Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Contextualização: A Saúde tem sido tradicionalmente definida em termos de prevalência ou ausência de doenças. Sem dúvida,
a boa saúde é destacada como o valor de maior importância em todas as sociedades. É considerado o mais precioso dos bens.
Entretanto, definir saúde como um conceito operacional tem sido ilusório. Desde a antiguidade, saúde tem sido relacionada a
um estado físico ou mental. Muitas avaliações da saúde enfocam a ausência de ameaças importantes à sociedade em uma
dada época, como morte por fome ou inanição, epidemias e nos últimos anos, doenças crônicas. Objectivos: O presente artigo
busca analisar a relação entre a doença, a saúde e os determinantes sociais. Apresentando inicialmente o conceito de
determinantes sociais de saúde (DSS) e uma breve evolução histórica dos diversos paradigmas explicativos do processo
saúde/doença no âmbito das sociedades. Metodologia: O artigo em causa ira observar busca de conteúdos em várias fontes
com mais foco a pesquisa bibliográfica. Fontes estas que abordam esta temática em sua totalidade e outros conteúdos
bibliográficos electrónicos em formato pdf conforme citam (Gil, 2007), e o manual de normas de publicação de trabalhos que
ajudaram a enriquecer o conteúdo e estrutura do presente trabalho.
Abstract
Background: Health has traditionally been defined in terms of the prevalence or absence of disease. Undoubtedly, good health is
highlighted as the most important value in all societies. It is considered the most precious of goods. However, defining health as
an operational concept has been elusive. Since ancient times, health has been related to a physical or mental state. Many health
assessments focus on the absence of major threats to society at a given time, such as death from hunger or starvation,
epidemics, and in recent years, chronic disease. Objectives: This article seeks to analyze the relationship between illness, health
and social determinants. Initially presenting the concept of social determinants of health (SDH) and a brief historical evolution of
the different explanatory paradigms of the health/disease process within societies. Methodology: The article in question will
observe content search in various sources with more focus on bibliographic research. These sources that approach this theme in
its entirety and other electronic bibliographic contents in pdf format as mentioned (Gil, 2007), and the manual of standards for
publishing works that helped to enrich the content and structure of this work.
Nesse sentido, o presente artigo torna importante destacar a relação doença, a saúde e os devidos determinantes
sociais.
2. A Saúde
Segundo o conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS, 1947), com ampla divulgação e conhecimento, a
saúde é definida como:
“Um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de
doença ou enfermidade.”
Dentre diversas outras abordagens possíveis para se entender o conceito de saúde, apresentaremos uma que nos
parece mais útil à nossa discussão, e que tem sido defendida por alguns autores. (Narvai et al., 2008). Pode-se
então descrever a condição de saúde, didaticamente, segundo a soma de três planos: subindividual, individual e
coletivo, apresentados a seguir:
Em suma, enxergando-se a condição de saúde segundo esses três planos, compreende-se melhor porque somente
em situações muito específicas a saúde resulta apenas da disponibilidade e do acesso aos serviços de saúde.
Assim, o direito à saúde deveria ser entendido de forma mais abrangente do que apenas o direito ao acesso aos
serviços de saúde (Narvai et al., 2008).
A saúde é silenciosa, geralmente não a percebemos em sua plenitude; na maior parte das vezes apenas a
identificamos quando adoecemos. É uma experiência de vida, vivenciada no âmago do corpo individual. Ouvir o
próprio corpo é uma boa estratégia para assegurar a saúde com qualidade, pois não existe um limite preciso entre a
saúde e a doença, mas uma relação de reciprocidade entre ambas; entre a normalidade e a patologia, na qual os
mesmos fatores que permitem ao homem viver (alimento, água, ar, clima, habitação, trabalho, tecnologia, relações
familiares e sociais) podem causar doença, se agem com determinada intensidade, se pesam em excesso ou
faltam, se agem sem controle.
Essa relação é demarcada pela forma de vida dos seres humanos, pelos determinantes biológicos, psicológicos e
sociais. Tal constatação nos remete à reflexão de o processo saúde-doença-adoecimento ocorrer de maneira
desigual entre os indivíduos, as classes e os povos, recebendo influência direta do local que os seres ocupam na
sociedade. (Berlinguer in Brêtas; Gamba, 2006).
O meio interno corresponde ao locus em que ocorrem mudanças bioquímicas, fisiológicas e histológicas, de acordo
com a moléstia; neste meio atuam elementos de origem intrínseca, como os fatores hereditários ou congênitos e
especificidades orgânicas do indivíduo. (Almeida; Rouquayrol, 2006).
Partindo destes pressupostos classificativos acima citados Almeida e Rouquayrol (2006), enfatizam que estes
agentes têm natureza variada, que pode ser física, química, biológica, nutricional ou genética, e nenhum deles é
suficientemente capaz de desenvolver uma doença isoladamente, portanto, o processo saúde-doença depende da
interação de diversos fatores que juntos geram um estímulo patológico de maior ou menor força.
Ainda Almeida e Rouquayrol (2006), sustentam que a doença propriamente dita possui quatro níveis de evolução
definidos como:
Interação agente-sujeito: determinados fatores atuam propiciando a outros patógenos a ação sobre o
organismo, como as concentrações elevadas de colesterol que favorecem o aparecimento da doença
coronariana ou o déficit nutricional facilitando a ação do bacilo da tuberculose;
Alterações bioquímicas, histológicas e fisiológicas: as alterações ocorridas são imperceptíveis em nível
clínico, porém podem ser detectadas com exames específicos. Corresponde ao período de latência, a
doença está instalada, mas o indivíduo ainda não identificou modificações da normalidade em seu
organismo. Devido à patogenicidade dos agentes atuantes e do estado de saúde, a doença pode produzir
maiores perturbações causando sinais e sintomas; pode regredir espontaneamente sem causar maiores
impactos ou ainda permanecer vários períodos em latência até produzir danos perceptíveis;
Sinais e sintomas: definido como estágio clínico, surgem sinais e sintomas evidenciando a ruptura da
normalidade do organismo; e,
Cronicidade: após o estágio clínico, o doente evolui para um período de cronicidade ou a um determinado
nível de incapacidade que o impede de exercer suas tarefas cotidianas normalmente. Deste momento, a
doença evolui para cura, invalidez ou morte.
Percebe-se que a análise da doença sob esta ultima perspetiva, reconhece o inter-relacionamento múltiplo e
recíproco de diferentes e complexos fatores que atuam na determinação da doença.
Na discussão dos conceitos saúde-doença tem se somado o de determinantes de saúde, a partir de comentários
publicados nas décadas de setenta e oitenta relacionados às preocupações oriundas das limitações percebidas em
certas intervenções sobre a saúde, quando orientadas pelo risco de doença nos indivíduos. Diferentes políticas de
governo, dependendo da sua natureza, podem melhorar ou degradar a saúde e a equidade na saúde. Políticas
públicas de qualidade podem produzir benefícios na saúde de forma imediata e em longo prazo.
A saúde não é uma mercadoria transacionável no mercado; é uma questão de direitos e um dever do setor público.
Como tal, os recursos para o setor devem ser equitativos e universais. A experiência demonstra que a
comercialização de bens sociais vitais, tais como educação e cuidados de saúde, provoca desigualdades na saúde;
a oferta desses bens sociais vitais tem de ser administrada pelo setor público, e não deixada a cargo dos mercados.
Entende-se que a saúde do indivíduo está intimamente relacionada à sociedade na qual está inserido, o que implica
em pesquisas e ações políticas que tragam em seu bojo uma maior compreensão de aspectos socioeconômicos,
culturais e ambientais com vias à melhoria de fato na saúde das populações (Solar & Irwin, 2005).
O conceito de determinantes sociais da saúde (DSS), se refere aos fatores de ordem econômica e social que afetam
as condições de saúde de uma população e estão relacionados tanto a aspectos específicos do contexto social
como também para a forma como as condições sociais refletem esse impacto sobre a saúde (Solar & Irwin, 2005;
Lopes, 2006a). Os determinantes sociais que merecem atenção são aqueles que podem ser potencialmente
alterados pela ação baseada em informações sobre renda, educação, condições de habitação, trabalho, transporte,
saneamento, meio ambiente das populações.
O conceito de DSS implica em outro conceito que é o de equidade, definida como ausência de diferenças injustas,
evitáveis ou remediáveis na saúde de populações ou grupos definidos com critérios sociais, econômicos,
demográficos ou geográficos (Evans et al., 2001).
A epidemiologista Barata, membro também da CNDSS (citado em Lopes, 2006c), revela que além dos deter-
minantes sociais relativos às condições materiais de vida das pessoas, como habitação, saneamento, transporte,
etc., há os decorrentes da esfera do relacionamento humano, como relações de gênero, etnia e geração, que
também provocam desigualdades e produzem doenças. Alerta que, para enfrentar esse tipo de desigualdade, é
necessário atuar dentro e fora do setor da saúde, exigindo que as diferentes políticas públicas levem esses aspectos
em consideração.
