China, trigo do Egito e tudo o que era
transportado para Roma, quase sempre passava pelo porto de Éfeso. Nessa
época, Éfeso era uma cidade com aproximadamente vinte e cinco mil
habitantes, e o Templo de Ártemis (Diana) tinha quatro vezes o tamanho do
Partenon.
Como toda cidade forte, havia também o lado complicado das coisas. Os
senhores enriqueciam cada vez mais às custas do trabalho escravo. O exército
suprimia de modo implacável qualquer revolta contra o império, por qualquer
motivo. O povo buscava viver nessa corda bamba a partir do misticismo
exagerado, do sexo, da bebedeira e do dinheiro. O contraste entre a paz de
Roma e a paz de Cristo era gigantesco.
Originalmente uma colônia grega, Éfeso era a capital da província
romana da Ásia, na costa ocidental da Ásia Menor. Uma cidade que servia de
ponte entre as metades ocidental e oriental do Império Romano, sendo
considerada uma das cinco principais cidades do império no século 1. A cidade
tornou-se, também, uma das mais importantes para a expansão do
cristianismo. O ministério de Paulo lá em 53-55 d.C. é relatado em Atos 19.
Durante a longa permanência de Paulo ali, Éfeso tornou-se o centro para a

46
evangelização na parte ocidental da Ásia Menor (At. 19:10). O envolvimento
profundo de Paulo com essa igreja pode ser visto pelo vislumbre que ele dá em
seu discurso aos anciãos, na partida para Jerusalém (At. 20:16-38).

Informações

A autoria é identificada no primeiro versículo: “Paulo, apóstolo de


Cristo Jesus pela vontade de Deus” (1:1). Sua autoria é corroborada por Irineu,
Clemente de Alexandria e Orígenes. Já no tempo de Inácio (início do século II),
carta era citada como proveniente da mão do apóstolo.
Na era moderna, contudo, alguns estudiosos questionaram a autoria
paulina, dando explicações sobre supostas divergências na linguagem e na
sintaxe. Outros acreditam que há Efésios parece ser dependente demais de
Colossenses. Essa situação acaba por cair na ironia, pois muitos biblistas
avaliam a Carta aos Efésios como sendo “a culminância” do pensamento
paulino (C. H. Dodd, J. A. Robinson, por exemplo, dentre outros). Vale ressaltar
que a autoria paulina só foi contestada no fim do século XVIII e início do XIX,
antes disso, Efésios era universalmente aceita como paulina.

Local e data

A data mais provável é 60-61 d.C., levando em consideração a prisão de


Paulo mencionada em Ef. 3:1 e 6:20 (a mesma referida em Colossenses 4:3, 10 e
18).
Sabemos que Paulo morou vários anos em Éfeso, estabelecendo um
núcleo de cristãos para uma atividade missionária em toda a província.
Durante uma visita a Jerusalém, Paulo foi preso e ficou dois anos à espera de
julgamento. Mais tarde, apelou para Roma e foi transferido para aquela cidade
a fim de ser julgado como cidadão romano. Da prisão, Paulo persistiu
orientando as igrejas por meio de suas cartas, dentre elas, a Carta aos Efésios
(At. 28; Ef. 3:1; 4:1; 6:20). A Carta aos Efésios é uma das quatro cartas conhecidas
como “epístolas da prisão”, juntamente com Colossenses, Filipenses e
Filemom.
A Carta aos Efésios é considerada a mais impessoal das epístolas
paulinas. As palavras “aos efésios” não aparecem nos melhores manuscritos.
Orígenes, no século III, não tinha conhecimento dessa expressão. Também se
encontra ausente dos grandes códices do século IV, o Vaticano e o Sinaítico.

47
Alguns estudiosos pensam que a “carta aos laodicences” tenha sido de fato a
Carta aos Efésios (Cl. 4:16).

John Stott diz que Paulo, no primeiro versículo da carta, usa vários
termos para descrever seus leitores nessa carta:

• “Os santos”: não uma elite espiritual, mas aqueles separados para
pertencerem a Deus;
• “Os fiéis”: a família da fé, unidos por sua confiança comum em Deus
mediante Jesus Cristo;
• “Os que estão em Cristo Jesus”: aqueles que estão em comunhão com a
cabeça do corpo – Cristo!

Stott faz um resumo magistral da descrição de Paulo sobre a identidade


dos destinatários da carta:

A descrição que Paulo dá dos seus leitores, portanto, é compreensível.


São santos porque pertencem a Deus; são fiéis porque confiaram em
Cristo; e têm dois lares, porque residem igualmente em Cristo e em Éfeso.
De fato, todos os cristãos são santos e são fiéis, e vivem tanto em Cristo
quanto no mundo secular, ou seja, nos lugares celestiais e na terra. Muitos
dos nossos problemas espirituais surgem do nosso esquecimento de que
somos cidadãos de dois reinos. Nossa tendência é ou seguir a Cristo e
retirar-nos do mundo, ou ficar preocupados com o mundo e esquecer de
que também estamos em Cristo.

Alguns estudiosos acreditam que Efésios era uma carta circular enviada
a várias igrejas, e a cópia destinada aos efésios acabou sendo incluída no cânon,
passando a receber, portanto, essa designação. Eles acreditam assim, dentre
vários motivos, pelo fato de que esta é a única carta de Paulo que não trata de
nenhum assunto que seja específico de uma igreja em particular. É bom
salientar que Paulo mesmo diz estar lhes encaminhando Tíquico (Ef. 6:21-22),
que ele diz ter enviado a Éfeso (II Tm. 4:12).

Principais temas

A carta aos Efésios tem uma variedade de temas importantes:

48
• A grandeza de Deus (1:3-20);
• A exaltação de Cristo (1:10, 21-22; 4:15-16; 5:29);
• A salvação em sua dimensão presente (2:5-8);
• Os cristãos e sua relação com Cristo: a expressão “em Cristo” ocorre 34
vezes em Efésios;
• A unidade entre judeu e gentio (2:16; 3:6);
• A luta contra os poderes (1:19-23; 4:8-10; 6:10-20);
• A obrigação ética dos fiéis (1:4; 2:10; 4:1; 6:10-18);
• O apóstolo dos gentios (3:1-13);
• Metáforas da igreja: “a morada de Deus” (2:19-22); corpo em plena
ligação com a sua cabeça (1:23; 4:16; 5:23); a mulher em relação ao seu
marido (5:25-32)

No centro da mensagem de Efésios está a recriação da família humana


segundo o plano original de Deus para ela.

Breve esboço

Introdução 1.1-2
O propósito de Deus na história 1.3-14
O conhecimento de Deus e do seu poder 1.15-23
A redenção pela graça 2.1-10
A reconciliação 2.11-18
A nova sociedade 2.19-22
O mistério divino 3.1-13
A união no amor de Cristo 3.14-21
Os propósitos de Deus para a igreja 4.1-6
Os dons da igreja 4.7-16
O viver santo 4.17—5.21
Os novos relacionamentos 5.22—6.9
A batalha do novo povo 6.10-20
Conclusão 6.21-24

A epístola aos Efésios nos eleva para um lugar mais alto, onde estamos
unidos com o Cristo ressurreto que subiu ao céu. Os crentes não devem ter uma
perspectiva limitada ou apenas terrena.

49
Paulo, o cativo que ensina os livres, nos deixou um horizonte
extraordinário: somos a família da fé, unidos e vivendo para a glória de Deus.

50
Aula 8

Aos Filipenses: a carta da alegria

Introdução

O apóstolo Paulo conseguiu escrever várias cartas quando esteve em


prisão, o que não era uma situação cômoda. Uma dessas cartas foi enviada à
igreja de Filipos, na Macedônia, norte da Grécia. O destino do Império Romano
foi decidido em Filipos, quando o exército leal ao Imperador assassinado Júlio
César, sob o comando de Otávio (mais tarde o Imperador Augusto), derrotou
o exército rebelde de Brutus e Cassius. Por causa disso, Filipos foi elevada a
condição honrosa de colônia romana, portanto, os membros da igreja eram
cidadãos romanos. Por não haver muitas colônias romanas, os naturais de
Filipos eram cidadãos privilegiados em Roma.
Hernandes Dias Lopes, em seu comentário a Filipenses, diz que Filipos
foi a porta de entrada do evangelho na Europa. Cidade estratégica, ficava entre
o Oriente e o Ocidente. A cidade também era chamada Krenides, “fontes”, pois
era um lugar com abundantes fontes e ribeiros, cujo solo era fértil e rico em
prata e ouro, explorados desde a época dos fenícios. Mesmo que na época de
Paulo essas minas já estivessem exauridas, isso fez da cidade um importante
centro comercial do mundo antigo, atraindo assim, pessoas de diversas partes
do mundo.
Segundo historiadores, a cidade foi conquistada por Filipe da
Macedônia, pai de Alexandre, o Grande, em 360 a.C., recebendo o seu nome. O
saudoso Dr. Russel Shedd, em seu livro sobre a Filipenses, disse que “Filipenses
era uma igreja que fazia Paulo feliz”. Essa carta transborda alegria. Dr. Shedd
diz que somente nessa epístola há 16 referências à palavra alegria ou regozijo.
A igreja de Filipos era um perfeito exemplo do alcance universal da
graça de Deus, pois era uma igreja multirracial e multicultural. A igreja tinha
uma admirada pluralidade em sua formatação: Lídia era asiática, de Tiatira (At.
16:13-14); a jovem escrava era grega (At. 16:16-18); o carcereiro era cidadão
romano (At. 16:27-34). São não apenas três diferentes nacionalidades, mas sim,
três diferentes classes sociais: Lídia era empresária bem-sucedida, uma
comerciante de púrpura, uma das mercadorias mais caras do mundo antigo; a
jovem possessa era uma escrava, perante a lei da época não era considerada
uma pessoa, mas uma ferramenta viva, um produto. O carcereiro era cidadão

51
romano, um membro da forte classe média romana que se ocupava dos serviços
civis. Nessas três pessoas estavam representadas a classe alta, a classe média e
a classe pobre da sociedade filipense. Um poderoso testemunho do alcance
universal da graça.

Informações

A Carta aos Filipenses é de autoria de Paulo com a colaboração de


Timóteo, seu “filho na fé” (Fp. 1:1). Historicamente, a autoria paulina sempre
foi aceita. Policarpo de Esmirna, Ireneu, Clemente de Alexandria, Tertuliano e
outros não só fizeram citações de Filipenses como também atribuíram sua
autoria unicamente a Paulo. Somente no século XIX alguns estudiosos
começaram a questionar a autoria de Paulo, dentre eles, o mais famoso foi F. C.
Baur.

Local e data

Quanto ao local e data da escrita ainda há controvérsias que dificultam


a precisão dessas informações. O que sabemos com certeza é que Paulo
escreveu da prisão (1:12-30), mas as dúvidas começam exatamente sobre o local
dessa prisão. Alguns estudiosos trabalham com a ideia de que ele escreveu em
Éfeso (o que daria uma data entre 54-55 d.C.), contudo, o relato de Atos 19 nada
diz sobre Paulo ter sido preso durante o seu longo ministério em Éfeso.
Outros teólogos sugerem que ele escreveu essa carta durante o tempo
em que esteve preso em Cesareia (At. 23:23-33), o que daria o ano de 57 d.C.
Entretanto, é mais provável, de acordo com a tradição antiga, que Paulo
escreveu Filipenses enquanto estava em Roma (At. 28), já no final desse
período, por volta do ano 61 d.C. A descrição em Filipenses 1:13 e 4:22 condiz
com um cenário romano, e a linguagem de Filpenses 1:7-26 sugere
procedimentos legais dos níveis mais altos, semelhantes àqueles enfrentados
por Paulo em Roma. O relato de Atos 28:16-31 também fala da liberdade que
Paulo tinha para pregar enquanto esteve confinado.

Temas principais

Paulo escreveu essa carta para expressar tanto alegria quanto


preocupação. A carta é repleta de satisfação e gratidão pelo modo como Deus

52
estava levando adiante a obra de salvação entre os Filipenses, bem como pela
ligação especial que Paulo tinha com aqueles irmãos. Ao mesmo tempo, a carta
apresenta um tom sério e preocupado. Os filipenses enfrentavam perseguição
(1:27-30) e pressões de falsos ensinamentos (3:2-21). Os conflitos que estavam
ocorrendo dentro da igreja colocavam em risco o ministério em Filipos (1:27 –
2:18; 4:2-3).

Alguns dos temas principais são:

• A ligação especial de Paulo com os filipenses (1:3-8; 4:10-19);


• Alegria (4:4-7);
• A humildade de Cristo como exemplo (2:6-11);
• Justificação pela graça por meio da fé (3:7-9);
• A vida cristã (2:3-5);
• Equilíbrio tanto na vida pessoal quanto comunitária (4:10-13)
• Exortação à perseverança e à firmeza (4:2-9)

Embora não seja um tratado teológico, a Carta aos Filipenses tem


alguns dos temas mais profundos da teolgia paulina, como a grandeza de
Cristo e a alegria, incluindo a unidade e a perseverança dos santos.

Paulo escreveu a epístola por várias razões, dentre elas podemos


destacar:

• Explicar por que estava enviando Epafrodito de volta à igreja;


• Comunicar à igreja seu plano de enviar-lhes Timóteo;
• Agradecer à igreja o cuidado para com ele e as ofertas generosas;
• Informá-los das suas circunstâncias e da difusão do evangelho;
• Exortar a igreja a viver em humildade, comunhão e unidade;
• Adverti-los sobre os falsos ensinos: legalismo, perfeccionismo e vida
cristã descuidada;

Paulo explicou sua doutrina da justificação pela fé em contraste com o


legalismo (3.1-9). Ele insistiu em uma vida santificada pela identificação com
Cristo pela fé, participando dos seus sofrimentos, da sua morte e do poder da
sua ressurreição.

53
Breve esboço

Saudação 1.1-2
A alegre preocupação de Paulo com a igreja 1.3-11
Circunstâncias difíceis 1.12-26
Unidade e humildade cristãs 1.27—2.18
Exemplos de humildade 2.19-30
O erro da justiça própria 3.1-11
A maturidade cristã 3.12—4.1
Alegria e paz 4.2-9
A gratidão pela generosidade 4.10-20
Conclusão 4.21-23

Nesta epístola vemos a importância da unidade da igreja e da


humildade cristã. A humildade de Cristo é a base da humildade cristã, que é a
chave da unidade cristã autêntica.
A exortação de Paulo no sentido da alegria é uma palavra prática muito
necessária para os crentes em todas as épocas e situações.

54
Aula 9

Aos Colossenses: combatendo os falsos ensinos

Introdução

Colossos era uma pequena cidade na província da Ásia Menor, distando


160 quilômetros a leste da capital, Éfeso, na Frígia, na margem meridional do
rio Lico (na atual Turquia). A cidade ficava na estrada principal que ia de Éfeso
e Sardes até o Eufrates. A igreja em Colossos foi provavelmente plantada por
Epafras, um dos colaboradores de Paulo (Cl. 1:7; 4:12-13).
Paulo nunca visitou Colosso. Epafras, seu colaborador, natural de
Colossos, foi quem ajudou na tarefa missionária de evangelização e plantação
da igreja. Lucas observou que a mensagem de Paulo em Éfeso, onde
provavelmente Epafras conheceu Paulo, foi propagada com tamanha eficácia
que “todos os habitantes da Ásia, judeus e gregos, puderam ouvir a Palavra do
Senhor” (At. 19:10).
Segundo Eugene Peterson, o povo de Colosso, na época, em sua maioria,
acreditava que o ar em torno deles estava cheio de espíritos invisíveis e que os
humanos ignoravam o perigo que tais seres representavam. Manuscritos com
encantamentos para controlar esses poderes ou proteger-se deles eram
conhecidos como “cartas efésias”. Os colossos tinham medo de desagradar os
espíritos, ficando assim expostos à doença e à pobreza.
Os cristãos de Colossos estavam sob forte influência de um falso ensino
que misturava elementos da filosofia grega juntamente, judaísmo, uma espécie
de gnosticismo incipiente e as religiões de mistério que proliferavam na Ásia
Menor no primeiro século. Em parte, esses movimentos ensinavam que os
cristãos de Colossos estavam sujeitos a uma diversidade de forças espirituais
que precisavam ser apaziguadas por meio da veneração, do ascetismo e da
observância de dias santos especiais.
Com isso em mente, Paulo escreve com o objetivo de ajudar os cristãos
de Colossos a permenecerem firmes na verdade de que Deus já os havia
aceitado em virtude da união deles com Cristo. Eles já haviam sido
“aperfeiçoados em Cristo” (2:10). Luiz Sayão explica que os hereges de
Colossos fizeram um verdadeiro sincretismo de tendências religiosas distintas,
criando confusão e desunião na igreja.

55
Os hereges de Colossos, influenciados por uma cosmovisão gnóstica,
acreditavam que haviam vários níveis de distanciamento entre Deus e o
homem. Na mentalidade deles, era necessário galgar esses degraus por meio
de experiências místicas ascéticas para chegar a um nível superior. Esse
distanciamento enfraquecia o valor de Cristo e de sua obra redentora. Foi por
esse motivo que o apóstolo Paulo combateu o esvaziamento de Cristo proposto
pelos hereges. Paulo ensina que Cristo é suficiente e enche toda a plenitude
(todo o espaço entre o céu e a terra).
Apesar de toda a confusão teológica gerada pelos falsos ensinos, a
imagem dos irmãos colossenses é de uma congregação cristã obediente ao
evangelho apostólico, e pela qual Paulo dá sinceras graças a Deus (1:4-6). Paulo
fala sobre o amor com que o Espírito anima aqueles irmãos (1:8), e revela ter
ficado feliz ao saber de suas vidas cristãs inabaláveis, bem como da estabilidade
de sua fé em Cristo (2:5).

Informações

A autoria de Paulo é afirmada em Cl. 1:1 e 5:2. Durante a primeira prisão


de Paulo em Roma (At. 2:16-31), Epafras foi visistá-lo (At. 28; Cl. 4:12-13). Nessa
visita, Epafras informou a Paulo sobre o progresso do evangelho no vale do
Lico. Embora grande parte do relato fosse animador (1:8; 2:5), um assunto
perturbador teve de ser anunciado: falsos ensinamentos estavam sendo
introduzidos na congregação e, se não fossem reprimidos poderiam subverter
o evangelho, colocando os colossenses em servidão espiritual.

Local e data

Paulo escreveu a carta como resposta a essa necessidade da igreja. A


data mais provável é entre os anos 60-62 d.C. A Carta aos Colossenses, na visão
da maioria dos estudiosos, faz parte do grupo das chamadas “Cartas da
Prisão”, juntamente com Efésios, Filipenses e Filemom. A carta foi endereçada
aos cristãos da cidade de Colossos e entregue por Tíquico, que Paulo havia
enviado a eles e à igreja em Éfeso (Ef. 6:21).

Principais temas

56
A Carta aos Colossenses ainda tem muito a ensinar-nos, principalmente
nas questões relativas à cristologia e à eclesiologia, bem como no combate aos
falsos ensinos.

Seus principais temas são:

• A supremacia de Cristo (1:15-23);


• O ministério de Paulo aos colossenses (1:24 – 2:7);
• Advertências acerca das heresias e falsas doutrinas (2:8-23);
• A supremacia e suficiência de Cristo (2:8-23);
• A vida em Cristo (3:1 – 4:6)

Dentre seus grandes momentos, a Carta aos Colossenses possui um


magnífico cântico de louvor a Cristo. Colossenses 1:15-20 é um magistral hino
que exalta Cristo como Senhor da criação (1:15-17) e autor da reconciliação
(1:18-20). A extensa oração paulina (1:9-14) acaba levando o apóstolo ao cântico.
Embora o cântico louve a Cristo, é surpreendente que os nomes “Jesus”,
“Cristo” e “Senhor” não aparecem. A estrofe começa simplesmente com: “Ele
é…” Paulo sabe exaltar a Cristo sem cair no erro de dizer “Senhor, Senhor”,
mas não louvá-lo de verdade.

Breve esboço

Introdução 1.1-14
Saudação e relatos 1.3-14
A supremacia de Cristo 1.15-23
Cristo, o cabeça da igreja e da criação 1.15-20
O ministério de Paulo aos Colossenses 1.24 – 2.7
A supremacia e suficiência de Cristo 2.8-23
Advertência contra os falsos ensinos 2.8-14
Vivendo em Cristo 3.1 - 4.6
A antiga humanidade e a nova humanidade; orientações práticas 3.1-18 – 4.6
Saudações finais 4.7-18

Paulo dá graças a Deus quando ora incessantemente pelos colossenses


(1:3). Ele o faz porque já ouviu da sua fé em Cristo Jesus e do amor que nutrem
para com outros cristãos. Há quem veja aqui o testemunho da participação dos

57
colossenses na grande coleta em prol dos pobres da comunidade de Jerusalém.
A descrição que ele recebeu indica não somente que Cristo Jesus é o objeto de
sua fé, como que ele é o ambiente vivo no qual sua fé é exercitada.
O relato sobre a fé e o amor é motivo de ação de graças. O fato de não
conhecer essa comunidade o faz confiar unicamente no relato que recebeu, o
que serve para valorizar ainda mais a experiência comunitária. O cristianismo
nos ensina a viver a fé, introduzindo o crente numa comunidade e, através
desta, ao povo de Deus. A fé não encontra chão no individualismo.
A esperança expressa por eles, que resultou do anúncio da Palavra, será
recompensada. A palavra esperança, junto com fé e amor, forma a tríade
familiar aos escritos paulinos. A salvação, já experimentada pelos cristãos no
presente, tem um aspecto futuro: está preservada nos céus (1:5). Essa
esperança, vivida por eles no aqui e agora, é o fundamento da fé que gera a
confiança de que a palavra da verdade está produzindo fruto e crescendo. É a
dimensão escatológica de Paulo, esperançosa, transformadora.
Para Paulo, o evangelho está experimentando vitórias. Mesmo sendo
apenas umas poucas comunidades, de algumas dezenas de pessoas, sequer
percebidas no meio do imenso Império Romano. Apesar da sensação de
indizível insignificância, Paulo é firme ao anunciar o evangelho que conquista
e está ativo no mundo inteiro.
Os falsos ensinadores tentavam a fuga do espiritual, confundindo a
mente dos irmãos. Quando Paulo fala de Cristo no correr da carta, quer lembrar
que Ele é a negação do ensino que apareceu em Colossos: Ele assumiu sua
humanidade, realizou seu ministério, encarnou, não fugiu à cruz. Como
descreveu com clareza José Comblin: Cristo é corporal por dois lados: porque
tem um corpo que morreu na cruz, e porque este corpo é a comunidade
concreta dos colossenses, e todas as comunidades em que se realiza a Igreja, a
assembleia total do povo de Deus.
Habilidoso, Paulo não os ofende, não violenta com as palavras e nem
rotula a sua prática, mas apresenta o evangelho puro. Pés no chão, ele rejeita a
fé que só tem palavras.
A fé cristã é histórica, ela deita raízes na vida de homens, mulheres e
crianças concretos, que trabalham, sofrem e lutam para construir uma
existência comunitária com sentido neste mundo.

58
Aula 10

A primeira Carta aos Tessalonicenses: edificando a esperança da igreja

Introdução

William Barclay, em seu comentário sobre as cartas de Paulo, afirma que


a chegada do cristianismo a Tessalônica foi um fato de suma importância. Paulo
sabia que se o cristianismo se firmasse em Tessalônica, poderia estender-se a
partir dali para o Oriente e para o Ocidente, como de fato aconteceu (I Ts. 1:8).
Segundo Atos 17.1-15, Paulo chegou em Tessalônica por volta do ano
50 depois de Cristo, vindo de Filipos, onde havia sofrido perseguição. Depois
de um ou dois meses que Paulo e Silas haviam iniciado o trabalho missionário
em Tessalônica, alguns judeus se organizaram para forçar a saída deles da
cidade. Dali foram a Bereia, de onde novamente foram expulsos, indo parar em
Atenas. Com o objetivo de consolidar a formação da comunidade cristã em
Tessalônica, Paulo enviou Timóteo e Silas, que, ao retornarem da viagem
missionária, trouxeram notícias referentes ao grupo de cristãos e cristãs de
Tessalônica. Com base nas animadoras notícias trazidas pelos enviados, Paulo
escreveu a Primeira Carta aos Tessalonicenses.
Tessalônica era uma grande cidade para os moldes da época. Como
capital da região da Macedônia e ainda por estar localizada perto do mar, onde
navios de vários lugares atracavam, concentrava uma diversidade cultural e
comercial enorme. Segundo Bohn Gass, “Sua população era diversificada: cada
qual com sua cultura, língua, deuses, folclore, superstições, tradições etc. Os
comerciantes levavam e traziam mercadorias do mundo inteiro. Na cidade há
pensões, hospedarias, saunas, teatros, praças, santuários, prostituição”.
A comunidade de Tessalônica representa um grupo de pessoas,
minoritário, sem respaldo político, econômico, cultural e social dentro de um
grande centro urbano, composto por centenas de propostas semelhantes, por
uma pluralidade de religiões e filosofias. Paulo percebeu claramente o risco que
essa pequena comunidade corria nesse cenário. O risco de sucumbir pela
diversidade de outras propostas é grande. Essa percepção é um dos principais
motivos para o envio de Timóteo e Silas aos tessalonicenses, e especialmente
uma importante motivação para a edição dessa carta.
Paulo escreve com o objetivo de manifestar sua alegria pelo
desenvolvimento da comunidade, orientá-la em algumas questões práticas e

59
teológicas e ainda estimular a perseverança e a esperança, tão necessárias para
a sustentabilidade dessa comunidade. O tom amistoso da carta deve ser
compreendido dentro desse contexto.
Além dos muitos elogios que Paulo faz ao longo da carta a respeito
da forma como os e as tessalonicenses recepcionaram o Evangelho de Cristo, a
carta procura orientar a comunidade diante de algumas preocupações
teológicas que ela parece ter, como a respeito da segunda vinda de Cristo. As
pessoas da comunidade de Tessalônica, por acreditarem que a vinda de Cristo
seria iminente, ou seja, que aconteceria nos próximos meses ou anos,
preocupavam-se em como se daria a ressureição daqueles e daquelas que já
tinham falecido.
Paulo sustenta que a morte não é empecilho para a ressurreição em
Cristo, pois, no final da história, tanto aquelas pessoas que estão vivas como
também as mortas serão igualmente reunidas em torno de Cristo para viver na
plenitude do reino de Deus. Como não é possível saber nem o dia nem a hora
da vinda gloriosa de Cristo, convém às pessoas cristãs viverem a fé no dia a
dia, vigiando e orando, abandonando os ídolos e confiando unicamente em
Jesus Cristo, respeitando a vida e o corpo, se esforçando na construção de
relações de trabalho dignas e livres da opressão de umas pessoas sobre as
outras. Para Paulo, a espera pela realização plena do reino de Deus deve ser
exercitada na esperança e na vivência cotidiana, como expressão da fé cristã
que nos leva a abandonar os ídolos, os valores absolutos colocados pela
sociedade que nada têm a ver com os valores e princípios ensinados por Jesus
Cristo.

Informações

O nome original da cidade, de acordo com William Barclay, era Thermai,


que significa “fontes quentes”. Seiscentos anos antes, Heródoto já a descrevia
como uma cidade grande. Foi lá que Xerxes, o persa, estabeleceu sua base naval
ao invadir a Europa. Em 315 a.C., Cassandro reedificou a cidade e colocou nela
o nome de Tessalônica, em homenagem a sua mulher, filha de Filipe da
Macedônia, e meia-irmã de Alexandre, o Grande. Nos tempos de Roma foi sede
do governo provincial, tendo sido governada por cinco ou seis “oficiais da
cidade” (At. 17:6).
A carta expressa a preocupação do apóstolo com a jovem comunidade,
ainda insegura com relação à vida na fé cristã. No início, porém, está o

60
retrospecto que agradece a Deus e aos próprios membros pela recepção do
evangelho. Esses cristãos se tornaram exemplos a serem seguidos por outros.
Isso não impede o apóstolo Paulo de acrescentar exortações no sentido de
permanecerem firmes numa conduta agradável a Deus.
Entre as exortações, Paulo faz referência especial a questões da
ética sexual (4.3s), bem como à de trabalho. Importa evitar tanto a prostituição,
como também a preguiça que se esquiva de ganhar o pão de cada dia com as
próprias mãos (4.11s). Aparentemente houve gente que se considerava
dispensada de trabalhar sob alegação de o fim do mundo estar próximo. Para
que plantar se já não resta tempo para colher os frutos? Havia um fervor
nas primeiras comunidades que julgava iminente o retorno glorioso de Jesus
Cristo e a chegada de um novo céu e de uma nova terra (Ap 21.1s). Supunha-
se que o mundo dentro de breve iria acabar para ceder espaço ao reino de Deus.
Paulo se vê obrigado a acalmar os ânimos. O entusiasmo necessita de
sobriedade. Certamente a esperança não deve ser abandonada. Ela é
parte constitutiva do credo cristão. Deus há de vencer os poderes do mal e
submeter a criação à radical “reforma”. Então, as promessas das bem-
aventuranças irão cumprir-se e as preces do “Pai-Nosso” serão atendidas. No
entanto, é preciso equilíbrio.
É inútil especular sobre a data da consumação de todas as
coisas. Ninguém a conhece. O “dia do Senhor” virá como ladrão à noite (5.2).
Por isso mesmo perde tempo quem se entrega a cálculos sobre probabilidades
e procura identificar sinais precursores do fim. Mais importante é saber que
Deus “não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante
nosso Senhor Jesus Cristo” (5.9). O resto podemos confiar à providência divina.
Essa certeza resolve também a angústia específica dos tessalonicenses.
A comunidade buscava conciliar sua teologia com alguns casos de óbito entre
seus membros. Estariam esses em desvantagem em comparação com aqueles
que sobrevivem até a chegada do Senhor? A resposta é um categórico “não”.
Paulo afirma: […] “nós, os que ficarmos até a vinda do Senhor, de modo algum
precederemos os que dormem” (4.15). Portanto é indiferente se falecemos antes
da volta de Cristo ou não.
Ao falar sobre o assunto, Paulo faz uso de linguagem apocalíptica.
Refere-se à trombeta, cujo som inaugura o drama do retorno de Cristo e o
arrebatamento dos fiéis. Mas já para ele tais imagens são secundárias. A
esperança pode articular-se também como simples desejo de partir e estar com
Cristo imediatamente após a morte (Fp 1.23).

61
Imagens apocalípticas fazem parte do material ilustrativo do evangelho,
mas não são imprescindíveis. Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, não há
motivos para a apreensão com relação à sorte dos falecidos. A morte
certamente continua a apavorar, mas já não provoca pânico. Não somos como
os demais que não têm esperança (4.13). Morte e ressurreição de Cristo abrem
a perspectiva de vida para além da morte. Revelam-se como poderoso consolo.

Local e data

Há um amplo consenso entre exegetas de que a Primeira Carta aos


Tessalonicenses foi escrita por Paulo, Silvano e Timóteo, conforme afirmação
na saudação da carta (1.1). Silvano deve ser identificado como Silas (At
17.4), importante membro da comunidade de Jerusalém, que fora enviado
também à Antioquia (cf. At 15.22). Timóteo é o principal auxiliar de confiança
de Paulo em suas viagens missionárias e trabalhos de evangelização. A epístola
foi escrita por volta do ano 51 da era cristã. Muitos exegetas acreditam que essa
epístola é o escrito mais antigo do Novo Testamento, a primeira das cartas
escritas por Paulo. Também é consenso que Paulo escreveu essa epístola
quando estava em Corinto (At. 18:5; II Co. 1:19).

