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Na maioria das vezes, quando perguntamos sobre a saúde de alguém, escutamos como
resposta que tudo está bem se a pessoa a quem nos referimos não ficou doente, não
precisou tomar medicamentos e nem utilizou os serviços de saúde. Caso contrário, a
resposta será que não anda bem.
Vira-e-mexe, temos definido saúde como oposto de doença, algo que somente
percebemos quando sentimos a sua ausência. Por definirmos a saúde dessa maneira é
que esquecemos que ela também significa nossa capacidade de enfrentar os
adoecimentos, buscar ajuda e entender o que está ocorrendo, como, ainda, os momentos
da vida, nos quais somos capazes de pensar, sentir e assumir nossos atos e decisões.
Para a Organização Mundial de Saúde, essa noção traduziria ”um estado de completo
bem estar físico, mental e social", mas será que esse estado existe mesmo?
Às vezes, tudo parece tão bem e... de repente, acontece um imprevisto, um acidente, por
exemplo. Outras vezes, o corpo está bem, mas as preocupações com os problemas do
dia-a-dia são tão grandes e se mostram tão complicados que não nos sentimos bem.
Vem o desânimo, a falta de coragem, a tristeza. Outras vezes, ainda, estamos nos
sentindo tão dispostos e alegres que resolvemos, por um ato solidário, doar sangue e, no
exame que é feito rotineiramente nesses casos, encontramos um resultado que nos
revela uma doença de que nem suspeitávamos e temos de passar por mais exames,
tomar remédio e assumir cuidados.
Algumas situações nos fazem sentir doentes, algumas vezes, logo identificamos qual foi
a causa ou percebemos que alguma coisa agrediu nosso corpo. Outras vezes, algo não
vai bem, mas não nos sentimos doentes, aguardamos que passe, optamos por relaxar e
pedir licença no trabalho, buscamos conselhos na família. Também existem fatores que
perturbam nosso estado de saúde sobre os quais não temos consciência e nem podemos
identificar fatores causais. Quando não percebemos nenhuma alteração na nossa vida,
como no caso da doação de sangue, ou quando não associamos preocupações com
filhos, família, casa, comida e trabalho com nossos estados de saúde ou doença,
limitamos nossa compreensão da saúde à presença ou não dos processos
fisiopatológicos.
Essas situações nos fazem pensar que existe uma definição a respeito de saúde e de
doença dada pelas pessoas, outra que é dada pelos profissionais que atuam nos serviços
de saúde e outra, ainda, pelo modo como a sociedade identifica os indivíduos que são
”fortes e saudáveis" e aqueles que, não possuindo tais características, são considerados
”não saudáveis" ou que vi- vem em risco de adoecer e morrer.
Para as pessoas, a idéia de doença e de saúde encontra-se muito próxima do que cada
um considera ”sentir-se bem". Isto varia de pessoa para pessoa e depende de cada
cultura, do meio em que está inserido e do modo como sua relação com o mundo define
seu modo de viver. É o que chamamos de ”andar a vida".
Outras práticas eram desenvolvidas por agentes que atuavam como fiscais e guardas
com o objetivo de livrar a sociedade das ”condições" que colo- cavam em risco a saúde
da população, queimando objetos pessoais daqueles que morriam, isolando os que
apresentavam sinais de doença.
Nos dias atuais, com o aparecimento dos cânceres, a doença passou a ter outra
explicação, agora centrada não mais em um agente externo, mas dentro do próprio
corpo (nas células), sendo as práticas de saúde desenvolvidas com o uso de tecnologias
que invadem nosso organismo e tentam desfazer ou eliminar esses elementos que
crescem e se reproduzem de maneira diferente.
E a predominância desse padrão ideal de saúde e beleza é tão forte que contribui para o
crescimento de um imenso mercado de produtos que objetivam fazer com que as
pessoas atinjam esse ideal. Existem revistas, jornais e programas de televisão que dão
”dicas" para emagrecer, ter um corpo escultural, diminuir rugas e retardar o
envelhecimento. Existem, à venda, vitaminas específicas, cremes, aparelhos para
enrijecer os músculos, alimentos sintéticos, cirurgias plásticas e outros produtos que
transformam as pessoas em consumidores implacáveis dessas mercadorias, na esperança
de se aproximarem dos ”modelos de beleza e saúde" que vemos nos cartazes, no
cinema, na televisão e que povoam nosso imaginário.
Os determinantes da saúde
Em razão do que vimos até aqui, poderíamos deduzir que a saúde e a doença dos
indivíduos e dos coletivos humanos apresentam várias causas e dependem de vários
elementos que podemos chamar de determinantes de saúde e de doença.
Por sua vez, esses determinantes contribuem para o aparecimento de condições que
propiciam a saúde ou a doença. Podemos dizer que as condições de vida e trabalho,
assim como a convivência com ambientes poluídos, determina a existência de fatores
que condicionam o aumento de agentes transmissores de doenças infecciosas e ou
transmissíveis e alergias„ a falta ou a alimentação inadequada que leva à desnutrição, a
situação de miséria e exclusão social que pode levar à violência e ao mundo das drogas
e outros problemas que fazem, às vezes, parecermos demandar um grande hospital para
a própria sociedade.
No Brasil, a VIII Conferência Nacional de Saúde definiu saúde como direito de todos e
dever do Estado, cuja responsabilidade é a provisão de um sistema de atenção à saúde
universal e equânime, tendo como diretrizes a descentralização, a integralidade da
atenção e a participação e o controle social.
No nosso país, a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8080), do ano de 1990, definiu no Artigo
3º que a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a
alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a
educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais.