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DANIEL SANTOS RAMOS

CURSO DE TEOLOGIA:
VIDA COM PROPÓSITO

prefácio de
LUÍS HENRIQUE SOARES
1

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


(CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Ramos, Daniel Santos


Curso de teologia : vida com propósito /
Daniel Santos Ramos. -- 1. ed. – Belo Horizonte, MG :
Ed. do Autor, 2024.

ISBN 978-65-00-91923-3

1. Teologia - Estudo e ensino I. Título

24-190392 CDD-230.07

Índices para catálogo sistemático :


1. Teologia : Estudo e ensino 230.07
Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1
2

PREFÁCIO
Temos a grande alegria de entregar aos nossos alunos o novo texto
para o curso de Teologia: Vida Com Propósitos. Por certo, não é necessário
dizer muita coisa acerca da natureza de nosso material, visto que tem
estado perante a comunidade evangélica durante mais de 15 anos
ininterruptos e tem sido amplamente usada por aqueles que acreditam em
nosso trabalho sério e comprometido com fé e espiritualidade cristã.
Nestes anos, mais do que tudo, tenho razões para estar agradecido
a Deus pela maneira que ela tem sido recebida, pois, os testemunhos
favoráveis nos inspira a cada dia sermos melhores em nossa incansável e
inacabável busca pelo conhecimento, onde trabalhamos as riquezas
bíblicas produzidas por meio de muitas pesquisas, trazendo uma
linguagem acessível e de fácil alcance de compreensão tanto para
professores, líderes, pastores e leigos.
Não temos outra pretensão, fato, senão que este material seja uma
benção em sua vida em todos os sentidos. O leitor perspicaz perceberá a
riqueza que este material oferece. Estamos vivendo tempos de sede
espiritual, onde as heresias têm procurado se instalar no seio da Igreja.
Deus levantou este projeto para um grande avivamento espiritual.
Não basta apenas termos talentos naturais ou compreensão das
consequências das crises que o mundo atravessa. Cremos que precisamos,
exercer influências com nosso testemunho perante os que dispomos a
ensinar a Palavra de Deus.
Esse material será, de fato, muito importante porque nos dará
ampla visão da teologia viva, atrairá futuros líderes ao aprendizado e criará
um ambiente mais espiritual na nossa Igreja (Koinonia). Aprendizados
errados geram desastres e resistência à Obra de Deus.
Somente o correto de forma correta leva ao sucesso, na consciência
e submissão ao Espírito Santo que rege a igreja. Temos capacidade, em
Deus, de mudarmos o mundo, começando do mundo interior das
consciências humanas dos alunos, que se tornarão futuros evangelizadores
capacitados na Palavra de Deus.
Como defensores da fé cristã genuína, nossa preocupação com os
desafios da pastoral na grande cidade, pós-modernidade que se impõem a
fé, os desafios ideológicos fundados nas características fundamentais desse
3

momento da história tocam as relações humanas e a prática pastoral, pois


se referem essencialmente à verdade, aos valores, à ética e à vida. Diante
desta complexidade, nosso trabalho reverbera a importância de uma
posição teológica da Igreja diante dessas provocações.
Outrossim, nosso material aponta para o discurso teológico
relevante, tendo como objetivo propor uma teologia viva, desgraçada
(esvaziada da graça), rica em conteúdos práticos buscando respostas para
indagações acerca da Pessoa de Deus e sua existência na atualidade.
O vocábulo TEOLOGIA vem de duas palavras gregas Θ TEO (Deus) e
LOGIA (palavra). Pensar raciocinar a respeito de Deus. Existem muitas
pessoas que não gostam muito de estudar Teologia, de pensar
teologicamente, pois acham-na sem interesse, sem utilidades ou sem valor
espiritual e prático. É necessário notar, porém, que Teologia traz um
desafio ao coração, à mente e à consciência do cristão. É saudável,
interessante e prático. Sã doutrina traz saúde espiritual.
A teologia busca: a) A classificação da verdade: o teólogo acata todos
os fatos a respeito de Deus e do mundo em que vivemos, sintetiza e estuda
os fatos de uma maneira sistemática e ordenada. b) A aplicação da verdade:
o viver e o pensar são inseparáveis. Existe uma herança intelectual na
Palavra de Deus, mas existe também uma herança espiritual. Doutrina sem
dever é uma árvore sem frutos. Dever sem doutrina é uma árvore sem
raízes. c) A proclamação da verdade: se o evangelho não inspira pensamento
e nossa teologia não inspira pregação, não existe nem uma coisa nem
outra.
A teologia é uma ciência que estuda o fenômeno da fé em Deus e
suas realidades. Ciência é um arranjo sistemático de fatos comprovados. A
teologia é uma ciência, porque consistem de fatos relacionados à Deus e as
coisas de Deus, apresentadas de uma maneira lógica e ordenada.
A teologia estuda aquilo de que a religião é a realidade. A religião é a
vida de Deus, vida em que tomam parte ativa o intelecto, à vontade e as
afeições. A vida religiosa envolve o homem em todo o seu ser, e os fatos
apurados das suas experiências com Deus, no transcurso da vida,
constituem a sua teologia. O homem é um ser que reflete, que pensa sobre
as suas experiências. A teologia é, portanto, coisa necessária e natural.
Quero destacar com muita gratidão — e louvo a Deus pela sua vida
—, Prof. Daniel Ramos. Há três anos o Senhor nos apresentou, e desde de
então, tem sido um instrumento de Deus em nossa missão, e há dois anos
4

exerce um papel fundamental de grande protagonismo na coleta e


atualização deste material. Obrigado pelas horas incontáveis dedicadas à
obra completa. Fica aqui o meu respeito e agradecimento.
Acima de tudo, destaco minha família, pelo apoio e sacrifício que
tornaram possível a realização deste projeto teológico.
Alunos e alunas, bem-vindos ao Curso de Teologia: Vida Com
Propósito.

Prof. Luís Henrique Soares


5

APRESENTAÇÃO1
A teologia é o Estudo de Deus sob a ótica da da religião cristã. É uma
área ampla e complexa que abrange uma variedade de tópicos, incluindo a
natureza de Deus, a existência de Deus, a relação entre Deus e o mundo, o
papel da religião na sociedade, e o significado da vida. A teologia é um
campo antigo que remonta aos primeiros dias da civilização humana.
As primeiras teologias foram desenvolvidas pelos povos antigos do
Egito, Mesopotâmia, Grécia e Roma. Estas teologias eram baseadas em
crenças sobrenaturais e mitos, e muitas vezes eram usadas para explicar o
mundo natural e o lugar do homem nele (Cl 1.9-12 NAA).
Com o advento do Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo, a
teologia se tornou mais sofisticada e acadêmica. Estas religiões
desenvolveram sistemas teológicos complexos que abordam questões
fundamentais sobre a natureza de Deus, a relação entre Deus e o mundo, e o
papel da religião na sociedade.
No século XIII, o filósofo e teólogo Tomás de Aquino desenvolveu
uma abordagem racional para a teologia. Aquino argumentou que a fé e a
razão podem ser combinadas para obter uma compreensão mais completa
de Deus e da realidade. A abordagem de Aquino teve uma grande influência
no desenvolvimento da teologia ocidental, e ainda é influente hoje.
No século XX, a teologia moderna se desenvolveu em resposta aos
desafios do secularismo, da ciência e da filosofia. Os teólogos modernos
procuraram desenvolver uma teologia que seja relevante para o mundo
moderno e que seja capaz de responder aos desafios do secularismo, da
ciência e da filosofia.

1
Cf. O Curso de Teologia: O Campo de Estudo das Disciplinas Estudadas. Prof. Daniel
Ramos, Youtube in: https://l1nq.com/4GcV2 A palavra “teologia” foi usada pela primeira vez no
século V a.C. pelo filósofo grego Platão. Platão usou a palavra para se referir ao estudo da
natureza dos deuses. A palavra “teologia” vem das palavras gregas “theos”, que significa
“deus”, e “logos”, que significa “palavra/ discurso”. No século I d.C., o teólogo cristão Justino
Mártir usou a palavra “teologia” para se referir ao estudo de Deus e da sua relação com o mundo.
Justino Mártir argumentou que a teologia cristã é baseada na revelação divina, e que a Bíblia é a
fonte de toda a verdade teológica. A palavra “teologia” tem sido usada desde então para se referir
ao estudo de Deus e da religião. A teologia é um campo amplo e complexo que abrange uma
variedade de tópicos, incluindo a natureza de Deus, a existência de Deus, a relação entre Deus e o
mundo, o papel da religião na sociedade, e o significado da vida
6

A teologia é um campo dinâmico e em constante evolução. Novos


desenvolvimentos teológicos estão sempre sendo feitos, e a teologia está
sempre se adaptando às mudanças na sociedade. A teologia é uma área
importante do conhecimento, e ela oferece uma visão valiosa sobre a
natureza de Deus, a relação entre Deus e o mundo, e o papel da religião na
sociedade.
A teologia é um campo complexo e desafiador, mas também é um
campo gratificante. A teologia pode nos ajudar a compreender melhor a
natureza de Deus, a relação entre Deus e o mundo, e o papel da religião na
sociedade. Por isso, quando se pensa em produzir um material para treinar
e capacitar crentes em Jesus Cristo no saber teológico, em primeiro
momento é necessário que se pense no candidato como um cristão
legítimo, e não necessariamente como um obreiro. Por isso, todas as
práticas e perspectivas que defendemos neste curso são profundamente
intrínsecas à vida comum da igreja.2

Precisamos ser treinados e reaprender o que Deus espera que


creiamos a seu respeito, de que modo deseja que obedeçamos a sua
vontade, como deseja que conversemos com ele e, finalmente,
como espera que o encontremos nos meios pelos quais ele se
revela. Discípulos maduros conhecem sua fé, vivem em obediência
a Deus, são amigos de Deus e capazes de dizer onde encontrá-lo
(FRANCESCO, 2022, p. 21).

É natural que alguns alunos, no curso, venham repensar ser


obreiros na Casa do Senhor (ou não!), e não se pode ver isso como algo
negativo, ao contrário, tal atitude é louvável, sobretudo quando esta
decisão parte do entendimento que o candidato por sua própria consciência
não se sente preparado3 para servir a santa igreja. É muito mais útil um

2
Em nossos trabalhos e estudos, buscamos nos aprofundar cada vez mais no
conhecimento de nossa área de atuação, isso é muito bom, pois toda a Doutrina de Deus deve ser
apreciada. Porém, nem sempre temos buscado nos aprofundar também no conhecimento do
Senhor e sua Palavra. Com vistas a levar os crentes a se aprofundarem mais na busca pela
verdadeira sabedoria, que se baseia no “temor do Senhor”, e que produz frutos em nossa vida
diária, demos início ao projeto Vida Com Propósito, que visa fornecer aos crentes bons materiais
cristãos que sirvam de fortalecimento e edificação, além disso, o projeto abrange a produção de
material relacionado ao trabalho ministerial.
3
Ou “ainda não se sente” preparado para servir a santa igreja.
7

obreiro verdadeiramente vocacionado do que centenas sem a menor


vocação.
Aos desavisados, é importante acentuar que a Igreja não
necessariamente precisa de obreiros competentes, pois não se trata de uma
organização empresarial, e sim de pessoas verdadeiramente chamadas por
Deus. Chamados desde sua própria intimidade para servir com zelo e temor
a igreja de Cristo. Visando assim, recompensa inquestionável na glória com
Cristo, e aqui, ser crucificado com Cristo, todos os dias (Gl 2).4
A Igreja de Cristo espera por um obreiro que não tem do que se
envergonhar (2Tm 2.15), por isso, estará segura e sempre servida por mãos
limpas. Aquele que serve a igreja do Senhor, em primeiro momento, deve se
preocupar quanto à sua conduta moral, ética, espiritual. Santidade convém
a casa do Senhor (Sl 93.5), e esta santidade não confere ao prédio ou a
ornamentação, mas a vida daqueles que fazem movimentar a obra de Deus.
Em nenhum momento cabe ao estudante ousar imaginar que pode
servir a igreja apenas por competência profissional. Seria maravilhoso se
todos os nossos obreiros fossem pessoas formadas em universidades.
Contudo, mais do que isso, a igreja roga ao Senhor que envie obreiros para
sua seara. E, se foi o Senhor que enviou os obreiros, tais obreiros devem ser
cheios do Espírito Santo. Naturalmente, ser cheio do Espírito Santo indica
uma série de prerrogativas, tais como: humildade, mansidão, obediência,
simplicidade, servidão. Além dessas maravilhosas características que vem
do caráter pessoal. Não se compra, não se aprende. Está na pessoa!5
É fatal, um obreiro competente, porém sem caráter. Certamente
sua má qualidade se manifestará, pois, aquele que comete de engano não
ficará na casa do Senhor (Sl 101.7), e, em todas as situações de pecados
encobertos, quando veem à tona, traz muito prejuízo à vida testemunhal da
igreja. A igreja, enquanto voz profética fica comprometida, ou seja, perde a

4
Dom Antonio de Assis Ribeiro, Bispo de Belém, PA, vai dizer que “A teologia do
serviço está intimamente ligada ao dinamismo das virtudes teologais, a fé, a esperança e a
caridade. Na teologia do serviço, somos todos servos, pois só Jesus Cristo é o Senhor! Todo poder
e autoridade lhe foram dados por Deus Pai (Mt 20.18). Somos todos convocados então a fixar os
nossos olhos nas atitudes de Jesus Cristo enquanto líder servidor promotor do Reino de Deus.
Logo, podemos dizer que toda e qualquer atitude que não se harmonize com a mentalidade e o
dinamismo da liderança de Jesus, deve ser evitada. Portanto, quem se voluntaria para servir na
Igreja, mas não tem fé, vai promover desgraças, sendo movido pela vaidade, prepotência, busca
dos próprios interesses, negligência, autorreferencialidade etc.”
5
Zelo é um cuidado e dedicação intensos por alguma coisa ou por alguém. Na Bíblia,
essa qualidade de diligência também aparece como um dos atributos de Deus, que preserva a sua
santidade e retidão eternamente. Deus é zeloso em toda a Sua obra e no cumprimento da Sua
vontade soberana.
8

autoridade moral diante da sociedade para denunciar a mentira e a


corrupção.
Portanto, pense bem, reflita profundamente. Não se deve brincar
diante do Senhor que contempla a tudo e todos, e dos seus olhos ninguém
pode esconder (Ap 1.7). Cristo é o único – e eterno! – sacerdote da igreja. É
ele mesmo quem governa a santa igreja e por isso nos dá ministros santos e
diáconos santos. Ele nos dá quem ele mesmo chamou por sua vontade
soberana. Quem não é chamado, definitivamente não deve entrar nas
fileiras dos servidores da Igreja Santa do Senhor.
Não defendemos a ignorância, pois em princípio, seria antibíblico
tal coisa. Inclusive sugerimos que os obreiros da casa do Senhor, sejam eles
ministros ou diáconos, busquem ser enriquecidos pela ciência. A ninguém é
prejudicial ter conhecimento. Estamos em tempo de conhecimento. Servir
ou até mesmo apascentar a igreja de hoje sem conhecimento universitário
tornará a vida do ministro ou diácono uma tarefa um tanto árdua.
Para que fique claro, a igreja não espera pessoas universitárias,
mas não espirituais; e, nem pessoas espirituais com desprezo ao
conhecimento. Seria perfeitamente plausível que o ministro ou diácono
fossem pessoas com espiritualidade e conhecimento. O equilíbrio nas duas
dimensões seria naturalmente saudável para o perfil de obreiro do século
XXI.
Evidentemente, toda a igreja sabe que perfeição só existe em
Cristo, contudo, é normal que o obreiro busque a perfeição, e jamais se
entregue ao desleixo por hipótese alguma. A obra é de Deus e o próprio
Deus é o mantenedor. Servimos a igreja do Senhor como quem serve o
próprio Senhor e das suas mãos misericordiosas vem a nossa recompensa.
Obviamente, por mais maravilhosa que seja a honra dos homens,
incomparavelmente maior é a de Cristo. Portanto, busquemos na cruz de
Cristo, o nosso lugar de honra.
Jamais se afaste da exortação, consolo e edificação que só a Palavra
do Senhor traz para a vida do crente, e uma vez afastados disso, certamente
vossa mente cauterizada. Já dizia certo filósofo antigo: “complicado é
enganar a si mesmo, depois disso todo pecado é fácil”. É a palavra do
Senhor que mantém nossos olhos abertos, prontos para refutar as
investidas do inimigo – ainda que este inimigo sejam nossos próprios
pensamentos (Jr 17.9).
9

Amado irmão, por Jesus Cristo, o filho de Deus, a igreja pede: “ouça
a voz do Espírito” (Hb 3.7,8), entendam o vosso chamado como o próprio
Cristo correspondeu a sua missão de ser enviado a história para salvar a
humanidade (Jo 3.16). E com tão tamanha dedicação cumpriu sua missão
chegando a entregar a própria vida para que os objetivos nele confiados
prosseguissem até o fim.6
Assim, como obreiros de Cristo, é fundamental que
desempenhamos nossa missão como Cristo desempenhou a dele,
oferecendo nossas vidas para a glória da causa de Cristo – igreja militante.
E que ninguém se glorie qual “cargo algum”, pois o obreiro é servo da
igreja. Não se trata de alguém que dá ordens, mas como Cristo, aquele que
alimenta a esperança dos pobres, dos excluídos; enfim, a todos quanto
sentem necessidade e tem em seus corações um vazio que só pode ser
preenchido por Deus. Toda essa labor será compensada definitivamente na
glória – igreja triunfante.
Jamais arrogam para si coisa alguma, por exemplo: “meu
ministério”, sendo o ministério na verdade de Cristo, e em Cristo
desempenhamos uma missão. Missão essa que só tem uma finalidade:
“glorificar o santo nome de Jesus”. De Cristo, por Cristo, em Cristo, iremos
até o fim, pois a missão gloriosa que nos foi confiada vem de Deus.
Para que o bom aluno possa continuar a melhorar no exercício de
sua função na obra de Deus, ele deve observar alguns pontos essenciais
para sua formação vitalícia.

6
Na vida e missão de Jesus encontramos duas grandes paixões: a primeira, é a paixão
pela vida, pelo Reino, pelo compromisso em favor dos mais pobres e excluídos. Em sintonia com
o Pai, esta paixão é expressão de uma opção, assumida fielmente por Jesus até o fim. A segunda
paixão é a da “cruz”, imposta pelos poderes religiosos e civis. É a cruz patíbulo, instrumento de
tortura, imposta pelos romanos àqueles que ousavam contrariar seu domínio. Ela não é fruto da
opção de Jesus e nem do plano do Pai. É a visibilização da violência, do ódio, do fechamento
frente à proposta de vida revelada por Jesus. No grego, “cruz” é “staurós” e significa: prontidão,
estar preparado, mobilizado, firme, sólido, estar de pé, ser fiel até o fim… Jesus não buscou a cruz
do sofrimento, o patíbulo, a morte violenta... Ele buscou o “staurós”, ou seja, a cruz da
fidelidade, da vida comprometida. Nesse sentido, a “staurós-cruz” é vida aberta, expansiva,
oblativa, vida descentrada em favor dos outros. Ela não é um evento, mas um modo de viver, pois
perpassa toda a vida de Jesus. “Cruz-staurós” é vivida a partir de uma causa: o Reino. Assim
entendemos a afirmação de Jesus no evangelho deste domingo: “Se alguém quer vir após mim,
renuncie a si mesmo, tome sua ‘cruz-staurós’ cada dia e siga-me” (Lc 9,23). Significa esvaziamento
do próprio “ego” para viver em sintonia com os outros, sobretudo com os mais sofredores.
Infelizmente, a história da espiritualidade confundiu “cruz-patíbulo” com “cruz-staurós” e
acabou gerando uma espiritualidade do sofrimento, da mortificação, da penitência... como se isso
fosse agradável a Deus. Privilegiou-se a “cruz da dor” desligada da “cruz da vida”, do
compromisso com o Reino. Tudo isso desembocou numa vivência cristã intimista, farisaica,
descompromissada...
10

O bom aluno deve gostar de ler, e ler muito. Ele deve ler livros,
artigos, e outros materiais sobre teologia e assuntos relacionados. Ele
também deve ler a Bíblia regularmente. A leitura é fundamental para o
aprendizado de qualquer área do conhecimento, inclusive da teologia. Ao
ler, o aluno adquire novos conhecimentos, desenvolve o seu pensamento
crítico, e amplia sua visão de mundo. No caso da teologia, a leitura é ainda
mais importante, pois permite ao aluno conhecer a Palavra de Deus e a
tradição cristã. Ele deve ler livros de autores cristãos, tanto antigos quanto
modernos, para ter uma visão ampla da teologia.
O bom aluno deve fazer uma constante avaliação de si mesmo. Ele
deve refletir sobre seu progresso, identificar suas áreas de força e fraqueza,
e estabelecer metas para seu crescimento. A autoavaliação é essencial para
o desenvolvimento pessoal e profissional. Ao avaliar-se, o aluno pode
identificar os pontos que precisa melhorar e tomar medidas para isso. No
contexto da teologia, a autoavaliação é importante para que o aluno
identifique suas áreas de conhecimento e crescimento espiritual. Ele deve
refletir sobre o seu relacionamento com Deus, com a Igreja, e com o
mundo.
O bom aluno deve frequentar ambientes de culto para se conectar
com Deus e com outros cristãos. A frequência a ambientes de culto é uma
forma de expressar a fé e a devoção a Deus. É também uma oportunidade de
se conectar com outros cristãos e participar da vida da Igreja. O aluno pode
participar de cultos, grupos de oração, e outras atividades de comunhão
cristã.
O bom aluno deve ser humilde, como Jesus, que veio para servir e
não para ser servido. A humildade é uma virtude essencial para o bom aluno
de teologia. Ela permite ao aluno estar aberto a aprender com os outros,
mesmo que eles sejam mais experientes ou tenham opiniões diferentes. O
aluno deve estar disposto a ouvir críticas e sugestões, e a mudar de opinião
quando necessário.
O bom aluno deve observar bons obreiros para aprender com eles.
Ele deve prestar atenção ao que eles fazem e dizem, e tentar imitar o seu
exemplo. Observar bons obreiros é uma forma de aprender com a
experiência de outros cristãos. O aluno deve prestar atenção ao seu
testemunho, à sua sabedoria, e à sua capacidade de servir a Deus e à Igreja.
O bom aluno deve exercitar-se na prática do trabalho do Senhor.
Ele deve participar de atividades missionárias, pastorais, e outras
11

atividades relacionadas à obra de Deus. A prática é essencial para o


aprendizado de qualquer área do conhecimento, inclusive da teologia. Ao
praticar, o aluno pode aplicar o que aprendeu na teoria e desenvolver suas
habilidades. No contexto da teologia, a prática é importante para que o
aluno coloque sua fé em ação e sirva a Deus e aos outros. Ao seguir esses
pontos, o bom aluno estará bem equipado para servir a Deus e à sua igreja.
Por fim, queremos salientar que este texto não quer, como
objetivo, esgotar o saber teológico, mas atender a demanda de um curso
(em curso) que tem como visão a inclusão das pessoas mais simples para a
manutenção de mão-de-obra preparada teologicamente para o serviço
litúrgico, evangelistico e afins.
Como já dissemos, a teologia é o estudo de Deus, da religião e da fé.
É um campo complexo e fascinante que abrange uma ampla gama de
tópicos, incluindo a natureza de Deus, a história da religião, a filosofia da
religião e a ética religiosa.
Existem muitas razões urgentíssimas pelas quais as pessoas
podem querer estudar teologia. Algumas pessoas estudam teologia porque
estão interessadas em aprender mais sobre a religião de sua escolha. Outras
pessoas estudam teologia porque estão interessadas em entender melhor
as diferentes religiões do mundo. E ainda outras pessoas estudam teologia
porque estão interessadas em desenvolver suas próprias crenças
religiosas.7
Não importa o motivo, estudar teologia pode ser uma experiência
gratificante e enriquecedora. A teologia pode nos ajudar a entender melhor
a nós mesmos, o mundo ao nosso redor e o lugar de Deus em nossas vidas.
Aqui estão alguns dos benefícios de estudar teologia que pode nos
ajudar a desenvolver: a) nossa compreensão de Deus e da religião, b) e
entender melhor as diferentes religiões do mundo, c) a fundamentação das
próprias crenças religiosas, d) a habilidade de pensamento crítico e
argumentação, e) nossas habilidades de comunicação, f) nossas
habilidades de liderança pessoal e de grupo, g) nossas habilidades de
resolução de conflitos, h) nossa empatia e compaixão, i) nosso senso de
propósito e significado.

7
A Teologia proporciona um aumento da sua bagagem sobre fé, religião e
religiosidade. E possibilita uma base sólida para argumentar e responder as perguntas sobre
Deus. Também permite que você utilize a razão para explicar os fenômenos religiosos, pautados
pela ciência.
12

Se você está, de fato, interessado em estudar teologia, existem


muitas maneiras de fazê-lo: em uma universidade ou faculdade, em um
seminário ou escola teológica. Pode estudar teologia por conta própria,
lendo livros e artigos teológicos, participando de estudos bíblicos e
participando de grupos de discussão teológicos. Não importa! Certamente
haverá recompensa por suas pesquisas e o Senhor Jesus será glorificado
(1Pe 3.15b)
Feci quod potui, faciant meliora potentes!

Prof. Ms. Daniel Ramos


13

SUMÁRIO

PREFÁCIO...........................................................................................................2
APRESENTAÇÃO...........................................................................................................5
SUMÁRIO.......................................................................................................... 13
MÓDULO 1 — INTRODUÇÃO........................................................................... 18
1.1 Apologética Teológica................................................................................. 22
1.2 O Pensamento Teológico............................................................................26
1.3 A Ciência Teológica......................................................................................28
1.4 A Importância da Teologia........................................................................ 29
1.5 A Metodologia Teológica.............................................................................31
1.6 O Fundamento Apostólico......................................................................... 40
1.7 A Doutrina Apostólica................................................................................. 42
1.8 Conselhos ‘De Doctrina Apostolorum’................................................... 43
MÓDULO 2 — HISTÓRIA DA IGREJA............................................................. 47
2.1 A Igreja Antiga.............................................................................................. 54
2.2 A Igreja Medieval.........................................................................................68
2.3 A Reforma Protestante............................................................................... 74
2.4 A Igreja Moderna......................................................................................... 83
MÓDULO 3 — BIBLIOLOGIA.......................................................................... 90
3.1 A Autoridade da Bíblia.................................................................................92
3.2 A Doutrina da Bíblia.................................................................................... 93
3.3 A Inspiração da Bíblia................................................................................. 95
3.4 O Antigo Testamento................................................................................. 96
3.5 O Pentateuco............................................................................................... 102
3.6 Os Livros Históricos.................................................................................. 105
3.7 A Poesia Hebraica....................................................................................... 110
3.8 Poesia e Profecia..........................................................................................111
3.9 Os Profetas Menores..................................................................................114
3.10 O Novo Testamento.................................................................................. 115
3.11 O Contexto da Terra Prometida..............................................................117
3.12 Os Evangelhos e Atos............................................................................... 119
3.13 As Cartas (ou Epístolas?)........................................................................ 124
14

3.14 A Teologia de Paulo................................................................................. 126


3.15 A Proclamação da Nova Fé......................................................................127
3.16 As Cartas Pastorais.................................................................................. 129
3.17 O Apocalipse de João................................................................................129
MÓDULO 4 — HERMENÊUTICA...................................................................134
4.1 Diferença de Interpretação e Aplicação.................................................135
4.2 Regras Fundamentais na Interpretação............................................... 136
4.3 Várias Formas de Interpretar..................................................................136
4.4 Métodos de Interpretação........................................................................137
4.5 Caminhos Analíticos Hermenêuticos....................................................139
4.6 A Crítica Textual........................................................................................ 139
4.7 A Exegese Bíblica....................................................................................... 142
4.8 O Comportamento do Exegeta............................................................... 144
4.9 O Pesquisador Exegeta.............................................................................146
4.10 Como Fazer Exegese?............................................................................. 148
4.11 A Análise Lexical e Sintática.................................................................. 148
4.12 Interpretar Historicamente...................................................................149
4.13 Interpretar Contextualmente................................................................150
4.14 Interpretar a Analogia da Escritura......................................................151
4.15 As Linguagens da Bíblia..........................................................................152
4.16 Métodos Clássicos de Interpretação....................................................152
MÓDULO 5 — HOMILÉTICA......................................................................... 155
5.1 Os Tipos de Sermão....................................................................................156
5.2 A Classificação do Sermão....................................................................... 158
5.3 A Análise Textual....................................................................................... 158
5.4 Análise de Auxílios Extrabíblicos...........................................................159
5.5 O Propósito das Ilustrações..................................................................... 159
5.6 Critérios de Ilustrações............................................................................ 160
5.7 Principais Elementos do Sermão............................................................ 161
MÓDULO 6 — ANTROPOLOGIA....................................................................163
6.1 A Ciência da Antropologia........................................................................ 163
6.2 A Antropologia Filosófica........................................................................ 165
6.3 O Homem a Imagem de Deus..................................................................168
6.4 A Criação do Homem................................................................................ 169
15

6.5 A Queda do Homem...................................................................................170


6.6 A Questão da Alma Humana.................................................................... 171
6.7 A Questão do Aborto..................................................................................174
6.7 A Doutrina do Pecado (Hamartiologia)................................................ 177
6.8 O Que é Pecado?......................................................................................... 179
6.9 A Origem do Pecado..................................................................................186
6.10 O Pecado e Suas Relações....................................................................... 187
6.11 As Consequências dos Pecado............................................................... 190
6.12 O Pecado Pessoal/Original..................................................................... 193
6.13 O Pecado Pessoal vs Pecado Social....................................................... 193
6.14 O Crente Pode Pecar?.............................................................................. 195
6.15 O Padrão de Vida Cristã...........................................................................197
6.16 A Penalidade do Pecado......................................................................... 198
6.17 As Teoria Sobre o Pecado....................................................................... 199
6.18 O Pecado dos Crentes............................................................................. 202
MÓDULO 7 — DEUS...................................................................................... 205
7.1 A Existência de Deus................................................................................. 207
7.2 Os Nomes de Deus...................................................................................... 211
7.3 Os Atributos (Qualidades) de Deus.........................................................213
7.4 A Vida e Personalidade de Deus.............................................................. 215
7.5 A Trindade Santíssima............................................................................. 216
7.6 A Pessoa de Cristo (Cristologia)............................................................. 217
7.5 A Cristologia Patrística.............................................................................219
7.6 As Duas Naturezas de Cristo................................................................... 223
7.7 Questões Dogmáticas da Cristologia.................................................... 226
7.8 A Obra de Cristo (Soteriologia).............................................................. 228
7.9 A Doutrina da Justificação...................................................................... 229
7.10 A Doutrina da Regeneração....................................................................231
7.11 A Experiência da Salvação e Santificação............................................ 231
7.12 O Condicionamento Salvífico................................................................234
7.13 A Graça Salvífica.......................................................................................235
7.14 Calvinismo e Arminianismo................................................................. 238
7.15 A Questão do Universalismo Cristão................................................... 240
7.16 A Pessoa do Espírito Santo (Pneumatologia).................................... 241
16

7.17 A Divindade do Espírito Santo.............................................................. 242


7.18 A Obra do Espírito Santo........................................................................ 243
7.19 A Plenitude do Espírito Santo...............................................................244
7.20 Os Dons do Espírito................................................................................ 246
7.21 O Fruto do Espírito.................................................................................. 250
7.22 A Doutrina dos Anjos.............................................................................. 253
7.23 A Teologia Bíblica dos Anjos.................................................................254
7.24 A Natureza dos Anjos............................................................................. 255
7.25 Os anjos são Seres Pessoais-Poderosos.............................................256
7.26 Divergência Dogmática dos Anjos.......................................................257
MÓDULO 8 — ECLESIOLOGIA......................................................................259
8.1 A Fundação da Igreja................................................................................. 261
8.2 As Funções da Igreja.................................................................................262
8.3 A Obra da Igreja: Missão Evangelizadora............................................ 263
8.4 A Missiologia no Novo Testamento......................................................264
8.5 Missão em Mateus: Fazer Discípulos................................................... 265
8.6 Missão em Marcos: A Pregação do Evangelho.................................... 271
8.7 Missão em Lucas/Atos: os Confins da Terra....................................... 273
8.8 Missão em João: A Revelação de Deus.................................................. 277
8.9 A Teologia Eclesial da Missão................................................................ 280
8.10 Espírito Santo, o Propagador das Missões........................................ 282
8.11 A Bíblia, o Livro Missionário................................................................. 282
8.12 O Preparo Missionário........................................................................... 284
8.13 Evangelho, Evangelização e Evangelismo......................................... 285
8.14 O Perfil Missionário da Igreja.............................................................. 286
8.15 A Metodologia Missionária da Igreja..................................................288
8.16 A Teologia do Discipulado.....................................................................289
8.17 A Liturgia da Igreja................................................................................. 294
8.18 A Teologia do Culto.................................................................................297
8.19 O Culto na Antiguidade Cristã............................................................... 301
8.20 A Teologia Reformada do Culto........................................................... 302
8.21 A Teologia da Oração...............................................................................303
8.22 A Teologia do Louvor............................................................................. 308
8.23 A Teologia das Ofertas............................................................................ 313
17

8.24 A Espiritualidade da Igreja.................................................................... 316


MÓDULO 9 — ESCATOLOGIA.......................................................................320
9.1 O Estado Intermediário............................................................................ 322
9.2 A Doutrina das Últimas Coisas............................................................... 324
9.3 Um Novo Céu e Uma Nova Terra............................................................ 327
9.4 Escatologia do Novo Testamento..........................................................329
9.5 Literatura Apocalíptica na Bíblica..........................................................331
9.6 Hermenêutica Apocalíptica Teológica................................................. 332
9.7 Tipos de Literatura Bíblico-Apocalíptica............................................ 332
9.8 Tipos de Interpretações Dogmáticas.................................................... 333
9.9 Antíteses das Linhas Escatológicas...................................................... 334
9.10 O Cristianismo Apocalíptico..................................................................335
MÓDULO 10 — PASTORAL............................................................................338
10.1 O Conceito de Ética Cristã...................................................................... 340
10.2 A Perspectiva Ética e Moral....................................................................341
10.3 A Ética Cristã e Seus Princípios............................................................ 342
10.4 Os Fundamentos da Ética Cristã.......................................................... 344
10.5 A Liderança Cristã....................................................................................352
10.6 Estilos e Técnicas de Liderança............................................................353
10.7 Administração Eclesiástica................................................................... 355
10.8 O Foco Ministerial................................................................................... 357
10.9 A Formação do Ministério..................................................................... 358
10.10 A Visão da Missão.................................................................................. 360
10.11 Planejamento Eficiente.........................................................................363
10.12 Característica da Liderança Cristã Servidora.................................. 365
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................. 368
18

MÓDULO 1 — INTRODUÇÃO8
“Pregue de um modo tal que,
se as pessoas não odiarem os pecados delas vão odiar você.”
—Lutero9

Teologia é o estudo sobre a fé cristã, doutrina eclesiástica, ou


ainda, destinada à formação de padres ou pastores, pelo menos é este o
conceito apresentado pelo Senso-Comum. Não há dúvidas de que todo
conceito depende no mínimo de um conhecimento de causa a priori, e as
conclusões precipitadas podem ser; antes de uma injustiça com o que está
sendo julgado; uma tentativa criminosa de deturpação da verdade.
A teologia como ciência destina-se ao estudo sistemático das
relações do homem com o Universo Divino, tendo como objeto de estudo o
próprio sentimento religioso imanente no ser, e não Deus, pois este não é
objeto e não pode ser estudo fisicamente.10
Os grandes nomes da teologia, ao longo da história, têm destacado
a importância do estudo da teologia para a compreensão da fé e da vida

8
A Introdução à Teologia é a disciplina inicial para todos estudante, tanto católicos
como protestantes, para isso disponibilizamos a) apologética teológica: com a finalidade ensinar
o aluno defender a fé cristã apresentada diante do curso; b) o pensamento teológico: para que o
aluno entende qual a prerrogativa da ciência cristã; c) a ciência teologia: para o aluno entender
que a teologia não se trata apenas de tratado, mas científico; d) a metodologia teológica: para que
o aluno compreenda as ferramentas para manusear a teologia reformada na histórica; e) o
fundamento apostólico: para que o aluno entenda as raízes de todo pensamento eclesial na
história; f) a doutrina apostólica: como pressuposto de tudo o que pensa a igreja nascente e sua
operacionalidade, bem como seus conselhos.
9
Martinho Lutero (1483-1546) foi um monge agostiniano e professor de teologia
alemão que se tornou uma das figuras centrais da Reforma Protestante. Ele nasceu em Eisleben,
Alemanha, e morreu na mesma cidade. Lutero foi um homem de grande intelecto e
espiritualidade. Ele era um estudioso da Bíblia e um pregador apaixonado. Ele também era um
homem de convicção, e não hesitou em desafiar as práticas da Igreja Católica que ele acreditava
serem erradas. Em 1517, Lutero publicou “As 95 Teses”, criticando a venda de indulgências, que
eram documentos que prometiam a remissão dos pecados.
10
A Teologia proporciona um aumento da sua bagagem sobre fé, religião e
religiosidade. E possibilita uma base sólida para argumentar e responder as perguntas sobre
Deus. Também permite que você utilize a razão para explicar os fenômenos religiosos, pautados
pela ciência. Ou seja, é um curso que promove a união do saber científico e do saber teológico na
área das ciências humanas. E capacita profissionais para exercer presença pública. Os
profissionais formados nesta área são participantes ativos na transformação da realidade social e
valorização do ser humano. Uma atuação comum de teólogos é em ONGs e empresas, através de
consultorias.
19

cristã. Eles acreditam que a teologia é uma ferramenta essencial para o


crescimento espiritual e para o serviço ao Reino de Deus.11

Teologia não é uma ciência enfadonha e árida. É uma teodiceia,


uma doxologia para todas as virtudes e perfeições de Deus, um hino
de adoração e ação de graças, uma “glória a Deus nas alturas” [...] A
teologia nos mostra como Deus, que é todo-suficiente em si
mesmo, glorificando-se a si mesmo na sua Criação, que, mesmo
dilacerada pelo pecado, é sempre Deus, do princípio ao fim — Deus
em seu ser, Deus em sua Criação, Deus contra o pecado, Deus em
Cristo, Deus quebrando toda resistência por meio do Espírito Santo
e guiando toda a Criação de volta ao objetivo que ele decretou: a
glória de seu nome (BAVINCK, 2008, p. 112).

Aqui estão algumas citações de grandes nomes da teologia sobre a


importância do estudo da teologia: a) Martinho Lutero: “A teologia é a
rainha das ciências e a mãe de todas as artes.” b) Agostinho: “A teologia é a
ciência das coisas divinas.” c) John Calvino: “A teologia é a sabedoria de
Deus.” d) Karl Barth: “A teologia é a compreensão da fé pela fé.” e) Paul
Tillich: “A teologia é a tentativa de compreender a experiência humana à
luz da revelação de Deus.”
Essas citações refletem a visão de que a teologia é uma disciplina
que busca compreender a natureza de Deus, a relação entre Deus e o
mundo, e o significado da vida cristã. O estudo da teologia pode ajudar as
pessoas a crescer em sua compreensão da fé, a desenvolver uma vida de
oração e meditação, e a servir a Deus e ao próximo com maior sabedoria e
compaixão.
Teologia é aglutinação dos vocábulos Teo (Deus) + Logia (Logos) =
estudo, tratado (do gr. Θεολογία) “ciência dos deuses”, pelo lat. theologia.
Literalmente a Teologia é o estudo sobre Deus. Teologicamente, é o estudo
acerca de Deus. Sistematicamente, é a ciência destinada a estudar a relação
de Deus com os homens, destes e Deus; dos homens entre si e destes com a

11
A Teologia foi adotada no cristianismo como conhecimento sobre Deus (sabedoria),
com Santo Agostinho (Séc. IV a V) e seu conceito de teologia natural, acima da qual colocou a
Teologia Sobrenatural (theologia supernaturalis) baseada nos dados da revelação, situada fora do
campo de ação da filosofia e a subordinando como uma serva da teologia (ancilla theologiae) que
ajuda na compreensão de Deus. No século 18, a Teologia foi definida como o estudo das
manifestações sociais de grupos em relação às divindades (Hegel).
20

natureza. Historicamente, foi a partir do século III que os Pais da Igreja


começaram a chamar a reflexão cristã sobre Deus de TEOLOGIA.12
Para Agostinho, a palavra Teologia não deveria ficar limitada
apenas ao discurso genérico sobre a divindade, mais ainda um discurso que
se tratasse de modo particular à essência divina revelada na economia da
salvação e testemunhada pela Bíblia.13 Durante tempos, a Teologia vem
ganhando espaço como Ciências Humanas e uma dimensão formal e
informal no campo do conhecimento.14
Desta relação entende-se que o estudo acerca de Deus não pode e
não deve ser limitado apenas aos seus atributos divinos, suposta
personalidade ou suas obras de teofanias no AT e NT, antes demonstrar que
a TEONTOLOGIA (Estudo do Ser divino), o que por mais que se a evolução
tecnológica e do saber das ciências humanas busque comprovar tal
existência, limita-se a especulação teo-religiosa.
(D+H) Da relação divina com o homem, podemos demonstrar uma
avaliação histórica, o Deus providencial, cujas atitudes traçam um perfil de
preocupação com a parte de Sua essência materializada (homem como
imagem e semelhança divina), para administrar a Criação por intermédio
de uma Procuração limitada até o Juízo Final.
(H+D) Da relação do homem (Argumento Antropológico) com
Deus, enfatizamos que as características herdadas por este durante o seu
percurso histórico, sejam científicos, filosóficos ou teológicos têm como
resultado o Divino. O homem existencial é um resultado do meio influente
(quinto elemento), o homem essencial é resultado de uma força atuante
espiritual, sábia e providencial, a qual denominamos de Fenômeno Divino
ou a Causa Inicial e Final de todas as coisas.
Seja esta relação uma demonstração paterna (conforme especula a
psicanálise freudiana), a verdade é que a busca pelas origens, seja pela
ciência da evolução ou por intermédio da crença no
sobrenatural-metafísico, a agonia marcante do Ser Racional, não pode ser

12
Em sentido estrito, a ciência refere-se ao sistema de adquirir conhecimento baseado
no método científico bem como ao corpo organizado de conhecimento conseguido através de tais
pesquisas. Este artigo foca o sentido mais estrito da palavra.
13
RITO, Frei Honório. Introdução à Teologia. 31 p.
14
Cf. ERICKSON, M. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997, p
15. “Para alguns leitores, a palavra Doutrina pode se mostrar um tanto ameaçadora. Ela evoca
visões de crenças muito técnicas, difíceis e abstratas, talvez apresentadas de forma dogmática.
Doutrina, entretanto, não é isso. A doutrina cristã é apenas uma declaração de crenças mais
fundamentais do cristão: crenças sobre a natureza de Deus; sobre sua ação; sobre nós; que somos
suas criaturas; e sobre o que Deus fez para nos trazer a comunhão com ele.”
21

limitada apenas a realidade cósmica a qual está inserido, pois tratando-se


de efeitos materiais, estes limitam-se às dimensões do físico, cujo estudo
não podemos compreender sua existência sem admitir uma resposta
espiritual, independente, das explicações da física moderna.
A tarefa de redimensionar o homem na sua condição mesquinha e
múltipla, de imoralidade espiritual, depravação, egoísmo e falta de amor,
de uma realidade física, mutável e finita à condição um Ser capaz de
compreender os valores da alma, da comunhão, da paz e do amor, para uma
realidade espiritual, infinita e imutável, pertence, senão, a Religião,
embora, haja, a pluralidade e o radicalismo de conceitos, ela continua
sendo, o instrumento útil de religação entre o físico e o metafísico.
(H+H) A Teologia, assim como as ciências sociológicas,
antropológicas, psicológicas, políticas, ideológicas, pedagógicas, etc. [...],
tem como a dura tarefa de compreender o homem, não com os mesmos
objetivos das demais ciências, porém, preocupa-se com a interação dos
homens entre si, como uma necessidade vital para a sobrevivência física e
extrafísica. Não podemos avaliar o homem religioso como um ser isolado,
todavia, este método indutivo esbarre nos conceitos particulares e
condicionados a determinadas situações que são variantes de um sistema
seja ele interno ou externo.15
Desta forma, a Teologia assemelha-se à história científica,16 busca
estudar determinadas ações humanas, morais e espirituais no passado,
avaliando e tentando compreender as do presente e prever as condições que
o homem (se) encontrará no futuro. Este método derivado do argumento
moral demonstrará a mutabilidade do homem durante sua estadia no
mundo terreno, pelo qual revelou em Si as atribuições morais de seu
Criador, pelo menos, no que diz respeito à essência da moralidade.
(H+N) Outra tarefa implícita na Teologia trata de interagir a
Natureza Criada com a Natureza Humana, levando o homem a
compreender a natureza como manifestação-causa da revelação-efeito de
Deus (argumento cosmológico). A natureza física criada revela um Deus
criador e sábio, que providenciou-a para que o homem – natureza humana

15
Como parceira de diálogo das demais ciências, pode contribuir na formulação da
ética e do sentido de totalidade. Conclui-se situando a Teologia entre as ciências humanas
hermenêuticas e como uma ciência de contraste. Tem seu objeto e método próprios também
diante das ciências da religião.
16
O surgimento da História científica coincidiu com o nascimento da História Antiga.
Representou a junção das teorias sociais e políticas da época com a leitura crítica das fontes
escritas antigas e a sistematização dos repertórios de fontes recolhidas pelos antiquários.
22

física-criada deduzisse a realidade divina e como tal, preservá-la como sua


moradia terrena. Embora a Ecologia defenda a estabilidade física da
natureza, ela não está preocupada nesta revelação ou nas consequências
desta com relação espiritual do homem.
Cientificamente a Teologia tem um objeto de estudo, metodologia,
pesquisa e avaliação. No âmbito do pensamento cristão, THEOS é o Deus
que se revelou no CRISTO e LOGOS é a capacidade racional do homem a
quem a Revelação Divina é dirigida.17
O dicionário apresenta as seguintes conceituações: 1. Estudo das
questões referentes ao conhecimento da divindade, de seus atributos e
relações com o mundo e com os homens, e à verdade religiosa. 2. O estudo
racional dos textos sagrados, dos dogmas e das tradições do cristianismo. 3.
O conjunto de conhecimentos relativos à teologia, ou que têm implicações
com ela, ministrados em cursos ou nas respectivas faculdades.18

1.1 Apologética Teológica19

A palavra teologia para muita gente ainda é estranha. Afinal, que o


vem a ser isso? E mais: muitos, sob pretextos insustentáveis, habituam-se
opor a Teologia à fé e, por vezes, à Bíblia. Em muitas comunidades cristãs,
dependendo de quem lidera, Teologia é uma palavra dispensável e não
poucas vezes inaceitável. Mas onde se pode encontrar a raiz dessa posição
avessa à Teologia?20
Bem, por incrível que pareça, algumas razões, mesmo que não
justificadoras, são compreensíveis: Alguns opõem-se à Teologia sob uma

17
A palavra “revelação” é usada entre os cristãos para designar uma ação divina que
comunica aos homens os desígnios de Deus e a verdade que estes envolvem, sobretudo através da
palavra consignada nos livros sagrados.
18
Cf. Aurélio. O Novo Dicionário da Língua Portuguesa.
19
Fundamentos da Teologia: Apologética Cristã. Teológica Vida, Youtube in:
https://l1nq.com/kBARU
20
A apologética teológica é uma disciplina que visa defender a veracidade da fé cristã
contra as críticas e objeções de seus opositores. Ela é importante por vários motivos, incluindo:
a) Fortalecer a fé dos cristãos: A apologética ajuda os cristãos a compreender melhor sua fé e a
responder às objeções que possam surgir. Isso pode ajudá-los a fortalecer sua fé e a se sentirem
mais seguros em sua crença. b) Atrair novos cristãos: A apologética pode ajudar a apresentar o
cristianismo de forma racional e convincente a pessoas que estão procurando a verdade. Isso
pode levar à conversão de novos cristãos. c) Colaborar com outras religiões: A apologética pode
ajudar a construir pontes entre o cristianismo e outras religiões. Ao mostrar que o cristianismo é
uma fé racional e baseada em evidências, a apologética pode ajudar a promover o diálogo
inter-religioso.
23

argumentação dita bíblica; quer dizer: Quando a Teologia é associada à


razão humana, ao saber humano, pressupõe-se que seja oposta à idéia de
que as coisas de Deus sejam propostas em termos de saber espiritual,
revelado. De alguma maneira isso parece repousar sobre uma interpretação
equivocada de 1Co 2.4,13.
Uma consequência direta dessa maneira de comparar as coisas é o
estabelecimento de uma oposição prática entre Teologia e espiritualidade.
De alguma maneira passamos a associar teologia com intelectualidade, e fé
com espiritualidade. Daí é fácil deduzir que a Teologia é inimiga da
espiritualidade.
Uma segunda situação em que essa questão se situa é o confronto
real existente entre entendimento teológico e crença (sendo aqui crença
diferente de fé). Criou-se a ideia de que a Teologia põe em risco a fé das
pessoas. É verdade que muitas de nossas concepções a respeito das coisas
espirituais não resistem ao conhecimento teológico. E é precisamente aqui
que pretendemos situar a principal importância da Teologia.21
É necessário ter-se uma compreensão do que é Teologia, a fim de
que se entenda sua importância para a igreja de Jesus em qualquer tempo
de sua história. De modo geral, os dicionários definem Teologia como a
“ciência, ou disciplina, ou doutrina, que se ocupa de Deus e dos seus
atributos e perfeições”, “[...] e das criaturas enquanto relacionadas com
Deus”. Em outras palavras, Teologia é o esforço para compreender a pessoa
e as coisas de Deus. É claro que a Teologia é um desafio à profundidade. E
nessa perspectiva de esforço, o instrumento da Teologia é o mais poderoso
recurso de que Deus dotou o homem: a razão. E à luz disso, precisamos
entender que a Razão não é contrária à Fé. A Bíblia, em muitas ocasiões,
constitui-se num apelo à sabedoria, que em outras palavras é o uso da

21
Existem diferentes tipos de apologética, cada um com seu próprio enfoque. Alguns
tipos de apologética incluem: a) Apologética evidencial: Este tipo de apologética busca apresentar
evidências para a existência de Deus e para a veracidade do cristianismo. Exemplos de evidências
incluem os argumentos cosmológicos, teleológicos e morais para a existência de Deus, bem como
a evidência histórica para a ressurreição de Jesus Cristo. b) Apologética racional: Este tipo de
apologética busca demonstrar que a fé cristã é racional e consistente com a razão. Exemplos de
argumentos racionais incluem a argumentação de que a fé é necessária para a vida moral, bem
como a argumentação de que a fé é o único caminho para a verdade e a felicidade. c) Apologética
filosófica: Este tipo de apologética busca responder a objeções filosóficas à fé cristã. Exemplos de
objeções filosóficas incluem o problema do mal, o problema da liberdade e o problema da
moralidade. A apologética teológica é uma disciplina importante que pode contribuir para o
fortalecimento da fé cristã, a atração de novos cristãos e a colaboração com outras religiões.
24

razão. Pode-se resumir isso aqui dizendo: Teologia é o esforço intelectual


para compreender a Revelação de Deus.
Em termos simples, pode-se dizer que Teologia é todo o
conhecimento que adquirimos sobre Deus. Assim, mesmo que não
percebamos, o dia-a-dia do cristão é um envolvimento com a teologia.
Nosso testemunho expressa teologia, nossos estudos ensinam teologia e as
pregações que ouvimos transmitem conhecimento teológico.
Entre muitas coisas que se poderia dizer aqui, consideramos
importante que se entenda o papel da teologia em qualificar o
conhecimento que temos sobre Deus e das coisas que a ele relacionamos. E
qualificar pelo menos sob dois aspectos: a) Quanto ao conteúdo; e b)
Quanto à comunicação.
O papel da Teologia em torno do conteúdo do conhecimento é vital
para a igreja. Em meio à fertilidade cultural em que a religião e a fé são
exercidas, a teologia é um importante instrumento de aferição do conteúdo
transmitido aos cristãos. O dinamismo com que as coisas religiosas são
tratadas no seio da sociedade e das igrejas locais é recheado tanto de
afirmações quanto de negações de cunho poderosamente influente.
Quer dizer, o fiel está à mercê de uma infinidade de proposições
que, na maior parte das vezes, lhe fogem a uma compreensão consistente,
mas que, a despeito disso, contribuem para o conjunto de crenças que
caracterizam a fé.
Assim, reserva-se à Teologia, entre outras, a responsabilidade de
cuidar do conteúdo das crenças cristãs, à luz da Bíblia, a fim de que a igreja
possa traçar sua trajetória histórica desvencilhando-se de todos os
elementos de algum modo nocivos e de outro modo contrários ao ensino da
Palavra de Deus.
Em torno da questão da comunicação, também a Teologia exerce
um importante papel. Se por um lado ela é responsável por garantir a
integridade do conteúdo da fé, por outro lado, os aspectos relacionados
com a transmissão deste conteúdo também devem estar aos seus cuidados.
Nos domínios da história do desenvolvimento da Teologia, encontramos
uma discussão teológica mais profunda a respeito da forma temporal como
comunicamos as verdades da Palavra de Deus.
É fato indiscutível para a igreja que a Bíblia contém as verdades
reveladas de Deus para o homem de todo e qualquer tempo. Todavia a
maneira como comunicamos ou transmitimos essas verdades há de levar
25

em conta as circunstâncias características do indivíduo. Seu contexto


cultural, geográfico, intelectual… Precisam ser levados em conta na
elaboração de uma forma de comunicação das verdades bíblicas que alcance
sucesso.
Assim, especialmente no contexto da teologia contemporânea,
encontramos diversas tentativas de elaboração de formas contextualizadas
de comunicação do evangelho. Consideramos, então, que à Teologia se
reserva este papel importante de fornecer à igreja os instrumentos
necessários para uma comunicação eficiente das verdades bíblicas ao
homem de seu tempo.
Esse é sem dúvida um campo fértil para se conhecer a importância
da Teologia para a igreja. Citaremos, portanto, somente alguns momentos
em que a Teologia exerceu papel decisivo no equilíbrio da fé da Igreja.
Como não poderia ser diferente, pensemos, no próprio contexto bíblico,
nas situações preocupantes em que alguns servos de Deus tiveram de
elucidar tendências perigosas para a igreja primitiva.
O exemplo clássico é o da tentativa judaizante de inserir no
conjunto doutrinário da igreja nascente elementos do judaísmo, e que
culminou com o Concílio Apostólico (49 d.C. - Atos 15). Como resultado
desse “debate”, foi determinado que os gentios não eram obrigados a
cumprir as exigências da Lei. Em Gl 2 Paulo expressa de maneira clara a
necessidade que teve de fazer observações teológicas necessárias para
enfrentar essa crise por que passaram suas igrejas.
Mais tarde, a história nos conta que, durante o Concílio de Nicéia
(325 d.C.), a correção de alguns equívocos provenientes de Alexandria,
relacionados à cristologia, salientou o nome de um homem lembrado como
alguém de percepção teológica de grande profundidade. Era Atanásio.
Tantos outros concílios foram convocados para definir, em termos
teológicos, o conteúdo de crença da igreja.
A Reforma Protestante se constituiu numa revolucionária vitória
da teologia sobre o obscurantismo religioso que caracterizava a Idade
Média. A elaboração da chamada Teologia da Cruz por Lutero é um dos
grandes legados do maior dos reformadores à cristandade. Mais
recentemente a Teologia Contemporânea expressou-se através de diversas
abordagens relevantes para uma melhor compreensão do evangelho por
parte do homem moderno. Surgiram, então, a Teologia da Esperança, de
Jurgen Moltmann, a Teologia da Palavra, de Karl Barth, a Teologia da
26

Libertação, de Gustavo Gutiérrez, Leonardo Bolï, Segundo Galilea dentre


muitos outros, a Teologia da Missão Integral da Igreja, de John Stott, René
Padilla, Samuel Escobar etc.
Finalmente, são hoje diversos movimentos teológicos trabalhando
em função de determinar os melhores meios pelos quais a igreja de Jesus
Cristo possa cumprir sua missão. A despeito de também haver uma
infinidade de contradições embutidas em muitos desses movimentos, não
cabe aqui discuti-los.
Feitas todas estas considerações em torno da Teologia, voltemos à
pergunta que nosso assunto suscita: Qual a importância da Teologia para a
igreja? A resposta parece óbvia. A teologia é o instrumento pelo qual a
igreja aufere o conteúdo da fé proposto em termos contextuais. O tempo em
que vivemos se mostra mais desafiador que qualquer outro para a igreja.
De um lado, os avanços científicos e tecnológicos procuram
substituir no coração do homem a esperança proveniente da Palavra de
Deus. De outro, o assustador avanço das religiões não-cristãs desafiam a
mensagem do evangelho com proposições alternativas ao desenvolvimento
humano. E ainda de outro, a fragmentação do Cristianismo em incontáveis
e incontroláveis segmentos, reúne uma infinidade de idéias e ensinos,
cujos erros nem sempre são fáceis de detectar.
Assim, a Teologia permanece como um importante instrumento de
julgamento de quaisquer idéias ou situações que possam pôr em risco a
integridade do cristão, da igreja ou da Palavra de Deus.

1.2 O Pensamento Teológico22

Desde os mais remotos tempos da história humana, o homem tem


cultuado deuses. Têm procurado na idolatria natural o advento de
compreender a magnitude do universo e das coisas que acontecem ao seu
redor. Esta caraterística peculiar do ser humano, foi evoluindo
racionalmente com o passar dos séculos, daí formulou-se a necessidade de
estabelecer critérios racionais para se estudar e compreender a natureza da
crença e seus efeitos morais e éticos na sociedade.
Foi o surgimento da escrita que revolucionou toda a história, seja
ela nos princípios rudimentares para se calcular o tempo ou para descrever

22
Como Funciona o Pensamento Teológico? Pr. André Nascimento, Youtube in:
https://encr.pw/FQxVu
27

a natureza em sua volta, o homem expressou o seu desejo de transmitir


seus pensamentos através de códigos que tornaram-se alfabetos das mais
variadas civilizações até chegar ao mais complexo método de leitura e
interpretação que conhecemos hoje.
A escrita desencadeou um processo evolutivo em todas as outras
áreas. A crença modificou-se gradualmente, embora muitos valores
tenham permanecido intocáveis pelos conservadores e ortodoxos, tidos
como responsáveis, seja pela, divulgação ou pela alienação irracional de
alguns dogmas sem fundamentos.
Graças a cultura grega, precisamente a partir de Platão que o
conceito da palavra “Teologia” tomou o significado que hoje conhecemos,
mesmo por que “não consta em nenhum documento literário o uso dessa
palavra” antes de Platão, o que implica em dizer a civilização grega foi a
precursora deste conceito, mesmo que se tenha surgido como um “discurso
mitológico” dos antigos poetas gregos.
Aristóteles levou adiante a linguagem mítica sobre os deuses
iniciada por Platão, vindo mais tarde o conceito filosófico e,
consequentemente, a “total racionalização da linguagem religiosa sobre os
deuses [...]” Desde então, tomou corpo filosófico, político, ideológico,
sociológico, etc.
No decorrer dos Séculos I e II, todos os conceitos religiosos
passaram a ser monopolizados e muitos destes manipuladores da Palavra
de Fé, denominados desde a Igreja Primitiva como Pais da Igreja, criaram
um sistema hermenêutico de interpretação, para trazer à tona, as
mensagens profetizadas e históricas dos primeiros mestres religiosos ou
profetas.
Mesmo que se considere que muitos interesses foram defendidos
por questões históricas, tradicionais ou políticas, a verdade é que se por um
lado, foram responsáveis pela alienação mecanicista da crença, por outro
lado, abriram as portas para que se pudesse criticar a prática religiosa.23

23
Os Pais da Igreja foram alguns cristãos que escreveram e exerceram liderança na
Igreja entre o final do primeiro século e o final do sexto século. Esse período da história da Igreja
ficou conhecido como “Cristianismo da Patrística”. Essa Era Patrística teve início com a redação do
último livro do Novo Testamento, o livro do Apocalipse, e a morte do último apóstolo de Jesus, o
apóstolo João. Isso significa que naquele período a liderança da Igreja precisou passar por uma
transição. Todos os apóstolos de Jesus tinham morrido, mas Deus levantou pastores e mestres
para liderar o seu povo. A palavra “pai” era uma designação comum atribuída pelos crentes
àquelas pessoas que ocupam os ofícios de liderança na Igreja. Eram os presbíteros ou bispos da
Igreja Antiga. Daí vem a expressão “Pais da Igreja”. Geralmente os pais da Igreja são
28

1.3 A Ciência Teológica24

Esta Ciência tem como base a Revelação, principalmente, na pessoa


de Jesus Cristo, feita aos apóstolos, transmitida pela tradição escrita e
posteriormente, oral, até ao conhecimento dos seus precursores como:
Clemente Romano, Inácio, Policarpo, Papias, Agostinho, Lutero, Tomás de
Aquino entre outros. De que forma a revelação pode ser um instrumento
científico para a avaliação teológica, se não há como se fazer observação,
experimentação e análise conclusiva dos resultados? 25
Sabemos perfeitamente, que a fé, não pode ser analisada
cientificamente, pelo menos no que diz respeito, a experimentação
laboratorial por se tratar de um método de conhecimento intuitivo, da
mesma forma que Deus não pode ser analisado materialmente. A Teologia
como Ciência tem seu objeto de estudo:
O objeto de estudo da teologia. Deus é Espírito, e é necessário que os
seus adoradores o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.24 NAA). O mais
difícil da teologia é definir o seu objeto de estudo. Deus, segundo a sua
própria natureza, tem como definição um ser espiritual, e assim, não pode
ser classificado de objeto de estudo. Partindo do sentido etimológico da
palavra Teologia, como um estudo acerca de Deus, não teríamos, pelo
menos cientificamente, um objeto de estudo, e desta forma não poderia ser
considerada como Ciência.26

classificados em três categorias principais: Pais Apostólicos, Apologistas e Teólogos. Há ainda


outras classificações dos Pais da Igreja, como: Pais Gregos, Pais Latinos, Pais do Deserto, etc.
24
Cf. Teologia e Ciência(s) - Qual a Relação? Gidalti Guedes, Youtube in:
https://encr.pw/28vIo
25
A teologia é uma disciplina acadêmica que estuda a natureza de Deus, a relação entre
Deus e o mundo, e a vida humana em relação a Deus. Ela é uma das mais antigas disciplinas
acadêmicas, com suas raízes no início do cristianismo. A teologia como ciência na história da
igreja pode ser dividida em três períodos principais: a) O período patrístico (séculos I-VII): Durante
este período, os primeiros teólogos cristãos desenvolveram as bases da teologia cristã. Eles se
concentraram na interpretação das Escrituras, na defesa da fé cristã contra as críticas e na
formulação de doutrinas cristãs. b) O período escolástico (séculos XI-XV): Durante este período, a
teologia cristã foi influenciada pela filosofia grega e latina. Os teólogos escolásticos
desenvolveram sistemas teológicos complexos que usavam a lógica e a razão para defender a fé
cristã. c) O período moderno (séculos XVI-presente): Durante este período, a teologia cristã foi
influenciada pelas mudanças sociais e culturais da Europa. Os teólogos modernos desenvolveram
novos métodos de teologia que enfatizam a experiência pessoal, a interpretação crítica das
Escrituras e o diálogo com outras religiões.
26
Toda ciência tem um objeto de estudo, seja ela especulativa, natural ou social. Com a
teologia não é diferente. Semelhante às demais ciências, a teologia também tem seu objeto de
estudo. Entretanto, no processo de estudo das outras ciências, geralmente o/a pesquisador/a se
29

O objeto material da teologia é, em primeiro lugar, Deus e depois


tudo o mais. Portanto, nada há que não seja em princípio
teologizável. O objeto formal da teologia é Deus enquanto revelado
e toda e qualquer realidade na medida em que se relaciona com o
Deus revelado [...] Portanto, faz-se teologia sempre que reflete algo
"à luz da fé" ou da revelação" (BOFF, 1998. p.21).

Por outro lado, se temos como objeto material, o homem e o


universo como revelações naturais de Deus, podemos cientificamente,
apresentar a Teologia com objetos definidos e passíveis de estudo. A Bíblia
pode ser considerada um objeto de estudo, porém, dentro de um sentido
restrito para os cristãos. Desta forma, o estudo direto de todas as formas de
Literaturas Sacras deve ser uma constante dentro da Teologia.

1.4 A Importância da Teologia27

Se vocês não creem quando falo sobre coisas terrenas, como crerão
se eu lhes falar sobre as celestiais? (Jo 3.12 NAA).28 Para analisar a

coloca acima do objeto de sua investigação para extrair o conhecimento pelo método que lhe seja
mais apropriado. Na teologia cristã, ocorre o inverso: o/a teólogo/a não pode colocar-se acima do
objeto, e sim, sob o objeto do seu conhecimento. Em outras palavras, na teologia cristã, o ser
humano só pode conhecer Deus na medida em que este ativamente se faz conhecido por meio da
revelação. “E, mesmo depois de Deus ter-se revelado objetivamente, não é a razão humana que
descobre Deus, mas é Deus que se descerra aos olhos da fé”. Para a concepção cristã clássica, a
teologia é o estudo de Deus e sua relação com o ser humano através da sua Palavra, revelada por
meio de Jesus Cristo.
27
Cf. A importância da Teologia. Voltemos Ao Evangelho, Youtube in:
https://l1nq.com/dWKQk
28
A teologia tem uma importância histórica fundamental, pois ela é responsável por
dar forma à identidade e à cultura do cristianismo. Ao longo dos séculos, a teologia tem sido
usada para explicar os mistérios da fé cristã, para defender a verdade da Bíblia, e para orientar a
vida dos cristãos. A teologia teve um papel fundamental na formação do cristianismo. Nos
primeiros séculos da era cristã, os teólogos foram responsáveis por desenvolver as doutrinas
básicas do cristianismo, como a Trindade, a encarnação, e a salvação. Essas doutrinas foram
essenciais para a unidade do cristianismo e para a sua expansão. A teologia também
desempenhou um papel importante na defesa da fé cristã contra os ataques de seus oponentes.
No século II, por exemplo, o teólogo Justino Mártir defendeu a fé cristã contra os ataques dos
filósofos pagãos. No século IV, o teólogo Atanásio defendeu a divindade de Jesus Cristo contra os
ataques dos arianos. A teologia também tem sido usada para orientar a vida dos cristãos. Ela
fornece aos cristãos uma compreensão da natureza de Deus, do seu lugar no mundo, e do seu
propósito na vida. A teologia também fornece aos cristãos princípios para viver uma vida ética e
moral. A teologia continua a ser uma disciplina importante na atualidade. Ela é essencial para o
desenvolvimento do cristianismo e para a compreensão da cultura ocidental.
30

importância da Teologia no atual quadro histórico em que se passa a


humanidade temos que considerar o seguinte:
a) O mundo passa por transformações radicais no que tange às
questões da ética e da moral, em virtude da modelação dos valores
induzidos pela mídia e o descaso da população sem o senso-crítico e
vontade próprios;
b) Os problemas sociais, econômicos e políticos necessitam de
soluções urgentes, pois a explosão demográfica é um fator que preocupa;
c) A questão das guerras, da disseminação de doenças, da
corrupção generalizada, aumento da criminalidade, catástrofes naturais e
falta de interesse das autoridades governamentais ocasionam a injustiça
social;
d) O Avanço tecnológico e a conquista de espaços da engenharia
genética visam o controle da humanidade pela alienação acomodada,
deturpando a verdade em busca de resultados que lhes satisfaçam;
e) Por fim, o homem tem buscado meios espirituais através da
crença em diversas ideologias como uma válvula de escape da realidade
ultrajante;
f) Esta busca cega e levada por algumas atitudes de simpatia nem
sempre têm levado os homens a prática dos verdadeiros valores morais,
éticos e religiosos;
g) logo, a Teologia livre de filiação religiosa, que se preocupa com
avaliação e a transformação da sociedade como um todo, a qual cuja base
encontra-se o Cristo Jesus para renovar os conceitos morais, a prática do
verdadeiro amor dos homens para com Deus e seus semelhantes, bem
como dos seus problemas os valores religiosos para a formulação de seus
próprios conceitos. Todas estas questões entram em confronto com as
necessidades básicas do ser humano e com o interesse do avanço
tecnológico e da engenharia genética.
Considerando o materialismo científico do mundo atual e das
diversas dificuldades encontradas para se estudar o “metafísico”, o
surgimento de novas ideologias religiosas entre elas as fanáticas seitas e
tradições de crenças irracionais; a Teologia tem como importante tarefa a
de criar harmonia entre a homem e deus, a fé a razão, a religião e a ciência.
Essa tarefa árdua deve ser contínua, devido às ideologias paradoxais
existentes em seus métodos e princípios.
31

1.5 A Metodologia Teológica29

“Jesus respondeu: —Ame o Senhor, teu Deus, de todo o seu


coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento” (Mt 22.37 NAA).
Seria radicalismo religioso dizer que o único método teológico para se
estudar sobre as coisas divinas é a fé. Ao dar ao homem o privilégio de ter
sido feito à imagem e semelhança de seu criador, Deus também lhe deu a
racionalidade. Se não houvesse essa diferença entre os homens, animais e a
natureza, poderia o homem adorar a Deus?30
Ao questionar sobre as coisas do universo, o homem é capaz de
contemplar a beleza, a genialidade de tudo que o cerca, e desta forma
compreender e adorar Aquele que criou tudo. Logo não podemos definir
apenas a Fé, (eis a grande vantagem dentre as outras ciências), a
metodologia científica, baseada na pesquisa, e na comprovação da lógica
apologética.
A teologia é um instrumento apologético, por isso, necessita de
respaldo, embasamento lógico; e isto é o que a Teologia tenta fazer. A
relação da Teologia com as outras ciências deveria ser de Harmonia e não
de conflitos ideológicos, mesmo porque, o que a ciência não consegue
explicar, a teologia o faz e vice-versa.31

29
Cf. 10 Passos para uma Metodologia da Pesquisa Teológica | Prof. Dr. Michel
August. FTRB, Youtube in: https://encr.pw/V6zGj
30
Cf. ALVES. Cezar Andrade. Metodologia teológica e ciência. Rio de Janeiro: Loyola,
2019. A Ciência moderna expôs a Teologia a novos desafios. Esta obra explicita os princípios
metodológicos de ambas para justificar a presença da Teologia na cena acadêmica. São
evidenciadas as semelhanças e diferenças entre o método teológico e o científico, semelhanças
essas que justificam tal presença. Com particular ênfase são analisadas as premissas do método
científico — temática pouco frequente na literatura especializada —, sublinhando-se a premissa
da existência de uma natureza pura. Isso é pela primeira vez trazido num livro à reflexão sobre o
método científico. O delineamento dos dois métodos, com a explicitação das premissas, permite
uma melhor compreensão das relações entre Ciência e Teologia. Tal delineamento evidencia, de
um lado, importantes elementos em comum entre o método científico e o método teológico na
sua forma atual e, de outro, diferenças que trazem notável consequência para as Ciências da
Religião.
31
A apologética teológica é uma disciplina que busca defender a verdade da fé cristã.
Ela usa argumentos racionais e evidências para refutar as objeções à fé cristã e para apresentar as
razões pelas quais a fé cristã é verdadeira. A apologética teológica tem uma longa história. Ela já
era praticada nos primeiros séculos do cristianismo, quando os cristãos eram perseguidos por
sua fé. Os apologistas cristãos daquela época usavam a filosofia grega para defender a fé cristã
contra os ataques dos filósofos pagãos. Na atualidade, a apologética teológica continua a ser uma
disciplina importante. Ela é essencial para o evangelismo, pois ajuda os cristãos a responder às
objeções à fé cristã. A apologética também é importante para a defesa da fé cristã contra a
secularização e o pluralismo religioso. A apologética teológica pode ser dividida em duas
categorias principais: a) Apologética negativa: Essa forma de apologética se concentra em refutar
32

Durante muitos anos a Teologia têm procurado métodos práticos


para comprovar sua eficácia junto às outras ciências, para tanto, buscou na
filosofia cristã, na filosofia clássica, na psicologia, na antropologia e
arqueologia e até nas ciências exatas sustentar as argumentações em
defesa de suas crenças e teorias teológicas. Não seria possível estudar os
objetivos da Teologia sem conhecer as suas divisões. De forma que será
preciso abordá-la de acordo com a sua aplicabilidade dentro do contexto
histórico. Vejamos as principais linhas teológicas:
Teologia Alexandrina. Doutrina do Reinado de Alexandria, no Egito,
e que floresceu do terceiro ao quinto século de nossa era. A principal meta
dos teólogos alexandrinos era tentar criar uma harmonia entre a Teologia
Cristã à Filosofia de Platão.
Teologia Ascética. Doutrina que ensina ser a ascese suficiente para
levar o homem a alcançar a perfeição cristã. Esta Teologia é ensinada e
defendida nos vários conventos e clausuras.32 Defendiam que a perfeição
cristã só poderia ser alcançada mediante a fé em Cristo Jesus, porém
defendiam a experiência particular acima da Palavra de Deus (Bíblia).
Teologia Asiática. Apresenta como principal objetivo adequar a
mensagem de Cristo à Cultura Asiática. Admitiam que o Evangelho
Ocidental sofreu adulteração. No início de 1970 o Fundo de Educação
Teológica introduziu um novo termo, "contextualização", durante o
período de terceiro mandato (1972-77). O conceito de indigenização33 foi
dado mais um passo, aplicando-a na área de missão, abordagem teológica,
e método pedagógico e estrutura. A contextualização leva em conta os
processos de laicidade, a tecnologia e as lutas pela justiça humana que
caracterizam a história das nações da Ásia.
Teólogos asiáticos, portanto, têm utilizado os conceitos de
indigenização e contextualização para justificar o desenvolvimento de
teologias asiáticas. Muitos teólogos afirmam que a revelação de Deus veio a
nós nas Escrituras através de um formulário específico cultural, como no
NT, quando Deus usou as culturas judaica e helenística para gravar sua

as objeções à fé cristã. Ela usa argumentos racionais e evidências para mostrar que as objeções à
fé cristã são infundadas. b) Apologética positiva: Essa forma de apologética se concentra em
apresentar as razões pelas quais a fé cristã é verdadeira. Ela usa argumentos racionais e
evidências para mostrar que a fé cristã é plausível e convincente.
32
[Do lat. claustra, orum.] “clausura, recinto fechado”.
33
Fenômeno de adaptação em um povo de um princípio de valor humano que lhe foi
pregado e ensinado, ou incutido. De acordo com a Sociologia é o conjunto de medidas para tornar
peculiar a um povo uma determinada ideia.
33

revelação. Portanto, o evangelho deve também ser traduzido hoje em


particular as formas de culturas asiáticas, e consequentemente numerosos
asiáticos, teologias pretensão de representar asiáticos formas culturais:
dor de Deus teologia (Japão), a teologia búfalo de água (Tailândia), a
teologia do terceiro olho (para o chinês), minjung teologia (Coreia), a
teologia da mudança (Taiwan), e uma pontuação de outras teologias
nacionais, como a indiana teologia, teologia da Birmânia, Sri Lanka e
teologia. A proliferação de teologias da Ásia aumenta significativamente
desde a década de 1960 e continuarão a se multiplicar no futuro. Este será,
sem dúvida, enorme impacto na produção, bem como conflitos e confusões
em instituições teológicas e igrejas cristãs na Ásia.
Teologia da Cruz. Lutero foi o precursor deste pensamento. Admitia
que a cruz revelava Deus e que sem esta, o Cristianismo não poderia ser
compreendido. A teologia da Cruz ou estaurologia é um termo cunhado pelo
teólogo Martinho Lutero para fazer referência à teologia que propõe que a
cruz é a única fonte de conhecimento sobre quem é Deus e como Ele salva
em contraste com a teologia da glória, que enfatiza as habilidades e a razão
humanas.
Teologia da Experiência. Segundo Friedrich Schleiermacher,34 a
experiência sobrenatural do homem levaria ao conhecimento da essência
do Cristianismo. A teologia parte da experiência de Deus realizada no
cotidiano de forma especial através da lectio divina e da celebração dos
sacramentos. A teologia parte da fé celebrada e vivida pelas comunidades
eclesiais. A unidade entre teologia e experiência é rompida com o período
posterior aos Pais, a escolástica.
Teologia da Glória. Lutero defendia a posição cosmológica de que a
revelação divina poderia ser compreendida mediante a sensibilidade do
conhecimento humano com relação às coisas por Ele criadas. Em contraste,
segundo Lutero, o teólogo da glória prega que os humanos têm o poder de
fazer o bem que está dentro deles ("quod in se est"), que restou, depois da
queda, alguma capacidade de escolher o bem e que os humanos não podem
ser salvos sem participarem ou cooperarem com a retidão concedida por
Deus.

34
Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher foi pregador em Berlim na Igreja da Trindade
e professor de Filosofia da Teologia na Universidade de Berlim. Traduziu as obras de Platão para
o alemão. Foi influenciado por Kant e Fichte, mas não se tornou um idealista subjetivo.
34

Teologia da Morte de Deus. Conhecida como Ateísmo cristão ou


Teologia Secular, floresceu em 1960 ensinando a ideia de um Deus
Transcendental totalmente descartada pelo homem moderno. Entre os
filósofos que colocaram a ênfase na morte de Deus costuma citar-se,
sobretudo, Nietzsche e também Hegel. Não tiveram uma ideia original. Já
estava na lógica da tradição luterana, assim como na de Santo Agostinho e
São Paulo. Junto com Hegel, foi este último que sublinhou, no entanto, que
a morte de Deus em Jesus era um aspecto inevitável da humanidade de
Deus. Respaldou sua afirmação apelando ao grito de “Deus mesmo está
morto” procedente de um hino luterano, tão clássico que J. S. Bach o
harmonizou e Brahms o converteu em tema de um prelúdio para órgão: O
Traurigkeit, O Herzeleid (Oh tristeza! Oh pena do coração!). Nietzsche,
simplesmente, inverteu a lógica da tradição paulina porque considerava
que, com a peripécia de Cristo no calvário, Deus não apenas estava no
banco, mas que havia sido condenado e executado.
Teologia da Nova Aliança (TNA). Teologia fundamentada numa
apologética bíblica com relação aos pactos firmados no Antigo e Novo
Testamento. A teologia da nova aliança tipicamente não sustenta um pacto
das obras ou um pacto da graça abrangente (embora eles ainda
argumentem em favor de um único caminho de salvação). A diferença
essencial entre a Teologia da Nova Aliança e a Teologia do Pacto (TP),
contudo, diz respeito à Lei Mosaica. A TP sustenta que a Lei Mosaica pode
ser dividida em três grupos de lei – aquelas regulando o governo de Israel
(leis civis), as leis cerimoniais e as leis morais. A lei cerimonial e a civil não
mais estão em vigor, pois a primeira foi cumprida por Cristo e a última
aplicava-se somente à teocracia de Israel, que agora não existe mais, mas a
lei moral continua. John Piper tem algumas coisas em comum com cada
uma destas visões, mas não se classifica dentro de qualquer um desses três
campos.
Provavelmente ele está mais longe do dispensacionalismo, embora
concorde com o mesmo de que haverá um milênio. Muitos dos seus heróis
teológicos eram teólogos do pacto (por exemplo, a maioria dos Puritanos),
e ele vê certo mérito no conceito de um pacto das obras pré-queda, mas ele
não tomou uma posição sobre o conceito específico deles do pacto da graça.
Com respeito às suas visões sobre a Lei Mosaica, ele parece estar mais
próximo da teologia da aliança do que da teologia do pacto, embora uma
35

vez mais isso não quer dizer que ele se enquadre precisamente dentro desta
categoria.
Teologia Dialética ou Neo-ortodoxia. Prega o exato e inconcusso
cumprimento de uma doutrina religiosa; conformidade com essa doutrina
bíblica.
Teologia dialética. Teologia da crise ou, ainda, teologia da Palavra
ou neo-ortodoxia foi um movimento teológico que floresceu na Europa
(particularmente na Alemanha) da década de 1920.
Teologia do Antigo Testamento. Parte da Teologia Bíblica que trata
de forma ordenada e sistemática os estudos das verdades divinas
promulgadas pelos profetas, justos, anjos e sábios no Antigo Testamento.
Teologia do Novo Testamento. Trata de estudar as mensagens do
Evangelho anunciado por Cristo e seus seguidores, sobretudo a Doutrina
Paulina cuja influência alcança a Igreja por um todo em todas as épocas.
Alguns teólogos não exageram quando afirmam “se Paulo não tivesse
existido, o cristianismo não teria chegado às vias que chegou”.
Teologia do Processo. São representantes deste sistema Shailer
Mathews, Henry Wieman e Henri Bergson. Defendem a ação providencial
divina no Universo enfatizando as ciências naturais acima da revelação. A
Teologia do Processo é uma escola de pensamento influenciada pela
filosofia do processo, de Alfred North Whitehead. Com o passar dos anos, o
pensamento teológico floresceu a ponto de trazer um variante tão extensa
de diversificação do saber teológico que não seria possível enumerá-las
aqui neste texto, apenas destacamos alguns, como:
Teologia do Reavivamento. Apresenta um conjunto de doutrinas
pelas quais defendem o retorno da Palavra Divina, a santificação, a prática
da oração e o serviço de expansão do Reino de Deus.
Teologia Empírica. Também denominada de Teologia Natural, cujo
fundamento maior é a defesa do argumento cosmológico, pelo qual Deus se
revela ao homem por intermédio da natureza.
Teologia Evangelical. Tem como meta a doutrina da regeneração
humana, o retorno do cristianismo ortodoxo. Realça a necessidade de o
cristão ter uma experiência com o Salvador.
Teologia Existencial. Doutrina relacionada com a filosofia do
Existencialismo defendida por Sartre e Heidegger. Enfatiza a existência
acima da essência humana).
36

Teologia Federal. Segundo seu autor Johannes Cocceius


(1603-1669), Adão representava toda a raça humana no pacto de obras
firmado com Deus).
Teologia Filosófica. Sistema teológico cujo instrumento filosófico
preocupa-se em compreender o Espiritual por intermédio da razão).
Teologia Mediadora. Os precursores desta doutrina foram Dorner e
Karl Ullmann que enfatizaram a busca pelo equilíbrio doutrinal do
racionalismo com o sobrenaturalismo.
Teologia Moral. Parte integrante da grade teológica católica que
acredita que a Ética Cristã é o instrumento necessário para melhorar a
conduta do cristão dentro da sociedade).35
Teologia Natural. Trata de compreender através das Escrituras, as
relações divinas com o universo moral por Deus criado).
Teologia Negra. Fundado por James Cone, enfatiza a libertação
humana da opressão social e política como objetivo primordial.
Teologia Ortodoxa. Acredita que as suas doutrinas estão em acordo
mútuo com as crenças religiosas tidas como oficiais, considerando que os
ensinamentos bíblicos correspondem com a verdade por ela ensinada.
Teologia Secular. Doutrina cuja preocupação está relacionada com a
participação do cristão como elemento de modificação do mundo.
Teologia da Libertação (TdL). Formulada após o Concílio do
Vaticano II, mais tomou corpo na América Latina em Medellín (1968) e
Puebla (1979). Tem como doutrina a opção pelos pobres através de uma
crítica sociológica e econômica da sociedade. É praticada pelas
Comunidades Eclesiásticas de Base (CEBs). Dentro do ambiente Protestante
é conhecido como Teologia da Missão Integral (TMI), acusado diversas
vezes de marxismo teológico.
Teologia Bíblica (TB). Destina-se ao estudo da literatura sacra, da
sua divisão, estilo, autores e períodos. Quando falamos de Teologia Bíblica,
estamos discutindo um jeito de se fazer teologia ou como Graeme
Goldsworthy gosta de expressar, é uma ênfase teológica. Para ele, a ideia é
produzir uma teologia cuja ênfase seja descrever o processo pelo qual a
Revelação divina se desdobra ao longo da Bíblia, mostrando como a
vontade de Deus se move em direção a Cristo. Assim, mesmo que na

35
Enquanto a Teologia Protestante se organiza em quatro linhas (Bíblica, Sistemática,
Histórica, Pastoral), a Teologia Católica se organiza em cinco linhas (Bíblica, Sistemática,
Histórica, Moral, Pastoral). Contudo, trata-se de apenas organização da grade teológica, as
disciplinas contidas nas cinco linhas católicas estão distribuídas nas linhas protestantes.
37

academia de maneira geral a expressão Teologia Bíblica seja empregada de


maneira diversa, chegamos a uma definição. Ao menos nos círculos
reformados, ou mesmo evangélicos, Goldsworthy representa bem o que
significa a tarefa do teólogo bíblico: produzir teologia dando ênfase à
maneira como Deus trabalha ao longo da Bíblia.
Teologia Dogmática (TD). Trata dos estudos relacionados às
verdades fundamentais da fé conforme os dogmas eclesiásticos. A teologia
dogmática é a parte da teologia cristã que trata, sistematicamente, do
conjunto das verdades reveladas por Deus, isto é, do dogma e das verdades
fundamentais a ele vinculadas, às quais se deve em primeiro lugar o
assentimento da fé. Esta teologia está, em parte, englobada pela teologia
sistemática.
Teologia Exegética (TE). Relacionada com o estudo do verdadeiro
significado das Escrituras, tratando assim da interpretação dos textos e
conhecimento das línguas originais para verificação e análise.
Teologia Histórica (TH). Baseada no estudo dos fatos históricos das
igrejas e seus princípios administrativos. Teologia histórica é o estudo da
história da doutrina cristã. Grenz, Goretzki e Nordling a descrevem como
“A divisão da disciplina teológica que busca entender e delinear como a
igreja interpretou as Escrituras e desenvolveu a doutrina ao longo de sua
história, desde o tempo dos apóstolos até o presente.”
Teologia Sistemática (TS). Tem como objetivo o estudo ordenado
dos desígnios de Deus com relação a redenção da humanidade. Entende-se
por Teologia Sistemática Cristã como uma “Organização lógica e ordenada
das verdades alusivas a Deus e ao seu relacionamento com o homem, num
sistema doutrinal, cultural e historicamente coeso e harmônico com as
Escrituras do AT e NT.”36
Embora a Teologia Sistemática seja também denominada de
Teologia Dogmática, baseia-se em estudar as relações de Deus com os
homens dentro do contexto histórico de forma que demonstre a intenção
divina na redenção da humanidade e não em estabelecer ou formular
doutrinas para criação ou surgimento de novas ideologias ou religiões
sejam elas quais forem.
A Ordem básica obedece aos critérios teológicos bíblicos:

36
RITO, Frei Honório. Introdução à Teologia, p 273.
38

BIBLIOLOGIA. Estudo dos textos canônicos.37


TEONTOLOGIA. Estudo sobre a “existência” de Deus.38
ANGELOLOGIA. Estudo dos anjos, natureza e funções.
ANTROPOLOGIA. Estudo do homem, criatura de Deus.
HAMARTIOLOGIA. Estudo do pecado e consequências.
SOTERIOLOGIA. Estudo da salvação e aplicação.
CRISTOLOGIA. Estudo sobre Jesus Cristo e sua obra.
PNEUMATOLOGIA. Estudo sobre o Espírito Santo.
ECLESIOLOGIA. Estudo da Igreja, origem e destino.
ESCATOLOGIA. Estudo dos acontecimentos finais.
Na prática, a teologia é uma tentativa de diálogo do profano com o
sagrado, o físico com o metafísico, o material com o espiritual, o racional
natural com a revelação sobrenatural.39 Tendo como objetivo abordar o
problema da divindade, isto é, como falar de Deus, a teologia está
intimamente relacionada com a ontologia e a metafísica. Envolvida com a
Filosofia, pois faz uso da Dedução Racional, cuja capacidade foi dada por
Deus para que se conhecesse todas as coisas, como a verdade e a sabedoria.
Embora seja a Teologia distinta da Filosofia, não são contrárias, ou
além da razão, o objeto da teologia não é o irracional, a fé não se opõe à
razão, uma vez que ela só é possível em um ser racional. Assim sendo, o
objetivo maior da Teologia é o conhecimento racional de Deus ao Homem e
fazer o uso da fé como instrumento para o conhecimento intuitivo e
experimental acerca da realidade divina.40
Indiretamente e num todo, as partes que se dividem a teologia
estão inter-relacionadas, pois para se estudar a divisão de alguns livros,
seria necessário conhecer a história e os costumes, bem como, conhecer as

37
A Bibliologia vem em primeiro plano, por tratar de fonte primordial para a
compreensão dos ensinamentos posteriores. Uma vez que é através da Bíblia que Deus se revela
ao homem como um Ser Pessoal, Espiritual e Atuante.
38
TEONTOLOGIA = justaposição de TEO (Deus [ou deuses]) + ONTOLOGIA (parte da
filosofia que trata do ser enquanto ser, i.e., do ser concebido como tendo uma natureza comum
que é inerente a todos e a cada um dos seres.
39
A verdadeira teologia deveria ao menos estar interessada em levar o conhecimento
acerca de Deus ao homem decaído pela conscientização moral e pelo conhecimento racional da
revelação divina pela fé, e não na formulação de doutrinas, uma vez que muitas das consideradas
seitas ou falsas religiões têm surgido devido às interpretações doutrinárias forjadas e defendidas
por interesses de sofismas daquelas chamadas “teologia”.
40
A relação entre teologia e conhecimento racional é complexa e não há uma resposta
simples. Alguns teólogos acreditam que a teologia é uma forma de conhecimento racional,
enquanto outros acreditam que ela é uma forma de fé. É possível que a teologia seja uma
combinação de ambas as coisas. Ela pode ser baseada na razão natural, na revelação divina, e na
fé.
39

formulações linguísticas que deram fundamento a divisão e interpretação


dos textos. A harmonia que deve existir em cada departamento ou setor da
teologia atingirá o objetivo único que é a busca do conhecimento necessário
e aplicável.41
A verdade não precisa de intermediários, precisa de intérprete. E
como ninguém é dono da verdade, pois não a conhece, uma vez conhecida,
ninguém iria querer ser dono. Baseada nesta preposição, a Teologia tentará
como as outras ciências, encontrar respostas, é claro que outras perguntas
irão surgir, e aí, é que está a grande tarefa da Teologia e o seu grande
estigma. Já não poderemos acabar com todas as perguntas, tentaremos ao
menos diminuí-las.
Os homens clamam pelo amor e pelo conhecimento dos que sabem
e têm o zelo de pregar com sabedoria e honestidade o Evangelho salvador.
Para se falar sobre Religião é necessário primeiro que haja um conceito,
independente das diversas opiniões, a origem da palavra leva a um único
sentido: religião vem do latim, religare, ou seja, retornar, ligar novamente,
juntar. Etimologicamente temos um objetivo e não uma definição. Desta
forma, uma religião que se preze, deve ter pelo menos o objetivo geral de
levar o homem a Deus pela prática da fé.
O conceito bíblico sobre Religião é o seguinte: “A religião pura e
imaculada para com nosso Deus e pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas
nas suas aflições, e guardar-se incontaminado no mundo” (Tg 1.27).
Assim, a verdadeira Religião deve ser antes de tudo prática e não somente
teórica, baseada somente na fé ou cultos fetichistas. Para alguns as boas
obras são essenciais, para outros a fé. A verdadeira religião pelo menos
enfatiza que é necessária a fé e a prática.
Poderia se perguntar porque o ladrão que foi crucificado na cruz
juntamente com Jesus Cristo foi salvo sem realizar obras. A resposta é
simples, o ladrão foi salvo porque reconheceu em Jesus Cristo, o Filho de

41
Ao escolher uma obra de teologia para ler, é importante considerar seus interesses e
perspectivas teológicas. Se você é novo na teologia, pode ser uma boa ideia começar com uma
obra introdutória, como “Introdução à Teologia” de Millard Erickson. Esta obra fornece uma
visão geral abrangente do campo da teologia. Se você já tem algum conhecimento de teologia,
pode querer ler uma obra mais abrangente, como “Teologia Sistemática” de Wayne Grudem. Esta
obra aborda todos os principais tópicos da teologia, incluindo Deus, a Bíblia, a salvação, a igreja,
o estado e a vida eterna. Se você está interessado em um tópico específico da teologia, pode
querer ler uma obra que se concentre neste tópico. Por exemplo, se você está interessado na
teologia da igreja, pode querer ler “Teologia da Igreja” de Jürgen Moltmann. A teologia é um
campo complexo e fascinante. Ao ler obras de teologia, você pode aprender mais sobre Deus, a
Bíblia, a igreja e o mundo ao seu redor.
40

Deus e passou essa mensagem ao outro ladrão que era incrédulo, logo,
mesmo na cruz, ele praticou uma boa obra que foi tentar evangelizar o
ladrão descrente (Lc 23.39-43). Ora a bíblia enfatiza que a fé sem obra não
salva, da mesma forma a obra sem fé não salva (Ef 2.8-9).
Quanto a teologia e a religião não existe na verdade um
contrassenso, existem sim, o antagonismo dialético das funções, e fica
mais acentuado quando se trata de identificar a Teologia Oriental e
Ocidental, a Teologia Pura e a Teologia Crítica, a Religião como mecanismo
ideológico, a Teologia como instrumento pessoal.
A diferença básica entre a teologia e a religião encontra-se na
objetividade imanente de cada uma delas, ou seja, a teologia tem como
objetivo “levar” Deus ao homem através do conhecimento racional das
escrituras42 e pesquisas metódicas com a ajuda das ciências humanas. A
religião, pelo menos a que se diz cristã, tem como meta levar o homem a
Deus pela prática do amor e da fé em Jesus Cristo através da revelação e
experiência espiritual.
Muitos ensinamentos ou argumentos teológicos são mais radicais e
difíceis de serem derrotados que as doutrinas fanáticas de muitas religiões,
e como tais, estes prejudicam a Essência da Mensagem, desvirtuam a
Verdade, sendo, pois usados como instrumentos ideológicos de uma
manipulação alienista e utópica, ou de como uma apologética cujo objetivo
visa a defesa de interesses pessoais, são os sonegadores da verdade, os
especuladores da fé de uma sociedade carente de saber e ultrajada pelo
espírito de confusão

1.6 O Fundamento Apostólico43

Com o passar dos anos, a Igreja se fragmentou em diversos


segmentos, desde grupos preocupados em viver com a Comunidade
Primitiva ao grupo que nem poderíamos considerar cristãos, tamanha as
situações bizarras que estão inseridas, tudo para chamar atenção e

42
Não confundir isso como heresia gnóstica, que defendia que o homem só é capaz de
chegar até Deus através do conhecimento racional, pois sabemos de inúmeros irmãos e irmãs
espalhados pelo mundo ao longo dos séculos que professavam legítima fé na pessoa de Jesus
Cristo, verdadeiro Deus, verdadeiro homem; mas nunca souberam explicar racionalmente tais
questões.
43
Cf. A Doutrina dos Apóstolos. Parte 1: O Fundamento da Igreja. Prof. Daniel Ramos,
Youtube in: https://l1nq.com/DuOpl
41

arrebatar mais adeptos. Mas afinal, como era a Igreja Primitiva? Como se
comportam os irmãos e irmãs da comunidade de fé nascente? Seria este o
modelo para toda a igreja, ou deveríamos atualizar o modelo de
comunidade de fé?44
Em At 2.42-47 narra as atividades das primeiras comunidades de
fé, e está incluído nos chamados “sumários das primeiras comunidades”
que são descritas no livro:

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no


partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia temor, e muitas
maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. Todos os que criam
estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas
propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um
tinha necessidade. E, perseverando unânimes todos os dias no
templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e
singeleza de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o
povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se
haviam de salvar.”

Com a nova era “pós-modernidade”, surgiu uma tendência às


rápidas mudanças, como sendo um rolo compressor sufocando cada vez
mais, rapidamente, os valores éticos tradicionais sedimentados na igreja e
na sociedade, implantando em contraposição uma “nova ordem”
pluralista, relativista e vulnerável. Muitas vezes com anseio imitar as
passagens bíblicas, a Igreja no Brasil vem se submetendo a várias situações
chegando até mesmo ao bizarro, estranhas práticas que mais se aproxima
do antigo judaísmo presente no AT, do que definitivamente a legítima fé
apostólica.
Neste contexto onde a igreja está inserida, se não ficar firme na
doutrina dos apóstolos e nas suas tradições evangélicas, com embasamento
numa profunda convicção doutrinária, os menos informados correm o
risco de nós apostatar da fé genuína e verdadeira seguindo às heréticas
falsas doutrinas.

44
O teólogo precisa interpretar a experiência humana à luz da fé em Deus, mostrar que
a existência humana não se reduz à racionalidade imanente. No mundo atual, o teólogo necessita
do diálogo entre a Teologia e a Ciência, sabendo que a Teologia deve respeitar a autonomia da
ciência e esta a da Teologia.
42

Por isto que o apóstolo Paulo exorta, assim: (2Tm 4.3-4) “Porque
virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos
ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias
concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas.”
Em Atos 2, para que os cristãos se reuniam? Ali estavam essas
pessoas que tinham saído do mundo para se juntar ao grupo de pessoas
chamado de discípulos, e eles formaram a primeira igreja, mas para que
serve a igreja? O que ela faz? O que ela provê? Qual era o perfil da Igreja
Primitiva? “E perseveravam na doutrina dos apóstolos [ensino] e na
comunhão, no partir do pão e nas orações” (At 2.42), atividades puramente
espirituais. E esse é o modus operandi para a igreja em qualquer tempo,
uma vez que se diz fundamentada nas escrituras atentando para o detalhe
crucial.

1.7 A Doutrina Apostólica45

O ensino dos apóstolos é posto em primeiro lugar nessa lista. A


primeira coisa que estes primeiros-cristãos desejaram era mais ensino por
parte dos apóstolos. Os ensinamentos da Comunidade de Fé
fundamentados nos santos apóstolos atestam sua legitimidade enquanto
Igreja. Quando homens e mulheres tornam-se cristãos, eles sofrem a
mudança mais profunda que eles jamais poderiam imaginar; é realmente
uma experiência profunda.46
Portanto, deve-se tomar cuidado para que esta experiência não
seja meramente emocional, o que pode trazer prejuízos profundos. A

45
Cf. Fundamento Apostólico - Cultura Podcast #05. Cultura do Reino, Youtube in:
https://l1nq.com/HA22x
46
A mística da igreja apostólica é a experiência espiritual dos primeiros cristãos. Essa
experiência era marcada por uma forte comunhão com Deus, um amor profundo uns pelos
outros, e um desejo ardente de servir a Deus e ao mundo. Por exemplo, At relata a experiência dos
primeiros cristãos, que eram cheios do Espírito Santo e testemunharam o poder de Deus. 1Co
descreve a vida da igreja em Corinto, que era marcada por um amor profundo e uma unidade
forte. A mística da igreja apostólica é uma fonte de inspiração para os cristãos de todos os
tempos. Ela nos lembra que a vida cristã é uma vida de comunhão com Deus, de amor uns pelos
outros, e de serviço ao mundo. Alguns dos elementos da mística da igreja apostólica incluem: a) A
comunhão com Deus: Os primeiros cristãos tinham uma forte comunhão com Deus. Eles
experimentaram a presença de Deus em suas vidas de forma profunda e pessoal. b) O amor uns
pelos outros: Os primeiros cristãos tinham um amor profundo uns pelos outros. Eles se
consideravam membros de uma família e se preocupavam uns com os outros. c) O desejo de
servir a Deus e ao mundo: Os primeiros cristãos tinham um desejo ardente de servir a Deus e ao
mundo. Eles estavam dispostos a sacrificar suas vidas por amor a Deus e ao próximo.
43

verdadeira experiência da conversão em Jesus Cristo provoca no cristão


mudanças simplesmente por acreditar na Verdade. Esta crença na Verdade
nasce através da exposição da Palavra. Foi a pregação de Pedro, o seu
ensino, a sua doutrina, que uniu essas pessoas. Como vimos, as pessoas em
Atos estavam juntas porque elas tinham tido a mesma experiência. Mas o
que nos impressiona imediatamente a respeito delas é que elas tinham tido
a mesma experiência porque elas tinham acreditado no mesmo ensino, na
mesma mensagem.
Então, os que aceitaram a palavra foram batizados, havendo um
acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas à comunidade cristã (At
2.41-43). Nunca teria havido uma igreja primitiva a não ser por este ensino
específico. Por isso somos obrigados a enfatizar que o ensino [a exposição
da Palavra] deve vir primeiro porque foi ele que conduziu às conversões, à
transformação.
Foi a pregação petrina, o seu ensino, a sua doutrina, que uniu essas
pessoas. Elas acolheram a Palavra e foram inseridas na Comunidade de Fé.
O verso 44 diz que “todos os que creram estavam juntos”. Eles cresceram no
mesmo ensino, pois era uma igreja unida que se reuniam para cultuar ao
Senhor. Como devemos fazer para permanecermos fiéis?

1.8 Conselhos ‘De Doctrina Apostolorum’47

1. Permanecer firme na fé e na doutrina. Como escreveu o mestre


Judas irmão de Tiago contra os ímpios e falsos mestres, assim: (Jd 3)
“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da
comum salvação, tive por necessidade escrever-vos e exortar-vos a
batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (cf. Jd 3-13).48
2. Reter as tradições apostólicas e evangélicas. Segundo o dicionário
Aurélio, a tradição quer dizer: “Ato de transmitir ou entregar. Transmissão
de valores espirituais através de gerações”. Aqueles que querem mudar a
qualquer custo, tradições e valores éticos e espirituais, cedendo às pressões
sociais, sempre introduzem heresias contrariando os ensinos de Jesus e de

47
A Doutrina dos Doze Apóstolos – Escritos Apócrifos 06. Prof. Jonathan Matthies,
Youtube in: https://l1nq.com/dw0Wq
48
O mestre, o profeta e o apóstolo têm que ensinar a verdadeira Doutrina, isto é,
ensinar a justiça e o conhecimento do Senhor. Eles também têm de vivê-la, serem humildes e
desprendidos, trabalhadores e sensatos, entre outras virtudes. A “Didaché” diz que um profeta
deve viver à maneira do Senhor.
44

seus apóstolos, invertendo a ordem estabelecida. Como está escrito na


epístola de Judas: Pois certos indivíduos, cuja sentença de condenação foi
promulgada há muito tempo, se infiltraram no meio de vocês sem serem
notados. São pessoas ímpias, que transformam em libertinagem a graça do
nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo (Jd 4
NAA). Como escreveu o apóstolo Paulo: Assim, pois, irmãos, fiquem firmes
e guardem as tradições que lhes foram ensinadas, seja por palavra, seja por
carta nossa (2Ts 2.15 NAA).
3. Reter tudo o que foi ensinado por Jesus e pelos apóstolos. A ordem
de Jesus é para acautelar-se contra os falsos mestres, assim: (Mt 7.15,16a
NAA) “Cuidado com os falsos profetas, que se apresentam a vocês
disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos
vocês os conhecerão” E mais o seguinte: Mt 7.24-27 NAA

“—Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica


será comparado a um homem prudente que construiu a sua casa
sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os
ventos e bateram com força contra aquela casa, e ela não desabou,
porque tinha sido construída sobre a rocha. E todo aquele que ouve
estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um
homem insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a
chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e bateram com
força contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.”

Como disse o apóstolo Pedro, que os falsos mestres introduzem


ocultamente heresias: (2Pe 2.1-3 NAA) Assim como surgiram falsos
profetas no meio do povo, também haverá falsos mestres entre vocês. Eles
introduzirão heresias destruidoras, chegando a renegar o Soberano Senhor
que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. E muitos
seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, o caminho da
verdade será difamado. Movidos pela avareza, eles exploraram vocês com
palavras fictícias. Mas, para eles, a condenação decretada há muito tempo
não tardou, e a destruição deles não caiu no esquecimento.
4. Que seja pela Palavra registrado nos evangelhos.

“Disse Jesus: Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não


passarão” (Mt 24.35 NAA). “Jesus respondeu: —Se alguém me
45

ama, guardará a minha palavra; e o meu Pai o amará, e viremos


para ele e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as
minhas palavras. E a palavra que vocês estão ouvindo não é minha,
mas do Pai, que me enviou” (Jo 14.23-24 NAA). “Eu lhes tenho
dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do
mundo, como também eu não sou. Não peço que os tires do mundo,
mas que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também
eu não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo
17.14-17 NAA). “Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia
deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus
lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro. E, se alguém tirar
qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a
sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que estão
escritas neste livro” (Ap 22.18-19 NAA).

5. Que seja pelas epístolas doutrinárias dos apóstolos. O apóstolo


Paulo insiste a Timóteo com juramento contra os desvios doutrinários,
assim:

“Diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos,


pela sua manifestação e pelo seu Reino, peço a você com insistência
que pregue a palavra, insista, quer seja oportuno, quer não, corrige,
repreende, exorta com toda a paciência e doutrina. Pois virá o
tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, se
rodearam de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que
sentindo coceira nos ouvidos. Eles se recusaram a dar ouvidos à
verdade, entregando-se às fábulas”. (2Tm 4.1-4 NAA). “Cuide de
você mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres, porque,
fazendo assim, você salvará tanto a si mesmo como aos que o
ouvem” (1Tm 4.16 NAA).

