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Everton Santos1
Everton Cardoso2
“Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar
santo (quem lê entenda)” (Mateus 24:15).
Ὅταν οὖν ἴδητε τὸ βδέλυγμα τῆς ἐρημώσεως τὸ ῥηθὲν διὰ Δανιὴλ τοῦ προφήτου ἑστὸς ἐν
τόπῳ ἁγίῳ, ὁ ἀναγινώσκων νοείτω, (Mt 24:15).
A preposição ‘διὰ’ é traduzida aqui como ‘através de’ uma vez que, em presença do
genitivo, esta é a tradução indicada. Vale lembrar que no grego as preposições são sujeitas
ao caso das palavras que as acompanham. Tal tradução implica que o autor da narrativa de
Mateus está atribuindo sua fala não a si mesmo, mas está reconhecendo a autoridade
profética de Daniel, haja vista afirmar que o que diz respeito à abominação desoladora, foi
dito através de Daniel.
Por sua vez a expressão ‘βδέλυγμα τῆς ἐρημώσεως’ chega ao português como
‘abominação da desolação’. Azevedo (2010) em seu léxico analítico de grego aponta esta
expressão como sendo um hebraísmo que poderia ser traduzido como ‘coisa que faz algo
se tornar detestável, abandonado’. Quando se leva em consideração o fato de que o termo
‘βδέλυγμα’ se refere a qualquer coisa relacionada com a questão da idolatria e que, mais
que isso, apresenta nuances de que algo será abandonado, torna-se clara a intenção do
escritor e o cuidado de se utilizar de um termo que (ainda que não compreendesse
plenamente o que estava para acontecer) reproduzisse bem a idéia tipo/antítipo.
1
Bacharel em Teologia pelo SALT-IAENE - Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia/Instituto
Adventista de Ensino do Nordeste. BR 101, KM 197 - Cx.Postal 18 - Capoeiruçu - Cachoeira- BA - Brasil –
CEP 44300-000 – Tel. (75)91673251, <evertonsantos100@hotmail.com>.
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Bacharel em Teologia pelo SALT-IAENE - Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia/Instituto
Adventista de Ensino do Nordeste. BR 101, KM 197 - Cx.Postal 18 - Capoeiruçu - Cachoeira- BA - Brasil –
CEP 44300-000 – Tel. (75)91034153, <evertton777@hotmail.com>.
O autor da narrativa sabe exatamente o local que será palco da abominação
desoladora, haja vista que se utiliza da expressão ‘ἑστὸς ἐν τόπῳ ἁγίῳ’, que literalmente é
traduzida como ‘situada em o lugar santo’. É importante recordar que o escritor é de
origem semítica e que em sua mente o adjetivo masculino ‘ἁγίῳ’ (que pode ser traduzida
não somente como santo, mas como lugar dedicado a Deus, santuário, templo) o remete (e
ao leitor semítico seu público alvo também) instantaneamente ao Templo e suas
dependências, o orgulho nacional.
Finalizando esta parte, mas não menos importante está a análise da palavra ‘ἴδητε’, que
se trata de um verbo no 2° Aoristo subjuntivo ativo, segunda pessoal do plural. Encontra
sua raiz no verbo ‘εἴδον’, que significa ver, perceber, tornar-se consciente, considerar,
prestar atenção, etc. Isto implica que ao utilizar tal vocábulo o autor está chamando a
atenção para que o leitor considere, dê atenção quando o predito acontecer. Vale ainda
destacar o fato de que por se encontrar no aoristo subjuntivo, o verbo aponta para algo não
ocorrido, uma vez que “devido às próprias características do modo subjuntivo, pode-se
dizer que, desde a perspectiva de quem fala ou escreve, a ação do subjuntivo é
imaginada, visualizada ou concebida como acontecendo no futuro” (Rega; Bergmann,
2004).
2. Paralelos em Daniel
O profeta Daniel faz referência a uma “abominação que causa desolação”, referências
estas que podem ser encontradas nos seguintes textos: Daniel 8:13; 9:27; 11:31 e 12:11.
