Você está na página 1de 8

CONCEITO DE SAÚDE

Professora Katlin Darlen Maia

OBJETIVO(S) DE APRENDIZAGEM:

Refletir sobre o conceito de saúde

INTRODUÇÃO

Como profissionais da área da saúde devemos ter em mente qual é o


nosso campo / área de atuação. Quanto mais clara for esta conceituação,
mais fácil será a nossa possibilidade de trabalho. Poderemos compreender
melhor os fenômenos que nos cercam e com isso nosso exercício poderá
ser mais efetivo e eficaz.

CONTEÚDO

O conceito de saúde varia de acordo com os diferentes indivíduos,


famílias, grupos culturais e classes sociais. Na maioria dos casos a saúde é
percebida como algo muito além da ausência de sinais e sintomas desa-
gradáveis, que façam nos sentir em desarmonia com o meio que nos cer-
ca.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), por exemplo, definiu saúde,
em 1946, como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social

1
e não a ausência de doença ou enfermidade.” Este conceito dá uma noção
positiva da saúde, como se ela pudesse sofrer gradações. Nesta concepção
é possível ter mais ou menos saúde, sem estar doente. Entre o estado de
saúde ideal, que seria o grau máximo de bem-estar físico, mental e social
e o grau de desequilíbrio nesse bem-estar, que seria a incapacidade total,
com vida meramente vegetativa, existiria uma gama imensa de estados
intermediários. A ruptura definitiva do equilíbrio entre o indivíduo e o
meio seria a morte.
Em muitas sociedades não-industrializadas, a saúde é entendida co-
mo uma relação equilibrada entre pessoas, entre as pessoas e a natureza
e entre as pessoas e o mundo sobrenatural. Um distúrbio em qualquer
uma dessas relações pode-se manifestar por meio de sintomas físicos ou
emocionais.
A 8ª Conferência de Saúde, que aconteceu no Brasil em 1986, trouxe
para a lei brasileira a ideia de que a saúde é um direito e deve ser garanti-
do pelo estado, conforme foi definido na Constituição Federal de 1988.
Este conceito ampliou o olhar sobre o fenômeno e definiu de forma mais
concreta os campos de atuação do setor saúde. Definindo como:
“... resultante das condições de alimentação, habitação, educação,
renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,
acesso e posse da terra e acesso à serviços de saúde. É, assim antes de tu-
do o resultado das formas de organização social da produção, as quais po-
dem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida...A saúde não é um
conceito abstrato. Define-se no contexto histórico de determinada socie-
dade e num dado momento de seu desenvolvimento, devendo ser conquis-

2
tada pela população em suas lutas cotidianas.” (ANAIS DA 8ª CONFERÊN-
CIA, 1986).
Desta forma podemos entender que saúde será sempre resultante da
qualidade de vida das populações. Quanto mais qualidade de vida, mais
saudável deverá ser a população.
O meio ambiente passa a ser de suma importância para o entendi-
mento do processo saúde/doença, pois serve para fazer a aproximação
entre certos agentes e o hospedeiro, e também para influenciar suas ca-
racterísticas e inter-relações. Existem diversos fatores relacionados ao
meio ambiente, dentre os quais os mais importantes são os fatores físicos,
biológicos, mecânicos e químicos.
Como exemplos de fatores físicos relacionados ao meio ambiente na
produção de doença, podemos citar a ausência ou presença de luz, ruído,
umidade, temperatura, eletricidade, radiações, etc. Como exemplo de fa-
tores biológicos destacou todos os tipos de vírus, bactérias, protozoários,
animais daninhos, etc. Como fatores mecânicos observamos os traumas e
o aumento ou diminuição excessiva da pressão atmosférica. Os trauma-
tismos não se constituem em doenças, mas eventos que causam risco à
saúde do ser humano e por isso merecem atenção. E por último, como
exemplo de fatores químicos, encontramos todas as substâncias orgânicas
e inorgânicas, nos três estados da matéria e que possuem efeito irritante
ou tóxico. Desta forma, podemos pensar a odontologia e os processos sa-
úde doença que estão nesta área do conhecimento, decorrentes das
mesmas interações.
Voltando a pensar na nossa área de atuação, a saúde, temos a área
da saúde pública que é definida classicamente como a “ciência e a arte de

3
prevenir a doença, prolongar a vida e promover a saúde e a eficiência físi-
ca e mental mediante esforços organizados da comunidade para o sanea-
mento do meio, o controle das doenças transmissíveis, a educação dos
indivíduos sobre higiene pessoal, a organização dos serviços médicos e de
enfermagem para o tratamento preventivo e diagnóstico precoce das en-
fermidades, o desenvolvimento de um mecanismo que cada social que
assegure a cada indivíduo um nível de vida adequado à conservação da
saúde, organizando estes benefícios de tal modo que cada cidadão se en-
contre em condições de gozar de seu direito natural à saúde e longevida-
de” (Winslow apud Chaves, 1986).
Desta forma, qual seria a diferença entre um profissional que atua no
setor público de outro que atue no setor privado? Não há diferença, pois o
produto final que se deseja alcançar é o mesmo: a saúde, bem como o ob-
jeto de trabalho também: o ser humano. As diferenças apenas estão re-
servadas para o foco do trabalho, enquanto o profissional que atua no se-
tor privado atende o indivíduo o do setor público atende a população, ou
apresenta seu enfoque no coletivo. Assim o que o clínico faz com o clien-
te, que corresponde ao exame, o sanitarista (profissional que atua no se-
tor público) chama de inquérito ou levantamento. Outro exemplo seria
quanto ao diagnóstico realizado pelo clínico que para o sanitarista é cha-
mado de análise dos dados obtidos no levantamento. Portanto, não pode
haver diferença de atitude do profissional.
Já que conceituamos saúde, contextualizamos a saúde pública, po-
demos localizar a odontologia social, como área deste conhecimento. É
comum ouvirmos falar em saúde bucal, e este termo é uma abstração útil,
pois na verdade a saúde é um estado do indivíduo, que não pode ser sub-