6. Que seja pelos ensinos pioneiros na mensagem pura do Evangelho.


Exemplo dos ensinamentos dos apóstolos: “E perseveravam na doutrina
dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma
havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por meio dos
apóstolos”. (At 2.42-43 NAA). “Assim, pois, irmãos, fiquem firmes e
guardem as tradições que lhes foram ensinadas, seja por palavra, seja por
46

carta nossa” (2Ts 2.15 NAA). O princípio importante e prioritário é, e será


sempre, permanecermos fiéis às tradições recebidas dos apóstolos, e aos
ensinos de nosso Senhor Jesus Cristo registrados nas Santas Escrituras que
são o nosso referencial insubstituível, imutável, eterno, e básico da nossa
fé cristã, como disse o apóstolo Paulo: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o
ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17).
Enfatizamos a importância das doutrinas bíblicas, afirmemos:
“Abracemos toda a verdade ou renunciemos totalmente ao cristianismo”. O
que isto significa? Não podemos acreditar em algumas doutrinas, e
desacreditar em outras. Haveremos de receber toda a verdade conforme nos
confiou o Senhor em sua Palavra: integralmente. Portanto, é vital para a
Igreja de Cristo apreciar toda a Escritura à luz dos ensinamentos
apostólicos para não cair em armadilhas de pensamentos pessoais ou
doutrinas heréticas. Sem doutrina, a vida espiritual é impossível!49

49
A doutrina cristã apostólica fornece um fundamento sólido para a fé e a prática
cristã. Ela é baseada na Bíblia e na tradição apostólica, e fornece aos cristãos uma compreensão
da natureza de Deus, de Jesus Cristo, e da salvação. A doutrina cristã apostólica é importante para
a vida cristã de várias maneiras, incluindo: a) Ela fornece uma base para a fé: A doutrina cristã
apostólica fornece aos cristãos uma compreensão da natureza de Deus, de Jesus Cristo, e da
salvação. Essa compreensão é essencial para a fé cristã, pois nos ajuda a entender quem somos,
por que estamos aqui, e o que nos espera no futuro. b) Ela orienta a prática cristã: A doutrina cristã
apostólica orienta a prática cristã, fornecendo aos cristãos princípios para viver uma vida cristã
autêntica. Esses princípios incluem o amor a Deus, o amor ao próximo, e o serviço ao mundo. c)
Ela promove a unidade cristã: A doutrina cristã apostólica promove a unidade cristã, fornecendo
aos cristãos um conjunto comum de crenças e práticas. Isso ajuda a superar as diferenças entre as
denominações cristãs e a promover a unidade da igreja.
47

MÓDULO 2 — HISTÓRIA DA IGREJA50


“Ao longo da história, a Igreja nunca fugiu dos problemas,
a Igreja correu para os problemas.”
—Luca Martini51

Edificarei minha Igreja disse Jesus em Mt 16.1852. Esta expressão


destaca-se dentre as mais de cem referências no Novo Testamento que
empregam a palavra grega primária para igreja (ekklesia), composta com a
preposição ek (fora de) e o verbo kaleo (chamar), portanto, ekklesia denota
originalmente um grupo de cidadãos chamados e reunidos que visa um
propósito específico.
O termo Eclésia (em grego: Εκκλησία) é conhecido desde o século V
a.C., nos escritos de Heródoto, Xenofontes, Plantão e Eurípedes. Este
conceito de Eclésia prevalecia especialmente na capital grega, Atenas, onde
os líderes políticos eram convocados como assembleia constituinte até
quarenta vezes por ano. O uso secular do termo também aparece no NT.
Em At 19.32,41, por exemplo, Eclésia refere-se a um ajuntamento
enfurecido de cidadãos que reuniram em Éfeso para protestar contra os

50
A História da Igreja, apesar de ser confundida como algo entediante e sem
importância, é fundamental para o autoconhecimento do cristão que vai perceber a presença da
Igreja ao longo dos séculos divididos em a) história antiga; b) história medieval; c) história da
reforma; d) história moderna. Evidentemente, somente este capítulo, numa pesquisa mais
aprofundada consumiria centenas de livros, como não é nosso objetivo em oferecer um Curso de
História da Igreja, mas apenas uma síntese dessa história maravilhosa que se compôs por mais de
vinte séculos. Para mais informações a respeito da milenar história da igreja, cf. A história da
Igreja em 15 minutos. Lucas Lancaster - Escola de História da Igreja, Youtube in:
https://l1nq.com/mB53r
51
Luca Martini é um autor e missionário italiano. Ele nasceu em 1980 em Roma, Itália.
Ele se formou em teologia pela Universidade de Roma e pelo Seminário Teológico de
Westminster, nos Estados Unidos. Martini é o autor de vários livros, incluindo “Não Concordo
nem Discordo, Muito pelo Contrário”, “Enquanto a Fila Não Anda” e “Antes de Quebrar a Cara”. Em
seus livros, ele aborda temas como fé, vida cristã e missão. Martini também é um missionário
ativo. Trabalha com igrejas e organizações missionárias na Itália, na África e na América Latina.
Aqui estão algumas das principais contribuições de Luca Martini: a) Sua defesa de uma fé
autêntica e engajada. b) Sua abordagem honesta e desafiadora de questões importantes da vida
cristã. c) Seu compromisso com a missão e o evangelismo. Martini é um homem de fé e
convicção. Seu trabalho está influenciando cristãos em todo o mundo.
52
Cf. a perspectiva do comentário de Mt 16.18 da Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD)
sobre A Igreja. É evidente que a Igreja não parte de outra vontade a não ser única e
exclusivamente divina. É Deus que quer a Sua Igreja e ninguém pode ter vontade semelhante. É
obra Santa!
48

efeitos do ministério de Paulo53. Na maioria das vezes, porém, o termo tem


uma aplicação mais sagrada e refere-se àqueles que Deus tem chamado
para fora do pecado e para dentro da comunhão do seu filho, Jesus Cristo, e
que se tornaram “concidadãos dos santos, e da família de Deus” (Ef 2.19). A
Eclésia é sempre empregada às pessoas e também identifica as reuniões
destas para adorar e servir ao Senhor.
A Septuaginta, tradução grega do AT, também emprega eclésia
quase cem vezes, usualmente com tradução do termo hebraico qahal do
hebraico ‫( קהל‬assembleia, convocação, congregação). Tanto no Antigo
como no Novo Testamento o termo às vezes refere a uma assembleia
religiosa (Nm 16.3; Dt 9.10) e em outras ocasiões em uma reunião visando
propósitos seculares, até mesmo os malignos (Gn 49.6; Jz 20.2; 1Rs 12.3).
Uma palavra hebraica com significado semelhante à qahal é edah
(assembleia, agrupamento, congregação, reunião). É de relevância notar
que a eclesia é frequentemente usada na septuaginta para traduzir qahal,
mas nunca edah. Pelo contrário, esta última palavra é mais frequentemente
traduzida por synagoguē (sinagoga), por exemplo, a frase “comunidade de
Israel” na versão septuaginta (Ex 16; Nm 14; 20).
A palavra synagoguē, assim como seu equivalente hebraico edah,
tem o significado essencial de pessoas reunidas. Hoje quando escutamos a
palavra sinagoga, usualmente temos retrato mental de uma assembleia de
judeus reunidos para orar e escutar a leitura e exposição do AT. Significado
semelhante se acha também no NT (Lc 12.11; At 13.42). Embora os cristãos
primitivos costumavam evitar a palavra para descrever eles mesmos, Tiago
(Tg 2.2) não a evita ao referir-se aos crentes que se reuniam para adorar,
talvez por serem os seus leitores convertidos judaicos, na sua maioria.
Como consequência, quer nos refiramos aos termos hebraicos
comuns qahal e edah, quer as palavras gregas synagoguē e ekklésia, o
significado essencial continua sendo o mesmo: a igreja consiste naqueles
que foram chamados para fora do mundo, do pecado e da vida alienada de
Deus, os quais, mediante a obra de Cristo na sua redenção, foram reunidos
como uma comunidade de fé que compartilha das bênçãos e
responsabilidades de servir ao Senhor.
A palavra grega Kuriakos (pertencentes ao Senhor), que aparece
apenas duas vezes no NT (1Co 11.20; Ap 1.10), deu origem à church – igreja

53
Na Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD), a palavra ecclesia vem traduzida em
português para ajuntamento, já a Bíblia de Jerusalém (Paulus) vem assembléia.
49

em inglês (também kirche, em alemão e kick na Escócia). No cristianismo


primitivo, tinha o significado de lugar onde se reunia ekklesia, a igreja. O
local da assembleia, independente do seu uso ou ambiente, era considerado
santo ou pertencente ao Senhor, porque o povo de Deus se reunia ali para
adorá-lo e servi-lo.
Hoje, a igreja comporta vários significados. Refere-se sempre ao
prédio onde os crentes se reúnem (Hoje vou à igreja.). Pode indicar a nossa
comunhão local ou denominação (A minha igreja ensina o batismo por
imersão.). A palavra é empregada frequentemente com referência a todos
os crentes nascidos de novo, independentemente de suas diferenças
geográficas e culturais (A Igreja do Senhor Jesus Cristo). Finalmente, o
significado bíblico de igreja refere-se primariamente não às instituições e
culturas, mas sai às pessoas reconciliadas com Deus mediante a obra
salvífica de Cristo que agora pertencem a Ele.54
Nos círculos teológicos, a questão da origem exata da igreja do NT
tem sido alvo de intensos debates. Alguns têm adotado uma abordagem
bastante ampla, e sugerem que a igreja existe desde o início da raça
humana, incluindo as pessoas que já exerceram fé nas promessas de Deus,
a partir de Adão e Eva (Gn 3.15). Outros apoiam um início
veterotestamentário55 para a igreja especificamente nos relacionamentos
pactuais entre Deus e seu povo, a partir dos patriarcas e continuando
durante o período mosaico.
Alguns, por exemplo, acreditam que a igreja foi fundada quando
Cristo começou publicamente seu ministério e chamou os doze discípulos.
Restam diversos posicionamentos particulares, inclusive o de alguns

54
Do ponto de vista teológico, igreja significa a comunidade de pessoas que seguem a
Jesus Cristo. Ela é o corpo de Cristo, o povo de Deus, a nova criação. A igreja é um mistério, um
organismo vivo que é mais do que a soma de suas partes. Ela é uma obra do Espírito Santo, que a
une e a capacita para o seu propósito. A igreja tem duas dimensões: a dimensão local e a
dimensão universal. A dimensão local é a comunidade de cristãos que se reúnem em um
determinado lugar para adorar a Deus, estudar a Bíblia, e servir aos outros. A dimensão universal
é a igreja como um todo, que inclui todos os cristãos de todas as épocas e lugares. A igreja tem
várias funções, incluindo: a) Adoração: A igreja adora a Deus através de louvor, oração, e
comunhão. b) Ensino: A igreja ensina a Bíblia e a doutrina cristã. c) Serviço: A igreja serve ao
mundo, proclamando o evangelho e trabalhando pela justiça social. A igreja é um presente de
Deus para o mundo. Ela é o lugar onde os cristãos podem encontrar comunhão com Deus e uns
com os outros, e onde podem ser equipados para servir ao mundo. Cf. Mt 16.18; Ef 1.22-23; 1Pe
2.9-10.
55
Refere-se ao AT.
50

ultra-dispensacionalistas56, que acreditam que a igreja não ter começado


realmente antes do ministério e viagens missionárias do apóstolo Paulo57.
Várias são as razões para crermos que a igreja teve sua origem ou
pelo menos foi publicamente reconhecida pela primeira vez no último dia
da festa judaica chamada Pentecostes58. Embora antes da “era cristã”, Deus
certamente se associou a uma comunidade pactual de fiéis, não há
evidências claras de que o conceito de Igreja existisse no período do AT.
Ao citar expressamente ekklesia pela primeira vez (Mt 16.18), Jesus
falava de algo que iniciaria futuro (edificarei gr. Oikonomia é um verbo
futuro simples, não uma expressão de disposição ou determinação). Na
condição de Corpo de Cristo59, é natural que a igreja dependa inteiramente
da obra por Ele na Terra (sua morte, ressurreição e ascensão) e da vinda do
Espírito Santo (Jo 16.7; At 20.28; 1Co 12.13).

56
O dispensacionalismo é uma doutrina teológica e escatológica cristã que afirma que
a segunda vinda de Jesus Cristo será um acontecimento físico, envolvendo o arrebatamento da
Igreja, um período de sete anos de tribulação, a batalha do Armagedom e o estabelecimento do
reino de Deus na Terra. A palavra dispensação, que deriva do termo latino “administração/
gerência”, refere-se ao método divino de lidar com a humanidade e de administrar a verdade em
diferentes períodos de tempo. Em resumo, o dispensacionalismo afirma que a história humana é
dividida em períodos distintos, cada um com suas próprias regras e promessas de Deus. Aqui
estão alguns dos principais pontos da doutrina dispensacionalista: a) A segunda vinda de Jesus
Cristo será um acontecimento físico, não espiritual. b) O arrebatamento da Igreja ocorrerá antes
da tribulação. c) A tribulação será um período de sete anos de sofrimento para a humanidade. d) A
batalha do Armagedom será uma batalha entre as forças do bem e do mal, que terminará com a
vitória de Cristo. e) O reino de Deus será estabelecido na Terra após a tribulação. O
dispensacionalismo é uma doutrina influente no protestantismo, especialmente entre as
denominações evangélicas.
57
Grandiosa é a participação de Paulo para o progresso da Igreja, não apenas em sua
fundação como também em seu sistema bíblico-doutrinário. Alguns exegetas chegam a afirmar
categoricamente que se o apóstolo Paulo não tivesse existido, o cristianismo não teria chegado às
vias que chegou.
58
Cf. HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
Pentecostes é uma festa adotada pelo cristianismo, mas é do judaísmo. A palavra festa (hag, no
hebraico) significa fazer círculo. Isso revela o sentido primitivo de festa: uma reunião
comunitária (Ex 5.1), pois o povo se reunia especialmente para estudar os textos sagrados que
mais tarde viriam a ser Bíblia. O nome pentecostes vem da língua grega que significa cinquenta
dias depois da festa da Páscoa. No início, a festa de pentecostes, teve três nomes: festa das
Semanas, festa das Colheitas ou Dia de Primícias (tais nomes revelam o conteúdo da festa:
agrícola e situada no período das colheitas). A mudança para o nome de Pentecostes deu-se no
período grego (333-63 a.C.). O mais primitivo motivo desta festa foi a gratidão a Deus pelo dom
da terra, e, posteriormente, o povo bíblico incorporou o motivo de gratidão pela doação da Torah
(450 a.C). A Torah (instrução) são os cinco primeiros livros da Bíblia Cristã, o Pentateuco.
59
Cf. DUNN, James D. G. A Teologia do Apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2013. O
autor aborda com clareza a diferente perspectiva eclesiológica paulina. Especialmente no
capítulo 7, Dunn vai alinhar dentre muitas coisas a realidade intrínseca da unidade de Cristo e a
Igreja quanto ao mistério que os une em um Corpo Místico (e coloca a Igreja com Cristo no centro
da Trindade).
51

Millard J. Erikson60 observa que Lucas não emprega ekklesia no


evangelho, mas a palavra aparece em At, vinte e quatro vezes. Este fato
sugere que Lucas, não tinha nenhum conceito da presença da Igreja antes
do período abrangido em At. Imediatamente após aquele evento em que o
Espírito Santo foi derramado sobre os crentes reunidos, a Igreja começou a
propagar poderosamente o evangelho, conforme fora predito pelo Senhor
ressurreto em At 1.8; e, a partir daquele dia, a Igreja continuou a
propagar-se e a crescer em todo o mundo, mediante o poder e orientação
daquele mesmo Espírito Santo.
A História da Igreja é vital para nossa compreensão da instituição
da Igreja Cristã. Muito pode ser apreendido a partir do conhecimento entre
o tempo apostólico e o presente. A igreja sempre existiu na mente e no
coração do Pai, desde antes da fundação do universo, tem sido sempre,
desde a era apostólica até o presente, é a história da graça divina no meio
das falhas humanas. Muitas vezes se tem dito isso, e qualquer pessoa que
examine essa história com atenção não pode deixar de se convencer que é
verdadeira em meio às inverdades.
Lendo as Cartas do NT, vemos que mesmo nos tempos apostólicos
o erro se manifestou, e que inimizade, contenda, ira, briga e discórdia, com
outros males, tinham apagado o amor no coração de muitos cristãos
verdadeiros. Deixaram as suas primeiras obras e seu primeiro amor e
alguns que tinham iniciado a fé em espírito, depois procuravam ser
aperfeiçoados pela carne. Mas havia muito mais do que isso. Não somente
existiam alguns verdadeiros crentes com vidas cheias de irregularidades e
que procuravam, pelas suas palavras, atrair discípulos a si como também
havia outros que eram falsos cristãos, mas que entraram
despercebidamente entre os irmãos, semeando a discórdia. Isso fica bem
claro em Ap 2.1-7 na Carta à Igreja de Éfeso.
Hoje a nossa cultura é confrontada com novas perspectivas
religiosas, das quais se apresentam sob a bandeira cristã61 e isso não é mais
novidade! A história está repleta de heresias que tentam se infiltrar na
igreja, incluindo as ideias falsas do Arianismo, Gnosticismo, Montanismo e

60
Cf. ERICKSON, 1997.
61
Em diversos casos, essas novas frentes “religiosas” são carregadas de ritos bizarros
em detrimento a simplicidade da fé em Jesus Cristo conforme o sistema bíblico-doutrinário. Tais
grupos são liderados pela ignorância (em alguns casos, por pura maldade) e, aborrecem o
verdadeiro conhecimento de Deus.
52

Marcionismo. Compreender a Doutrina Cristã à luz da história da igreja


ajuda a discernir entre “modismo” e “doutrina” da fé Cristã.
A Igreja que antes, ou seja, desde a fundação do mundo, era um
mistério oculto de Deus (Ef 3.9), fora revelada em Cristo tornando-se o
Mysterium Dei (Segredo de Deus) conhecido pelos homens. A expressão em
Ef 3.9 “oculto de Deus” indica que a igreja esteve sempre na mente de Deus,
e vindo a ser conhecida pelo ministério terreno de Jesus Cristo e o Espírito
Santo. A igreja de Deus começou a formar-se e revelar-se no tempo,
quando João Batista disse: “Eis aqui cordeiro de Deus!” (Jo 1.36).
Na manhã do dia de Pentecostes, enquanto os seguidores de Jesus
– em torno de cento e vinte pessoas –, estavam reunidos em oração, o
Espírito Santo desceu sobre eles62. Todo esse acontecimento carregado de
realidade visível a ponto de que os crentes reunidos viram descer do alto,
línguas de fogo, as quais pousaram sobre a cabeça de cada um.
O efeito desse acontecimento foi o tríplice: a) iluminar as mentes
dos discípulos e atualiza a compreensão de “reino de Deus”; b) não era um
império político, mas um reino espiritual, na pessoa de Jesus ressuscitado,
que governava de modo invisível a todos aqueles que o aceitam pela fé; c)
tal manifestação visível-audível desencadeou na então igreja, o fervor do
Espírito, e o poder da expressão e a convicção do testemunho nos ouvintes.
O Espírito Santo, desde então, habitou de forma permanente na
igreja, não em sua organização ou mecanismo, mas como possessão
individual e pessoal do verdadeiro cristão. Desde o derramamento do
Espírito Santo, naquele dia, a comunidade dos primeiros anos foi chamada
com muita propriedade, igreja pentecostal. Assim, a igreja teve seu início
na cidade de Jerusalém.
Evidentemente, nos primeiros anos de sua história, as atividades
da igreja, limitam-se àquelas cidades e arredores. Em todo país, sobretudo
na Galileia, havia grupos de pessoas que creiam em Jesus como
Rei-Messias, porém, não chegaram até nós dados ou informações de
nenhuma natureza que indiquem a organização, nem o reconhecimento de
tais como igreja. As “sedes” da igreja daquela época eram um cenáculo, no

62
Na teologia lucana (Lc; At) há uma espécie de rito de inauguração, onde sempre é
marcado pela descida do Espírito Santo: a) o Espírito Santo desce sobre Maria em Lc 1.35 e
inicia-se o processo histórico Salvífico de Deus; b) o Espírito Santo desce sobre o Senhor Jesus
em Lc 3.22 e inicia-se o ministério de Jesus; c) o Espírito Santo desce sobre a igreja em At 2.4 e
inicia-se o ministério da Igreja espalhada no mundo. Nota-se que sempre, na perspectiva lucana
é necessária, a descida com Espírito como protocolo legitimando como ação primeira da vontade
de Deus e suas consequências na humanidade.
53

Monte Sião e o pórtico de Salomão, no Templo. Todos os membros da


“igreja pentecostal” eram judeus.63 Era comum acreditar que nenhum dos
integrantes da companhia apostólica, a princípio, que os gentios fossem
admitidos membros da igreja. Era natural crer que os gentios devessem
primeiro se converter ao judaísmo e depois se tornar membro da igreja.
As Escrituras eram lidas nas sinagogas em hebreu antigo e eram
traduzidas por um intérprete, frase por frase, em linguagem popular. Os
judeus gregos – ou helenistas – eram descendentes dos judeus da
dispersão, ou seja, os judeus cujos antepassados estavam em terras
estrangeiras. Muitos desses judeus haviam-se estabelecido em Jerusalém
ou na Judéia e haviam formado sinagogas para atender as suas várias
nacionalidades.
A leitura dos primeiros seis capítulos do livro dos Atos dos
Apóstolos dá a entender que durante esse período, o apóstolo Pedro, era o
dirigente da igreja64. Em todas as ocasiões era Pedro quem tomava a
iniciativa de pregar, de operar milagres e de defender a igreja que então
nascia. Isso não significa que Pedro fosse papa ou dirigente oficial nomeado
por Deus.
Tudo acontecia como resultado da prontidão de Pedro em decidir,
de sua facilidade de sua expressão e de seu espírito diretivo. Ao lado de
Pedro – o homem prático –, encontramos João, o homem contemplativo e
espiritual, que raramente falava, porém, tudo em grande estima pelos
crentes.
Em uma igreja comparativamente pequena em número, todos da
mesma raça, todos obedientes à vontade do Senhor, todos na comunhão do
Espírito de Deus, pouco governo humano era necessário. Esse governo era
administrado pelos doze, os quais atuavam com um só corpo, sendo Pedro
o principal, atuante como porta-voz. At 5.13 indica o alto conceito em que
os apóstolos tinham, tanto pelos crentes como pelo povo. A arma usada
pela igreja, através da qual havia de levar o mundo aos pés de vários

63
Os judeus da época dividiam-se em três classes, e as três tinham representação na
igreja de Jerusalém. Os hebreus eram aqueles cujos antepassados haviam habitado a Palestina
durante várias gerações; eram eles a verdadeira raça israelita. Seu idioma era chamado “língua
hebraica” a qual, no decorrer dos séculos, havia mudado de hebraico clássico do Antigo
Testamento para o dialeto que chamasse aramaico ou siro-caldaico.
64
É preciso muita atenção às chamadas nomenclaturas ministeriais no NT, pois são
distintas das realidades da atual igreja. Por exemplo: a palavra presbítero no NT trata-se do
crente mais idoso no meio da igreja. Por relacionar sabedoria e idade, é comum delegar funções
de frente a pessoas mais velhas, ou seja, o presbitério no NT não é (nem de longe) a realidade de
presbitério que temos hoje na igreja.
54

discursos ou pregações de Pedro, e nenhum dos outros discípulos, nesse


período, pode-se pensar que Pedro era o único pregador. Contudo, a leitura
cuidadosa da história demonstra que todos os apóstolos e toda igreja
davam testemunho do Evangelho. Cristo era o testemunho de seus
membros dado que temos registrado

2.1 A Igreja Antiga65

Não há documentos que comprovem quantos membros tinha a


igreja no contexto de At 2, na festa judaica do Pentecostes. É bem verdade
que crescia gloriosamente como explicitado em At 2.49. O testemunho dos
primeiros crentes era vital para o triunfo da nascente igreja, tudo isso sem
distinção entre clérigos e leigos. Não havia nenhuma atenção especial66
sobre a liderança a não ser de cristãos legítimos quanto à pregação
apostólica acerca de crucificado e ressuscitado.67
Inicialmente, o grande esforço deste grupo de homens, necessitava
de auxílio sobrenatural, uma vez que se propunham sem armas materiais
nem prestígio social, transformar uma nação, tendo que enfrentar diversas
autoridades do estado. Esse auxílio sobrenatural manifestou-se na forma
de operação de sinais e maravilhas. At 3.1,2 fala da cura do coxo que estava
na porta formosa. Esse milagre atraiu uma multidão para ouvir a Pedro e
aceitar a Cristo. Logo depois estava escrita a morte de Ananias e Safira, ao
serem repreendidos por Pedro. A esses milagres seguiram-se outros que
incluíam cura de enfermidades.
Contudo, este poder não estava limitado a Pedro, nem aos
apóstolos. Está escrito que prodígios e milagres eram realizados por
Estêvão (At 6.8). Essas obras poderosas atraiam a atenção do povo,
motivaram investigação e abriram os corações das multidões, para
receberem a fé em Cristo.
O amor de Cristo ardia no coração daqueles homens e os
contagiaram a mostrarem este amor para com seus condiscípulos, a viver

65
Cf. A História do Cristianismo Como Você Nunca Viu | Episódio 01. Escola do
Discípulo, Youtube in: https://encr.pw/rcqmS
66
No fim deste período, encontramos Estevão elevando-se tal eminência como
pregador, que os próprios apóstolos ficam ofuscados. Esse testemunho universal foi uma
influência poderosa no crescimento rápido da igreja.
67
A apostolicidade da nossa fé sempre será legitimada quanto à contemporaneidade em
comunhão com a mensagem apostólica: Jesus Cristo, crucificado-ressuscitado.
55

em unidade de espírito, em gozo e comunhão, e, especialmente, a


demonstrar interesse e abnegação pelos membros da igreja que
necessitavam de socorro materiais. At 2.42-45; 4.32-35 diz que os mais
ricos davam suas propriedades de forma liberal, ou seja, voluntária.68
Ninguém era compelido pela lei ou pela exigência dos pobres em
tomar as propriedades dos ricos. Os ricos davam voluntariamente. Deve
considerar-se: foi uma experiência em uma pequena comunidade onde
todos estavam juntos. Naquela comunidade, todos estavam cheios do
Espírito Santo, aspirando todos eles, em seu caráter, a executar os
princípios do sermão do monte. A experiência surgiu com a expectativa da
iminente volta de Jesus, quando estão os bens terrenos não mais seriam
necessários.
Como experiência financeira foi um fracasso, e logo abandonada,
pois a igreja em Jerusalém ficou tão pobre, que durante uma geração se
recolhiam ofertas nas outras igrejas para ajudá-la. O sistema provocou seus
próprios males morais, dentre outros, o egoísmo de Ananias e Safira. De
modo geral, a igreja em seu início não tinha “faltas”.
Era poderosa na fé e no testemunho, pura em seu caráter,
abundante no amor. Entretanto, o seu singular defeito era a falta de
paixão69 missionária. Permaneceu em seu território, quando devia ter saído
para outras terras e outros povos. Foi necessário o surgimento da severa
perseguição para que se decidisse a ir a outras nações a desempenhar sua
missão mundial. Assim, tal inclinação missionária veio a acontecer mais
tarde.

68
Em nenhum momento, essa partilha dos bens fundamenta o socialismo, pois se
trata de conceitos distintos: a) partilha é quando eu sou proprietário de algo e compartilho com
todos os que precisam usá-lo, b) socialismo é quando todos são donos da coisa e ninguém tem
responsabilidade sobre o mesmo. Logo, a perspectiva lucana é a partilha e não o socialismo.
69
Lit. sofrimento.
56

A Palestina70 onde o cristianismo deu seus primeiros passos


ocupava posição geográfica privilegiada, pois ocupava uma área onde era
onde era a encruzilhada das grandes rotas comerciais que uniam o Egito à
Mesopotâmia, e a Arábia com Ásia Menor. A Ásia Menor na época falava o
grego, uma língua universal apesar de o império dominante ser o Romano,
que unia em um só governo boa parte do mundo conhecido. Era um
governo pacifico e próspero e viajar já não era difícil. Apesar de muitas
religiões o mundo estava vazio espiritualmente, ou seja, um momento
propício para manifestar as pessoas, Jesus Cristo.
Entramos agora numa época da história curta da igreja, cerca de
quinze anos apenas, que é de alta significação não só histórica como
também teológica. O segredo usado para o crescimento da igreja foi o
testemunho de seus membros, enquanto aumentavam os membros
aumentavam as testemunhas e mensageiros de Jesus Cristo.
Em suma, os motivos que impulsionaram o crescimento foram:
perseveravam na doutrina dos apóstolos; perseveravam na comunhão e
partir do pão; perseveravam na oração; possuíam temor; muitos sinais e
maravilhas se faziam; muita alegria e sinceridade. Estêvão, homem cheio
de fé e do Espírito Santo, foi um dos primeiros cristãos a ter a visão do
evangelho para o mundo inteiro, esse ideal o levou ao martírio. A visão de
expansão da igreja para níveis universais, e isso fez com que se
levantassem forças contrárias para perseguir a igreja de Jesus.

70
A afirmação de que “nunca existiu um povo palestino” é uma afirmação controversa
que tem sido debatida por historiadores e cientistas políticos há muitos anos. Não há uma
resposta simples para essa pergunta, pois depende de como se define “povo”. Se “povo” for
definido como uma comunidade de pessoas com uma história, cultura e língua comuns, então é
possível argumentar que um povo palestino existiu por séculos. A região da Palestina tem sido
habitada por pessoas de diversas origens étnicas e religiosas, incluindo árabes, judeus, cristãos e
outros. Essas pessoas compartilhavam uma história comum, que incluía a ocupação romana, a
conquista muçulmana e a era otomana. Elas também compartilhavam uma cultura comum, que
incluía a língua árabe, a religião muçulmana e as tradições palestinas. No entanto, se “povo” for
definido como uma nação soberana com um estado independente, então é possível argumentar
que um povo palestino não existiu até o século XX. A Palestina nunca foi uma nação soberana, e
ela foi governada por diversos impérios e potências estrangeiras ao longo da história. A
afirmação de que “nunca existiu um povo palestino” é frequentemente usada por defensores do
sionismo para justificar a criação do Estado de Israel. Eles argumentam que a Palestina era uma
terra sem povo, e que os judeus tinham o direito de estabelecer seu próprio estado na região. No
entanto, esta afirmação é contestada por muitos historiadores e cientistas políticos. Eles
argumentam que a Palestina era habitada por um povo palestino com uma história, cultura e
língua comuns. Eles também argumentam que a criação do Estado de Israel resultou na expulsão
e no deslocamento de milhões de palestinos. Em última análise, a questão de saber se “nunca
existiu um povo palestino” é uma questão de interpretação histórica. Não há uma resposta simples
para essa pergunta, e ela continuará a ser debatida por muitos anos.
57

O primeiro mártir da igreja é Estevão, condenado à morte por


apedrejamento, estabelecido pelo sumo sacerdote em Jerusalém.71 Com
isso, a igreja em Jerusalém dispersou-se por toda terra. Alguns chegaram
até Damasco e outros até a Antioquia.
A partir das perseguições, os cristãos fugiam, porém, pregavam o
evangelho e testemunhar as maravilhas que Jesus operava. Essa
perseguição foi benéfica para a igreja – como sofrer por causa do
Evangelho é benéfico! Na oposição dos judeus, Deus deu crescimento da
Igreja para espalhar os discípulos de Jesus pelo mundo fora de Jerusalém.
Ao longo dos três séculos do cristianismo havia tanto competição
entre as religiões como o espírito de tolerância. Embora nunca tomassem
recursos de armas para se defenderem, os cristãos foram o único elemento
social perseguido por período prolongado.
A falta de participar em festas e ritos de idolatria dos templos bem
como sua hospitalidade com outras religiões. A adoração aos ídolos estava
entrelaçada com os aspectos da vida. As imagens eram encontradas em
todos os lares, e até em cerimônias cívicas para serem adoradas. O
cristianismo abalou as sensibilidades dos sábios filósofos justamente pelo
entusiasmo de seus aspectos. E entraram em conflitos com os vendedores
de ídolos e os comerciantes da idolatria.
O cristianismo rejeitava toda forma ou objeto de adoração
enquanto o paganismo aceitava as diversas formas que iam surgindo. A
adoração ao imperador era considerada uma prova de lealdade. O
cristianismo considera todos os homens iguais, por isso foram
considerados como niveladores da sociedade, portanto, perturbadores da
chamada ordem social.
Com o tempo, a influência dos judeus na igreja havia declinado
completamente e o trabalho missionário das comunidades cristãs era
intenso. Das centenas de missionários, que o alvoroçaram o mundo dessa
época nos primeiros dois séculos da era cristã era intenso.
Paulo concentrava suas atividades nas principais cidades do leste
do Mar Mediterrâneo (Chipre e Ásia Menor), onde o cristianismo floresceu
mais rapidamente, até ser preso e executado durante a perseguição do
imperador Nero. Portanto, apesar do número de cristãos ser relativamente
pequeno ao tempo do falecimento dos apóstolos, uma característica da
igreja da igreja dessa época foi realmente a expansão.

71
Apedrejamento é a pena capital judaica.
58

A pregação na época enfatizava o retorno iminente de Cristo, mas


quase um século havia passado e o Senhor não retornará. Por isso, a
segunda característica será a estagnação seguida da consolidação.
O incêndio de Roma foi a causa que deu início real ao ciclo da
perseguição romana. Em 64 d.C. mais de dois terços da cidade de Roma
foram destruídos, por um grande incêndio, com um número incalculável de
vítimas e de danos materiais. Como ninguém assumisse a culpa e as
invenções apontassem para direções sinistras, até mesmo o próprio
imperador, trataram de achar um bode expiatório.
Nero inflamou mais ainda o ânimo de revolta popular contra os
cristãos jogando sobre eles a culpa pelo incêndio. Esse imperador destacado
por sua intensa crueldade ordenou a perseguição e morte violenta dos
cristãos em Roma. De início apenas uma perseguição local. Às vezes havia
também em Antioquia e Éfeso, mas até o ano 250 d.C. eram perseguições
esporádicas e desorganizadas.
Depois o imperador Domiciano (81 d.C.-96 d.C.), proibiu
totalmente o culto cristão e renovou o decreto que obrigava todos os
cidadãos ao culto ao imperador. As igrejas da Ásia Menor sofrem muito
nessa fase, e provavelmente esta é a perseguição referida no livro de
Apocalipse.
O imperador Trajano (98 d.C.-117 d.C.) a perseguição diminuiu. Até
250 d.C. toleram-se cristãos. A perseguição violenta chegou a ser retomada
na época do imperador Marco Aurélio (161 d.C-180 d.C.), mas durou apenas
cerca de quinze anos. Fez muitos mártires especialmente em Lion e Veneza,
na Itália. Contudo, na terceira fase da perseguição, a igreja amargou maior
sofrimento.
O imperador Décio (249 d.C.-251 d.C.) assumiu o trono e decretou
que os cristãos fossem caçados e mortos em todo o império romano. É o
início da perseguição universal.
Diocleciano (284 d.C.-251 d.C.) 53 anos depois o imperador, por
achar que os cristãos eram os culpados por todas as tragédias que
assolaram o império, renovou e reforçou as bases do decreto da
perseguição universal. Se no período de Décio o número de mártires
cristãos já era incalculável, Diocleciano superou todos os antecessores em
violência. Os cristãos eram mortos com toda sorte de métodos e com
requintes de crueldades: decapitado com espada, se o condenado era
cidadão romano nato; condenados a serem jogados aos animais ferozes
59

famintos no meio das arenas; crucificação; queimados e sufocados com


calor; e açoites e torturas.
Milhares cristãos convertidos aceitavam naturalmente o martírio e
consideravam uma honra morrer por Cristo. Contudo alguns abriam mão
da fé na hora de escolher morrer, ou sacrificavam ao imperador para
adquirir o certificado de isenção. A perseguição da igreja durou pouco mais
de dois séculos e meio.
Em 313 o imperador Constantino (assinou juntamente com Licínio,
que governava no oriente) o famoso “Edito de Milão” que punha fim em
toda perseguição religiosa, proclamava o cristianismo como religião lícita
(religião legal), além de conceder plena liberdade religiosa para todos
habitantes do império.
Por causa de muitos fatores políticos e sociais, e também do que se
consideravam ira dos deuses, na época em que Constantino se tornou
imperador. O bem-estar do império romano se tornava precário. Dizia-se
que os deuses estavam infelizes por causa da religião dos cristãos, que se
recusavam a oferecer-lhes sacrifícios e por esta razão, a igreja novamente
sofreu mais perseguições no período entre 250 d.C. e 311 d.C, mas Cristo
amparou a igreja.
Alguns irmãos que abandonaram a igreja por causa da perseguição
começaram a voltar. O evangelho entrou nos círculos sociais mais
importantes: na corte imperial, no exército, na nobreza. Porém, a unidade
do império parecia depender cada vez mais da existência de uma religião
oficial fundamentada no tripé: um deus, um império e um imperador.
As perseguições produziram uma igreja pura, pois conservavam
afastados todos aqueles que não queriam um real encontro com Cristo por
meio da conversão verdadeira. A igreja multiplicava-se! Não sabemos se
por causa das perseguições ou talvez por causa delas, a igreja crescia
velozmente.
Ao findar-se o período de perseguição, a Grande Igreja era
suficientemente numerosa para constituir a instituição mais poderosa do
império72. Muitos negaram a fé, outros tantos foram exilados do império.
Mesmo assim, a lista daqueles que deram a vida pela fé nas perseguições de
Décio à Diocleciano foi muito grande. A igreja conseguiu sobreviver e

72
A “Grande Igreja” é a nomenclatura dada pelos historiadores para este momento da
Santa Igreja. Ou seja, antes de qualquer cisma na unidade em torno do Cristo, é comumente
chamada pelos grandes nomes da história do cristianismo.
60

crescer ainda mais devido à relativa paz de quarenta anos entre as duas
perseguições e o Edito de Milão.
O problema dos lapsos (caídos) foi grave nos séculos II d.C. e III d.C.
Hermas (O Pastor) e Cipriano (De Lapsis) escreveram tratados sobre a
questão. Hermas (que escreveu o livro “O Pastor”) representa uma posição
mediadora que aceita uma única queda. Os lapsos seriam aceitos de volta,
mas não mais para o lugar de líderes. Os lapsos seriam membros de
segunda classe na igreja. Embora Cipriano seja muito duro com os lapsos,
ele os chama a um abundante arrependimento para demonstrar sua
tristeza e aflição, sem desesperar pela misericórdia de Deus. Apenas estes
seriam recebidos novamente na igreja.
Fatos interessantes aconteceram no período da perseguição:
1. Os escritos do Novo Testamento foram terminados, entretanto a
formação do Novo Testamento foi terminada, entretanto a formação do
Novo Testamento com livros que o compõem, como cânon, não foi
imediata. Algumas igrejas aceitaram somente os livros como inspirados e
outras igrejas livros diferentes. Os livros foram aceitos gradualmente.
2. O crescimento e a expansão da igreja foi a causa da organização e
da disciplina. A perseguição aproximou as igrejas e exerceu influência para
que elas se unissem e se organizassem. O aparecimento da heresia impôs,
também, a necessidade de se estabelecerem alguns artigos de fé, e, com
eles, algumas autoridades para executá-las.
3. O credo Apostólico, a mais antiga e mais simples declaração da
crença cristã, foi escrito durante este período. Nesta época surgiram três
escolas teológicas. Uma em Alexandria, outra na Ásia Menor e outra na
África. Os maiores vultos da história do Cristianismo passaram por essas
escolas: Orígenes, Tertuliano e Cipriano.
Juntamente com o desenvolvimento da Doutrina,
desenvolveram-se também as seitas, ou como lhes chamavam as heresias
na igreja cristã, os cristãos não só lutavam contra as perseguições, mas
contra as heresias e doutrinas corrompidas.
a) os Gnósticos: do grego gnosis (sabedoria, conhecimento)
acreditavam que Deus Supremo é espírito absoluto e causa de todo bem,
enquanto matéria é completamente má criada por um ser inferior que é
Jeová.
61

b) os Ebionitas: do hebraico que significa pobre eram Judeus que


insistiam na observância da lei e dos costumes judaicos. Rejeitaram a Jesus,
porém creem em um Cristo celestial.
c) Os Maniqueus: de origem Persa, foram chamados por esse nome,
em razão do seu fundador por nome Mani. Acreditavam que o universo
compõe-se do reino das trevas e da luz e ambos lutam pelo domínio do
homem. Rejeitaram a Jesus, porém creem em um Cristo celestial.
d) Marcionismo: Marcion, seu líder, foi nativo de Porto foi a Roma
perto de 138 e se tornou membro da igreja de Roma. Embora talvez não seja
correto chamar Marcion de gnósticos, ele compartilhou vários de seus
pontos de vista: o judaísmo é mau. Jeová não é o mesmo Deus do Novo
Testamento e baseou-se quase exclusivamente em Paulo. Contrasta a
imoralidade e crueldade do Antigo Testamento, com a espiritualidade,
amor e misericórdia do Novo Testamento.
e) Montanismo: é uma reação às inovações que foram introduzidas
nas igrejas pelo gnosticismo e paganismo em geral às custas da fé e da
moral. Foi organizado na Frígia entre 135 e 160 por Montano com Priscila e
Maximila (profetizas do movimento) em resposta a uma iluminação do
Paracletos, para proclamar o estabelecimento do reino de Cristo e pregar
contra o mundanismo das igrejas. O montanismo é uma explosão de
profetismo, dando maior importância às revelações e visões.
f) Novacionismo: foi o montanismo aparecendo novamente em
outra época, sem as reivindicações proféticas. Novaciano foi condenado em
251 por um concílio romano que reunia sessenta bispos. Após a perseguição
de Décio, quando muitos negaram a fé, Novaciano liderou os que queriam
muito rigor para os que caíram. Este movimento cismático encontrou
muita recepção na África e na Ásia Menor, onde absorveu o que restou dos
montanistas. A doutrina é muito semelhante ao das atuais igrejas católicas.
g) Donatistas: Como os novacionistas e os montanistas, estavam
preocupados principalmente com as questões de disciplina. O movimento
surgiu após a perseguição de Diocleciano e especificamente em relação ao
que entregaram as Escrituras às autoridades. Os donatistas insistiram
numa disciplina rigorosa e numa membresia pura.
No ano 305 d.C., quando Diocleciano abdicou o trono imperial, a
religião cristã era terminantemente proibida, e aqueles que a professam
eram castigados com torturas e morte.
62

Logo após a abdicação de Diocleciano, quatro aspirantes à coroa


estavam em guerra. Os dois rivais mais poderosos eram Majêncio e
Constantino. Constantino afirmou ter visto no céu uma cruz luminosa com
os seguintes dizeres: “Por este sinal vencerás.” Constantino ordenou que
seus soldados empregassem para a batalha o símbolo que se conhece como
Labarum, e que consistia na superposição de duas letras gregas, XP. Em
batalha travada sobre a ponte Mílvio, Constantino venceu o exército de
Majêncio e este morreu afogado caindo nas águas do rio. Após esta vitória,
Constantino fez aliança com Licínio e posteriormente com Maximino os
outros dois pretendentes à coroa.
Em 323 d.C., Constantino alcançou o posto supremo de Imperador,
e o Cristianismo foi então favorecido. Os templos das Igrejas foram
restaurados e novamente abertos em toda parte. Em muitos lugares os
templos pagãos foram dedicados ao culto cristão. Em todo o império os
templos pagãos eram mantidos pelo Estado, mas com a conversão de
Constantino, passaram a ser concedidos às Igrejas e ao clero cristão.
A subida ao trono de Constantino, o Grande, marca uma nova era
na história da igreja e por isso é conveniente examinar rapidamente a sua
carreira pública. Nasceu na Grã-Bretanha, e diz que a sua mãe era uma
princesa britânica. Depois da morte de seu pai, que foi muito estimado pela
sua justiça e moderação, as legiões romanas estacionadas em York
saudaram-no como César e vestiram-no com a púrpura imperial. Apesar de
Galeriano se ofender com esta aclamação, ele não estava preparado para se
arriscar numa guerra civil, opondo-se a ela; e, portanto, ratificou o título
que o exército dera a seu general, e concedeu-lhe o quarto lugar entre os
governadores do Império.
Durante os seis anos que se seguiram administrou Constantino à
Prefeitura da Gália com uma perícia notável, e ao fim desse tempo tomou
posse de todo o império romano, visto que Maximinio e Galério, no
intervalo, tinham morrido. Apenas restava agora um competidor ao trono,
Maxêncio, um forte defensor do paganismo, e logo que Constantino obteve
conhecimento exato dos seus recursos, marchou contra ele com um grande
exército, e venceu-o completamente.
A questão de Constantino ser ou não realmente cristão, sempre tem
sido ponto de dúvida entre os escritores sagrados, e têm-se apresentado
muitas e diferentes razões como prova de que adotou a religião cristã. Mas
se efetivamente se converteu, podemos afirmar positivamente que não foi
63

antes de marchar contra Maxêncio, tendo, segundo se diz, presenciado


durante essa marcha, um fenômeno extraordinário no firmamento, e sido
favorecido com uma visão notável. Até esse tempo estava ainda indeciso
entre o paganismo e o cristianismo.
A religião de Cristo, saindo como do deserto e das prisões, tomou
posse do mundo. Até nas estradas principais, nos íngremes cumes dos
montes, nos fundos barrancos e nos vales distantes, nos tetos das casas, e
nos mosaicos dos sobrados se via a cruz. A vitória era completa e decisiva.
Até nas moedas de Constantino se via o lábaro com o monograma de Cristo
levantando-se acima do Dragão vencido. Do mesmo modo o culto e o nome
de Jesus se exaltaram acima dos deuses vencidos do paganismo. De fato,
começava uma ordem de coisas inteiramente nova, e o imperador romano
tornou-se o principal da igreja.
A administração do estado e dos negócios civis foi reunida com o
governo da igreja e podia-se presenciar o espetáculo extraordinário de um
imperador romano presidir os concílios da igreja e tomar parte nos debates.
O Domingo foi proclamado como dia de descanso e adoração. Como se vê,
do reconhecimento do Cristianismo como religião preferida surgiram
alguns bons resultados, tanto para o povo como para a igreja: as
perseguições acabaram; a crucificação foi abolida; todos os templos foram
restaurados e muitos outros construídos; o infanticídio foi reprimido; as
lutas de gladiadores foram proibidas.
Apesar de os triunfos do cristianismo haverem proporcionado boas
coisas ao povo, a sua aliança com o Estado inevitavelmente trouxe
resultados ruins para a igreja:
a) as igrejas eram mantidas pelo Estado e seus ministros
privilegiados não pagavam impostos e seus julgamentos eram especiais;
b) iniciou-se a perseguição aos pagãos, o que acabou acarretando
muitas conversões falsas;
c) todos queriam ser membros da igreja e quase todos eram aceitos.
Homens mundanos, ambiciosos e sem escrúpulos, todos desejavam postos
na Igreja, para, assim, obterem influência social e política;
d) os cultos de adoração aumentaram em esplendor, é certo, porém
eram menos espirituais e menos sinceros do que no passado;
e) aos poucos as festas pagãs foram incorporadas aos rituais da
Igreja, porém com novos nomes que se “adequassem” ao cristianismo.
64

Enfim, a devoção a Vênus e Diana foi substituída pela devoção à


Virgem (daí surge a devoção mariana). As imagens dos mártires
começaram a aparecer nos templos, como objeto de reverência (daí surge a
devoção aos santos).
O efeito desastrado desta primeira união da igreja com o estado
fez-se sentir imediatamente. Levantaram-se contendas, e o imperador foi
nomeado árbitro pelas partes rivais. Mas logo que dava a sua decisão sobre
a questão, esta continuava rejeitada com desprezo pela parte cujas razões
eram desatendidas.
Repetiu-se a mesma coisa uma vez e outra, até que o imperador se
indignou, e recorreu a meios violentos para reforçar o seu poder. Isso
provava até a evidência e inutilidade e a inconveniência daquela proteção a
que os cristãos de tão boa vontade, mas tão cegamente se submeteram. Até
então tinham os concílios da igreja sido compostos de bispos e presbíteros
de uma província, mas durante o reinado de Constantino foram
consagradas as assembleias, que o imperador podia reunir e dissolver à
vontade. Chamavam-se concílios ecumênicos ou gerais, e tinham por fim a
discussão das questões mais importantes da igreja.
A primeira destas assembleias reuniu-se em Nicéia, na Bitínia,
para o julgamento de Ário, que ensinava que nosso Senhor fora criado por
Deus como qualquer outro ser sujeito ao pecado e ao erro, e que, por
consequência, não seria eterno como o Pai. Foi a isso que Constantino
chamou uma ninharia, quando o informaram da heresia; o concílio, porém,
com poucas exceções, deu-lhe o nome de horrível blasfêmia.
Os bispos sentiram tanto a indignidade que Ário fizeram pensar
sobre o bendito Senhor, que taparam os ouvidos enquanto ele explicava as
suas doutrinas, e declararam que, quem expunha tais ensinamentos, era
digno de anátema.
Como repressão às heresias crescentes foi escrita a célebre
confissão de fé, conhecida como o Credo de Nicéia, no qual está clara e
inteiramente anunciada a doutrina das Escrituras Sagradas com referência
à divindade do Senhor. Ário e seus adeptos receberam ao mesmo tempo
sentença de desterro, e possuir ou fazer circular os seus escritos era
considerado como grande ofensa.
A conduta posterior do soberano mostrou que o seu modo de
proceder naquela ocasião não obedecia a nenhuma convicção profunda
nem determinada. Atendendo um pedido de sua irmã Constância, cujas
65

simpatias pelo partido ariano eram bastante fortes, ordenou que o


heresiarca voltasse do exílio, e revogou a interdição dos seus escritos. Ário
foi, portanto, plenamente restituído a favor do imperador, e tratado na
corte com todas as distinções.
Ário, presbítero de Alexandria, mais ou menos no ano 318 d.C.,
defendeu a doutrina que considerava Jesus Cristo como superior à natureza
humana, porém inferior a Deus; não admitia a existência eterna de Cristo;
pregava que Cristo teve princípio.
O principal opositor dessa doutrina foi Atanásio, também de
Alexandria. Atanásio afirmava a unidade do Filho com o Pai, à divindade de
Cristo e sua existência eterna. A contenda estendeu-se a toda a igreja.
Depois de Constantino ter feito tudo para solucionar a questão, sem obter
êxito, convocou, então, um concílio de bispos, o qual se reuniu em Nicéia,
Bitínia, no ano 325 d.C. Atanásio, que então era apenas diácono, teve direito
a falar, mas não a voto. Apesar dessa circunstância, conseguiu que a
maioria do concílio condenou as doutrinas de Ário, no credo da Nicéia.
Contudo, Ário estava politicamente bem amparado. Suas opiniões
eram sustentadas por muitos membros influentes pertencentes às classes
elevadas, inclusive pelo filho e sucessor de Constantino. Por essa razão foi
Atanásio cinco vezes exilado, e o mesmo número de vezes trazido do
desterro. Quando um amigo de Atanásio lhe disse: “Atanásio, o mundo está
contra ti”, ele respondeu: “Assim seja - Atanásio contra o mundo.” Nos
últimos sete anos, Atanásio passou-os em Alexandria, onde morreu no ano
373 d.C.
Suas ideias, muito depois de sua morte, foram vitoriosas e aceitas
por toda a igreja, tanto no Oriente como no Ocidente. Foram
consubstanciadas no Credo de Atanásio, que durante algum tempo
acreditava haver sido escrito por ele, porém mais tarde descobriu-se que
outra pessoa o escreveu.
A Controvérsia de Apolinário era Bispo em Laodicéia quando
declarou que a natureza divina tomou lugar da natureza humana de Cristo.
Esta Heresia foi condenada no Concílio de Constantinopla em 381 d.C.
A única controvérsia prolongada desse período, surgida na igreja
ocidental, foi a que dizia respeito ao pecado e a salvação. Teve origem com
Pelágio, monge que foi da Grã-Bretanha para Roma, cerca do ano 410 d.C.
Sua doutrina declarava que não herdamos as tendências pecaminosas de
Adão, mas que a alma faz a sua própria escolha, seja para pecar, seja para
66

viver retamente. Que a vontade humana é livre e cada um é responsável por


suas decisões.
Contra essa ideia surgiu, o maior intelecto da história do
Cristianismo, depois do apóstolo Paulo, o poderoso Agostinho, que
sustentava que Adão representava toda a raça humana, que no pecado de
Adão todos os homens pecaram e são pecador e todo o gênero humano. A
doutrina de Pelágio foi condenada pelo Concílio de Cartago em 418 d.C., e a
teologia de Agostinho de Hipona tornaram-se ortodoxia da igreja.
Eusébio de Cesaréia (260 d.C.-340 d.C.) escreveu sua História
Eclesiástica onde apresenta a história da igreja desde seu início até 324 d.C.
A sua Crônica começa com Abraão e vai a 323 d.C. Deu estrutura cronológica
para toda a história medieval. Escreveu a Vida de Constantino onde louva o
imperador. Foi acusado de ser semi-ariano.
Atanásio (298-373 d.C.) assistiu ao Concílio de Nicéia, mas
aparentemente não foi um grande luminário lá. Após a morte de Cirilo,
Atanásio foi eleito bispo de Alexandria em 328 d.C. Durante seu bispado foi
exilado cinco vezes por Constantino e seus sucessores. Sua força se tornou
tão grande, que os últimos dois mandatos do exílio não podiam ser
cumpridos. Nesse período a ortodoxia nicense já havia triunfado sobre
o arianismo. Sua vida pode ser dividida em três etapas: antes de Nicéia em
325 d.C.; luta contra o arianismo 325 d.C -361 d.C. e período de vitória da
ortodoxia, 361– 373 d.C.
João Crisóstomo (345-407 d.C.) “Boca de ouro" em razão de sua
eloquência inigualável foi o maior pregador desse período. Chegou a ser
bispo em Constantinopla. Entretanto, sua fidelidade, zelo reformador e
coragem, não agradavam à corte. Foi exilado e morreu no exílio.
Teodoro de Mopsuéstia (345-428 d.C.) foi príncipe dos exegetas da
antiguidade73. Em contraste com os alexandrinos, ele e Crisóstomo
procuravam proclamar o sentido natural do texto. Foi defensor, pelo menos
em parte, de Nestório. Defendeu insistentemente a integridade da
humanidade de Cristo.
Basílio de Cesareia (329-379 d.C.) foi instalado na Sé de Cesareia
em 370 d.C. Logo em seguida começou uma série de negociações teológicas,

73
Título moderno, pois a Exegese é própria da Teologia Reformada, e,
consequentemente, aproveitada pela Teologia Católica. Antes disso, a preocupação da Teologia
era Dogmática. A palavra Dogmática está praticamente em desuso, comumente aceita como
Sistemática, ainda que uma não necessariamente, Dogmática seja Sistemática. Há algumas
diferenças que devem ser observadas mais de perto.
67

primeiro com Atanásio e depois com o papa Dâmaso para promover a


reunião das igrejas cismadas pela controvérsia sobre a Trindade. Graças a
sua obra de organizador e legislador criou uma nova concepção da
instituição monástica. Colocou como ideal o quadro dos cristãos em
Jerusalém (At 2-4) e destacou daí a obediência ao superior.
Gregório de Nissa (331-395 d.C.) irmão mais novo de Basílio foi um
estudante da Bíblia e de Orígenes. Foi eleito bispo em 371 d.C. Tornou-se o
defensor mais avançado do credo da Nicéia. Foi o primeiro a
procurar estabelecer por considerações racionais a totalidade das doutrinas
ortodoxas. A filosofia se tornou uma auxiliadora da teologia. Embora
divergir de Orígenes, especialmente em cosmologia, na maior parte aceitou
o ensino deste no que podia acordá-lo à fé explícita da Igreja.
Gregório de Nazianzo (330-390 d.C) foi eleito bispo em 372 d.C.,
junto com os dois anteriores, procurou reconciliar as duas proposições de
Atanásio: a identidade de essência entre Pai e Filho com a distinção de
pessoalidade entre Pai e Filho. Os dois Gregórios também procuravam
salvar a reputação de Orígenes para a ortodoxia. Assim adotaram a doutrina
de Orígenes que rezava que o Logos se uniu com a natureza sensível pela
mediação de uma alma humana racional. Acrescentaram que o Logos
tomou todas as partes da natureza humana em comunhão consigo e as
permeava.
Jerônimo (347-419 d.C.) foi o autor da Vulgata que ele insistiu
traduzir do grego (NT) e hebraico (AT), salvo os Salmos que já foram
traduzidos da Septuaginta (LXX). Jerônimo introduziu dois outros
elementos à igreja ocidental que tiveram grandes repercussões lá.
Introduziu a vida asiática na Europa ocidental. A importância disto só pode
ser avaliada à luz da forma que a igreja toma na Europa medieval.
Introduziu também Orígenes ao Oeste. Por causa de uma tradução
tendenciosa por parte de Rufino, Jerônimo fez uma tradução ao pé da letra
de Orígenes.
Mais tarde ficou embaraçado de ter seu nome ligado a Orígenes.
Condenou a doutrina deste, mas sempre admirou seu estilo de escritor.
Além de suas traduções da Bíblia e de Orígenes, Jerônimo é famoso por seus
comentários nas Escrituras. Seu primeiro (388 d.C.) comentário foi sobre
Eclesiastes, seguido no mesmo ano por Gálatas, Efésios e Tito. Três anos
depois publicou um sobre cinco dos profetas menores. De 397 d.C. até 419
68

d.C. completou os profetas menores, bem como Jonas, Daniel, Isaías,


Ezequiel e Jeremias. E do NT, apenas Mateus.
Ambrósio de Milão (340–397 d.C.) foi um grande administrador
eclesiástico; pregador e teólogo. Foi a pregação de Ambrósio que trouxe
Agostinho ao evangelho. Era governador imperial da área ao redor de Milão
quando o bispo da cidade morreu em 374 d.C.
O povo unanimemente queria que Ambrósio aceitasse ser bispo.
Crendo ser isto a vontade de Deus, renunciou ao seu cargo político,
distribuiu seus bens aos pobres e, após sua eleição, iniciou um estudo
intensivo das Escrituras. Foi um grande pregador apesar de sua exposição
ser desfigurada pela interpretação alegórica das Escrituras. Resistiu ao
imperador Teodósio, não o permitindo participar da Ceia até que humilde e
publicamente se arrependesse do massacre dos tessalonicenses.
Aparentemente foi Ambrósio que introduziu o cantar de hinos na Igreja
Ocidental.
Agostinho (354-430 d.C.) é o nome mais ilustre desse período,
bispo em Hipona na África. Escritor de vários livros sobre o Cristianismo e
sobre a própria vida. Porém a fama e a influência de Agostinho estão nos
seus escritos sobre a teologia cristã, da qual ele foi o maior expositor, desde
o tempo de Paulo.

2.2 A Igreja Medieval74

Quando os bárbaros invadiram o Império, a igreja de Roma


começou a seguir um rumo bem diferente do de Constantinopla. No
Ocidente, o Império desapareceu, e a igreja veio a ser a guardiã do que
restava da velha civilização. Por isto, o papa chegou a ter grande prestígio e
autoridade.
Porém, enquanto que no Oriente duvidava-se de sua autoridade,
em Roma e vizinhanças esta autoridade se estendia até além dos assuntos
religiosos. Tudo isto nos mostra que em uma época em que a Europa estava
em caos, o papado preencheu o vazio, proporcionando certa estabilidade.
O período de crescimento do poder papal começou com o
pontificado de Gregório I, o Grande, e teve o apogeu no tempo de Gregório
VII, mais conhecido por Hildebrando. Hildebrando reformou o clero que se

74
Cf. A Idade Média | A História do Cristianismo | Episódio 3. Escola de Discípulo,
Youtube in: https://encr.pw/GquVk
69

havia corrompido, elevou as normas de moralidade de todo o clero, exigiu


celibato dos sacerdotes, libertou a igreja da influência do estado, pondo fim
à nomeação de papas pelos reis e imperadores. Hildebrando impôs a
supremacia da igreja sobre o Estado.
A autoridade monárquica do papa é fruto de um longo processo de
manobras. De um bispo semelhança aos outros, o de Roma passa a ser o
primeiro entre os demais, e, finalmente, cabeça incontestável da igreja.
Vários papas de grande envergadura, dos quais devemos citar: Inocêncio
(402-417 d.C.), Celestino (422-432 d.C.), Leão I (440-461 d.C.) e Gregório I
(590-604 d.C.).
Até Constantino, os antigos autores católicos insistem que a igreja
Romana foi fundada por Pedro e que tenha tido uma linha de papas,
vigários de Cristo, desde então Oscar Cullmann, teólogo protestante,
examina detalhadamente a questão de Pedro ter estado em Roma. Conclui
que estava lá e lá foi martirizado. Nega, entretanto, que tenha fundado a
Igreja ou passado seus direitos aos bispos subsequentes.
Outro elemento que contribuiu para fortalecer a posição de Roma
neste período foi à crescente prática das igrejas rurais ou de pequenas
cidades serem relacionadas a alguma igreja em cidade grande ou
incorporadas num sistema diocesano. Esta prática começou no Séc. II como
resultado do sistema missionário das igrejas mães.
De Constantino a Gregório Magno, a oficialização da Igreja trouxe
em seu bojo rápido desenvolvimento hierárquico. Constantino se
considerava bispo e até mesmo, o bispo dos bispos em coisas formais e até
doutrinárias. Sem sua permissão não se pode sequer reunir um sínodo.
Roma surge como árbitro entre as igrejas. No conflito entre os arianos e
Atanásio, este contribuiu para fortalecer Júlio por ter recorrido ao bispo de
Roma, pedindo que convocasse um concílio. Esta e outras questões entre as
igrejas do Leste e da África foram exploradas pelos papas para fortalecer
suas próprias posições. Assim, questões religiosas seriam resolvidas pelo
sumo pontífice de religião e não pelos magistrados civis.
Do século treze em diante começa o suave declínio do poder papal
para o que concorreram fatos e circunstâncias históricas diferentes. Com o
século XIII desapareceu completamente o gosto pelas cruzadas. A
corrupção constante na corte romana, o favoritismo e o mercantilismo que
presidiam as decisões do Papa e da Cúria, igualmente estimulava a
dissidência. A imoralidade dominava o clero. A cadeira papal era objeto de
70

ambição mais desenfreada. A influência adquirida pelos franceses na Itália


e Sicília após queda dos imperadores germânicos foi sobremodo prejudicial
ao papado.
As Cruzadas foram expedições organizadas pela nobreza sob a
inspiração do Papado para libertar a Terra Santa, isto é, a Palestina, onde
Jesus Cristo nasceu, pregou e morreu; do domínio dos turcos. Estes,
originários do Turquestão, haviam se convertido ao islã, e uma de suas
tribos, os Seldjúcidas ocupou em meados do século XI, a Mesopotâmia, a
Síria, a Palestina e parte da Ásia Menor, proibindo as peregrinações de
cristãos.
Para “salvar” a Europa Oriental e a Terra Santa, o Papa Urbano II
convocou a nobreza europeia dando origem em 1095 à 1ª Cruzada,
transformando assim a guerra tão comum no Ocidente, em “guerra contra
os infiéis”. As Cruzadas, que se estenderam até o século XIII, tiveram como
principal motivação a fé, seguida do gosto pela aventura e pelo interesse de
cidades italianas em incentivar o comércio, que já existia, com os
muçulmanos.
A população da Europa Medieval possuía mentalidade
profundamente religiosa. Vivia apegada a superstições e profecias que
prenunciavam o fim do mundo. Eles acreditavam que os problemas que
estavam acontecendo eram causados pela ocupação do túmulo de Cristo (o
Santo Sepulcro na Terra Santa, em Jerusalém) pelos mulçumanos.
Portanto, em sua mentalidade, a solução para seus problemas era
acabar com o poder islâmico sobre a região. Além disso, a Igreja pregava
aos fiéis que se lutassem contra a ocupação da Terra Santa estariam
agradando a Deus e conquistando um lugar no paraíso. As Cruzadas
representavam vantagens para a nobreza secundogênita, uma vez que
apenas os primogênitos teriam direito de herança sobre a terra e os bens da
família. Assim, os movimentos cruzadistas davam a esses nobres a chance
de possuir terras, motivando-os a lutar contra os “infiéis”. A explosão
demográfica foi outro fator para que ocorressem as expedições.
A necessidade de obter terras para diminuir a pressão populacional
na Europa foi decisiva para o início do movimento. Além disso, a Igreja
queria diminuir a violência que era comum na Idade Média e estava
presente em festas e banquetes com o intuito de divertir. Para isso, o clero
decidiu redirecionar essa violência para causas mais “úteis”. No caso,
expulsar os mulçumanos de Jerusalém. Os europeus tinham interesse
71

também nos produtos orientais: especiarias (pimenta, cravo, canela, etc.),


tecidos, jóias, etc.
1ª Cruzada (1095-1099). Convocada, na França, como uma guerra
santa, pelo papa Urbano II. Teve início efetivamente com a partida rumo à
Jerusalém em 1096. Obtiveram sucesso, conquistaram a Terra Santa, o
principado de Antioquia, e os condados de Trípoli e Edessa, ficando estes
praticamente independentes do rei de Jerusalém. Os expedicionários
fundaram vários “Estados” no Oriente Próximo, conhecidos, então, pela
denominação de Outremer, ou seja, “Além-mar”. Esses “Estados” estavam
organizados segundo os padrões feudais.
2ª Cruzada (1147-1149). Foi estimulada por São Bernardo, em vista
da retomada, pelos islâmicos, da cidade de Edessa. O fracasso só não pode
ser considerado pleno, porque Lisboa acabou sendo conquistada aos
muçulmanos pelos soldados cruzados que saíram de Flandres e da
Inglaterra em direção à Palestina.
O resultado ali obtido foi de fundamental importância para a
formação do Reino de Portugal. Fora isso, também, conseguiu os cruzados
normandos conquistaram aos infiéis, possessões anteriormente
pertencentes ao Império Bizantino, Corfu, Corinto e Tebas. Na Segunda
Cruzada não houve aquele calor ardente nem o empenho da primeira, como
consequência suas forças pereceram na Ásia Menor e as que alcançaram a
Palestina sofreram grave derrota em 1148, quando tentavam tomar
Damasco. Foi um desastre total deixando profundo ressentimento no
Ocidente contra o Império do Oriente em face do insucesso.
3ª Cruzada (1189-1192). Decidida pelo papa Gregório VIII, essa
Cruzada foi organizada depois que o sultão Saladino retomou Jerusalém, a
Cidade Santa. Teve a participação de Ricardo Coração de Leão, da
Inglaterra; do imperador Frederico Barbarossa, ou Barba-Ruiva, do Sacro
Império Romano Germânico; e Filipe Augusto, de França. Essa Cruzada
ficou conhecida como a Cruzada dos Reis. Nela Frederico Barba-Ruiva,
então com sessenta e sete anos, morreu afogado e Ricardo Coração de Leão
assinou com Saladino um acordo que permitia aos cristãos peregrinar com
segurança até Jerusalém.
4ª Cruzada (1202-1204). A Quarta Cruzada teve grandes
consequências políticas e religiosas. Em vez de se dirigirem para a Terra
Santa – que era o ponto crucial do conflito entre cristãos e mulçumanos –,
resolveu se deslocar na direção de Constantinopla. O papa Inocêncio III não
72

gostou desta ideia e proibiu este desvio do propósito inicial, que tinha como
meta derrubar o Imperador Aleixo III. Tudo isto por causa da promessa de
Aleixo, filho do deposto Isaque II, que prometeu aos cruzados bom
pagamento pelo auxílio para que assumissem o Império.
O imperador foi derrubado, mas Aleixo não conseguiu cumprir suas
promessas, motivo pelo qual os cruzados tomaram Constantinopla em 1204
e saquearam seus tesouros. As relíquias das igrejas foram as mais visadas.
O Império Oriental foi dividido. Balduíno de Flandres foi feito imperador e
um patriarca latino foi nomeado papa. Esta conquista latina tornou-se um
desastre porque enfraqueceu o Império Oriental e agravou o ódio entre a
cristandade grega e latina.
A Cruzada das crianças (1212). Constituída por crianças e
adolescentes que acreditavam estarem possuídos do poder Divino e, por
isso, alcançariam com facilidade e sucesso a posse de Jerusalém. Multidões
de crianças e jovens partiram da França e do Sacro Império em direção aos
portos do litoral, querendo de lá embarcar em direção à Palestina. Teve fim
trágico pois, além de muitos pereceram na viagem, assim que alcançaram o
porto de Alexandria, no Egito, foram vendidos, pelos mercadores de
Marselha, como escravos para os muçulmanos.
5ª Cruzada (1217–1221). Essa Cruzada ficou conhecida pelo
completo fracasso que conseguiu. Chefiada primeiro por André II, rei da
Hungria e depois por João Brienne, não conseguiu suportar as enchentes do
rio Nilo, no Egito, e viu-se obrigada a desistir de seus objetivos. Eram
constituídos por austríacos, cipriotas, francos da Síria, frios, húngaros e
noruegueses. Foi motivada pela decisão de Inocêncio III em tomar uma
fortaleza muçulmana existente sobre o monte Tabor, no Egito.
6ª Cruzada (1228–1229). A Sexta Cruzada teve como líder o
Imperador Frederico II que partiu em 1227, adoeceu e retornou. Ao chegar o
Papa Gregório IX o considerou desertor e, tendo outros motivos para
hostilizá-lo, o excomungou. Em 1228 partiu novamente e no ano seguinte,
assinou um tratado feito com o sultão do Egito, obteve a posse de
Jerusalém, Belém, Nazaré e um ponto da costa. Jerusalém ficou em poder
dos cristãos novamente. Mas, em 1244 foi definitivamente perdida mais
uma vez. Quando o espírito das Cruzadas estava morrendo, o Rei Francês
Luís IX, levou uma expedição desastrosa contra o Egito. Foi preso e num
ataque em Túnis em 1270 foi morto.
73

7ª Cruzada (1248–1250). Foi organizada a partir de pregação de


Inocêncio IV feita no Concílio de Lyon (1245). Teve por comandante Luís IX,
de França. Também enfrentou problemas com as cheias do Nilo, onde
debateu-se e foi eliminada pelo tifo. Luís IX acabou capturado na derrota
que sofreu em Mansurá e seus correligionários, para reavê-lo,
submeteram-se a pagar um pesado resgate de 500 mil moedas de ouro.
8ª Cruzada (1270). Também foi comandada por Luís IX. A situação
no Oriente Próximo apresentava-se bem mais complicada que em qualquer
outro período anterior às demais cruzadas. As ordens religiosas cristãs
existentes na região para defendê-la e auxiliar os peregrinos
encontravam-se em discórdia umas com as outras. Os turcos encontravam,
além de desunidos, enfrentando a ameaça de outro poderoso inimigo: os
mongóis, chefiados por Gêngis Khan. Por outro lado, os cristãos estavam
sendo atacados e conduzidos em direção ao mar Mediterrâneo pelos
muçulmanos seldjúcidas, ou mamelucos, do Egito. Nem bem desembarcou
em Túnis, Luís IX veio a falecer devido à peste. Devido, entre outras coisas,
a sua abnegação, Luís IX, mais tarde, passou a ser conhecido como São
Luís.75
Considerando os objetivos, as cruzadas foram um fracasso. Não
conquistaram de modo permanente a Terra Santa. Não se tem certeza de ter
evitado o avanço do Islamismo. O seu custo foi muito caro em vidas e em
bens. Acredita-se, porém, que as cruzadas motivaram o crescimento da
Europa, principalmente no comércio das cidades ao Norte da Itália e a
grande rota comercial dos Alpes e do Reno cresceram de importância. A rica
civilização do Oriente contribuiu para o enriquecimento da cultura
europeia. Por toda a Europa houve melhora do desenvolvimento intelectual.

75
Cf. MORAES, J. G. Caminho das Civilizações. São Paulo: Atual, 1994. No livro
Caminho das Civilizações, o historiador brasileiro José Geraldo Moraes apresenta uma visão
panorâmica da história das civilizações humanas. O livro é dividido em três partes: A primeira
parte, intitulada "O nascimento das civilizações", aborda o surgimento das primeiras
civilizações na Mesopotâmia, no Egito, na Índia e na China. Moraes discute os fatores que
contribuíram para o surgimento dessas civilizações, como o desenvolvimento da agricultura, a
criação de cidades, a escrita e a religião. A segunda parte, intitulada "O mundo greco-romano",
trata da história da civilização greco-romana, que foi uma das mais influentes da história da
humanidade. Moraes discute a cultura, a política, a filosofia e a arte da Grécia e de Roma. A
terceira parte, intitulada "O mundo moderno", aborda a história das civilizações ocidentais
desde a Idade Média até os dias atuais. Moraes discute os principais eventos e transformações
que ocorreram nesse período, como a Reforma Protestante, a Revolução Industrial, a Revolução
Francesa e a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais.
74

O desenvolvimento teológico através do escolasticismo se


desenvolveu.76 A Igreja presenciou muitos movimentos religiosos
populares. As universidades se desenvolveram. Grande desenvolvimento na
literatura vernácula e artística. A Europa no período das Cruzadas
despertou-se e iluminou-se se comparada com séculos anteriores.77

2.3 A Reforma Protestante78

Cinco grandes movimentos de reformas surgiram na igreja;


contudo, o mundo não estava preparado para recebê-los, de modo que
foram reprimidos com sangrentas perseguições. São eles:79
a) os Albigenses: os Puritanos surgiram em 1170 no sul da França.
Eles rejeitavam a autoridade da tradição, distribuíam o Novo Testamento e
opunham-se às doutrinas romanas do purgatório, à adoração de imagens e

76
O escolasticismo foi um movimento intelectual que floresceu na Europa medieval,
entre os séculos IX e XV. Ele foi caracterizado pelo uso da razão e da lógica para interpretar a fé
cristã. O escolasticismo teve um impacto significativo no desenvolvimento da teologia cristã. Ele
ajudou a sistematizar a teologia cristã e a defender a fé cristã contra as críticas de filósofos e
teólogos não cristãos. Alguns dos principais teólogos escolásticos incluem: a) Santo Anselmo de
Cantuária (1033-1109), considerado o pai do escolasticismo. Ele é conhecido por seu argumento
ontológico da existência de Deus. b) São Tomás de Aquino (1225-1274), considerado o maior
teólogo escolástico. Ele é conhecido por sua síntese da fé cristã e da filosofia aristotélica. c) Duns
Scotus (1265-1308), conhecido por sua defesa do livre-arbítrio e sua crítica à metafísica de
Tomás de Aquino.
Alguns dos principais desenvolvimentos teológicos que ocorreram durante o
escolasticismo: a) O uso da razão e da lógica para interpretar a fé cristã: Os escolásticos
acreditavam que a fé e a razão são compatíveis e que a razão pode ser usada para entender a fé.
Eles desenvolveram um método de raciocínio chamado de "escolástica" para conciliar a fé e a
razão. b) A sistematização da teologia cristã: Os escolásticos organizaram a teologia cristã em um
sistema coerente. Eles desenvolveram um vocabulário teológico comum e criaram uma estrutura
para a teologia cristã. c) A defesa da fé cristã contra as críticas de filósofos e teólogos não
cristãos: Os escolásticos defenderam a fé cristã contra as críticas de filósofos e teólogos não
cristãos. Eles usaram a razão e a lógica para refutar as críticas à fé cristã.
77
Cf. FERREIRA, J. R. M. História. São Paulo: FTD, 1997.
78
A Reforma Protestante | A História do Cristianismo | Episódio 4. Escola de
Discípulo, Youtube in: https://l1nq.com/ifHBX
79
Cf. LINDBERGH, C. Reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001. Obra de
história da igreja que examina o movimento de reforma religiosa que eclodiu na Europa no século
XVI. O livro começa com uma discussão das condições sociais e culturais que contribuíram para o
surgimento da Reforma, incluindo a ascensão do humanismo, a insatisfação com a corrupção da
Igreja Católica e a invenção da imprensa. Um dos pontos fortes do livro é a sua abordagem
contextual. Lindberg não se limita a descrever os eventos da Reforma, mas também os coloca no
contexto das condições sociais, culturais e religiosas da época. Isso ajuda o leitor a entender
melhor as causas e as consequências da Reforma. Outro ponto forte do livro é a sua abordagem
imparcial. Lindbergh apresenta as diferentes perspectivas sobre a Reforma, incluindo as
perspectivas protestante, católica e secular. Isso ajuda o leitor a formar sua própria opinião sobre
a Reforma.
75

às pretensões sacerdotais. O papa Inocêncio III promoveu uma grande


perseguição contra eles, e a seita foi dissolvida com o assassinato de quase
toda a população da região.
b) os Valdenses: apareceram ao mesmo tempo, em 1170, com Pedro
Valdo, que lia, explicava e distribuía as Escrituras, as quais contrariavam os
costumes e as doutrinas dos católicos romanos. Foram cruelmente
perseguidos e expulsos da França; apesar das perseguições, eles
permaneceram firmes, e atualmente constituem uma parte do pequeno
grupo de protestante na Itália.
c) João Wyclif: nascido em 1324, recusava-se a reconhecer a
autoridade do papa e opunha-se a ela. Ele era contra a doutrina da
transubstanciação, considerando o pão e o vinho meros símbolos. Traduziu
o Novo testamento para o Inglês e seus seguidores foram exterminados por
Henrique V.
d) João Huss: nascido em 1369 foi um dos leitores de Wyclif, pregou
as mesmas doutrinas, e especialmente proclamou a necessidade de se
libertarem da autoridade papal. Foi excomungado pelo papa, e então
retirou para algum esconderijo desconhecido. Ao fim de dois anos voltou a
convite da igreja para participar de um concílio católico-romano de
Constança, sob a proteção de um salvo-conduto. Entretanto, o acordo foi
violado sob o pretexto de que “Não se deve ser fiel a hereges”. Assim João
Huss foi condenado e queimado.
e) Jerônimo Savonarola: nascido em 1452 foi monge Dominicano,
em Florença. A Grande Catedral80 enchia-se de multidões ansiosas, não só
de ouvi-lo, mas também para obedecer aos seus ensinos. Pregava contra os
males sociais, eclesiásticos e políticos de seu tempo. Foi preso, condenado e
enforcado e seu corpo queimado na praça de Florença em 1498.
Neste período de duzentos anos, o grande acontecimento foi a
Reforma, iniciada na Alemanha, teve como resultado o estabelecimento de

80
A catedral é composta por quatro estruturas principais: a) A catedral
propriamente dita: é a estrutura principal do complexo, com uma planta em cruz
latina. b) O campanário de Giotto: é uma torre de 84 metros de altura, construída
entre 1334 e 1359. c) O batistério de São João: é uma igreja octogonal construída entre
1059 e 1128. d) O museu dell'Opera del Duomo: abriga uma coleção de obras de arte
relacionadas à catedral, incluindo esculturas, pinturas e vitrais. Para saber mais
sobre a magnitude desta Catedral, cf. Catedral de Florença, arquitetura magnífica!
Arautos do Evangelho, Youtube in: https://l1nq.com/2z1Mb
76

igrejas nacionais que não prestavam obediência a Roma. Anotemos


algumas das forças que conduziram à Reforma e ajudaram o seu progresso.
Uma dessas forças foi o movimento conhecido como Renascença,
ou despertar da Europa para um novo interesse pela literatura, pelas artes e
pela ciência, isto é, a transformação dos métodos e propósitos medievais
em métodos modernos. A maioria dos estudiosos italianos desse período
eram homens destituídos de vida religiosa. Até os próprios papas dessa
época destacavam-se mais por sua cultura do que pela fé.
No norte dos Alpes, na Alemanha, na Inglaterra, e na França o
movimento possuía sentimento religioso, despertando novo interesse
pelas Escrituras, pelas línguas gregas e hebraicas; levando o povo a
investigar os verdadeiros fundamentos da fé independente dos dogmas de
Roma.
Por toda parte, de norte a sul, a Renascença solapava a igreja
católica romana. A invenção da imprensa veio a ser um arauto e aliado da
Reforma que se aproximava. A imprensa possibilitou o uso comum das
Escrituras, e incentivou a tradução e a circulação da Bíblia em todos os
idiomas da Europa. As pessoas que liam a Bíblia, prontamente se
convenciam de que a igreja papal estava muito distanciada do ideal do NT.
Os novos ensinos dos Reformadores, logo que eram escritos, também eram
77

logo publicados em livros e folhetos, e circulavam aos milhões em toda a


Europa.81
O patriotismo dos povos começou a manifestar-se, mostrando-se
inconformados com a autoridade estrangeira sobre suas próprias igrejas
nacionais. Resistiram à nomeação de bispos, abades e dignitários da igreja
local, feitas por um papa que vivia em um país distante.
Não se conformaram (o povo), com a contribuição do Óbolo de S.
Pedro, para sustentar o papa e para a construção de majestosas catedrais
em Roma. Havia uma determinação de reduzir o poder dos concílios
eclesiásticos, colocando o clero sob o poder das mesmas leis e tribunais que
serviam para os leigos. A mentalidade de reforma e de independência
despertava a Europa, iniciada na Alemanha, no eleitorado da Saxônia, sob a
direção de Martinho Lutero, monge e professor da Universidade de
Wittenberg.
O papa Leão X, em razão da necessidade de avultadas somas para
terminar as obras da basílica de S. Pedro em Roma, permitiu que um seu
enviado, João Tetzel, percorresse a Alemanha vendendo bulas, assinadas
pelo papa, as quais, dizia, possuíam a virtude de conceder perdão de todos
os pecados, não só aos possuidores da bula, mas também aos amigos,

81
Johannes Gensfleisch, conhecido como Johannes Gutenberg, nasceu provavelmente
em 1397 e é considerado o criador do processo de impressão com tipos móveis, a tipografia. De
uma família próspera, com o pai e o tio trabalhando na Casa da Moeda da cidade, Gutenberg
aprendeu a arte da precisão nos trabalhos em metal. Em 1428, partiu para Estrasburgo, onde fez
as primeiras tentativas de imprimir com caracteres móveis. Em 1442 imprimiu, na sua prensa
original, onze linhas em um pedaço de papel. Voltou a Mainz em 1448. Dois anos depois,
conheceu Johann Fust, que lhe teria feito um empréstimo, exigindo em troca a participação nos
lucros da empresa que formaram e à qual deram o nome de “Das Werk der Buchei” (Fábrica de
Livros). Pouco tempo depois, Pedro Schoffer também entrou na sociedade. Teria sido ele quem
descobriu tanto o modo de fundir e fabricar os caracteres, aliando o chumbo ao antimônio, como
a tinta negra, composta de fumo. No entanto, é a Gutenberg que se atribui o mérito da invenção
da imprensa, não só pela ideia dos tipos móveis, como pelo aperfeiçoamento da imprensa. Entre
os primeiros impressos estavam várias edições do “Donato” e bulas de indulgências concedidas
pelo Papa Nicolau V. No início da década de 1450, Gutenberg iniciou a impressão da célebre
Bíblia, de 42 linhas em duas colunas. Cada letra era feita à mão, e cada página era montada
juntando-se às letras. Depois de prensada e seca, era feita a impressão no verso da página.
Gutenberg teria imprimido trezentas folhas por dia, utilizando seis impressoras. A Bíblia tem 641
páginas, e calcula-se que foram produzidas cerca de 300 cópias, das quais ainda existem
aproximadamente 40. Nem todas as cópias são iguais, tendo algumas, no início de novos
capítulos, letras pintadas à mão. A Bíblia foi impressa em dez seções, o que significa que
Gutenberg deve ter possuído tipos suficientes para imprimir 130 páginas de cada vez. Em 1455,
terminada esta impressão, a sociedade desfez-se por diferenças de interesses e direitos,
suscitando-se entre Fust e Gutenberg tamanha dissidência que a justiça teve que intervir. Como
consequência do julgamento e como compensação pela dívida, Fust ficou com a impressora, os
tipos e as bíblias já completas, ou seja, todo o negócio de Gutenberg.
78

mortos ou vivos, em cujo nome fosse as bulas compradas, sem necessidade


de confissão, nem absolvição pelo sacerdote. Tetzel fazia esta indagação ao
povo: “Tão depressa o vosso dinheiro caia no cofre, a alma de vossos
amigos subirá do purgatório ao céu”. Lutero, por sua vez, começou a pregar
contra Tetzel e sua campanha de venda de indulgências, denunciando o
falso ensino.
A data exata fixada pelos historiadores como início da grande
Reforma foi registrada como 31 de outubro de 1517. Na manhã desse dia,
Lutero afixou na porta da Catedral de Wittenberg um pergaminho que
continha noventa e cinco teses ou declarações, quase todas relacionadas
com a venda de indulgências. Porém em sua aplicação atacava a autoridade
do papa e do sacerdócio. Os dirigentes da igreja procuravam em vão
restringir e lisonjear Lutero que permaneceu firme.
Após longas e prolongadas controvérsias e a publicação de folhetos
que tornaram conhecidas as opiniões de Lutero em toda a Alemanha, seus
ensinos foram formalmente condenados. Lutero foi excomungado por uma
bula do papa Leão X, no mês de junho de 1520. Pediram então ao eleitor
Frederico da Saxônia que entregasse preso Lutero, a fim de ser julgado e
castigado.
Entretanto, em vez de entregar Lutero, Frederico deu-lhe ampla
proteção, pois simpatizava com suas ideias. Lutero recebeu a excomunhão
como um desafio, classificando-a de “bula execrável do anticristo”. No dia
10 de dezembro, Lutero queimou a bula, em reunião pública, à porta de
Wittenberg, diante de uma assembleia de professores, estudantes e do
povo. Juntamente com a bula, Lutero queimou também cópias dos cânones
ou leis estabelecidas por autoridades romanas.
Em 1521 Lutero foi citado a comparecer ante o Concílio Supremo do
Reno. O novo imperador Carlos V concedeu um salvo-conduto a Lutero,
para comparecer a Worms. Apesar de advertido por seus amigos de que
poderia ter a mesma sorte de João Huss, que nas mesmas circunstâncias,
no Concílio de Constança, em 1415, apesar de possuir um salvo-conduto,
foi morto por seus inimigos, Lutero respondeu-lhes: “Irei à Worms ainda
que me cerquem tantos demônios quantas são as telhas dos telhados.”
Finalmente, no dia 17 de abril de 1521 Lutero compareceu ao Concílio. 82

82
O Concílio Supremo do Reno foi uma reunião de bispos e príncipes
católicos do Sacro Império Romano-Germânico, realizada em Worms, na Alemanha,
em 1521. O objetivo do conselho era discutir as questões levantadas pela Reforma
79

Em resposta a um pedido de que se retratasse, e negasse o que


havia escrito, após algumas considerações respondeu que não podia
retratar-se, a não ser que fosse desaprovado pelas Escrituras e pela razão, e
terminou com estas palavras: “Præsto sum. Aliud facere non possum. Deus
adiuva me. Amen” (tradução: “Aqui estou. Não posso fazer outra coisa. Que
Deus me ajude. Amém”).
Instaram com o imperador Carlos para que prendesse Lutero,
apresentando como razão, que a fé não podia ser confiada a hereges.
Contudo, Lutero pôde deixar Worms em paz.83
Enquanto viajava de regresso à sua cidade, Lutero foi
cercado e levado por soldados do eleitor Frederico para o castelo
de Wartburg. Ali permaneceu durante um ano, enquanto as
tempestades de guerra e revoltas rugiam no império. Entretanto,
durante esse tempo Lutero não permaneceu ocioso. Nesse
período traduziu o Novo Testamento para a língua alemã. Obra
que por si só o teria imortalizado, pois essa versão é considerada
como o fundamento do idioma alemão escrito. Isto aconteceu no
ano de 1521. O Antigo Testamento só foi completado alguns anos
mais tarde. Ao regressar do castelo de Wartburg a Wittenberg,
Lutero reassumiu a direção do movimento a favor da Reforma,
exatamente a tempo de salvá-la de excessos extravagantes.
Em 1529 a Dieta reuniu-se na cidade de Espira, com o objetivo de
reconciliar as partes em luta. Nessa reunião da Dieta os governadores
católicos, que tinham maioria, condenaram as doutrinas de Lutero. Os

Protestante, que estava ganhando força na Europa. O conselho foi convocado pelo
imperador Carlos V, que era católico. Carlos V acreditava que a Reforma era uma
ameaça à unidade do império e à autoridade da Igreja Católica. O conselho começou
em 28 de janeiro de 1521. O conselho se dissolveu em 25 de maio de 1521, sem ter
alcançado seu objetivo. A importância do Concílio Supremo do Reno é que ele marcou
uma divisão definitiva entre o catolicismo e o protestantismo. O conselho também
ajudou a espalhar as ideias da Reforma por toda a Europa.
83
As principais defesas de Lutero: Salvação pela fé; Presença da verdade
somente na Bíblia; Extinção do clero regular (ordens religiosas); Livre interpretação
da Bíblia, sem a necessidade de pregadores, padres ou outros intermediários;
Eliminação de tradições e rituais nos cultos religiosos; Fim do celibato (proibição do
casamento de padres, por exemplo); Proibição do uso de imagens nas igrejas; Uso do
alemão nos cultos religiosos (não mais o latim como única língua); Eucaristia e
batismo como únicos sacramentos válidos.
80

príncipes resolveram proibir qualquer ensino do luteranismo nos estados


em que dominassem os católicos.
Ao mesmo tempo determinaram que nos estados em que
governassem luteranos, os católicos poderiam exercer livremente sua
religião. Os príncipes luteranos protestaram contra essa lei desequilibrada
e odiosa. Desde esse tempo ficaram conhecidos como protestantes, e as
doutrinas que defendiam também ficaram conhecidas como religião
protestante.
Ao mesmo tempo em que a Reforma seguia adiante na Alemanha,
ela também se iniciava na Suíça, sob o comando de Ulrico Zuínglio. De
modo diferente de Lutero, esse sacerdote nunca foi monge e tampouco
experimentou uma conversão intrincada. Sua conversão foi um processo
intelectual lento, no qual ele passou a entender as Escrituras e a perceber
como a Igreja Católica estava distante delas.
Durante os dez anos de serviço como pároco em Glarus, na Suíça,
Zuínglio atuou, em duas ocasiões, como capelão de alguns jovens
mercenários suíços. O que viu, fez com que fosse contra a prática dos
rapazes, que vendiam seus serviços de guerreiros, e, portanto,
posicionou-se publicamente contra essa prática. Para Zuínglio, esse
pequeno incidente foi apenas o começo de uma carreira que abrangeria
tanto a reforma política quanto a religiosa.
Serviu como sacerdote em Einsiedeln de 1516 a 1518. Por ter sido
muito influenciado por Erasmo, Zuínglio aprofundou-se no estudo do
Novo Testamento grego daquele grande erudito. Sua pregação começou a
ter cunho mais evangélico.
No primeiro dia do ano de 1519, Zuínglio se tornou líder da
principal igreja de Zurique. Ao chegar, anunciou que, em vez de seguir os
textos prescritos no lecionário, pregaria sobre o evangelho de Mateus. Isso
foi praticamente um ato de desafio à igreja, embora, naquele momento, ele
não tivesse intenção alguma de se separar de Roma.
No mesmo ano, a peste chegou a Zurique, e quase um terço da
população da cidade foi vitimada. Zuínglio fez de tudo para ministrar ao
povo, até que ele mesmo contraiu a doença. Os três meses que levou para se
recuperar lhe ensinaram lições sobre a dependência que devemos ter de
Deus, algo que mudou sua vida completamente.
Zuínglio continuou a pregar o que encontrava na Bíblia, mesmo
quando o ensino era diferente dos rituais e das doutrinas da igreja. Essa
81

situação chegou a seu ápice em 1522, quando alguns de seus paroquianos


desafiaram as regras da igreja sobre comer carne durante a Quaresma.
Zuínglio os apoiou pregando um sermão sobre a liberdade.
O governo civil de Zurique aceitou a paz, mas, ao fazê-lo, terminou
por tomar a igreja nas próprias mãos. Logo no começo do ano seguinte, eles
promoveram um debate público sobre assuntos de fé e de doutrina, em que
a ideia de Zuínglio prevaleceu.
Em 29 de janeiro de 1523, o conselho da cidade decretou: “Que o sr.
Ulrico Zuínglio continue e prossiga, como antes, com a proclamação do
santo evangelho e da pura e santa Escritura de acordo com sua capacidade”.
No decorrer de dois anos, os debates continuaram e as reformas se
expandiram: sacerdotes e freiras poderiam se casar, imagens foram
removidas das igrejas e, para firmar a ruptura final com a Igreja Católica, a
missa foi substituída por um culto simples no qual a maior ênfase era dada
à pregação.
Zuínglio enfrentou oposição não apenas da Igreja Católica, mas
também dos anabatistas (grupo mais radical de reformistas) que queriam
ver as reformas em Zurique acontecer de forma mais rápida. Embora
muitos reformadores concordassem entre si no sentido de que desejavam a
fé mais bíblica, eles, muitas vezes, diferiam quanto ao real significado
dessa fé mais bíblica e de como alcançá-la.
Em 1529, Filipe, o conde de Hesse, reuniu Lutero e Zuínglio. Filipe
queria que o movimento reformado fosse coeso com relação à questão
militar, política e espiritual. Para esse fim, trouxe os dois homens a
Marburgo. Das quinze questões doutrinárias que discutiram, Zuínglio e
Lutero concordaram em catorze. A eucaristia foi o ponto de discórdia:
Zuínglio via esse ato como o recebimento “espiritual” do corpo de Cristo,
ao passo que Lutero o via em termos mais concretos. O encontro que
objetivava a união dos dois grupos protestantes resultou, na verdade, em
uma ruptura ainda maior.
O movimento reformista de Zuínglio se espalhou principalmente
na porção alemã da Suíça, chegando, finalmente, a Genebra, de língua
francesa, e pavimentando o caminho para o trabalho de Calvino naquela
região.
Entretanto, Zuínglio ainda enfrentava a oposição católica nos
cantões rurais, o que terminou por levá-lo a uma batalha. O clérigo, que
pregou contra os mercenários, uniu-se às tropas de Zurique como soldado,
82

empunhando armas, e morreu em 11 de outubro de 1531, na Batalha de


Kappel. Seu corpo foi esquartejado e desonrado por seus inimigos.
Um dos maiores ramos do protestantismo teve por fundador o
francês João Calvino (1509-1564). A princípio encaminhado para a vida
eclesiástica, Calvino se fez, depois, jurista e entusiasta cultor do
humanismo. Abraçando as ideias da Reforma, pôs-se a pregá-las.
Perseguido, deixou a França e refugiou-se na Suíça, onde publicou
o livro As Institutas, em que excede as doutrinas de Lutero, rejeita o culto
externo e ensina a predestinação dos homens à salvação ou à eterna
condenação, indo totalmente em desencontro com a tese anti-bíblica do
purgatório, criada pela Igreja Católica no ano 1000.
Calvino fez de Genebra sua casa, onde se fixou, como a Roma do
Protestantismo. Nesta cidade fundou uma espécie de república teocrática e
organizou sua igreja, que serviria de modelo aos protestantes da língua
francesa. Formavam-se em Genebra os ministros que iam organizar as
igrejas calvinistas da Holanda, Escócia, Inglaterra e França. Os partidários
de Calvino na Escócia vieram a chamarem-se Presbiterianos; na Inglaterra,
Puritanos; e na França, Huguenotes.
No século XVI, a Igreja Católica Romana estava passando por uma
forte crise. Neste contexto, ganhou força o protestantismo e as novas
mentalidades cristãs surgidas na Europa como, por exemplo, o calvinismo
e o luteranismo.
Para tentar barrar o avanço do protestantismo, após a Reforma
Protestante, o Papa Paulo III convocou um concílio para a cidade italiana de
Trento. No Concílio de Trento (1545–1563)84 vários assuntos foram
discutidos e várias ações entraram em execução. Principais decisões
tomadas durante a Contra Reforma foram:
a) Retorno da Inquisição: tinha como objetivo vigiar, perseguir,
prender e punir aqueles que não estavam seguindo a doutrina católica.
Milhares de protestantes, judeus e integrantes de outras religiões foram
perseguidos e punidos pelo Tribunal do Santo Ofício.85

84
A Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) disponibiliza os textos originais do Concílio
de Trento em seu site.
85
Obras em Língua Portuguesa sobre a inquisição são raríssimas, pouco se fala sobre o
assunto. Contudo, das mais apreciadas em todo o mundo, são essas: AYLLÓN, Fernando. El
Tribunal de La Inquisición; De la leyenda a La historia. Lima: Fondo Editorial Del Congreso Del Perú,
1997. WALSH, William T. Personajes de La Inquisición. Madrid: Espasa-Calpe, S.A., 1963. FALBEL,
Nachman. Heresias Medievais. São Paulo: Perspectiva S.A., 1977. MAISONNEUVE,
Henri. L’Inquisition. Paris: Desclée, 1989.
83

b) Index Librorum Prohibitorum: relação de livros contrários aos


dogmas e ideias defendidas pela Igreja Católica. Os livros apreendidos
foram queimados. Quem fosse pego com materiais deste tipo receberia
punições severas. Vários escritores, muitos deles cientistas, foram presos e
condenados por escreverem livros com ideias não aceitas pelos católicos.
Era uma forma de barrar o avanço de outras doutrinas e manter o controle
cultural nas mãos da Igreja Católica.
c) Criação da Companhia de Jesus: os integrantes desta companhia
são os chamados jesuítas. Estes foram encaminhados aos continentes
africano, americano e asiático. Tinham como objetivo principal
transformar os nativos em novos católicos, através da catequese (ensino da
língua portuguesa, doutrina católica e hábitos europeus).
Os índios brasileiros foram catequizados por jesuítas exemplares como, por
exemplo, Pe. Manoel da Nóbrega e José de Anchieta (CÂMARA, 1977).

2.4 A Igreja Moderna86

Nos últimos três séculos, nossa atenção será especialmente para as


igrejas que nasceram da Reforma. Pouco depois da Reforma, apareceram
três grupos diferentes na igreja inglesa, são eles: a) os elementos
romanistas que procuravam fazer amizade e nova união com Roma; b) o
anglicanismo, que estava satisfeito com as reformas moderadas
estabelecidas no reinado de Henrique VIII; c) e o grupo protestante radical
que desejava uma igreja igual às que se estabeleceram em Genebra e
Escócia.
Este último grupo ficou conhecido, cerca do ano de 1654, como os
puritanos, e opunha-se de modo firme ao sistema anglicano na corte e por
essa razão muitos de seus dirigentes foram exilados.
Os puritanos também estavam divididos entre si. Uma parte mais
radical era favorável à forma presbiteriana. A outra desejava a
independência de cada grupo local, conhecidos como independentes ou
congregacionais. Apesar dessas diferenças, continuavam como membros
da igreja inglesa. Na luta entre Carlos I e o Parlamento, os puritanos eram
fortes defensores dos direitos populares.

86
A Igreja Moderna | A História do Cristianismo | Episódio 6. Escola de Discípulo,
Youtube in: https://encr.pw/TBbRy
84

No início o grupo presbiteriano predominava. Por ordem do


Parlamento, um concílio de ministros reunido em Westminster, em 1643,
preparou a “Confissão de Westminster” e os dois catecismos, considerados
durante muito tempo como regra de fé por presbiterianos e
congregacionais.
Após a Revolução de 1688, os puritanos foram reconhecidos como
dissidentes da igreja da Inglaterra e conseguiram o direito de
organizarem-se independentemente. Do movimento iniciado pelos
puritanos surgiram três igrejas: a Presbiteriana, a Congregacional e a
Batista.
O movimento wesleyano despertou clérigos e dissidentes para um
novo poder na vida cristã. Também contribuiu para a formação de igrejas
metodistas sob várias formas em muitos países. Na América do Norte, a
igreja metodista conta com aproximadamente onze milhões de membros.
Nenhum dirigente na igreja cristã conseguiu tantos seguidores como João
Wesley.
A Igreja da Inglaterra (Episcopal) foi o primeiro protestantismo a
estabelecer-se na América do Norte. Em 1579 realizou-se um culto sob a
direção de Sir Francis Drake, na Califórnia. O estabelecimento permanente
da igreja inglesa data de 1607, na primeira colônia inglesa em Jamestown,
na Virgínia. A Igreja da Inglaterra era a única forma de adoração
reconhecida no início, na Virgínia e em outras colônias do Sul.
Uma das maiores igrejas existentes na América do Norte é a
Batista, a qual conta com mais de vinte milhões de membros. Seus
princípios distintivos são dois: 1) o batismo deve ser ministrado somente
àqueles que confessam sua fé em Cristo, portanto, as crianças não devem
ser batizadas; 2) a única forma bíblica do batismo é a imersão do corpo na
água, e não a aspersão ou derramamento. Os batistas são congregacionais
em seu sistema de governo.
Cada igreja local é independente de qualquer jurisdição externa,
fixando suas próprias normas. Os batistas surgiram pouco depois da
Reforma, na Suíça, e espalharam-se rapidamente no norte da Alemanha e
na Holanda. No princípio foram chamados anabatistas, porque batizavam
novamente aqueles que já haviam sido batizados na infância.
Na Inglaterra, a princípio, estavam unidos com os independentes
ou congregacionais, mas pouco a pouco se tornaram um corpo
independente. Com efeito, a igreja de Redford, da qual João Bunyan era
85

pastor, cerca do ano 1660, e que existe até hoje, considera-se tanto Batista
como Congregacional.
Na América do Norte a denominação batista iniciou suas atividades
com Roger Williams, clérigo da Igreja da Inglaterra expulso de
Massachusetts porque se recusou a aceitar as regras e opiniões
congregacionais. Roger fundou a colônia de Rhode Island, em 1644. Ali
todas as formas de adoração religiosa eram permitidas, e os membros de
religiões perseguidas em outras partes eram bem-vindos. De Rhode Island
os batistas espalharam-se rapidamente por todo o continente.
Depois da Reforma iniciada por Lutero, as igrejas nacionais que se
organizaram na Alemanha e nos países escandinavos tomaram o nome de
luteranas. No início da história da colonização holandesa da Nova
Amsterdã, hoje Nova Iorque (desde 1623), chegaram os luteranos da
Holanda.
Em 1652, solicitaram licença para fundar uma igreja e contratar um
pastor. Entretanto, as autoridades da Igreja Reformada da Holanda
opuseram-se a esse desejo, e fizeram com que o primeiro ministro luterano
voltasse à Holanda, em 1657. Os cultos continuaram a ser realizados,
embora não oficialmente.
Contudo, em 1664, quando a Inglaterra conquistou Nova Amsterdã,
os luteranos conseguiram liberdade de culto. Em 1638, alguns luteranos
suecos estabeleceram-se próximo ao rio Delaware, e construíram a
primeira igreja luterana na América do Norte, perto de Lewes. Porém a
imigração sueca cessou até ao século seguinte. Em 1710, uma colônia de
luteranos exilados do Palatinado, na Alemanha, estabeleceu a sua igreja em
Nova Iorque e na Pensilvânia.
No séc. XVIII, os protestantes alemães e suecos emigraram para a
América do Norte, aos milhares. Isso deu motivo à organização do primeiro
Sínodo Luterano na cidade de Filadélfia, em 1748. Daí as igrejas luteranas
cresceram, não só por causa da imigração, mas também pelo aumento
natural, sendo que atualmente há aproximadamente dez milhões de
membros nas igrejas luteranas.
Uma das primeiras Igrejas Presbiterianas dos Estados Unidos foi
organizada em Snow Hill, Maryland, em 1648, pelo Reverendo Francis
Makemie, da Irlanda. Makemie e mais seis ministros reuniram-se em
Filadélfia, em 1706 e uniram suas igrejas em um presbitério. Em 1716, as
igrejas e seus ministros, tendo aumentado em número e bem penetrado em
86

outras colônias, decidiram organizar-se em sínodo, dividido em quatro


presbitérios incluindo dezessete igrejas.
As igrejas metodistas da América existem desde o ano de 1766,
quando dois pregadores wesleyanos locais, naturais da Irlanda, se
transferiram para os Estados Unidos e começaram a realizar cultos
segundo a ordem metodista. Não se sabe ao certo se Filipe Embury realizou
o primeiro culto em sua própria casa em Nova Iorque ou se foi Roberto
Strawbridge, em Frederick County, Maryland. Esses dois homens
organizaram sociedades, e, em 1768, Filipe Embury edificou uma capela na
Rua João, onde funciona ainda uma igreja Metodista Episcopal.
O número de metodistas norte-americanos cresceu. Por essa razão,
em 1769, João Wesley enviou dois missionários, Ricardo Broadman e
Tomás Plimor, a fim de inspecionar a obra e cooperar na sua extensão.
Outros pregadores, sete ao todo, foram enviados da Inglaterra, dentre os
quais se destacou Francisco Asbury, que chegou aos Estados Unidos em
1771.
A primeira Conferência Metodista nas colônias foi realizada em
1773, presidida por Tomás Franklin. Porém, em razão do início da Guerra de
Independência, todos os pregadores deixaram o país; exceto Asbury, e a
maior parte do tempo, até que a paz foi assinada em 1783, ele esteve
afastado. Quando o governo dos Estados Unidos foi reconhecido pela
Grã-Bretanha, os metodistas da América do Norte alcançavam o número de
quinze mil.
Enquanto o avivamento pentecostal expandia-se e dominava a vida
religiosa de Chicago, na cidade de South Bend, no Estado de Indiana, que
fica a cem quilômetros de Chicago, morava um pastor batista que se
chamava Gunnar Vingren. Atraído pelos acontecimentos do avivamento de
Chicago, o jovem foi a essa cidade a fim de saber o que realmente estava
acontecendo ali. Diante da demonstração do poder divino, ele creu e foi
batizado com o Espírito Santo.
Pouco tempo depois, Gunnar Vingren participou de uma Convenção
Batista, em Chicago, que aceitou o movimento pentecostal. Ali ele conheceu
outro jovem sueco que se chamava Daniel Berg. Esse jovem também foi
batizado com Espírito Santo. Ambos eram de origem sueca e membros da
igreja Batista em seu país, havendo emigrado para a América em épocas
diferentes. Ali, não somente tomaram conhecimento do avivamento
pentecostal, mas receberam-no individualmente de modo glorioso.
87

Posteriormente, já amigos, buscavam o Senhor e receberam dele a


chamada missionária para o Brasil. Através de uma revelação divina, o
lugar tinha sido mencionado: “Pará”. Nenhum dos presentes conhecia
aquela localidade. Após a oração, os jovens foram a uma biblioteca à
procura de um mapa que lhes indicasse onde o Pará estava localizado. Foi
quando descobriram que se tratava de um estado do Norte do Brasil.
Era uma chamada de fé, pois para eles, era um lugar totalmente
desconhecido. Gunnar Vingren e Daniel Berg despediram-se da igreja e dos
irmãos em Chicago. A igreja levantou uma coleta para auxiliar os
missionários que partiam. A quantia que lhes foi entregue só deu para a
compra de duas passagens até Nova Iorque.
Quando lá chegassem, eles não saberiam como conseguir dinheiro
para comprar mais duas passagens até o Pará. Esse detalhe não os
desanimou, nem os deteve em Chicago à espera de mais recursos. Tinham
convicção de que haviam sido convocados por Deus. Portanto, era da total
responsabilidade de Deus fazer com que os recursos materiais inexistentes
necessários à viagem surgissem.
D. Berg e G. Vingren chegaram à grande metrópole, Nova Iorque,
sem conhecer ninguém, e sem dinheiro para continuar a viagem. Os dois
missionários caminhavam por uma das ruas da cidade, quando
encontraram um negociante que conhecia o jovem Gunnar.
Na noite anterior, enquanto em oração, aquele negociante sentia
que devia certa quantia ao irmão Vingren. Pela manhã, aquele homem
colocou a referida importância em um envelope para mandá-la pelo
correio, mas enquanto estava caminhando para executar aquela tarefa, viu
os dois enviados do Senhor surgirem à sua frente. Surpreso ao ver a
maneira especial como Deus trabalhava, o comerciante contou-lhes sua
experiência e entregou-lhe o envelope. Quando o irmão Vingren abriu o
envelope, encontrou dentro dele 90 dólares - exatamente o preço de duas
passagens até o Pará.
Assim, no dia 5 de novembro de 1910, os missionários Daniel Berg e
Gunnar Vingren deixaram Nova Iorque a bordo do navio Clement com
destino à Belém do Pará. No início do século XX, apesar da presença de
imigrantes alemães e suíços de origem protestante e do valoroso trabalho
de missionários de igrejas evangélicas tradicionais, nosso país era quase
que totalmente católico.
88

No dia 19 de novembro de 1910, em um dia de sol causticante, os


dois missionários desembarcaram em Belém do Pará. Os missionários não
possuíam amigos ou conhecidos na cidade de Belém. Não traziam endereço
de alguém que os acolhesse ou orientasse.
Carregando suas malas, enveredaram por uma rua, em seguida,
sentados num banco de praça fizeram a primeira oração em terras
brasileiras. Seguindo a indicação de alguns passageiros com os quais
viajaram, os missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg hospedaram-se
num modesto hotel, cuja diária total era de oito mil réis. Em uma das mesas
do hotel, o irmão Vingren encontrou um jornal que tinha o endereço do
pastor metodista Justus Nelson.
No dia seguinte, foi procurá-lo, e contaram-lhe como Deus os
tinha enviado como missionários para aquela cidade. Como Daniel Berg e
Gunnar Vingren estivessem até aquele momento, ligados à Igreja Batista na
América (as igrejas que aceitavam o avivamento permaneciam com o
mesmo nome), Justus Nelson os acompanhou à Igreja Batista, em Belém, e
os apresentou ao responsável pelo trabalho, pastor Raimundo Nobre.
E assim, os missionários passaram a morar nas dependências da
igreja. Alguns dias depois, Adriano Nobre, que pertencia à igreja
presbiteriana e morava nas ilhas, foi a Belém em visita ao primo Raimundo
Nobre. Este apresentou os missionários a Adriano, que imediatamente
mostrou-se interessado em ajudá-los a aprender falar o português.
Passado um determinado tempo eles já podiam falar português. Vingren
continuou a estudar a língua, enquanto Daniel trabalhava como fundidor.
Passado algum tempo, Berg começou a dedicar-se ao trabalho de
colportagem. A intensa vida de oração dos dois jovens missionários
chamou a atenção de muitas pessoas que os achavam fanáticos, mas isso
não os abalou. Com desenvoltura e eloquência, continuaram a pregar a
salvação em Cristo Jesus e o batismo com o Espírito Santo.
Todavia, como resultado daquelas orações, alguns membros
daquela Igreja Batista creram na plenitude do Evangelho que os
missionários anunciavam. Os primeiros a declararem publicamente sua
crença nas promessas divinas foram as irmãs Celina Albuquerque e Maria
Nazaré. Elas não somente creram, mas resolveram permanecer em oração
até que Deus as batizasse com Espírito Santo conforme At 2.39.
Numa quinta-feira, uma hora da manhã de dois de junho de 1911,
na Rua Siqueira Mendes, 67, na cidade de Belém, Celina de Albuquerque,
89

enquanto orava, foi batizada com o Espírito Santo. Após o batismo daquela
irmã começaria uma luta, pois na igreja Batista, alguns dos irmãos creram,
outros não: a igreja estava dividida.
Tal foi o desconforto que os missionários e dezoito simpatizantes
foram expulsos daquela Igreja Batista, no dia 13 de junho de 1911. Na
mesma noite da expulsão, ao chegarem à casa da irmã Celina, na Rua
Siqueira Mendes, 67, os irmãos resolveram se reunirem ali e nos próximos
três meses de cultos dirigidos pelo missionário Vingren e pelo irmão
Plácido. Daniel Berg pouco falava por ainda estar atrasado no aprendizado
da língua.
Nesse tempo na casa da irmã Celina de Albuquerque, surge a
necessidade de que o trabalho fosse organizado como igreja, o que se deu a
18 de junho de 1911, quando por deliberação unânime, foi fundado a
Assembleia de Deus no Brasil, tendo em Daniel Berg e Gunnar Vingren os
primeiros pastores.
O termo Assembleia de Deus dado a denominação não tem uma
origem definida entre nós, entretanto sugere-se estarem ligadas às Igrejas
que na América do Norte professam a mesma doutrina e recebem a
designação de Assembleia de Deus ou Igreja Pentecostal.87
Assim, desde esse tempo, o Movimento Pentecostal tomou conta
do Brasil, se tornando o maior grupo de cristãos dentro da nação, fora da
Igreja Católica, e segundo alguns sociólogos, em 2025 (se continuar nesse
ritmo de crescimento) os pentecostais atingirão a meta de um bilhão de
crentes em todo o globo terrestre.
E pensar que tudo começou com o “Mas receberão poder quando o
Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em
Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (At 1.8), o
mais curioso é que confins da terra aqui neste texto, contextualizado no
período onde Roma era o centro do universo, se tratava da Espanha
(Portugal ainda não existia).
Para glória do nome do Senhor a profecia de Lucas, foi além do
esperado, além da Espanha, além dos confins da terra. O Brasil se tornou o
maior difusor da mensagem pentecostal do mundo.

87
Em 2017, a CPAD editou a Declaração de Fé das Assembleias de Deus com o
propósito de, pela primeira vez em sua história, unificar o pensamento pós-moderno das
diversas assembleias espalhadas pelos países de Língua Portuguesa, que vinha sofrendo
constante interferência de outras denominações e com isso, se fragmentando.
90

MÓDULO 3 — BIBLIOLOGIA88
“O analfabetismo bíblico da nossa geração
é a causa maior de um cristianismo aguado e sem consistência.”
—Hernandes Dias Lopes89

A Bíblia foi escrita por 40 diferentes autores que representavam 19


diferentes ocupações (pastores, fazendeiros, pescadores, cobradores de
impostos, médicos, reis, etc.) que viveram num período em torno de 1.600
anos. São aproximadamente 50 gerações de homens. Os primeiros 39 livros
da Bíblia foram escritos em hebraico ao longo de um período em torno de
mil anos.
Houve um intervalo de quatrocentos anos em que nenhuma
Escritura foi redigida, exceto livros apócrifos (não autênticos). Depois
disto, os últimos 27 livros da Bíblia foram escritos em grego durante um
período em torno de cinquenta anos. A palavra Bíblia vem do Grego biblos
que significa livros. Está dividida em duas partes: AT e NT.

