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TÍTULO: O PSICÓLOGO NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE: PRÁTICAS E PERSPECTIVAS

CATEGORIA: CONCLUÍDO

ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

SUBÁREA: Psicologia

INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES - UMC

AUTOR(ES): VINICIUS ARAUJO DA SILVA, JONATHAN FON GARCIA

ORIENTADOR(ES): FLAVIO ALVES DA SILVA

Realização: IES parceiras:


1 RESUMO

Sabe-se que a atenção básica é a principal porta de entrada para o SUS,


abrangendo cerca de 80% a 90% das questões de saúde da população, porém,
inserção do psicólogo neste âmbito ocorreu de forma progressiva e, historicamente
falando, recentemente. Tal situação impõe o desafio de refletir, registrar e sistematizar
práticas de psicólogos no âmbito da atenção básica, discutir sua presença, bem como
seus processos de formação. Este estudo parte da hipótese de que a inserção do
profissional de Psicologia na Saúde Pública, em especial na Atenção Básica, ainda é
um campo prático permeada por incertezas sobre o papel do psicólogo. Trata-se de
uma pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo exploratória, que se utilizou da
metodologia da História Oral de Vida, conforme o proposto por Meihy (1991). A
pesquisa foi executada com entrevistas abertas. Foram entrevistados ao todo 10
psicólogos que relataram suas atuações, técnicas utilizadas, diretrizes seguidas e
perspectivas em relação ao sistema de saúde pública.

2 INTRODUÇÃO

A Atenção Básica em Saúde (ABS), também denominada como Atenção


Primária (APS), caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde realizadas, tanto
individual quanto coletivamente, abarcando a promoção e proteção da saúde,
prevenção, reabilitação, redução de danos e agravos, diagnósticos e tratamentos,
tendo como intuito fornecer uma atenção integral ao sujeito, que se reflita nas
condições de saúde e de autonomia das pessoas. Além do nível primário, o SUS
possui ainda dois níveis de atuação: o secundário, que é responsável por atender
demandas relacionadas ao agravamento da saúde, exigindo profissionais
especializados e recursos mais avançados e o terciário, que diz respeito à um
procedimento ainda mais complexo, no qual a especialização dos profissionais, as
tecnologias e os custos, são mais elevados (CINTRA, BERNARDO, 2017;
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
Para a Organização Pan-Americana de Saúde - OPAS (2019), é na atenção
básica que cerca de 80 a 90% dos problemas de saúde da população são atendidos,
oferecendo uma atenção integral. As políticas de atenção básica se organizam,
principalmente, a partir de equipamentos como as Unidades Básicas de Saúde, que
são as unidades nas quais se realizam trabalhos relacionados à saúde, visando
desenvolver serviços e ações de atenção básica (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017),
que se encontram perto de onde as pessoas vivem e desempenham suas atividades
cotidianas (PNAB, 2012) e cujos serviços ofertados possuem como base os princípios
do SUS de universalidade; equidade e integralidade, ou seja, princípios que
possibilitam pensar a saúde como direito, buscando evitar desigualdades no acesso
a serviços, profissionais e recursos, por meio da difusão em diferentes locais (SPINK,
2007). Há vários profissionais que desempenham papéis importantes na atenção
básica, dentre eles: médicos, cirurgiões-dentistas, assistentes sociais, entre outros
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
O adentrar do profissional de psicologia no âmbito da saúde pública aconteceu
no final dos anos 70, visando a elaboração de formas alternativas de cuidado
dissonantes do modelo hospitalocêntrico até então vigente, tendo como pano de fundo
a diminuição dos gastos públicos e maximizar a eficácia dos atendimento,
trabalhando, para tanto, com equipes multiprofissionais ( CARVALHO E YAMAMOTO,
2002 apud PIRES E BRAGA, 2009).
Em decorrência de tais mudanças, a Psicologia foi progressivamente inserindo-
se em hospitais, ambulatórios, UBS e CAPS (LEITE, ANDRADE E BOSI, 2013).
Porém a inserção de psicólogos na ABS é recente, logo, trata-se uma profissão nova
na saúde pública brasileira, uma vez que só foi inserida em tal âmbito a partir da
década de 90 (BOING E CREPALDI, 2010) e, em 2008, na atenção básica, a partir
da criação do Núcleo de Apoio à Saúde de Família (NASF), que tem por objetivo
realizar uma atuação contextualizada, buscando a integralidade do atendimento aos
usuários do SUS, complementando os trabalhos dos profissionais da Estratégia de
Saúde da Família(CEZAR, RODRIGUES, ARPINI, 2015).
O ingresso recente de psicólogos nas políticas de atenção básica em saúde foi
um avanço significativo para a profissão e para a promoção de bem-estar da
população, porém ainda há certa confusão sobre quais práticas devem ser feitas pelo
psicólogo nesse nível de atenção, que geralmente são marcadas pela manutenção de
práticas clínicas, pouco contextualizadas, advinda de uma formação tradicional que
não prepara o profissional para ser inserido em tal âmbito (CEZAR, RODRIGUES,
ARPINI, 2015.
Tal situação impõe o desafio de refletir, registrar e sistematizar práticas de
psicólogos no âmbito da atenção básica, discutir sua presença, bem como seus
processos de formação. Este estudo parte da hipótese de que a inserção do
profissional de Psicologia na Saúde Pública, em especial na Atenção Básica, ainda é
um campo prático permeada por incertezas sobre o papel do psicólogo, considera
ainda que a formação de psicólogos privilegiam o desenvolvimento de profissionais
liberais, com foco em saberes e práticas clínicas, em detrimento da formação de
profissionais para atuarem no Sistema Único de Saúde, o que gera dificuldades para
os profissionais e usuários e limita as possibilidades de atuação do psicólogo.
Logo, é preciso que, cada vez mais, se discuta as práticas de psicólogos nas
mais diversas áreas de atuação, em especial na ABS. É na atenção básica que a
maioria dos problemas de saúde são resolvidos, o que a coloca como um poderoso
instrumento de promoção de saúde no país. É preciso considerar ainda que há pouca
pesquisa produzida a respeito da inserção de psicólogos na ABS, o que impacta
diretamente na formação de futuros profissionais e na capacitação dos que já atuam
neste campo. Logo, o tema passa a ser de interesse dos pesquisadores, que, como
futuros profissionais, querem contribuir com um estudo sistematizado das práticas do
Psicólogo, além de ampliarem o conhecimento dos mesmo sobre tal área.

