Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Solange Bertozi
2ª AULA
HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
Desde o Brasil Colônia a saúde é uma questão relevante. Um território novo, tropical,
cheio de desafios, da vegetação aos povos nativos, vírus e bactérias nunca antes contatados, uma
ciência médica ainda em construção. Das primeiras vacinas, das primeiras doenças
conhecidas como a varíola, cólera, a febre amarela, peste bubônica, febre tifoide,
sarampo, rubéola, escarlatina, tuberculose, malária, disenteria e gripe até as dificuldades
em ter profissionais de saúde, a criação dos primeiros institutos de pesquisa em saúde, a
pandemia de meningite nos anos 70, até os primeiros atos de corrupção, a história da
saúde pública no Brasil tem muito a nos elucidar da situação atual.
Objetivos da Aprendizagem
Seções de Estudo
Neste estudo optou-se por uma apresentação da obra História da Saúde Pública no
Brasil, de Cláudio Bertolli Filho, sendo esta uma das obras de nossa bibliografia principal.
Assim, nos tópicos serão apresentados aspectos históricos da saúde no Brasil da colônia
à atualidade.
Após a descoberta do Brasil, em 1500, no dito período Colonial, houve o que se
chama de paradigma sanitário. No século XVII, o Brasil colônia era chamado de inferno,
onde era difícil sobreviver. Aqui, de tudo se morria, doenças não conhecidas, que
ceifavam vidas. “Os conflitos com os indígenas, as dificuldades materiais da vida na
região e sobretudo as múltiplas e frequentes enfermidades eram os principais obstáculos
para o estabelecimento dos colonizadores” (BERTOLLI FILHO, 2008, p. 05).
O Conselho Ultramarino português foi o órgão responsável pela administração das
colônias, e criou ainda no século XVI os cargos de físico-mor e cirurgião-mor. As pessoas
nesses cargos deveriam zelar pela saúde da população que vivia no solo colonial. Porém,
e não distante da realidade atual nos Estados brasileiros mais ermos, não raro os médicos
não queriam vir para cá, e já havia a questão dos baixos salários, da vida insalubre e dos
riscos que enfrentariam (BERTOLLI FILHO, 2008). “Em 1746, em todo o território dos
atuais estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, havia
apenas seis médicos graduados em universidades europeias” (BERTOLLI FILHO, 2008,
p. 06). Havia quem se socorresse com os curandeiros negros ou indígenas, os boticários
(farmacêuticos) encareciam seus serviços e não poderiam atender a todos.
Já no século XIX, com a vinda da família real, instituíram-se as primeiras escolas
de medicina,
2
Promoção e prevenção da saúde mental nas instituições –
Solange Bertozi
modo, era esperado pensar a doença do ponto de vista biomédico, buscando curar os
sintomas apresentados de forma agressiva no corpo. Mais tarde foi implantada uma
Inspetoria de Saúde dos Portos (1828), pois se entendeu que pessoas vindas de outras
partes do mundo traziam enfermidades, assim, navios com pessoas doentes ficavam em
quarentena perto da Baía de Guanabara (atualmente Rio de janeiro) (BERTOLLI FILHO,
2008). Desde o início do século XIX havia uma vacina contra a varíola. “Criada em 1796
pelo médico inglês Edward Jenner, era produzida com o pus retirado de bovinos
infectados pelo vírus da varíola” (BERTOLLI FILHO, 2008, p. 09).
Todas as pessoas morando no Brasil Imperial precisavam ser vacinadas, as
vacinas, assim, representaram um grande avanço no nascer das reflexões sobre
adoecimento e sociedade. Os curandeiros negros atendiam as populações mais pobres,
que com eles se socorriam, pois para os pobres, internação significava morte certa, nos
hospitais as alas eram compartilhadas, as condições sanitárias faziam piorar o quadro dos
que ali se encontravam. Em 1886, o Imperador brasileiro foi elogiado por ter doado uma
expressiva quantia à França, para que lá fosse montado um sofisticado laboratório de
pesquisas das doenças tidas como males típicos das regiões tropicais (BERTOLLI
FILHO, 2008).
Do ponto de vista econômico, o Império precisava não perder mão-de-obra, sendo
assim, uma das perspectivas abordadas foi justamente a da saúde coletiva, ou seja, da
manutenção das vidas produtivas. Por volta de 1890, implantaram-se os serviços
sanitários estaduais, o Brasil continuava assolado pela varíola, febre amarela, cólera,
peste bubônica e febre tifóide, que mataram milhares de pessoas (BERTOLLI FILHO,
2008).
Daí adiante os médicos higienistas ascenderam a cargos públicos importantes,
3
Promoção e prevenção da saúde mental nas instituições –
Solange Bertozi
Esse aspecto relacionado aos chamados loucos interessa por estar diretamente
relacionada à questão da saúde mental e de como se trataram, durante séculos, os
diferentes, excluídos, isolados, embarcados para o desconhecido, lançados ao próprio
azar.
Para assegurar a eficiência das tarefas dos higienistas e dos fiscais sanitários,
o governo paulista organizou vários institutos de pesquisas, articulados à
estrutura do Serviço Sanitário. Em 1892 foram criados os laboratórios
acteriológico, Vacinogênico e de Análises Clínicas e Farmacêuticas.
Ampliados logo depois, transformaram-se, respectivamente nos institutos
Butantã, Biológico e Bacteriológico (este último mais tarde denominado
Instituto Adolfo Lutz) (BERTOLLI FILHO, 2008, p. 17).
Nos primeiros anos do Estado Novo, sob o governo de Getúlio Vargas, iniciou-se
uma política de educação em saúde, eram utilizados materiais educativos como cartazes,
elaborados pelo Ministério de Saúde e Educação e pelos serviços estaduais.
