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Promoção e prevenção da saúde mental nas instituições –

Solange Bertozi

4ª AULA
ESTRATÉGIAS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE
A promoção da saúde é diferente da prevenção de doenças. A promoção implica em ações
mais amplas, nos diversos âmbitos da vida humana (familiar, de trabalho, estudos, lazer) que
pretendem criar saúde, ambientes salutares, hábitos e estilos de vida saudáveis, enquanto a
prevenção de doenças trata de orientar a prevenção de patologias específicas, por exemplo,
prevenir a hipertensão arterial, o diabetes melitus, a AIDS, e assim por diante. Ambas estão
relacionadas, pois ambas contribuem para a saúde como um todo. Mas como se pode promover
saúde? O que fazer para que a promoção da saúde aconteça? É sobre isto que trata esse capítulo.
Bons estudos.

Objetivos da Aprendizagem

Após o estudo deste tópico, o(a) aluno (a) poderá:


- Conhecer os pontos que fundamentam estratégias de promoção da saúde;
- Compreender as estratégias de promoção da saúde;
- Relacionar estratégias de promoção de saúde e a psicologia.

Seções de Estudo

Seção de estudo 1 – Sobre estratégias de promoção da saúde;


Seção de estudo 2 – Algumas direções para a promoção da saúde: estilo de vida,
ambiente e direitos humanos.
Seção de estudo 3 –Promoção da saúde e psicologia: bem-estar, psicoeducação e
aconselhamento.

Seção de estudo 1 – Sobre estratégias de promoção da


saúde

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Em relação a como organizar as ações de promoção da saúde, as estratégias têm-


se, em planos gerais, algumas pontuações importantes. A promoção de saúde, dentro da
política de atenção primária, tem relação com a ideia de prevenção. Contudo, as ações de
promoção da saúde são voltadas para reforçar a saúde, aumentar a saúde e o bem-estar
gerais, diferentemente da prevenção de doenças, que se pauta em ações específicas,
voltadas para a prevenção de doenças específicas (PEREIRA, OLIVEIRA, 2014).

Deste modo, a promoção de saúde adentra outros campos, como os da educação,


trabalho, recreação, vida urbana, pois pretende agir na vida quotidiana, a fim de produzir
qualidade de vida, de aumentar a saúde, e não de combater especificamente a uma doença.
As colocações de Sigerist, médico canadense, dão conta desse panorama:

Para Sigerist, promover a saúde significava garantir educação, cultura física,


lazer, boas condições de vida e de trabalho, a partir de esforços coordenados
entre políticos, setores sindicais e empresariais, educadores, médicos e a
população em geral. Sendo assim, as proposições do médico canadense já
traziam indicações da importância da intersetorialidade nas questões de saúde
(RABELLO, 2010 Apud PEREIRA, OLIVEIRA, 2014, p. 43).

Deste modo, refletindo-se sobre o homem biopsicossocial e a perspectiva


ecológica em psicologia, a visão de promoção de saúde está bastante ligada ao ambiente,
ao estilo de vida, às boas práticas cotidianas relacionadas à boa saúde; assim sendo, todo
o conjunto de pessoas e sociedade estaria empenhado em garantir bons hábitos e
comportamentos, valorizando desde o trabalho, os estudos, mas também, o lazer,
alimentação, sono de qualidade, os pilares de uma vida saudável. De acordo com estudo
realizado por Leavell e Clark, em 1976 e citado por Pereira; Oliveira (2014, p. 44),

As atividades a serem realizadas para promover a saúde incluiria a boa


nutrição, o atendimento às necessidades afetivas, a educação sexual, a
orientação pré-nupcial e parental, as boas condições de moradia, o trabalho e
o lazer, além de exames periódicos e educação para a saúde.