Principais temas

Paulo concentrou seus esforços nesta carta em dois temas muito


importantes:

O retorno de Cristo: muitos ensinos sobre o retorno de Cristo estão


espalhados ao longo das duas epístolas aos tessalonicenses, especialmente nos
capítulos 4 – 5 da primeira epístola e nos capítulos 1 – 2 da segunda epístola. O
discurso de Paulo em Atenas (At. 17) confirma que a sua estratégia entre o
público gentio nesse tempo era enfatizar a vinda do julgamento (I Ts. 4:6), que
Deus havia colocado nas mãos do Jesus ressuscitado.
O Cristo divino: outra notável característica dessas epístolas é a
admissão, por parte de Paulo, da sublime posição divina de Cristo. Diversas
vezes Jesus Cristo e Deus, seu Pai, estão ligados como uma fonte comum de
bênçãos divinas e objeto comum de orações (1:1; 3:11; II Ts. 1:1-2, 12; 2:16; 3:5,
16). O uso que Paulo faz da expressão do Antigo Testamento “Dia do Senhor”,

62
na qual “O Senhor” (Yahweh) está agora revelado como sendo o Senhor Jesus
Cristo (I Ts. 5:2) atribui diretamente divindade a Jesus Cristo.

Além desses dois temas importantes, havia alguns problemas que


exigiram de Paulo uma resposa cuidadosa:

• O escatologismo (4:11): a pregação sobre a segunda vinda de Cristo


havia gerado uma inquietação anormal. Algumas pessoas da igreja
estavam abandonando seus trabalhos e empreendimentos para esperar
o retorno de Cristo, abortando a própria vida comum. Paulo escreve
para corrigir essa prática;
• Confusão sobre a morte (4:13-18): Alguns irmãos acreditavam que se
alguém morresse antes da seguda vinda de Cristo, estaria em total
prejuízo em relação aos vivos;
• Desprezo à autoridade (5:12-14): os irmãos de Tessalônica estavam sob
forte tendência de desprezar toda autoridade legal, tendo sérias
dificuldades de acatar e obedecer às autoridades estabelecidas na igreja;
• Imoralidade (4:3-8): o mundo grego era repleto de sensualidade,
erotização e imoralidade, a promiscuidade sexual estava misturada com
a religiosidade grega. Esse ambiente libertino era parte da cultura
tessalônica. Paulo escreve para ensiná-los que Deus os havia chamado
para a santidade;
• Resistência ao apostolado de Paulo (2:5-9): alguns estavam acusando
Paulo de ganancioso. Outros o acusavam de ditador (2:6, 7 e 11). Paulo
defende seu apostolado mostrando sua postura irrepreensível;
• Divisão na igreja (4:9; 5:13): as disputas internas ameaçavam a
comunhão da igreja.

Breve esboço

Saudação 1.1
Fé, esperança e amor 1.2-10
O ministério aprovado por Deus 2.1-9
Dignos de Deus 2.10-16

63
Minha glória e alegria 2.17—3.5
Fé em desenvolvimento 3.6-13
A moralidade sexual 4.1-12
Esperança na tristeza 4.13-18
O Dia do Senhor 5.1-11
Últimas exortações 5.12-28

Ao escrever sua carta à Igreja em Tessalônica, Paulo o faz motivado por


um profundo sentimento de gratidão a Deus. Isto fica evidente quando
constatamos que, em três momentos distintos, deparamos-nos com expressões
de gratidão e louvor pela comunidade: (1.1-10): pela boa situação em que se
encontra a comunidade; (2.13-16): gratidão pela perseverança da comunidade
num contexto de perseguição; (3.6-10): alegria e gratidão pelas boas notícias
trazidas por Timóteo a respeito da comunidade.
O louvor e a ação de graças a Deus pela comunidade em na Primeira
Carta aos Tessalonicenses brotam de uma realidade marcada por dificuldades,
sofrimentos, conflitos e perseguições. Refletem uma situação de etapa vencida
e adversidades superadas.

64
Aula 11

A segunda Carta aos Tessalonicenses: fortalecendo e animando os irmãos

Introdução

De acordo com estudiosos do Novo Testamento, as duas cartas aos


tessalonicenses fazem parte dos escritos mais antigos do apóstolo Paulo.
Embora haja discussão sobre a autoria de Paulo, é possível que ela tenha sido
escrita não muito tempo depois da primeira, que é a mais antiga do apóstolo e
foi escrita no início da década de 50.
Já em 1 Tessalonicenses 4.11 a questão dos que querem viver sem
trabalhar é tematizada. Agora o assunto ganha novo destaque, indicando que o
problema havia ficado maior. A carta foi escrita de Corinto, sendo dirigida “à
igreja dos tessalonicenses” (2Ts 1.1), a quem Paulo reiteradamente chama
de irmãos (2Ts 1.3; 2.1; 3.1 e 3.6).
A autoria da carta é de Paulo, Silvano (Silas) e Timóteo (2Ts 1.1), um
trio de missionários itinerantes. Em Atos 17, temos o relato do início da
comunidade, ocorrida na segunda viagem missionária do apóstolo Paulo. Os
três foram de Filipos para Tessalônica, isso por volta do ano 50. Depois de
pregar na sinagoga local, eles sofreram perseguições da parte de judeus e
incrédulos. Tiveram de deixar a cidade às pressas, mas uma igreja ali
permaneceu, uma comunidade de irmãos. No tempo em que permaneceram na
cidade, eles se sustentaram através de árduo trabalho próprio (1Ts 2.9 e o nosso
texto mostram isso). Atos 17.2-4 afirma que participavam da comunidade
judeus, gregos piedosos e “muitas distintas mulheres”.
Tessalônica era a capital da Macedônia. Ocupava um lugar
estratégico, tanto que três estradas romanas cruzavam a cidade. Como cidade
portuária, era também um centro comercial, que explorava as riquezas
agrícolas e minerais da Macedônia. Em 2 Coríntios 8.1-4 Paulo escreve sobre a
pobreza dos cristãos da Macedônia.
A comunidade é nova, recém-fundada, quando recebe a carta de Paulo,
e estava vivendo num ambiente adverso, precisando ser fortalecida em sua fé
diante de tribulações. Na situação de sofrimento e perseguições, a fé viva levou
a comunidade a esperar ansiosamente a vinda de Jesus. Em vista da espera pela
volta de Jesus para muito breve, surgiram compreensões equivocadas. Essas
compreensões precisavam ser corrigidas.

65
Dessa compreensão equivocada resultou que algumas pessoas
deixaram de trabalhar e passaram a viver à custa de outros irmãos da igreja ou
de seus parentes, passando a viver de forma desordenada, como Paulo
qualifica a atitude. Esse problema havia sido informado a Paulo (2Ts 3.11). Em
II Ts. 3:10, Paulo usa um dito popular conhecido do judaísmo e do
Talmude, inspirado em Gênesis 3.19: “quem não quer trabalhar, também não
coma”. Assim Paulo quer coibir os abusos que se verificam na comunidade.
A palavra trabalhar é repetida cinco vezes no terceiro capítulo. É assunto
importante, que se transformou em tradição repassada para a comunidade (2Ts
3.6). No mundo grego e romano, ao contrário, o ideal propagado era poder
viver sem trabalhar. Quem trabalhava eram os escravos. As pessoas livres não
sujavam as mãos no trabalho. Essa tradição não deve ser seguida!
Paulo inverte tudo na visão cristã: trabalhar para viver, e não viver à
custa de outros! Não explorar os outros e sustentar-se do próprio trabalho. A
comunidade sabia que devia imitar os apóstolos e não os opressores, que
viviam à custa do trabalho de outros. Não deviam, por isso, entrar nessa onda.
Muito menos ainda usando o argumento de que a vinda de Cristo é iminente.
Outra constatação muito importante: nada é falado aos que não podem trabalhar.
A esses cabe fazer o bem. Paulo procura então uma solução. Sua intenção é
restaurar o bom convívio entre todos e não punir os que vivem
desordenadamente.

Informações

Pouco tempo depois de enviar a primeira carta à igreja de Tessalônica,


Paulo enviou a segunda (aproximadamente entre 50-52 d.C.). A igreja havia
nascido debaixo de perseguição (At. 17:4-6), e a perseguição, em vez de
diminuir, estava aumentando (II Ts. 1:4-6). Paulo busca animar os irmãos que
ainda estavam passando por forte tribulação (1:3-12), mostrando que o consolo
dos salvos tem raízes no passado e esperanças no futuro.
O apóstolo fala especificamente do dia do Senhor (2:1-8) e da maneira
como a igreja deveria tratar os crentes que estavam rejeitando os ensinos
contidos na primeira carta (3;6-11). Algumas pessoas haviam abandonado seus
trabalhos para esperar a iminente segunda vinda de Cristo, numa reação
emocional exagerada provocada por essa expectativa deslocada da realidade.

66
A igreja de Tessalônica cometeu dois graves equívocos acerca da
doutrina da segunda vinda de Cristo, ambos perigosos e de consequências
danosas:

1. O erro de marcar datas (2:1-2): Alguns crentes de Tessalônica estavam


tão seduzidos pelo engano que caíram no erro de fixar uma data para a
volta de Cristo, erro que, ao longo da história da igreja, foi novamente
cometidos algumas vezes.
2. Não observar corretamente os sinais da segunda vinda de Cristo
(2:3): Se, por um lado não devemos marcar datas para o retorno de
Cristo, por outro não podemos fechar os olhos para os seus sinais. Paulo
declara à igreja de Tessalônica que a segunda vinda não acontecerá sem
que primeiro venha a apostasia e seja manifestado o homem da
iniquidade.

Paulo encoraja, fortalece e anima os irmãos tessalonicenses a viverem


uma vida cristã esperançosa, digna e compromissada com o evangelho, não
com as mentiras sedutoras dos falsos mestres.

Principais temas

O apóstolo, com cuidado pastoral, orienta os cristãos de Tessalônica


sobre algumas verdades fundamentais:

• Os crentes devem perseverar em meio ao sofrimento até a vinda de


Cristo;
• Os crentes não devem se deixar enganar por especulações a respeito da
segunda vinda de Cristo;
• O retorno de Cristo trará grande juízo e recompensa;
• Enquanto aguardam a volta de Cristo, os crentes devem viver de
maneira responsável em suas atividades diárias neste mundo.

A escatologia paulina é repleta de esperança, compromisso com a vida


diária e cuidado pastoral. A Segunda Carta aos Tessalonicenses nos revela
que as questões a respeito da escatologia eram decisivas para a comunidade
cristã tessalonicense (II Ts. 2:1-12). Quando temas tão profundos como a
escatologia se tornam obsessivos, as leituras desequilibradas ou apressadas,

67
podem se tornar graves problemas para a experiência comunitária e o exercício
da nossa fé.

Breve esboço

A salvação 1.1-2
Ânimo para a igreja 1.3-12
Instruções para a correção de mal-entendidos 2.1-12
Permaneçam fiéis 2.13-17
Orem por mim 3.1-5
Por que parar de trabalhar? 3.6-15
Conclusão 3.16-18

As cartas não possibilitam o discernimento das estruturas da igreja que


existiam nessa etapa primitiva, mas Paulo deixa claro que os missionários e
também os líderes locais tinham autoridade na vida dos fiéis. Uma função
significativa dos líderes locais e apostólicos era dar exemplo ético e fazer
exortações (I Ts. 2:11-12; 5:12-13; II Ts. 3:4, 14-15). Os membros comuns também
deveriam arcar com as responsabilidades de uma vida exemplar (I Ts. 5:11).
O grande valor de 1 e 2 Tessalonicenses como documentos históricos da
teologia paulina baseia-se em sua evidente intimidade com a pregação
missionária paulina. As duas cartas são endereçadas a uma igreja jovem,
falando bastante da obra de proclamação à qual a igreja deve seu início. Em
grande parte, a busca de Paulo nessas cartas é encorajar os membros dessa
igreja recém-fundada para que melhor consigam enfrentar as novas situações.

68
Aula 12
A primeira Carta a Timóteo: ensinamentos para o líder

Introdução

A primeira carta a Timóteo faz parte do conjunto de cartas chamado de


Cartas ou Epístolas Pastorais (l Timóteo, 2 Timóteo e Tito) desde o século XVIII.
O uso do termo pastorais é proposto por causa do caráter e do conteúdo
teológico dessas cartas, pois elas contêm instruções e exortações para o
desempenho do cargo de direção da igreja. Essas cartas são muito similares
entre si do ponto de vista do conteúdo e da forma. Elas se apresentam com uma
moldura de carta, mas com o conteúdo em forma de discurso exortativo. Sua
forte característica literária é o uso de parêneses, que são tratados temáticos de
maior abrangência, contendo regras éticas amplas e gerais, válidas para
qualquer comunidade - diferente de exortação ética, que está relacionada a
questões específicas e particulares.
As cartas pastorais, segundo registrado na redação, foram escritas e
enviadas a Timóteo, que estava em Éfeso (l Tm 1.3; 2 Tm 1.15), e a Tito, que se
encontrava em Creta (Tt 1.5). As cartas não mencionam explicitamente a
comunidade ou as comunidades à quais se destinam. As pastorais dirigem-se
a pessoas em particular, seguidoras de Paulo, com reconhecimento nas
comunidades, e, com um discurso de caráter oficial, a toda a comunidade.
Nessas cartas, mencionam-se: a igreja (l Tm 2.1s), os homens e as
mulheres (l Tm 2.9-15; Tt 2.2-6; 3.1-2), bispos e diáconos (3.1s), presbíteros (l Tm
5.17-19; Tt 2.2), presbíteras (Tt 2.3), escravos (6.Is). Elas terminam na segunda
pessoa do plural: "a graça esteja convosco/com todos vocês" (l Tm 6.21; 2 Tm
4.22; Tt 3.15). São cartas com implicações comunitárias e, portanto, as
recomendações não são apenas de cunho pessoal. Isto fica evidente na
motivação da carta de l Timóteo: "Escrevo-te estas coisas... para que, se eu
tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a Igreja
do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade" (l Tm 3.14-15).
O objetivo das cartas é, em resumo, transmitir regulamentos e dar
instruções a Timóteo e Tito, como representantes da liderança comunitária,
sobre os deveres pastorais, no que diz respeito a orientar o comportamento das
pessoas dentro do âmbito familiar, à regulamentação da disciplina eclesiástica,
à qualificação de cargos e funções comunitárias e ao modo de exercer a
liderança comunitária.

69
Timóteo, cujo nome significa “aquele que adora a Deus”, era filho de
mãe judia e pai grego, do qual pouco se sabe. O verbo “era”, que se encontra
em At 16.3, onde diz que Timóteo era filho de um grego, está no modo
imperfeito, ou seja, provavelmente o seu pai já havia morrido. Também são
citadas na Bíblia a sua avó, Lóide, uma judia da qual Paulo diz que tinha uma
fé sem fingimento, e sua mãe, que foram exemplos para o jovem Timóteo (2Tm
1.5).
Lucas diz que Timóteo era um discípulo (no grego, a palavra para
discípulo e aluno é a mesma), um jovem disposto a aprender os valores do reino
de Deus. Conhecido na região de Listra e Icônio como um jovem exemplar,
dava bom testemunho diante dos homens, ao ponto dos irmãos destas regiões
falarem publicamente sobre sua boa conduta. Timóteo havia sido escolhido por
Deus, bem visto pela Igreja e, agora, chamado por Paulo. Esse é o início de uma
grande amizade e companheirismo entre os dois.
Timóteo foi enviado para Corinto (ICo 16.10). Viajou com Paulo para
Jerusalém, para levar a oferta levantada para os pobres daquela cidade (Atos
20.4-5). Acompanhou Paulo em Roma e ficou com ele na prisão (Fp 1.1). Após
o período do primeiro aprisionamento de Paulo, o mesmo deixou Timóteo em
Éfeso. Timóteo foi o missionário e companheiro mais recomendado por Paulo
para cuidar de alguma igreja, o que foi fruto da sua lealdade (1Co 16.10; Fp 2.19
e 1Tm 3.10).
Paulo chamava Timóteo de seu filho na fé e escreveu a sua última carta
ao jovem, rogando para que o mesmo fosse um servo fiel que lutasse pela fé
cristã e sã doutrina. De acordo com a tradição, Paulo consagrou Timóteo como
bispo de Éfeso no ano 65 d.C., onde ele teria servido por 15 anos e, depois,
morrido ali, martirizado, quando João estava exilado na ilha de Patmos. Tomás
de Aquino em 1274, escrevendo a respeito de 1 Timóteo disse: "Esta carta é
como se fosse uma regra pastoral que o Apóstolo deu a Timóteo."
William Barclay defendia que o interesse principal destas cartas
pastorais está em que nelas achamos um quadro da Igreja nascente como em
nenhum outro lugar. Nessa época a Igreja era uma ilha num mar de paganismo.
As mais perigosas infecções a ameaçavam por todos os lados. Seus integrantes
estavam a um passo de sua origem e antecedentes pagãos. Teria sido muito
fácil para eles escorregar e reincidir no estilo de vida pagão do qual provinham.
Uma atmosfera poluente os rodeava.

Informações

70
Geralmente, a maioria das cartas paulinas não são contestadas quanto
ao seu legítimo autor. O mesmo não ocorre com as cartas pastorais. Se olharmos
para as saudações das cartas pastorais, o apóstolo Paulo é o autor delas,
contudo, muitos estudiosos argumentam que não foi o próprio Paulo quem
compôs as cartas, mas alguém as teria escrito usando o nome de Paulo, numa
prática conhecida como pseudepígrafe.
Em resposta a essa objeção, o próprio apóstolo Paulo advertiu seus
leitores a rejeitarem a prática de pseudepígrafe como falsificação enganosa (II
Ts. 2:2-3). As próprias cartas pastorais contêm diversas advertências contra os
impostores (I Tm. 4:1-2; II Tm. 3:13; Tt. 1:10). Isso torna impossível que algum
cristão primitivo tentasse honrar Paulo ou usar de sua autoridade para
combater falsos ensinos usando a prática da pseudepígrafe.

Os principais argumentos contra a autoria paulina da primeira carta a


Timóteo são:

• Muitos acreditam que a comparação entre as alusões históricas da carta


e a vida de Paulo, relatada em Atos, não parecem ser condizentes;
• As cartas pastorais apresentam uma organização eclesiástica muito bem
desenvolvida, como por exemplo, as características que deveriam ter os
bispos e diáconos, os cuidados para com as viúvas, entre outros temas.
Esse estágio de desenvolvimento seria posterior à época do apóstolo;
• Uma admoestação de Paulo sobre controvérsias acerca do chamado
falso conhecimento (I Tm. 6:20), era a tese defendida por Marcião, um
mestre herege do segundo século;
• O vocabulário encontrado nas cartas pastorais difere bastante das
demais cartas.

Segundo o teólogo e biblista, Luiz Sayão, as críticas levantadas contra a


autoria paulina das epístolas pastorais, com respeito aos aspectos históricos,
linguísticos e éticos são frágeis e não oferecem provas suficientes para serem
confirmadas. São argumentos não conclusivos, razão pela qual, os teólogos
conservadores continuam apoiando a ideia de que o apóstolo Paulo é o legítimo
autor das cartas pastorais.

Local e data

71
Algumas das informações contidas nas espístolas pastorais sugerem que
essas cartas foram escritas durante o que pode ter sido a quarta viagem
missionária de Paulo. O livro de Atos não termina com a morte de Paulo, mas
sim com a sua prisão domiciliar em Roma (At. 28:16, 30-31). Eusébio, o
historiador da igreja do século IV, preservou a tradição de que Paulo foi
libertado dessa prisão, continuou o seu trabalho missionário e foi martirizado
por Nero durante a sua segunda visita a Roma.
Essa tradição é apoiada por Filipenses e Filemom, que, se foram escritos
durante a prisão romana registrada em Atos 28, oferecem evidências de que
Paulo esperava ser solto (Fp. 1:25-26; Fm. 22), bem como pelas próprias
pastorais. Uma quarta viagem missionária e uma segunda prisão depois da
registrada em Atos 28 se combinam para formar o cenário mais provável das
pastorais.
Se Paulo ficou preso em Roma por duas vezes, ele foi libertado da sua
primeira prisão por volta de 62 d.C. De acordo com a tradição posterior, ele foi
martirizado por Nero, que morreu em 68 d.C. Nesse cenário, I Timóteo,
composta enquanto Paulo ainda estava em meio à sua quarta viagem
missionária, foi provavelmente escrita durante a primeira parte desse período,
entre 62 e 64 d.C. Alguns defendem que Paulo pode ter escrito essa carta da
Macedônia (I Tm. 1:3), no norte da Grécia.

Principais temas

William Barclay diz que 1 e 2 Timóteo e Tito se consideraram sempre


um grupo separado de Cartas, distintas das outras Epístolas de Paulo. A razão
mais óbvia é que só elas, junto com a pequena Carta a Filemom, estão dirigidas
a pessoas, enquanto que o resto das Cartas paulinas o estão a Igrejas. Elas foram
escritas como expressão do sentimento e afeto pessoal. São Cartas privadas
mais que públicas. São indicativos e diretrizes ao líder, ensinamentos preciosos
para o exercício da liderança na igreja.
É bom frisar, no entando, que, apesar de que à primeira vista são Cartas
pessoais e privadas, têm um significado e uma importância que vão mais além
da mera referência pessoal. Em 1 Timóteo 3:15 destaca-se o fim destas Cartas.
São dirigidas a Timóteo para que “se eu tardar, fiques ciente de como se deve
proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da
verdade”. Estas Cartas foram escritas para assinalar a conduta própria

72
daqueles que vivem na casa de Deus. De modo que, então, compreendeu-se
que estas Cartas não só têm um significado pessoal, mas também têm o que se
poderia chamar um significado eclesiástico.

Seus principais temas são:

• Encorajamento e instrução: Timóteo, um pastor ainda sem experiência,


foi deixado incumbido da igreja de Éfeso. Paulo, seu pai espiritual,
escreveu para encorajá-lo e instruí-lo em relação a assuntos práticos
como a adoração pública, as qualificações dos oficiais da igreja, e a
confrontação do ensino falso na igreja;
• Relacionamentos: Paulo também instruiu Timóteo acerca das relações
com os diversos grupos da igreja, incluindo as viúvas, os anciãos, os
escravos e os falsos mestres;
• Preocupação com a piedade e a integridade do ministro: A epístola
revela, do princípio ao fim, a preocupação de Paulo com seu filho na fé
e a ênfase que ele punha sobre a grande qualificação do ministro cristão,
a piedade;
• Normas de vida e conduta do cristão: A epístola revela uma séria
preocupação de Paulo pela organização da igreja. Isso é evidente no seu
interesse em dotá-la de normas de vida e de conduta, válidas tanto para
cada membro individualmente como para a edificação e o crescimento
espiritual das congregações cristãs em conjunto;
• Temas da administração eclesiástica: a carta contém instruções sobre a
necessidade da oração e a boa ordem na comunidade (2.1-15), as bases
para se chegar a uma eficiente organização da igreja (3.1-13), a vigilância
frente ao erro doutrinário (4.1-5; 6.3-5) e a atenção à administração
congregacional e ao exercício do ministério pastoral (3. 14-15; 5.1-6.2).

Em I Timóteo, Paulo trabalha com a certeza de que o melhor modo de


combater o erro e as distorções doutrinárias é vivendo uma vida à altura dos
padrões estabelecidos pela Palavra de Deus. Nas palavras do apóstolo, “Torna-
te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza” (I
Tm 4.12).

Breve esboço

73
Introdução 1.1-2
Advertência contra os falsos mestres 1.3-20
Diretrizes para o culto cristão 2.1-15
Instruções para a liderança da igreja 3.1-13
A preservação da verdade 3.14—4.16
Diversas instruções para a igreja 5.1—6.10
Pedidos pessoais a Timóteo 6.11-21

A primeira epístola a Timóteo desenvolve uma teologia da igreja. A igreja


precisa ser organizada para fazer seu trabalho de modo eficiente. Os líderes da
igreja devem proporcionar direção e capacitação à comunidade cristã, para que
ela possa desempenhar seu serviço. A igreja deve ser uma coluna e um
baluarte, uma guardiã da verdade. A igreja precisa esforçar-se sempre para
evitar as heresias e ensinar as verdades do evangelho às gerações seguintes.

74
Aula 13

A segunda Carta a Timóteo: lições que marcam a história

Introdução

John Stott, no magistral comentário que fez da Segunda Carta a Timóteo,


sob o tema Tu, porém, começa sua introdução de modo comovente:

O Rev. Handley Moule confessou ter-lhe sido muito difícil ler a segunda
carta de Paulo a Timóteo sem sentir as lágrimas brotarem nos olhos. Isso
é compreensível, já que se trata de um documento humano bastante
comovedor. Imaginemos o apóstolo Paulo, já idoso, definhando numa
masmorra escura e úmida em Roma, de onde não deverá sair, a não ser
para a morte. O seu trabalho apostólico está concluído, tanto que ele
pode dizer: "completei a carreira". Agora, no entanto, compete-lhe tomar
providências para que, depois da sua partida, a fé seja transmitida sem
se contaminar, genuína, às gerações futuras. Assim ele dá a Timóteo esta
soleníssima missão. Cabe-lhe preservar, a qualquer preço, o que
recebeu, e transmiti-lo a homens fiéis, que por sua vez sejam também
idôneos para ensinar a outros (2:2).

A Segunda Carta a Timóteo é um documento extraordinário sobre o


relacionamento profundo e tão produtivo entre Paulo e seu filho na fé, Timóteo.
Por mais de 15 anos, desde que fora recrutado em sua cidade natal (Listra),
Timóteo tinha sido o fiel companheiro missionário de Paulo. Viajara com ele
durante a maior parte da segunda e da terceira viagem, tendo sido, durante as
mesmas, enviado como fiel delegado apostólico a diversas missões especiais,
como por exemplo a Tessalônica e a Corinto (1 Ts 3: 1ss; 1 Co 4: 17). Acom-
panhou Paulo, então, a Jerusalém (Atos 20: 1-5) e possivelmente tenha ido com
ele na perigosa viagem a Roma.
De qualquer forma, Timóteo certamente se encontrava em Roma
durante a primeira prisão de Paulo, já que o apóstolo incluiu o seu nome, junto
ao seu próprio, ao escrever da prisão as cartas a Filemom, aos Filipenses e aos
Colossenses (Fm 1; Fp 1:1; 2:19-24; Cl 1:1).
Paulo não só devotava uma forte afeição a Timóteo, por ter sido o amigo
que ele evidentemente levara a Cristo, podendo assim chamá-lo de "filho

75
amado e fiel no Senhor" (1 Co 4:17), mas também aprendera a confiar em
Timóteo como o seu "cooperador" (Rm 16: 21) e como "irmão e ministro de Deus
no evangelho de Cristo" (1 Ts 3: 2). De fato, em virtude do genuíno interesse de
Timóteo pelo bem-estar das igrejas, e por causa da lealdade com que serviu ao
evangelho junto com Paulo, "como filho ao pai", Paulo pôde chegar ao ponto
de dizer: "a ninguém tenho de igual sentimento" (Fp 2: 20-22). Dentre todos os
companheiros de Paulo, Timóteo se destacava.
Não é surpreendente, portanto, que ao se libertar depois de sua primeira
prisão, Paulo tenha deixado Timóteo em Éfeso, como um autorizado líder da
igreja. Grandes responsabilidades lhe foram conferidas: combater os heréticos,
que conturbavam a igreja local; impor ordem no culto; escolher e ordenar os
anciãos da igreja; regularizar a assistência e o ministério às viúvas; e comandar
e ensinar a fé apostólica, junto com as obrigações morais dela decorrentes. E
agora fardos mais pesados estavam por cair sobre os ombros de Timóteo. Paulo
estava prestes a ser martirizado e, então, a responsabilidade de preservar
intacto o ensino dos apóstolos seria sua em escala bem maior.
Conforme a Segunda Carta de Paulo a Timóteo, os cristãos de Éfeso
enfrentavam dificuldades, pois estavam convivendo com falsas doutrinas,
falsos ensinos sobre a ressurreição (2.18), fábulas e mitos. E nessa situação
Timóteo é chamado e incentivado a pregar em meio à crise, a ser persistente,
fiel, justo, qualificado para toda a obra, em especial para proclamar o evangelho
a partir de sua fé em Jesus Cristo.

Informações

A autoria dessa carta está indicada logo no primeiro versículo. As


objeções quanto à autoria paulina já foram estudadas na lição anterior. Tudo
indica que a carta foi escrita na prisão, em Roma, por volta do ano 67 d.C. pouco
antes do seu martírio. Segundo Luiz Sayão, é provável que Paulo estivesse na
prisão chamada Mamertina. Também é provável que a Segunda Carta a
Timóteo tenha sido a última das cartas de Paulo.

Propósitos

Paulo parece ter escrito essa carta tendo em vista dois propósitos
principais:

76
• Incentivo pessoal: ele desejava fornecer a Timóteo um último grande
incentivo pessoal (1:5-14; 2:1-16, 22-26; 3:10 – 4:5);
• Convite a Roma: ele pediu a Timóteo que fosse à Roma (4:9, 21), dando-
lhe várias instruções sobre o que e quem deveria levar (4:11-13).

Como a última das cartas de Paulo, II Timóteo é especialmente


importante porque nos fornece algumas percepções a respeito do final da vida
de Paulo. Sua situação era desanimadora. Paulo não conseguia mais vislumbrar
um ministério proveitoso (Fp. 1:22-26). A maioria dos seus amigos o havia
deixado (II Tm. 4:10-11), mas ainda assim, Paulo permanecia confiante e não se
envergonhava por sofrer pela causa do evangelho (1:12).

Principais temas

A Segunda Carta a Timóteo trabalha fortemente com algumas verdades


fundamentais, como: os perigos que os falsos mestres trazem para a fé cristã; a
postura da liderança cristã deve ser firme e digna; a confiança do líder deve
sempre estar colocada em Deus, através da meditação nas Escrituras e da
vivência prática das verdades pregadas.
Para melhor captarmos a mensagem da carta e sentir todo o seu impacto
ainda hoje, há quatro exortações que precisamos considerar:

1. Guarda o Evangelho (1:14)

O evangelho é a boa nova da salvação, prometida desde a eternidade,


concretizada na História por Cristo, e vivida por nós na realidade cotidiana.
Nossa primeira responsabilidade reside na comunicação do evangelho: torná-
lo conhecido por todo o mundo. Se assim procedermos, certamente sofreremos
por ele, já que o autêntico evangelho nunca foi popular. Ele humilha o pecador.
Guardá-lo fielmente. Difundi-lo ativamente. Sofrer corajosamente por ele. Esta
é a nossa tríplice responsabilidade perante o evangelho de Deus, de acordo com
esta primeira exortação.

2. Sofre pelo Evangelho (2:3, 8, 9)

John Stott disse algo muito sério sobre isso:

77
A igreja de nossos dias precisa urgentemente atentar para a mensagem
desta segunda carta de Paulo a Timóteo, já que à nossa volta vemos
cristãos e igrejas abrindo mão do evangelho, manuseando-o
desajeitadamente, incorrendo no perigo de finalmente vê-lo escorrer por
entre os dedos. Precisa-se de uma nova geração de jovens Timóteos, que
queiram guardar o sagrado depósito do evangelho, que estejam
determinados a proclamá-lo e preparados para sofrer por ele; e que o
compartilharão puro e incorrupto à geração que, em seu devido tempo,
se levantará.

