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Sumário
Agradecimentos
Prefácio
Introdução
Capítulo 1
A Teologia do Antigo Testamento
Capítulo 2
O Criador
Capítulo 3
A Criação
Capítulo 4
O Pecado
Capítulo 5
A Punição
Capítulo 6
A Salvação
Capítulo 7
A Comunhão
Capítulo 8
Os Decretos
Conclusão
Bibliografia Consultada
Bibliografia de Consulta Sugerida
Agradecimentos
Agradeço a Deus, meu redentor, pelo privilégio
imerecido de servi-lo.
Aos meus mestres por excelência, Pr. Marcos
Granconato, um irmão, e Pr. Carlos Osvaldo Cardoso
Pinto, um pai.
Ao meu amigo Manoel Amorim, que lê tudo o que
eu escrevo fazendo preciosas sugestões e
encorajando... sempre.
Ao Pr. Níckolas Ramos Borges, cujo trabalho de diagramação e
arte ajudam de modo precioso a apresentação de qualquer bom
conteúdo teológico.
À minha igreja, pois cada um dos irmãos e amigos
com quem convivo faz de mim um crente e um pastor
melhor.
À minha família, especialmente minha esposa
Caroline e minha filha Gabriela, presentes do Deus
amoroso e soberano.
Prefácio
A TEOLOGIA
O ANTIGO TESTAMENTO
O Antigo Testamento oferece um material tão vasto
que é difícil explicá-lo ou classificá-lo em poucas
palavras. Prova disso é a diversidade de tentativas de
fazê-lo. Gerhard Hasel, falando sobre o centro
teológico do Antigo Testamento, alista as propostas de
diversos estudiosos, resultados dos seus esforços
acadêmicos: As “alianças” (Eichrodt, Wright e outros),
a “eleição” (Wildberger), a “comunhão” (Vriezen), as
“promessas” (Kaiser), o “reino de Deus” (Klein e
Schultz), o “governo de Deus” (Seebass), a “santidade
de Deus” (Hänel e Sellin), a “experiência de Deus”
(Baab) e o “senhorio de Deus” (Köhler).[6] De certo
modo, todos oferecem temas verdadeiros dentro do
Antigo Testamento, mas que, pela própria
demonstração da pluralidade de propostas, são
insuficientes para serem classificadas como “centro
teológico do Antigo Testamento”.
Nesse sentido, prefiro o esforço de Carlos Osvaldo
Cardoso Pinto de oferecer dois centros teológicos que
tornam tal enfoque mais abrangente e justo com a
mensagem do Antigo Testamento: (1) A “recuperação
da soberania mediada” e (2) o “bem-estar da criatura
sob a autoridade e para a glória de Deus”.[7]
Essa variedade de temas contidos no Antigo
Testamento faz com que haja diversos métodos para o
estudo da sua teologia.[8] Em um trabalho sobre
“fundamentos” teológicos, uma divisão temática se
mostra mais tangível ao leitor que pretende introduzir
tal estudo. Essa divisão também fornece temas
marcantes e relevantes não somente à compreensão da
Bíblia, mas à própria vida cristã. Entretanto, tais temas
devem vir das Escrituras e não ser colocados nela. Para
isso, a busca dos temas principais do Antigo
Testamento deve levar o estudante ao início da
revelação.
A maioria dos livros tem um capítulo inicial
chamado “introdução”. Ele costuma apresentar um
pequeno esboço da ideia do autor quanto ao assunto e
ao propósito do livro, além dos benefícios para o leitor.
Daí para frente, cada capítulo desenvolve e aprofunda
aquilo que foi apenas pincelado na introdução. Isso não
cumpre apenas formas de padrões literários. Cumpre a
forma do raciocínio humano e da comunicação. É
desse modo que as pessoas conversam. É dessa forma
que se expressam. E é desse jeito que uns
compreendem o que os outros querem transmitir.
Como revelação de Deus “aos homens”, as Escrituras
foram compostas seguindo esse formato. Deus
introduziu o assunto de maneira geral e foi
aprofundando cada um dos aspectos que direcionam a
revelação. Esse método de Deus se revelar aos poucos,
construindo uma mentalidade propícia para entender as
verdades, é denominado revelação progressiva. Isso
quer dizer que Deus assentou as bases do
conhecimento que planejou transmitir e foi
desenvolvendo-o à medida que moveu os escritores
bíblicos. Entretanto, as bases da revelação foram dadas
desde o início. E isso é feito de maneira peculiar no
Antigo Testamento. O fato é que, apesar de no Novo
Testamento haver a descontinuidade dos aspectos
legais do Antigo Testamento, os princípios teológicos
fundamentais permanecem.[9]
Assim, como em um edifício cujo alicerce,
independente da altura do prédio, tem o mesmo
formato da edificação, o início da revelação de Deus
contém, de forma embrionária, toda a teologia do
Antigo Testamento. Desse modo, o Pentateuco age
como uma introdução para a mensagem de todo o
Antigo Testamento – e também do Novo Testamento.
Contudo, enquanto a mensagem do Novo Testamento é
dada em um momento histórico com um contexto
específico, a mensagem do Antigo é dada, em grande
parte, por meio da história.
Os primeiros registros das Escrituras foram grafados
pela pena de Moisés, depois da retirada dos israelitas
do Egito, livrando-os do jugo da escravidão. A família
de Jacó já habitava o Egito havia 430 anos (Ex 12.40).
Boa parte desse período foi vivida debaixo das chibatas
egípcias e do trabalho forçado, enquanto uma pequena
família se tornava um grande povo (Ex 1.7,12,20).
Apesar do crescimento, ficavam cada vez mais
distantes a história dos patriarcas e os ditos de Deus a
eles. Em um contexto de alienação por causa da
escravidão, Moisés é chamado por Deus para cumprir
sua promessa a Abraão de libertar seus descendentes de
um jugo previamente anunciado (Gn 15.13,14). Moisés
cumpre sua tarefa enquanto Deus mostra aos israelitas,
aos egípcios e ao mundo quem ele é e que poder ele
tem. Para isso, usa as pragas e a proteção do povo de
Israel ao fazê-los passar pelo mar que para eles abriu.
Há aqui uma transição marcante. Deus não apenas
tornou os israelitas de escravos em libertos, mas os
transformou de um povo em uma nação. Uma enorme
família, dividida em doze tribos, deixa o Egito.
Entretanto, é uma nação que será instalada em Canaã.
Para tal transição, a revelação de Deus por meio de
Moisés no monte Sinai, a aliança feita entre ele e o
povo de Israel e o código legal dado para que o povo o
cumprisse em submissão e adoração ao Senhor agem
de modo marcante e irreversível.
Para transformar um povo em uma nação é
necessário responder a muitas perguntas e preencher
muitas brechas. Uma gente que não sabe de onde veio
é uma gente que também não sabe para onde vai. Não
era preciso que os israelitas conhecessem um Deus
novo para servir. Era necessário conhecerem o Deus
dos seus pais, o Deus que seus patriarcas serviram, o
Deus que os chamou. Por isso, no ato de registrar a lei
recém-dada por Deus no Sinai, no primeiro ano após a
saída do Egito, Moisés também achou necessário dar
ao povo as informações sobre sua própria origem e
interpretar os eventos do passado, do presente e do
futuro à luz da revelação do caráter e da vontade de
Deus.[10]
Gênesis se presta exatamente a isso, abrindo a série
de livros escritos por Moisés. Gênesis, que, em grego,
significa “fonte” ou “origem”, concorda com o sentido
do nome hebraico dado ao livro, cujo significado é “no
princípio”.
O propósito do primeiro livro do Pentateuco é fornecer um breve sumário da história da
revelação divina, desde o princípio até que os israelitas foram levados para o Egito e estavam
prontos para formarem uma nação teocrática.
[11]
Então, lhe disse o Senhor: Por que andas irado, e por que descaiu o
teu semblante? Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se,
todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será
contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo (Gn 4.6,7).
Então, Josué disse a todo o povo: Assim diz o Senhor, Deus de Israel:
antigamente, vossos pais, Tera, pai de Abraão e de Naor, habitaram
dalém do Eufrates e serviram a outros deuses (Js 24.2 – destaque meu).
_____________
O Criador
1. Eterno
2. Ilimitado e Infinito
3. Santo
Todos os atributos de Deus são perfeitos e demonstram que ele está acima
do homem. Entretanto, alguns desses atributos perfeitos se tornam
conhecidos no relacionamento do Senhor com a humanidade, principalmente
com seus servos.
1. Pessoal
O terceiro traço demonstrativo do fato de Deus não ser apenas uma força
ou um conceito é sua vontade. Tal vontade é compatível com sua perfeição e
santidade. Por isso, Davi diz ter como objetivo “fazer a tua vontade, ó Deus meu” (Sl
40.8). Eis a razão pela qual ele ora: “Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o
meu Deus
” (Sl 143.10a). Jotão, rei de Judá, a quem a Bíblia qualifica como um
bom rei que “fez o que era reto perante o Senhor” (2Cr 27.2), explica que a
razão para tanto foi “porque dirigia os seus caminhos segundo a vontade do Senhor, seu Deus” (2Cr 27.6).
A vontade do Senhor foi conhecida até mesmo fora de Israel, como se vê
no decreto de Artaxerxes, rei persa, a Esdras, determinando seu retorno a
Jerusalém para o restabelecimento do culto ao Senhor, especificando ao
sacerdote como agir “segundo a vontade do vosso Deus” (Ed 7.18). Além
disso, a vontade de Deus não é cumprida apenas pelos homens que lhe
servem, mas também pelos anjos, “ministros seus, que fazeis a sua vontade”
(Sl 103.21).
2. Soberano
Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado (Jó 42.2 – destaque meu).
Desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo:
o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade (Is 46.10 – destaque meu).
Assim, soberania não é apenas ter poder para fazer o que quiser, mas ter tal
poder junto com planos e propósitos a serem cumpridos. Não é uma queda de
braço. É o comando pleno de um projeto previamente traçado por Deus, o
qual ele não tem dificuldade de executar, nem encontra impedimentos ou
adversários que o obriguem a capitular ou mudar de rumo. O controle
soberano de Deus, contudo, não pode ser nomeado de “fatalismo”:
O quadro apresentado pela Bíblia não é um quadro fatalista, porquanto o fatalismo deixa a sorte do mundo nas mãos
de uma força impessoal. A Bíblia, porém, deixa o destino do mundo nas mãos de Deus, o Pai, o qual é todo-reto, todo-
sábio e todo-misericordioso.
[45]
rumos dos acontecimentos e não há nação ou líderes políticos que consigam impor a Deus ou à história os seus próprios planos.
O Senhor frustra os desígnios das nações e anula os intentos dos povos. O conselho do Senhor dura para sempre; os
fazes?” (Dn 4.35 – destaque meu). Sua conclusão final é que Deus “pode humilhar aos que andam na soberba” (Dn 4.37).
[49]
O próprio desfecho da obra do “servo do Senhor” prometido no livro do
profeta Isaías se dá segundo o propósito soberano do Senhor. Isaías 53 prevê
a morte vicária do “renovo” (v.2), sobre quem “o Senhor fez cair [...] a iniquidade de nós todos”
(v.
6). Seria um tratamento muito severo em quem “dolo algum se achou em
sua boca” (v.9). Apesar disso, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o
enfermar” ao dar “a sua alma como oferta pelo pecado” (v.10). O fato de
Isaías dizer que isso foi do “agrado” de Deus não significa que ele teve prazer
nisso, mas que “determinou” assim fazer, demonstrando ser sua soberana
vontade a responsável pelos desfechos históricos dos quais esse talvez seja o
principal.[50]
Por fim, o controle soberano do Senhor se estende até mesmo aos
recônditos onde as pessoas julgam ter o controle máximo, o próprio “coração
dos homens”.
Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o seu querer, o inclina (Pv 21.1).
3. Amoroso
Ele fez distinção entre o Deus criador do Antigo Testamento, o qual deu a lei do Antigo Testamento e a quem
Essa confusão ocorre em função do rigor com que Deus tratou o pecado de
Israel e das nações. Contudo, em grande contraste com a visão equivocada de
Marcião, umas das frases do Novo Testamento sobre o amor mais conhecidas
que existem, é uma citação literal de um texto contido em Levítico, na forma
de uma lei vinda de Deus:
Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou
Deus escolhe porque ama e, para ele, amar, em muitos casos, equivale a escolher (cf. Ml 1.2). Primeiro de tudo, isso
fica claro no fato de que o Senhor, por amar os patriarcas ancestrais de Israel e por ter escolhido os descendentes deles,
foi que libertou a nação do Egito (Dt 4.37; cf. 7.8; 10.15). Fica claro que, aqui, o amor de Deus é eletivo, não emotivo,
embora, sem dúvida, possa haver um elemento emotivo por trás dele.
[55]
Se, por um lado, a escolha de Deus é o veículo do seu amor, por outro, a
compaixão divina se faz sentir no relacionamento com o homem. Israel
provou dessa compaixão, segundo diz Isaías: “O Anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor e
pela sua compaixão, ele os remiu, os tomou e os conduziu todos os dias da antiguidade”
(Is 63.9).
O amor de Deus se faz ver, também, por meio da sua paciência, mesmo
quando o povo merece o oposto: “Mas tu, Senhor, és Deus compassivo e cheio de graça, paciente e grande
em misericórdia e em verdade”
(Sl 86.15). O amor divino vai além e o faz perdoador de
pecados, como promete fazer a Israel na restauração da nação: “Assim diz o
Senhor Deus: no dia em que eu vos purificar de todas as vossas iniquidades, então, farei que sejam habitadas as cidades e sejam
4. Fiel
Porque tu és povo santo ao Senhor, teu Deus; o Senhor, teu Deus, te escolheu, para que lhe fosses o seu povo próprio,
de todos os povos que há sobre a terra. Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos
do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o
juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de
Faraó, rei do Egito. Saberás, pois, que o Senhor, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até
mil gerações aos que o amam e cumprem os seus mandamentos” (Dt 7.6-9 – destaque meu).
terra, e chamei dos seus cantos mais remotos, e a quem disse: tu és o meu servo, eu te escolhi e não te rejeitei, não temas, porque
eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus” (Is 41.8-10
). O próprio profeta Isaías associa mais uma vez a
fidelidade de Deus à sua escolha da nação de Israel, registrando as seguintes palavras do Senhor: “Os reis o verão, e os príncipes
se levantarão; e eles te adorarão por amor do Senhor, que é fiel, e do Santo de Israel, que te escolheu” (Is 49.7b – destaque meu).
Se a fidelidade de Deus a Abraão, seu servo, pode ser vista tantas gerações
à frente, Jacó, neto de Abraão, também foi um alvo consciente desse atributo
divino. Seus primeiros atos narrados por Moisés são compatíveis com um
homem infiel ao se aproveitar da fome e da fraqueza – sem falar da tolice –
do irmão (Gn 25.29-34), ao enganar seu pai (Gn 27.1-29) e ao tentar lesar seu
sogro (Gn 30.37-43).[57] Seus dois primeiros golpes lhe fizeram fugir de
Esaú para a terra de Padã-Arã e o último o tornou odioso aos familiares de
modo que seu retorno a Canaã se deu de maneira turbulenta.
Tudo isso fez com que Jacó não fosse um exemplo de caráter, nem alguém
merecedor de bênçãos. Apesar disso tudo, ele foi abençoado, não porque
tenha merecido, mas porque Deus é fiel. Assim, ao retornar à Canaã, Jacó
reconhece: “Sou indigno de todas as misericórdias e de toda a fidelidade que
tens usado para com teu servo; pois com apenas o meu cajado atravessei este Jordão; já agora sou dois
bandos
” (Gn 32.10).
A fidelidade de Deus é tão contrastante em relação ao procedimento dos
homens e dos supostos deuses cridos no passado que ela se torna uma das
alavancas do louvor a Deus. O livro de Salmos é riquíssimo de alusões à
fidelidade do Senhor, de súplicas baseadas nela e de louvores por causa dos
benefícios que ela traz. Para os salmistas, a fidelidade do Senhor só existia
em escala máxima e eles nem sequer imaginavam um Deus que fosse fiel
apenas parte do tempo ou dependendo da situação, pelo que cantam: “A tua
benignidade, Senhor, chega até aos céus, até às nuvens, a tua fidelidade” (Sl 36.5 – ver também 54.10;
108.4).
A consequência prática é que “tudo” que Deus faz e diz é condizente,
“porque a palavra do Senhor é reta, e todo o seu proceder é fiel” (Sl 33.4 – destaque meu); e “o
Senhor é fiel em todas as suas palavras e santo em todas as suas obras” (Sl 145.13b
– destaque meu). A
plenitude da fidelidade não é expressa somente em termos de qualidade e
quantidade, mas também no que tange à sua duração, de modo a não diminuir
com o passar do tempo, “porque o Senhor é bom, a sua misericórdia dura para sempre, e, de geração em
geração, a sua fidelidade”
(Sl 100.5), e “e a fidelidade do Senhor subsiste para sempre” (Sl 117.2 – ver
também 119.90; 146.6).
De maneira surpreendente, a fidelidade do Senhor se conserva durante os
momentos em que ele trata tanto seus filhos como seus inimigos com dureza.
Em relação ao inimigo, a justiça de Deus lhes cai consoante à sua justiça:
“Ele retribuirá o mal aos meus opressores; por tua fidelidade dá cabo deles”
(Sl 54.5).
Normalmente, a fidelidade se une à justiça em ocasiões em que Deus
socorre seus servos das mãos ímpias: “Ele dos céus me envia o seu auxílio e
me livra; cobre de vergonha os que me ferem. Envia a sua misericórdia e a
sua fidelidade” (Sl 57.3). Contudo, no caso dos servos, a fidelidade se une à
santidade de Deus para produzir disciplina, de modo que, mesmo diante da
destruição punitiva de Jerusalém, utilizando Nabucodonosor e a Babilônia
como instrumento, a fidelidade de Deus ainda foi percebida nos lamentos do
profeta Jeremias: “As misericórdias[58] do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas
misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade
” (Lm 3.22,23 – destaque
meu). Bem disse Moisés: “Deus é fidelidade” (Dt 32.4).
