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WBA0122_v2.

APRENDIZAGEM EM FOCO

HISTÓRIA E CONCEITOS
DE SAÚDE PÚBLICA
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Autoria: Mariana S. C. Vianna
Leitura crítica: Danielle Leite de Lemos Oliveira

Olá, aluno! Nessa disciplina, iremos resgatar os principais fatos


históricos do país e a sua relação com as formas de cuidar da
saúde das pessoas em diferentes momentos, desde o início da
colonização do Brasil até os dias atuais. Para isso, traremos para
a reflexão os aspectos do contexto político e social dos períodos
mais relevantes da nossa história que influenciaram os rumos das
políticas de saúde no país.

Os mais de 500 anos de história do Brasil têm algumas


características específicas. Para melhor compreensão das
políticas e ações de saúde de cada período, estes foram divididos
em sete épocas: Brasil Colônia (1500 a 1808), Brasil Império
(1808 a 1888), Primeira República (1888 a 1930), Era Vargas
(1930 a 1945), Quarta República (1945 a 1964), Ditadura Militar
(1964 a 1985) e Nova República (1985 até os dias atuais). E para
compreender a realidade atual do nosso Sistema Único de Saúde
(SUS), refletiremos sobre os percursos históricos e sociais da
sua criação, analisando a criação do movimento pela Reforma
Sanitária Brasileira até a implantação do SUS, considerando as
principais normas e legislações criadas para regulamentar o
funcionamento do nosso sistema de saúde na prática. E, por
último, mas não menos importante, esperamos trazer para
reflexão qual o nosso papel enquanto profissionais da saúde para
garantir a consolidação do SUS.

Seja bem-vindo! Bons estudos!

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INTRODUÇÃO

Olá, aluno (a)! A Aprendizagem em Foco visa destacar, de maneira


direta e assertiva, os principais conceitos inerentes à temática
abordada na disciplina. Além disso, também pretende provocar
reflexões que estimulem a aplicação da teoria na prática
profissional. Vem conosco!

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TEMA 1

Do Brasil Colônia à
Primeira República

INÍCIO
______________________________________________________________
Autoria: Mariana S. C. Vianna
Leitura crítica: Danielle Leite de Lemos Oliveira

TEMA 1
TEMA 2
TEMA 3
TEMA 4
DIRETO AO PONTO

Desde que Pedro Álvares chegou ao Brasil, em 1500, muitas


mudanças aconteceram no mundo todo. A forma como vivemos
hoje, cercados de equipamentos e tecnologia que estão integrados
ao nosso cotidiano, com certeza é muito diferente da forma como
viviam portugueses e índios 500 anos atrás.

As ideias sobre o que é saúde e doença também foram se


modificando com o tempo. No início da colonização brasileira,
apenas os cristãos eram considerados dignos de salvação.
Em um período fortemente influenciado pela Igreja Católica,
é compreensível que a saúde (ou, principalmente, a doença)
estivesse relacionada com a salvação da alma das pessoas.

Apesar de a colônia seguir a mesma regulamentação sanitária


que Portugal para a prática da medicina na época, com físicos
(médicos), cirurgiões, barbeiros e boticários, a verdade é que havia
pouquíssimos profissionais legalmente habilitados disponíveis
no Brasil colônia. As condições de vida por aqui eram muito
diferentes do conforto que a corte portuguesa oferecia, e os
poucos físicos existentes no Brasil eram acessíveis apenas para
uma parte da elite branca. Para a maior parte da população
da colônia restavam curandeiros, curiosos e (pouquíssimas)
entidades beneficentes (GURGEL, 2009).

Essa foi a realidade nos primeiros 300 anos de colonização.


A vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, foi
decisiva para iniciar um processo de modernização da capital do
império, Rio de Janeiro, e de implantação de políticas públicas
de saúde – com foco na fiscalização dos portos e em ações de
isolamento de doentes para conter epidemias.

A realidade de saúde da população durante o período imperial era


de epidemias constantes de várias doenças, como febre amarela e

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varíola, condições precárias de moradia e higiene e poucas ações
efetivas de controle de doenças. O saber médico de então era por
vezes místico e outras, religioso. Pouco se conhecia a respeito dos
agentes etiológicos das doenças e formas eficazes de combatê-
las – tanto no Brasil como no mundo ocidental. A descoberta da
vacina no final do século XVIII na Europa permitiu o combate à
varíola de maneira mais efetiva do que vinha sendo realizada até
então, e ações de vacinação passaram a ser realizadas durante o
período imperial brasileiro (GURGEL et al., 2011).

Com o fim do Império e início da República brasileira,


não apenas a sociedade e a organização civil e política se
modificaram. A ciência e suas descobertas permitiram avanços
para vida das pessoas, a exemplo da máquina a vapor e da
descoberta dos germes, feitas por Pasteur. O desenvolvimento
da microbiologia permitiu um melhor combate às doenças,
e diversos pesquisadores brasileiros destacaram-se nesse
período, influenciando nas políticas de saúde adotas na época.
Pesquisadores como Emílio Ribas, Adolpho Lutz, Oswaldo Cruz,
Vital Brazil e Carlos Chagas foram responsáveis pelas principais
mudanças que a área da saúde brasileira sofreu no final do
século XIX e início do século XX.

Entre essas mudanças, podemos destacar as campanhas


sanitárias, que passaram a ser empregadas de forma rotineira,
e não apenas nos momentos de crise sanitária, como acontecia
antes. Campanhas de vacinação em massa foram instituídas, com
ampla discussão entre classe médica, políticos e a população em
geral – resultando na Revolta da Vacina. Os serviços de saúde
começaram a ser ampliados, surgindo hospitais de isolamento
e novos serviços de saúde, com foco na educação da população
e na promoção da saúde. Isso permitiu um novo olhar sobre o
processo de saúde e doença, que passou a ser incorporado pelas
escolas de medicina e pelos governantes de então.

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A Primeira República termina em 1930, quando se inicia a
Era Vargas. Esse período da história brasileira, entre 1888 a
1930, foi quando se deu o início do país enquanto nação como
conhecemos, e quando os esboços das políticas de saúde que
vemos ainda hoje começaram a ser desenhados.

