Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISSN: 1806-3365
editorial@saudecoletiva.com.br
Editorial Bolina
Brasil
Silveira Miranzi, Mário Alfredo; Chagas de Assis, Dnieber; Resende, Deisy Vivian de; Hemiko
Iwamoto, Helena
Compreendendo a história da saúde pública de 1870-1990
Saúde Coletiva, vol. 7, núm. 41, 2010, pp. 157-162
Editorial Bolina
São Paulo, Brasil
This work presents of the paradigmatic history and the deployment of public health in Brazil from the colonial period
until the year 1990.
Descriptors: Social medicine, Public health, History of health.
Este trabajo presenta la historia paradigmática y la instalación de la salud publica en Brasil desde el período colonial
hasta el año de 1990.
Descriptores: Medicina social, Salud pública, Historia de la salud.
Na era do Iluminismo e das Revoluções por vários pacientes10. Desta forma, a fase
(1750 a 1830), as cidades do século XVIII “A AGLOMERAÇÃO imperial da história brasileira se encerrou
eram sujas, fétidas e insalubres7. O sanea- sem que o Estado solucionasse os proble-
mento urbano era precário, as ruas estavam DESORDENADA, O mas de saúde da coletividade.
sujas, as águas de esgoto e refúgios domésti- AMBIENTE DE MORADIA, No final do século XVIII, como conse-
cos eram arremessadas pelas portas e janelas. quência do impacto do industrialismo na
Animais eram abatidos em locais públicos, li- A EDUCAÇÃO, O TRABALHO Inglaterra, começaram a emergir as epi-
xos e entulhos acumulavam-se sobre as ruas .
8
E O LAZER AFLORARAM demias entre os trabalhadores das novas
Na segunda metade do século XVIII, o fábricas. As consequências da revolução
modelo de saúde predominante foi o de
COMO CONSEQUÊNCIAS industrial afetaram diretamente a saúde
política médica aos problemas de saúde. AMBIENTAIS DE CONVIVÊNCIA e o bem-estar dos trabalhadores, que se
A aplicação deste modelo aos problemas encontravam cada vez mais em situação
de saúde foram amplamente utilizados pe-
FACILMENTE PERCEBIDAS caótica. Havia uma relação inversa entre
los estados germânicos. A sujeira foi vista NA FORMA DE POLUIÇÃO expansão industrial e melhoria das condi-
como principal fonte de infecção, desta AMBIENTAL, ATMOSFÉRICA, ções de vida e saúde, ou seja, enquanto
forma, acreditava-se que ambientes limpos ocorria o crescimento industrial, decres-
seria a maior fonte de prevenção9. HÍDRICA, DESMATAMENTOS cia a qualidade de vida e as condições de
A fragilidade das medidas sanitárias le- E ESTRATIFICAÇÃO DA saúde da população1.
vava a população a lutar por conta própria No início do século XIX, o movimento
contra as doenças. Em casos mais graves, SOCIEDADE” de reforma sanitária começou a se de-
os doentes ricos buscavam assistência mé- senvolver principalmente na Inglaterra,
dica na Europa ou nas clínicas particula- devido à ocorrência da Revolução Indus-
res. As famílias evitavam internar seus parentes em hospitais trial. O Estado começa a intervir na saúde, mas o intuito era
públicos, em virtude da falta de higiene e da divisão de leitos o de preservar a força de trabalho responsável pelo desen-
volvimento e crescimento do país 1.
O Industrialismo e o Movimento Sanitário (1830 a 1875): con- nado à Secretaria do Estado do Interior, e era composto de
cepções e conceitos durante a revolução pasteuriana, higiene um conselho de Saúde Pública, responsável pela emissão de
e saúde pública pareceres acerca da higiene e salubridade e de uma diretoria
No final do século XVIII e início do século XIX, a medicina de higiene, responsável pelo cumprimento das normas sani-
social é considerada herdeira do iluminismo instrumental, tárias. Era de competência da diretoria o estudo das questões
como a ciência que pode ser colocada em favor do estabeleci- de saúde pública, o saneamento das localidades e das habita-
mento da ordem social. A concepção de higiene que surge na ções e a adoção de meios para prevenir, combater e atenuar
França no final do século XVIII norteia a medicina socioam- as moléstias transmissíveis, endêmicas e epidêmicas.
