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TEOLOGIA

A palavra “teologia” vem dos termos gregos “theos”


(Deus) e “logos” (palavra). Então, teologia é o estudo de
Deus ou sobre Deus. Muita gente, sobretudo dentro do
movimento pentecostal, assusta-se ao ouvir a palavra
“teologia”, pois vêm a sua mente discussões intermináveis
sobre assuntos sem a menor importância, apresentadas
friamente de forma acadêmica.
Porém, a teologia genuína, é na verdade bem diferen-
te: é o estudo dos fundamentos da fé cristã, o estudo de
Deus, Sua natureza, Seus atributos, Sua obra e Seu pro-
pósito para com a humanidade. Esses temas estão bem
longe de discussões superficiais e tediosas; são artigos em
que se baseiam a nossa fé e a nossa vida. A teologia sadia
responde às perguntas básicas do ser humano: Quem sou?
Donde vim? Para onde vou? Qual o propósito da vida?
A Teologia Sistemática, em última análise, é a resposta
bíblica para estas perguntas.
Outro fator muito importante é que o estudo da teolo-
gia é “uma atividade espiritual para a qual precisamos da
ajuda do Espírito Santo”.

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS
DA TEOLOGIA CRISTÃ

A TEOLOGIA CRISTÃ É UMA TEOLOGIA DA BÍBLIA


Seu objeto de estudo é a Bíblia. Suas conclusões são
baseadas na Bíblia.

4 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


Igreja Evangélica Assembleia de Deus de Porto Alegre - RS
Presidente: Pr. João Oliveira de Souza

Centro Educacional e Social Missionário Nils Taranger


Presidente: Pr. Claudemir Garcia de Vasconselos
Instituto Bíblico Esperança
Diretor: Pr. Jorge Nei Pereira Vargas
Diretor: Pr. Eduardo Moreira Dipp dos Santos
Supervisor Adminstrativo: Vagner Bitencourt

Autoria de
Pr. Paulo André Barbosa

Comissão Redatorial do Instituto Bíblico Esperança


Pr. Eliezer Morais
Pr. Jorge Nei Pereira Vargas
Pr. Eduardo Moreira Dipp dos Santos
Pr. Paulo André Barbosa da Silva
Prof. Jonas Saraiva

Rua Deodoro, 265 - Bairro Protásio Alves


CEP 91260-370 - Porto Alegre - RS - Brasil
Fone: (0xx51) 3387.1161
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Edição - 2019
É proibida a reprodução total ou parcial deste livro.
Direitos reservados ao Instituto Bíblico Esperança.

Arte e Diagramação:
Carisson André Stallbaum Klaus
(51) 3577 1323 | 9 9241 3443
atendimento@tecnoinfo-rs.com.br
Pr. João Oliveira de Souza
Presidente da Assembleia de Deus de Porto Alegre - RS

C
om muita satisfação apresentamos esta unidade de
ensino, que tem como objetivo preparar obreiros
e leigos, homens e mulheres para realizarem uma
grande obra para o Senhor. Quando nos propomos a estu-
dar a Palavra do Senhor, não só o fazemos para nosso cres-
cimento espiritual, mas principalmente estamos investindo
no Reino de Deus.
Desejamos que você, de forma humilde e piedosa,
aprenda as verdades doutrinárias, estando apto a refutar
as heresias que têm se multiplicado nos dias atuais, sendo
usado nas mãos de Deus para pregar o Evangelho com gra-
ça e sabedoria, ganhando muitas almas para o Senhor.

Pr. Claudemir Garcia de Vasconselos


Presidente do Centro Educacional e Social Missionário Nils Taranger

C
aro irmão e estudante do nosso Instituto Bíblico Es-
perança, é grande a minha alegria em apresentar a
você este livro. O conhecimento teológico é uma
bênção para a Igreja de Cristo e deve ser valorizado como
tal. Por isso, meu conselho é que você curse esta e as de-
mais unidades deste nível com o maior empenho possível,
pedindo sempre que Deus, por meio do Espírito Santo,
conceda-lhe a plena compreensão das verdades eternas
de Sua santa Palavra.
A graça do Senhor Jesus Cristo seja com você.

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Pr. João Oliveira de Souza
Presidente da Assembleia de Deus de Porto Alegre - RS
Diretor Geral do Instituto Bíblico Esperança

É
com muita satisfação que apresento essa Unidade de
estudo, que tem como objetivo preparar homens e
mulheres para realizar uma grande obra para o Senhor.
Quando você se propõe a estudar teologia, não só está fazen-
do para o seu crescimento espiritual, mas principalmente está
investindo no Reino de Deus.
Desejo que você, de forma humilde e piedosa, aprenda
as verdades doutrinárias, estando apto a refutar as heresias que
têm se multiplicado nos dias atuais, sendo usado nas mãos de
Deus para pregar o evangelho com graça e sabedoria, gan-
hando muitas almas para o Senhor.

Pr. Jorge Nei Pereira Vargas


Diretor Administrativo do Instituto Bíblico Esperança

A
gradeço a Deus pelo IBE, que, no decorrer de sua
história, tem contribuído para o crescimento espiritual
de inúmeros irmãos e irmãs. Desejamos que essa Uni-
dade de Estudo seja uma importante ferramenta no preparo in-
telectual e na qualificação teológica de obreiros que procuram
preparar-se para melhor servir ao Senhor Jesus e Sua obra.
Rogamos a Deus que todos cheguem ao pleno conhe-
cimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento
espiritual, vivendo de modo digno do Senhor, para o Seu in-
teiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no
conhecimento de Deus.
Que o Espírito Santo venha ajudar nessa gloriosa tarefa
de estudar a Palavra de Deus.
A graça do Senhor Jesus Cristo seja com todos!

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 3


A TEOLOGIA CRISTÃ É UMA TEOLOGIA SISTEMÁTICA
É um estudo que se preocupa em recolher todos os
dados bíblicos sobre um determinado tópico. As doutri-
nas podem ser bem abrangentes ou bem restritas, como a
“doutrina de Deus”, ou a doutrina da autossuficiência de
Deus, ou ainda a doutrina da Trindade, etc.
A TEOLOGIA CRISTÃ É UMA TEOLOGIA PRÁTICA
Não somente aprendemos teologia, vivemos teologia.
A aplicação da teologia, ou seja, da doutrina à nossa vida,
é um dos aspectos menos observados. Todo o cristão ver-
dadeiro, ao estudar e ao meditar na Palavra de Deus, terá
sua vida aprofundada e crescerá espiritualmente.
A TEOLOGIA CRISTÃ É CONTEMPORÂNEA
Um fato impressionante em relação à Bíblia é que se
trata de um dos livros mais antigos do mundo e, ao mes-
mo tempo, o mais atual. Uma vez que a teologia cristã é
uma teologia da Bíblia, compartilha as verdades eternas
das Escrituras, procurando explaná-las ao homem moder-
no, sem, no entanto, comprometer a sua mensagem.

AS DIVISÕES DA TEOLOGIA
A teologia é vastíssima, pois subdivide-se em diversas
disciplinas.
TEOLOGIA HISTÓRICA
Acompanha a trajetória de fé do povo de Deus através
da Bíblia e da história eclesiástica, observando o desenvol-
vimento das doutrinas cristãs através dos tempos, expres-
sas nas confissões de fé e nos credos da Igreja.

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TEOLOGIA EXEGÉTICA
Procura analisar detalhadamente a Escritura, buscando
o seu significado real. Fazem parte desse ramo teológico,
por exemplo, o conhecimento das línguas originais e o es-
tudo da arqueologia e dos métodos hermenêuticos.
TEOLOGIA BÍBLICA
Estuda os elementos que compõem a teologia da Bí-
blia, buscando uma visão panorâmica dos temas e o apro-
fundamento dos principais eixos e temas teológicos que
perpassam os diferentes textos das Escrituras.
TEOLOGIA FILOSÓFICA
Usa instrumentos e métodos do raciocínio filosófico,
dando ao estudo teológico um aspecto mais direcionado
para a racionalidade humana. Neste ramo, a dúvida advin-
da da reflexão é sempre benéfica e o seu método pode ser
positivo para o teólogo cristão se baseado na revelação
bíblica.
TEOLOGIA APOLOGÉTICA
Busca defender a fé cristã de maneira racional para
convencer os incrédulos. Preocupa-se também, além da
defesa dos valores cristãos, com a denúncia das falsas reli-
giões e doutrinas errôneas que, por vezes, infiltram-se nas
igrejas cristãs.
TEOLOGIA PRÁTICA
A teologia só tem valor real na vida do estudante se for
vivenciada. Regeneração, santificação, edificação, perdão
e amor não são apenas doutrinas ou conceitos teológicos,
pois constituem o caminho que o crente deve trilhar dia-
riamente. A adoração ao Senhor, a oração, a liturgia no

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culto, todos utilizados com bases bíblicas, são campos de
ação da teologia prática.
TEOLOGIA DOGMÁTICA
Coleta o material da teologia exegética e da bíblica e
o organiza, sintetiza e classifica em tópicos. Por exemplo,
a coletânea de todos os ensinos bíblicos relacionados a
Jesus Cristo inclui-se no grupo chamado “Cristologia”. É a
teologia sistematizada produzida com base nos credos e
confissões de fé das igrejas cristãs.
TEOLOGIA PASTORAL
Estuda o obreiro como pessoa e como ministro de Cris-
to. Analisa aspectos e áreas do trabalho pastoral na con-
gregação, à luz dos princípios teológicos que orientam o
ministro no desempenho de suas atividades.
TEOLOGIA DE MISSÕES
Estuda o que é a missão da igreja, analisando os fun-
damentos bíblicos e históricos desse tema, oferecendo
subsídios para uma reflexão crítica sobre o fundamento
bíblico-teológico de missões.

BENEFÍCIOS DO ESTUDO DA TEOLOGIA

ESTUDAR TEOLOGIA NOS AJUDA A VENCER AS FAL-


SAS DOUTRINAS
Em nossa sociedade, a religião tornou-se um grande
negócio. Muitos sistemas religiosos populares, e inclusive
alguns grupos “ditos” cristãos, disputam o público com
filosofias fáceis de autoajuda. O nosso tempo testemunha
o maior número de seitas e religiões proliferando-se dia a

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 7


dia. A questão não é mais crer, mas no que crer. E a teo-
logia nos ensina a expor e refutar, com análise minuciosa,
com humildade e com apresentação da verdade bíblica, os
erros doutrinários, baseados, com certeza, em uma distor-
ção dessa verdade.
ESTUDAR TEOLOGIA NOS AJUDA A AVANÇAR RUMO
À MATURIDADE
Amadurecemos e mudamos para melhor quando estu-
damos a Palavra de Deus. A Bíblia ensina que a sã-doutrina
e a piedade estão ligadas (1Tm 6.3; Tt 1.1).
ESTUDAR TEOLOGIA NOS AJUDA A ENCARAR BIBLI-
CAMENTE AS NOVAS QUESTÕES DOUTRINÁRIAS
Se o Senhor Jesus não vier daqui a 10 ou 20 anos, que
modismo teológico surgirá nas igrejas onde ministramos?
Como nos posicionaremos? Aqueles que estudam teologia
sistemática poderão responder a essas questões. Quem
tem aprendido as doutrinas da Palavra de Deus está mais
habilitado a tomar decisões que agradam a Deus.
ESTUDAR TEOLOGIA NOS AJUDA A EQUILIBRAR A
EXPERIÊNCIA COM A PALAVRA
Atualmente a experiência é supervalorizada e, no cam-
po religioso, não é diferente. Com relação à experiência
religiosa, é comum ouvirmos: “Não sei se é bíblico, mas eu
experienciei”.

COMO DEVEMOS ESTUDAR TEOLOGIA

COM HUMILDADE
”Humilhai-vos na presença do Senhor, e Ele vos exalta-
rá” (Tg 4.10). Quando passamos a estudar teologia, des-

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cobrimos informações acerca da Bíblia e do próprio Deus
que muitos dos nossos irmãos em Cristo desconhecem.
Nessas situações, precisamos agir com humildade e
não com ar de superioridade em relação àqueles que não
tiveram ainda a mesma oportunidade de estudo (Tg 1.1-
20; 3.13-18). Assim, não cairemos “no conhecimento que
ensoberbece” (1Co 8.1), mas no desejo de servir aos outros
com aquilo que recebemos.
COM ORAÇÃO
”Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai
da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de reve-
lação no pleno conhecimento dele. Iluminados os olhos
do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do
seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança
nos santos” (Ef 1.17,18). “Abre os meus olhos para que eu
possa ver as verdades maravilhosas da tua lei” (Sl 119.18
BLH). O estudo da teologia é uma atividade espiritual para
a qual precisamos contar sempre com a ajuda do Espírito
Santo. Sem uma mente renovada e um coração quebran-
tado, não podemos interpretar corretamente os ensinos
bíblicos.

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GUIA DO ALUNO DO CURSO BÁSICO
EM TEOLOGIA DO IBE

ORIENTAÇÕES GERAIS
Para matricular-se no Curso Básico em Teologia do IBE,
o candidato precisa, primeiramente, estar convicto quan-
to à responsabilidade que vai assumir. Deve estar movido
unicamente pelo propósito de obter e/ou melhorar conhe-
cimentos bíblicos, para melhor servir a Deus e ao próximo.
Cada aluno, ao matricular-se, está assumindo o com-
promisso de estudar a Unidade de Estudo (livro) do curso
no mínimo durante 1h30min por dia, lendo-a, consultan-
do os versículos sugeridos no decorrer do texto e fazendo
os exercícios de fixação propostos, além de frequentar as
aulas presenciais no dia proposto pelo núcleo.
MATRÍCULA
As principais condições para a matrícula de candidatos
são as seguintes:
¾¾ Ser membro de uma igreja evangélica e estar em
comunhão pelo período mínimo de um ano – para mem-
bros de outras denominações, é solicitada carta de reco-
mendação do respectivo pastor;
¾¾ Ter idoneidade, integridade moral e vida cristã
aprovada e recomendada pelo pastor;
¾¾ Ter idade mínima de 15 anos completos na oca-
sião da matrícula (para os casos de alunos menores de 18
anos, é necessária autorização do responsável);
¾¾ Ter, preferencialmente, o ensino fundamental
completo (antigo 1º grau);

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¾¾ Preencher a ficha de matrícula, que deve ser as-
sinada pelo pastor, e entregá-la ao secretário-tesoureiro
do núcleo.
Além desses requisitos, cabem especificações sobre ou-
tros procedimentos com relação ao aluno do curso:
MATERIAL DIDÁTICO

¾¾ Cada aluno deverá possuir seu próprio livro, não


sendo possível frequentar as aulas sem ele.
¾¾ O IBE não fornece o material diretamente ao
aluno. Ele será recebido através do núcleo, mediante o
pagamento do custo do curso, que se refere ao valor da
Unidade.
AULA SEMANAL

¾¾ A aula do núcleo será sempre semanal, com du-


ração de três horas, realizada em um dia fixo, conveniente
para o núcleo.
¾¾ Cada aula semanal abrange uma lição da Unida-
de de Estudo, sendo revisados todos os textos e exercícios
que a compõem, previamente estudados e preenchidos
pelo aluno, e sendo realizada também a prova da lição.
¾¾ O aluno deve evitar faltar ou chegar atrasado
à aula semanal, pois ela constitui parte importante do
aprendizado e do sistema de ensino do curso, além de
ser o único momento em que é permitida a realização das
provas.
PROVA SEMANAL

¾¾ A prova é realizada ao final da aula, individual-


mente e sem consulta ao material de estudos.

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¾¾ Não poderá haver aplicação da prova fora do
momento propício para tanto.
¾¾ No caso de o aluno haver perdido a aula sema-
nal, a prova da lição correspondente pode ser realizada na
aula seguinte.
¾¾ É constituída de questões objetivas, cuja mar-
cação deve ser feita com cuidado, evitando anulação da
questão resurada.
¾¾ O aluno devem realizar a prova à caneta azul ou
preta e com letra legível nas partes escritas, sobretudo ca-
beçalho.
¾¾ Somente devem permanecer em sala de aula os
alunos que estiverem fazendo a prova, sendo permitida a
saída do aluno que teminar sua avaliação.
¾¾ Como ocorre comumente durante a aplicação de
instrumentos avaliativos, o aluno não deve manter comu-
nicação de qualquer natureza durante o período de ava-
liação.
¾¾ As provas de um a quatro, de cada Unidade de
Estudo, após aplicadas, são corrigidas pelo professor e
lançadas nos registros.
¾¾ A prova final, aplicada no dia da última lição da
Unidade, compreende o conteúdo dessa e das demais li-
ções.
¾¾ A prova da unidade anterior é mostrada ao alu-
no na aula seguinte. O aluno deve entregá-la ao professor
novamente após ter tido conhecimento da correção e de
sua nota.

12 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


DESISTÊNCIA OU TRANSFERÊNCIA
Para o aluno que desistiu, interrompeu o curso ou tran-
cou sua matrícula e deseja reingresso, esse será feito na
unidade que estiver sendo estudada no momento da soli-
citação.
Quanto às demais unidades que deixou de estudar, ele
as computará de acordo com a rotatividade normal do
currículo.
Em caso de transferência do aluno de um núcleo para
outro, no novo núcleo, o aluno transferido deverá prosse-
guir com a unidade que estiver sendo estudada.
APROVAÇÃO E CONCLUSÃO
O Curso foi estruturado com base no período letivo de
quatro semanas por unidade de estudo. A aprovação do
aluno se dá por Unidade de Estudo. Um aluno só terá seu
curso completo quando tiver sido aprovado em todas as
Unidades. Caso tenha alguma unidade pendente, ou tenha
sido reprovado, deverá providenciar a sua recuperação,
que será oferecida através de uma avaliação semelhante
à prova final. O aluno terá direito a recuperar o núme-
ro de Unidades equivalente à metade do número toal de
Unidades do curso. Se reprovado em mais da metade das
Unidades, o aluno deverá repetir o curso.
A nota mínima para aprovação é 6,0 (seis). O valor cor-
respondente aos exercícios de cada lição é 0,5, e o de cada
prova é 2,0.

Exercícios de cada lição Provas de cada lição Média Final

0,5 x 4 = 2,0 2,0 x 4 = 8,0 2,0 + 8,0 = 10,0

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 13


Todos os alunos que terminarem o curso deverão aguar-
dar, sempre através do núcleo, as informações necessárias
e os procedimentos para a formatura.

ESTUDANDO COM EFICIÊNCIA


A UNIDADE
A Bíblia é a Palavra de Deus: seu autor é o próprio DEUS,
seu tema central é JESUS CRISTO, seu verdadeiro intérpre-
te é o ESPÍRITO SANTO e do seu conhecimento depende a
SALVAÇÃO de todos os homens.
Compreendendo o valor dessa premissa, faz-se neces-
sário estudar a Bíblia dentro de métodos adequados, para
que possamos obter um resultado satisfatório.
BUSCAR A AJUDA DIVINA
Ore a Deus, pedindo a presença do Espírito Santo para
que Ele possa capacitar as suas faculdades mentais quanto
aos assuntos que são tratados na unidade de estudo.
TER TODO MATERIAL DIDÁTICO
Além da Unidade de Estudo, tenha em mãos:
¾¾ Bíblia - se possível em mais de uma versão;
¾¾ Dicionário Bíblico;
¾¾ Dicionário da Língua Portuguesa;
¾¾ Atlas Bíblico;
¾¾ Concordância Bíblica;
¾¾ Caderno e caneta para apontamentos individu-
ais.

14 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


PLANEJAR O TEMPO PARA ESTUDAR
Reservar uma hora e trinta minutos, diariamente, para
ler e completar os exercícios da Unidade de Estudo, além
do dia designado pelo núcleo para a aula presencial e para
a prova.
PLANEJAR AS TÉCNICAS DE ESTUDO
No primeiro contato com a matéria, procure fazer uma
leitura de toda a Unidade de estudo, para ter uma visão
global dela. Na segunda leitura, devem-se destacar as pa-
lavras desconhecidas da lição, procurando os seus signifi-
cados. A terceira leitura servirá para depreender as ideias
principais e secundárias do texto e resolver os exercícios
de fixação.
TIRAR O MELHOR PROVEITO DA AULA PRESENCIAL
Escute com atenção, participando sempre com brevi-
dade dentro do assunto que está sento estudado. Desli-
gue-se de possíveis elementos distratores e procure tomar
nota de tudo o que achar necessário. Não deixe de tirar
dúvidas que tenham surgido tanto durante o estudo da
lição, quanto durante a aula.
“Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor.”
(Oseias 6.3a)

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v
ABREVIATURAS
a.C - Antes de Cristo
ARA - Almeida Revista e Atualizada
ARC - Almeida Revista e Corrigida
ACF - Almeida Corrigida Fiel
AT - Antigo Testamento
BV - Bíblia Viva
BEP - Bíblia de Estudo Pentecostal
Cap. - Capítulo
Caps. - Capítulos
Cf. - Confira
d.C. - Depois de Cristo
Gr. - Grego
Heb. - Hebraico
Ibid. - Na mesma obra
Idem - O mesmo
LXX - Septuaginta
Lat. - Latim
NT - Novo Testamento
NTLH - Nova Tradução na Linguagem de Hoje
NVI - Nova Versão Internacional
TM - Texto Massorético
Vs. - Versículo
AR - IBB - Almeida Revisada Imprensa Bíblica
Brasileira
Todas as citações bíblicas são da Tradução
de João Ferreira de Almeida, Edição Revista e
Atualizada no Brasil, 2ª Edição, Sociedade Bí-
blica do Brasil, salvo indicação em contrário.

16 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


LIÇÃO 01 - INTRODUÇÃO À CRISTOLOGIA
TEXTO 01 - A PREEXISTÊNCIA DE CRISTO ................ 26
TEXTO 02 - OS TÍTULOS E NOMES DE CRISTO ......... 31
TEXTO 03 - A PESSOA DE CRISTO ............................ 43
TEXTO 04 - A IMPECABILIDADE DE CRISTO ............. 51
LIÇÃO 02 - A DIVINDADE E A HUMANIDADE DO SE-
NHOR JESUS
TEXTO 01 - A DIVINDADE DE CRISTO ...................... 60
TEXTO 02 - AS PROVAS BÍBLICAS DA DIVINDADE DE
CRISTO ................................................. 67
TEXTO 03 - A UNIDADE DA PESSOA DE CRISTO ...... 81
TEXTO 04 - OS ESTADOS DE CRISTO (ESTADO DE
HUMILHAÇÃO) ..................................... 87
TEXTO 05 - O ESTADOS DE CRISTO (ESTADO DE
EXALTAÇÃO) ......................................... 98

LIÇÃO 03 - A OBRA DE CRISTO


TEXTO 01 - O TRÍPLICE OFÍCIO DE CRISTO ............... 108
TEXTO 02 - A EXPIAÇÃO ......................................... 115
TEXTO 03 - A ESCATOLOGIA E CRISTO .................... 126
TEXTO 04 - A ESCATOLOGIA E CRISTO (CONTINUA-
ÇÃO) .................................................... 132

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 17


LIÇÃO 04 - ANGELOLOGIA
TEXTO 01 - A IMPORTÂNCIA DA ANGELOLOGIA ...... 143
TEXTO 02 - A NATUREZA DOS ANJOS ...................... 149
TEXTO 03 - O MINISTÉRIO DOS ANJOS ................... 159
TEXTO 04 - DEMONOLOGIA BÍBLICA ........................ 169
TEXTO 05 - BATALHA ESPIRITUAL ............................ 177

18 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


ESBOÇO DA LIÇÃO 01

INTRODUÇÃO À CRISTOLOGIA
TEXTO 01 - A PREEXISTÊNCIA DE CRISTO
TEXTO 02 - OS TÍTULOS E NOMES DE CRISTO
TEXTO 03 - A PESSOA DE CRISTO
TEXTO 04 - A IMPECABILIDADE DE CRISTO

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 19


LIÇÃO 01

INTRODUÇÃO À CRISTOLOGIA

“Indo Jesus para os lados de Cesareia de Filipe, per-


guntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho
do Homem?” (Mt 16.13). Essa, na verdade, é a pergun-
ta mais relevante já feita na história. Quem descobrir
quem é Jesus terá a resposta para sua vida, a luz no fim
do seu túnel escuro.
Quando Jesus veio a este mundo, veio de forma ines-
perada; porém, chegou no tempo certo, na “plenitude
do tempo” (Gl 4.4). Veio em um momento de grande
expectativa. “És tu aquele que estava para vir ou have-
mos de esperar outro?” (Mt 11.3), perguntava o Batista.
A mulher samaritana afirmava: “Eu sei, que há de vir o
Messias” (Jo 4.25). André afirmou a Simão: “achamos o
Messias” (Jo 1.41).
Quem é Jesus para a Igreja? Qual o conceito que te-
mos de Jesus? A resposta a essa pergunta determinará
a sua felicidade eterna: “E a vida eterna é esta: que te
conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo,
a quem enviaste” (Jo 17.3).
Oscar Cullmann diz1 que “se a Teologia é a ciência
que tem por objeto Deus, a Cristologia é aquela que
tem por objeto Cristo, sua pessoa e obra“. A Cristologia,
portanto, é a doutrina de Cristo, que tem como objetivo
esclarecer que Jesus Cristo é Deus, que Se fez homem,

1. Oscar Cullmann, Cristologia do Novo Testamento, Editora Líber, pág. 17.

20 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


tornando-se Senhor e Salvador do Seu povo através de
Sua morte expiatória. “Jesus é verdadeiro Deus e verda-
deiro homem”. A igreja tem que seguir, nestes tempos
de pluralismo, mais do que nunca, a voz de Jesus. Ele é
o verbo, a Palavra final de Deus.

A RELAÇÃO ENTRE A CRISTOLOGIA E A ANTROPO-


LOGIA TEOLÓGICA
A antropologia teológica trata do homem, criado à
imagem de Deus e dotado de verdadeiro conhecimen-
to, justiça e santidade, mas que, pela voluntária trans-
gressão da Lei de Deus, despojou-se de sua verdadei-
ra humanidade e transformou-se em pecador. Mostra,
ainda, o homem como criatura altamente privilegiada,
trazendo alguns traços de sua glória original, mas uma
criatura que perdeu os direitos de sua verdadeira liber-
dade e sua justiça e santidade originais.
A antropologia teológica salienta não apenas a con-
dição primária do homem, mas também sua pecami-
nosidade, isso é, a distância ética que há entre Deus
e o homem, como resultado da queda. A Cristologia
é, em parte, resposta a essa situação calamitosa. Põe-
-nos a par da obra de Cristo, afastando as barreiras,
cumprindo a Lei; como diz Berkhof2: “Cristo tipificado,
prefigurado no AT como o Redentor do homem, veio na
plenitude do tempo, para tabernacular entre os homens
e levar a efeito uma reconciliação eterna”.

2. Louis Berkhof - Teologia Sistemática, pág. 305 - Luz para o Caminho.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 21


A RELAÇÃO ENTRE A CRISTOLOGIA E A SOTERIO-
LOGIA
A pessoa de Cristo Jesus torna-se conhecida por Sua
obra, pelo impacto que causou na história. É aqui que
existe uma ligação umbilical entre a Soteriologia, que é
a doutrina da Salvação, e a Cristologia, a doutrina do
Salvador. A Cristologia e a Soteriologia podem ser con-
sideradas como dois lados da mesma moeda.

O LUGAR DE JESUS NA TEOLOGIA


O Senhor Jesus Cristo é o fundamento de toda a te-
ologia cristã, é a figura central do cristianismo. A teolo-
gia que não for teocêntrica e cristocêntrica não repre-
senta o claro ensino bíblico que apresenta Jesus como
o cumprimento das expectativas do Antigo Testamento
e o autor dos ensinos do Novo Testamento.

22 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


LIÇÃO 01 - TEXTO 01

A PREEXISTÊNCIA DE CRISTO

O nascimento de Cristo, em Belém da Judeia, há dois


mil anos, é um fato histórico que é ensinado pelas Escri-
turas. Mas as mesmas Escrituras ensinam também que
Cristo já existia eternamente antes da Sua encarnação.

1.1 - A ETERNIDADE DO FILHO DE DEUS


Na eternidade passada, Cristo “estava com Deus”. Na
realidade, “Ele era Deus” (Jo 1.1); e isso “antes que hou-
vesse mundo” (Jo 17.5). Ele é chamado “ho logos“ (Jo
1.1-14; Ap 19.13).
Cristo, em sua oração sacerdotal, referiu-se a Sua
preexistência: “e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo
mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que
houvesse mundo...Pai, a minha vontade é que onde eu
estou, estejam também comigo os que me deste, para
que vejam a minha glória que me conferiste, porque me
amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.5,7).

1.2 - CRIADOR E PRESERVADOR


As Escrituras afirmam que Cristo teve parte na cria-
ção. João diz que “Todas as coisas foram feitas por in-
termédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez”

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 23


(Jo 1.3 cf. o versículo 103). Paulo fala em 1Co 8.6: “toda-
via, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas
as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus
Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por
ele”. Paulo continua dizendo em Colossenses 1.16,17:
“pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e so-
bre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam
soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi
criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as
coisas. Nele, tudo subsiste”. Esses textos apresentam o
Senhor Jesus Cristo como: Criador e Preservador.
Quando Deus estava para criar o homem, entrou em
conselho divino. Deus disse: “Façamos o homem à nos-
sa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26).
Esse fato pressupõe que Cristo estava tendo parte na
criação.
Às vezes, são feitas a nós perguntas como: “Quando
Cristo passou a existir?” ou “Como o Pai criou o filho?
Podemos afirmar, com base nos argumentos bíblicos
expostos acima e em outros, que Cristo é preexistente,
incriado, eterno, sem começo e sem final. Ele é o “alfa e
o ômega” (Ap 1.8).

1.3 - JESUS É O EU SOU


“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu
vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU” (Jo 8.58).
Essa declaração fez com que os judeus desejassem ma-
tar a Jesus (Jo 8.59), porque, nela, Ele Se identificou
como Deus, quando falou a Moisés no monte em Êx

3. João 1.10: “O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele,
mas o mundo não o conheceu”.

24 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


3.144. Paulo, ao apelar para a generosidade dos irmãos
de Corinto, faz uso da doutrina da preexistência de
Cristo quando diz que “Cristo, sendo rico, fez-se pobre”
(2Co 8.9).

1.4 - A ENCARNAÇÃO DE CRISTO


A.A. Hodge diz5 que a encarnação “se acha envolvi-
da em todas as demais doutrinas de todo o sistema da
fé cristã; em todos os atos mediatários de Cristo, como
profeta, sacerdote e rei; na história inteira de seu esta-
do de humilhação, e em todos os aspectos de seu esta-
do de exaltação; e, sobretudo, na significação e valor
do seu sacrifício vicário, que é o coração do Evangelho.
Se Cristo não é uma pessoa tanto Deus como homem,
ou não poderia morrer ou a sua morte não teria valor.
Se Ele não fosse homem, a sua história seria um mito;
se não fosse Deus, seria idolatria prestar-lhe culto, e, ao
mesmo tempo, não lhe prestar culto seria desobedecer
ao Pai (Jo 5.23)”.
Sobre a encarnação, a Bíblia ensina que:
a) “O Verbo se fez carne” (Jo 1.14) - “...a si mes-
mo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornan-
do-se em semelhança de homens; e, reconhecido em
figura humana” (Fp 2.7). Ele disse: ”... um corpo me for-
maste” (Hb 10.5).