3 OBJETIVOS

Este estudo teve como objetivo geral identificar e analisar as principais práticas
de profissionais psicólogos que atuam no âmbito da Atenção Básica/ Primária do
Sistema Único de Saúde, e como específicos: a) identificar os recursos e técnicas
utilizados no atendimento oferecido à população adstrita aos equipamentos nos quais
o profissional de psicologia atua; b) verificar como se dá a construção da rede de
Atenção Básica em Saúde, suas portas de entrada, programas e relações de
referência e contrarreferência; e c) identificar as dificuldades e potencialidades do
trabalho do psicólogo na Atenção Básica.

4 METODOLOGIA

Trata-se de pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo exploratória, que se


utilizou da metodologia da História Oral de Vida, conforme o proposto por Meihy
(1991). A pesquisa foi executada com entrevistas abertas com os psicólogos, a partir
da seguinte questão disparadora: “Pode nos contar sobre sua experiência na atuação
na rede de atenção básica de saúde enquanto psicólogo?” O estudo foi submetido e
aprovado pelo CEP/CONEP (CAEE: 16585619.3.0000.5497 e Parecer CEP/CONEP:
3.658.837)

5 DESENVOLVIMENTO

Foram participantes do estudo 10 (dez) Psicólogos com plena atuação na rede


de Atenção Básica de Saúde na Região da Grande São Paulo. Como critério de
inclusão, se fez necessário o desempenhar da função de psicólogo na rede de atenção
básica de saúde há pelo menos dois anos. Foram excluídos os participantes que,
apesar de nomeados como psicólogos no equipamento, não desempenhassem
funções diversas da de psicólogo e sem contato direto com a população usuária do
serviço de saúde, ou seja, profissional em desvio de função. As entrevistas foram
transcritas, textualizadas, transcriadas e cartografadas e, neste processo, marcou-se
as palavras-chave que continham a questão da pesquisa e, nos resultados, foram
dialogadas com a literatura e as impressões dos pesquisadores.