Paulo vai trabalhar com várias metáforas, mas vamos destacar três
fundamentais:

1. O soldado dedicado (Cap. 2. Vs. 3 e 4): As experiências como


prisioneiro deram a Paulo ampla oportunidade de observar os soldados
romanos e de meditar no paralelo existente entre o soldado e o cristão.
2. O atleta que respeita as regras (Cap. 2, v. 5): Agora Paulo desvia os
seus olhos da imagem do soldado romano para a do competidor nos
jogos gregos. Em nenhuma competição atlética do mundo antigo (assim
como hoje também) o competidor dava uma demonstração de força ou
de habilidade ao acaso. Cada esporte tinha as suas regras para a
competição, e às vezes também para o treino preparatório. Cada prova
também tinha o seu prêmio, sua coroa. Contudo, nenhum atleta era
"coroado" se não tivesse competido "de acordo com as regras", mesmo
que o seu desempenho tivesse sido brilhante. "Fora do regulamento não
há prêmio", essa era a palavra de ordem!
3. O lavrador cuidadoso (Cap. 2, v. 6): O sucesso na lavoura só é
conseguido com muito trabalho, sob imenso cuidado. O Rev. Moule
escreveu sobre a "extenuante e prosaica labuta" do agricultor. Ao
contrário do soldado e do atleta, a vida do agricultor é "totalmente
desprovida de emoção, distante de toda fascinação decorrente do perigo
e do aplauso". Uma das “colheitas” que o próprio Paulo teve e conclama
Timóteo a também tê-la é a colheita da santidade. Santidade exige
esforço para que dê frutos.

3. Persevera no Evangelho (3:13, 14)

78
A exortação de Paulo aqui é muito atual: permaneça! É a teologia da
permanência! Vivemos no século da impermanência, dos que desistem fácil.
Pouca coisa dura muito. Paulo exorta Timóteo a que permaneça naquilo que
aprendeu, ainda que a pressão para se acomodar seja muito forte. Não
importava se ele fosse jovem, inexperiente, tímido e fraco. Não importava se
acontecesse de ficar testemunhando sozinho. A única coisa que importava era
que Timóeto permanecesse leal para com a Palavra, e ela o conduziria à
maturidade cristã.

4. Prega a Palavra (4:1, 2)

Este capítulo contém parte das últimas palavras proferidas ou escritas


pelo apóstolo Paulo. São, certamente, as últimas que foram preservadas. Foram
escritas a semanas, talvez não mais do que poucos dias antes do seu martírio.
De acordo com antiga tradição fidedigna, Paulo foi decapitado na Via Ápia.
Por trinta anos ininterruptos trabalhara como apóstolo e evangelista itinerante.
Fez, na verdade, o que ele mesmo escreve aqui: combateu o bom combate,
completou a carreira e guardou a fé (4:7).
Sublinhando esta carta inteira está a convicção básica que Paulo tinha de
que Deus falou através de seus profetas e apóstolos, e que esta singular
revelação - "a fé", "a verdade", "a palavra", "o evangelho", "a sã doutrina" — foi
confiada à Igreja como um tesouro sagrado ou um "depósito".

Conhecendo o sagrado depósito que lhe fora confiado, a iminência de


seu martírio, a natural fraqueza de Timóteo, a oposição do mundo e a extrema
sutileza de Satanás, Paulo dá a Timóteo essas quatro exortações com relação ao
evangelho: guardá-lo (porque é um tesouro de valor inestimável), sofrer por ele
(por ser uma pedra de tropeço ao orgulho), permanecer nele (porque é a verdade
de Deus) e pregá-lo (porque é a boa nova da salvação).

Breve esboço

Introdução 1.1-7
O sofrimento e o evangelho 1.8-18
Exortação à fidelidade 2.1-13
Contrastes na igreja 2.14-26
A impiedade dos últimos dias 3.1-9

79
A Escritura inspirada por Deus 3.10-17
Prega a palavra 4.1-18
Saudações finais 4.19-22

A Segunda Carta de Paulo a Timóteo ensina-nos a importância da nossa


herança teológica, do legado de amor à Palavra deixado por alguém que viveu
de modo digno de sua vocação. Paulo tinha muito a dizer sobre o que Deus fez
em Cristo, nosso Salvador. A força das últimas palavras de Paulo ainda é capaz
de nos despertar.

Quero considerar, como conclusão, duas expressões bem curtas nos


versículos finais da carta:

"O Senhor esteja com o teu espírito. A graça seja convosco" (v. 22). Estas
são as últimas palavras do apóstolo que foram registradas. Se até este ponto da
carta ele esteve ditando (talvez a Lucas), possivelmente agora ele próprio tenha
tomado a pena e escrito, como que assinando.
"O Senhor esteja com o teu (no singular) espírito" é sua oração, assim
como ele esteve comigo durante o meu julgamento (v. 17), e que "a graça
(palavra que sintetiza toda a teologia de Paulo) seja convosco!" Desta vez o
pronome é "convosco", no plural, que "demonstra que a carta de fato é
destinada a uso público". Foi escrita para toda a Igreja.
Depois, no versículo 18, lemos: "A ele glória pelos séculos dos séculos.
Amém". Seria difícil achar resumo melhor do que estas duas sentenças para a
vida e para a aspiração do apóstolo: "Dele a graça, a Ele a glória."

80
Aula 14

Epístola a Tito: a família, a igreja e o mundo

Introdução

A Epístola a Tito está situada no bloco denominado de cartas pastorais.


É uma carta do apóstolo Paulo, endereçada a seu colaborador, Tito (1.14). Na
ilha de Creta, Tito recebe a tarefa de organizar e ordenar o que não foi possível
ao apóstolo Paulo (Tt 1. 5). Na oportunidade, algumas comunidades sob a
influência judaica passaram por crises de identidade em razão da observância
ou não quanto à prática da circuncisão.
No Concílio de Jerusalém, foi delineada uma estratégia que trouxe
orientações às ações missionárias no mundo gentílico (Gl 2.1,3). Tito, cidadão
grego e gentio, tornou-se exemplo vivo dos frutos colhidos em função das
viagens missionárias empreendidas por Paulo. Foi a Tito que Paulo confiou a
tarefa de entregar sua primeira epístola aos irmãos de Corinto (2 Co. 7:5–15).
A carta a Tito é um documento importante que coloca balizas claras,
fundamentais, às primeiras gerações de comunidades cristãs, fundadas em
meio ao mundo não-cristão. Os conteúdos da epístola focalizam um eixo
importante: a fé sadia (1.13). Os protagonistas, promotores de uma fé
desequilibrada e doentia, são identificados como “insubordinados, faladores
frívolos e enganadores” (1.10). Eles devem ser calados (1.11).
A carta a Tito destaca todo o empenho do apóstolo quanto à autoridade
do evangelho. A palavra de Deus age como orientação confiável e determina a
vivência de uma espiritualidade equilibrada, combustível ao exercício da “fé
sadia”. O texto legitima uma nova diretriz imprescindível à boa orientação nas
comunidades. Ao escrever para Tito, Paulo teve dois focos: combater as
heresias e estimular a vida correta dos cristãos, de acordo com a doutrina
verdadeira.
A Epístola a Tito é a prova mais antiga da presença da Igreja como
entidade organizada na Ilha de Creta, no Mar Mediterrâneo (Tito 1:5). Tito
tinha a responsabilidade de chamar novos bispos naquela ilha. Paulo
enumerou alguns dos atributos espirituais que os bispos precisam ter (Tito 1:6–
9). Além disso, deu conselhos específicos para homens, mulheres e servos
quanto a como os santos devem agir (Tito 2:2–10).

81
Informações

A Carta a Tito é a menor das epístolas pastorais, mas ainda assim, muito
profunda e significativa. Sua ênfase é a doutrina e o dever nas três esferas
principais em que os ministros devem atuar: a família, a igreja e o mundo. Essa
carta é considerada um verdadeiro manual de relacionamento, mostrando
como os líderes devem lidar com os cristãos de todas as idades. A autoria de
Paulo é atestada no primeiro versículo, bem como pelos pais da igreja, tais
como Clemente de Roma, Inácio de Antioquia e Policarpo. Alguns exegetas
levantam objeções, mas a autoria paulina segue aceita pela maioria.
Tito converteu-se a Cristo pelo ministério de Paulo (1:4). Não sabemos
muito a seu respeito. Possivelmente residia em Antioquia da Síria, onde
Barnabé e Saulo ensinaram a Palavra de Deus. É provável que sua conversão
tenha se dado nesse tempo, pois quando Paulo subiu de Antioquia a Jerusalém,
depois da sua primeira viagem missionária, levou Tito consigo (Gl. 2:3). Essa é
a primeira vez que seu nome aparece no relato do Novo Testamento. A tradição
da igreja antiga afirma que Tito teria se tornado o primeiro bispo da igreja de
Creta, permanecendo solteiro e morrendo na ilha, aos 94 anos de idade.
Com 26 quilômetros de comprimento, Creta situava-se numa posição
privilegiada, no centro do Mediterrâneo. Havia atingido um grau brilhante de
civilização na antiguidade, contudo, por alguma razão, havia entrado em
declínio e passou a ser altamente marcada pela devassidão moral e pela
disseminação de muitas heresias. Nos primeiros anos do cristianismo os
cretenses eram famosos por sua desonestidade e por servirem como
mercenários nos exércitos estrangeiros.
Os falsos mestres estavam entrando nas igrejas em Creta e anunciando
outras mensagens. Eles pleiteavam arrogantemente serem os legítimos donos
da verdade. Um grupo deles tentava misturar a lei judaica com o evangelho da
graça (1:10-14), enquanto alguns dos cristãos gentios abusavam da mensagem
da graça, transfomando-a em licenciosidade. Somente sob uma liderança
bíblica, moralmente sadia, a igreja resistiria a cerco ameaçador.

Local e data

É bem possível que Paulo tenha escrito enquanto estava na Macedônia,


pois ainda não chegara a Nicópolis, oeste da Grécia (3:12). É provável que a

82
carta tenha sido escrita durante a quarta viagem missionária de Paulo, que
aconteceu depois do seu encarceramento em Roma, entre 62 e 64 d.C.

Principais temas

Paulo fornece a Tito diversas diretrizes e orientações:

• Organização das igrejas (1:5-9);


• Confrontar os falsos mestres (1:10-14; 3:9-11);
• Instruções às igrejas sobre a conduta adequada do cristão (2:1 – 3:8);
• Descrição das qualificações para ser um presbítero/bispo (1:6-9);
• Grande preocupação com a sã doutrina (1:9, 13; 2:1-2);
• Duas poderosas meditações teológicas sobre a graça de Deus (2:11-14;
3:4-7);
• Afirmações sobre a segunda vinda de Cristo (2:13);
• A expiação substitutiva de Cristo (2:14);
• A regeneração por meio do Espírito Santo (3:5);
• Justificação pela graça (3:5, 7).

Tito ainda afirma a divindade de Cristo de modo impressionante: o


título “Salvador” é usado livremente e nos mesmos contextos tanto para Deus
(1:3; 2:10; 3:4), como para Cristo (1:4; 2:13; 3:6), e citando diretamente em 2:13 o
“nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”. É um poderoso testemunho da
divindade de Cristo.

Breve esboço

Introdução 1.1-4
A escolha dos presbíteros 1.5-9
A repreensão dos falsos mestres 1.10-16
Os diversos grupos da igreja 2.1-15
A responsabilidade da vida cristã 3.1-11
Últimos pedidos pessoais 3.12-15

As igrejas do primeiro século estavam ameaçadas desde o seu


nascimento pelo fermento das heresias. Os cristãos egressos do paganismo
eram tentados a voltar à vida antiga ou ter sua fé contaminada por ensinos

83
enganosos, disseminados pelos falsos mestres itinerantes. Assim, Paulo orienta
seu discípulo a como tratar desses temas tão preocupantes para a igreja.
Assim como as outras epístolas pastorais, a carta de Paulo a Tito
concentra-se em manter a fé e refutar as heresias. De importância particular,
considerando a natureza da heresia em Creta, são as repetidas ênfases na
fidelidade doutrinária e na vida fiel. A epístola deixa claro que a vida cristã está
fundamentada na graça de Deus.

84
Aula 15

Carta a Filemom: a prática do verdadeiro amor

Introdução

A carta a Filemom é a única carta pertencente à correspondência privada


de Paulo que se encontrou. Sem dúvida alguma Paulo deve ter escrito muitas
cartas particulares; e sem dúvida que estas cartas sofreram o destino de todas
as cartas particulares; o mais provável é que fossem destruídas; e de todas elas
só sobreviveu Filemom.
Onésimo era um escravo fugitivo, e o mais provável é que fora ladrão.
Paulo escreve: “E, se algum dano te fez ou se te deve alguma coisa, lança tudo
em minha conta. ... Eu pagarei” (versículos 18 e 19). De algum modo este
Onésimo fugitivo tinha chegado a Roma, para perder-se nas lotadas ruas da
grande cidade; e de algum modo entrou em contato com Paulo e se converteu
ao cristianismo; era o filho que Paulo tinha gerado em suas prisões (versículo
10).
Em seguida aconteceu algo. Era obviamente impossível que Paulo
continuasse amparando a um escravo fugitivo. É provável que a situação tenha
chegado a ser insustentável. Talvez fosse a chegada de Epafras o que
desencadeou a crise. Pode ter sido que Epafras reconhecesse a Onésimo como
o escravo que tinha visto em Colossos, e dali se soube toda sua indigna história;
ou talvez, com a chegada do Epafras, a consciência de Onésimo o levou a
confessar seu pecado.
Durante a época que tinha estado com ele, Onésimo se tinha convertido
em indispensável para Paulo e Paulo teria gostado de tê-lo junto a si. “Eu queria
conservá-lo comigo” (versículo 13), escreve Paulo. Mas sabe que não poderá
fazer nada sem o consentimento de Filemom, o dono de Onésimo (versículo
14). De modo que Paulo faz com que Onésimo retorne. Ninguém sabia melhor
que Paulo o grande risco que corria. Lembremos a posição dos escravos. Um
escravo não era uma pessoa; era uma ferramenta vivente. Qualquer amo tinha
direito de vida e morte sobre seus escravos. Tinha um poder absoluto sobre
eles.
William Barclay cita um pouco sobre a terrível situação dos escravos: o
dono do escravo "Pode esbofetear suas orelhas ou condená-los a tarefas
pesadas, ordenando que por exemplo, trabalhem encadeados a suas terras, no

85
campo, ou numa espécie da prisão-fábrica. Ou, pode castigá-los com golpes de
vara, de látego ou de látego atado; pode pôr neles sua marca na fronte, se forem
ladrões ou fugitivos, e, finalmente, se se comprovar que são incorrigíveis,
podem crucificá-los." Barclay diz que no Império Romano havia cerca de 60
milhões de escravos.
Um escravo rebelde era rapidamente eliminado. Se um escravo
escapava, no melhor dos casos era marcado com ferro quente na frente com F
— que simbolizava a palavra fugitivus, fugitivo — e no pior dos casos era
crucificado. Paulo sabia muito bem tudo isto, e sabia que a escravidão estava
tão enraizada no mundo antigo que até o fato de mandar de volta Onésimo a
seu amo cristão, Filemom, era um risco considerável.
Com toda essa problemática situação em mente, Paulo deu a Onésimo
esta Carta. Paulo brinca com o nome Onésimo (que significa útil), fazendo um
jogo vocálico, em certo momento Onésimo foi um ser inútil, mas é útil agora
(versículo 11). Agora, diz, não só é Onésimo por nome, mas também por
natureza. Talvez Filemom o perdeu por um tempo, para o ter agora para
sempre (versículo 15). Filemom deve recebê-lo novamente, ainda que não como
escravo, mas sim como um irmão cristão (versículo 16). Agora é o filho na fé de
Paulo, e Filemom deve recebê-lo como se recebesse ao próprio Paulo.
Muitos se perguntam por que Paulo não diz nada nesta Carta a respeito
da escravidão. Não condena a escravidão; nem sequer pede a Filemom que
liberte Onésimo; deve tê-lo novamente como escravo. Há os que criticaram a
Paulo por não aproveitar a oportunidade para condenar a escravidão sobre a
qual estava edificado o mundo antigo. Lightfoot diz: "A palavra emancipação
parece tremer em seus lábios, mas nunca a pronuncia." Mas existem certas
razões para o silêncio de Paulo em face deste problema.
A escravidão era parte integral do mundo antigo; toda a sociedade
estava edificada sobre ela. Pode ser que Paulo aceitasse a instituição da
escravidão, porque era quase impossível imaginar a sociedade antiga sem
escravos. Talvez, Paulo tenha percebido o risco vital que poderia desencadear
se o cristianismo houvesse, em realidade, animado de algum modo os escravos
a rebelar-se ou abandonar a seus amos, só teria havido tragédia e desastre.
Qualquer revolta teria sido grosseiramente reprimida; qualquer escravo
que decidisse ser livre teria sido sem piedade castigado; e o próprio
cristianismo teria sido classificado como uma ideologia revolucionária e
subversiva. Uma vez dada a fé cristã, a emancipação chegaria, mais cedo ou
mais tarde, mas o momento não estava amadurecido; e o ter animado os

86
escravos a esperá-la, e tomá-la, faria imensamente mais mal que bem. Há coisas
que não podem conseguir-se imediatamente, e o mundo deve esperar até que
trabalhe a levedura.
O que fez o cristianismo foi introduzir uma nova relação na qual todas
as diferenças externas eram abolidas pelo fato de que todos os cristãos estavam
em Cristo. Os cristãos são um só corpo, judeus ou gentios, escravos ou livres (1
Co. 12:13). Em Cristo não há judeus nem gregos, escravos nem livres, homens
nem mulheres (Gl. 3:28). Em Cristo não há nem gregos nem judeus, nem
circuncidados nem incircuncisos, nem bárbaros nem citas, nem escravos nem
livres (Cl. 3:11). Onésimo tinha fugido como escravo, e era como tal que
retornava, mas agora não só era um escravo, mas também um irmão amado no
Senhor. Quando entra na vida uma relação como esta, os níveis sociais e as
castas deixam de ser importantes.

Informações

Paulo parte de uma situação particular, a relação de Filemom e seu


escravo Onésimo, para escrever uma carta de cunho comunitário, uma vez que
não endereça essa carta somente a Filemom, mas também à Áfia, Árquipo e à
igreja. Ou seja, a mensagem da carta não é só para Filêmom, mas para a
comunidade.
Além de ser a mais pessoal das cartas de Paulo, Filemom é a mais curta
do corpus paulino; apenas 335 palavras em grego. C. H. Dodd a chama de “um
bilhete pessoal”. Apesar do tamanho, contém informações acerca da igreja
primitiva na aplicação do evangelho ao problema da escravatura.
Internamente, a carta reivindica ser um escrito paulino: “Paulo,
prisioneiro de Cristo Jesus...” (v. 1); “ ... Eu Paulo, já velho e agora também
prisioneiro de Cristo Jesus” (v. 9); “Eu, Paulo, escrevo isso de próprio punho”
(v. 19). É bem provável que esta correspondência de Paulo a Filemom (membro
da igreja em Colossos) tenha sido enviada juntamente com a sua carta à igreja
de Colossos (Colossenses).
O apóstolo Paulo afirma estar preso por ocasião da escrita da carta a
Filemom: “Paulo, prisioneiro de Cristo Jesus...” (Fm 1.1 9, 23). Alguns
estudiosos, tais como Mackensie, Hendriksen, Carson e Hale afirmam que a
prisão em questão seja a domiciliar em Roma, mencionada no final do livro de
Atos, onde Paulo estava sob custódia romana, aguardando o julgamento do
imperador Nero. Ali, ele ficou dois anos (At 28.30). A data provável para tal

87
encarceramento é 60-62 d.C. Nesta ocasião, ele escreveu as cartas de
Colossenses, Filemom, Efésios e Filipenses, tidas como “Cartas da Prisão”.
Entre as pessoas que se converteram através do ministério de Paulo,
talvez durante o período em que esteve em Éfeso, havia um que ele chamou de
seu “companheiro de trabalho”. Seu nome era Filemom (v. 1). Provavelmente,
era um homem abastado, reconhecido por sua hospitalidade (v. 5-7) e de
grande importância na igreja de Colossos. Era em sua casa que os cristãos
colossenses se reuniam (v. 2). Sua esposa se chamava Áfia, e seu filho, Arquipo
(v. 2). De Colossenses 4:17, sabemos que Arquipo tinha um cargo de alguma
importância na igreja de Colossos. Paulo se refere a ele como “companheiro de
lutas”.
Tíquico foi o portador da carta, enviado de Roma até Colossos na
companhia de Onésimo – um recém-convertido vindo desta última cidade (Cl
4.7-9; Fm 12). De Roma até Colossos, dependendo da rota utilizada, teria de se
percorrer de 1500km até 2000km de distância, de acordo com Hendriksen.
Onésimo era um escravo fugitivo e, como tal, qual cidade seria ideal para um
escravo fugitivo de Colossos? Roma, a capital do império, devido a sua longa
distância, representava um ótimo local para alguém que deseja esconder-se.

De alguma maneira não informada na carta, na cidade de Roma,


Onésimo entra em contato com o apóstolo Paulo. Warren Wiersbe entende que,
apesar de não saber dos detalhes, este encontro é fruto da providência de Deus.
Ralph Martin conjecturou que Onésimo se encontrou com Paulo ou como
companheiro de prisão ou porque procurou refúgio na companhia do apóstolo.
Corroborando com esta última conjectura, está o fato de que a lei romana
permitia aos escravos buscarem ajuda de um amigo de seu proprietário para
restabelecer um bom relacionamento com o seu senhor e intermediar a solução
de um delito.

Não é impossível que Onésimo conhecesse Paulo pelos contatos que


Filemom tivera com o apóstolo. Por saber da proximidade de ambos, procurou
o primeiro para interceder ao seu favor. Neste caso, não deve ter roubado mais
dinheiro de Filemom além do suficiente para viajar até Roma, em busca de
Paulo. Se isto é mesmo verdade, como Onésimo sabia que Paulo estava preso
em Roma? A carta também não diz. O que se tem de certo é que o escravo foi
ao encontro do apóstolo. Uma vez indo ao encontro de Paulo, acabou
convertendo-se a Cristo e tornando-se um colaborador na obra missionária.

88
Principais temas

Apesar de curta, essa carta possui enorme relevância por causa dos
temas fundamentais que aborda:

• O amor uns pelos outros como dever do cristão;


• A obediência cristã deve ser feita de modo espontâneo e não por
imposição;
• Devemos ser pacificadores, perdoadores, agentes de unidade;
• Todos somos um em Cristo.

Como homem do seu tempo, Paulo respeita as praxes e convenções


sociais: “nada, porém, quis fazer sem o teu consentimento” (v. 14). Ele acredita
que é possível melhorar essas praxes e convenções: neste caso, acha que
Filemom deve considerar Onésimo não como mero escravo, mas “antes, muito
acima de escravo, como irmão caríssimo” (16) – o que, convenhamos, não era
pouca coisa para sua época.

A esperança de que o mundo pode ser melhor, de que as relações podem


ser mais fraternas, de que as distâncias sociais e econômicas podem ser
encurtadas, fez com que Paulo fosse solidário para com Onésimo. Por isso, não
pôde permanecer indiferente, e passou a interceder junto a Filemom em favor
do “filho gerado entre algemas”, certo de que Filemom poderá fazer muito
mais do que o solicitado (v. 21).

Finalmente, sabemos que Paulo não dá tarefas difíceis somente para os


outros. A tarefa que atribui a si próprio é ainda mais árdua: assina uma
promissória em benefício de um escravo inútil, fujão e ladrão (v. 19). Paulo
empenha sua honra e seus bens na luta pela queda das barreiras sociais,
culturais e econômicas. Barreiras essas que insistem em fazer de homens como
Filemom, escravos de um sistema que escraviza e segrega; ou que reduzem
homens como Onésimo, a fugitivos do medo e ladrões da ilusão. Sim, Paulo
empenha sua honra, seus bens e a própria liberdade para que as pessoas
deixem de se tratar como senhores e escravos, e passem a se tratar como irmãos.

Breve esboço

89
Introdução 1-3

Uma palavra positiva sobre Filemom 4-7

Uma palavra em favor de Onésimo 8-22

Conclusão 23-25

Os primeiros cristãos não se lançaram em uma campanha contra a


escravatura. Eles se concentravam na mensagem do evangelho, porém sem
fechar os olhos para suas implicações sociais. A expressão do amor cristão
desfez os grilhões da escravatura e considerou tanto senhores como escravos
irmãos e irmãs na família de Deus.

90
Aula 16
As cartas de Paulo e o mundo digital

Introdução

As cartas sempre carregaram aquela atmosfera do cuidado, da


preocupação com o outro, do emprego de tempo e dedicação. Receber uma
carta era, de algum modo, estabelecer uma conexão muito mais profunda do
que a mera troca de mensagens via aplicativo. Nas cartas, o que prevalece é a
escrita naquilo que ela tem de mais simples: caneta e papel – a arte da escrita.
Interessante é que se analisarmos bem, os seres humanos não nasceram
para ler. Diferente da linguagem, que é inata, a leitura é uma das aquisições
mais importantes do Homo Sapiens, característica única na natureza, que
implicou um processo de mudança da estrutura e das conexões do cérebro.
A escrita – e, portanto, a leitura – é uma das mais poderosas ferramentas
que a humanidade já concebeu. No livro O mundo da escrita, o crítico Martin
Puchner, mostra como a escrita foi sinônimo de poder ao longo dos milênios:

Os sacerdotes indianos se recusavam a escrever as histórias sagradas por


medo de perder o controle sobre elas, sentimento compartilhado pelos
bardos da África Ocidental, que viveram 2 mil anos depois, quase do
outro lado do mundo. Os escribas egípcios adotaram a escrita, mas
tentaram mantê-la em segredo, com a esperança de reservar o poder da
literatura para si mesmos.

Puchner, em seu livro, viaja pela história da civilização para mostrar


como a escrita transformou o mundo irremediavelmente – até chegar à era da
internet. Outra especialista na área, Maryanne Wolf, neurocientista cognitiva e
pesquisadora da leitura, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles,
compartilha uma preocupação: que essa ferramenta tão valiosa esteja em risco
graças ao progresso tecnológico. Não que as pessoas não estejam lendo. Wolf
mostra que um americano médio lê, por dia, uma quantidade de palavras
equivalente à de um romance curto. "Infelizmente, é raro que essa leitura seja
contínua, constante ou concentrada", lamenta.
As telas digitais, de acordo com Wolf, oferecem obstáculos muito mais
severos que o papel para alcançar a concentração, como a iluminação, a disputa
pela atenção do usuário e a poluição sinestésica. E não são apenas os leitores

91
em formação que sofrem: ao se submeter aos próprios testes, ela identificou em
si mesma uma perda na capacidade de imersão.
A autora relaciona, por meio de outros estudos, essa defasagem na
qualidade da leitura à perda da capacidade de interpretação de texto e, por
conseguinte, ao empobrecimento do pensamento crítico e até à redução coletiva
da empatia.
Falar de cartas (o analógico) no mundo da tecnologia digital é até
estranho. É óbvio que temos grandes avanços e melhorias no mundo digital,
contudo, isso não elimina os riscos de ignorar os outros modelos. Nosso mundo
se afastou da simplicidade do papel e, na esteira desse afastamento, também
exclui quem não tem acesso ou habilidades suficientes para as novas mídias.

Algumas perguntas surgem inevitavelmente:

• Será que ainda valorizamos as cartas?


• As novas gerações sabem o que significa uma carta?
• Qual foi a última vez que você recebeu uma carta?

Essas perguntas podem ampliar o horizonte das nossas inquietações


sobre um tema tão abrangente e desafiador.

A dinâmica do tempo: espera x velocidade

As cartas antigas tinham em sua própria natureza uma relação profunda


com a espera: não havia carta instantânea. Quem escrevia gastava tempo; ao
enviar, dependendo da localização e dos meios, levava muito mais tempo.
Quem esperava, tinha que aprender a lidar com a ansiedade. O tempo era a
nota principal.
Na era digital, o que existe é outro modo de relação com o tempo: temos
não mais a espera, mas o imediatismo da velocidade. O clique superou o
correio; a espera foi substituída pela pressa; tudo acontece e desaparece quase
no mesmo instante.
Imagine por um momento, o que aconteceria se o apóstolo Paulo tivesse
acesso aos mesmos meios de comunicação que temos hoje!

• Como seria o alcance de sua mensagem?


• Será que teríamos uma “Epístola aos Romanos” cheia de links?

92
• Quantas “cartas” aos coríntios Paulo enviaria?

A relação com o tempo está, de algum modo, determinando nossa


dinâmica relacional. Essa relação sempre existiu, é verdade, mas hoje é
determinante.

A dinâmica das relações: aproximação x afastamento

As cartas do passado cumpriam muito bem a função de gerar


envolvimento, e até intimidade; elas aproximavam os distantes. Diferente do
mundo digital que estranhamente produz uma contradição: ao aproximar,
afasta.
Nas cartas do passado, havia uma valorização do outro: seu tempo
investido, a sensação de sentir-se importante por ser alvo do esforço do outro
em escrever. Essas coisas geravam empatia, alimentavam a relação. No mundo
digital (que tem suas vantagens), todos clicam com todos (e acabam não se
relacionando com ninguém, mas apenas com o próprio esforço).
Paulo tinha amigos. Suas cartas gastam tempo saudando gente pelo
nome (e não por um símbolo na timeline). Suas cartas eram esforços relacionais
sérios, motivadas por saudade, desejo de revê-los, lembranças de assuntos e
temas conflitantes. Cada carta era esperada, recebida e lida com amor, com a
alegria de pereceberem-se ligados.
Na experiência digital muito disso se perde. O tempo de atenção é
diminuído a cada dia, a profundidade dos temas chega a ser risível e qualquer
um fala sobre qualquer coisa, a qualquer hora e com qualquer outro. Evoluímos nos
meios e nas formulações; mas perdemos em humanidade.

A dinâmica do conteúdo: profundidade x superficialidade

Uma das grandes características de Paulo era justamente sua


profundidade. A carta a Filemom, por exemplo, uma carta pessoal, pequena e
tratando de um assunto específico daquele momento, ainda assim, carrega uma
profundidade extraordinária. Em pouco mais de 300 palavras no grego, o
apóstolo consegue trabalhar de modo impressionante as dimensões da
profundidade e da simplicidade.
No mundo digital é consenso a dificuldade que existe em se buscar a
verdadeira profundidade. No oceano de informações, o excesso se tornou

93
regra. Hoje, há muito sendo dito por gente que não tem muito a dizer. São raras
as ilhas de conhecimento no mar de banalidades.
Ler as cartas de Paulo hoje é fazer um exercício capaz de aliar
simplicidade, profundidade e amor: carisma e caráter, teoria e prática,
confronto e consolo, exortação, ensino e direcionamento.