4. “Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos
de Israel: EU SOU me enviou a vós outros.”
5. Esboços de Teologia, pág. 533.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 25


b) É uma doutrina fundamental - “Nisto reco-
nheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa
que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espíri-
to que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo
contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do
qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está
no mundo” (1 Jo 4.2,3).
Nesse contexto, fica clara a importância da encarna-
ção de Cristo:
a) A encarnação era necessária para que Cristo
pudesse sofrer pelos pecados dos homens. Para sofrer
pelos pecadores, era necessário que Seu corpo fosse
real.
b) A encarnação era necessária para que Cristo
pudesse ”compadecer-se das nossas fraquezas; antes,
foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança,
mas sem pecado” (Hebreus 4.15). Pois “naquilo que ele
mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para so-
correr os que são tentados” (Hb 2.18).

26 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) Quando Deus estava para criar o homem, en-
trou em conselho divino, o que pressupõe a presença
de Cristo.
2. ( ) Para que Jesus pudesse sofrer pelos pecadores,
não era necessário que Seu corpo fosse real.
3. ( ) A encarnação era necessária para que Cristo
pudesse compadecer-Se das nossas fraquezas.
4. ( ) A doutrina da encarnação não é fundamental
para a fé cristã.
5. ( ) Mesmo que Cristo não fosse homem, a Sua
morte teria valor.
6. ( ) A declaração de Cristo de que “antes que
Abraão existisse, EU SOU” (Jo 8.58) fez com que os ju-
deus reconhecessem Seu ministério messiânico.
7. ( ) Se Cristo não fosse homem, a Sua história seria
um mito.
8. ( ) Paulo fez uso da doutrina da Preexistência de
Cristo em 2Co 8.9.
9. ( ) Ap 1.8 permite afirmar que Deus-Pai criou a Je-
sus Cristo.
10. ( ) Na eternidade passada, Cristo estava com Deus;
Ele próprio referiu-se a Sua preexistência em Jo 17.5,7.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 27


LIÇÃO 01 - TEXTO 02

OS TÍTULOS E NOMES DE CRISTO

A variedade de nomes atribuídos à pessoa do Senhor


Jesus testifica que a riqueza e a profundidade da Sua
missão redentora não podem ser expressas exaustiva-
mente por uma só palavra. Por essa razão, é muito im-
portante estudarmos a profundidade dos conceitos que
permeiam os diversos nomes que o Senhor Jesus recebe
no NT. Vamos estudar alguns deles:

2.1 - JESUS (SALVADOR)


O nome “Jesus” é a forma grega do hebraico
Jehoshua, Joshua (Js 1.1; Zc 3.1), ou Jeshua6, que quer
dizer salvar. O nome expressa a ideia de salvação e re-
denção (Mt 1.21). É o nome pessoal do Filho de Deus.
O nome “Jesus” foi usado aproximadamente 942 ve-
zes no NT. Somente por esse nome podemos chegar à
conclusão de que Jesus é o Yaweh. Muitas das ocorrên-
cias de “Yaweh” ou “Senhor” no AT são, na verdade,
referências ao Senhor Jesus do NT.

2.2 - CRISTO OU MESSIAS (TÍTULO OFICIAL E MIS-


SÃO)
Se Jesus é o nome pessoal, Cristo é o nome oficial do
Messias. É o equivalente de Mashiach do Antigo Testa-
6. Forma comumente usada nos livros históricos pós-exílicos.

28 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


mento7, e, assim, significa o ungido.
Na antiga dispensação, os reis e os sacerdotes eram
ungidos (Ex 29.7; Lv 4.3; Jz 9.8; 1Sm 9.16; 10.1; 2Sm
19.10). O rei era chamado o “ungido de Yaweh” (1Sm
24.10) – somente um exemplo de unção de profeta está
registrado (1Rs 19.16). O óleo usado na unção desses
oficiais simbolizava o Espírito de Deus (Is 61.1; Zc 4.1-
6), e a unção representava a transferência do Espírito
para a pessoa consagrada (1Sm 10.1,6,10; 16.13,14). A
unção era um sinal visível de:
a) Designação para um ofício;
b) Estabelecimento de uma relação sagrada e o
resultante caráter santo da pessoa ungida (1Sm 14.6
26.9; 2Sm 1.14);
c) Comunicação do Espírito ao ungido (1Sm 16.
13).
O AT se refere à unção do Senhor Jesus (Sl 2.2,6;
45.7; Pv 8.23) bem como o NT também o faz (At 4.27;
10.38). Em Isaías 11.2; 42.1, Cristo foi instalado em
Seus ofícios, desde a eternidade, mas, historicamente,
essa unção se efetuou quando Ele foi concebido pelo
Espírito Santo (Lc 1.35) e quando recebeu o Espírito, na
ocasião do Seu batismo (Mt 3.16; Mc 1.10; Lc 3.22; Jo
1.32; 3.34). A unção do Espírito serviu para qualificá-
-Lo para a Sua grande tarefa. Primeiro, o nome Cristo
foi aplicado ao Senhor como um substantivo comum,
com o artigo, mas gradativamente se desenvolveu e se
tornou um nome próprio, sendo então usado sem o
artigo.

7. De “maschach”, ungir.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 29


2.3 - FILHO DO HOMEM - HEBRAICO: BARNASCHA,
HUMANIDADE
No Antigo Testamento, esse nome é encontrado em
Sl 8.4; Dn 7.13 e muitas vezes no livro de Ezequiel. No
Novo Testamento, esse título aparece mais de 80 vezes.
Ele anuncia a humanidade do Senhor, que viveu sobre
a Terra, sofrendo as mesmas coisas que sofremos, mor-
rendo a nossa morte, e ressuscitando novamente para
a nossa justificação.
Esse nome nos lembra que Ele conhece as nossas ne-
cessidades, não apenas como Deus Onisciente, aquele
que conhece todas as coisas, mas também como al-
guém que teve as mesmas necessidades “nos dias de
sua carne” (Hb 5.7). Isso acende em nós a confiança de
que Ele é capaz de nos ajudar em todas as nossas fra-
quezas e enfermidades.

2.4 - FILHO DE DAVI (LINHAGEM REAL)


Esse título equivale a “Messias”, pois a característica
marcante do Messias era Sua linhagem davídica. Deus
prometeu a Davi uma linhagem perpétua (2Sm 7.16), à
sua casa foi dada soberania eterna sobre Israel. O povo
tinha uma esperança de que, acontecesse o que acon-
tecesse à nação, no tempo de Deus, apareceria um rei
pertencente ao trono e linhagem de Davi. Os profetas
relembravam essa esperança, afirmando que a reden-
ção de Israel estava ligada com a vinda de um grande
rei da casa de Davi (Jr 23.5; 30.9; Ez 34.23; Is 55.3,4; Sl
8.4; 89.34-37).
O titulo “Filho de Davi” não era uma descrição com-
pleta do Messias, porque acentuava, principalmente,

30 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


a Sua ascendência humana. Então, o povo, ignorando
as Escrituras, que falavam da natureza divina de Cris-
to, esperava que o Messias humano fosse um segundo
Davi. Jesus corrige esse conceito em Mt 22.42-46: “Que
pensais do Cristo8? “De quem é filho? Os fariseus res-
ponderam: de Davi”. Então, Jesus citou o Salmo 110.1
e perguntou: “Se Davi lhe chama Senhor, como é ele
seu filho?”. Como pode o Senhor de Davi ser filho de
Davi? Os fariseus ficaram confundidos. A resposta na-
turalmente é: o Messias é tanto Senhor como filho de
Davi. Pelo milagre do nascimento virginal, Jesus nasceu
de Deus e também de Maria; desse modo, Ele é filho de
Deus e filho do Homem.
Como filho de Deus, Ele é Senhor de Davi e, como
filho de Maria, Ele é filho de Davi. O pai “Davi” era hu-
mano e morreu; seu reino foi terreno e se desintegrou.
Porém, segundo Is 9.6,7, o descendente de Davi, o Rei-
Messias, seria divino, e Seu reino, eterno. Davi foi um
“pai” temporário para o seu povo; o Messias é um “Pai
eterno9” para todo o povo (Sl 2.6-8; Lc 22.29)

2.5 - FILHO DE DEUS


O nome “Filho de Deus” foi variadamente aplica-
do, no AT, ao povo de Israel (Ex 4.22; Jr 31.9; Os 11.1),
a oficiais de Israel, ao prometido rei da casa de Davi
(2Sm 7.14; Sl 89.27), a anjos (Jó 1.6; 2.1; 38.7; Sl 29.1;
89.6), a pessoas piedosas em geral (Gn 6.2; Sl 73.15;
Pv 14.26). Em Israel, o nome alcançou significado teo-
crático. No NT, vemos Jesus apropriando-se do nome, e

8. Isto é “do Messias”.


9. Imortal, eterno, imutável.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 31


outros atribuindo-o a Ele. O nome é aplicado a Jesus em
quatro sentidos diferentes, nem sempre mantidos em
distinção na Escritura. Às vezes, combinado ao nome,
é-Lhe aplicado:
2.5.1 - Em Sentido Oficial, Messiânico
É mais uma descrição do ofício do que da natureza
de Cristo. O Messias pode ser chamado filho de Deus,
como Seu herdeiro e representante. Os demônios en-
tenderam no sentido messiânico o nome quando o apli-
caram a Jesus (Mc 5.7). Parece ter esse mesmo sentido
em Mt 24.36 e Mc 13.32. Mesmo o nome, como profe-
rido pela voz de Deus, na ocasião do batismo de Jesus
e na transfiguração (Mt 3.17; 17.5; Mc 1.11; Lc 3.22;
9.35), pode ser interpretado desse modo, mas tem um
sentido mais profundo.
2.5.2 - Em Sentido Trinitário
Às vezes, o nome é usado para indicar a divindade
essencial de Cristo. Como tal, indica uma filiação pre-
existente, que transcende, absolutamente, a vida hu-
mana de Cristo e Sua vocação oficial como o Messias.
Encontramos esse uso em Mt 11.27; 14.28-33; 16.16.
2.5.3 - Em Sentido Natalício
Cristo é chamado Filho de Deus em virtude de Seu
nascimento sobrenatural. O nome é assim aplicado a
Ele na conhecida passagem de Lc 1.35, onde Sua ori-
gem humana é atribuída à direta e sobrenatural pater-
nidade de Deus.

32 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


2.5.4 - Em Sentido Ético-Religioso
É nesse sentido que o nome “filhos de Deus” é apli-
cado aos crentes do Novo Testamento.

2.6 - SENHOR
O nome “Senhor” (do grego “Kyrios”, divindade, gló-
ria, soberania) é aplicado a Deus na Septuaginta10:
a) Como equivalente de Yaweh;
b) Como tradução de Adonai;
c) Como versão de um título honorífico aplicado
a Deus (Js 3.11; Sl 97.5).
11

No Novo Testamento, o nome “Senhor” é aplicado a


Deus:
a) Como uma forma polida e respeitosa de trata-
mento (Mt 8.2; 20.33);
b) Como expressão de posse e autoridade, sem
nada implicar quanto ao caráter e à autoridade divinos
de Cristo (Mt 21.3; 24.42);
c) Com a máxima conotação de autoridade, ex-
pressando um caráter exaltado, e, de fato, equivalendo
ao nome “Deus” (Mc 12.36,37; Lc 2.11; 3.4; At 2.36;
1Co 12.3; Fp 2.11).
Quando os imperadores romanos se referiam a si
mesmos como “Senhor César”, requerendo que seus
súditos dissessem “César é Senhor”, os gentios enten-
diam que o imperador estava se declarando divino. Os
10. Tradução grega do AT, usada nos tempos de Cristo.
11. Principalmente “Adon”.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 33


cristãos também o entendiam e preferiam a tortura e a
morte a atribuir a um homem um título que pertence
somente a Cristo. O termo “Kuryos” dava a entender
que Cristo era igual ao Pai.

2.7 - O VERBO, A PALAVRA


A Palavra de Deus é o veículo mediante o qual Deus
Se expressa aos homens, o meio pelo qual Deus expres-
sa o Seu poder, a Sua sabedoria e a Sua vontade. Cristo
é a Palavra, ou o verbo (do grego “logos”, preexistên-
cia), porque, por meio dEle, Deus revelou Sua atividade,
vontade e propósito e, por meio dEle, tem contato com
o mundo. Nós nos expressamos por meio de palavras.
Deus Se expressa por meio do Filho que “é a expressa
imagem da sua pessoa” (Hb 1.3).
Cristo é a Palavra de Deus demonstrada em pessoa.
Ele não somente traz a mensagem de Deus - Ele é a
mensagem de Deus. O homem tem anelado por uma
resposta mais clara à pergunta: “Como Deus é?”. Então,
aconteceu o fato mais relevante da história: “E o verbo
se fez carne” (Jo 1.14).
O verbo eterno de Deus tomou para Si mesmo a
natureza humana e tornou-Se homem, para revelar o
eterno Deus por meio de Sua personalidade humana
(Hb 1.1,2); à pergunta “Como Deus é?”, o crente pode
responder: “Deus é como Cristo, porque Cristo é o Ver-
bo; a ideia que Deus tem de Si mesmo. Isso é, Cristo é
a expressa imagem da Sua pessoa” (Hb 1.3); a imagem
do Deus invisível (Cl 1.15).

34 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


2.8 - SERVO DE YAWEH
Com esse título (do hebraico: “Ebed Yaweh”, Sacrifí-
cio vicário, substituição), chegamos ao centro da Cristo-
logia. É essencial observar que os chamados “cânticos
do servo”, em Isaías (42.1-7; 49.1-9; 50.4-9; 52.13-53;
61.1-3) especificam Jesus Cristo com o Seu caráter im-
pecável (53.9), e a grandeza da Sua obra (42.4). O ser-
vo foi profetizado nas Escrituras como um profeta que
nasceu humanamente (Is 49.1-2), e que foi revestido
pelo Espírito Santo (Is 42.1; 61.1; Lc 4.21).
2.8.1 - A missão do servo consistia em:

a) Sofrer vicariamente e carregar as aflições dos


outros (Is 53.4; cf. as curas operadas por Cristo - Mt
8.17);
b) Ficar sujeito ao opróbrio (Is 49.7; 50.6; Mt
26.67; 27.26), encontrando incredulidade (Is 53.1);
c) Ser condenado como criminoso, entregando
sua vida, sendo castigado pelos pecados dos outros (Is
53.5-8; 1Pe 2.22-25), pois Deus fez de Sua alma uma
oferta pela culpa (Is 53.10). Ele, na expiação, “asperge
muitas nações” (Is 52.15; Hb 12.24; 1Pe 1.2);
d) Cumprir o beneplácito de Deus, sendo sepul-
tado com os ricos (Is 53.9-10;Mt 27.57) e ressuscitando
em glória (Is 53.10,12);
e) Justificar a muitos por seu sacrifício divino
(v.11), que também é eficaz para os gentios (Is 42.6; Lc
2.32);

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 35


f) Estabelecer a justiça definitiva na própria Terra
(Is 42.4; Rm 15.21).
g) Ser, a encarnação da aliança redentora, ou do
testamento de Deus (Is 42.6; 49.8), e a tornar eficaz
mediante a sua morte e na sua própria vida ressurreta,
a constituir-se em herança para os santos (Cl 1.27).
Os cânticos do servo são muito importantes, pois
provêm da equiparação entre o Messias Davídico e o
Servo Sofredor12, os dois retratos de Cristo no AT. Cris-
to revelou Sua própria identidade de modo conclusivo,
tanto como o Messias (Jo 4.25-26), quanto como o Ser-
vo Sofredor (Lc 22.37).

2.9 - EMANUEL
“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e
ele será chamado pelo nome de Emanuel, que quer di-
zer: Deus conosco” (Mt 1.23, cf. Is 7.14). Esse nome do
Salvador salienta duas verdades básicas:
a) Sua divindade - O nome Emanuel significa
“Deus conosco”, isto é, Cristo é Deus, o que o próprio
DeusPai reconhecia (Hb 1.8; Sl 45.6,7). Os títulos que
Isaías aplica ao Senhor (Is 9.6) indicam a natureza divi-
na do Senhor Jesus.
b) Sua presença - “E o Verbo se fez carne e ha-
bitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a
sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14).
Cristo é o Emanuel, o Deus conosco, porque Sua obra é
estar entre o homem e Deus, sendo nosso mediador (Is
8.8; 1Tm 2.5).
12. Confira com Gn 3.15: O descendente messiânico é vitorioso, mas “é ferido no
calcanhar”.

36 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


2.10 - CORDEIRO DE DEUS
Quando João Batista disse “Eis o Cordeiro de Deus”
(Jo 1.36), estava indicando que todos os tipos e símbo-
los estavam sendo cumpridos em Cristo. Em Sua vida
santa e especificamente em Sua morte, a profecia de
Isaías cumpriu-se (Is 53.7; Mt 26.61-63; 1Pe 2.22,23).
a) Jesus foi o sacrifício dado por Deus (Jo 3.16; Is
28.16; 42.1; 1Pe 2.4);
b) Cristo foi o sacrifício sem mácula (2Co 5.21;
Hb 4.15; 1Pe 2.22) e precioso diante de Deus (1Pe 1.19)
c) A aspersão do sangue de Cristo é o sinal de
que Deus aceita (Hb 9.14; 12.24). Quem recebeu a as-
persão do sangue de Cristo em seu coração nunca verá
a morte, mas passou da morte para a vida (Jo 5.24; 2Ts
1.10; 1Jo 1.7).

2.11 - OUTROS NOMES DE CRISTO

a) Semente da Mulher (Gn 3.15).


b) Renovo (Zc 6.12 cf. 3.8).
c) Fundamento (1Co 3.8).
d) Soberano (Ef 1.21).
e) Maravilhoso Conselheiro (Is 9.6).
f) Deus Forte (Is 9.6).
g) Príncipe da Paz (Is 9.6).
h) Pastor e bispo (1Pe 2.25).
i) Pão da Vida (Jo 6.35).

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 37


j) Senhor (At 2.36; Ap 17.14).
k) Autor e Consumador da fé (Hb 12.2).
SAIBA MAIS
Termos cristológicos chaves
a) Encarnação - Deus “se tornou carne”;
b) Dupla Natureza do Salvador - duas naturezas
distintas, humana e divina;
c) União Hipostática - união de duas naturezas
em uma pessoa;
d) Pessoa Teoantrópica - a “pessoa” é tanto
“Deus” como “Homem” (o teantropos).

38 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


I. ASSINALE A SEGUNDA COLUNA DE ACORDO COM
A PRIMEIRA:
1. Jesus a. ( ) Kurius, divindade, glória,
soberania.
2. Filho de Deus b. ( ) É o nome pessoal do Filho
de Deus.
3. Senhor c. ( ) É o nome oficial do Mes-
sias.
4. Filho de Davi d. ( ) Herdeiro e representante
de Deus.
5. Cristo e.( ) Linhagem real.
II. SUBLINHE A RESPOSTA CORRETA:
1. No AT, a (oração - unção) representava a transferên-
cia do Espírito para a pessoa consagrada.
2. Deus prometeu a (Moisés - Davi) uma linhagem per-
pétua - 2 Sm 7.16.
3. O termo (Kuryos - Yaweh) dava a entender que Cristo
era igual ao Pai.
4. Se Jesus é nome pessoal, (Salvador - Cristo) é o nome
oficial do Messias.
5. A santidade de Cristo não é a mesma santidade (de
Deus - dos homens).

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 39


LIÇÃO 01 - TEXTO 03

A PESSOA DE CRISTO

O estudo da pessoa de Cristo é de valor incalculável


para a teologia, por conta da relação vital que Cristo
possui com o cristianismo; relação essa que nenhum
dos outros fundadores de religiões teve para com elas.
Pode-se ter um budismo sem Buda, um confucionismo
sem Confúcio, mas é impossível um cristianismo sem
Cristo, pois, estritamente falando, Cristo é o cristianis-
mo e o cristianismo é Cristo.
Cristo Jesus é o centro das Escrituras. De Gênesis a
Apocalipse, as Escrituras apresentam Cristo. No cami-
nho para Emaús, o Senhor Jesus começou por Moisés e
percorreu todo o AT, explicando aos discípulos tudo o
que a respeito dEle se achava nas Escrituras (Lc 24.27).

3.1 - A HUMANIDADE DE JESUS CRISTO


A Bíblia ensina sobre a pessoa de Cristo, que Ele é
verdadeiramente homem, ou seja, que tem uma verda-
deira natureza humana perfeita ou completa. O Cristo
pré-existente tornou-se homem, “o verbo se fez carne”
(Jo 1.14); Jesus Cristo era o Filho do homem, conforme
Ele mesmo proclamou. Nessa qualidade, Cristo é o re-
presentante de toda a raça humana. Além da natureza
física, Jesus possuía o mesmo tipo de qualidades emo-
cionais e intelectuais que todos os homens possuem;

40 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


Ele pensava, raciocinava e tinha toda a gama de sensa-
ções humanas.
Além disso, o ministério intercessório de Jesus era
dependente de Sua humanidade. Se Ele era de fato um
de nós, passando por todas as tentações e provações
da existência humana, então Ele é capaz de nos com-
preender e ser solidário conosco em nossas lutas como
homens. Por outro lado, se Ele não era humano, ou se
Sua humanidade não era completa, ele não poderia re-
alizar o tipo de intercessão que o sacerdote deve fazer
em favor dos que representa.

3.2 - AS PROVAS DA HUMANIDADE DE CRISTO

3.2.1 - Jesus Teve Nascimento Humano

a) Nascido de mulher (Gl 4.4; Mt 1.18; 2.11, Hb


10.5), em tudo semelhante ao que é essencial ao corpo
humano.
b) Nasceu em semelhança da carne pecaminosa
(Rm 8.3).
c) Ele descende dos patriarcas segundo a carne
(Rm 9.5).
d) É da linhagem de Abraão (Gl 3.16).
e) É da linhagem de Judá (Hb 7.14).
f) É da geração de Davi (Rm 1.3).

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 41


3.2.2 - Nascimento Virginal de Cristo
Sua concepção foi singular pelo fato de não ter en-
volvido um ser humano masculino. O nascimento de
Jesus foi milagroso (Mt 1.18;22-25 e Lc 1.26-38). Jesus
foi concebido no ventre da virgem Maria mediante o
poder do Espírito Santo, sem um pai humano. Em Isaías
7.14, esse evento já tinha sido profetizado.
3.2.3 - Jesus Teve um Crescimento Humano
Não apenas o nascimento de Jesus, mas também a
Sua vida indicam que Ele tinha uma natureza física hu-
mana: “E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça,
diante de Deus e dos homens”(Lc 2.52). “Crescia o me-
nino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a gra-
ça de Deus estava sobre ele” (Lc 2.40).
O Seu desenvolvimento físico e mental foi normal,
ainda que seja possível que Seu corpo fosse mais perfei-
to que o nosso, porque Ele era sem pecado (nem mes-
mo o pecado original, tampouco a corrupção da natu-
reza pelo pecado, que é comum a todos os homens). O
Seu desenvolvimento mental não pode ser atribuído ao
aprendizado recebido na escola (Jo 7.5), mas, em parte,
pode ser atribuído a Sua educação em um lar temente
a Deus, Sua regularidade na sinagoga (Lc 4.16), Suas vi-
sitas ao templo (Lc 2.14,46,47), Seu estudo das Escritu-
ras, que é indicado pela expressão “achou o lugar onde
estava escrito” (Lc 4.17) e pelo uso delas na tentação, e
Sua comunhão com o Pai (Mt 4, Lc 4, Mc 1.35; Jo 4.32-
34).

42 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


3.2.4 - Jesus Tinha os Elementos Essenciais do
Ser Humano.

a) Jesus tinha um corpo humano - “Um corpo


me formaste” (Hb 10.5b; 10.10; Mt 26.12; Jo 2.21). O
corpo de Jesus era semelhante ao nosso. Composto de
carne, sangue e ossos (Lc 24.39), Ele não era um fantas-
ma, nem uma mera semelhança de corpo.
b) Jesus tinha alma - Então, disse-lhes: “A minha
alma está profundamente triste até à morte” (Mt 26.38;
Jo 12.27; At 2.27-31).
c) Jesus tinha espírito - “Então, Jesus clamou em
alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E,
dito isto, expirou”(Lc 23.46; Mc 8.12). “Ditas estas coi-
sas, angustiou-se Jesus em espírito” (Jo 13.21).

3.2.5 - Jesus Tinha Nomes Humanos


Foram dados ao Nosso Senhor nomes humanos:
a) Jesus - é nada mais que a forma grega do
nome Josué13 do AT;
b) Filho do Homem - Sl 8.4; Dn 7.1;
c) Filho de Davi - Mt 20.31; Mc 10.48.

3.2.6 - Jesus Teve um Crescimento Físico Normal


O fato de Jesus ter crescido em sabedoria (Lc 2.52)
significa que Ele passou por um processo de aprendiza-
do assim como acontece com todas as outras crianças -
Ele aprendeu a comer, a falar, a ler e a escrever e a ser
13. Após o exílio, o nome Josué é chamado de Jesua, daí, portanto, vem o grego
Iesous.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 43


obediente a Seus pais (veja Hb 5.8). Esse processo nor-
mal de aprendizado fazia parte da genuína humanida-
de de Cristo.
Além da natureza física, Jesus possuía o mesmo ti-
po de qualidades emocionais e intelectuais que todos
os homens possuem, pois pensava, raciocinava e tinha
toda a gama de emoções humanas: tristeza (Jo 11.35),
angústia (Jo 13.21). Ele teve fome (Mt 21.18), cansaço
(Jo 4.6), sono (Mt 8.24), sede (Jo 19.28). Era sujeito à
dor e aos sofrimentos físicos (Lc 22.44). Submeteu-se à
lei e foi obediente até a morte.
3.2.7 - Jesus Será um Homem Para Sempre
Jesus não perdeu a Sua natureza humana após Sua
morte e ressurreição, pois apareceu aos discípulos co-
mo homem após a ressurreição, e até com as cicatrizes
dos cravos nas mãos (Jo 20.25-27). Ele possuía carne e
ossos (Lc 24.39), e comia (Lc 24.41,42). Quando con-
versava com os discípulos, foi levado ao céu, ainda em
Seu corpo humano ressurreto, e dois anjos prometeram
que Ele voltaria do mesmo modo: “Esse Jesus que den-
tre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes
subir” (At 1.11).

3.3 - A NECESSIDADE DA HUMANIDADE DE CRISTO

3.3.1 - Para Ser Nosso Legítimo Substituto


Desde o pecado que ocasionou a queda, era neces-
sário que o homem sofresse o castigo. A expiação pelo
pecado envolvia sofrimento de corpo e alma, sofrimen-
to somente cabível ao homem (Jo 12.27; At 3.18; Hb

44 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


2.14; 9.22). Era necessário, que Cristo assumisse a natu-
reza humana, não somente com todas as suas proprie-
dades, mas também com todas as debilidades a que
está sujeita depois da queda (Hb 2.17,18).
3.3.2 - Para Ser Nosso Mediador
Um homem que fosse ele próprio pecador e que es-
tivesse privado de sua própria vida, certamente, não
poderia fazer expiação por outros (Hb 7.26). Somen-
te um mediador verdadeiramente humano, que tives-
se conhecimento experimental da miséria humana e se
mantivesse acima de todas as tentações do homem (Hb
2.17,18; 4.15-5.2), poderia ser o mediador entre Deus e
o homem (1Tm 2.5,6).

Opiniões errôneas acerca da pessoa de Jesus


Durante séculos, os cristãos aceitaram a história
dos quatro evangelhos sem maiores questiona-
mentos. Essas quatro narrativas apresentam na-
turalmente diferenças entre si. Estudiosos, como
Agostinho (354-430), compararam os quatro
evangelhos para harmonizar os seus conteúdos.
A partir da Renascença e da Reforma, os eruditos
deram mais atenção ao estudo sistemático do tex-
A busca do to grego, a língua original do NT.
“Jesus histó- No período do iluminismo, alguns eruditos come-
rico” çaram a estudar o NT de um ponto de vista cético,
questionando a interpretação tradicional da pes-
soa de Jesus. Esses pesquisadores não aceitavam
a Bíblia como um livro inspirado por Deus, aban-
donando a fé nos milagres de Cristo como uma
prova da Sua divindade. Rejeitando grande par-
te da doutrina cristã, alguns desses racionalistas
queriam separar a crença em um Jesus Deus, do
Jesus homem.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 45


O século XIX viveu o auge da “teologia liberal”, quando
estudiosos, principalmente da Alemanha, passaram a
entender como mal-contada a história de Jesus, regis-
trada nos Evangelhos e então passaram a tentar recons-
tituir a verdadeira história de Jesus de Nazaré.
Hermann Reimarus (1694-1768) é o fundador do mo-
vimento da “busca pelo Jesus histórico”. Ensinava que
Jesus era produto do judaísmo apocalíptico do Seu
tempo. Jesus esperava que por Sua morte viria o fim do
mundo; como o fim não veio, os Seus discípulos apavo-
Teologia Li- rados esconderam o corpo de Jesus e proclamaram Sua
beral ressurreição.
David Frederich Strauss (1808-1874) em seu livro, “Vida
de Jesus”, reduziu Cristo a uma criatura infame. Ernest
Renan (1823-1892) retrata Jesus como um revolucioná-
rio apocalíptico.
Albert Schweitzer (1975-1965), célebre médico missio-
nário e organista14, pesquisou as várias biografias de
Jesus e escreveu o livro “A busca do Jesus Histórico”.
Para Schweitzer, Jesus era um louco apocalíptico, e Sua
mensagem pouco ou nada tem a dizer sobre a nossa
realidade.
O existencialista Rudolph Bultmann15 propunha a demi-
tização16 da fé, ou seja, tudo o que os evangelhos tes-
tificam sobre Cristo são lendas e mitos; não podemos
O Existencia- conhecer o que foi a vida de Cristo através dos evan-
lismo gelhos. Bultmann ensinava também que, trabalhando
com ferramentas racionalistas e históricas, podemos
separar o Jesus histórico e o Jesus da fé, pregado pela
Igreja.
141516

14. Foi também Prêmio Nobel da Paz.


15. Pai da Teologia do Mito. Autor de “Mitologia e Novo Testamento”.
16. Demitizar quer dizer eliminar o mito.

46 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) O corpo de Jesus era semelhante ao nosso.
2. ( ) Jesus não perdeu a Sua natureza humana após
Sua morte e ressurreição.
3. ( ) O existencialista Martinho Lutero propunha a
demitização da fé.
4. ( ) O nome “Jesus” é a forma grega do nome “Jo-
sué” do AT.
5. ( ) O século XXI viveu o auge da “teologia reforma-
da”.
6. ( ) A Teologia liberal visa fortalecer a existência de
Cristo, procurando fatos históricos que a comprovem.
7. ( ) Desde o pecado que ocasionou a queda, era
necessário que o homem sofresse o castigo, por isso a
expiação envolveu sofrimento.
8. ( ) Qualquer homem poderia ser mediador entre
os homens e Deus, mas Jesus Se ofereceu em nosso lu-
gar.
9. ( ) O Senhor Jesus submeteu-se à lei e foi obedien-
te até a morte.
10. ( ) Jesus não possuía o mesmo tipo de qualidades
emocionais e intelectuais que todos os homens pos-
suem, por isso conseguiu vencer a tentação.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 47


LIÇÃO 01 - TEXTO 04

A IMPECABILIDADE DE CRISTO

Ainda que o NT seja claro em salientar que Jesus era


plenamente humano, exatamente como nós, também
explica que Jesus era diferente em um aspecto impor-
tante: Ele era isento de pecado; jamais cometeu um pe-
cado sequer durante Sua vida.
O NT é categórico: “foi ele tentado em todas as coi-
sas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15).
Jesus é descrito como Sumo Sacerdote “santo, inculpá-
vel, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais
alto do que os céus” (Hb 7.26). Pedro, que conheceu
intimamente o Senhor Jesus, declarou que Ele era “o
santo de Deus” (Jo 6.69); ensinou que Jesus “não come-
teu pecado” (1Pe 2.22). João disse: “Nele não existe pe-
cado” (1Jo 3.5). Paulo afirma também que Cristo “Não
conheceu pecado” (2Co 5.21).
Atestar a impecabilidade da natureza humana de
Cristo, na ótica de Berkhof17, é dizer “não apenas que
Cristo pode evitar o pecado (potuit non peccare), e que
de fato evitou, mas também que Lhe era impossível pe-
car (non potuit peccare), devido à ligação essencial en-
tre as naturezas humana e divina”.
Apesar de todos os evangélicos concordarem que
Cristo nunca pecou (2Co 5.21; Hb 7.26; Tg 5.6; 1Pe
2.22; 3.18; 1Jo 3.5), ainda que tenha passado por mui-

17. Louis Berkhof, Teologia Sistemática, pág. 318.

48 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


tas lutas (Mt 26.36-46) e que Suas tentações tenham
sido reais (Hb 4.15), muitos estão divididos na questão
da impecabilidade18 da natureza humana de Cristo.

