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Muitos chegam ao seminário pensando que aprenderão tudo o que é

preciso saber para o ministério; no entanto, o seminário é o alicerce,


não a construção inteira. Algumas coisas se aprendem só por meio do
treinamento prático, ou seja, apenas na vida e no ministério. Hansen e
Robinson reuniram nesse livro uma série de ensaios que deixam
transparecer as lutas e as alegrias do ministério pastoral. Eles nos
lembram de que todo ministério pastoral bem-sucedido é um milagre,
que sem Jesus nada podemos fazer. Aqui encontramos palavras de
sabedoria que ajudarão a preparar o caminho dos pastores de hoje e de
amanhã.
Thomas R. Schreiner, professor da cátedra James Buchanan
Harrison de Interpretação do Novo Testamento, The Southern
Baptist Theological Seminary
O seminário, nos poucos anos que oferece de instrução, é incapaz de
fazer tudo. Muitas vezes não somos orientados quanto a determinados
aspectos relacionais associados ao ministério, aspectos que não se
aprende numa sala de aula. Aqui está um livro que trata desses
aspectos, principalmente os relacionais. Ele o faz com sensibilidade e
sabedoria. Recomendo esse livro pelo coração que ele pode dar a seu
ministério.
Darrell Bock, diretor-executivo de Engajamento Cultural do The
Hendricks Center, Dallas Heortologia Seminary
Somos abençoados nos dias de hoje por termos alguns seminários
maravilhosos. Mas mesmo os seminários mais sólidos não conseguem
prover os homens de todas as ferramentas práticas necessárias ao
pastor no ministério. Eis uma das muitas razões pelas quais esse livro
é um recurso brilhante e necessário. 15 coisas que o seminário não pôde
me ensinar é um presente não só para todo pastor formado em
seminário, mas também para aqueles que trabalham nas trincheiras do
ministério pastoral. Um excelente grupo de pastores foi reunido para
preencher essa lacuna há muito exposta no treinamento pastoral.
Brian Croft, pastor titular da igreja Auburndale Baptist Church,
Louisville, Kentucky, Estados Unidos; fundador do Practical
Shepherding [Pastorado Prático] e membro sênior do Mathena
Center for Church Revitalization, The Southern Baptist
Theological Seminary
Percebi que, por mais que o seminário nos ensine, ainda restam
algumas lições substanciais que nenhum ensino formal pode
transmitir. Como o primeiro passo no aprendizado é descobrir o que
não sabemos, abra esse livro e empreenda uma jornada educacional
que perdurará por todo o seu ministério, abordando quinze dos temas
mais importantes de sua vida.
David Murray, professor de Antigo Testamento e de Teologia
Prática do Puritan Reformed Theological Seminary
Estudar no seminário é mais do que aprender habilidades e obter
informação. Significa iniciar uma vida. Esse livro trata dos contornos
dessa vida de ministério repleta de desvios e curvas, mas sustentada o
tempo todo pela graça do Deus que chama e guarda. Todo
seminarista deve ler esse livro.
Timothy George, deão fundador da Beeson Divinity School,
Samford University, e autor de Teologia dos reformadores
(Vida Nova)
Sou grato pela oportunidade que tive de aprender no seminário. O
contato com homens que passaram anos refletindo sobre questões
bíblicas e teológicas pode ser inestimável. As ferramentas e disciplinas
adquiridas nos períodos de educação formal me serviram bem.
Contudo, nenhum seminário pode preparar por completo um
homem para o ministério pastoral. Escrito por homens fiéis com anos
de experiência e muitas cicatrizes ministeriais, esse livro está repleto
de sabedoria. Todo pastor e aspirante ao pastorado se beneficiará
dessa leitura.
Tom Ascol, diretor executivo de Founders Ministries e pastor da
igreja Grace Baptist Church, Cape Coral, Flórida, Estados Unidos
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Angélica Ilacqua CRB-8/7057

Hansen, Collin
15 coisas que o seminário não pôde me ensinar / Collin Hansen
e Jeff Robinson Sr. ; tradução de Rogério Portella. -- São Paulo :
Vida Nova, 2020.
176 p.
ISBN 978-85-275-0994-7
Título original: 15 things seminary couldn’t teach me
1. Teologia pastoral I. Título II. Hansen, Collin. III. Robinson Sr. Jeff. IV.
Portella, Rogério
19-2736 CDD 253

Índices para catálogo sistemático


1. Teologia pastoral.2
©2018, de The Gospel Coalition

Título do original: 15 things seminary couldn’t teach me,


edição publicada pela CROSSWAY BOOKS (Wheaton, Illinois, EUA).

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por


SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA
Rua Antônio Carlos Tacconi, 63, São Paulo, SP, 04810-020
vidanova.com.br | vidanova@vidanova.com.br

1.a edição: 2020

Proibida a reprodução por quaisquer meios,


salvo em citações breves, com indicação de fonte.

Convertido para ePub no Brasil / Converted to ePub in Brazil

Todas as citações bíblicas sem indicação da versão foram traduzidas diretamente da


English Standard Version. As citações com indicação da versão in loco foram
traduzidas diretamente da New International Version (NIV).

_____________________________

DIREÇÃO EXECUTIVA
Kenneth Lee Davis

GERÊNCIA EDITORIAL
Fabiano Silveira Medeiros

EDIÇÃO DE TEXTO
Norma Braga
Marcia B. Medeiros

PREPARAÇÃO DE TEXTO
Cristina Portella

REVISÃO DE PROVAS
Ubevaldo G. Sampaio

GERÊNCIA DE PRODUÇÃO
Sérgio Siqueira Moura

DIAGRAMAÇÃO
Sandra Reis Oliveira

CAPA
Micah Lanier
Paulo Jardim (adaptação)

CONVERSÃO PARA EPUB


SCALT Soluções Editoriais
_____________________________
Para Chris Castaldo,
que deu forma ao amor de Jesus em seu cuidado
para comigo nos meus anos de seminário.
COLLIN HANSEN
___
PARA O CORPO DOCENTE DO
The Southern Baptist Theological Seminary
dos Estados Unidos, que me ensinou,
com seu exemplo humilde,
a ser um pastor-teólogo.
JEFF ROBINSON SR.
Sumário
Prefácio, R. Albert Mohler Jr
1 Conhecimento e credenciais não são suficientes
Jeff Robinson Sr.
2 O que fazer quando minha igreja está morrendo
Mark Vroegop
3 Como pastorear minha esposa
Daniel L. Akin
4 Como pastorear pessoas diferentes de mim
Jeff Higbie
5 Como seguir meu pastor titular quando discordamos
Matt Capps
6 Como conduzir meus líderes
Juan Sanchez
7 Como criar meus filhos para amarem a igreja
Matt McCullough
8 Como pastorear minha congregação em períodos de sofrimento
John Onwuchekwa
9 Quando aceitar um chamado ou deixar minha igreja
Harry L. Reeder
10 Como lidar com o conflito
Jay Thomas
11 A necessidade de lutar por meu relacionamento
com Deus
Vermon Pierre
12 O tempo necessário para tornar-se pastor
Dale Van Dyke
13 A tentação de tornar meu nome conhecido
Scott Sauls
14 A alegria que posso sentir por ficar muitos anos pastoreando a
mesma igreja
Phil A. Newton
15 O que fazer quando nenhuma igreja me contrata
Collin Hansen
Colaboradores
Índice de passagens bíblicas
Prefácio
Você pode pensar no diretor de seminário como a pessoa menos
indicada para escrever o prefácio de um livro sobre o que o seminário
não forneceu aos pastores. Na verdade, a oportunidade me alegra.
Dediquei minha vida à formação de pastores no The Southern Baptist
Theological Seminary e, depois de quase 25 anos à frente do
seminário, estou mais do que nunca convencido do valor do ensino
ministrado nessa instituição.
Entretanto, não são os seminários que chamam os pastores. Deus o
faz. Os seminários não os tornam pastores. As igrejas os tornam. É
importante ter isso em mente.
Um bom seminário acrescenta imensuravelmente ao ministério do
pastor, e deve-se esperar que todo pregador da Palavra de Deus com
formação em um seminário tenha excelência no ensino. As disciplinas
teológicas são de importância crucial. Ainda que o pastor dedicado
seja mais que um acadêmico, há muito tempo a igreja conscientizou-
se da necessidade de um ministério com boa bagagem de aprendizado
formal.
O seminário mais comprometido considera a si mesmo servo das
igrejas, auxiliando as igrejas locais na preparação de pastores. O
seminário serve à igreja; a igreja não serve ao seminário. O exemplo
de instrução do pastor no Novo Testamento é Timóteo, sob o ensino
e a mentoria do apóstolo Paulo.
Assim, não devemos nos surpreender que pastores experimentados
sejam capazes de registrar em detalhes as lições ministeriais não
aprendidas no seminário. Em alguns casos, isso reflete as deficiências
do seminário, mas na maioria das vezes, aponta com profundidade
para o caráter central da igreja local e para as lições do ministério que
só podem ser aprendidas mediante o ministério em uma congregação.
A estrutura da educação teológica desenvolveu-se até alcançar um
padrão bem estabelecido — três anos de cursos divididos em estudos
bíblicos, estudos teológicos e estudos para o ministério. Há uma
riqueza de sabedoria nessa estrutura, que explica o motivo de quase
todo seminário acabar seguindo esse padrão.
O elemento mais fraco sempre tem sido os estudos visando ao
ministério. Isso não se deve a uma falha da faculdade; a maioria dos
pastores olha em retrospectiva para esses cursos e os considera muito
úteis. Portanto, o que explica essa deficiência?
Trata-se da distinção importante entre análise e experiência. Não
identifiquei o problema como um contraste entre teoria e prática. Os
estudos para o ministério no seminário não são apenas teóricos.
Contudo, não existe professor de ministério equivalente à própria
igreja local. O pregador aprenderá muito sobre pregação no
seminário, mas se tornará um bom pregador apenas por meio do
chamado e da experiência de pregar a Palavra a uma congregação. No
melhor contexto, isso significa que o pastor mais experiente recebe
pastores mais jovens sob seu cuidado e ensino — a congregação
plenamente investida na perpetuação de um ministério evangélico.
Há analogias bem abrangentes. A Academia Militar de West Point
existe por uma boa razão; no entanto, os oficiais são feitos ao liderar
tropas e ao lutar em batalhas. Não desejaria ser operado por um
médico que não se formou (com mérito) em uma boa escola de
medicina. Entretanto, também desejo saber se o cirurgião foi treinado
na residência pelos melhores médicos e se realizou o procedimento
várias vezes.
Você já entendeu, não é?
Eu me interessaria de fato em ler um livro com textos de veteranos
do exército sobre o que eles não aprenderam em West Point. Pode ser
que West Point obtenha alguma informação importante deste livro e
a leve em consideração. Meu palpite é que a maioria desses textos
contemplaria West Point com apreciação e afeição profundas,
enquanto compreende que algumas lições só são aprendidas no calor
da guerra. Também aposto que esses generais ficariam muito felizes
por não prescindir da formação em West Point para entrar em
batalha.
Da mesma forma acontece com o ministério cristão. Os textos deste
livro, temperados com ponderação e salpicados de experiências, são de
fato muito úteis no esclarecimento da centralidade da igreja local na
formação de um pastor. Alguns textos farão você sorrir; outros podem
fazê-lo estremecer. Todos o farão pensar.
Esse livro será útil para novos pastores, para pastores com anos de
estrada, para líderes, professores e alunos de seminários. Em primeiro
lugar, os textos ajudarão os estudantes a prepararem-se para o
ministério. Então, depois de adquirir a experiência necessária no
ministério, o pastor previdente será capaz de contribuir por si mesmo
não apenas com um texto semelhante a um desses, mas com um livro
todo.
O pastor zeloso precisa de formação em exegese, mas é forjado na
preparação e na pregação de sermões ao povo de Deus. Esse pastor
precisa dos estudos teológicos recebidos no seminário, mas sua
teologia será posta à prova quando for chamado para pregar no
funeral de uma criança. O conhecimento de hermenêutica e
homilética é vital, mas o pregador descobre seu verdadeiro método de
interpretação e sua compreensão real da pregação quando decide
como pregar sobre um texto específico para determinado grupo de
pessoas — e então pregar para a mesma congregação vez após vez.
Eu leria o livro What West Point couldn’t teach me [O que West Point
não pôde me ensinar] com um interesse genuíno. Você lerá esse livro
com nada menos que uma sensação de urgência. Não perca nenhuma
lição — mas tenha em mente que todo pastor aprende as lições mais
importantes apenas com a passagem dos anos no ministério. Ao
mesmo tempo, aprenda o máximo que puder antes de chegar sozinho
ao campo de batalha. É muito importante.

R. ALBERT MOHLER JR.


1
Conhecimento e credenciais
não são suficientes
Jeff Robinson Sr.

Eu avisei, mas acho que não acreditaram em mim.


Sem dúvida, acharam que eu só estava tentando mostrar humildade
ou querendo algo com meu papo costumeiro de pastor. O conselho já
havia me escolhido, mas as três letras que às vezes aparecem à direita
do meu nome deram uma sobrevida à nossa conversa: PhD.
— Prefere ser chamado de doutor? — um deles perguntou.
— Tenho certeza de que você vai dar um gás novo a esta igreja com
toda essa bagagem — outro acrescentou.
Eu me remexi no assento. Não duvidei da sinceridade deles, apenas
me senti profundamente despreparado para desempenhar o papel de
super-herói espiritual.
Eu não fazia ideia do que viria.
Por fim, respondi:
— Sou grato a vocês por honrarem meus estudos, mas não
confundam graduação com maturidade, aptidão para com o
ministério ou competência e, de forma nenhuma, com piedade.
O primeiro não pressupõe necessariamente os outros. Meu diploma
significa apenas que perseverei por tempo suficiente para atender a
algumas exigências acadêmicas.
Do ponto de vista técnico para a entrevista, essa foi a resposta
correta. Contudo, nos três anos seguintes, Deus marcou a ferro a
verdade dessas palavras nos recessos de minha alma.
Pouco depois, a igreja me convidou para ser o pastor titular. Logo
aprendi que a graduação mais alta de uma das principais instituições
teológicas dos Estados Unidos não me havia transformado no líder
piedoso, humilde, sábio e generoso o qual essa congregação carecia
desesperadamente. Logo percebi que apenas a junção de serviço e
sofrimento à frente do ministério poderia transformar-me nesse
homem. De repente eu percebi: estou servindo em uma igreja em
guerra.
Infelizmente, minha permanência nesse primeiro pastorado durou
pouco mais de três anos em razão de uma grande crise financeira na
igreja. Hoje, tenho o privilégio de servir em outra congregação.
Graças às lições aprendidas de vários erros e decisões insensatas
cometidos na primeira igreja, sou um pastor diferente. Minha oração
é para que as abençoadas pessoas de meu campo de serviço atual sejam
beneficiadas pelas lições difíceis aprendidas em meu trabalho anterior.
Também sirvo como professor adjunto do seminário em que me
formei, investindo bastante na vida dos futuros pastores. Sinto amor
pela igreja e pela educação teológica que serve à igreja, mas o
ministério pastoral me ensinou três grandes lições que só poderiam ter
sido aprendidas ao servir ao povo de Deus na igreja local. Essas lições
formam a base e a fundamentação do livro que você está lendo agora:
as credenciais não significam competência, o ministério é uma guerra
e, sem a graça absoluta e unilateral de Deus, todo o trabalho do pastor
é em vão.

Credenciais não significam competência


Antes de tornar-me pastor, preguei muitas vezes sobre 1Corín-
tios 13, texto famoso por decorar as casas em quadros de ponto cruz.
Assim que comecei a pastorear o rebanho local, as palavras de Paulo
se tornaram uma das passagens mais desconcertantes de toda a Bíblia
para mim. Por quê? Sua interpretação não é difícil e aí jaz o problema:
torna-se difícil porque é mais fácil ser ortodoxo que amoroso. E o
conhecimento incha. Como alguém que aprecia o estudo da teologia e
história eclesiástica, essa expressão parece ter sido inventada sob
medida para mim. Digo isso porque, se Deus me concedesse um
único desejo à la teologia da prosperidade, eu seria tentado a escolher
“todo o conhecimento” em vez de “aperfeiçoamento em santidade”.
Cada hora passada no seminário deliciava minha alma. Recebi
muito conhecimento e, como projetado para ser, fui preparado para
continuar adquirindo instrução. Contudo, logo percebi que nem o
domínio de grego e hebraico, nem minhas leituras sobre os puritanos
evitariam que eu explodisse diante de falsas acusações contra mim por
um membro irado da igreja. Conhecimento não gera decisões sábias
de liderança quando o diácono me diz que a igreja está quase falida.
Sim, meu conhecimento teológico me forneceu condições de tomar
decisões sábias e me permitiu alimentar o rebanho com pasto
saudável, mas a maturidade necessária para ser um pastor piedoso
abaixo do supremo Pastor só pode proceder de dias,
semanas, meses e anos de trabalho na vinha do Senhor. Não
demorei muito para perceber que sou um homem em processo de
santificação, assim como todos os que me ouvem pregar no dia do
Senhor.

O amor supera o conhecimento


Logo percebi que as pessoas sob meus cuidados não estavam tão
interessadas em minha ortodoxia, embora eu nunca pudesse
comprometê-la. Elas realmente queriam saber se eu as amava. Tendo
percebido que eu realmente me importava e as via como uma querida
família em Cristo — e não como alvos de evangelismo ou discipulado
— elas se mostravam muito mais dispostas a prestar atenção em
minhas tentativas de expor a ortodoxia.
Havia apenas uma forma de firmar esse relacionamento: dedicar
tempo a ele.
Lembro-me, em particular, de um homem irritadiço que não parecia
gostar de mim — à primeira vista. Seguindo o exemplo de Richard
Baxter, eu lhe fiz uma visita. Era verão e nós nos assentamos em sua
varanda. Conversamos sobre nossos times de futebol americano
prediletos de Auburn e da minha alma mater, Georgia. Eu o ouvi
sobre Dale Earnhardt e também ouvi sua esposa, que relatou a
participação da família dela na fundação de nossa igreja.
Em pouco tempo, o comportamento deles foi mudando em relação
a mim. No dia em que deixei a igreja, ele me deu um abraço apertado
e, por entre um rio de lágrimas, disse-me o quanto sua família amava
a nossa e que sentiriam muito a nossa falta. E acrescentou que todos
ficariam com saudade dos meus ensinamentos.
O amor nunca falha, e o amor supera o conhecimento.
O autor inspirado já me avisara disso: “Se eu tiver [...] todo o
conhecimento [...] mas não tiver amor, não sou nada” (1Co 13.2). Se
eu não amar meu povo, ele não dará importância a quanta conversa
teológica vem do púlpito. As pessoas só me seguirão quando eu provar
que as amo e posso ser confiável como professor maduro e pastor
auxiliar.
No excelente livro, Dangerous calling, Paul David Tripp, pastor e
professor de seminário experimentado, identifica uma síndrome
binária que aflige com muita frequência o pastor inexperiente, mas
seguro de si. Tripp apropriadamente rotula essa doença perigosa como
uma combinação entre “cérebros teológicos gigantes e uma doença do
coração”:
As consequências são ruins quando a maturidade é definida com
mais propriedade pelo conhecimento que pelo ser. O perigo vem à
tona quando se passa a amar mais as ideias que o Deus por elas
representado e as pessoas que elas devem libertar.
[...] Eu gostaria que [os seminaristas] entendessem que não são
chamados apenas para ensinar teologia a seu povo, mas também a
praticar teologia com seu povo.1
Depois de apresentar sua longa ascendência biológica, teológica e
experimental, o apóstolo concluiu quase do mesmo modo: “Tenho
motivo para confiar na carne, mas qualquer ganho que tive, contei
como perda por causa de Cristo” (Fp 3.8). Do ponto de vista do
mundo, Paulo tinha todos os ingredientes para servir como um pastor
onicompetente, mas tudo era lixo se comparado a conhecer Cristo e
demonstrar seu amor.
Se você serve em uma igreja local há muito tempo, a segunda lição
se tornará axiomática para você: o ministério é uma guerra, ou seja, o
sofrimento é a norma para o pastor de Deus, mas ao mesmo tempo é
bom.
O ministério é uma guerra
É muito conhecida a declaração de A. W. Tozer: “É improvável que
Deus possa abençoar grandemente um homem até que ele o fira
profundamente”.2 No ministério, como na vida cristã, não há coroa
sem cruz. Os grandes homens da Escritura foram formados sob o
açoite do sofrimento — Jó, Daniel, o rei Davi, Pedro, Paulo e, claro,
nosso Senhor Jesus Cristo.
Os grandes nomes da história eclesiástica trilharam o caminho do
calvário da aflição. Lutero e Calvino foram obrigados a fugir para
manterem-se vivos. John Bunyan passou doze anos na prisão de
Bedford por pregar o evangelho. Charles Simeon serviu em uma
congregação irascível que certa vez trancou a igreja para que ele não
entrasse. Eu tinha um amigo cuja igreja o despediu porque ele plantou
grama na casa pastoral sem o consentimento do conselho. Outro
amigo foi mandado embora duas semanas após sua eleição porque o
diácono achou um livro de teologia questionável em sua biblioteca
enquanto a mudança era descarregada.
Até onde vai o sofrimento? Uma tragédia quase afastou o grande
Charles Spurgeon do ministério quando ele tinha 22 anos. Em 19 de
outubro de 1856, sete pessoas foram mortas e 28 ficaram feridas
quando alguém gritou “fogo!” no culto dominical vespertino no
Surrey Garden Music Hall, causando a debandada de centenas de
pessoas dentre as duas mil reunidas.
A depressão resultante desse desastre deixou Spurgeon prostrado por
vários dias. “Até mesmo a visão da Bíblia ocasionava em mim uma
torrente de lágrimas e uma desorientação mental absoluta”.3 Isso deu
o tom a seu ministério, e ele lutou contra a ansiedade aguda e a
depressão nefasta pelo resto da vida.
O seminário não me ensinou quão profundamente o ministério pode
ferir. Porém, ele não poderia me ensinar isso, pois o seminário é para o
ministério o que o treinamento básico é para o combate: um local para
o treino, um lugar com certa segurança para a obtenção das
ferramentas do ministério: grego, hebraico, exegese, homilética,
teologia sistemática, história eclesiástica e muito mais. O treinamento
básico não é a guerra, e o seminário não é o ministério da igreja local.
Nada além do campo de batalha do ministério poderia ter me
preparado para a dor que
eu experimentaria.
Contudo, se eu estivesse mais atento à Escritura, teria observado os
avisos. Através das lentes do ministério de Paulo, o texto de
2Coríntios é praticamente um manual do sofrimento no
ministério pastoral. Leia uns poucos versículos e verá que o ofício de
presbítero não é para quem tem o coração fraco. É perigoso, até
mesmo mortal. Ferirá o novo homem que estou me tornando em
Cristo e matará o velho homem que eu era antes de a graça de Deus
invadir as ameias do meu coração. Representa a pena de morte
gloriosa das mãos do Deus amoroso. Em 2Coríntios 11.23-28, Paulo
contrasta seu ministério com o dos chamados “superapóstolos”
(2Co 11.5), apresentando um resumo de sua trajetória que inclui os
seguintes itens: recebeu cinco vezes quarenta chibatadas menos uma,
foi espancado com bastões três vezes, naufragou três vezes, ficou sem
dormir, passou fome, sede e perigo. Dureza. Paulo descreve
principalmente a guerra exterior, mas talvez a batalha mais intensa e
potencialmente sangrenta se desenrole em outro ponto: no coração do
pastor.

A guerra interior
Haverá dias difíceis no ministério. Você duvidará de seu chamado.
Questionará a bondade de Deus. Seu coração lutará para confiar na
soberania divina, celebrada tantas vezes por sua boca. Você terá medo
das pessoas. O sucesso aparente do ministério de seus amigos lhe
causará ressentimento, ainda que o orgulho o leve a congratulá-los em
público. Você desejará abandonar o ministério, principalmente nas
segundas-feiras. Em resumo: você lutará contra si mesmo.
Vozes encherão seus ouvidos com um sedutor canto de sereia,
pedindo que descubra, por qualquer meio necessário — mesmo por
meio de pequenas transigências de caráter teológico ou ético — um
lugar onde a tranquilidade e a prosperidade terrena reinam. Ali, na
Valfenda ministerial, você estará longe da reunião dos diáconos maus,
distante do membro da igreja cujo casamento está desmoronando,
afastado da família que o considera assassino da igreja por ensinar a
Bíblia em lugar de organizar o grupo
de jovens.
Essa é a batalha interna de Efésios 6.17, e ela é intensificada no
interior do ministro por causa do seu chamado. Caso você sobreviva à
guerra, precisa alimentar-se da Palavra de Deus todos os dias. Você
deve se tornar um homem de oração constante, de autoexame
vigilante. Viva com a consciência perene da dependência, em última
instância, da graça de Deus. Paulo formulou uma pergunta em
1Coríntios 4.7 e é preciso aprender sua resposta correta: “O que você
tem que você não recebeu?”. Absolutamente nada.
O sofrimento é normal no ministério. Paulo sofreu. Nossos heróis
da história eclesiástica sofreram. A aflição encontra-se no cerne do
evangelho, pois nosso Senhor sofreu em nosso lugar. Deus usará a luta
contra nossos inimigos externos e internos para nos tornar mais
semelhantes a Jesus, para matar nosso orgulho e prover-nos com o
consolo do evangelho, a fim de consolar aqueles que sofrem e estão
sob nossa responsabilidade. Porém, talvez acima de tudo, Deus usará
essa luta para mostrar à igreja a imagem dos sofrimentos de Cristo. A
humilhação precede a exaltação — no caso de Cristo e de seu povo
(2Co 4.7-12). Isso é o evangelho.
A aflição ou aproximará os servos de Deus da minha terceira e
última lição, ou os afastará do ministério.

Sem Deus você não pode fazer nada


Uma frase que o ministro deve marcar a fogo no umbral do coração é
composta pelas palavras de nosso Senhor em João 15.5: “Sem mim
vocês não podem fazer nada”. Caso você persevere na fidelidade, a
graça divina, unilateral e não diluída, deve sustentá-lo. Vários estudos
comunicam uma mensagem sombria, porém unificada: um percentual
alto dos seminaristas que se formam desaparece permanentemente do
ministério do evangelho em até cinco anos. Você precisará de graça
sobre graça, sobre graça.
Quando contou que foi levado ao terceiro céu, em 2Coríntios 12, o
apóstolo declarou aos leitores que Deus não usa pesos e medidas da
mesma forma que nós: “Eu me gloriarei ainda mais nas minhas
fraquezas, para que o poder do Cristo possa repousar sobre mim. [...]
Pois quando estou fraco, então sou forte” (12.9,10). Paulo percebe
que só a graça de Deus torna seu ministério eficiente. Ele não tem
nenhuma força em si mesmo — apenas a que o Senhor lhe concede.

Só Deus faz ossos secos viverem


Nos primeiros dias do primeiro pastorado, percebi que apenas a
atuação do Senhor, mediante sua Palavra e Espírito, poderia fazer
ossos secos viverem. Tudo o que eu poderia fazer era pregar a Palavra,
orar e cuidar das ovelhas de Deus. Graças à misericórdia divina, a
pressão para mudar o coração não está em nós. O evangelho é o poder
de Deus para a salvação. Em 2Coríntios 4.7-12, Paulo resumiu bem a
posição do ministro na economia da obra de Deus: “Mas nós temos
este tesouro em potes de barro, para mostrar que o poder supremo
pertence a Deus e não a nós” (4.7).
Boas notícias! O poder pertence a Deus. Não preciso arregimentar
esse poder — nem posso fazê-lo. Deus toma sua Palavra pregada e
transforma os pecadores. A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra
de Cristo (Rm 10.17). Colhemos o que semeamos. Deus faz as
sementes crescerem. Os ministros de Deus — assim como o povo de
Deus — dependem dele de forma absoluta.

Conclusão
No parque de diversões de Kings Island, perto de Cincinnati, havia
certa vez uma montanha-russa de madeira com mais de noventa
metros de altura. Lia-se em uma placa na entrada: “Essa aventura não
é para os fracos de coração”. O ministério pastoral é assim: um
chamado fantástico com vários pontos altos vertiginosos, um
chamado perigoso com vários pontos baixos desanimadores. Pelo
caminho, seus ossos serão chacoalhados.
Contudo, pregar a Palavra de Deus e vê-la utilizada por ele para
transformar vidas é uma maravilha que está além da capacidade
descritiva das palavras humanas. Ainda assim, as palavras de Paulo
refletem a concepção do ministério que Deus me deu:
“Ai de mim se eu não pregar o evangelho!” (1Co 9.16).
1Paul David Tripp, Dangerous calling: confronting the unique challenges of pastoral ministry
(Wheaton: Crossway, 2012, p. 42-3) [edição em português: Vocação perigosa: confrontando os
desafios singulares do chamado pastoral (São Paulo: Cultura Cristã, 2015)].
2The root of the righteous (Chicago: Moody Publishers, 2015), p. 165; publicado
originariamente em 1955.
3The autobiography of Charles H. Spurgeon, compilada por sua esposa e seu secretário
particular (New York: Revell, 1899), vol. 2, p. 207.
2
O que fazer quando minha igreja
está morrendo
Mark Vroegop

“O amor que sentimos por nossas pessoas deve ser maior que o ódio
que sentimos por sua condição”.
Proferi essa frase em uma reunião de equipe, quando meus colegas
pastores e eu lidávamos com mais uma questão frustrante em nossa
congregação. Eu a citava como um mantra, tanto para eles quanto
para mim mesmo, enquanto lutávamos para ajudar nossa igreja ferida.
Depois de servir como pastor auxiliar, havia aceitado há alguns anos o
chamado para ser o pastor titular, mesmo sem entender por completo
os desafios com que me depararia.
Não me entenda mal: eu sabia que haveria problemas. Todavia, essa
igreja, em particular, procedia de uma tradição eclesiástica
desafiadora. Quando os amigos me perguntavam sobre como a igreja
se identificava, eu respondia: “Ela é independente, fundamentalista, lê
a Bíblia exclusivamente na versão King James Version e canta Terra de
Beulá”.
Era o suficiente.
E havia mais: a igreja jamais praticara a disciplina eclesiástica, a
despeito de diversas falhas morais de alguns de seus integrantes. E,
como acabei sabendo, a igreja não era muito bem reputada na
comunidade: era mais conhecida por fazer oposição em vez de prestar
apoio. O prédio da igreja estava em boas condições, o orçamento era
estável e a frequência, regular. Mas a igreja estava morrendo aos
poucos — mais rápido do que qualquer um de nós provavelmente
imaginava.
Na década seguinte, dei início a uma missão para ajudar a igreja a
tornar-se sadia de novo. Não foi fácil. Cometi alguns erros. Foram
necessárias muita paciência, lágrimas e oração. No entanto, a jornada
valeu a pena, não só por causa do que Deus fez na vida da igreja, mas
também do que ele fez em mim.

Dez anos, sete lições


Uma década depois daqueles acontecimentos, e enquanto agora sirvo
no ministério de outra igreja, entendo melhor como ajudar uma igreja
à beira da morte. Essa ajuda pode ser resumida em sete elementos
principais.
1. Ame as ovelhas
A primazia do amor no ministério pastoral não pode ser subestimada.
De acordo com 1Coríntios 13, sem o amor, nada mais importa. Ele é
fundamental. O amor definido nessa passagem
— paciente e benigno, sem inveja ou arrogância, orgulho ou rudeza,
sem a insistência na sua forma de fazer as coisas, sem irritação ou
rancor, sem se regozijar com a injustiça — aplica-se à liderança
pastoral, ao casamento e a outros relacionamentos.
Não podemos ajudar as pessoas sem amá-las, e a congregação
precisa saber que seu pastor ama e entende a igreja. É difícil confiar
em quem não conhece você e apoiar a liderança de quem parece estar
com raiva, sobretudo em algo tão pessoal como o ministério
eclesiástico.
A principal razão para eu aceitar o chamado de uma igreja que eu
sabia ser difícil é que, como pastor auxiliar, eu já amava aquelas
pessoas. Conhecia a vida e a história delas. Ouvi sobre suas decepções
e lutas. E ansiava por um dia melhor para elas. Desejava fazer parte de
seu futuro porque todas já se encontravam em meu coração.
Suportar todas as coisas, crer em tudo, esperar em todas as coisas e
resistir a tudo — é por onde devemos começar.
2. Ensine a Bíblia com fidelidade
Outra lição fundamental é ensinar a Bíblia com fidelidade, semana
após semana. Eu sabia que minha principal tarefa era pregar e ensinar
as Escrituras fiel e expositivamente, mas não percebi o quão eficiente
seria a abordagem semanal versículo por versículo para a restauração
da saúde ao corpo.
Por exemplo, enquanto ensinava Mateus 18, ajudei a congregação a
perceber a necessidade da prática da disciplina eclesiástica. Ao
ministrar sobre Efésios 4, conversamos sobre por que os pastores
preparam a igreja para a obra do ministério. Enquanto ensinava sobre
Gálatas, identificamos os perigos do legalismo. Semana após semana,
nosso povo aprendia a mensagem da Bíblia e como ela se aplicava à
nossa igreja. Não ocorreu um domingo em que tudo mudou, mas todo
domingo algo mudava. O processo era lento e às vezes invisível, mas,
com o passar do tempo, a igreja se tornou mais saudável enquanto
aprendíamos juntos a pensar e viver biblicamente.