Conclusão

As epístolas paulinas formam o grande legado teológico e espiritual do


apóstolo Paulo. Estudá-las é entrar em contato com seu pastorado,
preocupações e esforços relacionais. Paulo deixou-nos sua marca inconfundível
quando enfrentou obstáculos inimagináveis para escrever e sistematizar a fé
cristã às futuras gerações.
Os primeiros Pais da Igreja, já percebendo a importância e o alcance
desses escritos, passaram a edificar suas congregações no modelo das epístolas.
A história registra grandes cartas que seguiram o modelo paulino: Clemente,
Irineu, Inácio de Antioquia, Antão, Policarpo, dentre outros. Eles seguiram o
legado de Paulo e honraram sua tradição.
Grandes mestres ao longo da história se debruçaram no estudo sério das
epístolas: Santo Agostinho, Crisóstomo, Tomás de Aquino, Lutero, Jerônimo, e
muitos outros. Até hoje, milhares de páginas são escritas, teses defendidas,
tendo como base o pensamento escrito e registrado nessas correspondências do
reino.
Em cada epístola paulina podemos sentir as ideias do reino de Deus, as
verdades basilares da fé cristã, uma teologia cristocêntrica, um forte senso das
necessidades humanas e um belíssimo apelo aos relacionamentos, à saúde
espiritual do corpo, unidade e consolações de amor. Não há assuntos
irrelevantes nas epístolas.
Paulo enfrentou um grande e difícil paradoxo: escrever sobre verdades
eternas para mente temporais. Apostou em jovens, como Timóteo, em
mulheres, como Lídia, e em grandes colaboradores, como Lucas, Epafrodito e
Silas. Sua coragem para abordar temas grandiosos como a graça de Deus, a
justificação, o mistério da morte e ressurreição de Cristo, o amor, renderam
textos inesquecíveis (I Co. 13, por exemplo).
Uma das coisas mais bonitas está no esforço de Paulo: mesmo no cárcere,
em meio a viagens perigosas, contra tudo e todos, ele seguia escrevendo. Suas

94
palavras ganharam amplitude inimagináveis para a sua época e seus recursos.
Atingiram a plenitude.

95
Referências

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persuasão e subjetividade. Santo André (SP): Academia Cristã, 2012
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LLOYD-JONES, Martin. A unidade cristã: exposição sobre Efésios 4:1-16. São Paulo:
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Deus. São Paulo: PES, 1998
LOPES, Hernandes Dias. Comentário expositivo Hagnos: Filipenses, a alegria
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96
_____________________. Carta de Paulo aos Gálatas: da libertação da Lei à filiação
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MOUNCE, William D. Léxico analítico do Novo Testamento grego. São Paulo: Vida
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PATE, C. Marvin. Série comentário expositivo: Romanos. São Paulo: Vida Nova,
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PUCHNER, Martin. O mundo da escrita: como a literatura transformou a civilização.
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STOTT, John. A mensagem de Gálatas: somente um caminho. São Paulo: ABU, 2007
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WOLF, Maryanne. O cérebro no mundo digital: os desafios da leitura na nossa era.
São Paulo: Contexto, 2019

Bíblias
Bíblia de Estudo de Genebra. 2ª Edição, Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil;
São Paulo: Cultura Cristã, 2009
Bíblia Brasileira de Estudo. Editor geral Luiz Alberto Sayão. São Paulo: Hagnos,
2016
LOURENÇO, Frederico. Bíblia: Volume II: Novo Testamento: Apóstolos, Epístolas,
Apocalipse. São Paulo: Companhia das Letras, 2018
PETERSON, Eugene. Bíblia de Estudo A Mensagem: Bíblia em Linguagem
Contemporânea. São Paulo: Editora Vida, 2014
The New Testament: The greek the underlying the english authorised version
of 1611. Trinitarian Bible Society.

Alan Brizotti: Nascido em São Paulo, graduado em Teologia (FATEH),


psicanalista pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica (IBPC). Formado em
Teologia e Axiologia (ESAB, Escola Superior Aberta do Brasil), Filosofia e
Políticas Educacionais (ESAB), Intervenções Psicológicas na Ótica da
Psicanálise (ESAB), Docência da Educação à Distância (ESAB), Leaders of
Learning (Harvard University). É escritor com 22 livros publicados, dentre eles:
Árvores: por uma liderança que influencie gerações (livro que, em 2018, foi escolhido

97
pela Coopercentral-Aurora Alimentos, como presente aos líderes da empresa);
O líder (in)dispensável: por uma liderança relevante e inspiradora; Quando a vida dói:
reflexões bíblicas para tratar as dores da alma (7ª edição). Também é palestrante e
conferencista em todo o território nacional e em mais de 12 países, dentre eles,
França, Inglaterra, Irlanda, Portugal, Espanha, Itália, Bélgica e Holanda. Seu
trabalho como mentor é reconhecido e respeitado por milhares de alunos no
Brasil e exterior. É casado com Mari Brizotti e pai de Eduardo Brizotti.

98
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO

1. O livro do Apocalipse
2. Informações acerca do livro
3. O estudo do Apocalipse
4. A simbologia dos números

2. PANORAMA GERAL

1. Os capítulos da Revelação
2. O tempo da promessa
3. O significado do quinto selo
4. O sangue dos mártires
5. Três exemplos específicos
1. A ressurreição das duas testemunhas
2. O dragão e a mulher
3. Novo céu e nova terra
6. Informações do livro
7. O tempo em apocalipse
8. A validade da mensagem
9. As sete bem aventuranças
10. As sete igrejas
11. Os sete espíritos
12. A identidade de Cristo
13. A majestade de Jesus
14. João em Patmos
15. Lições que perduram por toda a eternidade

3. O DESVENDAR DAS CARTAS DO APOCALIPSE

1. Cartas às igrejas
2. A carta à igreja em Éfeso
3. A carta à igreja em Esmirna
4. A carta à igreja em Pérgamo
5. A carta à igreja em Tiatira
6. A carta à igreja em Sardes
7. A carta à igreja em Filadélfia
8. A carta à igreja em Laodicéia

4. A VISÃO DO TRONO DE DEUS

5. DIGNO É O CORDEIRO

6. O CORDEIRO ABRE OS PRIMEIROS SELOS

7. OS SERVOS QUE PERTENCEM A DEUS

8. AS PRIMEIRAS QUATRO TROMBETAS

9. OS TRÊS AIS

2
INTRODUÇÃO

Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e


guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo.
Apocalipse 1:3

O livro do Apocalipse

Falar sobre Apocalipse é adentrar às câmaras secretas dos grandes mistérios que Deus tem
revelado acerca dos últimos tempos. De fato, temos tido o enorme privilégio ao receber parte
dessas revelações neste livro da Bíblia Sagrada. O livro de Apocalipse é, sem sombra de
dúvida, uma benção de Deus para a edificação da igreja e para seu preparo concernente à
volta iminente de Cristo Jesus.

Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem
acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João,
Apocalipse 1:1

O que o estudante honesto deveria fazer com este livro? Deveríamos nos retrair com medo,
achando que os acontecimentos assustadores das manchetes sejam o cumprimento das
profecias do Apocalipse? Deveríamos orgulhosamente cantar vitórias sobre as forças do mal
cada vez que uma nação ou líder ímpio cai do poder? Deveríamos fechar nossas Bíblias
diante de nossas perplexidades e incertezas?

Jamais! O Apocalipse é um livro que Deus deixou para a edificação da igreja de Cristo na
Terra, para que tornemo-nos cada vez mais aguçados aos sinais dos anos: Jesus está
voltando.

Para isso serão necessárias algumas observações sobre a abordagem do livro, a linguagem
profética e simbólica, a história do período, etc.. Por valorizarmos as próprias escrituras acima
de qualquer fonte extrabíblica, procuraremos sempre informações e exemplos na própria
Bíblia Sagrada para esclarecer o sentido das expressões encontradas nesse livro.

Estudaremos o Apocalipse e, depois, quando possível, considerarmos informações


históricas. Não começaremos com a história ou com as manchetes do dia para interpretar a
Palavra. Quando não encontrarmos informações históricas para explicar algum aspecto de

3
uma profecia, ainda respeitaremos a veracidade da palavra de Cristo acima do registro dos
historiadores: a palavra de Deus está acima de todas as coisas.

Informações acerca do livro

O verdadeiro autor de Apocalipse é o próprio Deus. Do ponto de vista humano, entretanto, a


autoria é de João, filho de Zebedeu:

bem como de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram seus sócios. Disse Jesus a Simão: Não temas; doravante
serás pescador de homens.
Lucas 5:10

Segundo as teorias acadêmicas mais aceitas, o livro data de 96 d.C. O lugar de escrita foi a
Ilha de Patmos, situada na Ásia Menor, no Mar Egeu, com 40 quilômetros de superfície e uma
população de 3000 habitantes. Lá o palco foi armado para a consolidação dessas
extraordinárias revelações que tanto nos edificam e consolidam nossa fé.

O livro de Apocalipse tem 22 capítulos, 404 versículos, 12.000 palavras e apenas nove
perguntas. O livro é repleto de simbolismos, em especial o número 7:

Sete Cartas às Sete Igrejas da Ásia, atual Turquia; os Sete Selos em um livro nas mãos de
Deus; as Sete Trombetas; Sete Castiçais de ouro; os Sete Anjos, um Cordeiro com Sete
Pontas e Sete Olhos; o Dragão Vermelho com Sete Cabeças e Sete Diademas; uma besta
semelhante ao leopardo com Sete Cabeças e Sete Diademas; Sete Montes e Sete Reis; Sete
Bem Aventuranças para os remidos.

O estudo de Apocalipse

Mas como devemos abordar o estudo do Apocalipse? Inicialmente devemos começar com a
Bíblia, não a história humana. A Bíblia Sagrada é a base e o fundamento que nos leva a
encontrar todas as respostas cabíveis e necessárias para o desempenho de nossa fé e do
nosso ministério.

4
Deus falou antes mesmo dos acontecimentos históricos, e a Sua palavra inspirada é
verdadeira e exata. Mesmo quando faltam registros humanos de cumprimentos precisos, a
palavra é o fundamento maior e mais gabaritado de nossa fé.

Podemos ilustrar esse problema considerando o texto de Mateus 24:1-34. Aqui, Jesus fala de
eventos específicos e catastróficos que ocorreriam em Jerusalém:

Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.
Mateus 24:34

Qualquer pessoa que respeite a palavra de Cristo pode saber que a profecia foi cumprida
ainda na época em que a geração de Cristo estava viva. Vamos lembrar desde o princípio
que Jesus revelou coisas que ocorreriam logo depois que João as registrou:

Disse-me ainda: Estas palavras são fiéis e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou seu
anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer. Eis que venho sem demora. Bem-
aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro.
Apocalipse 22:6-7

Devemos reconhecer o estilo simbólico da linguagem empregado pelo Espírito Santo na


escrita do livro. Da mesma maneira que o Espírito fez em várias outras partes da Bíblia, aqui
há uma linguagem simbólica ou figurativa, frequentemente com descrições físicas que
retratam conceitos espirituais. Este era o costume de Jesus em suas parábolas:

Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais
terá sede.
João 6:35

Jesus, pois, lhes afirmou de novo: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas.
João 10:7

Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.


João 15:1

Não nos deveríamos surpreender que a linguagem seja figurativa ou simbólica: outros livros
da Bíblia Sagrada, especialmente Ezequiel, Daniel e Zacarias, empregam linguagem
semelhante, tornando esse estilo de revelação algo que coincide com aquele recebido
anteriormente.

5
Ditar quais partes da narrativa são figurativas e quais são literais é um método ruim.
Apocalipse é um livro de visões, isto é, ideias celestiais que excedem a imaginação humana
ao não se reduzirem a algo meramente físico ou meramente literal.

Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem
acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João, o qual atestou a palavra
de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu.
Apocalipse 1:1,2

Vi outro anjo forte descendo do céu, envolto em nuvem, com o arco-íris por cima de sua cabeça; o rosto era como
o sol, e as pernas, como colunas de fogo;
Apocalipse 10:1

Para entendermos as coisas de Deus, precisamos colocar nosso tempo, nossa vida e nossa
mente cativa às coisas do Espírito Santo. O Espírito Santo foi, é e sempre será o maior
intérprete das Sagradas Escrituras.

Conforme o registro do capítulo um, este livro não é uma mera transmissão de palavras, mas
sim uma mensagem dos símbolos e imagens que Deus permitiu a João visualizar naquela
ilha. Estas revelações do Apocalipse falam das coisas que estavam para acontecer logo.

Achei-me em espírito, no dia do Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta, dizendo: O
que vês escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.
Apocalipse 1:10,11

Para uma leitura mais aprofundada, devemos nos atentar a alguns princípios:

Primeiro: este é um livro de profecias.

Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo,
Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta
profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste
livro.
Apocalipse 22:18,19

Profetas bíblicos frequentemente usam linguagens simbólicas e ilustrações para apresentar


a verdade. De fato, muitos conceitos errados sobre o texto de Apocalipse resultam de
esforços para interpretar literalmente a linguagem figurativa do livro.

6
Além do mais, o livro de Apocalipse foi escrito próximo do encerramento do primeiro século:
um tempo em que muitos povos do mundo estavam sujeitos ao domínio do Império Romano.
Este governo estava se tornando cada vez mais perverso e menos tolerante com povo de
Deus, e é nessa situação que Deus entrega o Apocalipse a João.

Muitos decidem estudar o livro com a determinação de encontrar aplicações modernas para
algumas das profecias, esquecendo-se do fato de que ele foi escrito originalmente para os
cristãos da Ásia, muitos dos quais sofreram severas perseguições por causa da sua fé.

João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que
há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono
Apocalipse 1:4

dizendo: O que vês escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia
e Laodicéia.
Apocalipse 1:11

A simbologia dos números

O livro do Apocalipse utiliza-se de um estilo literário que emprega os significados simbólicos


dos números

● O número 1 fala da unidade, isto é, algo e incomparável ou exclusivo;

● O número 2 fala de força, coragem e poder;

● O número 3 é divino e fala das Três Pessoas Divinas: o Pai cria, o Filho redime e o Espírito Santo
santifica;

● O número 4 fala de coisas do mundo;

● O número 5 fala dos cinco nomes de Jesus Cristo: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da
Eternidade e Príncipe da Paz;

● O número 6 fala de algo incompleto e fracassado;

● O número 7 fala da perfeição;

● O número 10 fala da totalidade e também da plenitude;

7
● O número 12 fala de totalidade, especialmente do Povo de Deus (as 12 tribos, os 12 apóstolos...);

● O número 24 retrata os representantes do povo de Deus de todos os tempos;

● O número 144 é o número completo do Povo de Deus;

● Os 42 meses, os 1260 Dias e os "três anos e meio" representam um período de tempo indefinido,

PANORAMA GERAL

Os capítulos da Revelação

O livro do Apocalipse demonstra, acima de tudo, o poder de Deus de vencer o diabo e seus
asseclas. Essa mensagem servia de encorajamento para os santos angustiados num tempo
cheio de turbulências e perseguição., pois convida o leitor a se atentar ao lado espiritual das
lutas que constantemente desafiam a fé.

O capítulo primeiro apresenta o retrato categórico de Jesus Cristo em todo Seu poder,
domínio e glória. É comum que imaginemos Jesus em cenas de aparente fragilidade, seja Ele
um bebê nos braços da mãe ou uma figura moribunda na cruz. Mas Cristo é muito mais que
isso: Ele é o grande vitorioso e o Leão da tribo de Judá, Soberano dos reis da Terra.

e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. Àquele
que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados,
Apocalipse 1:5

Tudo que se segue deste livro surge dessa poderosa mensagem: Cristo está no comando de
todas as coisas, e, no final, os justos serão vitoriosos na luta contra o mal.

Os capítulos 2 e 3 contém a história das sete igrejas na Ásia menor. As sete cartas seguem
um padrão regular de saudação, lembrança da posição de Cristo, avaliação da condição da
congregação e apelo ao arrependimento unindo ao encorajamento aos fiéis para que
permaneçam firmes em sua fé.

8
O texto também carrega uma lembrança dos galardões que aguardam os santos, reafirmando
que, mesmo diante de problemas, vale a pena ser fiel:

Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem. Pois, pela fé, os antigos
obtiveram bom testemunho. Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira
que o visível veio a existir das coisas que não aparecem. Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício
do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por
meio dela, também mesmo depois de morto, ainda fala. Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte; não
foi achado, porque Deus o trasladara. Pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a
Deus. De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus
creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam.
Hebreus 11:1-6

Os capítulos 4 e 5 demonstram a posição do Pai e do Filho. João recebe a permissão de ver


o trono de Cristo, cercado por Seus servos em adoração. Aqui, a cena sai da Terra e adentra
no céu.

Imediatamente, eu me achei em espírito, e eis armado no céu um trono, e, no trono, alguém sentado; e esse que
se acha assentado é semelhante, no aspecto, a pedra de jaspe e de sardônio, e, ao redor do trono, há um arco-
íris semelhante, no aspecto, a esmeralda. Ao redor do trono, há também vinte e quatro tronos, e assentados neles,
vinte e quatro anciãos vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro. Do trono saem relâmpagos,
vozes e trovões, e, diante do trono, ardem sete tochas de fogo, que são os sete Espíritos de Deus. Há diante do
trono um como que mar de vidro, semelhante ao cristal, e também, no meio do trono e à volta do trono, quatro
seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás.
Apocalipse 4:2-6

O próximo capítulo volta a sua atenção a Jesus que, por causa de Sua vitória sobre a morte,
é considerado digno de abrir o livro dos livros, que revelará o plano para a vitória total de
Deus sobre as forças de Satanás.

Todavia, um dos anciãos me disse: Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para
abrir o livro e os seus sete selos. Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de
pé, um Cordeiro como tendo sido morto. Ele tinha sete chifres, bem como sete olhos, que são os sete Espíritos
de Deus enviados por toda a terra. Veio, pois, e tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono;
e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro,
tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, e entoavam
novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue
compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação
Apocalipse 5:5-9

9
Do capítulo 6 ao 20 encontram-se numerosas demonstrações de vingança e punição. Aqui,
a maioria das mensagens é organizada em séries de sete: sete selos, sete trombetas, sete
taças; bem como em três grandes juízos.

A história não termina até chegarmos à parte sétima e final. Há momentos em que a leitura
pode sugerir que a grande guerra está sendo vencida pelo diabo e seus servos, mas o livro
oferece esperança aos fiéis afirmando que Deus e seu exército de justos serão vitoriosos.

Os capítulos 21 e 22 destacam a condição dos santos vitoriosos na presença de Seus. Aqui,


os privilégios perdidos no Éden em decorrência do pecado de Adão e Eva são restaurados,
e todos desfrutam desta comunhão renovada entre Deus e o homem.

Esses capítulos empregam muito da linguagem encontrada em outros textos proféticos, e


também destacam a grandeza do Céu, a conclusão para a mensagem da Bíblia Sagrada.

O tempo da promessa

O livro do Apocalipse é guiado por uma trama, e precisamos entendê-la para que possamos
compreender a mensagem do autor.

Primeiro, devemos nos atentar ao fato de que, no relato, Jesus falou de coisas que tinham
que acontecer logo depois que o livro fosse escrito. O significado desse ponto não deve ser
diminuído: quando Deus colocou um limite no tempo para o cumprimento de sua palavra, os
leitores não tem direito de ignorar.

Algumas vezes, pessoas tentam evitar o significado desse limite com passagens como 2
Pedro 3:8:

Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil
anos, como um dia.
2 Pedro 3:8

Há aí, entretanto, um deslize. Nesta passagem, o autor está demonstrando a paciência de


Deus em adiar Seu julgamento dos malfeitores, de forma que quando Deus fala de coisas
que acontecerão logo, precisamos respeitar a veracidade de Sua palavra.

10
Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem
acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João
Apocalipse 1:1

Disse-me ainda: Estas palavras são fiéis e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou seu
anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer.
Apocalipse 22:6

Esse limite de tempo é colocado tanto no começo quanto no fim do Apocalipse. Deve,
portanto, ser sempre considerado no exercício de interpretação dos capítulos intermediários.

A expressão “em breve” é usada também em outras partes do Novo Testamento. Nessas
passagens, o cumprimento do que fora dito acontece logo depois das palavras ditas:

Festo, porém, respondeu achar-se Paulo detido em Cesaréia; e que ele mesmo, muito em breve, partiria para lá.
Portanto, disse ele, os que dentre vós estiverem habilitados que desçam comigo; e, havendo contra este homem
qualquer crime, acusem-no. E, não se demorando entre eles mais de oito ou dez dias, desceu para Cesaréia; e,
no dia seguinte, assentando-se no tribunal, ordenou que Paulo fosse trazido.
Atos 25:4-6

mas, em breve, irei visitar-vos, se o Senhor quiser, e, então, conhecerei não a palavra, mas o poder dos
ensoberbecidos.
1 Coríntios 4:19

Porque estou certo de que isto mesmo, pela vossa súplica e pela provisão do Espírito de Jesus Cristo, me
redundará em libertação, segundo a minha ardente expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado;
antes, com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida,
quer pela morte. Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne traz
fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o
desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Mas, por vossa causa, é mais necessário
permanecer na carne.
Filipenses 1:19-24

Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te em breve;


1 Timóteo 3:14

Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está
próximo o verão.
Mateus 24:32

E ele lhes respondeu: Ide à cidade ter com certo homem e dizei-lhe: O Mestre manda dizer: O meu tempo está
próximo; em tua casa celebrarei a Páscoa com os meus discípulos.
Mateus 26::18

11
Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém.
João 2:13

Ora, a Páscoa, festa dos judeus, estava próxima.


João 6:4

Ora, a festa dos judeus, chamada de Festa dos Tabernáculos, estava próxima.
João 7:2

Estava próxima a Páscoa dos judeus; e muitos daquela região subiram para Jerusalém antes da Páscoa, para se
purificarem.
João 11:55

O significado do quinto selo

Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da
palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando,
ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?
Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo,
até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente
eles foram.
Apocalipse 6:9-11

Aqui temos a linguagem dos mártires: os cristãos mortos pedem por justiça, e o texto nos
assegura que suas mortes não foram em vão, pois morreram na confiança de que Deus é
justo.

Deus punirá todos os malfeitores, mas permitirá que a perseguição continue por pouco tempo,
até que se complete “o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como
igualmente eles foram”. Deus é tardio em irar-se, mas a justiça é o cinto dos seus lombos.

O sangue dos mártires

Numerosas passagens do apocalipse ilustram a maneira como Deus respondeu ao apelo dos
santos martirizados.

● Deus vingou seu sangue:

12
E o lagar foi pisado fora da cidade, e correu sangue do lagar até aos freios dos cavalos, numa extensão de mil e
seiscentos estádios.
Ap 14;20

● A terceira taça representava a merecida vingança contra aqueles que haviam


matado os profetas:

Derramou o terceiro a sua taça nos rios e nas fontes das águas, e se tornaram em sangue. Então, ouvi o anjo das
águas dizendo: Tu és justo, tu que és e que eras, o Santo, pois julgaste estas coisas; porquanto derramaram
sangue de santos e de profetas, também sangue lhes tens dado a beber; são dignos disso. Ouvi do altar que se
dizia: Certamente, ó Senhor Deus, Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos.
Apocalipse 16:4-7

● Deus vingou a causa dos santos contra a Babilônia:

Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa. Então,
um anjo forte levantou uma pedra como grande pedra de moinho e arrojou-a para dentro do mar, dizendo: Assim,
com ímpeto, será arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais será achada. E voz de harpistas, de
músicos, de tocadores de flautas e de clarins jamais em ti se ouvirá, nem artífice algum de qualquer arte jamais
em ti se achará, e nunca jamais em ti se ouvirá o ruído de pedra de moinho. Também jamais em ti brilhará luz de
candeia; nem voz de noivo ou de noiva jamais em ti se ouvirá, pois os teus mercadores foram os grandes da terra,
porque todas as nações foram seduzidas pela tua feitiçaria. E nela se achou sangue de profetas, de santos e de
todos os que foram mortos sobre a terra.
Apocalipse 18:20-24

porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande meretriz que corrompia a terra com a sua
prostituição e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos.
Apocalipse 19:2

● Deus ressuscitou os mártires:

Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; lançou-o no abismo,
fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois
disto, é necessário que ele seja solto pouco tempo. Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais
foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como
por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não
receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos
mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e
santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo
contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos.
Apocalipse 20:2-6

13
Há uma clara conexão entre esse trecho e as orações do capítulo 6: eles haviam sido
decapitados por causa de sua fé, e agora estavam sendo ressuscitados para reinar
juntamente com Cristo.

Três exemplos específicos

O livro do apocalipse está repleto de cenas dos santos sendo vitoriosos em Deus.

A ressurreição das duas testemunhas:

Mas, depois dos três dias e meio, um espírito de vida, vindo da parte de Deus, neles penetrou, e eles se
ergueram sobre os pés, e àqueles que os viram sobreveio grande medo; e as duas testemunhas ouviram
grande voz vinda do céu, dizendo-lhes: Subi para aqui. E subiram ao céu numa nuvem, e os seus inimigos
as contemplaram. Naquela hora, houve grande terremoto, e ruiu a décima parte da cidade, e morreram,
nesse terremoto, sete mil pessoas, ao passo que as outras ficaram sobremodo aterrorizadas e deram
glória ao Deus do céu. Passou o segundo ai. Eis que, sem demora, vem o terceiro ai. O sétimo anjo tocou
a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do
seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos.
Apocalipse 11:11-15

A ressurreição das duas testemunhas, que pregaram com poder e autoridade. As


forças de satanás os mataram, e começa o triunfo do mal contra o bem. Entretanto,
Deus ressuscitou as testemunhas, e as chamou aos céus e enviou punições contra
os que regozijaram com a derrota da injustiça praticada.

O dragão e a mulher:

No capítulo 12 é narrado o triunfo sobre o dragão. A mulher dá a luz a Cristo, e


satanás, o dragão e a serpente, salivava com a expectativa de devorar o filho. No
versículo 5, entretanto, ocorre a vitória completa, que frustra o maligno.

Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro. E o seu filho foi
arrebatado para Deus até ao seu trono. A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus
preparado lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e sessenta dias. Houve peleja no céu.
Miguel e os seus anjos pelejaram contra o dragão. Também pelejaram o dragão e seus anjos; todavia,
não prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga

14
serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com
ele, os seus anjos.
Apocalipse 12:5-9

Satanás se volta contra a mulher, mas Deus a protege. Na batalha contra Miguel e os
anjos, o diabo sofre mais uma derrota, e lhes são negadas outras oportunidades de
acusar os servos do Deus vivo.

Quando, pois, o dragão se viu atirado para a terra, perseguiu a mulher que dera à luz o filho varão; e
foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que voasse até ao deserto, ao seu lugar, aí
onde é sustentada durante um tempo, tempos e metade de um tempo, fora da vista da serpente. Então,
a serpente arrojou da sua boca, atrás da mulher, água como um rio, a fim de fazer com que ela fosse
arrebatada pelo rio. A terra, porém, socorreu a mulher; e a terra abriu a boca e engoliu o rio que o dragão
tinha arrojado de sua boca. Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua
descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus; e se pôs em
pé sobre a areia do mar.
Apocalipse 12:13-17

Cada vez mais frustrado, ele ataca a mulher e, novamente, fracassa. A partir de então,
passa a concentrar as suas energias para “pelejar com os restantes da sua
descendência”, os cristãos individuais. Acontece, entretanto, que os filhos da mulher
podem entrar na guerra com confiança, pois:

Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados
além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que
a possais suportar.
1 coríntios 10:13

Novo céu e nova terra

Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi
também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva
adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus
com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E
lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor,
porque as primeiras coisas passaram.
Apocalipse 22:1-4

15
Depois das grandes cenas de julgamento e condenação dos inimigos, esse trecho do
livro revela um vislumbre da gloriosa comunhão entre Deus e os homens, prometida
desde tempos antigos:

Pois eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá lembrança das coisas passadas, jamais
haverá memória delas. Mas vós folgareis e exultareis perpetuamente no que eu crio; porque eis que crio
para Jerusalém alegria e para o seu povo, regozijo. E exultarei por causa de Jerusalém e me alegrarei
no meu povo, e nunca mais se ouvirá nela nem voz de choro nem de clamor. Não haverá mais nela
criança para viver poucos dias, nem velho que não cumpra os seus; porque morrer aos cem anos é
morrer ainda jovem, e quem pecar só aos cem anos será amaldiçoado. Eles edificarão casas e nelas
habitarão; plantarão vinhas e comerão o seu fruto. Não edificarão para que outros habitem; não plantarão
para que outros comam; porque a longevidade do meu povo será como a da árvore, e os meus eleitos
desfrutarão de todo as obras das suas próprias mãos. Não trabalharão debalde, nem terão filhos para a
calamidade, porque são a posteridade bendita do SENHOR, e os seus filhos estarão com eles. E será
que, antes que clamem, eu responderei; estando eles ainda falando, eu os ouvirei. O lobo e o cordeiro
pastarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; pó será a comida da serpente. Não se fará mal nem
dano algum em todo o meu santo monte, diz o SENHOR.
Isaías 65:17-25

A admissão nesta companhia, entretanto, é limitada: haverá muitos que serão


rejeitados e, então, lançados no lago de fogo. A Nova Jerusalém é um símbolo
profético da comunhão restaurada (Is 52:1; Ap 60:19-20, 61:10, 65:18-19, 48:31-34;
Ez 40:2-3).

Informações do livro

O próprio livro de Apocalipse revela que Jesus Cristo está enviando uma mensagem a todos
os fiéis:

Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem
acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João, o qual atestou a palavra
de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu.
apocalipse 1:1-2

Quanto à autoria, ela certamente pertence a João. Mas que João? O versículo não oferece
uma descrição que se estende para além do nome, mas, desde a antiguidade, quase todos
os comentários bíblicos creditam o livro ao apóstolo João, filho de Zebedeu.

16
Também é geralmente aceito que o mesmo João escreveu o evangelho e as três epístolas
que carregam seu nome. Assim sendo, a leitura de seus outros livros, especialmente do
evangelho, ajuda na compreensão da mensagem do Apocalipse.

O tempo em apocalipse

No ano terceiro do reinado do rei Belsazar, eu, Daniel, tive uma visão depois daquela que eu tivera a princípio.
Daniel 8:1

No relato da Bíblia Sagrada, há diversas profecias que revelam acontecimentos que só se


concretizaram centenas de anos após a morte do profeta. No caso de Daniel, por exemplo, o
tempo entre o recebimento da visão e seu cumprimento foi de pelo menos 400 anos. Nesse
caso, o anjo Gabriel explica que a mensagem se refere a dias muito distantes.

Logicamente, podemos deduzir que se 400 anos é um tempo muito distante, o “breve”
presente em Apocalipse deve indicar algo bastante próximo. Esse contraste torna-se mais
nítido no restante da leitura do livro da revelação:

Disse-me ainda: Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo.
apocalipse 22:10

João é proibido de selar sua profecia, pois o tempo estava próximo. A partir disso, podemos
compreender que qualquer interpretação que sugere que o cumprimento principal do livro
ainda está para acontecer se opõe ao texto do próprio livro.

A validade da mensagem

João não teve nenhuma dúvida acerca da fonte de sua mensagem: a palavra de Deus e o
testemunho Jesus Cristo. O próprio autor coloca este livro na mesma categoria do resto das
Escrituras, e fez questão de transmitir a revelação que havia recebido.

Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde
vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação,
lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro,
Apocalipse 7:13-14

17
A revelação se deu por forma de visões e imagens dramáticas, que transmitiram as visões
que Cristo queria passar para todos os seus servos. Desta forma, o apóstolo João relatou a
tudo aquilo que viu: as evidências dos sinais são categóricas.

As sete bem aventuranças

1. Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as
coisas nela escritas, pois o tempo está próximo. (Ap 1.3)

2. Então, ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora,
morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras
os acompanham. (Ap 14.13)

3. Eis que venho como vem o ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para
que não ande nu, e não se veja a sua vergonha. (Ap 16.15)

4. Então, me falou o anjo: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do
Cordeiro. E acrescentou: São estas as verdadeiras palavras de Deus. (Ap 19.9)

5. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda
morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele
os mil anos. (Ap 20.6)

6. Eis que venho sem demora. Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro.
(Ap 22.7)

7. Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes
assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas. (Ap 22.14)

As sete igrejas

Nos capítulos 2 e 3, o apóstolo João escreve cartas endereçadas às sete igrejas da Ásia e a
seus sete anjos. Tudo indica que estas eram igrejas reais que existiam na época, porém não
as únicas, como o resto da Escritura confirma:

estes nos precederam, esperando-nos em Trôade. Depois dos dias dos pães asmos, navegamos de Filipos e, em
cinco dias, fomos ter com eles naquele porto, onde passamos uma semana. No primeiro dia da semana, estando
nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia imediato, exortava-os e prolongou
o discurso até à meia-noite.