88
A mais importante ferramenta para o estudo da teologia, de longe, é a Bíblia
Sagrada, e sem ela, — a Bíblia — é simplesmente impossível estudar a Doutrina da Igreja, por
isso, essa disciplina está exposta neste texto abrangendo temáticas como a) a autoridade,
doutrina e inspiração da Bíblia; b) o Antigo Testamento exposto nas quatro repartições
(Pentateuco, Históricos, Poéticos, Proféticos); c) o contexto da terra prometida e Novo
Testamento (os Evangelhos, as Cartas e o Apocalipse). Para mais informações cf. Conhecendo as
Escrituras 1 (Antigo Testamento). Curso Bíblico Online, Youtube in: https://encr.pw/2BN62 (Veja
também o segundo vídeo dessa temática: Conhecendo as Escrituras 2 - (Novo Testamento).
Curso Bíblico Online, Youtube in: https://l1nq.com/rk9F1
89
Hernandes Dias Lopes é um pastor presbiteriano brasileiro, nascido em Nova
Venécia, Espírito Santo, em 15 de julho de 1959. É bacharel em Teologia pelo Seminário
Presbiteriano do Sul (Campinas, SP) e doutor em Ministério pelo Reformed Theological Seminary
(Jackson, Mississippi, EUA). É pastor titular da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória, Espírito
Santo, desde 1985. Também é pastor colaborador da Igreja Presbiteriana de Pinheiros, em São
Paulo, e diretor executivo da Luz para o Caminho, uma editora cristã. É um conferencista e
escritor prolífico, com mais de 150 livros publicados, em diversas áreas da teologia e da
espiritualidade cristã. Seus livros são traduzidos para diversos idiomas e são amplamente
utilizados em igrejas e escolas teológicas no Brasil e em outros países. É um defensor da
ortodoxia teológica e da fé reformada. É crítico do relativismo moral, da propagação da ideologia
de gênero e do movimento neopentecostal. No entanto, é também um defensor dos direitos e da
justiça sociais. Hernandes Dias Lopes é uma figura importante no cenário evangélico brasileiro.
Seu trabalho como pastor, conferencista e escritor tem contribuído para a divulgação da fé cristã
e da teologia reformada no Brasil e no mundo. Alguns de seus livros mais conhecidos são: “O
caminho para a maturidade cristã”, “O amor de Deus”, “A santificação”, “A doutrina da salvação”, “O
pecado”, “O fim dos tempos”. Hernandes Dias Lopes é um homem de grande fé e convicção. Seu
trabalho tem impactado a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.
91

Os nomes Antigo Testamento e Novo Testamento focalizam as


duas grandes alianças feitas por Deus com Seu povo. A palavra Testamento
corresponde à palavra hebraica berith (aliança, pacto, contrato). O Antigo
Testamento é a revelação de Deus para o povo de Israel, apontando para a
vinda do Messias, que haveria de ocorrer na plenitude dos tempos (Êx 19.5,
24.8). Trata-se da Nova Aliança. O Novo Testamento é a revelação de Deus
para o bem de todos os povos. Jesus Cristo, o Messias e Salvador veio na
plenitude dos tempos, e com ele teve início a Igreja, fundada sobre o
alicerce do testemunho Apostólico.
Língua em que foi escrito o Antigo Testamento, exceto alguns
poucos trechos que foram escritos em Aramaico. Grupo de dialetos
intimamente relacionados com o HEBRAICO e falados na Terra de Israel e
em outros países do mundo bíblico (2Rs 18.26). Estão escritos em aramaico,
por exemplo, os seguintes textos bíblicos: Ed 4.8-6.18; 7.12-26; Dn
2.4-7,28; Jr 10.11.90
Grego koiné (comum). Língua difundida pelo império de Alexandre,
o Grande, que viveu de 356 a 323 a.C. Ele conquistou o mundo civilizado
desde a Grécia até a Índia. É também conhecido como Alexandre Magno.
Deus preparou o cenário para que o NT fosse escrito nessa língua
detalhista. O grego koiné era a língua usada por comerciantes, médicos,
escritores e políticos.
Autógrafo. Texto original escrito por um profeta, apóstolo ou
evangelista inspirado pelo Espírito Santo. Hoje não temos mais os
autógrafos, somente cópias.
Apócrifos. Livros que a Igreja Romana, no Concílio de Trento (1546),
declarou inspirados, embora não fizessem parte do cânon do AT
estabelecido pelos judeus de Israel. Isso veio após a Reforma Protestante.
Os católicos chamam esses livros de deuterocanônicos, isto é, pertencentes
ao “segundo cânon”.
O NT é o conjunto de 27 livros que a igreja cristã reconhece como
genuínos e inspirados. O cânon do NT é igual para evangélicos e católicos.
Os primeiros cristãos que receberam os escritos originais dos Apóstolos
sabiam quais eram os verdadeiros e providenciaram suas cópias para as
outras igrejas.

90
Cf. um vídeo sobre a composição dos livros do At: Em que línguas a Bíblia foi
escrita? Tarzan Leão, Youtube in: https://l1nq.com/zY76r
92

Paulo mandou divulgar suas cartas entre as igrejas: E, depois que


esta carta tiver sido lida entre vocês, façam com que seja lida também na
igreja dos laodicenses. E vocês, leiam também a carta que vier de Laodicéia
(Cl 4.15 NAA). Peço, com insistência, em nome do Senhor, que esta carta
seja lida para todos os irmãos (1Ts 5.27 NAA).
Paulo alertou sobre falsificações: Que não vos movais facilmente do
vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por
palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já
perto (2Ts 2.2). Paulo recomendou a preservação: Então, irmãos, estai
firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra,
seja por epístola nossa (2Ts 2.15). As tradições “por palavra" a que Paulo se
refere, são as tradições que os Apóstolos ensinaram, e estão registradas nos
diversos livros do NT. Não faz parte da tradição inventada logo após a
morte deles, como afirma a Igreja Romana.
O apóstolo Pedro confirma que as cartas de Paulo são Escrituras:
[Paulo] Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há
pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem e
igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição. (2Pe 3.16).
Fechamento completo do Cânon. Os concílios efetuados pela Igreja
de Roma, apenas reconheceram aquilo que já era evidência entre as igrejas
fiéis a Cristo. Os concílios expurgaram os escritos falsos por não haver
testemunho entre os fiéis e também por conterem informações falsas. A
Bíblia não é um produto da Igreja Romana, é pois um produto do Espírito
Santo.
A Bíblia foi dividida em capítulos pelo bispo católico Stephen
Langhton entre 1234-1242. Os Massoretas dividiram o Antigo Testamento
em versículos no século IX. O Novo Testamento foi dividido em versículos
por Robert Stephanus em 1551 na Reforma Protestante.

3.1 A Autoridade da Bíblia91

Evidências da autoridade da Bíblia confirmada: Toda a Escritura é


divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para
corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e
perfeitamente instruído para toda a boa obra (2Tm 3.16-17). Paulo afirma

91
A Autoridade da Bíblia. Pr. Osiel Gomes, Youtube in: https://encr.pw/OEZNu
93

que os seus escritos são mandamentos do Senhor: Se alguém se considera


profeta ou espiritual, reconheça que é mandamento do Senhor o que estou
escrevendo para vocês (1Co 14.37 NAA).
Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é
de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por
vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram
inspirados pelo Espírito Santo (2Pe 1.20-21). Examinais as Escrituras,
porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam
(Jo 5.39). Porque, se vocês, de fato, cressem em Moisés, também creriam
em mim; pois ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não creem nos
escritos dele, como crerão nas minhas palavras? (Jo 5.46,47 NAA).
Mais evidências da autoridade da Bíblia. A consistência interna, o
conteúdo e os efeitos da Escritura. A Bíblia tem muitas variedades, mas
uma mensagem uniforme. Ela foi escrita durante um tempo de 1600 anos,
em três línguas, por cerca de quarenta autores, falando de muitos assuntos,
contudo, a Bíblia tem uma surpreendente unidade e consistência na sua
mensagem.
Além disso, ela contém muitas coisas que a mente humana nunca
poderia ter imaginado. Seu conteúdo surpreende as mentes mais
brilhantes. A Bíblia tem transformado países, sociedades e milhões de vidas
através da história. A Bíblia é a palavra poderosa de Deus. A Bíblia é
inspirada por Deus (inspirada = “soprada”, gr. theopneustos). Portanto, se é
inspirada é inerrante. Se é inerrante, então é infalível.92

3.2 A Doutrina da Bíblia93

Bibliologia é o estudo sistemático do pano de fundo dos livros


bíblicos, dentro do qual se deve entender os livros da Bíblia de forma
correta. A Bíblia é a revelação escrita do único Deus verdadeiro ao homem.
Ela tem por propósito a glorificação do nome de Deus e o anúncio
da salvação do homem por meio do sacrifício substitutivo de Jesus Cristo

92
Existem algumas dificuldades na Bíblia, mas não há erros. Ninguém conseguiu
provar que a Bíblia está errada. Em alguns trechos houve erro do copista, mas com a análise de
outras cópias resolveu-se o problema. O que acontece às vezes, é problema de interpretação dos
homens, ou algo que ainda não foi esclarecido. Para ajudar com as dificuldades na Bíblia cf.
GEISLER, N; HOWE, T. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e Contradições da Bíblia. São Paulo:
Mundo Cristo, 1999.
93
Cf. A Importância da Doutrina Bíblica. Luciano Subirá, Youtube in:
https://l1nq.com/hETY4
94

realizado na Cruz. Tem sua historicidade comprovada através de sua


autoria Divina (2Tm 3.16,17; Sl 19; Ex 20); das profecias cumpridas (Sl 16;
22; Is 42; 45; 53; 61; Mq 5; Ag 2; Ez 36; Jr 33; Jl 2) e das descobertas
arqueológicas diversas. Concluímos que a mensagem bíblica é
historicamente comprovada e tem relevância e valor histórico.
Sobre a inspiração das Escrituras, campo da Apologéticas,
importante na formação do nosso conceito acerca das Escrituras como um
todo. Apresentamos a seguir algumas razões para a fé na Inspiração Bíblia.
1. Unidade Interna. Há uma unidade de propósito e programa
marcante, evidenciando a atuação de uma mente única, a mente de Deus.
2. Epistemologia Logicamente Defensível. De todas as religiões
universais, só a judaico-cristã oferece uma ciência do conhecimento
religioso logicamente defensível. Nenhuma proposta de salvação é tão clara
e incisiva quanto a da Bíblia. Os textos bíblicos exigem a exclusividade de
Deus e de sua revelação. A pessoa de Deus e a revelação que faz de si mesmo
são inegociáveis. A pesquisa científica não pode chegar a Deus sem a
Revelação. O conhecimento de Deus é revelado (Mt 16; Sl 19) e não deduzido
pura e simplesmente da observação empírica das leis da natureza. A Bíblia é
a revelação escrita (especial) de Deus. “Revelação divina em linguagem
humana”, para que o homem possa conhecer a Deus.
3. O Cumprimento de Suas Profecias, e a Clareza de Suas Proposições
Historicamente Colocadas. Os demais livros religiosos estão salpicados de
inconsistências, inexatidões e incoerências históricas (por ex. O Livro de
Morôni; O Corão).
4. A Transformação de Vidas. Através da Bíblia, Deus tem
transformado vidas de forma real, clara e definitiva. O que pode mudar a
personalidade? A conversão cristã é uma incógnita para a Psicologia.
A própria Bíblia reivindica sua infalibilidade: a) Mt 5.18: a
inspiração abrange mais que pensamentos, e palavras individuais. b) Jo
10.35: falhar = invalidado, colocado de lado, ignorado. c) 2Tm 3.16: toda a
Escritura é inspirada, todo o AT e NT. d) 2Pe 3.16: Pedro considera os
escritos de Paulo inspirados por Deus. e) Hb 1.1,2: os profetas do AT falaram
movidos por Deus. f) 1Pe 1.10,11: a intenção de Deus ultrapassa até mesmo o
entendimento dos autores humanos. g) 2Pe 1.21: movidos = levados adiante
como um navio é levado pelo vento. h) Is 8.20: a palavra escrita é superior a
pretensas manifestações espirituais reveladoras (cf. 1Co 14.36). i) Sl 19: a
Lei (escrita) é perfeita. “A Bíblia é infalível quanto à sua verdade, e final
95

quanto à sua autoridade” (Archer Jr. p.23). O que isso quer dizer? Que a
Bíblia possui exatidão histórica. Adão e Eva (1Co 11.8,9; 1Tm 2.13,14). Jonas
e o grande peixe (Mt 12.40). Que a teologia e a ética são inseparáveis. Rm
5.14-19 depende da veracidade de Adão. Se há erros históricos, haverá erros
doutrinários.

3.3 A Inspiração da Bíblia94

O termo inspiração é usado para denotar a operação de Deus na


formação das Escrituras Sagradas (a Bíblia). Expressa o pensamento da
origem e qualidades divinas da Bíblia, sendo usado para indicar a influência
divina e sobrenatural que capacitou as mentes humanas para receberem a
Revelação de Deus e escrevê-la fielmente.
a) O que a Inspiração não é: Não é um ditado mecânico, pois Deus
fez mais que ditar; ele trabalhou internamente nos autores que escolheu.
Embora a Inspiração não obliterar as personalidades dos autores humanos,
isso não significa que os mesmos tenham distorcido o conteúdo que
receberam.
A Inspiração não é aplicada à transmissão do texto em suas cópias e
traduções, mas somente à escrita dos primeiros originais (autógrafos). Não
pode ser equiparada à inspiração de autores literários profanos, nem
mesmo ser considerada como uma grande literatura de produção humana.
A Inspiração não está presa à qualidade do caráter literário comum, mas ao
de ser Revelação direta e exclusiva de Deus.
b) O que é a Inspiração: Num sentido amplo, a inspiração inclui o
processo total por que alguns homens, movidos pelo Espírito Santo,
enunciaram e escreveram palavras emanadas da boca do Senhor; e, por isso
mesmo, palavras dotadas da autoridade divina”. Esse processo contém três
elementos:
1. Causalidade Divina: Deus é a fonte originadora da Bíblia.
2. Mediação Profética: “Deus usou personalidades humanas para
comunicar proposições divinas”. A Bíblia é um livro divino-humano. 3.
Autoridade Escrita: A Bíblia é a última palavra em assuntos doutrinários e
religiosos. A inspiração é verbal, plena e autoritativa, ou seja, todas as

94
O Que é a Inspiração Bíblica? - Gabriel Junqueira. Igreja Presbiteriana de Santo
Amaro, Youtube in: https://l1nq.com/efVD4
96

palavras são inspiradas por Deus para cumprir os propósitos de Deus. Cf.
2Tm 3.16 que afirma que toda Escritura é útil.
Com o advento da Neo-ortodoxia (início do séc. XX), propôs-se que
o homem fosse o juiz do que é certo ou errado na Bíblia. Há dois conceitos
básicos:
1. O Modernismo: a Bíblia contém a palavra de Deus. Partes da Bíblia
é divina e verdadeira, outras são humanas e possuem erros.
2. A Neo-Ortodoxia: A Bíblia torna-se a Palavra de Deus. Na visão de
Karl Barth, a palavra de Deus seria um princípio dinâmico divino que opera
somente quando há um encontro vivo ou existencial entre o crente e Deus,
a verdade é considerada mais relacional que proporcional.
A implicação é declarar que os autores bíblicos, sendo pecadores
humanos, trouxeram erro para dentro das Escrituras, o texto bíblico. Para
eles, não importa os erros de transmissão e escrita, mas somente a
mensagem que foi transmitida (o kerigma – pregação, mensagem).
Observação: Esse tipo de interpretação é muito bem elaborada no filme: “A
Última Tentação de Cristo”.
Para os neo-ortodoxos, Deus usa o texto mesmo cheio de erros e
entra num relacionamento salvador com os homens. Querendo
salvaguardar a mensagem das Escrituras dos ataques à sua historicidade,
acabaram por negar a revelação proposicional das Escrituras (que Deus “se
revela” por meio de palavras formuladas em sentenças).
Segundo eles, a revelação não passa de apenas um encontro direto
entre Deus e o homem através de uma crise existencial de veracidade do
que está escrito, não tem importância histórica, apenas religiosa. São
“lendas piedosas”, que Deus usa para falar a nós.
A grande dificuldade desse ponto de vista é colocar a autoridade
das Escrituras num nível de fé que não se pode averiguar objetivamente. A
fé aceita ser inconsistente e incoerente, pois a verdadeira base dela fica
sendo a subjetividade da experiência pessoal de cada um.

3.4 O Antigo Testamento95

A Bíblia é a Palavra de Deus. Ele falou (e fala) através dos livros que
ele mandou escrever. Todos os livros da Bíblia são divididos em capítulos e

95
Cf. A Linha do tempo do Antigo Testamento em 17 minutos. Escola do Discípulo,
Youtube in: https://acesse.dev/s2j0d
97

versículos, por exemplo, At 2.1 (lê-se: Atos capítulo dois versículo um). As
Bíblias são divididas em capítulos e versículos.
As versões mais modernas contêm também divisão de parágrafos,
titulações e notas auxiliares. Seu objetivo é auxiliar na leitura, contudo é
bom lembrar que esses auxílios não estão contidos nos textos originais
inspirados. Exemplos:
a) versículo mal dividido: Ef 1.4.
b) titulação incorreta: 1Co 13 O amor é o dom supremo. Na verdade
o amor é fruto do Espírito.
c) parágrafo mal dividido: Mt 5.13,14. Sal e luz são assuntos
interligados. Essa divisão pode conduzir a uma interpretação fragmentada
do leitor desatento.
As divisões da Bíblia são: o Antigo Testamento (AT) escrito antes
do nascimento de Jesus; e o Novo Testamento (NT) escrito Após a
ressurreição e ascensão de Jesus. A palavra testamento significa aliança ou
pacto.
Não são duas alianças distintas, uma nova e outra velha, mas uma
mesma aliança em duas dispensações distintas. O NT está escondido no AT
e o AT está revelado plenamente no NT. O AT é sombra ou figura do NT (Hb
8.5; Cl 2.16,17).
Portanto, a revelação divina nas Escrituras é: a) Histórica (acontece
dentro da história humana), b) Progressiva (à medida que acontece a sua
compreensão se torna maior), c) Orgânica (é perfeita em todos os seus
estágios), d) Adaptável (sua linguagem é compreensível a quem a recebe).
A Bíblia possui ao todo 66 livros (protestantes: 39 + 27) ou 73 livros
(católicos: 46 + 27). Em algumas seitas chamadas de igrejas para-cristãs
podem chegar a mais ainda (por exemplo, os Mórmons – O Livro de
Morôni). Essas diferenças têm a ver com livros do AT. No NT são todas
iguais.
O AT possui 5 divisões principais:96 Lei (Pentateuco): Gn, Êx, Lv,
Nm e Dt. Históricos: Js, Jz, Rt, 1 e 2 Sm, 1 e 2 Rs, 1 e 2 Cr, Ed, Ne e Et.
Poéticos: Jó, Sl, Pv, Ec e Ct. Profetas maiores: Is, Jr, Lm, Ez e Dn. Profetas
menores: Os, Jl, Am, Ob, Jo, Mq, Na, Hb, Sf, Ag, Zc e Ml.
Existem hoje no mercado várias edições da Bíblia. Não é difícil
perceber algumas diferenças nelas. Isso se deve, na maioria dos casos, a

96
Deuterocanônicos (ou apócrifos): 1 e 2 Macabeus, Tobias, Judite, Baruque,
Sabedoria, Eclesiástico; acréscimos a Daniel e a Ester (presentes somente nas versões católicas).
98

questões de estilo e tradução. Nessa aula vamos entender um pouco melhor


porque isso acontece.
Obviamente, a Bíblia não foi escrita originalmente em Português,
mas ela veio até nós por meio de traduções e revisões dessas traduções. As
línguas nas quais a Bíblia foi escrita originalmente são:
1. O Antigo Testamento: Na sua maioria em hebraico (semítica) e
pequenas partes em aramaico (partes de Esdras, Neemias e Daniel). O
hebraico originalmente era uma língua não vocalizada na escrita. Por isso
tornou-se uma língua morta, ou seja, não falada. Somente com o trabalho
dos Massoretas, que focalizaram a língua é que o hebraico voltou a ser
falado.
2. O Novo Testamento: Escrito em grego (indo-germânico) “koiné”
(comum). Esse era o grego falado pela população comum. Na época do NT,
o grego exercia a função globalizante que o inglês exerce hoje.
Nenhuma tradução pode substituir o original, principalmente no
caso da Bíblia, pois cremos na inspiração dos originais bíblicos, e não de
suas traduções. Os tradutores, embora cristãos fiéis, não são inspirados,
mas somente os escritores o foram. Note o que está escrito no prefácio da
edição João Ferreira de Almeida, 2ª edição97:

“É certo que toda tradução ou revisão da Bíblia Sagrada, ainda que


levada a termo por íntegros peritos bíblicos, é sempre trabalho
humano e, como tal, sujeito a falhas; por outro lado, no entanto,
suscetível de melhoria”.

É importante para o cristianismo que suas Igrejas mantenham uma


ligação viva com as Escrituras através do estudo das línguas originais. Se
esse estudo cair em desuso, abrir-se-á a porta para todo tipo de
interpretações particulares e heréticas da fé, colocando em risco a
comunhão viva que temos com Deus (Jo 7.17)6. As Versões Antigas:
1. Antigo Testamento:
a) A Septuaginta (LXX): A mais importante tradução grega do AT,
datada de cerca de 250 a.C. É a base da tradução da Vulgata Latina de
Jerônimo. Contém os livros Apócrifos ou Deuterocanônicos.
b) Versão de Áquila: 2ª séc. d.C. feita para substituir a LXX, mais
usada pelos cristãos.

97
Bíblia Sagrada, Edição Revista e Atualizada, 2ª edição, p.5.
99

c) Versão de Teodósio: 2º séc. d.C. Procurou corrigir muitas


inexatidões da LXX.
d) Versão de Símaco: 200 d.C. Uma paráfrase (tradução livre) muito
elegante da LXX.
2. Versões Completas (AT e NT):
a) Pesita (Peshita = simples): 2º séc. d.C. É a melhor versão siríaca
das Escrituras.
b) Vulgata Latina: Traduzida por Jerônimo (383-405 d.C.). Feita
para substituir as versões latinas anteriores que eram baseadas somente na
LXX. Jerônimo traduziu direto do hebraico, usando o Texto Massorético
(TM). Mais inclui os deuterocanônicos, que não têm no TM.
As Versões em Português mais conhecidas são:
a) Figueiredo: produzida por Antônio Pereira de Figueiredo a partir
da Vulgata, usada pelos católicos.
b) Bíblia de Jerusalém: versão católica com notas.
c) Almeida: traduzida por João Ferreira de Almeida (1748).
Atualmente consta de duas edições mais conhecidas: a Atualizada (ARA) e a
Corrigida (ARC), usadas pelos protestantes.98
d) Nova Versão Internacional (NVI): é traduzida do inglês em
comparação com os originais gregos e hebraicos.
e) Nova Tradução Linguagem de Hoje (NTLH) para facilitar a
compreensão da Bíblia pelos novos crentes, usada pelos protestantes.
As diferenças nas versões surgem com base nas seguintes razões
básicas:
1. Diferenças de significado quanto ao uso dos textos gregos e
hebraicos. Nós não temos os originais (autógrafos: escritos pelos próprios
autores bíblicos) mas apenas cópias. Com o passar dos anos muitas cópias
foram feitas e, como eram feitas à mão, começaram a surgir as variantes
(expressões diferentes nos manuscritos).
Só do NT, existem mais de 5.000 manuscritos. Esses manuscritos
foram estudados e catalogados, produzindo alguns textos completos que

98
A Nova Almeida Atualizada (NAA) (ou Almeida Revista e Atualizada, 3ª edição), é
uma versão protestante da Bíblia Sagrada em português do Brasil, lançada oficial e integralmente
em 2017 pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), correspondendo à 3ª edição do texto da versão
Almeida Revista e Atualizada (1ª edição em 1959 e 2ª edição em 1993). Esta versão de tradução da
Bíblia oficialmente conhecida como NAA foi recebida entre os evangélicos com grande
aclamação, e já se ouve nos púlpitos das igrejas e nas escolas de teologia que esta será a tradução
padrão dos próximos anos.
100

são utilizados para tradução: Exemplos: A LXX, o TM para o AT. O Texto


Recebido (Receptus), o Texto do Vaticano, o Texto Majoritário (Bizantino).
Lembre-se de que: a) Embora haja diferenças nos manuscritos,
elas não atingem nenhuma doutrina básica das Escrituras. b) Muitos
manuscritos continuam sendo achados e catalogados para estudo, por
exemplo, o Códice Aleppo, encontrado em 1947, na Síria. Os Manuscritos do
Mar Morto, cerca de 200 manuscritos hebraicos encontrados em Israel de
1.948-1.956.
2. Diferenças de significados em virtude de ambiguidades. Existem
palavras que podem ter mais de um significado (ambíguas). Na tradução da
Bíblia isso também acontece e geram algumas diferenças. Nesses casos, um
estudo mais detalhado do contexto ajuda a resolver a melhor tradução. Ex.:
“Os pais das crianças chegaram”. País pode ser: a) Dois homens. b) Marido
e esposa. c) Dois casais que são pais.
3. Mudanças na forma visando uma boa comunicação. A tradução
leva em conta o significado e a forma da linguagem. Às vezes a tradução
não fica natural se for feita literalmente. Você não traduz “good morning”
por boa manhã, mas por bom dia.
4. Mudanças na forma quanto ao uso de linguagem figurada. Uma
palavra pode ser empregada de forma literal numa frase e de forma
figurada em outra. Numa tradução, é possível que o sentido não seja
entendido se não for feita mudanças na forma. Ex.: A sede das emoções
para nós é o coração, mas para os gregos eram as entranhas (intestinos).
(Fm 7).
5. Mudança na forma para tornar mais claro o significado. Uma Bíblia
diz: “quinze estádios, outra: “três quilômetros” (Jo 11.18). Isso se aplica
principalmente a pesos e medidas desconhecidas e/ou não usadas por nós
hoje. É a mesma questão entre usar quilômetros (Brasil) e milhas (EUA)
para medir a velocidade dos carros.
6. Mudança na forma a fim de tornar o texto mais natural em
Português. Algumas expressões podem não soar muito bem em outra
língua, e por isso algumas versões as modificam a fim da tradução ficar
mais natural e bonita. Ex.: Cão, filho de Noé: revisado na ARA para Cam.
Conclusão: As novas versões são sempre bem vindas, desde que
expressem o sentido original do texto bíblico, numa linguagem acessível,
mas fiel ao original. Existem cerca de 5500 línguas faladas no mundo de
hoje. Cerca de 260 têm a Bíblia completa. 300 têm somente o NT.
101

Aproximadamente 1000 têm apenas porções traduzidas e cerca de 3000 a


3200 não têm nada da Bíblia em sua língua.99
A teologia do Antigo Testamento é um estudo rico e gratificante
sobre o que Deus revelou de si mesmo, seu caráter, seus atributos [...] O
Antigo Testamento centra-se principalmente no relacionamento de Deus
com os judeus, começando com o chamado de Abraão em Gn 12, a família
dos hebreus. Ele escolheu Israel e fez uma aliança com eles, culminando
com a vinda do Messias para nos salvar de nossos pecados. Através do seu
relacionamento com os judeus, Deus abençoou o mundo inteiro (Gn 12.3).
O Antigo Testamento narra a revelação progressiva de Deus de si
mesmo, especificamente ao seu povo escolhido, mas também aos gentios,
para que possamos aprender quem ele é e o seu plano no mundo. No
próprio coração do Antigo Testamento está entrelaçada a ideia de uma
aliança entre Deus e o homem: a primeira foi feita com Adão e outras com
Noé, Abraão, a nação de Israel e Davi […]
A teologia liberal, calcada no racionalismo iluminista, fez do Antigo
Testamento um objeto unicamente de pesquisa histórica, dentro do quadro
mais amplo do estudo da história das religiões. Ela culminou na rejeição ao
menos intencional do Antigo Testamento. É interessante observar que a
rejeição do AT como “inconciliável com a alma alemã” justificou a
perseguição e eliminação dos judeus pelo nacional-socialismo.100
Em contraposição, a “questão hebraica”, que passou ao primeiro
plano após a segunda guerra mundial, impulsionou a redescoberta sempre
maior do valor do AT pelos cristãos e o estudo da tipologia bíblica, chave
para entendimento da relação entre os dois testamentos.
Por outro lado, sem uma correta consideração da relação entre
Antigo e Novo Testamento, não é possível impostar adequadamente uma
Eclesiologia que contemple a relação entre Israel e a Igreja. Só a partir da
unidade dos dois testamentos pode-se ver a Igreja como continuação de
Israel, o que favorece os vínculos entre cristãos e judeus. E só assim Israel é
integrado no único desígnio salvífico de Deus. Em outras palavras, embora
a leitura cristã e judaica do Antigo Testamento distingam-se, da parte da fé
cristã não se pode aceitar uma posição que signifique a ruptura entre
Antigo e Novo Testamento.

99
Estatística de 1.993, cf. EKDAHL, E M. Versões da Bíblia. p. 115.
100
Cf. TABET, M. Ebraismo e Cristianesimo: riflessioni sul senso tipico della Sacra
Scrittura. Teologia della Bibbia. Studi su ispirazione ed ermeneutica biblica, Roma: 1998, p.
155-179.
102

A relação entre os dois testamentos é um elemento estruturante da


Sagrada Escritura e tem consequências seja na interpretação de ambos os
testamentos, seja no diálogo judaico-cristão e na eclesiologia. A base para
aprendermos esta relação está na tipologia, a qual, corretamente
impostada, não anula o Antigo Testamento nem tira dele seu caráter
histórico, mas considera-o dentro do arco mais amplo que é o desígnio
salvífico de Deus. Considerando, assim, sua propensão para o NT e
descobrindo o que nele estava oculto, eliminar o dualismo entre as etapas
do plano de Deus e mostra seu valor intrínseco enquanto parte integrante
da revelação.
Por isso a fé cristã não pode prescindir do AT. Mas ela o acolhe
como uma escritura sua, no sentido de que a lê a partir de Jesus Cristo.
Nesse sentido, é o Novo Testamento que abre ao Antigo as virtualidades já
ali existentes, fazendo com que sejam ultrapassados seus
condicionamentos culturais e dando-lhe, portanto, um novo
enquadramento e uma nova dimensão. Esta dimensão histórico-salvífica
não significa, no entanto, que em todos os textos do Antigo Testamento se
devam encontrar referências a Cristo e à nova ordem por ele instaurada.
Há textos mais ou menos relacionados a Cristo, pois se trata de um
longo caminho de revelação. Por outro lado, a compreensão cristológica
não tem sua base nos próprios textos do Antigo Testamento, mas na
realidade cristã. Por isso, não se trata de que os judeus não compreendem
os textos, mas que os cristãos neles descobrem um significado a partir da
realidade cristã.
Esta releitura do Antigo Testamento, já realizada dentro da própria
tradição vétero-testamentária e judaica, foi levada adiante, com nova
perspectiva, pelos autores do Novo Testamento e pelos Pais da Igreja, com
seus próprios métodos. Também hoje a exegese deve ocupar-se em
encontrar métodos sempre mais adequados para pôr em relevo a relação
entre Antigo e Novo Testamento.

3.5 O Pentateuco101

O Pentateuco diz respeito aos primeiros cinco livros da Bíblia


atribuídos a Moisés (Gn, Ex, Lv, Nm, Dt). A palavra significa literalmente

101
Cf. Aula 1 - LAB | Introdução ao Pentateuco | Guilherme Ferreira. Família
JesusCopy, Youtube in: https://encr.pw/ke3XJ
103

“livro de cinco volumes”. É designado no TM como “a Lei – hattôrâ”. O


Pentateuco conta a história da criação do mundo e do povo de Israel, bem
como a lei de Deus. A teologia do Pentateuco é complexa e rica, e oferece
uma visão valiosa da relação entre Deus e o povo de Israel. Alguns dos
principais temas teológicos do Pentateuco incluem:
a) O monoteísmo: O Pentateuco afirma que há um único Deus, que é
o Criador do universo e o Senhor de tudo. Este é um conceito
revolucionário, que contradiz as crenças politeístas do mundo antigo.
b) A criação: O Pentateuco começa com a história da criação do
mundo, que é vista como um ato de amor e generosidade de Deus. O mundo
é criado para ser um lugar bom, e os humanos são criados à imagem de
Deus.
c) A queda: O Pentateuco também conta a história da queda do
homem, que é a história de como os humanos se rebelaram contra Deus e
foram expulsos do Jardim do Éden. A queda é um evento trágico, mas
também é uma oportunidade para a graça de Deus.
d) A redenção: O Pentateuco termina com a promessa de redenção,
que é a promessa de que Deus salvará seu povo do pecado e da morte. Essa
promessa é cumprida com a vinda de Jesus Cristo, que é o Messias, o
Salvador do mundo.
O Pentateuco é uma obra teológica fundamental, que tem sido
influente no pensamento e na cultura judaica e cristã há séculos. É uma
fonte de inspiração e esperança para os leitores, pois mostra como Deus é
um Deus de amor e graça, que está sempre pronto a perdoar e a restaurar
seu povo.
No AT o Pentateuco é chamado de: Lei (Js 8.34; Ed 10.3). Livro da
Lei (Js 1.8; 2Rs 22.8). Livro da Lei de Moisés (Js 8.31; Ne 8.1). Livro de Moisés
(Ed 6.18; 2Cr 25.4). Lei do Senhor (Ed 7.10; 1Cr 16.40). Lei de Deus (Ne
10.28,29). Livro da Lei de Deus (Js 24.26; Ne 8.18). Livro da Lei do Senhor
(2Cr 17.9; 34.14). Livro da Lei do Senhor seu Deus (Ne 9.3). Lei de Moisés,
servo de Deus (Dn 9.11; Ml 4.4). No NT o Pentateuco é chamado de: Livro da
Lei (Gl 3.10). Livro de Moisés (Mc 12.26). Lei (Mt 12.5; Lc 16.16; Jo 7.19). Lei
de Moisés (Lc 2.22; Jo 7.23). Lei do Senhor (Lc 2.23,24).
Embora não possamos afirmar categoricamente que todas estas
referências e outras mais sejam explícitas ao Pentateuco é difícil fazer tal
ligação. O termo Pentateuco foi utilizado pela primeira vez por Orígenes em
104

seu comentário de Jo 4.25 “do Pentateuco de Moisés”; e Tertuliano em sua


obra “Adversus Marcion 1.10”.
Há evidência Bíblica suficiente para crermos que Moisés foi o autor
humano do Pentateuco. Isso não quer dizer que Moisés tenha escrito cada
palavra como temos hoje, mas que é seu autor fundamental e real. É
possível que Moisés tenha se utilizado de fontes anteriores e que revisões
posteriores tenham ocorrido debaixo da inspiração do Espírito Santo,
atualizando informações geográficas e históricas para facilitar sua leitura e
entendimento.102
Na Torá (TM): Bereshit: “No Princípio”. Na LXX: “ἐν ἀρχῇ ἐποίησεν ὁ
θεὸς τὸν οὐρανὸν καὶ τὴν γῆν” (Gênesis: origem, fonte, geração). Autor e data:
Moisés, cerca de 1.450 a.C. Fornece um breve sumário da história da
revelação divina, desde o princípio até que os israelitas foram levados para
o Egito e estavam prontos para se tornarem uma nação teocrática. O pecado
da queda foi a desobediência motivada por um desejo de tornar-se como
Deus. “Deus proveu peles de animais para lhes servirem de vestes, o que
envolveu o abate de animais, em favor do homem pecaminoso”. Gênesis é o
princípio de tudo como se pode ver: Caim, o primeiro homicida. Lameque, o
primeiro polígamo. Enos, começa-se a invocar a Deus (oração). Enoque foi
arrebatado. Jubal Invenção da música através de instrumentos musicais.
Antes do dilúvio, a medida da Arca. Tomando o côvado como 46 cm
= 137 m. (comprimento) / 22,5 m. (largura) e 13,5 m. (altura). Deslocamento
de água de 50 mil toneladas. Um novo começo: Terminado o dilúvio,
começam as oferendas sacrificiais. Deus estabelece a pena de morte para o
homicídio e estabeleceu o arco-íris como promessa de mais destruir a terra
com dilúvio. Destaque para a construção da torre de Babel, quando Deus
confundiu as línguas para que o povo se dispersasse pelo mundo.
Quanto à distribuição dos povos, no Pentateuco aparece Sem
(Região do Golfo Pérsico), Cão (África e Palestina. Costa do Mar
Mediterrâneo), Jafé (Europa e Ásia). A lição que aprendemos desse período
é que a corrupção do pecado se espalhou e contaminou a todos de forma
crescente.
Portanto, o que chama mais atenção é a Era Patriarcal com a
narrativa desse período está contida em Gênesis 12-50. Novas descobertas

102
Cf. Êx 17.14,24.4-8, 34.27; Nm 33.1,2; Dt 31.9,22 e ainda Dt 1.1,5. No restante do AT:
Josué está repleto (8.31,32,34;11.15,20; 14.2; 21.2, 22.5,9; 23.6 dentre outras); Jz 3.4; 1Rs 2.3; 2Rs
14.6; 2Rs 21.8; Ed 6.18; 2Cr 34.14; Dn 9.11-13. No NT: Mt 10.5; Mt 19.8; Mc 1.44; Lc 5.14; At 3.22;
Rm 10.5-9; 1Co 9.9; Ap 15.3.
105

arqueológicas (Mari, Nuzi e Ugarit) têm trazido luz para esse período. O
mundo patriarcal está identificado com o “Crescente Fértil”
(Mesopotâmia, Palestina e Egito). Sua história está associada aos
desenvolvimentos dos Sumérios e acadianos na Mesopotâmia e dos
Egípcios no Egito.
Quatro personagens bíblicos recebem destaque: Abraão, Isaque,
Jacó e José. A vida de Abraão tem três fases distintas: a) Partida de Ur e
estabelecimento em Canaã (12.1-14.24); b) Espera do filho prometido
(15.1-22.24); c) Provimento para sua posteridade (23.1-25.18).
A vida de Isaque se mistura ao relato da vida de Jacó (25.19–35.29).
A vida de Jacó: a) Jacó adquire de Esaú a Primogenitura (Gn. 25); b) Jacó
rouba a Benção de Esaú (Gn 27); c) Jacó e Labão (Gn 28–32); Jacó retorna a
Canaã (32–35).
Os Filhos de Jacó (Gn 35.23-26): Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar
e Zebulom. (filhos de Lia). Gade e Aser (filhos de Zilpa, serva de Lia). José e
Benjamin (Filhos de Raquel). Dã e Naftali (filhos de Bila, serva de Raquel).
O Livro de Gênesis questiona: a) O ateísmo (existe um Deus que é
criador de tudo). b) O Panteísmo (Deus, embora imanente (presente na
criação), é transcendente a ela (é separado da criação). Deus não é a
criação, a natureza). c) O politeísmo – Existe apenas um Deus, que é o
Senhor (YHWH). d) O Deísmo (esse Deus intervêm na história da sua
criação e a governa). e) O materialismo (Deus não é a matéria, mas o seu
criador (creatio ex nihilo – criação do nada).
A queda do homem explica: a) a miséria do homem; b) o vazio
existencial do homem (Quem sou? De onde vim? Para onde vou?); c)
perdição e corrupção humana; d) a existência da morte.

3.6 Os Livros Históricos103

Os livros históricos compreendem doze livros, que vão de Josué a


Ester. A organização na Bíblia Hebraica segue uma linha diferente. Diferem
do Pentateuco quanto à sua ênfase. O Pentateuco traça a história redentora
da criação à morte de Moisés, destacando a aliança da Lei e os alicerces
legislativos de Israel como povo da aliança. Os livros históricos, por outro

103
Cf. Por que estudar os Livros Históricos da Bíblia? Felipe Rinaldo Queiroz de
Aquino, Youtube in: https://l1nq.com/ZbTjG (veja também: Livros Históricos da Bíblia. Aula de
Bíblia, Youtube in: https://l1nq.com/4Lxeq
106

lado, demonstram o movimento histórico de Israel na Palestina na sua


obediência ou não à Lei e à aliança divina.104
A teologia dos livros históricos do Antigo Testamento é complexa e
rica, e oferece uma visão valiosa da relação entre Deus e o povo de Israel.
Alguns dos principais temas teológicos dos livros históricos incluem:
a) A soberania de Deus: Os livros históricos mostram como Deus é
soberano sobre todas as coisas, e que ele controla o curso da história.
Mesmo quando o povo de Israel se afasta de Deus, ele ainda é fiel a eles e os
usa para cumprir seus propósitos.
b) A graça de Deus: Os livros históricos também mostram como
Deus é cheio de graça e misericórdia. Mesmo quando o povo de Israel peca,
Deus sempre está disposto a perdoá-los e restaurá-los.
c) O amor de Deus: Os livros históricos revelam o grande amor de
Deus pelo povo de Israel. Deus escolheu Israel para ser seu povo, e ele
sempre esteve presente com eles, mesmo nos momentos mais difíceis.
d) A responsabilidade do povo de Israel: Os livros históricos mostram
como o povo de Israel foi chamado para ser uma luz para as nações. Deus
deu a Israel sua lei, e ele esperava que eles vivessem de acordo com essa lei
e fossem uma bênção para o mundo.
e) A promessa de Deus: Os livros históricos terminam com uma
promessa de Deus de que ele enviaria um Messias, que seria o Salvador do
seu povo. Esta promessa foi cumprida com a vinda de Jesus Cristo, que é o
filho de Deus e o Salvador do mundo.
Os livros históricos do Antigo Testamento são uma fonte valiosa de
conhecimento sobre a história do povo de Israel, sua cultura, sua religião e
sua relação com Deus. Eles também são uma fonte de inspiração e
esperança para os leitores, pois mostram como Deus sempre esteve
presente com seu povo, mesmo nos momentos mais difíceis.

104
Os livros históricos do AT são uma coleção de 12 livros que contam a história do
povo de Israel desde a sua criação até a sua queda do reino de Judá. Esses livros são (incluindo os
deuterocanônicos) são: Josué, Juízes, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1 Crônicas, 2 Crônicas,
Esdras, Neemias, Rute, Ester, Tobias, Judite, 1 Macabeus, 2 Macabeus. Os livros históricos são
uma fonte importante de informação sobre a história do povo de Israel, sua cultura, sua religião e
sua relação com Deus. Eles também são uma fonte de inspiração e esperança para os leitores,
pois mostram como Deus sempre esteve presente com seu povo, mesmo nos momentos mais
difíceis.
Os livros históricos podem ser divididos em três grupos: a) Os livros de Josué a 2 Reis
contam a história da conquista da terra de Canaã e da formação do reino de Israel. b) Os livros de
1 e 2 Crônicas contam a história do reino de Judá, a partir da divisão do reino de Israel. c) Os livros
de Esdras, Neemias e Rute contam a história do retorno dos judeus do exílio babilônico e da
reconstrução do templo em Jerusalém.
107

Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis: Os Profetas Anteriores


(Primeiros Profetas). Essa designação é feita para contrastar com os
profetas posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequiel e os doze profetas
menores). O termo não se refere a uma cronologia histórica, mas
simplesmente ao seu lugar no cânon. “Enfatiza o fato de que apresentam
uma história religiosa ou com um objetivo religioso. Eles “contém dados
históricos escolhidos numa perspectiva profética”.105
O elemento histórico está sempre ligado à mensagem espiritual. Os
primeiros Profetas são históricos; os Últimos são exortativos”106 Os
Profetas Anteriores enfatizam o assentamento em Canaã e à Monarquia, os
Profetas Posteriores enfatizam os séculos finais dos dois reinos,
especialmente Judá. A diferença fundamental entre ambos está no fato de
os “Anteriores” serem “constituídos de narrativas”.
Esdras, Neemias, Ester, 1 e 2 Crônicas: Os Escritos.
Rute é contada entre os cinco Rolos.
Os livros históricos têm em sua maioria autoria anônima, porém
certamente foram compilados por: Josué, Samuel, Jeremias e Esdras.
Também havia cronistas que eram oficialmente encarregados de relatar os
fatos históricos para registro oficial; além do que, há outros escritores que
narraram histórias específicas.
Davi: Samuel, Natã e Gade (1Cr 29.29).
Salomão: Natã, Aías e Ido (2Cr 9.29).
Roboão: Semaías e Ido (2Cr 12.15).
Baruque era o escrivão de Jeremias. Outros documentos históricos,
não inspirados, foram utilizados como fonte (Js 10.13 O livro dos Justos. 2Rs
A História dos Reis de Israel e Judá).
1. Divisão Histórica do Período:
I. Juizado. Da entrada em Canaã ao estabelecimento da Monarquia
(1406–1044 a.C).
II. Monarquia: a) O Reino Unido: Saul, Davi e Salomão (1044–931
a.C.) b) O Reino Dividido ou Período Profético (931–536 a.C.).
III. Restauração. Do cativeiro Babilônico até o Silêncio Profético
(536–400 a.C.)
2. Divisão Literária do Período:

105
ALLEN, L. C. Os Profetas Anteriores in: Introdução ao AT, p. 143.
106
ALLEN, S. A. Ellisen. Conheça melhor o Antigo Testamento, p. 63.
108

a) JOSUÉ (1406-1375) Ocupação da terra prometida. Pouca


influência egípcia na Palestina.
b) JUÍZES (1375-1044) Bênçãos pela obediência e castigo pela
desobediência conforme a aliança. Chegada dos Filisteus à Palestina.
c) RUTE (1330) A linha davídica abrange os gentios por intermédio
de Rute. Período de paz entre Israel e Moabe. Época dos Juízes.
d) 1 e 2 SAMUEL (1100-970) Estabelecimento do Reinado. Filisteus:
Os maiores inimigos de Israel.
e) 1 e 2 REIS (970-586) A história do reino pelo prisma da aliança.
Cativeiro sob a Assíria (Israel) e Babilônia (Judá).
f) 1 e 2 CRÔNICAS (Adão-586). A história do reino com ênfase em
Judá. O Templo de Salomão. “Reinos e impérios vizinhos erguem-se e caem
conforme o desígnio de Deus para o reino davídico”.
g) ESDRAS (537-458) Reconstrução do templo e reforma do culto.
O Novo Império Persa. Retorno dos exilados.
h) NEEMIAS (445-430) Reconstrução dos muros de Jerusalém e
restabelecimento de um governo limitado. A boa vontade dos governos
persas permite uma relativa paz.
i) ESTER (483-473) Deus é providente para com seu povo mesmo
longe da terra prometida. A Pérsia governa da Índia ao Helesponto.
O Livro de Josué (nome, autoria e data) Ieshuá (Josué: Deus é
salvação). LXX Ἰησοῦς (Josué). Provavelmente foi escrito pelo próprio Josué
(Js 24.26) entre 1406-1380 a.C. Esboço Básico: (1) Preparação. (3) Travessia
do Jordão. (5) Circuncisão: (Renovação da Aliança). (6) Centro. (10) Sul. (11)
Norte. (13) Herança das tribos. (20) Cidades de refúgio. (22) Despedida de
Josué. Palavra Chave: Redenção (verso chave Js 1.2).
Teologia do Livro de Josué: 1. A fidelidade de Deus: Deus sempre
cumpre as suas promessas, apesar dos nossos pecados (21.45). Ele também
nos dá a vitória e ela é pela fé somente. 2. A santidade de Deus: Deus castiga
a iniqüidade dos cananeus através de Israel, mas também exige santidade
de seu povo para executar a sua vontade (cap. 7 o pecado de Acã). 3. A
salvação de Deus: Josué significa “Jeová é salvação”. Ele é um tipo de Cristo
no AT, no sentido que levou o povo de Deus ao descanso da terra prometida
(cf. Hb 3.7-4.11).
O Livro de Juízes (nome, autoria e data). Shophetim (Juízes:
julgadores, líderes executivos). Embora sua autoria seja desconhecida, a
maioria dos estudiosos acredita em Samuel. Escrito por volta de 1000 a.C.,
109

abrange o período que vai da morte de Josué ao estabelecimento do Juizado


de Samuel (1380-1.060 a.C.).
O tema é “Opressão e Livramento”. 7 apostasias; 7 opressões e 7
livramentos. O livro narra os fracassos de Israel por causa da transigência
(conformação). Verso chave: 17.6 ou 21.25 “Naqueles dias, não havia rei em
Israel”; “cada um fazia o que achava mais certo” (NAA).
O perfil dos Juízes: 1Co 1.26-31: “Deus escolheu [...] aquelas (coisas)
que não são para reduzir a nada as que são [...]”. Mas o Senhor [...] (3.10;
6.11-34; 11.29; 14.19 [...]. Eúde (canhoto). Sangar Arma (insignificante/
queixo de boi). Débora (uma mulher). Gideão (medroso). Jefté (filho de uma
prostituta). Jair (polígamo). Sansão (carnal/ mundano).
Quanto a explicação da Decadência. Eles não expulsaram os
inimigos como Deus ordenara, mas se conformaram com o que já tinham
conquistado e se acomodaram satisfeitos, perdendo o ânimo para
completar a obra (1.19,21,27,29-31,33,34).
Teologia de Juízes: 1. Deus é Justo. Uma nação que abandona o
Senhor, rebaixa e compromete os seus padrões, não pode Esperar a benção
de Deus. 2. Deus é Soberano. Ele não depende do poder humano para atuar,
mas humilha-o utilizando-se de Instrumentos desprezíveis a seus olhos. A
vitória é sempre de Deus no final! 3. Deus é magnânimo e cheio de graça.
“A paciência de Deus e a maravilhosa possibilidade de um novo começo,
mediante Sua graça faz ressoar uma nota alegre neste livro”. 4. A Fé é
Importante. Os Juízes não tinham grandezas morais que nos inspiraram,
mas notamos que há neles um tipo de fé que coopera com Deus, através da
qual Ele revela o seu poder (Hb 11.32,33).
O Livro de Rute. Sua autoria tem sido atribuída a Samuel pelo
Talmude.107 Seu pano de fundo é o período dos Juízes (1.1). Uma vez que
Rute é bisavó de Davi, deve ser datado por volta de 1100 a.C. Está contado
entre os “Cinco Rolos”. É lido anualmente em Israel durante a festa de
Pentecostes (Junho).

107
O Talmude é um conjunto de textos judaicos que contém interpretações e
comentários sobre a Torá, os Profetas e os Escritos Sagrados do Antigo Testamento. Ele é
composto por duas partes principais: o Talmude da Babilônia e o Talmude de Jerusalém. O
Talmude é considerado pelos judeus como uma obra sagrada, que contém orientações para a
prática religiosa e para a vida em comunidade. Ele foi compilado ao longo de vários séculos por
sábios e rabinos judeus, que registraram suas interpretações e debates em torno da lei e da
tradição judaica. O Talmude é uma obra complexa e extensa, que aborda diversos temas, como a
ética, a moralidade, a liturgia, a história judaica, entre outros. Ele é estudado por estudiosos
judeus e não-judeus como uma fonte de conhecimento sobre a cultura e a religião judaica.
110

O objetivo de Rute é explicar a introdução de sangue gentio na


linhagem do rei Davi e mostrar a providência de Deus na vida daqueles que
confiam Nele (verso chave: 1.16).
O livro mostra de forma muito bela como Deus age nos bastidores
mais comuns de nossas vidas (fome; gravidez; a Lei), não precisando se
utilizar somente de atos sobrenaturais através das mensagens: 1. As
circunstâncias não criam e nem destroem os crentes. 2. A fé é o segredo ou
o teste do verdadeiro discípulo. 3. A pessoa que confia em Deus torna-se um
instrumento nas Suas mãos.
A Teologia do Livro de Rute: 1. Deus acolhe não israelitas na aliança.
“Rute, a moabita”. 2. A benevolência é o estilo de vida correto para o povo
de Deus. Rute nos mostra de modo prático o que o estilo de vida hesed
(benevolência - dispor-se a ir “além da obrigação”). 3. Deus é providente e
sempre cumpre seus decretos. A linhagem real de Davi e a linhagem do
Messias. 4. O parente redentor (go’el) como tipo ou prenúncio do Messias.

3.7 A Poesia Hebraica108

A poesia tem sido bem definida como “a linguagem da emoção”. A


poesia hebraica trata quase exclusivamente da grande questão da relação
do homem com Deus. “Culpa, condenação, castigo, perdão, redenção,
arrependimento são os temas inspiradores desta poesia nascida no céu”.
Nas escrituras hebraicas são encontrados três tipos de poesia, (1) a
do Livro de Jó e dos Cânticos de Salomão, que é dramática; (2) a do Livro
dos Salmos, que é lírica; e (3) a do livro de Eclesiastes, que é didática e
sentenciosa.
A poesia hebraica não tem nada parecido com a das nações
ocidentais. Não tem nem métrica nem rima. Sua grande peculiaridade
consiste na correspondência mútua de frases ou cláusulas, chamadas
paralelismo, ou “rima do pensamento”. Vários tipos deste paralelismo têm
sido destacados:
1. Paralelismo sinônimo ou cognato, onde a mesma ideia é repetida
nas mesmas palavras (Sl 93.3; 94.1; Pv 6.2), ou em palavras diferentes (Sl
22; 23; 28; 114, etc.); ou onde ela é expressa de forma positiva em uma
sentença e de forma negativa na outra (Sl 40.12; Pv 6.26); ou onde a mesma

108
Cf. A Poesia Hebraica | Pr. Jonas Barbosa. ADVEC - Assembleia de Deus Vitória em
Cristo, Youtube in: https://l1nq.com/eKxqx
111

ideia é expressa em três sentenças sucessivas (Sl 40.15-16); ou em um


paralelismo duplo, as primeira e segunda sentenças correspondentes à
terceira e à quarta (Is 9.1; 61.10-11).
2. Paralelismo antitético, onde a ideia da segunda sentença é o
inverso daquela da primeira (Sl 20:8; 27.6-7; 34.11; 37.9,17,21-22). Esta é a
forma comum da poesia gnômica ou proverbial. Cf. Pv 10-15.
3. Paralelismo sintético ou construtivo ou composto, em que cada
sentença contém alguma ideia auxiliar que reforça a ideia principal (Sl
19.7-10; 85.12; Jó 3.3-9; Is 1.5- 9).
4. Paralelismo introvertido, em que de quatro sentenças a primeira
responde à quarta e a segunda à terceira (Sl 135.15-18; Pv 23.15-16), ou
onde a segunda linha inverte a ordem das palavras na primeira (Sl 86.2).
A poesia hebraica às vezes assume outras formas além dessas.
1) Um arranjo alfabético é algumas vezes adotado com o propósito
de conectar sentenças ou cláusulas. Assim, a seguir, as palavras iniciais dos
respectivos versos começam com as letras do alfabeto em ordem: Pv
31.10-31; Lm 1; 2; 3; 4; Sl 25; 34; 37; 145. O Sl 119 tem uma letra do alfabeto
em sequência regular começando cada oitavo versículo.
2) A repetição do mesmo versículo ou de alguma expressão enfática
em intervalos (Sl 42; 107, onde o refrão está nos versos, 8,15,21,31). (cf. Is
9.8-10.4; Amós 1.3,6,9,11,13; 2.1,4,6).
3) Gradação, em que o pensamento de um verso é retomado em
outro (Sl 121).
Várias odes de grande beleza poética são encontradas nos livros
históricos do AT, como a canção de Moisés (Êx 15), a canção de Débora (Jz
5), de Ana (1Sm 2), de Ezequias, (Is 38.9-20), de Habacuque (Hb 3), e
“canção do arco” de Davi (2Sm 1.19-27).

3.8 Poesia e Profecia109

O TM divide os profetas em Profetas Anteriores (Josué, Juízes,


Samuel e Reis) e os Profetas Posteriores, que são os profetas propriamente
ditos, indo do livro de Isaías até Malaquias. Estes, por sua vez, são divididos
em Profetas Maiores (Isaías a Ezequiel) e Profetas Menores (Os doze). Essa

109
Além disso, também seria interessante o aluno pesquisar sobre “profetas e
profecias” no vídeo #01 O Ministério Profético no Antigo Testamento | Profecias e Profetas |
Instantes Finais. Rede Brasil Oficial, Youtube in: https://l1nq.com/LU9jt
112

subdivisão está baseada unicamente no tamanho dos livros. Nessa aula


vamos tratar mais especificamente do movimento profético de Israel, uma
vez que é tema de grande importância e debate nos dias atuais. Nossa
intenção é refletir sobre sua importância para o AT.
A Natureza da Profecia Hebraica: A profecia bíblica se define, num
sentido mais amplo, por ser uma revelação oral ou escrita, em linguagem
humana, dada por meio de um porta-voz humano, transmitindo e
esclarecendo a vontade de Deus. A profecia do AT inclui também eventos
proféticos, como a travessia do Mar Vermelho, a Serpente de Bronze,
ambos com significado profético para o NT. As ordenanças do Tabernáculo
e do sacerdócio também estão repletos de significados proféticos por causa
das tipificações.
Num sentido mais específico, o termo é utilizado para referir-se
“aos discursos de homens especialmente escolhidos e ungidos para ocupar
o ofício profético”20. Contudo, é preciso deixar claro, que nem todos os
profetas do AT foram escritores. Os escritos proféticos que temos são
aqueles que o Espírito Santo preservou por causa de suas implicações para
o futuro, em relação àquela época e também com relação à nossa época.
A Natureza do Ofício Profético: A principal responsabilidade dos
profetas no AT era anunciar a vontade de Deus comunicada na Sua
revelação. Isso podia conter elementos preditivos, mas não era a essa a
principal marca distintiva do profeta. Seu ministério tinha notadamente
um caráter reformador (abandonar o pecado e retornar à obediência ao
pacto da Lei) Três termos estão ligados ao profetismo do AT: Nabhi profeta,
pessoa chamada.
Geralmente o profeta desse tipo fazia parte de um grupo de
profetas. Re'eh um particípio ativo do verbo “ver”, traduzido por
“vidente”. O vidente costumava andar sozinho. O termo é usado dez vezes,
sendo seis aplicadas a Samuel. “Hozeh” é um particípio ativo de outro verbo
que significa “ver”. É traduzido ou por “profeta” ou por “vidente”. Esse
termo é aplicado a Gade, e geralmente associado com o rei (exceto 2Cr
29.30). O profeta também podia ser chamado de “homem de Deus” (ish
Elohim), ressaltando o grau de intimidade do profeta com Deus. Uma
passagem importante na definição desses termos é 1Sm 9.9, onde é dito
claramente que houve mudança no uso dos termos profeta e vidente. São
quatro elementos principais da função da profecia hebraica:
113

1. Encorajar o povo de Deus a confiar exclusivamente na graça de


Deus, e no seu poder libertador, e não nos seus próprios méritos.
2. Lembrar o seu povo que a segurança e a bem-aventurança
dependiam da sua fidelidade à aliança, demonstrada em vida piedosa e
consagrada. “A conduta segundo a vontade de Deus era o resultado infalível
de uma fé salvadora”. Deus não aceitaria qualquer substitutivo à obediência
à sua palavra.
3. Encorajar Israel quanto às coisas futuras. A desobediência só
poderia redundar na ira de Deus (Lv 26 e Dt 28).
4. Selar a qualidade autorizada da mensagem de Deus, quando a
profecia se cumpria de maneira objetivamente averiguável.
O que o profeta falasse quanto ao futuro deveria se cumprir do jeito
que dissera (Dt 18). Isso era aplicável tanto às profecias de cumprimento
breve, quanto às de longo alcance.
Alguns fundamentos são importantes:
1º. Para exercer a devida responsabilidade moral no presente é
preciso ser consciente do futuro. A predição não implicava apenas em saber
sobre o futuro, mas saber por causa do plano que Deus está executando e do
qual a nação fazia parte. A visão de bênçãos ou maldições futuras apelava
para que no presente se andasse na luz.
2º. Os profetas falavam em nome de Deus e não de si mesmos.
3º. A predição está ligada à essência do ministério profético (Dt
18.9). Israel foi advertido não somente sobre as abominações dos cananeus,
mas também sobre as suas adivinhações. Assim sendo, o profeta que
falasse em nome do senhor deveria ser julgado através da exatidão de suas
predições (Dt 18.22).
Os profetas falsos e os verdadeiros. Vemos no AT vários confrontos de
profetas de Deus com falsos profetas: Micaías e Zedequias (1Rs 22).
Jeremias e Hananias (Jr 28). O homem de Deus e o profeta velho em (1Rs
13). Elias e os profetas de Baal (1Rs 18). Uma pergunta surge: Como
podemos discernir o falso profeta do verdadeiro profeta? Os textos bíblicos
que tratam do assunto são: Dt 13; 18.9-18; Jr 23 e Ez 12.21-14.11.
Para Moisés, não era somente o cumprimento objetivo da profecia
que caracteriza o verdadeiro profeta, mas qual a sua postura frente à Lei.
Poderia acontecer de uma profecia falsa se cumprir, e então o falso profeta
conclamar o povo a se afastar de Deus e adorar falsos deuses, pregando
rebeldia contra o Senhor (Dt 13.2). Outro critério demonstrado no Dt
114

13.5-10 é que o falso profeta não reconhece a autoridade de Moisés e as


doutrinas do Êxodo.
Para Jeremias (Jr 23), o falso profeta é um homem de vida imoral
(v.10-14), que não coloca qualquer barreira à imoralidade dos outros, pois
sua regra é a conformidade (v.17); enquanto que o profeta verdadeiro
conclamava o povo à santidade denunciando o pecado (v.22).
O grande problema era a pregação mascarada da paz (profetizar o
que o povo queria ouvir). Os profetas de Deus sempre proclamaram a paz,
mas aquela que era encontrada dentro do relacionamento correto com Deus
por meio da obediência à Lei (Aliança).” A paz só pode sobreviver quando a
santidade é satisfeita no tocante ao pecado”. Para Jeremias, os falsos
profetas tinham um testemunho emprestado, uma autoridade fingida e de
um ministério autodeclarado (v.30-32).
Ezequiel concorda com Jeremias substancialmente, acrescentando
que ao crer em mentiras o povo ficava desprotegido em tempos de
tribulação (13.4-7). Uma vez que a falsa profecia procura ser isenta de
conteúdo moral, se torna insultuosa para os justos e encorajadora para os
ímpios.
A Mensagem Profética pode ser classificada em três grupos
principais: a) Profecias a respeito do destino interno de Israel. Declaram
que o juízo divino contra o pecado (falta de fé e iniquidade) e a promessa de
restauração após o exílio. b) Profecias Messiânicas. Proclamam a vinda do
redentor. c) Profecias Escatológicas. Referem-se aos últimos dias, quando
o reino de Deus será estabelecido na terra.

3.9 Os Profetas Menores110

Os profetas eram porta vozes de Deus ao seu povo, para fazê-lo


cumprir a aliança, relembrando o povo do seu compromisso diante de Deus.
Ressaltaram as bênçãos decorrentes da obediência e os castigos da
desobediência como selo da soberania Divina. Invariavelmente, sua
mensagem era marcada por: a) Confrontação do pecado, b) Chamada ao
arrependimento, c) Convite para se voltar para Deus.
Atestam que “uma fé salvadora incluía uma vida santificada”.
Como vimos antes, a mensagem profética não visava apresentar uma

110
Cf. maiores informações a respeito da temática dos chamados “profetas menores”:
Os Profetas Menores. Moises Brasil, Youtube in: https://encr.pw/mXW3K
115

mensagem voltada somente para a revelação do futuro (embora isso


acontecia), antes almejam o retorno da nação à obediência à Lei de Deus, a
fim de viver em comunhão com Ele.
Na boca dos profetas “Deus falou na história e acerca da história”,
por isso, “o conhecimento das condições socioeconômicas, políticas e religiosas
da época dos profetas é indispensável à compreensão da mensagem profética”.
Os profetas queriam falar em prol de Deus aos seus contemporâneos. Veja o
quadro dos Profetas Menores:

I. Oséias (o Senhor salva) 725 (Israel): O Senhor te ama (6.7).


II. Joel (o Senhor é Deus) 722 (Judá): O dia do Senhor vem (2.1).
III. Amós (carregador) 722 (Israel): Prepara-te, ó Israel! (4.12).
IV. Obadias (servo do Senhor) 722? (Judá): Edom (1.21).
V. Jonas (pombo) 722 (Israel): Nínive (4.11).
VI. Miquéias (quem é como o Senhor?) 722 (Judá): Quem é como o Senhor?
(7.17).
VII. Naum (consolação) 586 (Judá): Nínive (1.15).
VIII. Habacuque (abraço ardente) 586 (Judá): O justo viverá pela fé (2.4).
IX. Sofonias (o Senhor escondeu) 586 (Judá): Está perto o dia do Senhor (1.7).
X. Ageu (festivo) 538 (Judá): a glória do Senhor (2.9).
XI. Zacarias (o Senhor se lembrou) 538 (Judá): não por força (4.6).
XII. Malaquias (mensagem do Senhor) 538 (Judá): o anjo da aliança (3.1).

3.10 O Novo Testamento111

O Novo Testamento é a segunda parte da Bíblia e é considerado um


dos textos religiosos mais importantes do mundo ocidental. Composto por
27 livros, o Novo Testamento narra a vida, os ensinamentos, a morte e a
ressurreição de Jesus Cristo, bem como o desenvolvimento inicial da igreja.
É dividido em quatro seções principais: os Evangelhos, os Atos dos
Apóstolos, as Epístolas (ou cartas) e o Apocalipse. Os quatro Evangelhos
(Mateus, Marcos, Lucas e João) são as narrativas principais da vida de
Jesus, cada um com sua perspectiva e ênfase distinta. Eles apresentaram os
ensinamentos, os milagres e a paixão de Cristo, culminando em sua morte
sacrificial e ressurreição.

111
Cf. A Linha do Tempo do Antigo Testamento. Escola do Discípulo, Youtube in:
https://www.youtube.com/watch?v=yocwIZegWeI
116

Após os Evangelhos, temos os Atos dos Apóstolos, que descrevem a


tendência do cristianismo após a ascensão de Jesus, especialmente através
dos ensinamentos e ações dos apóstolos, como Pedro e Paulo. É um registro
histórico que mostra o crescimento da igreja primitiva e sua disseminação
em diferentes regiões.
As Epístolas, ou cartas, constituem uma parte significativa do Novo
Testamento. Elas foram escritas por apóstolos como Paulo, Pedro, Tiago e
João, entre outros, e foram endereçadas a comunidades cristãs específicas
ou individuais. Essas cartas fornecem orientações sobre doutrina, ética e
vida cristã, além de tratar de questões específicas enfrentadas pelas
comunidades da época.
Por fim, temos o livro do Apocalipse, escrito por João, que é uma
obra apocalíptica e acompanhada. Ele descreve visões proféticas e
observadas sobre o fim dos tempos, a batalha entre o bem e o mal e a
vitória final de Deus. O Apocalipse é conhecido por suas imagens vívidas e
temáticas profundas.
Em conjunto, os livros do Novo Testamento fornecem uma visão
abrangente dos ensinamentos de Jesus, do desenvolvimento da igreja
primitiva e das instruções morais e éticas para os seguidores de Cristo.
Esses textos têm sido fundamentais para a fé cristã ao longo dos séculos,
influenciando a teologia e a ética. Eis a cronologia:
6 a.C Nascimento de João Batista.
4 a.C. Morte de Herodes.
5 a.C. Nascimento de Jesus Cristo.
0
28 Início do ministério público de Cristo.
30 Crucificação.
36 Morte de Estevão. Conversão de Paulo.
42 O Evangelho chega a Antioquia.
48-49 Primeira Viagem Missionária de Paulo.
50 Concílio de Jerusalém.
54 Paulo em Éfeso.
64 Viagem de Paulo à Espanha (?). Martírio de Paulo.
68 Martírio de Paulo (?). Morte de Nero.
70 Destruição de Jerusalém.
90-100 Evangelho de João.
96 Apocalipse de João.
117

3.11 O Contexto da Terra Prometida112

A Judéia era governada por procuradores romanos, mas assuntos


internos eram resolvidos pelo Sinédrio, que era o mais alto tribunal judaico
durante o período da dominação helenística e romana sobre a Palestina.
Segundo o Talmude, era formava um concílio de 71 sábios, cuja função
principal era interpretar a Lei judaica, com algumas tarefas políticas e
judiciais Foi composto inicialmente, durante a dominação persa, por
sacerdotes aristocratas; mais tarde, pelos saduceus, e alguns influentes
fariseus (At 23.1-10). Os escribas vieram eventualmente a tomar parte
devido à sua influência.
O Sinédrio era presidido por um sumo sacerdote. No tempo do NT
era composto pelos “principais dos sacerdotes” (membros das famílias
aristocráticas, dentre os quais o sumo sacerdote em exercício poderia ser
escolhido), pelos “escribas” (homens versados na lei de Moisés e na
interpretação oral da mesma) e pelos “anciãos. O NT menciona o nome de
alguns membros do Sinédrio, como Nicodemos, José de Arimatéia,
Gamaliel, e alguns sumo sacerdotes, como Ananias, Caifás e Anás. O
Sinédrio sobreviveu até o século V.
Os partidos político-religiosos da Palestina. Havia dois mais
importantes, os fariseus e os saduceus, e outros de menor expressão como
os essênios, os zelotes, os zadoquitas e os herodianos.
a) Os Fariseus (os separados): Era o partido mais influente e mais
numeroso. A esta classe pertencia a maioria dos escribas, intérpretes
profissionais da lei. Os fariseus eram severos na interpretação e
cumprimento da lei de Moisés, e hostis às influências estrangeiras. Os
fariseus, diferentemente dos saduceus, criam na ressurreição (Mt 22.23) e
em anjos (At 23.8). Embora não ocupassem posições de maior autoridade
como os saduceus, tinham o povo do seu lado, e por isso, na prática,
tinham mais poder do que estes.
b) Os Saduceus (de “zaddikim” (justos, em hebraico): Eram a
aristocracia rica, que ocupava as posições de autoridade secular; de suas
fileiras eram escolhidos os sumo sacerdotes. Abertos à helenização,
aceitavam a lei de Moisés, mas favoreciam uma interpretação mais frouxa

112
Cf. A Galileia e o Templo de Jerusalém no Tempo de Jesus. Dom Paulo Jackson,
Youtube in: https://l1nq.com/EWUqF
118

da mesma, rejeitando as tradições dos escribas. Não acreditavam na


providência de Deus (milagres), nem na imortalidade, nem na existência
dos anjos.
c) Os Essênios: Não são mencionados no NT. Sua existência ficou
comprovada com a descoberta em 1947 dos Manuscritos do Mar Morto. O
nome “essênio” vem de uma palavra hebraica que significa “pio”, “santo”.
Praticavam um ascetismo e isolamento rigorosos, e se dedicavam a
reproduzir os escritos do Velho Testamento e a fazer seus próprios
comentários dos mesmos.
d) Os Zelotes: Representavam o partido de extrema esquerda dos
fariseus. Estavam mais interessados na política do que na religião,
buscando a independência e autonomia da nação mais do que qualquer
outra coisa. Segundo Josefo (Antigüidades 18:1), seu fundador foi Judas de
Gamala (Judas, o galileu At 5.37), que incitou os judeus a rebelar-se contra
o império quando do censo para fins tributários em 6 a.C. (feito por
Quirino, governador da Síria). Foram eles, até certo ponto, que
precipitaram a guerra civil de 66 d.C., que resultou na destruição de
Jerusalém. Eram fanáticos e sua facção mais extrema eram os sicários. O NT
os menciona em Lc 6.15; At 1.13.
e) Os Zadoquitas: Esse partido teve início mais de um século antes
de Cristo, nos círculos do sacerdócio judaico, através de um movimento
reformista que visava avivamento religioso e correção das irregularidades
no culto do templo. Eram chamados os “filhos de Zadoque”. Messianistas
fervorosos, aceitavam somente a palavra escrita (Lei, Profeta e Escritos),
rejeitando a tradição oral dos rabis. É possível que muitos dos sacerdotes
mencionados em At. 6:7 tenham sido zadoquitas.
f) Os Herodianos: Eram um partido quase que puramente político.
Uniram-se aos fariseus em oposição a Cristo (Mt 22.15-16; Mc 3.6; 12.13).
A Diáspora (cf. At 2.5-13; 13.13-15, 42-45, 48-52; 18.1-4; 28.16-22;
Tg 1.1; 1Pe 1.1). No século I, os judeus eram numerosos na Síria
(especialmente na capital, Antioquia) e no Egito (Alexandria) e até em
Roma. Falavam geralmente a língua grega e tinham cultura grega,
diferindo assim dos judeus da Palestina.
A LXX foi uma grande contribuição do Judaísmo da Diáspora, não
só para o próprio Judaísmo como também para o Cristianismo, pois
tornou-se a Bíblia (AT) dos cristãos de língua grega, inclusive da maioria
119

dos autores do NT. A vida religiosa dos judeus da Dispersão concentrava-se


nas sinagogas, lugar de culto e instrução religiosa.
A língua da sinagoga era o grego, e mesmo as Escrituras eram lidas
na LXX. O procedimento era o mesmo das sinagogas da Palestina com
orações, leitura das Escrituras (um texto da Lei, outro dos Profetas), uma
explicação e a bênção final. Havia liberdade para com visitantes que
quisessem e tivessem preparo (não necessariamente técnico) para falar.
Paulo usou muitas destas oportunidades.
Não só judeus frequentavam as sinagogas, mas também prosélitos
e devotos. Gentios também eram admitidos. Dentre estes havia duas
classes:
a) Prosélitos: os que tinham se tornado judeus (religiosamente) por
aderir totalmente à religião judaica (At 2.10; 6.5; 13.43).
b) Devotos: os simpatizantes e interessados na religião judaica e
que tinham aceito alguns de seus ensinos (At 17.4,17). Também chamados
de “tementes a Deus”, como Cornélio (At. 10.2).

3.12 Os Evangelhos e Atos113

Os Evangelhos e Atos são os primeiros quatro livros do Novo


Testamento da Bíblia. Eles contam a história de Jesus Cristo, sua vida,
morte e ressurreição, bem como o início da igreja cristã.
Os Evangelhos são escritos de quatro perspectivas diferentes:
Mateus, Marcos, Lucas e João. Cada Evangelho enfatiza diferentes aspectos
da vida de Jesus e oferece uma visão única de sua missão.
Atos é o livro que conta a história da igreja cristã após a
ressurreição de Jesus. Ele descreve a ascensão de Jesus aos céus, a descida
do Espírito Santo sobre os discípulos e o início da pregação do evangelho
aos gentios.
A teologia dos Evangelhos e Atos é centrada em Jesus Cristo. Os
Evangelhos afirmam que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, que veio à terra
para salvar a humanidade de seus pecados. Atos conta a história da igreja
cristã, que é fundada na morte, ressurreição e ascensão de Jesus.
Os Evangelhos e Atos são uma fonte importante de informação
sobre a vida e a obra de Jesus Cristo. Eles também são uma fonte de

113
Cf. Panorama Bíblico - Os Evangelhos | Mateus, Marcos, Lucas e João. Escola do
Discípulo, Youtube in: https://encr.pw/QG7zt
120

inspiração e esperança para os leitores, pois mostram como Jesus é o


Salvador do mundo e como a igreja cristã é um sinal do seu amor e graça.
Aqui estão alguns dos principais temas teológicos dos Evangelhos e
Atos: Jesus é o Messias, o Filho de Deus. Jesus veio à terra para salvar a
humanidade de seus pecados. Jesus morreu na cruz para pagar pelos
pecados da humanidade. Jesus ressuscitou dos mortos três dias depois de
sua morte. Jesus subiu ao céu e está sentado à direita de Deus. O Espírito
Santo é enviado aos discípulos para ajudá-los a pregar o evangelho. A igreja
cristã é fundada na morte, ressurreição e ascensão de Jesus. A igreja cristã é
um sinal do amor e da graça de Jesus.
a) Relatam os fatos históricos da vida, morte e ressurreição de
Jesus, e os seus ensinos durante a Sua vida terrena. O termo grego
euangelion (Evangelho), significa “boas novas”. No contexto bíblico as
“boas novas” dizem respeito à história da salvação. É por isso que Paulo se
refere ao evangelho como tendo sido prometido por Deus através dos
profetas nas Sagradas Escrituras do AT (Rm 1.2-3); falando de Cristo. Ele é
o conteúdo do evangelho.
b) Os Evangelhos não são apenas biografias. Os dados biográficos
de Jesus são escassos, nos evangelhos. Não há uma descrição detalhada de
Sua vida nem uma exata sequência cronológica dos fatos. João, por
exemplo, ocupou-se com muito pouco tempo da vida de Jesus. Os
evangelhos representam um novo estilo ou gênero literário, sem paralelos
até então.
c) Os Evangelhos são o registro autorizado, em forma escrita, dos
atos e das palavras de Jesus, feito pelas Suas testemunhas oculares
(apóstolos)ou por pessoas ligadas a elas. Esse registro é uma proclamação
de e sobre Jesus Cristo, com o objetivo de despertar e fortalecer a fé (Jo
20.30,31).
d) Até certo ponto, a narrativa dos quatro evangelistas é
semelhante nos aspectos principais do ministério público de Jesus: Começa
com o batismo, continua com Seus atos e ensinos e termina com Sua morte
e ressurreição.
Mas cada um tem característica própria e objetivos específicos, na
sua apresentação. A seleção do material a ser registrado e a forma de
abordá-lo, diferem algumas vezes, o que aponta para ênfases peculiares. Os
três primeiros (Mateus, Marcos e Lucas) são mais semelhantes entre si,
razão por que são chamados de “sinóticos” (do grego synoptikos “que se vê
121

em conjunto” ou “que tem a mesma visão”). O quarto evangelho (João)


tem peculiaridades próprias. Segue uma orientação diferente.
Os três evangelhos sinópticos, Mateus, Marcos e Lucas, têm muitas
semelhanças, mas também algumas particularidades distintas. Aqui estão
algumas delas:
Mateus: Este evangelho é considerado o mais judaico dos três, pois
foi escrito para uma audiência judaica. É o mais longo dos três e contém
muitas referências ao Antigo Testamento. Mateus também inclui uma
genealogia de Jesus, o Sermão da Montanha e o relato da morte de Judas.
Marcos: Este evangelho é considerado o mais curto e conciso dos
três. É também o mais dinâmico, descrevendo Jesus como um homem de
ação. Marcos enfatiza a natureza divina de Jesus, e seu evangelho contém
muitos milagres e exorcismos.
Lucas: Este evangelho é o mais completo em termos de história e
geografia. Lucas era um médico e se concentrou nas curas e milagres de
Jesus. Ele também enfatiza a compaixão de Jesus para com os
marginalizados e excluídos da sociedade. Lucas inclui muitas parábolas,
como a do filho pródigo e do bom samaritano.
Essas são apenas algumas das particularidades de cada evangelho
sinóptico. Cada um tem sua própria perspectiva e ênfase, mas todos juntos
apresentam uma imagem completa de Jesus e sua mensagem.
O Evangelho de João tem algumas particularidades distintas dos
outros evangelhos, conhecidos como sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas).
Algumas dessas particularidades incluem:
a) Ênfase na especificação de Jesus: Enquanto os sinóticos
apresentam Jesus principalmente como um mestre, pregador e curandeiro,
o Evangelho de João enfatiza a especificação de Jesus. Ele começa com a
afirmação de que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus” (Jo 1.1), e continua a apresentar Jesus como aquele que veio
do céu e que é igual a Deus em natureza.
b) Alegorias e simbolismos: O Evangelho de João contém muitas
alegorias e simbolismos que não são encontrados em outros evangelhos.
Por exemplo, Jesus
Peculiaridades dos Sinóticos em comparação a João:
1. Os sinóticos narram o ministério de Jesus seguindo uma seqüência
geográfica comum: depois do batismo vem o ministério na Galiléia, depois a
retirada para o norte, tendo como ponto de transição a confissão de Pedro,
122

depois o ministério na Judéia e Peréia a caminho de Jerusalém e o


ministério final em Jerusalém, que resultou na Sua morte e ressurreição.
João se concentra no ministério de Jesus em Jerusalém, durante as
visitas periódicas que fez à cidade para as festas, juntamente com seus
discípulos. As demais narrativas estão relacionadas com as viagens
(peregrinações) da Galiléia para Jerusalém. É através do relato de João que
se consegue calcular o tempo do ministério público de Jesus (cerca de três
anos, pois participou de três páscoa). Os seguintes textos mostram as
viagens de Jerusalém entre a Galiléia e a Judéia (Jerusalém): Jo 2.1,13,23;
3.22,26; 4.3-4, 43,46; 5.1 [Páscoa?]; 6.1,4; 7.1,10; 10.40; 11.7,54; 12.1,12; 13.1;
18.28.
2. No arranjo do material: A estrutura mostra que os sinóticos
organizaram o seu material seguindo um critério geográfico. João
organizou o seu material seguindo um critério biográfico e mais
cronológico. Sua narrativa se desenvolve numa sequência provavelmente
cronológica dos fatos.
3. Na escolha do material: Os sinóticos narram muitos dos mesmos
acontecimentos, com muitos milagres, exorcismos e parábolas. João narra
apenas 7 milagres de Jesus, além do da sua ressurreição (cada um
ensinando uma lição específica), e não contém parábolas, nem expulsão de
demônios. Dos milagres, só dois são narrados por outros evangelistas: a
multiplicação dos pães e dos peixes e o andar por cima das águas. Como
vimos acima, quase todo o seu material não se encontra nos demais
evangelistas.
4. Na identificação dos adversários de Jesus: Nos sinóticos, os
adversários de Jesus são geralmente identificados: ora os fariseus e
escribas, ora os saduceus e sacerdotes; e às vezes ambos conjuntamente:
Alguns exemplos em Mateus (os outros sinóticos seguem o mesmo
padrão): a) Escribas e fariseus: Mt 5.20; 12.38; 15.1;
23.2,13,14,15,23,25,27,29. b) Só fariseus: Mt 9.11,14,34; 12.2,14,24; 15.12;
19.3; 22.15,41. c) Fariseus e saduceus: Mt 3.7; 16.1,6,11,12; 22.34. d) Fariseus
e sacerdotes: Mt 21.45; 27.62. e) Só saduceus: Mt 22.23.
Para João, os adversários de Jesus são os judeus (sem que sua
categoria seja especificada): 2.18,20; 5.10,15,16,18; 6.41,52; 7.1,13,15,35;
8.22,31,48,52,57; 9.18,22; 10.19,24,31,33; 11.8,19,31,33,36,46,54; 12.9,11;
13.33; 18.12,14,31,36,38; 19.7,12,20,38; 20.19.
123

5. Na forma ou extensão das narrativas e discursos: Os sinóticos


apresentam um número maior de narrativas (tanto de fatos como de
ensinos), mas geralmente de caráter breve, que frequentemente culminam
com uma declaração marcante de Jesus. Incluem mais ação e menos
reflexão.
João apresenta um número bem menor de narrativas (faltam-lhe,
dentre outras, as do nascimento de Jesus, Sua genealogia, apresentação no
templo, batismo, tentação, transfiguração e ascensão) mas suas seções são
geralmente longas, como o diálogo com a mulher samaritana (cap. 4), a
cura do cego de nascença (cap. 9) e a ressurreição de Lázaro (cap.11); e às
vezes acompanhadas de reflexões e conclusões teológicas. Comparecem-se
as narrativas (ou discursos) de Lucas 15.1-7 com João 10, sobre a ovelha
perdida e o bom pastor.
O livro de Atos dos Apóstolos provê um relato da extensão do
Cristianismo de Jerusalém ao mundo gentílico, chegando até Roma,
seguindo o programa de At 1.8. Provê um esboço da história apostólica
(único do gênero). Provê o pano de fundo para as cartas de Paulo. Em Atos
dos Apóstolos, o Evangelho é anunciado: caps. 1-7 em Jerusalém; caps. 8-12
na Judéia e em Samaria; caps. 13-28 ao mundo inteiro.
O livro de Atos dos Apóstolos, escrito pelo evangelista Lucas,
registra os eventos do início da igreja cristã, desde a ascensão de Jesus até a
prisão do apóstolo Paulo em Roma. A teologia de Atos destaca vários temas,
incluindo:
A obra contínua do Espírito Santo: o Espírito Santo é retratado como
o poder divino que capacita os crentes a testemunhar de Cristo em todo
lugar e a extensão do evangelho a todas as nações. Ele é responsável pela
fundação da igreja e pela expansão do evangelho.
A continuidade entre o ministério de Jesus e a missão da igreja: Atos
apresenta Jesus como o cumprimento das profecias do Antigo Testamento
e a fonte da autoridade para a missão da igreja. A igreja é vista como a
continuação da obra de Jesus na terra.
A conversão e o discipulado: Atos mostra a conversão como um
processo em que as pessoas respondem à mensagem do evangelho e se
comprometem com Jesus Cristo. O livro também destaca a importância do
discipulado e da formação de líderes para a igreja.
124

A igreja como comunidade de crentes: Atos apresenta a igreja como


uma comunidade de crentes que guardam suas vidas e recursos uns com os
outros, que adoram juntos e que buscam a vontade de Deus em oração.

3.13 As Cartas (ou Epístolas?)114

São cartas reais, nascidas das necessidades locais das igrejas ou de


circunstâncias da época. Somam um total de 21. Já era costume escrever
cartas naquela época. O maior número delas foi escrito por Paulo (14? se
incluirmos Hebreus).115 Seguem, até certo ponto, o padrão redacional das
cartas do contexto de sua época (greco-romano): destinatário, saudação,
corpo e conclusão e/ou nova saudação. Com frequência incluem também
votos de saúde (como em 3 João). No NT, esses votos são muitas vezes
substituídos por ações de graças (em quase todas as cartas paulinas -
apenas Gl, 2 Co, 1 Tm e Tt não têm) ou bênçãos (2 Co; Ef e 1Pe).
As cartas do NT geralmente terminam com saudações ou
doxologia. Umas são longas, outras mais breves. Têm suas características
próprias e nem sempre podem ser comparadas, em formato, às cartas
greco-romanas. O tom de autoridade que possuem as distingue em grande
medida das demais cartas ou epístolas não canônicas (seculares). Seu
conteúdo é variável: desde tratados doutrinários (Romanos e Hebreus) até
cartas pessoais, como Filemon e Timóteo. Totalizam 21 livros do NT
subdivididos em duas categorias:
Epístolas Paulinas: a) a Igrejas: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas,
Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses. b) As pessoas
(Pastorais): 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemon.
As epístolas de Paulo também podem ser subdivididas em quatro
grupos, que são: Anti-judaicas: escritas em função de suas controvérsias
com os judeus e o Evangelho (1 e 2 Coríntios, Gálatas e Romanos). São
datadas geralmente na sua terceira viagem missionária. Centralizam seu
ensino no caráter e obra de Cristo (Filipenses, Filemon, Colossenses e

114
Cf. Cartas do Novo Testamento: Contexto Histórico. BibleProject - Português,
Youtube in: https://encr.pw/tKcmH
115
O debate acerca da autoria da Carta aos Hebreus é intenso e não tem a menor
condição de se encerrar, pois o assunto envolve uma complexidade de informações muito
antigas. Mas é bom lembrar que o próprio Lutero reconhecia a autoria paulina, ou pelo menos,
sua teologia em Hb. Em suma, a autoria de um texto bíblico não tem necessariamente relevância,
mas sim sua mensagem. Posto isso, independente de quem seja o autor de Hebreus, é um dos
textos mais brilhantes sobre a Pessoa de Jesus Cristo no Cânon Sagrado.
125

Efésios). Escritas durante seu aprisionamento em Roma. Escatológicas:


Tratam da Segunda vinda de Cristo (1 e 2 Tessalonicenses). Escritas de
Corinto por volta dos anos 62 ou 63. Pastorais: escritas aos seus auxiliares
mais jovens (1 e 2 Timóteo e Tito). Tratam de instruções práticas aos
pastores e da organização das Igrejas.
Epístolas Gerais: Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João e Judas.
Romanos. Paulo escreveu Romanos por volta dos primeiros dias do
ano 57. Seu objetivo era triplo: Doutrinário. Expor seu pensamento a
respeito da obra da graça de Deus por meio de Jesus Cristo na Cruz. O
próprio Paulo chama romanos de meu evangelho (Rm 2). Pastoral. Deseja
conhecer a Igreja de Roma a fim repartir com eles “algum Dom” (Rm 1).
Missionário. Quer implantar uma base de apoio para a evangelização da
Espanha (Rm 14). O tema da epístola é a apresentação do Evangelho de
Cristo. Verso chave: Rm 3.23,24. Esboço da epístola:
Cap. 1.1-17 Introdução. O Evangelho de Deus.
1.18-3.20 A revelação da ira de Deus contra a humanidade.
3.21-8.39 A graça de Deus no Evangelho.
9-11 O plano de Deus para judeus e gentios.
12.1-15.13 Relacionamentos transformados segundo a vontade de
Deus.
15.14-16.27 A providência de Deus no ministério. Conclusão.
Tiago. É muito provável que o autor dessa epístola seja Tiago, o
irmão do Senhor (Mt 13.55; At 12.17; Gl 1.19; 2.9-12). Segundo Josefo,
historiador judeu, ele foi apedrejado por volta de 62, acusado de se afastar
da lei judaica. A carta foi escrita aos judeus cristãos da dispersão (1.1; 2.1),
com o objetivo de trazer consolo e fortalecimento em tempos de provação
(1.2; 2.6-7; 5.1-6), bem como corrigir erros na pessoal dos crentes e da
Igreja (1.19-21; 2.14-26; 4.1-5.11). É possível que tenha sido uma das
primeiras a serem escritas no Novo Testamento (entre 40 e 61 d.C). Douglas
Moo defende a data entre 45 e 48 d.C. Esboço Básico:
1.1-18 Introdução. As provações e a maturidade cristã.
1.19-2.26 O verdadeiro cristianismo e suas obras.
3.1-4.12 As dissensões dentro da comunidade cristã.
4.13-5.6 Várias repreensões.
5.7-20 Exortações finais.
1 João. Foi escrita pelo apóstolo João por volta de 80-85 d.C. de
Éfeso, onde era pastor. Seus destinatários certamente eram as igrejas da
126

Ásia Menor. O propósito da carta é deixar evidente como podemos saber


que temos a vida eterna? (5.13), e combater a heresia que negava a
encarnação de Cristo (docetismo do gr. dokeo “aparência” cf. 1.2,4).
Enfatiza a obra expiatória de Cristo em Cristo a nosso favor e suas
implicações práticas na vida Cristã (1.7; 2.1,2; 4.10). Esboço básico:
1.1-4 Prefácio. 1.5-2.2 A mensagem apostólica.
2.3-5.5 Obediência, amor e fé. Igreja e mundo. Implicações e
aplicações.
5.6-12 As três testemunhas.
5.13-17 A nossa consequente segurança.
5.18-21 Três afirmações e conclusão.

3.14 A Teologia de Paulo116

O objetivo do nosso encontro é traçar alguns elementos que


revelam que é o Apóstolo dos Gentios e como ele desenvolveu sua missão
fundando e auxiliando as primeiras comunidades cristãs. Algumas
perguntas são necessárias para esta aula, como “o que conheço a respeito
de Paulo?”
At 22.3: Eu sou judeu. Nasci em Tarso da Cilícia, mas fui educado
nesta cidade, formado na escola de Gamaliel, seguindo a linha mais
escrupulosa dos nossos antepassados, cheio de zelo por Deus, como todos
vocês o são agora.
Fp 3.4-6: Se alguém acha que pode confiar na carne, eu o posso
mais ainda: fui circuncidado no oitavo dia, sou israelita de nascimento, da
tribo de Benjamim, hebreu filho de hebreus. Quanto à lei judaica, fariseu;
quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça que se alcança pela
observância da Lei, sem reprovação.
Paulo era hebreu e filho de hebreu; nasceu entre os anos 5 e 10 em
Tarso na Cilícia, região da diáspora; foi educado segundo as tradições do
judaísmo na cidade natal e, mais tarde, em Jerusalém; quanto ao zelo,
fariseu; há indícios de que tenha casado, era um homem urbano; cidadão
romano – segundo Atos dos Apóstolos morreu entre os anos 64 e 68 em
Roma.

116
Cf. Review A Teologia do Apóstolo Paulo | James D. G. Dunn. Prof. Daniel Ramos,
Youtube in: https://l1nq.com/U2Scl
127

Paulo era um judeu irrepreensível e vivia, segundo a sua fé, até as


últimas consequências. Quando toma a resolução de perseguir os cristãos,
Paulo acredita estar fazendo a vontade de Deus; contudo ele é confrontado
pelo Ressuscitado que o questiona: “Saulo! Saulo! Por que me persegues”.
Relatos sobre a conversão de Saulo (At 9.1-19; At 22.5-16; At 26.9-1; Gl
1.1-1; Fl 3,4-17).
Mas também é importante dizer que: a) Paulo não conheceu Jesus
de Nazaré, mas Jesus, o Ressuscitado através do testemunho das
comunidades e dos cristãos da primeira hora. b) Paulo era profundo
conhecedor do Antigo Testamento, não havia ainda o Novo Testamento. c)
É atribuído a Paulo o primeiro texto do Novo Testamento: a Primeira Carta
aos Tessalonicenses. d) Os ensinamentos de Paulo e suas cartas não
constituem, num primeiro momento, dogmas de fé, mas um auxílio de um
irmão a outros neste novo caminho que é o seguimento de Jesus.

3.15 A Proclamação da Nova Fé117

O centro do anúncio de Paulo é Jesus crucificado (1Co 1.23) e


ressuscitado (1Co 15.12). Paulo entendia que o Evangelho lhe fora confiado
por Deus (Tt 1.3). Portanto, não havia motivos para ele se envergonhar do
seu anúncio ou buscar vantagens por causa dessa missão. De modo
particular, Paulo anuncia o Evangelho para os não judeus (At 14.27). Paulo
afirma ter feito muitas viagens (2Co 11.26), mas é possível constatar quatro
delas nos textos bíblicos.
2Co 11,26-29. Fiz muitas viagens. Sofri perigos nos rios, perigos
por parte dos ladrões, perigos por parte dos meus irmãos de raça, perigos
por parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no
mar, perigos por parte dos falsos irmãos.
Mais ainda: morto de cansaço, muitas noites sem dormir, fome e
sede, muitos jejuns, com frio e sem agasalho. E isso para não contar o resto:
a minha preocupação cotidiana, a atenção que tenho por todas as igrejas.
Quem fraqueja, sem que eu também me sinta fraco? Quem cai, sem que eu
me sinta com febre?
Carta aos Romanos. Escrita por Paulo no ano 56, em Corinto. Sua
temática principal é mostrar que a salvação vem pela fé e não pela

117
Cf. Declarando a Palavra | Luciano Subirá. Alcance Curitiba, Youtube in:
https://encr.pw/HZPIT
128

observância da Lei. Esta salvação se dirige a todas as pessoas: judeu e


não-judeu (Rm 1.16). É a mais importante declaração teológica
desenvolvida por um teólogo cristão. A comunidade de Roma não foi
fundada por Paulo.
1 Coríntios. Carta escrita por Paulo no ano 56, em Éfeso. Temática:
Como superar os conflitos na comunidade. Principais dificuldades: divisão
entre os cristãos, um cristão tomou a madrasta como esposa, pratica de
prostituição entre os cristãos, dúvidas sobre o matrimônio, virgindade e
escravidão; celebrações agitadas; qual o lugar da mulher na comunidade;
mal uso dos próprios dons; havia cristãos que não acreditavam na
ressurreição.
2 Coríntios. Carta escrita por Paulo não se sabe ao certo de onde e
em que ano. A 2Cor se revela um conjunto de vários fragmentos de cartas.
Temática: Paulo se defende de acusações feitas contra ele. A comunidade
dos Coríntios foi fundada por Paulo.
Gálatas. Carta escrita por Paulo entre os anos 56 e 57, em Éfeso.
Temática: Da escravidão para a liberdade. Acredita-se que as comunidades
da Galácia tenham sido fundadas por Paulo.
Filipenses. Carta escrita por Paulo entre os anos 55 e 57, em Éfeso
(provavelmente). Temática: Conjunto de três cartas. Paulo se alegra mesmo
preso por causa da fidelidade dos cristãos. O verdadeiro Evangelho.
1 Tessalonicenses. Carta escrita por Paulo no ano 51, em Atenas.
Temática: Agradece a Deus pela fé, esperança e amor presentes na
comunidade, Paulo deseja voltar para completar a formação cristã dos
Tessalonicenses, preocupação com a segunda vinda do Senhor. A
comunidade de Tessalônica foi fundada por Paulo
Filêmon. Carta escrita por Paulo, provavelmente de Éfeso.
Temática: Carta pessoal em favor de Onésimo, escravo que fugiu do patrão,
Filêmon, por causa, provavelmente, de roubo, e que, ao conhecer Paulo se
converte ao cristianismo. Em Cristo todos são irmãos.
Efésios. Carta escrita por Paulo entre os anos 56 e 57, em Éfeso
(provavelmente). Temática: A pessoa de Jesus Cristo e a Igreja formada por
judeus e não-judeus. Há muitas exortações
Colossenses. Carta escrita por Paulo entre os anos 56 e 57, em Éfeso
- provavelmente. Temática: Cristo é a imagem do Deus invisível. Os fiéis de
Colossas acreditavam em seres espirituais que habitavam entre o céu e a
129

terra e Paulo os esclarece sobre essa questão. Paulo não é o fundador desta
comunidade nem a visitou pessoalmente.
2 Tessalonicenses. Carta escrita por Paulo, mas data e local da
redação são incertos. Temática: A segunda vinda do Senhor e o fim deste
mundo. Não se deve especular sobre essas questões. A comunidade de
Tessalônica foi fundada por Paulo

3.16 As Cartas Pastorais118

1 e 2 Timóteo e Tito. Escritos de caráter pessoal que advertem


aqueles que possuem responsabilidade no governo, no ensino e no
comportamento das comunidades cristãs. Os escritos de Paulo certamente
são frutos de sua caminhada de fé e escuta de Deus.
Cada carta era motivada por situações concretas que precisavam
ser resolvidas, mas não significava que se tinha uma resposta pronta para
toda dificuldade que surgia. Paulo ofereceu respostas pontuais conforme o
momento e as possibilidades. Ele era humano e sujeito a falhas e enganos. A
fé que Paulo nutria pelo Ressuscitado não o arrancou do mundo em que
vivia e de seus limites humanos.
Paulo não trabalhou sozinho. Ele contou com muitos colaboradores
e colaboradoras (Rm 16). Se Paulo e os primeiros cristãos se reuniam em
torno da Palavra, eles também se reuniam em torno do pão e do vinho
abençoados (1Co 11,23-26).

3.17 O Apocalipse de João119

João escreveu por volta do ano 95 d.C., cerca de 40 anos após Paulo
ter ministrado na escola de Tirano em Éfeso. Pastorear uma Igreja de 40
anos de tradição, por onde já passaram muitos pastores é um grande
desafio. Nesse tempo há coisas que ficam e coisas que se perdem da Igreja
original. Seu objetivo principal é trazer conforto às Igrejas debaixo de
perseguição e mostrar que Deus tem tudo sob seu controle soberano.
Esboço básico:

118
Estudo Bíblico | Cartas Pastorais de Paulo, Panorama de Tito. Bethel Igreja Bíblica,
Youtube in: https://encr.pw/vGEOl
119
Ap 1-11. Bible Project Português, Youtube in: https://l1nq.com/t408t408t
130

1 Seção (1-3) os sete castiçais, Cristo no meio das Igrejas.


2 Seção (4-7) os sete selos, Deus controla a história.
3 Seção (8-11) as sete trombetas, Deus vinga a Igreja.
4 Seção (12-14) a tríade: o dragão, a besta e o falso profeta.
5 Seção (15-16) as sete taças, a visitação final da ira de Deus.
6 Seção (17-19) a derrota dos agentes do dragão.
7 Seção (20-22) o novo céu e a nova terra.

1. Éfeso (Apocalipse 2.1-7) Mensagem: Zelo sem amor. Éfeso era a


principal cidade da Ásia, com um porto comercial ativo. Também era um
centro religioso importante. Ali estava edificado o grande templo à deusa
Diana (Ártemis), que era uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Também era um centro de práticas supersticiosas, conhecida no mundo por
suas artes mágicas (At 19.19).
O impacto do Evangelho ali fez com que os novos convertidos
queimassem seus livros de artes mágicas. A Igreja de Éfeso era a mais
importante da província da Ásia. Fundada por Priscila e Áquila. Pastoreada
no decorrer dos anos por Paulo, Timóteo, o próprio João e Onésimo.
Tornou-se um centro de formação de liderança.
A Escola de Tirano, onde Paulo ensinou por dois anos foi um
grande seminário de onde saíram os pastores fundadores de várias igrejas
no interior da Ásia (Epafras – Colossos); quem sabe Antipas, morto em
Pérgamo não tenha sido formado em Éfeso com Paulo?
Provavelmente as sete Igrejas tenham sua base de fundação no
ministério missionário de Éfeso. Um centro de defesa da doutrina. Foram
oponentes firmes aos Nicolaítas (2.6,15). Uma das cinco Igrejas mais
importantes da Igreja Primitiva (Jerusalém, Antioquia, Éfeso, Roma e
Constantinopla). À época em que João escreveu o Apocalipse, esta Igreja já
conta com 40 anos de fundação. Portanto, já era uma Igreja bastante
amadurecida e experiente.
2. Esmirna (Apocalipse 2.8-11) Mensagem: A Riqueza da Fé. A
cidade fica a 55 km ao norte de Éfeso. Tinha um próspero porto marítimo
natural, que competia com o de Éfeso. Esmirna era chamada de “A Flor da
Ásia”; “A Coroa da Ásia”. Foi a primeira aliada de Roma na Ásia (195 a.C.).
Foi a primeira cidade a instituir o culto ao imperador.
Em 26 a.C. ganhou a concorrência para construir um templo para
Tibério César. Havia lá um influente colônia judaica. Certa vez doaram dez
131

mil denários (o salário de trinta anos de um trabalhador comum) para o


embelezamento da cidade. Inácio de Antioquia reclamou deles quando
escreveu a Esmirna por volta de 107 d.C, no caminho de seu martírio em
Roma, dando várias instruções ao jovem bispo dali (Policarpo), para
perseverar na fé. Em 156 d.C. apoiaram e participaram ativamente do
martírio de Germânio e Policarpo.
Impediram que os cristãos se apoderassem dos restos mortais de
Policarpo. Como se vê, a Igreja prosperava, mesmo debaixo de perseguição,
e pouco mais de 50 anos mais tarde, nos daria o martírio de um dos grandes
pais da Igreja: Policarpo de Esmirna.
3. Pérgamo (Apocalipse 2.12-17) Mensagem: O Perigo da Tolerância
Religiosa. Pérgamo era a capital da Ásia. Ao compararmos algumas das
cidades das sete igrejas da Ásia com a nossa realidade brasileira podemos
concluir: Éfeso (Rio de Janeiro), Esmirna (São Paulo), Pérgamo (Brasília) –
Centro da tolerância e das negociações e negociatas.
A cidade era devota a Zeus e a Atena. Também era devota a Roma.
No ano de 29 a.C. construiu um templo “ao divino Augusto e à deusa
Roma”. Era devota também a Esculápio (Asclépio), deus da cura. Uma
serpente dourada que simboliza a saúde (símbolo atual da medicina). Seus
sacerdotes curandeiros eram famosos no mundo todo. O culto a Esculápio
era uma mistura de medicina, curandeirismo e magia. Além disso, Pérgamo
era também devota à cultura. Sua biblioteca só perdia em tamanho para a
de Alexandria. Seu nome era derivado da palavra “pergaminho”, que eram
rolos de couro tratado e curtidos especialmente para a escrita.
A grande tentação para a Igreja de Pérgamo é um velho conhecido
nosso: O Mundanismo. Mundanismo é quando queremos a fé, mas sem
abrir mão dos prazeres da vida. O mundanismo se manifesta: no
materialismo (o desejo de ter), na cultura popular (aquilo que todos
aceitam como comum), no consumismo (a satisfação de qualquer desejo a
qualquer custo), na falta de convicções doutrinárias sólidas (o último livro
que leu dita o seu comportamento cristão).
4. Tiatira (Apocalipse 2.18-29) Mensagem: Relevância e Disciplina.
Tiatira era uma cidade pequena e muito pouco conhecida com um comércio
emergente. Para promovê-la fora, foram criadas várias corporações de
comércio.
A que ficou mais conhecida foi de tecidos finos e de púrpura. Lídia,
natural de Tiatira, fazia parte de uma dessas corporações de tecidos em
132

Filipos (At 16.14). Essas corporações promoviam banquetes de negócios em


honra a um Deus pagão a fim de conseguir compradores. Esses banquetes,
geralmente terminavam com práticas licenciosas e imorais para os
cristãos.
O problema da Igreja de Tiatira é o problema de quem quer crescer
no mundo moderno. Como crescer e tornar-se expressivo sem se vender
para aquilo que é imoral e que desagrada a Deus?
5. Sardes (Apocalipse 3.1-6) Mensagem: Vida de aparências. Sardes
era uma cidade pequena e rica. Situada na rota do comércio e de
privilegiada situação geográfica (inexpugnável). O culto era idólatra e
licencioso.
Ao olharmos para a Igreja de Sardes e a compararmos com as
demais, percebemos: Não há perseguição, nem judeus, nem Satanás e nem
problemas com o Estado. Não há oposição religiosa ou política.
6. Filadélfia (Apocalipse 3.7-13) Mensagem: Fidelidade. Filadélfia
era a mais jovem das sete Igrejas da Ásia, situada numa cidade próspera e
geograficamente bem localizada. Era a porta de entrada para o platô
asiático. Também era famosa pela quantidade e grandiosidade de seus
templos pagãos. Apesar disso tudo: Não recebe críticas de Jesus Cristo
(como Esmirna, Éfeso etc.). Foi a última a ser destruída. A única onde há
uma Igreja cristã hoje em dia (Guilherme Kerr).
7. Laodicéia (Apocalipse 3.14-21) Mensagem: É Preciso Recuperar o
Zelo. Laodicéia ficava ao sul da Frígia, ao leste de Éfeso e somente a 16 km
de Colossos. A cidade fora fundada em 250 a.C. por Antíoco da Síria, Situada
no entroncamento de três estradas importantes, atraía para si muitas
riquezas.
a) Era um grande centro bancário e comercial. Destruída em 61 a.C.
por um terremoto, foi reconstruída com recursos próprios, sem a ajuda do
Império.
b) Sua indústria têxtil produzia a partir da lã de ovelhas negras um
tecido de lã aveludada de cor violeta escura que era o orgulho da cidade.
c) Era um centro médico importante. Tinha uma escola de
medicina, com médicos bem conhecidos, cujos rostos eram cunhados em
moedas da época. Ali era produzida uma pomada para cura dos ouvidos e o
“pó frígio” utilizado na fabricação de colírios. Ao lermos a carta, em
comparação com as demais, percebemos que nada é dito de perseguições,
problemas com judeus ou tribulações.
133

É bem provável que a Igreja prosperasse seguindo os ventos da


cidade e, sem dúvida, deve ter sido isso que a fez se afastar de seu Senhor.
Segundo lemos em Cl 4.16,17, Paulo escreveu uma carta a essa Igreja que foi
perdida (provavelmente é a Epístola aos Efésios), deixando a entender que
Arquipo era pastor ali, e que ele tinha uma presença meio dúbia na Igreja,
negligenciando certos aspectos de seu ministério.
Paulo o exorta a ser zeloso por seu ministério. Colossenses foi
escrita por volta de 60 d.C., a uns 35-40 anos antes de João escrever o
Apocalipse. A falta de zelo de um pastor no início da formação de uma
Igreja pode levar essa Igreja a uma frouxidão tal, que Deus precise
disciplinar a Igreja algum tempo depois.
134

MÓDULO 4 — HERMENÊUTICA120
“Nunca podemos ler a Escritura por nós mesmos.
Encontramos demasiadas portas fechadas e caímos em erros.
A Bíblia foi escrita pelo Povo de Deus e para o Povo de Deus,
sob a inspiração do Espírito Santo”
—Joseph Ratzinger121

Hermenêutica é a arte e a interpretação da linguagem. Ciência


porque estabelece regras positivas e invariáveis. Arte porque as suas regras
são práticas. Vem do grego “hermeneuticós”, que tem por principal objetivo
descobrir o verdadeiro significado de um texto.
A hermenêutica é a base para toda a crítica filológica, e o primeiro
homem a empregá-la como termo técnico foi Platão. Em detrimento às
Sagradas Escrituras, sua missão passa a ser interpretar o que realmente
Deus quer revelar através da Bíblia. A premissa é conhecer melhor as
Escrituras, analisando as intenções originais dos autores, e, mormente a
pessoa de Jesus Cristo a fim de melhor servi-lo e adorá-lo.
O objetivo é tornar o autor contemporâneo do leitor,
aproximando-os à compreensão da mesma época. Esclarecer tudo que haja
de obscuro. Tornar o assunto compreensível (2Pe 3.15,16) pois é possível

120
Não se pode entender a Sã Doutrina sem passar pelas prerrogativas da interpretação
da Teologia Bíblica, por isso é necessário que o aluno saiba entender e contextualizar tudo o que é
apresentado, para não incorrer equívocos e sufixos desnecessários para a mentalidade sadia da
igreja. Aqui na parte Hermenêutica, elaboramos um caminho a partir da a) diferença de
interpretação e aplicação, as regras fundamentais e as várias formas de interpretar; b) a metodos
e os caminhos alaliticos da interpretação; c) a critica textuakl e a exegese bíblica; d) o
comportamento da exegese diante da pesquisa; d) análise histórica, lexical e sintática,
contextualizada, analogia e linguagens; e) os métodos clássicos da interpretação. Para maiores
informações, cf. O que é Hermenêutica Bíblica? Sua Importância para o Pregador Para
Interpretar? Teologia ao Alcance de Todos - Lenilberto Miranda, Youtube in:
https://l1nq.com/e34wP
121
Bento XVI, nascido Joseph Aloisius Ratzinger, foi o 265º papa da Igreja Católica, de
2005 a 2013. Ele foi um teólogo conservador que se opôs ao relativismo moral e à reforma
litúrgica. Bento XVI nasceu em Marktl am Inn, na Baviera, Alemanha, em 1927. Ele foi ordenado
sacerdote em 1951 e lecionou teologia na Universidade de Munique por muitos anos. Em 1977, ele
foi nomeado arcebispo de Munique e Freising e, em 1981, foi nomeado prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé. Como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Ratzinger foi um
defensor da ortodoxia teológica e um crítico do relativismo moral. Ele também foi um dos
principais arquitetos da doutrina católica sobre a Igreja e a salvação. Em 2005, Ratzinger foi
eleito papa após a morte de João Paulo II. Ele escolheu o nome de Bento XVI em homenagem a
Bento XV, que governou a Igreja Católica durante a Primeira Guerra Mundial.
135

dizer a verdade de forma errada, por isso, é a parte teórica do processo


(teoria) que procura descobrir o sentido exato das palavras e dos textos.
É ciência, porque contém regras definidas, organizadas. É arte,
porque na hora de aplicar as regras há necessidade de bom senso,
sensibilidade. A crítica textual propõe examinar criteriosamente e com
acuidade a exatidão das palavras dos textos. A exegese é a aplicação prática
da hermenêutica e crítica textual no processo interpretativo; tirar para fora
o significado do texto. Exegese, em suma, é extrair de dentro para fora, o
sentido objetivo do texto dentro do contexto.

4.1 Diferença de Interpretação e Aplicação122

Interpretação só é o significado pretendido pelo autor por Deus. A


aplicação pode ser vários, dependendo da situação em que as pessoas se
encontram. A Hermenêutica Geral é aquela que trata as Escrituras como um
todo. Princípios gerais, básicos. Elabora os princípios.
Em geral regem a interpretação dos textos bíblicos incluindo os
tópicos como: análises histórico cultural, léxico-sintática, contextual e
teológica. Hermenêutica Especial é aquela que trata de questões
particulares das escrituras. Nesta última, aplicam-se regras a gêneros
específicos, como: parábolas, alegorias, tipos e profecias.
Distinção acadêmica e didática das principais ciências que auxiliam
no estudo da Escritura Sagrada (as linguagens da Bíblia): Parte esmagadora
dos doutrinadores concorda que a Palavra de Deus pode ser interpretada
nos sentidos, a saber: literal, simbólico, figurado, pleno e acomodatício.
a) literal: Sentido inerente às palavras, expressão pura e simples da
ideia do autor. Ex: Foi colocada na cabeça do Rei uma coroa cintilante de
jóias.
b) figurativo: (um pai bravo com o filho) “Na próxima vez que me
chamar de coroa vai ver estrelas ao meio dia”.
c) simbólico: “viu-se um grande sinal no céu, a saber, uma mulher
vestida de sol com a lua debaixo de seus pés e uma coroa de doze estrelas na
cabeça” (Ap 12.1).