4.1 - ARGUMENTOS PRÓ-PECABILIDADE DA NATU-


REZA HUMANA DE CRISTO
Alguns defendem que Cristo nunca pecou, não por-
que era incapaz de pecar (Hebreus 4.15 diz que Cristo
foi tentado em todas as coisas semelhante aos homens).
Os defensores dessa ideia utilizam ainda o argumen-
to puramente racional: para que uma tentação seja
verdadeira, precisa haver a possibilidade de se cair em
tentação. E dizem que, se Cristo não podia pecar, então
o Salvador não possuía livre arbítrio real e não podia ser
verdadeiro homem, uma vez que todos os homens são
pecadores por natureza.

4.2 - ARGUMENTOS PRÓ-IMPECABILIDADE DA NA-


TUREZA HUMANA DE CRISTO
Pode-se afirmar que tentabilidade não é a mesma
coisa que sucetibilidade. Se Cristo podia pecar em Sua
natureza humana; como Ele poderia ser verdadeira-
mente divino?
Cristo foi provado em Sua natureza humana; porém,
é necessário lembrar que o Salvador não possui, como
nós, a depravação pelo pecado em Sua natureza. Cristo
possuía livre arbítrio; foi livre para fazer a vontade do
Pai, pois tinha a mesma vontade.

18. Impecabilidade significa não somente integridade natural, mas também


moral, ou perfeição moral.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 49


O que aqueles que defendem a pecabilidade não en-
tendem, quando dizem que era preciso que Cristo fosse
suscetível ao pecado para ser verdadeiramente homem,
é que a humanidade está agora em uma situação anor-
mal. Deus não nos criou pecaminosos, mas santos e
justos. Adão e Eva no jardim do Éden eram verdadeira-
mente humanos antes de pecar, e nós agora, apesar de
humanos, não nos conformamos ao padrão que Deus
deseja que preenchamos. Quando nossa humanidade
plena for restaurada, então nos acomodaremos ao pro-
pósito de Deus, a santidade.
Jesus era isento de toda a contaminação, “nele não
existe pecado” (1Jo 3.5). No AT, Deus Yaweh é chama-
do “o Santo de Israel”19. No NT, é Cristo Jesus quem é
chamado “o Santo”. A santidade de Cristo é a mesma
santidade de Deus.
Louis Berkhof diz20 que “Apesar de Jesus ter-se feito
pecado judicialmente, todavia, eticamente estava livre
tanto da depravação hereditária como do pecado fatu-
al. Ele jamais se fez confissão de erro moral; tampou-
co se juntou aos Seus discípulos na oração: “perdoa as
nossas dívidas” (os nossos pecados). Ele pôde desafiar
os Seus inimigos a convencê-lo de pecado”.

19. Só pelo profeta Isaías, cerca de 30 vezes.


20. Louis Berkhof, Teologia Sistemática, pág. 318.

50 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


4.4 - O QUE AS ESCRITURAS REALMENTE DIZEM
SOBRE O ASSUNTO
A Bíblia diz que Deus não faz o mal, e não pode ser
tentado pelo mal (Tg 1.13). Aqui a questão fica com-
plexa. E como Cristo é plenamente Deus e plenamente
homem, como ficam, então, as afirmações de que Jesus
foi tentado?
Este é um dos grandes mistérios das Escrituras que
procuraremos responder no tópico “União das nature-
zas de Cristo21”. As Escrituras afirmam claramente que
Cristo jamais pecou de fato. Não deve haver nenhuma
dúvida a esse respeito em nossa mente. Elas também
afirmam que Jesus foi tentado, e que as tentações fo-
ram reais (Lc 4.2). Se cremos na Bíblia, precisamos insis-
tir que Cristo foi “tentado em todas as coisas, à nossa
semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15).
Também precisamos afirmar com as Escrituras que
“Deus não pode ser tentado pelo mal” (Tg 1.13). Mas
aqui a questão torna-se difícil: se Jesus era plenamente
Deus e também plenamente humano, e vamos argu-
mentar adiante que as Escrituras ensinam isso várias
vezes e de maneira clara, então não somos obrigados
também a afirmar que, em algum sentido, Jesus tam-
bém “não pode ser tentado pelo mal”?
“Tentabilidade não implica suscetibilidade. Só por-
que um exército pode ser atacado, não quer dizer que
ele pode ser vencido. Isso também resulta na falsa pres-
suposição que tudo aquilo que se aplica a nós também
se aplica a Cristo22”.

21. A natureza divina e a humana de Cristo.


22. Teologia Cristã em Quadros, quadro 33.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 51


Embora as tentações de Cristo sejam, exatamente,
como as nossas, Ele foi provado por meio de Sua natu-
reza humana, como nós somos. No entanto, Ele não ti-
nha uma natureza pecaminosa como nós, e era divino.
As tentações de Cristo foram exatamente como as
nossas, exceto no fato de que não se originavam em
desejos maus e proibidos. O Senhor Jesus foi tentado a
partir de fora e não de dentro.
James I. Packer23 define a impecabilidade de Cristo
nestes termos: “Jesus Cristo era totalmente isento de
pecado”. “[Cristo] ... não cometeu pecado, nem na sua
boca se achou engano” 1Pe 2.22. O NT insiste que Jesus
era totalmente isento de pecado (Jo 8.46; 2Co 5.21; Hb
4.15; 7.26; 1Pe 2.22; 1Jo 3.5). Isso quer dizer que não
somente Ele nunca desobedeceu a Seu Pai, mas que
amava a lei de Deus e sentia sincero prazer em cumpri-
la. Nos seres humanos degradados, há sempre alguma
relutância em obedecer a Deus e, algumas vezes, res-
sentimento que se transforma em ódio diante das ala-
gações que Ele faz sobre nós (Rm 8.7). Mas a natureza
moral de Jesus era inocente, com foi a de Adão antes
de seu pecado, e, em Jesus, não havia nenhuma incli-
nação a afastar-Se de Deus que permitisse a Satanás
tirar proveito de Seu coração, mente, alma e força. O
autor24 faz uma conclusão brilhante: “a impecabilida-
de de Jesus era necessária para a nossa salvação. Não
fosse Ele “um cordeiro sem defeito e sem mácula”, seu
sangue não teria sido “precioso” (1Pe 1.19). Ele mesmo
teria necessitado de um salvador, e sua morte não nos
teria redimido. Sua obediência ativa (perfeita conformi-

23. James I. Packer, Teologia Concisa, pág. 110.


24. Ibid.

52 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


dade permanente à lei de Deus para a raça humana, e
à sua vontade revelada para o Messias) qualificou Jesus
a tornar-se nosso Salvador ao morrer por nós sobre a
cruz. A obediência passiva de Jesus (suportando o cas-
tigo da lei violada de Deus como nosso substituto ima-
culado) coroou sua obediência ativa para assegurar o
perdão e aceitação daqueles que colocaram sua fé nele
(Rm 5.18,19; 2Co 5.18-21; Fp 2.8; Hb 10.5-10)“.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 53


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) A Bíblia diz que Deus não faz o mal e não pode
ser tentado pelo mal.
2. ( ) A santidade de Cristo não é a mesma santidade
de Deus.
3. ( ) O Senhor Jesus foi tentado a partir de fora e
não de dentro.
4. ( ) Cristo não tinha uma natureza pecaminosa co-
mo nós.
5. ( ) As tentações de Cristo foram exatamente como
as nossas, pois se originavam em desejos maus, ineren-
tes à natureza humana que Ele possuía.
6. ( ) Tentabilidade não é a mesma coisa que susceti-
bilidade, e esse é um argumento forte no que se refere
a afirmar a impecabilidade de Cristo.
7. ( ) Cristo foi provado também em Sua natureza
divina.
8. ( ) A humanidade está agora, ou seja, posterior-
mente à queda, em uma situação anormal com relação
à natureza e à pecabilidade.
9. ( ) Caifás, que conheceu intimamente o Senhor Je-
sus, declarou que Ele era “o santo de Deus”.
10. ( ) No mundo evangélico, em geral, aceita-se que
Cristo nunca pecou, mas há discussões sobre Sua inca-
pacidade de pecar.

54 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


ESBOÇO DA LIÇÃO 02

A DIVINDADE E A HUMANIDADE
DO SENHOR JESUS
TEXTO 01 - A DIVINDADE DE CRISTO
TEXTO 02 - AS PROVAS BÍBLICAS DA DIVINDADE
DE CRISTO
TEXTO 03 - A UNIDADE DA PESSOA DE CRISTO
TEXTO 04 - OS ESTADOS DE CRISTO (ESTADO DE
HUMILHAÇÃO)
TEXTO 05 - OS ESTADOS DE CRISTO (ESTADO DE
EXALTAÇÃO)

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 55


LIÇÃO 02

A DIVINDADE E A HUMANIDADE
DO SENHOR JESUS

A prova suprema do verdadeiro cristianismo é a fé


inquebrantável na divindade do Senhor Jesus: “... sa-
bemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado
entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e es-
tamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o
verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20 cf. Mc 2.28;
Jo 1.1-14; Jo 8.58;20.28; Rm 9.5; Fp 2.9-11; Cl 1.19).
Mesmo assim, durante a história da igreja, não poucas
vezes, o povo de Deus teve de dar resposta firme diante
dos que negavam ou deturpavam a divindade de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Através dos séculos, a divindade e
a humanidade do Senhor Jesus Cristo têm sido muito
atacadas pelas heresias; daí a necessidade de compre-
ensão bíblica da doutrina.
A crença na divindade de Cristo faz do cristianismo
uma fé singular entre todas as expressões religiosas do
mundo, porque, sendo Deus, o Senhor Jesus Cristo está
em uma condição muito superior a de todos os homens
que já existiram, sobretudo os fundadores das religiões,
como: Buda, Maomé, Confúcio e outros.
Os líderes religiosos se destacaram no mundo por
sua filosofia e seus ensinos; porém, o Senhor Jesus des-
taca-se pelo que é: Deus, que Se tornou homem, a por-
ta, o caminho para se chegar a Deus.

56 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


LIÇÃO 02 - TEXTO 01

A DIVINDADE DE CRISTO

Poucos artigos da fé cristã tem sido tão atacados du-


rante os séculos como a divindade do Senhor Jesus Cris-
to. Ela é a base da fé Cristã; negando-a, o Cristianismo
não subsiste. A igreja do Senhor confessa a doutrina
de que o Senhor Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro
homem.
O Senhor Jesus não é meramente um humilde sábio
do Oriente Médio; nem um ser humano divinizado; ou
mesmo a primeira e mais excelente das criaturas, como
ensinaram Ário, e, mais tarde, as Testemunhas de Jeová;
não é um deus subordinado como defendiam os semia-
rianos; tampouco um homem adotado como filho por
Deus. O Senhor Jesus não pode ser dividido em “Jesus
histórico” e “Jesus da fé”, como defendem os liberais,
modernistas e os denominados “demitologistas” do NT.
Cristo é Deus. Esse é o testemunho do NT, que apre-
senta enfaticamente a deidade do Senhor Jesus, descre-
vendo-o não só como preexistente à criação do univer-
so, mas também como eterno (Jo 1.1-3).
Antes de apresentarmos os argumentos bíblicos que
ensinam a divindade do Senhor Jesus, em confronto aos
falsos ensinos que os movimentos religiosos modernos
apresentam, veremos, sucintamente, como a igreja pri-
mitiva defendeu-se das heresias históricas, que, muitas
vezes, voltam à tona, em nova roupagem, através de
um novo grupo.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 57


v
HERESIAS PRIMITIVAS QUE NEGAVAM
A DIVINDADE DE JESUS
¾¾ Ebionitas - Eram uma seita de judeus cris-
tãos hereges que negavam a divindade real de Cristo.
Jesus, segundo a teologia ebionita, era um homem
comum que possuía dons incomuns, mas não sobre-
naturais, de justiça e sabedoria. Para eles, com o ba-
tismo, Cristo desceu em forma de pomba sobre Jesus.
Cristo, então, era basicamente um homem, apesar
de, pelo menos por um tempo, o poder de Deus ter
estado nele presente e ativo em grau incomum.
¾¾ Arianos - O ensino de um presbítero de Ale-
xandria chamado Ário tornou-se a primeira grande
ameaça à fé da igreja no que diz respeito à divinda-
de de Jesus. Apesar de condenado pelo Concílio de
Niceia, em 325, e em concílios subsequentes, o aria-
nismo multiplicou-se, de várias formas, até os nossos
dias. Os herdeiros modernos do arianismo são os cha-
mados Testemunhas de Jeová.
Ário ensinava que só o Pai é eterno e incriado. O
Verbo, portanto, é um ser criado, apesar de ser o pri-
meiro e o mais elevado dos seres. Embora o Verbo
seja uma pessoa perfeita, não sendo, de fato, da mes-
ma classe das outras criaturas, ele não tem existência
própria. Ário baseava sua posição em uma coleção de
textos que “parecem” implicar uma subordinação ou
inferioridade de Cristo em relação ao Pai. Por exem-
plo, em Jo 14.28, Jesus diz: “o Pai é maior do que eu”.
Os arianos entenderam mal várias declarações bíbli-

58 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


vcas referentes à subordinação do Filho durante a sua
encarnação. Descrições de Sua subordinação funcio-
nal temporária ao Pai foram mal interpretadas como
afirmações acerca da essência do Filho.
A igreja deu um passo relevante no Concílio de Cal-
cedônia (451 d.C.) quando fez a importante afirmação
de que o Senhor Jesus é verdadeiramente homem e
verdadeiramente Deus, afirmando também que as duas
naturezas de Jesus, humana e divina, eram sem mistu-
ra, confusão, separação ou divisão.

1.1 - O ENSINO DA BÍBLIA A RESPEITO DA DIVINDA-


DE DE JESUS CRISTO
As Escrituras, de forma unânime, afirmam a divinda-
de do Senhor Jesus Cristo. O AT, em várias passagens,
registra a vida do Messias, Sua obra, Seu amor pelo po-
vo, e Seus sofrimentos, com impressionante precisão.
Podem-se citar, nesse sentido, as profecias sobre Cristo
no Antigo Testamento, claramente cumpridas no Novo
Testamento: Seu nascimento virginal (Is 7.14 - cf. Mt
1.18-23; Lc 1.26-35); o local do Seu nascimento (Mq 5.2
- cf. Mt 2; Lc 2; Jo 7.42); a Galileia como ponto de parti-
da do Seu ministério (Is 9.1-2 - cf. Mt 4.13-16; Mc 1.14-
15; Lc 4.14,15); João Batista como o precursor do Mes-
sias, uma voz no deserto (Is 40.3-5 - cf Mt 3.3; Mc 1.3;
Lc 3.4-6; Jo 1.23); a rejeição do Cristo pelo Seu próprio
povo (Is 53.3 - cf. Jo 1.11); a Sua apresentação como o
cordeiro de Deus (Is 53.7,8 - cf. Jo 1.29,36; At 8.30-35;
1Pe 1.19; Ap 5.6,12); a traição por um amigo (Sl 41.9 -
cf. Jo 13.18), o escarnecimento pela multidão (Sl 22.7,8 -

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 59


cf. Mt 27.29, 41-44; Mc 15.18,29-32; Lc 23.35-
39); o sorteio de Suas vestes (Sl 22.18 - cf. Mt
27.35; Mc 15.24; Lc 23.34; Jo 19.24); a inclusão en-
tre os transgressores (Is 53.12 - cf. Mt 27.38; Mc
15.27,28; Lc 22.37), a terrível sede (Sl 69.21 - cf.
Jo 19.29); a preservação dos Seus ossos (Sl 34.20 -
cf. Jo 19.31-36), o sepultamento no túmulo do rico (Is
53.9 - cf. Mt 27.57-60).
1.1.1 - O Ensino do Novo Testamento Sobre Cris-
to
O Novo Testamento professa a crença na
divindade do Senhor Jesus e ensina que o Filho de Deus
é:
a) Eterno como o Pai - e estava com Ele no prin-
cípio (Jo 1.1; 1Jo 1.1);
b) Alfa e Ômega - o primeiro e o último, o prin-
cípio e o fim (Ap 22.13);
c) Onipresente - depois da Sua glorificação, Ele
permanece com a igreja e cumpre tudo em todos (Mt
28.20; Ef 1.23, 4.10);
d) Imutável e fiel - “Cristo Jesus é o mesmo on-
tem, hoje e o será eternamente” (Hb 13.8);
e) Onisciente - por isso, ouve nossas orações (At
1.24; 7.59; 16.13; Rm 10.13); Ele é aquele que conhece
o coração do homem (At 1.24);
f) Onipotente - pois todas as coisas estão sujei-
tas a Ele e todo o poder Lhe foi dado no céu (Mt 28.18;
1Co 15.27; Ef 1.22; Ap 1.4; 19.16) e na Terra;

60 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


g) Rei dos Reis e Senhor dos Senhores (Ap
19.16).

1.1.2 - Títulos divinos aplicados ao Senhor Jesus


Cristo

a) Primeiro e último: Ap 1.17; 2.8; 22.13;


b) A verdadeira luz: Jo 1.19;
c) Rocha ou pedra: 1Co 10.4; 1Pe 2.6-8;
d) Esposo: Ef 5.28-33; Ap 21.2;
e) Supremo pastor: 1Pe 5.4;
f) Grande pastor: Hb 13.20;
g) Redentor: Tt 2.13; Ap 5.9;
h) Perdoador de pecados: At 5.31; Cl 3.13;
i) Salvador do mundo: Jo 4.42;
j) Juiz dos vivos e mortos: 2Tm 4.1.

1.2 - A AUTOCONSCIÊNCIA DE JESUS


Durante Seu ministério terreno, Jesus, claramente,
agiu como quem tem autoridade divina. Assumiu para
Si a prerrogativa de purificar o templo (Mc 11.27-33),
buscar e salvar o que se havia perdido (Lc 19.10), ter a
autoridade divina para perdoar pecados (Mc 2.5-7; Lc
7.48,49).
A autoconsciência de Jesus é vista no relacionamen-
to incomum que tinha com o Pai. Ele alega ser “um com
o Pai” (Jo 10.30); vê-Lo e conhecê-Lo é ver e conhecer o

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 61


Pai (Jo 14.7-9). Em João 8.58, Jesus afirma Sua preexis-
tência. A indicação mais clara da autocompreensão de
Jesus é encontrada em associação ao Seu julgamento
e condenação. A acusação, de acordo com o relato de
João, era a de que “a si mesmo se fez Filho de Deus”
(Jo 19.7; cf. Mt 26.63). Não apenas Jesus não discutiu
a acusação de que teria afirmado ser Deus, como tam-
bém aceitou que os discípulos Lhe atribuíssem divinda-
de (Jo 20.28).
Outra importante indicação da autoconsciência de
Jesus é a maneira como Ele justapõe Suas próprias pa-
lavras às do AT, as Escrituras do Seu tempo. Várias ve-
zes, Ele afirma: “ouvistes o que foi dito aos antigos...
eu porém vos digo...” (Mt 5.21,22,27,28). Aqui, Jesus
coloca a Sua palavra no mesmo nível das Escrituras do
AT. Jesus possui a mesma autoridade dos ensinos do AT.
Jesus é superior a Abraão (Jo 8.53), a Jacó (Jo 4.12), ao
templo (Mt 12.6), e ao sábado (Mc 2.28). Cristo afirmou
também que o destino de todas as pessoas dependia de
como reagiriam a Ele (Mt 10.32-33; 11.6; Mc 8.34-38).
O que Jesus pensava de Si mesmo? Lucas retrata um
incidente da infância de Jesus, quando, com 12 anos
de idade, estava cônscio de duas coisas: primeira, uma
revelação especial para com Deus, a quem chamava de
“Pai”; segunda, uma missão especial na Terra, que cha-
mava “negócios de meu Pai” (Lc 2.49).

62 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) A divindade do Senhor Jesus Cristo é a base da
fé Cristã.
2. ( ) Jesus não possui a mesma autoridade dos ensi-
nos do AT.
3. ( ) Durante Seu ministério terreno, Jesus agiu co-
mo quem tem autoridade divina.
4. ( ) As Escrituras, de forma unânime, afirmam a di-
vindade do Senhor Jesus Cristo.
5. ( ) Jesus confirmou, Ele próprio, Sua preexistência.
II. SUBLINHE A RESPOSTA CORRETA:
1. Cristo é (Onipotente - Imutável), pois todas as coisas
estão sujeitas a Ele.
2. Cristo é (Onisciente - Onipotente); por isso, ouve nos-
sas orações.
3. “Cristo Jesus é o mesmo ontem, hoje e o será eterna-
mente”. Ele é (Todo Poderoso - Imutável e fiel).
4. As profecias sobre Cristo, declaradas no AT (cumpri-
ram-se - não se cumpriram) plenamente no NT.
5. Os (ebionitas - arianos) afirmavam que Jesus era ape-
nas um homem comum com dons incomuns.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 63


LIÇÃO 02 - TEXTO 02

AS PROVAS BÍBLICAS DA
DIVINDADE DE CRISTO

O Antigo Testamento vaticinava o Messias divino (Sl


2.6-12 - cf. Hb 1.5; 45.6,7 e Hb 1.8,9; Sl. 110.1 - cf. Hb
1.13; Is 9.6; Jr 23.6; Dn 7.13; Mq 5.2; Zc 13.7). É impos-
sível negar que o Novo Testamento ensina a divinda-
de de Cristo. Nos evangelhos sinóticos25, Seu caráter e
obras justificam Sua reivindicação, como encontramos
em: Mt 5.17; 9.6; 11.1-6,27; 14.33; 16.16,17; 28.18;
25.31-46; Mc 8.38, e em outras passagens similares,
bem como passagens paralelas.
No Evangelho de João, achamos o mais elevado
conceito da pessoa de Cristo, como constatamos nas
seguintes passagens: Jo 1.1-3,14,18; 2.24,25; 3.16-18,
35,36; 4.14,15; 5.18, 20-22, 25-27; 11.41-44; 20.28;
1Jo 1.3; 2.23; 4.14,15; 5.18, 20-22, 25-27. Nas epis-
tolas paulinas e na epístola aos Hebreus, encontramos
conceito semelhante: Rm 1.7; 9.5; 1Co 1.1-3; 2.8; 2Co
5.10; Gl 2.20; 4.4; Fp 2.6; Cl 2.9; 1Tm 3.16; Hb 1.1-
3,5,8; 4.14, 5.8, e etc.

25. Sinótico: de visão conjunta. Os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.

64 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


2.1 - OS NOMES DADOS AO SENHOR JESUS ATES-
TAM SUA DIVINDADE

2.1.1 - Deus
O termo é usado no sentido absoluto, referindo-se à
Divindade (Hb 1.8; Jo 20.28; 1.18; 5.20; At 20.28; Rm
9.5; Tt 2.13).
2.1.2 - Filho de Deus
Este nome é dado ao Senhor Jesus mais de
40 vezes nas Escrituras (Mt 16.16,17; 27.40,43; Mc
14.61,62; Lc 22.70; Jo 5.25; 10.36; 11.4; veja Mt 8.29).

2.1.3 - Primeiro e Último, Alfa e Ômega


“O Dr. Pierson diz-nos que este título descreve Cristo
como tema de todas as Escrituras, o Criador de todos os
mudos e criaturas, o Controlador de toda a história.”26
(Ap 1.17; cf. Is 41.4; 44.6; Ap 1.8;22.12,13,15).
2.1.4 - Santo
“Vós, porém, negastes o Santo e o Justo e pedistes
que vos concedessem um homicida” (At 3.14). “Não
executarei o furor da minha ira; não tornarei para des-
truir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o
Santo no meio de ti; não voltarei em ira” (Os 11.9).

26. E. H. Bancroft. Teologia Elementar. Imprensa Batista Regular, pág. 119.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 65


2.1.5 - Senhor de Todos e Senhor Da Glória
Estes dois nomes apresentam Cristo, respectivamen-
te, em Sua soberania divina e em Sua majestade divina
(At 10.36; 1Co 2.8; Sl 24.8-10; Is 9.6; Hb 1.8).
Os nomes que claramente implicam divindade são
usados a respeito de Jesus Cristo; desse modo, Sua Di-
vindade é tão firmemente estabelecida como a do Pai.

2.2 - O CULTO QUE É PRESTADO A CRISTO ATESTA


SUA DIVINDADE
Adoração como a que Cristo recebeu era ordinaria-
mente prestada somente a Deus. Portanto, ao receber
esse culto, Cristo reconheceu Seu direito como Deus.
“Então, Jesus lhe ordenou: Retira-te, Satanás, porque
está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele
darás culto” (Mt 4.10 - cf. At 10.25,26; Ap 22.8,9; At
12.20-25; 14.14,15).
2.2.1 - A Bíblia Salienta Que Adoração é Devida
Somente a Deus
A adoração prestada a Cristo, nos escritos sagrados
do Novo Testamento, não passaria de idolatria sacrílega
se Ele não fosse verdadeiramente Deus. A Bíblia testi-
fica de homens que foram alvo da adoração que per-
tence, exclusivamente, a Deus, e do terrível castigo que
receberam: Nabucodonozor (Dn 4.29-31) e Herodes (At
12.20-25). Também a Bíblia registra o exemplo de ou-
tros que horrorizados rejeitaram a adoração que não
lhes pertencia: Paulo e Barnabé (At 14.12-15); Pedro (At
10.25,26) e anjos (Ap 22.8,9).

66 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


2.2.2 - Jesus Cristo, Sem Qualquer Hesitação,
Aceitou e Encorajou a Adoração a Sua
Pessoa
“Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem;
porque eu o sou” (Jo 13.13 - cf. Mt 14.33; Lc 24.52; Jo
4.10; Lc 5.8; Jo 20.27-29).
2.2.3 - A Vontade Revelada de Deus é a de Que
Cristo Seja Adorado
“E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mun-
do, diz: E todos os anjos de Deus o adorem” (Hb 1.6 - cf.
Is 45.21-23; Jo 5.22,23).
2.2.4 - A Igreja Primitiva Tinha Como Prática Sa-
grada Orar a Cristo e Adorá-Lo
“E apedrejavam Estêvão, que invocava e dizia: Se-
nhor Jesus, recebe o meu espírito!” (At 7.59). “...à igreja
de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo
Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em
todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cris-
to, Senhor deles e nosso” (1Co 1.2 - cf. 2Co 12.8-10;).

2.3 - OS OFÍCIOS DIVINOS QUE AS ESCRITURAS


ATRIBUEM A CRISTO ATESTAM SUA DIVINDA-
DE
Somente um ser que possui inerentemente a vida
eterna é que pode proporcioná-la; e somente Deus pos-
sui a vida eterna no sentido absoluto; por conseguinte,
Jesus Cristo, para ser doador da vida eterna, necessaria-
mente tem de ser Deus.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 67


2.3.1 - Criador do Universo
A Bíblia ensina que Jesus Cristo não é incluído nas
“coisas criadas”; antes, é considerado como a origem de
todas elas. Como Criador e não criatura, é infinito e não
finito (Jo 1.3; Hb 1.10; Ap 3.14; Cl 1.16).
2.3.2 - Preservador de Tudo
O universo não se sustenta sozinho, nem foi aban-
donado por Deus, como ensinam os deístas. Cristo pre-
serva e sustenta todas as coisas. O que chamamos de
“leis da natureza” são as ações voluntárias de Cristo.
A preservação de todas as coisas é uma função divina
atribuída a Cristo, o que comprova a sua divindade (Hb
1.3; Cl 1.17).
2.3.3 - Perdoador de Pecados
O perdão de pecados é prerrogativa divina. Jesus
não só declarava perdoar os pecados, Ele os perdoava
(Mc 2.5,10,11 - cf. Sl 51.4; Lc 7.48-50).
2.3.4 - Doador da Vida Imortal e da Vida de Res-
surreição
A autoridade de Cristo para levantar mortos estabe-
leceu firmemente Sua divindade (Fp 3.21; Jo 5.28,29;
6.39,44).
2.3.5 - Juiz dos Vivos e dos Mortos
O Novo Testamento atribui o julgamento futuro a
Deus, julgamento este também atribuído a Jesus Cristo.
A conclusão lógica é de que Cristo é Deus, que execu-

68 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


tará todo o julgamento futuro (2Tm 4.1; At 17.31; Mt
25.31-33; Jo 5.22,23).
2.3.6 - Doador da vida eterna
“...assim como lhe conferiste autoridade sobre toda
a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos
os que lhe deste”. (Jo 17.2) “Eu lhes dou a vida eterna;
jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha
mão”. (Jo 10.28).