Deste modo, mais uma vez a promoção da saúde aparece atrelada à ideia de estilo
de vida: nutrição, ambiente (ambiente biológico/ ambiente social/ relações afetivas),
educação sexual, orientação para o matrimônio e parentalidade (ter filhos), moradia,
trabalho, lazer, manutenção da saúde com exames e educação. Sendo assim, a ideia de

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promover saúde perpassa a psicoeducação, temas que podem ser tratados num processo
psicoeducativo - relacionamentos, vida conjugal, educação sexual, reprodução, entre
outros, além destes, os temas básicos da inclusão social, também inclusos nos focos da
psicologia, tais como os direitos básicos – moradia, alimentação, etc., e direitos humanos.
Ou seja, toda a sociedade, todos os comportamentos humanos, modos de vida, ações de
trabalho, estudo, lazer, constituição de um grupo familiar estão englobados nas estratégias
de promoção de saúde.
Grosso modo, ao olhar para a questão do comportamento, algumas posições em
promoção da saúde se pautaram na questão individual, nos hábitos do indivíduo e seus
impactos sobre sua condição de saúde – observando fatores tais como, “fumo, obesidade,
promiscuidade sexual, abuso de substâncias psicoativas, entre outras” (BUSS, 2003 apud
PEREIRA; OLIVEIRA, 2014, p. 45). Todos estes fatores estão associados aos estudos
sobre a gênese saúde/doença, não devem ser considerados de forma isolada, mas em
conjunto aos fatores biológicos, sociais e psicológicos na determinação do processo
saúde/doença.
No Canadá, pesquisas sobre promoção de saúde mostraram a importância de se
investir no fator social, na criação de locais onde se priorizasse a promoção de saúde,

Estratégias foram propostas para mudanças no cenário da saúde canadense. Foi


discutida a implantação de uma rede de centros comunitários de saúde e
serviços sociais que considerasse a gravidade dos problemas de saúde, as
prioridades definidas pelas autoridades de saúde, a disponibilidade de soluções
efetivas com resultados mensuráveis, os custos e as iniciativas federais
centradas em promoção da saúde, regulação, pesquisa, eficiência da atenção à
saúde e estabelecimento de objetivos (PASCHE, HENNINGHTON, 2006
apud PEREIRA, OLIVEIRA, 2014, p. 45).

Buscava-se romper com a percepção de que a saúde depende exclusivamente de


cuidados médicos, em esquema curativo, e conscientizar a população de que outros
investimentos em saúde eram necessários, valorizando a promoção, de forma mais ampla,
com práticas que de fato realizem tal promoção. Os estudos no Canadá também
mostraram a importância e a relação entre saúde e estilo de vida (PEREIRA; OLIVEIRA,
2014).
A I Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, que ocorreu
em 1978, na cidade de Alma-Ata (Cazaquistão) é importante, pois se colocaram questões

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como os esforços para a APS (Atenção primária em saúde) onde se tem a promoção e
prevenção em saúde. Uma meta para a saúde de todos foi estabelecida, elencando-se oito
medidas:
[...] educação em saúde, promoção de boa nutrição, abastecimento adequado
de água potável e saneamento básico, prevenção de doenças endêmicas locais,
tratamento adequado de doenças e lesões comuns; fornecimento de
medicamentos essenciais, assistência materno-infantil, imunização contra as
principais enfermidades infecciosas e planejamento familiar (UNICEF/Brasil,
1979 PEREIRA, OLIVEIRA, 2014, p. 45).