122
Cf. Como Interpretar e Aplicar os Textos da Bíblia. Contexto Bíblico, Youtube in:
https://l1nq.com/SDMXv
136

d) pleno: fundado no literal, mas que tem um aprofundamento não


revelado pelo autor. Deus. A palavra do profeta refere-se a uma situação
histórica; a palavra de Deus refere-se ao futuro.
e) acomodatício: quando a Bíblia é aplicada à realidade apenas pela
coincidência dos textos. Por exemplo, em Mateus se lê “do Egito chamei
meu filho” [...] Para que se cumprisse a Escritura. Mas o sentido, ou seja, a
aplicação original deste trecho não se referia ao Filho de Deus, mas à saída
do Egito.

4.2 Regras Fundamentais na Interpretação123

1. Estuda a Bíblia partindo do pressuposto de que ela é a autoridade


suprema em questões de religião, fé e doutrina.
2. Não esqueça que a Bíblia é a melhor intérprete de si mesma, isto
é: a Bíblia interpreta a Bíblia. Os maiores inimigos da Bíblia não são seus
opositores, mas os seus expositores que tentam encontrar na Bíblia defesa
para as suas ideias absurdas.
3. Dependem da fé salvadora e do Espírito Santo a compreensão e
interpretação da Escritura.
4. Os exemplos bíblicos só têm autoridade prática quando
amparados por uma ordem que os faça mandamento universal.
5. O principal propósito da Escritura é mudar nossas vidas e não
multiplicar nossos conhecimentos.
6. Apesar da importância da história da Igreja, ela não chega a ser
decisiva na fiel interpretação da Escritura. Devemos afirmar que a Igreja
não determina o que a Bíblia ensina; antes a Bíblia é que determina o que a
Igreja deve ensinar.

4.3 Várias Formas de Interpretar124

Lexicalmente. É conhecer a etimologia das palavras, o


desenvolvimento histórico de seu significado e o seu uso no texto sob

123
Cf. Duas Regras Básicas de Interpretação Bíblica. Pensando às Escrituras, Youtube
in: https://l1nq.com/zMRle
124
Cf. Como interpretar a Bíblia? - Augustus Nicodemus. Igreja Presbiteriana de Santo
Amaro, Youtube in: https://encr.pw/8FrXR
137

consideração. Esta informação pode ser conseguida com a ajuda de bons


dicionários.
Sintaticamente. O intérprete deve conhecer os princípios
gramaticais da língua na qual o documento está escrito, para primeiro, ser
interpretado como foi escrito. Vale o uso da Bíblia Interlinear.
Contextualmente. Deve-se ter em mente a inclinação do
pensamento de todo o texto. Então se pode notar a “cor do pensamento”,
que cerca a passagem que está sendo estudada. A divisão em versículos e
capítulos facilita a procura e a leitura, mas não deve ser utilizada como guia
para delimitação do pensamento do autor.
Historicamente. O intérprete conhece as maneiras, costumes, e
psicologia do povo no meio do qual o escrito foi produzido.

4.4 Métodos de Interpretação125

Métodos de Interpretação eficiente e coesa. Método é a maneira


ordenada de fazer alguma coisa. É um procedimento seguido passo a passo,
cujo objetivo é levar o estudante a uma conclusão. Durante séculos os
eruditos procuraram todos os métodos possíveis para desvendar os
tesouros da Bíblia e arquitetar meios de descobrir os segredos.
Método Analítico. Analisar algo é estudar em seus pormenores,
detalhe por detalhe, tendo o cuidado de anotar os aspectos por menores que
eles sejam e por mais insignificantes que eles pareçam ser. Os passos
básicos deste método são:
a) observação: é o passo que nos leva a extrair do texto o que
realmente descreve os fatos, levando também em conta a importância das
declarações do texto.
b) interpretação: é o passo que nos leva a buscar a explicação e o
significado (tanto para o autor quanto para o leitor) para entender a
mensagem central do texto lido. A interpretação deverá ser conduzida
dentro do contexto textual e histórico com oração e dependência total do
Espírito Santo, analisando o significado das palavras e frases chaves,
avaliando fatos, investigando os pontos difíceis e incertos, resumindo a
mensagem do autor a seus leitores originais e fazer contextualização
(trazer a mensagem a nossa época ou nosso contexto).

125
Hermenêutica - Métodos de Interpretação - Perícope e Estudos Indutivos - aula
10. RTM Brasil, Youtube in: https://encr.pw/hZ5ot
138

c) correlação: é o passo que nos leva a comparar as narrativas ou


mensagem de um fato escrito por vários autores, em épocas distintas em
que cada um narra os fatos, em ângulos não coincidentes. Temos como
exemplo as narrativas de Mc 10.46 e Lc 18.45, onde o primeiro descreve
“saindo de Jericó” e o segundo “chegando a Jericó”.
d) aplicação: é o passo que nos leva a buscar mudança de atitude e
de ações em função da verdade descoberta. É a resposta através da ação
prática daquilo que se aprendeu. Um exemplo simples da aplicação é o de
pedir perdão e reconciliar-se com alguém; adoração a Deus.
O Método Sintético aborda cada livro como uma unidade inteira e
procura entender o seu sentido como um todo. Procura analisar o livro de
forma global. É o método telescópico.
O Método Temático estuda um tema específico, ou seja, no estudo
do livro terá um tema específico definido, como por exemplo, temos a FÉ:
a) Salvadora (Ef 2.8), b) Comum (Tt 1.4), c) Pequena (Mt 14.28-31), d)
Grande (Mt 15.21-28), e) Crescente (2Ts 1.3).
O Método Biográfico aborda narrativas e exposições biográficas de
personagens bíblicos, seguindo os seguintes passos: 1. Escolha a pessoa que
você vai estudar e estabeleça limites do estudo (Ex: Vida de Davi, antes de
tornar-se rei). Usando concordância uma concordância ou índice
enciclopédico. Anote todo e qualquer pormenor que notar sobre esta
pessoa. 2. Com divisão em parágrafos, escreva um breve esboço da vida da
pessoa.126
O Método Histórico estuda o sentido histórico de livros ou
passagens bíblicas. Consideram-se os fatos contemporâneos, lugares,
tendências, movimentos e outras questões.
O Método Teológico estuda onde sistematizam as doutrinas
bíblicas claramente expressas no texto canônico.
O Método Devocional de estudo da Bíblia com fins de aplicar várias
passagens às necessidades particulares do crente. “Nenhuma profecia da
Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi
produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus
falaram movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20,21).

126
Às vezes, tomando o contexto do texto, é o suficiente para uma interpretação
correta. Outras vezes será necessário lançar mão do capítulo inteiro, ou do livro inteiro, ou ainda
a Bíblia inteira.
139

O Método Indutivo baseia-se na convicção de que o Espírito Santo


ilumina quem examina as Escrituras com sinceridade, e que a maior parte
da bíblia não é tão complicada que quem sabe ler não possa entendê-la (At
17.10,11). A unidade literária menor, que o Estudo Bíblico Indutivo (EBI)
emprega é a palavra, organizadas em: palavras (unidade menor), frases
(reunião de palavras que formam um sentido completo), período (reunião
de frases ou orações que formam sentido completo) e parágrafos (um
discurso ou capítulo que forma o sentido completo, e que usualmente se
inicia com mudança de linha).

4.5 Caminhos Analíticos Hermenêuticos127

Veremos a seguir, como a hermenêutica se relaciona com outros


campos de estudo Bíblico a fim de atingir seu objetivo; a genuína
interpretação do Texto Sagrado. Relação da Hermenêutica com outros
campos de estudo bíblicos
Crítica textual. Vê se o texto é o melhor em grego, o mais próximo
ao original.
Crítica Histórica. Quando foi escrito? Por que foi escrito? Quem foi o
autor? Para quem escreveu?
Exegese Bíblica e Sistemática. Depois de definir os aspectos
históricos, chegamos à exegese. De uma correta exegese depende a minha
teologia.
Cânon. Não nos compete mais a pesquisa para determinar os livros
canônicos (inspirados). Existem muitos livros inspirados que não foram
incluídos no cânon bíblico pelo fato de se tratarem de problemas
específicos para aquela região, igreja ou pessoa. É importante frisar que
esta área precede todas as demais, pois ela diferencia os que trazem e não
trazem o selo de inspiração divina.

4.6 A Crítica Textual128

127
Cf. Por quê estudar Hermenêutica e Exegese? Ciro Zibordi - EBD e Escatologia,
Youtube in: https://encr.pw/WeKZ4
128
Cf. Perdemos os Originais da Bíblia! E Agora? [Crítica Textual - Aula 01]. Dois Dedos
de Teologia, Youtube in: https://encr.pw/MjN9T
140

Crítica textual é a ciência que estuda as possíveis mudanças que


ocorrem com o texto bíblico. A Crítica Textual é a tentativa de averiguar o
fraseado de um texto antigo. É necessário porque não possuímos os
autógrafos dos manuscritos bíblicos, apesar de termos várias cópias dos
originais. Mediante cuidadosa análise, os críticos textuais executam este
árduo serviço, proporcionando uma interpretação que se aproxima
intimamente dos Textos Sagrados.
Crítica Histórica é aquela que estuda os fatos históricos envolvidos
com o texto. Quem escreveu? Para quem escreveu? Em que circunstâncias?
Os eruditos estudam a autoria de um livro, a data de sua composição, a
autenticidade de seu conteúdo, e sua unidade literária.
A compreensão do que lemos e ouvimos é geralmente espontânea,
por isso é comum alguns bloqueios a essa compreensão do significado, o
que nos torna cônscios da necessidade de entender esse processo para
compreender a necessidade da hermenêutica na busca do significado
primitivo da mensagem. A Hermenêutica é, em essência, uma codificação
dos dispositivos empregados nos processos próprios para entender o
significado de uma comunicação.
1. Histórico. Estamos largamente separados no tempo, da época dos
escritores bíblicos. A Bíblia cobre um período de cerca de 1.500 anos. Com o
tempo, muita coisa se perde. Quando compreendemos os fatos históricos,
podemos compreender melhor os fatos bíblicos.
2. Cultural. Um dos mais difíceis a serem transpostos, pois esse
abismo se dá diante do resultado de significativas diferenças entre a cultura
distinta dos povos bíblicos, antigos hebreus e a nossa. Cada um de nós vê
aquilo que estamos condicionados a ver, a falha em reconhecer aquele
ambiente cultural ou nosso próprio, assim como a diferença entre ambas,
pode resultar em grave compreensão errônea do significado das palavras
bíblicas. O ideal é nos colocarmos em uma posição neutra.
a) costumes: (Gn 15.2) foram achados documentos na cidade
enterrada de Nuzu (c. 2000-1500 a.C.), que mostraram que o costume
daquela época era adotar um filho quando não se tinham filhos legítimos
para herdar a herança. Se, porém, o primogênito nascesse, o adotado
passaria para segundo plano. (Gn 31.34) ídolos do lar (no heb. terafins),
eram pequenos objetos que serviam como documentos que comprovam a
posse das terras e propriedades. Raquel roubou a herança de seu pai. (Pv
22.28) Marcos das propriedades das terras. O documento que garantia o
141

terreno, assim como as escrituras de uma casa de hoje. (Dt 22.5) Naquela
época, as roupas dos homens e mulheres eram iguais, a diferença estava
apenas nas roupas íntimas. Muitos naquela época, como hoje, usavam as
roupas íntimas do sexo oposto por perversão.
b) pensamento: a maneira oriental de pensar é totalmente diferente
da ocidental. Silogismo é a análise de argumento formal baseando-se na
proposição de uma premissa maior e de outra menor, as quais se
verdadeiras levam à conclusão de que determinado fato é verdadeiro.
Silogismo é a estrutura do pensamento grego. Premissa maior: toda virtude
é louvável. Premissa menor: ora, a bondade é virtude! Conclusão: logo, a
bondade é louvável
No AT não existe silogismo. No Velho Testamento a lógica
baseia-se na experiência humana e não no raciocínio dedutivo. O
pensamento hebraico é um pensamento concreto e não abstrato. O hebreu
aceita o fato quando este fato se traduz em experiência. O que é Deus para
estas pessoas? Davi (Deus é o meu refúgio e minha fortaleza), Moisés (o
Senhor é forte e poderoso), Hagar (Deus é um Deus que ouve).
Personagens bíblicos não estão preocupados com a fisionomia,
mas de acordo com a experiência de cada um. Somos conhecidos como o
povo da Bíblia (lição, ano bíblico). Temos conseguido viver isto em nossa
vida, nossa experiência diária. Este conhecimento de nada nos aproveitará
se não traduzirmos este conhecimento em vida. É por isso que não devemos
fazer certas perguntas à Bíblia. Ex.: Como foi a fusão em Cristo
(Humanidade e Divindade)?
3. Linguístico (hebraico, aramaico e grego). As três línguas possuem
estruturas e expressões idiomáticas muito diferentes de nossa língua. Nas
melhores traduções há problemas. Idiomatismo é uma expressão específica
de uma língua, de um povo, isso pode acontecer ao traduzirmos expressões
de outras línguas, caso o leitor ignore frases como “O Senhor endureceu o
coração de Faraó”. Falta de equivalência entre as palavras traduzidas. 1Pe
1.20 (epílucis) iniciativa, impulso. Nenhuma profecia da Escritura foi feita
pelos profetas à sua conta, mas iluminados por Deus.
4. Filosófico. Esta laguna é significativa e também carece de atenção
especial. Indagações acerca da vida, das circunstâncias, da natureza do
universo diferem entre várias culturas. Para transmitir eficazmente a
mensagem de uma cultura para outra, o hermeneuta deve estar cônscio das
diversidades, similaridades e dos contrastes cosmovívicos.
142

4.7 A Exegese Bíblica129

Exegese da Língua Hebraica parece complicado! Mas para quem já


estudou hebraico e conhece o mínimo necessário (o alfabeto, como se lê e
escreve e já é introduzido nas classes gramaticais) o exercício exegético é
muito mais simples do que a própria aprendizagem da língua bíblica.
O conhecimento em hebraico e grego é necessário, enquanto
disciplinas teológicas, exatamente por proporcionar informações que
podem ser extraídas diretamente do texto escrito na língua bíblica, na
língua encontrada no texto original. É esse domínio que viabiliza o estudo
exegético do texto bíblico, ou seja, o estudo com os recursos hermenêuticos
e gramaticais próprios da língua bíblica.
Exegese é a interpretação profunda de um texto bíblico, jurídico ou
literário. Originalmente o termo exegese significava revelar o sentido de
algo ligado ao mundo do ser humano, mas a prática se orientou no sentido
de reservar a palavra para a interpretação dos textos bíblicos, considerada,
historicamente, a primeira tarefa da exegese. Somente depois é que os
exegetas começaram a se dedicar à interpretação dos outros tipos de textos.
Assim, desde o século II da Era Cristã exegese passou a ser entendida como
a ferramenta ou nome dado à interpretação das Sagradas Escrituras.
A palavra exegese vem do grego “exegeisthai”, que significa
“explicar, interpretar”. A exegese é o processo de interpretar e explicar um
texto, especialmente um texto religioso. No contexto bíblico, a exegese é o
processo de interpretar e explicar a Bíblia. A exegese é uma disciplina
importante no estudo da Bíblia. Ela ajuda os leitores a compreender o
significado do texto bíblico e aplicá-lo à sua vida. A exegese também ajuda
os leitores a entender a história, a cultura e a teologia do texto bíblico.
Existem muitas diferentes escolas de pensamento sobre a exegese.
Algumas escolas de pensamento enfatizam o significado literal do texto
bíblico, enquanto outras enfatizam o significado espiritual do texto bíblico.
Algumas escolas de pensamento enfatizam o contexto histórico do texto
bíblico, enquanto outras enfatizam o contexto teológico do texto bíblico.
Vale-se, pois, do conhecimento das línguas originais (hebraico,
aramaico e grego), da confrontação dos diversos textos bíblicos e das

129
Cf. a exposição sobre essa temática no vídeo: O que é Hermenêutica e Exegese? Pr.
Osiel Gomes, Youtube. in: https://l1nq.com/dZIjh
143

técnicas aplicadas na linguística e na filosofia. Em síntese, exegese bíblica


é ao mesmo tempo ciência e arte. É ciência por possuir objeto e métodos
próprios, sendo seu objeto o texto sagrado e seus métodos, por excelência,
o histórico-crítico e o histórico-gramatical. É arte por demandar talento,
sensibilidade e insights pessoais, próprios do exegeta, todos relevantes no
processo interpretativo.
Pré-requisitos de crença para se fazer exegese. Os textos bíblicos,
em termos de estrutura literária, possuem características próprias das
épocas em foram produzidos, o que os torna semelhantes a muitos outros
textos que lhes são contemporâneos, contudo, igualmente os mesmos
textos possuem peculiaridades, conteúdos que não são encontrados
noutros textos justamente por ser revelação de Deus. Desse modo, o
exercício da exegese bíblica exige como pré-requisito um conjunto de
crenças específicas. O quadro, a seguir, indica quais são estas crenças:
Deus existe e atua na História: Antes mesmo de iniciar a tarefa de
interpretação, o exegeta deve crer que Deus existe e atua na história de
modo que os relatos de milagres e profecia são reais, são possíveis; fazem
parte da história como manifestação de sobrenaturalidade e, não, como
lenda ou mito, conforme alguns sugerem.
Revelação Progressiva: A Revelação de Deus é Progressiva, isto é, em
cada texto, cada experiência e em cada chamado divino de algum
personagem Deus se revelou progressivamente. A revelação não foi dada de
uma única vez. Isto requer que o exegeta leia o texto bíblico comparando as
suas diferentes partes ou ao mesmo tempo em que considera a sua unidade
em termos de propósito soberano de Deus e em termos hermenêuticos,
interpretativos.
Os textos são autoritários: Ora, se os textos bíblicos, por si só, já são
considerados revelação de Deus, segue-se que é porque foram inspirados
pelo próprio Deus, por conseguinte, possuem autoridade sobre os que neles
creem. Assim, se os autores bíblicos foram movidos pelo Espírito, então
seus escritos são infalíveis, no sentido de serem usados no anúncio da
verdade de Deus a quem ainda não a conhece e são inerrantes, no sentido
de não possuírem erros que contradigam essa verdade divina.
História da redenção: Ao crer que a Bíblia é revelada e inspirada e
possui autoridade máxima para a fé, o exegeta se depara com a história da
Redenção, isto é, com um compêndio de registros dos atos redentores de
Deus na história que culmina em Cristo que, igualmente, deve ser crido
144

como a substância de todos os tipos e símbolos do AT, do pacto da graça e


de todas as promessas, sendo o centro, o escopo e alma das Escrituras.
Todo texto possui um só sentido: O exegeta deve ler e estudar a Bíblia
não como leria um manual de ciências, mas como um livro teológico.
Sempre ciente que cada texto bíblico tem um sentido único. A Confissão de
Fé de Westminster afirma: “o sentido de qualquer texto da Escritura não é
múltiplo, mas único”. Seu sentido é aquele intencionado pelo autor, e todos
os intérpretes devem procurar chegar. Para isso, é preciso respeitar o texto
em sua perspectiva, mensagem e demandas.

4.8 O Comportamento do Exegeta130

A grande tarefa do intérprete é buscar a verdade do texto;


incansavelmente e com humildade para poder praticá-la e transmiti-la a
outros. Mas de que modo isto é feito? Se já se parte do princípio de que todo
texto bíblico possui um sentido, o do autor inspirado, como se busca a
verdade do respectivo texto?
É preciso compreender que perfeita e completa é somente a Bíblia,
a palavra de Deus. Qualquer trabalho interpretativo está limitado ao tempo
e ao espaço do exegeta. Neste caso é correto afirmar que, nesta vida, a
verdade nunca será totalmente, absolutamente, completamente alcançada
por ninguém. O que o estudante vê é um prisma, um ângulo da verdade, já
ciente que se possuir uma postura investigativa, ele sempre poderá
conhecer ou aprender algo mais da mesma verdade.
E realmente, o exegeta é movido por um desejo constante de ir
além do já alcançado, de chegar até onde lhe seja possível, ciente que sua
busca é um processo contínuo, que nunca se encerra. Daí a necessidade
concomitante de humildade que está, entre outras coisas, em reconhecer
que pode não estar lendo com exatidão, estar errado, mesmo em sua
leitura, e, portanto, está pronto a ser esclarecido ou corrigido pela ajuda de
outros, estando disposto e sempre aberto a mudar a sua compreensão.
Acima de tudo, é preciso se lembrar de que a busca da verdade do
texto está voltada para a prática na vida pessoal do exegeta e o
compartilhamento com a Igreja dos resultados interpretativos
encontrados; do contrário, não faz o menor sentido realizar exegese. Mas

130
Cf. A exegese bíblica é um exercício de dissecação textual? | Manuel Alexandre
Júnior. Vida Nova, Youtube in: https://l1nq.com/KJjGz
145

não só isso caracteriza a atitude do exegeta. Há um conjunto de atitudes


que definem os pré-requisitos de comportamento que o intérprete deve ter
diante do estudo do texto bíblico.
Assumir uma postura crítica. É importante que o exegeta, diante do
texto bíblico, diante de sua própria tradição interpretativa e diante de si
mesmo (que leva sempre para suas leituras as suas preconcepções e
pré-compreensões) sempre assuma uma postura crítica. Nada deve ficar
sem questionamento.
Nenhuma dúvida deve deixar de ser expressa, nenhuma pergunta
deve deixar de ser feita, nenhum problema deve deixar de ser levantado
desde que pertinente ao texto em exame do texto. Não há o que temer com
relação ao texto ou à verdade do qual é portador, pois o texto e sua verdade
são capazes de suportar qualquer escrutínio sério ao qual sejam
submetidos.
Abertura ao texto. Ir ao texto desarmado e sem levar ideias prévias a
ele é fundamental. Já é sabido que não existe imparcialidade interpretativa,
principalmente por causa das crenças implícitas e preconcepções do
exegeta, mas é importante a postura de humildade dizendo a si mesmo:
“Eu não sei, preciso e quero aprender”. Esta é a melhor atitude inicial.
Atenção. Ir ao texto com foco e concentração, sem distrações.
Portanto, os pontos interessantes que surgirem ao longo do estudo, mas
que não tenham a ver com a análise específica que se está empreendendo,
devem ser anotados e guardados para outro momento.
Paciência. O exegeta tem que saber esperar. O trabalho exegético é
longo, complexo, e lento. É preciso meditação no que se lê, investir tempo
na reflexão. Deixar as ideias repousarem, fermentarem, como massa de pão
e de bolo, até que se façam claras. Não adianta querer chegar logo a
resultados concretos e definitivos; não adianta forçar as conclusões a vir.
Primeiro, deve-se procurar ouvir o texto em seu “lá”, e então, com toda a
calma, depois, em nosso “aqui e agora”. Assim, as conclusões surgirão
naturalmente no tempo certo.
Perseverança. Há situações em que o entendimento de um texto é
mais difícil do que se imaginava. Cabe ao intérprete não desanimar ou
mesmo desistir. A tarefa exegética não é simples, mas é altamente
recompensadora.
146

4.9 O Pesquisador Exegeta131

Todo iniciante é tentado a desenvolver um procedimento exegético


errado. Quando ele apenas lê o que muitos comentários dizem como sendo
o significado da passagem e então passa a aceitar a interpretação que mais
lhe agrada, fatalmente já está desenvolvendo um sistema errado de
interpretação com algumas implicações danosas que aparecerão com o
tempo.
Dentre elas, a procura pela interpretação que melhor lhe favorece
em sua preconcepção e o mau hábito de simplesmente tentar lembrar-se
das interpretações oferecidas que, se forem contraditórias entre si, poderão
causar confusão e ressentimento mental no intérprete. Portanto, é preciso
considerar que os comentaristas não são infalíveis; se o intérprete iniciante
já começa errado o pior resultado é a demonstração de que ele não pensa
por si mesmo.
Assim, há, também, uma estrutura de pesquisa que deve ser
assumida pelo exegeta que possui todo um conjunto de regras
interpretativas a serem seguidas. Regras de Interpretação a serem
assumidas pelo intérprete durante a exegese (as regras de interpretação da
Bíblia se dividem em quatro categorias: gerais, gramaticais, históricas e
teológicas. É necessário que o exegeta se familiarize com essas regras):
Regras Gerais: A Bíblia é seu intérprete; a Escritura explica melhor a
Escritura. A fé salvadora e o Espírito Santo são necessários para
compreendermos e interpretarmos bem as Escrituras. Interprete a
experiência pessoal à luz da escritura, e não a Escritura à luz da experiência
pessoal. Os exemplos bíblicos só têm autoridade quando amparados por
uma ordem. O propósito primário da Bíblia é mudar as nossas vidas, não
aumentar o nosso conhecimento.
Cada cristão tem o direito e a responsabilidade de investigar e
interpretar pessoalmente a Palavra de Deus. A história da Igreja é
importante, mas não decisiva na interpretação da Escritura. As promessas
de Deus na Bíblia toda estão disponíveis ao Espírito Santo a favor dos
cristãos de todas as gerações.

131
Exegese da NPP | EP010 Podcast Com Texto. Paulo Won | Didaskalia, Youtube. in:
https://l1nq.com/VeNr7
147

Regras Gramaticais: A Escritura tem somente um sentido, e deve ser


tomada literalmente.132 Interprete as palavras no sentido que tinham no
tempo do autor.133 Interprete a palavra em relação à sua sentença e ao seu
contexto. Interprete a passagem em harmonia com o seu contexto. Quando
um objeto inanimado é usado para descrever um ser vivo, a proposição
pode ser considerada figurada. Quando uma expressão não caracteriza a
coisa descrita, a proposição pode ser considerada figurada. As principais
partes e figuras de uma parábola representam certas realidades. Considere
somente as principais partes e figuras quando estiver tirando conclusões.
Interprete as palavras dos profetas no seu sentido comum, literal e
histórico, a não ser que o contexto ou a maneira como se cumpriram
indiquem claramente que têm sentido simbólico. O cumprimento delas
pode ser por etapas, cada cumprimento sendo uma garantia daquilo que há
de seguir-se.
Regras Históricas: Desde que a Escritura originou-se num contexto
histórico, só pode ser compreendida à luz da história bíblica. A revelação de
Deus nas Escrituras é progressiva e tanto o AT como o NT são partes
essenciais desta revelação formando uma unidade. Os fatos históricos se
tornam símbolos de verdades espirituais, somente se as Escrituras assim os
designarem.
Regras Teológicas: Uma doutrina não pode ser considerada bíblica, a
não ser que resuma e inclua tudo o que a Escritura diz sobre ela. Quando
parecer que duas doutrinas são contraditórias, aceite ambas como
escriturísticas, crendo que elas se explicarão dentro de uma unidade mais

132
Leitura literal distingue-se de leitura literalista. A leitura literal reconhece, respeita
e valoriza os diversos gêneros literários dos textos bíblicos. A leitura literalista toma
ingenuamente tudo ao pé da letra, pelo seu valor de face. Uma interpretação bíblica que se possa
verdadeiramente chamar de literal muitas vezes será figurada ou simbólica. Pois a Bíblia é um
texto religioso. E a linguagem religiosa é figurada ou simbólica por excelência, visto tratar do
inefável. Só se pode falar de Deus e das coisas de Deus de maneira aproximativa.
133
O intérprete deve descobrir o significado do texto estudado. Para isto é fundamental
que ele considere o que o escritor bíblico quis dizer ao produzir o referido texto e comparar com
outros textos produzidos pelo mesmo autor. O que Lucas registrou em seu Evangelho poderá ser
mais esclarecedor se comparado com Atos (outro registro de Lucas). Deve-se levar em conta os
idiomas da época: aramaico, hebraico e grego, afinal eles possuem um significado que não pode
variar. Por outro lado, também se deve considerar que o texto não está limitado à cultura
temporal e local. Por exemplo: em Efésios 5.18: “Não vos embriagueis com vinho”, o exegeta
precisa considerar que a recomendação de Paulo, por ser inspirada, vai além de sua consciência.
Isto significa que, embora essas implicações não contradigam o significado original, antes fazem
parte do texto, o objetivo do apóstolo é o estabelecimento de um mandamento, um princípio,
pois mesmo que o autor não esteja ciente das circunstâncias futuras como o uso de outros tipos
de bebida alcoólica, ele transmitiu exatamente a sua intenção, o mau uso pela embriaguez.
148

elevada. Um ensinamento implícito na bíblia pode ser considerado quando


uma comparação de passagens correlatas o apoia.

4.10 Como Fazer Exegese?134

Depois de conhecer os fundamentos ou princípios que conceituam


e caracterizam a exegese, é chegado o momento de aprender a fazer
exegese. Não basta apenas assumir uma postura investigativa, é preciso, de
fato, investigar, e para tanto, do mesmo modo que há regras a serem
seguidas nos pré-requisitos vistos no capítulo anterior, aqui também há
regras a serem seguidas no labor exegético.
Interpretar lexicalmente é conhecer, por meio de gramáticas e
dicionários (hebraico/grego/português) a etimologia das palavras, o
desenvolvimento histórico de seu significado e o seu uso no texto estudado.
Em síntese, interpretar lexicalmente passa pela análise morfológica do
texto pelo uso das classes gramaticais da língua bíblica em que o texto está
escrito. Neste momento é fundamental o bom conhecimento de português e
da língua bíblica em que se encontra o texto.135

4.11 A Análise Lexical e Sintática136

a) Significado de cada palavra: O intérprete deve buscar o


significado etimológico de cada palavra, seu significado no contexto bíblico
e seu significado em seu contexto, sua contemporaneidade. Este é o
primeiro passo para sua análise morfológica.
b) Determinar a forma literária geral: O intérprete deve determinar a
forma literária geral. Exemplos: Palavra no seu sentido literal: Coroa de
ouro na cabeça do rei; Palavra no seu sentido figurativo ou simbólico (se
houver no texto): Não me chame de coroa, pois eu sou muito novo; “vi uma
coroa de 7 pontas que eram 7 nações”.
Depois de estudado lexicalmente, o texto deve ser estudado
sintaticamente com gramáticas (Hebraico, Grego, Português). A

134
Cf. Como Fazer a Exegese do Texto Bíblico do Jeito Certo. Thalles Villas, Youtube in:
https://l1nq.com/R779T
135
No uso dos dicionários é importante ficar atento ao significado da palavra
pesquisada nos diferentes períodos da língua bíblica e nos diferentes autores do período.
136
Cf. O que é Léxico. Morgana Rodrigues, Youtube in: https://l1nq.com/mtzru
149

interpretação sintática é o estudo das palavras enquanto elementos de uma


frase e o estudo das suas relações de concordância, de subordinação e de
ordem. Portanto, depois de compreender a definição das palavras
(lexicologia) é o momento de compreender a sua relação com as outras
palavras (sintaxe) para que se entenda melhor o sentido do texto.137
a) Descobrir as divisões naturais do texto: O intérprete deve observar
as divisões naturais do texto, pois as divisões em versículos e capítulos,
normalmente muito úteis na localização de passagens, costumam
atrapalhar a pesquisa dividindo o texto de modo diferente do original.
Algumas versões ajudam, pois mesmo mantendo a numeração de
versículos, organizam o texto em parágrafos. Ex.: At 8.1 depende
completamente de At 7.60.
b) Conectivos: O intérprete deve observar os conectivos dentro de
parágrafos e sentenças, isto é, as palavras usadas para ligar e dar sentido às
frases, pois em muitos casos, a sutileza desses conectivos revela a intenção
do autor ou do tradutor.
c) Sentido das palavras: O intérprete deve buscar o sentido das
palavras no contexto apontado pelo texto. Exemplo: quando “carne”
refere-se ao corpo humano e quando se refere à natureza pecaminosa. Para
isso, deve procurar entender os estilos literários diversos observando se a
palavra está sendo utilizada como parte de uma figura de linguagem ou
não. O sentido da palavra ainda é complementado quando são estudadas
passagens bíblicas paralelas.

4.12 Interpretar Historicamente138

Interpretar historicamente é descobrir quais foram as


circunstâncias para um determinado escrito ter sido produzido. Aqui,
especificamente o texto bíblico. Para isso é necessário conhecer as
maneiras, os costumes, e a mentalidade do povo no meio do qual o escrito
foi produzido.139 Análise Histórica:

137
A função das gramáticas não é determinar as leis da língua, mas expô-las. Primeiro
a linguagem se desenvolveu como um meio de expressar os pensamentos da humanidade, depois
os gramáticos escreveram as leis e princípios da língua com sua função de exprimir ideias.
138
Cf. Como interpretar a Bíblia? - Augustus Nicodemus. Igreja Presbiteriana de Santo
Amaro, Youtube in: https://encr.pw/7czGh
139
A mentalidade de uma pessoa inclui suas crenças, sua compreensão sobre
cronologia, seus métodos de registrar a história, seus usos de figura de linguagem e os tipos de
literatura que usa para expressar seus pensamentos.
150

a) Investigar o contexto histórico-cultural: O intérprete deve


investigar o contexto histórico-cultural. Em sua análise geral deve
procurar saber sobre: a situação política, econômica e social; os costumes
relacionados ao texto em questão; o nível de comprometimento espiritual
do “público alvo”. Em sua análise específica, deve procurar saber sobre:
quem foi o autor? Qual era seu ambiente e sua experiência espiritual? Para
quem estava escrevendo? (Crentes fiéis, crentes em pecado, incrédulos,
apóstatas, etc.). Qual foi a finalidade (intenção) do autor ao escrever este
livro?
b) Diferenciar tipos de textos: O intérprete deve distinguir textos
descritivos de textos prescritivos. Textos prescritivos expressam ordem,
ações que podem ser seguramente praticadas. Textos descritivos não
expressam tais ações. Exemplos: A ação de Deus numa passagem narrativa
nem sempre significa que Ele sempre opera deste modo com os cristãos. As
ações humanas descritas na Bíblia, se não forem claramente aprovadas por
Deus, devem ser avaliadas, pois não são prescritivas. Afinal, a Bíblia
também registra os erros dos homens de Deus.
c) Diferenciar detalhes: O intérprete deve distinguir o núcleo de
ensino de uma passagem de detalhes incidentais. Exemplo: Uma vez que o
filho pródigo voltou para o Pai sem a necessidade de um mediador, então
alguém poderia concluir que Jesus não é essencial para a salvação. Mas o
núcleo do ensino é o arrependimento e a consciência de que o ambiente
anterior, isto é, na presença do pai e em casa, a vida era vivida
corretamente. Crer ou afirmar que Jesus não é essencial para a salvação
além de ser um detalhe incidental é, também, uma heresia decorrente de
interpretação equivocada.
d) Público-alvo: O intérprete deve buscar saber quem foi o
público-alvo do autor, a quem se destina o texto quando foi produzido, a
quem se destina cada promessa, sentença, ordenança, etc.

4.13 Interpretar Contextualmente140

A interpretação contextual é a sequência natural da interpretação


histórica. Depois de compreender os dados históricos que dão razão para a
produção do texto bíblico estudado, a interpretação contextual é feita com

140
Cf. O que você precisa saber para interpretar a Bíblia corretamente. Ciro Zibordi -
EBD e Escatologia, Youtube. in: https://encr.pw/QB9CS
151

o objetivo de compreender o pensamento ou ideia central exposta em todo


o respectivo texto.141 Análise contextual:
a) Exame do contexto: O intérprete deve ler o texto estudado em pelo
menos 3 traduções diferentes. Feito isto deve lançar as perguntas: O que
precede e se segue imediatamente à passagem? Há algumas definições
fornecidas pelo contexto imediato? Qual é o argumento principal do
capítulo inteiro? Qual é o ponto principal da própria passagem? Qual é o
entendimento consistente da passagem no contexto?
b) A mensagem do contexto imediato: O intérprete deve
compreender a mensagem do contexto imediato do texto. Deve procurar:
entender como o conteúdo do livro está organizado (montar um esboço por
assunto); saber contextualizar a passagem em análise a partir da
argumentação corrente o autor; saber identificar a perspectiva do autor que
pode ser: “numenológica”: trata-se da perspectiva divina, absoluta
(geralmente relacionada a questões morais); fenomenológica: trata-se da
perspectiva humana, relativa (relacionadas a questões naturais, físicas).

4.14 Interpretar a Analogia da Escritura142

A Bíblia é sua própria intérprete de acordo com o princípio


hermenêutico. A bíblia deve ser usada como recurso para entender ela
mesma. Uma interpretação bizarra que entra em choque com o ensino total
da Bíblia está praticamente fadada ao erro. Um conhecimento acurado do
ponto de vista bíblico é a melhor ajuda.
O intérprete deve sempre perguntar a si mesmo: a minha
interpretação faz essa passagem contradizer com o próprio autor, com
outras passagens bíblicas ou mesmo com o bom senso? Quais são as outras
passagens na Bíblia que lançam luz sobre os assuntos levantados neste
texto que estou estudando?

141
Por isso é preciso desconsiderar parcialmente a tradicional divisão em versículos e
capítulos, pois esta acaba, acidentalmente, sugerindo que cada versículo é uma entidade de
pensamento separados dos versículos anteriores e posteriores. E isto atrapalha a descoberta da
delimitação do pensamento do autor.
142
Cf. Ler, Explicar e Aplicar o Texto Bíblico - Hernandes Dias Lopes. Ministério Fiel,
Youtube in: https://encr.pw/qlLlo
152

4.15 As Linguagens da Bíblia143

Parte esmagadora dos doutrinadores concorda que a Palavra de


Deus pode ser interpretada nos sentidos, a saber: literal, simbólico,
figurado, pleno e acomodatício.
a) Literal: Sentido inerente às palavras, expressão pura e simples da
ideia do autor. Ex: Foi colocada na cabeça do Rei uma coroa cintilante de
jóias.
b) Figurativo: (Um pai bravo com o filho) “Na próxima vez que me
chamar de coroa vai ver estrelas ao meio dia”.
c) Simbólico: “viu-se um grande sinal no céu, a saber, uma mulher
vestida de sol com a lua debaixo de seus pés e uma coroa de doze estrelas na
cabeça” (Ap 12.1).
d) Pleno: Fundado no literal, mas que tem um aprofundamento não
revelado pelo autor. Deus. A palavra do profeta refere-se a uma situação
histórica; a palavra de Deus refere-se ao futuro.
e) Acomodatício: Quando a Bíblia é aplicada à realidade apenas pela
coincidência dos textos. Por exemplo, em Mateus se lê “do Egito chamei
meu filho” [...] Para que se cumprisse a Escritura. Mas o sentido, ou seja, a
aplicação original deste trecho não se referia ao Filho de Deus, mas à saída
do Egito.

4.16 Métodos Clássicos de Interpretação144

Métodos de Interpretação eficiente e coesa. Método é a maneira


ordenada de fazer alguma coisa. É um procedimento seguido passo a passo,
cujo objetivo é levar o estudante a uma conclusão. Durante séculos os
eruditos procuraram todos os métodos possíveis para desvendar os
tesouros da Bíblia e arquitetar meios de descobrir os segredos.
Método Analítico. Analisar algo é estudar em seus pormenores,
detalhe por detalhe, tendo o cuidado de anotar os aspectos por menores que
eles sejam e por mais insignificantes que eles pareçam ser. Os passos
básicos deste método são:

143
Cf. As três linguagens da Bíblia. Pr. Paulo Damasceno, Youtube in:
https://l1nq.com/KEjRt
144
Cf. Métodos e técnicas Clássicos de interpretação (Hermenêutica). Prof. Luiz
Gonzaga Medeiros Bezerra Cunha, Youtube in: https://l1nq.com/8PVyV
153

a) observação: É o passo que nos leva a extrair do texto o que


realmente descreve os fatos, levando também em conta a importância das
declarações do texto.
b) interpretação: É o passo que nos leva a buscar a explicação e o
significado (tanto para o autor quanto para o leitor) para entender a
mensagem central do texto lido. A interpretação deverá ser conduzida
dentro do contexto textual e histórico com oração e dependência total do
Espírito Santo, analisando o significado das palavras e frases chaves,
avaliando fatos, investigando os pontos difíceis e incertos, resumindo a
mensagem do autor a seus leitores originais e fazer contextualização
(trazer a mensagem a nossa época ou nosso contexto).
c) correlação: É o passo que nos leva a comparar as narrativas ou
mensagem de um fato escrito por vários autores, em épocas distintas em
que cada um narra os fatos, em ângulos não coincidentes. Temos como
exemplo as narrativas de Mc 10.46 e Lc 18.45, onde o primeiro descreve
“saindo de Jericó” e o segundo “chegando a Jericó”.
d) aplicação: É o passo que nos leva a buscar mudança de atitude e
de ações em função da verdade descoberta. É a resposta através da ação
prática daquilo que se aprendeu. Um exemplo simples da aplicação é o de
pedir perdão e reconciliar-se com alguém; adoração a Deus. É o método
microscópico.
O Método Sintético. Aborda cada livro como uma unidade inteira e
procura entender o seu sentido como um todo. Procura analisar o livro de
forma global. É o método telescópico.
O Método Temático. É o método de estudo de um tema específico,
ou seja, no estudo do livro terá um tema específico definido, como por
exemplo, temos a fé: a) salvadora (Ef 2.8), b) comum (Tt 1.4), c) pequena
(Mt 14.28-31), d) grande (Mt 15.21-28), e) crescente (2Ts 1.3).
O Método Biográfico. Abordam narrativas e exposições biográficas
de personagens bíblicos, seguindo os seguintes passos: 1. Escolha a pessoa
que você vai estudar e estabeleça limites do estudo (Ex: Vida de Davi, antes
de tornar-se rei). Usando concordância uma concordância ou índice
enciclopédico. Anote todo e qualquer pormenor que notar sobre esta
pessoa. 2. Com divisão em parágrafos, escreva um breve esboço da vida da
pessoa.145

145
Às vezes, tomando o contexto próximo do texto, é o suficiente para uma
interpretação correta. Outras vezes será necessária leitura/estudo do capítulo inteiro, do livro
154

O Método Histórico. É o método de estudo com sentido histórico de


livros ou passagens bíblicas. Consideram-se os fatos contemporâneos,
lugares, tendências, movimentos e outras questões.
O Método Teológico. É o método de estudo onde se sistematizam as
doutrinas bíblicas.
O Método Devocional. É o método de estudo da Bíblia com fins de
aplicar várias passagens às necessidades particulares do crente. “Nenhuma
profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca
foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus
falaram movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20,21).
O Método Indutivo. Baseia-se na convicção de que o Espírito Santo
ilumina quem examina as Escrituras com sinceridade, e que a maior parte
da bíblia não é tão complicada que quem sabe ler não possa entendê-la (At
17.10,11).
A unidade literária menor, que o Estudo Bíblico Indutivo (EBI)
emprega é a palavra, organizadas em: palavras (unidade menor), frases
(reunião de palavras que formam um sentido completo), período (reunião
de frases ou orações que formam sentido completo) e parágrafos (um
discurso ou capítulo que forma o sentido completo, e que usualmente se
inicia com mudança de linha).
Como se pode notar o estudo de exegese do hebraico não é tão
difícil quanto se imagina no primeiro contato. Obviamente que ao se
deparar com o idioma bíblico veterotestamentário o estranhamento é tão
inevitável quanto natural.
Todavia o contato e aquisição do conhecimento na ortografia e na
gramática gradualmente conduzem à familiarização e, por conseguinte, ao
aprendizado dando condições para se elaborar a tão sonhada exegese, que é
o estudo bíblico por meio das ferramentas da hermenêutica e do uso da
língua bíblica.
E mesmo com todo o conhecimento já adquirido até aqui, o
fundamental para o desenvolvimento da leitura e da escrita é a
perseverança e a continuidade do estudo. E como prova de que você já é um
bem-sucedido no Hebraico, nos despedimos deste módulo com um simples
desejo.

inteiro, ou ainda a Bíblia inteira para a compreensão contextualidade da temática. Contudo, a


regra máxima é: "versículo isolado não fundamenta doutrina”.
155

MÓDULO 5 — HOMILÉTICA146
“Ponha fogo no seu sermão ou ponha seu sermão no fogo.
Eu me coloco em chamas, e o povo vem para me ver queimar.”
—John Wesley147

O termo deriva do grego homilétikos que significa ato de pregar


sermões, discursar, comunicar uma mensagem. Em síntese, é a arte e a
ciência de pregar sermões. O termo Homilética surgiu durante o
iluminismo (as disciplinas teológicas receberam nomes gregos).
A Homilética busca compreender o propósito e o processo de
preparação e apresentação de sermões. A mesma busca entender e integrar
os papéis do pregador, da mensagem e o altar (púlpito criativo), assim
como ajuda o pregador a se preparar espiritualmente para a pregação,
levando-o a desenvolverem sermões fiéis às Escrituras e as apresentá-las
de forma culturalmente aplicável. A Homilética é arte, ciência e técnica e
pedagógico, pois enquanto:
a) ciência: quando considerada sob o ponto de vista de seus
fundamentos teóricos (históricos, científicos, sociais).
b) arte: quando considerado seus aspectos estéticos (a beleza do
conteúdo e da forma).
c) técnica: quando considerada pelo modo específico de sua
execução ou ensino.
d) pedagógico: quando aplicado na excelência da técnica para o
modo específico de ensino.

146
A disciplina da Homilética aqui neste texto vai se preocupar com o que objetivo para
o estudante da teologia, com os assuntos a) tipos e classificação de sermão; b) análise textual e
auxílios extratextuais; c) o propósito e critérios das ilustrações; d) principais elementos da
pregação. Para maiores detalhes, cf. Homilética - Prof. Jilton Moraes | Aula 1. FTRB, Youtube in:
https://encr.pw/Pd88I
147
John Wesley foi um clérigo anglicano e teólogo arminiano cristão britânico, líder
precursor do “movimento metodista” e, ao lado de William Booth, um dos dois maiores
avivacionistas da Grã-Bretanha. Nasceu em Epworth, Inglaterra, em 1703. Ele foi o filho mais
velho de Samuel Wesley, um clérigo anglicano, e Susanna Wesley, uma mulher devota e
intelectual. Wesley foi educado na Charterhouse School e na Christ Church, Oxford, onde se formou
em 1726. Depois de se formar, Wesley tornou-se um ministro anglicano. Em 1735, ele foi enviado
para a Geórgia, uma colônia britânica na América do Norte, para converter os índios americanos.
No entanto, Wesley teve pouco sucesso em sua missão e voltou para a Inglaterra em 1738. Em
1738, Wesley experimentou uma experiência religiosa que ele chamou de “avivamento”.
156

A disciplina constitui a coroa da preparação ministerial porque


para ela convergem todas as matérias teológicas, a fim de originar,
vivificar, caracterizar, renovar e perpetuar o cristianismo autêntico. A
Homilética é importante devido: seu conteúdo, seu lugar central na
preparação do ministro evangélico, seu objeto.148 Apresentamos quatro
verbos que exemplificam a natureza da pregação bíblica:
a) kerysso (proclamar, anunciar, tornar conhecido). João Batista era
arauto de Deus (Mt 3.1). Jesus era arauto de seu Pai (Mt 4.17). Os doze eram
arautos de Jesus (Lc 24.47).
b) euangelizomai (evangelizar). O pregador do evangelho é o
portador de boas novas, de uma mensagem de salvação e alegria (Is 57.2;
Rm 10.15).
c) katathéto (testemunhar, testificar, ser testemunha). Qualifica-se
através da comprovação de sua experiência. Isto lhe dá credibilidade,
convicção e liberdade no cumprimento de sua missão (Jo 6.69).
d) didaskein (mentorear). Os evangelhos apresentam Jesus como
grande educador (Mt 7.27,28). Os tipos de sermão são pelo menos três:
tópico, textual e expositivo.

5.1 Os Tipos de Sermão149

Sermão tópico. Tópico é a palavra ou expressão que encerra a idéia


básica de um determinado tema (ou delimitação de um assunto). O sermão
tópico pode ser tratado de três formas, conforme a ocorrência do tópico.
Palavras ou frases repetidas em diversos pontos das Escrituras; tópico ou
tema subjacente (cf Cl 1.12-23), onde expressões diferentes denotam
claramente o tópico, o qual não aparece uma vez sequer. Uma só referência
(Ex: Pátria Celeste Fp 3.20).
As vantagens do sermão tópico: a) ajuda o pregador a fazer um
estudo mais adequado, buscando maior embasamento bíblico. b) ajuda o
pregador a manter um ministério equilibrado, desde que sua vida esteja a
serviço do mestre.

148
1. Homilos, que significa “multidão, turma, assembléia do povo" (cf. At 18.17); 2.
Homilia (substantivo grego), que significa “associação”, “companhia” (cf. 1Co 15.33); e 3.
Homileo (verbo grego), que significa “falar”, “conversar” (cf. Lc 24.14s; At 20.11,24.26).
149
Montagem e Pregação Expositiva. Cortes Podcast Jesuscopy, Youtube in:
https://l1nq.com/1KAUs
157

As desvantagens do sermão tópico: a) pode acontecer que


pregador, principalmente mal intencionado, pregue a palavra sem a devida
obediência às escrituras, desenvolvendo idéias extra bíblicas. b) se o
pregador enfatiza demais as suas idéias, corre o risco não só de distorcer,
como contradizer as verdades bíblicas. c) abusar do número de referências
tópicas, tornando assim enfadonho e cansativo, difícil de ser assimilado, e
visivelmente superficial.
Sermão Textual. O sermão textual baseia-se no conteúdo de um
versículo bíblico ou parte dele, porém, este deve impreterivelmente estar
ligado aos demais versículos de uma passagem. Exemplo: Fp 3.7, neste
caso, os contextos anteriores e posteriores são os versos 2-6 e 8-11.
A mensagem será extraída deste versículo, em ligação direta com
seu contexto. O sermão textual pode ser operacionalizado com êxito desde
que observemos os seguintes e importantes pré-requisitos: a) o versículo
deve ter sentido completo; b) deve conter uma mensagem importante; c)
deve relacionar-se com as necessidades daqueles que vão recebê-la.
Vantagens do sermão textual: a) objetividade (pode ser pregado em
pouco tempo sem cansar os ouvintes); b) tem sempre um ponto central
(palavra ou frase) que chama a atenção dos ouvintes; c) seu conteúdo é fácil
de ser assimilado e guardado, devido ao pouco material contido.
Desvantagens do sermão textual: a) ignorar o contexto,
fantasiando o significado do versículo; b) fornecer o significado do
versículo base do sermão; c) não proporcionar uma visão global do
contexto, empobrecendo a mensagem.
Sermão expositivo. É baseado num trecho ou passagem bíblica,
desde que contenha mais de um versículo; pode abranger mais de um
parágrafo, desde que as ideais estejam inter-relacionadas (Ex: Hb 12.1-3), a
partir do texto de Hebreus, observamos que: a) o clímax do verso 1 deve ser
o ponto de partida para exposição de toda a passagem; b) este tipo de
sermão fica adstrito ao seu contexto imediato; c) o texto sempre deve
trazer a ideia central do trecho estudado.
Vantagens do sermão expositivo: a) é um trabalho de conteúdo
mais rico, pois tem por base um trecho e uma passagem, de no mínimo um
parágrafo; seu próprio conteúdo às vezes fornece o contexto imediato. b) é
um sermão bíblico por excelência, estimulando os ouvintes ao estudo das
Escrituras, dada a sua riqueza e conteúdo.
158

Desvantagens do sermão expositivo: a) por causa da quantidade de


material a ser exposto, pode cansar os ouvintes pelo longo tempo de
pregação; b) devido à grande quantidade de material a ser exposto, falta
tempo para a aplicação da mensagem, prejudicando os ouvintes.

5.2 A Classificação do Sermão150

Os sermões podem ser classificados em:


1. Sermão Evangelístico: destinados aos não crentes, visando
levá-los a aceitar Jesus como Salvador.
2. Sermão Pastoral: visa os cristãos salvos, buscando encorajá-los
nas crises da vida cristã, corrigir comportamentos desajustados e
solidificar a fé evangélica.
3. Sermão Didático: Este procura atingir crentes e descrentes,
visando ensinar-lhes todo o conselho de Deus.
4. Sermão Devocional: visa intensificar nos crentes o sentimento de
amorosa devoção a Deus, bem como guiá-los à expressão apropriada da
adoração que o Senhor Deus merece que lhe rendamos.
5. Sermão de Objetivos Específicos: sermão com propósito específico
para a finalidade da reunião.
Contudo, antes de preparar e ministrar uma mensagem, o(a)
pregador(a) precisa: a) saber quais as necessidades dos ouvintes e
compreendê-las; b) saber qual a finalidade da reunião onde irá pregar; c)
fixar objetivos específicos na mensagem.

5.3 A Análise Textual151

Como analisar o texto e contexto? Antes de apontar fontes de


auxílios para o estudo de texto e contexto, precisamos fazer certas
indagações que aguçam nossa curiosidade, concorrendo para uma análise
mais aprofundada do assunto escolhido para a mensagem; dentre outras,
as seguintes perguntas sobre texto e contexto: Quem é o autor do livro ou
palavras? O que se sabe a respeito do autor? Quando foi escrito o livro? Para

150
Cf. Aprenda a Ler, Explicar e Aplicar o Texto Bíblico. Thalles Villas, Youtube in:
https://l1nq.com/9jOEY
151
Cf. O Textus Receptus ou Texto Majoritário? [Crítica Textual - Aula 04]. Dois Dedos
de Teologia, Youtube in: https://encr.pw/s5g8u
159

quem escreveu? Qual a finalidade do livro ou mensagem nela contida? Qual


era a situação social do povo destinatário? Qual a localização geográfica,
cultural e histórica do povo? Qual o gênero de literatura que foi empregado?

5.4 Análise de Auxílios Extrabíblicos152

Destacamos algumas situações em que será necessário analisarmos


alguns instrumentos de pesquisa: a) Muitas vezes o texto e contexto não
fornecem dados suficientes para que seja feita uma análise acurada da
mensagem em estudo. b) Fazer o estudo fora do texto e contexto, vamos
descobrir detalhes importantes sobre o significado de certas palavras. c) O
estudo enriquece a argumentação do pregador na apresentação da
mensagem dando-lhe mais segurança.
Destacamos alguns recursos imprescindíveis nesta análise, tais
como: a) além do texto e contexto, um contexto maior, a própria Bíblia.
Buscando em seus recursos internos tais como: passagens paralelas,
referências reais, rodapé e a própria hermenêutica. b) outra extensão deste
recurso é a concordância bíblica, onde procuraremos através de referências
indicadas, situações símiles de empregos de palavras ou frases que
desejamos aclarar-lhes o significado. c) esgotada a pesquisa dentro da
Bíblia, recorreremos então a consultas em dicionários bíblicos diversos,
traduções e várias versões da Bíblia.

5.5 O Propósito das Ilustrações153

O uso de ilustrações é necessário no escopo de um sermão, haja


vista que o próprio Deus fez reconhecidas verdades cristãs através de
situações ilustrativas e simbólicas como a cruz, o batismo, a Santa Ceia do
Senhor, assim, entendemos que as ilustrações são de grande utilidade em
toda a oratória. Para contextualizarmos o emprego das ilustrações temos
de adiantar algumas informações no que tange a estrutura do sermão, que
será mais bem delineada a seguir:

152
Cf. Comentário bíblico expositivo de Wiersbe ou o expositivo de Hernandes Dias
Lopes? Movimento Pentecostal, Youtube in: https://l1nq.com/ZYyFs
153
Cf. Como obter ilustrações para sua pregação. Thalles Villas, Youtube in:
https://encr.pw/q0rfj
160

Na introdução da mensagem devem ser empregadas ilustrações


com a finalidade de: a) despertar o interesse do ouvinte e ajudar na sua
memorização; b) introduzir o assunto da mensagem; c) convencer o
ouvinte de que a mensagem é importante para a vida dele.
No corpo do sermão, divisões principais devem ser empregadas
ilustrações que levam o ouvinte a: a) entender idéias complexas ou
conceitos de difícil compreensão com validade comprobatória; b)
descansar a mente, após um período de grande esforço e concentração; c)
reacender o interesse para continuar prestando atenção na mensagem;
Na conclusão, as ilustrações visam: a) aplicar a mensagem à vida
dos ouvintes; b) desafiar os ouvintes à mudança de atitudes excitando as
emoções dos mesmos; c) ornamenta o sermão.

5.6 Critérios de Ilustrações154

O emprego de ilustrações tem como objetivo auxiliar a mensagem


bíblica, qualquer coisa que venha a atrapalhar deve ser evitada. Neste
contexto devemos considerar os níveis socioculturais dos ouvintes,
diferenças regionais, conhecimento e domínio das terminologias
empregadas e outros fatores que possam dificultar o entendimento na
aplicação das ilustrações.
Descrevemos alguns critérios para a escolha: a) a ilustração deve
ser facilmente compreendida pelos ouvintes; b) a ilustração deve estar
dentro do campo de experiência dos ouvintes; quando for utilizado um fato
da vida real ou história verídica, estes devem ser verdadeiros, para que as
verdades bíblicas não sejam desacreditadas; c) quando for utilizado uma
fábula, lenda ou conto fictício, deixar bem claro que não é uma história real
e que interessa apenas seu respectivo fundo moral; d) priorizar sempre o
uso das ilustrações bíblicas, pois são fatos verdadeiros, além de despertar o
interesse dos ouvintes em conhecê-las melhor.
De conformidade com sua procedência e meios empregados para
produzi-las, as ilustrações podem ser: Visuais, Verbais e/ou Sonoras.
Existem livros específicos contendo variadas ilustrações, que,
respectivamente, podem ser consultados, mas acreditamos não ser a
melhor escolha, visto que cada pregador, através de suas experiências

154
Como montar uma pregação do zero. JesusCopy, Youtube in: https://encr.pw/6sjIi
161

diárias com Jesus, deve ser capaz de criar e/ou descobrir suas próprias
ilustrações.
Podemos apontar as principais: a) a Bíblia com sua narrativa de
fatos verdadeiros; b) a natureza foi uma constante nas ilustrações de Jesus
e muitos escritores bíblicos; c) a vida diária é uma excelente fonte, Paulo foi
o que mais utilizou este riquíssimo recurso; d) jornais, revistas, rádio,
televisão e outros veículos de comunicação de massa, são muito úteis; e)
bons livros, também são fontes que não podem ser desprezadas.

5.7 Principais Elementos do Sermão155

Para que o pregador coordene e desenvolva bem as ideias da


mensagem e, consequentemente, os ouvintes acompanhem-na e
entendam o que Deus deseja para eles, é imprescindível um arcabouço ou
estrutura esquemática do sermão. Tal esboço compõe-se de quatro partes
essenciais:
TÍTULO. A função do título em uma mensagem é chamar a atenção,
interessar e atrair as pessoas. A principal, entretanto, é sintetizar a ideia
principal do conteúdo a ser ministrado.
INTRODUÇÃO. É certo que na cultura ocidental as coisas só fazem
sentido se houver neles uma visão teleológica, que só pode ser atingida se
houver princípio, meio e fim. Para a pregação de uma mensagem, essa
informação é primordial, pois sem essa informação os ouvintes não
compreenderão o sermão.
A introdução pode ter uma quádrupla finalidade: a) motivação no
sentido de despertar os interesses dos ouvintes; b) indução racional, a idéia
central leva os ouvintes a pensar no assunto; c) persuasão, convencer os
ouvintes de que a mensagem é importante para as suas vidas; d) interação
estabelece contato pessoal entre o pregador e os ouvintes.
Na introdução da idéia central, lançar uma visão genérica do
assunto, sem aprofundamento em algum ponto, pois o estudo detalhado é
da parte adiante.
DIVISÕES PRINCIPAIS (ou tópicos). Esta parte do sermão, também
denominada corpo ou desenvolvimento, é onde se expõe o conteúdo
probatório da mensagem proposta. Enquanto o título encerra a ideia

155
Ingredientes para um Bom Sermão - Pr. Elizeu Rodrigues. BleiaCast, Youtube in:
https://encr.pw/xIIpV
162

central da mensagem, as “divisões principais” são compostas pelas ideias


secundárias, as quais, bem delineadas, vão compor a tese esboçada por
aquele; por isso mesmo, um conjunto entre si, como um sistema
planetário. Seu propósito principal é facilitar a compreensão do sermão.
São características de divisões principais bem feitas: a) deve
relacionar com um só tópico ou ideia central contida na mensagem; b)
devem formar unidade entre si e o título, Isto é, algum termo ou expressão
significante deve estar presente em todos eles; c) devem ser frases simples,
de fácil compreensão e memorização; d) cada divisão deve ter sentido
próprio, mesmo quando ficar sozinha; e) devem ter uma sequência lógica e
harmoniosa; f) devem ter equilíbrio entre si, isto é, as divisões devem ser
expressas em frases mais ou menos iguais, preferencialmente curtas; g) o
número de divisões nunca deve ultrapassar cinco.
CONCLUSÃO. Na parte final do sermão, vamos observar alguns
propósitos para uma conclusão, bem como certas características
peculiares.
Os propósitos e finalidades de uma conclusão podem ser
observados a seguir: a) recapitular a mensagem; b) auxiliar a memória do
ouvinte a relembrar o essencial do sermão; c) aplicar a mensagem à vida
real dos ouvintes; d) levar o ouvinte a continuar pensando na mensagem;
São características de uma conclusão bem feita: a) brevidade; b)
não introduzir ideias novas; c) plausibilidade; d) terminalidade; e)
enfoque; f) sempre que possível, colocar uma ilustração, o que vai manter a
atenção dos ouvintes até o fim; g) preferencialmente, a mensagem deve
terminar com uma breve citação bíblica.
Enfim, podemos concluir que Homilia é uma pregação ou sermão
que ocorre durante uma celebração religiosa, geralmente na liturgia cristã.
É uma exposição da mensagem bíblica com o objetivo de instruir e edificar
a congregação. A homilia é uma parte importante da liturgia, pois oferece
uma oportunidade para o pregador interpretar e aplicar a Palavra de Deus à
vida cotidiana das pessoas. É também uma forma de unir a comunidade e
incentivar a reflexão e discussão sobre questões religiosas. A homilia é
geralmente baseada nas leituras bíblicas do dia e na tradição da igreja.
163

MÓDULO 6 — ANTROPOLOGIA156
“O desordenado amor por si mesmo é a causa de todos os pecados.”
—Tomás de Aquino157

Antropologia é um ramo das ciências sociais que estuda o ser


humano e a sua origem de maneira abrangente. Por meio de estudos sobre
as características físicas, a cultura, a linguagem e as construções do ser
humano, o antropólogo vai buscar determinar, com base em grupos sociais
específicos, como se formaram os seres humanos a ponto de tornarem-se o
que são em suas comunidades.
A palavra antropologia tem origem no idioma grego, o radical
“antropo” vem de antrophos (homem) e “logia” vem de logos (razão ou, em
sentido específico, estudo). A antropologia é, ao traduzirmos a palavra ao
pé da letra, o estudo do ser humano em seu aspecto mais amplo. Em suma,
a palavra significa estudo do homem. Tem certa variedade de usos, alguns
dos quais importantes para a teologia e filosofia.

6.1 A Ciência da Antropologia158

156
Por mais que o centro da doutrina seja a pessoa do próprio Cristo, é inegável que o
ministério do Senhor Jesus consiste na salvação da humanidade. Muitas escolas de teologia
colocam duas disciplinas distintas como a) antropologia; b) hamartiologia), mas aqui vamos
integrar o assunto dentro da mesma perícope teológica para uma compreensão da humanidade
antes e depois da queda (e os assuntos subsequentes). Para mais integração sobre a mentalidade
antropológica (a partir da teologia reformada), cf. Antropologia Bíblica | Rev. Arival Dias
Casimiro. Igreja Presbiteriana de Pinheiros, Youtube in: https://l1nq.com/0GBWk
157
Tomás de Aquino, em italiano Tommaso d'Aquino, foi um frade católico italiano da
Ordem dos Pregadores cujas obras tiveram enorme influência na teologia e na filosofia,
principalmente na tradição conhecida como Escolástica, e que, por isso, é conhecido como
“Doctor Angelicus”, “Doctor Communis” e “Doctor Universalis”. Nascimento: 1225, Roccasecca,
Itália. Falecimento: 7 de março de 1274, Abadia de Fossanova, Abadia de Fossanova, Itália.
Influenciou: Immanuel Kant, René Descartes, João Duns Escoto, G.W. Leibniz, Martin Heidegger.
Influenciado por: Agostinho de Hipona, Aristóteles, Platão, Sócrates, Anselmo de Cantuária.
Formação: Universidade de Nápoles Federico II, Universidade de Paris Tomás de Aquino nasceu em
uma família nobre na Itália. Ele foi educado na Universidade de Nápoles, onde estudou filosofia e
teologia. Em 1244, ele entrou para a Ordem dos Pregadores, uma ordem religiosa fundada por
Santo Domingo.
158
Cf. Antropologia Bíblica: O que ou quem é o homem? – Rev. Luiz Lacerda #1. IPJO
Live, Youtube in: https://encr.pw/d63O7
164

Esta ciência estudo o homem como um organismo biológico e


como um ser cultural, pelo que há duas divisões principais na antropologia:
a) a antropologia física, que aborda o que o homem era e é como um
animal; b) a antropologia cultural, que trata sobre o que o homem tem
descoberto e inventado, aprendido e transmitido, como um ser social.
A antropologia física é um ramo da ciência natural, que tem várias
subdisciplinas: a) estudo das origens (ou antropogênica) que inclui todas as
considerações do processo evolutivo, utilizando‑se das ciências geológicas
e biológicas. b) somatologia, o estudo dos caracteres físicos das raças e
sub-raças. c) antropogeografia, que faz a distribuição geográfica das raças.
d) psicologia racial, que faz o estudo das diferenças entre as raças, no
terreno psicológico. e) fisiologia racial e bioquímica. f) anatomia
comparada à morfologia.
A maioria das subdisciplinas não interessa a filosofia ou a teologia,
embora a questão das origens traga à tona o problema da evolução, bem
como o problema das origens, em geral.
Ademais, temos o problema geral da identidade do homem. Muitos
antropólogos vêem-no apenas como um animal, mas a teologia muito tem
a dizer sobre isso, não vendo o homem apenas em seu corpo físico. Os pais
alexandrinos criam que o homem real, a alma, tem uma história anterior ao
corpo físico. Se isso for verdade, então a antropologia só estuda o veículo
físico do homem e sua vida terrena, mas não sua a verdadeira origem.
A antropologia cultural tem as seguintes subdivisões: a)
linguística, estudo comparativo dos idiomas. b) tecnologia, estudo
comparativo das invenções materiais, antigas e modernas. c) arqueologia
da pré‑história, o estudo dos remanescentes de artefatos humanos,
primeiras indústrias, etc. d) antropologia social, estudo comparativo dos
costumes, tradições, organizações sociais, moral, governo, família,
comunidade e economia.
O que interessa à filosofia e à teologia, dentro da antropologia
cultural, centraliza-se em torno da ética. A maioria dos antropólogos
defendem o chamado relativismo cultural, isto é, a ideia de que cada
cultura desenvolve seus próprios conceitos éticos, dependendo das forças
que atuam ali.
Em aplicações extremas, qualquer padrão discernível de certo e
errado se perdem, quando se aceita que uma cultura é tão boa quanto outra,
ou que aquilo que é bom para uma cultura, não é necessariamente bom para
165

outra. Assim fazendo, terminamos com muitos padrões de conduta moral,


sendo aprovados até mesmo os sacrifícios humanos, enquanto que o
adultério e a promiscuidade são socialmente sancionados.

6.2 A Antropologia Filosófica159

Ela estuda o conhecimento filosófico do homem. A filosofia estuda


o homem, procurando perscrutar mais fundo do que aquilo que é dito pela
ciência pura. Sistemas filosóficos como a fenomenologia, o existencialismo
e o personalismo, geralmente são considerados como representantes dessa
forma de antropologia. Isso, porém, é muito restritivo, porque qualquer
filosofia que tente dizer algo sobre um homem, ou sobre a humanidade,
além daquilo que a ciência estipula sobre seu corpo físico, é uma forma
dessa antropologia filosófica.160
Portanto, a metafísica, a epistemologia, a ética, tudo tem algo a
dizer sobre essa área. A própria antropologia parece ter sido termo cunhado
por Aristóteles, em sua obra Ética. Ele o usou para descrever o homem
dotado de mente nobre, não dando a maledicência a nem a jactância. Aquele
que assim fazia era um antropólogo, isto é, falava sobre o homem, ou seja,
sobre si mesmo.
Antropologia teológica e doutrina do homem, mormente no que
tange a Deus, a sua origem, a sua natureza presente, atividade, deveres a
destino. A teologia ensina‑nos que o homem foi criado para relacionar‑se

159
Cf. Antropologia Filosófica (Parte 1). Prof. Dr. Roney de Seixas Andrade, Youtube in:
https://encr.pw/CYFdG
160
A antropologia filosófica é um ramo da filosofia que estuda a natureza humana. Ela
se preocupa com questões como a identidade humana, a consciência, o livre-arbítrio, a
linguagem, a moral e a cultura. A antropologia filosófica não é uma ciência, pois não se baseia em
experimentos ou observações. Ela é uma disciplina reflexiva que busca compreender o ser
humano a partir de uma perspectiva filosófica. A antropologia filosófica tem uma longa história,
que remonta à Grécia antiga. Alguns dos principais filósofos que se dedicaram à antropologia
filosófica foram Sócrates, Platão, Aristóteles, René Descartes, Immanuel Kant, Friedrich
Nietzsche e Jean-Paul Sartre. Os temas da antropologia filosófica são complexos e desafiadores.
Eles não possuem respostas fáceis, mas são fundamentais para a compreensão do ser humano. A
antropologia filosófica é uma disciplina fascinante e importante. Ela nos ajuda a compreender
melhor a nós mesmos e o mundo ao nosso redor.
Aqui estão alguns dos principais temas da antropologia filosófica: a) A identidade
humana: O que é ser humano? Quais são as características que nos definem como humanos? b) A
consciência: O que é a consciência? Como ela funciona? Qual é a sua relação com o corpo? c) O
livre-arbítrio: Temos ou não livre-arbítrio? Se sim, até que ponto? d) A linguagem: O que é a
linguagem? Qual é a sua função? Qual é a sua relação com o pensamento? e) A moral: O que é a
moral? Quais são os fundamentos da moral? Como devemos agir? f) A cultura: O que é a cultura?
Qual é a sua função? Como ela se relaciona com o indivíduo?
166

com Deus, para participar de seus propósitos e, finalmente, para


compartilhar da natureza divina (2Pe 1.4), tal como originalmente foi
criado à imagem de Deus. O homem desfigurou essa imagem, e a redenção
tem por finalidade restaurá-la, por meio da criação do homem espiritual,
uma realização das dimensões espirituais. Na antropologia teológica, o
homem é um ser transcendental, ou pelo menos, está destinado a sê-lo.
Gn 5.2 descreve especificamente que Deus escolheu um nome que
se aplicaria à raça humana como um todo. Quero deixar claro que não estou
argumentando aqui que devemos sempre imitar os modelos de discurso
bíblico, ou que seja errado usar às vezes termos neutros quando nos
referirmos a raça humana, mas sim que o fato de Deus ter ele mesmo
escolhido o nome, segundo o relato de Gênesis 5.2, indica que o uso de
“Homem” quando se representa toda a raça é uma escolha boa e bastante
apropriada, algo que não devemos evitar. A questão teológica nos mostra o
fato de que há liderança ou chefia masculina na família desde o princípio da
criação.
O fato de Deus não ter decidido chamar a raça humana de
“mulher”, mas de “homem”, provavelmente traz alguma relevância
quanto à compreensão do plano original de Deus quanto aos homens e
quanto às mulheres. É claro que essa questão do nome que usamos quando
nos referimos a raça não é o único elemento dessa discussão, mas é um
deles, e o nosso uso da linguagem nessa questão tem de fato alguma
importância na discussão dos papéis masculinos e femininos atualmente.
Contudo, a pergunta que não quer calar é: Por que o homem foi
criado? Deus não precisava criar o homem, mas nos criou para a sua
própria glória. Deus não precisa de nós nem do restante da criação para
nada; porém nós e o restante da criação o glorificamos com alegria. Deus
não nos criou porque precisava da comunhão de outras pessoas. Deus não
precisava de nós por motivo nenhum. No entanto, Deus nos criou para a sua
própria glória. Na análise da independência divina, observamos que Deus se
refere aos seus filhos e filhas das extremidades da terra como aqueles “que
criei para minha glória” (Is 43.7; Ef 1.11‑12).
Portanto, devemos fazer “tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31).
Esse fato garante a relevância da nossa vida. Percebendo que Deus não
precisava nos criar, e que não precisa de nós para nada, poderíamos
concluir que nossa vida não tem a menor importância. Mas as Escrituras
nos dizem que fomos criados para glorificar a Deus, indicando que somos
167

importantes para o próprio Deus. Essa é a definição final da verdadeira


importância ou relevância da nossa vida: se somos de fato importantes
para Deus por toda a eternidade, então que maior medida de importância
ou relevância poderíamos querer?
Qual o nosso propósito na vida? Nosso propósito deve ser cumprir a
meta para que Deus nos criou: glorificá‑lo. Quando falamos com respeito ao
próprio Deus, eis aí um bom resumo do nosso propósito. Mas quando
pensamos nos nossos próprios interesses, fazemos a feliz descoberta de
que devemos nos alegrar em Deus a encontrar prazer no nosso
relacionamento com ele. Jesus disse: Eu vim para que tenham vida e a
tenham em abundância (Jo 10.10).
Davi diz a Deus: Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua
presença há plenitude de alegria, à tua direita, há delícias perpetuamente
(Sl 16.11 NAA). Ele anseia habitar na casa do Senhor para sempre, para
contemplar a beleza do Senhor (Sl 27.4), e Asafe brada: Quem tenho eu no
céu além de ti? E quem poderia eu querer na terra além de ti? Ainda que a
minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu
coração e a minha herança para sempre (Sl 73.25‑26 NAA).
Acha‑se plenitude de alegria no conhecer a Deus e no deleitar‑se
com a excelência do seu caráter. Estar na sua presença, desfrutar da sua
comunhão, a benção maior do que qualquer coisa que se possa imaginar.
Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos! A minha
alma suspira e desfalece pelos átrios do o meu coração e a minha carne
exultam pelo Deus vivo! Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil (Sl
84.1‑2,10).
Portanto, a atitude normal do cristão é alegrar‑se no Senhor, nas
lições da vida que ele nos dá (Rm 5.2‑3; Fp 4.4; 1Ts 5.16‑18; Tg 1.2; 1Pe 1.6,8).
Dizem‑nos as Escrituras que, quando glorificamos e desfrutamos de Deus,
ele se alegra conosco. Lemos: Como o noivo se alegra da noiva, assim de ti
se alegrará o teu Deus (Is 62.5), e Sofonias profetizou que o Senhor se
deleitará em ti com alegria; regozijar‑se‑á em ti com júbilo. Os que estão
entristecidos por se acharem afastados das festas solenes, eu os
congregarei (Sf 3.17‑18).
Essa compreensão da doutrina da criação do homem traz
resultados bastante práticos. Quando percebemos que Deus nos criou para
glorificá-lo, e quando passamos a agir a fim de cumprir esse fim, então
começamos a experimentar uma intensidade de alegria no Senhor que
168

antes não conhecíamos. E quando acrescentamos a isso a compreensão de


que o próprio Deus se deleita com a nossa comunhão com ele, nossa alegria
se torna “inexprimível e plena de glória celeste” (1Pe 1.8).
Alguém pode objetar que é errado que Deus tenha criado o homem
em busca de glória para si. Certamente é errado que os seres humanos
busquem glória para si, como vemos no dramático exemplo da morte de
Herodes. Depois de orgulhosamente aceitar o clamor da multidão, “É voz
de um deus, e não de homem!” (At 12.22), “no mesmo instante, um anjo do
Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes,
expirou” (At 12.23). Herodes morreu por ter se apropriado da glória de
Deus, glória que Deus merecia, não ele. Será que há alguém que mereça
glória mais do que ele? Certamente não! Ele é o Criador, ele fez todas as
coisas, e ele merece toda a glória.
Ele é digno de receber glória. Paulo exclama: “Porque dele, e por
meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente.”
(Rm 11.36). Quando passamos a apreciar a natureza de Deus como o Criador
infinitamente perfeito que merece todo louvor, nosso coração então não
descansa enquanto não damos glória de todo o nosso coração, alma,
entendimento e força (Mc 12.30).

6.3 O Homem a Imagem de Deus161

O Homem a Imagem de Deus. De todas as criaturas que Deus fez,


uma delas, o homem, diz‑se ter sido feita “a imagem de Deus”. Que isso
significa? Podemos usar a seguinte definição: o fato de ser o homem
imagem de Deus significa que ele é semelhante a Deus e o representa.
Quando Deus diz: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança” (Gn 1.26), isso significa que ele pretende fazer uma
criatura semelhante a si. As palavras hebraicas que exprimem “imagem”
(selem) a “semelhança” se referem a algo similar, mas não idêntico. A
palavra imagem também pode ser usada para exprimir algo que represente
outra coisa.
Os teólogos gastaram muito tempo tentando especificar uma
característica do homem, ou bem poucas delas, em que se vê
primordialmente a imagem de Deus. Alguns já cogitaram que a imagem de

161
Cf. Como o homem é imagem e semelhança de Deus? - Pr. Marcos Granconato.
Igreja Batista Redenção, Youtube in: https://encr.pw/kY7Mp
169

Deus consiste na capacidade intelectual do homem, outros no seu poder de


tomar decisões morais e fazer escolhas voluntárias. Outros conceberam que
a imagem de Deus era uma referência à pureza moral original do homem,
ou ao fato de termos sido criados homem e mulher (Gn 1.27), ou ao domínio
humano sobre a terra.
Dentro dessa discussão, melhor seria concentrar a atenção
primeiramente nos significados das palavras “imagem” e “semelhança”.
Como já vimos, esses termos tinham significados bastante claros para os
primeiros leitores.
Quando nos damos conta de que as palavras hebraicas que
exprimem “imagem” e “semelhança” simplesmente informam aos
primeiros leitores que o homem era semelhante de Deus, e em muitos
aspectos representa Deus, vemos controvérsia acerca do significado de
“imagem de Deus” e a busca de um significado excessivamente estreito e
específico. Para os primeiros leitores, Gn 1.26, “Façamos o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança”, significava simplesmente:
Façamos o homem como nós, para que nos represente.

6.4 A Criação do Homem162

O fato de ser o homem a imagem de Deus significa que o homem é


como Deus nos seguintes aspectos: capacidade intelectual, pureza moral,
natureza espiritual, domínio sobre a terra, criatividade, capacidade de
tomar decisões éticas e imortalidade. De fato, na leitura do restante da
Bíblia, percebemos que a compreensão plena da semelhança do homem a
Deus, exigiria plena compreensão de quem é Deus no seu ser e nos seus
atos, e uma plena compreensão de quem é o homem e o que fez.
Quanto mais sabemos sobre Deus e o homem, mais semelhanças
reconhecemos, e mais plenamente compreendemos o que as Escrituras
querem dizer ao afirmar que o homem existe a semelhança de Deus. A
expressão se refere a todo aspecto em que o homem é como Deus. Essa
compreensão do que significa ter sido o homem criado à imagem de Deus e
reforçada pela similaridade entre Gn 1.26, onde Deus declara a sua intenção
de criar o homem a sua imagem e semelhança.

162
Cf. Antropologia - A Doutrina do Homem - Teologia Sistemática Fácil. Pr. Emerson
Santos, Youtube in: https://encr.pw/sCLee
170

Também somos superiores aos anjos, que não se casam nem geram
filhos nem vivem na companhia dos filhos e filhas remidos de Deus. No
próprio casamento, espelhamos a natureza de Deus no fato de os homens e
as mulheres com igualdade de importância mas diversidade de papéis,
desde que Deus nos criou. O homem é como Deus no seu relacionamento
com o restante da criação. Especificamente, o homem recebeu o direito de
reger a criação, e quando Cristo voltar receberá autoridade para julgar os
anjos (1Co 6.3; Gn. 1.26, 28; Sl. 8.6‑8).

6.5 A Queda do Homem163

O homem caiu no engano, suas palavras já não glorificam


continuamente a Deus; seus relacionamentos muitas vezes são controlados
pelo egoísmo, já não pelo amor. Embora o homem ainda seja a imagem de
Deus, em cada aspecto da vida alguns elementos dessa imagem foram
distorcidos ou perdidos. Em suma, Deus fez o homem reto, mas ele se
meteu em muitas astúcias (Ec 7.29). Permanecemos, então, a imagem de
Deus ainda, somos como Deus e ainda representamos a Deus, mas a
imagem de Deus em nós está distorcida; não somos mais plenos em Deus,
como éramos antes do surgimento do pecado.
Portanto é importante compreender o pleno significado da imagem
de Deus, não pela observação de como os seres humanos vivem hoje, mas
pelas indicações bíblicas da natureza de Adão e Eva quando Deus os criou e
quando tudo o que Deus criara era "muito bom" (Gn 1.31). A verdadeira
natureza do homem à imagem de Deus também se revelou na vida terrena
de Cristo. A plena medida da excelência da nossa humanidade só se verá
novamente na terra quando Cristo voltar e tivermos recebido todos os
benefícios da salvação que ele conquistou para nós.
A redenção em Cristo é a recuperação gradual da imagem de Deus.
É animador abrir o Novo Testamento e ver que nossa redenção em Cristo
significa que podemos, mesmo nesta vida, gradualmente crescer cada vez
mais. Por exemplo, Paulo diz que como cristãos temos uma nova natureza,
que "se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o
criou" (Cl 3.10).

163
Cf. A Queda do Homem. Paulo Junior Oficial, Youtube in: https://encr.pw/KfYlR (o
aluno também tem a opção de assistir a exposição do Pr. Augustus Nicodemus sobre o assunto in:
https://l1nq.com/z4Slu)
171

À medida que vamos crescendo no verdadeiro conhecimento de


Deus, da sua Palavra e do seu mundo, começamos a pensar cada vez mais
nos pensamentos que o próprio Deus tem. Dessa forma somos refeitos
“para o pleno conhecimento” e nos tornamos mais semelhantes a Deus no
nosso pensar. "Somos transformados, de glória em glória, na sua própria
imagem”.
Ao longo desta vida, à medida que crescemos em maturidade cristã,
aumenta a nossa semelhança a Deus. Mais especificamente, nos vamos
tornando cada vez mais semelhantes a Cristo na nossa vida e no nosso
caráter. De fato, Deus nos redimiu para que sejamos “conforme a imagem
de seu Filho” (Rm 8.29), tendo assim exatamente o mesmo caráter moral
de Cristo.
Na volta de Cristo, a completa restauração da imagem de Deus. A
admirável promessa do Novo Testamento que, assim como somos hoje
como Adão sujeitos a morte e ao pecado), também seremos como Cristo no
futuro moralmente puros, jamais sujeitos a morte de novo.
Assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer
também a imagem do celestial (1Co 15.49). A plena medida da nossa criação
a imagem de Deus não se vê na vida de Adão, que pecou, nem na nossa
própria vida hoje, pois somos imperfeitos. Mas o Novo Testamento enfatiza
que o objetivo de Deus ao criar o homem à sua imagem se realizou
completamente na pessoa de Jesus Cristo, o qual é a imagem de Deus (2Co
4.4); Este é a imagem do Deus invisível (Cl 1.15).
Em Jesus vemos a semelhança humana de Deus como ela foi
originalmente concebida, e deve nos ser motivo de alegria o fato de ter
Deus nos predestinado a ser conforme a imagem de seu Filho (Rm 8.29; 1Co
15.49): Quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele (1Jo 3.2).

6.6 A Questão da Alma Humana164

De quantas partes compõem-se o homem? Todos concordam que


temos um corpo físico. A maioria das pessoas (tanto cristãos quanto não
cristãos) sentem que também tem uma parte imaterial - uma “alma” que

164
Cf. Antropologia Bíblica - Corpo, Alma e Espírito. Instituto Teológico Davar,
Youtube in: https://l1nq.com/w4Ysy. Para mais informações a respeito, assista: Qual a diferença
entre corpo, alma e espírito? | Rev. Hernandes Dias Lopes | Trocando Ideias. Igreja
Presbiteriana de Pinheiros, Youtube in: https://l1nq.com/3IGms
172

sobrevive à morte do corpo. Mas aqui termina a concordância. Algumas


pessoas crêem que, além do “corpo” e da “alma”, temos uma terceira
parte, “espírito” que se relaciona mais diretamente com Deus. A concepção
de que o homem é reconstituído em três partes (corpo, alma e espírito)
chama-se tricotomia.
Embora essa seja uma ideia comum no ensino bíblico e evangélico
popular, hoje poucos estudiosos a defendem. Para os tricotomistas, a alma
do homem aborda o seu intelecto, as suas emoções e a sua vontade. Eles
sustentam que todas as pessoas têm alma, e que os diferentes elementos da
alma podem servir a Deus ou ceder ao pecado. Argumentam que o espírito
do homem é uma faculdade humana superior, que surge quando a pessoa
torna-se cristã (Rm 8-10: “sei, porém, que Cristo está em vós, o corpo, na
verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito de vida, por causa
da justiça”). O espírito de uma pessoa seria aquela parte dela que mais
diretamente adora e ora à Deus (Jo 4.24, Fp 3.3).
Outros dizem que o Espírito não é uma parte distinta do homem,
mas simplesmente outra palavra que exprime a alma, e que ambos os
termos são usados indistintamente nas Escrituras para falar da parte
material do homem, a parte que sobrevive após a morte do corpo. A ideia de
que o homem é composto de duas partes (corpo e alma/ espírito) chama-se
dicotomia. Aqueles que sustentam essa ideia muitas vezes admitem que as
Escrituras usam a palavra espiritual mas frequentemente com referência a
nossa relação com Deus, mas que esse uso não é uniforme, e que a palavra é
também usada em todos os sentidos em que se pode usar o espírito.
Os que adotam a oposição tricotomista, buscam apoio em várias
passagens das Escrituras: Ts 5.23; Hb 4.12; 1Co 2.14-3.4-1; 1Co 14.14. O
argumento da experiência pessoal. Muitos tricotomistas dizem que têm
uma percepção espiritual, uma consciência espiritual da presença de Deus,
que os afeta de modo que eles sabem ser diferentes do pensamento comum
e também das emoções.
Perguntam eles: “se eu não tenho um espírito distinto dos meus
pensamentos e das minhas emoções, então o que exatamente é isso que
sinto ser diferente dos meus pensamentos e das minhas emoções, ao que só
posso descrever como adoração a Deus em espírito, como percepção da sua
presença no meu espírito? Porventura não há algo em minha maior do que
meramente meu intelecto, minhas emoções e minha vontade, e não deve
isso chama-se espírito?”
173

É nosso espírito que nos faz diferentes dos animais. Alguns


tricotomistas argumentam que homens e animais têm alma, mas
sustentam que a presença do espírito é que nos faz diferentes dos animais.
O espírito é aquilo que recebe vida na regeneração. Os tricotomistas
também afirmam que, quando nos tornamos cristãos, nosso espírito recebe
vida (Rm 8.10).
Quanto à origem da alma, temos duas teses comuns na história da
igreja. O criacionismo e a concepção de que Deus cria uma nova alma para
cada pessoa e envia ao corpo da pessoa em algum momento entre a
concepção e o nascimento.
O traducionismo, por outro lado, sustenta que a alma e o corpo da
criança são herdados dos pais no momento da concepção.
O pré-existencialismo, preconiza que a alma das pessoas existe no
céu muito antes dos corpos serem concebidos no ventre das mães, e que
Deus depois traz a alma a terra, unindo-a ao corpo do bebê enquanto ele se
desenvolve no útero.
A favor do traducionismo pode-se argumentar que Deus criou o
homem à sua própria imagem (Gn 1.27), e que essa semelhança marca a
incrível capacidade de criar outros seres humanos como nós. Portanto,
assim como todos os animais e plantas geram descendentes segundo a sua
espécie (Gn 1.24), também Adão e Eva foram capazes de gerar filhos
semelhantes a si, com uma natureza espiritual além do corpo físico. Isso
implicaria que os espíritos ou almas dos filhos de Adão e Eva
derivar-se-iam do próprio primeiro casal.
Além disso, as Escrituras às vezes falam que os descendentes de
algum modo se encontram presentes no corpo de alguém de geração
anterior; o autor de Hebreus, por exemplo, diz que quando Melquisedeque
encontrou Abraão, Levi ainda estava no corpo do seu antepassado (Hb 7.10).
Por fim, o traducionismo poderia explicar como os pecados dos pais
passam aos filhos sem que Deus se torne diretamente responsável pela
criação de uma alma pecaminosa, dotada de uma inclinação que os leve a
pecar.
Entretanto, os argumentos bíblicos a favor do criacionismo
parecem abordar a questão mais diretamente e oferecem uma sustentação
bastante forte a favor dessa tese. Sl 127 diz: “a herança do Senhor são os
filhos; o fruto do ventre, seu galardão”. Isso significa que não só alma, mas
também toda pessoa da criança, incluindo seu corpo, é dádiva de Deus.
174

Desse ângulo, parece estranho conceber que a mãe e o pai sejam


somente eles responsáveis por todos os aspectos da existência do filho.
Davi disse ao Senhor: tu me teceste no seio de minha mãe (Sl 139.13) e
Isaías afirma que Deus dá fôlego às pessoas da terra e espírito aos que
andam nela (Is 42.5). Zacarias fala de Deus como aquele que formou o
espírito do homem dentro dele (Zc 12.1). O autor de Hebreus fala de Deus
como pai espiritual (Hb 12.9). Com base nessas passagens, é difícil escapar
da conclusão de que Deus é quem cria nosso espírito e alma.
Concluindo, parece difícil desprezar o testemunho bíblico a favor
de que Deus cria ativamente cada alma humana, assim como ele se mostra
ativo em todos os eventos da sua criação. Mas simplesmente não temos
como saber, com base nas Escrituras, até que ponto ele permite o uso de
causas intermediárias ou secundárias (ou seja, a herança dos pais).
Portanto, não nos parece proveitoso gastar mais tempo especulando sobre
essa questão.

6.7 A Questão do Aborto165

A questão do aborto tem dois pontos cruciais.166 O assunto é


particularmente agudo para os cristãos comprometidos com a Palavra de
Deus. É verdade que não há um preceito legal na Bíblia proibindo
diretamente o aborto, como “Não abortarás”.
Mas a razão é clara. Era tão inconcebível que uma mulher israelita
desejasse um aborto que não havia necessidade de proibi-lo explicitamente
na lei de Moisés. Crianças eram consideradas como um presente ou herança

165
Cf. Aborto - Leandro Lima e Augustus Nicodemus | 5ª Reformada. Igreja
Presbiteriana de Santo Amaro, Youtube in: https://encr.pw/T1uwl
166
A legislação sobre o assunto. O artigo 128 do Código Penal brasileiro (que é de 1940)
permite o aborto quando há risco de vida para a mãe e quando a gravidez resulta de estupro.
Porém, apenas sete hospitais no país faziam o aborto legal. Esse ano, a Comissão de Constituição
e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou a obrigatoriedade de o SUS (Sistema Único de
Saúde) realizar o aborto nos termos da lei. O projeto, porém, permite ao médico (não ao hospital)
recusar-se a fazer o aborto, por razão de consciência – um reconhecimento de que o assunto é
polêmico e que envolve mais que procedimentos médicos mecânicos. Por exemplo, o ministro da
Saúde, Carlos Albuquerque, disse ser contrário à lei e comparou aborto a um assassinato. Além
disso, médicos podem ter uma resistência natural, pela própria formação deles (obrigação de
lutar pela vida). “O juiz que autoriza o aborto é co-autor do crime. Isso fere o direito à vida”,
disse o desembargador José Geraldo Fonseca, do Tribunal de Justiça de São Paulo, em entrevista
ao jornal Estado de São Paulo (22/09/97). Segundo ele, o artigo 128 do Código Penal não autoriza
o aborto nesses casos, mas apenas não prevê pena para quem o pratica. No momento, existem
projetos de ampliar a lei, garantindo o aborto também no caso de malformação do feto, com
pouca possibilidade de vida após o parto.
175

de Deus (Gn 33.5; Sl 113.9; 127.3). Era Deus quem abria a madre e permitia a
gravidez (Gn 29.33; 30.22; 1Sm. 1.19-20). Não ter filhos era considerado
uma maldição, já que o nome de família do marido não poderia ser
perpetuado (Dt. 25.6; Rt. 4.5). O aborto era algo tão contrário à mentalidade
israelita que bastava um mandamento genérico, “Não matarás” (Êx 20.13).
Mas os tempos mudaram, a sociedade ocidental moderna vê os
filhos como empecilho à concretização do sonho de realização pessoal do
casal, da mulher em especial, de ter uma boa posição financeira, de
aproveitar a vida, de ter lazer, e de trabalhar. A Igreja, entretanto, deve
guiar-se pela Palavra de Deus, e não pela ética da sociedade onde está
inserida.
Há dois pontos cruciais em torno dos quais gira as questões éticas e
morais relacionadas com o aborto provocado. O primeiro é quanto à
humanidade do feto. Esse ponto tem a ver com a resposta à pergunta:
quando é que, no processo de concepção, gestação e nascimento, o embrião
se torna um ser humano, uma pessoa, adquirindo assim o direito à vida?
Muitos que são a favor do aborto argumentam que o embrião (e
depois o feto), só se torna um ser humano após determinado período de
gestação, antes do qual abortar não seria assassinato. Por exemplo, o
aborto é permitido na Inglaterra até 7 meses de gestação. Outros são mais
radicais.
Em 1973 a Suprema Corte dos Estados Unidos passou uma lei
permitindo o aborto, argumentando que uma criança não nascida não é
uma pessoa no sentido pleno do termo, e portanto, não tem direito
constitucional à vida, liberdade e propriedades.
Entretanto, muitos biólogos, geneticistas e médicos concordam
que a vida biológica inicia-se desde a concepção. As Escrituras confirmam
este conceito ensinando que Deus considera sagrada a vida de crianças não
nascidas (cf. Êx 4.11;21.21-25; Jó 10.8-12; Sl 139.13-16; Jr 1.5; Mt 1.18; Lc
1.39-44).
Apesar de algumas dessas passagens terem pontos de difícil
interpretação, não é difícil de ver que a Bíblia ensina que o corpo, a vida e as
faculdades morais do homem se originam simultaneamente na concepção.
Os Pais da Igreja, que vieram logo após os apóstolos, reconheceram esta
verdade, como aparece claramente nos escritos de Tertuliano, Jerônimo,
Agostinho, Clemente de Alexandria e outros. No Império Romano pagão, o
176

aborto era praticado livremente, mas os cristãos se posicionaram contra a


prática.
Em 314 o Concílio de Ancira (moderna Ankara) decretou que
deveriam ser excluídos da Ceia do Senhor durante dez anos todos os que
procurassem provocar o aborto ou fizesse drogas para provocá-lo.
Anteriormente, o sínodo de Elvira (305-306) havia excluído até a morte os
que praticassem tais coisas. Assim, a evidência biológica e bíblica é que
crianças não nascidas são seres humanos, são pessoas, e que matá-las é
assassinato.
O segundo ponto tem a ver com a santidade da vida. Ainda que as
crianças fossem reconhecidas como seres humanos, como pessoas, antes
de nascer, ainda assim suas vidas estariam ameaçadas pelo aborto.
Vivemos em uma sociedade que perdeu o conceito da santidade da vida.
O conceito bíblico de que o homem é uma criatura especial, feito à
imagem de Deus, diferente de todas as demais formas de vida, e que possui
uma alma imortal, tem sido substituído pelo conceito humanista do
evolucionismo, que vê o homem simplesmente como uma espécie a mais, o
Homo sapiens, sem nada que realmente o faça distinto das demais espécies.

A vida humana perdeu seu valor. O direito a continuar existindo


não é mais determinado pelo alto valor que se dava ao homem por
ser feito à imagem de Deus, mas por fatores financeiros,
sociológicos e de conveniência pessoal, geralmente utilitaristas e
egoístas. Em São Paulo, por exemplo, um médico declarou “Faço
aborto com o mesmo respeito com que faço uma cesárea. É um
procedimento tão ético como uma cauterização”. E perguntado se
faria aborto em sua filha, respondeu: “Faria, se ela considerasse a
gravidez inoportuna por algum motivo. Eu mesmo já fiz sete
abortos de namoradas minhas que não podiam sustentar a
gravidez” (Folha de São Paulo, 29 de agosto de 1997).

Esses pontos devem ser encarados por todos os cristãos.


Evidentemente, existem situações complexas e difíceis, como no caso da
gravidez de risco e do estupro. Meu ponto é que as soluções sempre devem
ser a favor da vida. C. Everett Koop, ex-cirurgião geral dos Estados Unidos,
escreveu: “Nos meus 36 anos de cirurgia pediátrica, nunca vi um caso em
que o aborto fosse a única saída para que a mãe sobrevivesse”. Sua prática
177

nestes casos raros era provocar o nascimento prematuro da criança e dar


todas as condições para sua sobrevivência.
Ao mesmo tempo, é preciso que a Igreja se compadeça e auxilie os
cristãos que se veem diante deste terrível dilema. Condenação não irá
substituir orientação, apoio e acompanhamento. A dor, a revolta e o
sofrimento de quem foi estuprada não se resolverá matando o ser humano
concebido em seu ventre. Por outro lado, a Igreja não pode simplesmente
abandonar à sua sorte as estupradas grávidas que resolvem ter a criança. É
preciso apoio, acompanhamento e orientação.
Devemos ter em nós grande dignidade como portadores da imagem
de Deus. Seria bom se refletirmos mais frequentemente na nossa
semelhança com Deus. É provável que fiquemos surpresos ao descobrir que
quando o Criador do universo quis fazer algo “a sua imagem”, algo mais
semelhante a si do que todo o resto da criação, ele nos criou.
Essa descoberta nos dá um profundo senso de dignidade e
importância, pois passamos a refletir sobre a excelência de todo o restante
da criação divina: o universo estrelado, a terra abundante, o mundo das
plantas e dos animais e os reinos dos anjos são admiráveis, magníficos
mesmo. Mas nós somos mais semelhantes ao nosso Criador do que
qualquer dessas coisas. Somos a culminância da obra criadora
infinitamente sábia e hábil de Deus.
Se algum dia negarmos nossa posição singular na criação como
únicos portadores da imagem de Deus, logo passaremos a depreciar o valor
da vida humana, tendemos a enxergar os seres humanos meramente como
uma forma animal superior e começaremos a tratar os outros assim.
Também perderemos muito do nosso senso de significado na vida.

6.7 A Doutrina do Pecado (Hamartiologia)167

Hamartiologia (do grego transliterado hamartia: erro ou pecado +


logia: estudo), como sugere o próprio nome, é a ciência que estuda o pecado
e as suas origens e consequências, ou — se preferível — o estudo
sistematizado daquele tema (pecado).
Nenhuma doutrina é mais importante para o crente piedoso do que
a do pecado. É verdade que as doutrinas fundamentais do cristianismo se

167
Hamartiologia - Origem e Natureza do Pecado | Curso Teológico Ministerial. PIB
Araras, Youtube in: https://encr.pw/0ELwE
178

relacionam intimamente; porém a do pecado é uma daquelas cujo


conhecimento se impõe como grande necessidade. A boa compreensão
desta doutrina derrama muita luz sobre as demais. Ela influi sobre todas as
outras, tais como a doutrina de Deus, a doutrina do homem, a doutrina da
salvação, e assim por diante.
A ideia que temos de pecado determina, mais ou menos, a nossa
ideia de salvação. Errar, portanto, na doutrina do pecado, é errar também
na salvação. Um exemplo: Pessoas que julgam que o pecado é devido ao
meio em que o homem vive; logo, melhorando o meio, o pecado
desaparecerá. Se assim fosse, os homens necessitam não de um salvador,
mas de um benfeitor. Dinheiro e boa vontade poderiam salvar a
humanidade, neste caso. Sabemos, porém, que não é assim, porque
infelizmente os ricos não são, em geral, os santos da terra. Outras há que
julguem que o pecado é oriundo da ignorância.
Os homens pecam, dizem, porque não conhecem coisa melhor. Ora,
se assim fora, a educação seria a salvação da raça; o combate ao
analfabetismo seria a melhor pregação do evangelho; e naturalmente os
homens mais instruídos e mais cultos seriam os mais santos. Sabemos que
essa ideia também não é verdadeira. Os que assim pensam estão longe da
verdade.
Todos pecaram. [...] É mister que estudemos bem o que as
Escrituras nos ensinam sobre este assunto, porque a doutrina que se
encontra na Bíblia não só faz justiça a Deus como também deixa ao pecador
uma firme esperança de salvação.168 Algumas dificuldades encontradas para
se discutir o pecado:
a) o pecado, como a morte, não é um assunto agradável. Ele nos
deprime. Não gostamos de pensar em nós mesmos como pessoas ruins ou
más. Quase sempre reagimos contra esta forma negativa de nos olharmos.
b) o pecado é visto como um conceito simplista e estranho para
muitos, onde se coloca sobre um homem a culpa de todo o mal que nos
aflige. Para a grande maioria dos sociólogos o mal que nos aflige são
atribuídos ao ambiente pernicioso que nos rodeia e não a homens
pecadores.
c) a ideia do pecado como uma força interior, uma condição
inerente, um poder controlador, é em grande parte desconhecida e até
ignorada.

168
LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: JUERP.
179

As pessoas pensam mais em pecados, ou seja, atos errados


isolados, que não estão necessariamente ligados a uma natureza
pecaminosa. O pecado dessa forma é visto como algo externo ao homem e
concreto. Neste ponto de vista, pessoas que não roubaram, adulteraram,
em fim que não cometeram erros “externos” são consideradas boas.

6.8 O Que é Pecado?169

Mas afinal, o que é o pecado? Assim responde o Catecismo Maior de


Westminster, “Pecado é qualquer carência de conformidade com, ou
transgressão de qualquer lei de Deus, dada como regra para a criatura
racional”.
Em meio à efervescência da Reforma Protestante, que veio
combater as imoralidades existentes dentro da Igreja Católica, este
catecismo procurou dar uma resposta simples a uma antiga preocupação do
homem. Ainda assim, esta “qualquer carência”, bem sabemos, ficou sujeita
às mais variadas interpretações do homem. Por isso, para um protestante
no século XVI era pecado gravíssimo fazer qualquer tipo de acordo com um
católico, e vice-versa. O pentecostalismo veio dar uma visão ainda mais
fechada de pecado. Embora já pertencente ao século passado, na recente
história poderia ser considerado pecado alguns usos e costumes.
Tudo parecia pecado: o homem estava reduzido a uma criatura
prisioneira de si mesma. Banalizou-se o pecado, ao caracterizar coisas sem
importância como pecado. De uma hora para outra, estava sendo repetido o
mesmo erro dos fariseus: valorizava-se mais o exterior do que o interior,
colocando um jugo pesadíssimo sobre o homem. Estimulava-se a formação
de autênticos “sepulcros caiados”: vistosos, bonitos por fora, mas por
dentro cheios de podridão de ossos (Mt 23.27).
É necessário retomar o conceito bíblico de pecado. Além disso,
torna-se necessário esclarecer quem é o autor do pecado. A Confissão de Fé
de Westminster 3.1 enfatiza que Deus não é o autor do pecado. O que diz o
Antigo Testamento acerca desse assunto? O que nos ensina o Novo
Testamento acerca do pecado? Vamos analisar gramaticalmente a palavra
hamartia, que no Novo Testamento é traduzida como pecado; vamos

169
Cf. O que é pecado. Luciano Subirá, Youtube in: https://l1nk.dev/yw2a6
180

também analisar o pecado desde o ambiente judaico, inclusive a


epistemologia.170

A relação da consciência ou sentimento de pecado para com a fé


não pode ser psicologicamente esquematizada, quer seja no
sentido de que a fé “madura” seria um pré-requisito para a
consciência de pecado, ou que a consciência “madura” de pecado é
um pré-requisito para a fé. As palavras de Lutero são aqui
aplicáveis: “Quo sanctior quis et, eo magis sentit illam pugnam”
(Quanto mais santo alguém é, tanto mais sente aquela luta).
(AULÉN, Gustaf. apud FERREIRA, 2005, p. 317).

Hamartia (Strong)171 é literalmente, perda da marca, errar o alvo.


Desviar-se do caminho. Refere-se a todos pecados cometidos contra a luz
ou o conhecimento que já temos. Erros, transgressões, falhas às Escrituras
frequentemente vinculam estas palavras ao termo “pecado”. Todos esses
termos relacionados apresentam aspectos específicos do pecado; com as
formas que ele assume.

170
Epistemologia ou teoria do conhecimento (do grego ἐπιστήμη [episteme], ciência,
conhecimento; λόγος [logos], discurso) é um ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos
relacionados com a crença e o conhecimento. É o estudo científico da ciência (conhecimento),
sua natureza e suas limitações. A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a
validade do conhecimento, motivo pelo qual também é conhecida como teoria do conhecimento.
Por isso, na epistemologia estudamos o sentido primário das palavras em relação às escrituras.
Aqui veremos a sua aplicação buscando a definição divina para a palavra pecado.
171
Cf. STRONG, J. Strong's Exhaustive Concordance to the Bible. New Youk,
Hendrickson Publishers: 2009.
181

Na perspectiva judaico-cristã172 — e em simples palavras — pecado


é a atitude (ato ou omissão, íntimo ou não) de contrariar a lei (ou a
vontade) de Deus. Significa, assim, um “erro de alvo”, entendido este como
a vontade de Deus.

No AT a palavra mais comumente traduzida por pecado é ‫חטא‬, cuja


raiz, que aparece 591 vezes em 487 versículos. No hebraico, o
sentido básico é o de errar determinado alvo ou objetivo. Um bom
exemplo é Jz 20.16: “Entre todo este povo havia setecentos homens
escolhidos, canhotos, os quais todos atiravam com a funda uma
pedra a um cabelo e não erravam”. Vemos este mesmo sentido em
Pv 19.2: “Não é bom proceder sem refletir; e erra o alvo quem é
precipitado”.