3. Percorra o caminho mais longo


A paciência pastoral é subestimada hoje. Somos bombardeados de
todos os lados com soluções velozes, mudanças rápidas e o desejo por
resultados imediatos. Conheço muitos pastores que estão pensando
em resultados para alguns meses — quando
deveriam pensar em anos ou até décadas. A paciência não costuma ser
uma característica pastoral superior e desejada. Mas deveria ser.
Assim como na criação de filhos, o crescimento espiritual e a
renovação congregacional levam tempo — muito tempo.
Há muitas ações coerentes que você espera que deem fruto, e ora por
isso, a longo prazo. Antigas formas de pensar e hábitos arraigados não
mudam com facilidade; a verdade deve ser aplicada várias vezes de
maneiras diversas antes de se tornar conhecida e aceita. E as pessoas
precisam de tempo para perceber como é ser saudável. Elas não
passam a entender tudo da noite para o dia, e muitas mudanças
demandam tempo.
A liderança fiel, paciente, coerente e perseverante, que pensa nas
próximas décadas — e não nas próximas semanas —, é a chave. Para
ajudar a igreja à beira da morte, percorra o caminho mais longo.

4. Confie na providência de Deus


Fornecer ajuda à igreja em conflito demanda confiança no cuidado
providente de Deus para com a congregação e para com você. Minha
esposa e eu sabíamos que Deus nos chamara para o ministério, e
também sabíamos que ele nos chamara para essa igreja em particular.
Lutamos contra a vontade de Deus, passamos pelo processo de
candidatura e sentimos de modo inequívoco o chamado de Deus para
pastorear essa igreja. O fato de sabermos que nossa tarefa provinha do
Senhor funcionava como uma âncora firme para a nossa alma quando
as coisas eram difíceis, dolorosas ou frustrantes. Lembro-me de dirigir
de volta para casa depois de uma reunião desanimadora e clamar: “Por
que o Senhor me enviou para cá?”. O silêncio no céu mais tarde deu
espaço a um lembrete pessoal de que, de fato, foi o Senhor quem nos
chamou. O caminho a seguir ainda não estava claro. Eu precisava
continuar confiando. Se Deus nos chamara, ele nos ajudaria. E ele o
fez.
No entanto, a confiança deve ir ainda mais longe. Cada igreja
pertence a Deus. É sua noiva, e Deus é o único a orquestrar sua
história. Para tornar uma igreja efetivamente saudável, o pastor deve
tornar vívida sua crença na providência de Deus à medida que surgem
controvérsias, pessoas deixam o grupo, chegam novos membros, as
finanças mudam, pessoas são convertidas, pressões culturais surgem e
o pecado é revelado. Houve uma época em que parecia que os pecados
secretos vinham à luz com uma frequência incomum. Certa manhã,
exausto e desanimado, li esta afirmação de um devocional de D. A.
Carson sobre a exposição do pecado de Ananias e Safira em Atos 5:
“Quando Deus se afasta de uma igreja e deixa que o pecado
multiplicador siga seu curso, esse é o pior de todos os juízos;
inevitavelmente terminará em um desastre irrecuperável. Todavia,
quando Deus responde ao pecado com severidade imediata, lições são
aprendidas e a igreja é poupada de um desvio pior”.1 Mais uma vez, o
Senhor me lembrou de confiar nele.
Para que você possa ajudar a igreja a mudar é preciso seu
compromisso intenso de viver de acordo com a teologia do cuidado
providente de Deus para consigo mesmo e para com
a igreja.
5. Olhe no espelho
Durante o processo de ajudar uma igreja a mudar, o pastor e a igreja
podem precisar dar uma olhada cuidadosa no espelho a fim de
observar as mudanças que restaurarão a vida.
Às vezes a igreja pode ficar presa no passado, usando formas de
ministério desatualizadas e ineficientes. Talvez a cultura da igreja seja
inóspita para os visitantes ou sua reputação seja sofrível na
comunidade. Podem existir equipes de liderança não saudáveis ou
membros da equipe que não estão acompanhando as mudanças.
Qualquer um desses elementos pode gerar um ministério não
saudável, e o pastor sábio avaliará com cuidado e honestidade se
questões internas e estratégias ineficazes fazem a igreja perder o
impulso espiritual.
Mas a igreja não se olha sozinha. Os pastores também precisam de
espelho, e nisso pessoas prestativas e amorosas podem ser um grande
trunfo. Cada pessoa no ministério tem pontos cegos e, às vezes, essas
áreas causam declínio espiritual não intencional. Por exemplo, depois
de cerca de dois anos de pregação, meus sermões se tornaram cada vez
mais longos. Os sermões de quarenta minutos logo passaram a ter
cinquenta e depois sessenta minutos de duração. Eu amava o que
aprendia e desejava compartilhar tudo. Porém, eu estava cansando as
pessoas — e até as frustrava, pois os cultos duravam uma eternidade.
Por fim, um irmão amoroso apontou isso e me incentivou a partilhar
apenas o que era verdadeiramente importante. Sem sua coragem e
bondade, quem sabe quanto tempo durariam meus sermões?

6. Pense como um missionário


Poucos pastores pensam como missionários quando o tema é sua
igreja. Presumem que todas as igrejas formadas por pessoas que falam
a mesma língua, moram no mesmo país e têm a mesma teologia
bíblica são, em essência, idênticas. Mas raramente o caso é assim tão
simples. Além disso, falta a questão importante da contextualização
cultural.
Toda igreja e todo membro tem uma trajetória, uma história, uma
cultura e uma visão de mundo. E o pastor sábio trabalhará duro para
pesquisar e entender essa cultura. Para ajudar a igreja a mudar, você
deve fazer a exegese do contexto da igreja.
Na minha situação desafiadora, tratei a igreja como um grupo de
pessoas que eu tentava alcançar. Encontrei-me com os membros para
aprender a história de cada um. Fiz muitas perguntas e procurei
padrões, temas, momentos decisivos. Mergulhei com cuidado em
controvérsias anteriores e tomei conhecimento do que ocorreu ou não.
Passei a ler o que as pessoas liam, visitava-as em seu local de trabalho,
orava com elas no hospital e ouvia as memórias sofridas quando seus
entes queridos faleciam. Eu desejava entendê-las. E queria que elas
soubessem que eu as entendia.
Essa pesquisa nunca parou. Continuei aprendendo não só pelo
surgimento de novas questões, mas também porque atestei o benefício
de me tornar um estudante de meu povo. Isso me ajudou a pregar de
forma mais eficaz e me permitiu saber quais questões demandariam
mais tempo.
Fui almoçar com um colega pastor que precisava de ajuda. Ele
passava por um conflito significativo na igreja: havia decidido remover
as bandeiras americana e cristã da plataforma. Estremeci com a
história. Ele era pastor ali havia apenas alguns anos, e eu sabia que
aquela igreja contava com um número incomum de veteranos de
guerra. Apesar de eu concordar com sua decisão em teoria, pude
perceber como essa questão era desnecessariamente controversa. Se
ele tivesse tido tempo suficiente para fazer a exegese de seu povo e
ouvir suas histórias, teria aprendido que a questão da bandeira era
maior do que aparentava no início. Ele saberia como e quando lidar
com ela.
Ao ser incapaz de pensar como um missionário, ele violou a
confiança das pessoas. Infelizmente, essa não foi a única violação. Ele
tentou modificar as coisas com rapidez e sem sabedoria e, poucos
meses depois, ele e a igreja seguiram caminhos diferentes.
Os missionários não são os únicos líderes ministeriais que precisam
pensar com cuidado a respeito de questões contextuais como o
ambiente, a tradição, a história e os símbolos de um grupo em
particular. Toda igreja tem uma trajetória e uma cultura. Ajudar as
igrejas a mudar requer que se pense como um missionário.
7. Ore, ore, ore
Por último, ajudar uma igreja em luta demanda o comprometimento
sincero com a oração. Sem esse componente essencial do ministério
pastoral e pessoal, mudar uma igreja pode ser um exercício de vontade
própria. Um amigo meu diz: “A falta de oração é nossa declaração de
independência de Deus”. Os pastores devem permanecer
completamente dependentes de Deus a fim de guiar o povo; portanto,
é fundamental orar por ele. Descobri que orar pelos indivíduos nome
a nome me ajudou a intensificar meu amor por eles. Vi Deus
responder orações quando as pessoas começaram a crescer e mudar.
Vi Deus responder orações por gente nova na igreja e o vi encaminhar
para fora aqueles que não apoiavam nosso rumo.
Meus diários de oração eram o lastro espiritual de minha alma.
Os pastores também precisam orar com seu povo. Minha primeira
igreja, a despeito de todas as suas fraquezas, sabia orar. Todas as
manhãs de sábado, por quase oito anos, eu me encontrei com um
grupo de homens para orar por nossa igreja. Ouvir as orações deles
me ensinou a orar de forma mais eficaz e uniu meu coração ao desses
homens, pois colocávamos as necessidades da igreja diante do Senhor.
Nosso período de oração tornou-se um reinício semanal para minha
alma e meu coração de pastor. Só Deus sabe como nossa devoção fiel
ao buscá-lo para interceder pelos membros da igreja, por nosso futuro
e por nosso coração teve um papel na saúde e no crescimento da
igreja, mas eu sei que isso moldou meu coração como pastor dela.

Hoje eu me sinto amado de verdade


Como você pode ajudar uma igreja em conflito ou à beira da morte?
Ninguém me ensinou a fazê-lo no seminário, a despeito de muitas
igrejas carentes de mudança. Essas igrejas sofredoras precisam de
pastores sábios, amorosos, pacientes, dedicados à oração e criteriosos
para guiá-las a uma vida nova e mais saudável.
Depois de alguns anos no pastorado, decidi que estava na hora de
mudar a versão bíblica usada por mim na pregação. Alguns anos
antes, a questão teria causado conflitos na igreja, mas com o passar do
tempo a maioria não considera o assunto tão importante. Entretanto,
ainda havia quatro famílias para as quais a mudança seria até ofensiva.
Meses antes de aplicar a decisão, encontrei-me com cada família e
lhes relatei o que eu faria e o motivo. Desejava que elas não ouvissem
apenas meus argumentos, mas também meu coração, sabendo que
poderiam não concordar.
A resposta delas serviu para afirmar que a igreja estava progredindo.
Cada família, ainda que não me apoiasse de maneira total, expressou
gratidão por nossa conversa. Um dos membros afirmou: “Pastor, eu
teria feito oposição a isso uns anos atrás, mas eu confio em você. Não
está de acordo com minha preferência, mas está bem”. Outro membro
disse: “Obrigado por ter essa conversa comigo. Hoje me sinto amado
de verdade”.
Em poucos anos, um assunto que poderia ter dividido a igreja e
criado mais uma controvérsia dolorosa não só foi bem recebido, mas
também se mostrou uma oportunidade para demonstrar amor e
compaixão pela igreja. Essa estratégia funcionou também em outras
áreas, permitindo mais mudança e crescimento com o passar do
tempo. Além disso, conduziu a igreja a um bem-estar duradouro.
Hoje, sob a liderança de outro pastor, a igreja está saudável e
prospera.
Ajudar uma igreja a mudar não é para os de coração fraco, mas, sim,
para aqueles que amarão mais suas pessoas do que odiarão sua
condição.

1D. A. Carson, “July 18”, in: For the love of God: a daily companion for discovering the riches of
God’s Word (Wheaton: Crossway, 1998), vol. 1 [edição em português: Por amor a Deus (Rio
de Janeiro: CPAD, s.d.)].
3
Como pastorear minha esposa
Daniel L. Akin

Eu e minha esposa, Charlotte, casamo-nos jovens. Tínhamos,


respectivamente, 21 e 19 anos. Venho de um bom lar cristão. Meus
pais e avós eram todos cristãos. Charlotte, em um contraste extremo,
veio de um lar desfeito. Seus pais eram viciados em álcool e se
divorciaram quando ela era pequena, com 7 anos de idade. Quando
fez 9 anos, foi posta, junto com a irmã e o irmão, no orfanato Georgia
Baptist Children’s Home, onde viveu até completar 18 anos. Durante
todo esse tempo, ela quase nunca viu os pais. O pai dela não foi ao
nosso casamento, mesmo residindo na região de Atlanta, onde nos
casamos.
Afirmo isso aqui para destacar que nos casamos com perspectivas e
expectativas muito diferentes. Eu sabia o que era um bom lar e
reconhecia o que era bom. A perfeição, ainda que ideal, não seria
alcançada na vida, pois o casamento significa dois pecadores (salvos
pela graça, caso conheçam Jesus!), vivendo em proximidade ímpar.
Charlotte estava de todo determinada a não seguir os passos de seus
pais. Ela teria o casamento perfeito ainda que isso nos matasse (o que
quase aconteceu em algumas ocasiões)!
Acrescente a isso o fato de que não tivemos nenhum
aconselhamento pré-matrimonial, por três razões: 1) No ano anterior
ao casamento, eu estava estudando em Dallas e ela estava em Atlanta,
morando com meus pais. 2) Na semana anterior ao nosso casamento,
o pastor que nos casou anunciou que ele e sua esposa estavam se
divorciando. A única vez que nos encontramos com ele, se desculpou
chorando ao nos dizer que realmente não se sentia capaz de nos dizer
alguma coisa. 3) Em quase sete anos de estudo teológico, eu tive
apenas uma aula sobre casamento
e família, como algo extra à minha formação teológica. Não tenho
lembrança de nenhuma discussão sobre o lar no seminário. Nenhuma
mesmo.
Por causa desse pano de fundo, você pode imaginar que nossos
primeiros dias como casados foram bastante desafiadores. Alguns
deles foram muito difíceis. Charlotte e eu nos amávamos, o divórcio
nunca foi uma opção, mas nem tudo era flores, e o caminho não era
suave. Tivemos alguns dias duros.
Escrevo este texto tendo acabado de celebrar nosso trigésimo oitavo
aniversário de casamento. Posso dizer honestamente que, além de
Jesus, nada me trouxe mais felicidade e alegria que ser marido, pai e
avô. Mas tem sido um trabalho duro, e ninguém no seminário me
disse que seria. Ao longo dos anos aprendi na escola dos “duros
golpes” sobre a existência de algumas coisas que eu poderia ter feito
para pastorear minha esposa de forma mais eficaz e amorosa.
Infelizmente, não aprendi nada disso na fase do seminário.

Conselheiro matrimonial involuntário


Aprendi a pastorear minha esposa ao praticar a pregação expositiva —
de modo particular ao percorrer Efésios versículo por versículo, e
chegar aos versículos 25 a 33 do capítulo 5. A partir desse texto
clássico sobre o que significa ser um marido cheio do Espírito (não
perca o contexto anterior, 5.15-21, esp. v. 18), que se assemelha a
Cristo, aprendi cinco verdades que todo marido deveria plantar no
fundo do coração enquanto se esforça para cuidar bem da dádiva
divina que é sua esposa. A partir delas, farei algumas aplicações
específicas.
1. Ame sua esposa sacrificialmente (Ef 5.25)
A Bíblia diz aos maridos: “Amem sua esposa como Cristo amou a
igreja e se entregou por ela”. “Amem” aqui é uma ordem. Isso nos leva
a uma ideia importante. Embora o amor muitas vezes tenha um
componente emocional, trata-se mais de uma escolha volitiva ou uma
decisão. Eu escolho, como ato da minha vontade, amar minha esposa,
quer eu o sinta ou não. Não se trata de:
“Eu a amo, mas só se ela...”, nem de: “Eu a amo porque ela...”. Não, é
apenas: “Eu a amo”. Ponto. Eu a amo mesmo quando ela não age
com amor, pois é exatamente assim que Jesus me amou ao morrer na
cruz, suportar a ira de Deus e pagar integralmente a pena por todos os
meus pecados. Eu não era amável. Ele me amou apesar de mim. Ele
me amou de forma incondicional. Ele me amou e se sacrificou em
meu lugar.
Maridos, uma coisa é amar a esposa sacrificialmente de modo
grandioso (ou seja, morrer mesmo por ela). No entanto, você morreria
por ela, todos os dias, nas pequenas coisas? O verdadeiro amor
sacrificial deseja os dois tipos e os realiza.

2. Ame-a em santificação (Ef 5.26,27)


Os versículos 26 e 27 mencionam o amor que limpa e lava, o amor
que torna algo esplêndido, sem defeito ou ruga, santo e sem culpa.
Esses versículos costumavam confundir-me quando o assunto era o
meu casamento. Quero dizer: é fácil perceber como a santificação
funciona em relação a Cristo e a igreja. Cristo nos redime, santifica e,
algum dia, nos glorificará. Excelente! E qual é a ligação com o
casamento? Creio que seja algo assim: pelo fato de Charlotte estar
casada comigo, ela é estimulada e capacitada a crescer e tornar-se mais
semelhante a Jesus. Ai! Isso dói. Por ela estar casada comigo — não
apesar de estar casada comigo — ela está crescendo em sua
santificação. Ela está crescendo em semelhança a Cristo. Eu acho isso
profundamente condenatório. Por quê? Porque muitas vezes não a
ajudo a se tornar mais parecida com Jesus. Represento mais um
obstáculo pela negligência, impaciência, pelo pavio curto e por causa
da agenda lotada.
Quando recebemos os novos alunos do Southeastern Semi- nary,
sempre os encorajo a separar um tempo de qualidade para o cônjuge e
os filhos. Insisto para que não deixem que o seminário ou o ministério
sejam como uma amante. Não me entenda mal. O ministério fiel
demanda um trabalho duro — um grande investimento de tempo e
sacrifício. Contudo, você não deve sacrificar seu casamento no altar de
um ídolo humano. A santificação da esposa do ministro faz parte da
descrição da função outorgada por Deus. A tarefa pastoral do
discipulado visa em primeiro lugar a esposa e os filhos.

3. Ame-a com sensibilidade (Ef 5.28-30)


Paulo diz aos maridos que eles devem “amar sua mulher como o
próprio corpo. Quem ama sua esposa ama a si mesmo” (5.28). Em
seguida, ele apresenta o fundamento de sua admoestação: “Pois
ninguém jamais odiou a própria carne; ao contrário, alimenta-a e
cuida dela, como Cristo faz com a igreja” (5.29). O ponto de Paulo é
este: Maridos, cuidem de si mesmos. Vocês sabem quando têm um
dia bom ou ruim. Vocês sabem quando a situação está favorável ou
não. Da mesma forma, vocês devem ser sensíveis às necessidades de
sua esposa.
Gosto de usar a imagem do “sistema de radar marital”. Eu envio
sinais à minha esposa e recebo sinais de volta. Devo confessar que
bem no início do meu casamento, apesar de eu contar com todo o
equipamento de radar marital dado por Deus a mim, ele precisava ser
melhorado e refinado. No trigésimo oitavo ano de casamento,
também devo confessar que ainda não cheguei ao fim de minha
jornada. Contudo, acho que Charlotte diria que sou muito mais
sensível às necessidades dela como mulher do que eu era quase
quarenta anos atrás. Ame sua esposa com sensibilidade, passe tempo
com ela. Na verdade, você deve tornar-se um estudante de sua esposa.
Irmãos, reconheçam que vocês passarão o resto da vida nessa escola!

4. Ame-a para trazer satisfação (Ef 5.31,32)


Não causa surpresa que Paulo fundamente sua teologia do casamento
em dois lugares: 1) na obra de Cristo na cruz e 2) na ordem da criação
anterior à Queda. No versículo 31, ele cita Gênesis 2.24: “Portanto, o
homem deixará seu pai e sua mãe e se apegará à sua mulher, e eles se
tornarão uma só carne”. Prossegue afirmando tratar-se de um mistério
em relação a Cristo e à igreja. Acredito, por implicação, que ele diria
tratar-se de um mistério também quando diz respeito ao homem e à
mulher. No entanto, o ato de deixar e de apegar-se, o partir e o unir-
se, traz satisfação ao coração da esposa. Confirma o valor que você vê
nela e comunica que agora ela se tornou um com você. Ela é agora sua
preocupação primária e o foco de sua atenção.
Confesso com alegria: além da intimidade usufruída pessoalmente
com meu Senhor Jesus Cristo, não há intimidade e satisfação como a
partilhada no pacto maravilhoso do casamento. Encontrar satisfação
na esposa da sua juventude é de fato uma boa dádiva do grande Deus.

5. Ame-a de modo específico (Ef 5.33)


Paulo encerra a instrução aos homens quando diz: “Que cada um de
vocês ame sua esposa como a si mesmo”. Sendo objetivo: Paulo
convoca o marido para ser “homem de uma mulher só”. Isso significa
que, quando se trata do meu exemplo como marido, meus amigos
sabem, minha família sabe, até mesmo meus inimigos sabem, Danny
Akin é homem de uma só mulher. Está apaixonado por uma única
mulher neste planeta, chamada Charlotte. Está comprometido com
ela.
Muitas vezes sou lembrado, e até advertido, pela trágica história do
homem que era segundo o coração de Deus. Sabemos que esse
homem é o rei Davi. Desejo apresentar uma pequena fórmula, a partir
de sua história trágica, que tem me orientado por quase quatro
décadas. Eu lhe passo com a esperança de que lhe ofereça um bom
conselho e também guarde sua vida. Eis a fórmula: “Pessoa errada +
lugar errado + momento errado = problema”.
O rei Davi, homem segundo o coração de Deus, estava no lugar
errado, no momento errado e com a pessoa errada. O resultado?
Mentiu, cometeu adultério e assassinou. Se algo assim pode acontecer
ao homem segundo o coração de Deus, isso sem dúvida pode ocorrer
com alguém com o coração de Danny Akin. Não importa que o
acusem de ser sexista ou tímido! Todavia, se você for para o túmulo
tendo sido fiel ao seu pacto matrimonial, você obterá o sorriso do céu,
além do sorriso de sua esposa.
Deixe-me voltar agora para algumas aplicações práticas. Ao longo
de várias décadas, tenho a alegria de realizar casamentos e
conferências sobre família. Pode-se dizer que esse é meu hobby
espiritual. Charlotte diz que preciso realizar pelo menos uma dessas
atividades por mês, porque continuo me esquecendo do que ensino!
Infelizmente, há alguma verdade nessas palavras.
Quando lido com maridos, exponho em primeiro lugar
Efésios 5.25-33. Na sequência, parto desse fundamento, extraio
informações de outras passagens relevantes e partilho sete formas
básicas de abençoar sua esposa todos os dias. Afirmo que essas ideias
são verdadeiras para todo e qualquer marido. Também digo que são
especialmente necessárias para quem pastoreia o rebanho de Deus.
Gostaria de ter aprendido essas coisas no seminário. Contudo, antes
tarde que nunca!

Sete formas de abençoar sua esposa


Um marido pode ser uma bênção para sua esposa ao amá-la como
Cristo amou a igreja e ao lhe conceder dádivas específicas desse amor.
Aqui estão sete:
1. Seja um líder espiritual. Seja um homem de coragem piedosa,
convicção, compromisso, compaixão e caráter. Tome a iniciativa no
cultivo de um ambiente espiritual para sua família. Torne-se um
estudante da Escritura capaz e competente, e viva integralmente
baseado na Palavra de Deus. Nutra sua esposa no crescimento como
mulher de Deus e assuma a liderança no treinamento de seus filhos
nas coisas do Senhor (Sl 1; Ef 5.23-27).
2. Assevere à sua esposa sua apreciação. Elogie seus atributos e
qualidades pessoais. Mencione suas virtudes como esposa, mãe e dona
de casa. Exalte as qualidades dela para todos ouvirem o quanto é
companheira, amiga, apaixonante e uma companhia maravilhosa.
Ajude-a a sentir que não existe para você ninguém mais importante
no mundo que ela (Pv 31.28,29; Ct 4.1-7; 6.4-9; 7.1-9).
3. Demonstre afeição (romantismo). Cubra-a com demonstrações de
afeto oportunas e generosas. Diga-lhe o quanto você se importa com
ela com um fluxo constante de palavras, cartões, flores, presentes e
atos de cortesia. Lembre-se de que o carinho é o ambiente em que a
união sexual é apreciada de forma mais plena e nele se desenvolve o
casamento maravilhoso (Ct 6.10,13; Ef 5.28,29,33).
4. Inicie uma conversa mais intimista. Converse com ela no nível dos
sentimentos (de coração a coração). Ouça-lhe os pensamentos (seu
coração) sobre o que aconteceu no seu dia com sensibilidade, interesse
e preocupação. Que suas conversas expressem o desejo de entendê-la
— não de mudá-la (Ct 2.8-14; 8.13,14; 1Pe 3.7). Compete a Deus
mudá-la, não a você.
5. Sempre seja honesto e aberto. Olhe nos olhos dela e, com amor,
sempre lhe diga a verdade (Ef 4.15). Explique seus planos e ações
com clareza e de forma completa porque você é responsável por ela.
Oriente-a para que ela confie em você e se sinta segura (Pv 15.22,23).
6. Forneça apoio e estabilidade no lar. Assuma a responsabilidade de
dar abrigo, alimento e vestuário à sua família. Seja o provedor e
protetor, e resista a sentir pena de si mesmo quando as coisas ficarem
difíceis. Busque maneiras concretas de melhorar a vida em casa.
Coloque seu casamento e sua família em um nível mais seguro e
satisfatório. Lembre-se de que o marido e o pai consistem no núcleo
de segurança da família (1Tm 5.8).
7. Demonstre compromisso com a família. Depois do Senhor Jesus,
coloque sua esposa e família em primeiro lugar. Dedique tempo e
energia ao desenvolvimento espiritual, moral e intelectual de seus
filhos. Por exemplo, ore com eles (especialmente à noite, na hora de
dormir), leia para eles, pratique esportes com eles e leve-os a passeios.
Não cometa a tolice de trabalhar demais, tentando adiantar o serviço,
enquanto seu cônjuge e seus filhos definham por negligência (Ef 6.4;
Cl 3.19,20).1

Ensinado pela Palavra


Essas são coisas que não aprendi no seminário. Tive de aprendê-las na
vida. E sou grato por tê-las aprendido mediante a exposição da
Palavra de Deus!

1Para um debate relacionado ao tema, v. tb. Daniel L. Akin, “Pastor as husband and
father”, in: Jason K. Allen, org., Portraits of a pastor: the 9 essential roles of a church leader
(Chicago: Moody Publishers, 2017), e Akin, Exalting Jesus in Song of Songs (Nashville: B&H,
2015).
4
Como pastorear pessoas
diferentes de mim
Jeff Higbie

Eu morei somente nos bairros no entorno das principais cidades


metropolitanas (Los Angeles, Washington e Chicago). Assim, fazia
sentido Deus me chamar para pastorear uma igreja rural logo que
saísse do seminário. A população de Underwood, em Dakota do
Norte, é inferior a mil pessoas, e em todo o condado existem pouco
mais de dez mil habitantes.
A igreja onde eu tinha sido membro na década anterior, em
Evanston (Illinois), era composta em grande parte por pessoas de 20 a
30 e poucos anos. Quando minha esposa e eu fomos pela primeira vez
à igreja Faith Evangelical Church em 2007, brinquei com nossa
família e amigos — apesar de ser verdade naquele tempo — que
éramos as pessoas mais jovens da congregação que ainda não estavam
estudando ou morando na casa dos pais.
Gosto de ir ao cinema e assistir a partidas de esporte profissional.
Mas os principais passatempos em nossa região incluem a caça e a
pesca. A sala de cinema multiplex mais próxima fica a
oitenta quilômetros de distância, e a equipe mais próxima da liga
principal, em qualquer esporte, fica em Minneapolis (a oito horas de
distância!).
No entanto, tendo servido por mais de oito anos em uma
comunidade rural, de pessoas com mais idade que gostam de
atividades ao ar livre, posso dizer honestamente que passei a gostar de
pastorear aqueles que são diferentes de mim. Deus abençoou e deu
crescimento tanto a mim quanto às ovelhas.
Por isso, meu objetivo é poupar você de reinventar a roda, para que
comece com o pé direito onde quer que Deus o chame, mesmo que
seja diferente de sua experiência prévia. Também quero que você
esteja aberto para que Deus o chame para pastorear pessoas cujas
origens culturais, demográficas e teológicas sejam bem diferentes das
suas.
Antes do primeiro pastorado e antes de uma nova igreja, recomendo
muito aos pastores a leitura (e a releitura) de The deliberate church,1 de
Mark Dever e Paul Alexander. Encorajo os ministros a colocar em
prática os “quatro pês” do primeiro capítulo: pregação, prece (oração),
prática dos relacionamentos de discipulado e paciência. A menos que algo
na igreja precise ser mudado de forma imperiosa, não implemente
nenhuma alteração no primeiro ano. Dê tempo a si mesmo para
conhecer melhor a congregação e a comunidade, e lance o
fundamento sólido por meio da pregação da Palavra de Deus e da
busca da orientação do Espírito em oração.
Você pode pertencer a uma cidade pequena e ser chamado para
servir em uma igreja urbana, uma igreja de etnia diferente da sua ou
encontrar-se em um estágio de vida diferente do de muitos membros
da congregação. As principais diferenças de quem você serve se
enquadram em uma de três categorias: culturais, demográficas e
teológicas.

Diferenças culturais
No meu primeiro ano em Dakota do Norte, voltei de uma conferência
com outro pastor jovem que também vivera em uma parte urbana do
país. Em todo o percurso, trocamos impressões ao compartilhar as
diferenças observadas, incluindo a expressão: “Alguém poderia fazer
isso”. Em nossa região, usa-se a frase para oferecer conselhos sem ser
muito direto. A resposta animada do meu amigo foi: “Quem é
‘alguém’? Sou eu ‘alguém’? Você é ‘alguém’? Quem
é ‘alguém’?”.
Esse é um exemplo de diferença cultural. Diferenças culturais podem
consistir em muitas coisas: palavras com significados únicos em
determinado local, iguarias locais, uso do tempo livre, valores... No
meu contexto atual, por exemplo, é importante saber com quem você
fala ao usar os termos dinner ou supper para designar o jantar; do
contrário, você pode perder uma refeição, ou pior, chatear o vizinho.
A fim de pastorear com fidelidade pessoas diferentes no sentido
cultural, você deverá sobretudo aprender o máximo possível sobre o
contexto. Comece conhecendo os membros da igreja. Se possível,
faça-lhes uma visita em sua casa e local de trabalho. Conheça também
seus vizinhos. Converse com os donos de comércios locais. Verifique
se a biblioteca dispõe de informação sobre a comunidade. Faça muitas
perguntas. De modo geral, as pessoas têm muito orgulho de sua
herança e sentem-se mais que dispostas a conversar a respeito. Peça a
um membro de longa data na igreja para lhe mostrar as redondezas e
apresentar você por ali.
Aprenda o máximo que puder do ambiente ao envolver-se nele. Nos
meus primeiros dois anos em Dakota do Norte, dirigi uma
colheitadeira com um fazendeiro, arrumei uma cerca com um
rancheiro, vacinei e pesei gado com outro e fui pescar com vários
deles. Isso me possibilitou estabelecer relacionamentos de discipulado
com eles, demonstrar-lhes amor e obter experiência prática sobre os
valores da comunidade que Deus me chamou para servir. Passar
algum tempo com as pessoas em seu espaço e servir suas famílias em
momentos de necessidade (como a morte de um ente querido)
rendeu-me certo prestígio a seus olhos, e assim eles se dispuseram a
confiar em mim na liderança da igreja.
Uma vez que você tenha uma ideia da composição cultural de sua
comunidade, pesquise essas peculiaridades. As diferenças geralmente
têm relação com a origem étnica. Por exemplo, nossa área na Dakota
do Norte é formada principalmente por alemães e escandinavos que
tendem a trabalhar duro e não se sentem confortáveis em pedir ajuda.
Ainda que trabalhar duro seja uma coisa boa, a autossuficiência e a
relutância em abrir a vida impedem a maturidade pessoal e a
possibilidade de servirmos uns aos outros no Senhor. Na igreja que
sirvo, isso se arraigou na área da oração. Os membros tendiam a pedir
orações por suas necessidades físicas, como questões de saúde — deles
ou de outras pessoas —, mas não pediam orações pelas próprias
necessidades espirituais. Minha esposa e eu estabelecemos um modelo
de abertura em relação a nossas lutas e necessidades espirituais. Com
o tempo, os membros mais antigos da igreja também começaram a
pedir orações por suas necessidades espirituais.
Paulo escreveu em 1Coríntios 9.22: “Tornei-me todas as coisas para
todos os homens de modo que, por todos os meios possíveis, pudesse
salvar alguns” (NIV). Ele estabeleceu um modelo para o
entendimento das diferenças culturais de seu contexto quando, por
exemplo, decidiu circuncidar Timóteo por causa do ministério entre
os judeus (At 16.3) e apelou à religião dos atenienses como ponte para
compartilhar o evangelho (At 17.22,23). Do mesmo modo, é
importante que busquemos o ministério pastoral como missionários.
Devemos desejar aprender todo o possível
sobre nosso contexto para que Deus nos use de forma mais eficiente
nele.