_____________
A criação
Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom (Gênesis 1.31a).
O UNIVERSO
O primeiro começo dado nas Escrituras vem da oração “no princípio, criou Deus os
céus e a terra” (Gn 1.1). A expressão “céus e terra”
deve ser compreendida de maneira ampla, que
englobe todo o universo. A partir desse ponto, o texto mostra como Deus
formou a terra e os céus, até criar o homem, o ápice da obra criativa e o
sentido do próprio universo. Dentro disso, várias interpretações têm sido
defendidas pelos estudiosos devido ao modo resumido com que o relato foi
registrado.[65] Pelo menos três problemas relativos ao relato da criação são
frequentemente levantados:
Tão logo Gênesis 1.1 tenha dito que Deus criou os céus e a Terra, o
versículo seguinte afirma que a “a terra era sem forma e vazia” (Gn 1.2).
Alguns estudiosos, lançando mão das palavras hebraicas que são traduzidas
como “sem forma” (tohû) e “vazia” (bohû), afirmaram que a primeira delas,
contendo um de seus sentidos “lugar de caos”, era uma palavra incompatível
com a criação perfeita de Deus afirmada diversas vezes pela avaliação divina:
“E viu Deus que isso era bom” (Gn 1.10,12,18,21,25 – ver também v.31). Em
uma época quando a ciência e o liberalismo teológico afirmavam ser
fantasioso o relato da criação, propondo, por meio do uso do exame com
“carbono 14”, que a Terra tivesse milhões ou até bilhões de anos, a ideia do
estado caótico em Gênesis 1.2 pareceu fornecer um escape que se adequasse
às descobertas científicas da época. Assim, surgiu a teoria do “intervalo”
(“gap” em inglês).
Essa teoria consiste em propor um intervalo de tempo entre o primeiro e o
segundo versículo de Gênesis 1. Desse modo, Deus teria, no primeiro
versículo, criado a Terra em um estado perfeito compatível com seu poder,
sabedoria e perfeição. Contudo, algo ocorreu para que, no versículo seguinte,
a Terra fosse encontrada em um estado imperfeito, caótico e maléfico. Não é
preciso ser muito criativo para, a partir daí, oferecer como sugestão a queda
de Satanás e de parte dos anjos como fator de interferência no estado da Terra,
tornando-a caótica.
Então, quando Gênesis 1.3 diz “disse Deus: Haja luz”, estaria descrevendo a “recriação” da Terra e
não sua “criação”. A vantagem que os defensores dessa teoria tiveram foi que
não era necessário determinar o intervalo de tempo entre a criação e a
recriação, fazendo com que o relato de Gênesis fosse compatível com a
afirmação científica de um “universo velho” com bilhões de anos e com os
achados arqueológicos e os estudos geológicos usados para desacreditar as
Escrituras.
Apesar de criativa, essa teoria enfrenta dificuldades que a tornam
insustentável. Em primeiro lugar, a grandiosidade da criação divina seria
reduzida a uma mera citação: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn
1.1).[66] Toda a glória exaltada em outros textos como a tradução proposta
para corroborar o pensamento – “e a terra tornou-se sem forma e vazia” – não
corresponde ao texto hebraico de Gênesis 1.2. Derek Kidner afirma que, se a
intenção do texto fosse apresentar uma catástrofe, seria empregada uma
construção própria das narrativas e não a construção circunstancial que se vê
no texto.[67]
Além do mais, o próprio uso da palavra “tohû” nas Escrituras demonstra que
ela não tem o sentido obrigatório, em Gênesis 1.2, de algo mau e
incompatível com o Senhor. “Lugar de caos” é um dos sentidos da palavra.
Outros são “sem forma”, “confusão”, “irrealidade” e “vazio”.[68] Como
forma de uso figurado da palavra, o sentido de vazio ou nulo é frequente nos
escritos do profeta Isaías: “Todas as nações são perante ele como coisa que não é nada; ele as considera menos
do que nada, como um vácuo
” (Is 40.17 – destaque meu).[69]
Quando a palavra é aplicada em sentido locativo, a ideia do caos tem um
propósito definido – o de mostrar a falta de habitação ou, até mesmo, a
inaptidão para tal: “Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez
e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o Senhor, e não há outro”
(Is 45.18 –
destaque meu). Nesse texto, Isaías oferece a palavra “tohû” como o oposto de
um local “habitado”.
Ele faz o mesmo no capítulo 24: “Demolida está a cidade caótica, todas as casas estão
fechadas, ninguém já pode entrar” (Is 24.10
– destaque meu).[70] Moisés usa o termo como
sinônimo de “terra deserta”:“Achou-o numa terra deserta e num ermo solitário
povoado de uivos; rodeou-o e cuidou dele, guardou-o como a menina dos olhos
” (Dt 32.10 – destaque meu).
Jó faz o mesmo e aponta para um lugar impróprio para a vida: “Desviam-se
as caravanas dos seus caminhos, sobem para lugares desolados e perecem”
(Jó 6.18 – destaque meu).[71]
Com isso, ao notarmos o uso da palavra no relato da criação, dispensamos
a ideia de uma catástrofe e nos deparamos com o estado inicial da Terra, logo
que criada, como um lugar ainda impróprio para a vida, um ambiente
“inóspito’’. David Tsumura, que interpreta os termos “sem forma e vazia”
como a descrição de um estado terreno de “improdutividade e ausência de
habitação”, conclui que a expressão em Gênesis 1.2 não tem sentido de
“caos”, mas tão somente significa “vazio”, referindo à Terra como um “lugar
vazio”.[72]
Desse modo, vê-se que Deus, que poderia ter criado tudo imediatamente,
decidiu seguir um processo de criação ao longo de quase uma semana,
ocasião em que revelou sua existência (Sl 96.5 cf. Rm 1.20), seu poder (Ne
9.6; Sl 33.6,9; 121.2; Is 40.26; Jr 32.17), sua glória (1Cr 16.26; Sl 8.3,4;
89.11,12; Is 37.16) e sua perfeição e sabedoria (Sl 104.24; 139.14; Pv 3.19; Jr
51.15).[73] Criou o homem apenas quando as condições necessárias para a
vida dele estavam presentes, diferente do que aconteceu assim que criou a
Terra “sem forma e vazia”. Essa expressão, portanto, não se refere a um lugar
incompatível com a perfeição de Deus, mas com a vida do homem.
Sendo assim, não há nenhuma razão para que haja um intervalo de tempo
entre a criação e um estado catastrófico, nem para a necessidade de uma
recriação, de modo que o relato de Gênesis 1, ao que tudo indica, é a
descrição da criação em seis dias, desde o dia descrito pela expressão “no
princípio” até o dia anterior ao sétimo no qual Deus cessou a criação: “Porque, em
seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o
2. Os dias da criação.
A teoria “época = dia”, pois, explica os seis dias da criação como sendo um esboço geral da obra criadora de Deus,
na formação da terra e seus habitantes, até o surgimento de Adão e Eva. Geólogos modernos concordam com Gênesis 1
nos seguintes detalhes: (a) A terra começou sua história numa forma confusa e caótica, que subsequentemente cedeu
lugar a um estado mais ordeiro. (b) Surgiram as condições apropriadas à manutenção da vida: a separação do vapor
espesso que cercava a terra em nuvens em cima e rios e mares em baixo, com o ciclo de evaporação e precipitação, e
também com a penetração da luz do Sol [...]. (c) A separação da terra do mar (ou a emergência da terra por cima do nível
das águas, que ia se abaixando) precedia a aparição da vida sobre o solo. (d) A vida vegetal já tinha surgido antes da
primeira emergência da vida animal no período cambriano [...]. (e) Tanto o livro de Gênesis como a geologia concordam
que as formas mais singelas aparecem em primeiro lugar, e só posteriormente as mais complexas. (f) Ambos concordam
em dizer que a raça humana tenha surgido como último e mais alto produto do processo da criação.
[80]
ocular. Antes, transmitem verdades teológicas acerca de eventos retratados principalmente em estilo literário simbólico e
(Ex 20.11 – destaque meu). Nada disso faria sentido caso os dias de Gênesis
1 não fossem literais.
forma de conjuntos mais extensos, o relato da criação do Escrito Sacerdotal (Gn 1.1 – 2.4a) e a narrativa javista (Gn 2.4b-
25).
[84]
Há dois relatos complementares da criação: Gênesis 1, que é de extensão cósmica e universal, e Gênesis 2, que é
decididamente antropocêntrico. Esta estrutura canônica propõe por si mesma a maneira culminante em que é vista a
criação do homem. Ela é a glória apogística do processo criativo. Vemos esse fato claramente já em Gênesis 1, pois o
O HOMEM
Gênesis não informa apenas que o homem foi criado (Gn 1) e como foi
criado (Gn 2), mas dá, também, uma importante informação adicional, no
primeiro capítulo, que qualifica tal criação por meio da decisão divina de
criar o homem, diferente de todo o restante da criação, à “imagem de Deus”:
“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança” (Gn 1.26). Tal fato conferiu ao homem um estado glorioso em
comparação com o restante da criação, motivo pelo qual sua dignidade é
superior à das demais criaturas (Gn 9.3-6).
O ápice consciente da criação é a humanidade (Gn 1.26-28). A monotonia das fórmulas de ordem é quebrada quando
se anuncia a criação da humanidade nos moldes de uma resolução divina: “Façamos o homem à nossa imagem”.
Somente aqui o texto troca a prosa repetitiva, cuidadosamente elaborada, pela beleza e força do paralelismo da poesia
hebraica: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou” (v.27). O
emprego tríplice de “bará”, “criar”, e a estrutura invertida assinalam que aqui o relato atinge o clímax para o qual se
Quase todos já ouviram alguém ensinar que nunca se pode dizer que
alguém é “feio”, pois ele é “imagem de Deus”. Quando colocado desse modo,
o que está por trás do ensino é que o conceito da “imagem de Deus” teria
relação com a “aparência” do homem ou sua “forma física”. O dano teológico
dessa mentalidade é duplo: (1) prejuízo à doutrina da natureza de Deus e (2)
prejuízo à compreensão da função da imagem de Deus no homem.
O primeiro prejuízo, envolvendo a natureza de Deus, é crer que o aspecto
físico do homem é fruto de um aspecto físico em Deus. Para corroborar essa
posição, costuma-se utilizar textos que falam, por exemplo, das mãos, dos
olhos, dos pés e dos braços do Senhor com a intenção de sugerir que ele tem
um corpo cuja forma ele reproduziu na criação humana. Entretanto, não é
assim que as Escrituras expõem o Senhor.
O Novo Testamento é o responsável por sacramentar parta da natureza de
Deus nas palavras “Deus é Espírito” (Jo 4.24), além de qualificá-lo como
Deus “invisível” (Cl 1.15; 1Tm 1.17), razão pela qual “ninguém jamais viu a
Deus” (Jo 1.18; 1Jo 4.12), sendo impossível que isso aconteça (1Tm 6.16).
Essa descrição aponta para o fato de que Deus, sendo um ser espiritual, não
tem um corpo nem, tampouco, as limitações inerentes de uma forma física.
O Antigo Testamento não é, nesse caso, tão profícuo quanto o Novo no
sentido de afirmar a invisibilidade de Deus. Entretanto, quando o Senhor faz
aliança com Israel no Sinai, depois de tirá-lo da escravidão do Egito, lhes diz:
“Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas
águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto” (
Ex 20.4,5a – destaque meu). Apesar de
esse texto ter um uso contemporâneo aplicado à negativa da
adoração/veneração de outras pessoas que não o Deus eterno, a disposição
dessa ordem dentro do Decálogo parece indicar que Deus não estava
preocupado apenas com a adoração pagã, já que havia previamente ordenado:
“Não terás outros deuses diante de mim” (Ex 20.3). Tendo posto tal alicerce,
a ordem de não fazer imagens e prestar-lhes culto parece apontar para uma
proibição de cultuar o próprio Deus único por meio desse expediente.
Um exemplo de desobediência a essa ordem são os altares construídos em
Dã e em Betel por Jeroboão I, logo após a divisão de Israel em dois reinos –
Judá ao sul e Israel ao norte – a fim de impedir os israelitas do Norte de
adorar a Deus em Jerusalém a fim de que não fossem persuadidos por
Roboão a unificar novamente as doze tribos (1Rs 12.28,29). Apesar do que
possa parecer em uma primeira visão, o que Jeroboão fez não foi oferecer
outro deus para ser adorado, mas outro modo de adorar o Deus de Israel.
O arqueólogo William Albright afirma que Jeroboão, por meio dos touros,
influenciado pela iconografia cananita da época, propôs a adoração do “deus
invisível em pé sobre o bezerro de ouro”. Segundo ele, essa ideia encontrava
paralelo com a figura de Deus entronizado sobre dois querubins na arca
contida no templo de Salomão. Como comprovação dessa visão antiga, ele
diz que foram encontrados, entre os cananeus, arameus e hititas,
representações de deuses montados sobre o lombo de um animal ou assentado
em um trono sobre animais e diz que entre os hurrianos – reino de Mitani –,
dois touros, Sheri e Khurri, suportavam o trono do deus Teshub. Assim,
segundo Albright, conceitualmente não havia diferença entre a representação
de um deus invisível assentado sobre querubins ou assentado sobre um touro.
[90]
Entretanto, Deus, de modo algum, quis ser adorado por meio de uma forma
que, inevitavelmente, acaba por limitar o conceito de Deus e da sua
onipresença. Por esse mesmo motivo, a defesa de um corpo físico em Deus
causa prejuízos a essa teologia e, consequentemente, à própria adoração do
Senhor. Assim, quando Israel fez aliança com Deus no Sinai, o texto de
Deuteronômio fez questão de informar um dado importante a respeito do que
eles viram – ou, na verdade, o que eles não viram: “Então, o Senhor vos falou do meio do
fogo; a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não vistes aparência nenhuma
” (Dt 4.12 – destaque
meu). Essa citação não é sem motivo, é como se o escritor fizesse um
comentário incidental e irrelevante. A ordem subjacente se vê a seguir:
Guardai, pois, cuidadosamente, a vossa alma, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o Senhor, vosso Deus,
vos falou em Horebe, no meio do fogo; para que não vos corrompais e vos façais alguma imagem esculpida na forma de
ídolo, semelhança de homem ou de mulher, semelhança de algum animal que há na terra, semelhança de algum volátil
que voa pelos céus, semelhança de algum animal que rasteja sobre a terra, semelhança de algum peixe que há nas águas
debaixo da terra. Guarda-te, não levantes os olhos para os céus e, vendo o sol, a lua e as estrelas, a saber, todo o exército
dos céus, sejas seduzido a inclinar-te perante eles e dês culto àqueles, coisas que o Senhor, teu Deus, repartiu a todos os
A humanidade tem domínio sobre a terra criada por causa de seu relacionamento com Deus (destaque meu). Ela
deveria reinar/dominar como seu representante, em seu caráter. O poder não é o tema teológico, mas o meio do seu
Para tanto, Deus criou o homem de maneira a poder se relacionar com ele.
Por isso, o homem foi criado como ser espiritual e não apenas pessoal: “Então,
formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”
(Gn 2.7). Davi se utiliza, para se referir ao ser humano completo, da natureza
corporal e espiritual do homem: “Alegra-se, pois, o meu coração, e o meu espírito exulta; até o meu corpo
repousará seguro”
(Sl 16.9). Com isso, como requisito para o relacionamento entre
Deus e os homens, o Senhor também lhes deu uma condição moral santa: “Eis
o que tão-somente achei: que Deus fez o homem reto”
(Ec 7.29a). Esses aspectos peculiares tornam
o homem apto para governar a Terra e se relacionar com o criador.
O POVO DE ISRAEL
É certo que Moisés iniciou sua instrução aos israelitas do êxodo tratando
da formação do universo e do homem. Entretanto, essa é a introdução do
assunto em que ele queria chegar – a formação de Israel – para, a partir daí,
também lhes falar sobre a função de Israel no mundo como povo escolhido
pelo Senhor. Por isso, ele foi o homem que falou em nome do Deus de Israel
e interpretou os eventos do passado, presente e futuro em termos do seu
caráter e vontade revelados.[96] Mas não é possível falar sobre o presente e o
futuro sem assentar as bases do passado. Portanto, ele, como bom expositor
teológico, deu sequência ao relato da criação do homem passando pela
história das nações até chegar ao chamado de Abraão e à aliança com os
patriarcas, de modo que a história tem uma importância na religião israelita
que não encontra paralelo em nenhuma outra religião das antigas culturas.
[97]
1. As gerações.
Concluindo os primórdios, o escopo de desenvolvimento é estreitado para abarcar só os semitas (11.10-32). Por meio
de quadros genealógicos que envolvem dez gerações, o registro sagrado finalmente enfoca Terá, que emigrou de Ur para
Harã. O clímax se dá quando da apresentação de Abrão, mais tarde conhecido como Abraão (Gn 17.5), em quem
concentra o início de uma nação escolhida – a nação de Israel, a qual ocupa o centro de interesse por todo o restante do
Antigo Testamento.
[100]
2. O povo de Israel.
vivo. Abrão e Naor tomaram para si mulheres; a de Abrão chamava-se Sarai, a de Naor, Milca, filha de Harã, que foi pai de Milca
grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os
(Gn 15.13,14). O que foi predito ocorreu, de modo que Israel, mesmo
escravizado pelos egípcios, contava, na ocasião do êxodo, com seiscentos mil
homens, sem contar as mulheres e crianças (Ex 12.37). Desceu para o Egito
uma pequena família com uma história de infertilidade, mas, em grande
fertilidade, sai do Egito um grande povo prestes a se tornar uma nação.