2.4 - O CUMPRIMENTO EM CRISTO, NO NOVO TES-


TAMENTO, DAS AFIRMAÇÕES DO ANTIGO
TESTAMENTO DE YAWEH ATESTA SUA DIVIN-
DADE
As afirmações feitas no Antigo Testamento a respeito
de Yaweh são interpretadas, no Novo Testamento, co-
mo referências a Cristo (Sl 102.24-27 - cf. Hb 1.10-12;
Is 40.3,4 - cf. Lc 1.68,69,76; Jr 17.10 - cf. Ap 2.23; Is
60.19 - cf. Lc 2.32; Js 8.13,14 - cf. 1Pe 2.7,8; Is 8.12,13 -
cf. 1Pe 3.14,15; Nm 21.6,7 - cf. 1Co 10.9; Sl 23 - cf.
Jo 10.11 e 1Pe 5.4 e Hb 13.20,21; Ez 34.11,12 - cf. Lc
19.10).
A glória de Jesus Cristo que João afirma ter sido vista
por Isaías, no Antigo Testamento, é referida como a gló-
ria pertencente a Yaweh dos Exércitos (Is 8.13,14; 1Pe
2.7,8). No ensino e na teologia do Novo Testamento,
Jesus Cristo ocupa o lugar que Yaweh ocupa no ensino
e na teologia do Antigo Testamento.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 69


2.5 - A ASSOCIAÇÃO DO NOME DE JESUS CRISTO,
FILHO DE DEUS, COM O DE DEUS PAI ATESTA
SUA DIVINDADE
Em inúmeras passagens, nas Escrituras, o nome de
Jesus Cristo é colocado ao lado do nome do Pai de um
modo que não teria razão se dissesse respeito a um ser
finito; aqui, pois, claramente se dá a entender igual-
dade com o Pai (2Co 13.14; 1Ts 3.11; 1Co 12.4-6; Jo
14.23; Rm 1.7; 2Pe 1.1; Cl 2.2; Mt 28.19; Jo 17.3; 14.1;
Ap 7.10; 5.13).

2.6 - A NECESSIDADE DA DIVINDADE DE CRISTO


No plano divino da salvação, era, absolutamente, ne-
cessário que o Mediador fosse verdadeiramente Deus.
Era necessário que:
a) Ele pudesse apresentar um sacrifício infinito e
prestar perfeita obediência à Lei de Deus;
b) Ele pudesse sofrer a ira de Deus redentora-
mente ; 27

c) Ele pudesse aplicar os frutos da Sua obra con-


sumada aos que O aceitassem pela fé. O homem, to-
talmente depravado, não pode nem cumprir a pena do
pecado, tampouco prestar perfeita obediência a Deus
(Sl 49.7-10; 130.3).
“Nos últimos 200 anos a teologia liberal tem expres-
sado, vigorosamente, uma negação da divindade de
Cristo. Todavia, C. S. Lewis estava correto quando disse
que as únicas opiniões disponíveis com respeito à Pes-

27. Isto é, para livrar outros da maldição da lei.

70 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


soa de Cristo eram: Ele era um mentiroso, um lunático
ou o Senhor. Considerando as enormes reivindicações
que Cristo fez, seria impossível designá-lo simplesmen-
te como um ‘bom professor’. Ele reivindicou ser muito
mais do que um professor” (Paul Enns).

2.7 - TEXTOS APARENTEMENTE PROBLEMÁTICOS

2.7.1 - Provérbios 8.22


“O Deus Eterno me criou antes de tudo, antes das
suas obras mais antigas28 (blh)”.
Aqui se atribui um princípio, um começo à “Sabe-
doria29”. Entretanto, esta passagem em nada indica ser
uma referência a Jesus.
Diferente daquilo que se encontra em 1Co 1.2430,
o que o sábio quis apresentar é, simplesmente, uma
personificação do atributo de sabedoria de Deus. Além
do mais, o texto não declara que a sabedoria teve um
princípio (“possuía” na ARA e na ARC31 é uma tradução
correta do hebraico “qanah”); expressa que a sabedoria
estava com Deus desde o princípio, como deixam claros
os versos seguintes desse capítulo. Essa passagem
declara em uma forma poética que a sabedoria sempre
foi parte da natureza de Deus.

28. O SENHOR me possuiu no princípio de seus caminhos [e] antes de suas obras
mais antigas (arc).
29. Referindo-se a Jesus.
30. “Mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a
Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.”
31. ARA - Almeida Revista e Atualizada e ARC - Almeida Revista e Corrigida.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 71


2.7.2 - João 5.19
“Então, lhes falou Jesus: Em verdade, em verdade vos
digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão
somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que
este fizer, o Filho também semelhantemente o faz.”
Aqueles que rejeitam a divindade de Cristo distor-
cem este texto, afirmando que, na passagem, Jesus está
desfazendo o “mal-entendido” daqueles que criam na
Sua divindade (v. 1832). Ao contrário, Jesus está, sim,
afirmando Sua natureza divina! Que Ele não podia “fa-
zer nada de Si mesmo” significa que Ele nunca agiria
contrariando a vontade do Pai. O que Ele está expres-
sando é a Sua proximidade e unidade com o Pai (cf. v.
2033). Os versos seguintes deixam claro que Jesus decla-
rou fazer o que o Pai faz. Eles agiam, juntamente, em
perfeita unidade. Jesus está reiterando, não negando a
acusação deles de que Ele tinha reivindicado a divinda-
de.
2.7.3 - João 10.35,36
“Se ele chamou deuses àqueles a quem foi dirigida
a palavra de Deus, e a Escritura não pode falhar, então,
daquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, di-
zeis: Tu blasfemas; porque declarei: sou Filho de Deus?”
O especialista em grego A. T. Robertson declarou
que um homem sem senso de humor não saberia co-
mo ler essa passagem. Nela Jesus está sendo atacado
por declarações Suas que alegam a Sua divindade (cf. v.
32. João 5.18: “Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque
não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai,
fazendo-se igual a Deus”.
33. João 5.20: “Porque o Pai ama ao Filho, e lhe mostra tudo o que faz, e maiores
obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis”.

72 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


3034). Em resposta aos Seus adversários, Jesus recorreu
ao Salmo 82.6, que se refere aos homens, juízes huma-
nos, que, neste respeito, agem no lugar de Deus, co-
mo “deuses”. Jesus, inteligentemente, expôs que, se até
mesmo as Escrituras podem usar tal linguagem a res-
peito de homens, então eles certamente não poderiam
atacá-Lo por Sua reivindicação de ser “o Filho de Deus”
(v. 36). Certamente, Sua reivindicação implica mais do
que o texto que Ele citou (v. 37,3835), e isso explica o
contínuo esforço dos Seus adversários para matá-Lo (v.
3936).
2.7.4 - João 14.28
“Ouvistes que eu vos disse: vou e volto para junto de
vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de que eu vá para
o Pai, pois o Pai é maior do que eu”.
Esta é, simplesmente, uma declaração da obediência
de Jesus à vontade do Pai.
2.7.5 - 1 Coríntios 11.3
“Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça
de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e
Deus, o cabeça de Cristo”.
O que vemos neste texto é também simplesmente
uma declaração da posição de submissão, não de uma
inferioridade de natureza.

34. Eu e o Pai somos um.


35. “Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis; mas, se faço, e não me
credes, crede nas obras; para que possais saber e compreender que o Pai está em
mim, e eu estou no Pai.”
36. “Nesse ponto, procuravam, outra vez, prendê-lo; mas ele se livrou das suas
mãos”.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 73


2.7.6 -Filipenses 2.7
“...antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma
de servo, tornando-se em semelhança de homens; e,
reconhecido em figura humana”.
A declaração aqui, de que Cristo Jesus “esvaziou-se37
a Si mesmo”, não pressupõe de modo nenhum que na
Sua encarnação Jesus abriu mão de Seus atributos divi-
nos. Devemos entender essa passagem bíblica, figurati-
vamente, como uma declaração dramática de Sua ma-
ravilhosa condescendência em assumir a humanidade
(cf. v. 5-11).
2.7.7 - Colossenses 1.15
“Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de
toda a criação.”
W. J. Hickie, perito em grego, diz que devemos acen-
tuar “prototokos” na última sílaba, o que nos permitiria
fazer a seguinte leitura: “o Criador primitivo de todas as
coisas38”.
A referência a Jesus como o “primogênito” é uma de-
claração de Sua posição com referência a toda criação,
como este e os versos seguintes explicam. Ele tem a
soberania sobre tudo em razão do fato de que Ele criou
e sustenta todas as coisas e todas elas são dEle.
2.7.8 - Apocalipse 3.14
“Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas
diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio
da criação de Deus”.
37. Grego “Kenosis”.
38. Greek-English lexicon em The New Testament in Greek, de Wescot e Hort,
citado por Thiessen em Palestras em Teologia Sistemática, pág. 204 - Imprensa
Batista Regular.

74 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


A tradução aqui não deveria ser que Jesus é “o princí-
pio da criação de Deus” mas que Ele é Aquele que por Si
só a começou! Ele é o criador de toda a criação (confira
as palavras de João em Jo 1.3). As passagens bíblicas
que são torcidas para contradizer a divindade de Jesus
Cristo, quando consideradas em seu contexto e à luz do
ensino geral relatado na Escritura, antes afirmam e não
contradizem a Divindade de Jesus.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 75


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) No plano divino da salvação, era, absolutamen-
te, necessário que o Mediador fosse verdadeiramente
Deus.
2. ( ) A Bíblia ensina que Jesus Cristo é incluído nas
“coisas criadas”.
3. ( ) As afirmações feitas no AT a respeito de Yaweh
são interpretadas no NT como referências a Cristo.
4. ( ) No ensino e na teologia do NT, Jesus Cristo ocu-
pa o lugar que Yaweh ocupa no ensino e na teologia do
AT.
5. ( ) Podemos negar que o Novo Testamento ensina
a divindade de Cristo.
6. ( ) A Bíblia afirma que Jesus Cristo é menor que
Deus, o que pode ser interpretado como uma diferença
nas naturezas divinas de Cristo e de Deus-Pai, sendo a
dEste maior que a dAquele.
7. ( ) O universo não se sustenta sozinho, nem foi
abandonado por Deus, como ensinam os deístas. Cristo
preserva e sustenta todas as coisas.

76 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


II. ASSINALE A SEGUNDA COLUNA DE ACORDO COM
A PRIMEIRA:
a) ( ) O termo é usado no
1. Primeiro e Último,
sentido absoluto, referindo-
Alfa e Ômega
se à Divindade.
b) ( ) Criador de todos os
2. Senhor de todos e
mundos e criaturas, o Con-
Senhor da Glória
trolador de toda a história.
c) ( ) Cristo em Sua sobe-
3. Deus
rania e majestade divina.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 77


LIÇÃO 02 - TEXTO 03

A UNIDADE DA PESSOA DE CRISTO39

O ensino bíblico sobre a plena divindade e plena


humanidade de Cristo era a Fé da Igreja primitiva. No
entanto, a igreja foi avançando, gradualmente, a um
entendimento preciso de como a plena divindade e a
plena humanidade poderiam ser combinadas em uma
pessoa, e esse entendimento chegou à forma final na
Definição de Calcedônia em 451.

3.1 - A SOLUÇÃO DO CONFLITO


Para equacionar os problemas e as controvérsias
quanto à pessoa de Cristo, foi convocado um concílio
eclesiástico na cidade de Calcedônia40, de 8 de outubro
a 1º de novembro de 451. A definição de Calcedônia41
39. Ou União Hipostática.
40. perto de Constantinopla (atual Istambul).
41. “Portanto, conforme os santos pais, todos nós, de comum acordo, ensina-
mos os homens a reconhecer um e o mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo,
totalmente completo na divindade e completo em humanidade, verdadeiramente
Deus e verdadeiramente homem, que consiste também de uma alma racional
e um corpo; da mesma substância (homoousios) com o Pai no que concerne à
sua divindade e ao mesmo tempo de uma substância conosco, concernente à
sua humanidade; semelhante a nós em todos os aspectos, exceto no pecado;
concernente à sua divindade, gerado do Pai antes das eras, ainda que também
gerado como homem, por nós e por nossa salvação, da virgem Maria; um e o
mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, reconhecido em DUAS NATUREZAS, SEM
CONFUSÃO, SEM MUDANÇA, SEM DIVISÃO, SEM SEPARAÇÃO; a distinação das
naturezas de maneira alguma anula-se pela união; mas, pelo contrário, as carac-
terísticas de cada natureza são preservadas e reunidas, para formar uma pessoa
e substância [hypostasis], mas não partidas ou separadas em duas pessoas, mas
um e o mesmo Filho e Deus Unigênito, o Verbo, Senhor Jesus Cristo; assim como
os profetas dos tempos antigos falaram dele e o próprio Senhor Jesus Cristo nos
ensinou e o credo dos pais foi transmitido para nós.” (Fórmula de Calcedônia).

78 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


é o resultado do concílio de 451, que condena o apoli-
narismo, o nestorianismo e o eutiquianismo (ver tópico
3.7.2). Ela é considerada a definição padrão ortodoxa
do ensino bíblico sobre a pessoa de Cristo, igualmente
aceita pelos ramos católico, protestante e ortodoxo do
cristianismo.

3.2 - O ENSINO BÍBLICO ESPECÍFICO SOBRE A DI-


VINDADE E A HUMANIDADE DE CRISTO
Quando estudamos o Novo Testamento, quanto à
humanidade e à divindade de Jesus, há algumas pas-
sagens que parecem difíceis de entender, como já men-
cionamos. Como Jesus podia ser onipotente e ainda as-
sim fraco? Como podia deixar o mundo e ainda estar
presente em todos os lugares? Como podia aprender
coisas e ainda ser onisciente?

3.3 - UMA NATUREZA FAZ ALGUMAS COISAS QUE


A OUTRA NÃO FAZ
Precisamos distinguir entre coisas feitas pela natu-
reza humana de Cristo, mas não pela natureza divina,
ou pela natureza divina, mas não pela humana. Temos
de fazer isso se quisermos reafirmar a declaração de
Calcedônia de que “é preservada a propriedade de cada
natureza”.

3.4 - TUDO O QUE UMA DAS NATUREZAS FAZ, A


PESSOA DE CRISTO FAZ
Precisamos afirmar que tudo o que diz respeito à na-
tureza humana ou divina de Cristo diz respeito à pessoa

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 79


de Cristo. Assim, Jesus pode dizer: “antes que Abraão
existisse, EU SOU” (Jo 8.58). Ele não diz “Antes que
Abraão existisse, minha natureza humana existia”, por-
que Ele é livre para falar de qualquer coisa feita só por
Sua natureza divina ou só por Sua natureza humana
como algo feito por Ele.
Jesus não deixou nada de Sua divindade quando Se
tornou homem, mas assumiu a humanidade que antes
não Lhe pertencia. Na encarnação, Cristo, obviamente,
não renunciou Sua divindade, mas sim a ocultou sob o
véu da Sua carne42. No Cristo encarnado, não estamos
lidando com a natureza humana elevada ao milésimo
grau, mas com Deus, manifestado na carne43.

3.5 - A “COMUNICAÇÃO” DE ATRIBUTOS


As Escrituras ensinam que Jesus era plenamente ho-
mem e plenamente Deus, e que Sua natureza humana
permaneceu plenamente humana, e Sua natureza divi-
na permaneceu plenamente divina. Podemos ainda per-
guntar se algumas qualidades ou capacidades foram
dadas, ou “comunicadas”, de uma natureza à outra. A
resposta é: sim.

3.6 - DA NATUREZA DIVINA PARA A NATUREZA HU-


MANA
Ainda que a natureza humana de Jesus não tenha
mudado em seu caráter essencial, porque ela foi unida
à natureza divina na pessoa única de Cristo, a nature-

42. Timoty George. Teologia dos Reformadores. pág. 217, Edições Vida Nova.
43. Idem pág. 218.

80 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


za humana de Jesus obteve elementos que não perten-
cem, de outra maneira, aos seres humanos:
a) Dignidade para ser cultuada.
b) Incapacidade de pecar.

3.7 - DA NATUREZA HUMANA PARA A NATUREZA


DIVINA
3.7.1 - A Natureza Humana de Jesus Lhe Deu:
a) Capacidade de experimentar o sofrimento e a
morte;
b) Capacidade de ser nosso sacrifício substituti-
vo, o que Jesus, só como Deus, não poderia ter feito.

3.7.2 - Cinco Heresias Primitivas Sobre a Pessoa


de Cristo:
a) O apolinarismo - Apolinário de Laodiceia, em
361, ensinava que a pessoa única de Cristo possuía um
corpo humano, mas não uma mente ou um espírito hu-
mano, e que a mente e o espírito de Cristo provinham
da natureza divina do Filho de Deus.
b) O nestorianismo - Nestório de Constantinopla
ensinava que havia duas pessoas distintas em Cristo,
uma pessoa humana e outra divina; ensino diferente da
ideia bíblica, que vê Jesus como uma só pessoa.
c) O monofisismo - Eutíquio (375-454), líder de
um mosteiro em Constantinopla, ensinava que Cristo
possuía só uma natureza44; ensinava o erro oposto do

44. Monofisismo (gr. “monos”, um, e “physis”, natureza).

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 81


nestorianismo, pois negava que as naturezas humana e
divina em Cristo permanecessem plenamente humana
e plenamente divina.
d) Adocionismo - Jesus foi mero homem e, em
algum momento, provavelmente, em Seu batismo45,
Deus o adotou como Filho. É mais um homem se tor-
nando Deus, do que Deus Se tornando homem.
e) A Doutrina do Kenosis - No século XIX, foi
dito que a chave para compreender o mistério da en-
carnação encontra-se na expressão “[Jesus] a si mesmo
se esvaziou” (Fp 2.7). De acordo com essa concepção,
chamada “doutrina do Kenosis”46, aquilo de que Jesus
Se esvaziou foi a forma de Deus (Fp 2.6).
A segunda pessoa da Trindade deixou de lado Seus
atributos divinos47e assumiu, em lugar deles, qualida-
des humanas. Então, encarnação consiste em trocar
uma parte da natureza divina por características huma-
nas. Jesus não é Deus e homem simultaneamente, mas
sucessivamente. Com respeito a certos atributos, Ele é
Deus, depois é homem, depois Deus novamente.

45. Ou talvez em Sua ressurreição.


46. A palavra grega equivalente a esvaziar é “Kenoo”.
47. Onipotência, onipresença, onisciência, etc.

82 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) O ensino bíblico sobre a plena divindade e ple-
na humanidade de Cristo era a fé da Igreja primitiva.
2. ( ) Na encarnação, Cristo não renunciou Sua divin-
dade.
3. ( ) Tudo o que diz respeito à natureza humana ou
divina de Cristo diz respeito à pessoa de Cristo.
4. ( ) A Confissão de Berlim é considerada a definição
padrão ortodoxa do ensino bíblico sobre a pessoa de
Cristo.
5. ( ) As escrituras ensinam que Jesus era plenamente
homem e plenamente Deus.
II. ASSINALE A SEGUNDA COLUNA DE ACORDO COM
A PRIMEIRA:
1. Apolinarismo a) ( ) Jesus Se esvaziou da forma de
Deus.
2. Nestorianismo b) ( ) Jesus foi mero homem e, em al-
gum momento, Deus o adotou.
3. Monofisismo c) ( ) Negava duas naturezas de Cristo.
4. Adocionismo d) ( ) O logos divino tomou o lugar da
mente humana de Cristo.
5. Kenosis e) ( ) Havia duas pessoas distintas em
Cristo.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 83


LIÇÃO 02 - TEXTO 04

OS ESTADOS DE CRISTO
(ESTADO DE HUMILHAÇÃO)

Com base em Filipenses 2.7,8, podemos distinguir


dois elementos na humilhação de Cristo: a “kenosis”48,
ou esvaziamento, que consiste em renunciar a majesta-
de divina e assumir a natureza humana na forma de ser-
vo; e a “tapeinosis”, em latim, “humiliatio”, que consiste
em Cristo ter Se sujeitado às exigências e à maldição da
Lei e, em toda a Sua vida, ter sido obediente em ações
e sofrimento, até o próprio limite de uma morte cruel.

4.1 - A ENCARNAÇÃO E O NASCIMENTO DE CRISTO


O Verbo Se fez carne (Jo 1.14). Porém, é preciso lem-
brar que cada uma das três pessoas da Trindade agiu na
encarnação (Mt 1.20; Lc 1.35; Jo 1.14; At 2.30; Rm 8.3;
Gl 4.4; Fp 2.7). A encarnação não foi algo que aconte-
ceu ao Logos, mas foi também uma ativa realização por
parte dEle, o que pressupõe Sua preexistência.
Não seria possível falar da encarnação se Cristo não
tivesse existência prévia. E essa preexistência é clara-
mente ensinada na Bíblia: “No princípio era o Verbo, e
o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1.1);
“Porque eu desci do céu” (Jo 6.38); “pois conheceis a
graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se

48. Não confundir com a doutrina da “kenosis” que refutamos anteriormente.

84 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza,
vos tornásseis ricos” (2Co 8.9); “pois ele, subsistindo em
forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual
a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a for-
ma de servo, tornando-se em semelhança de homens”
(Fp 2.7,8); “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus
enviou seu Filho” (Gl 4.4).
A encarnação de Cristo fez dEle um membro da raça
humana. Bavinck diz49: “Ao assumir a forma humana,
Cristo relacionou-se com todos os homens. Ele tornou-
-se participante da carne e do sangue do homem, e
também de sua alma e corpo, cabeça e coração, men-
te e vontade, ideia e sentimentos. Cristo, neste sentido
natural, é irmão de todos nós...mas essa semelhança
natural e física, embora seja importante, não pode ser
confundida nem identificada com a comunhão moral
e espiritual”. E continua50: “A encarnação do Filho de
Deus, portanto, sem uma obra que a complemente, não
pode ser um ato reconciliador e redentivo. Ela é o come-
ço desse ato, a preparação para ele e a introdução dele,
mas não é o ato em si mesmo”.

4.2 - OS SOFRIMENTOS DO SALVADOR


4.2.1 - Cristo Sofreu Toda a Sua Vida
Sua vida foi uma vida de sofrimentos; Ele era “ho-
mem de dores e que sabe o que é padecer” (Is 53.3).
A vida de Jesus foi uma vida de servitude. Jesus foi o
único ser humano sem pecado, vivendo no meio de pe-
cadores e em um mundo amaldiçoado pelo pecado.
49. Herman Bavinck. Teologia Sistemática, pág. 363, SOCEP.
50. Idem, pág. 364, SOCEP.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 85


O caminho da obediência foi para Ele um caminho
de sofrimento. Ele sofreu com os repetidos ataques de
Satanás, com o ódio e dureza de coração do Seu povo,
com a perseguição dos Seus inimigos, Sua solidão e Seu
esmagador senso de responsabilidade.
Jesus cumpriu toda a justiça (Mt 3.15). Seu sofrimen-
to foi um sofrimento santo (Hb 2.10), e cada vez mais
atroz, à medida que o fim se aproximava, pois estava
escrito que o Cristo deveria padecer e ressuscitar ao ter-
ceiro dia (Lc 24.46; 1Co 15.3-5).
4.2.2 - Seu Sofrimento Foi no Corpo e na Alma
O sofrimento iniciado na encarnação chegou final-
mente ao ápice, na paixão, no fim da Sua vida. Foi aí
que a ira de Deus sobre o pecado pesou sobre Ele. Não
sentiu somente a dor física, mas também a dor acom-
panhada de angústia de alma e consciência do pecado
da humanidade que pesava sobre Ele.
Alguns subestimam a importância do sofrimento fí-
sico; outros, a do sofrimento espiritual. Tanto o corpo,
quanto a alma foram afetados pelo pecado e, por isso,
a punição deveria atingir a ambos. As Escrituras testi-
ficam que Cristo sofreu em ambos. Quando estava no
jardim, disse: “A minha alma está profundamente triste
até à morte” (Mt 26.38; Mc 14.34). E também foi esbo-
feteado, açoitado e crucificado. Por fim, na cruz, Cristo
pôde dizer que tudo estava consumado e que Ele tinha
realizado toda a obra que o Pai Lhe havia confiado (Jo
17.4; 19.30).

86 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


4.2.3 - A morte do Salvador
Apesar de o registro da
vida de Cristo nos Evange-
lhos ser resumido, Sua pai-
xão e morte são amplamen-
te registradas. Do mesmo
modo, a pregação apostó-
lica, raramente, menciona a
concepção e o nascimento de Jesus, mas coloca toda
a ênfase sobre a cruz, a morte e o sangue de Cristo.
Não foi pelo nascimento, mas pela Sua morte que nós
fomos reconciliados (Rm 5.10).
James Montgomery Boyce diz51: “É impossível su-
perestimarmos a importância da cruz de Cristo. Pois se
pensarmos a respeito da necessidade da cruz, significa-
do da cruz, pregação da cruz, ofensa da cruz ou o cami-
nho da cruz - apesar de podermos pensar a respeito dis-
to - em todo o caso o que estamos dizendo e devemos
dizer, é que a cruz é central para o cristianismo...Sem a
cruz de Jesus Cristo não há verdadeiro cristianismo”.
Emil Bruner, no livro O Mediador, disse: “Lutero cer-
tamente acertou o alvo quando descreveu teologia cris-
tã..como uma theologia crucis (teologia da cruz)...aque-
le que entende a cruz corretamente - esta é a opinião
dos reformadores - entende a Bíblia e entende Jesus
Cristo”.
Ao contrário do que pensa o restante da humanida-
de, mais do que o nascimento, a morte de Cristo é de
importância suprema para o cristianismo. Se a cruz de
Cristo é o centro do cristianismo, é de se esperar que

51. James Montgomery Boyce. O Evangelho da Graça, pág. 85, Cultura Cristã.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 87


a teologia da cruz seja acessível ao entendimento de
todos. Cristo nasceu para morrer e fazer expiação dos
nossos pecados.

4.3 - AS CARACTERÍSTICAS DA MORTE DE CRISTO


4.3.1 -Pré-determinada
Planejada ou resolvida antecipadamente: “sendo es-
te entregue pelo determinado desígnio e presciência de
Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iní-
quos” (At 2.23).
4.3.2 - Voluntária
Por livre escolha, não por compulsão: “Ninguém a
tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou.
Tenho autoridade para a entregar e também para rea-
vê-la. Este mandato recebi de meu Pai” (Jo 10.18).
4.3.3 - Vicária
Em favor de outros: “Pois também Cristo morreu,
uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos,
para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas
vivificado no espírito” (1Pe 3.18; ver Is 53.5,6; Jo 8.46;
Hb 4.15).
Hodge define52 desta forma o conceito de morte vi-
cária: “sofrimento vicário é o sofrimento pelo qual passa
uma pessoa em vez de outra, isto é, em seu lugar. Ne-
cessariamente, pressupõe a isenção da parte em cujo
lugar se suporta o sofrimento. Um vigário é um substi-

52. Charles Hodge. Teologia Sistemática, pág 838, Hagnos.

88 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


tuto, alguém que toma o lugar de outrem e age em seu
lugar”.
A morte do Senhor Jesus Cristo não foi acidental;
tampouco o Senhor morreu a morte de um mártir; tam-
bém não merecia morrer, pois era justo. Foi em nosso
favor e não por Sua própria causa que Ele morreu. Co-
mo diz o apóstolo Paulo: “Cristo morreu pelos nossos
pecados, segundo as Escrituras” (1Co 15.3).
4.3.4 - Sacrificial
Como holocausto pelo pecado. “Cristo, nosso Cor-
deiro pascal, foi imolado” (1 Co 5.7). A morte do Senhor
Jesus foi um sacrifício eficaz pelos nossos pecados.
4.3.5 - Expiatória
Trouxe a paz. “Cristo nos resgatou da maldição da lei,
fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, por-
que está escrito: Maldito todo aquele que for pendura-
do em madeiro” (Gl 3.13).
4.3.6 - Propiciatória
Cobrindo ou tornando favorável. “Nisto consiste o
amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas
em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propi-
ciação pelos nossos pecados” (1Jo 4.10).
4.3.7 - Redentora
Resgatando por um pagamento. “...vindo, porém, a
plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de
mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 89


sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos”
(Gl 4.4,5).
4.3.8 - Substitutiva
Em lugar de outro: “...carregando ele mesmo em seu
corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que
nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça;
por suas chagas, fostes sarados” (1Pe 2.24). Cristo pôs-
Se voluntariamente em nossa situação, como violado-
res da justa Lei de Deus, assumiu a responsabilidade
por todo o nosso pecado e suportou no Seu corpo toda
a retribuição devida. Cristo foi não somente oferta pelo
pecado, mas Se fez pecado em nosso lugar. Isso é, ape-
sar de Ele ser incontaminado e jamais dolo algum sair
da Sua boca. Diz o profeta: “O Senhor fez cair sobre ele
a iniquidade de todos nós”(Is 53.7).
SAIBA MAIS
As 7 Palavras da Cruz
1. Perdão - “Pai, perdoa-lhes” (Lc 23.34).
2. Promessa - “Hoje mesmo estarás comigo no
Paraíso” (Lc 23.43).
3. Cuidado - “Mulher, eis aí teu filho. Eis aí tua
mãe”. (Jo 19.26,27).
4. Solidão - “Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?” (Mt 27.46; Mc 15.34).
5. Agonia - “Tenho sede” (Jo 19.28).
6. Cumprimento - “Está consumado” (Jo 19.30).
7. Retorno ao Pai - “Pai, nas tuas mãos entrego o
meu espírito! E, dito isto, expirou” (Lc 23.46).

90 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


4.4 - OS RESULTADOS DA MORTE DE CRISTO

4.4.1 - A Remoção do Pecado


“No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para
ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo!” (Jo 1.29). O pecado do mundo é a culpa da
raça humana através do pecado de Adão.
Adão agiu não só como agente individual, mas como
representante da humanidade; foi o agente federal e
biológico da raça humana. Paulo afirma que todos nós
pecamos em Adão. Isso é, pecamos por ocasião do seu
pecado, caímos por ocasião da sua queda, e nos torna-
mos culpados quando ele se fez culpado. Porém, Paulo
conclui: “Se, pela ofensa de um e por meio de um só,
reinou a morte, muito mais os que recebem a abundân-
cia da graça e o dom da justiça reinarão em vida por
meio de um só, a saber, Jesus Cristo. Pois, assim como,
por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens
para condenação, assim também, por um só ato de jus-
tiça, veio a graça sobre todos os homens para a justifi-
cação que dá vida. Porque, como, pela desobediência
de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim
também, por meio da obediência de um só, muitos se
tornarão justos” (Rm 5.17-19).
4.4.2 - Anulação do Poder do Pecado
“Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse so-
frido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora,
porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma
vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mes-
mo, o pecado” (Hb 9.26).