De um modo breve será analisada a expressão em cada um dos textos. Rodríguez comenta
que em Daniel 8:13 a transgressão assoladora está em conexão com a atividade do chifre
pequeno que se opõe ao santuário de Deus durante a idade média no período de
supremacia papal. Este ato de rebelião causa desolação através de um falso sistema de
adoração que será visto mais adiante.
Daniel 9:27, situado dentro da profecia das setenta semanas, aponta para a vinda do
Messias e à destruição do templo de Jerusalém em 70 d.C.. Esta última está inserida na
seção “sobre a asa das abominações virá o assolador” (Dan 9:27b). O texto indica que
após a morte do Messias a abominação causaria desolação. Por sua vez Daniel 11:31 e
12:11 estão interligados, uma vez que ambos os textos se referem à tentativa por parte do
abominável da desolação de obscurecer o ministério do Príncipe do Exército no santuário
celestial. Estes paralelos esclarecem o significado das palavras de Cristo em Seu sermão
profético.
Existem duas palavras que se referem à ‘visão’ nestes capítulos, sendo a primeira delas
a palavra hebraica ‘hazon’ que diz respeito à visão como um todo. Por sua vez, o termo
‘mareh’ aparece denotando especificamente os 2300 dias. O esclarecimento por parte do
mensageiro se relaciona unicamente aos versos 13 e 14 do capítulo 8. Este é o início do
discurso de Gabriel e, a partir daqui, as inquietações do profeta são esclarecidas. É neste
contexto que se encontram inseridas as setenta semanas.
Esta profecia (as setenta semanas) se refere a um dos principais temas soteriológicos,
uma vez que engloba o plano divino de redenção do homem e aponta para o sacrifício vicário
do Ungido. A narrativa segue seu curso e o que se tem a seguir é o início da explicação:
“Setenta semanas estão determinadas [chathak] sobre o teu povo [os judeus] e sobre a tua
santa cidade [Jerusalém]” (Dn 9:24). O significado da palavra hebraica ‘chathak’ ajuda a
estabelecer uma correta interpretação da referida passagem. De fato, esta palavra possui uma
relevância muito grande por se tratar de uma hápax legomena4, que pode ser traduzida como
‘designadas’, ‘decretadas’, ‘separadas’ ou ainda ‘cortadas’.
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O capítulo 8 termina com algumas questões não respondidas ao profeta, questões estas concernentes às 2300
tardes e manhãs.
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Hapax legomena trata-se de uma expressão grega que significa “uma só vez”.
No sentido de serem ‘determinadas’, ou ‘decretadas’, a profecia está direcionada ao
povo judeu, haja vista que todas as profecias concernentes à vinda, sofrimento e morte do
Messias estão diretamente conectadas ao povo hebreu. Grande parte dos eruditos concorda ao
afirmarem que a melhor tradução para ‘chathak’ seria ‘cortadas’ no sentido de que estas
foram semanas separadas de uma porção maior, a saber as 2300 tardes e manhãs de Daniel
8:14. “Este conceito de que os 490 anos são subtraídos do período de 2300 anos parece ser a
única conclusão acertada (KNIGHT, 2008, p.211)”. Esta ideia fica mais clara ao analisar-se o
contexto completo da visão. A seguir é apresentado um esboço da visão com ênfase nas
setenta semanas:
“Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém,
até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas” (Dan 9:25).
“Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar
santo (quem lê entenda)” (Mateus 24:15).
“Quando, pois, virdes o abominável da desolação situado onde não deve estar (quem lê
entenda), então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes” (Marcos 13:14).
“Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua
devastação” (Lucas 21:20).
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Porfírio em sua teoria aponta Antíoco IV Epifânio como chifre pequeno de Daniel 7, surgindo de um quarto
reino grego.
Os que interpretam Antíoco como o chifre pequeno e parte do quarto reino o fazem
baseando-se na teoria pagã, que aponta Grécia e não Roma como o último império da
profecia. Tal pensamento contradiz a interpretação clássica protestante.
Ele não corresponde às especificações de Daniel 7 no que se refere a “mudar os
tempos e a lei” “e os santos lhe serão entregues nas mãos por um tempo, dois tempos e
metade de um tempo”.