6 RESULTADOS

A seguir, serão apresentados os resultados obtidos por meio dos depoimentos


de dez psicólogos, dos quais 6 são mulheres e 4 homens, atuantes na rede de atenção
básica de saúde. Os participantes são de diferentes cidades da região metropolitana
do Estado de São Paulo e estão identificados pela letra “P”, seguido de um número
específico para cada um, a fim de manter preservadas suas identidades.
Olhando para os relatos dos depoentes, pode-se identificar um padrão nas
falas sobre suas atuações enquanto psicólogos na atenção básica: “Em relação a
minha atuação, eu posso dizer que é bem diversificada” (P9); “Na atenção básica
você acaba trabalhando com diversas demandas, de diversas idades, de diversas
situações e sintomas” (P6); “Somos contratados para atender qualquer demanda, seja
criança, adolescente, idoso, homens, mulheres, enfim, tudo” (P4).
Os profissionais parecem considerar suas práticas diversificadas, pois atendem
vários tipos de demandas, porém, conforme Rocha, Almeida e Ferreira (2016), pensar
uma atuação diversificada não se resume a isto, mas sim em promover formas de
cuidado diversas, levando em conta os aspectos subjetivos do usuário, sem se tornar
“escravo” de uma prática ritualística e mecanizada.
De acordo com Silva (2019), os atendimentos neste âmbito devem ocorrer de
variadas formas de intervenções, podendo ser em grupos, individual, acolhimento,
palestras, oficinas, etc. De fato, isto aparece nas falas dos depoentes: “aqui na rede
de atenção, a gente trabalha com atendimento individual e atendimentos em grupo”
(P3); “Eu tenho dois focos principais: um deles é o contato direto com o usuário, que
isso acontece via atividade clínica, ou consulta individual ou os grupos terapêuticos
também e, alguns, que não são terapêuticos, mas que eu participo junto com o
restante das equipes” (P5); “Quando a gente fala de prevenção e promoção, a gente
trabalha mais nos grupos, tem os que a gente fala que são os grupos aberto da
unidade. O de reabilitação, de psicoterapia são fechados” (P7).
Olhando para os relatos acima, as práticas de grupos se mostram como uma
das principais ferramentas utilizadas na atenção básica e, segundo o “Guia prático de
matriciamento em saúde mental”, desenvolvido junto ao ministério da saúde (2011),
muitas vezes (o que não parece ser o caso dos depoentes), são pensados como ações
educativas e praticados de forma a se perder várias ações terapêuticas,
desempenhando um papel de simples transmissão de informações.
Ou seja, a simples utilização de técnicas distintas não necessariamente
expressa o caráter de uma atuação diversificada, pois, ainda assim, podem ser
aplicadas de uma forma mecânica. Então, como identificar se uma atuação é de fato
diversificada? Se faz necessário entender não somente quais técnicas, mas também
os princípios que norteiam estes profissionais: “A gente tem que voltar pro SUS, para
as leis, para as partes de direitos sociais, pra poder trabalhar [...]. Não tem como ficar
só com uma técnica, exige muita criatividade” (P1); “a psicoterapia não é a única
possibilidade. Por exemplo, tem uma pista de skate onde você trabalha, então você
estar ali na pista treinando com a molecada, pode produzir um cuidado muito mais
potente do que fazer uma palestra” (P9); Deste modo, o fazer psicológico na atenção
básica não é, tão somente, um amontoado de regras, técnicas ou ações propostas
por um protocolo, pois, mais importante do que a intervenção em si, é a capacidade
do psicólogo em compreender e refletir sobre o seu papel dentro deste contexto.
Pensando para uma atuação para além da clínica tradicional, a pergunta que
se deve fazer é: será que os cursos de psicologia do país preparam, minimamente, o
futuro profissional para atuar na saúde pública? Ou ainda há certa cristalização e
hierarquização de um modo de ser psicólogo, como aquele onde o viés intraindividual
e o modelo clínico hegemônico em psicologia imperam sem, portanto, considerar os