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 91


O autor aos hebreus não se refere a “pecados”, mas
a “pecado”. O sacrifício de Cristo não anulou somente o
poder de um ou outro pecado particular, mas destruiu,
potencialmente, o poder de todo o pecado, além de ter
expiado os pecados particulares.
4.4.3 - Libertação da Maldição da Lei
“Cristo nos resgatou da maldição53 da lei, fazendo-
se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está
escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em ma-
deiro)” (Gl 3.13). O crente é remido (ou resgatado) e as-
sim liberto da maldição sob a qual jazem todos quantos
confiam nas obras da Lei para sua justificação.
4.4.4 - Libertação da Escravidão da Lei
“Tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra
nós e que constava de ordenanças, o qual nos era preju-
dicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz”
(Cl 2.14). A sujeição à Lei era um estado de escravidão.
Dessa escravidão, os crentes são libertos pela cruz, e
introduzidos na liberdade do evangelho.
4.4.5 - Remoção da Barreira Entre Judeus e Gen-
tios
“Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos54 fez um;
e, tendo derribado a parede da separação que estava
no meio, a inimizade, aboliu, na sua carne, a lei dos
mandamentos na forma de ordenanças, para que dos
dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a

53. A palavra maldição, aqui, não se refere à doutrina neopentecostal da “maldi-


ção hereditária”; o que o texto diz é, justamente, o contrário.
54. ambos: judeus e gentios.

92 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


paz” (Ef 2.14,15). Os judeus e os gentios tinham uma
barreira entre eles, a Lei. Uma parede erguida pelo pró-
prio Deus, separando os gentios de Seu povo, Israel.
Por exemplo, até comer com um gentio era um absurdo
para o judeu.
4.4.6 -Anulada a Distância Entre o Crente e Deus
“Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis
longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo” (Ef
2.13). A distância entre o homem e Deus não é física,
pois Deus é onipresente; essa distância é moral. O peca-
do opera essa separação (Is 59.1,2).
4.4.7 - Garantido o Perdão dos Pecados
“No qual temos a redenção, pelo seu sangue, a re-
missão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça”
(Ef 1.7). O que era impossível aos homens tornou-se
possível em Cristo Jesus por meio de Sua morte expia-
tória.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 93


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) Não seria possível falar da encarnação se Cristo
não tivesse existência prévia.
2. ( ) O estado de humilhação de Cristo consiste na
renúncia da majestade divina e na sujeição à maldição
da Lei.
3. ( ) A encarnação de Cristo fez dEle um membro da
raça humana.
4. ( ) Os judeus e os gentios tinham uma barreira en-
tre eles, a Lei.
5. ( ) O Senhor Jesus morreu a morte de um mártir.
II. SUBLINHE A RESPOSTA CORRETA:
1. A distância entre o homem e Deus (é - não é) física.
2. Paulo afirma em Rm 5 que, por meio (de Adão - de
nossa própria vontade pecaminosa), todos somos feitos
pecadores.
3. O conceito de “vicário” ou “vigário” apresenta a ideia
de (substituição - um costume católico).
4. A morte de Cristo foi (cruel e desnecessária - voluntá-
ria e pré-determinada).
5. Um dos resultados da morte de Cristo foi a remoção
da barreira entre (judeus e Deus - gentios e judeus).

94 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


LIÇÃO 02 - TEXTO 05

OS ESTADOS DE CRISTO
(ESTADO DE EXALTAÇÃO)

Há fartas provas bíblicas da exaltação de Jesus Cris-


to. As Escrituras afirmam que a humilhação de Cristo
foi seguida da Sua exaltação (Fp 2.9-11; Mc 16.19; Lc
24.46; Jo 7.39; At 2.33; 5.31; Rm 8.17,34; Ef 1.20; 4.10;
1Tm 3.16; Hb 1.3; 2.9; 10.12).

5.1 - A RESSURREIÇÃO DE CRISTO


A Bíblia ensina que a fé na ressurreição de Cristo é
essencial para a salvação (Rm 10.9,10). Paulo, em 1Co-
ríntios 15.12-19, mostra-nos que a ressurreição de Cris-
to é uma das bases do cristianismo; sem ela:
a) A pregação apostólica é vã (v.14);
b) A fé dos coríntios era vã (v.14);
c) Os apóstolos são falsas testemunhas (v.15);
d) Os que dormiram em Cristo pereceram (v.18);
e) Os cristãos são os mais infelizes dos homens
(v.19);
Jesus Cristo é as primícias dos que dormem (1Co
15.20), “primogênito dos mortos” (Cl 1.18).
Da analogia da mudança que, segundo as Escritu-
ras, ocorrerá no corpo de cada crente na ressurreição,

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 95


podemos deduzir algo quanto
ao que deve ter-se dado com
Cristo. Paulo, em 1Co 15.42-
44, mostra-nos as característi-
cas do corpo ressuscitado; ele
é:
a) Incorruptível - Não
terá possibilidade de sofrer
decadência;
b) Glorioso - resplandecerá de fulgor celestial;
c) Poderoso - Cheio de energia e, talvez, de no-
vas faculdades.
d) Espiritual - Não significa imaterial, mas adap-
tado ao espírito, cada corpo sendo um instrumento
perfeito do espírito. Por intermédio da ressurreição, Je-
sus Cristo tornou-Se espírito vivificante (1Co 15.45). A
ressurreição de Cristo tem significado amplo.

5.2 - A NATUREZA DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

5.2.1 - Foi uma Ressurreição Verdadeira


A teoria do “desmaio”, dos racionalistas do séc. 18,
Strauss e Paulus, afirma que Jesus não morreu na cruz,
Ele apenas desmaiou pela exaustão. Os odores e a bai-
xa temperatura dentro do túmulo O reanimaram55. Is-
so é uma blasfêmia. Outra blasfêmia infame é a teoria
da “alucinação”, ensinada pelos agnósticos, que afirma
55. A ciência médica já demonstrou que Jesus não poderia ter sobrevivido aos
açoites e à crucificação. Poderia um Jesus quase morto produzir uma impressão
como o Senhor ressurreto?

96 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


que os discípulos de Jesus estavam tão emocionalmen-
te perturbados, que tiveram uma alucinação.
As Escrituras afirmam que mais de 500 pessoas, em
diferentes situações, com diversos graus de compromis-
so com Jesus e com diferentes entendimentos dos Seus
ensinos, viram o Cristo ressuscitado. Todas essas tes-
temunhas tiveram alucinações? Muitos aparecimentos
aconteceram a mais de uma pessoa, sendo improvável
que pessoas em lugares e circunstâncias diferentes ti-
vessem as mesmas alucinações.
Os discípulos não estavam esperando a ressurreição
de Cristo. Eles viram a Sua morte como algo definitivo.
A morte de Cristo realmente foi atestada pelo centurião
que viu sangue e água fluindo do Seu lado (Jo 19.34,35;
Mc 15.45; Jo 19.33). Porém, as mulheres saíram para
ungir um corpo morto, e foram surpreendidas pelo se-
pulcro vazio (Mc 16.1).
5.2.2 - Foi uma Ressurreição Física
Os gnósticos negavam a ressurreição física; admi-
tiam somente a espiritual. Rudolph Bultmann cria em
uma ressurreição existencial, isso é, Cristo ressurgiu no
coração do cristão. A Bíblia, no entanto, ensina que
Cristo foi tocado e apalpado (Lc 24.39,40;Mt 28.9); Da-
vi declarou que a Sua carne, a carne de Jesus, não veria
a corrupção (Sl 16.10; At 2.31); Cristo tomou alimento
na presença dos discípulos depois de ter ressurgido (Lc
24.41-45); Ele foi reconhecido pelos discípulos, pelas
marcas dos cravos56 (Jo 20.25,27,28; 21.7; Lc 24.34,37-
40); Cristo predisse a Sua ressurreição física (Jo 2.19-21;
Mt 12.40).
56. Parece que essas marcas serão visíveis quando Jesus vier pela segunda vez
(Ap 1.7; Zc 12.10).

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 97


5.2.3 - Foi uma Ressurreição Singular
O filho da viúva de Sarepta (1Rs 17.17-24), o filho da
Sunamita (2Rs 4.17-27), a filha de Jairo (Mc 5.22-43), o
filho da viúva de Naim (Lc 7.11-17), Lázaro (Jo 11), Dor-
cas (At 9.36-43), Êutico (At 20.7), todos esses morreram
novamente. Não receberam um corpo incorruptível e
glorioso como Jesus recebeu.

OUTRAS OBJEÇÕES À RESSURREIÇÃO DE CRISTO


¾¾ Túmulo desconhecido - Charles Guigne-
bert diz ter Jesus sido enterrado em uma vala co-
mum, desconhecida dos discípulos; portanto, não
houve ressurreição, só ignorância do paradeiro do
corpo. Porém, o Novo Testamento apresenta José de
Arrimateia como testemunha do sepultamento de
Cristo, enterrando-O em seu próprio túmulo familiar.
As mulheres viram o corpo sendo preparado para o
sepultamento e sabiam a localização do túmulo. Os
romanos também sabiam a localização do túmulo e
puseram guardas para vigiá-lo.
¾¾ Túmulo errado - Krisopp Lake propõe que
as mulheres foram ao túmulo errado, pois havia mui-
tos túmulos semelhantes. Elas viram um túmulo aber-
to e um jovem que negou que aquele túmulo era de
Jesus; confundiram o homem com um anjo e fugi-
ram. Porém, a Bíblia diz que as mulheres procuravam
um túmulo fechado e sabiam a sua localização57. O
homem que estava junto ao túmulo não disse apenas
“Ele não está aqui”, mas também: “Ele ressuscitou”!’

57. As mulheres tinham observado a localização do túmulo 72 horas antes.

98 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


¾¾ Complô da Páscoa - Hugh Shonfield diz que
Jesus planejou cumprir as profecias do Antigo Testa-
mento. José de Arrimateia e um “jovem” foram ou-
tros conspiradores. O Senhor ressurreto era o jovem.
Shonfield, no entanto, ignora a escolta junto ao tú-
mulo. Todas as testemunhas bíblicas, exceto quatro,
são identificadas, especialmente, as 500 testemunhas
oculares, que, à época da primeira carta aos coríntios,
ainda viviam (1Co 15.4-8). Toda a trama no sentido
de suportar a crucificação58 é improvável.

5.3- OS RESULTADOS DA RESSURREIÇÃO DE CRIS-


TO

5.3.1 - Atesta a Divindade de Cristo


É isso o que diz Paulo quando ensina que Cristo “foi
designado Filho de Deus com poder, segundo o espíri-
to de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber,
Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 1.4). Cristo havia pro-
clamado aos judeus que a ressurreição era o sinal (Mt
12.38-40; Jo 2.18-22) e Paulo afirma que a ressurreição
foi um sinal da Sua divindade.
5.3.2 - Assegurou a aceitação da obra de Cristo
“O qual foi entregue por causa das nossas transgres-
sões e ressuscitou por causa da nossa justificação” (Rm
4.25). Não poderíamos ter a mesma confiança de que
Deus aceitou o sacrifício de Cristo se Ele não tivesse res-
surgido dos mortos.

58. E, assim fazendo, afastar os partidários nacionalistas.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 99


5.3.3 - Fez de Cristo Nosso Sumo Sacerdote
Através de Sua ressurreição dos mortos, Jesus Cristo
se tornou o Intercessor, Governador e Protetor do Seu
povo (1Tm 2.5,6; Rm 8.34; Ef 1.20-22; Rm 5.9,10).
5.3.4 - Jesus Triunfou Sobre a Morte e o Pecado
A pena foi cumprida, a morte, o último inimigo a ser
vencido, foi derrotado (1Co 15.26,54,55); Jesus tem a
chave da morte e do inferno (Ap 1.18).
5.3.5 - É Garantia de Que os Crentes Falecidos
Também Ressurgirão dos Mortos
“Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou
a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a
Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso
corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós ha-
bita” (Rm 8.11; Jo 5.28,29; 16.40; At 4.2; 1Co 15.20-23;
2Co 4.14; 1Ts 4.14).
5.3.6 - A Ascensão de Cristo
A Bíblia ensina a ascensão de Cristo (Mc 16.19; Lc
24.50,51; At 1.9). A ascensão de Cristo foi o comple-
mento e a consumação da ressurreição. Eriksson diz
que: “o significado da ascensão é que Jesus deixou para
trás as condições associadas à vida sobre esta terra59”.
A ascensão encarnou, claramente, a declaração de
que o sacrifício de Cristo foi um sacrifício oferecido a
Deus e, como tal, tinha que ser apresentado a Ele no
mais íntimo do Seu santuário. O Pai considerou sufi-
ciente a obra mediatória de Cristo, e admitiu-O na gló-
59. Millard J. Eriksson. Introdução à Teologia Sistemática, Vida Nova, pág. 315.

100 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


ria celestial, porque o reino do Mediador não era um
reino dos judeus, mas um reino universal.

5.4 - O SIGNIFICADO DA ASCENSÃO

a) A ascensão é uma profecia da ascensão de to-


dos crentes, que já estão com Cristo nos lugares ce-
lestiais, para permanecerem com Ele para sempre (Jo
17.24).
b) A ascensão era necessária, pois visava à pre-
paração de um lugar para os que estão em Cristo. O
próprio Jesus assinalou a necessidade de ir para o Pai, a
fim de preparar lugar para os Seus (Jo 14.2,3).
c) A ascensão era necessária para possibilitar a
vinda do Espírito Santo: “Mas eu vos digo a verdade:
convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Con-
solador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu
vo-lo enviarei” (Jo 16.7).

5.5 - A ASCENSÃO À DIREITA DE DEUS


Jesus foi “foi coroado de glória e de honra” (Hb 2.9),
está, agora, assentado à direita de Deus (Mt 24.64;
5.31; Ef 1.20-22; Hb 10.12; 1Pe 3.22; Ap 3.21;22.1).
O lado direito é o lado da distinção e do poder; neste
lugar, Jesus está sempre intercedendo em nosso favor
(Hb 7.25). O fato de Cristo estar assentado à direita do
Pai indica autoridade e governo ativo.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 101


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) A humilhação de Cristo foi seguida de Sua exal-
tação.
2. ( ) Estão incluídas no estado de exaltação de Cris-
to: a ressurreição com corpo espiritual e a ascenção à
direita do Pai.
3. ( ) A ressurreição atesta a divindade de Cristo.
4. ( ) A ascensão de Cristo é uma profecia da ascen-
são de todos crentes.
5. ( ) Os gnósticos não negavam a ressurreição física,
apenas enfatizavam a ressurreição espiritual.
6. ( ) O fato de Cristo estar assentado à direita do Pai
indica autoridade e governo ativo.
7. ( ) A teoria do “desmaio” afirma que Jesus não
morreu; apenas desmaiou por causa da exaustão.
8. ( ) A ressurreição de Cristo é considerada igual à
de qualquer outro personagem bíblico que tenha pas-
sado pelo mesmo processo.
9. ( ) Um corpo espiritual significa: totalmente ima-
terial, ou seja, destituído de características físicas e ma-
teriais.
10. ( ) Através da ressurreição, Cristo Se tornou o In-
tercessor, Governador e Protetor do Seu povo. E a as-
cenção consumou a Sua ressurreição.

102 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


ESBOÇO DA LIÇÃO 03

A OBRA DE CRISTO
TEXTO 01 - O TRÍPLICE OFÍCIO DE CRISTO
TEXTO 02 - A EXPIAÇÃO
TEXTO 03 - A ESCATOLOGIA E CRISTO
TEXTO 04 - A ESCATOLOGIA E CRISTO (CONTI-
NUAÇÃO)

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 103


LIÇÃO 03 - TEXTO 01

O TRIPLICE OFÍCIO DE CRISTO

Classificamos a obra do Senhor Jesus Cristo sob os


tópicos de Seus ofícios: de profeta (Dt 18.15), sacer-
dote (Sl 110.4; Hb 5.6,10; 6.20; 7.11,17) e rei (Sl 24;
95.3; Zc 9.9;14.9; Mt 2.2; 21.5;25.34-41; Lc 19.38; 1Tm
1.17;6.15; Ap 15.3;17.14; 19.16).
Como profeta, Jesus revela o Pai e as coisas do céu;
como sacerdote, Jesus reconcilia Seu povo com Deus;
como rei, Ele é soberano sobre toda a Sua criação.

1.1 - O OFÍCIO DE PROFETA


No Antigo Testamento, há três palavras para desig-
nar profeta: “nabhi”60, “ro’eh” e “chozeh”61. Essas pala-
vras são usadas uma pela outra. Outros designativos do
Antigo Testamento são: “homem de Deus”, “mensagei-
ro do Senhor” e “vigia”.
No Novo Testamento, usa-se a palavra “prophetes”62,
que significa proferir. O profeta é alguém que fala da
parte de Deus, vê coisas, isso é, recebe revelações, es-
tando a serviço de Deus, como mensageiro que fala em
Seu nome (Nm 12.6-8; Is 6; Jr 1.4-10; Ez 3.1-4,17).

60. Em Ex 7.1 e Dt 18.18, a palavra indica alguém que vem com mensagens de
Deus para o povo.
61. Estas palavras acentuam o fato de que o profeta recebe revelações de Deus,
particularmente, em forma de visões.
62. Composta de “pro” e “phemi”.

104 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


A mensagem anunciada por Jesus era essencialmen-
te a mesma que foi anunciada pelos profetas do Antigo
Testamento. O Evangelho anunciado por Cristo é o mes-
mo que Deus vinha revelando desde o paraíso.
“Cristo foi ungido pelo Espírito para ser arauto e tes-
temunha da graça do Pai. Ele cumpriu esse ofício não
apenas por Seu ministério de ensino na terra, mas tam-
bém na pregação contínua do Evangelho”63.

1.2 - O OFÍCIO DE SACERDOTE


A palavra do Antigo Testamento para sacerdote é,
quase sem exceção, “kohen”. A palavra neotestamentá-
ria “hiereus” indica, originalmente, uma pessoa sagra-
da, uma pessoa dedicada a Deus. O profeta era o repre-
sentante de Deus junto ao homem. Por outro lado, o
sacerdote era o representante do homem junto a Deus.
O sacerdote intercedia pelo povo (Hb 7.25), e abençoa-
va o povo diante de Deus (Lv 9.22).
Em Hb 5.1, temos as credenciais do sacerdote:
a) É tomado dentre os homens;
b) É constituído, escolhido, por Deus (Hb 5.4);
c) Oferece orações e louvores a Deus pelo povo;
No Novo Testamento, Jesus tornou-Se nosso grande
Sumo Sacerdote. Esse tema é bem desenvolvido na car-
ta aos Hebreus, na qual vemos que Jesus atua como sa-
cerdote. Certamente, Cristo é um sacerdote, mas muito
diferente daqueles do Antigo Testamento, sob a lei de
Moisés. Aqueles eram da linhagem de Arão e da tribo
de Levi. Eram apenas sacerdotes, não eram profetas e
63. As Institutas, vol II XV, 2.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 105


nem reis. Os sacerdotes ofereciam sacrifícios de bodes
e novilhos, que não podiam perdoar pecados. O Senhor
Jesus, no entanto, procedia da tribo de Judá e não po-
dia reivindicar aquele sacerdócio (Hb 7.14).

1.3 - AS CREDENCIAIS DO SACERDÓCIO DE CRISTO


1.3.1 - Cristo Não Foi um Sumo Sacerdote da Li-
nhagem de Arão, Mas Segundo a Linha-
gem de Melquisedeque
Isto é ensinado claramente no Salmo 110.4 “O SE-
NHOR jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para
sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”. O Mes-
sias será um sacerdote que combinará a dignidade real
com o ofício sacerdotal.
1.3.2 - Cristo Foi um Sumo Sacerdote Que Ofere-
ceu um Sacrifício Perfeito
Cristo ofereceu a si mesmo como sacrifício perfeito:
“... ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez
por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o
pecado” (Hb 9.26). “... porque é impossível que o san-
gue de touros e bodes remova pecados” (Hb 10.4).
1.3.3 - Cristo Foi um Sumo Sacerdote Que Ofere-
ceu um Sacrifício Eficaz, Que Não Precisa
Ser Repetido64
“Nessa vontade é que temos sido santificados, me-
diante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por
todas. Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a
64. Isso refuta a heresia católica da transubstanciação, que ensina que, ao ser
consagrada a hóstia, isso é, o pão, e, ao ser partida, repete o sacrifício de Jesus.

106 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os
mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover
pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre,
um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra
de Deus” (Hb 10.10-12).
1.3.4 - Cristo Como Sumo Sacerdote Nos dá
Acesso a Deus
Os sacerdotes do Antigo Testamento não apenas
apresentavam sacrifícios, mas também representavam
o povo diante de Deus. Os sacerdotes do Antigo Testa-
mento, com suas orações e sacrifícios, serviram de sím-
bolos e tipos para que o povo tivesse acesso a Deus, e o
sacerdócio do Antigo Testamento foi perfeita e eterna-
mente cumprido em Cristo: “Tendo, pois, irmãos, intre-
pidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de
Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou
pelo véu, isto é, pela sua carne,e tendo grande sacerdo-
te sobre a casa de Deus” (Hb 10.19-21).
1.3.5 - Cristo Como Sumo Sacerdote Vive Para
Interceder Por Nós
“...também pode salvar totalmente os que por ele
se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por
eles” (Hb 7.25). Paulo afirma a mesma coisa quando
diz que Cristo Jesus é aquele que intercede por nós (Rm
8.3465).

65. Romanos 8.34: “Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes,
quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também in-
tercede por nós”.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 107


1.4 - O OFÍCIO DE REI
O Evangelho apresenta Jesus como Rei sobre todo o
universo, assentado sobre o trono de Davi (Is 9.7; cf. Sl
45.6,7; Hb 1.8). Jesus mesmo disse que o Filho do Ho-
mem Se assentaria em um trono de glória (Mt 19.28).
Ele alegou que o reino do céu era dEle (Mt 13.41). Mui-
tos, hoje, pensam que o governo de Cristo é futuro,
principalmente, quando se olha em volta, diante de um
mundo como o nosso. É difícil para quem não conhe-
ce a Palavra de Deus reconhecer esse domínio. Porém,
Cristo reina; nEle todas as coisas vieram a existir (Jo 1.3),
e nEle tudo subsiste (Cl 1.17); Ele controla o universo.
Mas, mesmo assim, como podemos perceber o reinado
de Cristo em um mundo com tantas desigualdades e
injustiças?
O reino de Deus, sobre o qual Cristo é o Rei, está pre-
sente na Igreja. Jesus é o cabeça do corpo, a Igreja (Cl
1.18). Quando Cristo estava na terra, Seu reino estava
no coração dos discípulos (Lc 17.2166). E seja onde for
que, hoje, os cristãos estejam, sob o senhorio de Cristo,
o Salvador estará exercendo o Seu domínio.
No que diz respeito à exaltação final, quando Cris-
to vier em poder, Seu reinado será completo. Filipenses
2.9-11 diz-nos que Cristo recebeu um nome “acima de
todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo
joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda lín-
gua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de
Deus Pai”.

66. Lucas 17.21: “Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está
dentro de vós”.

108 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) Podemos classificar a obra de Jesus Cristo sob
os tópicos de Seus ofícios de profeta, sacerdote e rei.
2. ( ) Cristo era profeta da graça de Deus, pregando
o mesmo Evangelho já anunciado no AT.
3. ( ) O profeta representa Deus junto ao homem, e
o sacerdote representa o homem junto a Deus.
4. ( ) O sacerdócio de Cristo é semelhante ao dos sa-
cerdotes do Antigo Testamento.
5. ( ) O sacerdócio do Antigo Testamento foi perfeita
e eternamente cumprido em Cristo.
6. ( ) No Novo Testamento, Jesus tornou-Se nosso
grande Sumo Sacerdote.
7. ( ) Cristo, como sacerdote, ofereceu a Si mesmo
como sacrifício perfeito.
8. ( ) O reino de Deus, sobre o qual Cristo é Rei, está
presente na Igreja.
9. ( ) Quando se olha para um mundo como o nosso,
conclui-se que o governo de Cristo é futuro.
10. ( ) No que diz respeito à exaltação final, quando
Cristo vier em poder, Seu reinado será completo.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 109


LIÇÃO 03 - TEXTO 02

A EXPIAÇÃO

A doutrina da expiação ou satisfação67 é o ponto alto


da Cristologia, pois ensina a obra que Cristo realizou
por nós para nos reconciliar com Deus. No Antigo Testa-
mento, a palavra hebraica “kipper” expressa a ideia de
expiação do pecado, ou cobertura do pecador à ira de
Deus. Essa ideia é expressa, no Novo Testamento, por
duas palavras: “hilaskomai” e “hilasmos”68, que sempre
são empregadas em sentido conexo. O verbo signifi-
ca tornar propício, e o substantivo, apaziguamento ou
meio de apaziguar.
A Bíblia fala da ira de Deus com os pecadores (Rm
1.18; 5.9; Gl 3.10; Ef 2.3). Em Romanos 5.10 e 11.28,
os pecadores são chamados “inimigos de Deus”.
A obra de Cristo tem natureza de satisfação, porque
atendeu a todos os requerimentos da justa Lei de Deus.
A obra de Cristo é comparada nas Escrituras ao paga-
mento de uma dívida; o credor já não tem mais exigên-
cias quanto à dívida, que foi totalmente paga.

67. Charles Hodge (pág. 834) registra algumas objeções à palavra “expiação”,
dizendo que expressa somente o efeito e não a natureza da obra de Cristo. Para
ele, a palavra não é suficientemente abrangente, pois inclui a obra sacrificial de
Cristo, mas não a Sua obediência vicária à Lei divina. Por isso, muitos teólogos
preferem a palavra “satisfação”.
68. Rm 3.25; Hb 2.17; 1Jo 2.2; 4.10.

110 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


2.1 - A CAUSA DA EXPIAÇÃO
O que levou Cristo a vir para este mundo e morrer
pelos nossos pecados? A grande causa da expiação é
o amor de Deus: “Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo
o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo
3.16). A justiça de Deus também exigia que a pena pe-
los nossos pecados fosse paga69.
Sem a doutrina da expiação, o próprio cristianismo
seria, simplesmente, uma religião antropocêntrica70, le-
vando à arrogância e à presunção que vemos hoje até
mesmo em muitos segmentos, ditos, evangélicos, que
diminuem o valor da obra de Cristo, substituindo-a por
filosofias humanas. Com a expiação, somos levados a
dedicar tudo a Cristo, porque Jesus deu tudo o que ti-
nha por nós.

2.2 - O CARÁTER DA EXPIAÇÃO

2.2.1 - Satisfação
Esta palavra quer dizer reparar um dano. Anselmo da
Cantuária, no livro “Cur Deus Homo?71”, argumenta que
Deus Se fez homem para fazer expiação pelo pecado
como único fundamento possível para nossa salvação.
Anselmo explicou que o pecado é uma ofensa infinita
do homem contra a honra de Deus. Uma coisa é certa,
se nós não entendermos a realidade do pecado, vamos

69. Deus não podia aceitar-nos em comunhão consigo mesmo a menos que a
penalidade fosse paga.
70. Que põe o homem no centro de tudo.
71. Por que Deus se fez homem?