Diferenças demográficas
Como conduzir quem é mais velho que você? Em alguns casos, tem
mais tempo como cristãos do que você tem de vida. Como construir
relacionamentos de discipulado com pessoas que trabalham em turnos
rotativos de doze horas? São esses os tipos de perguntas com as quais
tenho lutado para aprender a pastorear pessoas com diferenças
demográficas. Esses fatores incluem idade, fase da vida, tamanho da
família, renda, trabalho braçal versus trabalho intelectual ou
mentalidade rural versus mentalidade urbana, entre outros.
Pela boa providência divina, tive um amigo íntimo que cresceu em
uma área rural da Dakota do Sul e um professor no seminário que foi
pastor na Dakota do Norte. Os dois me deram informações valiosas
sobre como considerar com cuidado essas diferenças demográficas
antes mesmo de me mudar para as Grandes Planícies. Ambos me
ajudaram a entender com mais clareza a diferença entre a mentalidade
rural e a urbana. De modo geral, por exemplo, quem vive na área rural
tem mais tempo que dinheiro, ao passo que aquele reside na área
urbana muitas vezes tem mais dinheiro que tempo.
As estratégias ministeriais não são uniformes de contexto para
contexto. O que funciona no contexto urbano pode não funcionar em
uma cidade pequena, e vice-versa. A igreja onde eu era membro na
área de Chicago situava-se em uma cidade universitária e era
composta principalmente por bacharéis, quando não mestres e
doutores. Muitos buscavam alcançar níveis mais altos. Era possível
oferecer uma aula para a escola dominical ou para o grupo de homens
usando uma teologia sistemática como livro-texto e não haveria
dificuldade em reunir participantes.
Mas esse não foi o caso quando cheguei em Underwood. A
congregação não era analfabeta ou ignorante; mas seu discipulado
jamais incluíra a leitura de obras teológicas. Comecei bem devagar.
Quando encontrava artigos úteis de revistas cristãs, eu os colocava à
disposição da congregação. Quando encontrava um livro sério por um
bom preço, eu o comprava como presente de Natal para as famílias
das igrejas. Com o tempo, a prática aumentou o interesse geral pela
leitura. Mais importante, aumentou seu crescimento como discípulos.
O pulo do gato do discipulado é este: não se limita a um perfil
demográfico específico, mas pode ser adaptado a cada situação. Em
uma igreja urbana, você consegue organizar reuniões masculinas de
oração com café às seis horas da manhã. No entanto, se eu quiser
fazer o mesmo em Underwood, ninguém participa. Não por falta de
interesse dos irmãos, mas, sim, porque nesse horário todos estão
ocupados com as tarefas da fazenda ou trabalhando em turnos.
Precisei aprender os ritmos da vida em uma comunidade rural para
obter a eficiência máxima na organização do ministério. Por exemplo,
quando se abre a temporada dos cervos, no início de novembro, não
marcamos nada! Isso também me permitiu o discipulado individual e
aconselhamentos matrimoniais em momentos em que as pessoas não
estão presas às escalas de trabalho entre 9h e 17h. Você precisa
aprender os ritmos da vida de sua comunidade e ajustar-se a eles.

Diferenças teológicas
Pode-se dizer muito a respeito das diferenças teológicas, mas prefiro
concentrar-me em como lidar com preferências e aspectos não
essenciais. Eu não acho que alguém em nossa congregação, com a
possível exceção de minha esposa, concorde comigo completamente
em todos os pontos teológicos. Por exemplo, temos calvinistas e
arminianos, dispensacionalistas e pelo menos um (eu!) pré-milenarista
histórico. Sou agradecimento pelo fato de que nem todos tem a
mesma visão sobre questões secundárias, pois elas suscitaram grandes
debates. Desejo que as convicções dos membros venham da Escritura,
não de mim.
Incluo na expressão preferências teológicas: estilo do culto, duração,
expectativas sobre o pastor... Como eu vim de uma igreja urbana com
mais jovens, uma “visita pastoral” soava como uma chamada ao
escritório do diretor. Você estava com problemas ou receberia a
incumbência de fazer alguma coisa. Mas eu descobri que, em vez de
assustadoras, as visitas pastorais eram uma oportunidade de
aprendizado sobre minha congregação, um meio de discipular e
aconselhar. Em particular, eram um ótimo modo de discipular alguns
dos membros mais antigos que nem sempre conseguiam participar no
domingo.
Minha filosofia ministerial baseia-se muito em Efésios 4.11,12:
“[Deus] deu alguns para serem [...] pastores e mestres, para
prepararem o povo de Deus para as obras de serviço, a fim de que o corpo
de Cristo seja edificado”. Contudo, também aprendi que nas gerações
passadas, em especial nas igrejas de cidades pequenas, o pastor
costumava realizar a maior parte do ministério. Até eu estabelecer o
fundamento do sacerdócio de todos os cristãos, quando alguém da
igreja sugeria um novo ministério, eu responderia convidando a
pessoa para juntar-se a ele. Isso me dava a oportunidade adicional de
discipular essa pessoa e mostrar-lhe sua capacidade de ministrar
também.
Em 2Timóteo 2.24,25 lemos: “E o servo do Senhor não deve brigar;
em vez disso, ele deve ser gentil com todos, capaz de ensinar, não
ressentido. Deve instruir com gentileza os que se opõem a ele, na
esperança de que Deus lhes conceda arrependimento levando-os ao
conhecimento da verdade”. Se Paulo ordenou essa atitude paciente
para com os falsos mestres de Éfeso, acho que também podemos
aplicá-la às pessoas das quais discordamos sobre preferências
teológicas. É fácil observar as áreas em que as pessoas precisam
crescer, mas procurei inspirá-las e incentivá-las a descobrir áreas em
que a graça de Deus está ativa, onde elas se encontrarão mais
adiantadas e capazes de nos ensinar.

Chamados e preparados
Assim, se Deus o chama para servir a uma igreja cultural, demográfica
ou teologicamente diferente de você, ou uma mistura dos três
elementos, tenha algumas coisas em mente.
Primeira, todo pastor é interino. Você vai se mudar de lugar,
aposentar-se ou morrer, mas quem faz parte da igreja e vive nessa
comunidade permanecerá. Portanto, seja humilde e discirna as áreas
em que espera um ajuste da igreja a você e as áreas em que você deve
adaptar-se à igreja.
Segunda, lembre-se de que Deus vai preparar você para cumprir seu
chamado. Se você viveu apenas em uma cidade pequena e ele o chama
para uma igreja urbana, Deus lhe fornecerá todo o necessário para
crescer ali.
Por último, se você tem família, não se esqueça de que não será o
único a encontrar diferenças. Ajude sua família também de forma
intencional a entender e pensar sobre o significado de pastorear quem
é diferente de você.

1Mark Dever; Paul Alexander, The deliberate church: building your ministry on the gospel
(Wheaton: Crossway, 2005) [edição em português: Deliberadamente igreja: edificando o seu
ministério sobre o evangelho, tradução de Francisco Wellington Ferreira (São José dos Campos:
Fiel, 2008)].
5
Como seguir meu pastor titular
quando discordamos
Matt Capps

O que você faz quando discorda de modo significativo do pastor


titular da igreja em que serve? Situações como essa costumam surgir
de forma inesperada, e o seminário não costuma abordá-las. Vivemos
em um mundo caído e entendemos que o conflito relacional é muitas
vezes inevitável, mesmo entre pastores.
Ministrava em uma igreja local há oito anos quando essa situação
surgiu. Em um período de transição, percebi que minha filosofia
ministerial e algumas outras crenças — como o tempo do fim e
versões bíblicas preferidas — afetariam muito minha capacidade de
servir nessa igreja com a consciência limpa. Felizmente, pude falar
sobre minhas preocupações e discordâncias com a liderança e, depois
de muita oração e conselho de outros irmãos sábios, decidi ser melhor
para a igreja e para mim que nos separássemos cordialmente.
Ao tomar essa decisão, nem sempre lidei com o assunto de modo
perfeito. Felizmente, meu relacionamento com a liderança dessa igreja
permanece saudável. Mantivemos o respeito mútuo a despeito de
nossas diferenças. Contudo, aprender a lidar com essas discordâncias
era estressante. Oro para que este capítulo lhe forneça um modelo
para ajudá-lo a passar por situações semelhantes.

Recursos bíblicos para o conflito


Um princípio bíblico primordial é que as discordâncias sejam tra-
tadas com sabedoria e discernimento, a fim de não causarem divi-
são na família eclesiástica. A unidade regida pela Bíblia é uma
realidade preciosa para a saúde da congregação e é tão importante que
Jesus dedicou grande parte de sua oração sacerdotal em João 17 à
“unidade” da igreja. Além disso, Paulo é claro em 1Coríntios 1.10 no
sentido de que não deve haver divisão na igreja, mas todos devem
estar unidos em uma só mente. Por isso, devemos tratar das
discordâncias com humildade (Fp 2.3) e também sermos “desejosos
de manter a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.3).
Existe um senso de urgência na ordem de vivermos em paz entre nós
(Rm 12.18; Hb 12.14). Se o conflito não for tratado da forma correta,
ressurgirá mais tarde com maior fúria e poderá resultar em amargura e
divisão. Nesse sentido, o conflito pode ser uma oportunidade para nos
voltarmos para Deus, mas também para Deus agir em nosso coração e
por meio também de cada um de nós, para o nosso bem e para a sua
glória.
Caso as discordâncias sejam reconciliáveis, você deve buscar a
restauração do relacionamento e a unidade da paz (2Co 13.11). Em
minha experiência, muitos desentendimentos com outros pastores
foram resolvidos em discussões honestas e repletas de graça na busca
de compreensão mútua. As divergências provinham de mal-
entendidos, e eu estava julgando sem conhecimento de causa ou com
um entendimento parcial. Em alguns casos, o desacordo permaneceu,
mas a conversa e a reflexão posterior permitiram-me entender a
perspectiva do outro e diminuir o peso da minha preocupação inicial.
Contudo, algumas discordâncias não são apenas reais como
inconciliáveis. Como, então, decidimos se uma discordância é
inconciliável, e qual é o curso de ação mais sábio?

Conselho pastoral para o conflito


Se você for um líder eclesiástico, entende que todas as pessoas
enxergam através de um vidro escuro (1Co 13.12). Além
disso, sabe que o coração é mais enganoso que tudo (Jr 17.9).
Também compreende as implicações de nossa pecaminosidade
(Rm 7.18-25). Uma dessas implicações é que os conflitos procedem
de modo geral das paixões que lutam dentro de nós (Tg 4.1-3). Por
isso, é útil formular algumas perguntas iniciais concernentes à
natureza e ao nível de importância de suas discordâncias. Mais que
qualquer outra consideração, nisso deve consistir seu ponto de partida.
Considere sua discordância: vale morrer por ela?
Ao olhar em retrospectiva, percebo que nem sempre levei essa
pergunta em consideração quando deveria. A depravação não afeta
apenas nossa capacidade de pensar com clareza; também nos leva a
responder de modo inapropriado com nossas emoções e ações. À luz
disso, eis algumas lições sobre como lidar melhor com tais situações.
Faça a si mesmo essas perguntas:
1. A discordância diz respeito a uma ofensa pessoal? Sendo o caso, quão
séria ela é? Jesus nos advertiu sobre a conexão entre o perdão
concedido a nós e nosso dever de perdoar quem pecou contra nós
(Mt 6.14,15; Mc 11.25). Não que você conquiste o favor do perdão
de Deus quando perdoa; não, Deus espera que as pessoas perdoadas
perdoem (Mt 18.21-35). Do mesmo modo, o ofensor deve procurar
resolução do caso e restauração (Rm 12.18).
Em algumas circunstâncias, o ofensor pode encontrar-se em um
estado de ignorância simples ou intencional. A motivação da
ignorância pode consistir em circunstâncias atenuantes ou em um
coração endurecido. Ainda que razões diferentes possam demandar
abordagens diversas para lidar com o ofensor e nossa discordância, a
verdade central de Mateus 18.15 é: “Se o seu irmão pecar contra você,
vá e conte-lhe sua culpa, apenas você e ele.
Se ele o ouvir, você terá ganhado seu irmão”.
É dever dos dois seguir o padrão bíblico; essa é a exigência do amor
cristão. Quer a discordância envolva ou não uma ofensa pessoal, falar
pessoalmente com a outra pessoa para esclarecer a situação deve ser
sempre o nosso ponto de partida.
Quando os líderes não se dispõem a seguir o padrão bíblico de
resolução e restauração, as discordâncias não terminam bem. Isso
ocorre quando a parte ofensora ou a ofendida não se dispõe a
identificar a fonte do conflito ou não deseja proceder à restauração. É
importante entender o contexto em que Jesus nos outorga o processo
para a resolução do conflito em Mateus 18.15-20. No parágrafo
anterior, ele pinta a imagem do pastor à procura de uma ovelha
perdida e se regozija quando a encontra (Mt 18.12-14). Nos
versículos 21 a 35, Jesus conta a história do servo impiedoso, que nos
ensina a sermos misericordiosos assim como Deus tem estendido
misericórdia a nós. Os passos para a resolução do conflito encontram-
se entre as imagens do bom pastor que traz de volta ao lar a ovelha
perdida e o chamado para demonstrar misericórdia.
Caso haja indisposição de alguma parte para procurar solução ou
restauração, pode ser necessário lidar com essa parte na presença de
uma ou duas testemunhas (Mt 18.16). Em cada estágio de
Mateus 18.15-17, as perguntas esclarecedoras são importantes para
compreender melhor a discordância.
2. A discordância se relaciona com a filosofia ministerial? Se sim, em que
nível? De forma notória, essa é muitas vezes uma das áreas de
discordância mais complexas, pois envolve doutrina e sabedoria. É
imprudente trabalhar com um pastor titular quando há sérias
discordâncias em relação a sua filosofia ministerial. Por causa do papel
do pastor titular na estrutura ministerial, é improvável que você
consiga trazer mudança de forma saudável, a menos que vocês dois se
comprometam a mudar ou anunciem a mudança juntos.
Deve haver uma chance razoável de que você consiga boas mudanças
a ponto de justificar a continuidade do serviço sob a
liderança dele. A discordância no nível da filosofia ministerial bem
pode compeli-lo a deixar a posição corrente e ministrar em um
contexto mais adequado. Tal mudança, em longo prazo, pode ser para
o bem da igreja e de sua consciência. Infelizmente, caso você sinta que
a integridade do evangelho está em jogo, é provável que seu desacordo
seja inconciliável, e talvez seja melhor buscar uma maneira sábia para
se separar.
3. A discordância envolve falhas em cumprir os padrões minis-
teriais prescritos pela Bíblia? Você pode chegar ao ponto em que
acredita que o pastor titular não cumpre seu papel pastoral
estabelecido pela Escritura. No Novo Testamento, o título pastor
muitas vezes comporta a conotação de um “pastor” literal (Ef 4.11;
Hb 13.20; 1Pe 2.25). O pastor alimenta, cria e protege o rebanho. A
função de presbítero envolve a maturidade espiritual necessária ao
ofício, pois os líderes atuam como representantes da igreja (At 14.21-
23). Ancião indica a função de prover liderança e direcionamento à
igreja (1Tm 3.1-7; 1Pe 5.1-3). O foco primário do pastor deve ser
liderar (1Ts 5.12; Hb 13.17), cuidar (Tg 5.14; 1Pe 5.2), ensinar e
pregar (Ef 4.11; 1Tm 3.2; 5.17; Tt 1.9), além de preparar os santos
para a obra do ministério (Ef 4.12-16; 2Tm 2.2).
Se o pastor titular não se dispuser a agir de acordo com o padrão
bíblico, pode ser que tenha chegado o tempo de sua partida.
Infelizmente, alguns pastores titulares também agem como se fossem
os únicos que ouvem algo da parte de Deus (“eu sou um homem de
Deus”), o que os exime da prestação de contas à própria igreja ou à
equipe pastoral.
4. A discordância decorre de uma questão doutrinária? Caso seja, em
que nível? A importância de uma doutrina deve ser colocada em níveis
diferentes. Os três níveis de “triagem teológica” de Albert Mohler são
úteis para visualizar e avaliar as diferenças.1
As doutrinas primárias são as que definem o núcleo de crenças da fé
cristã — a autoridade da Escritura, a Trindade, o homem e a salvação
(justificação pela fé) são doutrinas primárias. Constituem o cerne da
fé cristã. Caso a diferença envolva alguma dessas doutrinas, o melhor
é separar-se.
As doutrinas secundárias concentram-se em convicções que não
representam o cerne das crenças cristãs. Esses temas podem exercer
influência significativa sobre a saúde e a eficiência da igreja. As
doutrinas secundárias incluem ensinos denominacionais distintivos ou
valores centrais de igrejas específicas — batismo, governo eclesiástico,
mulheres no ministério pastoral etc. A igreja local precisa de
concordância na teoria e na prática nesses assuntos. De modo
significativo, as questões de ordem secundárias modelam o
direcionamento e a comunhão da igreja. Quando surgem diferenças
nessas questões, é melhor cada um seguir o seu caminho para a
manutenção da própria integridade e também para a saúde da igreja.
As doutrinas terciárias incluem questões sobre as quais bons cristãos
podem discordar sem divisão. São questões bíblicas
menos claras que geralmente não valem a pena dividir, incluindo-se
temas como a escatologia. Os cristãos podem discordar sobre os
detalhes relacionados à interpretação de textos difíceis sobre o fim dos
tempos, mas essas diferenças não devem causar separação. Contudo,
se o pastor titular tomar uma doutrina terciária ou uma questão de
consciência e a impuser à igreja como um tema de importância
primária, será melhor cada um seguir seu caminho.
A falha em avaliar de forma correta o desentendimento quanto a sua
importância é uma das principais razões para o surgimento de
conflitos entre os presbíteros. Se toda discordância alcançar o nível da
importância do evangelho, então não haverá margem para a
falibilidade entre os irmãos. Se nenhum assunto for considerado de
primeira importância, então não haverá prestação de contas. Por isso,
pensar bem sobre esses temas com clareza,
sabedoria e humildade é importante quando se busca um curso de
ação sábio.

Estruturas eclesiásticas para a pacificação


Felizmente, sem levar em conta sua denominação ou eclesiologia,
geralmente há políticas, processos e estruturas que podem prover
contexto à sua resposta quando surge o conflito. Os episcopais podem
buscar a orientação de um bispo no conflito; os presbiterianos têm o
conselho, o presbitério e os tribunais da igreja; e as igrejas
congregacionais geralmente criam estruturas para lidar com conflitos,
como equipes de presbíteros, diáconos ou outros para a perspectiva
apartidária. Quando não existe essa estrutura, a tragédia é inevitável.
Às vezes, nem mesmo as estruturas eclesiásticas conseguem resolver
os conflitos. Um amigo que era líder na igreja enfrentou recentemente
uma situação em que o pastor titular plagiava sermões, palavra por
palavra, dos textos publicados de um pregador proeminente. O pastor
usava ilustrações do livro e mudava o nome das pessoas envolvidas
para personalizar as histórias como se tivessem acontecido com ele.
Meu amigo se aproximou do líder dos diáconos e do comitê de
pessoal assim que a evidência se tornou inegável. Infelizmente, o
pastor negou as alegações, afirmando jamais ter visto as obras
plagiadas. Os diáconos e o comitê de pessoal não o responsabilizaram,
e meu amigo rapidamente foi alocado em outro ministério.
Até mesmo com estruturas eclesiológicas aptas a lidar com
desentendimentos, é possível que qualquer via seja considerada
divisiva ou desleal. O pastor titular pode ser tentado a usar sua posição
para afastar discordâncias ao alegar que as acusações objetivam
destruir a unidade ou fomentar a insubordinação. Todavia, se a igreja
é vigilante e põe em prática os procedimentos adequados para lidar
com o conflito que envolve o pastor titular, há esperança de
reconciliação.

Um caminho a seguir
O primeiro passo para lidar com o conflito com o pastor titular ou
com outro líder é orar pedindo humildade e arrependimento. Na
maioria dos casos, é aconselhável buscar a opinião de conselheiros de
confiança antes de planejar a resolução da discordância. Você deve
sempre estar aberto à possibilidade de ter entendido mal ou de que o
outro presbítero esteja certo e seu pensamento precise de ajuste.
Em Mateus 7.3, Jesus nos desafia ao perguntar: “Por que você vê o
cisco que está no olho do seu irmão, mas não percebe a tora que está
no seu olho?”. Às vezes nossos desejos e expectativas nos controlam
tanto que somos incapazes de perceber a tora em nosso olho, e
sopramos o cisco no olho de outra pessoa.
Assim, tendo examinado a si mesmo e orado bastante, dirija-se ao
pastor titular em conversa privada e, lembrando que você pode não
estar enxergando toda a situação, dê-lhe o benefício da dúvida.
Depois de ouvir com paciência a explicação do pastor ou de entender
a discordância, pode ser que você ainda discorde. Caso isso ocorra e a
discordância não seja de um ponto central à fé, aceite com humildade
que você enxerga as coisas de modo diferente e resolva guardar a
discordância para si mesmo.
Esteja sempre ciente do perigo à espreita de fofocas divisoras e
prejudiciais que poderiam surgir das conversas com outros membros
da equipe e irmãos da igreja. Esteja disposto a confessar e a
arrepender-se de todo seu pecado na discordância, sem demora com
humildade. Busque formas de honrar seu pastor em público e em
particular. O nono mandamento exige que você faça o possível para
defender a reputação daquele com quem discorda junto aos demais.
O processo em Mateus 18 parece indicar que o objetivo consiste em
manter do menor círculo possível de pessoas, pelo máximo de tempo
possível, para ajudar a solucionar o conflito. Se o conflito puder ser
solucionado no estágio inicial do processo, normalmente não há
necessidade de tornar a questão pública.
No entanto, existem casos em que as discordâncias e as práticas
pecaminosas devem se tornar públicas. Por exemplo, se um líder
eclesiástico fizer algo contra a lei, a revelação às autoridades civis e seu
envolvimento são necessários. Os pastores devem procurar ministrar
de acordo com as obrigações legais éticas cabíveis em todas as
situações.

Conclusão
A melhor regra é perguntar a si mesmo como amar seu pastor da
mesma forma que você gostaria de ser amado em cada situação. Em
cada passo, ao lidar com um desentendimento, pergunte-se como
gostaria de ser tratado por um membro da equipe se você precisasse
de correção. Também é útil considerar sua experiência, tempo e
posição na igreja. Ainda que o seminário possa prepará-lo para
entender a verdade bíblica e aplicá-la para a resolução do conflito, ele
não pode trazer a você a maturidade necessária para responder de
forma que honre a Deus, em especial quando suas emoções estão à
flor da pele. Em muitos casos, refletir com paciência sobre o conflito
relacional é a fornalha que forja a sabedoria. Normalmente, há uma
diferença notável entre a forma como o pastor auxiliar experiente lida
com o desentendimento com o pastor titular e como um pastor de
jovens de vinte e poucos anos faria.
Em casos raros, você pode discordar tão fortemente do pastor
titular, ou sua discordância pode dizer respeito a um assunto tão
grave, que o impedirá de se submeter de todo o coração à sua
liderança e de servir com ele. Se for esse o caso, é melhor sair depois
de conversar sobre sua intenção com ele.
Em meu caso, isso funcionou para o bem do meu ministério e para
minha maturidade como pastor jovem. Não faz muito tempo,
consegui me sentar e agradecer ao pastor que me ajudou a ver que era
hora de sair do papel ministerial que eu desempenhava na igreja
liderada por ele. Na época foi doloroso partir, e eu não
entendi tudo. Entretanto, olhando para trás, vejo que foi para o meu
bem e para o bem da igreja. Nossa vulnerabilidade nesse processo
forjou um relacionamento que de outra forma não existiria.
No contexto de amor e confiança, tornar-se vulnerável na resolução
de conflitos chega rápido ao cerne da questão. Também esclarece
motivações que podem ter levado ao conflito, não deixando nada para
a imaginação. Quando duas pessoas são sinceras entre si no conflito,
elas podem interagir com graça, demonstrando assim o poder do
evangelho.
Em certo sentido, a história da redenção nas Escrituras diz respeito
a conflito e resolução. O maior conflito que o mundo já conheceu foi
resolvido na cruz. No calvário, Deus se moveu em direção a nós com
misericórdia e graça para resolver o conflito entre nosso pecado e sua
santidade. Conforme Mateus demonstra, o objetivo de toda resolução
de conflitos é a restauração. Aqueles redimidos por Deus e
restabelecidos nele devem demonstrar o poder do evangelho ao
solucionar conflitos e procurar a restauração entre si.
A esperança do evangelho é que Deus possa redimir todas as
dificuldades que enfrentamos, incluindo conflitos interpessoais, para
bons propósitos. Saiba que nada em toda a criação pode separá-lo do
amor de Deus por você em Cristo (Rm 8.31-39) —
independentemente do que venha a ocorrer. Permita que a verdade
ancore sua alma enquanto você avança com sabedoria e graça.

1Veja “A call for theological triage and Christian maturity”, Church history, disponível em:
http://www.albertmohler.com/2005/07/12/a-call-for-theological-triage-and-christian-
maturity, acesso em: 12 jul. 2005.
6
Como conduzir meus líderes
Juan Sanchez

“Quando você pensa em tornar-se nosso pastor, o que mais o


preocupa?”. Essa foi uma das perguntas que me fizeram na primeira
vez em que me encontrei com os presbíteros de uma igreja que
procurava um pastor. Foi uma pergunta válida. O ex-pastor estava sob
disciplina da igreja; os presbíteros estavam aprendendo o que
significava ser presbítero; embora a igreja tivesse em torno de 1.500
membros, a frequência nas manhãs de domingo havia diminuído para
cerca de 350. Adicione a tudo isso o fato de que eles se
responsabilizaram por uma dívida gigantesca que não poderiam pagar.
Havia muitas preocupações, mas qual delas se destacaria do resto?
Sem hesitação respondi: “A liderança”.
O Senhor Jesus estruturou sua igreja para cumprir sua missão
(Ef 4.11-16) e incumbiu os líderes do sexo masculino, chamados
presbíteros, para cuidar do seu rebanho até sua volta (1Pe 5.1-5). Essa
liderança é vital para a missão da igreja. Se os presbíteros da igreja
têm a mesma forma de pensar, um só coração e uma só voz, então,
pela graça de Deus, serão capazes de resistir a quaisquer conflitos e
crises que surgirem. Contudo, se os presbíteros estiverem divididos,
não importa quão bem as coisas possam parecer para a igreja; em
algum momento, seus líderes causarão conflitos e possivelmente
destruirão a igreja
já enfraquecida.
Infelizmente, não aprendi essa lição no seminário. Foi preciso passar
por uma situação difícil, quando a liderança não estava unida para me
ajudar a entender a importância da liderança na igreja e a importância
de liderar outros líderes. Por consequência,
a liderança se tornou minha principal preocupação quando os
presbíteros me fizeram essa pergunta — e permanece minha
preocupação principal hoje. Desde o seminário, aprendi que, se tiver
de liderar bem a igreja e seus líderes, devo, em primeiro lugar, ter um
entendimento bíblico sobre a liderança. Em seguida, não devo ser o
único a refletir essa liderança bíblica, mas também esperar dos demais
a mesma disposição.

Definição de liderança bíblica


Sem o entendimento bíblico de liderança, podemos nos sentir
tentados a abrir mão de nossa autoridade por pura passividade e temor
do homem, afetando assim quem se encontra sob nosso
cuidado, ou abusar de nossa autoridade pela manipulação ou opressão,
passando assim a usar as pessoas. Essa distorção da liderança se
tornou evidente no jardim, quando Adão aceitou a passividade e foi
incapaz de afastar Eva da tentação (Gn 3.6).
E se estabeleceu como realidade quando Eva foi amaldiçoada com a
certeza de que, em decorrência da Queda, Adão a oprimiria em
resposta ao desejo dela por sua liderança (Gn 3.16).
A Escritura toda descreve essa luta contínua entre a liderança
piedosa e sua distorção. Isso ocorre tanto no relacionamento conjugal
entre homem e mulher quanto na igreja, onde fomos convocados a
refletir o padrão bíblico de liderança (1Tm 2.11-15). Assim, como
reconhecer a liderança bíblica? Como defini-la?
Suspeito que a maior parte dos líderes evangélicos esteja acostumada
com a definição de John Maxwell de liderança como “influência”. Em
“The Maxwell fallacy: there’s more to leadership than influence” [A
falácia de Maxwell: há mais na liderança que influência], David
Burkus, o guru da liderança, discorda dessa definição excessivamente
simplista, porque deixa a porta aberta para a influência por meio da
coação, manipulação ou ameaça. Isso não é liderança bíblica. Em vez
disso, Burkus propõe: a “liderança consiste no processo de influenciar
outras pessoas a fim de trabalharem em benefício de uma visão
mutuamente desejada”.1
Esse esclarecimento é útil. Felizmente, para os líderes eclesiásticos,
nossa visão mutuamente desejada está registrada na Escritura. A igreja
deve demonstrar a sabedoria multiforme de Deus aos poderes
cósmicos enquanto proclamamos “as riquezas insondáveis de Cristo” e
“trazemos a luz para todos” do plano eterno de Deus de exaltar Cristo
como Senhor sobre todas as coisas (Ef 3.8-10). A pergunta
permanece: “Como influenciamos a igreja e seus líderes para exibirem
a multiforme sabedoria de Deus ao proclamarmos o evangelho e
chamarmos as pessoas ao arrependimento, à fé e à vida de obediência
ao rei Jesus?”.

Credibilidade
Percebi que um componente muito negligenciado da liderança bíblica
é a credibilidade. Enfatizamos com razão o caráter (1Tm 3; Tt 1);
destacamos com razão a competência (capacidade de ensinar) e sem
dúvida esperamos o cuidado com a congregação (1Pe 5). Entretanto,
muitas vezes falhamos em considerar a necessidade de tempo para que
o caráter, a competência e o cuidado sejam observados ao ponto em
que se estabelece a credibilidade. Mike Ayers, ao escrever para For the
church [Pela igreja], define a credibilidade como a “permissão moral
para o [líder] em questão exercer influência”.2 Requer-se credibilidade
de todos os líderes, incluindo-se
o líder de outros líderes. Como construir a credibilidade entre
seus liderados?
Quando Jesus estruturou a igreja para a missão (Ef 4.11-16),
destacou a prioridade do ministério da Palavra. Quando Paulo lidou
com temas que envolviam liderança nas igrejas, priorizou o caráter
acima dos dons (1Tm 3.1-8; Tt 1.5-8). Quando Pedro descreveu o
papel dos líderes da igreja, destacou a importância do cuidado da
congregação motivado pelo amor, não pela compulsão.
Enquanto consideramos esse panorama de descrições e qualificações
bíblicas, surge o entendimento bíblico da liderança. Os líderes bíblicos
são homens de caráter piedoso que demonstram competência suficiente
no manuseio da Palavra de Deus e que expressam um cuidado
amoroso para com o rebanho de Deus. Tão logo os candidatos à
liderança apresentam o caráter bíblico, a competência com fidelidade e
o cuidado amoroso, eles estabelecem credibilidade junto à congregação
que os torna dignos de serem seguidos.
Pense na liderança bíblica da seguinte forma:

Caráter + Competência + Cuidado


_____________________________ = Credibilidade
Tempo

Lançando o fundamento
Quando cheguei à igreja High Pointe Baptist Church, em Austin, no
Texas, a igreja e seus líderes concederam-me o benefício da dúvida.
Claro, eles investigaram meus antecedentes criminais e financeiros,
pediram referências pessoais, verificaram minhas credenciais, mas
confiaram em todas as fontes. Com o tempo, tive de demonstrar que
eu era a pessoa que eles acreditavam que eu era. Eles precisavam ver
por si mesmos que eu era um homem de caráter piedoso; era-lhes
necessário observar minha competência suficiente para ensinar;
precisavam enxergar que eu me importava o suficiente para pastorear
uma igreja com fidelidade. Chegar a essas conclusões leva tempo.
Contudo, existe algo que o pastor pode fazer de imediato para
começar a estabelecer o fundamento da liderança adequada na igreja:
a pregação expositiva consecutiva. A autoridade bíblica é uma
autoridade derivada; não é intrínseca à nossa personalidade, aos
nossos dons, às nossas credenciais ou a qualquer outra coisa de origem
humana. O modelo do manejo fiel da Palavra de Deus, uma vez
estabelecido, aumenta a confiança dos ouvintes na Bíblia, e sua
confiança em nossa competência para lidar com a Escritura crescerá.
A exposição fiel, semana após semana, dá forma ao caráter, à
competência e ao cuidado da congregação. Esse é um fundamento
importante para a liderança da igreja e a liderança de outros líderes.

Espera pela liderança bíblica


Não deveria ser surpresa que, se quisermos liderar bem, precisamos
ser líderes que transmitam credibilidade. Não apenas a igreja observa;
outros líderes também nos observam. Mas logo devemos ter a
expectativa de que outros demonstrem e pratiquem a liderança bíblica.
Aprendi desde o seminário três lições importantes que me ajudam a
conduzir líderes.

