Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1ª AULA
Bem-vindas e Bem-vindos à disciplina Promoção e prevenção da saúde mental nas
instituições!
Grande abraço,
Objetivos da Aprendizagem
Seções de Estudo
2
Promoção e prevenção à saúde mental nas instituições – Solange Bertozi
A evolução histórica das concepções sobre saúde e doença deu origem a modelos
específicos de atenção à saúde, Morais (2005) apresenta três visões principais de saúde a partir
do século XX: o conceito médico; o conceito da Organização Mundial de Saúde (OMS) e o
conceito ecológico.
O paradigma da medicina tradicional traz o conceito de modelo biomédico, sob a
influência do modelo cartesiano, tal visão considera a cisão entre corpo e mente, e define como
saúde a ausência da doença (do diagnóstico de uma patologia). A doença é entendida, nesse
modelo, como mau funcionamento dos mecanismos biológicos, com apresentação de sinais e
sintomas (no corpo). A medicina, mediante esta visão, realiza intervenções químicas, no corpo,
sobressaindo o aspecto orgânico, mesmo havendo outros aspectos presentes no processo de
adoecimento (MORAIS, 2005).
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), esse conceito biomédico foi ampliado,
em relação ao processo saúde/doença, pois trouxe a percepção de que as relações com as áreas
sociais e psíquicas interferem no mesmo. Sendo assim, o processo saúde/doença deixa de ter
caráter estritamente causal, a intervenção que busca a compreensão e a cura do fenômeno
adoecer deve também extrapolar o aspecto físico ou químico. A Organização Mundial de Saúde
(OMS) define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não
somente ausência de afecções e enfermidades” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020). Surge daí
uma visão complexa, sistêmica de saúde, pode-se dizer holística de saúde, relacionando-a ao
ambiente do sujeito, seu bem estar e qualidade de vida. Entretanto, essa visão evidencia um
caráter subjetivo, e que por isso, recebe críticas (SEGRE; FERRAZ, 1997).
Para Rezende (1989), essa visão não considera a troca, muitas vezes conflituosa,
existente entre o ser humano e o seu meio ambiente, além da postura humana ativa e dialética
frente aos antagonismos sociais. Este conceito que se pretende integral sugeriria um estado de
perfeição completa, o que é inatingível, irreal ao ser humano, daí surgem os questionamentos.
3
Promoção e prevenção à saúde mental nas instituições – Solange Bertozi
Pode-se considerar ainda a definição da OMS vaga e ampla, trazendo dificuldades para
ser objetivada e colocada em prática, e ainda, não se define com facilidade a ideia de bem-estar
(é subjetivo, pode mudar de uma cultura para outra). Segre e Ferraz (1997), neste ponto,
apontam que "perfeição" e "bem-estar", como expressões, não existem por si mesmas,
necessitam de uma descrição dentro de um contexto que lhes atribua sentido, dependem ainda
da linguagem e da experiência singular do indivíduo. Desse modo, bem-estar, felicidade ou
perfeição ocorrem para um sujeito que, dentro de suas crenças e valores, dá sentido a tal uso
como expressões positivas, desejadas.
A perspectiva ecológica, visão da psicologia ambiental, orienta que o processo
saúde/doença deve considerar a historicidade, multidimensionalidade e a processualidade, ou
seja, uma complexa inter-relação entre o sujeito e seu ambiente, história e processos de vida,
um movimento sempre em andamento, em processo. A historicidade é o que diz respeito à
influência do contexto sociocultural sobre a definição de práticas ditas saudáveis ou não. A
integralidade ou multidimensionalidade, por sua vez, refere-se à consideração da saúde e da
doença a partir de aspectos psicológicos, sociais e espirituais, além dos biológicos já destacados
pela visão médica tradicional (MORAIS et al, 2012).