Antíoco é um personagem que emerge no terceiro império (origem selêucida) e não no
quarto como requer a descrição profética.
Não há também correspondência às especificações de Daniel 8, haja vista que os
chifres do bode de tal capítulo se referem a reinos e não a um rei em particular.
Quanto à tentativa do chifre pequeno (citado em Daniel 8:11) de usurpar o tamid do
príncipe do exército, Antíoco não cumpre o que é predito em tal verso, haja vista que,
apesar de sua tentativa bem sucedida de “tirar” os sacrifícios diários, este não deita por
terra o “lugar do seu santuário”. O cumprimento pleno de tal descrição se dá apenas no
ano 70 d. C., quando verdadeiramente o santuário é destruído pelo exército romano
sob o comando de Tito.
Ao Cristo utilizar-se da expressão “quando, pois, virdes o abominável da desolação”
(Mt 24:15) fica claro o sentido de uma profecia ainda não cumprida.
Este fato elimina toda e qualquer possibilidade de Antíoco IV Epifânio, que viveu no
segundo século a.C. ser identificado como a abominação desoladora de Daniel. Estabelecer tal
identificação teria “uma direta ligação com a natureza de Jesus Cristo e com a autoridade do
NT” (Hasel, 2009, p. 72).
A teoria porfírica surgiu com intuito de tão somente contestar a profecia e depreciar a
crença cristã de que o livro de fato é uma produção atribuída ao personagem histórico Daniel
no período neobabilônico. Tal teoria coloca a produção do livro como sendo nada mais que
vaticinia ex eventu. Esta argumentação já se comprovou tão frágil quanto as demais, uma vez
comprovado que tanto o aramaico encontrado em Esdras quanto o de Daniel correspondem ao
aramaico imperial oficial, usado no período que compreende 700-300 a.C. Ademais, parece
ilógico que um autor vivendo no segundo século se utilizasse de uma forma de língua tão
anterior ao seu próprio momento histórico.
Jesus é o elo indispensável para a compreensão da narrativa de Mateus 24, sendo neste
capítulo estabelecida uma ponte entre o sermão do Olivete e as profecias relatadas por Daniel
seis séculos antes. É importante observar que o sermão profético de Cristo segue o mesmo
estilo literário do livro de Daniel, a saber, profecia apocalíptica. Para LaRondelle, este
capítulo possui similaridades teológicas com Daniel.
Jesus faz uso de termos simbólicos tirados do livro de Daniel, tais como o
“Reino”, “Filho do Homem”, “abominação desoladora”, indicando que Ele
teve um profundo interesse nas profecias apocalípticas de Daniel
(LARONDELLE, 1997, p.34).
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Neviim (do hebraico )נביאיםou Profetas é o nome de uma das três seções do Tanakh, estando esta entre a Torá
e Kethuvim. Tal seção não inclui o livro de Daniel.
profecia das setenta semanas, que já foi mencionada. Uma correta compreensão da
apocalíptica bíblica pode elucidar o significado do texto em questão, a saber, Mateus 24:15.
8.1. O Contexto
Jesus estava na área do templo com Seus discípulos que por sua vez destacavam a beleza e
importância do templo, motivo de orgulho para a nação judaica. Enquanto os discípulos
destacam cada detalhe da estrutura bem arquitetada, Jesus interrompe os dizendo: “Não vedes
tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja
derribada” (Mt 24:2). Tal declaração vinda do Messias é motivo de perturbação entre Seus
seguidores, posto não conseguirem compreender como poderia tal predição se cumprir, uma
vez que o templo era visto como a habitação de Deus e símbolo também de Sua proteção.
Os discípulos não entendiam como poderia Deus permitir tal acontecimento. Herodes
havia investido muito na reconstrução e durante cinquenta anos havia se empenhado nesta
obra, resultando no magnífico templo conforme destaca Josefo. Parecia-lhes impossível que a
assertiva de Jesus fosse para seus dias, mas que tal evento só poderia ocorrer no fim do
mundo. Seus seguidores ainda não haviam compreendido Seu ministério messiânico,
alimentando ainda a esperança de que o Messias se proclamasse rei e libertasse os judeus do
jugo romano. Tamanha foi a dúvida que após o ocaso do sol, terça-feira da semana da paixão,
os discípulos procuraram a Cristo e lhe questionaram: “Dize-nos quando sucederão estas
coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século” (Mt 24:3). Tal pergunta é
o que introduz o sermão profético e, desta forma, se faz necessária a análise da perspectiva
tipológica presente no capítulo 24 a fim de se compreender a resposta dada por Cristo.