1. Identificar e convidar líderes bíblicos


Lembro-me de pedir a um respeitado plantador de igrejas de nossa
área para refletir sobre seus erros iniciais e partilhar comigo o que ele
teria feito de modo diferente. Sem hesitação, ele respondeu: “Eu seria
mais lento em trazer novos presbíteros a bordo”. É bom e saudável
querer partilhar o fardo com a liderança; no entanto, muitas vezes
também somos tentados a trazer homens não qualificados ou que
ainda não estão prontos.
Tudo bem em ser cauteloso com a identificação de líderes
(1Tm 5.22). É melhor trazer devagar os novos líderes que ter de
remover líderes não qualificados, incompetentes ou desatentos. Na
verdade, os homens não qualificados são mais difíceis de liderar, e são
eles os mais propensos a criar problemas.
Lembro-me certa vez, numa reunião congregacional difícil em uma
igreja anterior, que eu acabara de explicar o processo disciplinar da
igreja de Mateus 18 e 1Coríntios 5. Já havíamos passado por esse
ensinamento com os líderes reconhecidos pela igreja, mas assim que
expliquei a importância e a necessidade da disciplina eclesiástica, um
diácono se levantou e disse: “Tenho dúvidas sobre o que você acabou
de dizer. Eu sinto diferente...”.
Sentir? Sim, ele realmente disse “sinto”! Esse irmão, que já ouvira o
ensinamento antes, encheu-se de temor humano na reunião pública e
desabou. Ele mostrou não se importar com a congregação; só se
importava consigo mesmo.
Esse é o tipo de coisa que você gostaria de ter descoberto antes
que haja o reconhecimento público de um líder. Questione se os
processos de identificação de líderes são realmente bíblicos e
saudáveis, sinalizando líderes piedosos e qualificados segundo a
Bíblia. Só então convide-os para servir a seu lado.
Na High Pointe, estamos sempre à procura de homens com caráter
piedoso e que amem fielmente a congregação. Esperamos que eles
compartilhem regularmente o evangelho com incrédulos e que
discipulem com diligência. Esperamos que se engajem com fidelidade
à vida congregacional. Esperamos que ajam desse modo,
independentemente de seu reconhecimento oficial como líderes.
Quando homens assim surgem em nosso radar, nós lhes damos
oportunidades de ensinar em público, observando e avaliando sua
competência para ensinar. Nas nossas reuniões de presbíteros,
avaliamos uma lista de irmãos com potencial para se tornarem
presbíteros, e oramos para que Deus nos conceda sabedoria na
designação de futuros presbíteros.
Quando o nome de um irmão surge na maioria das listas ou em
todas elas, nós lhe perguntamos sobre seu interesse em servir como
presbítero. Caso ele demonstre interesse, preenche um questionário
com foco nas qualificações bíblicas para o presbiterato. Os presbíteros
reanalisam os questionários e, se estivermos de acordo, nós o
convidamos para uma entrevista mais detalhada. Se todas as partes
concordarem em dar continuidade ao processo, convidamos o
candidato a participar de nossos encontros até o momento “exclusivo
para presbíteros”. Então lhe pedimos para escolher um presbítero para
mentoreá-lo. Nesse período juntos, o candidato observa não só como
cuidamos da congregação, mas também o caráter, a competência e o
cuidado dos presbíteros.
Você pode se perguntar qual é a relação disso tudo com os pastores.
Pense nisso: é mais fácil liderar os irmãos biblicamente qualificados e
com uma só mentalidade, um só coração e uma só voz do que os que
não se encontram assim. Na High Pointe, o processo de nomeação de
presbítero é um meio pelo qual protegemos a congregação da falta de
liderança bíblica. Quando trabalhamos duro para encontrar homens
fiéis que amam a Cristo, amam o evangelho e amam a igreja, temos
mais chances de ter uma equipe de líderes que sabe quando liderar e
quando seguir a liderança para o bem da igreja. Nunca presuma sem
evidência que alguém é qualificado para a liderança bíblica —
arrependimentos não tardarão. E não imagine que a liderança bíblica
surja no caminho apenas por você ter colocado alguém nessa posição.
Em vez disso, espere que a liderança bíblica se manifeste desde o
começo, à medida que você identifica irmãos e os convida para se
unirem à liderança da igreja.

2. Preparar e fortalecer líderes bíblicos


Frustrar os líderes e criar conflitos na igreja é fácil: basta convidá-los
para a liderança sem a preocupação de prepará-los e fortalecê-los.
Líderes autoritários podem até reconhecer a prontidão de outros
líderes para servir a seu lado, mas muitas vezes os tratarão como
espécies de carimbos para o que o pastor deseja realizar. Esses recrutas
são presbíteros só de nome. Líderes de verdade não
durarão muito sob tais circunstâncias. Todavia, precisamos perceber
que pastores bem-intencionados às vezes frustram os líderes dessa
maneira. Tudo começa com a presunção orgulhosa de que o pastor
pode fazer as coisas melhor e mais rápido que as pessoas designadas
para algumas tarefas. Em vez de dedicar tempo para preparar outros
líderes e capacitá-los para seu ministério, decidimos fazer de tudo.
Porém, se não contamos com os líderes para o cumprimento de suas
tarefas, por que afinal convidá-los para liderar?
Precisamos enxergar a liderança com uma perspectiva de longo
prazo. Estamos levantando e equiparando líderes para o futuro, para
nossa ausência. Assim, devemos prepará-los e capacitá-los para liderar
agora, enquanto temos a possibilidade de encorajá-los e de moldar sua
liderança.
A preparação é um processo constante. Na High Pointe, sempre
fazemos leituras juntos, conversamos, oramos e aprendemos juntos.
Mas não devemos nos limitar à preparação e ao treinamento de
líderes; em algum momento, é preciso deixá-los liderar e dar-lhes
espaço para que falhem.
Líderes fortalecedores de princípio incentivam a participação plena
de suas equipes em conversas e processos decisivos. Durante as nossas
conversas, deixamos claro que cada presbítero é livre para contribuir,
fazer perguntas e apresentar sugestões. Se o consenso é claro,
avançamos; do contrário, votamos. A maioria decide, mesmo quando
sou a minoria.
Devemos também encorajar nossos líderes a desenvolver suas forças
e dons. Por causa do meu ministério público de pregação, fica claro
para a congregação que sou o líder principal da igreja. Por isso, cabe a
mim lembrar continuamente à congregação sobre a liderança plural
que temos. Cabe a mim dar crédito aos outros líderes, reconhecendo e
honrando os que lideram bem. Cabe a mim permitir que os
presbíteros liderem em particular e em público. A reuniões dos
presbíteros são conduzidas por nosso presidente, não por mim; as
reuniões dos membros da igreja são
moderadas por nosso presidente ou vice-presidente, não por mim;
nossa oração pastoral é feita por um dos pastores de nossa equipe, não
por mim; a pregação da noite do domingo é feita por um dos nossos
presbíteros ou pela equipe pastoral, normalmente não por mim. Bons
líderes dão o crédito a quem merece e tomam sobre si as
responsabilidades. Aprendi a preparar e a fortalecer outros líderes para
que liderem de acordo com seus dons e pontos fortes.

3. Avaliar a liderança bíblica


Uma das lições mais importantes que aprendi na liderança é a
avaliação. Para que seja adequada, a avaliação exige um ambiente de
crítica construtiva e encorajamento saudável, oferecidos com
humildade e recebidos com gratidão. Como líder principal, é minha
responsabilidade estabelecer e manter essa atmosfera ao oferecer eu
mesmo a crítica e o encorajamento, servindo como modelo, e também
ao permitir-me também ser avaliado pela equipe. Em nossa equipe
pastoral, esse processo ocorre na avaliação semanal do culto.
Geralmente nos encontramos na cafeteria local nas tardes de segunda-
feira e repassamos o domingo todo, incluindo meu sermão. O
processo não me ajuda apenas a crescer como pregador, mas informa
aos líderes que é seguro fazer-me perguntas e criticar-me. Não posso
deixar de destacar quão valioso é esse tempo, tanto para mim como
líder quanto para toda
a equipe.
Nós também realizamos avaliações de tudo o que fazemos como
igreja. Nada está fora da mesa, mesmo quando se trata de minha
liderança. Nossa agenda de encontros prevê que os presbíteros
comuniquem o que veem como encorajador e também como
preocupante na High Pointe. Essas conversas nos permitem avaliar
nosso ministério em conjunto e fazer-nos perguntas uns aos outros,
dependendo de quem lidera a avaliação de um ministério específico.
Há momentos também em que um presbítero e eu nos sentamos
com os membros de nossa equipe pastoral para avaliações formais.
Avaliamos o caráter, a competência e o cuidado para com a
congregação. Manter essas avaliações é de importância crucial para os
homens mais jovens que almejam o ministério pastoral. Isso lhes
permite aprender a receber críticas sinceras e encorajamentos
saudáveis com humildade. Se eles forem incapazes de receber de
modo humilde a crítica e o estímulo, torna-se claro para nós que não
estão prontos para o ministério pastoral ou talvez não sejam
qualificados para o pastorado.

Seminário da igreja local


Agradeço a Deus pela época de seminário. A instituição não existe
para ensinar tudo e nem pode, pois há aprendizados que só a igreja
local oferece. Depois de trinta anos de ministério pastoral, aprendi
muito no “seminário” da igreja local. Boa parte dessas lições veio em
consequência de minha juventude, impaciência e cabeça dura.
Sou grato, porém, às congregações amorosas que cuidaram bem de
mim e de minha família; elas me perdoaram bem no começo de
minha jornada por causa de meus passos em falso. Uma das lições
mais importantes, aprendidas na igreja, diz respeito ao valor da
liderança. Caso eu deseje liderar com excelência, preciso manter um
entendimento de liderança que seja verdadeiramente bíblico. Em
seguida, preciso trabalhar com diligência para lançar o fundamento
adequado dessa liderança bíblica. Contudo, isso não é suficiente. Em
algum momento, devo esperar a liderança bíblica por parte daqueles à
minha volta.

1Change this, disponível em: http://changethis.com/manifesto/show/80.05.Maxwell


Fallacy, acesso em: 9 mar. 2011.
2“The Stewardship of Power”, For the Church, disponível em: http://ftc.co/resource-
library/blog-entries/the-stewardship-of-power, acesso em: 23 mai. 2016.
7
Como criar meus filhos para
amarem a igreja
Matt McCullough

Todas às sextas-feiras de manhã, costumo sair com meus meninos


para fazer trilhas nos parques estaduais que ficam a uma
pequena distância de carro de nossa cidade. Um de nossos favoritos
fica num lugar chamado Narrows of the Harpeth [Estreitos do
Harpeth]. Como já diz o nome, a atração principal desse parque é
uma faixa estreita de terra esculpida por dois trechos do rio Harpeth
quando ele se fecha de volta para si depois de uma curva apertada,
quase formando um círculo. Milênios após milênios, duas extensões
paralelas do rio erodiram o que antes
era uma encosta no meio, transformando-a em uma falésia
íngreme que divisa, em cada lado, uma porção separada do rio
Harpeth abaixo.
Na verdade, eu nunca medi a distância de um lado dessa falésia à
outra, mas em alguns pontos ela não é mais larga que o curso ao longo
do topo — eu diria não mais que 4,5 a 6 metros. De cada lado existe
uma queda de parede de rocha pura com várias dezenas de metros. É
um caminho traiçoeiro, que requer cuidado, pois andar bem no meio é
difícil. Afastar-se do perigo de um lado significa um passo em direção
ao perigo do outro.
Esse caminho é como imagino a linha que tento trilhar como pastor
de uma igreja que amo e pai de filhos que amo. Desejo
desesperadamente vê-los amar a igreja e pretendo fazer todo o
possível para ajudar nisso; contudo, aos meus olhos o caminho está
entre penhascos perigosos dos dois lados.

Dois penhascos, dois perigos


Quero descrever esses dois penhascos metafóricos como os vislumbro
e apresentar algumas sugestões práticas sobre como evitá-los. Mas
primeiro deixe-me explicar de onde venho.
Em 2010, minha esposa e eu tivemos nosso primeiro filho no ano
em que ajudamos a plantar nossa igreja. Sou pai há quase o mesmo
tempo que sou pastor — e isso não é muito. Mas não demorou para
reconhecer que a pressão sobre a vida familiar de um pastor não é
apenas um velho clichê e nem para perceber por que o filho
problemático do pastor é mais do que um estereótipo vazio. No que se
segue, abordo não tanto o que já fiz com meus filhos, mas sobretudo o
que espero ainda fazer.
Dito isso, também escrevo a partir de outro tipo de experiência —
não como pastor, com lições aprendidas duramente, mas como filho
de pastor. Nasci e cresci em uma família de pastor. Dedico minha
vida a uma igreja local agora porque passei a amá-la por causa do
ministério do meu pai. O conselho que ofereço a seguir vem do que vi
nele e do que vi frutificar em minha vida.
Agora de volta aos penhascos metafóricos. Por um lado, precisamos
evitar tratar a igreja local como um trabalho sem ligação com nossa
vida particular. Pastorear uma igreja é muito mais para nós que uma
fonte de renda. De forma positiva, se quisermos que nossos filhos
amem a igreja, precisamos mostrar-lhes que de fato amamos a igreja
— cremos que vale a pena o investimento de toda a nossa vida.
Contudo, por outro lado, precisamos evitar deixar que os fardos do
ministério se infiltrem no tempo e na atenção que a família merece.
De forma positiva, devemos proteger nosso relacionamento com
nossos filhos em relação à igreja, eliminando obstáculos
desnecessários que podem tornar a igreja mais difícil de ser amada do
que deve ser.
1. Devemos mostrar a nossos filhos que amamos a igreja
A Bíblia descreve a igreja local como o mecanismo da obra de Deus
no mundo. É um reino de pessoas desejosas de honrar e servir a Deus
como Rei em todos os aspectos da vida (Mt 16; 18; 28), a família das
pessoas adotadas por Deus e ligadas umas às outras por seu amor
(Ef 2). Trata-se de um grupo em que todos enfrentam desafios juntos
(1Co 12). Não é como um serviço de assinatura sempre disponível.
Nossa conexão com a igreja local não é voluntária nem seletiva. É
fundamental, dá forma à vida e abrange todos os seus aspectos.
Precisamos ensinar essas verdades a nossos filhos a partir da Bíblia.
No entanto, tão importante quanto informá-los é mostrar-lhes.
Ninguém terá uma visão melhor do quanto nossas palavras sobre a
igreja refletem nossa postura em relação a ela. Não podemos ensinar
nossos filhos a amar a igreja a menos que eles consigam enxergar que
nós a amamos de verdade.
Talvez a demonstração mais importante de amor pela igreja seja a
crucificação de qualquer traço de carreirismo. A igreja local não existe
para fornecer emprego. Ela não é empregadora de ninguém, mas é
muito maior que qualquer um de nós e do que possamos realizar.
Antes de ser seu local de trabalho, a igreja deve consistir nas pessoas
com quem você compartilha a vida e a quem pertence.
Se a tratarmos como commodities que agregam valor à nossa vida,
preenchem nossas necessidades e satisfazem nossas ambições — como
uma TV de plasma, uma casa de cinco quartos ou o utilitário
esportivo da melhor qualidade —, a igreja sempre será vista como
mais uma opção no mundo, seja um objeto constante de observação
distanciada, seja um pequeno organismo sob o microscópio,
mostrando cada falha, o que nos fará considerar outras opções.
Nossos filhos vão perceber esses sinais. Se emitirmos até o cheiro
mais suave de carreirismo, eles o sentirão. Se entenderem que para
nós a igreja é mais um degrau da escada, ficarão travados. A igreja
permanecerá “eles”, e a família, “nós”. Na pior hipótese, podem se
sentir presos pelo seu trabalho em uma igreja que eles não escolheram.
Na melhor, esperarão por tempos mais propícios para agir. Porém,
lutarão para se identificar por completo com a igreja dos pais.
Esse sentido de submissão e pertencimento é uma das maiores
dádivas que meu pai me concedeu. Ele foi um exemplo de amor à
igreja como se seus membros fossem parte da família. Continua a
pastorear em um condado onde as pessoas brincam que, se você não
nasceu ali, pode morar no local por vinte anos e ainda não pertencer a
ele, onde o período de mandato dos pastores nas igrejas não ultrapassa
poucos anos e é considerado normal que a família dos pastores viva
em um ambiente separado daqueles a quem servem. Devo a ele e à
igreja o crédito por não termos vivido dessa maneira. Ele jamais agiu
como se não fosse dali. Não agia como um observador externo da
cultura, como se sua vida fosse grande demais para ser contida por
esse lugar e seu povo.
A vida de todos nós estava totalmente integrada à deles.
Nossos filhos precisam nos ver trabalhar com alegria e esperança,
cultivando relacionamentos na igreja como amizades
genuínas e não como clientes ou itens a mais na lista de afazeres.
Precisam nos ver enfrentando os problemas na igreja com empatia e
compromisso amoroso, sem jamais falarmos como se a igreja fosse
algo diferente de todos nós.
Às vezes, nosso amor pela igreja será demonstrado do modo mais
poderoso ao levarmos nossos filhos ao trabalho pastoral. Não sugiro
que você os leve à força. Falo em convidá-los quando
estiverem interessados, quem sabe, para a organização de um evento, e
deixá-los observar sua alegria e espírito de serviço como líder. Mas,
dependendo da situação, você pode também deixá-los observar um
pouco de seu trabalho pastoral.
Ao crescer em uma comunidade rural, convivi com muitos membros
idosos, incapazes de sair de casa. Visitá-los era parte importante do
ministério do meu pai, e ele costumava me levar junto. Suas visitas ao
hospital era frequentes e, de modo geral, as viagens duravam mais de
uma hora. Se as circunstâncias permitissem, eu o acompanharia.
Tempo de qualidade com meu pai foi apenas uma das preciosas
bênçãos que recebi dessas oportunidades de passeio de longa
distância. Pude também atestar de perto a importância de seu
trabalho, por estar com pessoas que enfrentavam os períodos mais
difíceis de suas vidas, às vezes os piores momentos. Conheci crentes
em Jesus das mais diversas faixas etárias e uma gama ainda maior de
experiências. Vi que se sentiam tocados por saberem que não estavam
sós nem haviam sido esquecidos, mas enfrentavam os maiores desafios
da vida contando com a solidariedade das pessoas a quem pertenciam.
Entendi por experiência direta o quanto meu pai amava cuidar do seu
povo.

2. Devemos proteger o relacionamento com


nossos filhos em relação à igreja
Quanto mais sensíveis formos em relação a um dos perigos para
nossos filhos — considerar a igreja apenas a empregadora, um
acessório da vida e não sua estrutura —, mais suscetíveis estaremos a
outro perigo. Como seguidores de Jesus, para não falar de pastores,
somos chamados a estabelecer a vida em torno da igreja local.
Contudo, não podemos permitir que nossas responsabilidades tomem
controle de nossa vida.
O caráter invasivo do trabalho pastoral é inevitável. Por natureza, as
tarefas centrais nunca são concluídas. Sua preparação foi “suficiente”
para o sermão? Você já se sentiu totalmente satisfeito depois de
pregar? Em que ponto alguém conclui o discipulado de modo final?
Você não decide quando um casamento enfrentará uma crise ou
quanto tempo será necessário para pastorear os envolvidos enquanto a
crise durar. O peso dos cuidados que você dispensa a seu povo é uma
constante em sua mente.
Não podemos evitar que as responsabilidades do ministério afetem o
ritmo da vida de nossa família. E, precisamente por não podermos
evitar essas responsabilidades, devemos fazer todo o possível para
proteger o relacionamento com nossos filhos em relação à igreja.
Se eles sentirem que a igreja é uma competidora por nosso tempo e
afeição, sempre lhes será difícil amar a igreja. Portanto, precisamos
provar-lhes na estrutura de nossa vida normal que os priorizamos. O
objetivo é convencê-los de que nunca somos mais felizes que no
momento em que estamos com eles. Se entenderem que sempre
preferimos estar com eles, será mais fácil aceitar os momentos em que
não pudermos.
Como podemos proteger nossos filhos das exigências da vida na
igreja? Como podemos construir uma cultura familiar em que nossos
filhos não precisem sentir como se a igreja competisse com eles? Aqui
estão algumas sugestões que funcionaram bem para mim:
1. Escolha um dia de descanso e persista nele de modo total. Para mim
esse dia é sexta-feira. Eu tento elaborar minha semana para tornar
esse dia o mais despreocupado possível. Tento evitar sessões intensas
de aconselhamento na quinta-feira que possa prejudicar minha mente
no dia seguinte. Procuro aprontar o rascunho do sermão até quinta-
feira à noite e utilizo as tardes de sábado para revisá-lo. Procedendo
assim, na sexta-feira não sinto nenhuma pressão, pois sei que tenho o
dia seguinte para revê-lo. Faça o que funcionar melhor para você. O
importante é ter um dia em que seus filhos possam contar com você.
Acredito que essa expectativa ajuda a suavizar o golpe das longas
horas longe deles e das noites perdidas no início da semana.
2. Planeje atividades divertidas em família no seu dia de descanso.
Temos de resistir à vontade de pensar nesse dia como a chance de
descansar o dia todo a fim de nos recuperarmos, por mais que
precisemos. É a oportunidade de nos desligarmos do trabalho ao nos
envolvermos com nossos filhos. Como isso se dá varia de acordo com
a idade dos filhos, é claro. Como os nossos são pequenos e minha
esposa fica em casa com eles a semana toda, tento tirá-los de casa.
A menos que ela deseje participar, eu me responsabilizo pelo
planejamento do dia. Faço isso em parte para servir à minha esposa,
para aliviá-la do peso de pelo menos um de seus compromissos
ou para dar-lhe um pouco de espaço para respirar. Mas faço também
por nossos filhos: o tempo juntos é uma prioridade para mim. É um
ponto alto da semana, esperado com alegria. Quando algo atrapalha
esse momento, também fico decepcionado.
3. Quando o trabalho entra em seu momento em família, comunique a
ocorrência de forma clara e o quanto antes. Nossas atividades incluem
informações particulares que não podem ser compartilhadas com a
esposa, muito menos com os filhos. Entretanto, precisamos encontrar
formas aceitáveis de comunicar-lhes essas
interrupções para que saibam que estamos sobrecarregados, mesmo
que não possamos dizer o motivo. Não deixe seus filhos pensarem que
você está mais quieto ou distante pela preocupação com os problemas
de alguém ou porque algo o ofendeu.
Algumas de nossas tarefas são imprevisíveis ou se tornam urgentes.
Não podemos evitá-las totalmente, mas pelo menos deixemos claro
para nossos filhos quando estamos trabalhando e quando estamos
com eles. Se você não pode evitar o envio de um e-mail ou de uma
mensagem de texto durante a noite do cinema em família, diga-lhes o
que está fazendo e desligue o dispositivo assim que possível.
4. Não use o tempo em família para cumprir suas tarefas. E por falar em
dispositivos, grande parte do nosso trabalho envolve reflexão ou
comunicação. A onipresença de informações em nossos telefones ou
tablets torna quase irresistível a tentação de realizar várias tarefas ao
mesmo tempo. Se eu tiver de escolher momento
a momento com o que vou lidar, também perderei a batalha várias
vezes.
Encontre um sistema que funcione para você. Todavia, considere
verificar as mensagens eletrônicas apenas em horários específicos.
Talvez até você se livre do telefone quando interagir com seus filhos.
Quando eu era criança, tirávamos o telefone fixo do gancho e o
colocávamos em uma gaveta. Nos dias atuais, o isolamento não é tão
simples, mas a gaveta ainda não é má ideia.
5. Mantenha o calendário eclesiástico tão reduzido quanto possível. Você
pode não ter controle total sobre o que entra na programação da
igreja. Mas, naquilo em que tiver influência, trabalhe para manter seu
calendário reduzido e simples. Se você precisa ficar longe da família,
não quer que seja para cumprir protocolos, como se fosse alguém
muito ilustre. Você deseja estar lá por ser forçado a estar longe por
coisas que realmente importam.

Ore por sabedoria


Não é fácil percorrer o caminho entre não se permitir tratar a igreja
como mera empregadora e a se entregar a ela a ponto de faltar espaço
para os filhos. Dê um passo para longe de um penhasco e você estará
um passo mais perto do outro. Precisamos de sabedoria a cada dia,
mais sabedoria do que conseguimos por nós mesmos. Precisamos de
comunicação aberta com nossa esposa sobre o que ela percebe em nós.
Precisamos expor nossa vida aos demais presbíteros e a amigos
próximos em nossa igreja. Precisamos buscar orientação de pastores
mais experimentados que sabem formular corretamente as perguntas e
reconhecer os sinais de alerta. Em resumo, para apascentar os nossos a
fim de amarem a igreja, devemos agir como pais e pastores na
comunidade, junto a pessoas que nos conhecem e amam o suficiente
para serem honestas sobre o que percebem.
Todavia, em última instância, não podemos forçar nossos filhos a
amarem a igreja. Isso demanda um poder sobrenatural. Quando você
se familiariza com as formas da disfunção com que Paulo lidou nos
primeiros doze capítulos de 1Coríntios, consegue entender por que
ele descreve o amor como o faz no capítulo 13.
O único amor que pode sustentar a igreja local é o amor paciente e
gentil, que não se ofende facilmente e não guarda rancor, que suporta
todas as coisas e acredita no melhor dos outros. Esse tipo de amor não
é um comportamento aprendido. É um dom da graça de Deus — um
milagre realizado pelo poder de Deus no coração de seus filhos.
Assim, o bem mais fundamental que devemos fazer por nossos filhos,
se quisermos vê-los amar a igreja, é orar por eles.
8
Como pastorear minha
congregação em períodos de
sofrimento
John Onwuchekwa

Em meus primeiros dois anos como pastor, recebi um telefonema da


esposa de um dos meus melhores amigos. Jamais me esquecerei. Ela
acabara de descobrir que o irmão caçula de seu esposo havia sido
assassinado e se preocupava sobre como contaria a ele. Por isso me
ligou. Por causa do peso intenso nos meus ombros — que eu nunca
sentira antes — não me sentia preparado.
Em poucos minutos, o peso inicial pareceu leve, comparado com o
fardo de ter dado a notícia a meu amigo. Foi como substituir uma
barra por uma bigorna. Como ele chorava de modo incontrolável,
lembro-me de ter pensado que não desejava sentir esse tipo de dor
mais uma vez. Com o passar do tempo, estranhamente, esqueci esse
sentimento — esqueci o quanto era pesado. Desapareceu de minha
mente. No fundo, senti que uma dor como essa até poderia atingir
outros, mas não a mim.
Então chegou o dia 14 de abril de 2015.
Faltando menos de dois meses para a inauguração da igreja
Cornerstone Church em Atlanta, eu estava fora da cidade quando
recebi um telefonema de minha mãe me pedindo para verificar como
estava meu irmão, pois ela não conseguia entrar em contato com ele.
Foram necessários apenas alguns telefonemas para descobrir que meu
irmão, um pastor de 32 anos, havia morrido inesperadamente,
sozinho dentro do carro, mesmo estando em sua melhor forma física.
Partiu em um instante.
Depois de telefonar para meus pais e meus outros três irmãos,
deparei-me com a realidade de que o sofrimento me havia
encontrado. Fui pego de surpresa, despreparado para lidar com isso.
Eu sabia que a morte é parte da vida. Mas receber essa ligação foi
diferente. Senti o golpe muito mais profundamente que antes. Todos
os sentimentos iniciais voltaram, mais intensos que antes, associados
às emoções vividas no passado.
No dia em que inauguramos nossa igreja, na esperança de soprar
nova vida a uma comunidade, minha esposa descobriu que sua avó
havia morrido. Nos três meses seguintes, o sofrimento se espalhou
pela igreja como um vírus. Um bom amigo perdeu a irmã para o
câncer. Outro perdeu a avó. Um primo, o melhor amigo. A partir daí,
foi uma avalanche de sofrimento.
Por fim, chegou mais perto quando enterramos um membro da
igreja batizado uns meses antes. Pareceu-me claro por que Davi usou
a expressão “vale da sombra de morte” em Salmos 23.4. A morte
ferroa em um instante, mas sua sombra depressiva continua como um
hóspede indesejado por demasiado tempo.

Despreparado para as trevas


Então aqui estava eu, um pastor com oito anos de experiência, antes
um otimista muito extrovertido, agora um ermitão introvertido,
lutando com a depressão, tentando assegurar que nossa igreja não
sucumbisse às ondas do sofrimento e às nuvens tempestuosas da
depressão. Apesar da formação acadêmica, eu não estava preparado.
Estava, na verdade, despreparado pois, como seres humanos caídos,
desejamos ver com clareza cristalina acontecimentos futuros de nossa
vida que talvez nunca cheguem (o casamento, o nascimento do
primeiro filho, promoções, notoriedade etc.), mas tendemos a ignorar
a probabilidade que acabará se abatendo sobre todos nós: a aflição.
Imaginamos o bem como algo inevitável, mas o inevitável é muitas
vezes inimaginável. Contudo, quando o inevitável chegar, estaremos
preparados para lidar com ele e orientar a igreja a atravessá-lo? Se o
seminário não lhe ensina essa lição, espero que este breve capítulo
sirva como uma cartilha.
As palavras a seguir não pretendem compor um guia prático. Longe
disso, pois isso não é possível quando se trata de enfrentar o
sofrimento. Caso representem algo, são apenas reflexões de um pastor
que aprendeu muito com seus erros. Algumas lições se ensinam em
sala de aula, mas como lidar com o sofrimento não é uma delas. Essa
lição é aprendida e reaprendida no cadinho. Uma das coisas mais
importantes que aprendi foi que o sofrimento não lhe concede
necessariamente palavras melhores; ele só o torna mais generoso com
suas lágrimas. Espero que até mesmo a ideia de guiar a igreja em
tempos difíceis enterneça seu coração e traga-lhe humildade. Essa é a
melhor preparação para orientar suas ovelhas pelo vale da sombra de
morte.

A dor é o estímulo da alma para buscar a paz


Fiz o que todos fazemos quando ouvimos as más notícias relatadas
acima: busquei paz. Não o fiz de modo explícito, pois ninguém diz a
si mesmo: “Agora vou buscar paz” —apenas a busca. Você se ocupa.
Busca alívio da dor. Não apenas se senta e aceita. Você pode tentar
ignorar a dor e agir como se ela não estivesse lá. Pode se lançar às
distrações. Tentar qualquer coisa para esquecer. Mas logo percebe
que, enquanto os prazeres são esquecidos com facilidade, a dor vem
como uma memória fotográfica. Você se lembra dos cheiros, dos
detalhes sem importância, do senso de horror do lugar onde estava, de
quão fracos seus joelhos pareciam. Dormir não funciona. De manhã
ainda deseja só mais um abraço do ente querido que perdeu. A dor
ainda está ali.
Gostaria de poder dizer que, ao atravessar o sofrimento, você obtém
respostas melhores para as pessoas em busca de paz, mas isso não é
necessariamente verdade. Muitos buscam respostas, mas não é isso o
que mais precisam. É melhor que nossas perguntas nos levem a Deus
sem as respostas do que encontrarmos as respostas sem Deus. Como
Davi afirma em Salmos 23.4:
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte,
não temerei nenhum mal,
pois tu estás comigo.
A paz verdadeira não é encontrada na ausência de dor (nem mesmo
nas respostas à dor); a paz verdadeira é encontrada na presença de
Deus. Na Escritura, a paz sempre vem de alguém, não só de um
porquê.
Afirmei pouco antes que o sofrimento não lhe dá necessariamente as
melhores palavras, mas o torna mais generoso com suas lágrimas. Isso
oferece uma perspectiva única. Muitas vezes a possível colocação do
arcebispo salvadorenho Oscar Romero é citada: “Há muitas coisas que
só podem ser vistas por olhos que choraram”. Isso é duplamente
verdadeiro para o pastor.
O sofrimento é difícil, mas necessário. Mais do que levar as pessoas às
respostas, queremos lembrar a quem sofre o acesso ao grande
Consolador. Nossa dor deve nos levar a uma Pessoa.
Enquanto eu ajudava minha congregação, Deus me ensinou quatro
lições sobre o pastoreio através do vale da sombra da morte.

1. Alerte a igreja sobre a dor que virá


Meu objetivo aqui não é gerar tristeza, apenas sobriedade. O maior
obstáculo para guiar a igreja através do sofrimento não é a ignorância
dos próximos passos, mas a falta de sobriedade acerca do sofrimento
em geral.
Em janeiro de 2015, sentamo-nos em uma sala de estar com cerca
de trinta pessoas que seriam os membros fundadores da igreja
Cornerstone Church. Com a esperança de incutir nelas nossa visão,
passamos alguns de nossos valores centrais (prática padrão de
plantadores de igrejas). Recebi a tarefa de ensinar sobre a longevidade.
Concentrei-me no futuro incognoscível, um futuro que sem dúvida
inclui a aflição. Se desejássemos fixar raízes profundas e envelhecer
juntos, isso significaria que sentiríamos muita dor juntos. Afirmei que
acabaríamos enterrando algumas pessoas presentes na sala. Isso
ocorreria mais cedo do que pensávamos e com mais frequência do que
gostaríamos. Precisávamos nos preparar.
Você pode imaginar o resultado disso em uma sala cheia de pessoas
entre vinte e poucos anos e trinta e poucos anos. Depois disso, vários
amigos me contaram como me comportara de maneira mórbida,
como havia sugado toda a vida e energia da sala. Todos estavam se
sentindo bem com a ideia de plantar a igreja até eu chegar com o
assunto “morte”. Eu pensei: “Talvez eles tenham razão. Deveríamos
celebrar em um momento como esse. Talvez tenha sido um pouco
mórbido”. Desse momento em diante, esquivei-me de falar sobre a
morte. Fui covarde. Eu estava preocupado com os sentimentos de
todos, então desconsiderei a certeza que jaz no futuro de todas as
pessoas.
Olho em retrospecto para a reunião e gostaria de saber o que eu faria
agora. Deveria ter deixado que o prenúncio dado por Deus
estabelecesse a agenda de nossa igreja, em vez de planejar reagir à dor
futura com respostas. A dificuldade é que se você fala sobre a dor e o
sofrimento enquanto as pessoas prosperam ou se sentem cheias de
esperança sobre o futuro, você terá de passar por críticas. Suas palavras
não serão bem recebidas nem aplaudidas. Isso porque a dor e o
sofrimento ensejam uma conversa desconfortável. Você terá de
lembrar que não está sendo pessimista — você está em boa
companhia. Em Eclesiastes 7.1-4, somos ensinados a definir o que é
bom na vida não confiando em nossos sentimentos, mas olhando para
o futuro, ou seja: todos nós enfrentaremos a morte e o sofrimento.
Nem todos lutarão contra as tentações que acompanham a
prosperidade na vida. Nem todos conseguirão o emprego tão sonhado
e terão de lutar contra a idolatria que pode acompanhar a bênção.
Contudo, todos — em sentido absoluto — lutarão contra a
adversidade.
Tendemos a pensar em dois grupos diferentes quando lemos
Romanos 12.15: “Alegrem-se com os que se alegram, chorem com os
que choram”. É possível uma pessoa se alegrar e chorar na mesma
situação? Eu posso me alegrar com a bondade de Deus e, ao mesmo
tempo, entristecer-me com a perspectiva de uma perda ou de um
infortúnio. As duas respostas não são mutuamente excludentes.
Ambas as experiências são comuns ao povo de Deus.
Ao planejar seu calendário de pregações, dedique um tempo para
lidar com a dor e o sofrimento. Não espere a chegada dos dias difíceis.
Se você esperar, já terá perdido uma valiosa oportunidade ministerial.
É difícil ser objetivo em momentos de tensão.
A sobriedade precisa ser cultivada e mantida. Planeje seu calendário
de pregação com essa perspectiva em mente. Não espere até que ela
apareça em um texto, mas planeje pregar textos que obriguem os fiéis
a enfrentar realidades difíceis. E quando você o fizer, faça-o bem! A
única coisa pior que a dor real é a falsa esperança; assim, dê ao povo
um lugar para permanecer firme. Esteja ciente de que às vezes você
poderá precisar de ajuda de fora da igreja, em especial no campo do
aconselhamento.
O modo de orientar a igreja ao longo de um período de sofrimento é
pastoreá-la antes que ele chegue. Se você se preparar para um tornado
no momento em que vir a nuvem com formato de funil, estará
atrasado. Tornados de sofrimento estão a caminho com muito mais
frequência do que você gostaria e mais cedo do que você pensa.
Prepare-se e prepare sua congregação agora.