Principalmente se discutiam questões de higiene, mudando hábitos tradicionais anti-
higiênicos, que contribuíam para a disseminação de doenças, sobretudo as infecto-
contagiosas. Um dos temas já abordados era o alcoolismo, que influencia negativamente
na mão-de-obra. A preocupação principal seguia sendo a capacidade produtiva, que era
prejudicada pela população doente. É curioso citar ainda que o uso de cartazes educativos
alcançava menor população que o pretendido: outro inimigo poderoso era o analfabetismo
(BERTOLLI FILHO, 2008). Na Era Vargas diminuiu a incidência de doenças no Sul e
Sudeste do país, devido à política higienista, por outro lado,
5
Promoção e prevenção da saúde mental nas instituições –
Solange Bertozi
Brasil permanecia como um dos países mais enfermos do continente
(BERTOLLI FILHO, 2008, p. 37).
6
Promoção e prevenção da saúde mental nas instituições –
Solange Bertozi
Para trazer para o contexto brasileiro atual, vale ressaltar que a Constituição
Federal de 1988 (CF/88) considera a saúde direito de todos e dever do Estado, e incluiu
a maior parte das propostas das organizações populares e de especialistas na área da
saúde, apesar do lobby dos empresários que lucravam com a falência da saúde pública
(BERTOLLI FILHO, 2008).
Foram propostos o SUDS e o SUS, o primeiro enfrentou problemas sem o apoio
das empresas de saúde, e por propor uma gestão dos municípios, uma vez que a ideia era
integrar os serviços de saúde públicos e particulares.
7
Promoção e prevenção da saúde mental nas instituições –
Solange Bertozi
O princípio da igualdade de acesso defendido pelo SUS nos diz que todas as
pessoas devem ter acesso aos serviços de saúde de modo a atender efetivamente suas
necessidades na área. Outro conceito interessante de ser visto é o de equidade, ainda mais
num país onde as diferenças sociais são gritantes, as pessoas que tem acesso ao sistema
privado de saúde recebem atendimento bastante diferenciado dos que dependem do
sistema público, que apesar dos esforços da classe dos trabalhadores da saúde, ainda
carece de condições materiais, espaço físico, acesso a equipamentos e insumos, e ainda
assim, vem, a partir do SUS, realizando importantes cirurgias e atendimentos ao cidadão
carente. Ainda é necessário o engajamento e a participação da sociedade na busca da
equidade, de melhores condições de atendimento em saúde para todos.
A percepção da saúde como direito do cidadão deve ser orientada pela
participação das pessoas que carecem de atenção em saúde, é necessário reivindicar, os
segmentos menos favorecidos precisam reivindicar, pois se entende também, desde a
Constituição Federal, que é dever do Estado garantir de forma digna o acesso à saúde para
todos (COHN et al, 1991). Neste sentido, a psicologia social pode atuar provocando as
comunidades à reflexão e organização de seus pleitos.
ATENÇÃO
!
Retomando a aula
Chegamos, assim, ao final da aula 2. Vamos agora retomar os conteúdos?
8
Promoção e prevenção da saúde mental nas instituições –
Solange Bertozi
dificuldades em trazer profissionais de saúde, a colônia era vista como local insalubre e
perigoso. Do ponto de vista econômico, o Império precisava não perder mão-de-obra,
sendo assim, uma das perspectivas abordadas foi justamente a da saúde coletiva, ou seja,
da manutenção das vidas produtivas. No Império os médicos higienistas ascenderam a
cargos públicos importantes, iniciava-se a era da hospitalização compulsória das vítimas
das doenças contagiosas e dos doentes mentais.
9
Promoção e prevenção da saúde mental nas instituições –
Solange Bertozi
LEITURAS:
Saúde e Doença no Brasil Colonial: Práticas de cura e uso de plantas medicinais no
Tratado Erário Mineral de Luís Gomes Ferreira (1735). Trabalho de conclusão de curso
de ISAAC FACCHINI BADINELLI. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/131711/TCC%20COMPLETO%
20ISAAC%20FACCHINI%20BADINELLI.pdf?sequence=1
Artigo: Entrando na “Nau dos Loucos”, breve revisão da história da loucura e seus
desdobramentos. UniforMig-Centro Universitário de Formiga – MG. Conexão ciência
(Online) 6 (1), 84-95. RIBEIRO, Bruno Alvarenga e PINTO, Viviane Aparecida.
Disponível no material didático da disciplina.
SITES:
FUNASA: FUNDAÇÃO NACIONAL DA SAÚDE. <
http://www.funasa.gov.br/cronologia-historica-da-saude-publica>.
FILMES SUGERIDOS:
Hans Staden (1999). Direção: Luis Alberto Pereira. Aventura. Duração: 1h32min.
Desmundo (2002). Direção de Alain Fresnot. Drama. Duração: 1h41min.
Nise. O coração da Loucura (2015). Direção: Roberto Berliner. Docudrama. Duração:
1h46min.
Eu, Daniel Blake (2016). Direção: Ken Loach. Drama. Duração: 1h40min.
A história da saúde pública no Brasil: 500 anos na busca de soluções (2015).
Direção: Sylvia Jardim.Duração: 17 min. Disponível em:
<https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/16186>.
Referências
10
Promoção e prevenção da saúde mental nas instituições –
Solange Bertozi
BERTOLLI FILHO, Claudio. História da saúde pública no Brasil. 4. ed. São Paulo:
Ática, 2008.
COHN, Amélia et al. A saúde como direito e como serviço. 6. ed. São Paulo: Cortez,
2010.
MINHAS ANOTAÇÕES
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
11
Promoção e prevenção da saúde mental nas instituições –
Solange Bertozi
12