Essa é a história do povo que estava com Moisés aos pés do Sinai fazendo
aliança com o Senhor, um povo que agora sabe de onde veio, para onde vai e
porque segue o Deus eterno e se compromete com ele, recebendo bênçãos
imerecidas. Eis a razão pela qual Moisés lhes contou sobre a criação da Terra
e dos céus e da formação de Israel.
_____________
O Pecado
Eis o que tão-somente achei: que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias (Eclesiastes 7.29).
da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao
Altíssimo. Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo”.
Que humilhação para o rei! Ele era como uma estrela da manhã (também chamado do “filho da alva” porque o
surgimento da estrela da manhã coincide com o romper do dia), radiante em fulgor e beleza; mas agora ele é como uma
estrela que caiu do firmamento. Ele, que derruba nações, jaz derrubado por terra. Os pais da igreja como Jerônimo e
Tertuliano consideravam que esse versículo se referia ao diabo, e daí, o nome Lúcifer (estrela da manhã) lhe foi atribuído.
Lutero e Calvino rejeitaram ambos esta ideia como erro grosseiro, e em certo sentido, com razão. Assim mesmo, há um
elemento de verdade nisso tudo: mediante a sua autodeificação, o rei da Babilônia é imitador do diabo e um tipo do
anticristo (Dn 11.36; 2Ts 2.4); portanto, a sua humilhação é também um exemplo da queda de Satanás da posição de
Filho do homem, levanta uma lamentação contra o rei de Tiro e dize-lhe: Assim diz o SENHOR Deus: Tu és o sinete da
perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias: o
sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te fizeram os
engastes e os ornamentos; no dia em que foste criado, foram eles preparados. Tu eras querubim da guarda ungido, e te
estabeleci; permanecias no monte santo de Deus, no brilho das pedras andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o
dia em que foste criado até que se achou iniquidade em ti. Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de
violência, e pecaste; pelo que te lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim da guarda, em
meio ao brilho das pedras. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do
teu resplendor; lancei-te por terra, diante dos reis te pus, para que te contemplem. Pela multidão das tuas iniquidades,
pela injustiça do teu comércio, profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu, e
te reduzi a cinzas sobre a terra, aos olhos de todos os que te contemplam. Todos os que te conhecem entre os povos estão
espantados de ti; vens a ser objeto de espanto e jamais subsistirás (Ez 28.12-19).
afirma a atuação deles como inimigos de Deus e dos homens. Apesar de necessitarmos do Novo Testamento para uma melhor
compreensão do assunto, temos no Antigo Testamento a informação de que Satanás se opõe aos servos de Deus: “Deus me
mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do Senhor, e Satanás estava à mão direita dele, para se lhe opor”
(Zc 3.1 – destaque meu). Uma das maneiras de ele efetuar tal oposição aos crentes é por meio da sugestão de desobediência a
Deus a fim de atenderem seus desejos pecaminosos, como o fez no caso de Davi: “Então, Satanás se levantou contra Israel e
outra. Então, saiu um espírito, e se apresentou diante do Senhor, e disse: Eu o enganarei. Perguntou-lhe o Senhor: Com quê?
Respondeu ele: Sairei e serei espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas” (1Rs 22.20-22a
– destaque meu).
Ao que tudo indica, todo tipo de adoração falsa é motivada por Satanás e
pelos demônios a fim de afastar os homens do seu criador.
A QUEDA DO HOMEM
O pecado original era a declaração, por parte do homem e mulher, da sua independência da autoridade de Deus. No
momento em que os dois colocaram sua própria razão como juiz sobre a revelação de Deus, a fim de decidir se esta era
correta ou não, caíram em pecado. Uma vez que fizeram isso, a decisão de comer o fruto foi uma decorrência natural.
[116]
AS CONSEQUÊNCIAS DA QUEDA
a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”
(Gn
3.14,15). A princípio, Deus parece ter-se dirigido ao animal por meio de
quem Satanás atuou lançando sua tentação maligna. Contudo, uma
interpretação teológica, sobre a qual trataremos no capítulo concernente às
promessas, pode indicar que Deus também se dirigiu ao diabo prenunciando
sua derrota futura.
A mulher é alvo da segunda declaração do Senhor. Duas consequências
são expostas. A primeira, muito fácil de ser compreendida, é que a gestação e
o processo do nascimento trariam sofrimento à mulher: “E à mulher disse:
Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores
darás à luz filhos” (Gn 3.16a). É importante notar o agente da ação de
multiplicar os sofrimentos. Deus diz “[eu] multiplicarei”, assumindo a autoria
da introdução desse sofrimento. Contudo, o contexto deixa claro que a
responsabilidade pela existência de tais condições são os próprios pecadores.
A segunda consequência do pecado sobre a mulher é: “O teu desejo será
para o teu marido, e ele te governará” (Gn 3.16a). Essa cláusula não é tão
clara como a primeira, de modo que muitas sugestões são feitas pelos
teólogos como possíveis significados. Uma delas é que a mulher passaria a
“desejar” o marido no sentido de nutrir extremo apego por ele e, até mesmo,
necessidades íntimas a serem supridas pelo sexo masculino. Entretanto,
pensar que isso é uma consequência do pecado parece desprezar a ideia de
que Deus criou a mulher para se unir ao seu marido, amá-lo, preencher seus
anseios e ter, também, os seus próprios preenchidos por ele. Ademais, essa
interpretação tira o caráter negativo da cláusula “e ele te governará”. Sob essa
óptica, parece que a mulher foi amaldiçoada com algo bom como um
relacionamento amoroso liderado pelo marido.
Essa confusão se dissipa no próximo capítulo de Gênesis, quando Deus usa
a mesma construção de palavras ao falar com Caim: “Se, todavia, procederes mal, eis que o
pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo
” (Gn 4.7b – destaque meu). O
“desejo” descrito em Gênesis 3.16 (“teshûqah”, em hebraico) está também
presente em Gênesis 4.7. Significa “afeição, forte desejo, paixão”. Vem de
uma raiz arábica que significa “compelir, impelir, buscar controlar”.[118] O
uso da palavra hebraica nesse contexto parece ser o mesmo dessa raiz, pois
Deus disse a Caim que o pecado tentaria controlá-lo. Por outro lado, o verbo
“dominar” (“mashal”, em hebraico) é usado para descrever tanto a atuação de o
homem governar a mulher como a de Caim de dominar o pecado no sentido
de subjugá-lo e de vencê-lo na luta que define quem domina quem.
Fazendo uma comparação entre esses dois textos, o sentido de Gênesis
3.16 parece ser: “Seu desejo será controlar teu marido, mas ele te subjugará”.
Essa é a consequência do pecado pronunciada contra a mulher. Ela teria
dificuldade de se submeter ao marido e tentaria fazer valeu seu controle e
seus desejos em uma atitude de liderança para a qual ela não estava
autorizada.[119] Em contrapartida, o homem se defenderia desse impulso
com uma ação do mesmo tipo no sentido oposto. Isso redundaria em domínio
masculino, mas, a julgar pelo tom do texto, o que parece saltar aos olhos não
é um controle cuidadoso, amoroso e abnegado como o que Paulo orienta em
Efésios 5.25-30, mas um domínio tão egoísta quanto o desejo da mulher com
a diferença de vir da parte de quem tem mais força, às vezes, abusiva.
Pensando assim, basta olhar para a posição social da mulher no passado,
sendo tratada como mero objeto e até como moeda de troca. Imediatamente,
vê-se o efeito do pecado no convívio humano, principalmente entre homens e
mulheres. Também é interessante notar que o ensino de Jesus e dos apóstolos
age no sentido de desfazer as consequências do pecado de Adão e, assim,
incentiva a submissão da mulher ao marido e o amor cuidadoso do marido à
esposa.
Por fim, Deus se dirige à Adão e lhe diz: “Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da
árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa” (Gn 3.17). A própria natureza
impessoal foi
vítima das consequências da queda humana. A terra ser maldita trouxe ao
homem sua própria maldição na forma de proporcionar dificuldades para que
se cultivassem os alimentos, algo bem diferente do cuidado harmonioso do
jardim do Éden: “Em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua
vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do
campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela
foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás” (Gn 3.17.19). Assim, aquela
que traria os sofrimentos durante a vida – a terra –, também seria o depósito
devorador do corpo na morte.
Que consequências terríveis! Entretanto, a pior delas foi declarada antes da
queda: “Porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17b –
destaque meu). Não foi apenas o aviso das consequências da queda que
receberam atenção no relato de Gênesis. Depois de a morte se fazer sentir na
raça humana, o livro também ressalta sua presença por meio de repetições da
ação “e morreu”.
Há uma frase recorrente que grifa a história do pecado do homem: “e morreu” (5.5, 8, 11, 14, 17, 20, 27, 31). É
justamente o que Deus havia dito que aconteceria se o homem desobedecesse (2.17). Note também como o pecado se
espalha rapidamente de um indivíduo (3.1) a um casal (3.12), depois a uma família (4.1-15) e, finalmente, ao mundo todo
(11.1-9).
[120]
Se... se perguntar com qual tipo de morte Deus ameaçou o homem..., se... foi a morte física, ou a espiritual, ou aquela
segunda morte, responderemos: Foi com todos... Abrange não somente a primeira parte da primeira morte, onde quer que
a alma perca Deus, nem somente a última, em que a alma deixa o corpo,... mas também... a segunda morte, que é a última
O HOMEM CAÍDO
Segundo Gn 5.3, Adão gerou Sete “à sua semelhança, conforme sua imagem”. Isso significa que Deus deu ao ser
humano o poder de transmitir essa sua mais alta dignidade por intermédio da procriação das gerações. Por causa disso,
não podemos dizer que a qualidade de ser imagem de Deus esteja perdida, tanto mais que, ainda na era de Noé, se
contasse com a sua existência (Gn 9.6b). É certo que a história da queda no pecado relata graves perturbações na natureza
de criatura do ser humano, mas o Antigo Testamento não se pronuncia sobre o modo como essas perturbações se
O fato é que a presença do pecado no homem afetou toda a raça humana, não somente as pessoas que pecaram no Éden, mas
toda a sua geração, ou seja, todos os seus descendentes. A culpa adquirida na queda pertence até mesmo àqueles que não estavam
presentes no jardim. Assim, segundo Davi, o efeito da queda estava presente nele desde o nascimento: “Eu nasci na iniquidade, e
em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Tal efeito é compartilhado com toda a raça
[123] de modo que ninguém nasce
sem que seja sob o jugo da natureza de pecado, ou sem que a culpa lhe seja imputada: “Desviam-se os ímpios desde a sua
concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo mentiras” (Sl 58.3); “Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce
Alguns defendem que a oferta de Abel foi aceita por ser um sacrifício, uma oferta de sangue, enquanto Caim
ofereceu apenas cereais. Mas não há qualquer referência nos textos de Gênesis 4 e de Hebreus 11 que deem a ideia de
que Abel tinha que sacrificar um animal para adorar a Deus. [...] Deus não se agradou apenas da oferta de Abel, mas de
“Abel e de sua oferta” [Gn 4.4]. Por outro lado, “de Caim e de sua oferta não se agradou” [v.5]. Quando Caim se zangou
por não ser aceito, Deus não censurou sua oferta, mas a vida que levava e o pecado que o dominava. Não o instruiu a
_____________
A punição
Porque o Dia do Senhor está prestes a vir sobre todas as nações; como tu fizeste, assim se fará contigo; o teu malfeito
A RAZÃO DA PUNIÇÃO
No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes
enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os
seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a
terra está cheia da sua glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então,
disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios,
e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! (Is 6.1-5 – destaque meu).
ainda a carne entre os seus dentes, antes que fosse mastigada, quando se acendeu a ira do Senhor contra o povo, e o feriu com
praga mui grande”
(Nm 11.1,33).
O OBJETO DA PUNIÇÃO
A ira de Deus no Antigo Testamento vem sobre indivíduos: Moisés (Ex 4.14; Dt 1.37); Arão (Dt 9.20); Arão e Miriã
(Nm 12.9); Nadabe e Abiu (Lv 10.1,2); Israel (Ex 32.10 e muitas outras referências); e as nações (Sl 2.5; Is 13.3,5,13;
de toda carne, porque a terra está cheia da violência dos homens; eis que os farei perecer juntamente com a terra”
(Gn 6.11-
13). Apesar de dizer “todo ser vivente havia corrompido o seu caminho”, fica
claro que Deus se refere aos homens como seres pessoais, morais e
inteligentes. Não poderia haver uma situação tão diferente daquela na qual
Deus viu o que criara e comprovou que “tudo era muito bom”.
O castigo para o crescimento desenfreado do mal veio na forma de um
dilúvio mundial que fez com que cada ser humano morresse, com exceção da
pequena família que Deus preservou: “Disse o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o
homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito. Porém Noé achou
terra; ficou somente Noé e os que com ele estavam na arca” (Gn 7.23).
maldade; todos eles se tornaram para mim como Sodoma, e os moradores de Jerusalém, como Gomorra
” (Jr 23.14 –
destaque meu).
Apesar das claras menções aos pecados de natureza moral, Ezequiel
oferece uma faceta adicional sobre a condição espiritual dos moradores de
Sodoma, a saber, o orgulho, a avareza, a injustiça social e a indiferença para
com os necessitados: “Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera
tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado. Foram arrogantes e fizeram abominações diante
A APLICAÇÃO DA PUNIÇÃO
Ao derramar sua justa ira contra o pecado, Deus o faz dentro de alguns
parâmetros que se veem ao longo das Escrituras. Um deles é anunciar
previamente o juízo. Adão foi o primeiro a receber a mensagem de alerta:
“Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”
(Gn 2.17 – destaque meu).
Podemos ver nesse ato algumas aplicações. Em primeiro lugar, além de um
anúncio de juízo é, também, uma anúncio da santidade e da justiça do
Senhor. O juízo contra a maldade existe porque em Deus na há maldade. A
punição contra a injustiça ocorre porque em Deus não há injustiça. Assim, a
mensagem do juízo atesta a perfeição do Supremo Juiz.
Em segundo lugar, o anúncio do castigo serve como fator de promoção do
bem. A ideia é: “Se há uma punição para quem infringir a orientação de Deus
e pecar contra sua santidade, não farei nada que me torne alvo da condenação
e do castigo; em lugar disso, manter-me-ei em submissão e obediência àquele
que pode tanto abençoar como punir”. Esse era o pensamento que Adão
deveria ter diante da tentação. Sabendo das consequências, deveria ter
escolhido o bem e a verdade. Essa é uma aplicação preventiva da mensagem.
Por último, o anúncio do castigo deve produzir temor no infrator e levá-lo
ao arrependimento e à correção. Trata-se, agora, de uma aplicação corretiva.
Se o mal não foi impedido, ele pode, pelo menos, ser corrigido e, nesse
sentido, o anúncio do juízo é um dos fatores motivadores. Na verdade, essa
ação está tão presente na mensagem do evangelho que não é possível pregá-
lo sem se referir ao juízo. A própria mensagem da salvação necessita de uma
explicação a respeito daquilo de que os homens são salvos. Se alguém diz
“você precisa ser salvo”, uma pergunta muito justa a se fazer é: “Ser salvo de
que?”. A resposta é inegavelmente: “Ser salvo da ira de Deus contra o
pecado”. Marcos Granconato, analisando a mensagem da punição divina
presente nos pais da igreja do segundo século, diz:
Os pastores e mestres cristãos daqueles dias comprovaram a utilidade e a eficácia do ensino bíblico sobre o inferno
tanto para a ação evangelística como pastoral, utilizando-o para convidar os hereges e os pagãos à fé na verdade, bem
como para desencorajar nos crentes a prática do mal e a apostasia. [...] Os pais da igreja do século II consideraram a
doutrina da perdição futura parte essencial da mensagem cristã e fizeram uso dela como instrumento eficaz na proteção e
divulgação do cristianismo ameaçado pela perseguição, pelo fascínio do mundo e pelas atrações das seitas heréticas.
[134]
Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao
dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos” (Mt 24.38,39a).
O rei de Gerar, Abimeleque, foi outro personagem bíblico que ouviu o
anúncio de juízo divino. Gênesis 20 conta o episódio em que Abraão,
deslocando-se para a cidade de Gerar, temeu por sua vida por causa da beleza
de Sara, sua esposa. Seu receio foi o de ser morto por alguém que desejasse
tomar Sara para si. O recurso utilizado por Abraão foi o de dizer que Sara era
sua irmã, omitindo seu estado civil. O rei Abimeleque, ouvindo o relato e não
vendo qualquer impedimento, tomou Sara para seu harém, cerca de um ano
antes do tempo previsto para o nascimento de Isaque.[135] Diante dessa
situação, Deus “veio a Abimeleque em sonhos de noite e lhe disse: Vais ser punido de morte por causa da mulher que
tomaste, porque ela tem marido”
(Gn 20.3).[136]
A diferença do desfecho desse episódio é que Abimeleque, que não havia
ainda possuído Sara, ouviu o alerta e corrigiu seu procedimento (Gn 20.14).
Isso evitou a punição de Abimeleque e fez com que sua família voltasse ao
estado original: “Sarou Deus Abimeleque, sua mulher e suas servas, de sorte que elas pudessem ter filhos; porque o
Senhor havia tornado estéreis todas as mulheres da casa de Abimeleque, por causa de Sara, mulher de Abraão”
(Gn
20.17,18).
A punição do Egito que escravizava o povo israelita é outro bom exemplo
do que estamos tratando. Esse foi um acontecimento previsto por Deus muito
tempo antes, pois disse ele a Abraão: “Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra
alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos. Mas também eu julgarei a gente a que têm de sujeitar-
Todos os filhos de Israel murmuraram contra Moisés e contra Arão; e toda a congregação lhes disse: Tomara
tivéssemos morrido na terra do Egito ou mesmo neste deserto! E por que nos traz o Senhor a esta terra, para cairmos à
espada e para que nossas mulheres e nossas crianças sejam por presa? Não nos seria melhor voltarmos para o Egito? E
diziam uns aos outros: Levantemos um capitão e voltemos para o Egito” (Ex 14.2-4 – destaque meu).