Este olhar sobre a promoção da saúde influenciou múltiplas instituições e


propostas de atenção em diversos sistemas de saúde. Esses pontos levantados estão
entrelaçados formando uma atenção ao estilo de vida – as tomadas de decisão, por
exemplo, quanto ao planejamento familiar, e visa à manutenção de uma vida com ações
exequíveis e ao alcance das pessoas por meio de processos educativos e promotores de
maior qualidade de vida.
Também no Canadá, em 1981, a Primeira Conferência Nacional de Saúde exclui
o foco da questão dos estilos de vida, que atribui maior responsabilidade ao sujeito, e
volta-se para os fatores sociais e ambientais (PEREIRA, OLIVEIRA, 2014). A carta de
Otawa, por sua vez, considerou como “pré-requisitos para a saúde a paz, habitação,
educação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos sustentáveis, justiça social e
equidade" (PEREIRA, OLIVEIRA, 2014, p. 51).
A Carta de Otawa mencionou campos de ação/estratégias da promoção de saúde,
destacando cinco: o estabelecimento de políticas públicas favoráveis à saúde, a criação
de ambientes propícios à saúde, o fortalecimento da ação comunitária, o desenvolvimento
de habilidades pessoais e a reorientação dos serviços sanitários (PEREIRA; OLIVEIRA,
2014).
O estabelecimento de políticas públicas favoráveis à saúde implica a priorização
da saúde pelos dirigentes políticos em todos os níveis e setores, implicam em legislações,
mudanças organizacionais, medidas fiscais, a equidade em saúde, políticas sociais,
distribuição equitativa de renda, ações que promovam mais possibilidade de melhor
qualidade de vida para todos (PEREIRA; OLIVEIRA, 2014).
A criação de ambientes propícios à saúde “Denota, sobretudo, que a saúde é
produzida socialmente em diferentes espaços e esses, por sua vez, são complexos, pois
mantém relações de interdependência entre pessoas e meio ambiente” (PEREIRA;
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OLIVEIRA, 2014, p. 52). Trata-se tanto do espaço físico quanto do espaço social, nas
relações estabelecidas entre pessoas, que podem ser salutares ou não.
O fortalecimento da ação comunitária visa fortalecer o direito à participação das
comunidades. “[...] têm como objetivo fortalecer em direitos e em participação, grupos,
pessoas ou populações sujeitos a discriminação e exclusão, fiscalizar os poderes estatais
e os grandes interesses econômicos e lutar contra a opressão” (PEREIRA; OLIVEIRA,
2014, p. 52). Porém, esse fortalecimento depende da educação das pessoas para que
possam conhecer os mecanismos e pleitear suas demandas e direitos perante a sociedade,
viabilizando ações efetivas, depende do processo de aquisição de conhecimentos e de
poder político pelos indivíduos e pela comunidade (PEREIRA; OLIVEIRA, 2014).
O desenvolvimento de habilidades pessoais também depende do processo de
aquisição de conhecimentos e de poder político para os indivíduos e a comunidade, eles
devem ser educados para isso, preparados para defender seus pleitos. “Para tanto, é
imprescindível a divulgação de informações sobre a educação para a saúde, o que deve
ocorrer no lar, na escola, no trabalho e em muitos outros espaços coletivos” (PEREIRA;
OLIVEIRA, 2014, p. 53).
A reorientação dos serviços sanitários pauta-se em educar para a compreensão de
que a saúde não depende apenas de atenção médica e curativa, mas de diversos outros
elementos do cotidiano das pessoas.

A Carta de Ottawa contribuiu para o desenho de políticas públicas


comprometidas com os direitos universais, o desenvolvimento sustentável e a
redução das desigualdades sociais em saúde, tendo se tornado referência para
a realização das demais sete Conferências Internacionais de Promoção à Saúde
promovida pela OMS: Adelaide, 1988; Sundswall, 1991; Bogotá, 1992;
Jacarta, 1997; México, 2000; Bangkok, 2005 e Nairóbi em 2009 (PEREIRA,
OLIVEIRA, 2014, p. 51).

Como se pode observar, as estratégias propostas estão em consonância com a


Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH, 1848). A DUDH nos diz que os
direitos básicos e inalienáveis da pessoa humana constituem o fundamento da liberdade,
da justiça e da paz no mundo (DUDH, 1948). E ainda, a Constituição Federal de 1988
traz em sua essência os direitos básicos da dignidade humana (BRASIL. Constituição,
1988). Grosso modo, a promoção da saúde está bastante atrelada às ideias centrais
contidas na DUDH.

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Seção de estudo 2 – Algumas direções para a promoção


da saúde: estilo de vida, ambiente e direitos humanos.

Boa parte dos estudos produzidos no Brasil sobre promoção da saúde, atualmente
se dividem em duas linhas principais. A primeira enfatiza estilos de vida saudáveis, mais
voltada aos comportamentos individuais. Esta visão está bastante associada à visão das
capacidades físico-funcionais e ao bem-estar físico, deste modo sendo mais
individualista. Neste modelo, as estratégias são direcionadas para as mudanças de
comportamento do indivíduo e do grupo (ÁVILA, 2014).

