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1.

O CONCEITO DE SAÚDE

O conceito de saúde reflete a conjuntura social, econômica, política e cultural. Ou seja: saúde
não representa a mesma coisa para todas as pessoas.

O conceito dependerá de: Época, do lugar, da classe social, valores individuais, concepções
científicas, religiosas e filosóficas.

O mesmo pode ser dito das doenças. Aquilo que é considerado doença varia muito.

1.1. A importância de conhecer a história da saúde pública

Conhecer a história da saúde pública mundial nos faz entender a situação atual da saúde pública
global. A saúde acompanhou os processos históricos mundiais, e foi sendo remodelada a cada
período, assim como a saúde coletiva passou por altos e baixos de acordo com o conceito de doença,
e o conhecimento científico de cada momento. Portanto tendo em vista o que Gilberto Hochman,
Paula Xavier dos Santos e Fernando Pires-Alves nos dizem (2009):
“Que a saúde e a enfermidade são algo mais que fenômenos biológicos; de que em torno dos
cuidados, dos mecanismos de controle e das curas estão dimensões relevantes da história da
saúde e da doença [...] e que o processo saúde-doença é revelador de aspectos cruciais da
modernidade e da história social, política, intelectual e cultura”.

Podemos concluir que é de extrema importância conhecer e entender a evolução histórica da saúde
pública, assim recorda os costumes de alguns povos e isto era representado pelas doenças
características destes. A falta de higiene e as más condições de vida de outros, ao se tratar de doenças
que marcaram a identidade dos povos pelo mundo, não podemos deixar de citar as epidemias e pestes
que contribuíram para o final de algumas civilizações. Assim como na contemporaneidade temos
também enfermidades que são marcos de nossas interações com o meio podendo ser ele ambiental,
social ou econômico.

1.2.O início da preocupação com a saúde coletiva

Pode-se dizer que a preocupação com a saúde da sociedade, da população de uma forma coletiva,
começou com as primeiras epidemias que afetaram um maior número de pessoas, e fizeram com que
se começasse a pensar na causa destas. Há na bíblia registros de doenças, como a lepra (hoje
conhecida como hanseníase), que afetaram a vida de
muitas pessoas ainda na época de Cristo, onde também já
aparece a preocupação de isolar essas pessoas, dando a
entender que se pensava no contágio e assim,
automaticamente, na saúde coletiva. Observasse pelos
relatos Bíblicos também que se tinha a compreensão que a
enfermidade era transmissível, mas que os isolamentos se
justificavam de forma empírica como fato vergonhoso, já
que estas enfermidades eram tidas como castigo divino:
As vestes do leproso, em quem está a praga, serão rasgadas, e os seus cabelos serão
desgrenhados; cobrirá o bigode e clamará: Imundo! Imundo! Será imundo durante os dias em
que a praga estiver nele; é imundo, habitará só; (LEVÍTICO 13. 45-46)
Na Idade Média a Igreja exerceu grande influência na política e consequentemente na área da saúde.
A doença era vista como um castigo divino, e os doentes eram isolados. O isolamento evidencia a
falta de tratamento e o atraso científico da Idade Média. Assim como retrata Gil Sevalho (1993):

Na idade média [...] casas de assistência aos pobres, abrigos de viajantes e peregrinos, mas também
instrumentos de separação e exclusão quando serviam para isolar os doentes do restante da população.
Um dos valores básicos que envolvia a existência dos hospitais do Medieval era a caridade, pois
cuidar dos doentes ou contribuir financeiramente para a manutenção destas casas significava a
salvação das almas dos benfeitores.

Mas ao mesmo tempo com o aparecimento de novas doenças, alguns estudiosos passaram a acreditar
que as doenças poderiam passar de uma pessoa para outra, começando a ideia de que há formas, além
da benevolência divina, de se evitar doenças, Gil Sevalho (1993):

Nos anos 1300, ao tempo da peste negra, um médico árabe


relatava que a doença podia ser contraída pelo contato com os
doentes ou através de peças de vestuário, louça ou brincos
(Sournia & Ruffie, 1986). De qualquer modo, na visão de mundo
dos cristãos medievais, estava contextualizado o temor que a
doença imprimia. A sensação de que devia ser mantida à
distância, o necessário afastamento do perigo desconhecido pressentido, o medo do sofrimento e da
morte.

Depois dessa época de domínio da Igreja, entramos numa fase de racionalismo e grande crescimento
científico, o iluminismo. Nesta fase, junto com a ciência, os conhecimentos na área da saúde tiveram
grande avanço, como afirma Gil Sevalho (1993):

O ser humano que acompanhava o nascimento da ciência moderna era conquistador e proprietário da
natureza, não mais seu partícipe e observador harmonioso. [...]Esta perspectiva abriu caminho para
as práticas terapêuticas intervencionistas.