Depois de tudo que eles viram, tal incredulidade foi inaceitável para Deus.
A punição veio, mas não sem ser anunciada. E o anúncio foi bem peculiar,
pois se baseou nas conclusões erradas e pecaminosas dos israelitas incrédulos
– veja os destaques no texto acima. Com base no que eles mesmo disseram
em sua rebelião, Deus anunciou seu castigo, fazendo-os voltar atrás no
caminho que seguiam: “Mudai, amanhã, de rumo e caminhai para o deserto, pelo caminho do mar Vermelho”
(Gn 14.25 – destaque meu). Ordenar que eles voltem pelo caminho por onde
vieram equivale, teologicamente, a dizer que eles deveriam tomar a estrada
que vai para o Egito,[140] como eles mesmo propuseram.
Entretanto, Deus deu as coordenadas da viagem, mas também previu o
futuro deles: não era chegar ao Egito, mas perecer no deserto, conforme
também disseram os rebeldes: “Neste deserto, cairá o vosso cadáver, [...] neste deserto, se consumirão e aí
falecerão
” (Nm 14.29a,35b – destaque meu). E, em lugar de lhes dar a terra,
prometeu dar aos filhos deles, aqueles que eles temiam que fossem
escravizados pelo cananitas: “Mas os vossos filhos, de que dizeis: Por presa serão,
farei entrar nela; e eles conhecerão a terra que vós desprezastes
” (Nm 14.31 – destaque meu).
Esse castigo pela desobediência é um entre muitos. Na verdade, Deus
prometeu muitos tipos de punição por não darem ouvidos à sua voz, nem
guardarem sua aliança (Dt 28.15-68). Entre eles estão improdutividade
agrícola e infertilidade pecuária (vv. 16-19, 23-24, 38-40), insucesso nos
empreendimentos (v. 20), doenças e pestes (vv. 21-22, 27-29a, 35, 42, 58-
61), derrotas militares (vv. 25-26, 49-50), despojamento (29b-34, 41, 51),
exílios (vv. 36-37), pobreza (vv. 43-44), escravidão (vv. 48, 68), fome
extrema em cercos militares (52-57), mortes em larga escala (vv. 62-63a) e
dispersão e perseguição entre os povos (63b-67). Entretanto, todos esses
terríveis castigos cumprem funções tanto de punições de Deus como de
anúncios do juízo, de modo que os israelitas não poderiam culpar a sorte ou o
Senhor, mas sua própria iniquidade e infidelidade. O fato é que esses castigos
eram “sinais” que anunciavam a eles que o que sofriam era uma justa e
prenunciada punição:
Todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído, porquanto não ouviste
a voz do Senhor, teu Deus, para guardares os mandamentos e os estatutos que te ordenou. Serão, no teu meio, por sinal e
por maravilha, como também entre a tua descendência, para sempre. Porquanto não serviste ao Senhor, teu Deus, com
alegria e bondade de coração, não obstante a abundância de tudo (Dt 28.45-47 – destaque meu).
Tal sinal seria um anúncio para aquela geração, mas, também, serviria para
alertar, pelos séculos por vir, os descendentes daqueles que haviam sido
desobedientes.[141] Por isso, boa parte dos anúncios dos profetas aos
israelitas, a respeito de uma punição iminente, é interpretação e aplicação
dessa mensagem. Enquanto boa parte do ofício profético envolvia a pregação
contra a atitude errônea das pessoas de buscar segurança, bem-estar e
tranquilidade em detrimento da obediência prazerosa e da confiança total em
Deus,[142] visando a levar o povo ao arrependimento e conversão, outra
parte do seu ofício é o anunciar a vinda do juízo por causa do pecado. Nesse
caso, eles agem como porta-vozes do Senhor e frequentemente introduzem as
duras repreensões e promessas de castigo com a fórmula “assim diz o
Senhor”, rendendo aos seus dizeres a autoridade divina e o peso que o
anúncio merecia.
Algo, porém, que não pode passar despercebido nesse tema e que merece
ser mencionado, é a inegável paciência de Deus na aplicação do juízo. Isso
não significa ser apático, indiferente ou tolerante,[143] mas ter a disposição
de retardar o juízo oferecendo oportunidade de arrependimento e perdão. A
ira do Senhor não vem sobre os homens na forma de um impulso irrefletido.
Ao contrário, ela segue um plano determinado por Deus no qual sobressaem
ao mesmo tempo sua graça amorosa e seu juízo reto. Por isso, por exemplo, a
promessa de castigo por meio de uma nação estrangeira, um povo de outro
idioma (Dt 28.49), registrado por Moisés entre 1407 e 1406 a.C., e
relembrada ao povo, entre outros, por Isaias (Is 28.11), cujo ministério
ocorreu entre cerca 750 e 700 a.C., e Jeremias (Jr 5.15), cujo ministério se
deu entre cerca de 640 e 600 a.C., veio a se cumprir em 722 a.C. no reino do
Norte (Israel) – quando Salmaneser V destruiu Samaria (2Rs 17.3-23),[144] –
e em 587 a.C. – quando Nabucodonosor ordenou a destruição de Jerusalém e
o traslado do restante dos habitantes para a Babilônia (2Rs 25.8-22).
OS MEIOS DE PUNIÇÃO
Resta-nos agora responder às questões relativas aos veículos da punição,
ou seja, os meios que o Senhor utiliza para trazer o merecido castigo aos
pecadores. O Antigo Testamento aponta para muitas punições executadas de
diversas maneiras. Acredito que elas possam ser divididas, para fins
didáticos, de vários modos. Contudo, dada a diferença fundamental entre um
dos castigos previstos nas Escrituras e todo o restante, um bom modo de
tratar o assunto é por meio da distinção do tempo em que tais juízos são
aplicados, sendo alguns durante a história e outro, um juízo pleno, ao final
dela – o Dia do Senhor. Essa divisão também auxilia no cumprimento de
promessas de juízo cuja implicação máxima se dá no juízo pleno e último,
mas que, durante a história, demonstram implicações parciais e pontuais.
1. Punição temporal
fartareis”
(Lv 26.26). O profeta Isaías mostra que esse é um expediente divino no
tratamento do pecado, da rebeldia e da soberba dos israelitas: “Porque eis que o Senhor,
o Senhor dos Exércitos, tira de Jerusalém e de Judá o sustento e o apoio, todo sustento de pão e todo sustento de água”
(Is
3.1). A aplicação de tal punição fez com que os israelitas conhecessem um
sofrimento quase inaudito e fossem testemunhas do preço da iniquidade. Em
meio ao cerco de Samaria por Ben-Hadade, rei sírio, a fome cresceu até
níveis insuportáveis a ponto de algumas pessoas matarem e comerem seus
próprios filhos, de modo que, certo dia, o rei, possivelmente Jeoacaz,[147] foi
procurado por uma mulher com um pedido inacreditável: “Perguntou-lhe o rei: Que tens?
Respondeu ela: Esta mulher me disse: Dá teu filho, para que, hoje, o comamos e, amanhã, comeremos o meu. Cozemos, pois, o
meu filho e o comemos; mas, dizendo-lhe eu ao outro dia: Dá o teu filho, para que o comamos, ela o escondeu”
(2Rs
6.28,29).
O Antigo Testamento contém vários exemplos de punição por meio de
catástrofes naturais. O dilúvio é um desses exemplos. A destruição de
Sodoma e Gomorra e as pragas no Egito por ocasião do êxodo, outros.
Entretanto, mais podem ser vistos na história de Israel. Se as catástrofes
naturais que assolaram o Egito foram bênção e libertação para os israelitas,
depois do Sinai eles são alvos de punições por meio da natureza quando se
rebelam contra o Deus com quem eles fizeram aliança e se comprometeram a
servir.[148]
Outro exemplo é a punição da revolta encabeçada por Corá, Datã e Abirão
contra Moisés e Abirão: “E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra debaixo deles se
fendeu, abriu a sua boca e os tragou com as suas casas, como também todos os homens que pertenciam a Corá e todos os seus
bens
” (Nm 16.31,32 – destaque meu). Punição como essa também se viu entre
os povos cananitas que Deus entregou nas mãos de Israel por causa dos seus
pecados e abominações (cf. Dt 18.9-12). Assim, a punição da iniquidade de
cinco reis amorreus (Gn 15.16) veio não somente pela espada de Israel, mas
por uma chuva de pedras que quase de todo os consumiu: “Sucedeu que,
fugindo eles de diante de Israel, à descida de Bete-Horom, fez o Senhor cair do céu
sobre eles grandes pedras, até Azeca, e morreram. Mais foram os que morreram pela chuva de pedra do que os mortos à espada
A pena de morte está prevista para os seguintes crimes: Homicídio voluntário (Ex 21.12; Lv 24.17; Nm 35.16-21)
para o qual nunca se admite uma compensação em dinheiro (Nm 35.31; Dt 19.11,12), o rapto de um homem com a
finalidade de reduzi-lo à escravidão (Ex 21.16; Dt 24.7). As faltas graves contra Deus: idolatria (Ex 22.19; Lv 20.1-5; Dt
13.2-19; 17.2-7; cf. Nm 25.1-5), blasfêmia (Lv 24.15,16), a profanação do sábado (Ex 31.14,15; cf. Nm 15.32-36),
feitiçaria (Ex 22.17; Lv 20.27; cf. 1Sm 28.3,9), prostituição da filha de um sacerdote (Lv 21.9). Faltas graves contra os
pais (Ex 21.15-17; Lv 20.8; Dt 21.18-21). Desvio na conduta sexual: adultério (Lv 20.10; Dt 22.22), diferentes formas de
enterrarás no mesmo dia; porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus; assim, não contaminarás a terra que o
2. O Dia do Senhor
A expressão “Dia do Senhor” nem sempre é compreendida uniformemente. Se ela é pronunciada no meio judaico ou de
movimentos religiosos que guardam semelhanças com o Adventismo do Sétimo Dia, há uma boa chance de que a expressão seja
Entretanto, essa expressão tem uma aplicação especial nas Escrituras, especialmente nos profetas. Tomando como certa a
datação dos profetas fornecida por Carlos Osvaldo Cardoso Pinto, o livro de Obadias foi o primeiro, entre os livros proféticos, a
ser escrito, associando-o aos dias do reinado de Jeorão de Judá (848-841 a.C.).
[150] Como primeiro dos profetas escritores,
ele oferece pela primeira vez o “Dia do Senhor” como uma ocasião especial e singular de juízo de Deus sobre as nações.
Porque o Dia do Senhor está prestes a vir sobre todas as nações; como tu fizeste, assim se fará contigo; o teu malfeito
A profecia de Obadias é voltada à Edom, prevendo seu castigo pelo modo perverso com que agiram contra Israel. O
Um unificador teológico é o conceito da lei de talião, ou a correspondência e pertinência da punição ao crime. Isso é
declarado abertamente no versículo 15b, mas também pode ser visto em exemplos em que o soberbo (v. 3) é humilhado
(v. 2), os que assistiram passivamente à pilhagem de uma nação (vv. 11-14) serão eles mesmos pilhados (vv. 5-9), aos
que hostilizam os sobreviventes (v. 14) nada restará (v. 18) e os participantes de um despojamento serão desapossados
(vv. 7,19).
[152]
O Senhor levanta a voz diante do seu exército; porque muitíssimo grande é o seu arraial; porque é poderoso quem
executa as suas ordens; sim, grande é o Dia do Senhor e mui terrível! Quem o poderá suportar? (Jl 2.11 – destaque meu).
[155]
A ideia desse dia como punição de pecados se perfaz plenamente quando, na sequência, o profeta conclama Israel ao
arrependimento e à conversão a fim de fugirem desse triste desfecho histórico por meio da misericórdia de Deus (Jl 2.12-17).
Apesar do risco de plena destruição, “o Senhor se mostrou zeloso da sua terra, compadeceu-se do seu povo” (Jl 2.18), impedindo
o terrível ataque de ser levado até as últimas consequências. Em meio ao anúncio de uma restauração, o profeta diz que no futuro
– “naqueles dias” (Jl 2.28,29) – o Senhor derramaria seu Espírito sobre os homens. Isso precederia eventos cataclísmicos – o Sol
escurecendo e a Lua tendo aparência de sangue – que introduziriam o que ele, agora, denomina “grande e terrível Dia do Senhor”
(Jl 2.31). Sua afirmação posterior é:
E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque, no monte Sião e em Jerusalém,
estarão os que forem salvos, como o Senhor prometeu; e, entre os sobreviventes, aqueles que o Senhor chamar (Jl 2.32 –
destaque meu).
Torna-se claro que a natureza desse período é de ira (Sf 1.15,18; 1Ts 1.10; 5.9; Ap 6.16,17; 11.18; 14.10,19; 15.1,7;
16.1,19), julgamento (Ap 14.7; 15.4; 16.5,7; 19.2), indignação (Is 26.20,21; 34.1-3), provação (Ap 3.10), problemas (Jr
30.7; Sf 1.14,15; Dn 12.1), destruição (Jl 1.15; 1Ts 5.3), escuridão (Jl 2.2; Am 5.18; Sf 1.14-18), desolação (Dn 9.27; Sf
1.14,15), transtorno (Is 24.1-4,19-21), castigo (Is 24.20,21). Em nenhuma dessas passagens encontramos alívio para a
“Está perto o grande Dia do Senhor; está perto e muito se apressa. Atenção! O Dia do Senhor é amargo, e nele clama
até o homem poderoso. Aquele dia é dia de indignação, dia de angústia e dia de alvoroço e desolação, dia de escuridade e
negrume, dia de nuvens e densas trevas, dia de trombeta e de rebate contra as cidades fortes e contra as torres altas” (Sf
1.14-16).
Eis que vem o Dia do Senhor, em que os teus despojos se repartirão no meio de ti. Porque eu ajuntarei todas as
nações para a peleja contra Jerusalém; e a cidade será tomada, e as casas serão saqueadas, e as mulheres, forçadas;
metade da cidade sairá para o cativeiro, mas o restante do povo não será expulso da cidade. Então, sairá o Senhor e
pelejará contra essas nações, como pelejou no dia da batalha. Naquele dia, estarão os seus pés sobre o monte das
Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; o monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e
para o ocidente, e haverá um vale muito grande; metade do monte se apartará para o norte, e a outra metade, para o sul
(Zc 14.1-4).
[160]
_____________
A salvação
Assiste-nos, ó Deus e Salvador nosso, pela glória do teu nome; livra-nos e perdoa-nos os pecados, por amor do teu
O estudo do Antigo Testamento é uma jornada na história, mas também na fé. É fascinante aprender sobre as origens de tudo
que existe, incluindo as civilizações antigas. Tal conhecimento é tão relevante que faz parte dos cursos de História do Ensino
Fundamental e Ensino Médio. Tudo isso fica ainda em maior evidência quando se percebe que o estudo secular da história de
nações antigas como Egito, Assíria e Babilônia corrobora muito do que a Bíblia ensina a seus leitores.
O propósito do historiador e do arqueólogo bíblico não é “provar” a exatidão da Bíblia. Ela é primariamente um
documento teológico
[163] que nunca pode ser “provado”, visto que é baseado na fé em Deus, cujo Ser pode ser
cientificamente sugerido, mas nunca cientificamente demonstrado.
[164]
uma menção bíblica. Os achados arqueológicos têm feito com que se confirmem em linhas gerais claras ou em detalhes
A PROMESSA DA SALVAÇÃO
Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe
Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da
Se o patriarca seria alvo das bênçãos de Deus, seria ele, também, fonte de
bênção para outras pessoas. Sua descendência seria abençoada, porém não
somente ela, mas aqueles que, de uma maneira até então não revelada,
bendissessem a Abraão: “Abençoarei os que te abençoarem”. No
cumprimento dessa cláusula não foram postos limites territoriais, políticos ou
étnicos: “E em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Isso, necessariamente, não
quer dizer cada ser humano, mas pessoas de todos os povos.
A mensagem velada é o modo como Abraão poderia abençoar quem lhe
bendissesse. Jesus disse: “Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se” (Jo 8.56).
Ainda que o patriarca soubesse que a promessa implicava advir bênçãos por meio de um povo numeroso, de algum modo ele
O embrião das boas novas da parte de Deus podia ser reduzido á palavra-chave “bênção”. Aquele que foi abençoado
agora vai levar a efeito bênçãos de proporções universais. Em contraste com as nações que buscavam um “nome” para
elas mesmas, Deus fez de Abraão um grande nome a fim de que pudesse ser o meio de bênçãos para todas as nações.
[170]
Assim, tais textos – Gênesis 3.15 e 12.3 – apesar de não terem sido
amplamente compreendidos pelos judeus que receberam o Antigo
Testamento, fazem parte da contribuição veterotestamentária à doutrina da
salvação. De igual modo, isso ocorre com referências posteriores com a
diferença de que, a cada nova peça no quebra-cabeça, a mensagem se torna
mais definida e menos velada até que surjam referências claras ao Messias
por meio dos profetas. Falando sobre a salvação prometida em Gênesis,
Kaiser diz:
Essas palavras de salvação prometida têm continuidade nos oráculos proféticos de salvação. A única diferença entre
as promessas anteriores e as mensagens proféticas de salvação e promessa é o contexto da palavra de Deus que o profeta
transmite. Normalmente, elas aparecem no meio de uma ameaça de juízo a Israel pelo rompimento do concerto, pela sua
Outra peça importante é assentada por Jacó quando abençoou seus filhos
antes de morrer. Suas palavras tiveram caráter profético com desdobramentos
futuros correspondentes. Entre os filhos, Judá recebeu uma bênção peculiar:
“O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que
venha Siló; e a ele obedecerão os povos” (Gn 49.10).[172]
Trata-se do prenúncio de uma descendência real, como se viu na linhagem
de reis iniciada em Davi, da tribo de Judá. Mas, o que o texto tem de peculiar
é a menção “e a ele obedecerão os povos”. Se por Abraão os “povos” são
abençoados, por parte da descendência de Abraão – uma linhagem real de
Judá – os “povos” serão governados, o que foi repetido a Davi (2Sm 7.16),
estreitando em sua família a bênção de Jacó a Judá.