Segundo Santanna et al. (2010), os determinantes sociais de saúde são fatores que interferem nas especificidades
do indivíduo e do coletivo com reflexos no processo saúde-doença. Estes determinantes são divididos em três tipos,
entretanto esta divisão é apenas teórica, ocorrendo uma interação múltipla e recíproca desses determinantes na
prática:
Intermediários: relacionados aos aspectos comportamentais de vários grupos, como as redes sociais,
comunitárias e de saúde;
Distais: considera as características mais gerais, como condições de moradia, trabalho e fatores
socioeconômicos, culturais e ambientais.
Todos estes fatores ou determinantes sociais de saúde interagem na produção de saúde ou doença de uma
população. Faz-se necessário enfatizar que nenhum deles por si só é capaz de propiciar uma patologia, portanto, é
fundamental que as medidas preventivas sejam baseadas em mais de um fator para que se tenha êxito. (Santanna
et al., 2010).
As relações entre determinantes sociais e saúde consistem em estabelecer uma hierarquia de determinações entre
fatores mais distais, sociais, econômicos e políticos e mais proximais relacionados diretamente ao modo de vida,
sendo distintos os fatores que afetam a situação de saúde de grupos e de pessoas como veremos a seguir.
5
4.5
4 4.3
3.5
3 3.4
2.5 2.9
2
2
1.5 1.7
1
1
0.5
0
Impacto dos Determinantes sociais
3. Conclusão
Apos a compilação do presente artigo, observou-se que, a saúde e o adoecer são experiências subjetivas e
individuais, conhecidas de maneira intuitiva, dificilmente descritas ou quantificáveis. É na lógica relacional que se
visualiza o cuidado e a assistência pelos profissionais da saúde, que se concretizam de forma abrangente quando
aliados aos conhecimentos técnicos, científicos e políticos, capazes de sustentar as bases do cuidado profissional, a
sensibilidade humana para compreender a subjetividade expressa pelo ser que está sendo cuidado. Percebeu-se
que a promoção da saúde, a redução das iniquidades e o direito fundamental à saúde de todo ser humano são
divulgados amplamente, porém, na prática a realidade muitas vezes se contrapõe ao discurso. Não obstante, urge a
compreensão das várias medidas sanitárias, que dialoguem com as ações ambientais, sociais, políticas que
precisam ser construídas, nas diversas dimensões, no sentido ao combate das desigualdades sócio-ambientais, ao
compreender que o corpo humano não é um produto genérico isolado, pois existe em relação com outros seres em
um dado contexto social, cultural e político, entendem que, para cuidar da pessoa, faz-se necessário considerar
algumas questões pertinentes ao vínculo saúde-doença-adoecimento-sociedade: as condições de vida impostas e
os estilos de vida escolhidos pelos próprios indivíduos.
Referencias bibliográficas
Almeida, F, N. (2010). A problemática teórica da determinação social da saúde. In: Nogueira, R. P. (Org.).
Determinação social da saúde e reforma sanitária. Rio de Janeiro: Cebes.
CNDSS. (2008). As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil. In: Relatório final da comissão nacional
sobre determinantes sociais da saúde (CNDSS).
Evans, R.G.; Stoddart, G.L. (2003). Consuming research, producing policy? Am J Public Health: London.
Narvai, P. C.; Pedro, P. F. S. et al. (2008). Práticas de saúde pública: bases conceituais. São Paulo: Atheneu.
Nogueira, R. P. (2010). Determinação social da saúde e reforma sanitária. Rio de Janeiro: Cebes.
Buss, P, M; Pellegrini, F, Alberto. (2005). Iniquidades em saúde no Brasil, nossa mais grave doença, comentários
sobre o documento de referência e os trabalhos da Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais de Saúde . Rio
de Janeiro.
OMS. (2010). Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde. Redução das desigualdades no período de uma
geração: Igualdade na saúde através da acção sobre os seus determinantes sociais . Relatório Final da Comissão
para os Determinantes Sociais da Saúde. Portugal.
Rouquayrol, M, Z; Goldbaum, M. (2003). Epidemiologia, história natural e prevenção de doenças. In: Rouquayrol, M,
Z. Almeida, F, N, de. Epidemiologia e saúde. 6. Ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 2003. p. 17-35.