Neste sentido, a CF/88:“A Constituição Federal de 1988 inaugura um desenho

amplificado de proteção social, com o reconhecimento legal de uma gama de direitos

sociais, dentre eles, o esporte e o lazer” (SANTOS, 2014 apud OLIVEIRA; COSTA,

2021, p. 23), sobre os direitos ditos sociais, eles tem relação estreita com o estilo de vida,
logo, com o bem-estar e qualidade de vida, um dos pilares da promoção da saúde.
A segunda linha olha para os determinantes sociais da saúde:
“[...] fatores socioeconômicos, culturais, políticos, ambientais que demandam
intervenções na esfera política, na promoção de espaços saudáveis, no empoderamento
das populações e comunidades, bem como na reorientação dos serviços de saúde”
(ÁVILA, 2014, p. 205). Para esta visão, é necessário que haja diálogo e olhar crítico por
diversos profissionais e áreas de conhecimento, setores governamentais, que haja ampla
participação no debate, proposição e execução de soluções para problemas considerados
no bojo da questão social” (ÁVILA, 2014).

É importante destacar que muitas vezes a figura do profissional de psicologia


é requisitada nos serviços de saúde pública para possibilitar intervenções sobre
aspectos psicológicos que geram fatores de risco à saúde da população, visando
alcançar mudanças comportamentais nos indivíduos que possibilitem melhor
qualidade de vida e controle sobre sua saúde (GORAYEB; BORGES;
OLIVEIRA, 2012 apud ÁVILA, 2014, p.206)

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O papel do psicólogo então tem um fator de educação, de psicoeducação, existe o


receio de confundir as áreas de conhecimento, ao que parece, os atendimentos da
modalidade de aconselhamento e atividades em grupo devem ser valorizadas na
promoção da saúde, em que se podem utilizar das ferramentas da psicologia social:
conscientização, reflexões, decisões que abarquem o público atendido e suas demandas.
O estudo de Ávila (2014) elencou alguns pontos onde a promoção da saúde: a
educação em saúde e a atenção ao bem-estar no ambiente do trabalho. A educação tem se
mostrado como campo de ação fundamental, o próprio espaço das escolas poderia ser
centro de atenção para esta prática; a escola é um espaço de vida comunitária, onde seria
possível atuar territorialmente, incentivando e produzindo práticas saudáveis.
Além do espaço escolar propriamente, outras estratégias identificadas apontam
para as práticas de educação em saúde a partir de grupos populacionais específicos, a
exemplo dos grupos de famílias, em encontros:

Nesses encontros propõe-se a realização de oficinas que


discutam questões sexuais e de gênero, melhorias no atendimento domiciliar
às crianças e adolescentes em situações de risco ou que tenham sofrido
violência doméstica e abuso sexual, além de atividades de fomento à
alimentação saudável em escolas da rede pública de ensino (SILVA; SENA;
BELGA; FRANCO; RODRIGUES, 2014 apud [AVILA 2014, p. 207).

Outra prática apontada nos estudos levantados por Avila (2014) diz respeito à
utilização de saberes, da produção deles para a transformação em situações de trabalho,
neste caso, voltados ao bem-estar no ambiente laboral. “Esta proposta está embasada na
perspectiva da Ergologia desenvolvida por Yves Schwartz, na França, que preconiza a
atividade como matriz da história humana” (ÁVILA, 2014, p. 207).
No Brasil, a Política Nacional de Promoção de Saúde (PNPS) enfatiza aspectos
como “modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer,
cultura, acesso a bens e serviços essenciais” (PEREIRA, OLIVEIRA, 2014, p. 59).

Seção de estudo 3 –Promoção da saúde e psicologia:


bem-estar, psicoeducação e aconselhamento.

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Como vimos, a promoção da saúde está implicada, na profissão do psicólogo, em


relação ao bem-estar e qualidade de vida, observação de fatores sociais e ambientais, em
ações de psicoeducação e produção de reflexões individuais e em grupos.
Conforme o Código de Ética do Profissional Psicólogo, nos Princípios
Fundamentais tem-se:

I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade,


da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos
valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das
pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas
de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão
(CEPP, 2005, P. 07).

E quanto ao que é vedado ao profissional psicólogo:

a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem


negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão;
b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas,
de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de
suas funções profissionais; (CEPP, 2005, P. 07).