O profeta Miqueias concorda com a profecia de Jacó de que esse rei vem
da Tribo de Judá, visto que informa que seu nascimento é em Belém, cujo
antigo nome era Efrata (Rt 4.11),[173] dentro do território de Judá e,
também, cidade natal do rei Davi. O que é novidade é a introdução de uma
característica do rei: ele tem origem eterna, assim como Deus. Em outras
palavras, o rei que traria bênçãos e governo sobre todos os povos é
pessoalmente Deus:
E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel,
Sim, diz ele: Pouco é o seres meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e tornares a trazer os remanescentes de
Israel; também te dei como luz para os gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra (Is 49.6 – destaque
meu).
sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os
gentios
” (Is 42.1 – destaque meu).
Traçando, como Miqueias, o caráter divino desse rei, ao dizer que ele será
“adorado” (Is 49.7), Isaías descreve uma obra inacreditavelmente custosa do
servo salvador, pelo que também é conhecido como “Servo sofredor”. Um
dos trechos mais dramáticos e significativos, principalmente dentro da
história da salvação e da demonstração da graça e do amor de Deus pelos
homens, é Isaías 52.13 a 53.12. Uma síntese desse texto é extremamente clara
para que se reconheça, na vida e na obra de Cristo na cruz, tanto o
cumprimento da profecia nele como sua identidade messiânica:
Isaías 52.13: O “Servo do Senhor” tem um caráter íntegro e sábio e uma posição nobre.
Isaías 53.2: O início da obra do “servo do Senhor” se dá em humildade, como um pequeno broto, sem que houvesse
nada em sua aparência que sugerisse sua singularidade pelo que faria nos versículos seguintes.
Isaías 53.3: Seria um homem que experimentaria o sofrimento e, em lugar de ser acolhido, seria desprezado e
Isaías 53.4: Ele voluntariamente aceitou ser ferido por Deus a fim de ministrar eficazmente o remédio necessário para a
“traspassado” e “pisaduras” descrevem que tipo de castigo ele receberia para trazer paz aos homens.
Isaías 53.6: Deus castigaria o servo como se ele, livre de culpa, fosse culpado pela iniquidade de todos os que andam
longe do Senhor como ovelhas que andam longe de seus pastores. A palavra “mas” sugere que a realidade anterior –
andar desgarrado como ovelhas – seria alterada pelo sacrifício vicário do servo.
Isaías 53.7: Ele sofreria calado todas as agruras da obra redentora, sem se desviar da sua tarefa, ou tentar evitá-la.
Isaías 53.8: Ele seria morto pela violência da agressão que receberia por causa das transgressões.
Isaías 53.9: Em sua morte, seria considerado pelos homens como um criminoso, alguém merecedor de um enterro
desonroso. Entretanto, em vista da sua justiça, a desonra para ele planejada não chegaria a ser cumprida, dando lugar a
Isaías 53.10: A obra sacrificial do servo, em consonância com o propósito de Deus, precederia sua volta à vida para ser
Isaías 53.11: O resultado da sua obra seria plenamente positivo, de modo que justificaria a muitos, tirando-os debaixo
Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir
destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas
Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e
dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos,
nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais
domínio, a glória e o reino”. Entretanto, uma oração de Davi demonstra que tais prerrogativas pertencem a Deus somente, de
modo que o “Filho do homem” é também “divino”: “Teu, Senhor, [...] é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos. Riquezas
e glória vêm de ti, tu dominas sobre tudo” (1Cr 29.11,12 – destaque meu). Esse caráter tríplice da divindade é tomado por Jesus
para si mesmo como características pessoais exibidas no seu retorno, a saber, “domínio” (Jo 5.27), “glória” (Mt 16.27; Lc 21.27)
1. Salvação pessoal/nacional
Porque ele dizia: Certamente, eles são meu povo, filhos que não mentirão; e se lhes tornou o seu Salvador. Em toda a
angústia deles, foi ele angustiado, e o Anjo da sua presença os salvou; pelo seu amor e pela sua compaixão, ele os remiu,
2. Salvação Ritual
Os profetas tinham pouca confiança no sacrifício como meio de se livrar do pecado. Eles falavam primordialmente
de “arrependimento” e “perdão”, como meio de remover o pecado (Is 1.11; Os 6.6; Am 5.23,24; Mq 6.8). Os profetas
expressaram seu desapontamento com a falta de resposta do povo aos apelos ao arrependimento.
[198]
Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs,
no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado
Outra coisa que merece destaque é que a purificação ritual era uma
exigência a Israel como um todo, de modo que era realizada mesmo por
pessoas que desconheciam a salvação espiritual e que nunca poderiam entrar
na lista de homens que, nos dias do Antigo Testamento, foram justificados
por fé (Hb 11).
3. Salvação espiritual
“Salvação espiritual” não é um termo que faz jus ao efeito pleno da salvação de pecados, visto que, no que crê, há salvação
do seu corpo e da sua alma. Entretanto, a expressão serve para diferenciar seu conceito da preservação física e da purificação
ritual, além de evidenciar sua abrangência espiritual. Além disso, essa é a salvação cujos efeitos se darão pela eternidade.
Nunca é dito diretamente que o Senhor é o Redentor do pecado. Esse é um conceito do Novo Testamento que,
embora tenha raiz em ideias teológicas do Antigo Testamento, como sacrifício e expiação, não pode ser legitimamente
traçado até a noção de redenção no Antigo Testamento.
[203]
Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário. Então, ensinarei aos transgressores
os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti. Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e
Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegra no meu Deus; porque me cobriu de vestes de salvação e
me envolveu com o manto de justiça, como noivo que se adorna de turbante, como noiva que se enfeita com as suas
joias. Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se semeia, assim o Senhor
Deus fará brotar a justiça e o louvor perante todas as nações. (Is 61.10,11).
[204]
Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos
ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e
vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus
A circuncisão do coração é uma mudança interior, nada menos que a regeneração. No sentido do chamado, podemos
entender isso como a necessidade da conversão de cada pessoa. Ser membro da comunidade visível da aliança, em si, não
bastava para garantir a devoção e a salvação. Era preciso uma experiência pessoal. Por isso, o Pentateuco vincula a
circuncisão do coração ao arrependimento. É preciso que o “coração incircunciso se humilhe” na confissão de pecados
(Lv 26.41).
[205]
alguma
” (Ec 9.10 – destaque meu). Essa visão pessimista da morte surge,
também, nas palavras de Jó:
Porque há esperança para a árvore, pois, mesmo cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos. Se
envelhecer na terra a sua raiz, e no chão morrer o seu tronco, ao cheiro das águas brotará e dará ramos como a planta
nova. O homem, porém, morre e fica prostrado; expira o homem e onde está? Como as águas do lago se evaporam, e o
rio se esgota e seca, assim o homem se deita e não se levanta; enquanto existirem os céus, não acordará, nem será
despertado do seu sono. Que me encobrisses na sepultura e me ocultasses até que a tua ira se fosse, e me pusesses um
prazo e depois te lembrasses de mim! Morrendo o homem, porventura tornará a viver? Todos os dias da minha luta
Harmut Gese observou que a mente antiga não compartilhava nosso conceito biológico de vida. Nós dividimos o
mundo na esfera sem vida dos minerais e na esfera viva das plantas, animais e seres humanos. Para o Israel antigo, a vida
estava mais viva que a nossa vida, e as coisas mortas estavam mais mortas que as nossas coisas mortas. Para eles, a vida
era sempre integral e saudável, e a pessoa muito doente já passara para o outro mundo, a esfera em que a morte atua.
[208]
_____________
A Comunhão
Ensina-me, Senhor, o teu caminho, e andarei na tua verdade; dispõe-me o coração para só temer o teu nome (Salmo
86.11).
CARACTERIZADO POR SUA DEVOÇÃO A DEUS. O SENTIDO DE “ANDAR” (HALAK) NESSE GRAU
INICIAL DE ADÃO (3.8) E É A MESMA FRASEOLOGIA QUE TIPIFICA NOÉ, QUE É LEMBRADO POR SUA BOA
(6.9).
REPUTAÇÃO
[212]
TRANSFORMADO E SEPARADO PARA, NOVAMENTE, REFLETIR ESSA IMAGEM. QUANDO DEUS EXIGE SANTIDADE
DO SEU POVO ESTA É A RAZÃO: “... SANTOS SEREIS, PORQUE EU, O SENHOR, VOSSO DEUS, SOU SANTO. [...]
EU SOU O SENHOR, VOSSO DEUS” (LV 19.2,4).
[216]
ANDAREIS APÓS O SENHOR, VOSSO DEUS, E A ELE TEMEREIS; GUARDAREIS OS SEUS MANDAMENTOS,
OUVIREIS A SUA VOZ, A ELE SERVIREIS E A ELE VOS ACHEGAREIS. ESSE PROFETA OU SONHADOR SERÁ MORTO,
POIS PREGOU REBELDIA CONTRA O SENHOR, VOSSO DEUS, QUE VOS TIROU DA TERRA DO EGITO E VOS
RESGATOU DA CASA DA SERVIDÃO, PARA VOS APARTAR DO CAMINHO QUE VOS ORDENOU O SENHOR, VOSSO
DEUS, PARA ANDARDES NELE. ASSIM, ELIMINARÁS O MAL DO MEIO DE TI (DT 13.4,5 – DESTAQUE MEU).
[219]
SACRIFÍCIOS E PUREZA RITUAL. A TÔRÁ APRESENTA LEIS SOBRE DIFERENTES TIPOS DE SACRIFÍCIOS, SENDO
QUE NEM TODOS SE REFEREM À EXPIAÇÃO DE PECADOS. PARECE, ENTRETANTO, QUE NOS SÉCULOS
SERVIÇO SACRIFICIAL. A EXPIAÇÃO PASSOU A SER CONSIDERADA A PRÓPRIA RAZÃO DE SER DO SERVIÇO DO
TEMPLO.
[223]
COM EFEITO, CONDENOU DEUS, NA CARNE, O PECADO, A FIM DE QUE O PRECEITO DA LEI SE CUMPRISSE EM
NÓS, QUE NÃO ANDAMOS SEGUNDO A CARNE, MAS SEGUNDO O ESPÍRITO” (RM 8.3,4 – DESTAQUE MEU).
ELES [OS ISRAELITAS] DEVIAM SE CONSIDERAR COMO UM POVO SANTO – ISTO É, UM POVO SEPARADO
POR YAHWEH –, MAS YAHWEH ERA UM DEUS NÃO APENAS INCOMPARAVELMENTE PODEROSO, MAS TAMBÉM
INCOMPARAVELMENTE RETO, MISERICORDIOSO E VERDADEIRO PARA COM SUA PALAVRA FIEL. PORTANTO,
HOMENS E MULHERES QUE ERAM SANTOS PARA ELE, SEPARADOS PARA ELE, DEVIAM REPRODUZIR ESSAS
COMUNIDADE CULTURAL ESPECÍFICA. COMO JESUS É O CUMPRIMENTO DAS PROMESSAS FEITAS A ISRAEL,
TODAS AS LEIS DO ANTIGO TESTAMENTO TÊM DE SER INTERPRETADAS PELA PERSPECTIVA DA PESSOA, DA
OBRA E DO ENSINO DE CRISTO; E TODAS PODEM SER INTRUSIVAS HOJE EM DIA PELOS PRINCÍPIOS QUE
OS DEZ MANDAMENTOS
ENTÃO, ME DISSE: ESTA É A MALDIÇÃO QUE SAI PELA FACE DE TODA A TERRA, PORQUE QUALQUER QUE
FURTAR SERÁ EXPULSO SEGUNDO A MALDIÇÃO, E QUALQUER QUE JURAR FALSAMENTE SERÁ EXPULSO
TAMBÉM SEGUNDO A MESMA. FÁ-LA-EI SAIR, DIZ O SENHOR DOS EXÉRCITOS, E A FAREI ENTRAR NA CASA
DO LADRÃO E NA CASA DO QUE JURAR FALSAMENTE PELO MEU NOME; NELA, PERNOITARÁ E CONSUMIRÁ A SUA
MAS AGORA QUE CONHECEIS A DEUS OU, ANTES, SENDO CONHECIDOS POR DEUS, COMO ESTAIS
VOLTANDO, OUTRA VEZ, AOS RUDIMENTOS FRACOS E POBRES, AOS QUAIS, DE NOVO, QUEREIS AINDA
ESCRAVIZAR-VOS? GUARDAIS DIAS, E MESES, E TEMPOS, E ANOS. RECEIO DE VÓS TENHA EU TRABALHADO EM
VÃO PARA CONVOSCO” (GL 4.9-11 – DESTAQUE MEU).
ABRAÃO SACRIFICAR SEU FILHO POR SUA PRÓPRIA VONTADE É LOUCURA CHOCANTE. ELE FAZER O MESMO SOB O COMANDO DE
DEUS PROVA QUE ELE É FIEL E SUBMISSO. [...] FAZÊ-LO SOB A ORDEM DE DEUS MOSTRA NÃO SÓ O CUMPRIMENTO INOCENTE, MAS
LOUVÁVEL.
[237]
Isso, obviamente, não valida motivos espúrios para levar a guerra adiante
produzindo mortes injustificadas de seres humanos. Atualmente, isso
incidiria nas penalidades dos “crimes de guerra”. No Antigo Testamento,
Deus anunciava punição e, eventualmente, punia a quem agia desse modo,
assim como o fez ao castigar Edom pelo morticínio cruel e sádico dos
israelitas: “NÃO DEVIAS TER PARADO NAS ENCRUZILHADAS, PARA EXTERMINARES OS
QUE ESCAPASSEM; NEM TER ENTREGADO OS QUE LHE RESTASSEM, NO DIA DA
ANGÚSTIA” (OB 14 – o contexto do livro anuncia a destruição de Edom).
No Novo Testamento, o preceito justo desse mandamento é mantido.
Porém, de maneira surpreendente, Jesus fez uma aplicação dele em situações
em que nem chega a haver um homicídio. Ele considerou que o ódio no
coração de alguém, motivo frequente de assassinatos, já era suficiente para
ferir a justiça revelada por Deus: “OUVISTES QUE FOI DITO AOS ANTIGOS: NÃO
MATARÁS; E: QUEM MATAR ESTARÁ SUJEITO A JULGAMENTO. EU, PORÉM, VOS DIGO
QUE TODO AQUELE QUE [SEM MOTIVO] SE IRAR CONTRA SEU IRMÃO ESTARÁ SUJEITO A
JULGAMENTO” (Mt 5.21,22a).
O sétimo mandamento enaltece a unidade e fidelidade do casal: “NÃO
ADULTERARÁS” (Ex 20.14). Essa diretriz parece ter sua fonte na própria
instituição do casamento, reconhecendo-o não somente como um contrato
social, mas como uma união tal que é como se os dois dividissem a mesma
carne: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, TORNANDO-SE
OS DOIS UMA SÓ CARNE” (Gn 2.24 – destaque meu). Desrespeitar essa união se
deitando com a mulher de outro homem era algo que feria as relações
interpessoais e, também, a relação com o Deus santo.
A reprovação divina ao adultério já era nítida desde os tempos dos
patriarcas, bem antes da instituição da lei. Podemos ver esse conceito
expresso na intervenção divina em favor de Abraão e Sara quando ela foi
tomada pelos reis do Egito (Gn 12.17,18) e de Gerar (Gn 20.3), por pensarem
que ela era irmã de Abraão. Isaque lançou mão do mesmo artifício e foi
repreendido pelo rei de Gerar a respeito do risco que ele promoveu de a sua
esposa ser tocada por outro homem, incorrendo, assim, no adultério (Gn
26.10,11).
Isso também se vê na argumentação de José diante do assédio da esposa de
Potifar: “ELE NÃO É MAIOR DO QUE EU NESTA CASA E NENHUMA COISA ME VEDOU,
SENÃO A TI, PORQUE ÉS SUA MULHER; COMO, POIS, COMETERIA EU TAMANHA MALDADE E
PECARIA CONTRA DEUS?” (GN 39.9 – DESTAQUE MEU). AO DIZER ISSO, JOSÉ MOSTRA
QUE, MESMO ENTRE AS NAÇÕES QUE NÃO CONHECIAM O SENHOR, O ADULTÉRIO ERA
VISTO COMO ALGO REPREENSÍVEL.[238]
Apesar de tal proibição, a lei previa a poligamia, sem nunca incentivá-la,
ao contrário, desencorajando-a (Dt 17.17). Para alguns, o casamento de um
homem com várias mulheres visava a proteger as mulheres solteiras.[239] Se
isso fosse verdade, deveríamos, também, argumentar sobre a escravidão
como algum tipo de proteção de pessoas pobres, já que a escravidão também
era prevista na lei. O que realmente parece ser verdade é que Deus, que tinha
planos perfeitos para o homem, foi revelando sua vontade e causando
transformações ao longo da história. Porém, enquanto não promoveu tais
mudanças, tomou providências para que não ocorressem abusos, como no
caso de leis que protegiam escravos e mulheres que eram repudiadas. Já, no
Novo Testamento, tais arestas são aparadas e não há mais essa tolerância.