4
dividido. Não podemos ter saúde parcial, porém ao longo do curso este
termo será utilizado apenas para identificar objetivos parciais nas aborda-
gens que decorrerão ao longo do curso, mas sempre devemos considerar
que este pequeno pedaço faz parte de um todo maior e indivisível, o ho-
mem.
A odontologia social, que apresenta diversos nomes (odontologia
preventiva, odontologia de promoção de saúde, odontologia em saúde
coletiva, etc) é uma disciplina da saúde pública que tem sido definida co-
mo a área do “conhecimento sistematizado, totalizante e participativo que
investiga, interpreta, propõe soluções, as executa e as retroavalia, frente
às questões de relação dialética de causa-efeito entre os problemas odon-
tológicos e os da sociedade.” (Neves, 1998)
A odontologia social vem sendo sintetizada, de forma complexa, co-
mo uma odontologia investigativa, pois trata da epidemiologia, e da pes-
quisa qualitativa e quantitativa; uma odontologia interpretativa, que atua
nas áreas da estatística, ciências sociais e da própria odontologia; como
proponente de soluções, já que planeja os serviços, projetos sociais e a
formação de recursos humanos auxiliares (ASB e TSB), é executora, por
realizar programas de ação com dimensões coletivas, atuar na formação
de recursos humanos, educação em saúde e na organização e gerencia-
mento de serviços e é considerada retroavaliadora pois trabalha na ótica
do controle de qualidade.
Já que conseguimos nos posicionar como profissionais da área da sa-
úde, a odontologia social deve agora pensar em identificar problemas na
área da saúde pública. Como podemos identificar se uma determinada
doença se configura numa doença típica de saúde pública? A forma mais

5
didática que se conhece par caracterizar um problema de saúde pública é
a proposta por Sinai (apud Chaves, 1986). Segundo ele, um problema de
saúde é considerado como problema de saúde pública quando preenche
três condições essenciais:
a) Constitui causa comum de morbidade e ou mortalidade;
b) Existem métodos eficazes de prevenção e controle;
c) Tais métodos não estão sendo utilizados de modo adequado pela
comunidade.
Após caracterizarmos uma doença como sendo da área de atuação
da saúde pública, agora devemos hierarquizar colocar em uma ordem de
importância relativa, de acordo com seu significado social. É necessário
ressaltar que priorizar não é tornar exclusivo, é sim dar ênfase, pressu-
pondo que o grupo ou dano que ficou em posição secundária vá ser con-
templado com um menor volume de recursos ou de tempo e não ser es-
quecido.
Os principais critérios para estabelecer a prioridade relativa dos pro-
blemas em odontologia social são:
 Número de pessoas atingidas,
 Seriedade do dano causado,
 Possibilidade de atuação eficiente,
 Custo per capita,
 Grau de interesse da comunidade.
Nenhum critério pode ser tomado isoladamente, é o conjunto deles
que faz com que um problema se destaque entre os demais.
Assim sendo, acho que agora entendemos o motivo da odontologia
estudar tanto a doença cárie, pois quase sempre esta se configura como o

6
problema bucal que costuma preencher todos os quesitos neste critério
de hierarquização, pois durante muito tempo foi a doença mais prevalen-
te, por causar insuficiência mastigatória, por possuir diversas possibilida-
des de atuação, por ser uma doença, que comparada a outras na área, seu
custo ainda é proporcionalmente mais barato e pelo grande interesse da
população.

SÍNTESE INTEGRADORA

A saúde resulta de um equilíbrio entre os diversos agentes existentes


no meio ambiente e o ser humano. A área da saúde é uma área complexa
resultante da interação de diversos fatores. Entender a atuação de cada
um desses fatores no processo de adoecimento é um dever do profissional
da área.
A compreensão dos campos de atuação da saúde pública, bem como
inserir neste contexto a odontologia social é de suma importância para a
necessidade de trabalho, onde a caracterização e hierarquização dos pro-
blemas em odontologia ajudam a melhorar a atuação no setor.

REFERÊNCIAS

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ANAIS DA 8ª CONFERÊNCIA. Brasília, 1986.


Centro de documentação do Ministério da Saúde, 1987.
CHAVES, M. Odontologia Social. São Paulo: Artes Médicas. 3. ed. 1986.
HELMAN, C. G. (Buchweitz, C. e Garcez, P. M. – tradução) Cultura, Saúde e
Doença. 4 ed. Porto Alegre: Artmed. 2003.

7
MEDEIROS, U. V. Guia de Estudo: epidemiologia geral e aplicada. Curso de
especialização em odontologia do trabalho. Campinas: Mundi Brasil, 2006.
NEVES, F. J. T. Informação, atitude e campo de representação ou imagem
da odontologia social entre cirurgiões-dentistas das cidades de Niterói e
Rio de Janeiro. Revista Fluminense de Saúde Coletiva. Niterói: EDUFF. n. 2,
mar. 1998.
PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Koogan,
1998.

Você também pode gostar