As palavras hebraica e grega traduzidas por “pecado” aplicam-se


tanto a disposições e estados como a atos. O pecado tanto pode consistir da
omissão em fazer a coisa justa como da vontade deliberada em fazer a coisa
errada. “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso
está pecando” (Tg 4.17). Analisemos as diversas terminologias usadas para
descrever pecado:

172
Deste modo, ainda pode significar falta (Jó 5.24) e ofensas no relacionamento
interpessoal (Gn 40.1; 1Sm 19.4). Teologicamente, a palavra passou a designar o erro cometido no
relacionar-se com Deus. O versículo-chave para essa compreensão encontra-se em Is 59.1,2:
“Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem o seu ouvido,
agravado, para não poder ouvir. Mas as vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso
Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça”. O alvo é o ter
comunhão com Deus, que por um motivo ou outro não se atinge. E aí surge o pecado. Por isso, o
pecado constitui-se antes de tudo em uma ofensa a Deus.
Portanto, o adultério e o homicídio, embora envolvam ofensas a pessoas, em primeiro
lugar é uma ofensa a Deus por estar sendo violado um mandamento de Deus. Deste modo, o rei
Davi reconheceu que não apenas ofende pessoas, mas antes pecou contra o Senhor (2Sm 12.13).
Assim sendo, a desobediência à Lei de Deus também consistia em pecado. Jeremias anunciou que
pecamos quando não ouvimos a voz do Senhor, ou seja, quando desobedecemos a sua expressa
vontade (Jr 40.3), representada mediante a sua lei. Ou seja, o pecado é tratado como o oposto da
aliança ratificada através da Lei dada no Sinai. Por isso se afirmar: “Maldito aquele que não
confirmar as palavras desta lei, não as cumprindo! E todo o povo dirá: Amém!” (Dt 27.26).
Embora isto adquira um certo tom jurídico, o que está em foco aqui é que desobedecer a Lei de
Deus, dada como instrução, é pecar contra o próprio Deus (Dt 9.16; Js 7.11; Ne 9.29; Jr 32.35; Dn
9.5). Por isso, muitas vezes se enfatiza a questão do pecado nacional – a nação como um todo
desobedecendo a Lei de Deus – do qual a pessoa individualmente não pode escapar, como em Jz
2.6-3.6; 2Rs 17.1-23 e 2Cr 36.11-16.
182

Impiedade (no gr. assebeia cf. 2Pe 2.6), consiste na oposição a Deus
e a seus princípios, em autêntica rebelião de alma. Ser ímpio significa ser
contrário a Deus e a seus mandamentos; é viver como se Deus não existisse.
Transgressão (no gr. parabasis), literalmente significa “ir além de
um limite estabelecido”. Consiste na violação de princípios piedosos
reconhecidos, que conduzem o indivíduo à quebra da lei (paranomia)
afastando-o da lei moral (Mt 6.14; Tg 2.11; At 23.3; 2Pe 2.16). O termo
parabasis (transgressão) relaciona-se diretamente com o termo grego
paraptōma, isto é, passos em falso, ou desviamos pela tangente, apesar de
estarmos instruídos o bastante para não fazê-lo. Assim, transgredir é
ultrapassar os “limites” estabelecidos na lei de Deus.
Se o pecado é definido como transgressão às leis divinas, então é
necessário que a igreja define coerentemente o que é doutrina, norma ou lei
divina para os dias hodiernos. Muitas pessoas cometem faltas contra a
tradição religiosa, mas não contra a lei de Deus.
E, infelizmente, assim como ocorreu no passado da religião judaica
do NT, para alguns zelosos, é mais grave transgredir a tradição do que o
mandamento divino. Qual a vontade de Deus para o homem moderno?
Quais costumes sociais enquadram-se na definição bíblica de Pecado?
Quais os limites da ludicidade, se para alguns o lazer é pecado? O que Deus
permite ou proíbe com base nas Santas Escrituras? Se pecado é transgredir,
o que se transgride na concepção teológica e doutrinária? Conotações no
Hebraico:
Chata’ “errar o alvo, pecado, oferta pelo pecado”. É a palavra mais
singular para definir o pecado na terminologia hebraica (Jz 20.16; Pv 19.2).
O verbo é usado mais de duzentas vezes, e as formas do substantivo, cento
e noventa e oito vezes no Antigo Testamento. A concepção de “alvo” sugere
um “padrão objetivo”. Entre os guerreiros de Benjamin havia homens que
podiam “dar tiros de funda num cabelo sem errar” (Jz 20.16).
Assim, usa-se a palavra no sentido de perder uma coisa de valor, ou
falhar na responsabilidade de alcançar um alvo importante. O termo é
usado para demonstrar tanto a disposição de pecar, como o ato resultante
(Gn 4.7; Sl 1.1; 51.4; 103.10). Aplica-se: a) a perda de alguma coisa de valor,
quem perder (pecar contra) a sabedoria, faz violência a si mesmo (Pv 8.36);
b) Designa, frequentemente, o mal praticado contra o próximo (2Sm 19.20;
1Rs 8.31); c) O pecado contra o concerto (Êx 32.30-33); d) Em Jó 1.5 a
palavra refere-se ao pecado íntimo, nos pensamentos do coração; e)
183

Referência aos pecados voluntários ou deliberados (Êx 10.17; Dt 9.18; Sl


25.7).
Chata' (pecado) é o termo geral para designar as várias formas de
pecado no AT. Pressupõe que o homem “erra o alvo” contra o próximo,
Deus e a si mesmo.
Pasha (rebelar-se ou revoltar-se). O pecado, no sentido mais
profundo da palavra, é representado pelo verbo “pasha'” e o substantivo
“pesha'”. O verbo significa “rebelar-se ou revoltar-se”. É usado em 1 Reis
para referir-se à rebeldia contra a casa de Davi (Is 1.2; Os 8.1). As palavras
transgredir e transgressão não traduzem adequadamente as palavras
hebraicas (Am 3.14; Mq 1.5; Êx 34.7; Ez 21.29; Sl 32.5; Dn 9.24). “Pasha'”
mostra que o pecado, na sua essência, é mais do que violação de
mandamentos e proibições. Em última análise, o pecado é uma revolta da
vontade do homem contra a vontade de Deus.
Rasha (ímpio) o verbo significa ser provado, ímpio, culpado,
pecaminoso e descreve o caráter formado pela prática do pecado (Sl 1.1; Is
3.11). A palavra é mencionada cerca de duzentos e sessenta e uma vezes e a
famosa Tradução dos Setenta (LXX) a traduz por irreligioso, perverso,
transgressor e, geralmente, indica a mudança no estado moral ou religioso
do homem. O termo é usado frequentemente como sinônimo de palavras
que significa enganar, defraudar, trair (Jr 12.1).
Awon (iniquidade) o termo hebraico deriva-se da raiz “‘awah”, que
provém da ideia de torcido ou pervertido (Gn 19.15; Sl 31.10; Zc 3.9). O termo
é usado cerca de duzentos e trinta e uma vezes sempre no sentido de torcer,
perverter, desviar, ficar culpado de perversidade, designando um pecado de
má intenção. Muitas vezes a palavra significa culpa, ou da iniquidade
cometida, ou da natureza perversa que pratica a iniquidade. A palavra é
usada em alguns paralelismos como sinônimo de “chata'” (Is 5.18).
Nabeel (pingar ou secar) significa pingar ou secar; origina ser o
pecador seco, insensível (Sl 14.1; 53.1; Is 32.6; Sl 74.18; Dt 32.6,21).
Tame’ (ser impuro) o termo hebraico significa mergulhar, estar
imerso com o sentido de ser manchado ou poluído, como resultado da
imersão: “[...] sou homem de lábios impuros, habito no meio dum povo de
impuros lábios [...]” (Is 6.5; Nm 5.13-29; Jr 2.23; Sl 106.39; Os 5.3; 6.10; Ez
22.3-5).
Ma' al (transgredir) o termo envolve infidelidade e traição, ou o ato
de ser culpado, de quebrar uma promessa ou não cumprir a palavra.
184

Deus dotou o homem com um alto privilégio e uma solene


responsabilidade, mas ele foi infiel e desleal ao propósito divino. Às vezes,
significa que o homem planeja a traição ou a quebra de sua palavra contra
Deus e sua elevada vocação. Geralmente é traduzido como transgredir ou
prevaricar (Lv 16.16,21; 26.40; Nm 5.6; 31.16; Dt 32.51; 2 Cr 26.18; 29.6).
To'a Bhah (coisa abominável) o termo hebraico designa
especialmente os pecados repugnantes para Deus, ou chamados de
abominação, aquilo que é detestável, ofensivo. Aplica-se geralmente:
a) Aos ímpios (Pv 29.7): na literatura sapiencial, o termo ímpio
(rasha’), e seus cognatos (prepotente, perverso, zombador e estulto),
designam o mesmo tipo de homem. Pessoas ímpias ou perversas eram
culpadas da violação dos direitos sociais de outros, pois foram violentas,
opressoras, avarentas, envolvidas em tramar contra os pobres e
apanhá-los em armadilhas, e com disposição de até mesmo assassinar a
fim de atingir seus objetivos.
Eram desonestas em seus negócios e nos tribunais; enriqueciam
por meio de opressão e toda espécie de práticas fraudulentas. Geralmente, o
ímpio é perfilado como alguém que odeia o Senhor (Êx 2.13; Nm 35.31; 2Sm
4.11; 2Cr 19.2).
Ml 3.18 ressalta que uma das principais características do ímpio é
recusar-se a servir ao Senhor. O ímpio se esquece de Deus (Jó 8.13);
despreza-O (Sl 10.3); provoca-O (Is 5.12), age como se Deus não existisse
(Sl 10.4; 14.1; 53.2), como se Deus não fosse vivo (Sf 1.12 cf. Jó 22.17) e não
visse nada (Sl 94.7 cf Jó 22.13s); ele acha que não vale a pena servir a Deus
(Ml 3.14s).
O ímpio peca por fraude, injustiça, mentira, opressão, soberba,
avareza, embriaguez e luxúria, pecados estes censurados, sobretudo, pela
literatura sapiencial (Sl 10.2-11; 36.2-5; 73.6-9; 94.3-7; Jó 24.2-4). A
impiedade praticada pelo ímpio não ficará sem castigo.
Várias vezes é afirmado o pensamento de que a impiedade traz a
sua punição em si mesma: “Ai do ímpio, porque nada lhe correrá bem; ele
receberá segundo as obras de sua mão” (Is 3.11). “Comerá do fruto da sua
maldade fartar-se-á da própria impiedade” (Pv 1.31,32; 5.22s; 11.27; 14.32;
Sl 37.14).
No NT a mesma gama de ideias do Antigo Testamento é repetida
(Rm 11.26 cf. Is 59.20; 2Tm 2.16; Tt 1.12; Rm 4.5; 2Pe 2.5). Todos os
pecadores, segundo a epístola de Judas, podem ser chamados de ímpios.
185

b) À idolatria (Dt 7.25, 26; Jr 16.18; Ez 5.11; 7.20; 2Cr 15.8): Idólatra é
o adorador de ídolos, e o culto que lhes é prestado é chamado idolatria. No
período pré-mosaico, a idolatria já era um costume dos povos. O Decálogo
proíbe explicitamente a idolatria no primeiro e segundo mandamentos (Êx
20.3-5). Em Deuteronômio 4.15-28, no caso de transgressão nacional, está
determinado o castigo para os idólatras.
A idolatria é pecado porque priva a Deus de um direito que lhe é
próprio – o culto e a adoração – daí ser considerada “coisa abominável”.
Ezequiel denuncia a idolatria como infidelidade e prostituição (16.36;
37.23) e, segundo o mesmo profeta, Jerusalém foi destruída devido a sua
idolatria (33.25; 36.18,25), provavelmente para cumprir-se Êxodo 22.20 e
Deuteronômio 13.12-16.
Muitos afirmam que o pecado é uma ilusão. Esta ideia (errônea)
assume várias formas de expressão. Por exemplo: a) nossa falta de
conhecimento é a razão pela qual temos a ilusão do pecado; b)
consideramos algo como pecado por não ter conhecimento pleno dessa
realidade.
Este tipo de pensamento conclui que quando a evolução tiver tido
tempo suficiente para progredir, a ilusão do pecado desaparecerá. Isto
significa dizer que aquilo que hoje consideramos pecado, um dia não o será
mais devido a uma maior luz que recebemos sobre este assunto. Por
exemplo: a) a bateria (instrumento musical) era considerada como
instrumento diabólico, hoje já não é mais; b) dizer que a terra era redonda,
já foi razão de se condenar homens, hoje já não é mais; c) um segundo
casamento era tido como impraticável pela igreja, hoje já não é mais.
Mas afinal o que é pecado? Vejamos algumas definições:
a) O Pecado é Egoísmo. Esta é uma das definições mais ouvidas. É
bíblica, embora correta ela é incompleta e insuficiente. O ato de viver uma
vida centralizada no “ego” ou “eu” é pecado, pois vai contra o princípio de
Deus de amar o próximo como a si mesmo. Contudo isso não define a
totalidade do que é pecado.
b) O Pecado é a Violação da Lei. Esta definição também é bíblica,
mas insuficiente, a não ser que o conceito de lei seja estendido de modo a
compreender todo o caráter de Deus, e não simplesmente os 10
mandamentos. 1Jo 3.4 afirma “Todo aquele que pratica o pecado também
transgride a lei: porque o pecado é a transgressão da lei”.
186

c) Pecado é Rebelião/ Desobediência. A Bíblia entende que todas as


pessoas estão em contato com a verdade de Deus. Paulo nota que isso inclui
até mesmo os gentios, que, embora não tenham a revelação especial, têm a
lei de Deus escrita no coração (Rm 2.14,15).
A incapacidade de crer na mensagem, particularmente quando ela é
apresentada de forma expressa e exclusiva, é desobediência (rebelião)
contra Deus. O pecado como princípio, é rebelião contra Deus. É recusar
fazer a vontade dele que tem todo o direito de exigir obediência de nós.
d) Pecado é Uma Inclinação Interior. Pecado não são simplesmente
atos errados, estes são frutos de uma natureza pecaminosa. Portanto,
pecado é uma disposição interior inerente que nos inclina para atos
errados. Pecamos porque somos pecadores. É o mau estado da alma ou da
personalidade.
O pecado é qualquer coisa contrária ao caráter de Deus. Esta é a
melhor definição, contudo poderíamos dizer que o pecado é qualquer falta
de conformidade, ativa ou passiva, com a lei moral de Deus. Isso pode ser
uma questão de ato, de pensamento ou de disposição ou estado interior.
Pecado é a incapacidade de viver de acordo com o que Deus espera de nós
no que diz respeito ao que fazemos, pensamos e somos.
Inclui-se aqui o fato de que pecado é o cumprimento incompleto
dos padrões de Deus. Quando cumpro de maneira incompleta os padrões de
Deus estou agindo de maneira contrário ao seu caráter; pois Deus não é
meio bom, nem meio santo, justo, misericordioso, etc. Muitas vezes
podemos fazer o que é certo, mas pelo motivo errado, de modo que
cumprimos a lei, mas não seu espírito (Mt 6.2,5,16).

6.9 A Origem do Pecado173

Mencionamos várias perspectivas bíblicas do pecado. Agora


precisamos perguntar a respeito da origem do pecado. Sem dúvida que
discutir a origem do pecado nos faz pensar a respeito da existência do
mal.174

173
Cf. A Origem do Pecado no Mundo. Hernandes Dias Lopes, Youtube in:
https://l1nq.com/1LppW. Para maiores informações sobre essa temática, cf. EBD: A Origem do
Pecado (Estudo de Gênesis). Arival Dias Casimiro, Youtube in: https://encr.pw/X200l
174
A seita maniqueísta foi fundada por Mani (ou Manes), um monge asceta que nasceu
na aldeia rural de Nahar-Kouta, distrito de Mardini localizada entre o rio Eufrates e Tigre (não
muito distante da atual Bagdá) na Babilônia do Norte, em 14 de abril de 216 d.C. e pregou sua fé
187

De acordo com a narrativa bíblica, a origem do pecado remonta ao


Livro de Gênesis, no Antigo Testamento. A história é conhecida como “A
Queda do Homem” e relata como Adão e Eva, os primeiros seres humanos
criados por Deus, desobedeceram ao seu mandamento, facilitados na
introdução do pecado no mundo.
No Jardim do Éden, Deus colocou Adão e Eva e deu liberdade para
desfrutar de todas as árvores do jardim, exceto a Árvore do Conhecimento
do Bem e do Mal. No entanto, eles foram tentados pela serpente, que era
considerada como Satanás, e acabaram cedendo à tentação. Eva comeu o
fruto proibido e deu a Adão para comer também, violando assim a ordem de
Deus.
A desobediência de Adão e Eva resultou na queda da humanidade,
trazendo consigo as consequências do pecado, como a separação de Deus, o
sofrimento e a morte. A narrativa da origem do pecado está registrada em
Gênesis 3 na Bíblia.

6.10 O Pecado e Suas Relações175

Em relação a Deus, Deus não pode pecar. Em Deus não há pecado,


portanto Deus não é o causador do pecado. “Ninguém, ao ser tentado, diga:
Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e Ele
mesmo a ninguém tenta” (Tg 1.13). “Eu formo a luz, e crio as trevas; faço a
paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas” (Is 45.7). Deus não

pela Pérsia e por quase toda a Ásia, até a Índia e a China, se difundiu no Oriente, e no Ocidente
durou até o século VII. Contêm muitos elementos cristãos, gnósticos e orientais sobre as bases de
um dualismo radical entre o bem e o mal recebido da religião mazdeísta de Zoroastro. A base
dogmática do maniqueísmo é o dualismo que consiste na admissão de dois princípios opostos e
igualmente eternos: o Bem e o mal. São duas naturezas integradas por princípios contrários,
sendo intrinsecamente boas uma é essencialmente má a outra. Os dois reinos, o da Luz e o das
Trevas corresponderiam aos dois princípios já citados. Estes dois reinos gozaram de grande
período de paz, o que fez com que o mundo das Trevas ignorasse o mundo da Luz. Quando os
habitantes daquele se aperceberam do espetáculo admirável e encantador que constituía o reino
da Luz entraram em acordo para invadi-lo e misturar-se com eles. Tal foi a origem da luta entre
os príncipes dos dois reinos. Durante a batalha, muitas partículas da luz se confundiram ou
mesclaram-se com as da natureza do mal, ficando aprisionadas na matéria. Estas partículas
devem ser libertadas para que não sofram a condenação a que está sujeita a matéria. Sua
libertação se realiza diariamente em todo o mundo e em seus elementos, e de modo especial a
observam os eleitos através da comida e da bebida, atos pelos quais as partículas de luz, livres de
suas ataduras das trevas, são transportadas ao reino de Deus em dois navios luminosos, que são a
lua e o sol.
175
Cf. Teologia Sistemática - Hamartiologia: O Pecado e Suas Consequências. Moises
Brasil Maciel, Youtube in: https://l1nq.com/EZSnF
188

criou o mal no sentido moral. “Pois tu não és Deus que se agrade com a
iniqüidade, e contigo não subsiste o mal” (Sl 5.4-5). Deus não tenta
ninguém, pois ele é a fonte de toda boa dádiva e todo dom perfeito (Tg
1.13-17).
A palavra “mal” em Isaías 45.7 vem de uma palavra original que
pode ter vários sentidos. Neste contexto e em outros onde Deus faz ou traz
o mal, a palavra significa “calamidade” ou “punição”. É o oposto de paz.
Deus usaria Ciro para “abater as nações” (45.1).
Em 45.8, Deus promete salvação (paz) e justiça (punição ou mal).
Outros trechos usam a mesma linguagem. Os males que Deus ameaçou
trazer em 2 Reis 22.16 foram punições e calamidades (cf. Js 23.15, onde
aparece a mesma palavra no original). O mal não foi criado por Deus, o mal
foi a ausência da luz e do bem primeiramente em Satanás e depois no
homem. O mal não é uma coisa, como uma pedra ou a eletricidade. Você
não pode ter um “pote de mal”! Mas o mal é algo que acontece, como o ato
de correr. O mal não tem uma existência própria, mas na verdade, é a
ausência do bem.
Por exemplo, os buracos são reais, mas somente existem em outra
coisa. À ausência de terra, damos o nome de buraco, mas o buraco não pode
ser separado da terra. Quando Deus criou todas as coisas, é verdade que
tudo o que existia era bom. Uma das boas coisas criadas por Deus foram
criaturas que tinham liberdade em escolher o bem, ao não escolher o bem
trouxeram à existência o mal.
Em relação a Satanás, o pecado foi achado em Satanás (Is 14.12-20;
Ez 28.14,15). Esta afirmação é o mais próximo que a Bíblia chega de uma
indicação da origem do pecado. Antes do homem pecar, Satanás já tinha
pecado. Satanás era íntegro e moralmente sadio, (por mais que seja
estranho afirmar isso) até que seu desejo egoísta de se tornar maior que
Deus dominou o seu ser.
Por ter sido a primeira criatura a ser dominada por seus desejos
egoístas, é chamado pai da mentira. Satanás se voltou contra a verdade de
que somente Deus é Deus, e, muitos outros anjos acreditaram em sua
mentira. Ele deseja ser adorado e reconhecido como um deus. “[...] Ele (o
Diabo) foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade,
porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é
próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44).
189

Em Relação a Anjos, alguns deles seguiram a Satanás em seu


pecado, o que demonstra que os mesmos são livres para escolher a quem
deseja servir.
Em Relação ao Homem, segundo a Bíblia o homem foi feito à
imagem de Deus (Gn 1.27). Esta semelhança do homem com Deus tem duas
significações, a saber, natural e moral. Entende-se por semelhança natural
que o homem foi criado com os mesmos poderes pessoais que constituem a
personalidade de Deus. Isto é, o homem é pessoa como Deus é pessoa. A
diferença está no fato de que Deus é pessoa divina (infinita e Criador),
enquanto o homem pessoa humana (finita e criatura).
A semelhança natural do homem com Deus se faz em ser pessoa,
isto é, um ser capaz de pensar, de querer, de amar e de dirigir-se a si
mesmo. Esta semelhança o homem não a perdeu na queda, contudo ela
ficou distorcida. O homem foi também criado moralmente semelhante a
Deus.
Por semelhança moral entende-se que o caráter do homem era
semelhante ao caráter de Deus. A disposição da alma do homem, quando
criado, era boa. Por isso é que estamos diante deste problema da origem do
pecado no homem. Como é que o pecado se originou num ser criado natural
e moralmente semelhante a Deus?
A Bíblia ensina que o homem deixou entrar o pecado neste mundo.
Ele abusou tanto de sua liberdade como de seus poderes pessoais: escolheu
o mal e rejeitou o bem. Desta forma o pecado tem sua origem na história da
humanidade no Éden (Rm 5.12).
A responsabilidade do pecado é do próprio homem: “Cada um é
tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então a cobiça,
depois de haver concebido, dá à luz ao pecado; e o pecado, uma vez
consumado, gera a morte” (Tg 1.14,15).
A partir desta leitura podemos afirmar que o pecado se origina dos
desejos. Todos temos desejos (desejo de desfrutar coisas, de obter coisas e
fazer coisas). Esses desejos, a princípio, são legítimos. Por exemplo: Desejo
que o alimento seja natural e indispensável para nossa sobrevivência. Do
mesmo modo o impulso sexual, sem o qual não haveria reprodução
humana. O problema surge quando nossos desejos ditam nossas escolhas.
Há maneiras apropriadas de satisfazer cada um desses desejos e
também há os limites impostos por Deus. A incapacidade de aceitar esses
190

desejos conforme foram constituídos por Deus, e, portanto, de


submetê-los ao controle divino, é pecado.
Quando nossos desejos são dominados pelo egoísmo, quando só
pensamos nos benefícios que a realização desse desejo nos trará sem
levarmos em conta as demais pessoas e principalmente a Deus, estamos
próximos de pecarmos.
Desejo + Egoísmo = Pecado. O desejo de fazer o que se faz pode
estar presente de forma natural (exemplo: Eva tinha fome – comer o fruto
era um desejo natural) e também pode haver indução externa (exemplo: a
serpente a induz a avançar o sinal usando seu desejo natural). Deus nos deu
leis e princípios morais com o fim de nos proteger e não de nos punir. As
leis de Deus visam preservar o homem do sofrimento. Quando pecamos
sempre causamos a nós ou a outros dor e sofrimento.

6.11 As Consequências dos Pecado176

Podemos dizer que a morte é sem dúvida o preço pago pelo homem
como consequência de seu pecado. Normalmente os estudiosos definem
que com a queda do homem veio a morte e esta se manifestou de duas
formas: física e espiritual.
A morte surgiu como consequência de uma lei espiritual quebrada,
conforme descreve o apóstolo Paulo aos irmãos da igreja de Roma –
“porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida
eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23), Sem dúvida esta é uma
verdade absoluta. A morte atingiu o homem fisicamente e espiritualmente.
Gostaria de analisar com você o que isso significa e também de
considerarmos que a morte fere também a relação do homem com todo seu
universo.
A morte espiritual. O homem e o Criador foram separados, a essa
separação chamamos de morte espiritual. A morte espiritual é a separação
entre a alma/espírito e Deus. A Queda implica diretamente na separação
espiritual com Deus. Em função da entrada do pecado no mundo, o homem
está privado de desfrutar dessa bem-aventurança, pois Deus não pode
conviver, nem manter comunhão com o pecador.

176
Cf. Rev. Augustus Nicodemus - Os Efeitos do Pecado. Primeira Igreja Presbiteriana
de Goiânia, Youtube in: https://l1nq.com/7C2JE
191

Por essa razão afirma-se não existir mais comunhão direta entre
Deus e os homens. No relato de Gênesis, vemos que após cometerem uma
infração direta à Lei de Deus, tanto o homem como a mulher
“esconderam-se”. Isso implica que a comunhão com Deus havia sido
quebrada.
A morte espiritual além da separação de Deus trouxe outro
resultado na vida do homem, ela fez com que o homem perdesse sua
semelhança moral que tinha com Deus. Tudo no homem ficou corrompido.
O homem sofre a morte psicossomática (psico [alma] – somática [corpo]),
como veremos no próximo item. A consequência final da morte espiritual
sobre o homem é a separação eterna de Deus. Somente a regeneração
oferecida por Cristo pode mudar o final desta história.
A morte física. O pecado trouxe ao homem a morte física, isto é, o
fim da existência do seu corpo como matéria. O homem ficou condenado a
se separar do seu corpo. O espírito voltará a Deus e o corpo voltará a terra
(Ec 12.7). A esta separação chamamos de morte física. A morte física
implica em uma deterioração do físico, dia após dia, até que o mesmo não
suporte mais o peso da existência. O corpo se tornou frágil e limitado.
Após a morte física seremos julgados por Deus e este julgamento
determinará nosso futuro eterno. Se você não nascer de novo, jamais terá
vida e isto te levará à morte eterna ou segunda morte; esta é a morte da
qual não há oportunidade de escapar.
A Bíblia diz “mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos
abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos
idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com
fogo e enxofre, o que é a segunda morte” (Ap 21.8).
A morte psicossomática. Estou chamando de morte psicossomática a
separação psicossomática: o homem em si mesmo. O homem, em função
do pecado, sofre da falta de unidade no que tange aos aspectos imateriais
do homem. Ou seja, o pecado desestabiliza a harmonia inicial do homem, e
devido a isso, não pode portar-se de maneira irrepreensível diante da Lei
de Deus, e do próprio Deus (Gn 3.8 o homem se esconde de Deus – é
dominado pelo medo e vergonha).
E as consequências ainda podem ser claramente observadas: A
mulher passa a sofrer as dores do parto (Gn 3.16 O que lhe é razão de grande
alegria, vem por meio de muita dor), o homem a (Gn 3.17 o homem passa a
sentir cansaço por causa do trabalho e condenado a se esforçar pelo
192

alimento). O homem passa a travar uma batalha para se manter no bom


caminho uma vez que suas inclinações, agora, pendem ao pecado, ao erro, a
prática do mal orientado contra Deus.
A morte sociológica. A esta morte chamaremos de separação
sociológica: o homem do homem. O homem não perde apenas comunhão
com Deus, e harmonia consigo mesmo, mas em função do pecado o homem
está separado do homem. Em Gn 3 podemos ler a seguinte declaração:
Então disse o homem: “A mulher que me deste por esposa, ela me deu da
árvore, e eu comi” (v.12).
O primeiro conflito do homem encontra-se no contexto
matrimonial. Ou seja, entre homem e mulher. Entretanto, o
relacionamento homem mulher não é o único prejudicado, mas qualquer
espécie de relacionamento, pois em Gn 4.1-8 podemos notar o ciúmes e o
homicídio de Caim para com Abel.
A morte ecológica. A queda do homem afetou sua relação com a
natureza, ocorreu uma separação entre o homem e a natureza. A terra se
tornou maldita por causa do homem (Gn 3.17,18). Passou a ser necessário
que o homem viva em constante trabalho para sua sobrevivência (3.18-19).
Entretanto, esse trabalho é enfadonho agora, pois a terra precisa
ser cuidada para que dê fruto. Sem contar que o homem agora teria sua
tarefa dificultada pelos espinhos e abrolhos. Este texto nos indica que o
homem trabalhava, mas não se sentia exausto; e seu trabalho não era
enfadonho e sim algo que lhe fazia se sentir realizado.
Por consequência do pecado, a natureza passou a sofrer. Note que
agora a “terra é maldita”, “produzirá cardos e abrolhos” e está sujeita à
vaidade (Rm 8.20-22). É interessante lermos Isaías 11.6,7; 65.25, pois o
mesmo descreve como será a relação entre as espécies na nova terra.
Essa relação é caracterizada pela harmonia e paz entre todas as
espécies. “O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao
cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um
pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas
se deitarão; o leão comerá palha como o boi” (Is 11.6,7). Ao fazermos essa
leitura podemos imaginar ou ter um pequeno vislumbre de como era nos
dias de Adão e Eva, antes da queda.
A morte cosmológica. Embora nosso conhecimento do universo seja
limitado, podemos afirmar com certeza que todo o universo também foi
afetado pela queda do homem. Sol, luz e estrelas de alguma forma afetam
193

também nosso dia a dia. Exemplo: O sol produz um calor maior do que
podemos suportar e nos leva a sofrermos doenças e muitas vezes a morte.
A ausência do mesmo também pode nos levar a experimentar um
frio intenso que nos levará à morte. O livro do Apocalipse descreve o castigo
que estes elementos do universo trarão sobre nós. Portanto, até o universo
conspira contra nós por causa do pecado.

6.12 O Pecado Pessoal/Original177

Pecado pessoal, são pecados cometidos por indivíduos. Podem ser


pecados deliberados ou pecados por ignorância. Errar o alvo também
implica atingir o alvo errado. Este pecado pode ser cometido tanto por
cristãos como pelos que vivem sem Cristo. A penalidade é a perda da
comunhão com Deus. Todo pecado gera uma quebra na comunhão com
Deus. Contudo isto não implica na perda da salvação do cristão.
A salvação é o perdão, a retirada da culpa produzida pelo pecado.
Justificação à declaração da atribuição da justiça de Cristo ao pecador que
crê e é perdoado. Os que vivem sem Cristo precisam reconhecer a Jesus
Cristo como único Salvador de suas vidas. É necessário que elas confiem a
Jesus como Cristo, para que recebam o perdão e a justificação conquistado
por elas, e, por Ele na cruz. Quanto aos cristãos, estes precisam confessar
seu pecado, segundo está escrito em 1Jo 1.9.
Já os pecados sociais são todos comportamentos coletivos de
grupos sociais que ferem os valores do Reino de Deus. Atos cometidos pela
sociedade que promovem a morte física, psicológica e espiritual dos
indivíduos. É pecado social toda ação cometida contra os direitos da pessoa
humana, a começar pelo direito à vida, à integridade física (moradia,
alimentação, saúde), psicológica (educação) e espiritual (religiosa). Por
exemplo: Corrupção, o consumismo exagerado, o egoísmo individualista, a
irresponsabilidade no trânsito e estradas, exclusão social gerada pela
pobreza ou falta de informações, etc.

6.13 O Pecado Pessoal vs Pecado Social178

177
Cf. Hamartiologia (Doutrina do Pecado) Aula 3 - O Pecado Pessoal. Pr. Paolo
Freitas, Youtube in: https://l1nq.com/puSC1
178
Cf. O que é Pecado Social? Gidalti Guedes, Youtube in: https://encr.pw/6YfNJ
194

Devemos considerar que o pecado pessoal interfere no pecado


social. O pecado social é fruto do pecado pessoal. É também verdade que o
pecado pessoal tem sempre um valor social. “Enquanto ofende a Deus e
prejudica a si mesmo, o pecador torna-se também responsável pelo mau
testemunho e pelas influências negativas ligadas ao seu comportamento.
Mesmo quando o pecado é interior, produz em todo caso um agravamento
da condição humana e constitui uma diminuição daquele contributo que
todo o homem é chamado a dar ao progresso espiritual da comunidade
humana”.
Não podemos ignorar que as estruturas vigentes em nossa
sociedade perpetuam o pecado social. Contudo isto não nos isenta de nossa
responsabilidade no pecado social. Se as estruturas perpetuam o mal é
porque aceitamos passivamente o domínio do mal.
A natureza pecaminosa é a capacidade e inclinação humana para
fazer tudo aquilo que nos torna reprováveis aos olhos de Deus (2Co 4.4; Ef
4.18; Rm 1.18). Resultado da Natureza Pecaminosa: a) morte espiritual –
todo homem nasce espiritualmente morto; b) depravação total (visão
calvinista) total impossibilidade do homem de se salvar ou responder a
Deus por sua salvação. Ouvir o Espírito Santo é ação do próprio Espírito
Santo no homem; c) depravação do homem, mas não em sua totalidade
(visão arminianos) total impossibilidade do homem de se salvar, mas capaz
de ouvir o apelo do Espírito Santo e responder ao mesmo.
“Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23). O
pecado como falamos é um estado mau da alma, e este estado é universal,
isto é, todos nascem neste estado mau. Todo ser humano nasce com a
natureza pecaminosa, todos nascem tendenciosos ao egoísmo, mentira, e
os demais frutos desta natureza.
A esta natureza pecaminosa que herdamos chamamos de pecado
original; este nos foi imputado. Jesus Cristo foi a única pessoa que nasceu
fora deste estado e livre deste princípio fundamental. Uma vez que todo ser
humano nasce debaixo deste princípio, todos sem exceção já nascem
condenados à morte eterna, se não forem salvos pela graça de Deus.
Todos nascem mortos espiritualmente e precisam ser
ressuscitados com Cristo (Ef 2.4-6). A. B. Langstone assevera:

Quando Adão caiu, com ele caiu a raça humana, pois ele era a raça
de então. Sua queda começou a fazer parte da sua natureza moral,
195

que passou aos seus descendentes. Outros pecados confirmam o


estado do homem decaído. O pecado da raça é nosso, mas os
pecados pessoais de Adão não nos pertencem e não participamos de
sua culpa. É por isso que Deus nos imputa o pecado da raça e não os
pecados pessoais de Adão.

Portanto, “cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm


14:10-12). “Como semente gera semente da mesma espécie”, nós,
sementes de Adão, herdamos a natureza pecaminosa.
Assim, “por um só homem entrou o pecado no mundo [...] pois
todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Gn 2.16-17; 3.1-6;
Rm 3.23; 5.12). A esperança é que se “pela desobediência de um só homem,
muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão
feitos justos” (Rm 5.19). Jesus Cristo que não nasceu da natureza adâmica
(pecaminosa), morreu a nossa morte (Rm 6.23), pagando o preço do
pecado, e juntamente com Ele nos ressuscitou para uma nova vida. Jesus
Cristo foi o sacrifício, o cordeiro que nos trouxe a paz.179
O resultado da participação de cada homem no pecado original de
Adão (Rm 5.12) Toda a humanidade estava em Adão, participando de seu
pecado e assumindo a culpa resultante dele. É transmitido diretamente de
Adão a cada membro da raça. A penalidade é a morte física e espiritual. Mas
o remédio, a Justiça imputada de Cristo (2Co 5.21).

6.14 O Crente Pode Pecar?180

Muitos que não conhecem profundamente a Palavra de Deus são


tentados a pensar que uma vez que uma pessoa se torna crente, ela nunca

179
Entre os demais povos antigos o conceito de pecado era: ofensa à divindade. Esta
ofensa ocasionava a ira da divindade, a qual precisava ser aplacada mediante sacrifícios. Os
sacrifícios foram estabelecidos em Israel não para simplesmente aplacar a ira, mas acima de tudo
para restabelecer a comunhão com Deus. O livro de Levítico é o manual das cerimônias
sacrificiais, para mostrar a Israel como tratar com o pecado cometido. É o livro onde mais
aparece a raiz ajx, ao todo 116 vezes em 85 versículos. A importância de remover o pecado é
atestada pelo uso desta mesma raiz no grau intensivo fiel para falar do ritual da purificação dos
pecados (Êx 29.36; Lv 9.15; Sl 51.9). Isto explica porque a mesma palavra que designa pecado
também designa a oferta pelo pecado (Lv 7.37; 2 Cr 29.21; Ne 10.33). Mas o ritual expiatório
levítico era bastante restrito: somente os pecados cometidos involuntariamente ou na ignorância
poderiam ser perdoados, ficando sem expiação os pecados cometidos deliberadamente (“à mão
levantada”: Nm 15.22-31).
180
Cf. O que Acontece Quando o Cristão Continua Pecando? - (Dúvidas do Cristão). Pr.
Antônio Junior, Youtube in: https://encr.pw/1mQtC
196

mais peca. Contudo a Bíblia afirma exatamente o contrário, todo cristão


está sujeito a pecar. O apóstolo João ao escrever sua primeira epístola aos
seus irmãos da fé diz o seguinte: “Se dissermos que não temos pecado, nós
mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” [...] “Se dissermos
que não temos pecado, façamo-lo mentiroso e a sua palavra não está em
nós” (1Jo 1.8, 10). O próprio apóstolo João se inclui em sua sentença.
Paulo, o apóstolo dos gentios, afirma travar uma luta constante
com sua carne. Segundo o próprio Paulo, muitas vezes, ele acabava
“errando o alvo”, cometendo pecado, mesmo não querendo fazê-lo.
“Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço.
Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e, sim, o pecado
que habita em mim” (Rm 7.19-20).
O pecado que o crente tem é ligado a ele por ele viver no mundo (1
Jo 2.16) e ter o pecado ainda nos seus membros (Rm 7.23). Enquanto o
crente está na carne, preso a natureza adâmica e pecaminosa, terá de
conviver com o problema do pecado. Mt 26.41 “[...] o espírito está pronto,
mas a carne é fraca”.
Embora seja desejável que um cristão viva de acordo com os
ensinamentos de Jesus e evite o pecado, a realidade é que os cristãos
também são falíveis e propensos a cometer erros. A crença central do
cristianismo é que a salvação é alcançada pela graça de Deus, através da fé
em Jesus Cristo, e não por meio das próprias obras ou capacidades
humanas. No entanto, o desejo de um cristão é buscar uma vida de
santidade e agradar a Deus. O pecado é prejudicial, separa a pessoa de Deus
e prejudica os relacionamentos com os outros. Por essa razão, um cristão
deve se esforçar para evitar o pecado e buscar a santificação.
Embora a perfeição seja inatingível por méritos pessoais, os
cristãos acreditam que a presença do Espírito Santo em suas vidas
capacita-os a resistir à tentação e a crescer espiritualmente. É necessário
confiar em Deus para ajudá-los a superar o pecado, arrepender-se e buscar
perdão quando falham. Através da obra redentora de Jesus Cristo, o cristão
têm a esperança de reconciliação com Deus e a promessa de que, um dia, na
eternidade, serão transformados completamente, livres da presença e do
poder do pecado.
Portanto, embora o cristão não esteja isento da possibilidade de
pecar, somos encorajados a buscar uma vida de obediência a Deus, confiar
197

em Sua graça para perdoar e capacitar, e a buscar a santidade, mesmo


reconhecendo suas limitações humanas.

6.15 O Padrão de Vida Cristã181

O padrão de vida para o crente. “Se, porém, andarmos na luz, como


ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de
Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1Jo 1.7). “Aquele que diz que
permanece Nele, esse deve também andar assim como Ele andou” (1Jo 2.6).
Mesmo que haja a capacidade de pecar, o crente é responsável por
não pecar. “Sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver”
(1Pe 1.15). “Estas coisas vos escrevo para que não pequeis” (1Jo 2.1).
A possibilidade de pecar nunca é razão de culpa da ação do pecado,
mas uma forte e boa razão para se vigiar (Mt 26.41) para que não entreis em
tentação. Não podemos nos esquecer que pecamos por causa de nossa
própria cobiça. A prevenção contra o pecado é realizada na vida do crente
das seguintes formas: a) através da Palavra de Deus (Sl 119.11); b) da
Intercessão de Cristo (Jo 17.15,20; Rm 8.34); c) O Espírito Santo (Jo 7.26); d)
Oração.
Em suma, a vida de um cristão é baseada nos ensinamentos de
Jesus Cristo e nos princípios da fé cristã. Embora a prática do cristianismo
possa variar entre as diferentes denominações e tradições, existem
algumas diretrizes gerais que podem ser consideradas:
1. Relacionamento com Deus: Um cristão deve buscar um
relacionamento pessoal e íntimo com Deus através da oração, estudo da
Bíblia e comunhão com outros crentes. A fé em Jesus Cristo é fundamental,
reconhecendo-o como Salvador e Senhor.
2. Amor ao próximo: Jesus ensinou a importância de amar e servir
aos outros. Os cristãos devem praticar o amor incondicional, perdoar
aqueles que os ofendem e buscar ajudar os necessitados e marginalizados.
3. Moralidade e integridade: Um cristão deve viver de acordo com
padrões morais elevados, seguindo os ensinamentos de Jesus e buscando a
santidade. Isso implica em evitar comportamentos pecaminosos e buscar
viver uma vida de integridade e honestidade.

181
Cf. Como Viver a Vida Cristã? - Lucas Previde. Igreja Presbiteriana de Santo Amaro,
Youtube in: https://l1nq.com/Cu8um
198

4. Testemunho e evangelismo: Os cristãos são chamados a


compartilhar sua fé com os outros e ser testemunhas de Jesus Cristo. Eles
devem proclamar o evangelho e viver de forma a refletir a luz de Cristo para
o mundo ao seu redor.
5. Comunidade de fé: O cristão é encorajado a se envolver em uma
comunidade de fé, como uma igreja local, onde possa adorar a Deus,
aprender, receber encorajamento e apoio mútuo dos outros crentes.
Esses são apenas alguns aspectos-chave da vida cristã. No entanto,
é importante ressaltar que a jornada cristã é pessoal e cada indivíduo pode
experimentá-la de maneira única, guiado pelo Espírito Santo e de acordo
com sua compreensão da Palavra de Deus.

6.16 A Penalidade do Pecado182

Perda de comunhão com Deus. A penalidade do pecado na vida do


crente (perda de comunhão com Deus). “Todo aquele que permanece nele
não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu.
Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a
justiça é justo, assim como ele é justo.
Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive
pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus, para
destruir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na
prática do pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora esse
não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1Jo 3.6-9). O texto
afirma que o crente não pode viver pecando, isto é, o pecado não pode fazer
parte da vida cotidiana dele.
O pecado faz parte da vida do diabo, mas não dos filhos de Deus.
“Se dissermos que mantemos comunhão com ele, e andarmos nas trevas,
mentimos e não praticamos a verdade” (1Jo 1.6). Quem vive no pecado, vive
nas trevas e não tem comunhão com a luz.
Perda de comunhão com a igreja local. Penalidade do pecado na vida
do crente (exclusão da igreja local). “Eu, na verdade, ainda que ausente em
pessoa, mas presente em espírito, já sentenciou, como se estivesse
presente, que o autor de tal infâmia seja, em nome do Senhor Jesus,
reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor,

182
Gênesis 3.22-24 - Os terríveis efeitos do pecado - Pr. Marcos Granconato. Igreja
Batista Redenção, Youtube in: https://encr.pw/5KVHu
199

entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja


salvo no dia do Senhor” (1Co 5.3-5).
Mais tarde Paulo manda trazer este irmão a comunhão novamente,
entendendo que o mesmo já havia sofrido o suficiente e se arrependido de
seu pecado (2Co 2.5-11). Jesus nos ensina sobre a exclusão também: “Se teu
irmãos pecar [contra ti], vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir,
ganhaste o teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou
duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda
palavra se estabeleça. E, se ele não o atender, dize-o à igreja; e, se recusar
ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano” (Mt
18.15-17). Considerar alguém como gentio e publicano é considerá-lo como
não convertido, isto significa, dizer que aquela pessoa não pertence a
igreja, precisa se converter.
A disciplina divina no crente. Penalidade do pecado na vida do crente
(disciplina de Deus). “Porque o Senhor corrige a quem ama, e açoita a todo
filho a quem recebe” (Hb 12.6).
Penalidade do pecado na vida do crente (às vezes morte física). “Eis
a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes, e não poucos que
dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos
julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não
sermos condenados com o mundo” (1Co 11.30-32).
Diante de tudo isso, é bom vigiarmos para não sermos pegos em
nossas fraquezas, mas se isso acontecer, e acontece por acidente, não se
trata de uma escolha que o crente faz, devemos encaminharmos a confissão
de seus pecados “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para
nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1.9).

6.17 As Teoria Sobre o Pecado183

Dualismo (filosofia grega e gnosticismo). O gnosticismo ensinava


que o contato da alma humana com a matéria era que a tornava
imediatamente pecadora. Esta teoria naturalmente despojou o pecado do
seu caráter voluntário como é apresentado na Bíblia. Orígenes (185-254
d.C.) sustentou este mesmo ponto de vista por meio de sua teoria chamada
“preexistencismo”.

183
Pecado. BibleProject - Português, Youtube in: https://encr.pw/uFvnp
200

Segundo ele, as almas dos homens pecaram voluntariamente em


existência prévia, e, portanto, todas entraram no mundo numa condição
pecaminosa. Este conceito de Orígenes sofreu forte oposição mesmo nos
seus dias. O ser humano tem um espírito derivado do reino da luz e um
corpo com sua vida animal derivado do reino das trevas. Assim, o pecado é
um mal físico, a contaminação do espírito por meio da sua união com um
corpo material. O pecado é vencido ao se destruir a influência do corpo
sobre a alma.
Egoísmo (Tomás de Aquino). Pecado é egoísmo. É preferir as
próprias idéias ao invés da verdade de Deus. É preferir a satisfação da
própria vontade ao invés de fazer a vontade de Deus. É amar-se a si mesmo
mais do que a Deus. Pode manifestar-se na forma de sensualidade,
incredulidade ou inimizade contra Deus.
Pelagiana (Pelágio). O Pelagianismo (do lat. pelagianismus), é a
Doutrina fomentada por Pelágio, clérigo britânico do século IV. Entre
outras coisas, ele afirmava o livre-arbítrio. Para ele, o homem tem a
possibilidade e a liberdade de decidir em favor do bem. A graça é um
benefício que ajuda o homem a escolher o que é bom. O pecado de Adão o
prejudicou somente a ele próprio. Todas as pessoas nascem no mundo no
mesmo estado em que Adão foi criado. Elas têm o conhecimento do que é
mau e a capacidade de fazer tudo o que Deus requer. O pecado, portanto,
consiste apenas na escolha deliberada do mal. O pecado é defeito da
vontade, não da natureza.
Agostiniana (Agostinho). Em geral os Pais da Igreja Grega dos
séculos III e IV se mostraram inclinados a negar a relação direta entre o
pecado de Adão e seus descendentes. Em contraposição, os pais da Igreja
Latina ensinaram com bastante clareza que a presente condição
pecaminosa do homem encontra sua explicação na primeira transgressão
de Adão no Éden.
O ensino da Igreja do Ocidente quanto à origem do pecado teve seu
ponto mais elevado na pessoa de Agostinho. Ele insistiu no ensino de que
em Adão toda a humanidade se acha culpada e maculada. Já os teólogos
semipelagianos admitiam que a mancha do pecado, e não o pecado mesmo,
era causada pelo relacionamento humanidade – Adão.
Durante a Idade Média, o que se cria a respeito do assunto era uma
mistura de agostinianismo e pelagianismo.
201

Os Reformadores, particularmente, comungam do ensino de


Agostinho. Todas as pessoas possuem uma depravação inerente e
hereditária que inclui tanto culpa quanto corrupção. Nós ofendemos a
santidade de Deus por causa de atos deliberados de transgressão e da
ausência de sentimentos corretos.
Católica Romana (Ensino da Igreja e Tradição). O pecado original é
transmitido a todas as pessoas. Nós nascemos em pecado e somos
oprimidos pela corrupção da nossa natureza. Essa privação da justiça
permite que as capacidades inferiores da natureza humana ganham
ascendência sobre as superiores, e a pessoa cresce no/em pecado. A
natureza do pecado é definida com a morte da alma. Portanto, o pecado
consiste na perda da justiça original e na desordem de toda a natureza. O
Pecado Capital é uma expressão com que a Igreja Católica Romana designa
diversos pecados: orgulho, ódio, inveja, impureza, gula, preguiça e avareza.
Racionalismo. Sob a influência do racionalismo e da teoria
evolucionista, a doutrina da queda do homem e de seus efeitos letais sobre
a raça humana, foi descartando-se gradualmente. Começou a se difundir a
ideia de que, se realmente houve o que a Bíblia chama “queda” do homem,
essa queda foi para o alto.
A idéia do pecado odioso, aos olhos santos de Deus, foi substituída
pelo mal, e este mal se aplicou de diferentes maneiras. Por exemplo,
Immanuel Kant o considerou como parte inseparável do que há de mais
profundo no ser humano, e que não se pode explicar.
O evolucionismo chama esse “mal” de oposição das baixas
inclinações ao desenvolvimento gradual da consciência moral. Karl Barth,
teólogo suíço (1886-1968), fala da origem do pecado como um mistério da
predestinação. Em suma, o que muitas correntes da teologia racionalista
erroneamente ensinam é que Adão foi na verdade o primeiro pecador,
porém sua desobediência não pode ser considerada como causa do pecado
no mundo. O pecado do homem estaria relacionado de alguma forma com a
sua condição de criatura. A história do Paraíso nada mais proporciona ao
homem do que a simples informação de que ele necessariamente não
precisa ser pecador.
Hedonismo. O Hedonismo (do grego: hedoné e do latim: hedonismus
[prazer]), é a teoria que sustenta que o melhor ou mais proveitoso que
existe na vida é a conquista do prazer e a fuga da dor. Eles desculpam o
pecado com expressões como estas: “errar é humano”; “o que é natural é
202

belo, e, o que é belo é direito”. A consciência testifica inequivocamente da


realidade do pecado. Todos sabem que são pecadores. Ninguém, que tenha
idade de responsabilidade, tem vivido livre do senso de culpa pessoal e
contaminação moral.
O remorso da consciência, por causa do mal praticado, persegue a
todos os filhos e filhas de Adão, ao passo que as consequências
entristecedoras e terríveis do pecado são vistas através da deterioração e
degeneração física, mental e moral da raça.
Determinismo. Essa teoria filosófica afirma ser o livre-arbítrio uma
ilusão, e não uma realidade. Uma consequência prática do Determinismo é
tratar o pecado como se fosse uma enfermidade por cuja causa o pecador
merece pena, compaixão ou misericórdia (dó), ao invés de ser castigado.
Ateísmo. Nega a Deus, nega também o pecado, porque estritamente
falando, todo pecado é contra Deus, e se não há Deus, não há pecado.
Evolucionista. Baseada e fundamentada na Teoria de Darwin, o
Evolucionismo considera o pecado como herança do animalismo primitivo
do homem, ou seja, na fase evolutiva do homem, erros e falhas são comuns,
até que um dia o homem chegará ao ponto de perfeição.

6.18 O Pecado dos Crentes184

Os filhos de Deus geralmente não caem nos grandes e


bem-conhecidos pecados.185 Mas, segundo a Palavra de Deus, há pecados
que elas cometem frequentemente. Estes pecados são como pequenas
raposas que estragam a uva (nossas vidas), tornando-nos infrutíferos. Mas
quais são estes pecados? Aqui estão alguns deles.
1. Saber fazer o bem, mas não fazê-lo (Tg 4.17). Deus nos manda
repetidamente, que devemos fazer bem a todos, principalmente aos
domésticos da fé (Gl 6.9,10; Tt 2.14; Mt 25.34,35). O Senhor Jesus foi um
exemplo para nós, neste aspecto. Nós lemos em At 10.38 que “Ele andou
fazendo bem.” Quão devagar nós estamos no obedecer este mandamento!
2. Não orar pelos próximos (falta de oração). 1Sm 12.23. Nós
frequentemente oramos por nós mesmos, pelos membros de nossa família,

184
Cf. Sempre caio no mesmo pecado. Paulo Junior Oficial, Youtube in:
https://l1nq.com/8m7Gz
185
Cf. N. Nazarian (Chapel Library). Tradução de Gustavo Stapait Viana 11/01. Rev:
Calvin G. Gardner 11/01.
203

pela nossa igreja, mas nos esquecemos de orar pelos servos do Senhor,
missionários, doentes, reis e por todos que estão em autoridade, e também
por muitos outros (Ef 6.17,18; 1Tm 2.1,2). Esta é uma das “pequenas
raposas.” Nós devemos orar por todos.
3. O pecado de tomar decisões e seguir o nosso caminho sem fé (Rm
14.23). Sim, qualquer coisa que não esteja de acordo com a Palavra de Deus,
não é de fé (Is 8.20). Muitos Cristãos decidem e fazem coisas, sem olhar às
Escrituras para conhecer o desejo de Deus. Outros estragam suas vidas,
com jugos desiguais ou amizades inconvenientes (2Co 6.14). É uma pena!
4. O pecado de fazer acepção de pessoas, ou o de agradar aos
homens mais de Deus (Tg 2.1-9; Gl 1.10). Este pecado é comum em muitas
igrejas. Mais cargos ou posições são dadas aos ricos e educados, do que às
pessoas espirituais que não são ricas ou educadas. Tenha cuidado de não
fazer acepção de pessoas.
5. O pecado de não ser generoso com Deus (Ml 3.8,10; Lc 6.38). Este
é um fato em que, o povo de Deus não oferta o suficiente a Deus. No tempo
do Velho Testamento os Israelitas davam dízimos e ofertas a Deus. Agora,
nós não damos metade disto. Muitos roubam a Deus dizendo, “Nós não
estamos no tempo da Lei.” Se no Velho Testamento os santos davam
dízimos, poderíamos dar menos? Cf. Gn 14.20; 28.22; Mt 23.23. Oremos
para que o Senhor livra-nos deste pecado e nos ensine a dar assim como Ele
nos mandou a dar (2Co 9.6).
6. Não buscar primeiro o Reino de Deus (Mt 6.33). Somente temos
tempo para as nossas próprias necessidades. Trabalhamos duro para
ganharmos mais, algumas vezes deixando de lado as reuniões por isso, mas
não temos tempo para o estudo da Palavra de Deus; para orar, para visitar e
praticar o evangelho diante os não salvos. Este é um outro pecado que tem
arruinado muitas vidas.
7. O pecado de mentir (Cl 3.9). Muitas vezes mentimos sem saber o
que fizemos. Nós cantamos com vozes altas, "Mais de Cristo" mas não
temos a consagração real. Nós cantamos, "Tudo Entregarei" mas a
oportunidade vem para ofertar e damos muito pouco. Nós pregamos mas
não vivemos a mesma mensagem. Que aprendemos a sermos fazedores da
Palavra (Tg 1.22).
8. O pecado de não amarmos os nossos irmãos como o Senhor nos
mandou a amar (Jo 15.12; Tg 2.8, 1Jo 3.16,18). O Senhor frequentemente nos
disse, “Que vos ameis uns aos outros; como Eu vos amei a vós.” (Jo 13.34;
204

15.12). Muitas vezes amamos apenas de boca, mas não pelas ações. Alguns
amam apenas aqueles que os amam ou que estão próximos a eles, mas não
têm nenhum amor por aqueles que são diferentes a eles. Que aprendemos a
amar nossos irmãos como nós amamos a nós mesmos.
205

MÓDULO 7 — DEUS186
“Para os crentes, Deus está no princípio das coisas.
Para os cientistas, no final de toda reflexão.”
—Max Planck187

Cremos que YWHW (tetragrama do grego τετραγράμματον,


tetragrammaton, “conjunto de quatro letras”) é o único e verdadeiro Deus,
que nos foi revelado e transmitido através das Escrituras e de nossos Pais
“Abraão, Isaque e Jacó” (Nm 15.37-41; Dt 6.4-9; 11.13-21). Ele é arquiteto e
criador, acima de tudo e de todos, e está acima do bem e do mal. Deus é um
ser infinito e pessoal (1Co 8.6). O mundo foi criado e é finito (Sl 89.11). Deus
é além do mundo e atua no universo (Rm 1.25). Os milagres são possíveis e
reais (Hb 2.4). Possuímos alma imortal e corpo mortal (1Co 15.4).

[...] estamos entrando em terreno santo e, portanto, devemos


caminhar por essa trilha do conhecimento de Deus com humildade
e reverência. Não estamos falando sobre Deus uns com os outros

186
Cf https://www.luteranos.com.br/textos/trindade | Um dos pontos mais altos do
ensino teológico é a pessoa de Deus, bem como sua revelação trinitária (Pai, Filho e Espírito
Santo). Como o próprio Senhor Jesus, na sua encarnação, é quem revela toda a Trindade,
repensamos a metodologia do pensamento teológico-metafísico a) a pessoa do Pai e sua obra; b)
a pessoa do Filho e sua obra; c) a pessoa do Espírito Santo e sua obra. Mesmo sabendo que os
anjos não compõem a divindade, pelo falo óbvio, não são divinos, mas apenas criaturas um
pouco maiores que os homens, colocamos aqui o estudo da angelologia por se tratarem de seres
espirituais. Cf. O Mistério da Trindade. Luciano Subirá, Youtube in: https://l1nq.com/BngUc
187
Max Planck foi um físico alemão, considerado o pai da física quântica. Ele nasceu
em Kiel, na Alemanha, em 23 de abril de 1858, e morreu em Göttingen, também na Alemanha, em
4 de outubro de 1947. Planck estudou física na Universidade de Munique e na Universidade de
Berlim. Em 1885, ele foi nomeado professor de física teórica na Universidade de Kiel. Em 1892,
ele foi transferido para a Universidade de Berlim, onde permaneceu até sua aposentadoria em
1928. Em 1900, Planck publicou uma teoria para explicar a radiação do corpo negro, que é a
radiação emitida por um corpo aquecido. A teoria de Planck baseia-se na ideia de que a energia é
quantizada, ou seja, ocorre em pequenas porções chamadas quanta. A teoria de Planck foi um
marco na história da física. Ela revolucionou a nossa compreensão da natureza da energia e
lançou as bases para o desenvolvimento da física quântica. Planck recebeu o Prêmio Nobel de
Física em 1918 por suas contribuições para a física quântica. Ele também foi membro da
Academia de Ciências da Prússia e da Royal Society of London. Algumas das principais
contribuições de Max Planck incluem: a) A teoria da quantização da energia, que é a base da física
quântica. b) A explicação da radiação do corpo negro. c) O desenvolvimento da teoria da
constante de Planck. Planck foi um dos físicos mais importantes do século XX. Seu trabalho teve
um impacto profundo na nossa compreensão da natureza da matéria e da energia.
206

apenas, estamos conversando sobre Deus na presença de Deus.


Além disso, estamos reconhecendo que os nossos maiores reforços
para entender o nosso Deus serão como tentar colocar o oceano em
buraco na areia da praia (FRANCESCON, 2022, p. 69).188

No destino humano haverá julgamento: recompensas aos justos e


juízos aos ímpios (1Pe 4.17). A origem do mal implica nosso livre arbítrio
(Gn 2.17). No fim, o mal será derrotado por Deus (Ap 3.21). A base de toda
ética é baseada em Deus (2Co 1.12). A natureza da ética de Deus é absoluta
(Ml 3.6). Na história e seus objetivos, ela é linear, proposital e determinada
por Deus (Is 14.26).
Deus é testemunha entre os homens (Gn 31.50); zeloso (Dt 4.24);
misericordioso (Dt 4.31); único (Dt 6.4); grande e poderoso (Dt 10.17);
perfeito, verdadeiro, justo e reto (Dt 32.4); salvador (2Sm 22.3); excelso em
poder (Jó 36.22); misterioso e eterno (Jó 36.26); justo juiz (Sl 7.11); bem
presente (Sl 46.1); santo (Sl 99.9); a verdade real e eterna (Jr 10.10); Espírito
(Jo 4.24); Fiel (2Co 1.18); Poderoso (2Co 9.8); único (Gl 3.20); Amor (1Jo
4.8); é verdadeiro em seu Filho Jesus Cristo, o verdadeiro Deus e a vida
eterna (1Jo 5.20).
O caráter de Deus é um tema central na teologia cristã e é descrito
de várias maneiras nas Escrituras. Em geral, o caráter de Deus é entendido
como sendo santo, justo, amoroso, misericordioso, gracioso, onisciente,
onipotente e onipresente.
Sua santidade significa que Deus é separado do pecado e da
impureza, e é completamente puro e perfeito. Sua justiça significa que Deus
é fiel e justo em todas as suas ações, e sempre esteve de acordo com a sua
lei e seus princípios morais. Seu amor e sua misericórdia são demonstrados

188
Andando pela areia da praia, Agostinho submerge certa vez em pensamentos
profundos e altíssimos que se elevavam ao céu. Entre seus raciocínios, pensava ele no mistério da
Santíssima Trindade. “Como é que pode haver três Pessoas distintas – Pai, Filho e Espírito Santo –
em um mesmo e único Deus?” Ele avistou, de repente, um menino com um baldinho de madeira,
que ia até a água do mar, enchia o seu pequeno balde e voltava, despejando a água em um buraco
na areia. Santo Agostinho, observando atentamente o menino, lhe perguntou: “– O que estás
fazendo?” O menino, com grande simplicidade, olhou para Santo Agostinho e respondeu: “–
Coloco neste buraco toda a água do mar!” Diante da inocência do menino, o santo lhe sorriu e
disse: “– Isto é impossível, menino. Como podes querer colocar toda essa imensidão de água do
mar neste pequeno buraco?” O anjo de Deus o olhou então profundamente e lhe disse com voz
forte: “– Em verdade, te digo: é mais fácil colocar toda a água do oceano neste pequeno buraco
na areia do que a inteligência humana compreender os mistérios de Deus!”
207

na salvação dos pecadores, que são reconciliados com Deus através da fé


em Cristo.
Sua graça significa que Deus nos dá o que não merecemos, e nos
oferece a salvação gratuitamente, apesar de nossas falhas e imperfeições.
Sua onisciência significa que Deus sabe todas as coisas, incluindo o
passado, o presente e o futuro. Sua onipotência significa que Deus é
todo-poderoso e pode fazer tudo o que deseja. E sua onipresença significa
que Deus está em todos os lugares ao mesmo tempo.
Em resumo, o caráter de Deus é um reflexo de sua natureza divina e
é fundamental para a compreensão da teologia cristã. Os cristãos são
chamados a imitar o caráter de Deus em suas vidas e viver de acordo com
seus princípios.
Bom (Sl 25); Compassivo (Sl 86.15); Fiel (1Co 10.13); Justo (Dt 32.4);
Longânimo (Nm 14.18); Misericordioso (Sl 78.38); Reto (Sl 25.8); Santo (Is
6.3); Zeloso (Êx 20.5).

7.1 A Existência de Deus189

A existência de Deus declarada. A existência de Deus é premissa


fundamental das Escrituras, que, em momento algum, tecem argumentos
para afirmá-la ou aprová-la. Por conseguinte, nossa principal base para a
crença na realidade de Deus se encontra nas páginas da Bíblia.
A Bíblia, portanto, não se destina ao ateu, que nega a existência de
Deus, nem ao agnóstico declarado, que nega a possibilidade de saber se
existe Deus ou não. Também, não tem valor para o incrédulo que rejeita a
revelação de Deus e, por conseguinte, o Deus da Revelação. Deus, sendo
Espírito, não pertence à categoria da matéria e, portanto, não pode ser
descoberto por investigações meramente naturais e materiais.190

189
A existência de Deus é uma questão que tem sido debatida por filósofos e teólogos
há séculos. Não há uma resposta definitiva para essa pergunta, pois ela depende de uma série de
fatores, incluindo a definição de Deus, a natureza da realidade e as evidências disponíveis. Cf. A
Existência de Deus. Luciano Subirá, Youtube in: https://encr.pw/vtc7E
190
Whitelaw deu a seguinte declaração relativa ao fato da existência de Deus dizendo
que: “Se existe ou não uma suprema inteligência pessoal, infinita e eterna, onipotente,
onisciente e onipresente, o criador, sustentador e governante do universo, imanente em tudo, o
Pai e remidor da humanidade, é sem dúvida o mais profundo problema que possa agitar a
humanidade, uma vez que todas as crenças religiosas do homem, está ligado não apenas à
felicidade temporal do homem, mas , também ao bem estar e progresso da raça humana.”
208

Nenhum ser do Antigo Testamento viveu em função de provar, por


meio formais ou informais, a existência de Deus, pois na sua crença, esta já
estava declarada na sua criação como preliminar da fé. Porém, as Escrituras
propõem uma série de provas incontestáveis e irrefutáveis sobre a
existência de Deus.
O Dr. A. B. Davidson afirma: “A Bíblia não tenta demonstrar a
existência de Deus, porque todas as partes deste livro sagrado
subentendem-se na sua existência. Parece não haver nenhuma passagem
no Antigo Testamento que represente os homens procurando conhecer a
existência de Deus por meio da natureza ou pelos eventos da providência, a
grande maioria estavam cônscios de estarem em comunhão com Ele,
sabendo que seu Espírito neles movia e guiava-os em toda a sua história.”
A ideia de que o homem chega ao conhecimento ou à comunhão
com Deus por meio de seus próprios esforços é totalmente estranho ao
Antigo Testamento. Deus fala e Aparece; o homem ouve e vê. Deus
aproxima-se dos homens; estabelece uma relação especial ou concerto com
eles; e dá-lhes mandamentos. Eles o recebem quando ele se aproxima;
aceitam sua vontade e obedecem a seus preceitos.
A existência de Deus negada. Especialistas na área do estudo
comparativo das religiões, são unânimes em afirmar que a crença na
existência de Deus e da natureza é praticamente inegável. Essa crença
arraiga-se historicamente entre as tribos e civilizações da terra, com bases
arqueológicas e filológicas. Entretanto, isso não quer dizer que ao longo da
história, até os dias de hoje existiram e existem indivíduos que “tentam”
negar completamente a existência de Deus. Listei algumas teorias que, ao
longo de toda a história da humanidade tentou negar a existência de Deus,
tais como:
1. Ateísmo. Entre as teorias que negam a existência de Deus está o
ateísmo. Os ateus se dividem em duas classes: os práticos e os teóricos. Os
primeiros se consideram “gente de Deus”, porém na prática vive como se
ele não existisse (Sl 104). Os teóricos são geralmente, uma classe
intelectual e baseiam sua negação no desenvolvimento de raciocínios e
argumentos racionais e meramente humanos.
O ateísmo é, sem dúvida, resultado de perversão moral do homem,
e neste aspecto destacamos três classes distintas no ateísmo: a) ateu
dogmático: negam que existe um ser divino e superior ao homem (Sl 14.1).
b) ateu cético: duvida da capacidade da mente humana abarcar a existência
209

de Deus. c) ateu capcioso: não haver provas válidas, aceitáveis e conclusivas


da existência de Deus.
2. Agnosticismo. O termo é de origem grega e significa “não saber”.
O agnóstico crê que nem a criação, nem os alegados fatos podem fazê-lo
conhecido. Afirma que o homem não pode saber, seguramente, qualquer
coisa a respeito de Deus. Ainda que se admita a sua existência é impossível
conhecê-lo
3. Deísmo. O deísmo é instintivamente contraditório, pois chega a
admitir a existência divina, porém, rejeita por completo a sua revelação à
humanidade. Afirma que Deus é um ser por demais transcendente e está
além da capacidade e percepção do homem. Se ele existe, não se revelou ao
homem.
4. Materialismo. Declara que a única realidade é a matéria. O
homem é um animal apenas, por isso mesmo é responsável por suas
atitudes e atos. Ensina que os diferentes comportamentos físicos e
psíquicos humanos são simplesmente movimentos da matéria. Por
conseguinte, o homem não tem do que, nem a quem prestar contas dos
seus atos. Percebe-se claramente que este sistema é uma forma ardilosa de
negar a existência de deus, pois o homem, maior obra da criação divina,
não é aquilo que a Bíblia diz.
5. Panteísmo. Ensina que no universo, Deus é tudo e tudo é Deus.
Deus não é tão somente parte do universo, ele é o próprio universo. Os erros
filosóficos e religiosos do panteísmo é confundir o Criador com a criação.
A existência de Deus provada. Ainda que a Teologia sistemática
tenha a existência de Deus como fato plenamente inquestionável, e
independente da fé, não se propõe a demonstrá-la, porém, existem
argumentos lógicos e racionais que oferecem inestimáveis ajudas aos que
apologeticamente procuram demonstrar as irrefutáveis verdades acerca da
existência divina.
Ao longo da história da humanidade, filósofos, religiosos e
pensadores de diversas ordens têm buscado na teologia argumentos
racionais relativos à existência de deus. Diversos desses argumentos vêm
de Platão e Aristóteles, filósofos gregos que viveram há mais de trezentos
anos antes de Cristo. Apresentaremos argumentos formulados no período
moderno pelos estudiosos da filosofia da religião:
Argumento ontológico. É apresentado multiforme por diversos
pensadores. A forma mais requintada e refinada foi apresentada por
210

Anselmo de Cantuária, teólogo e filósofo da Escola Agostiniana, em que


declara que o: “homem é imanente em si, a noção ou ideia de um ser
absolutamente perfeito e, por conseguinte, deve existir absolutamente
perfeito”. Esse argumento admite que exista na mente do próprio homem o
conhecimento básico da existência de Deus, colocado lá pelo próprio
criador, portanto, inato.
Argumento cosmológico. Immanuel Kant, filósofo alemão,
raciocinou que, se tudo que existe tem uma razão de existir, isto deve ter
um ponto de origem em Deus.
Argumento teleológico. Mostra que o mundo, ao ser considerado sob
qualquer aspecto, revela inteligência, ordem e propósito, detectando
assim, a existência de um ser sumamente sábio. O homem consome o ar, do
qual retira o oxigênio, resultando disso o dióxido de carbono como
elemento essencial, e produzem desse processo, o oxigênio, que será
novamente consumido pelo homem.
O argumento moral. Neste argumento, Kant partiu do raciocínio que
deduz a existência de um supremo legislador e juiz, com absoluto direito de
governar e corrigir o homem.
Argumento histórico. A principal proposição deste argumento é de
que entre todos os povos e tribos da terra constata-se a evidência de que o
homem é um ser religioso em potencial. Deduz-se que a religiosidade é
inerente à natureza humana, de fato que, este gênero só se explica em um
Ser superior que originou tal natureza no homem.
A natureza de Deus. Desde os tempos remotos, o homem tem
procurado descrever e retratar Deus por meio de figuras, das pinturas e das
palavras descritivas, porém, sempre tem falhado, ficando aquém do seu
alvo. Pois, como poderia aquilo que é finito descrever, compreender ou
expressar aquilo que é infinito? Quando o povo de Israel tentou apresentar
medidas e descrições de Deus a seus semelhantes falharam gravemente
fundindo ídolos de metais (Ex 32.24).
A natureza de Deus pode ser mais bem conhecida através de seus
atributos. Atributo pode ser definido como qualidade ou característica
essencial permanente, distintiva, e que pode ser afirmada. Como por
exemplo, o perfume de uma rosa. Se um homem se vir privado dos
atributos que lhe pertence, deixaria de ser homem, pois tais atributos lhe
são inerentes na sua qualidade de ser humano. Se transferirmos essas
ideias a Deus, descobriremos que seus atributos lhe pertencem
211

inalienavelmente, e, portanto, o que Ele é agora, há de ser para todo


sempre.

7.2 Os Nomes de Deus191

Já há tempos é sabido que o nome de Deus é somente este, mas de


acordo com o dialeto ele pode sofrer muitas mudanças e ser conhecido de
diversas maneiras em meio a diversos povos. Proponho a seguir neste
artigo, mostrar os nomes de Deus revelados na Bíblia Sagrada conforme
sugerido: Nomes genéricos de Deus. Genérico, por si só, já diz não ser
peculiar ou específico da divindade. Geralmente podem ser usados pelo
Deus verdadeiro como falsos, feminino ou masculino.
Elohim (plural ‫ )אלחים‬e Eloah (singular ‫ = )ה׀לא‬Deus, implícito o poder
criativo e a onipotência: É o primeiro nome que surge na Bíblia: No
princípio, Deus (Elohim ‫ )אלחים‬criou os céus e a terra (Gn 1.1 NAA). Elohim
‫ אלחים‬aparece 2498 vezes e Eloah ‫ ה׀לא‬aparece 57 vezes e desse total apenas
245 não se refere ao verdadeiro Deus de Israel.
El (‫ )אל‬Deus, "aquele que vai adiante ou começa as coisas": Nome
apenas no singular e aparece 250 vezes. Extremamente conhecido pelos
povos que falam a língua semita.
El-Berit: Deus que faz pacto ou aliança (Gn 31.13; 35.1-3). El-Elyon
(‫)עליון אל‬: Deus que faz pacto ou aliança (Gn 31.13; 35.1-3).
Elyon é usado para coisas significativas: subir, mais alto, mais
elevado, superior e utilizado para se referir a Deus significa “o excelente, o
alto, o Deus glorioso.”
El-Ne‘eman: Deus de graça e misericórdia (Dt 7.9).
El-Nosse: Deus de compaixão (Sl 99.8).
El-Olan (‫)םא לעל‬: Deus eterno, da eternidade (Gn 21.33).
El-Qana Deus zeloso (Êx 20.5; 34.14).
El-Ro‘i Deus da vista (Gn 16.13).
El-Sale‘i Deus é minha rocha, o meu refúgio (Sl 42.9-10).

191
As religiões do mundo usam uma variedade de nomes para se referir a Deus. Alguns
desses nomes são comuns a várias religiões, enquanto outros são específicos de uma religião ou
cultura. Os nomes de Deus são importantes para as pessoas religiosas por vários motivos. Eles
podem ser usados para expressar a fé e a devoção de uma pessoa, para se conectar com Deus ou
para refletir sobre a natureza de Deus. Cf. Luiz Sayão - Os Nomes de Deus. Defesa do Evangelho
Oficial, Youtube in: https://encr.pw/UNYJX
212

Totalmente contrário aos genéricos, os nomes específicos de Deus,


que são os utilizados na Bíblia para o único Deus verdadeiro e jamais serão
utilizados para outras divindades.
Shadday (‫ )שרי‬Todo-poderoso tanto pode aparecer sozinho (‫שרי‬
todo-poderoso, (Gn 49.24) e, em (Jó encontramos 31 vezes) como também
utilizando (El ‫ )אל‬e obtendo uma forma composta (El-Shadday ‫ אל שרי‬Deus
Todo-poderoso).
Adonai (‫ )חשם‬Senhor. Passaram a utilizar Adonai (‫ )השם‬e seu nome
original háShem (‫)השם‬.
YHWH (‫ )יהוה‬Senhor. O "Tetragrama Sagrado ‫ יהוה‬escrito apenas por
quatro consoantes: yod, he, vav, he (o alfabeto hebraico não possuía vogal):
YHWH aparece 5321; e são dos textos mais antigos que se originaram os
livros do Velho Testamento bíblico.
Nomes compostos de Deus utilizados para revelar o seu caráter:

I. YHWH Elohim (‫ )יהוה אלהים‬criador de todas as coisas.


II. YHWH Jireh (‫ )יהוהידח‬O Senhor proverá. Deus proverá.
III. YHWH Rafa (‫ )יהודפה‬O Senhor que te sara.
IV. YHWH Nissi (‫ )יהוהנסי‬O Senhor é a Minha Bandeira.
V. YHWH Shalom (‫ )יהוהשלום‬O Senhor é Paz.
VI. YHWH Raah (‫ )יהודיה‬O Senhor é meu pastor.
VII. YHWH Tsidkenu (‫ )יהוה צדקנו‬Senhor Justiça nossa.
VIII. YHWH Sabaoth (‫ )>יהוהצכאח‬O Senhor dos Exércitos.
IX. YHWH Shammah (‫ )יהוהשמה‬O Senhor está ali.

A Septuaginta foi a primeira tradução Bíblica hebraica para o grego,


isso porque havia um clima de desacordo entre os Judeus e os gregos. Os
Judeus sempre foram monoteístas, mas os gregos existiam vários deuses. O
Panteão grego, que, etimologicamente, deriva de Pan (todo) e theos (deus),
literalmente significa o templo dedicado a todos os deuses.
Aristóteles, o filósofo, para demonstrar a fragilidade da religião
grega, afirmou: "O homem fez os deuses à sua semelhança e lhes deu seus
costumes". É devido a Septuaginta que notamos a demonstração de zelo pela
sua religião, e, é por meio dela que descobrimos os equivalentes gregos dos
nomes usados para Deus no Antigo Testamento, como El, Elohim, Helion e
YAWH”. Segue, então os nome de Deus neotestamentário:
213

Өєόζ (Theos) Deus. O nome mais comum utilizado no Novo


Testamento é (Өєόζ Theos). Assim como as palavras hebraicas el, elohim,
eloah no Antigo Testamento, theos no Novo Testamento pode significar
“Deus” ou “deuses”.
Қύριοζ (Kyrios) Senhor Podemos notar que no Novo Testamento a
tradução na Septuaginta de ambas as palavras Adonai e do nome
impronunciável YHWH foi pela palavra grega Қύριοζ (Kurios Kuriov),
“Senhor”. Kyrios/Adonai traz a ideia básica da soberania de Deus, da
suprema posição do Criador, em todo o Universo que criou.
πατήρ (Pater) Pai “Portanto, orai vós deste modo: Pai (πατήρ pater)
nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome” (Mt 6.9).

7.3 Os Atributos (Qualidades) de Deus192

Sendo Deus um ser infinito, é impossível que qualquer criatura o


conheça exatamente como ELE é. No entanto, ele bondosamente
revelou-se mediante linguagem compreensiva a nós. Os atributos de Deus
indicam vários aspectos de Seu caráter, sendo assim, passaremos a
considerar a revelação das qualidades de Deus dividindo-as em duas
seções: atributos incomunicáveis e comunicáveis. Os atributos de Deus
subdividem-se em morais e naturais:
MORAIS. São os que lhe pertencem como espírito infinito e justo:
Santidade. Deus é Santo (Êx 15.11; Lv 11.44, 23.9; Lc 1.49; 2Pe
1.15,16), sua santidade significa sua absoluta pureza moral. Ele não pode
pecar e nem tolerar pecado. Somente Deus é Santo em si mesmo.
Justiça. (Êx 9.23-37; 34.6,7; Dt 32.4; Sf 3.5) a justiça de Deus é a
execução das penalidades impostas por suas leis da retidão.
Fidelidade. (Êx 4.6; Nm 23.29; Dn 9.4; 1Co 1.9-13; 2Co 1.20; 2Ts
5.24; 2Ts 3.3; 2Tm 2.13; Hb 6.18,10.23) Deus é fiel. Ele é absolutamente
digno de confiança. O seu povo descansa em suas promessas pois sabe que
elas jamais falharão.

192
Cf. Os Atributos de Deus e o Evangelho - Paul Washer. Defesa do Evangelho Oficial,
Youtube in: https://l1nq.com/sK2f0 | Cf. ao final deste tópico, Por: Tim Challies. Copyright: ©
www.challies.com. Usado com permissão. Design: www.joshbyers.com. Original: Visual Theology
– The Attributes of God. Tradução: Alan Cristie; Diagramação: Luis Henrique. © 2014 Voltemos ao
Evangelho. Website: voltemosaoevangelho.com Original: [Teologia Visual] Os Atributos de Deus –
Infográfico
214

Misericórdia. (Mt 18.25-35) Sua misericórdia é o princípio e a


qualidade que descreve sua posição e ação em relação aos pecaminosos e
sofredores, usando penalidades merecidas e aliviando os angustiados.
Amor. (Dt 7.8; Is 49.15; Jr 31.3; Os 11.4; Sf 3.17; Jo 3.16; Rm 8.39; Ef
2.4) Este amor está atribuído na razão pelo qual Deus sempre deseja uma
relação íntima e pessoal com aqueles que possuem a sua imagem, feitos
semelhante a Ele.
Bondade. (Sl 25.8; 131.9; 145.9; Na 1.7; Mt 5.45; At 14.17; Rm 2.4)
Deus concede vida e bênçãos.
Graça. (Ef 2.8,9) Favor soberano de Deus em conceder salvação e
bênçãos sem méritos.
NATURAIS. Lhe pertencem como Espírito infinito e racional:
Vida. Sua auto-existência. Ele não precisa de nenhum outro para
que exista, pois é absoluto em si mesmo.
Espiritualidade (Jo 4.24; 2Co 3.17) Deus tem personalidade: pensa,
sente e fala.
Infinitude. (Hb 13.8) É eterno (não está limitado nem ao tempo nem
ao espaço).
Unicidade. (Ex 20.3; Dt 4.35-39; 6.4; 1Sm 2.2,3; 2Sm 7.22; 1Rs 8.60;
2Rs 19.15; Ne 9.6; Is 44.6-8; 1Tm 1.17) Deus é único e uno.
Imutabilidade (Êx 3.14; Sl 102.26-28; Is 41.4,48.12; Ml 3.6; Rm 1.23;
Hb.1.11; Tg 1.17). Deus não pode mudar quanto à sua natureza e caráter.
ATIVOS. Estão relacionados à atuação de Deus no universo criado:
Onipotência. A onipotência de Deus significa liberdade (no sentido
pleno) para fazer tudo que esteja em harmonia com a sua natureza, pois,
para Deus não há nada impossível (Lc 1.57).
Onisciência. Esta palavra deriva de dois vocábulos latinos omnes
(tudo), e scientia (conhecimento). Deus possui o perfeito-pleno-definitivo
conhecimento de tudo (Sl 139.1-20).
Sabedoria (Dn 2.20-22; Sl 10.24; Pv 3.19; Jr 10.12; Rm 11.13; Cl 2.2,3)
Deus é sábio. Ele tem poder para levar a efeito seu conhecimento de tal
maneira que realize os melhores propósitos possíveis. Deus sempre faz o
bem de maneira certa e no tempo certo, por isso, jamais poderia ser
julgado.
Onipresença. Deriva de dois vocábulos latinos omnes (tudo), e
praesum (estar próximo) preenchendo a imensidade (Is 40.22).
215

Soberania (Dn 4.35; Mt 20.15; Rm 9.21) Deus não pode ser julgado,
nem mesmo sua mente esquadrinhada, ou seja, está acima do bem e do mal
definitivamente.

7.4 A Vida e Personalidade de Deus193

A vida de Deus pode ser considerada como aquela forma de


existência, animada em distinção da inanimada, que inclui uma força e
uma condição, cuja força é o maior fator determinante de todas as relações
originadas e sustentadas, tanto internas como externas. Vida é um termo
que não pode ser plenamente definido. A ciência define-a como sendo a
correspondência entre órgão e ambiente. Aplicadas a Deus, há de significar
muito mais do que isso, visto que Deus não tem ambiente. A vida de Deus é
sua atividade de pensamento, sentimento e vontade.
O ensino de que Deus é um Ser pessoal, contraria o ensino do
panteísmo, que afirma que Deus é tudo e tudo é Deus; em contrapartida, a
Bíblia nos ensina que Deus é um ser absoluto, infinito e pessoal. Pode-se
definir personalidade como existência dotada da autoconsciência e do
poder da autodeterminação.
Não devemos confundir personalidade com corporalidade ou
existência em corpo material, mas antes, corretamente definida, a
personalidade abrange as propriedades e qualidades coletivas que
caracterizam a existência pessoal e a distinguem da existência impessoal e
da vida animal.
São 03 os elementos constitutivos da personalidade: a) Intelecto:
arte e poder de pensar e raciocinar logicamente, b) Sensibilidade: faculdade
de sentir, c) Volição: poder característico da vontade.
A realidade Bíblica da Personalidade de Deus é provada pelos
seguintes fatores relacionados: a) Nomes pessoais que lhe são conferidos
(Gn 22.13; Êx 3.14,17.15; Jr 23.6; Jo 8.58). b) Pronomes pessoais empregados
a Deus nas Escrituras (Sl 116.1,2; Jo 17.3). c) Pelas características e
propriedades pessoais atribuídas a Deus como: tristeza (Gn 6.6), ira (1Rs
11.9); zelo (Dt 6.15); ódio (Pv 6.16) e Amor (Ap 3.19). d) Pelas relações que

193
A personalidade de Deus é um tema que tem sido debatido por filósofos e teólogos
há séculos. Não há uma resposta definitiva para essa pergunta, pois ela depende de uma série de
fatores, incluindo a definição de Deus, a natureza da realidade e as evidências disponíveis. Cf. A
Personalidade de Deus. ITADESP, Youtube in: https://encr.pw/eVPtq
216

Deus mantém com o universo e com os homens, bem como: Criador de tudo
(Gn 1.1,1.26; Jo 1.1-3; Ap 4.11). Preservador de tudo (Hb 1.3; Cl 1.15-17).
Benfeitor de todas as vidas (1Rs 19.1-7; Sl 104.27-30; Mt 6.26,10.29-30).
Governante e dominador das atividades humanas (Gn 39.21; Sl 75.5-7; 76.10;
Rm 8.28). Como pai de seus filhos (Gn 3.26; Jo 1.11-13; Hb 12.5-11).

7.5 A Trindade Santíssima194

A primeira regra de fé da Igreja declara:


“Cremos em Deus, o Pai Eterno, e em Seu
Filho, Jesus Cristo, e no Espírito Santo.”
Os três compõem a Trindade. A Trindade
(do latim trinitas "tríade", de trinus
"tripla") é uma doutrina cristã
desenvolvida entre os séculos II e IV D.C,
que define Deus como três pessoas
consubstanciais, expressões ou
hipóstases: o Pai (YHWH), o Filho (Jesus
Cristo) e o Espírito Santo; "um Deus em
três pessoas". As três pessoas são distintas, mas são uma "substância,
essência ou natureza". Neste contexto, a "natureza" é o que se é, enquanto
a "pessoa" é quem se é.
A unicidade de Deus é um conceito fundamental em muitas
tradições religiosas, incluindo o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. É a
crença de que há apenas um Deus, que é absoluto, transcendente e
onipotente. A unicidade de Deus é frequentemente associada a outras
crenças religiosas, como a onisciência, a onipresença e a onipotência de

194
Deus é uma trindade de pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O Pai não é a mesma
pessoa que o Filho; o Filho não é a mesma pessoa que o Espírito Santo e o Espírito Santo não é a
mesma pessoa que o Pai. Eles são pessoas distintas; ainda assim, são todos o mesmo único Deus.
Eles estão em perfeita harmonia, consistindo de uma única substância. Eles são co-eternos,
co-iguais e co-poderosos. Se qualquer deles fosse retirado, então não haveria Deus. Existe,
aparentemente, uma separação de algumas funções entre os membros da divindade. Por
exemplo: o Pai escolhe quem será salvo (Ef 1.4); o Filho os redime (Ef 1.7); e o Espírito Santo os
sela (Ef 1.13). Um ponto que é necessário esclarecer é que Deus não é uma pessoa, o Pai, com Jesus
sendo uma criação e o Espírito Santo uma força de Deus (Testemunhas de Jeová). Nem é uma
pessoa que adquiriu três formas consecutivas, isto é, o Pai tornou-se o Filho que, depois,
tornou-se o Espírito Santo (Unicistas). Nem é a Trindade uma associação de três deuses
separados (Mormonismo). “Eu sou o SENHOR e fora de mim não há Deus” (Is 45.5). Cf.
Descomplicando a Santíssima Trindade. Bp Walter McAlister, Youtube in:
https://l1nq.com/CKOHu
217

Deus, bem como à ideia de que Deus é a fonte de toda a verdade e sabedoria.
Essa crença é considerada fundamental para muitas religiões e é
frequentemente vista como um ponto de partida para outras doutrinas e
ensinamentos.
Consubstancialmente entende-se, que há um só Deus e que sua
natureza essencial e indivisível. A existência de um Deus uno e único é o
tema principal do Antigo Testamento (Dt 4.35-39; Ez 45.5,6; Zc 14.9). Isto
foi necessário devido a persistente tendência de Israel para com a idolatria.
O politeísmo é uma tentativa da parte do homem pecaminoso de se livrar da
responsabilidade, hipotetizando as várias atividades de Deus.
A Doutrina da Trindade é um dos pilares fundamentais da teologia
cristã. Ela afirma que há apenas um Deus, mas que existe em três pessoas
distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Cada pessoa da trindade é
totalmente Deus, coeterno e coigual em substância, mas cada uma é
também uma pessoa distinta com papéis distintos na obra da salvação.
Essa doutrina é baseada nas Escrituras e foi desenvolvida e
articulada pelos pais da igreja, especialmente no Concílio de Nicéia em 325
d.C. e no Concílio de Constantinopla em 381 d.C.
Apesar de ser uma doutrina complexa e muitas vezes difícil de
entender, a Trindade é essencial para a compreensão da natureza de Deus e
da obra da salvação. É a base para a crença cristã de que Jesus Cristo é Deus
encarnado, que morreu pelos pecados do mundo e ressuscitou dos mortos,
e que o Espírito Santo é o agente da regeneração e santificação dos crentes.

7.6 A Pessoa de Cristo (Cristologia)195

Jesus (em hebraico: ַ‫ י ֵׁשּוע‬/‫ ;ישוע‬transl: Yeshua; em grego: Ἰησοῦς,


Iesous), também chamado Jesus de Nazaré, que nasceu entre 5–3 a.C. e
morreu por volta de 30–33 d.C., é a figura central do cristianismo. É a
ciência que tem como objetivo estudar a pessoa de Cristo. A Cristologia se
preocupa com a pessoa de Cristo em relação a: a) sua natureza teantrópica;
b) sua encarnação; c) como revelação de Deus; d) seus milagres; e) seus

195
Cf. A Doutrina de Cristo (Dr. Heber Campos). Igreja Presbiteriana do Renascença,
Youtube in: https://encr.pw/8g6r
218

ensinamentos; f) sua morte expiatória, vicária e ressurreição196; g) sua


Parousia; h) sua condição de cabeça e centralidade absoluta.
Não há questão mais importante do que a que Jesus fez a seus
discípulos (Mt 16.15): “Quem dizeis que eu sou?” Nenhuma questão foi
mais intensamente debatida, completa e parcialmente mal entendida,
ignorada com grande risco e respondida corretamente com grande
benefício do que essa. A resposta correta para essa pergunta é, em alguns
aspectos, simples o bastante para salvar uma criança, mas também
complexa o bastante para manter os teólogos ocupados por toda a
eternidade. Se a vida eterna é conhecer a Jesus Cristo (Jo 17.3), então não
podemos nos dar ao luxo de sermos ignorantes sobre aquele que é “o mais
distinguido entre dez mil” (Ct 5.10).
Pedro confessou Jesus como o “Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt
16.16). João falou de Jesus como “o Verbo” que se fez carne (Jo 1.14). Paulo
descreve Jesus não só como “a imagem do Deus invisível, o primogênito de
toda a criação” (Cl 1.15), mas também como “Cristo Jesus, homem” (1Tm
2.5). Da mesma forma, o autor de Hebreus identifica Jesus tanto como “o
resplendor da glória” (Hb 1.3) de Deus quanto como aquele que participou
de carne e sangue (2.14).
Depois de tocar em Cristo, Tomé memoravelmente confessou Jesus
como seu “Senhor” e seu “Deus” (Jo 20.28). No Antigo Testamento, Isaías
teve uma visão de Cristo em que o chama de “o Rei, o Senhor dos
Exércitos” (Jo 12.41; ver Is 6.5), mas também chamou este Rei de servo do
Senhor, que não tinha “nenhuma beleza que nos agradasse” (Is 53.2).
Jesus também tinha muito a dizer sobre si mesmo. No evangelho de
João, lugar das conhecidas afirmações “Eu sou”, ele refere-se a si mesmo
como o pão da vida (Jo 6.48), a luz do mundo (8.12), a porta (10.9), o bom
pastor (10.11), a ressurreição e a vida (11.25), o caminho, e a verdade, e a
vida (14.6) e a videira verdadeira (15.1).
Em outras passagens, Jesus é chamado de mestre (Mc 1.27), profeta
(Mt 21.11), filho de Davi (9.27), servo (12.18), Filho do Homem (12.8),
Senhor (14.30), Cordeiro de Deus (Jo 1.36), Santo de Deus (6.69), o Princípio

196
É importante que o aluno de teologia saiba diferenciar o termo ressurreição nas
Escrituras, pois se afirmar que sete pessoas foram ressurretas antes de Jesus Cristo, mas trata-se
de um equívoco terminológico, as pessoas antes de Jesus de fato estavam mortas e por ato
miraculoso voltaram a viver (mas morrem novamente, ou estariam conosco até hoje). A Doutrina
da Ressurreição implica que o Senhor Jesus é o primogênito dos mortos (Ap 1.5) ou seja, a
ressurreição implica vida eterna, a pessoa nunca mais volta a morrer [DR].
219

(Cl 1.18), sumo sacerdote (Hb 5.1-10), aquele que vive (Ap 1.18), Libertador
(Rm 11.26) e a brilhante Estrela da manhã (Ap 22.16).
A essa impressionante variedade de nomes e descrições bíblicas
poderiam ser acrescentadas muitas outras; na verdade, muito mais do que
podemos pensar ou imaginar. Contudo, essas declarações múltiplas da
pessoa de Cristo nem sempre são de fácil compreensão. Na verdade, a igreja
primitiva batalhou duramente antes de chegar a uma descrição concisa e
precisa da pessoa de Cristo, no Concílio de Calcedônia (451 d.C.).

7.5 A Cristologia Patrística197

Cada século, desde o tempo de nosso Senhor e dos Apóstolos em


diante, tem testemunhado uma ou mais visões aberrantes sobre Cristo.
Sem ser minucioso, no final do primeiro século o erro do docetismo deixou
sua marca. Serapião, bispo de Antioquia (190-203), propôs a visão de que a
carne de Jesus era “espiritual”. Jesus não tinha uma verdadeira natureza
humana, apenas parecia (em grego: dokeo, “parecer”) humano. Esta visão
falsa foi defendida por alguns, mesmo enquanto os apóstolos ainda
estavam vivos (2Jo 7). No segundo século, os ebionitas (os pobres) rejeitam
a concepção virginal de Jesus. Eles o consideravam o Messias, mas não
aceitavam que fosse divino.
No início do terceiro século, viu o surgimento de Paulo de
Samósata, que foi bispo da igreja de Antioquia (c. 260). Ele tinha uma visão
peculiar de Cristo, que incorporava várias heresias. Para ele, Jesus era um
homem comum que foi habitado pelo Logos (Verbo) e, assim, tornou-se o
Filho de Deus. O Logos que habitava Jesus não era uma pessoa divina
distinta do Pai e do Espírito; antes, era o atributo divino do Pai que habitava
em Jesus.
Um dos dois principais antagonistas à visão correta sobre Cristo no
século IV foi Apolinário de Laodiceia (c. 315-92). Apolinário reagiu, em
parte, a outros movimentos heréticos. Em sua reação a uma visão como a
de Paulo de Samósata, Apolinário sustentava que o Logos assumirá um
corpo humano, mas não uma mente humana. Seus adversários
responderam corretamente que esta teoria significava que a encarnação

197
Cf. Cristologia e História | Cristologia. Pe. Françoá Costa, Youtube in:
https://l1nq.com/Xwx3y
220

seria simplesmente a divindade habitando uma carne sem mente e sem


alma.
Muitos cristãos hoje caem em um erro semelhante ao pensar que a
mente e a alma de Cristo são a sua natureza divina; mas isso é falso. O outro
herege desta época foi Ário de Alexandria (c. 250-336). Ele negou que o
Logos fosse co-igual ao Pai, e sustentou que houve um tempo em que o
Filho de Deus não existia.
No século V, uma cristologia mais precisa se estabeleceu, mas
apenas depois de muita luta política e teológica. Na verdade, mesmo antes
da Calcedônia, houve concílios que buscaram compreender os dados
bíblicos sobre a pessoa de Cristo. Durante aquele século, o mais
significativo na igreja primitiva para o desenvolvimento da cristologia,
teólogos de Antioquia, onde Nestório recebeu seu treinamento, foram
muito determinados em fazer jus à plena humanidade de Jesus.
Cirilo de Alexandria (c. 376-444), talvez o teólogo mais importante
a escrever sobre a pessoa de Cristo na igreja primitiva, apreciava essa
preocupação, mesmo que por vezes tenha dito coisas que parecessem
contradizer essa crença. De fato, Cirilo e os teólogos de Antioquia
estiveram, por um tempo, em certo acordo. Naturalmente, o acordo não era
completo; os seguidores mais extremos de Cirilo, como Eutiques, tendiam a
“deificar” a humanidade de Cristo.
Tudo isso aponta para o fato de que todos os teólogos até esse
ponto tinham em comum a crença nas duas naturezas de Cristo. Suas
diferenças, entretanto, estavam na qualidade ou integridade das duas
naturezas ao se relacionarem na pessoa de Cristo. Alguns enfatizavam
tanto a natureza divina que muito pouco, ou nada, era deixado da natureza
humana de Cristo; outros faziam o oposto. Calcedônia parece ter resolvido
com grande sucesso os problemas que atormentaram a igreja durante os
primeiros cinco séculos.
O Credo Calcedoniano (451). À medida que as crises cristológicas do
século V continuavam a se intensificar, a imperatriz Pulquéria e o
imperador Marciano convocaram um concílio em Calcedônia. O concílio foi
rigorosamente monitorado. Não apenas alguns bispos foram autorizados e
outros rejeitados, como também certos documentos foram admitidos e
outros proibidos.
No Concílio de Éfeso (431), o Tomo de Leão, bispo de Roma, não foi
admitido. Mas em Calcedônia, o Tomo de Leão foi permitido para que,
221

combinado com as ênfases de Cirilo de Alexandria, se chegasse a algum tipo


de declaração em comum. Cirilo, que morreu anos antes de Calcedônia,
enfatizou bastante a união das duas naturezas em uma “unidade”
impecável (em grego henosis).
A ênfase nas duas naturezas, um produto da cristologia ocidental
(típica de Agostinho e outros ocidentais), refletiu uma ênfase de Leão, que
também chega até o credo. No parágrafo central de Calcedônia lê-se:

“Seguindo os Pais da Igreja, confessamos um e o mesmo, nosso


Senhor Jesus Cristo, e todos ensinamos unânimes que o mesmo é
perfeito em divindade, o mesmo perfeito em humanidade;
verdadeiro Deus e verdadeiro homem; o mesmo de uma alma
racional e corpo; consubstancial com o Pai na divindade e também
consubstancial conosco em humanidade; semelhante a nós em
tudo, exceto no pecado; gerado antes da eras, do Pai na divindade;
o mesmo nestes últimos dias, e para nossa salvação, nascido da
Virgem Maria Theotokos “portadora de Deus” na humanidade; um
e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, único; reconhecido em duas
naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis; a
diferença das naturezas não sendo de forma alguma desfeita por
causa da união, antes o caráter distintivo de cada natureza sendo
preservado, combinando-se em uma pessoa e hipóstase; não
dividido ou separado em duas pessoas, mas um só e o mesmo Filho
e Unigênito Deus, Verbo, Senhor Jesus Cristo; como os profetas do
passado e o próprio Senhor Jesus Cristo nos ensinaram a seu
respeito, e como o credo dos pais foi entregue a nós.”

Esta declaração sobre a pessoa de Cristo permanece sendo uma bela


demonstração de ortodoxia, com a qual deve concordar quem deseja
permanecer ortodoxo e fiel à totalidade do testemunho bíblico. Ela tem
resistido ao teste do tempo. É certo que a definição se presta a
interpretações variadas.
Por exemplo, teólogos católicos romanos, luteranos e reformados
desenvolveram cristologias que não podem ser harmonizadas em alguns
pontos. Novamente, se a relação entre as duas naturezas provou-se a fonte
de muitos conflitos pré-Calcedônia, não se pode negar que alguns conflitos
222

permanecem até hoje, mesmo que não tenham a ferocidade política da


igreja primitiva.
Agora, partindo das declarações do credo calcedoniano, vamos
procurar dar uma resposta abrangente à pergunta feita por Cristo: “Quem
dizem os homens que eu sou?”
Verdadeiro Deus. A evidência de que Jesus de Nazaré é plenamente
divino, homoousio (uma substância) com Deus, é tão abundante que fica
muito difícil simpatizar com aqueles que lutam contra esta verdade. Se
Jesus não é plenamente Deus, os escritores do Novo Testamento se
esforçaram para confundir e mentir para a igreja (Fp 2.5-11; Cl 1; Hb 1).
O prólogo do Evangelho de João fornece evidências explícitas o
suficiente para que a igreja possa concluir satisfatoriamente que Jesus é
verdadeiramente Deus. Considere as palavras de abertura: No princípio era
o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Mais adiante no prólogo, João apresenta o ponto surpreendente
(talvez o verso mais inacreditável para qualquer judeu do primeiro século):
que o Verbo se fez carne.
A palavra “era” no versículo 1 deve ser contrastada com “se fez” no
versículo 14. O Verbo (Logos) não “se fez” no sentido de vir a existir. Ao
contrário, o Verbo simplesmente “era”. Outras passagens do Evangelho de
João só servem para confirmar e reforçar esta verdade (Jo 3.13; 6.62;
8.57-58; 17.5; 20.28).
Além disso, quando Isaías viu “o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Is
6.5), João cita uma grande parte desse capítulo e, em seguida, afirma que
Isaías disse isso “porque ele viu a glória dele e falou a seu respeito [de
Jesus]” (Jo 12.41).
Em Isaías, somos informados de que Deus não dá a sua glória a
ninguém a não ser a si mesmo; não obstante, em João 17.5, Jesus pede ao
Pai para glorificá-lo em sua presença “com a glória que eu tive junto de ti,
antes que houvesse mundo”. Se Jesus não é Deus, então ele não é apenas
um iludido, mas seu pedido é uma abominação.
No livro de Apocalipse, há igualmente muitos lugares que
demonstram a divindade de Cristo. Ao descrever Jesus no livro de
Apocalipse, João claramente faz uma ligação entre Jesus e Yahweh (o
Senhor): Eu, o Senhor, o primeiro, e com os últimos eu mesmo (Is 41.4).
Não temas; eu sou o primeiro e o último e aquele que vive (Ap 1.17-18). Eu
sou o primeiro e eu sou o último, e além de mim não há Deus (Is 44.6). Ao
223

anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último,


que esteve morto e tornou a viver (Ap 2.8). Eu sou o mesmo, sou o primeiro
e também o último (Is 48.12). Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o
Último, o Princípio e o Fim (Ap 22.13).
Esses paralelos marcantes deixam pouca dúvida quanto ao que o
próprio Jesus acreditava ser: ninguém menos que o próprio Senhor.

7.6 As Duas Naturezas de Cristo198

Jesus não é apenas divino, mas também verdadeiramente humano.


Como Calcedônia afirma: “verdadeiro homem; o mesmo de uma alma
racional e corpo; […] consubstancial conosco em humanidade; semelhante
a nós em tudo, exceto no pecado”. Por isso, ele é chamado de “Cristo Jesus,
homem” (1Tm 2.5), que participou de “carne e sangue”, a fim de derrotar o
diabo através da morte (Hb 2.14). Ele é semelhante a nós “em todas as
coisas” (2.17), até o ponto de ter sido tentado em todas as coisas à nossa
semelhança, mas sem pecado (4.15).
A evidência da verdadeira humanidade de Cristo é tão conclusiva
quanto a evidência de sua verdadeira divindade. Sendo verdadeiramente
humano, Jesus experimentou reações físicas tais como fome (Mt 4.2), sede
(Jo 19.28) e fadiga (Jo 4.6). Ele chorou (11.35), pranteou (Lc 19.41), suspirou
(Mc 7.34), e gemeu (Marcos 8.12). Como B.B. Warfield disse: “Não falta
nada para nos causar a forte impressão que temos diante de nós, em Jesus,
um ser humano como nós”.
Mas porque ele era sem pecado, todas as suas paixões eram
mantidas em perfeita proporção e equilíbrio. Ele ficou apropriadamente
irado quando estava com raiva, bem como completamente alegre quando
estava alegre. De fato, ele experimentou “não apenas alegria, mas
exultação, não mero aborrecimento irritado, mas furiosa indignação, não
mera pena passageira, mas os movimentos mais profundos de compaixão e
amor, não mera angústia superficial, mas uma profunda tristeza até a

198
As duas naturezas de Cristo estão unidas de forma inseparável em uma única
pessoa. Essa união é chamada de união hipostática. A união hipostática é um mistério que
transcende a compreensão humana. A doutrina das duas naturezas de Cristo é importante para o
cristianismo porque é a base para a salvação. Jesus Cristo, como Deus e homem, é o único que
pode salvar a humanidade de seus pecados. Ele é o mediador entre Deus e os homens. A doutrina
das duas naturezas de Cristo também é importante para a compreensão da identidade de Jesus
Cristo. Ele é o Deus-homem, o perfeito Salvador do mundo. Cf. As Duas Naturezas de Jesus.
Moises Brasil Maciel, Youtube in: https://encr.pw/CkfhC
224

morte, [que ainda assim] nunca o dominaram” (Warfield). Todos os seus


afetos foram mantidos em total submissão à vontade de seu Pai.
Nascimento Virginal. Como compreendemos o fato de que Jesus é
totalmente Deus e totalmente homem? Uma palavra: encarnação (Lc
1.26-38). O maior prodígio de Deus é a encarnação do Filho de Deus. O céu
beijou a terra.
Consequentemente, o Criador é para sempre identificado com a
criatura. Na união das duas naturezas na pessoa de Cristo, vemos
eternidade e temporalidade, eterna bem-aventurança e tristeza temporal,
onipotência e fraqueza, onisciência e ignorância, imutabilidade e
mutabilidade, infinito e finitude.
Ou, como Stephen Charnock coloca: “Que Deus sobre um trono seja
um infante em um berço; que o trovejante Criador seja um bebê chorando e
um homem sofredor são expressões de tão grande poder, bem como de tal
amor condescendente, que surpreendem os homens na terra e os anjos no
céu”.
Mas o que dizer da linguagem que diz que Maria é Theotokos (a
portadora de Deus)? A verdade desta afirmação não deve ser rejeitada por
causa de como tem sido mal interpretada pelos católicos romanos e usada
para venerar Maria como “Mãe de Deus”. O título de “portadora de Deus”
diz algo sobre Jesus, não sobre Maria.
Quando o Filho se fez carne (Jo 1.14), ele assumiu uma natureza
humana, não uma pessoa humana. A natureza humana subsiste na
personalidade do Filho de Deus: “não dividido ou separado em duas
pessoas, mas um só e o mesmo Filho e Unigênito Deus, Verbo, Senhor Jesus
Cristo”. Os teólogos chamaram a encarnação do Filho de Deus de “união
hipostática”.
A união das duas naturezas em uma pessoa significa que, quando
falamos de Jesus, não dizemos que sua natureza humana fez isso ou sua
natureza divina fez aquilo. Em vez disso, dizemos que Jesus fez isso ou
aquilo de acordo com sua natureza humana ou divina. Paulo pontua isto no
início de Romanos: “com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio
da descendência de Davi” (Rm 1.3).
Aquele que Maria deu à luz não era meramente humano, nem tinha
apenas uma natureza humana. Aquele que nasceu de Maria era uma pessoa
divina que possuía tanto uma natureza humana quanto uma natureza
divina. Essa pessoa é o Filho de Deus, o que significa que Maria pode ser
225

chamada de “a portadora de Deus” desde que fique claro o que isso


significa.
O título Theotokos afirma que Jesus permaneceu completamente
divino mesmo ao assumir a natureza humana. Ele não diz que Maria é
digna de veneração como “Rainha do Céu” ou como “co-mediadora” com
Cristo, como ensina a doutrina católica romana.
O caráter distintivo de cada natureza sendo preservado. A maioria
dos teólogos cristãos afirma a distinção entre as duas naturezas de Cristo.
Mas como essas duas naturezas referem-se uma à outra tem sido uma
fonte de grande disputa entre várias tradições teológicas. Neste ponto, o
credo calcedoniano permite uma variedade de interpretações.
Teólogos reformados se apegam à máxima teológica de que o finito
(humanidade) não pode conter o infinito (divindade). Esta máxima é
verdadeira quanto às duas naturezas de Cristo, mesmo agora no céu.
Por essa razão, Cristo tem limitações de acordo com a sua natureza
humana. Ele se desenvolveu desde a infância até a idade adulta, e
experimentou um crescimento no conhecimento apropriado para cada fase
de sua vida (Lc 2.52). Ele teve que ser ensinado por seu pai (Is 50.4-6). De
acordo com a sua humanidade, ele teve de se contentar que nem tudo lhe
foi revelado durante seu tempo na terra: “Mas a respeito daquele dia e hora
ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão o Pai” (Mt 24.36).
Ele “aprendeu a obediência” através do sofrimento (Hb 5.8).
Uma vez que a relação entre duas naturezas de Cristo tem sido
calorosamente debatida desde Calcedônia, a Confissão de Fé de Westminster
(8.7) oferece uma explicação da “comunicação de propriedades” que
esclarece o ponto acima: “Cristo, na obra de mediação, age de
conformidade com as suas duas naturezas, fazendo cada uma o que lhe é
próprio; contudo, em razão da unidade da pessoa, o que é próprio de uma
natureza é, às vezes, nas Escrituras, atribuído à pessoa denominada pela
outra natureza”.
Uma advertência cabe aqui, no entanto. Embora os atributos de
qualquer natureza possam ser e são predicados da pessoa, os atributos de
cada natureza não podem ser predicados de outra natureza.
Por exemplo, Jesus não morreu de acordo com a sua natureza
divina, porque não se pode predicar a morte, algo apenas uma natureza
humana pode sofrer, à natureza divina. Jesus morreu de acordo com sua
natureza humana, mas não com sua natureza divina.
226

Para se ter uma ideia do que a confissão quer dizer aqui,


consideremos Atos 20.28: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o
qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de
Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue”. Neste versículo, a
pessoa única de Cristo é denominada pela natureza divina.
Em outras palavras, ele é referido como “Deus”, mesmo sendo
Deus e homem, divino e humano. Entretanto, por ser um Espírito, Deus não
tem sangue. O sangue é próprio apenas da natureza humana, não da
natureza divina. O que a confissão está dizendo é que, porque as duas
naturezas estão unidas em uma só pessoa, o sangue (que é próprio apenas
da natureza humana) é atribuído à pessoa única de Cristo (que neste
versículo está sendo chamado ou denominado “Deus”, apesar de o nome de
Deus ser próprio apenas da natureza divina).
Porque Cristo possui duas naturezas unidas, podemos falar do
“sangue de Deus”, já que “o que é próprio de uma natureza é, às vezes, nas
Escrituras, atribuído à pessoa denominada pela outra natureza”. Os
atributos de qualquer das naturezas podem ser predicados da pessoa de
Cristo, mesmo quando Jesus é referido por um nome ou de um modo que é
próprio apenas de uma dessas naturezas.

7.7 Questões Dogmáticas da Cristologia199

A doutrina da subordinação. Jesus voluntariamente se submeteu à


vontade do Pai. No movimento “alto-baixo-alto” de Filipenses 2.6-11 o
Filho de Deus, “subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação
o ser igual a Deus” (alto), mas a si mesmo se esvaziou, assumiu a forma de
servo, e obedeceu ao Pai até à morte de cruz (baixo), que por sua vez levou à
sua exaltação, na qual lhe é dado o nome acima de todo nome (alto).
Todas as declarações no Novo Testamento a respeito da
“subordinação” de Cristo (Jo 14.28) precisam ser entendidas à luz do
acordo entre as pessoas da Trindade, pelo qual o Filho assumiria carne
humana e se subordinaria à vontade do Pai.
A impecabilidade de Cristo. Poderia Jesus, uma vez que foi tentado,
ter a possibilidade de pecar? Teólogos têm discordado sobre esta questão,

199
Cf. Cristologia | Parte I | Questões Introdutórias | Sã Doutrina. Igreja Presbiteriana
de Pinheiros, Youtube in: https://encr.pw/n1mED
227

mas a resposta deve ser “não”. Há duas razões por que Jesus não poderia
pecar.
Primeiro, se Cristo pudesse pecar, então surgiria um problema
quanto à relação entre as vontades humana e divina de Cristo. A definição
de fé do Sexto Concílio Ecumênico de Constantinopla (680-81) afirma: “E
estas duas vontades naturais não são contrárias uma à outra como afirmam
os ímpios hereges, mas sua vontade humana segue, não resistindo ou
relutante, antes sujeita, à sua vontade divina e onipotente”. A vontade
humana não pode ser contrária à vontade divina em Cristo, mas apenas
sujeita a ela.
Em segundo lugar, por causa da unidade da pessoa, Cristo não
poderia pecar sem comprometer a Deus. A natureza humana de Cristo pode
ser “pecável” (capaz de pecar); mas uma vez que em sua constituição ele é
o Deus-homem, ele é, portanto, uma pessoa impecável.
O Espírito Santo em Cristo. Se Cristo era completamente divino, por
que lemos tantas referências à obra do Espírito Santo sobre ele durante sua
vida terrena? Desde o momento da encarnação (Lc 1.31,35), passando por
seu batismo (Mc 1.10), sua tentação (Mc 1.12; Lc 4.14), sua pregação (Lc
4.18), a operação de milagres (Mt 12.28), sua morte (Hb 9.14), sua
ressurreição (Rm 1.4; 8.11), até sua ascensão e entronização (Sl 45.1-7; At
2.33), descobrimos que o Espírito Santo foi um companheiro constante e
inseparável de Cristo.
Cristo escolheu não considerar sua igualdade com Deus como algo
a se explorar ou tirar proveito (Fp 2.6). Portanto, em completa dependência
do Espírito Santo, Cristo obedeceu ao Pai perfeitamente, sem apego à sua
própria natureza divina. Como John Owen argumentou, “O que quer que o
Filho de Deus tenha operado em, por ou sobre a natureza humana, ele o fez
pelo Espírito Santo”. O Espírito Santo produz em Cristo o fruto do Espírito
(Gl 5.22).
Assim, os crentes podem esperar não apenas um salvador
formidável, que derrotou os poderes das trevas, mas também um salvador
misericordioso, paciente, bondoso e amoroso, porque ele é pleno das
graças do Espírito Santo. Por causa desta verdade, Thomas Goodwin
afirmou que os pecados do povo de Deus movem Cristo mais à compaixão
do que à ira. De fato, Goodwin acrescenta: “Se houvesse infinitos mundos
feitos de criaturas amorosas, não haveria tanto amor neles como houve no
coração do homem Cristo Jesus”.
228

Por causa da entrada do pecado no mundo através do homem, o


homem deve prestar reparação a Deus. Mas o homem pecador não pode
reparar o dano pelo seu pecado. Um mero homem sem pecado só poderia,
potencialmente, fazer restituição por um homem pecador.
Reparação por muitos homens (“como a areia da praia”) só pode
acontecer através do Deus-homem, Jesus Cristo, por causa do valor infinito
de sua pessoa. Ele é o Messias designado por Deus, o único que pode trazer
a salvação para os pecadores por meio de sua morte e ressurreição.
Pedro reconheceu essa grande verdade, para seu grande benefício.
Pela fé, Pedro confessou Jesus como Cristo, o Filho de Deus (Mt 16.16). Pela
visão, Pedro agora contempla a glória de Deus na face de Jesus Cristo.
Aqueles que contemplam a glória de Deus na face de Jesus Cristo nesta vida,
pela fé (2Co 3.18), podem confiantemente esperar fazer o mesmo na vida
por vir, por vista (5.7). Essa é a nossa esperança; essa é a nossa alegria. É
por isso que a única esperança para a igreja hoje não é um mero homem,
mas o Deus-homem, que pergunta a você: “Quem dizes que eu sou”?