Figura 1 – Linha do tempo – marcos da saúde no Brasil

Fonte: elaborada pela autora.

Referências bibliográficas
GURGEL, C. B. F. M. et al. A varíola nos tempos de Dom Pedro II. Cadernos de
História da Ciência, v. VII (1). São Paulo: Instituto Butantan, jan./jun. 2011.
Disponível em: https://ojs.butantan.gov.br/index.php/chcib/article/view/152.
Acesso em: 15 set. 2020.
GURGEL, C. B. F. M. Índios, jesuítas e bandeirantes. Medicinas e doenças
no Brasil dos séculos XVI e XVII. 2009. 194 f. Tese (Doutorado em Clínica
Médica) – Faculdade de Ciências Médicas. Universidade Estadual de
Campinas, Campinas/SP.

PARA SABER MAIS

Em setembro de 1918 o navio inglês “Demerara” chega ao Brasil,


trazendo como passageiro o vírus da influenza. A Primeira Guerra
Mundial estava chegando ao fim, junto com relatos da “febre
das trincheiras”, responsável por aumentar o número de mortos
na Europa. No Brasil, no entanto, a gripe espanhola, como ficou
conhecida, foi vista com incredulidade no início da sua epidemia, o
que cobrou um preço alto da população (GOULART, 2005).

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A desinformação, a demora na tomada de decisões pelo poder
público e a disseminação de receitas milagrosas para combater
a doença iam se somando ao aumento do número de doentes e
de mortos. O resultado dessa combinação foi um caos social, em
que faltavam alimentos, medicamentos, cuidadores e até caixões
(GOULART, 2005). Medidas de isolamento social começaram a
ser impostas, com recomendações sobre cobrir boca e nariz ao
espirrar ou tossir. À crise social juntou-se a crise política, com
críticas expressivas ao presidente da república, Wenceslau Braz,
e outras autoridades, como o diretor da Diretoria Geral de Saúde
Pública da época, Carlos Seidl.

Entre outubro e dezembro, período oficialmente declarado da


epidemia no Brasil, mais de 60% da população do Rio de Janeiro
adoeceu em virtude da gripe espanhola, com mais de 15 mil
mortes – em uma população estimada de 910 mil habitantes.
Foi durante esse período que Carlos Chagas assume a Diretoria
Geral de Saúde Pública, assumindo uma figura de salvador
diante da opinião pública (GOULART, 2005). A ascensão de Carlos
Chagas nesse período deu maior visibilidade ao movimento
higienista da época, que defendia a centralização de ações de
saúde e a criação de um Ministério da Saúde.

Diante de tantas incertezas, o cuidado aos doentes também


encontrava seus questionamentos. Entre as medidas encontradas
para conter a doença, baseadas no conhecimento popular e
científico da época, as ações de isolamento social e segregação
social mostraram-se as mais eficazes. Perante o questionamento
da ciência e das práticas médicas e de cuidado, fortaleceu-se o
papel da ciência após o fim da epidemia (BERTUCCI, 2004). Após o
caos, o período de reorganização que se seguiu teve influência das
experiências, exitosas ou não, acumuladas durante a epidemia.

Ruas desertas, atividades escolares e religiosas suspensas,


mortes em pessoas de várias faixas etárias e classes sociais.

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Caos social, econômico e político. Ciência posta em xeque,
desconhecimento sobre formas de contágio e tratamento
eficaz. Políticos e governantes criticados pelas ações em
resposta à doença. Cenário que descreve tanto a pandemia da
gripe espanhola em 1918 como a pandemia de covid de 2020.
Resta saber quais serão os caminhos a serem seguidos pela
saúde nas próximas décadas.

Referências bibliográficas
BERTUCCI, L. M. Influenza, a medicina enferma: ciência e práticas de cura
na época da gripe espanhola em São Paulo. Campinas: Unicamp, 2004.
GOULART, A. da C. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no
Rio de Janeiro. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 12, n. 1, p. 101-
42. Rio de Janeiro, jan./abr. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/
hcsm/v12n1/06.pdf. Acesso em: 17 set. 2020.

TEORIA EM PRÁTICA

Conhecer o nosso passado é uma forma de entender o nosso


presente. Diante da pandemia da Covid-19, muitas situações
podem lembrar outras epidemias do passado, como a falta
de informação sobre formas de contágio e tratamento, falta
de recursos materiais e profissionais para cuidar de todos
os doentes e o prejuízo social que epidemias acarretam para
a população como um todo. O cuidado à saúde envolve a
assistência ao doente e também as decisões técnicas e políticas
que são tomadas além da esfera do cuidado. Reflita sobre o
seguinte questionamento: quais os desafios do profissional de
saúde no combate a uma doença desconhecida?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo


professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no
ambiente de aprendizagem.

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LEITURA dolor sit amet
FUNDAMENTAL
Indicações de leitura
Autoria: Nome do autor da disciplina
Leitura crítica: Nome do autor da disciplina
Indicação 1

Esse capítulo discute as relações políticas e sociais que moldaram


as políticas de saúde no início do século XX. Ilustrado com imagens
da época, permite uma agradável viagem no tempo.

Para realizar a leitura, busque pelo título da obra na internet.


O material é disponibilizado gratuitamente no formato pdf.

PONTE, C. F.; LIMA, N. T.; KROPF, S. P. O sanitarismo (re)descobre


o Brasil. In: PONTE, C. F. (org.). Na corda bamba de sombrinha:
a saúde no fio da história. Rio de Janeiro: Fiocruz/COC; Fiocruz/
EPSJV, 2010.

Indicação 2

Explorando as práticas médicas no período colonial e imperial,


esse capítulo traz uma abordagem histórica e social da assistência
à saúde desse período.

Para realizar a leitura, busque pelo título da obra na internet.


O material é disponibilizado gratuitamente no formato pdf.

EDLER, F. C. Saber médico e poder profissional: do contexto luso-


brasileiro ao Brasil imperial. In: PONTE, C. F. (org.). Na corda
bamba de sombrinha: a saúde no fio da história. Rio de Janeiro:
Fiocruz/COC; Fiocruz/EPSJV, 2010.

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QUIZ
Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a
verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes
neste Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em
Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas,
além de questões de interpretação com embasamento no
cabeçalho da questão.