A justiça prevista nesse mandamento era tal que houve repetições da
ordem com previsão de duras consequências para os desobedientes: “NEM TE
DEITARÁS COM A MULHER DE TEU PRÓXIMO, PARA TE CONTAMINARES COM ELA” (Lv
18.20); “SE UM HOMEM ADULTERAR COM A MULHER DO SEU PRÓXIMO, SERÁ MORTO O
ADÚLTERO E A ADÚLTERA” (Lv 20.10). O “preceito justo” contido na lei,
entretanto, foi lavado, por Jesus, a novas áreas de conduta, visando a atingir a
mente das pessoas e não apenas os seus corpos: “OUVISTES QUE FOI DITO: NÃO
ADULTERARÁS. EU, PORÉM, VOS DIGO: QUALQUER QUE OLHAR PARA UMA MULHER
COM INTENÇÃO IMPURA, NO CORAÇÃO, JÁ ADULTEROU COM ELA” (Mt 5.27,28).
O oitavo mandamento garante a propriedade das pessoas, conforme o
Senhor dá a cada um: “NÃO FURTARÁS” (Ex 20.15; Dt 24.7). A palavra
hebraica traduzida como roubar, significa pegar alguma coisa que pertence a
outra pessoa sem permissão.[240] Esse conceito amplo apontava para vários
modos, previstos na lei mosaica, de se cometer o furto: rapto a fim de
comercialização de escravos (Ex 21.16 cf. Gn 37), posse indevida de algo
dado em penhor, extorsão (Lv 6.1-5), calote no pagamento de prestação de
serviços (Lv 19.13 cf. v.11), desonestidade nas negociações (Lv 19.35,36; Dt
25.13-16) e a subtração de bens alheios (Ex 22.1).
O Novo Testamento prevê esse princípio incentivando o infrator a deixar o
crime e fazer o oposto: “AQUELE QUE FURTAVA NÃO FURTE MAIS; ANTES,
TRABALHE, FAZENDO COM AS PRÓPRIAS MÃOS O QUE É BOM, PARA QUE TENHA COM
QUE ACUDIR AO NECESSITADO” (Ef 4.28). Paulo ainda mostra que a santificação
dos salvos os tira de uma condição anterior deplorável na qual o furto é
plenamente aceitável (1Co 6.10,11). Um exemplo ideal de abandono do furto
na conversão a Cristo se vê na pessoa de Zaqueu: “Senhor, resolvo dar aos
pobres a metade dos meus bens; e, SE NALGUMA COISA TENHO DEFRAUDADO
ALGUÉM, RESTITUO QUATRO VEZES MAIS” (Lc 19.8 cf. v.9,10 – destaque meu).
O nono mandamento implicava uma palavra verdadeira e honesta nos
relacionamentos entre os homens: “Não dirás falso testemunho contra o teu
próximo” (Ex 20.16). Foi preciso pouco tempo depois da saída de Israel da
terra do Egito para Moisés ser sobrecarregado com desentendimentos entre as
pessoas do povo. O sistema primitivo utilizado por Moisés para resolver
demandas, centralizando nele somente todas as decisões (Ex 18.13), foi,
mediante o conselho de Jetro (Ex 18.14-22), substituído por uma estrutura de
várias instâncias que pudesse dar conta de tantos desentendimentos,
reclamações e solicitações. Um dos requisitos dos auxiliares de Moisés nesse
sistema judicial é que os homens instituídos em tais cargos fossem homens
“sem avareza” (Ex 18.21), a fim de não venderem decisões.
Se, por um lado, os juízes deveriam ser honestos, por outro, as testemunhas
também o tinham. Para isso, a ordem de testemunhar a respeito de outros não
podia ser considerada um meio de tirar vantagens para si ou um meio de
promover o mal alheio. A verdade é o que devia sempre sair da boca das
pessoas. Se alguém explorasse o pobre por meio da “perversão do
julgamento”, mediante “falsa acusação”, seria considerado culpado pelo
Senhor (Ex 23.6). Levando em conta o número de pecados cuja pena era a
morte, falar mentira sobre os outros era atentar contra suas vidas: “Não
andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; não atentarás contra a vida do
teu próximo. Eu sou o SENHOR” (Lv 19.16).
Apesar da honestidade exigida nos testemunhos judiciais, a obediência a
esse mandamento não impediria a mentira apenas diante de um juiz, mas,
também, os falsos testemunhos de todo tipo, pelos quais a vida, o
relacionamento matrimonial ou a propriedade de um vizinho pudessem sofrer
danos (cf. Ex 23.1; Nm 35.30; Dt 17.6; 19.15; 22.13ss).[241]
O décimo mandamento, diferente dos nove precedentes, não trata de atos,
mas de uma atitude interna das pessoas: “NÃO COBIÇARÁS A CASA DO TEU
PRÓXIMO. NÃO COBIÇARÁS A MULHER DO TEU PRÓXIMO, NEM O SEU SERVO, NEM A
SUA SERVA, NEM O SEU BOI, NEM O SEU JUMENTO, NEM COISA ALGUMA QUE PERTENÇA
AO TEU PRÓXIMO” (Ex 20.17 – destaque meu). A ordem de não cobiçar a
mulher e os bens de outros homens pode parecer redundância, já que há
mandamentos que impedem o adultério e o furto. Entretanto, enquanto esses
dois mandamentos impedem os atos, o último deles mostra que Deus não
aceita o desejo mal, mesmo que ele não se torne um ato.
Tal pecado está presente desde os tempos narrados em Gênesis. Quando,
no Éden, a mulher decide comer o fruto, o texto aponta como uma das razões
a mulher ter achado o fruto “desejável para dar entendimento” (Gn 3.6), e não
qualquer entendimento, mas o entendimento de Deus (Gn 3.5). Esse é um
exemplo de um desejo interior que foi externado em uma ação pecaminosa.
Na verdade, boa parte dos pecados nasce desse desejo ímpio que é acolhido
no coração das pessoas. Contudo, o pecado da cobiça existe mesmo quando
ele não produz atos.
A OFENSA [DA COBIÇA] TEM QUE VER COM UMA DISPOSIÇÃO OU INCLINAÇÃO INTERIOR QUE, NA VERDADE SE NÃO FOR VERIFICADA,
PODE SE MANIFESTAR NO COMPORTAMENTO, MAS QUE PODE NUNCA SER DETECTADA POR UM SINAL EXTERIOR (DESTAQUE MEU).
[242]
Tal proibição demonstra a onisciência divina por ser Deus aquele que
sonda os corações: “De longe penetras os meus pensamentos. Esquadrinhas o
meu andar e o meu deitar e conheces todos os meus caminhos. Ainda a
palavra me não chegou à língua, e tu, Senhor, já a conheces toda” (Sl 139.2b-
4). Sendo assim, Deus se importa com aquilo que os homens pensam e
sentem e não se agrada de vê-los acolhendo desejos de pecados. Não basta
não adulterar; é preciso não desejar impuramente uma mulher. Não basta ter
as mãos puras; é necessário ter o coração puro.
Sendo assim, o decálogo aponta para o fato de que o proceder honesto,
santo e íntegro, contendo diretrizes morais e éticas, é válido para toda a raça
humana e não apenas para os israelitas da aliança.[243] O motivo disso é o
fato de os “justos preceitos” de Deus transparecerem na lei, indicando que
tipo de procedimento é necessário para andar com o Senhor. Em lugar disso,
as gerações posteriores dos israelitas fizeram o contrário, tornando-se
repreensíveis: “QUE É ISSO? FURTAIS E MATAIS, COMETEIS ADULTÉRIO E JURAIS
FALSAMENTE, QUEIMAIS INCENSO A BAAL E ANDAIS APÓS OUTROS DEUSES QUE NÃO
CONHECEIS, E DEPOIS VINDES, E VOS PONDES DIANTE DE MIM NESTA CASA QUE SE
CHAMA PELO MEU NOME, E DIZEIS: ESTAMOS SALVOS; SIM, SÓ PARA CONTINUARDES A
PRATICAR ESTAS ABOMINAÇÕES!” (Jr 7.9,10).
O procedimento moral perfeito apontado no decálogo é coroado pela sua
porção seguinte de lei, chamado “livro da aliança” (Ex 20.22–23.33). A
retidão e a integridade nos relacionamentos, seja com Deus, seja com os
homens, demonstra que o decálogo não é um conjunto utópico de normas
jogadas em um lugar fadado ao esquecimento. A moral perfeita requerida dos
israelitas pode ser vista na síntese de assuntos do livro da aliança proposta
por R. K. Harrison:
_____________
Os Decretos
TODOS OS MORADORES DA TERRA SÃO POR ELE REPUTADOS EM NADA; E, SEGUNDO A SUA VONTADE, ELE OPERA COM O EXÉRCITO
DO CÉU E OS MORADORES DA TERRA; NÃO HÁ QUEM LHE POSSA DETER A MÃO, NEM LHE DIZER: QUE FAZES? (DN 4.35).
DESDE O PRINCÍPIO ANUNCIO O QUE HÁ DE ACONTECER E DESDE A ANTIGUIDADE, AS COISAS QUE AINDA NÃO SUCEDERAM; QUE DIGO: O
MEU CONSELHO PERMANECERÁ DE PÉ, FAREI TODA A MINHA VONTADE; QUE CHAMO A AVE DE RAPINA DESDE O ORIENTE E DE UMA
TERRA LONGÍNQUA, O HOMEM DO MEU CONSELHO. EU O DISSE, EU TAMBÉM O CUMPRIREI; TOMEI ESTE PROPÓSITO, TAMBÉM O EXECUTAREI
A ELEIÇÃO
ESTA ELEIÇÃO É O IMUTÁVEL PROPÓSITO DE DEUS, PELO QUAL ELE, ANTES DA FUNDAÇÃO DO MUNDO, ESCOLHEU UM NÚMERO
GRANDE E DEFINIDO DE PESSOAS PARA A SALVAÇÃO, POR GRAÇA PURA. ESTAS SÃO ESCOLHIDAS DE ACORDO COM O SOBERANO BOM
PROPÓSITO DE SUA VONTADE, DENTRE TODO O GÊNERO HUMANO, DECAÍDO, POR SUA PRÓPRIA CULPA, DE SUA INTEGRIDADE ORIGINAL
PARA O PECADO E A PERDIÇÃO. [...] DEUS FEZ ISTO PARA A DEMONSTRAÇÃO DE SUA MISERICÓRDIA E PARA O LOUVOR DA RIQUEZA DE
DAVI DISSE: “O SENHOR, DEUS DE ISRAEL, ME ESCOLHEU DE TODA A CASA DE MEU PAI, PARA QUE ETERNAMENTE FOSSE EU REI
SOBRE ISRAEL; PORQUE A JUDÁ ESCOLHEU POR PRÍNCIPE E A CASA DE MEU PAI, NA CASA DE JUDÁ; E ENTRE OS FILHOS DE MEU PAI SE
AGRADOU DE MIM, PARA ME FAZER REI SOBRE TODO O ISRAEL” (1CR 28.4 – DESTAQUE MEU).
Salomão, filho de Davi, também foi alvo de uma escolha para uma tarefa
específica. Quando Davi se propôs a construir um templo para o Senhor, em
Jerusalém, que substituísse o tabernáculo – pois achou que um tipo de barraca
não transmitia a glória divina –, o Senhor o impediu a efetuar a empreita e
disse que seu herdeiro o faria.
Davi tinha vários filhos e alguns deles aspiravam ao trono. Entretanto, o
Senhor escolheu quem seria o próximo rei: “TEU FILHO SALOMÃO É QUEM
EDIFICARÁ A MINHA CASA E OS MEUS ÁTRIOS, PORQUE O ESCOLHI PARA FILHO E EU LHE
SEREI POR PAI” (1Cr 28.6 – destaque meu). Davi não deixou de transmitir tal
fato a Salomão (1Cr 28.1-7) e acrescentou que essa escolha se estendia à
tarefa de ser o construtor do templo em Jerusalém: “Agora, pois, atende a
tudo, porque o SENHOR TE ESCOLHEU PARA EDIFICARES CASA PARA O SANTUÁRIO; SÊ
FORTE E FAZE A OBRA” (1CR 28.10 – DESTAQUE MEU).
A eleição para um propósito levantou, também, profetas. Em alguns casos,
isso fica implícito, como nos chamados de Isaías (Is 6.1-10) e de Amós (Am
7.14,15). Contudo, no caso de Jeremias, a escolha prévia para a função
profética é declarada de modo explícito: “ANTES QUE EU TE FORMASSE NO
VENTRE MATERNO, EU TE CONHECI, E, ANTES QUE SAÍSSES DA MADRE, TE CONSAGREI,
E TE CONSTITUÍ PROFETA ÀS NAÇÕES” (JR 1.5).
Líderes políticos de outras nações também são alvo, no Antigo
Testamento, de eleição divina para realizarem uma função de ordem
histórica. Um desses líderes foi Nabucodonosor, chefe do que foi conhecido
como “Império Neo-Babilônico”,[262] o qual durou setenta anos (609-539
a.C.).[263] Como instrumento histórico escolhido por Deus, o Senhor o
chama de “NABUCODONOSOR, REI DA BABILÔNIA, MEU SERVO” (Jr 27.6) e diz que
lhe entregará as nações. Como ferramenta escolhida, ele teria a tarefa de
trazer “espanto” e “ruínas perpétuas” às “nações em redor” (Jr 25.9), ao
distante Egito (Jr 43.10,11) e até à nação de Judá e sua capital Jerusalém,
como punição prevista pelos seus pecados contra o Senhor:
PORTANTO, ASSIM DIZ O SENHOR: EIS QUE ENTREGO ESTA CIDADE NAS MÃOS DOS CALDEUS, NAS MÃOS DE NABUCODONOSOR, REI DA
BABILÔNIA, E ELE A TOMARÁ. OS CALDEUS, QUE PELEJAM CONTRA ESTA CIDADE, ENTRARÃO NELA, PORÃO FOGO A ESTA CIDADE E
QUEIMARÃO AS CASAS SOBRE CUJOS TERRAÇOS QUEIMARAM INCENSO A BAAL E OFERECERAM LIBAÇÕES A OUTROS DEUSES, PARA ME
PROVOCAREM À IRA. PORQUE OS FILHOS DE ISRAEL E OS FILHOS DE JUDÁ NÃO FIZERAM SENÃO MAL PERANTE MIM, DESDE A SUA
MOCIDADE; PORQUE OS FILHOS DE ISRAEL NÃO FIZERAM SENÃO PROVOCAR-ME À IRA COM AS OBRAS DAS SUAS MÃOS, DIZ O SENHOR
Outro líder mundial escolhido por Deus para administrar a história foi
Ciro, chefe do império medo-persa, o qual derrubou o império neo-babilônico
na segunda metade do século 6 a.C. Se Nabucodonosor é chamado “meu
servo”, Ciro é chamado “meu pastor” e “ungido do Senhor” (Is 44.28; 45.1).
Em primeiro lugar, sua função é derrubar reinos dentre os quais o principal é
a Babilônia: “ASSIM DIZ O SENHOR AO SEU UNGIDO, A CIRO, A QUEM TOMO PELA
MÃO DIREITA, PARA ABATER AS NAÇÕES ANTE A SUA FACE” (Is 45.1a – destaque meu).
Em segundo lugar, por meio de uma política externa diferente da praticada
pelos predecessores assírios e babilônicos, tinha a função de fazer os
israelitas exilados voltarem a Judá e reconstruírem Jerusalém e o templo:
“DIGO DE CIRO: ELE É MEU PASTOR E CUMPRIRÁ TUDO O QUE ME APRAZ; QUE DIGO
TAMBÉM DE JERUSALÉM: SERÁ EDIFICADA; E DO TEMPLO: SERÁ FUNDADO” (Is 44.28 –
destaque meu) e “na minha justiça, suscitei a CIRO E [...] ELE EDIFICARÁ A MINHA
CIDADE E LIBERTARÁ OS MEUS EXILADOS, NÃO POR PREÇO NEM POR PRESENTES, DIZ O
SENHOR DOS EXÉRCITOS” (IS 45.13 – destaque meu). Se Nabucodonosor foi o
instrumento da “ira” de Deus, Ciro foi o instrumento da sua “graça” e da sua
“fidelidade à aliança”. A eleição de Ciro fica ainda mais evidente quando se
nota que Isaías proferiu essas profecias mais de cento e cinquenta anos antes
de elas se cumprirem.[264]
3. A eleição de Israel
NUNCA MAIS OS DESCENDENTES DOS PATRIARCAS FORAM TIDOS SOMENTE COMO UMA FAMÍLIA. ELES ASSUMIRAM UMA IDENTIDADE
NACIONAL DISTINTA, MAS DE UM TIPO ATÍPICO. COLETIVAMENTE, ELES ERAM DIVINAMENTE DESIGNADOS COMO “MEU FILHO”,
“PRIMOGÊNITO” DE DEUS (EX 4.22 CF. JR 31.9). ESSA IDEIA DE UMA FILIAÇÃO DIVINA DA TODA A NAÇÃO FOI UMA EXTENSÃO DA
IDEIA DA ELEIÇÃO. ESTÁ, TAMBÉM, IMPLÍCITO UM RELACIONAMENTO FAMILIAR NO QUAL ESSE GRUPO COMPARTILHA DOS BENEFÍCIOS
OBTIDOS PARA ELES POR MEIO DO SEU GOEL (“RESGATADOR”) NO ÊXODO. SEU STATUS DE “PRIMOGÊNITO” SIGNIFICAVA QUE ELES
FORAM ESCOLHIDOS PARA PREEMINÊNCIA EM POSTO E POSIÇÃO (NÃO NECESSARIAMENTE EM ORDEM CRONOLÓGICA) NO SENTIDO DE QUE
NÃO VOS TEVE O SENHOR AFEIÇÃO, NEM VOS ESCOLHEU PORQUE FÔSSEIS MAIS NUMEROSOS DO QUE QUALQUER POVO, POIS ÉREIS O
MENOR DE TODOS OS POVOS, MAS PORQUE O SENHOR VOS AMAVA E, PARA GUARDAR O JURAMENTO QUE FIZERA A VOSSOS PAIS, O SENHOR
VOS TIROU COM MÃO PODEROSA E VOS RESGATOU DA CASA DA SERVIDÃO, DO PODER DE FARAÓ, REI DO EGITO (DT 7.7,8 CF. 10.15;
AS ALIANÇAS
A primeira aliança divina clara no Antigo Testamento foi feita com Noé e
a primeira aliança a ter relação direta com os israelitas é a aliança feita com o
patriarca Abraão. Entretanto, há sugestões de outras alianças anteriores.