7.8 A Obra de Cristo (Soteriologia)200

Salvação, à luz da Bíblia, não significa apenas livramento do


inferno. Salvação é palavra de profundo significado e de infinito alcance.
Muitos têm uma concepção muito pobre da inefável salvação consumada
por Jesus, o que às vezes reflete uma vida espiritual descuidada e
negligente, onde falta aquele amor ardente e total por Jesus, e a busca
constante de sua comunhão.
Em Ef 6, quando o apóstolo discorre sobre a armadura de combate
do soldado cristão, fala do capacete da salvação (v.17). O capacete cobria
totalmente a cabeça, protegendo-a. Isso fala da plenitude do conhecimento
e da experiência da salvação.
Salvação não significa apenas livramento da condenação do
Inferno. Ela abarca todos os atos e processos redentores e transformadores
da parte de Deus para com o homem e o mundo através de Jesus, o
Redentor, nesta vida e na outra. Salvação é o resultado da redenção
efetuada por Jesus. Redenção foi o meio que Deus proveu para livrar o
homem de seus pecados. Salvação é o usufruto desse livramento.

200
Cf. Aula de Soteriologia. SETAAD, Youtube in: https://encr.pw/y9pgT
229

No sentido comum e limitado, salvação significa a obra que Deus


realiza instantaneamente no pecador que a Ele se entrega, perdoando-o e
regenerando-o. Porém, a Salvação tem sentido e alcance muito mais vasto.
Assim considerada, significa o pleno livramento da presença do pecado e
suas consequências, o que somente ocorrerá na glória celestial. Nesse
sentido, a Salvação alcança também outras esferas além da humana (Cl
1.20).
A Salvação foi planejada por Deus Pai (Ap 13.8 e 1Pe 1.18-20). Deus
Filho consumou-a (Jo 19.30 e Hb 5.9). O Espírito Santo aplica-a ao pecador
(Jo 3.5; Tt 3.5 e Rm 8.2). Tudo por graça (Ef 2.8). Milhares de filhos de Deus
são hoje salvos por Jesus, mas ainda não examinaram detalhadamente a
sublimidade desta Salvação em seus dois sentidos: objetivo e subjetivo.
A Salvação que Jesus efetuou no Calvário é tão rica, profunda e
grandiosa que somente na outra vida é que começaremos a entender de fato
o seu infinito alcance. Quando as eras futuras começarem o seu curso na
glória celestial, começaremos a compreender as riquezas infinitas desta
Salvação em Jesus Cristo (Ef 2.7; 3.8).
Vejamos a Salvação em si, do ponto de vista objetivo, considerando
Deus como doador e o homem como o recipiendário. Nesse sentido, ela tem
três aspectos, todos simultâneos: justificação, regeneração e santificação.
Uma pessoa verdadeiramente justificada é também regenerada e
santificada.

7.9 A Doutrina da Justificação201

O termo judicial da justificação. Fala de quebra da Lei (1Jo 3.4). Ele é


o ato de transformação ou mudança de estado do pecador, perante Deus,
operada por Ele mesmo. A justificação tem caráter exterior. Deus é o juiz,
Cristo é o advogado e o homem, o réu. A transgressão da Lei de Deus é o
pecado cometido. O resultado da justificação na vida do novo crente é a
mudança de posição perante Deus. De condenado que era, o homem passa a
justificado.
Na justificação, o homem entra em boas relações com Deus quanto
às suas leis, pois Ele é justo (Rm 5.1; 8.1-4). A justificação é um ato divino
fora do indivíduo, enquanto a regeneração ocorre no interior da criatura. É

201
Cf. A Doutrina da Justificação Pela Fé e Seu Impacto Para a Evangelização |
Augustus Nicodemus. Edições Vida Nova, Youtube in: https://l1nq.com/pyP3r
230

muito maravilhoso o modo como Deus providenciou e efetua a nossa


justificação. A justiça de Cristo é creditada à nossa conta espiritual (Rm
3.24-28). Romanos trata desse assunto de modo completo e majestoso.
Para a nossa justificação: a) Deus, em sua graça, colocou seu Filho
em meu lugar, e, na cruz, transferiu minhas culpas e crimes para Ele; b)
Jesus morreu voluntariamente por mim; c) Eu preciso aceitar, por fé, este
único método divino de justificação do ímpio (Rm 4.5), confessando a Jesus
como meu Salvador (Rm 10.9).
Assim, sem ultrajar sua perfeita justiça, Deus justifica o ímpio
(aparentemente um absurdo), substituindo o culpado pelo inocente
(Cristo), transferindo minhas culpas para Ele. Deste modo, Deus proveu a
justificação para mim e para ti, mediante substituição e transferência, tudo
por Cristo. Legalmente, não deveria haver misericórdia para com o culpado.
Deveria ser punido.
Porém, em virtude do sacrifício de Cristo, Deus, o Justo Juiz, faz
justiça, perdoando o penitente que a Ele vem com fé. Assim, essa
justificação por Jesus só é efetivada na vida do pecador que o aceitar como
seu Salvador. Somente aceitando Jesus o pecador entra no plano divino
para sua Salvação.
Vê-se, assim, que, no sentido bíblico, justificar é mais do que
perdoar. O perdão remove a condenação do pecado, e a justificação nos
declara justos. Um juiz terreno ou chefe de Estado pode perdoar um
criminoso, mas não pode colocá-lo nunca em posição igual à daquele que
nunca transgrediu a lei. Mas o nosso Deus pode e faz isso.
Deus tanto perdoa o pecador, como justifica-o. Isto é, trata-o como
se nunca tivesse pecado! Aleluia ao Trino Deus! E tal fato ocorre no
momento em que o pecador arrependido aceita Jesus como seu Salvador
pessoal. Aqui no mundo, um criminoso nunca mais receberá a consideração
de justo por parte de seus semelhantes, mas Deus declara justo o pecador
que Ele justificar. Sim! “Justificado!” – é o veredito divino. Quem pode
agora nos condenar se é Deus quem nos justifica? (Rm 8.33-34).
Como é possível um Deus justo justificar um ímpio? (Rm 4.5). Já
tentamos explicar: substituindo o culpado pelo inocente, o pecador pelo
justo, e transferindo a culpa de um para o outro. Foi o que aconteceu no
Calvário. Não foram os soldados romanos que levaram Jesus ao Calvário e
ocasionaram sua morte, mas os meus e os teus pecados.
231

Sua vida não foi tomada. Ele a deu como sacrifício para nos redimir.
É evidente que justificar é mais do que perdoar. Pela justificação o crente é
declarado justo. A origem da justificação é a graça de Deus (Rm 3.24 e Tt
3.7). A base da justificação é o sangue de Jesus (Rm 5.9). O meio da
justificação é a fé que vem por Jesus (Rm 3.28; 5.1).

7.10 A Doutrina da Regeneração202

A regeneração é a inclusão familiar. Regeneração é um termo


relacionado à família. Tem a ver com a nossa inclusão na família divina. É o
ato interior operado na alma, pelo Espírito Santo. É a nova vida em Cristo, o
novo nascimento. Sendo regenerado pelo Espírito Santo, o crente é filho de
Deus. O lado externo da regeneração é a conversão, isto é, aquilo que o
mundo vê ou percebe. Conversão é a mudança externa da pessoa, seu
procedimento resultante da regeneração, a qual é a mudança interna na
alma. A regeneração é a causa, a conversão é o efeito. Há um sentido em que
a conversão não é total (Mt 18.3; Lc 22.32 e Tg 5.19).
O que ocasiona a regeneração não é a justificação, mas a
comunicação da vida de Cristo. A justificação é imputada; a regeneração é
comunicada. Justificação tem a ver com o pecado; regeneração, com a
natureza. Justificação é algo feito a nosso favor; regeneração é algo operado
em nós. O resultado da regeneração é a mudança de condição – de servo do
pecado e do Diabo para filho de Deus (Jo 1.12,13; 3.3 e Tt 3.5). Pela
regeneração o crente é declarado filho de Deus.

7.11 A Experiência da Salvação e Santificação203

Experiência humana é um termo que se refere ao conjunto de


vivências, sensações, emoções e conhecimentos que uma pessoa adquire ao
longo da vida por meio das suas relações com o mundo e com os outros
seres humanos.
Essas experiências moldam a percepção de mundo, os valores, as
crenças e os comportamentos individuais e coletivos, influenciando na

202
Cf. Regeneração (Paul Washer). Defesa do Evangelho Oficial, Youtube in:
https://encr.pw/Ij5Wr
203
Cf. As 3 Partes da Salvação: Justificação, Regeneração e Santificação. Antonio
Fonseca - ICP, Youtube in: https://l1nq.com/OCzQ8
232

forma como as pessoas lidam com as situações da vida, com as outras


pessoas e com a sociedade em geral. A experiência humana é uma das
principais fontes de conhecimento sobre si mesmo, sobre os outros e sobre
o mundo, sendo fundamental para o desenvolvimento pessoal e social.
Do ponto de vista teológico, a experiência humana é entendida
como a maneira como os seres humanos experimentam e respondem a
Deus e à sua revelação. Essa experiência é moldada por uma variedade de
fatores, incluindo o contexto cultural, social e histórico do indivíduo, bem
como sua compreensão de Deus e sua relação com Ele.
A teologia procura compreender e interpretar a experiência
humana em relação à revelação de Deus, buscando entender como a
experiência humana pode nos ajudar a entender a natureza de Deus e sua
relação conosco. A experiência humana, portanto, é um componente
fundamental da teologia, pois ela fornece a base para a compreensão do
que significa ser humano em relação a Deus e ao mundo.
A experiência humana em Cristo refere-se ao encontro pessoal e
transformador de um indivíduo com Jesus Cristo, que se torna o centro da
sua vida e o transforma em um novo ser. Isso pode ser experimentado
através da fé e do seguimento dos ensinamentos de Jesus, que incluem
amor ao próximo, perdão, humildade e serviço.
Essa experiência é considerada fundamental para a vida cristã e
pode resultar em mudanças significativas na forma como uma pessoa se
relaciona consigo mesma, com os outros e com Deus. A experiência
humana em Cristo é vista como uma fonte de alegria, esperança e
propósito, que pode levar a uma vida mais plena e significativa.
Santificação é um ato divino que também ocorre dentro do homem,
refletindo logo em seu exterior. Daí a diferença entre santidade – um
estado – e justiça – santidade prática, de vida (Lc 1.75). Na operação divina
da conversão, a santidade de Cristo passa a ser a nossa santidade (Cl 2.10;
1Co 2.30; Hb 10.10,14 e Rm 8.2). Seus méritos são creditados à nossa conta.
Estamos tratando da santificação posicional em Cristo, não da santificação
progressiva, no viver diário do crente, como mostrada em 2Co 7.1 e Ap 22.1.
O resultado da santificação, operada na conversão, é a mudança de
vida. A salvação considerada sob estes três aspectos simultâneos é perfeita.
É a salvação no sentido objetivo. Estamos em Cristo (2Co 5.17 e Jo 15.4).
Nunca seremos mais salvos do que somos agora. Cristo não fará mais nada
para salvar-nos além do que já fez.
233

Ele já fez tudo o que era preciso e possível. Aí está o perigo do


pecador rejeitar a Cristo, pois não haverá outro plano divino de Salvação. O
atual é eterno (2Tm 1.9 e Ef 3.11). Nem mais outro sacrifício expiatório terá
lugar, pois o de Jesus foi perfeito e completo (Hb 9.26; 10.10,12).
Pela santificação em Cristo, o crente é declarado santo. Por ela, o
crente entra em boas relações com Deus quanto à sua natureza, pois Ele é
santo (1Pe 1.16 e 2Tm 2.21). Estas três bênçãos – justificação, regeneração e
santificação – são simultâneas, no sentido objetivo. As três constituem a
plena Salvação em Cristo (2Co 5.17).
Quando falamos de salvação na experiência humana, estamos
falando de salvação no sentido subjetivo. O homem como recipiendário e
Deus como doador. É a salvação vista na experiência humana. Considerada
a salvação sob este aspecto, ela tem três tempos: no passado, justificação;
no presente, santificação; no futuro, glorificação.
a) No passado – justificação: É a salvação da condenação do pecado.
O crente foi salvo da condenação do pecado. A Bíblia descreve este fato
como ato passado (Rm 5.1 e 1Co 6.11). Justificação é o que Deus fez por nós.
O crente foi justificado uma só vez. Daí em diante o que ocorrerá é a
purificação (1Jo 1.9 e Jo 13.10).
b) No presente – santificação: É a salvação do domínio e influência
do pecado. Santificação bíblica significa basicamente separação para uso e
posse de Deus. Uma boa definição é a de Paulo em Atos 27.23: “...do Senhor,
de quem sou e a quem sirvo”. Santificação não é apenas a pessoa pertencer
a Deus, mas também servi-lo. Se o leitor é um santo de Deus, certamente
está servindo a Deus. Há muita santificação por aí que pode ser tudo, menos
bíblica.
A santificação posicional, deve tornar-se experimental no viver
diário do crente. A santificação é primeiramente interna, isto é, pureza
interior, purificação do pecado, refletindo isso em nosso exterior,
traduzido em separação do pecado e dedicação a Deus. É um termo ligado
ao culto a Deus e à consagração ao seu serviço, conforme se vê no livro de
Levítico, através de pessoas e coisas, sacerdotes, templo, objetos etc.
Quem pensa ser santo deve ser separado do mal e dedicado a Deus
para seu uso (2Tm 2.21). A santificação, como acabamos de ver, tem um
lado posicional e outro prático: um santo viver. A justiça é comparada a um
vestido (Jó 29.14 e Is 59.17). Mas o corpo, que recebe esse vestido, como
deve estar? É razoável um vestido limpo em corpo sujo?
234

A santificação é o que Deus faz em nós. Nesse sentido, a salvação é


progressiva. Uma criança nova é perfeita, mas não é adulta. Uma frutinha é
também perfeita ao formar-se, mas não é madura (Ef 4.13).
Tendo sido justificado, o crente progride e prossegue para a
perfeição, de que em seguida nos ocuparemos. Portanto, ao estudarmos a
santificação precisamos vê-la quanto à posição do crente em Jesus Cristo, e
quanto ao estado do crente em si mesmo.
c) No futuro – glorificação: Será a salvação da presença do pecado
em nossa vida. A glorificação é a inteira conformação com Jesus Cristo (Rm
8.23 e 1Jo 3.2). É a perfeição do crente. Na glorificação, a salvação envolverá
o corpo físico, então glorificado. Estaremos ressuscitados. Estaremos no
Céu (Rm 13.11; 2Co 5.2,4; Fp 2.12 e Hb 9.2). Será a redenção do corpo (Rm
8.23). A glorificação será o que Deus fará conosco.

7.12 O Condicionamento Salvífico204

A salvação é uma obra inteiramente independente de nossas obras,


esforços e méritos. Contudo, o homem tem certas condições a cumprir.
Essas condições são a fé, o arrependimento e a confissão. Fé é a confiança
em Deus. Ela se ocupa com Deus, assim como o arrependimento ocupa-se
com o pecado e o remorso. A fé divisa a misericórdia divina, quando
toma-se a mão para receber a salvação (Ef 2.8).
Mas, tanto a fé como o arrependimento vêm graciosamente de
Deus, para que o homem não tenha de que gloriar-se (At 5.31; Rm 2.4; 12.3;
10.17; At 11.18; Fp 2.13; 2Tm 2.25; Ez 36.27 e Jr 31.3). Bem disse o profeta
Isaías que Jeová é a nossa salvação (Is 12.2).
A fé e o arrependimento devem acompanhar o crente em toda sua
vida. O primeiro é indispensável ao recebimento das bênçãos; o segundo
fá-lo zeloso para a pureza. O crente que sabe arrepender-se e humilhar-se
aos pés do Senhor é um grande vencedor. Quanto à fé, temos uma coisa: ela
somente opera através do amor (Gl 5.6; Ef 6.23; 2Tm 1.13 e 1Tm 5.8). Há por
aí os que se dizem cheios de fé, porém sem qualquer dose de amor divino. É
uma anomalia, uma decepção, uma negação da verdade (1Co 13.2).
No tocante à salvação, confissão significa confessar publicamente a
Cristo como Salvador. Após crer com o coração (Rm 10.10a), é preciso

204
Cf. O que produz a Fé Salvífica? – R.C. Sproul. Ministério Fiel, Youtube in:
https://l1nq.com/R4npb
235

confessar ou declarar que agora é crente (Rm 10.9-10). Crer Nele sem
confessá-lo é flagrante covardia; confessá-lo sem nele crer é hipocrisia.
Expliquemos: a salvação é uma dádiva ou presente de Deus para nós
(Ef 2.8; Tt 3.3 e Rm 6.23). Suponhamos que alguém te ofereça um grande e
rico presente, porém suas mãos estão ocupadas com uma porção de objetos
inúteis e sem valor, e não queres largar essas coisas para receber esse
presente, recusando-o assim.
O mesmo acontece em relação a Deus e à Sua salvação. Mas,
suponhamos que você largue tudo e aceite o presente. Nada mereces pelo
fato de estendermos a mão para receber o presente, mas, ao fazer assim,
satisfazer a condição para receber essa dádiva. O mesmo se dá em relação à
salvação.

7.13 A Graça Salvífica205

Uma das maiores e mais preciosas doutrinas da Bíblia é a da graça


de Deus, da salvação somente pela graça. Mesmo uma leitura perfunctória
da Bíblia, especialmente do Novo Testamento, mostrará que a salvação e
todas as bênçãos da vida cristã são resultado da graça de Deus. Vejamos
numa incursão rápida pelo Novo Testamento qual é o lugar que a graça
ocupa em toda a nossa vida espiritual.
1. A eleição é pela graça. Assim, pois, também agora, no tempo de
hoje, sobrevive um remanescente segundo a elei­ção da graça. E se é pela
graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça (Rm 11.5,6).
2. Jesus é a personificação da graça. E o Verbo se fez carne e habitou
entre nós, cheio de graça e de verdade [...] To­dos nós temos recebido da sua
plenitude, e graça sobre graça. Porque a lei foi dada por intermédio de
Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo (Jo 1.14,16,17).
Pois vocês conhecem a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico,

205
O autor começa o livro definindo a graça como "o favor imerecido de Deus". Ele
afirma que a graça é um dom de Deus, não algo que podemos merecer ou conquistar. O autor
então discute o propósito da graça. Ele afirma que a graça é para nos salvar dos nossos pecados e
nos reconciliar com Deus. A graça também é para nos transformar e nos capacitar para viver uma
vida santa. O autor então aplica o conceito de graça à vida do cristão. Ele afirma que a graça nos
dá a segurança de que somos amados e aceitos por Deus. A graça também nos dá a força para
vencer o pecado e viver uma vida de santidade O livro A Graça Transformadora é uma leitura
essencial para qualquer cristão que deseja entender a natureza e o propósito da graça de Deus. O
livro é bem escrito e fundamentado na Bíblia. Ele oferece uma perspectiva bíblica e prática sobre
a graça de Deus. Cf. Graça Transformadora. Luciano Subirá, Youtube in: https://encr.pw/c3EqR
236

se fez pobre por amor de vocês, para que, por meio da pobreza dele, vocês
se tornassem ricos (2Co 8.9 NAA).
3. A Salvação é pela graça. Pela graça sois salvos por meio da fé (Ef
2.8). “Porquanto a graça de Deus se manifes­tou salvadora a todos os
homens” (Tito 2.11).
4. A Justificação e o Perdão dos pecados são pela graça. Sendo
justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em
Cristo Jesus” (Rm 3.24). “No qual te­mos a redenção, pelo seu sangue, a
remissão dos pecados, se­gundo a riqueza da sua graça” (Ef 1.7).
5. A Fé é pela graça. Tendo chegado, auxiliou muito aqueles que
mediante a graça haviam crido” (At 18.27).
6. A graça capacita-nos a servir. Pela graça de Deus, sou o que sou; e
a sua graça que me foi concedida, não se tornou vã, antes trabalhei muito
mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus comigo (1Co
15.10).
7. Graça capacita-nos a ser pacientes e perseverantes. Então me disse:
A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza (2Co
12.9). Acheguemo-nos portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a
fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião
oportu­na (Hb 4.16).
8. Devemos crescer na graça. Pelo contrário, cresçam na graça e no
conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória,
tanto agora como no dia eterno. (2Pe 3.18 NAA).
9. A plenitude de nossa salvação na segunda vinda de Cristo será uma
nova expressão da graça de Deus. Por isso, preparando o seu entendimento,
sejam sóbrios e esperem inteiramente na graça que lhes está sendo trazida
na revelação de Jesus Cristo (1Pe 1.13).
10. Por toda a eternidade os salvos serão um monumento da graça de
Deus. Nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus
Cristo [...] para louvor da glória de sua graça (Ef 1.5,6). Para mostrar nos
séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, em bondade para
conosco, em Cristo Jesus (Ef 2.7).
Vemos, consequentemente, a singularidade do papel que a graça de
Deus desempenha em todo o plano de nossa salvação. Desde toda a
eternidade fomos eleitos por graça de Deus. No devido tempo, esta graça foi
revelada, em toda a sua beleza, por Jesus Cristo. Por esta graça é que somos
salvos, isto é, justificados e perdoados mediante a fé, a qual em si mesma é
237

um resultado da graça. Esta mesma graça, que trouxe salvação às nossas


almas, capacita-nos a servir a Deus e dá-nos força para suportar todos os
sofrimentos a que estamos sujeitos neste mundo e a perseverar até ao fim.
Nesta graça estamos firmes (Rom 5:2) e crescemos. A segunda vinda de
Cristo será uma nova revelação de graça, e por toda a eternidade a infinita
graça de Deus resplandecerá em nós, para Seu eterno louvor e glória.
Que é graça? Graça é favor gratuito, não merecido, mostrado aos
indignos dele. Se a redenção fosse devida a todos os homens, ou se fosse
uma compensação necessária à responsabilidade deles, não poderia ser
gratuita, e o dom de Cristo não poderia ser uma expressão supe­rior do livre
favor e amor de Deus. Só poderia ser uma revelação de sua retidão.
Mas as Escrituras declaram que o dom de Cristo é uma expressão
sem pa­ralelo de amor gratuito, e que a salvação procede da graça... E todo
verdadeiro crente reconhece a graciosidade essencial da salvação, como um
elemento in­separável de sua experiência.
Daí as doxologias do céu (1Co 6.19,20; 1Pe 1.18,19; Ap 5.8-14).
Contudo, se a salvação é pela graça, então obviamente é compatível com a
justiça de Deus salvar a todos, a muitos, a poucos, ou a ninguém, como lhe
aprouver”.

“A graça, por sua própria natureza, tem de ser livre ou gratuita; e a


diversidade ou disparidade de sua dis­tribuição (ou manifestação)
demonstra que é de fato gratuita. Se alguém pudesse com justeza
exigi-la, dei­xaria de ser graça para se tornar débito. Se neste
particular nega-se a Deus Sua soberania, a salvação então se torna
uma questão de dívida para com todas as pessoas”.

É interessante notar que Paulo associa esta doutrina de salvação


exclusivamente pela graça à doutrina da total depravação e, por
conseguinte, à doutrina do novo nascimento.

“Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com


que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu
vida juntamente com Cristo — pela graça sois salvos e juntamente
com ele nos ressuscitou... para mostrar nos séculos vindouros a
suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo
Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem
238

de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie"


(Ef 2.4-9).

Se estamos mortos em delitos e pecados, não podemos viver para


Deus se Ele não nos criar es­piritualmente por seu infinito poder. Esse criar
de novo é uma como ressurreição ou novo nascimento, como já vimos. E
Deus não tem nenhuma obrigação de fazer isso. Se o faz, é por pura graça e
misericórdia. E se é pela graça, Ele pode salvar a todos, a muitos, a poucos,
ou a ninguém, como Lhe aprouver. Como disse Paulo, citando palavras de
Deus dirigidas a Moisés:

Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e


compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim,
pois não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar
Deus a sua misericórdia (Rm 9.15,16).

Assim escreveu o Dr. James Moffatt em seu excelente livro Grace in


the New Testament, p. 172, 173:

“Quando os que experimentam a graça de Deus refletem na origem


dela, que é a vontade do mesmo Deus, o resultado instintivo é a
doutrina da eleição. Os crentes descobrem que devem sua posição
não a qualquer habilidade sua de penetrar na fé, mas devem-na à
cha­mada e escolha do próprio Deus, que os distinguiu com esse
privilégio. Sabem que foram escolhidos pela gra­ça e portanto não o
foram por nada que tivessem feito; de outro modo a graça deixaria
de ser graça (Rm 11.6). O primeiro passo foi dado por Deus, e muito
antes que eles se aperceberem de que precisavam de salvação. Foi
um movimento livre, gracioso da Vontade eterna. Paulo não pôde
explicar de outro modo por que ele ou qualquer outro foi escolhido
para ser membro da Igreja de Deus. Devia ter sido Deus, e Deus foi
movido pelo amor”.

7.14 Calvinismo e Arminianismo206

206
Cf. Calvinista ou Arminiano? Escola do Discípulo, Youtube in:
https://l1nq.com/9lNf3
239

A salvação calvinista é uma doutrina teológica que tem origem nas


crenças do reformador protestante João Calvino. Essa doutrina é baseada
em cinco pontos, conhecidos como os "Cinco Pontos do Calvinismo", que
foram formulados durante o Sínodo de Dort, em 1618-1619. Esses cinco
pontos são:
1. Depravação total: a ideia de que todos os seres humanos nascem
pecadores e, portanto, estão separados de Deus desde o nascimento.
2. Eleição incondicional: a crença de que a salvação é escolhida por
Deus e não pelo homem, ou seja, que Deus escolhe quem será salvo e quem
não será.
3. Expiação limitada: a crença de que Jesus morreu apenas pelos
pecados dos eleitos, não pelos pecados de todos os seres humanos.
4. Graça irresistível: a ideia de que, quando Deus escolhe alguém
para ser salvo, essa pessoa é irresistivelmente atraída para ele.
5. Perseverança dos santos: a crença de que aqueles que são
escolhidos e salvos por Deus permanecerão salvos para sempre e não
podem perder sua salvação.
Esses cinco pontos, juntos, formam a doutrina da salvação
calvinista, que é vista como uma forma de predestinação divina. Aqueles
que são escolhidos por Deus para serem salvos são conhecidos como “os
eleitos”, enquanto aqueles que não são escolhidos são conhecidos como
“os réprobos”. A salvação é vista como um presente gratuito de Deus, não
algo que pode ser alcançado por boas obras ou mérito próprio.
A resposta arminiana à doutrina calvinista da salvação é conhecida
como arminianismo. Os arminianos acreditam que Deus oferece a salvação
a todas as pessoas e que a escolha de aceitá-la ou rejeitá-la é uma decisão
humana. Eles também acreditam que a graça de Deus pode ser resistida e
que a perseverança dos santos não é garantida, ou seja, que é possível que
alguém que tenha sido salvo abandone sua fé e perca sua salvação. Os
arminianos enfatizam a liberdade da vontade humana e a responsabilidade
moral dos indivíduos em escolherem seguir a Cristo. Eles acreditam que a
salvação é uma resposta à fé e que a graça de Deus não é irresistível. Além
disso, eles defendem que a salvação é condicional e não incondicional,
como defende o calvinismo.
Essas duas doutrinas têm sido objeto de debate teológico há
séculos, e os cristãos têm opiniões diferentes sobre a questão da salvação.
240

7.15 A Questão do Universalismo Cristão207

A doutrina do Universalismo Cristão é uma crença religiosa que


afirma que todas as pessoas serão salvas e terão acesso à vida eterna,
independentemente de sua religião, fé ou práticas. De acordo com essa
doutrina, Deus é amoroso e misericordioso, e deseja salvar todos os seres
humanos, independentemente de suas crenças e ações.
O Universalismo Cristão tem raízes no cristianismo, mas sua
ênfase na universalidade da salvação o diferencia de outras tradições
cristãs que enfatizam a necessidade de uma confissão de fé e uma vida
piedosa para a salvação. Em vez disso, os universalistas enfatizam que a
salvação é um dom gratuito de Deus, oferecido a todos os seres humanos.
Essa crença teve uma presença significativa nos Estados Unidos
durante o século XIX e início do século XX, com muitas igrejas e
comunidades identificando-se como Universalistas Cristãos. Hoje em dia, o
Universalismo Cristão é mantido por algumas igrejas e organizações,
embora não seja uma corrente majoritária dentro do cristianismo.
O Universalismo Cristão é uma doutrina que afirma que todas as
pessoas serão salvas e reconciliadas com Deus, independentemente da sua
fé ou ações nesta vida. No entanto, essa doutrina é objeto de várias objeções
por parte de muitos cristãos.
Uma das principais objeções é que ela parece ignorar a doutrina da
responsabilidade humana. Muitos argumentam que, se todas as pessoas
serão salvas independentemente de sua fé ou ações nesta vida, então não
há incentivo para que as pessoas se esforcem para seguir a Deus ou viver
uma vida de moralidade. Além disso, essa doutrina parece negar a
importância da crença em Jesus Cristo como o caminho para a salvação,
que é uma doutrina central do cristianismo.
Outra objeção é que ela parece negar a doutrina do inferno e do
juízo final. Muitos cristãos acreditam que o inferno é um lugar real de
punição eterna para aqueles que rejeitam a salvação oferecida por meio de

207
O Universalismo Cristão é um movimento religioso que tem suas raízes em várias
tradições religiosas e filosóficas, portanto, não é possível identificar um único idealizador e
fundador do movimento. No entanto, algumas figuras históricas importantes para o
desenvolvimento do Universalismo Cristão incluem George de Benneville, Hosea Ballou, William
Ellery Channing e John Murray. Essas figuras desempenharam papéis significativos no
estabelecimento das primeiras igrejas e comunidades universalistas na América do Norte no final
do século XVIII e início do século XIX. Cf. O Universalismo Absoluto e Total - Franklin Ferreira.
Ministério Fiel, Youtube in: https://encr.pw/7bAeQ
241

Jesus Cristo. Além disso, a doutrina do juízo final é vista como uma parte
essencial da fé cristã, na qual Deus julgará os vivos e os mortos de acordo
com suas obras.
Por fim, alguns argumentam que essa doutrina parece contradizer
várias passagens bíblicas que falam sobre a existência de um grupo de
pessoas que serão condenadas à punição eterna. Essas passagens sugerem
que a salvação não é universal e que a fé em Jesus Cristo é necessária para
escapar da condenação eterna.
Em resumo, o Universalismo Cristão é uma doutrina controversa
que enfrenta várias objeções por parte de muitos cristãos. Essas objeções se
concentram principalmente na aparente negação da responsabilidade
humana, da importância da crença em Jesus Cristo e da existência do
inferno e do juízo final.

7.16 A Pessoa do Espírito Santo (Pneumatologia)208

A pessoa e obra do Espírito Santo é de suma importância. Todos


nós temos necessidade de sua presença e do seu poder. Sem Ele, seria
impossível viver a vida cristã e servir a Deus. Ele é a dinâmica do
Cristianismo. Quem é o Espírito Santo? Uma pessoa ou uma influência?
Muitas vezes é descrito de uma maneira impessoal, tipo: sopro que
preenche (Gn 2.7; Jó 32.8; Ez 37.9); a unção que unge (Lc 4.18; At 10.38; Hb
2.9); o fogo que ilumina (Lv 10.2; Ml 3.2, 3); a Água Viva (Jo 7.37, 38;
4.14).209
O Espírito Santo convence o homem do pecado e da justiça e
consome em nós tudo o que não é da vontade de Deus (Mt 13.11, 12; Lc 3.16,
17).
Atos pessoais que são atribuídos ao Espírito Santo: Ele sonda as
profundezas de Deus (1Co 2.10). Ele fala aos homens e à Igreja (Ap 2.7). Ele

208
Cf. A Trindade e a Pessoa do Espírito Santo - Franklin Ferreira. Ministério Fiel,
Youtube in: https://l1nq.com/j4eQq
209
Algumas das citações mais famosas sobre o Espírito Santo em Cristo incluem: “O
Espírito Santo é o dom de Deus para a humanidade. Ele é o que nos capacita a viver como filhos de
Deus” (Martinho Lutero). “O Espírito Santo é o poder de Deus em ação no mundo. Ele é o que nos
leva a amar a Deus e ao próximo” (John Wesley). “O Espírito Santo é a presença de Deus em nós.
Ele é o que nos dá paz, alegria e esperança” (Dietrich Bonhoeffer). Em última análise, a
interpretação do Espírito Santo em Cristo é uma questão de fé. Não há respostas fáceis ou
definitivas. No entanto, a compreensão do papel do Espírito Santo na vida de Jesus pode nos
ajudar a entender melhor a sua missão e a sua obra no mundo.
242

intercede (Rm 8.26). Ele ensina (Jo 14.26). Ele guia e conduz (Rm 8.14).
Características pessoais que são atribuídas ao Espírito Santo. Intelecto ou
poder de pensar (1Co 2.10, 11; Rm 8.27). Volição ou poder de vontade (1Co
12.11). Sensibilidade ou poder de sentir (Rm 15.30; Ef 4.30).
O Espírito Santo merece tratamento pessoal: a) pode-se mentir
para Ele (At 5,3); b) pode-se rebelar contra Ele e O entristecer (Is 63.10); c)
pode ser blasfemado (Mt 12.31); d) a importância de reconhecer a Sua
personalidade.
Em relação à Adoração, podemos afirmar categoricamente, que o
Espírito Santo é uma pessoa divina e, no entanto, desconhecida ou
ignorada como tal, está sendo privada do amor e da adoração que lhe é
devida.

7.17 A Divindade do Espírito Santo210

O Espírito de Deus. ​Ele é o executivo da Trindade, operando em


todas as esferas, tanto físicas quanto morais (1Co 3.16; 2.14). O Espírito de
Cristo: ​(Rm 8.9) “Não há distinção especial entre os termos Espírito de
Deus, Espírito de Cristo e o Espírito Santo (Jo 14.26; 16.14; Mt 18.20).
O Consolador: ​a palavra “Consolador”, paracleto no original,
significa alguém chamado para ficar ao lado de outrem, com o propósito de
ajudá-lo em qualquer eventualidade (Jo 14.16). Deus: ​quando Ananias
mentiu ao Espírito Santo, Pedro destaca o fato de que tinha mentido a
Deus, assim chamado o Espírito de Deus.211
Os atributos do Espírito Santo demonstram a sua divindade: ​os
atributos são aquelas características essenciais, permanentes e distintivas,
que podem ser afirmadas a respeito do seu ser. O que demonstra a
santidade do Espírito Santo é que a Ele são atribuídas as mesmas
características que vemos no Pai e no Filho, a saber: a) Ele é eterno ​(Hb
9.14); b) Ele é onipotente ​(Lc 1.35); c) Ele é onipresente ​(Sl 139. 7-10); d) Ele
é onisciente ​(1Co 2.10, 11; 12.11).

210
Cf. A Divindade do Espírito Santo | Luiz Sayão. IBNU, Youtube in:
https://l1nq.com/oLsBD
211
É muito comum, nas minhas aulas sobre Pneumatologia, os irmãos ficarem
confusos quando pergunto se o Espírito Santo pode ser adorado. Contudo é simples a explicação:
o Espírito Santo é Deus e recebe toda a dignidade divina. Há, inclusive, uma oração muito antiga
em referência à Trindade: “Glória ao Pai, Glória ao Filho, Glória ao Espírito Santo". Como era no
princípio, agora e sempre. Amém!"
243

Sua associação com o Pai e o Filho: a) na comissão apostólica ​(Mt


28. 19,20); b) na administração da Igreja (​ 1Co 12. 4-6); c) na bênção
apostólica ​(2Co 13.13).

7.18 A Obra do Espírito Santo212

O Espírito Santo é o criador, é princípio de vida que trabalha na


terra ainda sem forma e vazia (Gn 1.2; Sl. 33.6; 106.30). Em relação aos
homens antes do pentecostes: ​o Espírito Santo é o agente de Deus aqui
neste mundo e, através da história, notamos sua ação na vida dos homens,
tanto regenerados como não regenerados. O Espírito Santo na preparação
dos profetas e a inspiração das Escrituras: ​a própria Bíblia declara-se a
Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo.
A crença na inspiração verbal das Escrituras é uma verdade
fundamental, indispensável à nossa fé: a) nenhuma profecia das Escrituras
foi produzida por qualquer indivíduo independente; b) a origem está em
Deus; c) esses homens que falaram foram tomados pelo Espírito Santo e
levados por seu poder ao alvo escolhido por Ele.
Sobre o Espírito Santo e o Messias, a doutrina afirma que Messias é
ungido com o Espírito e batizará com Espírito Santo e fogo (Mc 1.8; Mt 3.11).
a) A Encarnação: Jesus Cristo, o Unigênito Filho de Deus, tomou
sobre si uma natureza humana e um corpo humano, ambos preparados por
uma operação especial do Espírito Santo (Mt 1.20; Lc 2.25-28).
b) O Batismo de Jesus: o Espírito desceu sobre Jesus numa forma
visível, assinalando a sua saída da vida particular para entrar num
ministério público (Mt 3.16; Mc 1.10-11; Lc 3.21-22).
c) A Tentação: como Filho do Homem, que veio redimir o homem
caído, Jesus foi conduzido pelo Espírito a este grande conflito (Mt 4.1-11;
Mc 1.12; Lc 4.1-13).
d) O ministério de Jesus: Dr Gray escreve: “depois da sua unção
pelo Espírito, quase tudo o que se diz ter sido realizado por Jesus, se
realizou não pelo poder de seu Espírito natural e sim pelo Espírito Santo”
(Lc 4.1-21; 10.21; At 10.38; Mt 12.28).

212
Cf. A obra do Espírito Santo | Conexão com Deus | Rev. Hernandes Dias Lopes.
Igreja Presbiteriana de Pinheiros, Youtube in: https://l1nq.com/Cgrfp
Cf também a série de aulas expositivas do Prof. Dr. Jansen Racco: Curso de
Pneumatologia (Estudo sobre o Espírito Santo), Youtube, 2020 in: https://encr.pw/1Cqf7
244

e) A morte e a ressurreição de Jesus Cristo: o Espírito Santo está


profundamente ligado com a cruz. A morte de Cristo, como propiciação
para com Deus e expiação pelo pecado, se realizou no poder do Espírito
Santo (Hb 9.14; Rm 1.4; 8.11).
f) O ministério de Jesus após sua ressurreição: durante os quarenta
dias do seu ministério, após sua ressurreição, Cristo deu mandamentos aos
seus discípulos pelo Espírito Santo (Jo 20.22; At 1.2-8).
Em suma, sobre a obra do Espírito Santo, a Doutrina afirma:
a) O Espírito Santo convence do pecado, da justiça e do juízo,
mostrando ao mundo o seu erro de tal maneira que seja produzido um
reconhecimento pessoal do pecado.
b) O Espírito Santo regenera. ​Sem a obra do Espírito Santo,
ninguém é capaz de se tornar um crente verdadeiro, porque o pecador é
incapaz de virar para Deus sem a sua ajuda.
c) O Espírito Santo habita no crente. ​O Espírito Santo vem habitar
ou fixar sua residência na vida de todo o crente por ocasião da regeneração,
seja qual for o grau de imperfeição ou maturidade deste crente (Jo
14.16-23).
d) O Espírito Santo proporciona segurança. A certeza de salvação é
uma das bênçãos concedidas pela habitação do Espírito no coração do
crente.
e) O selo do Espírito Santo significa posse. Ele é o selo que Deus põe
sobre cada alma salva, é o carimbo divino e a garantia da herança eterna.
f) O selo do Espírito Santo significa segurança. Deus sela a salvação
do crente para a eternidade.
g) O penhor do Espírito. Deus nos deu o dom do Espírito Santo
como garantia de que pertencemos a Ele.

7.19 A Plenitude do Espírito Santo213

Pela obra feita na cruz do calvário, recebemos a salvação da


penalidade do pecado. Os pecados foram perdoados e lavados no sangue de
Jesus. Pela obra do Espírito Santo, que habita no coração do crente
verdadeiro, recebemos a salvação do poder do pecado. Essa obra chama-se
santificação e é importantíssima.: a) a santificação posicional: pelo sangue

213
Cf. Como ser cheio de toda Plenitude e Poder do Espírito | C. H. Spurgeon (1834 -
1892). SpurgeonTV, Youtube in: https://l1nq.com/GnLTc
245

de Jesus Cristo recebemos a santificação eterna, quer dizer, separação do


mundo para Deus, como propriedade sua (Hb 6.10-14). b) a santificação
progressiva: é aquilo que experimentamos dia após dia na vida cristã.
Há pessoas que ensinam que o crente, depois de ser salvo, já deixou
a tendência de pecar. Ensinam que a natureza velha, adâmica, morreu, foi
destruída. Verifica-se, porém, que os mais santos filhos de Deus têm
mostrado estarem cônscios da presença e do poder duma natureza decaída.
O novo nascimento não é apenas uma transformação daquilo que é
velho, é a dádiva de uma nova natureza divina (2Pe 1.4), que se possui
conjuntamente com a velha natureza. A presença de duas naturezas
opostas num indivíduo ocasiona conflito, conforme observamos em Gl 5.17.
O segredo da vida vitoriosa: ​devemos notar que a vida cristã é uma
vida vitoriosa. A vitória é prometida (Rm 6.14). A vida cristã é uma vida
otimista, mas como podemos ter a vitória? (Gl 5. 16-25).
Já notamos que, no momento de sua regeneração pelo Espírito
Santo, o crente é dependente do mesmo Espírito para viver uma vida
vitoriosa. Todo o crente verdadeiro tem o Espírito Santo mas, infelizmente,
nem todo o crente verdadeiro goza da plenitude do Espírito Santo. As
condições para ser cheio do Espírito Santo: ​como já notamos, todo crente
de verdade tem o Espírito Santo.214
Em Efésios 5.18-21, Paulo, depois de demonstrar que o nosso dever
é viver uma vida cheia do Espírito Santo, descreve as consequências desta
vida em relação um ao outro: a) Comunhão um com o outro: falando entre
vós com salmos. b) Adoração: “entoando e louvando de coração ao Senhor
com hinos e cânticos espirituais”. c) Ações de graça: “dando sempre ações
de graças por tudo ao nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus
Cristo”. d) Obediência e humildade: “submetendo-vos uns aos outros no
temor do Senhor”. O que mais caracterizou a vida do Senhor Jesus foi a sua
submissão ao Pai.

214
Muita confusão acontece sobretudo nos meios pentecostais, quanto a presença do
Espírito Santo na vida do crente. É importante entender que existe uma larga distinção de ter e
ser batizado no Espírito Santo. Segundo a Doutrina, não há como reconhecer o projeto de
salvação, sem a revelação do Espírito Santo (Jo 14.16-18). Do contrário, ou seja, sem a revelação
do Espírito Santo, as pessoas poderiam compreender a Doutrina da Salvação pelas vias racionais,
assim o mistério seria racionalizado (seria possível?). Todos os crentes, de fato, tem o Espírito
Santo, pois é o Espírito Santo quem nos convence (infusão). Mas ser batizado no Espírito Santo
(efusão) é manifestação da presença do Espírito em nós, nas prerrogativas místicas. Assim, é
impossível ser cristão sem ter a pessoa do Espírito Santo, logo todo aquele que professa Jesus e
confessar-se pecador: é cheio do Espírito Santo.
246

7.20 Os Dons do Espírito215

A finalidade dos dons espirituais: ​uma das maneiras do Espírito


Santo manifestar-se é através de uma variedade de dons espirituais
concedidos aos crentes. Essas manifestações do Espírito visam à edificação
e à santificação da Igreja: a) Os dons espirituais proporcionam um
ministério espiritual; b) Os dons proporcionam um ministério a todos; c)
Os dons espirituais proporcionam o crescimento da Igreja; d) Os dons não
legitimam o cristão, mas sim o fruto.
As manifestações do Espírito se dão de acordo com a vontade do
Espírito, ao surgir a necessidade, e também conforme o anelo do crente na
busca dos dons. Como recebemos os dons espirituais: ​um dom espiritual é
uma capacidade sobrenatural concedida pelo Espírito Santo para cumprir
um ministério especial no corpo de Cristo. Devemos reconhecer que os
dons são dados pela livre vontade do Espírito Santo (1Co 12.11).
​Deus estabeleceu uma única Igreja. E dentro dessa Igreja, Deus,
através do Espírito Santo, distribuiu vários dons diferentes. Apesar de
existirem muitos dons, não existe um dom que seja melhor do que o outro,
nem uma pessoa que esteja em uma categoria mais elevada que a outra.
Não existe, dentro da Igreja, crentes de primeira, segunda ou terceira
categoria; todos são iguais. Todos os que estão na Igreja foram batizados
em um único Espírito, beberam de um único Espírito. O apóstolo Paulo fala
sobre isso em 1 Coríntios 12.12-30.
Mas qual o significado dos dons?216 Em 1Co 12.8-10 o apóstolo
Paulo apresenta uma diversidade de dons que o Espírito Santo concede aos
crentes. Nessa passagem, ele não descreve as características desses dons,
mas em outros trechos das Escrituras temos o ensino sobre os mesmos.
Vejamos alguns dons:

215
Cf. Pr. Luciano Subirá - Os Dons do Espírito Santo. ADBLU, Youtube in:
https://l1nq.com/1EzO3
216
Dons não legitima o cristão, isso contradiz Mt 7.22,23. No contexto desse versículo,
a frase "mas em teu nome eu curei, profetizei" pode ser interpretada como uma afirmação de que
as pessoas que estão falando com Jesus realizaram milagres em seu nome. No entanto, Jesus diz
que isso não é suficiente para garantir a salvação. É preciso também viver de acordo com a
vontade de Deus. Dons é sinal da misericórdia de Deus na vida da pessoa, e o fruto é sinal da graça
de Deus na vida do crente (Gl 5.22,23). Em tempos pós-modernos é necessário vigilância quanto
“a manifestações” que aparentam ser de Cristo, mas não professam sua doutrina.
247

Quanto ao Dom de profecia é preciso distinguir a profecia aqui


mencionada, como manifestação momentânea do Espírito da profecia
como dom ministerial na igreja, mencionado em Ef 4.11.217
A Palavra de Sabedoria (1Co 12.8) trata-se de uma mensagem vocal
sábia e enunciada mediante operação sobrenatural do Espírito Santo. Tal
mensagem aplica a revelação da Palavra de Deus ou a sabedoria do Espírito
Santo a uma situação ou problema específico (At 6.10; 15.13-22). Não se
trata aqui da sabedoria comum de Deus para o viver diário, que se obtém
pelo diligente estudo e meditação nas coisas de Deus e na sua Palavra, e
pela oração (Tg 1.5-6).
O dom do conhecimento (1Co 12.8) trata-se de uma mensagem
vocal, inspirada pelo Espírito Santo, revelando conhecimento a respeito de
pessoas, de circunstâncias, ou de verdades bíblicas. Frequentemente, este
dom tem estreito relacionamento com o de profecia (At 5.1-10; 1Co
14.24,25).
O dom de interpretação (1Co 12.10) trata-se da capacidade
concedida pelo Espírito Santo, para o portador deste dom compreender e
transmitir o significado de uma mensagem dada em línguas. Tal
mensagem, interpretada pela Igreja reunida, pode conter ensino sobre a
adoração e a oração, ou pode ser uma profecia. Toda congregação pode
assim desfrutar dessa revelação vinda do Espírito Santo. A interpretação de
uma mensagem em línguas pode ser um meio de edificação da congregação
inteira, pois toda ela recebe a mensagem (1Co 14.6, 13,26). A interpretação

217
Quem pode profetizar: ​Como dom de ministério, a profecia é concedida a apenas
alguns crentes, os quais servem na igreja como ministros profetas. Como manifestação do
Espírito, a profecia está potencialmente disponível a todo o cristão cheio dEle (At 2.16-18).
Quanto à profecia, como manifestação do Espírito, observe o seguinte: a) trata-se de um dom
que capacita o crente a transmitir uma palavra ou revelação diretamente de Deus, sob impulso do
Espírito Santo (1Co 14.24,25; 29-31). Aqui não se trata de entrega de sermão previamente
preparado. b) tanto no AT como no NT, profetizar não é primariamente predizer o futuro, mas
proclamar a vontade de Deus e exortar e levar o seu povo à retidão, à fidelidade e à paciência (1Co
14.3). c) a mensagem profética pode desmascarar a condição de uma pessoa (1Co 14.25), ou
prover edificação, exortação, consolo, advertência e julgamento (1Co 14.3, 25, 26, 31). d) a igreja
não deve ter como infalível toda a profecia deste tipo, porque muitos falsos profetas estarão na
igreja (1Jo 4,1). Daí toda a profecia deve ser julgada quanto à sua autenticidade e conteúdo (1Co
14.29,32; 1Ts 5. 20-21). Ela deverá enquadrar-se na Palavra de Deus (1Jo 4.1), contribuir para a
santidade de vida dos ouvintes e ser transmitida por alguém que de fato vive submissa e
obediente a Cristo. e) o dom de profecia manifesta-se segundo a vontade de Deus e não a do
homem. Não há no NT um só texto mostrando que a igreja de então buscava revelação ou
orientação através dos profetas. A mensagem profética ocorria na igreja somente quando Deus
tomava o profeta para isso (1Co 12.11).
248

pode vir através de quem deu a mensagem em línguas ou de outra pessoa.


Quem fala em línguas, deve orar para que possa interpretá-las (1Co 14.3).
O dom de discernimento de Espíritos trata-se de uma dotação
especial dada pelo Espírito Santo, para o portador do dom de discernir e
julgar corretamente as profecias e distinguir se uma mensagem provém do
Espírito Santo ou não (1Jo 4.1). No fim dos tempos, quando os falsos
mestres (Mt 24.5) e a distorção do cristianismo bíblico aumentarão muito
(1Tm 4.1), esse dom espiritual será extremamente importante para a
Igreja.218
O dom da fé comunicada pelo Espírito Santo, capacitando o crente a
crer em Deus, para realização de milagres. É a fé que remove montanhas
(1Co 13.2) e consequentemente opera em conjunto com outras
manifestações do Espírito, tais como as curas e os milagres (Mt 17.20; Mc
11.22-24; Lc 17.6).219
Dons de curar (1Co 12.9) são concedidos à Igreja para restauração
da saúde física, por meios divinos e sobrenaturais (Mt 4.23-25; 10.1; At
3.6-8; 4.30). O plural (dons) indica cura de diferentes enfermidades e
sugere que cada ato de cura vem de um dom especial de Deus. Os dons de
cura não são concedidos a todos os membros do corpo de Cristo (1Co
12.11,30), todavia todos eles podem orar pelos enfermos. Havendo fé, os

218
É necessário explicar que o cristão cheio do Espírito Santo possui “o discernimento
de Espíritos” por causa da prerrogativa das palavras do próprio Senhor Jesus em Jo 16.13,14
“Porém, quando vier o Espírito da verdade, ele os guiará em toda a verdade. Ele não falará por si
mesmo, mas dirá tudo o que ouvir e anunciará a vocês as coisas que estão para acontecer. Ele me
glorificará, porque vai receber do que é meu e anunciará isso a vocês”. Saber o que o Espírito
Santo faz é vital para não cair no engano de espíritos malignos (ou até carnais).
219
O dom da fé é essencial para a vida cristã. Ele é o que nos permite aceitar Jesus como
nosso Salvador, confiar nele para nos perdoar e nos guiar, e viver uma vida de obediência a ele.
Aqui estão alguns exemplos de como o dom da fé pode ser manifestado na vida dos cristãos: a)
Alguém que tem o dom da fé pode crer que Deus vai curar um ente querido mesmo quando a
medicina diz que não há esperança. b) Alguém que tem o dom da fé pode crer que Deus vai
fornecer as necessidades financeiras mesmo quando as coisas estão difíceis. c) Alguém que tem o
dom da fé pode crer que Deus vai realizar milagres no mundo, mesmo quando parece que o mal
está vencendo.
249

enfermos serão curados. Pode também haver cura em obediência ao ensino


bíblico de Tg 5.14-16.220
Operação de milagres (1Co 12.10) trata-se de atos sobrenaturais de
poder, que intervêm nas leis da natureza. Incluem atos divinos em que se
manifesta o reino de Deus contra satanás e os espíritos malignos (Jo 6.2).
O dom de Línguas (1Co 12.10)221 como manifestação sobrenatural do
Espírito, temos:
a) Essas línguas podem ser humanas e vivas (At 2.4-6), ou uma
língua desconhecida na terra (ex: língua estranhas). A língua falada através
deste dom não é aprendida, e quase sempre não é entendida, tanto por
quem fala (1Co 14.14), como pelos ouvintes (1Co 14,16).
b) O falar em outras línguas como dom abrange o espírito do
homem e o Espírito de Deus, que entrando em mútua comunhão, faculta ao
crente a comunicação direta com Deus (isto é, na oração, no louvor, no
bendizer e na ação de graças), expressando-se através do espírito mais do
que da mente (1Co 14.2, 14) e orando por si mesmo ou pelo próximo sob a
influência direta do Espírito Santo, à parte da atividade da sua mente (cf
1Co 14.2, 15, 28; Jd 20).
c) Línguas estranhas faladas no culto devem ser seguidas de sua
interpretação, também pelo Espírito, para que a congregação conheça o
conteúdo e significado da mensagem (1Co 14.3, 27, 28). Ela pode conter
revelação, advertência, profecia ou ensino para a Igreja (1Co 14.6).222

220
Quantas pessoas Deus quer curar? ​Deus prometeu saúde ao seu povo, se este
permanecesse fiel ao seu concerto e aos seus mandamentos (Êx 15.26). Sua declaração abrange
dois aspectos: a) “nenhuma enfermidade porei sobre ti (como julgamento), que pus sobre o
Egito”; e b) “Eu sou o Senhor que te sara (como Redentor)”. Curados todos entre três milhões:
Deus continuou sendo o Médico dos médicos do seu povo, no decurso do AT, sempre que os seus
sinceramente se dedicavam a buscar a sua face e obedecer à sua Palavra. A cura é para todos:
Jesus, como o Filho encarnado de Deus, era a exata manifestação da natureza e do caráter de
Deus. No seu ministério terreno, revelava a vontade de Deus na prática, e demonstrou que está no
coração, na natureza e no propósito de Deus curar todos os que estão enfermos e oprimidos pelo
diabo.
221
Quanto às línguas também é importante dizer que se trata de dons de inspiração, ou
seja, quem fala a língua é o crente e “não o Espírito no crente”. Na verdade, não há nenhuma
posição bíblica quanto o Espírito falar em línguas. O crente é inspirado por Deus e fala as línguas.
Isso não deve ser confundido com possessão (ou seja, o Espírito falar na boca de alguém).
222
As línguas estranhas é uma nomenclatura bíblica para descrever a manifestação oral
da adoração estática, o êxtase na adoração é quando o crente transcende as palavras na sua
língua nativa para adorar a Deus. É muito comum algumas pessoas chamarem de “língua dos
anjos” — por causa da referência de Paulo em 1Co 13 — mas é uma assimilação equivocada, pois
“as línguas” que falamos na igreja igreja, no mover de Deus sempre serão “estranhas”. É
importante que seja assim, pois é “estranha a razão humana”. ´Não se trata de um idioma falado
em outro lugar (até mesmo no céu). A própria bíblia nunca afirmou que o Espírito Santo fala
250

d) Deve haver ordem quanto ao falar em línguas em voz alta


durante o culto. Quem fala em línguas pelo Espírito, nunca fica em
“êxtase” ou “fora de controle” (1Co 14.27, 28).

7.21 O Fruto do Espírito223

O fruto do Espírito é uma seleção de virtudes produzidas pelo


Espírito Santo na vida daqueles que foram feitos novas criaturas. Esse fruto
resulta em uma conduta de vida íntegra e de acordo com a vontade de Deus.
O fruto do Espírito Santo é descrito pelo apóstolo Paulo em Gl 5.22,23. O
fruto do Espírito é mencionado dentro de um capítulo onde Paulo faz uma
exposição acerca da liberdade que há em Cristo. Ele fornece uma
contraposição com as restrições impostas pelo legalismo que estava sendo
pregado na comunidade cristã da Galácia.
Além disso, o apóstolo enfatizou que o jugo da Lei não é capaz de
fazer com que alguém viva de acordo com a vontade de Deus, mas que
somente através do Espírito Santo o homem é capacitado a viver uma vida
que agrada ao Senhor.
O pano de fundo dos ensinamentos desse tópico é a intensa luta
entre a carne e o Espírito. O Espírito abomina os desejos da carne, e a carne,
por sua vez, rejeita as coisas que o Espírito nos conduz. Assim, o fruto do
Espírito é o bem que nos faz vencer o mal. É o resultado natural de uma
nova vida, uma vida regenerada, uma vida que reflete o novo nascimento, a
vida no Espírito. Também é importante não confundir o fruto do Espírito
com os dons especiais que o Espírito Santo concede a algumas pessoas e
que devem ser utilizados a serviço da Igreja de Cristo. O fruto do Espírito é
um conjunto de capacitações que todos os redimidos recebem.
Por que “fruto do Espírito” e não “frutos do Espírito”? É
interessante notar que quando o apóstolo fala dessas capacitações ele
utiliza o singular, “fruto do Espírito”, ao invés do plural, “frutos do
espírito”. Já quando ele escreve sobre as práticas pecaminosas, ele utiliza o
plural, “as obras da carne”.

“línguas estranhas”. Mas trata-se de um mover entre Deus e sua Igreja. Além disso, Satanás é
um anjo caído (Ap 12.7) e certamente entenderia se fosse “línguas dos anjos”.
223
Cf. O Fruto do Espírito Santo (Estudo Bíblico). Desenhando a Bíblia, Youtube in:
https://encr.pw/MrT9H
251

Muitas especulações já foram feitas na tentativa de explicar o


porquê disto. A melhor de todas elas defende que isso acontece porque,
diferentemente das obras da carne, o fruto do Espírito é uma unidade. Isso
significa que todas as capacitações pertencem a um único fruto.
Não somos nós que produzimos esse fruto, mas o Espírito Santo
que o produz em nós. Ele assim o faz de um modo em que uma virtude está
diretamente ligada à outra. Por tanto, essas virtudes são indivisíveis e
juntas formam “o fruto”. Pense em cada virtude como sendo gomos de um
mesmo fruto.
Também facilita o nosso entendimento quando conseguimos
entender que o amor é à base de todas as outras virtudes citadas. Se não
houver amor, é impossível que se tenha verdadeira alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio
próprio. Podemos dizer que o fruto do Espírito é o amor seguido
necessariamente pelas outras oito preciosas virtudes citadas. Essa não foi a
única vez em que o apóstolo utilizou uma metáfora relacionada à produção
agrícola para se referir a conduta esperada dos verdadeiros cristãos (Rm
6.22; Ef 5.9; Fp 1.11).
Encontramos também em outras passagens bíblicas o mesmo
princípio. Um exemplo disto é a pregação de João Batista que enfatizava que
o arrependimento verdadeiro produz fruto visível de mudança de
comportamento (Mt 3.8; Lc 3.8).
Como já dissemos, imediatamente após descrever as obras da
carne, o apóstolo Paulo descreveu o fruto do Espírito. O apóstolo
apresentou a seguinte relação representativa como sendo o fruto do
Espírito:
Amor. O amor é a base para todas as outras virtudes (cf. 1Co 13; Ef
5.2; Cl 3:14). Em Gl 5, Paulo já havia enfatizado a importância e necessidade
do amor na vida dos verdadeiros cristãos (Gl 5.6,13). Paulo não foi o único a
enfatizar a prioridade do amor na vida dos santos. O apóstolo João escreveu
que ​“aquele que não ama não conhece a Deus” (1Jo 4.8; cf. 3.14; 4.19). O
apóstolo Pedro também ressaltou esse princípio em sua primeira epístola
(1Pe 4.8). Claro que tudo isto reflete o ensino do próprio Jesus, onde Ele
pessoalmente ensinou que seus discípulos seriam conhecidos pelo amor
demonstrado (Jo 13.34,35).
Alegria. A alegria é uma consequência direta do amor. Essa não é
uma alegria superficial, nem mesmo significa a ausência de aflições e
252

dificuldades. Essa alegria é aquela que o apóstolo Pedro escreveu ​dizendo


que é “inefável e gloriosa” (1Pe 1.8). Essa alegria também é a mesma que o
apóstolo Paulo sentia ao dizer: ​“entristecidos, mas sempre alegres” (2Co
6.10). A alegria produzida pelo Espírito Santo em nós, faz com que nos
alegremos mesmo diante da dor, pois somos capazes de compreender que
todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8.28).
Paz. No livro de Salmos aprendemos que aquele que ama a Lei de
Deus possui grande paz (Sl 119.165; cf. 29.11; 37.11; 85.8). Resultante do
amor, essa paz é a marca de um coração sereno, ela é uma tranquilidade
experimentada verdadeiramente apenas por aqueles que são justificados
mediante a fé (Rm 5.1). Quando alcançamos essa paz, inevitavelmente
desejamos compartilhá-la, para que outros também a tenham (Mt 5.9).
Pela cruz de Cristo é que hoje temos a genuína paz.
Longanimidade. A longanimidade é a paciência característica de
quem foi regenerado, que nos preserva das típicas explosões de ira tão
comuns nas obras da carne (Gl 5.20). A paciência como fruto do Espírito
Santo é fundamentada na confiança de que Deus cumprirá suas promessas.
Essa certeza não nos deixe cair em desespero (2Tm 4.2,8; Hb 6.12).
Benignidade. Sabemos que nosso Deus manifestou a benignidade
(Rm 2.4; 11.22; cf. Sl 136.1). No ministério do Senhor Jesus narrado nos
Evangelhos, podemos claramente perceber tamanha benignidade
demonstrada por Ele para com os pecadores (Mc 10.13-16; Lc
7.11-17,36-50; 8.40-56; 13.10-17; 18.15-17; 23.24; Jo 8.1-11; 19.25-27).
Diretamente resultante do amor, somos aconselhados a demonstrar
benignidade. Isso significa que não devemos causar dor a ninguém (Mt
5.43-48; Lc 6.27-38).
Bondade. A bondade pode ser traduzida como a generosidade
presente no coração e expressa nas ações daqueles que são guiados pelo
Espírito. É a excelência moral e espiritual produzida pelo Espírito Santo em
nós que nos capacita a zelar pela verdade e pelo que é correto. Essa bondade
nos leva a rejeitar tudo o que é mau e perverso.
Fidelidade. A fidelidade em algumas traduções aparece traduzida
como “fé”. Essa também é uma tradução correta do termo grego utilizado.
Porém, devido à clara relação com a bondade e a benignidade citadas
anteriormente, a tradução que mais se encaixa ao contexto é “fidelidade”
ou “lealdade”. Analisando a própria Epístola aos Gálatas, podemos
perceber que faltava lealdade a muitos membros daquela comunidade
253

cristã, não só para com Paulo (Gl 4.16), mas para com o próprio Evangelho
(Gl 1.6-9; 3.1; 5.7). Assim, fidelidade como fruto do Espírito não apenas se
resume à lealdade para com os homens, mas principalmente para com Deus
e à sua vontade.
Mansidão. A Mansidão é o oposto da agressividade, da raiva, da
violência. Sermos gentis uns com os outros revela o fruto do Espírito em
nós, e nos faz ser imitador do nosso Senhor (Mt 11.29; 2 Co 10.1).
Domínio próprio. O fruto do Espírito pode ser visto na relação que
alguém tem consigo mesmo. O domínio próprio também pode ser traduzido
como “temperança”. No sentido original, o termo grego descreve a
capacidade de uma pessoa conter-se a si mesma. Exercendo o domínio
próprio, submetemos todas as nossas vontades à obediência a Cristo. A lei
existe para propósitos de restrição, mas quanto a estas virtudes, nada
existe para limitá-las.

7.22 A Doutrina dos Anjos224

Muito se tem escrito no mundo secular e religioso acerca dos anjos,


explorando a credulidade de pessoas espiritualmente carentes e
supersticiosas, induzindo-as a conceitos errados e falsos sobre o mundo
espiritual. Nestas lições, procuraremos esclarecer a verdade e a realidade
do assunto segundo a revelação feita pela Bíblia Sagrada.
Evidentemente, os anjos não são divinos, nem mesmo temos a
pretensão de defender tal coisa, seria heresia. Mas colocamos o assunto
acerca desta temática dentro do contexto onde se estuda os “seres
espirituais”, por ser eles, os anjos espíritos, criaturas de Deus, introduzir
este tema aqui neste tópico.
O vocábulo anjo tal qual aparece nas versões correntes,
hebraico: ‫ ַמ ְלאְָך‬, malach (mensageiro) Em grego ἄγγελος, ággelos (mensageiro)
Em latim angelus se significa mensageiro. Em ambos os testamentos os
termos tem o significado de mensageiro de Deus. Número de ocorrências de
anjos no AT: 139. Número de ocorrências de anjos NT: 174. O total de vezes
que encontramos na Bíblia a palavra anjo é de 313 vezes.
A Bíblia dá a entender que os anjos de Deus é organizada de forma
hierárquica, isto é‚ numa forma de graduação, de autoridade. Essa

224
Cf. Angelologia | A Doutrina dos Anjos (Parte 1). Rede Brasil Oficial, Youtube in:
https://encr.pw/fAvfy
254

graduação é destacada pelo tipo de atividade que os anjos exercem em todo


o Universo e na presença de Deus.
Muito se tem escrito no mundo secular e religioso acerca dos anjos,
explorando a credulidade de pessoas supersticiosas, induzindo-as a
conceitos errados e falsos sobre o mundo espiritual. Nestas lições,
procuraremos esclarecer a verdade e a realidade do assunto segundo a
revelação feita pela Bíblia Sagrada.
a) Anjo do Senhor (teofania-epifania),
b) Helel Ben Chaah (querubim das trevas),
c) Gabriel (varão de Deus),
d) Arcanjo Miguel (o prefixo “arc”, do gr. arch, sugere chefe).
e) Serafins (do saraph e significa ardente, afogueados).
f) Querubins (no heb. “querub”, sentido de guardar, cobrir).
g) Príncipe-anjo do Senhor,
h) Principado,
i) Potestades,
j) Hostes,
l) Tronos,
m) Espíritos Ministradores.

7.23 A Teologia Bíblica dos Anjos

A teologia bíblica dos anjos é um assunto complexo e fascinante.


Há muitas perguntas sobre os anjos que não têm respostas definitivas. No
entanto, a angelologia pode nos ajudar a compreender melhor o mundo ao
nosso redor e a relação entre Deus e os seres humanos.
A palavra anjo vem da palavra grega “angelos”, que significa
mensageiro. Os anjos são seres espirituais que são criados por Deus e que
estão a serviço dele. Eles são frequentemente descritos como seres de luz e
beleza, e eles são dotados de grande poder e sabedoria. Os anjos
desempenham um papel importante na história da Bíblia, e eles são
frequentemente vistos como mensageiros de Deus.
A Bíblia menciona os anjos em mais de 300 passagens. Os anjos são
mencionados pela primeira vez no livro de Gênesis, quando eles são criados
por Deus no sexto dia da criação. Os anjos são também mencionados no
livro de Êxodo, quando eles ajudam os israelitas a escapar do Egito. Os
anjos também são mencionados nos livros dos Profetas, quando eles
255

anunciam a vinda do Messias. Os anjos são mencionados nos livros do Novo


Testamento, quando eles aparecem a Jesus Cristo e aos seus discípulos.
A Bíblia não revela detalhes sobre a identidade da imensidade de
anjos. No entanto, a Bíblia nos diz que os anjos são seres espirituais que são
criados por Deus e que estão a serviço dele. Os anjos são dotados de grande
poder e sabedoria, e eles desempenham um papel importante na história da
Bíblia. Aqui estão alguns dos principais conceitos da angelologia bíblica: Os
anjos são seres espirituais que são criados por Deus. Os anjos são dotados
de grande poder e sabedoria. Os anjos desempenham um papel importante
na história da Bíblia. Os anjos são frequentemente vistos como
mensageiros de Deus. Existem muitas diferentes tradições sobre os anjos.
A angelologia é um assunto complexo e fascinante. A teologia
bíblica dos anjos é um assunto fascinante que pode nos ajudar a
compreender melhor o mundo ao nosso redor e a relação entre Deus e os
seres humanos.

7.24 A Natureza dos Anjos225

No princípio de todas as coisas, antes da criação do mundo físico,


Deus criou os anjos. A expressão “exército do céu”, dependendo do
contexto, pode ter duas interpretações. Em Gn 2.1, Sl 33.6 e Nm 9.6,
refere-se aos anjos. É impossível fixar o tempo em que foram criados os
anjos, mas a resposta de Deus a Jó declara que eles foram criados antes de
todas as outras coisas (Jó 38.4,7).
Os corpos espirituais não possuem limitações físicas, por isso a “lei
da gravidade” não exerce qualquer influência ou poder sobre coisas
espirituais. Por serem superiores à matéria, os anjos podem tomar formas
humanas para se fizerem perceptíveis aos sentidos físicos do homem, se
houver necessidade. Não sofrem ação da natureza (Jz 13.19-20; Hb 1.14).
A natureza dos anjos é um tópico complexo e fascinante que tem
sido debatido por teólogos por séculos. Não há uma resposta definitiva,
pois a Bíblia não revela tudo o que sabemos sobre os anjos. No entanto, a
Bíblia nos diz que os anjos são seres espirituais que são criados por Deus e
que estão a serviço dele. Os anjos são dotados de grande poder e sabedoria,
e eles desempenham um papel importante na história da Bíblia.

225
Cf. A Natureza dos Anjos - A Beleza do Mundo Espiritual. Fabio Segantin, Youtube
in: https://encr.pw/UNdEa
256

Aqui estão alguns dos principais conceitos sobre a natureza dos


anjos: Os anjos são seres espirituais que não possuem um corpo físico. Os
anjos são dotados de grande poder e sabedoria. Os anjos são criados por
Deus e estão a serviço dele. Os anjos desempenham um papel importante na
história da Bíblia. Existem diferentes tipos de anjos, cada um com sua
própria função. Os anjos são criaturas de luz e amor. Os anjos são nossos
amigos e protetores.
Os anjos são criaturas misteriosas que ainda não entendemos
completamente. No entanto, a Bíblia nos diz que eles são seres poderosos e
benevolentes que estão aqui para nos ajudar.

7.25 Os anjos são Seres Pessoais-Poderosos226

O salmista os descreveu como “valorosos em poder” que executam


as ordens de Deus e lhe obedecem (Sl 103.20). A teologia do poder dos anjos
é um tema que aborda a crença na existência de seres espirituais criados
por Deus, que são conhecidos como anjos. Esses seres são considerados
poderosos, tendo atribuições que vão desde a proteção e assistência aos
seres humanos até a execução de julgamentos divinos.
Segundo essa teologia, os anjos são missionários de Deus, que
trabalham em favor daqueles que creem e os seguem. Eles têm a capacidade
de interceder em nome dos seres humanos e de lutar contra as forças do
mal. No entanto, a teologia do poder dos anjos também enfatiza que a
adoração deve ser somente dirigida a Deus e que os anjos não devem ser
venerados como seres divinos. Eles são criaturas de Deus, servindo ao seu
plano divino e agindo sob a sua autoridade.
Em resumo, a teologia do poder dos anjos preserva a crença na
existência de seres espirituais criados por Deus que exercem um papel
importante na proteção e assistência aos seres humanos, mas que não
devem ser adorados como concebidos.
Na experiência com os homens, os anjos falam, orientam, ouvem e
determinam. A Bíblia dá a entender que os anjos possuem uma inteligência
superior à dos homens, mas não igual ou superior à de Deus (2Sm 14.20;
1Pe 1.12) Dotados de sentimentos, anjos podem experimentar emoções

226
HIERARQUIA DOS ANJOS | Mundo Espiritual | Lamartine Posella, Youtube in:
https://encr.pw/S8ACm
257

quando rendem culto a Deus (Sl 148.2). Eles conhecem suas limitações e se
contentam com tudo o que fazem e podem fazer (Mt 24.36).
Os anjos são seres imortais. Os homens podem morrer, mas os
anjos são espíritos imortais (Lc 20.34-36). Eles não estão sujeitos à
dissolução, ou putrefação orgânica, visto que seus corpos são imateriais. A
imortalidade deriva da pura espiritualidade.227

7.26 Divergência Dogmática dos Anjos228

A teologia católica acredita que os anjos são seres criados por Deus
que são superiores aos humanos em poder e inteligência. Eles acreditam
que os anjos desempenham um papel importante na vida dos humanos,
fornecendo proteção, orientação e conforto. A teologia católica também
acredita que os anjos podem ser adorados, mas não da mesma forma que
Deus.
A teologia reformada, por outro lado, acredita que os anjos são
seres criados por Deus, mas não superiores aos humanos. Eles acreditam
que os anjos não desempenham um papel tão importante na vida dos
humanos quanto a teologia católica acredita, e eles não acreditam que os
anjos podem ser adorados.
Aqui estão alguns exemplos específicos de como a hermenêutica
dos anjos difere entre a teologia católica e a reformada: a teologia católica
acredita que existem nove ordens de anjos, enquanto a teologia reformada
acredita que existem apenas três ordens de anjos. A teologia católica
acredita que os anjos podem ser adorados, enquanto a teologia reformada
não acredita que os anjos podem ser adorados. A teologia católica acredita
que os anjos desempenham um papel mais ativo na vida dos humanos do
que a teologia reformada acredita.
A hermenêutica dos anjos é um tópico complexo que tem sido
debatido por séculos. Não há uma resposta definitiva, pois ambas as
tradições têm argumentos teológicos fortes.
Em suma, A divergência dogmática dos anjos é um tema complexo
e controverso que tem sido debatido por séculos. Os diferentes grupos

227
É importante deixar claro que imortalidade é diferente de eternidade. Imortalidade
é dada às criaturas celestiais, pois não morrem, já a eternidade é atributo divino, ou seja,
somente Deus (Pai, Filho e Espírito Santo) possuem são eternos: não possui início nem fim.
228
Anjos, os Ministros de Deus em Favor da Igreja | Rev. Hernandes Dias Lopes,
Youtube in: https://acesse.dev/6M1mK
258

religiosos têm interpretações diferentes sobre a natureza, a origem e o


propósito dos anjos.
A Igreja Católica acredita que os anjos são criaturas espirituais
criadas por Deus. Eles são seres inteligentes e livres, que estão sujeitos à
vontade de Deus. Os anjos são divididos em três ordens: serafins, querubins
e tronos; dominações, virtudes e potências; principados, arcanjos e anjos.
As Igrejas Ortodoxas têm uma visão semelhante à da Igreja Católica
sobre os anjos. No entanto, elas também acreditam que os anjos têm um
papel importante na salvação da humanidade. Os anjos são os mensageiros
de Deus, e eles ajudam os seres humanos a se conectar com Deus.
As Igrejas Protestantes têm uma visão mais diversificada sobre os
anjos. Algumas igrejas protestantes acreditam que os anjos são criaturas
espirituais criadas por Deus, enquanto outras acreditam que os anjos são
simplesmente símbolos ou personificações de forças espirituais.
As religiões não-cristãs também têm suas próprias crenças sobre
os anjos. Por exemplo, o judaísmo acredita que os anjos são seres
espirituais que servem a Deus. O islamismo acredita que os anjos são seres
espirituais que são responsáveis por registrar as ações dos seres humanos.
As divergências dogmáticas dos anjos são baseadas em diferentes
interpretações das Escrituras Sagradas. A Bíblia menciona os anjos em
vários lugares, mas ela não fornece uma descrição completa de sua
natureza, origem e propósito. Algumas das principais divergências
dogmática dos anjos incluem: a) A natureza dos anjos: Algumas religiões
acreditam que os anjos são seres espirituais, enquanto outras acreditam
que eles são seres físicos. b) A origem dos anjos: Algumas religiões
acreditam que os anjos foram criados por Deus, enquanto outras acreditam
que eles são seres eternos. c) O propósito dos anjos: Algumas religiões
acreditam que os anjos servem a Deus, enquanto outras acreditam que eles
têm um papel na salvação da humanidade.
259

MÓDULO 8 — ECLESIOLOGIA229
“Deus só frequenta as igrejas vazias.”
—Nelson Rodrigues230

Nenhuma instituição humana teve maior influência na história dos


povos como teve a Igreja. Isto se deve ao fato de levar consigo uma
autoridade espiritual, que não pode ter certeza absoluta de sua verdadeira
origem, é claro, do interesse que faz deste templo sobrenatural, uma
instituição social-política que é capaz de influenciar atitudes sejam elas,
éticas ou morais. Por outro lado, a mística que envolve este “lugar santo” é
um catalisador de energia psíquica e divina, por onde emanam as correntes
do desconhecido e trazem aos homens a esperança numa realidade melhor.
Eclesiologia é a parte da Teologia Sistemática que tem como
principal objetivo o estudo histórico, da formação hierárquica e funcional
da igreja. Eclesiologia do grego: ekklesia, ou seja, um Tratado sobre a Igreja.

229
Alguns alunos se perguntam qual é a diferença entre História da Igreja e Eclesiologia?
E a resposta apesar de parecer bem óbvia, pode ser de fato confundida, pois um assunto diz
respeito ao outro. Mas enquanto a História da Igreja tem a ver com os fatos que aconteceram ao
longo dos séculos, a Eclesiologia trabalha a questão dogmática do que se entende enquanto igreja.
Para melhorar a compreensão dessa mentalidade, cf. O Que é Ser Igreja? Luiz Sayão. IBNU,
Youtube in: https://encr.pw/3d8fu
230
Nelson Rodrigues foi um escritor, jornalista, dramaturgo, contista e cronista
brasileiro, considerado o mais influente dramaturgo do Brasil. Ele nasceu em Recife,
Pernambuco, em 23 de agosto de 1912, e morreu no Rio de Janeiro, em 21 de dezembro de 1980.
Rodrigues começou sua carreira como jornalista no jornal A Manhã, de propriedade de seu pai,
Mário Rodrigues. Ele também trabalhou como repórter policial, de onde acumulou uma vasta
experiência para escrever suas peças a respeito da sociedade. Sua primeira peça, “Vestido de
Noiva”, foi escrita em 1942 e estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 1943. A peça foi
um sucesso estrondoso e lançou Rodrigues como um dos principais dramaturgos do Brasil.
Outras peças de Rodrigues que se tornaram sucessos de crítica e público incluem “O Beijo no
Asfalto”, “A Falecida”, “Toda Nudez Será Castigada” e “A Serpente”. Rodrigues também
escreveu contos e crônicas, que foram publicados em jornais e revistas. Seus contos são
geralmente sobre temas sombrios e perturbadores, como o desejo, a traição e a violência. Suas
crônicas são conhecidas por seu humor ácido e sua crítica social. Rodrigues foi um autor prolífico
e escreveu mais de 20 peças, 50 contos e 100 crônicas. Seu trabalho é considerado um dos mais
importantes da literatura brasileira do século XX. Algumas das principais características da obra
de Nelson Rodrigues incluem: a) O uso de temas sombrios e perturbadores, como o desejo, a
traição e a violência. b) A representação realista da sociedade brasileira, com seus contrastes
entre riqueza e pobreza, amor e ódio, bem e mal. c) O uso de uma linguagem coloquial e
coloquial, que aproxima o público das personagens. O legado de Nelson Rodrigues é significativo.
Ele foi um autor inovador que ajudou a revolucionar o teatro brasileiro. Seu trabalho continua a
ser estudado e apreciado por leitores e espectadores de todo o mundo.
260

É um estudo da Bíblia voltado para a igreja, nos seus postulados pela


Palavra de Deus, proporcionando o crescimento dos rebanhos do Senhor.
O vocábulo Igreja na linguagem comum tem um significado muito
amplo. É explicado ao edifício em que se realiza o culto; a uma congregação
de adoradores cristãos; a um estabelecimento religioso; a determinado tipo
de ordem eclesiástica, ao conjunto de todos os cristãos e a um grupo local
de cristãos associados num pacto com propósitos religiosos.
No grego secular o vocábulo ekklesia provém de duas outras
palavras gregas: a preposição ek significa fora ou fora de; o vocábulo kalev
significa chamar. O seu emprego geral no grego expressa a ideia de
assembleia, reunião, convocação.
A palavra IGREJA em português deriva do latim ecclesia, que por
sua vez vem do grego ekklesia, que significa congregação, reunião ou
assembleia. Fica ao menos evidenciado pelas passagens do Velho
Testamento, a existência da igreja primitiva quando é mencionado:
congregação (Ex 29.44), reunião (Lv 23.26), assembleia (Ex 12.16).
Entre os gregos, o vocábulo identifica uma reunião de cidadãos,
regularmente constituída por pessoas pertencentes a uma cidade grega
autônoma, para deliberar sobre alguma coisa. Neste sentido está
empregado em At 19.32,39,40. Daí, a ideia de democracia, governo do povo.
Na septuaginta (a tradução do AT do hebraico para o grego por
cerca de 72 sábios no terceiro século antes de Cristo), ekklesia é a tradução
do vocabulário hebraico qahal, que se refere à Nação Israelita diante de
Deus (Dt 23.1-3;30,31; Jz 21) assembléia. E no NT encontramos duas
referências a esta ideia do AT (At 7.38; Hb 2.12). O conceito judaico de
sinagoga (no grego sinagoga é ajuntamento, ou lugar onde o povo se reúne)
contém algo dessa ideia.
A ideia de ekklesia era familiar nos dias de Cristo, tanto em relação
à política como à religião, mas Jesus, deu-lhe um significado peculiar, ao
dizer “Edificarei a minha Igreja” (Mt 16.18). “Os hebreus têm a sua
assembleia, os gregos também; mas agora, eu vou edificar a minha
assembleia”.
O conceito dos judeus ou hebreus, era o de uma Assembléia de todo
o povo diante de Deus, sob o seu governo teocrático. O conceito grego era de
uma secção local de povo em moldes democráticos para resolverem seus
próprios problemas, mas presididos pelos princípios inerentes do governo
democrático.
261

8.1 A Fundação da Igreja231

A necessidade do homem compartilhar o materialismo concreto de


sua existência com o sobrenaturalismo abstrato de sua consciência
religiosa foi sempre uma constante durante o percurso histórico de sua
estadia terrena. A paleontologia e arqueologia fizeram descobertas recentes
de lugares onde os povos mais antigos consideravam sagrados, onde eram
sacrificados animais e pessoas em veneração aos deuses.
A própria natureza pode ser considerada um eterno Templo, onde
habitam milhares e diversos seres espirituais, mantenedores ou
destruidores ou destruidores, amigos ou inimigos, fortes ou fracos, mortais
ou eternos. Os lugares santos eram e são os mais diversificados possíveis,
marcados por pedras imensas esculturas, jóias, fósseis de animais,
cavernas, catatumbas, cemitérios, e por que não dizer por automóveis,
computadores, armas atômicas e bioquímicas.
As pirâmides do Egito, as montanhas sagradas, vulcões e outros
inúmeros lugares foram palcos dos mais fúnebres rituais religiosos, assim
como o são, os terreiros de Candomblé e os Templos Satânicos espalhados
pelo mundo. O homem materializa na terra o Mundo espiritual de suas
crenças, e talvez tenha esquecido que o mais valioso santuário de que tem
posse é o seu próprio corpo.
Israel é descrito como uma igreja no sentido de ser uma nação
chamada dentre as outras nações a ser um povo de servos de Deus (At 7.38).
Quando o AT foi traduzido para o grego, a palavra congregação foi
traduzida por ekklesia (ou igreja). Israel, pois, era a congregação ou a igreja
de Jeová. Depois de a igreja judaica o ter rejeitado, Cristo predisse a
fundação duma nova congregação ou igreja, uma instituição divina que
continuaria sua obra na terra. Do ponto de vista histórico ela surgiu ou
nasceu oficialmente no Dia de Pentecostes, consagrada pela unção do
Espírito e como obra autêntica do Nosso Senhor Jesus Cristo.
Jesus empregou a palavra Igreja apenas três vezes em Mt 16.18. Na
primeira, ele se apresenta como o fundador da Igreja e mostra sua missão
vitoriosa, e em Mt 18.17, ele apresenta a Igreja como último tribunal de
apelação no caso de disciplina de seus membros.

231
Cf. A História do Cristianismo Como Você Nunca Viu | Episódio 01. Escola do
Discípulo, Youtube in: https://encr.pw/POwh2
262

Ekklesia foi usado pela primeira vez na Bíblia no NT (em Mt 16.18).


O uso do termo Igreja ocorre 114 vezes no NT, sendo três vezes no sentido
secular, da assembleia dos gregos (At 19.32,39,41); duas vezes vem com a
ideia da sinagoga dos judeus (At 7.38, Hb 2.12). Das 114 vezes em que o
termo é empregado no sentido da Igreja de Cristo, 14 vezes aparecendo no
sentido de Igreja geral ou universal e 95 como Igreja
Local. Pode-se classificar a igreja em dois corpos distintos: a)
Igreja Triunfante: aos irmãos que estão no Senhor,232 b) Igreja Militante: a
Igreja ainda presente na terra, universalmente pregadora do Evangelho de
Jesus Cristo.
A filiação a uma igreja é uma necessidade dogmática, afinal
nascemos de novo dentro da Igreja Universal (Igreja Militante), somos
batizados na Igreja Local. A esta Jesus confiou suas duas ordenanças:
O BATISMO E A CEIA DO SENHOR para testemunha de uma obra
redentora. Assim, ao passo que a salvação é sinônimo de participação na
Igreja Universal, não o é com relação à Igreja Local, nem o participar de
Igreja Local é sinônimo de salvação. Em outras palavras, alguém pode
pertencer a Igreja Universal sem fazer parte da Igreja Local e vice-versa.

8.2 As Funções da Igreja233

Dentro do contexto histórico a Igreja apresenta duas importantes


funções:
a) função social: como instituição social ou instrumento ideológico
a igreja é responsável pela formação do caráter moral e ético da sociedade.
Daí o seu objetivo está diretamente ligado à reconstrução dos valores,
livrando-o do egoísmo materialista e utópico. A princípio mostrar-lhe o
valor da participação solidária e da confraternização entre os povos, em
distinções raciais, políticas ou socioculturais.
b) função espiritual: ao estabelecer os fundamentos da Igreja, Jesus
não estava fundando nenhum partido político ou mecanismo de Estado,

232
Na pós-modernidade existe um equívoco muito grande da grande maioria dos
cristãos a respeito do “ser igreja” e muitos pensam que individualmente “são igreja”, o que não
tem fundamento na Escritura. Cada um de nós individualmente somos apenas “membros do
Corpo de Cristo” e este “Corpo de Cristo” é, de fato, a Igreja (Rm 12.5; 1Co 12.27).
233
A função da igreja é servir a Deus e às pessoas. Ela é um corpo de pessoas que foram
salvas pela graça de Deus e que se reúnem para adorar a Deus, aprender sobre a Bíblia, crescer na
fé e servir ao mundo. Cf. Qual a função da igreja? - Jonas Madureira. Coram Deo, Youtube in:
https://encr.pw/0TkZ3
263

mas uma instituição que visava o resgate do pecador elevando-o à condição


de Filho de Deus através da prática da sua fé em benefício próprios e dos
outros em si.
O elemento que deu à Igreja sua hegemonia foi a sua essência
espiritual. Logo fica evidenciado a Igreja como um representante dos
mandamentos de Cristo: amar a Deus e ao Próximo. No NT elas recebem
nomes de acordo com o lugar em que estavam localizadas: a) de acordo com
a localidade: A Igreja em Jerusalém (At 8.1; 11.12; 15.4); A Igreja em
Antioquia (At 13.1; 14.26; 15.3); A Igreja em Esmirna (Ap 2.8); b) de acordo
com seus membros: Igreja dos gentios (Rm 16.4), Igreja dos santos (1Co
14.33); c) de acordo com seu dono: Igreja de Deus (1Co 11.16), Igreja de
Cristo.

8.3 A Obra da Igreja: Missão Evangelizadora234

Missiologia é a ciência que tem por objetivo o estudo da grande


comissão dada por Cristo Jesus a sua Igreja. A missiologia dedica-se,
principalmente, ao caráter transcultural da tarefa evangelizadora. É o
estudo da obra missionária ordenada por Jesus Cristo aos seus discípulos,
no sentido nacional e transcultural (Mt 28.19; Mc 16.15; At 1.8).
A palavra “Missiologia” vem de duas outras, do latim “missione”
que significa função ou poder conferido a alguém para um propósito
especial em outra nação, terra, território, grupo ou domínio, e Logia, do
grego logos que significa estudo, tratado, doutrina, teoria ou ciência.
O estudo de missiologia é de fundamental importância, por se
tratar da tarefa suprema da igreja, que é a evangelização dos povos.
Durante muitos anos, ouvimos falar a conhecida frase: Missão está no
coração de Deus. Nós sabemos que o interesse de Deus sempre foi, e sempre
será, alcançar a todos os povos, raças, nações e tribos de todas as línguas.
Entretanto, nesses últimos dias, Deus está interessado em saber se
missões estão também em nossos corações. O ponto fundamental da
missiologia é definir as estratégias e os parâmetros da grande comissão
dada por Jesus, tais como: Quem envia e quem é enviado; quais são os
obstáculos das missões contemporâneas; como será o alcance dos povos

234
Cf. A Igreja e a sua Missão Evangelizadora - Rev. Hermisten M. P. Costa. JMC,
Youtube in: https://encr.pw/23Bdg
264

não alcançados e a evangelização de todos os povos, de uma maneira geral,


assim como também o sustento do missionário e sua família.
Deus fez o papel do primeiro missionário, quando desceu até o
Jardim do Éden e proclamou o evangelho aos pais de toda raça humana,
escondido nos lombos de Adão (Gn 3.15), depois disso, Jesus fez o papel de
enviado, quando completou a missão daquele que o lhe confiou, e hoje
Espírito Santo é o agente das missões contemporâneas.

8.4 A Missiologia no Novo Testamento235

No Novo Testamento há vários paradigmas missiológicos236 que


dão diferentes perspectivas de missão. Por exemplo, os primeiros quatro
livros do Novo Testamento não são simplesmente biografias de Jesus e sim
são “evangelhos”, histórias com uma mensagem específica. Johannes
Verkuyl237, diz que:

Do começo ao fim, o Novo Testamento é um livro missionário. Ele


deve sua própria existência ao trabalho missionário das igrejas
cristãs primitivas, tanto a judia como a helenística. Os Evangelhos
são “recordações vivas” da pregação missionária, e as Epístolas,
mais do que uma forma de apologética missionária, são
instrumentos atuais e autênticos do trabalho missionário.238

O fato de que temos quatro destes, mostra que, sob a direção do


Espírito Santo, os autores estão dando sua perspectiva sobre o evangelho e
a missão. Cada evangelho é uma apresentação contextualizada com base na
mensagem cristã para um grupo de leitores específico,239 trazendo uma

235
Cf. Missiologia - Missões no Novo Testamento. PIB Araras, Youtube in:
https://l1nq.com/lM0pD
236
BOSCH, David J. Missão Transformadora: Mudanças de Paradigma na Teologia da
Missão. São Leopoldo: Sinodal, 2002, p. 15.
237
Johannes Verkuyl, foi prisioneiro durante a segunda guerra mundial na Indonésia,
em 1963 retornou a Holanda e assumiu o cargo de Secretário Geral do Conselho Missionário
holandês. Dois anos mais tarde aceitou a nomeação como o sucessor de J. H. Bavinck na
universidade reformada livre de Amsterdã. Aposentou-se lá em 1978 como professor e chefe do
Departamento de Missiologia e Evangelismo.
238
Em sua obra Contemporary Missiology citado por Roger Greenway in: Ide e Fazei
Discípulos. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p.49 (Cf. também CARRIKER, Timóteo. O Caminho
Missionário de Deus: Uma teologia bíblica de missões. Brasília: Palavra, 2005. p. 201).
239
Mateus foi escrito para os judeus, para ensiná-los sobre Jesus e fazer deles o apoio
para a missão da igreja junto aos gentios. Marcos era um “tratado” missionário para os gentios
265

mensagem relevante a eles em sua situação particular. Não dizemos que


um se contradiz ao outro sendo que são como diferentes faces de uma
mesma moeda. Quando a luz se põe em um lado, mostra um aspecto e
quando se põe em outro lado se vê outro aspecto.

8.5 Missão em Mateus: Fazer Discípulos240

Em Mateus, “a grande comissão” é o versículo mais citado, e tem


sido o tema para muitas conferências missionárias e literatura de
capacitação missionária. Mas, mesmo sendo muito importante, Mateus
28.16-20 não é tudo o que se pode dizer sobre a missão em Mateus. Hoje em
dia se reconhece que esta última passagem é o clímax do evangelho e não
somente porque contém os últimos versículos, sendo que os temas da
grande comissão são como fios de ensino que correm ao longo do
evangelho e se convergem nesta passagem.241
Antes de mostrar a natureza trinitária da missão,242 vamos destacar
alguns elementos sobre a forma da comissão em si. Primeiro, podemos ver
que se está escrito na forma de um “quiasmo” com os três membros da
Trindade envolvidos mais com o enfoque no Filho. Isto mostra a natureza
trinitária da missão e a natureza missionária da Trindade e assinala que a
missão não é, somente um mandato de Cristo sendo uma expressão do
processo de envio entre o Pai, Filho e o Espírito Santo. A missão nasce, não
da natureza da igreja e sim da de Deus.
A missão em Mateus é primariamente a Missio Dei (a missão de
Deus) não a missão da igreja. A missão da igreja provém de a Missio Dei e a
serve. Observe o que Carrier afirma sobre a origem da missão:

que precisavam de um breve relato sobre a vida e os ensinamentos de Jesus. Lucas, um gentio
convertido à fé em Jesus, escreveu para os gentios como ele, os quais precisavam saber que Jesus
os queria em seu Reino tanto quanto os judeus. João abertamente declarou seu propósito
missionário: “Para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais
vida em seu nome” (Jo 20.31).
240
Cf. Fazer discípulos, ordem de Cristo, missão da Igreja, necessidade do mundo.
Igreja Presbiteriana de Pinheiros, Youtube in: https://l1nq.com/3R1jK
241
BOSCH. Missão Transformadora. 1991, p. 57.
242
1. Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra O Pai dá ao Filho a onipotência.
Portanto, fazei discípulos de todas as nações (mandato: Fazer nas nações discípulos do Filho
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo). Batismo na fórmula trinitária. 2.
Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado (mandato: Ensinando-lhes a
obedecerem o ensino do Filho). 3. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do
século (o Filho promete sua onipresença por meio do Espírito Santo).
266

Através de toda a revelação bíblica se torna patente que o principal


agente no drama é Deus. “No princípio criou Deus [...]” É Deus
quem cria, quem julga, quem age, quem escolhe, e quem se revela.
Ele é ativo não só na criação, mas também nos julgamentos, na
libertação do seu povo do Egito, nas exortações dos seus profetas e
na promessa de restauração vindoura. Ele é o único e verdadeiro
Deus e deseja que sua glória seja conhecida nos céus (Sl 19) e nas
extremidades da terra (Is 11.9).

Portanto, “missão” é uma categoria que pertence a Deus. A missão,


antes de ter uma conotação humana que fala da tarefa da igreja,
antes de ser da igreja, é de Deus. Esta perspectiva nos guarda
contra toda atitude de autossuficiência e independência na tarefa
missionária. Se a missão é de Deus, então é dele que a igreja deve
depender na sua participação na tarefa. Isto implica numa
profunda atitude de humildade e de oração para a capacitação
missionária, uma dependência confiante em Deus, em vez da
independência característica da queda, do dilúvio, da torre de Babel
e do próprio cativeiro.

Por outro lado, se a missão é de Deus, temos a segurança de que é


Deus quem está comandando a expansão do seu reino, nos seus
termos, e isto nos dá plena convicção de que ele realizará os seus
propósitos.243

Em segundo lugar, a grande comissão estabelece uma missão


abrangente. Note-se o “todos”. A autoridade que o Pai entrega ao Filho
abrange “toda autoridade”, a missão que Filho entrega a seus discípulos
abrange “todas as nações”, o ensino que deve ter abrange tudo o que Jesus
lhes havia dado e a missão durará “todos os dias”.
Todo o evangelho de Mateus tem a ver com missão, porque, como
já temos dito, cada elemento da grande comissão é um sumário do ensino
que ocorre por todo o livro.

243
CARRIKER, T. Missão Integral: Uma Teologia Bíblica. São Paulo: SEPAL, 1992. A
missão integral é baseada na crença de que o evangelho de Jesus Cristo é transformador em todas
as áreas da vida humana. O evangelho não apenas salva as pessoas dos seus pecados, mas
também as capacita para viver uma vida plena e justa.
267

a) A autoridade da Missão: primeiro a autoridade que é dada a


Cristo. É com a autoridade de Cristo ressuscitado que Jesus comissionou
seus discípulos a realizarem a missão. Agora, devido à morte obediente do
servo de Deus, “toda autoridade no céu e na terra” foi dada a ele pelo Pai.
Não é dizer que Jesus não tinha autoridade antes, “sua autoridade não é
mais absoluta, e sim mais extensa”. Note o advérbio no início da sentença
“Portanto”, ou seja, a Missão é consequência natural da coroação do
Senhor ressurreto e da autoridade que isto trás.
Sobre a entrega da autoridade do Pai ao Filho tem sua referência
em Dn 7.13-14. “Um como Filho do Homem se aproxima do Ancião de Dias
e lhe deu autoridade, poder e majestade. Todos os povos, nações e línguas o
adoraram! Seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e seu reino
jamais será destruído!”
Ao usar estas palavras de Jesus, Mt nos ensina que a autoridade é
para que o Filho do Homem244 reine sobre todas as nações e para sempre. A
autoridade do Filho do Homem tem o elemento universal no sentido
geográfico e cronológico. Missão ocorre em todo lugar onde o senhorio de
Cristo não penetrou ainda. Missões é a manifestação de seu senhorio
universal.
Mas, a autoridade de Jesus se expressa claramente em várias
formas ao longo de todo o evangelho. Se vê nos títulos usados para Jesus:
Filho de Davi (1.1), Filho de Abraão (1.1), Senhor e Filho do Homem (8.20;
9.6; 10.23; 11.19; 12.8,32,40; 13.37,41; 16.13,27-28; 17.9,12,22; 19.28; 20.18;
20.28; 24.27,30,37,39,44; 25.31; 26.2,24,45,64), e Filho de Deus (8.29;
14.33; 26.63; 27.40,54) todos mostram autoridade de uma forma ou outra.
Também se vê nas narrativas de seu nascimento. Com a participação de
pessoas importantes como o Espírito Santo, os anjos, os reis magos, etc.
(1.20,21,23; 2.2,6,11-13) mostrando o quanto esta criança é especial.
Sendo assim, Jesus tem autoridade em seu ministério para curar,
expulsar demônios (4.10; 8.9,13,32; 9.8; 10.1; 17.18), tem autoridade para
ensinar e “re-interpretar” as escrituras (5.22,28,32,34,39,44; 7.29;
21.23-24), especialmente quanto ao Sábado (12.8) e ao perdão dos pecados
(9.6). Então, a autoridade de Jesus em sua vida e no ministério, nos prepara
para a autoridade completa que recebe depois da ressurreição (28.18).

244
Filho do Homem é usado 31 vezes em Mt (Mc 14X; Lc 26X; Jo 12x).
268

b) A tarefa da missão: o verbo principal na comissão de Mt é fazer


discípulos,245 não ir, nem batizar, nem ensinar. Fazer discípulos é o
imperativo enquanto os outros são particípios. A construção gramatical nos
leva à conclusão razoável que o objetivo principal da Grande Comissão é
fazer discípulos; enquanto que “ir, batizar e ensinar” são meios essenciais
para este fim, mas não são fins em si mesmos.246 É a tarefa e não a
localidade que é importante.

Nestes versículos temos quatro verbos: matheteusate (imperativo


aoristo ativo), poreuthentes (particípio aoristo passivo), baptízontes
(particípio presente ativo) e didaskontes (particípio presente ativo).
O verbo principal e, também, aquele que constitui o coração da
perícope, como dito acima, é matheteusate (BOSCH, 1996, p. 73). Os
demais particípios, pelo simples fato de serem particípios,
denotam o meio, “o modo de emprego relacionado a ação do verbo
principal” (LASOR, 1990, p. 77; CHAMBERLAIM, 1989, p. 128).
Bosch comenta que os particípios estão subordinados ao verbo
principal e que estes descrevem a forma pelo qual o fazer discípulos
será tomada (BOSCH, 1996, p. 73).

Definição de Discípulo: se a tarefa da missão é fazer discípulos,


como podemos definir “discipulo”? A palavra grega mathetes quer dizer
245
HENDRIKSEN. W. Comentário do NT: Mt. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. Para
William Hendriksen, o Novo Testamento é a história da salvação de Deus para a humanidade,
realizada em Jesus Cristo. Ele é o autor de uma série de comentários sobre o Novo Testamento,
que são considerados por muitos como uma das melhores exposições da Bíblia disponíveis.
Hendriksen acreditava que o Novo Testamento é uma mensagem de esperança e alegria. Ele
argumentou que o evangelho de Jesus Cristo oferece aos pecadores a oportunidade de serem
perdoados e reconciliados com Deus. Ele também acreditava que o Novo Testamento é uma fonte
de inspiração e orientação para a vida cristã.
246
CARRIKER, T. O Caminho Missionário de Deus. São Paulo: Sepal, 2000. O caminho
missionário de Deus é o plano de Deus para alcançar o mundo com o evangelho de Jesus Cristo.
Esse plano é revelado na Bíblia, e ele é baseado no amor de Deus pela humanidade. O caminho
missionário de Deus começa com Deus. Deus é o primeiro a agir no processo de salvação. Ele ama
o mundo e quer que todos sejam salvos. Ele enviou seu Filho, Jesus Cristo, para morrer pelos
pecados do mundo. Jesus Cristo é o centro do caminho missionário de Deus. Ele é o Salvador do
mundo, e ele é a única maneira de as pessoas serem salvas. Jesus Cristo morreu pelos pecados do
mundo, e ele ressuscitou dos mortos para nos dar vida eterna. A igreja é o instrumento que Deus
usa para levar o evangelho ao mundo. A igreja é o corpo de Cristo, e ela é chamada para proclamar
o evangelho e fazer discípulos de todas as nações. O caminho missionário de Deus é um caminho
de amor. Deus ama o mundo, e ele enviou seu Filho para salvar o mundo. A igreja é chamada a
amar o mundo e a compartilhar o evangelho com as pessoas. O caminho missionário de Deus é
um caminho de esperança. O evangelho de Jesus Cristo oferece esperança para o mundo. Ele
oferece esperança de salvação, esperança de transformação e esperança de vida eterna.
269

alguém que aprende, pois no NT um discípulo denota os homens que estão


ligados a Jesus como seu mestre.
Como afirma Macarthur, “a essência do verdadeiro discipulado é
um compromisso pessoal de ser como Jesus Cristo”.247 Os discípulos são
cristãos verdadeiros que se comprometem com Cristo sem condições, que
contém na palavra, que levam sua cruz, que tem um testemunho cristão
por toda sua vida. É dizer, demonstrar uma vida transformada e poder ser
identificado por seu fruto.
Como realizar a missão: se o verbo principal (fazer discípulos) nos
mostra o que é a missão, os dois particípios (batizando e ensinando) nos
mostra como fazê-la.
Batizando: o batismo é importante por que foi mais que um
testemunho pessoal do novo crente sendo um rito de passagem que
assinala a inclusão do discípulo na comunidade de fé, ou seja, a igreja.
Mateus enfatiza muito o papel da comunidade na missão que se realiza pela
comunidade.
Mt é o único evangelista que usa a palavra ekklesia (igreja) em seu
evangelho (cf. Mt 16.18; 18.17) e no quarto discurso de Jesus em Mt o
enfoque é na vida da comunidade missionária (18.1-35). A fórmula
trinitária do batismo é importante porque, como disse Barth, é no batismo
que “um gentio se faz discípulo quando está seguro que pertence ao Pai,
Filho e Espírito Santo” e incorporado na igreja.248
Ensinando: o outro aspecto de ensinar é, para Mt essencial para a
obra missionária. Jesus dedica muito tempo em Mt para ensinar a seus
discípulos. Mt inclui cinco discursos importantes de Jesus em seu

247
MACARTHUR, J. O Evangelho Segundo Jesus. São José dos Campos: Fiel, 1991, p.
229. O trecho é um resumo do ensino bíblico sobre a salvação. Ele enfatiza que todos os seres
humanos são pecadores por natureza e que a única solução para o problema do pecado é a graça
de Deus. A graça de Deus é oferecida a todos, mas só pode ser recebida pela fé em Jesus Cristo. Se
você não é salvo, você pode receber a salvação hoje mesmo, simplesmente crendo em Jesus Cristo
como seu Salvador.
248
BARTH, K. An Exegetical Study of Matthew 28.16-20 en The Theology of the
Christian Mission. London: SCM Press, p. 69. A interpretação de Barth destaca a centralidade do
Grande Mandamento para a missão da igreja. Ele enfatiza a natureza universal, discipular e
contínua da missão. A presença e autoridade de Cristo ressuscitado são cruciais para a motivação
e o direcionamento da missão. Esta interpretação tem influenciado muitas teologias da missão
do século XX, enfatizando a responsabilidade, o alcance e a continuidade da missão da igreja. É
importante mencionar que, enquanto Barth enfatiza a dimensão global da missão, outros
teólogos apontam para a necessidade de equilibrar este foco com atenção às necessidades locais e
o engajamento com o contexto cultural.
270

evangelho que formam uma estrutura para todo o livro (5.3-7.13-27;


10.5-42; 13.1-46; 18.1-35; 23.1-46).
Muito do ensino de Jesus foi sumamente ética e como já temos
visto, no AT a ética é essencial se as nações passam a conhecer a Deus.
Principalmente o que ensinava, foi a obediência que não se faz por
discursos e sim por modelo. E a última instrução também se inclui no
ensino, a de fazer discípulos. Então a missão para Mt não termina até que o
discípulo esteja fazendo discípulos. Então a missão é constante, discípulos
fazendo discípulos, que fazem discípulos.
c) A promessa da missão: finalmente, Jesus promete sua presença
por meio do Espírito Santo. A presença de Deus na missão de Jesus forma
uma inclusão no evangelho de Mt. A princípio Mt registra que o anjo dá a
Jesus o nome de Emanuel, e porém entenda-se que Mt está escrevendo para
os judeus onde se traduz “Deus conosco”, obviamente enfatizando o ponto.
A presença permanente do Senhor ressuscitado em sua igreja missionária a
sustentará e animará até que termine a era e seja completado o triunfo do
reino de Deus. Então desde o princípio e ao fim a presença de Deus se vê.
Neste sentido, Mt mostra que todo o evangelho nos fala da missão
universal de Deus e da igreja e não somente a Grande Comissão. Nos
mostram além disso, com qual autoridade fazer a missão (a autoridade de
Cristo ressuscitado), como fazê-la (fazendo às nações discípulos de Cristo,
incorporando-as na comunidade da fé e ensinando-lhes tudo o que Jesus
ensinou), em que pode fazê-la (o poder do Espírito Santo) e até quando
fazê-la (até o fim do mundo).
d) O alcance da missão: finalmente parece que há um entendimento
de que as bênçãos irão alcançar os gentios. Várias passagens mostram isto
como a visita dos gentios reis magos (2.1-12) a expressão “Galileia dos
Gentios” (4.14-16), os crentes devem ser a luz do mundo (5.13-14), o
incidente com o centurião (8.5-13) etc. (10.18,22; 12:21 cf. Is 42.4; 13.38 cf.
13.32; Dn 4.12; 16.13-28; 21.28-22.14 véase 21.43; 22.9; 24.9,14; 25.31-46;
26.13,28 cf. Is 52.15; 53.11-12; 27.54; 28.19). Tudo em Mt, fala da missão
universal de Deus e a igreja.
A visão missionária por trás dessa cena é que a tarefa da igreja é
reunir os redimidos de todos os povos, línguas, tribos e nações. Todos os
povos devem ser alcançados, porque Deus designou pessoas a crerem no
evangelho, as quais ele redimiu pela morte de seu Filho. O desígnio da
redenção prescreve o desígnio da estratégia da missão. E o desígnio da
271

redenção (a redenção de Cristo, v. 9) é universal, pois se estende a todos os


povos, e definitivo, uma vez que efetivamente redime alguns de cada um
desses povos. Portanto, a tarefa missionária é reunir os redimidos de todos
os povos por meio da pregação do evangelho.