Em psicologia social, a promoção de saúde está bastante relacionada aos


determinantes sociais em saúde, ainda que não ignore os aspectos biológicos e
individuais. Deste modo, é interessante trazer o conceito de bem-estar social. Como foi
visto, o bem-estar pode ser entendido como uma medida subjetiva de qualidade de vida.
Bem-estar é um tema que precisa ser discutido dentro do tema da promoção. Bem-
estar tem relação com as condições gerais de vida e saúde, que por sua vez, dependem de
“graças aos progressos políticos, econômicos, sociais e ambientais, assim como aos
avanços na saúde pública e na medicina” (BUSS, 2000, p. 164) .
Nas pesquisas sobre bem-estar, são levantados dados como a perspectiva de vida,
sobre isto, o estudo de BUSS (2000) traz os seguintes dados: Na América Latina a
expectativa de vida cresceu de 50 anos, depois da II Guerra Mundial, para 67 anos, em
1990, e para 69 anos, em 1995. Ou seja: as pessoas estão vivendo mais tempo, desse
modo, é relevante refletir sobre como vivem. Do mesmo modo, é importante lembrar que
as desigualdades sociais continuam existindo, e que há uma parte da população mundial
em situação de vulnerabilidade extrema, de onde se pode aferir que com menores

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condições de bem-estar. A pobreza, as condições de vida e trabalho, nutrição


inapropriada, falta de acesso aos serviços de saúde tornam a questão do bem-estar também
inadequada, neste sentido, não há como avançar a discussão sem pensar a questão social,
do coletivo, e o plano político e econômico, trata-se, afinal, da saúde pública (BUSS,
2000).
[...] ao examinar as condições de morbi-mortalidade prevalentes, verifica-se
em alguns setores, a permanência de problemas que já estão resolvidos em
muitos lugares e para diversas populações (como é o caso de certas doenças
infecto-parasitárias e condições ligadas à infraestrutura urbana básica, por
exemplo); o crescimento de outros problemas (as doenças crônicas não-
infecciosas, tais como o câncer e as doenças cardio e cerebrovasculares); e o
aparecimento de novos problemas (como a AIDS) e de questões antes não
identificadas ou consideradas importantes (como o uso de drogas e a violência,
ao lado dos fatores comportamentais) ou, sequer, questões de saúde (o estresse,
por exemplo) (BUSS, 2000, P. 164).

O que se vê mais comumente como prática é tratar esses temas dentro de uma
perspectiva curativa e individual, enquanto que a promoção de saúde, dentro de uma visão
preventiva, não é realizada com o afinco que merece. Os avanços identificados em bem-
estar e saúde, em grande parte, devem-se a promoção e prevenção, as vacinas, por
exemplo, que diminuíram ou erradicaram doenças, significando um avanço importante e
crucial à saúde. Outro exemplo trata das discussões públicas sobre saúde e alimentação,
que regulam a indústria, visando contribuir para a promoção de melhor qualidade de vida,
e contribuir para a prevenção, por exemplo, de doenças como a hipertensão arterial e o
diabetes.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), o
consumo de alimentos industrializados no País é responsável por 23,8% do
consumo de sódio, estima- se que essa participação aumente para 60% nos
próximos anos. Devido aos riscos do alto consumo de sódio, o Ministério da
Saúde desenvolveu o Plano Nacional da Redução do Sódio em Alimentos
Processados, objetivando o consumo indicado pela OMS. Para isso, entre 2017
e 2020 as reduções nos alimentos industrializados chegariam a 50% (PAES;
RAVAZI, 2018, p. 379).

A articulação entre saúde e bem-estar está fortemente ancorada na chamada


medicina social e na saúde pública, a promoção da saúde aparece como campo conceitual
e da prática, onde se buscam, em sociedade, ações efetivas para contribuir para a saúde
coletiva. Dentro da psicologia trata-se de bem-estar subjetivo:

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O bem-estar subjetivo é uma área da psicologia que tem crescido muito


ultimamente, cobrindo estudos que têm utilizado as mais diversas nomeações,
tais como: felicidade, satisfação, estado de espírito e afeto positivo. De forma
ampla, pode-se dizer que o tema foca como as pessoas avaliam suas vidas
(Diener, 1996). Mais especificamente, este construto diz respeito a como e por
que as pessoas experienciam suas vidas positivamente. Também é considerada
a avaliação subjetiva da qualidade de vida (GIACOMONI, 2004, p. 43).