Arthur W. Pink alista as alianças colocando nos dois primeiros lugares a
“aliança eterna” e a “aliança adâmica”.[268]
O que ele entende por “aliança eterna” é o fato de, antes da criação, Deus
ter decretado entregar seu Filho à morte para fazer “provisão de graça” a fim
de salvar os perdidos arrependidos (Ap 13.8). Gênesis 3.15, o
protoevangelho, seria o primeiro vislumbre dessa aliança feita na eternidade.
Seria uma aliança de salvação pela graça, enquanto as outras eram alianças de
bênção temporais. Fazendo isso, Pink a vê ao das Escrituras. Um exemplo é a
interpretação que ele deu às palavras de Davi: “Pois [Deus] estabeleceu
comigo uma ALIANÇA ETERNA” (2Sm 23.5 – destaque meu).[269]
A dificuldade dessa construção teológica é que o termo “aliança eterna”
aparece várias vezes na Bíblia para se referir ao “caráter permanente” das
alianças. Deus usa a mesma expressão (BERÎT ÔLAM) quando fala a Noé: “O
ARCO ESTARÁ NAS NUVENS; VÊ-LO-EI E ME LEMBRAREI DA ALIANÇA ETERNA ENTRE
DEUS E TODOS OS SERES VIVENTES DE TODA CARNE QUE HÁ SOBRE A TERRA” (GN
9.16). O ARCO, SEGUNDO O CONTEXTO, É “O SINAL DA ALIANÇA ESTABELECIDA ENTRE
MIM [DEUS] E TODA CARNE SOBRE A TERRA” (GN 9.17 – destaque meu).
A aliança, em questão, não é o decreto de salvar pecadores pela graça, mas
não enviar outro dilúvio que matasse toda a carne, incluindo os animais (Gn
9.8-17). “Eterna” é a duração dessa aliança e não uma nova categoria pactual.
[270] Parece que Pink confundiu a “eleição para a salvação” – que, de fato,
ocorreu antes da fundação do mundo – com uma aliança que não é declarada
e que não é necessária para o conceito de eleição. A dependência que as
alianças têm da eleição não se repete no sentido contrário.
A segunda aliança, conforme a proposta de Pink, é a “aliança adâmica”,
também conhecida como “aliança edênica”. Pink associa a ideia da aliança
ao caráter de Adão como representante de toda a humanidade – “cabeça
federal”. Desse modo, quando Adão pecou, o efeito sobre a raça humana é
que cada pessoa se tornou culpada como se ela mesma estivesse no Éden e
desobedecesse ao Senhor (1Co 15.22 cf. Rm 5.12-19).[271] Pink identifica os
elementos de uma aliança na afirmação de morte para Adão caso pecasse (Gn
2.17).[272] Sendo assim, ele aponta para o testemunho de Oséias: “Mas eles
transgrediram A ALIANÇA, COMO ADÃO” (Os 6.7).[273]
O grande problema é que Oséias não está acusando os israelitas de terem
quebrado uma aliança feita no Éden, mas de terem quebrado a “aliança
mosaica”, pela qual o Senhor os atingiu e trouxe punição por meio das
mensagens dos profetas (Os 6.5). Esses, tanto anunciaram o juízo como
evidenciaram os preceitos justos contidos na lei, sem os quais não era
possível agradar a Deus simplesmente cumprindo estatutos (Os 6.6). Parece
que Adão, nesse contexto, é alguém cuja desobediência é comparável à Israel,
já que ambos foram privilegiados com conhecimento do Senhor e bênçãos
maravilhosas da parte dele, ao que responderam com incredulidade, orgulho e
rebeldia. De qualquer modo, essa aliança não é claramente afirmada nas
Escrituras. O conceito de uma aliança é desnecessariamente aplicado no
suporte de verdades bíblicas como a queda da humanidade na queda de Adão.
A primeira aliança declarada no Antigo Testamento – como já dissemos –
é a aliança noaica. Ela é marcada pelo uso da palavra “BERÎT” (aliança),[274]
citada pela primeira vez em Gênesis 6.18. Outra palavra característica das
alianças é o verbo “KARAT” (literalmente, “cortar”),[275] frequentemente
associado a “BERÎT”, mas sua primeira aparição nas Escrituras se dá somente
na celebração da aliança abraâmica (Gn 15.18).[276]
A aliança noaica foi previamente anunciada por Deus a Noé: “CONTIGO,
PORÉM, ESTABELECEREI A MINHA ALIANÇA; ENTRARÁS NA ARCA, TU E TEUS FILHOS, E
TUA MULHER, E AS MULHERES DE TEUS FILHOS” (Gn 6.18). Apesar de a primeira
impressão ser a de que a aliança envolve o salvamento pela arca, quando
Deus, de fato, fez esse pacto, ele apontou para a garantia da inexistência de
outro dilúvio como meio de punição divina. Foi uma aliança da parte de Deus
– somente ele se comprometeu sem exigir certas condições para o
cumprimento, o que faz dela uma aliança “incondicional” –, cujos
beneficiários seriam Noé, sua descendência (a raça humana) e os animais.
DISSE TAMBÉM DEUS A NOÉ E A SEUS FILHOS: EIS QUE ESTABELEÇO A MINHA ALIANÇA CONVOSCO, E COM A VOSSA DESCENDÊNCIA, E
COM TODOS OS SERES VIVENTES QUE ESTÃO CONVOSCO: TANTO AS AVES, OS ANIMAIS DOMÉSTICOS E OS ANIMAIS SELVÁTICOS QUE SAÍRAM
DA ARCA COMO TODOS OS ANIMAIS DA TERRA. ESTABELEÇO A MINHA ALIANÇA CONVOSCO: NÃO SERÁ MAIS DESTRUÍDA TODA CARNE POR
ÁGUAS DE DILÚVIO, NEM MAIS HAVERÁ DILÚVIO PARA DESTRUIR A TERRA (GN 9.8-12 – DESTAQUE MEU).
[277]
1. A aliança abraâmica
NESSA DISCUSSÃO, TRÊS PONTOS DE VISTA CONCERNENTES À CONTINUIDADE DE ISRAEL COMO NAÇÃO TÊM SIDO CONSIDERADOS:
(1) A VISÃO QUE NEGA QUE ISRAEL EXISTA HOJE E QUE, PORTANTO, NÃO TEM FUTURO; (2) O CONCEPÇÃO DE QUE ISRAEL CONTINUA
COMO RAÇA, MAS NÃO COMO UMA NAÇÃO; (3) A INTERPRETAÇÃO PRÉ-MILENISTA NA QUAL ISRAEL NÃO APENAS TEM CONTINUIDADE
COMO UMA RAÇA, MAS UM FUTURO COMO UMA NAÇÃO NO REINO PRÉ-MILENAR. É EVIDENTE QUE A CONTINUIDADE DE ISRAEL COMO
UMA NAÇÃO DEPENDE, EM PRIMEIRO LUGAR, DA NATUREZA DAS SUAS PROMESSAS COMO BENEFICIÁRIA, COMO POR EXEMPLO, EM
GÊNESIS 17 AONDE A ALIANÇA ABRAÂMICA É QUALIFICADA COMO ETERNA E A TERRA É PROMETIDA A ISRAEL COMO UMA POSSESSÃO
PERPÉTUA.
[279]
MOSTRAREI; DE TI FAREI UMA GRANDE NAÇÃO, E TE ABENÇOAREI, E TE ENGRANDECEREI O NOME. SÊ TU UMA BÊNÇÃO! ABENÇOAREI OS
QUE TE ABENÇOAREM E AMALDIÇOAREI OS QUE TE AMALDIÇOAREM; EM TI SERÃO BENDITAS TODAS AS FAMÍLIAS DA TERRA (GN 12.1-
3).
O SENHOR, POR MEIO DESSE ATO, INVOCOU UMA MALDIÇÃO SOBRE SI MESMO SE NÃO CUMPRISSE A ALIANÇA COM ABRAÃO (V.18).
A OUSADIA DESSA METÁFORA É QUASE INCOMPREENSÍVEL, MAS ELA TRANSMITE A FIRMEZA DO COMPROMISSO DO DEUS QUE NÃO PODE
MENTIR.
[283]
Ao fazer isso, Deus garantiu a Abraão teria uma vida longa e confirmou a
promessa da sua descendência, informando que ela seria escrava em terra
estrangeira por quatrocentos anos até que o Senhor os tirasse de lá com
riquezas (Gn 15.13-16). Quanto à terra – preocupação de Abraão expressa no
versículo oito –, o Senhor garantiu a posse perpétua aos descendentes de
Abraão e delimitou seu território (Gn 15.18-21).[284]
O limite Sul dessa terra seria o “rio do Egito”. Há quem proponha que essa
é uma referência ao rio Nilo. Contudo, se isso for verdade, a península do
Sinai faria parte do território dado por Deus aos israelitas. Isso não condiz
com a preparação para a invasão da terra quando o povo estava em Cades
(Nm 13), nem com a punição da geração rebelde que deixou o Egito, a qual
previa: “NENHUM DELES VERÁ A TERRA QUE, COM JURAMENTO, PROMETI A SEUS PAIS,
SIM, NENHUM DAQUELES QUE ME DESPREZARAM A VERÁ” (Nm 14.23). Levando em
conta que eles passaram quarenta anos na península do Sinai, o rio Nilo não
pode ser o rio que o Senhor marcou como limite sul da terra prometida. Por
outro lado, há um rio intermitente – “Wadi el-Arish” – que, sendo há muito
reconhecido como “fronteira do Egito”,[285] é um bom candidato para
delimitar a terra ao Sul.[286]
A outra fronteira não é difícil de identificar: o “grande rio Eufrates”. O rio
Eufrates é muito extenso e não se deve associar esse ponto geográfico com
fronteira oriental com o Golfo Pérsico através da Jordânia, mas com uma
fronteira ao Norte através da Síria. Se não é difícil identificar o rio Eufrates,
é, pelo menos, surpreendente saber que a fronteira descrita por Deus leva o
território israelita bem além dos seus atuais limites para dentro do território
sírio. Isso representa, por alto, um aumento em duas vezes do território
dominado pelos israelitas na conquista de Canaã.
Israel nunca possuiu toda essa terra.[287] O mais perto que esteve disso foi
nos dias de Davi e, mesmo assim, não como pátria, mas como império (2Sm
8).[288] Todo o território entre esses dois rios é descrito como terra de dez
povos, sendo que essa lista representa todos os povos que habitavam essa
terra (Gn 15.19-21).[289] Tudo isso pertenceria “permanentemente” aos
descendentes de Abraão.
Por fim, Gênesis 17 expõe a aliança de Deus e a responsabilidade de
Abraão diante dela por meio de duas colocações introdutórias: “quanto a
mim” (Gn 17.4) e “quanto a ti” (Gn 17.9). Da parte de Deus, além de
reafirmar uma descendência numerosa (Gn 17.2), Deus introduz um novo
elemento dizendo que Abraão seria pai de mais de uma nação – “numerosas
nações” (Gn 17.4,6) – de modo que seu nome foi mudado para se adaptar à
realidade prometida (Gn 17.5). Na verdade, o próprio livro de Gênesis mostra
essa promessa se cumprindo, por exemplo, na própria nação de Israel, ao lado
da nação de Edom (Gn 25.23-26), e dos ismaelitas (Gn 25.12).
também, reis descenderiam de Abraão (Gn 17.6). Cada uma das nações
que nasceram do patriarca teve seus reis. O reinado ilustre, obviamente, é o
da nação israelita, cuja casa real viria da tribo de Judá (Gn 49.10). Essa
promessa era crida com tal convicção por Moisés que, ao listar os reis de
Edom, tomou como certa a monarquia em Israel, a qual foi instituída somente
quatro séculos mais tarde: “SÃO ESTES OS REIS QUE REINARAM NA TERRA DE
EDOM, ANTES QUE HOUVESSE REI SOBRE OS FILHOS DE ISRAEL” (Gn 36.31 – destaque
meu).[290] Por fim, Deus reafirma para com a descendência especial de
Abraão – o povo de Israel – a posse perpétua da terra de Canaã (Gn 17.7,8).
Por sua vez, Abraão, além de receber orientação de “andar com Deus e ser
perfeito” (Gn 17.1), tinha o dever de manter o sinal da aliança que Deus fez
com ele: a circuncisão de todos os homens da linhagem de Abraão, incluindo
os escravos que habitassem entre eles (Gn 17.9-14). As duas ordens –
procedimento e circuncisão – existem, aqui, em consequência da aliança e
não como cláusula condicionante dos seus termos.
Em termos simples, o fato de Deus buscar Abraão e se comprometer com
ele deveria ser a razão Abraão honrá-lo com um procedimento compatível.
Entretanto, essa não era uma condição para que Deus cumprisse sua
promessa. Mesmo quando Abraão não agiu com nobreza e com integridade,
como no caso da mentira sobre Sara ser sua irmã, o Senhor não desistiu de
cumprir o que garantiu empenhando sua palavra.
O mesmo valia para a circuncisão. A desobediência ao cumprimento do
sinal da aliança geraria punição: “O INCIRCUNCISO, QUE NÃO FOR CIRCUNCIDADO
NA CARNE DO PREPÚCIO, ESSA VIDA SERÁ ELIMINADA DO SEU POVO; QUEBROU A MINHA
ALIANÇA” (Gn 17.14 – destaque meu). Por isso, a ira de Deus contra Moisés
por não ter ele circuncidado seu filho (Ex 4.24-26). Entretanto, ainda que haja
punição para a negligência da circuncisão, a aliança abraâmica permanece
vigente e será plenamente cumprida.
Algo incontestável na aliança abraâmica é a promessa de que a nação
numerosa seria abençoada por Deus. O Pentateuco mostra que Deus abençoa
esse povo de várias maneiras, como no livramento do Egito, o sustento no
deserto e a confirmação da posse da terra ainda que tenha atrasado a
conquista pela rebeldia da primeira geração de israelitas depois do êxodo.
Nesse sentido, os oráculos de Balaão confirmam para Israel as bênçãos de
Deus prometidas a Abraão e demonstram que as bênçãos incondicionais de
Deus não podem ser anuladas pelos atos humanos: “COMO POSSO AMALDIÇOAR
A QUEM DEUS NÃO AMALDIÇOOU? COMO POSSO DENUNCIAR A QUEM O SENHOR NÃO
DENUNCIOU?” (Nm 23.8).
Assim, os oráculos de Balaão, contrariando as intenções dos seus
contratantes de amaldiçoar Israel, previram o crescimento numérico de Israel
(Nm 23.1-12 cf. Gn 12.2), segurança e vitória dos israelitas (Nm 23.13-26 cf.
Gn 15.1,14), prosperidade e poder real (Nm 24.1-9 cf. Gn 17.6,16), um
príncipe dominador em Israel (Nm 24.15-19 cf. Gn 49.10), a ruína do povo
de Amaleque (Nm 24.20 cf. Gn 12.3) e cativeiro e destruição para quenitas,
assírios e hebreus[291] (Nm 24.21-24 cf. Gn 12.3).[292]
Os artigos da aliança abraâmica são claros. Entretanto, um ponto obscuro é
o modo como Abraão seria veículo de bênção e maldição, mesmo para outras
linhagens ao redor do mundo: “ABENÇOAREI OS QUE TE ABENÇOAREM E
AMALDIÇOAREI OS QUE TE AMALDIÇOAREM; EM TI SERÃO BENDITAS TODAS AS
FAMÍLIAS DA TERRA” (GN 12.3). NESSE CASO, O APÓSTOLO PAULO NOS AJUDA AO
IDENTIFICAR A “DESCENDÊNCIA” OU A “SEMENTE” DE ABRAÃO COMO JESUS CRISTO
(GL 3.16).[293] A dificuldade, então, é saber como interpretar a palavra
“descendência” (“ZERÁ”, em hebraico) dentro das promessas da aliança
abraâmica.
Gênesis deixa claro que a descendência seria “numerosa”. Contudo, essa
grande família não tem prerrogativas capazes de transmitir bênçãos, pois são
homens pecadores como os de qualquer outro povo. Por outro lado, Jesus,
como o descendente de Abraão, pode transmitir bênçãos a todos os povos por
causa da sua obra redentora. Mas, ele não preenche todas as características
desse povo numeroso que habitaria em Canaã.
Os exegetas, muitas vezes, se vêem no dilema de ter de decidir entre uma e
outra dessas possibilidades e, para isso, têm de escolher quais verdades
teológicas eles abrem mão. Mas isso não é necessário. As duas verdades
convivem perfeitamente. É indiscutível que a descendência de Abraão em
Gênesis é o povo de Israel. Jesus faz parte desse povo numeroso e produz o
que nenhum outro membro da família abraâmica poderia.
Por meio e por causa desse descendente ilustre, a saber, o Senhor Jesus
Cristo, o nome de Abraão seria motivo de bênção e de maldições e seu nome
seria engrandecido. Por meio desse descendente, a descendência de Abraão
seria veículo de bênção e salvação até mesmo fora da família, ao redor do
planeta. Essa é, também, a razão para a eleição de Israel para ser um povo
particular e santificado ao Senhor.