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 111


pensar que tudo o que Deus precisa fazer é perdoar o
pecado e, na verdade, Ele é quem nos deve o perdão.
A grande verdade é que não podemos nos salvar a nós
mesmos.
Sofremos pelas consequências do pecado em nível
tão elevado, que a nossa própria vontade é limitada.
Paulo disse: “Se faço o que não quero, isso prova que
reconheço que a lei diz o que é certo. E isso mostra
que, de fato, já não sou eu quem faz isso, mas o pe-
cado que vive em mim é que faz” (Rm 7.16,17 NTLH).
Deus é quem inicia e leva a cabo essa ação, de acordo
com a resposta que damos. Só poderemos entender,
plenamente, o significado da cruz, através da doutrina
da satisfação ou expiação feita pelo Deus-Filho, para o
Deus-Pai. O pecado é uma ofensa ao Deus Santo. Cris-
to pagou o preço necessário, satisfez a exigência e nos
comprou (1Pe 1.18,19; Ap 5.9,10; Gl 3.13; Mc 10.45).
2.2.2 - Sacrifício
Em harmonia total com o AT, o NT vê, na morte de
Cristo, um sacrifício pelos nossos pecados. Jesus veio
para cumprir a Lei e os profetas e toda a justiça (Mt
3.15; 5.17); veio também para cumprir a profecia de
Isaías 61, a respeito do Servo do Senhor, ungido pelo
Espírito Santo (Lc 4.17).
A morte de Cristo é a mais perfeita das rendições à
vontade do Pai, uma das evidências de que Cristo não
veio para ser servido, mas para servir, e de que Sua
morte é um resgate pago para salvação de muitos (Mt
20.28; Mc 10.45). A morte de Cristo é o cumprimento
da oferta pactual feita no preâmbulo da Lei (Ex 24.7,8),
e é a base da Nova Aliança (Mt 26.28; Hb 9.15-22). Ela

112 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


é chamada de sacrifício e oferta (Ef 5.2; Hb 9.14,26). Je-
sus Cristo é o cordeiro de Deus (Jo 1.29), nosso cordeiro
pascal (1Co 5.7), cordeiro sem defeito e sem mácula
(1Pe 1.19).
2.2.3 - Propiciação
A ideia do sacrifício se rela-
ciona com a satisfação da ira de
Deus: isso é, Deus está pesso-
almente ofendido; Sua ira deve
ser aplacada se queremos nos
reconciliar com Ele. Esse é o sentido da palavra propi-
ciação. Encontramos essa doutrina em 1 Jo 4.10: “Nisto
consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a
Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho
como propiciação pelos nossos pecados”.
Sacrifício e propiciação nos ensinam que devemos
lidar com a ira de Deus: “Por isso mesmo, convinha que,
em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos,
para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas
referentes a Deus e para fazer propiciação pelos peca-
dos do povo” (Hb 2.17).
Leiamos Romanos 3.25: “a quem Deus propôs, no
seu sangue, como propiciação, mediante a fé”. O texto
grego desse versículo traz “hilasterion”: lugar de propi-
ciação.
1Jo 2.2 diz que “ele é a propiciação, pelos nossos pe-
cados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda
pelos do mundo inteiro”. Aqui temos a palavra “hilas-
mos”, aquilo que propicia, ou mesmo sacrifício propi-
ciatório.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 113


“Hilasterion” é empregada pela Septuaginta e, em
Hebreus 9.5, é traduzida como propiciatório: “e sobre
ela, os querubins de glória, que, com a sua sombra, co-
briam o propiciatório”.
Esses textos nos remetem a um dos mais belos ti-
pos da obra de Cristo nas Escrituras Sagradas, a arca da
aliança, que era um baú de madeira revestido de ouro
puro, feito para conter as tábuas da Lei recebidas do
Senhor por Moisés no Sinai72. Esse baú tinha uma tam-
pa, que era chamada “propiciatório”, em cujas extre-
midades, de frente um para o outro, havia dois queru-
bins, com asas estendidas. De forma simbólica, é claro,
imaginava-se Deus habitando acima dos querubins.
A arca é uma referência de juízo, cuja intenção era
causar temor nos adoradores, despertando a convicção
do seu pecado.
O que Deus vê quando olha de cima sobre a Terra,
por entre as asas estendidas dos querubins? Vê a lei
de Moisés, que foi quebrada por cada um de nós. A lei
exige uma punição para o transgressor, e Deus, que é
essencialmente santo, não pode tolerar o pecado.
Aqui entra o propiciatório e ele então pode ser cha-
mado “trono da misericórdia”. No “Yon Kippur”, o dia
da expiação, uma vez a cada ano, o sumo sacerdote en-
trava no Santo dos Santos para fazer a propiciação dos
pecados do povo. Antes já tinha oferecido sacrifício por
seus próprios pecados e pelos pecados da sua casa. To-
mava, então, o sangue e o aspergia, cuidadosamente,
sobre o propiciatório73. O que isso tipifica? O que Deus
agora vê quando olha de cima sobre a Terra por entre

72. As primeiras tábuas tinham sido quebradas, mas novas foram escritas.
73. Que é a tampa da arca.

114 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


as asas estendidas dos querubins? Ele não vê a Lei de
Moisés quebrada, mas o sangue da vítima inocente; a
punição foi feita. A propiciação foi realizada e Ele pode
salvar todos que se achegam a Ele pela fé naquele sa-
crifício.
2.2.4 - Reconciliação
As palavras gregas “katalasso” e “katalage” signifi-
cam reconciliar e reconciliação. O ofensor reconcilia,
não a si próprio, mas a pessoa ofendida (Mt 5.23,24).
Não havia comunhão entre nós e Deus; havia apenas
oposição e separação. Porém, Jesus é o Filho Unigênito
de Deus, em quem o Pai se compraz.
Deus, o Pai, é justo e santo e não tem qualquer peca-
do. Nós, pecadores, culpados, estávamos distanciados
de Deus. Então, Cristo colocou-Se em comunhão co-
nosco, não meramente em um sentido físico, natural,
ao assumir nossa natureza, nossa carne, mas também
em sentido judicial, legal, e em sentido ético, moral, ao
entrar em contato com o nosso pecado e com a nossa
morte.
“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado
por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”
(2Co 5.21). Ele Se tornou maldição em nosso lugar, pa-
ra nos redimir da maldição da Lei (Gl 3.13). “Ele morreu
por todos, para que os que vivem não vivam mais para
si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e res-
suscitou” (2Co 5.15).
2.2.5 - Redenção
Nós, como pecadores, somos escravos do pecado,
precisamos de alguém que nos proporcione redenção

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 115


e, dessa forma, nos “redima” de nossa servidão. Quan-
do falamos em redenção, entra em foco a ideia de “res-
gate”. Resgate é o preço pago para redimir alguém da
escravidão ou cativeiro. Jesus disse de Si mesmo: “Pois
o próprio Filho do Homem não veio para ser servido,
mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”
(Mc 10.45).
Existem três palavras gregas que, geralmente, são
traduzidas por redenção:
a) “Agorazo” - isto é, comprado no mercado. Os
homens estão vendidos à escravidão do pecado (Rm
7.14) e, como se não bastasse, sentenciados à morte
(Ez 18.4; Jo 3.18,19). O preço do resgate foi o Sangue
do redentor, o Senhor Jesus Cristo, que morreu no lugar
deles (Mt 20.28).
b) “Exagorazo” - ou comprar e retirar do merca-
do (Gl 3.13). Os remidos nunca mais serão mercadoria
de venda.
c) ”Lutroo” - (Ef 1.7; 1Pe 1.18; Rm 3.24) significa
desamarrar, soltar, libertar mediante pagamento. A re-
denção é efetuada por sacrifício e por poder (Ex 14.30).
Cristo pagou o preço e o Espírito Santo torna real a
redenção através da experiência pessoal.
d) Cristo é o “goel”74 - o libertador (At 20.28;
1Co 6.20, 7.23). Ele resgata os pecadores das exigên-
cias da justiça retribuitiva de Deus. O preço é pago a
Deus por Cristo como representante do pecador. 2Co
5.19 salienta o fato de que Deus reconciliou consigo o
mundo, evidenciando que Ele não mais lhe imputa os

74. Hebraico. No grego, “lytron”.

116 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


seus pecados, mostrando que as exigências da Lei estão
satisfeitas.

2.2.6 - Substituição Penal


Paulo e o autor de Hebreus ensinam que precisamos
de um mediador75 (1Tm 2.5; Hb 8.6; 9.15;12.24). Preci-
samos de alguém que possa vir entre Deus e nós mes-
mos e resolver o que não podemos. Nunca poderemos
aplacar a ira de Deus ou satisfazer a justiça, mas Jesus
podia e fez. Jesus assumiu o nosso lugar para sofrer a
condenação pelos nossos pecados de forma que “nele
fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5.21). A morte
de Cristo foi “penal” pelo fato de ter Ele cumprido uma
pena quando morreu.
O sofrimento de Jesus é o centro da mensagem do
Evangelho. Se as igrejas não estiverem pregando esse
evangelho, não estão pregando evangelho nenhum.
Não haveria salvação se Jesus não tivesse morrido por
nós. E temos de considerar esse sofrimento sob dois
prismas: a obediência de Cristo por nós76 e Seus sofri-
mentos por nós77.

75. Mediador é a pessoa que vem entre dois partidos para representar cada um
ao outro a fim de reconciliá-los.
76. obediência ativa.
77. obediência passiva.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 117


FALSAS TEORIAS DA EXPIAÇÃO
1. Teoria do resgate - Defendida por Orígenes
(185-254), teólogo de Alexandria, e, mais tarde, de
Cesareia. Segundo esse ponto de vista, o resgate que
Cristo pagou para nos redimir foi dado a Satanás, em
cujo reino se encontravam todas as pessoas devido
ao pecado.
2. Teoria da influência moral - Defendida por
Pedro Abelardo (1079-1142), teólogo francês, susten-
ta que Deus não exige o pagamento de um castigo
pelo pecado, mas que a morte de Cristo era, simples-
mente, um modo pelo qual Deus mostrou o quan-
to amava os seres humanos ao identificar-Se, até a
morte, com os seus sofrimentos. A morte de Cristo,
portanto, torna-se um grande exemplo didático que
mostra o amor de Deus por nós, amor que nos extrai
uma resposta agradecida, de modo que somos per-
doados ao amá-Lo.
3. Teoria do exemplo - Ensinada pelos socinia-
nos , seguidores de Fausto Socino (1539-1604), teó-
78

logo italiano que se estabeleceu na Polônia em 1578


e atraiu grande número de adeptos. Nega que a jus-
tiça de Deus exija castigo pelo pecado, dizendo que
a morte de Cristo simplesmente nos provê o exemplo
de como devemos confiar em Deus e obedecer-Lhe de
modo perfeito, mesmo que essa confiança e obediên-
cia nos levem a uma morte horrível.
4. Teoria governamental - Ensinada pela pri-
meira vez por um teólogo e jurista holandês, Hugo
78. Os socinianos eram hereges que rejeitavam a doutrina da Trindade.

118 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


Grotius79 (1583-1645). Defende que Deus não tinha
realmente de exigir castigo pelo pecado, mas, uma
vez que Ele era Deus onipotente, poderia deixar de
lado essa exigência, e simplesmente, perdoar os pe-
cados sem o pagamento de uma pena. Nesse caso,
qual foi o propósito da morte de Cristo? Foi a de-
monstração divina do fato de que Ele é o legislador
moral e governador do universo e que alguma espécie
de pena seria exigida toda vez que Suas leis fossem
infringidas. Dessa forma, Cristo não pagou a pena
exatamente pelos pecados concretos de alguém, mas
apenas sofreu para mostrar que, quando as Leis de
Deus são quebradas, alguma espécie de pena deve
ser paga.

79. Pai do direito internacional.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 119


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) A doutrina da expiação/satisfação ensina a obra
que Cristo realizou para nos reconciliar com o Pai.
2. ( ) Sem a doutrina da expiação, o cristianismo se-
ria uma mera religião antropocêntrica.
3. ( ) A obra de Cristo tem natureza de satisfação
porque atendeu a todos os requisitos da Lei de Deus.
4. ( ) Como entendemos em Jo 3.16, a grande causa
da expiação é a vida eterna.
5. ( ) Em harmonia com o AT, o NT vê, na morte de
Cristo, um sacrifício pelos nossos pecados.
6. ( ) A arca da aliança tipificava a obra de Cristo co-
mo propiciatório.
7. ( ) Resgate é o preço pago para redimir alguém da
escravidão ou cativeiro.
8. ( ) Quando falamos em redenção, entra em foco a
ideia de “resgate”.
9. ( ) Como cristãos, cremos na Teoria do Resgate, já
que Cristo precisou descer às profundezas do inferno
para resgatar os que estavam perdidos, pagando o pre-
ço de sua libertação a Satanás.
10. ( ) Redenção, na Bíblia, pode ter o sentido de li-
bertar alguém mediante pagamento, vindo do grego
“Lutroo”.

120 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


LIÇÃO 03 - TEXTO 03

A ESCATOLOGIA E CRISTO

Qualquer estudo relacionado a Cristo ficaria incom-


pleto se não encerrasse focalizando a volta de Jesus,
nosso Senhor - até pelo fato de o próprio Cristo tê-la
ensinado e ressaltado em Seus sermões.
A insegurança de nossos dias, os indicadores políti-
cos, sociais, econômicos e até religiosos apontam para
um final cataclísmico de todas as coisas. Nós, os crentes
em Cristo, sabemos o que esses indicadores mostram,
pois são os sinais precursores da vinda do Senhor Jesus.
Essa é a esperança do crente, a “bendita esperança”
(Tt 2.13-15). A Bíblia diz que haverá uma geração de
crentes que jamais verá a morte. Serão aqueles tirados,
arrebatados da terra, antes da Grande Tribulação, que
será o mais trágico período que a humanidade jamais
enfrentou.
Quanto mais horrendas são as notícias que recebe-
mos deste mundo, dia após dia, mais a nossa esperan-
ça torna-se bendita, e, segundo as Escrituras Sagradas,
o lugar que Cristo está nos preparando é tão intensa-
mente glorioso que foge a qualquer descrição. Entre os
evangélicos, apesar de divergirem no modo de enten-
der como o evento sucederá, há unanimidade quanto a
essa esperança: Jesus Cristo voltará.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 121


3.1- CONCEPÇÕES EVANGÉLICAS SOBRE O ARRE-
BATAMENTO

3.1.1 - Pós-Tribulacionismo
Afirma que os crentes vivos serão arrebatados na se-
gunda vinda de Cristo, que ocorrerá somente no final
da Grande Tribulação. Seus defensores mais conhecidos
são: George E. Ladd, Douglas Môo, J. Sidlow Baxter e
parte representativa das igrejas tradicionais.
3.1.2 - Meso-Tribulacionismo
Salienta que os crentes serão arrebatados no meio
da Grande Tribulação. Tem como seus mais conhecidos
expositores: Gleasson Archer, Merril Tenney e J. Oliver
Buswell.
3.1.3 - Arrebatamento Parcial
Defende que somente os santos espiritualmente ma-
duros e que estão esperando a vinda do Senhor é que
serão arrebatados. Seus defensores mais conhecidos
são: Ira E. David; Joseph Seiss; Witness Lee e Robert Go-
vett.
3.1.4 - Pré-Tribulacionismo
Ensina que Jesus Cristo virá buscar a Sua Igreja antes
da Grande Tribulação. A igreja está livre da ira que o
mundo experimentará no período da Grande Tribula-
ção. Seus mais famosos defensores são: Edward Irving,
J. Nelson Darby, C. I. Scofield, Hal Lindsey, Charles Ryre,
Seminário de Dallas e Chamada da Meia Noite. O pré-
tribulacionismo é a posição escatológica da maior par-

122 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


te do movimento pentecostal, bem como é a doutrina
escatológica defendida pelas Assembleias de Deus no
Brasil (CGADB) e pelo Instituto Bíblico Esperança (IBE).
Esse assunto de grande relevância será retomado quan-
do estudarmos de maneira mais específica a escatolo-
gia80.
AS DUAS FASES DA VOLTA DE CRISTO
PRIMEIRA FASE SEGUNDA FASE
Será invisível (1Co 15.52). Será visível (Ap 1.7).
Vem como ladrão Vem como relâmpago
(Ap 16.15). (Lc 17.24).
Vem como a Estrela da Manhã Vem como o Sol da Justiça
(Ap 22.16). (Ml 4.1,2).
Vem como Noivo (Mt 25.1-6). Vem como Rei (Mt 25.31-34).
Vem para entrar como Rei na
Vem para receber Sua noiva
Jerusalém terrenal
(Jo 14.3).
(Jr 3.17; Zc 8.3; Lc 1.32,33).
Vem para Sua noiva (Jo 14.3). Vem com a Sua noiva (Cl 3.4).
Vem para as bodas Vem para o trono da Sua glória
(Mt 25.1). (Mt 25.31).
Vem para as virgens (Mt 25. 1). Vem para as nações (Mt 25.32).
Vem antes das bodas Vem depois das bodas
(Mt 25.1). (Lc 12.36).
Vem nos ares Descerá no monte das oliveiras
(1Ts 4.17). (Zc 14.3,4).
É nossa união com Ele É a revelação de Cristo nos céus
(2Ts 2.1). (2Ts 1.17).
É a bendita esperança É o glorioso aparecimento
(Tt 2.13). (Tt 2.13).

80. ou a Doutrina das Últimas coisas.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 123


3.2 - O ARREBATAMENTO DA IGREJA81
A segunda vinda de nosso Senhor Jesus Cristo é men-
cionada cerca de 318 vezes no Novo Testamento. Porém,
em uma primeira leitura, poderá parecer ao estudante
da Bíblia que as referências são contraditórias. Em uma
passagem, o texto diz que Cristo “virá nos ares” (1Ts
4.17), noutra diz que “virá à terra”. Um trecho diz que
“Ele vem como ladrão” (1Ts 5.2), outro diz “que todo o
olho o verá” (Ap 1.9).
A melhor forma de harmonizar esses textos quanto
à vinda de Jesus Cristo é compreender que essa volta se
dará em duas fases distintas. A primeira fase chamamos
de arrebatamento82, quando a Igreja fiel será retirada
da terra. A segunda fase é Sua manifestação em glória
para toda a Terra. No arrebatamento, Cristo vem secre-
tamente; na Sua manifestação, todo o olho O verá (Ap
1.7).
Essas duas fases da volta de Cristo são separadas por
um interregno de sete anos. Esses sete anos são o cum-
primento da septuagésima semana profética de Daniel,
o tempo de angústia para Jacó83.
Uma das passagens mais importantes sobre o arre-
batamento é 1Ts 4.13-18. No versículo 17, Paulo diz:
“depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arreba-
tados juntamente com eles, entre nuvens, para o encon-
tro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre
com o Senhor”. A palavra arrebatamento vem do grego
“harpazo” e significa agarrado, pego à força.

81. No Antigo Testamento, encontramos dois casos de arrebatamento: Enoque


(Gn 5.24; Hb 11.5) e o profeta Elias (2Rs 2.11).
82. Ou, como alguns teólogos preferem chamar, “trasladação”.
83. Esta é a que chamamos interpretação pré-tribulacionista da vinda de Cristo.

124 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


3.3 - O PORQUÊ DO ARREBATAMENTO

a) Para fazer diferença entre o justo e o injus-


to - Pv 11.8;
b) Para recompensar por todo trabalho feito a
Deus - Ap 22.12;
c) Para premiar os vitoriosos - Ap 3.5;
d) Para poupar a Igreja da tribulação - 1Ts 1.10;
5.9; Ap 6.16 e 17;
e) Para vencer a morte (corrupção) - 1Co 15.51-
54.

3.4 - QUEM SERÁ ARREBATADO

a) Os que creem em Cristo e O seguem - Jo 3.18-


21 e 6.47;
b) Os que ouvem a palavra e creem - Jo 5.24-29;
c) Os que confessam a fé em Cristo - Rm 10.9-13;
d) Os que amam a vinda de Cristo - 2Tm 4.8; Ct
8.14;

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 125


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) A palavra arrebatamento vem do grego “harpa-
zo” e significa “pego à força”.
2. ( ) O pós-tribulacionismo é a doutrina escatológica
defendida pelas Assembleias de Deus no Brasil (CGADB)
e pelo Instituto Bíblico Esperança (IBE).
3. ( ) A segunda vinda de Jesus Cristo é mencionada
cerca de 318 vezes no NT.
4. ( ) A volta do Senhor Jesus Cristo se dará em duas
fases distintas.
5. ( ) Chamamos a primeira fase da vinda de Cristo
de “arrebatamento”, quando a Igreja será retirada da
Terra.
6. ( ) As duas fases da volta de Cristo são separadas
por um intervalo de três anos e meio.
7. ( ) A segunda fase da vinda de Cristo é sua mani-
festação em glória para toda a Terra.
8. ( ) O pós-tribulacionismo ensina que a Igreja não
passará pela Grande Tribulação.
9. ( ) No arrebatamento, Cristo vem secretamente;
na Sua manifestação, todo o olho O verá.
10. ( ) O meso-tribulacionismo ensina que os crentes
serão arrebatados no meio da Grande Tribulação.

126 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


LIÇÃO 03 - TEXTO 04

A ESCATOLOGIA E CRISTO
(CONTINUAÇÃO)

4.1 - A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS


“Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor,
isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Se-
nhor, de modo algum precederemos os que dormem.
Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de or-
dem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta
de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo res-
suscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficar-
mos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre
nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim,
estaremos para sempre com o Senhor” (1Ts 4.15-17).
Tanto os crentes vivos quanto os mortos serão trans-
formados no arrebatamento. Novamente, Paulo traz-
-nos luz quanto a esse tão relevante assunto: “Eis que
vos digo um mistério84: nem todos dormiremos85, mas
transformados seremos todos, em um momento, em um
abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta.
A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptí-

84. A palavra mistério no original grego significa algo que não foi revelado antes,
mas está sendo agora aos iniciados.
85. A morte do crente é “comparada” a um sono. Nada tem a ver com as heresias
adventistas e russelitas do sono da alma. Ao morrer, a alma do crente passa a
estar, imediatamente, na presença do Senhor em estado consciente (2Co 5.1-10;
Fp 1.21-23).

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 127


veis, e nós seremos transformados. Porque é necessário
que este corpo corruptível se revista da incorruptibilida-
de, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E,
quando este corpo corruptível se revestir de incorrupti-
bilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade,
então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada
foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitó-
ria? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da
morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças
a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso
Senhor Jesus Cristo” (1Co 15.51-57).
O nosso futuro com Cristo não depende de estarmos
vivos, mas sim de estarmos “em Cristo” antes da morte,
ou antes da Sua volta.
“Eis que vos digo um mistério” (1Co 15.51). Esse
mistério relaciona-se aos crentes que estiverem vivos
quando Cristo voltar para eles, “em um momento, em
um abrir e fechar de olhos” (1Co 15.52). A palavra mo-
mento vem do grego “átomo”, que significa algo que é
indivisível, isso é, acontecerá tão rápido, semelhante a
um relâmpago que não se pode dividir.

4.2 - A ORDEM DOS ACONTECIMENTOS À LUZ DE


1TS 4.16,17

4.2.1 - “Porquanto o Senhor Mesmo Descerá Dos


Céus”
Não será um arcanjo que virá nos buscar, mas o pró-
prio Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador e Senhor.

128 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


4.2.2 - “Dada a Sua Palavra de Ordem”
A ordem para o crente virá de Jesus, o mesmo cuja
voz potente fez Lázaro levantar da tumba. E, assim co-
mo Lázaro respondeu, todos os salvos vivos e mortos
responderão à Sua ordem.
4.2.3 - “...Ouvida a Voz do Arcanjo, e Ressoada a
Trombeta de Deus... A Última Trombeta”
O toque da trombeta era comum no AT. Quando os
israelitas marchavam do Egito para Canaã, todas as ma-
nhãs, antes de recomeçarem a jornada, tocavam as sete
trombetas para que os peregrinos levantassem o acam-
pamento e desmontassem as tendas. Quando a sétima
e última trombeta soava, era a hora de se porem em
marcha.
4.2.4 - “...Os Mortos em Cristo Ressuscitarão Pri-
meiro”
É o mesmo que Paulo fala em 1Co 15.53: “é necessá-
rio que este corpo corruptível se revista da incorruptibi-
lidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade”.
Os crentes falecidos receberão corpos glorificados que
se unirão com suas almas e seus espíritos. Isso é o que
chamamos ressurreição.
4.2.5 - “...Depois, Nós, os Vivos, os Que Ficar-
mos, Seremos Arrebatados Juntamente
Com Eles, Entre Nuvens”
Aqueles de nós que estiverem vivos por ocasião do
arrebatamento serão feitos “incorruptíveis”. Não impor-

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 129


ta onde estejamos e o que estivermos fazendo, seremos
levados subitamente.
Quem poderá imaginar o caos que tomará conta da
terra? Existem imaginações sobre esse momento, sobre
como será a lotação dos templos no dia seguinte ao ar-
rebatamento da Igreja. As igrejas bíblicas, certamente,
terão alguns membros que ficarão temendo desespera-
dos as coisas que virão. E como os pastores, ministros
de igrejas teologicamente liberais, que não ensinaram
as verdades do novo nascimento, explicarão os fatos
aos que com eles ficarem?
4.2.6 - “...Para o Encontro do Senhor Nos Ares”
Parece que o Senhor permitirá que nos encontremos
uns com os outros nos ares antes de nos juntarmos com
Ele.
4.2.7 - “...E, Assim, Estaremos Para Sempre Com
o Senhor”
Um motivo de esperança e consolo. O futuro do
mundo é sem esperança, mas o futuro da Igreja é não
somente esperançoso, mas também glorioso.

4.3 - O QUE ACONTECERÁ COM A IGREJA APÓS O


ARREBATAMENTO?

4.3.1 - O Tribunal De Cristo e as Bodas do Cor-


deiro
Após o arrebatamento da Igreja, temos um período
que durará, ao menos, três anos e meio, que chama-
mos “tribunal de Cristo” (2Co 5.10), no qual a Igreja

130 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


do Senhor receberá o seu galardão86. A igreja também
protagonizará, junto com o Senhor Jesus, as bodas do
Cordeiro, como a Sua noiva (Ap 19.6-10).
4.3.2 - A Grande Tribulação
Durante este tempo, sete anos, o mundo estará ex-
perimentando o nefasto reinado do anticristo sobre a
Terra. Esse período, chamado Grande Tribulação, é co-
nhecido como tempo da ira de Deus, ou seja, o período
em que Deus irá derramar a Sua ira sobre os gentios
que não aceitaram o amor de Cristo, oferecido durante
a dispensação da graça.
A Grande Tribulação será um tempo de angústia pa-
ra o povo Judeu (1Ts 1.10; 5.9; Ap 6.16,17). O Senhor
não irá derramar a Sua ira sobre a Igreja, que aceitou o
amor de Cristo, e tornou-se Sua noiva.
4.3.3 - A Manifestação Gloriosa de Cristo
As Escrituras afirmam que Cristo virá em glória, no
final da Grande Tribulação, com os Seus santos e Seus
anjos. Essa manifestação do Senhor Jesus em glória tem
como objetivo revelá-Lo ao povo de Israel como o Seu
Messias prometido, trazendo livramento dos exércitos
do anticristo que Lhe procurarão exterminar.
4.3.4 - Características da Manifestação Gloriosa
de Cristo

a) Visível, pessoal e física - Para que Cristo seja


pranteado e até os que O traspassaram O vejam, é pre-

86. A sua recompensa.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 131


ciso que o Seu retorno seja uma aparição dramática vi-
sível, pessoal e física (Ap 1.7; Zc 12.10).
b) Repentina e surpreendente - Jesus predisse a
maneira súbita de Seu regresso: “Porque, assim como o
relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente,
assim há de ser a vinda do Filho do Homem” (Mt 24.27).
“Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem;
todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho
do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e
muita glória” (Mt 24.30).
c) Como juiz - Na Sua primeira vinda, Cristo veio
como Cordeiro de Deus; na segunda vez, Jesus virá
como Leão. Na Sua primeira vinda, Cristo veio como
advogado; na segunda, Jesus virá como juiz (At 10.42).
d) Virá para estabelecer o Reinado milenial -
Depois que Cristo derrotar todos os reinos ímpios da
terra, diz o profeta Zacarias: “O SENHOR será Rei sobre
toda a terra; naquele dia, um só será o SENHOR, e um
só será o seu nome” (Zc 14.9). Cristo reinará com justi-
ça, pessoalmente, nesta Terra (Ap 20.1,2; Is 11).

4.3.5 - O Juízo Final


Com o encerramento do reinado milenial, Satanás
será solto por um curto período, no qual provocará a
sua última rebelião contra Deus (Ap 20.7-10). A reação
do Rei será imediata: Satanás será preso, eternamente,
no lago de fogo. Acontecerá, logo após, o juízo final,
registrado em Apocalipse 20.11-15.
Cristo julgará o mundo como justo juiz. Os salvos ar-
rebatados não serão julgados, pois: “Quem nele crê não

132 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


é julgado” (Jo 3.18). E então Cristo e Sua noiva adentra-
rão às eras eternas e se verá um novo céu e uma nova
Terra onde habita a justiça.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 133


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) A Grande Tribulação será um tempo de angús-
tia para o povo Judeu.
2. ( ) As Escrituras afirmam que Cristo virá em glória
no final da Grande Tribulação para buscar a Sua Igreja
3. ( ) A manifestação do Senhor Jesus em glória tem
como objetivo revelá-Lo ao povo de Israel como o Seu
Messias prometido.
4. ( ) Os salvos arrebatados também serão julgados
no juízo final.
5. ( ) Com o encerramento do reino milenial, Satanás
será aniquilado para não mais existir.
II. SUBLINHE A RESPOSTA CORRETA:
1. Após o arrebatamento da Igreja, ocorrerá, durante
três anos e meio, o que chamamos (tribunal de Cristo -
juízo final).
2. A Grande Tribulação é conhecida como o tempo (da
Ira de Deus - do silêncio de Deus).
3. Tanto os crentes vivos quanto os mortos serão trans-
formados no (milênio - arrebatamento).
4. A Igreja também protagonizará junto com Jesus (a
abertura dos selos - as bodas do Cordeiro), como a Sua
noiva.
5. A palavra momento vem de (“átomo” - “kronos”), do
grego, que significa algo que é indivisível.

134 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


ESBOÇO DA LIÇÃO 04

ANGELOLOGIA
TEXTO 01 - A IMPORTÂNCIA DA ANGELOLOGIA
TEXTO 02 - A NATUREZA DOS ANJOS
TEXTO 03 - O MINISTÉRIO DOS ANJOS
TEXTO 04 - DEMONOLOGIA BÍBLICA
TEXTO 05 - BATALHA ESPIRITUAL

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 135


LIÇÃO 04

ANGELOLOGIA OU A DOUTRINA
DOS ANJOS

INTRODUÇÃO
A angelologia, durante algum tempo, era quase ig-
norada pelos não crentes e até pelos evangélicos no
Brasil, mas o movimento Nova Era e outras seitas de
cunho esotérico têm despertado o interesse das pes-
soas, fornecendo livros que trazem ideias alheias às
Escrituras sobre quem são esses seres. Livros, novelas
de televisão e filmes também trazem frequentemente o
tema, sempre, é claro, de forma contrária ao ensino da
Bíblia Sagrada.
Do outro lado, muitas igrejas estão sendo movidas a
um interesse tão grande a respeito dos anjos que estão
chegando próximo à heresia, pois foge, e muito, do que
a Bíblia ensina sobre o assunto.
É comum ouvirmos em igrejas pentecostais os cha-
mados “hinos de anjos”, com letras que são verdadeiras
heresias, pois atribuem aos anjos poder e autoridade
que só pertencem a Deus. Isso reflete a ignorância de
parte do povo evangélico sobre esse tão importante te-
ma.
Um filão literário muito lucrativo está sendo a cha-
mada literatura de “batalha espiritual”, que, quando

136 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


exagerada e colocada fora dos moldes bíblicos, é res-
ponsável por exageros que comprometem a pureza da
pregação do genuíno Evangelho de Cristo87. Muitos
desses livros apresentam distorções grosseiras que le-
vam muitos leitores a pensar que existe um dualismo
entre Deus e as forças demoníacas, o que não é verda-
de, pois o nosso Deus é Soberano!
Em todo o país, são realizados “certos” encontros
de guerra espiritual que tem levado até muitos grupos
“evangélicos” a invocar anjos para ajudá-los. Porém, já
fomos advertidos quanto a essa “paranoia angelical”. A
Bíblia diz: “Mas ainda que nós, ou um anjo do céu vos
pregue um outro evangelho que vá além do que vos
temos pregado, seja anátema” (Gl 1.8-9).

87. Entre esses livros, podemos citar: “Este mundo tenebroso”; “Ele veio para
libertar os cativos”; “Porcos na sala”; “Filho do fogo” e outros.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 137


LIÇÃO 04 - TEXTO 01

A IMPORTÂNCIA DA ANGELOLOGIA

Ao começar a estudar o testemunho bíblico acer-


ca dos anjos, percebemos que estamos diante de um
dos assuntos mais difíceis e complexos das Escrituras.
A angelologia não é o assunto principal da Bíblia, e os
contextos onde os anjos são referidos têm como ponto
central a glória de Deus ou a majestade de Cristo (Is 6.1-
3; Ap 4.7-11). As manifestações angélicas são fugazes,
sem ser provocadas ou preditas. Essas manifestações
confirmam verdades, nunca as produzem por si mes-
mas.
A angelologia é um tópico que não se pode ficar ten-
tado a omitir ou a negligenciar. É preciso que conheça-
mos qual é a realidade sobre esses seres espirituais, o
que a Bíblia diz sobre o assunto, qual a sua origem e a
sua função. Porém, ressaltamos, o assunto primordial
da Bíblia é o Criador e não as criaturas, o Senhor e não
os servos, o Deus dos anjos e não os anjos de Deus.
Os anjos podem ser escolhidos como método ocasional
para revelação, mas jamais serão a mensagem.