2. Estabeleça a igreja como um lugar de refúgio


O sofrimento se agrava quando é suportado em silêncio. Sempre que
a dor vem, as pessoas se voltam para algum lugar a fim de enfrentá-la.
Como pastor, você quer que a igreja seja esse lugar. Quando seus
membros precisam de encorajamento e oração, a igreja deve ser um
refúgio em Deus. No entanto, a igreja não se tornará
automaticamente esse refúgio. Tempos de dor revelam medos,
dúvidas, raiva, pecados ocultos e muito mais; além disso, as pessoas
precisam saber que podem ser honestas sobre seus sentimentos. Elas
precisam ter espaço para se alegrar e lamentar. Repousa sobre você a
responsabilidade de certificar-se de que sua igreja foi estabelecida
como um lugar de honestidade e transparência.
Seja certo ou errado, os membros da igreja muitas vezes medem a
própria espiritualidade pelo exemplo do pastor. Então você deve guiá-
los em vulnerabilidade e transparência. Deixe as pessoas saberem que
você é humano. Longe de perder a credibilidade aos olhos delas, isso
lhes permitirá ver que não estão loucas por se sentirem deprimidas,
zangadas, amarguradas, nem mesmo sozinhas por duvidar da bondade
divina. Os salmistas servem de modelo dessa dinâmica para nós. E
onde estaríamos sem saber da agonia de Jesus no Getsêmani, de seus
gritos por se sentir abandonado na cruz e da garantia de que ele
simpatiza com nossa fraqueza?

3. Monte uma equipe


Ajudar sozinho as pessoas a enfrentar a dor ou carregar sozinho o
peso do sofrimento delas equivale ao suicídio espiritual para um
pastor. Não o faça sozinho. Não importa em que ponto você se
encontra em relação à necessidade de vários presbíteros ou pastores,
por experiência própria posso lhe dizer quão vital é dividir a carga
para a vida da igreja, e quão crucial isso será nos momentos sombrios.
Nossa igreja teve início com quatro pastores e, na providência
bondosa de Deus, essa é provavelmente uma das razões pelas quais
ainda está de pé. No dia anterior à nossa primeira atividade para
alcançar as pessoas, lembro-me de estar sentado em minha sala de
estar chorando com os colegas pastores Richard, Trip e Moe, depois
de meu casamento ter sido prejudicado pela depressão. A liderança
compartilhada me deu a liberdade para me reconciliar com minha
esposa, enquanto os outros irmãos lidavam com as tarefas de pregar e
liderar. Isso me lembrou que, apesar de eu ser pastor, ainda sou uma
das ovelhas. Sou um membro da igreja que precisa de cuidados,
descanso e alívio.
A disposição de meus irmãos espirituais de carregar o peso salvou
minha vida. Quando eu não conseguia lidar com o sofrimento de
minha própria família, muito menos da igreja, esses
homens tomaram conta da congregação. Eles foram um presente de
Deus para a nossa igreja. Em retrospectiva, gostaria de ter confiado
neles ainda mais, o suficiente para deixá-los agir em total liberdade.
Gostaria de ter renunciado a todo o poder de decisão nos primeiros
meses. Afinal, eu não podia enxergar com clareza; deveria ter deixado
que eles decidissem minha carga de trabalho, meu descanso e o que
realmente era capaz de fazer, em vez de bancar o Super-Homem.
Teria sido muito mais saudável. Nossa igreja teria sido mais saudável.
Permita que as pessoas o conheçam bem e o ajudem a suportar o
peso. Lidar com o próprio sofrimento esmaga a alma. Lidar com o
sofrimento de maneira vicária e contínua também é muito para apenas
uma pessoa suportar.

4. Saiba que a oração sincera é tão importante quanto a


pregação sincera
E. M. Bounds escreveu: “Falar com os homens sobre Deus é uma
grande coisa, mas falar com Deus sobre os homens é mais importante.
Quem não aprendeu a falar com Deus sobre os homens jamais será
bem-sucedido ao falar com os homens sobre Deus”.1
Todos nós já fizemos parte de igrejas em que a oração é um
elemento presente, mas não é intencional ou potente. A oração na
igreja muitas vezes é como a oração de agradecimento pela refeição —
é obrigatória, todos respeitam a sua decisão de fazê-la, mas ninguém
insere de fato muitos elementos nela. Nesse caso, a oração é reduzida
a uma simples transição de uma atividade para outra. Quando penso
no seminário, lembro-me de orar no começo e no fim da aula, mas
não me lembro de um professor fazer uma pausa para orar em meio a
um debate acalorado.
O seminário me ensinou a mecânica da oração, o que parecia
simples: reverência antes dos pedidos e presença antes da provisão. No
entanto, quando você acorda de manhã com milhares de coisas na
mente e se sente atacado por dúvidas e desânimo, os princípios da
oração não podem limitar-se a frases atraentes. O seminário pode
ensinar o conhecimento das Escrituras e da teologia, mas esses
aspectos, por essenciais que sejam, sozinhos não produzem
necessariamente o crescimento espiritual.
Os anos recentes me trouxeram sensatez. Eu tinha hábitos terríveis
de oração. Orava, confessava pecados, pedia ajuda a Deus; no entanto,
do ponto de vista emocional, minha vida de oração era superficial.
Antes do falecimento do meu irmão e da fase de sofrimento por que
passou minha igreja, vivi como se não precisasse de Deus, como se
pudesse cuidar sozinho das minhas necessidades e da igreja. Depois
da morte do meu irmão, fiquei com raiva de Deus. Foi uma raiva
profunda e duradoura que não foi resolvida em um dia, uma semana,
um mês. Essa raiva marcou todo o ano de 2015 para mim.
Eu só conseguia preparar-me para pregar quando despejava todas as
minhas emoções diante de Deus. De outro modo, meus sermões
seriam frios e desconectados — e de fato permaneceram assim por um
tempo. Quando o fato de me encontrar em estado bruto diante de
Deus se tornou um hábito, percebi que minha vida de oração dever ter
sido assim o tempo todo. Agora sei que antes daquela fase eu não
sabia o que estava fazendo em relação à oração.
Você sentirá de forma vicária a dor de sua congregação e precisará
aprender a levar esses sentimentos a Deus. Você jamais aguentará o
peso da igreja sem um lugar para descarregá-lo. Ele o esmagará. Você
desejará desistir. E, se não ceder essa tensão a Deus, provavelmente a
descontará em outras pessoas. Entregar a Deus os seus fardos o
ajudará a encorajar a congregação. Isso o libertará para fazer o que
Deus o chamou para fazer, independentemente do período: pregar a
Palavra dele.

Esteja preparado para o caminho difícil


Passar pelo sofrimento é um caminho longo e o fardo é pesado. E
tudo se torna mais difícil quando somos responsáveis por outros
companheiros de jornada. A estrada é mais longa e o peso é maior
quando caminhamos mancando ao lado deles, enquanto lidamos com
a própria aflição.
Você deve se preparar. Porém, se estar preparado para você é como
um dentista que prepara a boca para uma restauração, anestesiando
gengivas e nervos para apagar qualquer sensação de dor, então você
me compreendeu mal. Não há formas de evitar a ferroada da morte. A
preparação não evitará o sofrimento.
Minha esperança é que você esteja preparado de modo coerente com
as palavras de Jesus a Pedro em Lucas 22.31,32: “Simão, Simão, veja:
Satanás pediu você, para peneirá-lo como trigo, mas orei por você
para que sua fé não falhe. E, quando você voltar, fortaleça seus
irmãos”. Ainda que a dor seja real, oro para que não o mantenha
afastado do Senhor, mas o faça correr para ele. Oro para que Deus
mantenha e fortaleça a fé que o ligou a Jesus pela primeira vez. Oro
para que seja fortalecido para que possa, por sua vez, fortalecer seus
irmãos e irmãs.
1E. M. Bounds, Power through prayer (Norcross: Trinity, 2012), cap. 4.
9
Quando aceitar um chamado ou
deixar minha igreja
Harry L. Reeder

O pastor estava no terceiro ano de ministério quando chegou o


chamado. Esse era diferente. Houve outros, que foram preteridos com
facilidade, mas esse, vindo de líderes denominacionais, demandava
uma reflexão mais intensa para a resposta.
A questão apresentava um dilema: seu atual ministério ia muito
bem. Em dois anos, o Senhor retirara a igreja do perigo da extinção.
Seu fechamento e a venda da propriedade já estavam programados.
Contudo, a igreja voltou à vida com forte crescimento numérico. No
início, o ministério de revitalização passou por desafios enormes, mas
pela graça de Deus tornou-se impressionante à luz de um dinâmico
crescimento espiritual e estatístico. Mais da metade dos novos
membros eram recém-convertidos. Surgira um notável perfil
demográfico que refletia a diversidade étnica da comunidade. Agora, a
igreja era conhecida como uma congregação multiétnica que
desfrutava de uma cultura unificada e cheia do evangelho. No
entanto, com todas essas razões para ficar, o pastor estava sendo
chamado por líderes denominacionais para servir em outro lugar.
No segundo cenário, o chamado ocorreu em um belo dia de janeiro,
quando o pastor jogava golfe em um campo incrível em Miami. Ele
estava certo de que no momento se encontrava exatamente onde Deus
o chamara! Assim, por que o Senhor enviaria esse chamado para
reposicioná-lo em outro ministério? Era um chamado do Senhor com
o objetivo de reafirmar o ministério atual? Ou apenas uma distração
para desviar seu foco do chamado verdadeiro?
Para tornar as coisas um pouco mais confusas, o pastor acabara de
receber uma ligação telefônica de um membro da igreja, que
geralmente o apoiava muito, com as seguintes palavras
desorientadoras: “Pastor, preciso lhe contar que alguns presbíteros,
junto com alguns membros influentes, estão tendo reuniões secretas
para debater o desenvolvimento e a implementação de um plano de
saída para o senhor, incluindo um pacote financeiro”.
Esses cenários muito diferentes fornecem ilustrações dos múltiplos
dilemas que um pastor pode enfrentar no chamado para servir à igreja
local. Cada uma delas levanta uma questão importante: Existe uma
maneira bíblica de discernir a vontade de Deus diante das diversas
situações de convites para o pastoreio?

Devo ir? Devo ficar?


Esse assunto deve, em primeiro lugar, pautar-se por orientação bíblica
juntamente com a oração para que a resposta esteja cheia da sabedoria
do alto. Decidir a troca do ministério atual por outro local de serviço
não é tão simples como pode parecer. A resposta padrão de muitos
ministros é: “As coisas vão mal onde estou e há um chamado para
algo que me parece melhor. Isso deve ser do Senhor”. Ou: “As coisas
vão bem; portanto, esse chamado para ir a outro lugar deve ser uma
distração que devo rejeitar”.
Os cenários que iniciam este capítulo são mais que duas ilustrações
hipotéticas. São situações da vida real que ocorreram no meu
ministério. Depois de muitas orações e de pensar bastante, deixei o
“ministério bem-sucedido e feliz”; em uma fase subsequente, rejeitei
um chamado que me livraria de uma situação que, à primeira vista, era
bastante precária. Por qual motivo e de que modo tomei essas
decisões contraintuitivas? No momento, deixemos de lado toda
decisão e nos concentremos no pro-
cesso usado por mim para chegar à decisão. Para fazê-lo, devemos
começar pelo conceito do chamado desenvolvido na Escritura — o
chamado que atende a Cristo, para a salvação, e depois
o chamado para servir a Cristo na vocação ministerial num
local específico.

Um chamado duplo
Do mesmo modo que a obra divina da salvação inclui dois chamados
— o chamado externo da proclamação do evangelho e o chamado
interno e eficiente do Espírito — há também uma dinâmica parecida
pela qual Deus chama homens ao ministério. Se Deus dotou um
homem para servir como pastor ou presbítero docente, haverá a
percepção desse chamado interno pelo Espírito Santo. Deus também
confirmará o chamado exteriormente por meio de sua igreja — ao
reafirmar, refinar e direcionar a percepção do chamado.
É crucial que os homens que creem ser chamados ao ministério
interiormente pelo Espírito Santo se submetam de forma voluntária à
liderança e comunhão da igreja local para que o chamado interno seja
confirmado pelo chamado externo. Se a igreja exorta os homens a
abraçar o ministério evangélico por chamado externo, é igualmente
importante que a igreja inquira se os inclinados ao ministério têm a
percepção verdadeira do chamado interno. Isso é descrito de modo
mais notável pelas palavras de Paulo — o mesmo Paulo chamado
externamente ao ministério pelo Senhor na estrada de Damasco, o
mesmo Paulo separado externamente para o ministério com Barnabé
pela igreja de Antioquia. Paulo escreveu: “Ai de mim seu não pregar o
evangelho” (1Co 9.16). Paulo não só recebeu o chamado externo,
inspirado pelo Espírito, por meio da igreja; também houve um
chamado interno poderoso, tão significativo que ele lançou uma
maldição sobre si mesmo caso negligenciasse, abandonasse ou
ignorasse o chamado.
Ao longo da história, os evangélicos não ordenaram homens ao
ministério sem o chamado formal da igreja local. A ordenação não é
feita sem o chamado externo ao ministério específico em uma
congregação local, tampouco sem a submissão voluntária do candidato
para receber esse chamado.

Dez linhas de orientação


Listo a seguir dez convicções ou sugestões que descobri úteis quando
lidei com vários chamados ao ministério nos últimos quarenta anos.
Creio que resumam as respostas à minha constante oração: “Senhor,
dá-me sabedoria do alto”.
Ao refletir sobre um chamado, nunca trabalhei com a ideia de que
tinha de tomar a decisão certa. Costumo pôr meu foco em refletir do
modo correto, a partir da motivação de glorificar a Deus e desfrutá-lo
para sempre, mesmo enquanto procuro discernir sua vontade para
meu ministério.
1. O chamado interno é necessário para confirmar o chamado externo.
Caso não haja o chamado interno, deve-se descartar todo e qualquer
chamado externo. Em outras palavras, se o Senhor o estiver
chamando por seu Espírito por meio da igreja, ele dará testemunho
desse chamado em seu coração. Isso não significa que o chamado
interno estará presente de imediato quando o chamado externo
chegar. Às vezes, isso se desenvolve aos poucos, quando você lida com
o chamado externo por meio da oração. Tampouco isso significa que,
quando alguém é chamado internamente,
nenhuma preocupação surgirá após o chamado externo. Eu servi três
igrejas, e cada uma formulou o chamado externo. Em cada uma, o
chamado interno foi evidenciado pelo Espírito Santo. No entanto,
cada processo de verificação da orientação interna de Deus diferiu de
intensidade quanto ao tempo, à intensidade e
à segurança.
2. O chamado externo é necessário para confirmar o chamado interno
autêntico. Caso ocorra o chamado interno para um ministério
específico, será confirmado pelo chamado externo, pois o Espírito
coordena a igreja de acordo com o que ele conduz o ministro a ser e
fazer. Se não houver o chamado externo, deve-se presumir que a
pessoa se equivocou em relação ao que considerou o chamado interno
— pelo menos no momento.
3. O chamado da parte de Deus não é apenas para uma vocação, mas
também para um local e um povo específicos. “... pastoreiem o rebanho de
Deus que se encontra entre vocês”, escreveu Pedro (1Pe 5.2). No
ministério pastoral você não é chamado apenas para desempenhar um
papel, mas também para desempenhá-lo em um local. Não se trata de
aceitar um emprego com diversas funções: pregar, pôr em prática a
visão da liderança, cuidar de programações. Você está sendo chamado
para o povo que compõe a congregação.
4. Há estreita interdependência e uma interação dinâmica entre os
chamados internos e externos para o ministério. No ministério
vocacionado, você pode ser convidado de um local para outro e de um
rebanho para outro. Seu chamado interno para distanciar-se de um
ministério às vezes precede o chamado externo como parte da
preparação do Senhor para o próximo ministério. Em outras ocasiões,
o inverso pode ser verdadeiro. Você pode ser chamado para outro
local de ministério com o chamado
externo antes de sentir o chamado interno para se distanciar do
presente local.
5. Seja cuidadoso para não deixar o chamado externo consumir suas
orações ou desviar seu foco do ministério atual. Essa é apenas a sugestão
de um mentor que decidi abraçar. Os ministros sondados por outras
igrejas podem despender muito tempo em oração para saber se
deveriam partir para outro lugar. Em minha experiência, no início do
ministério, parecia-me que eu respondia de forma contínua a pedidos
para orar sobre a possibilidade de me dirigir para outros lugares. Senti
que orava demais sobre a saída do ministério presente. Por isso
procurei o conselho de um mentor de confiança. Ele me aconselhou a
jamais considerar outra oportunidade ministerial, nem a orar por ela, a
menos que quem oferecesse a oportunidade voltasse para renovar o
chamado depois de eu ter dito não três vezes. Caso ocorresse a quarta
vez, eu oraria a Deus para saber se ele estava me levando do local atual
de serviço para outro.
6. Continue o percurso, termine a corrida. A adversidade no ministério
presente jamais deve ser o fator determinante para saber se o Senhor o
está chamando para se dirigir a outro ministério. Tampouco considere
a noção equivocada de que o outro ministério será isento de
adversidades.
Vários pastores, por causa do desejo compreensível de evitar
dificuldades, deixam o ministério de maneira precoce. A maior parte
das recuperações na igreja requer, pelo menos, de três a cinco anos de
ministério consciencioso, constante e fiel, mas muitos pastores partem
nos primeiros dezoito a trinta meses. Sem dúvida, Deus é soberano e
usa essas decisões; mas se os pastores mantivessem o curso pelo menos
por alguns meses a mais, talvez a igreja tivesse se recuperado.
7. A bênção presente não é motivo para dispensar o chamado externo para
outro local de ministério. Esse é o inverso da última
sugestão. Participei de um ministério em que havia uma oposição
significativa, e surgiu uma oportunidade para deixá-lo. No entanto,
senti que devia ficar e cumprir meu mandato até o final. No ano
seguinte, a oposição deu lugar à bênção. O Senhor ainda usa essa
congregação para proclamar o evangelho com fidelidade. Em outro
lugar, recebi a oferta de um ministério desafiador, enquanto o atual
prosperava no Senhor. Apesar de enfrentar lutas pessoais significativas
enquanto pensava na decisão a tomar, tornou-se
óbvio que eu não deveria ficar apenas por causa da bênção do Senhor.
Essa mesma dinâmica é o método geral pelo qual Deus chama
homens a um ministério pastoral específico. Indiscutivelmente, eu
estava perto da idolatria quando as bênçãos do Senhor no ministério
quase se tornaram mais importantes para mim que a vontade dele. Eu
estava ciente de que o Senhor poderia transformar as bênçãos em
maldição rapidamente se minha idolatria das bênçãos do ministério
substituísse a disponibilidade imediata para uma nova direção
ministerial. Nesse caso, passei para o
ministério seguinte, e o Senhor deixou claro que era a coisa certa a
fazer, ainda que houvesse muito o que desfrutar no lugar em que eu já
estava servindo, e o novo local oferecesse dificuldades.
8. Não seja um mercenário. Conhecendo minhas fraquezas — bem
como o versículo do chamado de minha vida: “Busquem primeiro o
reino de Deus e sua justiça, e todas estas coisas lhes serão
acrescentadas” (Mt 6.33) — instituí duas práticas para evitar ser um
mercenário e, assim, evitar a tentação de tomar decisões ministeriais
com base no salário.
Essas práticas são fruto de duas convicções. Primeira, se o Senhor
me chamar para outro lugar, ele usará seus filhos para me apoiarem da
forma correta quando e como lhes for possível. Se ele tiver me
chamado e as pessoas não me apoiarem da forma correta, ele é
perfeitamente capaz de me sustentar. Lembre-se de que Deus usou
corvos para sustentar o profeta Elias. Ele também pode me encorajar
e disciplinar aqueles que não estão cumprindo sua vontade. A segunda
convicção é decisiva. Tenho consciência de que sou propenso a
deixar-me influenciar por prestígio e salário. Por isso, para fugir da
tentação sobre esse tema do sustento, eu assumi os dois compromissos
vitalícios que descrevo a seguir.
Primeiro, jamais falo de salário com a liderança da igreja. Reconheço
e afirmo seu direito e responsabilidade de perguntar sobre nossas
necessidades; portanto, a equipe é livre para tratar desse assunto com
minha esposa Cindy, que sabe mais sobre nossa situação financeira
que eu. Isso inclui nunca mencionar aumentos. Eu simplesmente
confio nos responsáveis para fazer o que é certo e me apoiar de forma
que se encaixe no estilo de vida de nossa congregação.
Segundo, quando passo de um ministério para outro, o salário do
primeiro ano nunca pode exceder o salário recebido no ministério
anterior. Minhas convicções sobre o tema levaram a algumas
conversas interessantes nas três igrejas que tenho servido. Em uma
oportunidade, o presidente da comissão de escolha pastoral disse:
“Bem, conversamos sobre quase tudo, menos sobre seu salário. De
quanto você precisa?”. Respondi: “Fácil. Descubra o quanto recebi no
último ano de meu ministério (pois eu não sei) e me pague um pouco
menos que esse valor. Quanto ao ano seguinte, fale com Cindy”.
9. Adote modelos, mentores e motivadores. Creio que todo ministro
precisa adotar de três a cinco modelos da história ou da Bíblia como
exemplos a serem seguidos no desenvolvimento do ministério. Além
disso, acredito que todo pastor precisa de três a cinco mentores para
receber conselhos, direção e treinamento ministerial. O pastor
também precisa de três a cinco motivadores (um grupo de irmãos) ou
colegas de ministério para se reunir com regularidade em busca de
encorajamento, prestação de contas e oração. Embora seja impossível
conversar com os modelos já falecidos (por estarem com o Senhor), é
possível e obrigatório, quando se considera o chamado para mudar de
ministério, passar algum tempo com seus mentores e motivadores.
Escolha seus mentores e motivadores com cuidado, porque nós nos
tornamos como nossos mestres. Partilhe com eles a dinâmica e os
fatos de suas situações, escute a opinião deles e considere em oração
suas observações. É incrível o que as pessoas que estão de fora podem
enxergar sobre você, seu ministério e suas tendências. Muitas vezes,
conseguem fornecer uma avaliação precisa das oportunidades
ministeriais oferecidas a você. Mentores e motivadores não são
infalíveis, mas devem ser honrados e consultados. Lembre-se: “Há
sabedoria em vários conselheiros”
(cf. Pv 11.14); todavia, certifique-se de ter escolhido conselheiros
sábios como mentores e motivadores.
10. Procure sabedoria na família. Valha-se da sabedoria de sua família
o máximo possível no tempo certo e da forma correta. Para começar,
converse sobre a situação com sua esposa. Quais são as percepções
dela sobre a possível mudança e as possibilidades do ministério
futuro? Dê-lhe tempo para orar e processar seus pensamentos
enquanto você também cobre a questão com muita oração. Em cada
uma das igrejas que servi, Cindy e eu passamos
três dias em uma espécie de retiro para orar e jejuar antes de
chegarmos à decisão final. Esse tipo de retiro foi precedido por muitas
conversas.
Por último, estou convicto de que, quando seguimos um processo
que glorifica a Deus, cheio do Espírito, orientado pela Bíblia e em
honra a Cristo, o Senhor nos concederá a sensação de paz em nossa
decisão final. É claro que a decisão não será isenta de preocupações. O
mesmo Paulo que disse “não fiquem ansiosos por nada” (Fp 4.6)
também confessou sentir “ansiedade por todas as igrejas” (2Co 11.28).
Deus lhe dará paz quando você tomar decisões que exaltam Cristo,
busque o bem-estar do corpo de Cristo e descanse no poder do
Espírito para ministrar o evangelho de Cristo exaltando a Cristo.
As palavras do apóstolo nos dão confiança:
Estou certo disto: aquele que começou a boa obra em vocês a
completará no dia de Jesus Cristo (Fp 1.6).
Aquele que os chama é fiel; ele com certeza o fará (1Ts 5.24).
10
Como lidar com o conflito
Jay Thomas

Existem em essência dois tipos de pastores: aqueles que sabem que o


ministério da igreja local envolve conflitos frequentes e aqueles prestes
a aprender essa dolorosa verdade. Talvez você esteja bem no início de
seu primeiro ministério pastoral. Se for o caso, eis um aviso: você
enfrentará conflitos nessa igreja. Não fuja! Conflitos são
oportunidades, não obstáculos.
Como ministramos em um mundo caído, toda igreja tem conflitos.
A maioria das cartas do Novo Testamento foi escrita para igrejas em
apuros. Seu ministério fiel, piedoso e bíblico não manchará sua igreja
com a imperfeição, mas estabelecerá um curso de amadurecimento,
com menos conflitos a cada ano, cada vez mais útil a Deus à medida
que abraça o evangelho. Deus me ensinou muitas lições em minha
jornada pastoral através do calor dos conflitos na igreja.

Em que consiste o conflito?


Comecemos pelas definições. Vou me concentrar no conflito entre os
crentes no interior da igreja, não no conflito entre o povo de Deus e o
mundo incrédulo, que se enquadra mais na categoria
de perseguição.
Além disso, quero limitar-me a quatro tipos de conflito:
1. entre membros da igreja;
2. entre a congregação e os líderes eclesiásticos;
3. entre a congregação e o pastor titular;
4. entre líderes eclesiásticos.
Aqui estão três pressupostos importantes: 1) o conflito deve ser
tratado; 2) só o poder do evangelho pode apaziguar pessoas; e 3) o
amor centrado em Cristo, não a ausência de conflito, é o objetivo
final.

1. Conflito entre membros da igreja


O pecado continuará a habitar nos cristãos até a volta de Jesus. Não
demora muito para nos conscientizarmos dessa realidade. Ao
aconselhar os casados, realizar reuniões de membros, escutar
conversas e perceber a pulsação espiritual da igreja, você tomará
conhecimento de relacionamentos desfeitos por toda parte.
Algumas questões serão organizacionais — direção da igreja,
decisões ministeriais desgastantes, atritos entre irmãos que trabalham
juntos. Outras questões serão pessoais. Em uma situação que
enfrentei, duas famílias mantinham um relacionamento ríspido
porque um dos pais era dono de um negócio que empregava um filho
da outra família. Por várias razões, o filho dessa família foi despedido
em um período particularmente delicado. Imagine o estresse que isso
coloca nos relacionamentos. Infelizmente, as duas famílias integravam
o mesmo pequeno grupo na igreja.
A questão fundamental em todo conflito é o coração. Quer o
conflito seja mais objetivo, como uma decisão ministerial, quer seja
mais subjetivo, como ofensas pessoais, tudo isso procede do coração
não totalmente satisfeito em Cristo e rendido a ele. Essa é
provavelmente a verdade mais importante a ser tratada quando se lida
com um conflito. O conflito surge de um coração que não abraçou a
totalidade das glórias do evangelho.
Como começar a lidar com essas situações? Paulo fornece um
exemplo útil. Conflito e desunião aparecem em toda a Bíblia. As
cartas de 1Coríntios e Filipenses tratam de modo direto do tema.
Paulo usa abordagens um pouco diferentes, mas objetiva mostrar nas
duas cartas como o evangelho atrai os cristãos para a unidade em
Cristo. (Comentarei sobre Filipenses um pouco mais adiante.) Em
1Coríntios 1.1-4, Paulo estabelece a visão teológica do Cristo
crucificado. Essa visão centrada na cruz segue na contramão da visão
de mundo greco-romano, que estava destruindo relacionamentos e
comportamentos na igreja coríntia. Os cristãos estavam deixando de
viver de acordo com o evangelho porque seu coração autônomo
aceitou narrativas egocêntricas e não a verdadeira história do Rei
crucificado. Paulo vai direto ao coração.
A gloriosa exposição do amor definido por Cristo no capítulo 13, o
ponto principal da carta, revela a plena expressão da igreja com Jesus
no centro.
A primeira forma de lidar com o conflito consiste em pregar o
evangelho. Isso significa mais do que apenas o trabalho no púlpito,
mas não é menos que a pregação semanal. Por isso a pregação
expositiva é tão valiosa: enquanto prega a Palavra, você
inevitavelmente prega o evangelho e logo percebe que a Bíblia está
repleta de verdades que sanam conflitos. A Bíblia lida com orgulho,
justiça própria, vaidade, idolatria, autopreservação e outros pecados
encontrados muitas vezes na raiz dos conflitos. O objetivo não é a
mera neutralidade, e sim o amor. Você ficará surpreso e encorajado
quando o Espírito Santo usar a Palavra de Deus para convencer as
pessoas de seus papéis na questão das discórdias, levando-as a alcançar
a maturidade e substituindo a mágoa pelo amor de Cristo.
Isso significa que você deve cumprir a difícil tarefa de confrontação
diante dos conflitos que perceber na igreja. Muitos pastores mantêm
princípios bons e bíblicos sobre a resolução de conflitos, mas não
querem se comprometer no processo. A confrontação é difícil, mas faz
parte do seu chamado pastoral. Como ocorre na conversão, Deus deve
realizar um milagre para despertar o coração pecaminoso para a
resolução do conflito. A Palavra pregada com fidelidade é o melhor
lugar para começar.

2. Conflito entre a congregação e os líderes eclesiásticos


Quer você sirva em uma equipe com vários membros, quer seja o
único pastor acompanhado de líderes leigos, sem dúvida
experimentará certa tensão entre a congregação e a liderança. Várias
situações desencadearão esse tipo de conflito, mas ele tende a aparecer
com padrões discerníveis.
Minha igreja passou por muitas mudanças desde que cheguei, há
mais de seis anos. Sirvo em uma equipe multidisciplinar, mas também
somos acompanhados pelos presbíteros e estamos comprometidos
com a pluralidade de líderes para definir a visão e a direção da igreja.
Algumas das “grandes” decisões desapontaram algumas pessoas, ainda
que tenham sido tomadas para a saúde do corpo. As “grandes”
decisões foram mais culturais que doutrinárias, mas se costuma dizer
que a cultura engole a estratégia no café da manhã. Isso é verdade.
Haverá momentos em que sua liderança favorecerá grandes
mudanças na cultura eclesiástica e no ethos. Essas mudanças criarão
tensão entre a congregação e a equipe de liderança. Mude sua
estrutura de serviço, pregue de forma diferente, mude a estrutura da
liderança, contrate novos funcionários, abra mão dos líderes mais
velhos ou comece uma campanha financeira — com frequência todos
esses são movimentos necessários e vitais que
levam a igreja à saúde evangélica, mas também são ecossistemas de
tensão. Não desanime. Ainda assim, as tensões devem ser tratadas
com o evangelho e incorporadas em amor.
Como ocorre nos conflitos entre os membros, o evangelho fornece o
método para lidar com os conflitos entre a congregação e seus líderes.
Uma vez ciente desse tipo de conflito, por meio de comentários,
notas, e-mails ou mesmo por fofoca, reúna os líderes e comece a orar
e conversar sobre o pastoreio dos envolvidos. Aqui estão alguns passos
para consideração:
1. Encontre-se com quem parece liderar a oposição. Primeiro, ouça as
pessoas. Se possível, conheça a história desde o início. Se você puder
ganhá-los com amor pastoral e verdade evangélica, esses líderes
exercerão influência oposta, guiando os demais de volta ao ponto de
confiança e amor.
2. Reúna o conselho para debate. Minha igreja acabou de encerrar a
fase de ensino de uma campanha financeira. Os líderes sentiram que
honramos o Senhor em como concebemos e executamos essa fase.
Naturalmente, havia muitas coisas que poderíamos ter feito melhor,
mas esperamos ter sido motivados pela Bíblia e guiados pelo Espírito.
Contudo, essa campanha significou uma enorme mudança de cultura,
o que foi penoso para alguns.
Uma maioria significativa de nossa igreja apoiou a campanha e o
projeto relacionado de construção. Foi importante permitir que os
membros fizessem perguntas e expressassem suas preocupações em
um fórum público. Nós poderíamos ter dado o passo seguinte sem as
respostas deles, mas queríamos pastoreá-los e ganhá-los para a missão
de nossa igreja.
3. Se líderes tiverem contribuído para o conflito, devem confessá-lo,
arrepender-se, procurar perdão e pedir a Deus que use a ocasião para
ajudá-los a amadurecer como líderes. Humildade, disposição para
aprender e disposição para admitir o pecado e os erros são grandes
recursos para suprimir o conflito no momento e mitigá-lo em longo
prazo. A liderança piedosa e humilde cria a cultura eclesiástica de
confiança e amor.
Individualmente ou em grupos, quando os membros percebem que
você os trata como irmãos em Cristo e não como apoiadores pessoais
ou encrenqueiros, a confiança cresce. À medida que sua liderança
reflete o pastoreio humilde, a igreja confiará cada vez mais em seus
líderes e se concentrará mais na missão e menos em proteger a cultura
intraeclesiástica tradicional. O amor substituirá o ceticismo, a
desconfiança e o ressentimento.