Este princípio pode ser encontrado no discurso do Olivete, isto é, nas palavras de Cristo,
palavras estas que descrevem vários eventos em uma perspectiva tipológica. Quando os
discípulos procuram a Cristo para lhe indagar possuíam duas dúvidas em mente: primeiro
“Dize-nos quando sucederão estas coisas? [destruição do Templo]; segundo: que sinal
haverá da tua vinda e da consumação do século” (Mt 24:3). Estas duas perguntas obviamente
exigiriam duas respostas distintas, contudo, em Seu discurso, Cristo mescla ambas as
respostas, visto não existir na mente de Seus discípulos distinção de tempo para o
cumprimento de tais eventos (para eles a destruição do Templo só poderia ter seu lugar na
segunda vinda de Cristo).
Jesus descreve alguns sinais que deveriam merecer a atenção de Seus seguidores, tais
como: “falsos cristos e falsos profetas” (v.4); “guerras e rumores de guerras” (v.6); “fome e
terremotos” (v. 6-8). Alguns aplicam estes sinais como eventos que precederão a segunda
vinda do Messias (o que não está errado), entretanto tais eventos e sinais devem ser
entendidos dentro do princípio tipológico.
A análise dos escritos históricos datados do primeiro século ajudam a elucidar a tipologia
do sermão profético. Flávio Josefo historiador do primeiro século destaca que no período de
39 anos que separaram o discurso de Cristo da destruição do templo, surgiram muitos falsos
profetas tentando enganar o povo e que, de fato, muitos judeus foram enganados. Jesus
também predisse que haveria “guerras e rumores de guerras” (v.6) e “fome e terremotos”
(v.6-8). Somente no curto reinado do imperador Cláudio (41 a 54 d.C) há o registro de quatro
grandes ondas de fome, uma das quais é mencionada em At 11:28. Graves terremotos
reconhecidamente ocorreram nos domínios do império, principalmente em Creta (46 ou 47
d.C.). Roma também desenvolveu guerras em Mauritânia (41 a 42 d.C.), Bretanha (43 a 61
d.C.) e Armênia (no início dos anos 60 d.C.).
Todos estes sinais são entendidos como um tipo que se cumpriria antes da destruição de
Jerusalém e do Templo pelo exército romano em 70 d.C. Estes eventos ocorreram em escala
menor em comparação com o seu respectivo antítipo que teria o cumprimento nos “últimos
dias”. LaRondelle amplia a tipologia usada por Cristo ao afirmar que “em Seu julgamento
sobre Jerusalém, Cristo proveu ao mundo um exemplo do futuro julgamento”
(LARONDELLE, 1997, p.41). O juízo de Deus sobre Jerusalém no ano 70 d.C., em
decorrência dos judeus terem rejeitado o Messias, era um tipo do juízo final [antítipo] de Deus
sobre todos aqueles que rejeitaram a Jesus e Seu ministério salvífico.
Alberto R. Timm comenta que o mesmo poder apóstata que haveria de estabelecer a
"abominação desoladora" em lugar do "sacrifício diário" é descrito em Daniel 7 e 8 como o
"chifre pequeno", e em Daniel 11 como o "rei do Norte". Conforme a abordagem historicista,
a qual é defendida neste estudo, que rejeita a Antíoco IV Epifânio como o chifre pequeno e
entende que este é um símbolo de Roma tanto pagã quanto papal. Pois unicamente Roma é
que cumpre as predições feitas tanto quanto ao “chifre pequeno” quanto a “abominação
desoladora”. Se o chifre pequeno é interpretado como uma referência profética a Roma,
subentende-se que a “abominação desoladora” ou “abominação” que causa desolação se
referem ao mesmo império.