1. O foco das campanhas sanitárias, no período da Primeira


República, tinha como principal objetivo:

a. Diminuir a desigualdade social e as precárias condições


de moradia.
b. Combater as principais epidemias que assolavam a
população da época.
c. Expandir a assistência beneficente por meio das Santas
Casas de Misericórdia.
d. Realizar pesquisas para descobrir a cura de algumas doenças.
e. Criar serviços de saúde para atender à população.

2. A gripe espanhola foi uma pandemia que assolou o mundo


em 1918. No Brasil, foi responsável por mortes e crise
política e social. Sobre esse evento, podemos afirmar que:

a. A situação sanitária e de serviços no Brasil foi plenamente


capaz de atender a demanda de pessoas doentes.
b. Com o desenvolvimento da bacteriologia, os
pesquisadores brasileiros da época desenvolveram um
tratamento eficaz para a doença.

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c. A gripe espanhola foi causada pela Primeira Guerra Mundial.
d. Medidas empíricas foram somadas ao conhecimento
popular da época, mostrando que isolamento social
e segregação dos doentes ajudavam a diminuir a
propagação da doença.
e. O vírus causador da gripe espanhola é o mesmo vírus
responsável pelo covid.

GABARITO

Questão 1 - Resposta B
Resolução: O principal problema sanitário desse período
eram as epidemias constantes de febre amarela e varíola,
que atingiam principalmente as camadas mais pobres da
população. As campanhas sanitárias buscavam combater
essas epidemias, tornando-se progressivamente rotineiras.
Questão 2 - Resposta D
Resolução: Diante do conhecimento existente na época,
havia muitas incertezas sobre como a gripe se espalhava e
qual seria o melhor tratamento. Das muitas ações praticadas,
a segregação dos doentes e medidas de higiene e isolamento
social foram as que se mostraram mais eficazes.

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TEMA 2

Da Era Vargas à 4ª República –


1930 a 1964

INÍCIO
______________________________________________________________
Autoria: Mariana S. C. Vianna
Leitura crítica: Danielle Leite de Lemos Oliveira

TEMA 1
TEMA 2
TEMA 3
TEMA 4
DIRETO AO PONTO

Esses 34 anos marcam um período de grandes transformações no


cenário político, social e epidemiológico do Brasil. A Era Vargas
é marcada por uma política nacionalista, centralizadora e
repressora, também responsável por uma série de direitos sociais
que perduram até hoje. A Consolidação das Leis de Trabalho, a
criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão e a consolidação
de uma medicina previdenciária são alguns pontos de destaque.

Logo no início de seu governo, Vargas cria o Ministério da


Educação e da Saúde Pública (Mesp), em 1930. Reivindicação
do movimento sanitarista da década de 1920, o Mesp foi
responsável por decisões importantes que marcaram a Era Vargas
e as décadas que se seguiram, no que diz respeito ao papel do
Estado na definição e condução das políticas de saúde. Enquanto
ministro, Gustavo Capanema conduziu uma reforma estrutural
do ministério em 1937, criando uma estrutura que centralizava as
decisões políticas da saúde no Governo Federal. Em 1941, outra
reforma de Capanema também criaria os Serviços Nacionais,
responsáveis por planejar e realizar campanhas sanitárias pelo
país, com foco em doenças específicas e de maneira vertical e
centralizada no ministério (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).

As ações de saúde da Era Vargas também foram influenciadas pelas


relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos e por convênios
bilaterais formados a partir disso. A Fundação Rockefeller e o
Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp) foram importantes
financiadores e parceiros de muitas ações de saúde realizadas no
país, entre elas a formação de profissionais de saúde e campanhas
e pesquisas para erradicação de doenças, como a febre amarela.

Com a deposição de Vargas em 1945, inicia-se um processo de


democratização do país conhecido como 4ª República. Época

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em que o conflito ideológico e político entre Estados Unidos e
União Soviética deu início à Guerra Fria, com o apoio brasileiro
ao lado norte-americano. Durante o mandato de Eurico Gaspar
Dutra, a nova constituição aprovada em 1946 amplia as ações
da previdência social, que passa a oferecer assistência médica,
hospitalar e sanitária (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012). Isso favoreceu a
construção de grandes hospitais pelo país, que junto ao discurso
de desenvolvimento econômico do governo, ampliou a assistência
médica individualizada e especializada, além de um modelo de
assistência à saúde centrado no hospital (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).

As campanhas sanitárias continuaram como a principal política


pública do governo, com foco nas doenças endêmicas de regiões
menos desenvolvidas do país. Ao assumir um novo mandato
presidencial, dessa vez por meio do voto, Vargas mantém sua
política nacionalista e populista, com forte investimento na
industrialização do país. É em seu governo que o Ministério da
Saúde passa a ser independente, em 1953, influenciado por ideais
sanitaristas desenvolvimentistas.

Após o suicídio de Vargas em 1954 e presidentes provisórios,


Juscelino Kubitscheck é eleito presidente. Médico de formação, seu
governo é marcado por um forte incentivo de desenvolvimento
econômico do país, além de ações de saúde voltadas para
cuidar, combater e/ou erradicar os principais problemas de
saúde do Brasil, incluindo as regiões do interior do país, menos
desenvolvidas. É no seu governo que começa a existir políticas
de saúde voltadas para doenças crônicas e políticas sociais para
melhorar a condição de vida da população (HOCHMAN, 2009).

O período que se segue ao mandato de Juscelino marca o início da


crise política que culminou com o golpe civil-militar de 1964. Após
a renúncia de Jânio Quadros e sob a presidência de João Goulart,
visto por muitos como um político alinhado ao comunismo, seria

15
discutido um novo conceito de saúde, mais ampliado, além de
reorganizar o sistema de saúde de forma mais descentralizada e
com maior participação dos municípios (ESCOREL; TEIXEIRA, 2012).
Ideias interrompidas pela Ditadura Militar.

Figura 1 – Principais marcos da saúde pública, 1930-1964

Fonte: elaborada pela autora.