Com uma visão mais racional da doença, foi possível pensar


em maneiras de evitar as epidemias. A liberação de pesquisas
científicas antecipou novas descobertas como formas de
prevenir algumas enfermidades e conter o contágio de outras,
assim como as vacinas que representaram um grande marco
para a prevenção à tuberculose, tétano, meningites,
enfermidades que em épocas remotas eram capazes de
dizimar populações, bem como a descoberta do primeiro microscópio.

O Iluminismo antecipou o surgimento do Capitalismo. Com o surgimento de fábricas, surgiram


empregos exaustivos. E logo depois, surgiram os centros urbanos, a desigualdade social e a falta de
estrutura nesses centros.

Como relata Gil Sevalho (1993):

Os graves problemas sociais do início do Capitalismo industrial, como as desastrosas condições de


vida e trabalho, geradas pela formação e crescimento dos núcleos urbanos e pela necessidade cada
vez maior de expandir o capital industrial, às custas da exploração da força de trabalho e da pobreza.
Desta forma o crescimento desordenado das cidades e dos núcleos de
trabalhadores nem sempre contava com as mais perfeitas condições de
habitação, saneamento básico, tratamento adequado da água. Esses graves
problemas sociais evidenciaram a influência do contexto social na saúde da
população. Foi a partir desse momento que se iniciou a preocupação com a
influência das condições de vida na saúde do indivíduo.

1.3.O nascimento da medicina social

Assim, sabendo que as questões sociais influenciavam nas condições de


saúde da população, pela primeira vez ouviu-se o termo medicina social,
como evidencia Gil Sevalho (1993):

Uma penetração do conhecimento médico no domínio do ambiente social, aplicado ao panorama


mercantilista da Alemanha e da França do século XVIII e ao Capitalismo incipiente da Inglaterra
industrial do século XIX, fez nascer a medicina social no entrelaçamento de três movimentos
apontados por Foucault (1979). A polícia médica alemã, uma medicina de Estado que instituiu
medidas compulsórias de controle de doenças,
a medicina urbana francesa, saneadora das
cidades enquanto estruturas espaciais que
buscavam uma nova identidade social, e, por
último, uma medicina da força de trabalho na
Inglaterra industrial, onde havia sido mais
rápido o desenvolvimento de um proletariado.
Destes movimentos surgiu a medicina social,
impulsionada pelos revolucionários de 1848 e
suas perspectivas de reformas econômicas e
políticas, como uma empresa de intervenção sobre as condições de vida, sobre o meio socialmente
organizado pelo modo de vida capitalista conformado pela Revolução Industrial. E como afirma
Everardo Duarte Nunes (1998), na metade do século a medicina social seria devidamente registrada.

Acrescente-se que somente na metade do século XIX, em 1848, a expressão medicina social ganharia
registro. Surgiu na França e, embora concomitante ao movimento geral que tomou conta da Europa,
num processo de lutas pelas mudanças políticas e sociais.

Mas após esse momento do surgimento do capitalismo, novas descobertas como a da existência de
germes, fizeram com que surgissem novas formas de entender a doença como a “teoria da uni
causalidade” de Louis Pasteur.

E assim como disse Everardo Duarte Nunes (1998), foi a partir dessas novas descobertas e dos novos
conceitos não sociais de doença que a saúde passou a ser biomédica centrada na doença e não no
indivíduo:

Foi somente a partir da segunda metade do século XIX, marcado pelas investigações de Pasteur e
Koch, que se inauguraria a Era do Germe, e que transformaria dramaticamente a medicina de "uma
profissão orientada para as pessoas para orientada para a doença" (Twaddle e Hessler, 1977, p.12).
Como escreve Salomon-Bayet (1986, p.12), a revolução biomédica suscitada pelos trabalhos de
Pasteur pode ser denominada de "la pastorization de la médicine" que a distingue de "la
pasteurization de la médicine", no sentido de que ela significa, de um lado, uma revolução teórica e,
de outro, a medicalização de uma sociedade, legislando sobre a saúde pública, institucionalizando o
ensino e atuando no plano político e social. Sem dúvida, as descobertas dos microrganismos serão da
maior importância para a saúde pública, especialmente quando, além da relação indivíduo-agente, se
estabelece um modelo epidemiológico como uma interação entre esses dois elementos e o ambiente.

A partir desse momento tivemos uma decadência da saúde pública, da preocupação com o contexto
social e com as condições de vida da população.

Mas com o tempo a saúde alternativa e a visão holística da saúde voltaram a ser defendidas por muitos
profissionais da área da saúde. Na década de 70 na América Latina cresce a importância das ciências
sociais na abordagem da saúde. São organizadas conferências, como a Alma-Ata e a Conferência de
Ottawa, para se pensar estratégias para melhorar a promoção da saúde em nível mundial.

