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O CONCEITO DE SAÚDE
O conceito de saúde reflete a conjuntura social, econômica, política e cultural. Ou seja: saúde
não representa a mesma coisa para todas as pessoas.
O conceito dependerá de: Época, do lugar, da classe social, valores individuais, concepções
científicas, religiosas e filosóficas.
O mesmo pode ser dito das doenças. Aquilo que é considerado doença varia muito.
Conhecer a história da saúde pública mundial nos faz entender a situação atual da saúde pública
global. A saúde acompanhou os processos históricos mundiais, e foi sendo remodelada a cada
período, assim como a saúde coletiva passou por altos e baixos de acordo com o conceito de doença,
e o conhecimento científico de cada momento. Portanto tendo em vista o que Gilberto Hochman,
Paula Xavier dos Santos e Fernando Pires-Alves nos dizem (2009):
“Que a saúde e a enfermidade são algo mais que fenômenos biológicos; de que em torno dos
cuidados, dos mecanismos de controle e das curas estão dimensões relevantes da história da
saúde e da doença [...] e que o processo saúde-doença é revelador de aspectos cruciais da
modernidade e da história social, política, intelectual e cultura”.
Podemos concluir que é de extrema importância conhecer e entender a evolução histórica da saúde
pública, assim recorda os costumes de alguns povos e isto era representado pelas doenças
características destes. A falta de higiene e as más condições de vida de outros, ao se tratar de doenças
que marcaram a identidade dos povos pelo mundo, não podemos deixar de citar as epidemias e pestes
que contribuíram para o final de algumas civilizações. Assim como na contemporaneidade temos
também enfermidades que são marcos de nossas interações com o meio podendo ser ele ambiental,
social ou econômico.
Pode-se dizer que a preocupação com a saúde da sociedade, da população de uma forma coletiva,
começou com as primeiras epidemias que afetaram um maior número de pessoas, e fizeram com que
se começasse a pensar na causa destas. Há na bíblia registros de doenças, como a lepra (hoje
conhecida como hanseníase), que afetaram a vida de
muitas pessoas ainda na época de Cristo, onde também já
aparece a preocupação de isolar essas pessoas, dando a
entender que se pensava no contágio e assim,
automaticamente, na saúde coletiva. Observasse pelos
relatos Bíblicos também que se tinha a compreensão que a
enfermidade era transmissível, mas que os isolamentos se
justificavam de forma empírica como fato vergonhoso, já
que estas enfermidades eram tidas como castigo divino:
As vestes do leproso, em quem está a praga, serão rasgadas, e os seus cabelos serão
desgrenhados; cobrirá o bigode e clamará: Imundo! Imundo! Será imundo durante os dias em
que a praga estiver nele; é imundo, habitará só; (LEVÍTICO 13. 45-46)
Na Idade Média a Igreja exerceu grande influência na política e consequentemente na área da saúde.
A doença era vista como um castigo divino, e os doentes eram isolados. O isolamento evidencia a
falta de tratamento e o atraso científico da Idade Média. Assim como retrata Gil Sevalho (1993):
Na idade média [...] casas de assistência aos pobres, abrigos de viajantes e peregrinos, mas também
instrumentos de separação e exclusão quando serviam para isolar os doentes do restante da população.
Um dos valores básicos que envolvia a existência dos hospitais do Medieval era a caridade, pois
cuidar dos doentes ou contribuir financeiramente para a manutenção destas casas significava a
salvação das almas dos benfeitores.
Mas ao mesmo tempo com o aparecimento de novas doenças, alguns estudiosos passaram a acreditar
que as doenças poderiam passar de uma pessoa para outra, começando a ideia de que há formas, além
da benevolência divina, de se evitar doenças, Gil Sevalho (1993):
Depois dessa época de domínio da Igreja, entramos numa fase de racionalismo e grande crescimento
científico, o iluminismo. Nesta fase, junto com a ciência, os conhecimentos na área da saúde tiveram
grande avanço, como afirma Gil Sevalho (1993):
O ser humano que acompanhava o nascimento da ciência moderna era conquistador e proprietário da
natureza, não mais seu partícipe e observador harmonioso. [...]Esta perspectiva abriu caminho para
as práticas terapêuticas intervencionistas.
Acrescente-se que somente na metade do século XIX, em 1848, a expressão medicina social ganharia
registro. Surgiu na França e, embora concomitante ao movimento geral que tomou conta da Europa,
num processo de lutas pelas mudanças políticas e sociais.
Mas após esse momento do surgimento do capitalismo, novas descobertas como a da existência de
germes, fizeram com que surgissem novas formas de entender a doença como a “teoria da uni
causalidade” de Louis Pasteur.