Referências bibliográficas
ESCOREL, S.; TEIXEIRA, L. A. História das políticas de saúde no Brasil de 1822
a 1963: do império ao desenvolvimento populista. In: GIOVANELLA, L. et al.
(orgs.). Políticas e sistemas de saúde no Brasil (online). 2. ed. rev. Rio de
Janeiro: Fiocruz, 2012.
HOCHMAN, G. “O Brasil não é só doença”: o programa de saúde pública de
Juscelino Kubitscheck. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 16, supl.
1, jul. 2009. Rio de Janeiro, p.313-331. Disponível em: https://www.scielo.br/
pdf/hcsm/v16s1/15.pdf. Acesso em: 20 set. 2020.

PARA SABER MAIS

Em meados da década de 1950 começa a ganhar força no país


uma corrente de pensamento que foi denominada de sanitarismo
desenvolvimentista – apoiada nas ideias de desenvolvimento

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econômico e sua relação com a saúde. Visto por muitos como um
movimento antagônico ao sanitarismo campanhista (que seguia o
viés ideológico de promover grandes campanhas sanitárias para
garantir a melhoria da saúde da população), hegemônico desde o
começo do século XX, os dois pensamentos coexistiram até 1964,
influenciando de várias maneiras as políticas de saúde do país.

O sanitarismo campanhista, defendido por profissionais ligados


ao Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp), defendia que altos
investimentos em saúde possibilitariam a melhora dos problemas
sanitários e, consequentemente, garantiriam crescimento e
prosperidade para o país. Já os sanitaristas desenvolvimentistas
defendiam o desenvolvimento econômico e social, permitiram
melhorar as condições de vida da população e, assim, melhorar o
cenário sanitário brasileiro (REIS, 2015).

Essa simplicidade conceitual não traduz a relação entre os dois


movimentos durante esse período. Como Reis (2015) argumenta,
havia certa convergência entre os dois, além de uma relação muito
mais complexa entre os dois lados que puramente a divergência.

O contexto internacional já apontava para a relação entre pobreza


e saúde (ou a falta dela), e a necessidade de romper esse ciclo
em que pobreza gerava doença que gerava pobreza. Tanto os
campanhistas quanto os desenvolvimentistas concordavam que
era necessário quebrar esse ciclo, porém divergiam sobre qual
seria a melhor ordem das ações. Muito da crítica ao sanitarismo
campanhista era devido à pouca articulação entre as campanhas
sanitárias realizadas, além das suas ações verticais, herança da
Era Vargas. Os desenvolvimentistas propunham um sistema de
saúde integrado, organizado por meio de ações horizontais, e
descentralizado, municipalizando os serviços (REIS, 2015).

Os desenvolvimentistas estavam alinhados ao tom político


da época, principalmente a partir do governo de Juscelino

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Kubitscheck, que incentivou o crescimento econômico e social
durante o seu governo. Mário Pinotti, ministro da saúde no
governo de Juscelino, foi muito influenciado pelo trabalho e pelas
ideias de Mário Magalhães (de quem era muito amigo), um forte
crítico ao modelo de saúde pregado pelo Sesp (com influência
norte-americana).

Apesar das diferenças entre os dois movimentos, o nosso


Sistema Único de Saúde traz características dos dois. Da sua
descentralização, proposta como diretriz, às campanhas sanitárias
que ainda são realizadas (como de combate à dengue e ao Aedes
aegypti), convivemos com a herança intelectual, política e social
dos personagens dessa época.

Referências bibliográficas
REIS, J. R. F. “Viver é influenciar”. Mário Magalhães, sanitarismo
desenvolvimentista e o campo intelectual da saúde pública (1940–1960).
Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 27, n. 2; 2015. Disponível
em: https://www.scielo.br/pdf/ts/v27n2/1809-4554-ts-27-02-00279.pdf.
Acesso em: 22 set. 2020.

TEORIA EM PRÁTICA

O Sistema Único de Saúde (SUS) é ainda jovem, se considerarmos


o ponto de vista histórico. Nem sempre refletimos sobre os
caminhos da história, que têm resultado em políticas de hoje.
Diante do tema dessa aula, considere o histórico das políticas
de saúde entre 1930 a 1964, bem como seu contexto político,
social e econômico, e tente relacionar com a realidade do SUS
hoje. Como você relaciona a medicina previdenciária iniciada
nesse período ao subfinanciamento do SUS? E como as diferentes
decisões políticas realizadas nessa época se relacionam com as
ações do Ministério da Saúde nos dias de hoje?

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Norte para a resposta:

Procure considerar a proposta de medicina previdenciária, que


permitia acesso só para uma parcela da população. Isso pode
ser uma das causas da desvalorização do SUS pela sociedade,
valorizando a assistência médica privada. Da mesma forma, o
histórico de serviços de saúde gratuitos terem sido oferecidos por
muito tempo por entidades filantrópicas, pode ajudar a explicar
a cultura popular de não valorizar a assistência gratuita que o
SUS oferece. Por último, é importante lembrar que o conceito de
saúde e de direitos sociais faz parte de uma construção histórica –
que no âmbito do SUS, talvez ainda seja incompleta.

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo


professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no
ambiente de aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Indicação 1

Nesse capítulo, Cecília Minayo traz uma reflexão pertinente a


respeito da relação entre saúde e ambiente, contextualizando
historicamente a construção do conhecimento produzido sobre
esse tema.

Para realizar a leitura, acesse a plataforma Biblioteca Virtual da


Kroton e busque pelo título da obra.

MINAYO, M. C. S. Saúde e ambiente: uma relação necessária. In:


CAMPOS, G. W. de S. et al. Tratado de saúde coletiva. São Paulo:
Hucitec. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009.

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Indicação 2

Esse livro traz uma interessante análise histórica sobre as


pesquisas da febre amarela e o desenvolvimento de uma vacina.

O livro pode ser encontrado na plataforma da Scielo livros, com


acesso público.

BECHIMOL, J. L. Febre amarela: a doença e a vacina, uma história


inacabada. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2001.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes
neste Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em
Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas,
além de questões de interpretação com embasamento no
cabeçalho da questão.

1. Sobre as políticas de saúde desenvolvidas na Era Vargas,


é correto afirmar que:

a. Prevaleceu a expansão de centros de saúde e serviços de


atenção primária.
b. Foi criado o Ministério da Saúde, que teve como principal
objetivo criar um sistema de saúde descentralizado.
c. Foram criados os Serviços Nacionais, que coordenavam
campanhas sanitárias verticalizadas e com foco em
doenças específicas.