Alma-Ata

“ I. A conquista do mais alto grau de saúde exige a intervenção de muitos outros setores sociais e
econômicos,além do setor saúde”

III. A promoção e proteção da saúde da população é indispensável para o desenvolvimento


econômico e social sustentado e contribui para melhorar a qualidade de vida e alcançar a paz
mundial;

IV. A população tem o direito e o dever de participar individual e coletivamente na planificação e na


aplicação das ações de saúde;

VII-1. A atenção primária de saúde é, ao mesmo tempo, um reflexo e uma conseqüência das condições
econômicas e das características socioculturais e políticas do país e de suas comunidades;

A década de 60 foi marcada mundialmente por alterações nos cenários políticos, e assim a década
que foi marcada por apelos por “sexo, drogas e rockn’roll”, motivada por sentimentos e pensamentos
libertários, foi também a década em que se iniciaram discussões e mobilizações que marcaram
profundamente a história da Saúde Pública no Mundo, pensamentos de ousadia somados com
experiências nacionalistas (China) permitiram a elaboração da declaração de Alma Ata, e assim a
ampliação da compreensão da complexidade da garantia deste direito fundamental ao ser humano: a
saúde, e a alteração de estratégias originaram
o pensamento da promoção da saúde sendo um
eixo fundamental para atingir a utopia de
“Saúde para Todos até o ano 2000”..

Com toda esta mobilização inicia-se uma


caminhada de discussões e conferencias
internacional buscando aprimorar os conceitos
e sistematizar as ideias de como fazer para a
obtenção sucesso em suas metas, destes
instrumentais a Declaração de Alma Ata e a
Carta de Otawa, ainda são os símbolos da transformação da forma de se pensar saúde no mundo.
VII-3. Compreende, pelo menos, as seguintes áreas: a educação sobre os principais problemas de
saúde e sobre os métodos de prevenção e de luta correspondentes; a promoção da aportação de
alimentos e de uma nutrição apropriada; um abastecimento adequado de água potável e saneamento
básico; a assistência materno-infantil, com inclusão da planificação familiar; a imunização contra
as principais enfermidades infecciosas; a prevenção e luta contra enfermidades endêmicas locais; o
tratamento apropriado das enfermidades e traumatismos comuns; e a disponibilidade de
medicamentos essenciais;

VII-4. Inclui a participação, ademais do setor saúde, de todos os setores e campos de atividade
conexas do desenvolvimento nacional e comunitário, em particular o agropecuário, a alimentação,
a indústria, a educação, a habitação, as obras públicas, as comunicações e outros, exigindo os
esforços coordenados de todos estes setores;

VII-5. Exige e fomenta, em grau máximo, a auto-responsabilidade e a participação da comunidade


e do indivíduo na planificação, organização, funcionamento e controle da atenção primária de
saúde. Na verdade, o texto da Declaração de Alma-Ata, ao ampliar a visão do cuidado da saúde.
(Ferreira, R. José; BUSS, M. Paulo – ATENÇÃO PRIMÁRIA E PROMOÇÃO DA SAÚDE)

Com estas citações de partes da Declaração é possível evidenciar a impossibilidade de separação dos
fatores sociais, econômicos e culturais para atingir uma saúde pública de qualidade e com equidade.
Envolvendo assim todos os setores da sociedade, inclusive a sociedade civil.

As condições atuais da saúde pública mundial

Mesmo após ser definido pela Organização Mundial de Saúde o conceito de saúde-doença que diz
que “A saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência
de enfermidade” (OMS, 1948), ainda é muito forte a ideia curativista da saúde. Ainda hoje, como
resultado de um processo histórico, muitas vezes entende-se promoção da saúde como tratamento de
uma doença. Virginia Berridge (2000):

Os dias de prosperidade da saúde pública entre as duas guerras mundiais, o desabrochar do império
da saúde pública no baseado no hospital, foi um erro para a saúde pública, afastando-se do caminho
da saúde necessária à população.

Assim, muitas vezes não é dado o valor necessário para a saúde pública, esquecendo-se da visão
holística da promoção da saúde. E como alerta Virginia Berridge (2000):

A tensão entre a relação com os serviços médicos e o papel da comunidade permaneceu exemplificada
nos anos 60, pela medicina comunitária e a epidemiologia das doenças crônicas, e ainda não foi
resolvida. A dualidade do papel da saúde pública tem sido um tema permanente, de um lado entre a
prevenção e a promoção (ou desenvolvimento), e de outro, entre o planejamento e administração dos
serviços de saúde.

Além disso a saúde pública ainda enfrenta um distanciamento entre a prática e a teoria, como diz
Everardo Duarte Nunes (1998): continua presente o dilema entre a instrumentalidade e a politicidade,
o saber acadêmico e o saber militante, como pontos importantes para o debate atual da saúde coletiva.
-ATIVIDADE AVALIATIVA 1 - 1,5 PTS. – 0,3 cada

01. Por que é importante conhecer a História da saúde?

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02. Quais fatores são determinantes para a definição do conceito de saúde? Explique.

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03. Como se deu o início da preocupação com a saúde coletiva?

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04. De que forma o crescimento desordenado das cidades no início do capitalismo colaborou para o
aumento das doenças no início do Capitalismo?

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05. Como é definido o conceito de saúde-doença pela OMS?

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