condicionantes históricos, econômicos, sociais e políticos nos quais estão inseridos?
As falas dos depoentes apontam para que as pessoas mais pobres são os
principais usuários do SUS: “Eu acho que essa questão social, que é gritante,[...] não
tem como você querendo fazer análise com a pessoa, ficar lá querendo que ela fale,
elabore se ela não tem o que comer, se ela foi assaltada e machucaram ela, se ela
sofre violência em casa” (P1); “Hoje eu trabalho na região leste do estado, que é bem
vulnerável” (P6). Em contrapartida, a Psicologia se constituiu ao longo da história
sobre uma perspectiva predominantemente elitista que, no seu início, era uma
profissão para os mais favorecidos economicamente e, estes, eram comprometidos
com os ideais de sua classe social.
Ou seja, olhando para os contextos que cercam psicólogo e usuário, os dois
podem ser demarcados por diferentes representações: enquanto o primeiro é tido
como agente de uma prática que historicamente não alcança pessoas menos
privilegiadas socioeconomicamente, o segundo é justamente visto como parte dessa
população que não tem tais privilégios. Posto isto, é necessário problematizar a
formação do psicólogo, pois esta deve ser socialmente comprometida (RECHTMAN e
BOCK, 2019), mas não excludente, pois é um profissional que atenderá sujeitos com
diversas demandas, de diferentes classes sociais, compreendendo e analisando as
nuances de cada situação, atuando em consonância com os princípios do SUS, entre
eles, a universalidade.
Ainda segundo Rechtman e Bock (2019), há um movimento de reforma se
instalando nos cursos de psicologia do país, ampliando matérias e estágios que
contemplem essa temática, dando ferramentas para que os alunos possam,
minimamente, compreender. Isso se mostra na fala de P5: “onde eu estudei, hoje tem
matérias voltadas para saúde pública, na minha época não tinha. Tive aula de
anatomia, tive aula de português, tive aula de biologia”.
Tomando como base as depoimentos acima, pode-se sintetizar que, sim,
atualmente a formação do psicólogo tem uma nova proposta que tenta ampliar o
compromisso para com a sociedade, no entanto, ainda é um movimento embrionário
e necessita de mais investimentos e tempo, mas que ruma para uma direção otimista,
em que o estudante de psicologia compreenda desde a formação outros modos de
atuação.
O SUS oferece outras ferramentas próprias da saúde pública, uma delas é a
articulação entre os diferentes níveis atenção, equipamento e serviços, formando
assim uma rede que tem sua maior porta de entrada na atenção básica (FAGUNDES
e DEUSDEDIT, 2016): “Falar também da importância do trabalho em rede. Nem tudo
fica na atenção básica, mas tudo deveria ou tudo acaba passando pela atenção
básica” (P6); “Se o paciente chega, e precisa de atendimento psiquiátrico, por
exemplo, a nossa referência é o Centro de Saúde II” (P3); “Geralmente, quando entra
em crise, às vezes tem que encaminhar para hospitais, por exemplo, entra na UBS e
é caso grave e precisa do hospital, a gente encaminha” (P10). Estas falas mostram
um ponto muito importante: nem todos os casos são contemplados unicamente pela
atenção básica, a saúde do usuário deve ser pensada conforme os princípios do SUS,
que tem a integralidade como um deles. Por este motivo se faz necessário que o
psicólogo, enquanto profissional, tenha conhecimento sobre a construção da rede que
abrange o território do equipamento onde está inserido.
Então, tomando por base tudo o que foi apresentafo até aqui, entende-se que
a atuação em rede é uma grande ferramenta para os profissionais da saúde e,
consequentemente, para o psicólogo também, pois possibilita a construção de um
cuidado ampliado. Para isso, há de se ter uma relação próxima com os outros
equipamentos de saúde marcada por uma dialogicidade, a fim de que esse fazer
compartilhado não se perca, e o usuário não seja tratado como uma bola numa partida
de tênis: jogado de um lado para o outro.
Ao se discutir sobre as práticas do psicólogo nesse âmbito, não se pode