Como bem-estar de forma geral, é interessante observar esses fatores, sociais,


econômicos e psicológicos, é importante salientar que a dificuldade em mensurar o bem-
estar, que pode ser influenciado por idade, gênero, nível socioeconômico e cultura
(GIACOMONI, 2004, PAES, RAVAZI, 2018). Ou seja, o que é bem-estar para um
indivíduo ou grupo pode não ser para outro, deste modo, a subjetividade é um importante
aspecto.
Deste modo, além da já citada subjetividade, o fator presença de fatores positivos
também pode ser objeto da psicologia, abordagens como a Terapia Cognitivo
Comportamental (TCC) utilizam análises de prós e contras, o enfoque da Psicologia
Positiva estuda a importância de se produzir emoções positivas, entre outros tópicos,
como as chamadas instituições positivas (família, escola, etc), além disso, se propõe um
olhar mais amplo, não apenas sobre um aspecto da vida, mas sobre vários, buscando
abarcar a complexidade do ser humano.
Deste modo, como foi colocado, o bem-estar pode ser entendido como avaliação
subjetiva da qualidade de vida, e como foi dito, tais definições são bastante complexas,
já que bem-estar e qualidade de vida são influenciados por idade, gênero, fator
socioeconômico, além da questão da cultura. É válido salientar que o bem-estar pode ser
objeto de reflexão para a psicologia social, com o bem-estar social, e a produção coletiva
do processo saúde-doença. O bem-estar pode ser discutido coletivamente, ações
promotoras de bem-estar também podem ser realizadas coletivamente, como parte do
trabalho do psicólogo social, a partir de reflexões e engajamento do grupo, sempre
incluindo a participação dos envolvidos.
Outro ponto importante de ser levantado é em relação à psicoeducação e o
aconselhamento, que podem ser empregados em orientações psicológicas relativas à
promoção da saúde. “A psicoeducação reflete uma mudança de paradigma para uma
abordagem mais holística e baseada em competências, que enfatiza a saúde, a

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colaboração, o enfrentamento e o enpoderamento” (DIXON, 1999, MARSH, 1992 apud


CARVALHO; MALAGRIS; RANGÉ, 2019, p. 19).
A psicoeducação ajuda com que as pessoas aprendam a resolver problemas, a
formar um repertório de estratégias que possam aplicar em diversas situações, e
principalmente, ensina que as pessoas reflitam sobre as questões, individualmente ou em
grupo (KNAPP, 2004; CARVALHO; MALAGRIS; RANGÉ, 2019). Quanto ao
aconselhamento, “[...] é o processo de desenvolvimento de um quadro claro sobre o
cliente e da utilização desse quadro para a decisão de como ajudar esse cliente”
(PATTERSON; EISENBERG, 1988, p. 125).
Numa perspectiva de trabalho de atendimento, a psicoeducação e o
aconselhamento podem provocar reflexão e buscar soluções para questões relativas a
relacionamentos, vida conjugal, educação sexual, reprodução, entre outros, além destes,
os temas básicos da inclusão social, também no foco da psicologia, tais como os direitos
básicos – moradia, alimentação, etc., direitos humanos, ambiente de trabalho e relações,
entre outros, todos campos para as políticas de promoção de saúde. Numa perspectiva
coletiva, na questão da produção social do processo saúde-doença, a psicologia pode atuar
com palestras, oficinas, provocando reflexões em diversos ambientes tais como escolas,
empresas, grupo familiares, como foi colocado, sempre com foco em promover hábitos e
comportamentos que produzam bem-estar, que criem ambientes de saúde.
Também é importante, para o trabalho em Promoção da saúde no Brasil, conhecer
as propostas do Sistema Único de Saúde e a PNPS (Política Nacional de Promoção da
Saúde).

ATENÇÃO
!

Retomando a aula
Chegamos, assim, ao final da aula 4. Vamos agora retomar os conteúdos?

SEÇÃO 1 – SOBRE ESTRATÉGIAS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE

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A Carta de Otawa mencionou campos de ação/estratégias da promoção de saúde,


destacando cinco: o estabelecimento de políticas públicas favoráveis à saúde, a criação
de ambientes propícios à saúde, o fortalecimento da ação comunitária, o desenvolvimento
de habilidades pessoais e a reorientação dos serviços sanitários. A promoção de saúde
visa influenciar no estilo de vida, se volta para a geração de saúde, de ambientes de saúde
e hábitos salutares gerais, diferente da prevenção de doenças, que atua diretamente sobre
uma patologia específica.