biental e focaliza a doença enquanto patologia social. Em 1890, os laboratórios denominados de Farmácia do Es-
Com o advento da urbanização e industrialização, surge um tado iniciaram seu funcionamento com o objetivo de fornecer
cenário social baseado na ideia Maquiana, na qual o meio am- medicamentos e aviar receitas para as enfermarias das insti-
biente influenciava os seres vivos. A con- tuições públicas e ambulâncias que aten-
cepção vigente era influenciada pelo meio diam o interior nos surtos epidêmicos13.
ambiente da Europa e o surgimento de uma No ano de 1894, o primeiro Código Sani-
nova classe social: o proletariado. Tanto o tário do Estado de São Paulo foi promulgado,
ambiente social “moradia – saneamento”, “NO FINAL DO SÉCULO XVIII, com 520 artigos, reunindo as normas de hi-
como o cultural e o natural “clima, solo, at- COMO CONSEQUÊNCIA DO giene e saúde pública. Em épocas de epide-
mosfera” interessavam ao higienista que era mias, a presença do fiscal, do desinfetador
capaz de recolher e cruzar as variáveis am-
IMPACTO DO INDUSTRIALISMO e do inspetor sanitário tornava-se visível, e
bientais tentando esclarecer as causas das NA INGLATERRA, COMEÇARAM o exercício de política sanitária era rigoroso.
doenças coletivas. Entre 1890 e 1900, o Rio de Janeiro e as
A atuação médica, porém, enfrentaria
A EMERGIR AS EPIDEMIAS principais cidades brasileiras continuaram
o choque entre as ideias tradicionais, que ENTRE OS TRABALHADORES a sofrer por varíola, febre amarela, peste
atribuíam as epidemias aos ares corrom- DAS NOVAS FÁBRICAS. bubônica, febre tifóide e cólera, que ma-
pidos e as teorias da medicina moderna taram milhares de pessoas. Diante dessa
– baseadas no conceito da bacteriologia AS CONSEQUÊNCIAS DA situação, os médicos higienistas recebe-
e da fisiologia desenvolvidas na Europa REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ram incentivos do governo federal e pas-
e que tinham em Louis Pasteur e Clau- saram a ocupar cargos importantes na ad-
de Bernard seus principais divulgadores. AFETARAM DIRETAMENTE A ministração pública. Em troca, assumiram
No final da década de 1860 e início da SAÚDE E O BEM ESTAR DOS o compromisso de estabelecer estratégias
década de 1870, Pasteur cria a concep- para o saneamento das áreas indicadas
ção de que as doenças são contagiosas e TRABALHADORES, QUE SE pelos políticos.
causadas por germes 11. Além da revolu- ENCONTRAVAM CADA VEZ
ção pasteuriana, iniciava-se o campo da A República Velha (1889 – 1930)
medicina tropical, que estudava o meca-
MAIS EM SITUAÇÃO CAÓTICA” Na primeira década do século XX, apesar
nismo das doenças tropicais e introduzia da alta mortalidade, não existiam hospi-
o conceito de vetores. tais públicos, e sim entidades filantrópicas
No Brasil, teve início um campo de co- mantidas por contribuições e auxílios go-
nhecimento voltado para o estudo e prevenção das doenças vernamentais. Tais entidades eram mantidas com o trabalho vo-
e para o desenvolvimento de formas de atuação nos surtos luntário, e correspondiam a um depósito de doentes que eram
epidêmicos. isolados da sociedade com o objetivo de não contagiá-la14.
Até 1930, a indústria de medicamentos se limitava à mani-
O Brasil a partir de 1884: imigrantes para a lavoura pulação de substâncias naturais de origem animal ou vegetal.
Quando, em 1884, a Assembleia da Província de São Paulo As instituições de saúde pública eram classificadas em fun-
aprovou a concessão de passagens gratuitas aos imigrantes ção das concepções de origem das doenças, de modo que se
que se destinassem à agricultura, o Estado deparou-se com podia afirmar que o Serviço Geral de Desinfecção ligava-se
uma nova dimensão que fugia da tradicional política econô- à concepção miasmática e o Instituto Bacteriológico à con-
mica. Em 1886, foi criada a Sociedade Promotora de Imigra- cepção microbiana15.