simplesmente manter as atenções centradas somente no profissional, pois além dele,
as políticas públicas e os projetos voltados para a saúde de modo geral, influenciam
muito. Mas afinal, o que de fato são políticas públicas e porque elas são tão
importantes nessa discussão?
De acordo com Heringer (2018), da forma mais resumida possível, políticas
públicas são todas as ações de um governo (federal, estadual e municipal), ou seja,
são as metas, projetos, programas, leis e orçamentos propostos pelo estado a fim de
que se alcance um “bem-estar” da sociedade. Nesse sentido, o SUS nada mais é do
que uma política pública, por isso, é importante entender qual o projeto de governo
voltado para essa área, pois disso dependem as garantias que a sociedade tem em
relação ao acesso à saúde e da qualidade de serviço que um profissional, que trabalhe
em algum equipamento de saúde pública, pode oferecer.
Ao pensar sobre quais as políticas públicas, voltadas para saúde, em curso no
Brasil, há de se ter um olhar mais amplo: desde a sua instituição em 1988, o SUS teve
momentos de investimento e cortes por parte dos governos vigentes, no entanto,
desde 2014 há um processo de “diminuição” do SUS que, após o golpe de 2016, vem
aumentando (NORONHA et al, 2018). Esse processo de diminuição chegou ao auge
com a emenda constitucional 95, que foi instituída durante o governo Temer e mantida
no governo Bolsonaro, que visa congelar os gastos em vários setores públicos,
gerando assim, um corte de quase R$ 20 bilhões de reais na saúde em 2019, com
perspectivas piores para os próximos anos (SOUZA, 2020).
Os posicionamentos e apresentados até aqui, vão ao encontro com os
depimentos e perspectivas dos psicólogos que estão inseridos nesse contexto: “um
período bem complicado, várias políticas públicas sendo diminuídas, serviços sendo
fechados” (P6); “A gente está num momento de desmonte, de desmantelamento total”
(P4); “O SUS é tripartite, verba federal, estadual e municipal, o NASF vai funcionar
com verba estadual e municipal, boa sorte! Não teremos mais a verba federal” (P8).
Quando os dados são cruzados com as falas de profissionais atuantes na
saúde pública, fica nítido que há uma política pública de desmonte do SUS e, neste
contexto, pode-se achar um paralelo com a história de Geni, uma personagem da
música de Chico Buarque (1979). Na letra, Geni é achincalhada por todos da cidade,
mas ao se deparar com uma situação onde apenas a dama poderia salvá-los, os
cidadãos lhe imploram por socorro, no entanto, após se livrarem do perigo, ela volta a
ser atacada. Com o SUS, seguem a mesma lógica, sempre atacado, mas com o
advento da pandemia, está sendo glorificado. O questionamento que fica é: será que
o SUS terá o mesmo fim?

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após refletir sobre as falas dos depoentes, pode-se chegar a uma ideia de que
não há uma atuação específica para o psicólogo na atenção básica, mas sim que esta
pode se dar das mais variadas formas criativas que fogem da ideia de uma prática
clínica com um setting tradicional. O principal fator é ter uma prática pautada pela ética
e pelos preceitos e diretrizes do SUS (universalidade, integralidade, equidade,
conhecimento de toda a rede de atenção, clínica ampliada, matriciamento, etc.), que
priorizam a construção de um saber horizontalizado, onde o usuário deve fazer parte
da sua própria produção de saúde. Outro apontamento importante é em relação a
formação que, no geral, ainda segue presa à esta lógica de um fazer psicológico mais
tradicional, o que por vezes, acaba sendo excludente. Além disso, uma noção política
se mostra de forma muito importante para o psicólogo enquanto profissional do SUS,
pois suas práticas são atravessadas por políticas públicas, então é preciso saber pelo
o que, e a quem, se deve reivindicar. Este estudo não permite generalizações, mas
levanta informações importantes sobre a prática psicológica na APS, neste sentido,
sugere-se a realização de novos estudos.

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