RESUMO
:[294]
AINDA QUE TRATAR TODO O PENTATEUCO SOB O NOME DE “LEI” SEJA DESCONSIDERAR AS PORÇÕES NARRATIVAS E ATÉ POÉTICAS, A
LEI É UMA TÔNICA MUITO GRANDE NOS ESCRITOS MOSAICOS. POR ISSO, NO ANTIGO TESTAMENTO O PENTATEUCO É CHAMADO DE “LEI”
(JS 8.34), “LIVRO DA LEI” (JS 1.8), “LIVRO DA LEI DE MOISÉS” (JS 8.31), “LEI DO SENHOR” (ED 7.10), “LEI DE DEUS” (NE
10.28,29), “LIVRO DA LEI DE DEUS” (JS 24.26), “LIVRO DA LEI DO SENHOR” (2CR 17.9), “LIVRO DA LEI DO SENHOR SEU DEUS”
(NE 9.3) E “LEI DE MOISÉS SERVO DE DEUS” (DN 9.11). O NOVO TESTAMENTO RECONHECE TAL CARACTERÍSTICA NOMEANDO-O
COMO “LIVRO DA LEI” (GL 3.10), “LEI” (MT 12.5), “LEI DE MOISÉS” (LC 2.22) E “LEI DO SENHOR” (LC 2.23,24).
[296]
LERÁS ESTA LEI DIANTE DE TODO O ISRAEL” (DT 31.10,11 – ver, também,
v.12,13).[305]
Testemunhas: Uma parte importante desse tratado eram as testemunhas,
normalmente deuses que trariam punições caso o trato fosse quebrado.
Não havendo ninguém maior que o Senhor Deus para agir de testemunha,
ele tomou elementos da criação para essa finalidade: “OS CÉUS E A TERRA
TOMO, HOJE, POR TESTEMUNHAS CONTRA TI, QUE TE PROPUS A VIDA E A MORTE, A
DISSE: TUDO O QUE FALOU O SENHOR FAREMOS” (Ex 24.3 – ver v.7).
Cerimônia solene: Normalmente, uma cerimônia pública acompanhava o
juramento da aliança e conferia a ele um caráter solene. Com Israel não foi
diferente, visto que celebrou a aliança mosaica oferecendo sangue
sacrificial ao Senhor e tendo uma refeição comunitária (Ex 24.1-18).[307]
Processo contra um vassalo rebelde: Quem não se adequasse ao acordo
fechado entre as nações, era de imediato punido. No Sinal, a aliança mal
havia sido celebrada e o povo enveredou no caminho da idolatria fazendo
para si um bezerro de ouro (Ex 32.1-8). A punição declarada pelo Senhor
era extremamente dura: “TENHO VISTO ESTE POVO, E EIS QUE É POVO DE DURA
CERVIZ. AGORA, POIS, DEIXA-ME, PARA QUE SE ACENDA CONTRA ELES O MEU
RESUMO
:
Celebrada primeiramente no Sinai (1446 a.C.) e repetida nas planícies de
Moabe (c. 1407-1406 a.C.).
Não substituía a aliança abraâmica, nem alterava suas promessas. Apenas
criava condições de desfrute de tais bênçãos.
Regulamentava a vida do povo da aliança (Israel) visando a estabelecer
seu modo de vida e de culto na terra prometida. Outras nações não entram
nesse pacto, a não ser que passassem a fazer parte de Israel.
Por meio da obediência à aliança, dava as condições para o desfrute da
bênção da presença de Deus.
A obediência também traria paz, prosperidade e permanência na terra
prometida para cada geração. A desobediência traria o oposto: guerra,
carestia e exílio.
A condição de obediência não era cumprida por um ritualismo mecânico,
mas por um coração dedicado e ligado ao Senhor, o qual produziria uma
vida onde a justiça dirigiria todos os relacionamentos.[309]
Apesar do caráter permanente da aliança assim que celebrada no Sinai,
deveria ser renovada regularmente e relembrada ao povo, de geração em
geração, pela leitura pública da lei. Cada geração deveria renovar sua
aliança com Deus e assumir para si o compromisso feito pelos seus pais.
O que ela produzia de resultados práticos para os israelitas dependia da
sua obediência ou não à aliança. Desse modo, apesar da aliança ter um
caráter permanente, seu resultado era condicional.
Pressupõe a futura habitação de Israel nos limites plenos da terra
prometida por meio da ação de Jesus, o descendente de Abraão.
3. A aliança davídica
Certo dia, Davi notou o disparate entre a sua habitação, o palácio real em
Jerusalém, e a habitação da arca do Senhor, um tipo de tenda (2Sm 7.1,2).
Imediatamente, Davi se propôs a fazer uma morada melhor para a arca por
meio da construção de um templo que centralizasse a adoração israelita em
Jerusalém,[310] já que nesses dias havia dois tabernáculos, um em Gibeão –
o tabernáculo construído nos dias de Moisés – e outro em Jerusalém – que
Davi construiu para colocar a arca que estava em Quiriate-Jearim.[311]
Em lugar de o Senhor aceitar a casa de presente, ele fez o oposto. E mais:
prometeu uma casa para Davi: “DAR-TE-EI, PORÉM, DESCANSO DE TODOS OS TEUS
INIMIGOS; TAMBÉM O SENHOR TE FAZ SABER QUE ELE, O SENHOR, TE FARÁ CASA” (2Sm
7.11b – destaque meu). Diante disso, ficou claro a Davi e aos leitores do livro
de Samuel que o reinado de Davi não seria estabelecido pelo que ele poderia
fazer para Deus, mas pelo que Deus faria por ele.[312]
Ao prometer a Davi uma casa, o Senhor não se referiu a uma construção,
visto que o próprio texto revela a propriedade de uma boa casa real: “Disse o
rei [Davi] ao profeta Natã: Olha, EU MORO EM CASA DE CEDROS” (2Sm 7.2a –
destaque meu). Sendo assim, o Senhor se referiu a uma “dinastia real”. Se a
aliança abraâmica prometeu aos israelitas uma “terra”, a aliança
davídica[313] prometeu a Davi e ao povo de Israel um “trono” e uma
“descendência real”: “FIZ ALIANÇA COM O MEU ESCOLHIDO E JUREI A DAVI, MEU
SERVO: PARA SEMPRE ESTABELECEREI A TUA POSTERIDADE E FIRMAREI O TEU TRONO DE
GERAÇÃO EM GERAÇÃO” (Sl 89.3,4 – destaque meu). Na verdade, essa aliança
nada mais é do que uma especificação da aliança abraâmica, já que ela já
havia anunciado a existência de uma monarquia israelita.
Sendo assim, a aliança davídica também não substitui a abraâmica, mas se
soma a ela no que tange à liderança política de Israel. Se a aliança abraâmica
previu reis (Gn 17.6,16) vindos da tribo de Judá (Gn 49.10), a aliança do
Senhor com Davi identificou a linhagem davídica como a dinastia específica
pela qual o reino israelita seria dirigido. O que há de marcante nessa
promessa é a duração desse reinado, pois seria “perpétuo”, assim como a
posse da terra prometida a Abraão.
A recusa divina de receber de Davi a construção de um templo – isso só
ocorreu no reinado de Salomão, filho de Davi – serviu para frisar que a
aliança davídica não era uma troca de favores, mas uma promessa unilateral
iniciada pelo próprio Senhor de maneira incondicional, ou seja, não dependia
de condições humanas para que fosse levada a cabo. Assim, depois de dizer
“te farei casa”, Deus continuou: “Quando teus dias se cumprirem e
descansares com teus pais, então, FAREI LEVANTAR DEPOIS DE TI O TEU
DESCENDENTE, QUE PROCEDERÁ DE TI, E ESTABELECEREI O SEU REINO. ESTE EDIFICARÁ
UMA CASA AO MEU NOME, E EU ESTABELECEREI PARA SEMPRE O TRONO DO SEU REINO”
(2Sm 7.12,13 – destaque meu).
Certamente, a parte menos importante desse trecho é a que mais chama
atenção: “Este edificará uma casa ao meu nome”. Entretanto, esse não é o
centro dessa aliança. Deus mesmo frisou a verdade de que ele nunca habitou
em uma casa entre os israelitas, mas sempre andou entre eles no tabernáculo
(2Sm 7.6). Apesar disso, o filho de Davi realizaria esse empreendimento que
Davi desejou. Se o templo não era o centro da aliança, qual era?
A resposta tem a ver com a descendência real de Davi. Deus garantiu ao rei
que levantaria seu descendente e “estabeleceria o seu reino”. Diferente do que
ocorreu a Saul, o reinado de Israel não passaria a outra dinastia. E mais: Deus
estabeleceria “para sempre o trono do seu reino”. Essa é a garantia
incondicional de um trono “perpetuo” da linhagem davídica.
Apesar da incondicionalidade da promessa, um fator condicional está
presente, nem tanto pela promessa do trono em si, mas por apontar para
pessoas israelitas que estavam sob o tratamento condicional da aliança
mosaica. Assim, o Senhor fala do filho de Davi algo que vale para toda a
linhagem: “EU LHE SEREI POR PAI, E ELE ME SERÁ POR FILHO; SE VIER A TRANSGREDIR,
CASTIGÁ-LO-EI COM VARAS DE HOMENS E COM AÇOITES DE FILHOS DE HOMENS” (2Sm
7.14 – destaque meu). O que o Senhor faz aqui nada mais é que reafirmar as
maldições da aliança mosaica pela desobediência (ver Lv 26 e Dt 28).[314]
Entretanto, apesar do tratamento condicional da aliança mosaica, o
benefício da aliança davídica – a garantia do “trono perpétuo” – jamais seria
esquecido ou rejeitado, pelo que Deus garante na sequência: “Mas a minha
misericórdia se não apartará dele, como a retirei de Saul, a quem tirei de
diante de ti. Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante
de ti; teu trono será estabelecido para sempre” (2Sm 7.15,16). Essa é a
garantia de que até o final da história da humanidade haverá um descendente
real da casa de Davi e um trono em Israel onde esse rei exercerá seu poder
governamental.
Essa mesma dinâmica – punição dos indivíduos pecadores da dinastia da
aliança, mas a garantia do trono e do reino perpetuamente – se vê no Salmo
89. Ele anuncia a punição dos reis pecadores: “SE OS SEUS FILHOS DESPREZAREM
A MINHA LEI E NÃO ANDAREM NOS MEUS JUÍZOS, SE VIOLAREM OS MEUS PRECEITOS E
NÃO GUARDAREM OS MEUS MANDAMENTOS, ENTÃO, PUNIREI COM VARA AS SUAS
TRANSGRESSÕES E COM AÇOITES, A SUA INIQUIDADE” (Sl 89.30-32). Entretanto,
garante:
MAS JAMAIS RETIRAREI DELE A MINHA BONDADE, NEM DESMENTIREI A MINHA FIDELIDADE. NÃO VIOLAREI A MINHA ALIANÇA, NEM
MODIFICAREI O QUE OS MEUS LÁBIOS PROFERIRAM. UMA VEZ JUREI POR MINHA SANTIDADE (E SEREI EU FALSO A DAVI?): A SUA
POSTERIDADE DURARÁ PARA SEMPRE, E O SEU TRONO, COMO O SOL PERANTE MIM. ELE SERÁ ESTABELECIDO PARA SEMPRE COMO A LUA E
FIEL COMO A TESTEMUNHA NO ESPAÇO (SL 89.33-37 CF. V.3,4,28,29 – DESTAQUE MEU).
RESUMO
:
4. A nova aliança
NOS ÚLTIMOS DIAS, ACONTECERÁ QUE O MONTE DA CASA DO SENHOR SERÁ ESTABELECIDO NO CIMO DOS MONTES E SE ELEVARÁ
SOBRE OS OUTEIROS, E PARA ELE AFLUIRÃO TODOS OS POVOS. IRÃO MUITAS NAÇÕES E DIRÃO: VINDE, E SUBAMOS AO MONTE DO
SENHOR E À CASA DO DEUS DE JACÓ, PARA QUE NOS ENSINE OS SEUS CAMINHOS, E ANDEMOS PELAS SUAS VEREDAS; PORQUE DE SIÃO
SAIRÁ A LEI, E A PALAVRA DO SENHOR, DE JERUSALÉM. ELE JULGARÁ ENTRE OS POVOS E CORRIGIRÁ MUITAS NAÇÕES; ESTAS
CONVERTERÃO AS SUAS ESPADAS EM RELHAS DE ARADOS E SUAS LANÇAS, EM PODADEIRAS; UMA NAÇÃO NÃO LEVANTARÁ A ESPADA
ACASO O BOM SE ME TORNOU EM MORTE? DE MODO NENHUM! PELO CONTRÁRIO, O PECADO, PARA REVELAR-SE COMO PECADO,
POR MEIO DE UMA COISA BOA, CAUSOU-ME A MORTE, A FIM DE QUE, PELO MANDAMENTO, SE MOSTRASSE SOBREMANEIRA
MALIGNO. PORQUE BEM SABEMOS QUE A LEI É ESPIRITUAL; EU, TODAVIA, SOU CARNAL, VENDIDO À ESCRAVIDÃO DO PECADO (RM
7.13,14).
[323]
O MAR E FAZ BRAMIR AS SUAS ONDAS; SENHOR DOS EXÉRCITOS É O SEU NOME. SE FALHAREM ESTAS LEIS FIXAS DIANTE DE MIM, DIZ O
SENHOR, DEIXARÁ TAMBÉM A DESCENDÊNCIA DE ISRAEL DE SER UMA NAÇÃO DIANTE DE MIM PARA SEMPRE. ASSIM DIZ O SENHOR: SE
PUDEREM SER MEDIDOS OS CÉUS LÁ EM CIMA E SONDADOS OS FUNDAMENTOS DA TERRA CÁ EMBAIXO, TAMBÉM EU REJEITAREI TODA A
DESCENDÊNCIA DE ISRAEL, POR TUDO QUANTO FIZERAM, DIZ O SENHOR” (JR 31.35-37).
E ACONTECERÁ, DEPOIS, QUE DERRAMAREI O MEU ESPÍRITO SOBRE TODA A CARNE; VOSSOS FILHOS E VOSSAS FILHAS
PROFETIZARÃO, VOSSOS VELHOS SONHARÃO, E VOSSOS JOVENS TERÃO VISÕES; ATÉ SOBRE OS SERVOS E SOBRE AS SERVAS DERRAMAREI O
MEU ESPÍRITO NAQUELES DIAS. MOSTRAREI PRODÍGIOS NO CÉU E NA TERRA: SANGUE, FOGO E COLUNAS DE FUMAÇA. O SOL SE
CONVERTERÁ EM TREVAS, E A LUA, EM SANGUE, ANTES QUE VENHA O GRANDE E TERRÍVEL DIA DO SENHOR. E ACONTECERÁ QUE TODO
AQUELE QUE INVOCAR O NOME DO SENHOR SERÁ SALVO; PORQUE, NO MONTE SIÃO E EM JERUSALÉM, ESTARÃO OS QUE FOREM SALVOS,
COMO O SENHOR PROMETEU; E, ENTRE OS SOBREVIVENTES, AQUELES QUE O SENHOR CHAMAR (JL 2.28-32).
O POVO DE DEUS TERIA CURA ESPIRITUAL E DESFRUTARIA DAS BÊNÇÃOS DIVINAS DE PAZ E PROSPERIDADE. OS ISRAELITAS DO
NORTE E DO SUL VOLTARIAM À TERRA (30.10; 31.27; 33.7) E SE ALEGRARIAM COM COLHEITAS FRUTÍFERAS E REBANHOS E MANADAS
ABUNDANTES (31.4,5,24; 33.10-13). OS NORTISTAS IRIAM DE BOA VONTADE A JERUSALÉM (31.6) PARA CELEBRAR AS BÊNÇÃOS DO
SENHOR (31.12-14). TENDO RECEBIDO PERDÃO (33.6,8), OS EX-EXILADOS JÁ NÃO LAMENTARIAM QUE ESTAVAM SENDO FORÇADOS A
SOFRER PELOS PECADOS DOS SEUS PAIS, MAS RECONHECERIAM QUE DEUS TRATA COM JUSTIÇA OS HOMENS EM BASE INDIVIDUAL
DIZE-LHES, POIS: ASSIM DIZ O SENHOR DEUS: EIS QUE EU TOMAREI OS FILHOS DE ISRAEL DE ENTRE AS NAÇÕES PARA ONDE ELES
FORAM, E OS CONGREGAREI DE TODAS AS PARTES, E OS LEVAREI PARA A SUA PRÓPRIA TERRA. FAREI DELES UMA SÓ NAÇÃO NA TERRA,
NOS MONTES DE ISRAEL, E UM SÓ REI SERÁ REI DE TODOS ELES. NUNCA MAIS SERÃO DUAS NAÇÕES; NUNCA MAIS PARA O FUTURO SE
DIVIDIRÃO EM DOIS REINOS. NUNCA MAIS SE CONTAMINARÃO COM OS SEUS ÍDOLOS, NEM COM AS SUAS ABOMINAÇÕES, NEM COM
QUALQUER DAS SUAS TRANSGRESSÕES; LIVRÁ-LOS-EI DE TODAS AS SUAS APOSTASIAS EM QUE PECARAM E OS PURIFICAREI. ASSIM, ELES
SERÃO O MEU POVO, E EU SEREI O SEU DEUS. O MEU SERVO DAVI REINARÁ SOBRE ELES; TODOS ELES TERÃO UM SÓ PASTOR, ANDARÃO
NOS MEUS JUÍZOS, GUARDARÃO OS MEUS ESTATUTOS E OS OBSERVARÃO. HABITARÃO NA TERRA QUE DEI A MEU SERVO JACÓ, NA QUAL
VOSSOS PAIS HABITARAM; HABITARÃO NELA, ELES E SEUS FILHOS E OS FILHOS DE SEUS FILHOS, PARA SEMPRE; E DAVI, MEU SERVO, SERÁ
SEU PRÍNCIPE ETERNAMENTE. FAREI COM ELES ALIANÇA DE PAZ; SERÁ ALIANÇA PERPÉTUA.
[332] ESTABELECÊ-LOS-EI, E OS
MULTIPLICAREI, E POREI O MEU SANTUÁRIO NO MEIO DELES, PARA SEMPRE (EZ 37.21-26 – DESTAQUE MEU).
RESUMO:
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