3. Conflito entre a congregação e o pastor titular


Infelizmente, ocorrerão momentos em que o conflito se concentrará
em você. Claro, não é preciso ser o pastor titular para isso acontecer,
nem mesmo um pastor da equipe. Ainda assim, você deve seguir o
mesmo método: tratar a questão de modo direto, aplicar o evangelho
e demonstrar amor semelhante ao de Cristo.
A carta aos Filipenses vem à mente aqui. Parece ter surgido um
conflito entre duas mulheres na igreja: Evódia e Síntique (Fp 4.2).
Paulo não parece estar se defendendo aqui, como em 1 e 2Coríntios.
Contudo, a teologia usada por ele para definir unidade é importante
por demonstrar como respondemos ao conflito. Em Filipenses 2.1-
11, Paulo pinta uma bela imagem de Jesus vertendo a si mesmo em
humildade — na encarnação e na cruz — em sinal de obediência ao
Pai e de amor a seu povo, resultando em sua glória e louvor universal.
Quando os líderes são acusados, difamados e até rejeitados, essa é
uma verdade de ouro à qual eles podem se apegar. Uma verdade
pertinente mesmo que você perceba que seu pecado, idolatria ou
ambições egoístas contribuíram para o conflito e magoaram pessoas.
Você deve cumprir a difícil mas necessária tarefa de ir ao encontro
das pessoas com quem está em conflito. Converse sobre
comportamentos, mas alcance o cerne da questão o mais rápido
possível. Escute-as com atenção. Esteja preparado para que o processo
leve tempo. Muitas vezes é útil trazer outro líder como testemunha e
fonte de sabedoria objetiva. Consulte outras pessoas de sua igreja e de
fora dela, procurando saber como você pode ter contribuído para o
problema — não para se justificar, mas para se arrepender. Em
2Coríntios 11 e 12, Paulo se defende, mas ele o faz demonstrando
gratidão.
O conflito centrado em você talvez seja o mais desafiador, mas
também pode ser o mais frutífero. Isso o obrigará a se apegar a Cristo,
reforçará o encontro de seu valor e de sua identidade em Cristo, e não
a aprovação humana, e o desafiará a examinar as próprias deficiências,
permitindo o pastoreio mesmo quando as ovelhas estão mordendo.
Essas circunstâncias, por mais dolorosas, contribuirão para sua
credibilidade se tratadas do modo certo. Não corra de pessoas que se
desentendem com você. Em vez disso, tente correr ao encontro delas.
Você pode não ganhar todas elas. Algumas não querem ser ganhas.
Você vai ganhar algumas, e as que assistirem aprenderão a confiar em
você e a valorizar ainda mais o evangelho ao observar seus efeitos em
você.

4. Conflitos entre líderes eclesiásticos


Ainda que eu mencione por último o conflito entre líderes
eclesiásticos, talvez seja o ponto mais importante. A maneira de os
líderes reagirem entre si influencia toda a igreja. Às vezes se ouve
dizer: a equipe em que você está é mais importante que a equipe que
você lidera.
Os líderes devem aplicar o método do evangelho com rigor e paixão
máximos. Contanto que não haja ressentimentos, o conflito entre os
líderes será raro, superficial e até mesmo impulsionará o crescimento.
Pense na equipe de liderança como os pais da igreja. Pais e mães
nunca serão perfeitos, mas podem crescer diariamente pelo poder da
graça, e isso faz toda a diferença para as crianças.
Você não precisa estar em uma equipe de liderança perfeita; apenas
cresçam juntos e busquem Jesus juntos. E quando surgir o conflito
inevitável, lide com isso rapidamente, de posse do evangelho e visando
ao amor piedoso. Sou testemunha de que equipes de liderança
cobertas de toxicidade são as que não permitem ao evangelho da graça
corrigir a cultura. Pessoas com dons e que amam Jesus podem se
afundar na desunião se não se gloriarem no evangelho e aplicarem sua
segurança e perdão aos próprios relacionamentos. A desunião é uma
visão feia. Contudo, a visão da liderança que cresce pela graça, nos
tempos bons e nos desafiadores, é simplesmente linda.

Apenas um curso intensivo


Esse foi um curso intensivo e breve sobre conflitos. Não lidou com as
nuanças e áreas cinzentas. E quanto aos conflitos tão profundos que
precisam da intervenção de mediadores? E se algum envolvido tem
problemas de saúde mental ou algo tão profundamente enraizado no
coração que o aconselhamento profissional e outros mecanismos
intensos precisam ser postos em prática? E se o conflito persistir
apesar dos seus melhores esforços, e isso sinalizar que é hora de partir?
Todas essas questões são importantes, e muitos pastores as
enfrentarão. Acredito que se você mantiver a abordagem de três lados
do conflito, tratando da questão, usando o poder e a verdade do
evangelho para lidar com ela e apontando para o objetivo pleno do
amor, quando você enfrentar um nível de conflito muito potente, o
caminho adiante se tornará mais claro, e haverá muito menos danos
colaterais para sua alma, a igreja e o reino.
Pastor, persevere! O conflito que você pode estar enfrentando agora
está sob o controle de Deus. Descanse no evangelho, proclame o
evangelho e viva os efeitos do evangelho. Pelo menos, você estará em
paz quando o conflito inevitavelmente irromper.
11
A necessidade de lutar por meu
relacionamento com Deus
Vermon Pierre

Uma nítida e desconcertante sensação lhe sobrevém quando você tem


de pregar o sermão dominical depois de ter lutado durante a última
semana ou talvez as duas últimas semanas em seu relacionamento com
Deus. É difícil colocar em palavras. A analogia mais próxima que
posso pensar é a manhã em que saí do chuveiro e não encontrei
nenhuma toalha à minha espera. Fui obrigado a me cobrir com uma
toalha de rosto enquanto corria para pegar uma toalha no armário,
esperando que ninguém estivesse acordado.
Ali está você, prestes a pregar a Palavra de Deus. A própria Palavra
de Deus! Mas, em vez de se sentir revigorado e pronto, a sensação é
de crueza e nudez. Você sente que está prestes a fracassar, por se
sentir vazio por várias semanas. Você luta contra o medo de que nos
próximos quarenta minutos seja exposto como uma fraude.
Honestidade. Sinceridade. Autenticidade. Esses não são valores
opcionais para o pastor. Toda sua personalidade, seu principal
“atrativo”, consiste em ser “verdadeiro” com as pessoas. Nenhum
pastor quer ser considerado falso. Acrescente a isso a expectativa de
que sua pregação será centrada no evangelho, focada em Jesus e
detentora do fogo do Espírito Santo todos os domingos. E não só nas
manhãs de domingo. Seja lecionando na escola dominical, liderando
um grupo pequeno ou aconselhando, espera-se que você profira
palavras sábias que capturem o ouvido, penetrem na alma e tragam
convicção, promovendo mudanças no coração.
A verdade é que essas expectativas semanais nem sempre coincidem
de modo pleno com o estado atual da própria alma. Pastores são
sempre “verdadeiros” no sentido de que são cristãos de verdade, ou
seja, pecadores reais em processo de santificação. Haverá momentos
em que cristãos verdadeiros lutarão para manter um relacionamento
vibrante com Deus.

A guerra interior
Enfrentei essa luta, que foi muito grande, quase quatro anos atrás.
Havia pouco tempo que eclodiram incidentes raciais entre minorias e
policiais em Ferguson, Missouri, na cidade de Nova York, com Eric
Garner. Minhas impressões sobre esse tipo de problema eram bem
fundamentadas, mas eu me esforçava para abrir espaço na agenda e
explorá-las, e não conseguia. Estava cansado de discutir o assunto nas
redes sociais e me vi frustrado por estar diante de tantas discordâncias,
marcadas por palavras duras e sarcasmo ao invés de graça e empatia.
Por muitas semanas, senti-me cansado, esgotado. Nessa fase, busquei
dar o melhor de mim para cumprir meus deveres ministeriais, mas me
sentia distante das pessoas e de Deus.
As imagens usadas para descrever a vida cristã — semelhante a uma
batalha (Ef 6.10-20; 2Tm 2.3,4) ou a uma longa corrida (1Co 9.24-
27; Hb 12.1,2) — não são arbitrárias ou exageradas. O
relacionamento com Deus é difícil e dará muito trabalho para ser
mantido.
É difícil porque vivemos em um mundo pecaminoso e ainda lidamos
com o pecado que se apega a nós (Hb 12.1). Isso torna o
relacionamento com o Senhor parecido com correr descalço em uma
praia. Por mais rápido que corra, você é constantemente lembrado da
areia que se agarra com teimosia às pernas e aos pés, acumulando-se
entre os dedos. É lembrado da necessidade de esforço extra para
manter o ritmo constante. Sente-se tentado a desacelerar, ou até
mesmo a parar, em especial nas partes difíceis da praia nos momentos
mais quentes do dia.
É um trabalho difícil porque manter uma caminhada saudável com
Deus desafia os modos mais superficiais e rápidos de relacionamento.
Demanda oração regular e persistente. Requer meditação prolongada
nas Escrituras. E essas exigências não se encaixam muito bem com
minha vida hoje. Tenho um notebook que liga com um só clique e
um smartphone que é ativado por minha impressão digital em um
piscar de olhos. Tudo à minha volta é velocidade, eficiência e
imediatismo. Cada semana que passa está cheia de compromissos e eu
sempre penso: “Bem, claro que preciso ler a Bíblia e orar. Sou pastor,
esse é o requisito básico do trabalho. Mas eu só tenho cinco minutos
para fazer isso. Vamos ver o que consigo fazer com cinco minutos de
Bíblia e oração”. Claro, isso jamais funcionará. É impossível construir
um relacionamento maduro em cinco minutos por dia com alguém.
Bem, digamos que você sempre leia a Bíblia e ore. Ainda assim é
difícil, em especial quando você lida com dúvidas, medos, decepções e
desafios que surgem constantemente. Você pode fazer tudo certinho
externamente, mas continuar sentindo que Deus está envolto em
várias camadas de gelo que você tenta quebrar com a faca de
manteiga.

A batalha pertence ao Senhor


Como não desistir? Como perseverar, seguindo na luta pelo
relacionamento com Deus? A principal maneira de perseverar em
qualquer busca na vida, mesmo quando as coisas ficam difíceis, é estar
motivado o suficiente para continuar. Felizmente, o Senhor se
encarregou desde o início de motivar seu povo a permanecer no
relacionamento com ele. Como? Lembrando-os sempre do tipo de
Deus que ele é e de tudo o que fez para estabelecer o relacionamento e
mantê-lo.
Lembrem-se de Deus e de suas obras
Em Êxodo 12, ordena-se aos israelitas a participação anual na festa da
Páscoa como lembrete regular de como o Senhor julgou os egípcios e
poupou seu povo.
Em Josué 4, os israelitas receberam a ordem de colocar doze pedras
em Gilgal depois da travessia do rio Jordão como um lembrete
constante do relacionamento pactual com o Deus poderoso e
maravilhoso que os trouxera em segurança através do rio e do mar.
O livro de Salmos é o hinário do povo de Deus. Esse hinário está
repleto de lembranças sobre quem Deus é e o que ele fez (Sl 44.1-4;
81.10; 84.11,12; 91.1,2; 103.1,8; 125.1,2). Na verdade, o saltério nos
instrui de modo direto a nos lembrarmos do Senhor e refletirmos
sobre como ele age em favor de seu povo (Sl 34.8; 77.11; 111.2).
Essas passagens nos encorajam a enxergar o Senhor como o Deus
salvador, redentor e cumpridor de promessas. Elas se encontram entre
as descrições mais claras do relacionamento com o Senhor e ilustram
o interesse constante de Deus por seu povo.
Sem dúvida, existem muitos exemplos disso na Escritura. Essas
passagens foram escritas para o benefício do povo de Deus naquele
momento e agora. Como o antigo Israel, o povo de Deus hoje se
esquece com rapidez dos benefícios do Senhor. Por isso a leitura
meditativa e orante das principais passagens bíblicas é um modo útil e
rápido de reviver o coração.

Façam isso em memória de mim


O exemplo bíblico máximo e a maneira mais concreta de o Senhor
atrair nossos olhos para si mesmo é ceia do Senhor, que nos lembra
com regularidade de que nos relacionamos com o Deus que se
entregou por nós em Jesus Cristo para que pudéssemos ter um
relacionamento abençoado com ele para sempre.
Na verdade, o modo como praticamos a ceia nos ajuda a
compreender que esse relacionamento com Deus, que durará para
sempre, não se baseia em mero ensaio intelectual de proposições
teológicas. Por meio do pão e do cálice Deus forma uma “memória
muscular” em nós, dando-nos a sensação renovada de como “é” de
verdade o relacionamento com ele.
Em Jesus, a salvação, a redenção e o cumprimento das promessas de
Deus são demonstrados de forma plena. Quanto mais enxergamos e
nos lembramos de como o Senhor nos salvou e está nos santificando
por meio da obra de Jesus, mais desejaremos
segui-lo e manter um relacionamento maduro com ele.

Outros dois hábitos vitais


Combustível adicional para a vida piedosa procede de dois meios
vitais adicionais:
1. Passar algum tempo com outros crentes piedosos. Eu participo de uma
reunião mensal de oração, e tem sido uma grande ajuda para meu
ministério. Orar com crentes espiritualmente saudáveis, em certo
sentido, é ser levado nas asas de suas súplicas e ajudado na própria
vida de oração. Isso vale também nos tempos de oração
congregacional. Não causa surpresa que as orações dos irmãos na
adoração coletiva a Deus sejam uma maneira útil de encorajar a
adoração individual a Deus durante a semana.
A comunhão com outros crentes também é crucial. Abraços
calorosos, palavras verdadeiras e amorosas, histórias repletas de
esperança a respeito da obra contínua de Deus na vida das pessoas, a
partilha generosa de alimento e risos — essas experiências de
comunhão com os crentes fortalecerão sua caminhada. Lembre-se de
que você não é o único que se relaciona com o Senhor. A reunião de
muitos, a igreja, é tecida na experiência cristã como meio pelo qual
recebemos cuidado e crescemos na fé (1Co 12.7,27; Hb 10.25).
2. Potencializar a graça cotidiana que Deus nos proporciona na vida e na
adoração. Além da oração regular e da leitura diária da Bíblia, várias
práticas regulares podem nos revigorar quando nos sentimos
espiritualmente secos. Por exemplo:

▪ Regular o ritmo de descanso. Ainda que não observemos o sábado


exatamente como a prática nos tempos do Antigo Testamento, sua
existência nos diz que os períodos regulares de descanso são vitais
para nosso relacionamento com o Senhor.
▪ Sentir a criação de Deus. Se os “céus declaram a glória de Deus”
(Sl 19.1) e “o poder eterno e a natureza divina” de Deus podem ser
observados na criação (Rm 1.20), faz sentido que o tempo, no
mundo natural, seja um meio poderoso para o crente experimentar
a beleza e a bondade de Deus.
▪ Cantar com outros crentes. A música tem a capacidade única de tocar
nossa mente e sentimentos. Cantar palavras centradas no
evangelho ao lado de outros crentes é uma maneira direta de
entender melhor a nós mesmos em
relação a Deus (Cl 3.16).
▪ Servir. Se é verdade que Deus nos prepara para servir, o serviço
humilde sempre será uma forma de obter uma percepção mais rica
de Deus na vida (1Pe 4.10). Uma das melhores maneiras de
experimentar a graça de Deus é ser um condutor de sua
misericórdia aos outros. Muitas vezes, as maiores alegrias que
sentimos no Senhor vêm do tempo empregado trabalhando para o
bem dos outros. Isso não deveria nos surpreender, pois por meio
desses atos damos forma ao amor de Deus por nós em Cristo.
▪ Ouvir a pregação e o ensino da Palavra de Deus. Os pastores passam
muito tempo pregando e ensinando a Palavra de Deus. Mas
também se beneficiam ao se colocarem sob a pregação e o ensino
de outros. Fazemos bem em nos apoiar com mais frequência nos
dons de pregação e ensino concedidos por Deus a outros homens
em nossa igreja. Se Deus trabalha por meio das pessoas sentadas,
que recebem instrução bíblica de nós, devemos aproveitar a
oportunidade para receber instrução bíblica de outros pregadores e
mestres.

A batalha contínua
Devemos lutar pelo relacionamento com Deus porque ele não vai
acontecer de maneira automática, mesmo com os pastores. Que
jamais presumamos estar bem com o Senhor por causa de qualquer
coisa que façamos como pastores. Em vez disso, presumamos a
necessidade de um novo despertar diário do coração. Na verdade,
existem muitos inimigos em guerra contra nós. São muitas distrações,
vários desafios e muitas decepções. Todos esses fatores e muitos mais
fazem a luta parecer duplamente difícil.
Felizmente, o Senhor já lutou arduamente pelo relacionamento
conosco — a ponto da morte na cruz. E, por misericórdia, ganhou!
Então busque o Senhor hoje com o conhecimento de que ele já está
perto e pronto para encher seu coração com fé, esperança e amor.
O SENHOR está perto de todos que o invocam,
de todos que o invocam em verdade.
Ele cumpre o desejo dos que o temem;
ele também ouve seu choro e os salva (Sl 145.18,19).
12
O tempo necessário para
tornar-se pastor
Dale Van Dyke

Se alguém tivesse me explicado que pastorear uma congregação é um


pouco como criar gado leiteiro seria de grande ajuda.
Cresci em uma pequena fazenda familiar de gado leiteiro no oeste
de Michigan. Em outras palavras, conheci bem de perto sessenta
cabeças de gado Holstein e suas crias. Sabia o nome de todas, suas
marcas e peculiaridades. Nós as ordenhávamos duas vezes por dia,
cuidávamos delas quando adoeciam, corríamos atrás delas quando
quebravam a cerca, suportávamos a injustiça dos coices maldosos e
lamentávamos sua morte prematura.
E nós as alimentávamos. Duas vezes por dia, todos os dias. Se não as
estivéssemos alimentando, estaríamos plantando, cultivando e
colhendo alimentos para elas. Em retorno, elas nos concediam a
dádiva diária de leite: um enorme tanque de néctar branco, espumante
e cremoso.

O segredo aprendido da maneira mais difícil


Pastorear a congregação é bem parecido com isso. Envolve
conhecimento íntimo, trabalho intenso, contusões ocasionais e
alimentação constante — tudo para produzir “muito fruto” para a
glória do Pai (Jo 15.8). Contudo, pastorear — rebanhos, bandos que
se dispersam ou pessoas — tem um ingrediente secreto e
indispensável: a confiança. Ninguém o deixará entrar em seu espaço
até confiar em você.
Aprendi essa lição do modo mais difícil; na verdade, meu amigo
mais esperto da cidade a aprendeu primeiro. Nós tínhamos cerca de
dez anos de idade, e ele estava com medo dos grandes animais que eu
cuidava; então, decidi mostrar-lhe o quão seguros eles eram. As vacas
estavam de pé, lado a lado, em suas baias, e o espaço sob a barriga
delas criava tipo um corredor. Meu irmão e eu inventamos a
brincadeira: rastejar pelo celeiro por dentro do corredor de vacas
Holstein. Depois de nos assistir, meu amigo tentou. Fiquei chocado
quando a terceira vaca na fila reagiu com um coice! Ela me conhecia e
estava confortável com a minha presença. Mas não conhecia o
estranho nem confiava nele (cf. Jo 10.5), e o fez saber disso.
Vi homens bons sofrerem contusões desagradáveis por parte das
ovelhas do Senhor porque eles avançaram sem ganhar primeiro o
elemento essencial da confiança. Trata-se de uma necessidade
inegociável.
Entretanto, o pastor de primeira viagem tem um desafio único:
Como ganhar a confiança do rebanho quando se é novo não só na
congregação, mas no próprio ministério? Como instilar confiança nas
pessoas quando você, em segredo, questiona as próprias habilidades?

Como estabelecer a confiança


Aqui estão quatro lições que aprendi ao longo do caminho:
1. Seja paciente
Os pastores jovens tendem a ser ansiosos — ansiosos por fazer a
diferença, zelosos por ver a igreja seguir em frente. No entanto, o
pastoreio, como a plantação, demanda paciência. O campo de feno
recém-semeado não renderá muito no primeiro ano, o bezerro recém-
nascido não produzirá nada por quase dois anos, e as macieiras recém-
plantadas levarão seis a dez anos para dar frutos!
A confiança não é como um chia pet1 — basta borrifar um pouco de
água e eis o milagre. A confiança leva tempo para crescer. O melhor
que podemos fazer é fornecer um bom solo em que a confiança possa
com paciência lançar suas raízes. Imagino ter sido exatamente esse o
motivo do conselho de Paulo ao jovem Timóteo, no clássico “texto do
jovem pastor”: “Não deixe que ninguém o despreze por sua juventude;
dê o exemplo na fala, na conduta, no amor, na fé e na pureza”
(1Tm 4.12).
Timóteo se encontrava em um lugar difícil. Em contraste com nossa
cultura que venera os jovens, Timóteo ministrava em uma cultura que
honrava a idade e confiava na experiência. Sua “juventude” (alguns
comentaristas sugerem que ele tinha entre 35 e 40 anos) seria um
obstáculo real aos olhos da congregação. É quase possível ver as
sobrancelhas levantadas e ouvir os murmúrios no canto do saguão: “O
que Paulo estava pensando quando colocou esse jovem tímido como
pastor da igreja em uma cidade intensamente pagã como Éfeso?
Precisamos de um homem destacado, um verdadeiro líder!”. Pobre
Timóteo: estava pastoreando um rebanho que não o havia chamado e
não confiava nele. Sua congregação parecia acreditar que ele lidava
com algo que lhe era impossível.
É importante notar que a instrução de Paulo para este jovem pastor
não dizia: “Repreenda quem o despreza por sua juventude”. O texto
de 1Timóteo 4.12 é lido muitas vezes como um corretivo para a
congregação, mas ele objetiva instruir o jovem pastor. Paulo dizia a
Timóteo para fazer algo, não informava a congregação para deixar de
fazer algo. Embora Timóteo não conseguisse mudar a sua idade ou os
pressupostos culturais de sua congregação, ele foi chamado para
ajudar o rebanho a superar o obstáculo da desconfiança.
Como? Mediante o estabelecimento do exemplo para eles com a
totalidade de sua vida.
A marca autenticadora da autoridade ministerial de Timóteo não era
o treinamento teológico, nem mesmo no comissionamento apostólico
(que deve ter sido um trunfo tentador para ele apresentar). Em vez
disso, os “sinais e maravilhas” de seu ministério consistiriam em sua
fala, sua conduta, seu amor, sua fé e sua pureza. Em lugar de se
desesperar com a falta do respeito devido pela congregação, Timóteo
deveria cultivar o solo da confiança ao viver diante deles de modo
intencional a vida que honra a Deus, capacitada pelo Espírito e que
exalta a Cristo. Ele não era impotente diante dos pressupostos
culturais. Havia tarefas específicas, práticas e poderosas para ele
cumprir. A vida de fé, pureza e amor, imersa no evangelho, era seu
instrumento para estabelecer a confiança.
Os pastores jovens pouparão bastante a si mesmos e à sua
congregação se passarem menos tempo pensando sobre como são
recebidos, e muito mais sobre como são percebidos. Quais marcas
autenticadoras do ministério do evangelho as pessoas observam em
sua vida? O povo de Deus precisa perceber nosso chamado em nosso
comportamento, não em nosso diploma. Ao estabelecer um exemplo
para o rebanho, você o ajudará a superar seus medos e ganhará sua
confiança.
Isso levará tempo. Use esse tempo para manifestar humildade
bíblica.

2. Seja humilde
É evidente, nas cartas de Paulo, que um dos principais requisitos para
ser um servo de Cristo é a mente humilde, semelhante à de Jesus
(Ef 4.2; Fp 2.3ss.). Jovem pastor, eu lhe peço: revista-se de humildade
(Cl 3.12). Ela é absolutamente necessária para o cultivo da confiança.
E uma das qualidades que mais provam a humildade bíblica é o
espírito ensinável diante da crítica.
Embora pareça que não, a crítica precoce no seu ministério é uma
grande oportunidade, dando-lhe a chance única de provar que você é
ensinável. Você também percebe que nem tudo gira em torno de você,
que não tem tudo planejado e que pode abrir-se para críticas e
reclamações. Isso não significa que sempre concordará com a crítica.
Ao longo dos anos, desenvolverá a capacidade de discernir as
preocupações que valem a pena ouvir e as que devem ser
desconsideradas. Os pastores jovens devem fazer o melhor para ouvir
as preocupações de maneira geral e com humildade. As ovelhas
críticas e furiosas ainda podem estar certas.
Lembro-me de ter tomado chá em uma tarde de outono com Anne
McQueen, uma escocesa típica, idosa, gentil e solteira, que fora amiga
do teólogo John Murray. Ela olhou para mim com solenidade, por
cima dos óculos de leitura perfeitamente ajustados, ergueu uma xícara
de chá e disse com seu sotaque franco e belo: “Você parece um jovem
apressado”.
Não era um elogio.
A maior parte da congregação apreciava minha pregação e o dizia
claramente, mas eu sabia que havia preocupações sobre meu modo de
pastorear. Alguns deixaram a igreja dizendo que eu era um pastor
medíocre: “Ele não é bom para ouvir e aconselhar”. Por mais que essas
preocupações me afligissem, eu não poderia dizer, com toda a
honestidade, que estavam erradas. A honestidade e a humildade
acercas das minhas fraquezas ajudaram a congregação e me
permitiram efetivamente ministrar a eles, embora de
maneira imperfeita.
Poucos anos depois, fiz algo que ofendeu profundamente Anne
McQueen. Soube disso por meio de rumores. Não orei por ela no
culto durante um período de doença. Para ela, foi uma ofensa grave e
injusta, que a fez parar de vir aos cultos. Pensei que era um exagero de
sua parte e não gostei de saber que ela havia procurado outros
membros para expressar sua raiva, em vez de falar comigo primeiro.
No entanto, resolvi humilhar-me e lhe escrevi uma carta sincera em
que admiti com sinceridade meu descuido, reconheci como deve ter
doído e lhe pedi perdão. Enviei a correspondência com a confiança de
que havia honrado o Senhor. Poucos dias depois, Anne McQueen me
convidou para visitá-la em seu apartamento e, com lágrimas,
agradeceu-me pela carta e me perdoou. Ela não esperava essa reação,
mas se sentiu profundamente abençoada. Alguns anos depois, oficiei
seu funeral — em honra a seu pedido. Eu havia ganhado sua
confiança.

3. Ministre na autoridade da Palavra de Deus


Gosto muito do fato de as instruções de Paulo para Timóteo em
relação à sua juventude virem intercaladas com as ordens para
ministrar a Palavra.
Ordene e ensine estas coisas (1Tm 4.11).
Até eu chegar, dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação
e ao ensino (1Tm 4.13).
Para o ministro do evangelho, é maravilhoso que a Palavra de Deus
seja tudo o que você, pastor inexperiente, não é. Você é jovem, não foi
testado e ainda não está investido da confiança de sua congregação.
Que alegria poder trazer-lhe a “Palavra de Deus” com a autoridade
intrínseca, irrestrita e inabalável que ela tem, assegurando o rebanho
de que ela nunca falhará. Seu ministério será revestido com autoridade
divina enquanto você se esquece de si mesmo e proclama com alegria
a própria Palavra de Deus — inerrante, infalível e totalmente
suficiente.
Você pode ser tímido como Timóteo. Contudo, a Palavra de Deus é
poderosa e dinâmica. É capaz de dividir juntas e medula (Hb 4.12). É
especialmente adequada para ensinar, repreender, corrigir e treinar na
retidão (2Tm 3.16). Como Herman Bavinck destacou, a Escritura
não foi apenas “soprada por Deus”, ela continua “sendo soprada por
Deus”.2 Sua falta de experiência não impede o poder e os propósitos
de Deus!
Lembro-me bem de uma das visitas pastorais mais tensas que já fiz.
Ron, um senhor de meia-idade de nossa igreja, esteve ausente por
vários meses. Sua esposa, que sofria muito, revelou que ele estava
sempre irado e bebendo bastante. Ron havia sido um ímpio bêbado e
brigão antes de converter-se de modo surpreendente perto dos trinta
anos. No curto período de permanência em nossa igreja, ele se
comportava como um cristão legítimo — deliciando-se na adoração e
lendo com avidez a Bíblia e os comentários de Martyn Lloyd-Jones.
No entanto, algumas decepções e certa apatia espiritual o deixaram
vulnerável aos padrões antigos e pecaminosos. Ele foi surpreendido
em pecado (Gl 6.1) e nós precisávamos procurá-lo — mas eu estava
temeroso. Ser recebido com um soco na cara era uma possibilidade
bem real.
Na tentativa de encorajar Ron a um comportamento mais racional,
levei comigo meu presbítero, um holandês de 1,85 m de altura, e nos
sentamos à mesa da cozinha da ovelha desviada. Não demorou muito
para que Ron começasse a protestar raivosamente contra nossas
preocupações, justificando seu comportamento pecaminoso. Todavia,
eu estava com minha Bíblia aberta sobre a mesa e, pela graça de Deus,
fui capaz de responder a todas as justificativas e a toda tentativa de
transferência de culpa com um texto específico da Palavra de Deus.
Eu estava me voltando para uma passagem que Deus me trazia à
mente enquanto Ron ainda estava totalmente envolvido na tentativa
fútil de evitar a culpa. Por fim, ele bateu o punho na mesa, levantou-
se xingando e saiu da sala. O presbítero e eu nos sentamos olhando
um para o outro, imaginando o que os próximos momentos trariam.
Ele voltaria com um taco de beisebol?
Jamais vou me esquecer do que aconteceu depois. Ron aproximou-se
da mesa, desabou na cadeira, apoiou o rosto nos braços cruzados sobre
a mesa e chorou. Conseguiu dizer por entre os soluços: “Sei que você
está certo. Sinto muito. Não posso discutir com a Palavra. Eu preciso
me arrepender”. E ele o fez. De modo total. Três anos depois, morreu
de câncer em perfeita paz.
A Palavra realizou a obra.
A Palavra é suficiente para cumprir as tarefas para as quais você está
totalmente despreparado. Como jovem pastor, muitas vezes eu me
encontrava “além da minha capacidade”. Enfrentei situações de
aconselhamento e crises que estavam muito além de mim. Eu não
tinha a menor ideia da dor dos pais pela perda de um filho, a
devastação do cônjuge traído, o choque do câncer recém-descoberto, a
guerra exaustiva contra a depressão ou os desafios de uma criança com
necessidades especiais. Eu nunca havia passado por nenhuma dessas
coisas. Como eu poderia ter algo significativo e autêntico para dizer?
Além disso, minha congregação sem dúvida esperava isso de mim.
Uma das primeiras chamadas telefônicas dos membros em crise é para
o pastor: eles esperam que você os console.
Senti fisicamente essa tensão em uma noite fria ao dirigir na neve
por uma rua da cidade. Era uma hora da manhã. Havia acabado de
morrer uma mãe ainda jovem, com oito crianças, em casa, de modo
repentino. Sally era o esteio da família e membro
vibrante de nossa congregação. Nesse momento, um presbítero e eu
estávamos dirigindo pela noite gelada para consolar sua família
desolada. A questão girou em minha mente como os flocos de neve
nos faróis. Por que Deus permitiu que isso acontecesse?
O que eu diria? Como é possível consolar uma família quando sua
mãe amada jaz sem vida no chão? Quem é suficiente para cumprir
essa tarefa?
A Palavra de Deus é suficiente.
Subimos até onde o corpo dela jazia, e alguns dos filhos mais velhos
se reuniram ao redor. Lamentamos; então li o texto de João 11, e nós
nos apegamos à realidade de Jesus como ressurreição e vida.
Proclamamos a vitória de Sally sobre a morte enquanto oramos,
segurando suas mãos mortas e agarrando-nos às mãos vivas de Cristo.
Então descemos as escadas e lemos o salmo 121:
De onde vem meu socorro?
Meu socorro vem do SENHOR,
que fez o céu e a terra (v. 1,2).
Vejam: aquele que guarda Israel
não cochilará nem dormirá.
O Senhor é quem o guarda (v. 4,5).
Eu, como mero homem, nada tinha a oferecer àquela família. Mas
ao abrir a Palavra, nosso amoroso Pai celestial falou a seus filhos
queridos e enlutados, e o Cristo vivo assegurou às Marias e Martas ali
presentes seu triunfo sobre a morte.
A Palavra é suficiente para você e sua congregação. Ensine-a.
Pregue-a. Ore-a. Sua congregação passará a confiar em você,
sem reservas.