8.3.1 Cumprimento Típico
No ano 63 a.C, Jerusalém foi tomada pelos romanos, e a Judéia foi incorporada ao
império, era comum que se exigisse dos povos conquistados, o oferecimento de sacrifícios e
ofertas em favor do imperador, os judeus nunca aceitaram a idéia de estarem sob o jugo
romano. No ano 60 d.C. os sacerdotes decidiram que não mais ofereceriam sacrifícios em
favor do imperador, o que gerou uma revolta por parte de Roma, que entendeu o ato como
traição. O imperador decidiu que os judeus deveriam ser punidos.
Mais tarde os romanos decidiram retornar. Nero, que era o imperador na época, chamou a
um de seus generais chamado Vespasiano, e ordenou que ele partisse para a Judéia e rendesse
o povo, Vespasiano juntamente com seu filho Tito partiram em direção a Terra Santa. Na
primavera do ano 70 d.C. época em que os judeus relembravam a páscoa, Tito fechou o cerco
a cidade. A fome tomou conta dos moradores, grupos fanáticos surgiram e aterrorizavam os
que ali viviam, muitos judeus se abrigaram no templo, pois pensavam que mesmo depois de
rejeitarem as advertências de Deus, Ele não permitiria que tamanho mal viesse sobre eles. ´
Não era plano de Tito destruir o templo, era seu plano deixa-lo como marco de sua
conquista. Após um conflito alguns soldados romanos atearam fogo a um pedaço de madeira e
jogaram em direção ao templo, o fogo logo se alastrou e o templo foi destruído no incêndio,
então Tito liderou suas tropas e levou Jerusalém a destruição total. Muitos foram mortos neste
dia, Josefo relata que o sangue corria pelas escadas da cidade, muitos foram vendidos como
escravos e outros foram levados as arenas para serem devorados por feras. Jerusalém estava
completamente desolada. (MAXWELL, 2010, p.26).
Estes fatos podem elucidar o significado das palavras de Cristo: “Quando, pois, virdes o
abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda),
então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes;” (Mt 24:15,16). A interpretação
desta perícope fica mais clara, a luz da narrativa do evangelho de Lucas que diz: “Quando,
porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação.”
(Lc 21:20). Conforme já citado neste estudo, existe um paralelo nos sinóticos ao comparar-se
os dois textos, entende-se que tal abominação se refere ao futuro iminente de Israel em seu
cumprimento típico.
Rodríguez comenta que a abominação nas Escrituras designa tudo aquilo que é ofensivo
ao caráter perfeito de Deus, por vezes esta expressão é encontrada na Bíblia fazendo
referência a prática da idolatria, prática considerada abominável aos olhos de Deus, exemplos
são encontrados em II Reis 23:13, Isaías 44:19; 66:3 e Jeremias 7:30. E em alguns casos se
refere a quem pratica a idolatria como em Oséias 9:10, quando Deus condena a Israel por sua
idolatria. (RODRÍGUEZ, 2002, p.85).
Daniel usa o termo “transgressão assoladora” Dn 8:13. Expressão esta que conforme já
visto anteriormente está interligado com outros termos semelhantes citados no livro e
ressaltado por Jesus, Maxwell diz:
“Portanto, a “transgressão assoladora”, a “abominação desoladora” (ou
abominável da desolação) e o “sacrilégio desolador”, mencionados por Jesus
e Daniel, são uma só coisa. Em essência, seria um sistema pecaminoso de
adoração, que praticaria o sacrilégio de tripudiar (e desolar) a cidade de Deus,
o santuário de Deus e o povo de Deus.” (MAXWELL, 2010, p.29)
A pergunta de Daniel 8:13 era “Até quando durará a visão do sacrifício diário e da
transgressão assoladora...?” e a resposta foi “E ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes
e manhãs; e o santuário será purificado.” (Dn 8:14). Portanto a “transgressão assoladora”
duraria 2300 anos conforme o princípio profético dia-ano. Conforme já visto neste estudo a
profecia das setenta semanas de Daniel 9:24-27 marcam o início destes 2300 anos que iniciam
em 457 a.C. Conclui-se então que a “transgressão assoladora” deveria durar até o final dos
2300 dias.