Desse modo, a saúde deixa de ser vista como ausência de doença, ao mesmo tempo em
que a compreensão da doença também não fica restrita à alteração/desequilíbrio biológico. Por
fim, a processualidade diz respeito à consideração da saúde e da doença como partes de um
mesmo continuum e não como estado absoluto e estático, independentes um do outro
(MORAIS, 2005).
Pode-se trazer ainda o que a Terapia Cognitivo-comportamental traz sobre os esquemas
e crenças, como estes influenciam nas emoções e comportamentos (WRIGHT; BASCO;
THASE, 2008; YOUNG; KLOSKO; WEISHAAR, 2008). “Nesse sentido, na literatura há uma
tendência à realização de pesquisas sobre as visões das pessoas, dos mais variados contextos, a
respeito das noções de saúde e doença” (BORUCHOVITCH & MEDNICK, 2002 apud
MORAIS et al, 2012, p. 371).
4
Promoção e prevenção à saúde mental nas instituições – Solange Bertozi
Essa compreensão ampla do ser humano atualmente ainda apresenta relevância, a visão
do homem biopsicossocial é atualmente a mais utilizada, mostrando-se coerente com o homem
contemporâneo, cujos fatores de adoecimento são multideterminados, não estão restritos ao
campo biológico apenas. A psicologia, por seu turno, busca olhar cada vez mais a
individualidade e a subjetividade em interação com o âmbito social/ambiental. No entanto, é
um desafio aos profissionais abordar cada indivíduo nesse leque amplo de pontos determinantes
ou influenciadores do adoecimento.
rotina pouco indicada – horas de transporte no trajeto de casa ao trabalho e vice-versa, por
exemplo, em tempos considerados não produtivos, que além de serem gastos em
deslocamentos, geralmente em veículos automotivos, são tempos não utilizados, por exemplo,
para o lazer ou o exercício físico, sendo considerados assim, tempos “não ativos”. O estudo
realizado por Sá, Parra e Monteiro (2015) avaliou o potencial impacto de cenários de transporte
e planejamento urbano na RMSP (Região Metropolitana de São Paulo) sobre a prática da
atividade física, e foi publicado numa revista científica internacional de medicina preventiva.
Os pesquisadores avaliaram, por exemplo, a troca de trajetos feitos de carro por
caminhadas. Segundo o estudo, o tempo médio de trajeto em veículos para o morador da Região
Metropolitana de São Paulo seria de 86,4 minutos, destes, 19,4 minutos são chamados ativos, e
67 minutos, não ativos (SÁ; PARRA; MONTEIRO, 2015). Caminhar a pé e demorar mais teria
um impacto positivo na saúde das pessoas, porém, a lógica de produção, dos horários de
trabalho faz com que as pessoas obedeçam a uma rotina que não necessariamente favorece sua
saúde. Um estudo realizado em Porto Alegre – RS, pesquisou a relação entre mobilidade urbana
e saúde pública. Este estudo, como o anterior, reforça que o estilo de vida urbano, produtivo
das grandes cidades impacta na saúde geral das pessoas:
Esse predomínio das viagens motorizadas combinado com o aumento das distâncias
a serem percorridas diariamente nas cidades é insustentável e gera problemas de
diversas ordens, desde os congestionamentos que implicam perdas econômicas, até os
prejuízos à própria saúde física e mental dos habitantes das cidades. Estes incluem
tanto os danos imediatos e visíveis como lesões e óbitos em sinistros – associados a
pesados custos ao sistema de saúde: para as cidades brasileiras, o total foi de
aproximadamente 115 bilhões de reais em 2018 (ANTP, 2020) – quanto à mortalidade
e à morbidade causada pelas Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). DCNTs
são condições que se desenvolvem ao longo da vida a partir da interação de fatores
genéticos com a exposição à poluição, a condições climáticas extremas e ao ruído e
da adoção de hábitos nocivos associados à vida na cidade como o sedentarismo e a
má alimentação (NIEUWENHUIJSEN, 2020; SALGADO et al., 2020), incluindo
obesidade, diabetes, hipertensão arterial, doenças respiratórias, depressão e alguns
tipos de câncer (ROSA et al, 2022, p. 81).