4. Seja um pastor
Sua congregação virá a confiar em você como seu pastor apenas se
você agir como tal. Eu saí do seminário convencido de que a igreja
realmente precisa de homens convictos, que não temem tomar
posição diante das situações que surgem diariamente. Como presente
de formatura, minha mãe me deu um quadro com uma frase atribuída
muitas vezes a Martinho Lutero (de modo equivocado), emoldurada e
costurada com agulha. Nele se lê:
Se eu professar, com a voz mais alta e a exposição mais clara, cada
porção da verdade de Deus, com a exceção precisa daquele pequeno
ponto que o mundo e o Diabo atacam no momento, não estou
confessando Cristo, por mais ousadamente que eu professe o
cristianismo. Onde a batalha mais se intensifica, prova-se a lealdade
do soldado; e ser firme em todo o campo de batalha mas recuar em
um só ponto é fuga e infâmia.3
Pendurei essa citação na parede do meu novo local de estudo e
comecei meu pastorado com a convicção de que o dever era feito
sobretudo de rigor teológico e disposição para defender doutrinas
contestadas.
Sim, isso acontece.
Mas logo comecei a perceber que ser pastor é muito mais cultivar
que combater. A ordem de Cristo para Pedro foi: “Alimente minhas
ovelhas” (Jo 21.17). Os lobos surgirão (At 20.29) e as ovelhas
precisarão ser protegidas com ensino claro e alertas sinceros.
Entretanto, na maioria dos dias elas só precisam ser cuidadas —
alimentadas com o evangelho, lavadas com a água da Palavra e
fortalecidas com as promessas do evangelho. As “batalhas” que estão
sendo travadas em sua congregação provavelmente têm pouca relação
com questões teológicas de primeira ordem. Mas têm relação total
com a culpa, a vergonha, a tristeza, a apatia, a fofoca, o sexo e a
incredulidade constante e desoladora. Você precisará do seu kit de
conforto com muito mais frequência que de seu equipamento de
combate.
Seja um pastor. As ovelhas conhecerão sua voz. Elas passarão a amá-
lo quando você falar no nome do Bom Pastor.

1Chia pet [lit., bicho de estimação de chia] é uma estatueta de terracota usada para fazer
brotar sementes de chia, que se assemelham à pele ou ao pelo de um animal. (N. do T.)
2Herman Bavinck, Reformed dogmatics, organização de John Bolt, tradução de John Vriend
(Grand Rapids: Baker Academic, 2003), vol. 1: Prolegomena, p. 385 [edição em português:
Dogmática reformada (São Paulo: Cultura Cristã, 2012), 4 vols.].
3Essa afirmação poderosa reflete as ideias de Lutero expressas por meio de um personagem
fictício chamado Fritz no romance histórico de Elizabeth Rundle Charles, Chronicles of the
Schönberg-Cotta family (New York: Thomas Nelson, 1864), p. 276.
13
A tentação de tornar meu nome
conhecido
Scott Sauls

E você procura coisas grandes para si mesmo? Não as procure


(Jr 45.5).
Às vezes a coisa mais amorosa que Deus pode fazer é lhe dar o
emprego dos sonhos e depois tirá-lo.

A realização de um sonho
A ligação telefônica veio em 2007. Nessa época, estava no quarto ano
de pastoreio e liderança de uma igreja missional em pleno crescimento
e cheio de energia em St. Louis. Sentia-me realizado como líder. Eu
me encontrava regularmente com outros dois pastores locais —
Darrin e Andrew — que estavam se tornando
como irmãos, e nós sonhávamos em abençoar nossa cidade juntos.
Comecei a ensinar homilética (pregação) no seminário Covenant
Theological Seminary — o que foi uma alegria. Nossas filhas amavam
a escola e os amigos, aproveitando bem sua infância. Nossas amizades
eram profundas e significativas. Vovó e vovô moravam a três
quilômetros de distância, e estávamos a meio dia de carro de nossa
família estendida. Nossa intenção eram permanecer nesse local,
trabalhando com essas pessoas pelo resto de nossos dias.
Então recebi o telefonema da cidade de Nova York.
Havia sido plantador de igrejas e pastor por mais de uma década.
Tim Keller, pastor fundador da igreja Redeemer Presbyterian Church
de Nova York, influenciou minha pregação, meu pastoreio e visão
ministerial mais que todos os outros influenciadores juntos. Desde o
seminário, eu estudara com cuidado o ensino, a visão e a liderança de
Tim. A partir desse “ensino a distância” autodidata, de uma
“faculdade” de uma pessoa só, veio a atração crescente pelo ministério
urbano.
Tim ouvira falar de mim pelo diretor executivo da Redeemer, Bruce
Terrell. Juntos, eles procuravam um líder titular para a vasta rede de
pequenos grupos da igreja. Com a função também surgiu a
possibilidade de entrar na escala de pregação da própria Redeemer e,
se liderança e a pregação fossem bem, tornar-me um sucessor de Tim
no futuro.
Depois de quase seis meses de oração, conselhos e lutas com as
implicações da mudança para a cidade de Nova York, Patti e eu
aceitamos o chamado. Vendemos quase tudo muito rápido e
mudamos nossa família de quatro membros para um apartamento de
oitenta metros quadrados, dois quartos e dois banheiros no Upper
West Side de Manhattan. Nós nos apaixonamos por Nova York, pela
Redeemer e pela comunidade que Deus colocou à nossa volta. O
ministério de pequenos grupos alcançou participação recorde e eu fui
convidado para a escala dos pregadores. Depois de quatro anos sendo
moldado para o ministério de longo prazo da cidade, fui selecionado
para ser um dos pastores principais e um dos quatro sucessores de
Tim no futuro.
A primeira vez que ouvi a famosa “Oração pactual” de John Wesley
foi no culto principal de comissionamento pastoral:
Eu não sou mais meu, mas teu. Coloca-me para fazer o que desejas,
enfileira-me com quem quiseres; põe-me a realizar, põe-me a sofrer;
deixa-me ser empregado por ti, preterido por ti, exaltado por ti ou
abatido por ti; deixa que eu me encha, deixa que eu me esvazie, deixa-
me obter todas as coisas, deixa-me ter nada. Entrego, de modo livre e
de todo o meu coração, todas as coisas a teu prazer e disposição. E
agora, glorioso e bendito Deus — Pai, Filho e Espírito Santo —, tu
és meu e eu sou teu. Que assim seja. E que o pacto agora
estabelecido na terra seja ratificado no céu. Amém.1
Então tudo mudou
Quando as palavras de Wesley foram usadas na oração daquela noite
para nós, eu não percebi quão profética a parte da “rendição” seria
para mim, Patti e nossas filhas. Em um ano, o plano de sucessão
mudou. Por razões relacionadas ao tempo, à sustentabilidade e à
estratégia, ficou claro para os presbíteros que a Redeemer precisaria
ajustar seu plano de quatro congregações para três e, por isso, passar
de quatro pastores titulares sucessores para três. Ninguém havia
planejado esse desfecho, mas, infelizmente, aconteceu. Embora Tim e
os presbíteros tivessem cogitado várias soluções para garantir que os
quatro pastores principais continuassem a fazer parte do futuro da
Redeemer, depois de muita oração e conselhos, um de nós acabou
renunciando: eu. Parecia o certo a fazer, dadas as circunstâncias, mas
era algo desolador. Eu chorei, Patti chorou, nossas filhas choraram,
nossos amigos choraram.
Em retrospecto, enxergo muitas razões pelas quais Deus me deu o
emprego dos sonhos em minha cidade dos sonhos por um tempo,
apenas para tirá-lo. Uma razão é que o meu posto atual na igreja
Christ Presbyterian Church, em Nashville, excedeu muito, em apenas
quatro anos, qualquer sonho anterior sobre o que eu poderia ter feito
em outras cidades. Nós nos sentimos em casa agora, mais do que
poderíamos ter imaginado, em Nashville. Em certo sentido,
recebemos “de volta” o trabalho dos sonhos — e também muito mais.
A igreja Christ Presbyterian foi um instrumento para o envio de Tim
e Kathy à cidade de Nova York para dar início à Redeemer três
décadas atrás. Assim, tendo sido moldado pela visão de Tim com
mais profundidade depois de servir ao lado dele por cinco anos, sou
capaz de trazer muitas das coisas valiosas aprendidas em Nova York
para Nashville — que, para todos os efeitos, está se tornando o tipo de
cidade que nós deixamos.
Até mesmo o jornal The New York Times se referiu a Nashville como
“The Third Coast” [A Terceira Costa], por causa de sua trajetória
criativa, empreendedora, formadora de cultura e urbanizadora.
Conhecida antes como a fivela do “Cinturão da Bíblia”, Nashville está
se tornando rapidamente a Atenas do Sul — uma cidade
movimentada e cheia de energia, cuja influência alcança muito além
de suas próprias fronteiras. Agora entendo melhor o que Tim nos
disse em nosso último café da manhã antes de sairmos de Nova York:
“Scott, estamos tristes com sua partida. Mas faz muito sentido. Você
está indo para Nashville depois de ter vivido o futuro de Nashville”.

Os desejos de Deus são melhores que os meus


Em conformidade com a oração de Wesley, a experiência em Nova
York também trouxe à tona a verdade de que não sou meu; fui
comprado por um bom preço, e os desejos de Deus para minha vida,
quer eu os compreenda, quer não, são sempre superiores a qualquer
coisa que eu poderia ter na minha vida. Na verdade, é prerrogativa de
Deus fazer o que ele escolher com minha vida, minha família e meu
ministério.
“Coloca-me para fazer o que desejas [...] deixa-me ser empregado
por ti, preterido por ti.”
Obrigado, John Wesley. E sou grato pelo Jó sofredor e pelo Jesus
sofredor. O Senhor dá e o Senhor tira; bendito seja o nome do Senhor
(Jó 1.21). Senhor, “não seja feita a minha vontade, mas a tua”
(Lc 22.42).
A experiência em New York também me ensinou muito sobre a
natureza do desejo, que pode ser piedoso e puro, mas também egoísta
e corrupto. Ele me ensinou sobre quem eu sou, por um lado, um
pouco à semelhança de Pedro que, desejoso de agradar seu Senhor,
deixou tudo para trás, com alegria, a fim de segui-lo (Mt 19.27-29).
Por outro lado, sou também um pouco como Simão, o Mago. Você se
lembra dele? Os desejos de Simão, de modo diferente dos de Pedro e
Paulo, eram egoístas e corruptos. Simão não se interessava em ser
usado por Jesus como servo para a glória de Deus. Em vez disso,
Simão desejava usar Jesus como servo para a glória de Simão:
Quando Simão viu que o Espírito era concedido pela imposição das
mãos dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: “Deem-me
este poder também, para que qualquer pessoa sobre quem eu
impuser minhas mãos possa receber o Espírito Santo”. Contudo,
Pedro lhe disse: “Que a sua prata pereça com você, porque você
pensou que poderia obter o dom de Deus com dinheiro! Você não
tem parte neste assunto, pois seu coração não é reto diante de Deus”
(At 8.18-21).
Gostaria que fosse difícil encontrar alguma relação entre Simão e eu.
Infelizmente, não é. Em alguns aspectos, meu apego emocional a
Nova York revelou em mim um coração similar, que de certa forma
não era reto diante de Deus.
Pouco antes de minha renúncia, tive um colapso emocional que
durou mais de três meses. Eu não estava apenas desapontado, o que
seria legítimo: eu estava desolado. Não me encontrava apenas
chateado, o que teria sido legítimo; eu me sentia esmagado. Não
conseguia dormir à noite. Perdi o apetite e com ele, entre nove e treze
quilos. Estava ansioso e deprimido. Se eu tivesse entregado nas mãos
de Deus todos os meus sonhos, esperanças e desejos, acreditaria de fato
que a escrita de minha história pertencia a Deus e não a mim; assim, o
pensamento de me afastar do meu emprego dos sonhos, apesar de ser
muito decepcionante, não teria me perturbado de tal maneira.

Duas lições a ser aprendidas e reaprendidas


Olhando para trás, creio que essa experiência foi o melhor não só para
as igrejas Redeemer e Christ Presbyterian, mas também para Patti,
nossas meninas e para mim. Isso deve ser verdade, pelo menos,
porque é impossível Deus enganar algum de seus filhos. Se tivéssemos
acesso a tudo o que Deus conhece e vê a nosso
respeito, os caminhos dele fariam todo o sentido para nós. Para mim,
em particular, foi um importante alerta sobre duas lições que todo
líder deve aprender e reaprender de modo constante.
1. Nossas falhas e decepções revelam
o estado de nossa alma
Minha crise provocada pela circunstância foi ocasionada, pelo menos
em parte, pelos ídolos do sucesso e da fama, pela busca de fazer um
nome para mim mesmo, há muito existentes no meu coração. Como a
água quente através de um saquinho de chá, o acontecimento em
Nova York se tornou o contexto que expôs essa ambição horrível em
mim. De alguma forma, eu passara a acreditar que liderar uma cidade
global e pastorear milhares de pessoas com diplomas da Ivy League,
empregos “importantes” e sobrenomes tradicionais era o que me
conferia significado, justificava minha existência e me fazia ser
estimado pelos homens. De modo subconsciente, vivi uma história
que Donald Miller contou certa vez sobre o comediante Tom Arnold:
Assisti à entrevista de Tom Arnold sobre seu livro How I lost five
pounds in six years [Como perdi pouco mais de dois quilos em seis
anos]. O entrevistador perguntou por que ele havia escrito o livro, e
eu fiquei um pouco surpreso com a honestidade da resposta de
Arnold. O comediante afirmou que a maioria dos artistas que está
no show business é gente fragmentada, que busca afirmação: “Escrevi
o livro”, respondeu Tom Arnold, “porque eu desejava fazer circular
algo que estimulasse as pessoas a dizerem que gostavam de mim.
Essa é a razão por trás de quase tudo o que faço”.2
Substitua “comediante” por “pastor” e show business por “ministério”, e
você terá as mesmas pessoas com as mesmas questões, apenas em um
ambiente diferente e em outra carreira. Boas empreitadas como a
comédia e o ministério (ou artes, negócios, empreendedorismo,
paternidade, assistência médica, educação, governo ou outros)
tornam-se empreendimentos falidos quando começamos a depender
deles para saciar a sede de amor, estima, aplauso e aprovação de um
modo que só Jesus pode fazer.
Somos famosos aos olhos de Deus por causa de Jesus. Isso deveria
ser o suficiente.
Agora que se passaram alguns anos desde a experiência em Nova
York, espero que meu coração e desejos estejam em um lugar mais
saudável. Espero que o desejo do meu subconsciente de ser o herói da
minha história — ou de ser qualquer outro tipo de herói — esteja
desaparecendo. Espero que meus desejos mais íntimos se tornem cada
vez mais ver Jesus crescer e eu diminuir — e eu ficarei muito satisfeito
com meu papel coadjuvante na história dele — em vez de ele ser
coadjuvante na minha. Espero que da próxima vez que meus sonhos e
desejos forem interrompidos ou parados — com certeza eles serão em
algum momento — eu esteja mais preparado para entregar tudo a
Deus de forma deliberada, como Jó e Jesus fizeram, e que eu confie
profundamente nas palavras de um antigo e sábio hino:
Tudo que meu Deus ordena está certo:
aqui firmarei minha posição;
ainda que a tristeza, a necessidade ou a morte sejam minhas;
contudo, não estou desamparado.
O cuidado do meu Pai me envolve ali;
ele me segura para que eu não caia:
e assim, por ele, deixo tudo.3
O que é essa confiança em tempo real? Creio que a história de um
amigo, a quem chamarei Ted, pode ilustrar. Ted é um advogado que
foi posto para fora de sua empresa, não por desonestidade, mas pelo
oposto: honestidade.
Em uma reunião privada, o supervisor de Ted lhe disse que, se ele
quisesse manter o emprego, teria que falsificar a verdade sobre os bens
de um cliente. “Se a verdade sobre os ativos do cliente se tornar
conhecida pelos acionistas”, declarou o homem, “vai ser o fim do
negócio do cliente e, por extensão, o fim de um fluxo de renda
significativo para o escritório”.
Por lealdade a Jesus e pelo compromisso inegociável com sua
integridade, Ted respeitosamente se recusou a seguir as instruções do
supervisor. E foi sumariamente despedido. Todavia, houve mais
repercussões: Ted descobriu que o supervisor o difamou para
potenciais empregadores, impedindo-o de entrar em praticamente
todos os escritórios de advocacia da cidade. Isso resultou em dois anos
de desemprego, que surtiram um efeito profundo e doloroso não só
em Ted, mas também em sua esposa e três filhos.
Em algum ponto desses dois anos, conversei com Ted antes de um
culto na igreja. Brincando, perguntei se ele queria que eu pegasse um
galão de gasolina e alguns fósforos para colocarmos fogo em seu
antigo local de trabalho, começando pelo escritório do ex-supervisor.
Ted, com um sorriso e o semblante ainda muito sério, olhou-me
diretamente e proferiu palavras que jamais esquecerei: “Sem retribuir
o mal com o mal”.
O que existe do lado de dentro — o que sempre esteve ali — sairá
quando formos espremidos.
O que dizer de nós? Quando nossos sonhos e desejos se desfazem,
quando perdemos a reputação ou o emprego dos sonhos, quando
experimentamos a injustiça e a traição como meu amigo Ted, o que
será revelado a respeito do nosso coração? Ele se mostrará “reto diante
de Deus”? Como Jesus disse: “Encontrará [o Filho do Homem] fé na
terra?” (Lc 18.8).

2. Conquistas e sucesso são pobres substitutos de Jesus


C. S. Lewis estava certo ao afirmar: “Mire o céu e você acertará a
terra; mire a terra e você não acertará nada”.4
Aprendi isso da maneira mais difícil quando, naquela época, permiti
que o ministério em uma cidade “notável” entre pessoas “notáveis” se
tornasse um ídolo. Agora vejo como esse pensamento foi tolo. Vejo
como Francis Schaeffer estava certo ao afirmar que não há lugares
pequenos nem pessoas pequenas. Se Jesus pôde escolher a pequena e
obscura cidade de Nazaré como lugar de origem e escolheu instituir
seu reino principalmente entre pessoas que não eram sábias, poderosas
ou de nobre nascimento (1Co 1.26), como ouso agir ou pensar de
outra maneira se ministro no nome dele?
Pouco tempo atrás, comecei a tomar conhecimento da sabedoria de
Lewis e de Schaeffer de formas mais agradáveis e vivas. Ainda que
Nashville e a Christ Presbyterian não sejam tão diferentes assim de
Nova York e da Redeemer, e ainda que muitos olhem para a situação
atual e a chamem “história de sucesso”, minha perspectiva sobre o
sucesso mudou.
Pela graça de Deus, talvez eu esteja prosperando no ministério agora
mais que antes. Desde que chegamos, Deus fez a Christ Presbyterian
Church florescer à nossa volta. Nossa equipe está unida e o ânimo é
muito bom. Nossas reuniões de presbíteros são voltadas para o futuro,
divertidas, alegres e relacionais, mesmo quando tratamos de assuntos
sérios da igreja. Damos mais importância ao que é mais importante; o
que é secundário fica em segundo lugar. Como a Redeemer em Nova
York, nossa igreja não investe principalmente em si, mas na cidade e
no mundo. Nosso foco não é nossa preservação, mas, sim, ajudar os
cristãos a se envolverem de modo consciente com seus vizinhos e com
a cultura a respeito do que de fato importa. Procuramos ajudá-los a
integrar a fé ao trabalho e contribuir significativamente para a
promoção dos pobres e desamparados — as pessoas que vivem à
margem da sociedade. Tenho o privilégio de pastorear as pessoas mais
amáveis, generosas e doadoras de vida que já conheci, de viver entre
elas e ser seu amigo.
Quando penso em todas essas bênçãos, fico impressionado com a
admoestação de Jesus aos discípulos justo quando seu “sucesso” e
“influência” estavam no auge:
Os setenta e dois voltaram com alegria, dizendo: “Senhor, até
mesmo os demônios se sujeitam a nós em seu nome!”. E ele lhes
disse: “... Eis que lhes dei autoridade para pisar em serpentes e
escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada lhes fará mal.
No entanto, não se alegrem com o fato de os espíritos se sujeitarem
a vocês, mas se alegrem porque o nome de vocês está escrito no céu”
(Lc 10.17-20).
Quando os discípulos de Jesus trouxeram notícias sobre sua força
extraordinária, influência e sucesso, sua resposta foi: “Não se alegrem”.
Quando Deus nos dá sucesso por um tempo — quando ele escolhe
colocar o vento em nossas costas — devemos nos alegrar por isso de
todas as maneiras. Contudo, não devemos nos apegar a isso, pois o
sucesso terreno, em todas as suas formas, vem a nós como uma dádiva
divina e é passageiro. Nosso Senhor nos diz para não permitirmos que
os aperitivos substituam o banquete, ou que uma única maçã substitua
o pomar, ou que um sinal de trânsito substitua o destino para onde
aponta.
Sobre isso, Lewis mais uma vez fornece a sabedoria essencial:
Parece que o nosso Senhor não considera nossos desejos fortes, e
sim fracos. Somos criaturas hesitantes, brincando com bebida, sexo e
desejo quando nos é oferecida alegria infinita, como uma criança
ignorante deseja continuar fazendo bolinhos de areia em uma favela
porque não consegue imaginar o que significa um convite para
passar as férias na praia. Contentamo-nos com muito pouco.5
Essa perspectiva nos lembra de que nenhum desejo por satisfação
tem a capacidade de saciar a imensidão da alma humana criada à
imagem de Deus. Como Agostinho disse com propriedade, o Senhor
nos criou para si mesmo. Nosso coração permanecerá inquieto até
encontrar descanso nele.6
Também é a perspectiva de Lewis que nos protege de cair naquilo
que o famoso dramaturgo Tennessee Williams chamou de “a
catástrofe do sucesso”. Williams entendeu que, embora o ímpeto, a
influência, a posição e a fama sejam coisas boas em si, nenhuma delas
pode nos sustentar a longo prazo. Ao refletir sobre o êxito instantâneo
após o lançamento do sucesso de bilheteria da peça da Broadway, The
glass menagerie [A ménagerie de vidro], Williams escreveu:
Fui arrebatado do esquecimento e empurrado para uma repentina
proeminência...
Sentei-me e olhei à volta, e fiquei subitamente muito deprimido...
Eu morava no serviço de quarto. Mas nisso também houve um
desencantamento...
Logo me vi indiferente para com as pessoas. Um poço de cinismo
surgiu em mim...
Enjoei de ouvir as pessoas dizerem “Amei sua peça!”, de modo que
não mais conseguia responder obrigado. [...] Não sentia mais
orgulho da peça, e comecei a desgostar dela, provavelmente porque
também me sentia sem vida por dentro para criar outra. Eu estava
por aí, andando como morto em meus sapatos...
Você então descobre o Alguém público que você é quando você
“tem um nome” é uma ficção criada com espelhos.7

Só Jesus pode transformar pecadores


perdidos em pessoas boas
A história de Tennessee Williams, bem como a de todo aquele que
experimentou o anticlímax de chegar ao fim do arco-íris e não
encontrar o pote de ouro, confirma a verdade universal para todo
coração humano: só Jesus, cujo domínio e cuja paz nunca deixarão de
aumentar (Is 9.7), pode nos sustentar. Só Jesus, cuja ressurreição nos
assegura de que ele torna, e sempre tornará, todas as coisas novas,
pode satisfazer nossos desejos mais profundos e nos conceder o
“felizes para sempre”.
Só Jesus pode tornar todas as coisas tristes em inverídicas.8 Só Jesus
pode garantir o futuro em que “todo capítulo é melhor que o
anterior”.9
Só Jesus pode nos dar a glória, o fôlego e a força planadora de uma
águia (Is 40.31). Só Jesus, cujo nome está acima de todo nome, e em
cujo nome todo joelho se dobrará, pode nos dar o nome que durará
para sempre (Fp 2.9,10).
Exaltar-lhe o nome é, então, um desejo muito superior a tentar
engrandecer nosso nome. Pois, sem Jesus, todos os homens e
mulheres, mesmo os mais ambiciosos e bem-sucedidos, sumirão como
o vapor.
As pessoas são relva.
A relva murcha, a flor desbota,
mas a palavra de nosso Deus
permanecerá para sempre (Is 40.7,8).
Se isso não for suficiente para nos dar uma perspectiva mais saudável
e humilde sobre nossos desejos, talvez o seja esta observação de Anne
Lamott: “Em cem anos? Todo mundo novo”.10

1John Wesley, A short history of the people called methodists, in: The complete works of the
Reverend John Wesley, A.M., 4. ed., linguagem modernizada (London: John Mason. 1841),
vol. 13, p. 319.
2Donald Miller, Searching for God knows what (Nashville: Thomas Nelson, 2010), p. 116.
3Samuel Rodigast, Whate’er my God ordains is right (1675), tradução de Catherine
Winkworth (1863; versão de 1961).
4C. S. Lewis, Mere Christianity (San Francisco: Harper, 2001), p. 134 [edição em
português: Cristianismo puro e simples (Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017)].
5C. S. Lewis, The weight of glory (New York: HarperOne, 2015), p. 3 [edição em
português: O peso da glória (Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2017)].
6Confessions 1.1.1 [edição em português: Confissões de Santo Agostinho (São Paulo: Penguin,
2017)].
7Tennessee Williams, “The catastrophe of success”, in: The glass menagerie (New York:
New Directions, 1945, 1999), p. 99-101, 104.
8Ecoando J. R. R. Tolkien no fim de The return of the king [edição em português: J. R. R.
Tolkien, O retorno do rei (São Paulo: Martins Fontes, 2002)].
9Tomei a expressão emprestada de Lewis na conclusão de The last battle [edição em
português: A última batalha (São Paulo: WMF/Martins Fontes, 2014)].
10Anne Lamott, All new people: a novel (Berkeley: Counterpoint, 1989), p. 117.
14
A alegria que posso sentir por
ficar muitos anos pastoreando a
mesma igreja
Phil A. Newton

Minha geração aprendeu muito sobre escadas, mas pouco sobre raízes.
Na associação ministerial da minha faculdade e, algum tempo
depois, na comunidade do seminário, as conversas não abordavam
muito a questão das raízes e da permanência por todo o mandato
pastoral. Conversávamos sobre escadas. Onde serviríamos para saltar
para um pastorado maior e mais proeminente? Quantos anos seriam
necessários para subir a escada do sucesso no ministério?
Eu sei. Bastante carnal.
Meus amigos e eu desempenhávamos todos os deveres do púlpito e
o trabalho com os jovens, mas sabíamos pouco sobre as realidades do
ministério pastoral. As funções giravam mais em torno da pregação
que do pastoreio. Precisei aprender muito. O foco do seminário,
predominantemente acadêmico, não me ensinou a alegria que jaz nas
raízes profundas.
Vinte e cinco anos depois desses dias, e após quinze anos no meu
pastorado atual, alguém perguntou: “Quanto tempo você planeja ficar
em South Woods?”. Sem pensar muito a respeito, soltei: “Acho que o
resto de meu ministério”. Minha mente se agitou com esse
comentário apressado. Permanecer por tanto tempo contradiria a
ingenuidade juvenil. Contudo, nessa fase, achei a resposta bastante
satisfatória. Desde que cheguei à igreja South Woods Baptist Church,
em Memphis, o caminho trilhado e o horizonte à frente têm me
proporcionado uma alegria imensurável nesses trinta anos de serviço à
minha congregação. Ao longo do tempo, tenho aprendido algumas
lições sobre a alegria de fixar raízes duradouras.

Em defesa das raízes


Aceitar o chamado da igreja para pastorear não garante longevidade.
Alguns pastores e congregações têm êxito. Outros, não. Isso pode
ocorrer pela falta de maturidade do pastor, dons particulares,
dinâmica familiar, personalidade, formação cultural ou outras
situações. Ou por causa da mentalidade da congregação, impaciência
com as fraquezas do pastor, negligência financeira, uma visão
empobrecida da igreja local, negligência do crescimento na graça e
outras questões. No entanto, no cenário em que o jovem pastor tem
pouca chance de permanecer, ele pode lutar com a culpa pelo
pensamento de ir embora.
A culpa pode paralisar um jovem pastor no idealismo ministerial.
Mas a culpa não cultiva a alegria. Ela bloqueia as raízes pastorais e
estabelece um fundamento enfraquecido para o mandato mais longo.
Um jovem me expressou essa culpa; eu o incentivei a considerar outro
ministério, onde ele poderia usar melhor seus dons. Sua mudança se
mostrou proveitosa, e suas raízes continuaram a se fixar de forma mais
profunda.
Isso não significa que mudar seja a melhor opção. Uma pausa
saudável para pesquisar o campo do ministério pode desacelerar a
“síndrome do pasto mais verde”. Pastorados curtos podem dar pouca
atenção ao potencial do ministério sustentável que resiste às
temporadas e tensões e que, por fim, conduz à alegria.
Passamos por um período assim entre o sexto e o oitavo anos do
meu pastorado. Os domingos eram difíceis. A murmuração e a
dissensão desafiaram meu foco. Contudo, o Senhor me sustentou no
momento de luta e fraqueza. Havia coisas que eu precisava aprender
sobre graça, perseverança, ministério pastoral e alegria verdadeira que
só poderiam ser descobertas no fogo.
Pessoas saíram, as entradas diminuíram, mas o dom da unidade no
corpo cresceu de modo inesperado. Eu teria perdido a alegria
desenfreada da unidade em Cristo, que o fogo refinou e poliu, se
ficasse olhando por muito tempo por cima da cerca e corrido para
outro pasto. Algumas alegrias só podem ser experimentadas na graça
da perseverança.

Vencer a culpa de arrancar raízes


Nem todos nós somos como Robert Hall Sr., pastor inglês do
século 18 que enfrentou seis anos de amarga oposição por parte de
alguns desejosos de tomar o poder. Depois, passou o resto de sua vida
— 38 anos — servindo apenas a uma igreja. Alguns de nós se
identificam com Andrew Fuller, seu contemporâneo, que após alguns
anos de serviço em uma igreja em Soham, na Inglaterra, lutou com as
contínuas interrogações da igreja de Kettering. Ele temia que o
orgulho se tornasse o motivo de sua mudança para a congregação
maior.
Hall aconselhou-o a considerar o convite e ir para Kettering. Fuller
recuou e esperou mais um ano antes de aceitar o chamado. John
Ryland Jr., seu amigo, comentou: “Homens que não temem a Deus
arriscariam o bem-estar de uma nação com menos autoexame do que
lhe custaria determinar se deveria sair de uma pequena igreja
dissidente, que dificilmente contaria com quarenta membros além
dele e de sua esposa”.1
Depois de oito anos em Soham, Fuller serviu em Kettering durante
33 anos e, sob sua liderança, influenciou profundamente o trabalho
evangélico na Grã-Bretanha e o movimento missionário inicial.
Fuller, no entanto, precisou superar a culpa de sair antes de
estabelecer suas raízes em Kettering. Isso não tornou o ministério em
Kettering fácil. Mas o solo de Soham não acomodou as raízes que, na
verdade, eram mais adequadas para Kettering.

Solavancos na jornada
Para Hall ou Fuller, para você ou para mim, a longevidade pastoral
passa por solavancos ao longo da jornada. O sonho do seminarista da
trajetória pastoral suave é uma miragem. Pastorear envolve lidar com
ovelhas. As ovelhas são confusas. Além disso, o pastor também não é
o companheiro com o melhor odor na encosta. O embate de
personalidades, a guerra espiritual, os membros da igreja não
regenerados, os senhores da terra, o desejo por poder, a comunicação
falha, os mal-entendidos, os desafios da liderança, a pregação
expositiva, a clareza teológica, a imaturidade e a inexperiência se
combinam para criar solavancos — às vezes grandes solavancos.
Contudo, essa é a jornada pastoral.
Se um pastor vai além da típica escala de três ou quatro anos a
caminho de coisas maiores e melhores, ele precisará aprender a resistir
aos solavancos.
Só no ministério que o pressiona com dificuldades, o pastor
conhecerá as alegrias do triunfo na batalha espiritual, a unidade de
personalidades antes conflitantes e a reordenação das estruturas
políticas para a prática da liderança como serviço. Em duas ocasiões,
de seis a oito anos após a remoção de membros da igreja pela
disciplina eclesiástica, senti a alegria de pedir à nossa congregação a
restauração dessas pessoas à comunhão. Um pastor itinerante
provavelmente deixaria de enxergar o quadro completo da obra de
redenção produzida pela disciplina eclesiástica.

Minhas raízes servem para esse solo?


De modo bem realista, o solo de uma igreja em particular pode não se
combinar bem com as raízes de um pastor. No entanto, ele deve testar
o solo sendo fiel em sua vida, satisfeito em Cristo, humilde ao
pastorear e perseverante. Talvez demore alguns anos para ver se o
Senhor o plantou ou não na igreja por um longo período.
O que é preciso para ter esse tipo de resistência? Pelo menos quatro
qualidades:
1. Paixão pela congregação
Um pastor pode olhar para seus deveres como meros meios
compensatórios até que algo melhor apareça. Contudo, o Senhor da
igreja nos chama para pastorear com humildade e servir uma porção
de seu rebanho, alimentá-lo com a Palavra, consolá-lo na necessidade,
corrigir seus erros, encorajá-lo à perseverança e exemplificar a
fidelidade a Cristo (At 20.28; 1Tm 4.11-16; 6.17-21; 2Tm 2.1-26;
3.10—4.5; Hb 13.17; 1Pe 5.1-4). O fruto nesse tipo de ministério
pode demorar para chegar, mas é certo quando o pastor permanece
com o rebanho.
Certa vez tentei evitar que um irmão aceitasse o chamado pastoral
de uma igreja. O problema não era a igreja e sim o irmão. Ele
considerava o pastorado um ponto de pregação. Ele queria pregar,
mas não reparava nas ovelhas. Seu mandato curto terminou de modo
infeliz. Ele não tinha paixão pelas ovelhas.
A paixão pelo rebanho cresce quando passamos tempo com ele, o
ouvimos, servimos e oramos por ele. Eu não entendia bem isso nos
meus primeiros pastorados. Eu gostava de servir o rebanho e de passar
tempo com alguns membros dele, mas orar com regularidade por ele e
ouvi-lo não se encaixava em minha rotina ocupada. Demorou ainda
muito tempo para eu desenvolver a paixão pela congregação com a
qual poderia passar todo o meu ministério.