Em 503 d.C. após o concílio de “sinodus palmaris” realizado em Roma, foi decidido que
o papa seria substituto de Deus, o papa seria juiz e não poderia ser julgado por homem algum,
o papa seria o mediador entre Deus e o homem. Este falso sistema de adoração tentaria
usurpar o tamid7 do príncipe do exército. (GONZALEZ, 1994, p.79) E este sistema
pecaminoso instituído por Roma realmente obscureceu o ministério de Cristo no santuário
celestial, pois colocava o papa como mediador e intercessor e não Cristo. Este ato marcou a
troca do contínuo pela “transgressão assoladora”. Posterior a isso em 508 a.D. Clovis, rei do
Francos, após unir-se a igreja católica através do batismo, derrotou as últimas tribos ostis ao
papado no ocidente, abrindo o caminho para a “transgressão assoladora”.
Em Daniel 7:25; 12:7 e Apocalipse 12:14, menciona-se "um tempo, dois tempos e
metade de um tempo", ou seja, três tempos e meio, que na verdade, equivalem a três anos e
meio. Três anos e meio, multiplicados pelos 12 meses do ano, dão 42 meses, que,
multiplicados por 30 dias de cada mês, resultam outra vez em 1260 dias. Em Apocalipse 11:3
e 12:6, faz-se menção de 1260 dias. Em Apocalipse 11:2 e 13:5, são mencionados 42 meses,
que, multiplicados por 30 dias do mês, resultam também em 1260 dias. Estes 1260 anos
deveriam ter o seu início no ano 538 a.D., ano este que marca o início da supremacia papal,
que duraria 1260 anos, culminando no ano de 1798 a.D. Estes 1260 anos devem ser
compreendidos dentro do paralelismo do livro de Daniel que conecta os (1.260, 1.290, 1.335 e
2.300 dias). Daniel menciona que: “Depois do tempo em que o sacrifício diário for tirado, e
posta a abominação desoladora, haverá ainda mil duzentos e noventa dias.” (Dan 12:11).
Estes 1290 dias/anos, tem o seu início em 508 a.D e terminam também em 1798 a.D. Neste
ano o general Berthier por ordem de Napoleão chegou a Roma e aprisionou o papa Pio VI,
dando fim a supremacia papal e chegando ao fim dos 1260 e 1290 dias de Daniel 7:25 e
12:11. A “transgressão assoladora” ou “abominável da desolação” teria seu fim neste período.
Mas ainda resta a referência de Daniel a 1335 dias que diz: “Bem-aventurado o que
espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias.”(Dan 12:12). Este verso expressa a
felicidade daqueles que estivessem vivendo neste período. (GONZALEZ, 1994, p. 81).
Porque aquele que estivesse vivendo neste período de 1335 anos após o estabelecimento da
abominação desoladora, ou seja, 1335 anos após 508 a.D., veria o inverso, seria
reestabelecido o verdadeiro culto a Deus. Observa-se que este tempo de 1335 dias nos leva ao
ano de 1844, período que se cumpre também a profecia de Daniel 8:14 referente a purificação
do santuário ao final dos 2300 dias. Este período seria o período de restauração da verdade
concernente ao ministério sumo sacerdotal de Cristo no santuário celestial, durante 1260 e
1290 dias/anos este ministério foi obscurecido por um falso sistema de adoração, mas no
período de 1839 a 1844 houve um grande interesse pelo estudo das profecias de Daniel, e
durante o movimento milerita a grande verdade sobre a intercessão de Cristo em nosso favor
no santuário celestial foi reestabelecida.
8. Conclusão
Há quem defenda que esta seção seja uma profecia de cumprimento duplo. E relamente,
algumas profecias possuem cumprimento duplo, isto é, possuem um cumprimento de caráter
mais imediato e um desdobramento mais amplo. HASEL (2010) afirma que um
“cumprimento duplo pode ser identificado apenas se as Escrituras exigem um cumprimento
inicial e parcial e mais tarde indicam claramente um cumprimento final e completo”. Esta
ideia pode ser encontrada, por exemplo, na profecia de Joel 2 acerca do derramamento do
Espírito Santo.
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