8.6 Missão em Marcos: A Pregação do Evangelho249

Basicamente, a missiologia de Mc se resume como “a pregação do


evangelho de Jesus Cristo a toda criatura”. Hedlund disse “O evangelho se
deve pregar a todos os homens de todos os lugares”250. Pregação, evangelho
e universalidade são os três elementos importantes.
A Grande Comissão de Mc se encontra em 16.15-18: “Ide por todo o
mundo e pregai o evangelho a toda criatura”. Esta comissão não se
encontra nos manuscritos mais antigos e se supõe que Mc 16.9-20 foi
acrescentado após outra pessoa, resumindo as comissões nos outros
evangelhos e em Atos. Por isso, muitos eruditos têm evitado usá-la.
Contudo, me parece que este texto tem resumido bem a missiologia
de Marcos porque contém os três elementos já mencionados; a pregação, o
evangelho, e a universalidade.
a) O evangelho de Marcos se intitula “o evangelho de Jesus Cristo”,
é dizer que o evangelho é sobre Jesus Cristo e não o evangelho pregado por
Jesus Cristo, ainda que se inicia com a pregação de Jesus. Seu conteúdo é o
evangelho pregado pelos primeiros pregadores. Acredita-se que Mc uniu a
pregação de Pedro para formar seu evangelho. Então, o que temos em Mc
não é somente uma história sobre a vida de Jesus, e sim, literalmente “o
evangelho de Jesus Cristo”.251
Este evangelho está centrado em Jesus Cristo e em suas ações. Em
Mc não temos muitos discursos e ensinos de Jesus, como os temos em Mt,

249
Cf. Uma Análise Panorâmica do Evangelho de Marcos | Rev. Hernandes Dias Lopes.
Igreja Presbiteriana de Pinheiros, Youtube in: https://encr.pw/91fHi
250
HEDLUND, R. The Mission of the Church in the World: A Biblical Theology. Grand
Rapids: Baker books, p. 155. O ponto de vista de Hedlund é compartilhado por muitos teólogos. A
missão da igreja é uma missão de reconciliação é um conceito central na teologia cristã. Essa
missão é baseada no amor de Deus pela humanidade, que foi demonstrado na morte e
ressurreição de Jesus Cristo. A missão de reconciliação da igreja tem implicações importantes
para a vida da igreja. A igreja deve ser um lugar onde as pessoas se sintam acolhidas e aceitas,
independentemente de sua raça, origem ou religião. A igreja também deve ser um agente de
transformação social, trabalhando para promover a paz, a justiça e a reconciliação no mundo.
251
A palavra “evangelho” se usa oito vezes em Mc onde usa somente 4 vezes em Mt,
onde sempre é “o evangelho do reino” e 3 vezes em Lc, enfatizando a importância do evangelho.
272

sendo suas ações e os eventos de sua vida, incluindo sua morte e


ressurreição. Jesus realmente é o evangelho que se deve pregar. Pregá-lo é
o que temos que fazer com este evangelho.
Em Mc, Jesus mesmo sempre se mostra, pregando o evangelho,
chamando discípulos, curando gente enferma, expulsando demônios,
perdoando pecados (Mc 1.14-15,16-20,21-45; 2.1-17). E desde o princípio
designou os doze “para estarem com ele e para os enviar a pregar com
autoridade de expelir demônios” (Mc 3.14-15 cf 6.7-13). Pois, pregar o
evangelho (kerissein to euangelion) é a ênfase; proclamando as Boas Novas e
chamando homens e mulheres a responder em fé e arrependimento.
Este evangelho de Jesus Cristo se deve pregar a toda criatura. O
elemento universal se vê em três formas. Primeiro, pela situação do
ministério de Jesus. Em Mc, Jesus começa seu ministério pregando o
evangelho na Galiléia (1.1-8.21), um local de gentios e judeus, onde ganha
muitos discípulos e tem uma grande popularidade. Termina seu ministério
em Jerusalém (11.1-16.8) o centro do judaísmo onde encontra a oposição, o
padecimento e a morte.
A perspectiva positiva se fazia na área pagã em preparar a terra
para a missão universal. Segundo, o elemento universal se vê pelo desprezo
pelos judeus e a aceitação pelos gentios. Ao longo de Marcos os judeus não
entendem a missão de Jesus e o desprezam, em troca os gentios o aceitam.
Isto nos leva ao terceiro elemento, a purificação do templo (11.1-19).
Como nos outros evangelhos Jesus faz uma limpeza no templo. E
como Mateus e Lucas, citam as palavras de Is 56.7 e Jr 7.11 dizendo que os
judeus haviam feito do templo um “covil de ladrões” onde deveria ser
“uma casa de oração”.
Porém, Mc associa a frase “uma casa de oração” às palavras “para
todas as nações”. Para Mc, o templo é uma indicação da universalidade no
plano de Deus. O templo judeu se deve destruir e um templo que não se faz
por mãos se deve construir para que as nações possam agradar a Deus.
Podemos concluir que em Mc, a missão de Jesus foi pregar o
evangelho e a missão que entregou a seus discípulos foi a mesma, porém
com a adição importante de que esta pregação foi sobre a morte e a
ressurreição de Jesus Cristo.
273

8.7 Missão em Lucas/Atos: os Confins da Terra252

A importância da missiologia de Lc/At se vê de algumas maneiras.


Primeiro, Lc é o único dos evangelistas que continua a história da missão de
Jesus à missão da igreja. Mostra a continuidade entre a missão que Jesus
iniciou em sua missão e o que ele passou a fazer por meio da igreja (At 1.1.)
Em segundo lugar, se pensa que Lc é o único autor gentílico do NT.
Então, o que Lc nos conta são os primeiros passos na missão da igreja
diante do ponto de vista gentio. Por isso, podemos ver como uma
contextualização da história de Jesus.
E em terceiro lugar, Lc, com sua preocupação com os pobres, nos
dá, uma visão, não somente da missão “aos pobres” e sim, a missão “dos
pobres”. Nosso ponto de vista nos pode inspirar, corrigir e dar pistas para
nossa missão hoje em dia.253
Como sabemos, Lc/At é uma obra de dois tópicos, porém, veremos
que cada um deles tem sua própria mensagem missionária. O tema do
Evangelho de Lucas se encontra em Lc 3.4-6.

“Voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor,


endireitai as suas veredas. Todo vale será aterrado, e nivelados
todos os montes e outeiros; os caminhos tortuosos serão
retificados, e os escabrosos, aplanados; e toda carne verá a salvação
de Deus.”

Ainda que Mt e Mc citam Is 40.3-5, é somente Lc que acrescenta o


v. 5, “E toda carne verá a salvação de Deus”. Parece que Lc usa este versículo
no seu contexto em todo seu evangelho. Neste primeiro livro, Lucas conta a
história do caminho do Senhor (hodos kyrios).
O Evangelho de Lucas e todo livro de Atos é a história do caminho.
Isto se vê claramente em “a narrativa da viagem” (9.51-19.44) onde Jesus
menciona várias vezes a necessidade em ir para Jerusalém (Lc 9.51; 10.22;
14.25; 17.11; 18.35; 19.28). E no princípio desta passagem temos o relato da
transfiguração, Moisés e Elias estavam falando a Jesus de sua “partida”

252
Cf. Capacitação online Teologia de Lucas-Atos (aula introdutória) - Victor
Fontana. Seminário Teológico Jonathan Edwards, Youtube in: https://l1nq.com/ygggl
253
Para uma descrição mais ampla da missiologia de Lucas/Atos veja o capítulo “La
misión en el Evangelio de Lucas y en los Hechos” com Bases Bíblicas da Missão: Perspectivas Latino
Americanas. Buenos Aires: Nueva Creación, 1998.
274

(NVI) que literalmente é a palavra ex-hodos ou “êxodo” (9.31). Este termo


não aparece nos outros evangelhos. A missão em Lc é dinâmica por que está
no caminho.
Este caminho é o caminho do Senhor. Como Mt, Lc fala de Jesus
como o Senhor. Nos relatos do nascimento se tem claro que esta criança é o
Senhor (1.17,76; 1.43; 2.11), Jesus aceita o título quando se dirigem a ele
(6.46; 7.6; 9.54,59,61), Lc se refere a Jesus como “Senhor” (7.13,19; 10.1,39;
11.39), Jesus reivindica ser “o Senhor do sábado” (6.5) e depois da
ressurreição a mensagem é Senhor já ressuscitado (24.34). Fazer a missão
em Lc é estar com o Senhor no caminho do Senhor.
Este caminho do Senhor supera todos os obstáculos como a
oposição, que seja de demônios (4.33-35,41-42), de seres Humanos
(5.17-6.11; 13.31-35; 15.2), a intenção de matá-lo (4.29; 19.47-48; 20.19;
22.2) também veio a superar as barreiras da classe social (5.27-32; 7.36-50;
15.1-32; 19.1-10), de preconceito sexual (7.36; 8.3; 13.10-17) e de
preconceito racial (10.29-37; 17.11-21). Para Lc, não há dúvidas que o
caminho do Senhor vá atingir seus objetivos.
O caminho segue para que todo mortal veja a salvação do Senhor. O
elemento universal está presente aqui. Todo mortal, todo tipo de pessoa e
toda classe de condições. Homens, mulheres, velhos, jovens, classe alta
baixa, ricos, pobres (sendo que os ricos devem usar bem sua riqueza
[16.1-15,19-31; 18.18-30; 19.1-10]), crianças e leprosos, etc. O caminho do
Senhor não terá terminado sua viagem até que todo mortal veja a salvação
do Senhor.
E finalmente é a salvação que vão ver. Para Lc, a salvação tem um
amplo significado. Nos relatos do nascimento, a salvação também tem
consequências políticas, a exaltação aos humildes (1.51-53), a libertação do
povo de Deus (1.71-74), luz para os que estão na escuridão e a paz,
(1.77-79), a revelação e a glória (2.30-32) usa a linguagem de Jubileo. Jesus
usa a mesmo linguagem quando descreve sua missão no sermão em Nazaré
(Lc 4.18-19 cf. Is 61.1-2; 58.6 cf. 7.21-23).
Além disso, Lucas usa a palavra “salvar” para incluir a sanidade
física, a libertação de demônios tanto como o perdão dos pecados (4.43;
7.36-50 esp. v. 50; 8.1-3,26-56; 17.19, 19.10 cf. v. 9.) Isto se segue em At
também (At 2.38-41,47; 4.12,9-10; 13.26,38-39; 16.31). Darío López postula
seis dimensões da salvação em Lc: econômica, social, política, física,
275

psicológica e espiritual.254 Tanto no Antigo Testamento como em Lucas, a


salvação é de toda a pessoa e todas as pessoas. Pois no evangelho de Lucas a
missão de Jesus é seguir o caminho do Senhor, superando todos os
obstáculos para levar a salvação a todo mortal.
Enquanto em Atos 1.8 se tem visto como uma ordem do dia para o
livro. “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis
minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria
e até aos confins da terra”. Nesta passagem, Lucas, conforme John Stott
habilmente expõe: “que seu reino é internacional quanto a seus membros e
gradual quanto à expansão”.
a) a internacionalidade dos membros. Os discípulos de Jesus estavam
pensando em um reino mais restrito a Israel, mas, em sua resposta, à
pergunta deles (v.6), Jesus lhes expandiu os horizontes, demonstrando que
seu reino e seu desejo se estendiam a todas as nações da terra. Tem sido
corretamente observado pelos estudiosos que At 1.8 é como se fosse um
índice do próprio livro de Atos. E, realmente, o evangelho começou a ser
disseminado em Jerusalém (1-7), depois alcançou Samaria (8), e,
finalmente, impulsionado pela conversão do “apóstolo dos gentios”,
expandiu até alcançar Roma e os confins da terra (9-28).255
b) a expansão gradual: outro aspecto importante que Cristo
enfatizou em At 1.8 é a expansão gradual da igreja. Da maneira como Jesus
expôs, ele deixou bem claro que seus discípulos seriam testemunhas em
círculos cada vez maiores. Veja as expressões: “tanto em [...] como em toda
[...] e até aos [...]”. Não pode haver barreiras para o reino de Deus. Nem
raça, nacionalidade, costumes, ou mesmo distâncias podem impedir que o
reino cresça por meio da graça de Deus presente no testemunho dos
convertidos.
A mensagem do evangelho começou em Jerusalém com um
pequeno grupo dentro do judaísmo, reuniam-se no Templo, seguindo as
tradições judaicas e esperando a restauração de Israel, pregando nas ruas e
no Templo, vivendo uma vida em comum e lutando para sobreviver
(1.1-8.1).
Depois, se estendeu ao mundo “semi-judeu” da Judéia e Samaria,
começando a aceitar a possibilidade da conversão dos gentios. Felipe
pregou em Samaria, se converteu em um homem que viria a ser o mais

254
LOPEZ, D. La misión liberadora de Jesús según Lucas. Padilla, 1998, p.224.
255
STOTT, J. A Mensagem de Atos. São Paulo: Aliança Bíblica Universitária, 1994.
276

importante missionário dos gentios, Deus dirige a Pedro a pregar para a


família de Cornélio (gentio, temente a Deus), estes gentios receberam o
Espírito Santo, a igreja de Jerusalém aceita Cornélio como irmão e a igreja
de Antioquia, que viria a ser a base da missão aos gentios é citada pela
primeira vez (8.1b-12.25).
Vemos um movimento, não somente geográfico do evangelho mas,
também um movimento muito além do judaísmo, havia uma fé universal.
Finalmente, desde o capítulo 13 até o fim do livro somos testemunhas da
extensão do evangelho na Ásia Menor e Europa, testemunhamos a
aceitação dos gentios como membros plenos da igreja e vemos como o
evangelho chega ao centro do mundo daqueles dias.
O texto de At termina com Paulo em Roma, pregando o evangelho
sem “impedimento algum” (At 28.30). O caminho percorreu um longo
caminho da Galileia a Jerusalém e de Jerusalém, passando por Antioquia,
chegando em Roma. Também percorreu um longo caminho de
transformação de ser uma seita judia a uma fé universal.
Quero mencionar outra coisa importante acerca deste versículo.
Em sua tradução de At 1.8, a NVI tem seguido o grego mais precisamente
que as outras traduções ao sublinhar a forma coerente para missão em vez
de uma forma consecutiva. E dizer que a missão se fez “tanto” em
Jerusalém “como” em toda Judéia e Samaria e até aos confins da terra.
A missão aos confins da terra não necessitava esperar que a missão
a Jerusalém terminasse para receber a atenção dos crentes. Mas, parece que
os Apóstolos não entendiam isto, tampouco porque, era o Espírito Santo
que deu o impulso para cruzar as barreiras em cada etapa e não uma
estratégia dos apóstolos.
Em cada caso, o Espírito Santo teve que lançá-los de sua “zona de
conforto.” Para que saísse de Jerusalém, usou a perseguição (8.1) para que
pregasse aos gentios, tementes a Deus, usou visões (10.1ss), para que a
igreja de Antioquia, mandasse uma equipe de missionários, outra vez usou
visões (12.2), para que a igreja de Jerusalém aceitasse aos gentios como
membros da igreja, usou uma mensagem direta (15.28) e para que Paulo
pregasse na Europa usou obstáculos, circunstâncias e uma visão (16.6-10).
Deus queria que a igreja missionária tanto em Jerusalém como em toda
Judéia e Samaria e até os confins da terra se tornasse possível.
Enfim, para Lucas a frase “mas há tanto que fazer aqui, sem pensar
em outras partes do mundo” é uma negação da natureza universal do
277

evangelho e da natureza bíblica da missão. Temos mostrado que cada livro,


na obra de Lucas, tem sua própria mensagem missionária, mas também a
obra inteira tem uma estrutura e uma mensagem missiológica.
Para entender o livro inteiro, seguimos outra vez a Bosch quem
propôs que Lc 24.46-49 serve como a grande comissão em Lc/At e serve
como o clímax na mesma forma que a grande comissão em Mt 23. Esta
passagem pode-se ver como o ponto em que convergem os ramais do
Evangelho para logo disseminar-se com o fim de recorrer ao caminho
narrado em Atos. Bosch comenta:

A totalidade da compreensão “lucana” sobre a missão cristã: é o


cumprimento das promessas bíblicas; chega a ser possível
unicamente depois da morte e ressurreição do Messias de Israel;
seu conteúdo é a mensagem do arrependimento e perdão; está
destinado a “todas as nações”; começando “por Jerusalém”; se
implementar através de “testemunhas”; e se levará a cabo pelo
poder do Espírito Santo.

A missiologia de Lucas encontrada no Evangelho e em Atos mostra


que o sofrimento e o testemunho são a forma de missão, a salvação e a
universalidade são a mensagem da missão e a segurança do progresso do
caminho e a presença do Espírito Santo são o motivo da missão.

Devemos “encarnar” o evangelho de Jesus em nossa


vulnerabilidade e nosso testemunho humilde, pregando todo o
evangelho, testemunhando a todas as nações, seguindo o
“caminho” do Senhor com o Espírito Santo como nosso guia.

8.8 Missão em João: A Revelação de Deus256

O propósito do Evangelho de João é sumamente missionário. Está


escrito “creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo,
tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31). Então é levar as pessoas a fé em Jesus
Cristo e nutrir sua fé e para que levem outros a fé. O tema central é
evangelístico e missionário.

256
Cf. A Missão do Filho de Deus (Jo 3.16-21) Rev. Augusto Brayner. IPAB, Youtube in:
https://encr.pw/sUNgk
278

A mensagem de Jo, é o envio do Filho pelo Pai, impulsionado por


seu amor infinito pela humanidade perdida para que, os que creem nele
sejam salvos e tenham vida eterna (Jo 3.16). Como disse em 1Jo 4.14 “E nós
temos visto e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como Salvador
do mundo”.
a) O Filho foi enviado ao mundo. “Mundo” (ho kosmos) em João,
geralmente se refere a humanidade caída em inimizade a Deus, mas todavia
é o objeto de amor de Deus. Bosch não trata o paradigma de Jo, somente aos
de Mt, Lc e de Paulo e diz que estes três autores, são “representantes do
pensamento e prática missionária do primeiro século.”
Mas, estou de acordo com Philip Towner quando propõe que se
Bosch houvesse usado o paradigma de João haveria tido uma perspectiva
menos positiva ao mundo.
A falta de Bosch é rara porque as palavras ho kosmos aparecem 96
vezes em Jo e somente 22 vezes nos sinóticos! Obviamente Jo pensava que
foi um conceito bastante importante. O mundo é o enfoque do amor de
Deus “porque” está caído. Isto nos dá outra perspectiva quanto a missão.
Me parece que o mundo no pensamento de João tem o mesmo rol
que as nações no AT (especialmente Dt). As nações são más (Dt 12.31, por
exemplo), mas é o desejo de Deus que o bendigam (Gn 12.3). O mundo é
malvado (1Jo 2.15), mas é o objeto do amor de Deus (Jo 3.16). As nações são
uma tentação para Israel (Dt 13), mas também é a existência da vida ética
de Israel (Dt 4.5-8). O mundo nos pode contaminar (1Jo 2.15), mas é a
existência do amor dos discípulos (Jo 13.35).
b) A Missão de Jesus: Jesus veio para revelar o Pai, para levar aos
homens o Pai, para dar lhes a vida eterna. Veio ao “mundo” em seu pecado,
obscuridade e alienação. A profundidade cósmica no princípio do evangelho
nos prepara para a extensão mundial da mensagem do amor de Deus para
toda a humanidade.
O “Filho” também é o “Logos” que esteve com Deus antes da
criação, e que por meio dele, o mundo foi criado, e a fonte de toda luz e
vida. Também, Jesus é o único caminho ao Pai, a quem o Pai entregou a
salvação e o juízo (cf. as declarações “Eu sou” Jo 1:18; 6.36; 9.5; 14.8.).
Sua morte é o meio de revelação do Pai e o meio de levar aos
homens o Pai. Por sua morte retira as barreiras que nos impedem de
conhecer ao Pai (Jo 1.29; 12.31). Jesus é enviado pelo Pai (Jo 3.17,34; 4.34;
279

5.23,24) que tem a autoridade completa do Pai e veio para fazer a vontade
do Pai (Jo 5.19-30; 8.29).
c) A Missão dos Discípulos (Jo 20.21-23): Paz seja convosco! Assim
como o Pai me enviou, eu também vos envio. E, havendo dito isto, soprou
sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Se de alguns perdoardes
os pecados, são-lhes perdoados; se os retiverdes, são retidos.
1. Façamos alguns comentários sobre os elementos desta comissão.
“Paz seja convosco”. Esta frase é mais que uma saudação (Jo 20.19,21,26).
Pela sua morte, Jesus deu a paz que o mundo não pode entender, dar nem
tirar, que persiste até na tribulação. A paz que Jesus lhes presenteia é “sua
paz” (Jo 14.27; 16.33). É a paz que se deve compartilhar com o mundo.
2. “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio”. Este verbo
indica um ato no passado que todavia tem efeitos no presente. Na mesma
maneira em que foi enviado, os discípulos são enviados “ao mundo” (Jo
17.18). Não pertencem ao mundo da mesma maneira que Jesus não pertence
ao mundo. Os escolhidos do mundo (Jo 15.19) e o mundo irá odiar como
odiou a ele (Jo 15.18-25). O mundo ao qual os manda, primeiramente é o
mundo caído, mas também inclui a ideia de “toda a humanidade”, não
somente os judeus (Jo 1.29 “o pecado do mundo”, cf. também Jo 10.16;
11.52; 12.32 cf. vv. 20).
O modelo da missão da comunidade de discípulos, é Jesus. Por isso,
John Stott disse que esta comissão é a mais ignorada, pois é a mais
trabalhosa.
3. A promessa do Espírito Santo. O ato de soprar simboliza que está
entregando (ou prometendo) o Espírito Santo, que se cumprirá nas
promessas de Jesus sobre o Consolador. O Espírito Santo os fará lembrar
das palavras de Jesus, interpretar o significado de sua obra e
acompanhá-los em seu testemunho e sua missão com o poder para
convencer e converter (Jo 14.25-26; 15.26-27; 16.7-11,12-15).
4) Perdão dos pecados. O Espírito Santo também lhes dará
autoridade para anunciar o evangelho e suas promessas de perdão dos
pecados aos que creem e adverte aos que entrarão em juízo. A missão em
João significa tanto o juízo como a salvação.
Enfim, a missão segundo João é a revelação do Pai por Jesus, e Jesus
dá aos discípulos a mesma missão para fazer da mesma forma.
280

8.9 A Teologia Eclesial da Missão257

Como resultado da Teologia temos o relacionamento e a


comunicação contínua entre o homem e Deus. Foi aí que surgiu a
Missiologia, pois Deus deu uma tarefa ao homem para continuar o processo
de despertar teológico do mundo perdido.
A Missiologia é o meio pelo qual a teologia alcança seus objetivos.
Podemos afirmar que a Missiologia é um produto da Teologia, e que uma
sem a outra perde seu significado. Somente as duas juntas são capazes de
levar avante o plano da salvação.
Portanto, podemos afirmar que Teologia sem Missiologia não tem
sentido, já que o alvo final da verdadeira Teologia é justamente o propósito
único da Missiologia. A Teologia sincera move-nos sem dúvida para a
missiologia prática, como um meio efetivo de alcançar o alvo final da
própria Teologia, a saber, o homem redimido levando ao homem perdido as
boas novas de que Deus enviou seu único Filho para salvá-lo da destruição
eterna.
Deus, o Primeiro Missionário. Toda criação de Deus é importante.
Porém, Deus escolheu o homem de um modo especial, formando-o à sua
imagem e semelhança (Gn 1.26-28). Deus criou os seres angelicais, com
graus distintos de responsabilidades e autoridades.
Deu a um querubim uma formosura jamais vista em outros anjos e
sabedoria esplêndida (Ez 28.12-17). Esse anjo atuava como primeiro
ministro de Deus, tendo além das qualidades citadas, grande poder e livre
arbítrio. Mas, com tanto poder e formosura, “Lúcifer”, conforme ficou
conhecido, ficou tão deslumbrado com o que Deus lhe dera que desejou “ser
semelhante ao Altíssimo” (Is 14.14), com isso encabeçou uma rebelião
jamais vista em toda história, com o propósito de estabelecer um reino
espúrio, juntamente com os anjos que lhe acompanharam nesta rebelião
(Ap 12.4-9).
Tempos depois da rebelião, Deus fez outra criação, a qual também
concedeu livre arbítrio: o homem. Ao criá-lo, Deus mostrou o seu cuidado
especial: fez um jardim de delícias para a sua nova criação habitar. Satanás,

257
Cf. A Teologia da Missão Integral - Augustus Nicodemus, Filipe Fontes e Jonas
Madureira. Centro Presbiteriano de Pós-graduação Andrew Jumper, Youtube in:
https://encr.pw/5Je2D
281

observando isso, encheu-se de ira e ciúme, e partiu para perturbar e atacar


o homem, a nova criação de Deus.
Deus estabeleceu um relacionamento de companheirismo e
comunhão com Adão e Eva, no Jardim do Éden, mediante o amor. Para que
eles continuassem esse relacionamento com Deus, teriam apenas que
passar na prova de obediência total à vontade divina, mas eles falharam.
Deus em sua onisciência já havia previsto a possibilidade do
homem pecar e idealizou um meio para resgatá-lo. E foi assim que Deus
desceu ao Jardim do Éden, naquela tarde sombria, e proclamou, como
autêntico missionário, a primeira mensagem evangelística, registrada em
Gn 3.15 porei inimizade entre ti e a mulher, entre a sua descendência e o seu
descendente. Este te ferirá a cabeça e tu lhe ferirá o calcanhar.
Esta é a primeira referência a Cristo na Bíblia, relacionando a
derrota de satanás, a sua sentença e as boas novas da vitória sobre o
fracasso do homem em servir a Deus. Naquele momento, Deus estava
anunciando Cristo a todos os descendentes de Adão, que iriam nascer no
decorrer dos séculos.
Jesus, o Missionário enviado por Deus. Em Jo 3.16 encontramos o
plano de Deus se caracterizando, ao enviar o seu único Filho ao mundo,
para construir a história da redenção, numa inexplicável expressão de
amor, a ponto, do apóstolo João, que soube tão bem descrever a cena
apoteótica do amor de Deus, ter usado a expressão “de tal maneira”, como
uma forma de tentar explicar a profundidade do amor de Deus ao mundo.
Amor este que ultrapassa as fronteiras culturais, racionais e
linguísticas, não se restringindo a uma raça, nação ou grupo cultural
específica. Ele ama a todos os povos e deseja que todos os homens se
arrependam e sejam salvos, mediante a obra realizada por Jesus Cristo.
Conforme 2Pe 3.9, Ele é longânimo para convosco, não querendo que
ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se".
A Grande Comissão de Jesus Cristo. Após a ressurreição, o Senhor
Jesus Cristo priorizou três ordens aos discípulos, a saber: Ide por todo
mundo e pregai o evangelho a toda criatura (Mc 16.15). Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações (Mt 28.19). Mas vocês receberão poder, ao
descer sobre vocês o Espírito Santo, e serão minhas testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra (At 1.8
NAA).
282

Estas três passagens bíblicas são suficientes para descrever as


prioridades do Senhor Jesus, que é a evangelização do mundo. Antes
mesmo da ressurreição, o Senhor Jesus Cristo já havia dito que primeiro, o
evangelho seria pregado a todas as nações e depois viria o fim (Mt 24.14).
Já naqueles dias, o Senhor Jesus sentia tanto a necessidade da obra
missionária que certa vez, ao olhar para Seara, e ainda faltando quatro
meses para a colheita! Já via os campos brancos para a ceifa: Não dizeis:
Ainda há quatro meses até à ceifa? Eu vos digo: Erguei os vossos olhos e
vede os campos, que já estão brancos para a ceifa (Jo 4.35).

8.10 Espírito Santo, o Propagador das Missões258

O livro de Atos dos apóstolos menciona os grandes feitos dos


apóstolos no início do cristianismo, em Jerusalém. Nós sabemos,
entretanto, que os discípulos nada fariam se não fosse o preceito dado pelo
Senhor Jesus, antes da sua ascensão aos céus: Mas vocês receberão poder,
ao descer sobre vocês o Espírito Santo, e serão minhas testemunhas tanto
em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra (At
1.8).
Após terem sido cheios do Espírito Santo, o mundo foi alcançado
pela pregação do evangelho, e isso se deve ao grande propagador de
missões, o Espírito Santo. É ele o maior incentivador da obra missionária,
pois impulsiona, encoraja e chama os missionários, nós percebemos tal
afirmação em At 13.2, quando a Igreja de Antioquia estava reunida: “[...] o
Espírito Santo disse: —Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a
que os tenho chamado” (NAA).
A missão do Espírito Santo é chamar os missionários, como
também é convencer o mundo do pecado da justiça e do juízo (Jo 16.8). Os
missionários são enviados para pregar ao pecador, mas é o Espírito Santo
quem os convence a aceitar a mensagem pregada pelos missionários.

8.11 A Bíblia, o Livro Missionário259

258
Cf. O Espírito Santo Como Maior Impulsionador de Missões | Renato Marinoni.
IBNU, Youtube in: https://l1nq.com/Krqtw
259
Cf. A Bíblia é um Livro Missionário. Video da Hora, Youtube in:
https://l1nq.com/BxFtd
283

Sem a Bíblia, a evangelização do mundo seria não só impossível,


mas também inconcebível. Ela nos dá o mandato, o modelo e o poder para
evangelização do mundo, a Bíblia não apenas contém o evangelho, como
ela é o próprio Evangelho (Boas Novas).
Através dela, Deus está evangelizando, isto é, comunicando as boas
novas ao mundo. Jesus mesmo ordenou aos seus discípulos, dizendo: “Ide
por todo mundo pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). A Bíblia é o
manual do missionário, sem ela não há salvação: De sorte que a fé vem pelo
ouvir, e o ouvir a palavra de Deus (Rm 10.17). E conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará (Jo 8.32), portanto a Bíblia é a ferramenta inseparável
do bom soldado (Js 1.8).
Diante desta breve exposição do contexto bíblico da origem das
missões tendo seu início com o próprio Deus, vamos agora analisar alguns
pontos importantes que são tratados por esta disciplina.
Missão abrange três estágios: visto que o significado da palavra
missões é enviar, mandar, remeter, o enviado vai com a finalidade de
anunciar Cristo e o plano de Deus para a salvação de todos os homens.
Sendo assim missões abrange três estágios bem definidos que são: a)
missão local: abrange a comunidade local e circunvizinhanças. Ex: bairros e
cidades vizinhas, b) missão nacional: abrange todos os limites da nação de
origem do(a) missionário(a), c) missão transcultural: abrange até os
confins da terra.
Como a igreja deve ver a obra de missionária. A igreja deve ver a
obra missionária como um privilégio jamais concedido ao mundo. É tão
grande esse privilégio que os anjos queriam realizá-lo, mas não puderam
(1Pe 1.3-12). A igreja é uma embaixada do reino de Deus neste mundo. Cada
um que na igreja se envolve com a evangelização é obra missionária
torna-se um embaixador de Deus entre os homens.
É assim que a igreja deve ver o trabalho missionário hoje. Não
obstante a igreja ser o instrumento de Deus na terra para a propagação de
seu reino, ela deve ter também como objetivo visualizar pela direção do
Espírito Santo e preparar homens e mulheres para o campo missionário. É a
igreja quem deve enviar e dar respaldo para os que pelo Espírito Santo são
chamados e separados para a obra missionária (At 13).
A igreja através de seus líderes deve buscar subsídios para o
sustento do missionário realizado entre os fiéis uma conscientização da
necessidade de contribuir, orar e abraçar a causa missionária que é a obra
284

de Deus. A cooperação é o melhor caminho para a realização da obra


missionária (Fl 4.14). Paulo não poderia levar a cabo tudo o que fez sem o
apoio e a ajuda da igreja de Filipos. Essa igreja deu-lhe suporte financeiro e
sustentação espiritual.
Aqueles que estão na linha de frente precisam ser encorajados por
aqueles que ficam na retaguarda. “[...] Porque qual é a parte dos que
desceram à peleja, que também será a parte dos que ficaram com a
bagagem; igualmente repartiram” (1Sm 30.24). Deus chama uns para irem
ao campo missionário e aos demais para sustentar aqueles que vão. A obra
missionária é um trabalho que exige um esforço conjunto da igreja e dos
missionários.

8.12 O Preparo Missionário260

Jesus treinou seus discípulos antes de enviá-los a pregar (Mc 1.17),


a vocação do missionário implica no discipulado (vinde após mim), em ser
treinado por Cristo (eu vos farei), e no esforço de ganhar homens (pescar).
Em primeiro lugar Jesus chamou, nesse processo é reservado um tempo
para o treinamento, para estarem com ele. Então vem à última parte,
(enviar para pregar).
Num período de três anos e meio os discípulos estiveram com Jesus
e puderam receber lições preciosas que seria a base para os seus
ministérios. No sermão da Montanha, Jesus trabalhou o caráter dos
discípulos, ele também deu aulas práticas de evangelismo, estratégias de
missões e lhes deu a grande comissão, prometendo estar com eles todos os
dias! Quando um candidato à obra missionária é discipulado na sua igreja
local, e tem experiência de trabalho nessa igreja, já é um grande passo.
Porém existem outras áreas que merece ser incluídas no preparo deste
futuro missionário, tais como:
a) Preparo Espiritual. Chamada pessoal definida. Vida espiritual,
profunda experiência de salvação e comunhão com Cristo, falar, andar e
viver. Fé, maturidade e firmeza espiritual. Convicções espirituais
inabaláveis que vem de buscar a Deus e confiar na sua Palavra. Ser cheio do
Espírito Santo.

260
Cf. Pr. Álvaro Alén Sanches - O Preparo Missionário - CIMAD 2010. CPAD Vídeo,
Youtube in: https://encr.pw/iMq48
285

b) Preparo Teológico. Para atender as exigências do seu trabalho.


Visando que o povo esperasse um bom conhecimento bíblico da parte do
missionário. Para firmar suas próprias convicções e sempre ensinar
bíblicamente, nos mais diversos assuntos e doutrinas para poder convencer
o não crente e instruir os novos convertidos.
c) Preparo cultural. Estudos em Antropologia. Estudos em
Sociologia. Curso de primeiros socorros. Começar estudar o idioma do país
antes de chegar lá. Estude geografia, costumes (tradições), história,
religião, os mais diversos aspectos da vida do povo.
d) Preparo financeiro. É exigida hoje em dia em quase todos os
países do mundo uma quantia garantida mensalmente pela missão ou pela
igreja. Deve-se saber o custo de vida numa base média do país onde se
pretende trabalhar.
Concluímos nestas poucas aulas, que, visamos apenas os aspectos
básicos da missiologia o assunto é extenso e seria necessário um espaço
muito maior para abordarmos todo o assunto, mas creio que tudo o que foi
abordado nestas páginas nos dão uma visão mesmo que sintética da
extensão e complexidade desta disciplina, creio que nas próximas
disciplinas o aluno obterá um complemento para sua formação. Que Deus
vos abençoe.

8.13 Evangelho, Evangelização e Evangelismo261

Para compreensão básica deste tema, conceituaremos plenamente


os termos acima, a fim de fixar definições teológicas aplicáveis e aceitas,
buscando entendimento aceitável para cada assunto.
a) evangelho: o termo ocorre 72 vezes no NT, das quais 54 vezes
mencionadas por Paulo. O termo provém do grego “evanguélion”, que
significa literalmente “boas novas” (Mc 1.1; 1.15; 16.5). O correspondente no
AT, no hebraico quer dizer “proclamação de coisas grandes e novas” (Is
52.7-9; 41.27; 40.9).
b) evangelização: em última análise, definimos o termo como a ação
de evangelizar, termo que ocorre 52 vezes no NT aludindo à ideia
fundamental de consubstanciar as boas novas na prática.

261
Cf. Métodos de Evangelização | Pr. Hernandes Dias Lopes. Igreja Presbiteriana de
Pinheiros, Youtube in: https://l1nq.com/3FW33
286

c) evangelismo: a palavra não se encontra no NT, é um sistema que


proverá as formas e mecanismos para viabilizar as boas novas. Ele envolve
princípios, métodos, estratégias e técnicas empregadas na ação de
evangelizar a fim de atingir seus objetivos.
A origem de toda essa temática se dá em (Rm 1.16,17) ou seja, em
Deus, a fim de mostrar o poder de Deus para salvação de todo aquele que
crê (Jo 3.16) ministrando a justiça divina para a humanidade resultando em
vida e fé. Uma mensagem autorizada (Mc 16.15,16). Uma mensagem
atualizada (Hb 13.8). Uma mensagem urgente (Hb 3.7,8). Uma mensagem
provada (Hb 11.33-40). Solução para o problema do pecado (Ef 2.1).
Revelação do coração de Deus (Am 3.7). Está ao alcance de todos (Jo 1.12).
Dom divino concedido (Jo 3.16). Amor divino manifestado (Rm 5.8). Graça
divina revelada (Tt 2.11). Justiça divina demonstrada (Rm 3.25). Poder
divino exibido (Ef 1.19). Vida divina Comunicada (Jo 1.13). Promessas
divinas asseguradas (2Co 1.20).

8.14 O Perfil Missionário da Igreja262

Os atributos e virtudes de um evangelista:


a) o que deve ser: salvo, testemunha de Jesus, exemplo para a igreja
e comunidade, empático, altruísta.
b) o que deve saber: conhecer a Deus, conhecer a Bíblia, conhecer o
Poder de Deus.
c) o que deve cultivar: vida de oração fervorosa, leitura e meditação
da Bíblia, desejo ardente pelas almas perdidas, comunhão e hábito de
congregar.
d) o que deve fazer: pregar e ensinar o evangelho, priorizar as coisas
de Deus. Remir o tempo, sua recompensa, satisfação e prazer de alma,
edificação na vida, gratidão, certeza de agradar aquele que enviou
Os princípios de um evangelista:
a) princípio da motivação: está na gratidão pela conversão, é
baseado na experiência, ninguém pode dar o que não tem, uma vez
convicto de sua salvação, essa certeza lhe move e desperta paixão pelas
almas.

262
Cf. A Igreja e a Missão em uma Sociedade Pós-Moderna, Plural e Mística | Ronaldo
Lidório. Edições Vida Nova, Youtube in: https://l1nq.com/O8tj6
287

b) princípio da comissão: para sentir-se seguro nesta obra, o crente


precisa ter consciência de que foi comissionado por Jesus, logo, ele não tem
dúvidas que é servo de Cristo escolhido para trabalhar para o Reino.
c) princípio da Capacitação: para que esta obra seja possível e levada
adiante, precisamos do Espírito Santo e seu poder, pois somente por
intermédio D’Ele seremos capacitados para tal.
d) princípio do Aprendizado: para enviar seus discípulos, Jesus os
preparou, discipulou, e depois ordenou que fossem ensinar o mesmo em
todas as Nações (Mt 28.16-20), ficando claro que devemos ser aplicados ao
aprendizado, treinamento e estudo.
e) princípio da Localização: a ordem é pregar em todo o mundo, de
diversas formas e maneiras, em todos os lugares, a seu tempo, por isso, o
segredo aqui é estar afinado com a vontade e os planos de Deus.
f) princípio da Essencialidade: a ação de comunicar o evangelho de
Cristo precisa conter os elementos essenciais a fim de levar a pessoa ao
arrependimento, sendo assim, a abordagem, de uma forma ou outra pode
conter os seguintes elementos: somos pecadores, consequência e resultado
do pecado, providência Divina para o pecador, indicação da Providência e
sua apropriação.
g) princípio da Contextualização: para agricultores Jesus falou do
semeador, para Pastores do rebanho, para pescadores da grande rede
lançada ao mar, a evangelização começa onde a pessoa está, em sua
atividade cotidiana, porém, a linguagem deve postar em uma linguagem
adequada, contexto cultural, para que ela entenda.
h) princípio do convite: a exposição do evangelho é o maior convite
conclamado ao homem para tomada de decisão. Pedro invocava aos
homens que se "salvam desta geração perversa” (At 2.14-36), de forma
apelativa chamava a todos para que: “se arrependam, pois, e
convertam-se, para que sejam apagados os vossos pecados [...]” (At 3.19), o
que Paulo corrobora em seus convites quando: “rogo, pois, por Cristo que
vos reconcilieis com Deus [...]” (2Co 5.20).
i) princípio da Responsabilidade: uma vez que há diferença entre
pregar e evangelizar, pregar pode até ser para alguns vocacionados, porém
testemunhar é responsabilidade de todo crente. Para evangelizar não é
exigido que você faça um sermão estruturado, mas pode contar o que Jesus
fez por ti e como o Eterno teve misericórdia de sua vida.
288

j) princípio da integração: todo convertido deve ser integrado à


igreja (Ef 4.10-16), agregados (At 2.41), unidos ao corpo (At 9.26-28) e
promovido publicamente no ato de fé através do batismo.
l) princípio do crescimento espiritual: todo convertido precisa crescer
espiritualmente (At 2.14-16), o discipulado é a ferramenta principal para
que este desejo aflore e incendeie o coração do crente (1Pe 2.22).
O plano bíblico para a salvação:
a) convencer o pecador do seu pecado: todos pecaram (Rm 3.23; 5.12;
1Jo 1.8-10), todos foram legados por ele (Rm 6.23), o pecado é uma
realidade (Gl 5.19-21, Ap 21.8).
b) convencer o pecador da justiça e do juízo: está separado de Deus
(Rm 3.23; Is 59.2), está condenado a Morte (Rm 6.23, Ez 18.20), está
condenado a perdição Eterna (Sl 9.17, Lc 16.19-31).
c) mostrar a providência divina: enviou seu Filho em amor (Jo 1.1-14;
3.16), a Salvação vem de Deus (Jo 3.8; 1Tm 2.3-6), foi providenciada pela
Graça (Ef 2.8,9; 1Pe 1.19,19), em justiça (1Pe 2.24).
d) reação do pecador: arrepender (Is 55.7; Ez 18.31; At 3.19; 17.30),
crer (At 16.31; Jo 5.24; 6.47; Rm 10.9,10), confessar (1Jo 1.9), invocar (Rm
10.13), receber (Jo 1.12, Ap 3.20), confiar (1Jo 2.25).
d) resultados da salvação: certeza do perdão (Is 1.18; Hb 10.16),
regeneração (Rm 6.4, 2Co 5.17), justificação (Hb 10.16,17; Rm 3.26; 5.1; 2Co
5.21), reconciliação (Ef 2.15,16; 2Co 5.18-20), adoção (Ef 1.5, Gl 4.6,7; Rm
8.15), vida Eterna (Jo 6.47, 5.24; 1Jo 2.25), morada de Deus (1Co 3.16; 6.19).

8.15 A Metodologia Missionária da Igreja263

O vocábulo vem do grego metá (objetivo, finalidade) e hodós


(caminho, direção). Em termos práticos, é o caminho utilizado para chegar
a determinado objetivo. A base podemos utilizar dois argumentos: a)
dedutivo: começa em particular (Jesus e a Samaritana), b) o indutivo: do
particular para o geral (A Samaritana e Samaria).
Os métodos: pessoal, em massa, urbano e rural, em grupo.
As técnicas: flanelógrafos, mídia e rádio/ internet, Bíblias e livros,
flyers e panfletos, objetos específicos.

263
Cf. A Importância da Formação Teológica Missionária. Igreja Presbiteriana de
Pinheiros, Youtube in: https://l1nq.com/wielv
289

As abordagens: motivação natural, o local da evangelização, a


conversa iniciada, a transição da conversa, o interesse do ouvinte,
exposição do plano de salvação.
O preparo é uma tarefa que jamais terá êxito ou resultado se feito
de improviso. Destarte, na preparação deste trabalho consideram-se
quatro pontos fundamentais:
a) preparação espiritual: inspiração na mensagem, motivação,
consagração e oração.
b) preparação da equipe: os integrantes devem ser recrutados com
muito cuidado e zelo, destacando entre eles, os que têm como
características: piedade e paixão pelas almas, capacidade de ouvir,
conhecimento bíblico e boa oratória, apoio logístico.
c) preparação do material: farta quantidade de literatura específica,
identificação das equipes, material de propaganda e divulgação.
d) preparação do local (territorialização e longitudinalidade) na
divulgação: impressos de boa apresentação e de rápida leitura, convite
verbal, rádio, televisão, jornais, internet, faixas, carro de som e cartazes.
e) preparação do local na realização: nesta fase da cruzada: oração,
participação, convites.
f) preparação do local na consolidação: encerrada a comissão, não
encerra o trabalho.
g) consolidar resultados: visitação sistemática, apoio nos lares,
discipulados para novos convertidos, demonstração de apreço e valorização
das pessoas.

8.16 A Teologia do Discipulado

A visão geral da teologia do discipulado: a) É ordem de Cristo (Mt


28.19), cumprida pela Igreja (At 14.21). b) Há dois níveis de discipulado: de
Cristo (batizando-os), do cristão (ensinando-os). c) O significado da
palavra discípulo é: “aprendiz; seguidor; servo” (esta palavra aparece mais
de 260 vezes no NT). d) Será o primeiro ministério a ser exercido na célula.
Antes de ser um auxiliar do líder de célula, a pessoa terá que ter realizado
bem o papel de discipulador.
Há qualificações para ser um discipulador de Cristo: a) Disposição
da renúncia: Lc 14.25-33. b) Compromisso de aliança: Jo 6.53-56; 60-68. c)
Obediência total à Palavra: Lc 6.46.
290

Fazendo um discípulo do cristão (de nós mesmos): embora o Mestre


por excelência seja o Senhor Jesus Cristo, temos o nosso papel no
discipulado das pessoas que assumem um compromisso com o evangelho:
a) Somos modelo (Mt 10.24,25; 1Co 4.15,16; 11.1; 2Co 12.18).
b) Estar juntos. Fala da comunhão e aprendizado informal. (Mc 3.14)
Jesus chamou seus discípulos para "estarem com Ele"; (At 28.30-31)
Receber em casa as pessoas; os cooperadores de Paulo viajavam (e às vezes
moravam) com ele. Tanto Eliseu como Josué foram discípulos que
preencheram estes requisitos. Há uma ordem: O discípulo segue o mestre e
não vice-versa [...] Jesus disse aos seus discípulos: “Vem e segue-me!”
c) Não dominar. Jesus disse: “ensina-os”, não: “obriga-os” [...]
Todo relacionamento de liderança deve ter esta marca: ( 5.2,3).
d) Reprodução: 2Tm 2.2 diz que devemos discipular discipuladores
que ensinem o mesmo aos seus discípulos para que não se interrompa o
ciclo de reprodução. Em At 19.8-10, Paulo gastou seu tempo em Éfeso da
seguinte maneira: três meses pregando [...] e dois anos de discipulado
diário.
Quem evangelizou a Ásia? Paulo ou seus discípulos? Um discípulo
não se forma da noite para o dia [...] E nem na Escola de Líderes! É trabalho
árduo e pessoal.
1. Quem pode discipular?
a) Há diferentes níveis espirituais (Jo 2.12-14). Filhinhos: os
recém-nascidos espiritualmente. Precisam de cuidado o tempo todo.
Jovens: os que já ganharam um pouco de maturidade. Já conseguem “se
virar” sozinhos em muitas questões da vida cristã. Pais: os que cresceram a
ponto de gerar filhos em Jesus. São os que estão frutificando, levando vidas
a Cristo.
b) Quem gera filhos deve cuidar deles: a Igreja se tornou um grande
orfanato espiritual. Diferença entre “pais e aios” (1Co 4.14-16). Quem tem
maturidade suficiente para gerar, também o tem para cuidar. Contudo, para
melhor desenvolvermos esta responsabilidade, equipamos os
discipuladores com o treinamento deste Encontro, e o consideramos
indispensável para reconhecer alguém como discipulador em sua célula.
2. A vida do discipulador. Deve ser exemplar (trataremos deste
assunto em breve).
3. Atitudes do discipulador:
291

a) O discipulador desenvolve relacionamento íntimo: tem


atividades extra-igreja (lazer, visita, comunhão, etc.); ouve o discípulo em
seus problemas; aconselha áreas diversas da vida do discípulo; confronta os
erros em amor;
b) O discipulador intercede: Paulo agia assim em relação aos
gálatas (Gl 4.19). João falou sobre interceder por quem vemos pecar. A
palavra “ver” sugere proximidade, e aplicamos isto ao discipulado (1Jo
5.16).
c) O discipulador ensina (Mt 28.19). Além de seu exemplo e
conselhos práticos, usa os materiais de ensino no discipulado, como: o livro
“A Vida da Igreja”; e outras apostilas que tratam do caráter do discípulo.
d) O discipulador determina o ritmo: o novo convertido será
facilmente moldado pelo comportamento dos que o cercam. Devemos
aproveitar esta influência para determinarmos o ritmo de busca do Senhor
na vida do discípulo. O discipulador não é uma figura passiva que espera o
discípulo determinar seu próprio ritmo. Ele deve impor (com respeito) o
seu ritmo de vida cristã.
e) O discipulador envolve o discípulo com outros cristãos: o
discipulador deve integrar o discípulo não apenas na vida da célula, mas
deve envolvê-lo com outros cristãos. Assim, ele terá mais amizades e
aprenderá pelo contato com outros, embora continue sob o cuidado do
discipulador.
4. Para refletir: Discipulado é transmitir vida (autor desconhecido).

Prefiro antes ver a ouvir um sermão. Prefiro que a pessoa ande


comigo, a meramente mostrar-me o caminho. O olho é melhor
aluno, e muito mais disposto do que o ouvido. O bom conselho é
confuso, mas o exemplo é sempre claro. O melhor de todos os
mestres é o que vive o que ensina. Ver as coisas boas postas em
ação é o que todo mundo precisa. Logo aprenderá como fazê-lo, se
você me deixar ver como é que se faz. Posso ver suas mãos sem
ação, mas sua língua pode correr demais. E as palestras que você
faz podem ser muito sábias e verdadeiras, mas prefiro aprender a
minha lição observando o que você faz, pois eu posso entender mal
os sublimes conselhos que você dá, porém não há mal entendidos
quanto à maneira que você age e vive.
292

5. Discipulado é exemplo:
a) como discípulos de Cristo devemos seguir seu exemplo (1Pe 3.21;
1Jo 2.6).
b) Logo, nossos discípulos também devem seguir nosso exemplo!
c) o que Paulo ensinou sobre o exemplo: 1Co 4.16; Gl 4.12; Fl 3.17;
1Ts 1.6; 2Ts 3.7,9; Hb 13.7.
6. Como Jesus ensinou os seus discípulos:
a) dando exemplo: Jesus chamou os doze a fim de estarem com ele
(Mc 3.14). O que eles viram durante os anos em que andaram com Jesus não
lhes poderia ter sido comunicado apenas por meio de discurso. As curas e
milagres, o tempo investido na oração, as conversas espontâneas com Ele,
suas atitudes [...] tudo isto se tornou um modelo a ser seguido (Jo 13.15).
b) momentos de ensino: o Dr. Ralph Neighbour Jr. define
momentos de ensino como “aqueles momentos específicos quando o
discípulo está pronto para receber ajuda” e cita como exemplo Mt 17.14-20,
onde os discípulos estavam totalmente abertos à correção de Jesus por
terem fracassado.
c) experiências em comum: ao chamar um grupo para andar
consigo, Jesus proporcionou que os discípulos aprendessem não apenas por
meio de o observar, mas também por observar as atitudes dos que
compunham o grupo. O discipulador deve saber que os membros da célula
irão impactar um discípulo novo. Às vezes, essa interação pode ser muito
significativa.
d) aprendizado mútuo: algumas vezes, Jesus intencionalmente
fazia os discípulos discutirem entre si algum assunto e chegarem a suas
próprias conclusões antes que Ele mesmo se pronunciasse sobre aquilo (Mt
16.13-15).
7. Nos dias de hoje […]
a) A prática independe da teoria: Em Mc 4.26-28 Jesus ensinou que
não importa quanto conhecimento a pessoa tenha acerca de como germinar
uma semente, o que faz com a semente brote é o ato do plantio. Assim
também é na vida espiritual, o novo convertido não tem que entender como
as coisas funcionam para que possa frutificar; basta praticar os princípios e
eles darão resultados por si. E ele aprenderá imitando a prática de outros
cristãos bem-sucedidos.
b) E o entendimento teórico dos princípios seguirá a prática!
293

8. A Restauração. A Palavra de Deus mostra a importância do


relacionamento de pai e filho na vida do ser humano e também na Igreja. O
próprio Senhor Jesus estabeleceu e viveu um relacionamento íntimo com o
Pai e revelou o valor deste relacionamento em sua vida e ministério. Este
relacionamento tem sofrido muito nos lares e também na igreja em nossos
dias. Praticamente não se vê mais a figura de pais e filhos espirituais, o que
tem nos roubado muitas bençãos. Mas Deus está restaurando na Igreja a
visão da paternidade espiritual!
9. Pais espirituais. Este termo foi bastante usado pelo apóstolo
Paulo: em relação à descendência de Abraão (Gl 3.7,29), em relação aos que
geram filhos no Senhor (1Co 4.14-16), em relação aos seus discípulos (1Tm
1.2). Por isso, o pai deve:
a) ser mentor: Deus ordenou que os pais ensinassem as Escrituras
aos seus filhos (Dt 11.18,19). Os pais devem ensinar princípios de vida aos
seus filhos. O livro de Provérbios contém muitas afirmações que nos
mostram este nível de ensino: (Pv 1.8; 2.1; 3.1,11,21; 4.1,10,20; 5.1,20; 6.1,20;
7.1,25; 13.1).
b) ser exemplo: deixarem pegadas que possam ser seguidas (Rm
4.12). c) ser líder.
10. O papel dos filhos.
a) ser submisso e obediente: os recabitas foram recomendados por
Deus pela sua obediência e compromisso com seu pai Jonadabe (Jr 35.1-19).
b) honrar e respeitar o pai (Gn 9.20-27; Ml 1.6).
c) ser ensinável: Jeoás, rei de Israel, se deixa ser ensinado por
Eliseu (2Rs 13.14-19).
d) seguir seu pai: Eliseu foi um exemplo de perseverança em seguir
seu pai espiritual, Elias (2Rs 2.1-12).
O Espírito Produz no Cristão, o Fruto do Espírito:
a) A palavra no singular revela uma única obra do Espírito (Gl
5.22,23).
b) A descrição no plural revela a abrangência desta obra do Espírito
Santo. Assim como a mexerica é um só fruto e tem vários gomos, também o
fruto do Espírito se desenvolve como um todo mas toca diversas áreas de
nossas vidas.
c) os “gomos” são: amor (no grego: ágape) significa amor
incondicional (Jo 13.34,35; Rm 5.5; 1Jo 4.7-21); alegria (no grego: chara)
significa a alegria do viver (Ne 8.10; Sl 16.11; Jo 15.11; At 13.52; Rm 14.17); paz
294

(no grego: eirene) significa serenidade, bem estar total (Jo 14.27; Rm 5.1; Fp
4.7; 1Ts 5.13); longanimidade (no grego: makrothumia) significa paciência
(Pv16.32; Ef 4.2; Cl 1.11; 3:12; Hb 6.12); benignidade (no grego: chrestotes)
significa benignidade (Lc 6.27; Rm 2.10;12:21; Gl 6.9; 1Tm 6.18; 1Pe 2.15).
bondade (no grego: agathosune) significa: bondade magnânima (Dt
28.47,48; Rm 15.14; Ef 5.9)264; fidelidade (no grego: pistis) significa
fidelidade ou lealdade (Mt 24.45; 25.21,23; 1Co 4.1,2; 1Tm 1.12; 2Tm 2.2);
mansidão (no grego: prautes) significa suavidade (Nm 12.3; Mt 5:5; Mt
11.29); domínio próprio (no grego: enkrateia) significa vitória sobre o desejo
(Gn 4.7; At 24.25; 2Pe 1.6).
O que leva o fruto a de desenvolver na vida da pessoa:
a) O paralelo entre o natural e o espiritual. Jesus disse ser a videira e
nós os ramos. O fruto aparece nos ramos (galhos), mas isso só é possível
pelo fluir da seiva da árvore (Jo 15.5).
b) Fatores que contribuem para o desenvolvimento do fruto: água.
Quanto mais regada, maior o potencial de frutificação da árvore. Figura a
Palavra de Deus, que torna mais fértil o nosso coração. O tipo de terra. Em
Mt 13.3-8 Jesus fala que os diferentes tipos de solo em que a semente cai
são responsáveis por determinar a produção; a terra boa é a que mais
produz. Fala da condição do nosso coração para com as coisas de Deus.
Semeando e colhendo: a) Semeando na carne ou no Espírito (Gl
6.7,8). Experimentaremos a ação do Espírito Santo em nós, o que nós
mesmos decidimos investir nestas áreas. b) Decidindo a que lado se inclinar
(Rm 8.5,6). A pessoa vai se inclinar a um lado ou a outro; não existe meio
termo (Ap 22.11).

8.17 A Liturgia da Igreja265

O termo liturgia, hoje clássico e consagrado pelo magistério solene,


é, no entanto, de uso bastante recente no Ocidente: quase não o
encontramos nas atas oficiais da Igreja antes do século XX.
Na Igreja grega, o termo liturgia tem uma acepção restrita e
precisa: designa exclusivamente a missa e seus diversos formulários. É

264
O significado das palavras benignidade e bondade são muito parecidos. Estudiosos
definem a primeira como uma qualidade do coração e da emoção, e a segunda como uma
qualidade da conduta e ação.
265
Cf. O que é Liturgia - Termos Teológicos. Canal A Porta Estreita, Youtube in:
https://l1nq.com/hXnFx
295

verdade que para os autores eclesiásticos dos primeiros séculos, sobretudo


no Novo Testamento e nos Setenta, a liturgia significava já de preferência o
serviço de Deus, o culto, sem excluir, contudo, sentidos menos precisos
como o de sacrifício espiritual ou serviços de caridade.
A palavra liturgia tem sua origem do grego clássico e é composta de
duas raízes: Liet, laos: povo, público – ação do povo, obra pública, ação feita
para o povo, em favor do povo. Ergomai (ergon): operar, produzir (obra),
ação, trabalho, ofício, serviço.
Traduzindo literalmente leitourgia significa: “serviço prestado ao
povo” ou “serviço diretamente prestado para o bem comum”, serviço
público. Antes mesmo de esta palavra ser usada pela Igreja, os gregos a
usavam para indicar qualquer trabalho realizado a favor do povo e sempre
realizado pelo povo, em forma de mutirão, como temos hoje. Então quando
abriam uma estrada, ou construíam uma ponte ou realizavam qualquer
trabalho que trouxesse benefício à população, entre os gregos se dizia:
realizamos uma liturgia.
Este sentido primeiro da palavra nos ajuda a buscar o que deve ser
hoje a Liturgia Cristã em nossas comunidades, sobretudo depois de séculos
de história em que a Liturgia ficou reduzida a uma ação realizada por
ministros ordenados para o povo. Era uma ação em que o povo não tomava
parte, apenas “assistia” como expectador e, muitas vezes, sem
compreender o que estava sendo feito.
Graças a intensas pesquisas ao longo da História, voltamos ao
sentido genuíno da Liturgia, como ação do povo batizado e, por isso todo
ele sacerdotal, chamado ao louvor de Deus e à transformação e santificação
da vida e da história. Uma ação conjunta em parceria com o próprio Deus,
numa dinâmica de aliança e participação cada vez mais “ativa, consciente,
plena e frutuosa”.
No grego clássico, é atestado o uso cultural do nome, pelo menos
tardiamente, mas seu significado normal e técnico é o de serviço público:
uma função exercida para interesse de todo o povo, seja de ordem política,
técnica ou religiosa. Na época helênica, a liturgia significava: serviço
obrigatório a uma pessoa ou classe de quem recebia algum benefício (ato
social).
Culto religioso. O serviço era prestado aos deuses através de uma
pessoa (sacerdote) em nome da comunidade. Com o passar dos anos,
porém, a palavra “liturgia” vai perdendo o sentido de ação para o público e
296

vai tomando o sentido de culto devido a Deus. É nesse sentido que a palavra
“liturgia" aparece na tradição grega do Antigo Testamento, até o
cristianismo.
A palavra liturgia no AT aparece mais ou menos 170 vezes na versão
LXX e é tradução dos verbos hebraicos sheet e abbad, que significam:
serviço prestado a alguém, porém com esta diferença: a) sheet: serviço de
dedicação incondicionada por parte de um servo; e de confiança por parte
do patrão. b) abad: serviço honroso, trabalho escravo. Este verbo deriva da
palavra ehed: escravo, servo. (Liturgia no AT é marcada pelo espírito de
escravidão e pela exterioridade cultural (Lv 24.1-9). Porém, as duas
palavras na Escritura Hebraica são usadas indiferentemente, seja para o
“serviço” em sentido profano, como para o “serviço” em sentido religioso.
Na tradução dos LXX foram escolhidos termos técnicos para o uso
profano e para o uso religioso. Por exemplo: quando os dois termos se
referem ao culto prestado a Javé pelos sacerdotes e levitas é usada a palavra
leiturghia, leiturghein; quando ao invés se refere ao culto prestado ao
Senhor pelo povo, a palavra era latein, dulia.
Na intenção dos LXX, a palavra liturgia é o termo técnico para
indicar o culto levítico, ou seja, uma forma de culto fixada por um liturgo
(livro da lei). Esta palavra liturgia exprime e engloba: a ação do culto,
através do qual serve-se a Deus e somente a Ele, na sua “tenda”, no seu
“templo” e sobre o seu “altar”; a unidade de um culto, o qual sendo
destinado ao Senhor, único Deus verdadeiro, e também único na sua
realização. (Segue-se à risca a prescrição da lei). A liturgia é marcada,
portanto, pelo espírito de escravidão (Lv 23).
Em sentido profano “Os magistrados são ministros (leiturghoi) de
Deus” (Rm 13.6). “Os pagãos têm participação dos bens espirituais dos
judeus. Por isso devem assistir-lhes com as coisas materiais” (Rm 15.27).
“Assistiu-me em minhas necessidades (Leiturghoi) e arriscou a própria
vida para prestar-me serviços” (Fl 2.25-30). “Arrecadar esmolas para os
cristãos de Jerusalém é prestar liturgia aos irmãos (2Co 9.12 BJ).
Em Hebreus 1.7-14 fala-se de liturgia. Deve ser entendido não em
sentido cultural, mas de serviço que os Anjos prestam a Deus em favor dos
homens. Em sentido ritual sacerdotal do AT. “Serviço de Zacarias no
templo de Jerusalém” (Lc 1.23) Cristo o liturghista do verdadeiro santuário,
realiza uma liturgia superior. Liturgia e Liturghista, embora se referindo a
Cristo, são comparações do Pontífice judeu (Hb 8.2.6).
297

Os objetos litúrgicos do culto hebraico (Hb 9.21). Comparação entre a


repetição diária da liturgia judaica e a única liturgia de Cristo (Hb 10.11). Em
sentido de “Culto Espiritual” Paulo declara-se “Ministro-liturgista de
Cristo” (Rm 15.26). Paulo declara-se pronto “sobre o sacrifício e a liturgia
de vossa fé”.
É novamente o sentido cultual-sacerdotal, na linguagem técnica do
AT. Em sentido de culto-cristão. “Enquanto celebravam o culto do Senhor
(a liturgia). É o único texto do NT no qual podemos entrever o que virá a ser
liturgia cristã (At 13.2). A palavra liturgia na Igreja pós-apostólica, logo
designará os ritos do culto cristão.
Didaqué (15.1). É um antiquíssimo manual de religião. Julga-se ter
sido redigido entre os anos 90-100 na Síria, na Palestina ou em Antioquia
(traz no próprio título a marca dos apóstolos). A Didaqué ou doutrina dos
Apóstolos, divide-se em três partes: nos capítulos 1-6: Tratado de moral
(os dois caminhos, o da vida e o da morte). 7-10: é um antigo ritual
litúrgico, de batismo, de água corrente, fria ou quente, etc […]. 11-15:
instruções sobre a vida comunitária.

“Assim, portanto, ordenais para vós, bispos e sacerdotes, dignos


do Senhor; homens dóceis, desinteressados, verazes e
experimentados, pois eles fazem a mesma liturgia. Não os
despreze, eles têm, com efeito, entre nós, a mesma dignidade dos
profetas e doutores”.

8.18 A Teologia do Culto266

A assembleia é dirigida por aqueles que lhe trazem a palavra ou que


a servem: apóstolos, profetas, doutores. Embora o dom das línguas exerça
papel considerável em Corinto, é colocado sempre em último lugar na
hierarquia dos carismas (1Co 12.27-30; Rm 12.6-8; Ef 4.11-12).
Mesmo havendo algumas divergências nas listas, ocupam sempre o
primeiro lugar os Dons da Palavra - apóstolos, profetas, doutores; depois
os carismas dos milagres e das curas; depois os da administração da
comunidade (presidir, assistir) que podem aludir às funções dos anciãos
nas comunidades judias e judeu-cristãs; e finalmente o dom das línguas e

266
Cf. Teologia do Culto - Pr Arival Dias Casimiro. Igreja Presbiteriana de Pinheiros,
Youtube in: https://l1nq.com/Nq2Zq
298

sua interpretação. Tudo isto por que? Paulo dá uma explicação em 1Co
14.2-5.
Clemente Romano, na Antiguidade, tinha grande autoridade,
apesar de ter-se conservado apenas um escrito saído de sua pena: Carta aos
Coríntios, que a Igreja Síria contou entre as Sagradas Escrituras. A Carta aos
Coríntios foi escrita nos últimos anos do império de Domiciano (cerca do
ano 96). Ocasião e motivo desta carta foram contendas naquela Igreja.
Alguns membros mais jovens da comunidade haviam-se rebelado contra a
autoridade dos presbíteros, expulsando-os de seus ofícios. Quando a Igreja
de Roma tomou conhecimento do fato, dirigiu a presente A Carta a Corinto.
Na questão da liturgia indica a ação cultual do bispo, do presbítero
e do diácono e indica também o rito em si mesmo. Os ministros sagrados
são os principais responsáveis pela liturgia. É, aliás, a primeira vez que este
termo liturgia aparece na literatura cristã, sendo definido de maneira
muito simplesmente: função de apresentar oferendas.
No Oriente Grego, desde a Antigüidade até hoje, a Liturgia, sempre
significou Celebração, segundo um rito particular. Assim, a liturgia de S.
Crisóstomo, de S. Basílio, de S. Tiago, de S. Marcos, dos Doze Apóstolos. As
Igrejas mais antigas conservam uma liturgia, expressão da fé apostólica.
Remontam ao apóstolo, fundador dessa Igreja.
No Ocidente latino a palavra liturgia é ignorada, ao contrário de
outras palavras técnicas do vocabulário cristão transliteradas do grego para
o latim. Ex: Episcopus, presbitex, ecclesia, apostulus, profheta, baptismus,
eucharistia, evangelium […]. Na linguagem latina ocidental, ao invés de
liturgia usa-se outros termos, como: Officia Divina, Sancta, Misteria Sacra,
Divina, Opus Divinae, Sacre Rittus, Rittus Ecclesiastici.
Desde o início do movimento litúrgico (1909) até os nossos dias, a
maioria dos autores de manuais têm-se esforçado por dar uma definição de
liturgia que resume em breves palavras a sua natureza e caracteres
essenciais. Tarefa tanto mais difícil quanto a liturgia é uma realidade viva,
rica e uma ao mesmo tempo, não se compreende a liturgia senão tomando
parte nela; dificilmente se deixa encerrar em conceitos: é por isso que ainda
nenhuma das definições dadas pareceu satisfatória.
Toda a ação a favor da vida é liturgia, no sentido amplo da Palavra.
É participação no serviço libertador de Jesus. Sendo isto Liturgia, será
preciso ainda celebrar? Não basta apenas agir, lutar a favor da vida para
299

sermos seguidores de Jesus e coerentes com seu evangelho, cuja lei é o


amor?
O que é mesmo a Liturgia – celebração? Qual sua importância para
a Liturgia-vida? Celebrar é uma ação comunitária, festiva que tem a ver
com tornar célebre, importante, inesquecível, é destacar do cotidiano, é
ressaltar o significado, o sentido profundo que um acontecimento ou
pessoa tem para um determinado grupo.
Todos temos necessidade vital de celebrar, assim como temos
necessidade de pensar, de agir, de nos relacionar, de comer e beber [...]
Como seres humanos, somos essencialmente celebrantes. Em todos os
tempos e variadas culturas, os povos encontram momentos e formas
diversas de celebrar para expressar e aprofundar o sentido da vida. Para
celebrar usamos gestos, ações simbólicas, ritos e Palavras que expressam o
que pensamos, o que acreditamos, o que desejamos, o que esperamos, o
que amamos ou rejeitamos [...] enfim, a visão que temos da pessoa, do
mundo, da sociedade, de Deus […] nossas crenças, nossas convicções,
nossa identidade como grupo, como povo [...] É só pensar nos símbolos,
gestos, ritos e palavras que usamos num carnaval, numa festa de
aniversário, de casamento, num batizado.
Na caminhada de fé do povo da Bíblia, encontramos muitos
momentos celebrativos. Ao celebrar, o povo de Israel fazia memória das
ações que Deus realizou em seu favor no passado, as reconhecia no
presente e alimentava a certeza de sua fidelidade no futuro.
O próprio Jesus quis tornar célebre, inesquecível todo o seu
trabalho a favor da humanidade. Ele expressou com a ação simbólica de
uma refeição, a ceia pascal, o significado profundo de toda sua vida e
missão: sua liturgia-vida.
Ele antecipou com um rito, a doação de sua vida na cruz,
preparou-se e preparou seus discípulos para viverem a hora de entrega e de
amor sem limites. A liturgia-celebração e a liturgia-vida foram
inseparáveis na vida do povo de Deus, na vida de Jesus, na vida dos
primeiros cristãos, assim como devem ser inseparáveis na vida de nossas
comunidades.
Celebrar a liturgia é, portanto, expressar com gestos, símbolos e
palavras a liturgia-vida; é tornar célebre, inesquecível a ação que o Pai
realizou em Jesus e através dele a toda a humanidade e continua hoje, em
300

nós e através de nós e de todos que aderem ao projeto do Reino pela força e
animação de seu Espírito.
Segundo L. Beauduin: “A liturgia é o culto da Igreja”. O. Casel diz
que “A liturgia é a ação ritual da obra salvífica de Cristo, ou melhor, é a
presença, sob o véu de símbolos, da obra divina da redenção”. A Mediator
Dei, não rejeitou apenas as definições que faziam da liturgia uma coisa
absolutamente exterior e acessória. Sublinhando a realidade sobrenatural
que ela contém, convidou à busca da sua inteligência no sacerdócio de
Cristo e numa noção justa da Igreja, Corpo Místico de Cristo, como o sugere
já a maior parte dos pioneiros do movimento litúrgico: “A Igreja é a
continuadora do múnus sacerdotal de Jesus, sobretudo no desempenho da
sagrada liturgia” (MD 3, cf. 22: “A sagrada liturgia outra coisa não é mais
que o exercício desse múnus sacerdotal de Cristo”). A definição da Mediator
Dei: “O culto público total do corpo místico de Cristo, cabeça e membros”.
O CVII inaugurou a sua exposição dos “princípios gerais para a
restauração e progresso da liturgia” com uma lição sobre a “natureza da
liturgia e sua importância na vida da Igreja”. Evitou propositadamente as
formulações de tipo escolar para se aproximar da linguagem e das
categorias bíblicas.
O conceito de liturgia apresentado pela Sacrossanto Concílio é
quase idêntico ao da Mediator Dei: “A liturgia é considerada como exercício
da função sacerdotal de Cristo” (SC 7). “Todavia, a liturgia é o cume para o
qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte de onde emana
toda a sua força”(SC 10).
Estas duas definições, mais outras contribuições presentes no
mesmo documento, podemos resumir assim: “A liturgia é ação sagrada
através da qual, com um rito, na Igreja e mediante a Igreja, é exercida e
continuada a obra sacerdotal de Cristo, isto é, a santificação dos homens e a
glorificação de Deus”.
É fácil constatar as reminiscências da Mediator Dei, mas o Concílio
juntou vários outros aspectos importantes. A liturgia, cujos elementos
essenciais são constituídos pelos sacramentos, é na sua totalidade um sinal
sagrado, como o resto da própria Igreja; o elemento visível é sinal eficaz
numa realidade sobrenatural, eficácia diversa conforme se trata de sinais
sacramentais ou de outros sinais, mas que permanece análoga.
A ação litúrgica faz não só subir até Deus a prece de adoração e
súplica da Igreja, mas também descer sobre a Igreja e os seus membros as
301

graças da Redenção. Este duplo movimento, afirmando implicitamente


desde que se refere a liturgia ao sacerdócio de Cristo, não era
suficientemente vinculado em certas definições antigas da liturgia.
O documento de Puebla traz uma definição com outros elementos:
“A liturgia como ação de Cristo e da Igreja, é o exercício do sacerdócio de
Jesus Cristo; é o ápice e a fonte da vida eclesial. É um encontro com Deus e
os irmãos; banquete e sacrifício realizado na Eucaristia; festa de comunhão
eclesial, na qual o Senhor Jesus, por seu mistério pascal, assume e liberta o
Povo de Deus e, por ele, toda a humanidade, cuja história é convertida em
história salvífica, para reconciliar os homens entre si e com Deus.
A liturgia é também força em nosso peregrinar, para que se leve a
bom termo, mediante o compromisso transformador da vida, a realização
plena do Reino, segundo o plano de Deus” (Puebla 918). Esta definição
chama a atenção para aspectos, como: encontro de irmãos, compromisso
transformador da vida, a história da humanidade convertida em história da
salvação […]. Outras tantas definições de liturgia surgiram nos últimos
tempos, mas todas contendo os elementos básicos já presentes na definição
do Sacrossanto Concílio.
A palavra Liturgia, como vimos, foi um tanto contestada no NT,
pela força judaizante dada ao termo, tomando como expressão técnica do
culto levítico da Tenda e do Templo. Mas, não obstante isto, pela sua
presença na Bíblia, foi mais tarde readmitida na teologia cristã. É muito
clara a divergência entre as duas liturgias: a judaica e a cristã (Lv 19 e Hb
9.13-14; Lv 19.4-9 e Hb 9.11-14).

8.19 O Culto na Antiguidade Cristã267

O espiritualismo do culto não pode ser visto no cristianismo como


uma simples reação ou resposta polêmica ao exteriorismo da liturgia
hebraica, pois este constitui o elemento básico do cristianismo no plano
cultual. É suficiente lembrar como eram interpretados os componentes
essenciais do culto no mundo extra e pré-cristão: o templo, o altar e o
sacrifício.
Sabe-se que a Igreja primitiva teve que se defender, entre outras
coisas, da acusação de ateísmo e de impiedade (no sentido de não

267
Cf. Como era o Culto na Igreja Primitiva? - Gutierres Siqueira. Gutierres Fernandes
Siqueira, Youtube in: https://encr.pw/e0CRZ
302

religiosidade, de falta de culto), justamente porque não possuía nem


templos, nem altares e nem sacrifícios, com os quais pudessem honrar a
Deus. Para os cristãos, porém, estes termos assumiram uma dimensão
diferente. Para eles o culto mais agradável a Deus era a santidade interior.
Em Ef 1.4-6, este culto no espírito é descrito com os termos que
irão caracterizar todo o culto cristão. Assim, o sacrifício não é mais uma
vítima animal, mas é o próprio Cristo, que se oferece pela remissão dos
nossos pecados (Ef 5.7; Hb 9.14; 10.11-12), num sacrifício espiritual. Assim
como Cristo oferece o seu corpo (Hb 10.11) também os cristãos oferecem no
próprio corpo, eles mesmos, como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus
(1Pe 2.5). Como em Cristo, este sacrifício encontrou expressão num ato de
vontade interior (Hb 10.7-10) que se manifestou como “sacrifício de oração
e de súplica” (Hb 5.7), assim também os cristãos oferecem em Cristo o
sacrifício de louvor, como único agradável a Deus (Hb 13.15-16).
Este sacrifício que de si mesmo fazem – Cristo e os cristãos – Paulo
dá o nome de liturgia (Fl 217; Hb 8.2-6). Esta nova impostação do culto
espiritual continua se afirmando nos primeiros séculos da Igreja e
encontramos assim o martírio e sacrifício (são orações acompanhadas de
caridade para com o próximo, segundo Clemente de Alexandria).
“O sacrifício esplêndido e magno – diz Tertuliano – que os cristãos
oferecem e que foi ordenado por Deus é a oração de um corpo puro, de uma
alma sem mancha e do Espírito Santo”. Nesta tradição da nova teologia do
culto cristão, distingue-se ainda no século IV, S. Agostinho, o qual explica
que o verdadeiro sacrifício consiste em cada obra que o cristão faz para se
colocar em comunhão com Deus”. Ele fala do sacrifício do corpo, posto a
serviço de Deus.

8.20 A Teologia Reformada do Culto268

No seu culto espiritual o cristão oferece um “sacrifício incruento...


sobre um altar que é Cristo” (Inácio aos Magnésios), mas que é também
formado por todos os que estão unidos na oração (Clemente de Alexandria).
O templo, elemento central do culto judaico, adquire, no
cristianismo, uma nova posição. A tradição cristã primitiva demonstra ter
sido, ou melhor, absorvido profunda e vitalmente o valor e o sentido das

268
Cf. Como é a Liturgia Pentecostal Reformada? Bp Walter McAlister, Youtube in:
https://l1nq.com/N5Zwe
303

declarações de Cristo sobre o templo de Jerusalém (Jo 2.19; Mt 26.61; Mc


14.58; At 6.14), cuja destruição está ligada por via direta à espiritualidade do
culto.
Nesta visão a morte e a ressurreição de Cristo não são apenas o
sinal do poder de Cristo, Cordeiro imolado, o novo templo da Nova
Jerusalém (Ap 21.22). Portanto, é verdadeiro (Hb 9.11-14). Sobre esta
realidade iniciada por Cristo e continuada pela Igreja, a tradição cristã
primitiva, desenvolveu as afirmações do NT contra o judaísmo e o
anti-paganismo, para explicar e justificar o espiritualismo cristão em
função de uma nova Teologia do Culto.
A Teologia Reformada trouxe muitas revoluções doutrinárias, e
todas elas culminam no que se entende de Culto, ou seja, um povo reunido
em volta de uma fé adora segunda a fé.
Por isso é necessário, diante de uma variedade gigantes de
hermenêuticas pós-reforma, centralizar nos pilares do culto, uma vez que
o sola scriptura não necessariamente se aplicaria aqui por não haver no
texto sagrado um manual litúrgico propriamente dito, resumindo em
quatro pilares que sustentam tudo o que a igreja evangélica professa.

8.21 A Teologia da Oração269

O primeiro pilar teológico do culto é sem dúvida a oração.


Estaremos analisando o porquê a prática da oração é preponderante na vida
do cristão. Tendo como objetivo geral analisar a importância da oração na
vida cristã e os seus efeitos. Apresentando como objetivo específico pessoas
que tiveram uma vida de oração. Tendo-se escolhido o tema por se tratar a
oração uma das práticas cristã que nos fará estarmos mais íntimos de Deus.
Primeiramente devemos entender profundamente o significado
dessa tão conhecida e amável palavra “oração”, segundo o Dicionário da
Bíblia de Almeida (1999, p. 120) oração é: uma aproximação da pessoa a
Deus por meio de palavras ou de pensamento, em particular ou em público.
Inclui confissão (Sl 51), adoração (Sl 95.6-9; Ap 11.17), comunhão
(Sl 103.1-8), gratidão (1Tm 2.1), petição pessoal (2Co 12.8) e intercessão
pelos outros (Rm 10.1). Para ser atendida, a oração requer purificação (Sl

269
SARTORE, Andrei Medeiros. A importância da oração na vida do Cristão. Revista
Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 01, Vol. 06, pp. 146-152 Janeiro
de 2019. ISSN: 2448-0959
304

66.18), fé (Hb 11:6), vida em união com Cristo (Jo 15.7), submissão à
vontade de Deus (1Jo 5.14-15; Mc 14.32-36), direção do Espírito Santo (Jd
20), espírito de perdão (Mt 6.12) e relacionamento correto com as pessoas
(1Pe 3.7).
Jesus nos deu o exemplo dessa aproximação com o Pai através de
palavras, ou seja, nos deu o exemplo de uma vida de oração e nos ensinou
para assim fazermos também, nos ensinando a oração do Pai Nosso
descrita no evangelho de Mt 6.9 como uma oração modelo, e nos versículos
anteriores, versículo 6, que ele diz as multidões no decorrer do seu sermão
da montanha, dizendo: “Mas quando você for orar, vá para seu quarto,
feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em
secreto, o recompensará”.
É claro que ao lermos o contexto desse versículo de Mt 6.6, vemos
que Jesus aconselha a multidão ao seu redor a orar dessa maneira, para
fazerem diferentemente dos fariseus ao qual ele retrata no versículo 5
como hipócritas, pois o intuito deles orarem eram de serem vistos pelos
homens onde eles gostavam de orar em pé nas sinagogas, às esquinas das
ruas para serem reconhecidos pelos homens como os “espirituais”, e Jesus
alerta a multidão a fazer o inverso, de orar buscando o reconhecimento
celestial e não o terreno.
Vejo que ao mesmo tempo que Jesus aconselhou a multidão a orar
dessa forma naquela época na idade antiga, da mesma forma Jesus espera
que hoje na pós-modernidade vimos assim fazer, tirando um tempo para
Ele todos os dias em nosso quarto, para alcançarmos essa intimidade com
Ele por meio da oração.
Devemos ter em mente como se fosse cravado em nosso ser, que a
intimidade com Deus através da oração é crucial na vida espiritual de todo
cristão (LOPES, 2000, p. 70) diz:

A oração é uma via de mão dupla, onde nos deleitamos em Deus e


Deus tem prazer em nós. Não apenas Jesus buscava a intimidade
com o Pai, mas também o Pai tinha prazer em seu filho unigênito.
“[…] e eis, vindo na nuvem, uma voz que dizia: Este é o meu filho
amado, em quem me comprazo […]” (Mt 17.5).

Diante disso pergunto, será que Deus tem tido prazer em nós? Tem
se agradado de nós por estarmos nos deleitando Nele? Será que o Pai tem
305

nos olhando lá de cima e dizendo de nós o mesmo que disse de Jesus


conforme esse versículo de Mt 17.5: “Esse é o meu filho amado em quem
me comprazo?”
Será que Deus tem olhado para nós e tem nos dito as mesmas
palavras que disse sobre Jó a Satanás, conforme descrito em Jó 1.8: Disse
então o Senhor a Satanás: “Reparou em meu servo Jó? Não há ninguém na
terra como ele, irrepreensível, íntegro, homem que teme a Deus e se desvia
do mal.”
Charles Spurgeon, grande pregador Britânico do século XIX,
conhecido como “o príncipe dos pregadores”, disse certa vez:

Se formos fracos em nossa comunhão com Deus, seremos fracos


em tudo.” Devemos entender que a oração é mais que essencial
para a nossa vida conforme Jesus nos mostrou, pois como diz certa
frase: a oração através da fé, nos faz crer no incrível, ver o invisível
e realizar o impossível.

Nee (1986, p.51) afirma: “A oração exercita o espírito, que por sua
vez é fortalecido por meio de tal exercício”. A negligência na oração seca o
homem interior. Nada pode substituí-la, nem mesmo a obra cristã. Muitos
estão preocupados com a obra, e concedem pouco tempo à oração. Essas
palavras de Watchman Nee de seu livro, diz o homem espiritual, fala
profundamente a realidade de muitos cristãos em nossa pós-modernidade,
e muitos são esses cristãos que estão com o seu interior sedentos por
negligenciar a oração, onde não conseguem serem saciados, preenchidos
nem pelos seus atos corriqueiros de cristão, pois somente a oração
preencherá esse vazio, por isso Jesus falando sobre a persistência da oração
em Mt 7.8 “Pois todo o que pede, recebe, o que busca, encontra, e àquele
que bate, a porta será aberta”.
Ou seja, somente buscando a intimidade com o Pai através da
oração e não fazendo outros atos corriqueiros de cristão, vamos encontrar e
ter o preenchimento da abundância de Cristo em nosso interior e não a
seca, e assim estarmos bem com o nosso Criador, pois como se diz: Nada
melhor do que estar bem com Deus. Nee (1986, p. 51) também afirma: “O
homem espiritual fica mais forte por meio de tais exercícios, porque se o
crente ora frequentemente com seu espírito, sua eficácia espiritual
aumentará grandemente.”
306

Devemos compreender que a oração além de nos saciar


interiormente, irá nos trazer forças para vencermos as tentações e aflições
do dia-a-dia, quanto que a respeito de vencermos as tentações através da
oração, Jesus bem afirmou isso no Getsêmani para Pedro, Tiago e João,
conforme descrito em Mt 26.41 “Vigiem e orem para não caírem em
tentação […]”, assim devemos fazer como disse Jesus para não cairmos em
tentação, pois como ele diz na sequência do versículo, o nosso espírito está
pronto, mas a nossa carne é fraca, ou seja, se nós estivermos fortalecendo
dia a após dia o nosso espírito através da oração, ele se tornará cada dia
mais forte, e assim consequentemente venceremos mais facilmente a nossa
carne que é fraca, e é tendenciosa para nos fazer afastar de Deus.
Quanto vencer as aflições por meio da oração, Jesus também nos
disse em Mt 7, contando a parábola da casa edificada sobre a areia e a casa
edificada sobre a rocha, que se assemelha aquele que ouve as suas palavras,
mas a diferença está que aquele que ouve as suas palavras e não as coloca
em prática se assemelha a casa edificada sobre a areia, onde cai a chuva,
transbordaram os rios e sopraram os ventos sobre essa casa, é facilmente
ela cai, e assim são aqueles que apenas ouvem suas palavras mas não as
praticam, mas já aqueles que ouvem as suas palavras e as colocam em
prática se assemelha a casa edificada sobre a rocha, Mt 7.25 “Cai a chuva,
transbordaram os rios, sopraram os ventos com ímpeto contra essa casa, e
ela não caiu, porque está alicerçada sobre a rocha, e assim são aqueles que
as colocam as suas palavras em prática.”
Ou seja, assim também são todos aqueles que praticam a oração
que se inclui e também nessa prática que Jesus afirma nessa parábola, pois
assim vemos Jesus dizer nos capítulos anteriores que também faz parte de
tudo aquilo que Cristo disse nesse seu famoso Sermão da Montanha (Mt
5-7). Portanto, basta orarmos para encontrarmos forças para vencermos as
aflições, sendo uma casa edificada sobre a rocha como disse o Mestre.
A oração além de nos fazer sermos mais íntimos do Pai, é também
uma ferramenta para abençoarmos ao nosso próximo, já dizia certa frase:
Uma das maneiras mais poderosas de se amar alguém é orando por ela.
Duewel (1996, p. 32) diz:

A oração é o caminho certo para a bênção, e a oração é o maior


meio de ser uma bênção para os outros. A oração é o dom de Deus
para abençoar os outros. Oh, encha cada dia com orações de bênção
307

e aproprie-se do tremendo poder que Deus lhe concedeu! Através


de nossas orações Deus pode mudar gerações, vidas e países, que
estão precisando do seu incondicional e infalível amor que um dia
nos resgatou.

Assim como Jesus sendo o próprio Deus nos deu um imenso


exemplo de intimidade para com o Pai através da oração, dentre a história
encontramos diversos homens que seguiram o seu exemplo.
Um deles foi Tiago, o próprio meio-irmão de Jesus, Duewel (1996,
p. 12) também em seu livro diz o que a história nos diz sobre a vida de
oração de Tiago. Quando ele morreu e seu corpo foi preparado para o
sepultamento, descobriram que seus joelhos estavam calejados devido às
horas em que ficava ajoelhado, de tal modo que quase pareciam os joelhos
de um camelo. Ele tornou-se conhecido como “Joelhos de Camelo”.
Outro deles, dentre esses homens que tiveram uma vida de oração,
foi Jorge Muller, um servo de Deus que levantou diversos orfanatos e teve
uma vida de oração. Boyer (2002, p. 125) diz sobre ele: “Certo pregador,
pouco antes da morte de Jorge Muller, perguntou-lhe se orava muito. A
resposta foi esta: Algumas horas todos os dias. E ainda vivo no espírito de
oração; oro enquanto ando, enquanto deitado e quando me levanto.”
O próprio Apóstolo Paulo nos alertou em 1Ts 5.17, quanto o viver no
espírito de oração, quando ele diz nesse versículo: Orai sem cessar. Ou seja,
estarmos orando constantemente, diariamente vivendo no espírito de
oração. E muitos outros servos de Deus como: Christmas Evans, Henrique
Martyn, Charles Spurgeon, Martinho Lutero, Jônatas Edwards, e tantos
outros cristãos que encontramos na história e na Bíblia, que entenderam a
importância da oração e as colocou em prática.
Concluímos que a oração é de extrema importância e essencial na
vida cristã, para assim estarmos mais íntimos de Deus, mais mesmo tendo
esse conhecimento, muitas das vezes temos a negligenciado em nosso
cotidiano, por isso convido a cada um de nós, fazermos uma aliança com o
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, a partir de hoje, buscamos e nos
entregarmos mais a Deus por intermédio da oração.
308

8.22 A Teologia do Louvor270

Louvai ao Senhor!
Louvai, servos do Senhor,
louvai o nome do Senhor.
Seja bendito o nome do Senhor,
desde agora e para sempre.
Desde o nascimento do sol até ao ocaso,
seja louvado o nome do Senhor.
Exaltado está o Senhor,
acima de todas as nações,
e a sua glória, sobre os céus.
Quem é como o Senhor, nosso Deus,
que habita nas alturas;
que se curva para ver o que está nos céus e na terra;
que do pó levanta o pequeno e,
do monturo, ergue o necessitado,
para o fazer assentar com os príncipes,
sim, com os príncipes do seu povo;
que faz com que a mulher estéril habite em família
e seja alegre mãe de filhos?
Louvai ao Senhor!

(Salmo 113 ARC).

A Igreja já atravessou ao longo da sua história diversas crises. A


morte de Estevão, o primeiro mártir do cristianismo, desencadeou a
primeira grande perseguição dos cristãos e Saulo tornou-se um dos
grandes algozes dos cristãos (At 8.3).
Mais tarde, judaizantes e convertidos ao cristianismo travam
intensa batalha em torno de práticas relacionadas aos costumes religiosos
da época, ao ponto de Paulo escrever aos crentes da Galácia exortando-os a
não se deixarem levar pelas falácias pregadas pelos judeus:

270
Cf. O que estão fazendo com o Louvor? - Paulo Junior (Legendada). Defesa do
Evangelho Oficial, Youtube in: https://l1nq.com/6FBG4
309

“Ó gálatas insensatos! Quem os enfeitiçou? Não foi diante dos seus


olhos que Jesus Cristo foi exposto como crucificado? Será que vocês
são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem
agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio?” (Gl 3.1,3).

Depois de enfrentar a dura perseguição imposta pelo império


romano, o processo de cristianização do império, com a possível conversão
de Constantino, considerado o primeiro imperador cristão, faz com que
essa igreja experimente um período de apogeu. Uma igreja até então
perseguida passa a ditar as regras de novas práticas religiosas que acabam
sendo imitadas por todos, quer seja por conveniência, quer seja por medo
de uma retaliação.
Mas como não poderia deixar de acontecer, um retrocesso faz com
que o paganismo comece a encontrar espaço no seio da igreja levando-a a
práticas idolátricas e a venerá-los como prova incontestável de um
processo de paganização que atravessou alguns séculos de sua história até
a Reforma Protestante em 1517, deflagrada por Martinho Lutero.
Mas talvez uma das páginas mais obscuras da sua história tenha
sido a crise enfrentada na chamada “Idade das Trevas”, a Idade Média,
quando em nome de Deus, a Santa Inquisição, investida de plenos poderes
pelo tribunal de igreja, tinha o direito de tirar de forma cruel e desumana, a
vida daqueles que fossem considerados hereges.
A chamada reforma da igreja torna-se um divisor de águas,
resgatando os valores genuínos do cristianismo com a mensagem: “sola
gratia, sola fide, sola scriptura”. Um retorno às origens, pois só a graça, só a
fé e só as Sagradas Escrituras podem resgatar o homem perdido.
Tudo isso nos leva a uma profunda reflexão sobre a igreja do nosso
tempo. Esse brado que ecoou durante alguns séculos, chega aos nossos dias
abafado por significativas transformações. Acredito que uma das grandes
transformações experimentadas pela igreja, que resultou numa crise de
valores, é a questão da essência nos nossos cultos.
O que os nossos cultos representam na nossa vida? Será que eles se
transformaram num mero encontro, ou é a expressão sincera da nossa
adoração? São milhares de igrejas espalhadas pelos quatro cantos do Brasil,
realizando cultos de segunda a domingo, das mais variadas formas e
usando as mais estranhas práticas. Precisamos urgentemente retornar ao
princípio que nos remete à verdadeira adoração, como disse Jesus à mulher
310

samaritana: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em


Espírito e em verdade” (Jo 4.24).
Há uma grande confusão no nosso meio no que se refere a
verdadeira adoração. Na verdade, muitos de nós nem sequer
compreendemos a dimensão desse ato que precisa fazer parte da nossa
vida. O culto tem a função didática de nos fazer compreender essa
dimensão. Paulo escrevendo a sua carta ao Romanos, nos diz: “Rogo-vos,
pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Rm
12.1 ARC). Cultuar significa adorar a Deus com o envolvimento de todo o
nosso ser.
1. O verdadeiro louvor deve nos fazer reconhecer a grandeza do
Criador (vv.1-4). O judeu aproveitava todas as ocasiões para tocar e cantar
como um ato de culto ao Senhor. Por isso encontramos em todo o saltério,
além das divisões em livros, três grupos de salmos:
Cânticos de Degraus também chamados de Subidas e Romagem, o
Grande Hallel e o Pequeno Hallel, que significa aleluia, ou louvai a Deus. O
Salmo 113 começa e termina com essa expressão. Aliás, os salmos 113 a 118
fazem parte desse pequeno Hallel, um saltério em miniatura. Eram poemas
cantados nas Festas da Páscoa, de Pentecostes, dos Tabernáculos, sendo
que os Salmo 113 e 114 eram entoados antes das refeições.
Na expressão do salmista logo no início do salmo 113, há um
imperativo de que Deus merece ser louvado por sua grandeza como o
Senhor absoluto dos céus e da terra: “Louvem ó servos do Senhor, louvem o
nome do Senhor. O Senhor está exaltado acima de todas as nações; e acima
dos céus está a sua glória” (v.1,4).
Qual tem sido a nossa motivação para louvar a Deus? Muitas vezes
queremos encontrar motivos para justificar a nossa adoração. Mas a
motivação maior do nosso louvor deve ser aquela que nos leve a reconhecer
que somente Deus é digno de ser adorado.
Um dos belíssimos hinos da igreja diz numa de suas estrofes:
“Deus somente Deus, merece ter um trono lá nos céus. Que toda criatura
dedique o seu louvor a Deus, somente a Deus” (Phill Mchugh).
Esse texto do salmo 113 me reporta à visão de Isaías no templo
quando ele contempla a adoração dos Serafins. O texto nos diz: “Santo,
Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos, toda a terra está cheia da sua glória”
311

(Is 6.3). Isaías ficou simplesmente estupefato diante da grandeza da glória


de Deus, ao ponto de pensar que iria morrer.
A glória de Deus precisa nos impactar de tal maneira que sintamos
o desejo de adorar ao Senhor por tudo o que Ele é. Deus é grande, Deus é
magnífico, Deus é santo, só Ele é digno de todo o nosso louvor e de toda a
glória! Uma outra razão pela qual devemos louvar a Deus é que:
2. O verdadeiro louvor deve nos fazer reconhecer a nossa condição
de criaturas (vv. 5-7). Quem somos nós? Você já parou para pensar quem
você é? O salmista nos diz que somos necessitados, mas que o Senhor
atenta para a nossa insignificância: “Ele levanta do pó o necessitado e
ergue do lixo o pobre” (v. 7). Davi nos diz no Salmo 40.17: “Eu sou pobre e
necessitado, mas o Senhor cuida de mim [..].” E diz mais ainda no Sl 8.4:
“Quem é o homem mortal para que te lembres dele?”
Os poemas cantados eram eivados de declarações de
reconhecimento da nossa condição de submissão a esse Deus criador. O
verdadeiro louvor deve nos levar a esse reconhecimento de que nada
seríamos sem Deus. Ele é a razão da nossa existência. O simples fato de
existirmos, de sermos criados à sua imagem e semelhança deve nos levar a
um sentimento de profunda adoração e gratidão por tudo o que Ele é.
3. O verdadeiro louvor deve nos fazer reconhecer a bondade do
Criador. O salmista usa a figura da mulher estéril para demonstrar a
bondade de Deus: “Dá um lar à estéril, e dela faz uma feliz mãe de filhos.
Aleluia!” (v. 9). Ser estéril na cultura judaica era sinônimo de desprezo.
Uma mulher estéril carregava o estigma de ser alguém de quem Deus se
esquecera. Era alguém inferior. Sem dúvida, o maior exemplo que
encontramos na Bíblia é o de Ana, mãe de Samuel. Ana era uma mulher
amargurada de coração porque não podia gerar filhos. Mas Deus atenta
para a oração da sua serva e lhe abre a madre.
As palavras de Ana no seu cântico, em 1Sm 2.1-11, atestam a
bondade de Deus declaradas pelo salmista no Sl 113.7-9: “A que era estéril
deu à luz sete filhos, mas a que tinha muitos filhos ficou sem vigor. O
Senhor é quem dá pobreza e riqueza; ele humilha e exalta. Levanta do pó o
necessitado e do monte de cinzas ergue o pobre, ele os faz sentar-se com
príncipes e lhes dá lugar de honra”.
Um dos textos mais difíceis de serem compreendidos na Bíblia, é
aquele em que Jó trava um diálogo com a sua mulher quando ela o
questiona sobre sua fidelidade a Deus: “Então sua mulher lhe disse: “Você
312

ainda mantém a sua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morra!” e Jó


responde: “Você fala como uma insensata. Aceitaremos o bem dado por
Deus, e não o mal?” (Jó 2.9-10). Numa outra tradução lemos: “Você ainda
continua sendo bom? Amaldiçoe a Deus e morra! Jó respondeu: Você está
dizendo uma bobagem! Se recebemos de Deus as coisas boas, por que não
vamos aceitar também as desgraças?” (NTLH).
Penso que o ser humano tem uma grande dificuldade em lidar com
as questões relacionadas ao bem e ao mal. Será que valeria a pena Jó
continuar sendo fiel a Deus depois de todas que lhe aconteceram? Qual
seria a recompensa?
O maniqueísmo, religião amplamente difundida no tempo do
Império Romano, trata dessa questão numa visão dualista em que o mundo
se divide em duas forças antagônicas: o bem representado pela luz e o mal
pelas trevas. Cabe então ao ser humano entregar-se a esse eterno combate
para extinguir em si e nos outros, a presença das trevas a fim de poder
alcançar o Reino da Luz. Essa, entretanto, não é uma visão bíblica.
Sabemos que fomos resgatados das trevas pela ação de Deus em
nossas vidas através de Jesus Cristo, e não por nosso esforço pessoal: "Pois
ele nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino do
seu filho amado, em quem temos a redenção" (Cl 1.13).
A grande pergunta que muitas vezes nos fazemos é: se Deus seria
responsável também pelas coisas ruins que nos acontecem. Ou seria do
próprio homem? Ou o pecado que habita em nós? Ou ainda, das atitudes que
tomamos? O salmista nos responde: “Por que te glorias na maldade, ó
homem poderoso? Pois a bondade de Deus dura para sempre” (Sl 52.1).
O verdadeiro louvor deve nos levar a esse reconhecimento da
bondade de Deus mesmo diante das adversidades. Na oração de louvor do
profeta Isaías, ele nos diz: "Falarei da bondade do Senhor, dos seus
gloriosos feitos, por tudo o que o Senhor fez por nós, sim de quanto ele fez
à nação de Israel, conforme a sua compaixão e a grandeza da sua bondade"
(Is 63.7).
Vivemos num tempo de muitos modismos na igreja. Parece-me
que o conceito de louvor tem sido confundido por muitos com um
momento de cânticos, específico no culto, como se louvor fosse somente
cantar. Por outro lado, muitos sequer vêm à igreja com esse sentimento em
seus corações. Qual tem sido a motivação do nosso louvor?
313

Muito se tem falado em nossos dias numa geração de adoradores. E


novamente a ideia que se tem é de que as pessoas que se envolvem com a
música na igreja são verdadeiros adoradores. Qual tem sido a nossa atitude
como adoradores? Se olharmos para algumas situações de adversidade em
nossas vidas certamente não nos sentiremos motivados a louvar a Deus.
Temos louvado a Deus em todas as circunstâncias? O salmista nos
exorta a uma vida de constante louvor: "Louvarei ao Senhor em todo o
tempo; o seu louvor estará continuamente em minha boca" (Sl 34.1). Seja
esse o nosso sentimento!

8.23 A Teologia das Ofertas271

Dízimos e ofertas são formas de contribuição que sempre


estiveram relacionadas ao povo de Deus. Um estudo bíblico mostra que a
boa mordomia dos dízimos e ofertas voluntárias têm mantido a obra do
Senhor na terra e o cuidado aos necessitados desde os tempos mais
remotos.
Mas muita gente tem dúvida sobre o que a Bíblia realmente fala
sobre dízimos e ofertas. Por conta disso, muitas práticas estranhas ao
ensino bíblico acerca deste assunto têm se espalhado. Os cristãos devem
cuidar de saber como exercer corretamente a mordomia dos dízimos e
ofertas.
Os dízimos e ofertas no Antigo Testamento. No Antigo Testamento,
o conceito de oferta se refere, principalmente, aos vários tipos de ofertas
que os israelitas traziam ao Templo em Jerusalém para oferecerem ao
Senhor. A palavra “oferta” muitas vezes traduz termos hebraicos que
significam “tributo”, no sentido de ser um presente de um inferior para um
superior.
Naquele tempo, conforme a lei cerimonial em Israel, essas ofertas
não envolviam dinheiro, mas consistiam na entrega de animais e certos
alimentos. Dependendo de seu tipo e finalidade, a maioria das ofertas eram
totalmente queimadas ao Senhor; enquanto algumas delas podiam ser
consumidas pelos sacerdotes.
Mas a ideia da oferta como algo que contribui com a manutenção
da obra do Senhor, sobretudo com relação à provisão do sustento daquelas

271
Cf. Qual é a diferença entre dízimos e ofertas? - Pr. Marcos Granconato. Igreja
Batista Redenção, Youtube in: https://encr.pw/8yiVd
314

pessoas que se ocupavam oficialmente do serviço religioso em Israel, pode


ser notada no que a Bíblia chama de ofertas das primícias. Os israelitas
deviam levar à casa do Senhor os primeiros frutos de suas colheitas. Isso
incluía grãos, vinho e azeite. Essas ofertas realmente eram fundamentais
para o sustento dos sacerdotes (Êx 23.19; 34.26; Nm 18.12; Dt 18.4).
Diretamente ligado às ofertas das primícias, estava o dízimo. O
dízimo era a décima parte de toda a produção de alimentos e do
crescimento dos rebanhos. Como a Bíblia não indica qual era a quantidade
requerida das ofertas das primícias, muitos estudiosos têm sugerido que é
possível que os dízimos fossem um complemento dessas ofertas. As leis
acerca dos dízimos para o povo hebreu no tempo do Antigo Testamento são
amplamente registradas no Pentateuco (Lv 27.30-33; Dt 12.2-18; 14.22-29;
26.12-15; etc.).
Os dízimos eram fundamentais para o sustento do sacerdócio
levítico; bem como para o amparo aos necessitados, sobretudo os órfãos e
às viúvas (Jr 22.3; Mq 3.5). Contudo, os dízimos remontam à Lei Mosaica. O
livro de Gênesis mostra os patriarcas entregando o dízimo cerca de
quinhentos anos antes de essa prática ser regulamentada na vida religiosa
de Israel (Gn 14.20; 28.22; Hb 7.4-10).
No Novo Testamento os dízimos e ofertas não aparecem como uma
obrigação legal para os cristãos; mas o princípio da contribuição para o
custeio da obra do Senhor na terra e auxílio aos necessitados, continua
válido (Mt 10.10; Lc 16.9; 1Co 9.7-14; 16.2; 2Co 9:6,7; 1Tm 5.17,18).
A boa mordomia dos dízimos e ofertas. Não é o objetivo deste
estudo bíblico discutir os fundamentos para a prática dos dízimos e ofertas
na Igreja do NT. Aqui partiremos do pressuposto de que os verdadeiros
cristãos entendem que devem estar engajados na contribuição para a obra
de Deus.
Como vimos, a mordomia dos dízimos e ofertas são sinais
distintivos que acompanham os crentes mesmo antes de qualquer sanção
legal em Israel; e a contribuição abundante e proporcional dos crentes seja
para o custeio da causa do Evangelho, seja para o cuidado com os que
precisam, continuou comum na Igreja neotestamentária.
Mas mesmo os crentes que reconhecem o chamado à mordomia
dos dízimos e ofertas na Igreja Cristã, muitas vezes acabam falhando em
alguns aspectos importantes. Então qual deve ser a visão bíblica correta
acerca dos dízimos e ofertas na atualidade? Vejamos três pontos principais:
315

Dízimos e ofertas não são motivos de engrandecimento. Em


primeiro lugar, devemos contribuir com nossos dízimos e ofertas
entendendo que essa prática não incorre em mérito próprio. Jamais deve
haver espaço para a auto-glorificação ou justiça própria na contribuição
para a obra do Senhor. Se por um lado muitos estão completamente avessos
aos dízimos e ofertas, por outro muitos fazem do ato de contribuir uma
competição. Jesus repreendeu os fariseus que se orgulhavam de pagar o
dízimo até daquilo que a Lei Mosaica não exigia, mas se esquecem do juízo,
da misericórdia e da fé (Mt 23.23).
Dízimos e ofertas não são moedas de troca. Consequentemente, em
segundo lugar, em hipótese alguma os dízimos e ofertas devem ser vistos
como uma moeda de troca para barganhar com Deus. Contribuir com
dízimos e ofertas não significa necessariamente que Deus lhe fará
prosperar financeiramente nesta terra. Há muitos crentes piedosos que são
fiéis ao Senhor com suas contribuições. Mesmo assim eles experimentam
grandes privações nesta vida; e isso não quer dizer que falta fé a essas
pessoas.
Nós somos apenas mordomos das coisas que Deus entrega em
nossas mãos; e por algum motivo que muitas vezes foge à compreensão
humana, Deus concede mais a alguns mordomos do que a outros. Se Deus
achar por bem, claro que Ele pode abençoar financeiramente um de seus
filhos; mas nesse sentido, Seu compromisso se refere apenas ao nosso
sustento diário. O importante mesmo é dar graças ao Senhor em todas as
coisas; é reconhecer que em tudo o que fazemos, Ele deve ser glorificado.
Portanto, até mesmo os nossos dízimos e ofertas são formas pelas
quais podemos render ações de graças ao Senhor; são meios através dos
quais Deus pode ser glorificado. Então se você procura retorno sobre
investimento financeiro, você deve ir a um banco; não a uma igreja.
Dízimos e ofertas são atos de gratidão ao Senhor; não promissórias que
fazem de Deus seu devedor. Quando entregamos nossos dízimos e ofertas,
não estamos dizendo que queremos ter algo que não temos; mas estamos
dizendo que somos gratos pelo que já temos. Isso também significa que
você deve desconfiar de qualquer pessoa que garanta a retribuição
financeira multiplicada da sua contribuição.
A aplicação dos dízimos e ofertas deve ser fiscalizada. Em terceiro
lugar, devemos exercer nosso papel como bons mordomos de nossos
dízimos e ofertas do começo ao fim. Isso quer dizer que da mesma forma
316

com que precisamos contribuir, também devemos fiscalizar a nossa


contribuição. Nossos dízimos e ofertas devem servir à causa da obra do
Senhor, e não financiar impérios milionários; devem prover auxílio aos
necessitados e sustento justo aos obreiros que dedicam suas vidas ao
Evangelho, e não são destinados ao conforto de homens gananciosos.
É verdade que grande parte das críticas aos dízimos e ofertas na
atualidade, resulta da má administração e da falta de transparência de
muitas igrejas que se tornaram verdadeiros pontos de lavagem de dinheiro.
Infelizmente desde os primeiros anos da Igreja Primitiva, falsos obreiros
mercenários têm se aproximado das comunidades cristãs com o objetivo de
enriquecimento fácil.
Mas essas pessoas devem ser identificadas, confrontadas e
separadas da igreja. Então a boa mordomia dos dízimos e ofertas também
inclui a preocupação com a forma com que essas contribuições serão
aplicadas. Há pastores que dizem aos membros de suas comunidades que a
preocupação deles deve ser contribuir; e não querer saber o que será feito
com aquele dinheiro. Claro que isto está absolutamente errado!
Os dízimos e ofertas devem servir exclusivamente à igreja local,
sendo úteis para: a) cobrir os custos de utilização do local do culto público;
b) prover um salário justo e honesto aos obreiros que trabalham
arduamente em tempo integral na liderança daquela comunidade; c) fazer
investimentos missionários; e d) amparar os necessitados.
Então os crentes devem garantir que seus dízimos e ofertas sejam
aplicados em sua comunidade local; e com o objetivo de cumprir o
planejamento apresentado e aprovado pelos membros regulares dessa
comunidade.
Garantir que suas contribuições não sejam desviadas para outros
fins, mas sejam aplicadas na obra do Senhor, também faz parte da boa
mordomia dos dízimos e ofertas que os crentes são chamados a cumprir.

8.24 A Espiritualidade da Igreja272

Sempre temos dificuldade diante das palavras espírito,


espiritualidade, vida espiritual. E as poucas noções que temos delas não nos
proporcionam a clareza necessária à construção de uma vida cristã sólida.

272
Cf. Os Três Tipos de Espiritualidade - Pr Hernandes Dias Lopes. Igreja
Presbiteriana de Pinheiros, Youtube in: https://l1nq.com/OnNxt
317

Por isso temos que retomar sempre esses temas para melhorar nossa
compreensão, de tal maneira que possamos agarrá-la e, a partir daí,
começar a moldar melhor nossa vida. Nossa dificuldade começa com a
palavra espírito que na modernidade recebe diversos sentidos.
Segundo o conhecimento filosófico, o ser humano tem duas
maneiras de conhecer: os sentidos, pelos quais captamos o mundo sensível,
e o intelecto, pelo qual captamos o mundo inteligível ou suprassensível. A
partir disso, entendemos as palavras espírito e espiritual como sendo os
entes não-materiais, os valores e as coisas culturais e os valores
ético-humanistas.
Com o tempo, na nossa cultura ocidental, a compreensão filosófica
da palavra espírito e a compreensão da fé se misturaram, pelo que
espiritual passou a significar valores ético-humanistas. Isso faz pensar que
por espiritual o cristianismo entenda a busca desses valores. Essa busca,
porém, é própria de todas as religiões.
Essa mistura da experiência filosófica e da experiência cristã leva a
distorções que nos dificultam o viver espiritual. Por exemplo: distinguimos
o "fazer coisas materiais" e o "fazer coisas espirituais". A partir dessa
distinção, um mecânico que conserta carros, busca ampliar sua oficina, ele
faz coisas materiais, é materialista, não entende de coisas espirituais. Já um
professor de literatura, que leciona na faculdade, lê bastante, participa de
congressos, faz coisas espirituais, é espiritualista e entende de coisas
espirituais. Partindo dessa concepção, pessoas como mães de família,
operários, lavradores não teriam vida espiritual. O analfabeto também não
poderia ter acesso a ela.
Se quisermos entender o que é espírito, espiritualidade, vida
espiritual, devemos deixar de lado esse modo de pensar. Surge a pergunta:
mas então, quando falamos de espiritualidade cristã, o que entendemos por
espírito?
A tradição cultural do Ocidente entende por espírito o modo de
existir próprio do ser humano, modo que o distingue dos outros níveis de
ser, tais como o vegetal e o animal. O Espírito não é, portanto, algo oposto
ao corpo. Espírito é o modo de existir, ou seja, deixar-se atingir e abrir-se à
dimensão originária que chamamos de Deus-mistério. Mas o
Deus-mistério não é o que está além do nosso alcance, não é o estranho
longínquo, o misterioso, e enigmático, o abstrato. Ele é, pelo contrário, o
aquém, isto é, a intimidade mais íntima da interioridade de nós mesmos.
318

As palavras “deus, transcendência, selbst, ser, psique” são


definições pelas quais a teologia, a filosofia, a psicologia tentam dizer algo
acerca do Deus-mistério. Assim, ser espírito é a experiência maior do ser
humano, experiência que constitui sua identidade. Esta experiência busca
compreender-se, organizar-se, tematizar-se.
Dessa elaboração surge o que chamamos de espiritualidade que não
é outra coisa do que o cuidado, a cura, o amor disso que somos, espírito.
Espiritualidade não é disciplina de ensino, não é ciência do saber. Ela é,
porém, verdadeiro saber, saber comprovado por evidências vitais; por isso
a espiritualidade é uma verdadeira ciência, numa compreensão da palavra
ciência diferente da usual e comum, própria do nosso sistema de ciências
físicas, matemáticas, biológicas e humanas.
Se o espírito é a experiência mais radical, então a espiritualidade
exige radical conversão do nosso modo de ser. Essa conversão no Ocidente
recebeu o nome de mística, entendida não como atividade privilegiada de
alguns contemplativos, nem como vivência sentimental da alma piedosa,
mas como busca radical do Deus-mistério. Por ser radical, ela exige o total
engajamento da nossa liberdade. A essência da mística cristã é, pois, esse
engajamento de busca do Deus-mistério.
A crise da sociedade atual provém do total esquecimento do
espírito. Esquecimento que relegou a espiritualidade e a mística a um plano
secundário. É preciso resgatar o sentido profundo da mística, não como
uma atividade piedosa do homem, mas como um empenho vital que se
concretiza na realidade do dia-a-dia. O pensamento, a arte, a ciência, até o
esporte, quando atingidos pela seriedade radical da mística, abrem-se em
diferentes vias à acolhida incondicional do Deus-mistério, lá onde se acha
o manancial do espírito, a espiritualidade.
O Deus-mistério, porém, ultrapassa nossas duas possibilidades de
conhecimento, os sentidos e o intelecto. Ele é inacessível a partir de nós
mesmos. Mas Deus se revela no Evangelho (a Boa Nova!) de Jesus Cristo,
em suas belas e sábias palavras e em atitudes que comprometem seu
próprio viver.
Assim, tudo de espiritual que é aprendido no âmbito da fé não vem
de nossas experiências intelectuais, mas da dimensão de Deus. A esse
mundo inacessível a tradição eclesial ocidental chamou de sobrenatural,
diferenciando-o do natural (mundo sensível e inteligível).
319

Portanto, na experiência cristã, as palavras “espiritual,


espiritualidade” têm o sentido, pura e simplesmente, de empenho de
dinamizar o espírito, a existência que somos a partir e iluminados pelo
discipulado (aprendizagem) do seguimento de Jesus Cristo, feito a
dinâmica maior de nossa vida. Por isso, para nós cristãos, a verdadeira
espiritualidade é o seguimento radical de Jesus Cristo.
320

MÓDULO 9 — ESCATOLOGIA273
“A terra é o único inferno que os cristãos irão suportar,
e o único paraíso que os descrentes irão desfrutar.”
—Jonathan Edwards274

O tempo passa e faz com que a vida do corpo físico termine. O que
haverá depois? A Teologia, que é a doutrina de Deus, tem na Escatologia o
estudo do fim, seja da pessoa em si mesma, seja de toda a humanidade. É
uma área muito interessante e que pode ser analisada sob o prisma de
diversas religiões, cada qual com seus preceitos, dogmas e crenças.
À luz do cristianismo, a escatologia está fundada na palavra de
Deus, a Bíblia Sagrada. Diversos pontos do antigo e do novo testamento
trazem informações sobre o que ocorre no final dos tempos. O livro escrito
por João, nomeado Apocalipse é quem mais se ocupa de detalhar tais
acontecimentos e, portanto, ocupará lugar de destaque em nosso estudo.