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d. O período do seu governo ficou marcado por relações
democráticas e pela participação popular na definição de
políticas de saúde.
e. Houve uma diminuição da assistência médica previdenciária,
com o aumento de serviços públicos de saúde.

2. O período de redemocratização do país, também conhecido


como 4ª República, trouxe muito desenvolvimento
econômico e social para o país. Sobre esse período, é
correto afirmar que:

a. Poucas mudanças foram realizadas na área da saúde, com


poucos avanços no combate a doenças.
b. O desenvolvimento econômico diminuiu a desigualdade
social, mas isso não afetou a realidade sanitária do país.
c. Foram ampliados os serviços de saúde públicos, com a
desvalorização da assistência hospitalar.
d. Os interesses econômicos, alinhados à política da União
Soviética, ampliaram a discussão sobre um modelo de
saúde socialista.
e. Foram desenvolvidas políticas de saúde com foco na
assistência, controle e/ou erradicação de doenças
endêmicas e mais prevalentes, sobretudo nas regiões
menos desenvolvidas do país.

GABARITO

Questão 1 - Resposta C
Resolução: Seguindo a política de Vargas nacionalista e
de fortalecimento do Estado, as campanhas sanitárias
realizadas nesse período tinham como característica a

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forte centralização, a verticalização das decisões e pouca
integração entre elas.
Questão 2 - Resposta E
Resolução: Embora tenham sido realizadas ações mais
ampliadas de saúde e outras ações que melhoraram as
condições de vida de parte da população brasileira, esse
período também manteve ações sanitárias campanhistas,
com resultados positivos no cenário sanitário da época.

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TEMA 3

Ditadura Militar e Reforma


Sanitária Brasileira – 1964 a 1988

INÍCIO
______________________________________________________________
Autoria: Mariana S. C. Vianna
Leitura crítica: Danielle Leite de Lemos Oliveira

TEMA 1
TEMA 2
TEMA 3
TEMA 4
DIRETO AO PONTO

A partir de um golpe de estado civil-militar, ocorre o início da


Ditadura Militar no país, com a deposição de João Goulart e
a tomado do poder pelas forças armadas. De 1964 a 1985, a
população brasileira seria privada de vários direitos sociais, como
o direito à liberdade de expressão. Também seria um período de
extrema violência, repressão, perseguição política e muitos casos
de tortura, assassinatos e desaparecimentos (ESCOREL, 2012).

Em termos econômicos, os primeiros anos da ditadura


permitiram ao país um rápido crescimento econômico, resultado
do arrocho salarial, da suspensão de direitos trabalhistas e
aumento da jornada de trabalho, e pelos investimentos de capital
estrangeiro. Em termos políticos, o início da ditadura suspendeu a
constituição federal vigente e passou a governar o país por meio
dos Atos Institucionais (AI).

Utilizados como instrumento de autoritarismo e como uma


forma de legitimar e legalizar o golpe de estado (ESCOREL, 2012),
os AIs garantiram plenos poderes às forças armadas, fechando
o Congresso Nacional e suspendendo as eleições diretas para
prefeitos, governadores e presidente. Também foram instrumentos
para permitir uma série de atos violentos e de abuso de poder.
Com a suspensão de direitos políticos e civis, movimentos sindicais
e estudantis, por exemplo, estavam proibidos.

Diante da repressão social, muitos pesquisadores, professores


universitários e profissionais da área da Saúde Pública passaram
a ser perseguidos, investigados e, por vezes, presos e torturados.
Muitos foram aposentados compulsoriamente e foram proibidos
de continuar a trabalhar na área. De certa forma, a mobilização
contrária ao regime militar contribuiu para a criação de um
movimento social que se organizaria e promoveria a Reforma
Sanitária Brasileira (RSB).

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As políticas de saúde da Ditadura Militar mantiveram a dicotomia
que já vinha ocorrendo desde os anos 1930-1940. O Estado,
por meio do Ministério da Saúde, continuava responsável
por promover ações profiláticas, principalmente por meio de
campanhas sanitárias pelo interior do país, que buscavam
combater endemias ou epidemias específicas. A assistência à
saúde continuava responsabilidade da previdência social, que viu
a Ditadura Militar aumentar sua receita e sua influência política,
contribuindo para o aumento da medicina liberal e privada e
mantendo um modelo de assistência individual, curativista e
centrado no hospital (ESCOREL, 2012).

O crescimento da previdência social ocorreu com a criação do


Inamps – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência
Social, órgão derivado do Instituto Nacional de Previdência
Social (INPS). O INPS, por sua vez, surgiu a partir da unificação
dos antigos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP), criados
no primeiro governo de Getúlio Vargas. Esse modelo de
medicina previdenciária excluía uma grande parte da população
brasileira, que não tinha acesso garantido aos serviços de saúde.
A corrupção desse setor contribuiu para um déficit orçamentário
e a crise do modelo (ESCOREL, 2012).

A RSB surge nesse contexto de repressão e crise sanitária, que


fez surgir novos atores sociais que começaram a reivindicar
a democratização da saúde (PAIM, 2007). Entre esses atores
destacam-se o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes),
criado em 1976, e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva
(Abrasco), criada em 1979. As duas entidades foram responsáveis
por promover discussões sobre conceito ampliado de saúde
e determinantes sociais de saúde, inserindo grupos sociais
nas discussões e mobilizando a sociedade a defender o direito
universal à saúde. Aliados ao Cebes e à Abrasco, algumas
universidades também se destacaram, como a Universidade de

25
São Paulo, a Universidade Estadual de Campinas e a Universidade
Estadual do Rio de Janeiro, por meio dos seus departamentos de
medicina preventiva (ESCOREL, 2012).

Em meio ao clima de mobilização popular pelo fim da Ditadura


Militar, esses atores sociais promoveram estudos e criaram
propostas para um novo sistema de saúde, por meio de
congressos, seminários e articulação com a sociedade civil.
Dessa forma, já com a Ditadura Militar encerrada, a realização
da 8ª Conferência Nacional de Saúde consolida um espaço
democrático e de participação popular, garantindo o acesso
universal à saúde na Constituição Federal de 1988 e definindo os
princípios e as bases do Sistema Único de Saúde.

