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Universidade Federal de São Paulo

Escola Paulista de Medicina


Fonoaudiologia

AÇÕES DE PROMOÇÃO E PROTEÇÃO À SAÚDE


RELACIONADAS AO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO

Profa. Dra. Flávia Ferlin


Promoção da saúde define-se, tradicionalmente, de maneira bem
mais ampla que prevenção, pois refere-se a medidas que "não se
dirigem a uma determinada doença ou desordem, mas servem para
aumentar a saúde e o bem estar geral"

((Leavell & Clarck, 1976: 19)


Ações de promoção em saúde é o “processo de capacitação
da comunidade para atuar na melhoria da qualidade de vida
e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste
processo”

(Carta de Otawa, 1986)


O conceito de promoção de saúde pode ser modificado e ampliado no decorrer
do tempo pelas Conferências Internacionais de saúde e vinculados às
condições socioeconômicas e culturais de seu momento histórico.

Este conceito enfatiza a saúde em vez da doença e inclui a participação da


população, no papel de protagonista para o enfrentamento dos problemas e
propõe alternativas de fomentar a saúde com estratégias democráticas e
participativas.
Entre as principais condições e recursos para alcançar saúde,
está a busca pela equidade que envolve ação coordenada do
governo, setor saúde, setores sociais e econômicos, organizações
voluntárias, não governamentais, autoridades locais, indústria,
mídia, dentro outros. Deixa de atribuir aos cidadãos a
responsabilidade pela sua saúde, pois a promoção de saúde só é
alcançada com esforço de todos.
EQUIDADE

SETOR ECONÔMICO
GOVERNO

SETOR DE SAÚDE
ORGANIZAÇÕES VOLUNTÁRIAS

SETOR SOCIAL AUTORIDADES LOCAIS

INDÚSTRIA MÍDIA
Existem cinco campos de ação para realizar a promoção de
saúde: elaborando e implementando políticas públicas,
criando um ambiente favorável à saúde, reforçando a ação
comunitária, desenvolvendo habilidades pessoais e coletivas
e reorientando sistemas de serviços de saúde.
Políticas Ação Reorientação
públicas comunitária

Ambiente Habilidades
A criação do Sistema
Único de Saúde (SUS)
foi a estratégia para
concretizar ações de
valorização e proteção
da vida. Para concretizar
os princípios do SUS foi
necessário reorganizar
os serviços, incorporar
outros profissionais e
mudar o modelo de
atenção.
Universalidade (acesso
para todos os cidadãos);

Integralidade (modelo
de atenção integral à
saúde de prevenção,
diagnóstico e
tratamento);