SEÇÃO 2 - ALGUMAS DIREÇÕES PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE: ESTILO


DE VIDA, AMBIENTE E DIREITOS HUMANOS
Boa parte dos estudos produzidos no Brasil sobre promoção da saúde, atualmente
se dividem em duas linhas principais. A primeira enfatiza estilos de vida saudáveis, mais
voltada aos comportamentos individuais. A segunda linha olha para os determinantes
sociais da saúde: fatores socioeconômicos, culturais, políticos, ambientais que demandam
intervenções na esfera política, na promoção de espaços saudáveis, no empoderamento
das populações e comunidades, bem como na reorientação dos serviços de saúde. São
campos reconhecidos em que se pode agir para a promoção de saúde: a educação em
saúde (no ambiente escolar), a educação em saúde em grupos específicos (familiares) e
no ambiente organizacional, entre outros.

SEÇÃO 3 – PROMOÇÃO DA SAÚDE E PSICOLOGIA: BEM-ESTAR,


PSICOEDUCAÇÃO E ACONSELHAMENTO
A articulação entre saúde e bem-estar está fortemente ancorada na chamada
medicina social e na saúde pública, a promoção da saúde aparece como campo conceitual
e da prática, onde se buscam, em sociedade, ações efetivas para contribuir para a saúde
coletiva. O bem-estar pode ser discutido coletivamente, ações promotoras de bem-estar
também podem ser realizadas coletivamente, como parte do trabalho do psicólogo social,
a partir de reflexões e engajamento do grupo, sempre incluindo a participação dos
envolvidos. A psicoeducação e o aconselhamento podem ser empregados em orientações
psicológicas relativas à promoção da saúde.

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Leituras:

Baixe e leia: PNPS (Política Nacional de Promoção da Saúde). Brasília: DF, 2018.
Disponível em: <
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao_saude.pdf>.
Acesso em 01/11/22.

Baixe e leia (Cartilha): MINISTÉRIO DA SAÚDE, BRASÍLIA, 2012. Glossário


promoção da saúde. Disponível em: <
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/glossario_promocao_saude_1ed.pdf>
Acesso em 01/11/22.

Sites:

MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE ATENÇÃO PRIMÁRIA à SAÚDE.


Promoção da Saúde e da Alimentação Adequada e Saudável
https://aps.saude.gov.br/ape/promocaosaude

ORGANIZAÇÃO PAN AMERICANA DA SAÚDE (PAHO). Estratégias de


promoção da saúde e prevenção primária para enfrentamento das doenças
crônicas: revisão sistemática. < https://iris.paho.org/handle/10665.2/8844?locale-
attribute=pt>
https://scielosp.org/article/rpsp/2013.v34n5/343-350/

CRPPR. Promover a saúde mental todos os dias. Disponível em: <


https://crppr.org.br/saudementaltodososdias/>

Filmes sugeridos:

Vida em família (1971). Direção de Ken Loach. Drama. Duração: 1h50min.


Ilha das Flores. (1989). Direção de Jorge Furtado, Casa de Cinema de Porto Alegre.
Filme documentário. 13min26s.

Agora ou nunca (2002). Direção de Mike Leigh. Drama/Independente. Duração:


2h08min.
Padman (2018). Direção: R. Balki. Comédia dramática. Duração: 2h20min.

Referências

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ÁVILA, Lidiane Mara. A produção do conhecimento sobre estratégias de promoção da


saúde. ECOS | 2014, Volume 4| Número 2, p. 201-212. Disponível em: <
http://www.periodicoshumanas.uff.br/ecos/article/view/1373>. Acesso em 20/11/22.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

BUSS, Paulo Marchiori. Promoção da saúde e qualidade de vida (2000). Ciência &
Saúde Coletiva, 2000, 5(1): p. 163-177. Disponível em: <
https://www.scielo.br/j/csc/a/HN778RhPf7JNSQGxWMjdMxB/?format=pdf&lang=pt>
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MINHAS ANOTAÇÕES

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