ção (SPI), cujo objetivo era introduzir uma proporção elevada O Instituto Bacteriológico, em 1903, constituía a linha de
de imigrantes para a lavoura e em menor proporção para ou- frente do Serviço Sanitário e pesquisava como destruir os
tras profissões. Em janeiro de 1889, a febre amarela eclodiu mosquitos em águas paradas, realizando experiências com
em Santos. Em 1898, Vital Brasil debela uma epidemia de vapores de enxofre, fumaça em pó de pireto e emulsão de
difteria. Os imigrantes eram amontoados em hospedarias. En- creolina e querosene. A partir de 1904, o instituto começou
tretanto, para atrair imigrantes, era preciso sanear as cidades a sofrer com a falta de verbas. Embora houvesse um cresci-
especialmente a de Santos, o principal foco de epidemias12. mento concomitante da economia brasileira, este período foi
Com a proclamação da República, a federalização e a au- marcado pelas crises socioeconômica e sanitária, porque a
tonomia, as questões de saúde pública, passaram a fazer par- febre amarela, entre outras epidemias, ameaçava a economia
te das atribuições dos Estados. O Serviço Sanitário, criado agroexportadora brasileira e prejudicavam principalmente a
pela Lei número 43 de 18 de junho de 1892, ficou subordi-
exportação de café. Os navios estrangeiros se recusavam a este era visto como uma forma de interferência na privacidade
atracar nos portos brasileiros, o que reduzia a imigração de e individualidade, além de não propor mudanças estruturais
mão-de-obra. Para reverter à situação, o governo criou medi- na sociedade3.
das que garantissem a saúde da população trabalhadora atra- Ao mesmo tempo, surgia o paradigma da medicina clínica,
vés de campanhas sanitárias de caráter autoritário14. cujo discurso era individualista e privatista, exigindo outro
Em 1908, a Estrada de Ferro – a Noroeste, pediu auxílio ao espaço para se desenvolver: o hospital. Enquanto os currícu-
Instituto de Manguinhos para debelar a epidemia de malá- los privilegiavam a área preventiva, o mercado de trabalho
ria que dizimava os operários. Em 1916 e 1917, houve uma valorizava a área hospitalar para onde os profissionais de saú-
ocorrência de malária a ponto de desequilibrar o estado sani- de foram, paulatinamente, direcionados.
tário em São Paulo. O governo distribuiu quinino e assumiu a
responsabilidade de sanear fazendas, vilas e cidades atacadas A Saúde Pública na Era Vargas (1930 – 1945)
pela malária. A partir da década de 1930, o Estado recebe fortes pressões
A década de 1920 se encarregou de consolidar as mudan- por parte de intelectuais e militares para a criação de serviços
ças na economia, sociedade e cultura, com a criação do sis- em saúde pública, e, em 1931, é criado o Ministério de Edu-
tema de saúde pública. A diretoria geral de Saúde Pública, cação e Saúde Pública9. Considerado o marco da medicina
organizada pelo médico sanitarista Osvaldo Cruz, resolve o previdenciária no Brasil, é criado em 1930 os Institutos de
problema sanitário, implementando, progressivamente, insti- Aposentadoria e Pensões (IAPs), os quais, diferentemente das
tuições públicas de higiene e saúde16. antigas Caixas, são organizadas por categorias profissionais,
As campanhas de saúde pública eram organizadas de tal não mais por empresas.
forma que se assemelhavam a campanhas militares, dividindo Durante a era Vargas houve diminuição de mortes por en-
as cidades em distritos, encarcerando os doentes portadores fermidades epidêmicas, porém cresceram as doenças de mas-
de doenças contagiosas e obrigando, pela força, o emprego sa, estabelecendo-se assim um quadro marcado por doenças
de práticas sanitaristas. Esta situação levou à Revolta da Vaci- endêmicas, entre elas, a esquistossomose, doença de Chagas,
na, no Rio de Janeiro14. tuberculose e a hanseníase.