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Atos 20:5-7

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus, e o irmão Timóteo, aos santos e fiéis irmãos em Cristo que
se encontram em Colossos, graça e paz a vós outros, da parte de Deus, nosso Pai.
Colossenses 1:1,2

E dele dou testemunho de que muito se preocupa por vós, pelos de Laodicéia e pelos de Hierápolis.
Colossenses 4:13

Jesus escolheu endereçar as cartas a estas sete igrejas. Talvez isso tenha se dado como
uma forma de representar o simbolismo do número completo, de forma que estas sete igrejas
específicas simbolizam as características das igrejas da região.

Os sete espíritos

João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que
há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono
Apocalipse 1:4

Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Estas coisas diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas:
Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto.
Apocalipse 3:1

A Bíblia Sagrada revela-nos, na carta aos Efésios, que há um só Espírito:

há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação;
Efésios 4:4

Isso se dá porque o número sete representa algo completo. Desta forma, portanto, o sentido
mais provável para as passagens de Apocalipse é o de simbolismo que indica a perfeição do
Espírito.

O número sete é empregado da mesma maneira em diversas outras partes do relato bíblico,
tanto no antigo quanto no Novo Testamento:

Porque eis aqui a pedra que pus diante de Josué; sobre esta pedra única estão sete olhos; eis que eu lavrarei a
sua escultura, diz o SENHOR dos Exércitos, e tirarei a iniqüidade desta terra, num só dia.
Zacarias 3:9

19
Do trono saem relâmpagos, vozes e trovões, e, diante do trono, ardem sete tochas de fogo, que são os sete
Espíritos de Deus.
Apocalipse 4:5

Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro como tendo sido
morto. Ele tinha sete chifres, bem como sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra.
Apocalipse 5:6

Aqui cabe uma observação: embora nenhum versículo do texto defina direta e explicitamente
que os sete espíritos de Apocalipse são o Espírito Santo, sua colocação entre as Pessoas
Divinas é evidência bastante concreta para apoiar essa interpretação.

A identidade de Cristo

O relato de Apocalipse não deixa dúvidas acerca da identidade de Jesus Cristo, a fiel
testemunha. Ele é o Sim de Deus, o Amém das promessas do Pai:

Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para
glória de Deus, por nosso intermédio. Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo e nos ungiu é Deus, que
também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração.
2 Coríntios 1:20-22

Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça.
Apocalipse 19:11

Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas
ter a primazia,
Colossenses 1:18

Cristo, aquele que tem domínio sobre tudo e todos, manda uma mensagem para consolar
aqueles que sofrem e morrem crentes na verdade de Sua ressurreição. Eis aí a grandeza do
livro do Apocalipse: Jesus, chamado soberano dos reis da Terra (Daniel 4:32) é governante
dos governantes, de forma que sua autoridade está acima dos que perseguiram os santos.

A Bíblia Sagrada afirma que Jesus é soberano:

o qual, depois de ir para o céu, está à destra de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, e potestades, e poderes
1 Pedro 3:22

20
E pôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu
corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas.
Efésios 1:22-23

e com cetro de ferro as regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro; assim como também eu
recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã.
Apocalipse 2:27-28

Devemos sempre acreditar nas afirmações de Cristo e no princípio escriturístico da


Bíblia Sagrada. É o próprio Jesus quem respalda sua palavra. Ele é Aquele que nos
ama, e Seu sangue nos libertou de nosso pecado.

e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. Àquele
que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu
Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!
Apocalipse 1:5,6

O amor divino é constantemente evidenciado nos escritos de João. Esse fato em si é


suficiente para demonstrar a grandeza e o poder do evangelho: a transformação do chamado
filho do trovão no apóstolo do amor (Jo 3:16; 1Jo 4:7-21).

João vai mais além: ele afirma que é o sangue de Jesus que nos liberta, e que é apenas na
remissão dos pecados que encontramos a única e verdadeira libertação:

não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma
vez por todas, tendo obtido eterna redenção. muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo
se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!
Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e, sem derramamento de sangue,
não há remissão.
Hebreus 9:12,14,22

Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes,
não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes
misericórdia.
1 Pedro 2:9-10

O apóstolo também afirma que Jesus Cristo virá com as nuvens, em toda a Sua autoridade
divina e com poder para julgar e castigar os rebeldes e trazer juízo sobre toda a impiedade
(Ex 14:24; 19:9; 20:21; 24:16; 40:34-38; Nm 11:25; 12:5-10; DT 5:22 ; 2Cr 5:13)

21
Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se
lamentarão sobre ele. Certamente. Amém!
Apocalipse 1:7

Há duas possíveis interpretações para essa promessa:

1 - A segunda vinda de Jesus, quando Ele julgará todos os homens:

depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro
do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor.
1 Tessalonicenses 4:17

E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem. Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em
que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão:os que tiverem feito o bem, para a ressurreição
da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.
João 5:27-29

2 - A vinda de Jesus para castigar algum povo ou poder específico na Terra:

Dentro de um contexto, a segunda interpretação faz mais sentido que a primeira, uma vez
que Cristo virá em duas etapas. Assim sendo, devemos nos perguntar qual povo ou poder
seria este.

Alguns acreditam que o texto é direcionado a Jerusalém, fazendo referência à destruição da


cidade que ocorreria no ano 70 d.C. Outros afirmam que este poder representa algum
imperador romano.

O versículo assemelha-se, entretanto, ao trecho de Mateus 24:30, que pode ser usado para
fortalecer a hipótese da referência a Jerusalém:

Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do
Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória.
Mateus 24:30

Apocalipse também fala do Alfa e Ômega:

Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso.
Apocalipse 1:8

22
Estas são a primeira e última letra do alfabeto, o que indica um caráter eterno. O trecho pode
fazer referência ao Pai (Ap 4:8; 21:5-8) ou ao Filho (Cl 2:8,9; Hb 1:3)

Esse selo de autoridade encerra-se com mais uma afirmação da natureza absoluta de Deus:
o Todo Poderoso. Essa descrição aparece nove vezes no relato do Apocalipse, e mais de 50
vezes na Bíblia, sendo a maioria delas no livro de Jó.

Os servos de Cristo estavam sendo perseguidos, e portanto precisavam ser lembrados de


que o poder absoluto pertence a Deus. Nesses primeiros versículos, o apóstolo deixa isso
claro, evidenciando que o autor da mensagem tem poder para cumprir Suas promessas.

A majestade de Jesus

Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha
chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. Achei-me em espírito, no dia do
Senhor, e ouvi, por detrás de mim, grande voz, como de trombeta, dizendo: O que vês escreve em livro e manda
às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Voltei-me para ver quem falava
comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro e, no meio dos candeeiros, um semelhante a filho de homem, com
vestes talares e cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro. A sua cabeça e cabelos eram brancos como
alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado
numa fornalha; a voz, como voz de muitas águas. Tinha na mão direita sete estrelas, e da boca saía-lhe uma
afiada espada de dois gumes. O seu rosto brilhava como o sol na sua força. Quando o vi, caí a seus pés como
morto. Porém ele pôs sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último e aquele que
vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno.
Escreve, pois, as coisas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas. Quanto ao mistério
das sete estrelas que viste na minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das
sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas.
Apocalipse 1:9-20

O texto dos versículos 9 a 20 responde à seguinte pergunta: quem é Jesus e como devemos
enxergá-lo?

É comum que muitas pessoas imaginem Cristo como um bebê indefeso nos braços da mãe
ou uma figura moribunda (e aparentemente derrotada) sofrendo na cruz. Se por um lado é
certamente verdade que Jesus nasceu e morreu, também é verdade que estas cenas
representam episódios temporários, não o estado permanente do Cristo vitorioso.

23
A mensagem do Apocalipse deriva o seu poder na pessoa que a revelou: o próprio Cristo. Ele
possui toda a autoridade e fala com poder absoluto.

João em Patmos

Durante o relato de Apocalipse, o apóstolo João se encontra na ilha de Patmos por causa da
palavra de Deus. Tradicionalmente, acredita-se que ele tenha sido banido para a ilha por
razão de sua fé. Fontes do terceiro século afirmam que o apóstolo foi banido por Domiciano,
imperador romano que reinou entre 81 e 96 d.C.

O dia do Senhor citado no versículo 10 se refere, em diversas outras passagens, ao dia em


que Deus visitava o homem para castigar os malfeitores. O sentido mais provável, entretanto,
é o dia especialmente dedicado ao Senhor no louvor dos santos no Novo Testamento, o dia
especial da semana em que os cristãos primitivos se reuniam para cear e coletar recursos
para ajudar os necessitados:

No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no
dia imediato, exortava-os e prolongou o discurso até à meia-noite.
Atos 20:7

No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando,
para que se não façam coletas quando eu for.
1Coríntios 16:2.

O apóstolo João também relata ouvir uma voz como de trombeta. O poder que essa descrição
carrega deve ser observado à luz de outros textos das Sagradas Escrituras (Ex 19:16-19; Ap
4:5). O propósito da grande vós foi ordenar a João o que fazer a respeito das coisas que ele
veria. Ele deveria escrever suas visões em um livro, mandá-lo às sete igrejas:

dizendo: O que vês escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia
e Laodicéia.
Apocalipse 1:11

No versículo seguinte, Jesus Cristo aparece ao apóstolo entre os sete candeeiros:

Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro e, no meio dos candeeiros, um
semelhante a filho de homem, com vestes talares e cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro. A sua cabeça

24
e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés, semelhantes ao bronze
polido, como que refinado numa fornalha; a voz, como voz de muitas águas.
Apocalipse 1:12-15

Os candeeiros eram todos de ouro, que simboliza divindade e realeza. No Velho Testamento,
essa figura servia para iluminar o templo (Nm 8:1-4; Ex 27:20; 35:14; 39:37; Lv 24:2-4; 2 Cr
13:11; Hb 9:2) Na visão de João, Jesus identifica os sete candeeiros no versículo 20:

Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete
estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas.
Apocalipse 1:20

A posição de Cristo no meio dos candeeiros aponta para Sua comunhão íntima com Seu
povo: Ele anda no meio das igrejas, fazendo Seu tabernáculo entre Seus servos.

O termo “filho do homem” é uma expressão frequentemente usada no Antigo Testamento


para designar uma pessoa simples (Jó 35:8; Sl 144:3; Is 51:52; Ez 2:1-8; 4:16; Dn 7:13-14).
Percebemos, portanto, que até o final do Velho Testamento a expressão ganhou dois outros
sentidos: homens chamados para um papel especial de revelar a palavra de Deus & o eterno
Rei sobre o reino de Deus. Assim sendo, percebemos que, no Apocalipse, Jesus tomou para
si essa descrição com toda autoridade inerente a ela.

De fato, todos os quatro relatos do evangelho empregam essa expressão com bastante
frequência:

Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem
onde reclinar a cabeça.
Mateus 8:20

João utiliza o termo para destacar as qualidades essenciais de Jesus Cristo: Ele veio do céu
e voltaria para lá. Ele tem autoridade, e só Ele pode dar vida eterna através de Seu sacrifício,
que resultou em glória para o Pai (João 1:51, 3:14, 5:27). Lucas atualiza nossas informações
sobre o filho do homem quando afirma que Estêvão viu-O nos céus e à destra do Pai:

e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus
Atos 7:56

25
João também descreve-o “com vestes talares e cingido, à altura do peito, com uma cinta de
ouro. A sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve; os olhos, como chama
de fogo; os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz,
como voz de muitas águas.“

Alguns acreditam que a descrição das vestes faz referência ao sacerdócio como fora descrito
em Êxodo e Levíticos, enquanto comentários de Flávio Josefo afirma que essa descrição
passa a ideia de um ofício de autoridade e poder.

Tecerás, quadriculada, a túnica de linho fino e farás uma mitra de linho fino e um cinto de obra de bordador. Para
os filhos de Arão farás túnicas, e cintos, e tiaras; fá-los-ás para glória e ornamento.
Êxodo 28:39-40

Vestiu a Arão da túnica, cingiu-o com o cinto e pôs sobre ele a sobrepeliz; também pôs sobre ele a estola
sacerdotal, e o cingiu com o cinto de obra esmerada da estola sacerdotal, e o ajustou com ele.
Levítico 8:7

A brancura dos cabelos provavelmente traz uma conotação de avançada idade: neste caso
específico, a eternidade (Is 46:4, 1:18; Dn 7:9; Sl 51:7; Lv 19:32; Pv 16:31). Os olhos como
chamas apontam para o fato de que nada pode ser escondido de Deus. Sua visão alcança
todo o mundo, e vigiam a todas as nações (Pv 15:3; Jr 32:19; Sl 33:18, 34:15, 66:7; Dn 10:6).

Apocalipse 1:15 também descreve-o como tendo “os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa
fornalha; a voz, como voz de muitas águas.”

Esse trecho do relato de João faz-nos lembrar das visões de Ezequiel e Daniel. Frequentemente os
profetas apresentam a imagem de Deus ou de seus servos através de seus calçados. Desta forma, os
pés metálicos de Cristo sugerem a força para esmagar os inimigos.

As suas pernas eram direitas, a planta de cujos pés era como a de um bezerro e luzia como o brilho de bronze
polido.
Ezequiel 1:7

Quem suscitou do Oriente aquele a cujos passos segue a vitória? Quem faz que as nações se lhe submetam, e
que ele calque aos pés os reis, e com a sua espada os transforme em pó, e com o seu arco, em palha que o vento
arrebata?
Isaías 41:2

Quanto à voz “como que de muitas águas”, mais uma vez voltamos à visão de Daniel:

26
o seu corpo era como o berilo, o seu rosto, como um relâmpago, os seus olhos, como tochas de fogo, os seus
braços e os seus pés brilhavam como bronze polido; e a voz das suas palavras era como o estrondo de muita
gente.
Daniel 10:6

O versículo 16 descreve Cristo como uma figura que ”Tinha na mão direita sete estrelas, e da
boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes. O seu rosto brilhava como o sol na sua
força.”

As estrelas são identificadas nos versículo anteriores como os anjos das sete igrejas, os
mesmo que recebem as cartas nos capítulos 2 e 3. Essa imagem aponta para a enormidade
de Jesus, que segura as estrelas das igrejas na mão, e pode fazer com elas o que Ele, em
Sua justiça, desejar.

A espada afiada de dois gumes certamente representa a palavra de Deus, destacando Seu
poder para julgar e castigar os desobedientes (Hb 4:12-13). Na condição de luz do mundo,
Jesus resplandece em Glória. De fato, ao fitar a figura de Cristo, João “cai a seus pés como
morto”.

E foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como
a luz.
Mateus 17:2

Ao meio-dia, ó rei, indo eu caminho fora, vi uma luz no céu, mais resplandecente que o sol, que brilhou ao redor
de mim e dos que iam comigo.
Atos 26:13.

No versículo 19, o próprio Filho de Deus apresenta orientações ao apóstolo acerca da escrita
e objetivos do livro:

Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o
primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as
chaves da morte e do inferno. Escreve, pois, as coisas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois
destas. Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as
sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas.
Apocalipse 1:17-20

Aqui nota-se que, apesar de João ter sido um dos companheiros mais íntimos de Jesus
durante Seu ministério terrestre, ele demonstra e revela absoluta reverência a Cristo,

27
reagindo com respeito e temor diante do Senhor. Ele acaba de ver Cristo pronto para julgar,
e cai como morto:

Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de
impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!
Isaías 6:5

Jesus não veio para condenar e para esmagar a João: a mão estendida de Cristo oferece ao
apóstolo conforto, consolo e alívio. Nesse trecho, Jesus também afirma sua eternidade e sua
divindade pelos séculos dos séculos.

E o que significam as chaves no versículo 18? São as chaves da morte e do inferno,


evidentemente. Na ressurreição, Jesus não aparece apenas escapando de uma situação,
fugindo do sepulcro. Ele venceu a morte, o inferno, as potestades e os principados. A morte
e ressurreição de Cristo são temas centrais para o pensamento cristão (1Co 15:3,4; At 2:24-
32; Rm 5:8-11):

Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo;
eu venci o mundo.
João 16:33

Somente Jesus Cristo pode falar tamanha expressão. Ele não permitirá que seus servos
sejam presos eternamente. Há três mortes na Bíblia: a física, a espiritual e a eterna. Há
solução para as duas primeiras, mas para a última não há mais solução. Apenas os crentes
em Jesus podem ser salvos da morte eterna. O relevante papel de João, é, portanto, transmitir
uma mensagem: passado, presente e futuro, o apóstolo observa e descreve tudo o que vê,
sendo fiel em seu relato.

Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita e aos sete candeeiros de ouro, as sete
estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candeeiros são as sete igrejas.
Apocalipse 1:20

Não podemos errar essa interpretação, pois Jesus Cristo claramente fala que as estrelas são
os guias espirituais da igreja. “Anjo” quer dizer mensageiro, sejam eles mensageiros do céu
ou entre os homens, que devem transmitir a mensagem de Jesus às igrejas. No caso dessa
passagem, percebe-se que os anjos são os pastores da igreja. A igreja é composta por santos
e deve transmitir a luz de Deus para o mundo. Somos luz, e devemos prová-lo diariamente
com nossos atos e nossos comportamentos.

28
Cristo complementa a visão falando dos sete candeeiros: as sete igrejas. Depois de Sua
grande vitória sobre a morte, Jesus volta numa visão especial para reconfortar Seus
seguidores. O mesmo Jesus serve para nos reconfortar também. Ele ainda garante aos fiéis
a vitória sobre a morte, e essa é a nossa esperança. Fiel é aquele que prometeu, pelo que
também o fará.

Lições que perduram por toda a eternidade

O Apocalipse nos traz lições que marcam épocas e séculos. É como se vivêssemos esse
momento do apóstolo João na ilha. A palavra de Deus é viva e eficaz, e penetra a divisão de
alma e espírito. Diante dessa somatória de valores proféticos, analíticos, escatológicos e
vivenciais, a Palavra vem para o consolo espiritual e edificação da igreja: as riquezas do
Apocalipse trazem alegria e contentamento.

29
O DESVENDAR DAS
CARTAS DO APOCALIPSE

Cartas às igrejas

A mensagem do Apocalipse foi enviada principalmente às sete igrejas da Ásia. Esse fato é
ressaltado diversas vezes pelo livro (Ap 1:4, 1:11, 1:20, 22:16).

Os capítulos 2 e 3 são direcionados especificamente às igrejas, e estão carregados com uma


mensagem especial para cada uma delas. Nossa interpretação deve sempre levar em
consideração a identidade dos destinatários originais. Interpretações que ignoram esses
fatores devem ser questionados e até mesmo rejeitadas.

Se Jesus Cristo mandou um recado às igrejas da Ásia, devemos entender que a mensagem
era para o benefício das mesmas. Desta forma, os textos apresentam formato de decretos
imperiais. Estas cartas foram escritas em uma forma padrão, mas o conteúdo de cada uma é
específico, e fala a respeito das necessidades da própria congregação em questão.

As igrejas não eram subordinadas a uma hierarquia, e cada congregação era independente,
de forma que cada uma delas recebia um comunicado exclusivo diretamente de Jesus, e
respondia por sua própria obediência ou rebeldia.

O fato de haver necessidade de sete cartas para sete igrejas reforça a importância do respeito
à autonomia de cada uma das congregações. Essa igrejas encontravam-se numa área
relativamente pequena, de forma que uma pessoa entregando as cartas completaria o circuito
de destinatários em pouco mais de 500 quilômetros.

A carta à igreja em Éfeso

Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que
anda no meio dos sete candeeiros de ouro: Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e

30
que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não
são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste
esmorecer. Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste,
arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro,
caso não te arrependas. Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio.
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida
que se encontra no paraíso de Deus.
Apocalipse 2:1-7

Éfeso era a cidade mais importante da província romana da Ásia. Foi situada na margem do
rio Castro, que desemboca no mar egeu. Duas estradas muito importantes cruzavam-se na
região, tornando esta uma área importantíssima de contato entre os dois lados do Império
Romano. Éfeso também era bastante relevante por ser um foco de adoração da deusa da
fertilidade, Diana.

Sabemos algumas coisas acerca desta igreja, segundo o relato de Atos 18:18-26, Atos 19:1-
41, Atos 20:17-38, 1 Timóteo 1:1-4. Isso, é claro, sem considerar a carta aos Efésios. A partir
da análise de todas essas referências, podemos notar alguns fatores importantes coisas
importantes:

Desde o início, houve a necessidade de se examinar doutrinas e aceitar apenas o que Deus
havia revelado. É justamente por essa razão que Áquila e Priscila ajudaram a Apolo em Atos
18:24-26, e Paulo advertiu-os intensamente contra os falsos mestres (At 20:29-31; 1Tm 1:3-
7).

A descrição de Jesus mostra-nos o conhecimento e soberania de Cristo em relação às igrejas.


Tanto os efésios quanto as outras igrejas precisavam lembrar da presença de Jesus, que
ainda anda no meio das igrejas, observando seu procedimento pronto para agir quando for
necessário: segurando as estrelas, Ele demonstra domínio sobre elas.

Jesus elogia as qualidades da igreja em Éfeso. Deus quer servos dedicados que não
desistam e que sigam em frente em sua caminhada. De fato, o Novo Testamento fala da
importância da perseverança diante da perseguição (Tiago 1:4, Mateus 10:22, Romanos 5:3,
Tiago 1:12)

O versículo quatro, entretanto, faz uma dura crítica à igreja de Éfeso. Seu problema não era
um de doutrina incorreta, mas de amor: eles haviam se esquecido dos grandes mandamentos
que sintetizam a base dos ensinamentos de Deus:

31
Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu
entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.
Mateus 22:37-40

De fato, a importância do amor é fortemente ressaltada nos textos de Paulo (Efésios 3:17;
4:2-16; 5:2 e 6:23). Desta forma, devemos defender a verdade (como a igreja de Éfeso fizera)
enquanto praticamos o amor, para que seguissem a verdade em amor:

Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
Efésios 4:15

No versículo 5 há uma chamada de Deus à ação. Ele demanda que os efésios lembrem-se
de onde caíram, arrependam-se e voltem às prática das primeiras obras:

Arrepende-te, pois, da tua maldade e roga ao Senhor; talvez te seja perdoado o intento do coração;
Atos 8:22

O versículo seguinte reforça o elogio anterior. Não menção aos nicolaítas em nenhuma parte
além desta, entretanto sabemos que seus ensinamentos que eram abomináveis aos olhos de
Deus (Tito 1:8-9, Salmo 97:10).

A carta termina com “quem tem ouvidos ouça”. Aquele que desiste, abandonado para sempre
o amor, não receberá o galardão. Jesus descreve a comunhão com Deus em termos que nos
lembram do jardim do Éden, e apenas aqueles que andam com o Senhor possuem a
esperança de chegar à casa do Pai.

A carta à igreja em Esmirna

Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver:
Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus
e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás. Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para
lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte,
e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de nenhum modo
sofrerá dano da segunda morte.
Apocalipse 2:8-11

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Durante o período em que Paulo ficou em Éfeso em sua terceira viagem evangelística, e stá
escrito que todos os habitantes da Ásia ouviram o evangelho de Jesus, conforme o relato de
Atos 19:10. E Pedro, o apóstolo, inclui os eleitos e forasteiros da Ásia entre os destinatários
de sua primeira carta:

Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia
e Bitínia,
1 Pedro 1:1

É bem possível que a igreja em Esmirna esteja incluída nessas situações, mas a primeira vez
em que ela é identificada por nome ocorre no Apocalipse.

Jesus começa esta carta declarando Sua eternidade. Na situação da perseguição dos
cristãos em Esmirna, era especialmente importante lembrar da ressurreição de Cristo: Ele
não fracassou diante da morte, mas a venceu, dando esperança aos fiéis.

Jesus Cristo se compadeceu de seus servos atravessando momentos de sofrimento em


Esmirna. Porém, mesmo assim, Ele não os poupou de toda a dor que haveria de vir.

É interessante notar que os cristãos de Esmirna eram bastante pobres, provavelmente


sofrendo discriminação por causa da fé, ou seguindo o exemplo dos macedônios alguns anos
antes (2 Coríntios 8:1-9). A pobreza material, entretanto, não tem importância quando há
riquezas espirituais:

Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma.
3 João 1:2

Assim, percebemos que a situação dos discípulos em Esmirna era muito melhor que os de
Laodicéia, que se achava rica apesar de sua pobreza espiritual.

A blasfêmia é um aspecto do sofrimento dos cristãos de Esmirna, pois os judeus perseguiam


os cristãos. Aqui há uma crítica severa aos servos de satanás, acusadores dos fiéis. Mas há
também uma palavra de encorajamento, conclamando os fiéis à fidelidade até a morte.

Cristo anima dos discípulos a não desistirem, apesar das tribulações. O diabo é visto como a
fonte da perseguição, mas os discípulo não devem negar sua fé. O efeito da tribulação seria

33
o de provar a fé dos cristãos, testada sob a ameaça de morte. O tempo de 10 dias sugere um
tempo curto, mas completo, que tem um fim.

Sabemos que estamos vivendo num tempo de angústia, e para esses tempos a palavra é
esta: vale a pena servir a Deus e ostentar a bandeira da fidelidade e da graça, pois a vida
vem de Deus (Jo 5:26, 14:6; 1Jo 1:1-2; 2 Tm 4:7,8)..

Como em todas as cartas, Jesus chama os destinatários a ouvirem Sua mensagem. Não há
coisa mais gloriosa que ouvir a palavra de Deus, a boa mensagem do evangelho.

Os que permanecem fiéis diante das perseguições são chamados de vencedores. e nada
neste mundo pode lhes arrancar da presença de Deus. O castigo eterno não é para os fiéis,
mas para os que rumam no outro caminho.

A carta à igreja em Pérgamo

Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas coisas diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes: Conheço
o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, e que conservas o meu nome e não negaste a minha fé,
ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. Tenho,
todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a
Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a
prostituição. Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas. Portanto,
arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca. Quem tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei
uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que
o recebe.
Apocalipse 2:12-17

A espada afiada de dois gumes representa a autoridade e o poder para julgar e castigar. É
Jesus, e não o governo romano, que segura essa espada.

A igreja em Pérgamo se encontrava numa situação difícil, pois de todos os lados os vizinhos
de pérgamo praticavam idolatria e davam honra aos líderes romanos. Os cristãos não
abandonaram a verdade do Senhor, mas tanta influência de falsas doutrinas teve um impacto
negativo na igreja, imbuindo a congregação com doutrinas falsas e imoralidades.

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Jesus, sempre vigiando para ajudar Seu povo, sabia das circunstâncias da cidade, que desde
29 a.C. foi local de um templo dedicado à idolatria oficial de Roma. Mais tarde foram
construídos ainda outros templos tanto aos imperadores quanto a outros deuses.

Cristo elogia a perseverança dos cristãos de Pérgamo, que foram fiéis a Jesus mesmo sob
perseguição intensa. A fé em Cristo é a palavra de Cristo revelada aos homens:

Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me
senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez
por todas foi entregue aos santos.
Judas 1:3

Quanto a Antipas, esta figura é mencionada apenas aqui. Evidentemente, este foi um mártir,
talvez da própria congregação de Pérgamo.

Apesar da perseverança dos cristãos de Pérgamo, entretanto, havia problemas graves


ameaçando o bem estar da congregação. Eles mostraram-se tolerantes em relação à falsa
doutrinas:

A doutrina de Balaão (Nm 22:25 e 31:16):

Na igreja em Pérgamo., algumas pessoas agiam como Balaão, incentivando o povo a ser
tolerante de outras religiões, até participando da idolatria e prostituição. Sua doutrina foram
como as ideias atuais de pluralismo e aceitação religiosa de sincretismo, banalizando a fé em
Deus e Cristo.

A doutrina dos nicolaítas:

Esta doutrina não é identificada, mas o texto afirma que Jesus odiava obra deles.
Infelizmente, a igreja de Pérgamo tolerava esses falsos mestres.

Deus condena a tolerância de falsas doutrinas. Às vezes, os homens valorizam tanto a


unidade entre ao ponto de tolerar maldades dentro da igreja. Persistir nesse erro trará castigo,
porque Deus não busca números, mas qualidade. A pureza da palavra é mais importante que
a paz entre os homens:

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A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia
e de bons frutos, imparcial, sem fingimento.
Tiago 3:17

O arrependimento exigido no versículo 16 é o de uma igreja que tolerava os falsos mestres.


Os professores das doutrinas de Balaão e dos nicolaítas deveriam se arrepender, ou seriam
rejeitados. As bênçãos são condicionais:

Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina
que aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio
ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos.
Romanos 16:17-18

Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, pois sabes que tal pessoa está pervertida,
e vive pecando, e por si mesma está condenada
Tito 3:10-11

Como em todas as cartas, Jesus chama os ouvintes a darem atenção à palavra. Além disso,
há aqui a promessa de uma bênção em duas partes:

1 - O maná escondido: aqueles que recusassem qualquer participação na mesa dos


demônios seriam sustentados pelo maná de Deus: Cristo.

2 - A pedrinha branca com novo nome: esta pedrinha branca sugeria uma nova direção na
vida, a exemplo de Abrão, Sarai e Jacó (Isaías 62:2-4) Também pode indicar inocência de
pessoas acusadas de crimes, um item dado a escravos libertados. ou um ingresso para algum
evento, a saber, Apocalipse 19:6-9.

A carta à igreja em Tiatira

Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Estas coisas diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e
os pés semelhantes ao bronze polido: Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua
perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as primeiras. Tenho, porém, contra ti o tolerares
que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus
servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos. Dei-lhe tempo para que se
arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se da sua prostituição. Eis que a prostro de cama, bem como em
grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita. Matarei os seus
filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um
segundo as vossas obras. Digo, todavia, a vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina

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e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós;
tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha. Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu
lhe darei autoridade sobre as nações, e com cetro de ferro as regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem
objetos de barro; assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã. Quem tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
Apocalipse 2:18-29

Não temos muitas informações acerca da igreja em Tiatira. O que sabemos dessa igreja vem
das referências que estão postadas no livro do Apocalipse. Como as outras cidades da época,
Tiatira teve seus templos e santuários religiosos a deuses pagãos. A importância das figuras
femininas na cultura religiosa de Tiatira pode ter facilitado o trabalho de Jezabel, a
autodeclarada profetiza que seduzia os discípulos e incentivava-os às práticas de idolatria e
prostituição.

Os olhos como chama de fogo significam a capacidade de penetração do juízo divino:


ninguém consegue fugir de seu olhar que percorre toda a Terra. Seus pés são semelhantes
ao bronze polido e refinado, e têm força para castigar e esmagar todos os seus inimigos.

Ele afirma que conhece as obras da igreja de Tiatira. Essa é uma congregação ativa, que,
em vez de esfriar, tornou-se cada vez mais atuante no serviço de Deus: a fé que agrada a
Deus é acompanhada de obras (Tg 2:14-17; 1Co 15:58; Ef 2:10).

O princípio fundamental da igreja de Tiatira é o amor, o imprescindível fruto do Espírito que


deve ser gerado nos verdadeiros cristãos. O princípio fundamentador da vida cristã é o amor.

Junto com as sua obras, os discípulos mostraram também a sua fé, pois há crentes e
incrédulos, e não pode haver comunhão entre os dois, da mesmo forma que não há
comunhão entre trevas e luz, entre Cristo e Belial.