Equidade (reconhecer a
desigualdade entre as
pessoas e os grupos
sociais)
Neste contexto, surgiu entre os profissionais da saúde os
fonoaudiólogos. Nas ações de promoção e proteção à saúde, os
fonoaudiólogos têm a oportunidade de repensar suas práticas no
sentido de torná-las transformadoras e condizentes com
pressupostos do SUS e com os princípios da promoção de
saúde, além de contribuir para a construção de um novo modelo
de atenção e de práticas de alcance coletivo.
A participação do fonoaudiólogo nas políticas e práticas de
promoção da saúde compreende todas as áreas de atuação
da fonoaudiologia sendo audição, voz, linguagem e educação
e sistema estomatognático. Entretanto, nesta redação o
enfoque será quanto à atuação fonoaudiológica nas ações de
promoção e proteção à saúde relacionadas ao sistema
estomatognático.
Também é muito importante, abordar com as mães
após este período, nas unidades básicas de saúde
(UBS), sobre o oferecimento de alimentos de
consistências variadas (líquido, pastoso e sólido), e
principalmente de sabores variados (doce, salgado,
azedo e amargo), ao bebê, pois tal diversidade
aguçará o paladar e contribuirá para o
desenvolvimento harmônico do sistema sensório
motor oral. No futuro isso contribuirá para que a
criança adote uma alimentação variada e saudável.
Além disso, atualmente, há casos graves de recusa
alimentar, onde a criança não tolera alimentos de
determinadas texturas, cores, cheiros ou sabores.
Orientar estratégias e quando procurar avaliação de
um profissional para estes casos também é
fundamental para garantir a promoção de saúde
nestas crianças.
A atuação fonoaudiológica junto à Rede
Cegonha com apoio à gestante e o manejo
da amamentação junto as puérperas em
maternidades, a importância de manter o
aleitamento de forma complementar entre os
6 meses a 2 anos de vida, são ações de
promoção à saúde, pois protegem a vida do
recém-nascido e da mãe, garantindo
alimentação sadia, criação de vínculos,
estimulação dos órgãos fonoarticulatórios
para uma respiração, mastigação, deglutição
e fala com desenvolvimento adequado e o
desenvolvimento infantil.
H Além da alimentação, outro tema que preocupa os fonoaudiólogos e
outros profissionais da saúde, são os hábitos orais deletérios,
Á especialmente o uso de chupeta e suas consequências na qualidade de
vida. O uso de chupeta acarreta efeitos negativos nas estruturas e funções
B do sistema estomatognático, influenciando na posição inadequada da
I língua e dos dentes, estimulando sucção não nutritiva, prejudicando a
respiração nasal, deglutição adaptada, mastigação ineficiente pela
T hipotonia muscular dos músculos elevadores da mandíbula e fala com
alterações fonéticas, na maioria dos casos, do tipo interdentalização dos
O fones. Os profissionais buscam detectar estas alterações por meio de
triagens e questionários em escolas de educação infantil e creches e junto
S aos familiares. O profissional pode intervir por meio de ações educativas
junto às mães em grupo e em equipe multiprofissional.
H
Á
B
I
T
O
S
Atuar na perspectiva de promoção à saúde, para
evitar ou diminuir o uso de chupeta e prevenir
alterações nas funções estomatognáticas, é
necessário entre outras ações: respeitar e tornar
realidade a Norma Brasileira de Comercialização
de Alimentos, Bicos, Chupeta e Mamadeira de
2002 (conjunto de normas que regula a
promoção comercial e a rotulagem de alimentos
e produtos destinados a recém-nascidos e
crianças de até 3 anos de idade, como leites,
papinhas, chupetas e mamadeiras. O seu
objetivo é assegurar o uso apropriado desses
produtos de forma que não haja interferência na
prática do aleitamento materno)
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2002/res0221_05_08_2002.html
• Apoiar e concretizar políticas públicas que
promovem o aleitamento materno e previne o
uso de chupeta;

• Realizar grupos educativos com mães e


crianças que promovam a retirada do hábito.

• Da mesma maneira promover saúde na


senescência, identificando, minimizando ou
eliminando alterações do sistema
estomatognático como as disfagias,
dificuldades com uso de próteses dentárias
e/ou dificuldades na mastigação.
O fonoaudiólogo deve atuar conectado às dinâmicas de transformação social,
comprometido politicamente com a saúde e com a equidade. Constituem
alguns desafios para o fonoaudiólogo que atua no campo da Promoção da
Saúde:
Desafios para o fonoaudiólogo:

▪ Aprimorar os instrumentos de reconhecimento da realidade onde atua,


▪ Participar junto a outros profissionais da saúde da elaboração de programas
comunitários
▪ Investir na aproximação intersetorial e em parcerias
▪ Realizar visitas domiciliares,
▪ Desenvolver ações educativas nas instituições e na comunidade
▪ Realizar trabalhos de promoção da saúde específicos envolvendo os
aspectos da motricidade oral, para cada fase da vida
▪ Coparticipar do processo de Educação Continuada nas instituições
A Promoção de Saúde não visa, simplesmente, afastar a doença do
doente, mas sim sua eliminação, intervindo nos fatores causais,
determinantes e condicionantes mais básicos de toda ordem, que
estão em sua origem.
O fonoaudiólogo é imprescindível para a ampliação e
integração dos saberes e, independente da estratégia
utilizada na estruturação da prática sanitária.
Além da proposta tradicional de delimitar e tratar as
“doenças” em fonoaudiologia e propor estratégias de
proteção dos indivíduos e coletividade contra estas
doenças, no sentido de eliminá-las ou minimizá-las,
através de medidas preventivas, o fonoaudiólogo deverá
propor reformulações no comportamento dos indivíduos,
orientando-os para a produção da saúde da sua
comunicação.
As ações devem ser delineadas e planejadas de acordo com as
necessidades e realidades locais. Cabe assinalar que, mesmo na
clínica fonoaudiológica, o profissional está desenvolvendo ações
de promoção da saúde e não apenas o mero “tratamento da
patologia”, uma vez que o sucesso terapêutico e, na verdade, o
processo terapêutico em si relaciona- se à atenção integral ao
sujeito e à sua família.
O fonoaudiólogo pode intervir nos diferentes níveis de atenção à saúde desenvolvendo
diversas ações junto à comunidade, tais como:

• campanhas nacionais e locais,


• reuniões,
• assessorias,
• triagens,
• grupos educativos e terapêuticos (atendimento de breve duração, grupos de pais, grupos
de professores, grupos de funcionários, grupos com usuários e familiares de lista de
espera, grupos de gestantes, grupos de aleitamento, grupos de idosos, grupos de saúde
bucal, grupos multi ou interdisciplinares, grupos de diabéticos, atendimento clínico
individual ou em grupo)
• oficinas fonoaudiológicas,
• ações informativas (divulgação de folders e cartazes, entrevistas na mídia, palestras)

voltadas tanto para os próprios usuários como também aos prestadores de serviços de
equipamentos de saúde e de educação (UBS, escolas de ensino infantil e fundamental,
centros de convivência, instituições asilares, hospitais).
O papel do fonoaudiólogo na promoção da saúde, portanto, não
deve restringir-se a atuação específica de caráter técnico, ele deve
ampliar seu campo de conhecimento na área da saúde pública,
compreender os fundamentos do trabalho em equipe, tendo em
vista, a interdisciplinaridade; estar habilitado para a interlocução
com a população, instituições e órgãos da administração pública,
incorporando o universo político que o rodeia e buscando sua
inserção numa prática intersetorial.
A promoção da Saúde é um processo político e social, sendo um dos
seus objetivos desenvolver uma consciência crítica e reflexiva por
meio de ações educativas para capacitar a população, levando cada
indivíduo a alcançar uma autonomia com relação a sua saúde, e
assim, propor mudanças nos seus hábitos, na sua família e no meio
em que vive, contribuindo para uma melhor qualidade de vida

(OMS, 1986)
É essencial orientar as pessoas ao longo da vida, a fim de que estejam
preparadas para todas as suas etapas e possam enfrentar as doenças.
Essa orientação deve ser realizada na escola, no lar, no trabalho e na
comunidade. É necessário atuar através de organizações educativas,
profissionais, comerciais e voluntárias, bem como, dentro das próprias
instituições.