Figura 1 – Processo de construção do Sistema Único de Saúde

Fonte: elaborada pela autora.

Referências bibliográficas
ESCOREL, S. Histórias das políticas de saúde no Brasil de 1964 a 1990:
do golpe militar à reforma sanitária. In: GIOVANELLA, L. et al. (orgs.).
Políticas e sistemas de saúde no Brasil. 2. ed. rev. (e-book). Rio de
Janeiro: Fiocruz, 2012.
PAIM, J. S. Reforma sanitária brasileira: contribuição para a compreensão
e crítica. 2007. Tese (Doutorado em Saúde Pública). Instituto de Saúde
Coletiva, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2007. Disponível em:
https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/10376/1/5555555555.pdf.
Acesso em: 18 dez. 2020.

26
PARA SABER MAIS

Outros atores sociais surgiram na década de 1980, no processo de


redemocratização do país, e contribuíram para ampliar o debate
da saúde nesse período.

Conass: Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Foi fundado


em 1982 (sendo articulado desde 1980). Trata-se de uma entidade
privada, sem fins lucrativos, e que reúne os secretários estaduais
de saúde com o objetivo de participar na reconstrução do setor
da saúde e representar as secretarias estaduais de saúde nas
decisões das políticas públicas de saúde (CONASS, 2017).

Conasems: Conselho Nacional de Secretarias Municipais de


Saúde. Foi constituído em 1988. Criado no bojo do movimento
da RSB, vem promovendo novas formas de gestão, defendendo
o protagonismo dos municípios na tomada de decisões do SUS.
Atua auxiliando os municípios nos desafios inerentes à gestão
municipal dos serviços de saúde (CONASEMS, 2017).

CNS: Conselho Nacional de Saúde. Originalmente criado em


1937, desde 1990 (por meio da Lei 8142) tem a função de
fiscalizar, acompanhar e monitorar as políticas públicas de saúde,
com representantes dos usuários, gestores e profissionais do
SUS (CNS, 2018).

Além dessas entidades, também existem os Conselhos


Locais de Saúde, os Conselhos Municipais de Saúde e os
Conselhos Estaduais de Saúde, órgãos colegiados e paritários
(representados por gestores, usuários e profissionais), que
participam das discussões e deliberações das políticas de
saúde do SUS, em todas as suas esferas de gestão: local,
municipal e estadual.

27
Referências bibliográficas
CNS. Conselho Nacional de Saúde. Apresentação. Disponível em: http://
conselho.saude.gov.br/apresentacao-cns. Acesso em: 7 out 2020.
CONASEMS. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde.
Estatuto do Conasems. 2017, 31 p. Disponível em: https://www.conasems.
org.br/wp-content/uploads/2019/02/Estatuto-CONASEMS-2.pdf. Acesso em:
21 out 2020.
CONASS. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Estatuto do Conass.
2017, 12 p. Disponível em: https://www.conass.org.br/regulamentos/
ESTATUTO-CONASS.pdf. Acesso em: 21 out 2020.

TEORIA EM PRÁTICA

As mudanças ocorridas nas últimas décadas no país podem


ser analisadas pelo aspecto político, econômico e social.
No aspecto político, o fim de 21 anos de Ditadura Militar e o
processo de redemocratização do país trouxeram novos atores
sociais, uma nova constituição e novos direitos. No aspecto
econômico, sucessivas crises econômicas, diferentes moedas
e a modernização do país. No aspecto social, reivindicações
sociais configuraram o Sistema Único de Saúde, que vem
buscando consolidar os ideais da Reforma Sanitária Brasileira.
Dentro dos problemas do SUS atualmente, podemos destacar
o subfinanciamento e a influência dos interesses privados nas
políticas públicas. Analisando o processo histórico da Saúde
Pública de 1964 até os dias de hoje, como você analisa esses
problemas do SUS?

Para conhecer a resolução comentada proposta pelo


professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no
ambiente de aprendizagem.

28
LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Indicação 1

Nesse artigo, Amélia Cohn revisa as ideias de um artigo publicado


em 1989, analisando o movimento da Reforma Sanitária Brasileira
30 anos depois. Traz uma reflexão profunda a respeito dos ideais
do movimento da década de 1970 e a realidade do SUS hoje.

Para realizar a leitura, acesse a base online da Scielo.

COHN, A. Caminhos da reforma sanitária, revisitado. Estud. av.,


v. 32, n. 93. São Paulo, maio/ago. 2018.

Indicação 2

Analisando a evolução do SUS 30 anos após sua criação, Jairnilson


Paim faz uma análise do percurso histórico do SUS a partir das
conquistas e dos desafios ainda impostos ao sistema de saúde.

Você encontra esse artigo na base online da Scielo.

PAIM, J. S. Sistema Único de Saúde (SUS) aos 30 anos. Ciênc.


saúde coletiva, v. 23, n. 6. São Paulo, 2018. p. 1723-1728.

QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes
neste Aprendizagem em Foco.

29
Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão
elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em
Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas,
além de questões de interpretação com embasamento no
cabeçalho da questão.

1. A assistência à saúde, durante a Ditadura Militar,


apresentava uma dicotomia entre medicina previdenciária
e ações de prevenção e profilaxia. Sobre essas ações de
saúde, é correto afirmar que:

a. A medicina previdenciária era regulada e operada pelo


Ministério da Saúde.
b. As ações de prevenção e profilaxia eram responsabilidade
do Estado.
c. As principais políticas de saúde da Ditadura Militar
buscaram eliminar essa dicotomia.
d. A medicina previdenciária era universal para todos os
cidadãos brasileiros.
e. Dentro das ações de prevenção, estão incluídos os
benefícios de licença saúde.

2. A Reforma Sanitária Brasileira (RSB) foi um movimento


social que, na luta contra a ditadura, reivindicava algumas
propostas para a área da saúde. Dentre essas propostas,
é correto afirmar:

a. A RSB teve origem entre as camadas mais pobres


da população, que pleiteavam acesso à medicina
previdenciária.
b. A principal reivindicação da RSB era a luta por um modelo
privado de saúde.
c. Com forte crítica ao modelo de assistência à saúde da
época, a RSB lutava pela democratização da saúde.