Mas isso não impede-nos de persuadimos essas pessoas a Cristo Jesus. O mundo jaz do
maligno, e à igreja cabe o papel de lançar o salva vidas de Deus aos náufragos que vivem à
margem do Evangelho.

Há ainda outro elogio à igreja a Tiatira: uma alusão à sua perseverança. O bom solo produz
frutos com perseverança, e esta virtude é frequentemente considerada característica
fundamental do comportamento piedoso verdadeiro, principalmente em tempos de
perseguição (Lc 8:15; Col 1:11; 2Tim 3:10; 2 Pe 1:6; Rm 5:3-4; Tg 1:3,4,12).

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Deus também traz uma palavra de aviso contra a igreja (2:20-23). É interessante notar que o
verbo empregado está no futuro, indicando que a punição segue o pecado, mas que ainda
há espaço para frutos dignos de arrependimento. Caso os pecadores não se arrependam de
suas obras, entretanto, Deus tomará as providências cabíveis.

O principal problema de Tiatira foi a atitude de tolerância em relação à falsa profetisa,


uma figura repleta de maldade, luxúria e práticas idólatras. O bom seguidor de Cristo
deve buscar viver neste mundo sem habitar na lama do pecado (At 15:20-29; 1Co 10:19-
22).

A carta à igreja em Sardes

Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Estas coisas diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas:
Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto que estava
para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus. Lembra-te, pois, do que
tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás
de modo algum em que hora virei contra ti. Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não
contaminaram as suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são dignas. O vencedor será assim
vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário,
confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz
às igrejas.
Apocalipse 3:1-6

Quando Cristo enviou essa carta ao anjo da igreja em Sardes, contrariou a impressão popular
dos discípulos ao demonstrar as falhas que haviam deixado a congregação em estado
moribundo.

Cristo não apenas vê nossos erros, como também controla todas as situações. Ele segura os
mensageiros das igrejas na mão direita, e cada pastor é responsável pelo seu rebanho,
havendo de prestar contas a Deus, que julga a todos segundo Sua sabedoria.

Cristo conhece as obras de Sardes, e sabe que aquela igreja é morta, diferindo entre sua
reputação e seu caráter. Ele não fala de perseguição romana, conflitos ou em falsos mestres,
mas sim de uma congregação aparentemente em paz mas que foi tomada por um sentimento
de indiferença e apatia.

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No passado, a negligência da cidade de Sardes fez com que ela caísse nas mãos de seus
inimigos. Agora, a falta de vigilância da congregação de Sardes tornaram-na espiritualmente
morta. Os cristãos devem sempre estar vigilantes contra o pecado (Mt 26:41, 24:42-43; 1Pe
5:8; At 20:29-3;1; Lc 12:29-39; 1Co 16:13; 1Ts 5:6; Ef 6:18; Cl 4:2).

O problema de Sardes não foi a ausência total de obras, mas a falta de integridade nas
mesmas. É possível fazer coisas certas com motivos errados, e Deus vê as obras e os
corações dos homens ((Jd 1:22,23; 2Cr 25:2).

Assim como a cidade de Sardes olhava para seu passado glorioso, a igreja também deveria
relembrar e aprender a valorizar melhor sua comunhão com Deus. Esquecer-se da Palavra
de Deus e da salvação do pecado é, em si mesmo, cair no pecado.

Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem
infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois aquele a quem estas coisas não estão
presentes é cego, vendo só o que está perto, esquecido da purificação dos seus pecados de outrora.
2 Pedro 1:8,9

Para nos firmarmos na fé, devemos nos lembrar do que temos recebido. Não é por acaso que
a ceia do Senhor foi dada como celebração central das reuniões dos cristãos: quando
recordamos da morte de Jesus e Seu sacrifício, firmamo-nos ainda mais em nosso caminho
rumo ao Céu.

O Senhor também demonstra Sua misericórdia ao preservar remanescentes fiéis no meio de


uma igreja moribunda, lembrando-nos que o julgamento não ocorrerá de forma coletiva, mas
individual (Ap 2:23, 22:12; 2 Co 5:10).

A salvação é um dom projetado por Deus sobre seus fiéis para dar-lhes vida eterna. Essa
bênção se dá puramente por meio da Graça, sem que haja o envolvimento de nenhum mérito
humano, pois nossas maiores obras de justiça são como trapos de imundície (Isaías 64:6).
Jamais seremos justificados pelas obras da lei, mas pela pregação e justificação da fé.

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;
Efésios 2:8

A carta conclui com a promessa de vestiduras brancas aos vencedores (Apocalipse 7:9), que
terão seu nome confessado diante do Pai pelo próprio Filho: eis aí nossa maior esperança
(Mt 10:32-33; Mc 8:38).

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A carta à igreja em Filadélfia

Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Estas coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi,
que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá: Conheço as tuas obras – eis que tenho posto diante
de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar – que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra
e não negaste o meu nome. Eis farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos
se declaram judeus e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te
amei. Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há
de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra. Venho sem demora. Conserva o
que tens, para que ninguém tome a tua coroa. Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais
sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que
desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às
igrejas.
Apocalipse 3:7-13

Entre as sete cartas às igrejas no Apocalipse, encontramos duas que não contém nenhuma
crítica: a de Esmirna, uma congregação pobre sob grande perseguição, e de Filadélfia, uma
igreja fraca e limitada, mas que confiava em Deus, e nEle tinha sua força.

As únicas referências bíblicas à igreja de Filadélfia encontram-se em Apocalipse 1:11 e 3:7.


Fundada or Átalo, rei de Pérgamo, em cerca de 140 a.C., A cidade de Filadélfia gozava de
uma localização estratégica de acesso entre os países antigos da Frígia, Líbia e da Mísia.

Nesta carta, Jesus não empregou as descrições usadas no capítulo 1 para se identificar,
antes fazendo-o como “o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi”,
características que apontam para a divindade de Cristo (Ap 6:10, 4:8; Is 6:3, 40:25).

A palavra “verdadeiro” é usada frequentemente no Novo Testamento, especialmente nos


escritos do apóstolo João, fazendo referência a Deus, Pai e Filho (Jo 3:33, 7:28, 8:26, 17:3;
1Jo 5:20; Ap 3:7, 6:10, 9:11; Rm 4:1; 1Ts 1:9). Esse termo enfatiza a sinceridade de Jesus
em contraste com a falsidade dos judeus em Filadélfia.

Todo poder está nas mãos de Cristo. A linguagem empregada nesta carta vem de Isaías
22:20-24, onde a autoridade sobre Jerusalém é transferida a Eliaquim. A chave representa a
autoridade e poder de Jesus com descendente real de Dav.

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Jesus conhece em primeira mão as obras dos cristãos de Filadélfia. Antes de falar sobre as
obras deles, Ele oferece encorajamento a esses discípulos, assegurando Sua fidelidade
sobre Seus discípulos.

Portas abertas representam acesso e oportunidades. Deus abre as portas da fé quando Ele
nos oferece o Seu evangelho. O homem agora tem acesso à comunhão com Deus. Ele abre
portas para Seus servos divulgarem Sua palavra, e facilita meios para que possam rumar
seguros:

Ali chegados, reunida a igreja, relataram quantas coisas fizera Deus com eles e como abrira aos gentios a porta
da fé.
Atos 14:27

porque uma porta grande e oportuna para o trabalho se me abriu; e há muitos adversários.
1 Coríntios 16:9

Ora, quando cheguei a Trôade para pregar o evangelho de Cristo, e uma porta se me abriu no Senhor
2 Coríntios 2:12

Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério
de Cristo, pelo qual também estou algemado;
Colossenses 4:3

Esta carta também nos mostra que a fraqueza não é sinônimo pecado. A Bíblia diz que o
poder de Deus em nós se aperfeiçoa em nossas fraquezas, para que a glória seja dEle, não
do homem. Jesus não condena essa igreja por nenhum erro, apesar de sua pouca força.

Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois,
mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas
fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando
sou fraco, então, é que sou forte.
2 Coríntios 12:9-10

Ele respondeu: Não temas, porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles. Orou Eliseu e
disse: SENHOR, peço-te que lhe abras os olhos para que veja. O SENHOR abriu os olhos do moço, e ele viu que
o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu.
2 Reis 6:16-17

Apesar de suas limitações, a igreja em Filadélfia se mantinha fiel na Palavra. Jesus Cristo
veio ao mundo e revelou Sua palavra que nos julgará no último dia (João 12:48-50). Mesmo

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pobres e fracos, esses cristãos serviram brilhantemente a Cristo, o vencedor, que subjugaria
seus inimigos (Is 60:14). Os servos fiéis do Senhor poderão reinar com Cristo (Ap 20:4) e
exercer autoridade sobre as nações (Ap 2.26-27). Essa honra cedida aos discípulos serviria
de prova do amor de Cristo para seus seguidores.

Sabemos por meio de Atos que as primeiras perseguições à igreja foram feitas por judeus.
Tanto em Jerusalém como na Ásia, alguns judeus tentaram destruir a fé dos cristãos, e a
igreja em Filadélfia sofreu muito por causa desses falsos judeus, chamados de Sinagoga de
Satanás.

Porque guardaram a Palavra, os discípulos em Filadélfia seguiam guardados num período de


provação que afligiria o mundo inteiro. Esta pode ser uma referência a uma perseguição
iniciada no reinado de Domiciano, e que causou terrível sofrimento e morte de centenas de
milhares de pessoas. Independentemente da natureza específica da provação, Jesus
prometeu proteger os fiéis de Filadélfia.

Venho sem demora, diz o Senhor. Jesus viria para julgar os malfeitores e proteger os fiéis.
Este seria um dia de alívio para os servos que sofriam em nome dEle e de castigo terrível
para os perseguidores que não se submetiam ao Senhor.

Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror
eterno.
Daniel 12:2

O cuidado de Cristo para com sua igreja é extraordinário. Aos vencedores, Deus promete
fazê-los coluna no santuário. No passado, as colunas da cidade Filadélfia racharam-se e
caíram num terremoto, mas as colunas do verdadeiro templo de Deus jamais serão
destruídas. Essas colunas não são de pedra, pois são colunas vivas e firmes.

e, quando conheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e João, que eram reputados colunas, me
estenderam, a mim e a Barnabé, a destra de comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios, e eles, para
a circuncisão;
Gálatas 2:9

Os vencedores permanecerão no templo para sempre, gozando de comunhão Eterna com


Deus. Os nomes gravados apontam para um possuidor: Deus. O vencedor pertence a Deus,
e faz parte do povo dEle.

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Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;
1 Pedro 2:9.

A carta à igreja em Laodicéia

Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da
criação de Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim,
porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e
abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.
Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te
vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que
vejas. Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato; se
alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo. Ao vencedor, dar-
lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono. Quem
tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
Apocalipse 3:14-22

A igreja em Laodicéia é citada em Ap 1:11 e Cl 4:13-16. Esta cidade situava-se no local do


cruzamento entre as principais estradas da Ásia menor. Antigamente, a água da cidade era
proveniente de aquedutos, e, ao chegar à cidade era morna e de qualidade inferior. Jesus
compara a igreja da cidade a esta água, afirmando vomitá-la de Sua boca.

Jesus identifica-se como o Amém, uma expressão que vem do hebraico e indica certeza ou
verdade. Jesus é a Palavra final de autoridade, pois Ele é o princípio da criação de Deus e a
testemunha fiel e verdadeira do Pai (Pv 8:22-36).

A expressão “o princípio da criação de Deus” admite duas interpretações: um sentido passivo,


a primeira criatura de Deus, ou ativo, a fonte da criação. A resposta vem de outras passagens:
Jesus é o Verbo encarnado que habitou entre nós (Jo 1:1; Ap 1:18), Ele é o primeiro e o último
(Ap 1:17), o Deus conosco (Mt 1:23), o Soberano Deus que se fez carne (Jo 1:14), o Eu Sou
(Jo 8:24,58; Ex 3:14) e Senhor dos senhores e ao Rei dos reis (Ap 17:14).

Jesus não foi criado. Ele não veio a existir porque Ele é o Deus Eterno, e todo aquele que
não aceita este fato morrerá em seu pecado (João 8:24). Cristo já existia juntamente com o
Pai, e assim é o princípio de todas as coisas.

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Jesus expressa o seu conhecimento íntimo e latente da igreja em Laodicéia. Ele anda no
meio dos candeeiros, e observa os corações das igrejas, principalmente a de Laodicéia. Ele
faz uma crítica tremenda a esta congregação, afirmando que a temperatura morna da igreja
era inútil, servindo apenas para ser vomitada.

Cristo não encontra nela virtudes que possam ser admiradas. Laodicéia estava contente em
seu estado e autossuficiência. Apesar disso, as afirmações da própria igreja não refletem seu
verdadeiro estado. Jesus conhece a verdade, pois Ele pode tanto ver as obras quanto sondar
os corações dos homens.

Esta igreja necessitava da humildade dos publicanos e pecadores para ser conforme registro
de Lucas:

Respondeu-lhes Jesus: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Não vim chamar justos, e sim
pecadores, ao arrependimento.
Lucas 5:31,32

Apesar de encontrar-se numa cidade que produzia roupas de lã, a igreja andava moralmente
e espiritualmente nua, sem as vestimentas de Justiça oferecida pelo Senhor (Co 5:03; Cl 3:9-
10).

Jesus não apresenta elogio algum à igreja em Laodicéia, mas oferece a seus membros
conselhos para guiá-los de volta ao caminho da comunhão íntima com Ele. Cristo sugeriu três
coisas: “Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres,
vestiduras brancas para te vestires (At 13:4; Ap 19:8), e colírio para ungires os olhos, a fim
de que vejas. (Mt 15:14)”

Cristo disciplina a quantos ama, de forma que a correção que vem de Deus é uma
manifestação do Seu amor por nós (Hb 12:4-11). Os bastardos não aceitam a correção,
apenas o fazem os filhos verdadeiros, sendo conduzidos ao arrependimento e à plena
comunhão com Ele.

Na sequência, Cristo afirma que está à porta e bate. Ele não invade a moradia, de forma que
aquele que ouve deve atender ao chamado. Uma vez aberta, Cristo entrará e banqueteará
conosco: uma ceia de comunhão com a glória de Deus (1Co 10:21; 2 Sm 19:28). Jesus
colocou uma porta aberta dentro da igreja em Filadélfia (Ap 3:7), porém a igreja de Laodicéia
colocou uma porta fechada diante de Cristo.

44
Os vencedores terão o privilégio de reinar com Cristo e receber dEle a excelente bem-
aventurança (Apocalipse 2:26-28). Jesus Cristo não citou nenhuma doutrina errada e nenhum
pecado de imoralidade na igreja de Laodicéia. A crítica era fundamentada no fato de que a
igreja que se achava rica e orgulhosa, acreditando ser autossuficiente e independente de
Deus.

45
A VISÃO DO TRONO
DE DEUS

Depois destas coisas, olhei, e eis não somente uma porta aberta no céu, como também a primeira voz que ouvi,
como de trombeta ao falar comigo, dizendo: Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas
coisas. Imediatamente, eu me achei em espírito, e eis armado no céu um trono, e, no trono, alguém sentado; e
esse que se acha assentado é semelhante, no aspecto, a pedra de jaspe e de sardônio, e, ao redor do trono, há
um arco-íris semelhante, no aspecto, a esmeralda. Ao redor do trono, há também vinte e quatro tronos, e
assentados neles, vinte e quatro anciãos vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro. Do trono
saem relâmpagos, vozes e trovões, e, diante do trono, ardem sete tochas de fogo, que são os sete Espíritos de
Deus. Há diante do trono um como que mar de vidro, semelhante ao cristal, e também, no meio do trono e à volta
do trono, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás. O primeiro ser vivente é semelhante a
leão, o segundo, semelhante a novilho, o terceiro tem o rosto como de homem, e o quarto ser vivente é semelhante
à águia quando está voando. E os quatro seres viventes, tendo cada um deles, respectivamente, seis asas, estão
cheios de olhos, ao redor e por dentro; não têm descanso, nem de dia nem de noite, proclamando: Santo, Santo,
Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir. Quando esses seres viventes
derem glória, honra e ações de graças ao que se encontra sentado no trono, ao que vive pelos séculos dos
séculos, os vinte e quatro anciãos prostrar-se-ão diante daquele que se encontra sentado no trono, adorarão o
que vive pelos séculos dos séculos e depositarão as suas coroas diante do trono, proclamando: Tu és digno,
Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da
tua vontade vieram a existir e foram criadas.
Apocalipse 4:1-11

Após terminar as cartas aos anjos das sete igrejas, João passa para uma nova parte da
Revelação. Nos capítulos 4 e 5, o texto mostra-nos a glória de Deus, apresentando primeiro
o Pai no Seu trono e depois o Filho glorificado ao lado dEle (Dn 7:9-14).

No primeiro versículo, o apóstolo vê uma porta aberta no céu. Aqui, a ênfase não está no
acesso ao céu em termos da salvação ou comunhão com Deus como em Jo 1:51 (At 7:55-
56, Ef 2:6, Fp 3:20). João viu o céu aberto porque Deus queria lhe mostrar as coisas que lá
aconteciam (Ez 1:1). Anteriormente, Jesus transmitiu mensagens às igrejas da Ásia. Agora,
João subirá ao céu para buscar outras mensagens para os servos do Senhor em toda a Terra.

João então ouve uma voz como de trombeta (Ap 1:10) que chama-o. Nos capítulos anteriores,
Cristo revelou o estado das igrejas, agora, Deus convida-o para subir e ver as coisas que
ainda irão acontecer, proporcionando uma transição entre o que os discípulo enfrentam para
o que eles virão a enfrentar.

46
O versículo 2 descreve que João achou-se em espírito (1:10) e recebeu a visão do trono e de
alguém sentado sobre ele. Essa afirmação desfaz a noção de que o universo era governado
a partir do trono romano ou das cadeiras de deuses diversos, conferindo todo o poder a Deus.

A descrição do rei vem logo em seguida. As comparações demonstram que João jamais seria
capaz de encontrar palavras adequadas para descrever perfeitamente aparência de Deus.
Há várias interpretações acerca destas pedras, porém, independentemente disso, suas cores
certamente apontam para a glória e o poder de Deus (Sl 89:14, 97:2-3; Is 60:1-2; Dn 7:9-10;
Ez 1:26-28, 10:1). O arco-íris remete à benevolência de Deus manifesta em sua aliança para
com as criaturas (Gn 9:12-13; Ez 1:28).

Ao redor do trono, João observa 24 tronos ocupados por 24 anciãos coroados (Ap 2:10; 3:11;
4:4,10; 6:22; 14;14), aqueles que reinam com Deus. Esta é uma descrição apologética da
igreja, isto é, dos vencedores vestidos de branco que recebem suas coroas (Ap 2:10,26-17,
3:4, 5:11).

O quinto versículo afirma que “ Do trono saem relâmpagos, vozes e trovões, e, diante do trono,
ardem sete tochas de fogo, que são os sete Espíritos de Deus.”. Essa imagem implica poder de
julgamento (Sl 18:13-14, 144:6; Ex 19:16-19). Essas manifestações do Poder de Deus são
características da última fase da série dos Sete Selos (Ap 8:5), das Sete Trombetas (Ap
11:19) e das Sete Taças (Ap 16:18). Semelhantemente, as sete tochas, que são os sete
Espíritos de Deus (Ap 1:4), demonstram a onisciência, onipotência e onipresença de Deus.

O mar de vidro revela um Deus inacessível e imortal (1Tm 6:16). Deus é santo, isto é,
separado do resto de suas criaturas. No Velho Testamento, o sacerdote deveria lavar-se
antes de chegar perto de Deus com sacrifício (2Cr 4:1-6), denotando a importância da
santificação e culminando no capítulo 21:

Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.
Apocalipse 21:1

Nos versículos 7 e 8 temos uma descrição mais aprofundadas dos seres viventes (Ez 1:1-
28). O fato de estarem cheio de olhos novamente enfatiza a capacidade de ver: nada escapa
do conhecimento do Deus soberano.

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48
DIGNO É O CORDEIRO

Vi, na mão direita daquele que estava sentado no trono, um livro escrito por dentro e por fora, de todo selado com
sete selos. Vi, também, um anjo forte, que proclamava em grande voz: Quem é digno de abrir o livro e de lhe
desatar os selos? Ora, nem no céu, nem sobre a terra, nem debaixo da terra, ninguém podia abrir o livro, nem
mesmo olhar para ele; e eu chorava muito, porque ninguém foi achado digno de abrir o livro, nem mesmo de olhar
para ele. Todavia, um dos anciãos me disse: Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu
para abrir o livro e os seus sete selos. Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos,
de pé, um Cordeiro como tendo sido morto. Ele tinha sete chifres, bem como sete olhos, que são os sete Espíritos
de Deus enviados por toda a terra. Veio, pois, e tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono;
e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro,
tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, e entoavam
novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue
compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste
reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra. Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres
viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares, proclamando em grande
voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e
louvor. Então, ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que
neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e
o domínio pelos séculos dos séculos. E os quatro seres viventes respondiam: Amém! Também os anciãos
prostraram-se e adoraram.
Apocalipse 5:1-14

Quem é digno de abrir o livro? Não há homem nem anjo que possa chegar à presença de
Deus para receber o livro. O problema apresentado encontra solução em Jesus, o Leão de
Judá e Cordeiro de Deus (Dn 7:9-14).

A mão direita sugere uma posição de grande importância, pois representava a bênção do
primogênito (Gn 48:13-18), a posição de honra na presença do rei (1Rs 2:19), a força vitoriosa
(Jó 40:14) e o poder, sabedoria e autoridade de Deus (Is 63:11-14; Pv 3:16; Jr 22:24; Mt 27:9;
Ap 1:16). O livro escrito por dentro e por fora e selado os sete selos representa a vontade de
Deus para ser executada por seus servos (Sl 40:7-8; Jr 36:6; Ez 2:8-10, 3:2).

O versículo 2 relata “um anjo forte, que proclamava em grande voz: Quem é digno de abrir o
livro e de lhe desatar os selos?”. Por três vezes no Apocalipse o anjo forte aparece como
servo de Deus. Aqui, seu papel é deixar clara a vontade de Deus ao buscar quem é digno de
abrir o livro. Porém “nem no céu, nem sobre a terra, nem debaixo da terra, ninguém podia abrir
o livro, nem mesmo olhar para ele;”.

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João, então, lamenta, pois ninguém foi achado digno. Porém um dos anciãos dirige-se a João,
consolando-o com a verdadeira esperança que procede de Jesus Cristo, o Cordeiro e o Leão,
e a resposta para o problema de dignidade imposto pelo livro. Jesus Cristo venceu para abrir
o livro e desatar os seus sete selos. O fato de Jesus ter sido o único da carne que venceu o
inimigo com Sua própria justiça o torna exclusivamente qualificado para a função.

Quando João vira-se para ver o leão, e depara-se com um “Cordeiro como tendo sido morto”
(João 1:29). Cordeiros foram amplamente usados em alianças e sacrifícios a Deus desde a
época dos patriarcas (Gn 15:9-10). O significado mais importante no Velho Testamento vem
do cordeiro pascal (Ex 12:1-28), enquanto que, no Novo Testamento, Jesus se torna o novo
Cordeiro (1Co 5:7; 1Pe 1:19; At 8:32; Is 53:7).

O apóstolo descreve-O como tendo “sete chifres, bem como sete olhos, que são os sete
Espíritos de Deus enviados por toda a terra”, um sinal de que todo o poder Lhe foi dado:

Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do
século.
Mateus 28:18-20

e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro,
tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos, e entoavam
novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue
compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação
Apocalipse 5:8-9

Quando o Cordeiro toma o livro, todas as figuras prostram-se diante dEle, mostrando que Ele
é digno de receber a adoração reservada exclusivamente a Deus (Mt 4:10, 15:25, 28:17; Jo
9:38; Hb 1:6). Há no texto um forte elemento simbólico do culto no Antigo Testamento (Sl 4:3-
5, 8:1, 141:2; 1Rs 7:48-50; Hb 9:3-4).

Na sequência, os versículos 9 e 10 descrevem um novo cântico (Sl 33:3, 40:3, 144:9-10)


entoado em ocasião da abertura dos selos. Quando uma mensagem era enviada por um rei,
deveria chegar a seu destinatário sem ser aberta. Desta forma, Deus está entregando o livro
nas mãos do único digno de abri-lo.

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51
O CORDEIRO ABRE
OS PRIMEIROS SELOS

Vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos e ouvi um dos quatro seres viventes dizendo, como se fosse voz de
trovão: Vem! Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele
saiu vencendo e para vencer. Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizendo: Vem! E saiu
outro cavalo, vermelho; e ao seu cavaleiro, foi-lhe dado tirar a paz da terra para que os homens se matassem uns
aos outros; também lhe foi dada uma grande espada. Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente
dizendo: Vem! Então, vi, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com uma balança na mão. E ouvi uma como que
voz no meio dos quatro seres viventes dizendo: Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por
um denário; e não danifiques o azeite e o vinho. Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser
vivente dizendo: Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno
o estava seguindo, e foi-lhes dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome, com
a mortandade e por meio das feras da terra. Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles
que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram
em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso
sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram
que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus
irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram. Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio
grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue, as estrelas do céu caíram
pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes, e o céu recolheu-se
como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar. Os reis da
terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas
e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face
daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que
pode suster-se?
Apocalipse 6:1-17

No capítulo 6, a atenção de João volta-se finalmente ao Cordeiro, que começa a abrir os


selos. No versículo 2, há a introdução do primeiro cavaleiro. Na Bíblia, cavalos são ligados a
figuras de importância (Ec 10:7; Ezl 23:6; Sl 33:17; Pv 21:31; Is 43:17) ou a contextos de
guerra e visões (Jr 8:6; Ex 15:1,21; Ez 38:14-15; Zc 1:7-11).

A cor branca normalmente é representante de santidade. Aqui nós temos a figura de um


cavaleiro branco armado com arco: um guerreiro real. Em Apocalipse 19:11, o cavaleiro
branco é Jesus em sua cena de vitória. Percebe-se, entretanto, o trecho do capítulo 6 faz
parte integral da mensagem do livro: o arco é geralmente uma arma de guerra (1Cr 5:18; 2Cr
14:8, 17:17; Jó 20:24; Sl 78:19, 7:12, 21:12; Is 41:2; Zc 10:03).

52
Na sequência, o texto de que foi lhe dado uma coroa. A mesma palavra foi empregada em
outros trechos: 2:10, 3:11, 4:10. Ele “saiu vencendo e para vencer”, confirmando sentido no
cavaleiro armado e coroado. Ele se apresenta como vencedor executando a vontade de
Deus, de forma que qualquer coisa que se siga da abertura dos próximos selos deve ser
entendida como algum aspecto de vitória divina.

Na abertura do segundo selo, vem à tona o cavalo vermelho e seu cavaleiro. Esta cor
usualmente carrega a conotação de sangue e guerra, um instrumento recorrente no juízo
divino (Êx 15:3; Jr 28:8; Js 11:20).

Na visão de Zacarias, o relatório de paz na terra trazido pelos cavaleiros não foi uma boa
notícias para os servos de Deus, pois aguardavam o cumprimento da profecia de Ageu (Ag
2:17). No Apocalipse, temos uma situação diferente, porém paralela. A Terra em paz
significaria ausência de castigo, de forma que este cavaleiro recebe uma grande espada.

O terceiro selo apresenta o cavalo preto e seu cavaleiro, que porta uma balança em sua mão
(Ez 4:10-16). Preto é a cor da angústia e do desespero, e indica o sofrimento no qual a
humanidade entrará no período da Grande Tribulação (Jr 4:28; Is 50:2). A voz que segue o
versículo anuncia preços altíssimos para itens essenciais, anunciando fome e crise.

Quando o cordeiro abriu o quarto selo, surge o último cavalo e seu cavaleiro: o de cor amarela
que simboliza a morte (Ez 14:21).

E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e
foi-lhes dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome, com a mortandade e por
meio das feras da terra.
Apocalipse 6:8

Com a abertura abertura do quinto selo, João vê “, debaixo do altar, as almas daqueles que
tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam.”.
O contexto do termo empregado sugere uma referência ao altar de sacrifício um paralelismo
com o martírio desses homens (Lv 4:30; Gn 4:10; Is 26:21; Nm 35:33).

O versículo 10 relata que “Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano
Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre
a terra?” (Sl 13:1-2, 35:17, 74:10, 90:13, 94:3; Hc 1:2, ).

53
Assim como fizeram Davi, Asafe e Habacuque, também o fazem os mártires. O tom da
pergunta é, evidentemente, um de extrema reverência. Não há uma discussão, mas sim um
apelo ao Deus soberano. A vingança do Senhor não é uma atitude fútil e egoísta, mas sim a
reflexão de Sua santidade (Dt 32:43).

No versículo 11, “ a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que
repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus
conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram.”. As vestiduras
brancas são a recompensa prometida aos vencedores (Ap 3:5). Deus está no controle de
todas as coisas, e fará tudo em seu tempo correto (Ap 14:20, 16:4-7).

Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos
decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não
adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e
reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil
anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição;
sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão
com ele os mil anos.
Apocalipse 20:4-6

54
OS SERVOS QUE
PERTENCEM A DEUS

Depois disto, vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, conservando seguros os quatro ventos da terra,
para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem sobre árvore alguma. Vi outro anjo que
subia do nascente do sol, tendo o selo do Deus vivo, e clamou em grande voz aos quatro anjos, aqueles aos quais
fora dado fazer dano à terra e ao mar, dizendo: Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até
selarmos na fronte os servos do nosso Deus. Então, ouvi o número dos que foram selados, que era cento e
quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel: da tribo de Judá foram selados doze mil; da tribo de
Rúben, doze mil; da tribo de Gade, doze mil; da tribo de Aser, doze mil; da tribo de Naftali, doze mil; da tribo de
Manassés, doze mil; da tribo de Simeão, doze mil; da tribo de Levi, doze mil; da tribo de Issacar, doze mil; da tribo
de Zebulom, doze mil; da tribo de José, doze mil; da tribo de Benjamim foram selados doze mil. Depois destas
coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em
pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em
grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação. Todos os
anjos estavam de pé rodeando o trono, os anciãos e os quatro seres viventes, e ante o trono se prostraram sobre
o seu rosto, e adoraram a Deus, dizendo: Amém! O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a
honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém! Um dos anciãos tomou a
palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu
Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e
as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de
noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão
fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no
meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda
lágrima.
Apocalipse 7:1-17

Os primeiros seis selos já passaram, e o sexto mostrou o desespero total dos castigados. A
pergunta final do capítulo 6 salienta ainda mais a circunstância difícil dos habitantes da Terra,
“porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?” (Ap 6:17).

Se o sexto selo revelou coisas tão terríveis, ainda mais o sétimo o faria. A grande pergunta
respondida no capítulo 7 é “Quem pode sobreviver à ira do Deus todo-poderoso?”. O Senhor
a responde enquanto consola Seus fiéis, os quais Ele não esquece (Ap 7:1-8). Aqui cabe uma
observação: qualquer interpretação que procure nesses versículos o número fixo de pessoas
no céu desrespeita a linguagem óbvia do texto: além das referências à terra, ao mar, às
árvores, etc... O número 4 sugere um tema relacionado à Terra.

O texto evidencia que os quatro anjos têm poder para danificar a Terra, mas que ainda não
receberam a ordem para fazê-lo. Os quatro cantos e quatro ventos representam os quatro

55
pontos cardeais: Norte, Sul, Leste e Oeste (1Cr 9:24; Is 11:12; Jr 49:36; Ez 7:2; Zc 20:16; Mt
24:31). Na Bíblia, o soprar do vento pode trazer conotação de castigo ou alívio (Ex 10:13-19,
14:21, 15:10, Salmo 11:6, 78:26; Is 29:6). Independente de sua natureza, o vento é algo que
demonstra o pleno poder de Deus (Nm 11:31; Sl 107:24-25, 135:5-7).