E assim como disse Everardo Duarte Nunes (1998), foi a partir dessas novas descobertas e dos novos
conceitos não sociais de doença que a saúde passou a ser biomédica centrada na doença e não no
indivíduo:
Foi somente a partir da segunda metade do século XIX, marcado pelas investigações de Pasteur e
Koch, que se inauguraria a Era do Germe, e que transformaria dramaticamente a medicina de "uma
profissão orientada para as pessoas para orientada para a doença" (Twaddle e Hessler, 1977, p.12).
Como escreve Salomon-Bayet (1986, p.12), a revolução biomédica suscitada pelos trabalhos de
Pasteur pode ser denominada de "la pastorization de la médicine" que a distingue de "la
pasteurization de la médicine", no sentido de que ela significa, de um lado, uma revolução teórica e,
de outro, a medicalização de uma sociedade, legislando sobre a saúde pública, institucionalizando o
ensino e atuando no plano político e social. Sem dúvida, as descobertas dos microrganismos serão da
maior importância para a saúde pública, especialmente quando, além da relação indivíduo-agente, se
estabelece um modelo epidemiológico como uma interação entre esses dois elementos e o ambiente.
A partir desse momento tivemos uma decadência da saúde pública, da preocupação com o contexto
social e com as condições de vida da população.
Mas com o tempo a saúde alternativa e a visão holística da saúde voltaram a ser defendidas por muitos
profissionais da área da saúde. Na década de 70 na América Latina cresce a importância das ciências
sociais na abordagem da saúde. São organizadas conferências, como a Alma-Ata e a Conferência de
Ottawa, para se pensar estratégias para melhorar a promoção da saúde em nível mundial.
Alma-Ata
“ I. A conquista do mais alto grau de saúde exige a intervenção de muitos outros setores sociais e
econômicos,além do setor saúde”
VII-1. A atenção primária de saúde é, ao mesmo tempo, um reflexo e uma conseqüência das condições
econômicas e das características socioculturais e políticas do país e de suas comunidades;
A década de 60 foi marcada mundialmente por alterações nos cenários políticos, e assim a década
que foi marcada por apelos por “sexo, drogas e rockn’roll”, motivada por sentimentos e pensamentos
libertários, foi também a década em que se iniciaram discussões e mobilizações que marcaram
profundamente a história da Saúde Pública no Mundo, pensamentos de ousadia somados com
experiências nacionalistas (China) permitiram a elaboração da declaração de Alma Ata, e assim a
ampliação da compreensão da complexidade da garantia deste direito fundamental ao ser humano: a
saúde, e a alteração de estratégias originaram
o pensamento da promoção da saúde sendo um
eixo fundamental para atingir a utopia de
“Saúde para Todos até o ano 2000”..
VII-4. Inclui a participação, ademais do setor saúde, de todos os setores e campos de atividade
conexas do desenvolvimento nacional e comunitário, em particular o agropecuário, a alimentação,
a indústria, a educação, a habitação, as obras públicas, as comunicações e outros, exigindo os
esforços coordenados de todos estes setores;
Com estas citações de partes da Declaração é possível evidenciar a impossibilidade de separação dos
fatores sociais, econômicos e culturais para atingir uma saúde pública de qualidade e com equidade.
Envolvendo assim todos os setores da sociedade, inclusive a sociedade civil.
Mesmo após ser definido pela Organização Mundial de Saúde o conceito de saúde-doença que diz
que “A saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência
de enfermidade” (OMS, 1948), ainda é muito forte a ideia curativista da saúde. Ainda hoje, como
resultado de um processo histórico, muitas vezes entende-se promoção da saúde como tratamento de
uma doença. Virginia Berridge (2000):
Os dias de prosperidade da saúde pública entre as duas guerras mundiais, o desabrochar do império
da saúde pública no baseado no hospital, foi um erro para a saúde pública, afastando-se do caminho
da saúde necessária à população.
Assim, muitas vezes não é dado o valor necessário para a saúde pública, esquecendo-se da visão
holística da promoção da saúde. E como alerta Virginia Berridge (2000):
A tensão entre a relação com os serviços médicos e o papel da comunidade permaneceu exemplificada
nos anos 60, pela medicina comunitária e a epidemiologia das doenças crônicas, e ainda não foi
resolvida. A dualidade do papel da saúde pública tem sido um tema permanente, de um lado entre a
prevenção e a promoção (ou desenvolvimento), e de outro, entre o planejamento e administração dos
serviços de saúde.
Além disso a saúde pública ainda enfrenta um distanciamento entre a prática e a teoria, como diz
Everardo Duarte Nunes (1998): continua presente o dilema entre a instrumentalidade e a politicidade,
o saber acadêmico e o saber militante, como pontos importantes para o debate atual da saúde coletiva.
-ATIVIDADE AVALIATIVA 1 - 1,5 PTS. – 0,3 cada
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02. Quais fatores são determinantes para a definição do conceito de saúde? Explique.
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04. De que forma o crescimento desordenado das cidades no início do capitalismo colaborou para o
aumento das doenças no início do Capitalismo?
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