Deus já escreveu, tanto o primeiro como o último capítulo da


história de todas as coisas. No livro de Gênesis lemos acerca da
origem de todas as coisas do universo, da vida, do homem, da
sociedade humana, do pecado e da morte. Nas Escrituras
proféticas, especialmente no livro do Apocalipse, revela-se como

273
O acontecimento das últimas coisas é, sem dúvida, o que mais mexe com a
hermenêutica dos pentecostais, mas essa disciplina foi colocada em penúltimo plano não por ser
a menos importante, mas pelo fato de que para sua devida compreensão é necessário percorrer
outros caminhos que o antecedem. Mesmo confundindo escatologia e apocalíptica, não
necessariamente se trata da mesma coisa, pois o Apocalipse é o texto canônico, enquanto a
Escatologia é dogmática. Para melhor iniciar os estudos de escatologia, cf. O Final de Todas as
Coisas: Lição 1 - Escatologia, o estudo das Últimas Coisas. Assembleia de Deus Online, Youtube
in: https://l1nq.com/UGj6G
274
Jonathan Edwards foi um pregador congregacional, teólogo calvinista e missionário
aos índios americanos, e é considerado um dos maiores filósofos norte-americanos. Edwards
nasceu em East Windsor, Connecticut, em 5 de outubro de 1703. Ele foi o filho mais velho de
Timothy Edwards, um pastor congregacional, e Esther Stoddard, filha de Solomon Stoddard, um
famoso pregador congregacional. Edwards foi educado em Yale College, onde se formou em 1720.
Depois de se formar, Edwards se tornou um pastor congregacional em Northampton,
Massachusetts. Ele ficou conhecido por suas pregações poderosas e por sua defesa da teologia
calvinista. Em 1733, Edwards pregou um sermão que causou um grande avivamento religioso em
Northampton.
321

essas coisas alcançarão seu alvo máximo e a consumação. Muitos,


como Daniel, perguntam assim: "Qual será o fim dessas coisas?"
(Dn 12.8). Somente Deus pode responder à pergunta e a resposta se
encontra nas Escrituras (PEARLMAN, 2009, p. 363).

A escatologia é um ramo da teologia que estuda o porvir do ser


humano, seja individualmente considerado (operando-se com a morte) ou
mesmo coletivamente (operando-se com o fim do mundo). Considerando o
cristianismo a maior religião existente com cerca de 2 bilhões de
seguidores, trataremos especificamente da escatologia cristã. Também
outras religiões têm a sua escatologia. O Islamismo, com 1,5 bilhão de
adeptos e a segunda religião mais praticada, também professa a
ressurreição dos mortos e a divisão entre justos e injustos que ocorrerá no
dia do julgamento final.
Hoekema e Moltmann, trazem definições didáticas de escatologia
geral e individual, respectivamente: “Engloba acontecimentos sobre o
mundo, a história e a humanidade, que irromperam no fim dos tempos.
Entre esses acontecimentos, estão a segunda vinda de Cristo em glória, o
juízo final e o estado final de todas as coisas”. No aspecto individual, o foco
são os seres humanos. Os temas correlatos são: morte física, imortalidade
da alma, estado intermediário e ressurreição do corpo.” A escatologia é,
pois, motivo de grande interesse dos praticantes de quase todas as religiões
do mundo.275
Embora a Bíblia contenha profecias diversas tanto no antigo como
no novo testamento, nenhum livro é tão rico em conteúdo como o
Apocalipse ou Revelação, composto de 22 capítulos e escrito,
provavelmente, pelo apóstolo João entre 90 e 96 d. C. O livro foi escrito para
as sete Igrejas da Ásia Menor (atual Turquia) e foi elaborado na Ilha de
Patmos, no mar Egeu. Em seus capítulos existe muita linguagem figurada e
por esta razão em vários pontos os teólogos o interpretam de maneira
distinta.

275
Moltmann costuma frisar que sua produção teológica posterior permanecerá ligada
à experiência pastoral: ele não pertence àquele tipo de teólogo que pretende separar a cátedra do
púlpito, o que acaba determinando que seus textos se encontram entre os textos teológicos mais
lido no mundo (Fulvio Ferrario).
322

9.1 O Estado Intermediário276

Quando há o falecimento da pessoa e antes que tenha ocorrido a


ressurreição do final dos tempos, tem-se o estado intermediário. Estamos
tratando aqui da morte física e não da espiritual e da eterna na concepção
de Berkhof (2012, p. 664). Wayne Grudem traz definição didática:

A morte é a cessação temporária da vida corporal e a separação


entre a alma e o corpo. Uma vez que o crente morre, embora o seu
corpo físico permaneça na terra sepultada, no momento da morte
sua alma (ou espírito) vai imediatamente para a presença de Deus
com regozijo.

Quando Paulo reflete sobre a morte, ele diz: “Temos, pois,


confiança e preferimos estar ausentes do corpo e habitar com o Senhor”
(2Co 5.8). Estar ausente do corpo é estar em casa com o Senhor. Ele também
diz que o seu desejo é “partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” (Fp
1.23). Jesus disse ao ladrão que estava à sua direita: “Hoje você estará
comigo no paraíso” (Lc 2 3.43).
O autor de Hebreus diz que, quando os cristãos comparecem para
adorar juntos, eles vêm não somente à presença de Deus no céu, mas
também à presença dos “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23).
Contudo, Deus não vai deixar o corpo para sempre na sepultura, pois,
quando Cristo retornar, a alma dos crentes será reunida ao corpo, o corpo
será ressuscitado dentre os mortos e os crentes viverão com Cristo
eternamente. Vejamos, outrossim, a lição de Millard J. Erickson (2010),
sobre o tema:

Todos os seres humanos (exceto os que ainda estiverem vivos na


volta do Senhor) devem passar pela morte física e, nesse momento,
passam para um estado intermediário apropriado à sua condição
espiritual. Os que se entregaram à obra salvadora de Jesus Cristo
irão para um lugar de bem-aventurança e galardão; mas os que não
se entregaram irão para um lugar de castigo e tormento. Em algum
tempo futuro, Cristo voltará de modo corpóreo. Então todos os

276
Cf. O Estado Intermediário dos Mortos em Cristo. Ciro Zibordi - EBD e Escatologia,
Youtube in: https://l1nq.com/j4XRw
323

mortos serão ressuscitados e entregues ao seu destino final — o


céu ou o inferno. Lá permanecerão eternamente numa condição
inalterável.

Com a morte a alma permanece no Paraíso ou terceiro céu, em


estado lúcido e consciente (Lc 23.43; 2Co 12.2; Fp 1.23; Ap 6.9). Como é
consolador para o cristão a ideia trazida por Wayne Grudem e Millard J.
Erickson. Mesmo em meio às lágrimas e ao sofrimento, há esperança. E de
um futuro sobremaneira melhor a tudo que pensamos ou imaginamos.
Segundo o que expresso na Bíblia, teremos duas ressurreições. Uma
antes do período de 1000 anos, oportunidade em que Cristo tomará para si
todos os santos, o povo de Deus. Isto ocorrerá antes da Grande Tribulação.
A segunda ressurreição se perpetrara após o período do milênio. Em 1Ts
4.16-17, temos que: “Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar
da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em
Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que estivermos vivos,
seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o Senhor
nos ares […]”.
A passagem acima retrata tanto a primeira ressurreição quanto o
arrebatamento, sendo exclusiva para os que pertencem a Cristo. Eles
reinarão com Jesus durante mil anos e a segunda morte não tem poder
sobre eles (Ap 20.4-5). Sendo certo que os que crêem em Cristo
ressuscitarão, resta saber como serão os seus corpos.
Em termos gerais, o corpo ressurreto do crente será semelhante ao
corpo ressurreto de Nosso Senhor (Rm 8.29; 1Co 15.20,42-44,49; Fp
3.20,21; 1Jo 3.2). Mais especificamente, o corpo ressurreto será: a) um corpo
que terá continuidade e identidade com o corpo atual e que, portanto, será
reconhecível (Lc 16.19-31); b) um corpo transformado em corpo celestial,
apropriado para o novo céu e a nova terra (15.42-44,47,48; Ap 21.1); c) um
corpo imperecível, não sujeito à deterioração e à morte (15.42); d) um corpo
glorificado, como o de Cristo (15.43; Fp 3.20,21); e) um corpo poderoso, não
sujeito às enfermidades, nem à fraqueza (15.43); f) um corpo espiritual
(não natural, mas sobrenatural), não limitado pelas leis da natureza (Lc
24.31; Jo 20.19; 1Co 15.44); g) um corpo capaz de comer e beber (Lc 14.15;
22.16-18,30; 24.43; At 10.41).
A possibilidade de reconhecimento do corpo nos faz pensar que
reconheceremos as demais pessoas que estiverem no seio de Deus,
324

mormente entes queridos e amigos da vida terrena. Mesmo porque Jesus


voltou aos discípulos e houve reconhecimento mútuo (Lc 24.13-49).
Também Moisés e Elias foram reconhecidos na transfiguração (Mt 17.3-4).
Em Lucas (16.19-31), Abraão, Lázaro e o homem rico eram identificáveis
após a morte. Paulo nos assegura que o corpo espiritual será similar ao
físico, porém imortal e incorruptível (1Co 15.52-54).

9.2 A Doutrina das Últimas Coisas277

Eurico Bergstén (2017, 318-319), afirma que a promessa da


segunda vinda de Jesus está firme e para tanto se baseia em alguns pilares:
1. Jesus voltará pessoalmente (Hb 9.28),
2. Jesus voltará baseado na Palavra (Mt 24.35),
3. O Antigo Testamento fala da vinda de Jesus em diversos pontos,
4. Jesus testemunhou seu retorno nos evangelhos e,
5. Os apóstolos também testificam.
O dia e a hora desta segunda vinda de Cristo são, contudo,
desconhecidos. Não por outra razão, Mateus apontou (24.42-44):
“Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor
[…] Assim, vocês também precisam estar preparados, porque o Filho do
homem virá numa hora em que vocês menos esperam.”
A segunda vinda, contudo, vai se operar em duas fases:
inicialmente haverá o arrebatamento da igreja (todos os santos), isso antes
da grande tribulação. E após o período de tormenta haverá o julgamento.
Cristo fará guerra contra as forças do mal e virá com seu exército (Ap 19.19).
Antes do fim dos tempos, a humanidade passará por um período de
grande dificuldade, onde estarão presentes catástrofes naturais e outras
tantas provocadas pelo homem, além de pragas, fome, perseguições,
guerras, etc. A grande tribulação tem fundamentação bíblica (Mt 24.21) e
será tão penosa que Deus apressa o seu final por causa dos escolhidos (Mt
24.22).
O momento de sua ocorrência é incerto, porém o pavio será aceso
quando for visto o sacrilégio terrível no Lugar Santo (Mt 24.15), a
abominação da desolação. Alguns estudiosos apontam a criação de um altar

277
Uma Noite de Escatologia-1/3-Augustus Nicodemus e Convidados. Escola Charles
Spurgeon, Youtube in: https://l1nq.com/vNWc0
325

pagão no templo de Jerusalém como este fato. Os acontecimentos que


ocorrerão durante este período são os seguintes:
Destruição das religiões falsas. As religiões falsas vão ser destruídas
numa velocidade impressionante (Ap 17.1,5;18.9,10,21). Deus vai usar os
governos, representados pela Organização das Nações Unidas (ONU), para
destruir as religiões falsas (Ap 17.3,15-18).
Ataque à religião verdadeira. Numa visão, o profeta Ezequiel viu que
um grupo de nações, descrito como “Gogue da terra de Magogue”, vai
tentar destruir os que praticam a religião verdadeira. Mas Deus vai proteger
seus adoradores e não vai deixar que eles sejam destruídos (Ez
38.1,2,9-12,18-23).
Julgamento dos que moram na Terra. Jesus vai julgar todos os que
moram na Terra e vai separar “as pessoas umas das outras, assim como o
pastor separa as ovelhas dos cabritos” (Mt 25.31-33). O que Jesus vai levar
em conta quando julgar as pessoas? Elas vão ser julgadas de acordo com a
maneira que trataram os “irmãos” de Jesus, ou seja, aqueles que vão reinar
com ele no céu (Mt 25.34-46).
Ajuntamento dos que vão reinar com Jesus. Os escolhidos para reinar
com Jesus e que forem fiéis até o fim de sua vida na Terra vão ser
ressuscitados para viver no céu (Mt 24.31; 1Co 15.50-53; 1Ts 4.15-17).
Armagedom. Essa “guerra do grande dia de Deus, o
Todo-Poderoso” também é chamada de “o dia do Senhor” (Ap 16.14,16; Is
13.9; 2Pe 3.12). Jesus vai destruir todos os que ele julgar como inimigos de
Deus (Sf 1.18; 2Ts 1.6-10). Ele também vai destruir o sistema político
mundial, que é simbolizado na Bíblia por uma fera de sete cabeças (Ap
19.19-21).
Após passado este momento de infortúnio, haverá:
Satanás e seus demônios vão ser presos. Um anjo muito poderoso vai
lançar Satanás e seus demônios “no abismo” (Ap 20.1-3). Isso quer dizer
que eles vão estar numa condição de inatividade parecida com a morte. Vai
ser como se Satanás estivesse numa prisão. Ele não vai conseguir
influenciar as pessoas nem o que acontece no mundo (Ap 20.7).
Jesus começa a governar a Terra. O governo de Jesus, de mil anos, vai
fazer coisas maravilhosas para todas as pessoas na Terra (Ap 5.9,10;
20.4,6). Não é possível saber quantas pessoas vão sobreviver à “grande
tribulação”. A Bíblia diz apenas que será uma “grande multidão”. Essas
326

pessoas vão poder ver o começo do governo de Jesus aqui na Terra (Ap
7.9,14; Sl 37.9-11).
Durante o período de grande tribulação muitas pessoas serão
salvas, por terem se mantido fiéis a Cristo, não se curvando às forças do
mal. Muitas vezes a fidelidade custará a própria vida do corpo físico, mas
estará garantida a vida eterna junto a Deus.
O período de mil anos é descrito no capítulo 20 do livro do
Apocalipse. Neste lapso temporal, Satanás será lançado no abismo e Jesus
governará com seus eleitos, os quais não adoraram a besta, nem a sua
imagem, e não tinham recebido a sua marca na testa nem nas mãos.
Existem diversidades de interpretações quanto ao milênio,
conforme leciona Hernandes Dias Lopes:

Este é o capítulo 20, mais polêmico do livro de Apocalipse. Não há


consenso entre os crentes sobre sua interpretação. Os
pré-milenistas crêem que o milênio relatado no capítulo sucede
cronologicamente à segunda vinda de Cristo, descrita no capítulo
19. Os amilenistas crêem que o capítulo 20 é o início de outra seção
paralela e não sucessão cronológica do capítulo 19.

Is 11.5-9 também apontou que o futuro seria de paz, mencionando


a boa convivência entre as diversas espécies de animais: “O lobo habitará
com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão
novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e
a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá
palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já
desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano
algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do
conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar.”
Quando do fim do mundo, Satanás será destruído e fará companhia
ao Anticristo e ao Falso Profeta que foram condenados ao lago de fogo no
início do milênio (Ap 20.10-7).
Haverá, ademais, o julgamento final em um grande trono branco
de todos os mortos segundo o que estava registrado nos livros e que haviam
feito. Aqueles cujos nomes não foram encontrados no livro da vida foram
lançados no lago de fogo (Ap 20.11-15). Abaixo esclarecedora síntese sobre
o livro da vida:
327

O “livro da vida”, também chamado de “rolo da vida” ou “livro de


recordação”, contém os nomes daqueles que têm a perspectiva de
receber o prêmio da vida eterna (Ap 3.5; 20.12; Ml 3.16). É Deus que
determina quem são essas pessoas com base em seu histórico de
obediência a Ele (Jo 3.16; 1Jo 5.3). Deus mantém cada um de seus
servos leais em sua memória, como que escrevendo seus nomes
num livro, “desde a fundação do mundo”, da humanidade (Ap
17.8). O fiel Abel aparentemente foi o primeiro a ter seu nome
escrito no livro da vida (Hb 11.4). Mas esse livro não é uma mera
lista de nomes; é uma prova de que Jeová é um Deus amoroso que
“conhece os que lhe pertencem” (2Tm 2.19; 1Jo 4.8).

A morte do corpo físico é a primeira morte. O lago de fogo é a


segunda e definitiva. E Deus deseja que todos se salvem (1 Tm 2.4). Logo ele
desejaria ver o lago de fogo absolutamente sem nenhuma de suas criaturas.

9.3 Um Novo Céu e Uma Nova Terra278

Com o passar do céu, da terra e do mar, o apóstolo João tem uma


visão da cidade celestial em Ap 21. São as seguintes as características da
Nova Jerusalém: a) pura como uma noiva, não haverá mais pecado,
seremos completamente purificados por Jesus, nada impuro pode herdar a
vida eterna (Ap 21.2). b) doze portas das tribos de Israel, foi através do povo
de Israel que Deus abençoou todos os povos com a vinda do Salvador que
abriu as portas da vida eterna (Ap 21.12). c) 12 fundamentos dos apóstolos, o
ensino dos apóstolos sobre Jesus é o fundamento da Igreja (Ap 21.14). d) O
tamanho da cidade, a nova Jerusalém é enorme! Há espaço mais que
suficiente para toda a gente na vida eterna (Ap 21.15-16). e) O muro
espesso, representa a segurança; a vida eterna é segura e seremos
protegidos de todo mal (Ap 21.17). f) Construída com ouro e pedras
preciosas. A vida eterna é bela e duradoura, não vai acabar e sua beleza não
vai desvanecer (Ap 21.18-20). g) A luz de Deus, a glória de Deus será visível
e clara, guiando todas as pessoas em todo tempo (Ap 21.22-23). h) Portas
sempre abertas, a vida eterna é inclusiva, todos que amam a Deus, de todos

278
Cf. Novos Céus e Nova Terra. Hernandes Dias Lopes, Youtube in:
https://encr.pw/4tgaj
328

os povos, podem entrar (Ap 21.24-26). i) O rio e a árvore da vida,


representam restauração e cura, renovação e abundância de vida, tudo
vindo de Deus (Ap 22.1-2). j) O trono de Deus, estaremos sempre perto de
Deus, em Sua presença (Ap 22.3-4).
Pondera J. Dwight, que sem dúvida esse é o mesmo lugar que o
Senhor tinha em mente quando disse: “Na casa de meu Pai há muitas
moradas. Se não fosse assim, eu já lhes teria dito. Pois vou preparar um
lugar para vocês. E, quando eu for e preparar um lugar, voltarei e vos
receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, vocês estejam
também” (Jo 14.2,3 NAA). O mesmo autor detalha como será a vida na
cidade eterna (pg. 716-718):
a) Uma vida de comunhão com Ele: Porque, agora, vemos como em
espelho, obscuramente; então, veremos face a face (1Co 13.12). Amados,
agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de
ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele,
porque haveremos de vê-lo como ele é (1Jo 3.2). Voltarei e vos receberei
para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também (Jo 14.3).
Contemplarão a sua face (Ap 22.4).
b) Uma vida de descanso: Então, ouvi uma voz do céu, dizendo:
Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor.
Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras
os acompanham (Ap 14.13).
c) Uma vida de total entendimento: […] agora, conheço em parte;
então, conhecerei como também sou conhecido (1Co 13.12).
d) Uma vida de santidade: Nela, nunca jamais penetrará coisa
alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas
somente os inscritos no livro da vida do Cordeiro (Ap 21.27).
e) Uma vida de alegria, serviço e abundância: E lhes enxugará dos
olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem
pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram (Ap 21.4). Nunca
mais haverá qualquer maldição. Nela, estará o trono de Deus e do Cordeiro.
Os seus servos o servirão (Ap 22.3). Eu, a quem tem sede, darei de graça da
fonte da água da vida (Ap 21.6).
f) Uma vida de glória: Porque a nossa leve e momentânea tribulação
produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação (2Co
4.17). Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também
sereis manifestados com ele, em glória (Cl 3.4).
329

g) Uma vida de adoração: Depois destas coisas, ouvi no céu uma


como grande voz de numerosa multidão, dizendo: Aleluia! A salvação, e a
glória, e o poder são do nosso Deus (Ap 19.1).

Depois destas cousas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia
enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante
do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com
palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso
Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro […] O louvor, e a
glória, e a sabedoria, e as ações de graça, e a honra, e o poder, e a
força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém (Ap
7.9-12).

Não é por outra razão que Paulo apontou que coisas que nenhum
coração humano já imaginou estão reservadas por Deus para aqueles que o
amam (1Co 2.9). E não há maior amor do que este: de dar alguém a sua vida
pelos seus amigos (Jo 15.13). Deus continua acreditando no ser humano.
Assim concluímos, o estudo da Escatologia Cristã nos permite
compreender, na medida de nossas limitações humanas, a grandeza das
coisas que Deus tem preparado para aqueles que o adoram, juntamente
com seu filho amado Jesus Cristo. E, à luz do Espírito Santo, isso é possível,
naquilo que Deus deseja que saibamos.
E como assevera Charles Finney (2004, p. 501): “Deus é, e deve ser,
um soberano absoluto e universal.” A fonte inesgotável de saber e adoração
a Deus é a Bíblia Sagrada e a Revelação de Jesus Cristo que Deus lhe deu
para mostrar os acontecimentos futuros. Quem tiver sede venha, e quem
quiser beba de graça da água da vida! (Ap 22.17).

9.4 Escatologia do Novo Testamento279

O Novo Testamento traz as mensagens que visam o despertar para


a fé, a vigilância, o castigo e a vitória dos verdadeiros cristãos. Ap 3.2 Sê
vigilante, e confirma o restante, que estava para morrer; porque não tenho
achado as tuas obras perfeitas diante do meu Deus. Ap 3.46 E irão eles para

279
Cf. Escatologia no Novo Testamento - Dr Russel Shedd. TV Amide, Youtube in:
https://l1nq.com/B9Zl3
330

o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna. 1Co 15.57 Mas graça a
Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.”
Os profetas escatológicos foram homens capazes de mudar as
atitudes ou opiniões de muitos governantes e reis. Como exemplo clássico
encontramos a passagem de Daniel: A escatologia bíblica é rica em fontes
proféticas. Vejamos algumas mais importantes:
1. Invasão de Israel por todas as nações do mundo: Eu ajuntarei todas
as nações contra Jerusalém para combaterem (Zc 14, Ez 36,37,38; Dn 11.12;
Joel 2,3 e Is 23,24).
2. O retorno dos judeus à sua nação: “Então saberão que eu sou o
Senhor seu Deus, vendo que eu os fiz ir à cativeiro entre as nações, e os
tornei a ajuntar para a sua terra. Não deixarei lá nenhum deles. (Ez 39.28).
3. Guerra entre os governos do Norte e do Sul. Ez 38 “Veio a mim a
palavra do Senhor, dizendo: Filho do homem, dirige o teu rosto para Gogue,
terra de Magogue, príncipe e chefe de Meseque e Tubal, e profetiza contra
ele, e dize: Assim diz o Senhor Deus: Eis que eu sou contra ti, ó Gogue,
príncipe e chefe de Meseque e Tubal; e te farei voltar, e porei anzóis nos
teus queixos, e te levarei a ti, com todo o teu exército, cavalos e cavaleiros,
todos eles vestidos de armadura completa, uma grande companhia, com
pavês e com escudo, manejando todos a espada”.
4. Ataque nuclear (Zc 14.12). “Esta será a praga com que o Senhor
ferirá todos os povos que guerrearam contra Jerusalém: apodrecer-se-á a
sua carne, estando eles de pé, e se lhes apodrecerão os olhos nas suas
órbitas, e a língua se lhes apodrecerá na boca, Naquele dia também haverá
da parte do Senhor um grande tumulto entre eles; e pegará cada um na mão
do seu próximo, e cada um levantará a mão contra o seu próximo”. (Ez
39.12-13) “E a casa de Israel levará sete meses para sepultá-los, para
purificar a terra. Sim, todo o povo da terra os enterrará; e isto lhes servirá
de fama, no dia em que eu for glorificado, diz o Senhor Deus”.
5. Guerra Termonuclear (Ap 16.9) “E os homens foram abrasados
com grande calor [...] a carne deles se consumirá enquanto eles ainda
estarão em pé, e seus olhos serão consumidos em suas órbitas” (Zc 14.12).
6. Cancer (Ap 16.2) “Então foi o primeiro e derramou a sua taça
sobre a terra; e apareceu uma chaga ruim e maligna nos homens que
tinham o sinal da besta e que adoravam a sua imagem.”
331

9.5 Literatura Apocalíptica na Bíblica280

Verbete: apocalíptico [Do gr. apokalyptik os, 'que revela'] Adj. 1.


Relativo à, ou ao Apocalipse. Difícil de compreender; obscuro, sibilino. Que
lembra o Apocalipse, o fim do mundo; pavoroso, terrificante. A palavra
designa tanto um tipo distinto de literatura judaica e cristã, como a espécie
de religião usualmente expressa nessa literatura.
A literatura apocalíptica é usada para descrever a aparência
religiosa desta literatura. Enquanto que a escatologia refere-se aos
acontecimentos profetizados sobre as “últimas coisas”, a Apocalíptica é
identificada como um forma de escatologia distintiva e desenvolvida
dentro dos elementos religiosos-proféticos. Esta literatura se divide em
dois pontos distintos:
É aquela que desenvolve suas interpretações com bases nas
Escrituras Sagradas, dando ênfase a revelação espiritual nelas contida,
como uma verdade dogmática e subjetiva. Muitas das literaturas judaicas
não podem ser enquadradas dentro da LAB.
A Religião neotestamentária é apocalíptica no fato que compartilha
da estrutura dualista das duas épocas, porém, não é nem determinista, nem
pessimista, nem eticamente passiva. Embora ensine que o reino de Deus
provém de fora e não seja produto da história, está atualmente operando
dentro da história e finalmente haverá de transformá-la.
O estilo usado é o meio pelo qual pode ser classificada a literatura.
No estilo é possível definir o objetivo da narrativa e a quem foi remetida. A
literatura apocalíptica é classificada em:
1. Revelatória: Revelações por intermédio de visões, sonhos, viagens
espirituais e celestes.
2. Imitativa: Artifício literário imitativo. Transmite mensagens de
caráter familiar.
3. Pseudônima: Técnica usada por apocalipticismo para substituir
as mensagens espirituais que se haviam cessadas, no intuito de
transmiti-las às suas gerações.
4. Simbólica: Este tipo de literatura é a mais complexa no que diz
respeito a sua interpretação, tendo em vista, que era usada como um

280
Cf. Literatura Apocalíptica. BibleProject - Português, Youtube in:
https://encr.pw/0ntbZ
332

mecanismo de auto-segurança, para evitar perseguições ou discriminações


generalizadas.
5. Pseudo-preditiva: Usadas como instrumento de interesse próprio
por autores que pretendiam mudar o contexto histórico e adaptá-las às
suas convicções interpretativas ou dogmáticas.

9.6 Hermenêutica Apocalíptica Teológica281

A Palavra Tribulação está relacionada com o período de sete anos


pelo qual, após o arrebatamento da Igreja de Jesus Cristo, deverá passar
sobre o domínio do Anticristo. Os Sistemas de interpretação baseados
nestes estudos se encontram divididos em três posicionamentos distintos.
São eles:
a) pré-tribulacionista: Argumenta o arrebatamento da igreja de
Cristo antes da Grande Tribulação, ou seja, antes do período de dominação
do anticristo, que deverá durar sete anos.
b) pós-tribulacionismo: Pensamento baseado no arrebatamento
após a Grande Tribulação, ou seja, a igreja cristã deverá passar pelo período
de dominação anticristã.
c) mid-tribulacionista: Admite que a igreja será arrebatada em meio
à Grande Tribulação, ou seja, passados três anos e meio (ou 1240 dias) sob o
domínio do império anti-cristão, a igreja de Cristo será arrebatada.

9.7 Tipos de Literatura Bíblico-Apocalíptica282

1. Dualismo: Defendendo a dialética de um mundo temporal e


histórico e não metafísico ou cósmico. “Este século é mau; o século porvir
será a época do reino de Deus. Mas se o dualismo defende a existência de
um Ser em consequência da existência de outro Ser, de que forma poderia
então o Mal acabar para que ficasse somente o Bem, se este dependesse
daquele?
2. Determinismo: É da teoria de que o plano de Deus deverá ser
cumprido, e que os acontecimentos futuros dependem, tão somente, da

281
Cf. A Importância da Hermenêutica Bíblica | Russell Shedd. Edições Vida Nova,
Youtube in: https://l1nq.com/vg708
282
Cf. Como Abordar a Literatura Apocalíptica. Teólogos, Youtube in:
https://www.youtube.com/watch?v=Za1lDF2deaY
333

vontade divina. Mas determinismo é uma forma de predestinação, pela qual


todos já estariam com seus destinos traçados dentro de uma meta
preestabelecida por Deus. Desta forma, de que adiantaria ao homem, lutar
pela vida e contra a morte, se ele não pode mudar seus desígnios?
3. Pessimismo: Acreditam que os justos foram abandonados e
sofrerão as perseguições do mal até que seja chegado o triunfo final do
Reino Divino. Mas por que razão o Deus de Amor deixaria seus filhos
sofrerem até chegar o grande Dia do Senhor? Por que o bem ficaria
impassível enquanto o mal dominaria e mataria até aqueles que não
tiveram a oportunidade de conhecer o amor? Se eles são os justos para quê
sofrer se o Cristo já pagou com alto preço a salvação de todos eles?
4. Passividade ética: Considera Israel como Nação Justa, e o
sofrimento destes, é um ato imerecido. Mas este pensamento baseia-se
numa parcialidade quanto a atitude Divina, sendo, pois identificada sem
uma moral universal e uma ética particularizada. Que tipo de Deus é este
que discrimina outras raças desconsiderando o ato de sacrifício do seu
próprio filho que morreu para salvar a todos.

9.8 Tipos de Interpretações Dogmáticas283

Dentro da visão bíblica a escatologia é dividida de acordo com as


doutrinas dentro cada uma de suas subdivisões. Estes pensamentos são
chamados de linhas ideológicas de interpretação bíblica. O Sistema
comumente adotado para interpretação apocalíptica é o pré-milenismo
dispensacionalista que se divide em:
1. Pré-milenismo ou pré-milenismo histórico: defende a Volta de
Cristo (parousia) antes do começo do milênio. Os adventistas são
atualmente seus principais expoentes, esperam a volta de Cristo, para
então ser estabelecido o milênio.
2. Dispensacionalista: neste ensinamento há dispensações:284
a) A humanidade em inocência;
b) A humanidade na consciência;
c) A humanidade em autoridade sobre a terra;

283
Cf. Por que a Assembleia de Deus é dispensacionista? Ciro Zibordi - EBD e
Escatologia, Youtube in: https://l1nq.com/jXb79
284
Dispensação Rel. Entre os protestantes, período em que o indivíduo é
experimentado quanto à sua obediência a alguma revelação especial da vontade de Deus.
334

d) A humanidade sob a promessa;


e) A humanidade sob a Lei;
f) A humanidade sob a Graça;
g) A humanidade sob o domínio da Teocracia.285
O Milênio é a última dispensação das sete em que este sistema
divide a história bíblica. Este milênio trata de um período de mil anos que
se iniciou com a derrota do anticristo, consequentemente com a
aprisionamento de satanás e findará com o dia do Juízo Final ou seja, o dia
do Grande Julgamento.
a) futurista: Os acontecimentos narrados a partir do cap. 9.26 e cap.
4 do Apocalipse deverão ocorrer no futuro dentro do período de sete anos
(entre o arrebatamento da Igreja e o retorno final de Cristo para estabelecer
o Milênio).
b) preterista: Os acontecimentos profetizados não passam de fatos
já ocorridos. Ex. O arrebatamento e vinda do anticristo.
c) histórica: Tratam dos fatos históricos desde a Igreja primitiva até
os dias finais. Parte das profecias já se cumpriu e outras neste planeta
cumprirão com os acontecimentos mundiais que haverão de ocorrer.
d) simbólica: Argumenta que a literatura apocalíptica é uma
coletânea de símbolos místicos, visando apenas ensinar lições espirituais e
morais.
e) idealista ou poética: Descreve as narrativas como imaginativas
sobre o Triunfo divino.

9.9 Antíteses das Linhas Escatológicas286

Para cada uma destas linhas de interpretação há uma antítese. São


elas:
a) pré-milenismo: o próprio Jesus Cristo admitiu não ser
conhecedor sobre o dia de seu retorno (Mt 24.36).
b) dispensacionalismo: a Bíblia não faz menção deste do termo
dispensação quando se refere ao período milenar, mesmo por que, a
palavra dispensação refere-se a um “período em que o indivíduo é
experimentado quanto à sua obediência [...]”, pelo que transcreve a Bíblia,

285
Período teológico pelo qual o mundo é governado por uma divindade.
286
Cf. A Maior Mentira Sobre Escatologia - Douglas Gonçalves & Victor Vieira.
JesusCopy, Youtube in: https://encr.pw/rKVwi
335

este período teocrático, será de paz e sem a perturbação do mal, o que, só


virá no final dos mil anos, quando Satanás será solto para enganar as
nações (Ap 20.6-7).
c) futurista: esse ponto de vista tende a remover o livro
inteiramente de seu pano de fundo histórico.
d) preterista: ao considerar as narrativas como um acontecimento
passado fere os valores proféticos contidos nas profecias, bem como rejeita
o seu conteúdo revelador.
e) histórico: esta interpretação esquece o valor espiritual das
mensagens reveladas.
f) simbólica: embora a maioria dos relatos valorize os símbolos
como meio de transmissão de mensagens proféticas, elas não podem ser
como simples linguagem figurativas ou místicas.
g) idealista ou poética: não se trata, necessariamente, de uma
literatura poética; pois desta forma, os valores morais, éticos, relatórios e
históricos de todo o contexto bíblico são rejeitados.
A literatura apocalíptica não-bíblica defende o interesse das
interpretações históricas e simbólicas, transferindo para o pano de fundo
científico das previsões e do determinismo.
É hoje conhecido muitas literaturas apocalípticas formuladas
dentro de estudos de diversas religiões, tais como o Judaísmo, Islamismo, o
budismo, xintoísmo, taoísmo, além daquelas que mencionam profetas
milenares.

9.10 O Cristianismo Apocalíptico287

Como já dissemos, o vocábulo vem do grego: apokalypsis,


'revelação', pelo lat. tardio apocalypse] s.m. 1. Rel. O último livro do NT,
atribuído a João, o Evangelista, e que contém revelações terrificantes
acerca dos destinos da humanidade. 2. Literatura apocalíptica e
escatológica, em especial a produzida pelos judeus entre 200 a. C. e 200
d.C., aproximadamente. 3. P. ext. Fig. Grande cataclismo; flagelo terrível. 4.
Fig. Linguagem muito obscura, sibilina. Grande maioria destes livros, que
trata de profecias sobre acontecimentos futuros, foi escrita no intuito de
revelar a vontade de Deus aos homens.

287
Cf. Panorama do Livro Apocalipse | Pr Hernandes Dias Lopes. Igreja Presbiteriana
de Pinheiros, Youtube in: https://l1nq.com/sMain
336

Traçando, pois, as divergências de épocas, a linguagem usada


tornou-se pouco usada, dificultando, assim, seu verdadeiro entendimento;
isso sem falar nos interesses particulares que cortejam e cortejam a
interpretação das narrativas. Desta forma o obscurantismo tomou conta da
mensagem reveladora, ferindo a essência do conteúdo e o perfeito
conhecimento das mensagens. Tendo os próprios conceitos dos termos
contrários ao que a palavra define, os livros que tratam de uma revelação
sobrenatural ou divina, trazem em si, uma linguagem obscura e simbólica,
ficando limitada aquém possuir o dom especial da interpretação ou do
discernimento (1Co 12.10).
O Apocalipse, apesar de compartilhar de certos característicos
apocalípticos, é inteiramente diferente quanto a outros pontos: não é
pseudônimo, emprega simbolismo apocalíptico, não reescreve a história
numa pseudo-profecia, não participa do pessimismo dos apocalipticismo,
Deus opera no começo e no fim da história, apresenta urgência moral.
No livro do Princípio, Gênesis, Deus após criar o Cosmos,
estabeleceu um paraíso terreno para Adão e Eva (os primeiros seres
humanos denominados pela cultura hebraica). Devido a um ato de
desobediência, seduzidos pela serpente, o primeiro casal foi expulso do
Jardim, com a perda da vida eterna e sob a promessa de que o descendente
desta família, derrotaria a serpente. Conhecedores do Bem e do Mal, o
homem deveria, agora, estabelecer os rumos a seguir. Porém, sua fraqueza
espiritual, levou ao primeiro assassinato, a corrupção generalizada de
Sodoma e Gomorra, o dilúvio como uma forma de correção, a ambição de
chegar a Deus por intermédio da Torre de Babel, guerras, perseguições,
doenças e outras calamidades.
Durante três mil anos, a esperança messiânica foi renovada através
das mensagens dos profetas e o povo aguardava ansiosamente a vinda do
Cristo prometido. Nasceu nesta época de contradições ideológicas e
religiosas, um menino chamado Jesus Cristo, cuja vida selada em alguns
mistérios, no que diz respeito, a sua adolescência, traçou um novo rumo na
história da história do povo judeu e da humanidade. Realizou obras
milagrosas e deu ao povo uma noção do que seria o Reino Celestial,
contrariando, assim, os anseios políticos judeu, pois necessitavam de um
Líder que os libertassem do julgo romano. Jesus Cristo, anunciava uma
mensagem diferente, uma mensagem de amor que nunca ouvira antes, a
337

importância da restauração espiritual: arrependimento e consagração


santa à vontade de Deus.
Desiludidos, os conservadores políticos da época condenaram-no à
morte. Segundo o relato dos evangelhos, Jesus havia prometido, após sua
ressurreição, voltar para levar consigo a Igreja verdadeira, ou seja, os
verdadeiros cristãos. Seus apóstolos e discípulos propuseram-se a pregar a
mensagem que Ele havia lhes atribuído, com a certeza de que o mundo não
conseguiria dar-lhe a felicidade espiritual que o nomeado Filho de Deus
havia pregado. Mesmo perseguidos não decepcionar o Mestre, as Boas
Novas já era anunciada em todo o Império Romano, embora muitos
negassem a mensagem de Jesus, e aguardam até os dias de hoje, o Cristo
Prometido, os outros povos aceitaram e creram, se convertendo, assim, a
uma nova Ideologia: O Cristianismo.
Aproximadamente um século após a morte de Jesus, os cristãos
ainda eram perseguidos e mortos pelos romanos e pelos judaizantes. João,
um dos apóstolos de Jesus, que fora levado em cativeiro na ilha de Patmos,
que era uma das províncias romanas, escreveu um livro baseado na
revelação espiritual do próprio Jesus sobre o que deveria ocorrer antes e
depois de sua segunda vinda. Estas narrativas são mensagens apocalípticas
que se completam com outros livros de autores bíblicos como Ezequiel,
Isaías, Daniel e Joel e extrabíblicos como Michel de Notredame e Edgar
Cayce.
Escritores e produtores de filmes narram as mensagens destes
relatos de forma fictícia e sensacionalista, ferindo, de certa forma, o valor
espiritual do conteúdo, porém, a essência reveladora destas narrativas
confirmam um fim aterrador para àqueles que não conseguirem receber o
selo da salvação antes da segunda vinda de Jesus Cristo; pelo menos é esta
a mensagem bíblica sobre o final dos tempos.
338

MÓDULO 10 — PASTORAL288
A pergunta mais importante que podemos fazer sobre qualquer hábito,
ação ou comportamento é: Isto contradiz o Evangelho?
—John Piper289

A teologia pastoral é uma área da teologia que se concentra na


aplicação prática dos ensinamentos teológicos à vida cotidiana — por isso a
nomenclatura Teologia Pastoral. É uma disciplina tanto teórica quanto
prática, que busca preparar os líderes cristãos para o ministério pastoral. A
teologia pastoral estuda uma variedade de tópicos, incluindo: a natureza e o
propósito da igreja; a liderança e o discipulado; a pregação e a educação
cristã; o aconselhamento e o cuidado pastoral; a adoração e a liturgia.
A teologia pastoral é importante para os líderes cristãos porque os
ajuda a entender melhor o mundo ao seu redor e a responder às
necessidades espirituais das pessoas. Aqui estão alguns exemplos de como
a teologia pastoral pode ser aplicada na prática: a) Um pastor pode usar a
teologia pastoral para desenvolver um plano de discipulado para seus
membros. b) Um conselheiro cristão pode usar a teologia pastoral para
ajudar alguém a lidar com um problema de relacionamento. c) Um líder de
louvor pode usar a teologia pastoral para criar uma experiência de adoração
que seja significativa para os participantes.

288
Não poderíamos concluir um Curso de Teologia sem expor a importância da Ética e
da Liderança Cristã. Impossível um estudante sério que não se porta nos limites éticos e nem
mesmo suporta a necessidade de uma liderança cristã. Assim, é estranho a espiritualidade da
igreja, uma “ovelha errante” que não tem para quem prestar contas. Falácias como “meu negócio
é com Deus e não com o homem” tem ganhado espaço nos nossos círculos, mas trata-se de
arquivos baseados em sofismas de quem não consegue se submeter a liderança da igreja, mesmo
sabendo que a autoridade da igreja é a Palavra de Deus (e nada tem igualdade com ela, ou se quer
pode ser comparada as Sagradas Letras), sabemos que o verdadeiro cristãos se submete uns aos
outros no amor do Senhor (Ef 5.21-33). Assim cf. Uma Conversa Sobre Liderança Cristã. Luciano
Subirá, Youtube in: https://l1nq.com/STIgN
289
John Piper é um teólogo e pastor batista reformado, fundador e professor do
desiringGod.org e chanceler do Bethlehem College & Seminary, em Minneapolis, Minnesota. Ele
nasceu em Chattanooga, Tennessee, em 11 de janeiro de 1946. Piper estudou na Wheaton College e
no Seminário Teológico Fuller, onde obteve o título de Doutor em Divindade. Em 1980, ele foi
chamado para ser o pastor sênior da Bethlehem Baptist Church, onde serviu por 33 anos. Piper é
um dos mais influentes teólogos calvinistas contemporâneos. Ele é conhecido por seu ensino
bíblico apaixonado e por sua defesa da doutrina da soberania de Deus. Ele também é um autor
prolífico, tendo escrito mais de 50 livros.
339

A teologia pastoral é uma área vital da teologia que pode ajudar os


líderes cristãos a servir a Deus e às pessoas com maior eficácia. Aqui estão
alguns objetivos da teologia pastoral: a) fornecer uma base teológica para o
ministério pastoral; b) preparar os líderes cristãos para as demandas do
ministério; c) desenvolver habilidades e competências para o ministério
pastoral; d) promover o crescimento espiritual dos líderes cristãos.
A teologia pastoral é uma área de estudo desafiadora, mas também
gratificante. É uma disciplina que pode ajudar os líderes cristãos a fazer
uma diferença positiva no mundo.
Estudar ética, por exemplo, é muito importante para o
aperfeiçoamento dos nossos relacionamentos e conduta na sociedade.
Entretanto, veremos que a Ética Cristã difere da secular. Enquanto esta se
fundamenta em valores materialistas e relativistas, aquela tem como eixo a
Palavra de Deus, a revelação divina imutável. Assim, como vivemos em uma
época onde os conceitos pós-modernos relativizam as doutrinas cristãs, é
relevante identificarmos os principais fundamentos da Ética Cristã a fim de
aperfeiçoar nossa vida de comunhão com Deus e testemunho cristão à
sociedade (Mt 5.13,14).
“Todos nós tomamos diariamente dezenas de decisões. Fazemos
escolhas, optamos, resolvemos e determinamos aquilo que tem a ver com
nossa vida individual, a vida da empresa e de nossos semelhantes. Ninguém
faz isso no vácuo. Antigamente pensava-se que era possível pronunciar-se
sobre um determinado assunto de forma inteiramente objetiva, isto é,
isenta de quaisquer pré-concepções ou pré-convicções.
Hoje, sabe-se que nem mesmo na área das chamadas ciências
exatas é possível fazer pesquisa sem sermos influenciados pelo que somos,
cremos, desejamos, objetivamos e vivemos. As decisões que tomamos são
invariavelmente influenciadas pelo horizonte do nosso próprio mundo
individual e social. Ao elegermos uma determinada solução em detrimento
de outra, o fazemos baseados num padrão, num conjunto de valores do que
acreditamos ser certo ou errado. É isso que chamamos de ética.
A palavra “ética” vem do grego eqikh, que significa um hábito,
costume ou rito. Com o tempo, passou a designar qualquer conjunto de
princípios ideais da conduta humana, as normas que devem ajustar-se às
relações entre os diversos membros de uma sociedade. Ética é o conjunto de
valores ou padrão pelo qual uma pessoa entende o que seja certo ou errado
e toma decisões.
340

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda: “Ética é o


estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana
suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja
relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”.
Há diversas visões filosóficas da ética, entretanto, a ética cristã
baseia-se na Palavra de Deus para determinar quais ações humanas são
legítimas e quais são ilegítimas. É por esta razão que afirmamos que ela é
nossa regra de fé e prática.
A ética cristã não depende da situação, dos meios ou dos fins (Sl
119.105). O homem natural é capaz de produzir ética, mesmo caído e
‘morto’ espiritualmente. Deus restringe a maldade humana e capacita-o à
uma retidão moral, à uma conduta séria e comprometida com causas
morais, ao ponto de causar admiração.
Abraham Kuyper, teólogo holandês do século passado, afirma que
assim como o homem domesticou os animais, e prende ou controla seres
selvagens, assim também Deus limita a maldade dos homens, extraindo até
mesmo o bem do mal, para que se preserve a criação, entendido neste
conceito não somente as coisas naturais, mas também toda a criação
intelectual que também vem Dele. Contudo, a ética humana vem
‘manchada’ pelos atos e fatos caídos, pois é produzida por um coração à
parte de Deus e contrária à Sua Palavra.
Esta aula nos dará condições de discutirmos assuntos do momento
e nos dará ferramentas para respondermos ‘qual a razão da nossa fé’ (Jd 3).
Mais do que uma simples lista de “faça” ou “não faça”, a Bíblia nos dá
instruções detalhadas de como um Cristão deve viver. A Bíblia é tudo que
precisamos para saber como viver a vida Cristã. No entanto, a Bíblia não se
dirige diretamente a exatamente todas as situações que vamos ter que
encarar em nossas vidas. Como então ela é suficiente? Em situações assim é
que temos que aplicar a Ética Cristã. Convido-o a pensarmos maduramente
a fé cristã!

10.1 O Conceito de Ética Cristã290

Definição geral. A palavra “ética” possui origem no vocábulo grego


ethos, que significa “costumes” ou “hábitos”. No latim, o termo usado se

290
Cf. Ética Cristã. Pr. Osiel Gomes, Youtube in: https://l1nq.com/rSnFA
341

corresponde a mos (moral), no sentido de “normas” ou “regras”. Devido à


proximidade linguística desses termos, muitas vezes eles são usados como
sinônimos. Contudo, devemos defini-los separadamente.
Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos
morais. A palavra ética é derivada do grego, e significa aquilo que pertence
ao caráter. Sobre a origem do termo, a palavra “ética”, no grego é Ethos,
significa Costume, hábito, disposição. No latim, vem de Mos, ou Mores (no
plural), significa vontade, costume, uso, regra; sendo essa a origem da
palavra moral. Daí temos que Ética é a disposição ou vontade de se seguir
bons costumes ou hábitos.
No contexto filosófico, ética e moral possuem diferentes
significados. A ética está associada ao estudo fundamentado dos valores
morais que orientam o comportamento humano em sociedade, enquanto a
moral são os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada
sociedade.291 Assim, entendemos que a diferença entre ética e moral é que a
moral refere-se ao conjunto de normas e princípios que se baseiam na
cultura e nos costumes de determinado grupo social, já a ética é o estudo e
reflexão sobre a moral, que nos diz como viver em sociedade.

10.2 A Perspectiva Ética e Moral292

Enquanto ciência, a ética pode ser entendida como a área da


filosofia que investiga os fundamentos da moral adotada por uma
sociedade. Por conseguinte, a moral refere-se ao comportamento social em
relação às regras estabelecidas. Essas regras podem variar de uma cultura
para outra, podendo sofrer variadas e sistemáticas alterações. Tudo
dependerá da referência de autoridade que serve de fundamento para os
padrões de conduta social.

291
Segundo Chauí, em seu livro Convite à Filosofia (2008), podemos dizer que o Senso
Moral é a maneira como avaliamos nossa situação e a dos outros segundo ideias como a de
justiça, injustiça, bom e mau. Trata-se dos sentimentos morais. Já com relação à Consciência
Moral, Chauí afirma que esta, por sua vez, não se trata apenas dos sentimentos morais, mas se
refere também a avaliações de conduta que nos levam a tomar decisões por nós mesmos, a agir
em conformidade com elas e a responder por elas perante os outros. Isso significa ser
responsável pelas consequências de nossos atos.
292
Cf. Qual a diferença entre ética e moral? A filosofia explica, Youtube in:
https://l1nq.com/dpiyC
342

Como vimos na etimologia das palavras, é comum confundir estes


dois termos; Ética vem do grego “ethos” que significa modo de ser, e Moral
tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes.293
Esta confusão pode ser resolvida com o esclarecimento dos dois
temas, sendo que Moral é um conjunto de normas que regulam o
comportamento do homem em sociedade, e estas normas são adquiridas
pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. Durkheim explicava Moral
como a “ciência dos costumes”, sendo algo anterior à própria sociedade. A
Moral tem caráter obrigatório.
Já a palavra Ética, Motta (1984) defini como um “conjunto de
valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros
homens na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar
social”, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se comportar no seu
meio social.
A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência
Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive.
Surgindo realmente quando o homem passou a fazer parte de
agrupamentos, isto é, surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras
tribos.
A Ética teria surgido com Sócrates, pois se exige maior grau de
cultura. Ela investiga e explica as normas morais, pois leva o homem a agir
não só por tradição, educação ou hábito, mas principalmente por convicção
e inteligência.
Vásquez (1998) aponta que a Ética é teórica e reflexiva, enquanto a
Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra, havendo um
inter-relacionamento entre ambas, pois na ação humana, o conhecer e o
agir são indissociáveis.

10.3 A Ética Cristã e Seus Princípios294

Tem como objetivo indicar a conduta ideal para a retidão do


comportamento cristão. O fundamento moral da Ética Cristã são as
Escrituras Sagradas. Por isso, sua natureza não se altera nem se relativiza.

293
Ética e moral são temas relacionados, mas são diferentes, porque a moral se
fundamenta na obediência a normas, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou
religiosos e a ética, busca fundamentar o modo de viver pelo pensamento humano.
294
Cf. Fundamentos da Ética Cristã. Pastor Josué Brandão, Youtube in:
https://encr.pw/p0obB
343

Desse modo, a Ética Cristã não se desassocia da moral e dos bons costumes
derivados das doutrinas bíblicas.
A Ética Cristã podemos dizer que é o conjunto de regras de conduta,
aceitas pelos cristão, tendo por fundamento a Palavra de Deus. Em
Colossenses 2.8, Paulo nos adverte a vigiar contra todas as filosofias,
religiões e tradições que destacam a importância do homem à parte de Deus
e de sua revelação escrita.
Hoje, uma das maiores ameaças teológicas contra o cristianismo
bíblico é o "humanismo secular", que se tornou a filosofia de base e a
religião aceita em quase toda educação secular e é o ponto de vista
aprovado na maior parte dos meios de comunicação e diversão no mundo
inteiro.
A ética cristã é o sistema de valores morais associado ao
Cristianismo histórico e que retira dele a sustentação teológica e filosófica
de seus preceitos [...] a ética cristã opera a partir de diversos pressupostos e
conceitos que acredita estão revelados nas Escrituras Sagradas pelo único
Deus verdadeiro.
São estes: 1. A existência de um único Deus verdadeiro, criador dos
céus e da terra. 2. A humanidade está num estado decaído, diferente
daquele em que foi criada. 3. O homem não é moralmente neutro, mas
inclinado a tomar decisões contrárias a Deus, ao próximo. 4. Deus
revelou-se à humanidade.
O Deus Trino é santo e imutável. Ele se revelou nas Sagradas
Escrituras, e por isso, a Bíblia é plenamente inspirada por Deus. Nesse
aspecto, os princípios ético-cristãos que derivam das Escrituras são
imutáveis e divinos. Esses princípios têm aplicação adequada para todas as
épocas e culturas, pois são universais. Assim, os padrões ético-cristãos não
podem ser relativizados: “o céu e a terra passarão, mas as minhas palavras
não hão de passar” (Mt 24.35).
Ele se revelou nas Sagradas Escrituras, e por isso, a Bíblia é
plenamente inspirada por Deus: Essa pressuposição é fundamental para a
ética cristã, pois é dessa revelação que ela tira seus conceitos acerca do
mundo, da humanidade e especialmente do que é certo e do que é errado. A
ética cristã reconhece que Deus se revela como Criador através da sua
imagem em nós. Cada pessoa traz, como criatura de Deus, resquícios dessa
imagem, agora deformada pelo egoísmo e desejos de autonomia e
independência de Deus.
344

A consciência das pessoas, embora frequentemente ignorada e


suprimida, reflete por vezes lampejos dos valores divinos. Deus também se
revela através das coisas criadas. O mundo que nos cerca é um testemunho
vivo da divindade, poder e sabedoria de Deus, muito mais do que o
resultado de milhões de anos de evolução cega. Entretanto é através de sua
revelação especial nas Escrituras que Deus nos faz saber acerca de si
próprio, de nós mesmos (pois é nosso Criador), do mundo que nos cerca,
dos seus planos a nosso respeito e da maneira como deveríamos nos portar
no mundo que criou.
O professor Hans Ulrich Reifler salienta sobre a distinção no estudo
da ética, a saber, a geral e a específica. A geral, influenciada pelas
Escrituras, acolhe o mandamento de não furtar, independente da ideologia,
da época e do lugar.

10.4 Os Fundamentos da Ética Cristã295

Neste tópico, mostraremos as principais seções bíblicas, tanto do


Antigo quanto do Novo Testamento, embora seja impossível
mencionarmos o ensino integral da Bíblia sobre o assunto, que norteiam o
senso ético de todo cristão: o Decálogo, os Profetas, os Evangelhos, o
Sermão do Monte, as Epístolas Paulinas e Gerais.
Ética no Decálogo. Os Dez Mandamentos são preceitos éticos que
fazem parte da lei moral de Deus (Êx 20.1-17). Os quatro primeiros tratam
da relação do homem para com o Criador: adoração exclusiva, condenação
à idolatria, alerta acerca do uso do seu santo nome e a sacralidade do tempo
(Êx 20.1-11). Os seis últimos mandamentos referem-se à relação do homem
com o próximo: honra aos pais, zelo pela integridade da vida, repúdio ao
adultério, proibição ao furto, a mentira e a cobiça (Êx 20.12-17). Jesus
ensinou que os dez mandamentos resumem-se nestes dois: amar a Deus e
amar o próximo (Mt 22.37-39).
Sempre que lemos os Dez Mandamentos estamos diante do coração
da Lei de Deus. Podemos dizer que eles são uma espécie de condensação de
toda a Lei e são tão aplicáveis na atualidade quanto foram nos dias de
Moisés. O Decálogo expressa o propósito de Deus para o povo de Israel: uma
nação que andasse em justiça, odiasse o pecado e amasse a santidade. Caso

295
Princípios e Fundamentos da Ética Cristã. Curso Básico Rhema, Youtube in:
https://encr.pw/DSGz5
345

seguissem esse estilo de vida, os judeus resplandecerão como luz às nações


vizinhas. Mas Israel falhou nessa missão e voltou-se contra Deus.
Entretanto, a queda do povo judeu trouxe salvação aos gentios.
Todavia, isso não deve orgulhar ou ensoberbecer a Igreja do Senhor,
representante do Reino de Deus no mundo; pelo contrário, a comunidade
dos santos deve temer a Deus e ouvir o conselho do apóstolo Paulo:
"Porque, se Deus não poupou os ramos naturais [Israel], teme que te não
poupe a ti também [igreja]’’ (Rm 11.2).296
Ética nos Profetas. A mensagem dos profetas do Antigo Testamento
tem uma imensa influência ética para os seguidores de Jesus, abarcando as
esferas morais (Jr 17.1-11; Ml 1.6-14; 2.10-16), sociais (Is 58; Mq 2.1-5) e
espirituais (Jr 31.31,32; Jl 2.28-32).
Se um estudo fosse feito para determinar a contribuição singular
das grandes nações do mundo, verificar-se-ia que a de Israel é a profecia.
Essa dádiva é tão conspícua (distinta, notável) nada a ela se compara na
história, desde períodos antiquíssimos. Os profetas figuram entre os
maiores pregadores do Mundo, e em qualquer lista os profetas hebraicos
ocupam o primeiro lugar. Agostinho dividiu os profetas em 2 grupos;
Profetas Maiores (4) e profetas menores (12).
A Moralidade hebraica alcança seu clímax nos ensinamentos dos
profetas nos ministérios exercidos entre 800 e 400 a.C., destacando-se com
ênfase o profeta Jeremias. As mensagens dos profetas são mais do que
literaturas, são lições vivas e supremas para todas as gerações. Têm valor
permanente. Ignorar os profetas é ignorar a Deus e a História, pois esta é a
sua História.
Ao estudarmos os livros proféticos, vários textos apontam para o
fato de que os profetas trabalham com um conceito ético elevado (leia Is
1.23; 3.14,15; 10.1; Am 4.1; 5.10-12; Jr 22.13). Lendo estes textos chegamos à
conclusão de que aqueles homens pregaram e escreveram ética: a) críticas

296
Os Dez Mandamentos são o resumo da lei moral de Deus para Israel, e descrevem as
obrigações para com Deus e o próximo. Cristo e os apóstolos afirmam que, como expressões
autênticas da santa vontade de Deus, eles permanecem obrigatórios para o crente do NT (Mt
22.37-39; Mc 12.28-34; Lc 10.27; Rm 13.9; Gl 5.1 4; Lv 1 9.1 8; Dt 6.5; 10.1 2; 30.6). Conforme esses
trechos do NT, os Dez Mandamentos resumem-se no amor a Deus e ao próximo; guardá-los não
é apenas uma questão de práticas externas, mas também requer uma atitude do coração [...].
Logo, a lei demanda uma justiça espiritual interior que se expressa em retidão exterior e em
santidade. Os preceitos civis e cerimoniais do AT que regiam o culto e a vida social de Israel [...] já
não são obrigatórios para o crente do NT. Eram tipos de sombras de coisas melhores vindouras, e
cumpriram-se em Jesus Cristo (Hb 10.1; Mt 7.12; 22.37-40; Rm 13.8; Gl 5.14; 6.2). Mesmo assim,
contêm sabedoria e princípios espirituais a todas as gerações [...]
346

ao poder por causa de explorações e opressões relacionadas com o sistema


tributário característico daquela sociedade; b) ênfase no respeito à ordem
comunitária constituída (em hebraico chamado de mishpat) e na prática da
justiça (sedaqah); c) respeito aos direitos dos empobrecidos como
correspondente ético-moral da pertença à fé em YHWH, o Deus de Israel.
Ética nos Evangelhos. Os Evangelhos são as boas novas de Cristo (Mt
9.35). A mensagem registrada pelos evangelistas contém apelo ao
arrependimento, renúncia ao pecado, oferta de perdão, esperança de
salvação e santidade de vida (Mt 3.2; Lc 1.77; 9.62). Os seguidores de Cristo
são convidados a viverem as doutrinas do Evangelho e a adotarem a ética e
a moral do Reino de Deus como estilo de vida (Mc 10.42-45). Paulo
argumenta que até mesmo os pagãos, que não revelam um claro
conhecimento da Lei, demonstram que a obra da Lei está escrita no coração
deles (Rm 2.14, 15).

Aqueles que procuram focar no problema da uma ética cristã se


depararam com uma questão ultrajante desde o início: eles devem
renunciar, por serem inadequadas a este tema, às mesmas duas
questões que os levavam a lidar com o problema ético: “Como
posso ser bom?” e “Como posso fazer algo bom?” Em vez disso,
eles devem fazer outra pergunta completamente diferente: “Qual é
a vontade de Deus?” (BONHOEFFER, 2005, p. 47).

Assim, a tradição cristã abriu novas perspectivas para a ética de


Israel. Diferentemente dos rabinos e suas escolas para o ensino da
interpretação da Lei Mosaica, Jesus transmitiu aos discípulos uma
sabedoria de vida – uma ética – centrada no Reino de Deus e sua justiça, a
serem buscados em primeiros lugar (cf. Mt 6,33). Escolheu um método
existencial “Aprendei de mim” (Mt 11,29) para transmitir um modo de ser
e de agir com o testemunho de vida, palavras e atos. A linguagem
parabólica foi a maneira de pregar o evangelho do Reino. “Nada lhes falava
a não ser em parábolas” (Mc 4,34). A vida e o mundo foram as escolas onde
os discípulos de Jesus se confrontavam com uma “justiça superior à dos
escribas e à dos fariseus” (Mt 5,20).
Jesus não inventou uma nova ética. Antes, foi capaz de mergulhar
nas raízes da fé de Israel e, deste tesouro, “tirar coisas novas e velhas” (Mt
13,52). Seu contexto ético-religioso exigia uma guinada. A prevalência da
347

mentalidade de certas correntes do movimento dos escribas e fariseus deu


origem a uma religião legalista, onde resultava uma ética feita de
submissão aos 613 mandamentos e proibições, nos quais a Torá fora
codificada. A religião e, com ela, a ética, tornaram-se um fardo pesado, um
jugo esmagador, sem espaço para a liberdade. Jesus denunciava os
opositores por causa da conduta imprópria. “Amarram fardos pesados e os
põem sobre os ombros dos homens, mas eles mesmos nem com um dedo se
dispõem a movê-los” (Mt 23,4). Criavam normas para os outros, sem
assumi-las para si.
Entretanto, o novo ethos introduzido por Jesus exigia dos
discípulos profunda renovação interior. A continuidade com a tradição de
Israel comportava, também, descontinuidade. Jesus usou duas parábolas
para falar da disposição para acolher a novidade de sua proposta.
“Ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo
repuxa a roupa e o rasgão torna-se maior. Nem se põe vinho novo em odres
velhos; caso contrário, estouram os odres, o vinho se entorna e os odres
ficam inutilizados. Portanto, o vinho novo se põe em odres novos; assim
ambos se conservam” (Mt 9,16-17). Sua proposta ética não podia ser
confundida com o legalismo farisaico. O Reino de Deus requer grande
abertura de coração para ser acolhido sem reservas. Só assim se poderia
captar a novidade ética do Mestre de Nazaré.
Ética no Sermão do Monte. Este sermão contém princípios do mais
alto ideal moral. Nele são reveladas a ética e a moral do Reino de Deus em
questões como: a ira, o adultério, o divórcio, o juramento, a vingança e o
amor (Mt 5.22,28,32,37,39,44); também aborda a esmola, a oração e os
jejuns (Mt 6.1,5,16); passando pela questão do prejulgamento, dos falsos
profetas e dos alicerces espirituais (Mt 7.1,15,24-27). O Sermão do Monte
está para os cristãos como o Decálogo está para os judeus. Por isso, nosso
Senhor convida a seus seguidores que priorizem o Reino de Deus e a sua
justiça (Mt 6.33).
O Sermão do Monte é uma síntese do novo ethos introduzido por
Jesus. O cristão deve caracterizar-se pela humildade, mansidão,
misericórdia, integridade, busca da justiça e da paz, pelo perdão, pela
veracidade, pela generosidade e acima de tudo pelo amor. O Sermão da
Montanha sintetiza a ética do discípulo, na perspectiva do Reino. Mt 5-7
reúne ensinamentos de Jesus, com paralelos em Marcos e Lucas, em
contextos diferentes. Esse catecismo do discipulado esboça, em grandes
348

linhas, o agir de quem optou por centrar a vida no querer do Pai, nos passos
de Jesus. Pode ser chamado de Torá (instrução, ensino) cristã, pois não
pretende ser uma lei, no sentido jurídico do termo, e, sim, uma orientação,
um projeto de vida.
As bem-aventuranças descrevem o caráter equilibrado e
diversificado do povo cristão. São oito qualidades que cada cristão deve ter.
Cada qualidade foi elogiada, enquanto cada pessoa que a possui foi
declarada “bem-aventurada”. A palavra grega makarios significa “feliz”. O
homem que reagir ao seu ambiente com esse espírito terá uma vida feliz. As
promessas de Jesus nas bem-aventuranças têm cumprimento presente e
futuro. As bem-aventuranças não podem ser vistas como uma “nova lei”
deixada por Jesus para alcançarmos a salvação. A salvação é pela graça. As
quatro primeiras bem-aventuranças descrevem o relacionamento do
cristão com Deus, e as outras quatro, o seu relacionamento e deveres para
com o próximo.
Ética nas Cartas Paulinas e Gerais. As Epístolas Paulinas, bem como
as gerais, trazem ensinamentos aprofundados sobre a nossa relação com
Deus (Rm 12.1,2; Hb 13.7-17), com o Estado (Rm 13.1-7; 1Pe 2.11-17), com o
próximo (Rm 13.8-10; 14.1-12; 1Jo 3.11-24), a injustiça social (Tg 2.1-13;
5.1-6), a questão da sexualidade cristã e do casamento (1Co 6.12-20; 1Co
7.10-24).
No Novo Testamento há treze cartas escritas por Paulo. Em cada
uma destas cartas, Paulo dá um ensino específico como norma de vida aos
crentes da sua e da nossa época. O Novo Testamento contém várias cartas
menores, que são chamadas de “universais”. Com exceção de 2º e 3º João,
são dirigidas à igreja em geral.297
Chamados a vida ética. Os israelitas foram reprovados por não
obedecerem a lei moral outorgada por Deus no deserto. Tal registro foi feito
para a nossa advertência, pois as Escrituras dizem acerca do perigo de não
vivermos o ideal ético do Reino (1Co 10.5).
Não cobiçamos as coisas más. Paulo adverte a Igreja em Corinto a
não incorrer no pecado da cobiça (1Co 10.6 NAA). No deserto os israelitas
cobiçam o que lhes fora proibido e, por isso, sentiram saudades do Egito
(Nm 11.4,5). Infelizmente, ainda hoje, pseudocristãos cobiçam os prazeres

297
Historiador e estadista, Churchill não ignorava a influência da Bíblia Sagrada na
formação das grandes nações. Sabia que, sem ela, a Civilização Ocidental seria inviável. Por isso,
foi tão categórico ao analisar as conquistas espirituais e morais da Inglaterra: ‘O estandarte da
ética cristã [a Bíblia] é, ainda, o nosso mais importante guia.
349

do mundo. Assim, preferem o hedonismo e a escravidão do pecado a


cumprirem a lei moral do Pai.
Matthew Henry comenta 1Co 10.5:

O apóstolo expõe ante os coríntios o exemplo da nação judaica de


antigamente para dissuadi-los da comunhão com os idólatras e da
segurança em algum caminho pecaminoso. Por milagre cruzaram o
Mar Vermelho, onde foi afogado o exército egípcio que os
perseguia. Para eles, este foi um batismo típico. O maná do qual se
alimentavam era um tipo de Cristo crucificado, o Pão que desceu do
céu, e os que dele comam viverão para sempre. Cristo é a Rocha
sobre a qual se edifica a Igreja cristã; e dos riachos que dali surgem,
bebem e se refrescam todos os crentes. Isto tipifica as influências
sagradas do Espírito Santo, entregue aos crentes por meio de
Cristo, mas que ninguém presuma de seus grandes privilégios ou
de sua profissão da vaidade: elas não asseguram a felicidade
celestial.

Paulo declara que: “Ora, estas coisas se tornaram exemplos para


nós, a fim de que não cobiçamos as coisas más, como eles cobiçaram” (1Co
10.6). Embora este versículo fale a respeito de Israel quando do episódio do
êxodo; podemos, contudo, presumir que ele serve, também, para todos os
exemplos, especialmente, os ruins! Creio eu, que a Bíblia nos mostra os
erros, pecados e fraquezas dos homens, não para que justifiquemos os
nossos, como diriam alguns: “Se Abraão, Davi, Elias e outros erraram, eu
também posso errar”.
Eu classificaria essa afirmativa como “meia verdade” ou uma
“verdade incompleta”, pois, errar até podemos, mas, “não devemos”. Ao
contrário disto, mostrando-nos o (ruim) proceder desses homens, a bíblia,
deixa-nos o exemplo para que vejamos e creiamos na possibilidade de
sermos como eles em suas virtudes e não nos defeitos e fraquezas”.
Não vos torneis idólatras. O apóstolo exorta acerca do perigo da
idolatria (1Co 10.7). Enquanto Moisés recebia as tábuas da Lei (Êx 31.18), os
israelitas se corromperam adorando um bezerro de ouro (Êx 32.1-6). O ato
de idolatria não consiste apenas na adoração de uma imagem. Falsos
cristãos desprovidos da ética das Escrituras adoram o dinheiro e os bens
materiais. A Bíblia chama esse pecado de idolatria (Cl 3.5).
350

O Comentário da Bíblia Diário Viver sobre 1Co 10.7 traz:

“O incidente mencionado em 10.7 se refere à quando os israelitas


fizeram o bezerro de ouro e o adoraram no deserto (Êx 32). O
incidente em 10.8 é a menção de Nm 25.1-9 quando os israelitas
adoraram ao Baal-peor e se envolveram em imoralidade sexual
com mulheres moabitas. A referência em 10.9 é à queixa e chateio
dos israelitas por sua alimentação (Nm 21.5-6). Puseram ao Senhor
a prova, para ver quão longe podem ir. Em 10.10, Paulo se refere a
quando o povo se queixou contra Moisés e Arão e lhes sobreveio às
pragas (Nm 14.2, Nm 14.36; Nm 16.41-50). O extermínio do anjo se
refere a Ex 12.23.298

A recomendação paulina é que nos consideremos mortos e


insensíveis a pecados perigosos e indomáveis: fornicação, impureza,
paixões desordenadas, maus desejos e avareza. Estas práticas devem ser
cortadas antes que se tornem poderosas e indestrutíveis e acabam por nos
destruir. Devemos fazer cada dia uma decisão conscienciosa para tirar algo
que sustente ou alimente estes desejos e dependa do poder do Espírito
Santo.
Só o Senhor Deus de Israel deve ser cultuado. Todo outro culto é
proibido e constitui idolatria (Ex 20,3-6; Dt 5,7-10). Israel acreditou na

298
Além das Sagradas Escrituras, a Igreja de Cristo tem uma tradição riquíssima em
decisões de questões éticas, como aborda muito bem o pastor Claudionor de Andrade: ‘Se, por um
lado, não podemos escravizar-nos à tradição, por outro, não devemos desprezá-la. Sem o legado
dos que nos precederam, jamais teríamos conseguido estruturar nosso edifício teológico, moral e
ético. Logo, é-nos permitido eleger a tradição eclesiástica como o segundo fundamento da Ética
Cristã. [...] A tradição, quando bem utilizada, assessora a Igreja nos dilemas teológicos, morais e
éticos. O apóstolo Paulo reconhece-lhe a importância: ‘Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do
Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a
tradição que de nós recebestes’ (2Ts 3.6). O que não podemos fazer é colocá-la de pé de igualdade
com a Bíblia. A Didaqué é um dos tratados mais antigos e tradicionais da Igreja Cristã. Produzida
ainda nos dias apostólicos, ajudou os primeiros cristãos a posicionarem-se espiritual e
eticamente. A Doutrina dos Doze Apóstolos, como também é conhecida, realçava-se por
amorosas admoestações, conforme podemos observar: ‘Há dois caminhos: um da vida e outro da
morte. A diferença entre ambos é grande. O caminho da vida é, pois, o seguinte: primeiro amarás
a Deus que te fez: depois teu próximo como a ti mesmo. E tudo o que não queres que seja feito a
ti, não o faças a outro’. Mais adiante, prossegue o autor anônimo, citando as práticas que
conduzem o ser humano à perdição: ‘Mortes, adultérios, paixões, fornicações, roubos, idolatrias,
práticas mágicas, rapinagens, falsos testemunhos, hipocrisias, ambiguidades, fraude, orgulho,
maldade, arrogância, cobiça, má conversa, ciúme, insolência, extravagância, jactância, vaidade e
ausência do temor de Deus” (cf. ANDRADE, Claudionor de. As Novas Fronteiras da Ética Cristã. 1ª
Edição. RJ: CPAD, 2017, pp.17,18).
351

existência de outros deuses (Jz 11,23s) e se deixou seduzir pelo culto a


deuses cananeus, assírios e babilônios (Nm 25,3; Jz 2,12; 1Rs 14,22-24; 2Rs
21,2-15). Os deuses e suas imagens (cf. Dt 4,15-24 e nota) são invenção dos
homens (Rm 1,23) e um grave pecado (Sl 96,5; Sb 13,1-5; Rm 1,23-25; 1Cor
5,10s). Também a cobiça de riquezas é idolatria (Cl 3,5; Ef 5,5).
E não pratiquemos a imoralidade. À luz da história dos israelitas, o
apóstolo alerta acerca da maldição provocada pela prostituição (1Co 10.8). A
imoralidade encabeça a lista das obras da carne: “prostituição, impureza,
lascívia” (Gl 5.19). Muitos, em nome da “graça barata”, justificam a
imoralidade e a sensualidade em suas vidas. A Palavra nos ensina que é
preciso conservar o nosso corpo irrepreensível (1Co 6.18,19; 1Ts 5.23).
Todos temos desejos naturais para o mal e não os podemos ignorar.
A fim de seguir a guia do Espírito Santo devemos enfrentá-los com
decisão (crucificá-los, Gl 5.24). Estes desejos incluem pecados óbvios tais
como imoralidade sexual e feitiçaria. Também incluem pecados menos
óbvios como a ambição, o ódio e o ciúme. O ignorar nossos pecados ou
recusar enfrentá-los revela que não recebemos o dom do Espírito que guia
e transforma nossa vida!
Não sei a que se refere o comentarista quando usa o termo “graça
barata”, contudo, foi Dietrich Bonhoeffer, pastor e teólogo da Igreja
Luterana da Alemanha (martirizado aos 39 anos pelos nazistas).

“A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o


batismo sem a disciplina de uma congregação, é a Ceia do Senhor
sem confissão dos pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A
graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça
sem Jesus Cristo vivo, encarnado”.

O que quer dizer Paulo quando manifesta que nossos corpos


pertencem a Deus? Muitos dizem que têm o direito de fazer com seus
corpos o que queiram. Embora pensem que isso é liberdade, não são a não
ser escravos de seus desejos. Quando decidimos seguir a Cristo, o Espírito
Santo vem a nossas vidas e vive em nós.
Portanto, deixamos de ser donos de nossos corpos. "Comprados
por preço" se refere a um escravo que foi comprado em um leilão. Se você
vive em um edifício alheio, procura não violar as normas estabelecidas em
352

dito lugar. Como seu corpo pertence a Cristo, não deve violar suas normas
em seu jornal viver.
Concluímos com a afirmação de que a Bíblia Sagrada é o
fundamento para o viver ético-moral dos cristãos. É a única regra infalível
de fé e de conduta para a Igreja (2Tm 3.16). Portanto, em tempos de ataques
ideológicos contra a cultura judaico-cristã, a Igreja não deve furtar-se de
ser o “sal da terra” e a “luz do mundo” em pleno século XXI (Mt 5.13,14).299

10.5 A Liderança Cristã300

“Quando os justos se multiplicam, o povo se alegra; quando o


ímpio domina, então o povo lamenta” (Pv 29.2 NAA). O propósito da
liderança cristã é conscientizar os alunos sobre a importância da
personalidade, do preparo intelectual e espiritual e, desenvolver
habilidades de liderança para o desempenho ministerial.
Segundo Dusek, podemos assim definir e conceituar liderança:
liderar é alcançar resultados através das pessoas, com as pessoas, para as
pessoas, nas pessoas. Liderar é realizar de forma metodológica e
sistemática objetivos de organização, através de objetivos individuais de
pessoas. Liderar é evitar que os objetivos individuais bloqueiem os
objetivos da organização.
Harold Geneen in Haggai completa, asseverando que liderança
também pode ser: Capacidade de inspirar outras pessoas a trabalhar juntas
como um time, sob sua direção, de maneira a atingir um objetivo comum,
seja nos negócios, na política, na guerra ou num campo de futebol.
É impossível alguém fazer isso sozinho, é preciso que outros
queiram seguir uma liderança. Por isso, necessita-se de esforço e
influência especial dentro do grupo no sentido de levá-los a atingir metas
de permanentes benefícios que atendam as necessidades reais do grupo: a)
conscientemente: indica uma dedicação total da parte do líder à sua tarefa
de liderar, b) influência especial: essa influência não é forçada sobre outros.

299
A Encíclica Veritatis Splendor, de João Paulo II, afirma a existência de uma verdade
moral objetiva, baseada na lei natural e na revelação divina. A consciência é o julgamento prático
da razão sobre a moralidade de um ato específico, mas pode errar. Os atos intrinsecamente maus
são sempre errados, independentemente das circunstâncias ou das intenções da pessoa que os
pratica. Cf. Carta Encíclica: Veritatis Splendor. Gabriel Zavitoski, Youtube in:
https://www.youtube.com/watch?v=_UpqZqz0lc8
300
Cf. Liderança a partir de 2 Timóteo. Josué Gonçalves, Youtube in:
https://encr.pw/AQG5F
353

A força do líder emana da profunda confiança que seus seguidores


depositam nele, c) metas: de um modo geral ela se refere a visão do líder. É
a visão que distingue uma pessoa e faz dela uma líder, d) permanência: a
visão do líder deve focalizar mudanças que permaneçam, durem e resistam
– pelo tempo e eternidade. e) um líder mantém uma sensibilidade, uma
percepção aguçada, em relação às pessoas que Deus lhes confiou e pelas
quais é responsável. Para exercer este tipo de liderança é necessária:
previsão, sabedoria, discernimento, determinação e conhecimento da
vontade de Deus.
O líder não é apenas alguém que está à frente, que se destaca do
grupo, o líder cristão é alguém que de alguma forma influencia o grupo, de
forma que, só pode ser consolidado e gerar frutos se for baseado na Bíblia,
tendo Cristo como modelo.
De um modo geral, as pessoas entendem mal o conceito de líder.
Por exemplo, chefiar é atingir os objetivos através dos recursos humanos e
materiais. O chefe é instituído formalmente e, geralmente, tem
subordinados. Liderança é o processo de conduzir um grupo de pessoas a
um objetivo comum. Líder é aquele que recebe tal responsabilidade,
assumindo o compromisso de levar o grupo àquele objetivo.
Portanto, liderar exige conhecimentos, técnicas e aprendizado
contínuo no trato de pessoas. Não confunda administrar coisas com liderar
pessoas! Liderar não é administrar templos, finanças, organizações. Você
pode ser um ótimo administrador das finanças da sua igreja, por exemplo,
e não ter nenhuma liderança nesta área. Portanto, o líder tem o foco:
1. nas pessoas: elas são o alvo da liderança. Não se lidera coisas,
lidera-se pessoas!
2. nos objetivos: sem objetivo, o grupo se perde, o líder não sabe
para onde liderar seu grupo. Um objetivo principal. Exemplo: EBD -
objetivo: levar almas ao conhecimento de Jesus, através do ensino da Bíblia.

10.6 Estilos e Técnicas de Liderança301

Existem vários estilos de liderança que podem ser adotados por


indivíduos em diferentes contextos e situações. Cada estilo de liderança

301
Cf. Liderança de Sucesso | Série Profissional do Futuro. Prazer, Karnal - Canal
Oficial de Leandro Karnal, Youtube in: https://l1nq.com/Pn5lh
354

tem suas próprias características, abordagens e impactos na equipe ou


organização. Aqui estão alguns dos estilos de liderança mais comuns:
1. autocrática: decide tudo sozinho. Não dá espaço para novos
líderes. Exigente. Foco nos “resultados” e não nas pessoas.
2. democrática: não decide nada, deixa tudo para que os liderados
decidam. Foco nas pessoas e não no objetivo.
3. volúvel: vai de acordo com a onda. Muda o objetivo de acordo com
“as novidades”.
4. detalhista: perde-se em detalhes e perfeccionismo. Preocupa-se
mais com os métodos que o objetivo.
5. responsável: assume a responsabilidade da liderança, motivando
o grupo a atingir o objetivo. Trabalhar com foco nas pessoas sem perder de
vista o objetivo.
As técnicas de liderança são as habilidades e abordagens que os
líderes utilizam para influenciar e guiar suas equipes ou organizações. Aqui
estão algumas técnicas comuns de liderança:
1. comunicar: informar de maneira clara, direta e simples.
Transmitir a visão da necessidade de conseguir o objetivo.
2. delegar: acionar os recursos dos seus liderados (dons) na direção
do objetivo. Fazer com que 1+1 seja igual a 3, e não 2. Organizar tarefas e
funções. Formar equipes.
3. inovar: aceitar mudanças e novas ideias. A única coisa que o bom
líder não cede é quanto ao objetivo. No caso do líder cristão, não cede
quanto à doutrina bíblica.
4. motivar: incentivar novas lideranças. Elogiar (no sentido de
reconhecimento)302. Estimular a participação dos liderados nos processos
que levam ao objetivo final. Ser exemplo de conduta.
5. planejar: ter uma visão de longo prazo, definindo prioridades.
Treinar as lideranças. Adotar metodologias compatíveis com os objetivos.
O maior exemplo de liderança: Jesus.
a) seu objetivo: salvar os homens do pecado, do mal e da morte.
b) comunicou: sua mensagem de amor e nova vida, na linguagem do
povo da época (parábolas).
c) pregou em aramaico (língua corrente da Palestina).

302
Muitas vezes, as pessoas confundem elogios com infantilizar as pessoas. Isso é
exatamente o oposto desta proposta. Elogiar é reconhecer os avanços das pessoas, dar a elas (de
tempo em tempo) feedbacks quanto ao seu bom desenvolvimento nas tarefas.
355

d) delegou: a missão de espalhar a mensagem de salvação a todo o


mundo.
e) inovou: rompeu com as arcaicas tradições religiosas da época.
f) ensinou ao ar livre, concedeu perdão a prostitutas e cobradores de
impostos, curou no sábado.
g) motivou: enviou Seu Espírito para que seus discípulos saíssem
das casas-esconderijos. Foi exemplo de conduta em todas as áreas
humanas.
g) planejou: deu ordens específicas (amai-vos uns aos outros) e
escolheu 12 homens para a liderança, treinando-os durante 3 anos.

10.7 Administração Eclesiástica303

Administração é o processo de planejar, organizar, dirigir e


controlar o uso de recursos a fim de alcançar os objetivos. As palavras
Administração vem do latim (direção, tendência para...) minister
(subordinação, obediência).
Os pilares da administração são quatro funções que são essenciais
para o sucesso de qualquer organização: planejamento, organização,
direção e controle: a) Planejamento é o processo de definir objetivos e
delinear estratégias para alcançá-los. b) Organização é o processo de
estruturar a organização de forma a alcançar seus objetivos. c) Direção é o
processo de liderar e motivar os funcionários para que alcancem os
objetivos da organização. d) Controle é o processo de monitorar o
desempenho da organização e tomar medidas corretivas quando
necessário.
A administração eclesiástica é a aplicação dos princípios da
administração às organizações religiosas. Os pilares da administração
eclesiástica são os mesmos que os da administração geral, mas são
adaptados às necessidades específicas das organizações religiosas.
A principal diferença entre administração e administração
eclesiástica é que a administração eclesiástica está sujeita a princípios
religiosos e morais. Por exemplo, a administração eclesiástica deve estar
alinhada com os ensinamentos da religião em que está inserida. Além

303
Cf. Administração Eclesiástica - Pr. Douglas Baptista. Teologia Pentecostal
Assembleiana, Youtube in: https://encr.pw/szZX4
356

disso, a administração eclesiástica deve ser justa e equitativa para todos os


membros da organização religiosa.
Aqui estão alguns exemplos de como os pilares da administração
são aplicados à administração eclesiástica:
a) Planejamento: uma organização religiosa pode planejar o
crescimento de sua congregação, o desenvolvimento de novos programas
ou a construção de um novo edifício.
c) Organização: uma organização religiosa pode organizar sua
estrutura de liderança, seus departamentos e seus recursos.
c) Direção: uma organização religiosa pode liderar seus membros
para alcançarem seus objetivos espirituais.
d) Controle: uma organização religiosa pode monitorar seu
desempenho financeiro, seu número de membros e suas atividades
missionárias.
A administração eclesiástica é uma área importante para as
organizações religiosas. A aplicação dos princípios da administração às
organizações religiosas pode ajudar a garantir que elas sejam eficazes em
alcançar seus objetivos.
Controlar o trabalho de membros de uma organização e de usar
todos os recursos disponíveis para alcançar objetivos estabelecidos. Já a
administração eclesiástica é o estudo dos diversos assuntos ligados ao
trabalho de organização da Igreja de Cristo, ela leva em conta pontos
cruciais da igreja como organização, e não como organismo.
A Bíblia, tanto no AT, como no NT cita grandes princípios
administrativos (Ex 18.13-37; Mt 10.1; 1Co 14.33). Em suma, administrar é a
arte de pensar, de decidir e de agir; é a arte de fazer acontecer, de obter
resultados. Resultados que podem ser definidos, previstos, analisados e
avaliados, mas que têm de ser alcançados através das pessoas e numa
interação humana constante.
A máxima do administrador é extrair e fazer o melhor com os
recursos que tem com os objetivos de: maximizar resultados, cumprir a lei,
informar a comunidade, controle, proporcionar um crescimento
sustentável, possibilitar a mensuração de resultados, a previsibilidade de
resultado, o planejamento viável, criar padronizações, os pessoas e as
coisas nos seus devidos lugares, formar liderados e líderes conscientes.
357

10.8 O Foco Ministerial304

A teologia do foco ministerial é um conceito que enfatiza a


importância de os ministros concentrarem seus esforços em uma área
específica de ministério. Essa abordagem é baseada na crença de que os
ministros são mais eficazes quando estão focados em um conjunto
específico de habilidades e talentos.
Há uma série de razões pelas quais a teologia do foco ministerial
pode ser benéfica. Em primeiro lugar, pode ajudar os ministros a evitar o
esgotamento. Quando os ministros estão focados em uma área específica de
ministério, eles são menos propensos a se sentir sobrecarregados ou
sobrecarregados. Em segundo lugar, a teologia do foco ministerial pode
ajudar os ministros a serem mais eficazes em seu ministério. Quando os
ministros estão focados em um conjunto específico de habilidades e
talentos, eles são mais propensos a usar essas habilidades e talentos de
uma forma que seja benéfica para aqueles a quem servem.
A teologia do foco ministerial não é uma abordagem nova para o
ministério. Na verdade, esse conceito foi expresso na Bíblia. Em 1 Coríntios
12, Paulo fala sobre os diferentes dons espirituais que foram dados aos
cristãos. Ele diz que cada cristão tem um dom espiritual único, e que esses
dons devem ser usados para o bem da igreja.
A teologia do foco ministerial é um conceito importante para os
ministros que desejam ser eficazes em seu ministério. Ao concentrarem
seus esforços em uma área específica de ministério, os ministros podem
evitar o esgotamento e ser mais eficazes em seu ministério:
a) visão (o que faremos),
b) missão (o que queremos),
c) diagnóstico organizacional,
d) planejamento estratégico,
e) implementação e acompanhamento,
f) liderança pelo exemplo,
g) gestão de tempo, o tempo é a única coisa igual para todos,
h) gestão financeira,
i) controles organizacionais,
j) contabilidade,

304
Cf. Qual o Limite de um Líder Ministerial? - Luciano Subirá. Josué Gonçalves,
Youtube in: https://l1nq.com/2ms3r
358

l) estratégia ministerial.
Estratégia tem a ver com ser diferente, criar e oferecer um
composto único de valor ao mercado (Michael Porter, 1996). São 03 as
estratégias atualmente usadas pelas empresas segundo o autor, a saber:
estratégia de custo, estratégia de diferenciação, enfoque, referências de
áreas específicas.

Conhece te a ti mesmo e ao teu inimigo, e,


em cem batalhas que sejam, nunca correrás perigo;
Quando te conheces, mas desconhece teu inimigo,
as tuas hipóteses de perder ou ganhar são iguais;
Se te desconheces e ao teu inimigo também,
É certo que, em qualquer batalha correrás perigo
(Sun Tzu).

A gestão não pode fugir dos princípios universais, deve atentar


para a elaboração dos balanços e relatórios, isso gera satisfação aos
membros associados, acionistas, sociedade, transparência na gestão. (deve
começar do pouco, mesmo que vá há uma papelaria, peça nota fiscal).

10.9 A Formação do Ministério305

A formalização do ministério: sair da informalidade (registros,


rádios piratas). A missão deve responder o que a Igreja ou a organização se
propõe a fazer, e para quem. É o DNA da Organização.
O enunciado da missão é uma declaração concisa do propósito e das
responsabilidades da sua Igreja perante os anseios da comunidade. O
propósito é algo com muito mais significado do que a simples descrição do
que é feito internamente; a missão retrata a verdade de que o resultado da
empresa é maior do que a soma das partes do que é feito:
a) Por que a Igreja existe?
b) O que a Igreja faz?
c) Para quem?
d) Foco na comunidade!

305
Cf. Como Fazer a Igreja Crescer e Avançar? | Trocando Ideias | Rev. Hernandes Dias
Lopes. Igreja Presbiteriana de Pinheiros, Youtube in: https://encr.pw/lTwmB
359

Uma vez estabelecidos tais clientes, que devem representar o foco


da organização, esta deve entender as suas necessidades, de modo que
possa identificar que valores agregar aos seus clientes através do
fornecimento de produto(s) e/ou da prestação de serviço(s).
O foco da organização deve estar nos valores que pretende agregar
aos seus clientes e não nos produto(s) e/ou serviço(s) que oferece. Além dos
clientes, acionistas, fornecedores, empregados e a comunidade como
partes interessadas que devem ser contempladas pela missão de uma
organização.
a) Exemplos de Missão: Prover crédito de qualidade às empresas, de
forma a promover o seu crescimento sustentável no mercado, gerando
novos empregos e impostos para a comunidade, visando ainda o aumento
de sua lucratividade e a criação de valor e riqueza para seus acionistas e
stakeholders.
b) Exemplos de Missão: Transmitir conhecimento de alta qualidade
e fidelidade a comunidade, visando à transformação do ser humano, com o
firme propósito de formar e forjar nas pessoas, um caráter e moral
elevados, tendo como base a Palavra de Deus.
Frase Interessante: “Conhecer o propósito de Deus (missão) na sua
vida, é o caminho mais “fácil” para você conhecer o que Deus permite
acontecer na sua vida.” E para descobrirmos melhor nossa missão no
mundo, segue algumas dicas importantes:
a) Quais são minhas virtudes e minhas melhores características
pessoais?
b) Quais são os meus defeitos e as minhas limitações?
c) Quais são os sentimentos e as emoções que mais incidem na
minha vida social e de que maneira o fazem?
d) Que resultados eu obtive até o momento com a minha maneira
de ser?
e) Como é minha vida atualmente?
f) O que realmente eu gosto de fazer?
g) O que faço é suficiente para produzir os resultados financeiros e
viver dignamente enquanto trabalho no meu projeto de vida?
h) Aliás, eu tenho um projeto claro e definido de vida?
360

10.10 A Visão da Missão306

Pesquisa realizada pela Revista Negócios: 84% dos executivos estão


infelizes no trabalho. 40% dos executivos não têm filhos. 54% dos
executivos estão insatisfeitos com o tempo dedicado à vida pessoal. 58%
acham que os cônjuges estão descontentes com o ritmo excessivo de
trabalho. A infelicidade mencionada por 84% dos entrevistados, reflete
uma falta de reconhecimento no ambiente de trabalho e o absoluto
distanciamento de sua missão. Em suma, 84% deles ainda não descobriram
o seu lugar no mundo e estão sujeitos às regras do mercado para
sobrevivência.
Devemos entender a missão como um projeto de vida, construída
sob um horizonte de médio e longo prazo e sobre princípios sólidos e
duradouros. É um projeto de vida, uma experiência que acompanha o ser
humano durante muito tempo, uma causa nobre servindo de base para o
desenvolvimento pessoal e profissional.
Fundamentalmente, a missão pessoal ou a missão de uma empresa
torna-se sua constituição, a expressão sólida de sua visão de mundo e de
seus valores. Ela se torna o critério pelo qual o gestor passa a medir tudo
que está em sua vida e de posse da sua compreensão, coloca-se a trabalhar.
Ainda que você seja bem-sucedido na vida, pense um pouco: que espécie de
vida é essa? Que tipo de sucesso é esse que obrigou você a nunca fazer nada
que quis, em toda a sua vida? Para você começar a mudar sua vida, primeiro
desenvolva sua missão pessoal. Ela se concentra naquilo que a pessoa
deseja ser (caráter), fazer (contribuições e conquistas) e nos valores e
princípios nos quais o ser e o fazer estão fundados. Uma vez que cada ser
humano é único, sua missão será única.
Exemplo de um modo de vida pessoal para orientação de sua futura
missão pessoal: Primeiro, seja bem sucedido no lar. Busque e seja digno da
ajuda divina. Jamais comprometa sua honestidade. Lembre-se das pessoas
envolvidas. Ouça os dois lados antes de julgar. Procure se aconselhar com
os outros. Defenda os ausentes. Seja sincero e firme. Desenvolva uma nova
habilidade por ano. Planeje hoje o trabalho de amanhã. Ocupe-se enquanto
espera. Mantenha uma atitude positiva. Tenha senso de humor. Seja
organizado pessoal e profissionalmente. Não tenha medo dos erros. Tema

306
Cf. Igreja: Visão, Missão e Valores - Ricardo Mota. Igreja Presbiteriana de Santo
Amaro, Youtube in: https://encr.pw/hyg4x
361

apenas a falta de respostas criativas, construtivas e capazes de superar


esses erros. Facilite o sucesso dos subordinados. Ouça o dobro do que fala.
Concentre todas as habilidades e todos os esforços no trabalho que tem à
sua frente, sem se preocupar com o emprego ou a promoção.
A missão pessoal deve responder a uma questão básica da
existência humana; porque somos obrigados a fazer coisas que nada tem a
ver com nossa vontade ou com nossa maneira de ver o mundo? A missão
pessoal tem que remeter a uma melhoria da qualidade de vida das pessoas,
tanto profissional, quanto pessoal, quanto financeira, familiar, etc.
A missão pessoal atende a quatro propósitos distintos:
1. Permite concentrar esforços numa única direção.
2. Amplia o sentido da vocação.
3. Realça os pontos fortes do indivíduo.
4. Estimula o sentido de realização.
A visão deve retratar um estado futuro desejado. O enunciado da
visão é a descrição do futuro desejado para a empresa. Esse enunciado
reflete o alvo a ser procurado. O enunciado da visão deve conter tanto a
aspiração, como a inspiração. A aspiração de tornar-se “algo”, é a
inspiração porque esse “algo” deve merecer e valer a pena ser
concretizado, deve-se sentir orgulho em participar da construção dessa
visão.
Ou seja, deve ter luz suficiente (inspiração) para apontar o caminho
que leva à concretização da aspiração. A visão precisa ser prática, realista e
visível (nós não alcançamos aquilo que nós não vemos), pois não passará
de uma mera alucinação, se ela sugerir ou propuser resultados inatingíveis.
Considerando sua missão, a organização deve conceber uma visão
que retrata um estado futuro desejado capaz de responder
fundamentalmente a uma questão: “o que queremos ao longo deste nosso
caminho pela missão? O enunciado da visão, além dos aspectos de
aspiração e inspiração, de ser prática, realista e visível, enfim deve facilitar
a resposta às seguintes perguntas: a) No que a empresa quer se tornar? b)
Qual a direção é apontada? c) Onde nós estaremos? d) O que a empresa
será? e) Em que direção eu devo apontar meus esforços? f) Eu estou
ajudando a construir o que? g) Os recursos investidos estão levando a
empresa para onde?
362

A visão deve ser de longo prazo. Em minha opinião sugiro que a


visão contemple um horizonte de no máximo três a cinco anos.
Vários autores sugerem de cinco a dez anos e outros chegam a falar
em até 30 anos. A visão deve ter uma descrição clara. É essencial
“pintar-se” um quadro retratando o que deve parecer a situação
futura desejada. Ex: Construirei um carro a motor para a grande
multidão [...]. Ele será tão baixo em preço que nenhum homem,
com um bom salário, estará incapacitado de ter um e de desfrutar
com sua família a bênção de horas de prazer nos ótimos lugares
livres de Deus [...]. Quando tiver terminado, todos estarão aptos a
ter um e cada um terá um. O cavalo terá desaparecido de nossas
estradas, o automóvel será aceito [...] [e iremos] proporcionar a um
grande número de homens emprego com bons ordenados (Henry
Ford).

A visão deve estar alinhada com os valores centrais da organização.


Os valores centrais de uma organização são seus princípios, morais, éticos,
dentre outros, os quais norteiam o dia a dia da organização.
A visão deve ser inspiradora e impulsionadora. O gap entre a visão e
a realidade atual deve propiciar a geração de uma energia criativa suficiente
para consecução daquilo que pode parecer insensato ou mesmo absurdo.
Por exemplo, a realização de “um homem na lua ao final dos anos 60” é um
excelente exemplo da capacidade criativa do ser humano.
A visão deve prover focalização e alinhamento. Foco e alinhamento
estão intimamente ligados. Estas características da visão estão fortemente
respaldadas no estabelecimento de um estado futuro desejado que rompa
com o status quo, na contínua orientação pela missão e os valores centrais
da organização e no claro entendimento da visão, especialmente através de
imagens compartilhadas por todos.
A visão deve confrontar padrões atuais. O estabelecimento de uma
visão exige pensar além das capacidades atuais da organização e de seu
ambiente competitivo atual, deve se ter fé aliada à prática diária para se
chegar lá.

VISÃO MISSÃO

É o que se sonha para o negócio É o que se identifica para o


363

negócio

Para onde vamos? Onde estamos?

Passaporte para o futuro Carteira de identidade

Energizar a empresa Dá o rumo

Inspiradora Motivadora

Visão e Missão não são apenas declarações lidas ou escritas para


fazer parte do planejamento estratégico ou do plano de negócio. Elas devem
existir independentemente e atuar como orientadores do negócio. E deve
revelar paixão, entusiasmo, uma filosofia de vida. Visionário não quer dizer
relaxado e sem disciplina. Justamente o contrário, porque as empresas
visionárias sabem claramente quem são o que lhes interessa e a meta que
querem atingir.
Todas as coisas são criadas duas vezes. Há uma criação mental ou
inicial, e depois uma criação física ou segunda criação, em todas as coisas.
Mais importante do que uma missão e missão bem estruturadas é não
deixar morrer o sonho. “Perguntas do tipo “como estamos nos saindo”,
“como podemos melhorar”, “qual é o nosso negócio”, “em qual mercado
estamos“, “qual é o nível de desempenho esperado por nossos usuários”.
Nesse sentido, disciplina é fundamental. Onde não há disciplina,
não há caráter. E sem caráter não há progresso. As organizações não
alcançam posições superiores às outras, por ter uma visão e missão, mas
sim por aplicá-las no dia a dia, e serem extremamente exigentes consigo
mesmas.

10.11 Planejamento Eficiente307

Dicas para o planejamento de uma visão: Não discuta consigo


mesmo, apenas exercite a elaboração da visão e coloque as idéias no papel.
Na medida que os seus negócios estão crescendo, concentre-se sempre nos
objetivos (foco), e revisem sempre seus planos.

307
Cf. Como criar um planejamento eficiente em apenas 100 segundos. Portal
Administradores, Youtube in: https://l1nq.com/HrQ1U
364

O homem que trabalha sem um propósito definido, que não é


apoiado por um plano definitivo para sua execução, se assemelha ao navio
que perdeu o leme. Trabalho árduo e boas intenções não são suficientes
para conduzir um homem ao triunfo, pois como pode um homem estar
certo de que o alcançou, sem antes ter tido um alvo a conquistar?
A construção de uma visão duradoura passa por uma escolha,
optamos por um caminho e não por outro, ou outros, e temos que ser fiéis a
esta opção, e lembrar que mesmo que a visão é para o futuro, sua atenção
está no presente e o futuro é determinado pelas escolhas e ações realizadas
no presente.
A dificuldade de se construir uma visão de futuro inspiradora não é
maior do que a dificuldade de sustentá-la com a paciência necessária por
um longo tempo, para que o resultado apareça e não se perca o foco. No
mundo ocidental a orientação é para o imediatismo, de forma que o longo
prazo é desprezado pela sociedade, que quer tudo para hoje, ou para ontem.
Causas para o fracasso da Visão: desconhecimento da visão da
empresa, falta de clareza na comunicação da visão, incompatibilidade entre
as visões das pessoas e da organização, indiferença em relação a visão.
A visão não é um simples objetivo a ser perseguido por um
determinado tempo, ela se torna inspiradora e motivadora ao fornecer
orientação e promover o êxito, independentemente do tempo levado para
conquistá-la (Exemplo do Calebe).
Aspirar a ser referência nacional, parece ser pretensioso ou
inatingível, mas evoca o senso de responsabilidade e de vontade em atingir
esta visão. “A sorte favorece aqueles que são persistentes. Essa simples
verdade é fundamental para os criadores de empresas bem sucedidas. Os
criadores de empresas visionárias eram pessoas altamente persistentes e
seguiam à risca o seguinte lema: nunca, nunca, nunca desista. A visão de
futuro está diretamente ligada com a vocação do ser humano.
Profissionais de todos os tipos passam a vida perseguindo o
dinheiro, o reconhecimento, a fama e a glória, sem se importar com as
coisas que fazem realmente sentido. “Ter o objetivo em mente é apenas
uma parte do caminho. Aliar o objetivo a vocação é essencial para
completar a jornada.” “Desejos e necessidades são inerentes aos seres
humanos. Transformá-los em objetivos de vida e conquistá-los de maneira
ética e transparente é o que diferencia os grandes realizadores dos
realizadores medíocres.”
365

As 500 maiores empresas do mundo, tem enraizado a Missão e a


Visão por toda a organização, e pesquisas e estudos comprovam que as
mesmas tiveram este desempenho excepcional, devido a este motivo, e
conseguiram se diferenciar das demais pela constante prática diária em
alcançar e perseguir sua missão e visão. Processos administrativos:
Planejamento, Organização, Comando, Coordenação, Controle.
A igreja local (como organização): é formada pelo conjunto de salvos
por Cristo de um determinado local, cidade, distrito ou município. A missão
da Igreja: adoração (Jo 4.22-22-24), Edificação (1Pe 3.15), Evangelização
(At 1.8). O corpo eclesial: Pastor (Ancião, Presbítero, Bispo) auxiliado(a)
pelos Diáconos.
Administrar a disciplina é uma benção, e também uma necessidade
(At 5.1-11). Propósito: a disciplina não deve ser vista como castigo, induzido
como caráter negativo, ela deve: corrigir uma má situação (2Co 7.9),
restaurar o caído (Gl 6.1), manter a pureza e o bom testemunho da igreja
(1Tm 3.7). Motivos: conduta desordenada e desaprovada pela igreja,
imoralidade, contenciosidade, propagação de falsas doutrinas.
Métodos ou procedimentos disciplinares: de acordo com os ensinos
de Cristo, o problema deve ser tratado diretamente com o ofensor, ou com
o afetado (Mt 18.15-18); a liderança julgará o caso com retidão e equidade, a
fim de tomar a decisão certa, o propósito da disciplina é ganhar a vida, este
não deve ser recriminado, exposto ou tratado como inimigo, a disciplina só
será considerada eficaz e aceita, desde que o ofensor se revele realmente
arrependido.

10.12 Característica da Liderança Cristã Servidora

A liderança servidora cristã é um estilo de liderança que se baseia


nos ensinamentos de Jesus Cristo. Jesus ensinou que os líderes devem
servir aos outros, em vez de ser servidos. Ele também ensinou que os
líderes devem ser humildes, compassivos e justos.
A liderança servidora cristã é um estilo de liderança eficaz que pode
ser aplicado em qualquer contexto, seja na igreja, no trabalho ou na
comunidade. Os líderes servidores cristãos são capazes de motivar e
inspirar os outros a dar o melhor de si. Eles também são capazes de criar
um ambiente de confiança e respeito.
366

Há muitas características diferentes que definem a liderança


servidora cristã. Algumas das mais importantes incluem:
a) Servir aos outros: Os líderes servidores cristãos se concentram em
ajudar os outros a alcançar seu pleno potencial. Eles estão dispostos a
colocar as necessidades dos outros antes das suas próprias.
b) Humildade: Os líderes servidores cristãos são humildes e sabem
que não são melhores do que os outros. Eles estão dispostos a aprender com
os outros e a admitir quando estão errados.
c) Compaixão: Os líderes servidores cristãos são compassivos e
entendem as necessidades dos outros. Eles estão dispostos a ajudar os
outros em tempos de necessidade.
d) Justiça: Os líderes servidores cristãos são justos e tratam todos
com respeito, independentemente de sua raça, religião ou status social.
A liderança servidora cristã tem muitos benefícios, tanto para os
líderes quanto para seus seguidores. Alguns dos benefícios mais
importantes incluem:
a) Melhores resultados: Os líderes servidores cristãos costumam
obter melhores resultados do que os líderes tradicionais. Isso ocorre porque
eles são capazes de motivar e inspirar seus seguidores a dar o melhor de si.
b) Melhor moral: Os seguidores dos líderes servidores cristãos
costumam ter melhor moral e satisfação no trabalho. Isso ocorre porque se
sentem valorizados e apreciados.
c) Melhor cultura organizacional: Os líderes servidores cristãos
podem ajudar a criar uma cultura organizacional mais positiva e
colaborativa. Isso ocorre porque eles se concentram na construção de
relacionamentos e na criação de confiança.
Como ser um líder servidor cristão relevante, caso você deseja se
tornar um líder servidor cristão, há algumas coisas que você pode fazer:
a) Concentre-se em servir aos outros: lembre-se de que seu objetivo
principal como líder é ajudar os outros a alcançar seu pleno potencial.
b) Seja humilde: seja humilde e saiba que você não é melhor do que
os outros.
c) Seja compassivo: entenda as necessidades dos outros e esteja
disposto a ajudá-los em tempos de necessidade.
d) Seja justo: trate todos com respeito, independentemente de sua
raça, religião ou status social.
367

A liderança servidora cristã é um estilo de liderança eficaz que pode


ajudar você a alcançar seus objetivos e ajudar os outros a alcançar o seu. Se
você está procurando uma maneira de melhorar suas habilidades de
liderança, a liderança servidora cristã é um ótimo lugar para começar.
A liderança servidora cristã pode ser aplicada em qualquer
contexto, seja na igreja, no trabalho ou na comunidade. Aqui estão alguns
exemplos de como a liderança servidora cristã pode ser aplicada em
diferentes contextos:
a) Na igreja: os líderes servidores cristãos podem usar suas
habilidades para ajudar a igreja a crescer e se desenvolver. Eles podem fazer
isso servindo aos outros, sendo humildes, compassivos e justos.
b) No trabalho: os líderes servidores cristãos podem usar suas
habilidades para ajudar seus funcionários a ter sucesso. Eles podem fazer
isso servindo aos outros, sendo humildes, compassivos e justos.
c) Na comunidade: os líderes servidores cristãos podem usar suas
habilidades para ajudar a comunidade a se tornar um lugar melhor. Eles
podem fazer isso servindo aos outros, sendo humildes, compassivos e
justos.
A liderança servidora cristã é um estilo de liderança poderoso que
pode ser usado para fazer a diferença no mundo. Se você é um cristão e
deseja ser um líder eficaz, considere adotar o estilo de liderança servidora
cristã.
368

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