“Vi outro anjo que subia do nascente do sol, tendo o selo do Deus vivo, e clamou em grande voz
aos quatro anjos, aqueles aos quais fora dado fazer dano à terra e ao mar,”
Apocalipse 7:2

A nascente do sol representa a habitação de Deus (Nm 3:38, 2:3, Ez 8:16, 10:19, 11:1, 11:23,
43:2-4). Este anjo vem de Deus do ponto de vista do santuário, o povo de Deus (1Co 3:16-
17; 1Tm 3:15). O Anjo traz o alívio:

“Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas; saireis
e saltareis como bezerros soltos da estrebaria.”
Malaquias 4:2

O selo carregado pelo anjo demonstra que este veio da parte de Deus, pois este era um
símbolo de identificação (Gn 38:18,25; Gn 41:42; Ester 3:10, 8:2; Ct 8:6). No Novo
Testamento, os discípulos fiéis têm o selo de Deus (2Co 1:21-23; Ef 1:13-14, 4:30; 2Tm 2:19).

O anjo mensageiro traz uma ordem quatro anjos, confirmando o propósito dos ventos que
estes seguravam. O que detinha o castigo era a determinação divina, pois Deus havia
decidido identificar os seus eleitos (Ez 9:1-8). O contraste entre a marca de Deus e a marca
da besta se dá no fato de que esta leva ao Lago de Fogo, enquanto aquela assinala o povo
escolhido por Deus.

“Então, ouvi o número dos que foram selados, que era cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos
de Israel:”
Apocalipse 7:4

Tentar interpretar literalmente esse trecho situado num livro repleto de simbolismos seria uma
abordagem incorreta. Aqui, os 144 mil representam o povo de Deus: 12 é o conhecido número
do povo do Senhor. Além disso, o autor refere-se a Israel a partir dos comentários de Jesus
em João 8:39.

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Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu
é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor
não procede dos homens, mas de Deus.
Romanos 2:28-29

A visão de Ap 7:1-8 que fala dos fiéis na Terra, de forma que o texto só retorna ao trono a
partir de Ap 7:9. A única maneira coerente de interpretá-la em seu contexto é considerar os
144.000 como servos de Deus selados na Terra antes de começar os grandes castigos dos
Quatro Ventos.

Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos
e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos;
Apocalipse 7:9

Algumas interpretações tratam a grande multidão como um grupo distinto dos 144.000. Isso
parece mais coerente, pois a narrativa transloca-se dos fiéis na Terra para os fiéis no céu. A
diversidade da multidão não consiste de anjos ou outros seres celestiais, mas pessoas
abençoadas por meio dos descendentes de Abraão (Gn 12:13; Gl 3:28-29; Ap 7:14, 3:4-5,
6:11).Os ramos de palmeira identificam para nós o pano de fundo da cena (Lv 12:33-43; Jo
7:37-39; 12:13). O louvor é direcionada ao Pai que se assenta no trono e ao Cordeiro que se
mostrou digno de abrir o livro.

Todos os anjos estavam de pé rodeando o trono, os anciãos e os quatro seres viventes, e ante o trono se
prostraram sobre o seu rosto, e adoraram a Deus, dizendo: Amém! O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações
de graças, e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!
Apocalipse 7:11-12

As multidões dizem amém e oferecem todo o louvor e toda a glória para Deus. Ele é perfeito
e merecedor de todas as honrarias (Ap 5:12). O texto ainda revela-nos que um dos anciãos
toma a palavra e questiona João acerca da identidade dos que “se vestem de vestiduras
brancas”:

Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram
suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o
servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu
tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o
Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus
lhes enxugará dos olhos toda lágrima.
Apocalipse 7:14-17

57
Certamente o apóstolo João já poderia ter uma noção acerca dessa resposta, pois certamente
se lembrava das almas debaixo do altar na ocasião do quinto selo (Ap 6:9-11), porém opta
por perguntar ao ancião para que todas as suas dúvidas possam ser sanadas.

O termo “vêm” indica que ainda havia pessoas que chegavam ao céu, vítimas da Grande
Tribulação. Aqui percebemos que os selados não seriam protegidos do sofrimento na Terra,
pois enfrentariam horríveis perseguições, porém seriam protegidos da segunda morte (Ap
2:11).

Novamente somos obrigados a respeitar os limites de tempo que estudamos nas primeiras
lições: interpretações que afirmam que esta grande tribulação começará em algum momento
futuro distorcem o sentido do trecho.

58
AS PRIMEIRAS
QUATRO TROMBETAS

Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu cerca de meia hora. Então, vi os sete anjos que se
acham em pé diante de Deus, e lhes foram dadas sete trombetas. Veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar, com
um incensário de ouro, e foi-lhe dado muito incenso para oferecê-lo com as orações de todos os santos sobre o
altar de ouro que se acha diante do trono; e da mão do anjo subiu à presença de Deus a fumaça do incenso, com
as orações dos santos. E o anjo tomou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à terra. E houve trovões,
vozes, relâmpagos e terremoto. Então, os sete anjos que tinham as sete trombetas prepararam-se para tocar. O
primeiro anjo tocou a trombeta, e houve saraiva e fogo de mistura com sangue, e foram atirados à terra. Foi, então,
queimada a terça parte da terra, e das árvores, e também toda erva verde. O segundo anjo tocou a trombeta, e
uma como que grande montanha ardendo em chamas foi atirada ao mar, cuja terça parte se tornou em sangue, e
morreu a terça parte da criação que tinha vida, existente no mar, e foi destruída a terça parte das embarcações.
O terceiro anjo tocou a trombeta, e caiu do céu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas uma
grande estrela, ardendo como tocha. O nome da estrela é Absinto; e a terça parte das águas se tornou em absinto,
e muitos dos homens morreram por causa dessas águas, porque se tornaram amargosas. O quarto anjo tocou a
trombeta, e foi ferida a terça parte do sol, da lua e das estrelas, para que a terça parte deles escurecesse e, na
sua terça parte, não brilhasse, tanto o dia como também a noite. Então, vi e ouvi uma águia que, voando pelo
meio do céu, dizia em grande voz: Ai! Ai! Ai dos que moram na terra, por causa das restantes vozes da trombeta
dos três anjos que ainda têm de tocar!
Apocalipse 8:1-13

O capítulo oito inicia-se na esperança da abertura do sétimo selo. Quando ele é rompido,
abre uma outra série de sete capítulos que relata os acontecimentos das quatro trombetas.
Para a abertura deste selo, não se ouve o clamor das almas dos mártires e não há nenhum
terremoto: por enquanto, apenas o silêncio.

Falou mais Moisés, juntamente com os sacerdotes levitas, a todo o Israel, dizendo: Guarda silêncio e ouve, ó
Israel! Hoje, vieste a ser povo do SENHOR, teu Deus. Portanto, obedecerás à voz do SENHOR, teu Deus, e lhe
cumprirás os mandamentos e os estatutos que hoje te ordeno.
Deuteronômio 27:9-10

O Senhor escolheu-nos como povo eleito, e portanto devemos obedecer às Suas ordens e
seguir Seus estatutos. Quando Habacuque questiona a justiça de Deus, a resposta que obtém
é esta:

O SENHOR, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.
Habacuque 2:20

59
No versículo 2, os sete anjos que estão em pé diante do trono do Senhor recebem sete
trombetas (Nm 10:10). Dando sequência a esse evento, outro anjo achega-se ao altar
portando um incensário de ouro que representa as orações dos santos. Aqui, o anjo imita a
função de um sacerdote (Lv 16:11-14, Nm 16:46).

“e da mão do anjo subiu à presença de Deus a fumaça do incenso, com as orações dos santos. E o anjo tomou o
incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à terra. E houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto.”
Apocalipse 8:4-5

Aqui podemos perceber que o incensário era uma figura que servia tanto para levar as
orações ao Senhor quanto trazer Sua resposta. Os santos clamavam por justiça, e o anjo
atira à Terra o incensário cheio do fogo do altar (Sl 50:3-7).

Cada uma das sete trombetas será tocada por um anjo do Senhor:

“O primeiro anjo tocou a trombeta, e houve saraiva e fogo de mistura com sangue, e foram atirados à terra. Foi,
então, queimada a terça parte da terra, e das árvores, e também toda erva verde.”
Apocalipse 8:7

Os eventos da primeira trombeta lembram os acontecimentos de Êxodo 9:24: De maneira


que havia chuva de pedras e fogo misturado com a chuva de pedras tão grave, qual nunca
houve em toda a terra do Egito, desde que veio a ser uma nação.

“O segundo anjo tocou a trombeta, e uma como que grande montanha ardendo em chamas foi atirada ao mar,
cuja terça parte se tornou em sangue, e morreu a terça parte da criação que tinha vida, existente no mar, e foi
destruída a terça parte das embarcações.”
Apocalipse 8:8-9

Aqui podemos observar as dimensões do poder de Deus e Seu juízo acionado sobre a Terra.
Frequentemente, as montanhas são representantes de reinos e autoridades (Is 2:2) e os
mares, como alvo dos juízos de Deus (Ez 27:3). Nesse sentido, a segundo trombeta pode
sugerir um castigo que atinge a economia em escala global (Sl 98:7; Is 23:11, 41:5; Ez 26:16-
18; Dn 7:2-3). O castigo seria uma derrota sobre todos aqueles que habitam na Terra, cuja
terça parte tornar-se-á em sangue. Aqui há novamente o uso da linguagem de Êxodo.

O terceiro anjo tocou a trombeta, e caiu do céu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas uma
grande estrela, ardendo como tocha. O nome da estrela é Absinto; e a terça parte das águas se tornou em
absinto, e muitos dos homens morreram por causa dessas águas, porque se tornaram amargosas.
Apocalipse 8:10-11

60
Uma vez que as estrelas são parte da criação, Deus faz uso delas em Suas batalhas a favor
dos fiéis (Jz 5:20). Como instrumento de castigo, as estrelas caíram dos céus sobre as fontes
das águas. As potências do céu serão abaladas e a poluição da terça parte dos rios e das
fontes das águas tornará a sobrevivência extremamente difícil (Lm 3:15-19; Jr 9:15).

O quarto anjo tocou a trombeta, e foi ferida a terça parte do sol, da lua e das estrelas, para que a terça parte deles
escurecesse e, na sua terça parte, não brilhasse, tanto o dia como também a noite. Então, vi e ouvi uma águia
que, voando pelo meio do céu, dizia em grande voz: Ai! Ai! Ai dos que moram na terra, por causa das restantes
vozes da trombeta dos três anjos que ainda têm de tocar!
Apocalipse 8:12-13

A linguagem da quarta trombeta é típica de profecias e visitações divinas, pois Deus controla
todos os corpos celestes, que são exército de Deus. Os sete selos foram divididos com uma
série de trombetas e juízos. Já se passaram quatro, e agora uma águia anuncia a vinda das
últimas pragas.

A tripla repetição do “Ai” sugere uma dor extrema, um prenúncio dos castigos que serão
severos e impenitentes sobre todos aqueles que não amaram a Deus e não constituíram a
Jesus Cristo como seu salvador.

61
OS TRÊS AIS

O quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma estrela caída do céu na terra. E foi-lhe dada a chave do poço do
abismo. Ela abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço como fumaça de grande fornalha, e, com a fumaceira
saída do poço, escureceu-se o sol e o ar. Também da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado
poder como o que têm os escorpiões da terra, e foi-lhes dito que não causassem dano à erva da terra, nem a
qualquer coisa verde, nem a árvore alguma e tão-somente aos homens que não têm o selo de Deus sobre a
fronte. Foi-lhes também dado, não que os matassem, e sim que os atormentassem durante cinco meses. E o seu
tormento era como tormento de escorpião quando fere alguém. Naqueles dias, os homens buscarão a morte e
não a acharão; também terão ardente desejo de morrer, mas a morte fugirá deles. O aspecto dos gafanhotos era
semelhante a cavalos preparados para a peleja; na sua cabeça havia como que coroas parecendo de ouro; e o
seu rosto era como rosto de homem; tinham também cabelos, como cabelos de mulher; os seus dentes, como
dentes de leão; tinham couraças, como couraças de ferro; o barulho que as suas asas faziam era como o barulho
de carros de muitos cavalos, quando correm à peleja; tinham ainda cauda, como escorpiões, e ferrão; na cauda
tinham poder para causar dano aos homens, por cinco meses; e tinham sobre eles, como seu rei, o anjo do
abismo, cujo nome em hebraico é Abadom, e em grego, Apoliom. O primeiro ai passou. Eis que, depois destas
coisas, vêm ainda dois ais. O sexto anjo tocou a trombeta, e ouvi uma voz procedente dos quatro ângulos do altar
de ouro que se encontra na presença de Deus, dizendo ao sexto anjo, o mesmo que tem a trombeta: Solta os
quatro anjos que se encontram atados junto ao grande rio Eufrates. Foram, então, soltos os quatro anjos que se
achavam preparados para a hora, o dia, o mês e o ano, para que matassem a terça parte dos homens. O número
dos exércitos da cavalaria era de vinte mil vezes dez milhares; eu ouvi o seu número. Assim, nesta visão,
contemplei que os cavalos e os seus cavaleiros tinham couraças cor de fogo, de jacinto e de enxofre. A cabeça
dos cavalos era como cabeça de leão, e de sua boca saía fogo, fumaça e enxofre. Por meio destes três flagelos,
a saber, pelo fogo, pela fumaça e pelo enxofre que saíam da sua boca, foi morta a terça parte dos homens; pois
a força dos cavalos estava na sua boca e na sua cauda, porquanto a sua cauda se parecia com serpentes, e tinha
cabeça, e com ela causavam dano. Os outros homens, aqueles que não foram mortos por esses flagelos, não se
arrependeram das obras das suas mãos, deixando de adorar os demônios e os ídolos de ouro, de prata, de cobre,
de pedra e de pau, que nem podem ver, nem ouvir, nem andar; nem ainda se arrependeram dos seus assassínios,
nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição, nem dos seus furtos.
Apocalipse 9:1-21

Os escorpiões descritos na quinta trombeta não são pestes devoradoras de colheitas, mas
sim criaturas que atacam os homens. Serpentes e escorpiões representam o poder do diabo
sobre os moradores da terra.

O texto deixa claro que essa punição mão será para a morte, mas sim para o tormento. Os
gafanhotos são direcionados a não atacarem as plantes, mas apenas os homens que não
possuem o selo de Deus (Apocalipse 7:3-8), de forma que os homens atingidos por essas
pragas são aqueles que vivem nas trevas, seguem ao diabo e servem a ele.

62
Essas pragas também demonstram que os 144 mil são servos de Deus na Terra, não no céu.
O tormento de cinco meses denota um período determinado e limitado por Deus para essa
situação, de forma que essa praga não é nem fatal, nem final.

Os opressores do povo de Deus sofreriam muita dor em decorrência desses eventos, mas
não morreriam. De fato, a intensidade do sofrimento é evidenciada pelo fato de que os
homens buscarão a morte, porém não conseguirão encontra-la (Jó 3:20-22; Jr 8:3).

A descrição da aparência dos gafanhotos lembra-nos dos textos de Joel (Jl 1:4-6, 2:4-10):
opressores terríveis que vem com uma força quase irresistível contra os homens. Na narrativa
bíblica, cavalos aparecem frequentemente como forma de poder, castigo e destruição (Jr
4:13; 6:23; 8:16; 47:3; 50:42; 51:27; Ez 26:11; Na 3:2; Hc 1:8).

Suas coroas parecidas com ouro sugerem uma falsa vitória, pois parecer não é ser! Os rostos
de homem implicam força, e os dentes de leão, poder de destruição. O cabelo de mulher
representa tanto a submissão a satanás (1 Cor 11:15) quanto a beleza: um aspecto
enganador. A couraça de ferro apresenta-os como guerreiros da parte do diabo, que lutarão
para tentar vencer. Porém a armadura de Deus é muito mais forte:

Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus,
para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim
contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais
do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e,
depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e
vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o
escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da
salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus;
Efésios 6:10-17

Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são
carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante
contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e estando prontos
para punir toda desobediência, uma vez completa a vossa submissão.
2 Coríntios 10:3-6

Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o
seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as
coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É
Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por
nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou
perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados
como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele
que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados,
nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer
outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Romanos 8:31-39

63
ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO

1.1. A existência de Deus

1.2. Aspectos da natureza de Deus

1.3. A revelação de Deus

1.4. O objetivo da Doutrina de Deus

2. ARGUMENTOS EM FAVOR DA DOUTRINA DE DEUS

2.1. Argumento cosmológico

2.2. Argumento teleológico

2.3. Argumento antropológico ou moral

2.4. Argumento ontológico

3. A NATUREZA DE DEUS

3.1. O relato de São Mateus

3.2. O relato de São Marcos

3.3. O relato de São Lucas

4. AS CARACTERÍSTICAS DA PERSONALIDADE DIVINA

4.1. O Deus da Bíblia

4.2. A inteligência de Deus

4.3. A determinação ou volição de Deus

4.4. A consciência moral de Deus

4.5. A soberania e imutabilidade de Deus

4.6. A infinitude de Deus

4.6.1. No espaço

4.6.2. No tempo

4.6.3. No conhecimento

2
4.7. A unidade de Deus

4.8. A imanência de Deus

4.9. A transcendência de Deus

5. OS NOMES DE DEUS

6. AS FIGURAS TEOLÓGICAS DE LINGUAGEM ACERCA DE DEUS

6.1. Antropomorfia

6.2. Antropoiese

6.3. Antropopatismo

6.4. Teofania

6.5. O arrependimento divino

7. OS ATRIBUTOS DE DEUS

7.1. Os atributos de Deus

7.1.1. A eternidade de Deus

7.1.2. Imutabilidade de Deus

7.2. Os atributos ativos de Deus

7.2.1. Onipotência de Deus

7.2.2. Onisciência de Deus

7.2.3. Onipresença de Deus

7.2.4. A soberania de Deus

7.3. Os atributos morais de Deus

7.3.1. A santidade de Deus

7.3.2. A veracidade de Deus

7.3.3. A fidelidade de Deus

7.3.4. A justiça de Deus

7.3.5. O amor de Deus

3
7.3.6. A graça de Deus

7.3.7. A misericórdia de Deus

7.3.8. A longanimidade de Deus

8. A TRINDADE DIVINA

8.1. A biblicidade da doutrina da Trindade

8.2. A trindade no Antigo Testamento

8.3. A trindade no Novo Testamento

4
INTRODUÇÃO

“No princípio criou Deus o céu e a terra.


E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo;
e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.”

(Gênesis 1:1,2)

A existência de Deus

A existência de Deus é algo fundamental ao pensamento humano. De fato,


abandonar esse conceito tão crucial é abandonar o apreço pela realidade para
embarcar no mar da irracionalidade onde nada possui significado ou propósito.

Precisamos compreender e alimentar as verdades espirituais do homem


interior defendendo o que as Sagradas Escrituras apresentam, isto é, a inegável
existência de Deus desde a eternidade passada até a eternidade futura. Deus é a
origem de tudo, Aquele que governa tudo e, também, Aquele sustenta todas as coisas
na sua potência.

Aspectos da natureza de Deus

Os aspectos da natureza de Deus foram-nos apresentados através da


progressiva auto revelação de Deus para a humanidade que culmina na visibilidade
da pessoa de Cristo em Sua encarnação.

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos


deu, e o principado está sobre os seus ombros, e
se chamará o seu nome: Maravilhoso,
Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz.

(Isaías 9:6)

A natureza de Deus possui singularidades inerentes à Sua condição divina.


Deus é, necessariamente, absolutamente independente de todas as coisas existentes
fora de Si mesmo, isto é, Ele independe de qualquer coisa para o garantimento da
continuidade e perpetuidade de seu Ser. Além disso, a vida de Deus Nele mesmo é
totalmente inerente à Sua natureza, de forma que apenas Ele pode conhecer a Si
mesmo em sua completude.

A revelação de Deus

No campo da compreensão humana, falamos de Deus e Sua existência


baseados nas verdades reveladas por meio da Bíblia Sagrada. Fora das Escrituras,

5
todo raciocínio encaixa-se apenas no campo das ideias e especulações, uma vez que
apenas Deus compreende Sua própria natureza eterna.

O objetivo da Doutrina de Deus

O objetivo da doutrina de Deus é demonstrar a existência de Deus. Ao longo


da Bíblia Sagrada, podemos encontrar diversos testemunhos acerca de Deus:

Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem


é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor,
Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós
por ele.

(1 Coríntios 8:6)

Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é


necessário que aquele que se aproxima de Deus
creia que ele existe, e que é galardoador dos que
o buscam.

(Hebreus 11:6)

E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU.


Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU
SOU me enviou a vós.

(Êxodo 3:14)

Portanto, assim diz o Senhor DEUS: Vivo eu, que


o meu juramento, que desprezou, e a minha
aliança, que quebrou, isto farei recair sobre a sua
cabeça.

(Ezequiel 17:19)

É importante notar que a Bíblia não tem por objetivo provar a existência de
Deus, mas sim expô-la, uma vez que sua validade já é auto evidente. Podemos
perceber no relato de Gênesis tanto a existência quanto a autonomia de Deus perante
sua criação.

Isso significa dizer que Deus é um ser vivo totalmente auto existente, tendo em
Si mesmo a base de Sua própria existência. É interessante perceber que, em Êxodo
3:13, Deus não diz “EU FUI” ou “EU SEREI”, mas sim “EU SOU”, sua declaração
divina que comprova sua natureza imutável e independente.

Deus é auto existente mas, longe de ser apenas uma criatura independente,
Faz com que toda a criação dependa dEle. Ele é a causa de tudo. Ele tem uma vida
em si mesmo; uma vida que, no Eterno Passado, não existia em nenhum lugar além
dEle

6
ARGUMENTOS EM FAVOR
DA DOUTRINA DE DEUS

“Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações;


e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor
a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós,”

(1 Pedro 3:15)

Argumento cosmológico:

Antes que os montes nascessem, ou que tu


formasses a terra e o mundo, mesmo de
eternidade a eternidade, tu és Deus.

(Salmos 90:2)

1. Tudo que começa a existir tem uma causa para sua existência.
2. O universo começou a existir.
3. Portanto, o universo tem uma causa da sua existência.

Explicação:

Argumentos de “primeira causa” foram estabelecidos desde a antiga Grécia por Platão
e Aristóteles. Tais argumentos baseiam-se no conceito de que tudo que passa a existir
necessita de uma causa.

O Argumento Cosmológico apresenta dois raciocínios filosóficos acerca do infinito


para provar a validade de sua segunda premissa:

Primeiro: um infinito real não pode existir. Um fragmento de um conjunto infinito é igual
ao todo desse mesmo conjunto infinito, já que tanto a parte como o todo são,
necessariamente, infinitos. Isso também é válido para um conjunto de acontecimentos
históricos: conclui-se, portanto, que a ocorrência de um conjunto verdadeiramente infinito de
eventos que antecedem determinado momento no tempo é impossível.

Segundo: um infinito real não pode ser formado. História, ou a coleção de todos os
eventos no tempo, é formada pela adição de uma sequência de eventos, um após o outro e,
portanto, jamais pode ser um infinito real.

Argumento teleológico:
Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação
do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua
divindade, se entendem, e claramente se vêem
pelas coisas que estão criadas, para que eles
fiquem inescusáveis;

(Romanos 1:20)

7
1. O ajuste fino do universo se deve a necessidade física, acaso ou design.
2. Não se deve a necessidade física ou acaso.
3. Logo, o ajuste se deve a design.

Explicação:

“O ajuste fino é de dois tipos:

Primeiro, quando as leis da natureza são expressas como equações matemáticas você
encontrará nelas certas constantes, como a constante que representa a força da gravidade.
Estas constantes não são determinadas pelas leis da natureza. As leis da natureza são
consistentes com uma ampla gama de valores para estas constantes.

Segundo, em adição a estas constantes, existem certas quantidades arbitrárias


colocadas como condições iniciais sobre as quais as leis da natureza operam, por exemplo,
a quantidade de entropia ou o equilíbrio entre matéria e antimatéria no universo.

Agora, todas estas constantes e quantidades arbitrárias se encaixam em uma


extraordinária faixa estreita de valores que permitem a existência de vida. Se estas
constantes ou quantidades fossem alteradas em menos do que a largura de um fio de cabelo,
o equilíbrio que permite a existência de vida seria destruído e nenhum organismo de qualquer
espécie poderia existir.

Assim, quando os cientistas dizem que o universo é “finamente ajustado” para a


existência de vida, eles não querem dizer que ele foi “projetado”; eles querem dizer que
pequenos desvios dos valores reais das constantes e quantidades arbitrárias da natureza
proibiriam o universo de abrigar vida ou, alternativamente, que a série de valores que
permitem vida ao universo é incompreensivelmente estreita em comparação com a
quantidade de valores que poderiam ser assumidos.

Premissa 1: A premissa 1 simplesmente lista as três possibilidades para explicar a


presença deste incrível ajuste fino no universo: necessidade física, acaso ou design.

Premissa 2: A premissa 2 do argumento responde a esta questão. Considere as três


alternativas. A primeira, necessidade física, é extremamente implausível porque, como
vimos, as constantes e as quantidades são independentes das leis da natureza.

Sendo assim o que podemos dizer da segunda alternativa, de que o ajuste fino do
universo se deve ao acaso? O problema com esta alternativa é que os pontos contra a
possibilidade do universo permitir vida são tão incompreensivelmente grandes que não
podem ser encarados racionalmente.

Mesmo que existisse um grande número de universos dentro da paisagem cósmica,


mesmo assim o número de mundos que permitiriam a existência de vida seria
incomensuravelmente pequeno se comparado à paisagem completa, assim, a existência de
um universo que permite a existência de vida é fantasticamente improvável.

Estudantes ou leigos que alegremente declaram “Isto poderia ter ocorrido pelo acaso!”
simplesmente não tem idéia da precisão fantástica dos requisitos de ajuste fino para a
existência de vida. Eles nunca abraçariam tal hipótese em qualquer outra área de suas vidas
– por exemplo, como um carro apareceu em sua garagem da noite para o dia.

8
O ajuste fino do universo não ocorre, portanto, por necessidade física nem acaso.
Segue-se, portanto, que o ajuste fino é devido ao design, a não ser que a hipótese do design
possa ser demonstrada como ainda mais implausível do que seus adversários.”

(William Lane Craig)

Argumento antropológico ou moral

Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos


de cuidar que a divindade seja semelhante ao
ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício
e imaginação dos homens.

(Atos 17:29)

1. Se Deus não existe, valores e deveres morais objetivos não existem;


2. Valores e deveres morais objetivos existem;
3. Portanto, Deus existe.

Explicação:

“Primeiro, nós devemos distinguir valores morais de deveres morais. Valores têm a ver
com algo ser bom ou mau. Deveres têm a ver com algo ser certo ou errado. Você pode estar
pensando agora que esta distinção não faz diferença alguma: “bom” e “certo” significam a
mesma coisa, e o mesmo ocorre com “mau” e “errado”. Mas se você pensar um pouco verá
que este não é o caso.

Um dever tem a ver com obrigação moral, o que você deve ou não deve fazer. Mas
obviamente você não é moralmente obrigado a fazer alguma coisa apenas porque ela será
boa para você. Por exemplo, seria bom para você se tornar um doutor, mas você não está
moralmente obrigado a se tornar um doutor. Além do mais, também seria bom a você se
tornar um bombeiro ou uma dona de casa ou um diplomata, mas você não pode ser todas
estas coisas. Desta forma, existe uma diferença entre bem/mal e certo/errado. Bem/mal tem
a ver com valer a pena, enquanto certo/errado tem a ver com obrigação.

Segundo, existe a diferença entre ser objetivo e subjetivo. Por “objetivo” eu quero dizer
“independente da opinião das pessoas”. Por “subjetivo” eu quero dizer “dependente da
opinião das pessoas”. Desta forma, dizer que existem valores morais objetivos significa dizer
que alguma coisa é boa ou má independentemente do que qualquer pessoa pense sobre
isto.

De forma similar, dizer que temos deveres morais objetivos significa dizer que certas
ações são corretas ou erradas a nós a despeito do que as pessoas pensam sobre isto. Assim,
por exemplo, dizer que o Holocausto foi objetivamente errado é dizer que ele foi errado
mesmo que os nazistas que o levaram a cabo pensassem que aquilo era correto, e que isto
continuaria sendo errado mesmo se os nazistas tivessem vencido a II Guerra Mundial e
tivessem tido sucesso em exterminar ou fazer lavagem cerebral em todos que discordassem
deles para que todos, desta forma, acreditassem que o Holocausto era correto.

9
[...]

Desta forma valores morais não são independentes de Deus porque o caráter próprio
de Deus define o que é bom. Deus é essencialmente compassivo, justo, bom, imparcial, etc.
Sua natureza é o padrão moral que determina o que é certo ou errado. Suas ordens
necessariamente refletem sua natureza moral. Portanto, não existe arbitrariedade. O
bem/mal moral é determinado pela natureza de Deus, e o certo/errado moral é determinado
por sua vontade. Deus quer alguma coisa porque Ele é bom, e algo é correto porque Deus
assim o quer.”

(William Lane Craig)

Argumento ontológico

Ainda antes que houvesse dia, eu sou; e ninguém


há que possa fazer escapar das minhas mãos;
agindo eu, quem o impedirá?

(Isaías 43:13)

1. É possível que um Ser maximamente grande (que chamamos Deus)


exista;
2. Se é possível que um Ser maximamente grande exista, então um Ser
maximamente grande existe em algum mundo possível;
3. Se um Ser maximamente grande existe em algum mundo possível, então
Ele existe em todos os mundos possíveis;
4. Se um Ser maximamente grande existe em todos os mundos possíveis,
então Ele existe no mundo atual;
5. Portanto, um Ser maximamente grande existe no mundo atual.
6. Portanto, um Ser maximamente grande existe.
7. Portanto, Deus existe.

Explicação:

“Para aqueles que não são familiarizados com a semântica dos mundos possíveis,
permitam-me explicar que por “mundo possível” eu não quero quiser um planeta ou até
mesmo um universo, mas sim uma completa descrição da realidade, ou uma forma como a
realidade poderia ser.

Talvez a melhor maneira de pensar sobre um mundo possível seja pela conjunção p
& q & r & s…, cujas conjunções individuais são as proposições p, q, r, s…Um mundo possível
é uma conjunção que compreende cada proposição ou sua contradição, de forma que ela
produza uma descrição completa da realidade – nada é deixado para trás em tal descrição.
Ao negar diferentes conjunções em uma descrição completa nós chegamos a diferentes
mundos possíveis.

W1: p & q & r & s…

W2: p & não-q & r & não-s…

W3: not-p & não-q & r & s…

10
W4: p & q & não-r & s…

Apenas uma destas descrições será composta inteiramente por proposições


verdadeiras e será, então, a maneira como a realidade verdadeira se apresenta, isto é, o
mundo real.

Uma vez que nós estamos falando sobre mundos possíveis, as várias conjunções que
compreendem um mundo possível devem ser capazes de ser verdade tanto individualmente
como juntas. Por exemplo, a proposição “O Primeiro Ministro é um número primo” não é nem
possivelmente verdadeira, porque números são objetos abstratos que não podem ser
concebidos em identidade com um objeto concreto como o Primeiro Ministro. Portanto,
qualquer mundo possível não pode ter esta proposição como uma de suas conjunções; sua
negação, entretanto, será uma conjunção de qualquer mundo possível. Esta proposição é
necessariamente falsa, isto é, ela é falsa em qualquer mundo possível.