Nos anos 1920, a cidade explodia em termos econômi- Na década de 1940, o papel do profissional como educa-
cos e consolidava o desenvolvimento in- dor é retomado com a criação dos cen-
dustrial. No período de 1925 a 1929, a tros de saúde, nos quais a atenção era
tuberculose foi responsável por mais de organizada em programas, sendo que a
mil óbitos por ano, o que significa que o “A PARTIR DE 1904, O educação sanitária, a base da ação e o
número de óbitos por tuberculose dobrou poder coercitivo foram substituídos pela
em relação ao período de 1910-1924. A INSTITUTO COMEÇOU A persuasão. Assim, origina-se a tendência
maior incidência dessa moléstia ligava-se SOFRER COM A FALTA contemporânea da organização no cam-
às precárias condições de habitação da po da saúde sob a forma de programas de
população na cidade de São Paulo. DE VERBAS. EMBORA atenção individual, por exemplo os Pro-
Mehry10 se detém a analisar o período HOUVESSE UM CRESCIMENTO gramas de Atenção Integral à Saúde da
de 1920 a 1948 e procura fazer uma lei- Criança e da Mulher.
tura das políticas governamentais como CONCOMITANTE DA A ação do Estado no setor saúde se di-
modelos técnicos assistenciais que se ECONOMIA BRASILEIRA, vide claramente em dois ramos: de um
constituem em projetos de forças sociais; lado a saúde pública, de caráter preven-
procuram-se também os vínculos que es-
ESTE PERÍODO FOI MARCADO tivo e conduzido através de campanhas;
ses modelos estabelecem não só com as PELAS CRISES SOCIO- de outro, a assistência médica, de caráter
correntes tecnológicas de pensamento do curativo, conduzida através da ação da
campo das ações sanitárias, mas também
ECONÔMICA E SANITÁRIA, previdência social.
com as questões políticas mais amplas, PORQUE A FEBRE AMARELA,
colocadas em seu campo específico - are- ENTRE OUTRAS EPIDEMIAS, A crise do regime populista, a democrati-
na decisória particular - às quais definem zação e a saúde (1945 – 1964)
o significado social das referidas ações. AMEAÇAVA A ECONOMIA Em outubro de 1945, acontece a deposi-
Surge a necessidade da formação de AGROEXPORTADORA ção de Vargas e, no ano seguinte, a ela-
profissionais cujos currículos, segundo boração de uma Constituição democrática
Germano17 priorizassem as disciplinas vin- BRASILEIRA E PREJUDICAVAM, de inspiração liberal. Os movimentos so-
culadas à saúde pública. Entretanto, a in- PRINCIPALMENTE, A ciais exigiam que os governantes cumpris-
tenção inicial de formar profissionais que sem as promessas de melhorar as condi-
assumissem o papel de educadores em EXPORTAÇÃO DE CAFÉ” ções de vida, saúde e de trabalho.
saúde não se concretizou por uma série Desde que assumiu o governo, em
de fatores. Entre eles, destaca-se a forma 1946, o presidente Eurico Gaspar Dutra
como o profissional foi inserido na socie- estabeleceu como prioridade a organi-
dade brasileira, “de cima para baixo”, causando estranheza à zação racional dos serviços públicos. Em maio de 1953,
população e consequente rejeição do trabalho educativo, pois já no segundo período presidencial de Vargas, foi criado o
Ministério da Saúde, que contava com verbas irrisórias no
decorrer da década de 1950, confirmando o descaso das au- do país e de suas comunidades; compreende as áreas: de educa-
toridades com a saúde da população. ção e saúde, alimentação e nutrição, água potável e saneamento
Nos anos 1960, com o Milagre Brasileiro, o entendimento da básico, assistência materno-infantil, com inclusão da planificação
saúde como assistência médica especializada, sofisticada, frag- familiar; imunização, prevenção e luta contra enfermidades endê-
mentada e que privilegia a internação hospitalar, favorece as in- micas, o tratamento das enfermidades e traumatismos, e a dispo-
dústrias farmacêuticas e de equipamento médico-hospitalares. A nibilidade de medicamentos essenciais; inclui a participação no
centralização e a concentração do poder institucional aliou cam- desenvolvimento nacional e comunitário, em particular o agro-
panhismo e curativismo numa estratégia de medicalização social3. pecuário, a alimentação, a indústria, a educação, a habitação, as
Pressionada pelas leis, a Previdência assumiu a prestação obras públicas, as comunicações, organização, funcionamento e
de assistência médico-hospitalares aos trabalhadores à custa controle da atenção primária à saúde.