2. Disposição para perseverar


A perseverança exige esforço de nossa parte. Sem ela, uma reunião
complicada com os presbíteros, uma discordância entre os membros
da equipe pastoral, um desentendimento com um membro genioso e
boatos difamatórios podem ser tão desanimadores que fazem o pastor
atualizar o currículo para ir embora. Os pastorados longos são sempre
cheios de testes. A perseverança se torna a pista carregada de graça em
que os pastorados longos correm até a linha de chegada.
Charles Spurgeon poderia facilmente ter se mudado para um
ministério menos exigente após o desastre de 1856 no Surrey Garden,
que quase lhe custou a saúde e a sanidade. Os adversários criaram um
tumulto, causando uma debandada no salão de música lotado que
deixou 7 mortos e 28 pessoas gravemente feridas. Poucos teriam
culpado Spurgeon por ter ido embora. Mas, pela graça de Deus, ele
perseverou. Recuperando-se da tensão, ele ministrou com crescente
influência. Ele pensou: “Que idiota é o diabo! Se ele não tivesse me
vilipendiado, eu não teria tantas almas preciosas como ouvintes”.2 Ele
viu o ministério frutífero ao perseverar em meio às adversidades.

3. Disciplina para a longa distância


Mandatos longos exigem o desenvolvimento de padrões sustentáveis
de estudo, aconselhamento, desenvolvimento, oração, administração e
comunicação. Um pastor não pode deixar as coisas acontecerem. A
administração, por exemplo, pode esgotar as energias mentais do
pastor sem lhe deixar mais nada para a preparação do sermão.
Nos primeiros anos, muitas vezes eu pulava de uma atividade para
outra em tentativas desesperadas de realizar tudo o que imaginava as
pessoas esperarem de mim. Minha mente cansada se frustrava ao fazer
uma centena de coisas diferentes e me deixava olhando paralisado
para o texto de domingo.
Aprenda a impor limites à sua programação. Você não pode fazer
tudo, então supere o complexo de super-homem. Disponha-se a
delegar enquanto dá atenção ao que faz melhor. Às vezes ainda
precisará sujar as mãos em um vaso sanitário entupido ou algum outro
assunto do cotidiano. Você é um servo, então esteja disposto a servir.
Mas você também é o servo ministrador da Palavra e pastor do
rebanho, então priorize sua agenda ao agir com graça e gentileza para
com os outros (At 6).
Cuidado com o esgotamento por não agendar o descanso. Você não
pode perseverar por muito tempo sem uma pausa esporádica na
rotina. Depois de os discípulos voltarem animados do ministério,
Jesus os levou para descansar (Mt 9.10). Como Vance Havner brincou
uma vez: “Se você não para, você vai parar”.3 Christopher Ash nos
aconselha: “Existe uma diferença entre o sacrifício piedoso e o
autossacrifício desnecessário”.4 Devemos aprender a diferença para
manter o ritmo na longa jornada.

4. Preparação de presbíteros leigos


e ordenados (líderes)
Você não é o único astro do show. Se for esse seu desejo, junte-se a
um circo e fique fora do ministério. Você é o líder da equipe que serve
à congregação. Estude o ministério de Paulo. Ele
excedia as habilidades das pessoas comuns, mas trabalhava com uma
equipe. Treinou gente para servir com ele e nas igrejas que plantou
(em The mentoring church [A igreja mentora], delineio esse processo).5
Como Paulo disse a Timóteo, “Confie o que você ouviu de mim, na
presença de muitas testemunhas, a homens fiéis, que serão capazes de
ensinar também a outros” (2Tm 2.2). Timóteo era a evidência de que
Paulo fez o que havia ordenado Timóteo a fazer. Não é possível
sustentar as demandas de um longo ministério com a mente e o
coração saudáveis sem o desenvolvimento de líderes à sua volta que se
unam ao trabalho. Além disso, você não pode desenvolver a próxima
geração de líderes espirituais pulando de uma igreja para outra. Uma
das minhas maiores alegrias tem sido o lento processo de formação de
futuros presbíteros, pastores, missionários e líderes. Em um pastorado
curto, isso não teria acontecido.

Relacionamentos contam para a longevidade


Eu também era jovem quando fui ordenado, mas tive o bom senso de
rejeitar um conselho muito errado. Um pastor conhecido havia me
dito: “Não fique tão próximo das pessoas”. Os alarmes dispararam.
Surpreendentemente, mantive minha boca fechada apesar do conselho
tão ruim. As pessoas de quem você não se dispõe a aproximar-se não
poderão ser pastoreadas. Com certeza você não perseverará no
ministério pastoral se mantiver a congregação à distância. São
necessários relacionamentos de proximidade que resistam à passagem
do tempo para ajudar a moldar você também.
Como? Seguem-se seis recomendações:
1. Investir. Um colega presbítero e eu estávamos de carro levando
um missionário à sua comunidade quando ele nos disse que precisava
parar em uma casa e investir em alguém. Nós nos perguntamos o que
ele queria dizer. Quando pensamos sobre esse termo financeiro,
entendemos que ele descreveu de modo correto os relacionamentos
pastorais. Você investe no que é valioso para expandir o valor. Como
pastores, investimos tempo, pensamento, energia, amor e serviço em
quem desejamos ver fiéis a Cristo. O mandato longo lhe permite a
alegria de ver o retorno do investimento.
2. Orar. Quando pastor ainda jovem, ouvi outro pastor dizer que
durante a semana toda ele orava por todos os membros de sua igreja.
Nessa época, eu era muito preguiçoso em minha vida de oração para
manter tal disciplina — mesmo com uma congregação muito menor.
Fui repreendido por seu comentário. Isso mudou meus
relacionamentos pastorais. Você estabelecerá relacionamentos mais
duradouros com quem você leva regularmente ao trono de graça.
Enquanto você ora por eles, cresce em amor, paixão e anseio pelo
rebanho. Descobre que, a despeito de suas muitas peculiaridades, você
deseja estar com eles. Chamá-los família não é mais uma bravata
ministerial. Os anos provam que você sente prazer nisso.
3. Ouvir. A ideia de relacionamento envolve comunicação.
A parte mais importante da comunicação é ouvir. Como pessoas
acostumadas a falar, às vezes nos esforçamos para sentar e ouvir.
Queremos compartilhar nossa fala bem articulada e depois nos
apressar para o próximo item da lista. No entanto, os relacionamentos
pedem paciência, gentileza e ternura. Quando você passa tempo
ouvindo, encontra satisfação em servir a um irmão. No processo, suas
raízes se aprofundam no solo da congregação.
4. Envolver-se. Envolva-se nas alegrias e tristezas de sua
congregação. Como pastor, você provavelmente será chamado se
ocorrer uma morte ou uma tragédia. Esteja lá com o coração e a alma.
Junte-se aos membros também para conhecer suas alegrias e participar
delas.
Depois de trinta anos na mesma congregação, escutei problemas,
regozijei-me com sucessos, compartilhei fardos, chorei perdas e ri de
alegrias. Isso estabelece relacionamentos que suportam os dias difíceis
e abre espaço para outros aceitarem minhas falhas e fraquezas.
5. Pastorear. Pastoreie o rebanho ao invés de pregar para ele. Pense
na congregação enquanto você se prepara para abrir a Palavra diante
dela. Ore ao longo do seu sermão com ele no coração. Olhe para as
pessoas enquanto prega. Visualize os clamores do coração, os fardos e
necessidades enquanto lhes aplica a Palavra. O Senhor da igreja lhe
confiou o rebanho, com todos os defeitos. Então deixe as raízes se
fixarem profundamente na vida do rebanho. A longa jornada com ele
enriquece sua pregação com compaixão, aplicação cuidadosa e
esperança confiante em Cristo. Sua pregação se tornará mais
transparente à medida que, com todas as suas fraquezas, você confiar
em Cristo para pastorear o rebanho.
6. Apreciar. Aprecie a diversidade da igreja enquanto ela demonstra a
beleza e o poder do evangelho. Se todos fossem como você ou eu, a
congregação seria entediante. Pense com frequência e ore com mais
gratidão pelo fato de o Senhor ter colocado pessoas de diferentes
origens, etnias, personalidades e interesses no rebanho que você foi
chamado para servir. Em vez de reclamar dos tiques, agradeça pelo
fato de Cristo ter o prazer de mostrar sua glória por meio dessas
pessoas e pelo fato de você sentir prazer em servi-las. A transformação
pastoral que resulta do apreço ao rebanho legará a seu chamado uma
alegria incomparável.

Raízes fortes
As escadas funcionam bem para dar acesso a estruturas imóveis, mas
perdem os que estão subindo quando o vento sopra e as estruturas se
abalam. Contudo, as raízes fortes resistem ao vento e às tempestades,
permanecendo firmes e estáveis.
O ministério pastoral trafega nas tempestades. Só com raízes fortes
na congregação os pastores podem experimentar, pela graça de Deus,
a alegria imensurável encontrada no ministério duradouro entre seu
povo.

1Andrew Gunton Fuller, Andrew Fuller (London: Hodder and Stoughton, 1882), p. 50.
2 Charles Haddon Spurgeon, Letters of C. H. Spurgeon, organização de Iain Murray
(Edinburgh: Banner of Truth, 1991), p. 56-7 citado em Tom Nettles, Living by revealed
truth: the life and pastoral theology of Charles Haddon Spurgeon (Fearn, Ross-shire: Mentor,
2013), p. 93.
3Vance Havner, Pepper ’n salt (Westwood: Revell, 1966), disponível em:
http://vancehavner.com/?s=you+will+come+apart.
4Christopher Ash, Zeal without burnout: seven keys to a lifelong ministry of sustainable sacrifice
(London: Good Book, 2016), p. 40-1.
5Phil A. Newton, The mentoring church: how pastors and congregations cultivate leaders
(Grand Rapids: Kregel, 2017).
15
O que fazer quando nenhuma
igreja me contrata
Collin Hansen

Jamais desejei esse trabalho. Quando me demiti do emprego que


amava como editor de notícias da revista Christianity Today para me
matricular no seminário, esperava assumir o cargo de pastor três anos
depois. Até aceitei uma generosa bolsa de estudos que exigia que eu
encontrasse trabalho como pastor logo após a formatura. Eu queria
pregar, aconselhar, discipular novos crentes, chorar e orar com as
pessoas nos momentos mais difíceis, além de definir a visão do
ministério da igreja local que trabalharia muito para Jesus.
Mas não fui contratado. Por ninguém. E não foi por falta de
tentativas! Só Deus conhece as razões. Não obstante, isso não me
impede de especular.
Eu procurava emprego no rescaldo da Grande Recessão. Com as
economias dizimadas, os pastores mais velhos não estavam se
aposentando, logo os pastores mais jovens não estavam sendo
promovidos, o que significava que os pastores ainda mais jovens não
estavam avançando. Talvez, então, tenha sido apenas um mau
momento. Meus colegas não se saíram muito melhor nesse mercado.
Também considero o processo de procura de emprego
nas igrejas algo estranho e confuso. Estava aberto a várias
possibilidades: pastor único em uma igreja pequena, pastor auxiliar
em uma grande igreja, até mesmo uma plantação de igreja no cenário
certo.
Deixe-me compartilhar uma lista incompleta de ofertas de emprego
que não deram em nada.
Um líder denominacional me perguntou se eu estaria disposto a me
mudar para o norte de Minnesota. A oferta soou bem para este
menino criado em fazenda na Dakota do Sul; tanto que quase esqueci
que havia me casado com uma mulher do Alabama. Pedi mais
informações. Acontece que a igreja tinha uma vaga porque o pastor
brigou com os presbíteros e abriu uma congregação do outro lado da
mesma (e pequena) cidade. Isso não me pareceu nada cortês.
Procurei mais perto da cidade natal da minha esposa. Encontrei
apenas duas igrejas da minha denominação no Alabama. O pastor
titular confirmou: “Sim, nós temos uma vaga, porque o pastor auxiliar
está saindo para plantar uma nova igreja em outra cidade”. Ele pediu
meu currículo, eu enviei e não obtive resposta. Procurei o pastor
auxiliar e descobri que a teologia dele não era nem um pouco
compatível com a da nossa denominação. Não surpreende que não
tenhamos dado certo.
Na mesma denominação, conversei com a igreja de uma grande
cidade universitária. O presidente da comissão de escolha pastoral
disse-me que ele mesmo estaria interessado no trabalho, mas não
havia decidido ainda se colocaria seu nome como candidato ao cargo.
Não, obrigado.
Ainda outro líder denominacional disse que eu era um bom
candidato para plantar igrejas. Ele recomendou uma das dez maiores
cidades universitárias do Meio-Oeste. Eu perguntei qual delas. Ele
mencionou Bloomington. E Iowa City. E West Lafayette. E assim
por diante. Eu nem sou especialista em plantação de igrejas, mas
posso dar os nomes das dez cidades. E, claro, não havia dinheiro para
me manter.
Em mais uma cidade universitária, perguntei a um pastor
bivocacional se ele precisava de um auxiliar. Em vez disso, ele sugeriu
que eu considerasse plantar uma igreja do outro lado da rua. Ainda
não sei se deveria interpretar esse conselho como elogio ou insulto.
Nesse ponto, você provavelmente está se perguntando o que havia
de errado comigo. Eu também. Em uma grande igreja onde eu tinha
muitas conexões, o pastor executivo disse que viria de avião até minha
cidade para me entrevistar. Minha esposa visitou amigos naquela
cidade para ver o que ela achava do lugar. Não importa, porque nunca
mais ouvi falar dele. Em situação semelhante, um pastor iniciante foi
enviado para entrevistar seminaristas. Ele não conseguia entender por
que eu queria o emprego enquanto olhava meu currículo que continha
uma mistura de experiências com igrejas e jornalismo. Então lhe
relatei que Deus me chamou para ser pastor. Acho que ele não
acreditou.
Depois ocorreram as rejeições comuns. Uma igreja jamais se
incomodou em retirar a vaga da lista de empregos depois de
preenchê-la. Outra igreja parecia muito interessada, mas seguia em
uma direção diferente. Minha própria igreja encontrou um candidato
mais bem qualificado para a única vaga aberta. Apenas algumas
semanas depois de eu conseguir o emprego atual, contei a um dos
pastores titulares que me havia candidatado a uma posição de nível
inferior em sua igreja e jamais obtivera nenhuma resposta. Ele mal
pôde acreditar! A igreja me veria como um forte candidato, segundo
ele.
Não era para ser.
Provavelmente demorou mais tempo que o necessário para eu aceitar
a dica. Por alguma razão, Deus não queria que eu fosse pastor. Pelo
menos não nesse momento. Após minha busca fracassada, encontrei
meu antigo chefe, que gentilmente me ofereceu um novo emprego e
um aumento de 50% no salário. Recitei minha litania de rejeições, e
ele disse algo que jamais esquecerei: “Collin, o chamado subjetivo é
uma coisa. Mas isso nada significa sem o chamado objetivo”.
E isso é algo que o seminário não me ensinou.

Duas conclusões
O seminário testará a vocação de qualquer homem. Não o digo
quanto à admissão: sempre haverá uma vaga. Refiro-me à combinação
cansativa entre turbulência espiritual e o estudo acadêmico avançado.
Se o grego não o incomodar, então o hebraico provavelmente o fará.
Em algum ponto do terceiro curso de história eclesiástica, muitos
estudantes se perguntam de quantas outras heresias eles podem se
lembrar se lhes for pedido — e como isso pode os ajudar no
ministério. Os cursos teológicos práticos sobre pregação,
aconselhamento e liderança podem ser benéficos, mas ninguém finge
que os estudos de caso sozinhos podem substituir o aprendizado por
tentativa e erro. As provações surgirão no ministério pastoral, e os
erros não virão muito tempo depois.
O teste de meu chamado não veio em nenhuma dessas classes, mas
na proposta de meu ex-chefe. Eu poderia realmente ter sido chamado
para ser pastor se nenhuma igreja me chamasse para pastoreá-la?
Como eu deveria interpretar as circunstâncias? Deus estava dizendo
“agora não” ou “nunca”? Com a ajuda do Espírito resolvi o dilema
com duas conclusões:
1. Preciso crescer mais nas qualificações para o ministério. Muito antes
de deixar meu emprego, e depois como estagiário de uma igreja e
aluno de um seminário, estudei as listas bíblicas de qualificações para
os bispos. A lista de 1Timóteo 3.1-7 é a mais extensa:
Esta afirmação é confiável: se alguém aspira ao ofício de bispo,
deseja uma tarefa nobre. Portanto, o bispo deve estar acima de
qualquer reprovação, ser marido de uma esposa, sóbrio,
autocontrolado, respeitável, hospitaleiro, capaz de ensinar, não deve
ser bêbado, violento — e sim gentil —, briguento e amante de
dinheiro. Ele deve administrar bem a própria casa, com toda a
dignidade, mantendo os filhos submissos, pois se alguém não souber
administrar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus? Ele não
deve ser recém-convertido, pois pode se encher de presunção e cair
na condenação do diabo. Além disso, deve ser bem considerado
pelas pessoas de fora, para que não caia em desgraça, em uma
armadilha do diabo.
Dentre todas as pessoas que me ensinaram, orientaram e
entrevistaram, ninguém sugeriu que eu fosse desqualificado para o
ministério por uma dessas razões. No entanto, ninguém conhecia meu
coração tão bem quanto eu. Eu estava realmente pronto para servir o
corpo de Cristo como pastor? Em retrospecto, provavelmente não.
Para citar apenas alguns exemplos, eu não me consideraria
particularmente hospitaleiro, gentil, pacífico ou autocontrolado. Deus
usou a decepção e o fracasso na busca de emprego para revelar-me
esses pecados.
Em alguns aspectos, minha vida desmoronou quando não consegui
ser contratado como pastor assim que saí do seminário. Minha esposa
e eu perdemos quase cem mil dólares na crise imobiliária. Apesar de
termos tentado por vários anos, ela não conseguia engravidar. Essas
tensões prejudicaram muito nosso casamento. Eu pastoreava minha
casa com um esforço enorme. Como eu poderia ousar liderar uma
igreja?
Oito anos depois, enxergo como o Senhor trabalhou nessas
circunstâncias para me fazer crescer em semelhança a Cristo. Ele usou
a decepção para me levar ao fim do poço em relação a mim mesmo.
Enquanto me gabava do meu currículo e me perguntava por que
ninguém me contrataria, eu não poderia ministrar de fato no poder de
Deus. As palavras do apóstolo Paulo em 1Coríntios 1.26-31 soam
verdadeiras agora de modo que eu não conseguia entender na época:
Pois considerem seu chamado, irmãos: muitos de vocês não eram
sábios de acordo com padrões mundanos, nem muitos poderosos,
nem muitos de nascimento nobre. Mas Deus escolheu o que é tolo
no mundo para envergonhar os sábios; Deus escolheu o que é fraco
no mundo para envergonhar os fortes; Deus escolheu o que é baixo e
menosprezado no mundo, até as coisas que não são, para
transformar em nada as coisas que são, para que nenhum ser
humano se glorie na presença de Deus. E por causa dele vocês estão
em Cristo Jesus, que se tornou para nós a sabedoria, justiça,
santificação e redenção de Deus, como está escrito: “Quem se gloria,
glorie-se no Senhor”.
Algum homem já está preparado para esse tipo de ministério
paulino? É como perguntar se alguém está realmente pronto para o
casamento. Algumas coisas só se aprendem da maneira mais difícil.
Eu aprendi, depois que não consegui emprego, o quanto mais eu
precisava para crescer nas qualificações mais importantes para o
ministério.
2. Antes de ser chamado para qualquer posição, fui dotado por Deus para
servir. Geralmente, a seleção de pastores é diferente da identificação
dos presbíteros. E eu me pergunto se isso está certo. Quando
procuramos presbíteros leigos, entendemos que o homem não vai
começar a agir de repente como presbítero assim que for indicado
para o ofício. Em vez disso, procuramos um homem que já esteja
realizando o trabalho. Ele recebe pessoas em casa. Lidera a família
com propósito espiritual deliberado. Trabalha de modo que seus
colegas o elogiam publicamente. Contribui com generosidade.
Procura a paz. Estuda e ensina a Bíblia para edificar o corpo de
Cristo. E assim por diante. Espero que sua igreja tenha muitos desses
“presbíteros em tudo, menos no título”.
Eu não culpo as igrejas que não me contrataram como pastor. O que
elas poderiam saber sobre mim a partir de uma folha de papel? Ainda
assim, sem o chamado externo de uma delas, tive de perguntar a mim
mesmo: “Devo realmente servir como líder eclesiástico?”.
Deus gentilmente revelou a resposta: Meus dons para o serviço não
mudam só porque sou pago para realizá-lo. Se sou professor, vou
ensinar. Posso não pregar no púlpito toda semana, mas sempre há
novos crentes e jovens querendo aprender. Não sou pago para definir
a agenda da igreja, mas ainda posso orar pelos pastores e oferecer meu
apoio e até mesmo meu conselho quando pedirem. Posso fazer da
minha casa sempre um lugar acolhedor para os incrédulos aprenderem
de Jesus e vê-lo agir com poder.
Essa perspectiva sobre os dons e o chamado me libertaram para
fazer parte de uma congregação e servir sem considerar título, posição
e salário. Nunca me faltou oportunidade, pois na igreja jamais faltam
necessidades. Servi quatro anos em várias funções: líder de pequenos
grupos, pregador substituto, mentor espiritual, e mais — antes de a
igreja me designar presbítero. Nesse papel faço quase tudo o que
esperava realizar como pastor, exceto pregar. Quem sabe se esse
chamado também surge um dia? Estou contente em esperar pelo
tempo do Senhor.

Transformar o homem em ministro


Tão logo aceitei o emprego que jamais desejei, as posições pastorais
começaram a surgir de repente. Uma igreja que antes
parecia ambivalente em relação a mim mudou de opinião depois de
receber algumas recomendações importantes. Um amigo de minha
igreja mudou-se e perguntou sobre o meu interesse em substituí-lo
em um papel muito desejado. Contudo, nessa época eu havia me
empregado onde me encontro hoje, no ministério Gospel Coalition, e
não podia deixar meus novos colegas em apuros. Fico feliz por não ter
aceitado, mas sempre me pergunto o que poderia ter acontecido.
Nesta vida, provavelmente nunca vou entender tudo o que Deus tem
feito nesse processo, em especial se eu nunca me tornar pastor, como
ainda desejo.
O seminário me ensinou muito: interpretar a Bíblia usando as
línguas originais, interligar o Antigo e o Novo Testamentos, preparar
um sermão, evitar os erros da história eclesiástica e muito mais. Eu
não trocaria meu seminário por nada. Ainda hoje trabalho em um
seminário e invisto muito do meu tempo na formação de jovens
ministros em potencial. Os seminários são valiosos, e até necessários,
para a saúde da igreja hoje.
Contudo, o seminário não me ensinou o que fazer quando não
consegui ser contratado. Ele não me preparou para lidar com uma
busca de emprego confusa ou me mostrar o que fazer quando eu
precisava conseguir um emprego e sustentar minha família. Eu não sei
como ele poderia ter feito isso. Eu seria insensato se esperasse tanto.
Ao longo deste livro, sob a perspectiva de vários escritores, você viu
que o seminário é valioso, mas não suficiente. Não pretendemos
diminuir o trabalho valioso dos seminários. Em vez disso, queremos
ajudar jovens pastores, seminaristas e outros aspirantes ao ministério a
aprender com nossa experiência sobre como Deus prepara o homem
para ser um ministro fiel e eficiente.
A igreja local não substituirá o seminário no que só ele pode nos
ensinar. Mas só a igreja local, sob a autoridade de Deus, pode
transformar o homem em ministro.
Colaboradores
Collin Hansen é diretor editorial de Gospel Coalition e serve no
conselho da Beeson Divinity School.
Dale Van Dyke é pastor da igreja Harvest Church (OPC) em
Wyoming, Michigan.
Daniel L. Akin é presidente do Southeastern Baptist Theological
Seminary em Wake Forest, Carolina do Norte, e membro do
conselho do Gospel Coalition.
Harry L. Reeder é o pastor titular da igreja Briarwood Presbyterian
Church (PCA) em Birmingham, Alabama, e membro do conselho
do Gospel Coalition.
Jay Thomas é pastor da igreja Chapel Hill Bible Church em Chapel
Hill, Carolina do Norte.
Jeff Higbie é pastor da igreja Faith Evangelical Church em
Underwood, Dakota do Norte.
Jeff Robinson Sr. é o editor chefe do Gospel Coalition e pastor da
igreja Christ Fellowship Church em Louisville, Kentucky.
John Onwuchekwa é pastor da igreja Cornerstone Church em
Atlanta, Geórgia.
Juan Sanchez é o pastor titular da igreja High Pointe Baptist Church
em Austin, Texas, e membro do conselho do Gospel Coalition.
Mark Vroegop é o pastor titular da College Park Church em
Indianápolis, Indiana.
Matt Capps é o pastor titular da igreja Fairview Baptist Church em
Apex, Carolina do Norte.
Matt McCullough é pastor da igreja Trinity Church em Nashville,
Tennessee.
Phil A. Newton é o pastor titular da igreja South Woods Baptist
Church em Mênfis, Tennessee.
Scott Sauls é o ministro titular da igreja Christ Presbyterian Church
(PCA) em Nashville, Tennessee.
Vermon Pierre é o pastor titular da igreja Roosevelt Community
Church em Fênix, Arizona.
Índice de
passagens bíblicas
Gênesis
2.24 39
3.6 62
3.16 62
Êxodo
12 112
Josué
4 112

1.21 133
Salmos
1 41
19.1 114
23.4 165
34.8 112
44.1-4 112
77.11 112
81.10 112
84.11,12 112
91.1,2 112
103.1 112
103.8 112
111.2 112
121 125
121.1,2 125
121.4,5 125
125.1,2 112
145.18,19 115
Provérbios
11.14 99
15.22,23 42
31.28,29 41
Eclesiastes
7.1-4 85
Cântico dos Cânticos
2.8-14 41
4.1-7 41
6.4-9 41
6.10 41
6.13 41
7.1-9 41
8.13,14 41
Isaías
9.7 141
40.7,8 141
40.31 141
Jeremias
17.9 53
45.5 129
Mateus
6.14,15 53
6.33 97
7.3 58
9.10 149
16 73
18 73
18.12-14 54
18.15 53
18.15-17 54
18.15-20 54
18.16 54
18.21-35 54
19.27-29 133
28 73
Marcos
11.25 53
Lucas
10.17-20 139
18.8 137
22.31,32 90
22.42 133
João
10.5 118
11 125
15.5 22
15.8 117
17 52
21.17 126
Atos
5 29
6 149
8.18-21 133
14.21-23 55
16.3 46
17.22,23 46
20.28 147
20.29 126
Romanos
1.20 114
7.18-25 53
8.31-39 60
10.17 23
12.15 86
12.18 52
1Coríntios
1.1-4 103
1.10 52
1.26 138
1.26-31 160
4.7 22
5 66
9.16 24, 93
9.22 46
9.24-27 110
12 73
12.7 114
12.27 114
13 16, 26, 79
13.2 18
13.12 53
2Coríntios
4.7 23
4.7-12 22-3
11 e 12 107
11.5 21
11.23-28 21
11.28 99
12 23
12.9,10 23
13.11 52
Gálatas
6.1 123
Efésios
2 73
3.8-10 63
4 27
4.2 121
4.3 52
4.11 55
4.11,12 49
4.11-16 61, 64
4.12-16 55
4.15 41
5.15-21 36
5.18 36
5.23-27 41
5.25 37
5.25-33 40
5.26,27 37
5.28 38
5.28,29 41
5.28-30 38
5.29 38
5.31 39
5.31,32 39
5.33 39
6.4 42
6.10-20 110
6.17 22
Filipenses
1.6 100
2.1-11 106
2.3 52
2.3ss 121
2.9,10 141
3.8 19
4.2 106
4.6 99
Colossenses
3.12 121
3.16 114
3.19,20 42
1Tessalonicenses
5.12 55
5.24 100
1Timóteo
2.11-15 62
3 63
3.1-7 158
3.1-8 64
3.2 55
4.11 122
4.11-16 147
4.12 119
4.13 122
5.8 42
5.17 55
5.22 65
6.17-21 147

2Timóteo
2.1-26 147
2.2 150
2.3,4 110
2.24,25 49
3.10—4.5 147
3.16 123
Tito
1 63
1.5-8 64
1.9 55
Hebreus
4.12 123
10.25 114
12.1 110
12.1,2 110
12.14 52
13.17 147
13.20 55
Tiago
4.1-3 53
5.14 55
1Pedro
2.25 55
3.7 41
4.10 114
5 63
5.1-3 55, 147
5.1-4 147
5.1-5 61
5.2 55
Collin Hansen (MDiv, Trinity Evangelical Divinity School) é o
diretor editorial do Gospel Coalition e autor de Blind spots e
Young, restless, reformed.

Jeff Robinson (PhD, Southern Baptist Theological Seminary) é


editor sênior do Gospel Coalition, pastor da igreja Christ
Fellowship Church, em Louisville, e professor de História da
Igreja no Southern Baptist Theological Seminary. Também é
coautor do livro To the ends of the earth.
Encontros com Jesus
Keller, Timothy
9788527507455
240 páginas

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Jesus mudou a vida de cada pessoa com quem se
encontrou nos Evangelhos por meio de experiências e
palavras poderosas que ofereceram às indagações dessas
pessoas respostas inesperadas e transformadoras. Esses
diálogos podem oferecer respostas a nossos
questionamentos e dúvidas ainda hoje. Este belo livro
ocupa-se de vários desses encontros — com um estudante
cético, com um religioso, com uma marginalizada e até com
a mãe de Jesus —, mostrando que os acontecimentos
centrais da vida de Jesus oferecem caminhos para encontrá-
lo sempre de novo ou mesmo pela primeira vez.

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Ego transformado
Keller, Timothy
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48 páginas

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Quais são as marcas de um coração sobrenaturalmente
transformado? Essa é uma das questões sobre as quais o
apóstolo Paulo trata quando escreve à igreja de Corinto. O
interesse real dele não é algum tipo de reparo ou remendo;
antes, uma mudança profunda, capaz de transformar a
existência. Numa era em que agradar as pessoas, insuflar o
ego e montar o curriculum vitae são vistos como os meios
para "chegar lá", o apóstolo nos chama a encontrar o
verdadeiro descanso na bênção que é nos esquecermos de
nós mesmos. Neste livro breve e contundente, Timothy
Keller mostra que a humildade que brota do evangelho torna
possível pararmos de vincular cada experiência e cada
conversa com a nossa história e com quem somos. E assim
podemos ficar libertos da autocondenação. Quem é
realmente humilde segundo o evangelho não se odeia, mas
também não se ama... é, antes, alguém que esquece de si
mesmo. Você também pode conquistar essa liberdade...

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Keller, Timothy
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de nós depositam a fé e a esperança nessas coisas,
acreditando que sejam capazes de trazer a felicidade. No
fundo, porém, sabemos que nada disso pode garantir
satisfação plena. Por isso não é de surpreender que nos
sintamos perdidos, solitários, desencantados e ressentidos.
Só o Deus verdadeiro pode satisfazer totalmente nossos
desejos, e este é o momento perfeito para encontrá-lo
novamente... ou, quem sabe, pela primeira vez.
Em Deuses falsos, Timothy Keller mostra que uma
compreensão adequada da Bíblia revela a verdade acerca
da sociedade e de nosso próprio coração. Nessa mensagem
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uma esperança que não pode ser abalada pelas
circunstâncias da vida

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pregados por Timothy Keller, autor best-seller do New York
Times. O autor mostra a todos — cristãos, céticos, solteiros,
casais casados há muito tempo e aos que estão prestes a
noivar — a visão do que o casamento deve ser segundo a
Bíblia. Usando a Bíblia como seu guia, e com os
comentários muito perspicazes de Kathy, sua esposa há 37
anos, Timothy Keller mostra que Deus criou o casamento
para nos trazer para mais perto dele e para dar mais alegria
à nossa vida. É um relacionamento glorioso, e é também o
mais malcompreendido e misterioso dos relacionamentos.
Caracterizado por uma compreensão clara e cristalina da
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precisa se desintoxicar da pornografia, ou seja, recomeçar
do zero do ponto de vista moral e psicológico. Seria o seu
caso também? Se for, ainda que nem saiba disso, a
pornografia corrompeu sua maneira de pensar, enfraqueceu
sua consciência, distorceu seu senso de certo e errado e
deformou seu entendimento e suas expectativas a respeito
da sexualidade. Você precisa de um recomeço conduzido
por Aquele que criou o sexo. "Numa época em que o sexo é
venerado como um deus, um livro pequeno como este é
capaz de dar uma grande contribuição, ajudando os homens
a superar o vício do sexo." Pastor Mark Driscoll, Mars Hill
Church

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