1.1 - O QUE A ANGELOLOGIA PODE DESPERTAR NA


IGREJA DE CRISTO
Por anjo, entendemos aquele ser espiritual que Deus
criou acima do gênero humano, alguns dos quais per-
manecem fiéis e obedientes e servem a Deus, realizando

138 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


a Sua vontade, enquanto outros perderam sua condi-
ção santa e agora se opõem à obra de Deus e procuram
impedi-la.
O reformador João Calvino disse88 que “Os anjos são
distribuidores e administradores da beneficência divina
em relação a nós. Eles dão atenção a nossa segurança,
encarregam-se da nossa defesa, dirigem nossos cami-
nhos e exercem uma solicitude constante no sentido de
que nenhum mal nos atinja”.
A angelologia estudada, tendo a Bíblia por guia, po-
de nos despertar virtudes cristãs que trarão maturidade
à vida de quem as cultiva. São elas:
1.1.1 - Humildade
Os anjos servem perante o trono de Deus, mas, ape-
sar disso, servem àqueles que hão de herdar a salvação
(Hb 1.14). Isso é um claro exemplo de humildade, obe-
diência e submissão a Deus.
1.1.2 - Confiança
Em tempos de provação e luta, Deus envia esses se-
res para ajudar os crentes. “Não são todos eles espíri-
tos ministradores, enviados para serviço a favor dos que
hão de herdar a salvação?” (Hb 1.14).
1.1.3 - Responsabilidade Cristã
Tanto Deus como os anjos testemunham as ações
mais íntimas do crente. “Porque a mim me parece que
Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como
se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos

88. Em As Institutas, primeiro volume.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 139


espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens”
(1Co 4.9).
1.1.4 - Liberdade Com Responsabilidade
Desafiando o poder maligno, os bons anjos escolhe-
ram e ainda escolhem o santo serviço de Deus.
1.1.5 - Um Conceito Cristão Adequado do Pró-
prio “Eu”
O homem foi criado “um pouco menor que os anjos”
(Sl 8.5). Mesmo assim, em Cristo, a humanidade redimi-
da é elevada muito acima desses servos de Deus.
1.1.6 - Participação na História da Salvação
Deus usou anjos na história, com destaque para Ga-
briel e Miguel. Compreendê-los devidamente levará o
crente a envolver-se mais no serviço cristão.

1.2 - EXPERIÊNCIAS COM ANJOS HOJE


Nunca precisamos tanto de conhecimento da ange-
lologia como hoje. Como já falamos, de um lado está a
Nova Era, desvirtuando o papel desses seres. Sabemos
que não faltam livros e revistas, novelas de televisão,
filmes, peças teatrais com muitas histórias exóticas ex-
plorando exaustivamente o tema.
De outro lado, em muitas igrejas89, presenciamos
uma verdadeira “angelomania”. São cometidos muitos
abusos graves, e, em não poucos casos, o que se perce-
be é uma “angelolatria”. Isso é, claramente, demonstra-
do em pregações e músicas nas quais os anjos são ele-
89. Principalmente neopentecostais e até pentecostais.

140 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


vados a uma posição que pertence somente ao Senhor
Jesus Cristo. Hinos com letras sem qualquer conteúdo
bíblico são cantados, e só refletem a crença popular da
igreja evangélica alheia à Escritura.
Havendo experiências com anjos hoje, elas devem
passar pelo crivo das Escrituras. Boa parte das seitas
pseudo-cristãs foram fundadas com base em supostos
aparecimentos de anjos transmitindo mensagens que a
Escritura não ensina.
Joseph Smith90 alegou ter recebido uma revelação de
anjos que denunciava a falência do cristianismo. Mao-
mé fundou o islamismo baseando-se em revelações an-
gélicas.
Quando o anjo Gabriel apareceu a Daniel, no AT, e
a Maria, no NT, trazia mensagens que glorificavam a
Deus. É por isso que os crentes em Cristo, que aceitam
a dimensão eterna da vida, devem tomar conhecimento
do ministério dos santos anjos que servem ao próprio
Deus e superintendem Suas obras em nosso favor.

1.3 - ANÁLISE ETIMOLÓGICA DA PALAVRA


A palavra anjo, “mallak”, no hebraico, e “angellos”,
no grego, significa mensageiro. Esses termos são usa-
dos tanto para designar mensageiros humanos quanto
angélicos. Quando usados para anjos, os termos dizem
respeito a sua função de mensageiros. Outros termos
no AT para anjos são:
a) Santos - Sl 8.5-7;
b) Vigilantes - Dn 4.13,17,23;

90. Fundador do Mormonismo.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 141


c) Conselho (coletivamente) - Sl 89.7,891;
d) Assembleia - Sl 89.5;
e) Exército ou exércitos - na expressão muito
conhecida “Senhor dos Exércitos”, encontrada no livro
de Isaías mais de 60 vezes.

1.4 - EXPRESSÕES NO NOVO TESTAMENTO QUE


CREMOS SEREM REFERÊNCIAS A ANJOS

a) Milícia celestial - (Lc 2.13);


b) Espíritos ministradores - (Hb 1.14);
c) Principados, poderes, tronos, domínios, so-
beranias - em várias combinações de expressões (Cl
1.16; 2.15; Rm 8.38; 1Co 15.24; Ef 6.12).

1.5 - O CARÁTER DOS ANJOS


Os anjos são mensageiros ou servidores espirituais
de Deus (Hb 1.13-14), criados por Deus (Cl 1.16), como
seres santos (Mc 8.38), antes da criação da Terra (Jó
38.7), por ordem divina (Sl 148.2,3). A Bíblia fala de
anjos bons e maus, embora a Escritura afirme também
que originalmente todos os anjos foram criados bons e
santos (Gn 1.31). Sendo dotados de liberdade de esco-
lha, numerosos anjos participaram da rebelião de Sa-
tanás (Ez 28.12-17; 2Pe 2.4; Jd 6; Ap 12.9), deixando
o seu estado original de graça, como servos de Deus, e
perdendo o direito à sua posição celestial.

91. Bíblia de Jerusalém.

142 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) A palavra anjo, “mallak”, no hebraico, e “an-
gellos”, no grego, significa mensageiro.
2. ( ) A Bíblia fala somente da existência de anjos
bons; os demais comentários sobre anjos são cultura
principalmente da Nova Era.
3. ( ) Tanto Deus como os anjos testemunham as
ações mais íntimas do crente.
4. ( ) Originalmente, todos os anjos eram bons.
5. ( ) Experiências com anjos hoje não precisam pas-
sar pelo crivo das Escrituras.
II.SUBLINHE A RESPOSTA CORRETA:
1. A angelologia (é - não é) um dos assuntos principais
da Bíblia.
2. As manifestações angélicas da Bíblia sempre (produ-
zem - confirmam) verdades.
3. (Joseph Smith - Maomé) alegou ter recebido uma re-
velação de anjos sobre a falência do cristianismo.
4. O homem foi criado “um pouco (maior - menor) que
os anjos”.
5. Os anjos foram (criados - escolhidos) por Deus, (an-
teriormente à - após a) criação da Terra, e são mensa-
geiros e servidores espirituais.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 143


LIÇÃO 04 - TEXTO 02

A NATUREZA DOS ANJOS

Os anjos foram criados por Deus, antes de a Terra


existir (Jó 38.4-7; Cl 1.16). Os anjos estão entre as coi-
sas invisíveis, criados por Deus, responsáveis diante de
Deus (Jo 16.11), porém limitados em conhecimento (Mt
24.36).
Todos os anjos devem ter sido criados por Deus an-
tes do sétimo dia da criação, pois lemos: “Assim, pois,
foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército”
(Gn 2.1). A maioria dos estudiosos da Bíblia interpre-
ta “exército” como as criaturas celestes que habitam o
universo de Deus.
Ainda mais explícita que isso é a declaração: “Em seis
dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que
neles há e, ao sétimo dia, descansou” (Êx 20.11). Logo,
todos os anjos foram criados no máximo até o sexto dia
da criação.

2.1 - OS ANJOS SÃO SERES INCORPÓREOS


Eles são espíritos (Hb 1.14). Martinho Lutero disse
no Tabletalk92: “o anjo é uma criatura espiritual sem cor-
po, criada por Deus para o serviço da cristandade e da
igreja”93.

92. Conversas à mesa.


93. Citado por Billy Graham em “Anjos, Agentes secretos de Deus”, Editora Re-
cord.

144 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


2.2 - OS ANJOS SÃO SERES NUMEROSOS
A menção aos anjos é frequente em toda a Bíblia. As
Escrituras dizem que milhares de anjos estavam sob o
Sinai, confirmando a presença de Deus durante a outor-
ga da Lei a Moisés (Dt 33.294).
João, no livro de Apocalipse, conta ter visto milhões
de milhões e milhares de milhares de anjos ao redor do
trono do Cordeiro de Deus (Ap 5.1195). O mesmo livro
registra que exércitos angelicais aparecerão juntamente
com Jesus na batalha do Armagedom, quando os
inimigos de Deus se juntarem para a batalha final (1Rs
22.19; Sl 68.17; Dn 7.9,10; Ap 5.11).

2.3 - OS ANJOS SÃO SERES RACIONAIS


Os anjos possuem racionalidade e volição (2Sm
14.20; Mt 24.36; Ef 3.10; 1Pe 1.12; 2Pe 2.11). Eles não
são oniscientes, mas excedem aos homens em conheci-
mento (Mt 24.36), embora não saibam o que Deus sa-
be. Jesus dá testemunho da limitação do conhecimento
dos anjos em Marcos 13.32: “Mas a respeito daquele
dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu,
nem o Filho, senão o Pai”.

94. “O Deus Eterno veio do monte Sinai; ele surgiu como o sol por cima de Edom
e do monte Parã brilhou sobre o seu povo. Com ele vieram milhares de anjos, e à
sua direita havia fogo” (NTLH).
95. “Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos
anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares”.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 145


2.4 - OS ANJOS SÃO SERES MORAIS, CONSCIENTES
E PODEROSOS
Os anjos têm natureza moral. A Bíblia fala de anjos
que permaneceram leais a Deus como “santos anjos”
(Mt 25.31; Mc 8.38; Lc 9.26; At 10.22; Ap 14.10) e
denuncia os que caíram como mentirosos e pecadores
(Jo 8.44; 1Jo 3.8-10). Os anjos desfrutam de mais poder
do que os homens, mas não são onipotentes, pois só
Deus o é. Paulo, em 2Ts 1.7, fala de “anjos poderosos de
Deus”.

2.5 - EM QUE OS ANJOS SÃO DIFERENTES DOS SAL-


VOS EM CRISTO?
A Escritura diz que os anjos são: “espíritos ministra-
dores, enviados para serviço a favor dos que hão de her-
dar a salvação?” (Hb 1.14), mas também diz que Deus
fez o homem, “um pouco abaixo dos anjos” (Sl 8.5; Hb
2.9). Esse texto bíblico fala de Jesus e dos homens.
Jesus Se rebaixou quando Se fez homem. O Senhor
achava-Se um pouco abaixo dos anjos, na Sua humani-
dade. Deus fez o homem acima de todas as criaturas do
nosso mundo terrestre. Somos inferiores aos anjos em
relação aos nossos corpos e ao seu lugar, enquanto esti-
vermos nesta terra. Entretanto, Deus alterará a posição
inferior temporária do homem quando o Seu propósito
com relação ao nosso estado alcançar a plenitude.
Embora os anjos sejam seres sobre-humanos, a Bí-
blia afirma que eles têm diferenças significativas dos
homens salvos, nascidos de novo. Sem terem pecado,
os anjos podem saber inteiramente o que é ser liberto
do pecado e o que significa ser lavado pelo Sangue de

146 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


Jesus? Podem entender o que é a justificação pela fé?
Como podem compreender como Jesus é precioso
para aqueles a quem a Sua morte garantiu adoção de
filhos e vida eterna? Não é mais extraordinário saber
que são os salvos, que já foram pecadores, que vão jul-
gar os anjos (1Co 6.3)? Procuraremos responder a essas
perguntas nos itens a seguir:
2.5.1 - Os Anjos Não Gozam da Plena Paternida-
de Divina
Deus não é chamado “Pai dos anjos”, porque os an-
jos não precisaram ser redimidos. E mesmo os anjos ca-
ídos, tendo pecado, não podem chamar Deus de “Pai”,
porque não podem ser redimidos.
Uma interrogação antiga é: Por que Deus, em Seu
plano redentor, não proveu salvação para os anjos que
pecaram, como proveu para o homem? Talvez, porque,
ao contrário de Adão e Eva, que foram tentados, indu-
zidos ao pecado por pecadores, os anjos rebeldes caí-
ram quando não havia ninguém para tentá-los. Dessa
forma, o seu estado não pode ser alterado pelo perdão
divino. A sua salvação não pode ser conseguida.
A adoção de filhos nas Escrituras é reservada, so-
mente, àqueles que nasceram de novo. Em um verda-
deiro sentido, nem os homens não regenerados podem
chamar Deus de Pai; podem chamá-Lo de seu Criador,
enquanto não nascerem de novo (Jo 1.12,13).

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 147


2.5.2 - Os Anjos Servem Sem Direito a Herança
O crente é herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo
(Rm 8.17;Gl 4.7; Hb 1.2), através da redenção que nos é
concedida pela fé. Os anjos, que não são co-herdeiros,
deverão pôr-se de lado quando recebermos nossas in-
calculáveis riquezas. Hebreus 2.9 diz que: “feito menor
que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte,
foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça
de Deus, provasse a morte por todo homem”. O fato
de Jesus ter preferido experimentar a morte que me-
recemos prova que os anjos não compartilham nosso
estado de pecado e, portanto, nem nossa necessidade
de redenção.
2.5.3 - Os Anjos Não Podem Atestar a Graça
Através da Fé
Quem poderá compreender a irresistível emoção da
associação com Deus e da alegria que nem os anjos
conhecem? Quando a igreja local se reúne como um
corpo de crentes em Cristo, ela representa, na esfera
humana, a mais elevada categoria do amor de Deus. Os
anjos têm consciência dessa alegria (Lc 15.10) e, quan-
do uma pessoa recebe a dádiva divina da salvação, eles
expressam o seu júbilo diante do Cordeiro de Deus.
Embora os anjos se alegrem quando o homem é sal-
vo, eles não podem pessoalmente atestar algo que não
experimentaram. Assim acontece com o homem que
nunca se casou, não poderá jamais apreciar com pro-
priedade as maravilhas do amor, companheirismo que
um casal experimenta. Quem nunca perdeu um ente
querido não pode avaliar, perfeitamente, o que repre-

148 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


senta essa perda. Por isso, os anjos, por mais esplêndi-
dos que sejam, não podem atestar a salvação do mes-
mo modo como os crentes em Cristo a experimentam.
2.5.4 - Os Anjos Não Têm Conhecimento da Obra
Interior Que Deus Realiza
Não há, em toda a Bíblia Sagrada, qualquer referên-
cia de algum anjo que tenha sido “cheio do Espírito”
ou “batizado no Espírito Santo”, como acontece com os
crentes. Uma vez que o Espírito Santo confirma os que
foram salvos (Rm 8.16), aos anjos, essa confirmação
não é necessária, visto que nunca decaíram, não são
prejudicados pelo pecado e, portanto, não carecem de
salvação.
2.5.5 - Os Anjos Não Foram Criados “à Imagem
de Deus”
Em nenhum texto bíblico encontramos que os anjos
foram criados “à imagem de Deus”. No entanto, várias
vezes, o texto bíblico afirma que o homem foi feito à
imagem do Criador (Gn 1.26,27; 9.6). Como ser, o ho-
mem é a imagem de Deus; isso significa ser semelhante
a Deus; entendemos que somos ainda mais semelhan-
tes a Deus do que os anjos.

2.6 - A ORGANIZAÇÃO OU A HIERARQUIA DOS AN-


JOS
Embora os anjos não constituam um organismo, evi-
dentemente, são organizados. Isso se percebe pelo fato
de que, ao lado do nome geral “anjo”, a Bíblia emprega

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 149


certos nomes específicos para indicar diferentes classes
de anjos.
2.6.1 - Querubins
A Escritura refere-se repetidas vezes aos querubins.
Eles são os guardas da porta do paraíso (Gn 3.24); ob-
servam o propiciatório (Ex 25.18,20; Sl 80.1; 99.1,2; Hb
9.5); constituem a carruagem de que Deus Se utiliza
para descer à Terra (2Sm 22.11; Sl 18.10).
Em Ezequiel 1 e Apocalipse 4, são representados
como os quatro seres viventes em várias formas96 que
circundam o trono de Deus (Ez 1.5-14; Ap 4.6-8). Com
rostos de leão, boi, homem e águia, representam os
seres mais poderosos de diversas partes da criação de
Deus97 e adoram a Deus continuamente (Ap 4.8).
Essas representações simbólicas identificam Seu ex-
traordinário poder. Mais que outras criaturas, os queru-
bins foram destinados a revelar a glória e a majestade
de Deus, bem como, a defender a Sua santidade, co-
mo no jardim do Éden, no Tabernáculo e na descida de
Deus à terra.
2.6.2 - Serafins
A palavra significa literalmente ardente ou amor. São
mencionados apenas em Isaías 6. Constituem uma clas-
se de anjos proximamente relacionadas à anterior. Di-
ferentes dos querubins, os serafins permanecem como
servidores do trono do Rei dos céus, louvam-No e estão
sempre à Sua disposição.

96. Embora haja outras interpretações desses textos.


97. Animais selvagens, animais domesticados, seres humanos e pássaros.

150 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


Ao passo que os querubins defendem a santidade de
Deus, os serafins atendem ao propósito de reconcilia-
ção e assim preparam os homens para aproximar-se de
Deus: “Então, um dos serafins voou para mim, trazendo
na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma
tenaz; com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que
ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e
perdoado, o teu pecado” (Is 6.6,7). Sobre o assunto,
diz o Dr. C. I. Scofield98: “os querubins podem ser tidos
como ligados ao altar e os serafins à bacia”.
2.6.3 - Principados, Potestades, Tronos, Domina-
ções
Em acréscimo aos anteriores, a Bíblia fala de certas
classes de anjos que ocupam lugares de autoridade no
mundo angélico, como principados99, potestades ou
autoridades100 (Ef 3.10; Cl 2.10), tronos101 (Cl 1.16) e
poderes102 (Ef 1.21; 1Pe 3.22). Esses nomes não indi-
cam esferas superiores de anjos, mas, sim, diferenças
de classes e dignidade entre eles.
2.6.4 - Miguel e Gabriel
Esses dois seres angélicos destacam-se entre o exér-
cito dos céus, por serem os únicos mencionados pelo
nome. Miguel103 é mencionado diversas vezes nas Es-
crituras (Dn 12.1; 10.13-21; Jd 9; Ap 12.7). Por ter sido
chamado “o arcanjo” em Jd 9, e pela expressão usada
98. Fazendo referência ao Tabernáculo.
99. Grego, “archai”.
100. Grego, “exouxai”.
101. Grego, “thonoi”; em Cl 1.16, traduzido na Almeida Revista e Atualizada
como soberanias.
102. Grego, “Dynameyis”.
103. O nome significa “Quem é como Deus?”

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 151


em Apocalipse 12.7, dá-nos a entender que ele ocupa
posição de premência entre os anjos.
As passagens do livro de Daniel falam de Miguel co-
mo um príncipe entre os anjos. Vemos nele um guerrei-
ro a lutar as batalhas de Yaweh contra os inimigos de
Israel e os poderes malignos do mundo espiritual.
No livro de Daniel 8.15-27, Gabriel104 aparece infor-
mando ao profeta Daniel eventos relacionados aos tem-
pos do fim. Entre esses eventos finais, Gabriel revela o
significado da profecia das 70 semanas (Dn 9.20-27).
Quando Zacarias, sacerdote, e pai de João Batista,
queimava incenso no exercício do seu sacerdócio, Ga-
briel apareceu-lhe dizendo: “Zacarias, não temas, por-
que a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te
dará à luz um filho, a quem darás o nome de João...
Respondeu-lhe o anjo: Eu sou Gabriel, que assisto dian-
te de Deus, e fui enviado para falar-te e trazer-te estas
boas-novas” (Lc 1.13-19). A posição nobre de Gabriel é
atestada pelas palavras “que assisto diante de Deus”.
A maior mensagem de Gabriel foi a proclamação a
Maria do nascimento de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo e da Sua parte no Reino de Deus, assentando-Se
no trono de Davi (Lc 1.26-38).

104. O nome significa “Homem de Deus”.

152 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) Pode-se entender que os anjos foram criados
por Deus em algum momento antes do sétimo dia da
criação.
2. ( ) Encontramos na Bíblia que os anjos foram cria-
dos “à imagem e semelhança de Deus”.
3. ( ) Podemos entender biblicamente que Miguel
ocupa posição de destaque entre os anjos.
4. ( ) Os anjos são co-herdeiros com Cristo.
5. ( ) Deus não é chamado “Pai dos anjos”, porque os
anjos não precisaram ser redimidos.
6. ( ) Os anjos excedem aos homens em força e po-
der, pois são onipotentes.
7. ( ) Os anjos têm conhecimento ilimitado.
8. ( ) Entende-se que Miguel e Gabriel têm as mes-
mas funções entre os arcanjos: a de mensageiros.
9. ( ) Os querubins defendem a santidade de Deus.
10. ( ) Os serafins servem diante do trono do Rei dos
céus.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 153


LIÇÃO 04 - TEXTO 03

O MINISTÉRIO DOS ANJOS

Sobre o serviço dos anjos, diz o autor aos Hebreus:


“Não são todos eles espíritos ministradores, enviados
para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação?”
(Hb 1.14).
O AT repetidas vezes alude ao ministério dos anjos,
revelando aos homens a vontade de Deus, ferindo os
egípcios, junto ao monte Sinai na outorga da Lei e as-
sistindo aos hebreus em suas peregrinações.
Charles Hodge afirma105 que os anjos são emprega-
dos:
a) No culto divino;
b) Na execução da vontade de Deus;
c) Especialmente, na ministração aos herdeiros
da salvação de Deus.

3.1 - OS ANJOS PRESTAM ADORAÇÃO E LOUVOR


A DEUS
O principal e talvez o mais importante ministério dos
anjos é adorar a Deus e oferecer louvor incessante a Ele
(Ap 5.11; Is 6.3; Sl 103.20,21).

105. Charles Hodge, Teologia Sistemática, Hagnos.

154 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


3.2 - OS ANJOS MINISTRAM AOS CRENTES
Isso inclui a proteção ao crente quanto a perigos e
danos. Na igreja primitiva, foi um anjo quem livrou da
prisão os apóstolos, em At 5.19, e, mais tarde, o após-
tolo Pedro em At 12.6-12. O salmista experimentou o
cuidado dos anjos (Sl 34.7; 91.11). Entretanto, o maior
ministério dos anjos é no suprimento das necessidades
espirituais.
Os anjos estão engajados na batalha espiritual dos
crentes, chegando a regozijar-se com a salvação dos
perdidos (Lc 15.10) e servindo os salvos em suas neces-
sidades (Hb 1.14). Os anjos observam os santos (1Co
4.9; 1Tm 5.21) e estão presentes na igreja (1Co 11.10).
Na morte, os crentes são levados pelos anjos a um lugar
de descanso e bênçãos (Lc 16.22).

3.3 - OS ANJOS LEVARAM A LEI DE DEUS AO POVO


DE ISRAEL
“Vós que recebestes a lei por ministério de anjos e
não a guardastes” (At 7.53); “Qual, pois, a razão de ser
da lei? Foi adicionada por causa das transgressões, até
que viesse o descendente a quem se fez a promessa,
e foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um
mediador” (Gl 3.19). Veja também Hb 2.2.

3.4 - OS ANJOS EXECUTAM OS JUÍZOS DE DEUS


CONTRA OS INIMIGOS
“No mesmo instante, um anjo do Senhor o feriu, por
ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes,
expirou” (At 12.23). “Acaso, não ouviste que já há mui-

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 155


to dispus eu estas coisas, já desde os dias remotos o
tinha planejado? Agora, porém, as faço executar e eu
quis que tu reduzisses a montões de ruínas as cidades
fortificadas” (2Rs 19.35).

3.5 - OS ANJOS REUNIRÃO OS ELEITOS DE DEUS NA


VOLTA DE CRISTO
“E ele enviará os seus anjos, com grande clamor de
trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos qua-
tro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mt
24.31).

3.6 - OS ANJOS SÃO VISTOS DERRAMANDO AS TA-


ÇAS DA CÓLERA DE DEUS EM APOCALIPSE
16
“Ouvi, vinda do santuário, uma grande voz, dizendo
aos sete anjos: Ide e derramai pela terra as sete taças da
cólera de Deus” (Ap 16.1).

3.7 - OS ANJOS NOS FAZEM PERCEBER QUE O


MUNDO ESPIRITUAL É INVISÍVEL MAS REAL
Assim como os saduceus, contemporâneos de Cristo,
diziam não haver anjo, nem ressurreição, nem espírito
(Mt 23.8), muitas pessoas em nosso tempo negam a
realidade de qualquer coisa que não possam ver.
Entretanto, o ensino bíblico sobre a realidade dos
anjos, é, para nós, uma constante lembrança de que
existe um mundo invisível bastante real. Foi somente
quando o Senhor abriu os olhos do servo de Eliseu à re-

156 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


alidade desse mundo invisível que ele viu que “o monte
estava cheio de cavalos e carros de fogo em redor de
Eliseu” (2Rs 6.17)106.
O salmista também demonstra consciência do mun-
do invisível ao encorajar os anjos: “Louvai-o, todos os
seus anjos; louvai-o, todas as suas legiões celestes” (Sl
148.2).

3.8 - OS ANJOS GLORIFICAM DIRETAMENTE A DEUS


Os anjos também cumprem outra função importan-
tíssima: servem diretamente a Deus, glorificando-O. As-
sim, além dos seres humanos, há no universo outras
criaturas inteligentes e morais que glorificam a Deus.
Os anjos glorificam a Deus pelo que Ele é em Si, pela
Sua excelência (Sl 103.20; 148.2). Os serafins louvam a
Deus continuamente por Sua santidade (Is 6.2,3), assim
como os quatro seres viventes (Ap 4.8).
Os anjos também glorificam a Deus pelo glorioso
plano de salvação, pois testemunharam o nascimento
de Cristo Jesus (Lc 2.14; Hb 1.6). Jesus disse que há júbi-
lo no céu quando um pecador se arrepende (Lc 15.10),
indicando que os anjos exultam toda a vez que alguém
se afasta do pecado e deposita a sua fé em Cristo como
Salvador.

3.9 - TEOFANIA
Teofania é uma palavra grega que significa “mani-
festação de Deus”, empregada pelos estudiosos da Bí-
blia para explicar os inúmeros casos de manifestação de

106. Um grande exército de anjos enviado a Dotá para proteger Eliseu dos Sírios.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 157


Deus no AT. Os judeus chamavam o Anjo do Senhor de
“Metatron”107, porque vê o semblante de Deus continu-
amente e, portanto, procura apresentar o programa de
Deus a nós. Casos assim são encontrados nas manifes-
tações do “Anjo do Senhor” (Gn 16.7), “Anjo da presen-
ça do Senhor” (Ex 33.33,34), ou “Anjo do Testamento”
(Ml 3.1) que é Cristo pré-encarnado.

3.10 - ALGUNS CASOS DE TEOFANIA NO ANTIGO


TESTAMENTO

3.10.1 - A Abraão
“Apareceu o SENHOR a Abraão nos carvalhais de
Manre, quando ele estava assentado à entrada da ten-
da, no maior calor do dia. Levantou ele os olhos, olhou,
e eis três homens de pé em frente dele. Vendo-os, cor-
reu da porta da tenda ao seu encontro, prostrou-se em
terra” (Gn 18.1,2). Nesse caso, o que aconteceu foi uma
teofania, enquanto que, com os anjos, tratou-se de
uma materialização.
3.10.2 - A Jacó
“Ficando ele só; e lutava com ele um homem, até ao
romper do dia... Perguntou-lhe, pois: Como te chamas?
Ele respondeu: Jacó. Então, disse: Já não te chamarás
Jacó, e sim Israel, pois como príncipe lutaste com Deus
e com os homens e prevaleceste. Tornou Jacó: Dize,
rogo-te, como te chamas? Respondeu ele: Por que per-
guntas pelo meu nome? E o abençoou ali. Àquele lugar

107. Ou “anjo do semblante”.

158 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a face, e
a minha vida foi salva” (Gn 32.24-30).
3.10.3 - A Josué
“Estando Josué ao pé de Jericó, levantou os olhos e
olhou; eis que se achava em pé diante dele um homem
que trazia na mão uma espada nua; chegou-se Josué a
ele e disse-lhe: És tu dos nossos ou dos nossos adversá-
rios? Respondeu ele: Não; sou príncipe do exército do
SENHOR e acabo de chegar. Então, Josué se prostrou
com o rosto em terra, e o adorou, e disse-lhe: Que diz
meu senhor ao seu servo?” (Js 5.13,14).

3.11 - TEOFANIA HOJE


Deus nos deu a mais completa revelação e manifes-
tação – Jesus Cristo encarnado –, de modo que Cristo
não precisa mais Se manifestar em forma de “O Anjo do
Senhor”, na dispensação da graça.
Os anjos que apareceram no NT, ou mesmo em nos-
sos dias, são sempre criaturas e não Deus sob aquela
forma angélica utilizada por Ele, algumas vezes, no AT.
A manifestação do Filho em forma angélica, como no
AT, ou seja, teofania, não é mais necessária.

3.12 - NOSSA RELAÇÃO COM OS ANJOS


As Escrituras deixam bem claro que a vontade de
Deus é que sejamos conscientes da existência dos anjos
e de seu ministério. Não devemos supor que a doutrina
dos anjos não tem, absolutamente, nada a ver conosco
hoje. Quando compreendemos o valor da doutrina dos

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 159


anjos e a colocamos no devido lugar, a vida dos cristãos
é enriquecida em vários aspectos pela consciência da
existência e ministério dos anjos no mundo hoje.
Quando nos apresentamos perante Deus em adora-
ção, juntamo-nos não somente à grande congregação
de crentes que já morreram e passaram à presença de
Deus nos céus, “aos espíritos dos justos aperfeiçoados”,
mas também à grande multidão de anjos, “incontáveis
hostes de anjos” (Hb 12.22,23).
Além disso, devemos ter consciência de que, ao lon-
go do dia, os anjos nos observam, até mesmo a nossa
obediência ou desobediência a Deus. Mesmo que acre-
ditemos poder cometer pecados secretamente, pode-
mos ter certeza de que talvez anjos estejam testemu-
nhando nossos atos.
Por outro lado, quando nós nos sentimos desanima-
dos e pensamos que nossa obediência a Cristo não é
notada por ninguém, podemos ser consolados ao per-
ceber que anjos testemunham a nossa luta diariamen-
te, constantemente.
Quando de repente nos vemos livres de um perigo
ou angústia, podemos suspeitar que Deus enviou anjos
em nosso socorro (Sl 34.7108). Um anjo fechou a boca
dos leões para Daniel (Dn 6.22); libertou os apóstolos
da prisão (At 5.19-20); libertou Pedro (At 12.7-11), e
alguns deles ministraram a Jesus no deserto (Mt 4.11).
3.12.1 - Anjos Não Podem Trazer Ensinamentos
Doutrinários
A Bíblia nos alerta para o perigo de receber falsas
doutrinas de supostos anjos: “Mas, ainda que nós ou
108. “O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem e os livra.”