do rebaixamento da qualidade dos serviços o que coloca o Na verdade, o texto da Declaração de Alma-Ata18, ao am-
país em posição de doente. pliar a visão do cuidado da saúde em sua dimensão setorial e
O efeito do golpe militar (1964) sobre o Ministério da Saú- de envolvimento da população, supera o campo de ação dos
de foi à redução das verbas, aumentadas no início da década responsáveis pela atenção convencional dos serviços de saúde.
de1960, que continuaram decrescendo até o final da ditadura.
Apesar da pregação oficial de que a saúde constituía um fator A saúde nas décadas de 1980 e 1990
de produtividade, desenvolvimento e investimento econômi- As décadas de 1980 e 1990 caracterizam-se pela organização
co, o Ministério da Saúde privilegiava a de trabalhadores e entidades dos setores
saúde como elemento individual e não da saúde e educação. A VIII e IX Confe-
como fenômeno coletivo. rências Nacionais de Saúde propuseram
Em 1970, o resultado da falta de inves- “O SUS, QUE APRESENTA a adoção de modelos assistenciais condi-
timento no setor público foi o aumento de PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS zentes com a realidade socioeconômico-
enfermidades como a dengue, meningite cultural, com ações que visualizem a pes-
e a malária.
DE UNIVERSALIDADE, soa de forma integral, ultrapassa o modelo
INTEGRIDADE E ACESSO preventivo-curativo pelo enfoque holísti-
O Estado e a previdência social: década co e a participação da população na or-
de 1970
IGUALITÁRIO A TODOS OS ganização e gestão do sistema de saúde13.
Estabelece-se, na esfera pública, o Insti- NÍVEIS DE COMPLEXIDADE DO A estratégia de Atenção Primária (Alma-
tuto Nacional de Previdência Nacional SISTEMA, DEVERIA GARANTIR Ata) com o enfoque multissetorial, o envol-
(INPS) que deveria tratar dos doentes in- vimento comunitário e os componentes de
dividualmente, enquanto o Ministério da A QUALIDADE DA ATENÇÃO tecnologia apropriada reforçaram a promo-
Saúde elaborava e executava programas POR EQUIPES PROFISSIONAIS ção na direção da saúde ambiental. Com
sanitários destinados à população durante esta motivação, foi planejada a Primeira
as epidemias. O INPS firmou convênios QUALIFICADOS E COM Conferência Internacional sobre Promo-
com 2.300 dos 2.800 hospitais instalados CONDIÇÕES DE TRABALHO ção da Saúde, realizada em Ottawa, em
no Brasil, utilizando o setor privado para novembro de 1986, em colaboração com
atender os trabalhadores. ADEQUADOS” a Organização Mundial de Saúde e a As-
Os baixos preços pagos pelos serviços sociação Canadense de Saúde Pública que
médicos-hospitalares e a demora na trans- evidencia a inter-relação existente entre
ferência das verbas do INPS para as entidades determinaram atenção primária, promoção da saúde e cidades saudáveis18.