30
d. Fez parte do movimento da RSB profissionais da saúde,
professores universitários e donos de planos de saúde.
e. O regime militar apoiava as discussões promovidas pela
RSB.

GABARITO

Questão 1 - Resposta B
Resolução: Mantendo a política iniciada por Vargas em
1930, o regime militar ampliou o orçamento da previdência
social e incentivou a assistência médica previdenciária.
Para o Ministério da Saúde, cabia a responsabilidade pelas
campanhas de prevenção e profilaxia de algumas doenças.
Questão 2 - Resposta C
Resolução: Em um período marcado pela repressão
política e por grande desigualdade de acesso a serviços
de saúde, o movimento da RSB reivindicava, sobretudo, a
democratização da saúde.

31
TEMA 4

Sistema Único de Saúde

INÍCIO
______________________________________________________________
Autoria: Mariana S. C. Vianna
Leitura crítica: Danielle Leite de Lemos Oliveira

TEMA 1
TEMA 2
TEMA 3
TEMA 4
DIRETO AO PONTO

Quando a Constituição Federal (CF) de 1988 foi criada, o contexto


político era de euforia. Após 21 anos de Ditadura Militar, o país
assumia o seu papel democrático aprovando a nova constituinte.
Na área da saúde, depois de muitas décadas em que grande parte
da população não tinha direito nem acesso aos serviços de saúde,
a CF assegurava o dever do Estado em garantir saúde para todos
os cidadãos. Iniciava-se, assim, a implantação do Sistema Único
de Saúde (SUS), que passados mais de 30 anos ainda não está
consolidado (PAIM, 2018).

A implantação do SUS tem percorrido um longo caminho nas


últimas décadas, em um movimento contra-hegemônico da política
nacional. As Leis Orgânicas do SUS (LOS), aprovadas em 1990,
foram promulgadas em um momento de instabilidade econômica
(inflação altíssima, congelamento de preços e de salários) e pela
pressão social daqueles que contribuíram para a criação do SUS.
Em termos políticos, o Governo Federal assumia uma política
neoliberal com pouca participação do Estado. Logo, um sistema de
saúde público e universal não condizia com essa política.

As LOS, leis 8080/1990 e 8142/1990, definem como esse sistema


de saúde deve se estruturar e sob quais princípios e diretrizes
deve se orientar, incluindo a participação popular como ator
importante na gestão desse sistema. São essas leis que definem o
SUS como um sistema de saúde, descentralizado e regionalizado,
com acesso universal, baseado na integralidade e na equidade.
No entanto, não definem todos os detalhes práticos sobre como
esse sistema aconteceria na prática, sendo necessárias novas
legislações para complementar as LOS.

No início da década de 1990, o Inamps (Instituto Nacional de


Assistência Médica da Previdência Social) ainda era o responsável

33
pelo orçamento destinado à assistência à saúde. Vale lembrar
que o Inamps foi criado sob a tutela do Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS) na Ditadura Militar, que por sua vez
surgiu da união dos Institutos de Aposentadoria e Pensão criados
por Vargas na década de 1930. A cultura desses três órgãos,
independentes do Ministério da Saúde, sucessivamente foi
baseada na assistência médica individual, com forte apelo dos
serviços privados de saúde e tendo o hospital como principal
referência de assistência – uma assistência curativa. Assim,
quando no início dos anos 1990 o Inamps tentou se manter
responsável pela assistência à saúde, mantendo as decisões
centralizadas na sua instância, houve uma resistência de muitos
atores sociais envolvidos com a criação do SUS.

Como forma de organizar a implantação do SUS, o Inamps


criou sob a forma de portaria a Norma Operacional Básica
(NOB) 01/1991. Seu caráter centralizador e contrário às LOS fez
com que ações judiciais contestassem seu texto, sendo assim
substituída pela NOB 01/1992. Após a extinção do Inamps, outras
duas NOBs foram criadas, em 1993 e 1996. Em comum, as NOBs
buscaram organizar as formas de financiamento das ações de
saúde e progredir (lentamente) na descentralização do sistema
de saúde (BRASIL, 2011).

Entre os anos 2001 e 2002 foram publicadas as Normas


Operacionais da Assistência à Saúde (Noas), que orientaram a
regionalização do SUS. Tanto as NOBs quanto as Noas mantinham
o Ministério da Saúde como o principal indutor das políticas de
saúde no país.

Em 2006 foi criado o Pacto pela Saúde, organizado em três


eixos: Pacto pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pacto de
Gestão. Como um acordo interfederativo, isto é, o Pacto pela
Saúde inovou ao garantir uma gestão compartilhada entre os

34
três níveis de governo: municipal, estadual e federal. De forma
pactuada, os três níveis de governo passaram a firmar um
Termo de Compromisso de Gestão, como forma de dividir as
responsabilidades pelas ações e políticas de saúde (BRASIL, 2011).

O Pacto pela Vida definiu prioridades de ações de saúde,


considerando os problemas mais relevantes. O Pacto em Defesa
do SUS se propôs a ampliar a valorização do SUS. E o Pacto de
Gestão propôs a criação de colegiados regionais permanentes
para planejamento das ações de saúde.

Foi só em 2011, a partir do Decreto 7508/2011, que a Lei 8080/1990


passou a ser regulamentada. Com o decreto e com portarias
ministeriais que se seguiram a ele, foram criados o Contrato de
Ação Pública (um contrato firmado entre os gestores judicialmente)
e a política das Redes de Atenção à Saúde, uma forma de qualificar
a regionalização das ações de saúde.

Figura 1 – Evolução da descentralização do SUS desde 1991

Fonte: elaborada pela autora.

O SUS permanece, portanto, em construção. Embora muitos


avanços tenham acontecido, especialmente se analisarmos
os indicadores de saúde do país nesses últimos 30 anos, os
desafios e as fragilidades desse sistema de saúde ainda existem,
sendo necessários mais atores políticos dispostos a consolidar a
sua implantação.