Além disso, pode-se refletir sobre outros impactos sobre o sujeito contemporâneo, por
exemplo, além de não utilizar as horas de trajeto de modo ativo com lazer ou exercícios físicos,
por exemplo, pode não conseguir ainda realizar refeições adequadas distribuídas em intervalos
saudáveis, além de estar submetido aos ruídos e poluição. Ao longo de meses e anos, todo esse
conjunto de fatores impacta em sua qualidade de vida e bem estar, fazendo-o sentir-se adoecido.
Deste modo, ao que sugerem estudos como os de Sá, Parra e Monteiro (2015) e Rosa et al
(2022), a proposição da OMS de pensar o processo saúde-doença a partir de fatores variados,
6
Promoção e prevenção à saúde mental nas instituições – Solange Bertozi
que não apenas o sintoma propriamente, mostra-se adequada, ou ao menos, coerente, a visão de
homem biopsicossocial, que considera aspectos psicológicos e sociais (relação com o
ambiente), além dos biológicos já destacados pela visão médica tradicional.
Por isso, ao orientar um paciente, algumas vezes a melhoria de sua saúde depende de
alterações no ambiente e nas relações vividas quando estas se tornam patológicas ou
patologizantes, algumas vezes pode significar mudar-se até mesmo de emprego, de cidade, e
por aí vai.
Dentre as questões que permeiam a psicologia em saúde, a saúde mental tem importante
lugar. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que não existe definição "oficial" de
saúde mental. Para a OMS, saúde mental está relacionada à saúde global do sujeito. Estaria
próxima de “[...] um estado de bem-estar no qual um indivíduo percebe suas próprias
habilidades, pode lidar com os estresses cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de
contribuir para sua comunidade” (OMS apud GAINO et al, 2018, p. 110).
Outra visão que se destacou aqui, mais próxima da visão biopsicossocial, é a chamada
normalidade com liberdade:
8
Promoção e prevenção à saúde mental nas instituições – Solange Bertozi
Assim, pode-se concluir que a questão da saúde mental deve ser estudada amplamente,
e que sua melhor compreensão poderá impactar em ações efetivas para a prevenção e promoção
dela.
ATENÇÃO
!
Retomando a aula
Chegamos, assim, ao final da aula 1. Vamos agora retomar os conteúdos?
considerados assim, tempos “não ativos”. Nestes casos, o adoecimento é favorecido pela
interação do sujeito com o ambiente: Algumas doenças podem se desenvolver ao longo da vida
a partir da interação de fatores genéticos com a exposição à poluição, a condições climáticas
extremas e ao ruído, da prática de hábitos nocivos como o sedentarismo e a má alimentação,
daí podem resultar obesidade, diabetes, hipertensão arterial, doenças respiratórias, depressão e
alguns tipos de câncer. Ou seja, o adoecimento está bastante relacionado ao estilo de vida, o
fator ambiental torna-se crucial no surgimento da doença.
10
Promoção e prevenção à saúde mental nas instituições – Solange Bertozi
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/42390/WHR_2001_por.pdf;jsessionid=6DB
C19CC327707CB35A6E3752D3BFE26?sequence=4
Sites:
CNS. O SUS. Disponível em: https://conselho.saude.gov.br/web_sus20anos/sus.html.. Acesso
em 01/11/22.
Filmes sugeridos:
Eles Não Usam Black-tie (1981). Direção de Leon Hirszman. Drama. 2h3min.
Central do Brasil (1998). Direção de Walter Salles. Drama/filme de estrada. 1h 55min.
Patch Adams: o amor é contagioso (1998). Direção de Tom Shadyac. Drama. 1h55min.
Bicho de sete cabeças (2000). Direção de Laís Bodanzky. Drama. 1h30min.
Para sempre Alice (2014). Direção Richard Glatzer e Wash Westmoreland. Drama.