Em contraste, a proposição “George McGovern é o presidente dos Estados Unidos” é


falsa no mundo real, mas poderia ser verdadeira, então ela é uma conjunção presente em
alguns mundos possíveis. Dizer que George McGovern é o presidente dos Estados Unidos
em algum mundo possível é dizer que existe uma completa descrição da realidade tendo esta
proposição em questão como uma de suas conjunções. De forma similar, dizer que Deus
existe em algum mundo possível é dizer que a proposição “Deus existe” é verdadeira em
alguma descrição completa da realidade.

[...]

A ideia de um ser maximamente grande é intuitivamente uma ideia coerente, e


portanto parece ser plausível que este ser possa existir. A fim de que o argumento ontológico
falhe, o conceito de grandeza máxima precisa ser incoerente, como o conceito de “solteiro
casado”. O conceito “solteiro casado” não é um conceito estritamente autocontraditório (como
o conceito de um homem “casado não-casado”), mas ainda é óbvio que, uma vez entendido
o significado das palavras “solteiro” e “casado”, então nada correspondente a este conceito
pode existir.

Em contraste, o conceito de um ser maximamente grande não parece ser, nem mesmo
de forma remota, incoerente. Isto fornece uma garantia prima facie para pensarmos que é
possível que um ser maximamente grande exista.

11
A NATUREZA DE DEUS

“Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível,


ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre.
Amém.”

(1 Timóteo 1:17)

Por natureza pode-se entender a indicação das características que diferenciam


um ser dos demais. Aquele que fez a vida e revelou Sua natureza na criação é
revelado pela bíblia como Deus. Deus não é uma força, um pensamento ou um poder,
mas sim um ser pessoal com natureza inacessível: esse é o Deus bíblico.

Acerca do Ser de Deus, Ele não é constituído de matéria física, pois ela surge
por meio de Seu poder, isto é, é resultante e originada. O termo “Ser de Deus” refere-
se a existência real e substancial de Deus. É em essência e substância.

A identidade pessoal de Deus está intrínseca e inerente em sua natureza


existente, plena e absoluta.Sua essência e substância é indivisível. Deus tem sua
natureza como substância e essência. Essa essência é constituída totalmente e
divinamente pelas propriedades imutáveis que caracterizam a pessoa inata,
transcendental, e gloriosa de Deus. O que compõe Deus é a Glória, sua essência
primária. Essa Glória é inerente e peculiar a Deus.

Por substância compreende-se sua natureza imaterial e incorpórea. Em Deus


não há elemento físico material, mas isso não significa que ele não é uma pessoa
com estrutura corporal e existencial. Essa estrutura corporal está intrinsecamente e
inerentemente fundamentada em sua substância, isto é, seus atributos. Deus Se
apresenta com sua identidade pessoal e estrutura corporal constituída na plenitude
de Sua própria Glória. Deus não tem luz, ele é a própria luz, o próprio amor, a própria
glória, a própria vida.

O relato de São Mateus

“Seis dias depois, tomou Jesus consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, seu irmão, e os conduziu em particular a um
alto monte, E transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes se tornaram
brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele. E Pedro, tomando a palavra,
disse a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para
Moisés, e um para Elias. E, estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E da nuvem saiu
uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo; escutai-o. E os discípulos, ouvindo isto,
caíram sobre os seus rostos, e tiveram grande medo. E, aproximando-se Jesus, tocou-lhes, e disse: Levantai-vos,
e não tenhais medo. E, erguendo eles os olhos, ninguém viram senão unicamente a Jesus.”

(Mateus 17:1-8)

O relato de São Marcos

12
“Dizia-lhes também: Em verdade vos digo que, dos que aqui estão, alguns há que não provarão a morte sem que
vejam chegado o reino de Deus com poder. E seis dias depois Jesus tomou consigo a Pedro, a Tiago, e a João,
e os levou sós, em particular, a um alto monte; e transfigurou-se diante deles; E as suas vestes tornaram- se
resplandecentes, extremamente brancas como a neve, tais como nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia
branquear. E apareceu-lhes Elias, com Moisés, e falavam com Jesus. E Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus:
Mestre, é bom que estejamos aqui; e façamos três cabanas, uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias.
Pois não sabia o que dizia, porque estavam assombrados. E desceu uma nuvem que os cobriu com a sua sombra,
e saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu filho amado; a ele ouvi. E, tendo olhado em redor, ninguém
mais viram, senão só Jesus com eles. E, descendo eles do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que
tinham visto, até que o Filho do homem ressuscitasse dentre os mortos. E eles retiveram o caso entre si,
perguntando uns aos outros que seria aquilo, ressuscitar dentre os mortos.”

(Marcos 9:1-10)

O relato de São Lucas

“E aconteceu que, quase oito dias depois destas palavras, tomou consigo a Pedro, a João e a Tiago, e subiu ao
monte a orar. E, estando ele orando, transfigurou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa ficou branca e mui
resplandecente. E eis que estavam falando com ele dois homens, que eram Moisés e Elias, Os quais apareceram
com glória, e falavam da sua morte, a qual havia de cumprir-se em Jerusalém. E Pedro e os que estavam com ele
estavam carregados de sono; e, quando despertaram, viram a sua glória e aqueles dois homens que estavam
com ele. E aconteceu que, quando aqueles se apartaram dele, disse Pedro a Jesus: Mestre, bom é que nós
estejamos aqui, e façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias, não sabendo o que dizia.
E, dizendo ele isto, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e, entrando eles na nuvem, temeram. E
saiu da nuvem uma voz que dizia: Este é o meu amado Filho; a ele ouvi. E, tendo soado aquela voz, Jesus foi
achado só; e eles calaram-se, e por aqueles dias não contaram a ninguém nada do que tinham visto.

(Lucas 9:28-36)

O Deus onipotente, revelou-se mesmo não podendo ser compreendido pelo


ser humano. A veracidade da doutrina de Deus baseia-se nas Sagradas Escrituras,
uma vez que Deus é inexplicável, estando muito além de qualquer capacidade
intelectual humana.

Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o
sempre. Amém.
(1 Timóteo 1:17)

Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.


(João 4:24)

13
AS CARACTERÍSTICAS DA
PERSONALIDADE DIVINA

“Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim,


diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso.”

(Apocalipse 1:8)

O Deus da Bíblia

Deus é um Ser individual e pessoal. Ele é uma pessoa infinita, eterna, pessoal
e imensurável, completamente diferente dos seres humanos, criaturas dEle, e possui
atributos gloriosos de natureza divina. As Sagradas Escrituras apresentam diversas
características acerca da personalidade divina:

A inteligência de Deus

Vinde então, e argüi-me, diz o Senhor: ainda que


os vossos pecados sejam como a escarlata, eles
se tornarão brancos como a neve; ainda que
sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão
como a branca lã.

(Isaías 1:18)

Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a


vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de
paz, e não de mal, para vos dar o fim que
esperais.

(Jeremias 29:11)

Contudo as minhas palavras e os meus estatutos,


que eu ordenei aos profetas, meus servos, não
alcançaram a vossos pais? E eles voltaram, e
disseram: Assim como o Senhor dos Exércitos fez
tenção de nos tratar, segundo os nossos
caminhos, e segundo as nossas obras, assim ele
nos tratou.

(Zacarias 1:6)

A determinação ou volição de Deus

O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e


também exalta. Levanta o pobre do pó, e desde o
monturo exalta o necessitado, para o fazer
assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o
trono de glória; porque do Senhor são os
alicerces da terra, e assentou sobre eles o
mundo. Os pés dos seus santos guardará, porém

14
os ímpios ficarão mudos nas trevas; porque o
homem não prevalecerá pela força.

(1 Samuel 2:7-9)

A consciência moral de Deus

Ele ama a justiça e o juízo; a terra está cheia da


bondade do Senhor.

(Salmos 33:5)

A soberania e imutabilidade de Deus

E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU.


Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU
SOU me enviou a vós.

(Êxodo 3:14)

A infinitude de Deus

Por definição, Deus é um Ser sem limites: Ele não possui começo nem fim.
Não há parâmetros para medi-lo, e é apenas através da luz da Bíblia Sagrada que
podemos ter uma dimensão de sua infinitude. A natureza infinita de Deus apresenta-
se em diversos aspectos:

O Deus que fez o mundo e tudo que nele há,


sendo Senhor do céu e da terra, não habita em
templos feitos por mãos de homens; Nem
tampouco é servido por mãos de homens, como
que necessitando de alguma coisa; pois ele
mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração,
e todas as coisas;

(Atos 17:24,25)
No espaço:

Deus está além de qualquer barreira espacial, existindo antes mesmo


de o espaço ser criado. De fato, isso se dá porque Ele mesmo é o criador do
espaço.

Não há um lugar sequer em que Ele não possa ser encontrado, apesar
de que nenhum lugar pode contê-lo: eis aí o princípio da onipresença de Deus.
Para onde me irei do teu espírito, ou para onde
fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás;
se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali
estás também. Se tomar as asas da alva, se
habitar nas extremidades do mar, Até ali a tua

15
mão me guiará e a tua destra me susterá. Se
disser: Decerto que as trevas me encobrirão;
então a noite será luz à roda de mim. Nem ainda
as trevas me encobrem de ti; mas a noite
resplandece como o dia; as trevas e a luz são
para ti a mesma coisa;

(Salmos 139:7-12)

No tempo:

A relação de Deus com o tempo vem mostrar-nos o quanto Ele é infinito.


Deus não é limitado pelo tempo, não sendo, dessa forma, afetado por ele. Deus
É antes do tempo, uma vez que Ele é Senhor sobre o tempo.

Ele é eterno, e, como tal, conhece todos os pontos do tempo a todos os


momentos. Deus simplesmente É, sendo completamente independente do
tempo. Na condição de Criador, Deus está acima do tempo.

SENHOR, tu tens sido o nosso refúgio, de


geração em geração.
Antes que os montes nascessem, ou que tu
formasses a terra e o mundo, mesmo de
eternidade a eternidade, tu és Deus.

(Salmos 90:1,2)

Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória


e majestade, domínio e poder, agora, e para todo
o sempre. Amém.

(Judas 1:25)

E o que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo


para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da
morte e do inferno.

(Apocalipse 1:18)

No conhecimento:

Na condição de Deus, Ele conhece a todas as coisas, quer sejam


expostas, quer sejam encobertas. Das estrelas aos grãos do mar, ele tem
acesso a todas as informações da criação.

Conta o número das estrelas, chama-as a todas


pelos seus nomes. Grande é o nosso Senhor, e
de grande poder; o seu entendimento é infinito.

(Salmos 147:4,5)

16
Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? e
nenhum deles cairá em terra sem a vontade de
vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa
cabeça estão todos contados.

(Mateus 10:29,30)

E não há criatura alguma encoberta diante dele;


antes todas as coisas estão nuas e patentes aos
olhos daquele com quem temos de tratar.

(Hebreus 4:13)

A unidade de Deus

O nome de Deus é pluralizado no conselho do Deus Trino, mas ainda assim


Ele é Uno. Dizer que Deus é Uno não exclui a pessoa do Filho e do Espírito Santo,
uma vez que Sua unidade está em Sua essência absoluta.

“Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único


Senhor.”

(Deuteronômio 6:4)

A imanência de Deus

Deus está presente e ativo em Sua criação dentro da raça humana, mesmo
em meio aos incrédulos. A presença e a ação de Deus no universo não pode ser
confundida com a crença do Panteísmo.

Nada sabem, nem entendem; porque tapou os


olhos para que não vejam, e os seus corações
para que não entendam.

(Isaías 44:18)

Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a


quem tomo pela mão direita, para abater as
nações diante de sua face, e descingir os lombos
dos reis, para abrir diante dele as portas, e as
portas não se fecharão.

(Isaías 45:1)

A transcendência de Deus

O princípio da transcendência de Deus mostra-nos que Ele não é


simplesmente um homem elevado, mas sim um Ser cuja Santidade vai infinitamente
além de nossas compreensões. Sendo Ele Deus Transcendente, independe de
qualquer coisa e é absoluto em si mesmo.

17
Porventura sou eu Deus de perto, diz o Senhor, e
não também Deus de longe? Esconder-se-ia
alguém em esconderijos, de modo que eu não o
veja? diz o Senhor. Porventura não encho eu os
céus e a terra? diz o Senhor.

(Jeremias 23:23,24)

18
OS NOMES DE DEUS

“Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão;


porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.”

(Êxodo 20:7)

Nas Sagradas Escrituras, Deus se apresenta com seu próprio nome. No


contexto antigo, os nomes descreviam o caráter ou a função de algo, o nome de
Deus é, portanto, mais que uma combinação de sons, mas uma revelação de Seu
caráter.

De Gênesis a Apocalipse, há diversos nomes utilizados para Deus. Esses


títulos servem para revelar as multifaces de Deus. Alguns nomes tratam-no como
sujeito: Jeová, Senhor e Deus, e outros como predicado: Santo, Justo, Bom, Fiel,
Misericordioso

Alguns nomes são comuns aos três que formam o conselho do Deus Trino:
Jeová, Deus, Pai, Espírito. Alguns nomes são devotados a demonstrar Suas obras e
Seu caráter, mas nome algum jamais será adequado para abarcar a totalidade de
Sua natureza.

Deus define Seu nome para tornar-se conhecido de todos entre as nações.
Possibilitando que quem conheça Seu nome tenha compreensão acerca das
verdades do universo.

Para declarar o seu perfeito caráter imaculado, incontestável , puro, inefável,


absoluto, Seu nome apresenta a essência de seu verdadeiro caráter:

EL, ELOAH: Deus "poderoso, forte, proeminente" (Gênesis 7:1, Isaías 9:6) - etimologicamente, El
parece significar "poder", como em "Tenho o poder para prejudicá-los" (Gênesis 31:29). El é associado
com outras qualidades, tais como integridade (Números 23:19), zelo (Deuteronômio 5:9) e compaixão
(Neemias 9:31), mas a raiz original de ‘poder’ continua.

ELOHIM: Deus "Criador, Poderoso e Forte" (Gênesis 17:7; Jeremias 31:33) - a forma plural de Eloah,
a qual acomoda a doutrina da Trindade. Da primeira frase da Bíblia, a natureza superlativa do poder
de Deus é evidente quando Deus (Elohim) fala para que o mundo exista (Gênesis 1:1).

EL SHADDAI: "Deus Todo-Poderoso", "O Poderoso de Jacó" (Gênesis 49:24; Salmo 132:2,5) - fala do
poder supremo de Deus sobre todos.

ADONAI: "Senhor" (Gênesis 15:2; Juízes 6:15) - usado no lugar de YHWH, o qual os judeus achavam
ser sagrado demais para ser pronunciado por homens pecadores. No Antigo Testamento, YHWH é
mais utilizado em tratamentos de Deus com o Seu povo, enquanto que Adonai é mais utilizado quando
Ele lida com os gentios.

19
YHWH / YAHWEH / JEOVÁ: "SENHOR" (Deuteronômio 6:4, Daniel 9:14) - a rigor, o único nome
próprio para Deus. Traduzido nas bíblias em português como "SENHOR" (com letras maiúsculas) para
distingui-lo de Adonai, "Senhor". A revelação do nome é primeiramente dada a Moisés "Eu sou quem
eu sou" (Êxodo 3:14). Este nome especifica um imediatismo, uma presença. Yahweh está presente,
acessível, perto dos que o invocam por livramento (Salmo 107:13), perdão (Salmo 25:11) e orientação
(Salmo 31:3).

JEOVÁ-JIRÉ: "O Senhor proverá" (Gênesis 22:14) - o nome utilizado por Abraão quando Deus proveu
o carneiro para ser sacrificado no lugar de Isaque.

JEOVÁ-RAFA: "O Senhor que sara" (Êxodo 15:26) - "Eu sou o Senhor que te sara", tanto em corpo e
alma. No corpo, através da preservação e da cura de doenças, e na alma, pelo perdão de iniquidades.

JEOVÁ-NISSI: "O Senhor é minha bandeira" (Êxodo 17:15), onde por bandeira entende-se um lugar
de reunião antes de uma batalha. Esse nome comemora a vitória sobre os amalequitas no deserto em
Êxodo 17.

JEOVÁ-MAKADESH: "O Senhor que santifica, torna santo" (Levítico 20:8, Ezequiel 37:28) - Deus
deixa claro que apenas Ele, e não a lei, pode purificar o Seu povo e fazê-los santos.

JEOVÁ-SHALOM: "O Senhor nossa paz" (Juízes 6:24) - o nome dado por Gideão ao altar que ele
construiu após o Anjo do Senhor ter-lhe assegurado de que não morreria como achava que morreria
depois de vê-lO.

JEOVÁ-ELOIM: "Senhor Deus" (Gênesis 2:4, Salmo 59:5) - uma combinação do singular nome YHWH
e o nome genérico "Senhor", significando que Ele é o Senhor dos senhores.

JEOVÁ-TSIDIKENU: "O Senhor nossa justiça" (Jeremias 33:16) - Tal como acontece com Jeová-
Makadesh, só Deus proporciona a justiça para o homem, em última instância, na pessoa de Seu Filho,
Jesus Cristo, o qual tornou-se pecado por nós "para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (2
Coríntios 5:21).

JEOVÁ-ROHI: "O Senhor nosso Pastor" (Salmo 23:1) - Depois de Davi ponderar sobre seu
relacionamento como um pastor de ovelhas, ele percebeu que era exatamente a mesma relação de
Deus com ele, e assim declara: "Yahweh-Rohi é o meu Pastor. Nada me faltará" (Salmo 23:1).

JEOVÁ-SHAMMAH: "O Senhor está ali" (Ezequiel 48:35) - o nome atribuído a Jerusalém e ao templo
lá, indicando que o outrora partida glória do Senhor (Ezequiel 8-11) havia retornado (Ezequiel 44:1-4).

JEOVÁ-SABAOTH: "O Senhor dos Exércitos" (Isaías 1:24, Salmos 46:7) - Exércitos significa "hordas",
tanto dos anjos quanto dos homens. Ele é o Senhor dos exércitos dos céus e dos habitantes da terra,
dos judeus e gentios, dos ricos e pobres, mestres e escravos. O nome expressa a majestade, poder e
autoridade de Deus e mostra que Ele é capaz de realizar o que determina a fazer.

EL ELIOM: "Altíssimo" (Deuteronômio 26:19) - derivado da raiz hebraica para "subir" ou "ascender",
então a implicação refere-se a algo que é muito alto. El Elyon denota a exaltação e fala de um direito
absoluto ao senhorio.

EL ROI: "Deus que vê" (Gênesis 16:13) - o nome atribuído a Deus por Agar, sozinha e desesperada
no deserto depois de ter sido expulsa por Sara (Gênesis 16:1-14). Quando Agar encontrou o Anjo do
Senhor, ela percebeu que tinha visto o próprio Deus numa teofania. Ela também percebeu que El Roi
a viu em sua angústia e testemunhou ser um Deus que vive e vê tudo.

20
EL-OLAM: "Deus eterno" (Salmo 90:1-3) - A natureza de Deus não tem princípio, fim e nem quaisquer
limitações de tempo. Deus contém dentro de Si mesmo a causa do próprio tempo. "De eternidade a
eternidade, tu és Deus."

EL-GIBOR: "Deus Poderoso" (Isaías 9:6) - o nome que descreve o Messias, Jesus Cristo, nesta porção
profética de Isaías. Como um guerreiro forte e poderoso, o Messias, o Deus Forte, vai realizar a
destruição dos inimigos de Deus e governar com cetro de ferro (Apocalipse 19:15).

21
AS FIGURAS TEOLÓGICAS DE LINGUAGEM
ACERCA DE DEUS

“Eis que a mão do SENHOR não está encolhida,


para que não possa salvar; nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir.”

(Isaías 59:1)

O verbo criar em Gênesis 1:1 apresenta uma ação reveladora de Deus,


retratando-o como um criador. A Bíblia nos dá a possibilidade de compreender
aspectos da revelação. Para compreender as ações reveladores de Deus, os autores
dos textos bíblicos fazem uso de figuras de linguagem que ilustram as ações divinas.
São elas: Antropomorfismo, Antropopatismo, Antropoiese.

Antropomorfia: forma de homem, formatação de homem, semelhança de


homem. Refere-se à representação divina por meio da fala ou escrita sob forma
humana. É uma forma de pensamento que atribui a Deus características de homem.

Eu continuei olhando, até que foram postos


uns tronos, e um ancião de dias se
assentou; a sua veste era branca como a
neve, e o cabelo da sua cabeça como a
pura lã; e seu trono era de chamas de fogo,
e as suas rodas de fogo ardente.

(Daniel 7:9)

Quando tu disseste: Buscai o meu rosto; o


meu coração disse a ti: O teu rosto, Senhor,
buscarei.

(Salmos 27:8)

Boca a boca falo com ele, claramente e não


por enigmas; pois ele vê a semelhança do
Senhor; por que, pois, não tivestes temor
de falar contra o meu servo, contra Moisés?

(Números 12:8)

Antropoiese: Apresenta uma ação de Deus em forma de homem.

Todos os caminhos do homem são puros


aos seus olhos, mas o Senhor pesa o
espírito.

(Provérbios 16:2)

E disse Deus: Haja luz; e houve luz.

22
(Gênesis 1:3)

E formou o Senhor Deus o homem do pó da


terra, e soprou em suas narinas o fôlego da
vida; e o homem foi feito alma vivente.

(Gênesis 2:7)

Antropopatismo: descrições bíblicas da natureza emotiva de Deus com


termos e características humanas. São, em termo simplório, as emoções de Deus.
Quando Deus, impassível, responde com elementos da paixão humana, essa figura
chama-se de antropopatismo.
O Senhor irou-se contra mim por causa de
vocês e jurou que eu não atravessaria o
Jordão e não entraria na boa terra que o
Senhor, o seu Deus, está lhes dando por
herança.

(Deuteronômio 4:21)

Não te encurvarás a elas nem as servirás;


porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus
zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos
filhos, até a terceira e quarta geração
daqueles que me odeiam.

(Êxodo 20:5)

Teofania

Significa a aparição ou manifestação de Deus na forma que Ele quiser, a


exemplo dos eventos da transfiguração, da sarça ardente e da condução de Israel no
deserto. A teofania leva-nos a uma dimensão de compreensão maior acerca de Deus,
colocando-nos num estado de maior intimidade para com Ele.

É importante ressaltar que ela é diferente da encarnação, a manifestação


corpórea e plena. A teofania é temporária e tem um caráter específico. Na teofania,
Deus se apresenta sempre na Segunda Pessoa do conselho do Deus Trino,
principalmente como o Anjo do Senhor. Por isto, pode-se chamar esses eventos de
Cristofania.

O arrependimento divino
Então arrependeu-se o Senhor de haver
feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em
seu coração.

(Gênesis 6:6)

23
A má interpretação desse versículo tem causado muitos debates e levantado
muitas dúvidas. Ora, o arrependimento de Deus é diferente do arrependimento
humano. O arrependimento divino é uma figura de linguagem que representa uma
mudança de atitude proporcional ao comportamento humano, significando que Deus
está mudando de projeto baseado numa atitude humana. É como no caso de Jonas:
E Deus viu as obras deles, como se
converteram do seu mau caminho; e Deus
se arrependeu do mal que tinha anunciado
lhes faria, e não o fez.

(Jonas 3:10)

24
OS ATRIBUTOS DE DEUS

“Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai,
atentando para a sua maneira de viver.
Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente.”

(Hebreus 13:7,8)

Os atributos de Deus são as qualidades que indicam os vários aspectos de


Seu caráter.

Os atributos naturais de Deus:

São os atributos relativos ao ser mesmo de Deus, sem comportar nenhuma


relação com o ser humano ou a criação.

A eternidade de Deus

Deus é eterno (Sl 90:2). Isso não significa apenas uma duração
prolongada de existência, mas sim uma natureza transcendente que está
acima do próprio tempo (Is 57:15). Essa eternidade é inerente à Sua própria
pessoa, uma vez que Ele é totalmente eterno.

Imutabilidade de Deus
Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso
vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos.

(Malaquias 3:6)

Deus nunca muda em sua natureza, dimensão, atributos, glória e


infinitude. Ele não pode melhorar, pois é a própria essência da magnitude. Ele
é imutável em Seu Ser, sabedoria, justiça, amor, retidão e verdade.

Os atributos ativos de Deus

São os atributos de Deus que relacionam-se com o universo.

Onipotência de Deus
No princípio criou Deus o céu e a terra.
E a terra era sem forma e vazia; e havia
trevas sobre a face do abismo; e o Espírito
de Deus se movia sobre a face das águas.
E disse Deus: Haja luz; e houve luz.

(Gênesis 1:1-3)

25
Sendo, pois, Abrão da idade de noventa e
nove anos, apareceu o SENHOR a Abrão, e
disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso,
anda em minha presença e sê perfeito.

(Gênesis 17:1)

Onisciência de Deus
SENHOR, tu me sondaste, e me conheces.
Tu sabes o meu assentar e o meu levantar;
de longe entendes o meu pensamento.
Cercas o meu andar, e o meu deitar; e
conheces todos os meus caminhos. Não
havendo ainda palavra alguma na minha
língua, eis que logo, ó Senhor, tudo
conheces.

(Salmos 139:1-4)

Onipresença de Deus
Para onde me irei do teu espírito, ou para
onde fugirei da tua face?
Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no
inferno a minha cama, eis que tu ali estás
também.

(Salmos 139:7,8)

A soberania de Deus

Deus é o governante soberano de toda a criação, sendo poderoso para


controlar a natureza e a história. Ele possui o direito absoluto de governar todas
as criaturas, sendo Ele Deus, está acima de todas as coisas. Tudo depende
dele para sua existência.

Os atributos morais de Deus

Esses são os atributos inerentes à pessoa de Deus mas que também se relacionam
com suas criaturas morais.

A santidade de Deus

Porque eu sou o Senhor vosso Deus;


portanto vós vos santificareis, e sereis
santos, porque eu sou santo; e não vos
contaminareis com nenhum réptil que se
arrasta sobre a terra; Porque eu sou o
Senhor, que vos fiz subir da terra do Egito,

26
para que eu seja vosso Deus, e para que
sejais santos; porque eu sou santo.

(Levítico 11:44,45)

E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo,


Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda
a terra está cheia da sua glória.

(Isaías 6:3)

A veracidade de Deus
Em esperança da vida eterna, a qual Deus,
que não pode mentir, prometeu antes dos
tempos dos séculos;

(Tito 1:2)

A fidelidade de Deus
E disse-me o Senhor: Viste bem; porque eu
velo sobre a minha palavra para cumpri-la.

(Jeremias 1:12)

A justiça de Deus

Para anunciar que o Senhor é reto. Ele é a


minha rocha e nele não há injustiça.

(Salmos 92:15)

O amor de Deus
Porque Deus amou o mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigênito, para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha
a vida eterna.

(João 3:16)

A graça de Deus
Para mostrar nos séculos vindouros as
abundantes riquezas da sua graça pela sua
benignidade para conosco em Cristo Jesus.
Porque pela graça sois salvos, por meio da
fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
Não vem das obras, para que ninguém se
glorie;

(Efésios 2:7-9)

27
A misericórdia de Deus
Não pelas obras de justiça que
houvéssemos feito, mas segundo a sua
misericórdia, nos salvou pela lavagem da
regeneração e da renovação do Espírito
Santo,

(Tito 3:5)

A misericórdia do Senhor é a causa de não sermos consumidos. É a


bondade e o amor de Deus para os que se encontram num estado de miséria
espiritual.

A longanimidade de Deus

Entende-se por longanimidade a bondade de Deus manifestada em sua


virtude de suportar o perverso pecador, adiando o juízo até o dia propício. Deus
utiliza-se dessa característica para permitir ao homem que se arrependa de
seus pecados e alcance a Vida.

28
A TRINDADE DIVINA

“Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo.


E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo.
E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.”

(1 Coríntios 12:4-6)

A biblicidade da doutrina da Trindade

O termo em si não está presente na escrita tanto do Antigo Testamento quanto


do Novo. Acontece, entretanto, que essa doutrina pode ser compreendida a partir do
todo da revelação escriturística. Deus se apresenta como trino, tanto através de
exposições diretas quanto por meio de ilustrações e tipologias.

Vale afirmar que Deus é trino, mas permanece como Um em essência. Deus é
um uma unidade composta de três pessoas distintas: Deus Pai, Deus Fiho e Deus
Espírito Santo. Os três cooperam, unidos, para um único propósito: o Pai cria, o Filho
redime e o Espírito santifica, ao mesmo tempo que os Três estão fazendo todas essas
coisas. A doutrina afirma três distinções eternas na essência divina: as Três Pessoas
da Trindade.

DEUS PAI DEUS FILHO DEUS ESPÍRITO SANTO

Pai Onipresente, Jr.23:24 Filho Onipresente, Mt.28:20 E. S. Onipresente, Sl.139:7

Pai Onipotente, Gn.17:1 Filho Onipotente, Mt.28:18 E. S. Onipotente, Lc.1:35

Pai Onisciente, IPd.1:2 Filho Onisciente, Jo.21:17 E. S. Onisciente, I Cor.2:10

Pai o Criador, Gn.1:1 Filho o Criador, Jo.1:3 E. S. o Criador, Jó 33:4

Pai o Eterno, Rm.16:26 Filho o Eterno, Ap.22:13 E. S. o Eterno, Hb.9:14

Pai o Santo, Ap.4:8 Filho o Santo, At.3:14 E. S. o Santo, I Jo.2:20

Pai o Santificador, Jo.10:36 Filho o Santificador, Hb.2:11 E. S. o Santificador, I Pe1:2

Pai o Salvador, Is.43:11 Filho o Salvador, IITm.1:10 E. S. o Salvador, Tt.3:5

A trindade no Antigo Testamento

"Também lhes digo que se dois de vocês concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual
pedirem, isso lhes será feito por meu Pai que está nos céus.

29
(Mateus 18:19)

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.
(1 Coríntios 13:13)

Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa


vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos,
e por todos e em todos vós.
(Efésios 4:4-6)

Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um.
(1 João 5:7)
E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os
peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil
que se move sobre a terra.
(Gênesis 1:26)

E o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a
fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer. Eia, desçamos e
confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro.
(Gênesis 11:6,7)

O Senhor te abençoe e te guarde; O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia
de ti; O Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.
(Números 6:24-26)

Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com
duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo,
Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.
(Isaías 6:2,3)

Assim diz o Senhor, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o Senhor teu Deus, que te ensina o que
é útil, e te guia pelo caminho em que deves andar.
(Isaías 48:17)

O espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas
aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a
abertura de prisão aos presos;
(Isaías 61:1)

A trindade no Novo Testamento

E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus
descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado,
em quem me comprazo.

(Mateus 3:16,17)

"Também lhes digo que se dois de vocês concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual
pedirem, isso lhes será feito por meu Pai que está nos céus.

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(Mateus 18:19)

A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos
vós. Amém.

(2 Coríntios 13:14)

E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito
de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis,
porque habita convosco, e estará em vós.

(João 14:16,17)

Eu e o Pai somos um.

(João 10:30)

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com
Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.

(João 1:1-3)

E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai,
cheio de graça e de verdade.

(João 1:14)

Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de
Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. Nisto se
manifestou o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que
por ele vivamos.

(1 João 4:7-9)

Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa


vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos,
e por todos e em todos vós.

(Efésios 4:4-6)

Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido
desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade; Para o que pelo nosso
evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.

(2 Tessalonicenses 2:13,14)

Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão
do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.

(1 Pedro 1:2)

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