35
Referências bibliográficas
BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Legislação estruturante
do SUS. Coleção Para Entender a Gestão do SUS, v 13. Brasília: CONASS,
2011. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/para_
entender_gestao_sus_v13.pdf. Acesso em: 11 out. 2020.
PAIM, J. S. Sistema Único de Saúde (SUS) aos 30 anos. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, 23(6):1723-1728, 2018. DOI: 10.1590/1413-
81232018236.09172018. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csc/
v23n6/1413-8123-csc-23-06-1723.pdf. Acesso em: 6 out. 2020.

PARA SABER MAIS

Você já parou para pensar nas diferenças entre os termos “Saúde


Coletiva” e “Saúde Pública”? Embora às vezes sejam usados como
sinônimos, cada um desses conceitos tem o seu significado, que
são diferentes.

Saúde coletiva: a Saúde Coletiva é um campo do saber científico


que analisa as necessidades de saúde de uma comunidade ou
população, compreendendo essas necessidades para além da
relação saúde versus doença – inclui as relações sociais e as
necessidades sociais que surgem daí, enxergando o processo
saúde-doença como um processo social. Utiliza instrumentos das
ciências sociais, da epidemiologia social e de gestão democrática.
No Brasil, o termo “Saúde Coletiva” tem profunda ligação com o
movimento da Reforma Sanitária Brasileira na década de 1970
(PAIM; ALMEIDA FILHO, 1998).

Saúde pública: existem várias definições para o termo “Saúde


Pública”. De maneira geral, pode ser descrita como um campo do
saber que busca “prevenir doenças, prolongar a vida e promover
a saúde” (WINSLOW apud LECHOPIER, 2015). Se apoia em ações
de controle de doenças transmissíveis, controle do ambiente
e no desenvolvimento de políticas governamentais voltadas

36
para a sociedade como um todo. Utiliza como instrumentos a
epidemiologia tradicional.

Tanto a Saúde Coletiva quanto a Saúde Pública são áreas da ciência


que têm suas definições e formas de atuação muito mais complexas
do que foi descrito aqui. As duas áreas têm sua construção histórica
e social que lhes conferem as suas características e suas diferenças.
Para nós, profissionais da saúde, é importante sabermos que as
duas áreas não são iguais, embora se complementem.

Referências bibliográficas
LECHOPIER, N. Quatro tensões na saúde pública. Estudos Avançados, São
Paulo, 29 (83), 2015. DOI: 10.1590/S0103-40142015000100011. Disponível
em: https://www.scielo.br/pdf/ea/v29n83/0103-4014-ea-29-83-00209.pdf.
Acesso em: 11 out. 2020.
PAIM, J. S.; ALMEIDA FILHO, N. Saúde coletiva: uma “nova saúde pública”
ou campo aberto a novos paradigmas? Rev. Saúde Pública, São Paulo, 32
(4): 299-316, 1998. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/rsp/1998.
v32n4/299-316/pt. Acesso em: 11 out. 2020.

TEORIA EM PRÁTICA

O SUS é um sistema de saúde que não encontra comparação.


Nenhum outro país do mundo, com as dimensões territorial e
populacional como o Brasil, tem um sistema de saúde público,
universal, com assistência odontológica e distribuição gratuita de
medicamentos. Embora ainda encontre muitos desafios a serem
superados, permitiu uma melhora nos indicadores de saúde do
país nas últimas décadas, de forma incontestável. Provavelmente,
você já deve ter visto situações em seu dia a dia que são exemplos
desses desafios do SUS. Longas filas de espera, muitas reclamações
da população e recursos insuficientes são alguns deles. Como
você relaciona esses problemas com a evolução de leis, normas e
portarias que regulamentam o SUS ao longo das últimas décadas?

37
Para conhecer a resolução comentada proposta pelo
professor, acesse a videoaula deste Teoria em Prática no
ambiente de aprendizagem.

LEITURA FUNDAMENTAL
Indicações de leitura

Indicação 1

Esse artigo traz uma análise sobre as relações entre políticas,


políticas de saúde e o campo da Saúde Coletiva no Brasil. Faz uma
reflexão pertinente sobre a relação entre esse campo de saber e
as políticas de saúde brasileiras.

Você encontra esse artigo na base da Scielo.

VAITSMAN, J.; RIBEIRO, J. M.; LOBATO, L. V. C. Análise de políticas,


políticas de saúde e a Saúde Coletiva. Physis Revista de Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, 23 [2]: 589-611, 2013.

Indicação 2

Fazendo uma análise reflexiva sobre o contexto histórico e social


da construção do SUS, esse artigo elenca alguns aspectos que
contribuem para a crise do nosso sistema de saúde.

Esse artigo também está disponível na base da Scielo.

GUIMARÃES, J. R.; SANTOS, R. T. Em busca do tempo perdido:


anotações sobre os determinantes políticos da crise do SUS.
Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 43, n. especial 8, p. 219-233,
dez. 2019.

38
QUIZ

Prezado aluno, as questões do Quiz têm como propósito a


verificação de leitura dos itens Direto ao Ponto, Para Saber
Mais, Teoria em Prática e Leitura Fundamental, presentes
neste Aprendizagem em Foco.

Para as avaliações virtuais e presenciais, as questões serão


elaboradas a partir de todos os itens do Aprendizagem em
Foco e dos slides usados para a gravação das videoaulas,
além de questões de interpretação com embasamento no
cabeçalho da questão.

1. As leis orgânicas do SUS definem os princípios e diretrizes


do SUS, com destaque para:

a. Universalidade, integração social e centralização.


b. Integralidade, participação política partidária e
descentralização.
c. Regionalização, equidade e participação popular.
d. Equidade, regulação e integração social.
e. Centralização, integralidade e regulação.

2. Após a aprovação da Constituição Federal, o início da


implantação do SUS passou a ser do Ministério da Saúde.
No entanto, a primeira norma operacional foi editada pelo:

a. INPS.
b. Inamps.
c. IAP.
d. Conass.
e. Conasems.

39
GABARITO

Questão 1 - Resposta C
Resolução: São diretrizes do SUS a regionalização e a
participação popular, sendo a equidade um dos seus
princípios.
Questão 2 - Resposta B
Resolução: Mantendo o caráter centralizador das
decisões que aconteciam antes do SUS, o Inamps editou
a 1ª NOB, em 1991, muito criticada na época por ferir as
Leis Orgânicas da Saúde (LOS).

40
BONS ESTUDOS!

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