1h41min.
Referências
BERTOLLI FILHO, Claudio. História da saúde pública no Brasil. 4. ed. São Paulo: Ática,
2008.
COHN, Amélia et al. A saúde como direito e como serviço. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
GAINO, Loraine Vivian, SOUZA, Jacqueline de, CIRINEU, Cleber Tiago e TULIMOSKY,
Talissa Daniele (2018). O conceito de saúde mental para profissionais de saúde:
um estudo transversal e qualitativo. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog.
2018 Abr.-Jun.;14(2): p. 108-116.
11
Promoção e prevenção à saúde mental nas instituições – Solange Bertozi
LIMA, Nísia Trindade; SANTANA, José Paranaguá de e PAIVA, Carlos Henrique Assunção
(orgs.). Saúde coletiva a Abrasco em 35 anos de história. [online]. Rio de Janeiro: editora
FIOCRUZ, 2015, 322 p. Disponível em: < https://www.abrasco.org.br/site/wp-
content/uploads/2018/11/Abrasco_35a.pdf> Acesso em 01/11/22.
MORAIS, Camila Aquino; AMPARO, Deise Matos; FUKUDA, Cláudia Cristina; e BRASIL,
Katia Tarrouquella. Concepções de saúde e doença mental na perspectiva de jovens
brasileiros. Dossiê: Juventudes e vulnerabilidades: dilemas e propostas • Estud. psicol.
(Natal) 17 (3) • Dez 2012. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/epsic/a/h7Fgn3d7GPSP3jhJqptHsnB/?lang=pt. Acesso em 21/08/22.
PEREIRA, Iara Cristina, OLIVEIRA Maria Amélia de Campos. Atenção primária, promoção
da saúde e o Sistema Único de Saúde: um diálogo. São Paulo: Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo, 2014. Disponível em: <
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_
servicos_produtos/BibliotecaDigital/BibDigitalLivros/TodosOsLivros/Atencao-primaria-
promocao-da-saude-e-o-SUS.pdf>. Acesso em 10/11/22.
REZENDE, A. L. M.. Saúde Dialética do pensar e do fazer. São Paulo: Cortez, 1989.
ROSA, Giovani Longo, VARGAS, Júlio Celso Borello, TOMAZ, Pedro Luz e CAMPOS,
Heleniza Ávila (2022). Mobilidade urbana e saúde pública: reflexões sobre o planejamento de
transportes em Porto Alegre/RS-Brasil. Boletim Geográfico do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, n. 39, p. 78-103. Disponível em: <
https://revistas.planejamento.rs.gov.br/index.php/boletim-geografico-rs/article/view/4463>.
Acesso em 01/10/22.
SÁ, Thiago Hérick de, PARRA, Diana C. e MONTEIRO, Carlos Augusto. Impact of travel
mode shift and trip distance on active and non-active transportation in
the São Paulo Metropolitan Area in Brazil (Impacto da mudança do modo de viagem e da
distância percorrida no transporte ativo e não ativo em Região Metropolitana de São Paulo no
Brasil). Preventive Medicine Reports 2, 2015, p. 183-188. Disponível em:
https://www.mobilize.org.br/midias/pesquisas/planejamento-urbano-e-transporte-impactam-
na-saude.pdf. Acesso em 03/11/22.
12
Promoção e prevenção à saúde mental nas instituições – Solange Bertozi
SEGRE, Marco e FERRAZ, Flávio Carvalho. O conceito de saúde. Rev. Saúde Pública, 31
(5): 1997, p 538-42. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rsp/a/ztHNk9hRH3TJhh5fMgDFCFj/?format=pdf&lang=pt. Acesso
em 01/09/22.
YOUNG, Jeffrey E., KLOSKO, Janet S., WEISHAAR, Marjorie E. Terapia do esquema.
Guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. [Recurso Eletrônico]. Porto
Alegre: Artmed: 2008.
MINHAS ANOTAÇÕES
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
13