(OMS, 1986)
Isto pressupõe que o indivíduo tenha uma base sólida, num
ambiente que o apoie, e ofereça acesso à informação,
possibilidade de desenvolvimento de habilidades para a vida e
oportunidades para que faça uma escolha saudável. A
população não atingirá o seu completo potencial de saúde, sem
que seja capaz de controlar o que determina a sua saúde
Este panorama mostra a necessidade da elaboração e
desenvolvimento de campanhas globais que fortaleçam a
especialidade, fomentem a atenção transdisciplinar e,
principalmente, conscientizem a população sobre os
cuidados preventivos.
A atuação do fonoaudiólogo nas
políticas públicas da saúde
engloba práticas de cuidados
dirigidas as pessoas e grupos
sociais de risco ou em situação de AÇÕES DE
vulnerabilidade social, por meio de PROMOÇÃO E
ações de promoção, prevenção e PROTEÇÃO À SAÚDE
educação em saúde diretamente RELACIONADAS AO
relacionadas a melhora da
SISTEMA
ESTOMATOGNÁTICO
qualidade de vida e da saúde da
população
AÇÕES DE PROMOÇÃO E
PROTEÇÃO À SAÚDE
RELACIONADAS AO SISTEMA
ESTOMATOGNÁTICO
O Departamento de Motricidade Orofacial da SBFa, durante a Gestão de
2014/2016, instituiu duas datas comemorativas. A primeira, foi o dia 14 de
agosto como o “Dia de Atenção à Respiração Oral”. Dessa forma, no referido
dia, serão desenvolvidas em todo o território nacional, ações voltadas à
promoção e educação para a saúde, com foco na respiração, para toda a
comunidade.
A segunda data foi o dia 20 de junho como o “Dia
Nacional do Teste da Linguinha” em
comemoração à sanção da Lei nº 13.002, que
obriga a realização do Teste da Linguinha nos
recém-nascidos de todas as maternidades do
Brasil. O Protocolo de Avaliação do Frênulo
Lingual em Bebês possibilitou o estabelecimento
2014 sancionada a lei de critérios para diagnóstico das alterações do
nº13002 protocolo de frênulo lingual na área de Motricidade Orofacial.
avaliação do frênulo da
língua em bebes em
O teste permite realizar um diagnóstico e
todos os hospitais e intervenção precoce, contribuindo, assim, para o
maternidades do país sucesso da amamentação natural e,
posteriormente, da correta produção da fala.
No 27 de julho é celebrado o Dia Mundial de Conscientização e Combate ao
Câncer de Cabeça e Pescoço. A fim de disseminar a informação sobre o
tema e atingir o maior número possível de pessoas a Associação de Câncer
de Boca e Garganta - ACBG Brasil promove durante todo o mês de julho a
campanha “julho verde”, tendo o apoio da Sociedade Brasileira de
Fonoaudiologia (SBFa).
Dia 17 de fevereiro é comemorado o dia Mundial da MO, uma data que
podemos aproveitar para realizar projetos de promoção de saúde na área
De 1 a 7 de agosto é a semana Mundial
do aleitamento materno - Amamentar
para um planeta mais saudável. Apoio da
SBFa e demais áreas da saúde, como por
exemplo a enfermagem.
A promoção de saúde deve ser um objetivo
almejado por todos, garantindo saúde e
qualidade de vida à população.
Para realizar práticas norteadas pelos
pressupostos de promoção à saúde com
vistas a alcançar a equidade, torna-se
evidente que as ações dos fonoaudiólogos
e outros profissionais, não se resumem em
capacitar a população para cuidar da
Para realizar práticas norteadas pelos pressupostos de promoção à saúde
com vistas a alcançar a equidade, torna-se evidente que as ações dos
fonoaudiólogos e outros profissionais, não se resumem em capacitar a
população para cuidar da própria saúde, pois seria responsabilizar o cidadão
pela saúde ou doença, negando o contexto em que ele vive. É necessário o
esforço conjunto multiprofissional junto com os setores governamentais e a
sociedade.
Referências
1-Marchesan et al (organizadores). Tratado das especialidades em
fonoaudiologia. 1 ed. São Paulo, Guanabara Koogan, 2014.

2-www.portalms.saude.gov.br

3- Perilo TVC, et al. Amamentação. In: Motta AR, et al. (organizadores).


Mmotricidade orofacial: a atuação nos diferentes níveis de atenção à saúde.
Pulso, 2017

4-http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/carta_ottawa.pdf

5-http://www.sbfa.org.br/portal2017/noticias/12_campanha-nacional-da-
prevencao-ao-cancer-da-cabeca-e-pescoco

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