a fragilidade do sistema para atendimento à população. En-
quanto o governo reduzia ou atrasava os recursos, hospitais CONSIDERAÇÕES FINAIS
e clínicas aumentavam as fraudes para receber o que tinham A descentralização da saúde na década de 1990, segue-se ao
direito, e muito mais. desmonte dos programas sociais federais iniciados em 1989, e é
Na década de 1970, surgem os primeiros cursos de pós-gra- assumida uma face neoliberal, condizente com a política e a ide-
duação em enfermagem. Em meio à crise do modelo curativis- ologia dominantes, contrária ao preconizado pela Constituição
ta-privatista, as políticas de cuidado primário à saúde estimula- de 1988. Tem sido um processo atabalhoado, marcado por um
riam o autocuidado e a autonomia das comunidades. contexto de ajuste recessivo das contas públicas, repassando de
Em 1974, foi criado o Ministério da Previdência e Assistên- forma acelerada encargos e responsabilidades aos municípios. Os
cia Social, que incorporou o INPS e livrou-o das imposições estados têm sido praticamente ignorados nessa descentralização/
do Ministério do Trabalho, renovando assim, a promessa de municipalização enquanto agentes responsáveis pela implemen-
garantir saúde aos segurados. tação de políticas regionais, limitam-se ao papel de repassadores
A Declaração de Alma-Ata18 confirma: a promoção e proteção de recursos. Trata-se de uma municipalização a qualquer preço,
da saúde da população são indispensáveis para o desenvolvimento distinta da proposta pelo Sistema Unificado e Descentralizado de
econômico e social sustentado e contribui para melhorar a quali- Saúde (SUDS) nos anos de 1980 e consagrada na Constituição de
dade de vida; a população tem o direito e o dever de participar in- 1988, que previa a autonomia das unidades federadas, baseada
dividual e coletivamente na planificação e na ampliação das ações em esquema de financiamento e repasse de recursos. É preciso
de saúde; a atenção primária à saúde é reflexo e consequência das olhar para o processo de municipalização no Sistema Único de
condições econômicas e características socioculturais e políticas
Saúde (SUS), face ao contexto restritivo do ajuste e diante das Nunes2, fundamentando-se na interdisciplinaridade como
propostas de reforma do Estado dirigidas à privatização e à foca- possibilitadora da construção de um conhecimento ampliado
lização dos serviços públicos19. O SUS, que apresenta princípios da saúde coletiva, no plano concreto dos conteúdos a serem
constitucionais de universalidade, integridade e acesso igualitá- transmitidos, determina a necessidade atual de pensar o geral
rio a todos os níveis de complexidade do sistema, deveria garan- e o específico. Ou seja, não se deve perder o núcleo que a
tir a qualidade da atenção por equipes profissionais qualificadas legitima e distingue como social/coletivo, mas se deve-se estar
e com condições de trabalho adequado. atento à formação de determinadas áreas de concentração.
Referências
1. Rosen G. Uma história da saúde pú- Dumará; 1992. p. 117-242. Pública. 1998;32(4):299-16. de saúde no Brasil de “transição de-
blica. 2º ed. São Paulo: UNESP; 1994. 7. Costa NR. Lutas urbanas e controle 12. Holloway TH. Migration and mobi- mocrática” - anos 80. Saúde Coletiva.
2. Nunes ED. Sobre a história da saúde sanitário: origens das políticas de saú- lity: Immigrants as laborers and lando- 1991;1(1):131-52.
pública: ideias e autores. Ciênc Saúde de no Brasil. Petrópolis: Vozes, Abras- wners in the coffee zone of São Paulo 17. Germano RM. Educação e ideolo-
Coletiva. 2000;5(2):251-64. co; 1985. – Brazil 1886-1934 [dissertação]. Wis- gia da enfermagem no Brasil. 2º ed.
3. Bertolli Filho C. História da saúde 8. Silva KP. A cidade - uma região, o consin: University of Wisconsin; 1974. São Paulo: Cortez; 1985.
pública no Brasil. 4º ed. São Paulo: sistema de saúde: para uma história 13. Santos BRL, Moraes EP, Piccinini 18. Brasil. Ministério da Saúde. Secre-
Ática; 2002. da saúde e da urbanização em Campi- GC, Sagebin HV, Eidt OR, Witt RR. taria de Políticas de Saúde. Projeto pro-
4. Spínola AWP. Pesquisa social em nas – SP. Campinas: CMU, UNICAMP; Formando o enfermeiro para o cuidado moção da saúde. Declaração de Alma-
saúde. São Paulo: Cortez; 1992. 1996. à saúde da família: um olhar sobre o Ata; Carta de Ottawa; Declaração de
5. Moraes NA. Saúde e poder na Repú- 9. Iyda M. Cem anos de saúde públi- ensino de graduação. Rev Bras Enferm. Adelaide; Declaração de Sundsvall;
blica Velha: 1914-1930 [dissertação]. ca: a cidadania negada. São Paulo: 2000;53(Suppl.):49-59. Declaração de Santafé de Bogotá; De-
Rio de Janeiro: Universidade Federal UNESP; 1994. 14. Scliar M. Do mágico ao social: a claração de Jacarta; Rede de Megapa-
do Rio de Janeiro; 1983. 10. Mehry EE. A saúde pública como trajetória da saúde pública. Porto Ale- íses; Declaração do México. Brasília:
6. Carvalho MAR, Lima NT. O argu- política: um estudo de formuladores gre: L± 1987. Ministério da Saúde; 2001.
mento histórico nas análises de saúde de políticas. São Paulo: Hucitec; 1992. 15. Ribeiro MAR. História sem fim... In- 19. Soares LT. As atuais políticas de
coletiva. In: Fleury S, organizador. Saú- 11. Paim JS, Almeida Filho N. Saúde co- ventário da saúde pública. São Paulo: saúde: os riscos do desmonte neoli-
de coletiva: questionando a onipotên- letiva: “nova saúde pública” ou campo UNESP; 1993. beral. Rev Bras Enferm. 2000;53(Sup-
cia do social. Rio de Janeiro: Relume aberto a novos paradigmas? Rev Saúde 16. Luz MT. Notas sobre as políticas pl.):17-24.
01 Deve vir acompanhado de solicitação e autorização para publicação as- e-mail e, no rodapé, a função que exerce(m), a instituição a que
sinadas por todos os autores. pertence(m), títulos e formação profissional.
02 Não ter sido publicado em nenhuma outra publicação ou revista nacional. 08 Não será permitida a inclusão no texto de nomes comerc iais de quais
03 Ter, no máximo, 26.000 toques por artigo incluindo resumo (português, quer produtos. Quando necessário, citar apen as a denom in aç ão quím ic a
inglês e espanhol) com até 700 toques, ilustrações, diagramas, gráficos, ou a designação científica.
esquemas, referências bibliográficas e anexos, com espaço entrelinhas de 09 O Conselho Científico pode efetuar event uais corr eç ões que julg ar
1,5, margem superior de 3 cm, margem inferior de 2 cm, margens laterais necessárias, sem, no entanto, alterar o conteúd o do artig o.
de 2 cm e letra tamanho 12. Os originais deverão ser encaminhados em CD- 10 O original do artigo não aceito para public aç ão será devolv id o ao autor
ROM, no programa Word for Windows e uma via impressa. indicado, acompanhado de justificativa do Conselho Científico.
04 Caberá à redação julgar o excesso de ilustrações, suprimindo as redun 11 O conteúdo dos artigos é de exclus iv a resp ons ab ilid ad e do(s)
dantes. A ela caberá também a adaptação dos títulos e subtítulos dos tra autor(es). Os trabalhos publicados terão seus direit os autor ais resg uard a
balhos, bem como o copidesque do texto, com a finalidade de uniformizar a dos por Editorial Bolina Brasil e só poderão ser reprod uz id os com autor i
produção editorial. zação desta.
05 As referências deverão estar de acordo com os requisitos uniformes 12 Os trabalhos deverão preservar a confidenc ialid ad e, resp eit ar os prin
para manuscritos apresentados à revistas médicas elaborado pelo Comitê cípios éticos e trazer a aceitação do Comitê de Ética em Pesquisa (Res-
Internacional de Editores de Revistas Médicas (Estilo Vancouver Sistema olução CNS – 196/96) quando for pesquisa.
Numérico de Entrada). 13 Os trabalhos, bem como qualquer corr esp ond ênc ia, dever ão ser
06 Evitar siglas e abreviaturas. Caso necessário, deverão ser precedidas, na primei enviados para a revista: Saúde Coletiva – A/C CONS EL HO CIENTÍFICO,
ra vez, do nome por extenso. Solicitamos destacar frases ou descritores. Al. Pucuruí, 51/59 - Bl.B - 1º andar - Cj.1030 - Tamboré - Barueri - SP -
07 Conter, no fim, o endereço completo do(s) autor(es) e telefone(s), CEP: 06460-100 - E-mail: editorial@saudecoletiva.com.br.