160 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho
que vá além do que vos temos pregado, seja anátema”
(Gl 1.8). Paulo fez esse alerta, porque sabia que existira
ou existiria a possibilidade de fraude. Paulo diz ainda
que: “o próprio Satanás se transforma em anjo de luz”
(2Co 11.14). Da mesma maneira, um profeta mentiro-
so que enganou o homem de Deus disse: “Também eu
sou profeta como tu, e um anjo me falou por ordem
do SENHOR, dizendo: Faze-o voltar contigo a tua casa,
para que coma pão e beba água” (1Rs 13.18). Contudo,
o texto bíblico acrescenta no mesmo versículo: “Porém
mentiu-lhe”.
Esses são alguns exemplos de falsas doutrinas ou
orientações transmitidas por anjos. É importante per-
ceber que esses exemplos expõem a clara possibilidade
de sermos tentados109 por agentes satânicos para nos
desviar dos ensinos e mandamentos de Deus: “Porque
assim me ordenou o SENHOR pela sua palavra, dizendo:
Não comerás pão, nem beberás água; e não voltarás
pelo caminho por onde foste” (1Rs 13.9).
Esses alertas são para evitar que qualquer cristão
se deixe enganar, por exemplo, pelos argumentos dos
mórmons, que afirmam que um anjo (Moroni) apare-
ceu a Joseph Smith e lhe revelou os fundamentos do
mormonismo. Tal revelação é contraditória, e é contrá-
ria à Bíblia Sagrada em muitos pontos. Só para citar
alguns, com respeito à Trindade, à doutrina de Cristo, à
doutrina da justificação pela fé e muitas outras doutri-
nas fundamentais do cristianismo.
O encerramento do cânon das Escrituras nos indica
que Deus não fará outra revelação. As Escrituras são a
109. Quando nos falta conhecimento e discernimento das Escrituras.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 161


revelação total, cabal e final de Deus, e qualquer pessoa
que alegue ter recebido uma revelação doutrinária de
anjos deve ser, imediatamente, rejeitada.
3.12.2 - Os Anjos Não Devem Ser Adorados
O “culto aos anjos” (Cl 2.18) era uma das falsas dou-
trinas ensinadas em Colossos. O anjo que apareceu a
João na ilha de Patmos exortou o apóstolo a não adorá-
-lo (Ap 19.10). Tampouco se deve orar aos anjos. Nós
devemos orar somente a Deus, pois só Deus é onipo-
tente e onisciente, capaz de atender a oração. Só Deus
é onipresente e, portanto, capaz ouvir as orações feitas
pelos Seus filhos em todo o mundo e ao mesmo tempo.
Em virtude de Sua onipotência e onisciência, Deus-Pai,
Deus-Filho e Deus-Espírito Santo são dignos de receber
nossas orações e adoração, mas isso não vale para ne-
nhum outro ser. Paulo nos lembra que: “há um só Deus
e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus,
homem” (1Tm 2.5).

162 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:
1. ( ) O AT repetidas vezes alude ao ministério dos
anjos.
2. ( ) A manifestação do Filho, em forma angélica,
como no AT, teofania, ainda é necessária.
3. ( ) Jesus disse que há júbilo no céu - ou seja, entre
os anjos - quando um pecador se arrepende.
4. ( ) Na morte, os crentes são levados pelos anjos a
um lugar de descanso e bênçãos.
5. ( ) Segundo Paulo (1Co 11.10), os anjos não estão
presentes na Igreja.
6. ( ) Não devemos estudar a doutrina dos anjos,
pois é bastante comum cairmos em situações de ange-
lolatria.
II. SUBLINHE A RESPOSTA CORRETA:
1. Teofania é uma palavra grega que significa (glória de
Deus - manifestação de Deus).
2. Os judeus chamavam o Anjo do Senhor de (Mes-
sias - Metatron).
3. Os saduceus diziam não haver anjo, nem ressurrei-
ção nem (céu - espírito).
4. O principal e talvez mais importante ministério dos
anjos é (ministrar aos santos - adorar a Deus).

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 163


LIÇÃO 04 - TEXTO 04

DEMONOLOGIA BÍBLICA

A Bíblia Sagrada fala pouco a respeito de como os


anjos maus passaram a ter o caráter moral que agora
possuem, e menos ainda sobre a sua origem. Entretan-
to, podemos inferir alguma coisa a esse respeito, obser-
vando o que se diz sobre seu caráter moral.
Da mesma forma que os anjos santos, os demônios
também são seres espirituais criados, dotados de dis-
cernimento moral e elevada inteligência, mas desprovi-
dos de corpos físicos.
Há duas passagens, estritamente relacionadas, que
nos informam sobre a queda dos anjos maus. 2Pe 2.4
diz que: “se Deus não poupou anjos quando pecaram,
antes, precipitando-os no inferno110, os entregou a abis-
mos de trevas, reservando-os para juízo”. Judas 6 afir-
ma que: “a anjos, os que não guardaram o seu estado
original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele
tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o
juízo do grande Dia”. Os seres descritos nesses dois ver-
sículos são claramente identificados como anjos que
pecaram e caíram em julgamento. São, portanto, como
os outros anjos, são criaturas.
Antes da queda, sua posição original era de santi-
dade. A natureza de seu pecado não nos é dita com
clareza, mas podemos, com base em inferências de tex-

110. inferno; no original, tártaro.

164 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


tos como 1Tm 3.6111, presumir que foi por soberba e
orgulho. Um bispo, diz o apóstolo Paulo, não deve ser
neófito112 “para não suceder que se ensoberbeça e in-
corra na condenação do diabo”.
A designação mais comum dada a esses seres no gre-
go é “daimounez”, ou, mais comumente, “daimonia”,
que os tradutores da Bíblia inglesa infelizmente traduzi-
ram por “diabos”. Os tradutores da Bíblia em português
observaram corretamente a distinção que o texto faz de
somente um “diaboloz” (diablo, diabo) e muitos “dai-
mon” (demônios).
Então, os demônios são parte das forças espirituais
rebeladas contra Deus, lideradas por Satanás113, são ini-
migos de Deus e dos homens (Mt 12.43-45).
PARA SABER MAIS
O homem, por causa da sua apostasia, caiu sob o
domínio de Satanás e sua salvação consiste em ser
trasladado do reino das trevas para o reino do Filho
amado de Deus (Cl 1.13).
O aluno deve ter em mente que os “daimonia” (de-
mônios), descritos como servos de Satanás, não são
os espíritos dos que partiram dessa vida, como erro-
neamente afirmam alguns.
¾¾ Porque lemos que eram anjos que não guar-
daram seu primeiro estado (Jd 6);
¾¾ À luz de 2Pedro 2.4, lemos que Deus não
poupou os anjos que pecaram;

111. “Não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na con-
denação do diabo.”
112. Neófito quer dizer recém plantado.
113. Quer dizer Adversário.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 165


¾¾ À luz da aplicação que se faz dos termos
“principados e potestades”, apropriados ao mundo
angélico.

4.1 - O CHEFE DOS DEMÔNIOS


“Satanás” é um dos nomes do “chefe” dos demô-
nios. Esse nome é mencionado em Jó 1.6, onde lemos:
“... os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Se-
nhor, veio também Satanás entre eles” (ver também Jó
1.7-2.7). Aqui, ele se apresenta como inimigo do Se-
nhor, que inflige cruéis tentações a Jó. Do mesmo mo-
do, perto do fim da vida de Davi, “Satanás se levantou
contra Israel e incitou a Davi a levantar o censo de Isra-
el” (1Cr 21.1). Zacarias teve uma visão e contemplou “o
sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do
Senhor, e Satanás [que] estava à mão direita dele, para
se lhe opor” (Zc 3.1).
O nome “Satanás” é uma palavra hebraica (sªtªn)
que significa adversário. O NT, da mesma forma, aplica
o nome “Satanás” a esse inimigo malévolo, tomando-o
emprestado do Antigo Testamento. O próprio Senhor
Jesus, na tentação no deserto, com autoridade, disse
a Satanás diretamente: “Retira-te, Satanás” (Mt 4.10),
e também, “Eu via Satanás caindo do céu como um re-
lâmpago” (Lc 10.18).
Outro nome dado pelas Escrituras para o chefe dos
demônios é diabo, no grego, “diaboloz”114. O próprio
diabo, antes da queda, pertencia à classe dos queru-

114. O nome “diablo” (gr); diabo quer dizer acusador.

166 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


bins (Ez 28.14115); ele também foi criado em relativa
perfeição (Ex 28.15). A inferência do texto de Ezequiel
28.13116 é usada por alguns expositores bíblicos para
afirmar que, antes da terra caótica, ele devia ter sido o
regente do Éden. Isaías 14.12-15 nos registra o pecado
do “filho da alva”, que é, basicamente, o pecado que
derrubou nossos primeiros pais: “querer ser semelhante
ao Altíssimo”.
Em Ap 12.7-10, vemos se abrir um parêntese na nar-
rativa profética e, então, passa-se a relatar fatos de um
passado remoto. Na rebelião liderada por Satanás, uma
terça parte dos anjos o seguiram (Ap 12.4).
Algum tempo depois, no Éden, Satanás induziu o
primeiro casal humano a esse mesmo pecado, conta-
minando toda a raça humana, dizendo: “e, como Deus,
sereis”. (Gn 3.5)
O “Filho da Alva” tornou-se Satanás ou o adversário,
o diabo ou o acusador. Ele é a causa da imoralidade,
da violência e sobretudo da idolatria, de maneira que
adorar ídolos é, sem dúvida, adoração a demônios (1Co
10.20). A Bíblia, e especificamente o NT, afirma que
o mundo está sob o controle de Satanás (2Co 4.4; Ef
6.10-12).

4.2 - OS NOMES DE SATANÁS NAS ESCRITURAS

a) Tentador - Mt 4.3; 1Ts 3.5;

115. Ez 28.14: “Tu eras querubim da guarda ungido, e te estabeleci; permanecias


no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas”.
116. Ez 28.13: “Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas
te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o
carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os engastes e os ornamentos; no
dia em que foste criado, foram eles preparados”.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 167


b) Belzebu - Mt 12.24,27; Mc 3.22; Lc 11.15-19;
c) Inimigo - Mt 12.39;
d) Enganador - Ap 12.9;
e) Maligno - Mt 13.19,38; 1Jo 4.18,19;
f) Belial - 2Co 6.15 (ARC);
g) Adversário - 1Pe 5.8;
h) Grande dragão - Ap 12.3;
i) Pai da mentira - Jo 8.44;
j) Homicida - Jo 8.44;
k) Pecador - 1Jo 3.8;
l) Príncipe da potestade do ar - Ef 2.2;
m) Príncipe deste mundo - Jo 14.30;
n) Antiga serpente - Ap 12.9;
o) Deus deste século - 2Co 4.4.
Esses títulos descrevem o nosso inimigo como o gran-
de opositor de Deus e do homem. Opositor de todo o
bem e propulsor de todo o mal. Satanás está empenha-
do nessa oposição, e faz isso, especialmente, tentando
os homens. Vemos isso claro na tentação de Jesus (Mt
4; Lc 4; Mc 1.12,13), na parábola do trigo e do joio (Mt
13. 24-30), no pecado de Judas (Lc 22.23). Leia também
At 5.3; 1Co 7.5; 2Co 2.11; Ef 6.11; 2Tm 2.26.
Um dos meios mais usados pelo diabo é o engano.
Paulo adverte que Satanás se disfarça em anjo de luz, e
que seus ministros se disfarçam em ministros da justiça
(2Co 11.14,15). O seu uso de engano é também regis-

168 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


trado em Apocalipse 12.9; 20.8,10. Vejamos o que diz
2Co 4.4: “...o deus deste século cegou o entendimento
dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do
evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de
Deus”.
A ideologia de Satanás é baseada na palavra “SE”,
porque sempre procura pôr em dúvida a nossa filiação.
Ele fez assim com Jesus: “se tu és Filho de Deus”. Atra-
vés dos tempos, Satanás tentou desacreditar a Deus,
fazendo-O mentiroso aos olhos do homem. O instru-
mento permanente de satanás é o “SE”; porém, Deus
nos garante que não existe “SE”, mas “É”. Através do
sacrifício da cruz, podemos ter completa vitória.

4.3 - ATIVIDADES DOS DEMÔNIOS


Satanás pecou antes que qualquer ser humano o fi-
zesse, como se depreende do fato de ele, na forma de
uma serpente, ter tentado Eva (Gn 3.1-6; 2Co 11.3). O
NT nos informa que Satanás foi “homicida desde o prin-
cípio” (1Jo 3.8).
Nesses dois textos, a expressão “desde o princípio”
não implica que Satanás é mau desde o início da sua
existência, desde o princípio da sua vida, mas desde a
fase inicial da história do mundo (Gênesis 3 e antes). O
diabo se caracteriza por ter dado origem ao pecado e
por tentar os outros ao pecado.
Os demônios, como súditos de Satanás, realizam seu
trabalho maligno no mundo, na natureza e mentes dos
homens. Entendemos, entretanto, que os demônios se
engajam em toda a forma de tentação e engano por
eles empregados. Os demônios infligem doenças:

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 169


a) Mudez - Mc 9.17;
b) Mudez e surdez - Mc 9.25;
c) Cegueira e surdez - Mt 12.22;
d) Convulsões - Mc 1.26, 9.20; Lc 9.39;
e) Paralisia ou aleijamento - At 8.7.
PARA SABER MAIS
Toda doença é demoníaca?
Os autores bíblicos não atribuíam todas as doenças
à possessão demoníaca. Lucas relata que Jesus fazia a
distinção entre dois tipos de cura: “...hoje e amanhã,
expulso demônios e curo enfermos” (Lc 13.32).
A própria epilepsia não foi confundida com posses-
são demoníaca. Lemos em Mateus 17.15-18 que Je-
sus expulsou um demônio de um epilético, mas, em
Mateus 4.42, os epiléticos, assim como os paralíticos,
são distinguidos dos endemoninhados.
Em numerosos casos de curas, não se faz menção
de demônios.
Em Mateus, não se faz menção de expulsão de de-
mônio, por exemplo, no caso da cura do criado do
centurião (Mt 8.5-13) ou da mulher hemorrágica (Mt
9.19,20).

170 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO OU “F” PARA
FALSO:

1. ( ) O diabo se caracteriza por ter dado origem ao


pecado e por tentar os outros ao pecado.
2. ( ) Os autores bíblicos atribuíam todas as doenças
à possessão demoníaca.
3. ( ) O diabo, antes da queda, pertencia à classe dos
querubins.
4. ( ) Isaías registra o pecado do “filho da alva”: que-
rer ser igual a Deus.
5. ( ) Na Bíblia, a epilepsia foi confundida com pos-
sessão demoníaca.
6. ( ) Um dos meios mais usados pelo diabo é o en-
gano e a dúvida.
7. ( ) Na rebelião liderada por Satanás, uma terça
parte dos anjos o seguiram.
8. ( ) Outro nome dado pelas Escrituras para o chefe
dos demônios é “diabo”.
9. ( ) O nome “Satanás” é uma palavra hebraica
(sªtªn) que significa adversário.
10. ( ) Antes da queda, a posição original dos demô-
nios era de santidade.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 171


LIÇÃO 04 - TEXTO 05

BATALHA ESPIRITUAL

O cristão vive uma batalha contínua contra as forças


malignas (Ef 6.12). Os demônios podem habitar o cor-
po dos incrédulos e o fazem frequentemente (Mt 5.15;
Lc 4.41; 8.27-28; At 16.18). Os demônios podem causar
doenças físicas (MT 9.32,33; 12.22; 17.14-18; Mc 9.17-
27; Lc 14.15). Porém, é necessário frisar que nem toda
a doença e enfermidade procede dos espíritos demoní-
acos. Algumas enfermidades são para a glória de Deus
(Jo 11.4).
Os demônios opõem-se, especificamente, ao povo de
Deus (Ef 6.12). Entretanto, eles temem e reconhecem a
Cristo, a quem estão sujeitos (Mc 1.25; 3.11,12; 5.1-15;
9.17,18; Lc 11.14). O exército demoníaco de Satanás
emprega estratégias sutis, engano e desencorajamento
de muitas formas (Ef 6.11).
A verdadeira batalha espiritual é opor-se a toda es-
ta investida de Satanás, considerando o adversário co-
mo um inimigo vencido e tomando todas as armas que
Deus, em Sua Palavra, disponibiliza para conquistarmos
essa vitória (Ef 6.10-18).
Jesus, em Seus milagres, rechaçou o poder dos de-
mônios (Mc 1.25,26,34,39; 3.10,11; 5.1-20; 9.17-29; Lc
4.24; 5.12,13). Um dos grandes propósitos do Mestre
Jesus foi vir à terra derrotar o adversário e pôr em liber-
dade os seus escravos. “Para isto se manifestou o Filho

172 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


de Deus: para destruir as obras do diabo” (1Jo 3.8; veja
também Mt 12.29; Mc 1.27; Lc 4.18).
Jesus derrotou a Satanás, tanto expulsando demô-
nios como, de modo pleno, através de Sua morte e res-
surreição (Jo 12.31; 16.17; Cl 2.15; Hb 2.14).

5.1 - A VERDADEIRA BATALHA ESPIRITUAL CONTRA


SATANÁS ENVOLVE TRÊS ASPECTOS BÁSICOS

a) Declarar guerra contra Satanás segundo o pro-


pósito de Deus - Lc 4.14-19;
b) Vencer Satanás117 pela oração e pela pregação
da Palavra de Deus, destrindo suas armas de engano e
tentação - Lc 11.20-22; At 26.18;
c) Apoderar-se dos seus bens, isto é, libertar os
cativos do poder de Satanás, entregando-os a Deus para
perdão e santificação em Cristo - Lc 11.22; At 16.28.

5.2 - QUANTO A SATANÁS E OS DEMÔNIOS É CON-


VENIENTE SALIENTAR QUE

5.2.1 - São Limitados


Apesar de terem poder e liberdade
de movimento, os demônios são limi-
tados e, usando a frase de Calvino,
“arrastam suas cadeias por onde quer
que andem”; jamais poderão sobre-
pujar a Deus. A Bíblia, na história de

117. em qualquer lugar onde ele se encontre.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 173


Jó, ensina que Satanás podia fazer somente o que Deus
lhe permitia e nada mais (Jó 1.12; 2.6). Os demônios
são mantidos em “algemas eternas” (Jd 6), e os cristãos
podem muito bem resistir-lhes por intermédio da auto-
ridade que Cristo nos legou (Tg 4.7).
5.2.2 - Satanás é o Autor do Pecado e do Mal
Satanás foi o primeiro pecador. O NT também diz
que Satanás “foi homicida desde o princípio” e é “men-
tiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). Também afirma que
“o Diabo vive pecando desde o princípio” (1Jo 3.8). O
Diabo, como vimos, caracteriza-se por ter dado origem
ao pecado e por tentar os outros ao pecado.
5.2.3 - Nem Todo o Mal e Pecado Vêm de Sata-
nás
Quando procuramos estudar a ênfase das epístolas
do NT, entendemos que se dá bem pouco espaço à dis-
cussão da atividade demoníaca na vida dos crentes, ou
aos métodos de resistir e fazer frente a essa atividade. A
ênfase está em exortar os crentes a não pecar, levando
uma vida de santidade. Por exemplo, em 1 Coríntios,
diante do problema das “divisões”, Paulo não diz à igre-
ja que repreenda o espírito da divisão, mas aconselha
os crentes de Corinto simplesmente a falarem “a mesma
coisa” e a mostrarem-se “unidos, na mesma disposição
mental e no mesmo parecer” (1Co 1.10).
5.2.4 - Os Demônios só Podem Agir Sob o Con-
trole e a Permissão de Deus
Jó 1.12: “E disse o SENHOR a Satanás: Eis que tudo
quanto tem [está] na tua mão; somente contra ele não

174 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


estendas a tua mão. E Satanás saiu da presença do SE-
NHOR”. Como dizia o reformador Martinho Lutero, “até
o diabo é diabo de Deus”, isto é, um inimigo derrotado
(Cl 2.15), não pode se determinar, Deus sempre está no
controle. O poder limitado de Satanás só lhe é permiti-
do para o progresso da glória de Deus, enquanto Deus
dá vitória ao Seu povo que luta com ele.
5.2.5 - Os Demônios Não Podem Interferir na Li-
berdade e Responsabilidade do Homem
Não obstante a isso, lemos que os homens são leva-
dos cativos e lemos também que os espíritos imundos
operam no coração dos incrédulos (2Co 4.4118). Porém,
a Escritura ensina que “cada um é tentado pela sua pró-
pria cobiça, quando esta o atrai e seduz” (Tg 1.14).
Os crentes são advertidos contra as ardilosas maqui-
nações do diabo e são chamados a resistir, não por sua
própria força, mas pelo poder do Senhor, revestidos de
toda a armadura de Deus.
Ainda que os demônios possam oprimir e causar per-
turbações de diferentes espécies nos regenerados, nos
nascidos de novo, em quem habita o Espírito Santo,
os demônios não podem impedir o propósito final de
Deus, que é de salvar e guardar os redimidos, do mes-
mo modo que os demônios não podem escapar de seu
próprio tormento eterno.

118. “nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para
que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a ima-
gem de Deus”.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 175


5.2.6 - Jesus Deu Aos Crentes a Autoridade de
Expulsar os Demônios
Ao enviar os doze discípulos para pregar o reino de
Deus, Jesus “deu-lhes poder e autoridade sobre todos
os demônios” (Lc 9.1). Tendo pregado em cidades e
vilarejos, os setenta voltaram jubilosos, dizendo: “Se-
nhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu
nome!” (Lc 10.17). Jesus então lhes falou: “Eis aí vos
dei autoridade [...] sobre todo o poder do inimigo” (Lc
10.19). Filipe, o evangelista, desceu até Samaria para
pregar o evangelho de Cristo e, como resultado de sua
mensagem, “Os espíritos maus, gritando, saíam de mui-
tas pessoas, e muitos coxos e paralíticos eram curados”
(At 8.7); e Paulo usou a sua autoridade espiritual sobre
os demônios para expulsar um espírito de adivinhação
de uma jovem: “Em nome de Jesus Cristo, eu te mando:
retira-te dela” (At 16.18).
5.2.7 -Devemos Crer na Vitória do Evangelho So-
bre as Obras do Diabo
Quando Jesus começou a pregar a mensagem do
Evangelho na Galileia, “também de muitos saíam demô-
nios” (Lc 4.41). Na viagem missionária de Filipe a Sama-
ria, como resultado da sua pregação do evangelho, “os
espíritos imundos de muitos [...] saíam gritando em alta
voz” (At 8.7). Jesus comissionou o apóstolo Paulo para
pregar entre os gentios para convertê-los “das trevas
para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim
de que recebam eles remissão de pecados e herança en-
tre os que são santificados pela fé em mim” (At 26.18).
O grandioso ministério de proclamação do evangelho

176 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


de Paulo não consistiu “em linguagem persuasiva de
sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de po-
der, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria
humana, e sim no poder de Deus” (1Co 2.4,5; cf. 2Co
10.3,4).
Se, realmente, acreditamos no testemunho bíblico da
existência e da atividade dos demônios e se cremos que
“para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir
as obras do Diabo” (1Jo 3.8), então devemos esperar
que, mesmo hoje, quando se proclama o Evangelho aos
incrédulos e quando se ora pelos crentes que talvez se
achem ainda despercebidos dessa dimensão de conflito
espiritual, haja um triunfo verdadeiro e, muitas vezes,
imediatamente, reconhecível sobre o poder do inimigo.
Devemos esperar que isso aconteça, considerando par-
te normal da obra de Cristo na edificação do Seu reino
e nos alegrando com a vitória que Ele nisso alcança.

5.3 - POSSESSÃO DEMONÍACA


Possessão demoníaca é uma expressão incorreta que
consta em algumas traduções da Bíblia, mas que, na
verdade, não reflete bem o texto grego. O NT grego
fala de gente que “tem demônio” ou está “endemoni-
nhado” (Mt 11.18; Lc 7.33; 8.27; Jo 7.20; 8.48,49,52;
10.20), ou de gente que sofre de influência demoníaca,
no grego, “daimonizomai”. Porém, jamais usa lingua-
gem que sugira realmente que um demônio “possui”
alguém. Às vezes, encontramos expressões como “es-
píritos imundos” (At 8.7), ou “espíritos malignos” (At
19.12).

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 177


As manifestações das chamadas possessões demoní-
acas são variadas. Em algumas, somente as almas eram
sujeitas à influência diabólica, como no caso da jovem
adivinhadora de Atos 16. Em alguns casos, magos e
profetas falsos, é claro, são alvos do mesmo tipo de
possessão.

5.4 - COMO RECONHECER INFLUÊNCIAS DEMONÍ-


ACAS
Em casos graves de endemoninhamento, como nas
ocorrências narradas nos evangelhos, a pessoa afetada
exibe atitudes bizarras e muitas vezes violentas, espe-
cialmente, diante da pregação do Evangelho. Quando
Jesus entrou na sinagoga em Cafarnaum, “não tardou
que aparecesse na sinagoga um homem possesso de
espírito imundo, o qual bradou: Que temos nós conti-
go, Jesus Nazareno? Vieste para destruir-nos? Bem sei
quem és: o Santo de Deus!” (Mc 1.23,24).

5.5 - CRENTES PODEM FICAR ENDEMONINHADOS?


Circula nos meios evangélicos, atualmente, a falsa
doutrina de que crentes, nascidos de novo, cheios do
Espírito Santo e com certeza da sua salvação, podem
ficar endemoninhados. Os defensores dessa doutrina
afirmam que os crentes não são super-homens, e, por-
tanto, estão sujeitos a essa situação.
Entretanto, afirmamos, com base na Bíblia Sagrada,
que, na pessoa bendita do Filho de Deus, há libertação
total; caso contrário, as Escrituras Sagradas não pode-
riam reivindicar total vitória para a cruz.

178 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


João 16.11 diz que: “o príncipe deste mundo já es-
tá julgado”. Da mesma maneira vitoriosa, expressa-se
Paulo, em Colossenses 2.15, onde diz que Jesus: “des-
pojando os principados e as potestades, publicamente
os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz”. Diante
dessas e outras afirmações da vitória do Evangelho, es-
sa doutrina da possessão demoníaca em crentes deve
ser rejeitada.

5.6 - POSSESSÃO MALIGNA EM MEMBROS DE


IGREJAS
Não temos qualquer dúvida de que crentes nomi-
nais, isso é, não nascidos de novo, podem sofrer a in-
fluência e até ser possuídos por demônios. No entanto,
é necessário que façamos distinção entre aparência e
essência. As Escrituras Sagradas inequivocamente afir-
mam que nenhum verdadeiro crente, em quem habita
o Espírito Santo, pode ficar endemoninhado. No entan-
to, os demônios podem oprimir, influenciar emoções e
pensamentos e até mesmo ações de crentes que não
obedecem ao Espírito Santo (Mt 16.23; 2Co 11.3,14).
Jesus deu autoridade a todo o cristão nascido de no-
vo, e poder sobre Satanás e suas hostes (Lc 4.14-19;
10.19; Mc 16.17; 2Co 10.3-6). Não cremos na doutrina
da possessão demoníaca de crentes “nascidos de novo”
pelo seguinte:
5.6.1 - O Verdadeiro Crente é o Santuário Do Es-
pírito Santo
Em 1Co 6.19, encontramos: “Acaso, não sabeis que o
vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 179


vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de
vós mesmos?”. Paulo nos diz que não há qualquer har-
monia entre Cristo e o maligno (2Co 6.15119). O Espírito
Santo e o espírito imundo não podem habitar o mesmo
corpo.
5.6.2 - O Espírito Santo é Zeloso Pelo Seu Santu-
ário
Em Tiago 4.5, lemos: “Ou supondes que em vão afir-
ma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espíri-
to, que ele fez habitar em nós?”. Diante de tal santidade
e zelo, é possível admitir que o Espírito Santo permita
a entrada de espíritos malignos em Seu santuário? Ele
não permite.
5.6.3 - O Crente é Propriedade de Deus
Efésios 1.13 diz: “...em quem também vós, depois
que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vos-
sa salvação, tendo nele também crido, fostes selados
com o Santo Espírito da promessa”. Somos propriedade
de Deus, e o Espírito Santo é o penhor da nossa ressur-
reição futura, a garantia de que não estamos órfãos (Jo
14.18) e de que seremos transformados na ressurreição
(1Co 15.52).
Atentemos para o que diz 1Pe 2.9: “Vós, porém, sois
raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de pro-
priedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as
virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz”. Então, a Bíblia diz que somos proprie-
119. “Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o
incrédulo?”

180 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


dade exclusiva de Deus, e essa propriedade não será
loteada ou vendida ao adversário.
5.6.4 - Jesus é o Valente Que Tomou a Proprie-
dade
Jesus disse em Lc 11.21: “Quando o valente, bem
armado, guarda a sua própria casa, ficam em seguran-
ça todos os seus bens”. Jesus Cristo veio a este mundo
para “destruir as obras do diabo” (1Jo 3.8). O Senhor
Jesus é o dono absoluto de Sua casa (1Pe 2.5), e de Seu
tabernáculo (2Co 5.1), que são os nossos corpos.
5.6.5 - O Espírito Santo Intercede Pelo Crente em
Sua Fraqueza
O apostolo Paulo descreve vividamente o
ministério intercessório do Espírito Santo: “Também
o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa
fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas
o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com
gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações
sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a
vontade de Deus é que ele intercede pelos santos” (Rm
8.26,27). Vejamos também: “Porque qual dos homens
sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito,
que nele está? Assim, também as coisas de Deus,
ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus” (1Co
2.11).

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 181


5.6.6 - O Imutável Amor de Deus Garante a Se-
gurança
Paulo descreve o incomparável amor de Deus: “Em
todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores,
por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem
certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos,
nem os principados, nem as coisas do presente, nem do
porvir, nem os poderes” (Rm 8.38).
Esse amor nos concede segurança, pois esse é o
amor de Jesus. O amor de Deus é sublime e mais forte
que a morte (Ct 8.6), e a Sua fidelidade está além da
fidelidade do crente. O apóstolo Paulo em 2Tm 2.13
diz-nos que: “se somos infiéis, ele permanece fiel, pois
de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo”.

182 CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA


I. MARQUE “V” PARA VERDADEIRO E “F” PARA FAL-
SO:
1. ( ) As manifestações das chamadas possessões de-
moníacas são variadas.
2. ( ) É possível que crentes nascidos de novo fiquem
endemoninhados.
3. ( ) Satanás foi o primeiro pecador.
4. ( ) O Espírito Santo e o espírito imundo não po-
dem habitar o mesmo corpo.
5. ( ) A doutrina da possessão demoníaca em crentes
deve ser aceita.
6. ( ) Apesar de terem poder e liberdade de movi-
mento, os demônios são limitados.
7. ( ) Os demônios podem interferir na liberdade e
responsabilidade do homem.
8. ( ) Os demônios só podem agir sob o controle e a
permissão de Deus.
9. ( ) Satanás não é o autor do pecado e do mal.
10. ( ) Possessão demoníaca é uma expressão incorre-
ta que consta em algumas traduções da Bíblia, mas que
não reflete bem o texto grego.

CURSO BÁSICO EM TEOLOGIA 183


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Hebreus - Apocalipse

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